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Disciplina: Questões Étnico-Raciais

Professora: Claudia Furlanetto

Aluno: Pedro Jardel da Silva Coppeti

RELATÓRIO DO FILME MOONLIGHT

Baseada na peça inédita “In Moonlight Black Boys Look Blue”  - que,
numa tradução livre significa “Sob a luz do luar, garotos negros parecem azuis” - de
Tarell Alvin McCraney, a história autobiográfica assinada também por Jenkins ganhou
diversos prêmios, dentre eles o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e o de Melhor Filme
em 2017.

Moonlight, sem sombra de dúvida, é um filme muito sensível. Barry


Jenkins explora de forma poética e sutil temas bastante discutidos na sociedade como a
personalidade e identidade, o vício, o bulliyng, a homossexualidade, mas sem criar
quaisquer polêmicas em cima desses tópicos.

O longa conta a história de Chiron. A trama mostra toda a saga de um


garoto negro, nascido na periferia de Miami, e sem nenhuma base familiar. É dividida
em três partes, em momentos distintos, passando pela infância, adolescência e fase
adulta.

Na infância, o pequeno Chiron cresce em um subúrbio barra-pesada


em Miami, nos Estados Unidos. Em meio à negligência de uma mãe viciada e às
ameaças de outros garotos, o menino encontra no traficante Juan a figura paterna com
quem passa a compartilhar a cumplicidade familiar que lhe falta em casa. Além de ter
que lidar com o constante bullying, o garoto precisa encarregar-se do vício de sua mãe,
Paula, cuja excelente interpretação ficou nas mãos da atriz Naomi Harris. Chama a
atenção a forma como Naomi conduz a personagem que se afunda cada vez mais nas
drogas, enquanto Little aguenta e, ao mesmo tempo, se afasta do ambiente hostil e sem
amor que é a sua casa. Aliás, em uma dessas corridas para lá e para cá é que Little
conhece Juan, papel de Mahershala Ali.

Destaca-se outro ponto alto e forte do filme que é a conexão


estabelecida entre o garoto e Juan, quando o traficante se aproxima aos poucos e com
muita paciência, já que o menino é de poucas palavras e emoções. Na trama, consoante
já referido, Juan representa a figura paterna que é ausente na vida de Little, enquanto
sua namorada Teresa (Janelle Monaé) oferece a atenção e o carinho que a mãe não dá.
Aliás, uma das cenas mais emocionantes, na opinião do signatário, é o diálogo de Little
e Juan sobre homossexualidade.

Já no segundo ato, período relativo à adolescência, Little não gosta de


apelidos e quer ser chamado pelo seu nome de batismo, Chiron, papel interpretado pelo
ator Ashton Sanders. Alguns aspectos em sua vida continuam o mesmo: sua mãe
continua afundada nas drogas e ele ainda permanece sendo alvo de bullying na escola,
sem sequer tomar qualquer atitude para refrear ou evitar isso. Também se vê Chiron
lidando com a perda de um dos personagens da trama e descobrindo mais sobre a sua
orientação sexual, sobre sua sexualidade, com a ajuda de seu amigo de infância Kevin
(Jharrel Jerome). No entanto, isso o enche de dúvidas, o que faz com que passe a andar
sempre sozinho pelos cantos, sendo que, até mesmo Kevin, um de seus poucos amigos,
acabe virando as costas para ele.

É do final do segundo para o terceiro ato que aparecem as


circunstâncias que levaram à mudança radical na vida de Chiron que, agora maior de
idade, passa a se chamar Black (Trevante Rhodes). Nesta fase adulta, Chiron tenta se
adaptar ao mundo bruto em que vive, mais por necessidade do que por inclinação ao
delito. Torna-se, então, frio e distante, a primeira vista, parecendo um homem de
sucesso, mas são suficientes alguns minutos de filmagem para poder se perceber que
esta impressão é equivocada. Nesse âmbito, são algumas circunstâncias que levam
Black a seguir o mesmo caminho de Juan: o tráfico de drogas. É dessa forma que o
personagem adquire o respeito dos outros e mais força, algo que ele não tinha quando na
infância e adolescência. Porém, o seu olhar vago e penetrante continua ali, dizendo
muito mais do que as palavras ditas.

De outro lado, no contexto em que está a viver, a aproximação dele


com sua mãe torna-se mais forte e amigável, já que agora é possível ajudá-la a enfrentar
o vício. O seu reencontro com Kevin (Andre Holland) é outro momento marcante do
filme e o diálogo final dos dois é de tamanha sensibilidade que não tem como não se
emocionar com essa cena. Fica claro que Little/Chiron/Black apresenta diferença em
alguns aspectos por fora, mas sua essência continua a mesma: o mesmo vazio, o mesmo
medo e a mesma dificuldade em expor quem ele é de verdade.

O filme explora um pouco mais a fundo papeis corriqueiros no mundo


do cinema, como o garoto que começa a entender sua sexualidade, o traficante - em
Moonlight é conhecido como Juan - que se torna uma espécie de mentor de Chiron, a
mãe viciada em crack, o amigo que talvez por medo, resolve ficar ao lado dos
agressores.

Assim, é possível dizer que um dos grandes méritos de Moonlight:


Sob a Luz do Luar, vencedor do Oscar de melhor filme em 2017, é a sutileza com que,
em sua aparente simplicidade, a obra oferece diversas camadas temáticas. Pode-se dizer,
com tranquilidade, que é um filme forte, cheio de pontos sociais bem complexos. A
atribulada jornada de Chiron permite múltiplos olhares sobre os assuntos abordados. O
contexto social é bem definido. Tem-se o garoto negro e pobre que frequenta a mesma
boca de fumo que sua mãe – enquanto Chiron busca a atenção do traficante, a mãe vai
atrás de drogas. Há também o rude ambiente escolar, que acaba limitando as opções de
futuro e conduz muitos jovens à delinquência.
É possível também observar o filme sob o filtro psicológico, no qual
Chiron se vê frequentemente rejeitado – na escola, na família –, enquanto tateia cheio de
inseguranças e receios o difícil e árduo caminho na busca por afeto. Além disso, a obra
permite o olhar sobre a sexualidade. De forma absolutamente delicada, o diretor Barry
Jenkins mostra como a busca de Chiron por uma identidade, nessa longa jornada de
autoconhecimento, está intrinsecamente relacionada à descoberta e à aceitação de sua
homossexualidade. “Quem é você, Chiron?”, é uma das perguntas que o protagonista
ouve sem saber o que responder.
Destarte, Moonlight brilha por ultrapassar o rótulo de filme sobre a
homossexualidade. Ele vai muito mais além. O contexto social áspero faz o interessante
contraste com a sensibilidade com que o filme relaciona descoberta pessoal, identidade,
exploração do bullying e, principalmente a orientação sexual, um dos pontos fortes da
trama. O filme não se preocupa em revelar como o personagem irá enfrentar tudo para
ser quem ele é. Pelo contrário, a história se desenvolve para mostrar como é viver em
uma sociedade que não é capaz de abrir espaço para as diferenças.

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