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PSICOPEDAGOGIA
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IPB - Instituto Pedagógico Brasileiro
FUNDAMENTOS DA PSICOPEDAGOGIA
FUNDAMENTOS DA
PSICOPEDAGOGIA
DISCIPLINA: “FUNDAMENTOS DA
PSICOPEDAGOGIA”
2015
CURSO:
Curso: COMPLEMENTAÇÃO DE ESTUDOS PARA ATENDER REQUERIMENTO
DE OBTENÇÃO DE NOVO TITULA (PEDAGOGIA)
PROFESSOR:
EMENTA
OBJETIVOS
Adquirir conhecimentos sobre surgimento da Psicopedagogia, seus aspectos
históricos, científicos e educacionais.
Favorecer um ambiente de reflexão acerca da formação e atuação do
profissional de Psicopedagogia a partir de uma abordagem teórica-prática.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Conceitos básicos para a compreensão da Psicopedagogia
Reflexões sobre a História, a construção do conhecimento científico e sua
influência sobre aprendizagem
Código de Ética
Especificidade da Psicopedagogia: campos de atuação
Aspectos relevantes nas questões educacionais
BIBLIOGRAFIA
ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia. www.abpp.com.br
ANGELONI, M. T. Organizações do conhecimento: infra-estrutura, pessoas e
tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2003.
BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2ª
ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
CÉSARIS, Delia Maria de. O Psicopedagogo nas Instituições. Hoje. Disponível em
www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em : 27 de abril de 2003.
CÓDIGO DE ÉTICA E ESTATUTO DA ABPp. Disponível em www.abpp.com.br .
Acesso em: 14 de julho de 2003.
FERNÁNDEZ, Alícia. A inteligência aprisionada - abordagem psicopedagógica
clínica da criança e sua família. 2ª reed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1991.
FERREIRA, Renata Tereza da Silva. A importância da psicopedagogia no ensino
fundamental - 1ª a 4ªséries. Disponível em www.psicopedagogiaonline.com.br.
Publicado em 25 de junho de 2002. Acesso em: 27 de abril de 2003.
GONÇALVES, Júlia Eugênia. Competência do Psicopedagogo. Disponível em
www.aprender-ai.com.br. Texto apresentado por ocasião do II ENCONTRO
MINEIRO DE PSICOPEDAGOGIA - Belo Horizonte, MG, 1997. Acesso em: 02 de
maio de 2003.
HOLTZ, Maria Luiza Marins. A Pedagogia Empresarial e as Relações Humanas.
Disponível em www.sorocaba.com.br . Publicado em 06 de outubro de 2001. Acesso
em: 02 de maio de 2003.
MORGAN, G. Imagens da Organização. São Paulo : Atlas,1996.
RUBINSTEIN, Edith. In SCOZ et al. Psicopedagogia: Contextualização, Formação e
Atuação Profissional. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1992.
STWART, T.A. Capital Intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. Rio
de Janeiro: Campus, 1998.
VASCONCELOS, Sandra Maia Farias. A Psicopedagogia hospitalar para crianças e
adolescentes. Disponível em www.psicopedagogiaonline.com.br. Apresentado na
Semana da Psicopedagogia da Universidade Estadual do Ceará - 2000. Acesso em: 28
de abril de 2003.
METODOLOGIA
O módulo acontecerá em dois momentos: teórico e prático. No 1º momento o
processo de construção do conhecimento se dará através de artigos, apresentação de
power point, música, que proporcionarão momento de profunda análise reflexiva. No
2º momento os alunos serão convidados a, junto com o professor, discutir,
problematizar, trocar experiências, propor alternativas teóricas ou metodológicas que
visem à reflexão e investigação, colocarão em prática o conhecimento ora construído.
Estão previstas também, atividades de estudos de caso, individual ou em equipe, sendo
assim a avaliação será processual e formativa.
RECURSOS DIDÁTICOS
Data-show
Quadro
Apostilas, textos
Vídeo
Artigo de revista/ Música
ATIVIDADES DISCENTES
Trabalho individual e em dupla
Realização de Oficina
Estudo de caso
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
Desenvolvimento dos trabalhos (escrito) – 50,0
Apresentação dos trabalhos ( escrito) – 50,0
BREVE HISTÓRICO.
O QUE É PSICOPEDAGOGIA?
COMPETÊNCIAS DO PSICOPEDAGOGO
Não existem recursos específicos e limitados, mas são geralmente jogos, atividades de
expressão artística, linguagem oral e escrita, dramatização e todo tipo de recursos que
facilitem o desenvolvimento da capacidade de aprender com autonomia e prazer.
De acordo com Fernández ( 2001,p.163 ), devemos proporcionar “um espaço de
confiança, criatividade onde possamos dar um sentido criativo e lúdico ao nosso trabalho”.
Seu filho não vai bem na escola? Tem dificuldades em aprender? Problemas
escolares? É inquieto? Desobediente? Desinteressado? Desatento? Agressivo? A Orientadora
solicita sua presença constantemente na escola? A professora pede ajuda?
Quando esse pedido de ajuda está ligado à aprendizagem, procure um Psicopedagogo!
Resumo
A Psicopedagogia, área de conhecimento interdisciplinar, tem como objeto de estudo a
aprendizagem humana. É papel fundamental do psicopedagogo potencializá-la e atender as
necessidades individuais, no decorrer do processo. O trabalho psicopedagógico pode adquirir
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caráter preventivo, clínico, terapêutico ou de treinamento, o que amplia sua área de atuação,
seja ela escolar - orientando professores, realizando diagnósticos, facilitando o processo de
aprendizagem, trabalhando as diversas relações humanas que existem nesse espaço;
empresarial - realizando trabalhos de treinamento de pessoal e melhorando as relações
interpessoais na empresa; clínica - esclarecendo e atenuando problemas; ou hospitalar -
atuando junto à equipe multidisciplinar no pós-operatório de cirurgias ou tratamentos que
afetem a aprendizagem. É importante salientar que a Psicopedagogia é uma área que vem para
somar, trabalhando em parceria com os diversos profissionais que atuam em sua área de
abrangência.
Palavras-chave: Psicopedagogia: escolar, clínica, hospitalar, empresarial.
01. INTRODUÇÃO
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“ensinagem”.
Participando da rotina escolar, o psicopedagogo interage com a comunidade escolar,
participando das reuniões de pais - esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; dos conselhos
de classe - avaliando o processo didático metodológico; acompanhando a relação professor-
aluno - sugerindo atividades ou oferecendo apoio emocional e, finalmente acompanhando o
desenvolvimento do educando e do educador no complexo processo de aprendizagem que
estão compatilhando.
Apesar desta dinâmica, Ferreira (2002), adverte: (...) Mesmo que a escola passe a se
preocupar com os problemas de aprendizagem, nunca conseguiria abarcá-los na sua
totalidade, algumas crianças com problemas escolares apresentam um padrão de
comportamento mais comprometido e necessitam de um atendimento psicopedagógico mais
especializado em clínicas. Sendo assim, surge a necessidade de diferentes modalidades de
atuação psicopedagógica; uma mais preventiva com o objetivo de estar atenuando ou evitando
os problemas de aprendizagem dentro da escola e outra, a clínico-terapêutica, onde seriam
encaminhadas apenas as crianças com maiores comprometimentos, que não pudessem ser
resolvidos na escola.
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(...) Em nossa escuta de Psicopedagogo, devemos agir por uma atividade que possa
transpor o sofrimento de angústia, de solidão - Vasconcelos (2000)
Mesmo assim, muitas vezes as crianças não são capazes de expressar nem de
reproduzir o que as faz temer, desenvolvendo angústias, fazendo surgir depressão, revolta ou
desespero, ou ainda a possibilidade de regressão no nível de desenvolvimento. Mais uma vez,
o psicopedagogo é aquele que faz diferença, trazendo o sentimento de valorização da vida,
amor próprio, auto-estima, aceitação e segurança - recuperar estes prazeres e garantir a
construção dos conhecimentos que estariam acontecendo em ambiente escolar, é função do
trabalho psicopedagógico que se insere na esfera hospitalar. Afinal, a aprendizagem é um
processo tão amplo e grandioso que ocorre através de interações, em qualquer lugar.
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Artigo 1º
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Parágrafo único
A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o
processo de aprendizagem
Artigo 2º
Artigo 3º
Artigo 4º
Artigo 5º
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Artigo 6º
B) Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma
atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões de mundo;
C) Assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos limites
da competência psicopedagógica;
E) Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre que
possível;
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Artigo 7º
O psicopedagogo está obrigado a guardar segredo sobre fatos de que tenha conhecimento em
decorrência do exercício de sua atividade.
Parágrafo Único
Não se entende como quebra de sigilo, informar sobre cliente a especialistas comprometidos
com o atendimento.
Artigo 9º
Artigo 10º
Artigo 11º
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Artigo 12º
Artigo 13º
Artigo 14º
O psicopedagogo poderá atuar como consultor científico em organizações que visem o lucro
com venda de produtos, desde que busque sempre a qualidade dos mesmos.
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Artigo 15º
Os honorários deverão ser fixados com cuidado, a fim de que representem justa retribuição
aos serviços prestados e devem ser contratados previamente.
Artigo 16º
Artigo 17º
Cabe ao psicopedagogo, por direito, e não por obrigação, seguir este código.
Artigo 18º
Cabe ao Conselho Nacional da ABPp orientar e zelar pela fiel observância dos princípios
éticos da classe.
Artigo 19º
O presente código só poderá ser alterado por proposta do Conselho da ABPp e aprovado em
Assembléia Geral.
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Artigo 20º
O presente código de ética entrou em vigor após sua aprovação em Assembléia Geral,
realizada no V Encontro e II Congresso de Psicopedagogia da ABPp em 12/07/1992, e sofreu
a 1ª alteração proposta pelo Congresso Nacional e Nato no biênio 95/96, sendo aprovado em
19/07/1996, na Assembléia Geral do III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia da ABPp, da
qual resultou a presente solução.
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Já ao buscar compreensão do contexto interno, o desafio ainda se torna mais forte, pois
será preciso aprender ainda sobre o que é a relação terapêutica inserida no âmbito da prática
psicopedagógica. Na verdade, o que se configura aqui é a busca que proponho, enquanto
educador compromissado com o meu fazer, por uma maior compreensão sobre o como
garantir um aprendizagem efetiva nos “espaços tempos” da escola. 5
E sobre aprender Alessandrini(1999) nos diz :” é uma palavra que, a meu ver, exprime
o grande segredo da vida: transformar toda ação passível de introjeção e reflexão, bem como
toda oportunidade de crescimento e desenvolvimento, em ação construtiva. Cada momento de
aprendizagem representa a possibilidade de apreender o sentido do conhecimento .”
É no campo específico desta ação construtiva que o/a psicopedagogo/a pode ver os
problemas que dificultam a aprendizagem. As habilidades e competências que necessitam ter
devem estar vinculadas à compreensão do par dialético proposto por Fernandéz (1990) entre o
desejo e o não desejo de aprender, ou seja, é preciso instrumentalização e pesquisas
constantes para que se compreenda como tal processo ocorre e de que modo pode-se intervir
em sua trajetória e rumo.
Se compreendemos aqui a Psicopedagogia como área multidisciplinar do
conhecimento, é preciso estar, antes de qualquer outra disponibilidade, atentos/as para o
estudar constante e pesquisa permanente. Não há como deixar de lado este aspecto: o /a
psicopedagogo/a necessita deste constante movimento de olhar novos horizontes e caminhos
para trilhar, para abrir espaços não só objetivos como também subjetivos, onde a autoria e a
autonomia de pensamento seja uma concreta possibilidade.
De acordo com Gonçalves(s/d) as”relações com o conhecimento, a vinculação com a
aprendizagem, as significações contidas no ato de aprender, são estudados pela
Psicopedagogia a fim de que possa contribuir para a análise e reformulação de práticas
educativas e para a ressignificação de atitudes subjetivas.”
É neste sentido, o da ressignificação de minhas atitudes e práticas subjetivas, que me
lanço no desafio de conseguir uma escuta, um olhar psicopedagógico vinculado às questões
do conhecimento e da aprendizagem humana, sabendo que não há teoria única que possa dar
conta de responder todas as minhas indagações e inquietudes. No entanto sei que na minha
prática cabe, e sempre caberá, buscar nas mais diferentes teorias o que a ela pode dar
sustentação.
Iniciantes ideias, caminho singular de uma possível construção: o espaço de
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interlocução aqui se abre e, assim, me permito ter a ousadia de autoria e autonomia no pensar.
Que venham os/as interlocutores/as, pois só é possível construir o singular no plural.
1 INTRODUÇÃO
O olhar e a escuta são elementos complementares no processo de análise de
fenômenos sociais, pois, o ver e o escutar contribuem nesse processo. Para Weffort (1997),
não ouvimos realmente o que os outros falam, e sim o que se quer ouvir. Neste sentido, o ver
e o ouvir demandam implicações e entregas ao outro.
A situação analítica desenvolvida por Freud (1976) para o seu método psicanalítico,
“surge e se desenvolve na escuta e para a escuta singular à qual se propõe” (FALCÃO;
MACEDO, 2004, p. 2). Assim, como recurso proveniente da técnica psicanalítica e que aos
poucos vem conquistando espaço em diferentes profissões, a escuta clínica apresenta-se e
destaca-se como ponto relevante intersubjetivo, característico do encontro analítico. Segundo
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Cecim (1997, p. 31), essa escuta difere-se da audição. Porque, enquanto a audição permite à
apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta clínica refere-se à
apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, audição das expressões e gestos, posturas
e condutas durante a escuta. E, esta, não se limita exclusivamente ao campo da fala, “[mais do
que isso] busca permitir os membros interpessoais que constituem nossa subjetividade para
cartografar o movimento das forças de vida que engendram nossa singularidade” (CECCIM,
1997, p. 31).
____________________________________________
* Marcos Vinícius Castro Souza, Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Magistério e
Gestão Educacional pela FAENE – Faculdade Adventista de Educação do Nordeste; Pós-
graduado em Psicopedagogia institucional, clínica e hospitalar pela Fundação Visconde de
Cairu. Tutor do Curso de Pedagogia EaD na UNIFACS (pólo de Santo Amaro); Coordenador
Pedagógico do NEI – Núcleo de Educação Inclusiva; Coordenador Pedagógico do CEAJAT.
E-mail.: vinicastro2@yahoo.com.br – Autor.
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efetivamente co-presente na situação que eles analisam, sem perder, para tanto, suas
especificidades e suas competências (MARTINS, 2003, p. 43).
Isto remete que a atitude clínica necessária ao psicopedagogo ante sua possibilidade de
intervenção, implica a busca por novos sentidos para sua relação com o objeto pesquisado. A
observação torna-se, assim, importante. Pois, o olhar clínico se estabelece fundamentalmente
na observação. Contudo, a escuta se impõe como fator imprescindível no que se refere ao
temporal, “aquilo não-dito” (MARTINS, 2003, p. 44). Portanto, para Martins (2003), isto
significa que as diferentes funções do olhar e da escuta clínicas, que se apóiam em
perspectivas diferentes e, consequentemente, em metodologias também específicas, precisam
ser articuladas no intuito de se estabelecer pontos de referência nos aspectos temporal e
espacial.
O psicopedagogo, enquanto terapeuta é um sujeito que “legaliza a palavra do paciente,
[...] alguém que com sua escuta outorga valor e sentido à palavra de quem fala, permitindo-lhe
organizar-se (começar a entender-se), precisamente a partir de ser ouvido” (FERNANDEZ,
1991, p. 126). Com isso, a escuta psicopedagógica torna-se fator preponderante no
atendimento a heterogeneidade de/dos professores na escola, possibilitando-lhes, vez e voz
para expressarem-se oralmente e/ou através de mensagens subliminares.
O psicopedagogo terapeutizando, precisa posicionar-se em um lugar capaz de
proporcionar-lhe a análise eficaz, de modo a permitir “ao paciente organizar-se e dar sentido
ao discurso a partir de um outro que escuta e não desqualifica, nem qualifica”. “Somente a
partir das fraturas do discurso, por um lado, e de nos aproximarmos, por outro lado, por
encontrar o dramático, resgataremos o interessante, o original dessa história (FERNANDEZ,
1991, p. 126).
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psicopedagógica não é fazer o paciente confessar o tido como importante, mas sim, garantir
ao indivíduo a possibilidade de que fale do que realmente carece de importância.
Para Fernandez (1991, p. 128), o lugar analítico, tão importante para o
desenvolvimento da escuta clínica, é “lugar de testemunha e atitude clínica, da atitude do que
escuta e traduz promovendo um discurso mítico e não real. Lugar e atitudes necessários a todo
terapeuta, que o psicopedagogo deverá assumir”. Neste sentido, a referida autora apresenta
sua proposta ou guia para o psicopedagogo conseguir uma escuta psicopedagógica:
(FERNANDEZ, 1991, p. 131)
1. Escutar–olhar – o primeiro momento da intervenção psicopedagógica supõe escutar-olhar o
outro e mais nada. De acordo com Fernandez (1991, p. 131), “escutar não é sinônimo de ficar
em silêncio, como olhar não é de ter os olhos abertos”;
2. Deter-se nas fraturas do discurso – estar atento aos aspectos trazidos através do discurso
verbal, assim como ao corporal, ao agir subjetivo do sujeito;
3. Observar e relacionar com o que aconteceu previamente à fratura – registrar as fraturas, as
formas diferentes de expressar-se;
4. Descobrir o esquema de ação – significação – “para encontrar o esquema de ação, não é
necessário deter-se no conteúdo do mesmo, mas no processo e nos mecanismos”
(FERNANDEZ, 1991, p. 132);
5. Buscar a repetição dos esquemas de ação – buscar detectar em que outras situações e com
que outros contextos e conteúdos repete-se este esquema;
6. Interpretar a operação, mais do que o conteúdo – levantar as concepções e idéias
inconscientes sobre a aprendizagem, estabelecendo relações com a “operação particular que
constitui o sintoma” (FERNANDEZ, 1991, P. 133).
O momento da intervenção psicopedagógica é único tanto para o paciente, quanto para
o terapeuta, e requer o estabelecimento de uma relação harmônica entre ambos, onde o escutar
esteja presente cotidianamente neste processo. Para isso, Fernandez (1991, p. 131) esclarece
que “escutar não é sinônimo de ficar em silencio, como olhar não é de ter os olhos abertos.
Escutar, receber, aceitar, abrir-se, permitir, impregnar-se”. Todavia, o terapeuta deve
aprimorar a sua escuta para além do que o paciente expõe oralmente, permitindo-lhe “falar e
ser reconhecido, e ao terapeuta compreender a mensagem” (p. 131) para poder intervir da
melhor maneira possível. No entanto, para Martins (2003) é imperioso que ambos estejam
convenientemente deslocados na relação estabelecida, isto é, que eles assumam uma
visão/postura de implicação-distanciamento. Esta postura possibilitar-lhes-á efetivamente
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estarem co-presentes na situação que analisam, sem para isso, perder suas especificidades e
suas capacidades. Ou seja, uma postura/atitude clínica que se estruture numa escuta, que aqui
deve ser compreendido como um mecanismo de acompanhamento acerca da realidade,
registrando-se o vivenciado, o experimentado. É preciso criar espaços onde as vivências
institucionais possam ser afirmadas e verdadeiramente escutadas.
Esta perspectiva, no plano das práticas do psicopedagogo, poderá fomentar o
reconhecimento e a apropriação “de elementos até então desconsiderados na abordagem dos
processos educativos, possibilitando uma reapropriação da experiência e de outros sentidos, a
eles atribuídos, pela abertura ao desconhecido, pela disponibilidade para a alteração (e por
conseqüência da heterogeneidade), para a escuta do inefável (MARTINS, 2003, p. 44).
3 MÉTODO
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Assim, para Weffort (1997), a escuta constitui-se como uma ação altamente movimentada,
reflexiva, estudiosa e transcendente.
O lugar da escuta poderá possibilitar ao psicopedagogo “criar situações coletivas,
espaços de construção de conhecimentos sobre si mesmo – sobre a escola, sobre as
experiências dos envolvidos no processo educacional, etc. – de tal forma que os problemas
vividos sejam amplamente discutidos e a busca de soluções para os mesmos, compartilhada”
(MARTINS, 2003, p. 44). Ao psicopedagogo cabe, no exercício de sua escuta, de acordo com
as concepções de Fernandez (1991), detectar os lapsos, as diversas dificuldades na expressão
do discurso, da forma como os cortes são efetivados, das inconsistências, das repetições, das
pausas prolongadas, emerge o inconsciente, etc.
Em momentos posteriores, durante a realização das entrevistas com as quatro
professoras, pode-se detectar uma inquietação em torno do acompanhamento psicopedagógico
realizado nesta escola. Partindo-se deste pressuposto, o primeiro aspecto levantado foi a
respeito de como elas percebem essa profissional e sua atuação na escola. Onde obteve-se
considerações como: “Ela trabalha bem, buscando sempre saber nossas necessidades e ajuda
no que pode, entretanto, o tempo dela aqui na escola é pouco, o trabalho acaba sendo
fragmentado”. Ademais, abordaram que percebem a relevância dessa profissional atuando
num ambiente escolar e que a parceria estabelecida nesta acaba contribuindo na prática
docente, pois, segundo as entrevistadas, “o atendimento que ela nos garante ajuda a
possibilitar aos alunos uma melhorara comportamental em sala de aula e na aprendizagem”.
Outro aspecto discutido com as professoras foi se elas têm oportunidades de serem
escutados pela psicopedagoga nesta instituição, assim como a forma que isso se efetiva, da
existência ou não de momentos destinados a reuniões, onde elas pudessem expor seus
problemas, etc. Onde elas afirmaram que sim, que ela ouve suas queixas em momentos
específicos nas reuniões pedagógicas que se efetivam quinzenalmente. Assim, reafirmam que
o tempo destinado para tal fim é pouco. Os discursos das professoras entrevistadas aparentam
estar emersos em um receio (medo) em expressar realmente o que pensam a respeito da
atuação da psicopedagoga na instituição. E isso é vislumbrado através do subliminar de suas
falas, nas inquietações, nos olhares, nas expressões, nas faltas, etc. Com isso, evidencia-se a
importância da criação de mecanismos que garantam as professoras serem efetivamente
escutadas pela psicopedagoga neste espaço.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para se chegar às últimas palavras deste estudo, retoma-se a questão que o originou: de
que forma a escuta psicopedagógica vem contribuindo no interior da instituição escolar? A
resposta para tal indagação pode ser obtida sob as seguintes dimensões: Através da pesquisa
de campo realizada, percebeu-se que a escuta psicopedagógica não tem
acontecido/contribuído nas intervenções efetivadas na instituição escolar fonte da coleta de
dados, pois, a psicopedagoga não
demonstrou exercer a escuta clínica as professoras neste espaço. Assim, evidenciou-se que as
entrevistadas não demonstraram apropriação a respeito do real significado da escuta para a
psicopedagogia. Segundo Weffort (1997), os indivíduos não foram educados para a escuta,
nem para seu real significado. Ou seja, a escuta acaba estereotipada exclusivamente para a
função auditiva.
Cabe registrar a escassez de material sobre a escuta na psicopedagogia, fator que pode
ser preponderante quanto a sua não utilização por parte da profissional pesquisada. Assim,
visualiza-se ainda, a falta de recomendações e orientações técnicas em relação à apropriação e
utilização da escuta transcendente ao que é falado e apreendido auditivamente, capaz de
captar lapsos, falhas, repetições, sintomas, queixas, o subjetivo, etc. aspectos que lhe permita
interpretação e intervenção adequadas.
Para Macedo e Falcão (2009), a formação do terapeuta precisa estar atrelada ao
“famoso tripé – formação teórica, atividade de supervisionar-se e análise pessoal – constitui
os recursos na qualificação do processo de escutar o outro. Com isso, detecta-se que os
psicopedagogos precisam estar abertos para efetivamente escutar os professores e suas
queixas na escola, não auditivamente, mas de modo transcendente, buscando então, “a
sintonia com o ritmo do outro, do grupo, adequando em harmonia” (WEFFORT, 1997, p. 1)
para favorecer o trabalho deste no contexto escolar. Portanto, fica evidente a relevância de os
cursos de formação em psicopedagogia se adequarem a essa necessidade de estimular o
desenvolvimento da postura/atitude e escuta clínicas para que o profissional possa escutar os
professores na escola e também desenvolver as intervenções convenientes.
O alcance da escuta psicopedagógica está conectada a apropriação de um fazer-se
terapeuta. Em virtude disso, ao se propor um estudo em torno da escuta psicopedagógica aos
professores na escola, laça-se um olhar, segundo Macedo e Falcão (2009), para a importância
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dado pelo terapeuta às falas, gestos, movimentos, etc. de seu analisado, isso demonstrou o
papel da escuta deste em relação a si próprio, em sua investigação pessoal. Pois, a escuta da
psicopedagogia encontra sua vitalidade na capacidade do analista em perceber e reconhecer o
valor e a necessidade de ser ele próprio escutado, gerando em si uma capacidade que está fora
do domínio da rigidez ou da padronização, e que por isso abre espaço à escuta do outro.
RESUMO
Este artigo tem como objetivo destacar a importância da afetividade nas relações sociais,
principalmente no contexto escolar, enfatizando a importância da relação afetiva professor-
aluno e a sua relevância para o processo de ensino – aprendizagem. Busca-se ainda neste
trabalho fazer reflexões relativas à importância do vínculo familiar neste processo bem como
mostrar de que maneira as relações afetivas contribuem no processo cognitivo.
ABSTRACT
This article aims to highlight the importance of affection in social relations, especially in the
school context, emphasizing the importance of affective teacher-student relationship and its
relevance to the teaching process - learning. Search is still thinking in this paper on the
importance of family ties in this process and to show how affective relations help in learning
process.
1. INTRODUÇÃO
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O que ocorre no âmbito escolar hoje é que, o que se tem ensinado em sala de aula
acaba caindo num grande vazio devido ao distanciamento que existe entre o professor e o
aluno. Na verdade, pouco se tem pensado – dentro das escolas, sobre o valor que a afetividade
tem na construção do conhecimento; pouco se tem falado acerca da importância de existir
uma relação harmônica, confiável entre professores e alunos e destes com toda a comunidade
escolar.
É necessário que se reflita sobre os tipos de relação que existem no contexto escolar e
mais, sobre o papel da família, sua influência e importância durante o processo de aquisição,
construção do conhecimento; já que o ser humano é um ser social, e como tal, precisa ter um
bom relacionamento, entendimento com aqueles que de fato são responsáveis por gerir este
processo.
Uma interação mútua entre professor e aluno e deste com a família, pode evitar
problemas como distúrbios na aprendizagem já que a afetividade, assim como aspectos
emocionais, está presente no processo de construção do conhecimento.
O ser humano como fruto da sua interação com o mundo, forma sua personalidade,
desenvolve habilidades, adquire e reformula conhecimentos a partir da sua relação com o
outro.
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Enxergar o aluno como um ser que já vem para a escola com uma bagagem de
conhecimento, com um conhecimento de mundo construído é fundamental para que se firmem
laços com o ser aprendente. Durante o processo de aquisição do conhecimento, respeitar o que
o aluno traz de conhecimento externo ao ambiente escolar, assim como seu tempo de aprender
é muito importante para que a aprendizagem ocorra naturalmente, pois:
Saber algo a respeito de certo objeto não quer dizer, necessariamente, saber
algo socialmente aceito como “conhecimento”. Saber quer dizer ter
construído alguma concepção que explica certo conjunto de fenômenos ou
de objetos da realidade.
(FERREIRO, 1981:17)
Segundo ainda Piaget (2001) em todas as fases da vida humana os vínculos afetivos
são fatores determinantes, o que pode resultar numa melhor integração deste com o meio
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social ou, quando os vínculos não acontecem, num distanciamento daquele com este meio
gerando problemas como os distúrbios de aprendizagem.
Desta forma, então, é correto afirmar que a aprendizagem está ligada à afetividade,
ambas caminham juntas, sendo importante assim, que sejam criados no ambiente escolar,
mecanismos para que afetividade e aprendizagem ocorram e se completem, no intuito de se
obter um resultado prazeroso – que é a construção do conhecimento, tanto para o educando,
quanto para o educador.
É preciso que o educador crie vínculos com seus alunos para que possa criar situações
de aprendizagem, pois “o objeto a ser conhecido deve contemplar os interesses que
caracterizam a fase de desenvolvimento mental em que se encontra a criança.” (BALESTRA,
2007: 36) e mais, o equilíbrio cognitivo necessita da afetividade (do interesse, da vontade, da
motivação que deve ser despertada pelo professor) para que haja a construção de novas
estruturas intelectuais.
Em outras palavras, o professor tem que muitas vezes se despir de velhos paradigmas
e métodos para que seja possível aproximar o aluno do objeto a ser conhecido, pois segundo
Balestra (2007) tal objeto deve ser desafiador, tem que ser significante, provocar a ação do ser
cognoscente. Ou seja, muitas vezes, para criar situações de aprendizagem além do aspecto
afetivo é preciso mudar a metodologia, buscar outras fontes, mudar o tom de voz, já que o ser
aprendente é como o vaso na mão do oleiro, deve ser moldado cuidadosamente, com carinho,
para que suas estruturas no campo da construção do conhecimento não se quebrem, para que
assim o aprendizado se dê como um ato motivador.
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Como é sabido a família é o alicerce que rege a vida de todo ser. É ela que
primeiramente apresenta o mundo do conhecimento à criança, já que este não é adquirido
somente no âmbito escolar.
É na família que a criança faz seus primeiros vínculos afetivos e é por meio dela que o
individuo é apresentado ao mundo cultural. Ela é a grande responsável pela educação das
crianças e também da sua aprendizagem e é por meio desta aprendizagem que o individuo
começa a construir saberes.
A relação afetiva que uma criança tem em casa irá contribuir negativa ou
positivamente no seu desempenho escolar. Os anseios e as expectativas que a família tem
sobre a criança são muito relevantes tanto em sua formação acadêmica quanto pessoal, pois a
criança espera ser admirada, elogiada, motivada, amada, e quando isto não acontece, ela se
sente desestimulada, não produz, não vê satisfação, prazer no ato da aprendizagem.
Vale aqui acrescentar, que o acompanhamento da vida escolar do aluno pelos pais é
muito importante. Segundo relata os estudos piagetianos, a afetividade é uma valiosa
contribuição para a educação da criança na família e, especialmente na escola, no entanto, “o
acompanhamento de seu desempenho escolar, ou seja, do processo cognitivo, é importante,
mas o aspecto afetivo não pode ser negligenciado em nenhum momento do desenvolvimento
infantil, principalmente na vida escolar.” (BALESTRA, 2001: 49).
41
Desta forma cabe as famílias propiciar um ambiente saudável, que ofereça e estimule o
desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. O ambiente familiar é o local onde, de fato, a
criança desenvolve suas capacidades emocionais e intelectuais. E os aspectos emocionais
conforme Weiss (2008) estariam ligados ao desenvolvimento afetivo que tem extrema
importância na construção do conhecimento e na expressão deste através da produção
escolar.
Ao contrário do ambiente escolar, onde o aprendizado se dá de maneira mais objetiva,
no contexto familiar a aprendizagem ocorre, sem dúvidas, de forma bem mais subjetiva, livre,
significativa e espontânea, daí a importância de que haja uma relação de diálogo e afetividade
ente o ser aprendente e sua família.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vale acrescentar porém, que para que o processo cognitivo se dê por completo no
âmbito escolar, ou seja, para que a relação professor-aluno possa resultar em ponte para o
conhecimento, as relações familiares do aluno também devem ser nutridas, já que a família é a
instituição mais importante da vida de qualquer individuo.
Bibliografia
BALESTRA, Maria Marta Mazaro. A Psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a educação
da liberdade. Curitiba: Ibpex, 2007.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24ª edição atualizada. São Paulo: Cortez
Editora, 1981.
43
Elizabeth Polity
1. Introdução
A este artigo interessa observar o espaço que se cria nos encontros terapêuticos e que
possibilitam o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem, tanto do cliente como do
terapeuta.
Sobre o espaço potencial Winnicott afirma: "O brincar tem lugar no espaço potencial
entre o bebê e a figura materna. Brincar desenvolve-se no espaço potencial de acordo com a
oportunidade que o bebê tem de experenciar separação sem separação, e sua iniciação está
associada com a experiência do bebê em desenvolver confiança na figura da mãe"
(WINNICOTT, in ABRAM, p.226).
Segundo o autor, quando o bebê pode "criar a figura da mãe", estabelece-se a
experiência de ilusão. Desta experiência inicial de onipotência, surge o espaço potencial, que
seria a "área de subjetividade" entre o bebê e a mãe, que emerge durante a fase de repúdio do
objeto "não-eu". "A característica específica deste lugar em que se inscrevem o jogo e a
experiência cultural é a seguinte: a existência deste lugar depende da experiência da vida e
não das tendências herdadas" (WINNICOTT, 1967, p. 45).
Não é um espaço transcendental nem instintivo a partir do qual compreendemos o
mundo, mas um espaço co-construído juntamente com a nossa compreensão do mundo. Essa
incorporação não é automática, mas gradual e deliberada, e provém de experiências vitais
como a aprendizagem, como os exemplos e as relações intersubjetivas, que vão se
configurando segundo a metodologia de um jogo. É a área importante da experiência "entre o
indivíduo e o meio, esse espaço que no começo une e separa o filho e mãe, quando o amor da
mãe que se revela e se manifesta pela comunicação de um sentimento de segurança, outorga
de fato à criança um sentimento de confiança no meio" (idem).
Entendo ser importante perceber que é a figura mediadora (a mãe ou sua substituta),
uma figura metapessoal, quem simboliza e introduz seu assentamento, não apenas biológico,
mas humano no mundo. Pode-se pensar, então, em união e separação. Processos que serão a
base para a confiança, e para o desenvolvimento do amor-próprio, da autonomia. Processos
que, quando não estiveram presentes nas primeiras fases da vida, serão muitas vezes,
buscados incessantemente em trabalhos terapêuticos: o resgate do pertencimento, do
movimento de aproximação, da busca de sentido para a ação.
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Tenho como objetivo deste artigo tecer algumas considerações sobre a criação do
espaço potencial, enfocando primeiramente a relação mãe-bebê e, posteriormente, estender
este conceito no contexto terapêutico, no trato com a queixa de dificuldade de aprendizagem.
Para tanto, pretendo trazer minha experiência clínica em atendimento familiar para
identificar a construção de um espaço (que eu nomeio potencial) que abrigou clientes e
terapeuta.
Dentre tantos conceitos propostos por Winnicott, volto minha atenção para o assunto
que privilegia a relação do sujeito com o contexto em que ele vive. Penso que isto se deva à
minha formação em terapia familiar de abordagem sistêmica e também ao fato de eu pensar o
sujeito da aprendizagem sempre em relação com o outro. Como afirma Safra: "ocupar um
lugar no mundo é ocupar um lugar na vida do outro" (SAFRA, 2000, p. 80).
Segundo BOGOMOLETZ (1995):
"...para a existência de um espaço potencial é preciso antes de tudo que exista a possibilidade
de se perceber esse outro como alguém distinto e separado de nós. Conforme sabemos, na
díade, ou na relação simbiótica não há um 'primeiro' e um 'segundo'. As duas partes da relação
não se percebem como indivíduos, como entidades separadas, como pessoas inteiras. Neste
tipo de configuração humana percebe-se duas pessoas (do ponto de vista do observador, como
diria Winnicott) que não se percebem duas pessoas, e sim uma espécie de gêmeos siameses,
entre as quais existe um istmo invisível, como se fosse um cordão umbilical fantasma, que as
une e as impede de existirem independentes (fisicamente) uma da outra. Esta condição 'física'
torna-as psicologicamente inseparáveis, fusionadas e portanto inexistentes enquanto unidades
individuais. 'Individual', nesse caso, é a díade, indivisível e indissolúvel".
Winnicott explica:
"A fase da fusão tem duas etapas. A primeira, do narcisismo primário ou da dependência
absoluta. Não há 'outro' nessa fase, nem mesmo esse semi-outro que é a própria mãe. A mãe
só se torna 'ela' na segunda fase, que ele chama de 'ruthlessness', ou da dependência relativa,
na qual não há compaixão nem há empatia, na qual há ainda fusão e a qual se situa a meio
caminho entre o narcisismo primário (ou absoluto) e a fase do 'concern', em que há
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compaixão, há empatia, e o 'outro' começa a ser aceito de bom grado, se todo o processo
anterior transcorreu favoravelmente" (WINNICOTT, 1967, p. 65).
Essa fase intermediária é aquela em que surge uma incipiente consciência do "eu", e
também de tudo aquilo que "não é eu". Nessa fase, o "não-eu" não é tolerado porque o bebê
ainda vive a ilusão de onipotência, ainda não passou pela desilusão em relação à existência
prévia do mundo, e qualquer coisa que não pareça fruto da sua criatividade é percebida como
uma coisa intrusa e intolerável.
Parafraseando BOGOMOLETZ, a maior parte das mães inicia o seu processo de
gestação na condição de unidade: mãe-embrião e depois mãe-feto. Para ela, a percepção de
que a mãe e o bebê constituem um ser único e indivisível, somente pode ser empregado a
partir de um certo momento no processo de desenvolvimento da criança.
Para a mãe considerada "normal" há um momento, cedo ou tarde, em que o filho não é
mais visto como uma parte dela mesma, mas não é fácil dizer que essa percepção algum dia
possa se completar inteiramente. O fato é que a mãe considerada "normal" é aquela na qual
percebemos uma consciência não muito atormentada de que há um mínimo de "in-
dependência" entre ela e o filho.
Numa segunda fase, podemos falar de díade propriamente dita, pois há duas pessoas
que se percebem como uma só. Isto a partir da situação anterior, em que uma das pessoas (o
bebê) nada podia perceber. Mas agora o bebê percebe, e vai relutar muito até aceitar, se tudo
correr bem, como diz Winnicott, que aqui há duas pessoas, e não uma. E vai fazer o possível
para que tudo continue como antes, pois a mudança lhe parece forçosamente assustadora.
Crescer e aprender podem ser muito ameaçadores para algumas crianças.
É a paciência da mãe, diz Winnicott, que permite ao bebê ir aceitando o inevitável. E o
inevitável é a percepção de que há duas pessoas, não duas metades que formam um todo.
Neste momento, o que importa é dizer que a passagem da fusão para a dependência mínima é
a passagem do estado de natureza para o estado da cultura, é a aceitação (pelo bebê) da mãe e,
posteriormente, dos demais como pessoas por direito próprio. É o surgimento de um "eu" que
se relaciona com o "não eu", em vez de combatê-lo; é a derrota da onipotência como
instrumento de administração do mundo, embora não como instrumento de aperfeiçoamento
desse mundo; é o início do ser propriamente humano, com toda a dignidade e todo o risco que
isto implica. Cria-se então a possibilidade de um espaço potencial.
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Parafraseando Safra (opus cit.), é no espaço potencial que o sujeito pode completar o
processo de construção de seu self. À medida que interage com o outro - a mãe,
primeiramente; mais tarde, o professor, o amigo, o terapeuta - pode entrar em contato com
diversas subjetividades através de manifestações culturais como a música, o texto, o diálogo,
enfim, a presença humana que o enriquece e complementa.
3. "...É uma alegria estar escondido, mas um desastre não ser encontrado..."
(WINNICOTT, 1967)
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sendo, não há porque espantar-se com a idéia de que, a partir de Winnicott, os assuntos
humanos talvez devam ser entendidos segundo a lógica paradoxal, e não mais segundo a
lógica linear.
A saída da onipotência deve ser feita pela via da empatia recíproca. No contexto
terapêutico, esta será a condição para que se criar o espaço potencial. Penso que com esta
referência podemos descrever o sofrimento que alguns pacientes apresentam: o desamparo
resultante de uma saída rápida demais do universo da fusão, ou o desamparo resultante de
uma permanência demasiadamente longa dentro dele o que, por simetria, causa o mesmo
estrago. Tanto a mãe que não percebe o desamparo do bebê e deixa que o mundo o invada,
quanto a mãe que não percebe o crescimento do bebê e o afoga em seu amparo, roubando-lhe
o acesso ao mundo, ambas fazem a mesma coisa: deixam de perceber o bebê.
No processo de terapia temos (pelo menos) duas pessoas envolvidas que, no brincar,
percebem-se mutuamente. Winnicott fala: "A psicoterapia tem lugar no encontro de duas
áreas do brincar: uma do paciente, outra do terapeuta. A psicoterapia acontece quando duas
pessoas brincam juntas. O corolário desta afirmação é que aonde não pode acontecer o
brincar, o trabalho do terapeuta será o de trazer o paciente de um estágio onde o brincar não é
possível para um estágio onde o brincar torne-se possível". (WINNICOTT, in ABRAM,
p.228)
Voltando ao início deste tópico e pensando na frase de Winnicott, percebemos que na
brincadeira podemos re-significar o que é estar escondido - valorização das competências
individuais, autonomia, independência - e o que é ser encontrado (ou não) - fazer parte do
coletivo, sentir-se pertencendo, compartilhar experiências humanas - e perceber que é no
equilíbrio dessas duas posições que se caminha rumo ao desenvolvimento e à aprendizagem.
Relatarei a seguir o atendimento de uma família, visando demonstrar como através da
criação de um espaço potencial - onde o brincar teve lugar - foi possível a seus membros
resgatar a aprendizagem por meio da criatividade e da capacidade de resolução de conflitos.
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Seus pais dizem não entender o que se passou com o filho, que sempre fora um ótimo
estudante e muito responsável em casa. Cursou até a 2º série do Ensino Médio. Ao se
aproximar do fim do curso, ele parecia estar desmotivado e sem condições de prosseguir. A
escola os chamou para informar que A. apresentava dificuldades de atenção, de concentração,
de organização para tarefas sistematizadas, o que o deixava impossibilitado de acompanhar o
ritmo dos colegas. Decidiram então que seria melhor tirá-lo do colégio. Neste momento, o
rapaz afirma querer ajuda e estar disposto a retomar sua vida.
Provenientes de famílias humildes de origem judaica, os pais tiveram de trabalhar
muito para conquistar uma estabilidade econômica e poder mandar A. para o colégio. A
história da família R. é muito rica e repleta de situações interessantes. Entretanto, para não
fugir ao escopo deste trabalho, focalizarei, apenas, o que eu entendo pela construção de um
espaço potencial entre a família e a terapeuta.
De início, peço à família que me conte um pouco de sua história. Os pais falam dos
avós, que vieram ao Brasil foragidos durante a 2a Guerra, e das dificuldades que aqui
enfrentaram. Fico sabendo que apenas a avó materna ainda vive e que mora no interior do
Estado. Incentivo-os a falarem de suas famílias de origem, de seus hábitos e costumes.
Percebo que existem muitas histórias carregadas de emoção e tristeza que cercam os primeiros
anos da família no Brasil. Percebo, ainda, que alguns assuntos parecem proibidos de serem
mencionados. Não é uma proibição explícita, mas o assunto é desviado a cada vez que
falamos; por exemplo, tudo o que se relaciona ao avô paterno.
Depois de alguns atendimentos centrados em construções de narrativas, começo a
perceber que estamos dando voltas em torno dos mesmos pontos e vou me sentindo como que
paralisada pelo sistema. Aprendi, em decorrência de minha experiência, que nestes momentos,
o uso de outros recursos, que não o puramente verbal, podem ser de grande ajuda. Proponho,
então, o início do que eu mais tarde chamei de fase de jogos: atendimentos onde começamos a
jogar WAR.
Tanto os pais, como A., tinham um bom conhecimento de geografia e eles sentiam-se
animados em me dar aulas e me contar os hábitos e os costumes de lugares que eu
desconhecia. Nestas ocasiões, eram trazidos também assuntos pessoais e eu podia observar a
hierarquia, as coalizões e as lealdades entre os três. Num desses encontros, fiquei sabendo que
o avô paterno morrera dois dias antes do nascimento de A. Nesta mesma ocasião, ele falou,
pela primeira vez, que se sentia muito pouco à vontade com o pai toda vez que falavam no
avô. A mãe começa a chorar e diz que já era hora de terem esta conversa. O pai, visivelmente
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contrariado, inicia o relato contando que o avô se suicidara pouco antes de A. nascer.
Com esta revelação, muitos assuntos são trazidos à tona e tenho a oportunidade de perceber o
lugar que fora designado a A., cujo nome herdara do avô morto.
É importante lembrar que neste contexto cultural, dar o nome de um antepassado a
uma criança é a forma de homenageá-lo e expressar reconhecimento. Mas, neste caso, a
nomeação trazia igualmente muita mágoa e ressentimento. Não vou me estender aqui sobre o
fantasma do suicídio que assombra a família. Só não posso deixar de mencionar a enorme
carga que um filho carrega quando deve ocupar concomitantemente o lugar do reparador (pelo
suicídio) e do morto.
O avô de A. era, segundo o pai, um homem muito inteligente e bem sucedido, que
havia sido arrancado de seu meio pela eclosão da guerra. Valorizava muitos os estudos e não
se conformara em deixar suas propriedades para fugir. Nunca aceitara a situação e, tendo
ficado cada vez mais isolado, acabou pondo fim à própria vida.
Deste avô, A. sabia apenas que fora uma pessoa muito esforçada, mas, conforme
afirmou, sua fantasia era de que ele morrera louco. Nunca teve coragem de perguntar ao pai,
mas disse sentir-se com medo de também acabar assim pois pensava que essa loucura poderia
ser hereditária.
Apesar de todo caminho já percorrido, eu buscava ainda entender, entre outras coisas,
qual o sentido das drogas na vida de A. e como foi o processo de abandono dos estudos.
Parecia-me que ele respondia a duas demandas paradoxais da família: ser bem sucedido e
correr o risco de se matar X ser um fracassado e permanecer vivo.
A partir daí, fizemos um trabalho com fotos e foi possível para a família resgatar
muitas histórias que estavam enterradas juntamente com a memória deste avô. Aspectos
culturais importantes e suas repercussões para a vida da família foram revistos. Pudemos,
enfim, focar na vida atual de A. e suas possibilidades de reintegração social. O paradoxo pôde
ser nomeado e finalmente entendido.
Em muitos outros encontros voltamos a jogar. Certa vez, o pai de A. mencionou que
este espaço da terapia era o único lugar onde ele se sentia à vontade por não precisar
representar nenhum papel: neste lugar ele podia ser ele mesmo. Penso que neste momento ele
se referia ao espaço que fora criado entre a família e a terapeuta, onde havia confiança,
tolerância, continência, possibilidade de crescimento. Penso que ele se referia ao espaço
potencial.
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Winnicott afirma que o tempo da terapia deve ser aquele que permita ao paciente
experimentar confiança e que, posteriormente, o encoraje à separação e à autonomia. "Como o
bebê com sua mãe, o paciente não pode tornar-se autônomo, exceto em conjunto com seu
terapeuta, que deve estar pronto para deixá-lo partir..." (WINICOTT, in ABRAM, p. 324).
O espaço potencial, criado entre o sistema familiar e o terapêutico, propiciou um continente
seguro para o brincar, para a criação de símbolos e significados que fizessem sentido para o
cliente e seu grupo familiar e, ainda, para que os legados de sua cultura pudessem ser
introduzidos como elementos enriquecedores da compreensão da dinâmica familiar.
Junto com essas mudanças, puderam ser observadas alterações no desempenho escolar de A.,
que voltou a estudar, encontrando prazer em se aproximar do conhecimento. Ao se libertar
dos segredos e mandatos familiares pôde superar suas dificuldades de aprendizagem e
compreender o que nomeamos "função protetora do sintoma" (POLITY, 2001).
Gostaria de finalizar este artigo, lembrando que entendo a função terapêutica como
facilitadora para a resolução de conflitos, mobilizando a família a encontrar seus próprios
recursos para fazê-lo. . E, como agente facilitador, o terapeuta busca a criação de um espaço
onde as potencialidades possam ser realizadas. Segundo Winnicott, espaço de brincar, de
criar, de despertar para a vida.
O enfoque psicanalítico de orientação winnicottiana não nos impede de pensarmos a
família como um sistema de múltiplas interações. Ao contrário, esse enfoque, no meu
entender, dá ênfase ao relacional e à importância do meio no desenvolvimento do ser humano.
Se pensarmos que um membro da família apresenta algum problema por viver em um
determinado contexto familiar, podemos considerar que este contexto, por sua vez, está sendo
constituído pela conduta deste indivíduo. Perguntar onde termina uma ação e onde começa
outra é como tentar determinar onde termina a praia e onde começa o mar.
O que pude observar, dentro dessa experiência terapêutica, é que quando foi criado um
espaço para as questões serem recriadas e recontadas, a família foi capaz de fazer uso de
instrumentos internos e relacionais que os permitiram lidar melhor com as dificuldades. Esse
espaço permitiu, ainda, trabalharmos com a queixa inicial na área da aprendizagem e "re-
significá-la" para este sistema.
Talvez possamos nos inspirar nas palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade
para tentar compreender algumas das questões familiares:
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Engenheiros do Hawaii
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Um dia me disseram
Quem eram os donos da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão
E tudo ficou tão claro
O que era raro ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
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Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Composição: Humberto Gessinger
Além do Horizonte
Jota Quest
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La LaraLaraLaraLara Lala
La LaraLaraLaraLara Larala
La LaraLaraLaraLara Lala
La LaraLaraLaraLara Larala
La LaraLaraLaraLara Lala
La LaraLaraLaraLara Larala...
Composição: Erasmo Carlos / Roberto
Carlos
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