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Educação musical e formação através dos instrumentos de cordas

friccionadas.

A Educação Musical tem sido incluída e subtraída do currículo escolar


brasileiro a cada reforma educacional. Ora considerada como componente
curricular, ora como conteúdo vinculado ao ensino de Artes. Essa trajetória
passou por inúmeros impasses e ajustes voltando a ser pauta das discussões
de educadores musicais, em especial, a partir da criação da Associação
Brasileira de Educação Musical - ABEM.

Segundo Figueiredo, A Associação Brasileira de Ensino Musical – ABEM, teve


um grande papel de destaque nos debates e encaminhamentos articulando
em diversas etapas até a aprovação da lei. Ela surgiu na década de 90, com a
finalidade de integrar profissionais, promover e consolidar o pensamento
crítico através da realização de encontros, divulgação de trabalhos, pesquisa
e atualização de professores na área da educação musical.

Diversos educadores musicais como Fonterrada, Guimarães, Dias e outros,


relatam em seus artigos o desenrolar desta história. Contudo, por diversos
fatores, ainda que presente nos Referenciais Curriculares e nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, os conteúdos de Educação Musical ainda não estão
presentes no cotidiano das escolas.

Porém, surge um novo caminho com a promulgação da Lei 11.769/08,


sancionada em 18 de agosto de 2008, que altera a redação da Lei nº
9.394/96, dispondo que a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não
exclusivo, do componente curricular previsto no § 2º do artigo 26 da LDB de
1996. Abriu-se a possibilidade da universalização do acesso à Educação
Musical, enquanto bem cultural, a toda a população.

Há algum tempo a ABEM, vem se dedicando na busca de novos


conhecimentos e metodologias mais efetivas para o ensino de música, que
sejam capazes de atuar com maior eficácia na formação musical do aluno e
que esteja de acordo com o seu contexto sociocultural. Entre os modelos
pesquisados, destaca-se o ensino coletivo para cordas friccionadas.
No Brasil, nesta modalidade de ensino, sobressai a influência do
método Suzuki e a metodologia Jaffé introduzida pelo maestro Alberto Jaffé,
na década de 70 em várias cidades do país com o apoio de algumas
instituições como o SESI, SESC e FUNARTE.

É importante ressaltar que o método Suzuki é hoje um dos mais


difundidos no mundo para o ensino de instrumentos de cordas, trazendo a
ideia de que qualquer criança devidamente treinada pode desenvolver a
habilidade musical, da mesma forma que a habilidade de falar sua língua
materna é desenvolvida.

Para o professor Marco Antônio Silva – UFCA, Alberto Jaffé criou o


Método Jaffé de Ensino Coletivo de Cordas, que permite que os alunos
aprendam em pouco tempo, a posição dos instrumentos, como produzir som
de violino, viola, violoncelo e contrabaixo e tocar em conjunto lendo
partituras. Segundo o professor o método aposta na aprendizagem coletiva,
que ajuda a despertar mais interesse nos alunos, e na correção imediata dos
erros para evitar possíveis vícios.

Flavia Cruvinel, em artigo apresentado no ENECIM em 2008, “o Ensino


Coletivo de Instrumento Musical pode ser uma importante ferramenta para o
processo de socialização do ensino de musica, democratizando o acesso do
cidadão à formação musical”, fazendo com que um número maior de pessoas
possa se apropriar desse conhecimento.

As iniciativas mais expressivas das quais se tem registro o ensino


coletivo de cordas friccionadas, estão: Projeto Espiral, Guri, Acorde para as
Cordas, Ação Social Pela Música (João Pessoa), Neojiba (Bahia), Orquestra
Criança Cidadã (Pernambuco), PRIMA (Paraíba).

Dentre as Instituições de educação superior, que utilizam o método


coletivo para o ensino de cordas friccionadas, destaco a Universidade
Federal do Ceará- UFC - Fortaleza, UFC – Sobral e UFCA, que prepara o
discente para atuar como educador musical nos mais variados contextos.
Entre as disciplinas ofertadas, está a disciplina Prática de
Instrumentos de Cordas Friccionadas Graves, Pratica em Conjunto e a
Prática em Orquestra I e II, que funciona como braço de apoio para os futuros
docentes que podem ter nesta prática, uma vivência maior com a técnica do
instrumento e o aprimoramento do seu desempenho em conjunto com os
demais discentes, sob a regência de um professor com experiência
orquestral.

Apesar dos instrumentos friccionados de cordas graves, como o


violoncelo e o contrabaixo, não serem acessíveis às comunidades carentes
por terem um alto custo, sua participação efetiva no processo de socialização
do conhecimento musical nesses espaços é insuficiente. No entanto, em
lugares onde já existam esses instrumentos, são excelentes para o ensino
coletivo, podendo ser uma grande ferramenta para democratização do acesso à
música.

O Cariri possui um grande potencial artístico e oferece uma grande


motivação para a inclusão da Música dentro ou fora do ambiente formal. O
trabalho de musicalização através das cordas friccionadas na região decorre
da tradição do ensino da Rabeca. A Rabeca foi um dos primeiros
instrumentos melódico utilizado no forró, tendo-se notícias de sua utilização
desde a Idade Média. Instrumento de cordas de tom mais baixo que o do
violino, tendo um timbre fanhoso, tangido por um arco de crina ou sisal.
Porém, como em muitos lugares de nosso país, muitos rabequeiros
aprenderam o instrumento de forma autodidata, não possuindo assim,
formação técnica para este aprendizado. Isso tem feito com que muitos
desses músicos entusiastas, passem a frequentar o ensino superior,
ingressando no curso de licenciatura em música da UFCA.

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