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LIFE PSICOLOGIA ®.
Sumário
I - Introdução
II - O que é a Psicologia Perinatal
III - Gestação
IV - Parto
4.1 - Parto Espontâneo
4.2 - Parto Operatório
4.3 - Parto Prematuro
V - Puerpério
5.1 - Pós-parto Blues
5.2 - Depressão pós-parto
5.3 - Psicoses Puerperais
VI - Considerações Finais
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IX - O conhecimento das gestantes sobre a psicologia perinatal.
9.1 - Objetivo geral
9.2 - Objetivos específicos
9.3 - DESENVOLVIMENTO
9.3 - INTRODUÇÃO
9.4 - METODOLOGIA DA PESQUISA
9.5 - Tipo do estudo
9.6 - Cenário da pesquisa
9.7 - Participantes da pesquisa
9.8 - Técnica de coleta de dados
9.9 - Procedimento de análise de dados.
9.10 - Questões éticas
9.11 - RESULTADOS DA PESQUISA
9.12 - Perfil sociodemográfico
9.12.1 - A gestação, percepções e sentimentos
9.12.2 - O suporte familiar
9.12.3 - As mudanças emocionais e comportamentais
9.12.4 Percepções sobre parto e pós-parto
9.13 O medo do parto normal
9.14 As informações sobre o parto
9.15 As preocupações com o pós-parto
9.16 O conhecimento da gestante sobre a psicologia perinatal
9.17 - As contribuições que a psicologia perinatal podem trazer para a
gestante
9.18 - As dificuldades para obtenção do acompanhamento psicológico
durante a gestação
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1 – INTRODUÇÃO:
O presente trabalho apresenta as fases da gestação, parto e puerpério em
que o trabalho do psicólogo perinatal pode acontecer e visa facilitar o
entendimento de algumas questões e processos presentes nesses momentos.
Para isso, a metodologia utilizada será o levantamento bibliográfico feito a
partir de livros que tratam do assunto de diversas formas, sob diferentes olhares e
para públicos diversos.
Inicialmente, a psicologia perinatal será brevemente apresentada.
Num segundo momento, serão apontadas as principais fases em que o
trabalho do psicólogo perinatal pode ser solicitado e, junto a essas fases, breves
explicações e diferenciações importantes tanto do ponto de vista físico e quanto
psicológico.
O objetivo principal do trabalho é mostrar o vasto campo de atuação do
psicólogo perinatal junto às famílias e sua contribuição para o entendimento
e humanização desse processo. Como disse Winnicott:
“(...) a psicanálise, como a vejo, oferece à obstetrícia, e a todo trabalho que
diz respeito às relações humanas, um aumento do respeito que os
indivíduos sentem uns pelos outros, bem como pelos direitos individuais. A
sociedade precisa de técnicos e até mesmo para os cuidados médicos e de
enfermagem, mas onde houver pessoas, e não máquinas, o técnico precisa
estudar a forma como as pessoas vivem, pensam e crescem ao longo de
suas experiências.”
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2 – O QUE É A PSICOLOGIA PERINATAL?
A psicologia perinatal, também conhecida como psicologia da gravidez, parto
e puerpério, é a área da psicologia voltada para o atendimento a mães e famílias
que se encontram nesse momento de encontro com um novo membro, o bebê.
A gravidez pode ser uma fase de crise e sofrimento, muitas vezes
negligenciada pelo senso comum de que este é o momento mais pleno da vida de
uma mulher. O papel do psicólogo é acolher e escutar as mães e famílias, em
sofrimento ou não, de modo a auxiliar na adaptação às mudanças trazidas pelo
bebê.
3 – GESTAÇÃO
A gestação, um período de idealização e fantasia, tem algumas funções bem
definidas como preparar o feto para a vida extra uterina e, uma função mais
subjetiva mas tão importante quanto que é a de preparar a mulher para ser mãe.
Para Winnicott (2013), as mulheres se preparam para a tarefa da maternidade
durante os últimos meses de gravidez, o que ele chama de “preocupação materna
primária”. Em um questionamento sobre as origens do indivíduo, Winnicott enumera
alguns fenômenos importantes, começando pelo “ato de conceber mentalmente” que
ocorre nas brincadeiras de crianças de qualquer idade e permanece até a vida
adulta. Devemos salientar que essa concepção mental que ocorre na idade adulta
não está necessariamente ligada ao casamento.
São inúmeras as mudanças provocadas pela gravidez, são mudanças físicas,
laborais, conjugais e financeiras, e é natural que surjam questionamentos sobre
esse período. Maldonado escreve sobre a existência de uma ambivalência afetiva, é
o querer e o não querer. Segundo ela, não existe gravidez completamente aceita ou
rejeitada e toda mulher passa por essa oscilação que podemos chamar de natural.
É no período da gestação que se inicia a vinculação entre mãe e bebê. O
bebê está em sintonia fisiológica e emocional com a mãe (Wilhelm). Ele tem suas
necessidades básicas, como alimentação e respiração, supridas pelo organismo da
mãe e à ela também cabe suprir as necessidades emocionais de seu bebê. Essa
segunda tarefa é tão importante quanto a primeira, porém não é assim tão natural e
depende da gestante estar bem assistida por familiares e profissionais (Winnicott). A
mãe precisa, além de tudo, sentir o bebê como um ser diferente dela, que apesar de
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ser um sujeito dependente, o bebê não é a mãe. Esse entendimento auxilia no
momento do parto onde a separação física entre eles é inevitável (Maldonado).
4 – PARTO
De acordo com Maldonado, o parto é um “salto no escuro”. É sabido que o
parto normal é melhor para o bebê pois o trabalho de parto auxilia na sua adaptação
à vida extra uterina, porém, no caso de ser detectado algum problema na gestação
ou durante o trabalho de parto, costuma-se indicar a cesariana que pode fazer
nascer um bebê viável ou não (MOREIRA, M. E. L.; BRAGA, N. A.; MORSCH, D.
S.). Além das alterações indicadoras do parto operatório, existem profissionais de
saúde e famílias que optam por este tipo de nascimento. Nesses casos, existe a
possibilidade de que a criança nasça prematuramente, o que pode significar um
risco a saúde do bebê.
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4.2 – PARTO OPERATÓRIO
Cesárea é uma palavra proveniente do latim “caedere” que significa corte,
cortar. Na Antiguidade, era praticada apenas após a morte da gestante, com o intuito
de salvar o bebê. A primeira cesariana feita com a gestante viva ocorreu em 1500 e
apenas no século XVIII passou a ser utilizada na obstetrícia e, a partir do século XX
passou a ser uma cirurgia rotineira, uma opção cada vez mais indicada pelos
médicos e cada vez mais aceita pelas gestantes (Rezende).
É sabido que o parto normal é mais seguro para o bebê e para a gestante de
baixo risco, mas ainda assim, de acordo com o Ministério da Saúde, em 2016,
55,5% dos 3 milhões de partos feitos no Brasil foram cesáreas, o que contraria a
recomendação da Organização Mundial da Saúde, de apenas 10 a 15% de partos
operatórios.
Além das questões maturacionais do bebê, outro grande problema
envolvendo o parto operatório é a anestesia geral aplicada na mãe e que atravessa
a placenta e chega ao bebê, produzindo vários níveis de depressão fetal
(Maldonado).
Muitas mulheres têm medo da dor do parto normal e optam pela cesárea.
Esse medo é uma construção social e é bastante corroborada pelos médicos que,
sem nem ao menos explicar sobre a fisiologia do parto normal e seus benefícios,
aceita o pedido da gestante. Essa pronta aceitação por parte do médico impede que
a gestante supere o medo e vivencie ativamente o início dessa nova fase da sua
vida e de seu bebê (Maldonado).
Outras tantas mulheres que rompem a barreira do medo, esbarram na
dificuldade de encontrar médicos dispostos a aguardar a hora do bebê para a
realização do parto normal.
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conseguem conter o processo ou ainda, quando, ao marcar a data para uma
cesárea, não se tem a certeza da maturidade física do bebê.
A UTI Neonatal é um ambiente hostil, totalmente diferente do quarto
idealizado pelos pais. O contato com o bebê também é diferente do esperado. O
bebê internado luta, de várias formas, para sua sobrevivência e acaba por
concentrar todas as suas forças nesse sentido. A mãe que queria amamentar,
segurar, ninar e dar banho vai precisar esperar os momentos adequados para isso.
Os cuidados com o bebê internado na UTI Neonatal exigem uma parceria de
esforços dos pais e da equipe de saúde. Ambos precisam entender sua importância
no processo e garantir o espaço adequado para o desempenho de seus papéis
(MOREIRA, M. E. L.; BRAGA, N. A.; MORSCH, D. S.).
5 – PUERPÉRIO
Puerpério é o período logo após o parto, que dura de 6 a 8 semanas e,
fisiologicamente representa o período de tempo necessário para que o corpo retorne
ao estado anterior a gravidez.
Além do restabelecimento físico, o puerpério é considerado uma fase de
transição entre e mãe grávida do bebê imaginário e a mãe com seu bebê real. De
acordo com Maldonado, essa fase também é conhecida como o quarto trimestre da
gravidez.
São grandes as alterações na vida da mulher entre a gestação e o parto, e
entre os exames e preparativos para a chegada do bebê, muitas das vezes a mulher
não se prepara – e nem é estimulada a se preparar – para elaborar a perda do bebê
imaginário, calmo e perfeito, e o contato com o bebê real, que chora, sente fome e
pode apresentar alguma alteração em sua constituição.
A “preocupação materno primária” situa-se também nesse quarto trimestre, se
inicia nos últimos meses de gestação e dura algumas semanas ou meses após o
parto. Esse é um estado em que a atenção da mãe está totalmente voltada ao bebê
e suas necessidades, como se mãe e bebê fossem apenas um.
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do bebê, as recém mães apresentam um estado depressivo, o que, para alguns
autores, representa o final da gestação psíquica.
Apoiar a puérpera, garantir seu descanso nas horas de sono do bebê e
assegurar a resolução das questões externas à dupla mãe-bebê, facilita a
transposição dessa fase e diminuem as chances de que o pós-parto blues evolua
para uma depressão pós-parto.
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garantido o bem estar do bebê e para que o vínculo entre eles seja fortalecido
(MOREIRA, M. E. L.; BRAGA, N. A.; MORSCH, D. S.).
O tratamento da mãe que apresenta o quadro de psicose puerperal deve ser
feito em conjunto entre psicologia e psiquiatria e, assim como na depressão pós
parto, o diagnóstico precoce é essencial para o seu sucesso.
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A gestação, parto e puerpério, de alguma forma, fazem parte da vida de todos
os indivíduos e a psicologia vem para agregar conhecimento e auxiliar famílias e até
mesmo profissionais da área.
Apesar de haverem questões universais no que diz respeito a esse período,
devemos levar em consideração as particularidades de cada mulher, de cada família
e de cada bebê. Cada gestação é única e não se pode prever como a mulher irá
reagir e nem quais situações podem surgir.
A psicologia perinatal pretende estar ao lado dos atores envolvidos nesse
quadro e tornar esses momentos mais leves ou ao menos mais fáceis de serem
elaborados.
O obstetra francês Frederick Leboyer, em 1988, escreve em seu livro “Nascer
Sorrindo” algo que, apesar de destinado a médicos e enfermeiros, se encaixa muito
bem ao papel do psicólogo no trabalho perinatal. Leboyer escreve assim:
"Sim, é preciso tão pouco, nada de orçamentos caros, recursos
eletrônicos... Nada disso, apenas paciência e modéstia. Silêncio. Uma
atenção leve, mas sem falhas. Um pouco de inteligência, de preocupação
com o outro. Esquecimento de si mesmo... É preciso muito amor. Sem amor
vocês não passarão de bem intencionados..."
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A psicologia perinatal frente aos diversos desafios da maternidade.
Gerar um filho pode ser considerada como uma das experiências mais significativas e complexas na vida da mulher.
A compreensão de aspectos psicológicos presentes nos períodos da gravidez e puerpério é cada vez mais
reconhecida como essencial no contexto do atendimento à saúde reprodutiva da mulher e, consequentemente, à
saúde materno-infantil, pois pode subsidiar a assistência nos cuidados com a saúde física e emocional da mulher e
seu bebê. Embora sejam eventos normativos dentro do período reprodutivo, gestação e puerpério são tidos como
períodos de intensas transformações biológicas, psicológicas e sociais, que exigem da mulher e sua família
inúmeras adaptações, sendo assim, críticos do ponto de vista do desenvolvimento, pois provocam um
deslocamento do equilíbrio anterior, acarretando maior vulnerabilidade pessoal. O primeiro tema dessa mesa
redonda abordará os desafios da gestação e do parto. Será apresentado o recorte de uma pesquisa que teve como
objetivo investigar o sentimento de medo em relação à gravidez e ao parto, presente em gestantes no terceiro
trimestre. A autora levará os ouvintes a refletir sobre a importância do acolhimento psicológico às gestantes
visando diminuir a prevalência e incidência de alterações emocionais significativas nesse período. Um dos desafios
do puerpério será abordado na apresentação de trabalho que avaliou o impacto das primeiras horas após o parto
sobre a relação mãe-bebê. Será discutida a relevância e o papel da equipe de saúde no cuidado da mulher neste
período sensível, na promoção do desenvolvimento do vínculo entre mãe e bebê. A mesa abordará também o
óbito perinatal, que habitualmente ocorre no cenário hospitalar e precipita outra crise, inesperada, que se
sobrepõe à crise normativa do ciclo gravídico-puerperal. Discutirá as particularidades desse tipo de luto, seus
aspectos simbólicos, psicodinâmicos, socioculturais e familiares, que o fazem complexo e, muitas vezes, de difícil
elaboração. A partir da literatura e da prática na área da Medicina Fetal, a autora explorará o potencial do papel
do psicólogo para lidar com os desafios inerentes à tarefa de cuidar de mães que perderam seus bebês. Portanto,
esta mesa pretende dialogar sobre os diversos desafios da mulher no ciclo gravídico-puerperal à luz da psicologia
na perinatalidade, um campo da psicologia hospitalar que se propõe ao estudo do psiquismo da gestante,
parturiente e puérpera. As falas buscam ampliar a compreensão das dificuldades de algumas vivências e suas
implicações, da mesma forma que propõe a reflexão sobre diversas ações que possibilitam o cuidado ampliado à
mulher na gestação, parto, puerpério e, eventualmente, no óbito perinatal. Palavras chave: gestação; parto;
puerpério; luto; psicologia perinatal.
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O luto perinatal e neonatal e a atuação da psicologia nesse contexto
Resumo
Atualmente, a morte na infância é pouco comum, considerando-se todos os recursos de modernidade que se
disponibilizam hoje, quais sejam, cuidado pré-natal, UTI neonatal, dentre outros. Por isso mesmo, quando acometida
por essa fatalidade, a família sente estranheza e forte impacto. A perda de um bebê pode produzir uma dor intolerável,
uma vez que significa frustração de desejos, fantasias, devaneios e não menos importante, a impotência ante a
possibilidade de aplicar sua capacidade de ser mãe/pai. Neste sentido, salienta-se a necessidade de profissionais como
o psicólogo, a fim de que possa auxiliar a família a enfrentar o luto parental e a elaboração da perda de um filho.
Desta forma, este estudo visou dissertar sobre a importância da intervenção psicológica em situações de luto: perinatal
e neonatal. A partir de uma pesquisa qualitativa, de revisão bibliográfica, foi possível identificar que esse tipo de luto
contraria o que culturalmente em nossa sociedade se espera sobre o andamento do ciclo de vida. Isso posto, diante do
que essas perdas podem provocar nas famílias e até mesmo nas equipes de saúde, faz-se necessária a presença do
psicólogo nesse contexto. Consubstancialmente, salienta-se a importância de estudos futuros que possam investir em
novas reflexões acerca do luto perinatal, uma vez que as considerações trazidas por eles podem ter implicações na
prática do psicólogo no âmbito hospitalar.
Palavras-chave: Luto; Neonatal; Perda; Parentalidade; Perinatal.
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1. Introdução
A relação que se constitui entre as mães e seus filhos, ainda que no ventre, pode ser considerada um dos elementos
fundamentais do psiquismo humano, uma vez que muitas vezes é a partir desta relação que a criança pode aprender o mundo a
sua volta. Badinter (1985) afirma que para o senso comum, a maternidade surge na vida da mulher como um instinto, uma
vocação: através deles é possível amar incondicionalmente um filho. Segundo ela, esse é um assunto polêmico, uma vez que o
que muitos autores apontam como instinto materno, não passa de uma construção sociopolítica passível de mudar de tempos
em tempos.
Da mesma forma para Dolto (1984) o sentimento materno foi considerado como fruto de uma construção estabelecida
no início da vida entre jovens meninas e suas mulheres de referência, bem como do seu processo emocional frente à castração.
Entretanto, Badinter (19885) afirma que passa-se a observar isso apenas a partir do século XIX, visto que até o XVIII o
percurso histórico da relação entre mães e filhos evidencia uma relação fria e indiferente (Badinter, 1985). Dolto (1984) por
sua vez, afirma que o desinteresse pela criança era uma estratégia de defesa ante o sofrimento de perder um filho, o que até o
século XVIII era muito comum, visto os altos índices de mortalidade infantil. Ela afirma que se a mãe se apegasse com
intensidade a seus bebês, assim como vemos hoje, certamente morreria de dor.
Lebovici (2004) ao dissertar sobre a relação pai-filho, afirma que a construção da paternidade também decorre das
identificações com outras figuras masculinas e com suas vivências como filhos que foram. Quintans (2018) aponta que ao
serem pais, assim como as mulheres ao serem mães, vivenciam uma experiência de grande relevância para a formação da
personalidade: a da parentalidade; eles não apenas são pais e tem filhos, mas sim, ganham a oportunidade de refletir sobre sua
descendência. Sobre pais e mães no papel da parentalidade, Maldonado (1987) enfatiza que o nascimento de um filho é uma
experiência familiar e que, muito embora infelizmente a literatura concentre-se nas mudanças psicológicas e físicas decorrentes
do ciclo gravídico-puerperal apenas na mulher, é de suma relevância atentar para o fato de que a paternidade também é uma
transição e da mesma forma, passível de sofrimentos, como o luto.
Bleichmar (1994) afirma que a chegada de um bebê pressupõe sua espera: tecem-se fantasias, identificações,
imaginações e constroem-se cenários para recebê-lo. Quando um casal engravida, ele se imagina cuidando do bebê, como vai
ser sua atuação como pai ou mãe, como esperam que o bebê vai ser, qual o futuro que espera pra ele, ou seja, a relação pais-
filhos começa antes de o bebê nascer. Diferente do que ocorria há três séculos atrás, a morte na infância é pouco comum,
considerando-se todos os recursos de modernidade que se disponibilizam hoje, quais sejam, pré-natal, UTI neonatal, dentre
outros. Por isso mesmo, quando acometida por essa fatalidade, a família sente estranheza e forte impacto. Iaconelli (2007)
afirma que a morte de um filho inverte a ordem de perdas pressupostas por todos, ao que Mercer (2002) reitera que tal
acontecimento pode agravar os efeitos do luto sobre a família e o imaginário sobre possíveis filhos futuros.
A morte de uma criança pode produzir uma dor intolerável, uma vez que significa frustração de desejos, fantasias,
devaneios e não menos importante, a impotência ante a possibilidade de aplicar sua capacidade de ser mãe/pai (Soifer (1992).
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Para ela, a perda de um filho trata-se de uma profunda ferida narcísica, de lenta, dolorosa e difícil recuperação. Outrossim, os
pais vivenciam intenso sentimento de fracasso, inferioridade e incapacidade (Chiattone, 2007).
É importante destacar que são muitas as perdas que os pais podem enfrentar dentro do contexto da parentalidade:
abortos, natimortos, óbitos neonatais precoces e tardios. Entende-se como óbito fetal, o que acontece entre a vigésima segunda
semana completa de gestação, até cento e cinquenta e quatro dias anteriores ao nascimento do bebê. Inclui-se nesse contexto os
óbitos de fetos com peso igual ou superior a meio quilo ou estatura a partir de vinte e cinco centímetros (Ripsa, 2008;).
Classificam-se como óbitos perinatais, os que acontecem no período da vigésima oitava semana de gestação até sétimo dia
após o nascimento (Caderno de Saúde Pública, 2004). Já nos óbitos neonatais, o bebê possui até seis dias de vida – óbito
neonatal precoce – ou entre sete e vinte e sete dias de vida - óbito neonatal tardio. (Ministério da Saúde, 2009).
A natimortalidade, embora considerado um desfecho desfavorável e inesperado no contexto da saúde materno-infantil,
ainda é menos estudada que a neomortalidade, talvez pelos poucos registros que existem a respeito. Segundo dados da Unicef,
em 2018, 2,5 milhões de recém nascidos morreram nos primeiros trinta dias de vida, sendo que 1/3 deles foi no primeiro dia.
Os dados apontam que grande parte desses bebês faleceu de causas evitáveis, como infecções, complicações no parto e partos
prematuros (Unicef, 2019).
Em todo o mundo, a partir de uma análise feita em 184 países, classificados em quatro grupos de renda, destacam-se
os que há as melhores chances para os recém-nascidos – Japão, Finlândia, Estônia, Finlândia, Cingapura, Luxemburgo – bem
como, onde há as menores – Guiné-Bissau, Sudão do Sul, Costa do Marfim, Africana, Afeganistão, Somália. O Brasil, listado
como país de renda média alta, alcançou o 28º pior resultado, assim como o México, com 7,8 mortes neonatais a cada mil
nascimentos (Unicef, 2019).
Ainda que se invistam em recursos para evitar a mortalidade perinatal e neonatal, todos os pais e mães não estão livres
de passar por esta perda. Sabe-se que este evento é demasiado significante e diante disso, Kübler-Ross (1998) foi pioneira na
sistematização do processo de luto e perda em estágios definidos como: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e
aceitação. Assim sendo, aquele que vivencia o luto carece de atenção de pessoas capacitadas, tanto no âmbito hospitalar,
quanto fora dele. Neste sentido, salienta-se a necessidade de profissionais como o psicólogo, a fim de que possam auxiliar a
família a enfrentar o luto parental e a elaboração da perda de um filho. Outrossim, o objetivo do presente estudo é dissertar
sobre a importância da intervenção psicológica em situações de luto: perinatal e neonatal.
2. Metodologia
Este trabalho foi elaborado a partir do método qualitativo, que se caracteriza pela busca de significados dos
fenômenos humanos, tendo como próprio campo de observação o ambiente dos sujeitos, e o pesquisador como parte do
instrumento de pesquisa. (Turato, 2003). Optou-se pela revisão narrativa da literatura, a fim de que se pudesse descrever e
discutir o desenvolvimento do estado da arte, baseados em um ponto de vista teórico.
A análise foi feita em sua totalidade em livros e artigos obtidos com o levantamento bibliográfico no Google
Acadêmico e Scielo, das quais foi possível extrair materiais nacionais e interacionais. Entretanto, apenas materiais nacionais
foram utilizados. A pergunta norteadora do estudo foi “Como se dá a atuação do psicólogo em situações de óbito perinatal e
neonatal”; os descritores utilizados nas duas plataformas foram os do DECs (Descritores em Ciência da Saúde), com o
booleano AND (E) para realizar os cruzamentos entre: Luto; Neonatal; Perda; Parentalidade; Perinatal.
Os resultados foram interpretados e discutidos nas seguintes categorias: o luto neonatal e perinatal, a comunicação de más
notícias e o trabalho em equipe e a atuação da psicologia: técnicas e procedimentos.
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3. Resultados e Discussão
O luto neonatal e perinatal, a comunicação de más notícias e o trabalho em equipe
Desde o início dos tempos a morte é considerada um grande mistério, consequentemente sendo vista como um tabu. A
sociedade ocidental a resolve como um tema interditado e profissionais são vistos como fracassados diante da ocorrência da
perda. A morte é um tema nunca desvendado pelo homem, tornando-se assunto censurado e enfrentado de forma deletéria por
não a conhecermos. Dessa forma é ausente no dia a dia do mundo familiar, sendo assim transferida para os hospitais. Devemos
compreendê-la como fase da vida, respeitando um momento de sofrimento, dor e perda para que isso auxilie na elaboração do
luto (Costa & Lima, 2005).
Segundo Muza et. al (2011) apud Lemes, Oliveira, Santos, Silva, & Fitaroni (2018), a expressão do luto é vivenciada
para cada pessoa de diversas formas diferentes, sendo um momento muito doloroso para os pais. O falecimento de alguém,
gerando o luto, remete à sentimentos de dor e pesar, engendrando tristeza profunda e consternação familiar. Segundo Ferreira
(1998) apud Lemes et al. (2018), o processo psicológico que mobiliza esforços para lidar com o pesar que a perda do objeto
amado gerou, e para reorganizar o mundo interno e externo agora sem a presença física, é definido como Mourning, em inglês.
O luto é visto como uma vivência com exigência de ressignificação, entendido como uma compreensão particular do indivíduo
e suas capacidades nesse processo, assim como um movimento frente às perdas significativas. O enlutado não apenas perde um
ente querido, porém também as formas de ver o mundo à sua volta (Freitas, 2013 apud Lemes et al., 2018).
Freitas (2000) apud Lemes et al. (2018) refere que enlutar-se é um ensejo de transformação e representação, que todo
mundo, em algum momento de sua vida, irá experimentar. A pessoa se sente desprotegida durante o luto; como um evento
estressor, implica em uma perda, que gera o temor e a dor no indivíduo, ou na família que o vivencia. Inúmeros sentimentos
podem suceder ao pensamento no decorrer da situação explicitada, como sofrimento instável, o medo, desamparo e a
culpabilização.
A perda neonatal ou perinatal é uma experiência indescritível para os pais, considerando que os bebês representam o
início da vida e não o fim. A elaboração do luto inicia-se após a perda, e com isso, consequentemente o indivíduo que está
passando por isso vivencia sentimentos de vazio interior, irritabilidade, medo de uma nova gravidez (risco de perder outra
criança), raiva, apatia, entre outros. (Alves & Celestino, 2020). E por ser, como supracitado, um evento estressor, pode
desenvolver em algumas mães transtornos psicológicos, influenciando na próxima gravidez e no relacionamento que venha a
ser criado com o bebê seguinte (Hutti, 2005; Badenhorst & Hughes, 2007 apud Montero et al. 2011).
Em uma situação de morte perinatal evidencia-se a desconsideração existente da população que experiencia o luto
materno. Além disso, os responsáveis por receber e acolher essas famílias interpretam a perda como um insucesso da medicina,
não estando preparados para lidar com o sofrimento familiar, e desse modo demonstram desamparo social diante dessas
famílias (Muza et al., 2011 apud Lemes et al. 2018).
O luto perinatal, segundo Iaconelli (2007), é vivenciado pela sociedade como algo que deve ser evitado. Por
conseguinte, as pessoas agem com negação e racionalização, e assim não entram em contato com a angústia. Na perda desse
“objeto” existe algo que não é perceptível, como Freud (1976) apud Muza, Souza, Arrais, & Iaconelli, 2013 refere que o que
foi perdido no objeto e com o objeto não é vislumbrado. O contexto que envolve a morte perinatal é constituído por temas
negados e com poucos focos de estudo, destarte merece uma atenção especial, posto que se trata de uma perda não plenamente
reconhecida, tampouco socialmente validada (Gesteira et al., 2006 apud Muza et al., 2013).
Os óbitos neonatais estão intimamente vinculados às condições de vida e saúde da mulher, dependendo
principalmente da assistência prestada durante a gestação, parto, pós-parto e sobre os cuidados imediatos prestados ao recém-
nascido (Fréu et al., 2008; Soares & Menezes, 2010 apud Gaíva, Bittencourt, & Fujimori, 2013). Isto posto, evidencia-se a
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importância da preparação por parte dos profissionais da saúde para receber e cuidar das famílias, e a necessidade de
compreenderem as reações e comportamentos que eles manifestam diante da morte, para assim, ocorrer a assistência naquilo
que precisam durante o processo de perda. A dificuldade em apoiar e confortar a família é explícita quando o profissional esta
despreparado frente às necessidades reais da família que está no processo de luto. Por isso a importância também do
envolvimento emocional com a família, pois este envolvimento servirá para promover empatia, e também permitirá que o
profissional conheça seu paciente, atendendo as necessidades sem prejudicar sua atuação (Costa & Lima, 2005; Lunardi,
Sulzbach, Nunes, & Lunardi, 2001 apud Costa & Lima, 2005).
É importante mencionar que, ao se comportarem inadequadamente, os profissionais podem imprimir marcas
importantes na família enlutada. Os pais podem lembrar das atitudes, comportamentos e comentários inapropriados até anos
depois da perda do recém-nascido, colocando-os em risco de experienciarem um luto complicado. Isto posto, salienta-se que
todos os momentos verbais e não verbais farão diferença positiva ou negativa na vida daquela família, sendo necessário um
cuidado realizado de forma sistemática e sensível (Simwaka, Kok, & Chilemba, 2014; Scarton et al., 2013 apud Ichikawa et
al., 2017). Como relata Iaconelli (2007), algumas frases enunciadas para as mães, como “Calma, você é jovem e poderá ter
outros filhos”, “Foi melhor assim...”, trazem repercussões consideráveis àquelas que não vivenciaram essa perda de forma mais
saudável.
Por isso, há a necessidade de a equipe ser treinada nos princípios básicos de cuidados paliativos pediátricos,
considerando uma comunicação efetiva, empática e fornecendo um cuidado consistente e de alta qualidade no fim de vida do
recém-nascido. Educar os profissionais da saúde para enfrentamento do luto auxilia na redução dos efeitos na família advindos
do processo de luto (Jonas-Simpson, Pilkington, Macdonald & MacMahon, 2013 apud Ichikawa et al., 2017). Assim, torna-se
essencial a escuta dos profissionais neonatais que assistem as famílias, para que possam compreender o processo de cuidar no
final de vida, conhecer como ocorrem as relações, interações, preferências e significados elaborados.
Em relação aos Programas de cuidados paliativos citados anteriormente, são disponibilizados para recém-nascidos e
suas famílias, independentemente do tempo e diagnóstico e são requisitados por instituições de assistência à essa população. O
cuidado proposto nos programas, baseia-se: na oferta de apoio físico e emocional no momento da morte; na comunicação clara,
consistente e com compaixão; e naa viabilização da tomada de decisão compartilhada e acompanhamento da família durante o
processo de luto (Wool, 2013 apud Ichikawa et al., 2017).
Pesquisas evidenciam a importância do desenvolvimento e implementação de programas que sugerem a elaboração de
protocolos como este, proporcionando acolhimento à família desde o nascimento até a morte, bem como orientações aos
profissionais sobre a melhor e mais respeitosa forma de manusear o recém-nascido (Brooten et al., 2013; Mancini, Kelly, &
Bluebond-Langner, 2013 apud Ichikawa et al., 2017). É preciso humanizar todo o processo de parto, respeitando as decisões da
mulher e do seu parceiro quanto à intimidade, acompanhamento e plano de parto, e diminuindo as intervenções desnecessárias
(Montero et al., 2011, Sánchez et al., 2009, Taylor & Bogdan, 1998 apud Montero et al., 2011)
No decorrer do processo de perda perinatal, todos os profissionais ficam envolvidos, explicitando o caráter
multidisciplinar implícito nesse tipo de fenômeno e a importância de uma equipe preparada para o cuidado e atendimento das
famílias (Montero et al., 2011). Sendo o processo de luto vivenciado de forma diferente para cada pessoa, em algumas famílias
é necessário um tempo para assimilar que o bebê recém-nascido está morrendo ou morreu. Em função do estresse e ansiedade,
a absorção de notícias pode ocorrer de forma lentificada, sendo necessária por vezes a repetição da informação (Ichikawa et al.,
2017, Cortezzo, Sanders, Brownell, & Moss, 2015 apud Ichikawa et al., 2017).
Diante da perda neonatal, cumpre-se estabelecer relações de confiança com a equipe de saúde, que precisa unir
habilidades com o objetivo de proporcionar um cuidado efetivo no final de vida e no processo de luto desta família. Outrossim,
que essas informações sejam compartilhadas de forma hábil, com comunicação clara, objetiva e compassiva, viabilizando à
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família um espaço para contar sua história (Fenstermacher & Hupcey, 2013 apud Ichikawa et al., 2017).
A perda neonatal envolve múltiplas dimensões, exigindo demandas específicas, inseridas em um contexto familiar e
social, além do convívio com diferentes profissionais. Evidencia-se a necessidade de a equipe ser cautelosa em relação ao
cuidado com a família, passível de ser abordado por meio da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade (Ichikawa et al.,
2017). É necessário compreender o cuidado como algo que vai além, que deve ser oferecido de forma integral, embasado em
conhecimentos científicos e aceitando as influências da família; um cuidado sem preconceitos e julgamentos, com o objetivo
de entender o indivíduo como ser único, completo e complexo.
“Não nos cabe recomendar procedimentos ritualísticos adequados, se desejáveis ou não, pois estes só poderiam sê-lo,
partindo da perspectiva do psiquismo dos pais e das possibilidades oferecidas pelo entorno. Para que os pais possam
expressar seu desejo há que se evitar constrangimentos e interpelações precipitadas. O tempo sim, é condição que não
pode ser desprezada, pois o psiquismo não acompanha a velocidade exigida pela modernidade. No respeito ao
desenrolar progressivo do luto, pode-se realizar uma escuta sensível e o que vem ajudar os pais a nomearem sua dor,
evitando maiores sofrimentos para si mesmos e para gerações posteriores.” (Iaconelli, 2007, p.621-622)
Outra importante ação do psicólogo se refere a facilitar a expressão emocional e a vivência do luto. Nesta fase do
processo, é preciso auxiliar os pais a identificar e a expressar as suas emoções, sempre com uma escuta aguçada e empática
frente ao que se está passando. Não raramente os pais não entendem que tipos de emoções e manifestações fisiológicas podem
aparecer com o luto, por isso, é importante que o psicólogo dê informações acerca das diversas manifestações que podem vir a
ocorrer devido às várias fases do processo, além disso pode-se incentivar o compartilhamento da vivência do luto, estimulando
assim a capacidade de aceitação frente as diferenças na forma como cada um vivencia a perda. Também é importante mostrar
como ser sensível às necessidades do companheiro e na divisão das responsabilidades. (Kavanaugh & Wheeler, 2003).
Para o final do processo se faz relevante ajudar o casal a ressignificar e integrar a perda e a prosseguir a vida, ensinar
quem sofreu a perda a recorrer a técnicas que evitem o foco constante na perda em si, incentivar as relações interpessoais e a
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criação de novos laços com pessoas que estejam dotadas de algumas básicas competências de comunicação assertiva sobre o
assunto; o aumento da rede social de apoio do casal pode ser um recurso muito importante nessa fase final do processo. (Rolim
& Canavarro 2001).
Alguns autores como Carvalho e Meyer (2001) constatam uma forte e notória diferença no estado emocional dos pais
que recebem apoio familiar e de amigos daqueles que não possuem essa rede de apoio. Normalmente o discurso é de que estão
conseguindo reagir minimamente a todo esse sofrimento, pois tem ao lado seus familiares os auxiliando. Bartilotti (2007) fala
sobre a necessidade de os pais serem avaliados com cuidado e zelo por diferentes profissionais. Destarte, salienta-se que a
assistência psicológica e o atendimento adequados vão ao encontro de facilitar o conhecimento da dinâmica do luto do casal,
estando atento às necessidades reais dos mesmos e os auxiliando a enfrentar o processo de forma saudável.
4. Considerações Finais
Este trabalho visou dissertar sobre a importância da intervenção psicológica em situações de luto: perinatal e neonatal.
A partir da leitura dos artigos, evidenciou-se que a perda na gestação contraria o que culturalmente em nossa sociedade, se
espera sobre o andamento do ciclo de vida. Assim, diante de toda repercussão que o luto perinatal pode acarretar para os pais,
familiares e até mesmo equipe de saúde, entende-se como fundamental a presença da psicologia.
Nesse sentido, não raras as vezes demonstra-se despreparo por parte das equipes de saúde no que tange os cuidados
com a perda, angústia e dor dos pacientes, principalmente pelos seus próprios conflitos relacionados à morte. Os estudos
analisados apontam que se atribui ao psicólogo a função de facilitar o contato com o processo de luto, bem como, de
possibilitar aos que perderam alguém a chance de expressar seus sentimentos, viabilizando a elaboração do luto pelo filho que
se foi.
A intervenção do psicólogo oferece suporte emocional e social, uma vez que ele pode reconhecer o sofrimento diante
da perda e fornecer um espaço para o paciente falar sobre essa experiência, o que favorece o processo de elaboração. Dessa
forma, considera-se que a instrumentalização de psicólogos para atender a esses casos e avaliar o melhor tipo de intervenção, é
importante no trabalho no contexto hospitalar.
Cada mulher tem sua maneira particular de vivenciar um luto deste tipo, o que ressalta a necessidade de o profissional
saber respeitar a vivência do sofrimento de cada uma. É importante que ela possa se apropriar da situação e ter consciência do
que está passando. A partir daí poderá fazer escolhas, de acordo com seus próprios limites. Esse caráter de sofrimento
sensibiliza a quem atende (equipe) e pode tornar difícil a abordagem de temas como a dor e a morte. A partir do que foi
estudado, nota-se que é bastante importante que estes aspectos possam ser tratados com clareza e abertura por parte dos
profissionais, em especial pelo representante da Psicologia. Outrossim, evidencia-se a necessidade de uma equipe
multiprofissional que inclua o psicólogo hospitalar para acompanhar efetivamente as famílias que passaram pela perda
perinatal nos serviços de saúde.
Ademais, cabe salientar a importância de estudos futuros que possam investir em novas reflexões acerca do luto
perinatal, uma vez que as considerações trazidas por novos estudos podem ter implicações na prática do psicólogo no âmbito
hospitalar.
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O CONHECIMENTO DAS GESTANTES SOBRE A PSICOLOGIA
PERINATAL
INTRODUÇÃO
Objetivo geral
Objetivos específicos
RESUMO
Introdução: As intercorrências no período gravídico fragilizam a mulher e sua família,
conduzindo, muitas vezes, ao ápice do sofrimento psíquico. Oferecer atendimento psicológico
neste contexto possibilita à mulher elaborar e refletir acerca das estratégias de enfrentamento
diante de sua condição clínica. Objetivos: Verificar a percepção das mulheres sobre a
relevância e a necessidade da realização de acompanhamento psicológico durante o período
gravídico, de acordo com as experiências vivenciadas nessa fase; averiguar o conhecimento
das participantes sobre a psicologia perinatal; compreender os fatores emocionais,
comportamentais e sociais que podem gerar a necessidade de realização de acompanhamento
psicológico durante o período gravídico; levantar dificuldades vivenciadas pelas mulheres em
relação ao acesso ao acompanhamento psicológico durante a gestação; investigar os
benefícios que a realização do pré-natal psicológico pode proporcionar, tanto para a mulher,
quanto para o bebê. Material e métodos: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e de
campo, com amostragem por saturação, realizada na cidade de Patrocínio/MG e, mais
precisamente, no Hospital Med Center. Foram entrevistadas nove gestantes, que aguardavam
consulta obstétrica no hospital e que atendiam aos critérios de inclusão. Os dados foram
coletados por meio de uma entrevista, seguindo um roteiro previamente estabelecido. Os
dados coletados foram analisados a partir da análise de conteúdo. Toda a pesquisa seguiu as
normas éticas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde para pesquisas com seres
humanos. Resultados: Em relação aos fatores que podem gerar a necessidade de
acompanhamento psicológico durante o período gravídico, foram observados o não
planejamento da gestação, a falta de apoio do pai da criança, os problemas relacionais e
financeiros, além de falta de informações confiáveis, ainda que exista atualmente um grande
volume de informações disponíveis. Sobre os sentimentos vivenciados nesse período houve
destaque para o medo, especialmente ligado ao parto normal, além de ansiedade, nervosismo e
transtornos alimentares. Constatou-se que as gestantes não tem conhecimento sobre a
psicologia perinatal. Poucos foram os destaques corretos acerca dessa ação da psicologia.
Sobre os benefícios de uma assistência psicológica, as gestantes apontaram o acesso a
informações corretas, a elaboração dos sentimentos desencadeados na gestação e, ainda, o
auxílio no manejo a sentimentos e comportamentos que permeiam a gravidez. Por fim, em
relação às dificuldades para acesso a esses serviços, foram apontadas a falta de acesso ao
psicólogo pelo serviço público e a falta de informações no serviço de saúde sobre essa
possibilidade de assistência. Considerações Finais: Os resultados permitem evidenciar que
existe uma carência de informações às gestantes sobre os serviços de saúde que podem ser
utilizados nesse período, que poderia contribuir para a saúde psíquica da mulher e do bebê.
Assim, é necessário que os profissionais que atuam nos serviços de saúde que assistem às
gestantes repensem suas ações e desenvolvam planos para atender às demandas psicológicas
dessas mulheres na fase gravídico-puerperal.
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
Tipo do estudo
Cenário da pesquisa
A pesquisa em questão teve como cenário o Hospital Med Center, localizado na cidade
de Patrocínio/MG. De acordo com o website da Prefeitura Municipal, Patrocínio é um
município localizado na Mesorregião do Alto Paranaíba e na Microrregião que tem o seu
próprio nome (PATROCÍNIO, 2018). Segundo o Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2017), no ano de 2010, possui 82.471 habitantes, sendo que
72.758 têm residência na área urbana e 9.713 pessoas na zona rural. Considerando a
distribuição espacial da população, a densidade demográfica é de 28,69 hab/km.
Patrocínio, através do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), tem
108 unidades de atendimento médico, sendo 26 públicas, 103 privadas e duas de entidades
beneficentes sem fins lucrativos. Estão assim distribuídas: dois hospitais, 12 unidades básicas
de saúde, oito clínicas especializadas, 64 consultórios isolados, 12 unidades de apoio
diagnóstico e terapia, um centro de atenção psicossocial, uma policlínica, um pronto socorro
geral, uma unidade de vigilância em saúde, duas unidades móveis terrestres, uma farmácia e
194 leitos para internação, sendo 112 pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (PATROCÍNIO,
2018).
O Hospital Med Center, uma das unidades hospitalares do município, foi inaugurado
em 1996, com o objetivo de oferecer serviços e atendimentos diferenciados na área de saúde,
profissionais especializados e amplo espaço físico. Suas instalações ocupam três pavimentos,
que dispõem, atualmente, de 50 leitos de atendimentos clínicos e cirúrgicos, maternidade,
berçário, centro cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto, hemodinâmica, pronto
atendimento com capacidade para pequenas cirurgias e atendimento à urgências e
emergências, além de centro de diagnósticos por imagem.
Seu corpo clínico é formado por 93 médicos que abrangem diversas especialidades e
equipe multidisciplinar. Dentre a equipe médica encontram-se cinco médicos ginecologistas
obstetras.
A psicologia está presente na instituição dentro dos setores de recursos humanos,
hospitalar e clínico. Durante o desenvolvimento deste trabalho encontravam-se em atuação no
hospital uma psicóloga e uma estagiária de Psicologia, que é a pesquisadora em questão. O
fato de estar estagiando no cenário da pesquisa foi decisivo para a sua escolha, levando-se em
consideração futuras demandas e os avanços que tal estudo poderia proporcionar ao local,
sendo pioneiro na assistência de psicologia perinatal em sua região.
Participantes da pesquisa
O estudo foi realizado com nove (09) mulheres gestantes que se encontravam na sala
de espera dos consultórios obstétricos do Hospital Med Center, e atendiam aos critérios de
inclusão estabelecidos.
Os critérios de inclusão foram: ser do gênero feminino; ser maior de 18 anos; ser
gestante, independentemente do tempo de gestação; estar em acompanhamento pré-natal no
Hospital Med Center durante o mês de julho/2018; concordar com os termos da pesquisa;
assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); responder às questões
propostas no instrumento de coleta de dados. Foram critérios de exclusão: ter idade inferior a
18 anos; não concordar com os termos da pesquisa; não concordar em assinar o TCLE.
Tratou-se, ainda, de um estudo que adotou, para seleção das participantes, a
amostragem por saturação, que é uma ferramenta conceitual empregada em relatórios de
investigações qualitativas em diferentes áreas no campo da saúde. É usada para estabelecer ou
fechar o tamanho final de uma amostra em estudo, interrompendo a captação de novos
componentes. Nessa técnica o fechamento da amostra é operacionalmente definido como a
suspensão de inclusão de novos participantes quando os dados obtidos passam a apresentar,
na avaliação do pesquisador, uma certa redundância ou repetição, não sendo considerado
relevante persistir na coleta de dados. Ou seja, as informações fornecidas pelos novos
participantes da pesquisa pouco acrescentariam ao material já obtido, não mais contribuindo
significativamente para o aperfeiçoamento da reflexão teórica fundamentada nos dados que
estão sendo coletados (FONTANELLA et al., 2008).
Não influenciou na escolha das participantes, as condições socioeconômicas, o estado
civil ou religião.
Questões éticas
Este trabalho está de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde
(CNS), a qual estabelece as diretrizes para a pesquisa envolvendo seres humanos.
O mesmo foi submetido, também, à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa do
UNICERP (COEP/UNICERP), do qual obteve autorização (ANEXO C) e a coleta de dados
aconteceu somente após aprovação do COEP/UNICERP e da assinatura do TCLE pelas
participantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CATEGORIAS ASSUNTOS
O planejamento da gestação e a felicidade
O não planejamento da gestação, e a surpresa
1) A gestação, percepções e sentimentos positiva
O não planejamento da gestação e sua não
aceitação
Suporte, presença e do pai da criança
Afastamento total do pai da criança
2) O suporte familiar Felicidade da família estendida
Suporte social, especialmente pela mãe da
gestante
3) As mudanças emocionais e Sentimentos adaptativos
comportamentais Sentimentos desadaptativos
4) Percepções sobre parto e pós-parto
4.1) O medo do parto Medo do parto normal
normal O parto cesáreo como opção para não sentir dor
4.2) O excesso de Existência de muitas informações, mas isso não
informações na sociedade se tem ajudado as mulheres esclarecer suas dúvidas
contrapondo à falta de Queixas relacionadas à assistência à mulher
informações na evolução do durante o parto
parto
Preocupação com aspectos práticos, sobre quem
5) As preocupações com o pós-parto as ajudará, contribuirá para o cuidado com o bebê
Dificuldades da amamentação
Total desconhecimento sobre a psicologia
6) O conhecimento da gestante sobre a
perinatal
psicologia perinatal
Conhecimento parcial sobre a psicologia perinatal
Acesso a informações adequadas e corretas
Auxílio na elaboração de sentimentos sobre a
7) As contribuições que a psicologia
própria gestação
perinatal podem trazer para a gestante
Auxílio no controle de comportamentos
disfuncionais
Falta de acessibilidade a esse profissional na rede
8) As dificuldades para obtenção do pública de saúde
acompanhamento psicológico durante Falta de informações nos serviços de saúde
a gestação disponíveis à gestante sobre esse tipo de
assistência
Fonte: Resultados da pesquisa.
Perfil sociodemográfico
Pelo QUADRO 2 observa-se que a gestante mais nova tem 20 anos, enquanto a
gestante mais velha tem 43 anos de idade. Apenas uma tem ensino fundamental, e as demais
se dividem entre ensino médio e superior. A maioria declarou-se casada, com profissões
diversas e em sua primeira gestação.
A descoberta da gestação foi um momento pelo qual as gestantes não passaram ilesas.
Todas manifestaram sentimentos diversos, que puderam ser reunidos entre aquelas que
descobriram a gestação que não havia sido planejada e aquelas que haviam planejado
engravidar, condição que se refletiu diretamente em suas percepções e sentimentos.
Mesmo as participantes que não haviam planejado a gestação puderam ser separadas
em dois grupos: as que ficaram positivamente surpresas com a notícia e aqueles não aceitaram
a nova condição.
Assim, o trecho abaixo mostra fala de gestante que mesmo sem planejar a chegada de
um novo filho, ficou bastante feliz com a notícia.
Eu não estava esperando. A gravidez então não foi planejada, por causa da
idade [43 anos]... sinto vergonha devido à idade... sabe, eu achei que seria
assim, como que eu ia lidar com aquilo perante as pessoas, no ambiente de
trabalho... também por causa do divórcio... a vergonha que eu senti, foi isso,
pois as coisas foram acontecendo quando eu vi ela pela primeira vez com 10
semanas (Diamante).
A gravidez não foi planejada hora nenhuma como te falei, se tem uma coisa
que eu não pensava era em ser mãe, pelo menos não tão cedo assim. Quando
eu descobri que estava grávida eu fiquei com muita raiva de mim, de não ter
escutado minha mãe, que sempre falava pra eu procurar um médico, tomar
um remédio ou prevenir de outra forma sabe (Ametista).
Foi fácil engravidar. Quando casamos fiquei 4 meses sem tomar o remédio e
nada, ai resolvi esperar mais um pouco e quando parei de novo fiquei 1 mês
só e deu certo, nem acreditei, quando desliguei da ideia veio rapidinho, é
desse jeito, não pode é ficar apreensiva. Hoje estou com 5 meses. A gravidez
foi planejada por nós dois (Turquesa).
O suporte familiar
Esta categoria tratou do suporte familiar, após passada a fase de descoberta e aceitação
da gestação. Foram identificadas situações em que as mulheres puderam contar com a
presença e parceria do pai da criança, enquanto em outras situações o pai não havia sido,
sequer, comunicado da gestação. Houve, ainda, felicidade por parte da família estendida e o
suporte familiar partir, especialmente, da mãe da gestante.
Foi possível observar que algumas gestantes puderam contar com a presença e parceria
do pai da criança, condição que incluiu mesmo mulheres que não planejaram a gestação. Os
trechos a seguir, extraídos das entrevistas, mostram essa condição.
A primeira pessoa para quem eu contei foi pra minha irmã, ela sempre me dá
apoio, fiquei com medo de contar para meu marido, a gente não queria mais.
Ai ela me acalmou, contei pro meu marido, para os meninos e você acredita
que eles ficaram super felizes! Acho que eu mesma que assustei, é porque só
a gente sabe o que passa (Opala).
Ele mesmo, ele já estava apaixonado Desde sempre quis, ele tem dois filhos
adultos. Tem um sonho de bebê, de uma menina, se for menina vai ser o
mais apaixonado, bem carinhoso (Diamante).
Mas também foi identificado que nem todas as mulheres recebem ou irão receber
apoio do pai do bebê, por não manterem relacionamento estável, conforme fala abaixo:
Se eu te contar como foi, vai achar que é mentira, do tanto que foi doido. Eu
tinha começado a namorar com um colega de sala, e aí ficamos juntos 4
meses, não estava dando muito certo, e quando terminei, na outra semana
descobri que estava grávida. Eu ainda nem contei pra ele, não sei se quero
que ele saiba, não vai adiantar muita coisa mesmo (Ametista).
Minha mãe vai ficar comigo, ela vai cuidar de mim (Diamante).
Fiquei feliz. Minha família toda está muito satisfeita, muito mesmo, é o
primeiro neto, tanta da minha parte, como da parte do meu marido
(Turquesa).
A reação dos familiares foi de choro, por qualquer coisa, nada com nada,
quando a gente gosta a gente sente. Estou grávida, tudo nosso (Rubi).
Na hora, vou ser sincera com você, passou umas besteiras na minha cabeça,
como não ter esse filho mesmo, mas ainda bem que eu e minha mãe somos
muito unidas, ainda mais depois da morte do pai, então eu só chorava e ela,
mesmo assustada, tadinha, tentava me confortar. E não foi só um dia assim
não sabe, foram alguns dias sem querer sair de casa e chorando muito. O
resto da família nem sabe ainda, te falar a verdade e nem sei quando vou
contar (Ametista).
Uma emoção tão grande. Estou sentindo muita mudança de humor, aí eu falo
que eu estou implicando, implicando com cachorro. E essas alterações de
humor, assim, você consegue identificar quando eu falo na hora do cachorro,
mas agora tá tranquilo, que ele não tá aqui, implicância demais (Jade).
Eu fiquei apavorada, assim, não vou mentir não, mas também foi uma coisa
que eu fiquei alegre. Estou sentindo mudanças de humor repentino, na hora
tá de um jeito, depois tá de outro. Tem horas que estou vendo TV, e na outra
eu começo a chorar (Turmalina).
Tem dias que me dá vontade de chorar assim do nada, vejo uma coisa que
nem é tão triste assim e já estou chorando, estou ficando meio nervosa com
os meninos também, mudo de repente. Às vezes me sinto um pouco culpada
de não ter achado bom tá grávida de novo (Opala).
Há tem dias que fico assim sabe mais satisfeita, faço alguns planos e tem
dias sabe que fico nervosa com qualquer coisinha, qualquer coisinha mesmo,
é muita oscilação de humor pra te falar a verdade (Ametista).
Ansiosa, um medo foi uma mistura mesmo. Eu estou mais sensível. A gente
fica até confusa em relação a isso, mas eu sei que são os hormônios. Muitos
nem mudam, mas não estou passando muito bem (Safira).
Mudança de humor até que não, tirando o tanto que a gente fica sensível e
chorona, mas o que me incomoda mais é a vontade de comer a todo
momento (Turquesa).
Esta categoria permitiu compreender as percepções das gestantes sobre o parto e pós-
parto. Os conteúdos encontrados foram abordados a partir da escolha do tipo de parto,
norteada pelo medo da dor; o excesso de informações disponíveis na sociedade, que acabam
confundindo a gestante e a falta de informações da equipe de saúde durante a evolução do
parto e as preocupações com o pós-parto.
Nessa análise tiveram destaque dois assuntos correlacionados: o medo do parto normal
e a escolha do parto cesáreo como opção para não sentir dor. As gestantes relataram que essa
escolha acontece pelo critério sentir dor/não sentir dor, havendo poucos elementos além desse
que as ajudem na decisão. Demonstraram, ainda, sentir medo do parto normal, ainda que seja
da fisiologia feminina no processo de nascimento do bebê. Essa percepção ficou comprovada
nas falas abaixo:
Até tinha vontade de fazer normal, mas tenho medo. Vamos ver como será, a
cesárea (Ametista).
Estou dando preferência para a cesárea, tenho medo de doer demais, de não
aguentar (Turquesa).
Fico com muito medo, porque eu não sei lidar com sofrimento. Vou ficar
sofrendo com dor, tudo, para passar me preparando para cesárea. Nossa,
muito medo frente ao desconhecido (Safira).
Uma única participante destacou o receio de ser atendida por médico plantonista, e não
o médico que acompanhou o pré-natal e haver indicação direta de parto cesáreo:
Olha sobre o parto nem sei o que pensar, eu dou umas pesquisadas sabe no
Google, já vi alguns vídeos, até tinha vontade de fazer normal, mas tenho
medo. Vamos ver como será, a cesárea, ainda preciso pensar e ver também
minhas condições (Ametista).
Sobre o parto fico meio confusa, a gente escuta tanta coisa, coisa boa, coisa
ruim, então precisamos buscar mais informações verdadeiras (Turquesa).
Ainda que haja uma grande quantidade de informações na sociedade, houve queixas
relacionadas à assistência à mulher durante o parto. A falta de informações da equipe de saúde
durante a evolução do parto foi um fator abordado na pesquisa como um aspecto negativo e
que contribui para deixar a mulher ansiosa:
Essas respostam mostram que ainda que existam muitas informações disponíveis sobre
gestação e parto, as mulheres esperam que a equipe de saúde contribua para o esclarecimento
daquilo que está ocorrendo. Inclusive, mostra-se necessário discutir em maior profundidade
com as gestantes a opção pelo parto normal, uma vez que a quase totalidade das participantes
disseram ter medo desse tipo de parto.
Segundo Lopes et al. (2005), sob o ponto de vista psicológico, o parto é um momento
de grande expectativa e ansiedade para a mulher, uma vez que o longo período de espera está
chegando ao fim e tomando uma dimensão real, já que o filho esperado se transforma na
criança real e presente. Com isso, os sonhos e medos podem, ou não, se tornar realidade.
Sendo o parto um evento que acompanha toda a gestação e puerpério, continua sendo referido
pela gestante, mesmo após sua conclusão, seja sob a forma de lembranças ou de sentimentos
que a acompanham, já que fazem parte da sua história.
Mas o parto, também é um ato biológico, já que tem múltiplas influências sobre o
funcionamento psicológico da mulher e do ambiente sociocultural. É um acontecimento que
define a nova identidade da mulher que passa agora a mãe, podendo, para algumas, ser o
evento mais importante da vida (CORREIA, 1998).
Eu sinto medo, passar para fase do pós-parto é uma readaptação, você tem a
sua vida e depois do parto você tem outra. Medo de não conseguir
amamentar, porque romantizam demais, de que é um momento lindo e na
prática a gente vê que não é (Rubi).
Fico tranquila não. Tenho tanto medo, de não conseguir cuidar. Você pensa
em ir para a casa de alguém, mas minha mãe não mora perto (Jade).
Tem uma colega minha que participa de um grupo para gestante não sei se é
a mesma coisa (Turquesa).
Já outro grupo de gestantes tem conhecimento parcial sobre o que vem a ser psicologia
perinatal e suas atividades, conforme trechos extraídos das entrevistas:
É uma área que tem para trabalhar saúde mental da mulher durante a
gestação (Turmalina).
Ainda que algumas gestantes tenham uma ideia do que é a psicologia perinatal, não
conseguiram elaborar seu conceito. Também foi possível identificar uma visão popular sobre
as atividades da psicologia, que estariam unicamente ligadas à doença e, não sendo a gravidez
uma doença, não haveria o que discutir em relação ao tratamento psicológico da gestante.
Essa falta de conhecimento sobre o pré-natal psicológico é discutido por Arrais;
Cabral e Martins (2012), que apontam que além da baixa difusão dessa área de psicologia, as
gestantes, de forma geral, não veem necessidade de atendimento com um psicólogo, por não
estarem doentes. Assim, consideram que esse tipo de assistência é voltado exclusivamente
para o doente e, ao não se encaixaram nessa condição, não buscam nem conhecimento, nem
assistência psicológica.
Outro fator, agora tratado por Arrais; Moraes e Frozzale (2014), é que normalmente
não se aceita que as gestantes possam ter sofrimento psíquico, em função das alterações
vivenciadas no período gravídico-puerperal. Espera-se da mulher a felicidade plena pela
gravidez e rejeita-se a possibilidade de associar o sofrimento e necessidade de assistência
psicológica nesse período.
Também foi citado que a assistência psicológica poderia contribuir para as gestantes
elaborarem seus sentimentos e percepções em relação à própria gestação, conforme destacado
a seguir:
Conversar, o sentimento fica mais realçado na gravidez, ansiedade mesmo e
ansiedade medo e eu estou com tanto medo que estou começando a dar
pânico mesmo, do parto normal, mas é com medo de não dar conta (Jade).
Observa-se que mesmo que as gestantes não entendam o que é psicologia perinatal,
tem consciência de que a assistência psicológica nesse período pode contribuir para melhorar
seus aspectos de saúde no período da gravidez e pós-parto.
De acordo com Meireles e Costa (2005), como ocorre em qualquer processo de
transição, a gestação pode desencadear crises no sistema pessoal. Além de ser vista como um
fato estressor, é também uma transição desenvolvimental, que exige transformações. No
acompanhamento psicológico perinatal, o psicólogo poderá promover o desenvolvimento
psicossocial da mulher, em termos de objetivos de intervenção. Poderá auxiliar a grávida a
lidar com a crise, reenquadrando seus conceitos em uma perspectiva de integração, que atenda
ao eventual desequilíbrio psicológico provocado por esse acontecimento tão transformador.
Segundo Pio e Capel (2015), é necessário ouvir mais o que as mães têm a dizer, suas
necessidades e seus desejos, pois elas precisam de apoio, de compreensão, de momentos que
lhes permitam compartilhar suas vivências, cheias de angústias, tristezas, preocupação, culpa,
enfim, os sentimentos que podem lhes acometer e repercutir em suas vidas neste momento.
A importância da intervenção psicológica na gravidez reverbera na prevenção de
dificuldades relacionais, na medida em que se reconhece também a continuidade entre a
relação mãe-bebê, no período pré e pós-natal. Esta intervenção é possível e faz sentido desde
a gestação. É importante incentivar a comunicação relativa ao bebê, dar espaço para a
crescente preocupação com o seu bem-estar, envolver a grávida na descrição e personalização
do filho e incentivar a vivência dos momentos ecográficos que deverão ser intencionalizados
em termos da promoção da relação mãe e filho (MEIRELES; COSTA, 2005).
O pré-natal psicológico envolve um novo conceito de atendimento perinatal. Está
voltado para a humanização do período gestacional e puerperal, além de contribuir para a
construção da parentalidade (ARRAIS; SANTOS, 2013). De qualquer maneira, não deve ser
dissociado do pré-natal tradicional, uma vez que deve acontecer dentro de uma equipe
multidisciplinar, que inspire segurança à mulher e tenha maior possibilidade de êxito. Assim,
a psicologia perinatal deve atender a paciente como um ser biopsicossocial (SANTOS, 2005).
Assim, conclui-se que as dificuldades de adaptação na gestação devem ser vistas com
preocupação pelos profissionais envolvidos no acompanhando, sendo que a intervenção
psicológica pode fazer parte do processo gravídico-puerperal. Diante do processo de trabalho
de parto, com intercorrências ou não, exige-se a colaboração de toda equipe, incluindo a
participação do psicólogo, para oferecer um atendimento integral e uma abordagem que
atenda o orgânico e o psiquismo dos indivíduos (SIILVA, 2014).
Arrais e Santos (2013) evidencia que existem poucos casos nos quais a equipe de
psicologia é solicitada para acompanhar o pré-natal; as situações se concentram nos casos em
que o bebê tem má formação, alguma deficiência ou, ainda, quando há intercorrência no
parto, como aborto ou óbitos, uma vez que o sofrimento materno é evidente nessas situações.
Raramente a equipe é chamada para intervir em situações de psicoprofilaxia das gestantes e
puérperas.
Assim, não há foco do psicólogo na gestação, como recurso precioso para trabalhar
com a concepção de saúde integral, considerando a saúde mental intrínseca à saúde e ao
cuidado.
Cela e Oliveira (2015) discutem que a dificuldade de acesso da população ao
psicólogo não é assunto novo. Os novos modelos de atuação profissional, principalmente de
profissionais autônomos, têm avançados para campos de bem-estar social, especialmente na
saúde pública. Contudo, a Psicologia ainda é vista como uma assistência voltada para rendas
abastadas e existe uma dificuldade de acesso ao psicólogo na rede pública de saúde, condição
que acaba afastando o paciente desse profissional. Essa dificuldade de acesso, inclusive, é
explicada ou pela falta de profissionais ou pela forma de acesso ao sistema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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