Você está na página 1de 6

PSICOLOGIA EDUCAÇÃO

Professor Especialista: Lopes


Croata-CE, Março de 2022
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: CONCEITOS, OBJETIVOS, FUNÇÕES E
FINALIDADES.

De acordo com Antunes (2007 apud BARBOSA 2012 p. 163 – 173) a


Psicologia Educacional pode ser descrita como uma subárea da psicologia que é
considerada uma área de conhecimento a qual entendemos como corpus
sistemático e organizado de saberes científicos, produzidos de acordo com
procedimentos definidos, referentes à determinados fenômenos ou conjunto de
fenômenos constituintes da realidade, fundamentado em questões ontológicas,
epistemológicas, metodológicas e éticas determinadas. É importante
considerarmos as diversas concepções, abordagens e teorias que constituem esta
área de conhecimento.
Assim podemos afirmar que a Psicologia da Educação ou Psicologia
Educacional é uma subárea de conhecimento, que tem como vocação a produção
de saberes relativos aos fenômenos psicológicos constituinte do processo
educativo.
Diferentemente da Psicologia da Educação/Educacional, a Psicologia
Escolar é definida pelo âmbito profissional com um campo de ação determinado, ou
seja, é a escola e as relações que aí se estabelecem; baseia sua atuação nos
fundamentos teóricos adquiridos através da Psicologia da Educação e por outras
subáreas da psicologia necessárias para o desenvolvimento das atividades
(ANTUNES 2007, apud BARBOSA, 2012 p. 163 – 173).
O autor nos diz ainda que a Psicologia Educacional e a Psicologia da
Escolar estão intimamente relacionadas, mas não são iguais, não podendo reduzir-
se uma à outra, pois cada uma possui sua autonomia. A primeira é a área do
conhecimento que tem como objetivo compreender os fenômenos psicológicos
envolvidos no processo educativo. A outra é considerada um campo de atuação
profissional, sendo possível realização de intervenções no espaço escolar ou a ele
relacionado.
Segundo Santrock (2010, p. 2) “a psicologia é o estudo científico do
comportamento e dos processos mentais. A Psicologia Educacional é o ramo da
psicologia dedicado à compreensão do ensino e da aprendizagem no ambiente
educacional”. Temos então uma área muito abrangente que quando descrita em
seus mínimos detalhes pode nos render um livro com milhares de páginas.
Mesmo com esta íntima relação entre psicologia e educação Bock (2003, p.
78) afirma que nem sempre foi assim:
Enquanto a concepção dominante, na educação ocidental, foi a chamada
Escola Tradicional, não houve necessidade de uma Psicologia para acompanhar a
prática educativa. A Psicologia só se tornou necessária quando o Movimento da
Escola Nova revolucionou a educação e construiu demandas específicas para a
psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem.
A autora explica que a Educação Tradicional compreende experiências e
concepções pedagógicas que a caracterizam e de certa forma orientaram a
educação desde o século XVIII até o século XX. Processos educativos que tiveram
espaço principalmente nas escolas religiosas.
Esta concepção tradicional pensou na educação como um trabalho de
desenraizamento do mal natural do ser humano. Acreditava-se que o homem
nascia dotado de uma natureza humana dupla: uma parte era corrompida pelo
pecado original e a outra era considerada essencial, consideravelmente boa e
construtiva.
À educação cabia somente desenvolver a parte boa do ser humano,
impedindo que a parte corrompida se manifestasse nas pessoas, e para isso
utilizou-se o instrumento básico do saber. O conhecimento era visto como único
instrumento capaz de dar ao homem o autocontrole necessário para aquilo que é
ruim no homem fosse controlado.
A Pedagogia da Escola tradicional já recebia o aluno como um ser humano
corrompido. Suas ações no ambiente escolar de certa forma demonstravam isto:
alunos inquietos, ora curiosos, ora destrutivos, indisciplinados, se deixados
sozinhos, sem regras e sem vigilância. Perversos, com hábitos inaceitáveis como
pegar as coisas dos outros indevidamente, masturbar-se, não respeitarem os mais
velhos e autoridades, não cumprir com as tarefas e responsabilidades.
Estes alunos deveriam ser expostos a um modelo de aperfeiçoamento
humano para poderem desenvolver sua parte da natureza humana essencial. Este
modelo era desenvolvido pelos professores e alguém escolhido para dar nome à
escola e que deveria ser cultuado e seus feitos deveriam ser divulgados aos alunos
para que eles conhecessem e soubessem sempre que modelo a seguir. Por isso,
as escolas públicas sempre levam o nome de alguém (geralmente de um homem)
considerado aprimorado pela cultura (BOCK, 2003).
Esta escola era regida ainda por outros princípios, conforme nos cita Bock
(2003): disciplinas e regras rígidas para que os alunos pudessem ir corrigindo seus
desvios. Princípios e códigos morais eram estabelecidos, impostos, divulgados e
repetidos exaustivamente. Deveriam a ser aprendidos a qualquer custo, e para
garantir que os resultados fossem alcançados, eram contratados vigilantes
disciplinares como agentes educacionais da escola.
Para que a Psicologia? Na verdade não havia necessidade alguma de
qualquer conhecimento sobre o ser humano e seu desenvolvimento, de modo que
já se sabia tudo sobre a natureza corrompida e também já se sabia de seu
potencial para criar, cooperar, ser honesto, desenvolver relações estáveis e
saudáveis, respeitar a autoridade, ser intelectualmente aprimorado e ser dotado de
coerência.
O campo da Psicologia Educacional foi criado por grandes estudiosos e
pioneiros da Psicologia no final do século IX. Os três principais pioneiros de
destaque no início da história da Psicologia Educacional são Willian James, John
Dewey e Edward Lee Thorndike. James lançou um livro intitulado Principles of
Psychology e ministrou diversas palestras através de uma série intitulada Talks to
Teacher, em que discutia as aplicações da psicologia na educação de crianças,
argumentando que os experimentos laboratoriais em psicologia muitas vezes não
conseguem nos dizer, de maneira eficiente, como ensinar as crianças. Enfatizou
ainda a importância de se observar o processo de ensino/aprendizagem em sala de
aula para aprimorar a educação, trazendo como recomendação que os professores
iniciem as aulas em um ponto além do nível de conhecimento e compreensão da
criança a fim de desenvolver a mente delas (SANTROCK, 2010).
De acordo com Santrock (2010), John Dewey por sua vez tornou-se a força
motriz da aplicação na prática da psicologia. Estabeleceu o primeiro e mais
importante laboratório de Psicologia Educacional nos EUA, mas precisamente na
Universidade de Chicago no ano de 1894, continuando seu trabalho inovador na
Universidade de Colúmbia. Muitas ideias importantes partiram deste teórico, nos
mostrando que a criança é um ser em constante e ativa aprendizagem. É
importante destacar que antes de Dewey, as pessoas acreditavam que as crianças
deviam permanecer sentadas e em silêncio de modo que aprendiam passivamente
e de uma maneira mecânica, em contraste a esta crença ele trouxe que as crianças
aprendem realizando.
O teórico nos traz ainda mais uma contribuição, afirmando que a educação
deve focar a criança em sua totalidade enfatizando também a adaptação da criança
ao ambiente, elas devem ser educadas de modo que possam ser estimuladas a
pensar e também a se adaptar ao seu ambiente fora da escola, as crianças devem
aprender a serem mais autônomas e solucionadoras de problemas de maneira
reflexiva. Para Dewey toda criança merece ter uma educação de qualidade sem
diferenciação de classe, raça ou sexo, ele lutou para que todas as crianças de uma
maneira geral tivessem uma educação competente.
Thorndike, outro percursor da Psicologia Educacional enfocou a avaliação
e a mediação e promoveu os princípios básicos e científicos da aprendizagem.
Argumentou que uma das tarefas mais importantes da escola é a de desenvolver
as habilidades de raciocínio das crianças, se diferenciando ao fazer estudos
científicos aprofundados e precisos sobre o ensino e aprendizagem (BEATTY,
1998 apud SANTROCK 2010, p. 3). Promoveu também a ideia de que a Psicologia
Educacional deve ter uma base científica e deve enfocar principalmente a
mediação. (O’DONNEL e LEVIN 2001 apud SANTROCK 2010, p.3).
Discutindo sobre o início da Psicologia da Educação, nos deparamos com
as diversas transformações que ocorreram no mundo através dos anos. Segundo
Bock (2003, p. 81) “as grandes guerras trouxeram uma valorização da infância,
tomada como o futuro. A escola também respondeu a estas novas ideias com a
proposta da Pedagogia da Escola Nova, que se pôs no avesso às ideias da Escola
Tradicional”. A criança passou a ser vista como naturalmente boa. Sua natureza
humana era dividida em duas: a parte boa, que vinha desde o nascimento e a outra
corruptível. A escola passou a ter a responsabilidade de manter a criança na
bondade e na espontaneidade que a caracterizavam.
A escola passou a ser espaço de liberdade e comunicação, lugar onde a
criança poderia manifestar sua afetividade expressa como carinho ou
agressividade; sua criatividade expressa como construção ou destruição; sua
liberdade expressa como obediência ou rebeldia. Todas as atitudes infantis foram
tomadas de maneira naturais, como boas e desejáveis. Mas é importante destacar
que a escola se manteve atenta e vigilante no que diz respeito ao desenvolvimento
psíquico da criança. Os chamados vigilantes disciplinados foram substituídos por
vigilantes do desenvolvimento pedagogos e psicólogos. As regras foram extintas,
permaneciam somente aquelas construídas pela equipe da escola. Nenhuma
preocupação com a disciplina, pois na bagunça se visualizava o interesse pelo
saber, pela construção coletiva, pela troca (BOCK 2003).
No que se refere à comunicação na Escola Nova esta era prioridade. O
professor foi colocado em uma posição modesta sem grande influência, afinal era
um representante dos adultos, visto sempre como um mundo corrompido. O
professor passou então a ter a função de organizador das condições de
aprendizagem, devendo prover materiais e situações que propiciem o aprendizado.
As técnicas pedagógicas se tornaram ativas. Alunos em atividades constantes,
vivendo a satisfação do aprendizado e da descoberta (BOCK 2003).
Bock (2003) considera que as escolas já não faziam culto à grandes
homens e, portanto mudaram seus nomes aproveitando ideias ou símbolos de
grupalização , troca, descobertas, jogos ou termos que fizessem referência à
infância. A cultura, como saber, continuou a ser instrumento básico de trabalho,
mas agora o mais importante era estimular perguntas e não mais formular
respostas que na verdade não respondiam nenhuma delas, como na Escola
Tradicional. Curiosidade, interesse, motivação, experiência, eram palavras muito
importantes no vocabulário da Escola Nova.

Você também pode gostar