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INTRODUÇÃO

Saber equilibrar as relações que estamos envolvidos é uma arte que


poderá ser desenvolvida após a leitura deste livro. Todos nós estamos
interconectados através de grupos, somos parte de uma rede, e nossa
vida basicamente existe através das relações que mantemos.

Seja na vida pessoal, social ou profissional, tudo o que interfere em nossa


vida diz respeito as relações que mantemos, nossas maiores alegrias
assim como as maiores frustrações estão vinculadas a outras pessoas e a
nossa ligação com elas.

É importante esclarecer que todos nós entramos em relacionamentos


carregando conosco uma imagem interna como referência, a qual
criamos na infância através das crenças que assumimos com o mais
inocente amor pela família que nos gerou, criou e acolheu de acordo
com suas condições e nível de consciência. E esse sistema de crenças ou
essa imagem interna passa a ser a lente que visualizamos e julgamos o
mundo e as pessoas que o compõe através das relações que
estabelecemos. Nossas percepções, a forma que nos posicionamos
diante da vida e das pessoas que irão cruzar nossos caminhos enquanto
adultos são pré-determinadas em nossa infância.

Por isso, enquanto inconscientes das nossas limitações, ou seja, enquanto


condicionados por esse sistema de crenças, as experiências que
passarmos terão uma forte tendência de repetir os padrões familiares,
compensar culpas secretas, honrar entes queridos ou excluídos de nossos
sistemas e tentar assumir situações que muitas vezes não nos compete,
cometendo injustiças com os demais e com nós mesmos.

Até chegar o momento que nos damos conta que representamos muitos
papéis em nossas relações e temos a sensação de que perdemos nesse
teatro da vida nosso “Eu” mais autêntico, livre e feliz conosco e com o
mundo que nos rodeia. Eis então que começa nossa verdadeira jornada.

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O intuito desse livro é justamente auxiliar a equilibrar suas relações atuais
e anteriores, através da tomada de consciência das dinâmicas que
pode estar gerando conflitos em suas relações, assim como da postura
adotada por você como consequência, de modo que você possa
identificar o que se encaixa com seu caso e caminhar para uma solução.

Esse livro contém um compilado de informações de 14 obras de Bert


Hellinger, o criador das constelações familiares, sobre o tema, assim
como exemplos de minhas experiências pessoais e de outras vidas que
passaram por mim através de atendimentos ou encontros destinados.

Essas informações sem dúvida transformarão sua percepção sobre as


relações e te levarão a outro nível de conhecimento e consciência.
Desejo que coloquem em prática o que aqui está descrito e sintam o
efeito de viver suas vidas através da ordem sistêmica, onde o Amor flui e
transborda em direção ao “mais”, mais sucesso, mais saúde, mais
alegrias, mais vida.

Agora convido para que você entre em contato com o seu centro e se
conecte com um lugar receptivo sem seu interior para absorver esse
conhecimento. Perceba sua respiração, se estiver curta, procure respirar
profundamente algumas vezes, permita sentir no seu corpo todas as
sensações que vierem e se forem, coloque a atenção na sua respiração
por alguns segundos mais, assim como as batidas do seu coração.

Bem vindas (os) e obrigada por fazer parte de nossa rede de Amor

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AS LEIS SISTÊMICAS

Nosso maior anseio ao mesmo tempo que, instintivamente, é sentir que


pertencemos, estamos em segurança e podemos contar com as pessoas
que amamos, também diz respeito a sentirmos liberdade e
reconhecimento nos grupos que fazemos parte.

Essa necessidade de segurança nos conduz a primeira lei sistêmica, que


é a do “Pertencimento”, a qual abarca suas posturas funcionais e
disfuncionais de acordo com nossa vinculação e emaranhamento com
outros do sistema. A seguir a necessidade de conviver em sociedade
ocupando nosso lugar com paz e reconhecimento diz respeito a lei da
“Hierarquia” ou da “Ordem”, a qual nos posiciona enquanto indivíduos
frente as outras relações e nos traz centramento e autenticidade. Por
último, temos a necessidade de nos expandirmos através das relações
que fazem parte de nossa vida familiar, conjugal, social e profissional. E
essa arte nos é possibilitada de acordo com nosso senso entre o dar e
receber, que faz parte da lei sistêmica do “Equilíbrio”, a qual
aprofundaremos nesse guia.

As leis sistêmicas portanto, são necessidades de nossa alma que são


traduzidas para nosso campo consciente através de duas sensações
básicas e instintivas, a de inocência e de culpa.

A culpa é um sentimento que está presente em todas as nossas relações


de forma mais ou menos evidente sempre que recebemos algo.
Instintivamente, ao mesmo tempo que ficamos felizes sentimos uma
obrigação de retribuir ou uma sensação de “débito”. Também
chamamos a isso de “má consciência”.

Já a inocência diz respeito ao relaxamento, a sensação de leveza,


liberdade ou “crédito” que sentimos quando damos ou retribuímos algo.
A isso chamamos de “boa consciência”.

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Saber fazer uso e harmonizar esses sentimentos básicos dentro de uma
postura funcional nos leva a maestria nas relações, tanto se desejamos
aprofundar e crescer em uma relação assim como, se desejamos
diminuir ou desfazer o vínculo.

Portanto, quando instintivamente estamos na culpa, o sentimento é de


dívida pelo o que recebemos, e quando estamos na inocência é de
liberdade, de crédito pelo o que damos. E essa dança rege a forma em
como estreitamos ou afrouxamos os laços em todos os nossos
relacionamentos. No entanto, enquanto não conscientes, é comum estar
atuando nas diversas relações, sejam familiares, sociais, conjugais ou
profissionais de forma automatizada, ou seja, seguindo “as cegas” um
modelo interno de “dar e receber” que carregamos da infância.

Quando formamos nosso sistemas de crenças, até aproximadamente 7


anos de idade, somos permeados pelas bases da percepção que nos
conduzirá as escolhas da vida adulta. Esses sistemas de crenças são a
soma das informações que registramos em nossa consciência pessoal no
período de gestação e criação infantil através dos pais e das pessoas
importantes pertencentes aquele período e ambiente.

As crianças simplesmente aceitam com Amor ao que as manterá


vinculadas e seguras, é uma entrega total, que independe do contexto.
Toda criança Ama profundamente aqueles que a rodeiam e mantem
em segurança. Por isso muitas vezes tomam com Amor não somente o
que lhes caberia, como os recursos, sabedoria, bênçãos e dons de seu
clã mas também as dores, injustiças e/ou doenças.

Ao tomarmos* o que não nos cabe, mesmo que de forma inconsciente


perdemos a possibilidade de viver plenamente nossas vidas, somos
tomados a serviço do sistema, da consciência coletiva, como se
pudéssemos reparar algo em nome dos que são maiores que nós, do que
chegaram antes, como nos pais, tios, avós. E a essa postura chamamos
arrogância, pois nos arrogamos de situações que não nos competem e

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ao invés de seguir para a vida, caminhamos de forma inversa, para o
fracasso ou mesmo para a morte em lealdade invisível as pessoas do
nosso sistema.

*Tomar diz respeito a “recebemos de forma ativa”, recebermos algo que


para nós é de vital importância, como uma criança que suga
ativamente o leite para sua sobrevivência.

Embora façamos isso de forma inconsciente e instintiva na infância,


temos agora a oportunidade de tomar com consciência somente o que
nos cabe e soltar e devolver o que não nos pertence, realizar outros
movimentos, para o mais, para a Vida.

EQUILÍBRIO ENTRE PAIS E FILHOS

Os pais são grandes e os filhos são pequenos. Essa frase pode parecer
determinista e até autoritária, mas possui efeitos profundos na alma dos
pais e de seus filhos. Quando essa ordem é recebida com respeito e
gratidão pelos filhos, eles podem seguir para a vida com as bênçãos de
seus pais e sem vinculações negativas.

Os pais dão e os filhos tomam. Não tem contra partida. Quando os filhos
querem fazer o caminho inverso, ou seja, dar aos pais, suprir suas
carências ou mesmo compensar suas frustrações ou tristezas, a isso
chamamos de presunção, pois estarão, sem perceber, em um postura de
superioridade diante de seus pais.

Essa é uma dinâmica muito sutil, mas internamente os filhos guardam


uma imagem que se traduz em frases como: “Eu faço melhor do que
vocês, eu posso mais do que vocês”. Neste caso há uma arrogância (vou
explicar melhor esse termo, criado por Bert Hellinger) disfarçada de boa
vontade para com os pais que pode inclusive ocultar uma vingança
secreta que os filhos guardam e realizam contra os pais na velhice, se

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pode verificar na forma que os filhos tratam seus pais nesta fase. Essa
“vingança” acaba sendo consequência da decepção dos filhos consigo
mesmos quando, após a idade adulta não tem força ou não conseguem
seguir suas vidas de forma autônoma e satisfatória, então acabam se
voltando contra os pais, julgando seus comportamentos em falta ou
excesso de atenção, amor, incentivo ou bens materiais. Na verdade são
filhos que chegam a idade adulta, mas psicologicamente permanecem
na esfera infantil.

É claro que quando os pais são idosos, muitos filhos tem o desejo de
retribuir a eles tudo o que receberam, mas é importante salientar que
toda e qualquer retribuição é errônea se os filhos priorizam ajudar os pais
antes de se desenvolverem na vida. Por exemplo, se priorizam
permanecer com os pais ao invés de seguir com oportunidades de
crescimento longe deles, seja para estudar ou trabalhar, então, essa
ligação embora possa parecer nobre, é um sinal de vinculação não
saudável, pois o filho não olha para o que sucederá, para o futuro, e sim,
se volta ao que já sucedeu, ao passado. Com isso, mesmo que
aparentemente com boa intenção, os filhos se deslocam de sua função,
querendo ser pais de seus pais e acabam retribuindo o que receberam
por culpa e presunção e não por amor.

Essa postura lhes gera consequências posteriores ou na relação de casal


ou na vida profissional, pois esse filho ou filha não estará totalmente
disponível, sempre algo dentro dele estará em obrigação com os pais e
isso seguirá mesmo após a morte dos pais, pois se cria um padrão de
vinculação ao passado, então ao invés da culpa, pode surgir tristeza ou
melancolia pela perda. Esses são os sintomas de quem vive voltado para
o passado.

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O CAMINHO SAUDÁVEL

O que é funcional é quando os filhos vão para a vida com tudo o que
tomaram de seus pais, e criam internamente uma culpa positiva que lhes
estimula a crescer e se desenvolver em todas as áreas de suas vidas, de
forma que sua prosperidade transborde na vida dos pais, como
consequência, por Amor a eles. Então esse presente é recebido como
uma benção. Ou quando os filhos se dedicam a cuidar de seus pais
idosos com Amor, desde que isso não destitua suas famílias atuais,
também é recebido como um presente.

O que diferencia uma ação por Amor de uma por arrogância é a


sensação interna que o filho tem ao realizar uma ação em direção aos
pais. Se internamente lhes ajuda com alegria e leveza, permitindo que os
pais sejam exatamente quem eles são, tomem suas próprias decisões
com liberdade mesmo que sejam diferentes das suas, então sua ação é
movida pela gratidão e pelo amor. Esses filhos não julgam seus pais e
assim são livres para viver de uma forma diferente.

Se internamente existe um peso, uma sensação de obrigação interna de


que precisa “resolver tudo pelos pais” porque eles não sabem como
fazer ou “não sabem tão bem quanto os filhos”, então a ação é movida
pela presunção e vingança secretas. Claro que isso não quer dizer que
esses filhos não amem seus pais, isso é impossível, diga-se de passagem,
mas nesta postura estão envolvidos em emaranhamentos, dando
sequência ou iniciando uma desordem sistêmica que afeta todas as
demais relações.

Portanto, para esclarecer, no ato de tomar, os filhos o fazem


acumulando uma tensão (culpa) instintiva de compensação, a qual
deve ser direcionada para próximas relações, ou seja, na relação de
casal e profissional. Na relação de casal, ao se tornarem pais, essa
“culpa” pelo o que tomaram dos próprios pais é compensada
naturalmente com os próprios filhos, e na relação profissional pode ser

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proveitosa para alavancar projetos, buscar melhores colocações nas
empresas ou no empreendedorismo. Quanto mais um filho acumula o
que tomou dos pais com gratidão, mais retribui para o “mundo” a sua
volta e cresce com sua contribuição.

Tomar com humildade dos pais, com a consciência de que sempre


seremos menores diante deles, permite acumular essa “culpa positiva” ou
essa bagagem sistêmica e ao encontrar outra pessoa que igualmente
carrega sua culpa positiva, tornam o que têm, grande o suficiente para
transbordar na relação. Isso quer dizer que nos tornamos grandes diante
dos filhos e da vida profissional quando estamos sistemicamente
pequenos diante de nossos pais e tomamos tudo aquilo que veio deles
ao preço que lhes custou.

Tomar o que não cabe aos filhos

É importante ressaltar que quando os filhos tomam dores, ressentimentos,


mágoas, doenças, dívidas, injustiças ou aquilo que os pais conquistaram
por mérito próprio, como bens materiais, reconhecimento ou carreira,
eles não conseguem se desenvolver de forma saudável, assumem parte
daquilo que não lhes pertence e muitas vezes querem expiar/compensar
pelos pais e outros antepassados. Mesmo que seja de forma
inconsciente, essa postura traz consequências negativas e conduz
silenciosamente ao fracasso e outros caminhos inversos à vida.

Quando tomamos o que não nos cabe, é quando sentimos que o vem
dos pais é “pesado” ou desconfortável. Esse “sentir”, pode ser
identificado com facilidade, e é sempre um sinal de disfuncionalidade.
Os filhos podem, neste caso estarem se negando a tomar o que vem dos
pais por medo ou se, mesmo sendo pesado, sentem uma certa “honra”
por carregar esse peso, então tendem a repetir as mesmas histórias.

Por isso que muitos filhos tem dificuldade de tomar seus pais, porque
tomam aquilo que não lhes cabe ou porque temem carregar as cargas

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ou ter uma vida igual a dos seus pais. Esse medo causa confusão,
distorção, distanciamento mas, principalmente, vinculação, porque
quanto mais os filhos rejeitam os pais ou aquilo que vem deles, mais
inconscientemente buscam formas de compensar, e acabam repetindo
suas histórias, pois seu olhar e atenção estão voltado para o passado.

Tomar é uma arte

Desejar ter uma vida diferente da vida dos pais é natural e para os pais é
uma realização quando os filhos se desenvolvem e tem de fato uma vida
melhor do que a deles, isso quer dizer que o seu esforço ou sacrifício
valeram a pena. Por isso que, quando os filhos não se desenvolvem é
como se estivessem se “vingando” de seus pais, pois internamente lhes
diz “vocês não fizeram o suficiente, por culpa de vocês eu não tenho
sucesso” ou ainda podem representar “Assim como vocês, eu me limito,
eu fracasso”. Essa postura ainda infantil não enxerga que esse Amor
adoece a todos e impede de assumir a autorresponsabilidade pela vida.
Tomar é uma arte porque todos os pais foram suficientes, pois eles não
dão aos filhos simplesmente o que eles tem, e sim o que eles são e o que
também tomaram de seus pais.

Os filhos não devem julgar seus pais, dessa forma suas vidas se tornam
mais leves. Sempre, mesmo da forma mais inconsciente, a vida da
geração seguinte é mais leve que a da anterior e isso se deve ao que os
pais já tomaram, compensaram, foram exemplo ou carregaram. Cabe
aos filhos consciência e coragem para tomarem apenas o que lhes
cabe, ao preço que custou aos pais.

Por exemplo, pais que tiveram um vida muito sacrificada, que


trabalharam muito, passaram necessidades básicas, entendem que a
vida se baseia no trabalho árduo e no sofrimento. Realmente criam esse
sistema de crença, pois foi graças a ele que superaram as adversidades
para se manterem vivos e levarem a vida adiante através de seus filhos.
Esses filhos sofrem uma grande tentação de terem vidas muito próximas

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que as dos seus pais, a levarem uma vida de sofrimentos e sacrifícios em
honra a eles. Quando na verdade os honraria se pudessem expandir essa
visão com amor. Lhes mostrar um outro lado, respeitando seus pontos de
vista e sem julgar sua resistência. Que pudessem tomar os seus dons, sua
dedicação, sua ação, seu amor, sua responsabilidade, sem as dores e as
consequências de suas escolhas pessoais.

Ser feliz exige uma boa dose de coragem, repetir os condicionamentos,


mesmo com todo o sofrimento envolvido, é mais fácil.

Então, uma “métrica” para saber se os filhos tomaram o que lhes cabe
de seus pais com Amor é quando, enquanto adultos ao pensarem em
seus pais sentem-se alegres por tudo o que seus pais são e por tudo o
que vem deles. Parece simples mas esse é um dos maiores desafios que
temos, pois os pais são partes de nós, representam nossa luz assim como
as sombras que mais tememos.

Os que conseguem esse feito, conseguirão alcançar o maior dos


sucessos, pois ao tomar os pais e tudo o que vem deles, com qualidade,
permite que se abra em nós o conceito de “Amor que cura”, que é
aceitar integralmente a si mesmo e ao próximo, e assentir a tudo como É.
Por isso, esse é em belo processo de purificação espiritual e a abertura
dos caminhos para o sucesso em todas as áreas da Vida.

A Vida independe de como os nossos pais pensam ou agem, nós


chegamos a ela através deles e por isso já devemos ter minimamente
respeito aos nossos pais, por terem assumido juntos esse grande risco.
Não poderiam ter sido outros, esse homem e essa mulher, em algum
momento se encontraram e partilharam o Amor e se tornaram pais
mesmo com todos os riscos. E mesmo com todos os temores, cada um a
sua maneira disse Sim, para a manutenção da Vida que se expressava
no ventre da mãe, até o nascimento. Eles cumpriram com sua função,
tornaram-se pais, doaram-se aos próximos que queriam chegar, com o
Amor que tinham, guiados por uma força superior.

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Após essa compreensão, podemos olhar com gratidão e humildade para
nossos pais e também, elevar o nosso olhar para o que está além, pois a
Vida chega através deles, desde muito longe.

Baixamos nossa cabeça, fazemos uma reverência a todos eles. Esse


movimento físico começa uma modificação na biologia, inicia um
processo de desconstrução da antiga história, voltada para o que faltou
ou o que poderia ter sido mais. Aqui, tomamos a consciência de que,
independente da forma como foi para cada um, foi o suficiente. Sem
culpados, sem juízes. Somos todos humanos, cada um chegando e
regressando a seu tempo sempre conectados uns aos outros.

Receber agora a Vida, com essa percepção é um convite para sentir


como ela é preciosa, desabrochar o Amor e a humildade por esse
presente é uma dádiva curadora. Dizer Sim a Vida exatamente como ela
É e como ela chegou, honrar o destino dos pais e deixar com eles suas
implicações e também sua força e dignidade. Dizer sim aos limites que
foram impostos, e também as possibilidades e aos recursos que
adquirimos e dessa forma olhar para nossos pais, sem expectativas,
apenas como um homem e uma mulher comuns, nem melhores ou
piores, apenas como pais.

Tomar a Vida em sua plenitude é priorizar ao novo com gratidão pelo o


que temos e de onde recebemos, é, sem dúvida o encontro com o
sucesso.

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“No outono, o vento sopra e espalha as sementes. Uma delas cai em solo fértil,
outra em terreno rochoso, e cada uma delas tem de se desenvolver onde se
deposita. Não pode escolher o lugar. Do mesmo modo, não podemos escolher
nossos pais. Eles são o lugar onde nossa vida germina, o único lugar. Quer a
semente tenha caído em solo fértil, quer em terreno rochoso, será uma
verdadeira árvore, não importa como cresça. E dará frutos. Suas sementes se
espalharão de novo, e a mesma árvore tornará a crescer de maneira distinta em
diferentes lugares.”

“Para que possamos crescer de fato, temos de aceitar o lugar ao qual estamos
ligados, seja ele qual for. Com “vantagens” ou “desvantagens”, todo lugar
condiciona a um desenvolvimento específico, tem oportunidades específicas e
estabelece determinados limites. Porém, a vida é pura e autêntica tanto num
quanto noutro lugar.”

Bert Hellinger

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EQUILÍBRIO NA RELAÇÃO DE CASAL

A relação de casal é a mais importante de todas as relações. Ela


precede a formação da família, portanto tem maior importância quanto
a função e peso no sistema familiar.

Através da relação de casal se cumpre o propósito de levar a vida


adiante, a nível universal é o maior dos serviços que se pode prestar, por
isso, se aqui estamos, nossos pais tiveram total êxito em seus papeis,
sendo eles conscientes ou não.

Portanto, o casal, um homem e uma mulher ou energias


preponderantemente masculina e feminina, unem-se e expressam de
forma instintiva o maior potencial existente do ser humano, o da criação,
da manifestação do que vem da origem, através dos filhos.

Diferentemente da relação pais e filhos, onde os pais sempre dão, como


grandes, e os filhos sempre tomam, como pequenos, na relação de
casal, ambos, homem e mulher, devem ser vistos como diferentes mas no
mesmo nível, como complementares.

Essa “diferença” provém da natureza das forças masculina e feminina.


Enquanto a força masculina representa o que expande, leva para o
mundo, tem ação no mundo externo com estratégias e racionalização a
força feminina é abrigo, acolhimento, criatividade, amor incondicional.
Por isso homem (energia masculina) e mulher (energia feminina) se
completam em um nível profundo, além dos julgamentos morais.

Mas para que a relação, em seu cotidiano tenha sucesso, é preciso


compreender que existe uma dinâmica instintiva de compensação
contínua entre o casal para equilibrar o Dar e o Receber.

E esse movimento ocorre tanto para aprofundar e tornar uma relação


duradoura como para distanciar e romper um vínculo, de acordo com a

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postura adotada pelo casal e por cada um como indivíduo dentro da
relação de acordo com seus condicionamentos prévios. E ainda, a
vinculação pode se estabelecer tanto para o “bem” como para o “mal”,
criando relações saudáveis e felizes ou relações tóxicas as quais os
companheiros muitas vezes não conseguem se desligar.

Essas posturas são reflexos das imagens internas que cada um carrega
sobre como é se relacionar, como esse dar e receber acontece, de
acordo com a interpretação que fizemos da “relação modelo” para
todos nós, que é a relação dos pais enquanto casal. Isso quer dizer que,
na grande maioria das vezes, quando as relações passam por muitos
conflitos, há envolvimentos sistêmicos, seja pelas imagens internas
inconscientes que conduzem a comportamentos disfuncionais ou a
emaranhados propriamente ditos.

Tudo o que carregamos é expresso em algum momento da relação, por


isso relacionamentos anteriores também são passivos que pesam nas
relações atuais se não forem devidamente honrados. A essa altura já se
percebe porque as relações entre casais representam um grande
processo de desenvolvimento pessoal e espiritual, através delas entramos
em contato com o que de mais profundo precisamos transcender e ao
mesmo tempo com o que é mais sagrado e poderoso.

E o equilíbrio se dá, com a dança entre o Dar e o Receber, com a


inocência e a culpa, onde os dois precisam dançar e alternar os papeis.
Quem permanece estático em um dos papéis está secretamente usando
o relacionamento para compensar culpas pessoais. Quem doa demais
sem receber ou quem recebe demais sem doar, atua desde a
inconsciência, com uma postura infantil. Reproduz algo que traz de sua
infância, e por isso não olha para seu companheiro como igual, ou o
olha desde a superioridade, como um pai/mãe olha para seu filho, ou
desde a inferioridade, como um filho olha para seu pai/mãe.

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E isso é mais comum do que se imagina, sobretudo nos primeiros
relacionamentos. Por isso, é fundamental que possas agora olhar com
sinceridade para sua postura dentro da relação e a partir desse ponto
iniciar seu processo de reequilíbrio.

A seguir, descreveremos as 4 posturas básicas que se assume em uma


relação, e que pode ser considerada não só na relação de casal, mas
também profissional.

É crucial estarmos atentos a três pontos fundamentais, o primeiro é estar


disposto a entrar na dança do dar e receber, a entregar-se de forma
consciente para vivenciar os sentimentos de culpa e inocência, segundo
é preciso cuidar o volume daquilo que é dado para que o parceiro possa
retribuir e terceiro a qualidade do que se dá, pensando no que é
importante para o parceiro, para que possa atender as reais
necessidades do outro e receber o que de fato é importante para si e
para o crescimento da relação.

“O conflito é uma reação de defesa ao amor infantil.”

Morgana Mattiello de Senna Baldin

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AS QUATRO POSTURAS DAS RELAÇÕES

Expectador

Essa postura corresponde as pessoas que entram nas relações com um


estado de participação mínimo, não só no envolvimento de casal mas
na vida profissional e social. Como sinal de que não querem sentir-se
obrigadas a nada, dão o mínimo para receberem o mínimo e assim
facilmente se fecham e fogem de diferentes formas de todo o sucesso e
crescimento, seja pessoal ou profissional. Sentem-se livres das obrigações
do jogo das relações, mas pagam o preço de se sentirem vazias e
insatisfeitas, muitas pessoas com depressão se encontram nesta dinâmica
de negação. E apesar de poderem conhecer de perto uma face do
sofrimento, no fundo essas pessoas portam-se como especiais, pois
evidentemente negam-se em receber aquilo que vem primeiramente de
seus pais e projetam isso para as outras relações.

Quem se nega em receber ou rejeita um ou ambos os pais, encontra o


descaminho, sente-se perdido e nega-se a viver uma relação profunda
com outras pessoas assim como a receber outras coisas boas da vida,
permanecem sempre na superfície e até à margem da Vida. Querem
viver na inocência de não receber para não pagarem o preço da culpa
de retribuir cada vez com mais, e lhes custa muito mais caro por essa
postura.

Na infância, possivelmente, essas pessoas registraram que não podem


contar com as pessoas, não puderam em algum momento contar com
os pais e isso foi muito doloroso, então a criança se fechou. Pode ter
ocorrido um movimento de *amor interrompido em direção a mãe ou ao
pai e isso fez a criança pensar que é melhor ficar sozinha do que esperar
algo de outra pessoa, então se abstém de viver plenamente e se afasta
das relações de casal assim como se afasta dos pais.

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*Mais adiante explicarei com detalhes o que é a dinâmica do Amor
Interrompido.

Doutrinador

A relação tem sucesso quando o homem ama e toma a mulher sem ter o
desejo de modificá-la e o mesmo vale para a mulher, que ama e toma o
homem como seu homem sem o desejo de modificá-lo. Cada um dá o
que tem e recebe o que necessita. Aqueles que desejam expressa ou
implicitamente transformar ou educar o parceiro estão ferindo uma
ordem em relação aos pais e a própria relação de casal, pois de forma
inconsciente desejam ser o Pai ou a Mãe do parceiro porque
secretamente se sentem melhores e desejam modificar os seus próprios
pais.

São os que também se negam a lidar com a culpa e atuam de maneira


exagerada como “inocentes”, tornando-se doadores universais dentro
das relações. No entanto, aquilo que doam não é visando as
necessidades do outro e sim as suas próprias necessidades de educar e
transformar. Dessa forma, não olham para o parceiro num mesmo nível e
sim desde uma postura de superioridade, elevando a pressão sobre a
relação e o distanciamento entre o casal, o que provoca que o parceiro
as vezes possa ir procurar formas de se aliviar fora da relação.

“É melhor dar do que receber”; “É melhor ajudar do que ser ajudado”;


“Fiz de tudo, mas não fui reconhecido” “Faço de tudo, mas não sou
reconhecido”... Quem se encaixa neste padrão de pensamento,
possivelmente vive essa disfunção em suas relações. Sentem-se
injustiçados e comumente acabam sozinhos ou insatisfeitos por não
compreenderem porque suas relações não dão certo.

Esse exemplo de disparidade pode ser ilustrado, por exemplo, nas


relações onde um dos parceiros paga os estudos para o outro. É comum

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que aquele que recebeu essa quantidade desproporcional saia da
relação ao se formar, pois não consegue retribuir o que lhe foi dado em
valor e sacrifício. É o que acontece com os filhos em relação aos pais,
quando esses pagam seus estudos, nos filhos se cria uma tensão grande
de culpa por tudo o que receberam e eles tendem a se afastar dos pais
e compensar na próxima relação. E é exatamente isso o que acontece
nessa projeção dentro de uma relação de casal.

A dor desses adultos na infância, possivelmente esteja relacionada ao


fato de terem sentido que precisavam se destacar para ser amados e
reconhecidos. Precisaram “fazer mais”, “serem melhores” do que alguém
para receber atenção e amor pois, ser simplesmente quem eles eram
não seria o suficiente. Então criaram um senso de necessidade de
superioridade e de reconhecimento.

Dependente

Fomos ensinados a sonhar com relações disfuncionais, muitas meninas


ainda crescem moldadas a um sonho de um dia encontrar seus
príncipes, que chegarão em seus cavalos brancos salvando-as de todos
os males, atendendo todos os desejos da amada e sendo felizes para
sempre. Também, ainda muitos meninos crescem com a imagem em
mente de heróis que salvam princesas perfeitas e vivem sua paixão e
amor incondicional. Essas histórias na realidade refletem buscas
inconscientes dos filhos por seus pais e não por seus pares iguais. O Amor
entre o casal pode florescer e impulsionar ao crescimento quando
submetido às ordens que precedem o próprio amor. Quem busca por
segurança e amor incondicional vive ainda uma fantasia infantil e se
posiciona enquanto filho (a) na relação, se destituindo de força e
criando relações de dependência emocional e /ou financeira.

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São pessoas que no fundo tem um alto grau de exigência em relação ao
outro, pois sempre esperam mais, julgam não terem sido atendidas de
forma suficiente na infância e tornam-se sugadores na relação de casal.
Sempre recebem, mas por mais que o parceiro(a) faça, não satisfará
suas necessidades mais profundas, pois de fato estão exigindo da pessoa
errada o que precisam fazer por si mesmas enquanto adultas. Tendem a
se tornarem vitimistas e dominadoras, pois acabam prendendo a outra
pessoa à relação através das histórias que conta e do sofrimento que
expressa.

Cabe ressaltar que as consequências expressas em egoísmo, vitimismo e


inconsciência, carregam uma forma distorcida de ver e sentir o mundo.
Pois possivelmente os modelos de relações que os dependentes
presenciaram na infância eram de vitimismo, sacrifícios ou abusos e a
criança que estava naquele meio aprendeu que aquela forma de se
relacionar era a “certa”, pois foi o meio que lhe permitiu sobreviver.

Ainda, os dependentes podem guardar profundamente imagens


relacionadas a: Se eu viver com sacrifícios eu sobrevivo, se eu permitir o
abuso eu sobrevivo, pois o sofrimento lhe é familiar, então faz uso dessas
artimanhas para manter o relacionamento. Pode sentir que muitas vezes
“cede”, e isso faz parte do seu padrão de sacrifício, mas é importante
saber que ceder faz a relação caminhar para o fim. Quando um deseja
e outro cede, quem cede se coloca como grande, pois quem deseja
acaba se tornando o dependente de sua ação. Assim, o equilíbrio entre
o dar e receber não acontece de igual para igual, há sempre um
desnível que não permite a relação crescer, vive num ciclo vicioso de
conflitos e reconciliações.

Então, qual é a postura funcional para uma relação de casal?

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Adulto consciente

É quando um adulto saudável que já tomou tudo (o suficiente) de seus


pais, segue para a vida com a tensão de culpa positiva que o leva a
querer contribuir e crescer junto ao seu/sua companheiro (a). Essa
mesma postura é sentida na vida profissional.

Aquele que inicia com o Dar demonstra o desejo de fazer a relação


crescer, seja um presente, uma carícia, uma conversa. Esse, o faz por
Amor, e sente a leveza da inocência no ato de presentear o outro. O que
recebe, se o faz o Amor, sente também o desejo instintivo de retribuir,
como uma culpa positiva que nutrirá a relação, e se também quer que a
relação cresça ainda mais, retribui com um pouco mais do recebeu.
Assim, esse intercâmbio positivo fará a relação aprofundar ainda mais.

Mas essa troca não é mecânica, se quem recebe, devolve por se sentir
pressionado ou por exigências explícitas ou ocultas, isso não acrescenta
e sim diminui a paixão do casal. A relação torna-se fria e mecanizada em
todas as instâncias.

Neste caso, o casal não está olhando um para o outro, e sim voltados
para as próprias necessidades pessoais e as expectativas em relação ao
outro. Não olham para a relação com Amor e sim com outros intuitos,
que pode ser orgulho, necessidade de provar algo, medo da separação
ou de um enfrentar algum conflito.

O Amor deve e precisa ser naturalmente o guia do processo, o casal


deve sentir internamente que olha o outro desde uma mesma altura,
antes de dar algo, sentir o que e quanto será, naquele momento, o ideal
para ver o sorriso nos lábios e nos olhos do amado, o que o fará se sentir
bem, livre e amado, um reflexo do que é sentido pelo doador.

Quem recebe, recebe com encantamento e abertura, sente-se grato e


amado pelo presente, pela iniciativa, está disposto a receber com Amor
e tem de forma natural e feliz o impulso de devolver com mais, mais

20
Amor, mais paixão, em quantidade e qualidade que fará seu amado,
sua amada, sorrirem entre os lábios, olhos e coração.

E assim o casal se preenche de forma cada vez mais criativa e amorosa.

Assim, o Amor transborda, a paixão transborda e carne e espirito tornam-


se o que realmente são, Unidade.

21
EMARANHAMENTOS SISTÊMICOS

Muitas vezes as relações passam por conflitos em função de


emaranhamentos, ou de envolvimentos que não temos consciência.
Entende-se emaranhamento quando uma pessoa está tomada a serviço
para seu sistema, representando ou vivenciando dores, culpas, raiva e
até mesmo doenças que não são próprias dela, mas que tomam de
algum familiar. Mais comumente esses sentimentos são tomados pelas
crianças, em nome de seu amor incondicional, porém cego, para tentar
evitar o sofrimento dos pais ou equilibrar o que for preciso para seus entes
queridos.

Na infância, essa entrega é totalmente irresistível para a criança, ela


simplesmente aceita e reproduz, mas os adultos podem se tornar
conscientes através do conhecimento e liberar-se dos emaranhados
com Amor ao seu sistema, respeito e sabedoria. Essa escolha, como
todas as outras também exige algo, algo a ser renunciado, como o
orgulho e o sofrimento e algo a ser acrescentado, como a humildade e a
ação voltada para o sucesso.

Aqui descrevo quem deve ser considerado nas dinâmicas sistêmicas e


também descreverei algumas das quais os envolvidos não percebem
que estão emaranhados e sem autonomia real de decisão. Se sentires
que alguma delas te toca profundamente procure um profissional
sistêmico e claro que eu também estarei a disposição para te orientar.

Quem deve ser considerado no sistema

Agora relato, a seguir, as pessoas que devemos considerar no sistema


familiar por exercerem influência na consciência pessoal do grupo.
Quem determina e zela pelo equilíbrio do todo é a consciência coletiva,
que é amoral e não distingue os vivos dos mortos, considera as
informações implantadas como um continuo no tempo e sempre está
equilibrando as polaridades. Por isso, ao nosso ver, muitos inocentes são

22
tomados a serviço do sistema para compensar situações que não lhes diz
respeito diretamente, mas que também podem se liberar quando tomam
consciência e agem também com Amor para criar uma nova
informação na consciência coletiva, librando não só a si mas toda uma
geração.

Por fim, as pessoas que a consciência coletiva incluí nos


emaranhamentos diz respeito primeiramente aos pais e seu filhos, após os
irmãos, incluindo abortos espontâneos ou provocados e natimortos, os
tios biológicos (também considerando abortos espontâneos ou
provocados ou natimortos), os avós, e em alguns casos também os
bisavós e tataravós.

Também inclui os ex-companheiros dos pais e avós, se tiverem


(especialmente se dessa relação tiveram filhos, mas também se foram
relacionamentos importantes ou com compromissos firmados como
noivados).

Ainda, é importante considerar pessoas que possam ter contribuído ou


gerado benefícios ao sistema familiar como em algum processo de
herança.

Por último as vítimas e seus agressores, como por exemplo em casos de


assassinatos, ambos os envolvidos permanecem vinculados e incluídos no
sistema.

Expiação

O desejo de salvar os pais é uma ilusão infantil, pois cada sentimento


reprimido é consequência de escolhas pessoais que carregam consigo a
dignidade de quem originalmente as tem. Por isso, quando alguém de
forma inconsciente quer fazer justiça em favor de um antepassado, não

23
apenas está em uma posição de arrogância como está tirando a
dignidade daquela pessoa, a isso chamamos de expiação.

Por exemplo, num processo de separação dos pais, onde um dos


genitores guarda raiva e ressentimento do outro, considerando-se
injustiçado, algum dos filhos pode vir a expressar esses sentimentos
reprimidos de uma forma mais violenta. Assumem para si
comportamentos que não dizem respeito ao seu contexto, mas que
igualmente não tem controle e consciência. Por isso, para evitar a
expiação, é preciso que haja responsabilidade nas relações, tanto ao
começar como ao terminar, se for o caso.

Se ao final da relação ambos os pais concordarem que a relação não


pode se sustentar e assumirem sua parcela de culpa/responsabilidade,
então a compulsão por expiar é eliminada.

Dupla Transferência

Casais que vivenciam conflitos muito constantes, inexplicáveis e os quais


não tem controle, podem estar emaranhados numa dinâmica de Dupla
Transferência. Vou ilustrar com um exemplo relatado por por Bert
Hellinger:

Um casal vive em constante pé de guerra e em uma sessão de terapia


quando a mulher se coloca a esbravejar com o marido, o terapeuta
percebe que seu rosto se transforma, parecendo o rosto de uma velha.
Então ele pergunta, quem é essa velha que está com tanta raiva? E a
mulher se lembra que sua avó trabalhava no restaurante da família e era
frequentemente arrastada pelos cabelos pelo marido em frente a todos
os clientes. Logo que essa lembrança veio a luz ficou evidente que o
sentimento de raiva que a mulher sentia era uma transferência da avó,
no entanto o alvo não era o avô e sim o seu marido, por isso a dupla
transferência.

24
Inúmeros são os casos de dupla transferência, de sentimentos
geralmente associados a raiva que são reprimidos pelos pais ou avós mas
que os filhos ou até mesmo os netos captam e podem tomar para si.
Embora não existam culpados, uma vez que esse tomar é inconsciente,
isso não isenta da injustiça cometida por quem tomou o que não lhe
cabia contra pessoas inocentes. Neste exemplo que citei, da injustiça
cometida pela esposa contra o marido. Então, o que resta para esses
casais, é deixar-se permear por uma nova percepção, uma nova
imagem interna, que por ser verdadeira toca a alma profundamente,
olhar para o que foi injustiçado e dizer: “Eu sinto muito. Eu não sabia.” E
que cada uma dessas frases sejam ditas até alcançarem a vibração
necessária para tocar a alma do companheiro. Então, os dois podem
novamente olhar-se mutuamente com amor e renascer para uma nova
relação, com mais consciência.

Identificações

Os caminhos que escolhemos são, na maioria das vezes, guiados por


forças que desconhecemos, mas que atuam de forma mais ou menos
intensa. As identificações dizem respeito as pessoas que correspondem
inteiramente às informações de alguém do sistema que foi excluído ou
rejeitado, mesmo não tendo conhecimento de quem era essa pessoa.
São simplesmente tomados a serviço do sistema como um todo, muitas
vezes consideradas as ovelhas negras da família por apresentarem
comportamentos distintos do resto do grupo, ou mesmo parecendo ter
uma vida “normal” mas em seu íntimo sentir que não existe autenticidade
em seus pensamentos, emoções e ações. Aqui o processo de observar
corretamente uma identificação é fenomenológico, ou seja, apenas
testando em um ambiente seguro essa hipótese com um profissional
sistêmico é que pode ser revelado e desfeito. Embora a própria alma
envie sinais a todo instante. Se esse parágrafo lhe tocar profundamente,

25
é possível considerar essa hipótese, sinta seu corpo como reage e
procure um profissional para lhe ajudar se necessário. Quem está
identificado com outra pessoa do sistema, não possui uma identidade
própria, é como se fosse apossado pelas informações daquele
antepassado, por isso, aqui não existe liberdade, há uma supressão da
personalidade do identificado e a expressão de outra personalidade,
que corresponde a alguém do sistema. Esse fato não pode ser explicado,
mas os efeitos sentidos e comprovados, pois quando ocorre a
desidentificação a pessoa percebe imediatamente em seu corpo e em
sua alma que foi liberada, sente como se seu corpo se ancorasse em solo
firme e um profundo alívio. Geralmente casos de identificação tem
relação com pessoas que foram excluídas, rejeitadas, abandonadas ou
se cometeu alguma outra injustiça como o esquecimento, por exemplo
no caso de mulheres que morreram no parto ou de pessoas internadas e
abandonadas em hospícios, relações extra conjugais que foram
omitidas, crianças que foram doadas, assassinatos etc.

Modelagem

Diferentemente da identificação, onde a pessoa envolvida não tem


domínio da própria personalidade, no processo de modelagem, somente
parte da identidade está vinculada com outra pessoa. Isso quer dizer
que embora se tenha uma forte influência de informações de outra
pessoa atuando nas tomadas de decisão, ainda se disfruta de certa
liberdade de escolha. Os processos de modelagem geralmente provem
da influencia de um dos pais, que projetam nos filhos algum desejo
inconsciente de que esse se pareça com alguma pessoa que para eles
foi importante ou sentem culpa. Pode se tratar de algum ex-
companheiro (a), algum irmão falecido ou tio que admirava.

26
O movimento de Amor interrompido

Quando precocemente a criança precisa se afastar da mãe ou do pai, e


chama por eles sem ser atendido, como por exemplo em um caso de
internação hospitalar, ou mesmo quando do berço a criança chorava e
não era atendida, ou se precisou por algum tempo estar sob os cuidados
de outras pessoas em função de alguma situação específica dos pais.
Essas situações podem ter sido extremamente dolorosas para a criança
que chamou por ajuda, não foi vista, escutada, atendida, ficou confusa,
entrou em desespero, por fim se revoltou com raiva e se deu por vencida,
fechando-se emocionalmente.

Esse fechamento foi conduzido para a vida adulta, fazendo com que,
quando esse homem ou essa mulher tentem se aproximar e criar uma
relação com alguém, seu corpo, sua biologia lhe envia sinais de perigo,
que para ela pode ser inconsciente, mas que a leva a um afastamento
daquele compromisso por medo de sentir novamente aquela dor. O
movimento de amor interrompido cria situações de repetições, onde
num mesmo ponto, a pessoa tenta avançar mas algo dentro dela
lembra daquela dor ela instintivamente se afasta, tornando esse
movimento cíclico e neurótico.

Essa também é uma dinâmica muito comum entre adultos com


dificuldade de expressar seus sentimentos e envolverem-se em relações
profundas.

Para retomar esse movimento de Amor, é preciso entrega e seriedade


pois é um processo doloroso, porém libertador.

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OUTRAS CAUSAS FUNDAMENTAIS DOS CONFLITOS

Filhinhos da mamãe e filhinhas do papai

Quando os meninos ficam por muito tempo sob a esfera da mãe não se
completam enquanto homens, permanecem como eternos
adolescentes, queridinhos das mulheres mas não desenvolvem atitudes
nem despertam interesse por seu potencial masculino. Ao mesmo tempo,
quando as mulheres permanecem muito tempo sob a esfera do pai, se
tornam eternas adolescentes, não sendo vistas como mulheres atraentes
pelo seu potencial feminino. O que esses filhinhos buscarão em suas
relações de casal serão substitutos para a mãe e para o pai. Assim os
homens buscarão alguém semelhante a própria mãe, independente de
como for seu relacionamento com ela e a mulher buscará alguém
semelhante ao seu pai, independente de como for seu relacionamento
com ele. Ambos em posturas de tomadores, desejando receber do outro
aquilo que acreditam não terem recebido suficiente dos pais. Uma
relação de parceria, sem a profundidade e seriedade que uma relação
de casal exige para expressar seu potencial de realização
transcendental.

Por isso é importante que os meninos passem logo para a esfera do pai e
as meninas para a esfera da mãe, para que desenvolvam seus atributos
masculino e feminino e se completem em um parceiro. Aqueles que
buscam desenvolver igualmente suas energias masculina e feminina
tendem a ficar sozinhos, pois criam uma ideia de autossuficiência. Por isso
é importante que os homens permaneçam homens e cultivem o
masculino junto a outros homens e que as mulheres permaneçam
mulheres e cultivem o feminino junto a outras mulheres. Assim o casal
mantem sua tensão de atração mútua e vê o outro como
complementar.

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Ciúmes

O ciúme é uma reivindicação de algo que no fundo se sente culpa em


tomar por não sentir merecimento. Sistemicamente está associado aos
parceiros que ainda se mantém vinculados por deverem algo aos ex-
companheiros (as). Quando as relações chegam ao seu fim, é
imprescindível que o casal assuma sua responsabilidade, cada um a sua
parte e possam agradecer e considerar o que aprenderam com a
relação, o que tiveram de positivo e o que devem transcender. Também
o término deve ser acompanhado da dor, pois neste caso, a dor é um
sinônimo de honra pelo o que foi vivido. Quando cada um se permite
sentir a dor que o momento exige, consegue seguir sua vida e encontrar
outras possibilidades quem sabe muito maiores de Amar. No entanto
quando a dor é reprimida e transformada em sofrimento, se fica atado
ao passado e o casal, mesmo que separados fisicamente, não progridem
na vida e podem inclusive caminharem para o fracasso para compensar
suas culpas secretas. Então, quando iniciam outras relações, podem
passar por crises de ciúmes em função do que não foi devidamente
honrado, além de outros emaranhamentos sistêmicos.

Leviandade

Ser leviano é terminar uma relação sem uma justificativa adequada, que
seria por exemplo sentir que apesar dos esforços não foi possível manter o
que no início uniu o casal. Quem termina uma relação para benefícios
próprios ou simplesmente abandona um companheiro(a) ou família,
coloca em risco a própria felicidade e no caso de uma família, até
mesmo coloca em risco a vida dos filhos. As relações compõe a maior
preciosidade da experiência humana, em especial as de casais, e
devem ser vividas com a devida seriedade e intensidade. Assim um casal
se torna um casal de verdade até mesmo quando se separam.

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COMPENSAÇÕES ILUSÓRIAS

Relações religiosas

Existem algumas situações onde a troca não tem como acontecer,


como nas relações religiosas, no entanto a mente condicionada pelo
instinto de equilíbrio tenta realizar da mesma forma essa retribuição,
criando situações de desequilíbrio que atuam contra a própria vida.

Lembre-se que, na relação com nossos pais não existe intercâmbio, os


pais somente dão e os filhos somente tomam, e essa é a mesma relação
com o mundo espiritual, Deus, o Universo. Isso não quer dizer que esse
tomar seja passivo, pois tudo o que recebemos cria um tensão/culpa que
impulsiona à ação em prol do desenvolvimento pleno da vida em todos
os seus aspectos e disso surge naturalmente a gratidão, como
confirmação de aceitação e amor ao que foi recebido.

No entanto, muitas pessoas não sabem lidar com o sentimento de culpa


quando o que recebem vem claramente de um contexto maior, como
quando alguém se salva de um acidente que várias pessoas morreram.
Pode surgir um sentimento de culpa e uma tentação de seguir o mesmo
destino que os demais, ao invés de reconhecer o próprio destino e fazer
algo de bom com ele. Quem se mantém na culpa, inércia ou vergonha
diante de um cenário como esse pode acabar com a própria vida por
outros meios, sendo negligente consigo mesmo e buscando meios como
vícios ou esportes de risco para tentar mascarar essa culpa por estar vivo
ao invés de reconhecer com humildade o presente que recebeu e atuar
com gratidão e alegria.

Não há como pagar pela salvação e viver dentro dessa esfera do Ego, é
uma tortura mais fácil para muitas pessoas do que sentir-se grata e
merecedora de tal presente. Essa gratidão porém, não é a gratidão
expressa e sim a vivenciada dentro do coração, é apenas um tomar,
como na relação com os pais, mas sem a presunção de querer devolver

30
e com a autorresponsabilidade de viver com amor. Tomar sem
arrogância torna esse presente aceitável, e dessa postura surge uma
leveza interior, não de alguém que é especial em detrimento de outros
mas sim da aceitação do próprio destino e do destino de outros, aceitar
o que é, simplesmente, traz paz e alegria. O que é preciso soltar? O
controle.

Injustiças Familiares

Da mesma forma, muitas vezes de forma inconsciente tenta-se pagar


pelo o que não é possível e não nos cabe em situações interpretadas
como injustiças.

Injustiças que foram cometidas na família, alguém que perdeu tudo o


que tinha porque foi enganado ou crimes, são fatos que estão no banco
de memórias da consciência coletiva mas que não dizem respeito as
gerações posteriores. Contudo, se essa memória é alimentada pelo
desejo inconsciente de justiça pelos pais ou pessoas próximas da família,
então as crianças captam imediatamente para si esse “trabalho” e
buscam compensar as culpas através da repetição, desenvolvimento de
doenças ou fracasso na vida adulta. Por isso, o passado precisa ficar no
passado depois de algum tempo. É importante olhar para isso e permitir
que descanse junto aos que tiveram sua vida vinculada a esses fatos.
Esse foi o seu destino e permitir que o fato fique no passado é uma
demonstração de respeito. Dessa forma pode-se aprender e disfrutar da
sabedoria e da força que esses destinos liberaram para seus
descendentes, em paz.

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CAMINHOS DE SOLUÇÃO

Renúncia ao primeiro Amor

Para que a relação de casal tenha sucesso, ambos, o homem e a mulher


precisam primeiramente renunciar ao seu primeiro e grande Amor, os
Pais.

Em seu mundo interno os pais sempre estarão no coração como fonte de


gratidão e força mas no mundo externo a prioridade torna-se a relação
de casal, o marido para a esposa e a esposa para o marido. E essa é a
ordem que deve se manter também quando nascerem os filhos.

A relação de casal se sustenta portanto quando o homem toma a


mulher como sua e a mulher toma o homem como seu e ambos
entregam-se, dando e recebendo, investindo sempre no que traz mais
amor, mais bem estar, mais saúde, mais vida.

Ainda, quando esse homem e essa mulher podem olhar um para o outro
e dizer: “Eu amo você e aquilo que o guiou até aqui”, “Eu amo você e
aquilo que a guiou até aqui”, então a relação é coroada pela benção,
pois cada um é visto desde a sua integralidade e aceito, então o Amor
entre o casal irradia luz.

Sexualidade e epiritualidade

A sexualidade representa a expressão de algumas verdades, como que


o material e o espiritual são “um” e como o instinto e o espírito são
igualmente importantes para nós. É através da sexualidade que a
espécie humana se iguala as demais espécies e também reinos ao
movimento orientado para a vida, para o mais. O espiritual chega
através da matéria, o que é o nascimento de um bebê se não a
materialização do mundo espiritual? Nós somos pura sexualidade, o
instinto honra a vida que recebemos e assim busca a proteger, manter e

32
perpetuar, e o espírito se liga ao que provém do invisível e permite a
criação daquilo que é novo e ligado ao instinto.

Através da sexualidade portando, somos guiados e evoluímos. Como nos


desenvolvemos se não através do outro? Quando criança vivemos uma
relação de total intimidade primeiramente com a mãe e em seguida
também com o pai. E na vida adulta buscamos novamente vivenciar
essa experiência, essa ligação, que estabelecida no ato sexual. O vínculo
proveniente da sexualidade é físico e une profundamente as almas
envolvidas, em busca do prazer cada ser humano é conduzido a sua
experiência de entrega máxima, sobrehumana, pois para chegar ao
pico de prazer é preciso deixar de lado, mesmo que
momentaneamente, as máscaras das identidades, as armaduras que
usamos para defender nosso Ego. É um momento de verdade, de
conexão com o sagrado através da matéria, do físico, do real, através
de um movimento natural de amor. Duas mentes pensam estar no
controle enquanto duas almas se preparam para um encontro divino. Por
mais que possa haver mil e uma formas de vivenciar a experiência sexual,
todas elas estão a serviço da vida. Por mais que hajam mil e uma faces,
preconceitos, incompreensões, medos, traumas.. a sexualidade é o
cume da evolução, do ponto de vista universal. Pois ao final de toda a
razão, de toda moral, influência cultural, social... o desejo permanece,
sobrevive para conectar o ser humano a sua alma. O desejo é divino. E
quando sentido desta forma, ele sai da esfera sexual e torna-se um
centro criativo puro, um estímulo constante, um fluxo ininterrupto de
energia que pode ser direcionada para todas as áreas da vida. Tudo
está conectado nesta rede de informações a qual pertencemos, somos
causa e consequência, perguntas e respostas, doação e retribuição de
acordo com nosso desejo de sermos mais conscientes. No entanto, o
desejo nos lembra, que por mais que estejamos insconcientes de muitas
coisas algo dentro de nós pulsa e nos conecta ao divino, ao espírito, ao
inominável, essa é a nossa verdadeira natureza.

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Equilíbrio na relação de casal com filhos

Equilibrar a relação de casal, como pais, exige atender aos critérios de


tempo, função e peso.

Antes de tornarem pais, esse homem e essa mulher, formaram um casal,


chegaram antes (precedência do tempo) e formaram a família
(precedência na função- pai/mãe), sendo essa a relação com o vínculo
mais forte (maior peso). Mais forte que o vínculo com os seus próprios pais
ou seus próprios filhos. Ou seja, a relação do casal deve ser tratada como
prioridade diante dos filhos.

Essa é uma postura desafiadora mas extremamente importante para que


haja equilíbrio e que os filhos se sintam seguros e amparados. Quando os
filhos ficam em primeiro lugar é porque o casal não olha para si como
deveria. Claro que, existe uma fase, logo após o nascimento dos bebês,
onde a demanda por atenção é maior. Comumente a mãe precisa se
dedicar mais ao bebê, e quando pode contar com o apoio e
compreensão do companheiro (a), o Amor entre o casal entra em outro
nível.

Quando chegam os filhos, a paixão diminui, mas não no sentido


negativo, pois progressivamente vai se transformando em algo mais
profundo. Cresce a admiração do casal, do papel que ambos fazem em
nome desse novo Ser. Aqui o casal, se coloca a serviço do bebê, no
primeiro circulo de Amor familiar, o recebe, nutre, ama, provê suas
necessidades e dá início a uma fase mais madura no relacionamento.

Quando essa postura não é vivenciada pelo casal, é porque há


desordem na hierarquia primária, com os seus respectivos pais, e esse
homem ou mulher ou ambos, ainda não estão completamente
disponíveis um para o outro e por consequência, para os filhos, em
função de seus emaranhados nas famílias de origem. Por isso existe uma

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tendência que as relações se mantenham por convenção, e quando isso
ocorre com a desculpa de ser por conta dos filhos, torna-se um caminho
pesado para todos.

Equilíbrio após a separação

Após uma separação e especialmente se frutificaram filhos, o casal


segue através da nova geração, atuando internamente nos filhos. Por
isso, se permanecerem mágoas e ressentimentos por parte do genitor
que está com os filhos, esses tomarão para si de forma inconsciente a
necessidade de compensação e reparação, abrindo mão da liberdade
de viver a própria vida. Os filhos criam então o que chamamos de
lealdades invisíveis, pois ama seus dois pais e, se a separação foi na
infância não compreendem os motivos que impulsionaram que eles
precisassem se distanciar de um dos dois. Por amarem
incondicionalmente tanto o pai quanto a mãe, aquele que for rejeitado
pelo companheiro (a), será tomado pelo filho em segredo inconsciente,
que o honrará assumindo uma postura igual a do pai/mãe rejeitado, na
Vida.

É de extrema importância que o genitor que permanece com os filhos


desenvolva a autorresponsabilidade pela relação como um todo,
inclusive sobre o termino da convivência do casal, trabalhando em si as
questões necessárias para poder agradecer pela experiência
vivenciada. Sentir a dor da separação, seu luto, é válido e importante
pois honra o que um dia trouxe alegria e satisfação, mas estender o
sofrimento transmite consequências aos filhos que tentam reparar as
dores dos pais através de suas relações.

Não existem relações erradas, todas são necessárias para o


desenvolvimento pessoal. Não existiriam perpetradores se não existissem
as vítimas e vice e versa. Essa é uma relação de atração natural entre

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dois opostos. Todo perpetrador se tornará em alguma instância vítima e
toda vítima, perpetradora em alguma área.

Essa é uma visão sistêmica baseada no grande contexto da vida e não


em fatos isolados que são levados a julgamento. Claro que intervenções
são extremamente válidas para qualquer relação que arrisque a
integralidade da vida, mas se considerassem a visão sistêmica e suas
ordens, essas questões seriam tratadas de forma mais leve e voltadas
para o essencial.

Equilíbrio na relação com os filhos após a separação

Primeiramente os pais precisam se posicionar como tal, como pais, eles


são grandes diante de seus filhos, ou seja, como adultos decidiram se
separar porque cada um já não aporta para o crescimento da relação o
que o outro espera. Nem sempre é uma decisão de comum
concordância, mas via de regra, quem recebe demais geralmente sai
da relação por não conseguir ou não saber como compensar.

Independente dos motivos, como pais, apenas comunicam seus filhos


que irão se separar e com quem os filhos irão permanecer no seu dia-a-
dia. A dor dos filhos é inevitável, mas é preciso uma postura adulta dos
pais para que eles sejam conduzidos com segurança no processo.
Quando os pais perguntam a opinião dos filhos, ou deixam que eles
decidam com quem ficar, estão transferindo aos filhos a
responsabilidade de resolver o que eles próprios não conseguem e isso
aos filhos é muito doloroso. Quanto mais os filhos sentirem que os pais
estão conscientes e responsáveis de sua decisão, mais fácil será o
processo.

Os filhos amam a seus pais incondicionalmente, podem tomar partido


por um ou outro externamente, mas isso faz com que crie uma lealdade
interna com o que lhe parece injustiçado. Por isso, quando os pais se

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separam e permitem que os filhos amem a ambos livremente, para o filho
é um processo de crescimento e aprendizagem.

Todo desafio traz a oportunidade de desenvolvimento, é preciso sempre


estar de mãos dadas com a autorresponsabilidade. Via de regra os filhos
permanecem com a mãe, mas se permanecerem com o pai ocorrerá a
mesma dinâmica: os filhos expressarão aquilo que está guardado no
mais profundo do genitor que permaneceu com eles, em relação ao que
está distante. Por isso, para os pais que se separam, é preciso coerência
e autorresponsabilidade de suas escolhas, sua dores e suas decisões,
caso contrário podem, inconscientemente se vingar do outro através dos
filhos.

Quando um filho escuta de seus pais, que um dia eles se amaram muito,
para ele é um alívio, pode então amá-los integralmente também.

Dinâmica: Dificuldade de tomar o pai pelo amor cego à mãe

Uma das causas que muitas vezes é oculta e impede que os filhos
consigam tomar o pai é a sua lealdade inconsciente com a mãe. Isso
acontece quando as mães guardam ressentimentos em relação ao pai
dos filhos, esses então, ainda quando muito pequenos, por esse Amor
incondicional a mãe, se comprometem interna e precocemente com
ela através de dinâmicas como “Eu carrego com você (ou por você) sua
dor, seu sofrimento, sua raiva, mamãe” ou pode ser “Eu sofro, odeio e
repito como (ou por) você, mamãe”. Essas lealdades podem
permanecer ativas durante muitos anos, até que possam ser
identificadas.

E enquanto elas se mantiverem, os filhos olharão para o pai através do


olhar da mãe, e raramente conseguirão abrir-se realmente para o Amor
e para a força que vem do masculino. Para essas dinâmicas, é preciso

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liberar-se primeiramente dessa fidelidade à mãe para após poder
enxergar o pai, com um olhar purificado.

O primeiro passo é o que chamo de “reflexo”, que é fundamental para


que a conexão seja verdadeira. Consiste em realmente analisar a si
mesmo, e verificar qual ou quais lealdades mantém com a mãe. Essa
lealdade se mostra através de repetições de histórias, de
comportamentos, de pensamentos, pode estar por trás, exatamente, do
que criticas...

Por exemplo, em um atendimento a filha relatou que tinha um


relacionamento conflitivo com a mãe por ela ser muito “dura e rígida”
com todos, e essa filha cresceu acreditando ser completamente
diferente, pois era uma pessoa muito comunicativa e alegre, bem vista
pela família e amigos, no entanto em um diagnóstico dessa dinâmica, ao
falar a frase “mamãe, assim como você é dura com os demais, eu sou
dura comigo mesma”, ela sentiu profundamente o quanto mantinha essa
lealdade secreta com a mãe, e isso possibilitou criar conexão e espaço
para o Amor emergir...

Somente a partir desse ponto de conexão quem passa a conduzir o


processo já não é a mente e sim a alma, e desta forma, agora, com
Amor os filhos podem dizer (internamente) a sua mamãe: “Mãe, agora
como adulto(a), eu vejo que esse sofrimento, essa dor, essa raiva já
ficaram para trás há muito tempo... agora vejo que eu sou eu e você é
você, mãe...”

E assim, esse filho também pode, agora, olhar para o pai e enxergá-lo
com seus próprios olhos, já purificados: “Agora eu consigo te ver pai”...

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Equilíbrio nas relações com parceiros que já possuem filhos

Muitas vezes em função de um abandono, morte ou separação


dolorosa, o genitor que permanece com os filhos dá seguimento a sua
vida através de outros relacionamentos, no entanto especialmente
quando os filhos são pequenos, surge um desejo de sentir-se amparado
pela figura que aparentemente "falta", um pai ou uma mãe, e se espera,
muitas vezes de forma inconsciente, que o parceiro/parceira atual
assuma essa posição, pois isso seria uma forma de "prova de amor" de
que realmente aceita essa mulher ou homem com tudo o que esse
carrega consigo.

Além disso, torna mais leve para a mãe ou pai que segue com a
responsabilidade dos filhos, dividi-la com outra pessoa. Mas essa é uma
dinâmica que cria emaranhados com consequências longas para todos
os envolvidos, em especial aos filhos pequenos que recebem isso como
“herança”, sem poder se defender das escolhas dos pais.

Para o parceiro que faz esse papel de pai ou mãe substitutos, também é
muito pesado. Eles também podem estar compensando uma situação
pessoal para assumir essa posição, mas via de regra é um papel
arrogante perante o pai ou mãe biológicos gerando um grande
desequilíbrio. Quando essa pessoa faz questão de assumir o papel de pai
ou mãe “substituto” está excluindo com o consentimento da mãe/pai, o
genitor biológico e isso gera nos filhos uma lealdade inconsciente com o
excluído, além de uma frustração de identidade, pois não tendo sua
origem devidamente honrada, entra em um processo de distorção de
sua auto imagem, e comumente acaba por concordar com a exclusão
feita, mentalmente, criando culpa e uma tensão por compensação.

É uma prisão para ambas as partes. Os sonhos desse homem ou mulher


são consumidos pela grande responsabilidade que precisam assumir e
não lhes compete, e dessa forma pela lei do equilíbrio se cria uma tensão
que exige compensação, e essa pode vir de diversas fontes. Bert

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Hellinger também escreve que o incesto as vezes está associado a essa
dinâmica, mas via de regra os filhos tornam-se extremamente leais a
esses "pais substitutos" e ambos deixam seus verdadeiros sonhos de lado.

Os filhos que tentam excluir/substituir a mãe biológica criam em si um


mecanismo de "eu não mereço".

E os que tentam excluir o pai biológico de dentro de si criam um


mecânico de "eu não posso". Tornam-se adolescentes e adultos difíceis,
inseguros, ingratos e com pouca força.

Isso porque no mais profundo de si são incapazes de deixar de amar os


que possibilitaram sua vida. Isso é antinatural, a alma passa a enviar de
tempos em tempos esse alerta, é tão descabido à alma como para a
ciência seria substituir a genética. Literalmente essas pessoas quando
adultas ficam perdidas, não sabem o que querem da vida ou seguem
cegamente os pais adotivos ou "substitutos" sem questionar, sacrificam
seus sonhos para pagar essa dívida, que é impagável e ilusória.

A solução é, independentemente de os pais biológicos estarem ou não


presentes, que eles sejam incluídos, que os filhos tenham liberdade para
amá-los e que sejam respeitados. A inclusão sempre traz liberdade, a
exclusão aprisiona, e essa inclusão pode ser feita pelos próprios filhos,
abrindo seu coração para os seus pais biológicos, estejam ou não
presentes, estejam ou não vivos, e lhes dar um lugar em seu coração.
Podem repetir essas frases, até entrarem na vibração de conexão interior:

“Pai, você é o único e certo para mim. Você é grande e eu sou


pequeno(a). Sou o seu filho e também sou o certo para você. Eu sou a
sua filha e sou a certa para você. Eu lhe dou agora um lugar em meu
coração e tomo tudo o que vem de você, ao preço que lhe custou.
Tomo a vida, todo suas bênçãos, tomo todos os recursos que nossa
história e ancestralidade me presenteiam. Através de vocês eu estou
aqui, sou grato, sou grata.” Faça uma reverência profunda a ele, e todos

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os seus ancestrais paternos, até o chão, baixando a cabeça, com amor,
humildade e gratidão. Permita-se sorrir...

Faça o mesmo processo para sua mãe.

“Mãe, você é a única e certa para mim. Você é grande e eu sou


pequeno(a). Eu sou o seu filho e também sou o certo para você. Eu sou a
sua filha e sou a certa para você. Eu lhe dou agora um lugar em meu
coração e tomo tudo o que vem de você, ao preço que lhe custou.
Tomo a vida, todo suas bênçãos, tomo todos os recursos que nossa
história e ancestralidade me presenteiam. Através de vocês eu estou
aqui, sou grato, sou grata.” Faça uma reverência profunda a ela, e a
todos os seus ancestrais maternos, até o chão, baixando a cabeça, com
amor, humildade e gratidão. Permita-se sorrir...

E agora, vocês podem mentalizar seus pais de criação e dizerem:


“Obrigada pelo o que você fez, sua história é com minha mãe (ou com
meu pai) e eu não vou interferir nas suas escolhas e consequências, elas
dizem respeito a vocês. Ele é o meu pai, e é o único e certo para mim.
Agora eu o tenho em meu coração e farei algo de bom a minha vida. “

Esse mesmo exercício pode ser realizado por filhos adotivos e adaptados
para os pais.

Equilíbrio nas relações que envolvem deficiências e doenças graves

Muitas relações são acometidas por fatos que exigem que o equilíbrio
entre o dar e o receber seja modificado. Quando doenças graves ou
alguma deficiência possa ocorrer tragicamente no decorrer da relação

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ou previamente a ela, o casal precisa estar ciente que seu equilíbrio e
por consequência seu amor, será desafiado.

Mas isso não quer dizer que o equilíbrio não pode ser alcançado, só
precisa ser adaptado a realidade como se apresenta. Um sempre
passará a dar mais e o outro a receber mais, essa é realidade e precisa
ser encarada de frente, dessa forma ambos podem decidir se desejam
continuar. Pois o Amor não se delimita tão facilmente, ele também é
flexível se conduzido por uma ordem adequada, que neste caso será a
ordem da humildade e gratidão.

Se quem recebe mais se sente culpado e se recusa a retribuir com


humildade e gratidão o que vem do outro, transfere sua culpa para o
parceiro(a) e o deixa lidar de forma solitária com o sacrifício, o que o
prenderá ainda mais a relação, mas por piedade e não por Amor.

Por isso, esse ato de humildade e gratidão por parte de quem recebe
mais exige uma grande coragem, pois vai ancorar a relação, honrar seu
parceiro e fazer brilhar o presente que o outro com Amor lhe dá.

Essa forma de Amor elementar traz um equilíbrio comparado a lei da


gravidade, que embora invisível sustenta a movimentação planetária.
Esse Amor também, embora vivenciado com aparentes limitações une e
sustenta movimentos que envolvem grandes processos de evolução
coletiva.

“Quem sente a verdadeira gratidão afirma: Você me presenteia sem


pensar em retribuição e eu aceito o seu presente com amor. O alvo
dessa gratidão, por sua vez, afirma: Seu amor e sua valorização do meu
presente valem mais para mim do que qualquer outra coisa que você
pudesse me dar.”
Bert Hellinger

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Retomar o equilíbrio após um dano

Todas as relações de casal passam por momentos desafiadores, quando


um dos envolvidos causa uma dor ou sofrimento no outro, causa algum
tipo de dano. Independentemente do que o/a motivou a fazer desse
dano, para que a situação se reequilibre é preciso que quem foi
prejudicado também o faça ao seu companheiro, só que um pouco
menos.

Vou aprofundar, explicar tratando da lei do Equilibrio entre Dar e


Receber e dos seus sentimentos básicos de culpa e de inocência.
Lembre-se que na dinâmica de crescimento da relação quem dá, torna-
se livre e inocente e quem recebe torna-se culpado por criar-se uma
culpa ou um senso de compensação instintivo de retribuição para que
haja o reequilíbrio.

Ocorre que, quando a dinâmica é negativa, quando o que o


companheiro dá ao outro é sofrimento ou dor, ele torna-se culpado e
não inocente, inverte a ordem. Quem recebe essa dor ou sofrimento, se
não tornar-se igualmente culpado fazendo algo semelhante mas um
pouco menos, é porque secretamente quer se manter na inocência, ou
seja, se quem foi prejudicado assume uma postura de simplesmente
“perdoar” o dano que sofreu sem uma reparação de peso semelhante,
mantem-se na inocência e o outro mantem-se culpado e o que cada
um fizer a partir desse ponto distanciará o casal, que já não se olhará
como igual.

Quem se mantem na inocência neste caso, se posiciona desde um nível


de superioridade, parece uma atitude nobre mas na verdade é uma
vingança silenciosa. Sempre que o outro o desagradar, o “inocente”
trará essa situação a tona, ou se lembrará e reagirá de acordo com ela.
O que se mantém culpado, reforçará sua culpa e o casal se distanciará
cada vez mais.

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É preciso que, quem foi ferido também torne-se culpado para a
dinâmica regressar a compensação positiva. Se por exemplo um dos
companheiros fez algo que o outro se sentiu prejudicado, como por
exemplo, foi viajar de férias com seus amigos enquanto o outro não foi
por estar trabalhando. Esse que ficou internamente, sentiu-se
prejudicado. Para haver o reequilíbrio, é preciso que ele faça algo que
internamente lhe gere o senso de compensação. Ou pode fazer uma
viagem sozinho(a), nas suas férias, ou pode comprar algo que lhe
compense e estava adiando a pedido do outro, ou... n possibilidades, só
é preciso que, quem foi prejudicado sinta que está novamente no
mesmo patamar que seu companheiro através de uma ação, sinta-se
compensado.

Se essa pessoa extrapolar na compensação, novamente irá se seguir a


dinâmica negativa, pois o outro sempre sentirá o desejo de compensar,
so que o fará desde o negativo também. Então a relação iniciará um
processo de destruição. Essa é a dinâmica que desencadeia relações de
ódio, mágoas, desavenças graves e até guerras.

É preciso saber dosar, fazer algo que de certa forma prejudique o outro,
só que, como o Ama, faz um pouco menos. Então a dinâmica pode se
reequilibrar para o positivo. No caso da saída de férias, poderia
igualmente sair sozinho para suas férias, mas por menos dias, ou sair com
o companheiro para viajar mas para um destino que quem está
compensando escolha, enfim.. cada situação trará alternativas
pertinentes, é preciso que os envolvidos estejam conscientes das
dinâmicas e tenham coragem de agir.

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MOVIMENTOS DA VIDA- Bert Hellinger

“Estamos todos presos na consciência, estamos sob a influência da


consciência. Podemos ver isso em várias constelações. Agora, trata-se de
encontrar a força que supera a morte, a força que, de diversas formas,
vai contra os movimentos que levam à morte. Assim podemos nos livrar
deles. O fator decisivo é que deixemos os mortos estar mortos. Todos os
mortos cuja morte vinculamos à sexualidade. Ou seja, as crianças que
não nasceram, seja qual for o motivo, mesmo quando a mulher, e aqui
também o homem, se sintam culpados com relação à morte do filho.
Uma coisa deve estar bem clara. A vida custa vida. A vida só continua
porque outra vida morre. Comemos o que está morto. Vivemos da morte
de outra vida. Essa é uma lei da vida: muitas coisas devem morrer para
que algumas possam viver.
Vocês ainda conseguem me escutar? Devo continuar falando?
Nunca disse o que estou dizendo agora desta maneira. Estou me
deixando guiar internamente e sei que estou me movendo dentro de
certos limites.
Os problemas com que nos deparamos neste trabalho estão todos
relacionados ao fato de que alguém deseja ir em direção aos mortos.
Vou dizer isso de uma forma bastante extrema: nós não reconhecemos
que esses mortos, sacrificados pela vida de outros, para que a vida
continue, querem a vida dos outros. Sua morte serve à vida. Ou seja, o
movimento em sintonia com os mortos seria o movimento que está em
sintonia com eles: um movimento que os deixa estar mortos.
Contudo, devido aos sentimentos de culpa, geralmente não somos
capazes disso. Talvez sem culpa pessoal, mas simplesmente porque
percebemos: sua morte nos traz um benefício. Queremos pagar por esse
benefício. Com o quê? Com a morte. Aqui, a lei da compensação
desempenha um papel.
Como podemos superar essa atração em direção à morte? As
Constelações Familiares, na maneira de caminhar com um movimento,

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nos mostram um caminho. Vou com vocês em uma meditação na qual
vocês poderão compreender isso internamente. Fechem os olhos, aí
poderemos fazer isso internamente... “

MEDITAÇÃO:

O PASSO DECISIVO- Bert Hellinger

“Sentimos em nosso corpo e em nossos sentimentos a forma como somos


atraídos para os mortos. Como, em nossos pensamentos e em nossos
sentimentos, muitos mortos tomam posse de nós. Sentimos a força com
que nos puxam para si, em direção à morte.
Ao mesmo tempo, podemos sentir outro movimento. Esses mortos querem
viver em nós, ao invés de estarem mortos. O movimento deles em
direção à própria morte não foi bem sucedido, e não somos capazes de
nos livrar deles por nós mesmos.
Agora vem o passo decisivo. Olhamos apenas para frente. Pensamos
apenas para frente, vivemos apenas para frente. Deixamos, por assim
dizer, a nossa pele antiga, a nossa pele morta, e nos movemos para
frente, para a frente e para a amplidão. Nós nos movemos para outra
profundidade, sempre adiante, levados por um movimento de vida
criador, em direção a mais vida, mais saúde, mais vontade, mais amor
preenchido - a dois.
O que fazem os mortos que deixamos para trás? Eles finalmente fecham
os olhos - todos eles.

Onde as ordens do amor prevalecem, cessa a corresponsabilização


familiar por uma injustiça ocorrida, pois a culpa e suas consequências
permanecem em seu devido lugar, e em vez da vaga necessidade de
compensação no mal, que gera continuamente o mal a partir do mal,
ocorre o equilíbrio no bem. Esse equilíbrio dá certo quando os pósteros

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recebem os antepassados, independentemente do preço pago, e
quando os
honram, independentemente do que tenham feito. O equilíbrio também
se dá quando os fatos já ocorridos, tenham sido bons ou ruins, podem
ficar no passado. Os excluídos recebem, então, o direito à hospitalidade
e, em vez de nos aterrorizarem, trazem a bênção. E quando também lhes
concedemos em nossa alma o lugar que lhes cabe, ficamos em paz com
eles e nos sentimos plenos e completos, pois temos conosco todos que
nos pertencem.”

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CONCLUSÃO

Todas a trocas significativas entre parceiros passam por momentos de


instabilidade e desequilíbrios. Bert Hellinger compara esse movimento
com o andar, permanecemos de pé quando mantemos um equilíbrio
estático mas caímos e nos estiramos no chão se nos falta
completamente mobilidade. No entanto, se nos permitimos de forma
rítmica estar em equilíbrio e perder um pouco dele, podemos então nos
movimentar para frente. Logo que alcançamos o equilíbrio novamente,
iniciamos uma nova rodada, com renovação, alimentando outras trocas
para um novo caminhar voltado para a Vida, para o desenvolvimento,
para o amor consciente.
Deixamos para trás, soltamos ou simplesmente abrimos mão das culpas
negativas que nos impulsionam a expiar dores, mágoas e ressentimentos
que não nos dizem respeito, ou mesmo as que pensamos que são nossas.
Essas são amarras que não conduzem a nenhum caminho de
purificação, apenas para os caminhos tentadores da morte.
Decidimos agora, de forma consciente, olhar para a vida e suas belezas,
com consciência de todas as relações, vinculações e destinos que se
entrelaçam com o intuito de seguir em frente, com honra, coragem e
ação.
Que tenhamos consciência de quantos estamos levando conosco rumo
ao futuro, todos aqueles que um dia fizeram parte e todos aqueles que
um dia farão, dependem do nosso caminhar.
Deixamos o passado para trás com todas as culpas negativas e as
amarras a destinos nefastos. Honramos o destino de cada um, de cada
excluído, de cada esquecido, de cada injustiçado, de cada suicida, se o
fizermos de forma correta, poderemos sentir que desses destinos se libera
uma força especial para nós, agradecemos e lhes deixamos em paz.
Decidimos sermos bem sucedidos ao preço que custou a cada um dos
nossos antepassados, decidimos amar nossos pais exatamente do jeito
que eles são, decidimos dizer Sim, a vida como nos foi entregue e fazer

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algo de bom ela em homenagem a tantos que deram seus lugares para
que nós pudéssemos ocupar o nosso.
Decidimos ter coragem para seguir adiante, com coração cheio de
gratidão e a visão ampla, abrindo novos caminhos e possibilidades de
sucesso, saúde e amor aos nossos descendentes, com humildade e
sintonia com o todo, passado e futuro, aqui e agora.

Com Amor,

Morgana Mattiello de Senna Baldin

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