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INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA: BASES

CONCEITUAIS E ORIGEM
Faculdade de Minas

Sumário

NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 3

INTRODUÇÃO................................................................................................. 4

ORIGEM E HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA ............................................. 5

DEFINIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA ............................................................ 22

ÁREAS DE ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA ........................................... 27

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 29

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino,
de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Introdução à Psicopedagogia: Bases


Conceituais e Origem

Introdução

A psicopedagogia é uma área de atuação que compreende dois campos


distintos, porém complementares, para assegurar e implementar qualidade na área
da educação: a psicologia e a pedagogia.

Por meio da psicologia aplicada diretamente à prática da pedagogia é


possível compreender com êxito as necessidades e todas as dificuldades
abrangentes no aprendizado educacional das pessoas, sejam adolescentes,
crianças ou até mesmo adultos.

A origem da psicopedagogia foi um método desenvolvido para solucionar os


problemas encontrados através da psicologia educacional. Enquanto a psicologia
educacional encontrava a raiz do problema da dificuldade no aprendizado, a
psicopedagogia foi a solução.

Através de recursos que utilizam das teorias psicanalíticas, linguísticas,


neuropsicológicas e de comportamento humano, a psicopedagogia foi elaborada
com uma única finalidade de empregar os conhecimentos sobre o ser humano para
intensificar os métodos de ensino pedagógico.

A Psicopedagogia surge no cenário ocidental como um fazer empírico,


apoiado na prática, nas experiências vivida e, principalmente, na observação de
fatos. Sua demanda era a de atender crianças com dificuldades de aprendizagem
cujas causas fossem estudadas pela medicina e pela psicologia. Seu objeto de
estudo eram os sintomas das dificuldades de aprendizagem, como a desatenção, o

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desinteresse, a lentidão e a astenia, que seria a perda ou diminuição da força física


(também podendo ser a perda ou diminuição das forças ou da resistência do
sistema nervoso) . E o seu objetivo era remediar esses sintomas. A dificuldade de
aprendizagem seria apenas um mau desempenho, um produto a ser tratado.

Origem e história da Psicopedagogia

Historicamente, segundo Bossa (2007) os primórdios da Psicopedagogia


ocorreram na Europa, ainda no século XIX, sustentada pela preocupação com os
problemas de aprendizagem na área médica.

Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na França, em 1946,


com o objetivo de desenvolver um trabalho voltado para crianças com problemas
escolares ou comportamentais atendidos por uma equipe da área de Psicologia,
Psicanálise e Pedagogia.

Bossa (2007) apresenta que:

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Observa-se que a Psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo,


inicialmente, um caráter médico-pedagógico já que a equipe de trabalho era
composta por médicos, psicólogos, pedagogos, psicanalistas e reeducadores de
psicomotricidade e da escrita.
Ao final dos anos 60, na Argentina, o trabalho entre os psicopedagogos e a escola e
sua relação com os psicólogos e os pedagogos influenciaram significativamente os
profissionais argentinos na sua atuação psicopedagógica.

Conforme Alicia Fernández, psicopedagoga Argentina, a graduação em


Psicopedagogia passou a existir na Argentina há mais de 30 anos, criada na
Universidade de Buenos Aires (UBA). Deste modo, Buenos Aires foi a primeira
cidade argentina a oferecer o curso de Psicopedagogia. (apud BOSSA, 2007, p.42-
43)

Entretanto, na prática, a atividade psicopedagógica iniciou-se antes da


criação do próprio curso. Profissionais que possuíam outra formação viram a
necessidade de ocupar um espaço que não podia ser preenchido pelo psicólogo
nem pelo pedagogo. Desta maneira, começaram fazendo reeducação, com o
objetivo de resolver fracassos escolares.

De acordo com Peres (1998)

Inicialmente, a Psicopedagogia aparece como uma disciplina na Facultad del


Psicología da Universidad del Salvador, Buenos Aires.

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Já em 1956, a Psicopedagogia constitui-se como curso de graduação de três


anos, para formar professores com capacitação em psicologia escolar, na
confluência da psicologia e pedagogia.

Müller (1995) aborda em seu artigo “Perspectivas de la psicopedagogia em el


comienzo del milenio”, que as novas tendências do sistema educativo na Argentina,
para melhor distribuição de recursos econômicos e humanos, atualmente organiza a
estrutura do curso de Psicopedagogia em ciclos, propondo uma carreira de quatro
anos.

Portanto, estabelecendo uma grade curricular de dois anos de formação


básica compartilhada com a carreira de Psicologia e fixando dois anos de formação
psicopedagógica específica. Existem também os cursos de mestrados e doutorados,
possibilitando especialização de um ano de duração, como formação acadêmica
para a docência superior e pesquisa.

Deste modo, como do interior da carreira de Psicologia se criou à carreira de


Psicopedagogia, que no começo não tinha caráter universitário, mas, conforme
adquiria significado mediante definições e aportes teóricos de especialistas, aos
poucos, foi se construindo o seu objeto de estudo próprio: o sujeito em processo de
ensino-aprendizagem. Em outras palavras, o sujeito como agente da sua própria
aprendizagem.

Com isso, a psicopedagogia argentina se origina como um conhecimento


empírico, a partir da necessidade de atender as crianças com problemas de
aprendizagem escolar.

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Para Visca (1987),

Jorge Visca é considerado pela literatura dos profissionais da área, como “pai
da psicopedagogia”. A psicopedagogia nasceu na Argentina a partir dos seus
estudos acerca da epistemologia da psicopedagogia, no que se chamou de
epistemologia convergente.

Na realidade, a Psicopedagogia é uma área do


conhecimento que se apoia nas diferentes Ciências, tais
como Pedagogia, Psicologia, Psicanálise, Neurologia, entre
outras, integrando seus conhecimentos e princípios
coerentemente, tendo como finalidade adquirir uma melhor
compreensão a respeito dos diversos processos inerentes a
aprendizagem.

Do ponto de vista de Müller (1984), ao se referir sobre


o objeto de estudo da psicopedagogia, deve-se levar em
conta como se desenvolve a aprendizagem. É importante,
para ela, considerar: “Que leis regem estes processos; que
dificuldades interferem ou impedem; de que maneira é
possível favorecer as aprendizagens ou tratar suas
alterações”. (p.7-8)

Para esta autora, a Psicopedagogia liga-se as características da


aprendizagem, como se educa, como se ensina, como se aprende, como surgem os
problemas da aprendizagem, quais as propostas para tratá-lo, que fazer para
preveni-los e promover mudanças nos processos de aprendizagem.

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O transcurso da prática profissional desenvolvida durante vários anos, define


um marco contextual teórico e elabora a pratica em Psicopedagogia, gerando novos
enfoques conceituais no interior de si mesmas.

A graduação em psicopedagogia surgiu há mais de 30 anos na Argentina, na


Universidade de Buenos Aires (UBA). Entretanto, o curso passou por três instâncias
em relação ao plano de estudo: nos anos de 1956, 1958 e 1961 a ênfase esteve na
formação biológica e psicologica; evidenciava-se a formação instrumental do
psicopedagogo nos anos de 1963, 1964 e 1969; Assim, com a criação da
licenciatura, o enfoque passou a ser clínico e para a obtenção do título de
psicopedagogo, a carreira de graduação passou de quatro para cinco anos de
duração em 1978, tal como hoje em dia.

Bossa (2007), afirma que em 1978, o terceiro momento do curso de


psicopedagogia, com a criação da licenciatura na matéria, tal como existe
atualmente, ou seja, uma carreira de graduação com duração de cinco anos.

Durante os trinta anos que se passou desde o seu estabelecimento na


Argentina, a Psicopedagogia tem ocupado um significado espaço no âmbito da
educação e da saúde. Nesse processo evolutivo, é importante destacar um fato
relevante que permitiu mudanças na abordagem da Psicopedagogia: da reeducação
à clínica.

Esse fato se relaciona a década de 70 em que surgiram, em Buenos Aires, os


Centros de Saúde Mental, onde atuavam equipes de psicopedagogos que faziam
diagnóstico e tratamento para os problemas relacionados à aprendizagem.

Esses profissionais observavam que, depois de um ano de tratamento,


quando os pacientes retornavam para controle, haviam resolvido os seus problemas
de aprendizagem. Mas, surgiam graves distúrbios de personalidade, produzindo-se,
pois, um deslocamento de sintoma. A partir daí ocorre uma grande mudança na
abordagem psicopedagógica. Os psicopedagogos começam a incluir no seu
trabalho a clínica da Psicanálise, resultando no atual perfil do psicopedagogo
argentino.

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Em 17 de setembro de 1982 foi fundada a Federación Argentina de


Psicopedagogos (FAP) por um Colegiado Profissional de Psicopedagogos. E esse
dia se estabeleceu como o “Dia Nacional de Psicopedagogo”.

Em 1983 foi criada a Asociación de Psicopedagogos de Capital Federal -


PSP2. Mas foi no ano de 1986 que PSP passou a reconhecida juridicamente. È uma
instituição que vem trabalhando para o auxílio do psicopedagogo universitário, dos
formados em nível de pós-graduação, defendendo o campo profissional, a ética
profissional, preservando e enriquecendo o conceito humano de nossa profissão.

Na Argentina, a psicopedagogia tem um caráter diferenciado da


psicopedagogia no Brasil, pois naquele país é permitida a aplicação de testes,
como, por exemplo, as provas de inteligência, mais conhecidas por teste de
Quociente de Inteligência (Q.I.) pelos psicopedagogo. Enquanto, no Brasil, somente
os psicopedagogos com formação em Psicologia podem fazer o uso destes tipos de
testes.

De acordo com BOSSA (2007) alguns instrumentos de uso frequente por


psicopedagogos argentinos não são permitidos aos brasileiros

No Brasil não é permitido ao psicopedagogo recorrer a muitos dos


instrumentos que são de uso do psicólogo. O psicopedagogo, que não tem
formação em Psicologia, quando a situação requer, solicita ao psicólogo ou,

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dependendo do caso, a outros profissionais (neurologistas, fonoaudiólogos,


psiquiatras), habilitados e de sua confiança, as informações necessárias para
completar o seu diagnóstico. (p. 100)

Na década de 60, advém a Psicopedagogia no Brasil, surgindo as primeiras


iniciativas de atuação psicopedagógica. Neste período os problemas de
aprendizagem eram associados a uma disfunção neurológica: disfunção cerebral
mínima6 (DCM).

O rótulo DCM foi apenas um dentre os vários diagnósticos empregados para


camuflar problemas de origem sociopedagógicos, termos como Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDH/A), dislexia e outros mais, são conceitos
usados ideologicamente para esse fim.

Em 1958, no Brasil surge o Serviço de Orientação Psicopedagógica da


Escola Guatemala (Escola Experimental do INEP - Instituto de Estudos e Pesquisas
Educacionais do MEC), na Guanabara, atualmente Estado do Rio de Janeiro, tendo
como principal objetivo a melhoria da relação professor- aluno.

No Brasil, por volta dos anos 70, alguns profissionais preocupados com os
altos índices de evasão escolar e repetência, engajados no estudo das causas e
intervenções dos problemas educacionais relacionados ao fracasso escolar
trouxeram da França para a Argentina os aportes teóricos sobre a Psicopedagogia.
Mais recentemente, isto é, desde 1980 até hoje, passamos a conceber o fracasso
escolar também como “problemas de ensinagem”, e não somente de aprendizagem.

Essas contribuições foram trazidas para o Brasil, tanto por meio de


palestrantes oriundos da França como da Argentina, como também, por meio de
professores que participavam de palestras, cursos a respeito da experiência
psicopedagógica voltada para a educação.

Em decorrência de novas descobertas científicas e movimentos sociais, a


Psicopedagogia sofreu muitas influências.

Em 1979, decorrido quase vinte anos de prática psicopedagógica, surge na


cidade de São Paulo, o primeiro curso em nível de pós-graduação em

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Psicopedagogia no Instituto Sedes Sapientiae, indicando como a área de


psicopedagogia é relativamente nova no Brasil.

Para Fagali (2007), uma das matrizes geradoras do curso de Psicopedagogia


é o Instituto Sedes Sapientiae. Ela ressalta que

A retomada das raízes do curso de formação em Psicopedagogia do Sedes


Sapientiae justifica-se por ter sido um curso pioneiro na realidade de São Paulo,
gerador de líderes de mudança que prosperaram em projetos como o da construção
da Associação de Psicopedagogia em São Paulo” (p. 19-20)

Podemos dizer que alguns profissionais que terminavam sua especialização


em Psicopedagogia, no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, organizaram um
grupo para estudar e definir a prática psicopedagógica que melhor trabalhasse os
problemas de ensinagem, dando origem a Associação Estadual de Psicopedagogia
de São Paulo (AEP).

Após seis anos, de funcionamento a AEP, se tornou a Associação Brasileira


de Psicopedagogia (ABPp). Há neste caminho uma diferença fundamental, pois se
assume a área de conhecimento psicopedagógico, a partir de um órgão de classe.

No relato que prossegue, Mônica Hoehne Mendes7 (apud Carvalho, 2005)


comenta:

Desde 1980, os psicopedagogos brasileiros podem contar com uma


associação voltada para o interesse da classe e que luta por seus direitos. É a
Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), criada em 1988.

Além disso, estes vinte anos da ABPp, vêm possibilitando aos


psicopedagogos estruturarem um espaço de discussão sobre o corpo teórico de

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conhecimentos psicopedagógicos, através do seu vasto acervo de trabalhos


científicos publicados, dissertações de mestrado e teses de doutorado.

A Psicopedagogia no Brasil enquanto área de atuação é sustentada por


referenciais teóricos, isto é, uma práxis psicopedagógica. É reconhecida pela área
acadêmica através das produções científicas consolidadas em teses, publicações e
reuniões que tem o rigor da ciência organizadas pela Associação Brasileira de
Psicopedagogos e por outros órgãos representados pelos profissionais e áreas
afins.

No final da década de 1970, tanto no Rio de janeiro, quanto em Curitiba, os


estudos de Jorge Visca, psicopedagogo argentino, começaram a fazer diferença na
compreensão do aprendiz e de suas dificuldades de aprendizagem.

Na década de 1990, em Curitiba, os estudos da visão Sistêmica por


psicopedagogos que possuíam a visão da Epistemologia Convergente, inicialmente
na Síntese, bem como, no Rio de Janeiro, as contribuições de Alicia Fernàndez,
trouxeram uma nova compreensão da dinâmica familiar e de suas relações com as
dificuldades para aprender.

Provavelmente, muitos fatores contribuíram para a construção da


Psicopedagogia, cabe ressaltar que foram estes profissionais argentinos que
trouxeram os conhecimentos da Psicopedagogia para o Brasil e enriqueceram o
desenvolvimento desta área de conhecimento.

Consideramos importante, mencionar que a literatura francesa nos mostra


autores como Janine Mery, Pichón-Rivière, Jacques Lacan, dentre outros, cujos
pensamentos influenciaram a Psicopedagogia na Argentina, que vem se destacando
como forte, na práxis psicopedagógica brasileira.

A história da formação do psicopedagogo brasileiro advém pelo


entrelaçamento dos aspectos teóricos e da práxis psicopedagógica deste
profissional.

A Psicopedagogia surgiu há poucos anos no Brasil e ainda é considerada


uma área relativamente nova de estudos:

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De acordo com Wolffenbuttel (2005), a psicopedagogia oferece melhor


reflexão sobre a aprendizagem de todos os sujeitos envolvidos. O objeto de estudo
dela é compreender o aprender e o não-aprender. Onde existirem situações de
aprendizagem, há espaço de reflexão psicopedagógica. Ela tem o seu olhar voltado
sobre o ser humano em processo de construção de conhecimento, considerando as
dimensões subjetivas e objetivas, auxiliando na busca da minimização dos
problemas de aprendizagem e potencialização do aprender.

Dessa forma, o psicopedagogo deve ter capacidade de em sua prática


identificar os problemas de aprendizagem e a origem dos mesmos, assim como
conhecer e acompanhar as situações de evolução da aprendizagem do seu
paciente.

Nos estudos de Bossa (2000a) sobre a evolução da Psicopedagogia,


observa-se que, nesse processo histórico a Psicopedagogia Clínica obteve várias
denominações, tais como pedagogia curativa, pedagogia terapêutica,
psicopedagogia curativa e, finalmente, passa a assumir-se como Psicopedagogia

Dentro da psicopedagogia, está a psicopedagogia clínica e a psicopedagogia


institucional. Cada um desses espaços tem seu método específico de trabalho.
Porém, em ambos, deve-se considerar o contexto sociocultural do paciente.

Segundo Bossa (2000a), o papel do psicopedagogo da clínica, é criar um


espaço de aprendizagem, oferecendo ao sujeito oportunidades de conhecer o que
está a sua volta, o que lhe impede de aprender, para que juntos, possam modificar
uma história de não aprendizagem.

Sobre a psicopedagogia institucional, Wolffenbuttel (2001 apud ESCOTT,


2004, p.192) afirma que esta é a abordagem da Psicopedagogia que deposita seu
olhar sobre as instituições de ensino-aprendizagem. Essa abordagem assume uma

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dimensão preventiva e social na medida em que atende os diferentes grupos da


instituição, tendo como principal objetivo resgatar o prazer de ensinar e aprender.

Dessa forma a psicopedagogia clínica faz o papel de intervenção terapêutica,


pois existe um profissional especializado no caso, o psicopedagogo e um sujeito
com dificuldades no processo de aprendizagem. E a psicopedagogia institucional,
faz o papel preventivo e esta tem como seu centro de interesse a instituição.

Segundo Escott (2004), no diagnóstico psicopedagógico é necessário


identificar, no desenvolvimento do sujeito e na relação com sua família e grupos
parte da história pessoal do sujeito, procurando identificar sua modalidade de
aprendizagem e compreender a mensagem de outros sujeitos envolvidos nesse
processo, seja a família ou a escola, buscando, implicitamente ou não, as causas do
não-aprender. Sociais em que vive, o significado da não-aprendizagem. Assim, a
Psicopedagogia Clínica

Do ponto de vista de Escott (2004), para o psicopedagogo entender como e o


que o sujeito aprende, o porquê não aprende, os significados ali atribuídos ao
aprender e ao não-aprender e qual a dimensão da intervenção psicopedagógica
como resgate do sujeito para a aprendizagem,
o processo de diagnóstico na clínica tem que
ser entendido como processo permanente e
não apenas inicial da relação terapêutica, pois,
na interação e intervenção do psicopedagogo
com o sujeito da ajuda, as próprias alterações
advindas desse processo são objeto de estudo
e compreensão.

Diante do que foi exposto temos que foi


na Argentina que os primeiros psicopedagogos

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brasileiros foram a procura de conhecimentos acerca da formação e atuação


psicopedagógica para fundamentarem a Psicopedagogia no Brasil. Ainda hoje, as
obras publicadas por Jorge Visca, Alicia Fernàndez, Sara Pain e Marina Müller
fazem parte do nosso acervo bibliográfico.

A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) organizou um documento


acerca da identidade profissional do psicopedagogo e os objetivos da
psicopedagogia, nos diferentes estados do Brasil, representando e divulgando a
Psicopedagogia.

Em 1992, entrou em vigor o Código de Ética, aprovado em assembleia


durante o V encontro e II Congresso de Psicopedagogia. De acordo com Mendes
(2007), a discussão acerca da questão do reconhecimento da profissão gerou
grande inquietação. Contudo, o documento citado sofreu alteração na Assembleia
Geral do III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, da ABPp, em 1996, da qual
transcorreu a presente redação que apresentamos a seguir:

CÓDIGO DE ÉTICA DA ABPp

Elaborado pelo Conselho Nacional do Biênio


91/92 e Reformulado pelo Conselho Nacional e Nato do
Biênio 95/96

Capítulo I – Dos Princípios

Artigo 1º

A Psicopedagogia é um campo de atuação em


educação e saúde que lida com o processo de
aprendizagem humana; seus padrões normais e
patológicos, considerando a influência do meio - família,
escola e sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando
procedimentos próprios da Psicopedagogia.

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Parágrafo Único
A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem
do conhecimento relaciona do com o processo de
aprendizagem.

Artigo 2º

A Psicopedagogia é de natureza interdisciplinar.


Utiliza recursos das várias áreas, do conhecimento humano
para a compreensão do ato de aprender no sentido,
ontogenético e filogenético, valendo-se de métodos e
técnicas próprias.

Artigo 3º

O trabalho psicopedagógico é de natureza clínica e


institucional, de caráter; preventivo e/ou remediativo.

Artigo 4º
Estarão em condições de exercício da
Psicopedagogia os profissionais graduados em 3º grau,
portadores de certificados de curso de Pós-Graduação de
Psicopedagogia, ministrado em estabelecimento de ensino
oficial e/ou reconhecido, ou mediante direitos adquiridos,
sendo indispensável submeter-se à supervisão e
aconselhável trabalho de formação pessoal.

Artigo 5º

O trabalho psicopedagógico tem como objetivo: (i)


promover a aprendizagem; garantindo o bem-estar das
pessoas em atendimento profissional, devendo valer-se dos
recursos disponíveis, incluindo a relação Inter profissional;
(ii) realizar pesquisas científicas no campo da
Psicopedagogia

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Capítulo II – Das responsabilidades dos


psicopedagogos Artigo 6º

São deveres fundamentais dos psicopedagogos:


a) Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos
científicos e técnicos que tratem do fenômeno da
aprendizagem humana.
b) Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de
outras áreas, mantendo uma atitude crítica, de abertura e
respeito em relação às diferentes visões de mundo.
c) Assumir somente as responsabilidades para as quais
esteja preparado dentro dos limites da competência
psicopedagógica.
d) Colaborar com o progresso da Psicopedagogia.
e) Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas
agremiações de classe sempre que possível.
f) Responsabilizar-se pelas avaliações feitas, fornecendo ao
cliente uma definição clara do seu diagnóstico.
g) Preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do
cliente nos relatos e discussões feitos a título de exemplos e
estudos de casos.
h) Responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes
i) Manter atitude de colaboração e solidariedade com
colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de qualquer
forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e a dignidade
na relação profissional são deveres fundamentais do
psicopedagogo para a harmonia da classe e a manutenção
do conceito público.

Capítulo III – Das relações com outras


profissões Artigo 7º

O psicopedagogo procurará manter e desenvolver


boas relações com os componentes das diferentes
categorias profissionais, observando, para este fim, o
seguinte:

a) Trabalhar nos estritos limites das atividades que lhe são


reservadas.
b) Reconhecer os casos pertencentes aos demais campos
de especialização, encaminhando-os a profissionais
habilitados e qualificados para o atendimento.

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Capítulo IV – Do sigilo

Artigo 8º

O Psicopedagogo está obrigado a guardar sigilo


sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência do
exercício de sua atividade.

Parágrafo Único
Não se entende como quebra de sigilo informar
sobre o cliente a especialistas comprometidos com o
atendimento.

Artigo 9º

O Psicopedagogo não revelará, como testemunha,


fatos de que tenha conhecimento no exercício de seu
trabalho, a menos que seja intimado a depor perante
autoridade competente.

Artigo 10º

Os resultados de avaliações só serão fornecidos a


terceiros interessados mediante concordância do próprio
avaliado ou do seu representante legal.

Artigo 11º
Os prontuários psicopedagógicos são documentos
sigilosos e não será franquiado o acesso a pessoas
estranhas ao caso.

Capítulo V – Das publicações científicas

Artigo 12º

Na publicação de trabalhos científicos deverão ser


observadas as seguintes normas:

a) As discordâncias ou críticas deverão ser dirigidas à


matéria em discussão e não ao autor.
b) Em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser

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dada igual ênfase aos autores, sendo de boa norma dar


prioridade na enumeração dos colaboradores àquele que
mais contribuiu para a realização do trabalho.
c) Em nenhum caso o Psicopedagogo se prevalecerá da
posição hierárquica para fazer publicar; em seu nome
exclusivo, trabalhos executados sob sua orientação.
d) Em todo trabalho científico deve ser indicada a fonte
bibliográfica utilizada, bem como esclarecidas as ideias
descobertas e as ilustrações extraídas de cada autor.

Capítulo VI – Da publicidade profissional

Artigo 13º

O Psicopedagogo ao promover publicamente a


divulgação de seus serviços, deverá fazê-lo com exatidão e
honestidade.

Artigo 14º

O Psicopedagogo poderá atuar como consultor


científico em organizações que visem o lucro com venda de
produtos, desde que busque sempre a qualidade dos
mesmos.

Capítulo VII – Dos honorários

Artigo 15º

Os honorários deverão ser fixados com cuidado a fim


de que representem justa retribuição aos serviços prestados
e devem ser contratados previamente.

Capítulo VIII – Das relações com educação


e saúde Artigo 16º

O Psicopedagogo deve participar e refletir com as


autoridade competentes sobre a organização, a implantação
e a execução de projetos de Educação e Saúde Pública
relativas a questões psicopedagógicas.

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Capítulo IX – Da observância e cumprimento dói


código de ética Artigo 17º

Cabe ao Psicopedagogo, por direito, e não por


obrigação, seguir este código.

Artigo 18º

Cabe ao Conselho Nacional da ABPp orientar e zelar


pela fiel observância dos princípios éticos da classe.

Artigo 19º

O presente código poderá ser alterado por proposta


do Conselho da ABPp e aprovado em Assembléia Geral;

Capítulo X – Das disposições Gerais


Artigo 20º
O presente código de ética entrou em vigor após sua
aprovação em Assembléia Geral, realizada no V Encontro e
II Congresso de Psicopedagogia da ABPp em 12/07/1992, e
sofreu a 1ª alteração proposta pelo Congresso Nacional e
Nato no biênio 95/96 sendo aprovado em 19/07/1996, na
Assembléia Geral do III Congresso Brasileiro de
Psicopedagogia, da ABPp, da qual resultou a presente
redação.

Os psicopedagogos devem seguir certos princípios éticos que estão


condensados no Código de Ética. Porém, a ética não estabelece regras, sua
principal característica é a reflexão sobre a ação do Homem. Assim sendo, o
psicopedagogo deve ser um profissional que tem conhecimentos multidisciplinares,
pois em um processo de avaliação diagnóstica, é necessário estabelecer e
interpretar dados em várias áreas. O conhecimento dessas áreas fará com que o
profissional compreenda o quadro diagnóstico do aprendente e favorecerá a escolha
da metodologia mais adequada, ou seja, o processo corretor, com vista à superação
das inadequações do aprendente.

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Definição da Psicopedagogia

A Psicopedagogia é o campo que estuda


a aprendizagem em suas diferentes relações e
circunstâncias. Ela se ocupa do processo de
aprendizagem e suas variações e da
construção de estratégias para a superação do
não-aprender, tendo como um de seus focos
principais a autoria do pensamento e da
aprendizagem.

A Psicopedagogia tem uma visão integrada da aprendizagem, entendendo


que todas as dimensões do sujeito são coparticipantes de seus processos de
aprendizagem, por meio do entrelaçamento e da manifestação dos processos
cognitivos, afetivo-emocionais, sociais, culturais, orgânicos, psíquicos e
pedagógicos, concebendo o sujeito como individual e coletivo.

A Psicopedagogia transita entre os aspectos pedagógicos e psíquicos e entre


os processos de desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos. Sua intervenção
possibilita que indivíduos, grupos e instituições desenvolvam seus processos de
aprendizagem de forma saudável, resgatando o prazer de aprender e descobrindo-
se como autores de seus próprios processos.

Segundo Silva (2010, p. 23), a psicopedagogia ainda não possui um conceito


definitivo, de acordo com a autora os trabalhos são quase sempre voltados para
relatos de experiências, estudos de casos, trabalhos descritivos nos quais a teoria
surge como ponto de referência e não como fundamento. Ainda ligada à indefinição
do conceito da psicopedagogia, é dito pela autora que nesses trabalhos, as
definições que aparecem, referem- se à aprendizagem e não à psicopedagogia.

Silva (2010, p. 27-28) entende que o conceito inicial de psicopedagogia seria


de:

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Um campo do conhecimento que, como o próprio nome sugere,


implica uma integração entre a psicologia e a pedagogia tendo como objeto
de estudo o processo de aprendizagem visto como estrutural, construtivo e
interacional, integrando nele os aspectos cognitivos, afetivos e sociais do
ser humano. A psicopedagogia tem, então, como objetivo, facilitar esse
processo de aprendizagem removendo os obstáculos que impedem que ele
se faça.

Entretanto, Grassi (2013, p. 124), buscou definições em dicionários do termo


“psicopedagogia” e, segundo o Dicionário Aurélio (Ferreira, 1999, p. 1412), esse
termo significa a “aplicação da psicologia experimental à pedagogia”. Outra
definição encontrada pela autora foi no Dicionário Michaelis (Michaelis, 2000, p.
1725), onde a psicopedagogia foi dada como “aplicação de conhecimentos da
psicologia às práticas educativas”. Baseada nessas definições, Grassi (2000, p.
125) diz que:

Essas definições podem levar, e geralmente levam, à interpretação


equivocada de que a psicopedagogia é uma junção entre a psicologia e a
pedagogia, ou uma aplicação de conhecimentos da psicologia na
pedagogia, ou nas práticas educativas.

(...) a psicopedagogia se apropria de conhecimentos de várias


ciências e ramos de conhecimentos, reelaborando-se e configurando-se
numa área independente e produtora de conhecimentos novos sobre um
objeto de estudo que se modificou e se ampliou ao longo de sua
consolidação (...).

Grassi (2000, p. 128) ainda destaca que a psicopedagogia nasceu em um


espaço vago entre a psicologia e a pedagogia, onde as duas ciências não
conseguiram dar conta das dificuldades de aprendizagem e da questão do fracasso
escolar, em função até de algumas limitações de conceituais e de atuações.

Para Acampora (2010, p. 17), a psicopedagogia estuda o processo


aprendizagem e suas dificuldades tendo, portanto, um caráter preventivo e

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terapêutico. Seguindo esta linha, preventivamente, a psicopedagogia deve atuar não


só no âmbito escolar, mas alcançar a família e a comunidade. A partir disso, a
psicopedagogia consegue obter um conceito fundamentado como uma ciência que
estuda exclusivamente o processo de
aprendizagem.

Grassi (2000 p. 127) configura a


psicopedagogia como um amplo campo de
pesquisa e investigação sobre a aprendizagem
no espaço escolar e extraescolar, sobre a
aprendizagem sistemática e assistemática,
formal e informal.

Rubinstein (1999, p. 25) diz que a meta


da psicopedagogia é ajudar o sujeito, que por
diferentes razões, não consegue aprender formal ou informalmente, para que não
se interesse só pelo ato de aprender, mas desenvolver as habilidades necessárias
para tanto.

Ainda segundo a autora (1999, p. 23), a preocupação dos psicopedagogos


volta-se para uma compreensão que levasse em conta a multiplicidade e a
complexidade nos fatores envolvidos na aprendizagem considerando aspectos
psicológicos, cognitivos, psicolinguísticos, culturais e sociais que implicam nas
dificuldades de aprendizagem.

Masini (2015, p. 71) define a psicopedagogia como:

Área que estuda o ato de aprender, entendendo-se o ato de aprender como


os sentimentos, as ações, as elaborações do sujeito durante o seu
processo de aprendizagem e a consciência que ele tem do que ele realiza,
inclusive quando há dificuldades.

Em seu artigo intitulado “Formação profissional em Psicopedagogia: embates


e desafios” de 2006, Masini define a psicopedagogia como área que estuda as

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relações envolvidas em situações do aprender, para nelas resgatar o que emerge


da vida de crianças, jovens e adultos - de suas impressões, sentimentos, dúvidas,
valores e elaborações.

Beauclair (2006, p. 26) compreende que a psicopedagogia é uma área de


conhecimento que se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e
princípios de diferentes ciências humanas, com a meta de adquirir uma ampla
compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano.

Grassi (2013, p. 124) conceitua a psicopedagogia como uma área


interdisciplinar que reúne conhecimentos de várias ciências, buscando compreender
de forma integradora, o processo de ensino- aprendizagem que ocorre em dois
espaços: o extraescolar e o intraescolar. E, além de área de conhecimento, com
postulados teóricos consistentes, Grassi (2013, p. 124) configura a psicopedagogia
como campo de atuação específico clínico e/ou institucional em que a prática pode
ser preventiva e/ou terapêutica.

Masini (2015, p. 91- 92) divide a área em


duas formas de atuação: a institucional e clínica. A
prática institucional é caracterizada pela autora
como trabalho em nível preventivo sobre condições
que propiciam a aprendizagem, analisando
processo em situação de sala de aula, na relação
com o professor e com colegas, nas condições de
ensino e nas condições institucionais oferecidas. Enquanto que a autora define a
prática clínica da psicopedagogia como o atendimento a crianças com problemas de
aprendizagem, diagnosticando e esclarecendo o bloqueio no processo de
aprendizagem e identificando condições do contexto onde apareciam os problemas
de aprendizagem.

É verificado por Masini (2015, p. 31) que a psicopedagogia surgiu da


necessidade de atendimento e orientação a crianças que apresentavam dificuldades
ligadas à sua escolarização, mais especificamente à sua aprendizagem. E que
nessa busca estavam professores, psicólogos, médicos, fonoaudiólogos e
psicomotricistas.

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Seguindo essa linha, Grassi (2000, p. 127), caracteriza a psicopedagogia


como uma área de conhecimento relativamente nova, que busca integração
dinâmica de conhecimentos de várias ciências e áreas de estudo. A autora lista
essas áreas, onde destaca a psicologia, a pedagogia, medicina, biologia,
neurologia, sociologia, antropologia, filosofia e linguística. Grassi (2000, p. 127)
ainda relata que a integração dinâmica de conhecimentos objetiva a compreensão
dos processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento, bem como as
dificuldades que aparecem ao longo desses processos.

Grassi (2000, p. 133) reitera seu argumento quando descreve a


psicopedagogia como:

Área que procura, por meio da integração de várias disciplinas, construir


um campo teórico que fundamente sua atuação, tornando-a eficaz no
tratamento das dificuldades de aprendizagem, na diminuição do fracasso
escolar, na compreensão do processo de aprendizagem de um ser
humano, visto como ser integral, que estabelece uma série de relações
complexas durante seu processo de aprendizagem, em diferentes espaços
e tempos.

Segundo Silva (2010, p. 25), a psicopedagogia surge no Brasil como uma


solução ao fracasso escolar, tendo em vista seu objeto e objetivo de estudo. A
princípio, seu primeiro objeto foram os sintomas e dificuldades de aprendizagem,
como falta de atenção, desinteresse, astenia (diminuição da força física), etc., e o
objetivo, remediar esses sintomas. De acordo com Silva (2010, p. 25):

A dificuldade de aprendizagem seria apenas um produto a ser tratado.


Além disso, a psicologia e a pedagogia são vistas como elementos
justapostos e, dentro dessa perspectiva, a psicologia é apenas
estimuladora, normativa e reguladora da vida intelectual. De acordo com
essa visão, a psicopedagogia não seria um saber independente dotado de
fundamentos próprios, mas uma síntese simplificada dos múltiplos
conhecimentos psicológicos e pedagógicos.

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Silva (2010, p. 26) relata que, quando a psicopedagogia muda de objeto que
não os sintomas e dificuldades da aprendizagem e sim a gênese da aprendizagem,
a psicopedagogia entra numa nova fase, em que é possível dizer que seu objeto
passa a ser o processo de aprendizagem e seu objetivo remediar ou refazer esse
processo em todos os seus aspectos. A partir disso, a psicopedagogia passa a ser
considerada um saber independente tendo seus próprios instrumentos corretivos e
profiláticos.

Áreas de atuação da Psicopedagogia

A atuação da Psicopedagogia pode acontecer a partir da perspectiva Clínica,


Institucional e da Pesquisa.

A Psicopedagogia Clínica ocupa-se do entendimento do sujeito que aprende,


através de sua história pessoal, de seus vínculos familiares, de sua modalidade de
aprendizagem, compatibilizando conhecimento e saber. Procura compreender o
sujeito a partir de seu processo de aprender e de não aprender, indagando como, o
que e de que maneira ele pode aprender. Exerce suas funções nas dimensões
terapêutica e institucional, buscando a compreensão das complexas relações de
aprendizagem, dos lugares e papéis de sujeitos em suas redes históricas e pela
formulação de espaços e dispositivos adequados ao resgate e à promoção da
aprendizagem. Realiza ações voltadas para o resgate da aprendizagem, através da
formulação de espaço e vínculo de confiança e da proposição de recursos
adequados e específicos. Busca possibilitar que o sujeito construa sua autoria na
aprendizagem.

A Psicopedagogia Institucional considera as amplas e intrincadas relações de


aprendizagem de uma instituição, analisando as relações institucionais e buscando
elaborar condições de articular a qualificação dos processos de aprendizagem.
Objetiva fazer com que os sujeitos de um grupo possam se conceber e agir como

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protagonistas de seus próprios processos de aprendizagem. Pode ter como objetivo,


na escola, a diminuição da incidência dos problemas de aprendizagem. Analisa e
age em relação às questões da didática e da metodologia, através da intervenção:
na formação permanente e na assessoria junto aos professores; no atendimento
familiar; no diagnóstico de sujeitos; no relacionamento entre alunos e professores;
nas relações afetivas envolvidas nos processos de aprender; no significado que os
alunos e professores dão à aprendizagem; na elaboração de currículos e ações
pedagógicas que tenham efetivo desempenho junto ao processo de aprendizagem.

A Psicopedagogia como área de Pesquisa compõe um conjunto de


conhecimentos que auxiliam na investigação sobre os fenômenos dos processos de
aprendizagem humana.

A Psicopedagogia Empresarial orienta ações dentro das organizações


contribuindo no planejamento, gestão, controle e avaliação de aprendizagens,
favorecendo a qualidade dos processos de recrutamento, seleção e organização de
pessoal, bem como os de diagnóstico organizacional, dando subsídios significativos
e perfis específicos aos treinamentos que se efetivam no interior da organização.
Basicamente, a pedagogia empresarial tem como responsabilidade treinar e
capacitar os colaboradores, propondo atividades e ações para o desenvolvimento
pessoal e profissional dos funcionários. Isso inclui adotar diversas metodologias de
aprendizado, desde os tradicionais cursos, palestras e treinamentos corporativos, a
métodos mais inovadores como dinâmicas especiais.

Ambas (Empresa e Pedagogia) visam a mudança no comportamento das


pessoas. A educação, tem por excelência o propósito de provocar a mudança de
comportamento dos indivíduos a fim de que tornem-se seres sociais, ou seja, para
que estejam preparados para uma vida em sociedade e para o convívio em grupo. A
empresa, por outro lado, pretende que seus colaboradores estejam mais próximos
de sua cultura e tenham maior identificação com a mesma, para isso é necessário
provocar algumas mudanças em seus comportamentos, hábitos e atitudes.

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