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Desenvolvimento humano

Profa. Dra. Angela Helena Marin


Aula 05
Ciclo vital – Parte 1
Temas que serão abordados nesta aula:

01. Períodos do ciclo vital


02. Gestação
03. Pré-natal
04. Parto
05. Puerpério
Períodos do ciclo vital

Construção social, conceito Ciclo de vida Idade


que pode parecer natural e
Pré-natal Concepção ao nascimento
óbvio àqueles que o aceitam,

Primeiríssima infância
mas na realidade é uma Primeira infância Zero a três anos
invenção de uma determinada Segunda infância Três a seis anos
cultura ou sociedade.
Terceira infância Seis a 11 anos
Não há nenhum momento Adolescência 11 a 20 anos
objetivamente definível em que
Início da vida adulta 20 a 40 anos
uma criança se torna adulta
ou um jovem torna-se velho. Vida adulta intermediária 40 a 65 anos
Vida adulta tardia (idosos) 65 anos em diante

(PAPALIA, MARTORELL, 2022)


Constituição da maternidade

Processo que se inicia muito antes da concepção, a partir das primeiras relações e
identificações da mulher, passando pela atividade lúdica infantil, a adolescência, o
desejo de ter um filho e a gravidez propriamente dita.

Contribuem aspectos transgeracionais e culturais, associados a crenças e papeis sociais


femininos, tanto dentro da família como em uma determinada sociedade

Gestação

Momento de importante reestruturação na vida da mulher e nos papéis que exerce.


A forma como a mulher lida com essas mudanças influencia a relação
futura com a criança.

(PICCININI et al., 2008)


Vivência da gravidez reflete vida anterior à concepção, sendo também
influenciada por situações/condições atuais:
▪ Instabilidade no relacionamento com o parceiro.
▪ Situações estressantes como doenças da mãe ou na família.
▪ Primeira gestação ou não.
▪ Gravidez não planejada.
▪ Gravidez múltipla.
▪ Gravidez tardia.
▪ Infertilidade.
▪ Abortos prévios, óbito fetal, morte de outros filhos ou familiares.
▪ Diagnósticos de anormalidade fetal.
▪ Mãe solteira.

Movimento de se voltar para o bebê desde a gestação


gestante não pode ser considerada futura mãe.

(PICCININI et al., 2008)


Mudanças

Psicológicas Corporais Conjugalidade


Psicológicas Corporais

Ambivalência. • Satisfação diante das


Inadequação e estranhamento - estranheza transformações corporais.
em relação ao mundo externo, uma vez que • Estranheza sobre si mesmas
vivenciam sentimentos únicos e próprios pelas transformações
desse período, que fazem com que se ocorridas em seu corpo.
sintam diferentes das outras pessoas. • Preocupação com o corpo -
adotam atitudes de maior
Conformidade - aceitação das mudanças do cuidado estético consigo
período gestacional. mesmas
Medo que haja algum problema com o bebê
e consigo própria.

(PICCININI et al., 2008)


Conjugalidade

Maior solidez no relacionamento conjugal.


Sentimento de ciúme e insegurança em relação ao companheiro -
com outras pessoas ou o próprio bebê.

Diminuição na frequência de relações sexuais, tanto pelo fato de o


bebê passar a ser o centro de interesses como (e principalmente)
pelo medo deles de machucar o bebê.

Reorganização orçamentária.

(PICCININI et al., 2008)


Pai
Sentimento de exclusão: Alguns não conseguem criar um vínculo tão intenso e
sólido com o bebê no período pré-natal. Nestes casos, a formação do vínculo
entre pai e filho costuma ser mais lenta, consolidando-se gradualmente após o
nascimento e ao longo do desenvolvimento da criança.

O que pode dificultar a conexão:

• Ausência de modelos de pais participativos.


• Nem todos conseguem se sentir envolvidos com o bebê durante o período gestacional.

Estratégias que podem ajudar a conectar o pai com o bebê desde a gravidez:

• Empatia tanto com a esposa quanto com o bebê.


• Contato tátil com a pele da barriga da gestante - experienciar a resposta dos movimentos fetais.
• Ultrassonografia.
• Movimento imaginativo dos pais - construção de imagens mentais do bebê.

(PICCININI et al., 2008)


Pai

Os pais têm sido chamados a ocupar um espaço mais expressivo na família, de modo
bastante diferente do que os homens de forma geral faziam em tempos passados.

(PICCININI et al., 2008)


Idade Desenvolvimento físico Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento psicossocial
Período pré- - Ocorre a concepção por fertilização - Desenvolvem-se as capacidades de - O feto responde à voz da mãe
natal normal ou por outros meios. aprender e lembrar, bem como as e desenvolve preferência por
- A herança genética interage com as de responder aos estímulos ela.
influências ambientais desde o início. sensoriais.
- Formam-se as estruturas e os órgãos
corporais básicos; inicia-se o crescimento
do cérebro.
- Crescimento físico é o mais acelerado
do ciclo de vida.
- A vulnerabilidade às influências
ambientais é grande.

(MARTORELL, PAPALIA, FELDMAN, 2020)


Fases gestacionais

Primeiro trimestre
▪ Aceitação da gravidez: ambivalência.
▪ Notícia para o pai do bebê e familiares: conjugalidade, irmãos.
▪ Sintomas físicos: associação com fatores psicológicos - desejos
e enjoos.
01
▪ Aumento da irritabilidade e sensibilidade.
▪ Possibilidade de aborto: cuidados e riscos.
▪ Pré-natal, primeira ecografia.

(PICCININI et al., 2008)


Fases gestacionais

Segundo trimestre

Gestação visível, mudanças corporais.



▪ “O melhor momento”. 0
“Abrindo espaço em casa”: o enxoval.

▪ Movimentos fetais perceptíveis, identificação do sexo da 2
criança: personificação do bebê.
▪ Ativação das fantasias e representações: bebê imaginado.
▪ Inclusão do pai: pai “grávido” e a síndrome de couvade.
▪ Mudanças na vida sexual do casal.

(PICCININI et al., 2008)


Fases gestacionais

Terceiro trimestre

▪Ansiedade e ambivalência quanto ao término da


gestação. 0
▪ Temores quanto ao parto, a saúde e normalidade do bebê
em relação a própria capacidade de “maternar” o filho e as 3
mudanças na rotina e na relação conjugal.
▪ Diminuição do processo imaginativo: proteção do
filho da realidade.

(PICCININI et al., 2008)


(BEE, BOYD, 2011)
Bebê idealizado x bebê real

Ao saber da gestação, é esperado que a mãe ou os pais comecem a imaginar a criança.

▪ É comum que as mães ou os casais tenham grandes expectativas – às vezes, pouco


reais sobre os bebês e sobre si próprios: imaginam o filho perfeito, o parto perfeito,
subestimam as dificuldades, pensam que nunca errarão como pais.

O bebê idealizado ao longo da gravidez é sempre diferente da criança que vem ao mundo.

Quando o bebê nasce, é possível que alguns pais se sintam frustrados, pois a experiência
vivida não é tão boa e perfeita quanto aquela que imaginaram. Nestes casos, inicia-se um
processo chamado de luto pelo filho idealizado, no qual os pais precisam se ajustar à
realidade como ela é e abandonar as ideias de perfeição, podendo experimentar
sentimentos de tristeza pela perda do bebê imaginado (por isso o nome luto).
Parto

Mais importante para o bem-estar em relação à experiência do parto talvez


seja o envolvimento da mulher nas tomadas de decisão, seu relacionamento
com os profissionais que cuidam dela e suas expectativas sobre o parto
(PICCININI et al., 2008).

Estratégias eficazes para criar uma experiência de parto positiva são apoiar
as mulheres durante o parto, cuidados intraparto com mínima intervenção e
preparação para o parto
(TAHERI et al., 2018).
Puerpério

Período que ocorre após o nascimento até o tempo de seis a oito semanas após o parto.

Mudanças bruscas dos níveis hormonais, alterações biológicas, sociais e psicológicas.

Nessa fase, muitas vezes, a mãe precisa reorganizar e adaptar sua vida, sofrendo
frequentemente de privação do sono e baixa autoestima, predispondo a uma maior
vulnerabilidade para o aparecimento de diversos transtornos psíquicos.

“Baby Blues” ou melancolia da maternidade: fenômeno


provocado por alterações emocionais no pós-parto,
alternando momentos de muita alegria com momentos de
tristeza. É normal a mãe se sentir assim porque o
puerpério é marcado por um descenso de satisfação.

(PICCININI et al., 2008)


Impactos da pandemia de COVID-19
Estudo longitudinal conduzido na China entre maio e julho de 2020, com 72
gestantes com COVID-19 (com follow-up até 03 meses após o parto),
indicou que 15 tiveram aborto.

22.2% das mães estavam sofrendo de TEPT ou depressão aos 3 meses


após o parto ou o aborto induzido.

A duração media da separação mãe-bebê foi de 35 dias (16 a 52). Após


terminar a quarentena, 49.1% das mães escolheram prolongar a separação
por mais 8 dias em média. A taxa de amamentação foi de 8.8% na primeira
semana após parto, 19.3% no primeiro mês e 36.8% aos 3 meses.

Após ajustes para prematuridade, sexo, internação em UTI e condição


maternal de infecção por COVID-19, foram identificadas associações
negativas significativas (p < 0.05) entre dias de separação mãe-bebê e três
domínios de desenvolvimento: comunicação, habilidades motoras ampla e
psicossocial.
(WANG ET AL., 2020)
Referências bibliográficas

BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2011.

PICCININI, C. A., LOPES, R. S., GOMES, A. G., & DE NARDI, T. Gestação e a constituição da maternidade. Psicologia em Estudo, v. 13, p. 63-
72, 2008.

PICCININI, C. A., LEVANDOWSKI, D. C., GOMES, A. G., LINDENMEYER, D., & LOPES, R. S. Expectativas e sentimentos de pais em relação ao
bebê durante a gestação. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 26, n. 3, p. 373-382, 2009.

TAHERI, M., TAKIAN, A., TAGHIZADEH, Z., JAFARI, N., & SARAFRAZ, N. Creating a positive perception of childbirth experience: systematic
review and meta-analysis of prenatal and intrapartum interventions. Reproductive Health, v. 15, n. 1, p. 1-13, 2018.

WANG, Yuanyuan et al. Impact of Covid-19 in pregnancy on mother’s psychological status and infant’s neurobehavioral development: a
longitudinal cohort study in China. BMC medicine, v. 18, n. 1, p. 1-10, 2020.

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