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A HISTÓRIA EM QUADRINHOS NA HISTORIOGRAFIA DO BRASIL

IMPÉRIO (1822-1824)

Aparecida de Fátima Bogo de Oliveira 1

Dennison de Oliveira2

RESUMO: A pesquisa aqui apresentada integra uma das exigências do


Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Educação do
Estado do Paraná 2016/2017 e consiste em pesquisa bibliográfica aliada à
prática pedagógica desenvolvida com alunos do 8º ano do Ensino Fundamental
sobre a utilização das HQs (histórias em quadrinhos) como recurso didático para
o ensino de História. A pesquisa mobiliza a HQ Da Colônia ao Império: Um Brasil
para inglês ver (Schwarcz, 1982) como recurso pedagógico aliado ao livro
didático Vontade de Saber História (Pellegrini; Dias; Gringerb, 2015) e se
desenvolveu em etapas, resultando na produção de HQs feita pelos próprios
alunos sobre o conteúdo trabalhado.

Palavras-chave: Ensino de história; história do império; HQs

1 INTRODUÇÃO

A historiografia sobre o Brasil Império apresenta múltiplas perspectivas


em relação aos acontecimentos do período, produzindo novos questionamentos
com o objetivo de ampliar as interpretações e, principalmente, de introduzir a
participação popular na escrita da história brasileira (PALTI, 2009).
Ao analisar fatos e movimentos passados é necessário, de acordo com
Mota (1981), recriar a constituição das sociedades de outras épocas. Para isso,
o historiador faz uso constante de novas interpretações e reformulações de
velhos problemas.

1 Professora em História – PDE 2016, SEED, Estado do Paraná.


2 Orientador do trabalho, Departamento de História da Universidade Federal do Paraná.
1
No Ensino da História, é preciso levar em conta a heterogeneidade do
público com o qual o historiador fala. Apresentar as perspectivas e contextos de
um momento histórico como o Império brasileiro do século XIX para alunos dos
anos finais do ensino fundamental deve ultrapassar o conteúdo meramente
explicativo.
Assim, muitas ferramentas didáticas podem ser lançadas com o objetivo
de despertar o interesse do aluno para o conteúdo apresentado e, principalmente
de incentivá-lo a produzir múltiplas interpretações.
Há a possibilidade prática de diversificar a forma de trabalhar o conteúdo,
aliando outras ferramentas ao livro didático. Ferramentas culturais como as
histórias em quadrinhos e charges podem complementar o ensino aprendizagem
e oferecer subsídios extras para reflexão dos alunos e produção de sentidos e
interpretações.
Esses artefatos culturais, de acordo com SOBRANSKI ET AL (2010),
quando usados nas aulas de história, são considerados como recursos
históricos, pois contêm uma linguagem que relaciona o passado com o presente.
A partir da utilização dos quadrinhos, é possível ao professor criar novas
metodologias que o auxiliam na abordagem dos conteúdos.
Nesse sentido, a utilização dos quadrinhos em função de objetivos
considerados educativos possui histórico inicial na cultura oriental:

(...) a percepção dos benefícios pedagógicos dos quadrinhos


não ficou restrita apenas a autores e editoras. No ano de 50, na
China comunista, o governo de Mao Tse - Tung utilizou
fartamente a linguagem das histórias em campanhas educativas,
utilizando-se do mesmo modelo de retratar vidas exemplares
explorado pelas revistas religiosas, mas enfocando
representantes da nova sociedade que pretendia estabelecer no
país. As histórias podiam enfocar, por exemplo, a vida de um
soldado que, a caminho de seu quartel, ao encontrar uma pobre
velhinha sem forças para caminhar, desviava-se de seu caminho
e a levava às costas até sua casa, passando a imagem de
solidariedade que o governo chinês pretendia vender a
população (Rama; Vergueiro, 2014, p.18).

Especificamente no Brasil, a história em quadrinhos é introduzida como


material de apoio didático em meados de 1960 quando o professor Julierme de

2
Abreu de Castro inova na sala de aula com obras diferenciadas e inovadoras
para a época, utilizando-se dessa ferramenta (Bonifácio, 2006). A proposta é
vista como uma atitude moderna e inovadora em relação aos livros tradicionais
cujos conteúdos e textos são voltados aos questionários tornando os estudantes
em meros “memorizadores do conhecimento”.
É, também, encarado como um processo facilitador de diferentes
conteúdos aplicável às variadas disciplinas. As vantagens de sua aplicação na
sala de aula podem ser observadas pela produção de sentidos a partir das
palavras e imagens, possibilitando o desenvolvimento e estímulo à leitura e à
imaginação reflexiva do estudante.
Neste sentido, as histórias em quadrinhos podem ser trabalhadas de
maneira ilustrativas: busca mostrar os personagens através de versões
diferentes fazendo uso de recursos como a criticidade e a produção de reflexão.
Para Túlio Vilela (2014), os quadrinhos podem ser utilizados nas aulas de história
para conceituar o tempo e suas dimensões, podendo narrar os fatos com
diferentes visões dos personagens, contribuindo para que o aluno compreenda
com mais facilidade a existência de diferentes versões da história e a
subjetividade presente.
Também pode ser trabalhada como registro da época, de povos e
lugares do passado contextualizando com a sociedade atual, levando o
estudante a compreender o conceito de anacronismo e da contradição.
Portanto, pensando o vasto conteúdo que consiste o período do Brasil
Império, de suas contradições, seus momentos ápices e dos processos políticos
e sociais que o englobam, as HQs surgem como possibilidade profícua de
metodologia – aliada ao uso do livro didático – que colabora para a compreensão
mais ampla dos alunos sobre o tema trabalhado.
Sendo assim, motiva-nos superar alguns desafios travados
constantemente nas aulas de história dos anos finais do Ensino Fundamental, a
saber: o desinteresse dos alunos pelos fatos históricos, vistos como dados
ultrapassados; e a dificuldade que os alunos possuem em produzir
interpretações e sentidos relacionando presente e passado.
Nesse sentido, aliando material didático às HQs, criamos a expectativa
de instaurar em sala de aula diálogos que interessam aos estudos sobre o dado

3
período histórico, bem como suas implicações na sociedade contemporânea.
Acreditamos, pois, que o estudo da história do Brasil Império através das HQs
pode tornar o momento de ensino-aprendizagem mais satisfatório e atraente ao
aluno.
Intencionamos, ainda, possibilitar o desenvolvimento da interpretação
crítica no que diz respeito aos aspectos sociais, políticos e econômicos do
período em estudo, incentivando as múltiplas leituras e produção de sentidos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A primeira publicação de HQ (História em Quadrinhos) no Brasil foi no


dia 30 de janeiro de 1869, através da Revista Vida Fluminense, do Rio de
Janeiro. A publicação trazia as aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma
viagem à corte, de autoria de Ângelo Agostini, uma narrativa em quadrinhos que
apresentava críticas à cultura brasileira.
Por este motivo, a data de 30 de janeiro ficou marcada e reconhecida
como o Dia do Quadrinho Nacional e traz em sua origem características de crítica
aos problemas sociais e políticos do Brasil ressaltados pela via do humor. Para
Fogaça (2002, 2003), a história em quadrinhos se destaca como uma
comunicação em massa com grande atenção do público infanto-juvenil, capaz
de desenvolver a imaginação através da leitura. Os recursos híbridos que possui
empolgam e satisfazem este público ao explorar elementos como o humor e o
inesperado.
Ao instaurar um meio de comunicação direto com o seu leitor que é a
“necessidade básica da pessoa humana, do homem social” (Bordenave, 2006,
p.35), as HQs contribuem para ampliar as perspectivas sobre a realidade das
aulas de história e sobre as potencialidades, dificuldades e limitações (Ramos,
2014). Os quadrinhos podem seguir linhas diferentes de trabalho na disciplina de
História: como retratam episódios da história; e como foram inseridos em
episódios históricos da humanidade (Carvalho, 2006).
O uso dos quadrinhos pode ser caracterizado por dois elementos
comunicacionais: imagens e palavras escritas. A partir destas linguagens, outras
vão se desencadeando ao passo que o artista constrói narrativas dando sentido
4
a uma história ampla, com vários segmentos, produzindo a estrutura de narrativa
completa. O recurso dos balões e onomatopeias integra a narrativa para
reproduzir sons a partir de palavras, bem como ruídos e sonoridades específicas
(objetos quebrando, batidas, socos, etc.). Por se tratar de uma estrutura narrativa
específica com elementos próprios, é preciso, inicialmente, promover a
familiarização dos estudantes com as HQs, conhecendo suas linguagens e
recursos (Vergueiro, 2014).
A linguagem visual é o elemento básico e fundamental dos quadrinhos,
representando a sequencialidade de quadros que trazem a mensagem até o
leitor através de narrativas. Os quadrinhos ou vinhetas representam as imagens
fixas de um instante específico ou a sequência de instantes de uma determinada
ação ou acontecimento.
Assim em um mesmo quadrinho podem estar expressos vários momentos com
ideias específicas. A montagem dos quadrinhos varia de acordo com sua
narrativa ou do veículo de sua publicação; cada uma possui sua especificidade
com temas próprios. Seu sistema de significado possui dois códigos de
interação, sendo que as mensagens são passadas ao leitor por meio de
linguagem verbal, onde expressa fala ou pensamento dos personagens, voz do
narrador e sons envolvidos nas narrativas (idem, ibidem).
As HQs são representadas por meio de argumentações e por meio de textos
dentro dos balões que caracterizam verbalmente os personagens, representando
diálogos da língua oral (Ramos, 2014). Organizando diferentemente os recursos
disponíveis, buscam construir uma dinâmica interna para facilitar o entendimento
do leitor promovendo os sentidos desejados pelo autor e outras interpretações
possíveis com a percepção única de cada leitor.

2.1 HQs COMO RECURSO DIDÁTICO

Na História da Educação Brasileira, as HQs passaram por um longo


período de contraposições e protestos por diferentes perspectivas. Na década
de 1920, por exemplo, a Associação Brasileira de Educadores (ABE)

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posicionouse contrária à utilização dos quadrinhos como recurso didático
alegando influenciar hábitos estrangeiros nos estudantes.
Apesar de alguns educadores não reconhecerem as histórias em
quadrinhos como potencial pedagógico em sala de aula, várias editoras
buscavam novas experiências aliando o universo das histórias em quadrinhos
com o conhecimento. Em 1940, nos Estados Unidos as primeiras histórias
surgiam com temas de cunho educativo, apresentando fatos e eventos históricos,
com conteúdo que beneficiava (Rama; Vergueiro, 2004).
Os conflitos cessaram com a promulgação da Lei 9394/96, de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB) juntamente com os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), cujas histórias em quadrinhos passaram a ser
consideradas válidas e benéficas em relação à educação. Neste contexto,
professores e pedagogos passaram a fazer uso de diferentes recursos para o fim
didático, como os quadrinhos, jornais e revistas como meios de articulação para
o conhecimento, identificando a necessidade de inserção de novas linguagens
no ensino básico e fundamental (Vergueiro; Ramos, 2009).
As novas discussões em relação às metodologias do Ensino de História
inserem novos métodos de ensino com linguagens e fontes históricas como
imagens, ficção, filmes e HQs (Guimarães, 2008). Este movimento de cunho
interdisciplinar e de multiplicidade de metodologias amplia o olhar do historiador,
professor e dos próprios estudantes no campo do conhecimento, tornando o
ensino aprendizagem dinâmico e flexível.
Ler histórias em quadrinhos, de acordo com Iannone (1996), é se
aproximar de um meio de comunicação fantástico criada pelo homem capaz de
transportar o leitor ao encantamento e à imaginação. Neste sentido, as histórias
em quadrinhos têm enorme potencial em relação à comunicação nos bancos
escolares, de modo que sua utilização como ferramenta didática auxilia como
alternativa pedagógica veicula outro tipo de conhecimento e concentração
propondo situações novas, exigindo do leitor atenção e maior capacidade de
concentração para interpretar suas mensagens.
Para Bonifácio (2005), o recurso didático das HQs é um grande aliado
para aprender e ensinar História devido às inúmeras possibilidades de utilização
pelo professor, podendo ser intercalada com ficção, bom humor e imaginação

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explorando novos horizontes no espaço escolar. Podem ser utilizadas como
ponto de partida para um conteúdo específico, ou ainda para finalizar uma
discussão histórica apresentando as diferentes possibilidades de interpretações.
Outra possibilidade é o incentivo, por meio dos educadores, à produção de HQs
pelos próprios alunos adaptando o texto historiográfico.
2.2 HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO EM QUADRINHOS

Lilia Moritiz Schwarcz, historiadora e professora do Departamento de


Antropologia da Universidade de Antropologia de São Paulo – USP, foi
responsável pela experiência de transpor períodos da História do Brasil para a
linguagem das HQs em 4 obras específicas. Na década de 1980 foi lançada a
primeira edição de Da Colônia ao Império: Um Brasil para inglês ver!, com texto
e pesquisa histórica da historiadora Schawrcz e ilustração de Miguel Paiva, obra
que privilegia assuntos históricos sobre o período do Brasil Império no século XIX
abordando sua constituição e características próprias da sociedade política,
econômica e social.
A HQ aborda informações significativas dos acontecimentos históricos
que marcaram o período de 1822 a 1889, dois marcos cronológicos do início ao
fim do Brasil Império marcados respectivamente pela Independência do Brasil e
pela Proclamação da República. De maneira descontraída, porém com
aprofundamento do contexto histórico, a obra aborda temas fundamentais como
a própria Independência e as características do Brasil colonial que ainda
persistiam, como é o caso da escravidão.
A autora contrasta a história do Brasil Império através das histórias em
quadrinhos sem atropelos, destaca os personagens e suas falas com clareza e
fácil entendimento ao leitor, o desenho tem a preocupação de caracterizar os
personagens de acordo com a época, mostrando de maneira crítica momentos
como a Independência do Brasil (Barbosa, 2009).
De acordo com Silva; Rodrigues (2013, p.66), as HQs representam um grande
potencial de ensino aprendizagem da História. Além de instigar os estudantes à
leitura e enriquecer o vocabulário, este gênero é capaz de englobar informações
oficiais, importantes à historiografia brasileira aos aspectos contraditórios e
críticos da História.

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Através de elementos como o humor e a personificação de tipos
específicos de personagens que figuravam à época, a HQ abrange questões
sociais, políticas, econômicas e culturas de um período da História do Brasil cujo
campo de pesquisa ainda é fértil. Estes elementos, de acordo com Vilela (2009),
conciliam didática e humor, produzindo novas interpretações e reflexões sobre
momentos históricos decisivos para a compreensão da política, economia e
cultura brasileira.
Nesse sentido (Bonifácio et al, 2006) destaca parâmetros de sustentação ao
conhecimento histórico, cuja mesma história se relaciona e reflete em nosso cotidiano
de modo leve e divertido.
No que tange aos debates historiográficos brasileiro do período
analisado, autores como Varnhagen (1854-1857); Oliveira Lima (1922); Sérgio
Buarque de Holanda (1960) e Caio Prado Junior (1942) contribuem, de acordo
com Costa (2005) para a formação da historiografia brasileira. Assim, são
inúmeras as abordagens que formam a clássica historiografia brasileira.
Neste grande campo da historiografia, o processo de Independência
brasileira que marca o Império também é escrito na história por várias
perspectivas, principalmente por se tratar de um momento complexo e
contraditório cujos acontecimentos se encadeiam em efeitos econômicos,
políticos e também sociais. As perspectivas da historiografia clássica, no
entanto, passam a conviver principalmente a partir da década de 1980 com
outros segmentos que também entram no grande campo da escrita da história.
Caso específico é o da historiadora Lilia Schawrcz e sua obra da Colônia ao
Império: Um Brasil para inglês ver que aposta no gênero das HQs como
ferramenta para a difusão da história do Brasil instaurando novas perspectivas
historiográficas.
Para Bonifácio; Selma; Cerri (2006), a importância de materiais como as
histórias em quadrinhos sua caracterização está na questão da democratização
da narrativa e do conhecimento histórico. Trazer elementos e linguagens
diferentes para dentro do espaço escolar significa aproximar diferentes níveis de
conhecimentos sejam eles formais ou informais.
As histórias em quadrinhos fazem parte do cotidiano de jovens, adultos
e crianças há várias décadas. Assim sua inclusão como recurso didático em

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atividades com os estudantes se dá, em geral, de forma entusiasmada
contribuindo para a participação mais ativa na sala de aula em relação às
atividades. Aguça a curiosidade e desafia o senso crítico dos alunos (Rama et
al, 2014).
Os quadrinhos enriquecem o vocabulário dos estudantes possibilitando
a utilização de um repertório próprio com expressões e valores de comunicação,
não agredindo o seu vocabulário normal. A história em quadrinhos leva os
estudantes a uma maior integração à sociedade, sendo capaz de fazer distinção
de local, regional e relacioná-los, adquirindo consciência de diferentes mundos
ampliando suas fronteiras entre casa e escola.
Fazendo uso da linguagem das HQs, Schawrcz (1982) trata a
complexidade do Brasil Império em diversos aspectos: das informações e fontes
oficiais (e originais), às descontrações próprias da crítica da historiadora, de
modo que as continuidades e descontinuidades dos processos históricos são
abordadas com uma visão crítica da história.
Dentre as muitas complexidades do período do Império Brasileiro, a
Independência é um dos pontos chaves. Porém, os efeitos econômicos e
políticos também integram a formação dessa história que, mesmo diante das
mudanças sugeridas, mantém práticas ainda coloniais como é o caso da forma
monárquica e da permanência da escravidão (Costa, 2005, p.56).
Por se tratar de um período da historiografia imerso em contradições e
complexidades, a HQ especificamente elaborada por Schawcz sobre a
Independência e o Império contribui para a constituição de uma historiografia
heterogênea, plural e acessível, sem deixar de considerar pontos fundamentais
para a própria História, como é o caso dos momentos oficiais. Deste modo,
podemos considerar que por intermédio das HQs é possível produzir sentidos e
interpretações diversas.
Para a historiadora Suely Robles Reis de Queiroz (2010), a história muda
com o avanço da historiografia com o propósito de levar a história para um
público que não seja restrito ao acadêmico, privilegiando os aspectos políticos,
e a valorização da cultura da época.
Assim, os quadrinhos permitem a criação de novas metodologias
auxiliando o professor na abordagem dos conteúdos. Além disso, evidencia-se o

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potencial das HQs em tornar a didática um momento prazeroso, tornando-se um
elemento facilitador na mediação de conhecimento e conteúdo.

3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES

A implementação integral do projeto foi realizada nas trinta e duas


horas/aulas previstas no cronograma inicial, todas desenvolvidas no oitavo ano
do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Emília Buzato, no município de
Campo Magro/PR.
A elaboração das atividades teve como objetivo incentivar o olhar crítico
dos alunos para um período importante da História do Brasil, o Império, através
da leitura e produção de histórias em quadrinhos. As HQs foram utilizadas como
ferramenta auxiliar aos conteúdos do livro pedagógico3. Buscamos oferecer aos
alunos elementos para que fosse possível produzir suas próprias histórias em
quadrinhos sobre o conteúdo trabalhado. Neste sentido, valorizamos imaginação
dos estudantes incentivando a reflexão e a criatividade.
De acordo com a perspectiva direcionada pelas Diretrizes Curriculares
da Educação Básica do Paraná (2008), a consciência histórica crítica é uma das
possibilidades férteis para o ensino-aprendizagem a respeito das experiências
do passado. Trata-se de adotar as chamadas “narrativas críticas”, responsáveis
por valorizar rupturas e deslocamentos em relação ao tempo presente e ao
passado.

Sob esse aspecto, o ensino de história rompe com os modelos


de aprendizagem baseados na linearidade temporal, ao
distinguir o passado do presente, e com a redução das
interpretações vinculadas a causas e consequências,
ampliando as possibilidades de explicação e compreensão do
processo histórico (PARANÁ, 2008, p.59).

Desse modo, a investigação das ideias históricas é fundamental para a


aprendizagem dos conteúdos pertinentes à História, uma vez que tais ideias implicam

3PELLEGRINI, Marco César; DIAS, Adriana Machado; GRINGERB, Keila. Vontade de Saber
História. 3ed.São Paulo: FDT, 2015. (Componente Curricular – História Anos finais do Ensino
Fundamental 8º Ano).

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na compreensão do passado relacionado aos processos de experiências sociais,
culturais e políticas.
Essa perspectiva é também calcada nos PCNs (1997), ao valorizar o
compromisso da formação escolar propiciar o desenvolvimento de capacidades
que favorecem a compreensão dos fenômenos sociais e culturais. Para isso, o
mesmo documento salienta a importância do processo de atribuição de sentido
aos conteúdos, de modo que concebe o ensino-aprendizagem como “situações
comunicativas, nas quais os alunos e professores atuam como co-responsáveis
ambos com uma influência decisiva para o êxito do processo” (BRASÍLIA, 1997,
p.37).
Outro ponto de relevância é o de considerar os parâmetros apontados
pela BNCC (2016), ao considerar a multiplicação dos meios de comunicação e
informação para a disseminação de ideias, narrativas e perspectivas, muitas
vezes fragmentada. Nesse sentido, o ensino de História - aliando conteúdos
didáticos com os recursos da narrativa crítica oriundos das HQs – pode ser capaz
de reorientar a visão fragmentada de mundo oferecida aos jovens.

Nesse sentido, é importante que a escola contribua para o


desenvolvimento de uma atitude crítica em relação ao conteúdo
e à multiplicidade de ofertas midiáticas e digitais, preserve seu
compromisso de estimular a reflexão e a análise aprofundada e,
ao mesmo tempo, se valha desses recursos como meios para
promover a aprendizagem, a comunicação e o compartilhamento
de significados entre professores e estudantes. (BRASÍLIA,
2016, p.321).

A proposta aqui apresentada, então, procura estar em conformidade com


as normas vigentes tanto das Diretrizes Curriculares Estaduais, quanto das
PCNs e da BNCC. Vale reiterar, ainda, a orientação presente na BNCC (2016)
em relação ao ensino dos anos finais do Ensino Fundamental. Nessa etapa,
indica o documento, é fundamental fortalecer no aluno a autonomia e a
capacidade de acessar e interagir com diferentes conhecimentos e fontes de
informações – tais como as HQs, por exemplo.

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Consistindo em etapas distintas (um total de onze), o projeto foi bem
recebido desde seu início (etapa 1), momento de apresentação da proposta para
a direção, equipe pedagógica e professores do colégio mobilizado.
O primeiro contato com os alunos participantes (etapas 2 e 3) também
demonstrou potencialidade, uma vez que houve grande pré-disposição dos
alunos em relação à utilização das HQs nas aulas de história. Para uma melhor
compreensão dos participantes, foi apresentado este estudo (etapa 2) como
modo de situá-los sobre a proposta pedagógica da qual fariam parte. Já no
momento seguinte (etapa 3), os conteúdos relacionados ao tema Brasil Império
foram expostos juntamente às reprodução de pinturas do artista Debret sobre os
elementos culturais e sociais do Brasil no século XIX.
Orientados a produzir uma breve análise sobre os principais elementos
percebidos, os alunos foram capazes de expressar a percepção sobre a
desigualdade social e racial “mostrada até em um simples jantar, como mostra
as pinturas de Debret”, consta no relato final assinado pela turma do 8º ano. A
obra de Debret, no relado dos alunos, “Retratava o papel do homem na
sociedade, a questão do machismo que até hoje sofremos (...), também os
escravos, como viviam e como eram tratados” 4.
O trabalho realizado com as HQs tem início nas etapas seguintes. Após
explanação de conteúdo didático “Da Revolução do Porto ao Dia do Fico”, foi
utilizado o recurso das HQs Da colônia ao Império: Um Brasil para Inglês Ver,
Lilia Schwarcz (1982) e de História do Brasil em quadrinhos (2008), de Edson
Rossatto (etapas 4 e 5). A recepção extremamente positiva dos alunos com o
gênero das histórias em quadrinhos demonstrou o potencial deste procedimento
pedagógico para a compreensão de assuntos relacionados à História do Brasil,
como demonstra trecho do relato do 8º ano A:

(...) trabalhamos os quadrinhos de maneira que as aulas não


ficaram chatas nem desmotivadas, toda a turma participou,
mesmo os mais bagunceiros da sala se mostraram interessados
pelo projeto. Achamos que os quadrinhos ajudaram muito e
poderiam ajudar em outras matérias, já que chamam muita
atenção dos alunos (...).5

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Nos momentos posteriores (etapas 6, 7 e 8) o objetivo voltou-se para a
preparação dos alunos em relação às HQs. Nesse procedimento, houve
levantamento do conhecimento prévio dos estudantes sobre HQs (rodas de
conversas; opinião escrita sobre utilização das HQs na aula de Histórica);
também apresentação dos elementos básicos das HQs (linguagem visual;
legendas; etc.); e visita ao laboratório de informação para uma pesquisa mais
aprofundada sobre as HQs no Brasil. Por se tratar de um público jovem, o

4 8º ano A, 13 anos, sexo feminino.


5 8º ano A, 13 anos, sexo feminino.

levantamento demonstrou que a grande maioria já teve contato com algum tipo
de HQs: mangás; jogos; Mafalda e Turma da Mônica.
As etapas finais (etapas 9, 10 e 11) consistiram em dois momentos
distintos: o primeiro com a aplicação de atividade escrita aos alunos resultando
em um relatório produzido e assinado coletivamente pela turma do 8º A
abordando os conteúdos trabalhados; o segundo (etapas 10 e 11) é o momento
em que os alunos dão início e finalizam a produção própria de suas HQs tendo
como tema os conteúdos de Brasil Império trabalhados nas aulas de História.
Os alunos criaram histórias em quadrinhos e tirinhas com as mais
variadas temáticas trabalhadas pedagogicamente sobre os momentos relativos
ao período do Brasil Império.
Abaixo estão as reproduções fotográficas dos trabalhos realizados pelos
alunos:

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Figura 1 – Reprodução bandeiras do Brasil.

A reprodução demonstra a percepção do aluno e retratar os diferentes


períodos históricos do Brasil a partir da representação simbólica na alteração das
bandeiras. A representação ilustrada incluir, ainda, a compreensão dos alunos
em relação às diferentes simbologias das bandeiras. Os alunos, coletivamente,
foram intuídos a analisar os significados dos elementos gráficos. Na primeira
representação, a da Bandeira Imperial, foi destacada as cores que simbolizam o
poder imperial como em destaque a casa da Bragança representando a riqueza
e o luxo desse período. As matérias primas responsáveis pelo desenvolvimento
da economia do Brasil Império, tais como o café e o tabaco, também foram
elementos de compreensão.
As diferenças simbólicas de uma flâmula para outra despertou o
interesse coletivo, levando-os a pesquisar as diferenças básicas das formas de
governo, o que contribuiu para despertar o senso crítico em relação às diferenças
políticas entre os períodos.

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A questão da religiosidade, como a cruz da ordem de Cristo – valor
fundamental do período imperial – levantou vários questionamentos dos alunos
no que diz respeito à imposição da religião católica e suas doutrinas. Por essa
perspectiva, foi possível analisar a imposição e o poder absoluto, característica
predominante na sociedade imperial.
Após analisar a simbologia da bandeira da primeira República do Brasil,
através de leitura e imagens do livro didático (PELLEGRINI; DIAS; GRINGERB,
2015) foi possível promover análises em relação às diferenças simbólicas da
Bandeira atual, destacando as cores e podendo identificar e relacionar as cores
da Bandeira com matas brasileiras, as riquezas minerais, a paz, a nação e os
estados brasileiros representados nos símbolos da bandeira da primeira
República do Brasil. A curiosidade dos alunos ao pesquisar a simbologia e os
seus significados, despertou a criticidade e a interação na sala de aula no
momento em que foram formados grupos de pesquisa. Os alunos mostraram-se
interessados ao ponto de escolherem as diferentes simbologias como mote para
as ilustrações.

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Figura 2 – HQs sobre o Dia do Fico

Figura 3 – Quadrinhos sobre Dia do Fico

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As figuras 2 e 3 são exemplos de HQs que retratam fatos e
acontecimentos relacionados ao Dia do Fico, conteúdo também trabalhado
levando em conta a temática do Brasil Império. Nesse contexto, os alunos
demonstram ter alcançado a compreensão dos interesses e da problemática que
envolveu esse fato histórico:

(...) a Corte de Lisboa pressionou D. João VI para que


retornasse a Portugal, mas ele não aceitou, assim ele deixa
um dos seus filhos cuidando do Brasil, ou seja, governando o
Brasil em seu lugar. Porque se não ficasse ninguém
governando o Brasil, Portugal perderia a colônia. Então D.
João antes de voltar para Portugal conversou com seu filho
D. Pedro e o convenceu a ficar e governar o Brasil , esse dia
ficou conhecido como Dia do Fico. Depois que D. João
regressou para Portugal e D. Pedro assumiu o Brasil, em 1777
declarou as margens do Rio Ipiranga a Independência do
Brasil e permitiu os negócios entre Brasil e outros países.4

Figura 4 – Elementos do império

4 Aluna do 8ºA, 13 anos.

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Figura 5 – Elementos do Império II

Figura 6 – Elementos do Império

As três figuras acima (5, 6 e 7) exploram elementos singulares que


constituíram a sociedade no período do Império, como por exemplo: o
surgimento da imprensa; a fundação do Banco do Brasil; a construção do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro, a criação das feiras. Sobre esse aspecto, os relatos

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dos alunos indicam a problematização do contexto que insere tais elementos na
vida social do Brasil Imperial. Segue trecho de relato:

(...) criaram o primeiro jornal no Brasil com objetivos de


aumentar o poder da Família Real, não pense você que nesse
período trouxe apenas mudanças construtivas, a maioria da
população era analfabeta não tendo conhecimento das
notícias publicadas no jornal, sendo que período criavam leis
onde prejudicava os mais humildes, devido a não ter
conhecimento aceitavam calados. Não podemos ver isso
como conquista, mas sim como exploração do povo
brasileiro.7

A criação do Banco do Brasil também é um dos elementos que aparece


nos desenhos produzidos pelos alunos, elemento esse que é problematizado no
relato da aluna:

A criação do primeiro banco do Banco do Brasil trouxe pontos


positivos e negativos para o Brasil, sendo que o banco servia
primeiramente para guardar as joias da Família Real, depois
foi utilizado para questões econômicas do povo brasileiro,
esse foi o meu entendimento sobre a criação do banco do
Brasil8.

Outros HQs (figuras 8 e 9) – esses com traços peculiares dos HQs


orientais, chamados mangás – foram produzidos retratando outra temática,
também trabalhada em sala de aula: os processos e acordos políticos que
culminam com a Independência, conforme reproduções abaixo:

19
7 8
8º ano A, 13 anos, sexo feminino.
Relato de aluna do 8º A, 13 anos.

Figura 7 – relações políticas

Figura 8 – Relações políticas II

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Houve, ainda, HQs que buscaram retratar os elementos sociais do
período analisado seja representando as condições de moradia dos negros no
período Imperial (figura 10), seja apresentando informações sobre o papel
importante para a História de artistas, como Debret:

Figura 9 – Condições sociais dos negros no Brasil

21
Figura 10 – A importância de Debret

Momento interessante se deu com o diálogo com algumas


representações da obra de Debret durante as aulas – obras indicadas pelo livro
didático (PELLEGRINI; DIAS; GRINGERB, 2015). Nas obras do artista, ficam em
evidências aspectos da vida social do passado histórico do Brasil, pontos
problematizados pelos próprios alunos, conforme relato:

(...) vimos nas imagens de Debret que naquele tempo a


desigualdade reinava, porque naquele tempo as pessoas
humilhavam uma as outras simplesmente por classe social,
gênero, raça ou até mesmo por religião e vestimenta. A

22
desigualdade daquele tempo era mostrada até em um simples
jantar, como mostra nas pinturas do artista5.

A observação e análise das reproduções das obras de Debret mostraram


eficiência no que se refere à reflexão dos alunos sobre elementos que
constituíam a sociedade do Brasil Imperial. De acordo com relatório escrito por
um aluno do sexo masculino, 13 anos, do 8º ano A, através das pinturas do artista
é possível “entender melhor o papel do homem na sociedade, a questão do
machismo que até hoje sofremos. Também vemos a situação dos escravos,
como viviam e como eram tratados”.
Nesse sentido, é possível compreender que não somente as HQs, mas
também outros recursos visuais – caso das reproduções de Debret – mostramse
como recursos interessantes e capazes de despertar nos alunos a compreensão
mais ampla e reflexiva sobre aspectos que circundam os acontecimentos
históricos.
Através desses recursos, o contexto social, por exemplo, torna-se mais
evidente para a compreensão dos alunos, fato que se reflete pela mobilização
desse tema – a participação do Debret – em algumas das HQs produzidas pelos
alunos.
Após a conclusão do trabalho criativo dos alunos, as HQs foram expostas
para toda a comunidade escolar em forma de mural, conforme imagem abaixo:

5 Aluna do 8ºA, 13 anos.

23
Figura 11 – Mural de exposição

24
Figura 11 – Exposição II

Durante todo o processo de implementação do projeto, percebemos a


efetividade da utilização das HQs como recurso para o ensino de História,
principalmente no que se refere à sensibilização dos alunos para os temas, bem
como à criticidade sobre os assuntos abordados pedagogicamente.
De uma maneira geral, as atividades propostas obtiveram grande
aceitação dos alunos. Os alunos participaram mais ativamente da aulas,
mostraram-se mais interessados e curiosos. Outro fator positivo foi a experiência
do trabalho coletivo tanto na confecção de relatório sobre as atividades, quanto
na produção das HQs.
Nos questionários individuais, uma das alunas afirmou ter sido importante
participar do projeto pelo fato de ter possibilitado maior interação com a turma
nos momentos de conversas e nas produções de relatórios e desenhos.

Em relação aos quadrinhos, acho que todos os professores


poderiam usar esse recurso em suas aulas, isso ficou
marcado para mim enquanto aluna. As aulas foram atrativas,
dinâmicas, motivadoras, práticas e divertidas, (...). Aprendi
coisas que só com os livros e aulas tradicionais não teria
aprendido, e ao mesmo tempo que (sic) estudamos sobre o
25
Brasil há anos atrás, sempre falávamos sobre a realidade,
para que possamos entender as origens da nossa história.
Todo o material usado nas aulas como os quadrinhos,
imagens, textos, desenhos, apresentações, filmes, nos
mostrou que existem várias maneiras de aprender e
compreender a história de maneira que não se torne as aulas
chatas e desanimadoras. 6

A percepção é de o Ensino de História aliado aos recursos das HQs são


benéficas para o compartilhamento de conteúdos e, principalmente, para o
desenvolvimento crítico e intelectual dos estudantes nos anos finais do Ensino
Fundamental. O interesse dos alunos, ainda, demonstra a importância da
utilização de linguagens diferenciadas no processo de ensino aprendizagem. A
utilização das HQs como recurso didático eficiente também foi percebido pelos
professores participantes do GTR realizado sobre o trabalho desenvolvido. Em
relato produzido pelos professores é possível identificar o interesse pelo recurso,
principalmente pelo fato das HQs contribuírem para superar um dos grandes
problemas do ensino-aprendizagem de História: a compreensão de contextos
históricos e a reflexão crítica.

Os quadrinhos podem ser trabalhados para uma melhor


compreensão em relação a fonte histórica, levando ao
questionamento do passado e sua relação com o presente,
bem como tendo em vista a intenção de quem idealizou,
realizou, publicou, enfim, participou do processo produtivo
da história em quadrinho.7

Outra percepção relatada pelos professores é a de que a utilização das


HQs como recurso didático – embora seja entusiasmante – é, também,
desafiador. Para isso, afirma o relato, “É importante que o professor tenha
familiaridade com os quadrinhos que irá utilizar para que não se perca na
dinâmica da aula”12, ponto problematizador e profícuo para reflexão também no
que diz respeito ao professor como mediador desse tipo de recurso didático.

6 Aluna 8ºA, 13 anos.


7 12
Relato de professor participante do GTR
Idem.

26
4 CONCLUSÃO

Os desafios que interpelam o ensino-aprendizagem dos conteúdos da


disciplina de História nos anos finais do Ensino Fundamental são diversos.
Diversos também devem ser os mecanismos mobilizados na tentativa diária de
superar esses obstáculos a fim de atingir o objetivo que, para nós professores,
deve se postar como primordial: o de incentivar o desenvolvimento intelectual e
crítico dos alunos.
Introduzir outros materiais pedagógicos em sala de aula ainda é um
passo difícil a ser dado – embora fundamental. Em primeira instância, a
dificuldade se mostra pela não familiaridade diária dos alunos diante de
metodologias ditas ‘não tradicionais’ para a realidade das Escolas Públicas do
Paraná. Outro ponto a ser superado – e nossa tentativa aqui caminhou também
nesse sentido – é a dificuldade dos próprios professores em operar esses
materiais de maneira a tirar-lhes a maior eficácia possível.
No relato obtido ao final do GTR aplicado aos professores da rede
estadual de ensino como parte integrante do trabalho desenvolvido pelo PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional), podemos compreender o tom
desafiador que o uso das HQs, por exemplo, ainda possui.
Elemento citado como fundamental ao professor é sua familiaridade com
os quadrinhos, quadro ainda não completamente superado, mas que buscamos
colaborar apresentando outras perspectivas e aplicabilidades no trabalho aqui
desenvolvido.
Para cada desafio, é preciso também concluir, houve um bom resultado
obtido. Percebemos que a experiência de introdução das HQs como recurso
auxiliar de ensino-aprendizagem para os conteúdos de História mostrou-se como
uma possibilidade positiva e integradora. A percepção é de que a experiência é
benéfica à grande maioria dos alunos na medida em que incentiva o diálogo, a
formulação de ideias, a comunicação e a produção criativa.
Os alunos mostraram interesse pela proposta e pelo desenvolvimento de
todas as atividades, também a motivação foi percebida constantemente. Outro
ponto interessante é notar que ganhamos a atenção do aluno quando esses

27
percebem que nós, como professores, também precisamos estudar o material e
o conteúdo para o bom desenvolvimento da atividade.
Perguntados sobre o parecer dos alunos sobre esse tipo de atividade, o
que obtivemos foram respostas positivas, as quais estão aqui relacionadas:

Trabalhar com história em quadrinhos é muito interessante,


quando trabalhamos somente com textos as aulas não têm
graça, as imagens fazem a gente entender melhor o
significado do texto. As imagens nos trazem uma explicação
melhor, uma simples imagem vale mais que mil palavras.

A apreciação positiva também se deu em decorrência da possibilidade


dos próprios alunos reproduzirem em quadrinhos o conteúdo trabalhado:

Representar uma história em quadrinhos através de desenhos


é incrível, fazer a arte em forma de desenhos não tem
explicação é algo que você pode expressar sua imaginação
de uma forma diferente. Várias pessoas têm dificuldades em
ler e escrever, mais(sic) quando elas se expressam em
desenhos é chocante.

Ponto positivo também quando se trata da integração entre alunos e o


diálogo entre conteúdo histórico e a produção de sentidos dos alunos:

(...) o aluno aprende melhor e participa mais das aulas, e com


outros colegas. Também através das cores e dos balões e
imagens que mostra outra forma de entender a história. E
refletir melhor sobre os acontecimentos do Brasil Império que
antes não me sentia interessada. Quando somente lemos o
texto ou a história não é tão emocionante, quanto ver os
desenhos e imagens, e ficar imaginando como aconteceu. Já
com os quadrinhos é como se você presenciasse o que
aconteceu na história

Explanadas as dificuldades prévias, bem como os resultados positivos


alcançados, podemos apresentar conclusões de duas espécies: aquelas que
confirmam a necessidade de pesquisas constantes e colaborativas a respeito do
uso de outras fontes históricas no ensino aprendizado da disciplina de História
28
nos anos finais do Ensino Fundamental, como forma de incentivo e também de
atualização dos métodos e ferramentas. E ainda aquelas que corroboram com a
afirmativa de serem as HQs excelentes materiais pedagógicos – quando bem
elaborada e bem trabalhada aliada ao conteúdo do livro didático– para o ensino,
além de possuir importante elemento na formação dos alunos, o de incentivar a
leitura e a criticidade.

Para tanto, esperamos ter contribuído no acréscimo de experiências


pedagógicas e pesquisa bibliográfica dessa natureza, enfatizando os resultados
benéficos para o ensino-aprendizagem de História que o recurso das HQs
oferecem.

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