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História do

Pensamento
Geográfico
PROFESSORA
Me. Juliana Paula Ramos Boava

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DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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FICHA CATALOGRÁFICA

Coordenador(a) de Conteúdo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Priscilla Campiolo Manesco Paixão Núcleo de Educação a Distância. BOAVA, Juliana Paula Ramos.
Projeto Gráfico e Capa História do Pensamento Geográfico. Juliana Paula
André Morais, Arthur Cantareli e Ramos Boava. Maringá - PR.: Unicesumar, 2022.
Matheus Silva Reimpresso em 2023.
Editoração 156 p.
Juliana Duenha
ISBN 978-65-5615-902-7
Design Educacional
Ivana Cunha Martins “Graduação - EaD”.
Curadoria 1. Geografia 2. História 3. Pensar. 4. EaD. I. Título.
Cleber Rafael Lopes Lisboa
Revisão Textual CDD - 22 ed. 910.9
Ana Baniogli
Ilustração
Bruno Pardinho Impresso por:
Fotos
Shutterstock Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

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www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
02511193
Me. Juliana Paula Ramos Boava

Lembro-me bem de quando, em uma das aulas de Geo-


grafia ministrada por mim, para uma turma de 9º ano
do Ensino Fundamental, causei espanto nos alunos ao
tratar da chamada “Síndrome de vira-lata”. O assunto
era globalização e optei por apresentar uma discus-
são a respeito de como os países em desenvolvimento
se espelham e apresentam uma tendência a valorizar
aquilo que é produzido em países desenvolvidos, por
exemplo, na área da música, cinema e outros. A reflexão
gerada permitiu que eu apresentasse, mais uma vez, a
importância da Geografia, uma ciência que nos auxilia
a compreender o mundo em que vivemos a partir das
características sociais e ambientais.
É justamente a possibilidade de compreender o mun-
do que me fez cursar Licenciatura em Geografia e dar
continuidade à minha formação realizando mestrado e
especializações. Como parte das ciências humanas, temos
em nossas mãos o papel de formar alunos críticos, que
recebem diferentes informações e sabem como interpre-
tá-las. Em uma sociedade rodeada por fake news (notícias
falsas), é indiscutível a contribuição da Geografia para evi-
tar a disseminação de informação incorreta.
Quer me conhecer melhor? Descobrir os meus hob-
bies e preferências? Leia o QR Code com o seu celular
para conferir meu vídeo de apresentação.

Link curriculo lates: http://lattes.cnpq.


br/4391842568739360
HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

Durante os anos de 2020 e 2021, a sociedade foi atingida por algo inesperado, a pan-
demia de covid-19. Neste contexto, considerando as diferentes categorias de análise
da Geografia, é possível afirmar que temos uma ciência capaz de realizar abordagens
distintas sobre uma mesma temática. Pensando nisso, como você analisaria o impacto
da pandemia no Brasil a partir da categoria Território?
Como você pode perceber, a pandemia causou intensas transformações na maior
parte dos países do mundo. Durante o auge da pandemia, mais de 30 países do mundo
proibiram a entrada de brasileiros. Esse panorama reflete a forma como o Brasil é visto
por outras nações, bem como as relações geopolíticas estabelecidas.
Considerando o período após os anos mais críticos da pandemia, você sabe me
dizer se algum país ainda proíbe a entrada de brasileiros? Como nossos governantes
lidaram com a disseminação do coronavírus?
Considerando toda a dinâmica gerada devido à pandemia, podemos refletir sobre
os seguintes aspectos: o impacto nas relações comerciais devido à proibição da entrada
de brasileiros em outros países; O distanciamento familiar, uma vez que muitos deixa-
ram de realizar viagens para rever seus entes; A questão econômica, prejudicada de
maneira importante, visto que o fechamento do comércio em grande parte das cidades
do país, diminuiu o consumo dos brasileiros.
Veremos ao longo da produção que a Geografia passou por diversas fases, e em cada
uma delas o conhecimento científico apresentou diferenças, bem como linhas diversas
de pensamento. Discutiremos também os vários autores e suas linhas de pensamento.
Em linhas gerais, na nossa primeira unidade, “A Geografia como Ciência”, iremos propor
tratar do surgimento dessa ciência, sua consolidação em diferentes países do mundo e
problemáticas do pensamento geográfico, como a questão das Dicotomias.
Na segunda unidade, “Antecedentes históricos: a Geografia na Antiguidade,
Idade Média e Idade Moderna”, apresentaremos como o conhecimento geográfico
se desenvolveu ao longo da história. Serão destacados os diferentes povos que desen-
volveram a Geografia e o modo como desenvolveram.
Já na terceira unidade, “Sistematização da ciência geográfica”, trataremos do
contexto histórico no qual a Geografia tem sua consolidação e também os principais
geógrafos dessa fase. Veremos também as principais escolas do pensamento geográ-
fico, como a alemã, francesa, norte-americana, soviética e inglesa.
Na quarta unidade, “Movimento de renovação”, discutiremos as novas correntes de
pensamento que surgiram no âmbito geográfico. Nesta fase, a Geografia vai apresen-
tar diferentes formas de pensamento para que os processos físicos e humanos sejam
analisados, como a Nova Geografia, que utiliza métodos matemáticos para a análise
de fenômenos geográficos, além da Geografia Radical, Humanística, Cultural e outras.
Na quinta e última unidade, “Geografia brasileira”, levantaremos os aspectos da
consolidação da Geografia no Brasil, como a importância da criação de cursos superio-
res em Geografia, os principais pensadores brasileiros, como Aziz Ab’Saber, considera-
do o “pai da Geografia brasileira” e Milton Santos, destaque no estudo da urbanização
de países de terceiro mundo.
É essencial que você compreenda que a dinâmica causada pelo coronavírus, na
Geografia, pode ser analisada sob diferentes aspectos. E o mais importante: esse é
apenas um dentre inúmeros fatos que a ciência geográfica analisa e interpreta. En-
quanto aluno(a) e futuro(a) professor(a) de Geografia, você perceberá que o ponto alto
dessa ciência está em permitir diferentes análises acerca de um mesmo acontecimento.
Ficou curioso(a) sobre como analisar de maneira distinta um mesmo fenômeno?
Te convido a embarcar nessa jornada que abordará não somente tais distinções, mas
todo o processo pelo qual a Geografia passou até se tornar a ciência que conhecemos
atualmente. Vamos começar?
RECURSOS DE
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Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
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aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
9 2
39
A CIÊNCIA ANTECEDENTES
GEOGRÁFICA HISTÓRICOS

3
67 4 93
SISTEMATIZAÇÃO MOVIMENTO DE
DA CIÊNCIA RENOVAÇÃO
GEOGRÁFICA

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121
A GEOGRAFIA
BRASILEIRA
1
A Ciência
Geográfica
Me. Juliana Paula Ramos Boava

Para iniciarmos nossa conversa, partiremos do princípio de que nesse


material, você terá acesso às informações muito específicas da Geogra-
fia, algo que não viu durante o Ensino Médio, por exemplo. A Geografia
é uma ciência humana e seu objeto de estudo são as relações entre o
homem e a natureza, ou seja, a influência humana nos aspectos físicos
do nosso planeta. Em linhas gerais, o objetivo desta unidade é discutir
o objeto de estudo dessa ciência, além de apresentar as categorias de
análise, que são utilizadas para fundamentar os estudos geográficos.
Discutiremos ainda, a sistematização inicial do pensamento geográfico
e problemáticas da área, como a questão das Dicotomias.
UNIDADE 1

Quando falamos em Geografia, estamos nos referindo a uma ciência humana,


que analisa e interpreta os fenômenos relacionados ao ser humano e às suas
ações no meio físico. Na Grécia Antiga, a Geografia era conhecida como História
Natural ou Filosofia Natural e tinha como característica principal a descrição
de fenômenos e paisagens. E por falar em paisagem, você consegue definir esse
conceito tão importante?
A ciência geográfica se utiliza de diversas áreas, como a História, Biologia,
Matemática, Química e outras para fundamentar seus estudos sobre a superfície
terrestre. Possui fundamental importância no cotidiano do ser humano e, é por
este motivo, que desde os anos iniciais da Educação Básica já são abordados con-
teúdos da Geografia. Considerando que você estudou Geografia desde os anos
finais do Ensino Fundamental, me responda: como são definidos os conceitos de
paisagem, lugar, território e região?
Buscando compreender o espaço, bem como realizar sua leitura, o geógrafo
pode utilizar um conjunto de categorias de análise que estão presentes no espaço
geográfico, sendo elas: Paisagem, Lugar, Território e Região. Cada uma destas
categorias contribui com a interpretação da natureza e do espaço, ou seja, apa-
recem como diferentes perspectivas para análise de um determinado fenômeno.
Para exemplificar como as categorias podem ser utilizadas ao analisar um
fenômeno, seja ele físico ou humano, vamos pensar em um dos assuntos mais
tratados na atualidade: o desmatamento da Floresta Amazônica. A destruição
desse bioma, para a Geografia, pode ser analisada a partir das categorias analí-
ticas. Nesse sentido, a compreensão do desmatamento pode estar direcionada
para a transformação na paisagem, para a relação das populações ribeirinhas
com esse espaço que vem sendo destruído, ou ainda, a disputa territorial entre
indígenas e latifundiários.
Perceba que um mesmo evento permite análises bastante distintas, estando
essa diferenciação diretamente relacionada com a forma como o geógrafo in-
terpreta o mundo e com as bases teóricas que ele utiliza. Dessa forma, é possível
perceber o quanto a Geografia é dinâmica, além de apresentar infinitas possibi-
lidades de investigações sobre o espaço.
A pandemia de covid-19 começou a abalar o mundo no final de 2019. No
Brasil, a partir de março de 2020, tivemos inúmeras mudanças no país decor-
rentes da proliferação do vírus. Os hospitais ficaram superlotados, houve falta
de medicamentos essenciais e mais de 550 mil pessoas perderam a vida. Aliado

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UNICESUMAR

a isso, nos deparamos com o negacionismo e a difusão de medicamentos sem


eficácia comprovada. Como você pode perceber, a pandemia provocou mudanças
significativas tanto no espaço quanto para a vida em sociedade. Considerando as
diferentes possibilidades de interpretação que a Geografia apresenta sobre um
fato, vamos pensar juntos: como a pandemia da Covid-19 pode ser analisada sob
o olhar da Geografia e cogitando as categorias Paisagem e Lugar?
A partir da experiência proposta, escreva em seu Diário de Bordo quais as
suas impressões a respeito dos seguintes aspectos: se você estivesse realizando
uma análise sobre a pandemia e pudesse optar, qual das categorias analíticas
você escolheria para fundamentar seu estudo? É possível utilizar ao menos uma
categoria analítica em qualquer estudo geográfico?

O surgimento da Geografia está pautado em dois grandes períodos, sendo o


primeiro aquele em que a ciência geográfica foi utilizada como fonte de conhe-
cimento e o segundo caracterizado pela consolidação da Geografia enquanto
ciência. E como podemos delimitar tais períodos?
Inicialmente, a Geografia serviu como fonte de conhecimento para importan-
tes civilizações. Isso significa que, apesar de não ser considerada uma ciência, os
conhecimentos geográficos contribuíram para a compreensão do espaço, ou seja,
auxiliaram o homem a analisar dinâmicas de clima, relevo, vegetação e outros.

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UNIDADE 1

A Geografia, enquanto ciência, possui como objeto de estudo a relação existente


entre o homem e a superfície terrestre. A origem da palavra é oriunda do grego
“geo” = Terra e “grafia” = Estudo, sendo, assim, a ciência do estudo da Terra.
Como o ser humano influencia os processos ocorridos no planeta, nada mais
justo que incluí-lo no objeto de estudo da Geografia.
A ciência geográfica está incluída no grupo das Ciências Humanas, aquelas
que estudam as características do ser humano enquanto indivíduo e como ser que
vive em sociedade. Pertencem a esse grupo a Antropologia, a História, a Sociolo-
gia, a Economia, a Psicologia e outras. Em muitos casos, as Ciências Humanas
são classificadas como subjetivas, pois apresentam seus resultados de estudo de
forma a deixar margem para diferentes interpretações.
Diante da necessidade de sistematização do objeto de estudo da Geografia,
surge o termo “espaço geográfico”, que para Alves (1999, p. 190), pode ser definido
como “produto das relações entre homens e dos homens com a natureza, e ao mes-
mo tempo é fator que interfere nas mesmas relações que o constituíram. O espaço
é, então, a materialização das relações existentes entre os homens na sociedade”.
Este espaço apresenta formas criadas pela natureza, como as serras, planaltos,
rios e outros, e formas criadas pelo ser humano, como prédios, shoppings, rodo-
vias etc. Vale destacar que o termo, desde seu surgimento, passou por inúmeras
definições sob a perspectiva de vários autores, como Lefebvre (1991), que com-
preende o espaço geográfico como o contínuo resultado das relações socioespa-
ciais. Tais relações são econômicas (relação sociedade-espaço), políticas (relação
sociedade-Estado ou entre Estados-Nação) e simbólico-culturais (relação so-
ciedade-espaço por meio da linguagem e do imaginário). A força que move tais
relações é a ação humana e suas práticas espaciais.
Para a Base Nacional Curricular Comum - BNCC, “o conceito de espaço é in-
separável do conceito de tempo e ambos precisam ser pensados articuladamente

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UNICESUMAR

como um processo” (BRASIL, 2018, p. 361). O tempo nos auxilia a compreender


as transformações ocorridas na superfície terrestre.
Milton Santos, um dos principais nomes da Geografia brasileira, apresenta
em suas obras uma definição de espaço que se caracteriza pelas relações sociais
ocorridas no passado e no presente. Nesse sentido, “o espaço é um verdadeiro
campo de forças cuja formação é desigual. Eis a razão pela qual a evolução espa-
cial não se apresenta de igual forma em todos os lugares”. (SANTOS, 1978, p.122).
A partir da definição de seu objeto de estudo, a Geografia passa a aprimorar a
forma como interpreta esse espaço. Nesse contexto é que aparecem as categorias
de análise Paisagem, Lugar, Território e Região. Cada uma delas pode ser utili-
zada para fundamentar as investigações realizadas pelos geógrafos, além de se
configurarem como diferentes perspectivas de um mesmo fato.

Lugar

Paisagem ESPAÇO Território

Região

PAISAGEM - A princípio, quando trabalhamos esta categoria com alunos da


Educação Básica, é muito comum que eles definam paisagem como sendo algo
belo, normalmente, relacionado às características físicas de um local, como rios,
montanhas, florestas etc. Mas o conceito de paisagem vai muito além disso. Pai-
sagem é tudo aquilo que podemos perceber com a ajuda da visão, tato, audição e
olfato. Com toda certeza, dentre os sentidos, a visão é aquela que mais nos auxilia
na percepção de uma paisagem.

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UNIDADE 1

O conceito de paisagem é polissêmico, para Meneses (2002, p.29), é “um tema


extremamente amplo, cheio de veredas que se multiplicam e alternativas que não
se excluem”. Sendo assim, pode ser utilizado por outras áreas e possuir significado
diferente em cada uma delas.

PAISAGEM

NATURAL CULTURAL

De acordo com o grau de intervenção humana, as paisagens podem ser sistema-


tizadas em dois níveis:
Paisagens naturais: aquelas que não sofreram intervenções humanas. Atual-
mente, é praticamente impossível encontrar áreas do planeta que não sofreram ne-
nhuma intervenção. Mesmo nos locais mais inóspitos, como a Antártica, por exemplo,
existem alterações, já que vários países possuem bases científicas nessa área.

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UNICESUMAR

Paisagens culturais: sofreram alterações, como a exploração de recursos mi-


nerais, mudanças no curso de rios, retirada da vegetação etc. São aquelas huma-
nizadas, caracterizadas pela intervenção humana no espaço, como é o caso do
espaço urbano, por exemplo.

A paisagem é uma das categorias mais antigas da Geografia e, desde o século


XIX, já era utilizada para a compreensão do espaço geográfico. Sua compreensão
aparece de maneira distinta se considerarmos as diferentes escolas do pensamento
geográfico (que serão abordadas na unidade III do nosso material). Neste caso,
se analisarmos a escola alemã, veremos a paisagem sendo compreendida como
produto da interação de fatores naturais e humanos, enquanto na geografia fran-
cesa, ela aparece como resultado da relação do homem com o meio em que habita.
Como vimos, a definição da categoria paisagem pode aparecer de maneira
distinta, variando conforme as influências culturais que os geógrafos apresentam.
A esse respeito, Bertrand (1971) destaca:


A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos dispa-
ratados. É uma determinada porção do espaço, resultado da combi-
nação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e
antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem
da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evo-
lução (BERTRAND, 1971, p. 2).

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UNIDADE 1

Para o referido autor, um dos mais consultados quando se trata de paisagem na


Geografia, a mesma é compreendida como resultado da relação entre natureza
e sociedade, não podendo ser interpretada com base em apenas um dos fatores
que compõem o espaço, ou seja, a paisagem deve ser interpretada a partir tanto
de aspectos físicos quanto humanos.
Para Santos (1997, p. 61) “tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão al-
cança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo
que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores,
odores, sons etc.”. Demonstrando que o conceito pode ser interpretado de dife-
rentes formas.
Diante do exposto, pode-se afirmar que a linha do horizonte representa os
limites da paisagem, sendo essa linha definida pelo olhar do indivíduo e por sua
localização. Vemos que a paisagem se apresenta em diferentes escalas, que variam
conforme o local em que nos encontramos. Ao elaborar a leitura da paisagem é
necessário que os sentidos sejam estimulados, a fim de realizar uma interpretação
completa dela.
Enquanto futuro professor de Geografia, é essencial que você relacione os
assuntos abordados ao longo do material com o Ensino de Geografia. Nesse sen-
tido, de acordo com a BNCC:


Estudar Geografia é uma oportunidade para compreender o mun-
do em que se vive, na medida em que esse componente curricular
aborda as ações humanas construídas nas distintas sociedades exis-
tentes nas diversas regiões do planeta. Ao mesmo tempo, a educação
geográfica contribui para a formação do conceito de identidade,
expresso de diferentes formas: na compreensão perceptiva da pai-
sagem, que ganha significado à medida que, ao observá-la, nota-se
a vivência dos indivíduos e da coletividade; nas relações com os
lugares vividos; nos costumes que resgatam a nossa memória social;
na identidade cultural; e na consciência de que somos sujeitos da
história, distintos uns dos outros e, por isso, convictos das nossas
diferenças (BRASIL, 2018, p. 359).

É indispensável compreendermos a paisagem como um recorte do espaço geo-


gráfico. Recorte esse que resulta de ações físicas e antrópicas ocorridas ao longo
do tempo. Para Callai:

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UNICESUMAR


Para fazer a análise da paisagem, precisa ir além do que é aparente,
ver adiante do domínio de algum elemento que pode ser natural
[...] A análise permite entender os porquês de aquela paisagem ter
tais e quais características. Significa “olhar e ver além da aparência”,
buscando as origens, os motivos e os interesses que podem ter ge-
rado tal paisagem. (CALLAI, 2013, p. 50).

Importante destacar que a análise da Paisagem deve ir além da percepção do


espaço com o uso dos sentidos. É necessário considerarmos todos os processos
históricos que atuaram naquele recorte e foram responsáveis pela forma como o
mesmo se apresenta agora. Dessa forma, interpretar uma paisagem requer con-
siderar tanto aquilo que vemos como também o que não podemos ver.
LUGAR - A definição de lugar inicialmente foi apre-
sentada por Aristóteles e estava relacionada com o
limite que circunda o corpo. Diferente do conceito
de paisagem, o lugar nem sempre apresentou des-
taque na Geografia. Inicialmente, assumiu caráter
apenas de localização. Para Relph (1979, p.156),
“lugar significa muito mais que o sentido
geográfico de localização. Não se refere
aos objetos e atributos das localizações,
mas aos tipos de experiência e envolvi-
mento com o mundo, a necessidade de
raízes e segurança”, ou seja, não se trata
de um ponto definido. Já Tuan (1975) co-
loca que lugar é um centro de significados
construído pela experiência.
A categoria lugar remete aos locais familiares,
onde são desenvolvidas atividades cotidianas. É fruto das experiên-
cias particulares de cada ser humano, envolvendo o afeto por diferentes
espaços. Nesse contexto, Suess e Ribeiro (2017, p. 03) destacam o lugar como:


o local que possui significados construídos por indivíduos e/ou gru-
pos sociais, portanto, envolve amor e ódio, acordos e desavenças,
ambiguidade e ambivalência, segurança e liberdade, experiência e
dia a dia, superficialidade e profundidade, pessoas e objetos, espaço

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UNIDADE 1

material e imaterial, vida e morte, luz e escuridão, sendo assim, é um


local conhecido por suas referências, é particular e/ou compartilha-
do, é um centro reconhecido de valor e feições.

A partir das definições apresentadas, você consegue perceber o quão subjetiva


pode ser a compreensão a respeito do Lugar na Geografia? Essa reflexão nos
permite afirmar que essa categoria, além de apresentar diversas interpretações,
está diretamente relacionada com a percepção que o homem tem sobre o espaço,
o que pode causar afetividade ou repulsa. Cabe ressaltar que a análise do lugar
não apresenta escala pré-estabelecida, podendo ser nossa casa, nosso bairro e
chegar até nosso planeta.
De acordo com Tuan (1983, p. 6), “o significado de espaço frequentemente se
funde com o de lugar’’. O que começa com espaço indiferenciado transforma-se
em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor”. Sendo assim,
o espaço assume característica de lugar quando o homem o familiariza, fazendo
com que haja significado.
A definição de lugar, para Milton Santos (1997), ainda apresenta a possibi-
lidade de relação com a globalização. Isso se deve ao fato de o referido autor
considerar o lugar como singular e plural ao mesmo tempo. Singular ao ressaltar
os aspectos locais e plural devido à relação que os espaços mantêm entre si a partir
do processo de globalização e que permite essa “troca” de identidades.

PENSANDO JUNTOS

Diversos autores trabalham o conceito de Lugar, sendo um dos mais importantes Yi-Fu
Tuan, autor sino-americano que dedica suas pesquisas às análises da forma como o ho-
mem se relaciona e percebe o espaço que habita, propondo dois conceitos para com-
preender as relações de afeto do homem com o espaço: Topofilia (relacionado ao apego
e familiaridade ao lugar) e Topofobia (a aversão ao espaço, desprezo).

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UNICESUMAR

TERRITÓRIO

O conceito de território, segundo Souza (2010), é caracterizado pelo espaço defi-


nido e delimitado por e a partir de relações de poder. A questão primordial não
é quais são as características geoecológicas e os recursos naturais de uma certa
área, o que se produz ou quem produz em um dado espaço, ou ainda, quais são
as ligações afetivas e de identidade entre um grupo social e seu espaço.
Friedrich Ratzel, geógrafo alemão criador da Geografia Política, relaciona
o discurso sobre território apoiado no referencial político do Estado. Para ele:


O Estado não é, para nós, um organismo meramente porque ele re-
presenta uma união do povo vivo com o solo (Boden) imóvel, mas
porque essa união se consolida tão intensamente através da interação
que ambos se tornam um só e não podem mais ser pensados sepa-
radamente sem que a vida venha a se evadir (RATZEL, 1974, p.4).

Vejamos um exemplo: temos um espaço onde é possível identificar dois países,


entre eles existe uma linha (imaginária ou não) que separa os dois espaços, cha-
mada de fronteira. A criação das fronteiras ocorre para que possa ser delimitada
a área que os países podem aplicar a sua soberania.
É possível perceber, dessa forma, que o Território está diretamente relaciona-
do a um espaço onde um determinado sujeito exerce poder, aplicando suas leis e
demais vontades perante os demais que ocupam aquele mesmo espaço.
Ainda nessa discussão, convém ressaltarmos uma característica muito im-
portante para compreender o Território: não existe uma escala pré-definida.
Isso significa que o conceito não se aplica somente aos espaços políticos, sendo
a territorialidade percebida em escalas menores, por exemplo: o poder de um
grande traficante em uma comunidade; a ocupação de espaços para prostituição,
onde mesmo não havendo respaldo político, cada usuário sabe dos locais em que
pode atuar; e até mesmo a territorialidade exercida no reino animal, no qual uma
espécie mantém poder sobre as demais.

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UNIDADE 1

Diante do exposto é possível afirmar que assim como o Lugar, o Território tam-
bém pode ser abstrato. Isso se deve ao fato de que a relação de poder não precisa
de uma escala previamente estabelecida, sendo necessário apenas dois ou mais
sujeitos e o exercício do poder de um sobre os demais. Nesse contexto, Souza
(2010) aponta que outra forma de abordar a temática da territorialidade seria
considerar o território como campo de forças ou uma rede de relações sociais,
no qual existe a diferença entre “nós” e os “outros”. Neste sentido, surgem as ter-
ritorialidades flexíveis:
■ Os territórios da prostituição feminina ou masculina, no qual os
“outros” tanto podem estar no mundo exterior em geral (de onde vêm os
clientes em potencial) quanto, em muitos casos, em um grupo concor-
rente (prostitutas x travestis). Esses territórios são cíclicos, pois os espaços
para prostituição são ocupados somente a noite, durante o dia, as pessoas
que ocupam o local possuem perfis diferentes. Os limites deste território
são “flutuantes”, tendem a ser instáveis.

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UNICESUMAR

Figura 01: Exemplo de territorialidade cíclica


Fonte: Souza (apud CASTRO; GOMES; CORRÊA, 2010, p.89)

Descrição da Imagem: na imagem, temos dois quadrados representando um centro urbano e a terri-
torialidade cíclica. O primeiro quadrado identifica, por meio de pontos, o funcionamento do comércio.
Pessoas trabalhando ou fazendo compras em um sábado às 11:00. Há também um espaço destacado
na cor preta, para identificar aposentados jogando baralho. O segundo quadrado apresenta o mesmo
espaço, porém às 23:00. Nesse caso, a atividade realizada está relacionada à prostituição, além de deli-
mitar a área, por meio de uma linha tracejada, que as prostituas ocupam. Toda a imagem é desenhada
apenas nas cores preto e branco.

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UNIDADE 1

Os territórios podem ser formados também a partir da “apropriação” de


certos espaços públicos por grupos específicos, como os nordestinos na Praça
Sans Penha, no Rio de Janeiro, ou ainda camelôs no centro da mesma cidade.
Nos dois casos, existe a dimensão de conflitualidade entre os usuários do espaço,
que o territorializam em momentos definidos e a discriminação que sofrem ao
tentar ocupá-los.
Outra territorialidade interessante é a do tráfico de drogas. A mesma
contrasta vivamente com a estrutura territorial característica de organizações
mafiosas ou mesmo do jogo do bicho.
A partir da categoria território, surgem mais dois outros conceitos: Dester-
ritorialização e Reterritorialização. A desterritorialização surge nos estudos
de Deleuze e Guattari:


[...] construímos um conceito de que gosto muito, o de desterrito-
rialização. [...] precisamos às vezes inventar uma palavra bárbara
para dar conta de uma noção com pretensão nova. A noção com
pretensão nova é que não há território sem um vetor de saída do ter-
ritório, e não há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem,
ao mesmo tempo, um esforço para se reterritorializar em outra parte
(DELEUZE e GUATARRI apud HAESBAERT; BRUCE, 2002, p.01).

Mudar de um território para outro é algo muito comum na natureza humana,


quando nos desterritorializamos, ao mesmo tempo, passamos a nos reterrito-
rializar em outro local. Dessa forma, os dois conceitos citados só acontecem de
forma simultânea.
REGIÃO - A categoria região é extremamente ampla no âmbito da Geogra-
fia. Seu surgimento data do século XIX com estudiosos da geologia. Na ciência
geográfica, um dos primeiros autores a trabalhar o conceito de região foi Vidal
de La Blache, em 1903, e considerava características da geografia física, tratando
o conceito como região natural.
Inicialmente, o conceito de região era determinado a partir de uma conti-
nuidade espacial, no sentido de ser uma área com dimensões geográficas maior
que o lugar. Além disso, as regiões eram recortes geográficos fixos no tempo, que
levavam longos períodos para serem transformados. Seu uso esteve associado à
necessidade de diferenciação de áreas.

22
UNICESUMAR

Gomes (2010) coloca que:


A palavra região deriva do latim regere, palavra composta pelo ra-
dical reg, que deu origem a outras palavras como regente, regência,
regra etc. Regione nos tempos do Império Romano era a denomi-
nação utilizada para designar áreas que, ainda que dispusessem de
administração local, estavam subordinadas às regras gerais e hege-
mônicas das magistraturas sediadas em Roma (p. 50).

De maneira simplificada, o conceito de região se refere às unidades do espaço


que apresentam características semelhantes, sejam elas naturais ou sociais. Dessa
forma, a categoria está ligada aos fatores de localização. Além disso, para criarmos
uma Região é necessário realizarmos o processo de Regionalização.
Para Regionalizarmos um determinado espaço é preciso estabelecer o cri-
tério a ser utilizado. Dessa forma, é possível estabelecer regiões considerando o
clima, o relevo, a vegetação e outros.
Você já deve ter se deparado
com diversos tipos de re-
gionalizações, que deram
origem à criação de dife-
rentes regiões. Como Região Norte
principal exemplo,
podemos apontar a
Região Nordeste
divisão dos estados
brasileiros em cinco
grandes regiões. Para Região Centro-Oeste
chegar à regionalização final,
foram consideradas características físicas,
Região Sudeste
sociais e econômicas, agrupando assim, os
estados semelhantes.
SISTEMATIZAÇÃO INICIAL: A
Região
GEOGRAFIA CLÁSSICA - A Geografia, Sul
mesmo sendo executada ao longo dos sécu-
los, só passou a ser considerada uma ciência
organizada a partir do século XIX, quando co-

23
UNIDADE 1

meçou a penetrar nas universidades da Alemanha primeiramente em 1870 e,


posteriormente, na França.
A geografia clássica foi sistematizada com os alemães Alexander Von Hum-
boldt e Karl Ritter, que criaram os princípios e objetivos do conhecimento geo-
gráfico. Os geógrafos clássicos desenvolviam análises de partes da superfície
terrestre, considerando que o estudo das partes resultaria no conhecimento do
todo. Neste período, a geografia se baseava no positivismo para formar suas bases
como ciência natural.
O positivismo, criado por Au-
guste Comte (1798-1857) em duas
de suas obras, Curso de Filosofia
Positiva e Discurso sobre o Espírito
Positivo, tem como base a redução
da realidade ao mundo dos senti-
dos. Neste caso, os estudos devem
se fixar nos aspectos visíveis do real,
tornando a geografia uma ciência
empírica, ou seja, de observação,
experimentação e comparação. A
teoria positivista coloca o homem
como apenas um elemento da pai-
sagem, não valorizando as relações
sociais e a influência antrópica.

Esta postura empirista e naturalista, por muito tempo, guiou o estudo das relações
entre o homem e a natureza sem se preocupar com a relação dos homens entre si,
e ainda atuou como receituário de pesquisa, exigindo da ciência geográfica uma
postura de “ciência de síntese”, o que “encobria a vaguidade da indefinição de seu
objeto” (MELO, 2009 apud MORAES, 2003, p.32).
O filósofo e professor de Geografia física, Immanuel Kant (1724-1804) de-
fendia o empirismo geográfico, alegando que o conhecimento necessitava da
experiência e do raciocínio para se formular. Kant realizava viagens a diferentes
partes do mundo com o objetivo de construir uma taxonomia do mundo físico.
Para Moreira (2008):

24
UNICESUMAR


Essa taxonomia é traduzida na forma das grandes paisagens da su-
perfície terrestre, recortando-a em pedaços de espaço que fazem
dela uma ampla corografia. De modo que são seus atributos a rela-
ção de apreensão do sensível dos dados do mundo circundante e o
olhar corográfico sobre a superfície terrestre (p. 14).

De acordo com Andrade (1987), entre os geógrafos, muitos consideravam a geo-


grafia como uma ciência natural e não como uma ciência social.


Mesmo Vidal de la Blache, historiador de formação e muito liga-
do ao pensamento da escola de historiadores, liderada por Marc
Bloch, admitia que a Geografia era uma ciência dos lugares e não
do homem. Só posteriormente, com os estudos de Pierre George
e Paul Claval, é que se generalizou a opinião de que a Geografia
é uma ciência social, do homem, e não uma ciência da natureza.
Distinção que tem grande importância epistemológica, pois, se a
Geografia fosse uma ciência natural, dos lugares, ela não poderia
procurar explicar como e por que a sociedade produz e reproduz
permanentemente o espaço social, apenas estudaria os resultados
deste trabalho. Como ciência social e humana, a Geografia tem a
responsabilidade de analisar a própria sociedade, as relações que
influem no tipo de espaço produzido e explicar a razão de ser da
ação da sociedade sobre esse espaço. Assunto da maior importância
nos dias de hoje (ANDRADE, 1987, p. 104).

Muitos foram os pensadores que contribuíram para a formação da ciência geo-


gráfica, como: Alfred Hettener, Vidal de La Blache, Max Sorre, Piort Kropotkin,
Elisée Reclus, Varenius, Freidrich Ratzel, Jean Brunhes, Richard Hartshorne, Jean
Tricart, Pierre George, entre outros.
Cassab (2009) afirma que as ideias e o método proposto pelo rol de autores que
compõem a chamada Geografia Clássica dominou o pensamento geográfico por
muitas décadas, até meados de 1950, quando ocorre a chamada Revolução Teorética
Quantitativa na Geografia. Baseada no positivismo lógico e no raciocínio hipotético
dedutivo, essa Nova Geografia emergia da crítica à Geografia Clássica, considerada
pelos geógrafos teoréticos quantitativos um conhecimento meramente descritivo e
incapaz de oferecer leis universais que explicassem os fenômenos.

25
UNIDADE 1

A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA DE SÍNTESE E SEUS PRINCÍPIOS


METODOLÓGICOS - A Geografia pode ser classificada como uma ciência
de síntese, ou seja, que trabalha com dados de outras ciências na elaboração de
seus estudos. Neste contexto, podemos destacar a história, matemática, filosofia
e biologia como aquelas que mais contribuem para o pensamento geográfico.
Antes de pensarmos na Geografia como ciência, devemos nos fazer a seguinte
pergunta: O que é ciência?
Do ponto de vista histórico, a ciência pode ser definida como o conhecimento
humano criado para explicar os mais variados fenômenos e comportamentos
da superfície terrestre. A princípio, a ciência geográfica era baseada apenas na
observação e experimentação, métodos cabíveis apenas à Geografia Física. Mas
e a Geografia Humana, como poderia ser realizada? Os estudos humanos exi-
gem interpretação por parte dos geógrafos, pois o homem, como ser atuante na
superfície terrestre, apresenta características subjetivas, que dão margem para
diferentes interpretações.
Na ciência em geral, para que um fenômeno seja explicado, é necessário que
haja: metodologia, pesquisa e embasamento teórico (para fundamentar as expli-
cações perante os resultados da pesquisa).

26
UNICESUMAR

Em Geografia, o método científico, de acordo com os neopositivistas, é rea-


lizado em várias fases:

- Formulação da hipótese: quando diante de um problema o geógrafo


formula uma possível resposta para o porquê e a partir da mesma chega
a outras respostas ou confirma a inicial.

- Descrição e observação: descrever e observar o fenômeno ou problema


a ser estudado.

- Medição: é o tratamento direcionado aos dados obtidos, pode ser verbal


ou numérica, sendo a última maneira a mais fácil de produzir, armazenar
e tratar os dados.

- Testar leis e teorias: após o teste das hipóteses, formulam-se leis e


teorias para explicá-las.

Newman (1976 apud CAMARGO; ELESBÃO, 2004, p. 14-15) colocam que na


Geografia afloravam inúmeros problemas inerentes à própria Geografia e que
dificultavam sua aplicação, sendo os principais os seguintes:


· Dificuldade de entender a Geografia como uma ciência única, sen-
do complexa por natureza, pois historicamente sempre foi dividida
em Geografia Física (ligada às ciências naturais) e Geografia Huma-
nas (ligada às ciências humanas ou sociais);

· Os fenômenos geográficos também são complexos em suas causas


e em suas características. Exemplificando vemos que um simples
livro de “Geografia dos Solos”, de “Biogeografia” ou de “Geografia
Agrária” acaba exigindo um grande número de conhecimentos ge-
rais relacionados às disciplinas afins;

· Durante muitos anos, os geógrafos tradicionais trabalharam com


um objeto de estudo único (a região geográfica), dificultando estudo
genéricos o que acabou impedindo a formulação de “leis” e “teorias”,
sendo a Geografia considerada uma ciência “Idiográfica”;

27
UNIDADE 1

· Também houve grandes dificuldades ao se querer empregar a


“Indução” para se chegar às generalizações, sendo este um dos mais
importantes passos lógicos do método científico;

· Como a Geografia é considerada uma ciência que se preocupa


com a distribuição dos fenômenos no espaço ficava difícil fazer a
“experimentação”, pois geralmente trabalhamos em escalas regio-
nais, ou seja, com bacias hidrográficas, áreas urbanas, planejamentos
territoriais, massas de ar, classes de relevo etc.;

· Quando se queria empregar esse método nas pesquisas ligadas à


Geografia Humana a coisa se complicava mais ainda, pois como
já foi evidenciado, este método não é o mais apropriado para este
tipo de estudo.

Os problemas citados dificultavam os estudos dos geógrafos, que passaram a


buscar novos métodos na ciência geográfica. Uma das soluções encontradas foi
considerar a Geografia como uma ciência social. Para outros estudiosos, coube a
procura por novas formas de interpretar o pensamento geográfico, definido como
“Geografia Crítica ou Radical” (assunto que trataremos adiante).

Além da utilização do método Positivista, para fundamentar seus estudos, a


Geografia utiliza cinco princípios básicos, que auxiliam na compreensão e in-
terpretação de um determinado fenômeno ocorrido na superfície terrestre:

Princípio de Extensão: proposto por Friedrich Ratzel. Ao estudar um fato


ou fenômeno geográfico, o passo inicial deve ser a delimitação de sua área
de ocorrência. Para tanto, convém a utilização de ferramentas cartográficas.

Princípio de Analogia: elaborado por Karl Ritter e Vidal de La Blache, ao


colocar que a compreensão do fato ou fenômeno requer a comparação do
mesmo com outras áreas, a fim de estabelecer semelhanças e diferenças.

28
UNICESUMAR

Princípio de Causalidade: proposto por Alexander von Humboldt. Segun-


do o mesmo, ao se analisar um fato ou fenômeno é preciso estabelecer as
causas que o determinam, criando a relação entre causa e efeito.

Princípio de Conexidade: defendido por Jean Brunhes ao afirmar que as


paisagens são resultantes da interação de fatores físicos e humanos, ou
seja, tais fatores não atuam de maneira isolada, havendo na formação de
um fato ou fenômeno, a interferência de diversos fatores, que agem de
maneira conectada.

Princípio de Atividade: também enunciado por Jean Brunhes. Nesse caso,


a Geografia deve analisar a realidade considerando a continuidade dos fa-
tos, uma vez que se trata de uma ciência que busca compreender o espaço
e o mesmo está em constante transformação devido a contínua relação
existente entre natureza e sociedade.

Estudo de caso: Terremoto no Haiti - No ano de 2010, a capital do Haiti, Porto


Príncipe, sofreu um grave terremoto. O país, que já lutava contra condições de mi-
séria extrema se viu ainda mais prejudicado após a ocorrência do fenômeno que
chegou à magnitude 7 na escala Ritcher. Mais de 1,5 milhão de pessoas ficaram
desabrigadas, além de toda a extensão da cidade ser tomada por poeira. Esse fato
está entre os terremotos mais graves já ocorridos na superfície terrestre. Mais de
10 anos após o ocorrido, o território ainda busca se recuperar dos danos causados.

29
UNIDADE 1

APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS

Princípio de Extensão: Haiti (área atingida).


Princípio de Analogia: aconteceu de forma semelhante no Japão.
Princípio de Causalidade: movimento de placas tectônicas.
Princípio de Conexidade: fenômeno físico que causa consequências à sociedade.
Princípio de Atividade: levando em consideração o fenômeno recente, ana-
lisar se pode ocorrer novamente
A QUESTÃO DAS DICOTOMIAS - Embora os geógrafos concordem
que o objeto de estudo da geografia é o espaço geográfico, muitas contradições
aparecem no campo de pesquisa da ciência geográfica. A primeira e mais antiga
dicotomia existente é a da GEOGRAFIA FÍSICA X GEOGRAFIA HUMANA.

Em teoria, a Geografia seria uma ciência de síntese, de união entre homem e


natureza. Na prática, grande parte dos estudos está pautada na Geografia Física
ou na Geografia Humana. Dificilmente, encontramos estudos que consideram
essas duas grandes áreas e suas relações.

30
UNICESUMAR

OLHAR CONCEITUAL

31
UNIDADE 1

OLHAR CONCEITUAL

32
UNICESUMAR

PENSANDO JUNTOS

Caro(a) aluno(a), ao longo do curso, você desfrutará de diversas disciplinas tanto do cam-
po físico quanto do campo humano. Procure aproveitá-las da melhor maneira possível,
procurando sempre interligá-las e evitando dar ênfase em apenas uma das grandes áreas.
Afinal, você será um licenciado em Geografia e terá que lecionar assuntos pertinentes a
todas as áreas da ciência geográfica!
Fonte: a Autora.

Uma segunda dicotomia ligada à geografia diz respeito à GEOGRAFIA GERAL


X GEOGRAFIA REGIONAL. Com base em Rocha (2010), a Geografia Geral
objetiva estudar a distribuição dos fenômenos na superfície da Terra, analisando
cada categoria de fenômenos de maneira autônoma. Esse recorte resultou em uma
geografia sistemática e na subdivisão da geografia (geomorfologia, hidrologia,
climatologia, geografia da população e outras). Eram levados em consideração
os fenômenos que poderiam se apresentar em diversas partes do globo, a fim de
mostrar como suas particularidades se explicam.
A Geografia Regional procurava estudar as unidades de paisagem compo-
nentes da diversidade da superfície terrestre. Em cada lugar ou região, a com-
binação de diversas categorias de fenômenos se refletia na elaboração de uma
paisagem distinta. A região é uma unidade globalizada em que há inter-relação de
aspectos físicos e humanos. Ao estudar a região, o geógrafo poderia compreender
a totalidade. Neste contexto, cada vez mais a ciência geográfica se fixa como uma
ciência de síntese, reunindo e coordenando todas as informações a fim de criar
uma visão global da região. Essa área da geografia desenvolveu nos geógrafos a
habilidade descritiva (ROCHA, 2010).
A ciência geográfica possui extrema importância na compreensão do com-
portamento humano e suas interações com o meio físico. Diante das dicotomias
existentes, devemos seguir o conselho de Francisco Mendonça (1993) e construir
uma GEOGRAFIA GLOBAL, integrando sempre o homem e a natureza.

33
UNIDADE 1

Que tal dialogarmos um pouco mais sobre as Categorias


Analíticas da Geografia?
Acesse o QR Code para ampliar o seu conhecimento sobre
o assunto.

NOVAS DESCOBERTAS

Livro: Para onde vai o pensamento geográfico?: por uma epistemo-


logia crítica
Autor: Ruy Moreira
Editora: Contexto
Acesse esse livro pela Biblioteca Pearson.
O livro destina-se a estimular o debate da geografia diante da fragmentação
do olhar geográfico comprometido com um tipo de mundo há tempos esgo-
tado na história humana. Para onde, afinal, caminha a geografia e o ofício
de geógrafo? Ruy Moreira - experiente professor da Universidade Federal
Fluminense - desvenda a relação Estado x reforma neoliberal, revolução
mecânica x revolução bioengenharia e crise ambiental x bioespaço. Além
disso, levanta e analisa os problemas que cercam a geografia moderna, traz
à tona a crítica dos conceitos de natureza, homem e economia na geografia
e explica por que o mundo caminha de forma acelerada para o encontro
da biologia molecular com a bioengenharia. Para onde vai o pensamento
geográfico? É uma obra importante para a biblioteca pessoal de estudantes
e professores de geografia.

Agora que já estudamos conceitos essenciais para compreensão da Geografia,


bem como ela iniciou o seu processo de sistematização enquanto ciência, é hora
de aplicar esses conhecimentos. Para isso, proponho um desafio a você: enquan-
to futuro professor de Geografia, o trabalho com as Categorias Analíticas será
essencial para sua prática docente. Nesse sentido, escolha uma das categorias
apresentadas e elabore uma proposta de atividade, considerando as habilidades
previstas na BNCC, para ser aplicada nos anos finais do Ensino Fundamental.

34
1. Conhecimento na Prática

[...] a apropriação de certos espaços públicos por grupos específicos, como os nor-
destinos nos fins de semana na Praça Saens Peña (no bairro da Tijuca), na cidade
do Rio de Janeiro, e a ocupação das calçadas de certos logradouros públicos por
camelôs. Ambos são casos interessantes por se revestirem de uma dimensão de
conflitualidade entre esses usuários do espaço [...] e um ambiente que os discrimina:
no caso dos nordestinos, em grande parte moradores das favelas próximas, temos a
apropriação de uma praça por um grupo que tenta, por algumas horas, reproduzindo
o espaço de convívio em um meio estranho e não raro hostil e segregador [...] manter
um pouco de sua identidade. [...] No caso dos camelôs, estamos diante do conflito
de interesses entre os chamados setores formal e informal, cuja explosividade já se
manifestou no Rio de Janeiro em diversos incidentes violentos envolvendo, de um
lado, lojistas e a polícia, e, de outro, os camelôs.

(CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L. (Org.). Geografia: Conceitos e Temas.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 91)

Considerando a existência de categorias analíticas na ciência geográfica, bem como


o desdobramento delas no excerto, temos a discussão a respeito do(a):

a) Espaço Geográfico.
b) Lugar.
c) Território.
d) Paisagem.
e) Região.

2. Como toda ciência, a Geografia possui seus conceitos-chaves (paisagem, região, es-
paço, lugar e território) com grande grau de parentesco e capazes de sintetizar a ob-
jetivação geográfica, concebendo-a identidade e autonomia. Pertencendo, ao mesmo
tempo, ao domínio das ciências da Terra e ao das ciências humanas, a Geografia tem
por objeto próprio a compreensão do processo interativo entre sociedade e a natu-
reza, produzindo, como resultado, um sistema de relações e de arranjos espaciais
que se expressam por unidades paisagísticas identificáveis.

BRITO, M. C. de; FERREIRA, C. de C. M. Paisagem e as diferentes abordagens geográ-


ficas. Revista de Geografia, v. 2, n. 1, 2011. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/
index.php/geografia/article/view/17890, Acesso em: 06 dez. 2021.

35
Paisagem é o conjunto de formas que num dado momento, exprimem as heranças
que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza.
Ou ainda, a paisagem se dá como conjunto de objetos concretos.

SANTOS, M. A natureza do espaço. EDUSP: São Paulo, 1997.

A paisagem não seria a simples junção de elementos geográficos, mas a combinação


dinâmica, estável, dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, porque a paisagem
não é apenas natural, mas é total, com todas as implicações da participação humana.

BERTRAND, G.; BERTRAND, C. Uma Geografia transversal e de travessias: o meio am-


biente através dos territórios e das temporalidades. Maringá: Massoni, 2007.

A partir dos textos anteriores, avalie as seguintes afirmações:

I - Os textos apresentam definições do conceito de paisagem, relacionando-as às


categorias de análise da Geografia, dentre as quais a paisagem aparece com
grande importância.
II - Os textos discorrem sobre a importância do conceito de paisagem e sua apli-
cação na Geografia, destacando, principalmente, o conceito de Geossistema,
caracterizado pela relação entre diferentes elementos que compõem a paisagem.
III - Os textos afirmam que a paisagem é resultado de diversas ações, estando dentre
elas, a ação humana, responsável, em grande parte, pelos arranjos espaciais, que
atuam como heranças na formação das paisagens.
É correto o que se afirma em:

a) I, apenas
b) III, apenas
c) II e III, apenas
d) I e III, apenas
e) I, II e III.

3. Dentre as categorias de análise da Geografia, temos o conceito de região, que duran-


te o processo de consolidação da ciência geográfica, passou por diferentes perspec-
tivas, bem como no surgimento das correntes de pensamento geográficas. A esse
respeito, assinale a alternativa correta:

a) Durante o período clássico da Geografia, o conceito de região foi intensamente


utilizado como região natural, a fim de caracterizar áreas que sofreram com a
interferência humana.

36
b) Se analisado sob a perspectiva da Geografia Crítica, o conceito de região é utili-
zado para interpretar fenômenos socioeconômicos que ocorrem em diferentes
partes do globo terrestre.
c) Na Geografia Cultural, o conceito de região aparece com uma área cuja paisagem
é uniforme, independente dos fatores que atuaram em sua formação.
d) De modo geral, o conceito de região é utilizado para designar uma determinada
área que apresenta características semelhantes, sendo diferenciada das áreas
próximas.
e) O conceito de região pode ser empregado como forma de agrupar unidades ad-
ministrativas, conforme aponta a corrente denominada de Geografia Quantitativa.

4. “Para a Geografia admitimos, de forma esquemática, a existência de um primeiro


período em que pontificaram os institucionalizadores dessa ciência, ao qual se seguiu
outro de consolidação e de difusão do conhecimento geográfico.” (ANDRADE, M. C.
de. Geografia: ciência e sociedade. São Paulo: Atlas, 1987. p. 99) O primeiro período
a que o autor se refere pode ser chamado de:

a) Geografia Moderna.
b) Geografia Clássica.
c) Nova Geografia.
d) Geografia da Antiguidade.
e) Geografia Empírica.

5. A ciência geográfica, em seu período inicial, tinha seus estudos fixados nos aspectos
visíveis do real, tornando a Geografia uma ciência empírica, de observação, expe-
rimentação e comparação. A corrente filosófica na qual a Geografia se baseava no
período citado era o Positivismo. Suas características podem ser identificadas em:

a) Considera o homem como agente modelador do espaço, podendo se aproveitar


dos recursos naturais
b) Afirma a existência do real, sendo os objetos independentes dos sujeitos.
c) Entende que o meio que o homem habita é responsável pelo seu desenvolvi-
mento.
d) Considera a superfície terrestre independente das ações humanas.
e) Possui como base a redução da realidade ao mundo dos sentidos, colocando o
homem como um elemento da paisagem.

37
2
Antecedentes
Históricos
Me. Juliana Paula ramos Boava

Nesta unidade, apresentaremos como o conhecimento geográfico se


desenvolveu ao longo da história. Serão destacados os diferentes po-
vos que desenvolveram a Geografia e o modo como a desenvolveram.
Neste contexto, temos os Gregos como o principal povo, já que a gêne-
se da Geografia tem seu surgimento na Grécia. Na Idade Média, essa
ciência passa por um processo de estagnação, devido principalmente à
interferência religiosa nas questões humanas. Já na Idade Moderna, o
conhecimento avança consideravelmente, e a Geografia se firma como
ciência, aspecto essencial para a compreensão dela na atualidade.
UNIDADE 2

A Geografia se apresenta como disciplina essencial a partir dos anos iniciais da


Educação Básica, e, desde pequenos, aprendemos sobre a importância de conhe-
cermos como o homem se relaciona com a superfície terrestre e como vive em
sociedade. Neste contexto, o objeto de estudo da Geografia fica claro durante o
Ensino Fundamental. Entretanto, nem sempre foi assim. Ao longo do tempo, a
ciência geográfica se aprimorou e passou por diversos períodos se tornando a
ciência que conhecemos hoje.
A imagem, a seguir, faz referência ao quadro do pintor alemão Friedrich
Weitsch. Está representando Alexander von Humboldt (em pé, à esquerda),
considerado pai da Geografia Moderna, e o botânico francês Aimé Bonpland
(sentado). Eles estão aos pés do vulcão Chimborazo, no Equador, em uma das
inúmeras viagens que Humboldt realizou ao longo de sua carreira.

Figura 01 - Humboldt e Aimé Bonpland. / Fonte: Andrade (2019, on-line)

Descrição da Imagem: a imagem é uma pintura que apresenta uma paisagem formada por uma mon-
tanha e um vulcão. Na parte superior, temos o céu e algumas nuvens. Na parte inferior há vegetação,
um grupo de pessoas ao redor de uma fogueira e alguns animais ao fundo. Ao lado direito, temos dois
homens em pé, sendo um deles vestindo traje europeu de época e o outro uma vestimenta local. Próximo
a eles há um cachorro e uma tenda improvisada onde um homem, também europeu, aparece sentado.

Se considerarmos os diferentes períodos históricos, como você acha que os es-


tudos geográficos eram realizados? A Geografia sempre foi considerada uma
ciência humana e com objeto de estudo bem definido?

40
UNIDADE 2

Durante o período da Antiguidade, mesmo com as várias contribuições re-


gistradas no campo da Geografia, ainda não existiam os geógrafos e os estudos
eram realizados por pensadores, a maioria deles filósofos. Porém não podemos
deixar de afirmar que as contribuições desses pensadores foram fundamentais
para a ciência geográfica.
Para que a Geografia se tornasse a ciência que conhecemos atualmente, ela pas-
sou por diferentes fases de expansão do seu conhecimento, fases essas que estiveram
ligadas aos períodos da história pelos quais a humanidade passava. Nos períodos
da Idade Média e Modernidade, o desenvolvimento foi distinto, sendo o período
medieval aquele em que houve menor desenvolvimento tanto da Geografia quanto
de outras ciências. Note que compreender a ciência geográfica significa considerar
todos os processos pelos quais ela passou, sendo estes fundamentais para que ela se
tornasse essa ciência tão importante para compreensão do espaço e da sociedade.
É fato que os estudos geográficos realizados durante a Antiguidade ainda não
faziam parte da Geografia, visto que a mesma ainda não se apresentava como uma
ciência. Entretanto muitas análises realizadas a respeito do espaço foram essen-
ciais para a evolução do conhecimento geográfico, como é o caso, por exemplo, de
Erastótenes e sua estimativa da circunferência terrestre. Dessa forma, é possível
afirmar que a Geografia já apresentava sua importância mesmo antes de assumir
sua postura científica. Diante do exposto, agora é sua vez: pesquise e aponte uma
teoria geográfica elaborada durante a Antiguidade.
A partir da experiência proposta, escreva em seu Diário de Bordo suas im-
pressões a respeito dos seguintes aspectos: qual a contribuição dos gregos para
a sistematização da ciência geográfica? Além desses, podemos identificar a con-
tribuição de outros povos?

41
UNIDADE 2

A Antiguidade, ou Idade Antiga, é considerada como o período que se estendeu


de 4000 a.C. até 476 d.C., aproximadamente. Nesse sentido, temos o início a par-
tir da invenção da escrita e término associado à queda do Império Romano do
Ocidente. Vale destacar que este critério de duração está relacionado à História
da Europa, ou seja, a partir de uma visão eurocêntrica.

O conhecimento geográfico começou a ser utilizado com os gregos e, portanto, é


extremamente antigo. A princípio, o objetivo primeiro da Geografia esteve pautado
na descrição de lugares e fenômenos, tendo como principais “narradores” nomes
como Tales de Mileto, Erastótenes e Heródoto, grandes filósofos da Grécia Antiga.
Tales de Mileto foi um filósofo descendente dos fenícios, nascido entre 624
e 625 a.C., na colônia ancestral grega de Mileto. Seus pensamentos foram basea-
dos na natureza e em seus elementos base: terra, ar, água e
fogo. Tales acreditava que a água era a substância primor-
dial para a existência de tudo. Logo, podemos relacionar
sua percepção com a ação do intemperismo,
por exemplo.
Este filósofo apresentou muitas
contribuições em várias ciências.
No campo da Geografia, Tales
de Mileto teve percepção sobre
as estações do ano, explorou a
evolução de aspectos naturais da
superfície terrestre a partir da ação
da água e demais processos naturais,
além do aprimoramento da utilização
do relógio solar.

42
UNIDADE 2

Já Erastótenes foi, além de filósofo, matemático, astrônomo e historiador. Nas-


ceu na colônia grega de Cirene (atualmente, Líbia) em 276 a.C., e em sua obra
Geografia, teve como objetivo dar uma base matemática a essa ciência. Escreveu
obras também no campo da matemática, filosofia, astronomia, história e outras.
Uma de suas mais importantes conclusões foi estimar o comprimento da
circunferência terrestre a partir de cálculos e da observação da sombra em um
poço profundo em um dia de solstício de verão. Outros pensadores também
estimaram a circunferência terrestre, mas Erastótenes foi aquele que mais se
aproximou do valor exato.
Outro filósofo de destaque da Grécia Antiga e que apresentou contribuições
para a ciência geográfica foi Heródoto, que viveu entre 485 a.C. e 425 a.C., tendo
nascido em Halicarnasso (onde atualmente é Brodum, na Turquia). Em suas obras,
relatou aspectos do comportamento humano, fatos históricos e naturais. Suas obras
foram resultados de inúmeras viagens proporcionadas por seu tio Pamiatis.
Heródoto fez muitas contribuições à Geografia, pois durante suas viagens
descrevia todos os lugares pelos quais passava. Observou que o solo negro ao
longo do rio Nilo estava associado aos sedimentos depositados nos períodos
de cheias, contribuição essa que se encontra até hoje em estudos de geomor-
fologia fluvial.

De acordo com Vieira (2011), o contexto sob o qual a Geografia nasceu era
de grande efervescência cultural, pois o território grego localiza-se entre
a Europa, África e Ásia, ou seja, um importante
ponto de ligação entre essas três porções
de grande importância para a humanida-
de em cultura, artes e conhecimento.

A base econômica da Grécia era o


comércio, fazendo com que as na-
vegações aparecessem como um
dos principais fatores para o desen-
volvimento da ciência geográfica. A
busca por matérias-primas e novos
mercados consumidores, por meio das
navegações, possibilitou que os gregos ti-

43
UNIDADE 2

vessem maior contato com outros povos e outras culturas. A cada grande
navegação realizada, os geógrafos da época registravam com detalhes
as características dos lugares e dos povos com os quais tinham contato.
Pesquisadores da área afirmam que “os gregos foram os primeiros a fazer
registros sistemáticos da geografia, pois sua intensa atividade comercial
permitia-lhes explorar e conhecer diferentes povos e lugares ao longo da
costa do mar mediterrâneo” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.11).

O termo Geografia surgiu com os gregos. Mui-


tos autores consideram que tenha sido Estrabão o
primeiro a utilizar a palavra. Estrabão foi filósofo,
historiador e geógrafo. Nasceu em Amaseia (hoje
na Turquia) em 63 a.C., sua obra mais importante
foi Geographia, uma coleção de 17 livros sobre
a história e descrições de povos e locais que o
mesmo conhecia até a época. É considerado fun-
dador dos estudos que revelam particularidades
regionais, chamado de Idiografia.
Segundo Vieira (2011), os conhecimentos
gregos sobre os territórios foram sendo amplia-
dos por Alexandre Magno (334-323 a.C.), que era acompanhado por diversos
sábios nas expedições que fazia, gerando assim uma vasta documentação sobre
o Império e que foi arquivada na Biblioteca de Alexandria. Ali, Eratóstenes, pri-
meiro filósofo grego a autodenominar-se “geógrafo”, foi encarregado de dirigi-la.
Paralelo ao processo de ampliação das rotas marítimas se dava o início da
ciência cartográfica, que tem por objetivo representar a superfície terrestre.
Bakker (1965) afirma que na Grécia Antiga foram lançados os primeiros fun-
damentos da cartografia, utilizando métodos astronômicos para determinar as
posições na superfície da Terra. Neste contexto, o mapa é o elemento principal,
pois a partir da elaboração dele era possível determinar a localização dos lugares
visitados e seus pontos de referência.
Os mapas podem ser definidos como a representação de uma área da super-
fície terrestre em um plano. Neles são encontrados elementos convencionais que
facilitam a compreensão de seu conteúdo. Existem vários tipos de mapas: físicos,
econômicos, demográficos, políticos, topográficos e outros.

44
UNIDADE 2

Os gregos traçaram os primeiros mapas no século VI a.C. O mapa mais antigo


já descrito nas literaturas foi produzido na Suméria e representava um estado em
uma tábua de argila. Eratóstenes e Hiparco formularam as bases da cartografia
utilizando o globo terrestre e os sistemas de latitude e longitude. Na medida em
que as viagens eram realizadas, mais exatos ficavam os mapas produzidos.

Figura 02 - Reconstituição do Mapa de Eratóstenes, cerca de 220 a.C..


Fonte: Wikimedia ([2021], on-line)

Descrição da Imagem: a imagem apresenta a reconstituição de um mapa elaborado por Erastótenes e


que representa os continentes europeu, africano e asiático. O mapa está em cor amarela, e os continen-
tes estão representados de forma distinta da atual, sendo uma faixa de terras contínuas e disformes.
Há nomes de países escritos em inglês: Líbia, Índia, Arábia, Reino Unido, bem como nomes de oceanos
Atlântico e Nórdico e Golfo Pérsico. O mapa ainda apresenta linhas verticais e horizontais para demonstrar
as coordenadas geográficas.

Vieira (2011) aponta que a relação íntima da Geografia com a Cartografia foi
mantida durante séculos, sendo as práticas geográficas e o fazer mapas, facilmente
associados. A Cartografia, já nesse período, aparecia como uma ferramenta da
Geografia na qual o mundo poderia ser representado em uma escala menor e, a
partir disso, o conhecimento sobre ele poderia ser ampliado. Esse desenvolvimen-
to no conhecimento, com o passar do tempo, diga-se, não muito tempo, passou
a representar poder. Poder de dominação de um povo sobre outro, por exemplo,
em função do conhecimento geográfico da área.

45
UNIDADE 2

Com o apogeu de Roma, conforme ressalta Moreira (1994), e o submeti-


mento dos povos e terras conhecidos, entre eles os próprios gregos, consolida-se
o modo escravista de produção. Com os romanos, a Geografia passou a servir
como arma para a formação do vasto império em expansão, sendo desenvolvida
para servir ao Estado por meio de relatos e mapas.
Os romanos, bastante inferiores culturalmente aos gregos, absorveram a
cultura grega e utilizaram os seus pedagogos para ensinar seus filhos. Estrabão
e Ptolomeu continuaram a escrever em grego mesmo sob o domínio de Roma,
dificultando a separação destes dois povos na sistematização da ciência geográfica
(ANDRADE, 2008). Os geógrafos romanos, como Plínio e Pompônio, estiveram
mais preocupados com a geografia descritiva, indicando os povos distribuídos
pelo território romano, as áreas ricas em produtos comerciáveis e outras carac-
terísticas físicas do Império.
Caio Plínio Segundo, também conhecido como Plínio, o Velho, foi filósofo
e naturalista. Nasceu em 23 d.C. e morreu em 79 d.C. com a erupção do vulcão
Vesúvio. Seu último trabalho foi História Natural, dividida em 37 livros que
apontavam todo o conhecimento explorado pelo homem na antiguidade. Plínio
pretendia com essa obra destacar uma contribuição romana ao conhecimento,
já que até então os gregos dominavam essa área.
O último geógrafo da antiguidade foi Cláudio Ptolomeu (90 d.C. – 168 d.C.),
cientista, astrônomo e geógrafo nascido no Egito sob domínio do Império Ro-
mano. Desenvolveu estudos na matemática, astronomia e geografia, sendo que
na última delas apresentou a técnica de projeção de mapas, ou seja, representação
da superfície terrestre em um plano. Sua obra Geografia traz tabelas e listas de
coordenadas geográficas de diversos lugares, além de descrições de países e povos.
Ferreira e Simões (1993) apontam que:


Ele dedicou-se aos mapas e ao levantamento de plantas, além dis-
so, inseriu palavras como “paralelo” e “meridiano” para as linhas de
latitude e longitude. Com isso organizou um grande vocabulário
de nomes de lugares que conhecia, dando a localização de cada
um, sendo lamentavelmente seu erro ter aceitado o cálculo de Po-
sidônio (cerca de 100 a.C.), menos preciso que o de Eratóstenes
(BROEK, 1967). A extensão da região foi exagerada em suas pro-
jeções, e este erro permaneceu até o século XVII, razão pela qual

46
UNIDADE 2

Colombo pensou ter chegado às Índias (FERREIRA; SIMÕES,


1993 apud VIEIRA, 2011, p. 3).

Como você pode perceber, a Antiguidade foi um período intensamente produ-


tivo para o conhecimento geográfico, sendo responsável pelos estudos iniciais
da Geografia e também da Cartografia. A contribuição dos gregos e romanos foi
essencial e proporcionou o desdobramento de inúmeros aprendizados acerca da
superfície terrestre.

romano
Tales de Mileto
grego Plínio

GEOGRAFIA
NA
ANTIGUIDADE
Erastótenes Pompônio romano
grego

Ptolomeu
grego

Heródoto
grego

grego
Estrabão

Figura 03 - Contribuição de gregos e romanos para a Geografia na Antiguidade.


Elaboração: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um resumo dos principais nomes para a Geografia na Anti-
guidade e sua nacionalidade. Há um círculo no centro da imagem com a escrita: Geografia na Antiguidade.
Ao redor aparecem mais sete círculos, cada um deles com o nome. Cada círculo apresenta uma linha
que liga a outro círculo, identificando a qual povo pertencia: Tales de Mileto (grego), Erastótenes (grego),
Heródoto (grego), Estrabão (grego), Ptolomeu (grego), Plínio (romano) e Pompônio (romano).

Na sequência, tivemos o período Medieval, cuja característica principal está na


paralisação da produção do conhecimento científico.

47
UNIDADE 2

IDADE MÉDIA - A Idade Média pode ser caracterizada pelo período com-
preendido entre a queda do Império Romano (476 d.C.) e a tomada de Cons-
tantinopla (1453 d.C.), aproximadamente. Neste período, pode-se destacar a
fusão das culturas romana e germânica, a formação do Império Bizantino e a
expansão dos árabes.

Durante a Idade Média, a Geografia sofreu um processo de estagnação na pro-


dução do conhecimento, que pode ser explicado pela difusão do Cristianismo e
pelo contexto social e econômico da época. No âmbito religioso, neste período da
história, a Igreja Católica passou a ter o maior poder perante as aristocracias, de
forma que as questões humanas e naturais passaram a ser respondidas com base
em interpretações da Bíblia, e não mais na Cosmologia, como era até então.
Do ponto de vista econômico, o continente europeu apresentava-se dividido
em várias pequenas áreas que se organizavam com base no feudalismo, fator
este que provocou a desarticulação dos sistemas de comunicação, visto que os
feudos eram auto subsistentes, causando a diminuição nas trocas comerciais e na
mobilidade humana. As viagens também sofreram estagnação, o que impediu o
conhecimento de novas áreas do mundo.

48
UNIDADE 2

Andrade (2008) coloca que se


na Europa Ocidental o conheci-
mento declinava, em outras áreas, a
formação de estados fortes e a inten-
sificação das viagens e do comércio
permitiram que as tradições gregas
e latinas se integrassem com a de
povos do Oriente e houvesse uma
difusão cultural. Neste contexto, a
expansão árabe merece destaque.
Após a queda do Império Romano surge à civilização árabe, que estava
baseada na religião islâmica, fundada por Maomé, um mercador da cidade de
Meca. Maomé, após ter visto o anjo Gabriel, se considerou profeta dessa nova
religião. Até então, os árabes acreditavam em deuses tribais e nos grandes centros
já havia seguidores do Cristianismo e do Judaísmo.
Com a consolidação do islamismo, os árabes começaram a conquistar e do-
minar diversos territórios, como as terras do Império Bizantino, civilizações da
Síria e Palestina, Marrocos, Mesopotâmia, Irã e Índia. Tendo seu império cada
vez mais extenso, os árabes organizaram vias de transportes tanto para dinamizar
o comércio quanto para facilitar a chegada até a Meca (cidade sagrada que todo
muçulmano deve visitar ao menos uma vez na vida).

49
UNIDADE 2

A civilização árabe começava a aprimorar seus conhecimentos a partir


da tradução de obras gregas. Com as longas viagens realizadas, alguns
árabes estudaram as condições naturais e os recursos que poderiam ser
explorados em cada região descoberta. Mesmo não sendo a Geografia o
objetivo das expedições, as características físicas e humanas dos lugares
acabavam sendo descritas.
Dentre os escritores árabes, pode-se destacar: Al Edrisi e Ibn Bat-
tuta. O primeiro, Al Edrisi ou Al Idrisi foi geógrafo e cartógrafo, des-
tacando-se pela qualidade e precisão de seus desenhos. Produziu um
mapa-múndi cujo hemisfério sul estava localizado no topo do mapa.
Descreveu áreas como Lisboa, portos de Portugal e Caminhos de San-
tiago de Compostela. Suas obras foram importantes para navegantes,
militares e estrategistas.
Ibn Battuta foi um viajante marroquino. Começou suas viagens
com 22 anos de idade, quando saiu para cumprir o hajj, um dos pilares
do islamismo. Visitou diversas áreas como o norte da África, África
Ocidental, África Oriental, Europa Oriental e Meridional, Oriente Mé-
dio e boa parte da Ásia. Deixou importantes contribuições, principal-
mente, os relatos sobre áreas pouco estudadas, como a África Ocidental.
O controle do Império Árabe era realizado por meio dos califas,
que deveriam ser descendentes diretos de Maomé. Quando ocorre a
ascensão da dinastia Abássida no século VII, a unidade política do ter-
ritório muçulmano é quebrada e são formados outros califados. Neste
período, surgem também novas correntes de interpretação do islamis-
mo, os sunitas e os xiitas. Tais fatores contribuem para que os árabes
comecem a perder seu domínio por volta do século X.
Durante a Idade Média, assim como a Geografia em geral, a Carto-
grafia também sofreu estagnação. Os mapas produzidos, neste período,
destacaram representações de caráter religioso. O bispo de Sevilha, Isi-
doro (570-636 d.C.), elaborou o mapa conhecido como T-0 (figura 03),
cujo T significava os três cursos de água que dividiam a área habitada
pelos homens, sendo o Mediterrâneo que separa Europa e África, o rio
Nilo que separa África e Ásia e o Don entre Ásia e Europa. O T repre-
sentava também a cruz sagrada. O mapa era circundado pelo oceano.

50
UNIDADE 2

Figura 04 - Mapa - “Die Ganze Welt In EinemKleberbat” - Heinrich Bünting, 1581


Fonte: Wikimedia Commons ([2021], on-line)

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um mapa dos continentes europeu, africano e asiático
representados como se fossem pétalas de uma flor. Em cada pétala, além do nome do continente, são
destacadas algumas formas de relevo. A África está em amarelo, na parte de baixo, a Ásia está na cor
verde na direita e a Europa está na cor laranja, na esquerda do mapa. No centro há um círculo com um
desenho de uma cidadela medieval escrito “Jerusalém” em latim (IERVSALEM). Na parte esquerda e abaixo
do mapa, aparece parte da “América” em verde, acima da Europa há uma ilha na cor verde, com o nome
de “Inglaterra”, e no centro e acima do mapa, está a “Dinamarca” na cor amarela, escrito em alemão. Ao
redor das pétalas, temos os oceanos, representados pela cor azul. Aparecem também, embarcações para
simular as grandes navegações e criaturas marinhas. O título do mapa é “O mundo inteiro na forma de
uma folha de trevo, que é o emblema da cidade de Hannover, minha amada pátria”, que está escrito em
alemão na parte de cima do mapa.

Com os árabes, a ciência geográfica volta, mesmo que timidamente, a trilhar seu
caminho. De acordo com Andrade (2008), foram retomados estudos do período
grego e romano, e uma das maiores contribuições para esta retomada foi dada
pelos padres Alberto Magno e Tomás de Aquino, que puseram em questão a cren-
ça na esfericidade da Terra no fim da Idade Média e que deu início às discussões
dos Tempos Modernos.

51
UNIDADE 2

MODERNIDADE: período compreendido entre 1453


e 1789. Está ligado também às conquistas do conhecimento
humano e sua autonomia. Mesmo podendo ser definido,
o termo Tempos Modernos é motivo de complexidades,
como aponta Haesbaert (2002):


Em primeiro lugar, há autores que se negam
a utilizar o termo, que seria relativo a um de-
terminado período histórico (geralmente de
difícil delimitação, mas de qualquer forma
já superado). Outros restringem seu sentido
às transformações estéticas propostas pelo
movimento cultural “modernista”. Contudo,
a tendência predominante hoje é a de difu-
são crescente do termo, numa tentativa de
apreender, de um modo mais abrangente,
a complexidade das mudanças sociais de-
sencadeadas com o chamado Iluminismo
racionalista europeu do século XVIII. Para
muitos, o próprio caráter, de alguma forma
cíclico, do capitalismo (intercalando apo-
geus e crises) seria revelador da complexida-
de desse período - tão complexo que alguns
preferem utilizar o termo apenas no plural:
modernidades (HAESBAERT, 2002, p. 35).

Independente das discussões referentes ao significado do ter-


mo, no que tange à Geografia, este foi o período em que esta
ciência muito se desenvolveu. Vejamos o porquê.
A Idade Moderna se inicia com a transição do feuda-
lismo para o capitalismo. Neste contexto, segundo Andrade
(2008), os burgueses que viviam nas cidades e faziam oposi-
ção aos senhores feudais começaram a ter influência junto
aos reis. O aumento da influência da burguesia permitiu
o crescimento das cidades, das funções comerciais, e deu
maior valor ao dinheiro, fazendo com que o sistema feudal

52
UNIDADE 2

declinasse, e os até então servos se transformassem em as-


salariados da indústria.

Como você já deve ter estudado, caro(a) aluno(a), o


capitalismo apresenta características contrárias ao
feudalismo. Nele, temos duas classes, os donos dos
meios de produção e os trabalhadores, que vendem
sua força de trabalho. Neste sistema, busca-se o au-
mento da produção e de novos mercados. É neste con-
texto da procura de mercados consumidores, que a
Geografia volta a ganhar importância. Com as grandes
navegações, novos lugares são descobertos e descritos
pelos geógrafos.

As grandes navegações contribuíram para a expan-


são do conhecimento geográfico a partir da Europa.
Para chegar até a Índia (em busca de especiarias) foi
necessário que os navegadores portugueses tivessem
muita coragem e que os cartógrafos da época defi-
nissem as rotas. Neste período, a matemática era a
principal linguagem da ciência e os conhecimentos
geográficos muito se utilizavam da mesma, principal-
mente, a Cartografia.

A Cartografia continua seu aprimoramento, principalmen-


te, após a descoberta do Novo Mundo. Juan de La Cosa foi
o primeiro cartógrafo a produzir o mapa-múndi contendo
a América, em 1500. Paralelo a este processo, o holandês
Gerard Mercator utilizou todo o conhecimento produzido
até a época para produzir o mapa-múndi que até os dias
atuais leva seu nome.
Durante a Idade Moderna, foram criadas invenções
muito importantes, que auxiliaram os geógrafos da época
e que, em alguns casos, nos servem até os dias atuais. Veja-
mos algumas delas:

53
UNIDADE 2

OLHAR CONCEITUAL

Bússola: sua criação começa a partir do estudo do cam-


po eletromagnético, por Willian Sturgeon em 1825. Vá-
rios protótipos foram criados e até 1885 ainda não havia
sido patenteada. A bússola é um instrumento de navega-
ção e orientação baseado nas propriedades magnéticas
dos materiais ferromagnéticos e do campo magnético
da Terra. Indica sempre o Norte magnético e permite a
localização dos demais pontos cardeais e colaterais.

Imprensa: criada por Johannes Gutenberg entre 1452 e


1453. Surgiu diante da necessidade de reproduzir, trans-
mitir e guardar materiais produzidos à mão. As primei-
ras reproduções foram feitas sob suportes de cera ou
argila. Para a ciência geográfica, a imprensa teve grande
importância, pois por meio da mesma os documentos e
mapas poderiam ser reproduzidos e guardados.

Astrolábio: é um instrumento utilizado para medir a


altura dos astros acima do horizonte. Começou a ser
desenvolvido por Hiparco e Ptolomeu e foi aprimora-
do para a navegação pelos portugueses. A princípio
era produzido por metal e depois por liga de cobre. Foi
utilizado até o século XVII, quando foi substituído por
instrumentos mais científicos, como o telescópio.

54
UNIDADE 2

Além das invenções, outro fator que influenciou no desenvolvimento da Geogra-


fia Moderna foi o descobrimento do continente Americano. Lecioni (1999, p.62)
afirma que “a valorização, recuperação e atualização do conhecimento geográfico
foram decorrência dessa época, fundada em trocas mercantis”. Com o descobri-
mento do Novo Mundo, passaram a existir novas terras e locais inexplorados. A
ideia de que o mundo apresentava apenas um bloco de terras formado por Ásia,
África e Europa foi derrubada.
Cabe destacar que o continente americano foi descoberto devido à procura
por novas rotas para chegar até a Índia, já que as cruzadas da Ásia Central fecha-
ram quase todas as rotas conhecidas.

NOVAS DESCOBERTAS

No site é possível escolher a localidade no mapa-múndi, como continente,


país, estado ou cidade. Ao realizar a pesquisa, aparecem várias opções de
mapas ao longo da história, permitindo comparar e analisar a evolução do
espaço ao longo do tempo.

Durante o século XVI, o conhecimento geográfico esteve principalmente relacio-


nado aos novos territórios conquistados e ao choque entre as diferentes culturas.
Neste período, foram produzidos inúmeros textos descritivos e também dese-
nhados diversos mapas que apresentavam as características do mundo novo. O
primeiro mapa da América foi desenvolvido por Cristóvão Colombo, que além de
navegador também era cartógrafo, contribuindo assim para a ciência geográfica.
O autor José Willian Vesentini (2008) em seu texto “Controvérsias geográficas:
epistemologia e política” destaca alguns pontos de vista dos geógrafos modernos:


A Geografia é uma ciência sintetizadora que conecta o geral com
o especial através do levantamento, do mapeamento e da ênfase no
regional. Ela se ocupa da influência que o meio físico exerce sobre
o Homem e procura interligar o estudo da natureza física com o
estudo da natureza moral para se chegar a uma visão harmonizante
[entre a humanidade e o meio físico] (Alexander Von HUMBOLDT,
meados do século XIX).

55
UNIDADE 2

O objetivo da Geografia não é o de simplesmente reunir e elaborar


uma massa de informações [sobre a Terra ou as regiões], como fa-
ziam os meus predecessores, e sim assinalar as ‘leis gerais’ que expli-
cam a diversidade natural, mostrar a sua conexão com qualquer fato
singular e indicar numa perspectiva histórica a perfeita unidade e
harmonia que existe, por trás da aparente diversidade e capricho que
prevalece no planeta, entre a natureza e o Homem (Karl RITTER,
meados do século XIX).

A Geografia deve ser, em primeiro lugar, um estudo das leis que mo-
dificam a superfície terrestre: as leis que determinam o crescimento e
desaparição dos continentes, suas configurações passadas e presente
[...] A Geografia deve, em segundo lugar, estudar as consequências
da distribuição dos continentes e mares, das elevações e depressões,
dos efeitos da penetração do mar e das grandes massas de água no
clima. Ela deve ainda explicar a distribuição geográfica dos seres vi-
vos, animais e vegetais. E a quarta função da Geografia refere-se aos
grupos humanos sobre a superfície da Terra. Suas distribuições, seus
traços distintos, a distribuição geográfica das etnias, dos credos, dos
costumes, das formas de propriedade e as relações disso tudo com o
meio ambiente [...] O ensino da Geografia deve perseguir um triplo
objetivo. Deve despertar nos alunos a afeição pela natureza. Deve en-
sinar-lhes que todos os seres humanos são irmãos qualquer que seja
a sua nacionalidade ou a sua ‘raça’. E deve inculcar o respeito pelas
culturas ditas ‘inferiores’ (Prior KROPOTKIN, 1885).

A Geografia enquanto um ‘conhecimento da Terra’ seria uma ciência


da Terra [geociência]. Alguns autores, como Gerland, desejam ex-
cluir o Homem da Geografia. Outros desejam conhecer as influên-
cias exercidas pela natureza sobre o Homem. [Contudo] A definição
da Geografia como ciência da Terra não é consequente. A Geografia
pode ser definida como o conhecimento do espaço terrestre, sendo
ao mesmo tempo uma ciência concreta e corológica. Essa distinção
entre ciências abstratas e concretas foi estabelecida por A. Comte.
E foi Kant quem estabeleceu a distinção entre ciências sistemáticas
[como a Física], cronológicas [como a História] e corológicas ou
espaciais [como a Geografia]. Ela procura compreender a diferen-
ciação local dos elementos naturais e humanos [...] O geógrafo que

56
UNIDADE 2

não se preocupa com o conhecimento das regiões corre o perigo


de ficar completamente desprovido de fundamento geográfico. O
conhecimento das regiões, mesmo sem a geografia geral, continua
sendo um conhecimento geográfico. Em contrapartida, a geografia
geral sem o conhecimento das regiões de maneira nenhuma pode
cumprir o papel da Geografia e com frequência situa-se fora do
âmbito desta disciplina (Alfred HETTNER, 1905).

Podemos perceber, por meio das afirmações anteriores, que a Geografia nos tem-
pos modernos poderia ser definida, pelos seus principais autores, como uma
ciência de síntese que aborda aspectos físicos e humanos de uma área, tendo
como objetivo apontar as “leis” que modificam a superfície terrestre.
Os autores citados anteriores são de extrema importância para o conhecimento
geográfico tanto moderno como da Geografia em geral, sendo Alexander Von
Humboldt e Karl Ritter essenciais para a Geografia Moderna. Nesse sentido, cabe
discutirmos suas contribuições:
Alexander Von Humboldt (1769-1859):
foi geógrafo, filósofo, historiador e naturalista ale-
mão. É considerado o pai da Geografia Física. Por
ser filho de família nobre, Humboldt começou a
viajar a partir dos vinte anos. Primeiramente, pas-
sou pelos Países Baixos, Alemanha e Inglaterra,
ao longo do rio Reno. Desenvolveu importantes
estudos na Geografia Física, como a relação entre
as características da fauna e flora de uma região e
a latitude, relevo e condições climáticas. Durante
suas viagens, fez importantes parcerias, como com
o naturalista Georges Leclerc e com o botânico Figura 04 - Alexander von Humboldt.
Aimé Goujaud Bonpland, cuja parceria trouxe
Descrição da Imagem: a ima-
Humboldt para a Venezuela, no qual estudaram
gem apresenta um homem
os rios Amazonas, Orinoco, Atabajo e Negro com por meio de um desenho preto

o objetivo de descobrir o rio que ligava as bacias e branco. Ele está sem barba e
com olhar sério e utiliza vesti-
hidrográficas do Amazonas e do Orinoco. No Bra- mentas de época e tem cabelo
sil, foi impedido de continuar sua viagem. levemente ondulado.

57
UNIDADE 2

Humboldt viajou pela América do Sul entre 1799 e 1804. Explorou e descreveu
toda a área do ponto de vista científico. Analisou aspectos geográficos e espé-
cies que até então os europeus desconheciam. Dessa forma, aspectos e acidentes
geográficos foram denominados em sua homenagem, como o rio Humboldt, a
corrente de Humboldt e até cadeias de montanhas.
Este grande clássico realizou expedições por vários lugares, como a Europa,
Estados Unidos, América Latina, Rússia e diversos outros lugares. Em suas viagens,
produziu relatos e ilustrações de tudo aquilo que ainda não lhe era conhecido.
Sua obra principal foi Kosmos, na qual procurou, em cinco volumes, elaborar
uma descrição física do mundo. Com muita genialidade, apresentou o mundo
de uma maneira nunca vista antes. A obra foi publicada aos 76 anos do autor e
se tornou um clássico.
Karl Ritter (1779-1859): assim como Hum-
boldt, foi também geógrafo e naturalista. Os dois
foram precursores da Geografia Moderna. Ritter
ocupou também o cargo de professor na Uni-
versidade de Berlim. Por ser de família modesta,
realizou viagens apenas pela Europa. Durante as
expedições, não se preocupava com a descrição
das paisagens, e sim em estabelecer as bases para
o conhecimento geográfico.
Mesmo sem conhecer a África e a Ásia, es-
Figura 05 - Karl Ritter
creveu vários trabalhos sobre esses continentes,
Descrição da Imagem: a ima-
pois sempre estudou muito. Destacavam-se em
gem é composta por um de-
seus estudos as relações homem/natureza e por senho em preto e branco para

esse motivo é tido como um geógrafo de visão representar Karl Ritter. Trata-se
de um homem de meia idade,
antropocêntrica, ou seja, que utiliza a Geografia com costeletas, sem barba e
em função do homem. usando óculos redondos e pe-
quenos. O mesmo utiliza traje
Ritter elaborou o princípio geográfico da ana- de época.
logia, que tinha por objetivo comparar diferentes
áreas da superfície terrestre, destacando as semelhanças e diferenças entre as
elas. Suas principais obras foram: Europa, Quadros Geográficos, Históricos e
Estatísticos; Erdkund; Comparative Geography e A Geografia de Acordo com a
Natureza e História do Homem.

58
UNIDADE 2

Humboldt destacava a importância dos estudos de Ritter na Geografia, prin-


cipalmente, devido às relações do homem com a natureza:


Os grandes horizontes da geografia comparada não começaram a
tomar solidez e brilho até a aparição da obra admirável intitulada
Estudo da Terra em suas relações com a Natureza e com a História
do Homem, na qual Karl Ritter caracterizou com tanta força a fisio-
nomia do nosso globo, e ensinou a influência de sua configuração
exterior, tanto nos fenômenos físicos que tem lugar em sua super-
fície, quanto nas emigrações dos povos, suas leis, seus costumes e
todos os principais fenômenos históricos dos quais é teatro. E, já ao
finalizar a primeira parte, encontramos uma nova referência relativa
a Ritter: estava reservado a Karl Ritter o quadro da geografia compa-
rada em toda sua extensão e na sua íntima relação com a história do
Homem (HUMBOLDT, 1944, p.41-42 apud OSTUNI, 1967, p.34).

Ritter utilizava evidências históricas no estudo da relação entre homem e na-


tureza. Para o autor, o homem era o sujeito de maior importância na superfície
terrestre. Ao invés de apenas descrever aspectos naturais, procurava compreender
o porquê de tais acontecimentos.
Como você deve ter compreendido, caro(a) aluno(a), algumas foram as fa-
ses pelas quais a ciência geográfica passou até se transformar na Geografia que
conhecemos hoje. No período da Antiguidade, a Geografia obteve grandes avan-
ços em seu conhecimento, mesmo ainda não estando sistematizada como uma
ciência. Neste contexto foram os gregos aqueles que mais contribuíram para a
consolidação da Geografia, produzindo estudos e mapas de diversas áreas do
mundo. Cabe destacar que os pensadores que fizeram as contribuições não eram
geógrafos propriamente ditos, mas sim observadores que escreviam sobre o com-
portamento da natureza e do homem na superfície terrestre.
Durante o período da Idade Média, a Geografia sofreu retrocesso, já que
após a queda do Império Romano e ascensão dos árabes, o conhecimento ficou
estagnado e nada de novo foi produzido. Somente quando os árabes começam
a traduzir os estudos realizados pelos gregos é que, ainda timidamente, volta a
ser feito Geografia.

59
UNIDADE 2

Com o término da Idade Média surgem os Tempos Modernos, que têm início
com a discussão referente à esfericidade da Terra. Neste período, voltam a ser
realizados estudos na Geografia e a mesma finalmente se consolida como ciência,
chegando até as cadeiras da Universidade. O intenso desenvolvimento da ciência
geográfica foi impulsionado, principalmente, por dois fatores: as grandes navega-
ções e o Descobrimento da América. A Geografia passa a ser definida como uma
ciência de síntese que aborda os aspectos da natureza e do homem na superfície
da Terra. Diante desse panorama, como a Geografia atinge o “status” científico?
Para compreender esse questionamento, precisamos considerar o contexto
espacial e histórico no qual a Geografia se desenvolve. Vejamos:
A Geografia científica, de acordo com Moreira (1994), nasceu no período
de 150 anos que se estende desde 1750. Mas é filha, sobretudo, do século XIX.
Nasce entre os alemães Humboldt, Ritter, Kant e Ratzel, entre os mais proemi-
nentes. Um detalhe significativo da evolução da Geografia é o seu caráter mar-
cadamente nacional. Fala-se, por exemplo, em “escola alemã”, “escola francesa”,
“escola anglo-saxônica”. O discurso do pensamento geográfico é o resultado dos
embates que dominaram as relações entre o imperialismo alemão e francês ao
longo do século XIX.
A partir do século XVI, a Alemanha passa a apresentar produções significa-
tivas no âmbito da Geografia. A Reforma Protestante, ocorrida após a Idade Mé-
dia, trouxe à tona diversas discussões sobre o ensino, de forma que no currículo
escolar passaram a existir somente disciplinas que pudessem ser úteis à doutrina
evangélica. Pereira (2005) afirma que:


A Reforma imprime uma nova orientação à Geografia na Alemanha
luterana, pois enquanto para o geógrafo católico o objetivo bási-
co da geografia seria “desenvolver a imagem do mundo criado por
Deus”, para o geógrafo luterano a preocupação central reside na
demonstração de “como funciona o mundo criado por Deus”. Vê-se,
então, que os geógrafos luteranos colocam-se diante da tarefa de não
apenas reestruturar sua disciplina, como são obrigados a fazê-lo
para enquadrar o ensino da Geografia dentro de uma nova atitude
mental. (PEREIRA, 2005, p. 47)

60
UNIDADE 2

A Geografia alemã valorizava muito o espaço, pois ele era visto como come-
ço, meio e fim de tudo. Os estudos sobre a formação e território dos países,
distribuição e quantidade da população eram muito discutidos devido a sua
importância. Até o século XIX, a Alemanha ainda não era unificada. Seu terri-
tório era composto por 39 estados soberanos, liderados pelo império Austríaco
e governados por uma assembleia composta por representantes de todos os
estados. Somente em 1870, a Prússia, após vitória na Guerra Franco-Prussiana,
conseguiu unificar a Alemanha.
Compreender o espaço foi muito importante para o imperialismo alemão. Por
Imperialismo, caro(a) aluno(a), consideramos a política de expansão e domínio
territorial de uma nação sobre outra. Os estudos realizados pelos geógrafos da
época, como áreas ricas em recursos minerais, por exemplo, auxiliavam na esco-
lha dos lugares a serem invadidos pelas tropas alemãs.
Um exemplo da contribuição dos geógrafos no processo de expansionismo
alemão está ligado à disputa pela região da Alsácia-Lorena. Ela foi disputada com
a França, principalmente, pela quantidade de minério de ferro e carvão existentes
na área, recursos que poderiam ser amplamente explorados e que foram desco-
bertos pelos geógrafos da época.

61
UNIDADE 2

Devido ao período político e econômico pelo qual passava, a Alemanha procu-


rava cada vez mais novos mercados consumidores para os produtos fabricados
em suas indústrias e também matérias-primas, alavancando ainda mais sua
política imperialista.
Neste contexto de expansionismo, a Alemanha criou projetos ambiciosos. Um
deles foi a criação da ferrovia Berlim-Bagdá, com o objetivo de conectar o país
às rotas comerciais mais importantes e facilitar o acesso ao petróleo do Oriente
Médio. Na realização da obra foram feitas alianças com outros países como a Itália
e também com os Impérios Austro-Húngaro e Turco Otomano.
A aliança com a Itália foi realizada devido à semelhança pela qual os dois
países passavam no contexto industrial. Já com os Impérios Austro-Húngaro e
Turco Otomano, a aliança era necessária devido a eles encontrarem-se na rota
da ferrovia. Essa evolução da Alemanha e Itália começou a ameaçar as potências
já estruturadas, como Rússia, Inglaterra e França. Os russos temiam que o ex-
pansionismo alemão atingisse a região dos Balcãs. Já Inglaterra e França tinham
receio de que a Alemanha dificultasse suas relações com os árabes. Diante dessa
intensa disputa por território foi originada a Primeira Guerra Mundial.
Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha, considerada a principal
culpada pela guerra, teve muitas perdas territoriais, foi obrigada a reduzir seu
exército, impedida de fabricar armas e a pagar uma altíssima indenização às
nações vitoriosas.

62
UNIDADE 2

Que tal dialogarmos um pouco mais sobre a contribuição


de Humboldt e Ritter para a Geografia Moderna? Acesse o
QR Code para ampliar o seu conhecimento sobre o assunto.

NOVAS DESCOBERTAS

Livro: Fundamentos Epistemológicos da Geografia


Autor: Luis Lopes Diniz Filho
Editora: Intersaberes
Acesse esse livro pela Biblioteca Pearson:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/6388
Em Fundamentos Epistemológicos da Geografia, de Luiz Lopes Diniz Filho, o lei-
tor é convidado a acompanhar a trajetória do homem e de sua relação com
o ambiente em que vive sob o ponto de vista dos mais diferentes autores e
teorias, de modo a analisar a história da Geografia e os principais elementos
que a compõe. O livro faz parte de uma coleção composta por 8 volumes.

CONSTRUA A SUA PRÓPRIA BÚSSOLA: é possível construir em casa uma


bússola de baixa precisão. Para isso, você precisará dos seguintes materiais: ímã,
agulha, rolha de cortiça, fita adesiva, faca e vasilha com água.
Corte a rolha no formato de um disco, com um centímetro de altura.
Passe a agulha em uma das extremidades do ímã cerca de trinta vezes no
mesmo sentido, sem que o movimento seja de ida e volta.
Fixe a agulha no disco com ajuda da fita adesiva.
Coloque o disco sobre a vasilha com água.
Quando você mexer na agulha, ela deve voltar para a mesma posição, que
neste caso indica o Norte. Essa proposta pode ser utilizada para o Ensino de
Geografia na etapa da Educação Básica.

63
Agora que já estudamos períodos essenciais para compreensão da Geografia e seu
processo de sistematização enquanto ciência, vamos aplicar esses conteúdos na
resolução de atividades.

1. Durante seu processo de consolidação como ciência, a Geografia apresentou grandes


pensadores, que por suas importantes análises, tornaram-se clássicos. Dessa forma,
considere (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas.

( ) Inicialmente, a Geografia esteve diretamente vinculada às descrições e análises


físicas a respeito da superfície terrestre.
( ) Já durante a Idade Média, a Geografia passou a apresentar seu foco em análises
humanas, corroborando para a superação da fase chamada Tradicional e dando
um novo passo: a utilização do método quantitativo.
( ) Devido à sua intensa contribuição para a ciência geográfica, Alexander Von Hum-
boldt é considerado o pai da Geografia Física.
( ) Mesmo antes de a Geografia aparecer como uma ciência organizada, muitos
cientistas contribuíram para que análises nesse campo fossem realizadas. Den-
tre eles, podemos destacar uma série de naturalistas, cujo conhecimento sobre
diferentes aspectos naturais da superfície terrestre contribuiu efetivamente para
o desenvolvimento da ciência geográfica.
( ) Ao elencarmos os principais pensadores clássicos da Geografia é inegável a im-
portância dos alemães.
A sequência correta é:

a) V, V, V, F e F.
b) V, F, V, V e V.
c) F, F, V, V e F.
d) F,V, V, V e V.
e) V, V, V, V e F.

64
2. A respeito do processo evolutivo da Geografia em diferentes períodos históricos, leia
as asserções a seguir:

No período da Antiguidade, os relatos de viagens, descrição de paisagens e fenôme-


nos naturais, levantamentos estatísticos simples e outras observações, eram desig-
nados como Geografia.

PORQUE

Alexander Von Humboldt e Karl Ritter são autores fundamentais para compreensão
do desenvolvimento da Geografia na Modernidade. Foram os primeiros a pensar a
sistematização da Geografia a partir das viagens que realizaram por inúmeros lugares
do mundo, fato este que contribuiu para que ela se tornasse uma ciência.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta:

a) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa


correta da primeira.
b) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma jus-
tificativa correta da primeira.
c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda, uma proposição
falsa.
d) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda, uma proposição ver-
dadeira.
e) Tanto a primeira quanto a segunda asserção são proposições falsas.

3. Durante o período histórico, classificado como Antiguidade, a Geografia alcançou


grande desenvolvimento devido, principalmente, aos gregos. Neste período esteve
associada à outra área do conhecimento. Assinale a alternativa que apresenta a área
em questão.

a) Sociologia.
b) Positivismo.
c) Cartografia.
d) Astronomia.
e) Física.

65
4. Durante o período da Antiguidade, alguns povos foram essenciais para a produção
do conhecimento geográfico, mesmo que ainda não houvesse a sistematização da
Geografia. Nesse contexto, a contribuição de gregos e romanos é fundamental para
a ciência geográfica que se realiza nos demais períodos históricos. Sobre a Geografia
desenvolvida por esses povos, leia as asserções a seguir:

Os geógrafos romanos estiveram mais preocupados com a Geografia descritiva, in-


dicando povos distribuídos pelo território e áreas ricas em produtos comerciáveis.
Dessa forma, a Geografia passava a servir como arma na expansão do império.

PORQUE

Se comparados, gregos e romanos desenvolveram a ciência geográfica de maneira


semelhante, dando ênfase à caracterização de áreas e à produção de mapas que
facilitassem as grandes navegações realizadas por esses povos.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta:

a) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa


correta da primeira.
b) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma jus-
tificativa correta da primeira.
c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda, uma proposição
falsa.
d) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda, uma proposição ver-
dadeira.
e) Tanto a primeira quanto a segunda asserções são proposições falsas.

66
3
Sistematização
da Ciência
Geográfica
Me. Juliana Paula Ramos Boava

Iniciando a nossa terceira unidade, e a primeira característica a ser


ressaltada nela são as escolas do pensamento geográfico, formadas
em diversos países do mundo. Entre as escolas alemã e francesa hou-
ve um grande embate teórico: enquanto a alemã colocava que o meio
natural determinava as atitudes humanas, a escola francesa defendia
que o meio traz diferentes possibilidades ao desenvolvimento huma-
no. Destacamos, também, as principais escolas do pensamento geo-
gráfico, como a alemã, francesa, norte-americana, soviética e inglesa.
Tais escolas formularam diferentes formas de analisar o espaço em
que vivemos, sendo duas dessas formas os conceitos de Determinis-
mo e Possibilismo. Para finalizar nossa discussão, apresentaremos
alguns dos principais geógrafos desse período.
UNIDADE 3

Atualmente, a Alemanha aparece como um dos principais países da Europa. Sua


economia é extremamente forte, fazendo com que seja, também, um dos países
mais desenvolvidos do mundo. O PIB alemão é ultrapassado apenas por Estados
Unidos, China e Japão.
O desenvolvimento expressivo da Alemanha é reflexo da forma como o país
se organizou historicamente. A partir do século XIX, o país passou por unifica-
ção, ou seja, uma série de territórios que apresentavam a mesma raiz cultural se
juntaram para a formação de um novo território, maior e mais forte. A unificação
foi liderada pela Prússia, a partir das ações comandadas por Otto von Bismarck.
Durante o processo de unificação, muitos foram os conflitos. Dentre eles, pode-
mos citar a Guerra Franco-Prussiana, caracterizada pela disputa por estados entre
esses dois territórios. Nesse caso, a França foi derrotada e o confronto entre tais
potências perdurou além do conflito citado, atingindo, inclusive, o meio acadêmico.
A Geografia científica se consolida, principalmente, a partir do século XIX,
período em que se torna um curso de graduação. Inicialmente, esse processo
ocorre em território europeu, com destaque para países como Alemanha e França.
Em decorrência desse importante fato, a Geografia assume uma postura que pos-
sa corresponder às exigências do mundo acadêmico, ou seja, passa a se preocupar
em estabelecer seu objeto de estudo, principais teorias científicas, metodologias
entre outros. Nesse contexto, devido a estar se sistematizando ao mesmo tempo
em diferentes países, a Geografia se desenvolve com base em aspectos políticos,
econômicos e sociais característicos dos diferentes países do mundo.
As Escolas do pensamento geográfico nascem da criação de diferentes argu-
mentos utilizados pelos países na construção da Geografia, ou seja, a consolida-
ção da ciência geográfica em cada país foi feita com base em critérios e estudos
diferentes, que resultaram em teorias e conceitos distintos. Neste contexto, temos
a Escola Alemã, a Escola Francesa, a escola Anglo-Saxônica, Escola Britânica e
Escola Soviética como sendo as principais.
Inicialmente, a Geografia que se sistematiza em território alemão e francês
apresenta algumas diferenças. Tais divergências estavam relacionadas, princi-
palmente, às teorias elaboradas por cada um desses países. Entretanto, mesmo
havendo distinção, muitas teorias e conceitos prevaleceram independente do país
em que foram elaboradas. Dessa forma, investigue as primeiras teorias propostas
pela Geografia científica e aponte uma que, ainda na atualidade, continua sendo
aceita pelos geógrafos.

68
UNICESUMAR

A partir da experiência proposta, escreva em seu Diário de Bordo suas im-


pressões a respeito dos seguintes aspectos: as teorias que deixaram de ser aceitas
apresentaram forte arcabouço teórico para comprová-las? Foram testadas antes
de serem validadas? As características dos países foram determinantes na visão
que apresentavam sobre o espaço geográfico?

ESCOLA ALEMÃ: Moreira (1994) coloca


que é entre os alemães que, por volta de 1754,
a Geografia inicia seu caminho para o sta-
tus científico. Immanuel Kant (1724-1804)
foi de extrema importância nesse processo.
Por cerca de 40 anos, Kant lecionou na Uni-
versidade de Koenigsberg o que chamamos
hoje de Geografia Física. A Geografia que se
desenvolvera na Alemanha, e mais tarde no
mundo, nasce da filosofia Kantiana.
A escola alemã surge em um período
de constituição do Estado alemão, no qual a
Geografia é utilizada como um instrumento
de poder, colaborando na unificação do ter-
ritório e no processo de expansionismo. A

69
UNIDADE 3

escola aprofunda as relações entre sociedade e natureza e também é denominada


de Escola Determinista.
O conceito de “Determinismo Geográfico” foi criado por Friedrich Ratzel,
que em suas obras observava o ser humano a partir da ótica da biologia, afirman-
do que as condições naturais determinavam a vida humana. Ratzel formulou sua
teoria baseada na obra de Charles Darwin, que tratava da evolução das espécies.
Dessa forma, as raças e etnias mais fortes, ou seja, aquelas que se adaptam melhor
ao meio, dominariam as raças consideradas inferiores.
Tendo como base o Determinismo, o Estado alemão se colocou como uma
sociedade mais evoluída e que tinha por objetivo a dominação das raças inferio-
res. Mais uma vez, o expansionismo encontra justificativas na ciência para conti-
nuar a ser executado, aliando as necessidades políticas e econômicas às questões
naturais e biológicas.
Muitas teorias foram sendo desenvolvidas para comprovar a influência do
meio no desenvolvimento das sociedades. Carl Ritter elaborou um estudo rela-
cionando o litoral dos países com o desenvolvimento dos mesmos. Segundo o
autor, países com litoral muito retilíneo não se desenvolveriam, ao contrário dos
países com litoral recortado.
Outro fator determinante no desenvolvimento humano seria o clima. Foi
difundida a ideia de que os povos localizados nas áreas mais quentes do globo
(próximas ao Equador) seriam mais “preguiçosos” e, portanto, subdesenvolvidos.
Já os povos, localizados nas altas latitudes, seriam mais desenvolvidos, devido às
dificuldades que teriam de superar para realizarem as tarefas cotidianas. Além
do clima, outros fatores também eram analisados para determinar o desenvolvi-
mento dos povos, como o solo, relevo, rede hidrográfica e outros.

70
UNICESUMAR

ZONAS TÉRMICAS DA TERRA

ZONA GLACIAL ÁRTICA

ZONA TEMPERADA DO NORTE

ZONA TROPICAL

ZONA TEMPERADA DO SUL

ZONA GLACIAL ANTÁRTICA

Figura 1 - Zonas Térmicas da Terra / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta o desenho do mapa-múndi, destacando apenas o contorno


dos países do mundo. O mapa está dividido em cinco faixas, cada uma delas com seu respectivo nome,
e que representam as zonas térmicas da Terra. A primeira e a quinta faixa destacam as zonas glaciais.
A segunda e quarta faixas representam as zonas temperadas. A faixa central destaca a zona tropical.

O determinismo alemão foi utilizado como forma de “previsão” do desenvolvi-


mento dos povos, para que o estado pudesse detectar quais seriam os territórios
com maior possibilidade de desenvolvimento. Vejamos como a teoria Determi-
nista poderia ser aplicada:

71
UNIDADE 3

Clima tropical

Quente Úmido
Perfil do homem:
- Baixa estatura
Inviabiliza a migração - Muito ocioso
- Baixa inteligência
Vegetação diversificada
e perene

Fácil obtenção de
alimentos

Figura 2 - Percepção do desenvolvimento humano em áreas quentes. / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um esquema referente à teoria do Determinismo geográ-


fico. São cinco retângulos do lado esquerdo da imagem e ao lado direito um retângulo com uma seta
indicando o perfil dos povos que residem em áreas quentes: estatura pequena; muito ocioso e baixa
inteligência. Cada retângulo destaca as seguintes palavras: primeiro (clima tropical), segundo (quente
e úmido), terceiro (inviabiliza a migração), quarto (vegetação mais diversificada e perene) e quinto (fácil
obtenção de alimentos).

- A visão Determinista considerava que os povos residentes em áreas quentes


apresentavam menor tendência ao desenvolvimento, visto que o acesso aos itens
básicos para sobrevivência, como a alimentação, por exemplo, ocorria de maneira
fácil, sem necessitar muito esforço.

Clima temperado

Quatro estações bem


definidas

Verões Invernos
quentes frios Perfil do homem:
- Porte físico forte
- Muito ativo e produtivo
Necessária migração - Alta inteligência

Vegetação escassa
durante parte do ano

Necessidade de
armazenamento de alimentos

Figura 3 - Percepção do desenvolvimento humano em áreas quentes. / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um esquema referente à teoria do Determinismo geográ-


fico. São cinco retângulos do lado esquerdo da imagem e ao lado direito um retângulo com uma seta
indicando o perfil dos povos que residem em áreas frias: porte físico mais forte; muito ativo e produtivo
e alta inteligência. Cada retângulo destaca as seguintes palavras: primeiro (clima temperado), segundo
(quatro estações bem definidas), terceiro (necessidade de migração), quarto (vegetação escassa durante
parte do ano) e quinto (necessita armazenar alimentos).

72
UNICESUMAR

Já os povos residentes em áreas frias, devido ao clima severo, precisavam se es-


forçar mais para ter acesso aos alimentos, bem como migrar de território de
acordo com o período do ano. Todo esse esforço contribuiria efetivamente para
o fortalecimento desses povos, tornando-os mais desenvolvidos intelectualmente,
validando a necessidade de expansão de seus territórios.
Mesmo com os estudos realizados, percebe-se que fatores do meio, como o
clima, não podem determinar a forma como os países se desenvolvem. Atualmen-
te, essa ideia não se aplica mais, visto que o desenvolvimento está relacionado às
condições econômicas e sociais de um território.

PENSANDO JUNTOS

Nos dias atuais, muitas vezes, ainda nos deparamos com posturas Deterministas por par-
te da sociedade. Tais posturas aparecem em pensamentos do tipo “somos uma popula-
ção calorosa e comunicativa porque vivemos em um país de clima tropical” ou “aqueles que
nascem/residem em áreas extremamente pobres possuem maiores chances de se tornarem
criminosos”. Você já se pegou pensando algo do tipo? Se sim, reflita sobre como evitar tais
posicionamentos.

As ideias do determinismo geográfico foram utilizadas pelo Nazismo. Neste


caso, a raça ariana (alemã), naturalmente, se desenvolveria mais que as demais e,
portanto, precisaria de mais recursos e maior território, dando direito aos alemães
de conquistarem as áreas que quisessem e até perseguir e exterminar as raças
consideradas inferiores.
Ratzel, ao aprimorar o conceito de determinismo, cria a teoria do Espaço Vital,
que seria a fração do território necessária para o desenvolvimento de um povo, do
ponto de vista social e econômico. O autor coloca que a terra é um elemento in-
dispensável à vida humana e que a sociedade deve ter recursos naturais suficientes
para supri-la, podendo expandir seu território para obter os recursos necessários.
De acordo com Moreira (1994), as obras Antropogeografia e Geografia e
Política, de Friedrich Ratzel, marcam o fim da hegemonia da escola alemã. Era
preciso responder ao apetite alemão com as armas que este estava usando. A
reação começa a surgir no fim do século XIX, quando nasce a escola francesa.

73
UNIDADE 3

ESCOLA FRANCESA: a escola francesa data da primeira metade do sé-


culo XX e tem como principal geógrafo Paul Vidal de La Blache (1845-1918), o
primeiro a ocupar uma cadeira universitária na França. La Blache aceitava, até
certo ponto, a influência do meio sobre o homem e considerava a Geografia
uma ciência “dos lugares” (ANDRADE, 2006).
Na França, temos o surgimento do Possibilismo (teoria contrária ao deter-
minismo alemão), que coloca que o homem, dependendo das condições técnicas
e do capital que dispunha, poderia exercer influência sobre o meio. Nesta linha
de pensamento, no qual o meio físico é suporte para a sobrevivência humana, La
Blache cria a noção de gênero de vida, que seria o conjunto de atividades que os
homens executam para se adaptar aos desafios do meio geográfico.
No Possibilismo, a natureza passa a ser considerada apenas fornecedora de
possibilidades, sendo o homem o agente modelador do espaço, aquele que apro-
veita e gerencia os recursos naturais existentes. Dessa forma, a natureza não é
responsável pela evolução das sociedades, e sim o contrário. Para os possibilistas,
a pobreza de uma população está relacionada aos recursos que não são aprovei-
tados da natureza.

74
UNICESUMAR

Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007) colocam que a França, para deslegitimar a


reflexão geográfica alemã, deveria fundamentar o expansionismo francês. Com
isso, a Geografia passou a ser introduzida como disciplina em todas as séries do
Ensino Básico. Os autores ainda afirmam que:


A análise lablachiana deveria ter o seguinte encaminhamento:
observação de campo, indução a partir da paisagem, particulari-
zação da área enfocada (traços históricos e naturais), comparação
das áreas estudadas e do material levantado e classificação das
áreas e dos gêneros de vida em séries de tipos genéticos, devendo
chegar, no fim, a uma tipologia (PONTUSCHKA; PAGANELLI;
CACETE, 2007, p. 44).

Além de La Blache, a escola francesa conta também com Emanuel de Martonne,


Camille Valloux, Max Sorre e outros. Muitos dos geógrafos franceses aceitaram
as ideias de La Blache apenas em algumas partes, discordando de outras, fazendo
com que a escola da França não apresentasse uma estrutura hegemônica.
Emanuel de Martonne elaborou estudos, principalmente, no campo da Geo-
grafia Física, e mais precisamente na evolução do relevo. Foi muito influenciado
por W. M. Davis, geógrafo norte-americano. Já Camille Valloux escreveu traba-
lhos na Geografia Humana, ligados à geografia histórica e política. Max Sorre
possuía postura ambientalista e se baseava na área biológica para explicar os
fatos geográficos.
A escola francesa se caracterizou por dar muita importância à descrição dos
fenômenos geográficos em vez de explicá-los. No cenário mundial, criado após a
Segunda Guerra Mundial, os geógrafos franceses foram chamados para participar
da reconstrução e do planejamento do território, fazendo com que as explicações
e diagnósticos fossem mais importantes que a descrição.
Na guerra entre as escolas, Moreira (1994) coloca que a francesa saiu como
grande vitoriosa. O Possibilismo substituiu a ideia do determinismo alemão, uma
vez que as possibilidades do homem dominar seu meio são muito amplas, tanto
é que podemos encontrar em meios iguais culturas diferentes e vice-versa.

75
UNIDADE 3

ESCOLA ANGLO-SAXÔNICA: desenvolveu-se a partir da segunda me-


tade do século XIX e foi estimulada pela chegada de dois geógrafos suíços nos
Estados Unidos, Arnold Guyot e Louis Agassiz. Tais geógrafos realizaram estudos
de Geografia Regional e Geografia Física (geomorfologia).

Devido à influência dos geógrafos suíços, a Geografia Física teve maior destaque
no continente americano. Willian Morris Davis e J. W. Powell foram destaque no
campo da Geomorfologia. Na área da Geografia Humana existiam duas escolas:
Chicago e Berkeley.
Em Chicago, os geógrafos buscavam muita inspiração em Ratzel, sendo, por-
tanto, extremamente deterministas, fato este que promoveu a expansão para o
Oeste dos Estados Unidos, no qual tribos indígenas foram dominadas, e para
diversas áreas do país. Estudos indicam que os geógrafos acreditavam que os
povos das áreas temperadas deveriam dominar aqueles de áreas tropicais.
Já em Berkeley, os estudos estavam direcionados à categoria histórico-cultu-
ral. Carl Sauer, principal geógrafo dessa escola, analisou a adaptação do homem
ao meio, já que por se tratar de uma área de clima desértico, o homem deveria
aprender a lidar com diferentes situações e adaptar-se.
Mesmo tendo citado alguns geógrafos norte-americanos, é sabido que o
grande geógrafo da escola anglo-saxônica é Richard Hartshorne, autor de obras
ligadas à epistemologia (estudo da Geografia como ciência). O autor apresentou
duas formas de se analisar um fato: a partir da região, ou seja, do particular,
caracterizando uma Geografia Ideográfica, ou a partir do geral, denominado de
Geografia Nomotética.

76
UNICESUMAR

Na escola anglo-saxônica, os geógrafos começam a fazer a Geografia “Quan-


titativa e Teorética” em oposição à Geografia de origem europeia. Assim, em vez
de descrever a paisagem, os geógrafos a matematizaram, ou seja, analisaram sob
padrões matemáticos. No lugar da pesquisa de campo, aparece o uso do compu-
tador, tornando as descrições subjetivas.
ESCOLA BRITÂNICA: Andrade (2006) coloca que a escola britânica foi
muito influenciada pela francesa, valorizando estudos regionais e gêneros de
vida. Essa escola está ligada em grande parte às Universidades de Cambridge e
Oxford. Os ingleses tinham como objetivo principal conhecer os problemas e
dominar os povos das áreas a serem colonizadas. Nos estudos ingleses, observa-se
o comprometimento da Geografia com a ideologia do país.

Para exercer sua dominação sobre outros povos, os ingleses precisavam analisar a
importância das comunicações e das relações entre o dominante e os dominados.
Neste contexto, a Geopolítica adquire importância e respeito, pois ela é que trata
das questões colocadas.
Como geógrafo inglês de destaque, temos Helford Mackinder, autor de vá-
rios livros e que sintetizou a questão Geopolítica mundial em 1904. Mackinder
afirmou que na superfície terrestre existem áreas coração ou países pivô, que
se encontram na região central e podem dominar o restante do mundo, pois

77
UNIDADE 3

têm melhores condições de exercer sua influência. Como áreas coração, o autor
considerou Europa, Ásia e África do Norte. Por meio da análise de suas obras,
pode-se notar que Mackinder apresentava concepções deterministas.

Figura 4 - Países pivô. / Fonte: Cairo (2008)

Descrição da Imagem: a imagem representa o mapa-múndi em um formato oval. O objetivo é destacar


a chamada “área pivô”, formada por países da Europa. O mapa está em preto e branco, representando
os países por meio de um contorno deles. A área desértica do continente africano está destacada por
rachuras.

Os ingleses utilizavam a Geografia tanto para uso externo quanto interno. Durante
a Segunda Guerra Mundial, o geógrafo Dudley Stamp orientou o planejamento
regional para reorganizar o território e melhorar a distribuição de alimentos. Em
1930, mapeou o uso da Terra do Reino Unido, destacando as áreas cultiváveis,
pastagens, florestas, campos e áreas construídas. O trabalho foi realizado com o
auxílio de professores de Geografia e seus alunos. Dudley elaborou também estudos
urbanos, com o intuito de organizar e otimizar a cidade de Londres no pós-guerra.
ESCOLA SOVIÉTICA: a escola russa, assim como outras, sofreu grande
influência da escola alemã. Neste caso, a proximidade entre os países contribuiu
para o intercâmbio de conhecimento. Na escola soviética, os estudos se concen-

78
UNICESUMAR

travam principalmente na climatologia e pedologia, devido às características


climáticas do país, que sempre foram muito severas.
Dentre os principais geógrafos soviéticos, podemos destacar Kropoktin e
Doukontchev. O primeiro elaborou importantes estudos sobre erosão glacial e
realizou explorações pelas terras árticas, registrando diferentes fenômenos re-
lacionados à Tundra (vegetação de áreas de baixas temperaturas). Foi também
ativista e revolucionário, chegando a ser considerado fundador da vertente anar-
co-comunista. Durante sua militância, foi preso diversas vezes. Seu funeral, em
1921, marcou o último grande encontro de anarquistas. Doukontchev teve como
principal trabalho o estudo relacionado às formações vegetais do território russo,
tentando classificar as paisagens de acordo com a fitogeografia.

Os geógrafos russos também prestavam serviços na organização do espaço agrá-


rio e industrial, além de proporem planos de ação para ocupação de áreas desérti-
cas da Ásia Central. Os soviéticos foram os primeiros a compreender a Geografia
como ciência que pode ser aplicada no planejamento do território.
Você deve ter percebido que não mencionamos a escola brasileira, certo?
Isso se deve ao fato de a Geografia científica, no Brasil, apresentar suas bases em
outra escola do pensamento geográfico: a escola francesa. Vejamos como se deu
esse processo.
A Geografia no Brasil tem início com o descobrimento do país pelos por-
tugueses. Inicialmente, eram realizadas descrições e mapeamentos da Terra que

79
UNIDADE 3

acabara de ser descoberta e conquistada. Pero Vaz de Caminha e João de Faras


foram os primeiros especialistas a escrever sobre o Brasil.
Pero Vaz de Caminha foi escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral e escreveu
ao rei de Portugal crônicas que descreviam o Brasil, tanto nas características físi-
cas (recorte do litoral, vegetação, clima), quanto humanas (presença indígena na
área). Já João de Faras foi astrônomo e cartógrafo e produziu material referente
à astronomia do hemisfério Sul e mapas da região.
Durante os séculos XVI e XVII, o material produzido era essencialmente
descritivo. A partir do século XVIII começam a ser realizados levantamentos
sistemáticos sobre as características físicas do Brasil, além de mapeamento do
território para delimitação das fronteiras.
A primeira obra de compilação geográfica do Brasil foi editada no século
XIX, pelo padre Manuel Aires de Casal, intitulada como Corografia Brasílica. Já
a primeira obra especializada, em um único assunto, foi criada por Eduardo José
de Morais, que classificou as bacias hidrográficas brasileiras. Ainda no século XIX,
grandes pensadores como Humboldt, Elisée Reclus e Louis Agassiz escreveram
obras sobre o Brasil.
A Geografia, como disciplina escolar, surge no Brasil, em 1837, com a criação
do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Neste período, os professores de Geogra-
fia não possuíam formação acadêmica para ensinar tal disciplina. Este quadro
começa a ser revertido com a fundação do Curso Livre Superior de Geografia
no ano de 1929, curso cujo principal objetivo era o de enaltecer o nacionalismo
entre os estudantes.

80
UNICESUMAR

A Geografia científica brasileira começou a se formar a partir do século XX, mais


precisamente na década de 30, pois até então os estudos geográficos desenvol-
vidos estavam relacionados apenas às descrições e levantamentos estatísticos.
Andrade (1994) coloca que a Revolução de Trinta abriu perspectivas de expansão
e diferenciação da economia brasileira, colocando em xeque as velhas estrutu-
ras, entre elas as do ensino baseadas em faculdades isoladas e com preocupação
apenas de formação profissional.
Mesmo antes da Revolução de Trinta, um importante geógrafo já se destacava
na questão da consolidação da Geografia científica: Delgado de Carvalho. Este
criticava a Geografia que era produzida pelos Institutos e Sociedades, alegando
que esse tipo de produção científica não possuía rigor metodológico.
Cabe ressaltar que a Revolução de Trinta acabou com o predomínio das oli-
garquias na política brasileira. Até então, o país passava pela política do “Café com
Leite”, no qual paulistas e mineiros se alternavam no governo do país. Revoltados
com essa situação, um grupo de oligarquias dissidentes de Minas Gerais, Rio
Grande do Sul e Paraíba criaram uma chapa eleitoral contra Júlio Prestes (candi-
dato paulista à presidência). A chapa formada prometia reformas políticas, entre
elas o voto secreto. Mesmo com a disputa, Prestes foi eleito presidente, culminan-
do em um golpe armado que colocou Getúlio Vargas no poder.
Após a Revolução de Trinta, muitas foram as transformações ocorridas no
cenário brasileiro, o desenvolvimento das ciências sociais foi incentivado e den-
tre elas se encontra a Geografia. Houve também a criação de cursos superiores
e instituições de pesquisas. As ciências humanas ganharam força e incentivo da
elite dirigente do país, pois contribuem na análise dos problemas brasileiros.
Podemos citar como marco do desenvolvimento da Geografia, no Brasil, a
participação do nosso país no Congresso Internacional de Geografia, realizado
em 1931 na França. Foram apresentados trabalhos relativos à cultura brasileira.
O congresso foi realizado pela União Geográfica Internacional – UGI, no qual o
objetivo do Brasil passou a ser o de fazer parte desta união.
Para alcançar o objetivo de integrar o Brasil à UGI, os geógrafos brasileiros
realizaram muitos esforços, pois a integração permitiria que o país tivesse acesso
aos estudos realizados por ela, fator que alavancaria os trabalhos realizados aqui
até então. O convite para participação do Brasil na UGI aconteceu em 1933, com
a visita do geógrafo Emmanuel de Martonne.

81
UNIDADE 3

Diante da necessidade da criação de um órgão institucional que organizasse


a Geografia brasileira, foram criados os cursos superiores objetivando a institu-
cionalização da ciência geográfica. Neste sentido, chegam ao Brasil os professores
Pierre Deffontaines e Pierre Monbeig, geógrafos franceses que colaboraram
com o desenvolvimento da Geografia, fazendo com que a Geografia francesa
influenciasse no processo de formação da brasileira.

Pierre Deffontaines fundou a cadeira de Geografia na Universidade de São Paulo,


em 1935, e possui grande influência no desenvolvimento do ensino de Geografia
no país. A fundação da USP visava transformar a educação e, para isso, foram
contratados diversos professores estrangeiros para ministrar as disciplinas, já que
não havia no Brasil profissionais qualificados para tal função.
Comunicativo e brilhante, Deffontaines exercia influência sobre seus alunos e
também sobre os intelectuais paulistas. Foi fundador da Associação dos Geógra-

82
UNICESUMAR

fos Brasileiros, que naquele momento atuava apenas em São Paulo. Permaneceu
na USP por apenas um ano, quando se mudou para o Rio de Janeiro e auxiliou
na criação da Universidade do Distrito Federal, atualmente, Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Ao deixar a USP, Pierre Deffontaines foi substituído por Pierre
Monbeig, seu conterrâneo.
Pierre Monbeig possuía experiência apenas
no ensino secundário e tinha a responsabilidade
de substituir um professor muito dinâmico e ex-
periente. Devido à Segunda Guerra Mundial, teve
que passar mais tempo do que o esperado no Bra-
sil, totalizando onze anos. Nesse período, auxiliou
na consolidação do curso de Geografia na USP e
expandiu a Associação de Geógrafos Brasileiros
(ANDRADE, 1994).
Assim como os demais geógrafos de sua épo-
ca, Monbeig utilizava em suas aulas o trabalho de
campo, a análise regional e a análise de situação, Figura 5 - Professor Pierre Monbeig
na qual visava conhecer o Brasil. Uma de suas Fonte: AB’Sáber (1994)
principais características foram as pesquisas de Descrição da Imagem: a ima-
campo, cujo objetivo era levar os alunos do curso gem, preto e branca, represen-
ta um homem com idade apro-
de Geografia até os lugares que haviam estudado ximada de 40 anos. Ele está
em sala de aula, de forma que os alunos pudessem vestindo terno e mostra serie-
dade. Possui cabelos levemente
ter tanto aulas teóricas quanto práticas.
penteados para o lado direito e
Ao analisar a dinâmica brasileira de povoa- não utiliza barba.

mento, Monbeig utilizou termos norte-america-


nos, como a ideia de front pioneiro, caracterizada como a zona de povoamento
provisória. Discutiu também a questão da expansão das fronteiras agrícolas e o
papel da rede ferroviária no processo de circulação de mercadorias e pessoas.
Monbeig afirmava que o campo de estudo do geógrafo é a Paisagem, que en-
globa tanto aquilo que podemos ver, como as rochas, solo, água, vegetação, quanto
aquilo que podemos sentir, como a atmosfera, ventos e cheiros. O geógrafo precisa
amar viajar, para que possa olhar para diferentes lugares e compreendê-los.
O conceito de paisagem pode englobar diversas interpretações, para Pierre
Monbeig:

83
UNIDADE 3


Como a cultura de um grupo evolui, sua paisagem também evolui:
o mesmo suporte natural viu sucederem-se paisagens diferentes,
sendo cada uma reflexo da civilização do grupo em dado momento
de sua história. Assim a paisagem não é mais considerada como pro-
duto da geologia e do clima, mas como reflexo da técnica agrícola ou
industrial, da estrutura econômica ou social [...] (1940, p. 238-239).

Para este grande geógrafo, a paisagem reúne tanto os aspectos visíveis e físicos
quanto os invisíveis e humanos, tudo está relacionado. Dessa forma, é dever do
geógrafo observar a paisagem de acordo com todos os aspectos citados, dever este
que se torna complicado diante da grande dicotomia existente entre a Geografia
Física e Geografia Humana.
No ano de 1939, o curso de Geografia da USP foi desmembrado em duas
linhas de pesquisas: a Geografia Humana, de responsabilidade do Professor
Pierre Monbeig, e a Geografia Física, ocupada pelo Professor João Dias da Sil-
veira. A criação do Departamento de Geografia dentro da Faculdade de Filoso-
fia, Ciências e Letras da USP se fez somente no ano de 1946, e ele era unificado
com o curso de História. Somente em 1956, ocorreu o desmembramento entre
ambos os cursos.
Com o decorrer dos anos, a Geografia brasileira, tanto universitária quanto
escolar, sofreu grandes transformações nos aspectos teórico e metodológico.
Nas décadas de 40 e 50, a abordagem geográfica esteve direcionada para a
visão ufanista, ou seja, atender aos anseios de valorização da nação brasileira,
tornando a Geografia um veículo muito importante a serviço do Estado, uma
vez que o processo metodológico de ensino pautava-se na memorização dos
fenômenos geográficos.

84
UNICESUMAR

Na fase do regime militar, já na década de 60, a Geografia passa a implementar


uma perspectiva teorética-quantitativa, valorizando dados, gráficos e tabelas na
análise e discussão geográfica. No início da década de 70, uma transformação
no sistema educacional brasileiro acarretou no distanciamento entre a visão geo-
gráfica do Ensino Superior e do Ensino Básico. Este abismo ocorreu em virtude
do surgimento da disciplina Estudos Sociais, que mesclava Geografia e História
em uma mesma disciplina e surgiu para que houvesse uma despolitização no
ensino naquele período. A Geografia, no âmbito universitário, começa então a
apresentar estudos da corrente Radical, uma vez que passava a analisar o espaço
com uma visão crítica.
A Geografia, no decorrer de sua consolidação como ciência, apresentou
grandes autores, que por suas importantes contribuições tornaram-se clássicos.
Vejamos alguns deles:
Immanuel Kant (1724/1804): foi filósofo e
matemático, além de professor na Universidade
de Konisberg a partir dos anos de 1770. Filho de
um negociante escocês, foi criado sob as bases do
pietismo, cuja ideia era basear a religiosidade na
autonomia da consciência. Foi considerado pai da
filosofia crítica.
Kant foi o primeiro a definir a Geografia en-
tre as diferentes disciplinas. Afirmou que a ciên-
cia geográfica lida com fenômenos associados ao
espaço, assim como a história lida com o tempo.
Utilizou a termo Geografia Física pela primeira
vez entre os geógrafos.
Friedrich Ratzel (1844/1904): foi geógrafo e etnólogo alemão. Nasceu na pe-
quena burguesia e foi influenciado pela teoria da Origem das Espécies de Charles
Darwin. Participou da guerra franco-prussiana.
Assim como os demais geógrafos, viajou por diversas áreas, conhecendo a
Europa e também Estados Unidos e México, publicando seus artigos em jornais.
Sua principal obra foi Antropogeografia, publicada em 1882, na qual coloca que
o desenvolvimento dos grupos sociais depende do ambiente em que estão insta-
lados, confirmando sua posição Determinista. Para o autor, a Geografia é o estudo
das influências naturais sobre a humanidade.

85
UNIDADE 3

Trabalhou também com a formação de professores, publicando inclusive um


livro didático em 1898, intitulado de Deutschland. Utilizava como método de
estudo a análise empírica, pautada na observação e descrição. Além das teorias do
Determinismo Geográfico e do Espaço Vital (que já discutimos no tópico sobre
a escola alemã), tratou de Geografia Política e Geografia Ambiental.

As formulações do autor sobre o Estado decorrem da teoria do Espaço Vital,


pois o surgimento do Estado necessitava de uma delimitação do território, que
por sua vez seria protegido e defendido pelo Estado. Ratzel foi considerado o
pai da Geopolítica. Na Geografia Ambiental, o autor mantém sua concepção
naturalista, sendo a natureza suporte para a vida humana. Ratzel é considerado
também fundador da moderna Geografia Humana, além de ser responsável pelo
estabelecimento da Geografia Política como disciplina.

86
UNICESUMAR

Elisée Reclus (1830/1905): foi geógrafo e anarquista francês. Seus trabalhos fo-
ram publicados em jornais, revistas e coletâneas. Ficou conhecido por sua obra em
torno da Geopolítica, intitulada de Nova Geografia Universal: a Terra e os Homens,
dividida em dez volumes. Escreveu também O Homem e a Terra, obra em cinco
volumes na qual analisou a relação dos grupos humanos com os meios que habitam.
Não era somente um observador da natureza, procurava sempre compreen-
der as leis que estão por trás do desenvolvimento humano. Foi discípulo de Karl
Ritter e mesmo com obras importantes, não foi projetado na França, já que passou
boa parte de sua vida exilado por razões políticas. Em 1970, com o surgimento
da Geografia Crítica (corrente de pensamento geográfico que estudaremos na
próxima unidade) suas obras passaram a ser valorizadas pelos geógrafos.
Vidal de la Blache (1845/1918): geógrafo francês, foi considerado fundador
da Moderna Geografia Francesa e da Escola Francesa de Geopolítica. Formado
em história e geografia em 1866, estudou também arqueologia grega por três anos.
Recebeu seu doutorado pela Sorbonne, em 1872, com tese em história antiga.
Ensinou na Universidade de Paris até sua aposentadoria.
Conforme já vimos anteriormente, caro(a) aluno(a), la Blache foi influencia-
do pelas obras alemãs. Produziu mais de vinte livros discutindo como o Estado
deve planejar a apropriação do espaço geográfico, considerando as características
físicas e humanas de seu território, sugerindo então a teoria Possibilista.
Em sua obra Princípios de Geografia Humana, la Blache coloca os funda-
mentos da teoria do gênero de vida, que discute o processo de adaptação do
ser humano às características do meio físico, analisando o comportamento das
populações em diversas áreas da superfície terrestre.

87
UNIDADE 3

Jean Tricart (1920/2003): foi um geógrafo francês especializado em geomorfologia.


Diplomado em história e geografia, foi também professor assistente da Sorbonne e
devido as suas qualidades didáticas, tornou-se professor titular, lecionando até 1987.
Seus estudos focaram a história das Ciências Naturais da Terra e os fenôme-
nos de defasagem entre os aspectos da dinâmica natural e antrópica. Enfatizou
sempre a necessidade dos estudos de campo no ensino e na aprendizagem de
Geografia. Publicou mais de seiscentos trabalhos em quinze países e em dez lín-
guas. Desses, em torno de sessenta foram a respeito do Brasil.
Tricart participou dos levantamentos e revisão de Cartas Geológicas da Fran-
ça na escala 1:50 000. Pertenceu ao quadro da União Geográfica Internacional e
supervisionou programas de planejamento hidráulico. Por sua exímia carreira,
ganhou títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades de Lodz (Polônia),
da Bahia, dos Andes e de Mérida (Venezuela). Suas obras o revelam como um
geógrafo global, que unia sempre teoria e prática.
Caro(a) aluno(a), nesta terceira unidade, procuramos compreender primeira-
mente como surgiram e quais foram as principais diferenças e similaridades nas
escolas do pensamento geográfico. Dentre as escolas analisadas, aquelas que mais se
diferenciaram em termos de teorias da Geografia foram as escolas alemã e francesa.
As escolas pioneiras serviram de base para o surgimento das demais escolas,
além de formularem teorias para explicar o comportamento humano na super-
fície terrestre. Tais teorias foram a do Determinismo Geográfico e a do Possibi-
lismo. Vimos também os principais geógrafos da história da ciência geográfica,
destacando suas vidas, principais obras, contribuições para a Geografia e criação
de teorias, termos e conceitos.
NOME CONTRIBUIÇÃO

Immanuel Kant 1º a utilizar o termo Geografia Física

Friedrich Ratzel Elaborou a Teoria do Determinismo Geográfico

Elisée Reclus Obras no campo da Geopolítica

Vidal de la Blache Criou teoria do Possibilismo Geográfico

88
UNICESUMAR

Que tal dialogarmos um pouco mais sobre a contribuição


dos franceses para a Geografia científica brasileira? Acesse
o QR Code para ampliar o seu conhecimento sobre o as-
sunto.

NOVAS DESCOBERTAS

Novos caminhos da Geografia


CARLOS, A. F.A.
O que é Geografia e o que é fazer Geografia nestes tempos de mu-
dança? Em NOVOS CAMINHOS DA GEOGRAFIA, sob a coordenação
de Ana Fani A. Carlos, da USP, nove dos mais importantes geógrafos
do país discutem questões de Geografia física, urbana, rural, de pesquisa, de
teoria, de espaço, do cotidiano - um debate fundamental para a formação de
geógrafos, professores e estudantes de Geografia.
Você, aluno, pode acessar o livro por meio da biblioteca virtual: https://plata-
forma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/35246.

Agora que já apresentamos e analisamos as principais escolas do pensamento


geográfico, essenciais para a compreensão da Geografia científica desenvolvida
em diferentes países mundo, vamos aplicar esses conteúdos. Para isso, proponho
um desafio a você: considerando a Base Nacional Curricular Comum - BNCC
e os conteúdos trabalhados na Educação Básica, selecione e analise um assun-
to geográfico a partir da teoria do Determinismo Geográfico. Após a análise,
identifique se você concorda com a interpretação do assunto a partir desse viés.
Você pode acessar a BNCC em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>

89
1. A respeito da Geografia científica que se desenvolveu na Alemanha e na França, leia
o excerto a seguir:

“A proposta de _________________ exprimia o autoritarismo, que permeava a sociedade


alemã; o agente social privilegiado, em sua análise, era o Estado, tal como na reali-
dade que este autor vivenciava. A proposta de ___________ manifestava um tom mais
liberal, consoante com a revolução francesa, e sua análise partiu do homem abstrato
do liberalismo”.

MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Annablume,


2005. p. 23.

As lacunas podem ser preenchidas, respectivamente, por:

a) Vidal de la Blache e Friedrich Ratzel.


b) Alexander von Humboldt e Karl Ritter.
c) Immanuel Kant e Eliseé Reclus.
d) Friedrich Ratzel e Vidal de la Blache.
e) Karl Ritter e Alexander von Humboldt.

2. A escola do pensamento geográfico firmada na França foi responsável por destacar


grandes autores para a Geografia. Vidal de la Blache foi um dos principais nomes,
aparecendo como responsável pela elaboração de conceitos muito importantes,
como o Possibilismo Geográfico. Nesse sentido, assinale a alternativa que apresenta
outro conceito criado pelo referido autor.

a) Determinismo Geográfico.
b) Gênero de vida.
c) Ideografia.
d) Espaço Vital.
e) Países Pivô.

90
3. Friedrich Ratzel, ao aprimorar o conceito de Determinismo Geográfico, defendeu
que a terra é um elemento indispensável à vida humana e que a sociedade deve
ter recursos suficientes para supri-la, criando também a Teoria do Espaço Vital. As
características da referida teoria podem ser identificadas em:

a) Conjunto de atividades que os homens executam para se adaptar aos desafios


do meio geográfico.
b) Técnicas utilizadas pelo homem para exercer influência sobre os recursos naturais
disponíveis.
c) Características do meio que determinam o desenvolvimento ou não da vida hu-
mana.
d) Fração do território necessária para o desenvolvimento de um povo, do ponto
de vista social e econômico .
e) Espaços da superfície terrestre que não são aproveitados e que poderiam suprir
diversas necessidades humanas.

4. Representada por Paul Vidal de La Blache, a escola francesa data da primeira metade
do século XX e é caracterizada por seu forte embate teórico com a escola alemã.
Sobre a escola francesa, leia as afirmações:

I - Esta escola francesa pode ser caracterizada, também, por seu aspecto hetero-
gêneo no que se refere às ideias de Vidal de La Blache.
II - Para os geógrafos franceses, o homem, dependendo das condições técnicas e
do capital que dispõe, pode exercer influência sobre o meio.
III - Sob a ótica da teoria Possibilista, o homem aparece como agente modelador do
espaço, se apropriando dos recursos naturais existentes.
IV - Um dos objetivos da escola francesa era o de explicar os fenômenos geográficos
sociais, ao invés de somente descrevê-los.
É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

91
4
Movimento de
Renovação
Me. Juliana Paula Ramos Boava

Chegou o momento de discutirmos o movimento de renovação pelo


qual a Geografia passou. Abordaremos as novas correntes de pensa-
mento, que surgiram no âmbito geográfico. Nesta fase, a Geografia
passa a apresentar diferentes formas de pensamento para que os
processos físicos e humanos sejam analisados, como a Nova Geogra-
fia, que utiliza métodos matemáticos para a análise de fenômenos
geográficos. Temos também a Geografia Radical, baseada nas ideias
de Karl Marx e Friedrich Engels, que analisa o mundo com base nos
modos de produção, além da Geografia Humanística, simbolizada pelo
autor Yi-Fu Tuan e que analisa o espaço geográfico de acordo com a
percepção humana.
UNIDADE 4

Desde o momento em que a Geografia se tornou uma ciência, alguns de seus


aspectos foram aprimorados. Dentre eles, podemos destacar a validação de um
objeto de estudo, o pertencimento a uma grande área (Ciências Humanas) e a
percepção de que um mesmo fenômeno pode ser interpretado de diferentes for-
mas. Nesse sentido, o geógrafo aparece como responsável pela forma como um
fenômeno é analisado, ou seja, o resultado da análise estará diretamente relacio-
nado à percepção que ele tem do espaço em que habita e quais referenciais utiliza.
A imagem, a seguir, representa um fato que tem nos chamado diariamente a
atenção: o desmatamento na área da Floresta Amazônica. Sabemos dos impactos
ambientais causados por este fato, entretanto essa é a única forma de analisá-lo?
Quais análises são possíveis a partir da interpretação da circunstância destacada?

Figura 1 - Desmatamento em áreas da Floresta Amazônica. / Fonte: Agência Senado (2021, on-line)

Descrição da Imagem: a imagem é uma fotografia área que mostra uma extensão de floresta, na parte
superior da imagem há fumaça, e na parte inferior, um trecho de área destinada à agricultura. No centro
da floresta aparece uma área semelhante a um retângulo, demonstrando o desmatamento ocorrido.

A Geografia é uma ciência que permite interpretar a superfície terrestre de di-


versas maneiras e é por esse motivo, que temos uma diversidade de linhas de
pensamento geográfico, sendo cada uma delas muito importante no desenvolvi-

94
UNIDADE 4

mento da ciência geográfica e compondo aquilo que chamamos de Correntes do


Pensamento Geográfico. Nesse contexto, a partir do período e das necessidades
da sociedade, surgem diferentes formas de se pensar e de aplicar a Geografia.
A partir do surgimento das escolas alemã e francesa, a Geografia começou a
dar sinais de que a forma como o espaço é analisado resulta das bases utilizadas
pelo geógrafo ao fundamentar suas análises. Dessa forma, a criação das teorias
Determinista e Possibilista podem ser utilizadas como exemplo de que um mesmo
fenômeno (neste caso, a relação homem/meio) pode ser interpretado de formas
distintas. Considerando o exposto, pense no desmatamento que vem ocorrendo na
Floresta Amazônica. Como ele pode ser analisado no contexto geográfico?
A partir da experiência proposta, escreva em seu Diário de Bordo suas im-
pressões a respeito dos seguintes pontos: o desmatamento se apresenta como um
objeto de estudo, que permite apenas levantamentos estatísticos e ambientais? O
aspecto humano pode ser incluído nas análises? É possível a desigualdade social,
expressiva na sociedade brasileira, ser uma forma de compreender o avanço do
desmatamento no país?

O pensamento geográfico sofreu diversas perspectivas ao longo do século XX, ou


seja, para explicar os diversos fenômenos e comportamentos humanos, a Geo-
grafia se utilizou e ainda utiliza de diferentes pontos de vista para concluir suas
pesquisas, chamados de correntes do pensamento geográfico. De maneira geral,

95
UNIDADE 4

tais correntes permitem que um mesmo fenômeno seja analisado sob perspec-
tivas diferentes.
A primeira corrente de pensamento geográfico, que pode ser destacada é a
Geografia Clássica (também chamada de Geografia Tradicional). Essa corrente,
por estar pautada no Positivismo, apresentava análises geográficas cuja carac-
terística principal era a descrição. Nesse contexto, durante um longo período os
estudos geográficos foram definidos por serem uma descrição do espaço.
A partir de 1950, a Geografia Clássica, mesmo ainda estando em seu auge,
começa a receber diversas críticas de geógrafos do mundo todo. Yves Lacoste,
importante geógrafo francês, demonstra sua grande insatisfação com a ciência
geográfica, alegando que os novos geógrafos estavam sendo inúteis para a so-
ciedade. Paralelo a isso, o mundo vivia o pós Segunda Guerra Mundial, período
caracterizado pela bipolaridade (países capitalistas versus países comunistas).
A guerra fria que se instaura entre Estados Unidos e União Soviética, devido à
ausência de conflito armado direto, fez com que a tecnologia fosse utilizada como
ferramenta para atingir o inimigo. Logo, tivemos uma “corrida” entre essas duas su-
perpotências, cujo ganhador seria aquele com melhor desenvolvimento tecnológico.

96
UNIDADE 4

Nesse contexto, o uso da técnica trouxe transformações não somente para os


países em questão, mas também para as ciências em geral. No caso da Geografia,
esse panorama se expressa na chamada Revolução Teorética e Quantitativa,
caracterizada pela busca por novas formas de empregar o conhecimento geográ-
fico e torná-lo útil para a sociedade. Essa revolução deu origem a uma corrente
do pensamento geográfico inovadora: a Nova Geografia.

NOVA GEOGRAFIA - essa corrente de pensamento pode ser classificada como


o conjunto de ideias e abordagens que começaram a surgir a partir da década
de 50. As novas perspectivas surgiram devido à intensa transformação causada
nos setores econômico, social e científico pela Segunda Guerra Mundial. Um
dos objetivos da Nova Geografia era de tentar superar as dicotomias existentes,
além de procurar destacar o conhecimento geográfico dentre as demais ciências.

97
UNIDADE 4

Christofoletti (1982, p. 71) específica algumas das metas básicas da Nova


Geografia:


Rigor maior na aplicação da metodologia científica – baseada na
filosofia do positivismo lógico, a metodologia científica representa
o conjunto dos procedimentos aplicáveis à execução da pesquisa
científica. Pressupondo que haja a unidade da ciência, todos os seus
ramos devem se pautar conforme os mesmos procedimentos. Não
há metodologia específica para uma ciência, mas para o conjunto
das ciências. Há métodos científicos para a pesquisa geográfica, mas
não métodos geográficos de pesquisa. A abordagem da geografia
científica está baseada na observação empírica, na verificação de
seus enunciados e na importância de isolar os fatos de seus valores.
Ao separar os valores atribuídos aos fatos dos próprios fatos, a ciên-
cia procura ser objetiva e imparcial.

Estímulo ao desenvolvimento de teorias relacionadas com as carac-


terísticas da distribuição e arranjos espaciais dos fenômenos. Tendo
em vista verificar a aplicabilidade de tais teorias, muitos geógrafos
passaram a estudar os padrões de distribuição espacial dos fenômenos
(estudo de distribuições pontuais, de redes ou de áreas), mas sem fazer
estudo crítico e propor modificações ou substituições àquelas teorias.

Durante o período da Geografia Clássica, muitas teorias foram aceitas e incontes-


tadas por muito tempo, como a concepção teórica de William M. Davis, no campo
da geomorfologia, que por muitas vezes foi criticada, mas não surgiam teorias
e/ou correntes que pudessem substituí-la. Com a Nova Geografia, as teorias de
Davis foram superadas pelas de John T. Hack.
O referido autor ainda destaca algumas características essenciais a respeito
dessa nova corrente de pensamento geográfico:


Uso de técnicas estatísticas e matemáticas – o uso de técnicas mate-
máticas e estatísticas para analisar os dados coletados e as distribui-
ções espaciais dos fenômenos foi uma das primeiras características
que se salientou na Nova Geografia, sendo empregada por muitos
trabalhos, como “Geografia Quantitativa”. O uso das técnicas de aná-

98
UNIDADE 4

lise deve ser incentivado porque elas se constituem em ferramentas,


em meios para o geógrafo. O conhecimento das diversas técnicas de
análise é básico para o geógrafo. Entretanto, usar técnicas estatísti-
cas, por mais sofisticadas que sejam, não é fazer Geografia.

Abordagem sistêmica – a abordagem sistêmica serve ao geógrafo


como instrumento conceitual que Ihe facilita tratar dos conjuntos
complexos, como os da organização espacial. A preocupação em fo-
calizar as questões geográficas sob a perspectiva sistêmica representou
característica que favoreceu e dinamizou o desenvolvimento da Nova
Geografia. A aplicação da teoria dos sistemas aos estudos geográficos
serviu para melhor focalizar as pesquisas e para delinear com maior
exatidão o setor de estudo desta ciência, além de propiciar oportuni-
dade para considerações críticas de muitos dos seus conceitos.

Uso de modelos – intimamente relacionado com a verificação das


teorias, com a quantificação e com a abordagem sistêmica, desenvol-
veu-se o uso e a construção de modelos. A construção de modelos
pode ser considerada como estruturação sequencial de ideias relacio-
nadas com o funcionamento do sistema. O modelo permite estrutu-
rar o funcionamento do sistema, a fim de torná-lo compreensível e
expressar as relações entre os seus diversos componentes. Para o geó-
grafo, o modelo é um instrumento de trabalho que deve ser utilizado
na análise dos sistemas das organizações espaciais. Como na quanti-
ficação, não se deve prender à construção e ao uso de modelos pelo
simples objetivo em si mesmo. Mas é um meio para melhor se atingir
a compreensão da realidade. (CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 72)

99
UNIDADE 4

De maneira geral, a Nova Geografia pode ser caracterizada:

Figura 2 - Características da Nova Geografia / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um quadro, nele aparecem 3 losangos. Cada losango apresen-
ta uma característica dessa corrente de pensamento: maior rigor na aplicação da metodologia científica.
Uso de técnicas estatísticas e matemáticas. Resultante do Pós 2ª Guerra Mundial. A partir do terceiro
losango, temos uma flecha que conduz para uma observação: Marcado por profundas transformações
nos setores científico, tecnológico, social e econômico. Abaixo dos losangos, temos um mapa do Brasil,
representando apenas o contorno. No centro do mapa está escrito: No Brasil, o IBGE aparece como
órgão fundamental para realização de estudos quantitativos. Ao lado do mapa, temos um balão de fala
e o desenho de uma mulher. O balão diz: CRÍTICAS: Considera o todo; Não aborda particularidades; Não
explica o intervalo entre fenômenos.

Como um dos representantes da Nova Geografia, podemos citar Walter Christal-


ler, geógrafo alemão nascido em 1983 e falecido em 1969. Foi autor da Teoria dos
Lugares Centrais, cujo objetivo era apresentar o número, distribuição e dimensão

100
UNIDADE 4

dos lugares centrais, aqueles considerados fornecedores de bens e serviços a uma


população. É uma teoria geométrica, no qual os polígonos espaciais são represen-
tados lado a lado, estabelecendo hierarquia entre as cidades. Christaller colocava
que as cidades teriam grandes áreas de influência, sobre as quais ficariam peque-
nos núcleos urbanos. Esta teoria tornou-se uma das principais da Nova Geografia.
A partir de 1960, a Nova Geografia passa a receber duras críticas sobre seu
método. Muitos geógrafos apontavam que o método matemático poderia explicar
determinados fenômenos, porém não explicava o intervalo entre eles, além de
não considerar as particularidades de cada fenômeno geográfico. Nesse contexto,
temos o surgimento da Geografia Crítica.
GEOGRAFIA CRÍTICA - a Geografia Crítica, também conhecida como
Geografia Radical, Marxista ou de Relevância Social, surgiu em meados da década
de 60. Suas bases metodológicas estão fundamentadas no materialismo histórico e
dialético. A partir da economia política marxista, essa nova corrente de pensamento
especializa os processos sociais, explicando em vez de somente descrever.
O materialismo histórico dialético pode ser definido como o conjunto de
doutrinas que buscam compreender os problemas da sociedade baseados no
mundo material ao longo da história. Na visão marxista, um problema social
pode ser fruto da forma como o modo de produção está organizado.
Para que o espaço fosse analisado sob uma perspectiva marxista, geógrafos e
professores de diversas universidades começaram a ler e analisar as obras de Marx
e Engels. Um marco da Geografia Radical foi a fundação da União dos Geógrafos
Socialistas, em 1974, na cidade de Toronto, no Canadá.
Enquanto a Nova Geografia visava analisar os padrões espaciais, a Geografia
Crítica surge para dar enfoque, primeiramente, aos processos sociais, o que tor-
na essas duas correntes totalmente contrárias em seus objetivos. Na Geografia
Radical, o comportamento social pode ser explicado se os modos de produção
forem analisados, pois cada modo, seja socialista ou capitalista, gera formações
socioeconômicas distintas.
Os geógrafos, ao analisarem a relação entre modo de produção e formações
socioeconômicas, utilizavam a filosofia marxista, caracterizada pela relação
do homem com seu trabalho. Karl Marx, criador da filosofia, alegava que o
homem trabalhava apenas para garantir sua sobrevivência e não por prazer,
além de a maior parte do resultado do trabalho ficar nas mãos dos donos do
capital. Neste sentido, a Geografia Crítica incentiva a discussão de temas como

101
UNIDADE 4

as lutas de classe, a pobreza, desigualdades sociais, injustiças e deterioração dos


recursos ambientais.
Se com a Nova Geografia houve uma “revolução teorética e quantitativa”, com
a Geografia Crítica, temos a “segunda revolução na Geografia Humana”, desen-
volvida principalmente em países capitalistas, como Estados Unidos e Inglaterra.
Os países de organização socialista não foram estudados pelos geógrafos críticos.
Os geógrafos críticos fizeram muitas contribuições à Geografia. Garcia (1978
apud CHRISTOFOLETTI, 1982) destaca quatro linhas de orientação para os
estudos na Geografia Radical:


- linha de orientação anarquista, centralizada na Universidade
de Simon Fraser e na de Clark, nesta última salientando o trabalho
de Richard Peet. Esta linha remonta suas origens aos trabalhos pio-
neiros de Peter Kropotkin e Elisée Reclus;

- linha de orientação popular-radical, que se caracteriza pelo


contato direto dos geógrafos com as populações das áreas e dos
bairros a serem investigados. O geógrafo participa e orienta a po-
pulação para solucionar seus problemas e traçar as suas reivindi-
cações. A obra de William Bunge (1971) é exemplo desse tipo de
procedimento;

- linha com orientação para o Terceiro Mundo, exemplificada


pelos trabalhos de J. M. Blaut (1973, 1975, 1976), destinados a pro-
por análises sobre o desenvolvimento e o imperialismo, entre vários
outros temas;

- linha de orientação marxista, que se baseia no estudo das obras


de Marx e Engels, na procura de fundamentos teóricos e na sua apli-
cação aos problemas sócio-econômicos de expressão espacial. Os
trabalhos de David Harvey (1973, 1974, 1975, 1976) são expressivos
como exemplos dessa orientação (CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 75).

A Geografia Crítica apresenta como máxima a de que a Geografia tem com-


promisso com a sociedade de classe. Os geógrafos dessa área são considerados
radicais por tomarem atitudes perante as injustiças sociais e podem ser classifi-
cados em geógrafos anarquistas, não marxistas ou marxistas.

102
UNIDADE 4

No Brasil, a Geografia Crítica começa a ganhar força a partir de alguns aconte-


cimentos, como a abertura política, organização de greves de operários, volta de
exilados políticos e outros. Esta linha de pensamento era identificada muito mais
no âmbito universitário do que nos órgãos do governo. Outra característica da
Geografia Radical estava relacionada ao número de jovens adeptos ao pensa-
mento crítico, jovens esses que lutavam por justiça social e ordem democrática.
Em meados de 1989, a Geografia Crítica começou a apresentar os primei-
ros indícios de esgotamento de seus limites teóricos. O fim da URSS e a falência
do marxismo revolucionaram o pensamento e a produção geográfica, abrindo
caminho para novas correntes de pensamento.

103
UNIDADE 4

Figura 3 - Quadro resumo: Geografia Crítica / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um quadro com características da Geografia Crítica. No canto
superior esquerdo, temos uma imagem de Karl Marx e ao lado a escrita: Inicialmente, as obras de Karl
Marx são intensamente utilizadas como base para fundamentação das análises realizadas por geógrafos
críticos. A seguir, há uma figura representando uma cabeça tendo uma ideia, com o um balão de pensa-
mento e dentro dele uma lâmpada. Referente a figura aparece a descrição: essa corrente busca romper
a neutralidade nos estudos geográficos e propõe que haja olhar crítico a respeito de toda a conjuntura
social, econômica e política do mundo. Ao lado, temos uma figura representando um homem e moedas
que simbolizam dinheiro e abaixo dela a seguinte escrita: a Geografia Crítica aponta que as injustiças e as
desigualdades sociais e espaciais são resultados do capitalismo sobre a sociedade. No canto inferior es-
querdo, aparece uma imagem de bonecos palito levantando alguns cartazes. Ao lado a seguinte descrição:
a abordagem crítica na Geografia permitiu uma aproximação com os movimentos sociais, principalmente,
na busca da ampliação dos direitos civis e sociais.

104
UNIDADE 4

GEOGRAFIA HUMANÍSTICA - a Geografia Humanista, Fenomenológica


ou da Percepção, pode ser definida como a corrente que pesquisa experiências
dos grupos humanos em relação ao espaço, destacando assim seus valores e com-
portamentos. Surgiu em meados da década de 60, porém somente a partir de 1970
é que começou a ganhar força.
Os principais precursores desta corrente de pensamento foram Yi-fu Tuan,
Anne Buttimer e Mercer, e Powell. Tais autores possuíam como filosofia a feno-
menologia, preocupada em analisar aspectos essenciais dos objetos da consciên-
cia, por meio da suspensão de qualquer preconceito que o indivíduo possa ter
sobre a natureza dos objetos. A fenomenologia tende a verificar a compreensão
das essências a partir da percepção e intuição dos humanos, utilizando como
principal ferramenta a experiência vivida por cada pessoa. Pode ser considerada
como uma ciência de experiência, já que não se preocupa nem com o objeto e
nem com o sujeito.
Para Corrêa (2001, p. 30), a Geografia Humanística:


[...] está assentada na subjetividade, na intuição, nos sentimentos,
na experiência, no simbolismo e na contingência, privilegiando o
singular e não o particular ou o universal e, ao invés da explicação,
tem na compreensão a base de inteligibilidade do mundo real.

Visa compreender como cada indivíduo se sente em relação aos seus lugares e
enxerga o mundo. Nesta linha de pensamento, os conceitos de espaço e lugar são
de extrema importância. A noção de espaço está relacionada à percepção visual,
à materialização das relações entre homem e sociedade. Na fenomenologia, o
espaço, de acordo com Lencioni (2003, p.152):


É vivido e percebido de maneira diferente pelos indivíduos, uma das
questões decisivas da análise geográfica que se coloca diz respeito às
representações que os indivíduos fazem do espaço. Essa Geografia
procurou demonstrar que para o estudo geográfico é importante
conhecer a mente dos homens para saber o modo como se com-
portam em relação ao espaço.

105
UNIDADE 4

Neste sentido, é importante destacar as formas de representação do espaço. Ele


pode ser representado com base em mapas cartográficos ou em mapas men-
tais. Os mapas cartográficos são objetivos, representam o mundo real de acordo
com medidas e convenções.

Figura 4 – Mapa-múndi. / Fonte: Shuttertock.

Descrição da Imagem: a imagem é um mapa-múndi que representa um planisfério, destacando os


países do mundo. Cada país aparece com uma tonalidade de cor, para diferenciá-los. No centro de cada
país está escrito seu nome.

Já os mapas mentais trazem a representação subjetiva do espaço, ou seja, de acor-


do com a percepção daquele que o produz. Não há preocupação com a escala ou
convenções cartográficas.

106
UNIDADE 4

Figura 5 - Mapa Mental. / Fonte: Shuttertock.

Descrição da Imagem: representação de um mapa elaborado à mão livre, ou seja, sem escala pré-defi-
nida ou convenções cartográficas. O mapa representa o caminho para chegar a um tesouro. O caminho
aparece tracejado, inicia em uma embarcação e finaliza em uma ilha onde há um vulcão, um macaco e
um baú. No canto superior esquerdo há o desenho de uma caveira e no superior direito uma rosa dos
ventos. Distribuídas na área central da imagem aparecem: um coqueiro, um barril, uma ave, um tubarão,
uma montanha, um polvo, uma garrafa, um saco de lixo, uma espada e um crânio.

Yi-Fu Tuan foi o autor que mais trabalhou o conceito de lugar para a Geografia
Humanística. Para o autor, o lugar, na Geografia, pode ser analisado sob dois
sentidos: o de localização e de artefato único. Tuan coloca que:


[...] o lugar é o espaço que se torna familiar às pessoas, consiste no
espaço vivido da experiência. Como um mero espaço se torna um
lugar intensamente humano é uma tarefa para o geógrafo humanis-
ta “sic”, para tanto, ele apela a interesses distintamente humanísticos
como a natureza da experiência, a qualidade de ligação emocional
dos objetos físicos as funções dos conceitos e símbolos na criação
de identidade do lugar (TUAN, 1982 apud HOLZER, 1999, p.70).

107
UNIDADE 4

Tuan acrescentou à Geografia o conceito de Topofilia, que pode ser definido como
elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito,
vívido e concreto como experiência pessoal” (TUAN, 1980, p. 4-5). E discutiu
também o termo Topocídio, sendo este a eliminação do significado cultural de
uma paisagem por uma sociedade.
Diante do exposto, temos uma corrente que merece atenção aos seguintes pontos:

Figura 6 - Características da Geografia Humanística / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem representa algumas características dessa corrente. No topo há um


retângulo e dentre dele a seguinte descrição: cada sujeito e cada grupo humano expressa uma visão do
mundo, reflexo da sua(as) relações com o espaço em que habita. A seguir, há o desenho do contorno de
uma casa e dentro dela um coração. Ao lado aparecem as seguintes escritas: A Geografia Humanísitica
está diretamente relacionada com a categoria de análise Lugar. Apresenta como característica principal a
subjetividade, ou seja, as diferentes interpretações a respeito da relação homem e meio. Na parte inferior
da imagem aparecem dois conceitos definidos dentro de dois retângulos: Topofilia: familiaridade ou apego
ao lugar. Topofobia: aversão ou medo do lugar. No canto inferior direito, temos a imagem de Yi-Tuan,
senhor asiático e que usa óculos. Está de camisa social e sorrindo. Ao lado dele, a seguinte descrição:Yi-Fu
Tuan aparece como autor de referência, quando se trata da Geografia Humanista. É responsável pela
elaboração dos conceitos da Topofilia e Topofobia.

108
UNIDADE 4

GEOGRAFIA AMBIENTAL - a temática ambiental foi uma das primeiras ver-


tentes do pensamento geográfico, realizada pelos geógrafos chamados de natura-
listas, aqueles que detalhavam as características físicas dos lugares, catalogando e
mensurando os fenômenos da superfície terrestre.

Mendonça (1993) afirma que por meio ambiente se entende a descrição do qua-
dro natural do planeta compreendido pelo relevo, clima, vegetação, hidrografia,
fauna e flora dissociadamente do homem. A Geografia, em sua origem, possuía
caráter determinantemente ambientalista, ou seja, a princípio, o homem não era
o principal objeto de estudo da ciência geográfica.
Como já discutimos, anteriormente, inúmeros geógrafos contribuíram para a
Geografia Naturalista, dentre eles destacamos Humboldt e Ritter. Ratzel, mesmo
tendo se destacado na geopolítica, produziu também descrições de lugares no
qual o quadro natural e humano estava dissociado.
Emmanuel de Martonne aprofundou os conhecimentos de Vidal de la Bla-
che no ramo da Geografia Física, além de subdividi-la em outros ramos, como
geomorfologia, climatologia, biogeografia, hidrografia etc.
Eliseé Reclus, ainda no final do século XIX, tentou produzir uma Geografia
de cunho ambientalista como a que se pretende produzir hoje, unindo-se a
militância política de cunho marxista e objetivando construir a ponte entre ho-
mem-natureza, de forma a preservar os recursos naturais (MENDONÇA, 1993).

109
UNIDADE 4

GEOGRAFIA IDEALISTA - o idealismo é uma corrente filosófica


que emergiu com a modernidade. Sua linha de pensamento contrária é o
materialismo. A abordagem idealista distingue a explicação de fatos huma-
nos e fatos naturais.
A Geografia Idealista tem por objetivo representar e valorizar as ações
envolvidas nos fenômenos, de forma que se possa analisá-los de acordo
com o pensamento humano. É uma alternativa ao positivismo, pois con-
sidera o comportamento humano.
O geógrafo idealista crê que para que as ações humanas sejam expli-
cadas, é necessário compreender o pensamento humano subjacente a elas,
procurando compreender os fenômenos a partir dos princípios internos
do indivíduo ou grupo envolvido na ação.
Guelke (1974) coloca que o geógrafo humano está interessado, princi-
palmente, na forma pela qual a ação possa se desenrolar, compreendendo
a resposta racional para o fenômeno, mas não explicando o fenômeno em
si. As atividades humanas, sejam individuais ou sociais, sempre modifi-
caram a superfície terrestre. Neste contexto, é dever do geógrafo humano
idealista compreender o desenvolvimento da paisagem cultural da Terra.
O ser humano, ao modificar o espaço em que vive, age de acordo com
sua visão de mundo. Dessa forma, as decisões são tomadas em virtude do
conhecimento teórico e conceitual do indivíduo. O papel da Geografia
Idealista é descobrir em que acreditam os humanos transformadores do
espaço em vez de se perguntar por que acreditam.
O geógrafo humano tem por objetivo reconstruir o pensamento por
detrás das ações realizadas, realizando o chamado método de “repensa-
mento”. Não é necessária a criação de teorias a respeito das ações huma-
nas, já que o principal interesse está nas teorias expressas nas ações do
indivíduo analisado.
Christofoletti (1982, p.15) coloca que ao considerar a elaboração
de “relatos verdadeiros e sua explicação”, a Geografia Idealista assume
posição ideográfica em vez da nomotética. Por outro lado, a sua foca-
lização maior é na tendência histórica do que na espacial. Entretanto,
Leonard Guelke, ao sugerir o princípio de verificação e adotar o empi-
rismo epistemológico e a objetividade na ciência, está se encaixando nos
moldes do positivismo lógico, sem realmente propor uma perspectiva

110
UNIDADE 4

substituta para a Nova Geografia. Procura, principalmente, reformular


os aspectos da geografia praticada sob os princípios do positivismo,
apontando a necessidade e a importância de também se incluir as preo-
cupações com os pensamentos humanos para efetiva compreensão das
organizações espaciais.

GEOGRAFIA TÊMPORO-ESPACIAL

Essa corrente do pensamento geográfico tem por objetivo a análise das


atividades dos indivíduos e sociedades a partir das variáveis tempo e es-
paço, de forma que sejam traçadas as trajetórias dos ritmos de vida dos
grupos humanos, destacando o tempo gasto nas atividades e nos lugares
frequentados. A Geografia Têmporo-Espacial originou o Grupo de Geo-
grafia do Tempo na Suécia e, atualmente, diversas escolas se debruçam
sobre este tema.
Christofoletti (1982) afirma que as questões relacionadas com o uso
do tempo são fundamentais para a perspectiva Têmporo-Espacial da
Geografia, tanto em relação ao indivíduo como em relação aos grupos.
As atividades desenvolvidas pelos indivíduos e grupos, na família, nos
locais de trabalho e nas horas de lazer exigem construções adequadas,
meios de transporte e organização dos horários. Para que os membros
da sociedade possam usufruir dos divertimentos e lazer, por exemplo,
é preciso que essas atividades sejam oferecidas fora dos seus horários
de trabalho e numa localização próxima da sua residência, que permita
um deslocamento conveniente e acessível de ida e volta. A escolha de
residência, de locais de trabalho, de cidades para morar, são decisões que
envolvem seleção de pontos para usufruir das regalias e disponibilida-
des sociais e para distribuir convenientemente o uso do tempo diário
nas diversas atividades. Os recursos individuais e familiares (renda, uso
de carro etc.) criam condições que liberam as pessoas para agir numa
porção maior do espaço e para executar tarefas mais diversificadas.
Torsten Hagerstrand propôs um modelo têmporo-espacial cujo ob-
jetivo era analisar a forma como as pessoas utilizam seu tempo. Para
tanto, partiu da seguinte questão: em um dia comum, como ocorre o
deslocamento de uma pessoa?

111
UNIDADE 4

Duas pessoas planejam uma reunião


no almoço

37 minutos é o
Tempo

tempo máximo
disponível para
almoço

30 minutos

Espaço

Lugar de almoço
deve estar nessa
localização para
alcançar tempo
máximo de proveito

Figura 7 - Modelo de análise para a possibilidade de duas pessoas se encontrarem durante o


almoço. / Fonte: Mark (1997 apud VASCONCELOS, 2009, p. 63).

Descrição da Imagem: a imagem representa um plano cartesiano. O eixo x se refere ao tempo (30
minutos) e o eixo y ao espaço. No centro do plano há duas linhas com dois losangos no meio, que repre-
sentam a área de transição e, portanto, o tempo máximo que duas pessoas conseguiriam destinar para
almoçarem juntas.

Os resultados do modelo criado por Hagerstrand permitem que os indivíduos


possam analisar como têm gasto suas horas diárias, de forma que possam criar
estratégias para otimizar seu dia, como escolher caminhos alternativos para ficar
menos tempo no trânsito. O pesquisador também analisou grupos de indivíduos.
GEOGRAFIA REGIONAL - é uma corrente de pensamento contrária ao
Possibilismo e ao Determinismo. Foi desenvolvida por Richard Hartshorne e

112
UNIDADE 4

baseia os estudos geográficos nas Diferenciações de Área. Hartshorne, ao criar


esta corrente de pensamento, não utilizava o termo Região, defendendo que os
espaços da superfície terrestre eram divididos em Classes de Área, cujos ele-
mentos homogêneos determinavam cada classe e os heterogêneos causavam as
divisões das áreas.
O Método Regional, como ficou conhecido o estudo de diferenciação de
áreas, mesmo tendo se iniciado nos séculos XVIII e XIX, somente a partir da
década de 40 do século XX começou a ganhar evidência. O conceito de Região,
como já vimos anteriormente, está relacionado a uma porção do espaço geográ-
fico que foi separada dos demais espaços por possuir características semelhantes.
Richard Hartshorne se baseou nos estudos de Alfred Hettner para elaborar o
método regional. Hettner considerava a diferenciação de áreas como ponto cen-
tral da Geografia, pois a partir delas é que os estudos geográficos se realizavam.
Para Hartshorne, a Geografia é:


[...] uma ciência que interpreta as realidades da diferenciação de
áreas do mundo, tais como elas são encontradas, não somente em
termos das diferenças de certos elementos de lugar para lugar, mas
também em termos da combinação total dos fenômenos em cada
lugar, diferente daquelas que se verificam em cada um dos outros
lugares (HARTSHORNE, 1939, p.462).

O pensamento hartshorniano não procurava dar ênfase na questão da gênese


dos fenômenos, mas sim, se eles podem ou não ocorrer em outros espaços, além
de considerar que o objetivo da ciência geográfica é integrar características rele-
vantes para a descrição de um lugar ou região.
GEOGRAFIA CULTURAL - de acordo com Oliveira e Silva (2010), o sur-
gimento da Geografia Cultural está atrelado ao processo de sistematização da
ciência geográfica ocorrido entre o final do século XIX e início do século XX.
Nesse sentido, temos uma primeira fase de desenvolvimento dessa corrente de
pensamento se manifestando em países como Alemanha e França.
Ratzel aparece como pioneiro na discussão cultural, sendo o primeiro a uti-
lizar o termo Geografia Cultural. Em sua obra Antropogeografia, o autor ex-
pressa a preocupação com a necessidade de analisar a participação do homem
no processo de transformação da superfície terrestre. Inicialmente, ele procura

113
UNIDADE 4

compreender como o homem se distribui pelo planeta e quais fatores geográficos


interferem nessa distribuição.
Já na França, a Geografia Cultural, inicialmente, aparece representada nas
discussões propostas por Vidal de La Blache, como a teoria dos gêneros de vida,
por exemplo. Dessa forma, é possível afirmar que essa corrente de pensamento,
em seu período primário, pode ser definida como a abordagem a respeito da
ocupação do espaço, bem como os desdobramentos, ou seja, a compreensão sobre
como o homem interage com a natureza e interfere na ordenação espacial.
Perceba, caro(a) aluno (a), que a Geografia Cultural ainda não apresentava
uma abordagem capaz de considerar as relações existentes entre a sociedade e o
lugar. A partir de quando isso passa a ocorrer?
Na segunda década do século XX, a abordagem cultural adquire identidade.
Nessa fase, temos como principais representantes Sauer e seus pupilos. Nesse
momento, a contribuição a essa corrente de pensamento aparece atrelada aos
Estados Unidos, com destaque para a Universidade de Berkeley, cujas produções
apresentaram análises sobre as sociedades tradicionais e das grandes civilizações,
como os ameríndios, por exemplo.
Sauer destacou uma discussão sobre a paisagem cultural, no qual ela aparecia
sob a definição do espaço que há transformação por meio da ação humana, sendo
ela reflexo da cultura. Neste contexto, para o referido autor, «a geografia cultural
se interessa, portanto, pelas obras humanas que se inscrevem na superfície
terrestre e imprimem uma expressão característica» (2003, p. 22-23).
Até a década de 40, a Geografia Cultural buscou a compreensão da cultura a
partir da paisagem, porém, a partir desse período, com o processo de modernização
da agricultura e industrialização das cidades, por exemplo, houve certa homoge-
neização do espaço e, por conseguinte, das paisagens. Dessa forma, essa corrente de
pensamento demonstra certa decadência e necessidade de transformação.
A partir da década de 70, a Geografia Cultural inicia um processo de atuali-
zação. Corrêa (2017, p. 44) ressalta:


A renovação realizada na geografia cultural não deixará de abordar
o passado, mas há de se privilegiar o presente ou um passado não
muito longínquo. O que a nova abordagem tem de diferente é a
análise dos significados, atribuídos à espacialidade do homem. Seu

114
UNIDADE 4

foco está nos significados criados por diversos grupos: no passado,


presente ou até mesmo do futuro.

A Geografia Cultural, desde seu surgimento, passou por diferentes perspec-


tivas. Cabe ressaltar que as diferenças não desqualificam as abordagens, apenas
aparecem como formas diferentes de analisar um determinado fato. Outro ponto
a ser refletido é o de que a sucessão de abordagens é resultado das mudanças
que ocorrem na sociedade, ou seja, uma sociedade em constante transformação
exige adaptações no meio científico, para que seja compreendida. É impossível
identificar três fases dessa perspectiva de pensamento:

Figura 8 - Fases da Geografia Cultural / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: Imagem inicia destacando: é possível identificar três fases dessa perspectiva de
pensamento. Abaixo da frase aparecem 3 retângulos com as seguintes frases: Século XIX e meados do
século XX: Alemanha e França. Década de 20: Estados Unidos, Sauer - Universidade de Berkeley. Entre
1960 e 1970: reformulação da Geografia Cultural. Busca por nova metodologia. Abaixo dos retângulos
as seguintes colocações: Os estudos voltados para a Geografia Cultural possuem uma característica es-
pecífica, não abordam apenas as questões relativas à cultura, como o próprio nome da corrente indica,
mas sim a espacialização de fenômenos culturais. Nesse sentido, busca-se compreender a apropriação
do espaço a partir de características dos grupos sociais, como a religião, por exemplo.

115
UNIDADE 4

PENSANDO JUNTOS

O surgimento das correntes de pensamento geográfico ocorreu de maneira sucessiva? É


importante compreender que, apesar de algumas correntes surgirem de maneira suces-
siva, essa não é uma característica delas. Dessa forma, uma nova corrente ganhar espaço
no meio acadêmico, não significa, necessariamente, que outras correntes tenham que
deixar de serem utilizadas.
Fonte: a Autora.

Como você pode perceber, nesta unidade nos propomos a discutir um tema de
muita relevância na Geografia, as diferentes correntes que fundamentam o pensa-
mento geográfico desde o seu surgimento. As correntes de pensamento discutidas
definem as características da Geografia ao longo de seu desenvolvimento. Essa
ciência, com o decorrer dos anos, passou por diversas transformações, desde o
objeto de estudo até os métodos e técnicas utilizadas para elaborar os trabalhos.
Com o surgimento da Nova Geografia, passaram a ser utilizados métodos
matemáticos na interpretação de fenômenos, algo que até então não havia sido
praticado. Porém essa corrente começou a ser criticada por alguns geógrafos, pois
a utilização da matemática e estatística não permitia que fossem interpretadas
observações durante o intervalo dos fenômenos.
Surgem, então, correntes mais focadas nos indivíduos, como a Geografia Hu-
manística, que discute a relação do homem com o lugar, e a Geografia Radical
focada nas problemáticas sociais geradas pelo modo de produção capitalista.
Além da Geografia Idealista e Têmporo-Espacial. No campo da natureza, temos
a Geografia Ambiental. Todas as correntes analisadas demonstram a gama de
possibilidades de estudo da ciência geográfica, que pode estar focada somente
na natureza, no homem ou na relação de ambos.

Que tal dialogarmos um pouco mais sobre as correntes do


pensamento geográfico na atualidade? Acesse o QR Code
para ampliar o seu conhecimento sobre o assunto.

116
UNIDADE 4

Geografia Nova Geografia


Clássica Geografia Crítica

CORRENTES DO Geografia
Geografia PENSAMENTO Humanista
Cultural
GEOGRÁFICO
Geografia
Ambiental

Geografia
Geografia Geografia
Têmporo-
Regional Idealista
Espacial

NOVAS DESCOBERTAS

Documentário: Encontro com Milton Santos - o mundo global visto do


lado de cá
O documentário, elaborado por Sílvio Tendler, apresenta uma entrevista
realizada com o geógrafo Milton Santos a respeito da sua visão sobre o pro-
cesso de globalização e a relação com os países em desenvolvimento.
Trata-se de uma obra excelente para a compreensão do conceito de globa-
lização e para identificar a postura de um geógrafo crítico. Além disso, pode
ser utilizado para o trabalho com a disciplina de Geografia na Educação Bá-
sica - Ensino Médio.

Agora que já apresentamos e analisamos as principais correntes do pensamento


geográfico, essenciais para a compreensão da Geografia científica desenvolvida
na atualidade, vamos aplicar esses conteúdos. Para isso, proponho um desafio a
você: escolha uma das correntes apresentadas e faça a proposta de um estudo que
a utilize como perspectiva de análise.
Dica: consulte a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - BDTD, disponí-
vel em: <https://bdtd.ibict.br/vufind/>. Você pode consultar dissertações e teses
publicadas em diferentes Programas de Pós-Graduação em Geografia e ter uma
ideia de temas que podem ser trabalhados e como fundamentá-los.

117
1. Leia o excerto de texto que segue:

O tema da cultura nos anos 60, ou mesmo, os anos 60 como fenômeno cul-
tural em si, parece infindável. No caso brasileiro, esse tema vem modulado
por um entorno especial: a emergência de golpes militares que desestabili-
zaram por longos anos o regime democrático e a liberdade de livre expres-
são entre nós. Por outro lado, surgiram as descobertas ícones da década
que teriam acelerado uma revolução comportamental, entre elas a chegada
à lua, a pílula anticoncepcional, Mary Quant e sua mini saia, ou o imbatível
tema dos efeitos da já histórica liberação sexual e o slogan “sexo, drogas e
rock & roll”. No contexto político internacional, desde o final dos anos 50, a
Europa vinha assistindo a uma inédita sucessão de guerras de descoloniza-
ção que alteraram de forma definitiva o perfil não apenas econômico, mas
sobretudo cultural do chamado Primeiro Mundo. A sequência foi mais ou
menos essa: Em 1957, Independência de Gana. Em 59, independência das
colônias francesas ao sul do Sahara. Em 61, o assassinato de Lumumba e a
agonia do Congo. Em 62, a Revolução da Argélia. Portanto, os anos 60, foi o
momento em que todos esses “nativos” tornaram-se seres humanos. Essa
sim, uma autêntica revolução de repercussão política tanto nas políticas
externas das metrópoles quanto nas políticas internas das diversas socie-
dades nacionais. Ou seja, as guerras de descolonização naquele momento
definiram mudanças significativas no que diz respeito aos súditos externos
e a cultura dos anos 60 é lembrada até os dias atuais pelas características
que deixou na história mundial.(HOLLANDA, s/d, online).

HOLLANDA, H. B. de. Descobertas, sonhos e desastres nos anos 60. Itaú Cultural,
2004. Disponível: https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/zuzu-angel/anos-de-
-chumbo/?content_link=15. Acesso em: 15 dez. 2021.

Na década de 60, a Geografia também estava em transformação, sendo criados


alguns conceitos importantes para a evolução dessa ciência. Portanto, considere a
alternativa correta que corresponde às características do pensamento geográfico
na década de 60.

118
a) A década de 60 foi marcada pelo surgimento das correntes do pensamento geo-
gráfico denominadas de naturais, pois estavam preocupadas em compreender a
relação do homem com a sustentabilidade.
b) O período denominado de anos de ouro foi importante para a geografia cultural,
visto que o rock, a bossa nova e o samba influenciaram as pesquisas sobre grupos
culturais e como eles se comportavam.
c) A década de 60 foi o momento em que surgiu na Geografia correntes alternativas
do pensamento geográfico, diferente das tradicionais, entre elas, podemos citar
a geografia idealista, a geografia da percepção e a geografia ambiental.
d) Com o início da ditadura militar e o incentivo ao ensino técnico e matemático,
surgiu no Brasil a geografia quantitativa, corrente do pensamento geográfico, que
tornou a disciplina nos cursos de engenharia e licenciatura.
e) Tanto em contexto nacional e internacional, a década de 60 foi o período em que
houve um progressivo desenvolvimento tecnológico, surgindo os Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), bem como a disponibilização de mapas digitais.

2. Ao analisarmos o aspecto musical no território brasileiro é possível identificar uma


série de ritmos e letras, como o funk, o soul, forró e outros. Eles são capazes de
representar bairros, cidades e estados, fazendo com que haja uma relação entre os
habitantes, seu perfil musical e sua localização no espaço. Nesse sentido, a geografia
aparece como uma ciência que analisa as transformações e os fenômenos humanos
no espaço. Portanto, um ramo específico pesquisa sobre as características artísticas
de grupos e como elas se manifestam no espaço, assim, assinale a alternativa que
corresponde a área da geografia que estuda esses elementos.

a) A geografia urbana é a área da geografia que estuda as questões relacionadas a


arte na cidade e no rural.
b) A geografia cultural é o ramo que pesquisa sobre as manifestações culturais de
grupos no espaço.
c) A geografia das artes é a ciência que explica sobre como as técnicas culturais
estão especializadas.
d) A geografia idealista é a área da geografia que estuda sobre as ideias de diferentes
culturas nacionais e mundiais.
e) A geografia política é o ramo da ciência geográfica que explica as diferenças
culturais em uma região.

119
3. Um geógrafo foi contratado por uma empresa responsável pelo transporte público
de uma cidade para identificar os problemas do transporte e a dinâmica de viagens
dos moradores, por exemplo, os horários de pico, bem como as características sociais
desse grupo: gênero, renda, idade, estado civil, religião, raça etc., ou seja, caracterís-
ticas importantes para compreender a mobilidade das pessoas no espaço urbano.
Desse modo, todo trabalho, técnico ou acadêmico, exige uma corrente de pensa-
mento para fundamentar as suas ideias, portanto considere a alternativa correta que
corresponde à corrente de pensamento geográfico mais adequada para contribuir
com o trabalho desse geógrafo.

a) A geografia urbana contribuiria para o geógrafo por ser a área da geografia que
estuda todos os elementos urbanos, como características de moradia, organiza-
ção dos bairros, agentes do espaço urbano, infraestrutura etc.
b) A geografia crítica é a corrente do pensamento geográfico mais viável para atender
à solicitação do geógrafo, visto que a sua teoria possibilita questionar as questões
sociais e assim esclarecer as dúvidas mais problemáticas.
c) A geografia política é o ramo da ciência geográfica mais adequado para o geógra-
fo planejar o seu trabalho, pois auxilia nas questões relacionadas às diferenças
populacionais de um determinado espaço.
d) A geografia têmporo-espacial é a corrente do pensamento geográfico, que per-
mite o geógrafo fundamentar o seu trabalho a partir de variáveis como tempo e
espaço, bem como levantar as características sociais de determinados grupos.
e) A geografia tecnológica ainda é pouco utilizada pelos geógrafos, no entanto, ela
contribui para fazer levantamentos de informações de um determinado espaço
apenas por meio de aplicativos.

120
5
A Geografia
Brasileira
Me. Juliana Paula Ramos Boava

Nesta última unidade, discutiremos a consolidação da Geografia no


Brasil. Somente no século XX é que essa importante ciência começou
a ser sistematizada em nosso país. Durante o processo de instituciona-
lização da Geografia brasileira, tiveram grande destaque os geógrafos
franceses, que vieram para o Brasil lecionar nas Universidades. A pre-
sença francesa refletiu na forma como a ciência se organizou no país,
apresentando traços semelhantes ao da Geografia sistematizada na
França. Discutiremos, ainda, o histórico da Geografia enquanto disci-
plina escolar, como as diferentes correntes do pensamento geográfico
se desenvolveram no território brasileiro e principais autores.
UNIDADE 5

Ao longo da minha graduação em Geografia em muitos momentos, me deparei


com uma dúvida: o histórico da ciência geográfica é tão complexo e se organiza
a tantos séculos, como isso contribuiu/contribui para a Geografia que se realiza
no território brasileiro? Temos tantas correntes do pensamento geográfico, elas
também aparecem nos estudos realizados por geógrafos brasileiros? Como?
À medida que eu adquiria o conhecimento epistemológico da Geografia,
ficava cada vez mais complexo o relacionar com a nossa realidade e identificar
como tais abordagens apareciam nos artigos escritos por geógrafos brasileiros.
Nesse sentido, como você, caro(a) aluno(a), se sente com relação a esse assunto?
Mesmo antes da Revolução de Trinta, um importante geógrafo já se des-
tacava na questão da consolidação da Geografia científica: Delgado de Carva-
lho. Este criticava a Geografia que era produzida pelos Institutos e Sociedades,
alegando que esse tipo de produção científica não possuía rigor metodológico.
Delgado de Carvalho publicou Brasil Meridional (1910), Geografia do Brasil
(1913), Metodologia do Ensino de Geografia (1925) e Geografia Elementar e
Physiografia do Brasil (1926). Tais obras deram início ao pensamento geográfico
brasileiro, além de o considerarem o primeiro geógrafo do Brasil.
Delgado de Carvalho é considerado o primeiro geógrafo brasileiro, entretan-
to, seus questionamentos a respeito da Geografia científica antecedem a criação
dos primeiros cursos de graduação em Geografia no país. Como podemos justi-
ficar o recebimento desse “título”?
A partir da experiência proposta, escreva em seu Diário de Bordo suas im-
pressões a respeito dos seguintes pontos: a formação inicial de Delgado de Carvalho
contribuiu para suas análises geográficas? A partir da criação dos primeiros cursos
de graduação em Geografia no Brasil, qual o perfil do geógrafo recém-formado?

122
UNICESUMAR

No Brasil, durante o período colonial (1500-1822) e até meados do século XVIII,


a educação escolar se baseava apenas em ler, escrever e contar, não havendo a
inserção de disciplinas específicas na grade escolar. No entanto, as ciências sociais
já vinham sendo modeladas para mais tarde serem inseridas no ensino.
Em 1827, a primeira lei sobre a instrução no período Imperial (1822-1889)
estabelecia que:


Os professores ensinariam a ler, a escrever, as quatro operações de arit-
mética, a gramática da língua nacional, os princípios de moral cristã e
de doutrina da religião católica e apostólica romana, proporcionadas
à compreensão dos meninos, preferindo, para o ensino da leitura, a
Constituição do Império e História do Brasil (BRASIL, 1997, p.19).

A constituição da História e da Geografia como disciplina escolar autônoma


ocorreu em 1837, com a criação do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, seguindo
moldes estabelecidos na França. A História Universal predominava no currículo,
porém a História Sagrada continuava mantida e seu conteúdo foi evoluindo jun-
tamente com a história do Brasil. Já a Geografia tinha como objetivo capacitar o
pensamento político de uma camada da elite brasileira que pretendia se inserir
nos cargos políticos e nas demais atividades relacionadas.
O período compreendido entre a Segunda Guerra Mundial e o final da década
de 70 foi caracterizado por lutas pela especificidade da História e da Geografia e pelo
avanço dos Estudos Sociais no currículo escolar. Os estudos sociais foram inseridos
nas escolas brasileiras na década de 70, como um prolongamento de programas de
ensino americano. Desde o século XVIII, nos Estados Unidos já se difundiam os es-
tudos sociais e a educação cívica no ensino, os quais tinham como objetivo preparar
cidadãos para o futuro, antes de assumirem seu papel social e profissional.
A disciplina de Estudos Sociais apresentava como base conteúdos de História
e Geografia, no entanto, desde sua inserção no Brasil, foi alvo de críticas por parte
dos professores, pois descaracterizava os conteúdos apresentando-os de forma
superficial e sendo reflexo do ufanismo nacionalista. A junção da História e da
Geografia como disciplina única foi iniciativa do Governo Militar, que acreditava
que tais disciplinas figuravam uma ameaça política, diante do crescimento dos
movimentos sociais dessa época, podendo-se considerar que essa iniciativa foi
uma tentativa de coibir a liberdade de expressão.

123
UNIDADE 5

Trabalhar os conteúdos de História e Geografia sob a ótica dos Estudos Sociais


causou a descaracterização deles, uma vez que os professores não conseguiam
identificar quais eram os conteúdos de cada área, prejudicando a forma como
eles eram aplicados. Somente em 1997, as disciplinas de História e de Geografia
se separam dos Estudos Sociais e passam a ser trabalhadas, pelo menos nos anos
finais do Ensino Fundamental, de forma autônoma nas escolas.

Com base em Cruz (2003), o ensino de História e Geografia na Educação Infantil


e no Ensino Fundamental, assume grande importância. O ensino de tais disci-
plinas permite que o aluno compreenda, de forma mais ampla, a realidade na
qual está inserido e nela interfira de maneira consciente e crítica. Neste sentido,
Bittencourt (2010, p. 186) destaca:


O objetivo da História escolar tem sido o de entender as organiza-
ções das sociedades em seus processos de mudanças e permanência
ao longo do tempo e, nesse processo, emerge o homem político, o
agente da transformação entendido não somente como indivíduo,
mas também como sujeito coletivo: uma sociedade, um Estado, uma
nação, um povo.

A Geografia enquanto disciplina escolar, segundo Costa e Souza (2012), tem por
objetivo permitir que o aluno compreenda de maneira mais ampla a realidade

124
UNICESUMAR

geográfica. Pode-se traduzir este objetivo como uma abordagem maior da pai-
sagem, do território e do lugar com base na leitura do espaço geográfico, tanto
no aspecto natural quanto no construído pelo homem. Observa-se que o papel
da Geografia, de maneira mais ampla, consiste no estudo do Espaço Geográfico,
a fim de fazer com que o aluno compreenda o espaço em que vive, bem como as
relações existentes entre esse espaço e a sociedade.
Conforme já mencionado anteriormente, no Brasil, a Geografia escolar tem
início antes da científica, ou seja, começou a ser trabalhada nas escolas, porém
sem apresentar cursos de formação específica na área. O cenário se modifica so-
mente a partir da criação do Curso Livre Superior em Geografia em 1929, e, pos-
teriormente, com a criação do curso de Geografia na Universidade de São Paulo.
A partir desse processo, a Geografia científica ganha força no país, sendo
conduzida, inicialmente, por professores trazidos da França, como Pierre Deffon-
taines e Pierre Monbeig. Nesse sentido, é nítida a contribuição da escola francesa
para o fortalecimento da ciência geográfica no Brasil.
Assim como no cenário mundial, a Geografia científica brasileira também
acompanhou as transformações que ocorreram no pensamento geográfico, evo-
luindo da Geografia Clássica para diferentes perspectivas, como a Nova Geogra-
fia, Geografia Crítica, Geografia Humanística e Cultural.
A Geografia Clássica é fruto dos interesses de cada país. Tais interesses estão
diretamente ligados aos anseios de determinados grupos, como a burguesia, por
exemplo. A fim de atender essa categoria, de acordo com Corrêa (1986), as gran-
des navegações, realizadas por países como Portugal, Espanha, França e outros, se
intensificaram entre os séculos XV e XVI e resultaram na colonização de diversas
áreas, dentre elas, o território brasileiro. Desse modo, temos o início do processo
de colonização das terras brasileiras pela Coroa portuguesa, a fim de explorar as
riquezas existentes no espaço.
Em um primeiro momento, toda a literatura geográfica aparece voltada para
descrição, distribuição e localização do espaço geográfico brasileiro. Neste con-
texto, somente a partir das décadas de 40 e 50, se inicia a primeira geração de
geógrafos brasileiros, formados após a criação dos cursos de Geografia na Uni-
versidade de São Paulo e Federal do Rio de Janeiro e que foram responsáveis pela
elaboração de importantes estudos a respeito do Brasil.
Paralelo a esse cenário de surgimento dos primeiros geógrafos formados no
Brasil, a Geografia, em um contexto geral, passa por transformações. Tais mu-

125
UNIDADE 5

danças estão relacionadas à Revolução Teorética e Quantitativa, responsável por


despertar nos geógrafos a busca por novas perspectivas nas análises geográficas.

Como resultado dessa inquietação temos a criação da Nova Geografia, que surge
em um contexto de pós-segunda guerra mundial e apresenta como característica
principal a utilização da matemática e da estatística nos estudos geográficos. No
Brasil, essa transformação no pensamento geográfico aparece no destaque de um
importante órgão: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Entre as décadas de 50 e 70, o IBGE atingiu seu período áureo, sendo que
entre 1960 e 1970, segundo Lamego (2014, p. 3), “despontou como um dos nú-
cleos difusores da geografia quantitativa brasileira, junto ao Núcleo de Rio Claro,
formado por professores da UNESP, como Antonio Christofoletti e Alexandre
Filizola Diniz”. A referida autora ainda ressalta:


Diversos elementos convergiram para tornar o ano de 1969 cru-
cial para o desenvolvimento da geografia quantitativa ibgeana. A
aproximação com a geografia anglo-americana por meio da visita
de geógrafos estrangeiros, a grande mudança administrativa, mu-
danças nos cargos de chefia, ascensão de novos grupos são alguns
desses elementos cujos desdobramentos possibilitaram a adoção e
a difusão da geografia quantitativa no IBGE.

Naquele período, entre 1967 e 1969, o IBGE recebeu três visitas


muito importantes. Os geógrafos John P. Cole, Brian Berry e John
Friedman chegaram com uma valiosa bagagem: livros, manuais,
programas de computador para tratamento de dados e a ambição
para difundir seus conhecimentos em relação à nova geografia pra-
ticada nos mundos de língua inglesa. É interessante notar que essas

126
UNICESUMAR

três visitas propiciaram um envolvimento extenso com a geografia


quantitativa, do ponto de vista teórico, metodológico e prático. John
Peter Cole contribuiu para o aprendizado das técnicas geografia
quantitativas. O geógrafo era já uma grande referência por conta
do livro Quantitative Geography (Cole e King, 1966) – verdadei-
ra bíblia da geografia quantitativa entre os geógrafos brasileiros;
Brian Berry que conectava desenvolvimento, planejamento, teoria
e técnicas – em inúmeros artigos que havia publicado até aquele
período sobre sistemas urbanos e planejamento; e Friedmann que
se destacava como um dos grandes teóricos do desenvolvimento
com a teoria centro-periferia. (LAMEGO, 2014, p.3).

Cabe destacar que os geógrafos apresentaram certa dificuldade no primeiro contato


com as literaturas de Geografia Quantitativa. Isso se deve ao fato de que o inglês
aparece como linguagem predominante nos textos e, considerando a influência
francesa na Geografia científica brasileira, o francês era melhor compreendido.

Atualmente, o IBGE consiste em um órgão de administração pública federal que


está vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. A principal
função desta entidade está em atender as mais diversas necessidades, tanto no
segmento da sociedade civil quanto na esfera governamental, uma vez que é o
principal provedor de dados estatísticos, territoriais e de informações gerais do
Brasil. Para a realização de uma visão completa e atual do país, o IBGE oferece
as seguintes funções:
■ Produção e análise de informações estatísticas.
■ Coordenação e consolidação das informações estatísticas.
■ Produção e análise de informações geográficas.
■ Coordenação e consolidação das informações geográficas.

127
UNIDADE 5

■ Estruturação e implantação de um sistema de informa-


ções ambientais.
■ Documentação e disseminação de informações.
■ Coordenação dos sistemas estatísticos e cartográficos
nacionais.

Uma das primeiras experiências de levantamento estatístico


no país ocorreu no período imperial, especificamente, no ano
de 1871, quando foi criada a Diretoria Geral de Estatística.
Com a Proclamação da República no ano 1889, as mudanças
socioeconômicas que ocorreram no país acarretaram na neces-
sidade de ampliação das atividades ligadas aos levantamentos
estatísticos, uma vez que documentos como registros civis, nas-
cimentos, casamentos e óbitos começaram a ser implantados
exatamente na fase república do país.
Até o ano de 1934, não se tinha um órgão consolidado e
bem empenhado no levantamento estatístico do país, fator
que gerou a formação do INE (Instituto Nacional de Estatísti-
ca) no ano de 1934, porém as suas atividades iniciaram em 29
de maio de 1936. Com a incorporação do Conselho Brasileiro
de Geografia ao INE no ano seguinte, surgiu uma nova deno-
minação, que vigora até os dias atuais, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística. Desde então, o IBGE tem a compe-
tência de identificar e analisar o território, realizar contagem
da população, retratar a evolução e o quadro econômico do
país e revelar o perfil socioeconômico do brasileiro.
Importante ressaltar que, durante aproximadamente 70
anos, o IBGE foi responsável pela edição da Revista Brasileira
de Geografia, uma das mais antigas e respeitadas publicações
técnico-científicas brasileiras, na área de Geografia e ciências
afins, e considerada um periódico renomado. Suas edições,
principalmente, durante o auge das pesquisas realizadas pelo
instituto, publicaram o resultado das análises territoriais elabo-
radas por grandes nomes da Geografia Brasileira e que fizeram
parte do núcleo de pesquisadores de campo da instituição.

128
UNICESUMAR

NOVAS DESCOBERTAS

Revista Brasileira de Geografia


Em 1939, foi lançada a Revista Brasileira de Geografia, um periódico que se
tornou referência para a divulgação de pesquisas sobre diversos assuntos
geográficos. Importantes nomes da Geografia científica brasileira publica-
ram artigos nesta revista ao longo dos anos, sendo eles resultados de pes-
quisas vinculadas ao IBGE ou realizadas por interesse próprio.
Todas as publicações entre 1939 e 2008 estão disponíveis para leitu-
ra e download em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/bibliote-
ca-catalogo?id=7115&view=detalhes.
Em 2016 a revista voltou a publicar artigos inéditos. Você pode consultar em:
https://rbg.ibge.gov.br/.

Vimos, até o momento, como a Nova Geografia foi incorporada ao pensamento


geográfico brasileiro. Mas e as demais correntes?
A respeito da Geografia Crítica e seu início no Brasil, Carlos (2002) ressalta que:


A década de 60 marca um momento na geografia brasileira em que
se contrapõem duas grandes tendências. No Rio de Janeiro desen-
volve-se, no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
a chamada New Geography ou Geografia Quantitativa que passa
a influenciar a maioria das pesquisas. De fundamentação mate-
mática, esses trabalhos viam a realidade a partir da perspectiva da
regularidade dos fenômenos no espaço, fazendo da técnica um fim
em si mesma, enquanto na Universidade de São Paulo, as pesquisas
tomavam um rumo diverso. Contrapondo-se às ideias esposadas
por Berry e fiéis à escola francesa de interpretação da realidade, de-
senvolvem-se as pesquisas baseadas nos fundamentos da chamada
Geografia Ativa, sob a influência de Pierre George - que nasce da
constatação da extrema mobilidade das situações atuais, conduzin-
do a um estudo ativo que pode inspirar ou guiar as ações e, que a
meu ver, prepara o caminho das grandes transformações do final
dos anos 70 na Geografia brasileira” (CARLOS, 2002, p.164).

Dessa forma, temos um panorama de renovação no pensamento geográfico bra-


sileiro, representado por alguns eventos importantes:

129
UNIDADE 5

Pesquisas no Boletim Paulista de Terceiro Encontro de


Laboratório de Geografia, na década Geógrafos, organizado
Geomorfoligia e de 1970, utilizado para pela Associação dos
Estudos Regionais da lançar o movimento e Geógrafos Brasileiros
Universidade da Bahia. marcar a afirmação da (AGB), ocorrido em
corrente no Brasil. 1978, em Fortaleza.

Figura 01 - Eventos importantes para o pensamento geográfico brasileiro / Fonte: a Autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta 3 quadros, cada um deles descreve um evento. Há duas se-
tas que indicam a transição de um quadro para o outro. Nos quadros aparecem as seguintes descrições,
quadro 1: Pesquisas no Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia.
Quadro 2: Boletim Paulista de Geografia, na década de 1970, utilizado para lançar o movimento e marcar
a afirmação da corrente no Brasil. Quadro 3: 3º Encontro de Geógrafos, organizado pela Associação dos
Geógrafos Brasileiros (AGB), ocorrido em 1978, em Fortaleza.

Durante esse processo de renovação na Geografia Brasileira, Milton Santos assume


destaque. O autor buscou tratar as deficiências da Geografia no que tangia a sua
epistemologia, relacionando a fraqueza dessa ciência ao seu vínculo com o Estado
e sua imagem de “ferramenta” utilizada no expansionismo de diversos países.
A Geografia Crítica, segundo Carlos (2002), passa a fundamentar a maioria
dos trabalhos científicos brasileiros, além de reprovar o aspecto neopositivista
que a Nova Geografia havia assumido. De maneira geral, o pensamento geográ-
fico passou a propor comprometimento maior com as relações sociais e suas
implicações ao meio, ou seja, a Geografia precisava lutar para ser reconhecida
como a ciência capaz de proporcionar a compreensão a respeito da realidade em
que vivemos. Para Andrade (1987, p. 101):


[...] a geografia crítica provocou o renascimento da geografia política, des-
vinculada da geopolítica, que voltou a considerar o papel do Estado na
produção e reprodução do seu espaço interno, em “estudos que vieram
contribuir para que o planejamento deixasse de ser muito tecnocrático
e passasse a levar em conta características e interesses regionais e locais”.

130
UNICESUMAR

Neste contexto, podemos afirmar que a Geografia Crítica apresenta seu foco na
interpretação dos problemas identificados no espaço geográfico, considerando
o impacto das relações de produção na forma como a natureza foi apropriada e
transformada nas últimas décadas, bem como seus efeitos na esfera social.
No que se refere à Geografia Humanística, no Brasil, essa corrente começa
a ganhar força a partir da década de 70, quando a professora Lívia de Oliveira,
da UNESP de Rio Claro, começa a traduzir trabalhos escritos em outros países
acerca dessa perspectiva de análise. Para Oliveira (2001, p. 23):


A Geografia Humanista trouxe novas luzes e abriu novas possi-
bilidades para a compreensão de se encontrar as respostas para a
construção de valores e atitudes para se enfrentar os novos desafios
que se instalam a cada momento. Os desafios atuais são: a cren-
ça infalível na ciência e na tecnologia; a coletividade baseada nos
pressupostos insensíveis nas estruturas sociais; e erguer um edifício
fundamentado na nova ética das relações humanas e ambientais.

A Geografia Humanística contribuiu para enfatizar a discussão a respeito da


categoria lugar, ressaltando a importância de considerarmos a afetividade e a
relação com o meio em nossas análises geográficas. Temos, dessa forma, uma
corrente de pensamento que se desenvolve a partir da necessidade de pensarmos
em perspectivas de análise alternativas.

PENSANDO JUNTOS

Caro(a) aluno(a), lembre-se que as correntes do pensamento geográfico não apresentam


uma ordem de sucessão. Nesse sentido, como você deve ter percebido, no Brasil, tivemos
o surgimento de mais de uma corrente em um mesmo período, fato esse que não des-
qualifica uma perspectiva em relação à outra, apenas nos confirma a hipótese de que o
geógrafo tem à sua disposição diferentes formas de analisar um mesmo fenômeno.
Fonte: a Autora.

Cabe salientar que entre as décadas de 60 e 80 houve tensão entre as diferentes


“geografias” que se apresentavam no campo científico brasileiro. A diferença na
forma de embasamento das análises geográficas resultou em certa intolerância

131
UNIDADE 5

entre os geógrafos, que, nesse momento, defendiam a existência de uma corrente


de pensamento que fosse mais completa se comparada com as demais. A partir da
década de 90, tal intolerância começa a diminuir, fazendo com que as correntes
alternativas ganhassem mais espaço no cenário acadêmico, como é o caso da
Geografia Humanística.
Com relação à Geografia Cultural no Brasil, temos o Núcleo de Estudos sobre
Espaço e Cultura - NEPEC, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ,
como principal representante. Foi criado em 1993 pela Professora Dra. Zeny
Rosendahl, objetivando resgatar a cultura no âmbito geográfico e desenvolver
estudos e pesquisas sobre as relações entre espaço e cultura.
A Geografia Cultural aborda a cultura em suas dimensões materiais e não
materiais. Dentre as diversas possibilidades de análises que surgem a partir da
incorporação dessa corrente de pensamento, podemos destacar a relação entre
espaço e religião, cultura popular e seu reflexo no espaço e, ainda, a combinação
entre espaço e simbolismo.
Vimos, até o momento, o caminho trilhado pela Geografia científica no Brasil,
destacando as influências de outros países, o surgimento da Geografia escolar e a
incorporação das diferentes correntes da ciência geográfica. Vejamos agora alguns
dos nomes que contribuíram/contribuem para o pensamento geográfico brasileiro.
AZIZ NACIB AB’SABER
(1924-2012) - Filho de um libanês
com uma brasileira, este foi um dos
maiores geógrafos e professores uni-
versitários do Brasil, sendo conside-
rado o “pai da Geografia brasileira”.
Atuou, principalmente, na Geografia
Física e na área de Meio Ambiente,
além de realizar estudos também no Figura 02 - Aziz Nacib Ab’Saber
campo da arqueologia e ecologia. Fonte: IEA USP ([2022], on-line).

Começou o curso de Geografia Descrição da Imagem: a fotografia em preto e


aos dezessete anos, na USP, onde branco apresenta um homem de meia idade, ca-
belos brancos e sem barba, visto de perfil. Ele usa
realizou toda sua carreira acadêmi-
blazer e camisa. A foto está em preto e branco. Ao
ca, tornando-se professor em 1965 fundo, aparece um computador coberto por um
plástico e uma janela.
e permanecendo no cargo até o seu
falecimento. Dentre os demais pes-

132
UNICESUMAR

quisadores da Universidade de São Paulo, Aziz era destaque, sendo considerado


uma das maiores autoridades em Geografia Física do Brasil. Foi aluno de Pierre
Monbeig e tinha grande admiração pelo geógrafo francês.
Em sua carreira, publicou mais de trezentos trabalhos, em diversas linhas de
pesquisa. Neste sentido, podemos destacar as seguintes contribuições:
Classificação do relevo brasileiro: em 1958, elaborou uma classificação do
relevo com base em critérios geomorfoclimáticos (no qual a formação do relevo
pode ser explicada a partir da ação do clima sobre as rochas), além da interação
dos agentes internos e externos da superfície terrestre.
Domínios morfoclimáticos: neste estudo, Aziz agrupou espaços que apre-
sentavam características semelhantes de relevo e clima, considerando que a ve-
getação é resultado da interação desses fatores. O mapa de domínios morfocli-
máticos é muito utilizado tanto por professores da Educação Básica quanto por
pesquisadores, com o intuito de representar as áreas de estudo.

133
UNIDADE 5



Amazônico
Terras baixas
Florestas equatoriais
Cerrados
Chapadões tropicais interiores
com cerrados e matas-galerias
Mares de morros
Áreas mamelonares
tropical-atlânticas forestadas
Caatingas
Depressões intermontanas e 
interplanalticas semi-áridas 
Araucárias
Planaltos subtropicais
com araucárias
Pradarias 0 595 1190 km
Coxilhas subtropicais
com pradarias mistas 1 cm - 595 km
Áreas de transição

Figura 03 - Domínios Morfoclimáticos do Brasil / Fonte: AB’SABER (2003, on-line)

Descrição da Imagem: a imagem apresenta o mapa do Brasil e a área de abrangência de cada um dos
domínios morfoclimáticos. Na lateral do mapa está destacado o nome de cada domínio: Amazônico,
Cerrado, Mares de Morros, Caatinga, Araucária, Pradaria e Áreas de transição.

Código Ambiental: Aziz defendia a ideia da criação de um Código da Biodi-


versidade, em vez de um Código Florestal. A sugestão partiu da necessidade de
ampliar a proteção dos biomas e expandir a noção de preservação para além das
florestas. Era contra a norma que protege o desmatamento em algumas áreas,
alegando que a mesma só beneficiaria os ricos. Lutava para que o novo código
criado não fosse permissivo, fator que prejudicaria o meio ambiente.

134
UNICESUMAR

MILTON SANTOS (1926-2001) -


Nascido na Chapada Diamantina, esse
importante pensador não era geógrafo
de formação. Graduado em Direito, pu-
blicou importantes trabalhos em várias
áreas da Geografia, principalmente, a
respeito da Urbanização do Terceiro
Mundo. Foi jornalista e redator do jor-
nal “A tarde”, além de lecionar nas Uni-
versidades Católica de Salvador e Fede-
ral da Bahia.
Segundo sua biografia, podemos Figura 04 - Milton Santos
destacar alguns marcos em sua carreira: Fonte: Wikimedia Commons ([2022], on-line).
■ 1964: deixa o Brasil em decor- Descrição da Imagem: a imagem é uma foto-
rência da ditadura militar e ini- grafia que apresenta um homem de meia ida-
de trajando terno, camisa listrada e gravata. A
cia sua carreira internacional;
imagem representa apenas o rosto e parte do
■ 1971 a 1977: após retornar ao Bra- tronco. O homem está sorrindo e com a cabe-
ça levemente inclinada para a direita.
sil, se torna professor da Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro;
■ 1983: ingressa na Universidade de São Paulo, por meio de concurso pú-
blico, permanecendo até sua aposentadoria em 1997;
■ 1994: recebeu o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud.

135
UNIDADE 5

Ao final da década de 70, suas publicações estiveram voltadas para análises epis-
temológicas da Geografia, principalmente, a respeito das categorias de análise
dessa ciência e discussões sobre o espaço geográfico e a necessidade de renovar
a Geografia científica no território brasileiro.
Para Milton Santos, o espaço geográfico passou por três diferentes fases: o
meio natural, o meio técnico e o meio técnico-científico-informacional.
Até o século XVIII, temos o meio natural, já que a transformação do espaço não
havia sido significativa. Na medida em que o homem evolui, o espaço geográfico
passa a ser transformado, pode-se perceber então que cada vez mais surgiam
objetos artificiais no espaço, como estradas, ruas, edificações etc. Na fase capita-
lista, o espaço atinge o auge do meio técnico-cientifico-informacional, pois são
necessárias modernas redes de telecomunicações, infraestrutura de transporte e
fábricas para manter as relações entre lugares. Dessa forma, aliada a esta fase do
espaço geográfico, temos também a Globalização.

Milton Santos
Que tal dialogarmos um pouco mais sobre a contribuição de
Milton Santos para a Geografia crítica brasileira? Acesse o
QR Code para ampliar o seu conhecimento sobre o assunto.

CARLOS AUGUSTO DE FIGUEIREDO MONTEIRO (1927) - É um dos


principais geógrafos e climatologistas brasileiros. Nascido em Teresina, em 1927,
teve sua tese de livre docência, “Teoria e Clima Urbano”, considerada um marco
nos estudos de climatologia geográfica.
Formado em Geografia e História em 1950, na antiga Faculdade Nacional de
Filosofia, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem sendo desde então
professor e pesquisador. De 1951 a 1953, morou na França. Ao voltar para o
Brasil, tornou-se professor de Geografia Física na faculdade que hoje integra a
Universidade Federal de Santa Catarina.
De 1960 a 1964, continuou lecionando na área física, dessa vez em Rio Claro
– São Paulo. Entre 1966 e 1967, ministrou a disciplina de Geomorfologia na Uni-
versidade de Brasília. Transferiu-se em 1968 para a Universidade de São Paulo,

136
UNICESUMAR

no qual permaneceu até a sua aposentadoria em 1987, tendo lecionado diversas


disciplinas para o curso de Geografia.
Mesmo após sua aposentadoria, continuou orientando na pós-graduação
das universidades de Santa Catarina e Minas Gerais. Em 2000, recebeu o título
de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Em
uma entrevista para a Revista Discente Expressões Geográficas, Carlos Augusto
Monteiro colocou que se considera:


[..] um geógrafo brasileiro da segunda metade do século XX, atual-
mente, procurando encerrar uma carreira que, ultrapassando os 80
anos de idade e 60 de militância na Geografia que se faz no Brasil,
há que recorrer a uma visão sumariada e sintética. Quando ingressei
no Curso de Geografia e História na antiga Faculdade Nacional de
Filosofia da então Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, gra-
ças a Fundação das Faculdades de Filosofia no Rio de Janeiro e em
São Paulo, já estávamos na vigência de uma “geografia científica” há
um decênio. Além da Geografia praticada na Sociedade Brasileira
de Geografia e nos Institutos Históricos e Geográficos, da Nação e
dos Estados vigorava, naquele então, uma “geografia científica”, tu-
telada pela Escola Francesa podendo ser rotulada pelos superiores
mestres Vidal de la Blache e Emmanuel de Martonne. Estudando
Geografia e História (1947-1950) e trabalhando como auxiliar de
Geógrafo (1948) no Conselho Nacional de Geografia do então Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (obra da Ditadura
Vargas, de 1937), desfrutando de uma Bolsa de Estudos do Governo
Francês em Paris e Rennes (1951-1953) iniciei minhas atividades
num período de expansão dessa “nova” Geografia que progredia no
Brasil graças à ação tríplice das Faculdades de Filosofia, do Conse-
lho Nacional de Geografia do IBGE e da Associação dos Geógrafos
Brasileiros. A primeira “formadora” de Geógrafos; o segundo aco-
lhendo profissionalmente aqueles que praticavam uma ciência cuja
pesquisa era considerada como básica para a ação governamental e
ligada diretamente à Presidência da República; e a terceira promo-
vendo encontros anuais em diferentes cidades brasileiras durante os
quais se incorporavam tanto praticantes das ciências afins como da
Geografia Tradicional, incorporando-se, como “agebianos”, à nova
geografia (2010, p. 01).

137
UNIDADE 5

Carlos Augusto F. Monteiro é um dos grandes pensadores da ciência geográfica


ainda vivo. Atualmente, vive na cidade de Campinas – São Paulo.
BERTHA KOIFFMAN BEC-
KER (1930 - 2013) - Foi uma impor-
tante geógrafa brasileira, conhecida
no Brasil e fora dele. Decidiu-se pela
ciência geográfica por querer conhe-
cer o mundo. No início da década de
50, cursou bacharelado e licenciatura
na Faculdade Nacional de Filosofia da
Universidade do Rio de Janeiro, tor-
nando-se doutora pela UFRJ e com
pós-doutorado nos Estados Unidos.
Figura 05 - Bertha Becker
A principal linha de pesquisa da Fonte: Calasans (2004, on-line).
geógrafa foi a expansão da fronteira Descrição da Imagem: a imagem é uma foto-
móvel da agropecuária, na década de grafia que apresenta uma mulher de meia idade,
sorrindo. Está sentada e com um microfone à
60, quando começou a estudar os pro-
sua frente. No canto inferior esquerdo apare-
cessos de povoamento e ocupação no cem copos descartáveis de água.

triângulo mineiro, dialogando com fa-


zendeiros do Rio de Janeiro e São Paulo. Dedicou-se também a tratar da geopolítica
da Amazônia e outras questões e desafios ambientais do Brasil.
Durante a Rio-92, atuou de forma marcante, consagrando o conceito de de-
senvolvimento sustentável e influenciando, por meio de suas obras acadêmicas,
os temas discutidos na conferência Rio+20.

138
UNICESUMAR

ROBERTO LOBATO CORRÊA


(1939) - Bacharel e licenciado em Geo-
grafia pela Faculdade Nacional de Filo-
sofia da Universidade do Brasil (atual
Universidade Federal do Rio de Janei-
ro) em 1961. Atualmente, é professor do
Programa de Pós-Graduação em Geo-
grafia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Sua produção se concentra
nas áreas de Geografia Urbana e Geo- Figura 06 - Roberto Lobato Corrêa
grafia Cultural, sendo autor de inúmeros Fonte: Corrêa ([2022], on-line).

artigos e diversos livros. Descrição da Imagem: a imagem é uma fo-


Em entrevista publicada na Revista tografia que apresenta um homem de meia
idade, ele está com expressão séria e usa bi-
Geosul, em 1986, contou sobre a escolha
gode. Está vestindo camisa social branca. Ao
em cursar Geografia. Dessa forma, Cor- fundo aparece uma estante com vários livros.

rêa (1986, p. 24):


Quando tinha 8-10 anos, passava horas e horas, sobretudo nos dias
de chuva, analisando um Atlas que havia na minha casa. Procurava
ver a localização dos países, rios, montanhas e cidades. Aos 10-11
anos orgulhava-me de saber quais eram os 48 Estados norte-ame-
ricanos, lembro-me ainda de que nesta ocasião, criei um país ima-
ginário que tinha rios, montanhas, cidades, produção agrícola etc.

Deste modo, quando acabei o curso científico tentei entrar para a


Escola Naval porque teria a possibilidade de conhecer o mundo.
Mas, felizmente, fui reprovado no exame de vista. Tinha pensado
também em fazer Engenharia, mas desisti logo: não era bom em
matemática e me dei conta de que estradas e pontes, que eram coisas
que gostava, atraíam o meu interesse não para construí-las, mas sim
pelo significado em termos de ligarem lugares.

Em 1960 foi aprovado no último concurso público realizado pelo Conselho Na-
cional de Geografia (atualmente, conhecido como IBGE). Sua trajetória no IBGE
foi de extrema importância para o desenvolvimento das pesquisas, bem como
para a difusão e incorporação da Geografia Quantitativa no Brasil.

139
UNIDADE 5

JURANDYR LUCIANO
SANCHES ROSS (1947) - É um
geógrafo formado pela Universidade
de São Paulo (1972), com mestrado,
doutorado e livre docência em
Geografia Física (1987) pela mesma
universidade. Atuou como consultor
em projetos de construção de grandes Figura 07 - Jurandyr Ross
hidrelétricas, além de realizar Fonte: Wikimedia Commons ([2022, on-line).
pesquisas socioambientais e projetos Descrição da Imagem: a imagem é uma foto-
importantes, dentre eles o Programa grafia que apresenta um homem de meia idade.
Ele usa óculos e tem barba. Está vestindo cha-
de Proteção das Florestas Tropicais.
péu, jaqueta e camisa por baixo. Ao fundo, apa-
Em 1997, ganhou o Prêmio Jabuti da rece um solo arenoso. O homem está agachado.

Associação Brasileira do Livro.


Dentre suas contribuições para a Geografia brasileira é imprescindível des-
tacar suas análises a respeito do relevo do Brasil. Em 1989, propôs uma nova
classificação do relevo brasileiro, a partir da sua participação no Projeto RADAM
Brasil, que realizou levantamento de todo o território com a utilização de imagens
aéreas. A classificação segue sendo utilizada nos dias atuais.
ANA FANI ALESSANDRI
CARLOS (1952) - É professora titu-
lar do Departamento de Geografia da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciên-
cias Humanas (FFLCH), onde come-
çou a estudar no ano de 1971. Atua,
principalmente, no estudo do espaço
urbano, que lhe rendeu, em 2012, um
dos prêmios mais importantes de sua
área de atuação, o “Prêmio Interna-
cional de Geocrítica”.
Figura 08 - Ana Fani / Fonte: Carlos ([2022], on-line).

Descrição da Imagem: a imagem é uma fotografia que apresenta uma mulher de meia idade. Ela usa
óculos e está vestindo camisa social e um colar longo. Está com os braços cruzados sobre a mesa, sendo
possível identificar parte do seu relógio e anel em dois dedos. Ao fundo aparecem objetos como itens de
decoração, um quadro e alguns materiais enrolados e lado a lado.

140
UNICESUMAR

Segundo sua biografia, destacam-se os estudos e o trabalho no exterior:


Em 1989, foi incentivada pelo professor Nilton Santos a fazer pós-
-doutorado na França. Acabou realizando dois trabalhos: em 1989,
na Universidade Paris-5 Descartes e em 1992, na Universidade de
Paris-1 Sorbonne. Fani explica por que a França foi o local ideal para
os trabalhos de pós-doutorado: “A Geografia na USP foi fundada
por franceses e a linha francesa na geografia humana é muito forte,
tenho estreitos laços com essa visão da geografia”.

Por toda essa experiência internacional e pela relevância de seus


estudos sobre a metrópole de São Paulo e o espaço urbano em geral,
Fani deu aulas no exterior: “Acabei conhecendo vários professores
e fui convidada a ministrar cursos no exterior. Os cursos de longa
duração eu nunca aceitei, porque minha vida particular me impedia
de ficar muito tempo afastada do Brasil”, explica.

Ainda assim, vivenciou diversas experiências enriquecedoras como


docente: “Cheguei a dar aula na pós-graduação em Barcelona, além
de Buenos Aires e Cidade do México”. A professora conta sobre os
temas que abordava: “Todos eles queriam me ouvir falar sobre a
metrópole de São Paulo ou sobre a geografia urbana que se faz na
USP”. Como a intensa produção acadêmica continua, a professora
ainda é muito requisitada: “Recebo convites de várias pessoas para
ir ao exterior, para discutir certos temas. O circuito acadêmico tem
sido cada vez mais internacional” (CARLOS, [2022], s.p).

A professora criou o GESP - Grupo de Estudos sobre São Paulo, que se dedica a
abordar sua área de atuação. O grupo possui uma editora on-line, que disponi-
biliza suas publicações no site, para que outros pesquisadores possam ter acesso
à linha teórico-metodológica. Ana Fani destaca que é importante que todo o
material produzido pelo grupo seja facilmente acessado.
Além de grandes nomes da Geografia brasileira, ainda temos mais um aspecto
a ser ressaltado para a compreensão da geografia científica no Brasil, a Associação
dos Geógrafos Brasileiros - AGB, que consiste em uma entidade civil, sem fins
lucrativos, que reúne profissionais da Geografia, como geógrafos, professores e

141
UNIDADE 5

estudantes com o objetivo de promover o conhecimento científico, intelectual e


técnico da ciência geográfica. Dentre seus principais objetivos, estão:
■ Promover o desenvolvimento da Geografia a partir da disseminação de
seus estudos; se relacionar com outras entidades científicas brasileiras;
■ Identificar setores da sociedade que envolvam a Geografia;
■ Propiciar o encontro de professores, estudantes e geógrafos, a fim de ana-
lisar as produções atuais pertinentes à área.

Foi criada em 1934, na cidade de São Paulo, no mesmo ano em que a Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo inseriu os cursos
de Geografia e História na instituição paulistana. Teve como fundador Pierre
Deffontaines. Inicialmente, a associação abrangia apenas o estado de São Paulo.
Muitos ícones intelectuais e de renome como Pierre Monbeig, Caio Prado
Júnior, Rubens Borba de Morais e Luiz Fernando Morais Rego participaram não
só na formação, como na consolidação da AGB. A partir do ano de 1944, a AGB
começou a alcançar dimensões nacionais, agregando um público mais diversifi-
cado, como profissionais, estudantes e colaboradores de todo território brasileiro.
Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco e Bahia foram os primeiros
estados a sediarem seções regionais. Em Lorena, município do estado de São
Paulo, foi realizada a primeira reunião nacional no ano de 1946, sendo realizada
anualmente até o ano de 1955. No ano seguinte, a AGB promoveu o XVIII Con-
gresso Internacional de Geografia da União Geográfica Internacional (UGI).

142
UNICESUMAR

Até as primeiras décadas de 70, a AGB continha uma associação formada predo-
minantemente por pesquisadores. Em uma reunião realizada na capital cearense
em 1978, iniciaram-se as primeiras mudanças nas perspectivas da AGB, uma vez
que o movimento estudantil na época estava muito expoente. Houve renovações
internas e administrativas da associação, que passou a se preocupar com as lutas
dos direitos humanos e com o processo de democratização do Brasil.
Desde a fase turbulenta do Regime Militar do Brasil (1964 a 1985) até os
dias atuais, a AGB passou a direcionar seus objetivos na promoção do conhe-
cimento científico a partir da troca de ideias entre seus associados a partir de
intercâmbios e diálogos, que ocorrem em fóruns de discussões, reuniões regu-
lares, publicações em Anais em Congressos e Encontros e em revistas científicas
espalhadas por todo o Brasil.
Caro(a) aluno(a), no decorrer desta última unidade, procuramos passar a
você um panorama da Geografia Brasileira. Para tanto, destacamos o processo de
consolidação da Geografia científica, a criação de órgãos e associações e também
alguns dos principais pensadores da ciência geográfica.
A Geografia como ciência só se consolidou no Brasil a partir do século XX,
então, podemos colocá-la como recente. Um dos fatores que mais contribuiu para
essa consolidação foi a criação do curso de Geografia em Universidades como a
USP e UFRJ. Cabe lembrar que essa criação é resultante da Revolução de Trinta,
quando o aspecto educacional também foi colocado em questão.
Na formação dos cursos de Geografia, tivemos grande influência de geógrafos
franceses e, por conseguinte, da escola francesa, fundamentada no Possibilismo
de Vidal de la Blache. Diante da necessidade de organização e tabulação de dados
do território brasileiro, foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-
ca, órgão que atualmente muito colabora para a obtenção de dados referentes à
população, municípios, estados e regiões do Brasil.
Destacamos alguns dos principais nomes para a Geografia Brasileira, como
Aziz Ab’Saber, Milton Santos, Carlos Augusto Monteiro e Bertha Becker. Cada
um deles fizeram importantes contribuições à ciência geográfica, sistematizan-
do e analisando informações tanto do caráter físico quanto ambiental. Deve-
mos deixar claro que estes são apenas uma pequena parcela dentre os grandes
autores da nossa Geografia!

143
UNIDADE 5

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Geografias de São Paulo - A metrópole do século XXI


Organizadores: Ana Fani Alessandri Carlos/Ariovaldo Umbelino de
Oliveira
Editora: Contexto
Sinopse: a obra apresenta o resultado de pesquisas e reflexões dos profes-
sores do Departamento de Geografia da USP sobre a metrópole de 45 anos.
Coloca, também, a questão da possibilidade de construção de uma leitura do
mundo moderno, por meio ou a partir da análise de São Paulo. Apresenta ao
leitor os mais variados temas e vertentes teórico-metodológicas. Pluralidade
de olhares e objetos que fundamenta o conceito de geografias do título da
obra. Nem poderia ser diferente em se tratando de uma metrópole comple-
xa como São Paulo.
Acesse em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/2226.

A organização da AGB também contribuiu muito para a institucionalização da


Geografia. A princípio, atuava apenas no estado de São Paulo. Mas com o decorrer
das discussões, a associação começou a ter sede em todos os estados, promoven-
do a integração entre os profissionais da Geografia, tanto pesquisadores quanto
profissionais da área de ensino.
Agora que já apresentamos e analisamos as principais características do
pensamento geográfico brasileiro, essenciais para a compreensão da Geografia
científica desenvolvida na atualidade, vamos aplicar esses conteúdos. Para isso,
proponho um desafio a você: escolha um dos autores apresentados e elabore uma
proposta de aula que contemple uma pesquisa dele. A aula deve ser planejada para
os anos finais do Ensino Fundamental. Lembre-se de considerar as habilidades
propostas pela Base Nacional Comum Curricular - BNCC.

144
Elabore um Mapa Mental sobre a difusão das correntes do pensamento geo-
gráfico na Geografia brasileira. Você pode utilizar as seguintes palavras-chaves
para conduzir a realização do seu mapa: pensamento geográfico brasileiro; Nova
Geografia; Geografia Crítica; Geografia Humanística; Geografia Cultural.
Destaque pontos que são essenciais para a compreensão desse assunto!
Para desenhar seu mapa, uma sugestão de ferramenta gratuita é o www.goconqr.
com.
Vamos lá, mão na massa!

Nova
Geografia

CORRENTES DO
Geografia Geografia
PENSAMENTO
Cultural Humanística
GEOGRÁFICO

Geografia
Crítica
UNIDADE 1

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CORRÊA, R. L. Roberto Lobato Corrêa. Google Sites, [2022]. Disponível em: https://sites.google.
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COSTA, N. D. da.; SOUZA, S. C. de. A interdisciplinaridade no ensino da Geografia nas séries ini-
ciais do Ensino Fundamental. In: CONNEPI, 7., 2012, Palmas. Anais [...]. Palmas: CONNEPI, 2012.
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CRUZ, G. T. D. Fundamentos teóricos das ciências humanas: história. Curitiba: IESDE, 2003.

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150
LAMEGO, M. O IBGE e a geografia quantitativa brasileira. Terra Brasilis, n. 3, 2014. Disponível
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OLIVEIRA, L. de. Percepção do meio ambiente e Geografia. OLAN – Ciência & Tecnologia, Rio
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WIKIMEDIA COMMONS. Milton Santos (TV Brasil). Wikimedia Commons, [2022]. Disponível
em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Milton_Santos_(TV_Brasil).jpg. Acesso em: 25 fev.
2022.

151
UNIDADE 1

1. C. Território. O excerto apresenta discussão sobre a apropriação do espaço por dife-


rentes grupos, destacando a categoria analítica do território.

2. D. Afirmações I e III estão corretas. Afirmação II está incorreta ao destacar o Geos-


sistema como característica dos excertos sobre a Paisagem, uma vez que o segundo
excerto destaca os aspectos sociais.

3. D. As demais alternativas não definem corretamente o conceito de região.

4. B. O período se refere à Geografia Clássica, primeiro período dessa ciência. As demais


alternativas apresentam os períodos posteriores da Geografia. No caso da Geografia
Empírica, não se trata de um período, mas sim da metodologia utilizada na Geografia
Clássica.

5. E. O Positivismo possui como base a redução da realidade ao mundo dos sentidos,


colocando o homem como um elemento da paisagem. As demais alternativas não
definem tal corrente filosófica.

UNIDADE 2

1. B. A segunda afirmação está incorreta ao colocar que já durante a Idade Média ini-
ciaram os estudos quantitativos em Geografia, característica essa que faz parte da
Geografia Moderna, no pós-Revolução Teorética e Quantitativa.

2. A. As duas asserções são verdadeiras, sendo a segunda uma justificativa correta da


primeira, uma vez que justifica a necessidade de viagens para realização da Geografia
em seu período de sistematização.

3. C. Durante a Antiguidade, a Geografia esteve estreitamente relacionada à Cartografia.


A sociologia, astronomia, física e o positivismo contribuíram para essa ciência, entre-
tanto em menor escala do que a Cartografia.

4. C. A segunda asserção está incorreta ao destacar que a contribuição de gregos e


romanos foi semelhante na Geografia, uma vez que os gregos apresentaram contri-
buição superior.

152
UNIDADE 3

1. D. As lacunas podem ser preenchidas com Friedrich Ratzel e Vidal de la Blache, uma
vez que aborda a discussão da visão de alemães e franceses sobre a sociedade e o
espaço geográfico.

2. B. Vidal de la Blache propôs a teoria do Gênero de Vida, ou seja, como o homem pode
se adaptar ao meio para garantir sua sobrevivência. Determinismo Geográfico e Es-
paço Vital foram propostos por Friedrich Ratzel. Já o conceito de Países Pivô remete
ao mapa elaborado por Halford Mackinder.

3. D. A teoria do Espaço Vital pode ser definida como a fração do território necessária
para o desenvolvimento de um povo, do ponto de vista social e econômico. Nas de-
mais alternativas não aparece que a teoria é composta pelo território e a forma como
o mesmo é aproveitado.

4. C. Estão corretas I, II e III. A afirmação IV está incorreta ao salientar que a escola fran-
cesa objetivava explicar fenômenos sociais, quando o objetivo estava em analisar
aspectos naturais da superfície terrestre.

UNIDADE 4

1. D. As lacunas podem ser preenchidas com Friedrich Ratzel e Vidal de la Blache, uma
vez que aborda a discussão da visão de alemães e franceses sobre a sociedade e o
espaço geográfico.

2. B. Vidal de la Blache propôs a teoria do Gênero de Vida, ou seja, como o homem pode
se adaptar ao meio para garantir sua sobrevivência. Determinismo Geográfico e Es-
paço Vital foram propostos por Friedrich Ratzel. Já o conceito de Países Pivô remete
ao mapa elaborado por Halford Mackinder.

3. D. A teoria do Espaço Vital pode ser definida como a fração do território necessária
para o desenvolvimento de um povo, do ponto de vista social e econômico. Nas de-
mais alternativas não aparece que a teoria é composta pelo território e a forma como
o mesmo é aproveitado.

4. C. Estão corretas I, II e III. A afirmação IV está incorreta ao salientar que a escola fran-
cesa objetivava explicar fenômenos sociais, quando o objetivo estava em analisar
aspectos naturais da superfície terrestre.

153
UNIDADE 5

Nova No Brasil
representada
Geografia
pelo IBGE.

CORRENTES DO
Geografia Geografia
PENSAMENTO
Cultural Humanística
GEOGRÁFICO

Estudos em
diferentes esferas, Geografia Início com a
como religião, Crítica tradução das obras
teatro, literatura e de Yi-Fu Tuan pela
suas relações com professora Lívia de
a Geografia. Oliveira.
Análise do espaço
com foco na
apropriação da
natureza em prol do
desenvolvimento
da sociedade.

154

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