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AULA 4

Conceitos básicos na abordagem


das famílias
Aula 4 - Conceitos básicos na abordagem das famílias

Sejam bem-vindos e bem-vindas à quarta aula do nosso curso. Nela, tratamos de con-
ceitos básicos no estudo e na abordagem a famílias, bem como da diversidade de mo-
delos familiares existentes no Brasil.

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• compreender conceitos básicos no estudo e na abordagem das famílias;
• conhecer alguns modelos e configurações familiares, reconhecendo as
contribuições da família extensa.

4.1 Famílias: conceitos básicos

Neste tópico da aula você compreenderá conceitos básicos para o estudo e o trabalho
com famílias, bem como irá conhecer alguns dos diferentes modelos e configurações
familiares, reconhecendo as contribuições da família extensa.

O que são famílias?

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Para começarmos, pensem em todas as famílias que vocês conhecem.

O QUE SÃO FAMÍLIAS?

• O que elas têm em comum? O que faz com que esse conjunto de pessoas seja cha-
mado de família e não de grupo de amigos ou colegas?

• Estudiosos já definiram família como um grupo de pessoas unidas por laços jurídi-
cos ou biológicos (de sangue/genéticos).

Laços jurídicos:
São o casamento, o contrato de união estável e a adoção, por
exemplo.

Laços de sangue ou genéticos:


São as relações entre avós, pais, filhos e irmãos biológicos.

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Com frequência, algumas pessoas, ao pensarem em quem faz parte da sua família ou da
família das crianças com quem trabalham, utilizam esses critérios jurídicos e biológicos
e chegam à conclusão de que a família é composta pelo pai, pela mãe e pelos filhos.
Outros incluem os avós, os tios e os primos...

No entanto, é possível termos muitos outros tipos de configurações, mesmo se nos ati-
vermos apenas aos laços jurídicos e biológicos. Por exemplo:

• Uma pessoa que tem a guarda legal do seu neto e o


cria após a morte dos pais.

• Uma família em que os avós e tios criam conjuntamen-


te seus netos/sobrinhos, cujos pais não se encontram
disponíveis.

• Uma pessoa solteira que tem um filho por adoção.

• Um casal que teve um filho por fertilização in vitro.

“Mas será que essa definição que considera apenas laços jurídicos e biológicos
consegue abranger todas as famílias que você conhece?

Pense sobre sua própria família: os laços jurídicos ou biológicos são os primeiros
aspectos que vêm à sua mente?

O que mais une você às pessoas que você considera parte da sua família?”

Os profissionais que trabalham com famílias pensaram muito sobre isso e chegaram à
conclusão de que era necessário ampliar a definição de família para além dos laços ju-
rídicos e biológicos. Vejam o vídeo a seguir com exemplos de famílias unidas pelo afeto.

Acesse as telas interativas do curso e assista ao vídeo “Exemplos de família: afeto”

E você? Consegue pensar em exemplos de pessoas que formam uma família por seus laços de
afeto e não por laços jurídicos ou biológicos?

As pessoas que moram juntas há menos de dois anos sem serem casadas e sem terem contrato
de união estável; madrinhas e padrinhos que participam ativamente da criação de seus afilhados;
pessoas que se consideram irmãs por terem uma amizade que dura há muitos anos; as famosas
comadres que ajudam uma a outra a criarem seus filhos….

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Nós, profissionais que trabalhamos com crianças e famílias, devemos estar atentos a
esses laços de afeto por diferentes motivos:

Os laços de afeto são indispensáveis mesmo Pessoas com quem não temos um laço
quando existem laços jurídicos ou biológicos. jurídico ou biológico podem ser extremamente
Os laços de afeto criam o ambiente para que importantes para nós em diferentes momentos.
os membros da família consigam cumprir suas Em momentos de dificuldade, por exemplo, podem
funções de dar apoio um ao outro, de criar e de ser justamente as pessoas com quem contamos
proteger as crianças e os adolescentes, de fazer e que podem nos dar o apoio de que precisamos.
com que seus membros se sintam amados, Essas pessoas fazem parte da rede social de cada
aceitos e respeitados (porque todo ser humano família. Dica: Se os profissionais conhecerem
precisa se sentir amado, aceito e respeitado). a rede social da família, as pessoas que fazem
São esses laços de afeto que fazem com que as parte dela podem ser incluídas nas iniciativas
pessoas se sintam parte de uma família e que propostas, como forma de potencializar o apoio
sintam que podem contar com ela. que a família recebe.

“Como os membros de uma família influenciam uns aos outros?”

Outra característica importante das famílias é a forma como seus membros influenciam
uns aos outros, todo o tempo.

Se um dos membros da família está muito feliz, os outros costumam se sentir


contagiados por essa alegria. Conforme os outros membros da família se mostram
mais felizes, aquele primeiro, que já estava feliz, sente-se ainda mais feliz.

Por isso, dizemos que as relações que acontecem em uma família são circulares: ao
mesmo tempo em que influenciamos todos os outros, também somos influenciados por
todos eles.

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É claro que nem sempre a influência que os familiares exercem uns sobre os outros
será no sentido de provocar um sentimento idêntico, pois cada pessoa tem suas par-
ticularidades e interpretará de uma forma própria - e diferente dos demais - aquilo que
lhe acontece. Por exemplo, se alguém não está bem, os outros serão afetados por esse
sentimento de maneiras distintas, mas nenhum deles estará imune, mesmo que pareça.

“Você se lembra de alguma situação ocorrida na sua própria família em que


os seus sentimentos ou atitudes influenciaram os sentimentos ou as atitudes
daqueles com quem você convive?”

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Veja a seguinte situação:

Lúcio é um senhor de 62 anos que trabalha como ambulante no centro da sua cidade
para sustentar sua esposa e os seus netos, que moram com eles desde que a mãe assu-
miu um emprego como doméstica em outra cidade. Em um determinado dia, ele conse-
guiu vender muito pouco e perdeu a maior parte da sua mercadoria. Chegou em casa tão
chateado e preocupado que nem se deu conta de que Gabriel, seu neto de 5 anos, estava
tentando animá-lo e brincar com ele. Gabriel se sentiu rejeitado pelo avô, ficando cho-
roso. Regina, esposa de Lúcio, pega o neto no colo e começa a lhe contar uma história.
Lúcio diz à mulher que ela está colocando manha no menino. Regina se chateia, ignora o
marido e vai contar a história para Gabriel em outro cômodo. Lúcio não se sente ouvido
e vai dormir ainda mais chateado do que chegou em casa. Gabriel vai dormir mais alegri-
nho porque se sentiu acolhido pela avó, mas preocupado com a briga entre ela e o avô.
Regina vai dormir chateada com Lúcio, apesar de ter se divertido com Gabriel.

Será que essa história poderia ter um desfecho diferente?

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Pensemos que Lúcio ainda chegue em casa chateado e preocupado, mas que consiga
dizer para Regina o que aconteceu e como está se sentindo. Regina, ao ver Gabriel ten-
tando se aproximar do avô, explica para ele que o avô teve um dia difícil, que eles devem
deixá-lo descansar e que ela vai contar uma história para ele no quarto. Lúcio, ao escu-
tar a explicação de Regina, se sente compreendido, o que lhe acalma um pouco. Regina
e Gabriel conseguem curtir sua história mais tranquilamente. O menino vai dormir feliz,
enquanto Regina e Lúcio pensam juntos em uma estratégia para lidar com o que houve
no trabalho de Lúcio. Ambos dormem preocupados, mas felizes que podem contar com
o apoio um do outro.

Qual o papel de uma família e de seus diferentes membros na criação das crianças?

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Para bem se desenvolver, toda criança precisa receber afeto, cui-
dado e proteção de seus cuidadores, ao mesmo tempo em que
precisa ter espaço para desenvolver sua autonomia. A criança
deve ser respeitada em suas características, necessidades e opi-
niões próprias, sem ser vítima de quaisquer preconceitos. Tem
o direito de ter sua liberdade e sua dignidade respeitadas pelos
adultos com quem convive e isso é necessário para que ela pos-
sa se desenvolver plenamente como pessoa e como cidadã.

A Declaração dos Direitos da Criança

http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/direitodacrianca.htm

https://www.unicef.org/brazil/historia-dos-direitos-da-crianca

Os pais e cuidadores devem estar atentos, portanto, para equilibrarem as necessidades


de afeto, proteção, cuidado e autonomia, de acordo com a faixa etária da criança. Con-
forme a criança cresce, cresce também a necessidade de espaço para que ela possa
exercitar a sua autonomia.

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Atender a essas necessidades é uma função que pode ser assumida por um ou pelos
dois pais, por um dos pais e um avô ou avó, por um dos pais e um irmão mais velho,
pelos avós, pelos tios, as combinações possíveis são várias. O importante não são as
pessoas que estão assumindo essa função, mas se elas estão conseguindo desempe-
nhá-la de forma adequada e sem prejuízos aos membros da família.

Por exemplo: no caso de um irmão mais velho que assuma uma parcela significativa dos
cuidados de seus irmãos. Ele pode estar deixando de lado a escola ou sua necessidade
de brincar e ter amigos, o que pode ser prejudicial ao seu desenvolvimento.

Vejamos um exemplo dessa situação:

Júlia está distraída, sem interesse pelas aulas. A Júlia


Ela não tem participado como antes. Bom dia, não está interes-
senhor Pedro. sada nos estudos!
Sou a professora Eu recebi até uma li-
da Júlia. Ela anda gação da professora
desinteressada pelas dela, reclamando!
aulas... Podemos É o cúmulo!
conversar?

Sobre o caso
das crianças da
família Silva, o pai
trouxe uma situação
sobre a irmã mais
velha, que eu acredito
que está afetando
Mas me diga toda a família.
uma coisa, senhor
pedro... Como é a
rotina da júlia?

Hã... Ah, ela


toma conta dos irmãos
quando a gente sai
pra trabalhar... sabe
como é, né?

Precisamos
mostrar à família que
Júlia está assumindo
muitas responsabilidades
para a sua idade e que isso
pode afetar tanto sua
concentração na escola,
como o desenvolvimento
dos irmãos.

Temos que
pensar em estratégias
para lidar com a situa-
ção. Talvez consigamos
encaminhar os irmãos
menores para uma
creche.

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Os irmãos ou primos com faixa etária semelhante também desempenham uma impor-
tante função no desenvolvimento de uma criança. É principalmente nessas relações que
as crianças (ou adolescentes) aprendem a defender suas ideias e posições, a negociar
seus limites, a se apoiar diante das dificuldades que cada um enfrenta e a exercitar sua
solidariedade. A relação entre irmãos é diferente daquela que se estabelece com os pais
ou outros adultos. Há, a princípio, mais espaço para negociações e acordos, sem que um
sinta que tem que necessariamente obedecer.

Nesta seção, abordamos a família como um conjunto de pessoas ligadas por laços
de diferentes tipos que se influenciam mutuamente. Para saber mais sobre essa
compreensão relacional e dinâmica da família, acesse o link a seguir:

https://unasuscp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/
content/91/modeloUn1/index.html

4.2 A diversidade de modelos e configurações familiares

Ao estudarmos a história das famílias, podemos perceber que a noção do que é uma
família e de como ela deve funcionar varia de um lugar para outro e se transforma com
o passar do tempo. Por exemplo, podemos perguntar:

• Quem é considerado parte da família?

• É a própria pessoa que escolhe com quem ela vai se casar ou essa é uma decisão
tomada por outras pessoas da família ou da sociedade?

• Quem cria e educa as crianças?

• Quem é o responsável pelo sustento financeiro da família?

• Como são divididas as tarefas domésticas?

As respostas a essas perguntas certamente serão diferentes dependendo do lugar e


da época em que estamos. Se pensarmos na realidade brasileira de hoje, muitas das
práticas com que convivemos seriam vistas com estranhamento por pessoas de outras
épocas ou culturas.

Clique nos links a seguir para conhecer mais sobre as transformações pelas quais
a família tem passado ao longo da história:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/18/16/a-evoluo-da-famlia-
concepes-de-infncia-e-adolescncia
https://mundoeducacao.uol.com.br/psicologia/familia.htm

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Percebemos também que, em diferentes épocas e lugares, determinados tipos de família
foram tidos como o “padrão”, enquanto outras famílias foram desconsideradas ou so-
freram preconceitos e discriminações. Famílias já foram vítimas de preconceito por sua
cultura, por sua raça, pelo sexo de seus membros, por sua religião, por sua classe socio-
econômica, dentre muitos outros fatores. Mulheres já foram vítimas de preconceito por
trabalharem, mesmo quando o sustento de suas famílias dependia disso. Crianças já
foram proibidas por suas famílias de brincarem com amiguinhos que eram filhos de pais
divorciados ou que eram de outra religião. Crianças negras já foram proibidas de brincar
ou estudar com crianças brancas. Esses são apenas alguns exemplos, mas sabemos
que famílias já sofreram muitos tipos de preconceito, discriminação e violência por se-
rem consideradas diferentes daquilo que era tido como o padrão e que muitas dessas
atitudes ainda estão presentes na realidade atual.

Clique na matéria a seguir para conhecer o relato de três mulheres sobre o


preconceito que sofreram quando se separaram:
https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2017/12/20/40-
anos-apos-a-lei-do-divorcio-elas-falam-sobre-preconceito-e-julgamento.htm

Mesmo que esses exemplos pareçam distantes para você, eles podem ensinar muito
para todos aqueles que trabalham com famílias e que querem contribuir para o desen-
volvimento infantil:

Pensem em como se sentiram as crianças que não puderam brincar com seus amigui-
nhos porque seus pais eram divorciados ou de outra religião. Ou nas crianças negras que
tiveram que mudar de escola e não puderam brincar com crianças brancas.

O preconceito e a discriminação – de qualquer tipo – podem ter um forte impacto na


forma como a criança vê a si mesma, em sua autoestima e naquilo que ela acredita que

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pode alcançar. Se uma criança acredita que a veem como pior do que as outras, ela pode
pensar: “para que eu vou tentar? Eu não vou conseguir mesmo”. Isso pode fazer com que
ela não se dedique aos estudos, por exemplo, o que impactará suas chances profissio-
nais futuras.

► Portanto, o preconceito e a discriminação são fatores de risco para o desenvol-


vimento infantil.

Todos aqueles que trabalham com crianças e suas famílias devem estar atentos para
não reproduzir os preconceitos e discriminações que elas já sofrem na sociedade. É im-
portante que os profissionais estejam atentos para que possam acolher a diversidade
de famílias existente em nosso país e que compreender as experiências dessas famílias,
atuando de forma técnica e bem embasada, sem ser guiado apenas por suas próprias
vivências e opiniões.

Clique nos links a seguir para acessar matérias que permitem refletir sobre a
diversidade de famílias existente em nosso país:
https://www.scielo.br/pdf/ptp/v35/1806-3446-ptp-35-e3546.pdf
https://www.geledes.org.br/do-silenciamento-ao-enfrentamento-protagonismo-
de-familias-negras-no-brasil/.

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“Como nos lembra o “Guia para visita domiciliar”, “a Política de
Assistência Social incorporou o conceito de família em seu plural.
Isso significa reconhecer que não é possível considerar apenas o
modelo tradicional de família, mas sim sua diversidade” (MINISTÉRIO
DA CIDADANIA, 2019, p. 17).”

O Brasil é um país marcado por uma grande pluralidade étnica/racial, cultural e de cren-
ças. O visitador domiciliar estará sempre lidando com a diversidade, com famílias que
são diferentes das suas. Isso não quer dizer que elas sejam melhores ou piores, quer
dizer que são diferentes porque têm experiências e cultura
próprias, geradas por sentidos e significados singulares na
sua história de vida.

Podem ser experiências e histórias de vida que você não co-


nhece, mas com as quais você pode aprender caso esteja
aberto para escutar. Lembre-se de que cada família é única
e que sua história, seus valores, suas crenças e sua cultura
fazem parte de sua identidade.

Clique nos links a seguir para refletir mais sobre a importância do respeito à
diferença:
https://amenteemaravilhosa.com.br/armadilha-preconceito/
https://nacoesunidas.org/tem-gente-que-sofre-discriminacao-todos-os-dias-e-

Um dos fatores que diferenciam as famílias se refere a como os adultos se organizam


para criar e cuidar das crianças. A criança pode ser criada por ambos os pais, que podem
morar juntos ou separados. Pode ser criada por apenas um deles. Pode ser criada por
outras pessoas da família, como, por exemplo, avós e tios.

Como vimos, as possibilidades de constituição de uma família são variadas e, sem es-
gotar todos os modelos e configurações, destacamos alguns deles.

Confira:

famílias nucleares:
em que pessoas unidas por uma relação afetiva criam seus filhos;

famílias monoparentais:
em que uma pessoa cria seus filhos sem a ajuda de um parceiro;

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famílias mosaico, recasadas ou reconstituídas:
em que pessoas com filhos de uniões passadas ingressam em novas uniões, em um
contexto em que podem viver juntos os filhos de cada um e os filhos dos dois;

famílias coparentais:
em que pessoas dividem a responsabilidade pela criação de seus filhos após terem rom-
pido uma relação romântica ou sem jamais terem estabelecido uma relação romântica
entre si;

Várias transformações sociais contribuíram para que diferentes configurações familia-


res ganhassem visibilidade e reconhecimento.

1977
No Brasil, podemos destacar a legalização do divórcio em 1977.

1988
Constituição proíbe a discriminação por raça, sexo, cor ou quaisquer outros
motivos.

2002
Código Civil reconhece que a família não depende do casamento.

2011
Supremo Tribunal Federal reconhece que a união entre pessoas do mesmo
sexo é uma das formas de família amparadas pelo Estado.

Clique nos numerais para conhecer um pouco mais sobre os dados do IBGE sobre a di-
versidade das famílias brasileiras:

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1 - Menos da metade dos lares brasileiros são ocupados por famílias com o tradicional
modelo mãe-pai-filhos,
2 - O número de divórcios tem aumentado e, entre os casais divorciados, mais de 50%
dos casais têm filhos com menos de 18 anos,
3 - De 2014 a 2017, subiu de 7,5% para 20,9% o percentual de casais que optaram pela
guarda compartilhada dos filhos no divórcio.
4 - Tem crescido o número de casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
5 - Tem crescido o número de famílias mosaico, recasadas ou reconstituídas.
6 - Mais de 28 milhões de famílias são chefiadas por mulheres no Brasil, o que represen-
ta mais de 16% do total de famílias em nosso país.

Para conhecer os dados de pesquisas que investigaram a presença desses


diferentes modelos e configurações familiares em nosso país, acesse os links a
seguir:
https://revistapesquisa.fapesp.br/2018/01/16/novos-arranjos-nos-lares-
brasileiros/
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/22866-casamentos-que-terminam-em-divorcio-duram-em-
media-14-anos-no-pais

Estudos sobre diferentes modelos e configurações


familiares têm demonstrado que o mais importante
para o desenvolvimento da criança não é o modelo
ou configuração da família, mas a qualidade das re-
lações que se estabelecem. O que importa é que a
criança cresça em uma família na qual se sente ama-
da, na qual é protegida, em que os adultos confiam no
seu potencial e a ajudam a desenvolver sua autono-
mia. Uma família em que as pessoas respeitem umas às outras e às necessidades das
crianças que criam.

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4.2.1 - Refletindo sobre as famílias monoparentais no contexto de vulnerabilidade
socioeconômica

A separação/divórcio costuma aumentar a vulnerabilidade socioeconômica


das famílias, já que o valor que era utilizado para manter uma casa passa a ser
dividido pela metade ou menos.

Considerando que, em casos de separação/divórcio, os filhos costumam ficar com mais


frequência com as mães do que com os pais e que, em nosso país, as mulheres costu-
mam ganhar menos do que os homens, não é raro que famílias chefiadas por mulheres
fiquem em uma situação de vulnerabilidade socioeconômica após a separação/divórcio.

https://g1.globo.com/economia/noticia/em-10-anos-brasil-ganha-mais-de-1-
milhao-de-familias-formadas-por-maes-solteiras.ghtml

Para que seja possível apoiar essas mães e, consequentemente, essas crianças, são
necessários investimentos em diferentes frentes:

Se você for visitador do PCF, que tal conversar com


o seu supervisor sobre encaminhamentos a servi-
FATORES INDIVIDUAIS ços voltados ao desenvolvimento pessoal dessas
mulheres, tais como psicoterapia individual ou em
grupo, cursos profissionalizantes etc.

Embora seja difícil às classes populares terem acesso à psicoterapia, os profissionais


devem se informar sobre os serviços disponíveis no SUS (por exemplo: terapias comu-
nitárias em centros de saúde, grupos realizados no CAPS) ou em universidades/faculda-
des, que costumam dispor de clínicas-escola onde seus alunos atendem sob a supervi-
são de professores, de forma gratuita ou a preço social.

É importante que essas mães recebam o apoio dos


profissionais da assistência, no sentido de ajudá-
-las a identificar quem são as pessoas de sua rede
FATORES INTERPESSOAIS interpessoal que podem oferecer ajuda nesse mo-
mento. Uma estratégia interessante a ser utiliza-
da é o Mapa de Redes, que auxilia o profissional a
compreender quem são as pessoas com que essa mãe pode contar para diferentes fins.

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Não adianta esperar que a família ofereça à crian-
ça aquilo que é necessário ao seu desenvolvimen-
to se não houver emprego e recursos (sociais, eco-
FATORES CONTEXTUAIS nômicos, culturais etc.) disponíveis. Como uma
mãe pode trabalhar e garantir a segurança de seus
filhos quando não existem creches ou escolas em
turno integral na região em que vive? Ou quando não consegue um emprego estável por
não ter podido estudar ou por sua raça ou por viver em uma região conhecida por sua
carência? Cabe aos profissionais conhecerem as políticas públicas disponíveis para es-
sas famílias e contribuírem para que elas realmente possam acessá-las. A caracteriza-
ção do território é um importante instrumento que os profissionais podem utilizar nesse
contexto. Os visitadores domiciliares e seus supervisores podem contar com as equipes
do CRAS para conhecer o território e os serviços nele disponíveis.

Embora tenhamos destacado a realidade das mães em famílias monoparentais, os mes-


mos fatores também podem ser levados em consideração ao se trabalhar com pais em
famílias monoparentais.

“Com que outros recursos podem contar as famílias em situação de


vulnerabilidade socioeconômica?”

A vulnerabilidade socioeconômica enfrentada pelas famílias em nosso país tem con-


tribuído para uma nova configuração familiar: a de diferentes gerações vivendo juntas.
Com a dificuldade de conseguirem um emprego estável, adultos e jovens adultos têm
buscado o apoio de seus pais ou avós, que, mesmo que não ganhem muito, contam com
a segurança da sua aposentadoria.

Essa configuração também é vista como alternativa quando os pais das crianças pas-
sam por dificuldades que os impedem de criá-las. Nesse contexto, tios, avós e bisavós
podem assumir os cuidados dessas crian-
ças. Em meio a essa configuração, pode
haver algumas confusões se alguém é avô
ou pai, tia ou mãe, primo ou irmão.

Essas confusões, por vezes, despertam


um estranhamento nos profissionais que
se deparam com essas famílias e que ten-
tam desesperadamente entender quem é
quem ou quem deve ser chamado quan-
do se quer falar sobre a criança. Surge um
desejo de colocar ordem nesse aparente
caos.

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“Mas será que essa criança precisa dessa “ordem” ou essa é uma
necessidade do profissional? Algo que ele busca para se sentir mais seguro?”

Devemos sempre lembrar que essa família está utilizando os recursos de que dispõe
para cuidar dessas crianças da melhor forma possível e que, quando os profissionais
da escola, da saúde ou da própria assistência diminuem a solução que essa família en-
controu, isso vai fazer com que ela se sinta impotente, como se tudo que fizesse fosse
errado. Isso não ajuda a família, muito pelo contrário.

Se aqueles que cuidam não se sentirem reco-


nhecidos pelos profissionais a quem recorrem
nos momentos de dificuldade, eles não vão se
sentir seguros para cuidar e proteger a criança
da forma como ela necessita.

Para famílias em situação de vulnerabilidade


socioeconômica, essas relações que unem di-
ferentes gerações constituem um importante
recurso de que dispõem e que deve ser reco-
nhecido pelos profissionais.

A seguir, apresentaremos o caso real de uma fa-


mília que recebeu atendimento psicoterápico no serviço-escola em uma universidade
pública. O caso descrito está publicado na revista “Pensando Famílias” (2017).

O caso de D. Luíza retrata a discussão que fizemos sobre a complexidade da vida familiar. Para
tanto, escute o caso e responda à atividade de estudo para verificar se você compreendeu o papel
dos profissionais frente às diversas situações familiares que poderão ser encontradas no seu
trabalho.

Para proteger a privacidade da família, foram modificados todos os nomes e as informações que
poderiam identificá-los.

Acesse as telas interativas do curso para ouvir o conteúdo do podcast.

Dona Luíza, na faixa dos 50 anos, morava com seu marido, quatro de seus filhos, quatro netos e
três bisnetos. Os três bisnetos foram morar com Luíza porque sua mãe, Isabela, neta de Luíza,
era usuária de drogas e o pai das crianças havia sido preso. Os dois bisnetos mais velhos che-
garam a morar com Isabela por um tempo, quando ela foi viver com um novo companheiro, mas
ela os deixava com Luíza com frequência para que ela cuidasse deles. A bisneta mais nova foi
morar com Luíza logo após o nascimento e a chamava de mãe. As crianças se referiam sempre
a duas pessoas como mãe. Nem sempre uma delas era a mãe biológica. Algumas diziam que
suas mães eram Luíza e uma das tias que moravam na casa. Dona Luíza, por ser avó/bisavó, por

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vezes, sentia que não podia se opor às decisões das mães das crianças, mesmo sendo ela quem
as criava. Isabela não dizia onde morava e, quando levava as crianças para visitarem-na, elas
voltavam chorosas e abatidas, sem querer contar para Luíza o que tinha acontecido. Luíza, no
entanto, por não ser a mãe, sentia que não podia impor limites às visitas de Isabela.

Acesse as telas interativas do curso para concluir a atividade de estudo.

4.2.2 - Refletindo sobre as famílias coparentais em situações diversas.

Quando dois adultos criam uma criança sem manterem uma relação romântica entre si,
temos uma família coparental. Uma das situações em que mais frequentemente temos
uma família coparental é após a separação/divórcio dos pais.

Existem diferentes fatores que podem favorecer a forma como a criança reagirá à se-
paração/divórcio, ajudando-a lidar com essa nova configuração (fatores de proteção),
assim como há fatores que podem dificultar essa experiência (fatores de risco).

Clique para conhecer os fatores de proteção e os fatores de risco.

• Habilidades parentais dos pais: Pais que conseguem se comunicar de forma clara
com a criança, demonstrando que a separação não é culpa dela. Pais que utilizam
práticas parentais baseadas na capacidade de compreensão e autonomia da crian-
ça, não apenas impondo sua autoridade sobre ela.

• Relação entre os pais: Se os pais são capazes de tomar decisões que envolvam a
criança sem se atacarem ou exporem-na a conflitos, se os pais conseguem não en-
volver a criança nos seus conflitos, ou seja, se não a usam como mensageira ou juíza
em suas brigas.

• Relacionamentos com outras pessoas significativas: Quando a criança consegue


manter, apesar da separação/divórcio, uma relação próxima com as pessoas que lhe
são importantes.

• Disponibilidade de recursos sociais, econômicos e culturais.

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• Dificuldade dos pais em conversar com os filhos sobre a separação/divórcio.

• Pais que não conseguem compreender as necessidades da criança ou responder a


elas de forma adequada. Pais que impõem a sua vontade sem ouvir a criança.

• Conflitos entre os pais. Envolvimento da criança nos conflitos entre os pais.

• Perda de relacionamentos importantes: Por exemplo, quando a criança precisa se


mudar após a separação/divórcio e não pode mais ver seus familiares e amigos com
a mesma frequência. Ou, ainda, quando a criança deixa de ver o pai ou a mãe.

• Vulnerabilidade socioeconômica: Quando a família passa por dificuldades sociais


ou econômicas, é mais difícil para os pais terem atenção, paciência e tempo para
acompanhar a criança, escutá-la e compreender suas necessidades. Às vezes, esses
pais gastam quase todo o seu dia envolvidos... Ao chegarem em casa, só têm tempo
para preparar a comida para o dia seguinte e cuidar das roupas das crianças. Não
são pais negligentes. Pelo contrário: são pais que estão investindo toda a sua energia
para que as crianças tenham os bens materiais para o seu desenvolvimento.

4.2.3 - Refletindo sobre as famílias mosaico, recasadas ou reconstituídas

Quando duas (ou mais) famílias se unem formando uma família mosaico, seus membros
lidam com uma série de desafios específicos, que podem incluir:

• Conflitos de lealdade: E se o meu pai achar que eu gosto mais do marido da minha
mãe do que dele?
• Competições pela divisão do tempo: Por que minha mãe está passando com o mari-
do o tempo que deveria estar comigo?
• Dúvidas sobre qual o papel do padrasto ou da madrasta: Por que ela está me dando
ordens se não é minha mãe?
• Conflitos com os irmãos: Por que eu tenho que dividir o quarto com esse menino
chato que nem é meu irmão?
• Convivência de pessoas em diferentes estágios do ciclo vital: Por que tem um bebê
chegando quando eu já estou indo para a faculdade?

Existem fatores que podem ajudar na forma como a criança e a família enfrentam essa
experiência (fatores de proteção), assim como existem fatores que podem dificultá-la
(fatores de risco).

Clique para conhecer os fatores de risco e os fatores de proteção:

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• Quando os filhos percebem que são tratados de forma justa.

• Quando há um esforço genuíno do parceiro em se aproximar do filho do outro.

• Quando há um clima de cooperação na família.

• Quando as crianças de ambos os casamentos se dão bem.

• Quando há uma boa comunicação na família.

• Quando o padrasto/a madrasta tenta impor controle e disciplina logo no início do


relacionamento.

• Quando há pouco envolvimento entre o padrasto/a madrasta e as crianças.

• Quando alguns membros da família se unem contra outros.

• Quando a relação do casal não está bem.

• Quando os pais e seus próprios filhos apresentam dificuldades de relacionamento.

• Quando há pouca comunicação na família.

Acesse as telas interativas do curso e assista ao vídeo “Resumindo a aula 4”, e realize o Quiz do
conteúdo abordado nesta aula.

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