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TEORIAS DA COMUNICAÇÃO, E SUA RELAÇÃO COM A ARTE PÓS-


MODERNA E APROPRIAÇÃO CULTURAL

Autoras: Bianca Pereira1


Kenia Mattos2
Orientadora: Mariana Alcântara3

Resumo: No período conhecido como “pós-guerra” com o desenvolvimento de


novas tecnologias, os meios de reprodução em massa, e a consagração do
aparelho televisivo, a sociedade passou a ser tecnológica, e com isso houve
um avanço no campo da arte, demarcado por “novas formas de fazer arte”
unindo símbolos da cultura de massa e novas técnicas. A pop art e o neo-
expressionismo aparecem como o foco deste artigo, relacionando-se as teorias
de comunicação e o conceito de apropriação cultural.

Palavras Chaves: Pop Arte; Arte e Teoria

1 MARCOS HISTÓRICOS

Após a segunda guerra mundial, nos Estados Unidos o clima era de


renovação, mudança e grandes investimentos. Os americanos com uma boa
quantidade de dinheiro adquirida durante a segunda guerra mundial, passaram
a consumir os bens produzidos pelas indústrias de massa, é importante frisar
que muitos destes bens, eram bens não-duráveis.

Com as novas oportunidades de emprego e postos de trabalho que


vinham surgindo, os cidadãos americanos tinham mais capital para investir
nestes bens. Durante os anos de 1933 a 1945 o presidente Franklin Roosevelt
deu fim à chamada fase da “grande depressão” e desenvolveu a política do “big
government” (grande governo). Os presidentes que o sucederam, deram
continuidade a esta mesma política, como por exemplo Harry Truman, que
desenvolveu políticas públicas de previdência social e de construções de casas
para populações de baixa renda.

1
Estudante do 3º semestre do curso de Jornalismo da Universidade Salvador (UNIFACS);
2
Estudante do 3º semestre do curso de Jornalismo da Universidade Salvador (UNIFACS);
3
Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia
(FACOM/UFBA);Especialista em Jornalismo Científico e Tecnológico e Mestre pelo Programa
Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Profº Milton Santos(IHAC/UFBA).
2

Theodore Roosevelt é considerado como o primeiro presidente


‘’moderno’’ dos Estados Unidos. Toda a influência burocrática que os EUA
possui sobre outras nações, começou a ser desenvolvida ao longo de seu
governo. Em meados do século XIX, o congresso foi o ramo mais poderoso do
governo, graças a transição para uma figura de governo executiva, forte e
eficaz, tornando pela primeira vez, o presidente, uma figura carismática, ao
contrário de outros partidos políticos ou do congresso. Neste sentido, o
presidente era o centro da política americana.

Roosevelt através do “Big Government” colocou dúvidas frente à


perspectiva americana predominante de que as decisões de uso da
propriedade privada, seriam melhores tomadas pelo próprio proprietário que
tivesse interesse em melhorar o valor de suas propriedades. Roosevelt colocou
um fim a privatização de terras que já estava acontecendo há mais de um
século. Em 1905, o mesmo transferiu milhões de hectares de terras do governo
do Departamento do Interior para o Departamento de Agricultura e estabeleceu
o Serviço Florestal dos EUA para administração.

Os anos de 1950, conhecidos como os “anos dourados”, foram um fator


importante na economia norte americana, juntamente com o surgimento e
consolidação de novos meios de comunicação como o rádio e a mídia
televisiva, e novos meios de produção fundados sobre a perspectiva de
produção em massa. Os aparelhos televisivos foram desenvolvidos na década
de vinte, pelos engenheiros Vladimir Zworykin (russo), Philo Farnsworth
(americano) e Ernst Alexanderson (sueco). Somadas todas essas contribuições
multinacionais, se deu a “televisão moderna”, similar a que conhecemos hoje.
A era da televisão broadcast e a era do marketing de massa,
(predominante no fim dos anos 1940 até meados dos anos 1970) corresponde
ao período em que foram institucionalizadas as práticas de criação, produção,
distribuição e consumo que moldam a identidade dos primeiros anos da história
do meio televisivo.
No novo estilo de vida americano, tudo é perfeito e próspero. As
pessoas têm carros, trabalham, consomem e são plenamente felizes. Já na
questão que se enquadra a regulamentação fordista, sendo GARNHAM (1991)
citado por BIANCHINI (2017, p.5) “a televisão era como uma ferramenta
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ideológica de promoção do consumo, de movimentação política e de formação


da opinião pública”. Durante as duas primeiras décadas da TV, a popularidade
dos programas era definida pelos números totais de audiência, sem segmentar
o público em grupos de interesse, e o conteúdo era planejado para atrair mais
telespectadores, estratégia esta que o vice-presidente de programação da CBS
(rede de televisão aberta americana), Paul Klein, chamou de programação
menos censurável (least objectionable programming). Neste período, a
televisão era predominantemente um aparelho doméstico e não-portátil, e a
maioria dos lares norte-americanos possuía apenas um televisor.

A década de cinquenta impôs muitas das tendências que são seguidas


até hoje, e uma delas foi o padrão de beleza, que nesta época seguia o modelo
“esquálido”, modelo este que ficou conhecido tendo como ícone a atriz “Brigitte
Bardot”. Assim como tendências de padrões de beleza, houveram novas
tendências no campo artístico, e assim, inspirado nas mudanças da época,
surgiu o movimento artístico “Pop Art”, que tinha como inspiração o consumo
de massa e o impacto da tecnologia na sociedade.

2 A POP ART

A Pop art originalmente surgiu em 1950 na Inglaterra, porém expandiu-


se em 1960 nos Estados Unidos. O movimento tinha a intenção de fazer
criações visuais com grandes símbolos do capitalismo, como por exemplo:
Coca-cola, Pin-ups, Sopa Campbells, Marilyn Monroe.
Nos Estados Unidos, após duas exposições ocorrerem em 1963, ganharam
destaque grandes nomes como Andy Warhol, Roy Lichtenstein, e James
Rosenquist.

Algumas análises de críticos de arte, classificam a Pop Art como o


marco de transição entre a modernidade e a pós-modernidade no ocidente. Os
principais materiais usados neste movimento eram o gesso, o poliéster, o látex
e a tinta acrílica marcada pelo uso de cores inusitadas que por vezes fugiam da
conexão com a realidade. Segundo BORGES (2006)

O delineamento dessa sociedade regida pela cultura


massificada, teve suas bases, inquestionavelmente
amplificadas após a segunda guerra mundial. Motivado por
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finalidades de restauração econômica, o consumo passa a ser


palavra de ordem da década de 1950. Sob esse signo, a
produção deixa de ser vinculada estritamente ao saciar das
necessidades primordiais, mas, de sobremaneira, se
correlaciona aos desejos muitas vezes desnecessários
(BORGES apud FREITAS 2012, p.80) .

No Brasil, os anos governados por Juscelino Kubistchek foram


inspirados no “americanwayoflife” (estilo de vida americano). As casas dos
cidadãos eram equipadas com os mais novos bens de consumo, como:
enceradeiras, panelas de pressão, aparelhos televisores, liquidificadores, e
vitrolas. James Dean, ator estadunidense, conseguiu reunir muitos seguidores
que ficaram conhecidos como a “juventude transviada”.

Nesta época, esses jovens se vestiam com calças, jaquetas de couro, e


topetes, influenciados pelo twist e o rock’nroll.
O cenário da arte visual brasileira influenciado pela Pop Art, teve grande
inspiração na restrição dos meios de comunicação impostos pelos atos
institucionais (AI’s) do período conhecido como Ditadura Militar de 1964. A arte
neste contexto, trazia as insatisfações sociais do período.
Nesta fase houve uma das exposições artísticas mais marcantes do Brasil,
chamada Opinião 65, que aconteceu no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro, e contou com obras de 17 artistas brasileiros e 13 estrangeiros.

Diz Palmeira(2015)

Foram 13 artistas franceses e estrangeiros e 17 brasileiros,


entre eles Adriano e Ângelo de Aquino, Carlos Vergara,
Antonio Dias, Hélio Oiticica, Ivan Freitas, Ivan Serpa, José
Roberto Aguilar, Pedro Escotesguy, Roberto Magalhães,
Rubens Gerchman, Waldemar Cordeiro, Wesley Duke Lee,
Manuel Calvo, José Paredes Jardiel, Juan Genovés, Alain
Jacquet, Peter Foldes e Antonio Berni. Vilma Pasqualino era a
única mulher. Aquele era não apenas o momento inaugural em
que artistas plásticos se inseriam no debate político após o
golpe, propondo a obra como enunciado, suporte da opinião
sobre a nova situação política do país, ou simplesmente
espaço de ativação do debate mais diverso entre artista e
público, que de espectador era convocado a tornar-se
participador. O icônico episódio de Hélio Oitica tendo de retirar-
se do MAM em que “crioulo não entra” com os passistas da
Mangueira vestindo capas e portando estandartes na primeira
apresentação do Parangolé, ainda reverbera com viço no
debate estético atual. Nem tudo era tão junto e tão
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misturado(PALMEIRA,2015,p.285).

2.1 PRINCIPAIS EXPOSITORES DO POP ART

Disseminada mundo afora, a Pop Art contou com três principais


expositores, e foram eles Paolozzi, Hamilton e Warhol.
Eduardo Luigi Paolozzi, nascido em 07/03/1924 foi um escultor e artista
escocês que criou em 1947 a obra “I WasI Was a RichMan'sPlaything”
conhecida por trazer elementos muito característicos da cultura americana,
como a marca de refrigerante Coca- Cola, a figura da mulher pin-up, e a arma,
como se representassem os “brinquedos de um homem rico”.

Figura 1- I WAS I WAS A RICH MAN'S PLAYTHING - PAOLOZZI

Fonte: imagens de domínio público (Internet)


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Richard Hamilton, pintor e artista britânico nasceu em 24/02/1922, e foi o


responsável por uma das obras mais icônicas do movimento Pop Art produzida
em 1956 para a exposição “This isTomorrow”, a colagem “Just What is it That
Makes Today’s Homes so Different, so Appealing?”

Segundo Barbosa (2004) “O pôster, como já ressaltado, mostra um casal


jovem, o homem de tanga a exibir o físico atlético bem cultivado, a mulher
esguia e semi nua em pose sensual, os dois numa sala atulhada de objetos,
desde eletrodomésticos a presunto enlatado” (BARBOSA 2004, p.50 apud
GALVÃO, 2014). O que celebrava esse cartaz? A cultura de consumo, a
sociedade de mercado e a nova “concepção das fontes de prazer”. (grifos do
autor)

Figura 2- JUST WHAT IS IT THAT MAKES TODAY’S HOMES SO DIFFERENT, SO


APPEALING? – HAMILTON

Fonte: imagens de domínio público (Internet)

Já Andy Warhol, nome artístico de Andrew Warhola Júnior, foi um


cineasta e pintor norte-americano, e o nome mais conhecido e reconhecido na
Pop Art ao redor do mundo. Nascido em 06/08/1928, ficou conhecido por trazer
símbolos da cultura de massa, e até grandes personalidades como algo “vazio”
e “superficial”. Algumas análises críticas de suas obras, defendem que para
ele, a imagem de alguém “famoso” era tão vendável quanto por exemplo, uma
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Coca-Cola, ou uma sopa Campbell’s.

Figura 3– MARILYN - WARHOL

Fonte: imagens de domínio público (Internet)

3 VIDA E OBRA DE JEAN MICHEL BASQUIAT

Os anos 80, foram marcados por grandes acontecimentos culturais,


políticos e artísticos. Entre 1964 e 1991 houve a consolidação do feminismo, e
o fortalecimento e reivindicação de direitos sociais e raciais para a população
afro-americana. Ainda sim havia a polarização entre a União Soviética e os
Estados Unidos, trazida pela guerra fria.
Neste período, também surgiram os gêneros musicais, New Wave, Synthpop, e
o hip-hop, que criaram tendências por todo o mundo.
Influenciado pelo movimento da cultura hip-hop (grafitti, break e rap) e
pelo movimento Pop Art surge na cena “artística” o artista já falecido, Jean
Michel Basquiat. Basquiat, como era conhecido por todos, nasceu em 22 de
dezembro de 1960, e aos dezessete anos junto com seu amigo conhecido
como “Al Diaz” começou a pixar e grafitar nas ruas de Nova York. Sua
tag(assinatura pessoal, na linguagem dos pixadores) era SAMO. Samo era a
abreviação da frase “sameoldshit” (mesma merda de sempre).
Quando pequeno, Basquiat frequentou a City ofSchool, que era uma escola
que não acreditava nos padrões de ensino apenas em sala de aula, e levava os
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aprendizados “as ruas”. Em 1978, largou os estudos e decidiu viver da venda


de alguns postais e camisetas.
Como mostrado no filme “Basquiat, The RadiantChild”, nessas vendas
de postais, Basquiat acabou vendendo um deles para o então reconhecido
artista Andy Warhol com quem ele teve uma grande amizade ao longo de sua
vida, que resultou em projetos e exposições juntos.
Basquiat inovou no cenário da arte moderna incorporando o grafitti e a
pixação dentro de suas telas, trazendo também diferentes materiais e técnicas,
como a pintura em pedaços de madeira descartados, como restos de portas e
janelas, desenhos em pratos, etc. A grande inspiração de muitas das obras de
Basquiat, foi o livro “Gray’s Anatomy”, um livro de estudos sobre a anatomia
humana, que Basquiat havia ganhado de sua mãe quando se recuperava de
uma lesão no braço sofrida em um atropelamento.

3.1 NEO-EXPRESSIONISMO, ABSTRACIONISMO E A DEFORMAÇÃO DA


FIGURA HUMANA

O expressionismo foi uma escola artística marcada por ser uma “reação”
ao impressionismo, onde a maior preocupação era com angústias e mazelas
sociais, antes da preocupação com o uso de efeitos de cores e luzes. Por meio
das cores, os artistas desta escola buscavam “deformar” a realidade para que
as figuras humanas e animais pudessem expressar sentimentos subjetivos.
Esta escola ficou conhecida pela obra “O Grito” de Edvard Munch.

Já o abstracionismo foi uma escola artística onde o uso de cores e


formas não tinham relação com os usos de cores e formas de um ser ou um
cenário real. No abstracionismo, um gato, por exemplo, poderia ser verde e ter
orelhas de cachorro. Neste estilo de “deformação da realidade” se destacou o
pintor abstracionista Kandinsky, quando defendeu que a pintura servia para
expressar algo interior, sem a necessidade de comunicar uma mensagem. Isso
tem relação direta, com o “modo de pintar” do artista Malevich, onde havia uma
espécie de rejeição a pintura “representacional”.
Basquiat conhecido por ser “neo-expressionista”, se utilizou de técnicas
de abstracionismo e expressionismo, e as deformações das figuras humanas
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presente em sua obra nos trazem a tona a “destruição da aura”, expressão


usada por Walter Benjamin, em “A Obra de Arte na Era de Sua
Reprodutibilidade Técnica”.

Benjamin (1955) definia aura como:


uma figura singular, composta de elementos espaciais e
temporais: a aparição única de uma coisa distante por mais
perto que ela esteja. Observar, em repouso, numa tarde de
verão, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um galho,
que proteja sua sombra sobre nós, significa respirar a aura
dessas montanhas, desse galho (BENJAMIN,1955, p.3).

Ao deformar a figura humana, Basquiat “destruía a aura” e tirava essa


imagem imaculada e santificada do ser humano, conhecida por estar muito
presente nas primeiras escolas artísticas como o renascentismo. Nas obras de
Basquiat, pessoas tinham membros do corpo desfigurados, por vezes, cabeças
e dentes aumentados em relação ao tamanho real. Ao descaracterizar quase
que totalmente uma figura humana, a mesma neste sentido, perderia sua
“aura”. De acordo com Benjamin (1955)
Fazer as coisas "ficarem mais próximas" é uma preocupação
tão apaixonada das massas modernas como sua tendência a
superar o caráter único de todos os fatos através da sua
reprodutibilidade. Cada dia fica mais irresistível a necessidade
de possuir o objeto, de tão perto quanto possível, na imagem,
ou antes, na sua cópia, na sua reprodução. Cada dia fica mais
nítido a diferença entre a reprodução, como ela nos é oferecida
pelas revistas ilustradas e pelas atualidades cinematográficas,
e a imagem. Nesta, a unidade e a durabilidade se associam tão
intimamente como, na reprodução, a transitoriedade e a
repetibilidade (BENJAMIN,1955, p.3).
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Figura 4- OBNACIUS LIBERALS - BASQUIAT

Fonte: imagens de domínio público (Internet)

A obra de Basquiat consegue sair do hall de cultura erudita por ter


estado presente dentro de galerias de arte, e ir para um lugar subjetivo onde as
classes consumidoras de cultura de popular e de massa, podem ter algum grau
de identificação e entendimento da mesma. O uso de técnicas de grafitti e
pixação também aproxima o público de classes menos abastadas, visto que o
grafitti e a pixação são oriundos do movimento hip-hop, movimento este
característico pela grande aderência de negros de bairros periféricos.
É interessante citar a entrevista de Viktor Chagas organizador do Museu
de Memes e professor da Universidade Federal Fluminense para o Huffpost,
onde ele coloca que uma das funções dos chamados “memes” no cenário e
contexto político, é exatamente esta, a de desfazer a imagem imaculada dos
políticos e tornam pessoas reais, e sendo assim, personalidades passíveis de
serem criticadas ou serem alvo de escândalos, fofocas e sátiras como qualquer
outra, pelo uso da linguagem “digital”, e do humor. Isto cria aderência de
classes com pouco acesso à educação, e faz com que as mesmas se sintam
participantes da política em geral, vendo, por exemplo, o presidenciável como
alguém próximo. O mesmo acontece com a imagem do “artista”, neste caso.

4 REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA E INDÚSTRIA CULTURAL

Podemos fazer uma relação da Pop Art, e mais especificamente Andy


Warhol, com algumas teses defendidas por pensadores de teorias da
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comunicação, como Walter Benjamim e Theodore Adorno.


Em Benjamin (1955)
A reprodução técnica de obra de arte representa um processo
novo, que se vem desenvolvendo na história
intermitentemente, através de saltos separados por longos
intervalos, mas com intensidade crescente. Com a xilogravura,
o desenho tornou-se pela primeira vez tecnicamente
reprodutível(BENJAMIN,1955,p.1).

Este ponto toca diretamente na reprodução de imagens característica


das obras de Warhol. Em sua obra “Marilyn”, o mesmo trouxe uma figura
mundialmente conhecida, e a reproduziu tantas vezes e em tantas cores, que a
imagem de Marilyn perdeu o que Walter Benjamim chama de aura e de
autenticidade.
Quando uma obra de arte é reproduzida, mesmo que de forma perfeita,
o elemento “aqui e agora”, se ausenta pois a relação tempo X espaço em que a
obra é mostrada ao público, nunca é o mesmo tempo X espaço onde ela foi
criada. BENJAMIN (1955, p.2) mostra que “o que se atrofia na era da
reprodutibilidade técnica da obra de arte, é sua aura”.

É interessante observar, muito presente na Pop Art, o conceito de


“indústria cultural”, defendido pelos pensadores da teoria crítica, mais
conhecida como Escola de Frankfurt. Na indústria cultural, tudo era produto
passivo de ser vendável, em busca da experiência de se ter acesso aos bens
de consumo considerados como “os melhores”. O seu gosto, as suas
preferências, seus costumes, sua intelectualidade, na indústria cultural todos
seriam objetos de venda e de consumo, criando uma ilusão de que estamos no
controle, quando na verdade estamos sendo controlados por grandes
“fazedores de gostos”. Em Adorno (1971)

A indústria cultural tem o seu suporte ideológico no fato de que


ela se exime cuidadosamente de tirar todas as consequências
de suas técnicas em seus produtos. Ela vive, em certo sentido,
como parasita sobre a técnica extra-artística da produção de
bens materiais, sem se preocupar com a determinação que a
objetividade dessas técnicas implica para a forma intra-
artística, mas também sem respeitar a lei formal da autonomia
estética (ADORNO,1971, p.290).
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No que tange às massas, a indústria cultural aparece como fator que


aliena a população com um objetivo que se justifica em si mesmo, que é
designar essas massas e controlar comportamentos.
Certamente, não se pode até o momento, por um estudo exato,
provar com certeza o efeito regressivo em cada produto da
indústria cultural; pesquisas imaginativamente concebidas
fariam isso melhor do que seria do agrado de círculos
interessados e financeiramente poderosos. Mas a gota d’água
acaba por perfurar a pedra, em particular porque o sistema da
indústria cultural reorienta as massas, não permite quase a
evasão e impõe sem cessar os esquemas de seu
comportamento(ADORNO,1971, p. 294).

Todos estes fatores se assemelham aos modos e meios de produção


liberais e neoliberais, onde detentores de meios de produção se apropriam da
força de trabalho do proletariado, para ao final usufruir da mais valia da
mesma, enquanto o trabalhador, em um estado alienante, mal reconhece o
produto final de sua atividade exercida ou sequer tem poder aquisitivo de
adquiri-lo. Adorno (1971) coloca a dependência e servidão dos homens como
objetivo último da indústria cultural, que traz, citado por ele, uma sensação e
um sentimento de “satisfação compensatória”, por acreditarem num estado
fictício de bem estar e ordem geral.
A indústria cultural, em seu fator alienante impede o “consumidor” de ser
dono das próprias construções de sentido, e dessa forma, retira do mesmo a
autonomia e a emancipação de ter meios para tomar suas próprias decisões e
arcar com elas.

Se as massas são injustamente difamadas do alto com tais, é


também a própria indústria cultural que as transforma nas
massas que ela depois despreza, e impede de atingir a
emancipação, para a qual os próprios homens estariam tão
maduros quanto as forças produtivas da época o permitiriam.
(ADORNO,1971, p.295)

5 APROPRIAÇÃO CULTURAL

Retornando as exposições de Basquiat juntamente com Andy Warhol,


nos é apresentada a questão de apropriação cultural, definida por alguns
dicionários online como“ouso de elementos típicos de determinada cultura por
pessoas pertencentes a um grupo cultural diferente”. Basquiat só teve sua
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carreira reconhecida após se associar a figura de Andy Warhol um homem


branco, com alto poder aquisitivo, que o próprio classificou como
“artisticamente preguiçoso”, e é notável que nas obras de arte de Basquiat há
todo um referencial cultural negro, que não perpassa as obras pop art de
Warhol.
Basquiat além de dormir em vielas e bancos de parque, usava drogas e
era uma provocação ambulante pelo seu estilo de vida na Nova York dos anos
1980. Ser jovem, negro e extrovertido num mercado dominado pelasupremacia
branca, era no mínimo, intrigante para a crítica. Um dos signos mais presentes
nas obras de Basquiat, era a colonização do corpo e da mente negra marcada
pela angústia do abandono, do estranhamento, do preterimento, do
desmembramento e da morte.As imagens criadas por Basquiat são
visualmente violentas, exatamente como deveria ser e é.
O que Basquiat desmascara é a vergonha dessas tradições
imperialistas. Ele toma a valorização eurocêntrica do belo e do grandioso e
exige que reconheçamos a realidade brutal que esta valorização mascara. Para
entender essas pinturas devidamente, é preciso estar disposto a aceitar as
dimensões trágicas da vida dos negros, o que não é fácil e nem rentável na
arte.
Nas obras de arte fruto de colaboração entre Warhol e Basquiat, é
possível ver que a função de Warhol era inserir uma perspectiva eurocêntrica,
que só “vê” e valoriza aspectos que simulam as famílias e tradições artísticas
ocidentais brancas. Basquiat, não era muito aceito pela crítica por valorizar as
vertentes e a estética africana. Desde um ponto de vista mais inclusivo, é
perceptível o dinamismo resultante da convergência, do contato e do conflito
que o “olhar” de Andy Warhol na arte de Basquiat era capaz de causar.

Figura 5- Andy Warhol e Jean Michel Basquiat


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Fonte: imagens de domínio público (Internet)

Ao fazermos esta análise, nos parece que Andy Warhol associou-se a


Basquiat na intenção de chocar e “provocar” os consumidores e críticos de
arte, acostumados a não ver obras tão visualmente agressivas e com uma
quantidade exorbitante de informações. Pinheiro (2015) coloca

os interesses do capital na cultura das classes populares”


como uma “estratégia de estabelecimento de novas ordens
sociais e ainda as manobras para destruição ou reajustamento
das práticas culturais(PINHEIRO,2015, p.5).

Além da relação entre Basquiat e Andy Warhol, fazemos um paralelo


também a algumas das obras de arte do pintor Pablo Picasso, que ficou
mundialmente conhecido pelo uso da técnica chamada de “cubismo”. Pablo em
muitos de seus quadros se inspirou em máscaras africanas, sendo algumas
destas máscaras altamente significativas para a comunidade africana e seus
rituais. Em suas obras, não se tinham “créditos” ou referências a origem das
máscaras que foram usadas, e isso causou um grande esvaziamento social do
significado destas máscaras. Por conta disso, é questionado até hoje por
alguns críticos de arte, o quanto de Picasso era realmente uma inovação
artística, e o quanto era uma apropriação cultural do uso de símbolos de uma
cultura e um povo marginalizado. Segundo Pinheiro(2015)

Encontramos ao longo da nossa história cultural, a atração das


classes dominantes pela cultura popular. Se o gosto pelo
exotismo é uma demonstração de ousadia ou de provocações
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aos seus pares, ou ainda o simples fato de apreciar a estética e


a representação simbólica das práticas culturais populares, o
fato é que, politicamente, a apropriação de elementos da
cultura popular por essas classes não pode ser resumida
nessas três possíveis justificativas, sem problematizar e
aprofundar essas reflexões (PINHEIRO, 2015, p.4).

Figura 6- OBRA NÃO IDENTIFICADA DE PABLO PICASSO, AO LADO DE


MASCARA AFRICANA

Fonte: imagens de domínio público (Internet)

Ainda sobre o uso das máscaras, é importante lembrar Walter Benjamim


em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, em sua fala sobre
“ritual e política”, destacando que “as mais antigas obras de arte, como
sabemos, surgiram a serviço de um ritual, inicialmente mágico, e depois
religioso”.
Para Benjamin, se fazia de extrema importância salientar o papel da
reprodutibilidade técnica na obra de arte fruto de ritual, pois seria esta a ter
papel imprescindível na “destruição da aura” do ritual. “Com a reprodutibilidade
técnica, a obra de arte se emancipa pela primeira vez na história, de sua
existência parasitária, destacando-se do ritual.” (BENJAMIM, 1955, p.3)
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6 CONCLUSÃO

Para finalizar, podemos afirmar e defender a relação intrínseca da


apropriação cultural presente na arte, com destaque para o pós-modernismo, e
as teorias de comunicação que perpassam e fundamentam essas relações. O
debate sobre a apropriação cultural apesarde ainda difícil conceituação, se faz
extremamente necessário em uma sociedade onde a comunidade negra
marginalizada se vê tendo que tornar “vendáveis” elementos de sua cultural,
como previsto no conceito de “indústria cultural” para sua própria
sobrevivência. É necessário debater estratégias para a preservação da cultura
negra, para que o uso destes elementos seja utilizados para empoderar artistas
negros e negras, visibilizar arte africana que foi de alguma forma ocultada e
silenciada pelo poder do capitalismo e do eurocentrismo. Que não artigo de
manutenção de relações raciais de poder opressoras que num contexto de
ascensão da diversidade ainda insistem em monopolizar os sistemas de trocas
culturais.

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