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A CONSULTA DO RECÉM-NASCIDO

Parte 1
AULA #08

A consulta do recém-nascido parte 1

Teremos os objetivos de conhecer as modificaçoes envolvidas na chegada de uma


criança, e os objetivos da visita domiciliar para a família do recem-nascido. A partir do momento que
uma nova criança chega em uma família, precisaremos avaliar, nao somente a criança (com relaçao
ao seu comportamento, nascimento e etc), mas faremos tambem, uma avaliaçao da família que estara
recebendo a criança.

Na chegada e importante entender que a criança nao e parte de um contexto vazio, existem
crianças que nascem de forma planejada e crianças que nascem de forma inesperada, alem das
alteraçoes que podem surgir com relaçao ao período de pre-natal. Nos como profissionais atuantes
na atençao primaria e proximos a essas famílias, precisamos analisar o contexto da família que estara
aumentando (ex: pessoas que tem o companheiro em situaçao de carcere e acontece a gestaçao nesse
meio tempo, teremos um contexto que deve ser levado em consideraçao). Precisamos tambem ter
cuidados com relaçao a quem gesta no pre-natal (devemos mais uma vez nos atentar a esse detalhe,
pois temos diversas identidades de genero que devem ser reconhecidas).

Outro fator que devemos lembrar é que nem sempre as pessoas estão contentes ou
felizes com a chegada da criança, diante disso devemos entender se a criança foi desejada, se a
gravidez foi planejada e qual o sentimento que e prevalente com a gestaçao que se iniciou. Quanto a
formaçao de vínculos, devemos entender essa dinamica tambem, se a família e estruturada, se a
família apesar de nao ter muitas condiçoes financeiras, tem um vínculo emocional forte. Pois, existem
famílias que são abastadas e a chegada da criança pode ser considerada um fardo. Por isso
devemos fazer a abordagem com o intuito de entender os vínculos e formaçoes de vínculos e fazer o
fortalecimento da parentalidade (o parentar e mais que ser pai e mae, vai para alem, tem a ver com
cuidados e preocupaçao com a criança, pode-se estender a pais, tios, avos, etc).

Devemos auxiliar tambem na construçao de redes, conforme o proverbio africano que diz:
“É preciso uma aldeia para se educar uma criança.” Mais que uma pessoa so, e preciso uma
estrutura para que a criança tenha um suporte adequado. Podemos questionar sobre o trabalho dos
pais, se por conta do trabalho eles permanecem em casa durante o dia, se existe escola disponível, se
existe uma creche, estrutura no trabalho que permita uma licença, vinculo trabalhista ou nao, saber
questoes da rede de assistencia social do local que voce trabalha, etc.

Teremos esses estudos que acompanham as crianças do pre-natal ate a adolescencia,


mostraram que as dinamicas ambientais sao bem mais influentes nas questoes determinantes de
saude mental. Sao facilitadores para piora de saude mental:
• Historia de doença mental materna

• Níveis elevados de ansiedade

• Perspectivas parentais limitadas (nao ter a figura dos pais, ex: ter apenas a mae solo ou
o pai solo, estrutura de rede limitada, etc.)

• Interaçao limitada entre criança e a mae (bem comum em maes que estao em carcere,
onde a interaçao entre mae-bebe e bem mais difícil, o que pode prejudicar pois essa interaçao e
fundamental para a criança)

• Chefe da família sem ocupaçao qualificada

• Baixa escolaridade materna (nao entendimento de questoes importantes,


principalmente quando ocorrem orientaçoes medicas de cuidados, isso pode dificultar o
entendimento e consequentemente limitar os cuidados)

• Famílias de grupos etnicos minoritarios (pessoas de grupos minoritarios como negros,


de identidade de genero diversas, homoafetivas, etc)

• Famílias monoparentais (mae ou pai solo)

• Presença de eventos estressantes

• Famílias com 4 ou mais filhos

Na abordagem familiar iremos tratar de conceitos de família, tipos de família, ciclos de


vida, genograma e ecograma. Segundo o dicionario Aurelio teremos o seguinte conceito de família:

1. Grupo de pessoas que possuem relaçao de parentesco e habitam o mesmo lugar

2. Pessoas cuja relaçao foi estabelecida pelo casamento, filiaçao ou pelo processo de
adoçao

3. Grupo de pessoas que compartilham o mesmo antepassado

4. (Figurado) Grupo de indivíduos que se encontram ligados por habitos, costumes,


comportamentos ou interesses oriundos de um mesmo local.

5. Grupo de indivíduos que possuem qualidades ou particularidades semelhantes.

Podemos perceber que família é muito mais que apenas os laços de sangue, temos
as comunidades que criam seus filhos em conjunto, pessoas que estao em republicas estudantis, que
acabam criando um laço de família.
Teremos varios tipos de famílias, dentre elas teremos esses exemplos:

Família nuclear – famílias com pai, mae e irmaos.

Família extensa – que alem das figuras nucleares termos outras figuras como, tios e avos.

Família monoparental – que e composto por um pai ou mae solo.

Famílias reconstituídas – quando existem famílias separadas que se juntam (ex: mae
solteira com filhos e pai solteiro com filhos, ao se relacionarem os pais promovem a junçao dos filhos
formando uma nova família).

Família comunitaria – tem os habitos e culturas comuns, onde todos se reconhecem como
família.

Família homoafetiva – onde teremos duas pessoas homoafetivas que constituem família.

Família transidentidade – constituída por pessoas que se identificam como transgenero.

Podemos ter outros modelos tambem como família adotiva, recombinante, família de
coabitaçao, etc.

Quanto aos ciclos de vida, devemos considerar que cada fase de nossa vida tem seus
desafios e problematicas.

Veremos os dois ciclos vitais, dois ciclos de vida que vemos na literatura: ciclo de vida
familiar com seis fases e o clico de vida familiar comunitario que tem tres fases.

• Ciclo de vida vital familiar:

1. Adulto jovem – momento de desafios da vida de adulto, de forma inicial, trazendo


as dinamicas de trabalho iniciais, pode ocorrer a dificuldade em relaçao aos relacionamentos em
decorrencia da imaturidade, etc.

2. Casamento – momento de junçao de duas pessoas, que podem ter suas


dificuldades principalmente em início de jornada, onde podem haver desentendimentos, dificuldades
em ceder, etc.

3. Família de filhos pequenos – a partir da chegada de crianças pequenas a dinamica


muda, inicia-se o desafio de cuidar de uma criança pequena, o que pode abalar o relacionamento do
casal, pode gerar algumas dificuldades de entendimento, a pessoa que cuida da criança para um papel
bem mais de cuidador (quer proteger a criança, de forma instintiva) podendo ser que o outro nao
entenda. Algo que e preciso manejar, sempre ouvir o proximo, etc.

4. Família com adolescentes – temos uma complexidade diferente, nao sao mais
crianças, mas querem autonomia, ate onde pode ir a atuaçao dos pais, necessidade de aceitaçao que
e característico dos adolescentes (o que pode incluir drogas e o alcool, gerando uma preocupaçao
maior).
5. Lançando os filhos e seguindo em frente – acontece no momento em que os filhos
estao seguindo sua jornada e e muito comum que aconteçam problemas como a síndrome do ninho
vazio, quando os filhos saem de casa, e mais uma vez e preciso que haja a reorganizaçao familiar e o
reconhecimento da convivencia a dois dos pais.

6. Família no estagio tardio de vida – família de pessoas idosas, onde existe o desafio
em relaçao ao cuidado. Os idosos querem sua autonomia, mas precisam dessa aproximaçao com a
família, com os filhos

Esse padrao e mais característico das famílias de classe media. Na família de classe mais
baixa teremos:

• Cilho de vida comunitaria, contando com:

1. Adulto jovem – que normalmente esta na casa da família e mesmo apos casar-se
permanece na casa da família, com o acumulo de filhos, junto com os avos, tios, tias, primos, todos em
conjunto, convivendo de forma comunitaria. Pode ser no mesmo terreno, mas com casas diferentes.

2. Família com filhos – E preciso entender os papeis naquela família, muitas vezes
os avos querem interferir na educaçao dos filhos, o que pode gerar conflitos.

3. Estagio tardio de vida – acaba nao tendo essa questao de lançamento de filhos ou
etc, pois terminam todos juntos nesse processo.

Crianças recem nascidas, geralmente encontrada no ciclo de vida do casal com filhos
pequenos, sendo importante entender e identificar na visita ao recem-nascido; sao importantes nessa
visita identificar os padroes de organizaçao dos pais e como a criança e vista pela comunidade e pela
família que estara recebendo essa vida. Isso e importante pois essas dinamicas influenciam no
suporte e maior apoio da lactaçao, as chances de sucesso com relaçao a amamentaçao sao maiores.
Por isso que e indicado que o casal participe do pre-natal, para que haja um entendimento com
relaçao as fases de gestaçao e aconteça um fortalecimento da parceria.

Uma questao que deve ser levada em consideraçao tambem e rever as dinamicas
financeiras e domesticas, pois existe a necessidade de trabalho e da casa tambem pois normalmente
a pessoa que pariu (puerpera) tem uma maior dificuldade com relaçao a dinamica de cuidado (sono
da criança, arrumaçao de casa, lavagem de roupas). Caso nao exista nada definido podemos ajudar na
criaçao dessa rotina.

Vale lembrar que nao necessariamente iremos falar tudo isso no puerperio, mas e
importante que seja observado ja na visita. O que acontece coma a chegada da criança tambem e a
mudança em relaçao aos papeis, tanto da família nuclear quanto as outras formas de família, tao
importante quanto, sao os laços afetivos que sao formados, que gera um ambiente te de interaçao
mais positiva para que exista um desenvolvimento saudavel da criança.
Em casos de violencia contra a criança, e importante tambem que haja um suporte do
conselho tutelar e estatuto da criança pois, os proprios codigos determinam que haja esse suporte,
nao diferente para nos, em caso de constataçao de violencia domestica devemos tambem dar esse
suporte para que a criança seja protegida. Podemos verificar se existe a NASF (Nucleo de apoio a
saude da família) que traz suporte psicologico, principalmente, e com os assistentes sociais tambem
para que essas crianças possam regular seu psicologico e suas emoçoes de forma saudavel. Devemos
nos atentar a esses detalhes pois muitas vezes recebemos uma criança que tem dificuldade em
respeitar autoridades, e muito agressivo ou chora muito, e o que vai nos direcionar para entender o
motivo disso e saber como foram os primeiros dias dessas crianças (primeiros 1000 dias) que
definirao os seus comportamentos futuros.

Fatores de vínculo e apego, que tem fatores de vínculo emocional entre os pais e a criança.
Outro fator tambem e a criança imaginada, que e a preconcepçao de uma criança ainda no ventre e
quando a criança nao atende as expectativas criadas pelos pais, pode gerar um conflito entre os casais
ou conflito internos dos pais o que pode acarretar uma dificuldade ou negligencia no cuidado daquela
criança.

Um exemplo interessante de ser citado e de uma mae que planejou o nascimento da


criança e todos os preparativos, mas a criança veio com TDAH o que causou uma dificuldade na mae
em criar vínculos com a criança, ate de afeto, ao chegarmos no consultorio perguntei “como e ter um
filho que nao deve ser o que voce imaginou” essa pessoa começou a chorar e chegou a dizer que em
certos momentos tinha raiva de ter tido a criança, sentia que nao amava o filho. Como voce pode ver
sao questoes complexas e deve ter uma atençao pois esse acompanhamento pode ser feito com
equipe multidisciplinar (inclusive psicologo), mas e muito importante que os pais possam falar sobre
isso pois a negaçao pode gerar uma dificuldade maior, entao dar espaço para que eles falem e muito
importante. Sabemos que alem dos cuidados físicos o bebe necessita de cuidados psicologicos e
sociais, nao e so alimentar, precisa de dar carinho, proteçao, vinculo, etc.

Devemos observar como que os pais reagem ao chamado aos cuidados da criança (quando
a criança chora, qual a reaçao do pai? Ele da suporte ou diz que e manha?) no horario do sono, como
que acontece? Os pais dao suporte ou deixam a criança chorar ate dormir? Isso pode gerar um
estresse para a criança muito grande e a criança pode entender que nao tem amparo. Importante que
haja a conscientizaçao dos pais, mesmo sendo cansativo e preciso prover para criança a proteçao e
aconchego. A forma que temos de demonstrar que estamos presentes.

Outra forma de criar ligaçao e atraves da amamentaçao (o contato olho no olho, pele na
pele), que devem ser estimulados, mas devemos nos atentar tambem que o ato da amamentaçao nao
e um comportamento inato, as pessoas que podem amamentar nao nasceram sabendo como faze -lo,
e as pessoas que nao desejam amamentar nao podem ser coagidas para que o faça tambem. Existem
casos de maes que passam por depressao pos parto, o que e um fator para desmame precoce, em
casos como esse nao podemos dizer para essa mae que a criança nao se desenvolveu bem porque nao
amamentou. Existem tambem maes de bebes prematuros, que tem o desenvolvimento da sucçao
prejudicada, pode ser usada a formula que vai suprir as necessidades da criança.
Nao podemos romantizar esse momento, sabemos que amamentar e muito difícil, requer
paciencia e persistencia, isso em uma pessoa que ja nao dorme direito, com a criança que sempre
chora (independente da hora), que depende de cuidados, fora as rachaduras no seio, dor, etc. Por isso
e importante nao julgarmos, podemos indicar as tentativas, verificar como esta a pega, etc. Existem
pessoas que podem encontrar dificuldades em amamentar a noite e voce deve ter a capacidade de
resolver desses problemas. Que principalmente a mae ou o pai que gesta esteja bem em amamentar,
para que aquele leite nao saia de momento que gere muito sofrimento pois se essas pessoas nao
estiverem bem a criança tambem nao estara.

Podemos abordar teorias que indicam que a criança quando nasce, sente ainda que esta
dentro do utero o que gera uma conexao de uma pessoa que gesta muito importante, daí a
necessidade da pessoa que gesta estar bem para dar um suporte maior a criança.

Os Baby blues acontecem entre o 3º ao 6º dia do pos-parto, no início onde acontece todas
as mudanças, devemos informar da transitoriedade do quadro. Normalmente teremos no caso da
mae: choro facil, irritabilidade, tristeza, hipersensibilidade, os hormonios estao a flor da pele e muitas
vezes tem tolerancia zero com situaçoes corriqueiras que causam choro, ou diz que nao quer. O que
pode influenciar tambem e a identidade da pessoa que gesta, pois a partir do momento que o bebe
nasce existe a transiçao de uma pessoa comum para a paternidade ou maternidade, o que pode gerar
um conflito entre as identidades pois o estilo de vidas das pessoas ira mudar em decorrencia da
chegada do bebe.

Quanto ao manejo devemos orientar sobre a frequencia e transitoriedade, e o estímulo a


manifestaçao sentimento e aceitaçao de apoio, muitas vezes nao vai ser tao confortavel os cuidados
com a criança.

Depressao pos parto acontece em 12 a 19% das puerperas. Afeta mae e a rede proxima
(podendo acontecer com pai que gesta tambem) se voce percebe que a pessoa esta extremamente
triste, irritado, chorando frequentemente, existe um quadro mais agravado. Normalmente existe um
risco maior de interrupçao da amamentaçao precoce que acontece entre os dois primeiros meses,
importante estar atento e tentar fazer esses incentivos. Podem ser tambem indicados como sintoma:

• Irritabilidade

• Choro frequente

• Sentimentos de desamparo

• Falta de energia e motivaçao

• Desinteresse sexual (existe uma reclamaçao com relaçao a vida sexual do casal, pode
acontecer a dificuldade para a volta)

• transtornos alimentares e do sono

• Incapacidade de lidar com novas situaçoes


• Queixas psicossomaticas (dor de cabeça, dor no corpo, etc)

Geralmente a diferença da Baby blues para a depressao pos parto e o período que acontece
na depressao de forma mais tardia (5ª a 6ª semana), apos o primeiro mes, onde deve acontecer a
identificaçao, estímulo e ampliaçao da rede de apoio. Ver quais sao as pessoas que estao junto dessa
pessoa pois os indivíduos que tem depressao pos parto podem desenvolver questoes mais agressivas
ou de media urgencia, por isso deve haver um cuidado maior com essas pessoas e cuidado maior com
as crianças.

Trouxe tambem um trecho do livro “morra, amor” de uma autora argentina Ariana
Harwiez, que traz no livro as questoes do casamento com o filho pequeno, traz uma leitura
interessante onde voce se imagina na mente da autora, que tinha depressao pos parto e e interessante
para entender o que uma pessoa com depressao pos parto passa.

“Olhei a lua, mas, na verdade, me lembrei do som do choro, meu corpo se apartando,
impaciente, para que ele pare de chorar. Os conselhos que aquela jovem assistente social em domicílio
me deu quando minha sogra me ligou assustada: “Se o seu filho chorar de perder o controle, fuja.
Entregue a criança a outra pessoa e vá para um lugar onde possa recuperar a razão e a calma. Se, por
outro lado, estiver sozinha e não tiver como entregá-lo a outra pessoa, fuja do mesmo jeito. Deixe a cria
num lugar seguro e se afaste uns metros.”

Podemos perceber o desespero, e desesperador ter uma criança no seu braço que esta
chorando inconsolavelmente (voce checa e nao e fome, nao e coco, nao tem nada de errado), temos a
vontade de correr – depoimento da professora: “falando como uma pessoa que teve depressao pos
parto, muitas das vezes eu nao conseguia identificar os momentos que tinha esses pensamentos, mas
via uma serie, documentario na Netflix onde uma mulher falou sobre isso, que tinha vontade de matar
o filho dela, vontade de jogar a criança pela janela e queria que tudo acabasse, foi nesse momento que
falei com minha psicologa e indiquei que estava precisando de ajuda. A sensaçao que eu tinha toda
vez que o meu filho chorava, cheguei no momento em que eu pegava a criança e pensava ‘meu deus
eu quero ir embora daqui’ e a irritaçao era constante”.

Existe muita gente que nao tem essa percepçao, nao tem organizaçao para entender o
momento de pedir ajuda. Para encerrar a primeira parte destacando a importancia da visita
domiciliar do recem-nascido na primeira semana pos parto e que a primeira consulta do RN e
puerpera fosse de forma domiciliar para que haja uma avaliaçao completa como indicamos na aula
de hoje.

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