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Resumo
Abstract
With the goal of creating discussions above the construction and affirmation of
masculinity, under the black man’s bias, and making a focusing on the life
experience of this man as an individual born and raised at the suburbs, this
present article makes a comparative analysis of this constructions above the
optics of the cinematographic production Moonlight (2017). The article will bring
analysis and problematizations above the main character, that during the movie
shows up himself in three diferent ages, having a name/nickname for each one
of them. At the childhood he is “Little”, at adolescence “Chiron”, and “Black” at
the adult fase. We seek dialogue about how orality and sexuality, expresses in a
very specific form, in black suburban individuals.
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Estudante do 5º semestre de jornalismo na Universidade Salvador
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1.0 Introdução
1.1 Little
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Little: Pequeno
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Faggot: Bicha. Termo em inglês utilizado para se referir a homens homossexuais de forma pejorativa.
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Para além das situações vividas por Little em sua escola, que conferem
agressões extremas a sua personalidade, ele também sofre agressões em casa.
Sua mãe, apresentada constantemente sob o efeito de entorpecentes grita e
xinga o menino, por ele não conseguir ser ou agir de acordo com quem ela queria
que ele fosse. A impressão que se tem é que, a mãe do garoto expressa neste
descontentamento o pensamento de que ela falhou em preparar seu filho para
parecer-se com o indivíduo que tem acesso a um bom emprego, boa
remuneração, boa moradia, etc. Neste caso, este indivíduo é o homem branco,
de classe média, heterossexual. Como ele não pode ser branco, ela insiste em
que o filho seja pelo menos “macho”.
O macho seria para ela, e para uma boa parte da população negra, a
representação de um homem forte, viril. Em outras palavras, propostas por
Hooks (2004; 1992), “(...) um modelo de homem negro agressivo, materialista e
incapaz, que é divulgado na sociedade em geral como um modelo comum
legítimo e naturalizado.” (RIBEIRO, 2015, p.9)
Em uma das cenas posteriores, Little se desloca até a casa de Juan por vontade
própria, e em uma conversa com o casal, o garoto questiona “o que é uma bicha”,
e logo após receber a resposta do traficante, pergunta: “Eu sou uma bicha?”
O rapaz explica que bicha é uma forma ruim de se referir a pessoas gays,
mas que, independentemente disso, o garoto não poderia nem deveria deixar
alguém chamá-lo desta forma. Sobre o estereótipo de “bixa preta”, Veiga (2019)
propõe que: “(...) a confirmação vinda do outro, seja amigo, familiar, namorado,
não é o suficiente para aplacar o medo de ser rejeitada e de viver uma solidão
ainda mais intensa do que já vive.” (VEIGA, 2019, p.87)
Em uma das cenas de sua infância, Little joga futebol com os alunos da
escola e, após sofrer uma pressão dos outros garotos para agir como eles, ele é
questionado por seu amigo Kevin por que ele de alguma forma não revida ou
toma alguma atitude. Para despertar no garoto um espírito de “homem” ou de
“macho” Kevin se utiliza de um discurso diferente do de Juan, e diz que ele
precisa aprender a se defender, e para isto provoca-o fisicamente.
2.0 Chiron
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Masculinidade tóxica: Termo popularmente usado para designar práticas e traços de personalidade
problemáticos em indivíduos do sexo masculino.
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Blue: Azul ou Triste. Neste contexto a tradução que mais se adequa seria “azul”.
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Os dois se beijam e têm uma relação sexual, quando Kevin masturba o colega,
fazendo-o sentir prazer e ejacular. Esta, não é a primeira representação sexual
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Baseado: Nome popular que se dá para um cigarro de maconha
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Black: Preto ou Negro.
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entre Kevin e Little visto que o personagem principal já havia tido um sonho
erótico com o colega.
Deste modo, a nosso ver, fica clara a relação direta entre a masculinidade
tida como tóxica, e a busca de homens negros por respeito e por acesso a
elementos que são socialmente destinados aos homens brancos, como por
exemplo bons empregos, cargos de alto prestígio social, acesso à cultura, ao
lazer, moradia digna entre outros.
Muitos destes homens, na busca por proteção, visto que esta proteção
não vem por meios formais e estatais, acabam por entender que proteger o seu
grupo, é inferiorizar e discriminar expressões que possam parecer ameaçar sua
integridade e a de “seu povo”, povo este que é marcado por toda uma vida de
precariedade, e negações de acessos. Moreira e Fabretti (2018) colocam que
“(...) a inexistência de representações culturais positivas faz com que membros
de grupos minoritários introjetem estigmas sociais e acabem por repetir uma
dinâmica que reproduz a hegemonia dos grupos raciais majoritários.”
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.86).
opressão a outros negros aparece como uma maneira de afirmar sua identidade
de forma positiva.” (MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.41).
Após ser agredido, o jovem é encaminhado até a sala da diretora que o incentiva
a prestar queixa do ocorrido, e ele insiste em dizer que ela “não sabe de nada”.
Mesmo não falando sobre o que houve consigo mesmo, Chiron retorna para sua
casa carregado de um sentimento de raiva e de insatisfação com a agressão que
sofreu e com a sua condição de subalternizado. No dia seguinte, ao retornar à
escola o adolescente absorto em seu desejo de vingança atira uma cadeira
contra Terrel, fazendo-o desmaiar.
Nos parece que assim como o jovem agredido pela personagem principal,
a única forma que Chiron encontrou para externalizar sua insatisfação social foi
com a violência física, violência esta que em várias das cenas do filme é
mostrada como fator de reparação social.
Por ter agredido de forma grave o colega de sala, Chiron é levado pela
polícia e entendemos que ele é encaminhado a um reformatório, que funciona
como uma espécie de prisão para jovens menores de idade nos Estados Unidos.
Os reformatórios, também são conhecidos como espaços que transformam
garotos que cometeram infrações leves, em criminosos de alta periculosidade,
ressaltando assim questões acerca dos estudos sobre criminalidade, propostos
por Moreira e Fabretti (2018). “(...) assim, explica-se etiologicamente o
comportamento criminoso como um “atalho” utilizado por aqueles que estão
socialmente em desvantagem para se alcançar os fins culturais desejados.”
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.51)
Little, que era um garoto considerado inofensivo, agora passa a ser um
criminoso, fruto de todas as agressões que sofreu ao longo de sua vida, dos
alunos da escola e de sua mãe. A criminalidade neste sentido, nos parece como
uma forma de revolta social, e um fator que funciona como um dos únicos
efetivos para que não só Chiron mas outros negros sejam respeitados em suas
comunidades e fora delas.
Moreira e Fabretti (2018) também discutem que “(...) a atividade criminosa
deve ser entendida como consequência do estresse social produzido pela
ausência de acesso a meios institucionais, fator responsável pela anomia social.
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.11)
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3.0 Black
Black agora é traficante e isso nos parece como uma tentativa de seguir
os passos de uma das referências masculinas mais formadoras e presentes em
sua infância, Juan. O rapaz, anda com gingado e usa dentes de ouro,
performando assim um outro tipo de masculinidade.
Neste momento, nos parece que Black tem a chance de continuar sua
trajetória com o coração livre por não carregar mais o ódio ou a raiva da mãe por
ele, desta forma ele se sente livre para encontrar sua paixão, Kevin.
O encontro entre Kevin e Chiron no restaurante onde o primeiro trabalha como
cozinheiro, demarca um espanto de Kevin ao perceber o colega tão diferente,
principalmente fisicamente. Para ele, parece que Black está em uma
“performance” e não está agindo de acordo com o que realmente é. Neste
sentido, Custódio (2019) afirma que:
Ainda assim, nos fica muito claro que há uma aura de ternura e de carinho
que envolve os dois. Kevin continua a ser o que brinca e faz piadas, e Black
apesar de seu novo visual ainda é aquele mesmo menino que era tímido e falava
pouco na infância e adolescência. Na conversa entre os dois, Kevin diz que já
passou um tempo na cadeia, mas que como agora tem um filho, ele trabalha
como cozinheiro para tentar manter uma vida estável. Ao perguntar sobre Black
e receber como resposta que ele se tornou um traficante, o amigo se mostra
surpreso e um tanto quando decepcionado.
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4.0 Considerações
afeto aparece como item imprescindível para o desenrolar da trama, seja ele
vivenciado em sua potencialidade ou negado.
5.0 Referências:
HART, C. Um Preço Muito Alto. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
<http://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/1373> Acesso
em: 01 mai. 2020
VEIGA, Lucas. Além de Preto é Gay: as diásporas da bixa preta. In: RESTIER.
Henrique; SOUZA, Holf. M. Diálogos Contemporâneos Sobre Homens Negros e
Masculinidades. 1 ed. São Paulo: Editora Ciclo Continuo Editorial, 2019.