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O que mudou com a novas tecnologias?
• Instrumentos financeiros?
• Instrumentos monetários?
• Contratação?
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O que mudou com a novas tecnologias?
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E, também no prefácio do seu livro Estudos jurídicos sobre a moeda,
editado em Milão, em 1952, o mesmo Ascarelli esclarecia que, nessa nova
obra que ele dava à estampa, vinha reproduzido o primeiro capítulo do seu
anterior livro La Moneta, Padova, 1928, já que lhe parecia impossível levar-
se em conta os problemas jurídicos monetários, independentemente da sua
história, asseverando, pouco mais adiante, que: “A moeda constitui uma
instituição tipicamente jurídica e social; um elemento de ligação no tempo e
entre os homens, que não é concebível senão numa dada organização
social.”
• Studi Giuridici sulla Moneta, Giuffrè: Milano, 1952, p. IX: “Di detto volume viene qui riprodotto il primo capitolo
essendo a mio avviso impossibile rendersi conto dei problemi giuridici monetari indipendentemente dalla loro storia .”
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Conceito de Moeda
e acelera as trocas.
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Conceito de Moeda
Uma vez aceita como meio de pagamento, a moeda passa a ser uma
medida de valor, sua segunda função, muito mais relevante, ainda, do
que a função de meio de pagamento. Como bem esclarece Paul Hugon,
essa segunda função de avaliação, pode ser considerada a própria
essência da moeda, pois “uma moeda que não preenchesse essa função
não seria uma moeda, mas uma moeda que tivesse apenas essa função
— sem ser instrumento de circulação — funcionaria e tem funcionado.”
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Conceito de Moeda
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Breve escorço histórico das moedas oficiais
O uso do ferro deu-se por volta de 1.500 a.C. e, a partir daí, atividades como a
guerra, a caça e a agricultura foram aperfeiçoadas.
Há inúmeros registros de objetos que eram utilizados pelos mais diferentes povos,
em épocas distintas, como moeda de troca, tais como conchas, seda, sal e cereais,
na China, durante a Antiguidade (até 410), bem como gado e prata na Rússia,
durante a Idade Média.
Porém, apenas no século VII a.C. é que surgem as moedas com o formato
tal como as conhecemos hoje, ou seja, pequenas peças de metal com
peso e valor definidos, e com impressão de cunho oficial.
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O que é a criptomoeda?
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O que é a criptomoeda?
DESAFIO:
Qual é a dinâmica jurídica de funcionamento do sistema Bitcoin.
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O que é a criptomoeda?
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O que é a criptomoeda?
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Bitcoin
• O Bitcoin foi o primeiro sistema a impedir que isso acontecesse, por meio de um
esquema conhecido como blockchain.
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Blockchain: breves apontamentos
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Blockchain: breves apontamentos
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Blockchain: breves apontamentos
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Blockchain: breves apontamentos
Michael Crosby e outros coautores do estudo denominado “Blockchain Tecnology, Beyond Bitcoin”
dizem que
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O que muda com o Blockchain?
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Bitcoin
Vantagens?
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Bitcoin
Vantagens?
- E no plano jurídico?
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Bitcoin
Desvantagens?
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Bitcoin
Desvantagens?
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Bitcoin
variação de 1 ano
https://br.advfn.com/bolsa-de-valores/coin/BTCUSD/historico/mais-dados-historicos
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Bitcoin
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Bitcoin
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Bitcoin
“Durante o levantamento da bibliografia, notei que os termos “moeda digital”, “moeda virtual” e
“criptomoeda” eram utilizados como sinônimos, muito embora “moeda virtual” fosse o mais
empregado por órgãos oficiais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu.
Como procurarei especificar, moedas digitais são o gênero, do qual moedas virtuais e criptomoedas
são espécie. Assim, após examinar exemplos desses instrumentos monetários, percebi que há algumas
distinções entre elas que merecem ser pontuadas, não apenas por uma questão de preciosismo
terminológico, mas porque a diferenciação proposta pode contribuir à descrição e compreensão do
fenômeno quando de uma futura regulação. Em outras palavras, as especificidades contidas por cada
tipo monetário demandam uma resposta regulatória sensível a essas diferenças.” (FOBE, Nicole Julie. O
Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado
apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016). 41
Moedas digitais
“Moedas digitais são aquelas que dependem da internet para serem transacionadas.
Tanto as moedas virtuais quanto as criptomoedas são exemplos de moeda digital, uma
vez que ambas precisam do suporte da rede para garantir sua circulação. Suas transações
não ocorrem, portanto, sem que os usuários estejam conectados à internet.
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Criptomoeda
“O termo “criptomoeda” surge com Satoshi Nakamoto, pseudônimo do criador
(ou grupo de criadores) da primeira forma monetária da espécie – o Bitcoin.124
Criptomoedas são instrumentos monetários virtuais na medida em que não
existem fisicamente. Sua emissão e posterior circulação são feitas
integralmente via ciberespaço (motivo pelo qual essas moedas são também
consideradas “digitais”), por meio de programas open source, sendo o acesso à
internet imprescindível.” (FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a
multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo
da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
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O que é o Bitcoin?
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O que é o Bitcoin?
“Nesses termos, talvez seja possível inferir que o Bitcoin pode ser compreendido como moeda
paralela. Trata-se, afinal, de um meio de pagamento reconhecido como tal por seus usuários e
que circula paralelamente ao sistema oficial, sem o intuito de substitui-lo. Sua utilização, ao
contrário das diversas moedas oficiais em circulação, não conhece barreiras nacionais e é
impulsionada pelo custo operacional reduzido das transações que o utilizam. Como moeda
paralela, a sua existência fatalmente traz consequências ao sistema oficial em vigor, o que no
caso das moedas virtuais é amplificado devido ao seu alcance global via internet e à dificuldade
de controle por parte dos bancos centrais e demais instituições financeiras.” (FOBE, Nicole Julie. O
Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de
Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
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Regulação
“A partir do levantamento, foi possível reunir os diferentes posicionamentos em três posturas, que se desdobram, por sua vez, em ações
• Há, por exemplo, jurisdições que não se engajam no debate jurídico quanto ao caráter monetário ou não do Bitcoin. Aqui, nota-se um
reconhecimento simples da existência do fenômeno, passando-se à extração de consequências jurídicas pontuais (como a tributação) e/ou
à ampliação de outros campos de atuação (como na esfera penal, principalmente em relação à lavagem de dinheiro e ao financiamento de
atividades ilícitas).
• Há ainda aquelas jurisdições que, direta ou indiretamente, adentram a discussão acerca de aspectos monetários do Bitcoin – como, por
exemplo, a afirmação clara de que o instrumento não possui curso forçado, ou que ele não rivaliza com a moeda oficial, ou, pelo contrário,
• Finalmente, em uma terceira posição, há jurisdições que declaram estar monitorando ou estudando o Bitcoin – em alguns casos,
promovendo discussões em sede legislativa (como no Canadá) acerca de possíveis marcos e desenhos regulatórios.”
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de
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Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
Regulação
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Regulação
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Regulação
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Regulação
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Regulação
Percebe-se que a nota de alerta tem sido a manifestação mais comum das
jurisdições no tocante ao Bitcoin. Trata-se de nota emitida, geralmente, pelos
bancos centrais, que comunica aos investidores os “perigos” referentes à
utilização do Bitcoin (flutuação no preço, problemas de segurança na rede,
fraudes, dentre outros) e declara que o órgão está supervisionando o
instrumento sem, no entanto, a intenção de regulá-lo naquele momento. O
posicionamento costuma permitir que a criptomoeda circule, legalmente, sem
que se desenvolva uma regulação específica.
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Regulação
• Classificação jurídica, o que é o Bitcoin juridicamente?
- Ativo financeiro?
- Dinheiro?
- Mercadoria?
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Principais questões jurídicas:
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Regulação - Brasil
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Regulação - Brasil
Alerta sobre os riscos decorrentes de operações de guarda e negociação das denominadas moedas virtuais.
Considerando o crescente interesse dos agentes econômicos (sociedade e instituições) nas denominadas moedas virtuais, o Banco Central do
Brasil alerta que estas não são emitidas nem garantidas por qualquer autoridade monetária, por isso não têm garantia de conversão para
moedas soberanas, e tampouco são lastreadas em ativo real de qualquer espécie, ficando todo o risco com os detentores. Seu valor decorre
2. A compra e a guarda das denominadas moedas virtuais com finalidade especulativa estão sujeitas a riscos imponderáveis, incluindo, nesse
caso, a possibilidade de perda de todo o capital investido, além da típica variação de seu preço. O armazenamento das moedas virtuais
3. Destaca-se que as moedas virtuais, se utilizadas em atividades ilícitas, podem expor seus detentores a investigações conduzidas pelas
4. As empresas que negociam ou guardam as chamadas moedas virtuais em nome dos usuários, pessoas naturais ou jurídicas, não são
reguladas, autorizadas ou supervisionadas pelo Banco Central do Brasil. Não há, no arcabouço legal e regulatório relacionado com o Sistema
Financeiro Nacional, dispositivo específico sobre moedas virtuais. O Banco Central do Brasil, particularmente, não regula nem supervisiona
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operações com moedas virtuais.
COMUNICADO Nº 31.379, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2017
Alerta sobre os riscos decorrentes de operações de guarda e negociação das denominadas moedas virtuais.
5. A denominada moeda virtual não se confunde com a definição de moeda eletrônica de que trata a Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, e sua regulamentação por meio de
atos normativos editados pelo Banco Central do Brasil, conforme diretrizes do Conselho Monetário Nacional. Nos termos da definição constante nesse arcabouço regulatório
consideram-se moeda eletrônica “os recursos em reais armazenados em dispositivo ou sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento”. Moeda
eletrônica, portanto, é um modo de expressão de créditos denominados em reais. Por sua vez, as chamadas moedas virtuais não são referenciadas em reais ou em outras moedas
6. É importante ressaltar que as operações com moedas virtuais e com outros instrumentos conexos que impliquem transferências internacionais referenciadas em moedas
estrangeiras não afastam a obrigatoriedade de se observar as normas cambiais, em especial a realização de transações exclusivamente por meio de instituições autorizadas pelo
7. Embora as moedas virtuais tenham sido tema de debate internacional e de manifestações de autoridades monetárias e de outras autoridades públicas, não foi identificada, até a
presente data, pelos organismos internacionais, a necessidade de regulamentação desses ativos. No Brasil, por enquanto, não se observam riscos relevantes para o Sistema
Financeiro Nacional. Contudo, o Banco Central do Brasil permanece atento à evolução do uso das moedas virtuais, bem como acompanha as discussões nos foros internacionais
sobre a matéria para fins de adoção de eventuais medidas, se for o caso, observadas as atribuições dos órgãos e das entidades competentes.
8. Por fim, o Banco Central do Brasil afirma seu compromisso de apoiar as inovações financeiras, inclusive as baseadas em novas tecnologias que tornem o sistema financeiro mais
seguro e eficiente.
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https://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/moedasvirtuais.asp?idpai=FAQCIDADAO
Moedas Virtuais
(última atualização: novembro de 2017)
1) O que são “moedas virtuais”?As chamadas “moedas virtuais” ou “moedas criptográficas” são representações digitais de valor que
não são emitidas por Banco Central ou outra autoridade monetária. O seu valor decorre da confiança depositada nas suas regras de
2) O Banco Central do Brasil regula as “moedas virtuais”?Não. As “moedas virtuais” não são emitidas, garantidas ou reguladas pelo
Banco Central. Possuem forma, denominação e valor próprios, ou seja, não se trata de moedas oficiais, a exemplo do real.
As "moedas virtuais" não se confundem com a "moeda eletrônica" prevista na legislação¹. Moedas eletrônicas se caracterizam como
recursos em reais mantidos em meio eletrônico que permitem ao usuário realizar pagamentos.
3) O Banco Central do Brasil autoriza o funcionamento das empresas que negociam “moedas virtuais” e/ou guardam chaves, senhas
ou outras informações cadastrais dos usuários, empresas conhecidas como “exchanges”?Não. Essas empresas não são reguladas,
autorizadas ou supervisionadas pelo Banco Central. Não há legislação ou regulamentação específica sobre o tema no Brasil.
O cidadão que decidir utilizar os serviços prestados por essas empresas deve estar ciente dos riscos de eventuais fraudes ou outras
A compra e venda de bens ou de serviços depende de acordo entre as partes, inclusive quanto à forma de pagamento. No caso de
5) Qual o risco para o cidadão se as moedas virtuais forem utilizadas para atividades ilícitas?
Se utilizada em atividades ilícitas, o cidadão pode estar sujeito à investigação por autoridades públicas.
A compra e a guarda de “moedas virtuais” estão sujeitas aos riscos de perda de todo o capital investido, além da variação de seu preço.
O cidadão que investir em “moedas virtuais” deve também estar ciente dos riscos de fraudes.
Não. Transferências internacionais devem ser feitas por instituições autorizadas pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio,
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que devem observar as normas cambiais.
Lei n. 12.865/2013
Art. 6o Para os efeitos das normas aplicáveis aos arranjos e às
instituições de pagamento que passam a integrar o Sistema de
Pagamentos Brasileiro (SPB), nos termos desta Lei, considera-se:
(...)
VI - moeda eletrônica - recursos armazenados em dispositivo ou
sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de
pagamento.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
A regulação do Bitcoin e de outras criptomoedas foi tema de uma audiência pública que durou
quase três horas na manhã dessa quarta-feira (26) no Senado, com a participação das
Comissões de Ciência e Tecnologia e de Assuntos Econômicos.
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A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não enviou representante para a
audiência pública. A autarquia justificou sua ausência por falta de verbas. O
fato causou espanto ao senador que propôs o debate, Flávio Arns (Rede/PR),
que afirmou que o assunto era também de interesse do órgão.
“A gente tem de ter resposta no sentido de pensar qual a necessidade de regulação desse novo mercado de
criptoativos. Saber qual a posição do governo e o órgão que deveria ser responsável pela fiscalização e
supervisão desse mercado. Mesmo a CVM não estando aqui, existe a possibilidade de colocar isso como valor
mobiliário”.
Apesar de existirem dois projetos de Lei tramitando na Câmara de Deputados, os de números 2.303/ 2015 e
2.060/2019 — ambos de autoria do deputado Federal Áureo Ribeiro (Solidariedade/RJ), Arns esclareceu que a
audiência “não está acontecendo em função de um projeto de lei apresentado”.
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O senador afirmou que a discussão gira em torno de como o mercado de
criptoativos pode ser regulado.
“A gente espera que depois possa ter um projeto de lei adequado a realidade
da prática para que as atividades sejam claras e seguras neste mercado de
risco e para que as exchanges tenham a regulação de órgãos próprios”.
Valentim afirmou, que apesar de as instituições financeiras serem burocráticas, “de uma forma
ou de outra há garantia. Se um banco quebrar, o governo é quem paga”.
“Mas aí, quando uma corretora dessa de criptomoeda quebra quem é que dá a garantia que o
investidor vai ter o dinheiro dele?”, provocou o senador.
Na visão de Valentim, o ativo digital tem sido objeto de crimes como lavagem de dinheiro e
evasão de divisas.
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Furlan, em contrapartida, respondeu que há ainda muita desinformação e desconhecimento
acerca do Bitcoin e o caminho é a promoção do debate para se conhecer o assunto e
desmistificar o tema. Ele disse que a transparência e a imutabilidade da Blockchain são
importantes ferramentas que reduzem a incidência de lavagem de dinheiro:
“Com essa tecnologia criptográfica é impossível apagar uma operação. Ela fica para sempre
registrada em todos os computadores de todos os usuários do sistema. Por isso que os
criptoativos são hoje considerados um setor de baixo risco para a lavagem de dinheiro e outros
crimes”.
Ele declarou que apesar de haver a privacidade e o nome das pessoas estarem sob sigilo, em
caso de necessidade pode ser apurado quem foi a pessoa que executou determinada operação.
“Os criptoativos são uma forma muito ruim para quem quiser esconder o seu dinheiro”.
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Marco regulatório da Receita Federal
Para ela, o país está seguindo o caminho da Austrália e Cingapura pelo fato de o
Banco Central e CVM já terem criado um sandbox regulatório.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
Alegou-se, no Ofício Circular nº01/2018, que outras consultas também têm chegado à referida autarquia federal
com a indagação quanto à possibilidade de serem constituídos fundos de investimento no Brasil, com o propósito
específico de investir em outros veículos, constituídos em jurisdições onde eles sejam admitidos e
regulamentados, e que, por sua vez, tenham por estratégia o investimento em criptomoedas, ou, ainda, em
derivativos admitidos à negociação em ambientes regulamentados de outras jurisdições. Entretanto, não custa
realçar, que as discussões existentes sobre o investimento em criptomoedas, seja diretamente pelos fundos, seja
de outras formas, ainda encontra-se em patamar bastante incipiente, e convive, inclusive, com projeto de lei em
curso, de nº 2.303/2015, que pode vir a impedir, restringir ou mesmo criminalizar a negociação de tais
modalidades de investimento.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
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O PL 2.303/15 e seu substitutivo
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O PL 2.303/15 e seu substitutivo
Segundo o relator, Deputado Expedito Netto, as moedas virtuais representariam verdadeira e indevida
invasão ao Sistema Monetário Nacional, violando preceitos constitucionais que garantem ao Banco
Central o monopólio de emissão da moeda, ainda que em formato digital. Com o propósito de justificar
BACEN, que alerta sobre os riscos das operações dessa natureza. Também citou as declarações de Joseph
Stiglitz (Prêmio Nobel de Economia), que não vê outra intenção dos investidores em moedas digitais,
além da prática de ilícitos. Nesse sentido, ao final, defendeu a aprovação do projeto de lei em comento,
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O PL 2.303/15 e seu substitutivo
Esse substitutivo ao PL 2.303/15, no entanto, não tem − nem mesmo remotamente − o escopo de
complementar o texto original. Antes, na verdade, descaracteriza-o por completo. Entre outras
medidas, por exemplo, propõe considerar as moedas virtuais como representações digitais de
valor, sem curso legal no Brasil e no exterior. Mais do que isso, resolve inseri-las no contexto dos
crimes contra a fé pública, previstos no Capítulo I, Título X, do Código Penal, acrescentando ao art.
292 o parágrafo primeiro, que traz a seguinte redação: ''Incide na mesma pena quem, sem
permissão legal, emite, intermedeia troca, armazena para terceiros, realiza troca por moeda de
curso legal no país ou moeda estrangeira, moeda digital, moeda virtual ou criptomoedas que não
seja emitida pelo Banco Central do Brasil.''
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O PL 2.303/15 e seu substitutivo
Ao cabo de seu comentário, Anne Chang apresenta a seguinte conclusão:
“Moedas virtuais, talvez por seu caráter inovador e por serem novas no nosso cotidiano, trazem dúvidas quanto à
aplicabilidade das normas jurídicas vigentes. A incerteza é por vezes reforçada pelas notícias em nossas mídias
sociais e meios de comunicação, que parecem validar o status das moedas virtuais − principalmente bitcoins, que
foram recentemente admitidos na Bolsa Mercantil de Chicago − para logo em seguida ressaltar o ceticismo que as
cerca, utilizando opiniões de algumas das mais importantes autoridades do mercado. No entanto, no meio jurídico,
ainda que os mecanismos não sejam claros ou testados, temos certeza da aplicabilidade das leis atuais − e sua
adequação técnica − às situações apresentadas na solicitação de penhora de moeda virtual. Como em qualquer
outro ativo, cabe ao credor: I) comprovar a existência do ativo de propriedade do devedor e II) buscar medidas que
permitam a satisfação de sua pretensão de forma específica, sempre com base em indícios suficientes ou
fundamentados.”
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Boletim da Associação dos Advogados de São Paulo nº 3.054
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Austrália
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Argentina
Apesar de um forte ecossistema de bitcoin , a Argentina ainda não estabeleceu
regulamentos para a criptomoeda, embora o banco central tenha emitido
alertas oficiais sobre os riscos envolvidos.
Bangladesh
Em 2015, Bangladesh expressamente declarou que usar criptomoedas era uma “ofensa
punível”.
Bolívia
Em 2014, o banco central da Bolívia proibiu oficialmente o uso de qualquer moeda ou
tokens não emitidos pelo governo.
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Canadá
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China
Embora a China não tenha banido o bitcoin (e insiste que não tem
planos), reprimiu as bolsas de bitcoin - todas as principais bolsas de
bitcoin no país, incluindo OKCoin, Huobi, BTC China e ViaBTC, carteira
suspensa de ativos digitais em relação ao yuan em 2017.
Também parece estar retirando o tratamento preferencial (deduções
fiscais e eletricidade barata) para os mineradores de bitcoin.
Equador
Em 2014, a Assembléia Nacional do Equador proibiu bitcoin e
descentralizou moedas digitais, ao mesmo tempo em que estabeleceu
diretrizes para a criação de uma nova moeda estatal.
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Egito
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Europa
A União Européia está adotando uma abordagem cautelosa em relação à regulação da criptomoeda, com várias
iniciativas em andamento para envolver os participantes do setor na elaboração de regras de apoio. O foco parece
estar no aprendizado antes de regulamentar, ao mesmo tempo em que estimula a inovação e leva em conta as
necessidades do ecossistema.
O Banco Central Europeu (BCE), no entanto, está pressionando por um controle mais rígido sobre os movimentos
das moedas digitais como parte de uma repressão mais ampla à lavagem de dinheiro, enquanto reconhece as
complexidades jurisdicionais na regulação de um ativo sem fronteiras. No final de 2017, um funcionário do BCE
afirmou que a instituição não via bitcoin como uma ameaça, e o presidente Mario Draghi recentemente
confirmou que , aos olhos do BCE, o bitcoin não era “maduro o suficiente” para regulamentação.
Em abril de 2018, os membros do parlamento votaram por uma grande maioria para apoiar um acordo de
dezembro de 2017 com o Conselho Europeu para medidas destinadas, em parte, a prevenir o uso de
criptomoedas no branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo.
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G20
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Índia
O banco central indiano emitiu duas advertências oficiais sobre bitcoin e, no final de 2017, o ministro das
Finanças do país esclareceu em uma entrevista que o bitcoin não é uma moeda legal . O governo ainda
não possui nenhum regulamento que cubra criptomoedas, embora esteja procurando recomendações.
O banco central, no entanto, proibiu as instituições financeiras indianas de trabalhar com trocas de
criptomoedas e outros serviços relacionados (uma proibição recentemente confirmada pelo Supremo
Tribunal do país).
Irã
Em abril de 2018, o banco central do Irã e um de seus principais reguladores de mercado disseram que
as empresas financeiras não deveriam negociar com bitcoins ou outras criptomoedas. Além disso, a
CoinDesk informou recentemente sobre a censura do governo a sites de troca de criptomoeda que
operam no país.
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Japão
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Estados Unidos da America
Os EUA são atormentados por um sistema regulatório fragmentado, com legisladores no nível
estadual e federal responsáveis por jurisdições em camadas e uma complexa separação de poderes.
Alguns estados são mais avançados do que outros na supervisão da criptomoeda. Nova York, por
exemplo, revelou a controversa BitLicense em 2015, concedendo às empresas de bitcoins a
autorização oficial para operar no estado (muitas startups saíram do estado ao invés de cumprir os
requisitos caros). Em meados de 2017, Washington aprovou uma lei que aplicava leis de
transmissores de dinheiro para as bolsas de bitcoin.
New Hampshire requer vendedores de bitcoin para obter uma licença de transmissor de dinheiro e
postar um título de US $ 100.000. No Texas, a comissão estadual de valores mobiliários está
monitorando (e, ocasionalmente, fechando ) oportunidades de investimento relacionadas a bitcoins.
E a Califórnia está no limbo da regulação do bitcoin após congelar o progresso do Projeto de Lei 1326,
que - embora criticado por questões como definições excessivamente amplas - era visto como menos
opressivo do que o BitLicense de Nova York.
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No nível federal, o foco da Comissão de Valores Mobiliários tem sido o uso de ativos de blockchain
como títulos, tais como se determinados fundos de investimento em bitcoin deveriam ou não ser
vendidos ao público, e se uma determinada oferta é fraudulenta ou não .
A Commodities Futures Trading Commission (CFTC) tem uma pegada potencial maior na
regulamentação de bitcoin, dada sua designação de criptomoeda como uma “commodity”. Embora
ainda tenha que elaborar regulamentações abrangentes de bitcoin , seus esforços recentes se
concentraram no monitoramento dos futuros nascentes. mercado . Também apresentou acusações
em vários esquemas relacionados a bitcoins , o que reforça sua intenção de exercer jurisdição sobre
moedas criptografadas sempre que suspeitar que possa haver fraude.
A Uniform Law Commission, uma associação sem fins lucrativos que visa trazer clareza e coesão à
legislação estadual, elaborou o Regulamento Uniforme da Lei de Negócios em Moeda Virtual , que
vários estados estão contemplando introduzir nas próximas sessões legislativas. A Lei pretende definir
quais atividades de moeda virtual são negócios de transmissão de dinheiro e que tipo de licença eles
exigiriam. Os críticos temem que isso se pareça muito com a New York BitLicense.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
Fintechs são boas alternativas tanto para quem quer investir ou aplicar
recursos, quanto para quem tem necessidade de tomar crédito.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
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Regulação e desafios regulatórios para monitorar e fiscalizar a negociação de criptomoedas em face das
inovações tecnológicas.
O trabalho de autoria dos professores de finanças Claudia Bruschi e Adalto Barbaceia, do Centro de Estudos em
Negócios, será apresentado hoje na instituição.
“É preciso tratar com o maior cuidado essa abordagem, que pode eliminar a flexibilidade necessária para inovações
que melhoram o bem-estar social por meio da inclusão”, diz o estudo.
Se as fintechs tiverem sempre de estar submetidas às regras de uma bandeira de cartão ou outras instituições
financeiras, vão perder a capacidade de inovar.
A tecnologia, nos últimos tempos, inclusive, caminha para os pagamentos que não passam por bandeiras, cartões
ou maquininhas, mas que usam as chamadas contas digitais, com sistemas como QR Code (leitura rápida por
código) ou o P2P (peer to peer —sistema de pagamento entre pessoas). Esses sistemas também serão prejudicados.
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O trabalho do Insper aponta que essas empresas inovadoras revolucionaram o mercado de
intermediação de meios de pagamento atendendo o nicho de micro, pequeno e médios comerciantes.
Elas desenvolveram plataformas digitais e inovaram ao oferecer custos menores para que lojistas,
físicos ou virtuais.
“Essa iniciativa vai contra a tendência recente do BC, que foi a de flexibilizar as regras para incentivar a
inovação”, diz Barbaceia.
Ao iniciar uma consulta pública, o BC argumentou que tomava a iniciativa por entender que, no modelo
atual, as fintechs teriam “uma situação privilegiada”.
“Mas nós não conseguimos identificar exatamente qual seria esse benefício”, diz Barbaceia, do Insper.
A ressalva dos pesquisadores, porém, é a escassez de informações quantitativas sobre o setor, uma vez
que muitos dados são sigilosos. 106
Títulos de crédito eletrônicos
DUPLICATA VIRTUAL
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Ao atribuir interpretação contemporânea ao princípio
da cartularidade dos títulos de crédito, legitimando o
crédito escritural, mais especificamente no contexto da
chamada duplicata virtual, o Superior Tribunal de
Justiça demarcou, no ano de 2011, o fim de uma
longa, sinuosa e polêmica caminhada, que se iniciara
ainda na década de 80.
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Histórico das Duplicatas no Brasil: da cartularidade em
papel ao crédito escritural eletrônico.
O surgimento da duplicata – como costuma acontecer com
grande parte dos institutos de Direito Comercial – é fruto da
práxis mercantil.
Somente em época posterior veio a ser formalmente regulado
pelo Direito.
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Podem-se divisar quatro fases evolutivas desse título de crédito.
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Para tanto são citadas duas definições, uma sintética e outra
mais analítica:
“A duplicata mercantil é um título de crédito contendo cláusula à
ordem, que se caracteriza por documentar o saque do vendedor pela
importância faturada ao comprador, identificado como sacado.
O seu criador, que é o comerciante vendedor (ou prestador de serviços),
vincula-se à obrigação por promessa indireta.
Tem como causa uma transação de natureza mercantil; mas,
destinando-se à mobilização de capital, cuja provisão repousa no valor
das mercadorias objeto de negócio subjacente e indicadas na
correspondente fatura, desliga-se no entanto, da sua causa geratriz pelo
endosso ou pelo aceite.”
RESTIFFE NETO, Paulo. Novos Rumos da Duplicata. 2. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1975. p. 10.
111
“A duplicata é título de crédito formal, impróprio, causal, à ordem,
extraído por vendedor ou prestador de serviços, que visa a
documentar o saque fundado sobre crédito decorrente de compra e
venda mercantil ou prestação de serviços, assimilada aos títulos
cambiários por lei, e que tem como seu pressuposto a extração da
fatura.”
ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Títulos de Crédito. 4. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006. p. 673.
112
Antecedente remoto das duplicatas na legislação brasileira:
Art. 219 do Código Comercial de 1850.
Este dispositivo impunha que nas vendas a prazo, entre comerciantes, o
vendedor deveria apresentar ao comprador a fatura em duas vias
idênticas, assinadas por ambas as partes, ficando uma com o vendedor
e outra com o comprador.
Não havendo reclamação no prazo de 10 dias, as contas presumiam-se
líquidas.
113
Na sequência, o Decreto nº 737/1850 - mais conhecido como “Regulamento nº 737”, tão
lembrando quando se estuda a vetusta teoria dos atos de comércio
– no art. 246 e seguintes conferia ao vendedor ação para executar créditos decorrentes de
compra e venda mercantil, no prazo de 10 dias.
114
• Até então, porém, não se cogitava da existência das duplicatas.
• Neste momento embrionário, a fatura servia para documentar a
compra e venda a prazo, celebrada entre comerciantes, mas
inicialmente não viabilizava a circulação do crédito.
• Ela não permitia, por exemplo, que o vendedor efetuasse
descontos bancários para antecipar o recebimento de parte do
valor das vendas. Tais operações só viriam a se difundir na
década de 20 do século seguinte.
115
É curioso observar que a duplicata surgiu como alternativa ao saque das letras de
câmbio, justamente para propiciar maior agilidade e menos formalismo na
circulação do crédito.
116
Todo esse lento percurso desestimulou, historicamente, o uso da letra de câmbio
no comércio interno do país.
Ainda hoje, o título é pouco utilizado para essa finalidade, apesar de ser com
base nele que muitos dos manuais estudam títulos de crédito, o que já sugere
uma revisão na metodologia da disciplina e na estruturação de tais obras, a fim
de conferir maior atenção aos títulos de uso corrente no país, ao invés de
dedicar-lhes posição subalterna.
117
Assim, foi se tornando comum, no dia-a-dia do comércio, ao invés de
sacar a letra de câmbio e aguardar todo o moroso procedimento
descrito acima, simplesmente colher a assinatura do cliente na segunda
via da fatura e, a partir dela, imediatamente comprovar perante os
bancos a celebração do negócio e a existência do crédito, a fim de
contratar operações financeiras.
Ou seja, o costume mercantil passou a aceitar a fatura devidamente assinada
como documento apto a antecipar a circulação do crédito. Foi desta prática que
posteriormente surgiria duplicata.
118
Em suma, a duplicata, um dos títulos circulatórios de maior aplicação
prática no Brasil, título de crédito de origem tipicamente nacional
(ainda que existam figuras semelhantes em outros países), surgiu
justamente do desuso daquele que é tido na doutrina como a principal
espécie de título de crédito: as letras de câmbio.
A Lei nº 187/1936 foi, por fim, substituída pela Lei nº 5.474/1968, que
ainda hoje regula as duplicatas.
120
Desde o início, portanto, a duplicata surgiu como título causal, ou
seja, aquele que só pode ser emitido para documentar o crédito
decorrente de determinado negócio jurídico que, em relação às
duplicatas, era a compra e venda mercantil a prazo.
121
Ocorre que o moroso e burocrático procedimento para
cobrança das duplicatas, fixado originariamente na Lei nº
187/1936 e mantido na atual Lei nº 5.474/1968, é totalmente
contrário ao dinamismo que o comércio requer para a
circulação dos créditos.
123
Isto é próprio da cultura empresarial brasileira.
125
De qualquer modo, nesta primeira fase havia, ao menos, a extração
regular da cártula e seu envio ao devedor principal.
126
Pode-se afirmar, então, que a primeira fase histórica foi marcada pela
circulação da cártula, ou seja, pela extração das duplicatas em papel e
circulação do próprio título.
128
Logo, nesta segunda fase histórica a cártula deixou de ser emitida, sendo
substituída pela informação que o credor enviava aos bancos e pelo
próprio boleto bancário.
Assim, o devedor principal não chegava a ver a duplicata, porque ela não
era sequer confeccionada. Ao invés disso, recebia um documento em
papel, contendo os dados de cobrança, conforme registrado na fatura.
O boleto bancário passou a fazer o papel da duplicata, tornando-se a
rotina brasileira nas décadas de 70 e 80.
129
Esta segunda fase marca a substituição da
circulação da cártula pela escrituração do
crédito.
130
A Lei das S.A. já previa a possibilidade de ações nominativas em
meio eletrônico.
131
A terceira fase histórica é caracterizada pelo uso cada vez maior do suporte
eletrônico na escrituração dos créditos, inclusive daqueles que poderiam
ocasionar o saque de uma duplicata.
Nesta fase surgem dispositivos legais permitindo, por exemplo, realizar o protesto
por indicação a partir de comunicações eletrônicas entre o credor (ou instituição
financeira intermediária) e o cartório de protestos.
No Direito Comparado, a escrituração eletrônica do crédito desenvolveu-se na década de 70.
No Brasil, porém, sua consagração legislativa ocorreu somente no final da década de 90.
132
Já na década de 70 foi inaugurada, em outros países (com destaque
para a França), a tendência de progressiva desmaterialização da cártula
e sua substituição pela circulação eletrônica do crédito.
133
Afinal, os problemas que haviam conduzido outros países a legislar a respeito eram praticamente
os mesmos vivenciados no território nacional. Destarte, referido autor sugeriu que o país
instituísse a duplicata-extrato em papel – DEP (semelhante à LCR-papel), como fase preliminar
de transição até que o mercado e a cultura jurídica nacional assimilassem a possibilidade de uma
duplicata eletrônica em fita magnética – DEFM.
É nesta proposta que se encontra o embrião daquilo que hoje se denomina duplicata
virtual, cuja executoriedade viria a ser posteriormente reconhecida pelo Superior Tribunal
de Justiça, somente no ano de 2011.
134
Se no âmbito internacional a circulação eletrônica do crédito data de 1973, no Brasil a consagração legislativa
desta prática ocorreu mais de duas décadas depois.
Marco de tal mudança foi a Lei de Protestos, que dispôs, de maneira inequívoca, ser admissível também o
protesto de títulos de crédito a partir da indicação eletrônica dos dados do título, sem necessidade de
apresentação da cártula em papel.
135
Esta previsão legislativa era o estímulo que faltava
para que as instituições financeiras substituíssem, de
uma vez por todas, a circulação das duplicatas pela
cobrança via boleto bancário. Primeiramente, pelos
boletos em papel e, ato contínuo, por meios eletrônicos
de cobrança, como o DDA.
136
Assim, esta terceira fase histórica representa
a consolidação da escrituração eletrônica
do crédito. Importante destacar que ela
ainda está em curso.
A própria movimentação legislativa indica
isto.
137
Veja-se, por exemplo, o que dispõe o Projeto de Novo Código
Comercial, em discussão no Congresso Nacional:
138
Já em vigor, também, as disposições do Código Civil a respeito, mas
que só se aplicam aos títulos atípicos.
139
Estes dois exemplos servem para evidenciar um movimento legislativo que busca
introduzir no país o título de crédito eletrônico, ou seja, a criação e circulação do
documento integralmente em suporte digital.
Isto, porém, ainda não pode ser considerado realidade, pois o que existe
atualmente, como visto, é a mera circulação escritural e eletrônica do direito de
crédito, não do próprio título de crédito. Tanto assim que os títulos de crédito
eletrônicos atípicos, cuja criação restou autorizada pelo Código Civil,
desempenham, hoje, papel de menor importância na prática mercantil.
140
Destarte, na fase atualmente em curso, não se pode, a rigor,
entender que a duplicata se tornou o primeiro título de
crédito eletrônico.
O que existe é a chamada “duplicata virtual”, que nada
mais é do que uma forma de circulação escritural do
crédito, não do próprio título.
Com efeito, nesta terceira fase histórica não existe a
formação da cártula da duplicata, do próprio título de crédito.
O direito de crédito é que circula, de maneira escritural e
eletrônica.
141
A duplicata, portanto, permanece em estado potencial.
Essa potencialidade de que uma coisa venha a surgir a
partir de outra (no caso, a duplicata a partir da fatura)
é o significado mais preciso da palavra “virtual”,
segundo o prestigiado entendimento de Pierre Lèvy:
142
“A palavra virtual vem do latim medieval virtualis,
derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na
filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e
não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter
passado no entanto à concretização efetiva ou formal. A
árvore está virtualmente presente na semente. Em termos
rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real,
mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas
maneiras de ser diferentes.”
LÉVY, Pierre. O que é o Virtual. Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Editora
34, 2007. p. 15.
143
Ou seja, a nomenclatura duplicata virtual é
bastante adequada para se referir à terceira
fase histórica deste título de crédito, na qual
a circulação da cártula é substituída pela
circulação escritural eletrônica do crédito,
permanecendo a cártula meramente
potencial, ou virtual.
144
Nesta terceira fase histórica resta definitivamente consagrada
a dispensa de extração da cártula da duplicata e sua
substituição pela circulação eletrônica do crédito (duplicata
virtual), inclusive para fins de processo judicial de execução.
145
O que precisa ficar claro, em relação à atual fase histórica, é o
fato de que nela se autoriza apenas a circulação escritural do
crédito, em meio eletrônico.
Não se admite, ainda, a circulação eletrônica do título de
crédito, da própria duplicata. Esta, como visto, não é
sequer sacada, permanecendo num estado potencial (virtual).
Assim, não se pode confundir a circulação escritural, em
meio eletrônico, do direito de crédito, com a existência de um
autêntico título de crédito eletrônico.
146
FASE HISTÓRICA PRÁTICA COMERCIAL ADOTADA SIGNIFICADO JURÍDICO MARCO TEMPORAL
147
Principais disposições legais quanto à cobrança das
duplicatas.
148
Como se sabe, a vigente Lei nº 5.474/1968 manteve a duplicata como
único título de crédito passível de ser emitido na compra e venda a prazo,
celebrada entre empresários, ampliando esta possibilidade também para
os prestadores de serviço.
Como este título documenta o crédito decorrente de uma operação já
realizada, o sacado, em regra, deve arcar com o pagamento dos valores
ajustados. Por isso, o aceite na duplicata é obrigatório, só podendo ser
recusado em situações excepcionais, quando o devedor comprova haver
algum vício no bem adquirido ou na prestação do serviço.
149
Lei nº 5.474/68:
“Art. 1º Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro,
com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o
vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador.”
“Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito
comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do
vendedor pela importância faturada ao comprador.”
“Art. 20. As emprêsas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação
de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata.”
150
Além de obrigatório, o aceite nas duplicatas é
também presumido. Com efeito, desde a sua
primeira fase histórica o normal era que as
duplicatas fossem recebidas pelo sacado e
automaticamente direcionadas para “contas a
pagar”, sendo quitadas no vencimento, como
qualquer outra dívida do empresário.
151
Destarte, criou-se a presunção relativa de que o título não devolvido após
o prazo legal de 10 dias teria sido aceito pelo sacado, pois esgotado o
prazo para que fundamentasse a recusa do aceite.
Consequentemente, após esse prazo o credor já poderia realizar
operações de crédito envolvendo a duplicata. Por exemplo, descontos
bancários. Ou seja, antes mesmo do vencimento do título o empresário já
poderia antecipar o recebimento de parte dos valores nele mencionados.
Lei nº 5.474/68 - “Art. 7º A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao
apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assinada ou
acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.”
152
As características da obrigatoriedade e presunção do
aceite, aliadas ao costume de não devolver a cártula ao
sacador, fizeram com que este sujeito, caso fosse
necessário protestar a duplicata, tivesse que se valer
de um procedimento alternativo, denominado protesto
por indicação.
A lei de protestos autorizou, ainda, que tal indicação
fosse feita exclusivamente por meio eletrônico.
153
Uma vez efetuado o protesto, formaliza-se a inadimplência do sacado, permitindo
a execução judicial da duplicata. É daqui por diante que surgem as dúvidas
jurídicas relacionadas à executividade da duplicata virtual. Com efeito, caso fosse
rigorosamente seguido o iter previsto na Lei nº 5.474/1968, como o aceite é
obrigatório e pode ser presumido em caso de não devolução da cártula, após 10
dias, bastaria ao credor comprovar o envio do título de crédito ao sacado, por
qualquer meio (correspondência com aviso de recebimento, notificação
extrajudicial, e-mail, etc.), bem como o transcurso do citado prazo, para viabilizar
a execução. O Superior Tribunal de Justiça, há anos, havia pacificado este tema.
Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, AgRg. nos ED. no AI. n.º 466.075/DF, j. 07.04.2003, Rel. Ministro Massami Uyeda.
Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º 1.037.819/MT, j. 23.02.2010, Rel. Ministro Massami Uyeda.
154
Ocorre que na prática mercantil a cártula sequer chega a ser extraída, pois a cobrança
se tornou meramente escritural e intermediada por instituições financeiras. O que se
enviava ao devedor eram outros instrumentos de cobrança, em papel (boletos
bancários) ou meio eletrônico (DDA e demais tipos de escrituração eletrônica do
crédito).
Neste contexto, a questão é saber se o protesto por indicação pode ser feito com
base nesses instrumentos, de modo a viabilizar a execução de um título de crédito
cuja cártula nunca chegou a se materializar (duplicata virtual). Este é o ponto
central que doutrina e jurisprudência precisaram enfrentar, e que será abordado nos
tópicos seguintes.
155
As duas grandes correntes da doutrina brasileira.
156
OBJETIVO: olhar para trás, destacando alguns dos
principais posicionamentos sobre o tema, a fim de
que se tenha clara percepção da evolução dos
debates que culminou no atual entendimento do
Superior Tribunal de Justiça.
157
E sobre esse debate, não é exagero afirmar que as discussões
podem ser resumidas em duas grandes correntes de
pensamento.
Ainda que com certa variação em seus argumentos, os
diversos autores enquadram-se numa ou noutra vertente.
158
De um lado, estão os que, confirmando a
doutrina clássica, sustentam que a palavra
documento mencionada no conceito de título
de crédito de Vivante refere-se
exclusivamente a documentos em papel. Ou
seja, o princípio da cartularidade, basilar em
matéria de títulos de crédito, autorizaria
apenas a existência de cártulas em papel.
159
Confira-se, por todos, o que disse Tullio Ascarelli:
“Os títulos de crédito são, antes de qualquer coisa, um documento. A disciplina
legislativa, necessariamente diferente quanto aos títulos diversos, indica os
requisitos de cada um deles. Caráter constante, porém, de todos, é que
constituem um documento; escrito, assinado pelo devedor, formal, no sentido de
que é submetido à condição de forma, estabelecida justamente par identificar
com exatidão o direito nele mencionado e as suas modalidades, a espécie do
título de crédito (daí nos títulos cambiários até o requisito da denominação), a
pessoa do credor, a forma de circulação do título e a pessoa do devedor (...).”
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Títulos de Crédito. Campinas: Servanda, 2009. p. 61.
160
“Parece-nos que, se por injustificado apego ao conceitualismo, se
concluísse pela total impossibilidade de estabelecer uma relação
dialética entre os novos instrumentos da Informática Bancária, ora em
fase de franco desenvolvimento, e a concepção tradicional dos títulos de
crédito, seria necessário, pelo menos, tendo em conta essa realidade
irrecusável que é a mobilização de vultosas somas em dinheiro
proporcionada por aqueles instrumentos, modificar a amplitude
conceitual do que se configura como um ‘documento’.”
DE LUCCA, Newton. A Cambial-Extrato. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985. p. 70-71.
161
Desde então, o que vem sendo discutido é, fundamentalmente, se as
informações armazenadas em suporte eletrônico também se
amoldam ao conceito jurídico de documento, tendo em vista as
evidentes distinções entre o papel e o suporte eletrônico. Em outras
palavras, se haveria uma interpretação contemporânea do princípio
da cartularidade dos títulos de crédito, apta a englobar os
documentos eletrônicos.
162
Como visto há pouco, uma das principais
críticas ao documento eletrônico era o fato
de que, nele, não havia assinatura autógrafa,
dada de próprio punho pelas partes
vinculadas ao instrumento.
163
Nos primórdios da Idade Média os documentos eram identificados por selos que
lhes eram apostos, e não por assinaturas, até porque nem mesmo os nobres eram
todos alfabetizados. Tal fato não impediu que aqueles documentos fossem
regularmente aceitos como prova. Ou seja: a assinatura manuscrita nem sempre foi
a maneira tradicional de identificação da autoria e integridade de um documento.
Algumas existiram antes dela e outras podem surgir depois, sem maiores
problemas.
164
Mas, afinal, o que é documento?
165
“Os documentos compõem-se de dois elementos. Haverá sempre um conteúdo e
um suporte. O primeiro equivale ao aspecto semiótico do documento, à idéia que
pretende transmitir. Revela, portanto, o próprio fato que se pretende representar
através do documento. Já o suporte constitui o elemento físico do documento, a
sua expressão exterior, manifestação concreta e sensível; é, enfim, o elemento
material, no qual se imprime a idéia transmitida.
Vale ressaltar que é freqüente equiparar o suporte da prova documental à escritura.
Imagina-se que somente haverá prova documental nas situações de prova escrita.
Todavia, o suporte do documento não se limita à via do papel escrito. Ao contrário,
o que caracteriza o suporte é o fato de tratar-se de elemento real, pouco importando
sua específica natureza. Desta forma, o suporte pode ser uma folha de papel, mas
também será o papel fotográfico, a fita cassete, o disquete de computador etc.”
166
Desde o ano de 2001 o Brasil implantou sistema destinado a garantir a autenticidade e integridade dos
documentos armazenados em suporte eletrônico. Tal sistema denomina-se Infra-Estrutura de Chaves
Públicas Brasileira, ou simplesmente ICP-Brasil. Tem por objetivo conferir segurança aos documentos
eletrônicos, equiparando seus efeitos jurídicos ao do documento em papel.
Medida Provisória nº 2.200-2/01. “Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para
todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.
§ 1º. As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica produzidos com a utilização de
processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação aos
signatários, na forma do art. 131 da Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 - Código Civil.”
O Código Civil confirma esse posicionamento: “Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas,
os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou
de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a
exatidão.”
167
Pode-se resumir o que foi dito há pouco em duas conclusões:
1) a assinatura manual, de próprio punho, não é a única forma
legalmente admissível para assegurar a autoria e integridade de
um documento;
2) o papel não é o único suporte material admissível para o
registro dos documentos. Estas conclusões apontam para a
validade jurídica dos documentos eletrônicos, eventualmente
até daqueles que consubstanciem título de crédito.
168
Há, todavia, quem sustente que o conceito de
documento, em sua feição clássica, tal como utilizado
para definir título de crédito, não poderia contemplar o
documento eletrônico, visto que este tipo de suporte
material não existia à época. A parte final do raciocínio
é incontestável: quando Cesare Vivante cunhou seu
conhecido conceito de títulos de crédito, não existiam
documentos eletrônicos. A divergência reside na
conclusão que se extrai disto.
169
O que não se deve fazer é deturpar conceitos históricos, descontextualizando-os
da época em que foram elaborados. Coisa muito diversa e saudável é reler os
conceitos jurídicos indeterminados, como o de documento, à luz do estágio atual
de desenvolvimento da humanidade. Portanto, não se vislumbra óbice para
reconhecer o suporte eletrônico como espécie de documento, inclusive na
definição científica dos títulos de crédito. A estes se aplicam, perfeitamente, a
definição de documento eletrônico apresentada por Leonardo Parentoni Netto:
“(...) pode-se definir documento eletrônico como o texto escrito que representa um fato e tem
como suporte material uma mídia eletrônica.”
PARENTONI, Leonardo Netto. Documento Eletrônico: Aplicação e Interpretação pelo Poder Judiciário. Curitiba: Juruá,
2007. p. 36.
170
O argumento não impressiona. É fato que se deve diferenciar a
circulação do direito de crédito da circulação do próprio título de
crédito. A primeira vem sendo feita no Brasil, de maneira escritural,
sem a transferência da cártula, há mais de 40 anos. A tendência é
evoluir para que também a circulação do próprio título de crédito
ocorra em meio eletrônico. Atualmente, ainda não atingimos esta
quarta fase histórica, mas os instrumentos capazes de possibilitar isto,
do ponto de vista fático/tecnológico e jurídico, já existem. O desafio é
incorporá-los à prática do comércio.
171
O receio da duplicação dos títulos também não se sustenta, pois
cada via eletrônica do título mantém sua singularidade, pois a
certificação digital assimétrica torna esse documento único e
insuscetível de alteração não consentida. O propalado risco de vias
simultâneas do mesmo título e a insegurança disto decorrente não é
atributo exclusivo do suporte material eletrônico. Como visto,
também nos documentos em papel é possível extrair
simultaneamente duas ou mais vias originais, desde que todas
estejam assinadas (como rotineiramente ocorre nos contratos). E
nem por isso doutrina e jurisprudência vislumbram qualquer
ilegalidade nessa prática.
172
A legislação brasileira já está caminhando na direção sugerida pela
segunda corrente doutrinária. Ou seja, rumo à adoção do título de
crédito eletrônico. Nesse sentido:
• a Cédula de Produto Rural - CPR prevista na Lei nº 8.929/1994 e
posteriormente alterada pela Lei nº 11.076/2004. Trata-se de título
de crédito emitido em papel/cártula, mas que pode ser registrado em
sistema eletrônico autorizado pelo Banco Central do Brasil,
passando, a partir de então, a tramitar exclusivamente em meio
eletrônico.
• A Lei nº 11.076/2004 disciplina também o Certificado de Depósito
Agropecuário – CDA e o Warrant Agropecuário – WA. Assim como
na CPR, também para estes dois últimos a lei admite a transposição
do suporte em papel para o meio eletrônico, logo após a emissão do
título. 173
A Lei nº 11.882/2008, que trata da Letra de Câmbio
Mercantil – LAM foi adiante, autorizando que este
título seja, desde o início, emitido em forma escritural
eletrônica, bem como que circule desta maneira, sem a
existência de cártula/papel
174
Passo decisivo nesta mudança pode ser o Novo Código
Comercial. Abstraindo-se das várias críticas de ordem técnica
à redação do Anteprojeto, fato é que ele, como visto, opta por
afastar-se da concepção tradicional de cartularidade, atrelada
ao papel, para consagrar os títulos de crédito com suporte
eletrônico. E também registra a equivalência entre o suporte
material em papel e as mídias eletrônicas.
175
Assim, é possível afirmar que tanto do ponto de vista
tecnológico quanto jurídico existem bases suficientes
para flexibilizar a conceituação clássica do princípio
da cartularidade, passando a admitir-se que também
sejam considerados no conceito de cártula os
documentos com suporte eletrônico.
176
O papel da jurisprudência culminando na
uniformização pelo STJ.
177
Quanto às duplicatas virtuais, inicialmente prevaleceu na
jurisprudência o entendimento de que o protesto por indicação só
poderia ser lavrado mediante apresentação da cártula, ou seja, da
própria duplicata em papel. O boleto bancário, mesmo de uso
corrente, não se prestaria a tal finalidade, por duas razões. Primeiro,
porque não é título de crédito. Segundo, porque não está sujeito ao
aceite. Assim, ele não supriria o saque da duplicata, como autêntico
título de crédito:
178
“FALÊNCIA – DUPLICATA MERCANTIL – COMPROVAÇÃO – REMESSA PARA ACEITE -
PROTESTO DE BOLETOS BANCÁRIOS – IMPOSSIBILIDADE – EXTRAÇÃO DE TRIPLICATAS
FORA DAS HIPÓTESES LEGAIS.
(...)
II – A retenção da duplicata remetida para aceite é condição para o protesto por indicação,
inadmissível o protesto de boletos bancários.
Recurso não conhecido.”
Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º 369.808/DF, j. 21.05.2002, Rel. Ministro Castro Filho.
Entendimento que prevaleceu no STJ até alguns anos atrás: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º
953.192/SC, j. 07.12.2010, Rel. Ministro Sidnei Beneti.
179
No ano de 2011 o Superior Tribunal de Justiça evoluiu sua
jurisprudência para admitir tanto o protesto por indicação baseado em
boleto bancário quanto a própria execução da duplicata virtual, desde
que além do citado boleto e do instrumento de protesto, fosse
apresentado também o comprovante de entrega da mercadoria ou de
prestação do serviço. É o que restou consagrado, por unanimidade, no
seguinte acórdão:
180
“EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR
INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTO
DAS MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DE CRÉDITO
ORIGINAL.
1. As duplicatas virtuais - emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica -
podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível
para o ajuizamento da execução judicial. Lei 9.492/97.
2. Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual,
devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de
entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços, suprem a ausência física do título cambiário
eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais.
3. Recurso especial a que se nega provimento.”
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma, REsp. n.º 1.024.691/PR, j. 22.03.2011, Rel. Ministra Nancy Andrighi.
181
Contra a decisão foram interpostos embargos de divergência, igualmente rejeitados por unanimidade, nos seguintes
termos:
“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA DEMONSTRADA. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO
INSTRUMENTO DE PROTESTO, DAS NOTAS FISCAIS E RESPECTIVOS COMPROVANTES DE ENTREGA DAS MERCADORIAS.
EXECUTIVIDADE RECONHECIDA.
1. Os acórdãos confrontados, em face de mesma situação fática, apresentam solução jurídica diversa para a questão da exequibilidade
da duplicata virtual, com base em boleto bancário, acompanhado do instrumento de protesto por indicação e das notas fiscais e
respectivos comprovantes de entrega de mercadorias, o que enseja o conhecimento dos embargos de divergência.
2. Embora a norma do art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 permita o
protesto por indicação nas hipóteses em que houver a retenção da duplicata enviada para aceite, o alcance desse dispositivo deve ser
ampliado para harmonizar-se também com o instituto da duplicata virtual, conforme previsão constante dos arts. 8º e 22 da Lei
9.492/97.
3. A indicação a protesto das duplicatas mercantis por meio
magnético ou de gravação eletrônica de dados encontra amparo no artigo 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/97. O art. 22 do mesmo
Diploma Legal, a seu turno, dispensa a transcrição literal do título quando o Tabelião de Protesto mantém em arquivo gravação
eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título ou documento da dívida.
4. Quanto à possibilidade de protesto por indicação da duplicata virtual, deve-se considerar que o que o art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68
admite, essencialmente, é o protesto da duplicata com dispensa de sua apresentação física, mediante simples indicação de seus
elementos ao cartório de protesto. Daí, é possível chegar-se à conclusão de que é admissível não somente o protesto por indicação na
hipótese de retenção do título pelo devedor, quando encaminhado para aceite, como expressamente previsto no referido artigo, mas
também na de duplicata virtual amparada em documento suficiente.
182
5. Reforça o entendimento acima a norma do § 2º do art. 15 da Lei 5.474/68, que cuida de
executividade da duplicata não aceita e não devolvida pelo devedor, isto é, ausente o documento
físico, autorizando sua cobrança judicial pelo processo executivo quando esta haja sido protestada
mediante indicação do credor, esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e
recebimento da mercadoria e o sacado não tenha recusado o aceite pelos motivos constantes dos
arts. 7º e 8º da Lei.
6. No caso dos autos, foi efetuado o protesto por indicação, estando o instrumento acompanhado
das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e
recebimento das mercadorias devidamente assinados, não havendo manifestação do devedor à vista
do documento de cobrança, ficando atendidas, suficientemente, as exigências legais para se
reconhecer a executividade das duplicatas protestadas por indicação.
7. O protesto de duplicata virtual por indicação apoiada em
apresentação do boleto, das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos
comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias devidamente assinados não descuida das
garantias devidas ao sacado e ao sacador.
8. Embargos de divergência conhecidos e desprovidos”
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Seção, EREsp. n.º 1.024.691/PR, j. 22.08.2012, Rel. Ministro
Raul Araújo.
183
A partir dessas decisões, o STJ pacificou a
executoriedade da duplicata virtual.
184
Feita essa ressalva, fato é que a executoriedade da
duplicata virtual, doutrinariamente defendida desde a
década de 80, finalmente ganhou o definitivo apoio da
jurisprudência. Resta demarcado, então, o caminho que
poderá conduzir a uma nova fase histórica, a do autêntico
título de crédito eletrônico.
185
A duplicata é um título de crédito de origem tipicamente nacional. Além disso,
tem como traço histórico marcante o fato de, na prática, sempre ter circulado
por meio de rito abreviado em relação ao iter previsto em lei, a fim de atender
às necessidades do mercado, em termos de celeridade na cobrança do crédito.
Justamente por isso é nela que se pode vislumbrar o embrião do primeiro título
de crédito genuinamente eletrônico, ou seja, criado e transmitido integralmente
como documento eletrônico. Ainda que já existam as bases (tanto
fática/tecnológica quanto jurídica) para a existência do título de crédito
genuinamente eletrônico, fato é que o Brasil ainda não ingressou nesta fase
histórica.
186
Porém, a paradigmática decisão do Superior Tribunal de
Justiça, consagrando a executividade da duplicata virtual,
afastou definitivamente os argumentos em contrário,
deixando aberto o caminho evolutivo rumo a esta nova
fase. Resta agora aguardar a resposta do mercado, já que a
linha evolutiva das duplicatas bem demonstra que
costumam partir dele, e não da lei, os passos mais firmes
rumo à evolução do instituto.
187
Reflexões finais
188
O futuro dos títulos de crédito
189
O futuro dos títulos de crédito
• O grande desafio, por outro lado, será compreender as mudanças no fluxo de informações e de
armazenamento de dados, assim como os interesses envolvidos nesses processos, o que inclui a
possibilidade de reduzir o custo dessas operações de crédito.
190
O futuro dos títulos de crédito
• Não parece um exercício futurístico reconhecer que o uso do blockchain para o registro de
transações financeiras e de circulação de crédito alteraria o paradigma até então conhecido em
matéria de títulos de crédito ou de instrumentos financeiros.
• Da mesma forma, atos como o protesto cambial, arraigado à teoria dos títulos de crédito e
essencial ao atual sistema que garante segurança jurídica, agilidade e executividade à utilização
desses títulos, poderiam perder sua razão de existir, na medida em que outro mecanismo
eficiente e que garantisse a mesma segurança, agilidade e executividade viesse a substitui-lo,
como poderia ocorrer com um registro em certificadora autorizada por uma autoridade central.
191
O futuro dos títulos de crédito
• Nesse sentido, veja-se o recente Projeto de Lei n. 9327/17, da Câmara dos Deputados, que prevê a obrigatoriedade de que
as duplicatas sejam registradas eletronicamente em certificadoras autorizadas pelo Banco Central, modernizando o
• Segundo o projeto, haverá a guarda desses títulos eletrônicos por depositários centrais, que farão a guarda centralizada
desses ativos, o controle de sua titularidade efetiva e o tratamento de seus eventos. Além disso, caberá ao operador do
sistema eletrônico de escrituração ou ao depositário central expedir, a pedido de interessado, certidão de inteiro teor do
título, no qual deverá constar, entre outras informações, a data da emissão, os elementos necessários à identificação da
Em síntese, para muito além do suporte eletrônico, o futuro dos títulos de crédito está diretamente
relacionado às novas possibilidades para o fluxo de informações, em especial as de natureza financeira,
assim como aos mecanismos de armazenamento de dados, em constante evolução.
Seja como for, o Direito Comercial sempre esteve atento, ao longo de sua história
multimilenária, ao desenvolvimento e aprimoramento de instrumentos jurídicos
aptos à criação, circulação e mobilização da riqueza. Não será diferente no
alvorecer deste século, bastando para tanto, para utilizar a célebre lição do
Professor Fabio Konder Comparato , que de uma vez por todas nossos
jurisconsultos abandonem a velha tradição misoneísta, que continua a condenar às
trevas exteriores toda e qualquer manifestação jurídica que não se enquadre em
nosso sistema. 194
The Money flower: a taxonomy of Money
https://www.bis.org/cpmi/publ/d174.htm
Document – Central bank digital currencies – march 2018
Notas: O diagrama de Venn ilustra as quatro principais propriedades do dinheiro: emissor (banco central ou não); forma (digital ou física); acessibilidade
(amplamente ou restrito) e tecnologia (baseada em conta ou baseada em tokens). CB = banco central, CBDC = moeda digital do banco central (excluindo moeda
do banco central digital já disponível para contrapartes monetárias e algumas contrapartes não monetárias). Tokens digitais privados (propósito geral) incluem
ativos criptográficos e moedas, como bitcoin e ethereum. Os depósitos bancários não são amplamente acessíveis em todos jurisdições. Para exemplos de como
outras formas de dinheiro podem caber no diagrama, consulte a fonte. Fonte: Baseado em Bech e Garratt (2017). 195
“Karl Menger afirmaria, em 1892 (MENGER, Karl. “On the Origins of Money,” (traduzido por C.
A. Foley). Economic Journal, vol. 2, n. 6, pp. 239-55, 1892) , que as raízes da moeda podem
ser remontadas ao grupo social, e não ao Estado. “A moeda não é um
produto gerado pelo Direito. Em sua origem, ela é uma instituição social,
e não uma instituição estatal.”
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de
desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da
Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
196
O design “elegante” do Bitcoin, que conta com mecanismos regulatórios
próprios, o fator preponderante da descentralização, e a questão da
transparência consubstanciada na existência do blockchain parecem
aproximá-lo de um exemplo empírico de que a existência e manutenção da
confiança, em um sistema monetário, não necessariamente exige a
presença de um Estado como garantidor último de uma ordem econômica.
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de
desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo
da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
197
“Aspectos da globalização que nunca foram muito bem resolvidos
pelos Estados – a potencialidade e os perigos da interconexão em
rede propiciada pela internet, e a ausência de órgãos de controle e
supervisão supranacionais que sejam, de fato, eficazes.”
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos
jurídicos. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São
Paulo, 2016). 198
“Com o crescente interesse regulatório nas criptomoedas, alguns atores relevantes
– como o Fundo Monetário Internacional – já alertaram para que a criação de
instrumentos regulatórios permita a manutenção de um ambiente inovativo. Nesse
sentido, para além do desafio de se estabelecer uma regulação eficaz que limite a
prática de atos ilícitos por meio desse tipo de moeda paralela e crie balizas ao seu
desenvolvimento, há ainda que se considerar a existência de um ponto ótimo de
regulação, que minimize riscos e, ao mesmo tempo, permita a inovação.”
(FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como moeda paralela – uma visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação de Mestrado
apresentada à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. FGV: São Paulo, 2016).
199
Conclusões
Regulação
Cooperação
Confiança
Novas
tecnologias
200
Questões práticas (1)
Ação de obrigação de fazer c.c. indenização por danos morais e materiais, fundada em contrato de
gestão e intermediação de compra e venda de bitcoins (moeda digital). Os autores alegam a existência
de prova inequívoca e da verossimilhança das alegações, no sentido de que é devida a devolução de
2182,90880751 bitcoins que foram indevidamente retidos, conforme comprovado em perícia técnica
particular.
201
Questões práticas (2)
202
Questões práticas (3)
Fundo de investimento pode adquirir criptomoedas no Brasil,
diretamente? Quais as questões jurídicas em análise, no plano
regulatório?
203
Questões práticas
1- Ação de obrigação de fazer c.c. indenização por danos morais 2- Exequente requer a penhora de moeda criptografada, ainda que se
e materiais, fundada em contrato de gestão e intermediação de trate de bem imaterial, já que possui conteúdo econômico. Afirma que a
compra e venda de bitcoins (moeda digital). Os autores alegam ordem deve ser emitida para as administradoras de moeda
a existência de prova inequívoca e da verossimilhança das
criptografada. Alega que a ausência de regulamentação sobre o bitcoin
alegações, no sentido de que é devida a devolução de
não pode justificar o indeferimento da penhora. Conclui que o pedido
2182,90880751 bitcoins que foram indevidamente retidos,
está amparado no artigo 139, IV, do Código de Processo Civil.
conforme comprovado em perícia técnica particular.
Grupo de Investimento Bitcoin e não há prova inequívoca de 3- Fundo de investimento pode adquirir criptomoedas no Brasil,
que o autor tenha transferido os bitcoins para a empresa ré e diretamente? Quais as questões jurídicas em análise, no plano
tampouco da existência de conluio entre as partes.
regulatório?
Como será a instrução deste processo?
204
Questões práticas (resposta 1)
AGRAVO DE INSTRUMENTO – BEM MÓVEL – COMPRA E VENDA DE
BITCOINS (MOEDA DIGITAL) - Indeferimento do pedido de tutela
antecipada visando a devolução de bitcoins – Ausência dos requisitos
autorizadores - Necessidade de dilação probatória – Possibilidade de
revogação da medida liminar nos termos do art. 273, § 4º, do CPC/73 -
Decisão mantida - Recurso desprovido.
206
Questões práticas (resposta 2)
“Por se tratar de bem imaterial com conteúdo patrimonial, em tese, não há óbice para que a moeda
virtual possa ser penhorada para garantir a execução. Entretanto, a agravante não apresentou
sequer indícios de que os agravados tenham investimentos em bitcoins ou, de qualquer outra
forma, sejam titulares de bens dessa natureza. Tampouco evidenciado que os executados utilizam
moedas virtuais em suas atividades. Como se nota, o pedido formulado é genérico e, por essa
razão, não era mesmo de ser acolhido. Competia à agravante comprovar a existência dos bens que
pretende penhorar, uma vez que não se pode admitir o envio indiscriminado de ofícios sem a
presença de indícios mínimos de que os executados sejam titulares dos bens (...)
Nesse contexto, correta a conclusão da decisão agravada ao afirmar que, ainda que seja possível,
207
em tese, a constrição de BITCOIN(S), não é possível determinar tal medida à "Rede de Internet".
Questões práticas (resposta 3)
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Questões práticas (resposta 3)
No entanto, segundo notícia do Jota, de maio passado: https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/artigos/derivativos-de-bitcoin-em-solo-brasileiro-18052018
contratos futuros de Bitcoin nas duas maiores bolsas de negociação de derivativos mundiais (CME e CBOE).
A notícia acalorou ainda mais as discussões sobre o papel da regulação, na medida em que os derivativos
bursáteis possuem uma série de salvaguardas, como a obrigação do depósito de margem, a liquidação
diária e a custódia – o que, aparentemente, deveria dar mais estabilidade e legitimidade ao Bitcoin
209