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Privilégios - branquitude e racismo no cinema e na sociedade brasileira

Rosana dos Santos Miranda1


Kbça D’ Nêga, Brasil

Edileuza Penha de Souza 2

Universidade de Brasília – UnB, Brasil

Abstract Pra eles é um sacrilégio perder


privilégios
Por isso tem medo do gueto
Based on the analysis of the short levantar fortunas
documentaries Privileges, Rio de Janeiro - MC Rincon Sapiência 2017
Brazil, production of the collective Kbça D
'Nêga, 2018, this article addresses the
various privileges existing in the Lançado em 2018, o documentário
cinematographic industry and in Brazilian Privilégios, é uma produção do coletivo
society, as opposed to whiteness and Kbça D’ Nêga3, dirigido pela cineasta Rosa
racism. It analyzes how affirmative action Miranda. O filme faz uma discussão sobre
policies of gender and race and how they os diversos privilégios existentes na
have changed or the scenario of cinema indústria cinematográfica e na sociedade
and not Brazil. The documentary Privilege, brasileira, ao mesmo tempo que
was architected after a virtual call and contrapõem as categorias sociais de
letters on the streets of Niterói - Rio de branquitude e racismo. Ao se falar de
Janeiro, where more than 20 people offered branquitude e branqueamento a psicóloga
a respondent in the following way: what are Maria Aparecida Silva Bento, discute essas
the privileges? Do you believe you have duas categorias a partir de elementos que
privileges within that society? What are compõem as identidades raciais de
your privileges? You believe that back is a brancos e negros e elenca o funcionamento
privilege. In the dialogue with these do racismo no Brasil:
questions answered by people of different No Brasil, o branqueamento é
classes, gender, sexual orientation and freqüentemente considerado como um
color / race, we try to present a complex problema do negro que, descontente e
social panorama represented in Brazilian desconfortável com sua condição de
cinema. negro, procura identificar-se como
branco, miscigenar-se com ele para diluir
suas características raciais (BENTO,
2002, p.26).
Keywords:
Por sua vez, o conceito de branquitude
Whiteness, Racism, Affirmative Actions, definido por Ruth Frankenberg (2010) como
Privileges, Black cinema. um lugar estrutural de onde o sujeito
branco vê os outros, e a si mesmo, em uma
posição de poder. No seu livro
“Branquitude acrítica e crítica: A
1 – Introdução supremacia racial e o branco anti-racista”
(2010), o autor Lourenço Cardoso, define
branquitude como” um lugar de privilégios
simbólicos, subjetivos, objetivo, isto é,
materiais palpáveis que colaboram para
construção social e reprodução do quem assiste ao filme. Neste sentido, as
preconceito racial, discriminação racial gravações em planos frontais foram
“injusta” e racismo” (CARDOSO, 2010 p. construídas a partir da retórica, em que os
611). discursos facilitam a transmissão de
sentimentos dando a sensação de que
O cinema ainda hoje é uma arte muito
os/as entrevistados(as) estejam falando
dispendiosa, onde nem todos tem acesso,
diretamente com o(a) telespectador(a). “A
não só aos equipamentos, como a
retórica é a forma de discurso usada para
qualificação da arte. No Brasil - salvo os
persuadir ou convencer os outros de um
poucos cursos de cinema em universidades
assunto para o qual não existe solução ou
públicas - um curso de edição e montagem
resposta definida, inequívoca” (Nichols,
tem valores exorbitantes, freando ainda
2010, p. 43).
mais o acesso da população negra e pobre.
As convicções políticas do Coletivo Kbça D’ O filme, foi construído após uma chamada
Nêga, vem buscando construir suas virtual e cartazes nas ruas de Niterói,
produções de forma independente. Suas cidade do Rio de janeiro, em que mais de
realizações ao longo desse processo de 4 20 pessoas se voluntariaram a responder
anos, são frutos de alguns apoiadores, às seguintes perguntas: O que são
empréstimo de equipamentos de amigos e privilégios? Quais são os seus privilégios?
conhecidos, se firmando como um modelo Você acredita que cotas é um privilégio? As
de produção Gambiarra4. No entanto, respostas às essas e outras questões
mesmo sem recursos de produção o evidenciam um olhar sobre o outro tendo
Coletivo tem em sua carreira a produção de os(as) entrevistados(as) seus lugares de
seis curtas metragens: À Oyá (2016)5, Da fala restritos a pensar nas prerrogativas.
minha pele (2016)6, Bixa Preta (2016)7, Ato Tema tão falado e pouco discutido, afinal
retrato de uma Bixa Pão com Ovo (2017)8, sempre se fala sobre o ser negro e os
Lua (2017)9, Privilégios (2018)10, questionamentos sobre o papel do negro
selecionados em diversos festivais do na sociedade. Entretanto, o ser branco e o
Brasil. papel do sujeito branco não são
questionados. Às vezes sequer
A história da criação do coletivo vem da
mencionado. Nesta perspectiva, é
resistência de estudantes negras e negros,
importante entender que se negros e
LGBTTIA+ (Lésbica, Gay,
brancos fazem parte dessa sociedade,
Bissexual,Transsexual, Travesti,
porque nunca é dado ao indivíduo branco a
Intersexuais, Asexuados e Mais) e
possibilidade de se questionar quanto ao
assistidos pelo Plano Nacional de
que está fazendo com relação às injustiças
Assistência Estudantil (PNAES) que
raciais. Essas questões não são
residem ou residiram na Moradia Estudantil
necessariamente respondidas no
da Universidade Federal Fluminense, onde
documentário, no entanto, elas permitem
estes se organizaram para dar voz e forma
que o público reflita sobre a problemática
às suas reivindicações e necessidades de
exposta. No diálogo com essas questões
expressar suas vivências e combater suas
nasce o artigo “Privilégios - branquitude e
opressões por meio da arte e a partir do
racismo no cinema e na sociedade
encontro propiciado por uma política de
brasileira”. E assim como no curta
assistência estudantil. E ainda, por
metragem, buscamos aqui apresentar um
dividirem o espaço privilegiado e de
panorama social representado no cinema
conhecimento que é a universidade.
brasileiro, com uma lente de aumento nas
Privilégios, é um documentário que desigualdades raciais sustentadas pelos
segundo Bill Nichols (2010) se insere na privilégios que a branquitude mantém.
categoria de documentário participativo,
em que o público se indigna, sofre e ri ao
ter a sensação de que os(as) 2 - Branquitude na sociedade
entrevistados(as) se dirigem diretamente a brasileira
desenvolvimento social do país. As elites
brasileiras acreditavam que a eugenia era
A isenção do indivíduo branco com o tema
uma ferramenta científica de “limpar” a
do racismo perpétua vantagens que
população, a ideia de modernidade e
somente pessoas brancas têm na
embranquecimento ganha força a partir de
sociedade, como menciona a psicóloga
teses e dissertações do movimento
Maria Aparecida Silva Bento (2002)
eugenista. Com políticas de guetificação
A falta de reflexão sobre o papel do dos negros na periferia das grandes
branco nas desigualdades raciais é uma cidades afirmavam que o Brasil
forma de reiterar persistentemente que branqueava a olhos vistos, nos anos 1920
as desigualdades raciais no Brasil
e 1930 se consolida o ideal de
constituem um problema exclusivamente
branqueamento no país, conforme afirma
do negro, pois só ele é estudado,
dissecado, problematizado (BENTO, Kabengele Munanga:
2002, p. 26). O determinismo biológico que
pavimentou o caminho do racialismo ou
Essa “isenção” ao evitar qualquer foco na
racismo científico que até hoje pensa
pessoas brancas, também se configura
negativamente no futuro coletivo dos
como uma prática de racismo, e por sua povos não europeus, principalmente
vez provocam irreparáveis danos negros e índios e seus descendentes
emocionais e sofrimento psíquico. A mestiços, teve aí seus primeiros passos
dificuldade em se avançar na erradicação (MUNANGA, 2002, p. 11).
do racismo na sociedade muito se deve ao
Em 1933, com a publicação do livro de
colocar a vítima como causadora do
Gilberto Freyre “Casa Grande & Senzala” o
“problema”. Como se o racismo só existisse
mito da democracia racial, que perdura até
por causa da existência das pessoas
hoje. No livro a “mistura” de raças seria a
negras. Não é questionado ao sujeito que
solução para desenvolvimento do país. Em
pratica e comete o crime, cabendo ao
sua tese Freyre ameniza os efeitos
negro exclusivamente, a tarefa de evitar
nefastos da escravidão no Brasil e cria uma
e/ou combater o racismo. Estes fatos,
visão de paraíso racial defendida por
sustentam a desigualdade e se consolidam
muitos e sempre comparada aos conflitos
em forma de privilégios sociais; tornando o
raciais estadunidense como as leis de
posicionamento dos indivíduos brancos
segregação racial, os conflitos civis e a
totalmente inquestionáveis. Esses
Guerra de Secessão.
privilégios que cerceiam o reconhecimento
dos brancos enquanto pessoas racistas, Gilberto Freyre legitima sua teoria
estão enraizados no Brasil desde o início justificando o estupro de mulheres e
do processo de nacionalização. Sustentada meninas negras com a predisposição dos
por uma ideologia eugenista, que consolida portugueses no bom convívio com outras
até hoje uma supremacia branca etnias, conforme fica nítida nessa
embasada na falaciosa democracia racial. passagem do seu livro:
O intercurso sexual de brancos dos
melhores estoques - inclusive
2.1 - Política eugenista X Política eclesiásticos, sem dúvida nenhuma, dos
para todos elementos mais eugênicos na formação
brasileira - com escravas negras e
mulatas foi formidável. Resultou-se daí
Conforme estudos da pesquisadora Lilia grossa multidão de filhos ilegítimos -
mulatinhos criados com a prole legítima,
Moritz Schwarcz, o Brasil é um país cujo
dentro do liberal patriarcalismo das
projeto de nação foi pensado com base nas
casas-grandes; outros à sombra dos
teorias eugenistas européias. Consolidado engenhos de frades; ou então nas
no início do século XX, esse projeto ganha “rodas” e “orfanatos”.
corpo com políticas públicas racistas
mascaradas com a intenção de
(...) O grande problema da colonização A ascensão social do povo negro - é uma
portuguesa no Brasil - o de gente - fez reivindicação do Movimento Social Negro -
que entre nós se atenuassem escrúpulos tornou se possível a partir, do primeiro
contra irregularidades morais ou de
mandato do presidente Luís Inácio Lula da
conduta. Talvez em parte nenhum país
Silva, um projeto que inicia com a criação
católico tenha até hoje os filhos
ilegítimos, particularmente os de padre, da Lei 10639/2003; Implementação das
recebido tratamento tão doce; ou políticas de ações afirmativas nas
crescido em circunstâncias tão universidades públicas; investimento e
favoráveis.” (Freyre,1986, p. 91) parcerias com universidades particulares
com programas de bolsa e financiamento
A estruturação de uma sociedade desigual,
das mensalidades(FIES); criação das
como a brasileira, demarca o racismo como
Secretaria Nacional de Políticas de
um fenômeno ideológico mantido pelo mito
Promoção da Igualdade Racial
da democracia racial e perpetuado pela
(SEPPIR),Secretaria Nacional da
ideia do racismo velado. Esse discurso, no
Juventude e Secretaria Nacional da Mulher,
entanto, não se mantém e é estampado na
entre outras. Os planos governamentais
pouca diversidade nas salas de aulas das
aliados aos acordos internacionais como os
universidades públicas brasileiras, nas
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
escolas particulares, nos moradores dos
(ODM11) foram propostas que auxiliavam o
bairros privilegiados de qualquer cidade
país na erradicação da pobreza, do
brasileira, nos ricos e empresários. Ou
analfabetismo e das desigualdade sociais.
seja, no Brasil a pobreza tem cor e essa
O governo petista criou uma série de
cor é negra. Conforme afirma o relatório de
medidas chamadas políticas sociais de
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
inclusão que colaboraram para que a
Estatística (IBGE) de 2016.
população mais marginalizada tivesse
A política de extermínio de corpos negros acesso a serviços previstos em lei. Por
que ainda perpetua no país hoje vem da anos esses direitos foram negados,
esperança na falácia de que “daqui há 100 justificados que havia uma “dificuldade” no
anos não haverá negros no Brasil” escrita cumprimento pelo poder público.
por estudiosos eugenistas - como Renato
Uma das medidas que beneficiam
Kehl (considerado o pai da eugenia no
diretamente a população afro brasileira foi
Brasil); Júlio de Mesquita (proprietário do
a criação do Estatuto da Igualdade Racial,
jornal O Estado de S. Paulo); Oliveira
em 2010, um documento importante que
Vianna (jurista e sociólogo); Arnaldo Vieira
além de determinar as discriminações
de Carvalho (fundador da Faculdade de
raciais, trás luz a questão das políticas
Medicina em São Paulo); Nina Rodrigues
afirmativas:
(médico legista, psiquiatra) - no início do
século passado. O aumento da população Art. 4o A participação da população
negra (somatória de pretos e pardos, negra, em condição de igualdade de
segundo o IBGE) para 54,7% entre 2012 e oportunidade, na vida econômica, social,
política e cultural do País será
2016, confirmam que as teses e teorias
promovida, prioritariamente, por meio de:
eugenistas estavam erradas. Entretanto,
I - inclusão nas políticas públicas de
vale ressaltar que o erro é considerado desenvolvimento econômico e social; II -
algo inadmissível para os ditos adoção de medidas, programas e
“superiores”. políticas de ação afirmativa; III -
modificação das estruturas institucionais
Os quase quatro séculos de escravidão e
do Estado para o adequado
exclusão, não barrou a violência após a enfrentamento e a superação das
assinatura da Lei Áurea em 1888. No desigualdades étnicas decorrentes do
entanto, é inegável que nos últimos anos preconceito e da discriminação étnica; IV
ocorreram várias conquistas no acesso às - promoção de ajustes normativos para
políticas públicas para a população negra. aperfeiçoar o combate à discriminação
étnica e às desigualdades étnicas em
todas as suas manifestações individuais, “Uma imagem vale mais do que mil
institucionais e estruturais; V - eliminação palavras” (ditado popular de autoria do
dos obstáculos históricos, socioculturais filósofo chinês Confúcio). O audiovisual em
e institucionais que impedem a
geral, cinema em particular, sempre foram
representação da diversidade étnica nas
sinônimos de privilégios, capital cultural e
esferas pública e privada; VI - estímulo,
apoio e fortalecimento de iniciativas financeiro e ainda, símbolos de
oriundas da sociedade civil direcionadas branquitude que articula um discurso
à promoção da igualdade de discriminatório da população negra, a ideia
oportunidades e ao combate às de superioridade branca sempre foi
desigualdades étnicas, inclusive exposta na tela, consequência dos
mediante a implementação de incentivos realizadores da sétima arte serem homens
e critérios de condicionamento e brancos, conforme dados da ANCINE
prioridade no acesso aos recursos
(Agência Nacional do Cinema) recentes
públicos; VII - implementação de
pesquisas comprovam que mais de 70%
programas de ação afirmativa destinados
ao enfrentamento das desigualdades das produções brasileiras de longa
étnicas no tocante à educação, cultura, metragem distribuídas comercialmente em
esporte e lazer, saúde, segurança, 2016 foram dirigidas por homens brancos,
trabalho, moradia, meios de e nenhuma diretora ou roteirista negra,
comunicação de massa, financiamentos porém o mesmo não acontece quando
públicos, acesso à terra, à Justiça, e examinamos os curtas metragens exibidos
outros. (BRASIL,2010. Lei12288/10) em festivais e mostras audiovisuais. Esse
São muitas as reivindicações para construir fenômeno acontece devido a diferença
uma sociedade mais justa e igualitária. As entre os orçamentos e investimentos na
lutas e trabalho árduo do povo negro, tem produção de curtas e longas.
aos poucos formatado conquistas É válido relembrar que os dados da
importante para toda a população ANCINE são frutos da pesquisa “A cara do
brasileira. No entanto, o não entendimento Cinema Nacional12” realizada pelo Grupo
pelo estado e pela minoria branca como de Estudos Multidisciplinares da Ação
privilégio sustentam as desigualdade entre Afirmativa (GEEMA) da Universidade
as pessoas, e não combatem Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O
verdadeiramente o racismo e as grupo tem produzido estudos sobre ações
desigualdades raciais. afirmativas com diversas abordagens
metodológica desde 2008. Atualmente
desenvolve investigações sobre a
3 - Branquitude na indústria representação de raça e gênero na política
cinematográfica e em diversas instituições e mídias
(jornalismo, cinema, telenovelas, revistas,
videogames).
A arte do audiovisual e o cinema chegam
no Brasil 10 anos após a assinatura da Lei Cabe destacar a invisibilidade das
Áurea, momento do auge das teorias pesquisas, coleta de dados e espaço de
racistas. Em seu estudo sobre as imagens exibição das produções de curta metragem
do negro no cinema brasileiro, o sociólogo e documentários realizados no Brasil,
Noel Carvalho dos Santos afirma que no ficando restrito aos espaços de festivais,
período silencioso “o negro aparece de mostras e cineclubes para esse cinema
forma lateral, nas bordas e no fundo dos independente.
enquadramentos e sem função dramática.
Dessa perspectiva é que salientamos a
A impressão que temos é que elas
necessidade de utilizar outros
‘escapam’ do controle do cinegrafista.” parâmetros para analisar a atuação das
(CARVALHO, 2003, p.162) uma reflexão mulheres negras na produção
sobre a condição do negro naquele cinematográfica brasileira, buscando
contexto histórico. além dos filmes de maior bilheteria,
enxergar a relevância do cinema de curta
metragem, no qual o conceito de cinema ponto de vista negro, o cinema de diáspora,
negro no feminino toma forma de ou também chamado de cinema decolonial
diferenciadas, múltiplas, e complexas é aquele que trás uma perspectiva
estratégias de produção e representação
descolonizada e diferente das imagens
audiovisual[…] (SOUZA & FERREIRA,
construídas por pessoas brancas, essas
2017 p.178)
imagens salvam, curam e denunciam com
Após publicar os dados da pesquisa o temas nunca antes trazido para o cinema,
Ministério da Cultura (MINC) divulgou em inclusive as fissuras do racismo no Brasil
2018 um programa chamado Audiovisual (Souza, 2013).
Gera Futuro onde destina R$ 80 milhões
As formas de representação feminina é
em 11 editais13. O Programa se diferencia
fruto de constante estereótipo da imagem
de outros editais do Minc pelo alto valor de
da mulher no cinema. As mulheres brancas
investimento das obras, ser uma tentativa
são em geral apresentadas como frágil,
de democratizar e incorporar os
doce, gentil… ao passo que as mulheres
profissionais negros e negras no
negras, são representadas em estereótipos
audiovisual através de cotas. No entanto
negativos criados e consagrados a partir de
sem abrir espaço para Pessoa Física e
uma perspectiva racista. Conforme afirma a
Microempreendedores Individuais (MEI) a
pesquisadora Evelyn White (2000, p. 149),
participação das mulheres negras ainda
“as formas de se representar as mulheres
não será efetivada, haja vista que a maioria
negras em nossa sociedade são muito
das produtoras negras independentes não
limitadas, não permitindo a compreensão
teriam como pleitear o incentivo já que as
das diversas dificuldades por elas
condições de participação são para grande
enfrentadas”.
empresas e produtoras com mais de 2
anos no mercado. Para além da representação em papéis
subalternos, caricaturados e estereótipos
O Programa também segmenta a negativos, a socióloga Lorna Roth em seu
participação das realizadoras negras em artigo: Looking at Shirley, the Ultimate
nichos de mercado de deficientes Norm: Colour Balance, Image
distribuições e visibilidade como o Technologies, and Cognitive Equity (2009)
documentário e o público infantil, a ficção denuncia como a tecnologia fotográfica
ainda é um terreno que devemos pleitear. desenvolvida por brancos e voltadas para
A invisibilidade de negras e negros na brancos passou décadas sem se preocupar
mídia brasileira em geral é uma tentativa de com a representação de diferentes tons de
mostrar um país branco consolidando um pele:
embranquecimento epistêmico, seja
estampando constantemente na tela corpos Independentemente da calibragem
brancos, seja pela eliminação do corpo configurada para imprimir as fotos, a
negro, seja pelos estereótipos negativos reprodução de peles mais escuras
criados e reproduzidos até hoje ao apresentava uma coloração indistinta,
indivíduo negro, a apropriação da cultura pálida, ou tão próxima do preto que só o
branco dos olhos e dos dentes exibia
negra, mas não do sujeito negro,
algum detalhe. Nas fotos em que
perpetuando uma imagem desprivilegiada diferentes tons de pele apareciam lado a
em novelas, comerciais, programas de TV, lado – como as fotos de formatura com
jornais, revistas e mídias em geral. vários estudantes –, o desafio era ainda
maior, pois os fotógrafos muitas vezes
aumentavam a intensidade da luz e
3.1 - O olhar do negro no cinema super expunham as pessoas mais
escuras para capturar a maior definição
possível da pele. Isso também causava a
A importância do cinema negro no Brasil e superexposição das peles claras,
no mundo é de desconstruir e contar tornando o resultado constrangedor para
o fotógrafo. (ROTH, 2009, p.112).
histórias nunca contadas, através de um
persiste uma pauta antiga dos/das
estudantes de cinema da instituição na
Ao longo da história da fotografia é
tentativa de diminuir esses obstáculos. A
percebido, e com o audiovisual não é
realização deste filme de maneira
diferente, que devido a regulagem e
totalmente independente, somente foi
calibragem das câmeras e das películas de
possível graças ao movimento de
filme é necessário uma preparação de luz
ocupações nas universidades brasileiras
especial para atrizes e atores negros, em
contra a PEC 24115, o apoio do Movimento
que poucos fotógrafos se atentam a esse
Ocupa IACS16 (Ocupa Instituto de Artes e
fato que já era percebido nas telonas onde
Comunicação Social da Universidade
o ator Grande Otelo14 denunciava em
Federal Fluminense) foi fundamental para
entrevistas sobre a sua imagem parecer
a realização deste filme.
um borrão, algo desassociado do corpo
humano. Por muito tempo o negro foi O coletivo Kbça D’ Nêga fez o primeiro
visualizado na tela como um corpo não contato para utilização do estúdio e
identificado, incutindo uma mentalidade equipamentos junto ao movimento “Ocupa
onde o negro não é humano, essa IACS”, porém devido a desentendimentos
desumanização da imagem do negro é um com a coordenação e chefia de
retrato de um país ainda hoje departamento do curso de Cinema e Vídeo
subdesenvolvido por não aderir um o acesso aos equipamentos e ao estúdio
componente fundamental da sua ficaram restritos a pessoas autorizadas
construção e renegar essa parcela pela chefia de departamento, mesmo
majoritária da população brasileira. havendo uma ocupação no prédio. O
coletivo que já havia usado estúdio e
Cada vez fica mais urgente e evidente a
equipamentos no primeiro dia de filmagem,
necessidade de um cinema onde esses
teve que acessar contato com a instituição
corpos negros não sejam objetificado,
da Universidade Federal Fluminense
estigmatizado, estereotipado e
através do Departamento de Cinema e
invisibilizado, o mercado responde a esses
Vídeo para liberação e utilização do
produtos e obras com afinco vide o
material, pois a restrição comprometeria a
sucesso de produções como: Corra (Jordan
continuidade e resultado final do
Peele,2017) e Pantera Negra (Ryan
documentário. A equipe conseguiu
Coogler,2018), além da crescente onda do
autorização de ambas as partes para a
cinema negro no Brasil onde cineastas
conclusão do filme.
negras e negros tem se despontados nas
produções de documentários e curtas- A partir das referências sobre este tipo de
metragens. documentário, Privilégios pode ser
classificado como um filme expositivo.
Segundo Bill Nichols, neste tipo de
4 - Privilégio – o documentário documentário, os(as) entrevistadas
dirigem-se diretamente aos/às
espectadores(as) para apresentarem seus
argumentos e/ou histórias. Neste sentido, a
O filme como todo é uma denúncia, a narrativa foi construída a partir de
começar pelo uso dos equipamentos para contrastes e comparações de pessoas
filmagem serem do Departamento de brancas e negras que vão edificando às
Cinema e Vídeo da Universidade Federal categorias e os conceitos sobre privilégios
Fluminense (UFF). Embora esses (Nichols, 2010).
equipamentos sejam para uso dos
estudantes dos cursos de audiovisual da Privilégios trás outra provocação quando
UFF, existe muitas dificuldades em inverte a lógica de luz, calibrando a luz
acessá los, devido a burocracia no para o corpo negro nas entrevistas em
processo de retirada do almoxarifado do clima de interrogatório, inspirado no cinema
Departamento para utilização. Por sua vez, noir17. Em conversa com a diretora de
fotografia Tassiana Catein foi determinado afirmativas na universidade como
pela diretora Rosa Miranda que a luz não privilégios.
mudaria para nenhuma pessoa
entrevistada e seria calibrada e balanceada
para o corpo negro, sendo a própria usada 4.1 As fronteiras entre negros e
como teste de luz e a mesma optou por brancos são sempre elaboradas e
não fazer o uso de correção de cor nos contraditórias
frames. O resultado pode ser observado
nas imagens abaixo retiradas de Privilégios
e ao longo do filme.
No final do ano de 2017, foi realizado uma
sessão surpresa com cerca de 20 pessoas
presentes que assistiram ao primeiro corte
do documentário. Na seção um dos pontos
que ficou evidente foi o incômodo causado
pelo filme a todos os presentes. As
pessoas queriam conversar e falar. E se de
um lado se pode perceber que as pessoas
negras interagiram com o filme,
concordando com algumas falas,
aplaudindo e rindo; por outro, as pessoas
brancas ficaram constrangidas. Algumas
chegaram a dizer que estavam impactadas
com tudo que foi colocado no filme. Por sua
vez, os(as) participantes do documentário,
Figura 1 - Frames do documentário Privilégios (2018) fizeram questão de falar sobre as
mudanças que ocorreram em suas vidas
após as gravações, elas agradeceram e
afirmaram que ao rever a entrevista,
possibilitou reflexões nunca antes
pensadas sobre a temática do privilégio.
Privilégios é um filme realizado por negros
e se insere dentro do conceito de Cinema
Negro, ou seja, é uma produção de cinema
com a temática negra, produzido por
negros, “e reiteram uma epistemologia
possível para criação do cinema negro
brasileiro” (Souza, 2013, p. 83). O
documentário, também levanta o
questionamento sobre os assuntos que
Figura 2 – Frames do documentário Privilégios (2018) cineastas e realizadores(as) negros(as)
podem levantar em suas produções e
É interessante notar que em cada bloco há provoca o debate sobre racismo no Brasil,
entrevistas que são guiadas pelas falas como um tema que deve ser urgentemente
dos(as) entrevistados(as); no primeiro tratado por todas as pessoas,
bloco não há um(a) entrevistado(a) em independentes de seus pertencimentos de
foco, enquanto no segundo um homem gênero, raça e classe.
branco que destoa dos demais ao afirmar
que nunca havia sido apontado enquanto Observa-se a dificuldade dos
branco somente na universidade e terceiro entrevistados(as) brancos(as) definirem
duas pessoas se destacam, e uma mulher Privilégios, enquanto que os negros e
negra que entende as políticas de ações negras os identificam com mais facilidade.
O fato de a maioria dos(as)
entrevistados(as) serem indivíduos racistas. Esse conflito pessoal tende a
brancos, universitários e minimamente ter emergir no momento em que se visibiliza
acesso a debates sociais que a maioria da a identidade racial branca. Desta forma,
a branquitude crítica segue mais um
população não tem, pode ser um dos
passo em direção à reconstrução de sua
fatores para o constrangimento em suas
identidade racial com vistas à abolição
falas. Como se, em alguns momentos, do seu traço racista, mesmo que seja
percebessem os efeitos danosos dos involuntário, mesmo que seja enquanto
privilégios que ostentam na sociedade grupo. A primeira tarefa talvez seja uma
como um todo. Esse desconforto é dedicação individual cotidiana e, depois,
explicado por Cardoso: a insistência na crítica e autocrítica
quanto aos privilégios do próprio grupo.
A ideia de superioridade racial
(CARDOSO,2010: 624)
constituinte da identidade racial branca,
não é um traço de essência, é uma A terceira parte “Cotas são privilégios?”
construção histórica e social, por isso, onde como a própria cartela anuncia
pode ser desconstruída (Hall, 2003, pp. debate sobre cotas, um assunto ainda
335-349). Aliás, trata-se de uma tarefa a
muito restrito ao meio acadêmico, em que
ser realizada cotidianamente por brancos
poucas pessoas têm informações,
anti-racistas, que vivem o conflito de, por
um lado, pertencerem a um grupo causando polêmica no debate. Neste
opressor e, por outro lado, colocarem-se momento não é dividido entre brancos e
contra a opressão (CARDOSO, 2010, p. negros, a percepção é como se um
623) respondesse ao outro, abrindo um debate
sobre o tema tão caro à população negra,
Se para indivíduos brancos é complicado
porém pouco debatido entre a população
como afirmam os entrevistados, para as
em geral.
pessoas negras a consciência da
existência dos privilégios e a facilidade em As políticas de ações afirmativas e as
apontá-los se deve pela falta, uma das cotas surgem com uma intenção
entrevistadas declara - é mais fácil deliberada para corrigir as desigualdades
perceber quando você não tem, quando resultantes da racialização já existente
você vê no outro. na origem do racismo. Elas não vêm
para dividir, pelo contrário, vêm para
Na segunda parte “Reconhecendo seus aproximar e unir pela redução das
privilégios” duas narrativas que chamam a desigualdades. (MUNANGA,2009, p.16)
atenção é a disparidade sobre o
A construção da narrativa fílmica não foi
reconhecimento dos(as) entrevistados(as)
realizada no intuito de entreter o público.
brancos(as) que associam privilégios à
Privilégios se insere dentro de uma
ilegalidade, e a forma como dizem sobre as
perspectiva do cinema negro brasileiro e
suas “aventuras ilegais” sendo algo
nasce da necessidade de contribuir com a
divertido - inclusive afirmam que se sentem
reflexão sobre o tema na questão da
fortes em cometer esses crimes. Enquanto
desigualdade social, de gênero e das
os(as) negros e negras associam essa
relações raciais no Brasil. O filme,
regalia ao acesso à educação e ao
apresenta diferentes pontos de vistas e um
pertencimento de uma família. Acreditamos
panorama complexo do sistema perverso
que esses depoimentos tão espontâneos
do racismo estrutural presente na
podem ter sido proporcionado pelo fato dos
sociedade.
entrevistadores(as) também serem
pessoas brancas e negras que se
alternavam a medida que os(as)
entrevistados(as) mudavam. 5 - Considerações finais

Os privilégios que resultam do


pertencimento a um grupo opressor é um
dos conflitos a serem enfrentados, Assim como a sociedade brasileira, o
particularmente, pelos brancos anti- documentário Privilégios, assume o
assunto raça como um tabu social. A ideia Esse discurso do indivíduo branco inverte
de democracia racial foi substituída por um uma reivindicação antiga do Movimento
discurso hipócrita de humanismo, em que o Social Negro(MSN) de valorização da
debate étnico foi demonizado. Os identidade étnica da população negra,
humanistas dizem que “somos todos depreciada pelos diversos meios de
humanos”, e reivindicam a consciência comunicação que valoriza a estética e tem
humana. Afirmam que falar sobre raça é como principal referência a cultura branca
dividir a sociedade em brancos e pretos. eurocêntrica.
Há uma corrente de pensamento na
[...] a pior armadilha para os atores
academia contrária às políticas afirmativas.
negros tem sido a manifesta opção por
Essas ideia são sustentadas com o profissionais brancos para representar a
discurso de que as cotas se configuram em beleza ideal do brasileiro ou, até mesmo,
um movimento de segregação. No entanto, o típico brasileiro comum – uma estética
essas pessoas não assumem que as produzida pela persistência da ideologia
desigualdades sociais estão atreladas às do branqueamento em nossa cultura, um
desigualdades raciais. Elas afirmam que discurso construído no século XIX que é
não existe divisão entre negros e brancos, revivido no dia-a-dia de nossas telinhas
através da exclusiva escolha de loiras
desconsiderando o racismo existente na
como apresentadoras ideais dos
sociedade. Mais uma vez o racismo se
programas infantis e de modelos brancos
articula para invisibilizar questões para os papéis de galãs e mocinhas
importantes à população negra. O sujeito (ARAÚJO,2008, p.981)
humanista sustenta o discurso também
falacioso da meritocracia, além de entender Se a consciência de ser branco vem com a
o conceito raça como biológico e não entrada na universidade e mediante
social, conforme afirma Munanga: relações mais próximas às pessoas negras
também universitárias; ao povo negro, essa
Envoltos pela atmosfera da racionalidade consciência pode chegar um pouco antes.
e da ciência alicerçada na biologia,
Conforme a autora Neusa Santos Souza
engendrou-se uma ciência das raças,
afirma em seu livro “Tornar-se Negra” de
raciologia, que tinha como objetivo
explicar a diversidade humana. 1983
Entretanto, impregnada por argumentos Saber-se negra é viver a experiência de
que se pretendiam neutros e empíricos, ter sido massacrada em sua identidade,
mas eram falaciosos (para não dizer confundida em suas perspectivas,
ideológicos), desembocou em uma submetida a exigências, compelida a
absurda hierarquização da humanidade expectativas alienadas. Mas é também, e
em raças desiguais (MUNANGA, 2002, sobretudo, a experiência de
p. 11). comprometer-se a resgatar sua história e
recriar-se em suas potencialidades.
Muito além do silenciamento do assunto
(SOUZA,1983, p.17-18)
raça em uma das entrevistas mais
contraditórias do filme um homem branco Durante a entrevista, uma jovem fala sobre
diz que nunca foi uma questão debater sua experiência pessoal, afirma que
sobre raça, só na universidade foi apontado sempre teve consciência da sua condição
como branco, “__ porque é um peso muito de negra. Mas, que entretanto, essa
grande para o branco e ninguém quer ser percepção, não diminui as agressões
branco”. Temos observado nas exibições sofridas, o que ocorreu foi a resiliência dela
do documentário que neste momento diante das opressões. Para muitos, a
as(os) espectadoras(es) negras riem e se demora de perceber sua identidade étnica
assustam, enquanto as (os) está intrinsecamente associada à falta de
espectadoras(es) brancas não entendem a debate sobre raça nos espaços formais e
reação das pessoas negras. A expressão não formais de aprendizado.
de “porque estão rindo?” fica estampada.
Enquanto os indivíduos brancos ainda
permanecerem resistindo a reconhecer
seus privilégios e não abrirem mão deles, o Negro na TV Pública. Brasília: Fundação
debate sobre as relações raciais estará Cultural Palmares, 2010.
estagnado. Privilégios brancos provocam BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento
um efeito danoso sobre as políticas e Branquitude no Brasil. In: Psicologia social do
públicas de ação afirmativa, possibilitando racismo – estudos sobre branquitude e
brechas para as fraudes no sistema de branqueamento no Brasil / CARONE, Iray;
cotas raciais, aprovado no Estatuto da BENTO. Maria Aparecida Silva. (Organizadoras)
Igualdade Racial, bem como, contribuem Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. (25-58).
para o aumento no encarceramento em BRASIL, Lei 12288/2010
massa da população, colabora para o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
extermínio da juventude e perpetua as 2010/2010/lei/l12288.htm
desigualdades nos sistemas de educação,
CANDIDO, Marcia R.; MORATELLI, Gabriella;
saúde e habitação. Ou seja, o que divide a
DAFLON, Verônica T.; FERES JÚNIOR, João. A
nossa sociedade são os privilégios e não
cara do cinema nacional: gênero e cor dos
as políticas de reparação. atores, diretores e roteiristas dos filmes
brasileiros (2002-2012). In: Textos para
Com o artigo “Privilégios - branquitude e
Discussão GEMAA, Rio de Janeiro, n. 6, p. 1-
racismo no cinema e na sociedade
24, 2014. Disponível em: <
brasileira”, procuramos demonstrar a http://gemaa.iesp.uerj.br/textos-para-
discussao/tpd13/ > Acesso em: 5 abr. 2018.
demora e urgente necessidade de ações
afirmativas no âmbito da sociedade em CARVALHO, Noel dos Santos. O negro no
geral e do cinema em particular. Durante cinema brasileiro: o período silencioso. Plural:
muito tempo tivemos apenas um olhar, um São Paulo, 2003. (v. 10, p. 155-179).
único ponto de vista no cinema brasileiro:
FERREIRA, Ceiça e SOUZA, Edileuza Penha in:
masculino, eurocêntrico e heteronormativo. Feminino plural mulheres no cinema brasileiro /
HOLANDA, Karla e TEDESCO, Marina
É passado a hora de mulheres negras, que
Cavalcante (Organizadoras) Campinas, SP:
são tratadas como minorias, terem seus
Papirus, 2017.
olhares e corpos representados e
respeitados nas telinhas e telonas. FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Univ
Estamos construindo as nossas imagens e of California Press, 1986
representações, é urgente a visibilidade MUNANGA, Kabengele. A identidade negra no
dessas produções e propagação desse contexto da globalização. Ethnos Brasil, 2002. (
olhar feminino e negro em todos os v. 1, p. 11-20)
espaços, sem segregação a nichos
IBGE, Coordenação de População e
mercadológicos que impede nosso acesso
Indicadores Sociais Síntese de indicadores
ao grande público e consequentemente aos
sociais: uma análise das condições de vida da
recursos das grandes produções. população brasileira. 2017 Rio de Janeiro IBGE,
2017 147p. - (Estudos e pesquisas. Informação
demográfica e socioeconômica)
5 - Referências OLIVEIRA, Janaína. “Kbela” e “Cinzas”: o
cinema negro no feminino do “Dogma Feijoada”
aos dias de hoje. AVANCA Cinema, p. 646-654,
ARAUJO, Joel Zito. O negro na dramaturgia, um 2016.
exemplo da decadência do mito da democracia
ROTH, Lorna. Looking at Shirley, the ultimate
racial brasileira. Rev. Estud. Fem., Florianópolis,
norm: Colour balance, image technologies, and
v. 16, n. 3, p. 979-985, dezembro de 2008.
cognitive equity. Canadian Journal of
Disponível em
Communication, v. 34, n. 1, p. 111, 2009.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artte
xt&pid=S0104026X2008000300016&lng=en&nr SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e
m=iso>.acesso em 5 de abril de 2018 negro: jornais, escravos e cidadãos em São
Paulo no final do século XIX. São Paulo:
______. Onde está o negro na TV pública
Companhia das Letras, 1987.
brasileira? In: ARAÚJO, Joel Zito (Org.). O
SOUZA, Edileuza Penha de. Cinema na panela em ascensão social. Rio de Janeiro: Edições
de barro: mulheres negras, narrativas de amor, Graal, 1983.
afeto e identidade. 2013. 204f. Tese (Doutorado
em Educação) – Universidade de Brasília, WERNECK, Jurema; MENDONÇA, Maisa;
Programa de Pós-Graduação em Educação, WHITE, Evelyn C. O livro da saúde das
2013. mulheres negras: nossos passos vêm de longe.
São Paulo, Pallas, 2000.
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro: as
vicissitudes da identidade do negro brasileiro

Rainha dos raios, guerreira que não desampara


seus filhos.
6- Notas finais 6
Da minha pele (02':25'')- Vídeo poesia em
homenagem ao Diego Vieira Machado,
estudante de Letras da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, assassinado no Campus do
1 Fundão em Junho de 2016.
Licenciada em Cinema e Vídeo pela
Universidade Federal Fluminense (UFF). 7
Bixa Preta (4’:52’’) - Bixa Preta se baseia em
Cineasta e arte-educadora.
“O tempo não para”, música de Arnaldo
2 Brandão e Cazuza como um disparate de suas
Doutora em educação e comunicação pela feridas colecionadas durante a vida, Felipe Pinto
Universidade de Brasília (UnB). Professora, (Performer) interpreta a poesia que faz um
historiadora e documentarista paralelo com sua vida: bixa, preta, pobre e
também soropositivo.
3
Criado em 2014 o Kbça D’Nêga é um coletivo
8
de produção audiovisual de Niterói - RJ, Ato Retrato de uma Bixa Pão com Ovo (8’:15’’)
composto em sua maioria negras, negros e - BIXA PÃO COM OVO expressão originária do
pessoas LGBTTQIA+. que atua a quatro anos Pajubá que é uma linguagem de resistência
na produção de filmes e de conteúdo gerada nos terreiros de religiões de matriz
audiovisual. O Coletivo Kbça D’ Nêga possui 10 africana por grupos LGBTTQ. Bernardo
produções realizadas, sendo 7 finalizadas e Resende conta como é ser uma Bixa Pão com
selecionadas em diversos festivais e mostras do Ovo, marginalizada e fora do padrão da
país, com 2 produções selecionadas para o X glamourização do meio.
Encontro Internacional de Cinema Zózimo
9
Bulbul: Brasil, África e Caribe com exibições no Lua (6’:14”)- Documentário onírico sobre as
Cinema Odeon, no Museu de Arte do Rio vivências de infância e o momento de sua
(MAR), na Cinemateca do MAM (Museu de Arte transição de gênero de Lua Guerreiro, trans,
Moderna), no CineMasion e no Goethe Institut não binária que se expressa pelo que é
Salvador. Atua também na realização de considerado feminino.
oficinas e palestras ligadas ao tema do
10
audiovisual e do cinema negro e na produção e Privilégios (18’:41’’) - O documentário
curadoria de cineclubes, eventos e rodas de "Privilégios", trata-se de uma pesquisa social,
conversa sobre a cinematografia negra no realizada em 2016 durante o período de
Brasil. ocupação das universidades públicas, com
apoio do movimento Ocupa IACS, sobre os
4
Gambiarra - Solução improvisada para privilégios que se tem nessa sociedade e uma
resolver um problema ou para remediar uma chamada para reflexão sobre o tema que
situação de emergência; remendo.
abrange as relações vinculadas às opressões
https://www.dicio.com.br/gambiarra/
de gênero, raça e classe
5
À Oyá (1:10) - Vídeo poesia, montado a partir 11
Os objetivos do milênio procuraram formas de
de fotos de um ensaio fotográfico como tema inserir a busca por esses Objetivos em suas
Princesa Africana, utiliza a técnica de animação próprias estratégias. O esforço no sentido de
stop-motion. O curta é dedicado à Orixá incluir vários desses Objetivos do Milênio em
feminina Oyá, Iansã, Senhora dos ventos, agendas internacionais, nacionais e locais de
Direitos Humanos, por exemplo, é uma forma destinado ao próprio instituto. As obras do
criativa e inovadora de valorizar e levar adiante prédio que tiveram início em novembro de 2008
a iniciativa. com previsão de conclusão até o final de 2011
estão paralisadas há mais de cinco anos.
12
A pesquisa analisou longas metragens Enquanto isso, o antigo e estiloso casarão do
IACS está com falta de espaço até para salas
brasileiros distribuídos comercialmente no de aulas, quem dirá para laboratórios, estúdios
período entre 2002 à 2012 no Brasil. de fotografia e espaços livres de criação que
contribuam com o desenvolvimento cultural
13
Os editais foram divididos em: Longa de coletivo de artes e comunicação como propõe a
animação (R$ 17.500.000,00), Narrativas união dessas duas áreas no mesmo instituto da
audiovisuais para a infância em curta-metragem universidade.
(R$ 2.100.000,00), Narrativas audiovisuais para
17
infância seriada (R$ 8.000.000,00), O conceito de cinema noir vem a partir de
Documentário Afro-brasileiro e indígena em uma ideia muito divulgada do racismo no Brasil
longa metragem (R$5.000.000,00), ser velado, quando para as negras e negros ele
Documentário Infância e Juventude em longa é escancarado. Para quem o racismo é velado?
metragem (R$ 5.000.000,00), Jogos eletrônicos E a intenção também era trazer um clima de
para infância e juventude (R$ 2.500.000,00), confessionário.
Narrativas Transmídias para a Infância – Curtas
Animação + Jogos Eletrônicos (R$ 3.500.000),
Narrativas Transmídias para a Infância –
Minissérie Animação + Jogos Eletrônicos (R$
10.000.000,00), Desenvolvimento de Projetos
para a Infância (R$ 4.400.000,00),
Desenvolvimento de Projetos – 200 anos da
Independência do Brasil (R$ 6.000.000,00) [e
Festivais, Mostras, Premiações, Eventos de
Mercado e Ações de Promoção/Difusão da
Produção Audiovisual Nacional (no valor de até
R$ 16.000.000,00).
14
Pseudônimo de Sebastião Bernardes de
Souza Prata (1915-1993), ator negro brasileiro,
comediante, cantor, compositor e escritor. Em
1953, escreveu uma carta denunciando a
ausência dos negros nos comerciais de revista
e apontou para a necessidade da visibilidade
negra como elemento de diversidade.
Atualmente, essa carta é reivindicada por um
grupo de cineastas e atores negros como o
primeiro manifesto da imprensa negra no Brasil
(SOUZA, 2013; ARAÚJO, 2010).
15
A PEC 241, também chamada de PEC do
Teto de Gastos, tem como objetivo limitar
despesas com saúde, educação, assistência
social e Previdência, pelos próximos 20 anos.
Foi uma das primeiras ações do governo
golpista que viola e altera a Constituição
Brasileira.

16
Movimento autônomo organizado por
estudantes do Instituto de Comunicação e Artes,
majoritariamente de cinema. No dia 31 de
agosto de 2016 os alunos do Instituto de
Comunicação e Artes (IACS) da Universidade
Federal Fluminense iniciaram ocupação de um
prédio inacabado no Campus Gragoatá

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