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bailes, referindo-se especialmente aos mais jovens; para os sem casa
e sem comida, o baile significa tudo.
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O filme recebeu diversos prêmios. Em 2015, restaurado em cópia
digital, voltou a ser exibido no Festival de Sundance, onde, vinte
e cinco anos antes, fora aclamado pela crítica. Paris is burning
transformou-se em uma das mais conhecidas celebrações da cultura
queer daquela época. A despeito das inserções de narrativas pessoais
dramáticas − que têm seu ápice na breve narrativa do assassinato de
Vênus Xtravaganza −, o filme concentra-se em sublinhar um lado
inteiramente outro − glamoroso, opulente e legendário − de um
momento histórico nada festivo.
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acenou para uma série de distintas produções estadunidenses que
vinham sendo realizadas de maneira independente: “Havia, de repente,
uma série de filmes que estavam fazendo algo novo, renegociando
subjetividades, anexando papéis de gênero, revisitando histórias em
suas imagens”2.
2. RICH, Ruby. The New Queer Cinema In: BENSHOFF, Harry e GRIFFIN, Sean. Queer
Cinema, the Film Reader. Nova Iorque: Routledge, 2004, p.53 (tradução nossa).
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É a feminista negra bell hooks3 quem elenca as mais frutíferas
questões sobre o modo como Livingston, enquanto mulher branca,
não apenas se ausenta da imagem capturada pela câmera de seu
longa, mas também cria para si um lugar de imparcialidade e de boas
intenções diante da ausência de questionamento sobre o elogio dos
valores da cultura branca presente em toda a narrativa do filme.
3. HOOKS, bell. “Is Paris Burning? In: Black Looks, race and represetation. South End
Press: Boston, 1992.
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Para que sejam espetaculares, as personagens de Livingston são
pouco exploradas em suas dores de não pertencimento. Assim, os
breves momentos de narrativas conflituosas são logo superados por
mais um momento divertido e espetacular na montagem. O filme
mostra um corpo negro queer nada menos que coerente em sua
busca por uma feminilidade branca.
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Em Línguas desatadas, os afetos tristes não são apagados por uma
cultura celebrativa, mas operam como chamado. Para o corpo-
memória, o mesmo corpo que ama é o corpo que odeia, e é também
o corpo que luta. O filme de Riggs é importante para lembrar que a
violência sobre o corpo negro e queer não é apenas dupla, mas mais
complexa. Diante dela, os personagens forjam sua força a partir das
fissuras que um corpo duplamente silenciado é obrigado a habitar.
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