Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HUMANIDADES
BACHARELADO EM JORNALISMO
Salvador
2022
KENIA GUEDES DE MATTOS
Salvador
2022
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de conclusão de curso a minha Avó Dirce, que me ensinou que
posso ser gigante e sutil ao mesmo tempo, que posso ser feroz sem perder a
docilidade, e que posso bradar enquanto canto ou escrevo palavras suaves. Minha
avó, aquela que me ensinou a magia das palavras. Dedico este trabalho também, a
todos os jovens pretos e periféricos que sobrevivem e resistem a este sistema racista
e capitalista que cria condições mortíferas sobre nós. Celebro a vida destes jovens
que mesmo em um cenário como esse, conseguem vibrar numa energia de alta
frequência, mostrando que há vida na juventude preta.
AGRADECIMENTOS
Acredito que agradecimento não é a palavra certa e sim, reverência. Neste projeto, eu
não poderia deixar de reverenciar primeiro os mais velhos, os Àgbà. Saúdo e vibro a
existência de minha avó Dirce, mais conhecida como Mãezinha. Foi com ela que
aprendi que nenhum poder pode substituir o poder das palavras. É com elas que a
gente desmancha ou cria feitiços, encanta, desencanta, emociona, leciona, aprende
e estabelece. Minha avó foi quem me tornou a "pessoa das palavras".
Não posso deixar de agradecer também a meus pais, por todo apoio incondicional e
por terem me possibilitado crescer rodeada de livros. A meu irmão, sua esposa Taize
e meus sobrinhos Valentin e Madhu.
E se este livro pode ser construído, foi por toda a relação de parceria construída junto
a meu esposo Lucas. A ele, devo todas as horas de paciência, sorrisos, incentivos e
até as distrações. Por último e não menos importante, agradeço e honro a presença
dos orixás e entidades religiosas em minha vida, em especial aqueles e aquelas que
guiam meus caminhos. Sem eles, nada sou. Asé o, meu pai Oxóssi, minha mãe
Iemanjá, meu caboclo e preto velho. LAROYÊ aos Exus e Pombagiras que me
acompanham.
1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 8
2. A MARCA NIKE...................................................................................10
9. O LIVRO-FOTOGRÁFICO ..................................................................30
9.1. RELATO: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PRODUTO....30
9.2 PROCESSOS E MÉTODOS..............................................................32
9.3 Recortes temáticos..............................................................................32
9.4 Pesquisas e levantamento de dados....................................................33
9.5 Busca de fontes...................................................................................34
9.6 Materiais textuais................................................................................34
9.7 Conteúdos audiovisuais.......................................................................35
10. CONLUSÃO............................................................................................36
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................37
13 APÊNDICES.......................................................................................40
13.1 Apendice A: Capa e contracapa do livro......................................... 40
13.1.2 Apendice B: Link de acesso ao livro fotográfico...........................41
13.1.3 Link de acesso as entrevistas..........................................................41
13.1.4 Documentos de cessão do de imagem para o livro fotográfico......41
8
1 INTRODUÇÃO
tratar-se de um consumo de uma marca que não é acessível via valor das suas
mercadorias para a classe em que pertencem a maioria dos jovens negros do estado
da Bahia; e suas particularidades envolvendo a semiótica de um segmento regulatório
de identidades e subjetividades. Pois de acordo com Bourdieu (1998) o gosto é
classificador e classificatório e onde quer que essa juventude de determinados
espaços territoriais estiverem serão classificados, ainda que o gosto seja por uma
marca mundialmente conhecida como a Nike.
O poder simbólico surge como todo poder que consegue impor significações
e impô-las como legítimos. Os símbolos afirmam-se, assim, como os
instrumentos por excelência de integração social, tornando possível a
reprodução da ordem estabelecida. Ou seja, usar a marca é uma distinção
social. (LEMOS, MIGUELES, VIEIRA, 2004, p.84)
10
Deste modo, este grupo foi identificado como uma espécie de “frente social”
não só de lançamento de tendências e consequentemente produção de sentidos, mas
também de uma ação combativa ao racismo e aos “biopoderes” impostos sobre seus
corpos.
2. A MARCA NIKE:
Para falarmos sobre a importância da Nike em territórios periféricos, faz-se
necessário um panorama sobre o início da marca e como ela se tornou tão popular ao
redor do mundo. A marca de artigos esportivos Nike inicialmente era chamada de Blue
Ribbon Sports e foi desenvolvida pelo ex-corredor e contador Phil Knight, que tinha
em mente um grande sonho de trabalhar vendendo tênis. Sendo assim, ele começou
seu projeto de vida, revendendo pares de tênis para corrida da marca Tiger que ele
havia conseguido adquirir através do próprio produtor que era uma grande empresa
localizada no Japão.
Com o aumento dos pedidos e consequentemente das vendas, o ex-corredor
decidiu presentear com um dos pares de tênis, o seu ex-treinador Bill Bowerman que
ao se dar conta do bom desempenho do calçado, pediu para se tornar sócio da
empresa representando 51% dela, enquanto Phil representava 49%.
Após venderem milhares de calçados, foi aberta a primeira loja da Blue Ribbon
Sports, comandada por um dos funcionários de Phil, conhecido como Jhonson. A loja
ficava localizada na Califórnia e era conhecida como um “ponto de encontro” para
atletas de corrida e pessoas que gostavam e acompanhavam o esporte. Além dos
pares de tênis, a loja era coberta de pôsteres e dos melhores e mais respeitados livros
sobre o tema.
Após o acordo entre a Blue Ribbon Sports e a empresa japonesa ter afrouxado
por conta do número de vendas, que para a empresa ainda era muito baixo,
preocupado em não perder o seu negócio e também o seu sonho, o proprietário da
Blue Ribbon Sports viu como alternativa fechar um acordo com uma empresa
mexicana chamada Canadá. A empresa produziu chuteiras com uma logomarca e
nome desenvolvidos por Phil.
Houveram várias conversas entre os membros do time da Blue Ribbon Sports
sobre qual seria a identidade visual e o nome da marca, até que Phil resolveu pagar
11
a uma estudante de artes chamada Carolyn Davidson para que desenhasse a logo,
sugerindo que deveria ter algo haver com a palavra “movimento” e que fosse algo
simples.
Para o nome da marca surgiram algumas opções entre os membros, mas a que
prevaleceu foi a sugestão de Johnson, um dos braços direitos de Phil Knight, que
trouxe a palavra “Nike” que apareceu para ele em um sonho enquanto estava
dormindo. Phil, logo associou a deusa grega da vitória, Nike. De acordo com (JÚNIOR,
2013, p.66) “Diziam os gregos que a Deusa podia voar e correr em grandes
velocidades”. Neste caso, é importante chamar a atenção sobre o significado da
marca inspirada na deusa da vitória. Ao passo em que ela significa vitória, logo, quem
a utiliza entende-se também como um indivíduo “vitorioso”.
Deste modo, podemos começar a entender o papel que uma marca de alto
prestígio pode operar, como uma construtora de sentido e mais especificamente,
como um poder simbólico, já que o poder simbólico segundo Lemos, Migueles e Vieira
(2004) impõe significações que se tornam legítimas. Sendo assim os símbolos podem
atuar como atores de integração social.
Após entender como é feita uma análise semiótica das marcas, utilizaremos o
proposto para entender o funcionamento e a concepção da marca que se apresenta
na temática deste projeto: A marca de artigos esportivos, Nike.
14
Temos então, uma contradição que nos motiva e nos norteia para o assunto
que será tratado no próximo capítulo: O público a quem a marca deseja atingir, não é
16
quer comunicar que todos podem ser atletas e desenvolver o espírito competitivo
retratado em suas campanhas publicitárias”. (JUNIOR, 2013, p.68)
Sendo assim, temos definido o momento em que a Nike cai “nas graças” do
brasileiro, em especial o periférico, que enxerga na marca características como vitória,
poder, competitividade e alta performance, ainda que estas não estejam ligadas
unicamente ao esporte e sim a vida. Afinal, há em comum entre as pessoas periféricas
a vontade de “vencer” traduzida pela ascensão social e financeira.
Muito se especula sobre o que é essa tal “estética periférica”, que na maioria
das vezes é mostrada em veículos de comunicação como a estética pertencente a
“ladrões, assaltantes e criminosos em geral”. Mas o objetivo deste trabalho, é
justamente ressignificar estas informações visuais que nos foram incutidas.
Desde quando os negros e negras se tornaram indivíduos livres, que se iniciou
o processo de favelização de algumas regiões do país, esse fenômeno social ficou
conhecido pela formação de grandes aglomerados habitacionais distantes dos centros
das cidades, construídos por conta própria pelos próprios moradores destes locais.
De acordo com Magnani (2002) apud Azevedo (2019):
“Desde os anos 70 que o funk vem sendo incorporado pela juventude negra
e pobre. Sobre o rap, podemos situar a década de 1980 como tempo de
formação de uma nova modalidade musical praticada por uma juventude com
as mesmas características sociais do funk.”(AZEVEDO, 2019, p.12)
Ainda que cada fator específico deste, contribua para o entendimento do que é
de fato a estética periférica, este conceito talvez nunca possa ser definido por inteiro,
já que não é algo “estático”. As estéticas periféricas estão sempre em movimento
porque elas representam o próprio movimento histórico de viver, ser e estar. Ainda
sobre este ponto, Azevedo (2019) define que: “Os movimentos e as estéticas
periféricas configuram-se como uma experiência subversiva que ocorre nas
demandas imediatas da comunidade procurando soluções a problemas concretos.”
(AZEVEDO, 2019, p.5).
Fazendo uma primeira análise de ambas as teses, algo nos parece “comum”:
É latente a semelhança das definições destes conceitos com a experiência vivida no
Brasil pelos indivíduos que moram em favelas e bairros periféricos.
Atualmente o Brasil se inscreve como um país de regime democrático-representativo
e temos o aparato de repressão do estado conhecido como a polícia, ou a instituição
militar, que é a responsável e autorizada por lei a exercer o que quer que seja definido
como necessário, para o controle da violência. Mas, não é difícil perceber que na
experiência brasileira, toda e qualquer manifestação cultural dos indivíduos periféricos
é entendida assim, por este aparato repressivo como “violência”. A polícia atua não
como controladora da mesma, mas como um dispositivo de massacre e extermínio da
juventude negra, grupo este que é o “alvo” de ações governamentais, em específico
as ações da polícia militar.
É importante dizer que mesmo que a autora deste memorial seja uma mulher
jovem negra, que vive cotidianamente sob o medo destas ações, a violência contra a
juventude negra não é um mero “achismo” ou fruto apenas de observações diárias. Já
existem dados que comprovam a tese em questão.
1Fonte:https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/mortes-negros-acoes-policiais-brasil-vezes-maiores-
brancos/
21
violentas no país subiram 10,2% entre 2005 e 2015. Mas, entre pessoas de 15 a 29
anos, a alta foi de 17,2%.”2
Deste modo, não podemos deixar de entender o biopoder e a necropolítica
como atuantes sobre os corpos dos indivíduos periféricos. Mas como acontece essa
atuação?
Para entender essa questão, podemos começar observando como grande
parte das manifestações culturais da periferia, são entendidas como uma grande
“bagunça” ou até um “desvio de caráter”. Citando um trecho do livro fotográfico,
produto deste memorial, defendo que:
Tudo o que vem deles, ou melhor (de nós) já que sou também uma mulher
preta, é passível de criminalização, quando não é demonizado. As
manifestações culturais pretas, tomam forma quase de que um "excremento"
aos olhos de hegemonia branca. Nossa dança ofende, nossa religiosidade
causa medo, nosso modo de falar causa riso assim como nossas
gesticulações apavoram. Tudo que vem de nós é tido como pobre, podre,
ruim e perverso.”(MATTOS, 2022, p.11)
Foucault define perfeitamente a que nível mortífero pode chegar esse tal
"repúdio" racial. O filósofo consegue nos fazer entender que a soberania do biopoder
define quem deve viver e quem deve morrer, autorizando assim através da política e
das leis, que o aparato de repressão do estado (a polícia), esteja licenciado a ceifar a
vida daqueles que encontram-se às margens do que é considerado como "certo" ou
"aceitável". Sobre isso, Hannah Arendt nos confirma que uma política de raça, foi e
sempre será uma política de morte, já que ambas andam de mãos dadas na função
de extermínio da juventude negra.
2Fonte:https://juventudescontraviolencia.org.br/plataformapolitica/quem-somos/eixos-
programaticos/enfrentamento-ao-genocidio-da-juventude-negra/.
22
A força de uma marca será tão maior quanto mais adequadas forem as
seguintes dimensões semiológicas: as formas como o signo se manifesta
(semiótica), a forma como o signo está associado aos seus significados
(semântica) e, finalmente, o grau de sinergia entre o signo e as expectativas
dos indivíduos ao qual ele se comunica. (LEMOS, MIGUELES, VIEIRA, 2004,
p.91)
Podemos sinalizar a marca Nike como uma marca de produtos com alto custo,
mas que mesmo assim é utilizada por indivíduos periféricos que contam apenas com
um salário-mínimo mensal, ou às vezes menos do que isto. As entrevistas mostraram
que o uso da marca pode ser uma forma de mostrar que a periferia também pode
consumir e andar na moda, neste sentido trago a colocação do jovem Ualas Ramos
Luz, morador do bairro de Itapuã, em entrevista para a autora deste memorial. Quando
questionado se acreditava que a marca Nike era presente nos territórios periféricos e
como era a visão do mesmo sobre o fenômeno cultural citado, ele responde:
“Sonho de desejo por qualquer favelado é estar bem-vestido, portar um pisante maneiro no pé, ser
aceito de alguma forma.” (LUZ, 2022).
Ainda neste sentido, o jovem Vitor Rosa Campos, morador do bairro Saúde,
trás com suas palavras, argumentos semelhantes aos de Ualas Ramos Luz:
Por ser uma marca esportiva e para pessoas com alto poder aquisitivo, moradores de favelas fazem
uso dessas marcas para manter a “ostentação” e os “status” perante o meio no qual estão inseridos,
afirmando que a periferia também pode consegui-la. (CAMPOS, 2022)
muitas vezes custa muito mais do que estes indivíduos podem bancar sem que
passem por necessidades e carências de outros produtos? Pierre Bourdieu (2001)
nos mostra que o capital simbólico, um conceito que baseia-se no poder econômico,
cultural, social, político e estético pode ser importante para a resposta a esta pergunta.
Para além disto, Lemos, Migueles e Vieira (2004) defendem que:
Através das cortinas do capital simbólico, existe uma espécie de espaço que
determina onde fica o Nós (indivíduos periféricos) e o Eles (pessoas pertencentes às
classes sociais A e B). Neste sentido, a estética do indivíduo periférico não é marcada
exclusivamente por uma aspiração de ser ou parecer o Eles, mas sim, de recriar o
referencial estético deles à sua própria maneira.
Trazendo este conceito para o uso da marca Nike, conseguimos observar nos
bairros periféricos e favelas de Salvador e municípios vizinhos, que há jeitos
“específicos” de vestir e utilizar os artigos da marca, e que esta ação é repassada
entre gerações sem que haja uma norma consciente, ou um manual social. Para
ilustrar esta tese, trago o conceito de Habitus desenvolvido por Bourdieu (2001):
“O habitus demonstra que os atores sociais não são orientados apenas pelos
interesses econômicos, mas por regras muitas vezes inconscientes
traduzidas em valores, gostos, lugares etc. (BOURDIEU, 1998) apud
(LEMOS, MIGUELES, VIEIRA, 2004, p.83)
Todo este visual diga-se de passagem “caro”, demarca uma aura de luxo e
poder, que muito lembra o significado da marca: As asas da deusa Nike, as asas da
vitória.
Estes tipos de combinações de vestimenta são comuns em territórios
periféricos e são passadas de gerações e gerações, sem que este costume seja
percebido de forma direta. Na maioria das vezes, este costume é entendido como
“gosto”, sendo o gosto definido por Bourdieu (2001) como um dos interesses dos
atores sociais.
de cunho racista, que coloca os povos periféricos como a parte “descivilizada” do país.
Concluo este pensamento, com uma fala de Gilroy (1992) apud Hall (1992):
9. O LIVRO FOTOGRÁFICO
Nos dois livros, Caco se utiliza do jornalismo literário. Este estilo de jornalismo,
é base imprescindível para a construção dos textos que irão compor o livro. Pretende-
se utilizar das técnicas do jornalismo literário, como por exemplo o uso de primeira
pessoa, de subjetividade e de recursos da literatura ficcional, para produzir uma obra
que rompe com alguns conceitos hegemônicos e ocidentais comuns.
Neste processo, frente às dificuldades em fazer algo que nunca fiz na vida,
tentei me lembrar que desde os 16 anos quando ganhei a minha primeira câmera
fotográfica, uma Nikon D3100, que eu estou envolvida com a fotografia e com as artes
visuais de forma geral. Foquei meus esforços em me inspirar não só nas coisas que
admiro, mas em tudo o que me rodeia.
Para o preparo das fotos, selecionei algumas pessoas que se encaixam nos
pré-requisitos definidos pelo eixo temático da pesquisa e deixei com que o preparo
32
à marca Nike, a chegada da mesma no território periférico. Após isso, trouxe algumas
definições sobre as estéticas periféricas, os conceitos de biopoder e necropolítica de
Foucault e Mbembe, finalizando com o recorte principal que foi como a marca
consegue produzir e criar sentidos em indivíduos periféricos.
A busca de fontes foi feita através de rede de contatos da autora deste projeto,
bem como através da rede social Instagram, onde divulguei algumas informações
sobre o projeto de pesquisa e busquei por perfis que se encaixassem nas
especificações por mim definidas, que eram: Ser um jovem nascido ou morador de
bairro periférico de Salvador – BA ou municípios vizinhos e ser negro/a.
Além destas fontes, os autores dos livros, artigos e pesquisas que foram
utilizados neste projeto, também se inscrevem como tal. Neste sentido, saliento que
apesar de já haver produções bibliográficas envolvendo teorias da semiótica
relacionadas à marca Nike, o material que se tem é relacionado ao esporte, com foco
no futebol na dissertação de mestrado “A Pátria das Chuteiras” produzida por Carlos
Casanova Júnior, assim como também estudos de semiótica aplicada, no artigo “A
marca Nike, seus signos, argumentos”, dos autores Vinícius dos Santos Souza, Fábio
Zoboli, Renato Izidoro da Silva, Elder Silva Correia e Tiago de Brito Ferreira Santos.
Com a construção destes três capítulos, foi possível concluir o objetivo deste
trabalho que era o de mostrar às pessoas como a Nike é capaz de produzir sentido
dentro de territórios periféricos através da moda e do habitus.
Além dos textos, o livro conta com fotografias de minha autoria e fotografias de
outros fotógrafos. As fotos produzidas por mim, foram idealizadas pensando no tema
do livro, e foram todas feitas no meu studio particular localizado no bairro de Piatã e
em alguns bairros da cidade de Salvador.
36
10. CONCLUSÃO
Vale destacar que este trabalho de pesquisa cujo produto resultou em um livro
fotográfico, nasceu de uma vontade intrínseca entre o que sou eu e o que somos
diante da realidade concreta em que vivem a jovens negros periféricos, e Ubuntu
enquanto uma filosofia africana que conseguiu estabelecer o fim do apartheid na
África do Sul, têm para nós populações negras na diáspora um eixo norteador de
resistência e sobrevivência ao racismo estrutural. Deste modo, o que apresento
enquanto contribuição para a área do jornalismo é a materialização da representação
da marca Nike e a sua potência na construção e validação de identidades negras em
processo de empoderamento.
A marca Nike se insere num contexto periférico de muitas desigualdades, mas
de muita criatividade e resistência, tese este amparada pelos autores Stuart Hall,
Achile Mbembe, Foucault, Bourdieu e Santaella que foram referências estruturantes
para a articulação entre a teoria e a realidade vivida por esses jovens, e que me
permitiu um olhar mais analítico na dimensão da semiótica, além de identificar o valor
simbólico da marca e as múltiplas corporeidades presente no cotidiano periférico. O
contato com as leituras de Amailton Azevedo ampliou significativamente o conceito de
estética periférica e a construção de sentidos que são os dois pontos chave deste
trabalho de conclusão de curso.
O fazer, o desejo, e o compromisso social são tripés que me conduziram nesta
caminhada desde a escolha do tema até o contato direto com os/as protagonistas que
são efetivamente o corpo desse trabalho. Foram suas experiências os maiores eixos
norteadores para elaboração do livro-fotográfico. Aqui finalizo uma etapa formativa,
mas não finalizo o desejo de construir pontes e levar para outros espaços estas
corporeidades e suas estéticas que expressam vontade de viver, que gritam pelo fim
do genocídio, que manifestam anseios políticos para transformação da sociedade.
Aqui se tem Ubuntu. Aqui se tem luta.
37
AZEVEDO. Magno, A. estética negra e periférica: filosofia, arte e cultura. rth |, [S. l.],
v. 22, n. 2, p. 36–51, 2020. Disponível em:
https://www.revistas.ufg.br/teoria/article/view/59887. Acesso em: 13 set. 2021.
KNIGHT, Phil. A Marca da Vitória: A Auto Biografia do Criador da Nike. Rio de Janeiro.
Editora Sextante, 2016.
LEMOS. Luis H.; MIGUELES. Carmen P.; VIEIRA. Marcelo M. F. Espaço Social e
Consumo- elementos para análise da relação entre capital simbólico e posicionamento
mercadológico das lojas de alto prestígio no Rio de Janeiro. In: Revista Comunicação,
mídia e consumo. Volume 1.n.1, ano 1 : Corpo e sexualidade na mídia. São Paulo,
2004
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. Tradução de José Teixeira Coelho Neto. São
Paulo: Perspectiva, 2000.
ONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SITES CONSULTADOS
https://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/view/501
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/08/29/jovem-e-morto-a-tiros-em-festa-do-
tipo-paredao-em-fazenda-grande-do-retiro-outras-foram-baleadas.ghtml
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/10/13/nao-vamos-permitir-nenhuma-
festa-de-paredao-na-bahia-diz-rui-costa-apos-chacina-com-seis-mortos-e-12-
feridos.ghtml
http://nike.com.br
40
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/mortes-negros-acoes-policiais-brasil-vezes-
maiores-brancos/
https://juventudescontraviolencia.org.br/plataformapolitica/quem-somos/eixos-
programaticos/enfrentamento-ao-genocidio-da-juventude-negra/.
https://cf.shopee.com.br/file/8e7b912bcd3e8c34df9d1a051dce5a5f
https://cf.shopee.com.br/file/49ecac3cda36cd918f56cb2b07c2bbbc
https://www.galegomultimarcas.com.br/images/virtuemart/product/73458640_549743
128904443_1137063450262896640_o7.jpg
https://static.cloud-boxloja.com/lojas/ym522/produtos/123e8a74-1176-4eaf-a7c8-
f8c8cf81d941.jpg
https://http2.mlstatic.com/D_NQ_NP_867621-MLB20826196915_072016-O.jpg
https://m.media-amazon.com/images/I/61L3m8gVc3L._AC_SX522_.jpg
https://www.replicasderelogiostop.com.br/media/product/7a2/replica-de-relogio-rolex-
gmt-432.jpg
https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/pluggto/4567/4567_e0ec89d2-fa8c-47f7-bf22-
9ce9b0eff7a8.jpg
https://http2.mlstatic.com/D_NQ_NP_744952-MLB40307071765_012020-O.jpg
13. APÊNDICES
https://issuu.com/livrodekenia/docs/livro_12.06-novo
https://drive.google.com/file/d/18oi0Tu1-zc
6UJiYuXgXOSg_KrcZsAGl/view?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1qNTXF-8uohQZTWhoB1nKiZB2-
Xwsi_sh?usp=sharing