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Resumo:
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo realizar um
mapeamento bibliográfico de trabalhos que relacionam tecnologia à educação musical publicados
nos anais de conferências e seminários mundiais promovidos pela International Society for Music
Education (ISME) de 2010 a 2018. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica integrativa
de publicações disponibilizadas no site do ISME, referentes aos últimos cinco encontros. Dado que os
documentos são digitais, a primeira fase da pesquisa consistiu na busca de todos os documentos,
utilizando as seguintes palavras-chave: educação online/a distância, blended learning, virtual, e-
learning, digital, m-learning, networking, media.
Encontramos 49 obras, cuja leitura e catalogação inicial resultaram nas seguintes categorias:
(1) criação, difusão e consumo musical no ciberespaço; (2) educação musical online e híbrida; (3)
conhecimento, habilidades e treinamento para o século XXI; (4) recursos tecnológicos para o ensino
e aprendizagem da música. Entre os principais resultados, destacamos a relação de algumas
plataformas digitais de ensino e aprendizagem de música com a sala de aula, a exploração das
mídias sociais no ensino de música, as experiências com cursos online, a exploração de recursos de
computação gráfica e o uso pedagógico de realidade virtual entre outros. É possível perceber que os
estudos aprimoram as discussões sobre tecnologia e educação musical, pois relacionam diversas
formas de relacionamento entre pessoas, tecnologias e música. No entanto, ainda há lacunas nos
estudos sobre o tema, como tecnologias assistivas para música e metodologias inovadoras, mostrando
que se trata de um campo dinâmico em constante transformação.
Introdução Este
trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo grupo de pesquisa Tecnologias e
Educação Musical (TEDUM), que teve como objetivo realizar um mapeamento bibliográfico a partir
dos trabalhos que conectam tecnologias e Educação Musical publicados nos anais de conferências e
seminários mundiais promovidos pelo Sociedade Internacional de Educação Musical (ISME). Para
esta pesquisa, foram considerados os trabalhos publicados entre os anos de 2010 e 2018.
A utilização do termo amplo tecnologias para se referir ao tema desta pesquisa parte do
entendimento de que ele engloba todos os conceitos e outros termos que foram o ponto de partida
desta pesquisa, a saber, ensino e aprendizagem online, ensino e aprendizagem de música a distância,
e aprendizado híbrido. Também se refere a termos mais gerais que
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Metodologia
Esta pesquisa tem como base metodológica a abordagem bibliográfica qualitativa. Nós
realizou uma revisão bibliográfica integrativa das publicações de congressos internacionais
de 2010 a 2018 disponibilizadas no site do ISME, considerando sua
atualizações até fevereiro de 2019. O método de revisão bibliográfica integrativa utilizado “visa
sintetizar os resultados obtidos a partir de pesquisas sobre um tema ou assunto, de forma
sistemática, ordenada e abrangente. Chama-se integrativa porque fornece informações mais amplas
sobre um assunto/problema, constituindo assim um corpo de conhecimento” (Ercole et al., 2014, p.
9). Segundo os autores Botelho et al. (2011, p. 127), essa abordagem “permite a inclusão de estudos
que adotam diversas metodologias”.
Consideramos um total de 1596 artigos disponíveis, incluindo artigos completos e resumos,
conforme tabela 1. O mapeamento teve o suporte e orientação metodológica definidos como “estado
da arte” (FERREIRA, 2002; ROMANOWKI & Ens, 2006), considerando o tema e buscando os
seguintes indicadores: educação online/ a distância, semipresencial aprendizagem, virtual, e-learning,
digital, m-learning, networking e mídia. Analisamos todos os eventos, comissões e processos
disponíveis no site da organização e identificamos 49 trabalhos (3,07% do total) relacionados ao
tema desta pesquisa. Os arquivos PDF desses textos foram salvos para leitura e análise.
Como pesquisa coletiva realizada pelo grupo TEDIUM, inicialmente foi necessário
elaborar uma tabela contendo cinco colunas: ano de publicação, autor(es),
1
Sempre que citarmos um texto em língua estrangeira, nossa tradução será utilizada neste trabalho.
2
No Brasil, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é responsável por
classificação da produção acadêmica. As notas começam como Qualis C (revista com pouca ou nenhuma agenda acadêmica), passando
passando por B5, B4, B3, B2, B1 até Quallis A2 e A1 (sendo os dois últimos periódicos de importância internacional
que atendem aos padrões acadêmicos internos).
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Conferência
Processos (WCP)
Educação do
Músico Profissional
(CEPROM)
2010 22 -
Política de música: Cultura,
Educação e mídia
(ISME-POLÍTICA)
2012 - 769
Sociedade Internacional
de Educação Musical (605 artigos, 54 rodadas
(ISME) mesas, 110
oficinas)
2012 ED ESPECIAL. 24 -
Comissão (ISME
RC)
2014 CEPROM 19 -
168
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2014 ED ESPECIAL. 16 -
2016 ISME-RC 28 -
(MISTEC)
2018 28 -
ISME - Procedimentos
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em vídeos tutoriais. Almqvists e Leijonhufvud (2018) discutem a relação entre música, cultura de
consumo de streaming e seres humanos, focando seu estudo no Spotify e seus usuários, o que pode
estar ligado a aspectos educacionais.
Waldron e Bayley (2012) exploram a forma como a música tradicional irlandesa é ensinada e
aprendida pelos participantes da Online Academy of Irish Music (OAIM) e apontam suas
relação com uma prática pedagógica digital, em particular o formato de vídeo. Enfatizam as
adaptações derivadas da pedagogia tradicional para a digital, por exemplo: o aluno pode reproduzir
o vídeo, perceber os detalhes dos dedos e do instrumento junto com o som; eles podem observar o
público assistindo ao vídeo, que pode ser muito diversificado, sendo composto tanto por músicos
iniciantes quanto avançados.
Em sua pesquisa, Kretchmer (2012) mediu a eficácia do ensino online
acrescentou ao contato presencial em um laboratório de piano e descobriu que as instruções
complementares online têm maior valor para os alunos em comparação com as reuniões presenciais.
Souza e Schramm (2012) relatam a experiência de oferecer ensino e aprendizagem de música para
pessoas de todas as idades em pequenas aldeias localizadas em regiões isoladas da Amazônia, no norte do Brasil,
ensino a distância e uso de materiais digitais.
Whitaker, Orman e Yarbrough (2016) observaram a percepção dos espectadores de um
vídeo de Educação Musical postado no YouTube e apontam que a fruição do vídeo diferiu entre quem
apenas assistiu e quem teve acesso aos comentários, o que influenciou as curtidas e desgostos dos
participantes da pesquisa. Suas pesquisas também apontam os aspectos não musicais, como o uso de
uma câmera aberta ou direcionada e a
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qualidade de gravação, o que influenciou as respostas dos telespectadores. Assim como Whitaker et al.,
(2016), já citados, os autores sugerem a possibilidade de desabilitar comentários ao pensar a produção de
tutoriais como mais um recurso para a prática dos professores de música.
Rickels (2016) analisa a recepção do feedback dos alunos por meio de vídeos em comparação com
aqueles que recebem apenas um feedback escrito. O estudo foi realizado em duas fases: na primeira fase,
observaram uma melhor melhora dos alunos que receberam um feedback por meio de vídeo. Na segunda, com
a expansão do estudo para várias universidades em diferentes contextos, não foi possível confirmar os
resultados anteriores.
Montague (2010; 2012) explora a jornada de aprendizagem a distância em uma escola
secundária por meio de uma pesquisa longitudinal ao longo de um período de cinco anos, enquanto Jones (2010) realiza
uma revisão de literatura, buscando contextualizar o estado atual dos estudos sobre educação musical
online como uma continuação do ensino superior americano.
Bechara (2014) discute a Educação Musical na era digital a partir do pressuposto de que
os jovens são “nativos”, sempre inseridos na cibercultura.
Nesse sentido, sua revisão de literatura mostra que os educadores estão preocupados em
desenvolver uma compreensão das relações entre os jovens, as novas mídias e a escola.
Rickels (2016) pretendia gravar uma videoaula feita por um professor em formação com
feedback de áudio e notas gráficas. O trabalho desenvolvido por Lima e Beyer (2010) apresenta uma
reflexão sobre a inclusão de novas tecnologias — termo utilizado pelos autores —
nas aulas de música realizadas na Faculdade de Aplicação da UFRGS (CAp), observando a música como
uma área de conhecimento conectada que estabelece relações com o mundo.
Hannan (2010) desenvolve o mesmo tema comentando sobre o estado da produção musical na
atualidade, quando se torna mais democrática através do uso de softwares como Garage Band e Reason,
possibilitando a produção sem a necessidade de banda, estúdio ou produtor musical. Apresenta autores
a favor e contra esta nova forma de produção musical e discute conceitos como faça-você-mesmo e prosumer.
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Embora esse tema soe como todo o propósito de nossa pesquisa — onde a tecnologia
no ensino de música é a tônica do mapeamento —, destacamos separadamente alguns trabalhos
que deslindam aspectos gerais da tecnologia presentes nas obras deste recorte. Em sua pesquisa,
Akuno (2016) manifesta o interesse de compreender quais funções a tecnologia pode trazer
positivamente para o ensino da música, utilizando teorias como o behaviorismo e o construtivismo
como base teórica.
Homburg (2010) compara dois tipos de instrução e seus efeitos nas respostas estéticas e
emocionais dos ouvintes por meio de um software denominado Interface Digital de Resposta Contínua
(CRDI). Este teste buscou entender qual a forma mais útil de estimular as pessoas que buscam tocar
um instrumento, analisando seu lado emocional/estético e auxiliando no melhor método de
aprendizagem. Além deste, existem outros trabalhos com temáticas diferentes, mas dentro de um
contexto semelhante, que giram em torno da relação do conhecimento tecnológico dos professores
com a sala de aula, e diversos softwares que auxiliam e complementam o ensino da música em suas
práticas.
Conclusões
Dentro do tema da tecnologia na Educação Musical, observamos alguns aspectos gerais que
perpassam as pesquisas encontradas em nosso mapeamento. Podemos citar a relação
entre algumas plataformas de ensino e aprendizagem de música digital e a sala de aula, a
exploração das redes sociais no ensino da música, experiências com cursos online, a exploração
de recursos de computação gráfica e o uso pedagógico de ambientes virtuais, entre outros. É
possível perceber que esses estudos avançam nas discussões sobre tecnologias e educação musical,
pois articulam várias formas de relação
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entre pessoas, tecnologias e música, indo além da visão das tecnologias como mero recurso de sala
de aula.
Encontramos também diversos trabalhos com foco no uso de softwares digitais, recursos
e ferramentas digitais. No entanto, não encontramos trabalhos sobre a criação/desenvolvimento de
soluções tecnológicas para a educação musical. Isso demonstra que ainda precisamos avançar na
produção de softwares e recursos que nos ajudem a melhorar. O campo da educação musical
poderia se aproximar ainda mais de áreas como informática e
programação, para que seja possível trabalhar em equipe e desenvolver soluções para os problemas
e limites dessas ferramentas existentes.
Nesta pesquisa, os trabalhos que tratam de metodologias inovadoras ainda se mostraram
ser frágil. Precisamos avançar nos estudos sobre o uso de metodologias ativas (sala de aula
invertida, aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem baseada em projetos) que nos ajudem
a entender o papel da tecnologia no ensino e aprendizagem da música. Podemos até ressignificar a
sala de aula, pois a aprendizagem pode ocorrer em outro tempo/espaço. Além disso, são poucos os
trabalhos sobre tecnologias assistivas e/ou o papel das tecnologias digitais no ensino de música para
pessoas com deficiência. Isso demonstra a necessidade de desenvolver estudos sobre esse tema.
Uma análise mais profunda do trabalho sobre “conhecimentos, treinamentos e habilidades desenvolvidas em
uso das tecnologias em sala de aula” pode nos dar uma noção mais ampla do papel das tecnologias
digitais, não só pensando em seu uso como recurso nas aulas de música, mas na forma como as pessoas
ouvem, consomem, produzem e tocam música de todos os avanços.
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