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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância

Psicopedagogia

Família: Relações, Vínculos


e Aprendizagem

Autor: Luciano Ferraz Servantes

EAD – Educação a Distância


Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 03
UNIDADE 1 – A INSTITUIÇÃO FAMILIAR: SUAS CONFIGURAÇÕES E
FUNÇÕES ............................................................................................................... 05
1.1 Berço da afetividade e do equilíbrio emocional ................................................. 08
1.2 As identidades e as relações familiares ............................................................ 19
1.3 Os diferentes personagens da família ............................................................... 22

UNIDADE 2 – CADA FAMÍLIA TEM SEU MODO DE SER ................................... 26


2.1 Autoridade: falar a mesma língua é bom ........................................................... 26
2.2 Rituais familiares ............................................................................................... 31
2.3 O respeito não é unilateral ................................................................................ 34
2.4 Capacidade de amar e cuidar ........................................................................... 36

UNIDADE 3 – RELAÇÕES VINCULARES ............................................................ 38


3.1 Valor dos Vínculos: princípio das relações maternais, paternais e sociais ....... 38
3.2 Outros vínculos ................................................................................................. 44
3.3 Teoria do Vínculo .............................................................................................. 46

UNIDADE 4 – ASPECTOS FAMILIARES QUE FAVORECEM O DESEMPENHO


ESCOLAR .............................................................................................................. 50
4.1 Os hábitos familiares ......................................................................................... 52
4.2 A interação entre pais e filhos ........................................................................... 55
4.3 Práticas educativas: ensinar brincando ............................................................. 59
4.5 Ambiente cultural ............................................................................................... 62

UNIDADE 5 – FAMÍLIA COMO PONTO DE PARTIDA


PARA A APRENDIZAGEM..................................................................................... 67
5.1 Primeira ensinante ............................................................................................ 67
5.2 As aprendizagens em família são suportes para as outras aprendizagens ...... 72

UNIDADE 6 – REPENSANDO A FAMÍLIA FRENTE ÁS NOVAS


CONFIGURAÇÕES: REFLEXÕES NECESSÁRIAS .............................................. 76
6.1 Contexto familiar influencia o contexto escolar? Diálogos possíveis................. 76
6.2 A autoestima do aluno vem de casa, mas é desenvolvida pela escola? ........... 80
6.3 A disciplina e a indisciplina: enfrentamentos da família e da escola ................. 82
6.4 A escola e a urgência da presença da família ................................................... 87

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INTRODUÇÃO

Neste módulo vamos falar de Família (ou da família ou para a família), como o
nosso primeiro, e mais valioso, grupo social no qual desenvolvemos nossas funções
aprendentes com base nas nossas necessidades básicas e, ao mesmo tempo,
desenvolvemos nossas bagagens emocionais e afetivas caminhando,
progressivamente, como sujeito social, religioso e político.
No ano de 2008, o Padre Fábio de Melo, evangelizador e cantor, lançou uma
música que diz exatamente o que é a Família como grupo de dinâmicas muito
próprias. A música denominada Cara de Família tem na sua letra, a exaltação desse
precioso grupo e diz assim:
Meu pai me disse que a vida
Não tem nada de marcada
E que o destino não é nada
Levando a gente na vida
E toda vez que eu paro e olho
Pra esse velho companheiro
Vejo quem deu pra essas paredes
Essa cara de família
Deixa eu ver a mão machucada
Te levanta, deixa essa cama
Estou tão triste, quero falar-te
Fica calmo filho, não chora!
E não sabem dar valor pra essas coisas...
Ter um lar é um tesouro!
Minha mãe me disse umas coisas
Sobre os ódios do meu peito
Disse que o ódio que se guarda
Vai matando só quem sente
Minha mãe juntou as minhas mãos
Ainda quando eram pequenas
E me falou que tinha um Deus
Que era um tal papai do céu
Que era Pai!
...
E não sabem dar valor pra essas coisas...
Ter um lar é um tesouro!
Meu Deus, como seria bom
Seria bem melhor se fosse sempre assim...
Meu Deus como seria bom
Só hoje pude ver o que isso fez pra mim...
Meu Deus como seria bom
Seria bem melhor pra cada um
E assim pra todos nós!!!

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Essa dinâmica familiar de pais e filhos frente ao novo cenário social,
composto por diversas condições que somente o mundo moderno, globalizado e,
sobretudo, capitalista –que valoriza as pessoas pelo que têm e pelo que podem
produzir - mudou-se, de tal modo, que não é difícil de perceber os choques e
conflitos familiares. A família composta por pais e filhos foi alterada já há algum
tempo, quando a família deixou de ser nuclear, para ser composta por muitos
familiares.
O grupo familiar nas últimas décadas tem sofrido inúmeras modificações,
tanto no que concerne ao formato interno
desse grupo, quanto aos valores e princípios
sociais que sempre o norteou. Mas, se por um
lado as mudanças ocorridas não podem ser
interpretadas totalmente como negativas, por
outro não foram totalmente positivas, havendo
necessidade de se refletir sobre o
desenvolvimento de uma nova identidade
familiar.

Fonte: http://migre.me/45nBv
Contudo, a família continua sendo o cerne ou o ponto precípuo que forma as
características integrais do sujeito, que é a criança que adentra a escola trazendo
consigo uma bagagem de personalidade identitária que só a família pode construir.
Porém, sabemos que esta influência tem suas consequências para cada
sujeito, para sua aprendizagem e para os demais desenvolvimentos e, é numa
proposta de análise e reflexão que este módulo se propôs a estudar, tendo o
objetivo de apresentar o quanto de relação há entre a família, o sujeito aprendiz, a
aprendizagem e a escola, ou seja, os vínculos e as aprendizagens. Seja bem-vindo,
caro aprendiz a este módulo.

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UNIDADE 1 - A INSTITUIÇÃO FAMILIAR: SUAS CONFIGURAÇÕES E
FUNÇÕES
“Diga quem sou, De onde vim, Pra onde vou. A nossa aurora é
assim Começo...Desconheço...Que dirá o fim” (Aurora do Povo
Brasileiro)1

Esta instituição, chamada família, nasce com o homem e para o homem se


constituiu desde que a humanidade se deu conta de si mesma. Todavia, o termo
família é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”, termo este
criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as
tribos latinas, ao serem introduzidas a agricultura e também a escravidão
legalizada.2
É notável como a natureza é sábia, pois os tribais descobrem que há poder
quando se constitui elemento em um grupo, e que juntos têm mais força para lutar
pela sobrevivência; mas não são civilizados o bastante para entender que, mais
tarde, ser grupo significava lutar para sobreviverem na sociedade, a qual criada e
desenvolvida por eles mesmos, exigiria bem mais que sobreviver, ou seja, produzir e
desenvolver.
Tais grupamentos de pessoas não se tratavam de família, mas de grupos de
homens e mulheres; gerar filhos implicava no ato do sexo por atração instintiva entre
os gêneros opostos; não havia nem mesmo a compreensão do ato sexual como
meio de procriação, ou seja, tratava-se de relações instintivas, tal como animais que
se afinam. Filhos nasciam dessas relações sem serem compreendidos como filhos,
como seus progenitores não seriam os pais, bem como não havia irmãos. Mas, pela
afeição e sentimentos desconhecidos, tão inerentes ao homem, essa constelação
familiar desconhecida assim e, por não compreenderem o que eram os laços
sanguíneos, acolhiam e protegiam estes novos seres (os filhos) de toda maldade
que cerceava o entorno desse grupo. E assim caminhava a humanidade!
Porém, estes grupos de pessoas foram descobrindo a necessidade de
proteger seus espaços e, conquistar mais espaços, nascendo as guerras e,
consequentemente, as diversas sociedades e culturas. Segundo Oliveira (2006,
p.142):

1
Samba da Beija-Flor de Nilópolis, 1996.
2
Fonte: www.wikipedia.com.br, acesso em agosto de 2010.

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é preciso levar em conta, três gerações passadas, em uma linha
ininterrupta que considera o parto como ponto zero e que se vetoriza
em direção à esquerda para as grandezas com sinal menos,
referentes ao legado do “antes” e, à direita, com sinal de mais para o
legado do “depois” – pós-nascimento que se traduz pelo que
chamamos de “ciclo vital”.

Desse modo, o início dos grupos, dos quais pode, mais tarde, ter se
constituído a família, tem seu início não nas relações entre os gêneros, mas a partir
do parto e imediatamente, após este, mantendo-se como grupo e não como família,
pois, como já dito anteriormente, os filhos gerados não eram legitimados pelo termo
“filho”, nem seus progenitores como “pais”. Assim, este esquema poderia ser
representado da seguinte forma:

I Geração

II Geração

III Geração

parto

antes depois
0
Ciclo vital

Figura 1 – Origem dos grupos


Fonte: Elaboração própria

Com o passar do tempo, as sociedades humanas começam a se estabelecer,


descobrindo que suas necessidades estavam além da caça e da defesa entre
grupos. Era o momento de fundar raízes, surgindo as cidades, nas quais cada grupo
de pessoas formava um nova estrutura e, ao mesmo tempo, fazendo nascer as
culturas.
Começa-se a perceber que a relação de dependência entre natureza e cultura
se estabelece desde as gerações que antecedem à concepção de um novo ser no
interior do grupo. Sua história não começa com a fase gestacional e o nascimento,
ela está intimamente ligada aos protagonistas próximos que a antecedem, ou seja,
aos demais grupos (OLIVEIRA, 2006). Assim, simples laços de afeição, de natureza

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apenas biológica, que mantinham os grupos unidos naturalmente, são substituídos
por laços sociais legitimados, surgindo a família natural constituída por pais e filhos.
No direito romano clássico a "família natural" cresce em importância - esta
família é baseada no casamento e no vínculo de sangue, pois é o agrupamento
constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. Esta família tem por base o
casamento e as relações jurídicas, dele resultantes, entre os cônjuges, e pais e
filhos.
Se nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um
vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe – o pai -,
nos tempos medievais, as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos
matrimoniais – a mãe -, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia
também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a
materna.3
Contudo, a partir do momento em que as famílias começam a ser compostas
por integrantes que detinham um papel social, e, sendo inclusas numa cultura que
se estabelece, surge a necessidade de determinar suas funções e objetivos, de
forma a garantir uma representatividade social. Segundo Minuchin (1990, p.25), é
certo que:

Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objetivos,


sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos
membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma
cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às
mudanças externas e internas de modo a atender às novas
circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade,
proporcionando sempre um esquema de referência para os seus
membros.

Desse modo, os objetivos da família ficam, ou são assim exigidos, explícitos.


Sendo que, como o autor pontua, a proteção psicossocial, objetivo de nível interno,
poderá ser compreendida como toda forma de acolhimento afetivo, incluindo as
emoções e sentimentos, bem como todos os conflitos que nascem dessas
condições, representando a forma subjetiva de proteção de seus membros. Por
outro lado, tem também o objetivo a nível externo, que visa a correspondência ou
reprodução da cultura vigente. Assim, a família possui duas funções que estão
intimamente relacionadas, sendo que: a primeira significa a ensinagem das

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Fonte: www.wikipedia.com.br, acesso em julho de 2010.

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necessidades básicas essenciais à sobrevivência num grupo, somadas às condições
puramente humanas de afetividade e emoções e, uma segunda, a ensinagem das
necessidades sociais essenciais à sobrevivência na sociedade, somada às
condições de adaptação, relações humanas, produção e ganhos, representando a
forma objetiva de proteção de seus membros.
Todavia, as estruturas, bem como as configurações e funções familiares, vão
tomando rumos muito diferentes em cada época, sendo este fato um indicador de
que as famílias são estruturas que se organizam em conformidade com os padrões
sociais, culturais e econômicos de cada época.
Nessa perspectiva, foi na Revolução Francesa, que surgiram os casamentos
laicos no Ocidente e, com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os
movimentos migratórios para cidades maiores, construídas em redor das indústrias.
Com estas mudanças estruturais, o estreitamento dos laços familiares e as
pequenas famílias são concretizadas, num cenário similar ao que existe hoje em dia.
A representação da matriarca, como a mãe que fica em casa com exclusiva
função de cuidar dos filhos, se altera, pois as mulheres saem de casa e passam
integrar a população ativa, sendo que a educação dos filhos passa a ser partilhada
com as instituições escolares.
Moreira (2007, p.22) afirma que nessa altura, “a família era definida como um
‘agregado doméstico’ composto por pessoas unidas por vínculos de aliança,
consanguinidade ou outros laços sociais, podendo ser restrita ou alargada”. Nesse
novo cenário, a família, suas configurações e funções, já não pode mais ser
considerada estática, mas contemplada por processos diversos e adversidades
comuns para cada época, mediante as exigências sociais.

1.1 Berço da afetividade e do equilíbrio emocional


“Minha mãe me disse umas coisas... Sobre os ódios do meu peito
Disse que o ódio que se guarda... Vai matando só quem sente”

(Pe. Fábio de Melo, 2008)

Lembrando que um dos primeiros objetivos da família, uma vez caracterizada


socialmente, é de nível interno e está denominado como a proteção psicossocial,
compreendida como toda forma de acolhimento afetivo, incluindo as emoções e

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sentimentos, bem como todos os conflitos que nascem dessas condições, temos na
família o berço da afetividade e do equilíbrio emocional.
Mas, é preciso definir os termos para aplicar suas funções, de modo a
compreender o que é este processo psicossocial, levando em conta que o termo
psicossocial tem a ver com a vida psicológica particular inserida num campo social.
Desse modo, o próprio termo sugere um processo, já que nossa constituição
psicológica depende de vários condicionantes – internos e externos – e, nesse
ponto, sabemos que temos necessidade de sucessos que perpassam as crises e
insucessos, para então equilibrarmo-nos psicologicamente.
Para não adentrarmos nas teorias comportamentais, já discutidas em outros
módulos desse curso, tomarei aqui os estudos de Erik Erikson. E, por que refletir
sobre esses estudos? Porque são os mais evidentes no corpo social atual, sendo
notáveis nas representações que temos hoje de nós e que, de forma progressiva, foi
nos dado, em princípio, por nossa família. Segundo Erikson (1998),

O crescimento psicológico ocorre através de estágios e fases, não


ocorre ao acaso e depende da interação da pessoa com o meio que
a rodeia. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial
entre uma vertente positiva e uma vertente negativa. As duas
vertentes são necessárias, mas é essencial que se sobreponha a
positiva. A forma como cada crise é ultrapassada ao longo de todos
os estágios irá influenciar a capacidade para se resolverem conflitos
inerentes à vida.

O que Erikson afirma com essa premissa não é algo desconhecido para nós,
pois temos necessidades, também, da aprendizagem de nossas emoções, estando
elas em uma balança, figurativamente falando, em que um dos lados irá pender para
as emoções positivas e, em outro, irá pender para as emoções negativas, sendo que
estas não podem sobrepor-se às emoções positivas.
Mas quem nos ensina isso, ou como aprendemos a desenvolvê-las e ter
controle sobre elas? A família é a primeira a contemplar nossos primeiros passos
afetivos e emocionais e, em certa medida, moldá-las, segundo um padrão de valores
e crenças já estabelecido por ela conforme sua trajetória histórica.
Porém, esse processo, assim como qualquer outro, requer uma
progressividade, porque tudo que se trata de matéria humana não se forma ou
desenvolve de imediato sem que haja experiências, vivências e relações que
motivem ou impulsionem suas estruturas gerais. Por isso, há tempo determinado

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para gestar, nascer, crescer, amadurecer e morrer. Nesse sentido, Erikson (1998, p.
98) apresenta oito estágios de desenvolvimento psicossocial que nos dizem muito do
que somos e como nos apresentamos ante os moldes que nossa família
proporcionou:
1º) Confiança/desconfiança – ocorre de 0 a 18 meses.
A criança adquire ou não uma segurança e confiança em relação a si próprio
e em relação ao mundo que a rodeia, através da relação que tem com a mãe. Se a
mãe não lhe der amor e não responde às suas necessidades, a criança pode
desenvolver medos, receios,
sentimentos de desconfiança que
poderão vir a refletir-se nas relações
futuras. Se a relação é de segurança, se
a criança recebe amor e as suas
necessidades são satisfeitas, ela vai ter
melhor capacidade de adaptação às
situações futuras, às pessoas e aos
papéis socialmente requeridos,
ganhando assim confiança.
Fonte: http://migre.me/45pir
Desse modo, a família, representada pela figura materna, tem papel
preponderante para a formação da segurança e confiança da criança, dando-lhe
condições de relacionar-se, posteriormente, com outros ambientes além do familiar.
Vamos fazer a seguinte análise: se a criança não teve suas necessidades
atendidas nesse período, já tendo desenvolvido medos, receios, desconfiança e toda
insegurança possível, como poderá aprender na escola?
Que mãe não se lembra de ter visto o filho ou filha em escandaloso choro na
porta da escola no seu primeiro dia de aula? Pois é, a insegurança, como fruto da
desconfiança, não permite que a criança se sinta parte de outro ambiente senão o
familiar. A angústia da criança é de não poder dar conta dos medos e do sentimento
de abandono, desenvolvido nesse período.
Evitando generalizações, é preciso lembrar que este é apenas um fator e,
dependendo do apego e do nível das relações, outros fatores podem fazer parte
desse período, implicando na criança e sua aprendizagem escolar. Por essa

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perspectiva, Parolin (2005, p.71), afirma que “é de consenso que uma criança não
aprende qualquer coisa, em qualquer lugar e com qualquer um, ou seja, que
elegemos com quem aprendemos (...)”, e, no caso de uma criança insegura esta
premissa se torna uma verdade constatada. No entanto, nos últimos anos, a escola
passou a ter maior consciência desse fato e, progressivamente, tem-se planejado
para estar atenta a estas crianças.

2º) Autonomia/dúvida e vergonha – entre os 18 meses e os 3 anos.


É caracterizado por uma contradição entre a vontade própria (os impulsos) e
as normas e regras sociais que a criança tem que começar a integrar. É o momento
de explorar o mundo e o seu corpo e o meio deve estimular a criança a fazer as
coisas de forma autônoma, não sendo alvo de extrema rigidez, que deixará a criança
com sentimentos de vergonha. A atitude dos pais aqui
é importante, eles devem dosar de forma equilibrada a
assistência às crianças, o que vai contribuir para elas
terem força de vontade de fazer melhor. De fato,
afirmar uma vontade é um passo importante na
construção de uma identidade. É nesse período que a
criança manifesta as "birras"; período dos porquês,
que exigem respostas; e, de querer fazer as coisas
sozinha, se sentido autoindependente.

Fonte: http://migre.me/45pv5
Aqui encontramos as crianças que precisam de autonomia e, ao mesmo
tempo, de limites bem explicados.
A autonomia é, sem dúvida, para que a criança aprenda por si só a dar conta
de seus problemas e conflitos, conquistando sua autoria de pensamento, ou seja,
sua capacidade de aprender autonomamente. Mas, como diz Fernández (2001,
p.92), “a autonomia do pensamento só pode se postular ao nível do desejo (desejo
de conhecer tudo)...” E nesse natural desejo de tudo conhecer, encontramos a
primeira necessidade que a criança tem de ser limitada, porque nem tudo pode estar
ao alcance de seu conhecimento até que tenha idade para processar as
informações.

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Contudo, restringir não significa punir, mas dar condições de a criança refletir
sobre seus atos aprendendo com seus erros. A atitude de impedir, castigar, tolher a
criança, desenvolvendo a dúvida sobre o que é certo e errado, e ao mesmo tempo,
incita à vergonha. Assim, o que às vezes nos parece uma criança tímida, é na
verdade, uma criança insegura e envergonhada para seguir adiante numa proposta
de aprendizagem. Mas, dar limite à criança é fazê-la compreender o seu tempo o
seu momento; estabelecer regras bem definidas, sem abuso de autoridade nem
austeridade.
E essa premissa é simples de entendermos se paramos para pensar que nem
adultos suportam restrições vigiadas; produção sob pressão; convivências hostis e
impositoras, enfim, pessoas arrogantes e gritantes... precisamos de correção ante
nossos erros de forma dialogada, combinada e definida, bem como, queremos
elogios diante de nossos acertos e sucessos.

3º) Iniciativa/culpa – entre os 3 e 6 anos.


É o prolongamento da fase anterior, mas de forma mais amadurecida: a
criança já deve ter capacidade de distinguir entre o que pode fazer e o que não pode
fazer. Este estágio marca a possibilidade de tomar iniciativas sem que se adquira o
sentimento de culpa: a criança experimenta diferentes papéis nas brincadeiras em
grupo, imita os adultos, tem consciência de ser “outro” que não “os outros”, de
individualidade. Deve-se estimular a criança no sentido de que pode ser aquilo que
imagina ser, sem sentir culpa.
Neste estádio a criança tem uma preocupação com a aceitabilidade dos seus
comportamentos, desenvolve capacidades motoras, de linguagem, pensamento,
imaginação e curiosidade. Questão chave: serei bom ou mau? E, assim, nasce a
inserção social, os primeiros colegas afetivos; surge, progressivamente, a ética da
convivência, mas para a criança tudo isso é, sem dúvida, experiência nova.
Nessa fase, a criança começa a descobrir que pode ajudar em pequenas
tarefas diárias. E, para ilustrar tal passagem lembro, por exemplo, de uma criança
que está ajudando a mãe a colocar a mesa para o almoço. Mas, por descuido, a
criança deixa cair um copo no chão, que se espatifa em mil pedacinhos. A mãe (ou
outro adulto) ao presenciar a cena, descarrega sobre a criança, aos gritos – “Saia já
daqui, vá brincar lá fora, olhe o que você fez, não presta atenção em nada!” A

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criança, entre o susto de seu ato e o terror da chamada de atenção, evidentemente,
chora e sai dessa cena. Pergunto: Quem já fez isso com um filho ou filha tem idéia
do que inculcou na criança? Ou, quem já passou por isso quando criança pense: o
que sente (sentiu) ao reviver esta cena? Outra questão: Será que a falta de iniciativa
de um adulto nas tomadas de decisão, teria sua origem a partir de cenas como esta?
Chraim, (2009, p.26), lembra que “é na base familiar que a criança começa a
construir sua real identidade, que será formada a partir das experiências e da forma
como aprendeu a lidar com as informações que recebe.” Portanto, a culpa não é
sinônimo de reflexão sobre o ato, mas um claro e consciente impedimento para as
iniciativas necessárias ante a vida, tanto pessoal quanto profissional.

4º) Indústria/inferioridade – entre 6 e 12 anos.


Decorre na idade escolar antes da adolescência; a criança percebe-se como
pessoa trabalhadora, capaz de produzir, sente-se competente. Neste estágio, a
resolução positiva dos anteriores estágios tem especial relevância: sem confiança,
autonomia e iniciativa, a criança não poderá afirmar-se nem sentir-se capaz. O
sentimento de inferioridade pode levar a bloqueios cognitivos, descrença quanto às
suas capacidades e as atitudes regressivas: a criança deverá conseguir sentir-se
integrada na escola, uma vez que este é um momento de novos relacionamentos
interpessoais importantes. Questão chave: Serei competente ou incompetente?
Como se percebe a construção gradativa dos aspectos afetivos e emocionais
passa a ser mais evidenciada nesse estágio, pois as interações sociais já estão
estabelecidas – a família deixou de ser o único grupo, para ser mais um grupo – e a
escola já é considerada mais um ambiente em que as relações acontecem.
Contudo, esse início de entrada na adolescência torna-se um período de
autorreflexões, pois o sujeito sabe que está deixando sua infância para incorporar
“um mundo mais maduro”. Quais suas responsabilidades, já que a cobrança por
suas ações já é de cunho íntimo? Merleau-Ponty (1990, apud SZYMANSKI, 2010),
afirma que:
Noção central na psicologia da criança, porque criança é apenas
desenvolvimento. Noção paradoxal, pois ela não supõe nem
continuidade absoluta, nem descontinuidade absoluta, ou seja, o
desenvolvimento não é nem adição de elementos homogêneos, nem
uma sequência de etapas sem transição.

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É muito importante a presença da família nesse período. Pois, é o período em
que afloram os hormônios; as curiosidades físicas tornam-se mais exacerbadas; há
maior necessidade de falar e de ser ouvido, de que ouvir; a capacidade criadora e
produtiva está mais desenvolvida, mas implica motivação e apoio. Do contrário, a
inferioridade se instala; passa para a necessidade do isolamento e o distanciamento
das coisas e pessoas; acredita-se incapaz de dar conta de seus projetos pessoais;
ocorre a introversão ou a extroversão, sendo que ambos constituem prejuízo para o
pré-adolescente.

5º) Identidade/confusão de identidade – dos 13 aos 19 anos - marca o


período da adolescência.
É neste estágio que se adquire uma identidade psicossocial: o adolescente
precisa de entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua singularidade.
Há uma recapitulação e redefinição dos elementos de identidade já adquiridos – esta
é a chamada crise da adolescência.
Fatores que contribuem para a confusão da identidade são: perda de laços
familiares e falta de apoio no crescimento; expectativas parentais e sociais
divergentes do grupo de pares; dificuldades em lidar com a mudança; falta de laços
sociais exteriores à família (que permitem o reconhecimento de outras perspectivas)
e o insucesso no processo de separação emocional entre a criança e as figuras de
ligação. Neste estágio a questão chave é: Quem sou eu? E com necessidade de
responder a esta questão sai em busca de si mesmo. É o período comum das
desconfianças em relação aos seus laços familiares, dos conflitos e atritos com os
pais e irmãos, surgindo questões íntimas, tais como:
 Será que sou adotivo?
 Por que meus pais gostam mais do meu irmão?
 Minha irmã é melhor do que eu!
 Ninguém me entende.
 Não sou inteligente!
Na escola, o comportamento pode ser instável, ora calado e tímido, ora
desafiante e hostil; há necessidade de chamar a atenção e de ser chamado à
atenção, pois pretende valer-se de sua presença (por bem ou por mal); não crê nos
seus conhecimentos, tendo uma projeção negativa quanto à sua formação.

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Mas, via de regra, não precisa ser assim, desde que a família compartilhe
com esse pré-jovem suas ansiedades, dando-lhe a atenção devida, ao mesmo
tempo em que o orienta para a objetividade. Do contrário, tais conflitos podem
nascer dos conflitos já existentes na própria família. Por isso, Olivier (2008, p.77) faz
a seguinte observação:

O que quase ninguém questiona é que o ovelha negra não nasce


assim, ele é fabricado pela doença familiar (...), assistindo às crises da
família, aos problemas financeiros, às brigas entre os pais, às
cobranças em relação a ele próprio e aos outros familiares.

Nesse período, é essencial que a família busque o diálogo, o melhor


entendimento a fim de sanar estas questões íntimas, firmando e legitimando uma
identidade de significado, ou seja, que demonstre a importância de sua existência
nesse grupo, tal como, sua importância como elemento capaz e produtivo que deve
projetar-se para o futuro.

6º) Intimidade/isolamento – ocorre entre os 20 e os 35 anos,


aproximadamente.
A tarefa essencial deste estágio é o estabelecimento de relações íntimas
(amorosas, e de amizade) duráveis com outras pessoas. A vertente negativa é o
isolamento, pela parte dos que não conseguem estabelecer compromissos nem
troca de afetos com intimidade. Questão chave deste estágio: Deverei partilhar a
minha vida ou viverei sozinho?
Nesse sentido, a busca por sua estabilização emocional é característica
desse período. Mas o descobrimento da sexualidade e da íntima necessidade, cada
vez mais crescente, de dividir ou compartilhar seus espaços e contextos, faz que a
família seja espelho de seus projetos. Pois, nesse período, o antigo jovem envolvido
por seus projetos profissionais e sociais, torna-se agora mais próximo de sua família
e deseja formar a sua. As amizades já estão mais fortalecidas por laços de
afinidade, enquanto que a vida amorosa requer estruturação.
Não são apenas pequenas aventuras, nem “ficar por ficar”, há uma
necessidade de firmar compromisso e constituir a sua família, conquistar o seu
espaço com alguém. Mas, há um sério problema, de natureza íntima, ao qual a
família deve dar atenção e estar pronta para os enfrentamentos necessários.

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Dependendo de como os estágios anteriores se sucederam e da relação
estabelecida entre o sujeito e a família, pode haver conflitos quanto à escolha da
parceria que será estabelecida. Pois, somado a alguns fatores4, o sujeito pode optar
pela homossexualidade ou bissexualidade, ou sem problemas quaisquer, pela
heterossexualidade.
Segundo Olivier (2008, p.94):

A questão da afinidade deve ser fator desencadeante de relações


homossexuais, pois é certo que mulheres identificam-se muito mais
com outras mulheres e homens com outros homens, em ideias,
intenções, objetivos, carências, etc. Outro fator relevante é a beleza
física, pessoas muito bonitas ou, no mínimo, carismáticas ou
exóticas, enfim, pessoas que atraem muitas atenções, geralmente,
atraem muitas pessoas de ambos os sexos.

Ressalta-se que não é regra para todos essa vivência, mas, como já dito há
alguns fatores que se somam como, por exemplo, a distância da família nas
orientações quanto à sexualidade, a qual se inicia pelo auto-conhecimento físico e
consciência de suas manifestações. O diálogo franco e a parceria amiga da família
influenciam na formação das escolhas do sujeito.

7º) Generatividade/estagnação: entre os 35 e 60 anos.


É uma fase de afirmação pessoal no mundo do trabalho e da família. Há a
possibilidade do sujeito ser criativo e produtivo em várias áreas. Existe a
preocupação com as gerações vindouras; produção de ideais; maior participação
política e cultural; educação e criação dos filhos. A vertente negativa leva o indivíduo
à estagnação nos compromissos sociais, à falta de relações exteriores, à
preocupação exclusiva com o seu bem-estar, posse de bens materiais e egoísmo.
Um período marcadamente relacional, ou seja, a família é seu principal ponto
de apoio, como dizem – o porto seguro. Se há filhos, a preocupação é com a
formação e relacionamentos sociais; se não tem filhos, os deseja ter porque a
maturidade vem acompanhada pelo medo da solidão no futuro.

4
Antes de qualquer colocação, é preciso lembrar que são muitas as teorias e as justificativas
envolvendo a homossexualidade e a bissexualidade, que vão desde influência genética até tendência
psicopata, passando pelo hipererotismo sexual precoce (...) Segundo estudos comprovados, podem
ser sociológicos, comportamentais, hormonais, citológicos e até mitológicos, além dos psicológicos
(OLIVIER, 2008, p.93).

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O sujeito começa a perceber que a família de antes, e não a que constituiu,
não é mais a mesma, pois alguns familiares se distanciaram e outros já partiram
deste mundo – descobre-se que a vida e a morte fazem parte do mesmo processo.
Há uma necessidade premente de estabelecer-se financeiramente e atingir
com maior rapidez seus projetos pessoais; mas, há um maior equilíbrio entre os
desejos e as possibilidades – uma vez que a ansiedade da pré-maturidade já deixou
de existir, dando lugar à maturidade equilibrada.
Os amigos são escolhidos a dedo e a socialização se caracteriza pela
convivência; a ideia de velhice começa a ser uma companheira diária, sobretudo,
com a vinda dos netos.

8º) Integridade/desespero – ocorre a partir dos 60 anos.


É favorável uma integração e compreensão do passado vivido. É a hora do
balanço, da avaliação do que se fez na vida e, sobretudo do que se fez da vida.
Quando se renega a vida, se sente fracassado pela falta de poderes físicos,
sociais e cognitivos, este estágio é mal ultrapassado.
De um lado, a integridade é o balanço positivo do seu percurso vital, mesmo
que nem todos os sonhos e desejos se tenham realizado; esta satisfação prepara
para aceitar a idade e as suas consequências. Por outro, o desespero, como um
sentimento nutrido por aqueles que consideram a sua vida mal sucedida, pouco
produtiva e realizadora, que lamentam as oportunidades perdidas e sentem ser já
demasiado tarde para se reconciliarem consigo mesmos e corrigir os erros
anteriores. Neste estágio a questão chave é: Valeu a pena ter vivido? O que fiz de
verdade na vida? O que conquistei? A convivência com os mais jovens se torna
difícil, bem como fazer novas amizades, sendo a reclusão a melhor forma de viver
bem consigo mesmo.
A família tornou-se outros grupos, cada filho em sua casa recomeçando o
ciclo natural da vida de família; então, a família deixou de ter o tom alegre, mas
contempla-se o que restou dela com apreço, saudade e inquietação, pois a
sensação de perda e morte agora é uma constante.
Não vamos relembrar as teorias já estudas sobre o desenvolvimento e
aprendizagem humana, mas apresento o esquema seguinte que sae articula com as
ideias de Erikson, fazendo sentido ao que estudamos até aqui:

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Construir e Reconstruir conhecimentos é um ato de prazer

Conhecer é desejar

Componente intelectual Componente emocional

Relação Afetiva entre


O cognitivo depende
ensinantes e aprendentes
do método aplicado

Aprender depende

Organismo (individual
herdado)

Corpo (construído
pelas experiências)

Desejo (energia
inconsciente)

Inteligência (construída
interacionalmente)

Figura 2 – Do desenvolvimento humano nas suas relações familiares


Fonte: Elaboração própria

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Exercício 1

1. O início dos grupos, que se poderia, mais tarde, constituir em família, tem
surge:
a) Não nas relações entre os gêneros, mas a partir do parto e, após este.
b) Após as relações entre os gêneros.
c) Após todos os sujeitos se juntarem, formando um único grupo.
d) Pelos laços de afinidade e afeição.

2. As funções da família regem-se por dois objetivos, sendo um:


a) De nível objetivo (proteção psicossocial dos membros) e o de nível cultural
(acomodação a uma cultura e sua transmissão).
b) De nível interno (proteção intersocial dos membros) e o de nível externo
(assimilação a uma cultura e sua transmissão).
c) De nível interno (proteção psicossocial dos membros) e o de nível externo
(acomodação a uma cultura e sua transmissão).
d) De nível familiar (interação psicossocial dos membros) e o de nível social
(associação a uma cultura e sua transmissão).

3. A família é a primeira a contemplar nossos primeiros passos afetivos e


emocionais e, em certa medida, moldá-los, conforme:
a) A sua formação e identidade, ante os padrões sociais.
b) Os padrões familiares e sociais, frente aos papéis que assume.
c) As suas funções internas e externas, de acordo com a sua identidade familiar.
d) Um padrão de valores e crenças, estabelecidos na sua trajetória histórica.

1.2 As identidades e as relações familiares

“Espere minha mãe já vou voltando Que falta faz pra mim um beijo
seu”. (Fogão de Lenha, Chitãozinho e Xororó)

As identidades familiares são aquelas que dão, para cada membro familiar,
um papel dentro dela e faz com que sua dinâmica funcione havendo, assim, uma
relação íntima de cada identidade com as relações estabelecidas no seu interior.
(STANHOPE, 1999, p.502):

Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada


membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto
como, por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados
por papéis. Papéis estes, que não são mais do que, as expectativas
de comportamento, de obrigações e de direitos que estão associados
a uma dada posição na família ou no grupo social.

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Assim, cada pessoa ou familiar assume um papel que lhe concede direitos e
deveres e, sobretudo, obrigações que dão o formato ao que se denomina família.
Em psicopedagogia, quando se fala em família, deve ser entendida como uma
realidade sistêmica. Essa realidade é sistêmica, porque há uma interação de
aprendizagens e ensinagens que promovem o desenvolvimento de ambientes
propícios à integração social e interações com os conhecimentos que são adquiridos
e incorporados à família e em cada um de seus membros.
Assim, aos pais cabe:
 a socialização da criança: gerando, desde o seu nascimento, as
atividades que promovem o desenvolvimento das capacidades mentais e
sociais, as habilidades e potencialidades de aprendizagem e conhecimento
da criança;
 os cuidados às crianças: desde quando nascem, atendendo-lhes as
necessidades básicas essenciais, tanto físicas -como afetivas e
emocionais-, quanto as estruturais relativas aos ambientes;
 o papel de suporte familiar: que inclui a obtenção dos recursos
necessários para o sustento da família e sua interação social;
 o papel de encarregados dos assuntos domésticos: onde estão
incluídas as atividades de organização do ambiente familiar, propiciando o
conforto e o acolhimento saudável;
 o papel de manutenção das relações familiares: ao que diz respeito
aos relacionamentos interfamiliares, como contato e convivência com os
parentes, implicando, se necessária, a ajuda em situações de crise;
 os papéis sexuais: considerando que os parceiros precisam de tempo
para, na intimidade, discutirem a relação entre ambos, além das relações
sexuais, com o propósito de preservarem sua cumplicidade;
 o papel terapêutico: que implica o apoio afetivo e emocional quando os
problemas familiares surgem e, inevitavelmente, interferem na rotina
familiar;
 o papel recreativo: indica a necessidade de promoção de atividades de
lazer e recreação, tendo o objetivo de descontração, desenvolvimento
pessoal e interações sociais.

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Essas identidades, quanto aos seus papéis, não são estáticas e, como
sabemos, nos dias atuais, há muita mãe que é arrimo de família, sem parceiro para
ajudá-la e, também pai que é o único a sustentar a família sem parceria alguma.
Desse modo, os papéis nas são estáticos e as relações entre os pais não são mais
obrigadas a se manter, mesmo por laços filiais, religiosos, sociais, etc.
Os filhos, consequentemente, irmãos – ou mesmo filho ou filha única – são os
aprendizes necessários, já que suas primeiras relações são de aprendizagem para
desenvolver a independência de atenção às suas próprias necessidades básicas e,
mais tarde, interagirem num campo social além da família.
São os receptores das normas e regras sociais que a família desenvolveu na
sua trajetória histórica e cultural; são os que carregaram a bagagem que a família
transmitiu; então, se esta bagagem – estrutural, relacional, emocional e intelecto-
cognitiva – for bem estabelecida, orientada e definida, mesmo que haja problemas
comuns de qualquer grupo familiar, com certeza, os filhos serão os transmissores
fiéis dessa bagagem. As interações de modo geral, inclusive com a aprendizagem,
serão sadias e convencionalmente adequadas ao que a sociedade chama de
“padrão normal”.
No entanto, sendo a bagagem marcada por conflitos generalizados, que
comprometem os filhos na sua formação geral, será transmitida também de forma
fiel por eles. Pois, a tendência dos filhos é repetir o que lhe é dado, primeiro porque
crescem acreditando que é assim e, estenderão esse entendimento a todas as
outras relações. Para ilustrar essa premissa, por exemplo, acreditam que a melhor
relação é a que tem brigas, porque é assim que os pais vivem e, por conseguinte,
todas as demais relações passam a ser conflituosas porque assim sempre foram
concebidas.
Segundo Chraim (2009, p.91), “alguns pais talvez não estejam preparados
para serem pais, pois ainda não aprenderam a ser filhos. Mas, lembre-se que uma
das grandes virtudes da aprendizagem é a prática.”
É, certo, que tanto uma bagagem familiar boa como uma ruim podem formar
pessoas que não se encaixam nas premissas acima, porque pode haver elementos
que contornem as situações. Assim, as pessoas não se tornam más porque sua
família é má; há condições maiores para isso, mas sempre haverá uma tendência
natural, da personalidade, que se afina ou não à condição. Desse modo, Stanhope

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(1999, p.502), ao descrever as relações e identidades dos filhos, no contexto da
família, afirma que estes:

Contribuem para a formação da identidade uns dos outros servindo


de defensores e protetores, interpretando o mundo exterior,
ensinando os outros sobre equidade, formando alianças, discutindo,
negociando e ajustando mutuamente os comportamentos uns dos
outros.

Portanto, os filhos passam, desde muito cedo, a acompanhar as atitudes e


posturas dos pais, condicionando suas crenças
e valores, crendo nelas como determinantes
para toda realidade que se inserem e, mais
tarde, renovam o entendimento desses
princípios tomando uma identidade própria, a
qual, se repetirá na transmissão de valores e
crenças para seus filhos.
Fonte: http://migre.me/45vQd

1.3 Os diferentes personagens da família

“Família, família, Papai, mamãe, titia,


Família, família, Almoça junto todo dia. Nunca perde essa mania.”
(Titãs, Família)

Como podemos ver até aqui, a família é um grupo formado por pessoas e que
sofre a influência de outros grupos de pessoas. É um grupo dinâmico, estabelecido e
formado, tendo objetivos e propostas de convivência de acordo com os valores e
crenças que se formaram na sua trajetória histórica.
Os diferentes personagens que a compõem, são os que dão à família um
aspecto peculiar e diferenciado. Mas, família é tudo igual, só muda de endereço,
como dizem.
As famílias atuais não são mais naturais ou nucleares, ou seja, aquelas
compostas apenas pelos pais e pelos filhos. Na sua maioria, as famílias passaram a
se diferir tanto no seu agrupamento, quanto nos personagens que a compõem.
Desse modo, algumas das famílias atuais possuem os pais como o centro de
tudo; trabalham em tempo integral dedicando-se ao sustento da casa; enquanto que

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os filhos são legados aos cuidados dos avós – tanto
paternos quanto maternos, sendo estes os
responsáveis pela educação e formação dos valores
necessários. Esta realidade provocou mudanças
sérias quanto à formação afetiva e emocional da
família comprometendo, inclusive, as identidades de
cada membro.
Fonte: http://migre.me/45wbG
Para ilustrar este fato, tomarei como exemplo uma situação que presenciei
quando tive experiência escolar: a mãe é chamada para comparecer à escola, a fim
de ser informada sobre os problemas de comportamento do filho. Contudo, no
horário marcado, comparecem a mãe e a avó (materna), o pai estava em trabalho no
exterior e, não comparecia fazia três anos, a não ser por poucos contatos
telefônicos; a mãe se explica afirmando que quem cuida da criança em tempo
integral, desde bebê, é a avó, e ela (mãe) não é reconhecida pelo filho como mãe,
mas a avó, sim. Resultado: a criança não atendia a mãe em nada que lhe fosse
pedido e, pior ainda, se lhe chamasse a atenção, a criança diziam “você não é a
minha mãe, não me manda!”; o detalhe é que essa mesma frase era repetida pela
criança toda vez que a professora, na escola, lhe chamava a atenção. Então, vamos
aos personagens dessa história:
 uma criança que sabe que é filho só não sabe de quem;
 um neto que não sabe que é neto;
 um pai, que só tem o termo;
 uma mãe que não é mãe;
 uma avó que não pode ser avó porque se tornou mãe e,
 uma professora que não é nada.
Com exceção da professora, que personagens compõem esta família?
Ressalto que não há nada contra os pais trabalharem para o sustento
qualitativo de sua família, contudo, a pouca presença deve ser mais valorizada que a
dura ausência provocada. Mas Sarti (2010, p.25)5 alerta que:

5
Cynthia A. Sarti, Famílias enredadas, p.21-36, in Acosta e Vitale, 2010.

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Não se sabe mais, de antemão, o que é adequado ou inadequado à
família. No que se refere às relações conjugais, quem são os
parceiros? Que família criaram? Como delimitar a família se as
relações entre pais e filhos cada vez menos se resumem ao núcleo
conjugal? Como se dão as relações entre irmãos, filhos de
casamentos, divórcios, recasamentos de casais em situações tão
diferenciadas? Enfim, a família contemporânea comporta uma
enorme elasticidade.

As pessoas gestam seus problemas com o trabalho, porque necessitam dele,


sabendo que há uma vida fora dele. No entanto, não gestam a paciência necessária
- já que há mais cansaço que saudade – quando são chamados a assumir seus
papéis. Deixam para os avós, os tios, os primos fazerem o que não acreditam ter
tempo para fazer. Mas, tais adultos precisam lembrar que a presença valorizada é
aquela que demonstra a importância das pessoas por quais lutamos (e amamos!).
Não serão os demais responsáveis por cuidar dos nossos filhos, que poderão dar o
amor que eles exigem; podem amar sim, como relações duradouras e subjacentes,
mas que não substituem o afeto dos pais. E isso se aplica inclusive para os filhos
adotivos, pois em seus íntimos há um vazio, que se explica mediante cada situação
e que se torna superável mediante os afetos dos pais adotivos.
Também para ilustrar tais premissas, tomo como exemplo um relato de uma
mãe que chega a casa e, de cara, vem o filho a lhe pedir “uma coisa”. Antes que o
filho pudesse completar a frase, a mãe se coloca na postura das compensações,
prometendo que o levaria ao shopping; que lhe daria um carrinho novo; que lhe
traria um doce bem gostoso no dia seguinte desde que ele ficasse quietinho e a
deixasse descansar.
A criança desolada sai de cena. Mais, tarde, notando o silêncio da casa,
pergunta para a avó onde está o filho; a mesma diz que já está dormindo. A mãe
resolve então saber da avó o que a criança queria. A avó diz que o neto queria
apenas uma foto (da mãe) para colocar num cartão de homenagem que a escola
estava organizando. Será que é preciso dizer que a avó já havia lhe dado uma
fotografia da mãe, já que ela não estava só ausente, mas totalmente fora da
realidade de seu filho.6

6
Ao me referir à mãe, a avó, não pretendo atingir o universo feminino de forma restritiva, são apenas
configurações, pois incluo pais, avós e todos os demais membros que compõe uma família.

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Portanto, o fato de trabalhar fora, de forma que os filhos fiquem aos cuidados
de outros, não é o problema, mas é a despersonalização da família que preocupa,
sobretudo, a escola. Já que nisso há relações envolvidas, há afetos condicionados e
emoções que não estão sendo tratadas, nem atendidas. Creio que os professores
sabem bem o que estou falando, porque o maior desafio da escola é aproximar-se
da família e obter respostas aos comportamentos de seus filhos.

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UNIDADE 2 - CADA FAMÍLIA TEM SEU MODO DE SER

2.1 Autoridade: falar a mesma língua é bom

Nessa unidade o objetivo é não perdermos o foco da família e de sua


dinâmica, de forma que possamos entender quem é este grupo e como as questões
relativas aos processos de aprendizagem e de ensinagem estão muito relacionadas
a ele.
Há algum tempo, sem surpresa, ouvimos que toda família é igual, só muda o
endereço. Em muitos aspectos, o dito popular está correto, pois as funções e papéis
que garantem à família suas características centrais não mudam de um grupo para
outro. No entanto, já não se pode dizer que todas as famílias são semelhantes na
constituição de seus valores e de suas crenças, pois estes princípios implicam num
conjunto de experiências que incluem uma história, uma cultura, um organismo
social, ético e político.
Assim, família se constitui por meio de um processo que soma tempo e
história, em que cada um de seus membros tem um caráter social assumido e
dinâmico. Esse caráter também é uma constituição histórica e que marca uma
representação como, por exemplo, a de autoridade – concebida ao homem, como o
responsável pela proteção, sustento e manutenção da família. Segundo Lyra (2010,
p.80), assim se configura esse homem na história:

Esse homem caçador, segundo podemos inferir pela configuração da


estrutura familiar, e que nesse momento da história não tinha
consciência de sua condição de pai, era um sujeito que se ausentava
para as caçadas e as lutas a fim de garantir o necessário à
sobrevivência. No entanto, era uma pessoa visivelmente envolvida
na instrução das crianças, nos ritos, na caça e nas lutas.

A autoridade do homem, assim, nasce no conjunto de seus propósitos, pois


sua posição lhe concedia o poder de acolher, manter e lutar para garantia de
sobrevivência. No entanto, a mulher também já detinha algumas funções que
auxiliavam o homem, sendo que ambos conduziam o grupo sob seus domínios – ao
homem cabia proteger e manter e, à mulher cabia a procriação.
Mais tarde, porém, essas posições de liderança foram tomando outras
formas, pois se o instinto de liderança era inerentemente humano, a vontade e o
poder passariam a sobrepor-se à vontade dos demais. Assim surgia a autoridade, a

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qual culturalmente foi imposta à figura masculina. Desse modo, liderança e poder
são os elementos centrais da autoridade. Lembrando que quem autoriza tem
autoridade para isso e, assim, o homem se afasta dos cuidados e atenção com os
filhos, pois há uma imagem pública que exige outras funções, tais como a de
autorizar o seu grupo, em outras palavras, o homem é quem manda. A mulher,
então, assume diretamente estes cuidados com os filhos, sendo-lhe culturalmente
imposta esta função.
Essa ideia de autoridade em que o pai detém o poder, consequentemente a
autoridade, porque sua imagem pública assim requer, e à mãe cabe a educação e
proteção dos filhos, porque ela é predestinada a isso, socialmente falando, passa a
ser cultuada nas mais diversas sociedades, notando-se a diversidade de gêneros.
Nesse sentido Lyra (2010, p.84) analisa que:

Sabe-se que qualquer discussão sobre o cuidado é remetida


imediatamente ao “universo masculino”, pois desde a infância, com a
educação familiar e escolar, há um claro
incentivo e uma cobrança de que o cuidado
esteja presente na postura das meninas, o
que é maciçamente reforçado pela mídia, que
não se cansa de lançar novos modelos de
bonecas, casinhas, cozinhas, etc. Em
contrapartida, aos meninos é reservado o
espaço da rua, com brincadeiras que na
maioria das vezes exigem esforço físico,
visando a competição e ao enfrentamento de
riscos como algo natural e incentivado.
Fonte: http://migre.me/45ACs
Dessa análise não é difícil nos defrontarmos com o cenário que envolve
homens e mulheres quanto aos seus papéis socialmente estabelecidos. Contudo, é
importante lembrar que as mulheres conquistaram espaços, antes ocupados apenas
pela figura masculina. Porém, mesmo com essa conquista, continuam a ela
relegados os cuidados com os filhos, enquanto o homem contribui para o sustento
da família.
Mas, é dessa alteração de condutas e papéis, de homens e mulheres, que
poderemos notar que a conhecida autoridade passou a não ser mais exclusividade
dos homens. Por mais que discursos machistas afirmem seus preconceitos, a
mulher passou também a ter uma parcela social de poder e, consequentemente, de

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autoridade, sobre a família, sobre seu trabalho e, até mesmo, sobre alguns de seus
parceiros na relação conjugal.
Quanto à criança, é preciso não esquecer que se não der a ela o
direcionamento necessário, ela se perderá pelo caminho. Em outras palavras, a
criança, por sua natural necessidade, passa por desenvolvimentos que lhe dão
comportamentos sobre os quais ela não tem controle, porque não distingue o certo
do errado, não tem noção dos perigos e das consequências de seus atos, não sabe
até onde ir e como poder chegar. Enfim, a criança desfruta, em parte, uma liberdade
com a qual não sabe lidar porque desconhece os princípios e regras que lhe dão
segurança para agir, necessitando assim da autoridade, seja do pai ou da mãe.
O fato, é que toda criança copia (reproduz) o que é de comportamento dos
adultos, bem como a linguagem que usam. Para ilustrar esta premissa, lembro-me
de uma situação peculiar no dia a dia da escola, a qual tinha por hábito permitir que
as crianças trouxessem para o contexto um brinquedo, uma vez por semana. Todas
as crianças passavam pela sala da coordenação pedagógica para poderem se dirigir
às suas salas de aula.
Vítor, assim vou chamá-lo figurativamente, com oito anos, é um daqueles
alunos que além de ser uma criança muito bonita, não sabe o que é ficar quieto,
deixando boa parte dos funcionários da escola quase enlouquecidos com suas
peripécias. Naquele dia, em especial, quis saber o que Vítor havia trazido para
escola para brincar, enfim, qual era o seu brinquedo. Sem delongas, Vítor atende ao
meu pedido, abrindo a mochila para pegá-lo. Ele retira da mesma uma faca de 20
centímetros com cabo em madeira e excelente corte, e, ainda me diz que aquilo é a
melhor “espada” que tinha para brincar. De modo a não deixá-lo assustado – já que
eu estava – pedi-lhe que me entregasse o suposto “brinquedo”, pois queria mostrar
para todos a linda espada que o Vítor trouxera e até ia ver se achava uma para mim
também. Fui aos guardados (e perdidos) da escola e achei uma espada de
brinquedo, fazendo a troca com Vítor que ficou um pouco desapontado. Mas,
notando a minha disposição em elogiar o brinquedo verdadeiro, afirmando que
combinava com ele, ficou feliz com a minha proposta e deixou o objeto cortante
comigo e foi para sala de aula.
Apavorado, liguei para a avó e relatei o ocorrido; ela também se assustou e
disse – “Já disse para ele não brincar com faca.”

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Vamos analisar este caso, fazendo as seguintes reflexões:
- Vítor não tem limites que, em certa medida, é comum para todas as crianças
que desconhecem os riscos de alguns objetos que os adultos utilizam;
- Vítor não sabe, mesmo com oito anos, as consequências de seus atos –
alguém ainda não o ensinou;
- Ao falar para Vítor que não é para brincar com faca, não está claro que faca
não é brinquedo, pois se trata apenas de uma restrição, mas não do sentido que o
objeto tem. Nesse caso, o certo é, diante do objeto, a avó explicar para o menino
que faca não é brinquedo, mas sim um objeto que pode machucá-lo tanto quanto a
outras pessoas. Segundo Grunspun (2004, p.35), “a criança tem necessidade da
autoridade, além da função primordial da liberdade.”
Pais, avós e/ou demais responsáveis, devem exercer a autoridade de modo
que a criança descubra como são importantes suas escolhas, e como a pertinência
delas dará sentido a todos os segmentos de sua vida, inclusive, na escola. Ainda
Grunspun (2004, p.35) afirma que:

Conseguindo suprimir impulsos conflitivos e recebendo a ajuda na


escolha dos seus julgamentos, a criança se capacitará a enfrentar a
realidade. A autoridade orienta a criança em sua evolução da fase
inicial instintiva, com busca de prazer pela satisfação das
necessidades, para a outra fase em que passa a sentir sofrimento
pela realidade. Se a criança não tiver ajuda da autoridade ficará em
busca de satisfações imediatas, sem conseguir se ajustar ao
princípio da realidade.

O que o autor pretende com essa afirmativa é alertar para a necessidade de


uma autoridade que não é restritiva ou castradora, que não coloca o impedimento,
ou que toma o lugar das escolhas da própria criança. Estamos de acordo com o
autor quando assumimos que autoridade é aquela que faz a criança entender sua
realidade é lhe dá condições de refletir sobre ela.
Percebemos isso quando, por exemplo, os pais levam com eles a criança ao
supermercado e, permite que a criança pegue (tudo) o que gosta. O que acontece?
A criança vai tomando tudo o que gosta e que lhe chama a atenção. Ilustrando: outro
dia, estava numa loja de brinquedos para escolher um presente para a filha de um
amigo que aniversariava. Ao meu lado, na sessão das bonecas Barbie, uma mãe
zangada com a filha pequenina (a qual devia ter uns 4 anos), porque toda boneca de
que ela gostava, queria que a mãe comprasse. Evidentemente, choro e lágrimas

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compunham a cena. O mais acertado seria a mãe conversar com a criança fora
desse ambiente - ou antes, ou mesmo na hora do ocorrido. Explicando para a filha
que nem tudo o que se gosta se pode ter, inclusive ela (mãe). Filhos precisam de
modelo e de nada adianta zangar com a criança sem colocar-se como modelo. Por
isso a ideia que o autor descreve como a fase de sofrimento da criança pela
realidade.
Que bom seria se filhos viessem com manual de instrução e baterias
ajustáveis. Também seria interessante que as pessoas antes de se tornarem pais
fizessem graduação e pós-graduação para atuarem com seus futuros filhos. Mas
sabemos que essas bem humoradas ideias são apenas trocadilhos. Então só nos
resta aprender como a autoridade não pode retirar da criança sua função de
liberdade, mas ensiná-la a conduzir com segurança suas escolhas.
Ao chamar a atenção da criança, é preciso olhar diretamente em seus olhos,
falar em voz baixa, demonstrando firmeza na voz e na ideia. Do mesmo modo, a
delicadeza deve ser exercitada nos gestos e nas palavras, elogiando o que é de
valor e explicando o certo. Nesse sentido, é preciso ser razoável, sendo justo ao que
é pertinente à criança de acordo com sua faixa etária. E a consistência aos
comandos deve ser mantida, não havendo contradições entre o dito e o feito. Assim
temos as quatro qualidades da autoridade. (GRUNSPUN, 2004)
Por outro lado, o excesso de autoridade não permite à criança entender onde
fracassou, porque se sente ameaçada e intimidada, sendo obediente somente
quando for ameaçada. Geralmente, nesse tipo de comportamento encontramos pais
muito inseguros e frustrados, porque espelham suas dificuldades quando foram
filhos nos seus filhos. Assim, querem que a criança seja o que não foram, que
consiga o que não conseguiram, enfim, detonam com a identidade da criança.
Já os pais tiranos, aplicam penas severas, cruéis e injustas; tais medidas são
mais acessíveis, custam pouco e não requerem valores mais aprofundados. Então, é
mais fácil agredir que conversar; é mais fácil gritar que ouvir; é mais fácil coibir que
dirigir. Esses pais são dominadores e acreditam que isto ou aquilo é o melhor para
os seus filhos, fazendo com que estes tenham medo do mundo e nenhuma ambição.
E, há pais que exercitam o excesso ou nenhuma autoridade, sendo os que
mandam, gritam, batem, menosprezam os sentimentos dos filhos e os castigam;

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mas, horas depois, dão presentes, levam ao shopping, como forma de fazer com
que as crianças tenham sentimentos de culpa, mais que a clareza sobre seus atos.
Desse modo, a superautoridade, a tirania e a autoridade instável, são as
patologias da autoridade. (GRUNSPUN, 2004)
Agora, o pior disso tudo é que a criança vai buscar, na escola, na figura do(a)
professor(a), tais autoridades, porque são seus modelos, refletindo no
desenvolvimento de sua aprendizagem. Nesses casos, sugere-se que os
professores não assumam a autoridade que a criança está projetando, mas que
demonstrem pelo acolhimento, diálogo e parcerias, a autoridade que contradiz aos
modelos que ela adquiriu em suas famílias. Desse modo, a criança poderá não só
alterar seu comportamento, mas identificar sua liberdade ante suas escolhas.

2.2 Rituais familiares

“Todo dia ela faz sempre tudo igual...me sacode as 6 horas da


manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com boca de hortelã.”

(Cotidiano, Chico Buarque)

Os rituais familiares, os quais vamos resumidamente analisar e, em certa


medida, refletir, são um dos mais importantes elementos para a formação de hábitos
de aprendizagem das crianças. Não estamos falando de rotinas uniformes com
caráter pragmático e, até mesmo, missionário; mas, de rituais que são necessários
para fortalecer as relações entre os membros da família e que, progressivamente,
vão dando significado aos rituais sociais.
Mas, afinal que são estes rituais familiares e qual a sua influência na vida das
pessoas?
A comemoração de uma criança que nasce; um
batizado religioso; comemorar o aniversário da
criança,..., são rituais familiares. Tais situações
parecem, além de muito subjetivas, simples eventos
comemorativos. De certa forma, são sim, mas estes
têm um caráter social. Mas, tomar o café, almoçar,
lanchar ou jantar, todos juntos à mesa, não são eventos
simples, tampouco, subjetivos.
Fonte: http://migre.me/45B56

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Mas, em que isso se aplica à aprendizagem? Aplica-se ao processo de grupo
e sua ritualização. Porque a criança aprende, primeiramente, em grupo familiar, se
insere a outros grupos para aprender com outros elementos deste e, na escola
aprende em grupo. Como se percebe, os rituais não são simples eventos, mas um
processo de grupo que se organiza para o fim, um objetivo que é igual para todos.
Nota-se, assim, alguma semelhança muito clara com o processo de aprendizagem
que tem que ser organizada para um fim, tendo um objetivo igual para todos.
Mas, com a globalização e as demandas sociais – de trabalho, produção e
capital – cada vez mais acentuadas, tais rituais têm perdido a força nos grupos
familiares, sendo que sua importância é nada, ou quase nada, comparada a outras
preocupações que as pessoas estão vivenciando.
Em contrapartida, assistimos crianças que não conseguem ficar sentadas em
suas carteiras, que não sabem a hora certa para falarem, que não respeitam os mais
velhos diante de seus atos, que teimam em suas façanhas, numa postura desafiante
e, até mesmo, ameaçadora. Defrontam-se com os professores, independente de sua
idade, desafiando aos demais e à própria família. Assistimos, com certo temor, aos
noticiários nos quais crianças são apontadas como delinquentes marginais, ladrões,
assassinos, prostitutas.
Para ilustrar, o que acabo de afirmar, difícil será aquele que não assistiu na
tevê à notícia de que fora apreendido um ladrão de carros, numa cidade do interior
paulista, que roubara mais de trinta carros; detalhe: foi preso porque foi abordado
por um guarda de trânsito, quando dirigia em alta velocidade pelas ruas da cidade. O
mais surpreendente: o ladrão de carros tinha só onze anos de idade. Os pais foram
chamados à delegacia para prestarem esclarecimentos sobre o menor infrator; ao
ser questionado pelo delegado, o pai, como o único responsável a comparecer,
afirmou que não dava conta do menino e pedia sugestões à autoridade ali presente.
O que se perdeu no interior dessa família? Aliás, de muitas famílias? Perdeu-
se a natureza das relações, na qual os ritos de grupo passaram a ser insignificativos.
Dessa forma, a criança não toma café em casa antes de ir para escola, vai lanchar lá
com o dinheiro que os pais já lhe deram. A criança não vai almoçar com os pais, pois
estes trabalham em tempo integral e não possuem um horário fixo para este
momento. Os responsáveis pela criança não vão contrariar a criança se ela quiser

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fazer as refeições (todas elas) na frente da tevê, mal acomodada no sofá da sala,
afinal, a “coitadinha” já não vê os pais o dia todo, para que forçar?
Em contrapartida, a criança não vai ficar quieta, sentada na sua cadeira, não
vai falar no seu tempo, não vai respeitar os demais na fila do lanche, etc. Porém, não
estamos falando aqui de criança que não é criança -pois todas possuem energia de
sobra para pularem, correrem e gritarem o tempo todo; o oposto disso, é criança
doente- mas de crianças que conhecem as regras a partir de rituais familiares que
são importantes para essa formação de postura.
A indisciplina que assistimos na escola é fruto dessa ausência de rituais de
grupo, pois como a criança poderá aprender a disciplina na ausência de seu grupo
modelo, a família. Ressalto, que pais que se ausentam por questões de sustento,
são respeitáveis, mas, como já disse anteriormente, a presença deve superar a
ausência. Segundo Vasconcellos (2004, p.26) é certo que:

Atualmente o grande foco da crítica e da atribuição de


responsabilidades pelos problemas da indisciplina na escola é o
aluno e, em particular, sua família. De fato, percebemos muitas
famílias desestruturadas, desorientadas, com hierarquia de valores
invertida em relação à escola, transferindo responsabilidades suas
para escola, etc. Tudo isso é verdade. Objetivamente, a família não
está cumprindo sua tarefa de fazer a iniciação civilizatória:
estabelecer limites, desenvolver hábitos básicos.

A organização prévia das atividades de grupo, os rituais, pode ser uma


maneira de alterar esse cenário de indisciplina. Pois, aos pais cabe orientar aqueles
que cuidarão de seu filhos para que os rituais sejam atendidos, tais como, fazer as
refeições à mesa. Assim, se poderá exigir que a criança tenha uma postura
adequada perante outros grupos como, por exemplo, o grupo da escola.
Por outro lado, na escola, os professores podem mediar situações grupais
em que a criança perceba a necessidade de se organizar para partilhar das
atividades. Brincadeiras e jogos em grupo podem fazer a diferença, sobretudo, se
estabelecer regras e condutas para a participação.

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Exercício 2

1. A sociedade chama de “padrão normal”:


a) As relações que a família possui no seu contexto social.
b) As aprendizagens reprodutoras da escola.
c) As manifestações familiares que a sociedade exige.
d) As interações e a aprendizagem, sadias e convencionalmente adequadas.

2. Toda família é igual quanto às suas funções e papéis. No entanto, as


famílias não são semelhantes quanto:
a) À constituição de seus valores crenças, ou seja, princípios e experiências.
b) À formação de seus membros, ou seja, natural ou multinuclear.
c) Estruturas culturais e históricas, ou seja, sua origem e sua adaptação.
d) Seus elementos e suas funções, ou seja, pais e avós.

3. As quatro qualidades da autoridade são:


a) Diálogo, comunicação, inserção e amabilidade.
b) Firmeza, delicadeza, razoabilidade e consistência.
c) Objetividade, serenidade, acolhimento e diálogo.
d) Certeza, diálogo, objetivo e razão.

2.3 O respeito não é unilateral

O respeito é um dos comportamentos que deve ser ensinado à criança pelos


pais, como parte que integra a autoridade; e os pais devem ser o modelo para que a
criança não tenha dúvida quanto à importância do respeito.
Mas, na maioria das vezes, a questão do respeito perpassa até mesmo o não
entendimento dos pais sobre isso. Pois são eles mesmos que deturpam este
comportamento, dando exemplos nas suas relações que contradizem o que
ensinam.
Segundo Grunspun (2004, p.42), “o respeito é uma relação estabelecida para
com uma determinada pessoa ou situação, relação esta envolvida de consideração,
interesse e de particular atenção.” Desse modo, o respeito deve ser ensinado de
modo que a criança entenda que as relações que envolvem pessoas requerem
consideração, pois cada pessoa tem um papel formado na relação – seja familiar ou
não; deve haver um interesse, porque toda relação é intencional, não no sentido do
oportunismo, mas de necessidades que se complementam; e, deve ter particular

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atenção, porque cada pessoa tem um repertório íntimo e crenças que são parte de
sua identidade.
Assim, as relações estabelecidas com base no respeito que são ensinadas
para a criança lhe proporcionam uma formação de relações sadias, nas quais ela
terá mais segurança e iniciativa para o diálogo.
No entanto, como disse anteriormente, há pais que deturpam este
comportamento, dando exemplos nas suas relações que contradizem o que
ensinam. Então, falam uma coisa, mas fazem outra. Exemplo comum é aquele em
que os pais ensinam que não deve bater no coleguinha da escola, mas se apanhar
deve retrucar. Outro exemplo comum é os pais ensinarem que não se deve mentir,
mas quando não querem atender o telefone, pedem à criança que atenda e minta
dizendo que não estão presentes. E o pior, na minha opinião, é dizer que a criança
precisa respeitá-los porque são seus pais. Na primeira oportunidade, a mãe chama
atenção da criança porque fez algo que não devia, o pai diz para criança que a
mamãe está nervosa e que ela não precisa se preocupar, porque está tudo bem.
Assim, fica claro que não falam a mesma língua.
Respeito não é uma condição unilateral: ou se tem ou não se tem; não existe
meio respeito ou se respeita mais ou menos. É como dizer à criança que ela precisa
ir para escola porque lá aprenderá coisas muito legais e que ela terá uma professora
que lhe ensinará bastante coisas. Essa imagem da escola é muito gratificante.
Contudo, na primeira chamada de atenção que a professora der, a criança irá se
assustar e reclamar para os pais – com certeza, alguém vai lá tirar satisfação.
Agora a imagem da escola é outra e, pior, dos seus atores também. Poderia
não ser assim, se os pais ensinassem que a criança terá mais um novo ambiente
para aprender, mas que são os professores que cuidarão disso, por isso deve
respeitá-los e, somando-se a este diálogo, fazer a parceria necessária para que
todos falem a mesma língua e a criança aprenda que o respeito não deve ser
unilateral.
Nesse sentido, Grunspun (2004, p.101) afirma que “a educação da família
depende das atitudes dos pais. Quando as atitudes dos pais são corretas e sadias, a
educação da família se torna perfeita.”

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2.4 Capacidade de amar e cuidar

“Quem me chamou...Quem vai querer voltar pro ninho...Redescobrir


seu lugar. (Brincar de viver, Guilherme Arantes)

A família é o único grupo capaz de amar e cuidar, protegendo-se no seu


interior, sendo a primeira ensinante mais importante em todas as sociedades do
mundo. Tem uma representação própria, marcadamente intercultural, ou seja, é um
grupo com uma identidade histórica, que tem seus ritos diários, a rotina específica,
que tem discursos próprios devido aos princípios e valores conquistados na sua
trajetória de existência.
Assim também, diferencia-se na sua forma de amar, sendo este um
sentimento que implica em intimidade, cumplicidade, companheirismo, afeição,
emoção e acolhimento, desenvolvido de acordo com as origens emocionais que os
progenitores herdaram. Vou explicar isso da seguinte forma: o nível de amor que os
pais recebem é o mesmo nível de amor que darão a seus filhos. Mas já aviso que
isso não é uma regra estabelecida e não pode ser generalizada, porque há pessoas
capazes de superar suas privações afetivas e na simplicidade que as conforta
aceitar, com alegria, o pouco de afeto que puderam lhe ofertar.
Poderia se dizer que algumas pessoas aprenderam a amar,
incondicionalmente, porque descobriram que este sentimento tem uma extensão
mais ampla nas vivências que se propõe experienciar. Parolin (2005, p.54-55), nesse
sentido, afirma que:

À medida que cresce, cabe aos pais mostrar-lhe que ela é importante
sim, porém, não é a única pessoa importante no mundo; que ela é
amada sim, porém não é o único objeto de amor de seus pais.
Localizar a criança em um contexto socioafetivo mais amplo é tarefa
importantíssima para sua adequação social.

Portanto, o amor vivenciado na família tem uma influência enorme e


importantíssima na vida de todos os seus membros e irá refletir na continuação
dessa família.
E, a dimensão do sentimento de amor pode ser mais evidente na forma de
cuidar e cuidar-se enquanto família. Em outras palavras, a forma de cuidar, um dos
outros, assim como da criança, é a expressão de seus sentimentos. Assim, pessoas
que se cuidam mutuamente expressam o valor que tem umas com as outras. O
cuidar, solicitado até em forma legal aos pais, inclui desde sua concepção, todas as

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atenções para o pleno desenvolvimento do indivíduo, a sua formação como pessoa,
como sujeito social e, sobretudo, a formação como pessoa capaz de cuidar dos seus
entes. E isso ultrapassa as barreiras do tempo e das eras, como diz Pinheiro e
Biasoli-Alves (2008, p.25):

Conforme as transformações sociais vão ocorrendo, surgem, ao


mesmo tempo, diferentes resultados que afetam a dinâmica da família
e do casal, o que nos permite situar as questões que envolvem o
papel desempenhado por cada um dos seus membros,
particularmente, pai e mãe.

Essa premissa apenas confirma o muito do que já dissemos nessa unidade, a


família é a nossa primeira ensinante, nosso berço afetivo, nossa introdução ao
mundo social. Cabendo a ela a responsabilidade total e irrestrita de cuidar, proteger
e amar, independente dos fatores e das condições que nela se inserem. Qualquer
outro contexto é incapaz de cumprir com exatidão as tarefas que somente cabem à
família.

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UNIDADE 3 - RELAÇÕES VINCULARES

3.1 Valor dos Vínculos: princípio das relações maternais, paternais


e sociais
Minha dor é perceber que apesar de termos, feito tudo o que fizemos.
Ainda somos os mesmos. E vivemos. Como os nossos pais. (Como
nossos pais, Elis Regina)

O desenvolvimento emocional de um ser humano está vinculado à maneira


como ele consegue estabelecer relações, assim como do jeito que lida com as crises
ou conflitos naturais à convivência humana. O primeiro contato relacional que o ser
humano institui é com os pais, mais especificamente com a
mãe. O relacionamento mãe-filho é decisivo para a
formação emocional.
No decorrer da gravidez, as emoções, os conflitos da
mãe, as circunstâncias de nascimento, tudo isso, de certa
forma, nos influencia emocionalmente. É uma forma de
entendermos melhor as atitudes do dia a dia de uma
pessoa.
Fonte: http://migre.me/46os0
O momento emocional da mãe, como ela se sente, os medos, as ansiedades,
são percebidas/sentidas pelo bebê. Ideias de interromper a gravidez e fazer um
aborto são emoções captadas pelo feto em formação. Certos acontecimentos
traumáticos, brigas, também são percebidos e até de certo modo influenciam a
criança.
Muitas vezes, esta relação mãe e filho se torna simbiótica ao longo de muitos
anos, impedindo que este cresça e se fortaleça a partir do enfrentamento da vida,
das crises, das carências. É a falta que promove a busca e é a aventura da busca
que faz o homem. Provavelmente, os pais também foram "mal formados" através da
educação que receberam, podem ser neuróticos ou mal resolvidos emocionalmente.
As influências familiares e as regras sociais acabam tolhendo o nosso eu real; na
realidade, muitas pessoas não têm tempo para expressar essa verdadeira natureza,
pois pela educação recebida, desde muito cedo, vão sendo "moldados" segundo o
padrão da família e da sociedade.

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Estas solicitações acabam impondo que nos moldemos num tipo adequado
de pessoa. Comentários repressores, críticos, que vão podando o eu genuíno, e
impondo um padrão certo, o qual achamos que temos que seguir, para garantir que
sejamos aceitos, amados, respeitados.
A mulher só aprende a ser mãe, quando se torna mãe e devido à falta de
preparo, às vezes fica confusa e não percebe a dimensão e importância de seu
papel. Na verdade, a mãe segue seus instintos, passando para o filho seus
componentes de personalidade, conduzindo o desenvolvimento de seu filho de
acordo com o que aprendeu com seus pais, transmitindo sentimentos, pensamentos,
medos e expectativas oriundas de gerações anteriores e assim ela vai rascunhando,
isto é, formando uma nova personalidade. A mãe oferece na realidade, o seu
conteúdo emocional enquanto filha, esposa e mulher.
A criança inevitavelmente passará por todas as fases biológicas de
desenvolvimento, do desmame aos primeiros passos, do seu engatinhar ao balbucio
das primeiras palavras, do aprendizado dos primeiros riscos circulares até o
desenho perfeito das letras.
Com emoção, a mãe verá a criança crescer, deixar de ser criança, deixar de
depender exclusivamente dela, conquistando a auto-orientação de seus passos,
gostos e preferências. A criança pequena e o cuidado materno formam uma
unidade, que se relacionam com o sentido real da palavra dependência. Esta
dependência se baseia na empatia materna, nas qualidades e mudanças das mães
que satisfazem as necessidades específicas e de desenvolvimento da criança para
as quais ela se orienta, mais pela compreensão do que é, do que poderia ser
verbalmente expresso.
Avançar na maturidade implica crescimento pessoal como também
socialização. O indivíduo normal não se torna isolado, mas se torna relacionado ao
ambiente de modo que tanto indivíduo como ambiente são interdependentes. A
indicação dessa normalidade significa a saúde do indivíduo como da sociedade e o
alcance da maturidade completa do indivíduo só é possível em um ambiente social
saudável. Um ambiente favorável torna possível o progresso continuado dos
processos de maturação, mas o ambiente não faz a criança, ele possibilita à criança
concretizar seu potencial. Em termos da psicologia do desenvolvimento infantil,
Winnicott (1985, p.76-79) conceitua as seguintes fases:

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a) Desenvolvimento emocional primitivo, no qual devem ocorrer os
processos de integração, personalização e contato com a realidade.
Esta fase, que é de dependência absoluta do bebê em relação a sua
mãe, vai desde o nascimento até por volta dos cinco a seis meses de
idade, período em que o psiquismo está em formação. O bebê está
fusionado com a mãe, a relação é de unidade (unipessoal). Essa
dependência absoluta é a incapacidade de perceber as qualidades
dos cuidados maternos, sem poder assumir o controle sobre o que é
bem ou mal feito. O bebê apenas está em posição de se beneficiar ou
de sofrer distúrbios; todos os processos da criança constituem um vir-
a-ser, como um plano para sua existência. A mãe que é capaz de se
envolver por total neste período é capaz de proteger o vir-a-ser de seu
nenê. Qualquer irritação ou falha de adaptação causa reações na
criança que poderá quebrar esse vir-a-ser da mesma. É aí que se
lançam às bases para a saúde mental futura.
b) Posição depressiva, baseada nos conceitos de Melaine Klein, em
que o bebê já se percebe como uma pessoa total e é capaz de sentir
culpa ou responsabilidade por sua voracidade (amor implacável) em
relação a sua mãe, que também é percebida como pessoa total. O
bebê apresenta por vezes sinais clínicos de depressão, que,
entretanto não tem sentido patológico. Esta fase de dependência
relativa do bebê em relação a sua mãe vai mais ou menos dos seis
meses até dois anos de idade. A relação é diádica (bipessoal) entre o
bebê e sua mãe. A dependência relativa é a fase onde o lactente pode
se dar conta da necessidade de detalhes do cuidado materno, a
criança de certo modo se torna consciente da dependência, sente
necessidade de sua mãe; começa, a saber, em sua mente que a mãe
é necessária. Gradualmente esta necessidade materna se torna
ferrenha e realmente terrível, levando as mães não se permitirem a
deixar seus filhos e se sacrificarem para não causar aflição ou mesmo
produzir raiva, desilusão durante esta fase de necessidade especial.
c) Fase edípica, baseada nos conceitos de Freud sobre sexualidade
humana, na qual aparece a possibilidade do terceiro na relação. Esta
fase, de independência ou interdependência do bebê em relação a
sua mãe se inicia por volta dos três anos de idade. A relação é tridíaca
(tripessoal) entre mãe, bebê e um terceiro que geralmente é o pai.
Rumo à independência o lactente desenvolve meios para ir vivendo
sem cuidado real. Isto é conseguido através do acúmulo de
recordações do cuidado, da projeção de necessidades pessoais e da
introjeção de detalhes do cuidado, com o desenvolvimento da
confiança do meio. A criança se torna gradativamente capaz de se
defrontar com o mundo e todas as suas complexidades. Em círculos
cada vez mais abrangentes da vida social a criança se identifica com
a sociedade, pois a mesma é uma extensão de seu próprio mundo
pessoal, bem como exemplos de fenômenos verdadeiramente
externos. Neste sentido se desenvolve a independência com a criança
se tornando capaz de viver uma existência pessoal que é satisfatória,
apesar de estar envolvida com as coisas da sociedade. O processo de
crescer e amadurecer são contínuos até se chegar à vida adulta que é
quando o indivíduo consegue estabelecer sua identidade pessoal no
trabalho, no casamento em suma em algum padrão que seja uma
conciliação entre imitar os pais e ser ele próprio. Paralelamente,
acontece a evolução do princípio do prazer ao princípio da realidade,
e do autoerotismo às relações objetais.

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A palavra chave desta relação, dependência, é crucial no desenvolvimento do
bebê, pois o mesmo vem a ser de modo diferente conforme as condições sejam
favoráveis ou desfavoráveis. Apesar destas condições influenciarem no
desenvolvimento, elas não são determinantes do potencial do mesmo. Para que os
bebês se tornem adultos saudáveis, pessoas independentes, socialmente inseridos
ao grupo que pertencem, dependem muito de um bom princípio de vida, isto é um
vínculo forte com a figura materna: amor é o nome desse vínculo.
A parte mais importante desta relação está na hora da amamentação. Conta
Winnicott (1985, p. 21-22) “[...] que uma mãe após a amamentação colocava seu
filho no berço, e ela estendia o seu braço sobre o bebê; antes de uma semana
decorrida ele começou a agarrar os dedos da mãe e olhar na direção dela [...]”
Essa relação íntima favorece o desenvolvimento dos alicerces da
personalidade do bebê, de seu desenvolvimento emocional e a sua capacidade para
suportar frustrações e choques, que mais cedo ou mais tarde fará parte de seu
caminho. Para Winnicott (1985, p.29):

O seu bebê não depende de você para crescer e desenvolver-se.


Cada bebê é uma organização em marcha. Em cada bebê há uma
centelha vital, e seu ímpeto para a vida, para o crescimento e para o
desenvolvimento é uma parcela do próprio bebê, algo que é inato na
criança e que é impelido para frente de um modo que não temos que
compreender.

Por isso, a tendência à vida e ao desenvolvimento é característica marcante


do bebê, cabe à mãe oportunizar um ambiente rico, estimulador e propício para isso.
Só cresceremos saudáveis, tendo a noção da realidade do mundo, se tivermos ao
nosso lado uma figura materna capaz de nos apresentar o mundo em pequenas
doses e com segurança. Permitir que a criança experimentasse situações de
desconforto é muito eficaz para o seu processo de amadurecimento das estruturas
emocionais. Quando uma criança chega aos cinco ou seis anos, a mesma manifesta
um interesse científico pelo mundo real, desde que não haja uma perda da realidade
do mundo imaginativo ou interior. Winnicott (1985, p.91) também afirma que:
A experiência da amamentação ao peito levada a cabo com êxito
constitui uma boa base para a vida. Fornece sonhos mais férteis e
habilita as pessoas a aceitarem riscos. O desenvolvimento do ser
humano é um processo contínuo. Tal como no desenvolvimento do

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corpo, assim também no da personalidade e no da capacidade de
relações. Nenhuma fase pode ser suprimida ou impedida sem efeitos
perniciosos.

Sendo assim, no desenvolvimento emocional de uma criança, se não houver


entraves ou desvios no processo evolutivo, há saúde. Sem os cuidados dos pais
dedicados, as crianças ficam privadas dessas necessidades absolutas e não
poderão transformar-se em adultos emocionalmente saudáveis. Apesar de estarmos
destacando a importância do papel materno, não estamos descartando a figura
paterna.
O pai também tem função significativa no desenvolvimento da criança à
medida que lhe confere a necessária identidade pessoal, fruto dos parâmetros de
sua personalidade. Desde a formação da identidade sexual até a formação de
valores morais e sociais, tudo passa pela relação com o pai, que simboliza a lei, o
limite, o julgamento.
O princípio da educação moral inicia-se antes mesmo da possibilidade da
comunicação verbal. O lactente é cuidado de modo confiável, e deste ser
suficientemente bem cuidado resulta a crença da confiabilidade. Numa criança que
teve um início de vida com estes cuidados, instala-se a ideia de bondade e a ideia
de que ser é confiável é um princípio. Nestes relacionamentos familiares, a criança
vai tendo acesso a elementos descritos como bons e maus; sentimentos opostos de
aprovação e desaprovação, certo e errado, que se transformam em códigos morais.
Estes são dados de modo sutil por expressões de aceitação ou por ameaças
de privar de amor. Ao analisar estas questões Winnicott (1985, p. 94) aponta que:

[...] que há mais para se ganhar do amor do que da educação. Amor


aqui significa a totalidade do cuidado com o lactente ou criança, que
favorecer o processo maturativo. Isto inclui o ódio. Educação significa
sanções e a implantação dos valores sociais ou dos pais à parte do
crescimento e amadurecimento próprios da criança. A educação moral
se segue naturalmente à chegada da moralidade na criança, pelo
processo de desenvolvimento natural que é favorecido pelo cuidado
adequado.

Muitos pais se questionam sobre o que fazer a respeito do senso de valores.


As crianças precisam ter acesso ao código moral dos adultos porque desta forma
humaniza o que na criança é desumano. A criança sofre com o receio da retaliação
e estes crus receios se tornam humanizados pelas experiências da criança com

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seus pais, que desaprovam e ficam contrariados com as atitudes inadequadas das
crianças.
Pela experiência de vida, a criança, normalmente, se torna preparada para
acreditar em algo ou ser capaz de apreciar o sublime; isto é uma conquista pessoal,
não é algo implantado. Quanto a esse aspecto, Winnicott (1985, p. 95) afirma: “na
arte de viver, isto implica se dar exemplo à criança, não um melhor do que você
realmente é, insincero, mas um exemplo aceitável e decente.”
Desta forma, a psicanálise torna possível verificar o que é importante no
cuidado do lactente e da criança, aliviando os pais da
carga que sentem quando acham que têm de fazer seus
filhos serem bons, pois toda evolução emocional da
criança tem início no começo de sua vida e se estende,
isto é, se estrutura e reestrutura nas relações que é capaz
de criar e vivenciar. Para Winnicott (1985, p. 118), “a
assistência adequada a um bebê só pode ser feita com o
coração; talvez eu devesse dizer que a cabeça por si só,
nada pode fazer, se os sentimentos não forem também
livres para agir em conjunto com ela”.
Fonte: http://migre.me/48jPH
É a sensibilidade que direciona a ação da mãe e a faz saber o que é melhor
para a criança. O cuidado materno satisfatório significa um cuidado paterno; que é
classificado mais ou menos em três estágios superpostos: holding; mãe e lactente
vivendo juntos; pai, mãe e lactente vivendo juntos.
O termo holding é empregado para significar os cuidados físicos como
também a provisão ambiental total anterior ao conceito de “viver com”.
A expressão “viver com” implica relações objetais, e a emergência do lactente
do estado de estar fundido com a mãe, e sua percepção dos objetos como externos
a ele próprio. O holding inclui todas as necessidades fisiológicas e psicológicas, pois
ainda estão fundidas; é uma forma de amar e possivelmente a única forma que uma
mãe pode demonstrar ao lactente o seu amor.
Durante a fase do holding vários processos são iniciados, podemos destacar
como o mais importante o despertar da inteligência e o início da mente como algo
separado da psique. O lactente se torna uma pessoa, com individualidade própria.

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Um bom holding é a sustentação e estruturação das capacidades mentais e
emocionais do indivíduo enquanto eu. As bases da saúde mental do indivíduo são
lançadas por este cuidado materno, que quando vai bem dificilmente é percebido
qualquer tipo de distúrbio ou desequilíbrio no indivíduo. Porém, quando a mãe não
consegue fazer esta provisão de cuidados satisfatoriamente, geralmente para
redirecionar o desenvolvimento do indivíduo é fundamental prover cuidados a esta
mãe também.
A essência deste cuidado materno está composta pelas ações adequadas da
mãe, isto é, saber exatamente o que o bebê precisa, como também de gostar de
prover estas necessidades. A maneira como a mãe atende o bebê é determinante
para o seu desenvolvimento. Dar e receber carinho são as formas de diálogo que
fortalecem os envolvidos e os amadurecem para as fases seguintes.

3.2 Outros vínculos

“Quando a luz dos olhos meus. E a luz dos olhos teus. Resolvem se
encontrar. Pela luz dos olhos teus. Eu acho meu amor que só se pode
achar. Que a luz dos olhos meus precisa se casar”. (Pela luz dos olhos
teus, Tom Jobim)

Além dos pais e da própria família, os indivíduos formam outros vínculos, que
perpassam as amizades, as relações de trabalho, as relações de consumo, as
parcerias em outros ambientes de aprendizagem e firmam novos vínculos familiares
que se propõe a formar, ou seja, casam-se e geram seus filhos. Nessa expectativa,
percebe-se que os vínculos familiares são transitórios e, ao mesmo tempo, cíclicos.
As amizades, conquistadas no percurso da vida, são caracterizadas por
processos de acolhimento e de aceitação. Ambos processos são inerentes ao
homem, pois o acolhimento é uma resposta de solidarizar com o outro, de protegê-lo
e de ensiná-lo a se defender, como era nas sociedades primitivas. Já aceitação se
cumpre com a necessidade de socializar-se, de integrar algo que tem uma
finalidade.
Desse modo, o homem é um ser naturalmente sociável e não pode estar
isolado dos demais, porque no conjunto social há sempre um comprometimento, um
envolvimento para que se alcancem metas, as quais implicam na evolução da
sociedade e, consequentemente, do próprio homem. Nesse sentido, Szymanski
(2010, p.26) alerta que “ao considerar-se a família como um contexto de

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desenvolvimento, não se pode olhá-la como atuando isoladamente em relação às
demais agências sociais”. Isso implica no natural e necessário estabelecimento de
vínculos sociais, os quais se originam no interior das famílias, bem como além de
suas estruturas.
A escola, por exemplo, é um dos vínculos que a família estabelece e que, é
marcadamente representativa nos dias atuais, quando a família delegou a esta
instituição muitas de suas responsabilidades. Para configurar o que acabo de
afirmar, lembrei-me de uma reportagem que assisti, por acaso, naquela hora
apertada de almoço. Na minuta reportagem, o assunto tratava da obesidade infantil,
e o repórter interpelou um pai que passava pela rua, estando de mãos dadas com o
filho. Na imagem, pai obeso e o filho também. O repórter pergunta ao pai se ele sabe
se o filho está além do peso – o pai afirma que sabe que o filho está obeso; o
repórter, então, pergunta se o pai não está preocupado com a obesidade do filho – o
pai responde que não está, porque na escola que o filho estuda já estão cuidando
disso. No Brasil, esse tipo de situação é muito comum, porém a reportagem foi feita
em Londre, onde a realidade é bem outra.
Dá para entender que a escola terá que se responsabilizar pela dieta do filho,
mas, apenas para entender melhor: o que é que a escola tem a ver com isso? Seria
ela a culpada pela obesidade infantil? Ou será que os pais estão demasiadamente
confiantes que a escola deva assumir tudo aquilo que a família não está dando
conta? Se a situação for de muita confiança, ótimo sinal, porque vínculos
estabelecidos têm como seu melhor aspecto a confiança. Contudo, vínculos também
podem ser projetivos e de transferência, ou seja, projetamos no outro o que
queremos ou desejamos, ou transferimos para o outro o que sentimos de bom ou de
ruim.
Os indivíduos são naturalmente vinculares e requerem novos vínculos de
acordo com seus desenvolvimentos afetivos, sociais e profissionais, dizendo de
outra forma, de acordo com os níveis de seu entendimento no momento que vive.
Assim, espera-se que jovens solteiras façam amizades com jovens solteiras; as
mulheres casadas, com as casadas; os homens maduros, com homens maduros; e,
assim por diante. Nesse sentido, não se trata de desconstruir vínculos para formar
outros, trata-se do valor da vinculação. Digo, é mais fácil a jovem casada fazer
novas amizades com outras também casadas, ao mesmo tempo em que incita a

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amiga solteira a casar-se; do contrário, torna-se difícil manter um vínculo que não se
consubstancia em trocas do mesmo valor, ou seja, o que conversam as jovens
casadas, em nada condiz com as jovens solteiras.
Há aqueles que dirão que não é bem assim, pois existem amizades que
duram a vida toda; mas isso não quer dizer que a intensidade e manutenção destas
amizades são as mesmas a vida toda. Porque as pessoas se transformam com a
maturidade, não sendo as mesmas o tempo todo.
Portanto, os vínculos, que não são os familiares, não se mantêm em todo
percurso de vida de uma pessoa, também não são desconstruídos, mas são
moldados de acordo com os valores conquistados por cada pessoa na sua trajetória.

3.3 Teoria do Vínculo

Ao falarmos de vínculos, não mediamos antes o seu conceito porque era


necessário o viés comum que demonstra o vínculo como um laço de família, muito
forte em sua estrutura.
Mas, há um ditado popular que diz: “Nenhum homem é uma ilha”. Esta
assertiva confirma a conclusão de Lacan7, quando afirma que o indivíduo é um ser
de linguagem e, assim, um ser social. Freud, no começo do desenvolvimento de sua
teoria, sugeriu a não existência de uma psicologia individual, mas social, que
integrasse aspectos múltiplos que interagem na realidade de forma sistêmica.
A partir da perspectiva de que toda Psicologia é Social, Henrique Pichon-
Rivière8 constrói a Teoria do Vínculo, referendando-o como o esquema referencial
fundamental e básico, definindo-a como vincular e intravincular.
O vínculo faz parte da nossa vida, ainda na vida intrauterina quando começa
a nossa relação com o mundo externo. Nessa perspectiva, começamos a
estabelecer vínculos, inicialmente com a voz de nossos pais (e familiares).
Em casos, em que o parto traz algumas complicações, que coloca em risco a
mãe e o bebê, a criança pode ter a primeira depressão, que pode ser amenizada

7
Psicanalista francês
8
Enrique Pichon-Rivière, médico psiquiatra, nascido em Genebra (Suíça), aos 4 anos mudou-se com
sua família para a Argentina, onde pôde integrar sem preconceito junto com seu grupo familiar,
portador da cultura francesa e racionalista, uma cultura guarani; desenvolveu como médico suas
pesquisas no formato de grupo que denominou como operativo.

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através do primeiro vínculo com o mundo externo que é com a sua mãe. Por isso a
grande importância dada pela medicina, nas últimas décadas, em dar atenção ao
contato do bebê com o corpo da mãe imediatamente após o parto, estando
presente, inclusive, o pai. Nesse sentido, Lima (2002, p. 64), analisa que:
A qualidade das relações estabelecidas nos primeiros anos de vida
poderá ser um fator determinante do processo de desenvolvimento
cognitivo e emocional. O dar o seio não é tão importante quanto o
como o seio é dado, como as demais solicitações da criança são
atendidas. A criança incorpora não só o leite da mãe, mas suas
carícias, sua voz, seu cheiro.

A teoria do vínculo, da qual Pichon é o precursor, propõe que em todo interior


de um grupo as relações intensas que são caracterizadas pelos papéis e funções de
cada um, exigem ações que se completam com o modo de viver o grupo e pertencer
a ele. Nessa perspectiva, cada elemento do grupo familiar tem papel a cumprir e,
toda a sua forma de agir, comunicar, pensar e sentir, influenciará no funcionamento
desse grupo.
Por assim ser a dinâmica do grupo, os vínculos representam o status de
articulação interna dos membros da família, ou seja, a mãe é a mãe, nunca poderá
ser a tia, a não ser de seu sobrinho; o pai é o pai, nunca poderá ser ninguém – como
ocorre em algumas relações que se findam e a mãe renega a figura do pai para o
filho; os avós não podem ser pais, mesmo que cumpram essa tarefa com profundos
laços amorosos, nada substitui os pais.
O aluno desse módulo sabe o que afirmo, porque estamos sempre em
contato com situações que nos apontam a verdade sobre os vínculos. Por exemplo:
sabemos de pais adotivos que amam profundamente seus filhos como que nascidos
deles; mas, o filho adotado, mais cedo ou mais tarde, terá percepções afetivas e
físicas, indicando que algo não está certo, requerendo a verdade sobre sua origem.
Sempre sugiro aos pais adotivos, que na medida em que a criança passa a
entender-se e relacionar-se saiba da verdade. Não se trata de infligir à criança o
sofrimento, mas o oposto, que é suprimir as dúvidas que trazem sofrimento.
Também sabemos que os avós que assumem a formação de seus netos,
porque, por algum acidente, os pais não estão presentes, sofrem com as angústias
de seus netos (filhos). Nesse caso, a verdade não foi omitida para a criança, mas
sempre haverá a dúvida se as coisas realmente tinham que ser assim.

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Assim, podemos relatar várias situações que conhecemos de perto, e que
confirmam o poder que o vínculo exerce na nossa vida. Alguém esquece o primeiro
amor? Como esquecer dos amigos e, quantos passaram pela nossa vida? O que se
dirá, então, dos vínculos maternais, paternais e filiais?
Para ilustrar o que foi descrito até aqui, apresento o seguinte esquema:

Desejo de Aprender e
Autoria
Confiança e Encorajamento Relação de Amor e
Vínculos

Noções de poder, autoridade, Afetividade nas Relações Intimidade,


hierarquia, respeito, cidadania Familiares Individualidade e
Autoestima

Aprender: a olhar, a
Espaço de Aprendentes e ouvir, a falar
Ensinantes
Práticas Educativas:
emocionais e sociais

Figura 3: Das relações de afetividade


Fonte: elaboração própria

Por mais tumultuados e conflituosos que sejam, os vínculos são espelhos que
refletem a dinâmica do grupo e, a qual, a criança revela com a sinceridade que lhe é
comum. Por isso conta para todos da escola quando os pais brigam; por isso,
choram se são repreendidas; por isso, assumem a postura desafiante na escola ante
o(a) professor(a). Porque se os pais brigam, a criança reprova, mas não tem poder
de mudar esta situação; se é repreendida de forma que não lhe explicam os porquês
de seu ato, chora pela insegurança; se seus pais discutem, gritam e não dialogam
sobre as situações, entenderá que a resistência é a melhor estratégia para não
atender aos comandos. Enfim, vínculos complexos, comportamentos adversos. E
isso é fato!

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Exercício 3

1. Que aspectos promovem as relações estabelecidas com base no respeito


que são ensinadas para a criança?
a) A formação de relações maternais, com iniciativa para se defender.
b) A formação de relações positivas, com condições de autonomia e socialização.
c) A formação de relações sadias, com segurança e iniciativa para o diálogo.
d) A formação de relações dialogadas, com segurança e iniciativa para o diálogo.

2. A mulher só aprende a ser mãe, quando:


a) Fica confusa e não percebe a dimensão e importância de seu papel.
b) Descobre que ser mãe é uma sensação maravilhosa.
c) Tem o apoio da família.
d) Se torna mãe.

3. Além dos pais, e da própria família, os indivíduos formam outros vínculos,


que perpassam as amizades, as relações de trabalho, as relações de
consumo, as parcerias em outros ambientes de aprendizagem e, firmam
novos vínculos familiares que se propõem a formar, ou seja, casam-se e
geram seus filhos. Nessa expectativa, percebe-se que os vínculos familiares
são:
a) Transitórios e, ao mesmo tempo, cíclicos.
b) Intransponíveis e, ao mesmo tempo, estáveis.
c) Sólidos e, ao mesmo tempo, finitos.
d) Agregadores e, ao mesmo tempo, sociáveis.

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UNIDADE 4 - ASPECTOS FAMILIARES QUE FAVORECEM O
DESEMPENHO ESCOLAR

“A confiança tá fluindo, Eu gosto do que estou sentindo. O meu sorriso


não disfarça, Quando se quer alguma coisa a gente abraça”. (Você é o
cara, Kelly Key)

A família é o alicerce do indivíduo, é neste pequeno grupo social que


iniciamos as aprendizagens que servirão de base para todas as outras. Quando uma
criança nasce ela vem preencher um espaço que já lhe foi preparado, repleto de
desejos e anseios de seus pais. Os pais são os primeiros ensinantes, eles
estabelecem as rotinas de alimentação, de sono e outros hábitos que assegurarão o
desenvolvimento integral do indivíduo.
Um ambiente familiar acolhedor, continente, com o relacionamento de seus
membros caracterizado como amoroso e leal, com certeza fará evoluir em seus
filhos, uma educação moral, emocional e social saudável. A família pode facilitar ou
dificultar o processo de aprendizagem do indivíduo, dependendo do tipo de relação
que estabelece.
Nos tempos atuais, de grandes mudanças, principalmente no que tange à
formação familiar, nos preocupa a necessidade de reavivar nos pais o desejo de
melhor exercer o seu papel de confiança, alegria e entusiasmo. Frente a tantas
turbulências, os pais muitas vezes se sentem incapazes de realizar tal tarefa,
receiam não ser bons pais.
Portanto, exercer a função de pais exige atributos e competências que ainda
nem foram desenvolvidas como a capacidade de amar, de organizar, de estimular o
outro a crescer, de ouvir, de afirmar-se, de negociar, de influenciar bons valores, de
estar sempre atentos; enfim, ser pai ou mãe se aprende na vivência diária com os
filhos.
É preciso ter coragem para aceitar-se imperfeito, não se esquecendo que a
criança se educa à medida que ela cresce e a nós pais é muito mais saudável
orientar a energia que pulsa nas crianças do que tentar detê-la.
Segundo Cury (2003, p. 45), é pontuado que:

Inúmeros pais imploram para que os filhos façam a higiene bucal. Mas,
e a higiene emocional? De que adianta prevenir cáries, se a emoção
das crianças se torna uma lata de lixo de pensamentos negativos,

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manias, medos, reações impulsivas e apelos sociais? Tudo que atinge
frontalmente a emoção atinge drasticamente a memória e constituirá a
personalidade.

Na educação familiar há que se considerar uma construção importante no


âmbito emocional: identificar raízes dos sentimentos, preconceitos, frustrações,
avaliar sua intensidade e reduzir a tensão. Quando conseguimos estabelecer um
clima de confiança na relação familiar os filhos são
propensos a ouvir-nos e a obedecer-nos.
Ter disponibilidade, estar atento para estimular
os progressos e não focar somente o que não está
muito bom, colocar-se à altura das crianças, fazer uso
de sua linguagem e de seu mundo é o grande desafio
dos pais atualmente, já que o fator tempo impede estas
qualidades nas relações pais e filhos.

Fonte: http://migre.me/48m89
Para a criança construir uma boa autoestima, precisa dos olhos das pessoas
importantes, pois é através das mesmas que ela aprende a apreciar-se e a crescer,
a ultrapassar seus próprios limites. As demonstrações de afeto e elogios verdadeiros
favorecem à criança um diálogo interior que a torna motivada a aprender. Os gestos
são muito mais significativos do que as palavras. No processo educativo e de
aprendizagem, o diálogo fará a criança descobrir as consequências naturais de seus
atos, levando-a a autorregulação no seu dia a dia.
A família que realiza com eficiência a sua missão perante os filhos, contribuirá
para o desenvolvimento da autoestima e proteção da emoção dos mesmos. Os
vínculos estabelecidos no seio familiar definem a qualidade das relações. As
imagens negativas ou positivas arquivadas diariamente na memória são marcadas
pela emoção, pois são elas que definem a qualidade dos registros. Experiências que
possuem um volume emocional significativo provocam um registro privilegiado. A
personalidade precisa de uma excelente nutrição psíquica.
Em contra partida, em relação ao indivíduo que apresenta qualquer tipo de
dificuldade de aprendizagem, faz-se necessário pensar no seu jeito de aprender, no
seu grupo familiar e como se relaciona com o mundo naquele momento.

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Consideramos que a escuta ativa dos pais aos chamados dos filhos é um
aspecto importantíssimo neste processo, esta
escuta para nós é a atenção dedicada a eles,
pois aí estaremos ensinando e exercitando a
arte das artes entre pais e filhos que é
aprender a negociar de modo que todos
saiam ganhando. Negociação leva a criança
a assumir suas responsabilidades,
comprometer-se com a busca de soluções e
aprender a sair de situações de conflitos.
Fonte: http://migre.me/48mfb
E para aprender a tomar decisão, a criança precisa estar munida de valores
que lhe deem discernimento em suas escolhas. Tais valores precisam ser ensinados
e cultivados pela família.

4.1 Os hábitos familiares

“Como se fora brincadeira de roda. Memórias! Jogo do trabalho. Na


dança das mãos. Macias! O suor dos corpos. Na canção da vida.
Histórias! O suor da vida. No calor de irmãos. Magia!” (Redescobrir,
Gonzaguinha)

Sendo a família a estrutura social básica e o primeiro núcleo da construção da


aprendizagem de um indivíduo, penso que é muito relevante abordar como os
hábitos na família podem interferir na construção dos saberes. Toda a riqueza do
desenvolvimento da criança inicia-se na família e vai fortificando-se à medida que a
mesma vai estabelecendo sua rede relacional que, na sequência, acontece na
escola e se expande além dela. Portanto, a família é a matriz indispensável para que
aconteça o trabalho da construção do indivíduo.
Mas, o que são os hábitos e como estes interferem no desenvolvimento das
aprendizagens?
Precisamos entender hábitos como toda rotina que se estabelece tendo uma
finalidade, um objetivo e, se possível, a busca de um produto final. Seriam estes
hábitos os rituais, que já discutimos anteriormente? Não, os rituais não são simples
eventos, mas um processo de grupo que se organiza para o fim, um objetivo que é

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igual para todos, enquanto que os hábitos são rotinas
diárias e definidas, que requerem certa organização.
Fazer um almoço em família para comemorar o
aniversário de um familiar, é um ritual de grupo, pode
ser eventual, mas se compõe de um grupo familiar
que se define nesse ritual. Já a rotina de almoçar
todos os dias juntos, é uma prática definida e
organizada e, ao mesmo tempo, revela um produto
final, a interrelação social da família.
Fonte: http://migre.me/48mqq
Contudo, não é apenas o almoço, um dos hábitos necessários a todo conjunto
familiar. A rotina se estabelece desde quando o dia amanhece. A família tem que se
organizar em termos de um planejamento, vamos assim dizer. Isso significa que
acordar sempre na mesma hora, ter uma organização de higiene física-corporal, ter
organizadas as vestimentas, os calçados com prévia habilidade; tomar café na
mesma hora; saírem todos juntos – pais para o trabalho, crianças para escola, avós
para as atividades físicas e de lazer; ou mesmo, organizarem a casa juntos;
almoçarem todos no mesmo horário, ou ao menos, cada um sempre na mesma
hora; ter momentos de brincadeiras (ou brinquedos), bem como horário para estudar
e ver televisão, ou ouvir música – são todos hábitos familiares necessários para o
contexto de aprendizagens. Mas, como isso se aplica?
Tudo o que precisamos para aprender está, antes, no modo como
organizamos a nós mesmos para essa tarefa - sabemos que todo conhecimento é
organizado, o oposto disso, resume-se em informação. A organização de nossos
hábitos diários nos dá maior agilidade para aprender com as situações, porque há
tempo para interações e socializações. Além do que, quando organizamos a nós e
ao nosso ambiente, passamos a ter o hábito de controlar e regular nossos espaços e
tempo. Quando a família não tem claro qual a sua rotina, finaliza o dia com a
impressão de que não fez tudo o que podia fazer. Apesar de todos os esforços,
pouco ou nenhum resultado foi conquistado naquelas horas. A sensação é de que o
tempo venceu toda luta diária; ao final estão todos cansados e derrotados, sem
nenhuma condição de reconhecer-se merecedor daquele dia.

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Para ilustrar o que acabo de dizer, vamos rever em nossa mente algumas
cenas da nossa “vida privada familiar”, que começa pelas nossas gavetas, aquelas
que vou chamar de imediatas – porque não se tem um objetivo claro para elas – a
não ser depositar no seu interior tudo o que é papel que chega em nossas mãos.
Todos os papéis vão sendo “socados” lá dentro – jamais abrimos esta gaveta na
frente de uma visita, porque ela nos envergonha, mas a mantemos mesmo assim.
Nossas gavetas de roupas, às vezes, ficam assim
também – é um “buraco negro” em que não
encontramos nada. Ainda há aqueles que dizem
que se “encontram na sua bagunça”; essa, sem
dúvida, uma desculpa filosófica de boa categoria.
E, sem falar daquele lugar em que guardamos os
sapatos... como será que está nesse instante?
Fonte: http://migre.me/48mFC
Penso que nossa vida externa é reflexo de nossa vida interna; não temos
condições de organizar conhecimentos quando nossa mente é uma “gaveta de
amontoados”; não há espaço, não há organização, não há rotina para aprender.
Se a vida da criança é aquela em que ela mesma tem o domínio, sem a
orientação do adulto, com certeza, não conseguirá aprender com alguém que oriente
seu aprendizado. Ela não está pronta para aprender. Não estou falando que
crianças não devam ser autônomas, estou falando de crianças que precisam de
rotinas para aprenderem a ser autônomas. Do contrário, autonomia passa a ter o
sentido de abandono. Para entender melhor o que acabo de afirmar, relato um
exemplo do meu tempo de trabalho escolar: um aluno de nove anos chegou à escola
ansioso para me mostrar algumas fotos dele em sua casa. Fiquei feliz com sua
iniciativa, já que tentava entender porque esse mesmo aluno tinha problemas para
aprender.
Todavia, meu entusiasmo tornou-se maior preocupação, pois, as fotos,
aproximadamente umas vinte, só mostravam o menino sozinho em casa, fazendo
várias atividades, solitariamente. Bem, os pais estavam separados, a mãe ausente
devido ao trabalho, a avó, uma senhora viúva, também trabalhando. Antes de
saírem, as adultas deixavam seu almoço pronto; a criança tinha que preparar sua
refeição, separar sua roupa de escola, arrumar a cama, lavar as louças e, entre

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outras atividades, ligar pelo celular para a mãe e a avó, avisando sua saída para
escola. Mais uma informação: quem bateu as fotos, segundo o aluno, foi uma vizinha
da família que, às vezes, fazia uma visita para verificar se o menino estava bem e, a
pedido dele, fez as fotos das cenas que descrevi.
Talvez, alguém questione se, na verdade, não é assim que se ensina uma
criança a ser autônoma?
Longe de fazer julgamentos, compreende-se que ninguém aprende sozinho,
logo, toda relação de aprendizagem perpassa duas pessoas: uma que ensina e
outra que aprende e, vice-versa. Se a criança não é ensinada a ter hábitos definidos,
orientados para um fim, como esta criança conseguirá manter-se na rotina que a
escola define, organiza e estabelece tendo como fim a aprendizagem?
Assim, vemos que esta preocupação tem se tornado, cada vez mais, uma
coadjuvante da escola, a qual tenta inserir no currículo e nas práticas educativas,
hábitos que deveriam ser ensinados em casa, mas não são.
Então, é a escola que tem que ensinar que a criança não pode chegar
atrasada à aula; que não pode colocar todo material sobre a sua carteira porque não
conseguirá fazer as atividades; que deve ter na mochila, organizada, os cadernos do
dia; que leva a criança a aprender a se alimentar, escovar os dentes; ensinar a ir ao
banheiro para fazer xixi e se limpar... Será que preciso falar mais alguma coisa sobre
a necessidade de formar os hábitos familiares e sua direta correspondência com as
aprendizagens?

4.2 A interação entre pais e filhos

“Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado, ninguém sabe mexer


na minha confusão, é meu ponto de vista, não aceito turistas, meu
mundo tá fechado pra visitação.” (Coisas que eu sei, Danni Carlos)

No processo de formação de um filho, a maior responsabilidade da família é


acompanhá-lo e ajudá-lo a formar seu critério moral, pois é isso que o guiará por
toda a vida. As interpelações, tão ausentes nos dias de hoje, nos momentos certos e
baseados em fatos do cotidiano exigem muita calma, paciência e perseverança, já
que é através delas que poderemos transformar os nossos filhos em adultos
saudáveis.

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Temos lido em várias reportagens de revistas, jornais e livros dedicados a
este assunto, que as famílias preocupadas em oferecer o conforto e bens materiais
estão dando origem a uma nova geração de jovens agressivos e impulsivos, que
não estão aprendendo a lidar com frustrações, perdas, esperas, e principalmente
são pobres de afetividade. É o vínculo afetivo estabelecido na família, que garante
uma boa aprendizagem em todos os aspectos do ser humano.
Estudiosos têm indagado como os pais não estão conseguindo perceber que
não precisam trabalhar tanto para oferecer o essencial ao ser humano que é o afeto,
isto é, o amor. Estas mesmas pesquisas têm sinalizado que o fator que mais
influencia a aprendizagem de uma criança é a participação dos pais. Independente
do nível socioeconômico, o diferencial é como os pais colaboram com o filho.
Filhos/alunos incentivados e apoiados obtêm melhores resultados na vida. Essa
atitude dos pais refletirá em como o filho encara os estudos ou aquilo que é
necessário aprender. A influência a que nos referimos não é no plano intelectual,
mas sim, no aspecto emocional.
Para aprender, o indivíduo precisa estar preparado para fazer um
investimento pessoal, renovando-se com o conhecimento. Implica num movimento
que envolve estímulos externos variados, quanto suas possibilidades sócio-afetivas.
Para Fernández (1991), o processo de aprendizagem é resultante da
articulação construtiva entre organismo, corpo, inteligência e desejo no indivíduo,
incluindo um grupo familiar no qual tem sentido e funcionalidade, e em um sistema
educacional que também o condiciona e o significa.
O carinho com que se cuida de um filho, o interesse sincero com os seus
progressos, o esforço que se faz para garantir boas
condições de aprendizagem, isso tudo aumenta a autoestima
da criança e faz com que ela se motive em continuar
aprendendo sempre mais. A criança que se sente amada,
acolhida, consegue lidar melhor com as dificuldades da vida.
Desta forma o afeto contribui de maneira decisiva para
formar um jovem mais confiante, pois ele sabe que não está
sozinho, pois tem uma retaguarda que o sustenta.
Fonte: http://migre.me/48mYf

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A família é a estrutura básica social, o primeiro núcleo de construção do
sujeito e o referencial de aprendizagem do indivíduo, por isso devemos dar grande
importância à mesma na construção do conhecimento. É nela que se aprendem
diversas habilidades, noções de poder, autoridade, hierarquia, respeito e cidadania.
Na medida em que vive em família e se submete aos seus rituais, o indivíduo
constrói seu modelo de aprendizagem e a forma em que vai se relacionar com o
conhecimento.
Em uma entrevista à Revista Veja, Laurence Steinberg9 declara a importância
do equilíbrio entre a ciência e o bom senso para os pais poderem criar filhos mais
preparados para a vida. O psicólogo americano confirma a necessidade de mudança
de comportamento dos pais e não das crianças, como também da libertação dos
dogmas antigos. Ele indica dez princípios para ajudar na educação dos filhos,
afirmando que essas regras são capazes de funcionar em qualquer cultura e nos
mais diversos ambientes familiares, sendo elas:
 As atitudes no dia a dia são mais importantes que os conselhos;
 Demonstre afeto incondicional por seu filho. Isso não o tornará
mimado;
 Envolva-se com a vida de seu filho;
 Mude a forma de tratar a criança de acordo com as etapas de
crescimento;
 Estabeleça regras e limites desde cedo;
 Encoraje seu filho a se tornar independente;
 Seja coerente;
 Evite castigos físicos e agressões verbais;
 Explique suas regras e decisões e ouça o ponto de vista de seu filho;
 Trate seu filho com respeito.

Na verdade, seu trabalho apresenta uma filosofia de vida familiar, baseada


em regras práticas e fáceis de serem seguidas. Segundo ele bons pais criam um
ambiente familiar que favorece o equilíbrio emocional e os elementos associados a
ele como honestidade, empatia, autoconfiança, gentileza, alegria de viver. A
9
Laurence Steinberg é um psicólogo americano que foi entrevistado por Zakabi, na Revista Veja de
julho 2004. Nesta reportagem ele apresenta 10 regras fáceis para educar seus anjinhos.

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combinação disso tudo produz pessoas com curiosidade intelectual, motivação para
aprender, desenvolver-se e vontade de produzir e socializar-se de forma sadia,
longe das drogas e do álcool. As ideias que ele defende são tidas como óbvias e por
isso se tornam viáveis de serem seguidas. Ressalta a importância da atitude dos
pais e não dos discursos que permeiam o processo educativo entre pais e filhos.
Ampliando a questão do relacionamento do indivíduo e de suas
aprendizagens, não poderíamos deixar de citar a escola, a parceria entre essas
instituições deveria consistir em uma preocupação de todos os profissionais da
educação, já que a relação entre a escola e a família constitui-se eixo central do
processo educativo.
Devido às mudanças relacionadas ao processo de globalização ocorridas no
plano sócio-político e econômico, a dinâmica e a estrutura familiar vem sofrendo
cada vez mais interferências e consequentes modificações em seu padrão
tradicional de organização.
Assim, o conceito de família deve ser entendido em um âmbito diversificado e
em constante movimento. Essas transformações fazem parte do processo de
reestruturação que a família tem sofrido, o qual pode fragilizar o sentimento de
segurança das pessoas, com a falta ou diminuição da solidariedade familiar, a falta
de estabilidade emocional dos filhos. Processo este que pode ser contraditório, pois,
se de um lado pode causar desestabilidade emocional, por outro pode proporcionar
a emancipação de segmentos que tradicionalmente se encontravam presos nos
limites de sociedades conjugais opressoras.
Como resultado dessas mudanças, a escola, além de ter a função de ensinar
o conhecimento sistematizado, assume a responsabilidade de desenvolver as
habilidades sociais que eram consideradas
encargos da família. E, ainda que, por muito
tempo, a escola tenha entendido a presença da
família como uma invasão, hoje se busca uma
atividade conjunta com os familiares, de modo que
possam promover o desenvolvimento e a educação
dos filhos/alunos.
Fonte: http://migre.me/48ngc

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4.3 Práticas educativas: ensinar brincando

“Menininha sai do portão. Vem também brincar. Vem pra roda. Me dê


a mão. Traz o seu olhar. Vou girando na roda. Vou cantando à sua
espera.” (Menininha do Portão, Maria Rita)

As práticas educativas começam no lar, junto da família, nas brincadeiras


mais simples e divertidas. A criança ao nascer precisa que suas necessidades sejam
atendidas, assim como do contato, do afeto, do carinho e também dos risos, das
caras e caretas que lhe provocam o riso natural e espontâneo.
Dessa forma, aprendemos com nossas necessidades e, necessitamos
aprender a brincar. Isso, no dizer de Fernández (2001, p.27), é assim: “aprender é
quase tão lindo quanto brincar”. E, a autora não deixa de ter razão. Mas, levanto
aqui minha bandeira de luta contra a educação contraditória que a família executa,
sem consciência dessa prática. Por que a minha queixa? É simples: a família não
prepara a criança para aprender na escola, como a faz aprender em casa.
Para fazer-me entender, farei a descrição literal dessa realidade, através da
citação de Fernández, (2009, p.28) sobre duas crianças, que são irmãs,
conversando:

- Vou aprender a nadar – diz Silvina com a alegria de


seus seis anos recém feitos.
- Vai nadar? – Intervém a irmã, três anos mais jovem.
- Não, vou aprender a nadar.
- Eu também vou brincar na piscina.
- Não é o mesmo. Eu vou aprender a nadar, diz Silvina.
- O que é aprender?
- Aprender é... como quando papai me ensinou a andar
de bicicleta. Eu queria muito andar de bicicleta. Então...
papai me deu uma bicicleta, menor que a dele. Me
ajudou a subir. A bicicleta sozinha cai, tem que segurar
andando...
- Eu fico com medo de andar sem rodinhas.
- Dá um pouco de medo, mas papai segura. Ele não
subiu na sua grande bicicleta e disse “assim se anda de
bicicleta”...não, ele ficou correndo ao meu lado sempre
segurando...muitos dias e, de repente, sem que eu me
desse conta disso, soltou e seguiu correndo ao meu
lado. Então, eu disse: Ah! Aprendi!
Fonte: http://migre.me/49ccv
Quando falo da educação contraditória que a família executa, não preparando
a criança para aprender na escola, me refiro a esse comportamento que a autora
retrata. Pois, o certo seria que as famílias administrassem seu tempo para ensinar

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brincando com os seus filhos ao, mesmo tempo, que os prepara para receber a
educação escolar. O sentido desse discurso se situa nas diferentes realidades que
estão sendo encontradas nas salas de aula.
Algumas crianças ainda possuem pais atenciosos, educadores natos e
amorosos, que não abrem mão de seus preciosos espaços de descanso para
estarem com seus filhos e, fazerem com que aprendam na interação, nas
brincadeiras, enfim, nas rotinas estabelecidas, nos hábitos que fortalecem as
aprendizagens. Por outro lado, já temos crianças relegadas à escola, porque seus
pais são bastante ocupados para se lembrarem que os filhos existem e exigem sua
presença. Essa realidade não é mais uma queixa, mas um sintoma que interfere na
aprendizagem dos filhos. Repito: não se trata de trabalhar integralmente, ou não,
trata-se de a família valorizar a presença mais do que a ausência.
Segundo Maluf, (2003, p.17):

Brincar é: comunicação e expressão, associando pensamento e


ação; um ato instintivo voluntário; uma atividade exploratória; ajuda
às crianças no seu desenvolvimento físico, mental, emocional e
social; um meio de aprender a viver e não um mero passatempo.

Desse modo, brincar perpassa um ato comum e sem importância, mas um


comportamento que envolve um conjunto de ações que implicam numa
aprendizagem, de forma não sistematizada, da realidade que circunda o sujeito
aprendiz. Então, todos nós somos capazes de brincar, e de aprender brincando.
Porém, com as novas estruturas familiares, inseridas numa realidade social
que demandam trabalho, renda, capital e consumo, não temos como vislumbrar
famílias que dispõem de tempo para brincar, como forma de ensinar seus filhos.
Em contrapartida, temos instituições escolares que perderam, há muito
tempo, o real sentido do brincar como forma de aprendizado. Se temos uma
realidade social que demanda trabalho, renda, capital e consumo, as novas formas
de ensinagem, em que se situa o brincar, são fortemente negadas, porque a escola
não é lugar para brincadeira, mas para aprender – já que é isso que esse novo
contexto social requer dos sujeitos. Evidentemente, que não poderemos esquecer
que não faz muito tempo, algumas instituições escolares praticavam o brincar
apenas como um tempo de envolvimento das crianças, não articulando nesse
processo qualquer condição de aprendizado. Por isso a imagem distorcida das pré-

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escolas que a sociedade divulgou. Assim, se as práticas educativas da família se
alteraram, as da escola também. Nesse sentido, retomando Fernández (2001, p.28),
finaliza-se a conversa entre as irmãs da seguinte forma:
- Ah! Aprender é quase tão lindo quanto brincar – respondeu.
- Sabe, papai não fez como na escola. Ele não disse ‘Hoje é o dia de
aprender a andar de bicicleta’. Primeira lição: andar direito. Segunda
lição: andar rápido. Terceira lição: dobrar. Não tinha um boletim onde
anotar: muito bem, excelente, regular... porque, se tivesse sido assim,
não sei, algo nos meus pulmões, no meu estômago, no coração não
me deixaria aprender.

Real ou não tal situação apresentada pela autora, configura-se como ideal se
analisarmos o papel da família e o papel da escola quanto às práticas educativas
que realizam. É claro que, se a família tem bem certo seus conceitos sobre
aprender, a escola também tem o seu conceito de ensinar.
Quem está certo ou errado, não paira nas nossas reflexões, porque não se
trata de encontrar culpados, mas de encontrar as melhores formas de fazer com que
a aprendizagem se concretize, levando em
conta que temos naturalmente o desejo por
isso. Enfim, precisamos pensar no brincar
como forma de ensinar, sem esbarrarmos no
modismo dos currículos da educação que
insere a ludicidade sem ter claro para que ela
serve.
Fonte: http://migre.me/49cmp

Exercício 4

1. Leia os dois enunciados a seguir:


I. Um ambiente familiar acolhedor, continente, com o relacionamento de seus
membros caracterizado como amoroso e leal com certeza farão evoluir em
seus filhos, uma educação moral, emocional e social saudável.
II. A família pode facilitar ou dificultar o processo de aprendizagem do
indivíduo.
a) O primeiro enunciado é falso, mas o segundo é verdadeiro.
b) O primeiro enunciado é verdadeiro, mas o segundo é falso.
c) Esses enunciados não podem ser aplicados a todas as famílias.
d) Esses enunciados são totalmente verdadeiros.

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2. Hábitos são toda rotina que se estabelece tendo:
a) Interação familiar, uma meta e, se possível, a construção de um produto final.
b) Rituais, um objetivo e, se possível, a busca de uma socialização final.
c) Uma finalidade, um objetivo e, se possível, a busca de um produto final.
d) Socialização, um produto final e, se possível, a busca de uma integração.

3. Há instituições escolares que perderam, há muito, o real sentido do brincar


como forma de aprendizado, porque:
a) As novas demandas sociais que afetaram a família, também afetaram a escola.
b) As novas demandas sociais afirmam que a escola não é lugar de brincar.
c) As novas demandas sociais transformaram a escola e a família.
d) As novas demandas sociais transformaram a criança e os pais.

4.5 Ambiente cultural

“Meu filho vai ter sono de santo... Quero o nome mais bonito. É
preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. (...) O que
você vai ser quando crescer?” (Pais e Filhos, Legião Urbana)

Assim como a primeira ensinante, a família é também a primeira a prover para


o recém aprendiz a sua condição cultural. Nesse sentido, analisaremos cultura sob
dois focos: sendo a cultura uma construção histórica permeada por processos
naturais de seus membros, e, a cultura adquirida por aprendizagens necessárias,
exigidas pelo contexto social em que cada membro se insere.
Em ambos os casos, também teremos que notar o quanto tais culturas
interferem na construção de leitura de mundo do aprendiz, a começar pelo olhar que
desenvolve nos primeiros contatos com a escola.
Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é um conceito de várias
acepções, sendo a mais corrente a definição genérica formulada, segundo a qual
cultura é um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a
moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo
homem, antes como membro de um conjunto restrito de pessoas, denominado de
família, e, posteriormente, como membro da sociedade mais ampla.(CANDAU,
2009). Por ter sido fortemente associada ao conceito de civilização no século XVIII, a
cultura muitas vezes se confunde com noções de:
 Desenvolvimento de hábitos legitimados pelo grupo familiar;
 Educação, segundo o nível socioeconômico de seu grupo;

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 Bons costumes, moral e ética social – no nível do reprodutivismo social;
 Etiqueta e comportamentos sociais, no plano das convenções sociais
estabelecidas.

Essa confusão entre cultura e modus operandi da sociedade foi comum,


sobretudo, na França e na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, onde cultura se referia
a um ideal de acordo com os níveis sociais, sendo que o sujeito que vivia na
pobreza passava como alguém desprovido de cultura.
O ser humano, imerso em sua própria cultura, tende a encarar seus padrões
culturais como os mais racionais e mais ajustados a uma boa vida, ou seja, tudo está
correto (dentro do que é considerado como certo e como errado).
Já disse antes que a família é a primeira ensinante e a primeira provedora
desse contato do aprendiz com a cultura, assim é, então, um primeiro modelo
cultural no qual o aprendiz se apercebe.
Não raro, encontramos, na escola, crianças com as chamadas dificuldades de
aprendizagem e, estas nos chamam a atenção no sentido de que suas
impossibilidades não podem ser maiores de que as possibilidades de aprender; a
questão é: por que não aprendem?
Quando os pais nos procuram para saber como está o desenvolvimento do
aluno (de seu filho ou filha) na escola e, são informados que está com dificuldade,
primeiro perguntam em que matéria (estudo); informados, se apresentam
conformados, pois, na maioria das vezes, estes pais tiveram a mesma dificuldade
que seu filho ou filha apresenta, então, acham que é a cultura da família (um mal
comum).
Para ilustrar o estado dessas situações, relato um caso que tive como
professor numa certa instituição de ensino superior, na qual o aluno tinha, na
ocasião, a idade de 23 anos. Vou chamá-lo de John (porque é um nome bonito!).
Jovem, aplicado, esforçado e muito leal nos estudos; não faltava às aulas, cumpria
com os prazos, era organizado e interessado. Mas, os trabalhos de John não tinham
nexo; lê-los era uma “tortura mental”, pois não havia um parágrafo sequer que se
articulasse ao outro.

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A impressão que me dava é que John não
raciocinava logicamente, mas tinha na cabeça um
turbilhão de idéias e, quando estas eram provocadas,
John era removido da realidade. As avaliações
dissertativas traziam respostas que mostravam
claramente que John era um “lunático aprendiz”. A
minha angústia era tamanha e, antes de quaisquer
julgamentos chamava John para ter comigo uma
conversa, na qual acabava em lágrimas, porque
afirmava ele ter estudado com afinco e se dedicado
profundamente aos conteúdos.
Fonte: http://migre.me/49d86
Eu não sabia o que fazer e, o semestre avançava e via com pesar a
reprovação de John. Num dia, ao me encaminhar para a sala dos professores,
carregando minhas divagações do que faria com John, fui abordado (ou acordado!)
por uma colega de trabalho, professora amiga, experiente e dedicada. Ao relatar a
ela o que estava acontecendo com o aluno em questão, fui informado por esta
colega que o mesmo aluno estava pendente em todas as disciplinas do curso e, sua
chance já era mínima para a aprovação.
Após, algumas conversas de apoio, sobre esse assunto, com a Coordenação
Pedagógica do curso, chamei John e lhe perguntei se ele me permitiria falar com um
de seus familiares (pai ou mãe), pois tinha interesse em saber a origem de seus
problemas de aprendizagem. O aluno marcou uma data e hora; comparecendo
ambos os pais e o próprio aluno, ficando a vontade para ficar ou sair da sala, caso o
assunto o incomodasse. Na conversa amistosa e amigável, os pais me relataram
que John, desde a infância trazia problemas na escola – não de comportamento,
mas de aprendizado. No entanto, os pais nunca deram muita importância a estes
problemas, pois tiveram eles mesmos, as mesmas dificuldades; portanto, era
genético o problema de John – fazer o que, né!
Inconformado, passei a investigar os problemas e tentar achar soluções para
o caso de John. Num dia, trouxe para sala de aula algumas revistas de educação,
com o objetivo dos alunos pesquisarem temas sobre nossos conteúdos. John veio
até mim com uma revista aberta e mostrou-me uma matéria em que alunos com

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problemas de aprendizagem tinham sua dificuldade relacionada às privações
culturais vividas em família. Desse modo, o próprio aluno descobriu como suas
dificuldades nasceram.
Pais com dificuldades as assumem frente à criança, passam a ideia de que
nada sabem; não lêem jornal, não discutem uma notícia da tevê; não auxiliam na
tarefa porque não lembram de ter estudado aquilo; não ajudam a pintar o desenho,
porque quando crianças não ensinaram essa tarefa; não ajudam a criança na leitura,
porque dizem não ler direito; não se interessam pela vida escolar da criança, porque
“os tempos são outros”; enfim, não estimulam a criança na sua aprendizagem. Não
são pais maus, apenas deixaram de acreditar neles mesmos quanto aprendizes.
Assim, foi com John. Szymanski (2010, p.35) assinala que:

Dialogar com uma criança e um adolescente não significa abdicar da


autoridade: significa instaurar um pensar crítico; mostrar sensibilidade
e abertura para compreender o outro; ter confiança na sua capacidade
de compreensão; estar disponível para criar novas soluções;
considerar os fundamentos éticos da educação; transmitir
conhecimento e a interpretação do mundo.

Quero complementar a premissa da autora, acrescentando que não é


vergonha alguma para os pais assumirem suas dificuldades frente a seus filhos, mas
é uma chance de aprender com eles. O problema se
instala no momento em que esses dedicados pais
acreditam que seus problemas com a aprendizagem
devem ser os mesmos para seus filhos. Faço a minha
inferência nesse caso, pois ninguém é igual a outro;
nem gêmeos vitelinos são iguais, cognitiva e
intelectualmente falando.
Fonte: http://migre.me/49cW6
A cultura interna de uma família é a cultura do modelo, pais que aprendem,
seja de que forma for, transmitem essa cultura de aprendizagem, sendo que o
oposto refletirá na própria criança.
Já a cultura socialmente conhecida é também um processo de aprendizagem,
porém condiz ao aprender a interpretar a sociedade, suas nuances e adversidades.
Como sujeitos aprendizes, somos levados a acreditar naquilo que a sociedade quer
que acreditemos. Então, se casar é bom, nos casamos; se tiver filhos é bom, os

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teremos; se divorciar é melhor, assim faremos; etc. E isto acontece porque
absorvemos os valores circundantes de onde nos inserimos e vivemos, constituindo
crenças que nos fazem entender cada época diferente de outra. Por isso cultura é
também um processo de transição, no qual nos adaptamos e alteramos nosso modo
de ler e interpretar o mundo.

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UNIDADE 5 - FAMÍLIA COMO PONTO DE PARTIDA PARA A
APRENDIZAGEM

5.1 Primeira ensinante

Estudar a temática da relação familiar implica pensar em afetividade e


aprendizagem. É fundamental para que possamos esclarecer como se processa o
desencadear da aprendizagem, de modo que traga possibilidades de acertos para
as famílias e entendimento para os profissionais da educação; para que possam
olhar os alunos com problemas/dificuldades de aprendizagem com esperança e
serenidade, sendo capazes de se esvaziar de preconceitos e sentimentos de culpa
sensibilizando-se para levá-los a aprender a aprender.
Hoje nos deparamos com uma educação voltada à informação do indivíduo e
pouco atenta à formação de sua personalidade. A educação muitas vezes se
apresenta fria, sem nenhum tempero emocional, por conta da falta de tempo para
ver, ouvir e até mesmo amar os nossos entes mais queridos, nossos filhos. A
preocupação dos pais é trabalhar para dar conforto, uma boa formação acadêmica e
bens materiais, pensando que desta forma estão cumprindo a função paterna e
garantindo o futuro dos filhos.
Diante da realidade profissional, acompanhamos um grande índice de
indivíduos com dificuldade de se adaptar ao processo de aprendizagem e de obter
bons resultados. Frente a esta situação, qual é o papel da família no processo de
aprendizagem? Investigar ou questionar sobre como se dá a aprendizagem se
transformou em desafio, no qual nos deparamos com a problemática de muitos pais
que não conseguem entender e aceitar por que o indivíduo tem dificuldades de
aprendizagem, sendo necessário investigar e intervir para que o mesmo reencontre
a vontade de querer aprender. Nesse sentido, Nolte (2003, p. 42) afirma que é
“necessário ter coragem e percepção para romper com os padrões negativos que
podem tomar conta de nosso relacionamento com nossas crianças. Precisamos
optar por viver, de forma consciente, com o propósito de criar filhos saudáveis,
felizes e bem ajustados”.
Poder quebrar o círculo vicioso que se formou de acusações - escolas culpam
os pais e pais culpam as escolas; parece nos impulsionar a variadas leituras, não em

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busca de soluções mágicas, mas quem sabe aprendermos a alimentar a
personalidade desses indivíduos com sabedoria e tranquilidade. Isso é o que
sentimos na realidade social, onde encontramos indivíduos que apresentam
dificuldades em aprendizagem com fragilidade emocional, advindas das dinâmicas
familiares e incompreendidas no espaço escolar.
A criança retém definitivamente os sentimentos que seus pais têm em relação
a ela e à vida em geral. Esses sentimentos servem de base para o conceito que ela
formará de si própria e do mundo. Uma criança que é desprezada aprende a
desprezar-se; uma criança que é amada e aceita, tenderá a desenvolver atitudes
positivas para a formação de seu autoconceito.

[...] Como ser menos crítico e mais tolerante, menos autoritário e


mais inclinado à aceitação, menos intimidador e mais incentivador,
menos hostil e mais amigável com as crianças [...] A maioria dos
problemas do mundo começa em casa e, tornando-se um pai ou mãe
melhor, você estará contribuindo da maneira mais sólida e concreta
para a solução dos imensos e aparentes insolúveis dilemas que
enfrentamos no mundo hoje. (NOLTE, 2003, p.53).

Quando o adulto respeita a dignidade da criança e trata-a com compreensão


e ajuda construtiva, desenvolve na criança a capacidade de procurar dentro de si
mesma as respostas para os seus problemas, tornando-a responsável e,
consequentemente, agente de seu próprio processo de aprendizagem.

O que poderia ser mais compensador do que criar filhos seguros de


si mesmos, positivos, pacientes, compreensivos, amorosos,
determinados, generosos, verdadeiros, justos, respeitosos e
amigáveis? Imagine um mundo em que todas as crianças cresçam
para se tornar adultos com essas qualidades. (NOLTE, 2003, p.74)

A vida familiar é a primeira escola do aprendizado emocional, na qual ocorre a


maior influência que os pais podem exercer sobre os filhos. E pelo exemplo que dão
em sua vida diária é que as crianças que não são estimuladas a verbalizar suas
emoções podem vir a ter pouca consciência tanto de seus próprios sentimentos
quanto dos sentimentos alheios.
Segundo Winnicott (1984, p.19), à medida que a criança cresce, o significado
do termo "amor" vai se alternando, ou enriquecendo-se com novos elementos, que
significam: existir, estar vivo, identificar-se e ser amado; apetite, estar pronto para
alimentar-se; contato afetuoso com a mãe; integração com o objeto da experiência

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instintiva, com a mãe do contato afetivo, o dar passa
a relacionar-se ao receber; afirmar os próprios
direitos à mãe; cuidar da mãe como ela cuidou da
criança - uma prefiguração da atitude de
responsabilidade adulta.

Fonte: http://migre.me/49dCj
A criança é dotada de inteligência e emoção que devem ser vistas como
talentos que se transformarão em capacidade de motivar-se, persistir diante de
frustrações, controlar ou adiar impulsos e satisfações para que não invada a
capacidade de pensar, argumentar e aprender. A base de todas as aptidões se
assenta sobre a aptidão emocional. Pessoas com uma prática emocional bem
desenvolvida, adaptada ao meio e às suas circunstâncias possuem maior
probabilidade de sentir-se satisfeitas e serem mais assertivas em suas vidas,
dominando hábitos mentais que fomentem a produtividade.
Sendo assim, a psicopedagogia se propõe a criar esta ponte entre o indivíduo
e a aprendizagem para que o mesmo possa se encontrar e se sentir feliz. As nossas
dúvidas e hipóteses como psicopedagogos nos remetem a olhar para todas as
direções das ciências e principalmente buscarmos ajuda na psicanálise para, quem
sabe, podermos trazer luz aos que se encontram na escuridão do não aprender. De
acordo com a nossa experiência profissional pensamos que para aprender é
necessário ser visto, ser ouvido e ser amado.
A título de ilustração, consideramos pertinente relatar uma história contada
por Ornish (1998, p. 48-49):
Existe uma tribo na África oriental onde a arte da verdadeira
intimidade é fomentada antes mesmo do nascimento. Nesta tribo, o
aniversário de uma criança não é contado a partir do dia do seu
nascimento físico nem a partir do dia de sua concepção, como em
outras culturas pré-primitivas. Para essa tribo, a data do nascimento
é contada a partir da primeira vez em que a criança é um
pensamento na mente da mãe. Consciente da intenção de ter um
filho com determinado homem, a mãe se casa e se senta sozinha
debaixo de uma árvore. Fica sentada, atenta, até ouvir a canção do
filho que ela espera conceber. Quando ouve a canção, volta para o
povoado e a ensina para o pai, para que possam cantar juntos e
então fazer amor, convidando a criança a se juntar a eles. Depois
que é concebida, ela canta para o seu bebê em seu ventre. Depois,
ensina a canção para as velhas e parteiras da tribo, para que através
do trabalho de parto e do milagroso momento do nascimento, a

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criança seja recebida com a sua canção. Após o nascimento todos
os habitantes da tribo aprendem a canção do novo membro da
comunidade e a cantam para a criança quando ela cai ou se
machuca. A canção é cantada nos momentos de triunfo ou nos
rituais de iniciações. Essa canção torna-se parte da cerimônia do
casamento quando a criança cresce e, no fim de sua vida, seus
entes queridos reúnem-se em volta do seu leito de morte para cantar
a canção pela última vez.

Imagine a sensação de intimidade para quem cresce em uma família, onde se


é tão completamente visto, ouvido e amado. Percebemos que apesar deste texto ser
de um período primitivo se faz tão atual, frente à carência que as crianças
apresentam atualmente.
A educação é uma preocupação constante da família, desde antes da criança
nascer e na medida em que ela vai crescendo a mesma deveria orientar suas
aprendizagens e seus comportamentos. Estas aprendizagens em família funcionam
como plataforma de lançamento para outras aprendizagens necessárias à vida da
criança. Neste pensamento, as atitudes familiares de envolvimento, compreensão e
ajuda se tornam fundamentais para que não ocorra fragilidade psicológica,
dificultando seu progresso.
Manter uma relação de intimidade, de amor, ajuda a viver melhor e abre
caminhos para ser feliz recuperando o vínculo para poder aprender tudo o que está
a sua volta. Dentro de cada pessoa há uma centelha vital que impulsiona para a
vida, para o crescimento, para o desenvolvimento, algo que é inato do ser, mas que
é cultivado desde os primeiros contatos estabelecidos no holding, ou seja, como nos
ensina Winnicott sobre todos os cuidados desenvolvidos pela mãe em relação ao
seu bebê.
Estas ideias nos motivam a investigar os diferentes aspectos que envolvem a
aprendizagem no âmbito familiar, para que o indivíduo possa recuperar o vínculo e o
desejo de aprender; identificando as possíveis condições que favoreçam o resgate
da aprendizagem familiar, com uma conexão emocional orientadora e facilitadora da
aprendizagem do indivíduo.
A família poderá compreender as dificuldades de aprendizagem identificadas
no indivíduo, durante o processo de desenvolvimento, podendo oportunizar
situações de respeito à individualidade, sem fragmentar as relações do indivíduo
com o meio. Esta consciência de que o aprendizado é algo que o próprio indivíduo

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constrói, valoriza as relações integradoras entre os componentes familiares. Para
Polity (2004, p.87):
A dificuldade de aprender contagia todos os membros da família,
tornando a relação com o saber uma experiência bastante difícil, tanto
para a criança como para todo o sistema familiar. A psicopedagogia
investida de um olhar sistêmico tira o foco do sujeito e convida a todos
os envolvidos no processo a construírem juntos uma solução. Essa
postura é a diferença que faz a diferença.

No mundo de hoje, as estruturas familiares diferenciadas têm o desafio de


proporcionar a formação da personalidade, da responsabilidade, da independência e
da boa convivência social de seus filhos, conduzindo o processo de aprendizagem
de maneira satisfatória.
Desta forma, os indivíduos que apresentam dificuldades na aprendizagem,
têm a possibilidade de recuperar o holding e o desejo de aprender, quando
assistidos pela família e profissionais que os acolhem e os respeitam no seu nível de
desenvolvimento.
O acervo bibliográfico desta temática hoje é muito amplo e contribuiu para a
análise das diversas posições acerca da problematização das relações familiares.
Enfatizamos:
 Winnicott, que valoriza a função materna através de um holding, bem
elaborado, como suporte das futuras aprendizagens do indivíduo. Quando os
cuidados iniciais à criança pela mãe forem bem sucedidos e os pais
fornecerem um bom ambiente, é que a escola pode estar com sua função em
segundo lugar, pois muitas vezes a mesma tem que corrigir fracassos e
suplementar atitude que seria específica do ambiente familiar.
 Vygotsky, Wallon e Pestalozzi que investigam o processo da aprendizagem,
não restringem o problema apenas ao indivíduo, pois a aprendizagem passa a
ser um momento privilegiado de um processo interno do indivíduo com suas
inter-relações no meio em que está inserido.
 Cury, Lima, Zagury, Tiba e Luft nos trazem grandes contribuições sobre a
importância do papel da família ao estabelecer os limites e a segurança, tão
necessária ao indivíduo em formação, para que os mesmos possam ser
capazes de enfrentar os desafios que a vida lhes oferece. Por isso, os
componentes da família devem falar a mesma linguagem.

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 Barbosa, Gonçalves e outros psicopedagogos nos mostram que todo
processo de aprendizagem está envolvido por dificuldades e desequilíbrios,
que servirão de desafios para que o indivíduo possa construir a verdadeira
aprendizagem. Sendo assim, é necessário muito acolhimento e calma para
não atropelarmos o desenvolvimento individual de cada ser.
 Freud, Klein e seus seguidores nos falam sobre o desejo de aprender, ponto
principal de nossas ações, como é possível recuperá-lo; e valorizam o meio
como determinante nas interações que o indivíduo vivencia, promovendo o
seu desenvolvimento e instrumentalizando-o para atuar sobre o meio e
modificá-lo.

5.2 As aprendizagens em família são suportes as outras


aprendizagens

As brincadeiras das crianças revelam se elas são capazes de estabelecer


relacionamentos, tendo um ambiente razoável e estável, desenvolvendo um modo
de vida pessoal tornando-se um ser humano
integral e acolhido pelo mundo em geral. As
crianças brincam por prazer, para aprender
a dominar ideias ou impulsos que conduzem
a angústia. A criança adquire experiência
brincando e isto é um aspecto importante de
sua vida. A brincadeira é a prova evidente e
constante da capacidade criadora, que quer
dizer vivência.
Fonte: http://migre.me/49DK4
A brincadeira cria um elo entre a relação do indivíduo com a realidade interior
e com a realidade exterior compartilhada. É na infância que se alicerça toda a saúde
mental do indivíduo. Uma mãe, com saúde mental equilibrada é capaz de prover o
equilíbrio que a criança precisa.
É importante compreendermos que o brincar leva a criança ao espaço de
criação de sentidos e significados para as experiências humanas enquanto
aprendentes. O jogo conduz à plenitude da vida com alegria, emoção, prazer,

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vivência grupal e espaço de expressão pessoal. O jogo é fruto da criatividade dos
seres humanos e proporciona imensas possibilidades de desafios no viver.
Parafraseando Piaget (apud La Taille, 1992), no jogo há mais que o simples
brincar, vai além da diversão, da interação humana: extrapola esse campo de
sentido e vivência humana, pois envolve emoção, subjetividade além da razão. A
situação de jogo é reveladora da personalidade do jogador.
Numa perspectiva psicopedagógica, é positivo fazer uso de jogos no processo
de aprendizagem familiar e escolar. Se acreditarmos que o indivíduo aprende a partir
de suas ações sobre o ambiente e tais ações favorecem processos mentais
fundamentais para a estruturação da inteligência humana, então o jogo é um
momento privilegiado entre ensinantes e aprendentes. O lúdico está presente em
todos os movimentos de tempo e espaço em nossas vidas, pois se faz marcante em
diferentes etapas de nossa evolução enquanto humanos.
Por meio da dinâmica do jogar, brincar, sorrir, tanto na família como na
escola, podem-se contextualizar, construir e ampliar novos conhecimentos de
maneira gratificante, viva, na qual o indivíduo se sinta pleno em prazer e gozo, seja
capaz de motivar-se e querer continuar em movimento de aprender. A aprendizagem
alicerça-se nos vínculos estabelecidos em família e as situações do brincar ou jogar
é um instrumento valioso para se desenvolver hábitos e habilidades que favorecem o
aprender junto.
A capacidade para realizar algo é um sintoma de saúde no desenvolvimento
emocional do indivíduo. Segundo Winnicott (1985, p.198):

Os pais sabem que os filhos pequenos precisam ser dotados de um


ambiente simplificado e que necessitam disso até estarem aptos a
compreender o significado das complicações e, portanto, a contar com
elas.

É bastante significativa a experiência individual de desenvolvimento desde


bebê, passando a criança e depois adolescente, numa família que é capaz de
superar seus próprios problemas, os de um mundo em miniatura, que tem
intensidade de sentimentos, riqueza de experiências, mas com suas complexidades.
Precisamos pensar na criança sempre em desenvolvimento. As crianças
avançam e recuam em sua idade emocional, conforme seu convívio social. De
acordo com Winnicott (1985, p.203), observa-se que:

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[...] a inteligência da criança se torna cada vez mais apta para ter em
conta a possibilidade de fracassos e para dominar as frustrações
mediante uma prévia preparação. Como se sabe, as condições que
são necessárias para o crescimento individual da criança não são
estáticas, assentes e fixas em si mesmas; encontram-se num estado
de transformação qualitativa e quantitativa em relação à idade da
criança e às necessidades em constante mutação.

Sendo assim, é normal percebermos avanços e regressos nas atitudes


infantis, exigindo dos pais firmeza para ajudar os pequenos a alcançarem um nível
maior de estruturas mentais e emocionais.
O papel das outras instituições para a criança é de ampliação do que ela
recebeu em família, num sentido crescente. Quando os cuidados iniciais à criança,
oportunizados pela mãe forem bem sucedidos e quando os pais fornecerem um bom
ambiente, é que a escola pode estar com sua função em segundo lugar, pois muitas
vezes a escola tem que corrigir fracassos e suplementar atitudes que seriam
específicas do ambiente familiar.
A mãe é testada na sua capacidade de constatar que a sua função materna
apesar de importante, precisa aos poucos ceder lugar a uma função pessoal de
autorregulação que caracteriza o potencial de saúde emocional do filho. É assim que
verificamos imediatamente o potencial de saúde emocional da mãe, na sua
capacidade de permitir que o filho cresça, isto é, que enfrente pessoalmente os
desafios do seu próprio desenvolvimento.
Aos poucos, tanto mãe quanto filho vão se fortalecendo para enfrentar sua
vida. Neste processo ambos são motivados à cumplicidade, porém também à
independência. O primeiro corte que acontece é o próprio nascimento; há uma cisão
física. Daí para frente os cortes precisam acontecer no plano emocional, em
momentos bem distintos como o desmame, as primeiras frases, os primeiros passos,
a ida para a escola, a adolescência e finalmente quando o filho deixa a casa dos
pais. Todos esses momentos são cruciais para a vida da criança e depende de como
a mãe reage emocionalmente. Se nesta relação ocorrer algum desvio de
comportamento materno, poderá ocasionar consequências no processo de
aprendizagem da criança.
Os relacionamentos interpessoais, além de se configurarem como uma
necessidade para o ser humano, também representam a própria essência do que

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significa ser pessoa. O ser humano tem em suas relações algo que caracteriza a
essência, a humanidade de cada um e a própria realização que se afirma na
possibilidade de comunicação e troca.
A mãe precisa antes de qualquer coisa, ser capaz de se aceitar, de se amar
para que possa aceitar e amar quem está ao seu redor, principalmente o seu bebê
que acabou de nascer.

Exercício 5

1. Szymanski (2010) assinala que dialogar com uma criança e um adolescente


não significa abdicar da autoridade, mas significa:
a) Ensinar o certo e errado.
b) Instaurar um pensar crítico.
c) Instalar na criança a consciência de quem manda.
d) Imprimir na criança o respeito pelos pais.

2. Quando o adulto respeita a dignidade da criança e a trata com compreensão


e ajuda construtiva, desenvolve na criança a capacidade de:
a) Desenvolver equilíbrio entre seus desejos e as possibilidades que a cerca.
b) Agir, sentir o mundo e as pessoas como agentes responsáveis pelo próprio
processo de aprendizagem.
c) Procurar dentro de si mesma as respostas para os seus problemas, tornando-a
responsável e agente de seu próprio processo de aprendizagem.
d) Buscar na autoridade dos pais o equilíbrio nas suas relações sociais, tornando-a
responsável e, agente de seu próprio processo de aprendizagem.

3. No mundo de hoje, as estruturas familiares diferenciadas têm o desafio de


proporcionar a seus filhos a formação da:
a) Personalidade, da responsabilidade, da independência e da boa convivência
social.
b) Autoria de aprendizagem, da responsabilidade orientada, da autonomia social e
crescimento saudável.
c) Personalidade, afetividade, sensibilidade e razão.
d) Sensibilidade, da não violência, do respeito ao próximo e autonomia social.

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UNIDADE 6 - REPENSANDO A FAMÍLIA FRENTE ÀS NOVAS
CONFIGURAÇÕES: REFLEXÕES NECESSÁRIAS

6.1 Contexto familiar influencia o contexto escolar? Diálogos


possíveis
“Mas o ideal é que a escola me prepare para a vida. Discutindo e
ensinando os problemas atuais. E não me dando as mesmas aulas
que eles deram pros meus pais. Com matérias das quais eles não
lembram mais nada. E quando eu tiro dez é sempre a mesma
palhaçada.” (Estudo errado, Gabriel o Pensador)

Em vários momentos nas unidades anteriores, falamos da importância da


família no processo de aprendizagem do indivíduo, sendo a primeira ensinante em
todos os aspectos. Também falamos da importância do modus operandi e demais
rotinas na formação de uma identidade social do sujeito aprendiz, influenciando
inclusive na sua forma de aprender e comportar-se no contexto escolar.
Nesse momento julgo ser importante, também, refletirmos o quanto o contexto
familiar influencia o contexto escolar, dando ênfase nos conflitos familiares, nos
distúrbios do comportamento social e nas perdas e resgates possíveis das
identidades – da família e do sujeito aprendiz familiar.
Posso dizer, com muita propriedade, que nos dias atuais a família não só se
alterou em relação aos seus papéis, identidade e respostas sociais – como já
dissemos anteriormente – mas, também se tornou um alvo fácil das implicações
sociais. Afinal, vivemos na e para a sociedade, estando dentro dela. Por isso, digo
que falo com propriedade, pois as mídias anunciam quase que diariamente conflitos
de ordem familiar que, algumas vezes, raiam o absurdo devido à falta de respeito
que ela mesma – a família – assumiu para si.
Estou me referindo a certos programas de tevê, que me darei o direito de não
citar, que se apresentam como uma referência, mas na realidade não são
referências para ninguém. Tais programas televisivos abordam, diariamente,
problemas familiares de várias naturezas – comportamento social, intimidade de
casais, legitimidade de pais e filhos, traição conjugal, etc. O que mais me assusta é
que os grupos familiares, compostos por pessoas de bem (acredito eu!), se sujeitam
a dar os rostos frente a uma câmera de televisão, assumindo seus nomes, suas
situações, expondo-se a um público desconhecido – que gosta do “trágico-cômico” –
que torce, muitas vezes, para que aquelas pessoas se “peguem no tapa”. A

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publicidade disso seja verdadeira ou não, pois nada entendemos das políticas de
publicidade e da ética na qual se baseiam estas imagens, com certeza não sabe da
extensão das consequências na vida das pessoas que ali estão e, daquelas que as
assistem. Consequências caracterizadas por mais violência, falta de tolerância e
conflitos em demasia que não se resolvem na frente de uma câmera de televisão.
Os adultos que ali comparecem sabem de suas capacidades de gestar seus
problemas – seja de que forma for -, mas se esquecem de que há crianças
envolvidas nesses processos, as quais não possuem sequer condições de
responder por elas mesmas o que os adultos fazem à sua volta. Segundo Narvaz e
Koller (2006, p.69):
As crianças vítimas de violência apresentam comumente, sintomas de
ansiedade, dificuldades de concentração da atenção, comportamento
agressivo e hiperativo, tristeza, apatia, baixa estima, distúrbios do
sono e da alimentação, afecções genito-urinárias, enurese, encoprese,
comportamentos autodestrutivos e mutiladores, medos, terror noturno,
insegurança, dificuldade de vincular-se e de confiar nos adultos,
sentimentos depressivos, culpa, comportamento hipersexualizado e
necessidade de afeto e atenção extremos, dada a carência afetiva e a
falta de vínculos positivos e de segurança, entre outros sintomas.

Pelas respostas que a criança possa dar diante da violência, fica claro que
estas vão influenciar no seu modo de processar a vida, suas experiências e suas
relações.
Ao citar apenas estas representações televisivas, já que existem tantas outras
formas maiores de violência contra a criança, estou dizendo que a família na sua
representação influencia no modo como a criança se representa socialmente, seja
para viver na sociedade, seja para aprender na escola.
Aquilo que a televisão nos mostra é apenas uma parte da violência simbólica
que a criança sofre, sendo que por violência podemos entender muitas outras
formas de agressão. Para ilustrar parte das premissas que aqui defendo, vim me
lembrar de um caso que vivi, ainda como acadêmico em formação, dentro do curso
de pedagogia. Como estagiário, atendi a proposta de reger aulas nas séries iniciais
do ensino fundamental.
No segundo ano conheci, entre outros alunos, Fernando – assim vou chamá-
lo porque esse nome condiz com o meu personagem do relato. Tal criança tinha 8
anos não exatos, agitado como é normal para faixa etária; mas não era um aluno

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mal educado, ao contrário, pedia licença, cumprimentava a todos com atenção. Só
tinha um problema: não atendia a nenhum chamado quando estava na agitação com
seus colegas – com os quais tinha uma relação
estranha de amor e ódio, ou seja, havia
momentos que Fernando os cercava de atenção
e dividia o que tinha com todos, em outros
momentos, agredia-lhes verbalmente, aos gritos,
e até fisicamente. Cheguei a separá-lo algumas
vezes, tentando acalmar seus socos e pontapés
contra os colegas, os mesmos colegas dos quais
Fernando não se separava nunca.
Fonte: http://migre.me/49I5D
Numa tarde, ao finalizar nosso período, permiti que nos cinco minutos finais
da aula, eu e os alunos fizéssemos uma brincadeira de grupo, não se tratava de um
jogo, mas de uma interação de grupo. Eles toparam e, se é brincadeira, tem que ter
corrida, tem que ter euforia. Fernando corria pela sala, quando sua mãe chegou até
a porta da sala de aula, como era de costume vir buscá-lo. Ao vê-la fui ao seu
encontro, expliquei a dinâmica que acontecia e chamei Fernando a seu pedido,
chamei, chamei e chamei... até que eu pedi que ela mesma o chamasse. Sem
delongas a mãe do aluno soltou aos gritos o nome do filho; a situação foi tão
assustadora que os demais alunos, na mesma hora, pararam de brincar, se
assustaram e foram para o fundo da sala de aula. Fernando, que antes brincava
alegre, era agora uma criança de cabeça abaixada, que mordia a ponta da camiseta,
abraçando sua mochila na frente do corpo como a se defender de alguma coisa.
Ao analisar a situação, primeiramente me senti impotente de chamar o aluno,
pois gritar nunca foi do meu feitio, nem mesmo com meus filhos; depois, considerei
que a criança merecia tal ato materno, já que não escutava ninguém; mas, ponderei
que a atitude daquela mãe, além de ser restritiva era repressora, comum no seu dia
a dia, sem perceber que se tratava de uma agressão. Assim, agora entendia a
relação de Fernando com os colegas – “eu grito e bato neles, porque eu gosto
deles”, assim eu interpretei seu pensamento, como o de sua mãe.
Segundo Monbourquette, (1996, p.47), é observado que:

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Quando surge um conflito entre os pais e o filho, é importante
perceber a natureza do conflito. É ele provocado por questões
materiais ou provém de um motivo cultural ou moral? No primeiro caso
você está diante de um conflito de necessidade (...) no segundo caso,
se trata de um conflito em matéria de opções, valores morais e
culturais.

Através da citação do autor posso acrescentar que os conflitos de natureza


material, ou conflito de necessidade, são os mais fáceis de serem resolvidos entre
pais e filhos, mas sugiro que sejam os pais a reverem seus conceitos quanto ao
modo que tratam suas relações materiais. Em outras palavras, afirmo que os
conflitos dessa natureza são conduzidos pelos próprios pais que, em muitas
situações, usam dos objetos, brinquedos e outros objetos, como subterfúgios,
chantagem e compensações, para conseguirem dos filhos o que desejam. É mais ou
menos assim, por exemplo:
 se você se comportar, comprarei um brinquedo para você;
 se você estudar direitinho te dou um celular de presente no seu
aniversário;
 se você parar de chorar, te dou aquela bola.
 se você for boa menina te darei a boneca que deseja.
Será que é preciso ser lembrado que as crianças não nascem sabendo fazer
negociações; sabem usar os jogos emocionais e seus mecanismos de defesa, mas
não incluem valores nas suas ações. A negociação nasce de uma intenção de
alguém que já sabe usar de estratégias conscientes para se chegar aos objetivos
almejados. Desse modo, o próprio adulto é quem molda na criança sua maneira de
“jogar” com os desejos – a criança joga para ter (pelo desejo), e o adulto joga para
obter (o que lhe é conveniente). Portanto, tais conflitos poderão ser sanados se os
pais reveem seus conceitos materiais e seus usos frente a seus objetivos.
Já, os conflitos de natureza moral e cultural têm a ver com as opções feitas
pelo sujeito no seu trato com os grupos sociais em que se insere. Evidentemente,
não se descarta a suma importância da orientação familiar, pois a estrutura moral e
cultural se herda da família, primeiramente. As provas sociais, às quais se submete
o sujeito, não são contempladas quando o sujeito tem claro o que é o certo e o que é
errado. Mas, quando há distorções da sexualidade, quando há inserção no contexto
das drogas – sejam as químicas de maior ou menor gravidade – os pais terão uma

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maior dificuldade em sanar os conflitos. Pois, o resgate do sujeito é permeado por
razões subjetivas que perpassam o diálogo com a família, considerando que a
ciência ainda não descobriu por que determinadas pessoas possuem autovalores
tão destrutivos.
Contudo, seja qual for a natureza dos conflitos, será inevitável sua influência
no contexto escolar. E isso é facilmente comprovado quando se nota a escola
vivenciando uma distorção de valores, na qual está o desrespeito do aluno com o
professor; na qual está a falta de compromisso do aluno e da família com as
atividades da escola; quando as agressões físicas, morais e psicológicas são tão
visíveis nos olhos de nossos alunos.

6.2 A autoestima do aluno vem de casa, mas é desenvolvida pela


escola?
“Me fiz em mil pedaços. Prá você juntar. E queria sempre achar.
Explicação pr'o que eu sentia. Como um anjo caído. Fiz questão de
esquecer. Que mentir prá si mesmo. É sempre a pior mentira...”
(Quase sem querer, Legião Urbana)

A autoestima pode ser entendida como aquela que nasce com o sujeito,
caracterizada como um processo de autovalorização, no qual está inclusa a
autopreservação, e por isso, temos um medo natural de sermos agredidos e
hostilizados, bem como, tememos naturalmente pela nossa vida – física e mental.
Mas, a autoestima também é um processo de desenvolvimento humano que
requer orientação e aprimoramento, e para isso devemos dar atenção aos afetos,
sentimentos e emoções que desenvolvemos em nós e em nossos filhos, já que estes
últimos são reflexos dos pais.
Não se trata apenas de vínculos familiares, mas de comportamentos que
promovem estabilidade e segurança na criança e no futuro sujeito social.
Precisamos, então, entender que toda relação é ou não afetiva, mas se
houver sentimentos implicados na relação, então, a afetividade é manifestada pela
amorosidade. Nessa relação de afetos, na qual a amorosidade é manifestada, se
insere a proteção familiar que, se for equilibrada, gera diálogos e os laços familiares
tornam-se laços de amizade. Por outro lado, se a proteção for exagerada – o que
chamamos de superproteção – teremos relações em que os afetos são conflituosos
e marcadamente impositores, pois alguém nessa relação terá que se submeter aos

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caprichos de outro – essa reação é para acreditar que tudo está bem; basta apenas
aceitar o que o outro diz ou manda. Em outras palavras, no trato da superproteção,
um manda e o outro obedece. Nesse caso há um prejuízo, progressivo, da
autoestima, seja dos pais ou, mais ainda, dos filhos.
Nesses campos de afetividade estão as emoções, as quais são condições
nem sempre objetivadas pelos sujeitos, pois o ato de “sentir” é uma função íntima do
sujeito, tanto que não saímos verbalizando o que sentimos, a não ser quando
estamos sufocados pelas emoções. Nesse caso, rimos à toa, choramos de alegria
ou tristeza, nos desesperamos diante da perda, quase enlouquecemos por amor –
seja qual for a situação deixamos claro qual é o nosso nível de autoestima.
Há alguns anos atrás, tive uma experiência de formação como estagiário num
hospital psiquiátrico - já que também atuo no campo da saúde. Convivi, alguns
meses, assistindo pacientes que tinham distúrbios depressivos, os quais exigiam
muita atenção dos médicos, pois eram pacientes que tinham risco de cometer
suicídio, sendo que alguns deles já haviam tentado, pelo menos uma vez, contra a
própria vida.
Entre o grupo de pacientes, três me chamaram muito a atenção: um jovem de
19 anos, que se dizia abandonado pelos pais, por isso recorria às drogas; uma
jovem adulta de 26 anos, que não se conformava com o fim do casamento de sete
anos, por isso só dormia à base de medicamentos; e um jovem senhor de 42 anos,
que se tornava muito agressivo – batendo-se, com a ideia fixa de autoflagelo –
porque tinha contrariado os pais ao se casar com uma mulher que já o abandonara
anos atrás.
Esses pacientes me faziam pensar que tipo de autoestima foi alimentada
quando crianças. Deveríamos nos perguntar que tipo de autoestima valorizamos nos
nossos filhos? De afeto e amor? De afeto para convivência? De muito afeto, para
acreditarem que seremos presentes em suas vidas eternamente? Enfim, que
autoestima temos para compartilhar com os que nos rodeiam?
Portanto, a autoestima vem de casa, é parte das bases da família, da sua
forma de viver, sentir e agir, do equilíbrio e sensatez que se manifesta de diferentes
maneiras e níveis de intensidade, pois nela estão contidas as emoções.
Já, a escola desenvolve a autoestima num outro plano de vivência, pois é um
lugar que amplia a interação do sujeito com o seu entorno. Certa vez, alguém, que

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ama a educação tanto quanto eu, disse que a escola é o pior lugar do mundo para a
criança. Na hora em que ouvi isso não pude conter a minha indignação, pois ia
contra o que sempre pensei e senti pela escola. Mas, essa figura amiga me
convenceu quando disse que na escola a criança não tem uma sala só para ela; que
a criança não tem uma mesa e cadeira só para ela; não tem amigos só para ela; não
tem uma professora só para ela; não tem um material só dela; o pátio não é dela, as
pessoas, ela desconhece, porque não são a família dela. Que lugar é esse?
Assim, pude ver a escola despida por verdades que nunca havia pensado.
Então, receio que a escola tenha sim que trabalhar e desenvolver a autoestima da
criança. Digo receio porque não sei até que ponto ela tem condições para isso; claro
que deveria ter, mas ter nem sempre é sentir e, nem tampouco, fazer. Pois, nessa
relação, o foco da autoestima é fazer com que a criança se assegure de sua
importância no contexto escolar e, de forma segura e tranquila se aproprie de sua
aprendizagem de forma consciente (autônoma e autora), conduzindo-se na sua
formação.

6.3 A disciplina e a indisciplina: enfrentamentos da família e da


escola
“To nem aí, to nem aí, não vem falar de seus problemas, que to nem
ai, To nem ai, to nem ai, pode ficar no seu mundinho, que eu to nem
ai.” (To nem ai, Luca)

Um dos grandes desafios atuais da escola é sem dúvida dar conta dessas
duas condições: disciplina e indisciplina. Lembrando que disciplina é aqui tratada
não como conteúdo escolar, mas como comportamento humano, sendo este
caracterizado como o que corresponde ao necessário para a manutenção adequada
das relações.
Como nesta disciplina falamos da importância da família como primeiro grupo
de aprendizagem, evidentemente, a primeira ensinante, adentraremos direto no
assunto desta parte de nosso estudo. Então, segundo Parolin (2005, p.55), observa-
se que:

Na convivência com os adultos, a criança necessita tanto encontrar


barreiras que a impeçam de realizar alguns desejos, como apoios que
facilitarão a obtenção do desejado. Quando a criança compreende o
“sim” como algo destinado a ela e o “não” como um impedimento à
realização de algo, ela se estrutura como pessoa e começa a

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compreender o sentido da liberdade como um trânsito entre o
individual e o coletivo.

A fala da autora já nos indica que o “sim” e o “não” não são opostos na
educação das crianças, mas se complementam dando direção e objetividade à
formação de um valor de convivência social. Ser uma criança disciplinada não é
indicativo de criança quieta, silenciosa, atenta, centrada, sempre acessível; uma
criança disciplinada brinca, corre, pula, grita, chora, briga, porque criança é criança e
é assim que se comporta – tem energia para suas vivências. Mas, esta criança
disciplinada sabe também respeitar as regras e limites que se impõem ao ambiente;
se sente segura para liberar suas energias, sem atrapalhar ou comprometer-se a si
mesma e aos demais no seu entorno.
Mas, para saber os limites e as regras, a criança
requer que o adulto lhe ensine e oriente o seu processo,
e isto não reside apenas na informação que possa o
adulto passar, mas os modelos que ele expressa a partir
de si. Já falamos sobre isso, mas vou relembrar -a
família é o modelo que a criança tem, portanto:

Fonte: http://migre.me/49JlO
 se a criança tem pais agressivos, entende ela que isso é o certo; se tem
pais que a agridem, entende que é assim que deve tratar os demais;
 se os pais são passivos, repetirá esse comportamento;
 se os pais lhe dão tudo à mão, entenderá que os outros devem fazer o
mesmo;
 se os pais não lhe explicam o certo e errado, não saberá conduzir suas
ações de forma pensada;
 se os pais não lhe dizem não, a criança espera de todos o mesmo;
 enfim, se os pais não sabem conduzir suas próprias vidas, com certeza,
seus filhos serão barcos à deriva.
Por outro lado, poderemos dizer que há famílias que são cuidadosas no
sentido dessa orientação, porém, não praticam o que dizem. É como aquele
exemplo conhecido em que os pais ensinam a criança que ela não deve nunca

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mentir, que dizer a verdade é o certo. Contudo, se não querem atender um
telefonema, pedem a criança que mintam sobre sua presença.
É preciso compreender que a criança repete o que vê e o que ouve, na
mesma medida dada pelos adultos e isso é comprovado por exemplos comuns:
 se os pais ensinam à criança que ela não deve falar palavrões, mas em
casa os pais falam, ela os verbalizará na escola;
 dizem aos filhos que violência não é uma boa coisa, mas se algum
coleguinha o bater, revide.
Estas contradições na orientação dada pelos pais refletem sobre a criança de
maneira intensa, porque a criança passa a não acreditar no que lhe é dito. Dessa
forma, a criança – agora insegura e ansiosa – assume um comportamento
desafiante frente a todos os outros adultos. Então, se a professora insistir em que
faça algo, a criança diz: “você não me manda”; “eu não vou fazer porque eu não
quero”; “você não é meu pai”, e assim por diante.
Antes de caminharmos mais um pouco sobre esse assunto, é importante
estarmos atentos a esses pequenos discursos, a fim de tratarmos as situações com
as devidas soluções que são pedidas. Toda criança precisa ser ensinada, porque
não nasce sabendo regras e limites, mas entende-se como alguém provida de
natural liberdade; ao descobrir que suas necessidades são atendidas, a criança
passa a requerer orientação para suas ações. Nessa perspectiva, quando uma
criança expressa seu comportamento desafiante com discursos de resistência e
negação, entendemos que ela quer ser disciplinada; ela está pedindo limites, porque
está insegura diante do certo e do errado. Nesse sentido, Parolin (2005, p.56),
explica que:
A criança sem limites não quer fazer os exercícios, não quer ouvir, não
quer ler, acredita que os outros devem ler para ela, fazer para ela, ou
ainda, o que é pior, considerar que os que propõem ações voltadas à
sua aprendizagem estejam perturbando a sua paz – “o professor fica
me alugando, dando tarefa todo dia”.

Lembrei-me de uma professora, numa instituição escolar que atendi por uma
assessoria psicopedagógica, quando se queixou de um aluno que não a atendia nas
atividades e tarefas de sala porque estava sempre com sono, chegando a ponto de
debruçar-se sobre a carteira e dormir deliberadamente durante a aula. Toda vez que
a criança era chamada à atenção, chorava e dizia que não conseguia se manter

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acordada. Primeiramente, pensamos na hipótese dessa criança estar com alguma
disfunção orgânica, infecções comuns à infância (vermes), deficiência nutricional,
fobia noturna, etc.
Quando relatamos para mãe a situação, ela nos informou que a criança
dormia cedo e bem. Mas, os avós não deram a mesma informação, pois a mãe saía
muitas noites da semana, retornando a altas horas; a criança ao perceber a
ausência da mãe, não dormia; os avós para suprirem a carência do neto, deixavam
na frente da televisão ou do
computador até que adormecesse e,
isto algumas vezes, foi com o dia
amanhecendo. O que se passava na
cabeça da criança não é difícil de
perceber, pois se a mãe lhe ensinava
que dormir cedo fazia bem, não dava
o exemplo.

Fonte: http://migre.me/49Jg1
A criança pede autoridade, porque requer disciplina. Contudo, aqui vai um
alerta importante: professor que grita com o aluno a fim de requerer seu
comportamento; que ameaça com avaliações; que o expulsa da sala para a
coordenação ou orientação; que discute com aluno – perde toda e qualquer razão,
não tendo poder de orientação sobre o aluno. Aliás, que se diga de passagem –
professor que chega a esses extremos, precisa de férias e de terapia -, pois a perda
do autocontrole coloca em risco toda seriedade das ações pedagógicas e, distorce a
imagem pessoal do professor.
Quando a criança é indisciplinada, faz-se preciso investigar por que e o que
ela está querendo dizer através de seu comportamento; seus discursos hostis
sempre escondem a sua carência, a insegurança e o medo que sente. Isso pode
parecer romântico diante de uma situação que requer manejo. Todavia, jamais
poderemos esquecer que criança não tem potenciais cognitivos e intelectivos para
solucionar os problemas que não nasceram com ela, mas foram exemplificados
pelos adultos que estão à sua volta. Sendo assim, ela não precisa de adultos que

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lhe exigem a disciplina, mas de adultos que a orientem para a disciplina, de modo
que ela possa, ao menos, fazer um comparativo entre o certo e o errado.
Outro dia, uma colega me relatava uma situação que vivenciou com um aluno.
Vendo que em todas as aulas, o aluno não respeitava nem a ela e nem os colegas,
pediu ao mesmo que fosse conversar com ela, na sala dos professores. No final do
expediente, antes de liberar a criança para os pais, o aluno se apresentou a ela, de
cara amarrada e pronto para brigar. A professora calma e tranquila, começou sua
fala o elogiando por ser dinâmico e inteligente, falando da importância de sua
presença e quanto gostava dele assim como dos demais alunos, pois gostava de ser
professora, de dar respeito e ser respeitada e, depois pediu a sua ajuda na
organização das tarefas de sala, pois precisava de alguém esperto do seu lado. O
aluno, notando que ela não estava brigando com ele, mas conversando, orientando
e pedindo sua ajuda, respondeu: “Você não vai brigar comigo? Meus pais sempre
brigam.”
Esta criança, está pedindo ou não a disciplina? A atitude simples da
professora -incluindo a chamada de atenção sobre ela e os demais-, o motivou a
estar presente, já que sua presença é importante e, ao dar-lhe responsabilidades
quis demonstrar que o aluno pode ser melhor do que é, só ele não sabe como.
Isso não é uma receita, não significa que dará sempre certo e não há como
garantir que a criança desenvolverá atitudes e comportamentos adequados. Em
contrapartida, o professor deve estar pronto para investigar e, achando a origem dos
problemas da indisciplina de seu aluno, deve elaborar estratégias que melhor se
adequam à sua realidade de sala. Todavia, há determinantes nesse segmento que
jamais podem ser desconsiderados:
 a relação estabelecida com cada aluno: nível de respeito, de afetividade,
de aproximações, etc.
 a relação interpessoal entre os alunos;
 a relação social que cada aluno tem com seu entorno: valores, respeito e
convivência;
 a relação de autorrespeito que cada um tem e o professor tem consigo;
 as relações de parcerias: alunos, escola, professores e, sobretudo, família.

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6.4 A escola e a urgência da presença da família
“Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois.
Prá melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão. Recriar
o paraíso agora para merecer quem vem depois.” (O sal da Terra,
Ivete Sangalo)

A escola quer a família presente, esta é uma urgência que se manifesta nas
emergências. Em outras palavras, para os problemas que a escola tem com seus
alunos, requer a presença da família.
Sem dúvida é urgente essa presença, mas temos dois problemas que
assolam essa necessidade: a cultural-escolar e a ideia de desapropriação.
A respeito do problema de natureza cultural-escolar, temos um percurso
histórico nada bonito de se ver, pois a presença da família na escola sempre foi
sinônimo de problema. Bastava que o aluno não fosse bem nos conteúdos, não
atingisse as médias, não respeitasse o(a) professor(a), não assistisse às aulas, etc.,
os pais eram convocados a ouvir as queixas da escola. A escola tinha, então, dois
sentidos: ensinar e reclamar.
As reuniões de pais eram um fiasco, pois todos os pais, de cada série ou ano
escolar, eram colocados numa sala, onde primeiramente se proferiam as regras
morais e os valores institucionais; depois, procuravam saber que nome tinha e quem
era pai ou mãe de quem. Se o aluno estava muito bem era elogiado na frente de
todos e se, o aluno não estava bem era humilhado (pais e filhos), também na frente
de todos. Claro que estamos falando de uma época em que a escola era soberana,
tinha poder social e político; período em que os professores eram respeitados por
sua profissão.
A escola detinha o poder de matricular ou não o aluno; de chamar os pais e
ameaçar de expulsão o filho indisciplinado; de requerer soluções da família,
deixando claros os papéis que cada um tinha de desempenhar. Assim, para escola,
o pai era o chefe da família, a mãe a única responsável pela educação dos filhos, e
a escola a única capaz de ensinar valores e formação – moral e cívica – para os
alunos. Nessa mesma época, só existiam dois grupos de alunos: os de sucesso e os
fracassados e o que caracterizava isso era a origem familiar.
Dessa forma, filhos de boas famílias eram os melhores e, filhos de famílias
desajustadas (de pais separados, de viúvas ou viúvos, criados pelos avós, etc.)

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eram condenados ao fracasso, sendo que estas ideias eram verbalizadas pela
escola de diferentes maneiras.
Não estou tratando de escolas tradicionais, autoritárias, munidas de regras e
valores sociais, estou falando delas quanto seu comportamento cultural-escolar, no
qual as relações com as famílias eram tratadas num cenário de poder e força, ou
coerção e ameaça.
Pouco a pouco, a família foi se afastando da escola, e o que era antes uma
relação de poder passa a ser uma relação de negócios, onde a escola passa a ser
aquela que por lei não pode excluir, reter e negar a ninguém a condição de
aprender, ao mesmo tempo em que perde seu status social, sendo uma instituição
que tem um dever a cumprir como empresa educativa.
Por essa nova perspectiva, a família começa a perceber que se a criança não
aprende, não é porque ela não quer, mas é porque a escola não faz o seu serviço
direito. Então, a família passa a exigir mais da escola, passando agora à família o
poder de coagir e ameaçar – pede a troca do professor ou da professora de tal sala,
a mudança do filho ou filha de sala; a mudança do horário como lhe for pertinente,
ou, retira seu filho dali e passa para outra; além das ameaças de processo contra
escola e professores por abuso de autoridade, por discriminação e exclusão, por
negligência, por pressão e abuso psicológico. Não é preciso dizer que a escola
perdeu todo o seu poder e a família o ganhou.
Contudo, a família se altera socialmente, sobretudo, quando a mulher passa a
assumir papéis profissionais que antes só cabiam aos homens. Agora a mulher é a
provedora do lar, sendo mãe casada ou solteira; pode ser separada e divorciada. As
crianças podem ou não ser criadas pelos pais; enfim, a família não é mais nuclear
mas multinuclear. Com isso, passa também a ser multifacetada, ou seja, a família
perde a identificação de seus valores e papéis e, a escola passa a assumir o que
antes só cabia (e ainda cabe!) à família. Esta é a ideia de desapropriação, pois a
família deixou de apropriar-se do que é seu e não da escola. Então, assim como a
escola, a família também perdeu seu poder. Mas, eis a questão: quem agora tem o
poder?
Agora, na verdade, estamos num cenário dividido por três instâncias, sendo
que numa reside a família que continua sendo a mais importante e primeira
ensinante, noutra a escola que também continua sendo a mais importante instituição

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para a formação e desenvolvimento humano, e na outra, de forma extensa a
sociedade. Nesta última instância, todos transitam, assistindo a todo tipo de
convivência e relação onde não se separa o bom dos maus, onde os que têm
sucesso tem poder e os que fracassam jamais chegarão a algum lugar; onde a
globalização chega cada vez mais forte, mas acompanhada da perda de valores
morais e sociais, bem como, da discriminação, da exclusão e marginalização.
Realmente, agora, a escola precisa com urgência da presença da família, pois
se ambos não formarem uma aliança articulada - na qual haja interesses comuns
que contemplem a unanimidade da educação da paz, do futuro melhor e
sustentável, de interações humanas com valores afetivos e emocionais, de formação
de caráter e respeito, de ética e civismo-, sem sombra de dúvidas, deveremos
pensar não que futuros eles terão, mas quem serão, no futuro, nossas crianças de
hoje?

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