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Desenvolvimento humano

Profa. Dra. Angela Helena Marin


Aula 06
Ciclo vital – Parte 2
Temas que serão abordados nesta aula:

01. Primeiros 1000 dias


02. Primeira infância
As primeiras interações

“Amor” não é instantâneo: surgimento do afeto pelo filho segue o ritmo de cada mãe e pai.

Primeiros momentos após o nascimento são significativos para a relação pais-bebê.

Preocupação materna-primária: antecipação das necessidades da criança.

Pais são tão responsivos quanto às mães.

As diferentes funções concernentes à criação de uma criança


podem ser realizadas tanto pelo homem como pela mulher em
seus respectivos papéis de pai e mãe. Essas atividades
independem do gênero de quem as realiza e podem ser
desvinculadas da relação consanguínea: tios e avôs também
podem exercer “funções de pai”, por exemplo.
Um bom começo de vida é preditor de sucesso?

Crianças agressivas serão adultos agressivos?

Plasticidade - Experiências precoces podem ou não ser superadas/compensadas.

Comportamento mais estável à medida que criança cresce.


Ex: QI ao redor de 7 anos é melhor preditor do que QI aos 3 anos.

Mesmas características - diferentes formas de expressão ao longo da vida.


Ex. primeiro bate, depois tende a xingar.

Diferentes comportamentos – diferentes padrões de estabilidade.


Ex. Agressividade mais estável que altruísmo.
Os primeiros 1000 dias

270 dias da gestação.


730 dias dos primeiros dois anos de vida.

Mil dias de oportunidade, de potencial e de vulnerabilidade!

▪ Oferecem uma janela de oportunidade crucial para criar futuros mais saudáveis e promissores.

▪ Importância de uma alimentação saudável (nutrição), das boas relações e de um ambiente seguro
para permitir o desenvolvimento e o crescimento integral da criança (foco no desenvolvimento
cerebral e na saúde como um todo).

▪ A falta de investimento no bem-estar de mulheres e bebês nos primeiros 1000 dias resulta em perda
econômica devido à baixa produtividade e aos altos custos de assistência à saúde.
(Cunha et al., 2015)
Idade Desenvolvimento físico Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento psicossocial
Primeira infância No nascimento, todos os sentidos As capacidades de aprender e de Formam-se os vínculos afetivos
(nascimento aos e sistemas corporais funcionam lembrar estão presentes mesmo nas com os pais e com outras
3 anos) em graus variados. primeiras semanas. pessoas.

O cérebro aumenta em O uso de símbolos e a capacidade de A autoconsciência se desenvolve.


complexidade e é altamente resolver problemas desenvolvem-se
sensível a influência ambiental. por volta do final do segundo ano de Ocorre a passagem da
vida. dependência para a autonomia.
O crescimento físico e o
desenvolvimento das capacidades A compreensão e o uso da Aumenta o interesse por outras
motoras são rápidos. linguagem se desenvolvem crianças - autorregulação do
rapidamente. comportamento e autocontrole.
Crescimento (peso, altura).
Desenvolvimento de processos
Maturação (habilidades motoras mentais superiores (atenção,
amplas e finas). inibição, flexibilidade), memória, etc.

(MARTORELL, PAPALIA, FELDMAN, 2020)


A responsividade e a sensibilidade são habilidades básicas de cuidado.

Formam uma disponibilidade emocional do adulto, que implica que ele preste atenção ao que a
criança está comunicando (sensibilidade) e responda a essas necessidades com afeto
(responsividade).

▪ Um cuidador sensível percebe e sabe quando a criança está tentando comunicar algo (como
fome, desconforto ou interesse em alguma coisa).

▪ Um cuidador responsivo age apropriadamente ao que a criança está tentando comunicar e


em um tempo adequado às possibilidades de espera da criança.

▪ Holding e handling (WINNICOTT, 1975): sensação de proteção física e psíquica que promove o
desenvolvimento de um estado de harmonia entre o psíquico e o corpo (estado de
personalização).

(CARDOSO, VERÍSSIMO, 2013)


Autorregulação
Habilidade de monitorar e orientar as emoções, os pensamentos e
os comportamentos, com a finalidade de atingir um objetivo ou
adaptar-se a demandas e situações específicas.

Ela também implica na capacidade de a criança utilizar recursos do


ambiente – como um bico, um paninho, um brinquedo – para
regular ações, pensamentos e a maneira como expressa emoções –
regulação emocional.

A autorregulação exige flexibilidade, ou seja, conseguir tolerar


mudanças, assim como a capacidade de esperar pela gratificação.

Envolve todas as dimensões do desenvolvimento.

(PAPALIA, MATORELL, 2022) Fonte: Pixabay (2022)


Além dos relacionamentos com adultos sensíveis, atentos e afetuosos, o desenvolvimento seguro
da criança também é promovido quando o ambiente em que ela vive apresenta estabilidade.

A estabilidade significa ter uma rotina de funcionamento mais ou menos esperada (hora de dormir e
de comer, por exemplo) em um ambiente constante (uma casa que ela encontra sempre da mesma
maneira, que é segura e tranquila).

Saber o que vai acontecer e o que vai encontrar quando está ou quando chega em casa promove
segurança na criança, pois assim ela entende como as coisas funcionam e se sente motivada a
conhecer e explorar esse ambiente.

A exploração do ambiente promove o desenvolvimento da criança de uma forma integral, pois, para
isso, ela precisa usar todas as suas habilidades motoras, cognitivas, de linguagem e socioafetivas.

(BEE, BOYD, 2011)


Vínculo e apego

A relação com o adulto é fundamental para que as crianças sejam fisicamente saudáveis,
emocionalmente seguras e respeitadas como indivíduos.

Vínculo: elo emocional invisível que se estabelece aos poucos entre a criança e os adultos
que cuidam dela diariamente. Para que a criança desenvolva a segurança, é necessário que
ela estabeleça vínculos baseados em afetos positivos, na empatia e na estabilidade.

Apego: disposição que todos os bebês possuem para buscar contato com outro ser
humano. Essa disposição nasce com a criança e se mostra através de comportamentos
que chamam a atenção do cuidador para ela, como sorrir, chorar, se agarrar e olhar nos
olhos. Qualquer tipo de comportamento do bebê que tem como objetivo buscar e manter
proximidade com o adulto que cuida dele pode ser chamado de comportamento de apego.

(BOWLBY, 1969/1990)
Apego seguro: criança pode chorar ou protestar quando o Apego evitativo: criança não se afetada por um
cuidador se ausenta, mas é capaz de obter o conforto de que cuidador que se ausenta ou retorna. Ela demonstra
precisa, com eficácia e rapidamente, demonstrando pouca emoção, seja positiva ou negativa.
flexibilidade e resiliência. Costuma ser cooperativa e
raramente sente raiva.

Apego ambivalente: criança fica ansiosa antes mesmo de Apego desorganizado: criança não parece ter uma
o cuidador se ausentar e cada vez mais perturbada estratégia coesa para lidar com a saída do cuidador.
quando ele sai. Na volta do cuidador, demonstra sua Comportamentos contraditórios, repetitivos ou mal
aflição e raiva buscando contato com ele, ao mesmo direcionados. Por exemplo, pode saudar a mãe com
tempo em que dá chutes e se contorce. entusiasmo quando ela voltar, mas depois se afasta ou
se aproxima sem olhar para ela. Parece confusa e
temerosa.

(AINSWORTH, 1979)
Os padrões de apego foram observados em todas as culturas onde foram estudados.

Bebês com apego seguro aprendem a confiar não só em seus cuidadores, mas em sua
própria capacidade para obter aquilo de que precisam.

O apego parece afetar a competência emocional, social e cognitiva – a criança desenvolve


confiança suficiente para se envolver ativamente em seu mundo.

+ apego com um adulto atencioso + criança desenvolve um


bom relacionamento com os outros.

(PAPALIA, MATORELL, 2022)


Terríveis dois anos

Birra

▪ Birra é considerado o conjunto de comportamentos da criança diante de uma situação


frustrante ou de uma negativa.

▪ Ela também pode surgir em resposta a situações como fome, cansaço, sono, falta de
vontade para realizar determinadas tarefas, alimentar-se e tomar banho. Em geral, a birra
pode ser caracterizada por choro, gritos, jogar-se no chão, dentre outras reações.

▪ É importante que os cuidadores expliquem com firmeza, mas com carinho, o que é e o que
não é permitido fazer.

▪ Além disso, conversar e auxiliar a criança a verbalizar o que ela está sentido, assim como
lhe oferecer mais opções de como agir em situações em que ela diz um “não” pode ser
interessante – mas claro, sempre com um limite.
Impactos da pandemia de COVID-19

Estudo longitudinal sobre os escores de desenvolvimento


cognitivo de crianças em 2020 e 2021, comparando-os com
resultados da década anterior (2011-2019), demonstrou que
as crianças nascidas durante a pandemia apresentaram
redução significativa do desempenho verbal e motor, e da
performance cognitiva geral - meninos e crianças de
famílias de nível socioeconômico mais baixo foram mais
afetados.

Mesmo sem a presença de infecção pelo vírus, as


mudanças ambientais associadas à pandemia afetaram
negativamente o desenvolvimento infantil. Fonte: Pixabay (2022)

(DEONI ET AL., 2021)


Referências bibliográficas
AINSWORTH, M. S. (1979). Infant–mother attachment. American Psychologist, v. 34, n. 10, p. 932.

BAUMRIND, D. The influence of parenting style on adolescent competence and substance use. Journal of Early Adolescence, v. 11, p. 56-95, 1991.

BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2011.

BOWLBY, J. Apego: A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, vol. 1., 1969/1990.

CARDOSO, J.; VERÍSSIMO, M. Estilos parentais e relações de vinculação. Análise Psicológica, v. 31, n. 4, p. 393-406, 2013.

CUNHA, A. J. L. A. da; LEITE, A. J. M.; ALMEIDA, I. S. de. The pediatrician's role in the first thousand days of the child: the pursuit of healthy nutrition and
development. Jornal de Pediatria, v. 91, p. S44-S51, 2015.

MACCOBY, E. E., & MARTIN, J. A. Socialization in the context of the family: Parent-child interaction. In P. Mussen (Ed.), Handbook of child psychology (Vol. 4, pp.
1-101). New York: Wiley, 1983.

MARTORELL, G.; PAPALIA, D. E; FELDMAN, R. D. O mundo da criança: da infância à adolescência. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.

PAPALIA, D. E; MARTORELL, G. Desenvolvimento humano. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2022.

TRAEBERT, JEFFERSON et al. Methodological description and preliminary results of a cohort study on the influence of the first 1,000 days of life on the children’s
future health. Anais da Academia Brasileira de Ciências [online], v. 90, n. 3 , p. 3105-3114, 2018.

WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade. Tradução de José Octavio de Aguiar Abreu e Vane de Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

1000 days. The first 1000 days. Nourishing American´s future [Internet]. Washington, D.C.: 1000 Days; 2016 [cited 2017 Dec 20]. 64 p. Available from:
https://thousanddays.org/wp-content/uploads/1000Days-NourishingAmericasFuture-Report-FINAL-WEBVERSION-SINGLES.pdf

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