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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Orientador: Fernando Cesar Ferreira Gouvêa

A educação na obra Calvin e Haroldo: O potencial das


histórias em quadrinhos para o ensino de história.

Discente: Danilo dos Santos Gomes


Matrícula: 20200055490

Rio de Janeiro
Abril de 2024
INTRODUÇÃO:

O objetivo geral deste TCC é analisar as tirinhas em quadrinho do Calvin & Haroldo 1
(1985- 1995), de Bill Walterson2, para compreender como são tratadas as questões referentes
à educação e a sua utilização em sala de aula, especialmente no ensino de História. As
tirinhas discutem o setor político, social, econômico e cultural, a partir do prisma da
educação, com críticas aos métodos de ensino e das possíveis formas de controle face aos/às
estudantes em sala de aula.

Calvin é o protagonista da mais consagrada serie de tirinhas cômicas de Bill


Watterson2. Em resumo, trata-se de uma criança de classe média, com 6 anos de idade e
muita personalidade. Cabe destacar que, ele passa o tempo entre a realidade e as diversas
aventuras proporcionadas pelo seu tigre Haroldo. Diversas aventuras são quando o
personagem está na escola, especificamente, durante as aulas. Com uma rotina não tão
distinta das crianças de sua idade, Calvin, diariamente, tem que frequentar a escola e,
acompanhado do seu tigre de pelúcia e amigo ‘imaginário’ Haroldo, realizar as tarefas
requeridas pela professora Hermengarda.

De início, antes de tratar das tirinhas em si, é importante destacar que as histórias em
quadrinhos (HQs), surgidas no final do século XIX, mais precisamente no ano de 1895, com
a publicação de The Yellow Kid3 nos jornais de Nova York, teve inicialmente grande rejeição
por parte de pais e educadores em seu lançamento e ao longo do século XX. A posteriori, os
quadrinhos passaram a ser vistos com grande potencial pedagógico nas escolas, contribuindo,
por exemplo, na formação de novos leitores.

No caso específico do Brasil, os gibis foram introduzidos no conjunto específico de


obras do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) do Ministério da Educação (MEC)
a partir de 2006. De modo que, várias obras foram publicadas a partir da virada do século
XXI, discutindo formas de utilização dos quadrinhos na escola e no ensino de História.4

Para melhor entendimento desta pesquisa, cabe destacar o conceito de História


Cultural. Só foi possível o desenvolvimento desse conceito a partir da expansão dos objetos

1
Distribuído internacionalmente pela Universal Press Syndicate. O Mundo é Magico foi publicado originalmente
pela Andrews McMell Publishing nos Estados Unidos e a sua publicação no Brasil se dá pela Conrad Editora.
2
William Boyd Watterson II, conhecido como Bill Watterson nasceu em Washington no ano de 1958). É o autor
das tirinhas de jornal Calvin e Hobbes. Ele se formou no Kenyon College em ciências políticas no ano de 1980 e
iniciou seus trabalhos no Cincinnati Post como chargista. Calvin e Hobbes só foi publicado em 18 de novembro de
1985 e Watterson se aposentou em 9 de novembro de 1995.
3
OUTCAULT. Richard Felton. Hogan's Alley. The New York Journal American.
4
CALAZANS, Flávio Márcio de Alcântara. História em quadrinhos na escola. São Paulo: Paulus, 2004; RAMA,
Angela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo:
Contexto, 2004; VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo. (Orgs.). Quadrinhos na educação: da rejeição à
prática. São Paulo: Contexto, 2009; SANTOS NETO, Elydio dos; SILVA, Marta Regina Paulo da. Histórias em
quadrinhos e práticas educativas, volume I: o trabalho com universos ficcionais e fanzines. São Paulo: Criativo,
2013; SANTOS NETO, Elydio dos; SILVA, Marta Regina Paulo da. (Orgs.) Histórias em quadrinhos e práticas
educativas, volume II: os gibis estão na escola, e agora? São Paulo: Criativo, 2015.
historiográficos. De maneira que, com essa nova forma de compreender a historiografia,
passaram a ser consideradas diversas formas de cultura produzidas pela humanidade, tais
como a “cultura popular”. Faz-se necessário ressaltar que o conceito de História Cultural
surgiu como uma crítica a três movimentos da historiografia: a História tradicional das ideias,
a História Social marxista e a tendência de História quantitativa e socioeconômica, oriunda da
Escola dos Annales. Assim, cabe salientar que essas áreas fundamentaram, propiciaram os
questionamentos acerca do que se entende como Estudos Culturais, especificamente, os
estudos linguísticos e a Antropologia Cultural, fitando na narrativa histórica e,
principalmente, no papel que o historiador desempenha na escrita da História. Logo, é
possível entender os quadrinhos como uma forma de representação da sociedade que abrange
os elementos da cultura e da política e que, em uma análise historiográfica contemporânea, da
luz em suas páginas a representações culturais sobre diferentes temas da sociedade. Todavia,
é entendido que as representações sociais presentes nas HQs, são uma redução dos eventos
complexos e até mesmo contraditórios no âmbito do ‘senso comum’.

Ademais, a análise das HQs pode ser realizada de diferentes formas. Como exemplo
das abordagens de análise, temos a análise semiótica, mais comum na linguística e
comunicação social, e a circular, apresentada pelo sociólogo Umberto Eco. Em ambos os
casos são observadas as contribuições de análises interessantes e problemáticas. Nessas
propostas analíticas, temos os seguintes passos: a descrição das estruturas que compõem o
enredo; a descrição do contexto social e histórico; a busca intrínseca por paralelismos e a
homologia de estruturas. Segundo Eco,
O método circular consiste: em elaborar descrições dos dois contextos
segundo critérios homogêneos; focalizar homologias de estruturas entre o
contexto estrutural da obra, o contexto histórico social e outros contextos.
Percebemos assim como a obra reflete o contexto social podendo definir-se
em termos estruturais pela elaboração de sistemas complementares 5.

Em ambos os casos é observado contribuições de análise interessantes e


problemáticas. Semelhantemente, existe, também a análise dialética, que será o cerne deste
trabalho, caminho metodológico que possui recursos interessantes e que se diferenciam dos
dois anteriores, todavia, possa englobar aspectos das demais formas de análise. Esta,
evidentemente, tem uma base metodológica mais ampla, o método dialético, desenvolvido
por Marx (1983)6 e seus continuadores e recebeu diversas contribuições que o enriqueceram a
partir de seu uso em casos concretos e específicos tal qual as histórias em quadrinhos 7. Cabe
destacar que uma justaposição entre as três formas de análise corrobora para o entendimento
das semelhanças e, das respectivas diferenças entre elas. Isso posto, tal objeto de análise deve
ser compreendido como uma totalidade formada, por uma determinação fundamental e outras

5
ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. p.184.
6
MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2ª edição, São Paulo: Martins Fontes, 1983.
7
VIANA, Nildo. Quadrinhos e Crítica Social. O Universo Ficcional de Ferdinando. Rio de Janeiro: Azougue,
2013.
diferentes determinações, o que serve de base para a demonstração de sua historicidade,
sendo entendido, portanto, como um produto social e histórico. Como evidencia Viana:

Uma breve comparação entre as três formas de análise ajuda a compreender


as semelhanças e diferenças entre elas. O uso do método dialético na análise
das histórias em quadrinhos aponta para três aspectos essenciais: totalidade,
historicidade, determinação fundamental. O Corpus de estudo deve ser
compreendido, nessa abordagem, como uma totalidade inserida em outra
totalidade mais ampla. Também deve ser considerada uma totalidade
constituída, por uma determinação fundamental e outras múltiplas
determinações, o que também demonstra sua historicidade, sendo produto
social e histórico8.

Para melhor entendimento, cabe destacar que o aspecto formal e descritivo é apenas
um fragmento discursivo no processo analítico, que deve ser sobreposto pela análise da
mensagem e pelo entendimento dos elementos constituintes do universo ficcional. De
maneira que, ao analisar as relações entre sociedade e histórias em quadrinhos, o
entendimento desse processo não se dá via comparação entre ambas. Todavia, tal processo é
desenvolvido por meio da reconstituição da totalidade do universo ficcional e, em especial,
das mensagens presentes no objeto analisado. Não menos importante, não é possível ignorar
o processo social e histórico na produção dos Gibis, quem produziu, quais as ideias ali
presentes, interesses, dentre outras coisas. O que propicia uma forma específica de ler a
realidade. Deste modo, o método dialético contribui para a análise das histórias ficcionais, em
especial as histórias em quadrinhos. Pois, é necessário um aprofundamento através novos
problemas e necessidades analíticas.
Logo, o uso do método dialético como instrumento de análise das histórias em
quadrinhos aponta para três elementos basilares: totalidade, historicidade e determinação
fundamental. Afinal, ao entender os quadrinhos por uma leitura entre as histórias ali presentes
e a realidade, é importante compreendê-las como totens culturais que ocupam um local
privilegiado na cultura de midiática da contemporaneidade. Como afirma Viana:

A realidade social é apenas uma, mas é expressa e concebida sob formas


diferentes por indivíduos/grupos/classes diferentes a partir de sua forma
específica de inserção na totalidade das relações sociais. O mesmo acontece
com as interpretações dos fenômenos culturais, tais como as histórias em
quadrinhos. Essa diferença está também nos quadrinistas, criadores de
histórias em quadrinhos, e nos seus leitores. É nesse contexto que o método
pode adquirir um papel importante no sentido de ajudar a superar o conflito
de interpretações. Porém, a escolha metodológica depende de valores,
sentimentos, concepções, interesses etc. Por isso, tal escolha não é algo
simples e é permeada por conflitos. Contudo, a demonstração racional do
mérito de um método pode ser uma das determinações para a escolha mais
adequada. Este foi o objetivo do presente texto, esclarecer como ocorre o
processo analítico dialético e o que ele possibilita9.
8
Ibidem. 2013. p.41.
9
VIANA, Nildo. História em quadrinhos e métodos de análise. Revista Temporis[ação], v 16, n. 2, p. 41-60, 2016.
Disponível em https://www.revista.ueg.br/index.php/temporisacao/issue/view/272. Acesso em: 04 de março de
A exemplo do que se pretende estudar:

Figura 1 - Calvin e Haroldo (Bill Watterson).

FONTE: Site ResearchGate – Acesso em 22/072023

Na tirinha, existe a representação de uma situação de sala de aula. Pois, com a fala e
pelos utensílios escolares (quadro negro e carteira escolar), dentre as diversas possibilidades
de análises, compreendemos, de início, a construção discursiva de uma educação escolar
caracterizada pela educação tradicional. logo, o posicionamento dos sujeitos, ali presentes,
nos permite analisar uma relação professora - aluno, que evidencia uma educação escolar
tradicional, pois a professora, a detentora do saber, se mantém em pé, já o sujeito aluno,
receptor passivo, está sentado. Consequentemente, ao pedir para Calvin resumir o que foi
lido, a professora cria uma situação de mera reprodução do que é ensinado. Para tanto, é
entendido que o ensino e o processo de aprendizado são vistos como um construto oriundo da
repetição, pois, o aluno é, em última instância, um reprodutor passivo do conhecimento
transferido pela docente.

Todavia, a resposta e o comportamento de Calvin vão ao encontro de outra concepção


de ensino, da abordagem sociocultural e discursiva, observável no discurso do protagonista
acerca do corpo, do espírito, da liberdade, da autoridade e do poder. Portanto, é entendido que
Calvin apresenta outro discurso, que se materializa, como um aluno subversivo, na concepção
da professora e, ao mesmo tempo, evidencia um aluno contestador da educação escolar
tradicional. Embora, a narrativa apresentada nas tirinhas seja uma ficção, as ideias nela
presentes reproduzem os elementos do discurso que dão forma aos personagens e, nos
revelam traços dos Ethos (no plural) de muitos alunos e profissionais da educação presentes
na realidade social.

É entendido, portanto, que as questões referentes a formação do discurso de Calvin


expressam um comportamento típico de uma criança que está inserida no ethos de
personagens infantis de tiras cômicas, a imaginação é um desses elementos. Como afirma

2024.
Gatti:
(...) observa-se um traço comum: todos eles dizem coisas, mesmo que
engraçadas, que teriam um status diferenciado, que não estariam na ordem da
fala cotidiana. De alguma maneira, eles enunciam “verdades”, “frases
filosóficas”. No nosso ponto de vista, essa possibilidade de esses
personagens emitirem essas enunciações “superiores” está relacionada à
própria estereotipia atrelada à criança no humor em geral.10

Assim sendo, a intenção deste projeto é compreender por meio da análise das tirinhas
de Watterson o que está sendo dito a respeito da educação a partir de uma leitura dialética da
obra.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A BIBLIOGRAFIA:

É necessário evidenciar que para a historiografia o estudo de quadrinhos não é


necessariamente uma novidade. Todavia, a questão feita a obra Calvin e Haroldo presente
neste projeto representa algo novo para o campo historiográfico, visto que, boa parte das
pesquisas, dissertações, teses e artigos existentes que tratam da obra de Watterson não são de
historiadores.

Dito isso, cabe destacar os trabalhos de diferentes áreas que trabalharam com gibis,
especificamente a obra de watterson, e educação:

• O artigo publicado por Rossi11 destaca a relação das tirinhas que tratam de questões
educativas. Para especificar, ela se utiliza da análise discursiva, com o foco na leitura.

• O trabalho apresentado por Silva12, no qual a autora estuda as relações entre Calvin e
Haroldo, de Bill Watterson e os filósofos João Calvino e Thomas Hobbes. Semelhantemente,
estuda as relações vistas entre as tiras analisadas e a educação escolar.
• O trabalho de Mayara Barbosa Tavares e Eliane Marquez da Fonseca Fernandes 13 é muito
elucidado ao desenvolver uma de análise dos discursos e as formações discursivas sobre a
educação, materializados nos quadrinhos e, também, busca estabelecer possíveis relações
com uma fundamentação teórica que liga à Análise do Discurso de orientação francesa, com
foco nas obras de Pêcheux.

10
GATTI, Márcio Antônio. A representação da criança no humor: um estudo sobre tiras cômicas e estereótipos.
Tese (Doutorado em Letras) - Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, São
Paulo, 2013. p. 172.
11
ROSSI, Raphaela. A análise discursiva de tirinhas em quadrinho sob a temática educativa. Língua, literatura e
ensino, UNICAMP, v. IV, p. 551-556, maio, 2009.
12
SILVA, Diva Lea Batista. Calvin e Haroldo: relações possíveis com Calvino e Hobbes. Trabalho apresentado no
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXII Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação – Curitiba, PR, 2009. Disponível em: http://www.intercom.org.br
Acesso em: 04 de março de 2024.
13
TAVARES, Mayara. FERNANDES, Eliane. DISCURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO NAS HISTÓRIAS EM
QUADRINHOS. Revista Línguas & Letras – Unioeste – Vol. 16 – Nº 32 – 2015. Disponível em: https://e-
revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/11502/8687 Acesso em: 04 de março de 2024.
• O trabalho de Kelly14 busca estabelecer alguns aspectos da Educação, em uma sociedade
dividida por classes. A partir de teóricos como Ponce (1986), Aranha (1989), Rodrigues
(2004) e Brandão (2007), traçando um breve resumo sobre o desenvolvimento da educação e
da luta de classes, sob um viés histórico e marxista. Além disso, propõe-se a analisar algumas
tirinhas de Calvin & Haroldo.

Além dos estudos citados, desejo acrescentar os seguintes trabalhos:

• O artigo de Douglas Mota Xavier de Lima, intitulado História em quadrinhos e Ensino de


História.

• O trabalho desenvolvido por BONIFÁCIO, Selma de F.; CERRI, Luís F. Histórias em


quadrinhos: conhecimento histórico e comunicação de massa no espaço escolar. In:
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., 2005, Londrina. Anais... p.1-8.

• FRONZA, Marcelo. O significado das Histórias em Quadrinhos na Educação histórica dos


jovens que estudam no Ensino Médio. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal do Paraná.

• VILELA, Marco Túlio R. A utilização dos quadrinhos no ensino de História: avanços,


desafios e limites. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Metodista de São
Paulo. São Bernardo do Campo, 2012.

VILELA, Marco Túlio R. Os quadrinhos na aula de História. In: RAMA, Ângela;


VERGUEIRO, Waldomiro (Org.) Como usar as histórias em quadrinhos em sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2014. p.105-129.

Portanto, tendo em perspectiva os trabalhos selecionados foi possível perceber que


mesmo tratando da questão da educação ambos os autores não fundamentam suas respostas à
luz da historiografia. Afinal, não são historiadores e seria contraditório esperar da pesquisa
deles/as uma resposta que dialogasse com a historiografia.

JUSTIFICATIVA:
Esta pesquisa tem por finalidade analisar as tirinhas em quadrinho do Calvin &
Haroldo (1985- 1995), de Bill Walterson, para compreender como são tratadas as questões
referentes à educação e, especificamente, as suas contribuições para o ensino de História.
Visto que, na análise e interpretação de diversas tiras de Calvin e Haroldo, a educação, por
conseguinte a escola, o conteúdo trabalhado nela, diversas vezes, são enfadonhos,
indesejados, chatos, pois em muitos casos a metodologia de ensino é pautada em um discurso
14
SANTOS, Kelly Ferreira. Educação e divisão de classes sob uma perspectiva histórica e marxista. Via Litterae.
Anápolis. v. 4, n. 2. p. 235-248. jul./dez. 2012.
tradicional e datado. Calvin, personagem de Bill Watterson, é famoso no mundo inteiro pela
abordagem diferenciada que o autor faz de problemas típicos dos valores correntes do mundo
contemporâneo, principalmente neste trabalho em que evidencio algumas relações entre o que
ocorre na escola e os acontecimentos presentes em seu cotidiano infantil.

Não menos importante, cabe afirmar que mesmo com a presença dos mais variados
elementos que fazem parte do imaginário de uma criança: Tigres que falam, extraterrestres,
super-heróis, pistolas de raios mortíferos e dinossauros ganhando vida, foi possível observar
as diferentes facetas do ‘mundo real’. Mundo esse, construído a partir das perspectivas, das
visões do autor para a fundamentação de uma identidade social que é assumida pelos
personagens representados nas tirinhas de Watterson. Seus personagens são formados a partir
de estereótipos comuns, o professor que se apropria de práticas pedagógicas tradicionais, cuja
formação é deficitária, está insatisfeito, infeliz com a desvalorização de sua profissão e o
estudante que ‘vive brincando com tigres de pelúcia’. As narrativas analisadas, portanto,
pressupõem as dimensões sociológicas da análise do discurso.

É destacado um traço temático mais amplo dentro da obra de Bill Watterson, a relação
entre realidade e imaginação presente nas tiras em quadrinhos. O que permite entender que
diz respeito a valores como: ordem e responsabilidade, semelhantemente, à rebelião e
resistência. Logo, o que se entende por imaginário acaba por ‘confrontar’ a realidade do
mundo adulto com as suas respectivas expectativas e projeções da criança. Que por sua vez, é
explorado pelo autor, uma desconcertante crítica às contradições da cultura.
Assim, este projeto se justificativa pela escassa exploração da obra Calvin e Haroldo
no que concerne aos/às historiadores/as no seu ofício e, para além, alargar as contribuições da
referida obra no âmbito das salas de aula face ao ensino de História.

OBJETIVO GERAL:

• Analisar as tirinhas em quadrinho do Calvin & Haroldo (1985- 1995), de Bill


Walterson, especificamente a edição ‘O mundo é Mágico', para compreender como são
tratadas as questões referentes à educação e, especificamente, as possibilidades de suas
contribuições para o ensino de História.

HIPÓTESE:

A visão bem-humorada, mas, muitas vezes sarcástica, de Calvin, parece ser uma
saída válida para uma educação desgastada, corroída pelas contradições que lhe são inerentes,
seja pela falta de consciência e preparo de muitos professores, seja pela compreensão que
muitos têm da escola, e a consequente angústia no espírito das pessoas, consequentemente, de
muitos pais. Para tanto, parece existir certo olhar cínico, até refinado na obra de Watterson
para com a educação tradicional. Logo, busco analisar sua obra e entender o que está sendo
proposto.

TEORIA:

(Provisório)
É necessário o entendimento do conceito de história cultural. Pois, com essa nova
forma de compreender a historiografia, passaram a ser consideradas diversas formas de
cultura produzidas pela humanidade. Portanto, é possível entender os gibis como uma forma
de representação da sociedade que compreende os elementos da cultura e política. Entretanto,
é entendido que as representações sociais presentes nas HQs, são uma simplificação dos
eventos complexos e contraditórios presentes na realidade. Para tanto, será utilizado a obra de
Viana15, para a discussão e, talvez, entendimento das formas de se analisar tais obras.

FONTES:

(Provisório)

A princípio, este projeto foi pensado a partir de toda a coletânea de tirinhas do Calvin
e Haroldo de Bill Watterson. Todavia, objetivando um diálogo que sintetizasse bem o que
estava sendo proposto para com a obra de Watterson, foi delimitado os seguintes volumes:

• WATTERSON, Bill. Calvin e Haroldo: O mundo é magico. Conrad Editora do Brasil. 2°


edição. 2010.

• WATTERSON, Bill. Calvin e Haroldo: E foi assim que tudo começou. Conrad Editora do
Brasil. 2° edição. 2010.

METODOLOGIA:

(Provisório)

O material fonte será analisado a luz do método dialético e das obras de Paulo Freire16.
15
VIANA,Nildo. HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E MÉTODOS DE ANÁLISE. ALCEU, v. 14 – n. 27 – p.
66 a 77. jul./dez. 2013.
16
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia:
saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, P. A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez; Autores
Associados, 1991.
REFERÊNCIAS

(Provisório)

• WATTERSON, Bill. Calvin e Haroldo: O mundo é magico. Conrad Editora do Brasil. 2°


edição. 2010.
• WATTERSON, Bill. Calvin e Haroldo: E foi assim que tudo começou. Conrad Editora do
Brasil. 2° edição. 2010.
• CALAZANS, Flávio Márcio de Alcântara. História em quadrinhos na escola. São Paulo:
Paulus, 2004.
• RAMA, Angela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em
quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
• VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo. (Orgs.). Quadrinhos na educação: da
rejeição à prática. São Paulo: Contexto, 2009.
• SANTOS NETO, Elydio dos; SILVA, Marta Regina Paulo da. Histórias em quadrinhos e
práticas educativas, volume I: o trabalho com universos ficcionais e fanzines. São Paulo:
Criativo, 2013.
• SANTOS NETO, Elydio dos; SILVA, Marta Regina Paulo da. (Orgs.) Histórias em
quadrinhos e práticas educativas, volume II: os gibis estão na escola, e agora? São
Paulo: Criativo, 2015.
• VIANA, Nildo. Quadrinhos e Crítica Social. O Universo Ficcional de Ferdinando. Rio de
Janeiro: Azougue, 2013.
• ROSSI, Raphaela. A análise discursiva de tirinhas em quadrinho sob a temática educativa.
Língua, literatura e ensino, UNICAMP, v. IV, p. 551-556, maio, 2009.
• SILVA, Diva Lea Batista. Calvin e Haroldo: relações possíveis com Calvino e Hobbes.
Trabalho apresentado no GT 6, DT 6 – Interfaces comunicacionais. Curitiba/Pr.
• TAVARES, Mayara. FERNANDES, Eliane. DISCURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO NAS
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS. Revista Línguas & Letras – Unioeste – Vol. 16 – Nº 32 –
2015.
• SANTOS, Kelly Ferreira. Educação e divisão de classes sob uma perspectiva histórica e
marxista. Via Litterae. Anápolis. v. 4, n. 2. p. 235-248. jul./dez. 2012.
• VIANA,Nildo. HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E MÉTODOS DE ANÁLISE. ALCEU, v.
14 – n. 27 – p. 66 a 77. jul./dez. 2013.
• VILELA, Túlio. Os quadrinhos na aula de História. In: RAMA, Angela; VERGUEIRO,
Waldomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 4 ed. São Paulo:
Contexto, 2012.
• NETO, Geraldo Mangella de Menezes. As histórias em quadrinhos e a escola: práticas que
ultrapassam fronteiras. (PPGHIS/UnB) Nº. 34, Brasília, Jan – Jul 2019.
• . GATTI, Márcio Antônio. A representação da criança no humor: um estudo sobre tiras
cômicas e estereótipos. Tese (Doutorado em Letras) - Instituto de Estudos da Linguagem da
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2013.
• . FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
• . FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• . FREIRE, P. A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez; Autores Associados, 1991.
• KELLER, Douglas. A Cultura da Mídia. Editora: EDUSC; 00 edição (1 janeiro 2001).
• MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2ª edição, São Paulo: Martins
Fontes, 1983.
• BONIFÁCIO, Selma de F.; CERRI, Luís F. Histórias em quadrinhos: conhecimento
histórico e comunicação de massa no espaço escolar. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 23., 2005, Londrina. Anais... p.1-8.
• FRONZA, Marcelo. O significado das Histórias em Quadrinhos na Educação histórica dos
jovens que estudam no Ensino Médio. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal do Paraná.
• VILELA, Marco Túlio R. A utilização dos quadrinhos no ensino de História: avanços,
desafios e limites. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Metodista de São
Paulo. São Bernardo do Campo, 2012.
• . Os quadrinhos na aula de História. In: RAMA, Ângela; VERGUEIRO,
Waldomiro (Org.) Como usar as histórias em quadrinhos em sala de aula. São Paulo:
Contexto, 2014. p.105-129.
• GROENSTEEN, Thierry. O sistema dos quadrinhos. MARSUPIAL EDITORA LTDA. 2015.
• VIANA, Nildo. REBLIN, Iuri. (Org). SUPER-HERÓIS, CULTURA E SOCIEDADE
Aproximações multidisciplinares sobre o mundo dos quadrinhos. Editora: Ideias e Letras,
2011.

• SOUZA, Viviane. SOUZA, IIvanete. GENERO TEXTUAL: TIRINHA -


CAEACTERISTICAS E FUNCIONALIDADE SOCIAL. ANAIS DO SEMINARIO DE
PROFESSORES E ENSINO DE LINGUA INGLESA. Vol. 2, 2013.
• OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. História dos quadrinhos. Macapá: UNIFAP, 2024.

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