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As novas tecnologias e os aspectos jurídicos a

elas relacionados. Blockchain e as criptomoedas.


A regulamentação internacional da matéria
21.8.2019

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O que mudou com a novas tecnologias?

• Instrumentos financeiros?

• Instrumentos monetários?

• Contratação?

• Uso de dados? Produção de dados?


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O que mudou com a novas tecnologias?

A mobilização da riqueza no cenário econômico, sobretudo a partir de


meados do século XX, assistiu ao surgimento de um instrumento
fundamental nesta seara, qual seja, o valor mobiliário, ao lado do qual,
pouco a pouco, foram surgindo os chamados instrumentos derivados
ou derivativos e os instrumentos monetários, todos abarcados no
conceito de instrumentos financeiros.

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O que mudou com a novas tecnologias?

Como destaca José Engrácia Antunes:


A senda evolutiva milenar dos instrumentos juscomerciais de criação,
circulação e mobilização de riqueza conheceria, muito recentemente,
mais uma nova etapa – referimo-nos à progressiva centralidade
regulatória do conceito de instrumento financeiro (financial instrument,
Finanzinstrument, instrument finacier, strumento finanziario).

ANTUNES, José a. Engrácia. Os instrumentos financeiros. Coimbra: Almedina, 2009, p. 14-15.


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O que mudou com a novas tecnologias?
Os valores mobiliários – já o sabemos – constituem a pedra de toque do mercado de capitais contemporâneo,
constituindo o veículo por excelência do financiamento empresarial de médio e longo prazo. Este protagonismo
indiscutível, todavia, durante algum tempo solitário ou exclusivo, tem vindo a sofrer a concorrência de novos
instrumentos, activos e produtos que ganharam paulatinamente uma importância crescente na criação e
mobilização de recursos financeiros para as empresas. Tal é o caso, por uma banda, dos instrumentos monetários.
(...) Uma importância muito especial revestem ainda, por outra banda, os instrumentos derivados. É sabido que a
actividade económica é, por natureza, uma actividade de risco: ora, os derivados – hoje numa enorme profusão
quantitativa e qualitativa (v.g. futuros, opções, swaps, forwards, caps, floors, collars, derivados de crédito,
derivados sobre mercadorias, etc.) – constituem um instrumento fundamental de cobertura dos riscos inerentes à
actividade económica das empresas (hedging), além de servirem finalidades especulativas (trading) e arbitragistas
(arbitrage), proporcionando às empresas um indispensável meio de salvaguarda face às variações das taxas de
câmbio, das taxas de juro, da inflação, das cotações bolsistas, do preço das matérias-primas, ou outras
contingências análogas.

ANTUNES, José a. Engrácia. Os instrumentos financeiros. Coimbra: Almedina, 2009, p. 14-15.


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Instrumentos monetários:

Se é certo que, ao tempo de Montesquieu, dizia-se que a existência


de uma moeda qualquer, encontrada no meio de um povo
desconhecido, significava estarmos diante de um povo civilizado,
parece que a sociedade contemporânea ingressa numa nova era na
qual as moedas virtuais, ou criptomoedas − concebidas como
meio de pagamento, como medida de valor ou, ainda, como
instrumento de reserva de valor −, estão se desenvolvendo
inteiramente à margem de qualquer tipo de controle estatal. 6
Tullio Ascarelli, o grande jurista italiano, que tanta contribuição deu ao
direito comercial brasileiro, em seus mais diferentes ramos — e,
igualmente, no que toca à disciplina jurídica à qual se dá a denominação
direito monetário —, assinalava, com a argúcia de sempre, que “a
moeda constitui obviamente um fenômeno grupal, um instituto de
caráter social, inconcebível fora de uma organização social, mesmo
elementar”, tal como assoalhara anteriormente Montesquieu.
• Obbligazioni Pecuniarie, Nicola Zanichelli Editore, Bolonha e Soc. Ed. Del Foro Italiano, Roma, 1968, p. 11.
No original italiano: “La moneta costituisce ovviamente un fenomeno di gruppo, un istituto d’ordine sociale
inconcepibile fuori da una sia pur elementare organizzazione sociale”.

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E, também no prefácio do seu livro Estudos jurídicos sobre a moeda,
editado em Milão, em 1952, o mesmo Ascarelli esclarecia que, nessa nova
obra que ele dava à estampa, vinha reproduzido o primeiro capítulo do seu
anterior livro La Moneta, Padova, 1928, já que lhe parecia impossível levar-
se em conta os problemas jurídicos monetários, independentemente da sua
história, asseverando, pouco mais adiante, que: “A moeda constitui uma
instituição tipicamente jurídica e social; um elemento de ligação no tempo e
entre os homens, que não é concebível senão numa dada organização
social.”
• Studi Giuridici sulla Moneta, Giuffrè: Milano, 1952, p. IX: “Di detto volume viene qui riprodotto il primo capitolo
essendo a mio avviso impossibile rendersi conto dei problemi giuridici monetari indipendentemente dalla loro storia .”
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Conceito de Moeda

Paul Hugon, após explicar as funções da moeda, sobre as


quais discorreremos mais adiante, define-a, de forma singela,
como “o instrumento que facilita as trocas e permite
conservar e antecipar os valores.” “A Moeda”, São Paulo:
1967, Pioneira Editora e Editora Universidade de S. Paulo, p.
26.
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Conceito de Moeda

Pode-se dizer que a moeda desempenha as três funções básicas acima

aludidas. Como função de meio de pagamento, também conhecida por

função circulatória ou função de intermediária de trocas, a moeda facilita

e acelera as trocas.

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Conceito de Moeda

Uma vez aceita como meio de pagamento, a moeda passa a ser uma
medida de valor, sua segunda função, muito mais relevante, ainda, do
que a função de meio de pagamento. Como bem esclarece Paul Hugon,
essa segunda função de avaliação, pode ser considerada a própria
essência da moeda, pois “uma moeda que não preenchesse essa função
não seria uma moeda, mas uma moeda que tivesse apenas essa função
— sem ser instrumento de circulação — funcionaria e tem funcionado.”
11
Conceito de Moeda

E, finalmente, como terceira função, isto é, como instrumento de


reserva de valor, ela pode, segundo esse mesmo autor, “acumular os
valores adquiridos e servir de instrumento de poupança e, nesse sentido,
representa uma espécie de vale sobre o ativo social, vale sempre
disponível, pois, seu detentor pode, quando quiser, transformá-lo em
qualquer mercadoria ou serviço.”

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Breve escorço histórico das moedas oficiais

A descoberta do metal, por volta do ano 6.000 a.C possibilitou que a


humanidade progredisse exponencialmente nas relações interpessoais e
até mesmo comerciais. Isto porque, além de utensílios para o uso
doméstico que facilitaram a realização de inúmeras atividades, o homem
da época passou a produzir armas mais poderosas e ferramentas mais
eficientes. Inicialmente com o cobre, e, ao misturá-lo com o estanho,
obteve um metal mais resistente.
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Breve escorço histórico das moedas oficiais

O uso do ferro deu-se por volta de 1.500 a.C. e, a partir daí, atividades como a
guerra, a caça e a agricultura foram aperfeiçoadas.

A moeda surgiu como uma unidade representativa de valor que possibilitou as


trocas comerciais entre as comunidades, uma vez que, com o aperfeiçoamento das
ferramentas utilizadas nas guerras, surgiu a necessidade das trocas entre os povos;
entretanto, a moeda não foi o primeiro instrumento de troca. Historicamente,
registra-se que as primeiras trocas eram feitas por meio de animais, bem como do
sal que, posteriormente, originou a palavra salário.
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Breve escorço histórico das moedas oficiais

Há inúmeros registros de objetos que eram utilizados pelos mais diferentes povos,
em épocas distintas, como moeda de troca, tais como conchas, seda, sal e cereais,
na China, durante a Antiguidade (até 410), bem como gado e prata na Rússia,
durante a Idade Média.

Os Sumérios foram os responsáveis pela introdução de um cálculo baseado em


valores de referência constantes, e esse grande avanço proporcionou um
incremento nos transportes e uma potencialização do entesouramento e da
divisibilidade.
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Breve escorço histórico das moedas oficiais

Porém, apenas no século VII a.C. é que surgem as moedas com o formato
tal como as conhecemos hoje, ou seja, pequenas peças de metal com
peso e valor definidos, e com impressão de cunho oficial.

Desde os gregos, as moedas refletem a cultura de um povo com seus


traços políticos e socioculturais. As primeiras moedas colocadas em
circulação na Grécia ilustram esta questão, pois continham figuras de
animais e plantas que representavam a ilha de Egina.
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Breve escorço histórico das moedas oficiais

Como matéria-prima, os primeiros metais a serem utilizados na fabricação


de moedas foram o ouro e a prata, fundamentalmente porque resistiam à
corrosão. A divisão dos valores, por muito tempo, permaneceu sendo nas de
ouro, os valores maiores, e nas de prata e cobre, os valores menores.

O valor intrínseco das moedas só foi substituído pelo cuproníquel, uma


espécie de liga metálica de cobre e níquel, no final do século XIX, passando a
valer de acordo com seu valor extrínseco e não pelo valor do metal utilizado.
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Breve escorço histórico das moedas oficiais

Etimologicamente, a palavra moeda vem do latim moneta em referência


ao Templo Juno Moneta, local em Roma onde se cunhavam as moedas.

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O que é a criptomoeda?

• O termo “criptomoeda” foi cunhado a partir do paper-manifesto


publicado por Nakamoto em 2008 intitulado “Bitcoin: A Peer-to-
Peer Electronic Cash System.

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O que é a criptomoeda?
DESAFIO:
Qual é a dinâmica jurídica de funcionamento do sistema Bitcoin.

“O sistema Bitcoin é, em poucas palavras, um sistema de


pagamentos inteiramente virtual que independe de um ente central
que garanta seu lastro ou organize seu funcionamento. Trata-se de
um sistema criptográfico – baseado em códigos informáticos – que
contém códigos não-“monetários” e códigos “monetários”,
correspondendo esses últimos aos Bitcoins.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como
moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de
Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).

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O que é a criptomoeda?

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O que é a criptomoeda?

• O conceito de moeda paralela não implica substituição das


“moedas oficiais.

• A convivência harmoniosa entre moedas paralelas e moedas


oficiais é um fenômeno recorrente na história monetaria,
intimamente associada à história dos Estados Nacionais.

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Bitcoin

“As críticas centrais são contundentes. Muitos atribuem a volatilidade da taxa de


conversão à sua iliquidez – o que talvez seja explicado pelo fato de que cartões de
débito e de crédito têm abrangência e penetração tão grandes e universais que
realmente é difícil competir com eles. Mas, acima de tudo, a vantagem de não
haver um banco central ou regulação é a sua maior desvantagem: um meio de
pagamento precisa ser crível para ser disseminado e, no mundo moderno, o Estado
ainda representa a ordem e o curso forçado.”

Jornal Valor Econômico Online. A Regulação dos Bitcoins. 31 de março de 2014


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Bitcoin

O Bitcoin-moeda é, hoje, a mais famosa dentre as criptomoedas.

“Criada por meio de um programa open source que funciona na base


peer-to-peer, ou seja, diretamente de usuário para usuário, ela é
transacionada de particular para particular e não está vinculada a
nenhum órgão central que regule a sua emissão, lastro ou valor.” (FOBE,
Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos
jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
FGV: São Paulo, 2016).
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Bitcoin
“Um Bitcoin é colocado em circulação por meio de um processo digital chamado, pelos usuários, de
“Bitcoin mining”, ou seja, mineração de Bitcoins. O programa do qual a criptomoeda é extraído foi
desenhado em 2008 por um programador anônimo conhecido como Satoshi Nakamoto, sendo
basicamente constituído de diversos códigos de programação, dentre os quais há códigos que são
identificados como Bitcoins. Vamos supor que haja uma linha de código 3498x09dx982l. 37 Um Bitcoin
é x09dx. Para poder “minerar” o sistema, cada usuário precisa de um código que o identifique. Assim,
se o usuário 45njf encontrar o Bitcoin x09dx, esse Bitcoin passa a ser encontrado no sistema como
45njfx09dx, pertencendo, portanto, ao usuário que o “minerou”.”
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos.
Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
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Bitcoin
“Os usuários do sistema Bitcoin podem ser divididos em duas classes: além dos mineradores, ou seja,
aqueles que operam como fornecedores de unidades monetárias – e que, portanto, monetizam
Bitcoins ao retirá-los do código-mãe e colocá-los em circulação38 –, há os clientes, que utilizam o
Bitcoin apenas como meio de pagamento para as mais diversas transações. Nesse contexto, diversos
usuários criaram programas que ficam analisando os códigos 24 horas por dia (e o próprio sistema
Bitcoin provê um sistema desses, de acesso livre e gratuito), encontrando as combinações que
equivalem à criptomoeda e acrescentando-as ao seu patrimônio. Com o passar do tempo, os códigos
mais evidentes já foram encontrados, o que torna a mineração cada vez mais difícil, até atingir o
limite de códigos monetários encerrados no sistema, equivalente à marca de 21 milhões de Bitcoins.”
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de
Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
26
Bitcoin

• A questão mais complexa em relação às criptomoedas é justamente o fato de não


haver um ente central oficial para intermediação e supervisão das transações.

• O Bitcoin foi o primeiro sistema a impedir que isso acontecesse, por meio de um
esquema conhecido como blockchain.

• O sistema Bitcoin é como um universo fechado de códigos, dentro do qual todos


os usuários, todas as transações e todos os Bitcoins ficam registrados no
blockchain. A autoridade central, portanto, é um algoritmo.

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Blockchain: breves apontamentos

Sem embargo do caráter polissêmico do vocábulo, pode a blockchain ser definida,


grosso modo, como um mecanismo que registra as transações em grande cadeia
de códigos, assemelhando-se ao livro-razão, utilizado na contabilidade comercial e
bancária. Parece-nos, aliás, que a expressão livro-razão, em língua portuguesa,
exprime com fidelidade o conceito, evitando-se a propagação, em nosso meio − já
tão sobrecarregado de numerosos e intermináveis anglicismos −, da palavra
inglesa ledger, termo contábil absolutamente recorrente na literatura estrangeira.

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Blockchain: breves apontamentos

Tal mecanismo, igualmente conhecido como Tecnologia de Registro Distribuído


(DLT - Distributed Ledger Tecnology, na expressão inglesa), foi criado para ser uma
espécie de plataforma tecnológica aberta, contendo um banco de dados
distribuído e criptografado, funcionando como um livro digital de registros
imutáveis, não corrompidos por iniciativa individual de ninguém. Qualquer
tentativa de mutação será plenamente detectável, pois, para alterar um registro
blockchain, é necessário alterar todos os registros presentes no bloco, tornando
quase impossível ocorrer a mutação.
29
Blockchain: breves apontamentos

Sob tal prisma, a presença de uma autoridade fiscalizadora que exerça a


função de intermediação para a validação de seus eventos – como
ocorre com os Bancos Centrais dos vários países, relativamente às suas
moedas oficiais – torna-se inteiramente despicienda.

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Blockchain: breves apontamentos

Vicenzo Morabito define a blockchain como “um livro caixa distribuído


ou banco de dados de registros de todas as transações realizadas e
compartilhadas entre os integrantes de um grupo específico que compõe
uma rede ou cadeia de relações jurídicas.”

Business Innovation through Blockchain – The B3 Perspective. Milan:


Springer, 2017, p. 40.

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Blockchain: breves apontamentos
Michael Crosby e outros coautores do estudo denominado “Blockchain Tecnology, Beyond Bitcoin”
dizem que

“Blockchain é essencialmente um banco de dados de registros distribuídos ou um livro-razão público


de todas as transações ou eventos digitais que foram executados e compartilhados entre os
participantes. Cada transação no livro-razão é verificada pelo consenso formado pela maioria dos
participantes do sistema. E, uma vez convalidadas, as informações não mais podem ser apagadas. A
blockchain possui um registro certo e verificável de cada transação realizada. Usando uma analogia
básica, é mais fácil furtar um biscoito de um pacote mantido em local isolado do que furtar um
biscoito de um pacote mantido em um mercado, onde se estará sendo observado por milhares de
pessoas.”
Blockchain Tecnology, Beyond Bitcoin. Disponível em: http://scet.berkeley.edu/wp-content/uploads/BlockchainPaper.pdf. Acesso em 26/3/2018.

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O que muda com o Blockchain?

33
Bitcoin

Vantagens?

34
Bitcoin

Vantagens?

- diminuição dos custos de transação inerentes às operações que


dependem de um intermediário. Países em desenvolvimento,
transferência de valores entre países, pobreza, etc.

- E no plano jurídico?

35
Bitcoin

Desvantagens?

36
Bitcoin

Desvantagens?

- Flutuação de seu valor

37
Bitcoin
variação de 1 ano
https://br.advfn.com/bolsa-de-valores/coin/BTCUSD/historico/mais-dados-historicos

38
Bitcoin

39
Bitcoin

O que é o Bitcoin? Moeda digital? Moeda virtual? Criptomoeda?

40
Bitcoin
“Durante o levantamento da bibliografia, notei que os termos “moeda digital”, “moeda virtual” e
“criptomoeda” eram utilizados como sinônimos, muito embora “moeda virtual” fosse o mais
empregado por órgãos oficiais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu.
Como procurarei especificar, moedas digitais são o gênero, do qual moedas virtuais e criptomoedas
são espécie. Assim, após examinar exemplos desses instrumentos monetários, percebi que há algumas
distinções entre elas que merecem ser pontuadas, não apenas por uma questão de preciosismo
terminológico, mas porque a diferenciação proposta pode contribuir à descrição e compreensão do
fenômeno quando de uma futura regulação. Em outras palavras, as especificidades contidas por cada
tipo monetário demandam uma resposta regulatória sensível a essas diferenças.” (FOBE, Nicole Julie. O
Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado
apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016). 41
Moedas digitais
“Moedas digitais são aquelas que dependem da internet para serem transacionadas.
Tanto as moedas virtuais quanto as criptomoedas são exemplos de moeda digital, uma
vez que ambas precisam do suporte da rede para garantir sua circulação. Suas transações
não ocorrem, portanto, sem que os usuários estejam conectados à internet.

A principal característica desse tipo monetário – além do suporte de rede necessário – é o


seu alcance. Assim como a internet, as moedas que utilizam o ciberespaço não conhecem
fronteiras territoriais nem temporais: suas transações ocorrem de forma instantânea e
com alcance global – ou seja, sem restrições de localidade.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda
paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola
de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016). 42
Moedas digitais
“É importante não confundir o dinheiro guardado e organizado por instituições financeiras de
forma eletrônica com as moedas digitais. O dinheiro “oficial” que os cidadãos depositam em
bancos e, posteriormente transacionam eletronicamente – por meio de cartões de débito ou
crédito ou transferências pela internet – carrega consigo a expectativa de que pode ser
convertido a qualquer momento em notas físicas por instituições do sistema financeiro oficial.
O sistema bancário apoia-se integralmente sobre essa ficção, colocando à disposição “física”
de seus clientes muito menos dinheiro do que efetivamente detém. Assim, “moeda
eletrônica” diz respeito à circulação de moedas oficiais dentro de um sistema eletrônico de
pagamentos.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos
jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
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Moedas digitais
“As moedas digitais, por sua vez, têm a prerrogativa de não serem passíveis de
tradução em moeda física. Seu objetivo é justamente oferecer uma alternativa ao
sistema financeiro oficial como forma de garantir aos seus usuários, além de
privacidade, vantagens como: (i) transações instantâneas, (ii) de baixo ou nenhum
custo, e (iii) sem fronteiras territoriais. Moedas digitais, portanto, são aquelas
utilizadas por uma comunidade de usuários que busca, além das vantagens citadas
acima, o suporte oferecido pela internet como base para suas transações. Sem
internet, não há que se falar em moeda digital.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela –
uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de
Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016). 44
Moedas virtuais
“Moedas virtuais, por sua vez, circulam em uma comunidade específica e possuem
valor mesmo sem a conversibilidade. Ou seja, o objetivo último de deter uma moeda
virtual não é, como ocorre com as digitais, convertê-la em Dólar, Euro ou Real. A
moeda virtual possui valor por si só (...) O objetivo de uma moeda virtual não é
possibilitar compras no mundo “físico”, e sim garantir a existência de transações no
mundo virtual. Assim, percebe-se a sutil evolução de uma forma monetária para outra:
a moeda digital esteve mais sujeita à intervenção pública do que sua versão
aprimorada.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de
desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
FGV: São Paulo, 2016). 45
Moedas virtuais
“É o termo “moeda virtual” que tem sido utilizado por órgãos oficiais de
diversos países (como o FinCEN119, o FATF120 e o Banco Central Europeu)
como sinônimo de “criptomoeda”. Para esses órgãos, moedas virtuais são
instrumentos descentralizados, baseados em esquemas matemáticos, cujo
principal exemplo seria o Bitcoin.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão
econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de
Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).

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Criptomoeda
“O termo “criptomoeda” surge com Satoshi Nakamoto, pseudônimo do criador
(ou grupo de criadores) da primeira forma monetária da espécie – o Bitcoin.124
Criptomoedas são instrumentos monetários virtuais na medida em que não
existem fisicamente. Sua emissão e posterior circulação são feitas
integralmente via ciberespaço (motivo pelo qual essas moedas são também
consideradas “digitais”), por meio de programas open source, sendo o acesso à
internet imprescindível.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a
multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo
da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
47
O que é o Bitcoin?

Moeda paralela: são aquelas que carecem de reconhecimento jurídico


no tocante à sua qualidade de moeda por parte do Estado, mas que são
utilizadas e reconhecidas enquanto meio circulante por aqueles que as
empregam.

48
O que é o Bitcoin?
“Nesses termos, talvez seja possível inferir que o Bitcoin pode ser compreendido como moeda
paralela. Trata-se, afinal, de um meio de pagamento reconhecido como tal por seus usuários e
que circula paralelamente ao sistema oficial, sem o intuito de substitui-lo. Sua utilização, ao
contrário das diversas moedas oficiais em circulação, não conhece barreiras nacionais e é
impulsionada pelo custo operacional reduzido das transações que o utilizam. Como moeda
paralela, a sua existência fatalmente traz consequências ao sistema oficial em vigor, o que no
caso das moedas virtuais é amplificado devido ao seu alcance global via internet e à dificuldade
de controle por parte dos bancos centrais e demais instituições financeiras.” (FOBE, Nicole Julie. O
Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de
Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
49
Regulação
“A partir do levantamento, foi possível reunir os diferentes posicionamentos em três posturas, que se desdobram, por sua vez, em ações

relacionadas a outros aspectos regulatórios.

• Há, por exemplo, jurisdições que não se engajam no debate jurídico quanto ao caráter monetário ou não do Bitcoin. Aqui, nota-se um

reconhecimento simples da existência do fenômeno, passando-se à extração de consequências jurídicas pontuais (como a tributação) e/ou

à ampliação de outros campos de atuação (como na esfera penal, principalmente em relação à lavagem de dinheiro e ao financiamento de

atividades ilícitas).

• Há ainda aquelas jurisdições que, direta ou indiretamente, adentram a discussão acerca de aspectos monetários do Bitcoin – como, por

exemplo, a afirmação clara de que o instrumento não possui curso forçado, ou que ele não rivaliza com a moeda oficial, ou, pelo contrário,

que ele rivaliza com a moeda oficial.

• Finalmente, em uma terceira posição, há jurisdições que declaram estar monitorando ou estudando o Bitcoin – em alguns casos,

promovendo discussões em sede legislativa (como no Canadá) acerca de possíveis marcos e desenhos regulatórios.”

(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de
50
Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
Regulação

Nicole Julie Fobe analisou 62 jurisdições que se manifestaram em relação


às criptomoedas e concluiu ser possível distinguir três linhas de
posicionamento que, por sua vez, ramificam-se em outras ações
regulatórias:

51
Regulação

I) Publicação de nota de alerta, combinada ou não com requisição ou


proposta de estudos e obtenção de mais informações por parte do
regulador. Por vezes, há a formação de grupos de trabalho no
Legislativo (Canadá , França, Nova Zelândia) ou no Banco Central (Reino
Unido, Suécia) para discutir modelos regulatórios. Normalmente, o
trabalho de discussão resulta na publicação de relatórios;

52
Regulação

II) Criação de implicações jurídicas sem que se discuta aspectos


monetários. Geralmente resulta em desdobramentos tributários. É o
caso, por exemplo, da Austrália, do Brasil*, Bulgária e Eslovênia. Muitas
jurisdições adotaram essa linha em um primeiro momento para, em
seguida, discutir outras questões atinentes ao Bitcoin (como questões
monetárias, por exemplo);

53
Regulação

III) Criação de implicações jurídicas com base em elementos


“monetários” do Bitcoin. Um exemplo disso é o posicionamento da
Rússia que, por considerar o Bitcoin um “substituto monetário”, optou
por proibi-lo. A Irlanda, por sua vez, adotou essa postura quando seu
Banco Central declarou que o Bitcoin não é considerado moeda legal no
país.

54
Regulação

Percebe-se que a nota de alerta tem sido a manifestação mais comum das
jurisdições no tocante ao Bitcoin. Trata-se de nota emitida, geralmente, pelos
bancos centrais, que comunica aos investidores os “perigos” referentes à
utilização do Bitcoin (flutuação no preço, problemas de segurança na rede,
fraudes, dentre outros) e declara que o órgão está supervisionando o
instrumento sem, no entanto, a intenção de regulá-lo naquele momento. O
posicionamento costuma permitir que a criptomoeda circule, legalmente, sem
que se desenvolva uma regulação específica.
55
Regulação
• Classificação jurídica, o que é o Bitcoin juridicamente?

- Ativo financeiro?

- Dinheiro?

- Mercadoria?

56
Principais questões jurídicas:

(a) se e como tributar as criptomoedas;

(b) como qualificar juridicamente as criptomoedas;

(c) como controlar atividades ilegais possibilitadas pelo “anonimato” da internet;

(d) como rastrear e identificar os usuários e suas transações; e

(e) quando e como começar a trazer implicações jurídicas à utilização das


criptomoedas.

57
Regulação - Brasil

A Receita Federal brasileira foi a primeira instituição do país a classificar


o Bitcoin, definindo-o como um “ativo financeiro” para que sobre ele
incidisse o imposto de renda – e, com isso, abriu também um
precedente no ordenamento nacional em relação à classificação da
criptomoeda.

58
Regulação - Brasil

De outro lado, o Banco Central do Brasil editou o Comunicado nº 31.379, de 16 de


novembro de 2017, asseverando não haver nenhuma regulação ou supervisão por parte
daquela autarquia federal do Ministério da Fazenda sobre operações com moedas
virtuais. Percebe-se, portanto, que, não obstante a crescente popularização das
negociações com criptomoedas no Brasil, nossa ordenação jurídica não as considera,
legalmente, como moedas. Contudo, é certo que as “Initial Coin Offerings”- ICOs
(Ofertas Iniciais de Moedas) tornaram-se inquestionável realidade em todo o planeta.
59
COMUNICADO Nº 31.379, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2017

Alerta sobre os riscos decorrentes de operações de guarda e negociação das denominadas moedas virtuais.

Considerando o crescente interesse dos agentes econômicos (sociedade e instituições) nas denominadas moedas virtuais, o Banco Central do

Brasil alerta que estas não são emitidas nem garantidas por qualquer autoridade monetária, por isso não têm garantia de conversão para

moedas soberanas, e tampouco são lastreadas em ativo real de qualquer espécie, ficando todo o risco com os detentores. Seu valor decorre

exclusivamente da confiança conferida pelos indivíduos ao seu emissor.

2. A compra e a guarda das denominadas moedas virtuais com finalidade especulativa estão sujeitas a riscos imponderáveis, incluindo, nesse

caso, a possibilidade de perda de todo o capital investido, além da típica variação de seu preço. O armazenamento das moedas virtuais

também apresenta o risco de o detentor desses ativos sofrer perdas patrimoniais.

3. Destaca-se que as moedas virtuais, se utilizadas em atividades ilícitas, podem expor seus detentores a investigações conduzidas pelas

autoridades públicas visando a apurar as responsabilidades penais e administrativas.

4.  As empresas que negociam ou guardam as chamadas moedas virtuais em nome dos usuários, pessoas naturais ou jurídicas, não são

reguladas, autorizadas ou supervisionadas pelo Banco Central do Brasil. Não há, no arcabouço legal e regulatório relacionado com o Sistema

Financeiro Nacional, dispositivo específico sobre moedas virtuais. O Banco Central do Brasil, particularmente, não regula nem supervisiona
60
operações com moedas virtuais.
COMUNICADO Nº 31.379, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2017

Alerta sobre os riscos decorrentes de operações de guarda e negociação das denominadas moedas virtuais.

5. A denominada moeda virtual não se confunde com a definição de moeda eletrônica de que trata a Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, e sua regulamentação por meio de

atos normativos editados pelo Banco Central do Brasil, conforme diretrizes do Conselho Monetário Nacional. Nos termos da definição constante nesse arcabouço regulatório

consideram-se moeda eletrônica “os recursos em reais armazenados em dispositivo ou sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento”. Moeda

eletrônica, portanto, é um modo de expressão de créditos denominados em reais. Por sua vez, as chamadas moedas virtuais não são referenciadas em reais ou em outras moedas

estabelecidas por governos soberanos.

6. É importante ressaltar que as operações com moedas virtuais e com outros instrumentos conexos que impliquem transferências internacionais referenciadas em moedas

estrangeiras não afastam a obrigatoriedade de se observar as normas cambiais, em especial a realização de transações exclusivamente por meio de instituições autorizadas pelo

Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio.

7. Embora as moedas virtuais tenham sido tema de debate internacional e de manifestações de autoridades monetárias e de outras autoridades públicas, não foi identificada, até a

presente data, pelos organismos internacionais, a necessidade de regulamentação desses ativos. No Brasil, por enquanto, não se observam riscos relevantes para o Sistema

Financeiro Nacional. Contudo, o Banco Central do Brasil permanece atento à evolução do uso das moedas virtuais, bem como acompanha as discussões nos foros internacionais

sobre a matéria para fins de adoção de eventuais medidas, se for o caso, observadas as atribuições dos órgãos e das entidades competentes.

8. Por fim, o Banco Central do Brasil afirma seu compromisso de apoiar as inovações financeiras, inclusive as baseadas em novas tecnologias que tornem o sistema financeiro mais

seguro e eficiente. 

Otávio Ribeiro Damaso             Reinaldo Le Grazie

             Diretor de Regulação              Diretor de Política Monetária

61
https://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/moedasvirtuais.asp?idpai=FAQCIDADAO

Moedas Virtuais
(última atualização: novembro de 2017)

1) O que são “moedas virtuais”?As chamadas “moedas virtuais” ou “moedas criptográficas” são representações digitais de valor que

não são emitidas por Banco Central ou outra autoridade monetária. O seu valor decorre da confiança depositada nas suas regras de

funcionamento e na cadeia de participantes.

2) O Banco Central do Brasil regula as “moedas virtuais”?Não. As “moedas virtuais” não são emitidas, garantidas ou reguladas pelo

Banco Central. Possuem forma, denominação e valor próprios, ou seja, não se trata de moedas oficiais, a exemplo do real.

As "moedas virtuais" não se confundem com a "moeda eletrônica" prevista na legislação¹. Moedas eletrônicas se caracterizam como

recursos em reais mantidos em meio eletrônico que permitem ao usuário realizar pagamentos.

3) O Banco Central do Brasil autoriza o funcionamento das empresas que negociam “moedas virtuais” e/ou guardam chaves, senhas

ou outras informações cadastrais dos usuários, empresas conhecidas como “exchanges”?Não. Essas empresas não são reguladas,

autorizadas ou supervisionadas pelo Banco Central. Não há legislação ou regulamentação específica sobre o tema no Brasil.

O cidadão que decidir utilizar os serviços prestados por essas empresas deve estar ciente dos riscos de eventuais fraudes ou outras

condutas de negócio inadequadas, que podem resultar em perdas patrimoniais. 62


https://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/moedasvirtuais.asp?idpai=FAQCIDADAO
Moedas Virtuais
(última atualização: novembro de 2017)

4) É possível realizar compras de bens ou serviços no Brasil utilizando “moedas virtuais”?

A compra e venda de bens ou de serviços depende de acordo entre as partes, inclusive quanto à forma de pagamento. No caso de

utilização de “moedas virtuais”, as partes assumem todo o risco associado.

5) Qual o risco para o cidadão se as moedas virtuais forem utilizadas para atividades ilícitas?

Se utilizada em atividades ilícitas, o cidadão pode estar sujeito à investigação por autoridades públicas.

6) As “moedas virtuais” podem ser utilizadas como investimento?

A compra e a guarda de “moedas virtuais” estão sujeitas aos riscos de perda de todo o capital investido, além da variação de seu preço.

O cidadão que investir em “moedas virtuais” deve também estar ciente dos riscos de fraudes.

7) É permitido realizar transferência internacional utilizando “moedas virtuais”?

Não. Transferências internacionais devem ser feitas por instituições autorizadas pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio,
63
que devem observar as normas cambiais.
Lei n. 12.865/2013
Art. 6o  Para os efeitos das normas aplicáveis aos arranjos e às
instituições de pagamento que passam a integrar o Sistema de
Pagamentos Brasileiro (SPB), nos termos desta Lei, considera-se: 
(...)
VI - moeda eletrônica - recursos armazenados em dispositivo ou
sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de
pagamento. 

64
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

A Comissão de Valores Mobiliários − CVM editou, no início deste ano de 2018,


por meio da Superintendência de Investidores Institucionais – SIN, área técnica, o
entendimento de que as criptomoedas não podem ser qualificadas como ativos
financeiros, para os efeitos do disposto no artigo 2º, V, da Instrução CVM nº
555/14, e, por essa razão, sua aquisição direta pelos fundos de investimento ali
regulados não é permitida.
Ofício Circular nº 1/2018/CVM/SIN, 12 de janeiro de 2018. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/
oficios-circulares/sin/anexos/oc-sin-0118.pdf. Acesso em 20.02.2018 às 15:49hs.
65
Bitcoin, Receita Federal e regulação: como foi audiência do Senado sobre criptomoedas
Por Alexandre Antunes - 26 JUN, 2019 15:56
https://portaldobitcoin.com/bitcoin-receita-federal-e-regulacao-como-foi-audiencia-do-senado-sobre-criptomoedas/

A regulação do Bitcoin e de outras criptomoedas foi tema de uma audiência pública que durou
quase três horas na manhã dessa quarta-feira (26) no Senado, com a participação das
Comissões de Ciência e Tecnologia e de Assuntos Econômicos.

Participaram do evento, Rafael Santiago Lima, coordenador de estudos de atividades fiscais da


secretaria da Receita Federal que representou também o Ministério da Economia; Fernando
Furlan, presidente da Associação Brasileira de Criptoativos e Blockchain (ABCB); e Natalia
Garcia, presidente da Associação Brasileira de Criptoecnomia (ABCripto).

66
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não enviou representante para a
audiência pública. A autarquia justificou sua ausência por falta de verbas. O
fato causou espanto ao senador que propôs o debate, Flávio Arns (Rede/PR),
que afirmou que o assunto era também de interesse do órgão.

Arns, autor do requerimento nº 19/2019, foi quem presidiu a audiência que


tinha como objetivo promover o debate sobre “importância da regulação do
mercado de Criptoativos no Brasil, sob a perspectiva da proteção ao
consumidor e defesa da ordem econômico-financeira nacional”.
67
Controle do Bitcoin
O presidente da ABCB disse que é importante ter uma regulação que traga segurança, mas que não sirva de
amarra para as startups. Essa declaração veio após o senador Arns falar da necessidade do Estado controlar essa
atividade.

Arns explicou seu ponto de vista:

“A gente tem de ter resposta no sentido de pensar qual a necessidade de regulação desse novo mercado de
criptoativos. Saber qual a posição do governo e o órgão que deveria ser responsável pela fiscalização e
supervisão desse mercado. Mesmo a CVM não estando aqui, existe a possibilidade de colocar isso como valor
mobiliário”.

Apesar de existirem dois projetos de Lei tramitando na Câmara de Deputados, os de números 2.303/ 2015 e
2.060/2019 — ambos de autoria do deputado Federal Áureo Ribeiro (Solidariedade/RJ), Arns esclareceu que a
audiência “não está acontecendo em função de um projeto de lei apresentado”.

68
O senador afirmou que a discussão gira em torno de como o mercado de
criptoativos pode ser regulado.

“A gente espera que depois possa ter um projeto de lei adequado a realidade
da prática para que as atividades sejam claras e seguras neste mercado de
risco e para que as exchanges tenham a regulação de órgãos próprios”.

Rafael Santiago Lima, coordenador de estudos de atividades fiscais da


secretaria da Receita Federal, afirmou que a demora na criação de um marco
regulatório não é privilégio das criptomoedas. Lima lembrou que os cartões
de crédito também levaram tempo para terem normas regulatórias.
69
Questões preocupantes

O senador Styvenson Valentim (Podemos/RN), no entanto, não escondeu a sua preocupação


sobre a falta de garantias nesse mercado e questionou Furlan sobre quem cobriria o prejuízo a
ser enfrentado por investidores em caso de uma eventual quebra de uma corretora de
criptomoedas.

Valentim afirmou, que apesar de as instituições financeiras serem burocráticas, “de uma forma
ou de outra há garantia. Se um banco quebrar, o governo é quem paga”.

“Mas aí, quando uma corretora dessa de criptomoeda quebra quem é que dá a garantia que o
investidor vai ter o dinheiro dele?”, provocou o senador.

Na visão de Valentim, o ativo digital tem sido objeto de crimes como lavagem de dinheiro e
evasão de divisas.

70
Furlan, em contrapartida, respondeu que há ainda muita desinformação e desconhecimento
acerca do Bitcoin e o caminho é a promoção do debate para se conhecer o assunto e
desmistificar o tema. Ele disse que a transparência e a imutabilidade da Blockchain são
importantes ferramentas que reduzem a incidência de lavagem de dinheiro:

“Com essa tecnologia criptográfica é impossível apagar uma operação. Ela fica para sempre
registrada em todos os computadores de todos os usuários do sistema. Por isso que os
criptoativos são hoje considerados um setor de baixo risco para a lavagem de dinheiro e outros
crimes”.

Ele declarou que apesar de haver a privacidade e o nome das pessoas estarem sob sigilo, em
caso de necessidade pode ser apurado quem foi a pessoa que executou determinada operação.
“Os criptoativos são uma forma muito ruim para quem quiser esconder o seu dinheiro”.

71
Marco regulatório da Receita Federal

Sobre este assunto, o coordenador de estudos de atividades da Receita Federal


esclareceu que o órgão instituiu regulamento naquilo em cabe à Receita tratar, que é
referente ao efeito fiscal. “O criptoativo paga tributo e é em cima de ganho de
capital”, como ocorre com a venda de qualquer bem.

Lima falou sobre a Instrução Normativa 1.888/2019, a qual dispõe sobre a


obrigatoriedade de as pessoas que transacionam criptomoedas informarem sobre
suas operações à Receita. Segundo o representante da Receita Federal, a norma foi
feita com a colaboração das associações representativas do setor de criptomoedas
que forneceram informações sobre o que seriam esses ativos.
72
Lima ainda disse que houve até mesmo a participação do Banco Central para a
definição do que seria a criptomoeda. A autarquia exigiu que norma deixasse claro
que “não constitui moeda de curso legal”.

Natalia Garcia, presidente da Abcripto e diretora jurídica da Foxbit, falou sobre


Blockchain, forma de aquisição de criptomoedas comparando a ordem de compra e
venda dessas criptomoedas com aquela feita na bolsa de valores e apontou a
regulação do Japão, Austrália e Cingapura em comparação com o Brasil.

Para ela, o país está seguindo o caminho da Austrália e Cingapura pelo fato de o
Banco Central e CVM já terem criado um sandbox regulatório.

73
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

Alegou-se, no Ofício Circular nº01/2018, que outras consultas também têm chegado à referida autarquia federal
com a indagação quanto à possibilidade de serem constituídos fundos de investimento no Brasil, com o propósito
específico de investir em outros veículos, constituídos em jurisdições onde eles sejam admitidos e
regulamentados, e que, por sua vez, tenham por estratégia o investimento em criptomoedas, ou, ainda, em
derivativos admitidos à negociação em ambientes regulamentados de outras jurisdições. Entretanto, não custa
realçar, que as discussões existentes sobre o investimento em criptomoedas, seja diretamente pelos fundos, seja
de outras formas, ainda encontra-se em patamar bastante incipiente, e convive, inclusive, com projeto de lei em
curso, de nº 2.303/2015, que pode vir a impedir, restringir ou mesmo criminalizar a negociação de tais
modalidades de investimento.
74
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

A CVM emitiu, recentemente, uma Deliberação de Stop Order na empresa


HashCoin Brasil, com fulcro no Memorando nº 17/2017-CVM/SER, ficando claro
que, diante de tal decisão, existe a possibilidade de perfeita subsunção de algumas
modalidades de moedas virtuais ao conceito de valores mobiliário de Contrato de
Investimento Coletivo, artigo 2º, inciso 9º, da Lei 6.385/76 na modalidade
Telemático disponível em: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes
/anexos/2017/20171219/0882.pdf. Acesso em 16.03.2018.
75
76
77
O PL 2.303/15 e seu substitutivo

No dia 14 de dezembro de 2017, foi apresentado na Câmara dos


Deputados o relatório do Deputado Expedito Netto, como substitutivo
ao PL 2.303/15, de autoria do Deputado Áureo, líder do Solidariedade,
que dispõe sobre a inclusão das moedas virtuais e programas de
milhagem aérea na definição de ''arranjos de pagamento'', sob a
supervisão do Banco Central (Lei 12.865, de 9 de outubro de 2013).

78
O PL 2.303/15 e seu substitutivo

O referido documento constitui, ao ver de ambos os signatários do presente artigo,


verdadeiro revés para aqueles que são favoráveis à admissibilidade das criptomoedas e
dos tokens virtuais. Esse texto pretende não apenas proibi-los, mas também criminaliza
expressamente o lançamento, a comercialização, a intermediação e a aceitação como
meio de pagamento desses ativos virtuais.
O art.292 A, acrescido ao art. 292 do Código Penal, traz a seguinte redação: “Organizar, gerir, ofertar carteiras, intermediar
operações de compra e venda de Criptomoedas ou Token Virtual com o objetivo de pirâmide financeira, evasão de divisas, sonegação
fiscal, realização de operações fraudulentas ou prática de outros crimes contra o Sistema Financeiro, independentemente da
obtenção de benefício econômico.”

79
O PL 2.303/15 e seu substitutivo
Segundo o relator, Deputado Expedito Netto, as moedas virtuais representariam verdadeira e indevida

invasão ao Sistema Monetário Nacional, violando preceitos constitucionais que garantem ao Banco

Central o monopólio de emissão da moeda, ainda que em formato digital. Com o propósito de justificar

seu entendimento, o parlamentar fez referência ao Comunicado 31.379, de 16 de novembro de 2017, do

BACEN, que alerta sobre os riscos das operações dessa natureza. Também citou as declarações de Joseph

Stiglitz (Prêmio Nobel de Economia), que não vê outra intenção dos investidores em moedas digitais,

além da prática de ilícitos. Nesse sentido, ao final, defendeu a aprovação do projeto de lei em comento,

desde que em conformidade com as alterações anexadas ao voto.

80
O PL 2.303/15 e seu substitutivo
Esse substitutivo ao PL 2.303/15, no entanto, não tem − nem mesmo remotamente − o escopo de
complementar o texto original. Antes, na verdade, descaracteriza-o por completo. Entre outras
medidas, por exemplo, propõe considerar as moedas virtuais como representações digitais de
valor, sem curso legal no Brasil e no exterior. Mais do que isso, resolve inseri-las no contexto dos
crimes contra a fé pública, previstos no Capítulo I, Título X, do Código Penal, acrescentando ao art.
292 o parágrafo primeiro, que traz a seguinte redação: ''Incide na mesma pena quem, sem
permissão legal, emite, intermedeia troca, armazena para terceiros, realiza troca por moeda de
curso legal no país ou moeda estrangeira, moeda digital, moeda virtual ou criptomoedas que não
seja emitida pelo Banco Central do Brasil.''

81
O PL 2.303/15 e seu substitutivo
Ao cabo de seu comentário, Anne Chang apresenta a seguinte conclusão:

“Moedas virtuais, talvez por seu caráter inovador e por serem novas no nosso cotidiano, trazem dúvidas quanto à
aplicabilidade das normas jurídicas vigentes. A incerteza é por vezes reforçada pelas notícias em nossas mídias
sociais e meios de comunicação, que parecem validar o status das moedas virtuais − principalmente bitcoins, que
foram recentemente admitidos na Bolsa Mercantil de Chicago − para logo em seguida ressaltar o ceticismo que as
cerca, utilizando opiniões de algumas das mais importantes autoridades do mercado. No entanto, no meio jurídico,
ainda que os mecanismos não sejam claros ou testados, temos certeza da aplicabilidade das leis atuais − e sua
adequação técnica − às situações apresentadas na solicitação de penhora de moeda virtual. Como em qualquer
outro ativo, cabe ao credor: I) comprovar a existência do ativo de propriedade do devedor e II) buscar medidas que
permitam a satisfação de sua pretensão de forma específica, sempre com base em indícios suficientes ou
fundamentados.”
82
Boletim da Associação dos Advogados de São Paulo nº 3.054
83
84
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86
Austrália

Em outubro de 2017, o Senado australiano começou a debater um projeto de lei que aplicaria os estatutos


contra a lavagem de dinheiro nas bolsas de criptomoedas do país, bem como a determinação de acusações
criminais por trocas que operam sem licença.
Naquele mesmo mês, as autoridades fiscais removeram a “dupla tributação” do bitcoin, que foi resultado de
uma decisão em 2014 de tratar a criptomoeda como um “bem permutado” em vez de uma moeda ou ativo.
A partir do final de 2017, as trocas de criptomoedas terão que se registrar na agência de inteligência financeira
do país, a Austrac, e cumprir com os requisitos de verificação de clientes e preservação de registros.
É improvável, no entanto, que novas medidas sejam tomadas, no entanto, já que autoridades do banco central
afirmaram recentemente que a regulamentação não é necessária para o uso de criptomoedas como
pagamento.

87
Argentina
Apesar de um forte ecossistema de bitcoin , a Argentina ainda não estabeleceu
regulamentos para a criptomoeda, embora o banco central tenha emitido 
alertas oficiais sobre os riscos envolvidos.

Bangladesh
Em 2015, Bangladesh expressamente declarou que usar criptomoedas era uma “ofensa
punível”.

Bolívia
Em 2014, o banco central da Bolívia proibiu oficialmente o uso de qualquer moeda ou
tokens não emitidos pelo governo.
88
Canadá

O Canadá foi um dos primeiros países a elaborar o que poderia ser


considerado “legislação de bitcoin”, com a aprovação do Bill C-31 em
2014, que designou “negócios em moeda virtual” como “empresas de
serviços monetários”, obrigando-os a cumprir - lavagem de dinheiro e
conhecer os requisitos do cliente.
O governo especificou que o bitcoin não tem curso legal , e a 
autoridade fiscal do país considerou as transações com bitcoin
tributáveis, dependendo do tipo de atividade.

89
China
Embora a China não tenha banido o bitcoin (e insiste que não tem
planos), reprimiu as bolsas de bitcoin - todas as principais bolsas de
bitcoin no país, incluindo OKCoin, Huobi, BTC China e ViaBTC, carteira
suspensa de ativos digitais em relação ao yuan em 2017.
Também parece estar retirando o tratamento preferencial (deduções
fiscais e eletricidade barata) para os mineradores de bitcoin.

Equador
Em 2014, a Assembléia Nacional do Equador proibiu bitcoin e
descentralizou moedas digitais, ao mesmo tempo em que estabeleceu
diretrizes para a criação de uma nova moeda estatal.
90
Egito

Em janeiro de 2018, o Grande Mufti do Egito declarou que


o comércio de criptomoedas era proibidosob a lei religiosa
islâmica devido ao risco associado à atividade. Embora isso
não seja juridicamente vinculante, ele conta como uma
opinião legal de alto nível.

91
Europa

A União Européia está adotando uma abordagem cautelosa em relação à regulação da criptomoeda, com várias
iniciativas em andamento para envolver os participantes do setor na elaboração de regras de apoio. O foco parece
estar no aprendizado antes de regulamentar, ao mesmo tempo em que estimula a inovação e leva em conta as
necessidades do ecossistema.
O Banco Central Europeu (BCE), no entanto, está pressionando por um controle mais rígido sobre os movimentos
das moedas digitais como parte de uma repressão mais ampla à lavagem de dinheiro, enquanto reconhece as 
complexidades jurisdicionais na regulação de um ativo sem fronteiras. No final de 2017, um funcionário do BCE
afirmou que a instituição não via bitcoin como uma ameaça, e o presidente Mario Draghi recentemente 
confirmou que , aos olhos do BCE, o bitcoin não era “maduro o suficiente” para regulamentação.
Em abril de 2018, os membros do parlamento votaram por uma grande maioria para apoiar um acordo de
dezembro de 2017 com o Conselho Europeu para medidas destinadas, em parte, a prevenir o uso de
criptomoedas no branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo.
92
G20

O G20 - composto pelas 20 maiores economias do


mundo - recentemente voltou sua atenção para as
criptomoedas em geral e se comprometeu a elaborar
recomendações sobre os primeiros passos em direção
à regulamentação até julho de 2018 .

93
Índia
O banco central indiano emitiu duas advertências oficiais sobre bitcoin e, no final de 2017, o ministro das
Finanças do país esclareceu em uma entrevista que o bitcoin não é uma moeda legal . O governo ainda
não possui nenhum regulamento que cubra criptomoedas, embora esteja procurando recomendações.
O banco central, no entanto, proibiu as instituições financeiras indianas de trabalhar com trocas de
criptomoedas e outros serviços relacionados (uma proibição recentemente confirmada pelo Supremo
Tribunal do país).

Irã
Em abril de 2018, o banco central do Irã e um de seus principais reguladores de mercado disseram que
as empresas financeiras não deveriam negociar com bitcoins ou outras criptomoedas. Além disso, a
CoinDesk informou recentemente sobre a censura do governo a sites de troca de criptomoeda que
operam no país.
94
Japão

O Japão foi o primeiro país a declarar expressamente o bitcoin , passando


uma lei no início de 2017 que também trouxe as bolsas de bitcoin sob as
regras contra lavagem de dinheiro e know-your-customer (embora os
pedidos de licença tenham sido suspensos temporariamente enquanto os
reguladores lidam com um hack na troca de moeda no início de 2018).
Recentemente, a Agência de Serviços Financeiros vem reprimindo as trocas
 , suspendendo duas, emitindo ordens de melhoria para vários e exigindo
melhores medidas de segurança em cinco outras. Também estabeleceu um
grupo de estudo da indústria de troca de criptomoedas que visa examinar
questões institucionais relativas ao bitcoin e outros ativos.

95
Estados Unidos da America
Os EUA são atormentados por um sistema regulatório fragmentado, com legisladores no nível
estadual e federal responsáveis ​por jurisdições em camadas e uma complexa separação de poderes.

Alguns estados são mais avançados do que outros na supervisão da criptomoeda. Nova York, por
exemplo, revelou a controversa BitLicense em 2015, concedendo às empresas de bitcoins a
autorização oficial para operar no estado (muitas startups saíram do estado ao invés de cumprir os
requisitos caros). Em meados de 2017, Washington aprovou uma lei que aplicava leis de
transmissores de dinheiro para as bolsas de bitcoin.

New Hampshire requer vendedores de bitcoin para obter uma licença de transmissor de dinheiro e
postar um título de US $ 100.000. No Texas, a comissão estadual de valores mobiliários está
monitorando (e, ocasionalmente, fechando ) oportunidades de investimento relacionadas a bitcoins.
E a Califórnia está no limbo da regulação do bitcoin após congelar o progresso do Projeto de Lei 1326,
que - embora criticado por questões como definições excessivamente amplas - era visto como menos
opressivo do que o BitLicense de Nova York.

96
No nível federal, o foco da Comissão de Valores Mobiliários tem sido o uso de ativos de blockchain
como títulos, tais como se determinados fundos de investimento em bitcoin deveriam ou não ser
vendidos ao público, e se uma determinada oferta é fraudulenta ou não .
A Commodities Futures Trading Commission (CFTC) tem uma pegada potencial maior na
regulamentação de bitcoin, dada sua designação de criptomoeda como uma “commodity”. Embora
ainda tenha que elaborar regulamentações abrangentes de bitcoin , seus esforços recentes se
concentraram no monitoramento dos futuros nascentes. mercado . Também apresentou acusações
em vários esquemas relacionados a bitcoins , o que reforça sua intenção de exercer jurisdição sobre
moedas criptografadas sempre que suspeitar que possa haver fraude.
A Uniform Law Commission, uma associação sem fins lucrativos que visa trazer clareza e coesão à
legislação estadual, elaborou o Regulamento Uniforme da Lei de Negócios em Moeda Virtual , que
vários estados estão contemplando introduzir nas próximas sessões legislativas. A Lei pretende definir
quais atividades de moeda virtual são negócios de transmissão de dinheiro e que tipo de licença eles
exigiriam. Os críticos temem que isso se pareça muito com a New York BitLicense.

97
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

Fintechs são boas alternativas tanto para quem quer investir ou aplicar
recursos, quanto para quem tem necessidade de tomar crédito.

98
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

São “instituições financeiras” recentes no mercado que unem


tecnologia e serviços financeiros. Realizam todos os serviços que os
bancos tradicionais oferecem, porém com estrutura mais enxuta e com
um refinamento tecnológico que destoa em alguns aspectos da maioria
das instituições bancárias.

99
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

Em consonância com os muitos anglicismos introduzidos no português


do Brasil com o desenvolvimento tecnológico advindo da internet
comercial, assinalamos, a título elucidativo, que o termo “fintech”
advém da justaposição das palavras inglesas “financial” (finanças) e
“technology” (tecnologia).

100
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

O sentido literal do termo designa muito bem essas instituições,


porque prestam serviços financeiros como qualquer outra, mas de
maneira mais fácil e rápida, porém, ainda, sem regulação adequada,
uma vez que as operações são feitas pela internet.

101
Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.

Para a CVM, órgão regulador do mercado de capitais brasileiro, entende-se por


“FinTech” a aplicação intensiva de novas tecnologia nos mercados, produtos ou
serviços sob a jurisdição da CVM, incluindo, dentre outros, áreas relacionadas a
plataformas de financiamento e à distribuição, negociação e pós-negociação de
valores mobiliários, tais como: crowdfunding, digital securities, automated
advice, distributed ledger technology e high-frequency trading.
Definição inserida na Portaria CVM/PTE/Nº 105, de 7 de junho de 2016.
102
103
Uma lei de 2013 liberou a interoperabilidade no mercado financeiro
brasileiro, aos moldes da interconexão das empresas de telefonia.

O BC começou a tratar da questão em 2015. Mas, em março deste ano,


quando os contratos de interoperabilidade estavam prestes a ser
assinados, sinalizou que pretende voltar atrás.

A autoridade monetária fez isso ao levar para discussão com o mercado


a consulta pública 63.

A proposta visa impedir que haja essa interoperabilidade no sistema


financeiro brasileiro. Sem esse sistema, as fintechs passam a ser vistas
como prestadoras de serviço, e não parte dele.
104
Um estudo do Insper aponta que, se o BC mudar as regras, os mais prejudicados serão os pequenos e médios
comerciantes e consumidores.

O trabalho de autoria dos professores de finanças Claudia Bruschi e Adalto Barbaceia, do Centro de Estudos em
Negócios, será apresentado hoje na instituição.

“É preciso tratar com o maior cuidado essa abordagem, que pode eliminar a flexibilidade necessária para inovações
que melhoram o bem-estar social por meio da inclusão”, diz o estudo.

Se as fintechs tiverem sempre de estar submetidas às regras de uma bandeira de cartão ou outras instituições
financeiras, vão perder a capacidade de inovar.

A tecnologia, nos últimos tempos, inclusive, caminha para os pagamentos que não passam por bandeiras, cartões
ou maquininhas, mas que usam as chamadas contas digitais, com sistemas como QR Code (leitura rápida por
código) ou o P2P (peer to peer —sistema de pagamento entre pessoas). Esses sistemas também serão prejudicados.

105
O trabalho do Insper aponta que essas empresas inovadoras revolucionaram o mercado de
intermediação de meios de pagamento atendendo o nicho de micro, pequeno e médios comerciantes.
Elas desenvolveram plataformas digitais e inovaram ao oferecer custos menores para que lojistas,
físicos ou virtuais.

“Essa iniciativa vai contra a tendência recente do BC, que foi a de flexibilizar as regras para incentivar a
inovação”, diz Barbaceia.

Ao iniciar uma consulta pública, o BC argumentou que tomava a iniciativa por entender que, no modelo
atual, as fintechs teriam “uma situação privilegiada”.

“Mas nós não conseguimos identificar exatamente qual seria esse benefício”, diz Barbaceia, do Insper.
A ressalva dos pesquisadores, porém, é a escassez de informações quantitativas sobre o setor, uma vez
que muitos dados são sigilosos. 106
Títulos de crédito eletrônicos
DUPLICATA VIRTUAL

107
Ao atribuir interpretação contemporânea ao princípio
da cartularidade dos títulos de crédito, legitimando o
crédito escritural, mais especificamente no contexto da
chamada duplicata virtual, o Superior Tribunal de
Justiça demarcou, no ano de 2011, o fim de uma
longa, sinuosa e polêmica caminhada, que se iniciara
ainda na década de 80.

108
Histórico das Duplicatas no Brasil: da cartularidade em
papel ao crédito escritural eletrônico.
O surgimento da duplicata – como costuma acontecer com
grande parte dos institutos de Direito Comercial – é fruto da
práxis mercantil.
Somente em época posterior veio a ser formalmente regulado
pelo Direito.

109
Podem-se divisar quatro fases evolutivas desse título de crédito.

Antes, porém, é preciso delimitar o que se considera por duplicata.

110
Para tanto são citadas duas definições, uma sintética e outra
mais analítica:
“A duplicata mercantil é um título de crédito contendo cláusula à
ordem, que se caracteriza por documentar o saque do vendedor pela
importância faturada ao comprador, identificado como sacado.
O seu criador, que é o comerciante vendedor (ou prestador de serviços),
vincula-se à obrigação por promessa indireta.
Tem como causa uma transação de natureza mercantil; mas,
destinando-se à mobilização de capital, cuja provisão repousa no valor
das mercadorias objeto de negócio subjacente e indicadas na
correspondente fatura, desliga-se no entanto, da sua causa geratriz pelo
endosso ou pelo aceite.”
 RESTIFFE NETO, Paulo. Novos Rumos da Duplicata. 2. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1975. p. 10.
111
“A duplicata é título de crédito formal, impróprio, causal, à ordem,
extraído por vendedor ou prestador de serviços, que visa a
documentar o saque fundado sobre crédito decorrente de compra e
venda mercantil ou prestação de serviços, assimilada aos títulos
cambiários por lei, e que tem como seu pressuposto a extração da
fatura.”
ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Títulos de Crédito. 4. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006. p. 673.

112
Antecedente remoto das duplicatas na legislação brasileira:
Art. 219 do Código Comercial de 1850.
Este dispositivo impunha que nas vendas a prazo, entre comerciantes, o
vendedor deveria apresentar ao comprador a fatura em duas vias
idênticas, assinadas por ambas as partes, ficando uma com o vendedor
e outra com o comprador.
Não havendo reclamação no prazo de 10 dias, as contas presumiam-se
líquidas.

113
Na sequência, o Decreto nº 737/1850 - mais conhecido como “Regulamento nº 737”, tão
lembrando quando se estuda a vetusta teoria dos atos de comércio

– no art. 246 e seguintes conferia ao vendedor ação para executar créditos decorrentes de
compra e venda mercantil, no prazo de 10 dias.

As faturas, assim, documentavam a compra e venda mercantil


desde a época do Império.

Elas eram utilizadas principalmente para requerer a falência do


comprador, caso este não efetuasse o pagamento devido

114
• Até então, porém, não se cogitava da existência das duplicatas.
• Neste momento embrionário, a fatura servia para documentar a
compra e venda a prazo, celebrada entre comerciantes, mas
inicialmente não viabilizava a circulação do crédito.
• Ela não permitia, por exemplo, que o vendedor efetuasse
descontos bancários para antecipar o recebimento de parte do
valor das vendas. Tais operações só viriam a se difundir na
década de 20 do século seguinte.
115
É curioso observar que a duplicata surgiu como alternativa ao saque das letras de
câmbio, justamente para propiciar maior agilidade e menos formalismo na
circulação do crédito.

Surgiu de uma necessidade prática dos comerciantes.

Em razão das dimensões continentais do Brasil e do deficiente sistema nacional


de transportes no início do século passado, o procedimento para receber os
valores documentados na letra de câmbio era demorado. Primeiro seria preciso
sacar o título, em seguida remetê-lo para aceite, recebê-lo de volta (o que
raramente ocorria na prática) e posteriormente ainda reapresentá-lo para
pagamento.

116
Todo esse lento percurso desestimulou, historicamente, o uso da letra de câmbio
no comércio interno do país.

Ainda hoje, o título é pouco utilizado para essa finalidade, apesar de ser com
base nele que muitos dos manuais estudam títulos de crédito, o que já sugere
uma revisão na metodologia da disciplina e na estruturação de tais obras, a fim
de conferir maior atenção aos títulos de uso corrente no país, ao invés de
dedicar-lhes posição subalterna.

117
Assim, foi se tornando comum, no dia-a-dia do comércio, ao invés de
sacar a letra de câmbio e aguardar todo o moroso procedimento
descrito acima, simplesmente colher a assinatura do cliente na segunda
via da fatura e, a partir dela, imediatamente comprovar perante os
bancos a celebração do negócio e a existência do crédito, a fim de
contratar operações financeiras.
Ou seja, o costume mercantil passou a aceitar a fatura devidamente assinada
como documento apto a antecipar a circulação do crédito. Foi desta prática que
posteriormente surgiria duplicata.
118
Em suma, a duplicata, um dos títulos circulatórios de maior aplicação
prática no Brasil, título de crédito de origem tipicamente nacional
(ainda que existam figuras semelhantes em outros países), surgiu
justamente do desuso daquele que é tido na doutrina como a principal
espécie de título de crédito: as letras de câmbio.

Sua consagração legislativa ocorreu na década de 20 do século


passado, quando se tornou obrigatória a emissão da duplicata, em
substituição à fatura, tanto para viabilizar a cobrança de imposto
sobre as vendas (“imposto do selo”) quanto para resguardar os
próprios comerciantes, fornecendo-lhes meio oficial de documentar as
operações creditícias
119
Na sequência, sobreveio a Lei nº 187/1936, confirmando esta
obrigatoriedade.

A Lei nº 187/1936 foi, por fim, substituída pela Lei nº 5.474/1968, que
ainda hoje regula as duplicatas.

120
Desde o início, portanto, a duplicata surgiu como título causal, ou
seja, aquele que só pode ser emitido para documentar o crédito
decorrente de determinado negócio jurídico que, em relação às
duplicatas, era a compra e venda mercantil a prazo.

Se não existisse o negócio jurídico subjacente o título não poderia ser


emitido, constituindo tal prática um crime (duplicata simulada).

121
Ocorre que o moroso e burocrático procedimento para
cobrança das duplicatas, fixado originariamente na Lei nº
187/1936 e mantido na atual Lei nº 5.474/1968, é totalmente
contrário ao dinamismo que o comércio requer para a
circulação dos créditos.

Procedimento composto, basicamente, das seguintes etapas:


• extração da cártula da duplicata a partir da fatura que documenta uma compra e venda mercantil a prazo,
• encaminhamento ao comprador, para aceite,
• devolução da duplicata ao emitente, com ou sem aceite,
• apresentação para pagamento na data prevista no título,
• pagamento ou protesto e, finalmente,
• execução judicial da duplicata.
122
No caso das duplicatas, ao invés de caírem em desuso, os comerciantes
preferiram mantê-la, adotando, na prática, um procedimento de
circulação abreviado, que passou a suprimir algumas etapas do trâmite
ideal previsto na legislação.

Ou seja, desde o início a prática da circulação cambial das duplicatas já


omitia alguns passos previstos na lei, em prol da agilidade e
simplicidade na cobrança dos créditos.

123
Isto é próprio da cultura empresarial brasileira.

Tal constatação será muito importante adiante, ao verificar-se que a


duplicata virtual nada mais é do que a adaptação desse procedimento
às exigências contemporâneas de celeridade, à luz das novas
tecnologias.
124
Portanto, já nesta primeira fase histórica
as duplicatas não eram formalmente aceitas
nem devolvidas.

125
De qualquer modo, nesta primeira fase havia, ao menos, a extração
regular da cártula e seu envio ao devedor principal.

Havia, portanto, circulação do próprio título de crédito, na clássica definição de


Vivante VIVANTE, Cesare. Trattato di Diritto Commerciale. 5. ed. Bologna:
Francesco Vallardi, 1935. v. III. p. 63 e 164. “Il titolo di credito è un documento
necessario per esercitare il diritto letterale ed autonomo che vi è menzionato.”,
com apresentação da via original do título ao devedor principal.

126
Pode-se afirmar, então, que a primeira fase histórica foi marcada pela
circulação da cártula, ou seja, pela extração das duplicatas em papel e
circulação do próprio título.

Porém, o comércio clamava por ainda mais agilidade na cobrança das


duplicatas. E esta celeridade foi possível graças à intermediação das
instituições financeiras, originando uma segunda fase na circulação
cambial desse título.
127
Com efeito, ao invés de extrair a cártula e encaminhá-
la ao sacado, o credor passou simplesmente a
informar aos bancos quais seriam os dados do título,
como identificação e endereço do devedor, valor do
crédito e data de vencimento.

De posse desta informação, o banco então se


encarregava de encaminhar ao devedor um boleto de
cobrança, o conhecido boleto bancário.

128
Logo, nesta segunda fase histórica a cártula deixou de ser emitida, sendo
substituída pela informação que o credor enviava aos bancos e pelo
próprio boleto bancário.
Assim, o devedor principal não chegava a ver a duplicata, porque ela não
era sequer confeccionada. Ao invés disso, recebia um documento em
papel, contendo os dados de cobrança, conforme registrado na fatura.
O boleto bancário passou a fazer o papel da duplicata, tornando-se a
rotina brasileira nas décadas de 70 e 80.

129
Esta segunda fase marca a substituição da
circulação da cártula pela escrituração do
crédito.

130
A Lei das S.A. já previa a possibilidade de ações nominativas em
meio eletrônico.

No que toca às duplicatas, porém, essa escrituração ainda era feita,


basicamente, por registros em papel.
Apenas timidamente se utilizava o suporte eletrônico, baseado na microfilmagem.
Mesmo rudimentar – se visto com os olhos de hoje – o recurso à microfilmagem permitiu às
instituições financeiras reduzir tremendamente o volume de documentos em papel que teriam
de armazenar caso a escrituração continuasse a ser registrada em papel.

131
A terceira fase histórica é caracterizada pelo uso cada vez maior do suporte
eletrônico na escrituração dos créditos, inclusive daqueles que poderiam
ocasionar o saque de uma duplicata.

Nesta fase surgem dispositivos legais permitindo, por exemplo, realizar o protesto
por indicação a partir de comunicações eletrônicas entre o credor (ou instituição
financeira intermediária) e o cartório de protestos.
No Direito Comparado, a escrituração eletrônica do crédito desenvolveu-se na década de 70.
No Brasil, porém, sua consagração legislativa ocorreu somente no final da década de 90.

132
Já na década de 70 foi inaugurada, em outros países (com destaque
para a França), a tendência de progressiva desmaterialização da cártula
e sua substituição pela circulação eletrônica do crédito.

133
Afinal, os problemas que haviam conduzido outros países a legislar a respeito eram praticamente
os mesmos vivenciados no território nacional. Destarte, referido autor sugeriu que o país
instituísse a duplicata-extrato em papel – DEP (semelhante à LCR-papel), como fase preliminar
de transição até que o mercado e a cultura jurídica nacional assimilassem a possibilidade de uma
duplicata eletrônica em fita magnética – DEFM.

É nesta proposta que se encontra o embrião daquilo que hoje se denomina duplicata
virtual, cuja executoriedade viria a ser posteriormente reconhecida pelo Superior Tribunal
de Justiça, somente no ano de 2011.

134
Se no âmbito internacional a circulação eletrônica do crédito data de 1973, no Brasil a consagração legislativa
desta prática ocorreu mais de duas décadas depois.

Marco de tal mudança foi a Lei de Protestos, que dispôs, de maneira inequívoca, ser admissível também o
protesto de títulos de crédito a partir da indicação eletrônica dos dados do título, sem necessidade de
apresentação da cártula em papel.

Lei nº 9.492/97. “Art. 8º. (...)


Parágrafo único. Poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de
Prestação de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira
responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera
instrumentalização das mesmas.”
“Art. 22. (...)
Parágrafo único. Quando o Tabelião de Protesto conservar em seus arquivos gravação eletrônica da
imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título ou documento de dívida, dispensa-se, no
registro e no instrumento, a sua transcrição literal, bem como das demais declarações nele inseridas.”

135
Esta previsão legislativa era o estímulo que faltava
para que as instituições financeiras substituíssem, de
uma vez por todas, a circulação das duplicatas pela
cobrança via boleto bancário. Primeiramente, pelos
boletos em papel e, ato contínuo, por meios eletrônicos
de cobrança, como o DDA.
136
Assim, esta terceira fase histórica representa
a consolidação da escrituração eletrônica
do crédito. Importante destacar que ela
ainda está em curso.
A própria movimentação legislativa indica
isto.
137
Veja-se, por exemplo, o que dispõe o Projeto de Novo Código
Comercial, em discussão no Congresso Nacional:

“Art. 445. Título de crédito é o documento, cartular ou eletrônico, que contém a


cláusula cambial.”
 
“Art. 454. O título de crédito pode ter suporte cartular ou eletrônico.”
 
“Art. 455. O título de crédito emitido em um suporte pode ser transposto para o
outro.”
Projeto de Lei nº 1.572. Autor: Deputado Vicente Cândido. Brasília: 14.06.2011.

138
Já em vigor, também, as disposições do Código Civil a respeito, mas
que só se aplicam aos títulos atípicos.

“Art. 889. (...)


§ 3º. O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em
computador ou meio técnico equivalente e que constem da
escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos
neste artigo.”

139
Estes dois exemplos servem para evidenciar um movimento legislativo que busca
introduzir no país o título de crédito eletrônico, ou seja, a criação e circulação do
documento integralmente em suporte digital.

Isto, porém, ainda não pode ser considerado realidade, pois o que existe
atualmente, como visto, é a mera circulação escritural e eletrônica do direito de
crédito, não do próprio título de crédito. Tanto assim que os títulos de crédito
eletrônicos atípicos, cuja criação restou autorizada pelo Código Civil,
desempenham, hoje, papel de menor importância na prática mercantil.

140
Destarte, na fase atualmente em curso, não se pode, a rigor,
entender que a duplicata se tornou o primeiro título de
crédito eletrônico.
O que existe é a chamada “duplicata virtual”, que nada
mais é do que uma forma de circulação escritural do
crédito, não do próprio título.
Com efeito, nesta terceira fase histórica não existe a
formação da cártula da duplicata, do próprio título de crédito.
O direito de crédito é que circula, de maneira escritural e
eletrônica.
141
A duplicata, portanto, permanece em estado potencial.
Essa potencialidade de que uma coisa venha a surgir a
partir de outra (no caso, a duplicata a partir da fatura)
é o significado mais preciso da palavra “virtual”,
segundo o prestigiado entendimento de Pierre Lèvy:
142
“A palavra virtual vem do latim medieval virtualis,
derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na
filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e
não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter
passado no entanto à concretização efetiva ou formal. A
árvore está virtualmente presente na semente. Em termos
rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real,
mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas
maneiras de ser diferentes.”
LÉVY, Pierre. O que é o Virtual. Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Editora
34, 2007. p. 15.

143
Ou seja, a nomenclatura duplicata virtual é
bastante adequada para se referir à terceira
fase histórica deste título de crédito, na qual
a circulação da cártula é substituída pela
circulação escritural eletrônica do crédito,
permanecendo a cártula meramente
potencial, ou virtual.

144
Nesta terceira fase histórica resta definitivamente consagrada
a dispensa de extração da cártula da duplicata e sua
substituição pela circulação eletrônica do crédito (duplicata
virtual), inclusive para fins de processo judicial de execução.

E, mesmo que contraproducente do ponto de vista do


dinamismo comercial, a cártula em papel ainda pode ser
extraída, a qualquer tempo, pois está potencialmente presente
ao longo de todo o procedimento de cobrança.

145
O que precisa ficar claro, em relação à atual fase histórica, é o
fato de que nela se autoriza apenas a circulação escritural do
crédito, em meio eletrônico.
Não se admite, ainda, a circulação eletrônica do título de
crédito, da própria duplicata. Esta, como visto, não é
sequer sacada, permanecendo num estado potencial (virtual).
Assim, não se pode confundir a circulação escritural, em
meio eletrônico, do direito de crédito, com a existência de um
autêntico título de crédito eletrônico.

146
FASE HISTÓRICA PRÁTICA COMERCIAL ADOTADA SIGNIFICADO JURÍDICO MARCO TEMPORAL

Circulação do próprio título de Do surgimento das duplicatas


Extração da cártula da duplicata e
1 crédito, com procedimento abreviado (década de 20 do século passado)
remessa ao sacado, para aceite.
em relação ao previsto na lei. até o final da década de 60.

Circulação escritural do direito de


Substituição da cártula pelo envio de Décadas de 70, 80 e início da
2 crédito, em papel, substituindo a
boletos bancários, em papel. década de 90.
circulação do próprio título de crédito.

Protesto por indicação, em meio


eletrônico, a partir dos dados Circulação escritural do direito de
3 Atualmente em curso.
constantes da fatura. crédito, em meio eletrônico.
(duplicata virtual)

Criação e circulação da duplicata


4 integralmente em meio eletrônico. Título de crédito eletrônico. Perspectiva.
(duplicata eletrônica)

147
Principais disposições legais quanto à cobrança das
duplicatas.

148
Como se sabe, a vigente Lei nº 5.474/1968 manteve a duplicata como
único título de crédito passível de ser emitido na compra e venda a prazo,
celebrada entre empresários, ampliando esta possibilidade também para
os prestadores de serviço.
Como este título documenta o crédito decorrente de uma operação já
realizada, o sacado, em regra, deve arcar com o pagamento dos valores
ajustados. Por isso, o aceite na duplicata é obrigatório, só podendo ser
recusado em situações excepcionais, quando o devedor comprova haver
algum vício no bem adquirido ou na prestação do serviço.
149
Lei nº 5.474/68:

“Art. 1º Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro,
com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o
vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador.”
“Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito
comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do
vendedor pela importância faturada ao comprador.”

“Art. 20. As emprêsas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação
de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata.”

“Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:


I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.”

150
Além de obrigatório, o aceite nas duplicatas é
também presumido. Com efeito, desde a sua
primeira fase histórica o normal era que as
duplicatas fossem recebidas pelo sacado e
automaticamente direcionadas para “contas a
pagar”, sendo quitadas no vencimento, como
qualquer outra dívida do empresário.
151
Destarte, criou-se a presunção relativa de que o título não devolvido após
o prazo legal de 10 dias teria sido aceito pelo sacado, pois esgotado o
prazo para que fundamentasse a recusa do aceite.
Consequentemente, após esse prazo o credor já poderia realizar
operações de crédito envolvendo a duplicata. Por exemplo, descontos
bancários. Ou seja, antes mesmo do vencimento do título o empresário já
poderia antecipar o recebimento de parte dos valores nele mencionados.
Lei nº 5.474/68 - “Art. 7º A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao
apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assinada ou
acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.”

152
As características da obrigatoriedade e presunção do
aceite, aliadas ao costume de não devolver a cártula ao
sacador, fizeram com que este sujeito, caso fosse
necessário protestar a duplicata, tivesse que se valer
de um procedimento alternativo, denominado protesto
por indicação.
A lei de protestos autorizou, ainda, que tal indicação
fosse feita exclusivamente por meio eletrônico.

153
Uma vez efetuado o protesto, formaliza-se a inadimplência do sacado, permitindo
a execução judicial da duplicata. É daqui por diante que surgem as dúvidas
jurídicas relacionadas à executividade da duplicata virtual. Com efeito, caso fosse
rigorosamente seguido o iter previsto na Lei nº 5.474/1968, como o aceite é
obrigatório e pode ser presumido em caso de não devolução da cártula, após 10
dias, bastaria ao credor comprovar o envio do título de crédito ao sacado, por
qualquer meio (correspondência com aviso de recebimento, notificação
extrajudicial, e-mail, etc.), bem como o transcurso do citado prazo, para viabilizar
a execução. O Superior Tribunal de Justiça, há anos, havia pacificado este tema.
Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, AgRg. nos ED. no AI. n.º 466.075/DF, j. 07.04.2003, Rel. Ministro Massami Uyeda.
Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º 1.037.819/MT, j. 23.02.2010, Rel. Ministro Massami Uyeda.

154
Ocorre que na prática mercantil a cártula sequer chega a ser extraída, pois a cobrança
se tornou meramente escritural e intermediada por instituições financeiras. O que se
enviava ao devedor eram outros instrumentos de cobrança, em papel (boletos
bancários) ou meio eletrônico (DDA e demais tipos de escrituração eletrônica do
crédito).
Neste contexto, a questão é saber se o protesto por indicação pode ser feito com
base nesses instrumentos, de modo a viabilizar a execução de um título de crédito
cuja cártula nunca chegou a se materializar (duplicata virtual). Este é o ponto
central que doutrina e jurisprudência precisaram enfrentar, e que será abordado nos
tópicos seguintes.
155
As duas grandes correntes da doutrina brasileira.

156
OBJETIVO: olhar para trás, destacando alguns dos
principais posicionamentos sobre o tema, a fim de
que se tenha clara percepção da evolução dos
debates que culminou no atual entendimento do
Superior Tribunal de Justiça.

157
E sobre esse debate, não é exagero afirmar que as discussões
podem ser resumidas em duas grandes correntes de
pensamento.
Ainda que com certa variação em seus argumentos, os
diversos autores enquadram-se numa ou noutra vertente.

158
De um lado, estão os que, confirmando a
doutrina clássica, sustentam que a palavra
documento mencionada no conceito de título
de crédito de Vivante refere-se
exclusivamente a documentos em papel. Ou
seja, o princípio da cartularidade, basilar em
matéria de títulos de crédito, autorizaria
apenas a existência de cártulas em papel.
159
Confira-se, por todos, o que disse Tullio Ascarelli:
 
“Os títulos de crédito são, antes de qualquer coisa, um documento. A disciplina
legislativa, necessariamente diferente quanto aos títulos diversos, indica os
requisitos de cada um deles. Caráter constante, porém, de todos, é que
constituem um documento; escrito, assinado pelo devedor, formal, no sentido de
que é submetido à condição de forma, estabelecida justamente par identificar
com exatidão o direito nele mencionado e as suas modalidades, a espécie do
título de crédito (daí nos títulos cambiários até o requisito da denominação), a
pessoa do credor, a forma de circulação do título e a pessoa do devedor (...).”
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Títulos de Crédito. Campinas: Servanda, 2009. p. 61.

160
 
“Parece-nos que, se por injustificado apego ao conceitualismo, se
concluísse pela total impossibilidade de estabelecer uma relação
dialética entre os novos instrumentos da Informática Bancária, ora em
fase de franco desenvolvimento, e a concepção tradicional dos títulos de
crédito, seria necessário, pelo menos, tendo em conta essa realidade
irrecusável que é a mobilização de vultosas somas em dinheiro
proporcionada por aqueles instrumentos, modificar a amplitude
conceitual do que se configura como um ‘documento’.”
DE LUCCA, Newton. A Cambial-Extrato. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985. p. 70-71.

161
Desde então, o que vem sendo discutido é, fundamentalmente, se as
informações armazenadas em suporte eletrônico também se
amoldam ao conceito jurídico de documento, tendo em vista as
evidentes distinções entre o papel e o suporte eletrônico. Em outras
palavras, se haveria uma interpretação contemporânea do princípio
da cartularidade dos títulos de crédito, apta a englobar os
documentos eletrônicos.

162
Como visto há pouco, uma das principais
críticas ao documento eletrônico era o fato
de que, nele, não havia assinatura autógrafa,
dada de próprio punho pelas partes
vinculadas ao instrumento.

163
Nos primórdios da Idade Média os documentos eram identificados por selos que
lhes eram apostos, e não por assinaturas, até porque nem mesmo os nobres eram
todos alfabetizados. Tal fato não impediu que aqueles documentos fossem
regularmente aceitos como prova. Ou seja: a assinatura manuscrita nem sempre foi
a maneira tradicional de identificação da autoria e integridade de um documento.
Algumas existiram antes dela e outras podem surgir depois, sem maiores
problemas.

164
Mas, afinal, o que é documento?

165
“Os documentos compõem-se de dois elementos. Haverá sempre um conteúdo e
um suporte. O primeiro equivale ao aspecto semiótico do documento, à idéia que
pretende transmitir. Revela, portanto, o próprio fato que se pretende representar
através do documento. Já o suporte constitui o elemento físico do documento, a
sua expressão exterior, manifestação concreta e sensível; é, enfim, o elemento
material, no qual se imprime a idéia transmitida.
Vale ressaltar que é freqüente equiparar o suporte da prova documental à escritura.
Imagina-se que somente haverá prova documental nas situações de prova escrita.
Todavia, o suporte do documento não se limita à via do papel escrito. Ao contrário,
o que caracteriza o suporte é o fato de tratar-se de elemento real, pouco importando
sua específica natureza. Desta forma, o suporte pode ser uma folha de papel, mas
também será o papel fotográfico, a fita cassete, o disquete de computador etc.”

166
Desde o ano de 2001 o Brasil implantou sistema destinado a garantir a autenticidade e integridade dos
documentos armazenados em suporte eletrônico. Tal sistema denomina-se Infra-Estrutura de Chaves
Públicas Brasileira, ou simplesmente ICP-Brasil. Tem por objetivo conferir segurança aos documentos
eletrônicos, equiparando seus efeitos jurídicos ao do documento em papel.

Medida Provisória nº 2.200-2/01. “Art. 1o  Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira -


ICP-Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma
eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem
como a realização de transações eletrônicas seguras.”

Medida Provisória nº 2.200-2/01. “Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para
todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.
§ 1º. As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica produzidos com a utilização de
processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação aos
signatários, na forma do art. 131 da Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 - Código Civil.”
O Código Civil confirma esse posicionamento: “Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas,
os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou
de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a
exatidão.”
167
Pode-se resumir o que foi dito há pouco em duas conclusões:
1) a assinatura manual, de próprio punho, não é a única forma
legalmente admissível para assegurar a autoria e integridade de
um documento;
2) o papel não é o único suporte material admissível para o
registro dos documentos. Estas conclusões apontam para a
validade jurídica dos documentos eletrônicos, eventualmente
até daqueles que consubstanciem título de crédito.
168
Há, todavia, quem sustente que o conceito de
documento, em sua feição clássica, tal como utilizado
para definir título de crédito, não poderia contemplar o
documento eletrônico, visto que este tipo de suporte
material não existia à época. A parte final do raciocínio
é incontestável: quando Cesare Vivante cunhou seu
conhecido conceito de títulos de crédito, não existiam
documentos eletrônicos. A divergência reside na
conclusão que se extrai disto.
169
O que não se deve fazer é deturpar conceitos históricos, descontextualizando-os
da época em que foram elaborados. Coisa muito diversa e saudável é reler os
conceitos jurídicos indeterminados, como o de documento, à luz do estágio atual
de desenvolvimento da humanidade. Portanto, não se vislumbra óbice para
reconhecer o suporte eletrônico como espécie de documento, inclusive na
definição científica dos títulos de crédito. A estes se aplicam, perfeitamente, a
definição de documento eletrônico apresentada por Leonardo Parentoni Netto:
 “(...) pode-se definir documento eletrônico como o texto escrito que representa um fato e tem
como suporte material uma mídia eletrônica.”
PARENTONI, Leonardo Netto. Documento Eletrônico: Aplicação e Interpretação pelo Poder Judiciário. Curitiba: Juruá,
2007. p. 36.
170
O argumento não impressiona. É fato que se deve diferenciar a
circulação do direito de crédito da circulação do próprio título de
crédito. A primeira vem sendo feita no Brasil, de maneira escritural,
sem a transferência da cártula, há mais de 40 anos. A tendência é
evoluir para que também a circulação do próprio título de crédito
ocorra em meio eletrônico. Atualmente, ainda não atingimos esta
quarta fase histórica, mas os instrumentos capazes de possibilitar isto,
do ponto de vista fático/tecnológico e jurídico, já existem. O desafio é
incorporá-los à prática do comércio.
171
O receio da duplicação dos títulos também não se sustenta, pois
cada via eletrônica do título mantém sua singularidade, pois a
certificação digital assimétrica torna esse documento único e
insuscetível de alteração não consentida. O propalado risco de vias
simultâneas do mesmo título e a insegurança disto decorrente não é
atributo exclusivo do suporte material eletrônico. Como visto,
também nos documentos em papel é possível extrair
simultaneamente duas ou mais vias originais, desde que todas
estejam assinadas (como rotineiramente ocorre nos contratos). E
nem por isso doutrina e jurisprudência vislumbram qualquer
ilegalidade nessa prática.

172
A legislação brasileira já está caminhando na direção sugerida pela
segunda corrente doutrinária. Ou seja, rumo à adoção do título de
crédito eletrônico. Nesse sentido:
• a Cédula de Produto Rural - CPR prevista na Lei nº 8.929/1994 e
posteriormente alterada pela Lei nº 11.076/2004. Trata-se de título
de crédito emitido em papel/cártula, mas que pode ser registrado em
sistema eletrônico autorizado pelo Banco Central do Brasil,
passando, a partir de então, a tramitar exclusivamente em meio
eletrônico.
• A Lei nº 11.076/2004 disciplina também o Certificado de Depósito
Agropecuário – CDA e o Warrant Agropecuário – WA. Assim como
na CPR, também para estes dois últimos a lei admite a transposição
do suporte em papel para o meio eletrônico, logo após a emissão do
título. 173
A Lei nº 11.882/2008, que trata da Letra de Câmbio
Mercantil – LAM foi adiante, autorizando que este
título seja, desde o início, emitido em forma escritural
eletrônica, bem como que circule desta maneira, sem a
existência de cártula/papel

174
Passo decisivo nesta mudança pode ser o Novo Código
Comercial. Abstraindo-se das várias críticas de ordem técnica
à redação do Anteprojeto, fato é que ele, como visto, opta por
afastar-se da concepção tradicional de cartularidade, atrelada
ao papel, para consagrar os títulos de crédito com suporte
eletrônico. E também registra a equivalência entre o suporte
material em papel e as mídias eletrônicas.

175
Assim, é possível afirmar que tanto do ponto de vista
tecnológico quanto jurídico existem bases suficientes
para flexibilizar a conceituação clássica do princípio
da cartularidade, passando a admitir-se que também
sejam considerados no conceito de cártula os
documentos com suporte eletrônico.

176
O papel da jurisprudência culminando na
uniformização pelo STJ.

177
Quanto às duplicatas virtuais, inicialmente prevaleceu na
jurisprudência o entendimento de que o protesto por indicação só
poderia ser lavrado mediante apresentação da cártula, ou seja, da
própria duplicata em papel. O boleto bancário, mesmo de uso
corrente, não se prestaria a tal finalidade, por duas razões. Primeiro,
porque não é título de crédito. Segundo, porque não está sujeito ao
aceite. Assim, ele não supriria o saque da duplicata, como autêntico
título de crédito:
  178
“FALÊNCIA – DUPLICATA MERCANTIL – COMPROVAÇÃO – REMESSA PARA ACEITE -
PROTESTO DE BOLETOS BANCÁRIOS – IMPOSSIBILIDADE – EXTRAÇÃO DE TRIPLICATAS
FORA DAS HIPÓTESES LEGAIS.
(...)
II – A retenção da duplicata remetida para aceite é condição para o protesto por indicação,
inadmissível o protesto de boletos bancários.
Recurso não conhecido.”
 
 
Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º 369.808/DF, j. 21.05.2002, Rel. Ministro Castro Filho.
Entendimento que prevaleceu no STJ até alguns anos atrás: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º
953.192/SC, j. 07.12.2010, Rel. Ministro Sidnei Beneti.

179
No ano de 2011 o Superior Tribunal de Justiça evoluiu sua
jurisprudência para admitir tanto o protesto por indicação baseado em
boleto bancário quanto a própria execução da duplicata virtual, desde
que além do citado boleto e do instrumento de protesto, fosse
apresentado também o comprovante de entrega da mercadoria ou de
prestação do serviço. É o que restou consagrado, por unanimidade, no
seguinte acórdão:
180
“EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR
INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTO
DAS MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DE CRÉDITO
ORIGINAL.
1. As duplicatas virtuais - emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica -
podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível
para o ajuizamento da execução judicial. Lei 9.492/97.
2. Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual,
devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de
entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços, suprem a ausência física do título cambiário
eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais.
3. Recurso especial a que se nega provimento.”
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º 1.024.691/PR, j. 22.03.2011, Rel. Ministra Nancy Andrighi.

181
Contra a decisão foram interpostos embargos de divergência, igualmente rejeitados por unanimidade, nos seguintes
termos:
 
“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA DEMONSTRADA. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO
INSTRUMENTO DE PROTESTO, DAS NOTAS FISCAIS E RESPECTIVOS COMPROVANTES DE ENTREGA DAS MERCADORIAS.
EXECUTIVIDADE RECONHECIDA.
1. Os acórdãos confrontados, em face de mesma situação fática, apresentam solução jurídica diversa para a questão da exequibilidade
da duplicata virtual, com base em boleto bancário, acompanhado do instrumento de protesto por indicação e das notas fiscais e
respectivos comprovantes de entrega de mercadorias, o que enseja o conhecimento dos embargos de divergência.
2. Embora a norma do art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 permita o
protesto por indicação nas hipóteses em que houver a retenção da duplicata enviada para aceite, o alcance desse dispositivo deve ser
ampliado para harmonizar-se também com o instituto da duplicata virtual, conforme previsão constante dos arts. 8º e 22 da Lei
9.492/97.
3. A indicação a protesto das duplicatas mercantis por meio
magnético ou de gravação eletrônica de dados encontra amparo no artigo 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/97. O art. 22 do mesmo
Diploma Legal, a seu turno, dispensa a transcrição literal do título quando o Tabelião de Protesto mantém em arquivo gravação
eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título ou documento da dívida.
4. Quanto à possibilidade de protesto por indicação da duplicata virtual, deve-se considerar que o que o art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68
admite, essencialmente, é o protesto da duplicata com dispensa de sua apresentação física, mediante simples indicação de seus
elementos ao cartório de protesto. Daí, é possível chegar-se à conclusão de que é admissível não somente o protesto por indicação na
hipótese de retenção do título pelo devedor, quando encaminhado para aceite, como expressamente previsto no referido artigo, mas
também na de duplicata virtual amparada em documento suficiente.

182
5. Reforça o entendimento acima a norma do § 2º do art. 15 da Lei 5.474/68, que cuida de
executividade da duplicata não aceita e não devolvida pelo devedor, isto é, ausente o documento
físico, autorizando sua cobrança judicial pelo processo executivo quando esta haja sido protestada
mediante indicação do credor, esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e
recebimento da mercadoria e o sacado não tenha recusado o aceite pelos motivos constantes dos
arts. 7º e 8º da Lei.
6. No caso dos autos, foi efetuado o protesto por indicação, estando o instrumento acompanhado
das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e
recebimento das mercadorias devidamente assinados, não havendo manifestação do devedor à vista
do documento de cobrança, ficando atendidas, suficientemente, as exigências legais para se
reconhecer a executividade das duplicatas protestadas por indicação.
7. O protesto de duplicata virtual por indicação apoiada em
apresentação do boleto, das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos
comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias devidamente assinados não descuida das
garantias devidas ao sacado e ao sacador.
8. Embargos de divergência conhecidos e desprovidos”
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Seção, EREsp. n.º 1.024.691/PR, j. 22.08.2012, Rel. Ministro
Raul Araújo.
183
A partir dessas decisões, o STJ pacificou a
executoriedade da duplicata virtual.

184
Feita essa ressalva, fato é que a executoriedade da
duplicata virtual, doutrinariamente defendida desde a
década de 80, finalmente ganhou o definitivo apoio da
jurisprudência. Resta demarcado, então, o caminho que
poderá conduzir a uma nova fase histórica, a do autêntico
título de crédito eletrônico.

185
A duplicata é um título de crédito de origem tipicamente nacional. Além disso,
tem como traço histórico marcante o fato de, na prática, sempre ter circulado
por meio de rito abreviado em relação ao iter previsto em lei, a fim de atender
às necessidades do mercado, em termos de celeridade na cobrança do crédito.
Justamente por isso é nela que se pode vislumbrar o embrião do primeiro título
de crédito genuinamente eletrônico, ou seja, criado e transmitido integralmente
como documento eletrônico. Ainda que já existam as bases (tanto
fática/tecnológica quanto jurídica) para a existência do título de crédito
genuinamente eletrônico, fato é que o Brasil ainda não ingressou nesta fase
histórica.
186
Porém, a paradigmática decisão do Superior Tribunal de
Justiça, consagrando a executividade da duplicata virtual,
afastou definitivamente os argumentos em contrário,
deixando aberto o caminho evolutivo rumo a esta nova
fase. Resta agora aguardar a resposta do mercado, já que a
linha evolutiva das duplicatas bem demonstra que
costumam partir dele, e não da lei, os passos mais firmes
rumo à evolução do instituto.
187
Reflexões finais

188
O futuro dos títulos de crédito

Paralelamente às inovações tecnológicas, que levam os títulos de crédito a


caminhar rumo aos chamados títulos eletrônicos, não se pode perder de vista que
a mobilização da riqueza no cenário econômico, sobretudo a partir de meados do
século XX, assistiu ao surgimento de um instrumento fundamental nesta seara,
qual seja, o valor mobiliário, ao lado do qual, pouco a pouco, foram surgindo os
chamados instrumentos derivados ou derivativos e os instrumentos monetários,
todos abarcados no conceito de instrumentos financeiros.

189
O futuro dos títulos de crédito

• O tempo dirá, no entanto, acredita-se que a finalidade de cada um desses instrumentos


continuará intacta, desde que se observem as mudanças relacionadas aos meios de transmissão
de informação e mesmo aos suportes que os tornam reais no mundo contemporâneo. É dizer,
há espaço para convivência de todos esses instrumentos de mobilização da riqueza, ao lado de
outros tantos que surgirão, ao sabor das necessidades da civilização capitalista.

• O grande desafio, por outro lado, será compreender as mudanças no fluxo de informações e de
armazenamento de dados, assim como os interesses envolvidos nesses processos, o que inclui a
possibilidade de reduzir o custo dessas operações de crédito.
190
O futuro dos títulos de crédito

• Não parece um exercício futurístico reconhecer que o uso do blockchain para o registro de
transações financeiras e de circulação de crédito alteraria o paradigma até então conhecido em
matéria de títulos de crédito ou de instrumentos financeiros.

• Da mesma forma, atos como o protesto cambial, arraigado à teoria dos títulos de crédito e
essencial ao atual sistema que garante segurança jurídica, agilidade e executividade à utilização
desses títulos, poderiam perder sua razão de existir, na medida em que outro mecanismo
eficiente e que garantisse a mesma segurança, agilidade e executividade viesse a substitui-lo,
como poderia ocorrer com um registro em certificadora autorizada por uma autoridade central.
191
O futuro dos títulos de crédito
• Nesse sentido, veja-se o recente Projeto de Lei n. 9327/17, da Câmara dos Deputados, que prevê a obrigatoriedade de que

as duplicatas sejam registradas eletronicamente em certificadoras autorizadas pelo Banco Central, modernizando o

processo de desconto de duplicatas e, em princípio, eliminando a necessidade do protesto do título.

• Segundo o projeto, haverá a guarda desses títulos eletrônicos por depositários centrais, que farão a guarda centralizada

desses ativos, o controle de sua titularidade efetiva e o tratamento de seus eventos. Além disso, caberá ao operador do

sistema eletrônico de escrituração ou ao depositário central expedir, a pedido de interessado, certidão de inteiro teor do

título, no qual deverá constar, entre outras informações, a data da emissão, os elementos necessários à identificação da

duplicata e a finalidade para a qual foi expedida.

•O inteiro teor do PL 9327/2017 pode ser obtido em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/

fichadetramitacao?idProposicao=2166092, acesso em 17.6.2018. 192


O futuro dos títulos de crédito
Da mesma forma, a criação de outros tipos de cadastros poderia, em tese, alterar o cenário atual
envolvendo o direito cambial, como é o caso do cadastro positivo de crédito, com reflexos diretos no
sistema de protesto de títulos, como se pode observar do Projeto de Lei n. 441/2017, também da Câmara
dos Deputados.

Em síntese, para muito além do suporte eletrônico, o futuro dos títulos de crédito está diretamente
relacionado às novas possibilidades para o fluxo de informações, em especial as de natureza financeira,
assim como aos mecanismos de armazenamento de dados, em constante evolução.

O inteiro teor do PL 441/2017 pode ser obtido em


http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2160860, acesso em
17.6.2018. 193
O futuro dos títulos de crédito

Seja como for, o Direito Comercial sempre esteve atento, ao longo de sua história
multimilenária, ao desenvolvimento e aprimoramento de instrumentos jurídicos
aptos à criação, circulação e mobilização da riqueza. Não será diferente no
alvorecer deste século, bastando para tanto, para utilizar a célebre lição do
Professor Fabio Konder Comparato , que de uma vez por todas nossos
jurisconsultos abandonem a velha tradição misoneísta, que continua a condenar às
trevas exteriores toda e qualquer manifestação jurídica que não se enquadre em
nosso sistema. 194
The Money flower: a taxonomy of Money
https://www.bis.org/cpmi/publ/d174.htm
Document – Central bank digital currencies – march 2018

Notas: O diagrama de Venn ilustra as quatro principais propriedades do dinheiro: emissor (banco central ou não); forma (digital ou física); acessibilidade
(amplamente ou restrito) e tecnologia (baseada em conta ou baseada em tokens). CB = banco central, CBDC = moeda digital do banco central (excluindo moeda
do banco central digital já disponível para contrapartes monetárias e algumas contrapartes não monetárias). Tokens digitais privados (propósito geral) incluem
ativos criptográficos e moedas, como bitcoin e ethereum. Os depósitos bancários não são amplamente acessíveis em todos jurisdições. Para exemplos de como
outras formas de dinheiro podem caber no diagrama, consulte a fonte. Fonte: Baseado em Bech e Garratt (2017). 195
“Karl Menger afirmaria, em 1892 (MENGER, Karl. “On the Origins of Money,” (traduzido por C.
A. Foley). Economic Journal, vol. 2, n. 6, pp. 239-55, 1892) , que as raízes da moeda podem
ser remontadas ao grupo social, e não ao Estado. “A moeda não é um
produto gerado pelo Direito. Em sua origem, ela é uma instituição social,
e não uma instituição estatal.”

(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de
desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da
Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
196
O design “elegante” do Bitcoin, que conta com mecanismos regulatórios
próprios, o fator preponderante da descentralização, e a questão da
transparência consubstanciada na existência do blockchain parecem
aproximá-lo de um exemplo empírico de que a existência e manutenção da
confiança, em um sistema monetário, não necessariamente exige a
presença de um Estado como garantidor último de uma ordem econômica.
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de
desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo
da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
197
“Aspectos da globalização que nunca foram muito bem resolvidos
pelos Estados – a potencialidade e os perigos da interconexão em
rede propiciada pela internet, e a ausência de órgãos de controle e
supervisão supranacionais que sejam, de fato, eficazes.”

(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos
jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São
Paulo, 2016). 198
“Com o crescente interesse regulatório nas criptomoedas, alguns atores relevantes
– como o Fundo Monetário Internacional – já alertaram para que a criação de
instrumentos regulatórios permita a manutenção de um ambiente inovativo. Nesse
sentido, para além do desafio de se estabelecer uma regulação eficaz que limite a
prática de atos ilícitos por meio desse tipo de moeda paralela e crie balizas ao seu
desenvolvimento, há ainda que se considerar a existência de um ponto ótimo de
regulação, que minimize riscos e, ao mesmo tempo, permita a inovação.”

(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado
apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).

199
Conclusões

Regulação
Cooperação
Confiança

Novas
tecnologias

200
Questões práticas (1)
Ação de obrigação de fazer c.c. indenização por danos morais e materiais, fundada em contrato de
gestão e intermediação de compra e venda de bitcoins (moeda digital). Os autores alegam a existência
de prova inequívoca e da verossimilhança das alegações, no sentido de que é devida a devolução de
2182,90880751 bitcoins que foram indevidamente retidos, conforme comprovado em perícia técnica
particular.

Alegação da ré em contestação: a ré é apenas uma interface do Grupo de Investimento Bitcoin e não


há prova inequívoca de que o autor tenha transferido os bitcoins para a empresa ré e tampouco da
existência de conluio entre as partes.

Como será a instrução deste processo?

201
Questões práticas (2)

Exequente requer a penhora de moeda criptografada, ainda que se


trate de bem imaterial, já que possui conteúdo econômico. Afirma que
a ordem deve ser emitida para as administradoras de moeda
criptografada. Alega que a ausência de regulamentação sobre o bitcoin
não pode justificar o indeferimento da penhora. Conclui que o pedido
está amparado no artigo 139, IV, do Código de Processo Civil.

202
Questões práticas (3)
Fundo de investimento pode adquirir criptomoedas no Brasil,
diretamente? Quais as questões jurídicas em análise, no plano
regulatório?

203
Questões práticas
1- Ação de obrigação de fazer c.c. indenização por danos morais 2- Exequente requer a penhora de moeda criptografada, ainda que se
e materiais, fundada em contrato de gestão e intermediação de trate de bem imaterial, já que possui conteúdo econômico. Afirma que a
compra e venda de bitcoins (moeda digital). Os autores alegam ordem deve ser emitida para as administradoras de moeda
a existência de prova inequívoca e da verossimilhança das
criptografada. Alega que a ausência de regulamentação sobre o bitcoin
alegações, no sentido de que é devida a devolução de
não pode justificar o indeferimento da penhora. Conclui que o pedido
2182,90880751 bitcoins que foram indevidamente retidos,
está amparado no artigo 139, IV, do Código de Processo Civil.
conforme comprovado em perícia técnica particular.

Alegação da ré em contestação: a ré é apenas uma interface do

Grupo de Investimento Bitcoin e não há prova inequívoca de 3- Fundo de investimento pode adquirir criptomoedas no Brasil,
que o autor tenha transferido os bitcoins para a empresa ré e diretamente? Quais as questões jurídicas em análise, no plano
tampouco da existência de conluio entre as partes.
regulatório?
Como será a instrução deste processo?
204
Questões práticas (resposta 1)
AGRAVO DE INSTRUMENTO – BEM MÓVEL – COMPRA E VENDA DE
BITCOINS (MOEDA DIGITAL) - Indeferimento do pedido de tutela
antecipada visando a devolução de bitcoins – Ausência dos requisitos
autorizadores - Necessidade de dilação probatória – Possibilidade de
revogação da medida liminar nos termos do art. 273, § 4º, do CPC/73 -
Decisão mantida - Recurso desprovido.  

(TJSP;  Agravo de Instrumento 2185016-71.2015.8.26.0000; Relator


(a): Melo Bueno; Órgão Julgador: 35ª Câmara de Direito Privado; Foro
Central Cível - 39ª Vara Cível; Data do Julgamento: 23/05/2016; Data de
Registro: 23/05/2016)
205
Questões práticas (resposta 2)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. Execução de título extrajudicial. Penhora
de moeda virtual (bitcoin). Indeferimento. Pedido genérico. Ausência
de indícios de que os executados sejam titulares de bens dessa
natureza. Decisão mantida. Recurso desprovido. 

(TJSP;  Agravo de Instrumento 2202157-35.2017.8.26.0000; Relator


(a): Milton Carvalho; Órgão Julgador: 36ª Câmara de Direito Privado;
Foro Regional XV - Butantã - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
21/11/2017; Data de Registro: 21/11/2017)

206
Questões práticas (resposta 2)
“Por se tratar de bem imaterial com conteúdo patrimonial, em tese, não há óbice para que a moeda
virtual possa ser penhorada para garantir a execução. Entretanto, a agravante não apresentou
sequer indícios de que os agravados tenham investimentos em bitcoins ou, de qualquer outra
forma, sejam titulares de bens dessa natureza. Tampouco evidenciado que os executados utilizam
moedas virtuais em suas atividades. Como se nota, o pedido formulado é genérico e, por essa
razão, não era mesmo de ser acolhido. Competia à agravante comprovar a existência dos bens que
pretende penhorar, uma vez que não se pode admitir o envio indiscriminado de ofícios sem a
presença de indícios mínimos de que os executados sejam titulares dos bens (...)

Nesse contexto, correta a conclusão da decisão agravada ao afirmar que, ainda que seja possível,
207
em tese, a constrição de BITCOIN(S), não é possível determinar tal medida à "Rede de Internet".
Questões práticas (resposta 3)

Em ofício publicado, direcionado aos administradores e gestores de


fundos, a Superintendência de Relações com Investidores Institucionais da
CVM afirma que as criptomoedas "não podem ser qualificadas como
ativos financeiros" e que, por isso, sua aquisição direta pelos fundos de
investimento não é permitida.

208
Questões práticas (resposta 3)
No entanto, segundo notícia do Jota, de maio passado: https://www.jota.info/opiniao-e-

analise/artigos/derivativos-de-bitcoin-em-solo-brasileiro-18052018

Em dezembro de 2017, as autoridades estadunidenses autorizaram a realização de transações envolvendo

contratos futuros de Bitcoin nas duas maiores bolsas de negociação de derivativos mundiais (CME e CBOE).

A notícia acalorou ainda mais as discussões sobre o papel da regulação, na medida em que os derivativos

bursáteis possuem uma série de salvaguardas, como a obrigação do depósito de margem, a liquidação

diária e a custódia – o que, aparentemente, deveria dar mais estabilidade e legitimidade ao Bitcoin

enquanto ativo subjacente.

209

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