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A PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DAS

UNIVERSIDADES BRASILEIRAS ESTADUAIS E FEDERAIS:


ANÁLISE DE 1972 À 2013.

RESUMO

O presente trabalho apresenta os resultados parciais da pesquisa de Iniciação


Científica sobre o desenvolvimento do cenário acadêmico que trabalha com as Histórias em
Quadrinhos como fontes ou objetos de pesquisa, a partir da década de 1970 até os dias de
hoje. A pesquisa partiu dos pressupostos metodológicos da História Quantitativa tal qual
desenvolvida no contexto pós Segunda Guerra Mundial pela historiografia francesa dos
Annales.
O trabalho busca ainda contribuir com as informações e os dados levantados por
Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos acerca da produção de pesquisas sobre
histórias em quadrinhos na Universidade de São Paulo - em pesquisa realizada em 2006 -,
porém expandido a área de análise para as Universidades Estaduais e Federais de todo o
território nacional, identificando os principais campos e áreas de desenvolvimento de
pesquisa envolvendo Histórias em Quadrinhos – Comunicação, História, Letras, Pedagogia,
entre outros - seu avanço nas últimas quatro décadas e suas principais esferas de
desenvolvimento, tais como trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado ou
teses de doutorado.
Dessa forma, busca-se mapear a produção acadêmica e fornecer às futuras pesquisas
importantes dados estatísticos, gráficos e informações sobre os diferentes locais de
produção de conhecimento acadêmico de Histórias em Quadrinhos em âmbito nacional.

PALAVRAS-CHAVE: quadrinhos; produção acadêmica; história serial quantitativa

CORPO DO TRABALHO

Se hoje as Histórias em Quadrinhos fazem parte do escopo de análise e estudo de


historiadores em diversos segmentos, isso ocorreu após um longo processo iniciado com a
revolução historiográfica1 levada a cabo pela primeira geração de autores da chamada

1
A expressão revolução historiográfica foi popularizada na obra de Peter Burke, de 1990, intitulada “A Escola
dos Annales: 1929-1989, a Revolução Francesa da Historiografia.
Escola dos Annales, na França, interessados em propor novas perspectivas e rumos na
produção do conhecimento histórico, Marc Bloch e Lucien Febvre, insatisfeitos com os
rumos que o conhecimento histórico tomara, foram os principais responsáveis por levantar
diferentes questionamentos teóricos e metodológicos à Escola Metódica que predominava
na historiografia francesa naquele momento, entre eles, a primazia dos documentos oficiais
e escritos sobre outras fontes, considerando todo e qualquer vestígio deixado pelo Homem
como um testemunho do passado, assim como a crença em uma noção objetiva de História.
Para os dois historiadores dos Annales, não havia historiador isento de
subjetividade, e assim, os documentos históricos não seriam detentores de “verdades” sobre
o passado, mas a História seria uma construção a partir da subjetividade do historiador, dos
documentos que utilizava em sua pesquisa, e de uma relação direta entre o passado e as
preocupações do historiador em seu e presente.
A partir dessa mudança na episteme do conhecimento histórico, assim como em
seus aspectos metodológicos, durante todo o século XX as gerações de historiadores que
deram continuidade às mudanças começadas pelos primeiros pesquisadores dos Annales2
ampliaram a definição de fontes, incorporaram diferentes documentos e linguagens às
pesquisas históricas e para a consecução de tal projeto ampliaram o diálogo com outras
áreas do conhecimento, tal qual a crítica literária, a sociologia, a antropologia e a semiótica.
Na segunda metade do século passado, a imprensa, o cinema, a literatura e a
fotografia, cada vez mais ganharam espaço nas Universidades, incluindo os departamentos
de História. Os pesquisadores desenvolveram métodos adequados para as especificidades de
cada um desses objetos e foram superando barreiras, dificuldades e preconceitos, garantindo
sua legitimação a cada nova pesquisa elaborada. As Histórias em Quadrinhos, mais do que
qualquer outra fonte, sofreram para ganhar um reconhecimento social e acadêmico, a
superação dos preconceitos construídos historicamente não foi ainda completamente
alcançada3, e em diversos segmentos a linguagem continua a ser vista como uma produção
voltada apenas para crianças e com pouca ou nenhuma qualidade artística ou intelectual.

2
As outras gerações foram representadas por Georges Duby, Fernand Braudel, Ernest Labrousse, Jacques Le
Goff, Emmanuel Le Roy Ladurie, entre outros.
3
Acredita-se que esses preconceitos estão ancorados em um tripé que pode ser sintetizado primeiramente na
origem histórica das histórias em quadrinhos no final do século XIX e início do século XX, quando ainda
O processo de superação dos preconceitos depende de inúmeros fatores, mas
podemos destacar aqui a necessidade de uma produção acadêmica capaz de resgatar uma
História das Histórias em Quadrinhos, levando em consideração os diferentes momentos e
contextos em que foram produzidas, compreender as estruturas narrativas da Linguagem,
suas características e potencialidades, assim como desenvolver um escopo de pesquisa
científica a partir dessa fonte. É fundamental destacar que essa produção já está em
andamentos desde a década de 1970, merecendo destaque imediato as pesquisas
desenvolvidas por Moacy Cirne4, Waldomiro Vergueiro5, Paulo Ramos6, Roberto Elísio dos
Santos7, Nobu Chinen8, e os mais recentes Márcio dos Santos Rodrigues9, Thiago Monteiro
Bernardo10 e Victor Callari.11
Nesse sentido, é necessário um levantamento do atual estágio de desenvolvimento
das pesquisas acadêmicas que tenham como base as Histórias em Quadrinhos. O presente
trabalho se faz com uma análise quantitativa e serial da produção acadêmica sobre histórias
em quadrinhos nas Universidades Públicas Estaduais e Federais do Brasil num comparativo
com a produção da Universidade de São Paulo. A produção acadêmica na USP, foi
analisada pelo professor coordenador do Núcleo de Pesquisa de Histórias em Quadrinhos,
Waldomiro Vergueiro e por Roberto Elísio dos Santos, que analisaram a produção de 1972
a 2005. Inspirado por essa análise, o presente trabalho pretende analisar a produção

eram destinadas à um público infantil; à publicação do livro “The seduction of the innocent”, de Fredric
Wertham, responsável direto pela criação do Comics Code Authorithy, além é claro de um desconhecimento
das estruturas internas e narrativas da linguagem dos quadrinhos.
4
CIRNE, Moacy. Uma introdução política aos quadrinhos. Rio de Janeiro: Angra Achiame, 1982.
5
VERGUEIRO, W. C. S. (Org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 2. ed. São Paulo:
Contexto, 2005.
6
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos – coleção Linguagem & Ensino. São Paulo: Ed. Contexto, 2009.
7
SANTOS, Roberto Elísio dos. Para reler os quadrinhos da Disney. São Paulo: Paulinas, 2002.
8
CHINEN, Nobu. Linguagem Hq - Conceitos Básicos. Ed. Criativo, 2012.
9
RODRIGUES, Márcio dos Santos. REPRESENTAÇÕES POLÍTICAS DA GUERRA FRIA: AS
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DE ALAN MOORE NA DÉCADA DE 1980. 2011. 212 f. Dissertação
(Mestrado em História) – Departamento de História, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais,
2011.
10
BERNARDO, Thiago Monteiro. História em Quadrinhos e Política. In: Francisco Carlos Teixeira da Silva.
(Org.). ENCICLOPÉDIA DE GUERRAS E REVOLUÇÕES DO SÉCULO XX: as grandes transformações
do mundo contemporâneo. 1ed.Rio de Janeiro: Campus, 2004, v., p. 450-453.
11
CALLARI, Victor. Política e terrorismo na série Guerra Civil da Marvel Comics. Domínios da Imagem,
Londrina, v. 8, n. 16, p. 146-167, jun./dez. 2014
acadêmica sobre histórias em quadrinhos no cenário mais amplo das Universidades
Públicas do brasil e comparar seus resultados com os números da Universidade de São
Paulo.
A História Quantitativa e Serial nasceu nas últimas décadas do século XIX. Esse
método foi desenvolvido entre economistas e historiadores e foi aplicado, principalmente,
em pesquisas sobre a História dos Preços e História Demográfica12. Estavam combinadas
Historial Serial e Quantitativa num mesmo campo. Entretanto, na década de 1970, a
História Serial desligada do Quantitativo começa a ganhar espaço na historiografia atuando
no novo campo que surgira, a História das Mentalidades, nos mostrando, assim, que são
métodos independentes e distintos.
É preciso frisar as diferenças do Serial e do Quantitativo. A análise serial implica em
uma série de fontes homogêneas, comparáveis e a apreendidas numa continuidade. Portanto
analisar serialmente significa não olhar para um documento específico, mas para uma série
de documentos do mesmo tipo, levando em conta suas permanências e variações. Uma
análise Quantitativa está interessada em traçar e analisar números, quantidades, valores.
Assim, está baseada em estatística, análise de gráficos e tabelas, visando sempre os
números que esses dados fornecem. Contudo, uma análise quantitativa, implica
necessariamente na serialização dos dados, pois só assim é possível estabelecer os números
que se pretende analisar.
Para a realização de nossa pesquisa a metodologia utilizada consistiu no acesso e
consulta ao site das universidades relacionadas pelo Ministério da Educação. Ao consultar o
acervo online, foram pesquisadas toda e qualquer produção acadêmica, fossem elas
monografias, dissertações ou teses, produzidas dentro das Universidades e que continham
em seus assuntos as palavras-chaves: “histórias em quadrinhos” e “quadrinhos”. Foram
consultadas 39 Universidades Estaduais e 67 Universidades Federais, resultando num total
de 106 instituições pesquisadas. Infelizmente não foi possível acessar todas as bibliotecas,
uma vez que das 106 universidades consultadas, foi possível ter acesso a somente 41
instituições. Muitas encontravam-se fora de sistema, e em alguns casos o acervo ainda não

12
BARROS, José D’ Assunção. A História Serial e Quantitativa no Movimento dos Annales. Goiânia. Hist.
R., v. 17, nº1. 2012
havia sido transportado para o novo suporte. Destacando-se como maior dificuldade esse
processo, os acervos ainda indisponíveis e, principalmente, as péssimas plataformas de
consulta on-line. Embora o fenômeno da biblioteca digital tenha se dado a partir dos anos
noventa do século XX13, muitos bibliotecários ainda encontram dificuldades para
disponibilizar todo o acervo, que deve ser autorizado pelo autor, e muitas vezes assegurado
pelos Direitos Autorais não recebe autorização.
Contudo, mesmo com as dificuldades encontradas, o número de trabalhos
encontrados foi significativo, atingindo a expressiva marca de 337. Distribuídos entre
duzentas e três monografias (203), cento e trinta e nove dissertações de mestrado (139) e
trinta e cinco teses de doutorado (35). A consulta das universidades foi realizada entre
04/06/2014 e 20/09/2014. Foram encontrados trabalhos que datam de 1972 à 2014.
Entretanto, nesse levantamento encontram-se as pesquisas concluídas até 2013, dessa forma
respeitando o prazo de conclusão sem deixar de atribuir para o ano de 2014 possíveis
pesquisas à serem defendidas.
Levando em conta que as monografias realizadas durante a graduação não implicam
necessariamente em uma continuação do trabalho de pesquisa em outras instâncias do
universo acadêmico –mestrado e doutorado –, optou-se por analisar somente os dados
referentes às dissertações e teses encontradas, totalizando assim, 174 trabalhos para a
conclusão da análise.
A imagem abaixo apresenta o primeiro gráfico, e compreende a totalidade dos
trabalhos encontrados entre 1970 e 2013, divididos em décadas, objetivando-se enxergar se
houve qualquer crescimento significativo nas pesquisas sobre Histórias em Quadrinhos nas
Universidades estaduais e federais brasileiras.

13
ASSUNÇÃO, Renato Vieira da. BIBLIOTECA DIGITAL: uma abordagem conceitual. Trabalho
científico de comunicação oral apresentado ao GT4 – Tecnologia e Redes de Informação. Maranhão,
2011
Imagem 1: Gráfico sobre a Produção Acadêmica por Décadas (1970 - 2014)

Ao analisar o gráfico nota-se um crescimento de pesquisas a cada década, passando


de apenas uma (1) nos anos de 1970 para oitenta e uma (81) pesquisas realizadas entre 2010
e 2013; Enquanto isso a produção na USP (Universidade de São Paulo) na década de 1970,
como apontou Vergueiro14, foi de três (3) trabalhos, também concentrados em dissertações
e teses. Já na década de 2000, até o ano de 2005, as produções na USP apresentaram
também um crescimento, e neste período foram publicados treze (13) trabalhos. É possível
perceber também que o grande avanço nas pesquisas está concentrado a partir da década de
2000, evidentemente pelo número crescente de Universidades públicas criadas desde então,
mas também devido às inúmeras mudanças em relação ao mercado das histórias em
quadrinhos. Nesse período, as HQ’s voltaram a fazer parte do cenário editorial e, no Brasil,
essa volta se assinalou com assiduidade nos anos 2000. Foi nessa década que os quadrinhos
ganharam – com a ajuda de Sandman, lançado em edição de luxo – espaço nas livrarias, e

14
VERGUEIRO, Waldomiro. SANTOS, Roberto Elísio dos. A pesquisa sobre histórias em quadrinhos na
Universidade de São Paulo: análise da produção de 1972 a 2005. São Paulo. Unirevista, vol.1, nº3. 2006.
“as vendas anuais subiram para um percentual de até 30%”15. Além desse episódio, em
2006 as HQ’s passaram a fazer parte do acervo das bibliotecas escolares, com o incentivo
do governo através do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola). Em 2010, a lista
de obras incluía mais de 30 publicações do tipo história em quadrinhos. A compra de livros
pelo governo gerou uma agitação no mercado, e o investimento em adaptações literárias e
quadrinhos aumentou significativamente.16
Com o mercado editorial investindo cada vez mais no ramo dos quadrinhos, a
aceitação dos mesmos pelas livrarias, e as novas editoras que surgem – dando uma nova
“cara” às publicações –, a academia parece deixar seus preconceitos um pouco de lado, e as
pesquisas envolvendo quadrinhos aumentaram. O crescimento verificado só não é mais
representativo porque os números aqui apresentados são apenas relativos e não absolutos.17
Os 174 trabalhos estão distribuídos em diversas áreas de concentração que vão
desde as ciências humanas até as ciências exatas, passando ainda pelas ciências biológicas.
O gráfico a seguir apresenta as diversas áreas de concentração identificadas durante a
pesquisa, e a distribuição dos trabalhos em cada uma delas.

15
RAMOS, Paulo. A Revolução dos Gibis. São Paulo. Ed. Devir, 2012. p. 7.
16
Portal MEC. Programa Nacional Biblioteca da Escola. PNBE/2010. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13698&Itemid=986
17
A diferença entre dados absolutos e relativos se dá porque não foi possível comparar o crescimento das
pesquisas sobre histórias em quadrinhos com o crescimento total das pesquisas acadêmicas no mesmo
período.
Imagem 2: Gráfico sobre Produção Acadêmica por Área de Concentração

Observando os dados apresentados notamos uma maior produção na área de Letras,


onde é possível contabilizar 52 trabalhos; o segundo lugar fica para a Pedagogia com 25
publicações. Comunicação Social e Artes Visuais ficam logo atrás com 20 e 18 trabalhos,
respectivamente. História conta com 15 publicações, e Ciências Sociais com 11. Percebe-se
assim, que a maior concentração de teses e dissertações se encontram nas áreas de Ciências
Humanas em geral. Embora existam trabalhos em outras áreas, a produção é mais escassa.
Observando os títulos sugeridos e os assuntos que catalogam as produções encontradas ao
longo da pesquisa, podemos pontuar alguns aspectos do que cada área busca analisar.
Percebe-se que em História, os estudos pretendem indagar como o contexto histórico, a
representação dos indivíduos, o espaço urbano e as visões políticas são apresentadas nas
narrativas. Em Geografia observamos que essa questão da análise do espaço urbano e rural
e as relações dos personagens com o meio estão muito mais nítidas. Em Letras, Jornalismo
e Comunicação Social as questões abordadas são outras, nessas áreas procura-se destacar a
linguagem singular dos quadrinhos e como eles são um importante meio de comunicação de
massa, tendo como principal perspectiva a semiótica. A parte estética e gráfica é muito
acentuada nos estudos de Artes Visuais, essa área também discute sobre os quadrinhos
digitais e suas perspectivas.
Assim, nota-se a necessidade de um maior diálogo e interdisciplinaridade entre as
diferentes abordagens para que os quadrinhos sejam estudados em sua totalidade, além de
que existe ainda um extenso campo à ser explorado, como por exemplo na área econômica,
onde contabiliza-se apenas uma publicação18. No período analisado Vergueiro e dos Santos
(1972 a 2005) também não foi encontrado junto à produção da USP nenhum trabalho que
enfatizasse o campo mercadológico e econômico dos quadrinhos no Brasil.
Essas diversas áreas de concentrações estão espalhadas pelas inúmeras regiões do
país, o gráfico a seguir representa justamente a distribuição desses trabalhos nas cinco
regiões do Brasil.

Imagem 3: Gráfico sobre a Produção Acadêmica por Regiões Brasileiras

18
O trabalho citado trata-se da monografia de Daniel de Morais Gil Lopes, estudante de Ciências Econômicas
na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), onde apresentou “A constituição e
dinâmica recente do mercado de histórias em quadrinho no Brasil” para a conclusão do curso em 2010.
Nota-se uma concentração maior de trabalhos na região Sudeste com 46% de toda a
produção e em seguida o Nordeste com 29% das publicações. Contudo, devemos considerar
o fato de que no Sudeste também houve um maior acesso aos acervos das universidades,
entre federais e estaduais, localizou-se trabalhos que envolviam os quadrinhos em oito
instituições, enquanto no Norte, por exemplo, foi possível o acesso somente a duas
universidades, a Universidade Federal do Pará e a Universidade Federal do Amazonas, as
outras universidades, embora possuíssem site, não tinham transportado todo o acervo para o
novo suporte; em outras delas, o link da biblioteca não se encontrava disponível, e vale
lembrar que muitas das universidades consultadas não apresentaram nenhum tipo de
registro que envolviam a pesquisa relacionada aos quadrinhos; no Norte, por exemplo, seis
das universidades pesquisadas não possuíam registros abrangendo o tema. E esse mesmo
problema ocorreu em outras regiões do país.
É importante também levar em consideração outras informações, como a população
estudante de cada uma das regiões consultadas. Segundo o Censo Demográfico 2010 feito
pelo IBGE, o Estado de São Paulo, possuía 23.62219 estudantes que frequentaram o
mestrado em universidades públicas, enquanto no Amazonas, tinha-se apenas 1.27220.
Todavia, mesmo com os obstáculos citados, podemos observar uma predominância do tema
na região Sudeste, e dentro dela com destaque para São Paulo e Minas Gerais, como é
possível observar no gráfico abaixo:

19
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estados Brasileiros – Censo Demográfico 2010.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=sp. Acesso em: 29 de set. 2014.
20
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estados Brasileiros – Censo Demográfico 2010.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=am. Acesso em: 29 de set. 2014
Imagem 4: Gráfico sobre a Produção Acadêmica na Região Sudeste

Num total de 80 trabalhos encontrados no Sudeste, São Paulo fica com 41% de toda
essa produção, ou seja, possui 33 trabalhos espalhados entre três universidades: UNIFESP,
UNESP e UNICAMP.
Das 174 teses e dissertações encontradas, destaca-se que a produção na área de
História ainda é pequena se comparada com o total das publicações. Os trabalhos em
História apresentam somente 15 dissertações e nenhuma tese de doutorado. Embora seja um
campo que necessita ser melhor explorado pelo historiador, nota-se que houve um interesse
por esse tema entre os historiadores, contudo esse não se mostra tão recorrente. Observando
os dados do gráfico que segue temos uma visualização melhor desse panorama. É
interessante notar que a primeira dissertação de História que tinha como tema principal os
quadrinhos foi no ano de 2006, na década onde aconteceram inúmeras mudanças já
discutidas anteriormente.
Imagem 5: Gráfico sobre a Produção de Trabalhos em História

Mesmo com inúmeros empecilhos técnicos, tem-se que considerar que a produção
científica que orbita em torno dos quadrinhos está crescendo. Verifica-se esse crescimento
quando observamos mais atentamente as décadas de 2000 e 2010. Ao observarmos
novamente o gráfico 1 (Produção Acadêmica por Décadas), é notório que há uma
estagnação nos primeiros anos. De 1970 à 1999 existem apenas 17 trabalhos, representando
10% de toda a produção até hoje. A década de 2000 produziu em média, aproximadamente
8 trabalhos por ano, o que indica que houve um aumento de 340% em relação às três
primeiras décadas aqui analisadas. Um número um tanto quanto discrepante. E os números
não param, pois a década atual já possui um crescimento de 8% em relação à anterior. E
deve-se levar em conta que se passaram apenas três anos, o que deixa ainda mais evidente o
crescimento em relação ao período de 1970 a 1999, se antes a frequência de trabalhos não
chegava a uma produção por ano, na década atual temos cerca de 27 trabalhos anuais. A
tabela número 1 (Produção de Dissertações e Teses na USP, por décadas) apresentada por
Vergueiro e Dos Santos21 também mostra que a produção acadêmica na USP também
obteve um aumento significante, pois enquanto a década de 1970 foi responsável por
somente 10% de todo o volume de produções, a década de 2000, que na pesquisa só foi
analisada até 2005, foi responsável por 43,3% de toda a produção da USP que orbitou em
torno das histórias em quadrinhos. Assim, fica evidente o aumento do interesse por parte da
academia nas histórias em quadrinhos, que já foram alvo de muitas críticas e objeções, mas
que hoje estão conquistando um espaço cada vez maior, tanto no mundo do entretenimento
quanto entre os cientistas.

21
VERGUEIRO, Waldomiro. SANTOS, Roberto Elísio dos. A pesquisa sobre histórias em quadrinhos na
Universidade de São Paulo: análise da produção de 1972 a 2005. São Paulo. Unirevista, vol.1, nº3. 2006. p. 6
Referências

ASSUNÇÃO, Renato Vieira da. BIBLIOTECA DIGITAL: uma abordagem conceitual.


Trabalho científico de comunicação oral apresentado ao GT4 – Tecnologia e Redes de
Informação. Maranhão, 2011

BARROS, José D’ Assunção. A História Serial e Quantitativa no Movimento dos


Annales. Goiânia. Hist. R., v. 17, nº1. 2012

BERNARDO, Thiago Monteiro. História em Quadrinhos e Política. In: Francisco Carlos


Teixeira da Silva. (Org.). ENCICLOPÉDIA DE GUERRAS E REVOLUÇÕES DO
SÉCULO XX: as grandes transformações do mundo contemporâneo. 1ed.Rio de
Janeiro: Campus, 2004, v., p. 450-453.

CALLARI, Victor. Política e terrorismo na série Guerra Civil da Marvel Comics.


Domínios da Imagem, Londrina, v. 8, n. 16, p. 146-167, jun./dez. 2014

CHINEN, Nobu. Linguagem Hq - Conceitos Básicos. Ed. Criativo, 2012.

CIRNE, Moacy. Uma introdução política aos quadrinhos. Rio de Janeiro: Angra
Achiame, 1982.

LOPES, Daniel de Morais Gil. A constituição e dinâmica recente do mercado de


histórias em quadrinho no Brasil. 2010. 1 CD-ROM. Trabalho de conclusão de curso
(bacharelado - Ciências Econômicas) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências e Letras de Araraquara, 2010.

RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos – coleção Linguagem & Ensino. São Paulo:
Ed. Contexto, 2009.
RAMOS, Paulo. A Revolução dos Gibis. São Paulo. Ed. Devir, 2012

RODRIGUES, Márcio dos Santos. REPRESENTAÇÕES POLÍTICAS DA GUERRA


FRIA: AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DE ALAN MOORE NA DÉCADA DE
1980. 2011. 212 f. Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de História,
Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2011.
SANTOS, Roberto Elísio dos. Para reler os quadrinhos da Disney. São Paulo: Paulinas,
2002.
VERGUEIRO, W. C. S. (Org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula.
2. ed. São Paulo: Contexto, 2005.

VERGUEIRO, Waldomiro. SANTOS, Roberto Elísio dos. A pesquisa sobre histórias em


quadrinhos na Universidade de São Paulo: análise da produção de 1972 a 2005. São
Paulo. Unirevista, vol.1, nº3. 2006.

Sites Consultados:

Portal MEC: http://portal.mec.gov.br/


IBGE: http://www.ibge.gov.br/home/

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