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ADOPÇÃO

Notas para pais


Notas para pais –Adopção
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* Em que consiste a adopção?

A adopção consiste na inserção de uma criança num ambiente familiar, de

forma definitiva e com aquisição de um vínculo jurídico próprio da filiação, de

acordo com as normas legais em vigor. A adopção ocorre quando os pais da criança

morreram, são desconhecidos, não podem ou não querem assumir o desempenho das

suas funções parentais ou são pela autoridade competente considerados indignos

para tal.

A questão da adopção pode começar por levantar questões relacionadas com a

identidade da criança por volta dos sete ou oito anos.

O termo adopção torna-se multifacetado, e mais complexo.

A criança pode levantar questões que até aí não tinham surgido:

* para os pais terem ficado com ela, é porque alguém as deu. E isto, pode

aumentar alguma “confusão” emocional: alguém que também era seu pai ou mãe a

abandonou.

Esta pode ser uma revelação confusa e dolorosa, e a criança pode exibir raiva,

sentir-se culpada ou tornar-se tímida. Esta constatação pode um efeito central

no seu processo de maturação, podendo, se não for bem abordado e trabalhado

com a criança, originar posteriormente outras dificuldades de vinculação em outros

relacionamentos interpessoais.

* Reacções frequentes

Quando a criança é confrontada com os pais adoptivos pode reagir de uma

forma negativa. Esta reacção traduz a dificuldade em integrar aquelas pessoas

estranhas na representação que a criança tinha de pai e de mãe. Embora este tipo

de reacção seja perfeitamente normal, se os pais adoptivos não são devidamente

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preparados e esclarecidos, este tipo de reacção da criança pode gerar mau estar e

dificultar a futura evolução de todo o processo de adopção.

Por exemplo, uma criança insegura, que não faz muitas perguntas depois de saber

que é adoptada, é importantes os pais lembrarem-lhe e assegurarem-lhe que ela

não é responsável pela renúncia que os seus pais biológicos fizeram, e que ela é

muito amada por todos.

Em qualquer idade, as crianças adoptadas beneficiam muito de todas as

manifestações de carinho e segurança, e é fundamental transmitir a ideia de que

alguns sentimentos, como a tristeza, luto, culpa ou raiva são normais de serem

vividos, que a criança é amada de modo incondicional, e que as suas famílias de

origem vão também ser suas para sempre.

As questões que sentem necessidade de ver respondidas mudam com a idade e à

medida que crescem. Assim, o adolescente pode sentir necessidade de saber

mais coisas sobre os seus pais biológicos, pode sentir-se “diferente” dos seus

amigos, devido a esta condição, e sentir que não pertence à família que o

adoptou.

* Recomendações aos pais


 É muito importante que os pais sejam flexíveis nas suas expectativas em

relação à criança, e que tenham a capacidade de alterar essas expectativas, de

modo, a que estas se adeqúem às reais características e capacidades da criança.

 Devem criar e proporcionar um funcionamento familiar flexível e criativo. Os

pais pacientes, obtêm gratificações com as suas acções no dia a dia, permitindo que

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a criança se desenvolva e transforme dentro do seu próprio ritmo e dentro de

determinada dinâmica e disciplina familiar.

 Se a criança pertence a uma outra cultura ou etnia, então o novo sistema familiar

é também multicultural, e os hábitos e costumes que a criança traz consigo

devem ser respeitados e integrados com os outros valores e hábitos que os

pais adoptivos já tinham. Desta forma não se nega à criança a oportunidade e o

direito de manter algumas das suas características pessoais.

 Inicialmente, a adaptação à escola ou a outra realidade escolar pode correr

normalmente, e com o passar do tempo, surgirem problemas emocionais, de

comportamento, atenção ou indisciplina. È importante os pais conseguirem

determinar se estes problemas ocorrem por a criança estar a viver uma nova fase

desenvolvimental, tal como qualquer criança, ou se estas dificuldades se devem a

aspectos relacionados com a adopção.

 Os pais devem estar atentos aos seus próprios medos e “fantasmas” quando

chegar o momento de partilhar com a criança a verdade sobre a sua identidade, e

procurar lidar com eles de modo a não perturbar a criança. O adoptar um animal de

estimação e iniciar uma discussão sobre o tema, pode ser uma boa estratégia para

se começar a falar com a criança, ou através de histórias infantis, específicas

sobre adopção.

 Deve ser criado um ambiente familiar favorável à discussão e debate aberto

sobre este tema, de modo a que a criança sinta que sempre que sentir

necessidade pode falar dele e colocar todas as questões que forem surgindo. A

atitude e postura dos pais é muito importante, e desde cedo pode definir e

influenciar o modo como a criança, sobretudo quando pequena, irá mais tarde

interiorizar e integrar esta realidade.

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* Perguntas mais frequentes

»  “Deve dizer-se ou não às crianças que foram adoptadas?”

Se a adopção ocorreu numa fase precoce, a criança pode não ter conhecimento de

que foi adoptada. Nesta situação, os pais são detentores de um segredo

importante relativo à identidade daquela criança. A revelação ou não deste segredo

é a dúvida que progressivamente vai atormentando os pais e os vai deixando cada

vez mais inquietos. O terror de que alguém de fora informe o filho relativamente à

adopção e consequências negativas que daí possam advir começam

progressivamente a ser verdadeiramente angustiantes.

De forma geral, todos concordam que é necessário revelar à criança que foi

adoptada, a maneira de o fazer e a altura mais oportuna é que se revestem de

interrogações. A criança tem direito de conhecer a sua história devendo esta

ser contada progressivamente e com delicadeza, sem entrar em pormenores

chocantes, mas também nunca fugindo à verdade. Desta forma a criança

encarará a sua própria história como algo simples e que não põe em causa a relação

pais/filhos até aí estabelecida. Sem dar excessiva informação, os pais podem

ajudar a criança a compreender que, embora a sua história seja um pouco

diferente, ela também tem um pai e uma mãe que a amam profundamente, à

semelhança de muitos outros meninos.

Adiar, indefinidamente, a revelação pode tornar-se extremamente perigoso,

devendo esta ser feita precocemente, de preferência antes dos 6 anos, altura

em que a criança entra na escolaridade básica. Por muito difícil que esta tarefa

possa ser, ela deverá ser concretizada pelos pais adoptivos, pois é um assunto que

a eles diz respeito e do qual poderão falar com clareza e simplicidade. A

dificuldade em falar deste assunto poderá ser indicativo de que os adultos

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apresentam problemas que não estão devidamente resolvidos. A procura de ajuda

no sentido de conhecer as razões profundas da resistência em falar do assunto

poderá ser o primeiro passo a dar pelos adoptantes, antes da revelação. Este maior

auto-conhecimento poderá ajudar os pais a sentirem-se mais à vontade e

interiormente mais livres para falar.

O diálogo a seguir apresentado ilustra bem como de uma forma simples, sem

muitos esclarecimentos e sem evitar uma resposta verdadeira, se pode acalmar

a criança.

”- Mãe, os bebés vêm da barriga das mães? (A mãe, apanhada de surpresa, ficou

calada.)

- Uma menina lá na minha Escola disse que os bebés estão nas barrigas das mães…

- Pois é! Os bebés nascem de dentro das mães…

- Mas eu estive na tua barriga?...

- Não. Tu não estiveste na minha barriga, porque há mães que não podem ter os

bebés. Mas gostam muito deles à mesma. E quando há uma senhora que teve um

bebé, mas não o pode ter com ela, às vezes dá o bebé a outra mãe que não o pode

ter na barriga dela…

- Mas tu és minha mãe? (A criança estava já um pouco desconfiada).

- Eu sou a tua mãe. Eu e o teu pai queríamos muito ter um filho, e gostávamos muito

de ti. Mesmo antes de te vermos já gostávamos muito de ti… Eu sou a tua mãe

porque era eu quem te dava o biberão, quem te mudava a fralda, quem te dava

banho…

- E o pai também dava o biberão?

- O pai também dava. E gostava muito de te pegar e de te ter ao colo.

A criança pareceu tranquilizar-se e ficou por ali.”

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Dizer: “Eu sou a tua mãe”, não há aqui fuga à verdade, pois a mãe dos cuidados

maternos, a “mãe psicológica”, é ela inegavelmente, muito embora a barriga tenha

sido de outra.

» É verdade que as crianças que são adoptadas têm mais problemas que as

outras crianças?

O que as investigações demonstram é que a maioria dos pais desenvolve com os

seus filhos adoptados relações próximas e seguras, e que crianças apresentam uma

saúde e um crescimento emocional e desenvolvimental em tudo idêntico às crianças

que cresceram com os seus pais biológicos.

» Qual a melhor forma de responder a perguntas ou comentários indelicados

das outras pessoas?

Se o comentário é de alguém que não conhece ou com quem não tem um

relacionamento próximo, poderá dizer: “Porque é que me está a perguntar isso?”

“Desculpe, mas eu conheço-o de algum lado, ou tenho que ouvir esses

comentários? Não! Com licença!” Lembre-se que ninguém tem o direito de invadir

a sua privacidade, nem a da sua família, e este é um assunto íntimo que só à família

diz respeito.

Se o comentário é de um amigo, vizinho ou uma pessoa da família, esta é uma

oportunidade de “educar” essa pessoa, no sentido de perceber como o seu

comentário é infundado, não tem correspondência com a realidade, ou que não se

deverá repetir numa próxima vez. Demonstre surpresa por essa pessoa estar a

fazer aquela questão e partilhe com ela, num local em privado e não em público, a

resposta correcta e adequada sobre o que ela perguntou.

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Os nossos filhos precisam que gostemos deles incondicionalmente. Com

os seus defeitos e limitações. Com as suas qualidades e tudo o que têm

de melhor.

A nós pais, cabe-nos a tarefa de acompanhá-los no processo de crescimento

e desenvolvimento, ampará-los quando caem e dar-lhes força para

continuarem, mas, e acima de tudo, investir emocionalmente nos nossos

filhos tornando-os felizes. Os mais felizes.

* Que livros posso ler para ajudar o meu filho?

 "Este meu filho que eu não tive. A adopção e os seus problemas" João

Seabra Diniz. Edições Afrontamento.

 Rahola, P. (2003). “Carta ao meu filho adoptado.” Porto, Âmbar

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