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Resumo
Introdução
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Graduando em História pela UFPI.
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Assim como Fontineles postula que o escopo de sua obra é averiguar em que medida
o emprego de linguagens lúdicas na práxis do ensino de História pode propiciar uma postura
reflexiva nos educandos e embasar uma relação entre as configurações históricas e as suas
vidas dando as ferramentas para articular passado e presente. Procuramos refletir no texto
aqui exposto quais as implicações decorrentes da utilização de obras clássicas da literatura
distópica nas aulas de História e em que medida o uso de tais recursos facultaria o surgimento
do cenário adequado para que desabrolhe no educando uma consciência histórica e uma
criticidade aguçada.
Para tal, evocaremos obras clássicas de literatura distópica com o propósito de
analisá-las e relacioná-las ao contexto do ensino de História: “1984”, de George Orwell;
“Fahrenheit 451”, de Ray Douglas Bradbury; “Laranja Mecânica”, de John Anthony Burgess
Wilson; e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Leonard Huxley. Buscaremos entendê-las,
relacioná-las entre si, traçar um paralelo entre elas e as horripilantes conjunturas sócio-
políticas que se instauram de tempos em tempos na nossa sociedade, reger esforços no sentido
de compreender a relevância de sua aplicação no ensino de História e sua eficácia na afinação
da criticidade dos indivíduos e no tocante a constitui-se uma barreira para perpetuação de
cíclicos frenesis tenebrosos.
nocivo componente das estratégias de manipulação, e esse novo fator tem propiciado o
surgimento de discursos que deslegitimam a produção acadêmica, ampla disseminação de
notícias falsas e tendenciosas, fortalecimento de discursos retrógrados de ódio contra as
minorias, cassação de direitos pétreos, latente arbítrio do judiciário e uma grotesca ascensão
de governos com discursos autoritários ao poder e o mais alarmante é o apoio das massas
entorpecidas e alienadas pelas táticas de manipulação e pela “pós-verdade”.
Anualmente o departamento da Universidade de Oxford responsável pela elaboração
de dicionários elege a palavra do ano, a de 2016 é “pós-verdade”, a instituição define o termo
como um substantivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm
menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
É justamente nesse contexto de crescente relativização da verdade e consequentemente,
alienação coletiva, que se estabelece a umbrosa conjuntura sócio-política atual.
Essa tenebrosa onda que tem submergido não só culturas politicas tenras, mas
também culturas políticas, que salve algumas críticas, estão há muito tempo enraizadas no
solo da democracia, como exemplo Os Estados Unidos da América, está construindo um
cenário se assemelha demasiadamente ao enredo das clássicas obras de literatura distópica.
Decerto é assaz aterrador o paralelo que se pode traçar entre nossa atual condição e as
projeções mais pessimistas presentes nos clássicos da literatura distópica, desse modo o limiar
que separa nossa conjunção de uma obra distópica é tênue e seriamente frágil.
Essa intima relação que obtemos ao aferir nosso atual quadro politico com obras
literárias distópicas colossalmente negativas e indubitavelmente rebento de massivos esforços
no sentido de criação de mecanismos de manipulação que se intensificaram nos últimos anos
a fim alienar de forma efetiva as massas, e isso se torna agudamente descomplicado uma vez
que há um déficit nos indivíduos no tocante a uma consciência histórica e uma criticidade
aguçada.
Para a ascensão de discursos autoritários faz-se necessário a aniquilação da verdade
absoluta através do relativismo, para isso, as massas, vendadas pela falta de consciência
histórica e criticidade, são manipuladas.
A pavorosa ditadura que assolou o Brasil entre 1964 e 1985 não destonou do terrífico
enredo distópico dos governos autoritários, não regeu escrúpulos no sentido de gerar um
desmantelamento do ensino das Ciências Humanas, especialmente História e Geografia, e em
decorrência disso larapiar a consciência histórica e arquitetar uma barreira para o aguçamento
crítico dos indivíduos.
A nossa infeliz ditadura, bem como todo projeto autoritário, aparelhou o ensino para
servir apenas aos seus próprios interesses, que era a ascensão e a perpetuação do seu discurso
anedoticamente grotesco, para isso, retirou o a formação crítica fornecida pelas Ciências
Humanas, transformando a práxis educativa numa mera transmissão de um aglomerado de
conteúdos desconexos e vazios de significados concretos, tornando o gracioso ato de ensinar
em uma mera formação de indivíduos supérfluos para atender uma vil demanda
mercadológica. Ao afanar o viés humanitário do ensino de base, retira-se também a
capacidade cognitiva de refletir criticamente e a consciência humana e histórica, gerando
assim em larga escala indivíduos facilmente alienáveis, que são fundidos a grande massa
deforme e sem expressão sem grandes dificuldades, dessa forma, o palco propício para a
ascensão e perpetuação de discursos autoritários que beiram o jocoso entrecho de obras
literárias de distopia.
nessa “distopia” os fatos são irrelevantes. “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem
controla o presente, controla o passado.” (ORWELL, 2005).
carga muito grande de trabalho e raramente possuem uma visão de mundo para além desse
cotidiano, mas quando tem, seu objetivo é abolir a diferença existente entre as classes e criar
uma sociedade em que os homens sejam iguais. De tempos em tempos os Médios
conseguiriam o apoio dos Baixos e começariam uma revolução sob o pretexto de igualdade e
liberdade para tirar os altos do poder, logo após obterem êxito tratariam de colocar os Baixos
de volta no seu lugar, do ponto de vista dos baixos nenhuma mudança histórica ou revolução
teria significado mais do que uma mudança do nome dos seus senhores.
Dessa forma, entende-se que a obra de Orwell pode se configurar como um
instrumento impar para o ensino de história, pois ela consegue transmitir de forma lúdica as
mais horrendas formas de manipulação de governos autoritários, que se utilizam da
relativização e até mesmo da aniquilação da verdade para perpetuar sua dominação, a obra
também dá as bases do conceito de luta de classes de forma bem dinâmica, facilitando assim a
assimilação desse conceito importantíssimo pelos alunos.
Fahrenheit 451 de Ray Bradbury tem esse nome, pois essa é a temperatura de
combustão do papel, um dos pontos centrais dessa obra é o abando da leitura e da arte, seria
proibido ter livros em casa e se eles fossem encontrados seriam queimados. Nessa Obra em
todas as casas há um monitor de TV que interagem com as pessoas e ocupam quase todo o
tempo livre delas. A principal crítica do livro é sobre como a indústria cultural poderia
substituir a arte e a filosofia. Nesse cenário os bombeiros são responsáveis por incinerar os
livros, porém eles raramente precisam fazer isso, pois as pessoas sob efeito de alienação
decidira parar de ler. A obra de Bradbury daria sua contribuição para o ensino de história no
tocante a crítica que ela tece à indústria cultura alienante e ao assustador cenário que temos
visto ascender na nossa sociedade nos últimos tempos, onde os indivíduos têm abandonado
cada vez mais o habito da leitura e dedicam boa parte do seu dia a mídias sociais e coisas
supérfluas, assim a distopia de Bradbury crítica um crescente estado de imbecilidade coletiva.
O seu mundo não lhes permitia tomar as coisas ligeiramente, não lhes
permitia serem sãos de espírito, virtuosos, felizes. Com as suas mães e os seus
amantes, com as suas proibições, para as quais não estavam condicionados, com as
suas tentações e os seus remorsos solitários, com todas as suas doenças e a sua dor,
que os isolava infinitamente, com as suas incertezas e a sua pobreza, eram obrigados
a sentir violentamente as coisas. E, sentindo-as violentamente (violentamente e, o
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Mais ainda, a ruindade faz parte do ser, do eu, tanto em mim quanto em
vocês no odinoque, e este eu é feito por Bog, ou Deus, e é o seu grande orgulho e
radoste. Mas o não-ser não pode aceitar o mal, quer dizer, os do governo, os juízes e
os colégios não podem permitir o mal porque não podem permitir a individualidade.
E não é a nossa História moderna, meus irmãos, a história de bravas
individualidades malenques lutando contra essas máquinas enormes? Quanto a isto,
meus irmãos, eu estou falando com toda a seriedade. Mas, o que faço, faço porque
gosto. (BURGESS, 2004, p. 18)
Considerações Finais
capazes de propiciar nos indevidos um processo maiêutico de consciência histórica por meio
da ativação da razão sensível e aguçamento da criticidade, e dão as bases para o entendimento
da história em suas diferentes manifestações e para uma correlação entre a história e a
vivencia.
Acreditamos que florescimento da criticidade através do ensino de História seria
facilitado pelo uso de clássicos da literatura distópica. Reconhecemos nas obras de literatura
distópica um imensurável agente propiciador dos meios necessários para se alcançar os fins
últimos do ensino de História, indivíduos críticos e com consciência histórica. Essa valorosa
contribuição que abonamos à literatura distópica deriva-se da sua assombrosa semelhança
com algumas conjunturas sócio-políticas que infelizmente são recorrentes em nossa
sociedade, dessa forma elas se constituem como importante instrumento na construção do
canário adequado para emergência nos indivíduos de uma criticidade aguçada e forjada no
suprassumo do pessimismo.
Dessa forma, entende-se que dado a fatídica e cômica consonância que muitas vezes
a realidade tem com certos enredos distópicos, a utilização de obras literárias de distopia
propiciaria um maior sucesso na práxis do ensino de História, responsável pela formação
crítica dos educandos. A inserção de tais obras no processo de ensino histórico teria como
resultado indivíduos inalienáveis, e consequentemente agiria como uma resistência à
perpetuação dessa brutal característica distópica de algumas conjunturas sócio-políticas, e
assim as distopias ficariam limitadas apenas a literatura.
REFERÊNCIAS
BURGESS Anthony. Laranja Mecânica: 2. ed. São Paulo: Editora Aleph, 2004.
BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451: 2. ed. São Paulo: Biblioteca Azul, 2012.
GUIMARÃES, Selva. Caminhos da História Ensinada. Ed. 11. São Paulo: Papirus, 1993.
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HUXLEY, Aldous Leonard. Admirável Mundo Novo: 22. ed. São Paulo: Biblioteca Azul,
2014.
HANCOCK, Jaime Rubio. Dicionário Oxford dedica sua palavra do ano, ‘pós-verdade’, a
Trump e Brexit. 2016. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2016/11/16/internacional/1479308638_931299.html>. Acesso
em: 10 nov. 2018.
ORWELL, George. 1984. 29ª ed. São Paulo: Ed. Companhia Editora Nacional, 2005.