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MASCULINIDADES NEGRAS NO CINEMA: Uma análise do filme Moonlight


(Sob a Luz do Luar)

Kenia Guedes de Mattos1

Resumo

Com o objetivo de levantar discussões acerca da construção e afirmação de


masculinidade do homem negro, e fazendo um recorte da vivência deste homem
enquanto indivíduo nascido e criado na periferia, o presente artigo faz uma
análise comparativa destas construções sob a ótica da produção
cinematográfica Moonlight – Sob A Luz do Luar (2017). O artigo trará à tona
análises e problematizações acerca do personagem principal que durante o filme
apresenta-se em três faixas etárias diferentes, tendo um “nome/apelido” em cada
uma delas. Na infância ele é “Little”, na adolescência “Chiron”, e “Black” na fase
adulta. Buscamos dialogar sobre como a oralidade e sexualidade se expressam
de forma muito específica em indivíduos negros periféricos.
Palavras Chaves: Cinema, homossexualidade, corpos negros

Abstract

With the goal of creating discussions above the construction and affirmation of
masculinity, under the black man’s bias, and making a focusing on the life
experience of this man as an individual born and raised at the suburbs, this
present article makes a comparative analysis of this constructions above the
optics of the cinematographic production Moonlight (2017). The article will bring
analysis and problematizations above the main character, that during the movie
shows up himself in three diferent ages, having a name/nickname for each one
of them. At the childhood he is “Little”, at adolescence “Chiron”, and “Black” at
the adult fase. We seek dialogue about how orality and sexuality, expresses in a
very specific form, in black suburban individuals.

Palavras Chaves: Movie, homosexuality, black bodies

1
Estudante do 5º semestre de jornalismo na Universidade Salvador
2

1.0 Introdução

O filme Moonlight – Sob a Luz do Luar, exibido em 2017 traz a perspectiva


da homossexualidade de um homem negro, desde a sua infância até a sua fase
adulta, passando por duros momentos de privações, violências físicas e verbais,
e um posterior envolvimento com o conceito que chamaremos de “delinquência”
de acordo com Moreira e Fabretti (2018), ocasionado por toda uma trajetória de
experiências advindas da homofobia e racismo.

O personagem principal nos mostra em que pode resultar uma vivência


em que predomina um sistema de compensações falho, e ao mesmo tempo um
sistema de afirmação de identidades consideradas positivas.
O artigo traz como problemática os conflitos vividos por este grupo populacional
tão específico que se encontra à margem de um projeto societário que define
qual representação de masculinidade é aceitável e valorada, inicialmente
trazendo um apanhado de discussões sobre cenas do filme, que se intercalam
com estudos de autores que tratam sobre criminalidade, homossexualidade e
pobreza.

As fases do desenvolvimento humano são para algumas pessoas neste


caso, negras bastante adversas, carregadas de conflitos e tensões sociais que
se apresentam desde a infância até a fase adulta. Traremos, portanto uma
narrativa que percorre a trajetória de vida de um sujeito negro em contextos de
enfrentamentos, subversões e resistência.

1.1 Little

A criança que tem o nome de Chiron e o apelido de Little2 é apresentado


aos telespectadores como um menino negro, de baixa estatura e magro. Nas
primeiras cenas do filme, somos convidados ao universo do garoto com sua mãe
dependente química que mantém uma relação extremamente conturbada com o
filho. É importante frisar que durante todo o filme nunca é mostrada a figura do
pai, e entende-se que esta figura “subjetiva” é um pai ausente.

2
Little: Pequeno
3

Morando em bairro periférico, Little e sua mãe convivem diariamente com


o peso de estarem em situação marginalizada, à parte de políticas de governo,
carentes de incentivo cultural e referências consideradas como positivas. Little,
é uma criança que, talvez, por conta da ausência da figura paterna, não performa
o que chamamos e o que se conhece como masculinidade. De acordo com
Connel (2000;1997):

As masculinidades não são identidades fixas, mas


configurações da prática de gênero que devem ser lidas como
constructos políticos complexos localizados hierarquicamente
em um regime de gênero. (RIBEIRO, 2015, p.4)

Por não performar o que se define como masculinidade, é na escola que


acontecem as mais variadas formas de assédio, preconceito, racismo e
homofobia. É em sua escola, especificadamente escola pública, que Little é
frequentemente atacado por colegas de classe, sendo chamado e comparado a
um “faggot3”.

Os ataques que tornam Little uma vítima, tanto de homofobia quanto de


reproduções de um racismo aprendido e de um projeto societário e hegemônico
que colocam negros contra negros, são proferidos por outras crianças também
negras, que veem nele, em sua forma de falar e de se portar, e até mesmo em
sua estrutura corporal, alguém que vai de encontro quem elas querem realmente
ser. Como propõe Veiga (2019), “(...) quanto mais próximo da brancura, mais
reconhecido como humano se é”. (VEIGA, 2019, p.80)

Durante todas as cenas em que o personagem Little é agredido enquanto


criança, observamos que há nas crianças negras que o agridem um sentimento
de ódio ao que ele representa. Este ódio a nosso ver, passa a impressão de que
o garoto configura uma perda ou alguns passos atrás em toda a caminhada e
trajetória de vida destes meninos, em busca de serem reconhecidos como
humanos, e como pessoas a serem respeitadas, seja em seus bairros de
nascimento ou onde quer que estejam. Neste sentido de acordo com o
pensamento de Veiga (2019),

3
Faggot: Bicha. Termo em inglês utilizado para se referir a homens homossexuais de forma pejorativa.
4

A internalização da masculinidade branca pelos homens negros


como tentativa de ser reconhecido como pessoa, como homem,
como digno de valor, comparece, por vezes, em
comportamentos violentos para com aqueles do seu povo que
questionam e se deslocam desse padrão heteronormativo.
(VEIGA, 2019, p.82).

Para além das situações vividas por Little em sua escola, que conferem
agressões extremas a sua personalidade, ele também sofre agressões em casa.
Sua mãe, apresentada constantemente sob o efeito de entorpecentes grita e
xinga o menino, por ele não conseguir ser ou agir de acordo com quem ela queria
que ele fosse. A impressão que se tem é que, a mãe do garoto expressa neste
descontentamento o pensamento de que ela falhou em preparar seu filho para
parecer-se com o indivíduo que tem acesso a um bom emprego, boa
remuneração, boa moradia, etc. Neste caso, este indivíduo é o homem branco,
de classe média, heterossexual. Como ele não pode ser branco, ela insiste em
que o filho seja pelo menos “macho”.
O macho seria para ela, e para uma boa parte da população negra, a
representação de um homem forte, viril. Em outras palavras, propostas por
Hooks (2004; 1992), “(...) um modelo de homem negro agressivo, materialista e
incapaz, que é divulgado na sociedade em geral como um modelo comum
legítimo e naturalizado.” (RIBEIRO, 2015, p.9)

1.2 Little e Juan

Depois de uma tentativa de fuga de mais uma das agressões físicas e


verbais, Little corre tentando se esconder e acaba sendo encontrado por Juan
(Mahershala Ali), um traficante de drogas da região. Em um gesto de
preocupação após notar a situação em que o garoto se encontra, leva-o para
comer, e tenta saber mais informações sobre ele.
Nesta cena, percebe-se que Little é um menino de poucas palavras e
consequentemente, associamos isto ao fato de que seus problemas em se
expressar verbalmente possam vir da sua criação, assim como as lacunas de
referências ao longo de sua vida e as constantes agressões sofridas por ele.
5

Sobre as dificuldades com a linguagem, Carl Hart (2013) mostra que em


um estudo realizado por Todd Risley e Betty Hart foi feita uma comparação entre
o número de palavras ouvidas por filhos de famílias da classe trabalhadora,
profissionais liberais e famílias dependentes de assistência social. Como
resultados, o estudo apontou que “os filhos de profissionais liberais ouviam em
média 2153 palavras diferentes por hora, enquanto os filhos de pais dependentes
de assistência social ouviam em média 616 palavras diferentes por hora.”
(HART, 2013, p.41)
Deste modo, a nosso ver, fica claro o impacto das palavras que Little ouve
em sua casa, juntamente com as palavras “ofensivas” que escuta em sua escola,
enquanto formadoras de uma personalidade que poderíamos chamar de tímida.
Após a tentativa frustrada de conhecer um pouco mais sobre o garoto, Juan
passa para uma outra estratégia e leva o menino até sua casa. Ao chegar lá, o
garoto é apresentado a Teresa (Janelle Monaé), esposa dele, que com sua
doçura consegue fazer com que o menino fale um pouco mais.
É interessante observar que, apesar de Little ter em sua mãe uma figura
feminina carregada de “agressividade”, ele cria uma conexão e um conforto,
ainda que tímidos, com a personagem Teresa. “(...) Figuras centrais, Teresa e a
mãe, representam dois traços estereotipados do feminino: a cuidadora e a
megera.” (TAKARA, 2018, p.4)

Apesar de Juan ser representado no filme como um estereótipo da


criminalidade, é com ele e sua esposa que Little se sente protegido. O roteiro do
filme nos coloca em uma posição de questionamento, ao assistirmos um
traficante performando características que inscreveríamos como pertencentes às
mulheres, como a docilidade, cuidado, etc. Como defende Bordieu (1930):

A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica


que tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se
alicerça: é a divisão social do trabalho, distribuição bastante
estrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de
seu local, seu momento, seus instrumentos. (BORDIEU, 1930,
p.18)
Tanto Juan como outros personagens masculinos do filme demonstram ao
garoto diversos elementos do que é ser homem, e principalmente do que é ser
um homem negro. “(...) A masculinidade é uma forma de ação social guiada por
6

regras culturais institucionalizadas a partir das quais homens extraem sentido


para seus comportamentos.” (MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.4)

Em uma das cenas posteriores, Little se desloca até a casa de Juan por vontade
própria, e em uma conversa com o casal, o garoto questiona “o que é uma bicha”,
e logo após receber a resposta do traficante, pergunta: “Eu sou uma bicha?”
O rapaz explica que bicha é uma forma ruim de se referir a pessoas gays,
mas que, independentemente disso, o garoto não poderia nem deveria deixar
alguém chamá-lo desta forma. Sobre o estereótipo de “bixa preta”, Veiga (2019)
propõe que: “(...) a confirmação vinda do outro, seja amigo, familiar, namorado,
não é o suficiente para aplacar o medo de ser rejeitada e de viver uma solidão
ainda mais intensa do que já vive.” (VEIGA, 2019, p.87)
Em uma das cenas de sua infância, Little joga futebol com os alunos da
escola e, após sofrer uma pressão dos outros garotos para agir como eles, ele é
questionado por seu amigo Kevin por que ele de alguma forma não revida ou
toma alguma atitude. Para despertar no garoto um espírito de “homem” ou de
“macho” Kevin se utiliza de um discurso diferente do de Juan, e diz que ele
precisa aprender a se defender, e para isto provoca-o fisicamente.

É importante frisar o papel que o amigo tem na vida de Little desde a


infância até a adolescência. Kevin representa os desejos amorosos do garoto,
assim como também configura, ao longo de uma das cenas do filme, o que Veiga
(2019) coloca como “masculinidade ocidental” que “(...) negocia a
autopreservação e o amor do sequestrador incorporando seus códigos morais e
comportamentais.” (VEIGA, 2019, p.82)

Deste modo, ao provocar Little e, posteriormente, em um outro momento


do filme, agredi-lo fisicamente de forma intensa, Kevin reproduz um ideal de
masculinidade que o coloca como superior. “(...) com a auto estima enfraquecida,
a bixa preta tenta lidar com a solidão e com o desejo de ser amada, ainda que,
por vezes creia, inconscientemente, que não merece receber amor.” (VEIGA,
2019, p.87)
7

2.0 Chiron

Em sua fase adolescente, Chiron é chamado por alguns alunos da escola


de “Little”. Ao chamá-lo desta forma, os outros jovens também negros demarcam
uma espécie de território onde definem que Chiron é diferente deles e,
consequentemente, não é digno de fazer parte do grupo.

As expectativas culturais legitimam controles sociais baseados


em uma cultura do insulto. Todos os que não se adequam
estritamente às prescrições sociais em relação à sexualidade
serão párias sociais, situação que legitima uma série de ofensas
pessoais dirigidas aos que não se adequam ao que é esperado
da sua performance como membro de um sexo particular. Esse
é o motivo pelo qual crianças e adolescentes homossexuais e
heterossexuais são constantemente vigiados e forçados a seguir
um roteiro que procura garantir a conformação sexual. (PRADO,
2011, p. 59-61 apud MOREIRA, FABRETTI, 2019, p.29)

Apesar de possuir um corpo “magro”, o personagem não tem uma estatura


tão diferente dos outros jovens, tampouco tem a cor de pele mais clara. Apenas
pelo seu jeito de se comportar, que não performa uma masculinidade “tóxica 4”,
tão conhecida pelos outros jovens, Chiron é considerado como alguém a ser
excluído do meio, assim como ser alvo de chacotas, agressões físicas e verbais.
Como observa Takara (2018), “(...) o corpo negro delicado do adolescente serve
de expiação para uma masculinidade violenta que cobra um tipo de
representação.” (TAKARA, 2018, p.10).

Agora mais velho, Chiron se distancia um pouco de sua mãe e passa a


frequentar a casa de Juan, onde agora só mora Teresa, já que o marido faleceu.
Os dois mantém uma relação de muito cuidado, Teresa é alguém que o jovem
valoriza e confia, e ela continua a exercer este papel de mãe carinhosa em
antítese ao papel de megera que a mãe de Little continua a performar, entre
crises de abstinência de drogadição. Mesmo após a morte de Juan, Chiron ainda
vê a casa de Teresa como um refúgio, para não ter que lidar com a personalidade
e o vício da mãe.

4
Masculinidade tóxica: Termo popularmente usado para designar práticas e traços de personalidade
problemáticos em indivíduos do sexo masculino.
8

É interessante demarcar duas das cenas da infância do garoto. Na


primeira, sua mãe aparece consumindo drogas em um ponto de uma área local
que é conhecida por ser do domínio e gerenciamento de Juan, e posteriormente,
uma discussão entre os dois. Na sequência, ela questiona Juan se ele irá criar o
menino, ou se irá explicar para ele, porque os outros garotos batem nele.

Como observado, Chiron continua enfrentando agressões dos jovens de


sua escola, passando por provocações diárias, principalmente proferidas pelo
personagem Terrel (Patrick Decile), e é este quem insiste em lhe chamar pelo
apelido de “Little”, assim como insinuar que o jovem tem ações consideradas
socialmente como próprias ao gênero feminino, como por exemplo “trocar o
absorvente”. Ao reproduzir falas como essas, Terrel demarca a ligação entre as
agressões caracterizadas como bullying, e uma possível evolução destas ações
para atitudes configuradas como crimes graves.

A agressão contra membros de minorias sexuais e raciais é uma


das situações nas quais a masculinidade se liga ao crime.
Masculinidade e criminalidade são fenômenos que atuam em
grande parte como meios de controle social. (MOREIRA,
FABRETTI, 2018, p.4)

Outra figura marcante neste momento da vida de Chiron é o amigo de


infância Kevin, que agora aparece também mais maduro e já envolvido com
questões que perpassam a vida de muitos jovens desta faixa etária que é a
descoberta do sexo e o consumo de drogas como a maconha.

Kevin continua sendo a figura de desejo de Little, e isto é mostrado em


momento posterior a cena onde os dois conversam sobre Kevin sobre ter sido
pego em flagrante transando com uma garota no colégio. Após ouvir a história,
o jovem dorme e sonha com o amigo transando com uma garota na praia,
enquanto a mesma olha para ele e sorri. É muito significativo observar que a
praia do sonho é a mesma em que Juan lhe ensinou a nadar e contou sobre um
apelido de infância que havia ganhado de uma senhora, “blue”.5

5
Blue: Azul ou Triste. Neste contexto a tradução que mais se adequa seria “azul”.
9

As poucas figuras masculinas às quais Chiron tem acesso, desde a sua


infância até a sua fase adulta, têm um papel de suma importância, tanto para
sua formação quanto nas configurações de sua sexualidade.

Em um dado momento, Chiron busca resgatar a sensação de conforto e


de liberdade que havia sentido outrora, retorna à praia onde foi ensinado a nadar,
e lá, encontra por acaso Kevin. Os dois dividem um “baseado6” e conversam
sobre sentimentos. Neste diálogo, Little questiona o amigo sobre o porquê o
apelida de “Black7” e demonstra uma posição negativa em relação ao apelido.

Na mesma conversa, ele também fala sobre chorar. O desejo


enunciado de ação ou reação às práticas de masculinidades
envolve a própria transcendência performativa de limites
estabelecidos e elencados como relevantes pelas discussões
feitas por homens brancos, como poder chorar, poder ser frágil,
poder ser sensível. (CUSTÓDIO, 2019, p.139)

Pela primeira vez o espectador pode ver o jovem realmente dialogando e


não mais aquele garoto que, na infância, conversava usando pouquíssimas
palavras. Esta cena, é uma das primeiras em que sugere uma intimidade mais
aflorada entre o garoto e uma outra pessoa, sendo assim, Moreira e Fabretti
(2018) colocam que:

Por um lado, ele não pode vivenciar plenamente a masculinidade


como um homem negro porque esse é um tipo de identidade
hegemônica à qual apenas homens brancos têm acesso pleno.
Por outro, ele também é excluído da masculinidade negra por
ser socialmente percebido como homossexual. (MOREIRA,
FABRETTI, 2018, p.4)

Neste mesmo encontro entre Kevin e Chiron, onde ambos se mostram


mais “relaxados” após o uso da maconha, cria-se um maior contato entre os dois,
fruto de um desejo natural e mútuo que apesar de tímido fica muito claro.

Os dois se beijam e têm uma relação sexual, quando Kevin masturba o colega,
fazendo-o sentir prazer e ejacular. Esta, não é a primeira representação sexual

6
Baseado: Nome popular que se dá para um cigarro de maconha
7
Black: Preto ou Negro.
10

entre Kevin e Little visto que o personagem principal já havia tido um sonho
erótico com o colega.

A cena que marca um próximo contato entre os dois é onde o enredo do


filme proporciona um fator surpresa. Terrel, reaparece e, desta vez, dialoga com
Kevin sobre bater em algum dos colegas de classe, e reforça que esta é uma
prática de “proteção”. Takara (2018) defende que, “A rejeição do outro e de si
mesmo gera em nós um movimento em busca de proteção e de conquista de
direitos. A proteção veio pela simulação de uma masculinidade próxima à
hegemonia.” (TAKARA, 2018, p.11)

Deste modo, a nosso ver, fica clara a relação direta entre a masculinidade
tida como tóxica, e a busca de homens negros por respeito e por acesso a
elementos que são socialmente destinados aos homens brancos, como por
exemplo bons empregos, cargos de alto prestígio social, acesso à cultura, ao
lazer, moradia digna entre outros.

Muitos destes homens, na busca por proteção, visto que esta proteção
não vem por meios formais e estatais, acabam por entender que proteger o seu
grupo, é inferiorizar e discriminar expressões que possam parecer ameaçar sua
integridade e a de “seu povo”, povo este que é marcado por toda uma vida de
precariedade, e negações de acessos. Moreira e Fabretti (2018) colocam que
“(...) a inexistência de representações culturais positivas faz com que membros
de grupos minoritários introjetem estigmas sociais e acabem por repetir uma
dinâmica que reproduz a hegemonia dos grupos raciais majoritários.”
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.86).

A carência destas representações acaba por criar uma espécie de


“protótipo” de homem negro, que para se proteger de um sistema onde opera o
racismo, principalmente de caráter institucional, lança mão de virilidade,
agressividade e intolerância.

Isto é mostrado quando Terrel e seus colegas provocam com frequência


Chiron, subalternizando-o, mesmo sendo indivíduos que também pertencem a
um grupo subalternizado e oprimido socialmente pela hegemonia branca. De
acordo com Custódio (2019) isso se dá pela “falta material ou exacerbação de
elementos sociais precários, deixando de lado a vivência de empoderamentos
11

escassos, vulnerabilidades emocionais e suscetibilidades psicológicas.”


(CUSTÓDIO, 2019, p.147)

Como citado anteriormente, ao relembrar Kevin sobre a prática de agredir


outros alunos, Terrel acaba por decidir que o colega deve bater em Chiron. Na
cena da briga, um aglomerado de estudantes se reúne na área externa enquanto
assistem Kevin agredindo fisicamente o personagem principal. É interessante
observar duas coisas, de acordo com a linha cronológica do filme a agressão a
Chiron acontece no dia seguinte a sua relação sexual com o amigo, e durante a
briga, Kevin insiste para que o colega pare de assumir uma posição de
resistência, e abata-se com os golpes físicos, em uma tentativa frustrada de não
ter que continuar batendo no garoto. Custódio (2019) afirma que:

Esse controle se exerce como performance, como controle do


objeto amoroso. Ela pode envolver rivalidade com outros
homens, mas invariavelmente se exerce pela relação de controle
que o modelo de homem honrado institui.” (CUSTÓDIO, 2019,
p.149)

Os golpes são fortes e acabam por deixar o jovem muito ferido e


sangrando. O ato de agredir fisicamente Chiron, confere a Terrel e Kevin o status
de “delinquentes”, visto que esta atitude é passível de enquadramento judicial.
Moreira e Fabretti (2018) defendem que:

Se membros de minorias raciais são quase sempre


representados de forma negativa, os que pertencem ao grupo
racial dominante são retratados de maneira positiva na vasta
maioria das vezes mesmo quando são delinquentes.
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.3).

O “bater”, principalmente em pessoas de minorias sociais é uma forma de


demarcação de território que alguns grupos encontram para delimitar os lugares
pertencentes a determinadas pessoas que configuram uma ameaça social,
assim como uma forma de demonstrar uma angustia e sentimentos negativos
produzidos por uma vida carregada de frustrações.
“(...) dentro de uma sociedade que nega a humanidade a homens negros, a
12

opressão a outros negros aparece como uma maneira de afirmar sua identidade
de forma positiva.” (MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.41).

Após ser agredido, o jovem é encaminhado até a sala da diretora que o incentiva
a prestar queixa do ocorrido, e ele insiste em dizer que ela “não sabe de nada”.
Mesmo não falando sobre o que houve consigo mesmo, Chiron retorna para sua
casa carregado de um sentimento de raiva e de insatisfação com a agressão que
sofreu e com a sua condição de subalternizado. No dia seguinte, ao retornar à
escola o adolescente absorto em seu desejo de vingança atira uma cadeira
contra Terrel, fazendo-o desmaiar.
Nos parece que assim como o jovem agredido pela personagem principal,
a única forma que Chiron encontrou para externalizar sua insatisfação social foi
com a violência física, violência esta que em várias das cenas do filme é
mostrada como fator de reparação social.
Por ter agredido de forma grave o colega de sala, Chiron é levado pela
polícia e entendemos que ele é encaminhado a um reformatório, que funciona
como uma espécie de prisão para jovens menores de idade nos Estados Unidos.
Os reformatórios, também são conhecidos como espaços que transformam
garotos que cometeram infrações leves, em criminosos de alta periculosidade,
ressaltando assim questões acerca dos estudos sobre criminalidade, propostos
por Moreira e Fabretti (2018). “(...) assim, explica-se etiologicamente o
comportamento criminoso como um “atalho” utilizado por aqueles que estão
socialmente em desvantagem para se alcançar os fins culturais desejados.”
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.51)
Little, que era um garoto considerado inofensivo, agora passa a ser um
criminoso, fruto de todas as agressões que sofreu ao longo de sua vida, dos
alunos da escola e de sua mãe. A criminalidade neste sentido, nos parece como
uma forma de revolta social, e um fator que funciona como um dos únicos
efetivos para que não só Chiron mas outros negros sejam respeitados em suas
comunidades e fora delas.
Moreira e Fabretti (2018) também discutem que “(...) a atividade criminosa
deve ser entendida como consequência do estresse social produzido pela
ausência de acesso a meios institucionais, fator responsável pela anomia social.
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.11)
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3.0 Black

A cena posterior já é um convite ao novo universo do garoto, que agora é


um homem e se chama Black. Ele é alto, forte e se parece com o que Custódio
(2019) chama de modelo “gangsta boy”. De acordo com o autor, este modelo
seria o do homem que “veste os elementos da marginalização ativa do negro
(violento, truculento, agressivo hiperssexualizado).” (CUSTÓDIO, 2019, p.147)

Black agora é traficante e isso nos parece como uma tentativa de seguir
os passos de uma das referências masculinas mais formadoras e presentes em
sua infância, Juan. O rapaz, anda com gingado e usa dentes de ouro,
performando assim um outro tipo de masculinidade.

Ele agora incorpora um personagem que expressa uma


virilidade ideal: elementos da masculinidade hegemônica foram
internalizados e passam a motivar seu comportamento. Seu
corpo atlético e sua postura agressiva garantem a ascendência
necessária para seu trabalho como traficante, atividade que ele
dificilmente poderia desempenhar sem essas características.
(MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.38).

Esta nova masculinidade o inscreve não mais como um sujeito fraco,


passível de ser alvo de chacotas e agressões verbais e físicas, mas sim, um
sujeito a ser respeitado tanto pelo seu corpo político, quanto pelo seu cargo de
traficante e consequentemente envolvido com o crime. O roteiro do filme marca
ao espectador que Chiron e Black estão em dois polos diferentes de performance
de masculinidade, porém que ambas as vivências são fruto dos mesmos
sentimentos arraigados, sentimentos estes produzidos pela negação do afeto,
fator este muito presente na vida de homens e mulheres negros. Como coloca
Custódio (2019)

O exercício da performance da masculinidade do homem negro


é uma performance que não atinge o simbólico efetivo, a ética.
Ela se exerce no concreto da estética, mas de maneira
metonimizada, que simboliza e, ambivalentemente, evidencia,
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exacerbando a realidade do que se gostaria de representar:


poder, autoridade, reconhecimento. (CUSTÓDIO, 2019, p.157).

Em um diálogo entre Black e um de seus funcionários ele questiona que


está faltando uma parte do dinheiro da venda dos entorpecentes, e logo após
notar a aflição do funcionário, afirma que está “zoando” com ele, e que esta foi
uma forma de fazê-lo entender que ele não pode deixar as outras pessoas
fazerem isso com ele. Esta cena, nos trás a memória o momento do filme em
que Juan ensina a Chiron, como se sentar na mesa para que possa fazer uma
refeição e ao mesmo tempo não ficar desatento das informações ao redor.
Black internaliza que deve repassar seus aprendizados com Juan, para o
próximo, talvez com o pensamento de que em um futuro, aquele funcionário
poderá a vir substitui-lo no cargo.

“As possibilidades de prestígio dentro da sociedade estão


reduzidas à chance de ter algum dinheiro derivado do tráfico,
uma vez que trabalhos mais rentáveis não estão disponíveis a
pessoas que estão em escolas de baixa qualidade.” (MOREIRA,
FABRETTI, 2018, p.40)

Este comportamento agressivo, confere um status de poder a Black.


Apesar da sensação de autoridade, o rapaz continua com os mesmos
sentimentos guardados em si, e principalmente a sua sexualidade, já que ele
nunca se assumiu como “homossexual”, porém sempre soube que sentia
atração pelo mesmo sexo, ou especificamente, por seu amigo de infância Kevin.

O desejo por Kevin se reacende quando Black recebe uma ligação do


mesmo convidando-o para jantar e na manhã após a ligação percebe que
ejaculou em si mesmo enquanto dormia. É interessante demarcar que antes da
ligação do amigo, o traficante recebe uma ligação da mãe que pede para que ele
vá visita-la. O filme coloca a mãe de Black como alguém com uma personalidade
muito fluida, e que por vezes carece de uma solidez ou maturidade.
Em alguns momentos ela se mostra zelosa e carinhosa, e em outros ela se
mostra bastante agressiva.
15

Quando Black vai ao encontro da mãe em uma clínica de reabilitação, os


dois conversam e ela pede para que ele saia do tráfico. Ele se revolta já que para
ele a mãe nunca foi alguém que se preocupava com ele ou com seu bem-estar,
porém o rapaz acaba com se conciliar com a mãe, resolvendo assim, ainda que
momentaneamente algumas de suas pendências afetivas. Neste sentido, parece
que quando Black assume uma performance de masculinidade mais viril, sua
mãe passa a amá-lo e a respeita-lo. Este fator foi observado por Takara (2018),
que sobre a mãe do rapaz, defende:

O menino problemático agora representado homem mais


próximo da masculinidade hegemônica tem direito de ter uma
mãe zelosa, diferente do menino afeminado que era chacota
para àquela que se faz cuidadora neste momento da narrativa.
(TAKARA, 2018, p.12).

Neste momento, nos parece que Black tem a chance de continuar sua
trajetória com o coração livre por não carregar mais o ódio ou a raiva da mãe por
ele, desta forma ele se sente livre para encontrar sua paixão, Kevin.
O encontro entre Kevin e Chiron no restaurante onde o primeiro trabalha como
cozinheiro, demarca um espanto de Kevin ao perceber o colega tão diferente,
principalmente fisicamente. Para ele, parece que Black está em uma
“performance” e não está agindo de acordo com o que realmente é. Neste
sentido, Custódio (2019) afirma que:

Estar cheio-de-si, portanto, é se sentir preenchido dessas


representações de identidade do que é ser Homem, como
alguém que completou um ciclo. No caso do homem negro,
existe. É o bom negro. (CUSTÓDIO, 2019, p.157).

Ainda assim, nos fica muito claro que há uma aura de ternura e de carinho
que envolve os dois. Kevin continua a ser o que brinca e faz piadas, e Black
apesar de seu novo visual ainda é aquele mesmo menino que era tímido e falava
pouco na infância e adolescência. Na conversa entre os dois, Kevin diz que já
passou um tempo na cadeia, mas que como agora tem um filho, ele trabalha
como cozinheiro para tentar manter uma vida estável. Ao perguntar sobre Black
e receber como resposta que ele se tornou um traficante, o amigo se mostra
surpreso e um tanto quando decepcionado.
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Em uma cena posterior, onde os dois já estão na casa de Kevin, há uma


aproximação mais intima entre os personagens e é possível notar que o desejo
ainda permanece o mesmo, apesar de Black nunca ter se assumido enquanto
homossexual, nem para si nem para os outros. Apesar desta circunstancia, ele
tira a aura de segredo e deixa com que o amigo entre um pouco em seus dilemas
afetivos assim como saiba de sua condição, quando diz “você foi o único homem
que tocou em mim. E eu nunca toquei em ninguém depois”.
O filme termina com a cena de Chiron quando criança no mar, que é precedida
da cena onde os dois trocam carícias de cunho não-sexual, fazendo assim com
que quem assiste possa pensar e desenvolver seus próprios finais e desfechos
para a narrativa.

4.0 Considerações

De acordo com os diálogos feitos com os autores, fica evidente que há


diferenças e questões muito específicas na formação de um indivíduo negro,
formação esta que também abrange a sua sexualidade e a sua forma de se
expressar e de lidar com pessoas pertencentes ao mesmo grupo racial.
Nos fica claro que a formação de um homem negro periférico, perpassa
pelos conceitos de masculinidade sendo ela hegemônica (considerada como
tóxica), ou não normativa, pobreza, exclusão, delinquência e criminalidade,
ainda que os dois últimos não sejam vivenciados na prática por todos, ainda sim
são conceitos presentes no cotidiano das comunidades enquanto forma de
sobrevivência de muitos jovens e adultos inseridos nelas.
De acordo com a tese defendida por Moreira e Fabretti (2018):

As representações sociais da masculinidade negra podem ser


classificadas como expressões de identidade de caráter
negativo porque enfatiza a relação entre a masculinidade e a
agressividade, fato que está presente nas várias produções
culturais que retratam homens negros como naturalmente
inclinado à criminalidade. (MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.30)

Moonlight é um filme sobre um homem negro, mas é também uma história


de exclusão, violência, isolamento, homofobia, afeto e amor. Neste sentido, o
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afeto aparece como item imprescindível para o desenrolar da trama, seja ele
vivenciado em sua potencialidade ou negado.

O encontro entre Kevin e Chiron quando os dois são adultos


demonstra como eles seguiram caminhos que já foram
percorridos por centenas de milhares de homens negros. A
exclusão social produzida ao longo de disparidades de raça e
classe também define a forma como pessoas podem viver a
própria masculinidade. (MOREIRA, FABRETTI, 2018, p.43)

A narrativa do filme deixa ao público diversos questionamentos, por não


haver um desfecho definido e por ser aberto a interpretações diversas, ao
mesmo tempo em que foge de muitos dos retratos de homens negros
homossexuais ou não na indústria cinematográfica.
Sobre Black, nos questionamos: Ele ficará com Kevin? Ele sairá do
tráfico? Ele se mudará para a cidade onde nasceu? Enquanto muitos destes
homens acabam mortos, assassinados ou presos, o filme mostra o personagem
principal saindo desta curva, buscando se reconciliar com seus afetos negados
na infância. A única certeza que nos fica ao final, é a de que Black terá um longo
caminho pela frente na descoberta das coisas que pode vir a vivenciar.

5.0 Referências:

BORDIEU, P. A Dominação Masculina. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand


Brasil, 2012.

CUSTÓDIO, T. A. Per-vertido Homem Negro: reflexões sobre masculinidades


negras a partir de categorias de sujeição. In: RESTIER. Henrique; SOUZA, Holf.
M. Diálogos Contemporâneos Sobre Homens Negros e Masculinidades. 1 ed.
São Paulo: Editora Ciclo Continuo Editorial, 2019.

HART, B. Risley, T. R. Meaningful Differences in the Everyday Experience of


Young American Children. Baltimore, MD: Paul H. Brookes Publishing Company,
1995.

HART, C. Um Preço Muito Alto. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.

MOREIRA, A. J. FABRETTI, H. B. Masculinidade e Criminalidade em


Moonlight: Um estudo das conexões entre identidade e delinquência. In:
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, v. 19, n° 2, 43-98, mai/ago
2018. Disponível em:
18

<http://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/1373> Acesso
em: 01 mai. 2020

MOREIRA, Demétrio. Moonlight – Performances e Masculinidade negra.


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<http://corporalidades.com.br/site/2017/08/18/moonlight-performances-e-
masculinidade-negra/> Acesso em: 06 mai. 2020

PINHO, Osmundo. SOUZA, Rolf. M. Subjetividade, Cultura e Poder:


politizando Masculinidades Negras. In: Cadernos de Gênero e Diversidade,
Salvador, v. 5, n° 2, 40-46, abr/jun 2019. Disponível em:
<https://portalseer.ufba.br/index.php/cadgendiv/article/view/33751/19528>
Acesso em: 24 abr. 2020

RESTIER, H. el al. Diálogos Contemporâneos Sobre Homens Negros e


Masculinidades. 1 ed. São Paulo: Editora Ciclo Continuo Editorial, 2019.

RIBEIRO, A. A. M. Homens negros, Negro homem: para discutir


masculinidades negras na escola. São Paulo, 2015. Disponível em:
<http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2015/11/Homens-
negros-Negro-homem-para-discutir-masculinidades-negras-na-
escola_AlanRibeiro.pdf> Acesso em: 25 abr. 2020

SOUZA, H. R. C. O Mal Estar da Masculinidade Negra Contemporânea.


Justificando, 2017. Disponível em: <http://www.justificando.com/2017/08/16/o-
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SUASSUNA, Laís. ARAÚJO, Luíza. SILVA, Marluce. Desconstruindo


estereótipos: A homossexualidade do homem negro em Moonlight. In: XIX
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TAKARA, Samilo. Sexualidade e Masculinidades Negras no Discurso


Cinematográfico: Little, Chiron e Black em Moonlight – sob a luz do luar. In:
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Disponível em <http://www.crc.uem.br/departamento-de-pedagogia-dpd/koan-
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chiron-e-black-em-moonlight-2013-sob-a-luz-do-luar> Acesso em: 24 abr. 2020

VEIGA, Lucas. Além de Preto é Gay: as diásporas da bixa preta. In: RESTIER.
Henrique; SOUZA, Holf. M. Diálogos Contemporâneos Sobre Homens Negros e
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