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ISSN eletrônico 2526-1487 Trabalho (En)Cena, 2018, 3(3), pp.

172-186
DOI: 10.20873/2526-1487V3N3

“MOONLIGHT – SOB A LUZ DO LUAR” e o sofrimento emocional de homossexuais

"MOONLIGHT - BAJO LA LUZ DE LA LUNA" y el sufrimiento emocional de


homosexuales
"MOONLIGHT - UNDER THE LIGHT OF THE MOON" and the emotional suffering of
homosexuals
"LUMIÈRE - SOUS LA LUMIÈRE DE LA LUNE" et la souffrance émotionnelle des
homosexuels

Marlos Coutinho Alves de Souza¹


Mestrando do Programa de Pós -graduação em Administração pela Universidade Federal Fluminense, MBA
em Gestão de Negócios e Marketing, Graduado em Farmácia. Foi docente em cursos como Administração,
Marketing, Gestão Hospitalar e Recursos Humanos. Experiência com Marketing para a Indústria Farmacêutica.
Atualmente atua como Business Controller na indústria alimentícia, Consultor e Instrutor de Educação
Corporativa e Gestão de Pessoas filiado à SBPNL, São Paulo/SP. Interessa-se por pesquisas no campo da
Diversidade sexual, Diversidade cultural, Gestão da Diversidade e Estudos Organizacionais.

Mariana Rambal di²


Mestranda do Programa de Pós -graduação em Administração pela Universidade Federal Fluminense, MBA em
Direitos Humanos. Graduada em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. Atualmente atua como
Psicóloga na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Saquarema/RJ. Interessa-se por pesquisas no campo
da Saúde no trabalho e Estudos Organizacionais.

Resumo

Este trabalho apresenta a análise do filme Moonlight – sob a luz do luar, do diretor Barry Jenkins,
centrado no sofrimento emocional e a difícil experiência de vida enfrentada pelo personagem Chiron,
um rapaz negro, homossexual e pobre, cuja vivência é representada por bullying, preconceito e
ausência de base familiar como pano de fundo. O personagem central da trama cresce em um violento
bairro de Miami, sob a influência de uma mãe usuária de drogas, um traficante local que o ensina
lições de vivência e a namorada do traficante que sempre o acolhe nos momentos mais difíceis. Chiron
precisa lidar com a hostilidade de seus amigos e familiares devido sua forma diferente de se comportar
em sociedade e a forma como enxerga o mundo. O rapaz cresce e durante sua adolescência é preso.
Após sair, torna-se também um traficante de drogas, porém, reencontra Kevin, um amigo de infância
que durante a trama, apresenta-o uma nova realidade, a homossexualidade. O filme demonstra a
dificuldade da sociedade em entender e aceitar a homossexualidade e o sofrimento emocional que esta
população está submetida quando seus espaços iniciais de vivência não são acolhedores.

Palavras-chave: Sofrimento emocional; LGBTI; Homossexualidade; Preconceito; Bullying.

Abstract

This work presents an analysis of the movie Moonlight, directed by director Barry Jenkins, focusing
on the emotional suffering and difficult life experience faced by the character Chiron, a black,
homosexual and poor boy whose experience is represented by bullying, prejudice and lack of family
background as a background. The central character of the plot grows in a violent neighborhood of
m.nf@outlook.com¹
marianarambaldi@hotmail.co m²
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Miami, under the influence of a mother using drugs, a local drug dealer who teaches him lessons of
experience and the girlfriend of the trafficker who always welcomes him in the most difficult
moments. Chiron must deal with the hostility of his friends and family because of his different way of
behaving in society and the way he sees the world. The boy grows up and during his adolescence is
arrested. After leaving, he also becomes a drug dealer, however, finds Kevin, a childhood friend who
during the plot, introduces him a new reality, homosexuality. The film demonstrates the difficulty of
society in understanding and accepting the homosexuality and emotional suffering that this population
is subjected to when their initial living spaces are not welcoming.

Key words: Emotional suffering; LGBTI; Homosexuality; Prejudice; Bullying.

Résumé

Ce document présente une analyse du film Moonlight - sous le clair de lune, Barry Jenkins, mis
l'accent sur la détresse émotionnelle et l'expérience de la vie difficile dans laquelle le caractère Chiron,
noir, homosexuel et pauvre garçon, dont l'expérience est représentée par l'intimidation, préjugés et
manque de contexte familial en tant qu'arrière-plan. Le personnage central de l'intrigue se développe
dans un quartier violent de Miami, sous l'influence d'une mère utilisateur de drogue, un revendeur
local qui enseigne des leçons de l'expérience et la petite amie du trafiquant qui reçoit toujours des
moments les plus difficiles. Chiron doit faire face à l'hostilité de ses amis et de sa famille en raison de
sa façon différente de se comporter dans la société et de la façon dont il voit le monde. Le garçon
grandit et pendant son adolescence est arrêté. Après son départ, il devient également un trafiquant de
drogue, mais trouve que Kevin, un ami d'enfance qui a participé à l'intrigue, lui présente une nouvelle
réalité, l'homosexualité. Le film montre la difficulté de la société à comprendre et à accepter
l'homosexualité et la souffrance émotionnelle auxquelles cette population est soumise lorsque ses
espaces de vie initiaux ne sont pas accueillants.

Mots-clés: Souffrance émotionnelle; LGBTI; Homosexualité; Préjugés; Intimidation.

Resumen

Este trabajo presenta el análisis de la película Moonlight - bajo la luz de la luna, del director Barry
Jenkins, centrado en el sufrimiento emocional y la difícil experiencia de vida enfrentada por el
personaje Chiron, un muchacho negro, homosexual y pobre, cuya vivencia está representada por
bullying, el prejuicio y la ausencia de base familiar como telón de fondo. El personaje central de la
trama crece en un violento barrio de Miami, bajo la influencia de una madre usuaria de drogas, un
traficante local que le enseña lecciones de vivencia y la novia del traficante que siempre lo acoge en
los momentos más difíciles. Chiron necesita lidiar con la hostilidad de sus amigos y familiares debido
a su forma diferente de comportarse en sociedad y la forma en que ve el mundo. El muchacho crece y
durante su adolescencia es arrestado. Después de salir, se convierte en un traficante de drogas, pero
reencuentra a Kevin, un amigo de infancia que durante la trama, lo presenta una nueva realidad, la
homosexualidad. La película demuestra la dificultad de la sociedad en entender y aceptar la
homosexualidad y el sufrimiento emocional al que esta población está sometida cuando sus espacios
iniciales de vivencia no son acogedores.

Palabras clave: Sufrimiento emocional; LGBTI; Homosexualidad; Preconcepto; Bullying.

MOONLIGHT - SOB A LUZ DO Filme lançado em 23 de


LUAR. Moonlight. Direção de Barry fevereiro de 2017 no EUA e de nome
Jenkins. EUA: A24 - Plan B original MOONLIGHT, estreado por
Entertainment, 2017. 111 min. Alex R. Hibbert, Ashton Sanders,
Legendado. Port. Trevante Rhodes, Mahersala Ali,
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Janelle Monáe, Naomie Harris, Andre desconhecido, onde cresce com a ajuda
Holland, Jharrel Jerome e Jaden Piner. e conselhos inspiradores do traficante
O roteiro do filme foi assinado pelo de drogas Juan e de sua namorada
roteirista Barry Jenkins. O roteiro do Teresa. O filme é dividido em três
filme é uma adaptação do texto In partes – I) Little, II) Chiron e III) Black
moonlight black boys look blue escrito – todas repletas de emoções do início ao
por Tarell Alvin McCraney, que por fim. Diante disso, a resenha acompanha
uma tradução popular pode ser a apresentação do filme e será norteada
entendido como “Sob a luz do luar em três etapas, contrastando com
todos os garotos negros parecem azuis”. referenciais LGBT, bullying e
Para escrever a peça,McCraney sofrimento emocional.
baseou-se em sua própria e difícil Na primeira parte, as cenas
experiência de vida enfrentada por ser denotam a infância de Chiron e o início
negro, homossexual e pobre. McCraney do relacionamento com Juan, o
cresceu em Miami, na região chamada traficante do bairro: Juan presencia
Liberty City onde o diretor Barry Chiron sofrer bullying e sendo
Jenkins também morou. Depois de perseguido por crianças maiores
conhecer o texto, mesmo sendo justamente pelo jeito diferente de
heterossexual, Jenkins se identificou perceber e vivenciar o mundo, dotado
com diversos aspectos da história, de maneira delicada e menos
adquirindo direitos para o cinema e masculinizado do que os demais
posteriormente convidou McCraney garotos. Chiron é encurralado em uma
para escrever a adaptação. casa usada para consumo de drogas, e
A película em questão foi a Juan o encontra. O rapaz permanece em
vencedora da maior premiação da silêncio durante um longo tempo.
cinematografia do mundo, recebendo o O menino não consegue
Oscar de melhor filme, o que não nos socializar com outras crianças porque é
soa como uma grande surpresa tamanha considerado mole e frequentemente é
a preocupação do roteirista em excluído das brincadeiras infantis,
transmitir emoção e realidade. O filme porém, sempre recebe a atenção de
gira em torno de Chiron, um garoto Kevin, um garoto aparentemente da
negro, homossexual e pobre residente mesma idade.
no bairro de Liberty City, Miami/EUA - Chiron frequentemente procura
filho de Paula, uma viciada, e de pai Juan para passar seus dias com o
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traficante que o ensina lições de vida. Teresa, a namorada do falecido


Uma parte muito importante da vivência traficante Juan frequentemente o recebe
ocorre quando Juan afirma que os em sua casa para que o mesmo pernoite
negros foram os primeiros habitantes do e tenha uma dignidade para dormir já
planeta Terra, e que “tem hora que você que sua mãe sempre o dispensa de casa
precisa decidir quem quer ser – não para que receba homens. A comunidade
deixe ninguém decidir isso por você”. hostiliza Chiron por frequentar a casa de
Frequentemente o rapaz chega em casa Teresa, e esta sempre lhe confere
e presencia sua mãe Paula em uso de dinheiro como forma de auxílio, porém
drogas ou recebendo homens em casa. sua mãe Paula rouba para consumo de
Em uma passagem marcante da crack. Chiron aparenta ter mais
primeira parte do filme, Paula discute momentos de tristeza em sua vida do
com Juan sobre o relacionamento dele que qualquer outra coisa, e raros são os
com o menino Chiron satirizando a momentos de felicidade, ocorridos
forma como o garoto anda, como age, e apenas quando encontra Kevin.
explica que essa é a explicação do Em uma das cenas do filme,
menino sofrer bullying dos amigos na Chiron consome maconha com Kevin
escola e na sociedade onde vivem. na praia, e eles se beijam. Neste
Na segunda parte do filme, momento, Kevin apresenta o mundo
Chiron aparenta ser um adolescente na homossexual a Chiron. O rapaz sequer
faixa de 16 a 18 anos e extremamente sabe lidar com esta nova situação ao
hostilizado em sua comunidade, onde demonstrar inexperiência e fragilidade
segue sofrendo com comportamentos emocional, pedindo desculpas a Kevin,
sociais violentos advindos de seus pares que diz: “Tá se desculpando do quê”?
na escola e, em consequência disso Chiron ainda precisa lidar com
recebe a atenção somente de seu amigo muitas situações adversas em sua
de infância Kevin. O adolescente adolescência, como o fato de encontrar
precisa lidar com o fato de morar em a mãe prostrada no sofá quando chega
um bairro dominado pelo tráfico, ter em casa, drogada e largada, com a
uma mãe que o expulsa de casa para se chantagem emocional de sua mãe, que o
prostituir em troca de pedras de crack, hostiliza através de dominação
ser pobre, não ter uma fonte de renda psicológica utilizando frases como
que o alimente. “Você não me ama mais, só ama a
Teresa”.
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Já Kevin relaciona-se muito bem reabilitação, e ela faz de tudo para que
com outros rapazes na escola, pois não é seu relacionamento e convivência com
uma pessoa estigmatizada. Porém, ele seja reestabelecido. Paula o
Chiron precisa lidar com mais uma questiona ter se tornado o gerente do
dificuldade que é o ataque físico que tráfico, e o filme parece mostrar que
sofre de Kevin na escola, quando um essa foi a única oportunidade
grupo de garotos estimula Kevin a bater encontrada por Chiron para viver e
no rapaz como consequência de um ato seguir em frente. Chiron resolve aceitar
de pressão psicológica. Chiron vê seu os pedidos de desculpas de sua mãe.
mundo ruir quando a única pessoa em Kevin liga para Chiron que
quem confiava agride-o fisicamente. E mostra surpresa ao receber o telefonema
como em um grande ato de revolta, do amigo de infância. Este o convida
Chiron ataca o rapaz, amigo de Kevin, para visitar seu trabalho, uma cafeteria
que planejou o ataque a ele. Neste no subúrbio de Miami onde trabalha
momento, o filme mostra que algo como cozinheiro. Kevin ainda aprende a
muda dentro do coração de Chiron, que lidar com uma nova conformação de
vai preso ainda antes de completar a vida: uma liberdade condicional por
maior idade. besteiras feitas na vida, um filho
Na terceira e última parte, pequeno e responsabilidades de adulto.
Chiron sai da cadeia e assume o tráfico Chiron decide visitar Kevin na
na cidade de Atlanta, estado da Geórgia, cafeteria, e o agora reabilitado parece
local onde fica preso por 10 anos. O muito surpreso ao vê-lo tão diferente:
agora homem coloca em prática todas as fisicamente forte, usando dentadura e
influências que recebeu de Juan em sua cordões de ouro, andando em um carro
infância, e exprime os mesmos caro, frutos da influência do tráfico de
comportamentos e referências. Chiron drogas e da nova conformação de vida
frequentemente recebe ligações de de Chiron. Kevin cozinha um jantar
Paula, sua mãe, que após 10 anos segue para seu visitante, que bebem vinho, e
internada em uma clínica de reabilitação durante diversos assuntos, Chiron
por uso de drogas. O agora adulto tem questiona Kevin sobre o motivo de sua
problemas para dormir, o que sinaliza ligação telefônica. Este responde que
ser um problema psicológico. havia recebido a visita de outro homem
Em uma das cenas do filme, na cafeteria, este que colocou uma
Chiron visita Paula na clínica de música romântica no jukebox, fazendo-
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o recordar de como são mais do que se deve seguir. Para algumas


amigos de infância. sociedades, há uma complexidade em
O filme termina com Chiron e “assumir-se” gay dentro de uma família
Kevin ao sair da cafeteria após o que possui, em sua constituição, os
estabelecimento fechar e seguem para a mesmos elementos sociais homofóbicos
casa do morador de Miami. Lá, a da sociedade. Desta forma, inicia-se
conversa denota que Kevin ainda se assim o enfraquecimento das dimensões
interessa por Chiron, e que está aberto a físicas e psíquicas como sujeito,
recomeçar sua vida, dessa vez somadas à ausência de entendimento e
escolhendo seus caminhos. Chiron vulnerabilidade por parte da sociedade
declara abertamente que Kevin foi o (Mott, 2009; Scisleski, 2014).
único homem que tocou nele em toda a Quando a violência física ou
sua vida. Um clima amistoso ocorre no psicológica contra uma pessoa de forma
fim do filme, mostrando cenas da intencional ou repetida é algo
infância de Chiron. recorrente, é caraterizada de bullying.
Este é um comportamento que não se
Contextualizando o filme trata de forma esporádica ou de apenas
brincadeiras de crianças, é um
O filme é dividido em três partes fenômeno que se dá no ambiente escolar
que demonstram as fases da vida de ou social, de forma violenta e que
Chiron durante sua infância, propicia uma vida de sofrimentos ou
adolescência e vivência adulta. A conformismos. As consequências
película denota produções sociais que propiciam danos físicos, morais e
demarcam sobre a realidade sobre o que materiais manifestados através de
é ser negro e gay em uma sociedade insultos, apelidos cruéis ou gozações
excludente e de padrões de normalidade que magoam, ameaças, acusações
tão rigidamente estabelecidos. injustas, hostilização por grupos que
A primeira parte do filme levam a vida de muitos à exclusão
demonstra o processo de bullying que o (Azeredo, Miranda & Souza, 2012;
personagem sofre em sua sociedade e na Fante, 2002).
escola. Na sociedade que se vive O bullying pode ocorrer direta
atualmente é imposta desde a infância ou indiretamente - O bullying direto é
modelos de gênero e raça que traçam caracterizado por ameaças, agressões
um caminho tido como natural do qual físicas, apelidos, furtos ou toda ação que
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provoca mal estar nas vítimas; o LGBTI1 se encontra mais inclinada ao


bullying indireto é praticado através do sofrimento por violência, acumulando
isolamento. As vítimas são escolhidas em si também as violências com raízes
por sua diferença física, nas questões de gênero e de classe. Essa
comportamental ou emocional. sobreposição acarreta não só em
Expostas a estas agressões, a vítima diferenças qualitativas em relação às
desenvolve transtornos como baixa bandeiras levantadas e a levantar, como
autoestima, depressão, pensamentos também por uma dinâmica que envolve
suicidas ou violência a outros (Lopes mais de uma – senão várias estruturas
Neto, 2005). Observa-se com isso que a de marginalização, como por exemplo o
mãe de Chiron não estabelece relação distanciamento das políticas públicas.
de afeto e diálogo com o filho, apesar A psicossociologia demonstra
de ter conhecimento de sua vida, que há dois imaginários prevalentes e
caracterizado por bullying indireto. que são indissociáveis: o da excelência
Assim como no filme, a aparente e o da inutilidade. Enquanto o
aceitação dos adultos, a falta de apoio imaginário da excelência enfatiza os
familiar no momento em que o valores de poder, carreira e de
adolescente sofre com comportamentos qualificação social, o outro lado da
sociais destrutivos somados à moeda, é a inutilidade que indica como
impunidade contribui para perpetuação centrais valores de fracasso, falta de
da prática do bullying (Lopes Neto, inserção e desqualificação. Este é o
2005; Miskolci, 2010). lugar da exclusão social, onde se
Contrária a esta realidade, a inserem os inúteis do campo social
escola pode ser um espaço potente de (Carreteiro, 2003). No grupo de sujeitos
pensamentos e caminhos diferentes, do imaginário da inutilidade, dos
colocados em prática por alunos e indivíduos inúteis, a experiência do
professores, objetivando ações que
desconstruam olhares heteronormativos, ³LGBTI é o termo que designa pessoas de
pois toda relação de poder que apresenta orientação homossexual, denominadas
a liberdade, é capaz de gerar atos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis,

resistência (Foucault, 2014). transexuais, transgêneros e intersexuais. Os


autores escolheram utilizar a sigla LGBTI
Na segunda parte do filme, o
como forma de visibilizar a população
personagem é submetido a mais formas
intersexual.
de opressão. A população negra
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sofrimento social, representada pela deixa claro o sofrimento emocional


humilhação, vergonha e falta de experimentado. Obviamente este
reconhecimento, se faz presente. É nas sofrimento é vivido na adolescência do
categorias mais subalternizadas que personagem e acompanhado por
estão as situações mais intensas de situações de humilhação, vergonha,
humilhação, depreciação e depreciação, em sua comunidade, por
desqualificação de códigos ser diferente de seus colegas que vivem
socioculturais que produzem sentimento uma cultura heteronormativa. Já na fase
de vergonha. Para Carreteiro (2003) a adulta, o personagem experimenta o
hipótese que se coloca é que “este sofrimento da invisibilidade da cultura
sofrimento não tem visibilidade; ele se LGBTI, e subjetivamente percebe-se
inscreve no interior das subjetividades que o mesmo assume o papel de homem
sem, no entanto, ser compartilhado masculino heteronormativos como
coletivamente”. forma de autoproteção social, seja na
Já para Pusseti e Brazzabeni comunidade onde vive, ou seja em sua
(2011), o sofrimento social resulta de atividade laboral, como traficante de
uma violência cometida pela própria drogas, haja vista que determinadas
estrutura social e não por um indivíduo atividades laborais exigem uma postura
ou grupo que dela faz parte: o conceito masculinizada, segundo a cultura
refere-se aos efeitos nocivos das heteronormativa.
relações desiguais de poder que Algumas pessoas estão mais
caracterizam a organização social. O inclinadas à probabilidade de conhecer
sofrimento social é o resultado, em o sofrimento social, fenômeno que
outras palavras, da limitação da provoca marcas psíquicas com pouca ou
capacidade de ação dos sujeitos e é nenhuma visibilidade social,
através da análise das biografias dos manifestada pela vergonha, humilhação
sujeitos que podemos compreender o ou falta de reconhecimento, conforme
impacte da violência estrutural no proposto anteriormente. Este sofrimento
âmbito da experiência quotidiana. social manifesta-se em categorias
A afirmação proposta por subalternizadas, a exemplo do segmento
Carreteiro (2003) e por Pusseti e LGBTI, segundo Carreteiro (2003).
Brazzabeni (2011) vão de encontro à Diante da ótica da psicossociologia, os
realidade vivida pelo personagem homossexuais e todo o segmento
Chiron. Em diversas passagens, o filme LGBTI da sociedade está sob efeito das
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humilhações implícitas, que são sutis, normais2 preveem as categorias e os


deixam traços apenas no psicológico atributos de um estranho que se
dos sujeitos, sem traços corporais, que aproxima. Essas preconcepções
também se manifesta através da elaboradas pelos normais, são
homofobia. transformadas em “expectativas
A homofobia é um fenômeno normativas, em exigências apresentadas
plural e faz referência a um conjunto de de modo rigoroso” (Goffman, 1975:12).
emoções e comportamentos negativos Para Goffman “a sociedade estabelece
de uma pessoa ou grupo de pessoas em meios de categorizar pessoas e o total
relação aos homossexuais. É também de atributos considerados como comuns
um dispositivo de controle que reforça a e naturais para os membros de cada uma
ideia de naturalização da normalidade dessas categorias”.
relacionada à orientação heterossexual. Goffman (1975) categoriza que
Manifesta-se nas relações sociais por o estigma pode ocorrer por três
meio de agressões físicas, verbais, circunstâncias: abominações do corpo,
psicológicas e sexuais, associada aos como as diversas deformidades físicas;
sintomas psicopatológicos e culpas de caráter individual, como:
sentimentos negativos, provocando vontade fraca, desonestidade, crenças
medo, incômodo, ódio, repúdio, mas falsas; e estigmas tribais de raça, nação
também em relação ao preconceito, à e religião que podem ser transmitidos
discriminação e à violência contra pela linguagem. Em todas essas
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, tipologias pode-se encontrar a mesma
transexuais e transgêneros (Natareli et característica sociológica: “um
al., 2015). indivíduo que poderia ser facilmente
Disfarçada na homofobia, está a recebido na relação social quotidiana
estigmatização. O conceito de estigma possui um traço que se pode impor
proposto por Erving Goffman é atenção e afastar aqueles que ele
atravessado pela abstração da presença encontra, destruindo a possibilidade de
física entre os estigmatizados e os atenção para outros atributos seus”.
normais, ou seja, o conceito apresentado Sendo assim, a teoria da estigmatização
remete à ideia da presença corporal proposta por Goffman atinge o
entre tais grupos. Assim, as pessoas
4 Termo definido por Goffman como aqueles
que estigmatizam.
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personagem Chiron em momentos em forma silenciosa, que ganha visibilidade


que ele sofre pelo estigma gerado por como uma população de mártires de
sua mãe quando o acusa de ser fraco, uma sociedade que sacraliza a miséria,
por seus amigos quando o negligenciam ou como ameaça aos cidadãos que têm
e dizem ser diferente dos demais seus direitos assegurados e efetivados.
meninos. No entanto, antes de produzir um
A terceira parte do filme infrator, identifica-se a formação de
demonstra o caminho percorrido pelo jovens que vivem em situação de
personagem já adulto quando assume o violação de direitos e protagonistas de
tráfico de drogas de uma grande cidade uma relação de abandono (Soares,
americana. A realidade social 2006).
experimentado pelo sujeito em sua Em 2016, foi publicado o Dossiê
infância e adolescência demonstra que o da Violência contra a população negra
único caminho ofertado ao personagem LGBTI. De acordo com o Mapa da
obviamente é o do tráfico de drogas e Violência elaborado pela Faculdade
violência. Latino-Americana de Ciências Sociais
A sociedade evidencia em seus (2016), morrem por armas de fogo no
discursos a causa da criminalidade, ora Brasil 2,6 mais pessoas negras do que
devido à inexistência de uma base brancas. Enquanto, entre os anos de
familiar sólida ou estruturada, que seria 2003 e 2014, a taxa de homicídios por
incapaz de transmitir valores aceitos armas de fogo cai 27,1% para pessoas
pela sociedade vigente, ora por uma brancas, a mesma aumentou para
aptidão natural do próprio caráter. No pessoas negras em 9,9%.
caso da infância e da juventude postula- Enquanto o número de vítimas
se que tal população é criminosa devido jovens brancas cai em 32,3%, o número
à própria natureza, como algo inato, de vítimas jovens negras aumenta em
parte de sua essência individual, ou 32,4%, conforme o Mapa da Violência:
ainda enquanto uma inadequação do Os jovens do Brasil de Julio Waiselfisz
jovem que, desse modo, precisa ser (2014). Enquanto isso, também a
disciplinado para adequar-se à população LGBTI sofre diversas formas
sociedade (Scisleski, 2012). de violência que sequer são mapeadas
Assim, observa-se uma produção pelo Estado Brasileiro, como o caso de
social que atribui a criminalidade violências sexuais, psicológicas,
juvenil à pobreza e a violência, de patrimonial ou moral, que se inserem no
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artigo 7° da Lei 11.340/2006, que cria diferenças e desigualdades existentes


mecanismos para coibir a violência entre as pessoas (Natareli et al., 2015).
doméstica contra a mulher brasileira, Segundo a Comissão
mas que poderia ser estendida à Interamericana de Direitos Humanos,
população LGBTI que sofre são alarmantes os altos níveis de
vulnerabilidades semelhantes. discriminação, violência e sofrimento
Tanto o Dossiê da Violência contra as pessoas lésbicas, gays,
contra a população negra LGBTI, bissexuais e transgêneros
quanto o Mapa da violência: Os jovens afrodescendentes em toda a América,
do Brasil de Julio Waiselfisz vão de principalmente em países como Brasil,
encontro à realidade experimentada pelo Colômbia, Nicarágua e Estados Unidos.
personagem central do filme, Chiron. Nos países Caribenhos de língua
Apesar do filme não evidenciar mortes inglesa, locais onde a presença negra é
por armas de fogo contra a população mais intensa, a situação é mais
LGBTI, diversas são as pesquisas em complexa e sutil. A Comissão observa
volta do mundo que relacionam que quanto mais escura o tom de pele da
ambientes que possuem um baixo nível pessoa, menos oportunidades existem
de estrutura familiar à criminalidade. para desenvolvimento pessoal e
Inclusive, o filme demonstra claramente econômico, refletindo o impacto do
que, o ambiente onde Chiron vivenciou legado colonial. Levando isso em
durante sua infância e adolescência o consideração, as pessoas de ascendência
influenciou como estratégia de africana com orientações e identidades
sobrevivência a adentrar o tráfico de de gênero não normativas podem
drogas como oportunidade de enfrentar atos de violência e
sobrevivência. Assim, a violência discriminação com base em sua raça,
enquanto um complexo processo etnia, gênero, sexo, orientação sexual,
relacionada à dinâmica social, afeta a identidade de gênero, cor da pele ou
integridade física, moral, mental ou situação de pobreza, perpetrada tanto
espiritual das pessoas. É um fenômeno por pessoas que não são descendentes
multicausal, na medida em que se de africanos quanto por aqueles que são.
relaciona à evolução da civilização e Ainda segundo a Comissão
aos instintos de sobrevivência, bem Interamericana de Direitos Humanos,
como pode assumir um caráter nos Estados Unidos, várias
eminentemente social, resultante das organizações relatam que pessoas
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LGBTI afrodescendentes sofrem altos Neste sentido, o trabalho


níveis de violência. Em particular, contribui para o avanço dos estudos do
mulheres transexuais de ascendência suicídio e da diversidade, debates
africana e, em geral, mulheres crescentes na grande massa da
transexuais de cor. Por exemplo, de população brasileira. O estudo demarca
acordo com a organização não um momento em que pesquisadores
governamental National Coalition of passam a olhar e investigar as relações
AntiViolence Programs (NCAVP), 55% de LGBTI (Eribon, 2008). Concluíram,
dos homicídios de lésbicas, gays, nesta pesquisa, que o suicídio é uma
bissexuais, travestis, transexuais e problemática de saúde pública e que a
transgêneros em 2014 foram de população de não heterossexuais precisa
mulheres transexuais, e 50% eram de de atenção nos espaços de atendimento,
mulheres transexuais de cor. Além assim como há a necessidade de
disso, 80% de todas as vítimas de abordagens específicas para prevenção e
homicídios de pessoas LGBTI em 2014 atenção que estão relacionadas a essa
eram pessoas de cor. conduta.
Em outros países, jovens O estresse das minorias vem
homossexuais têm mais chance de sendo associado a problemas adversos
praticarem o suicídio do que aqueles de saúde mental e integrantes LGBTI,
que se declaram heterossexuais, especialmente dentro da própria família
realidade esta que foi reproduzida no que não aceita o jovem. Comparado à
Brasil. Pesquisadores da Unesp famílias que aceitam, nas famílias que
buscaram uma associação entre não aceitam são identificados
tentativas de suicídio e orientação estressores que geram conflitos e tem
sexual em três municípios do interior de como resultado problemas sociais de
São Paulo, entre jovens de 12 a 20 anos origem psicológica como depressão,
de idade. Dentre o grupo de tentativas de suicídio, uso de drogas
adolescentes que se assumiram não lícitas e ilícitas, falta de diálogo e
heterossexuais, os mais vulneráveis que informação, engajamento em relações
foram identificados, são aqueles jovens sexuais desprotegidas. Além disso,
que se auto definiram como bissexuais, jovens declarados não heterossexuais
ou seja, aqueles que foram um grupo de apresentam discursos, opiniões e
pessoas menos assumidas (Teixeira- valores homofóbicos, sexistas e
filho et al, 2012). heterocentrados, o que revela que no
184

ambiente escolar, onde esses se um adulto responsável (ou o jovem


adolescentes estão inseridos, é precoce e violentamente tornado
carregado de posicionamentos e responsável pela sociedade) se
discursos discriminatórios, que estabeleça, se mantenha viva e em
influenciam em suas formações relação com as comunidades e
(Albuquerque et al, 2017; Teixeira-filho sociedade das quais faz parte.
et al, 2012). Tal afirmação vai de Diante disso percebe-se que o
encontro à vivência de sofrimento filme denota parte das principais
experimentada pelo personagem central representações sociais impostas ao
do filme em análise. segmento negro LGBTI como a
estigmatização, homofobia,
Conclusão criminalização precoce manifestada em
atitudes como tráfico de drogas e
A família e a profissão violência, o bullying e a exclusão social.
representam as principais instituições Tais práticas são evidentemente danosas
durante a vida em sociedade, para a formação de um cidadão
representando os principais meios produtivo para a sociedade, refletindo-
responsáveis por tornar os seres se em problemas de relacionamento,
humanos sujeitos e cidadãos localizados problemas de origem social e afetivos.
em num contexto social, histórico, Negando esta realidade, a escola
cultural e político. Ao nascer, espera-se deve exercer um forte papel crítico e
que o ser humano seja acolhido pelos provedor de caminhos diferentes,
adultos que serão sua família e que se desenvolvendo assim ações que
tornarão os responsáveis pelos cuidados desconstrua olhares heteronormativos
básicos, o que concederá à criança o pois como afirma Foucault, “toda
direito de viver e continuar a se relação de poder que apresenta a
desenvolver. liberdade, é capaz de gerar atos de
A escola enquanto espaço resistência”. Diante disso, a escola por
educacional formal, juntamente com a exercer um papel transformador de
família e a comunidade tornam-se para pessoas na sociedade, deve ser um
a criança um alicerce para agente de inclusão social, evitando
desenvolvimento de sujeitos prontos propagar uma educação sexista,
para viver em sociedade. A profissão, machista, LGBTIfóbica ou racista, que
por sua vez, permite que a pessoa torne-
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segregue homens e mulheres em quando não tratadas ou coibidas pela


estereótipos de força ou fraqueza. sociedade. Não podemos fingir que a
Os adultos, aqueles que ocupam problemática é irrelevante, tampouco de
papel importante na vida dos jovens, ser encoberta por valores morais e
por sua vez, incentivam práticas de tradicionais ligados à estrutura
bullying na escola quando se calam patriarcal. O trabalho também é uma
diante da emergência da sexualidade ou questão de saúde pública.
comportamento tido como diferente e se Os dados sobre a violência física
tornam cúmplices da ridicularização e são apenas a ponta de um iceberg já
humilhação de jovens quando não submergido, pois o fracasso das
promovem espaços de diálogo e políticas públicas de segurança contra a
acolhimento saudáveis para o população LGBTI vividas em todo o
fortalecimento psicológico das crianças. mundo mostra que os crimes de ódio
A violência emocional faz com contra homossexuais são
que as pessoas estejam sempre em subnotificados, já que muitas vezes se
estado de alerta, produzindo uma baseiam apenas em dados obtidos na
extrema preocupação com seu estado de mídia.
integridade física, refletidas ou não em Isso mostra que, em muitos
seu estado de saúde. Tal estado de locais do mundo, a sociedade LGBTI
violência, espelhado pelos casos de ainda paga um preço muito grande por
estigmatização, homofobia, ser quem é, e ás vezes, com a própria
silenciamento de demandas coletivas vida.
geram estatísticas de violência física

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