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América
PROFESSORA
Dra. Verônica Karina Ipólito
FICHA CATALOGRÁFICA
Revisão Textual
Raissa Jesuino
Ilustração
Wellington Vainer Impresso por:
Fotos
Shutterstock Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
http://lattes.cnpq.br/2223597676883158
HISTÓRIA DA AMÉRICA
Quero fazer um convite a você: olhe ao seu redor e me diga, quem construiu a casa, a
universidade, o que utilizamos nesses ambientes? Acertou se a sua resposta foi “seres
humanos”! Analise, ainda, o sistema político que rege a nossa sociedade, o conjunto de
normas e condutas aos quais estamos condicionados a ponto de termos parâmetros
sobre o que é certo ou errado, o que é justo ou injusto. Já parou para pensar que tudo
isso foi estabelecido por pessoas ao longo do tempo?
Analisar a História não é apenas conhecer e compreender os caminhos percorridos
pelos seres humanos no passado. É estudando a História que podemos fazer uma
leitura crítica de nosso presente e compreender como e por que nossa sociedade se
encontra, hoje, formada da maneira que a conhecemos.
Afinal, você já parou para pensar como nossos antepassados chegaram a compor
a sociedade em que vivemos hoje? Por que a maioria das pessoas sonham em ir para
os Estados Unidos tentar uma vida melhor? Com que propósito algumas localidades da
América Latina, principalmente o México, cultuam uma imagem sagrada chamada de
Santa Muerte? Convido você a analisar o espaço onde você mora, a sua cidade, enfim,
toda a estrutura política e social do seu país.
A partir de então, você terá subsídios para compreender o quão diferente é a realida-
de do Brasil, por exemplo, da realidade estadunidense. Você já se perguntou sobre isso?
Experimente comparar essas distintas realidades a fim de compreender que o con-
tinente americano é um cenário de tramas e telas diversas e que, portanto, estudá-lo
nas suas especificidades, é algo desafiador. Assim, começamos nosso trabalho com o
estudo das civilizações pré-colombianas da América portuguesa, hispânica e saxônica.
Este tema permite aprofundar os conhecimentos dos povos nativos das Américas com-
preendendo-os como sujeitos históricos e agentes sociais. O estudo desses povos é
relevante, pois a partir deles é que teremos a base para analisar as próximas unidades.
Na sequência, analisaremos o Período Colonial na América hispânica e saxônica, de
forma a conhecer os conflitos culturais entre nativos e colonizadores, a organização
econômica, política e social. Conduziremos nosso estudo de modo a compreender a
crise do sistema colonial que derivou nos processos de independência da América
espanhola e inglesa. Posteriormente, analisaremos a formação e consolidação dos
Estados Nacionais na América Latina e os fatores que transformaram os Estados Uni-
dos em uma potência industrial em fins do século XIX.
Para tornar o estudo mais interessante, abordaremos a internacionalização da
economia e as transformações sociais nas Américas durante o século XX, objetivando
a compreensão de movimentos revolucionários, regimes de exceção e a influência
estadunidense nas relações continentais. Também será discutido o desenvolvimento
da redemocratização, globalização e do neoliberalismo na América Latina.
Como podemos perceber, estudar a história do nosso continente nos permite nos
conhecer, bem como compreender a realidade dos diversos países que o compõem.
Vimos como conhecer a História da América é fundamental, principalmente a partir
da necessidade de aprendermos a interpretar notícias e dados que são, diariamente,
ofertados a nós, vinculando-os aos interesses de quem os divulgou.
A você, acadêmico(a), serão disponibilizadas, em cada unidade, experiências que
poderão ser realizadas nos ambientes profissionais, de forma a relacionar a teoria com
a prática. Serão oportunizadas ideias sobre atividades envolvendo pesquisas, debates,
desafios, bem como a utilização de meios digitais (construção de mapas mentais, Pa-
dlets, Canva etc.) bem como outras ações que visem a auxiliar você, futuro professor(a)
da disciplina de História, a instigar os seus alunos, bem como desenvolver o espírito
crítico. As sugestões são de temas variados, perpassando, por exemplo, os povos pré-
-colombianos, a conquista da América, a exclusão histórica de indígenas e negros e a
censura e repressão nas ditaduras militares da América Latina. O objetivo é auxiliá-lo
no exercício da docência em História, de forma a instigar os alunos para o debate, o
pensamento crítico e, consequentemente, para o exercício da cidadania.
Ficou curioso(a) em relação às particularidades, contextos e histórias, no plural
mesmo, da América? Convido-o(a) a embarcar nesta jornada que analisará os conteú-
dos que compõem esta área do conhecimento de forma harmoniosa e coerente, ver-
sando sobre os temas de seu interesse e que contribua para a formação e informação
no interior do curso ora em desenvolvimento.
Foi realizado um esforço para trazer conteúdos atualizados, inseridos em debates
historiográficos recentes, discutidos pelos principais professores e pesquisadores da
área, de forma a confeccionar um texto moderno e completo. Então, sem mais delon-
gas, apertem os cintos e vamos, juntos, viajar pela História da América?!
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
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9 2
63
AS CIVILIZAÇÕES O PERÍODO
PRÉ-COLOMBIANAS COLONIAL
DA AMÉRICA NA AMÉRICA
PORTUGUESA, HISPÂNICA E
HISPÂNICA E SAXÔNICA
SAXÔNICA
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105 4 145
AMÉRICA FRENTE À A FORMAÇÃO E
CRISE DO SISTEMA CONSOLIDAÇÃO
COLONIAL E OS DOS ESTADOS
MOVIMENTOS DE NACIONAIS
INDEPENDÊNCIA
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SÉCULO XX:
INTERNACIONALIZA-
ÇÃO DA ECONOMIA E
TRANSFORMAÇÕES
SOCIAIS
1
As Civilizações
Pré-Colombianas
da América
Portuguesa,
Hispânica e
Saxônica
Dra. Verônica Karina Ipólito
É muito comum encontrarmos textos, vídeos e outros materiais que fazem refe-
rência à Europa como Velho Mundo ou Velho Continente. Você já se perguntou
como essas expressões surgiram? A explicação está lá no passado, quando, em
1492, Cristóvão Colombo veio à América, um continente até então desconhecido
da população europeia. Sobre esse assunto você, aluno(a), pode assistir ao filme
1492: a Conquista do Paraíso. Este filme retrata vinte anos da vida de Colombo,
perpassando as suas pesquisas que constataram que o mundo era redondo, bem
como a sua luta para conseguir convencer a coroa espanhola a financiar a sua
expedição para a América. Além disso, é retratado o encontro de Colombo e seus
acompanhantes com os nativos do Novo Mundo, sua luta pela colonização, até
encerrar com sua decadência e velhice. É um filme imperdível, vale a pena ver!
Quando os europeus começaram a explorar a região, se depararam com mui-
tas coisas que lhes eram desconhecidas: uma população com hábitos, crenças e
costumes próprios, uma fauna e flora diversificadas, com alimentos, árvores, plan-
tas, flores e bichos dos quais nem sonhavam que existiam. Tudo era muito novo e
surreal para os europeus. Diante do incógnito que se apresentava aos olhos, não
demorou muito para os europeus chamarem a América de Novo Mundo, em
oposição à Europa, que ficou conhecida como Velho Mundo. O encontro entre
dois mundos provocou mudanças significativas para ambos os lados.
Algumas dessas práticas ancestrais sobreviveram ao tempo. Um exemplo foi
o drama maia intitulado Rabinal Achi, datado do século XV, escrito na língua
maia achi e considerado, pela Unesco, Patrimônio Oral e Imaterial da Humani-
dade, em 2005. O Rabinal Achi é o único drama maia completo que sobreviveu
ao tempo. Todo dia 25 de janeiro esse drama é encenado em uma festa na Gua-
temala. Se analisarmos, por exemplo, os povos ancestrais da América, podemos
observar que alguns deles eram politeístas, isto é, cultuavam vários deuses. A fim
de homenagearem as divindades foram erigidos templos, santuários e altares,
nos quais rituais e sacrifícios religiosos eram realizados. Hoje, muitas vezes,
vemos o milho como um cereal nutritivo para a nossa alimentação, no entanto,
para os maias, por exemplo, o milho era considerado um alimento sagrado e,
como tal, cultuado como divindade relacionada à agricultura, com a ideia de
abundância, prosperidade e fonte de vida. Entre os maias, a mitologia traz o
milho como o protagonista da vida humana, pois se acreditava que de suas
sementes teriam gerado a vida.
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DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 1
Figura 1- Tupinambás no Brasil, gravura do século XVI / Fonte: Wikimedia Commons (2006, on-line).
Descrição da Imagem: a imagem é uma gravura em preto e branco, na qual vemos nativos seminus,
muitos portando apenas adornos (cocais, plumas etc.) típicos pertencentes aos Tupinambás, em um
ritual no qual se encontram em círculo, com o corpo levemente abaixado como se estivessem dançando.
No meio do círculo há três pessoas vestindo mantos e coroas de penas, em contraste aos indígenas que
formam o círculo que se apresentam seminus.
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UNIDADE 1
Descrição da Imagem: trata-se de uma fotografia de uma aldeia da Amazônia, na qual é possível ver,
embaixo do teto e do lado de fora de uma oca, três mulheres que trajam saias aparentemente de palhas e
com o torso nu e dois homens com folhagens verde cobrindo os quadris, todos eles apresentam desenhos
simbólicos pelo corpo e adornos diversificados feitos com miçangas, penas e palhas.
Algumas obras que se incluem nessa nova tendência merecem ser destacadas, a
exemplo da obra História dos índios no Brasil, organizada por Manuela Carneiro
da Cunha e publicada em 1992. Tal obra propôs a análise do indígena enquanto
agente histórico, clamando pela inclusão do nativo na historiografia, algo que já
vinha sendo esboçado anteriormente, e que rompeu com a visão tradicional que
via, no indígena, um ser passivo, sobretudo durante os processos de conquista
e colonização empreendidos pelos europeus. Essa coletânea é considerada um
marco e propulsora de novos trabalhos que seguiram essa mesma linha.
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NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
“
Mesmo no nível da aldeia, o pagamento de tributos e o trabalho
comunitário rotativo não eram conhecidos, nem havia um chefe
forte encarregado de exigir impostos; pode ter havido um líder em
alguns casos, mas ele estava mais preocupado com cerimônias ou
com a guerra. Classes sociais especializadas não costumavam existir,
nem nobres, plebeus ou dependentes, embora alguns povos tives-
sem cativos temporários tomados dos inimigos, nem havia altos
sacerdotes e templos especiais. Embora o senso de etnia fosse forte,
a organização da aldeia era frouxa e instável; não só sua localização
mudava de tempos em tempos como, em muitos casos, as linhagens
individuais constituintes iam e vinham à vontade. As confedera-
ções de aldeias eram efêmeras, para fins defensivos ou ofensivos
específicos. Acima de tudo, não havia uma unidade provincial de
bom tamanho com forte coesão, permanência e identificação com
um território nuclear compacto e específico, ou seja, não havia base
potencial para encomendas no sentido usual. Não só havia pouco
excedente de produção como não existiam mecanismos capazes de
entregar produção e mão de obra a um grupo conquistador, nem
intermediários para canalizá-las.
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OLHAR CONCEITUAL UNIDADE 1
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UNIDADE 1
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Figura 3 – Mapa de distribuição aproximada dos povos indígenas à época da chegada dos europeus
Fonte: PUCRS (2021, on-line).
Descrição da Imagem: mapa do Brasil onde estão apresentados, em diversas cores, os povos indígenas
do Brasil. Dentre os povos contemplados no mapa estão os tupi-guarani, os jê, aruak, karib, pano, tukano,
charrua e outros grupos.
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UNIDADE 1
Os Tupis acreditavam que os povos que não falavam a sua língua (os tapuias) eram
considerados “bárbaros”. Entre eles, era nutrida a percepção de que possuíam uma
cultura superior aos demais povos. A ideia de um cosmos dividido entre “nós” e
os “outros” estava relacionada ao espírito de guerra, pois os tupis consideravam
os tapuias seus inimigos congênitos. O conflito era algo relativamente natural
para os tupis, tanto que era comum haver desentendimentos entre os membros
da mesma aldeia. Não raro, muitos desses se aliavam em torno de um objetivo
comum, mas, tempos depois, se desuniram e, em alguns casos, lutavam entre si.
As guerras tupis estavam relacionadas a sentimentos como vingança e hon-
ra, não havendo registros de sua manutenção, estritamente por bens materiais.
Depois de capturados, os inimigos eram, geralmente, mortos, esquartejados e
devorados pelos guerreiros. Tal ritual antropofágico era necessário na sua cultura,
pois acreditavam que a intrepidez e bravura do devorado seriam incorporadas
a quem o consumiu.
Dentre os tupis, a família era o centro da vida tribal e as atividades esta-
vam, geralmente, articuladas de acordo com o sexo e laços de parentesco. Desse
modo, os homens de uma mesma família caçavam, pescavam, guerreavam contra
os inimigos e construíam moradias. Às mulheres competia o cultivo da terra, a
preparação dos alimentos, a confecção de utensílios de cerâmica, bem como o
cuidado com as crianças. A produção era de subsistência, sendo dividida para os
membros da aldeia de acordo com as suas necessidades.
As aldeias tupis, conhecidas como tabas, estavam estruturadas de forma a
proteger seus moradores em caso de guerra. Habitualmente eram cercadas por
troncos de árvores e construídas de forma circular, disposição que oferecia maior
segurança a seus membros. As ocas, edificadas por fibras vegetais e apoiadas por
uma armação em madeira, possuíam o chão de terra batido, além de abrigarem
dezenas de pessoas. Seu formato variava muito segundo a tradição e cultura de
um povo. Os tupis, por exemplo, construíam suas ocas em formato cilíndrico.
Em cada uma dessas ocas, havia um líder (principal), os quais se reuniam pe-
riodicamente para tomar decisões conjuntas sobre assuntos pertinentes à aldeia.
Por mais que cada taba tivesse um chefe (morubixaba), podemos dizer que não
havia um poder centralizado, pois os principais (líderes das ocas) se reuniam
para discutir assuntos importantes das aldeias. Para se tornar um morubixaba,
o aspirante à função deveria ser forte, provar valentia e ser fisicamente robusto.
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EXPLORANDO IDEIAS
Morubixaba vem do tupi-guarani e significa “grande líder”, ou seja, aquele que exerce a
liderança “política” em uma taba (aldeia tupi).
Figura 4 – Antropofagia no Brasil Segundo a Descrição de Hans Staden, gravura de Théodore de Bry
Fonte: Wikimedia Commons (2011, on-line).
Descrição da Imagem: a imagem é uma pintura, na qual é possível ver homens e mulheres nativos (nus
e seminus) devorando partes do corpo humano, como braços, pernas e costelas. Há uma fogueira no
centro da imagem, na qual as partes de corpos humanos estão sendo assadas. Atrás das pessoas que
estão devorando partes dos corpos aparece um homem, também nu, com a tonalidade de pele branca,
aparentemente assustado com o que vê.
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UNIDADE 1
PENSANDO JUNTOS
Os tupis quase sempre se deslocavam em busca de locais que fornecessem caça e pesca
em abundância, além de condições propícias para a prática da agricultura. Entretanto,
também estavam à procura da tão sonhada “terra sem mal”, lugar ausente de sofrimento
e onde os guerreiros que demonstraram bravura seriam automaticamente transportados
após a morte.
Fonte: a autora.
Os europeus souberam da existência desses povos, bem como a forma como vi-
viam, por meio de relatos do século XVI. Missionários, náufragos e viajantes, os
quais tiveram contato com as aldeias litorâneas, sobretudo os tupis, registraram
os traços culturais de forma generalizada, fator que contribuiu para que durante
muito tempo os indígenas fossem considerados todos semelhantes. Entretanto,
sabemos, atualmente, que os povos nativos não poderiam ser configurados como
homogêneos, muito embora compartilhassem várias características entre si.
Residentes em locais hostis
por conta de densas florestas, os
indígenas possuíam o conheci-
mento e domínio da natureza. Não
era rara a utilização de várias plan-
tas para a cura de determinadas
doenças bem como o uso de algu-
mas espécies que tinham o poder
de envenenamento. Era comum a
aplicação dessas plantas nos rios
com o objetivo de intoxicar o pei-
xe e facilitar a sua captura. Alguns
venenos também eram usados na
caça, a exemplo do curare, o qual
era colocado na ponta da flecha e
poderia paralisar e matar por as-
fixia o animal ferido.
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Descrição da Imagem: a figura ilustra uma planta com galhos compostos de folhas e flores da planta
Strychnos toxifera em tons verdes. As folhas são em formato oval nas cores verde e as flores são formadas
por cachos, cada qual com um tubo fino e na cor branca.
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UNIDADE 1
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EXPLORANDO IDEIAS
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UNIDADE 1
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Descrição da Imagem:
ilustração colorida de um
homem guerreiro trajan-
do a vestimenta de um
jaguar. Ele está de perfil,
voltado para a esquerda.
Traz, ainda, em sua cabe-
ça, uma coroa com plumas
e com um escudo em sua
mão direita, enquanto, na
mão esquerda, ostenta
uma espada de obsidiana,
uma espécie de rocha.
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UNIDADE 1
PENSANDO JUNTOS
Ficou curioso a respeito de Bernadino de Sahagún? Saiba que ele era pertencente à or-
dem dos franciscanos, chegou à região asteca em 1529 e permaneceu na América até
falecer, no ano de 1590. Sahagún escreveu um manual no qual pretendia descrever o
universo cultural pré-hispânico na Mesoamérica, no intuito de que os demais missioná-
rios pudessem investigar a permanência de resquícios da antiga religião, podendo pregar
contra ela, quando fosse necessário.
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UNICESUMAR
que a elite asteca era sustentada pelos camponeses que trabalhavam em certas
propriedades diante dos olhos fiscalizadores do império. Eram terras do palácio,
do templo, da guerra e do próprio soberano. Havia casos em que o imperador
concedia terras, em caráter vitalício ou hereditário, a funcionários ou guerrei-
ros que se destacavam em suas funções. Nos casos de concessões hereditárias, o
trabalho era, geralmente, executado por camponeses que não possuíam direito
à terra de subsistência, denominados de mayeques. Entretanto, em épocas de
carestia, o império realizava a redistribuição de alimentos excedentes às popu-
lações camponesas.
Havia, ainda, os camponeses (macehualtin) que estavam organizados em
comunidades conhecidas como calpullis. Considerado por alguns autores (CAR-
DOSO, 1981; VAINFAS, 1984; SCHWARTZ; LOCKHART, 2010) como a unidade
social básica dos astecas, o calpulli pode ser definido como um território compar-
tilhado com direitos comuns sobre a terra, além de contar com uma organização
administrativa, militar, judiciária e fiscal própria. Em cada calpulli havia um chefe
(calpullec), normalmente eleito pelos membros da comunidade, mas que nutria
estreitos laços com o soberano asteca.
O calpulli era formado por terras repartidas entre as famílias para o usufru-
to hereditário. Tais propriedades eram coletivas e utilizadas para a subsistência
aldeã. Nelas, cultivavam os mais diversos produtos alimentícios, como o milho,
o feijão e legumes. Entre as técnicas rudimentares de cultivo desses alimentos,
estão a coivara, a irrigação por canais e as ilhas flutuantes (chinampas), as quais
eram muito comuns no lago Texcoco. Além de darem conta de suas funções, os
camponeses deveriam trabalhar nas terras do Estado e executar serviços públicos,
como o recrutamento militar (cuatéquil) realizado periodicamente.
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UNIDADE 1
A sociedade asteca dos primeiros anos do século XVI não se reduzia a uma divisão
entre camponeses e burocratas. No circuito das elites governantes, havia privilégios
significativos, enquanto, entre os camponeses, surgiam novas categorias sociais,
contribuindo para tornar ainda mais complexa a compreensão dos desníveis carac-
terísticos dos trabalhadores dessa natureza. Como já demonstrado anteriormente,
os mayeques se distinguiam dos demais camponeses por não possuírem terras e,
para sobreviver, deveriam trabalhar nas propriedades dos burocratas astecas. Em
Tenochtitlán, havia ainda os trabalhadores urbanos vinculados quase sempre a tra-
balhos artesanais, como tecelões, oleiros e ourives. Como se tratava de uma função
exercida no interior da cidade, esses trabalhadores estavam, geralmente, desvincu-
lados de suas comunidades de origem e se organizavam em corporações.
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Figura 8 – Pirâmide do Sol Asteca vista ao fundo / Fonte: Pixabay (2016, on-line).
Descrição da Imagem: fotografia na qual se vê um templo asteca maior no formato de pirâmide. Em seu
redor, é possível ver templos no mesmo formato, mas em tamanhos menores com escadas. Ao fundo,
podemos observar montes com vegetação e o céu azul com poucas nuvens.
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UNIDADE 1
Descrição da Imagem: ilustração colorida em que vemos a figura de um deus asteca com aparência
humana, mas que, na região dos olhos, possui mãos e está segurando uma serpente. A figura está de
perfil voltado para à direita, levemente abaixada e traz vários adornos, nas cores vermelha, azul e amarela,
muitos dos quais feitos de plumas.
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UNIDADE 1
Figura 10- Manco Cápac, o primeiro inca. Óleo sobre tela, provavelmente do século XVIII
Fonte: Wikimedia Commons (2010, on-line).
Descrição da Imagem: pintura em que vemos uma figura humana que está de perfil voltado para a direita
e veste um manto predominantemente preto e com listras amarelas e vermelhas na gola e nas mangas,
além de possuir um adorno dourado na cabeça no qual há, na parte central, a imagem esculpida de um
animal que se assemelha a um boi. Na lateral direita desse adorno, visível na imagem uma vez que a figura
humana está de perfil, há um tapa-ouvido esculpido em formato espiral e cujo tamanho toma conta das
orelha direita. A figura humana está segurando, com a mão direita, o que parece ser uma tocha e, com
a mão esquerda, um pombo. Atrás dele há um animal similar a um cão. Essas imagens estão dentro de
um círculo, no qual, na parte superior, é possível observar a seguinte escrita: “Aiarmanoo Capac Primer
Rey Del Cuzco”.
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NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 1
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PENSANDO JUNTOS
Garcilaso de la Vega era um escritor de origem inca. Nasceu em 1539, na região do atual
Peru e faleceu na Espanha, em 1616. Era filho do conquistador espanhol Sebastián Gar-
cilaso de la Vega e da princesa inca Chimpo Ocllo, por isso recebeu a alcunha de “O Inca”.
No século XVII, lançou um projeto historiográfico ambicioso que se baseava no passado
americano, sobretudo na região andina. Entre os seus trabalhos mais relevantes está Co-
mentarios Reales acerca de los Incas, cuja primeira parte foi publicada em Lisboa, no ano
de 1609, e a segunda, definida como História Geral do Peru, foi publicada postumamente
na Espanha (1617).
Fonte: a autora.
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UNIDADE 1
nome de mita. Conforme ressaltou Ciro F. Cardoso (1981), a vida agrícola dos
incas estava fundamentada na ajuda mútua, não havendo outras formas de pa-
gamentos de impostos in natura além do trabalho.
O kuraka concentrava mais riqueza do que qualquer outro integrante do ayl-
lu por meio desses trabalhos forçados (mita). Em períodos de apuros, ele deveria
fazer uma repartição de seus bens. No entanto, essa redistribuição era limitada,
fator que confirmava a existência de um fosso social entre os homens comuns
daqueles poderosos ou que ocupavam uma posição de destaque.
Em consonância com Vainfas (1984), apesar de sua divisão em quatro grandes
províncias (Chinchaysuyo, Antisuyo, Contisuyo, Collasuyu), os incas consoli-
daram um império integrado e coerente, características as quais os astecas não
conseguiram implementar. Construíram um sistema de estradas que unia todo
o território (VAINFAS, 1984). Havia o fornecimento de alguns serviços públi-
cos, como correios, depósitos de alimentos e armas. Implantaram um sistema
de contabilidade registrado pelos quipos (cálculos com nós feitos em cordas),
por meio do qual controlavam o pagamento de tributos e a população de cada
aldeia. No âmbito governamental, contavam com a chefia do Inca, filho do Sol
e símbolo máximo da burocracia
imperial, mas essa era dependente
da burocracia local, representada
pelos Kurakas regionais ou das al-
deias (CARDOSO, 1981).
Figura 12- Gravura do século XVI retratan-
do um chasqui, mensageiro inca, com qui-
pos na mão esquerda
Fonte: Wikimedia Commons (2021, on-line).
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UNIDADE 1
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NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 1
Os maias, por sua vez, era um povo pré-colombiano que habitou as regiões do
atual Sul do México, Guatemala, leste de Honduras, El Salvador, Belize e Nordes-
te da Nicarágua. Algumas partes do território pertencente a esse povo viveram
seu período áureo no século VII até aproximadamente o ano 1000. Alguns auto-
res, como Paul Gendrop (2005), por exemplo, defendem a ideia de que quando
os espanhóis vieram para a América encontraram apenas vestí-
gios dessa grande civilização, a qual teria finalizado o seu
apogeu no século IX. Muitos arqueólogos corroboram
com essa ideia, pois acreditam que, no século XVI,
momento da vinda de espanhóis para a Amé-
rica, os resquícios dos maias eram repre-
sentados por singelos agricultores
ligados por rituais religiosos
ancestrais. Enquanto os
maias entravam em
decadência, por
volta do século
XII, os astecas,
localizados mais
ao norte do atual
México (conferir a
Figura 14), começavam
a despontar como uma
rica e promissora civilização.
Descrição da Imagem: mapa da América Central e da América do Sul indicando a localização dos incas,
maias e astecas em diversos tons de azul. A civilização asteca abrangeu o território que vai, atualmente,
do centro do México até a Guatemala. Os maias ocuparam a região que corresponde hoje à planície de
Iucatã, no México, e aos territórios da Guatemala, de Belize e de Honduras. Os incas se estendiam por
toda a região andina, do Norte da Argentina e do Chile até o território da atual Colômbia.
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A unidade entre os maias nem sempre foi a sua característica principal. Eles,
por exemplo, não estavam unidos por um único idioma, tanto que os atuais
remanescentes dos maias são identificados por falarem seis dialetos principais,
os quais, às vezes, são similares entre si, mas, em muitos casos, apresentam va-
riações significativas. Entre os seus registros, merecem destaque as inscrições
estampadas nas paredes de templos e palácios. Boa parte de tais textos já foi
decifrada e destacam, geralmente, a história das dinastias maias, as guerras e
incursões contra as cidades rivais, bem como o sacrifício de inimigos como
forma de agradecimento aos deuses.
As cidades maias eram consideravelmente grandes para a época, com algumas
abrigando até 50 mil habitantes. Mesmo sendo consideradas independentes, algu-
mas delas lideravam federações que tinham poder sobre vastos territórios. Dentre
as cidades de maior destaque, estavam Palenque, Tikal e Copán. Apesar disso, havia
diferenças sociais: os mais abastados residiam em palácios e templos construídos
com pedras, enquanto os menos favorecidos moravam em cabanas de madeira.
A base da economia maia era a agricultura, principalmente o milho, que era
considerado um alimento sagrado. Na prática agrícola, utilizavam instrumentos
rústicos, sobretudo a queimada para limpar o terreno e torná-lo próprio para
o cultivo.
Grande parte da população era composta de trabalhadores agrícolas, de-
nominados de mazehualob. Em termos políticos, a sociedade maia era repre-
sentada por um monarca, o qual contava com vários auxiliares nas funções
administrativas, militares e religiosas. Tal monarquia tinha caráter hereditário
e possuía forte apelo religioso.
Os maias acreditavam que a vida era gerida por deuses, os quais eram cultua-
dos em templos suntuosos. O pouco que se sabe sobre a religião maia é que esse
povo acreditava que a maior parte dos deuses estava representada por elementos
naturais, a exemplo do vento, da chuva ou do sol. Apesar disso, rendiam culto a
Hunab, considerado o deus criador do mundo.
De forma geral, os maias se destacaram ao desenvolverem avanços signi-
ficativos em cálculos matemáticos e observações astronômicas. Já sabiam, por
exemplo, o conceito do número zero, compreendido pelos europeus apenas
mais tarde. Além disso, organizaram o tempo por meio de um calendário com-
posto por 260 dias, orquestrados segundo os complexos movimentos de astros.
Na arquitetura, construíram obras monumentais e elaboradas, a exemplo de
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UNIDADE 1
NOVAS DESCOBERTAS
Figura 15 – Construções maias localizadas em Tikal, na atual Guatemala / Fonte: Pixabay (2020, on-line).
Descrição da Imagem: foto colorida na qual há vários templos em pedra feitos no formato escalonado,
incluindo uma pirâmide, pelos maias. Além dos templos é possível ver várias construções, como colunas,
bem como turistas visitando essa região.
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UNICESUMAR
Por meio do que foi analisado até aqui, você deve ter
notado que astecas e incas protagonizaram as cenas dos
mais significativos e sólidos impérios pré-colombianos.
Em ambos, a centralização político-administrativa é sur-
preendente. Entretanto, dentre os astecas, havia uma maior
autonomia das cidades pertencentes à confederação, fator
que impossibilitou a unificação total da Mesoamérica. A
preocupação principal residia em cobrar tributos em gê-
neros das cidades, além de fomentar o comércio a longas
distâncias, fatores que deram certo prestígio à proprieda-
de privada e atenderam aos anseios dos grupos dirigentes.
Muito provavelmente, as exigências em relação ao trabalho
foram menos intensas do que no caso inca, o que facilitou
a relativa liberdade das cidades que formavam a confede-
ração asteca. De modo distinto, o império inca vivenciou
a intensa presença governamental a partir de Cuzco. Essa
característica facilitou ao poder central expandir o traba-
lho coletivo sobre as comunidades aldeãs existentes em
seu território de atuação, além de restringir o comércio em
prol das práticas de redistribuição e, consequentemente,
obstruir a formação de propriedades particulares.
O culto ao Sol era algo recorrente em ambas as civili-
zações e era representado por divindades, o que realçava
ainda mais o poder atribuído a esse astro. Dentre os aste-
cas, Huitzilopochtli alimentava a sede pela guerra em nome
de novas conquistas e do triunfo desse povo em relação às
demais cidades da confederação. No império inca, Inti era
a sustentação do poder e base da autoridade e integração
política. Ainda assim, é possível verificar a presença de tradi-
ções ancestrais entre as duas civilizações. Na Mesoamérica,
havia a lenda de Quetzalcóatl, enquanto, nos Andes, reinava
a figura mitológica de Viracocha. Em ambos, havia a relação
profunda do homem em sintonia com a natureza, algo dis-
tante da pregação corpo/alma implantada pelo cristianismo
no período da conquista.
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NOVAS DESCOBERTAS
48
UNICESUMAR
OLHAR CONCEITUAL
onquista
Antes da c
espanhola
Mesoamerica
nos (Maias e
e América do Astecas)
Sul (Incas)
• Localização:
• Politeístas
sul do atual México
• Sistema de escrita
e América Central
hieroglífico
• Cultura sobreviveu
• Sociedade
mais de 3 mil anos
hierarquizada
(até o século XV)
• Avanços científicos
• Politeístas
• Sistemas de escrita
pictográfica e hieroglífica
• Cobrança de tributos • Localização: grande parte
dos povos dominados do México atual
• Sociedade hierarquizada, • Império formado
comandada por um monarca no século XV
tas ações e
• Politeís istro de inform
reg berano
• Quipo: e contabilidade r um so
sistema
d
d o, li d e rado po or atuais
io interli
ga Equad
• Impér Chile e
z a ç ã o : área do ulo XII
• Locali do no s
éc
io forma
• Impér
49
UNIDADE 1
EXPLORANDO IDEIAS
De forma geral, considera-se animismo toda a manifestação religiosa que atribui aos
elementos dos cosmos (Sol, Lua, estrelas), a determinados seres vivos (como os animais,
as árvores e as plantas) e aos fenômenos naturais (a exemplo da chuva, do dia e da noite)
uma causa primária de característica vital e pessoal, chamada de “anima”. Esta, por sua
vez, simboliza a energia que movimenta o cosmos, o qual, em uma visão antropológica,
significa espírito e, na teocêntrica, é associado à alma.
50
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: imagem em preto e branco de um indígena com vestimentas típicas. Ele está
sentado, olhando levemente de perfil para a direita e traz consigo uma espécie de flauta, um cinto na
diagonal e um colar. Ele encontra-se sentado e destaca-se pela sua vasta coroa de penas.
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UNIDADE 1
52
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: ilustração na cor sépia, na qual há duas mulheres embaixo de árvores, trabalhando
no que parece ser polvilho ou farinha. A que está à direita aparece em pé socando algo em uma espécie
de pilão. A mulher à esquerda aparece sentada, aparentemente trabalhando com uma espécie de farinha.
53
UNIDADE 1
A irrigação, por sua vez, foi o elemento primordial para a difusão da agricultura e
indicou um perfilhamento mais complexo da organização social, como dos pue-
blos, grupo que habitava a região dos rios Colorado e Grande. Residiam em caver-
nas rochosas e em habitações semissubterrâneas, apoiadas por adobe ou pedra. De
forma geral, tais abrigos possuíam um formato semicircular, em cujo centro havia
uma praça na qual eram realizadas as cerimônias religiosas. Utilizavam técnicas
de irrigação no cultivo do milho, além de confeccionarem a cerâmica e o tecido de
algodão. Os navarros, assim como os pueblos, se fixaram nas regiões desérticas do
Texas e da Califórnia. Praticavam a caça e a agricultura, além de confeccionarem
vestimentas de couro e tecido de lã. Os navarros construíam suas cabanas com
barro e, no âmbito religioso, comungavam do animismo e do politeísmo.
Em consonância com Betty J. Meggers (1985), havia pelo menos três modelos
diferentes de habitat na América saxônica, quais sejam: a floresta, o deserto e as
grandes planícies. Apesar da distinção da oferta de recursos para a sobrevivência
nesses ambientes, é imperativo reconhecer que em todos eles existe uma multipli-
cidade notável de alimentos, compostos por animais selvagens e plantas, além de
proporcionar condições para o desenvolvimento da agricultura intensiva. Segundo
Meggers (1985), nos três tipos de habitats existem pressões adaptativas que conver-
gem no surgimento de configurações culturais, nas quais o desenvolvimento histó-
rico e atributos gerais são especialmente similares. A exploração da potencialidade
de cada um dos tipos ambientais está relacionada aos vínculos estabelecidos com
as áreas centrais, locais de onde vieram plantas que se adaptaram aos mais diversos
climas. Também são provenientes dessas regiões algumas práticas e fundamentos
religiosos bem como os mais diversos traços culturais adotados.
As regiões de floresta na América saxônica, localizadas no leste dos Estados
Unidos e Canadá, abrigavam dois dos principais sistemas fluviais do hemisfério.
Em tais zonas florestais, era comum a ocorrência de enchentes, as quais alagavam
as terras mais baixas. Quando a inundação recuava, deixava para trás lagos rasos,
algo que facilitou o encalhamento de peixes e a formação de pântanos.
Havia a predominância do clima temperado, caracterizado por invernos frios
e verões quentes. Nesse ambiente, o solo era drenado e produtivo, não sendo ne-
cessária a utilização da irrigação. Nas florestas orientais, houve uma adaptação
significativa à alimentação selvagem, fator que reforçou a segurança de grupos na-
tivos dependentes do cultivo agrícola. Há cerca de 10 mil a.C., a sobrevivência era
garantida, sobretudo, com o cultivo do milho, da abóbora e do feijão. Além disso,
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
Sobre o tipo ambiental das Grandes Planícies, o pouco que se sabe é que, nesse
período, o padrão de vida foi nômade, dada a existência de grupos caçadores
e coletores. Com a introdução da cerâmica nas florestas do leste, aumentou
consideravelmente a quantidade de registros, fator que permitiu detalhar as
formas como esses grupos viviam. Dessa forma, os pesquisadores concluíram
que a caça e a pesca enriqueceram a alimentação desses povos, aliados à coleta
de raízes, sementes, amoras e frutos silvestres.
Por volta de mil anos atrás, houve uma mudança significativa, o que prova-
velmente resultou na formação da cultura mississipiana. Aldeias compostas por
cabanas de terra multiplicaram-se, indicando traços de uma comunidade mais
sedentária, alicerçada no cultivo de feijão, milho e abóbora em vales próximos.
A concentração populacional em áreas específicas ficou mais evidente há 15 mil
anos atrás, quando algumas aldeias, visivelmente maiores, cresceram, enquan-
to as aldeias menores desapareceram. Muito provavelmente, a intensificação da
agricultura foi fator pujante para esse fenômeno. Antes de conhecerem o cavalo,
as caças eram realizadas em regiões circunvizinhas e limitadas. Por esse motivo,
os acampamentos eram mudados com certa frequência, no intuito de manter o
acesso à caça.
Anteriormente à vinda dos colonizadores, as caças eram realizadas com ins-
trumentos rústicos, a exemplo das pontas de projétil. Entretanto, nos séculos
XVI e XVII, os europeus introduziram as armas de fogo e os cavalos, fatores
que facilitaram a subsistência dos indígenas. Além de caçarem animais como
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
NOVAS DESCOBERTAS
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1. Em 1500, quando os portugueses chegaram à América, havia uma imensidão de po-
vos nativos, alguns dos quais testemunharam a vinda dos lusitanos e estabeleceram
os primeiros contatos com eles. De forma especial, o litoral de onde, hoje, se encontra
o Brasil era ocupado por “povos semissedentários”, os quais sobreviviam da caça, da
coleta, da pesca e da agricultura. Considerando as informações sobre os povos pré-
-colombianos que habitavam a América portuguesa, analise as afirmações a seguir:
a) I apenas.
b) II apenas.
c) III apenas.
d) I e III, apenas.
e) III e IV, apenas.
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2. Os maias estavam organizados de forma descentralizada, dividindo o poder político
entre várias cidades-estados. Além disso, são lembrados por diversas inovações
consideradas avançadas para a época. Considerando as informações sobre os maias,
analise as afirmações a seguir.
a) II apenas.
b) III apenas.
c) IV apenas.
d) I e III, apenas.
e) III e IV, apenas.
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3. Os povos pré-colombianos da América saxônica (região compreendida onde, hoje, se
localizam o Canadá e os Estados Unidos) se destacaram por sua imensa diversidade
cultural. Tal variedade se sobressai no âmbito da arte, da confecção de instrumen-
tos e utensílios, da religiosidade e dos padrões de alimentação. Considerando as
informações sobre os povos que ocupavam o que foi chamado posteriormente de
América saxônica, analise as afirmações a seguir.
I - Grande parte desses povos eram adeptos do animismo. Nas regiões cobertas por
florestas, predominava a caça e a coleta. A irrigação, entretanto, foi o elemento
principal para a difusão da agricultura.
II - Dentre os principais povos nativos que ocupavam a América saxônica, podemos
destacar: os sioux, os iroqueses, os navarros, os pueblos, os mongollon, os incas,
os anasazi e os honokam.
III - A pesquisadora Betty J. Maggers classificou os povos pré-colombianos da América
saxônica de acordo com os seus habitats, quais sejam: a floresta, o deserto e as
grandes planícies.
IV - As atividades mais recorrentes entre esses grupos eram a agricultura, a caça, a
pesca e a coleta de sementes para a manutenção das aldeias.
a) II apenas.
b) III apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e IV apenas.
e) I, III e IV apenas.
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2
O Período Colonial
na América
Hispânica e
Saxônica
Dra. Verônica Karina Ipólito
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UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem:
ilustração de uma mu-
lher com as mãos postas
em oração e trajando
uma túnica até os pés na
cor rosa claro com leves
ilustrações em dourado,
além de ter um manto
que a cobre na cor azul
com poás (bolinhas) e
borda em dourado. De
todo o seu corpo, irradia
luz. Aos seus pés, em ta-
manho proporcionalmen-
te menor, há a imagem
do torso de um homem
que, aparentemente, a
segura. O homem está
vestindo uma espécie de
camisa rosa.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
A dinastia dos Habsburgos governou a Espanha de 1516 a 1700, porém sua origem é
alemã e comandou a Áustria em fins do século XIII, até 1918. O poderio dos Habsburgos
teve o seu momento áureo no século XVI, com Carlos V, então imperador do Sacro Impé-
rio Romano-Germânico e rei da Espanha. Suas terras incluíam toda a Europa, exceto a
Inglaterra, a França e a Rússia. Os soldados de Carlos V conquistaram ricos impérios na
América (Inca e Asteca). Antes de falecer, Carlos repartiu seus domínios entre o irmão e
o filho, criando dois ramos dos Habsburgos. Um deles governou a Espanha até 1700, o
outro comandou o restante do império. Em 1804, os domínios comandados pelos Habs-
burgos ficaram conhecidos como Império Austríaco.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
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UNIDADE 2
PENSANDO JUNTOS
“À força de tanto ler e imaginar, fui me distanciando da realidade ao ponto de já não poder
distinguir em que dimensão vivo” (Cervantes, D. Quixote).
Sancho Pança, fiel escudeiro de Dom Quixote, era um trabalhador honesto que,
às vezes, tentava lhe mostrar outra visão que fugisse da fantasia, contudo acaba
acreditando em Quixote, que o convenceu a ser o governador de uma ilha ima-
ginária. A mentalidade frágil, porém honesta, representada na figura de Sancho
Pança, e o desejo de ascensão social a partir de títulos de nobreza proveniente do
domínio de terras, assim como a fama trazida por isso, também são, simbolica-
mente, aspirações essenciais do inconsciente coletivo do reino. Cervantes explora
muito esses aspectos para criticar também os costumes reais.
Esses “delírios quixotescos” eram comuns na época da conquista. Colombo, por
exemplo, teve grande êxito em suas navegações pelo fato de haver encontrado um
novo continente, mesmo que inconscientemente, pois morre sem saber do acha-
do, acreditando apenas que tinha conseguido um novo caminho para as Índias.
Quando chegou à região caribenha, interpretava à sua maneira todos os costumes
e línguas dos indígenas, vendo só o que desejava ver e escutando apenas o que
queria, chegava até a achar que os indígenas falavam certas palavras em sua língua.
72
UNICESUMAR
Indo para além da crítica social, Sérgio Buarque de Holanda (1995) afirma que a
América, como um todo, é produto de uma conquista do “aventureiro”, cabendo
ao “trabalhador” papel muito limitado, “quase nulo”. Em se tratando da diferença
da colonização portuguesa na América espanhola, o autor escreve o capítulo “O
semeador e o ladrilhador”. Nessa parte do ensaio, Holanda critica o desleixo dos
portugueses para com a colônia, pois estes, tal como um semeador, realizavam
suas tarefas sem uma organização necessária. Somente após encontrarem ouro no
Brasil é que decidiram efetivar a colonização e explorar ao máximo as matérias
primas e mão de obra, o que acabou gerando diversas revoltas por exploração,
fosse por poder e/ou por reconhecimento social. Ainda assim, segundo Holanda,
as construções das vilas e cidades não seguem um projeto colonizador, sendo
formadas de acordo com a conveniência e, desprovidas de planejamento, seguem
o curso dos rios e das minas. Mesmo com essa maior presença do Estado, os co-
lonizadores buscavam lucros imediatos sem uma maior organização.
Como você deve ter notado até aqui, Holanda (1995) defende a tese de que o
processo de conquista e colonização na América orquestrada pela Espanha foi
mais organizado se comparado com Portugal. Tal como “ladrilhadores”, os es-
panhóis costuraram a conquista e a colonização apoiando-se nas cidades como
centro administrativo sistemático. No Novo Mundo, os espanhóis tiveram como
meta transplantar e consolidar as estruturas que compunham a organização
social na Espanha para a América, desenvolvendo uma espécie de “nova Es-
panha”. Organizaram-se em cidades, construíram universidades e o ensino era
basicamente cristão.
Holanda (1995) argumenta, ainda, sobre a diferença da postura colonizadora
dos países ibéricos na América. O autor cita que os espanhóis adotaram um mé-
todo mais severo, possivelmente pelo fato de encontrarem rapidamente muita
prata e terem que organizar um sistema de controle mais rigoroso na extração.
Depararam-se também com sociedades portadoras de estruturas mais comple-
xas, que exigiram um maior controle e “mão forte” da Igreja com a Inquisição. Já
os portugueses eram conservadores e prezavam pelo desleixo, pelo ócio, não
pelo trabalho. Eram desprovidos de planejamento e não arquitetavam o futuro.
Holanda faz essa distinção tratando com certo desprezo a colonização lusitana,
pois, segundo ele, o que a sociedade brasileira tem de malefícios é devido às
raízes portuguesas perpetradas no país.
73
UNIDADE 2
Em relação
às altas cultu-
ras e o processo
de conquista, pode-
mos dizer que as regiões do
México e do Peru eram estratégicas,
pois eram formadas por povos centrais
e completamente sedentários. Além do mais,
essas áreas também abrigavam grandes depó-
sitos de metais preciosos, mercadoria ameri-
cana que tinha maior demanda na Europa
da época. Dessa forma, essas duas regiões
receberam a maior parte da imigração eu-
ropeia do século XVI, seguidas da criação
rápida de redes sociais, econômicas e insti-
tucionais de estilo europeu, enquanto a imi-
gração, para todas as outras áreas, era pequena,
e a mudança, mais lenta, até um período posterior.
Por isso, para Schwartz e Lockhart (2002, p. 155), os
espanhóis foram “os primeiros a levar a América a sério
e, por isso, foram eles que ocuparam o México e o Peru
e que construíram estruturas complexas e de grande esca-
la que atingiram a maturidade precoce bem antes do final do
século XVI”. Nesse sentido, os autores concordam com Sérgio
Buarque de Holanda, para quem os espanhóis teriam instalado
toda uma estrutura colonial eficaz e produtiva. No entanto Sch-
wartz e Lockhart (2002) vão ainda mais longe ao destacar que os
espanhóis se empenharam no processo de conquista e coloniza-
ção em lugares onde havia indígenas sedentários e riqueza mineral;
todo o resto de seu território permaneceu abandonado, ainda mais
que a América portuguesa.
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UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
75
UNIDADE 2
EXPLORANDO IDEIAS
A “leyenda negra” (lenda negra) da conquista da América hispânica foi inaugurada pelo Frei
Bartolomé de Las Casas, que, na primeira metade do século XVI, lutou contra o modo pelo
qual os indígenas estavam sendo tratados pela administração colonial. Os escritos de Las
Casas denunciavam as atrocidades dos conquistadores contra os índios e encontraram
grande eco entre os opositores do colonialismo praticado pela Espanha no continente
americano.
Descrição da Imagem:
desenho em preto e
branco em que apare-
cem vários corpos de
indígenas enforcados
em uma estrutura
montada com tronco
de árvores. Embaixo
desses corpos há uma
fogueira e um homem
que a ajeita. Do lado
esquerdo, há um ho-
mem com roupas espa-
nholas, arremessando
uma criança. Ao fundo,
é possível observar
pessoas correndo e
outras sendo atacadas.
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UNICESUMAR
Para Romano (1973, p. 79), a vitória dos espanhóis em relação aos indígenas vai
além de explicações psicológicas, de superioridade bélica e até mesmo do uso de
cães especialmente treinados para eliminar o inimigo. Segundo o autor, esque-
ce-se muito facilmente o fato de que os espanhóis, ao se baterem contra grandes
exércitos, puderam contar com a ajuda de numerosos “colaboradores”. Assim, por
exemplo, a vitória de Cortés sobre Montezuma (e o “império” mexica – como
também eram chamados os astecas – só pode ser compreendida se lembrarmos
da aliança do conquistador com o chefe dos Tlaxtaltecas, inimigos tradicionais
dos mexicanos.
Descrição da Imagem: pintura onde é possível observar, do lado direito, homens armados com espadas,
lanças, armaduras e cavalos. À frente está o que aparenta ser o líder, vestindo armaduras, ao lado de uma
mulher e um cavalo branco. À esquerda, vemos nativos americanos seminus. Sua vestimenta se baseia
em penas na parte dos quadris e cabeça. A frente desse último grupo aparece um homem com penas nos
quadris e uma espécie de manto vermelho nas costas, aparentemente conversando com o líder do grupo
da direita, já descrito.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
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UNIDADE 2
Indo mais além nessa questão, Héctor Bruit (1992), em seu capítulo intitulado “O
Visível e o Invisível na Conquista Hispânica da América”, publicado em 1992, por
ocasião dos quinhentos anos da “descoberta” da América, afirma que a conquista,
no seu sentido mais amplo de dominação total, de substituição de uma cultura
por outra, de aculturação, de eliminação dos vencidos, não chegou a realizar-se.
Esse fracasso do vencedor, o qual Bruit chama de “o processo invisível da con-
quista”, é representado pela questão da miscigenação, que permitiu o nascimento
de uma nova sociedade, o que significa repensar que a conquista hispânica se
concretizou plenamente. Dentre os objetivos dos colonizadores do século XVI,
como civilizar os índios de acordo com os padrões peninsulares; evangelizá-los a
fim de extinguir as religiões americanas; transformá-los em verdadeiros vassalos
do rei e conseguir todo o metal precioso possível. De acordo com Bruit (1992),
na prática, só o último objetivo foi alcançado, pois os outros se realizaram de
forma precária. Esse relativo fracasso não pode ser visto apenas como obra dos
conquistadores, segundo a ideia muito difundida de que só se preocuparam em
extrair o ouro e explorar os indígenas. Muito se deve também à ação dos nativos,
que opuseram diversas formas de resistência, como a militar e até mesmo no
boicote em relação à comunicação verbal.
Divergindo de Ruggiero Romano (1973), para Héctor Bruit (1992), o fator
mais importante não é discutir se a conquista foi positiva ou negativa, se o co-
lonialismo, em função da superioridade técnica, cultural, religiosa e política – o
que pode ser questionado – foi uma forma de integração e comunicação entre
os povos. É mais relevante, para o autor, mostrar que mesmo conquistados e
colonizados, os índios não perderam sua condição de agentes sociais ativos, ca-
pazes de inibir os valores impostos pelos vencedores. Desse modo, retira-se da
análise a visão negativa projetada sobre o indígena pela maior parte dos cronistas,
a começar por Bartolomé de Las Casas (1984). Assim, o eclesiástico espanhol
Francisco López de Gómara dizia que os índios eram preguiçosos e bêbados,
visto que eles estavam também revelando uma forma de resistência à conquista.
Em contrapartida, quando Las Casas (1984) afirmava que eram muito humildes
e obedientes, querendo impedir o massacre, no fundo, sugere que essa postura
não era mais que um disfarce. Os índios, segundo Las Casas (1984), mentiam
ao conquistador para defenderem-se; para confundi-lo, simulavam obediência,
ingenuidade e passividade. Isso ilustra, de acordo com Bruit (1992), o processo
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UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
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UNICESUMAR
que se llaman diablos...” e sugeriu fixar uma cruz e a imagem de Nossa Senho-
ra em um oratório do templo. Tais sugestões, aliás, foram logo rebatidas por
Montezuma, que afirmou que seus deuses eram bons e lhe davam saúde e boas
colheitas. Todo o episódio, a mentira relatada ao rei Carlos V (que governou a
Espanha de 1516 a 1556) é representativa da determinação de Cortés em vencer
e convencer a qualquer custo, pois o suposto ato de derrubar ídolos, limpar o
sangue dos sacrifícios humanos e cristianizar “bárbaros” demonstraria ao rei o
quanto era válida a sua empreitada por aquelas terras e o fato de ele ser o chefe
militar adequado para consumá-las.
PENSANDO JUNTOS
“Primeiro, porque estávamos lutando contra um povo bárbaro para espalhar nossa fé; se-
gundo, para servir a Vossa Majestade; terceiro, nós tínhamos que proteger nossas vidas;
e por último, muitos dos nativos eram nossos aliados e nos auxiliaram” (CORTÉS, 1985).
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UNIDADE 2
um medo pelo estranho, uma ameaça contra a grandeza da Espanha e a qual o rei
Carlos V certamente deveria combater. Ainda havia ouro, a disponibilidade do
metal e joias, prata e cobre também tinha a intenção de firmar o convencimento
do rei pela facilidade e abundância de riquezas.
Por fim, havia o convencimento pela beleza da cidade, e Cortés não deixou de
sugerir que a suntuosidade dos lugares era digna da realeza. Porém o aspecto da
beleza da cidade foi o menos considerado e não evitou a sua destruição, embora
Cortés (1985, p. 67), em alguns momentos, lamente a destruição, como quando,
na terceira carta, afirma que, para assustar os nativos, “mandei pôr fogo nas suas
casas e templos, embora isto me causasse grande pesar, pois em algumas dessas
casas Montezuma cultivava todas as espécies de aves”. Cortés (1985) caracteriza
a capital dos astecas como uma rica cidade dominada por bárbaros. Uma cidade
com características idênticas àquelas dos idólatras muçulmanos e, como estes
últimos, deveria ser submetida à grandeza da Espanha e à fé cristã, representadas
na figura do rei espanhol que manifestava o seu poder mediante o seu maior
enviado, ou seja, o próprio Cortés.
NOVAS DESCOBERTAS
A descrição apresentada por Cortés (1985) confirma, dentre outras coisas, a in-
tenção da conquista pela desqualificação do nativo. A cultura asteca também
é vista sobre a ótica da dominação a ser praticada e, dentro desse aspecto, tornou-
-se objeto de trama e questionamento. Um exemplo que ilustra essa questão foi o
uso da profecia que previa a volta do Deus Quetzalcóatl, um dos quatro criadores
do mundo. Cortés (1985), que foi confundido com o Deus, soube da perspectiva
criada e usou essa agitação em seu benefício. Por fim, a própria cidade Tenochti-
lán foi pensada como uma forma de, mais do que legitimar, coroar o projeto da
conquista, que se efetivaria na derrubada da cidade.
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UNICESUMAR
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UNIDADE 2
PENSANDO JUNTOS
“Essa doença era desconhecida [...] e quando as varíolas atingiram os índios, foi tamanha
a moléstia e tal a pestilência em toda a terra que, na maioria das províncias, metade da
população morreu [...]” (MOTOLÍNIA, 1540).
Em contrapartida com Bernal Diaz Del Castillo (1998) e Hernan Cortés (1985),
podemos notar em Bartolomé de Las Casas (1984), um frade dominicano que
relatou em várias obras o processo de conquista, uma visão bastante diferenciada
entre indígenas e espanhóis. Brevisima Relación de la Destruición de las Índias foi
escrita por Las Casas, em 1542, provavelmente como reação ao fato de que nesse
mesmo ano foram publicadas as “Leis Novas”, as quais, embora determinassem as
restrições das encomiendas e a escravidão de índios, não agradaram plenamente o
frade dominicano. Nessa obra, Las Casas (1984) descreve os espanhóis como cruéis
e ambiciosos, e os indígenas como seres simples e sem maldades. As conquistas do
Novo Mundo são relatadas praticamente por um único prisma: o da destruição.
O religioso buscou, por meio disso, afastar qualquer relação entre os indígenas dos
bárbaros e escravos naturais, associando-os a exemplos expressivos da perfeição
divina. Essa crença permitiu que Las Casas (1984) relacionasse o novo continente
ao paraíso terrestre, os indígenas aos inocentes que habitavam as terras agradáveis
e prazerosas e os espanhóis aos terríveis destruidores do paraíso descrito.
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
A encomienda era, em síntese, uma forma de trabalho obrigatório indígena, realizado nas
zonas rurais, no qual a força de trabalho era trocada pela evangelização. Devemos lem-
brar que, naquela época, a forma de trabalho escravo era proibida pela Igreja (para os
não-negros). Ao receberem ensinamentos religiosos, a Igreja se contentava e dizia que
eles estariam ganhando cristianização em troca de seu trabalho.
PENSANDO JUNTOS
“Os espanhóis, esquecendo que eles eram homens, trataram essas inocentes criaturas
com crueldade digna de lobos, de tigres e de leões famintos” (LAS CASAS, 1984).
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UNIDADE 2
Se compararmos Las Casas (1984) com Colombo (1998) notaremos que, para
ambos, o nativo americano possuía uma docilidade para a fé, uma alma pura, sem
violência − nem armas conheciam, afirmou Colombo, logo que os encontrou. No
entanto, para Colombo (1998), o nativo poderia ser inserido como escravo em um
projeto de exploração econômica das Índias, embora a hipótese devesse ser apli-
cada apenas a supostos canibais (como os caraíbas). Essa possibilidade, sugerida
aos reis espanhóis em sua segunda viagem para a América, seria inadmissível para
Las Casas, não só pelo preceito cristão de respeito ao próximo, mas também por
julgar que a natureza do índio era outra: algo delicado, não destinado ao trabalho.
Figura 5: “De espanhol e índia produz-se mestiço” / Fonte: Wikiwand ([2022], on-line).
Descrição da Imagem: a imagem é uma pintura onde vemos, à direita, uma mulher nativa sentada e com
um bebê em pé no seu colo. Perto dela, há um homem branco, vestindo roupas típicas de europeus da
época colonial. O homem está com o dedo da mão direita levantado, como se estivesse ordenando algo. À
sua frente, vemos outro homem, aparentemente mestiço, ajeitando frutas no chão. No meio da imagem,
há uma legenda escrita em espanhol, mas cuja tradução para o português seria: “De espanhol e índia
produz-se mestiço. espanhol 1.índia 2. mestiço 3 “.
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OLHAR CONCEITUAL
HISTORIADOR IDEIA PRINCIPAL
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
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PENSANDO JUNTOS
“Ensaio antilhano” é um termo que se refere ao modelo espanhol implantado por Cristó-
vão Colombo, em 1492.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
A América Inglesa, composta pelo Canadá e Estados Unidos, foi colonizada pe-
los ingleses em princípios do século XVII, muito provavelmente com a fundação
da colônia de Virgínia. Com essa informação, você pode refletir sobre a premissa
de que os ingleses não foram os pioneiros na América. Além disso, de modo dis-
tinto da colonização portuguesa e espanhola no Novo Mundo, a Coroa não foi
responsável pela colonização, pois esse trabalho foi articulado por particulares e
pelas Companhias de Comércio. Por isso, para Leandro Karnal, Sean Purdy, Luiz
Estevam Fernandes e Marcos Vinícius de Morais (KARNAL et al., 2007, p. 35),
ao contrário da América Ibérica, houve na América Inglesa “uma colonização de
empresa, não de Estado”.
Mas o que levou os ingleses a aceitarem abandonar sua terra de origem e se
aventurarem a ocupar regiões que mal conheciam? É importante destacar que,
nesse momento, a Inglaterra passava por crises conjunturais: por um lado, as
perseguições políticas e religiosas e, de outro, as implicações da expropriação dos
camponeses, um processo que ficou conhecido como “cercamentos”.
Diante da intensificação das perseguições religiosas do século XVI e os en-
calços políticos do século XVII, momento em que figuraram conflitos entre o
Parlamento e os reis Stuart, os ingleses viram o fato de migrarem para a América
como uma das alternativas. A prática dos cercamentos e a situação de miséria
instalada em razão desse processo apenas agravou o cenário caótico da Ingla-
terra seiscentista. Tal fenômeno resultou na expulsão e confisco de terras do
campesinato inglês, fator que os levou a migrarem forçosamente para a América
em busca de melhores condições de vida. O processo de migração de ingleses
para o Novo Mundo serviu de combustível para fomentar a colonização na
região setentrional do continente. Quanto à organização do sistema colonial
na América Inglesa, existem divergências na literatura especializada sobre o
assunto. Alguns historiadores falam na organização de três áreas principais (as
colônias do norte, centro e sul), ao passo que outros insistem na existência de
duas regiões colonizadas de forma distinta (as colônias do norte e sul). Vamos
aqui optar pela segunda interpretação.
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UNIDADE 2
Descrição da Imagem: mapa onde vemos as trezes colônias da América Inglesa destacadas em um tom de
laranja mais forte. Essas colônias estão banhadas pelo Oceano Atlântico. No mapa, ainda é possível obser-
var, na parte central e à esquerda, os territórios que ainda pertenciam aos indígenas e à América espanhola.
As colônias do norte são: Pensilvânia, Nova Jersey, Nova York, Delaware, Connec-
ticut, Rhode Island, Massachussets e Nova Hampshire. As colônias do sul, por sua
vez, são classificadas na seguinte ordem: Maryland, Virgínia, Carolina do Norte,
Carolina do Sul e Geórgia.
As colônias do norte foram destinadas ao povoamento de refugiados
enquadrados nos casos citados anteriormente. Essa região, banhada pelo
Oceano Atlântico, apresenta o clima temperado, similar ao europeu. Tais carac-
terísticas facilitaram o desenvolvimento de um núcleo de povoamento baseado
na policultura de subsistência e no mercado interno, já que não foram encontra-
dos metais preciosos e nem produtos agrícolas em abundância para o mercado
europeu.
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UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Ficou curioso para saber o que foi o comércio triangular? Saiba que esse tipo de comér-
cio interligava três pontos que envolviam um conjunto de interesses e negociações entre
África, América e Europa.
No caso das colônias do norte, o comércio triangular era muito utilizado na com-
pra de cana e melado das Antilhas, os quais seriam transformados em rum.
Tal bebida era transportada para a África por meio de embarcações provenientes
da Nova Inglaterra. Nesse continente, era usualmente trocada por escravos. Esses
cativos eram comercializados pelos proprietários de terras das Antilhas e Colô-
nias do Sul. Seguido desse processo de venda de mão de obra escrava, novamente
os navios retornavam para a Nova Inglaterra carregados de melado e cana para
a produção de rum. Tal comércio envolvia, geralmente, a Europa, para onde ru-
mavam os navios com açúcar das Antilhas, os quais retornavam com produtos
manufaturados para serem comercializados nas colônias inglesas na América
(KARNAL et al., 2007, p. 47).
Além dessas atividades, as Colônias do norte adotaram a pesca para comple-
mentar a economia local. Localizadas próximas a um dos maiores pesqueiros do
mundo (Terra Nova), tais colônias tiveram condições de explorar fartamente as
atividades pesqueiras, bem como a venda de peles, as quais eram adornos funda-
mentais nos vestuários da época, além de proteger do rigoroso inverno europeu.
Em termos políticos, a região da Nova Inglaterra se mostrou bastante orga-
nizada, apresentando governos com larga participação popular. Mesmo com as
proibições da população, cada colônia possuía relativa autonomia e chegaram
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Você sabia que a Guerra dos Sete Anos foi uma série de conflitos internacionais ocorridos
entre 1756 e 1763? Esses confrontos envolveram diversos reinos europeus e se estende-
ram para as colônias da Ásia, África e América do Norte. O atrito que resultou nesse even-
to bélico foi liderado por dois blocos: de um lado, os franceses e seus aliados (Reino da
Suécia, Reino da Saxônia, Reino da Espanha, Reino de Nápoles, Ducado de Württemberg,
Império Austríaco e Império Russo); por outro lado, liderados pela Inglaterra, estavam o
Reino da Prússia, Reino de Portugal, Reino de Hanôner, Ducado de Brunsvique e Estado
de Hesse-Cassel.
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UNIDADE 2
Pelo que você viu até aqui, pôde notar que a colonização inglesa na América se
desenvolveu à parte da Coroa britânica. As treze colônias gozavam de um grau
de independência considerável entre si, estando cada uma delas, também, autô-
nomas, em certa medida, da metrópole. Conforme salientamos, a colonização
ocorreu a partir da iniciativa privada, o que explica o desenvolvimento de um
elevado grau administrativo, econômico e político, caracterizado, sobretudo, pela
ideia do autogoverno.
NOVAS DESCOBERTAS
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UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Vamos realizar uma “mão na massa” com os nossos alunos? O objetivo é levar
metodologias ativas para os estudantes da Educação Básica, uma vez que eles
produzirão um painel on-line com fotos. Como uma das temáticas dessa unidade
foi a conquista e colonização da América, sugerimos que, nessa proposta, você, en-
quanto professor de História, monte uma atividade utilizando o site do Padlet. A
proposta da sua atividade pode ser solicitar aos alunos que insiram uma imagem
sobre a conquista da América e, em seguida, expliquem o porquê dessa imagem
estar relacionada a esse assunto. Essa proposta permite, além de aprender novas
habilidades utilizando ferramentas on-line, fazer com que o aluno interprete uma
imagem e faça pesquisas voltadas ao tema solicitado.
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1. As nações que formam, nos dias de hoje, as regiões conquistadas e colonizadas
pelos espanhóis e ingleses na América possuem uma singularidade própria, mas
que encontra raízes no passado. Tal fato nos permite compreender por que existem
diferenças culturais, sociais, econômicas e políticas tão gritantes no continente ame-
ricano. Durante o texto, você deve ter notado que existem múltiplas interpretações
sobre a conquista da América espanhola. Estabeleça uma comparação do olhar da
conquista feita por Hernan Cortés, Bartolomé de Las Casas e Cristóvão Colombo.
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3
América Frente à
Crise do Sistema
Colonial e os
Movimentos de
Independência
Dra. Verônica Karina Ipólito
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UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
Descrição da Imagem: há vinte e duas pessoas na foto, umas ao lado das outras, sendo que onze delas
estão levemente abaixadas à frente. Dezoito delas são mulheres e quatro são homens. As mulheres são as
jogadoras de futebol, e a maioria veste camisetas e shorts na cor branca, com os nomes de patrocinadores
e emblema do time do Santos. Duas mulheres estão com camisetas na cor azul, indicando uma posição
diferenciada das jogadores, provavelmente goleiras. Os homens que aparecem na imagem trajam roupas
nas cores preto e branco, cores típicas do time que representam. Na fila de trás também há onze pessoas
que estão em pé. Todas estão fazendo pose para a foto. Ao fundo, vemos um estádio de futebol com a
torcida e, na frente, há uma placa com os dizeres Copa Santander Libertadores de Futebol Feminino 2009.
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UNIDADE 3
Descrição da Imagem:
a imagem é um mapa no
qual estão assinaladas,
de acordo com a legenda,
as colônias europeias na
América entre os séculos
XVI e XVII. Grande parte da
região da América Central,
México e América do Sul
estão marcadas em ama-
relo como pertencentes à
Espanha. A faixa litorânea
de onde hoje é o Brasil está
assinalada em verde como
pertencente a Portugal.
Porções menores de terras
da América do Norte e nor-
te da América do Sul per-
tenciam à Grã-Bretanha,
França e Holanda, mar-
cadas com as cores azul,
vermelho e preto, respec-
tivamente. O restante do
mapa aparece assinalado
em cinza, pois estava sob
o domínio dos povos ori-
ginários da América pelo
menos até o século XVII,
sem domínio de nenhuma
outra nação.
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UNIDADE 3
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UNICESUMAR
colônia. Todos esses fatores juntos, adicionados à profunda crise de 1808, cria-
ram na América uma crise de legitimidade de poder e de política. Somando-se a
isso tudo, houve a ausência do monarca espanhol durante determinado período,
agravando ainda mais a crise política. O progresso feito pela reforma bourbônica
na Espanha regrediu devido à Revolução Francesa, dando às colônias mais um
motivo concreto para se tornarem independentes.
EXPLORANDO IDEIAS
A crise de 1808 advém da invasão das tropas napoleônicas a alguns países europeus,
como Portugal e Espanha, em virtude da guerra que ocorria naquele continente, durante
a qual a França aprovou o Bloqueio Continental contra a Inglaterra. As tropas de Napoleão
Bonaparte ocuparam o território espanhol e favoreceram o movimento de independência
das colônias da América porque enfraqueceu o poder da metrópole. Especificamente em
1808, Napoleão invadiu Madri, na Espanha, retirou o rei espanhol Fernando VII do seu tro-
no e coroou, no lugar do então rei legítimo, o seu irmão José Bonaparte. Com a usurpação
do poder de Fernando VII, os hispano-americanos experienciaram uma nova fase política
sem precedentes e que deu margem para os movimentos de independência na América
Espanhola. Também em 1808, a família real portuguesa precisou fugir da Europa em vir-
tude das ameaças de invasão das forças napoleônicas. Os lusitanos não poderiam aderir
ao Bloqueio por causa de suas relações econômicas com o reino britânico.
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UNIDADE 3
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
Ficou curioso para saber o que foi a fisiocracia? Saiba que os fisiocratas afirmavam que
toda a riqueza era proveniente da terra, da agricultura. São considerados membros da pri-
meira escola de economia científica, que surgiu antes mesmo da teoria clássica de Adam
Smith. Foi criada no século XVIII, o seu idealizador foi François Quesnay, médico da corte
do rei francês Luís XV. Trata-se, portanto, de uma teoria econômica criada para fazer opo-
sição ao mercantilismo.
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UNIDADE 3
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UNIDADE 3
OLHAR CONCEITUAL
Falamos tanto de criollos, peninsulares… Mas você sabe o que significam essas termi-
nologias? Tais conceitos estão relacionados à sociedade da América Espanhola durante
o processo de colonização. Quer compreender um pouco mais sobre essa sociedade?
Então, veja o infográfico no qual estão os principais grupos sociais da América hispânica.
CHAPETONES OU PENINSULARES
Eram os espanhóis. Exemplos: vice-reis, governadores,
presidentes e ouvidores das Audiências, arcebispos, bispos,
padres das paróquias mais importantes e superiores de
comunidades religiosas. Funcionários e comerciantes da Coroa.
CRIOLLOS
Descendentes de espanhóis nascidos na América.
Exemplos: encomenderos e fazendeiros com acesso a
cargos nos cabildos. Podiam ingressar nas comunidades
religiosas e estavam a frente das paróquias.
MESTIÇOS
Eram os peões que trabalhavam na
agricultura, artesãos, carpinteiros,
pedreiros etc. Podiam entrar no clero.
ÍNDIOS
Encomendados dos espanhóis e criollos
ou fornecedores de trabalhadores para
as minas e haciendas (fazendas).
NEGROS
Escravos, trabalhavam em
minas e plantações.
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EXPLORANDO IDEIAS
Criollos eram descendentes de espanhóis nascidos na América. Peninsulares, por sua vez,
eram espanhóis nascidos na metrópole e viviam temporariamente nas colônias. Também
eram conhecidos como chapetones.
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UNIDADE 3
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EXPLORANDO IDEIAS
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UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
Fuero militar eram privilégios corporativos, com tribunais especiais, adquiridos pelos mi-
litares.
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UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
O Terror da Revolução Francesa ou, simplesmente, “O Terror”, foi uma fase compreen-
dida entre os anos de 1792 e 1794. Durante esse período, o governo revolucionário dos
jacobinos suspendeu as garantias civis, além de perseguir e assassinar muitos de seus
opositores. Apesar da imprecisão dos números, estima-se que foram guilhotinadas entre
16 e 40 mil pessoas.
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem:
mapa colorido no qual
está assinalado, de acordo
com a legenda, o período
em que os atuais países
da América Latina obtive-
ram a sua independência
política. Grande parte da
região da América Central,
México e América do Sul
conseguiu a sua indepen-
dência entre 1800 e 1820.
Os territórios que com-
preendem, atualmente, os
territórios da Bolívia e do
Brasil aparecem sinaliza-
dos que conseguiram sua
independência entre os
anos de 1822 e 1829.
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UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
“O Haiti saiu do mercado mundial do açúcar. [...] De colônia mais produtiva das Américas
passou a país independente pauperizado e fora de um intercâmbio favorável na econo-
mia internacional” (GORENDER, 2004, p. 300). A revolução de escravos ocorrida no Haiti
em 1804 e que culminou com a independência desse do jugo francês parecia sorrir aos
haitianos. Entretanto as nações do mundo todo boicotaram a nova república, alegando
não concordar com esse modelo revolucionário. O país ficou impedido de importar e ex-
portar. De 1915 a 1938, o Haiti ficou sob o domínio do Estados Unidos, os quais, mesmo
tendo abandonado o território na década de 1930, financiaram governos violentos e cor-
ruptos. Esses estavam mais preocupados em reprimir do que em investir em indicadores
sociais. Isso contribuiu para que o Haiti nutrisse índices alarmantes de pobreza e educa-
ção. De “joia das Antilhas” durante o período colonial, o Haiti aparece hoje como o país
mais pobre da América Latina.
Como você já deve ter notado, nesse ponto, os liberais e conservadores comunga-
vam de um mesmo objetivo: a continuidade da subordinação e dependência das
camadas mais pobres aos setores dominantes. Os grupos majoritários, compostos
pelos mais humildes, lutavam muitas vezes pela emancipação, pois acreditavam
que, por meio de sua consolidação, iriam conquistar o direito à terra e o término
do trabalho forçado. Para estes, o que importava era conseguir mudanças subs-
tanciais em sua vida, mais do que implantar um projeto político que separasse
as colônias da metrópole.
A elite criolla, composta em sua maioria por grandes proprietários rurais,
ansiava por uma maior liberdade em relação ao comércio exterior, eliminando
a interferência das companhias de comércio metropolitanas. Entretanto, apesar
de empunharem a bandeira do liberalismo e incorporarem muitos dos ideais
iluministas, ignoravam as reivindicações dos setores mais humildes.
Desde fins do século XVIII a princípios do século XIX, os criollos organiza-
ram várias manifestações contrárias ao regime colonial e, para isso, contavam
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UNICESUMAR
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UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
A denominação Províncias Unidas do Rio da Prata foi utilizada até 1826, ano em que a
Argentina adotou o nome de República Argentina.
Simón Bolívar, como representante da elite criolla, concentrou suas ações na re-
gião setentrional da América do Sul. Em dezembro de 1819, conseguiu proclamar
a independência da República da Colômbia (Grã-Colômbia) após a vitória de
suas tropas na fronteira da atual Colômbia com a Venezuela. A Grã-Colômbia
permaneceu coesa até 1830, quando houve o desmembramento em três países:
a Venezuela, o Equador e a Colômbia.
Bolívar e seu exército ainda lutaram no Peru, em 1824, a fim de assegurar a
independência peruana, e se dirigiram para a Bolívia, contribuindo para o seu pro-
cesso de emancipação que ocorreu em 1825. Como reconhecimento de suas ações,
Bolívar se tornou o líder político das repúblicas da Grã-Colômbia e do Peru, além
de ser considerado, após a sua morte, um símbolo nacional da emancipação polí-
tica, sobretudo na Venezuela, onde até hoje é tratado pela alcunha de “libertador”.
Seu legado inclui a defesa de uma América livre e unificada em uma confederação
que compreendia os atuais territórios que se estendem da Bolívia ao Panamá.
A independência cubana, por sua vez, pode ser considerada mais traumá-
tica, pois se iniciou efetivamente em 1868 e somente se concretizou após duas
guerras estabelecidas contra a Espanha. A primeira durou dez anos e encontrou
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
No acordo assinado em Paris, os espanhóis cederam Porto Rico (América Central) e Guam
(Micronésia), além do controle das Filipinas aos Estados Unidos.
127
UNIDADE 3
produto era destinada a quitar dívidas que a Coroa lusitana havia contraído com
a Inglaterra. O ouro restante era gasto na manutenção do luxo e opulência da
nobreza ou era guardado em cofres particulares. Assim, o ouro escorria pelas
mãos da Coroa portuguesa sem ao menos ser investido na metrópole, fato que
caracterizava o quanto o reino lusitano era muito dependente de suas colônias.
O quadro caótico da economia portuguesa pode ser mais bem compreen-
dido quando, no século XVII, os portugueses perderam o monopólio comercial
das Índias e várias possessões coloniais no Oriente. Como se isso não bastasse,
o preço do açúcar sofreu quedas drásticas no mercado internacional em função
da concorrência com o açúcar produzido nas Antilhas.
A fim de engordar seus cofres, a Coroa portuguesa adotou, na segunda me-
tade do século XVIII, uma série de medidas, dentre as quais estavam incluídas
a ampliação da fiscalização e controle de sua colônia na América. Para isso, foi
estipulado um conjunto de medidas que visavam combater o contrabando, am-
pliar os lucros por meio do comércio e mineração e conseguir aumentar a receita
do governo português.
Em 1750, o rei D. José I nomeou Sebastião José de Carvalho e Melo, histori-
camente conhecido como Marquês de Pombal, ao cargo de Ministro dos Negó-
cios Estrangeiros e da Guerra. Tal nomeação veio reforçar, de forma rigorosa, o
controle da política colonial portuguesa. As reformas de Pombal tiveram como
pressuposto a modernização da economia portuguesa. Dentre as medidas toma-
das, estavam a criação das companhias de comércio, a execução de mudanças
educacionais a fim de retirar o ensino do controle do clero, o estímulo à implanta-
ção de fábricas no reino bem como a articulação de uma classe
manufatureira e mercantil por todo o Império Português.
A queda na produção de ouro na América portugue-
sa ocorreu em meio à administração pombalina. Em
função disso, Pombal dedicou total atenção à região
mineira. A maioria de suas medidas desagradou os co-
lonos portugueses, tais como a derrama e a cobrança
de 100 arrobas anuais de ouro em 1750. Além disso,
em 1759, o ministro expulsou os jesuítas de todo
o Império Português e optou, em 1763, por
transferir a capital da América Portuguesa
de Salvador para o Rio de Janeiro.
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
A derrama foi um imposto colonial criado em meados do século XVIII. Cada região deveria
pagar 100 arrobas de ouro por ano para a corte portuguesa. No caso de alguma região
não conseguir arrecadar essa quantidade, soldados entravam nas casas das pessoas que
moravam na região e retiravam, a força, objetos de valor até completar o imposto devido.
PENSANDO JUNTOS
A expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses em 1759 garantiu, de fato, a laicização
do Estado tal como almejavam as reformas pombalinas?
Pombal administrou os domínios lusitanos até 1777, ano em que D. José I faleceu.
Mesmo com essas reformas, a economia portuguesa continuou frágil. A crise na
produção aurífera desacelerou a arrecadação das 100 arrobas anuais estipulada
pelo governo português. Além disso, a Coroa portuguesa decretou uma série de
medidas restritivas na colônia.
A crise se tornou ainda mais caótica em 1788, momento em que Luís Antônio
Furtado Mendonça, o Visconde de Barbacena, ocupou o cargo de governador
da capitania de Minas Gerais com a missão de ampliar a receita e aumentar
o controle da Coroa portuguesa na colônia. Competiria ao governador, ainda,
aplicar a derrama e a cobrança do quinto em atraso. Tais medidas soaram de
forma negativa entre os habitantes da capitania, gerando um clima propício para
um movimento insurgente, que ficou conhecido como Conjuração Mineira ou
Inconfidência Mineira.
Em grande parte, os conjurados eram membros da elite colonial. Dentre os
rebeldes, havia mineradores, funcionários públicos, padres, fazendeiros, militares
de alta patente e advogados. Dentre os conjurados, podemos destacar os poetas
Inácio José de Alvarenga Peixoto, o jurista Claudio Manuel da Costa, os padres
José da Silva de Oliveira Rolim e Luís Vieira da Silva, o advogado José Alvares
Maciel, os contratadores João Rodrigues de Macedo e Joaquim Silvério dos Reis e
o alferes Joaquim José da Silva Xavier, popularmente conhecido como Tiradentes.
Tais revoltosos estavam influenciados pelos ideais iluministas e pretendiam tirar
a vida do governador e proclamar uma república na capitania de Minas Gerais.
No entanto, Joaquim Silvério dos Reis delatou os seus companheiros em troca
129
UNIDADE 3
do cancelamento de sua dívida com a Coroa e uma premiação por sua lealdade.
Denunciados por Silvério, os insurgentes foram presos e transferidos para a ca-
pital da colônia (Rio de Janeiro), onde aguardaram seus julgamentos.
Em 1790, o processo contra os conspiradores foi aberto. Os acusados foram
considerados culpados pelo crime de lesa-majestade e onze dos réus foram sen-
tenciados à morte. Somente Tiradentes foi executado e esquartejado. Partes do
seu corpo ficaram expostas pela região como uma forma de intimidação. Os
outros condenados obtiveram a conversão de pena para o exílio perpétuo para
o continente africano, além do confisco temporário dos bens.
Além da Inconfidência Mineira, destacaram-se outros movimentos separatis-
tas, como a Conjuração Baiana, também conhecida por Conjuração dos Alfaiates
(1798), e a Insurreição Pernambucana (1817).
Apesar dessas agitações, costuma-se atribuir o início do processo de inde-
pendência do Brasil à chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em
1808. Essa mudança atribuiu ao Brasil uma transferência de papéis, de simples
colônia, ao principal centro de decisões da Coroa portuguesa.
Embora preparada, a vinda da família real portuguesa para o Brasil foi ante-
cipada em função da invasão do exército napoleônico no território português.
D. João não aceitou o bloqueio continental à Inglaterra, proposto por Napoleão,
o qual, como forma de se vingar, ordenou a invasão do território lusitano.
Protegido pela marinha britânica, o príncipe regente D. João, a corte portu-
guesa e a família real deixaram Lisboa em novembro de 1807 e chegaram ao Rio
de Janeiro em 1808, após uma escala em Salvador.
No Brasil, D. João adotou algumas medidas que mudaram radicalmente a
política e a economia de colônia. Dias depois, ao chegar à Bahia, D. João decretou
a abertura dos portos às nações amigas, pondo fim ao pacto colonial. Posterior-
mente, já no Rio de Janeiro, o príncipe cancelou o Alvará de 1785, o qual impedia
a instalação de manufaturas na colônia e, em 1810, aprovou dois acordos com
a Grã-Bretanha: o de Aliança de Amizade e o de Comércio e Navegação. Esses
tratados davam aos comerciantes ingleses tarifas alfandegárias em condições
especiais. Dessa forma, a taxa de importação aos produtos ingleses seria de 15%,
16% para os produtos portugueses e 24% de mercadorias de outras nações. Além
disso, a Coroa portuguesa se comprometia a extinguir paulatinamente o tráfico de
escravos para o Brasil, em conformidade com as exigências feitas pelos britânicos.
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UNICESUMAR
Com a estadia da família real no Rio de Janeiro, uma série de medidas foram
tomadas no intuito de substituir a máquina administrativa colonial por um ver-
dadeiro aparelho de Estado, uma vez que a sede da monarquia portuguesa havia
se estabelecido naquela cidade. Foi instalada, por exemplo, a Biblioteca Real, com
o material oriundo da Real Biblioteca de Lisboa. Implantou-se uma gráfica e
demais serviços até então inexistentes. Além disso, foi fundado o primeiro jornal
editado no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro.
Tais transformações não resolveram os problemas da cidade carioca. A au-
sência de um planejamento urbano contribuía para o aumento do mau cheiro e a
proliferação de doenças, em razão da inexistência de um sistema de esgoto. Para
complicar ainda mais a situação, a falta de água e alimentos era recorrente, fator
que pode ser compreendido graças ao intenso aumento populacional.
A mudança da família real portuguesa para o Brasil e, consequentemen-
te, a transferência da sede administrativa do Império Lusitano de Lisboa para o
Rio de Janeiro, trouxe insatisfações para os portugueses. Após a derrota do Exér-
cito napoleônico pelas tropas luso-brasileiras, Portugal passou a ser administrado
por uma junta de governo britânico que prestava satisfações a D. João. A maior
parte dos portugueses não escondia o seu descontentamento, principalmente
pelo fato de eles terem sido relegados a um papel secundário quando o Brasil foi
elevado, durante o Congresso de Viena (1814-1815), à categoria de Reino Unido
de Portugal e Algarves.
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UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
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UNICESUMAR
estrutura colonial. Dentre os adeptos dessa vertente, havia aqueles que defendiam
a volta de D. Pedro a Portugal e a reimplantação de práticas colonizadoras. Por
outro lado, organizou-se o Partido Brasileiro, o qual reunia comerciantes proprie-
tários de terras, investidores urbanos, advogados e burocratas nascidos no Brasil
ou em Portugal. Tal grupo era composto, no geral, por pessoas que usufruíam de
privilégios com a vinda da família real portuguesa ao Brasil. Além da redução
de impostos e liberdade de comércio, os adeptos a essa tendência lutavam pela
manutenção da igualdade jurídica e política, conquistada em 1815, por ocasião
da elevação do Brasil a Reino Unido. Posteriormente, alguns aderentes a esse
grupo fundaram o Partido Liberal Radical, defensor da ruptura com Portugal e
a implantação de uma república em terras tupiniquins.
Os interesses dos liberais brasileiros confrontariam com a intenção das Cortes
portuguesas. No início, os primeiros tinham considerado a Revolução do Porto
como um movimento em defesa de maior liberdade econômica e política.
Figura 4 – Independência ou morte (óleo sobre tela) / Fonte: Américo ([1888], on-line).
Descrição da Imagem: o quadro é uma pintura, na qual vemos um homem sob um cavalo levantando
uma espada, como se estivesse dizendo algo. Em seu redor, há dezenas de pessoas, com seus respectivos
cavalos, que parecem ouvi-lo atentamente. Essas pessoas estão com vestimentas de soldados e levantan-
do espadas em sinal de apoio ao homem que aparece no centro. O homem que aparece empunhando
uma espada está numa espécie de morro e, ao fundo, é possível ver uma casa simples de madeira com
algumas árvores. No ambiente, predomina uma vegetação rasteira com uma espécie de estrada.
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Descrição da Imagem: é uma pintura na qual vemos homens vestidos de nativos americanos ocupando
um navio e atirando cargas ao mar. O navio, que está ancorado em um porto, está próximo da área de
embarque na qual se encontram dezenas de pessoas levantando os seus chapéus em manifestação aos
que os homens estavam fazendo no navio. As pessoas nessa região de embarque e desembarque usam
casacos que variam dos tons pastéis ao azul e preto. O céu se apresenta acinzentado, com nuvens e, num
segundo plano, é possível ver outro navio, aparentemente tomado por homens trajando vestimentas de
indígenas, também jogando cargas ao mar. Na lateral esquerda do quadro, também há um prédio no qual
as pessoas parecem acenar pelas janelas, demonstrando apoio ao movimento.
Como reação, a metrópole optou por decretar as Leis Intoleráveis. Dentre essas,
destacavam-se o fechamento do Porto de Boston até o pagamento total do chá
lançado ao mar e a obrigação das autoridades de abrigarem os soldados ingleses.
Essa plêiade de medidas fez com que as treze colônias da América inglesa se
unissem contra o poderio colonial britânico, por mais que não compartilhas-
sem do mesmo modelo socioeconômico e nem defendessem o mesmo projeto
político.
136
UNICESUMAR
137
UNIDADE 3
O dilema sobre essas duas propostas foi encerrado em 1787, por meio da
aprovação da Constituição dos Estados Unidos, ocasião em que o projeto fede-
ralista foi eleito como a melhor opção, permanecendo até hoje na organização
política dos Estados Unidos. Além disso, a Carta Magna de 1787 garantia a divi-
são do Estado em três poderes (legislativo, judiciário e executivo) e estabeleceu
a república presidencialista como regime governamental, além de primar pelas
liberdades individuais. Porém, apesar de incluir o ideário iluminista na organi-
zação do Estado, optou-se pela continuidade do trabalho escravo no país, o qual
somente foi abolido em 1º de janeiro de 1863, apesar de ter sido oficialmente
proibido por meio da 13ª Emenda Constitucional, de dezembro de 1865.
138
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
EXPLORANDO IDEIAS
139
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
Título: O Patriota
Ano: 2000
Sinopse: o filme retrata que, depois de muito sofrimento e batalhas,
os colonos recebem ajuda do exército francês impondo a derrota aos
ingleses. O conflito entre ingleses e colonos, liderados por Benjamin Martin,
ocorre dentro do contexto da guerra pela independência das Treze Colônias,
mostrando a participação da região da Carolina do Sul na guerra de indepen-
dência. O resultado de todo esse fato histórico no qual está inserido o filme
é o surgimento dos Estados Unidos da América.
Comentário: esse filme apresenta, de forma clara, um conflito entre ingle-
ses e os colonos que resultou no processo de emancipação que deu origem
aos Estados Unidos.
140
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
141
UNIDADE 3
142
1. A conjuntura espanhola da segunda metade do século XVIII para os primeiros anos
do século XIX influenciou os processos de emancipação política na América hispânica.
A partir dessa informação, produza um texto dissertativo apontando as mudanças
desse contexto e relacionando-as com os processos de emancipação política na
América Espanhola.
3. Mesmo com a emancipação das Treze Colônias inglesas, as lutas não cessaram, mas,
dessa vez, estavam restritas a projetos políticos divergentes que disputavam a pre-
ferência como alternativa a ser adotada pelo Estado recém-fundado. Com base na
leitura desta unidade, apresente e explique as duas propostas políticas que surgiram
após a independência das colônias britânicas na América.
143
4
A Formação e
Consolidação dos
Estados Nacionais
Dra. Verônica Karina Ipólito
146
UNICESUMAR
UNIDADE 4
DIÁRIO DE BORDO
147
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: trata-se de uma fotografia em sépia. Nela, há mulheres e crianças, a maioria
sentadas, posicionadas para serem fotografados. Há quatro homens em meio às mulheres que estão
em pé. Os meninos, sobretudo, encontram-se seminus, enquanto as meninas, mulheres e três homens
vestem roupas claras. Um dos homens veste roupa escura.
148
UNICESUMAR
UNIDADE 4
149
UNIDADE 4
150
UNICESUMAR
UNIDADE 4
semear dúvidas sobre o papel das populações mestiças nos novos regimes políti-
cos. Em sua visão, era mais proveitoso inspirar-se no sistema republicano europeu
do que se espelhar no passado de opressão e colonização. O fosso gerado com as
tentativas de praticar algumas teorias importadas, muitas delas incoerentes com a
realidade social americana, dificultou ainda mais a construção de um imaginário
nacionalista que se popularizasse.
Descrição da Imagem: óleo sobre tela em que vemos um homem magro, em pé e com a mão direita em
cima de uma mesa. Na mão esquerda, levemente levantada, há um pedaço de papel. O homem está olhan-
do para a frente e o seu pé direito está um pouco de lado. Ele está numa espécie de escritório, pois, além
da mesa, há, do seu lado esquerdo, uma poltrona. O homem está com botas de cano longo, calça branca,
cinto vermelho com dourado e camisa azul marinho com vários detalhes dourados, inclusive ombreiras.
151
UNIDADE 4
152
UNICESUMAR
UNIDADE 4
por exemplo, somente foi definida como capital argentina em 1880. Durante anos
após as lutas emancipacionistas, muitos argentinos faziam referência ao local
onde nasceram em vez de relacionar o seu nascimento com a “nação” argentina.
Tal exemplo ilustra como a elite política nacionalista, de forma contraditória,
estruturou uma nação com base no projeto imigratório, em vez de valorizar as
particularidades da história local. Nesse cenário, o critério de nacionalidade pre-
valeceu como um requisito forte na inclusão ou não de pessoas no projeto polí-
tico. Esses fatores devem ser levados em conta para melhor compreendermos o
significado de Estado nacional após as lutas emancipacionistas.
PENSANDO JUNTOS
O processo de formação dos Estados nacionais na América Latina, salvo suas peculiari-
dades, é acompanhado pela aparição do sentimento de pertencimento a uma “nação”?
153
UNIDADE 4
154
UNICESUMAR
UNIDADE 4
155
UNIDADE 4
EXPLORANDO IDEIAS
A Doutrina Monroe foi promovida pelo presidente James Monroe (1817-1825) por meio de
uma mensagem enviada ao Congresso, no dia 2 de dezembro de 1823. A síntese do do-
cumento está baseada na famosa frase “A América para os americanos”. Seu pensamento
estava fundamentado em três aspectos principais: primeiro, o impedimento de criação de
novas colônias nas Américas; segundo, a não intervenção em assuntos internos dos paí-
ses americanos e, por fim, a proibição da interferência dos Estados Unidos em confrontos
relacionados aos países europeus, como guerras entre suas colônias e países.
156
UNICESUMAR
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: é uma pintura que retrata, ao centro, uma mulher maior que outros elementos
que compõem a tela. Essa mulher aparece vestida de branco, com traços angelicais, voando em direção
à esquerda da imagem, e leva consigo fios de telégrafo e um livro. A sua frente, a tela se apresenta mais
escura, e é possível ver povos nativos e animais fugindo. Atrás da mulher, está a parte mais clara da tela,
na qual é possível ver navios, um trem, fazendeiros e colonos vindo povoar aquela região.
157
UNIDADE 4
158
UNICESUMAR
UNIDADE 4
emancipação, os colonos texanos contaram com o apoio dos Estados Unidos, o qual
anexou o território do Texas. Como ônus da incorporação do Texas pelos Estados
Unidos, o México resolveu romper as relações diplomáticas com esse país, o que
resultou em uma declaração de guerra por parte dos norte-americanos.
Em 1848, o México reconheceu a perda do Texas e sua anexação aos Estados
Unidos. Como consequência da derrota, o México foi obrigado a vender parte do
seu território (do oeste do Texas até o Pacífico) para os estadunidenses, além de
ter que aceitar a proposta americana de estabelecimento das fronteiras, resultando
na perda de metade de seu território.
Descrição da Imagem: é um
mapa que retrata o território do
Texas que foi perdido para os
Estados Unidos pelo México. Na
parte abaixo do mapa, ao sul do
Rio Grande e na cor laranja, está
sendo mostrado o território do
México. Acima do Rio Grande,
vemos o território do Texas, co-
lorido em verde claro, e com os
dizeres “claimed territory” (terra
reclamada). Logo acima, em um
tom creme, é possível observar
o território dos Estados Unidos.
As marcas de outros rios são
mostradas também no mapa,
dentro do território do Texas,
como o Rio Nueces River, Rio
Arkansas e Rio San Antonio. Os
rios mencionados estão identi-
ficados por linhas azuis.
Conforme você pôde notar, durante a primeira metade do século XIX e logo após
os processos de emancipação política, a América Latina estava formando os seus
Estados nacionais, fator que trouxe uma série de instabilidades e indefinições
territoriais, bem como a precariedade nas relações econômicas e políticas com o
resto do mundo. Em contraste, na segunda metade do século XIX, a estabilidade
159
UNIDADE 4
se instala aos poucos, ao passo que o controle das finanças vai sendo retomado e
as administrações vão se restabelecendo.
Como você deve ter aprendido até aqui, as guerras pelas independências se
caracterizaram por serem longas e árduas. Além disso, as consequências para os
novos Estados foram lastimáveis e marcadas por grandes prejuízos, tais como:
economia instável, endividamento e desarticulação da produção agrícola. Vários
estudiosos sobre o assunto relataram as dificuldades da América Latina durante
o período de formação de seus Estados nacionais.
Uma leitura, sem dúvida, considerada indispensável sobre o assunto são os
escritos de Maria Lígia Prado (1999), nos quais estão retratadas as desilusões do
período pós-emancipação.
“
Na concepção dos letrados liberais, a liberdade, a justiça, o progresso
e a riqueza deveriam florescer na América. Entretanto, a guerra nas
colônias espanholas foi longa e cruel, e o sofrimento e empobre-
cimento visíveis. Assistia-se ao espetáculo da ruína econômica e
da devastação geral. Muitas das riquezas produzidas tinham sido
destruídas: plantações, criação de gado, minas. Os tesouros públicos
encontravam-se esgotados, os líderes políticos disputavam o poder,
divididos em facções. De repente, tudo parecia ter sido em vão, es-
pecialmente para aqueles que haviam se empenhado tanto nas lutas
(PRADO, 1999, p. 68-69).
“
O peso das forças das armas [...] é inicialmente um aspecto do
processo de democratização, mas, bem cedo, transforma-se numa
garantia contra uma extensão excessiva desse processo. Por isso
(e não porque pareça inevitável) é que mesmo os que deploram
algumas de suas manifestações fazem pouco para acabar com eles
(DONGHI, 1975, p. 99).
160
UNICESUMAR
UNIDADE 4
“
Os sonhos liberais de novos países prósperos e progressivos logo
se dissolveram em frustração e fracasso econômico. Esperanças de
verdadeira democracia foram esmagadas pelos velhos hábitos da
hierarquia conservadora. Padrões recorrentes de violência política
e corrupção alienaram a maioria do povo dos governos que supos-
tamente o representavam. A política tornou-se, acima de tudo, uma
busca dos benefícios pessoais dos cargos públicos. Em suma, a pri-
meira geração pós-colonial (1825-1850) não viu a América Latina
progredir em nenhuma direção (CHASTEEN, 2001, p. 101-102).
161
UNIDADE 4
EXPLORANDO IDEIAS
Ficou curioso para saber o que foi o voto de cabresto? Saiba que essa modalidade de
voto recebeu esse nome por se tratar de um sistema no qual há forte controle de poder
político, seja por meio da compra de votos, do abuso de autoridade ou utilização do poder
público para favorecimento pessoal ou de simpatizantes.
162
UNICESUMAR
UNIDADE 4
EXPLORANDO IDEIAS
NOVAS DESCOBERTAS
163
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: dois mapas mostram, respectivamente, a Guerra do Pacífico, a Guerra do Chaco
e a Guerra da Tríplice Aliança. No primeiro mapa, vemos os territórios ganhos pelo Chile na Guerra do
Pacífico. Esses territórios foram perdidos por Bolívia e Peru, representados na cor azul clara no mapa.
Em um tom de azul mais forte e com linhas na vertical, é possível ver os territórios incorporados ao Chile
nesse conflito: Tacna, Arica, Tarapaca (antigo território peruano) e Antofagasta (antigo território boliviano).
No segundo mapa, é possível observar as áreas de lutas nas Guerras do Chaco e da Tríplice Aliança. Na
cor azul escuro, estão os territórios perdidos pelo Paraguai nas duas guerras. Os territórios paraguaios
assinalados pela cor azul escuro foram perdidos, respectivamente, para o Brasil e Argentina. No mapa
há, ainda, em tons de azul escuro e branco e no formato de explosão, marcações sinalizando as áreas de
luta da Guerra da Tríplice Aliança e da Guerra do Chaco.
164
UNICESUMAR
UNIDADE 4
EXPLORANDO IDEIAS
Podemos afirmar que, em fins do século XIX a início do século XX, houve na América Lati-
na o predomínio dos liberais, que haviam derrotado as forças conservadoras (Igreja). Os
liberais defendiam, dentre outras questões, a legitimação da propriedade privada como
direito do indivíduo.
165
UNIDADE 4
“
A massa da população, majoritariamente camponesa e analfabeta,
vivia sob um sistema de relações pré-capitalistas, uma espécie de
semisservidão, e não constituía mercado consumidor apreciável
para artigos industrializados. As classes dominantes eram forma-
das pelas oligarquias agroexportadoras cada vez mais dependentes
da aliança com o imperialismo – e pela burguesia mercantil – esta
localizada em centros bem definidos, como as cidades portuárias
de Montevidéu, Buenos Aires, Valparaíso (AQUINO, 2000, p. 297).
“
Ocorreram mudanças verdadeiras e maciças, que afetaram a vida de
todos, ricos e pobres, urbanos e rurais. As grandes cidades latino-a-
mericanas perderam as pedras de cantaria coloniais, as paredes do
emboço branco e os telhados de telhas vermelhas, tornando-se me-
trópoles modernas, comparáveis aos gigantes urbanos de qualquer
parte [...]. As ferrovias multiplicaram-se fabulosamente, assim como
as exportações de açúcar, café, cobre, cereais, nitrato, estanho, cacau,
borracha, bananas, carne, lã e tabaco. As instalações portuárias to-
talmente inadequadas de Buenos Aires e outras partes foram substi-
tuídas. Os proprietários rurais e a classe média urbana prosperaram,
mas a vida da maioria rural latino-americana melhorou pouco, se
166
UNICESUMAR
UNIDADE 4
Dessa forma, grandes centros, como Rio de Janeiro, Salvador, Buenos Aires, Lima,
Caracas, Cidade do México, Havana, para não citar outras, se desenvolveram, e
muitos deles adotaram traçados semelhantes aos das grandes cidades europeias.
Tal mudança urbana acompanhou os anseios das elites liberais, que buscavam
imitar a arquitetura europeia e norte-americana. Em contraste, o interior não
se desenvolveu, mesmo com a capitalização do campo, a qual, na realidade, so-
mente foi aplicada em áreas exportadoras. As linhas férreas ligavam as regiões
produtoras aos portos e não eram construídas para ligar uma cidade a outra. Por
isso, não houve integração nacional, já que a modernidade ficou restrita apenas
a alguns núcleos centrais.
“
Se antes espanhóis e portugueses peninsulares desembarcavam com
seus ares irritantes de superioridade e suas nomeações reais firme-
mente na mão, agora era um mister de língua inglesa que chegava
com ares semelhantes de superioridade e somas vultosas para em-
prestar ou investir em bancos, ferrovias, ou instalações portuárias
[...]. Em última instância, o próprio status e prosperidade das pes-
soas respeitáveis estavam associados aos forasteiros e eles sabiam
disso. Noventa por cento de sua riqueza advinha do que vendiam
nos mercados europeus e norte-americanos, e suas próprias preten-
sões sociais, seu próprio ar de superioridade em casa advinham da
tez portuguesa, dos cristais austríacos, da familiaridade dos filhos
com Paris. O neocolonialismo, além de uma relação entre países,
também era um fenômeno interno e familiar na América Latina
(CHASTEEN, 2001, p. 150).
167
UNIDADE 4
“
A América Latina foi profundamente modificada na sua estrutura
humana. Era um continente índio e negro até o meio do século
XIX. Depois, o fluxo da imigração branca submergiu a sua zona
temperada: a Argentina, o Uruguai e o Brasil receberam uma massa
de imigrantes que modificou a natureza das suas populações. O
fluxo de imigrantes que deixou a Europa a partir de 1850 dirigiu-se
sobretudo para os Estados Unidos (26.180.000 fixam-se aí entre
1820 e 1930) e depois para a América Latina (cerca de 6.000.000).
Diferentemente da ida para os Estados Unidos, esta imigração é
essencialmente proveniente dos países latinos do sul da Europa,
menos da Espanha e Portugal que da Itália, a qual forneceu os maio-
res batalhões. Esta segunda conquista humana da América Latina
pela Europa afeta em cheio os países temperados: a Argentina, o
Uruguai, o Sul do Brasil e, em menor escala, o Chile, precisamente
a fração do Continente que a conquista ibérica, ávida de metais e
de especulações agrícolas, negligenciara (CHAUNU, 1983, p. 101).
168
UNICESUMAR
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: um
mapa em preto e branco da 26.000.000
América mostra as fronteiras
entre os países da América
M
ÉX
Latina, as fronteiras existen-
IC
tes antes de mil oitocentos e
O
Cidade do México
trinta e seis, bem como outros
dados, como os territórios
com maior predominância
de migração de população
negra, europeus, amarelos
(asiáticos) e a América pre- B R ASIL
dominantemente indígena e
mestiça. Na região da América
Latina, os países estão preen- o
e ir
Jan 0
chidos com riscos na vertical, R io de 0. 00
lo 2.50
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indicando, segundo a legen- 0
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Valparaíso URU
mados de América mestiça e 50.000 GUAI
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indígena. Há uma seta branca NT 00
3. 0 0 0 . 0
GE
Montevidéu
Norte com o número vinte e
AR
169
UNIDADE 4
EXPLORANDO IDEIAS
O liberalismo político teve como base o discurso liberal clássico, mas foi acrescido por
debates entre o pensamento radical e reformista durante o século XIX. As críticas resul-
tantes dessas discussões destacavam a necessidade de contemplar com direitos políticos
todos os grupos sociais, rompendo, assim, com o elitismo defendido pela tradição liberal
clássica. O resultado desse processo foi a formação da liberal-democracia, sistema po-
lítico que fundamentou os Estados democráticos ao longo do século XX. O liberalismo
econômico, por sua vez, visa à liberdade na aquisição de bens, garantindo o direito à
propriedade privada.
170
UNICESUMAR
UNIDADE 4
171
UNIDADE 4
E S TA DO S
U NIDO S
Guggenheim
(Mineração)
COLÔMBIA
EQUADOR
0° B
Bananas
Cacau Borracha
OCEANO EQUADOR Algodão
PA C Í F I CO Açúcar
Açúcar
Corporação Peruana
(Ferrovias)
PERU BRASIL
Cobre
Guano
BOLÍVIA
Prata
PA Café
Estanho
Nitratos RA
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO GU
John Thomas North AI
(Nitratos) Cobre Gado Investimentos
britânicos em
Antony Gibbs and Sons títulos do
(Finanças/Comércio) ARGENTINA
N URUGUAI governo
Trigo
L E
Williamson Balfour n
Carne Peles
(Finanças/Comércio) Carne
C H I
Lã
N
Lã
Liebigs
1.000 km (Produtos de carne)
Mercadorias exportadas
Ferrovias, empresas de
Principais empresas norte-americanas utilidade pública,
Principais empresas britânicas navegação e terras inglesas
Figura 7 – Economia de exportação e investimentos estrangeiros na América Latina (início do século XX)
Fonte: Atlas da História do Mundo (1995, p. 222).
Descrição da Imagem: mapa em amarelo com destaques para as principais matérias-primas produzidas na
América Latina. É possível observar, por exemplo, empresas atuantes no México (Guggenheim (mineração),
Standard Oil (petróleo), J. P. Morgan (ferrovias) e Westman Pearson (petróleo)), bem como o destaque para
o petróleo produzido nesse país. Na América Central, é possível observar a atuação da empresa United
Fruit Company (plantações). Em Cuba, os principais produtos exportados eram o tabaco e o açúcar. Na
Venezuela, os destaques eram o café, cacau e o gado. Na Colômbia, o tabaco e o café. No Equador, predo-
minava a produção de bananas e cacau. No Peru, a exportação era de açúcar, cobre e guano, destacando-se
a empresa Corporação Peruana (ferrovias). Na Bolívia, a prata e o estanho eram os produtos exportados.
No Chile, extraíam-se nitratos e cobre, predominando as empresas John Thomas North (nitratos), Antony
Gibbs and Sons (finanças/comércio) e Williamson Balfour (finanças/comércio). Na Argentina, os produtos
exportados eram trigo, carne e lã. No Uruguai, extraíam-se peles, carne e lã, com destaque para a empresa
Liebigs (produtos de carne). Do Brasil, eram exportadas borracha, algodão, açúcar, café e gado.
172
UNICESUMAR
UNIDADE 4
173
UNIDADE 4
174
UNICESUMAR
UNIDADE 4
de linhas férreas. Para se ter uma ideia, durante a década de 1860, foi construída
uma imensa ferrovia que ia da costa do Atlântico à do Pacífico. Tal fator era de
suma importância para o escoamento da produção, bem como para a expansão
fabril, sobretudo nos setores de metalurgia e siderurgia.
EXPLORANDO IDEIAS
175
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
176
UNICESUMAR
UNIDADE 4
“
Do quinto lugar como potência industrial, em 1840, os EUA, que
até a Guerra de Secessão foram um país de pequenos negócios, sal-
taram para o quarto em 1860 e para o segundo em 1870, quando
o processo de concentração e centralização da economia, impul-
sionado pelo crack de 1873, começou a produzir novas formas de
associação empresarial – pools, trustes, cartéis e sindicatos – com
o objetivo de monopolizar mercados e fontes de matérias-primas,
bem como controlar preços e exportar capitais. Em tais circuns-
tâncias, com as forças produtivas do capitalismo desbordando os
limites do estado nacional, a América Latina, agrícola e atrasada, se
configurava como a continuidade natural do seu espaço econômico
(BANDEIRA, 1998, p. 24).
NOVAS DESCOBERTAS
177
UNIDADE 4
OLHAR CONCEITUAL
O primeiro infográfico sintetiza as ideias sobre os períodos de formação e consolidação
dos Estados Nacionais ocorridos, respectivamente, entre os anos de 1825 e 1860 e 1860
a 1890. O segundo, por sua vez, traz os principais aspectos para pensarmos sobre os Es-
tados Unidos na segunda metade do século XIX.
AMÉRICA
178
ESTADOS UNIDOS
UNICESUMAR
UNIDADE 4
ESTADOS UNIDOS
Guerra de Secessão
(1861-1865): A ampliação do capitalismo
incentivou a mecanização nacional estava vinculada
fabril e a fusão de empresas à expansão territorial
Superpotência industrial
em fins do século XIX
179
UNIDADE 4
PENSANDO JUNTOS
“Ao eclodir a Guerra de Secessão, o crescimento econômico dos Estados Unidos havia
sido estimulado [...]. A Guerra de Secessão abrirá o caminho para a industrialização nor-
te-americana” (STEIN, 1976, p. 101).
NOVAS DESCOBERTAS
180
UNICESUMAR
UNIDADE 4
No decorrer do século XIX, o processo de expansão dos Estados Unidos foi mar-
cado por duas grandes exclusões: a das populações indígenas e a das populações
negras: os primeiros foram expulsos e eliminados de seus territórios durante
a expansão territorial estadunidense; ao passo que os segundos enfrentaram a
violência das relações escravistas e a falta de direitos sociais e de cidadania ple-
na após o fim da escravidão. Diante desse cenário, podemos observar situações
semelhantes na história de diversos outros países americanos.
Enquanto professor de História, você poderá pedir aos alunos do 8° ano
do Ensino Fundamental ou 2° ano do Ensino Médio, quanto estiver abordan-
do o conteúdo sobre os Estados Unidos no século XIX, para que pesquisem
a exclusão histórica de indígenas e negros. Após realizada a pesquisa, você
poderá orientar os seus alunos para que, em grupos,
escrevam cinco possíveis regras (ou leis) para aju-
dar nessa situação. Sob a orientação do professor,
os alunos irão debater os resultados dos grupos
e, posteriormente, irão formular um único
documento sobre o tema em tela.
A proposta da atividade é fazer
com que os alunos reflitam sobre o
tema da participação política como
forma de fortalecer a democracia.
Nesse caso, além de se envolver mais
diretamente nos espaços políticos
existentes, é importante que os
alunos observem que o fortale-
cimento da democracia passa
pelo diálogo, pela reflexão
sobre temas políticos, pelo
respeito diante das opi-
niões alheias, dentre ou-
tros aspectos.
181
1. Leia o trecho a seguir:
“O primeiro presidente, Dr. José Gaspar Rodríguez de Francia, ele próprio eleito ‘Su-
premo Ditador da República’ por um Congresso convocado [...] em 1816, introduziu
esse tipo de ‘manual’ político para a escola, embora não tenha sido o primeiro a
usá-lo na região. [...] O catecismo do Dr. Francia pertence à categoria dos republica-
nos cujo objetivo era legitimar a mudança de governo e explicar os novos princípios
políticos aos cidadãos paraguaios. Para isso, mandou imprimir o Catecismo Nacional
Reformado, que foi usado nas escolas e no exército para difundir as novas doutrinas
do Estado. Na forma de perguntas e respostas, memorizadas por crianças e adultos
em idade escolar, o catecismo político de Francia trata dos deveres dos cidadãos, da
autoridade pública, bem como da independência e soberania como os bens mais
importantes da República.”
Sobre o “catecismo pátrio”, método utilizado pelo ditador paraguaio José Gaspar
Rodriguez de Francia, é correto afirmar que:
182
2. No período pós-independência, vários confrontos sacudiram a região sul-americana.
Tais conflitos ocorreram, geralmente, por questões territoriais. Assinale a alternativa
que contenha os confrontos dessa conjuntura:
183
5
Século XX:
Internacionalização
da Economia e
Transformações
Sociais
Dra. Verônica Karina Ipólito
Nos últimos anos, em virtude da crise que assola a América Latina, especialmente
o Brasil, vemos várias manifestações, sobretudo de brasileiros, desejando a inter-
venção militar e o retorno da ditadura no Brasil. Mas, afinal, o que é uma ditadura
militar? O que podemos tirar de lição da ditadura civil-militar ocorrida no Brasil
entre os anos de 1964 e 1985?
Tivemos vários exemplos que demonstram esse interesse, quando, por exem-
plo, em 2013, um grupo de manifestantes realizou, em São Paulo, algo parecido
com uma nova “Marcha da família com Deus, em defesa da vida, da liberdade,
da pátria e da democracia, contra o comunismo”. Essa marcha ocorreu, original-
mente, em 1964, como reação de grupos conservadores e militares às ações do
então Presidente da República João Goulart, bem como às atitudes de grupos
considerados radicais sobre a suposta ameaça de comunismo. No intervalo de
tempo entre 2014 e 2016, em várias cidades brasileiras, novas manifestações pe-
diram o impeachment da então presidente Dilma Rousseff e a intervenção mili-
tar no governo. Dois anos mais tarde, em 2018, a greve dos caminhoneiros, que
paralisaram suas atividades por alguns dias em virtude de um grande aumento
no valor do combustível, trouxe à tona, novamente, protestos e manifestações a
favor da intervenção militar no governo.
Em meio a essas informações, desafio você, aluno(a), a refletir sobre o que
você sabe a respeito da ditadura civil-militar no Brasil e se, na sua opinião, um
regime político violento e repressor poderia resolver os problemas do país.
Vários grupos pedem a volta da ditadura no Brasil, pois acreditam que essa
modalidade de regime político seja capaz de aniquilar a corrupção no país, bem
como equilibrar a crise econômica e política. Diante desse cenário, há muitos
pesquisadores do tema, sobretudo historiadores, políticos, jornalistas, artistas,
para não citar outros, que experienciaram a violência da ditadura militar e que
compartilharam relatos sobre como uma ditadura pode violar os direitos huma-
nos e suprimir as liberdades democráticas. Registre no Diário de Bordo o que
você conhece sobre a Ditadura Militar e, se possível, mencione exemplos. E aí,
preparado para mais uma viagem rumo ao conhecimento? Então, aperte os cintos
e venha a bordo de mais essa aventura!
186
UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
187
UNIDADE 5
Figura 1 – Greve geral realizada em 1969 como forma de protesto contra as decisões políticas e
econômicas da ditadura militar em Córdoba, na Argentina
Fonte: Wikimedia Commons ([1969], on-line).
Descrição da Imagem: fotografia em preto e branco na qual há, predominantemente, homens, dezenas
deles, em meio a entulhos e fumaça de explosivos ao fundo da imagem. Podemos notar que estão em
pé em uma via pública interditada e participam de um protesto.
188
UNICESUMAR
189
UNIDADE 5
trabalhista criada nesse período não foi suficiente para garantir estabilidade aos
trabalhadores, o que demonstrou a pouca vontade das elites em dividir os lucros
obtidos com a expansão econômica.
Esse crescimento, no entanto, era dependente de países ricos, uma vez que a
economia argentina tinha como base de sustentação a agropecuária exportadora.
A quebra da Bolsa de Valores de Nova York, ocorrida em 1929, desencadeou
uma crise financeira sem precedentes, o que impediu de forma brusca o crescimen-
to da maioria dos
países condicio-
nados aos Estados
Unidos. A redução
do mercado inter-
nacional, por sua
vez, afetou direta-
mente a Argentina,
que sofreu com as
bruscas quedas na
exportação, fator
que abalou profun-
damente sua eco-
nomia (GAGGE-
RO; MANTIÑAN;
GARRO, 2004).
Descrição da Imagem: fotografia em preto e branco. Nela, tem-se uma visão de uma avenida tomada por
centenas de pessoas e dezenas de carros. Podemos notar que a maioria dos transeuntes são homens e
se concentram próximos à entrada do prédio da Bolsa de Nova York.
190
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
A queda da Bolsa de Valores de Nova York é parte integrante da Crise de 1929 ou Grande
Depressão e causou muitos prejuízos tanto para investidores como para pessoas que de-
pendiam direta ou indiretamente da economia. Durante a década de 1920, os americanos
compraram muitas ações de empresas. Repentinamente, essas ações começaram a de-
clinar, gerando desespero nos investidores que queriam vendê-las, sem, no entanto, en-
contrarem alguém para comprá-las. Esse cenário caótico desembocou na chamada “Quin-
ta-feira negra” (24/10/1929), momento em que a bolsa sofreu a maior baixa da história.
O México, por sua vez, sofreu com as disputas políticas entre liberais e conserva-
dores durante quase todo o século XIX. Por um lado, os conservadores, formados
por grandes proprietários rurais, representavam os interesses da Igreja. De outro
lado, estavam os liberais, defensores de um projeto que incluía a liberdade de
comércio, de expressão e igualdade jurídica. Além disso, se opunham aos lati-
fúndios, declarando-se favoráveis a uma extensa reforma agrária, bem como à
modernização no trabalho e na produção.
Tanto os liberais quanto os conservadores lutaram contra os Estados Unidos e
amargaram uma derrota que resultou na perda de 40% do México em 1848. Dois
anos mais tarde, os liberais chegaram ao poder e aprovaram uma Constituição em
1857, que legitimava a laicidade do Estado mexicano, além de expropriar as terras
indígenas e da Igreja. O intuito era criar um grupo de pequenos proprietários,
objetivando inovar a agricultura e, desse modo, implantar o capitalismo moderno.
Mesmo com essa iniciativa, a crise política de anos posteriores anulou a Carta
Magna e fez com que a Igreja preservasse a sua força e suas propriedades. Em
contraste, as aldeias indígenas foram paulatinamente eliminadas, e suas terras,
incorporadas aos latifúndios, ampliando o poderio político e econômico dos
grandes proprietários rurais.
No ano de 1876, Porfírio Diaz tornou-se presidente, cargo que ocupou por 35
anos seguidos, em um período que ficou conhecido como Porfiriato. Tal regime
destacou-se pela intensa concentração de terras, entrada de capitais estrangeiros
e renovação dos meios de transportes e comunicação, além da inauguração de
ferrovias em grande parte do território.
191
UNIDADE 5
192
UNICESUMAR
Figura 3 – José de la
Cruz Porfirio Díaz Mori
(Oaxaca, 15 set. 1830 −
Paris, 2 jul. 1915), que
governou o México de
1876 a 1911
Fonte: Wikimedia
Commons ([2022],
on-line].
Descrição da Imagem: óleo sobre tela no qual há um senhor de cabelos e bigodes brancos, que está em
pé. É possível notar que ele está com um traje predominante em preto, mas com detalhes em dourado,
vermelho e branco na gola e nos punhos. Em seu traje, há uma série de medalhas e outras honrarias
fixadas em um dos lados. O homem está ao lado de uma mesa com toalha vermelha e ostenta, em uma
de suas mãos, um par de luvas.
Após a eleição, Madero foi libertado e decidiu exilar-se nos Estados Unidos, local
em que escreveu o Plano de San Luis Potosí, documento em que conclamava os
mexicanos a se rebelarem contra o governo porfirista. Em 1910, uma série de
levantes estourou por todo o país. Ao norte, uniram-se à causa madeirista o líder
camponês Pancho Villa e o general Pascual Orozco.
193
UNIDADE 5
Figura 4 – Os chefes da Divisão do Norte (Pancho Villa) e do Exército do Sul (Emiliano Zapata), acom-
panhados do general Urbina, Rodolfo Fierro, Rafael Buelna e outros, em 6 de dezembro de 1914, na
Cidade do México / Fonte: Wikimedia Commons ([1914], on-line)
194
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
“O grande Pancho Villa foi recrutado pelos homens de Madero durante a Revolução Mexi-
cana, tornando-se um temido general dos exércitos revolucionários [...]. Quando os emis-
sários de Madero o visitaram, ele se deixou persuadir prontamente, principalmente porque
era o único bandido local que desejavam recrutar para a causa [...]. Sendo o próprio Pancho
Villa um homem do povo, um homem honrado, e cuja posição no banditismo era exaltada
com aquele convite, como poderia hesitar em colocar seus homens e suas armas a serviço
da revolução? Bandidos menos eminentes podem ter aderido à causa da revolução por
motivos muito semelhantes. Não porque compreendessem as complexidades da teoria de-
mocrática, socialista ou mesmo anarquista [...], mas porque a causa do povo e dos pobres
era obviamente justa e porque os revolucionários demonstravam ser dignos de confiança
através [...] do sacrifício e da devoção” (HOBSBAWM, 1982 apud LÖWY, 2010, p. 137).
195
UNIDADE 5
196
UNICESUMAR
“
No final da década de 1920, fuzileiros navais norte-americanos tra-
varam uma guerra quente contra os guerrilheiros patriotas nicara-
guenses. O líder dos guerrilheiros, César Augusto Sandino, acusou
os Estados Unidos de “imperialismo”. Ele se tornou um herói para
muitos latino-americanos (como Fidel Castro, mais tarde) precisa-
mente por resistir aos Estados Unidos. Várias intervenções norte-a-
mericanas instalaram líderes que se tornaram ditadores por longos
períodos, tiranetes corruptos, famosos pela cobiça e obediência à
política norte-americana (CHASSTEEN, 2001, p. 69).
197
UNIDADE 5
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199
UNIDADE 5
A presença marcante das propostas soviéticas na América Latina visava não so-
mente combater o imperialismo ianque, mas seguir o modelo de desenvolvimen-
to levado a cabo pelos soviéticos. A rápida industrialização da União Soviética, a
qual saiu de um quadro de declínio socioeconômico nos anos 1920 para uma
potência industrial vinte anos mais tarde, impressionou muitos latino-americanos
inspirados pelo modelo soviético. Alguns partidos comunistas foram fundados a
partir da década de 1920 (como o Partido Comunista do Brasil, criado em 1922),
mas sua composição e representatividade eram pequenas. Divulgar os ideais do
comunismo em área cuja maioria da população era católica, residentes no cam-
po e analfabetos, era um desafio nem sempre muito bem-sucedido. Cultivar o
nacionalismo não era sinônimo de ser esquerdista, tal como evidenciou muitos
movimentos reacionários dos anos de 1960 e 1970. A fim de manter o ideal na-
cionalista, muitos grupos políticos utilizaram duas táticas distintas: o populismo
e o socialismo (ou algo semelhante a este, já que nem todas as coisas que o De-
partamento de Estado estadunidense enxergava como comunista o era de fato).
200
UNICESUMAR
201
UNIDADE 5
Descrição da Imagem:
fotografia em preto e
branco. Nela, é possível
ver dois homens com tra-
jes militares. O primeiro
encontra-se sentado e
segura, na mão direita le-
vemente elevada, um cha-
ruto. O segundo faz um
movimento como se esti-
vesse levantando. Levanta
a mão direita e está com
os lábios em movimento,
como se estivesse conver-
sando. Ambos possuem
barba e utilizam boina.
202
UNICESUMAR
O processo de luta armada foi de 1953 até 1959, iniciando-se com a iniciativa de
doze guerrilheiros, os quais, escondendo-se na selva, na região de Sierra Maes-
tra, se organizaram em um grupo armado conhecido como Exército Rebelde.
Ajudados pela população local composta, em sua maioria, por camponeses, os
rebeldes infundiram várias derrotas às forças governamentais, as quais tentaram
enfraquecer a coalizão revolucionária.
Batista renunciou ao governo em 1958 e Cuba vivenciou, a partir de então, um
período de reorganização do Estado, o qual não se definiu como comunista nos
primeiros meses. A princípio, reformas julgadas emergenciais foram aprovadas
pelos revolucionários, muito embora, em um primeiro momento, não fosse defi-
nido quem ficaria no poder. Dentre as leis aprovadas pelo governo revolucionário,
estava a criação de empregos, a prisão de civis e militares que apoiaram a ditadura
de Batista, a diminuição dos preços de serviços básicos (aluguéis, energia elétrica
etc.) e o aumento dos salários.
Contudo, a situação ficou crítica quando, em maio de 1959, mediante aprova-
ção da lei da reforma agrária, as elites estadunidenses e cubanas decidiram reagir.
Diante desse cenário, os Estados Unidos optaram por cancelar a importação de
açúcar cubano, o principal sustentáculo da economia nacional. Isso tudo ocorreu
em meio à Guerra Fria. Naturalmente, após os estadunidenses suspenderem a
compra do açúcar cubano, os soviéticos se ofereceram como novos compradores
do produto.
Assustados com a ousadia soviética em influenciar um país tão próximo do
seu território, os Estados Unidos decidiram romper as relações diplomáticas com
Cuba, em 1961. Em abril desse mesmo ano, uma força militar composta por sol-
dados estadunidenses e contrarrevolucionários cubanos desembarcou na Baía
dos Porcos, no intuito de ocupar a Ilha e depor Fidel Castro. Os Estados Unidos
afirmavam que a União Soviética estava instalando, em Cuba, mísseis voltados
para o solo estadunidense.
A ingerência americana não foi bem-sucedida a ponto de a população local
apoiar o seu governo. Esse fracasso coroou a Revolução Cubana e consolidou o
prestígio de Fidel Castro como governante de Cuba.
203
UNIDADE 5
EXPLORANDO IDEIAS
“Os mexicanos e os argentinos que saem de seus países são chamados de imigrantes.
Todos os que saem de Cuba são exilados” (Fidel Castro, 2004).
204
UNICESUMAR
Figura 6 – Mobilização contra a ditadura argentina / Fonte: Wikimedia Commons ([1982], on-line).
Descrição da Imagem: fotografia em preto e branco. Nela, é possível ver centenas de pessoas em forma
de protesto, com faixas, cartazes e balões que trazem, em seu conteúdo, palavras de ordem e nomes
de grupos (partidos políticos, associações e federações) que se manifestam contra a ditadura militar.
NOVAS DESCOBERTAS
205
UNIDADE 5
As décadas de 1960 e
1970 foram marcadas
por mudanças radicais
na estrutura política
da América Latina. Os
chamados regimes po-
pulistas entraram em
crise e foram sucedidos
por sistemas articulados
por forças reacionárias
e conservadoras, multi-
plicando os governos de
exceção por toda a Amé-
rica Latina. Observe a
série de golpes militares
executados a partir de
1964 em solo latino-a-
mericano no infográfico
a seguir:
206
UNICESUMAR
OLHAR CONCEITUAL
Panamá
207
UNIDADE 5
Até então, a região nunca havia sofrido qualquer tentativa de resistência à in-
fluência estadunidense. Porém, conforme analisamos anteriormente, a Revolução
Cubana de 1959 demonstrou o quanto essa área de influência norte-americana
poderia se tornar frágil. Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos fortale-
ceram a capacidade de união das camadas populares historicamente desprezadas
da esfera do poder e, com essa atitude, ganharam aliados importantes na luta
contra o imperialismo estadunidense.
EXPLORANDO IDEIAS
A Aliança para o Progresso foi um projeto político elaborado pelos Estados Unidos duran-
te o governo de John F. Kennedy (1961-1963). O intuito era integrar os países da América
Latina nos aspectos político, econômico, cultural e social contra a ameaça soviética no
continente.
208
UNICESUMAR
Figura 7 – Antigo centro de detenção e tortura durante a ditadura chilena localizado em Santiago,
no Chile / Fonte: iStock ([2022a], on-line).
Descrição da Imagem: fotografia colorida em que vemos um prédio histórico. Parte do prédio, à direita,
aparenta ter seis andares, enquanto outra parte, na esquerda, apenas duas. As portas e detalhes das
janelas que emolduram os vidros foram feitos de madeira. Há detalhes arquitetônicos em alto relevo
próximo às portas maiores e na parte que sustenta as sacadas. O pátio em frente à construção é feito de
paralelepípedos. No prédio, há várias pichações, dentre as quais é possível identificar uma em que se lê
a palavra “muerte”, em espanhol, que, em português, significa “morte”.
Se você, leitor(a), olhar para a história da América Latina, certamente não en-
contrará um modelo de continuidade democrática. As emancipações políticas,
ocorridas no século XIX, fomentaram o surgimento dos caudilhos (conforme
analisamos na unidade IV), protagonistas políticos aliados ao poder militar.
PENSANDO JUNTOS
“O governo Kennedy preparou o caminho para o golpe militar no Brasil em 1964, ajudan-
do a derrubar a democracia brasileira, que se estava tornando independente demais”
(CHOMSKY, 1999, p. 14).
209
UNIDADE 5
EXPLORANDO IDEIAS
A Doutrina de Segurança Nacional foi confeccionada nos Estados Unidos durante o pós-
-Segunda Guerra Mundial, momento em que a União Soviética passou a ser considerada
como rival irreconciliável. Seus teóricos afirmavam que o marxismo partia de dogmas
messiânicos e objetivava dominar todos os povos da terra. Essa concepção fundamentou
várias intervenções militares na América Latina como forma de frear os movimentos de
esquerda, acusados de propagandear o socialismo.
NOVAS DESCOBERTAS
210
UNICESUMAR
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UNIDADE 5
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
212
UNICESUMAR
“
A crença na inferioridade latino-americana é o núcleo essencial da
política dos Estados Unidos em relação à América Latina, porque
ele determina os passos precisos que os Estados Unidos assumem
para proteger seus interesses na região. Uma vez que existiu, desde
o início, uma maneira de entender a política atual e suas supo-
sições subjacentes é voltar ao século XVIII e examinar como o
pensamento hegemônico de hoje começou a evoluir como coro-
lário lógico de crenças sobre o caráter dos latino-americanos [...]
procurando provas de um sutil, mas poderoso mindset [estrutura
mental que guia o olhar estadunidense, a forma como pensar a
América Latina e compreender a cultura latino-americana] que
impediu uma política baseada no respeito mútuo [...]. Despido
de nuanças, o processo é razoavelmente simples. Por exemplo,
quando um funcionário do Departamento de Estado abre uma
reunião com o comentário ‘temos um problema com o governo do
Peru’, em menos de um segundo é evocada uma imagem mental
de um Estado estrangeiro que é completamente diferente daque-
la que teria sido lembrada se o funcionário em questão tivesse
dito, em contraste, ‘temos um problema com o governo da França’
(SCHOULTZ, 2000, p. 13-14).
EXPLORANDO IDEIAS
213
UNIDADE 5
“
Ata de Chapultepec, sobre a agressão externa e problemas de pós-
-guerra das repúblicas americanas, México, março de 1945; Dis-
curso de Winston Churchill, em Fulton de 1946, sobre as tarefas
mundiais dos Estados Unidos; Doutrina Truman, Washington,
março de 1947, sobre as responsabilidades políticas econômicas
e militares dos Estados Unidos para com os povos que esse país
considerasse ameaçados pelo comunismo; Tratado Interamericano
de Assistência Recíproca, ou Defesa Hemisférica, Rio de Janeiro,
setembro de 1947; Carta da Organização dos Estados Americanos
(OEA), Bogotá, maio de 1848; Tratados Americanos de Soluções
Pacíficas (Pacto de Bogotá), Bogotá, maio de 1948; Ponto IV, para
assistência aos povos das áreas subdesenvolvidas, Washington, ja-
neiro de 1949; Declaração de Solidariedade pela Preservação da
Integridade Política das Américas, contra a Intervenção do Co-
munismo Internacional, Caracas, março de 1954; Deposição do
governo Jacobo Arbenz Guzmán, Guatemala, 1954; Deposição do
governo de Perón, Argentina, 1955; Vitória da Revolução liderada
por Fidel Castro, Cuba, 1959; Criação do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), 1959; Criação da Associação Latino-
-Americana de Livre Comércio (ALALC), 1960; Criação do Mer-
214
UNICESUMAR
“
Um coro de ditadores objetos como Rafael Trujillo na República
Dominicana, “Papa Doc” Duvalier no Haiti e Anastásio Somoza na
Nicarágua seguiam a linha norte-americana na OEA, sobrepujando
qualquer oposição (em um sistema de cada país, um voto) de nações
maiores como o México, Brasil e Argentina. Em 1954, a OEA emitiu
a Declaração de Caracas, sustentando que toda ideologia revolucio-
nária marxista era necessariamente “antiamericana” (CHASTEEN,
2001, p. 211).
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UNIDADE 5
NOVAS DESCOBERTAS
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1970 até o início da década de 1990. Nesse período, o temor ao comunismo, bem
como as ameaças provenientes da “anarquia trabalhista” deixaram de existir. Tais
elementos se consagraram como os principais fatores que justificaram a insta-
lação de regimes autoritários por toda a América Latina. Com a extinção dessas
ameaças e sem o apoio popular, os militares optaram, na maioria das vezes, por
devolver o poder aos civis.
NOVAS DESCOBERTAS
No Brasil, um “milagre econômico” de fins dos anos de 1970 deu apoio aos mili-
tares. Todavia a ausência do “perigo comunista” motivou os militares a iniciarem o
processo de abertura em 1979, sendo este concretizado, em definitivo, no ano de
1985. De forma geral, o movimento popular insistia em eleições diretas, por meio
da mobilização conhecida como “Diretas Já”, porém os militares e autoridades
conservadoras optaram por eleições indiretas nesse primeiro momento. No caso
brasileiro, é importante ressaltar o papel fundamental dos movimentos sociais no
processo de redemocratização. O movimento das “Diretas Já” teve início em 1983,
durante o governo de João Batista Figueiredo. O movimento ganhou amplitude e
adesão da maioria da população ao propor eleições diretas para o cargo de pre-
sidente da República. Apesar da resistência de militares e setores conservadores,
a mobilização de cunho social ganhou força, contribuindo, de forma ímpar, para
o fim da Ditadura Militar.
217
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A censura foi um dos mecanismos mais comuns adotados nas ditaduras milita-
res, principalmente as restrições impostas aos meios de comunicação e artistas
de uma forma geral. Peças de teatro, novelas, filmes, músicas, livros etc. somente
poderiam chegar ao público após passar pelo crivo dos censores. O argumento
utilizado pelo governo ditatorial era de que isso seria necessário para que se pre-
servasse a “moral e os bons costumes”, bem como “a segurança nacional”.
Parte da mídia, entretanto, reagiu: o jornal O Estado de S. Paulo, por exem-
plo, substituía as notícias censuradas por receitas de bolo e trechos do poema
Os Lusíadas, escrito por Camões. No Rio de Janeiro, outro periódico, o Jornal
do Brasil, deixava enormes espaços em branco para explicitar as reportagens
censuradas. Outros veículos de comunicação, como os periódicos O Pasquim e
Opinião, simplesmente não cumpriam as ordens dos censores e publicavam os
artigos considerados “proibidos”. Como forma de punir essa atitude, os policiais
frequentemente retiravam os exemplares à venda nas bancas e, não menos raro,
prendiam os jornalistas.
Muitos filmes somente puderam ser exibidos após cortarem algumas cenas.
Vários compositores foram proibidos de divulgar muitas de suas canções, a exem-
plo de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, dentre ou-
tros. Após falar de censura para os alunos você, acadêmico(a), irá, em sala de aula,
orientar os alunos para que se reúnam em grupos e façam uma pesquisa sobre
um dos artistas ou veículos de comunicação citados nesse texto. Na pesquisa, os
alunos deverão levantar informações com a opinião de cada um dos artistas ou
veículos de comunicação a respeito da Ditadura Militar no Brasil. Posteriormente,
essas informações, bem como as obras dos artistas ou a história dos veículos de
comunicação, serão apresentadas à sala de aula. O objetivo é instigar o debate e
a troca de ideias sobre as pesquisas que cada grupo realizou.
223
1. Leia o excerto de texto a seguir:
224
3. Leia o excerto de texto a seguir:
Após a Revolução Cubana de 1959, várias ditaduras militares surgiram nos países
latino-americanos. Diante dessa constatação, disserte sobre a influência dos Estados
Unidos na ocorrência de regimes militares na América Latina.
225
UNIDADE 1
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234
UNIDADE 1
1. C. Comentário: o Brasil antes da chegada dos portugueses era ocupado por vários
povos nativos. Além dos tupis e dos guaranis, havia outros povos, dentre os quais
podemos destacar, os jê, karib, pano, tukano e aruák, situados no interior da América
portuguesa.
3. E.
UNIDADE 2
1. O intuito é compreender que Hernán Cortés e Cristóvão Colombo eram homens de sua
época e que ansiavam por enriquecimento fácil. Para ambos, o objetivo da conquista
das terras do novo mundo estava concentrado na obtenção de riquezas e na difusão
da fé cristã. No entanto, diferenciavam-se no modo, na escolha de prioridades e na
competência de execução de seus respectivos objetivos.
235
ros, salvo católicos cristãos. Mesmo no contato com os indígenas, havia um objetivo
de cristianização. Colombo, porém, ao contrário de Cortés, não lucrou em efetivar os
seus objetivos. Prejudicou-se, talvez, pelo pioneirismo e pelas inúmeras possibilidades
que as terras americanas pareciam dispor (considerando-a um “paraíso terrestre”),
tornando sua administração um tanto sobrecarregada. Tudo somado, não manteve o
prestígio adquirido na primeira viagem. Isso também pode ser compreendido pelo fato
de Colombo ser genovês. Tendo em vista que a aversão ao estrangeiro na sociedade
espanhola era uma marca profunda (como na perseguição aos judeus e muçulmanos)
e que ia além da questão religiosa, é compreensível que, em um segundo momento,
Colombo tenha sido desprezado pela Coroa.
236
nhada pelo Oceano Atlântico apresenta o clima temperado, similar ao europeu. Tais
características facilitaram o desenvolvimento de um núcleo de povoamento baseado
na policultura de subsistência e no mercado interno, já que não foram encontrados
metais preciosos e nem produtos agrícolas em abundância para o mercado europeu.
237
responsável por produzir linho e algodão. Outras, por sua vez, não escondiam o
espanto de que mesmo a região sendo rica em madeira houvesse a importação de
cadeiras, bancos e cômodas. Em suma, é relevante que se perceba essas diferenças
peculiares à colonização da América Inglesa.
UNIDADE 3
2. É necessário que você retrate a conjuntura que provocou a vinda da Coroa portu-
guesa para o Brasil, bem como os acontecimentos posteriores, que resultaram no
descontentamento dos súditos metropolitanos, nas exigências das Cortes lusitanas,
que resultaram na Revolução do Porto, bem como os demais acontecimentos que se
desdobraram no processo de emancipação da América Portuguesa.
238
UNIDADE 4
1. B. O “catecismo pátrio”, método utilizado pelo ditador paraguaio José Gaspar Rodriguez
de Francia, era uma forma de o ditador justificar o seu poder absoluto, já que acredi-
tava que os paraguaios ainda não estavam prontos para um governo participativo.
UNIDADE 5
239
2. É importante que você explore a visão que Lars Schoultz (2000) tece sobre o mindset.
A crença na inferioridade latino-americana se construiu historicamente e se constituiu
no núcleo essencial da política dos Estados Unidos em relação à América Latina, porque
ele determina os passos precisos que os Estados Unidos assumiram para proteger
seus interesses na região. Desde o século XVIII, os estadunidenses formularam um
mindset (estrutura mental que guia o olhar estadunidense, a forma como pensar a
América Latina e compreender a cultura latino-americana), um pensamento carregado
de “pré-conceitos” e que cultua uma suposta superioridade dos estadunidenses em
relação aos latino-americanos.
3. O objetivo é que você compreenda que a vitória da Revolução Cubana, em 1959, foi
um divisor de águas. O caso cubano motivou os revolucionários nacionalistas dissiden-
tes do marxismo a organizarem movimentos insurrecionais nos moldes da guerrilha
vitoriosa em Cuba. Contudo, o triunfo de Fidel Castro e seus companheiros marcou
um avanço substancial do apoio estadunidense a forças conservadoras de países da
região, objetivando podar a ação de grupos guerrilheiros. A ampliação da presença
estadunidense no combate a movimentos ou governos divergentes intensificou a re-
pressão a grupos armados com temor de que mais países latino-americanos seguissem
o exemplo de Cuba, dando margem para a implantação de regimes ditatoriais.
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