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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP


ICH – Curso de psicologia / Campus Paraíso

Nome: Jéssica Izumi Bueno Nishimori


RA: N2728b-0
Semestre / Período: 10° semestre, noturno
Título da atividade: Série completa – Bates Motel
Data da realização: 21/10/2022

 Bates Motel – 2013.


 A serie fala sobre uma mãe e um filho que se mudam para uma cidade pequena a
fim de mudarem de vida e se reerguerem. Compram um hotel de beira de estrada,
contudo fatos estranhos começam a ocorrer.
 A serie aborda muito a relação de Norma e Norman, um relacionamento simbiótico,
disfuncional e estranho. Do enfoque em como a relação dos dois afeta todos os outros
relacionamentos, a ponto de um ter um sentimento de posso pelo outro. Além disso,
trabalha temas relacionados a saúde mental do protagonista, que se deteriora conforme
percebe que sua mãe está se afastando dele.
 Por meio da série, pode perceber como as relações familiares disfuncionais causam
grande impacto na constituição do sujeito. Winnicott (2000), discorre sobre a
importância do ambiente suficientemente bom na constituição e integração do
indivíduo e pela análise da série, podemos ver que Norman teve uma infância
extremamente conturbada, fato que lhe causou diversos problemas na vida adulta.
De uma mesma forma, o personagem passou por vivencias traumáticas durante
toda a vida, tal questão intensificou seus problemas psicológicos, até culminar na
morte da mãe e posterior despersonalização.
 A serie contribuiu para termos uma noção de como relações toxicas podem ser
prejudiciais. Mesmo sendo uma obra de ficção, demonstra a relação doentia entre
mãe e filho e como essas vivencias podem criar um monstro.
 WINNICOTT, D. W. Da pediatria a psicanálise: Obras escolhidas. Rio de Janeiro,
Imago, 2000.

BATES MOTEL

Motel bates é uma série que estreou em abril de 2013 e possui cinco
temporadas. Foi e baseada em um clássico do cinema de 1960, intitulado “Psicose”,
filme dirigido por Alfred Hitchcock. Aborda o tema de uma relação simbiótica entre
mãe e filho, narrando as implicações resultantes desse vínculo possessivo,
patológico e doentio.
A série nos apresenta Norma, uma mulher que acaba de se tornar viúva, seu
marido morreu em condições misteriosas, mas isso não a impede de seguir sua
vida.
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Junto de seu filho Norman de 17 anos, mudam-se para uma pequena cidade,
chamada White Pine Bay. Lá eles compram um antigo hotel caindo aos pedaços que
almejam reformar e reinaugurar.
Logo percebemos que Norma é uma mãe muito exigente e controladora que
trata o filho como criança, percebe-se que ela vê o garoto como sua posse, sendo
capaz de tudo por sua prole e contra quem ousar tirá-lo dela. Já Norman mostra-se
um garoto de personalidade permissiva e passiva que obedece a todos os
mandamentos de sua mãe sem contestar, afinal, ele nutre um profundo amor e
admiração pela genitora, que em sua visão apenas o protege dos perigos do mundo.
Durante a trama coisas estranhas começam a acontecer e todas se
relacionam ao antigo motel que pertence agora aos Bates. Norman faz tudo por sua
mãe, de ajudá-la a desovar um corpo a acobertar mentiras para manter seu sonho
de reerguer o hotel e a vida deles em segurança.
Ao mesmo tempo, o garoto percebe-se diferente, começa a olhar a mãe com
outros olhos, sua imagem sobre ela perpassa um extremo ao outro. Quando percebe
a possibilidade desta se relacionar com outro homem, sente ciúmes e um medo
aterrador de ser substituído por outro homem, tornando-se então obsessivo.
Concomitantemente, começa a ter desmaios acompanhados de perda de memória
que pioram progressivamente.
O personagem começa a achar que sua mãe é uma pessoa má, considera
ser ela a responsável por todos os eventos obscuros que vem ocorrendo na cidade,
principalmente as mortes. Sente-se influenciado, induzido, seduzido e incitado por
sua figura, vendo-se obrigado a detê-la. O desfecho não poderia ser pior, decide
matá-la e suicidar-se, porém seu plano não sai como o esperado e apenas sua mãe
morre.
Norman, ao se ver sozinho pela primeira vez na vida, percebe que quem
cometia os crimes era ele mesmo. Constata praticar tais crimes nos momentos em
que ocorriam as perdas de consciência. Sua mãe não lhe incitava a cometer os atos,
era o próprio personagem que imaginava isso, ao vestir-se com suas roupas.
Transtornado, ele decide rouba o corpo da mãe que estava enterrado e leva-o
para casa, onde tenta conservá-lo, passando então a assumir seu lugar, fingindo ser
ela, adotando sua personalidade em dualidade com a própria. Norman no auge de
sua loucura assume sua verdadeira persona delirante, transgressora e brutal.
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ANÁLISE
Podemos analisar diversos aspectos dessa obra sobre os olhos da
psicanálise, porém irei me ater a relação entre mãe e filho. Torna-se evidente que
Norma e Norman possuem uma estranha ligação, ultrapassando os limites e
beirando a uma simbiose.
Até certo ponto é natural que ocorra uma certa simbiose entre mãe-bebê. De
acordo com Mehler (1977), ao nascer, o bebê passa por algumas fases necessárias
para ocorrer o desenvolvimento psíquico normal. A autora denomina a fase que
abrange esse processo de simbiose de “fase de gratificação de necessidades”.
Desse modo, tal fase caracteriza-se por uma dependência absoluta por parte
do bebê e relativa da mãe, estando fusionados. Para Mehler (1975), a simbiose
torna-se patológica, quando não ocorre uma diferenciação entre o eu e o objeto, por
conta de uma falha no processo de desenvolvimento da individualização.
A relação entre Norma e Norman, vai muito além de nomes iguais, pois se
percebe que ambos são extremamente dependentes um do outro, o que pode
indicar que não ocorreu a ruptura necessária nessa fusão inicial. Com o decorrer da
série, torna-se possível observar que gradualmente os dois torna-se tão fusionados
que se tornam praticamente o mesmo self.
Outro pronto de interesse referente à ligação que existe entre eles, a
necessidade de contato, domínio e posse de ambos os lados, demonstra haver uma
relação de dependência mútua. Pode-se conceber que para os personagens um
torna-se a ramificação do outro, sem distinção de um eu e um não-eu. A respeito
desse fenômeno, Winnicott (2000) discursa referente a “interdependência mútua”
que ocorre na fase da preocupação primaria materna.
Tal fase inicia um pouco antes de o bebê nascer e permanece na fase de
dependência absoluta, permanecendo até a fase de dependência relativa. Nesta
primeira fase a mãe torna-se uma ramificação do filho, já que esse ainda não possui
consciência de uma realidade não-eu.
Freud (1924), postula sobre o complexo de Édipo, processo importante e
comum a todas as crianças ao atingirem a fase fálica. Caracteriza-se pelo
investimento libidinal dirigido a figura parental, nesse caso, o menino dirige sua libido
para a figura materna. Esse processo encontra uma dissolução quando a criança
percebe na figura paterna um rival, que disputa a atenção e o amor da mãe.
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Sentindo-se ameaçado pelo poderoso falo dominante, fantasia e teme ser castrado
(simbolicamente).
Esse temor faz com que a criança adentre ao complexo de castração,
entrando em fase de latência e desenvolvendo o superego ao final desse processo,
este no que lhe concerne é responsável pela internalização de regras, normas e
padrões.
Analisando a relação de Norma e Norman, percebemos que o complexo de
édipo não chegou a uma conclusão eficaz. Um dos fatores que comprova isso é que
o menino não tem uma noção definida de certo e errado. Além do fato de Norman ter
matado o próprio pai, assim como o mito grego, o que indica que ele não via no pai
uma figura de autoridade.
Winnicott (2000, p. 218-232), fala da importância do desenvolvimento
primitivo correlacionando “atrasos ou faltas na integração primaria predispões à
desintegração... ou quando fracassa algum tipo de defesa”. Com a morte da mãe,
Norman teve sua mente descolada da realidade, dissociando entre o real e o
imaginário. Dividindo-se em duas personalidades diferentes, que interagiam e se
contrapunham, a sua própria e a de Norma.
De certa forma, podemos considerar que além dessa ligação patológica com
a mãe, existe também uma obsessão em relação à Norma. A partir do momento que
Norman percebe que sua mãe está, de certo modo, se afastando, resolve matá-la,
pois teme perdê-la como objeto de amor e obsessão.
Após o ocorrido, percebe-se que ocorre o que Freud (1996), denomina de
cisão no ego do personagem, resultando na fragmentação de sua personalidade,
evidenciado quando ele percebe que todos os atos hediondos que havia cometido,
por influência da mãe, foram frutos de sua própria alucinação. Ao tomar consciência
disso, Norman assume seu lado psicótico, ocupando o lugar e a personalidade da
mãe, agindo como se nada tivesse acontecido, oscilando entre as duas
personalidades.
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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

FREUD, S. Conferências introdutórias à psicanálise (1916-1917). Obras


completas Vol.13. São Paulo: Companhia das letras, 3. ed., 2014.

MAHLER, M. O nascimento psicológico da criança: simbiose e individuação. Rio


de Janeiro: Zahar, 1977.

FREUD, S. O ego e o id e outros trabalhos. Ed. Standart Brasileira das Obras


Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1996.

WINNICOTT, D. W. Da pediatria a psicanálise: Obras escolhidas. Rio de Janeiro,


Imago, 2000.

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