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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA ARTE

FACULDADE DE CINEMA E AUDIOVISUAL

RENNAN BRAGA DE OLIVEIRA

CINEMA E HORROR QUEER

BELÉM – PA

2022
O cinema queer teve a sua origem com a insatisfação e a vontade de muitos diretores em retratar
de forma mais fiel a imagem da comunidade LGBTPQIA+ nas telas dos cinemas mostrando
suas reais vivências e dificuldades. Se antes os personagens da comunidade eram representados
por atores brancos e heteros que utilizavam de seu privilégio nos estúdios para reproduzir
estereótipos – como o personagem “viado” que sempre acompanhava uma mulher hetera no
qual seu único propósito era fazer ela e o espectador rir, as personagens lésbicas masculinizadas
voltadas por um ar de mistério, e os personagens transsexuais vistos como pessoas criminosas
perante a sociedade por seus ideais conservadores. – Agora dão espaço para a comunidade
representando seus iguais, ressignificando o termo “viado” para si exibindo-o com orgulho.

Filmes como Pink Flamingos (1972) e The Watermelon Woman (1996) são dois exemplos de
filmes queers que conseguiram de forma brilhante quebrar os estereótipos representados por
personagens LGBTs em sua época que até os dias de hoje são vistos como referências. O
primeiro dirigido por John Waters conta a história de uma mulher que quer ganhar o título de
“Pessoa mais Repugnante do Mundo” e para isso entra em uma competição bizarra com provas
que vão ficando nojentas com o passar do tempo. Temos como papel principal no filme uma
drag queen, Divine, que com uma performance que conquistou fãs do mundo inteiro criando
um legado perpetuado até hoje pela comunidade. Considerado como um dos filmes mais
nojentos por muitos, John Waters criou um filme transgressor com elementos trash e surrealistas
em um ambiente onde a comunidade lgbt é representada como a mais “normal” da história, nela
contém uma das frases mais conhecidas do filme e da comunidade: The World Of The
Heterosexuals A Sick And Boring Life. Ela rege o conceito do cinema queer e o John Waters
consegue muito bem estampar em seus filmes posteriores esse conceito transgressor.

No segundo filme, dirigido por Cheryl Dune, conta o romance entre duas mulheres que se
diferem em sua feminilidade. A principal, Cheryl, mais masculinizada que seu par romântico,
é um belo exemplo do questionamento feito pelo cinema queer que buscava dissociação entre
sexo e gênero, desvinculando os signos masculinos da figura Homem e os colocando na figura
Mulher (ressignificando o termo “caminhoneira” utilizada como forma de diminuir a figura da
mulher masculinizada), transmutando a lógica binaria e dando espaço para uma conversa mais
política sobre o lugar de fala da comunidade. Além do mais o filme da Chreryl Dune consegue
dialogar com o pós cinema queer lésbico dando espaço para novas formas de diálogo pro futuro
do cinema queer, abrindo espaço para corpos mais diversos e suas multiplicidades.
O cinema queer engloba diversos gêneros dos filmes que vão do drama até o terror. Nesse
segundo gênero podemos notar o imenso conteúdo dos filmes que vão de metáforas para a
descoberta de sua sexualidade até críticas a forma que a sociedade via a comunidade de forma
preconceituosa. A obra literária Carmilla de 1872, é uma das primeiras histórias a retratar o
tropo narrativo da vampira lésbica, o qual seria ainda mais popularizado pelo cinema no século
seguinte (com o termo Horror Queer), e conta história de Laura, uma jovem e inocente donzela
que se vê envolvida pela bela e sedutora Carmilla – O livro foi uma das influências do livro
Dracula, que vem sendo discutido há tempos as alusões queer presentes na história.

O livro Monsters in the Closet: Homosexuality and the Horror Film (1917) foi responsável pela
popularização do termo Horror Queer, nele Harry M. Benshoff correlaciona as alegorias
utilizadas nos filmes de horror e filmes de monstros, no qual eram mostradas a
“monstruosidade” da comunidade LGBT na comunidade heteronormativa. O autor explica que
nestes filmes, talvez mais que qualquer outro gênero, ocorrem mais interpretações queer, por
causa das suas formas metafóricas, e dos seus formatos de narrativa que quebram com o status
quo heterossexual.

O filme Frankenstein (1931) de James Whale, adaptação autorizada do livro de Mary Shelley,
leva o título de um dos primeiros filmes de horror queer. A produção celebra a criatura rejeitada
pela sociedade que não o aceita por ser diferente e a constrói como o personagem mais
complexo e simpático da história. Whale, que era homossexual levou muito de sua identidade
para suas obras. Por conta do Código Hays, que proibia qualquer "inferência de perversão
sexual”, ele e outros diretores precisaram pensar em formas de se expressar sem serem
censurados.

The Rocky Horror Picture Show (1975) pode ser englobado pelo termo, por mais que seja um
musical ainda apresenta elementos do horror em sua história. Abordando temas como liberdade
sexual, bissexualidade, androginia e expressões de gênero, o musical criou uma comunidade de
fãs pelo seu humor ácido e com o personagem principal o Doutor Frank N Furter, uma travesti
do planeta Transexual, a obra celebrava a diversidade sexual de forma livre e otimista.

Um marco pro horror queer veio em 1985 com o filme A Hora do Pesadelo 2, com um dos
personagens mais famosos do mundo horror Freddy Krueger nesse filme serviu como uma
metáfora para a descoberta sexual do personagem Jesse, interpretado por Mark Patton que
posteriormente se assumiu gay.
Jesse surgiu como um dos primeiros “Final Boy” da história, um termo que era principalmente
direcionado para personagens femininos, e conferiu muita representatividade para muitos
jovens que o assistiam. Em seu documentário Scream, Queen! (2019) Mark relata que as
primeiras reações do filme foram negativas e que causou uma tristeza imensa para ele, já que
se as pessoas não aceitassem o personagem elas não poderiam aceitar o ator. No entanto ele
relata que nos anos seguintes com a popularização do filme por conta do olhar o tem
homoerótico no filme ele foi mais abraçado pela comunidade. No filme além das cenas que
claramente possuem uma segunda intenção, anos depois conferidas como certas pelo diretor, a
imagem do Freddy Krueger como um ser que está dentro do personagem e que precisa sair,
causando vergonha, ansiedade e o afastando de seus amigos, a alegoria consegue ser atual e
vem ganhando fãs até os dias de hoje.

Sejam por monstros fantasiosos e alegóricos, histórias homoeróticas e subversões do papel do


personagem feminilizado, o Horror se mostra como um dos gêneros mais Queer para a
comunidade, criando uma comunidade de acolhimento para os jovens que se sentem excluídos
da sociedade por serem eles mesmos. Por mais que a comunidade tenha sido apresentada de
forma vergonhosa por um bom período no horror, ela conseguiu se revolucionar ao reconquistar
o comando de sua história e tomando o Horror para si, contando suas histórias pelo olhar de
criadores, e direcionados para a própria comunidade, Queer.

histórias de horror e filmes de monstros, talvez mais que qualquer outro gênero, suscitam
interpretações queer, por causa das suas formas metafóricas, e dos seus formatos de narrativa
que quebram com o status quo heterossexual” histórias de horror e filmes de monstros, talvez
mais que qualquer outro gênero, suscitam interpretações queer, por causa das suas formas
metafóricas, e dos seus formatos de narrativa que quebram com o status quo heterossexual”

histórias de horror e filmes de monstros, talvez mais que qualquer outro gênero, suscitam
interpretações queer, por causa das suas formas metafóricas, e dos seus formatos de narrativa
que quebram com o status quo heterossexual” histórias de horror e filmes de monstros, talvez
mais que qualquer outro gênero, suscitam interpretações queer, por causa das suas formas
metafóricas, e dos seus formatos de narrativa que quebram com o status quo heterossexual”.

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