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SILVA, Cleânia de Sales. Psicologia da Educação. UFPI\UAPI, 2009.

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Os conhecimentos produzidos pela


Psicologia trouxeram contribuições para a
compreensão da subjetividade, dos processos
psíquicos, mediações inerentes a toda e qualquer
experiência humana, entre elas a experiência
educativa.
A partir das contribuições dos
conhecimentos psicológicos na experiência
educativa, elucidando os aspectos subjetivos da
educação e os modos de ser dos sujeitos
educandos, começou-se a configurar um campo
Johaness Vermeer -
disciplinar destinado à Psicologia da Educação.
Terapeuta
Este campo, contudo, como afirma Gatti Fonte:http://notrombone.files.wordpress.c
om/2007/10/terapeuta-magritte-copy.jpg
(2006), não é um campo homogêneo, mas
instável, com relações entre as duas áreas de
conhecimento estabelecidas ao longo do tempo de forma diferenciada e com
contribuições em perspectivas e teorias bem específicas e divergentes.
A finalidade desse subcapítulo é, pois, resgatar as relações
estabelecidas entre a Educação e a Psicologia ao longo do tempo, bem como
mostrar em que se constitui o campo da Psicologia da Educação, qual é o seu
objeto de estudo e quais as suas diversas contribuições na formação e no
trabalho pedagógico do educador, com o intuito de despertar, no leitor, a
necessidade de o professor compreender as questões educacionais com base
nos fundamentos Psicológicos da Educação.

1.2.1 As relações entre Psicologia e Educação


A Psicologia sempre esteve ligada à educação, direcionando as suas
teorias e práticas, seja através de idéias psicológicas ou de teorias científicas
propriamente ditas. Contudo, as relações estabelecidas entre estas duas áreas
ocorreram de forma diferenciada em diferentes momentos históricos.
Carvalho (1997), ao discorrer sobre a temática, classifica essas
relações a partir de três momentos: o período da reflexão filosófica que se
inicia na idade antiga e vai até meados do século XIX; o período da
Psicologia Científica, com o predomínio das teorias psicológicas do final do
século XIX e o período da redefinição da Psicologia da Educação relativo à
década de 80 até a atualidade.
No período da reflexão filosófica, os temas psicológicos eram
produzidos no âmbito da Filosofia. As idéias dos filósofos como Platão,
Aristóteles, Rousseau, Kant, William James, dentre outros, serviam de
diretrizes para a elaboração de propostas pedagógicas, uma vez que a
educação era vista como uma aplicação prática das idéias psicológicas
produzidas na Filosofia. A Filosofia indicava os objetivos da Pedagogia e a
Psicologia os meios para alcançá-los, ou seja, definia como melhorar a atuação
do professor. Nesse sentido, as teorias educacionais eram filosóficas, de cunho
psicológico e centradas no ensino.
No âmbito do Brasil, percebemos a influência da Psicologia européia e
americana, visto que ela se encontrava presente informalmente em diferentes
disciplinas das faculdades, seminários e Escolas Normais, tais como Filosofia,
Direito, Medicina, Pedagogia e Teologia.
O segundo momento da relação entre a
Psicologia e a Educação se remete ao final do
século XIX, período da Psicologia Científica.
Nesse período, teve-se um impulso no campo
da teoria e da prática educacional, através de
estudos e trabalhos desenvolvidos na área da
Psicologia. Entre eles, podemos citar os
estudos sobre a aprendizagem realizados por
Thorndike, através do método experimental, os

Thorndike
Fonte:http://www.psicoloucos.com/Jo
omla/images/stories/edward%20lee%2
0thorndike.jpg
quais trouxeram implicações educacionais nos aspectos de motivação, conduta
emocional, método educacional de ensino, resolução de problemas; a
publicação dos trabalhos psico-educacionais realizados por Claparéde com
crianças, bem como a realização de seminários para destinar os professores a
iniciar trabalhos a partir dos métodos da psicologia experimental; a criação do
Instituto de Jean-Jacques Rousseau, cujo objetivo era aplicar a psicologia à
educação e que serviu para elaborar a teoria genética de Jean Piaget; a
psicologia da criança; os testes coletivos de inteligência e de rendimentos
utilizados na escola, originando o primeiro método de Psicologia Escolar
(Psicometria); e a Psicanálise que explicava as dificuldades de aprendizagem a
partir da dimensão afetiva (influência ambiental no desenvolvimento da
personalidade).
Todo esse contexto contribuiu para o surgimento da Psicologia
Científica e da Psicologia da Educação, visto que impulsionou, como dito, o
campo da teoria e da prática educacional, proporcionando base científica para
abordar os problemas educacionais e fazendo emergir a necessidade de um
profissional intermediário entre a Psicologia e a arte de ensinar. Thorndike e
Judd foram os primeiros psicólogos educacionais. Enquanto Thorndike
apontava a pesquisa psicológica experimental como o único fundamento das
propostas educacionais, Judd chamou a atenção para a importância de se
desenvolver trabalhos educativos relacionados com a prática educativa,
ressaltando o seu caráter social.
Assim, a educação deixa de ser uma aplicação da Filosofia como
instrução educacional e passa a ser explicada pelos princípios da Psicologia do
Desenvolvimento Infantil produzidos na Europa e EUA pelos teóricos como
Binet, Claparéde, Dewey, Wallon, Piaget. Como conseqüência, a Pedagogia se
torna científica graças às contribuições da Psicologia e surge a Psicologia da
Educação, enquanto Rainha da ciência pedagógica, capaz de explicar e
solucionar todos os problemas da educação.
Nessa perspectiva, a Psicologia da Educação é encarada como um
ramo da Psicologia, sem objeto de estudo e métodos próprios, constituindo
como um mero campo de aplicação dos conhecimentos da Psicologia Geral na
Educação, conhecimentos estes que tinham como base as teorias da
aprendizagem, a Psicologia da criança e o estudo das diferenças individuais.
No Brasil, como vimos, os temas psicológicos eram tratados
informalmente dentro de várias disciplinas das faculdades e seminários.
Somente a partir de 1928, a Psicologia passa a fazer parte do currículo das
escolas normais, tratando, inicialmente, de temas como: atividade sensorial e
motora, vontade, inteligência, sensibilidade moral, hábito e métodos didáticos
de aprendizagem e, posteriormente, de temas como: educação de diferentes
faculdades do homem, processos de aprendizagem, utilização de recompensas
e castigos como instrução educacional.
Na década de 30, a Psicologia
da Educação ocupava lugar de destaque
na Europa e nos EUA com a
implantação das reformas de ensino,
objetivando os ideais da Escola Nova
(Dewey, Piaget, Claparéde,
Montessori...). No Brasil, ocorreu a
oficialização da Psicologia nos currículos
das escolas normais e secundárias,
objetivando dar base científica ao ensino
Fonte:http://www.lasup.com.br/wp-
content/uploads/2008/12/divulgacao.jpg primário através da formação de
professores das séries elementares para
conhecer a personalidade das crianças e orientar a sua aprendizagem.
Também se tem o surgimento de laboratórios e o uso de testes visando
classificar a criança de normal ou anormal, explicando as diferenças individuais
de aptidão e camuflando as desigualdades sociais.
É em função de todo esse contexto que podemos afirmar que, no Brasil,
a Psicologia surge graças à Educação. Uma Psicologia de caráter individualista
e funcionalista, influenciada pelas idéias de Claparéde, Dewey, Rousseau,
Piaget e Montessori.
A partir da década de 50, na Europa e nos EUA, começa a se constatar
as dificuldades de integrar os múltiplos e contraditórios resultados das
pesquisas psicológicas desenvolvidas isoladamente e surge a consciência de
que o fenômeno educativo é complexo. A Psicologia se mostra, então,
insuficiente para explicar o processo educacional em toda a sua complexidade.
Na verdade, toma-se consciência de que a educação não se esgota na análise
psicológica e de que existem outros fatores que influenciam diretamente os
processos educacionais e seus resultados, como por exemplos os fatores
sociais, econômicos e administrativos. Tem-se, assim, o surgimento de outras
disciplinas educacionais, tais como a Sociologia da Educação, a Economia da
Educação, o Planejamento Educacional, entre outras, levando a Psicologia a
perder a sua hegemonia enquanto sustentáculo da educação, pois esta deixa
de ser vista sob um enfoque puramente psicológico para ser visto como um
fenômeno interdisciplinar. Outro fator de perda dessa hegemonia foram as
críticas feitas à educação que culminaram numa crise da Psicologia da
Educação.
Essa situação, contudo, se alterou na década de 60 com as mudanças
políticas e econômicas surgidas pela Guerra fria, que vislumbrava o
desenvolvimento científico e tecnológico como arma de guerra e a educação
como meio indispensável para vencê-la. Como exemplos dessas mudanças
temos o aumento de verbas públicas e privadas para a educação, a reforma do
sistema educacional em todos os níveis de ensino – do pré-escolar ao
universitário - e as amplas campanhas de alfabetização, de educação
permanente e de educação de adultos, que pregavam mais oportunidades e
educação para todos e defendiam um planejamento do setor educativo em
nível nacional e internacional (UNESCO). Nesse contexto, a Psicologia se vê
obrigada a precisar o seu objeto de estudo, elencando um enfoque instrucional,
centrada nos processos de aprendizagem dos conteúdos escolares e nos
fatores que incidem nesses processos. A partir daí começam a surgir cursos de
Orientação Educacional e cursos de formação de psicólogos, inspirados na
Psicologia experimental, na Psicofísica e na Psicometria.
Todas estas mudanças geraram o chamado “otimismo pedagógico”,
fundado na idéia de que as reformas educacionais seriam eficazes para o
desenvolvimento científico e para a mudança social. Esse otimismo pedagógico
serviu de terreno fértil para o avanço da Psicologia, pois em função da situação
privilegiada que ocupou historicamente, foi a área mais beneficiada pela
contribuição de recursos econômicos e humanos. Assim, as pesquisas e
publicações no campo da Psicologia, bem como a criação de institutos de
estudos psicológicos e a intervenção diretamente de psicólogos nas instituições
de ensino sofre um crescimento considerável, trazendo muitas implicações
pedagógicas, inclusive no que se refere às pesquisas na educação. Essa
grande explosão da pesquisa educacional no campo psicológico serve para
neutralizar as críticas em relação à contribuição da Psicologia para a
Educação, pois embora não abrangesse a totalidade, continuava a imperar a
idéia de que a Psicologia da Educação proporcionava a análise chave para os
métodos de ensino adequados. Com isso, ela se consolidou novamente como
o sustentáculo da Educação.
No Brasil, esse otimismo pedagógico veio também associado ao
Psicologismo Educacional, tendência a qual concebia a Psicologia como capaz
de resolver todos os problemas educacionais e fundamentava os discursos, as
reformas e as práticas educativas da época. Esta tendência, materializada pela
adesão às idéias pragmáticas de Dewey e às idéias behavioristas da
Tecnologia Educacional, influenciou a reforma tecnicista implementada pelas
leis 5.540\68 e 5692\71, a qual tinha como importante fundamento a Psicologia
Tecnicista baseada na psicometria, no comportamentalismo e na dinâmica de
grupo.
Todo esse otimismo pedagógico, contudo, é alterado em função da crise
econômica mundial da década de 70, ocasionada pelo confronto direto dos dois
blocos da Guerra Fria, que se reflete na diminuição de verbas para as
pesquisas e para as reformas educativas e nas críticas feitas às reformas
educativas instaladas e no processo educacional de modo geral. Esta passa a
ser vista como ineficiente, dando lugar a um “pessimismo pedagógico” e
fazendo surgir inclusive a tese da desescolarização.
No campo da Psicologia, essa situação se reflete na consciência de que
as expectativas relacionadas a esta área não puderam ser concretizadas e na
consideração da educação como um fenômeno político, econômico, ideológico
que não deve ser compreendido sob o enfoque psicológico.
No Brasil, a educação e a Psicologia da Educação também são
criticadas, porém o pessimismo pedagógico é amenizado em função da
disseminação, na década de 80, das idéias construtivistas de Piaget e Emília
Ferreiro e da proposta da educação transformadora, fundamentada em Paulo
Freire, Saviani e Vygotsky.
Todo este contexto resulta em três posicionamentos divergentes acerca
da relação entre a Psicologia e a Educação: o primeiro, considerado otimista,
que insistia na contribuição da Psicologia, justificando a ineficiência das
reformas educativas e da própria Psicologia em função dela ser uma ciência
jovem; o segundo, considerado pessimista, reiterava a concepção da educação
como um fenômeno ideológico, voltado para a manutenção do status quo; e o
terceiro advogava que o problema foi considerar a relação da Psicologia com a
Educação de caráter unidirecional, não levando em conta outros elementos
inerentes ao processo educativo.
Esses posicionamentos acerca da Psicologia e da Educação,
manifestados na década de 80, fizeram emergir, o terceiro momento da relação
entre esses dois campos: o período de redefinição, no qual a psicologia
passa a ser vista como um dos fundamentos da educação que a respalda e a
subsidia, juntamente com a sociologia, a história, a filosofia, a antropologia, etc.
A Psicologia da Educação, por sua vez, deixa de ser concebida como um mero
ramo da Psicologia aplicada para ser encarada como uma disciplina ponte de
natureza aplicada.
Coll (1996) explica que, embora as duas concepções de Psicologia da
Educação (mera aplicação e disciplina ponte) partam da necessidade de
utilização e aplicação dos conhecimentos psicológicos, de seus princípios e de
métodos na análise no estudo dos fenômenos educativos, elas se divergem no
que concerne à natureza do conhecimento psicológico, à maneira de construir,
utilizar e aplicar esse conhecimento (relação estabelecida entre os dois
campos) e em relação ao significado da aplicação.
A Psicologia da Educação enquanto ramo da Psicologia aplicada à
Educação tem as seguintes premissas:
 O conhecimento psicológico é o único a abordar as questões
educativas;
 O comportamento humano é regido por leis gerais estabelecidas
pela Psicologia, as quais podem ser utilizadas para explicar
qualquer atividade humana;
 O que caracteriza a Psicologia da educação é o campo de
aplicação em que se pretende utilizar esse conhecimento, no
caso a educação;
 O seu objetivo é selecionar, do conjunto de conhecimentos da
Psicologia Científica, aqueles conhecimentos (e métodos) mais
úteis para aplicar no entendimento, na interpretação e na
intervenção do comportamento das pessoas em situações
educativas, não tendo, portanto, objetos nem métodos de estudo
próprios.
A Psicologia da Educação enquanto disciplina ponte de natureza
aplicada tem como premissas o fato de que:
 As relações entre o conhecimento psicológico e a teoria e prática
educativas são bidirecionais (P↔E). O conhecimento psicológico
pode facilitar a compreensão dos fenômenos educativos e o
estudo desses fenômenos pode contribuir para aprofundar os
conhecimentos psicológicos;
 Os fenômenos educativos deixam de ser um campo de aplicação
para transformar-se num âmbito da atividade humana, suscetível
de ser estudado com os instrumentos conceituais e
metodológicos da Psicologia;
 Os fenômenos educativos não se reduzem à esfera psicológica;
 A Psicologia da Educação se compromete, com outras disciplinas
educativas, na criação de uma teoria educativa científica e de
uma prática que se adapte a ela;
 Tem objeto e métodos de estudo próprios;
 Produz conhecimentos oriundos da sua análise e intervenção nas
situações educativas.
Coll (1996) explica, ainda, que a Psicologia da Educação enquanto uma
disciplina ponte é uma área de conhecimentos sistematizados que engloba três
dimensões: a dimensão teórica ou explicativa, referente à elaboração de
modelos interpretativos dos processos educacionais; a dimensão tecnológica
ou projetiva, que possibilita o esboço de situações educativas capazes de
incluir situações de mudança de comportamento dos sujeitos e grupos; e a
dimensão técnica ou prática, orientada para a intervenção e a resolução de
problemas concretos da educação.
Em síntese, considerar a Psicologia da Educação como disciplina ponte
de natureza aplicada significa, segundo Coll, concebê-la numa relação dialética
e interventiva, possuidora de campo teórico, objeto de estudo e métodos
próprios e com um papel fundamental e imprescindível na formação e prática
do educador O objeto de estudo, os campos teóricos e a importância da
Psicologia da Educação são os temas que vamos discorrer a seguir.

1.2.2. Psicologia da Educação: objeto de estudo e importância

O percurso histórico percorrido pela Psicologia da Educação revela as


modificações e aperfeiçoamentos vivenciados por esta área de conhecimento
na busca de objetivos próprios e na definição de seu objeto de estudo.
Apoiada na contínua produção de diferentes autores que buscam
compreender o ser humano como um ser em constante desenvolvimento e
inserido num contexto heterogêneo e diversificado no que concerne,
principalmente, às formas de ensinar e aprender, a Psicologia da Educação se
apresenta em permanente construção e reconstrução.
Atualmente, a Psicologia da Educação se constitui como uma área de
conhecimento que tem como objeto de estudo o educando como sujeito
subjetivo e suas múltiplas relações com os outros, consigo mesmo e com o
meio que o envolve.
Ela abarca os estudos referentes aos processos de desenvolvimento e
de aprendizagem das crianças, adolescentes, adultos e idosos resultantes de
suas interações educativas e auto-educativas, propiciando ao educador o
conhecimento e a compreensão das bases psicológicas desses processos.
No que se refere ao primeiro processo, a Psicologia da educação estuda
como nasce e se desenvolve as funções psíquicas que distingue o homem dos
animais, ou seja, a evolução das suas capacidades intelectuais, perceptuais,
motoras, sociais e afetivas. Esse estudo se torna fundamental para a educação
à medida que subsidia a organização de situações educativas que possam
ativar processos internos de desenvolvimento, as quais serão transformadas
em aquisições individuais.
Em relação à
aprendizagem, esta área estuda o
processo complexo pelo qual as
formas de pensar e os
conhecimentos produzidos
historicamente na sociedade são
apropriados pelos sujeitos,
procurando mostrar como através
da interação entre professores e
alunos e alunos-alunos é possível
a aquisição do saber e da cultura

Mito da caverna acumulados. Compreender o processo de


Fonte:http://1.bp.blogspot.com/_zHyoXiSz60
aprendizagem propicia ao professor um
U/R4rYKnKiqI/AAAAAAAAABA/bwy_o2uhrM/s
320/alegoria_da_caverna.jpg melhor planejamento de sua ação
pedagógica, no sentido de criar situações adequadas e favorecedoras à
aprendizagem.
A respeito, Severino (1996, p. 129) aborda que a Psicologia da
educação possibilita ao educador maior eficácia em seu trabalho de interação
com as pessoas, contribuindo também para a “compreensão dos modos de ser
dos sujeitos educandos e do modo de desenvolvimento de sua sensibilidade,
tanto cognitiva quanto afetiva”.
O autor defende a necessidade da Psicologia da Educação nos cursos
de formação do magistério, contudo acrescenta que o estudo dessa área nos
cursos de formação de professores não visa formar o especialista em
psicologia, mas desenvolver neste profissional a sensibilidade aos processos
psíquicos que são as mediações, tanto no ensino como na aprendizagem,
imprescindíveis para que educandos e educadores construam sua autonomia,
seu autoconceito, a percepção do valor de si e dos outros, a formação de sua
identidade, apropriem-se do saber acumulado e desenvolvam suas funções
psíquicas.
A fecundidade e êxito do trabalho do professor dependem diretamente
do adequado conhecimento dos sujeitos educandos que interagirão com ele.
Como cabe ao educador discernir todos os aspectos envolvidos no complexo
relacionamento dos sujeitos com o seu ambiente natural e social é necessário
que ele conheça, de forma fundamenta, os mecanismos e aspectos
relacionados ao comportamento e aos modos de ser dos educandos que são
inerentes ao processo ensino-aprendizagem.
Severino chama a atenção, ainda, para o fato de não se reduzir a
educação aos conhecimentos psicológicos e o professor a um técnico em
aplicações didáticas decorrentes desses conhecimentos:

Não se pode colocar a didática em relação à Psicologia em posição


idêntica a da Engenharia em relação à Física. Neste caso, os
conhecimentos das leis da natureza fornecem subsídios não só
explicativos do mundo material, mas também “técnicos” que permitem
ao engenheiro manipular esse mundo. No caso das ciências
humanas, em geral, e da Psicologia, em particular, as coisas não
podem ser vistas dessa maneira, uma vez que o educando não pode
e não deve ser manipulado. Sem dúvida, construir um cidadão é
muito diferente de construir uma ponte. (SEVERINO, 1996, p. 132).

E reitera:
Não se pode reduzir a educação à mera aplicação dos processos
psicológicos, estes são apenas mediações – sem dúvida importantes
e imprescindíveis – ao lado de outras mediações. A educação não se
desenvolve apoiada apenas em processos psíquicos. Ela é, ainda,
simultânea e integralmente, uma atividade de trabalho e uma prática
política. (SEVERINO, 1996, p. 133).

Para o teórico, o educador precisa avaliar adequadamente a


contribuição da Psicologia da Educação, para que não caia no “psicologismo
educacional - tendência de privilegiar a importância dos aspectos psicológicos
na educação – e para que sua ação educativa não se esterilize ao
desconsiderar outros aspectos fundamentais inerentes ao processo
educacional.
Sobre o assunto, Aguiar (1990) defende que o professor deve refletir
constantemente sobre a sua atuação e sobre os conhecimentos e
procedimentos cristalizados pela tradição e que são reproduzidos
mecanicamente nesta atuação. O tipo de conhecimento que deve permear a
formação do professor e fundamentar sua prática pedagógica é aquele que se
amplia em face das situações vividas e analisadas. Neste sentido, o ensino da
Psicologia da Educação nos cursos de formação docente deve se voltar para
as principais questões que o processo ensino-aprendizagem apresenta.
Para tanto, o educador deve ter condições para observar, analisar e
intervir em situações concretas de ensino. Este tipo de ação está
necessariamente vinculada a um quadro de referencia teórica. Não se
trata de uma teoria que imobilize a prática, estereotipando-a, mas que
a esclarece, desvendando a complexidade de seus mecanismos, ao
tempo em que se amplia a partir dessa mesma prática. (AGUIAR,
1990, p. 80).

Lima (1990) corrobora esse pensamento ao afirmar que se a Psicologia


da Educação for encarada como uma ciência em movimento, cujos paradigmas
estão caminhando no sentido da complexidade e não do reducionismo, ela
perde o seu caráter normativo e passa a se constituir numa área que,
juntamente com outras, ajuda na compreensão e atuação da constituição do
indivíduo e da sua vivência na instituição educativa. Com isto, diz a autora,
evitam-se os reducionismos e o uso das teorias psicológicas de forma
estereotipada e esvaziada de seu sentido epistemológico, ao tempo em que
garante contribuições importantes dessa área no sentido da elaboração da
dinâmica educador-conhecimento-educando no cotidiano escolar.
Por fim, torna-se importante destacar que as contribuições que a
Psicologia da Educação pode trazer para a elucidação e resolução das
questões educativas e, em especial, para a formação e a prática docentes não
estão nos conhecimentos psicológicos em si, mas na forma como os
educadores pensam e questionam, fundamentados nestes conhecimentos, os
processos subjetivos vivenciados pelos indivíduos envolvidos na prática
educativa, tais como a aprendizagem e o ensino desenvolvidos na instituição
escolar.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Maria Vilani C. de. O ensino de Psicologia no Curso de


Pedagogia da UFPI e suas contribuições na formação dos educadores.
Dissertação de Mestrado. PUC\SP, 1997.

COLL, César; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs). Desenvolvimento


psicológico e educação – Psicologia da Educação. Tradução de Angélica
Mello Alves. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

DAVIS, Claudia; OLIVEIRA, Z. Psicologia da Educação. São Paulo: Cortez,


1990.
GOULART, Iris B. Psicologia da educação: fundamentos teóricos e
aplicações à prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 1989.

LIMA, Elvira Cristina A. S. O conhecimento psicológico e suas relações


com a educação. Em aberto, 1990.

SEVERINO, A. Educação e subjetividade: a hora e a vez da Psicologia da


Educação. In: Filosofia da Educação: construindo a cidadania. São Paulo:
FTD, 1996.

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