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#contato

Geografia

Ensino Médio

Componente curricular

Geografia

Rogério Martinez

Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR).

Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - campus


Marília.

Atua como professor da rede pública no estado do Paraná.

Realiza palestras e assessorias para professores em escolas públicas e


particulares.

Autor de livros didáticos para o Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Wanessa Pires Garcia Vidal

Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR).

Pós-graduada em Avaliação Educacional pela Universidade Estadual de


Londrina (UEL-PR).

Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR).

Atuou como professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na rede


particular no estado do Paraná.

Realiza palestras e assessorias para professores em escolas públicas e


particulares.

Autora de livros didáticos para o Ensino Fundamental e Ensino Médio.

1ª edição

São Paulo
2016

Copyright © Rogério Martinez, Wanessa Pires Garcia Vidal, 2016

Diretor editorial: Lauri Cericato

Gerente editorial: Flávia Renata P. A. Fugita

Editora: Angela Carmela Di Cesare Margini Marques

Editora assistente: Teresa Cristina Guimarães

Assessoria: Teresa Cristina Guimarães

Gerente de produção editorial: Mariana Milani

Coordenador de produção editorial: Marcelo Henrique Ferreira Fontes

Coordenadora de arte: Daniela Máximo

Coordenadora de preparação e revisão: Lilian Semenichin

Supervisora de preparação e revisão: Viviam Moreira

Revisão: Iracema Fantaguci

Coordenador de iconografia e licenciamento de textos: Expedito Arantes

Supervisora de licenciamento de textos: Elaine Bueno

Iconografia: Priscila Pavane Massei Kibelkstis

Coordenadora de ilustrações e cartografia: Marcia Berne

Diretor de operações e produção gráfica: Reginaldo Soares Damasceno

Produção editorial: Scriba Projetos Editoriais

Assistência editorial: Kleyton Kamogawa, André W. Metz da Costa, Érika F.


Rodrigues

Projeto gráfico: Laís Garbelini e Hatadani

Capa: Marcela Pialarissi

Imagem de capa: Hidehiko Sakashita/Getty Images

Edição de ilustrações: Rogério Casagrande


Diagramação: Leda Cristina Silva Teodorico

Tratamento de imagens: José Vitor Elorza Costa

Ilustrações: Angelo Shuman, Carlos Borin, Cássio Bittencourt, E. Cavalcante,


Gilberto Alicio, Luciane Mori, Marcela Pialarissi, N. Akira, Paula Radi, Poliana
Garcia, Rafael Luís Gaion, Renan Fonseca

Cartografia: E. Cavalcante, Gilberto Alicio, Leonardo Mari, Paula Radi

Revisão: Viviane Mendes e Shirley Gomes

Assistência de produção: Cristiano J. Silva, Daiana Melo e Tamires Azevedo

Autorização de recursos: Erick L. Almeida

Pesquisa iconográfica: André Silva Rodrigues

Editoração eletrônica: Luiz Roberto L. Correa (Beto)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Martinez, Rogério

#Contato geografia, 2º ano / Rogério Martinez, Wanessa Pires Garcia Vidal. -


1ª ed. - São Paulo: Quinteto Editorial, 2016. - (Coleção #contato geografia)

"Componente curricular: geografia"

ISBN 978-85-8392-089-2 (aluno)

ISBN 978-85-8392-090-8 (professor)

1. Geografia (Ensino médio) I. Vidal, Wanessa Pires Garcia. II. Título. III. Série.

16-02544

CDD-910.712

Índices para catálogo sistemático:

1. Geografia: Ensino médio 910.712

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro


de 1998.

Todos os direitos reservados à


QUINTETO EDITORIAL S.A.

Rua Rui Barbosa, 156 - Bela Vista - São Paulo - SP

CEP 01326-010 - Tel. (0-XX-11) 35 98-60 00

Caixa Postal 65149 - CEP da Caixa Postal 01390-970

Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com


fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.

Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD S.A.

CNPJ 61.186.490/0016-3

Avenida Antonio Bardella, 300

Guarulhos - SP - CEP 07220-020

Tel. (11) 35 45-86 00 e Fax (11) 24 12-53 75

Para conhecer seu livro

Por que estudar Geografia?

Estudar Geografia tem um amplo significado, não se resume a ler e interpretar


os mapas.

Os estudos sobre Geografia nos permitem aprender a olhar o mundo além do


óbvio, das aparências. Significa desenvolver habilidades e elaborar
conhecimentos que nos permitem compreender fenômenos naturais, sociais e
suas inter-relações, realizar uma leitura analítica do mundo e questionar a
realidade em que vivemos.

Portanto, por meio desses estudos podemos nos preparar para participar de
maneira ativa, crítica e consciente na transformação da nossa sociedade, em
busca de um futuro melhor.

Conheça, a seguir, a organização dessa coleção, de modo que você possa


utilizá-la com dedicação e entusiasmo, aproveitando-a da melhor maneira
possível em sua formação.

Abertura
As páginas de abertura de unidade marcam o momento inicial do estudo do
tema proposto. Apresentam um recurso deflagrador, em geral, uma imagem,
que traz uma mensagem ou informação sobre algo relacionado à unidade
temática.

Também traz questionamentos que podem conduzi-lo a uma reflexão sobre o


assunto ou à busca de conhecimentos sobre ele.

Explorando o tema

Para tornar as aulas mais dinâmicas e facilitar sua aprendizagem, alguns


assuntos são abordados por meio de seções especiais.

A seção Explorando o tema aprofunda o estudo sobre um determinado tema e


pode abordá-lo na forma de infográficos, nos quais você tem a oportunidade de
ampliar suas habilidades de leitura e interpretação.

A seção Contexto geográfico apresenta a modalidade Ponto de vista, momento


em que você é convidado a ler e interpretar textos que trazem críticas,
entrevistas, opiniões de especialistas, sobre assuntos em questão e no qual
você e seus colegas podem expressar opiniões sobre ele.

A seção Contexto geográfico também proporciona o Estudo de caso, no qual


um exemplo relacionado ao tema é abordado e analisado, a fim de que você
estude a realida de tal como se apresenta, tendo como base os estudos
propostos.

Para auxiliar sua compreensão no decorrer dos textos, os termos técnicos são
explicados na forma de vocabulários inseridos na página.

No decorrer das páginas de conteúdo,os boxes com textos e imagens


apresentam informações teóricas ou exemplificações que complementam os
estudos e ampliam sua compreensão sobre os assuntos em questão.

Atividades

As páginas de atividades apresentam a seguinte organização:


- a seção Sistematizando o conhecimento, composta de questões por meio das
quais você poderá retomar os textos e revisar seus estudos;

- a seção Expandindo o conteúdo, que apresenta diferentes atividades de


análise e interpretação de novos temas e recursos.

Ao final da unidade, após as atividades, a seção Ampliando seus


conhecimentos traz informações complementares relacionadas aos conteúdos.

Ampliando seus conhecimentos

A seção A Geografia no cinema apresenta sugestões de filmes que podem


auxiliá-lo em seus estudos de maneira ainda mais prazerosa.

A seção Para assistir, Para ler, Para navegar conta com sugestões de livros,
filmes e sites por meio dos quais você poderá ampliar seus conhecimentos
sobre os assuntos estudados por meio de diferentes mídias.

Geografia, ciência e cultura apresenta diferentes formas de expressão do


conhecimento geográfico no campo das artes (telas, charges, fotografias etc.) e
da literatura (poemas, textos literários, letras de músicas etc.).

No final de cada unidade há uma seção com Questões do Enem e Vestibular


sobre os temas estudados nos capítulos à sua disposição com materiais
selecionados para seus momentos de estudos complementares.

Sumário

unidade 1 - Natureza, sociedade e espaço geográfico, p. 10

Natureza e paisagem:

o espaço natural, p. 12

O tempo da natureza e as marcas nas paisagens, p. 14

Os fósseis e a reconstituição das mais antigas paisagens, p. 15

A vida na Terra - Infográfico, p. 16

A dinâmica natural e a transformação das paisagens, p. 18

Contexto geográfico, p. 20
Estudo de caso - Jardins suspensos no sertão

Sociedade, trabalho, técnica e espaço geográfico, p. 22

Atividades, p. 26

Ampliando seus conhecimentos, p. 28

Questões do Enem e Vestibular, p. 30

unidade 2 - Indústria e espaço geográfico, p. 34

A indústria e a produção do espaço geográfico, p. 36

Tipos de indústria, p. 38

As diferenças coexistem, p. 39

A indústria no mundo, p. 40

Os fatores da localização industrial, p. 42

A desconcentração industrial, p. 44

Explorando o tema, p. 45

A indústria globalizada

Atividades, p. 46

Ampliando seus conhecimentos, p. 48

Questões do Enem e Vestibular, p. 50

unidade 3 - Fontes de energia, p. 54

Matriz energética mundial, p. 56

Petróleo, p. 58

Petróleo no mundo: produção, consumo e fluxos, p. 59

A geopolítica do petróleo, p. 61

Os "choques" do petróleo, p. 62

Carvão mineral, p. 64

Gás natural, p. 65

Energia nuclear ou atômica, p. 66


Hidrelétricas, p. 67

Explorando o tema, p. 68

Energia e meio ambiente

Fontes de energia no Brasil, p. 71

Petróleo: da crise à autossuficiência, p. 72

A matriz energética brasileira, p. 73

Contexto geográfico, p. 75

Ponto de vista - Fontes alternativas e o futuro energético do Brasil

Energia eólica - Infográfico, p. 76

Atividades, p. 78

Ampliando seus conhecimentos, p. 80

Questões do Enem e Vestibular, p. 82

CRÉDITO: André Dib/Pulsar

unidade 4 - População mundial, p. 86

População e Geografia, p. 88

População absoluta e população relativa, p. 88

A distribuição da população mundial, p. 90

O crescimento da população, p. 92

A queda da natalidade e do crescimento natural, p. 93

As teorias demográficas, p. 94

Teoria malthusiana, p. 94

Teoria neomalthusiana, p. 95

Teoria reformista, p. 95

A transição demográfica, p. 96

A estrutura da população, p. 98
Pirâmide etária, p. 98

Populações predominantemente jovens, p. 99

Populações maduras ou em processo de envelhecimento, p. 100

Populações envelhecidas, p. 100

Contexto geográfico, p. 101

Ponto de vista - População mais velha... e mais pobre?

A estrutura econômica - PEA e PI, p. 102

A PEA nas economias desenvolvidas, p. 103

A PEA nas economias subdesenvolvidas, p. 103

Migrações: fluxos populacionais, p. 104

As migrações internacionais de trabalhadores, p. 105

Migração e xenofobia, p. 108

Os fluxos de refugiados, p. 108

A crise de refugiados na Europa - Infográfico, p. 110

Atividades, p. 112

Ampliando seus conhecimentos, p. 114

Questões do Enem e Vestibular, p. 116

unidade 5 - População brasileira, p. 120

A população brasileira e suas origens, p. 122

População e território no Brasil, p. 124

O crescimento da população brasileira, p. 125

A queda da mortalidade e o aumento do crescimento natural, p. 126

A queda da natalidade e a diminuição do crescimento natural, p. 127

A estrutura da população brasileira, p. 128

O envelhecimento da nossa população, p. 129

Contexto geográfico, p. 130


Ponto de vista - A mulher e o mercado de trabalho

Pobreza e renda no Brasil, p. 131

Os fluxos migratórios no Brasil, p. 132

O êxodo rural, p. 132

As migrações inter-regionais, p. 133

Uma nova dinâmica migratória, p. 134

Atividades, p. 136

Ampliando seus conhecimentos, p. 138

Questões do Enem e Vestibular, p. 140

CRÉDITO: Marco Antonio Sá/ Pulsar

unidade 6 - Urbanização, p. 144

A cidade, p. 146

A economia feudal e o retrocesso urbano, p. 147

O comércio e o ressurgimento das cidades, p. 147

Capitalismo, industrialização e urbanização, p. 148

O fenômeno desigual da urbanização, p. 150

Urbanização nos países desenvolvidos, p. 150

Urbanização nos países subdesenvolvidos, p. 152

Contexto geográfico, p. 153

Ponto de vista - Saturação das metrópoles

Problemas urbanos nos países subdesenvolvidos, p. 154

Rede e hierarquia urbana, p. 156

A hierarquia urbana, p. 157

Conurbação, metrópoles e megalópoles, p. 158

Cidades globais e megacidades, p. 158


Megacidades: formigueiros humanos - Infográfico, p. 160

Atividades, p. 162

Ampliando seus conhecimentos, p. 164

Questões do Enem e Vestibular, p. 166

unidade 7 - Urbanização e industrialização no Brasil, p. 170

O processo de urbanização do Brasil, p. 172

Urbanização e industrialização no Brasil, p. 172

A urbanização no território brasileiro, p. 174

Urbanização e metropolização no Brasil, p. 175

As regiões metropolitanas, p. 176

A desconcentração industrial e a interiorização urbana, p. 177

A rede urbana brasileira, p. 178

Brasil: país urbano e industrializado, p. 180

A crise do café e a indústria, p. 181

O Estado e o processo de industrialização, p. 182

A indústria e o capital estrangeiro, p. 182

A distribuição da indústria pelo território, p.183

Concentração e dispersão: a dinâmica espacial da indústria, p. 185

Atividades, p. 186

Ampliando seus conhecimentos, p. 188

Questões do Enem e Vestibular, p. 190

unidade 8 - A urbanização brasileira e seus problemas, p. 194

Urbanização excludente, p. 196

Cidades, desigualdades e segregação espacial, p. 197

A produção capitalista do espaço urbano, p. 198

A especulação imobiliária, p. 199


O problema do transporte urbano, p. 200

A violência urbana, p. 200

CRÉDITO: Leo Caldas/Pulsar

Contexto geográfico, p. 201

Estudo de caso - Singapura: uma cidade que anda na linha

As cidades e os problemas ambientais, p. 202

Poluição do ar, p. 202

Contexto geográfico, p. 203

Estudo de caso - A poluição do ar e a inversão térmica

Ilhas de calor, p. 204

Poluição hídrica, p. 205

Resíduos urbanos, p. 206

Atividades, p. 208

Ampliando seus conhecimentos, p. 210

Questões do Enem e Vestibular, p. 212

unidade 9 - A agricultura no mundo, p. 216

A atividade agrícola, p. 218

Agricultura, natureza e tecnologia, p. 218

A organização das atividades no espaço rural, p. 219

Os sistemas de produção agrícola, p. 220

Sistemas agrícolas tradicionais, p. 220

Sistemas agrícolas modernos, p. 223

Explorando o tema, p. 224

A Revolução Verde

A Revolução Verde e a fome no mundo, p. 224


Revolução Verde, concentração fundiária e impactos ambientais, p. 226

Explorando o tema, p. 227

Monoculturas e seus impactos ambientais

Alimentos transgênicos - Infográfico, p. 228

Sistemas agrícolas alternativos, p. 230

A produção agropecuária no mundo, p. 231

A agropecuária no mundo desenvolvido, p. 232

A agropecuária no mundo subdesenvolvido, p. 234

Reforma agrária: a reorganização das terras, p. 235

Atividades, p. 236

Ampliando seus conhecimentos, p. 238

Questões do Enem e Vestibular, p. 240

unidade 10 - O espaço agrário brasileiro, p. 244

A agropecuária no Brasil, p. 246

A produção agropecuária brasileira, p. 246

A modernização do campo brasileiro, p. 250

As relações de trabalho no campo, p. 251

Uma modernização desigual, p. 252

A concentração de terras no Brasil, p. 254

A formação dos latifúndios como modelo de exploração agrária, p. 254

Políticas agrícolas, latifúndios e monoculturas, p. 254

Questão da terra e conflitos no campo, p. 256

Reforma agrária no Brasil, p. 256

Atividades, p. 258

Ampliando seus conhecimentos, p. 260

Questões do Enem e Vestibular, p. 262


Respostas, p. 268

Bibliografia consultada, p. 270

Lista de siglas, p. 272

10

unidade 1 - Natureza, sociedade e espaço geográfico

LEGENDA: Menino contemplando a esplêndida obra humana da Muralha da


China na província de Hebei, na China, em 2008.

CRÉDITO: Martin Puddy/Corbis/Latinstock

11

A Terra tem sido transformada por inúmeros fenômenos naturais desde que se
formou, há 4,6 bilhões de anos. O mais antigo ancestral do ser humano, por
sua vez, existe na Terra há apenas 4 milhões de anos, aproximadamente.

Desse modo, o tempo de existência do ser humano é considerado ínfimo se


comparado ao tempo de formação e transformação do nosso planeta, até
atingir suas características atuais. E, nesse tempo, o ser humano desenvolveu
instrumentos, técnicas, máquinas e evoluiu de tal maneira que, atualmente,
detém conhecimentos e equipamentos para intervir na dinâmica global, tanto
ou mais do que os fenômenos da natureza.

- A presença da Muralha da China revela a capacidade do ser humano de atuar


na transformação da superfície terrestre. Essa muralha, que tem
aproximadamente 2,4 mil anos, pode ser considerada antiga para os seres
humanos. Mas pode ser considerada recente em relação à idade da Terra?
Que outras ações o ser humano tem realizado, interferindo na superfície
terrestre?

12

Natureza e paisagem: o espaço natural

Desde que se formou, há cerca de 4,6 bilhões de anos, a Terra e suas


paisagens, como a mostrada nas páginas de abertura, têm passado por
grandes transformações desencadeadas pela ação conjunta de fenômenos e
processos naturais, que agem continuamente ao longo do tempo geológico.
Como sabemos, foram necessários milhões de anos para que a superfície da
Terra, extremamente quente em seus primórdios, esfriasse e enrijecesse,
dando origem a uma crosta rochosa. Durante outros milhões de anos, os gases
e vapores expelidos em grande quantidade pelos vulcões se acumularam ao
redor do planeta e, assim, formaram uma atmosfera primitiva composta de
gases como metano, amônia, hidrogênio e vapor de água, apresentando
características muito diferentes das que possui atualmente. Com a
condensação desses gases e vapores na atmosfera, chuvas torrenciais
também caíram durante milhões de anos, dando origem aos primeiros
oceanos.

Nesses oceanos, há cerca de 3,5 bilhões de anos, surgiram os primeiros


organismos vivos (bactérias e algas unicelulares), base de toda a evolução da
vida no nosso planeta. Ao longo dessa evolução biológica, muitas espécies
animais e vegetais surgiram e evoluíram, enquanto muitas outras
desapareceram, como os dinossauros, por exemplo.

As condições ambientais que em determinadas épocas asseguraram a


existência de certas espécies de seres vivos modificaram-se completamente
em outras épocas, provocando a extinção de algumas espécies e também o
desenvolvimento de inúmeras outras, que se adaptaram às mudanças e
existem até hoje.

Certos eventos naturais, como a ocorrência de atividades vulcânicas intensas


ou a queda de grandes asteroides na superfície do planeta, também
provocaram a extinção de muitas espécies antes mesmo da existência do ser
humano. Segundo algumas teorias científicas aceitas atualmente, o ser
humano evoluiu de hominídeos que viveram na África há cerca de 4 milhões de
anos, tempo muito recente quando comparado à longa história geológica da
Terra.

No decorrer dessa longa história geológica, as paisagens da superfície


terrestre foram se modificando. Surgiram extensas florestas, enquanto outras
deram lugar a grandes desertos. Muitos rios, lagos e mares se formaram e
outros secaram. Enormes geleiras também se expandiram e se retraíram, ou
até mesmo desapareceram, conforme as temperaturas na superfície do planeta
oscilavam de uma época para outra, ora diminuindo, ora aumentando.
Glossário:

Hominídeo: família de animais que pertence à ordem dos primatas e que tem
como características comuns: posição da coluna vertebral que facilita a postura
ereta, crânio maior em relação ao tamanho do corpo, cérebro mais
desenvolvido e mais complexo que o de qualquer outro animal, pernas longas
em comparação aos braços e ausência de cauda.

Fim do glossário.

Boxe complementar:

O tempo geológico

Com base no desenvolvimento da vida no planeta, a história geológica da Terra


foi dividida em quatro grandes eras, estabelecidas em ordem cronológica, da
mais antiga para a mais recente, da seguinte maneira:

- Pré-Cambriana (primeiros sinais de vida)

- Paleozoica (vida antiga; paleo = antigo + zoico = vida)

- Mesozoica (vida intermediária; meso = meio + zoico = vida)

- Cenozoica (vida recente; ceno = recente, novo + zoico = vida)

Na ilustração da próxima página, podemos observar a duração relativa de cada


era geológica. Observe que a Pré-Cambriana constitui a era mais antiga e
também a mais longa da história geológica, que durou cerca de 4 bilhões de
anos. Já a Cenozoica, a era na qual vivemos, é a mais recente e a mais breve
dessa história, compreendendo apenas os últimos 66 milhões de anos. Juntas,
as eras Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica formam o éon Fanerozoico, que
significa "vida visível".

Fim do complemento.

13

Movimentos tectônicos ocorridos ao longo de milhões de anos soergueram


grandes cadeias montanhosas, ao mesmo tempo que os agentes erosivos
agiram, gradativa e continuamente, desgastando e aplainando as formas do
modelado terrestre. O nível dos oceanos também sofreu variações, às vezes
aumentando e cobrindo boa parte das terras continentais, outras vezes
recuando e, assim, criando novos contornos e feições litorâneas.

- Na história geológica da Terra, o surgimento dos primeiros ancestrais


humanos pode ser considerado um evento recente ou antigo? Justifique.

Tempo geológico

FONTE: Ilustração produzida com base em: WICANDER, Reed; MONROE,


James S. Fundamentos de geologia. Tradução Harue O. Avritcher. São Paulo:
Cengage Learning, 2009. p. 21. CRÉDITO: Imagem 1 - Richard
Bizley/SPL/Latinstock; Imagem 2 - Christian Jegou Publiphoto
Difusion/SPL/Latinstock; Imagem 3 - Lynette Cook/SPL/Latinstock; Imagem 4 -
Walter Myers/SPL/Latinstock; Imagem 5 - Christian Jegou Publiphoto
Difusion/SPL/Latinstock; Gráfico: Luciane Mori

1 - Período do resfriamento da Terra e formação da crosta terrestre.

2 - Formação dos primeiros oceanos da Terra.

3 - Formação de bosques e plantas arbóreas no início da era Paleozoica.

4 - Os grandes répteis dominaram a Terra há cerca de 200 milhões de anos.

5 - Os primeiros ancestrais do ser humano surgiram entre 4 milhões e 1 milhão


de anos atrás.

14

- O tempo da natureza e as marcas nas paisagens

As sucessivas transformações pelas quais a Terra passou ao longo de sua


história geológica deixaram marcas nas paisagens, ou seja, registros do
passado geológico que cientistas e pesquisadores, como os paleontólogos,
procuram encontrar para compreender melhor a história natural da Terra.

Entre esses registros estão os achados fósseis, restos ou vestígios de animais


e plantas que ficaram preservados naturalmente em meio às rochas ou outros
materiais, ao longo de milhões de anos. Por meio desses fósseis, os cientistas
identificam os tipos de animais e plantas já extintas, as condições climáticas da
época em que essas espécies viveram e, assim, reconstituem as
características ambientais das paisagens que existiram em épocas muito
remotas.

Os fósseis marinhos encontrados atualmente em áreas continentais, por


exemplo, comprovam que esses locais já estiveram cobertos pelas águas
oceânicas. A ocorrência de fósseis de árvores e plantas (troncos, folhas, frutos,
sementes etc.) revela o tipo de vegetação que existiu, há milhões de anos, em
determinada região.

Para determinar a idade dos fósseis, são utilizadas técnicas de datação


sofisticadas, com uso da radioatividade. Assim, a quantidade de determinados
elementos químicos radioativos (carbono 14, urânio 238, entre outros)
encontrada em amostras de rochas permite calcular com certa precisão a
época em que essas rochas se formaram.

Boxe complementar:

A Paleontologia e os registros fósseis

Os paleontólogos são cientistas que se dedicam aos estudos de fósseis de


animais e plantas, a fim de compreender melhor a vida e as paisagens ao
longo da história geológica da Terra. Na foto abaixo, paleontólogo trabalha em
escavações de um dinossauro em El Salvador, em 2013. Abaixo, alguns tipos
de fósseis.

CRÉDITO: Ulises Rodriguez/Reuters/Latinstock

CRÉDITO: Wild Horizons/UIG/Getty Images

CRÉDITO: Thomas R. Taylor/Photoresearchers/Latinstock

LEGENDA DAS IMAGENS: Na foto A, vemos fósseis de plantas que datam de


aproximadamente 250 milhões de anos; a foto B é de um peixe fossilizado que
data de 60 milhões de anos; a foto C é de um inseto preso em âmbar que data
de 45 milhões de anos.

CRÉDITO: Francois Gohier/ Photoresearchers/Latinstock

Glossário:

Paleontologia: ciência que estuda os seres vivos existentes em períodos


geológicos passados por meio de registros fósseis, a fim de compreender as
relações estabelecidas entre o ambiente e os organismos no período geológico
em que existiram.

Fim do glossário.

Fim do complemento

15

- Os fósseis e a reconstituição das mais antigas paisagens

Com base nos registros fósseis de animais e plantas já encontrados em vários


lugares do planeta, os cientistas puderam reconstituir com certa precisão
algumas das paisagens naturais que já existiram na superfície terrestre ao
longo de sua história geológica. A imagem apresentada abaixo ilustra a
reconstituição de uma provável paleopaisagem que existiu na superfície da
Terra em épocas geológicas passadas.

LEGENDA: Por meio de pegadas fossilizadas, como a mostrada acima, que


datam do período Cretáceo, muitas descobertas sobre o passado geológico
dos lugares são desvendadas.

CRÉDITO: Igor Karasi/Shutterstock.com

LEGENDA: A imagem acima retrata uma paleopaisagem, ou seja, uma


paisagem que existiu em épocas geológicas passadas e foi reconstituída por
meio de vestígios fósseis e outras informações do ambiente. Essa paisagem
pertence à formação Crato, uma área do nordeste do Brasil localizada na
região sul do estado do Ceará que data de aproximadamente 108 milhões de
anos atrás (período Cretáceo).

CRÉDITO: Richard Bizley/SPL/Latinstock

Além dos fósseis, muitos dos processos e fenômenos naturais ocorridos ao


longo do tempo geológico deixaram marcas nas paisagens, que, ao serem
investigadas, também revelam parte das transformações ocorridas no nosso
planeta.

Algumas formações rochosas da crosta, como as que são encontradas em


partes do Sertão do Nordeste do Brasil, apresentam grandes estrias (ranhuras)
expostas, marcas que teriam sido deixadas pelo movimento de gigantescas
geleiras que cobriam a região há cerca de 300 milhões de anos, no final da era
Paleozoica. Essas marcas comprovam, portanto, que as condições naturais do
Sertão semiárido nordestino, dominado atualmente pelo clima quente e seco, já
foram radicalmente diferentes em outras épocas do passado geológico (veja
texto nas páginas 20 e 21).

Em boa parte do território brasileiro, como nas bacias dos rios Paraná,
Parnaíba e Amazonas, também são encontrados sedimentos marinhos com
fósseis que datam do período Devoniano (entre 408 milhões e 360 milhões de
anos atrás), evidências de que essas áreas já estiveram cobertas pelas águas
do mar decorrentes de transgressões marinhas ocorridas no passado
geológico.

A existência de certos tipos de vegetação, hoje encontrados em domínios


naturais totalmente diferentes, reflete as mudanças climáticas ocorridas nos
últimos dois milhões de anos, no período Quaternário. Esse é o caso das áreas
de Cerrado em trechos da Floresta Amazônica, de pequenas matas ilhadas nos
vastos domínios dos cerrados e trechos de Caatinga encontrados em plena
Mata Atlântica. Essas mudanças climáticas, ora com períodos mais frios e
secos, ora com períodos mais quentes e úmidos, levaram à retração e à
expansão dos biomas brasileiros.

Glossário:

Paleopaisagem: paisagem natural que existiu na superfície terrestre em um


passado distante, ao longo da história geológica da Terra.

Transgressão marinha: processo oposto à regressão marinha, ou seja, é o


avanço das águas oceânicas sobre os continentes, no qual ocorre a submersão
das terras devido à elevação do nível dos mares. Pode ser decorrente de
processos tectônicos, mudanças climáticas drásticas (glaciação), entre outros
fenômenos.

Fim do glossário.

16

Infográfico - A vida na Terra


Após sua formação, há cerca de 4,6 bilhões de anos, a Terra foi se resfriando,
formando as estruturas rochosas da superfície, os primeiros oceanos e a
atmosfera primitiva. Depois, desenvolveram-se vários tipos de plantas que
passaram a fornecer oxigênio para a atmosfera e permitiram, ainda, o
desenvolvimento de outras formas de vida.

O tempo da Terra

Para sistematizar os acontecimentos desde a formação da Terra, o tempo


geológico foi dividido em períodos de tempo denominados eras. As eras têm
duração de milhões de anos.

CRÉDITO: Sol90 Images

17

A deriva continental

Vivemos sobre placas móveis, chamadas placas tectônicas, que se movem de


forma gradual pela superfície da Terra. Esse fenômeno, chamado deriva
continental, fez que os continentes, antes unidos em uma única massa de
terras, fossem se separando ao longo do tempo.

CRÉDITO: Ilustração conforme: WICANDER, Reed; MONROE, James S.


Fundamentos de geologia. Tradução Harue O. Avritcher. São Paulo: Cengage
Learning, 2009. p. 388. PRESS, Frank et al. Para entender a Terra. Tradução
Rualdo Menegat et al. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. p. 66-67.

18

A dinâmica natural e a transformação das paisagens

Em sua história geológica mais recente, nenhum cataclismo assolou o planeta


Terra. As violentas e ininterruptas erupções vulcânicas cessaram, as mudanças
climáticas ocorridas foram pouco significativas e nenhum grande asteroide,
como o que pode ter provocado a extinção dos dinossauros entre 65 milhões e
70 milhões de anos atrás, chocou-se com o nosso planeta.

Desse modo, nesses últimos milhões de anos, as características das condições


ambientais da Terra permaneceram praticamente as mesmas. Ainda assim, as
paisagens da superfície terrestre, tanto as ocupadas pelos seres humanos
como aquelas em que os elementos naturais se mantêm quase intactos,
continuam sendo criadas e recriadas com constância pela ação dos mais
variados fenômenos e processos naturais.

Alguns fenômenos naturais provocam transformações repentinas, deixando


marcas muito visíveis nas paisagens terrestres. Uma violenta erupção
vulcânica ou um terremoto, por exemplo, podem causar alterações profundas
nas feições do modelado terrestre, criando novas formas de relevo e alterando
completamente as características de uma região (veja foto A). A ocorrência de
um intenso terremoto pode, em poucos segundos, sacudir com força a
superfície da crosta terrestre e causar grande movimentação de massa,
sobretudo em áreas montanhosas, e o desmoronamento de construções em
áreas habitadas.

CRÉDITO: Zulkarnain Ginting/Anadolu Agency/Getty Images

As chuvas torrenciais também podem causar deslizamentos de terras em


encostas de morros e em regiões montanhosas ou, ainda, provocar grandes
inundações em vales e planícies fluviais (veja foto B).

CRÉDITO: Pedro Pardo/AFP Photo

A ação contínua dos ventos, por sua vez, pode provocar o deslocamento das
dunas de regiões desérticas ou costeiras, sempre modificando a fisionomia
dessas paisagens (veja foto C).

LEGENDA DAS IMAGENS: Área recoberta por fumaça e cinzas da erupção de


um vulcão no Monte Sinabung, na Ilha de Sumatra, Indonésia, em 2015 (foto
A); área onde ocorreu deslizamento de terras, soterrando casas, em La
Pintada, México, em 2013 (foto B); casa encoberta por dunas trazidas pelo
vento em Lüderitz, Namíbia, África, em 2014 (foto C).

CRÉDITO: Bill Gozansky/Alamy/Latinstock

Glossário:

Cataclismo: acontecimento ou acidente de grandes proporções que resulta em


graves consequências naturais e/ou sociais (desastre, estrago, tragédia,
calamidade).

Fim do glossário.
19

Outras modificações nas paisagens ocorrem de maneira muito lenta, até


mesmo imperceptível, por meio de processos naturais que atuam
continuamente ao longo de milhões e milhões de anos. Entre esses processos,
estão:

- os movimentos tectônicos orogênicos, responsáveis pelo soerguimento e pela


formação das grandes cadeias montanhosas da Terra, a exemplo do Himalaia
(na Ásia, imagem abaixo), dos Alpes (na Europa) e dos Andes (na América do
Sul);

- a ação erosiva das águas dos rios, que, de forma muito lenta, escavam o
terreno, podendo formar cânions profundos, ou depositam sedimentos ao longo
do seu curso, dando origem a vales e planícies fluviais;

- a ação prolongada dos ventos e das chuvas, que, lenta e gradativamente,


desgastam e esculpem o relevo, criando novas formas no modelado da
superfície terrestre.

LEGENDA: Na representação acima, observa-se o movimento da placa Indo-


Australiana, que se moveu ao encontro da placa Euroasiática formando a
cadeia do Himalaia, fenômeno ocorrido entre 70 e 10 milhões de anos atrás.

FONTE DA ILUSTRAÇÃO: REFERENCE atlas of the world. 9. ed. London:


Dorling Kindersley, 2013. p. XV. CRÉDITO: Gary Hincks/SPL/Latinstock

Muitas outras transformações que ocorrem nas paisagens terrestres são


provocadas por fenômenos ou processos naturais, que se manifestam em
períodos sazonais ou cíclicos, como as estações do ano (primavera, verão,
outono e inverno). As variações meteorológicas e climáticas provocadas pelas
estações do ano interferem, por exemplo, no regime de cheias e vazantes dos
rios, no crescimento, no ciclo reprodutivo e na florescência das plantas, no
comportamento (acasalamento e movimentos migratórios) dos animais
silvestres, entre outras mudanças que se repetem periodicamente conforme a
época do ano. (Veja imagens abaixo.)

Primavera

Verão
Outono

Inverno

LEGENDA DAS IMAGENS: Paisagem da cidade de Preslav, na Bulgária,


mostrando as quatro estações ocorridas em um ano.

CRÉDITO DAS IMAGENS: Stanimir G.Stoev/Shutterstock.com

20

Contexto geográfico

Estudo de caso

Jardins suspensos no sertão

A maior parte do território brasileiro é composta por poucas áreas extensas e


relativamente homogêneas do ponto de vista ecológico.

São os chamados domínios paisagísticos, como o da Mata Atlântica e o das


caatingas, que também incluem áreas de contato e de transição entre os seus
trechos mais típicos e contínuos. Mas, aqui e ali, é possível vislumbrar no
interior dos domínios algumas áreas que destoam dessa relativa uniformidade
e que chegam a representar um grande contraste com o que está à sua volta.

Essas paisagens de exceção, como são chamadas, espalham-se por todo o


Brasil. Entre elas, destacam-se os enclaves de florestas úmidas do semiárido
brasileiro, verdadeiras ilhas de Mata Atlântica em meio à caatinga, que só
recentemente têm recebido atenção especial dos cientistas.

[...]

Para entender a dinâmica que rege esses fragmentos, é indispensável levar em


conta o pano de fundo onde se inserem - o semiárido brasileiro. Ele ocupa uma
área de aproximadamente 788 mil km 2, ou 9,3% do território nacional, situando-
se na sua quase totalidade na região Nordeste, abraçando, exceto o Maranhão,
todos os outros estados da região e o norte de Minas Gerais. Apresenta
médias anuais elevadas de temperatura (28 ºC) e evaporação (2.000 mm) e
chuvas de total anual moderado (250-800 mm). Os solos são
predominantemente rasos, muitas vezes pedregosos, com afloramentos
localizados de rocha cristalina. Tudo isso se reflete em rios e riachos
intermitentes.

[...]

Portanto, configura-se uma paisagem semiárida com enclaves espalhados de


Mata Atlântica, de diferentes formas, tamanhos e graus de isolamento.
Literalmente, são manchas de vegetação sempre verde em um "mar de
caatinga", justificando a alcunha de ilhas de florestas úmidas. Entende-se por
enclave ou encrave as formações vegetacionais estranhas, inseridas em
comunidades naturalmente estabelecidas e em equilíbrio com o ambiente.

21

[...]

O que mantém até hoje o recobrimento florestal dessas elevações é a ação


combinada da localização geográfica, altitude, disposição do relevo em relação
ao deslocamento de ventos oriundos do litoral e do solo. A localização refere-
se ao posicionamento das elevações em relação ao mar, que é de apenas
algumas dezenas de quilômetros. Essa distância relativamente curta permite
que ventos carregados de umidade as atinjam.

A altitude e a arrumação do relevo, por sua vez, agem juntas para formar um
enorme muro que bloqueia esses ventos, condicionando a formação de chuvas
na vertente exposta aos ventos e no topo das elevações - justamente onde a
floresta se estabeleceu. Os solos participam desse processo por meio de suas
propriedades adequadas ao suporte da floresta. [...]

Sabemos onde ocorrem essas ilhas de floresta úmida, quantas existem e como
são essencialmente mantidas. Agora, é pertinente perguntar: de onde vieram?
E por que, atualmente, estão pontuando o semiárido brasileiro na forma de
enclaves florestais? As respostas aqui apresentadas ainda não são definitivas,
mas certamente contêm algo mais do que uma simples aproximação da
verdade.

Para entender a origem e evolução dessas ilhas, é preciso retornar ao


Cretáceo Superior, intervalo de tempo entre 100 milhões e 65 milhões de anos
atrás. Nessa época, em uma América do Sul isolada como enorme ilha, havia
um manto contínuo de formação florestal no litoral leste. Tal manto era um
fragmento comprido da antiga Floresta Gonduânica, que teria coberto trechos
do supercontinente Gonduana no Jurássico, 180 milhões de anos antes do
presente (veja figura abaixo).

[...]

Do Cretáceo Superior pulamos para o Pleistoceno (1,8 milhão até 10 mil anos
atrás), quando modificações mais pronunciadas e definitivas ocorreram na
vegetação, causadas por extremas variações climáticas. No Pleistoceno, o
processo gradual de resfriamento e estiagem que o planeta já vinha
enfrentando exacerbou-se. Nessa época, a Terra experimentou pelo menos
cinco glaciações, e cada uma delas deu sua contribuição às mudanças. [...]

CAVALCANTE, Arnóbio. Jardins suspensos no sertão. Scientific American


Brasil, São Paulo, n. 32, jan. 2005. Disponível em:
www2.uol.com.br/sciam/reportagens/jardins_suspensos_no_sertao.html.
Acesso em: 19 abr. 2016.

As imagens a seguir representam a transformação descrita no texto.

CRÉDITO: Luciane Mori

22

Sociedade, trabalho, técnica e espaço geográfico

LEGENDA: Ilustração de hominídeos que viveram há cerca de 1,8 milhão de


anos, na porção sul do continente africano, disputando a caça com tigre-
dentes-de-sabre; eles já utilizavam alguns instrumentos de madeira e pedra.

CRÉDITO: Mauricio Anton/SPL/Latinstock

Desde os primórdios de sua existência, os seres humanos passaram a se


relacionar com a natureza como forma de satisfazer suas necessidades, ou
seja, para obter alimento, construir abrigo, produzir roupas, garantindo, assim,
as condições necessárias à sua sobrevivência.

No começo de sua história, no entanto, os seres humanos, organizados em


pequenos grupos, viviam da caça, da coleta e da pesca, sendo obrigados a se
deslocarem constantemente de um lugar para outro para obter alimentos.
Vivendo de maneira nômade, abrigavam-se em pequenas cabanas erguidas
com galhos de árvores, pedras, ossos e peles de animais. Com pedras, ossos
de animais e pedaços de madeira também fabricavam instrumentos
rudimentares, usados para caçar e cortar galhos, raízes e frutos.

Podemos dizer que eles viviam em um meio natural submetidos às condições


impostas pela natureza, da qual se utilizavam sem provocar maiores
transformações no espaço que habitavam. Desse modo, a configuração
territorial do espaço terrestre existente até então se apresentava como o
conjunto de paisagens naturais ainda pouco alteradas.

Mas, no decorrer de sua história, os seres humanos foram aprimorando e


desenvolvendo novos instrumentos e ferramentas de trabalho, que melhoraram
progressivamente suas técnicas, criando as condições necessárias para
superar as limitações até então impostas pelo meio natural. Em sentido amplo,
as técnicas podem ser definidas como o conjunto de conhecimentos e
habilidades que se estendem a todos os domínios das atividades humanas. Em
sentido mais restrito, elas se referem ao modo de se realizar determinada
tarefa possuindo uma finalidade prática no desenvolvimento das atividades
produtivas.

23

Assim, à medida que as técnicas foram aprimoradas, com o surgimento de


máquinas e instrumentos mais avançados para a realização de tarefas
produtivas, o trabalho humano também passou a intervir e a modificar a
natureza, explorando com mais intensidade seus recursos, como o solo, os
minerais, a flora e a fauna, as águas dos rios, lagos e oceanos etc.

Como consequência, a configuração das paisagens na superfície terrestre foi,


ao longo da história, cada vez mais marcada pelas obras dos seres humanos:
plantações, pastagens, cidades, fábricas, minas, estradas, portos, ferrovias etc.

A esse espaço humanizado, constituído por uma natureza socialmente


modificada e produzida pelo trabalho do ser humano, damos o nome de espaço
geográfico. Como não existem mais lugares na superfície do planeta que não
tenham recebido direta ou mesmo indiretamente a interferência da ação
humana, dizemos que o espaço geográfico abarca toda a superfície do globo.
A ação humana tende a transformar o meio natural em meio geográfico, isto é,
em meio moldado pela intervenção do homem no decurso da história. [...] o
papel do homem como agente de intervenção no espaço geográfico data
apenas de há 6 500 ou 7 000 anos, com os primórdios da agricultura.[...]
Contudo, a ação humana tem se manifestado de maneira cada vez mais
intensa, graças aos efeitos conjugados do crescimento demográfico em todo o
mundo e do progresso das técnicas. [...]

DOLFUSS, Olivier. O espaço geográfico. Tradução Heloysa de Lima Dantas. 3.


ed. Rio de Janeiro: Difel, 1978. p. 29.

Boxe complementar:

As técnicas e a ampliação do horizonte geográfico

O aprimoramento de técnicas capazes de superar as adversidades e limitações


impostas pelas condições do meio natural, combinado com os efeitos do
crescimento demográfico (como estudaremos na unidade 4), permitiu que os
seres humanos se dispersassem e se fixassem até mesmo nos meios mais
inóspitos à sua sobrevivência. Hoje, os seres humanos podem ser encontrados
tanto nas zonas extremamente geladas dos polos, como nas regiões secas e
áridas dos grandes desertos e até mesmo no topo das mais altas montanhas
do globo. Veja as imagens a seguir.

LEGENDA: Cidade de Reine, na Noruega, em 2015.

CRÉDITO: imageBROKER/Alamy/Latinstock

LEGENDA: Habitações no deserto na Namíbia, na África, em 2014.

CRÉDITO: meunierd/Shutterstock.com

Fim do complemento.

24

Técnica, cultura e identidade cultural

Ainda que o desenvolvimento das técnicas, acompanhado do expressivo


avanço do conhecimento científico ocorrido nos últimos dois séculos, tenha se
tornado uma característica marcante em diversos setores da sociedade em que
vivemos, nem todas as sociedades avançaram da mesma forma no que diz
respeito ao conhecimento técnico.

Atualmente, existem no mundo diversas sociedades tradicionais que garantem


sua subsistência por meio de técnicas rudimentares e pouco elaboradas.
Podemos citar o caso de sociedades que vivem da caça, da pesca e da coleta,
de sociedades agrícolas tradicionais, que se dedicam quase exclusivamente ao
cultivo de subsistência, e de sociedades que sobrevivem do pastoreio nômade.

Em geral, essas sociedades estão organizadas e estruturadas a partir de uma


divisão social do trabalho que lhes garante a própria subsistência. Entre alguns
povos caçadores e coletores, por exemplo, cabe aos homens a tarefa de caça
e coleta de alimentos, enquanto as mulheres e as crianças ficam encarregadas
do preparo dos alimentos. Já nas sociedades agrícolas tradicionais temos, em
geral, uma divisão social do trabalho organizada com base nas tarefas a serem
realizadas.

LEGENDA: Representantes do povo Hadzabe, que vive da coleta e da caça em


áreas de floresta na Tanzânia, África, em 2013.

CRÉDITO: blickwinkel/Alamy/Latinstock

Boxe complementar:

Groenlândia, o cofre de ouro dos inuits

[...]

Em Aappilattoq, aldeia numa ilha da costa sudoeste, um coro de vozes inuits


roucas canta hinos nostálgicos em sua língua materna.

[...] a luz brilhante e transparente ilumina as caras das mulheres e das crianças
reunidas para um baile. Um teclado começa a tocar. Uma guitarra desafinada
acompanha. Um rapaz do povoado filma tudo com sua câmera. O novo se
choca com o antigo. A cultura que durante séculos sustentou os nativos da ilha
está perdendo o sentido.

A cada ano a Groenlândia perde 240 km 3 de gelo. O nível médio do mar já


subiu 0,5 cm. O modo de vida dos inuits está ameaçado. O povoado é
modesto. Umas 30 casas humildes de madeira, uma escola primária, uma
igreja muito simples e um cemitério desproporcionalmente grande ocupam uma
superfície rochosa junto a uma pequena baía. Ali vive esse povo solitário, cheio
de sonhos de imigração para criar uma vida igual à das telenovelas dos países
distantes.

Os inuits possuem antenas parabólicas, rádio, telefone, internet e sabem muito


bem que aquele que parte nunca retorna para contar como a existência é
diferente lá fora, a não ser raramente. Os que ficam admitem sua incapacidade
para enfrentar uma existência destituída da paisagem a que estão
acostumados. [...]

Como o urso-polar, o homem inuit sofre por causa das mudanças bruscas do
clima e da política ambiental mundial. Hoje, para os nativos da Groenlândia, a
maneira mais fácil de se alimentar é enchendo o carrinho no supermercado do
vilarejo. Tudo o que nele se vende é importado da capital, Nuuk, ou de outros
países.

Glossário:

Inuits: povos que habitam a região norte do Canadá, o Alasca e a Groenlândia.

Fim do glossário.

25

[...]

Os groenlandeses inuits recebem uma ajuda econômica da Dinamarca, país de


onde vieram os primeiros colonizadores europeus. [...]

Esse não é, no entanto, um acordo ditado pelo altruísmo, e sim pela


conveniência mútua. As duas nações pequenas precisam uma da outra. Os
inuits não apenas são poucos, mas também lhes faltam mão de obra e
competência para o desempenho de funções na sociedade moderna. Os
dinamarqueses necessitam da riqueza dos mares da Groenlândia, que
contribui para o gordo produto interno bruto da Dinamarca. [...]

As vozes de Aappilattoq cantam os hinos da sua nação inuit. O eco delas


ressoa entre as montanhas. Como um todo, o país enfrenta um conflito
humano de grandes proporções. Abrir seu cofre de ouro e repartir seus
recursos naturais para serem explorados e desfrutar de proventos substanciais
para criar uma nação moderna? Ou confiar que uma nova política ambiental
mundial os deixará em paz com seus costumes e tradições, permitindo que
eles evoluam do seu jeito e modo? [...]

PALMERS, Anne. Groenlândia, o cofre de ouro dos inuits. Revista Planeta, São
Paulo, ed. 461, fev. 2011. p. 68. Disponível em:
http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/reportagens/groenlandia-o-cofre-de-
ouro-dos-inuits. Acesso em: 28 out. 2015.

LEGENDA: Vilarejo de Aappilattoq, na Groenlândia, em 2014.

CRÉDITO: Magdalena Iordache/Alamy/Latinstock

Fim do complemento.

Uma época para o preparo da terra e o plantio das lavouras, outra para cuidado
com as plantações e outra época destinada à colheita. Tais tarefas,
geralmente, são realizadas de forma coletiva e com o uso de ferramentas
rudimentares, como foices, enxadas, arados manuais de tração animal, entre
outras.

Ainda que as sociedades tradicionais mantenham um modo de vida próprio e


uma cultura singular, inúmeras dessas sociedades são culturalmente afetadas
pela introdução de novos hábitos e costumes, gerados pelas inovações
tecnológicas da sociedade moderna. Há casos em que essa interferência
ocasiona intensa transformação cultural, resultando na perda da identidade
cultural desses povos, com o abandono de hábitos e tradições seculares, até
então transmitidos de geração a geração.

É o que já ocorreu, por exemplo, com muitos povos indígenas que vivem
espalhados no território brasileiro, vítimas de um violento processo histórico de
interferência cultural, que levou à assimilação de outras culturas e à perda
sistemática e irreparável de seus costumes, tradições, hábitos e valores. O
texto a seguir trata da situação dos povos inuits que vivem na Groenlândia.

LEGENDA: Grupo do povo pigmeu, que também vive da floresta e de


pequenos cultivos, realizando dança típica de sua cultura em Uganda, na
África, em 2012.

CRÉDITO: Palenque/Shutterstock.com

26
Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Quais condições naturais contribuíram para o surgimento dos primeiros


seres vivos?

2. Os fósseis podem trazer registros e informações do passado geológico da


Terra. Explique.

3. Explique por que é possível encontrar fósseis marinhos em algumas áreas


do território brasileiro, como no Nordeste, nas bacias dos rios Amazonas e
Paraná.

4. Em qual era geológica ocorreram os seguintes acontecimentos:

a) surgimento dos seres multicelulares;

b) desenvolvimento da espécie humana;

c) extinção dos dinossauros;

d ) desenvolvimento dos répteis.

5. Defina o que são os movimentos tectônicos orogênicos.

6. Explique a influência das técnicas humanas na transformação do meio


natural e dê exemplos.

Expandindo o conteúdo

7. Leia o texto a seguir.

Antropoceno: a época da humanidade?

[...]

Bem-vindos à 'época da humanidade'! Por séculos, a percepção do mundo, da


vida social e dos meios de produção esteve (e está) centrada nos seres
humanos. Chamamos essa visão de mundo de 'antropocêntrica'. Para as
pessoas que vivem em sociedades com essa concepção, todos os recursos
naturais, e mesmo a própria história da Terra - e do cosmos -, converge para
apenas um foco: a nossa espécie. Isso criou a ilusão de que a natureza existe
para nos servir, e muitas sociedades orientaram suas ações por essa crença.
Os humanos, segundo essa perspectiva, teriam regalias como possibilidade de
expansão populacional ilimitada, usufruto contínuo de todos os recursos
naturais e domínio cego sobre um planeta infinito.

No entanto, nosso planeta não é infinito. A Terra é um sistema aberto, de ciclos


antiquíssimos, de variadas transformações ambientais - e podemos observar
muitas delas por meio do registro geológico. Alterações atmosféricas,
geológicas, químicas, biológicas, grandes erupções, grandes extinções e
outros acontecimentos do passado podem ser 'lidos' nos chamados
'testemunhos geológicos' [...].

[...] em 2002, Paul Crutzen, químico holandês ganhador do prêmio Nobel (em
1995), publicou um artigo chamado Geologia da humanidade, onde sugeriu o
termo 'antropoceno', reacendendo a polêmica na comunidade científica. Outras
palavras, como 'tecnógeno' e 'tecnoceno', são ocasionalmente utilizadas para
denominar esse tempo contemporâneo, que teria sucedido o Holoceno.

[...]

O que tornaria o Holoceno diferente da época em que estamos vivendo agora?


O fato é que não esperamos encontrar, em uma camada estratigráfica do
Holoceno anterior à Revolução Industrial, resíduos plásticos ou produtos
orgânicos persistentes, como certos pesticidas (DDT e outros),
policlorobifenilos (conhecidos como PCBs) e outros, além dos altos níveis
atuais de radioatividade e de gases responsáveis pelo efeito estufa.

Glossário:

Camada estratigráfica: camada de rochas que se diferencia de outras camadas


conforme o tipo de rochas, os conteúdos fósseis, entre outras características.

Fim do glossário.

27

A partir de meados do século 18, os humanos alteraram diretamente as


paisagens em 40% a 50% do planeta, e marcas de sua influência afetam mais
de 83% da superfície terrestre (é a chamada 'pegada antrópica'). A habilidade
de rápida locomoção humana faz com que apenas 10% da superfície global
seja considerada 'regiões remotas' (que ficam a mais de 48 horas de viagem, a
partir de uma grande cidade).

[...] O termo Antropoceno ainda causa polêmica. Geólogos, paleontólogos e


paleoclimatólogos, acostumados a grandes escalas de tempo, tendem a ser
mais comedidos quanto ao estabelecimento dessa nova época geológica. [...]

Se não houver alguma grande catástrofe ambiental global, como o impacto de


um meteoro, uma grande pandemia, uma guerra mundial ou outro evento que
paralise o crescimento demográfico e/ou mude de direção o desenvolvimento
tecnológico, a humanidade tende a continuar sendo uma poderosa força
ambiental.

[...]

Reconhecendo isso, é preciso também admitir como são evidentes os sinais de


que não mudamos o planeta apenas para o nosso bem. De fato, o tornamos
mais hostil à presença de boa parte das formas de vida, inclusive a nossa. A
humanidade - se conseguir se manter viva - precisará rever seu
comportamento de força geológica e buscar formas de ocupar ambientes de
modo menos agressivo e mais harmonioso, nem que seja apenas por pensar
em benefício próprio. Extinções de antigas civilizações humanas por desastres
ambientais não são novidade. O Homo sapiens sapiens, como esse nome
indica, é uma espécie 'inteligente', que entende hoje as relações de causa e
efeito: não temos, portanto, a desculpa da ignorância para repetir os mesmos
erros.

MARTINI, Bruno. Antropoceno: a época da humanidade? Ciência Hoje, São


Paulo, jul. 2011. Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-
ch/2011/283/pdf_aberto/antropoceno283.pdf/at_download/file. Acesso em: 28
out. 2015.

a) Você concorda que, na atualidade, os seres humanos têm vivido um período


antropocêntrico, tal como é descrito no primeiro parágrafo? Justifique sua
resposta.

b) Dê exemplos de testemunhos geológicos por meio dos quais muitos estudos


obtiveram informações sobre a evolução da vida na Terra.
c) De acordo com o texto, como o Holoceno poderia se diferenciar do novo
período, o Antropoceno?

d) O que o texto quer dizer com: "[...] a humanidade tende a continuar sendo
uma poderosa força ambiental".

LEGENDA: Imagem noturna da Terra; as luzes marcam a presença humana.

CRÉDITO: NASA

28

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

As telas e o registro das paisagens

Antes do invento da fotografia, as pinturas eram importantes registros das


paisagens e, sobretudo, do modo de vida das pessoas no passado. Por meio
das telas, artistas do mundo todo retrataram a configuração das mais variadas
paisagens existentes na superfície terrestre e, principalmente, registraram as
obras da humanidade, como plantações, pastagens, cidades, portos, entre
outros, no espaço geográfico, em diferentes tempos passados. Atualmente,
quando observamos essas obras de arte, podemos identificar hábitos, técnicas
e ferramentas que caracterizaram diferentes modos de vida no passado. As
imagens a seguir mostram algumas dessas telas.

LEGENDA: Jean-François Millet foi um dos grandes pintores franceses do


século XIX. Por não apreciar a vida na cidade, François Millet viveu muitos
anos no campo, tornando as paisagens rurais e o trabalho dos camponeses
alguns dos temas centrais de suas obras. Acima, imagem da tela As
Respigadeiras, de 1857.

CRÉDITO: Jean-Francois Millet. As Respigadeiras. 1857. Óleo sobre tela.


Museu d'Orsay. Paris, França. Foto: Bridgeman Images/Easypix

LEGENDA: Muitos artistas retrataram paisagens brasileiras entre os séculos


XVIII e XIX, entre eles, Iluchar Desmons. Nascido na França, Desmons chegou
ao Brasil em 1840. Várias de suas obras retrataram paisagens da cidade do
Rio de Janeiro. Acima, imagem da tela Barão de Mauá, produzida pelo artista
em 1854.

CRÉDITO: Iluchar Desmons. 1854. Litografia sobre papel. 38,5 x 48 cm.


Coleção particular

29

A Geografia no cinema

10.000 a.C.

CRÉDITO: Filme de Roland Emmerich. 10.000 a.C. EUA. 2008

Título: 10.000 a.C.

Diretor: Roland Emmerich

Principais atores: Steven Strait, Camilla Belle e Cliff Curtis

Ano: 2008

Duração: 109 minutos

Origem: Estados Unidos

O filme retrata a aventura de D'Leh, um jovem guerreiro que viaja por territórios
desconhecidos em busca de Evolet, jovem sequestrada de seu povo por quem
é apaixonado.

Por meio de cenas impressionantes, o filme mostra o conflito entre diferentes


povos e, sobretudo, o domínio de técnicas desiguais.

Para assistir

- A GUERRA do fogo. Direção: Jean-Jacques Annaud. International Cinema


Corporation, 1981.

O filme retrata a busca pelo domínio do fogo por um grupo humano da Pré-
História.

- OS DEUSES devem estar loucos . Direção: Jamie Uys. 20th Century Fox,
1981.
Retratando o choque entre diferentes culturas, essa comédia mostra a história
de um povo africano que acredita ter recebido um presente dos deuses. Tudo
começa quando uma garrafa de refrigerante cai de um avião sobre a aldeia.

Para ler

- ANELLI, Luiz Eduardo. O guia completo dos dinossauros do Brasil. São


Paulo: Peirópolis, 2010.

- KELLNER, Alexandre. Um fóssil espetacular. Ciência Hoje, São Paulo, 17


dez. 2014. Disponível em: http://tub.im/nz6qzm. Acesso em: 17 set. 2015.

- MCALESTER, A. Lee. História geológica da vida. São Paulo: Blucher, 1999.

- PALMER, Douglas. Evolução: a história da vida. Tradução Ana Catarina


Nogueira. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.

- TORT, Patrick. Darwin e a ciência da evolução. Tradução Vera Lucia dos


Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

- ZIMMER, Carl. O livro de ouro da evolução. Tradução Jorge Luis Calife. Rio
de Janeiro: Ediouro, 2004.

Para navegar

- INSTITUTO Ciência Hoje. Disponível em: http://tub.im/qceb3p. Acesso em: 17


set. 2015.

- SOCIEDADE Brasileira de Geologia (SBG). Disponível em:


http://tub.im/88tupa. Acesso em: 17 set. 2015.

- SOCIEDADE Brasileira de Paleontologia (SBP). Disponível em:


http://tub.im/3z9j3x. Acesso em: 17 set. 2015.

30

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UEM-PR) Sobre espaço geográfico, identifique a(s) alternativa(s)


CORRETA(S).
(01) Para a Geografia, o espaço geográfico é aquele constituído pelas formas
naturais e pelas formas criadas pelo trabalho humano, como produto das
relações que ocorrem na vida em sociedade.

(02) Espaço é analisado levando em conta os lugares, as regiões, os territórios


e as paisagens. Por isso, para a Geografia, espaço, região, território e
paisagem têm exatamente o mesmo significado.

(04) Espaço geográfico abrange não apenas os objetos naturais e os artefatos


humanos, mas também a rede de relações criada por fluxos de pessoas,
mercadorias, capitais e informações.

(08) Para a Geografia, existem dois espaços bem definidos: o espaço físico e o
espaço humano, sendo o primeiro entendido como natural, e o segundo como
social. Os dois sempre são estudados isoladamente, e um não tem e nem sofre
qualquer interferência do outro.

(16) O espaço geográfico é entendido apenas como espaço social, aquele em


que as sociedades desenvolvem suas atividades econômicas. Nesse sentido,
surgem as denominações de espaço agrícola, espaço industrial e espaço
comercial.

2. (Fuvest-SP) Uma maneira de compreender a distribuição temporal de


fenômenos ocorridos em longos períodos é situá-los em um ano de 365 dias.
Por exemplo, ao transpor os 4,6 bilhões de anos da Terra para esse ano, a
formação do planeta teria ocorrido em 1º de janeiro, o surgimento do oxigênio
na atmosfera em 13 de junho, o aumento e a diversificação da vida
macroscópica a partir de 15 de novembro e o início da separação da Pangeia
em 13 de dezembro.

Considere os seguintes eventos:

Evento 1. Surgimento do Homo sapiens.

Evento 2. Revolução agrícola do Neolítico.

Evento 3. Declínio do Império Romano.

Evento 4. A colonização da América pelos europeus.


A partir das informações do texto, é CORRETO situar os referidos eventos no
mês de dezembro desse ano no(s) dia(s):

Evento 1

a) 29.

b) 29.

c) 30.

d) 30.

e) 31.

Evento 2

a) 29.

b) 30.

c) 30.

d) 31.

e) 31.

Evento 3

a) 30.

b) 30.

c) 31.

d) 31.

e) 31.

Evento 4

a) 30.

b) 31.

c) 31.

d) 31.

e) 31.
3. (IFBA-BA) Considerando os referenciais teórico-metodológicos na
construção do conhecimento geográfico e a análise e interpretação das
transformações territoriais e espaciais ocorridas a partir do desenvolvimento da
ciência e da tecnologia na dinâmica do modo de produção capitalista, é
CORRETO afirmar:

a) O conhecimento geográfico sobre o espaço e a regionalização do sistema-


mundo atual desconsidera os referenciais cartográficos utilizados no passado,
uma vez que, com o processo de globalização e das tecnologias de
comunicação mais avançadas, estes deixaram de ter sentido prático.

b) Com o desenvolvimento das tecnologias virtuais via computadores e redes


sociais, as transformações socioterritoriais se apresentam no cotidiano
reforçando a teoria determinista quando se trata de problemas ambientais e
possibilista quando se trata de problemas históricos.

c) Sociedade e Natureza são as duas categorias conceituais que se articulam


dialeticamente para a constituição da paisagem como objeto de estudo da
geografia crítica.

d) Os veículos de comunicação de massa, entre eles a televisão, muitas vezes


distorcem as informações geográficas, quando, vez por outra, apresentam a
natureza como responsáveis por várias catástrofes naturais, desconsiderando
os sujeitos que podem decidir os preços da renda da terra ou as formas de uso
e ocupação do espaço.

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4. (UEM-PR) Sobre o planeta Terra, sua idade e evolução, identifique o que for
CORRETO.

(01) A Terra se originou há, aproximadamente, 9,6 bilhões de anos, juntamente


com o início da formação do universo. As primeiras formas de vida na Terra
surgiram na Era Mesozoica. Atualmente, nos encontramos na Era Paleozoica,
no período Cretáceo.

(02) O método de datação realizado a partir do carbono quatorze (C14), que é


um elemento radioativo absorvido pelos seres vivos, é muito utilizado para a
investigação da idade de achados arqueológicos mais recentes, de origem
orgânica, pois sua meia-vida é de 5.700 anos.

(04) O tempo geológico é dividido em Éons, Eras, Períodos e Épocas. A sua


sistematização cronológica é conhecida como escala de tempo geológico. A
partir dessa sistematização, foi possível estabelecer uma sucessão de eventos
desde o presente até a formação da Terra.

(08) A deriva dos continentes se iniciou na Era Cenozoica, por volta de 100 mil
anos atrás, quando só existia um único continente chamado de Gondwana.
Posteriormente, no Holoceno, este continente se dividiu em cinco outros
continentes, chegando à configuração atual.

(16) Geocronologia são as diferentes formas de investigação da escala de


tempo das rochas, da evolução da vida e da própria Terra. O método de
datação mais utilizado na Geocronologia envolve a medição da quantidade de
energia emitida pelos elementos radioativos presentes nas rochas e minerais.

5. (UNESP-SP) As extinções em massa que marcaram a história da Terra


aconteceram em diferentes períodos geológicos. Analise o texto e o quadro
para responder à questão.

Texto

O sumiço de espécies é um fato da vida. Além das Big Five, como são
conhecidas as cinco grandes extinções em massa do passado, nos dias de
hoje é anunciada a Sexta Extinção, porque tem tudo para atingir dimensões
comparáveis às das outras cinco grandes extinções em massa da história da
Terra. Propício atentar a este problema, pois é o Ano Internacional da
Biodiversidade.

As cinco primeiras

CRÉDITO: (Reinaldo José Lopes. Unespciência, ano 1, nº 7, abril de 2010.


Texto e quadro adaptados.)

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A partir do texto e do quadro, analise as afirmações.


I. Nas Big Five, os fatores que desencadearam a extinção em massa foram
fenômenos astronômicos, geológicos com intensas erupções vulcânicas e a
deriva dos continentes, associados a flutuações no nível do mar e mudanças
climáticas.

II. Na Sexta Extinção, como é conhecido o atual momento, o principal fator que
desencadeia este fenômeno é o aumento do número de terremotos e da
atividade vulcânica no Círculo de Fogo do Pacífico.

III. Nas Big Five, as extinções em massa parecem não terem sido
desencadeadas pela ação de seres vivos, principalmente por uma única
espécie - o homem.

IV. A capacidade de recuperação da biodiversidade planetária é imensa. As Big


Five ocorreram pela intervenção humana associada a eventos de impactos de
meteoritos e intenso vulcanismo.

Estão CORRETAS as afirmações:

a) I, II e III, apenas.

b) I e III, apenas.

c) I, II, III e IV.

d) I, III e IV, apenas.

e) I e II, apenas.

6. (UFAM-AM) O texto abaixo é formado por trechos da obra de ficção


científica, Viagem ao Centro da Terra (1864), do escritor francês Júlio Verne,
que narra as aventuras e mistérios pelo interior do planeta.

Toda a história do período hulheiro estava inscrita naquelas paredes escuras, e


um geólogo poderia acompanhar com facilidade as diversas fases. Os leitos de
carvão eram separados por extratos de grés ou de argila compactos e como
que esmagados pelas camadas superiores.

Nessa era do mundo que precedeu a era secundária, a Terra foi recoberta por
uma vegetação compacta em virtude do calor tropical e da umidade
persistente. Uma atmosfera de vapores envolvia todo o globo, escondendo
ainda os raios do sol.
www.triplov.com/walkyria/viagem_centro_terra/capitulo_20.htm. Acesso em: 10
set. 2009.

O texto refere-se ao Período Carbonífero que aconteceu aproximadamente


entre 360 a 286 milhões de anos durante a Era:

a) Mesozoica.

b) Cenozoica.

c) Proterozoica.

d) Paleozoica.

e) Pré-cambriana.

7. (UNIR-RO) Sobre as variações climáticas ao longo das eras geológicas,


indique V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

- O clima da terra sempre apresentou períodos glaciais e interglaciais.

- O homem apareceu na superfície da terra na era Cenozoica, no Quaternário,


em um período interglacial.

- Os períodos glaciais são mais quentes que os interglaciais por apresentarem


elevadas temperatura e umidade relativa.

- Na era Paleozoica, ocorreu o desenvolvimento dos peixes e da vegetação


durante a glaciação.

- Antes do aparecimento do homem, a terra já apresentava mudanças


climáticas naturais.

Identifique a sequência CORRETA.

a) V, F, F, F, V.

b) F, V, V, F, F.

c) V, F, F, V, V.

d) V, V, F, V, V.

e) V, F, V, V, V.

8. (FURG-RS) Relacione as eras geológicas com os eventos da coluna à


direita.
Coluna da esquerda:

I Mesozoico.

II Cenozoico Terciário.

III Arqueozoico.

IV Paleozoico.

V Cenozoico-Quaternário

Coluna da direita:

1 - A formação das grandes bacias sedimentares brasileiras.

2 - Surgimento dos seres humanos.

3 - Origem da vida.

4 - Origem das Angiospermas.

5 - Surgimento dos desdobramentos modernos.

Aponte a alternativa que apresenta todas as relações CORRETAS.

a) I-3, II-1, III-4, IV-5 e V-2

b) I-1, II-2, III-3, IV-4 e V-5.

c) I-4, II-5, III-3, IV-1 e V-2.

d) I-5, II-2, III-4, IV-3 e V-1.

e) I-4, II-5, III-1, IV-2 e V-3.

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9. (UFRR-RR) O planeta Terra em sua história passou por grandes mudanças,


tanto geológicas como biológicas, sendo que um dos períodos mais marcantes
foi a conhecida era dos grandes répteis que dominaram a Terra por milhões de
anos.

Com base no texto acima indique a opção CORRETA:

a) A era dos grandes répteis é o Paleozoico.

b) A era dos grandes répteis é o Mesozoico.

c) A era dos grandes répteis é o Proterozoico.


d) A era dos grandes répteis é o Arqueozoico.

e) A era dos grandes répteis é o Cenozoico.

10. (ENEM-MEC) Se compararmos a idade do planeta Terra, avaliada em


quatro e meio bilhões de anos (4,5-109 anos), com a de uma pessoa de 45
anos, então, quando começaram a florescer os primeiros vegetais, a Terra já
teria 42 anos. Ela só conviveu com o homem moderno nas últimas quatro horas
e, há cerca de uma hora, viu-o começar a plantar e a colher. Há menos de um
minuto percebeu o ruído de máquinas e de indústrias e, como denuncia uma
ONG de defesa do meio ambiente, foi nesses últimos sessenta segundos que
se produziu todo o lixo do planeta!

O texto permite concluir que a agricultura começou a ser praticada há cerca de:

a) 365 anos.

b) 460 anos.

c) 900 anos.

d ) 10.000 anos.

e) 460.000 anos.

11. (UEPB-PB)

"Toda paisagem que reflete uma porção do espaço ostenta marcas de um


passado mais ou menos remoto, apagado ou modificado de maneira desigual,
mas sempre presente".

(Olivier Dolfus, 1991)

De acordo com o texto, podemos afirmar:

a) A paisagem é um conjunto de formas heterogêneas de idades diferentes.

b) A paisagem é estática, ao passo que o espaço é dinâmico.

c) As formas antigas da paisagem são sempre suprimidas, devido a seu


envelhecimento técnico e social.

d) As paisagens refletem, sempre, as marcas das desigualdades sociais, por


serem produzidas sob o modo de produção capitalista.
e) A paisagem é uma representação do espaço, mas não é espaço, portanto,
exibe as formas, mas esconde a essência de sua produção.

12. (UEL-PR)

"Na história primitiva, havia poucas formas criadas pelo homem, sendo
bastante reduzido o número daquelas estabelecidas com um sentido de
permanência ou de maior impacto. O espaço assemelhar-se-ia à tela proverbial
esperando pela tinta da história humana. Neste aspecto, as alternativas eram
infinitas. Entretanto, cada objeto permanece na paisagem, cada campo
cultivado, cada caminho aberto, poço de mina ou represa constitui uma
objetificação concreta de uma sociedade e de seus termos de existência. As
gerações vindouras não podem deixar de levar em conta essas formas. As
cidades e as redes de transportes dos tempos modernos testemunham tal
herança, que se interpõe no curso do futuro."

(SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1992. p. 54.)

Com base no texto, considere as afirmativas a seguir.

I. Na paisagem produzida pelas sociedades, coexistem temporalidades


distintas que se manifestam na diversidade de formas e de artefatos.

II. O aumento da densidade das paisagens faz com que as sociedades


humanas percam a possibilidade de legar registros concretos de seus termos
de existência.

III. Formas e objetos socialmente criados e dispostos no espaço têm papel


ativo, pois facilitam ou inibem transformações sociais.

IV. Para as futuras gerações, a paisagem assemelhar-se-á a uma tela em


branco esperando pela tinta da história humana.

Estão CORRETAS apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e III.

c) III e IV.

d) I, II e IV.

e) II, III e IV.


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unidade 2 - Indústria e espaço geográfico

LEGENDA: Complexo petroquímico localizado na cidade de Edimburgo, na


Escócia, em 2010.

CRÉDITO: Billy Currie Photography/Moment Select/Getty Images

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Transformar matérias-primas em diferentes produtos: esse é o principal


objetivo das indústrias. Ainda que pareça simples, esse processo envolve
muitos fatores naturais, econômicos e sociais.

É necessário, portanto, desenvolver um olhar cada vez mais geográfico sobre a


atividade industrial no mundo, com o intuito de compreender melhor e analisar
mais criticamente essa atividade.

- O surgimento da indústria é um fato relativamente novo na história da


humanidade, tendo se iniciado no século XVIII com a Revolução Industrial
inglesa. O que você sabe sobre a Revolução Industrial? Em que a atividade
industrial do presente difere daquela realizada no passado? Quais são
atualmente os países mais industrializados do mundo? Qual é a importância da
indústria para o desenvolvimento econômico de um país?

36

A indústria e a produção do espaço geográfico

As inovações técnicas ocorridas ao longo da história, conforme estudamos na


unidade anterior, ampliaram a capacidade humana de intervir e de provocar
modificações na natureza. Essas interferências, no entanto, se tornaram muito
mais intensas a partir de meados do século XVIII, com o advento da indústria
moderna. Com o surgimento da atividade industrial, a forma de produção, que
até então se apoiava no trabalho manual e em pequena escala no artesanato e
na manufatura (veja quadro abaixo), foi substituída pelo processo produtivo
fabril, realizado no interior das fábricas.

Caracterizada pela introdução de máquinas movidas a energia, a princípio, pelo


vapor gerado com a queima de carvão mineral e, posteriormente, pela
eletricidade e pelo petróleo, a atividade industrial passou a transformar os
recursos naturais em mercadorias produzidas em série, de maneira
padronizada, mais rápida e em grande escala. Essa nova organização do
processo produtivo, que historicamente ficou conhecida como Revolução
Industrial, começou na Inglaterra no século XVIII e nos séculos seguintes se
espalhou para outros países da Europa (França, Alemanha, Bélgica, Holanda,
Rússia) e do mundo (assunto que estudaremos mais detalhadamente no
volume 3).

Boxe complementar:

Indústria

Conjunto de atividades produtivas que se caracterizam pela transformação de


matérias-primas, de modo manual ou com auxílio de máquinas e ferramentas,
no sentido de fabricar mercadorias. De uma maneira bem ampla, entende-se
como indústria desde o artesanato voltado para o autoconsumo até a moderna
produção de computadores e instrumentos eletrônicos. [...]

SANDRONI, Paulo. Novo dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller,


1999. p. 170.

Fim do complemento.

FONTE: Elaborado pelos autores.

37

Com o processo de industrialização em curso, o avanço da atividade industrial


começou a transformar profundamente o espaço geográfico, a princípio nos
países em que a indústria estava se desenvolvendo mais plenamente e,
depois, em outras partes do mundo. Por isso, não é exagero dizer que a
configuração do espaço geográfico contemporâneo resulta, em grande medida,
do avanço da atividade industrial ao longo dos últimos dois séculos.

A expansão das áreas agrícolas, sobretudo das grandes monoculturas (veja


foto A), assim como da exploração de recursos minerais (ambas atividades
primárias), tornou-se necessária para sustentar o crescente aumento da
produção industrial. Apoiada em processos produtivos (máquinas e formas de
trabalho) cada vez mais eficientes, a atividade industrial ampliou intensamente
a demanda por matérias-primas e fontes de energia, exigindo que mais e mais
recursos naturais fossem explorados e transformados em bens materiais, como
alimentos, roupas, moradias, combustíveis, ferramentas, meios de transporte,
destinados ao consumo da população e ao abastecimento das fábricas.

CRÉDITO: Daniel Acker/Bloomberg/Getty Images

A produção industrial em maior escala também ampliou o comércio interno e


externo, intensificando a circulação de produtos e de matérias-primas entre
diferentes regiões do espaço geográfico, o que acabou exigindo a ampliação e
o desenvolvimento de redes e meios de transportes (rodoviário, ferroviário,
hidroviário e aéreo) mais eficientes (veja foto B).

CRÉDITO: John Panella/Shutterstock.com

Nos países em que se desenvolveu mais, a indústria também levou ao


crescimento acelerado das cidades, impulsionando o processo de urbanização
(veja foto C). Isso porque um grande contingente de trabalhadores deixou o
campo para ocupar os postos de trabalho gerados nas fábricas, enquanto
outros foram expulsos pela mecanização da lavoura, uma vez que máquinas
agrícolas eram fornecidas pelas próprias indústrias. Nos centros urbanos, a
indústria também promoveu a expansão das atividades terciárias (comércio e
serviços), que, por sua vez, estimularam ainda mais o aumento da produção
industrial.

LEGENDA DAS IMAGENS: Monocultura em Nebraska, Estados Unidos, em


2015 (foto A); navio carregado de contêineres na ilha de Grand Bahamas,
Bahamas, em 2015 (foto B); vista da cidade de Londres, Inglaterra, em 2015
(foto C).

CRÉDITO: IR Stone/Shutterstock.com

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Tipos de indústria

As indústrias diferem umas das outras em aspectos como o tipo de bem


produzido, a quantidade de matéria-prima utilizada, o nível tecnológico
empregado na produção etc. Com base nessas diferenças, podemos classificar
as indústrias de várias maneiras, sendo a mais comum a que se baseia na
natureza dos bens produzidos. Nesse caso, temos:

CRÉDITO: JTB Photo/UIG/Getty Images

- Indústrias de bens de produção ou de base: transformam matérias-primas,


principalmente minérios e recursos energéticos de origem fóssil, em matérias-
primas essenciais para os demais segmentos industriais. Também são
chamadas de indústrias pesadas pelo fato de utilizarem grande quantidade de
matéria-prima e consumirem muita energia. Como forma de diminuir os custos
de produção, essas indústrias tendem a se instalar próximas às fontes de
matérias-primas e também de ferrovias e portos que facilitam o escoamento de
sua volumosa produção. São exemplos: refinarias de petróleo (óleo diesel,
gasolina, querosene, lubrificantes), siderúrgicas e mineradoras (ferro, aço,
cimento), químicas e petroquímicas (tintas, vernizes, fertilizantes, adubos).

CRÉDITO: Paulo Fridman/Bloomberg/Getty Images

- Indústrias de bens intermediários ou de bens de capital: também chamadas


indústrias de equipamentos, produzem máquinas e equipamentos para todos
os segmentos industriais. Com o papel de equipar as demais indústrias, são
essenciais para o desenvolvimento da atividade industrial. Elas tendem a se
instalar em grandes regiões industriais, onde se concentram as empresas
consumidoras de seus produtos. São exemplos: indústria de motores,
máquinas, ferramentas, tratores, guindastes, materiais de transporte,
autopeças.

LEGENDA DAS IMAGENS: Indústria siderúrgica no Japão, em 2013 (foto A);


indústria de colheitadeiras agrícolas no Brasil, em 2013 (foto B); indústria de
confecções no Vietnã, em 2014 (foto C).

CRÉDITO: Kham/Reuters/Latinstock

- Indústrias de bens de consumo: também chamadas indústrias leves,


produzem bens que se destinam ao consumo da população. Como procuram
se instalar perto de seus mercados consumidores, elas se encontram
espacialmente mais espalhadas. Produzem bens duráveis e não duráveis.
Como exemplos de bens duráveis temos automóveis, eletrodomésticos,
aparelhos eletrônicos, computadores e móveis; de bens não duráveis,
alimentos, bebidas, vestuário, calçados, perfumes e medicamentos.

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De acordo com o nível tecnológico empregado no processo produtivo, também


podemos classificar a atividade industrial da seguinte maneira:

- indústrias tradicionais: caracterizam-se pelo baixo nível de automação no


processo produtivo e, por isso, empregam mão de obra bastante numerosa e,
em geral, com baixa qualificação. Entre essas indústrias, podemos citar as
têxteis, de calçados e vestuário, de alimentos e bebidas, os frigoríficos e
laticínios, as indústrias de móveis e as metalúrgicas. Abaixo, frigorífico em
Jaguapitã, Paraná, em 2013.

CRÉDITO: Ernesto Reghran/Pulsar

- indústrias modernas: utilizam recursos tecnológicos mais avançados,


apresentando maior nível de automação que o das indústrias tradicionais; por
isso, empregam mão de obra menos numerosa, porém mais qualificada. Como
exemplo, temos as petroquímicas, as montadoras de automóveis, as indústrias
de eletrodomésticos e de aparelhos eletrônicos. Abaixo, indústria de
computadores na China, em 2014.

CRÉDITO: Xu Xiaolin/Corbis/Latinstock

- indústrias de tecnologia de ponta: utilizam recursos tecnológicos altamente


sofisticados, realizam grandes investimentos em pesquisas e empregam mão
de obra bem reduzida e muito qualificada. Entre elas, estão as indústrias
ligadas aos setores de informática, espacial, aeronáutica, química fina,
robótica, biotecnologia. Abaixo, laboratório de pesquisa de alta tecnologia e
suas aplicações industriais em Nova York, Estados Unidos, em 2013.

CRÉDITO: Brookhaven National Laboratory/SPL/Latinstock

- As diferenças coexistem

No território de um mesmo país, em uma mesma região ou em regiões


diferentes, em uma mesma cidade ou em cidades diferentes, podem coexistir
indústrias com níveis tecnológicos desiguais. Abaixo, podemos observar uma
indústria de bens de consumo tradicional com reduzido nível tecnológico (foto
A), instalada em Manaus, Amazonas, em 2013, e uma indústria moderna (foto
B) também instalada na região Norte do Brasil, em Manaus, Amazonas, em
2014.

CRÉDITO: Paulo Fridman/Pulsar

LEGENDA DAS IMAGENS: Indústria de sacos de juta (foto A); indústria de


motocicletas (foto B).

CRÉDITO: Paulo Fridman/Corbis/Latinstock

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A indústria no mundo

Desde o surgimento das primeiras fábricas inglesas no século XVIII, o processo


de desenvolvimento e expansão da atividade industrial pelo mundo apresentou
forte tendência de se concentrar em determinadas áreas e regiões do globo
devido às suas próprias características históricas.

Em virtude dessa tendência, o nível de industrialização entre os países do


mundo difere muito. Assim, temos um grupo restrito de países altamente
industrializados, que abrigam os maiores, mais complexos e mais sofisticados
parques industriais do globo. São os países mais ricos e desenvolvidos do
mundo, entre eles, Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Inglaterra e
Canadá.

A atividade industrial se desenvolveu em outras partes do mundo, inclusive em


países subdesenvolvidos, atualmente com maior expressão na China, além de
Brasil, México, Argentina, África do Sul e Índia. Em outros países, porém, a
atividade industrial é bastante incipiente e limitada tecnologicamente, se
restringindo à produção de bens tradicionais (têxteis, calçados, bebidas,
alimentos etc.). Há, ainda, os países que continuam sendo agrários e
dependentes quase exclusivamente da produção e exportação de gêneros
primários, ou seja, de matérias-primas de origem agrícola e mineral.

A intensa concentração da atividade industrial em algumas áreas não ocorre


apenas em escala mundial: também pode ser observada no território de alguns
países, mesmo naqueles mais industrializados. No caso dos Estados Unidos,
por exemplo, temos três grandes áreas industriais (nordeste, sul e oeste). No
território japonês, as áreas de maior concentração industrial estão no sul do
arquipélago. Na China, as maiores áreas industriais ficam na faixa litorânea do
país. No Brasil, as principais áreas industriais se localizam na região Sudeste,
sobretudo nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O planisfério na página seguinte mostra a disparidade entre os países do


mundo em relação ao nível de desenvolvimento industrial por eles alcançado.
Neste mapa, podemos perceber a concentração industrial em cada país.

Boxe complementar:

Modelos de industrialização

Analisado do ponto de vista político-econômico, o processo de industrialização


ocorrido no mundo pode ser dividido em diferentes tipos ou modelos:

- industrialização clássica ou original: ocorreu nos países que lideraram e se


mantiveram, desde o século XVIII, na vanguarda da Revolução Industrial, que
se iniciou com as primeiras fábricas inglesas e se espalhou, nos séculos
seguintes, para outros países da Europa e também para os Estados Unidos e o
Japão. Pioneiros na arrancada industrial, esses países se tornaram os mais
ricos e desenvolvidos do hemisfério Norte, e hoje abrigam os maiores, mais
complexos e mais sofisticados parques industriais do mundo. Nessas
gigantescas aglomerações industriais, se encontram os mais diversificados
segmentos das indústrias, especialmente os de alta tecnologia, como
informática, robótica, biotecnologia, aeroespacial e química fina.

- industrialização planificada: implantada nas primeiras décadas do século XX


nos países socialistas que adotavam economias planificadas, isto é,
controladas pelo Estado. Na maioria dos países que adotaram regimes
socialistas, o Estado incentivou o processo de industrialização, investindo
prioritariamente nas indústrias de base (siderúrgicas, metalúrgicas e
petroquímicas), em detrimento das indústrias de bens de consumo
(eletrodomésticos, automóveis, vestuário, alimentos etc.).

41

Entre os países que se industrializaram por meio desse modelo podemos citar
a ex-União Soviética, a antiga Alemanha Oriental, a Polônia, a Hungria e a
China. Esse modelo de industrialização se esgotou no final do século XX com a
queda do socialismo soviético.

- industrialização tardia ou periférica: como o próprio nome sugere, ocorreu nos


países subdesenvolvidos, como Brasil, Argentina, México, África do Sul, Índia e
Coreia do Sul, que se industrializaram somente por volta de meados do século
XX, portanto, tardiamente em relação aos países de industrialização clássica.
Uma característica desse tipo de industrialização é que ela ocorreu apoiada em
capitais nacionais (estatais e privados) e também estrangeiros. Isso explica a
elevada participação de empresas multinacionais na economia desses países.

Fim do complemento.

FONTE: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p.
33. 1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E. Cavalcante

a) Verifique a localização dos países altamente industrializados e dos países


com pouca ou nenhuma concentração industrial.

b) Localize as áreas de maior concentração industrial no território dos Estados


Unidos, da China, do Japão e do Brasil.

c) Pode-se dizer que existe relação entre nível de industrialização e


desenvolvimento econômico? Estabeleça suas conclusões com base no mapa.

42

Os fatores da localização industrial

Ao analisar o mapa mostrado na página 41, constatamos que a atividade


industrial se expandiu pelo mundo de maneira muito desigual. Mesmo nos
países mais ricos e desenvolvidos do hemisfério Norte, onde a atividade
industrial se desenvolveu de maneira mais complexa, a indústria acabou se
concentrando geograficamente em determinadas áreas.

Essa concentração espacial se explica por razões históricas e também pelo


fato de que a atividade industrial tende a se instalar em lugares que ofereçam
as melhores e mais vantajosas condições para o seu funcionamento. Tais
condições dependem de alguns fatores - chamados fatores locacionais -, entre
eles: matérias-primas, fontes de energia, mão de obra, rede de transportes,
mercado consumidor e capital. Vejamos esses fatores a seguir.
Matérias-primas

A proximidade das fontes de matérias-primas representa uma grande


vantagem para diversos segmentos industriais. Quanto mais próximo de sua
matéria-prima principal uma indústria estiver, menores serão os seus gastos
com transporte. Isso tende a diminuir os custos de produção e aumentar os
lucros.

Por esse motivo, indústrias como as grandes siderúrgicas e metalúrgicas, que


utilizam matérias-primas em abundância, procuram se instalar próximo de suas
jazidas minerais. Outro exemplo é o das petroquímicas (indústrias de
lubrificantes, óleos, graxas, tintas, vernizes, fertilizantes etc.) que se instalam
nas imediações das refinarias e das áreas exploradoras de petróleo.

Com meios de transportes mais eficientes e econômicos, como navios de


grande calado, aviões de carga maiores e mais rápidos, ferrovias e trens mais
bem aparelhados, os custos dos transportes caíram muito, oferecendo maior
facilidade para cobrir grandes distâncias e proporcionando maior mobilidade
espacial para as indústrias.

Fontes de energia

O fornecimento de energia é outro fator essencial ao funcionamento de todo e


qualquer tipo de indústria, em especial, para os segmentos que demandam
maior consumo energético, como o das grandes siderúrgicas e metalúrgicas.
Para viabilizar o desenvolvimento de uma indústria em determinado lugar, é
necessário considerar o potencial e a quantidade de energia disponível, e suas
fontes geradoras, sejam elas provenientes da queima de combustíveis fósseis
(petróleo, gás natural ou carvão), de hidrelétricas, de usinas termonucleares
etc.

Muitas vezes, o fornecimento dessa energia também exige a instalação de uma


infraestrutura onerosa, com linhas de transmissão (torres, cabos), oleodutos,
gasodutos etc. Assim, a falta de energia e da infraestrutura necessária ao seu
fornecimento pode até mesmo inviabilizar o desenvolvimento da atividade
industrial em determinadas regiões.

43
Mão de obra

Fator indispensável e extremamente importante para o desenvolvimento da


atividade industrial. Sua disponibilidade deve ser considerada de diferentes
perspectivas.

As indústrias que empregam muitos trabalhadores, por exemplo, tendem a


desenvolver suas atividades onde os custos com mão de obra são menores. É
o caso de empresas como a Nike, que tem sede nos Estados Unidos, mas
cujos materiais esportivos (tênis, bolas, roupas esportivas etc.) são fabricados
em países latino-americanos, do Leste e Sudeste Asiático, onde os salários
pagos aos trabalhadores são bem mais baixos do que os pagos a
trabalhadores em seu país sede. Nesse caso, a economia gerada com os
baixos salários compensa os gastos com transporte dos produtos para os
mercados do mundo inteiro.

Por outro lado, em razão dos grandes avanços tecnológicos criados e


incorporados rapidamente ao processo produtivo, muitas indústrias, sobretudo
aquelas que atuam em ramos de alta tecnologia e necessitam de mão de obra
altamente especializada, têm procurado se instalar em regiões que dispõem de
trabalhadores mais bem qualificados. Por isso, muitas dessas empresas estão
localizadas ao redor de universidades, centros de pesquisa e de
desenvolvimento tecnológico, formando os tecnopolos.

Redes e meios de transporte

Rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos bem estruturados são


essenciais para o desenvolvimento das atividades industriais. Essas redes
possibilitam a circulação das matérias-primas até as indústrias e o escoamento
das mercadorias produzidas por elas até os mercados consumidores, sejam
eles próximos ou muito distantes. É por esse motivo que os parques industriais,
geralmente, são instalados próximo aos principais entroncamentos rodoviários
e ferroviários, ou nos arredores de portos fluviais ou marítimos.

Mercado consumidor

A proximidade dos mercados consumidores favorece o desenvolvimento das


atividades industriais. Muitas indústrias, principalmente as que produzem bens
de consumo (roupas, alimentos, calçados, móveis e artigos em geral),
procuram se instalar em regiões com grande concentração populacional, que
representam um mercado consumidor potencial para seus produtos. É por esse
motivo que, historicamente, a atividade industrial surgiu e se desenvolveu
ligada aos centros urbanos. Isso também explica por que as grandes
concentrações industriais estão localizadas nas maiores aglomerações
urbanas.

Capital

Além de todos os fatores já mencionados, a instalação de qualquer indústria


em certa localidade depende, necessariamente, da aplicação de capital,
recursos que garantam os investimentos gastos na aquisição de terrenos, na
implantação da infraestrutura necessária, na construção das instalações etc.

CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES: Luciane Mori

44

A desconcentração industrial

O desenvolvimento da atividade industrial, historicamente ligado aos centros


urbanos, impulsionou o crescimento das cidades, sobretudo daquelas nas
quais a indústria alcançou maior nível de desenvolvimento. Com esse
crescimento, muitas cidades se expandiram espacialmente, formando
gigantescas aglomerações urbano-industriais, grandes metrópoles onde vivem
hoje milhões de pessoas.

Contudo, o crescimento exacerbado dessas aglomerações urbano-industriais


acabou provocando o surgimento e o agravamento de uma série de problemas,
como o preço elevado dos imóveis e dos impostos urbanos, a escassez de
terrenos provocada pela saturação dos espaços, os congestionamentos de
trânsito provocados pelo estrangulamento do sistema viário, a elevação do
custo da mão de obra decorrente da ação organizada dos sindicatos, o
aumento da poluição atmosférica e hídrica.

Por conta desses problemas, nas últimas décadas, muitas indústrias


transferiram suas unidades produtivas para áreas mais afastadas ou mesmo
distantes dessas aglomerações urbano-industriais. Com isso, tem ocorrido uma
reorganização espacial das indústrias, caracterizada por uma desconcentração
da atividade industrial nas regiões saturadas e densamente povoadas, que, de
certa maneira, deixaram de ser atrativas para as empresas.

Acontece, assim, não apenas a desconcentração do capital, mas também a


desconcentração do trabalho, o que se verifica com o crescente deslocamento
da população para a periferia dos grandes centros urbanos e também para as
cidades de médio e pequeno porte, onde as indústrias passam a se instalar.

Outro fator que tem motivado o processo de desconcentração da atividade


industrial são os incentivos fiscais. Como forma de atrair novos investimentos,
gerar emprego e renda para a população, muitos governos oferecem redução
ou mesmo isenção de impostos, às vezes por longo prazo, às empresas
interessadas em expandir ou mesmo deslocar suas unidades para outros
lugares. Também são oferecidas outras vantagens, como doação de terrenos,
instalação de infraestrutura básica (asfalto, energia, iluminação pública, rede de
água e esgoto etc.). Nessa tentativa de atrair grandes empresas, os governos
dos estados e dos municípios chegam a travar verdadeiras "guerras fiscais", às
vezes prejudiciais aos cofres públicos.

LEGENDA: Unidade de produção de automóveis instalada em Camaçari,


Bahia, em 2012.

CRÉDITO: Vaner Casaes/Ag. BAPress/Folhapress

45

Explorando o tema

A indústria globalizada

A desconcentração da atividade industrial vem ocorrendo não apenas em


escala regional e nacional, mas também em escala mundial, facilitada pela
revolução tecnológica das últimas décadas.

Essa interligação cada vez mais efetiva entre os diferentes lugares produtivos
do espaço geográfico possibilitou o surgimento de uma "indústria globalizada",
apoiada em um processo produtivo também mundializado. Isso significa que
uma empresa pode desenvolver seus projetos em um país, realizar as
diferentes etapas de fabricação em vários outros, conforme as vantagens
oferecidas em cada um deles, e, por fim, vender sua produção em escala
mundial. Veja o exemplo a seguir.

Observação:

Produtos, empresas e suas marcas citados nesta obra não figuram


recomendação ou indicação comercial. Eles foram usados apenas como
recurso didático.

Fim da observação.

FONTE: PEÇAS do iPhone 5 são fabricadas em diversas partes do mundo;


saiba onde. UOL Notícias, São Paulo, 17 dez. 2012. Tecnologia. Disponível
em: http://tecnologia.uol.com.br/infograficos/2012/12/17/pecas-do-iphone-5-
sao-produzidas-em-diversas-partes-domundo-saiba-onde.htm. Acesso em: 14
ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

46

Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Quais as mudanças ocorridas na produção industrial com o advento da


indústria moderna?

2. De acordo com nossos estudos: "não é exagero dizer que a configuração do


espaço geográfico contemporâneo resulta, em grande medida, do avanço da
atividade industrial ao longo dos últimos dois séculos". Dê exemplos que
confirmem essa afirmação envolvendo matérias-primas, transportes e
urbanização.

3. Como a Revolução Industrial alterou as características do processo


industrial?

4. Descreva as características das indústrias de acordo com os bens


produzidos e dê exemplos:

a) bens de produção ou de base;

b) bens intermediários e de capital;


c) bens de consumo.

5. Caracterize o modo de industrialização:

a) clássica ou original;

b) planificada;

c) tardia ou periférica.

6. Cite os principais fatores que influenciam na instalação de uma indústria em


determinado local.

Expandindo o conteúdo

7. Leia e interprete o texto a seguir.

O relevo econômico do interior

O processo de desconcentração industrial no estado de São Paulo, iniciado na


década de 1970, alterou profundamente seu mapa e território: a mancha
metropolitana da capital se expandiu em direção ao Vale do Paraíba, Sorocaba
e às regiões de Campinas e Ribeirão Preto, conglomerados urbanos
especializados se formaram ao longo de uma densa malha rodoviária e as
cidades médias assumiram a liderança do mercado em seu entorno. "O interior
não é mais um espaço plano. Tem 'relevo' econômico", afirma Eliseu Savério
Sposito, do Departamento de Geografia da Faculdade de Ciência e Tecnologia
(FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente.

À frente de um grupo de pesquisadores, Sposito coordenou um projeto que


mapeou o movimento e as características do processo de desconcentração da
indústria no estado. Eles constataram, por exemplo, que muitas empresas
deslocaram fábricas para o interior, mas mantiveram a sede, assim como o seu
board, na cidade de São Paulo. [...]

Os fatores determinantes da nova geografia econômica do estado, os eixos de


desenvolvimento em torno dos quais se aglomeraram indústrias migrantes e
nova conformação das cidades foram analisadas no âmbito do projeto O novo
mapa da indústria no começo do século XXI: novas dinâmicas industriais e o
território, coordenado por Sposito, que começou em 2006 e foi concluído em
2011. [...]
Assim, a atual configuração geográfica do estado não descreve um território
homogêneo: revela uma Região Metropolitana "transbordada" em direção a
quatro regiões administrativas - Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e
Santos -, que mantém centralidade em relação às demais áreas de produção e
de consumo do estado [...].

A nova cartografia se traduz num mapa recortado por eixos de


desenvolvimento orientado pela malha rodoviária e infoviária, corredores
ferroviários e uma hidrovia, em torno dos quais se aglutinam grandes empresas
industriais com acesso ao mercado nacional e global por meio de quatro
aeroportos de carga e o porto de Santos.

Glossário:

Board: conselho de administração, responsável pelos processos de gestão.

Fim do glossário.

47

[...]

A descentralização da indústria amparou-se nos investimentos públicos,


principalmente estaduais, na reorganização do território para atender às
demandas corporativas e permitir maior fluidez e competitividade territorial das
empresas, analisa Márcio Rogério da Silveira, que foi docente da Unesp, no
estudo sobre os sistemas de transporte e logística no estado de São Paulo. Em
2007, a malha rodoviária paulista somava mais de 198 mil quilômetros. Deste
total, 5 mil quilômetros de rodovias - exatamente aquelas com maior fluxo de
transportes, traçados em mão dupla e conectados à capital - já eram operados
por concessionárias privadas. "As rodovias são o esqueleto do crescimento
econômico do estado", enfatiza Sposito. O estado conta ainda com quatro
grandes aeroportos, por meio dos quais circulam passageiros e cargas de
maior valor agregado. O de Viracopos, em Campinas, é o segundo maior
terminal de cargas do país.

[...]
IZIQUE, Claudia. O relevo econômico do interior. Pesquisa Fapesp on-line, São
Paulo, jul. 2012. Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/07/16/o-
relevo-economico-do-interior/. Acesso em: 14 out. 2015.

FONTE: ATLAS geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 143.
1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E. Cavalcante

LEGENDA: Vista panorâmica do entroncamento entre as rodovias Rodoanel


Mário Covas e Raposo Tavares, que promove a interligação entre a região
metropolitana de São Paulo e o interior do estado, em foto de 2014.

CRÉDITO: Delfim Martins/Pulsar

a) Como o processo de desconcentração industrial alterou o território do estado


de São Paulo?

b) O texto menciona a redução de custos como um fator da desconcentração


industrial. Que custos têm onerado e que problemas têm se agravado,
prejudicando a atividade industrial nas grandes metrópoles?

c) Qual o papel dos incentivos fiscais no processo de desconcentração


industrial?

d) Com base em nossos estudos e no texto acima, explique a importância da


infraestrutura de transportes e comunicações nesse processo de
desconcentração industrial.

48

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

Samba, prego e parafuso

No Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, "parafuso" não é o


artefato industrial em forma de cilindro e sulcado em espirais, mas um dos
passos do frevo e do extinto maxixe. O verbete ainda designa um tipo de
samba cantado e dançado em roda [...].

As coreografias do samba de roda, frevo e maxixe não são as únicas


referências do cancioneiro nacional à atividade fabril. Um breve levantamento
do dicionário da MPB indica o registro de pelo menos 30 músicas [...] com
temas ligados à indústria e ao trabalho, compostas no século passado, quando
o país se industrializou e a música popular tornou-se elemento da identidade
nacional.

[...]

Uma sociologia da música poderia explicar essas citações, entre outros


motivos, pela própria origem de cantores e compositores. Muitos artistas antes
de serem impressos em acetato na fábrica de discos se empregaram na
indústria como operários. [...]

Elza Soares e Elizeth Cardoso trabalharam em fábrica de sabão. [...] Nelson


Cavaquinho, em 1928, foi morar em uma vila operária no bairro da Gávea,
onde começou a tocar o instrumento nas rodas de choro dos empregados de
uma fábrica de tecido do bairro, quando surgiu o sobrenome "Cavaquinho". [...]

Adoniram Barbosa varreu chão de fábrica, foi tecelão e metalúrgico. [...]

COSTA, Gilberto. Samba, prego e parafuso. Indústria brasileira. Brasília, ano 4,


n. 39, maio 2004, p. 46-50.

Entre tantas músicas, uma que se destaca em tratar do tema indústria


certamente é "Três apitos", composta por Noel Rosa, em 1933. Na letra dessa
canção, o compositor descreve sua paixão por uma operária que trabalhava em
uma indústria do Rio de Janeiro. Veja.

CRÉDITO: Poliana Garcia

Quando o apito

Da fábrica de tecidos

Vem ferir os meus ouvidos,

Eu me lembro de você.

Mas você anda

Sem dúvida bem zangada

E está interessada

Em fingir que não me vê.

Você que atende ao apito


De uma chaminé de barro

Por que não atende ao grito tão aflito

Da buzina do meu carro?

Você no inverno

Sem meias vai pro trabalho

Não faz fé com agasalho,

Nem no frio você crê,

Mas você é mesmo

Artigo que não se imita,

Quando a fábrica apita

Faz reclame de você.

Nos meus olhos você lê

Que eu sofro cruelmente

Com ciúmes do gerente impertinente

Que dá ordens a você.

Sou do sereno,

Poeta muito soturno.

Vou virar guarda-noturno

E você sabe por quê,

Mas você não sabe

Que, enquanto você faz pano,

Faço junto do piano

Estes versos pra você.

ROSA, Noel. Três apitos. Coleção MPB Compositores. Noel Rosa. nº 3. Editora
Globo, 1997.

49
A Geografia no cinema

Germinal

CRÉDITO: Filme de Claude Berri. Germinal. França. 1993

Título: Germinal

Diretor: Claude Berri

Principais atores: Renaud, Jean Carmet, Judith Henry, Jean-Roger Milo e


Gerard Depardieu

Ano: 1993

Duração: 160 minutos

Origem: França.

O filme se passa na França, durante o século XIX, em um momento que


antecede a Revolução Industrial. A história retrata as péssimas condições de
trabalho vividas por um grupo de trabalhadores de uma mina de carvão.
Sofrendo com as condições de trabalho, os trabalhadores iniciam os primeiros
passos de um movimento grevista.

Baseado na obra de Emile Zola, Germinal é considerado uma das melhores


adaptações literárias da história do cinema.

Para assistir

- A MODERNIDADE chega a vapor. Ministério da Educação (MEC). Brasil,


2002. O filme retrata as transformações ocorridas no Brasil com o
desenvolvimento da atividade industrial no século XX.

Ao longo do documentário é possível verificar que nem todas as regiões do


país foram beneficiadas com o desenvolvimento da atividade industrial.

Para ler

- BECKOUCHE, Pierre. Indústria: um só mundo. Tradução Isa Mara Lando. 5ª


ed. São Paulo: Ática, 1998.

- CARLOS, Ana Fani A. Espaço e indústria. São Paulo: Contexto, 1997.

- DECCA, Edgar de; MENEGUELLO, Cristina. Fábricas e homens: a revolução


industrial e o cotidiano dos trabalhadores. 5ª ed. São Paulo: Atual, 2011.
- MARCOLI, Neldson. Eco da Revolução Industrial. Pesquisa Fapesp. 193ª ed.
mar. 2012. Disponível em: http://tub.im/g3okhz. Acesso em: 6 out. 2015.

- MENDONÇA, Sonia Regina de. A industrialização brasileira. 2ª ed. São


Paulo: Moderna, 2004.

- TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução Industrial. 12ª ed. São Paulo: Ática,


2004.

Para navegar

- COMISSÃO Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL). Disponível


em: http://tub.im/ug5tn5. Acesso em: 18 set. 2015.

- FEDERAÇÃO das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Disponível em:


http://tub.im/h5p7kk. Acesso em: 18 set. 2015.

- PORTAL da Indústria Brasileira. Disponível em: http://tub.im/n46p8p. Acesso


em: 18 set. 2015.

50

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UFSC-SC) Identifique a(s) proposição(ões) CORRETA(S), sobre as


características dos países em fase de industrialização acelerada.

(01) Uma forte arrancada industrial é seguida sobretudo por uma intensa
urbanização, privilegiando a lógica da acumulação capitalista e criando
desigualdades urbanas locais.

(02) Uma característica comum é a mão de obra qualificada, fruto de


investimentos em educação e alta automação, exigindo, portanto, menos
treinamento para os trabalhadores urbano-industriais.

(04) Nesses países a agricultura não se subordina à indústria, pois esta tem
seus próprios meios de conseguir matérias-primas vitais para a produção.

(08) Parcela significativa desses países tem necessidade de atrair


investimentos estrangeiros devido ao seu alto grau de dependência para
alavancar seus processos de desenvolvimento econômico e social.
(16) Esses países estruturam-se sobre a produção agrícola que utiliza
modernas técnicas de produção em todos os setores.

(32) Esses países, como o Brasil, expandem-se nos mesmos moldes dos
países capitalistas industriais mais avançados, dominando econômica e
politicamente os países mais atrasados, como China, Canadá e África do Sul.

(64) Em seus territórios nacionais há grande concentração de empresas


transnacionais, inclusive bancos estrangeiros atuantes.

2. (UEM-PR) Sobre os diferentes tipos de indústrias e a sua dinâmica espacial,


identifique o que for CORRETO.

(01) As indústrias de bens de produção ou de base produzem bens para outras


indústrias, gastam muita energia e transformam grandes quantidades de
matérias-primas. São exemplos desse tipo de indústrias: petroquímicas,
metalúrgicas, siderúrgicas, entre outras.

(02) As indústrias de bens de capital ou intermediárias produzem máquinas,


equipamentos, ferramentas ou autopeças para outras indústrias, como, por
exemplo, as indústrias dos componentes eletrônicos e a de motores para
carros ou aviões.

(04) As indústrias de ponta estão ligadas ao emprego de alta tecnologia,


elevado capital e de número grande de trabalhadores qualificados. Elas
dependem de inovações constantes para que sejam possíveis modificações
rápidas no processo de produção.

(08) A partir de 1990, intensificou-se no Brasil o processo de desconcentração


industrial, ou seja, muitas indústrias deixaram áreas tradicionais e instalaram
unidades fabris em novos espaços na busca de vantagens econômicas, como
incentivos fiscais, menores custos de produção, mão de obra mais barata,
mercado consumidor significativo e atuação sindical fraca.

(16) As indústrias de bens de consumo estão divididas em duráveis e não


duráveis. A primeira se refere à indústria de automóveis, eletrodomésticos e
móveis. Já as não duráveis estão ligadas ao setor de vestuário, alimentos,
remédios e calçados.

3. (UDESC-SC) São exemplos da indústria de bens de consumo (ou leve):


a) Indústria de autopeças e de alumínio.

b) Indústria de automóveis e de eletrodomésticos.

c) Indústria de plásticos e borracha e de alimentos.

d) Indústria de máquinas e de aço.

e) Indústria de ferramentas e chapas e ferro.

51

4. (AMAN-RJ)

"A guerra da concorrência tem início quando os empresários industriais tomam


as decisões relativas à localização das suas fábricas".

(Magnoli & Araújo, p. 142, 2005)

Sobre a localização industrial, ao longo dos últimos séculos, leia as alternativas


a seguir:

I. Nas últimas décadas do século XX, estabeleceu-se uma nova lógica mundial
de localização industrial: a produção em larga escala, com elevada automação,
é realizada nos países desenvolvidos e as indústrias de tecnologia de ponta
concentram-se nos países subdesenvolvidos, onde a mão de obra é mais
barata.

II. Com a Revolução Tecnológica ou Informacional, as grandes indústrias


deixaram de ter o espaço local e regional como principal base de produção,
ultrapassando as fronteiras nacionais.

III. Ao longo do século XX, acentuou-se o processo de concentração industrial,


em consequência da crescente elevação dos custos de transferência de
matéria-prima e de produtos industrializados.

IV. Nos países desenvolvidos, as antigas concentrações industriais vêm


perdendo terreno para as novas regiões produtivas, as quais são marcadas
pela presença de centros de pesquisa e de universidades.

V. As economias de aglomeração presentes nas grandes metrópoles mundiais


reforçam a tendência, cada vez maior, de concentração espacial da indústria.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas CORRETAS.


a) I e II.

b) I e V.

c) II e IV.

d) II, III e IV.

e) III, IV e V.

5. (PUC-MG) Com o avanço do processo de globalização, a industrialização


estendeu-se a vários países e regiões do mundo, levando à superação do
modelo clássico da Divisão Internacional do Trabalho, em que cabiam aos
países ricos a produção e a exportação de manufaturados e aos países pobres
a produção e a exportação de matérias-primas. No modelo atual, há uma
tendência clara de deslocamento de alguns tipos de indústrias para países
periféricos, atendendo a interesses econômicos e estratégicos das grandes
corporações.

São exemplos de indústrias que, no processo de desconcentração industrial,


privilegiaram sua localização em alguns países periféricos da Ásia e América
Latina, EXCETO:

a) indústrias de base, como as siderúrgicas, metalúrgicas ou petroquímicas,


pelas vantagens locacionais oferecidas próximo às áreas produtoras das
matérias-primas.

b) indústrias de bens de consumo não duráveis ou semiduráveis, como as


indústrias de alimentos, bebida ou de vestuário, em virtude da elevada
disponibilidade de mão de obra barata e da proximidade dos mercados
consumidores.

c) indústrias de alta tecnologia, vinculadas a setores como a informática,


telecomunicação por satélites e produtos aeroespaciais, que exigem mão de
obra altamente qualificada e vinculação estreita com grandes centros de
pesquisa e universidades.

d) indústrias de bens de consumo duráveis como móveis, eletrodomésticos e


automóveis, que, apesar de destinarem-se a um mercado consumidor mais
amplo, favoreceram-se de benefícios fiscais e de parcerias locais.
52

6. (PUC-MG) Em decorrência do avanço tecnológico e do processo de


globalização, a distribuição espacial da indústria tem sofrido alterações
significativas nas últimas décadas, sendo INCORRETO afirmar:

a) A revolução tecnológica e das comunicações possibilitou desvincular a


localização do processo produtivo da gerência industrial.

b) Os polos industriais, antes influenciados pela economia das aglomerações,


hoje se direcionam para localizações estratégicas de produção/mercado.

c) A dispersão da produção induziu a dispersão dos polos de pesquisas e


projetos para os novos aglomerados industriais.

d ) A modernização dos transportes tem favorecido a dispersão das atividades


produtivas para tecnópoles e/ou cidades médias, oferecendo eficiência e
maiores vantagens, inclusive de custos.

7. (CEFET-MG) Com relação às indústrias dinâmicas no período atual do


capitalismo, agregador de um conteúdo cada vez mais tecnológico, é
CORRETO afirmar que:

a) se concentram nas tradicionais regiões fabris dos países, diante do baixo


custo de produção desses espaços.

b) se instalam em áreas com o maior número de fatores locacionais,


indispensáveis à produção e comercialização de seus produtos.

c) demandam mão de obra numerosa, vinculada ao sistema taylorista, além de


infraestrutura de transportes e comunicação.

d ) necessitam de elevado capital para o emprego de recursos avançados em


seu processo produtivo, acrescida de mão de obra qualificada.

e) possuem localização restrita nos países centrais, como Japão, Alemanha e


Estados Unidos, devido às condições favoráveis de matéria-prima e energia.

8. (PUC-SP) As potências econômicas mundiais não têm, na atualidade, o


predomínio da produção industrial. Ao contrário, nas últimas décadas, a
descentralização das atividades industriais pelo mundo promoveu uma
reorganização do espaço que apresenta, entre outras características:
a) o crescimento generalizado das economias capitalistas, o que fez diminuir as
diferenças existentes entre o centro e a periferia do sistema no período do pós-
Guerra.

b) as ampliações do número de transnacionais que, para se expandirem


espacialmente, passaram a se dividir em setores cada vez mais
especializados.

c) a redução da dependência tecnológica dos novos países industrializados


porque ao lado dos parques industriais foram criados, também, centros de
pesquisa.

d) o aumento da participação de alguns países subdesenvolvidos no comércio


mundial de produtos industriais, principalmente, bens de consumo duráveis.

e) a diminuição do comércio mundial de matérias-primas minerais, pois vários


dos grandes produtores de minérios passaram a industrializar seus recursos.

9. (PUC-MG) No mundo capitalista, a industrialização contemporânea


apresenta certa dispersão do processo produtivo em áreas que oferecem
maiores vantagens econômicas. Entre os reflexos dessa realidade nos países
periféricos, assinale a afirmação INCORRETA.

a) Ocorre implantação de avanços tecnológicos e expansão da produção em


países periféricos, como estratégias instituídas pelo modelo industrial vigente,
para ampliar seus mercados.

b) Existe incentivo ao consumo dos produtos disponibilizados pela indústria


moderna, alterando hábitos culturais nos países periféricos e atendendo ao
sistema de capital mundial.

c) Há discrepância entre o setor público dos países periféricos, com pouca


capacidade de investimento, e o da iniciativa privada internacional e/ou
nacional, que investe, cresce e se globaliza em diversos setores.

d) Há uma ordem preestabelecida para o acesso a uma vida mais digna,


favorecida pela expansão do processo de produção em países periféricos.

53
10. (ENEM-MEC) A evolução do processo de transformação de matérias-
primas em produtos acabados ocorreu em três estágios: artesanato,
manufatura e maquinofatura.

Um desses estágios foi o artesanato, em que se:

a) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de maneira padronizada.

b) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de modo diferente do


modelo de produção em série.

c) empregavam fontes de energia abundantes para o funcionamento das


máquinas.

d ) realizava parte da produção por cada operário, com uso de máquinas e


trabalho assalariado.

e) faziam interferências do processo produtivo por técnicos e gerentes com


vistas a determinar o ritmo de produção.

11. (UFF-RJ)

O economista grego Arghiri Emanuel forneceu um retrato realista do processo


histórico de industrialização no Terceiro Mundo, tomando como exemplo o caso
indiano. O autor constata que a Índia, quando era ainda colônia britânica,
limitava-se à produção de algodão e comprava os tecidos da Grã-Bretanha; em
etapa posterior, passou a produzir tecidos, mas comprava as máquinas de
tecelagem na antiga metrópole; mais tarde, passou a produzir ela mesma
essas máquinas, enquanto a Grã-Bretanha e outros países desenvolvidos
forneciam equipamentos e financiavam a industrialização.

Fonte DOWBOR. Ladislau. A Formação do Terceiro Mundo, São Paulo.


Brasiliense, 1981, p. 69. Adaptado.

O aspecto da industrialização periférica evidenciado na situação retratada é a:

a) dominação político-ideológica das elites.

b) exploração de recursos naturais.

c) desigualdade social dos trabalhadores.

d) cooperação técnica das empresas.


e) dependência da produção tecnológica.

12. (CEFET-MG) A indústria brasileira enfrenta vários problemas, que


aumentam seus custos e dificultam uma maior participação no mercado
externo, tais como:

I. os baixos investimentos públicos e privados em desenvolvimento tecnológico;

II. as barreiras tarifárias e não tarifárias impostas por outros países à


importação de produtos brasileiros;

III. a maior dispersão espacial dos estabelecimentos industriais em regiões


historicamente marginalizadas;

IV. as deficiências dos transportes acarretadas pela má conservação das


rodovias e ferrovias. Pode-se concluir que são CORRETOS apenas os itens:

a) I, II e III.

b) I, II e IV.

c) I, III e IV.

d) II, III e IV.

e) N.D.A.

13. (FMP-RS) Com o processo de industrialização, as mais numerosas


migrações inter-regionais aconteceram em direção às cidades do Centro-Sul,
devido ao apelo representado pela dinâmica da economia desse complexo
regional. A partir da década de 1970, unidades da federação de outras regiões
começaram a receber migrantes de outras partes do país, ajudando a
incrementar os índices de crescimento demográfico.

Essas regiões receptoras de migrantes são, notadamente,

a) Sudeste e Amazônia

b) Centro-Oeste e Nordeste

c) Nordeste e Sul

d) Sul e Centro-Oeste

e) Amazônia e Centro-Oeste
54

unidade 3 - Fontes de energia

LEGENDA: Exploração de petróleo nas Ilhas Canárias, Espanha, em 2014.

FONTE: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível em:


www.bp.com/en/global/corporate/about-bp/energy-economics/energy-
outlook.html. Acesso em: 21 ago. 2015. *Projeção. CRÉDITO:
Islandstock/Alamy Stock Photo/Latinstock

Glossário:

Mtep: milhões de toneladas equivalentes de petróleo.

TEP: tonelada equivalente de petróleo. Unidade de energia utilizada para


comparar o poder calorífico de distintas formas de energia com o petróleo,
correspondente à energia que se pode obter a partir da combustão de uma
tonelada de petróleo cru.

Fim do glossário.

55

A crescente necessidade por energia data de séculos atrás e se projeta para o


futuro, como podemos observar na sequência de gráficos mostrada.

Refletir sobre a questão energética mundial é uma necessidade nos dias


atuais, tendo em vista os níveis de produção e consumo de energia
apresentados por nossa sociedade ao longo do tempo.

A fim de fundamentar essa discussão e formar opinião a respeito desse tema,


nesta unidade vamos estudar aspectos gerais e específicos relativos à
produção e ao consumo das principais fontes de energia no Brasil e no mundo,
e suas implicações ambientais.

A - O que os gráficos revelam sobre a demanda de energia ao longo do tempo?

B - O que as projeções revelam sobre a demanda futura de energia?

C - De acordo com os gráficos, o que se pode concluir a respeito da produção


e do consumo de energia gerada por fontes renováveis e não renováveis, no
passado e no futuro?
56

Matriz energética mundial

Desde os primórdios de sua história, o ser humano usa a energia para realizar
suas tarefas. Já na Pré-História, o uso da força animal serviu como fonte de
energia para arar as terras e também para o transporte. Com o domínio do
fogo, há pelo menos 200 mil anos, surgiu a primeira fonte de energia utilizada
pelo ser humano para a consumação de suas necessidades, como cozinhar, se
aquecer e se proteger.

Nos últimos séculos, porém, os progressos técnicos levaram ao uso de novas


fontes energéticas. Entretanto, foi no século XVIII, com a Revolução Industrial
(como já estudamos na unidade 2), que ocorreu uma mudança radical no setor
energético. Desde então, novas máquinas e equipamentos foram introduzidos
ao sistema produtivo, o que ampliou significativamente a demanda por energia.
A princípio, essa demanda foi suprida pela queima do carvão mineral, que
gerava energia na forma de vapor, utilizado para movimentar as máquinas
industriais.

No final do século XIX e início do século XX, com a invenção do motor a


explosão, o petróleo e seus derivados (óleo diesel, gasolina, querosene) se
tornaram a principal fonte de energia do mundo. Utilizado em escala crescente
para impulsionar as máquinas industriais e os meios de transporte (ferroviário,
rodoviário, aéreo e marítimo), o petróleo se consagrou como a fonte de energia
mais importante da Segunda Revolução Industrial, que se estendeu até
meados do século passado.

Embora o petróleo e o carvão mineral ainda sejam as fontes de energia mais


utilizadas no mundo, outras fontes, como as energias nuclear, hidráulica, eólica
e solar, também passaram a ser aproveitadas nas últimas décadas como forma
de suprir a crescente demanda energética gerada pela expansão das
atividades econômicas e pelo aumento do consumo doméstico. O gráfico a
seguir mostra a evolução da matriz energética mundial ao longo das últimas
décadas.
- Observe a evolução do consumo de cada fonte de energia ao longo do
período representado. A quais conclusões você pode chegar com essa
observação?

FONTE: INTERNATIONAL Energy Agency (IEA). Disponível em:


www.iea.org/publications/freepublications/publication/KeyWorld2014.pdf.
Acesso em: 21 set. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

57

Embora o consumo de energia no mundo tenha aumentado ao longo das


últimas décadas, como mostrado no gráfico anterior, o consumo per capita de
energia se concentra, principalmente, nos países mais ricos e desenvolvidos.
Nesses países, o elevado gasto energético está associado ao alto grau de
industrialização e também ao elevado consumo doméstico, possibilitado pelas
melhores condições socioeconômicas da população. Atualmente, os países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
reúne 34 dos países mais ricos e industrializados do mundo, respondem por
cerca de 42,5% de toda a energia consumida no planeta. Observe na
representação abaixo como o consumo de energia é desigual entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos.

FONTE: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível em:


www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energy-economics/statistical-review-2015/bp-
statistical-review-of-world-energy-2015-full-report.pdf. Acesso em: 19 ago.
2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Boxe complementar:

Classificação das fontes de energia

As fontes primárias de energia são aquelas utilizadas na forma em que são


encontradas na natureza, como a lenha usada em fogões para cozinhar
alimentos. As fontes secundárias são as que necessitam de tratamento ou
processo de transformação para a sua produção, como ocorre com a gasolina
e o óleo diesel, obtidos a partir do refino do petróleo.

As fontes de energia também podem ser renováveis ou não renováveis de


acordo com a capacidade de se recomporem rapidamente ou não na natureza.
A energia produzida em usinas hidrelétricas, por exemplo, é renovável pelo fato
de ser gerada a partir da força da água, um recurso renovável. Já os
combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão mineral, são fontes não
renováveis, porque levam milhões de anos para se formarem naturalmente.

Existe também a classificação de fontes convencionais de energia, assim


chamadas por serem amplamente difundidas e mais utilizadas pela sociedade,
como os combustíveis fósseis. As fontes alternativas, por sua vez, como a
energia solar e a eólica, são produzidas a partir de tecnologias mais recentes e
que geram baixo impacto ambiental, mas ainda são utilizadas em menor
escala.

Fim do complemento.

58

Petróleo

O petróleo é um hidrocarboneto, composto químico constituído por átomos de


hidrogênio e carbono. Sua origem é orgânica, formado pela decomposição de
microrganismos (animais e vegetais) que se acumularam no fundo de antigos
ambientes aquáticos (mares e lagos) existentes há milhões de anos no planeta
(A).

Cobertos por espessas camadas de sedimentos, esses restos orgânicos foram


submetidos a temperaturas e pressões elevadas e se transformaram muito
lentamente em petróleo (B). No interior da crosta terrestre, os depósitos de
petróleo ficam aprisionados por rochas impermeáveis que impedem a sua
migração (C).

Formação do petróleo

FONTE DAS ILUSTRAÇÕES: STRAHLER, Alan; STRAHLER, Arthur.


Introducing Physical Geography. New Jersey: John Wiley & Sons, 2006. p. 412.
CRÉDITO: Gary Hihcks/SPL/Latinstock

Também conhecido como "óleo de pedra", o petróleo possui coloração escura


e é encontrado em estado líquido em depósitos naturais acumulados em
rochas porosas sedimentares, como arenitos e calcários, localizados em
profundidades variadas do subsolo, tanto na parte continental (onshore) quanto
no fundo de mares e oceanos (offshore).

LEGENDA: Exploração de petróleo no continente na Califórnia, Estados


Unidos, em 2014.

CRÉDITO: Karen Desjardin/Moment Mobile/Getty Images

59

Desde o surgimento das primeiras indústrias petroquímicas, no início do século


XX, o petróleo passou a ser muito utilizado. Atualmente, responde por cerca de
33% da matriz energética mundial.

Sua utilização em grande escala decorre de sua versatilidade. Em seu estado


bruto ou mesmo após o refino, o petróleo pode ser transportado com facilidade
para grandes distâncias (rede de oleodutos, navios petroleiros, caminhões-
tanque etc.) a um custo relativamente baixo. Outra vantagem do petróleo está
na diversidade de derivados que fornece.

A qualidade do petróleo encontrado em uma jazida varia conforme suas


propriedades físico-químicas e poder calorífico. O de maior aplicação
comercial, também chamado petróleo leve, é processado com maior facilidade
nas refinarias pelo fato de ser formado por cadeias de carbono pequenas
(menos de dez átomos de carbono por molécula). Os de menor uso comercial,
ao contrário, também chamado petróleo pesado, possui estruturas moleculares
maiores (com mais de 20 átomos de carbono por molécula) e, como
consequência, um refino mais caro.

A partir do refino, em que o petróleo passa por uma série de processos


químicos e físicos, são obtidos diversos tipos de combustíveis (gasolina, óleo
diesel, querosene e gás) e inúmeros outros subprodutos, como lubrificantes,
solventes, graxas, betume (asfalto) etc. Veja a figura abaixo.

LEGENDA: No processo de refino, o petróleo é superaquecido a cerca de 600


ºC no interior de uma torre de destilação, também chamada torre de
fracionamento, dividida em vários níveis. A temperatura na parte inferior da
torre é mais elevada e diminui gradativamente em direção à parte superior.
Assim, o petróleo é vaporizado e, à medida que o vapor sobe e a temperatura
diminui, ele se condensa ao longo da torre, originando subprodutos ou
derivados.

FONTE: Ilustração produzida com base em: PETROBRAS. Disponível em:


www.petrobras.com.br/ pt/nossas-atividades/areas-deatuacao/refino/. Acesso
em: 19 out. 2015. CRÉDITO: Luciane Mori

- Petróleo no mundo: produção, consumo e fluxos

Por se tratar de um recurso não renovável, o petróleo tende a se esgotar. As


estimativas mais pessimistas indicam que as reservas mundiais possam se
esgotar daqui a 40 anos, o que é provável que não ocorra diante das
descobertas de novas jazidas e do desenvolvimento de novas tecnologias de
exploração. Entretanto, existe um grande desequilíbrio entre as regiões
produtoras e consumidoras. Verifique, nos mapas apresentados na página
seguinte, quais são os maiores produtores e os maiores consumidores
mundiais de petróleo.

60

FONTE: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível em:


www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energy-economics/statistical-review-2015/bp-
statistical-review-of-world-energy-2015-full-report.pdf. Acesso em: 19 ago.
2015.

FONTE: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível em:


www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energy-economics/statistical-review-2015/bp-
statistical-review-of-world-energy-2015-full-report.pdf. Acesso em: 19 ago.
2015. CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES: E. Cavalcante

a) Quais são os maiores produtores de petróleo? E os maiores consumidores?

b) Comparando produção e consumo de petróleo no mundo, quais países


apresentam maior dependência em relação a essa fonte energética?

c) Como podemos perceber a importância do petróleo no comércio exterior de


alguns países por meio do mapa de fluxos?

d) Como fonte de energia não renovável as reservas de petróleo tendem a se


esgotar futuramente, e isso nos levanta a seguinte questão: quais seriam os
impactos da escassez de petróleo para a sociedade contemporânea?
e) Sabendo que o petróleo representa cerca de um terço da matriz energética
mundial, como a humanidade deveria se preparar para suprir sua necessidade
energética futura?

61

- A geopolítica do petróleo

Desde a descoberta dos primeiros poços de petróleo perfurados em 1859 na


Pensilvânia, Estados Unidos, esse precioso recurso se tornou o principal
combustível responsável pelo crescimento econômico e industrial em muitos
países já nas primeiras décadas do século XX. Desse modo, a sua demanda
crescente impulsionou o desenvolvimento de uma indústria que se tornaria uma
das mais importantes da economia contemporânea: a indústria petrolífera.

O interesse econômico que o petróleo despertou foi tanto que, em 1928, as


sete maiores empresas de petróleo, de origens europeia e estadunidense,
conhecidas como "sete irmãs" (veja quadro abaixo), formaram um cartel que
detinha o oligopólio do setor petrolífero em escala mundial. Essas poderosas
empresas dividiram entre si o mercado mundial de petróleo, exercendo forte
influência e controle sobre a exploração, o transporte, o refino e a distribuição
do chamado "ouro negro".

As sete irmãs reuniam as empresas pioneiras no ramo petrolífero, cinco delas


estadunidenses (Exxon, Mobil, Standard Oil, Texaco e Gulf), uma inglesa
(British Petroleum) e uma anglo-holandesa (Shell). Com o passar dos anos,
algumas delas se fundiram, formando hoje apenas quatro grandes empresas
(Exxon Mobil, Chevron Texaco, Shell e British Petroleum).

Essas empresas exploravam jazidas em diversos países, sobretudo no Oriente


Médio, na África e na América Latina, pagando royalties baixos pelo petróleo
extraído. Após o refino do petróleo bruto, elas vendiam os derivados já
processados a preços muito elevados e obtinham, assim, lucros fabulosos.

Glossário:

Cartel: nome dado a acordos estabelecidos por empresas do mesmo ramo de


atividades que visam defender seus interesses no mercado, como eliminação
da concorrência e a manutenção da taxa de lucros. Entre as medidas práticas
do cartel podem ser citadas: a fixação de preços semelhantes entre as
empresas, o controle da margem de lucro e a delimitação da área de atuação
de cada empresa do cartel.

Oligopólio: ocorre quando poucas empresas, de um mesmo setor de atividade


e geralmente de grande porte, detêm o controle da maior parte do mercado.

Royalty: corresponde ao valor pago aos proprietários de uma marca, produto


ou a autores de obras pelos direitos de sua exploração comercial. O valor pago
corresponde à porcentagem das vendas ou dos lucros obtidos com a
exploração comercial.

Fim do glossário.

Boxe complementar:

As sete irmãs, a nacionalização do petróleo e a Opep

Na tentativa de romper o domínio que as sete irmãs exerciam no mercado


petrolífero, alguns países adotaram políticas de nacionalização do petróleo,
criando empresas estatais para atuar diretamente nas principais etapas dessa
atividade (exploração, transporte, refino e distribuição). Podemos citar, por
exemplo, o caso do México e a criação da Pemex em 1938, da Itália e a ENI
em 1953, do Brasil e a Petrobras em 1953 e da Venezuela e a PDVSA em
1976, hoje privatizada.

Com o objetivo de também romper o oligopólio exercido pelas sete irmãs e


conter a redução do preço do petróleo bruto imposta estrategicamente pelo
cartel, os principais países produtores e exportadores de petróleo (Arábia
Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Venezuela) criaram, em 1960, a Organização dos
Países Exportadores de Petróleo (Opep). Juntos, esses países passaram a
defender seus interesses por meio de decisões políticas e econômicas,
interferindo de forma direta nos preços do petróleo no mercado internacional. À
medida que o consumo desse recurso aumentava e a economia mundial se
tornava cada vez mais dependente do petróleo desses países, a Opep se
fortaleceu política e economicamente no cenário mundial.

LEGENDA: Atualmente, a Opep é composta de doze países-membros: Argélia,


Angola, Equador, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Catar, Arábia Saudita,
Emirados Árabes Unidos e Venezuela, que formam um oligopólio na produção
do petróleo. Acima, reunião dos representantes da Opep em Viena, na Áustria,
em 2015.

CRÉDITO: Hasan Tosun/Anadolu Agency/Getty Images

Fim do complemento.

62

- Os "choques" do petróleo

Em 1973, os países da Opep aproveitaram a instabilidade política criada no


Oriente Médio pela Guerra do Yom Kippur (veja quadro a seguir) e ameaçaram
reduzir a produção e o fornecimento de petróleo como forma de elevar o preço
do produto bruto no mercado internacional, com o objetivo de aumentar seus
lucros. Em poucas semanas, o preço do barril do petróleo saltou de 2,7 dólares
para quase 12 dólares, episódio que ficou conhecido como o "primeiro choque
do petróleo".

A eclosão de um novo conflito armado na região envolvendo o Irã e o Iraque,


iniciado em 1980 e que se estendeu por quase toda essa década, teve
impactos diretos no preço do petróleo. Temendo que o produto se tornasse
escasso no mercado, muitos países ampliaram suas importações de petróleo
como forma de aumentar suas reservas estratégicas.

O aumento da demanda, combinado com o conflito bélico entre os dois


grandes produtores de petróleo, fez o preço do barril disparar de novo no
mercado internacional, alcançando a cifra de 34 dólares (valor doze vezes
maior que o pago pelo produto em 1973). Essa nova alta do petróleo ficou
conhecida como o "segundo choque do petróleo".

As sucessivas altas no preço do petróleo afetaram seriamente a economia


mundial. Os gastos elevados com a alta do produto dificultaram a recuperação
econômica das nações mais desenvolvidas. Mas os impactos econômicos
foram maiores ainda nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, cujo
crescimento econômico-industrial dependia quase exclusivamente das
importações de petróleo. Os gastos mais elevados com a importação do
petróleo afetaram de forma direta a balança comercial desses países,
aumentando seus déficits e levando-os a um maior endividamento externo.

Boxe complementar:

Guerra de Yom Kippur

Conflito ocorrido em 1973, num dia de comemoração do feriado religioso


judaico chamado Yom Kippur, ou Dia do Perdão, quando tropas sírias e
egípcias ocuparam as Colinas de Golan e a Península do Sinai, incluindo
quase toda a faixa do Canal de Suez. No entanto, com o apoio dos EUA, Israel
retomou essas áreas e, ao término da guerra, voltou a ter o domínio sobre as
regiões em disputa.

Os árabes derrotados passaram a usar o petróleo como arma política,


diminuindo a produção e até cortando o fornecimento aos países simpatizantes
de Israel, contando com o apoio da Opep.

Fim do complemento.

63

Mas, ao longo da década de 1980, os preços do petróleo voltaram a cair com o


aumento da produção em novas jazidas, como as descobertas no Alasca e no
Mar do Norte, e também pela menor dependência dessa fonte energética com
o aumento da produção interna e sua substituição por outras fontes de energia,
a exemplo do que ocorreu no Brasil com a produção do álcool a partir da cana-
de-açúcar.

Depois de um período de preços relativamente baixos, a cotação do petróleo


voltou a subir após a eclosão de novos conflitos: a primeira Guerra do Golfo,
em que o Iraque invadiu o Kuwait (1990-1991) com o objetivo de se apossar
das jazidas de petróleo do país vizinho, sendo derrotado por uma força de
coalizão liderada pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha; e a segunda
Guerra do Golfo (2003), em que os Estados Unidos invadiram o território
iraquiano com o objetivo de derrubar o governo de Saddam Hussein sob o
pretexto de que o país desenvolvia armas de destruição em massa que nunca
foram encontradas. Após a destituição do governo iraquiano, os Estados
Unidos passaram a exercer o controle sobre as imensas reservas petrolíferas
desse país.

Depois dessa nova alta, o preço do petróleo voltou a cair, chegando, em 2016,
a cerca de 34 dólares. As oscilações no preço revelam, porém, a grande
importância estratégica que o petróleo ainda possui na economia mundial, e
que instabilidades de ordem política, econômica ou militar, sobretudo nas
regiões produtoras, terão com certeza repercussões diretas na cotação dessa
fonte energética.

O gráfico a seguir mostra como o preço médio do petróleo oscilou nas últimas
décadas influenciado por razões de ordem política, econômica e militar.

FONTE: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível em:


www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energy-economics/statistical-review-2015/bp-
statistical-reviewof-world-energy-2015- full-report.pdf. Acesso em: 19 ago.
2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

64

Carvão mineral

O carvão mineral, encontrado em estratos rochosos sedimentares, originou-se


da decomposição de restos orgânicos de antigas florestas, que existiram em
certas regiões do globo no final da era Paleozoica, entre os períodos
Carbonífero e Permiano, há cerca de 360 milhões a 245 milhões de anos (1).
Em termos geológicos, o carvão é considerado um tipo de rocha que apresenta
uma concentração de carbono resultante da decomposição e sedimentação de
matéria orgânica de antigas florestas (2). Soterrada em condições de alta
pressão e na ausência de oxigênio, necessário para a decomposição, essa
matéria orgânica se transformou, com o passar do tempo, no material rochoso
denominado carvão mineral (3).

FONTE DAS ILUSTRAÇÕES: STRADLING, Jan. The wonders inside the Earth.
San Diego: Silver Dolphin, 2009. p. 84. CRÉDITO: Gary Hincks/SPL/Latinstock

Boxe complementar:

Qualidade do carvão
Quanto maior a concentração de carbono, maior o teor calorífico do carvão, e,
por conseguinte, maior o seu poder energético. Por isso, o carvão pode ser
classificado em:

- antracito: de maior poder calorífico, com mais de 90% de carbono;

- hulha: com teor de carbono entre 75% a 90%;

- linhita: com teor de carbono entre 65% a 75%;

- turfa: de menor poder calorífico, com cerca de 55% a 60% de carbono.

Fim do complemento.

Fonte de energia que moveu as primeiras máquinas a vapor, no período da


Primeira Revolução Industrial, o carvão mineral constitui hoje a segunda fonte
energética mais utilizada no mundo, atrás apenas do petróleo.

Esse recurso é largamente utilizado como combustível nas termelétricas,


usinas que geram energia elétrica a partir do vapor produzido pela queima do
carvão. Também é matéria-prima para a fabricação de diversos produtos, como
asfalto, piche, plásticos, tintas, corantes e inseticidas.

O carvão mineral é a mais abundante fonte de energia não renovável do


mundo, e suas reservas conhecidas talvez sejam suficientes para os próximos
duzentos anos. Essas reservas estão distribuídas de maneira desigual, isto é,
cerca de 57% do total delas se encontram em apenas três países: Estados
Unidos, Rússia e China. Podemos observar isso nos gráficos abaixo, que
apresentam a produção e o consumo dessa fonte energética.

Embora a queima do carvão mineral seja muito eficiente dado o seu forte poder
calorífico, seu uso em larga escala apresenta algumas desvantagens: ao ser
queimado, o carvão libera grande quantidade de gases químicos poluentes,
como monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO 2) e óxidos sulfúricos
(SO3). Esses gases contribuem para o agravamento de inúmeros problemas
ambientais, entre eles, o efeito estufa e a chuva ácida (assunto que
estudaremos no volume 3).

FONTE DOS GRÁFICOS: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível


em: www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energy-economics/statistical-review-
2015/bp-statistical-review-of-world-energy-2015-full-report.pdf. Acesso em: 19
ago. 2015. CRÉDITO: Renan Fonseca

65

Gás natural

O gás natural é um combustível fóssil, de origem orgânica, formado


basicamente por hidrocarbonetos leves gasosos, principalmente metano.
Encontrado em rochas sedimentares porosas, sua ocorrência no subsolo pode
estar associada ou não aos depósitos de petróleo.

Constitui a terceira fonte de energia mais utilizada no planeta, responsável por


cerca de 24% da matriz energética mundial. Além do baixo custo e da
possibilidade de ser transportado em dutos, o uso do gás natural também
constitui uma fonte de energia de menor teor poluente, visto que sua queima
emite bem menos poluição para a atmosfera do que outros combustíveis
fósseis, como petróleo e carvão mineral.

O gás natural é largamente utilizado no consumo doméstico, o chamado gás de


cozinha, no preparo dos alimentos, em sistemas de aquecimento de água.
Também tem ampla utilização nas indústrias, na geração de calor, nas usinas
termelétricas para produção de energia elétrica e nos transportes, como
combustível de veículos.

LEGENDA: Acima, podemos observar quais regiões do mundo detêm as


maiores reservas de gás natural, como o consumo de gás natural (conforme
valor do centro dos círculos) cresceu ao longo das últimas décadas e como sua
demanda deverá aumentar no futuro (conforme traçado da linha vermelha).

FONTE DOS GRÁFICOS: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível


em: www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energyeconomics/statistical-review-
2015/bp-statistical-review-of-world-energy-2015-full-report.pdf. Acesso em: 19
ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Boxe complementar:

Termelétricas

As usinas termelétricas geram energia elétrica a partir da queima de petróleo,


carvão mineral ou gás natural, entre outros combustíveis. O calor gerado pela
queima desses combustíveis aquece uma caldeira com água, produzindo jatos
de vapor de água em alta pressão. A forte pressão do vapor faz a turbina da
usina girar em alta velocidade, produzindo eletricidade a partir de um gerador.

Se as usinas termelétricas têm a vantagem de serem instaladas próximo aos


centros consumidores, onde a demanda energética é maior, a queima dos
combustíveis fósseis, sobretudo petróleo e carvão mineral, libera diversos
gases tóxicos na atmosfera (dióxido de carbono, óxido nitroso e de enxofre),
além de partículas sólidas (cinzas e fuligem), que aumentam a poluição do ar e
os problemas decorrentes dessa poluição.

Fim do complemento.

66

Energia nuclear ou atômica

Com a crise do petróleo nas décadas de 1970 e 1980, como vimos, vários
países industrializados do hemisfério Norte passaram a investir em pesquisas e
tecnologias voltadas para a construção de usinas nucleares, como forma de
produzir energia elétrica e diminuir sua dependência do petróleo. Apesar dos
altos custos de sua construção, as usinas nucleares ocuparam posição de
destaque na política energética de países ricos e industrializados, como
Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França e Inglaterra, em especial,
daqueles que não dispunham de recursos energéticos abundantes em seu
território (Bélgica, Holanda, Suíça, Japão).

Mais tarde, o uso da energia nuclear também se estendeu a outros países,


como Brasil, México, África do Sul, Índia, Coreia do Sul, em geral, por meio da
transferência de tecnologias dos países mais ricos.

Embora existam usinas nucleares instaladas em mais de 30 países, num total


de 437 reatores em funcionamento em todo o mundo, elas ainda representam
cerca de 11% de toda energia elétrica gerada no mundo.

Alguns países, sobretudo aqueles que não dispõem de recursos hídricos para a
instalação de usinas hidrelétricas, nem de grandes reservas de combustíveis
fósseis, investem na produção de energia nuclear. Isso, por sua vez, amplia
sua dependência dessa fonte energética. O gráfico abaixo mostra a
participação da energia nuclear na matriz energética de alguns países do
mundo.

FONTE: INTERNATIONAL Atomic Energy Agency (IAEA). Disponível em:


www-pub.iaea.org/mtcd/publications/pdf/rds2-35web-85937611.pdf. Acesso
em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Glossário:

Reatores: câmaras blindadas contra a radiação construídas no interior das


usinas nucleares, onde ocorre o processo de fissão nuclear controlado.

Fim do glossário.

LEGENDA: Uma usina nuclear, assim como uma termelétrica, gera energia a
partir do vapor em alta pressão. Nas usinas nucleares, o calor necessário para
gerar vapor em alta pressão é obtido de reações nucleares desencadeadas por
elementos radiativos. Entre eles, estão o urânio, o tório e o plutônio. Nesse
processo, chamado fissão nuclear, técnicas controladas de bombardeamento
de partículas ou nêutrons atingem o núcleo do urânio, gerando uma reação em
cadeia, que libera energia na forma de calor (veja figura acima). O restante do
processo é semelhante ao de uma usina termelétrica.

CRÉDITO: Andrea Danti/Shutterstock.com

Boxe complementar:

A polêmica produção de energia nuclear

Os grandes desafios para a construção de usinas nucleares são o alto


investimento necessário para sua instalação e para o domínio de sua
tecnologia, além dos riscos sociais e ambientais decorrentes da geração do lixo
atômico e da contaminação radioativa em caso de vazamentos. O lixo atômico,
formado pelos materiais utilizados na usina (roupas, peças e equipamentos) e
pelos resíduos do combustível nuclear utilizado no reator, continua emitindo
elevada quantidade de radiação por milhares de anos, por isso, precisa ser
isolado em depósitos definitivos, geralmente subterrâneos e revestidos de
concreto. Outra questão preocupante diz respeito à proliferação de armas
nucleares, já que a tecnologia de enriquecimento do combustível nuclear pode
ser utilizada para a fabricação de bombas atômicas. Por essas razões, o uso
da energia nuclear vem sendo alvo de críticas, o que tem levado alguns países
a rever seus programas nucleares.

LEGENDA: Acima, usina de energia nuclear na Alemanha, em 2014.

CRÉDITO: imageBROKER/Alamy Stock Photo/Latinstock

Fim do complemento.

67

Hidrelétricas

As usinas hidrelétricas, também chamadas de hidroelétricas, geram energia


elétrica renovável, limpa (não poluente, pois não depende da queima de
combustível) e a baixo custo de operações. O aproveitamento dessa energia
depende, portanto, do potencial hidrelétrico de um curso fluvial, o que, por sua
vez, depende de certas condições naturais, como a existência de rios com
desníveis mais acentuados ou com quedas de água em seus cursos e com
leitos volumosos, que garantam o suprimento necessário de água. Embora
muito difundida pelo mundo, a energia hidrelétrica é mais aproveitada apenas
nos países que dispõem de grande potencial hidrelétrico (veja gráfico abaixo).

Ainda que sejam fontes de energia limpa e renovável, as hidrelétricas também


ocasionam impactos, tanto ambientais quanto sociais. A formação do lago
artificial das usinas pode encobrir extensas áreas que abrigam fauna e flora
variadas, terras férteis e agricultáveis, assim como causar a remoção de
famílias e suas propriedades.

FONTE: BRITISH Petroleum (BP). BP GLOBAL. Disponível em:


www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energy-economics/statistical-review-2015/bp-
statistical-review-ofworld-energy-2015-full-report.pdf. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

LEGENDA: A maior hidrelétrica do mundo em capacidade de produção, a usina


de Três Gargantas (vista na foto acima, de 2014), localiza-se na China, no rio
Yang Tsé-Kiang. Atualmente, a usina gera 100% de sua capacidade total, que
chega a 22,5 mil gigawatts, potência suficiente para atender ao consumo de
33,8 milhões de habitantes com nível de consumo do Brasil. Para a construção
da represa artificial, mais de um milhão de pessoas tiveram que ser
deslocadas.

CRÉDITO: ChinaFotoPress/Getty Images

Esquema de hidrelétrica

LEGENDA: A construção de uma barragem no leito do rio interrompe o curso


normal de suas águas, formando um grande reservatório (1). A energia
potencial do imenso volume de água contido no reservatório passa por
tubulações e, durante a queda (2), se transforma em energia cinética, capaz de
girar uma turbina em alta rotação (3), que, interligada a um gerador, produz
energia elétrica (4). A potência gerada em uma usina hidrelétrica é proporcional
à altura da queda e à vazão da água. A energia produzida é conduzida a um
transformador (5), que transforma a tensão da energia e transmite para a rede
de distribuição (6).

FONTE: Ilustração produzida com base em: AGUIAR, Laura; SCHARF, Regina.
Como cuidar da nossa água. São Paulo: BEI~ Comunicações, 2010. p. 71.
(Coleção entenda e aprenda). CRÉDITO: Luciane Mori

68

Explorando o tema

Energia e meio ambiente

O debate sobre a matriz energética do mundo atual, calcada no uso de


combustíveis fósseis não renováveis, é alvo de discussão e preocupação nos
dias atuais. A queima desses combustíveis, sobretudo do petróleo e do carvão
mineral, emite poluentes atmosféricos tóxicos (gases), que afetam a saúde e
causam inúmeros outros impactos ambientais graves, como a intensificação do
efeito estufa, a redução da camada de ozônio e a ocorrência de fenômenos
como chuvas ácidas e ilhas de calor. Mesmo outras fontes energéticas, como a
hidroeletricidade e a fissão nuclear, também acarretam impactos
socioeconômicos e ambientais em maior ou menor grau.

Como o consumo mundial de energia tende a aumentar ao longo das próximas


décadas, principalmente nos países emergentes e/ou subdesenvolvidos, em
razão do crescimento populacional e econômico mais acelerado, podemos
dizer que a sociedade contemporânea se coloca diante de um grande desafio:
desenvolver fontes energéticas alternativas, renováveis e menos poluentes. A
alternativa para esse desafio requer, portanto, a substituição dos combustíveis
fósseis não renováveis, de grande impacto ambiental, por fontes energéticas
de menor impacto ambiental, em especial pelas fontes alternativas de energia.
Vejamos algumas delas.

Glossário:

Países emergentes: denominação que caracteriza os países de industrialização


tardia ou subdesenvolvidos que se destacam economicamente no cenário
mundial.

Fim do glossário.

Eólica: energia gerada a partir da força do vento. Com o impulso do vento, o


movimento de imensas hélices instaladas em grandes cata-ventos aciona uma
turbina, que, acoplada a um gerador, transforma a energia mecânica (do
movimento) em energia elétrica. Embora reduzido, o aproveitamento dessa
fonte de energia vem aumentando com a implantação de centrais eólicas em
várias partes do mundo. China, Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Índia
são os países com maior geração de energia eólica. Abaixo, área de produção
de energia eólica na Alemanha, em 2015.

CRÉDITO: Vytautas Kielaitis/Shutterstock.com

Solar: a radiação solar é captada por meio de grandes painéis fabricados com
células fotovoltaicas, as quais geram eletricidade por meio de reações
químicas. Uma usina solar consiste num grande agrupamento desses painéis.
A energia solar também pode ser usada para aquecimento de água em painéis
solares residenciais. Embora a energia do Sol seja abundante e disponível para
toda a população, seu aproveitamento para geração de energia é recente e
ainda pouco disseminado no mundo. Abaixo, sistema de produção de energia
solar na Alemanha, em 2015.

CRÉDITO: Hiya Hiyo/Shutterstock.com

69
Geotérmica: energia obtida a partir do calor proveniente do interior da Terra. As
usinas geotérmicas aproveitam a água superaquecida acumulada em
reservatórios subterrâneos, localizados próximo à superfície ou mesmo em
grandes profundidades. Essa água superaquecida é bombeada até a usina,
gerando o vapor necessário para movimentar turbinas e produzir energia
elétrica. Estados Unidos, Filipinas, Indonésia, Itália, México, Japão e Islândia
são alguns dos poucos países que exploram, em pequena escala, essa fonte
energética. Abaixo, usina geotérmica na Itália, em 2014.

CRÉDITO: R. Crocella/DeAgostini/Getty Images

Maremotriz: energia obtida pela variação diária das marés que se formam pela
ação gravitacional do Sol e da Lua sobre a Terra. O aproveitamento dessa
energia é semelhante ao das usinas hidrelétricas, exigindo a construção de
uma barragem com a função de reter a água do mar. Quando a maré está alta,
a água passa pelas comportas abertas da barragem, enchendo o reservatório.
Quando a maré está baixa, a água retida no reservatório é liberada com
energia potencial suficiente para acionar as turbinas que geram energia
elétrica. O processo se repete, então, a cada intervalo entre uma maré alta e
uma maré baixa. Abaixo, sistema maremotriz de produção de energia na
França, em 2012.

CRÉDITO: Thomas Bregardis/Stringer/AFP Photo

Biogás: resíduos orgânicos (lixo e esterco de animais) podem ser


transformados em gás combustível por meio da digestão anaeróbica (sem
oxigênio), processo em que microrganismos consomem matéria orgânica e
liberam gases, como o metano (CH4). O processo ocorre em grandes tanques
fechados, chamados biodigestores, onde os microrganismos provocam
decomposição, transformando os materiais orgânicos em biogás. Esse gás
pode ser utilizado para gerar energia elétrica por meio de geradores,
substituindo o uso do gás natural, ou, ainda, pode substituir o gás residencial, o
GLP (gás liquefeito de petróleo). Abaixo, produção de energia de biogás na
Holanda, em 2015.

CRÉDITO: Ton Koene/VWPics/Alamy Stock Photo/Latinstock


Biomassa: compostos de origem orgânica, geralmente vegetal, podem ser
aproveitados para a geração de energia. Como exemplo, podemos citar o
bagaço da cana-de-açúcar, utilizado para aquecer fornos e caldeiras nas
usinas, cuja queima também pode gerar energia elétrica. Assim como a própria
cana-de-açúcar, da qual se produz etanol, várias outras plantas oleaginosas
(dendê, soja, babaçu, girassol, mamona, caroço de algodão) também são
exemplos de biomassa que pode ser aproveitada para a produção de
biocombustíveis. Abaixo, usina de produção de energia de biomassa em
Cerqueira César, São Paulo, em 2015.

CRÉDITO: Paulo Fridman/Pulsar

Glossário:

Biocombustível: combustível renovável, produzido a partir de cultivos


energéticos (cana-de-açúcar, mamona, milho, entre outros) e de restos e
resíduos agrícolas e domésticos (material orgânico).

Fim do glossário.

70

O quadro abaixo apresenta, resumidamente, as vantagens e as desvantagens


das fontes energéticas alternativas.

CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES: Luciane Mori

71

Fontes de energia no Brasil

Até meados do século XX, a queima da lenha e do carvão vegetal representava


quase 50% do consumo energético no Brasil. Em um país ainda
predominantemente agrário e exportador, essas fontes energéticas, obtidas a
partir da abundante madeira existente nas florestas da mata Atlântica e da
mata de Araucárias, moviam o sistema ferroviário (locomotivas a vapor) e o
restrito parque industrial do país, constituído basicamente por indústrias de
bens de consumo e pelas primeiras siderúrgicas.

As grandes transformações econômicas ocorridas no país a partir daquela


época, desencadeadas pelos processos de industrialização e urbanização
(como estudaremos mais adiante), aliadas ao expressivo crescimento
demográfico, geraram uma enorme e crescente demanda de energia.

No contexto dessas transformações, o governo brasileiro (do então presidente


Getúlio Vargas) canalizou grandes investimentos para o setor energético,
sobretudo, para a exploração de petróleo. Em 1939, começou a ser explorado
o primeiro poço de petróleo do país, perfurado nas proximidades da cidade de
Salvador, na Bahia. Embora encontrado em pequena escala, a descoberta do
petróleo suscitou ao governo uma política energética nacionalista, com o
estabelecimento do monopólio estatal sobre o petróleo nacional, o que se
consolidou em 1953 com a criação da Petrobras e das primeiras refinarias de
petróleo. Desde então, o petróleo aqui produzido e o crescente volume de
petróleo importado ampliaram sua participação no setor energético brasileiro, a
ponto de se tornar a maior fonte de energia consumida no país.

LEGENDA: Presidente Getúlio Vargas assinando a lei 2004, que criou a


Petrobras, em 1953.

CRÉDITO: Acervo Iconographia

Como estudamos anteriormente, a crise mundial do petróleo no início da


década de 1970 teve sérios impactos na economia brasileira. Com a forte
elevação do seu preço, os gastos com a importação do petróleo aumentaram
muito, afetando nossa balança comercial e as contas do governo (aumento do
endividamento). Naquela época, o Brasil produzia somente 20% do petróleo
consumido no país.

Como alternativa para diminuir a nossa dependência do petróleo, o governo


brasileiro redirecionou sua política energética para a geração de fontes
renováveis. Embora ocasionasse impactos, como foi visto, a partir dessa
época, várias usinas hidrelétricas passaram a ser construídas, sobretudo no
Centro-Sul (região mais industrializada e urbanizada do país), aproveitando o
excelente potencial hidráulico de seus rios. Com o objetivo de buscar
alternativas ao petróleo, o governo também investiu em pesquisas e incentivou
a produção dos biocombustíveis, também chamados combustíveis biológicos,
como a produção de álcool etílico ou etanol a partir da cana-de-açúcar.
LEGENDA: Uma crítica à produção de etanol é o avanço das grandes lavouras
monocultoras de cana-de-açúcar, que reforçam a continuidade da estrutura dos
latifúndios e a concentração de terras. Além disso, provocam a devastação de
biomas ainda preservados, à medida que as lavouras de cana-de-açúcar se
expandem em direção a novas áreas agrícolas, como visto acima, em Costa
Rica, Mato Grosso do Sul, em 2012.

CRÉDITO: Ricardo Teles/Pulsar

72

- Petróleo: da crise à autossuficiência

Paralelamente aos investimentos destinados à obtenção de fontes energéticas


renováveis, o governo brasileiro investiu no aumento da produção interna para
diminuir sua dependência do petróleo importado.

Os investimentos estatais no setor levaram não somente à descoberta de


novas reservas, sobretudo na plataforma continental, mas também ao
desenvolvimento de técnicas mais avançadas de exploração, como a
prospecção e exploração em águas cada vez mais profundas. Com isso, a
produção interna de petróleo cresceu ao longo das décadas de 1980 e 1990,
dando um salto ainda maior depois de 1995, quando a quebra do monopólio
estatal, até então exercido pela Petrobras, permitiu que outras empresas
(privadas e estatais) também atuassem no setor. Em 1997, para disciplinar a
participação dessas empresas no setor, foi criada a Agência Nacional do
Petróleo (ANP), órgão ligado ao Ministério das Minas e Energias que ficou com
a função de regular, contratar e fiscalizar as atividades ligadas ao petróleo e ao
gás natural no país.

Com o crescimento da produção interna, decorrente da perfuração de novos


poços e da descoberta de grandes campos de petróleo em alto-mar, a
produção brasileira se tornou suficiente para abastecer o mercado interno. Ao
alcançar a autossuficiência na produção de petróleo, o país praticamente
eliminou a dependência em relação ao exterior e aos riscos econômicos
gerados em caso de novas crises no setor petrolífero internacional. Na
atualidade, o Brasil recorre apenas à importação de pequenas quantidades de
derivados de petróleo para atender à sua demanda de óleo diesel e gasolina.
LEGENDA: O gráfico acima mostra a produção de petróleo dos maiores
produtores brasileiros. Veja que apenas o estado do Rio de Janeiro produz
mais de 68% de todo o petróleo explorado no território nacional.

FONTE: AGÊNCIA Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).


Disponível em: www.anp.gov.br/?pg=76798#se__o2. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

Atualmente, a produção média de petróleo no Brasil chega a cerca de 2,3


milhões de barris/dia, o que coloca o país entre os maiores produtores
mundiais.

A exploração do petróleo brasileiro ocorre principalmente na plataforma


continental, de onde são extraídos cerca de 93% de todo o petróleo produzido
no país. Os 7% restantes são extraídos de poços perfurados no continente,
com destaque para a produção dos estados do Rio Grande do Norte, Bahia,
Amazonas, Sergipe, Espírito Santo, Alagoas e Ceará.

Hoje, a Bacia de Campos, localizada no litoral dos estados do Rio de Janeiro e


Espírito Santo, é a principal área de extração com mais de 46 plataformas de
exploração (foto abaixo), que, juntas, respondem por cerca de 66% da
produção nacional de petróleo.

LEGENDA: Vista de uma das plataformas de prospecção de petróleo na baía


da Guanabara, no Rio de Janeiro, em 2014.

CRÉDITO: Eduardo Zappia/Pulsar

Glossário:

Plataforma continental: corresponde à porção do continente submerso pelas


águas oceânicas. A plataforma continental tem início na linha costeira, na qual
apresenta águas rasas e inclinação suave que se estendem até a profundidade
de 150 metros, no limite com o talude continental.

Fim do glossário.

73

- A matriz energética brasileira


Ao longo das últimas décadas, os investimentos em fontes de energia não
renováveis, especialmente em petróleo, assim como em fontes renováveis,
como hidroeletricidade e etanol, produziram mudanças significativas na matriz
energética brasileira.

Atualmente, as fontes não renováveis representam 56,5% da energia


consumida no país, enquanto as fontes renováveis respondem pelos 43,5%
restantes.

Outra característica marcante da nossa matriz energética diz respeito à


diversidade de fontes de energia utilizadas no país (veja gráfico abaixo).

FONTE: BRASIL. Ministério de Minas e Energia (MME). Disponível em:


http://ben.epe.gov.br/downloads/s%c3%adntese%20do%20 relat%c3%b3rio
%20final_2015_web.pdf. Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

O gás natural e o carvão mineral

O gás natural responde por 13,5% de toda a energia consumida no país, sendo
a segunda fonte não renovável mais utilizada, atrás apenas do petróleo. O
consumo de gás natural no Brasil aumentou a partir da década de 1990,
quando a ocorrência de racionamentos e apagões provocados pelo deficit
energético levou o governo brasileiro a incentivar o uso dessa fonte de energia
nas indústrias e nas usinas termelétricas.

Como o volume de gás natural aqui produzido é ainda pequeno, o governo


brasileiro teve que recorrer à importação do gás boliviano. Para tanto, investiu
na construção de um extenso gasoduto com cerca de 3 150 quilômetros de
comprimento para transportar gás de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, até os
principais estados consumidores do Centro-Sul do nosso país. Em 2006,
entretanto, o governo boliviano do presidente Evo Morales decidiu nacionalizar
o setor de gás natural, reformulando sua política de preços e gerando
instabilidade no mercado brasileiro. Depois disso, a Petrobras começou a
realizar pesquisas e investimentos na Bacia de Santos com o objetivo de
diminuir a nossa dependência do gás comprado da Bolívia.

A participação do carvão mineral na matriz energética brasileira é pequena,


cerca de 4,5%. Suas reservas são pouco expressivas e encontradas no Rio
Grande do Sul e em Santa Catarina, estados que respondem, respectivamente,
por cerca de 61% e 38% da produção nacional. Como essas reservas
apresentam carvão de baixa qualidade, com elevado teor de enxofre e menor
poder calorífico, sua exploração se torna economicamente viável apenas para
o consumo metalúrgico e energético (usinas termelétricas) locais, o que obriga
o país a importar grande parte do carvão mineral que consome.

CRÉDITO: Renata Mello/Pulsar

LEGENDA DAS IMAGENS: Terminal de armazenamento e transporte de gás


natural no Rio de Janeiro, em 2015 (foto A). Área de extração de carvão
mineral em Candiota, Rio Grande do Sul, em 2011 (foto B).

CRÉDITO: Fabio Colombini

74

Energia nuclear

Entre as décadas de 1960 e 1970, em pleno regime militar, o governo brasileiro


colocou em prática seu projeto nuclear, voltado para o domínio de tecnologias
com dupla finalidade: produzir energia elétrica e abrir caminhos para a
fabricação de armamentos nucleares. No entanto, em 1991, após o fim do
regime militar e a redemocratização do país, o governo brasileiro assumiu o
compromisso de não produzir armas nucleares.

Em 1985, depois de muito atraso, gastos gigantescos e críticas contundentes,


o país inaugurou sua primeira central nuclear (Angra 1), construída no
município de Angra dos Reis, litoral do estado do Rio de Janeiro (mapa
abaixo). Esses mesmos problemas se repetiram na construção da vizinha
Angra 2, que entrou em funcionamento em 2001, dezoito anos depois do prazo
previsto inicialmente. Em 2008, após anos de paralisação, o governo federal
retomou as obras de construção da usina de Angra 3.

FONTE: ATLAS geográfico escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 173.
1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E. Cavalcante

Ainda que o custo das usinas nucleares tenha sido altíssimo, a participação
dessa energia na matriz energética brasileira é muito reduzida (cerca de 2,5%),
motivo pelo qual se pode questionar se a energia nuclear realmente constitui
uma das melhores alternativas energéticas para o país.
O programa nuclear brasileiro ainda enfrenta várias outras críticas. Os
movimentos ambientalistas, por exemplo, questionam a localização geográfica
das usinas. Construídas nas proximidades dos maiores centros consumidores
de energia do país, elas representam um risco e uma ameaça para milhões de
pessoas em caso de vazamentos radioativos gerados por um acidente nuclear.

Outra crítica é feita em relação ao destino dos resíduos radioativos gerados


pelo combustível nuclear. Ainda hoje, não existe uma destinação final para
esse lixo nuclear, que permanece armazenado em depósitos provisórios no
próprio complexo da usina.

LEGENDA: Acima, vista do complexo das usinas nucleares Angra 1, 2 e 3, em


Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em 2015.

CRÉDITO: Mauricio Simonetti/Pulsar

75

Contexto geográfico

Ponto de vista

Fontes alternativas e o futuro energético do Brasil

No início deste século, o Brasil enfrentou uma crise energética marcada pela
ocorrência de apagões (blackouts) provocados pela interrupção no
fornecimento de energia. Essa crise foi desencadeada por uma combinação de
fatores. O consumo de energia (residencial e industrial) aumentava em razão
do crescimento econômico, mas a oferta de energia se mantinha estável pela
falta de investimentos no setor.

Em 2001, com o sistema elétrico funcionando à beira do colapso e com os


reservatórios das hidrelétricas abaixo do normal, em decorrência dos reduzidos
índices pluviométricos, a geração de energia foi insuficiente e levou aos
apagões, que obrigaram a população a conviver com racionamentos de
energia. Com a crise, o governo teve de ampliar os investimentos no setor,
construindo termelétricas movidas a gás natural e novas usinas hidrelétricas.

Embora subaproveitado, o país dispõe ainda de grande potencial para a


geração de fontes alternativas, como a energia eólica. Fonte renovável e de
baixo impacto ambiental, calcula-se que o potencial eólico no país seja capaz
de gerar até 143 GW (gigawatts), energia suficiente para abastecer 204,5
milhões de consumidores. Atualmente, o país dispõe de algumas estações
eólicas instaladas nos estados do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte,
Ceará e Paraíba.

Há, ainda, o potencial da energia solar, que pode se tornar uma excelente
opção quando os custos e a eficiência das centrais solares tornarem essa fonte
de energia mais barata e competitiva.

Glossário:

Gigawatt: a unidade watt (W) representa a potência elétrica de um sistema. A


unidade gigawatt (GW) corresponde a um bilhão de watts.

Fim do glossário.

LEGENDA: Parque gerador de energia eólica em Trairi, Ceará, em 2015.

CRÉDITO: Andre Dib/Pulsar

a) Considerando a necessidade de se conciliar crescimento econômico


(demanda energética) com sustentabilidade ambiental, o país deveria priorizar
seus investimentos em quais fontes energéticas?

b) Quais são os ônus de se depender de uma matriz energética considerada


"suja", baseada na queima de combustíveis fósseis, por exemplo?

76

Infográfico

Energia eólica

A produção de energia que aproveita a força dos ventos por meio de enormes
moinhos para gerar eletricidade é uma das mais promissoras da atualidade.
Não apenas porque as correntes de ventos são inesgotáveis, mas por se tratar
de energia limpa, não poluidora e sua produção ter poucas desvantagens.

77

FONTE DA ILUSTRAÇÃO: AGÊNCIA Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).


Disponível em: www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/06-energia_eolica(3).pdf.
Acesso em: 29 mar. 2016. BRASIL. Disponível em:
www.brasil.gov.br/infraestrutura/2016/01/infoelico1.gif/view. Acesso em: 29
mar. 2016. CRÉDITO: Sol90 Images

78

Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Explique as transformações ocorridas nas principais fontes energéticas


mundiais relacionadas à Revolução Industrial.

2. Defina os seguintes tipos de fontes de energia e dê exemplos: primária;


secundária; renováveis; não renováveis.

3. Cite dois países que são grandes produtores e dois países que são grandes
consumidores de petróleo.

4. O que é a Opep? Quais são seus objetivos?

5. Quais são as consequências ambientais resultantes da queima do carvão


mineral?

6. Cite as vantagens e desvantagens da utilização da energia nuclear.

7. No Brasil, quais são as fontes de energia mais consumidas? Elas são


renováveis ou não renováveis?

8. Qual é a função da Agência Nacional do Petróleo (ANP)?

9. Por que o Brasil necessita importar grande parte do carvão mineral que
consome?

10. Quais são as principais críticas relacionadas ao programa nuclear


brasileiro? Registre sua opinião sobre esse assunto.

Expandindo o conteúdo

11. Observe o gráfico e responda às questões.

FONTE: BRITISH Petroleum (BP). BP Global. Disponível em:


www.bp.com/content/dam/bp/pdf/Energy-economics/statistical-review-2015/bp-
statistical-review-of-world-energy-2015-full-report.pdf. Acesso em: 15 ago.
2015. CRÉDITO: Renan Fonseca
a) O gráfico acima apresenta a matriz energética de alguns países de
importante representatividade econômica no mundo. Sabendo disso, verifique
de qual tipo de energia cada um deles tem maior dependência.

b) Quais são os países que consomem mais energia renovável?

c) Em relação às fontes de energia renováveis e não renováveis que compõem


a matriz energética desses países, qual é a proporção dessas fontes nos
países apresentados? A quais conclusões podemos chegar em relação a esse
panorama?

79

12. Leia e interprete o texto a seguir.

É possível viver sem petróleo?

Diante da escassez anunciada, dos preços em alta e da ameaça do


aquecimento global, o mundo se prepara para reduzir o uso de uma de suas
principais fontes de energia: o petróleo. Produtoras e distribuidoras investem
pesadamente em opções alternativas. Montadoras testam novas tecnologias
para mover carros e caminhões. Mas a tarefa é quase impossível.

[...]

Apesar disso, o [nosso] país começa a fazer a sua lição de casa e aprende a
depender um pouco menos desse tipo de combustível. É o que ocorre, por
exemplo, em Betim, município mineiro conhecido como polo da indústria
automobilística e petroquímica. A cidade é modelo nacional no uso de energias
limpas. [...]

Significa que a cidade não apenas utiliza fontes alternativas de energia, mas
também se preocupa em racionalizar o uso dos combustíveis fósseis e da
eletricidade. Na residência da manicure Maria Geralda da Conceição, por
exemplo, a água do chuveiro é aquecida por painéis solares. A cidade tem
quase 1,7 mil equipamentos desse tipo instalados em casas populares.
Lâmpadas a vapor de sódio, mais eficientes e econômicas, substituem as de
mercúrio na iluminação pública. Leis municipais obrigam o uso de veículos
oficiais do tipo flex (gasolina e álcool) e a frota de ônibus é movida a biodiesel,
que contém um percentual de 2% de fonte energética renovável.
[...]

Em regiões bem mais pobres que Betim, a preocupação é outra, mas a


necessidade de procurar fontes alternativas de energia também está presente.
É o que ocorre em Riacho do Cipó, situado em Jeremoabo, no Raso da
Catarina, Bahia. Ali, a energia que recentemente passou a clarear a vida da
população não provém da hidrelétrica Paulo Afonso, distante 160 km do
povoado. Ela advém do Sol que castiga esse pedaço da caatinga. Painéis
solares, instalados pelo Programa Luz para Todos, do governo federal,
permitem que os moradores assistam TV com antena parabólica.

O consumo de fontes alternativas, no entanto, ainda é limitado.

[...]

ADEODATO, Sérgio. É possível viver sem petróleo? Horizonte geográfico, São


Paulo, ed. 115, 6 fev. 2008. Disponível em:
http://horizontegeografico.com.br/exibirMateria/220. Acesso em: 14 jan. 2016.

a) Você já refletiu sobre como o petróleo está presente em seu dia a dia? Anote
alguns exemplos.

b) O texto apresenta avanços em relação à substituição do petróleo por outras


fontes de energia. Quais são eles?

c) Os movimentos para eliminar a total dependência do petróleo passam tanto


pelo poder público quanto pela atitude de cada cidadão. Você concorda com
essa afirmação? Justifique sua resposta.

d) Trocar uma lâmpada incandescente por uma lâmpada econômica é apenas


uma atitude individual de economia ou há uma consequência coletiva por trás
desse ato? Explique sua resposta.

e) Nesse texto podemos notar que, em nosso país, existem grandes


disparidades em relação à disponibilidade de fontes alternativas de energia.
Descreva essas disparidades.

f) Faça uma pesquisa de campo investigando se em seu município algumas


medidas, como os exemplos mostrados no texto, são realizadas. Traga o
resultado para a sala e realize um debate com os colegas sobre as
informações coletadas por todos. Finalizem o debate elaborando um texto
coletivo com argumentos que, por meio de uma carta, poderão ser dirigidos às
autoridades fazendo reivindicações ou parabenizando pela gestão energética,
de acordo com os resultados encontrados.

80

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

As charges e os temas atuais

A charge é um tipo de texto visual que, por meio de uma linguagem humorística
e opinativa, aborda temas que despertam certa polêmica, como política,
economia e meio ambiente.

De modo geral, as charges fazem uma crítica de temas atuais; por isso, para
serem entendidas, é necessário que seu leitor tenha conhecimento do contexto
cultural, econômico e social no qual foram produzidas, ou seja, que esteja bem
informado acerca do tema tratado.

Um tema muito explorado entre os chargistas é a questão energética mundial,


sobretudo, o petróleo. A produção de petróleo, a disputa entre países
produtores e o possível esgotamento desse combustível fóssil são algumas das
abordagens que normalmente observamos nas charges.

Veja abaixo charge relacionada ao tema petróleo publicada por um chargista


brasileiro.

FONTE: BIRATAN Cartoon. Disponível em:


http://biratancartoon.blogspot.com.br/. Acesso em: 15 out. 2015. CRÉDITO:
Biratan

- Expresse sua opinião a respeito da ideia que o autor da charge procurou


transmitir sobre a geopolítica do petróleo no mundo. A "gangorra" desenhada
na charge foi utilizada pelo autor com qual propósito? Justifique sua resposta
elaborando um texto explicativo que discorra sobre essa ideia.

81

A Geografia no cinema

Syriana: a indústria do petróleo


CRÉDITO: Filme de Stephen Gaghan. Syriana: a indústria do petróleo. EUA.
2005

Título: Syriana: a indústria do petróleo

Diretor: Stephen Gaghan

Atores principais: George Clooney, Matt Damon e Jeffrey Wright

Ano: 2005

Duração: 126 minutos

Origem: Estados Unidos

Esse filme apresenta o envolvimento de Robert Baer, agente da CIA, e outras


pessoas no perigoso mundo da indústria do petróleo.

O filme retrata aspectos que envolvem a política global da indústria petrolífera,


entre elas, as ações terroristas que assustam pessoas do mundo todo.

Para assistir

- CÉSIO 137: o pesadelo de Goiânia. Direção: Roberto Pires. Coplaven, 1990.


A história do acidente nuclear ocorrido em setembro de 1987 na cidade de
Goiânia, estado de Goiás, é retratada neste filme.

- OURO negro. Direção: Isa Albuquerque. Pandora, 2008. O filme retrata a


história da descoberta do petróleo no Brasil.

Para ler

- BRANCO, Samuel Murgel. Energia e meio ambiente. São Paulo: Moderna,


2004.

- CHRISTIAN, Ngô. Energia: motor da humanidade. Tradução Constância


Egrejas. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.

- FUSER, Igor. Petróleo e poder: o envolvimento dos Estados Unidos no Golfo


Pérsico. São Paulo: Ed. Unesp, 2008.

- GOLDEMBERG, José. Energia, meio ambiente e desenvolvimento. 3. ed. São


Paulo: Edusp, 2008.

- TANJI, Thiago. Dossiê: energia e a crise no Brasil. Galileu, São Paulo, 17


mar. 2015. Disponível em: http://tub.im/nhkxos. Acesso em: 21 set. 2015.
- WALISIERWICZ, Marek. Energia alternativa: solar, eólica, hidrelétrica e de
biocombustíveis. Tradução Elvira Serapicos. São Paulo: Publifolha, 2008.

- YERGIN, Daniel. O petróleo: uma história mundial de conquistas, poder e


dinheiro. Tradução Leila Marina U. Di Natale. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

Para navegar

- AGÊNCIA Nacional do Petróleo (ANP). Disponível em: http://tub.im/t2fgkp.


Acesso em: 21 set. 2015.

- DEPARTAMENTO Nacional de Produção Mineral (DNPM). Disponível em:


http://tub.im/eqyytu. Acesso em: 21 set. 2015.

- ITAIPU Binacional. Disponível em: http://tub.im/xqpf55. Acesso em: 21 set.


2015.

- MINISTÉRIO de Minas e Energia (MME). Disponível em: http://tub.im/jy8nk2.


Acesso em: 21 set. 2015.

- PETROBRAS. Disponível em: http://tub.im/nbxaxb. Acesso em: 21 set. 2015.

82

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UFPB-PB) Os recursos energéticos utilizados atualmente podem ser


classificados de várias formas, sendo usual a distinção baseada na
possibilidade de renovação desses recursos (renováveis e não renováveis),
numa escala de tempo compatível com a expectativa de vida do ser humano.

Considerando o exposto e o conhecimento sobre o tema abordado, é


CORRETO afirmar:

a) O petróleo é uma fonte de energia renovável, pois novas descobertas, a


exemplo do petróleo extraído do pré-sal, comprovam que é um recurso
permanente e inesgotável.

b) O carvão mineral é uma fonte de energia renovável, pois a utilização de


lenha para sua produção pode ser suprida através de projetos de
reflorestamento.
c) O gás natural é uma fonte de energia renovável, pois é produzido
concomitantemente ao petróleo, através de processos geológicos de duração
reduzida, semelhantes à escala de tempo humana.

d) A biomassa é uma fonte de energia renovável, pois é produzida a partir do


refino do petróleo, que é um recurso não renovável, mas pode ser reciclado.

e) A energia eólica é uma fonte de energia renovável, pois é produzida a partir


do movimento do ar, o que a torna inesgotável.

2. (UFBA-BA)

FONTE GRÁFICO 1: Agência Internacional de Energia. FONTE GRÁFICO 2:


Ministério de Minas e Energia. CRÉDITO: E. Cavalcante

A análise dos gráficos e os conhecimentos sobre o consumo de energia no


mundo e no Brasil permitem concluir:

(01) A maior parte da energia utilizada no planeta origina-se de fontes não


renováveis e poluentes, sendo que grande parte das reservas conhecidas de
petróleo está concentrada em alguns países do Oriente Médio.

(02) O petróleo responde por 43% da matriz energética mundial, e a demanda


global tende a aumentar nos próximos anos, induzindo que tecnologias mais
modernas precisarão atingir as áreas de difícil acesso na Sibéria e nas
profundidades oceânicas.

(04) Os Estados Unidos são responsáveis pela maior parte do consumo


mundial de petróleo, graças a suas imensas reservas, capazes de abastecer o
país nas próximas décadas.

(08) O Brasil, ao atingir a autossuficiência em petróleo e em gás natural, não


importa mais combustíveis, estando com capacidade para produzir sua própria
energia.

(16) O expressivo consumo de energia solar e eólica no mundo e no Brasil,


demonstrado no gráfico, traduz a eficácia dos programas implementados a
partir da assinatura do Protocolo de Kyoto.

3. (Fuvest-SP) A representação gráfica abaixo diz respeito à oferta interna de


energia, por tipo de fonte, em quatro países.
Nota: Os dados utilizados para o cálculo das porcentagens são baseados em
tep (tonelada equivalente de petróleo).

FONTE: O Estado de S. Paulo, 01/09/2010. Adaptado. CRÉDITO: Renan


Fonseca

83

As fontes de energia 1, 2 e 3 estão CORRETAMENTE identificadas,


respectivamente, em:

a) petróleo e nuclear e gás natural.

b) gás natural e carvão mineral e fontes renováveis.

c) fontes renováveis e nuclear e carvão mineral.

d) petróleo e gás natural e nuclear.

e) carvão mineral e petróleo e fontes renováveis.

4. (UNESP-SP) O petróleo lidera e continuará liderando o ranking das fontes


energéticas nas próximas décadas, seguido do carvão e do gás natural. Outras
fontes de energia já são também apontadas como alternativas para o século
XXI. Assinale a alternativa que ressalta a contribuição do Brasil nesse
panorama global.

a) O Brasil desponta com tecnologias para a produção de energia nuclear


como uma alternativa mais econômica do que as demais.

b) O Brasil tem, nos últimos anos, exportado conhecimentos e tecnologias no


setor de energia eólica, liderando o ranking nesse setor.

c) No Brasil, são as pequenas indústrias as responsáveis pela produção e


pelos acordos internacionais relativos ao biocombustível.

d ) Estudos sobre a energia solar utilizada na região Sul brasileira têm


chamado a atenção de países como Inglaterra e Itália, os quais têm investido
maciçamente no setor.

e) O Brasil apresenta grandes vantagens (físicas e territoriais) para a produção


de biocombustível, as quais potencializam a produção de energia renovável.

5. (UEL-PR) Sobre o tema petróleo, considere as afirmativas a seguir.


I. Petróleo significa "óleo de pedra" e é um hidrocarboneto formado pela
fossilização de matéria orgânica animal ou vegetal.

II. O petróleo vem sendo apontado como um poluidor do meio ambiente, seja
pelas emissões para a atmosfera, seja pelos acidentes envolvendo petroleiros.

III. Após ser refinado, a possibilidade de uso intensifica-se, podendo se


transformar em tintas, fertilizantes, corantes e polímeros em geral.

IV. Após refinado, o petróleo pode gerar também borracha e látex.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

6. (UNESP-SP) O petróleo não é uma matéria-prima renovável e precisou de


milhões de anos para sua criação. A maioria dos poços encontra-se no Oriente
Médio, na antiga União Soviética e nos EUA. Sua importância aumentou desde
meados do século XIX, quando era usado na indústria e hoje é um dos grandes
fatores de conflitos no Oriente Médio. Aponte as três primeiras grandes crises
do petróleo nos últimos anos.

a) A primeira foi em 1973, quando os EUA tentaram invadir Israel para dominar
os poços petrolíferos desse país; a segunda foi em 1979, quando foi criado o
Estado da Palestina e eclodiu o conflito com a Arábia Saudita; a terceira foi em
1991, quando começou a guerra do Iraque.

b) A primeira foi em 1973, quando houve uma crise de produção no Oriente


Médio, levando ao aumento do preço dos barris de petróleo no mundo todo; a
segunda foi em 1979, quando o Kuwait se recusou a vender petróleo para os
EUA; a terceira foi em 1991, quando começou a guerra dos EUA contra o
Afeganistão.
c) A primeira foi em 1973, devido ao conflito árabe-israelense; a segunda em
1979, quando os árabes diminuíram a produção de barris; a terceira em 1991,
que acabou gerando a Guerra do Golfo, quando o Iraque invadiu o Kuwait.

d) A primeira foi em 1973, quando o Iraque invadiu a Palestina; a segunda foi


em 1979, período de baixa produção de petróleo no Oriente Médio; a terceira
foi em 1991, devido à Guerra do Golfo.

e) A primeira foi em 1973, quando vários países do mundo exigiram a fundação


da OPEP para controlar os preços dos barris de petróleo; a segunda foi em
1979, quando se deu o conflito árabe-israelense; a terceira foi em 1991,
quando teve início a guerra da Palestina.

84

7. (CEFET-GO) O carvão mineral é um produto resultante da transformação de


uma vegetação primitiva que foi sepultada nas camadas da Terra em períodos
geológicos antigos. Quanto mais antigo o carvão mineral, maior é o seu teor
calorífico. Assinale a alternativa que menciona a modalidade de carvão mineral
que possui maior poder calorífico.

a) Hulha.

b) Linhito.

c) Xisto betuminoso.

d) Antracito.

e) Turfa.

8. (ENEM-MEC) O debate em torno do uso da energia nuclear para produção


de eletricidade permanece atual. Em um encontro internacional para a
discussão desse tema, foram colocados os seguintes argumentos:

I. Uma grande vantagem das usinas nucleares é o fato de não contribuírem


para o aumento do efeito estufa, uma vez que o urânio, utilizado como
"combustível", não é queimado, mas sofre fissão.

II. Ainda que sejam raros os acidentes com usinas nucleares, seus efeitos
podem ser tão graves que essa alternativa de geração de eletricidade não nos
permite ficar tranquilos.
A respeito desses argumentos, pode-se afirmar que:

a) o primeiro é válido e o segundo não é, já que nunca ocorreram acidentes


com usinas nucleares.

b) o segundo é válido e o primeiro não é, pois de fato há queima de


combustível na geração nuclear de eletricidade.

c) o segundo é válido e o primeiro é irrelevante, pois nenhuma forma de gerar


eletricidade produz gases do efeito estufa.

d) ambos são válidos para se compararem vantagens e riscos na opção por


essa forma de geração de energia.

e) ambos são irrelevantes, pois a opção pela energia nuclear está-se tornando
uma necessidade inquestionável.

9. (IFSP-SP) Fala-se muito atualmente em geração de energias alternativas


para combater a crise ambiental planetária. Buscam-se então energias
"limpas", isto é, energias renováveis, menos poluidoras e menos geradoras de
impactos socioambientais.

Dentre essas energias alternativas consideradas mais "limpas" podem-se


considerar:

a) petrolífera e geotérmica.

b) eólica e termonuclear.

c) hidroeletricidade e carvão vegetal.

d) gás natural e carvão mineral.

e) solar e maremotriz (ondas do mar).

10. (UEL-PR) Sobre fontes de energia é CORRETO afirmar que:

a) As hidrelétricas possuem como desvantagens mudar a paisagem de um


curso-d'água (de lótico para semilótico), inundar grandes áreas e realocar
populações.

b) Cerca de 30% das centrais de energia nucleares mundiais ficam no Canadá,


Japão, EUA, ex-URSS e Europa.
c) A Energia solar equivale a 10% da energia obtida em relação às reservas de
petróleo do mundo.

d) A energia que provém do movimento das marés é a hidroproteica, um


sistema complexo e caro para países como o Brasil.

e) Alguns países como a Inglaterra, Tailândia, Brasil e Tunísia são os que


utilizam sobremaneira a energia eólica.

11. (UFPI-PI) Assinale a alternativa CORRETA com relação aos recursos


energéticos e as consequências, especificamente no Brasil:

a) Os combustíveis fósseis, recursos naturais finitos e renováveis, têm os


custos econômicos de sua exploração encarecidos quando a sua exploração
ocorre nas bacias oceânicas brasileiras.

b) São chamados de combustíveis fósseis as fontes energéticas geradas pela


fossilização natural de material orgânico, sendo o petróleo o mais utilizado no
Brasil.

c) A queima de combustíveis fósseis provoca a liberação de gases-estufa na


atmosfera, o que contribui para o resfriamento das temperaturas globais da
Terra.

d) Os maiores responsáveis pela poluição atmosférica causada pela queima de


combustíveis fósseis são os países periféricos, uma vez que as indústrias dos
países tecnologicamente mais avançados já operam, em sua maioria, com a
chamada "tecnologia limpa".

e) O Brasil já integra a Organização dos Países Exportadores de Petróleo


(Opep), contribuindo com tecnologia de ponta, apesar de ainda não ser
autossuficiente na produção e consumo desse combustível fóssil.

85

12. (UFRN-RN) Um empresário deseja instalar uma indústria no Brasil, em uma


localidade produtora de energia renovável e limpa. Avaliadas as condições
geográficas das regiões brasileiras, o empresário escolheu estabelecer sua
empresa no Nordeste, porque esta é a região que:

a) possui a maior quantidade de usinas hidrelétricas instaladas.


b) possui a maior capacidade instalada de energia eólica.

c) se destaca como principal produtora de energia a partir da biomassa.

d ) se destaca pelo maior número de usinas termoelétricas em funcionamento.

13. (UEL-PR) A força das águas tem viabilizado a construção de usinas


hidrelétricas de grande porte no Brasil, sendo Itaipu um exemplo. Com base
nos conhecimentos sobre o desenvolvimento e a questão socioambiental,
considere as afirmativas a seguir.

I. A retirada das populações das áreas atingidas por construção de hidrelétricas


tem produzido impactos sociais, como o desenraizamento cultural.

II. Itaipu é um exemplo da prioridade dada à preservação dos hábitats naturais


no projeto nacional-desenvolvimentista defendido pelos militares pós-64.

III. As incertezas sobre os impactos ambientais com a construção de usinas


hidrelétricas trouxeram, por desdobramento, a formação de movimentos dos
atingidos pelas barragens.

IV. A construção de hidrelétricas liga-se, também, à preocupação com a crise


energética mundial prevista para as próximas décadas.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

14. (UFAM-AM) O gasoduto Bolívia-Brasil inicia-se na localidade boliviana de


Rio Grande e entra no território brasileiro por Corumbá (MS). No Brasil, o
gasoduto atravessa 5 estados. O ponto final do gasoduto fica no estado:

a) do Rio de Janeiro

b) de São Paulo

c) do Paraná
d) de Santa Catarina

e) do Rio Grande do Sul

15. (UFPI-PI) A energia nuclear oferece altos riscos ambientais e humanos, por
isso recebe a crítica de ambientalistas e de pacifistas. No Brasil há um único
complexo de usinas nucleares que se localiza:

a) em São Paulo.

b) em Minas Gerais.

c) no Rio de Janeiro.

d) no Rio Grande do Sul.

e) no Espírito Santo.

16. (FEI-SP) Entre as críticas feitas ao programa nuclear brasileiro assinale a


alternativa INCORRETA:

a) Houve a opção pela compra de usinas e de tecnologia importada ao invés de


buscar-se a capacitação dos técnicos e cientistas brasileiros.

b) Em 1975 foi firmado o acordo nuclear Brasil-Alemanha, que previa a


construção de oito usinas. No entanto, pelo acordo, só foi construída uma (a de
Angra II). Houve o desperdício de bilhões de dólares.

c) A implantação das usinas em terrenos litorâneos geologicamente instáveis e


a localização entre as duas maiores metrópoles nacionais produzem riscos
adicionais a uma tecnologia que, por si só, já envolve riscos de operação
elevados.

d) Existe o risco de o país construir armas atômicas, uma vez que o Brasil
passou a dominar a tecnologia de enriquecimento de urânio e não é signatário
do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Uma preocupação
suplementar é o alinhamento brasileiro à política nuclear iraniana.

e) Além das constantes paralisações de seu funcionamento por falhas técnicas,


Angra I e II têm custo por quilowatt-hora gerado muito mais elevado do que o
das usinas hidrelétricas.

86
unidade 4 - População mundial

LEGENDA: Trem superlotado seguindo para um encontro religioso em


Bangladesh, em 2015.

CRÉDITO: Mamunur Rashid/Alamy Stock Photo/Latinstock

87

Em 2015, o número de pessoas habitando o planeta Terra chegou a 7,3


bilhões. Esse número nos remete a questões fundamentais: Em que ritmo o
crescimento da população tem ocorrido? Esse crescimento é uniforme em
todas as regiões do globo? Que porções do planeta a população ocupa, como
se alimenta, trabalha e se desloca? De que maneira toda essa população tem
convivido, considerando a diversidade cultural que apresenta?

Nesta unidade, nossos estudos estão focados nessas questões, de modo a


compreendê-las e nos dar fundamentos para refletir e elaborar diversas
conclusões sobre elas.

- Podemos comparar a Terra a um trem superlotado, como o mostrado nesta


imagem? Ou seja, a população mundial soma um número muito elevado em
relação ao que o planeta pode suportar? O que você sabe sobre como essa
população está distribuída pela Terra?

88

População e Geografia

No campo da Geografia, o termo população refere-se ao conjunto de pessoas


que vive em determinado lugar: uma cidade, um estado, uma região, um país,
um continente etc. O estudo geográfico da população, em geral, é realizado
sob a ótica da demografia (do grego demo = povo; grafhia = descrição), área
do conhecimento que se dedica a descrever, analisar e interpretar as
características da população em suas mais variadas dimensões, como
distribuição, crescimento, composição étnica, estrutura etária (faixas de idade)
e de gênero (masculino e feminino), dinâmica espacial (migrações) etc.

Esses estudos, mesmo que sejam amparados em informações estatísticas,


precisam ser considerados com base nas especificidades históricas e
geográficas que distinguem cada população. Quando comparamos os
indicadores demográficos de diferentes países, ainda que apresentem algumas
características socioeconômicas semelhantes, devemos levar em conta as
particularidades culturais, políticas, socioeconômicas, históricas, naturais etc.
de cada um desses países.

- População absoluta e população relativa

O conceito de população absoluta refere-se ao número total de habitantes que


vive em determinado lugar (povoado, cidade, estado, região, país, continente).
Consideramos um país populoso quando o seu número total de habitantes é
bastante elevado. O Brasil, por exemplo, com cerca de 203 milhões de
habitantes (de acordo com o IBGE), é o quinto país mais populoso do mundo.
A tabela abaixo apresenta informações de alguns dos países mais populosos
do mundo e também de alguns países pouco populosos.

Dividindo o número total de habitantes de um país, ou de um lugar, pela área


de seu território (em quilômetros quadrados - km 2), encontramos a sua
densidade demográfica, também chamada população relativa. Com isso,
podemos saber se um país é muito ou pouco povoado. Quando um país
apresenta densidade demográfica elevada, é considerado densamente
povoado, e quando apresenta baixa densidade demográfica, pouco povoado.

Observação:

Densidade demográfica = população absoluta/área total do território

Fim da observação.

Tabela: equivalente textual a seguir.

Países intensamente povoados - 2015

País Pop. absoluta (em mil) Área (km²) Densidade demográfica (hab./km²)

Singapura 5.604 710 7.893

Bangladesh 160.995 144.000 1.118

Coreia do Sul 50.293 99.900 503

Holanda 16.925 41.540 407

Japão 126.573 377.947 334


Países poucos povoados - 2015

País Pop. absoluta (em mil) Área (km²) Densidade demográfica (hab./km²)

Mongólia 2.959 1.564.120 2

Canadá 35.910 9.984.670 4

Austrália 23.969 7.741.220 3

Namibia 2.459 824.290 3

Bolivia 10.725 1.098.580 10

FONTES: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br/paisesat/. Acesso em: 15 set. 2015. UNITED Nations
Population Division. World Population Prospects 2015. Disponível em:
http://esa.un.org/unpd/wpp/dvd/files/1_indicators
%20(standard)/excel_files/1_population/wpp2015_pop_f01_1_total_population_
both_sexes.xls. Acesso em: 15 set. 2015.

89

População absoluta e população relativa são noções que precisam ser


analisadas com certa cautela. Isso porque nem todos os países populosos são,
necessariamente, muito povoados. A Rússia, por exemplo, com 143 milhões de
habitantes vivendo em um território com 17.098.240 km 2, está entre os países
mais populosos do mundo, mas apresenta baixa densidade demográfica, 8
habitantes por quilômetro quadrado (hab./km 2), devido à vasta extensão de seu
território. Situação semelhante também ocorre com outros países muito
extensos, como o Brasil e os Estados Unidos, que, mesmo estando entre os
mais populosos do mundo, são pouco povoados, com cerca de 24 hab./km 2 e
33 hab./km2, respectivamente.

Em contrapartida, nem todos os países densamente povoados são populosos.


É o caso, por exemplo, da Bélgica, que mesmo com uma população pouco
numerosa, cerca de 11,2 milhões de habitantes, apresenta uma densidade
demográfica muito elevada, em torno de 366 hab./km 2, devido à reduzida
extensão de seu território, que tem cerca de 30,5 mil km 2.

Por outro lado, sendo a densidade demográfica um cálculo matemático que


indica uma média, também deve ser analisada com cuidado. Ao definir a
densidade demográfica média de um território, é importante lembrar que nem
toda a sua extensão pode estar ocupada com a mesma quantidade de
habitantes. Isso ocorre porque um território pode ter algumas áreas mais
intensamente povoadas e outras menos. É o caso, por exemplo, da porção
leste (intensamente povoada) e da porção oeste (menos ocupada) do território
chinês. Essas características da distribuição da população em um território
serão estudadas de maneira mais detalhada nas páginas seguintes.

LEGENDA: A cidade de Xangai localiza-se na porção leste da China e é


densamente povoada. Acima, movimento de pessoas pela cidade de Xangai,
em 2015.

CRÉDITO: Juan Camilo Bernal/Shutterstock.com

LEGENDA: Algumas áreas da China, principalmente as porções central e


oeste, são pouco ocupadas, como vemos na fotografia acima, a região de
Xinjiang, em 2015.

CRÉDITO: Feng Wei Photography/Moment/Getty Images

90

A distribuição da população mundial

Assim como ocorre com a população de um país ou de uma região, a


população mundial está distribuída de maneira bastante desigual na superfície
terrestre. Nas regiões mais densamente povoadas, a densidade demográfica
chega a mais de 100 hab./km2 e, muitas vezes, até a mais de 500 hab./km 2,
formando verdadeiros "formigueiros humanos". Em contrapartida, outras
regiões da superfície terrestre têm densidade demográfica muito baixa, com
menos de 1 hab./km2, formando grandes "vazios populacionais".

Observe o mapa da distribuição da população mostrado abaixo e identifique as


áreas de maior e menor concentração demográfica no mundo.
FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects
2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wup/cd-rom/. Acesso em: 24 ago.
2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/ unpd/wpp/dvd/files/1_indicators%20
(standard)/excel_files/1_population/wpp2015_pop_f01_1_total
_population_both_ sexes.xls. Acesso em: 15 out. 2015. CRÉDITO DAS
ILUSTRAÇÕES: Gilberto Alicio

91

A distribuição tão desigual da população pela superfície terrestre pode ser


explicada por diversas razões. Veja alguns exemplos a seguir, localizando-os
no mapa da página anterior.

1 - Os grandes focos de povoamento no leste e no sul do continente asiático


têm explicações históricas relacionadas ao florescimento de civilizações
milenares, como a chinesa e a hindu. As áreas de ocupação muito antigas são,
em geral, mais densamente povoadas que as de ocupação mais recente.

2 - Por razões históricas, mas também por fatores de ordem econômica, as


regiões mais industrializadas e desenvolvidas do planeta, como grande parte
do continente europeu, o nordeste dos Estados Unidos e o Japão, são
intensamente povoadas. Como sabemos, as regiões de crescimento
econômico e que oferecem boa qualidade de vida tendem a atrair imigrantes de
outras áreas, tornando-se, assim, mais povoadas.

3 - Elevadas densidades demográficas também são encontradas em regiões


economicamente menos desenvolvidas, mesmo em países muito pobres. É o
caso, por exemplo, de certas regiões de povoamento milenar, como
Bangladesh, Índia, Sri Lanka, Paquistão e Vietnã, no continente asiático, e de
outras regiões em países marcados por altas taxas de crescimento
demográfico, como Ruanda, Uganda, Nigéria e Burundi, no continente africano.

4 - As regiões extremamente geladas das zonas polares e o vasto interior dos


desertos áridos, como o do Saara, no norte da África, e o de Gobi, entre a
China e a Mongólia, na Ásia, apresentam densidades demográficas muito
baixas em virtude das limitações impostas pelas condições naturais à
ocupação humana.

Boxe complementar:

Povoamento e desenvolvimento

As condições de vida em um país não são melhores ou piores apenas porque


ele é mais ou menos povoado. As condições de vida em países densamente
povoados, como é o caso da Bélgica, com seus cerca de 366 hab./km 2, estão
entre as melhores do mundo.

LEGENDA: Vista de transporte coletivo em cidade localizada no norte da


Bélgica, país que oferece um dos mais eficientes sistemas de transporte
público aos seus cidadãos, em foto de 2014.

CRÉDITO: pbombaert/Shutterstock.com

Por outro lado, muitos países que são menos povoados, como é o caso do
Brasil, apresentam sérios problemas sociais e econômicos. Isso significa que
os serviços essenciais e a estrutura econômica existentes na Bélgica atendem
de maneira muito mais eficiente as necessidades de sua população em termos
de educação, saúde, renda, moradia etc.

LEGENDA: Fila de pessoas à espera do transporte coletivo no Rio de Janeiro,


em 2014.

CRÉDITO: Levy Ribeiro/Brazil Photo Press

Fim do complemento.

92

O crescimento da população

FONTES: U. S. Census Bureau. Disponível em:


www.census.gov/population/international/data/worldpop/table_history.php.
Acesso em: 19 ago. 2015. UNITED Nations Population Division. World
Population Prospects 2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/dvd/.
Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

- Segundo dados de 2015, divulgados pela Organização das Nações Unidas


(ONU), a população mundial já atingiu a impressionante marca de 7,3 bilhões
de habitantes. O rápido crescimento da população mundial ocorreu com maior
ênfase ao longo dos últimos dois séculos, como podemos observar neste
gráfico. Verifique o tempo transcorrido cada vez que a população mundial foi
acrescida de mais um bilhão de pessoas.

Mas, afinal, por que a população mundial cresceu tanto em tão pouco tempo?
Para compreender esse crescimento - também chamado crescimento natural
ou crescimento vegetativo -, devemos analisar os fatores que alteraram o
comportamento da taxa de natalidade e da taxa de mortalidade ao longo dos
últimos dois séculos.

De maneira geral, o crescimento da população mundial se manteve


relativamente baixo durante quase toda a história da humanidade, quando boa
parte da população morria em idade precoce, abatida por epidemias, doenças,
guerras, fome etc.

Ao longo do século XIX e das primeiras décadas do século XX, no entanto, o


crescimento natural da população começou a se intensificar devido ao declínio
da taxa de mortalidade e à manutenção da taxa de natalidade em patamares
elevados. Essa mudança demográfica se deu, primeiro, nos países em que a
Revolução Industrial (assunto estudado na unidade 2) se desenvolveu de forma
mais plena, sobretudo no continente europeu.

Nesses países, a redução da taxa de mortalidade ocorreu tanto pela melhoria


das condições higiênicas e sanitárias da população, como ampliação da rede
de esgoto e água tratada, coleta de lixo, pavimentação de ruas e avenidas,
quanto pela expansão e melhoria dos serviços de saúde e dos avanços na
medicina, por exemplo, a descoberta de vacinas, exames mais sofisticados,
novos medicamentos, como antibióticos (penicilina).

A partir da segunda metade do século XX, essas conquistas também se


estenderam pelo mundo, ocasionando uma diminuição da taxa de mortalidade
inclusive nos países pobres e menos desenvolvidos economicamente. O
crescimento demográfico mundial foi tão elevado nesse período, que alguns
estudiosos alertavam para os riscos de uma verdadeira "explosão
demográfica", expressão muito utilizada entre as décadas de 1960 e 1980.
Esse crescimento vertiginoso da população mundial representou uma fase de
transição demográfica (veja páginas 96 e 97) e, atualmente, apresenta
desaceleração devido ao declínio da natalidade.

Glossário:

Crescimento natural: taxa obtida ao se calcular a diferença entre a taxa de


natalidade e a taxa de mortalidade.

Taxa de natalidade: número de pessoas que nascem em cada grupo de cem


(expresso em % - lê-se "por cento") ou de mil (expresso em % - lê-se "por mil")
habitantes em uma determinada área.

Taxa de mortalidade: número de pessoas que morrem em cada grupo de cem


(expresso em % - lê-se "por cento") ou de mil (expresso em % - lê-se "por mil")
habitantes em uma determinada área.

Fim do glossário.

93

- A queda da natalidade e do crescimento natural

Nos países mais desenvolvidos, a taxa de natalidade vem diminuindo desde o


final século XIX e o início do século XX principalmente por causa do êxodo
rural e do processo de urbanização, impulsionado pela industrialização. Fatores
como o aumento do custo de vida e de criação dos filhos, por exemplo, os
gastos com alimentação, vestuário, moradia, educação, saúde, lazer e
transportes, além da maior propagação dos métodos contraceptivos, como
pílulas anticoncepcionais, preservativos e métodos de esterilização, somados
ao ingresso da mulher no mercado de trabalho, levaram a uma diminuição
significativa da taxa de natalidade. Em muitos países desenvolvidos, a queda
foi tão acentuada que a população deixou de crescer, chegando até mesmo a
diminuir. É o que tem ocorrido com a população da Alemanha e da Rússia,
países com taxas negativas de crescimento populacional.

Esses mesmos fatores também reduziram a taxa de natalidade de países


subdesenvolvidos, principalmente daqueles que se industrializaram mais tarde
(Brasil, México, Argentina). Mas, na maioria dos países subdesenvolvidos de
economia essencialmente agrária, onde a maior parte da população vive no
meio rural, com baixa escolaridade e ausência de planejamento familiar, a taxa
de natalidade continua elevada. Isso explica por que a taxa de fecundidade é
bem mais elevada justamente nos países mais pobres, sobretudo na África e
na Ásia (veja tabela abaixo).

Tabela: equivalente textual a seguir.

Taxa de fecundidade no mundo - 2015

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/dvd/files/1_excel
%20(standard)/excel_files/2_fertility/wpp2015_fert_f04_total_fertility.xls. Acesso
em: 12 ago. 2015.

O número maior de filhos por mulher também está ligado a fatores de ordem
religiosa. Nos países em que a religião exerce grande influência cultural,
opondo-se ao controle da natalidade pelo uso de métodos contraceptivos e ao
aborto, a taxa de natalidade se mantém muito elevada. É o que ocorre,
principalmente, em países islâmicos, como Afeganistão, Bangladesh e Iêmen
(na Ásia), Somália, Etiópia, Uganda, Níger e Chade (na África). Observe a
representação abaixo.

FONTES: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/dvd/. Acesso em: 20 ago.
2015. ATLAS geográfico escolar: ensino fundamental do 6º ao 9º ano. Rio de
Janeiro: IBGE, 2010. 1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E. Cavalcante

Glossário:

Planejamento familiar: conjunto de ações que auxiliam homens e mulheres a


programar a vinda dos filhos e também a evitá-los.

Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher em idade fértil.

Fim do glossário.

94

As teorias demográficas

O crescimento demográfico nos leva à seguinte indagação: a população


mundial continuará crescendo continuamente? Se isso ocorrer, o planeta tem
condições de abrigar uma população cada vez mais numerosa? Enfim, haverá
recursos suficientes para suprir tamanha quantidade de pessoas? Essa
preocupação com o crescimento demográfico, tema de fundamental
importância, não é recente. Textos milenares e registros escritos tanto na
China quanto na Grécia antiga, onde as populações eram bastante numerosas,
já atentavam para os perigos de um elevado crescimento demográfico.

Mas foi a partir do século XVIII que o debate acerca do crescimento


populacional passou a ser estudado com base em teorias demográficas, que
deram explicações diversas e até mesmo antagônicas para a questão. Entre
essas principais teorias estão a malthusiana, a neomalthusiana e a reformista,
como veremos a seguir.

- Teoria malthusiana

LEGENDA: Thomas Malthus.

CRÉDITO: Thomas Malthus. 1766-1834. Gravura colorida. Coleção particular.


Foto: SPL/Latinstock

No final do século XVIII, o pastor e economista inglês Thomas Malthus (1776-


1834), comparando dados do crescimento da população e da produção de
alimentos na época, publicou o estudo Ensaio sobre a população (1798), no
qual propunha a seguinte teoria demográfica: enquanto a população mundial
tenderia a crescer em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32...), a produção de
alimentos cresceria em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10...). Veja a
simulação dessa situação no gráfico abaixo.

FONTE: INSTITUTE of Health Systems (INS). Disponível em:


www.ihs.org.in/popdynamicsandpublicpolicy.pdf. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

Se o ritmo do crescimento populacional ocorresse progressivamente mais


rápido que o crescimento da produção agrícola, Malthus previu que haveria,
então, um futuro sombrio para a humanidade, com o aumento sem precedentes
da fome e da miséria. Ainda segundo ele, seria necessário diminuir o
crescimento demográfico por meio de um rigoroso controle populacional. Como
era pastor da Igreja Anglicana, contrária aos métodos contraceptivos, Malthus
propunha medidas como a postergação do casamento e o planejamento
familiar, ou seja, os casais deveriam ter apenas o número de filhos que
conseguissem alimentar com as terras que possuíssem.

Embora considerada muito consistente e adequada para a época, suas


previsões não se concretizaram e sua teoria se mostrou equivocada. Se a
população mundial continuou aumentando, como previa sua teoria, a oferta de
alimentos aumentou em proporções bem maiores, graças ao enorme salto na
produtividade agrícola, alcançada com os avanços tecnológicos incorporados
ao campo.

As ideias malthusianas sustentam, ainda hoje, os discursos daqueles que


procuram relacionar, de maneira simplista, o problema da fome ao crescimento
populacional. A fome que assola mais da metade da população mundial resulta
em grande parte da pobreza e da distribuição desigual da renda e não da
escassez de alimentos. Atualmente, a disponibilidade de alimentos no mundo é
mais que suficiente para alimentar toda a população do planeta, cerca de sete
vezes mais numerosa do que a existente no século XVIII.

95

- Teoria neomalthusiana

A partir da segunda metade do século XX, uma nova aceleração do


crescimento populacional, ocorrida sobretudo nos países africanos e asiáticos
mais pobres e que tinham acabado de ser descolonizados, reacendeu as
discussões acerca do controle demográfico.

Essas discussões levaram ao surgimento da teoria demográfica


neomalthusiana (neo = novo), amplamente aceita e defendida nos países mais
ricos e desenvolvidos. Para os neomalthusianos, o problema da fome e da
pobreza nos países subdesenvolvidos estava ligado ao crescimento
demográfico elevado, e ele seria resolvido somente com uma política de
controle da natalidade, ideia que se apoiava em dois argumentos:

- a natalidade em patamares elevados exigiria grandes investimentos em saúde


e educação para jovens e crianças, diminuindo os recursos necessários ao
desenvolvimento econômico;
- o crescimento da população aumentaria ainda mais o problema da pobreza e
da miséria, sobretudo em regiões já carentes e mais densamente povoadas.

Com base nesses argumentos, os neomalthusianos defendiam políticas de


controle de natalidade, sobretudo por meio de métodos contraceptivos.
Influenciados por essas ideias, os governos de muitos países pobres
promoveram, a partir da década de 1960, políticas demográficas antinatalistas,
por meio do controle de natalidade e do planejamento familiar.

O resultado dessa política de controle demográfico mostrou-se ineficiente, pois


a pobreza não diminuiu mesmo nos países em que o crescimento demográfico
recuou. Portanto, os problemas socioeconômicos que afetam a população não
serão resolvidos apenas com base na redução da natalidade.

LEGENDA: Acima, mural na cidade de Xangai, na China, em 2013, sobre


planejamento familiar. O cartaz divulga a política demográfica do governo
chinês, que durante mais de quatro décadas foi de apenas um filho por casal, a
chamada política do filho único.

CRÉDITO: Antonio Pisacreta/Ropi/ZUMA Press

- Teoria reformista

A teoria reformista adotava uma posição contrária em relação às duas teorias


apresentadas anteriormente.

De acordo com os reformistas, o aumento da natalidade seria consequência do


subdesenvolvimento, da pobreza e da miséria. Esse ponto de vista se baseava
no que havia ocorrido nos próprios países desenvolvidos, nos quais a
natalidade diminuiu somente quando as condições de vida da população
melhoraram. Nesses países, conforme a população passou a ter maior acesso
à renda, à saúde e à educação, as famílias passaram a controlar a natalidade,
planejando de maneira espontânea o número de filhos que teriam (veja tabela
abaixo).

Tabela: equivalente textual a seguir.

Fertilidade x educação secundária

Países Taxa de Mulheres com educação


fertilidade secundária (%)

Angola 6,20 17

Paquistão 3,72 38

Bolivia 3,04 75

Brasil 1,82 80

Itália 1,42 92

FONTES: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/dataquery/. Acesso em: 28
ago. 2015. FUNDO das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Disponível
em: www.unicef.org/publications/files/sowc_2015_summary_and_tables. pdf.
Acesso em: 28 ago. 2015.

Em nosso país, podemos notar que o número médio de filhos por mulher é bem
menor, a exemplo das famílias de classe alta, quando há maior acesso à
educação, à assistência médica e à informação. Com base nas questões
sociais e econômicas, essa teoria se tornou mais realista, sem vislumbrar
soluções únicas e simplistas para o problema demográfico.

96

A transição demográfica

Analisando o comportamento das taxas de natalidade e de mortalidade, tal


como descrito nas páginas anteriores, os especialistas elaboraram um modelo
interpretativo para explicar o crescimento demográfico.

Segundo esse modelo, baseado na teoria da transição demográfica, proposta


pelo demógrafo estadunidense Warren Thompson em 1929, o crescimento
populacional ocorre em fases ou estágios sucessivos. Essas fases ou estágios
passam de um regime de elevada natalidade e elevada mortalidade (pré-
transição) para um regime de baixa natalidade e baixa mortalidade (pós-
transição). Com a transição demográfica, a população mundial, após uma fase
de crescimento acelerado, tenderia a se equilibrar. O esquema abaixo mostra,
de maneira resumida, as fases da transição demográfica no mundo.
FONTE: ACHAR, Gilbert (Org.). El atlas de Le monde diplomatique. Buenos
Aires: Cono Sur, 2003. p. 52. CRÉDITO: E. Cavalcante

Fase I ou pré-transição

Caracterizada por altas taxas de natalidade e de mortalidade. O grande número


de nascimentos e também de mortes, provocadas por doenças, epidemias,
catástrofes naturais e falta de recursos médicos, mantinha o crescimento
demográfico relativamente baixo (foto abaixo). Essa fase perdurou em quase
todo o mundo até o início da Revolução Industrial no século XVIII.

LEGENDA: Imagem de área de emergência de um hospital do exército, criada


no estado do Kansas, Estados Unidos, em 1918, para atender os doentes da
gripe espanhola, epidemia que vitimou milhões de pessoas.

CRÉDITO: National Museum of Health and Medicine/SPL/Latinstock

Fase II

Caracterizada pelo crescimento demográfico acelerado em decorrência da


queda acentuada da mortalidade, ocasionada pela melhoria das condições
médico-sanitárias, e da manutenção da natalidade em patamares elevados. Os
países que se industrializaram e se urbanizaram primeiro, como Inglaterra,
França, Alemanha, Estados Unidos e Japão, passaram por essa fase ainda no
final do século XIX e início do século XX. Alguns países subdesenvolvidos,
como Brasil, atingiram essa fase por volta da segunda metade do século XX.
Muitos dos países mais pobres do mundo, com predomínio de atividades
agrárias e reduzido nível de urbanização, ainda se encontram nessa fase da
transição.

97

Fase III

Nessa fase, o crescimento demográfico começa a diminuir, pois, assim como a


mortalidade, a taxa de natalidade também entra em declínio, provocado pela
propagação dos métodos contraceptivos, além de fatores ligados à
urbanização intensa, a participação da mulher no mercado de trabalho, o custo
elevado de criação dos filhos etc.
LEGENDA: O fato de haver mulheres em postos de trabalho antes ocupados
apenas por homens revela o aumento delas no mercado de trabalho. Acima,
mulheres trabalhando em montadora nos Estados Unidos, em 2011.

CRÉDITO: Bill Pugliano/Getty Images

Fase IV

A transição demográfica se completa. As taxas de mortalidade e de natalidade


se reduzem ainda mais e o crescimento demográfico atinge patamares
mínimos, até mesmo negativos. A maioria dos países mais ricos e
industrializados do globo, com alto grau de urbanização e elevado
desenvolvimento humano (social e econômico), já atingiu essa fase.

LEGENDA: Campanha na Rússia na qual idosos incentivam gravidez, em


Moscou, em 2011.

CRÉDITO: Denis Sinyakov/Reuters/Latinstock

FONTE: ACHAR, Gilbert (Org.). El atlas de Le monde diplomatique. Buenos


Aires: Cono Sur, 2003. 1 atlas. Escalas variam. p. 52. CRÉDITO: E. Cavalcante

Observação:

Embora o modelo original de transição demográfica elaborado por Warren


Thompson apresente quatro fases, atualmente muitos demógrafos consideram
a existência de uma quinta fase, na qual a taxa de mortalidade passa a superar
a de natalidade, o que significa dizer maior número de mortes que de
nascimentos. Quando isso ocorre, a população absoluta passa a diminuir,
situação que já se observa, por exemplo, em países como Alemanha, Hungria,
Bulgária, Rússia, entre outros.

Fim da observação.

98

A estrutura da população

Ao analisarmos a estrutura da população, podemos verificar como essa


população está distribuída por idade (estrutura etária), por sexo (masculino e
feminino), quais são as suas condições socioeconômicas (trabalho, renda,
atividades econômicas), entre outros aspectos.
Conhecer a população de um país nos ajuda a compreender seus padrões
demográficos gerais (natalidade, mortalidade, expectativa de vida, crescimento
vegetativo). Essas informações são fundamentais para o planejamento e a
execução de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento social e
econômico. Conhecendo a estrutura etária e econômica da população, o
governo pode saber, por exemplo, se terá que construir mais escolas ou mais
hospitais, gerar mais emprego, aumentar os gastos com aposentadorias etc.

- Pirâmide etária

O gráfico que representa o número de habitantes de acordo com a idade e o


sexo (masculino e feminino) chama-se pirâmide etária, ou pirâmide de idades.
Essa representação pode ser elaborada em valores absolutos ou em valores
relativos. Pode representar dados de toda a população mundial ou de um
continente, um país, uma região, um estado, uma cidade etc. Veja a seguir
uma pirâmide etária elaborada com os dados da população mundial.

LEGENDA: O eixo vertical da pirâmide indica a distribuição da população por


faixa etária. Nesse eixo, podemos comparar a proporção de crianças e jovens
(de 0 a 19 anos de idade), indicada na base ou parte inferior da pirâmide; de
adultos (com idade entre 20 e 59 anos), representada no corpo ou parte
intermediária da pirâmide; e de idosos (com 60 anos de idade ou mais),
indicada no ápice ou parte superior da pirâmide. No eixo horizontal da
pirâmide, temos a distribuição da população de acordo com o sexo, com a
população masculina (homens), indicada no lado esquerdo, e a população
feminina (mulheres), indicada no lado direito.

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

99

Ao observarmos a forma de uma pirâmide etária, podemos analisar uma


determinada população com base em alguns importantes indicadores
demográficos (taxas de natalidade e de mortalidade, expectativa de vida,
crescimento natural), o que nos ajuda a compreender o comportamento
demográfico dessa população, ou seja, se está crescendo ou diminuindo, em
que ritmo isso está ocorrendo e se está passando por um processo de
envelhecimento.

Ao analisar a forma da pirâmide etária da população mundial, na página


anterior, podemos concluir, por exemplo, que:

- existe certo equilíbrio numérico entre a população masculina e a população


feminina em praticamente todas as faixas etárias;

- a proporção de crianças e de jovens (base da pirâmide) apresenta pouca


variação entre as faixas etárias, tanto em relação à população masculina
quanto à feminina;

- o corpo da pirâmide apresenta um ligeiro estreitamento, o que indica taxas de


mortalidade mais elevadas nessas faixas etárias;

- o topo estreito da pirâmide indica a reduzida proporção de idosos no conjunto


da população decorrente da baixa expectativa de vida da população mundial.

- Populações predominantemente jovens

Se a pirâmide etária apresentar um aspecto triangular, a proporção de jovens


no conjunto da população é elevada. Sua base mais larga indica que a taxa de
natalidade é alta. O estreitamento acentuado do corpo da pirâmide revela, por
sua vez, que as taxas de mortalidade também são elevadas, pois a população
diminui consideravelmente de uma faixa etária para outra. Já o ápice mais
estreito da pirâmide mostra que a proporção de idosos no conjunto da
população é pequena, indicando que a expectativa de vida dessa população é
baixa.

Essas características demográficas são típicas de países pobres, que estão


apenas no início da transição demográfica ou ainda nem iniciaram esse
processo (veja a seguir o exemplo da pirâmide etária da Etiópia). Nesses
países, ainda que sejam bastante heterogêneos, a alta taxa de mortalidade
(sobretudo infantil) e a baixa expectativa de vida resultam das péssimas
condições de vida da população, cuja pobreza e miséria são agravadas pela
precariedade do sistema de saúde e dos serviços médico-hospitalares.
FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects
2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

A carência de investimentos em educação, por sua vez, contribuiu para o


analfa betismo de boa parte da população, inclusive da adulta. Sem a instrução
necessária, os trabalhadores menos qualificados são afetados diretamente pelo
desemprego e pelos salários baixos, criando um sério entrave ao
desenvolvimento e à melhoria das condições socioeconômicas.

100

- Populações maduras ou em processo de envelhecimento

Nos países em que a natalidade está diminuindo e a expectativa de vida


aumentando, a base da pirâmide etária se estreita à medida que a proporção
de crianças e jovens se torna menor em relação às demais faixas etárias. O
ápice da pirâmide tem se ampliado, visto que a população idosa também vem
aumentando, devido às melhores condições socioeconômicas da população
(veja a seguir o exemplo da pirâmide etária do Canadá).

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

Nesse grupo estão os países mais desenvolvidos, como Estados Unidos,


Austrália e Canadá. Alguns países subdesenvolvidos que se industrializaram e
se urbanizaram mais recentemente, caso do Brasil e do México, também se
inserem nesse processo. Embora suas populações estejam envelhecendo, a
expectativa de vida nesses países é mais baixa em razão de suas condições
socioeconômicas.

- Populações envelhecidas

Os países desenvolvidos que já concluíram ou estão na fase final de sua


transição demográfica, como é o caso da Alemanha, Itália, França, Suécia e
Japão, apresentam pirâmides com base bem estreita (reduzida proporção de
crianças e jovens), decorrente das baixas taxas de natalidade, e ápice mais
largo (grande proporção de idosos), em virtude da maior expectativa de vida
ocasionada pelas melhores condições socioeconômicas da população (veja a
seguir o exemplo da pirâmide etária da Itália).

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

Essas características demográficas resultam em duas questões cruciais: a falta


de mão de obra em razão da baixa taxa de natalidade, o que, em certos
países, é compensado pela entrada de trabalhadores estrangeiros; e o
aumento crescente dos gastos públicos decorrente do envelhecimento da
população (pagamento de benefícios e aposentadorias e investimentos em
saúde pública para essa parcela da população). Como forma de amenizar
esses gastos e equilibrar as contas públicas, o governo de muitos desses
países já modificou sua legislação trabalhista, elevando a idade mínima para a
concessão das aposentadorias.

101

Contexto geográfico

Ponto de vista

População mais velha... e mais pobre?

O debate sobre o envelhecimento da população mundial costuma partir de uma


premissa errada. Muitas vezes, trata-se o tema como um problema. O aumento
da expectativa de vida é uma das maiores conquistas da humanidade. Hoje, a
população mundial vive, em média, 69 anos, 18 a mais do que na década de
60 do século passado.

Na Alemanha, a expectativa de vida das mulheres subiu de 45 anos, em 1900,


para 82, hoje. Além de viver mais, as pessoas estão vivendo mais tempo com
boa saúde.

Tudo isso é positivo, mas impõe novos desafios: do planejamento financeiro na


esfera pessoal - os trabalhadores precisam poupar mais - a reformas
previdenciárias realizadas por governos para evitar o estouro das contas
públicas. E é aí que cessam as boas notícias - e começam os problemas.
Nos países ricos, a necessidade de repensar a situação do que se
convencionou chamar de terceira idade ficou ainda mais clara [...]. Nos Estados
Unidos, o número de pessoas acima de 65 anos em situação de pobreza
aumentou 15% nos últimos anos.

Metade dos americanos que se aposentam hoje é obrigada a baixar o padrão


de vida, diz um estudo da Universidade de Boston. Nos anos 80, para efeito de
comparação, o indicador estava na casa dos 30%.

[...]

Nem mesmo os idosos da Alemanha, o motor da economia europeia, estão


imunes ao risco do empobrecimento. Dados recentes revelam que cerca de
400 000 aposentados do país não conseguem arcar com os custos de um asilo
- número que aumenta 5% a cada ano. Diante da falta de opções, muitos
idosos alemães têm se transferido para países do Leste Europeu, como
Eslováquia e Bulgária.

[...]

MANECHINI, Guilherme. A humanidade está mais velha e mais pobre. Exame,


São Paulo, ed. 1035, 20 fev. 2013. Disponível em:
http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1035/noticias/mais-velhos-e-
mais-pobres. Acesso em: 15 out. 2015. Abril Comunicações S/A.

CRÉDITO: Blue Jean Images/Corbis/Latinstock

a) Em sua opinião, o envelhecimento da população tem gerado mais motivos


de comemoração ou preocupação?

b) A situação dos idosos nos Estados Unidos e nos países da Europa é a


mesma dos idosos brasileiros?

102

A estrutura econômica - PEA e PI

No estudo da estrutura econômica da população, envolvendo a população


economicamente ativa (PEA) e a população inativa (PI), costuma-se agrupar as
diferentes atividades econômicas em três setores: primário, secundário e
terciário.
Essa maneira de classificar as atividades econômicas, ainda que muito
utilizada nos levantamentos estatísticos, deixou de expressar as complexas e
recentes transformações ocorridas na economia em virtude da inovação
tecnológica. Com o avanço das agroindústrias na zona rural, por exemplo, é
crescente o número de pessoas que, mesmo trabalhando no campo, não estão
de forma direta empregadas em atividades rurais, mas exercem outras funções
como as de motorista, operador de máquina, logística, marketing,
administração etc. Ao mesmo tempo, a modernização do campo, decorrente da
utilização crescente de máquinas agrícolas (tratores, semeadeiras,
colheitadeiras etc.), tem eliminado boa parte dos trabalhadores que se dedicam
às atividades primárias, como o preparo do solo, o plantio ou a colheita.

Os avanços tecnológicos também provocaram grandes mudanças no setor


industrial. Se até as décadas de 1970 e 1980 as indústrias empregavam a
maior parte dos trabalhadores em suas linhas de produção e montagem,
atualmente muitas dessas indústrias, sobretudo aquelas com alto nível de
robotização e informatização, empregam mais trabalhadores nas atividades de
serviços (administrativos, financeiros, jurídicos, publicitários, de vendas,
segurança, limpeza, entre outros) do que em suas linhas de produção.

Boxe complementar:

Setores da economia

Primário: reúne as atividades agropecuárias e extrativas: vegetal, mineral


(garimpagem) e animal (pesca artesanal).

Secundário: abrange os diversos ramos industriais.

Terciário: envolve as atividades do comércio e dos serviços (educação, saúde,


energia, telefonia, saneamento básico, transportes, administração pública etc.).

Fim do complemento.

Sendo assim, as atividades econômicas também podem ser agrupadas nos


seguintes setores: agropecuária, indústria e serviços (incluindo o comércio).
Observe a tabela abaixo e compare a proporção de trabalhadores em cada um
desses setores por país.

Tabela: equivalente textual a seguir.


População economicamente ativa (PEA) - 2013

PEA (em mil Agropecuária Indústria Serviços


Países
habitantes) (%) (%) (%)

Estados
134.421 1 18 81
Unidos

França 22.854 1 22 77

Alemanha 35.105 1 29 70

Japão 55.530 2 27 71

Brasil
94.713 15 23 62
(2012)

Argentina
11.957 3 22 75
(2012)

México 33.016 8 27 65

África do
12.712 5 24 71
Sul

Tanzânia
18.822 74 5 21
(2008)

Marrocos
11.459 41 22 37
(2008)

Vietnã
48.209 52 20 28
(2008)

FONTES: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/59/pnad_2013_v33_
br.pdf. Acesso em: 20 ago. 2015. INTERNATIONAL Labour Organization (ILO).
Disponível em: www.ilo.org/ilostat/faces/help_home/data_by_subject?_adf.ctrl-
state=1atiw187pl_397&_afrLoop=114279413003151. Acesso em: 20 ago.
2015. THE WORLD Bank. Disponível em:
http://databank.worldbank.org/data/reports.aspx?source=worlddevelopment-
indicators. Acesso em: 20 ago. 2015.

Glossário:

PEA: denomina-se população economicamente ativa (PEA) aquela que exerce


alguma atividade participando diretamente do mercado de trabalho. Essa
definição, no entanto, varia de um país a outro. No Brasil, o critério adotado
pelo IBGE considera como população economicamente ativa todas as pessoas
com mais de 10 anos de idade que exercem alguma atividade remunerada.
Também fazem parte da PEA os desempregados que estão à procura de
trabalho.

PI: crianças, estudantes (desde que não trabalhem) e aposentados formam a


chamada população inativa (PI). Também fazem parte da PI as pessoas que,
mesmo querendo um emprego, desistiram de procurar uma vaga no mercado
de trabalho.

Fim do glossário.

103

- A PEA nas economias desenvolvidas

Nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e Alemanha, a maior parte da


PEA encontra-se empregada nos serviços, incluindo também o comércio, que
absorve mais de 70% dos trabalhadores. A proporção de trabalhadores
empregados na indústria também é elevada, variando entre 18% e 29% da
PEA. Já a agropecuária emprega um número bem reduzido de trabalhadores, o
que nos leva a duas conclusões importantes: a de que o nível de modernização
das atividades agrárias é bastante elevado (fato que reduz a utilização de mão
de obra no setor) e a de que a produtividade no setor, que é elevada, se deve à
utilização intensiva de máquinas, equipamentos, adubos, fertilizantes, irrigação,
melhoramento genético, biotecnologia etc.

- A PEA nas economias subdesenvolvidas

Os países subdesenvolvidos e de economias essencialmente agrárias, como


Paraguai, Bolívia, Tanzânia e Bangladesh, por exemplo, têm uma parcela
significativa dos trabalhadores empregada nas atividades primárias. Nesses
países, o grande número de pessoas que trabalha na zona rural indica que o
nível de modernização do campo é reduzido e que a produtividade agrícola, por
sua vez, é baixa.

Já nos países subdesenvolvidos que se industrializaram e se urbanizaram,


como Brasil, México e Argentina, observa-se uma maior participação da PEA
nos serviços e no comércio, atividades tipicamente urbanas (veja o gráfico
abaixo). Em muitos desses países, entretanto, o processo de urbanização não
foi acompanhado pela geração dos postos de trabalho necessários para
absorver a crescente demanda por mão de obra nos centros urbanos, ao
contrário do que ocorreu nos países mais desenvolvidos.

LEGENDA: Com a intensa migração de trabalhadores do campo para as


cidades, a PEA brasileira empregada nas atividades agrárias diminuiu muito ao
longo das últimas décadas, enquanto a população empregada nos demais
setores, principalmente no comércio e nos serviços, aumentou de maneira
acentuada, como podemos observar no gráfico acima.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Diante disso, uma grande parcela dos trabalhadores, sobretudo aquela com
baixa escolarização e menor qualificação profissional, passou a sobreviver
exercendo atividades que, em geral, proporcionam baixos rendimentos
(camelôs, vendedores ambulantes, guardadores de carros, catadores de
sucata etc.), provocando o chamado "inchaço" da economia informal (foto
abaixo).

LEGENDA: O aumento da economia informal também pode ser observado na


fotografia acima, em Belém, no Pará, em 2015.

CRÉDITO: Gerson Gerloff/Pulsar

104

Migrações: fluxos populacionais

Os deslocamentos da população entre lugares, cidades, regiões e continentes -


genericamente denominados migrações - estão entre os fenômenos
demográficos mais complexos da época contemporânea, pois suas causas e
consequências são múltiplas e diversas.

Os motivos que provocam as migrações podem estar ligados a fatores


econômicos, que são as causas predominantes ao longo do tempo, fatores
político-ideológicos, como perseguições políticas ou religiosas; guerras e
conflitos, podendo ser militares, civis, de causas étnico-raciais, ou, ainda,
fatores de ordem natural, como a ocorrência de desastres ou catástrofes
ambientais, por exemplo, secas, inundações, terremotos, erupções vulcânicas,
tsunamis.

Boxe complementar:

A palavra migração vem do latim migro, que significa "ir de um lugar para
outro". As migrações podem ser de diferentes tipos:

- voluntárias ou espontâneas: quando realizadas de maneira livre, por iniciativa


do próprio migrante;

- forçadas: quando a pessoa migra sob coerção, ameaça ou violência, como no


caso de guerras, perseguições (políticas, religiosas, étnicas), escravidão etc.;

- controladas: quando ocorrem por iniciativa de governos que controlam o


número e a origem dos migrantes que entram no país e que saem dele.

Fim do complemento.

Segundo levantamentos estatísticos da ONU, cerca de 232 milhões de pessoas


em todo o mundo vivem fora dos países em que nasceram. Os deslocamentos
que ocorrem dentro de um mesmo país são chamados de migrações internas.
Aos deslocamentos de pessoas que atravessam as fronteiras políticas de seus
países de origem para se estabelecer em outro país damos o nome de
migrações internacionais. No mapa a seguir, identifique os atuais fluxos
migratórios mais importantes do mundo.

LEGENDA: Se o fluxo de entrada de pessoas em um país for muito maior do


que o fluxo de saída, temos um país de imigração. Mas, se o fluxo de pessoas
que deixam o país for muito maior do que o fluxo de pessoas que entram nesse
país, então temos um país de emigração. Se não houver grandes diferenças
entre o fluxo de pessoas que entram em um país e que saem dele, o saldo
migratório do país fica equilibrado.

FONTE: LE MONDE diplomatique: el atlas geopolítico. Valencia:


Akal/Fundaciõn Mondiplo, 2010. p. 17. 1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E.
Cavalcante

105

- As migrações internacionais de trabalhadores

Entre os fluxos populacionais mais recentes no mundo, os mais expressivos


são aqueles formados pelas migrações de trabalhadores entre os países.
Determinados basicamente por fatores econômicos, esses fluxos ocorrem dos
países subdesenvolvidos (áreas de repulsão), afetados por crises econômicas,
desemprego e baixos salários, em direção aos países mais ricos e
desenvolvidos (áreas de atração), que oferecem a perspectiva de melhores
condições de vida e de salários mais elevados.

As principais correntes migratórias são as formadas por latino-americanos,


africanos e asiáticos em direção aos Estados Unidos, ao Canadá, à Europa, ao
Japão e à Austrália. Destaca-se ainda a migração de trabalhadores do Sul e do
Sudeste Asiático e também do norte da África em direção aos países
produtores de petróleo do Oriente Médio, entre eles, Arábia Saudita,
Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Catar (veja tabela abaixo).

Tabela: equivalente textual a seguir.

Países com maior população de imigrantes - 2013

% de Imigrantes
Número de
País em relação ao
Imigrantes
mundo

Estados
45.785.090 19,8
Unidos

Rússia 11.048.064 4,8

Alemanha 9.845.244 4,3


Arábia
9.060.433 3,9
Saudita

Emirados
Árabes 7.826.981 3,4
Unidos

Reino Unido 7.824.131 3,4

França 7.439.086 3,2

Canadá 7.284.069 3,1

Austrália 6.468.640 2,8

Espanha 6.466.605 2,8

FONTE: UNITED Nations Population Division. Trends in International Migrant


Stock: The 2013 Revision. Disponível em:
http://esa.un.org/unmigration/timsa2013/data/subsheets/un_migrantstock_2013t
3.xls. Acesso em: 19 nov. 2015.

Esses trabalhadores imigrantes suprem, em parte, as necessidades de mão de


obra, em especial a não qualificada, nos países em que a PEA vem diminuindo
devido ao baixo crescimento vegetativo e ao envelhecimento da população,
como já estudamos.

Desse modo, muitos desses trabalhadores imigrantes acabam empregados em


atividades de baixa remuneração para os padrões econômicos daqueles
países, como na construção civil, no comércio (restaurantes, bares e hotéis) e
nos serviços (faxineiros, entregadores, jardineiros etc.). Com o fluxo desses
trabalhadores houve, portanto, um aumento significativo de imigrantes no total
da população e na PEA (população economicamente ativa) de vários países
desenvolvidos (veja o gráfico abaixo e a imagem na página seguinte).

FONTE: THE ORGANISATION for Economic Co-operation and Development


(OECD). Disponível em: https://data.oecd.org. Acesso em: 29 set. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

106
LEGENDA: Imigrante africano, de Gana, trabalhando como taxista na cidade
de Nova York, Estados Unidos, em 2014.

CRÉDITO: Jefferson Siegel/NY Daily News/Getty Images

Muitos dos fluxos internacionais de trabalhadores são periódicos, pois grande


parte desses migrantes tende a regressar do exterior após economizar certa
quantia de dinheiro, em geral enviada aos familiares na terra natal. Essas
remessas de dinheiro feitas pelos migrantes aumentaram muito ao longo das
últimas décadas, tornando-se uma importante fonte de divisas para a economia
de vários países subdesenvolvidos.

As transferências financeiras feitas anualmente por esses migrantes já


ultrapassam a cifra dos 343 bilhões de dólares (veja gráfico abaixo). Segundo
dados do Ministério das Relações Internacionais do Brasil, desse total, cerca
de 2,4 bilhões de dólares entram todos os anos no nosso país, enviados por
trabalhadores brasileiros que vivem principalmente na Europa, nos Estados
Unidos e no Japão.

FONTE: THE WORLD Bank. Disponível em:


http://databank.worldbank.org/data/reports.aspx?source=world-development-
indicators#. Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Glossário:

Fonte de divisas: valores, que podem estar na forma de letras, cheques, ordens
de pagamento, que possam ser convertidos em moeda estrangeira e que
estejam em poder de uma nação, de suas entidades públicas ou privadas.

Fim do glossário.

107

A imigração ilegal e o tráfico internacional de trabalhadores

Logo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os países europeus - como


Inglaterra, França e Alemanha - estimularam a imigração de mão de obra
barata oriunda dos países subdesenvolvidos como forma de suprir a falta de
trabalhadores em seus países, em virtude do déficit populacional provocado
pela morte de milhões de pessoas. Arrasados pelos conflitos, a reconstrução
econômica desses países se deu com a ajuda de imigrantes trabalhadores
originários, em especial, das antigas colônias africanas (argelinos, tunisianos,
marroquinos, nigerianos) e asiáticas (turcos, paquistaneses, indianos).

Já nas últimas duas décadas do século passado, os fluxos migratórios em


direção aos países mais desenvolvidos tenderam a se intensificar com as
sucessivas crises econômicas e o aumento da pobreza no mundo
subdesenvolvido. Desde então, os países ricos passaram a adotar uma série
de medidas para restringir a entrada dos imigrantes em seus territórios. Tais
restrições, no entanto, levaram ao aumento da imigração clandestina. Como
forma de driblar a fiscalização nas alfândegas, muitos imigrantes tentam chegar
nesses países atravessando ilegalmente suas fronteiras. Quando descobertos
pelas autoridades locais, porém, os imigrantes são presos e imediatamente
deportados.

Com o rígido patrulhamento dessas fronteiras, surgiram quadrilhas


especializadas no tráfico internacional de trabalhadores. Essas quadrilhas são
formadas por agenciadores, pessoas que cobram um valor exorbitante do
imigrante, mas sem qualquer garantia, para facilitar sua entrada clandestina no
país desejado. Para isso, fornecem documentos falsos, como passaporte,
transporte clandestino, acomodações e emprego no país de destino etc. A
promessa é de uma viagem segura, o que nem sempre acontece. A arriscada e
perigosa travessia pela fronteira muitas vezes acaba de forma trágica, inclusive
com a morte de muitos imigrantes.

Quando conseguem entrar no país de destino, esses migrantes vivem na


clandestinidade, trabalhando sem garantias ou vínculos empregatícios e
sobrevivendo em condições muito difíceis. Por conta disso, muitos acabam se
envolvendo com a criminalidade (tráfico de drogas, prostituição etc.).

LEGENDA: Barco superlotado de imigrantes ilegais sendo socorridos próximo à


costa da Líbia por voluntários da ONG Médicos sem Fronteiras, em 2015.

CRÉDITO: Darrin Zammit Lupi/Reuters/Latinstock

Glossário:

Deportar: processo que consiste no retorno obrigatório de um estrangeiro, que


tenta entrar ou permanecer em situação irregular no território de um país, ao
seu país de origem.
Fim do glossário.

108

- Migração e xenofobia

A partir das décadas de 1980 e 1990, os países mais desenvolvidos do


continente europeu se depararam com duas questões econômicas
preocupantes: o baixo crescimento econômico e o aumento do desemprego,
questões que estavam ligadas basicamente às transformações ocorridas na
economia mundial.

Com a ascensão do neoliberalismo e a abertura dos mercados, as economias


mais desenvolvidas passaram a sofrer a concorrência externa com maior
intensidade, o que levou a uma perda de competitividade de suas empresas,
reduzindo, assim, o ritmo de crescimento econômico nesses países. Os
avanços tecnológicos, por sua vez, promoveram a automação em massa do
sistema produtivo, sobretudo no setor industrial, o que obrigou as empresas a
se reestruturarem, provocando aumento das demissões.

Além do desemprego, cresceram também, em vários países europeus, as


reações contrárias à imigração. Isso porque os imigrantes passaram a ser
vistos como concorrentes, ocupando as vagas que poderiam empregar os
trabalhadores locais. Um grande número de imigrantes também significava
mais gastos do governo para oferecer serviços públicos (saúde, educação etc.)
aos estrangeiros.

Desde então, intensificaram-se os movimentos de grupos xenófobos que,


apoiados em ideias racistas, passaram a repudiar de maneira explícita e até
violenta a presença dos imigrantes em seus países. Alguns desses grupos
unem a xenofobia à intolerância às minorias (negros, latinos, homossexuais).

Esses mesmos grupos defendem, ainda, o repatriamento dos estrangeiros que


já estão no país e o estabelecimento de políticas mais rígidas para coibir a
entrada dos imigrantes. A proliferação desses grupos tem inclusive fortalecido
os partidos políticos de extrema-direita, que defendem posições mais radicais
em relação à imigração.
LEGENDA: Na imagem acima, um grupo numeroso realiza protesto na Polônia
contra a presença de imigrantes no país, em foto de 2015.

CRÉDITO: Janek Skarzynski/AFP Photo

Glossário:

Xenofobia: a palavra xenofobia é formada pela junção dos termos xeno + fobia:
xeno (do grego xénos) expressa a ideia de estrangeiro, estranho; fobia (do
grego phobos) significa aversão, antipatia, medo.

Repatriar: retornar ao seu país de origem por vontade própria ou de modo


involuntário.

Fim do glossário.

- Os fluxos de refugiados

Cerca de 19,5 milhões dos imigrantes do mundo (33% do total) formam os


chamados fluxos de refugiados. São pessoas que, por motivos de guerras ou
perseguições de ordem política, religiosa ou étnica, foram obrigadas a
abandonar sua pátria para se abrigar em outro país, podendo ou não mais
regressar. Em resumo, os refugiados precisam se deslocar para salvar a
própria vida ou preservar a liberdade.

Atualmente, o maior número de refugiados encontra-se na África (6,5 milhões)


e na Ásia (3,5 milhões). Grande parte dos fluxos de refugiados origina-se em
países muito pobres, com democracias muito frágeis ou mesmo controlados
por governos ditatoriais, e também afetados por guerras internas ou conflitos
com nações vizinhas.

109

Além dos refugiados, existem ainda os chamados deslocados internos,


pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas pelos mesmos motivos já
mencionados, mas que permanecem abrigadas em seus próprios países. Em
todo o mundo, os deslocados internos chegam a cerca de 38,2 milhões de
pessoas, bem maior que o número de refugiados (veja mapa abaixo).

FONTES: UNITED Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR).


Disponível em: www.unhcr.org/4ef9c7269.html. Acesso em: 18 nov. 2015.
ATLAS da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo.
Tradução Carlos Roberto Sanchez Milani. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 30. 1
atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E. Cavalcante

A proteção aos refugiados, assim como aos deslocados internos, e a busca de


soluções para os problemas que os afetam têm sido uma missão atribuída ao
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR),
organização humanitária criada pela ONU em 1950 que conta atual mente com
144 países signatários. Sua ação baseia-se nos princípios dos direitos
humanos que asseguram, a todo indivíduo, o direito à liberdade de
pensamento, expressão, consciência, religião, mobilidade etc.

LEGENDA: Símbolo do ACNUR.

CRÉDITO: ACNUR

Também realizam movimentos migratórios as 22 milhões de pessoas que


foram obrigadas a abandonar o lugar onde viviam em razão de problemas
ambientais, como desertificação e erosão dos solos, desmatamentos,
desastres químicos, acidentes radioativos. Mas esses não são reconhecidos
como refugiados pela ONU, alegando que essa categoria não é descrita no
Direito Internacional.

110

INFOGRÁFICO

A CRISE DE REFUGIADOS NA EUROPA

Nos últimos anos houve um aumento expressivo do número de migrantes e


refugiados que tentam desesperadamente chegar à Europa. A imensa maioria
dessas pessoas, que arriscam suas vidas na perigosa travessia do
Mediterrâneo, foge de guerras, perseguições políticas e religiosas. Veja a
seguir.

CRÉDITO: Cássio Bittencourt

Boxe complementar:

Conflitos que alimentam a crise de refugiados na Europa


Síria: desde 2011 o país vive sob uma violenta guerra civil que tenta derrubar
do poder o ditador Bashar al-Assad. Os confrontos enfraqueceram as forças do
governo, abrindo caminho para que grupos radicais, como os extremistas do
Estado Islâmico, tomassem parte do território sírio. Mais de 7 milhões de sírios
já fugiram das áreas de conflito.

Afeganistão: sob o controle do regime fundamentalista do Talebã, entre 1996 e


2001, uma violenta perseguição religiosa obrigou milhares de afegãos a
fugirem para outros países. Os talebãs deram apoio ao grupo terrorista da Al-
Qaeda, que assumiu a autoria dos atentados terroristas de 11 de setembro de
2001 em diferentes lugares dos Estados Unidos, fato que motivou a
intervenção militar estadunidense no Afeganistão. Após a retirada das tropas
estadunidenses, o talebã tenta insurgir novamente pelo controle do país.

111

Eritreia: governada por uma ditadura extremamente repressiva desde 1993,


quando o país conseguiu sua independência, a violência tem levado milhares
de eritreus a buscar asilo em países vizinhos (Etiópia e Sudão) e também na
Europa, realizando a travessia do Mediterrâneo.

Somália: há mais de duas décadas o país sofre com violentos conflitos internos
que já obrigaram mais de 1 milhão de somalis a procurar refúgio em países
vizinhos e também na Europa, atravessando o mar Mediterrâneo.

Nigéria: a insurgência do grupo radical conhecido como Boko Haram


desencadeou uma onda de violência étnica que já forçou mais de 1,3 milhão de
nigerianos a fugir para outras partes do país ou buscar refúgio na Europa.

Fonte: UNHCR. Agência da ONU para Refugiados. Disponível em:


http://data.unhcr.org/mediterranean/regional.php. Acesso em: 10 fev. 2016.

Fim do complemento.

CRÉDITO: Carlos Borin

CRÉDITO: Carlos Borin

112

Atividades
Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Defina o termo demografia.

2. Diferencie um país populoso de um país povoado. Dê exemplos.

3. Calcule em seu caderno a densidade demográfica dos seguintes países.

Tabela: equivalente textual a seguir.

País População - 2015 Área (em km²)

China 1.376.048.943 9.600.000

França 64.395.345 549.190

Nova Zelândia 4.529.526 267.710

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/dvd/ files/1_indicators
%20(standard)/excel_files/1_population/wpp2015_
pop_f01_1_total_population_both_sexes.xls. Acesso em: 3 out. 2015.

4. Dê exemplos de países com:

a) baixa densidade demográfica;

b) elevada densidade demográfica.

5. Descreva, de maneira sintética, os principais fatores que contribuíram para a


distribuição desigual da população na superfície terrestre.

6. Que fatores levaram à diminuição das taxas de mortalidade e ampliaram o


crescimento natural da população?

7. Taxa de natalidade baixa é uma das características da população de países


desenvolvidos. Que fatores contribuem para tal situação?

8. Selecione três palavras-chave que sintetizem cada uma das fases da


transição demográfica:

a) Pré-transição ou fase I.

b) Fase II.
c) Fase III.

d) Fase IV.

9. Aponte o fato que contribuiu para o aumento da imigração clandestina e


descreva como ocorre o tráfico internacional de trabalhadores.

10. O que é xenofobia? Dê exemplos de como ocorre.

Expandindo o conteúdo

11. Analise os gráficos da população mundial a seguir.

FONTE: WORLD watch: a dynamic visual guide packed with fascinating facts
about the world. 2. ed. Harper Collins Publishers: Hong Kong, 2012. p. 20.
CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES: Gilberto Alicio

a) Qual é a tendência explícita nas representações do total da população


mundial, em relação às faixas de idade que compõem a base e o ápice das
pirâmides?

b) Essa tendência se projeta de maneira semelhante para as regiões mais


desenvolvidas e para as menos desenvolvidas, de acordo com as
representações referentes a elas? Justifique sua resposta.

c) Que características demográficas e sociais refletem essas diferenças entre


as populações dessas regiões?

113

12. Analise o texto e responda às questões.

Refugiados ambientais continuam sem reconhecimento da ONU

No maior campo de refugiados no mundo, Dadaab, localizado no Quênia,


vivem aproximadamente 440 mil pessoas e cerca de 1.500 novos refugiados
chegam diariamente. Essa população parte em busca de comida e foge da pior
seca dos últimos 60 anos.

Apesar do Direito Internacional Humanitário (DIH) atender às necessidades


dessas vítimas, a Organização das Nações Unidas (ONU) resiste em ampliar o
conceito de refúgio e englobar os refugiados ambientais, já que não reconhece
"os fatores ambientais como motivação por si só para a concessão desse
status". A organização ressalta que "não há direitos formalmente garantidos
para essa nova categoria, que ainda não é reconhecida pelo Direito
Internacional".

[...]

De acordo com Marijane Vieira Lisboa, professora de Sociologia da Pontifícia


Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não significa que a ONU não
reconheça a existência de uma categoria com status de refugiado em função
de questões ambientais. O problema consiste em o Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (Acnur) não ter em seu mandato autorização
para prestar ajuda a esse tipo de vítima. "Isso significa que não há recursos
específicos para a ONU e, como esse é um grupo que tende a aumentar
devido às mudanças climáticas e outros impactos ambientais, nós estamos, do
ponto de vista de uma estrutura internacional, despreparados para lidar com
essa categoria que cresce." [...]

Segundo estudo da Universidade das Nações Unidas (UNU), o mundo tem 50


milhões de pessoas obrigadas a deixar seus lares, temporária ou
definitivamente, por problemas relacionados ao meio ambiente. Uma conta que
inclui não somente as vítimas de grandes desastres, mas também
comunidades inteiras que estão sendo silenciosamente impelidas a migrar
devido a problemas como a degradação de solos e águas.

Estimativas do CICV [Comitê Internacional da Cruz Vermelha], por sua vez,


mostram que hoje já há mais pessoas deslocadas por desastres ambientais do
que por guerras.

[...]

CAVALCANTI, Aline. Refugiados ambientais continuam sem reconhecimento


da ONU. Caros Amigos, São Paulo, 4 nov. 2011. Disponível em:
www.carosamigos.com.br/index.php/artigos-e-debates/3555-refugiados-
ambientais-continuam-sem-reconhecimento-da-onu. Acesso em: 15 out. 2015.

LEGENDA: Acima, campo de refugiados de Dadaab, Quênia, em 2014.

CRÉDITO: Benoit De Freine/Photo News S.A./Corbis/Latinstock

a) A qual categoria de migrantes o texto se refere? Explique.


b) Quais justificativas são apontadas no texto para o não reconhecimento da
ONU em relação a esse movimento migratório?

c) Pesquise, em jornais, revistas ou na internet, exemplos de movimentos


migratórios relacionados a problemas ambientais.

114

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

Frida Kahlo e o sentimento migrante

Todos os anos milhares de pessoas abandonam seu lugar de origem e migram


para outros lugares. Embora essas pessoas necessitem migrar pelos mais
variados motivos, o sentimento de afeição pelo lugar de origem geralmente
acompanha o migrante. Esse sentimento muitas vezes é expresso
artisticamente em pinturas em telas, letras de músicas ou em filmes.

Na tela retratada abaixo, a pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954)


expressou parte de seus sentimentos por seu país de origem, o México, no
período em que viveu nos Estados Unidos.

LEGENDA: Acima, imagem da tela Autorretrato na fronteira entre México e


Estados Unidos, produzida por Frida Kahlo em 1932.

CRÉDITO: Frida Kahlo. 1932. Óleo sobre metal. 31 x 35 cm. Coleção


particular. © Banco de Mexico Diego Rivera & Frida Kahlo Museums Trust,
Mexico, D.F./ AUTVIS, Brasil, 2016. Foto: The Artchives/Alamy/Glow Images

Frida Kahlo foi uma mexicana nacionalista, uma militante comunista, a mulher
de Diego Rivera (1886-1957) [...] uma mulher cheia de vida. Mas, acima de
tudo, Frida Kahlo foi uma pintora. [...]

As pinturas de Frida tinham um significado pessoal profundo e muitas vezes


incluíam símbolos e imagens mentais. Elas nos convidam a conhecer seu
mundo [...]. Muitos de seus quadros são uma tentativa de dar sentido a seus
sentimentos. [...]

Frida reuniu muitas de suas impressões sobre os Estados Unidos em


Autorretrato na fronteira entre México e Estados Unidos. No lado mexicano do
quadro (o esquerdo) o sol e a lua alimentam a terra. No lado americano (o
direito) a fumaça de fábricas e os arranha-céus não deixam espaço no céu
para o sol e a lua, e o solo está semeado de máquinas. [...]

Diego Rivera considerava os arranha-céus dos Estados Unidos tão belos como
as ruínas das civilizações antigas do México, mas Frida não concordava. Ela
pintou os edifícios como colunas lisas e estreitas que se erguem num céu
poluído, enquanto as ruínas do antigo México estão assentadas sobre solo
fértil, do qual crescem belas flores e plantas vitais.

LAIDLAW, Jill A. Frida Kahlo. Tradução Maria da Anunciação Rodrigues. São


Paulo: Ática, 2004. p. 6, 20 e 21.

115

A Geografia no cinema

Bem-vindo

CRÉDITO: Filme de Philippe Lioret. Bem-vindo. França. 2009

Título: Bem-vindo

Diretor: Philippe Lioret

Principais atores: Vincent Lindon, Firat Ayverdi e Audrey Dana

Ano: 2009

Duração: 110 minutos

Origem: França

Este filme apresenta as políticas de imigração europeia, representadas por um


imigrante curdo que deixa o Iraque com destino ao Reino Unido. Impedido de
entrar no país, o jovem decide atravessar o Canal da Mancha a nado.

As adversidades enfrentadas pelos imigrantes são retratadas ao longo das


cenas do filme.

Para assistir

- LÁGRIMAS no deserto. Direção: Paul Freedman. Imagem Filmes, 2007.

O filme apresenta as terríveis condições de vida de milhões de pessoas nos


campos de refugiados em Darfur, no Sudão. Ao longo do filme pode-se
constatar o combate ineficaz da comunidade internacional frente a vários
crimes contra a humanidade.

- TERRA estrangeira. Direção: Walter Salles Júnior e Daniela Thomas. Vídeo


Filmes, 1995.

Neste filme são abordadas situações problemáticas vividas por imigrantes


brasileiros que vão morar em Portugal à procura de melhores condições de
vida.

Para ler

- DAMIANI, Amélia Luisa. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 2001.

- MARTINS, Dora; VANALLI, Sônia. Migrantes. São Paulo: Contexto, 2001.

- MILESI, Rosita; SHIMANO, Maria Luiza (Coord.). Migrantes cidadãos . São


Paulo: Loyola, 2001.

- RENK, Arlene. Migrações : de ontem e de hoje. Chapecó: Grifos, 1999.

- TORRES, Haroldo; COSTA, Heloisa (Org.). População e meio ambiente. São


Paulo: Senac, 2000.

Para navegar

- APOLO 11 . Relógio populacional em tempo real. Disponível em:


http://tub.im/f8bvpy. Acesso em: 22 set. 2015.

- CENTRO Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM). Disponível em:


http://tub.im/b2syxc. Acesso em: 22 set. 2015.

- LABORATÓRIO de Demografia e Estudos Populacionais (UFJF). Disponível


em: http://tub.im/4zdb6e. Acesso em: 22 set. 2015.

- UNITED Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR). Disponível em:


http://tub.im/s2twut/. Acesso em: 22 set. 2015.

- UNITED Nations Population Fund (UNFPA). Disponível em:


http://tub.im/vgp95v. Acesso em: 22 set. 2015.

116

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.


1. (UFPE-PE) Um estudo sobre a dinâmica e a distribuição da população de
uma determinada área é realizado a partir do conhecimento e da compreensão
dos seus indicadores demográficos. Em relação a alguns desses indicadores,
analise as proposições abaixo e assinale as verdadeiras (V) e falsas (F).

- A densidade demográfica é obtida a partir da divisão da superfície territorial


de um lugar pela sua população absoluta.

- O crescimento vegetativo é calculado com base nas taxas de natalidade,


mortalidade e migração.

- O superpovoamento de uma área não é identificado apenas pela densidade


demográfica mas também pelas condições socioeconômicas existentes.

- A taxa de mortalidade infantil identifica o número de óbitos de crianças


menores de um ano.

- A taxa de fecundidade é um indicador populacional que influencia diretamente


o comportamento de um outro indicador, o da natalidade.

2. (UFPB-PB) A distribuição da população mundial é extremamente


heterogênea, apresentando áreas densamente povoadas e outras com grandes
vazios demográficos. O mesmo ocorre com o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), que apresenta algumas áreas com altos índices e outras com
níveis mais baixos. Considerando o exposto e a literatura sobre o assunto
abordado, identifique as afirmativas CORRETAS.

- O Canadá é um país pouco populoso, cuja população encontra-se


homogeneamente distribuída pelo seu território, fazendo com que esse país
apresente um alto IDH.

- Os Estados Unidos são um país populoso e apresentam elevada renda per


capita, além de possuírem o maior PIB do mundo e um alto IDH.

- A Índia é o segundo país mais populoso do mundo, porém apresenta renda


per capita baixa e mal distribuída, tendo como consequência um baixo IDH.

- A China é o país mais populoso do mundo e sua economia vem crescendo


fortemente nos últimos anos, o que determina seu alto IDH.
- O Brasil é um dos países mais populosos do mundo e com significativo
crescimento econômico nos últimos anos, apesar de ainda apresentar má
distribuição de renda e um médio IDH.

3. (UFPI-PI) A distribuição desigual da população na superfície terrestre leva à


existência de regiões densamente povoadas e de regiões subpovoadas. São
exemplos de áreas densamente povoadas:

a) Europa Setentrional e Meridional.

b) Ásia de Sudeste e Europa Centro-Ocidental e Meridional.

c) Ásia de Sudoeste e África Meridional.

d) Oriente Médio e Oceania.

e) Kalaari e África Setentrional.

4. (FATEC-SP)

Antes do século 20, nenhum ser humano tinha vivido o suficiente para
testemunhar uma duplicação da população mundial, mas hoje há pessoas que
a viram triplicar. Em algum momento no fim de 2011, segundo a Divisão de
População das Nações Unidas, seremos 7 bilhões de pessoas.

http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/edicao-130/populacao-mundial-
7-bilhoes-613876.shtml. Acesso em: 07.09.2011

Assinale a alternativa que completa o texto anterior.

a) O crescimento da população deverá se refletir no processo de urbanização


que poderá atingir 3/4 da população mundial em 2015.

b) As maiores contribuições para o crescimento demográfico vêm dos países


que estão na fase inicial da transição demográfica.

c) Os principais responsáveis pelo crescimento populacional são os países que


conseguiram reduzir as taxas de analfabetismo.

d) O crescimento demográfico anunciado permitirá uma distribuição mais


homogênea da população pelo espaço terrestre.

e) O aumento da população esperado desmis tifica a crença de que os países


desenvolvi dos apresentam baixas taxas de fertilidade.
117

5. (UFU-MG) O crescimento demográfico está ligado a dois fatores:


crescimento natural ou vegetativo, que corresponde à diferença entre
nascimento e óbitos verificada numa popula ção, e a taxa de migração, que é a
diferença entre a entrada e a saída de pessoas de um território.

Em relação ao crescimento demográfico, analise as afirmativas abaixo.

I. Pelo princípio malthusiano, a população tende ria sempre a crescer mais do


que os meios de subsistência, tornando a fome e a miséria uma realidade
inexorável (PG x PA). Uma alternativa lógica para se evitar o desastre
populacional seria o controle da natalidade por meio do uso de métodos
contraceptivos, aborto, abstinên cia sexual no casamento etc.

II. Os avanços da medicina, as medidas de avan ço da higiene pública e a


melhoria do padrão de vida da população possibilitaram uma for te redução da
taxa bruta de mortalidade em todo o mundo. Para os neomalthusianos, a queda
da mortalidade não tem efeito se não for seguida da redução da taxa de
fecundida de, pois impediria o crescimento econômico do país. Por isso, a
solução seria o controle da fecundidade, por meio de métodos contra ceptivos
e esterilização em massa.

III. Uma das consequências da queda da fecundi dade brasileira são taxas de
crescimento di ferenciadas dos vários grupos etários, com taxas menores para
os grupos mais jovens. Isto tem resultado numa diminuição do peso da
população jovem no país e num aumento da importância do segmento idoso.
Esta ten dência é chamada de envelhecimento popula cional, pois se dá em
detrimento da diminuição do peso da população jovem no total, o que acarreta
também um aumento da idade média e mediana da população.

Assinale a alternativa CORRETA .

a) Apenas I é verdadeira.

b) I e III são verdadeiras.

c) I e II são verdadeiras.

d) II e III são verdadeiras.


6. (AMAN-RJ) Os países desenvolvidos, de uma maneira geral, apresentam
baixas taxas de crescimento demográfico, sobretudo em fun ção do reduzido
crescimento natural que desconsidera o saldo migratório. Com relação a esses
países, é possível afirmar que:

a) apresentam taxas de fecundidade similares à da maioria dos países


subdesenvolvidos.

b) permanecem na primeira fase da transição demográfica, com baixas taxas


de morta lidade e de natalidade.

c) apresentam taxas de fecundidade acima da taxa de reposição, ou seja,


acima de 2 fi lhos por mulher.

d) vivem o auge da transição demográfica, com elevadas taxas de mortalidade


e de natalidade que justificam o baixo cresci mento.

e) a maior parte deles apresenta taxas de cres cimento populacional muito


baixas (geral mente inferior a 1%), nulas ou até negativas.

7. (FGV-SP)

O declínio da fertilidade no mundo é surpreendente. Em 1970, o índice de


fertilidade total era de 4,45 e a família típica no mundo tinha quatro ou cinco
filhos. Hoje é de 2,435 em todo o mundo, e menor em alguns lugares
surpreendentes. O índice de Bangladesh é de 2,16, uma queda de 50% em 20
anos. A fertilidade no Irã caiu de 7, em 1984, para 1,9, em 2006. Grande parte
da Europa e do Extremo Oriente tem índices de fertilidade abaixo dos níveis de
reposição.

Carta Capital. 02-11-2011.

A queda da fertilidade em um país é responsá vel por novos arranjos


demográficos, dentre eles:

a) o forte aumento das taxas de urbanização.

b) a emergência de padrões de vida mais elevados.

c) a mudança na composição etária da popu lação.

d) o aumento da expectativa de vida.

e) a estabilização da densidade demográfica.


118

8. (PUC-RS) Sobre as teorias Malthusiana e a Neomalthusiana, é correto


afirmar que:

a) a teoria Malthusiana afirmava que a população crescia em progressão


geométrica e a Neomalthusiana postulava que o crescimen to populacional
estacionaria no final do século XIX.

b) a teoria Malthusiana defendia o emprego da tecnologia como solução para


amenizar a fome no mundo, enquanto a Neomalthu siana não considerava o
papel da tecnolo gia na produção de alimentos.

c) ambas propunham o controle da natalidade através do emprego de


preservativos e de pílulas anticoncepcionais.

d) embora as duas teorias fossem antinatalis tas, os neomalthusianos


defendiam o con trole da natalidade preponderantemente nos países
subdesenvolvidos, e os malthu sianos propunham um mecanismo chama do
sujeição moral.

e) também chamados alarmistas, os malthu sianos afirmavam que a solução


para con ter a miséria do mundo seria a abstinência sexual e o
desenvolvimento de tecnologias para o melhoramento genético.

9. (UFSM-RS) Leia o texto: Fome de ar, água e comida.

Os donos do mundo e seus sábios reunidos em Copenhague ainda não se


entenderam sobre como salvar o planeta. A COP15 já funcionou, porém como
uma martelada na cabeça dos líderes, alertando-os para a superpopulação da
Terra e a dramática escassez de recursos naturais.

Revista Veja, n. 50, 16 de dezembro de 2009, p.132.

A ideia contida no texto é de um cenário desa fiador para a espécie humana: a


superpopu lação da Terra. Relacionandoa com as teorias demográficas, é
correto afirmar:

I . Desde que Malthus apresentou sua teoria demo gráfica, são comuns os
discursos que relacionam, de forma simplista, a ocorrência da fome no planeta
com o crescimento populacional.
II. A teoria neomalthusiana, defendida por setores da população e por governos
de países de senvolvidos, busca explicar a ocorrência do atraso nos países
subdesenvolvidos, tomando como base uma argumentação demográfica.

III. Diferentemente da ideia do texto, a teoria refor mista enfatiza que as


elevadas taxas de nata lidade não são causa, mas consequência do
subdesenvolvimento.

Está(ão) CORRETA(S):

a) apenas I.

b) apenas II.

c) apenas I e II.

d) apenas III.

e) I, II e III.

10. (UFRN-RN) Para a explicação do crescimento da população e de sua


relação com o desen volvimento, algumas teorias foram formuladas:
malthusiana, reformista e neomalthusiana. Os adeptos da teoria reformista:

a) consideram que o rápido crescimento de mográfico exerce pressão sobre os


recur sos naturais, sendo um sério risco para o futuro da humanidade.

b) defendem a necessidade de reformas so cioeconômicas que permitam a


elevação do padrão de vida da população.

c) defendem que o alto crescimento demográ fico é causa da pobreza


generalizada, sendo imprescindíveis reformas políticas rígidas de controle da
natalidade.

d) consideram o descompasso entre a popu lação e os recursos necessários


para a sua sobrevivência como causa para a existência da miséria do mundo.

11. (FGV-RJ)

Transições demográficas em curso nos diferentes países do Sul, inverno


demográfico em certos países do Norte, envelhecimento da população,
urbanização sem precedentes: eis o que desenha uma paisagem demográfica
inédita. Soma-se a questão das circulações migratórias: 214 milhões de
pessoas residem de modo permanente em um país diferente daquele em que
nasceram - um número que não inclui nem refugiados nem deslocados.

GérardFrançois Dumont, 1º de julho de 2011.


http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=961

Sobre o significado dos conceitos utilizados no texto acima para descrever a


atual paisagem demográfica, leia as seguintes afirmações:

I. Transição Demográfica referese ao período de transição entre uma situação


de elevadas ta xas de mortalidade e de natalidade para um regime de baixa
mortalidade e natalidade, em dado país ou região.

II. Inverno Demográfico refere-se a uma situação na qual a natalidade continua


a diminuir no final da transição demográfica, em dado país ou região.

III. Urbanização refere-se ao crescimento absoluto da população que reside em


assentamentos definidos como urbanos, em dado país ou região.

IV. Deslocado refere-se ao migrante que atravessa uma fronteira política


internacional em busca de inserção no mercado de trabalho em um país
estrangeiro. Está correto apenas o que se afirma em:

a) I, II e III.

b) I e II.

c) I, II e IV.

d) I e III.

e) I, II, III e IV.

119

12. (UFRRJ-RJ) O envelhecimento da população está mudando radicalmente


as características da população da Europa, onde o número de pessoas com
mais de 60 anos deverá chegar nas próximas décadas a 30% da população
total. Graças aos avanços da medicina e da ciência, a população está cada vez
mais velha. Isso ocorre em função do:

a) Declínio da taxa de natalidade e aumento da longevidade.

b) Aumento da natalidade e diminuição da longevidade.


c) Crescimento vegetativo e aumento da taxa de natalidade.

d ) Aumento da longevidade e do crescimento vegetativo.

e) Declínio da taxa de mortalidade e diminuição da longevidade.

13. (ENEM-MEC)

As migrações transnacionais, intensificadas e generalizadas nas últimas


décadas do século XX, expressam aspectos particularmente importantes da
problemática racial, visto como dilema também mundial. Deslocam-se
indivíduos, famílias e coletividades para lugares próximos e distantes,
envolvendo mudanças mais ou menos drásticas nas condições de vida e
trabalho, em padrões e valores socioculturais. Deslocam-se para sociedades
semelhantes ou radicalmente distintas, algumas vezes compreendendo
culturas ou mesmo civilizações totalmente diversas.

IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

A mobilidade populacional da segunda metade do século XX teve um papel


importante na formação social e econômica de diversos estados nacionais.
Uma razão para os movimentos migratórios nas últimas décadas e uma política
migratória atual dos países desenvolvidos são:

a) a busca de oportunidades de trabalho e o aumento de barreiras contra a


imigração.

b) a necessidade de qualificação profissional e a abertura das fronteiras para


os imigrantes.

c) o desenvolvimento de projetos de pesquisa e o acautelamento dos bens dos


imigrantes.

d) a expansão da fronteira agrícola e a expulsão dos imigrantes qualificados.

e) a fuga decorrente de conflitos políticos e o fortalecimento de políticas


sociais.

14. (AMAN-RJ)

"As migrações internacionais são um fenômeno diretamente associado à 'era


industrial'."

(Magnoli, p.464, 2005)


Considerando a frase acima, leia as afirmativas a seguir:

I. Durante o século XIX, a Europa foi a mais importante zona de repulsão


demográfica do globo.

II. Atualmente, a União Europeia, em sua totalidade, configura a maior zona de


atração de fluxos migratórios do mundo.

III. Grande parte das migrações internacionais da atualidade tem causas


econômicas.

IV. No atual período de globalização, assim como o capital, os fluxos


migratórios fluem sem empecilhos através das fronteiras nacionais.

V. A África do Sul, importante economia industrial da África, é um país que


recebe significativos fluxos migratórios de fundo econômico do continente.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas CORRETAS.

a) II e IV.

b) IV e V.

c) I, II e III.

d) I, III e V.

e) II, III e V.

120

unidade 5 - População brasileira

LEGENDA: Escultura confeccionada com argila no estilo de Mestre Vitalino


(Pernambuco, 1909-1963), importante artesão nordestino.

CRÉDITO: Marco Antônio Sá/Pulsar

121

Diferentes povos já habitavam as terras que se tornariam território do Brasil


quando nelas chegaram europeus, depois numerosos grupos de negros
africanos e, posteriormente, outras levas de imigrantes vindos das mais
diferentes porções do globo.
Se comparada a outras populações do mundo, a brasileira pode ser
considerada recente, pois essa formação passou a ocorrer há pouco mais de
500 anos. Há registros de populações que datam de milênios. Nem por isso a
população da qual fazemos parte é menos rica e diversa: ela possui
peculiaridades e complexidades.

A - A imagem acima representa a riqueza e complexidade da população


brasileira. Como ela retrata a população quanto às faixas etárias e gêneros?
Como ela expressa a carga cultural da população brasileira?

B - Que grupos humanos participaram da formação do povo brasileiro? Que


elementos dão identidade ao nosso povo?

122

A população brasileira e suas origens

A formação da população brasileira tem sua raiz no encontro de três principais


grupos humanos conforme descrito por Darcy Ribeiro (1922- 1997), um dos
maiores antropólogos brasileiros, que assim escreveu sobre a miscigenação do
nosso povo:

Nas primeiras décadas após a invasão europeia, a situação étnica brasileira


era muito clara. Existiam, de um lado, as populações americanas originais,
chamadas indígenas por um equívoco. Por outro lado, os brancos, vindos da
Europa em ondas sucessivas, nunca muito numerosas mas com extraordinária
capacidade de se inserir no mundo indígena, convertendo em condição de sua
própria prosperidade, pela destruição, os africanos que chegaram mais tarde,
reconhecíveis de imediato por sua figura racial.

[...]

RIBEIRO, Darcy. O Brasil como problema. Rio de Janeiro: Francisco Alves,


1995. p. 97.

LEGENDA: Indígena purus.

CRÉDITO: Johann Moritz Rugendas. 1826. Litografia sobre papel. 37,5 x 30


cm. Coleção particular

LEGENDA: Africana benguela.


CRÉDITO: Johann Moritz Rugendas. 1826. Litografia sobre papel. 37,5 x 30
cm. Coleção particular

LEGENDA: Europeia portuguesa.

CRÉDITO: Johann Moritz Rugendas. 1847. Lápis e aquarela sobre papel. 57,5
x 41,5 cm. Coleção particular

Em 1500, quando os primeiros portugueses chegaram nestas terras, que


séculos mais tarde formariam o nosso país, povos nativos (indígenas) de
diferentes etnias já ocupavam o território. Os povos jês e os tupi-guaranis eram
os mais numerosos. Como não existem dados muito precisos, as estimativas
dos estudiosos são controversas, sugerindo que a população indígena naquele
momento histórico poderia variar de 1 a 10 milhões de indivíduos.

A partir de então, o processo de ocupação e exploração econômica das terras


pelos portugueses levou ao genocídio (destruição física) ou etnocídio
(destruição cultural) desses povos, vítimas da força e das armas impostas
pelos conquistadores e também das doenças trazidas por eles. Atualmente, a
população indígena do Brasil soma aproximadamente 817 mil pessoas (cerca
de 0,4% da população total do país), que vivem em aldeias ou integradas em
comunidades não indígenas, em áreas rurais ou urbanas, mais concentradas
nas regiões Norte e Centro-Oeste do país.

Outro grupo que participou originalmente da formação da população brasileira


foi o dos negros. Originários de diferentes regiões do continente africano,
povos de diversos grupos culturais, entre eles sudaneses, benguelas e bantos,
foram trazidos para trabalhar como mão de obra escrava. Calcula-se que cerca
de 4 milhões de africanos chegaram ao nosso país no período de 1531 e 1855.

O encontro do indígena, do negro e do branco europeu, não só do colonizador


português, mas também dos imigrantes que aqui chegaram nos séculos
seguintes, como italianos, espanhóis e alemães, além de árabes (turcos e sírio-
libaneses) e asiáticos (japoneses), promoveu uma intensa miscigenação da
nossa população ao longo de toda a história do Brasil.

Glossário:

Miscigenação: resultante do encontro de diferentes etnias.


Fim do glossário.

123

Foi o resultado dessa miscigenação, portanto, que deu origem ao povo


brasileiro, em sua enorme e expressiva diversidade cultural. Na tabela abaixo,
podemos observar a composição da população brasileira conforme
informações levantadas pelo IBGE no ano de 2014.

Tabela: equivalente textual a seguir.

Brasil: população segundo declaração de cor ou raça (%) - 2014

Branca 46

Parda 45

Preta 8

Outros (amarela e indígena) 1

LEGENDA: Esses números devem ser vistos com cautela, pois, como são
registros da declaração de cada pessoa entrevistada durante pesquisas, é
inevitável que ocorram algumas distorções. Por exemplo, há casos de pessoas
pardas que se declaram negras ou brancas, e a informação dada pelo
entrevistado é registrada pelo recenseador.

CRÉDITO: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_
de_Domicilios_anual/2014/q_pnad2014.pdf. Acesso em: 11 fev. 2016.

A composição étnica da população brasileira que observamos nessa tabela


também apresenta certas especificidades em relação à distribuição entre as
regiões do país. Influências histórico-geográficas ligadas ao processo de
ocupação e povoamento do território brasileiro explicam esse fato.

No Sul do país, por exemplo, a participação dos brancos no total da população


é maior dado o grande número de imigrantes que se fixaram nessa região para
promover a colonização mais efetiva dessa porção do território. A população
negra, por sua vez, é mais representativa nos estados do Nordeste, região
onde a mão de obra escrava foi utilizada em grande escala para sustentar a
economia açucareira do período colonial. Já a população parda (nomenclatura
empregada pelo IBGE para definir os mestiços), embora proporcionalmente
mais numerosa no Norte, devido à miscigenação com indígenas, e no
Nordeste, pela miscigenação com os negros, também vem aumentando nas
demais regiões do país.

Veja, a seguir, a distribuição da população brasileira por cor da pele conforme


as regiões do país.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: ftp://ftp.ibge.gov.
br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_a
nual/2014/q_pnad2014.pdf. Acesso em: 11 fev. 2016. CRÉDITO: E. Cavalcante

- Sociólogos e antropólogos que estudam casos de preconceito racial


desmistificam a ideia de "democracia racial" que, por muito tempo, perdurou na
sociedade brasileira. Segundo esses estudiosos, o preconceito está intrínseco
à sociedade brasileira, que convive com uma das formas mais perversas de
racismo, a qual, por se manifestar de forma velada, contribui para a construção
da imagem de um país onde existe harmonia racial. Em sua opinião, a
sociedade brasileira é marcada por preconceitos e práticas racistas? Podemos
afirmar que existe harmonia racial em nosso país? Exponha seu ponto de vista.

124

- População e território no Brasil

Com cerca de 203 milhões de habitantes (Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios, IBGE 2014), o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, atrás
apenas da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. No entanto, devido à sua
grande extensão territorial, o país apresenta apenas 24 habitantes por
quilômetro quadrado (hab./km 2), uma densidade demográfica bem pequena se
comparada à de países muito povoados, como Bangladesh (1.114 hab./km 2),
Coreia do Sul (497 hab./km2), Índia (390 hab./km2) e Japão (335 hab./km2). Isso
significa que o Brasil é um país populoso, porém, pouco povoado.

Ao analisar a distribuição da população brasileira, observa-se a existência de


grandes contrastes no povoamento do país. Enquanto as densidades
demográficas chegam a mais de 100 hab./km 2 na faixa leste do território,
muitas áreas interioranas do país são verdadeiros vazios populacionais, com
densidade demográfica de cerca de 2 hab./km 2. Observe essas diferenças na
tabela abaixo e no mapa apresentado a seguir.

Tabela: equivalente textual a seguir.

Brasil: densidade demográfica (hab/km²)

Brasil 23,8

Norte 4,48

Nordeste 36,2

Centro-Oeste 9,5

Sudeste 92,2

Sul 50,4

FONTES: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br/home/geociencias/areaterritorial/principal.shtm. Acesso
em: 12 ago. 2015. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Disponível em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_
Amostra_de_Domicilios_anual/2014/q_pnad2014. pdf. Acesso em: 11 fev.
2015.

LEGENDA: Inicialmente, para assegurar o domínio das terras recém-


descobertas, os colonizadores se fixaram ao longo da costa leste do território,
onde estabeleceram os primeiros núcleos de povoamento e desenvolveram
atividades econômicas (exploração do pau-brasil, introdução daslavouras de
cana-de-açúcar e do engenho). Com isso, surgiram as primeiras vilas e
povoados que cresceram e se transformaram, séculos mais tarde, em
importantes centros urbanos. Por essa razão, as cidades mais populosas se
concentram nessa parte do território. Já a parte central e mais interiorana do
território, sobretudo a vasta região Amazônica, é bem menos povoada.
Somente no século XX, o interior do Brasil passou a ser de fato povoado por
numerosas levas de migrantes, atraídas pelos projetos de colonização
implantados pelo governo federal (abertura de rodovias, construção da nova
capital federal - Brasília -, assentamentos de colonização agrária, projetos de
exploração mineral e a construção de grandes usinas hidrelétricas).

FONTE: ATLAS geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 114.
1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: Paula Radi

125

O crescimento da população brasileira

Em 1872, quando foi realizada a primeira contagem demográfica no nosso


país, a população brasileira chegava a cerca de 9,9 milhões de habitantes.
Desde então, ela passou a aumentar de maneira acelerada, como podemos
observar no gráfico abaixo.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 12 dez. 2015. CRÉDITO: Luciane Mori

Para se ter ideia do intenso incremento populacional ocorrido desde então, em


pouco mais de um século, a população brasileira cresceu mais de 20 vezes.
Poucos países do mundo tiveram um crescimento demográfico tão vertiginoso.

O crescimento populacional de um país pode ser influenciado por dois


processos distintos: pelo crescimento natural, ou vegetativo, calculado pela
diferença entre a taxa de natalidade (proporção de nascimentos em relação ao
total da população) e a taxa de mortalidade (proporção de óbitos em relação ao
total da população) ou pelo saldo migratório, que compreende a diferença entre
o número de pessoas que entram no país (imigração) e o número de pessoas
que dele saem (emigração).

Embora a imigração tenha certa influência no incremento demográfico do país


(veja quadro abaixo), o intenso crescimento da população brasileira ocorrido ao
longo século XX se relacionava diretamente ao aumento do crescimento
natural da nossa população. O crescimento natural foi proporcionado, portanto,
pela oscilação das taxas de natalidade e de mortalidade, como mostra o gráfico
na página seguinte.

Boxe complementar:

Imigrantes no Brasil
Entre o final do século XIX e o início do século XX, cerca de 4,1 milhões de
imigrantes chegaram ao Brasil, sobretudo vindos de Portugal, Itália, Espanha,
Alemanha e Japão.

Esses imigrantes foram atraídos para o Sudeste pela oferta de trabalho na


lavoura cafeeira, para substituir o trabalho escravo, proibido desde a
promulgação da Lei Áurea, em 1888. No Sul, eles foram assentados em
pequenas propriedades rurais (colônias), a fim de promover a ocupação e
assegurar a posse desse território, até então pouco povoado.

Na década de 1930, porém, o governo brasileiro restringiu a entrada de novos


imigrantes, interrompendo esse intenso fluxo imigratório. Abaixo, grupo de
imigrantes italianos no Espírito Santo, em 1910.

CRÉDITO: 1910. Arquivo do Estado de São Paulo, SP. Foto: Neoimagem

Fim do complemento.

126

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/. Acesso em: 12 dez. 2015. CRÉDITO:
E. Cavalcante

- A queda da mortalidade e o aumento do crescimento natural

Nas primeiras décadas do século passado, o crescimento natural da população


se manteve constante, pois, embora a taxa de natalidade fosse elevada, em
torno de 4,6%, a taxa de mortalidade também se mantinha alta, chegando a
2,8% em 1900 e 2,6% em 1920 (veja novamente o gráfico acima).

Por volta da década de 1940, porém, o crescimento natural da população


acelerou em decorrência da queda acentuada da taxa de mortalidade. Esse
declínio da mortalidade se deu em razão da melhoria das condições de vida da
população, decorrente da expansão dos serviços de assistência médico-
hospitalar; dos serviços de infraestrutura de saneamento urbano (fornecimento
de água tratada, rede coletora de esgoto, coleta de lixo etc.), dos avanços da
medicina, com a descoberta de novos medicamentos (antibióticos) e as
campanhas de vacinação em massa. Com novos medicamentos e vacinação,
muitas doenças foram controladas e epidemias que, até então, se alastravam
facilmente entre a população e vitimavam muitas pessoas foram evitadas.

Com a mortalidade em queda e a natalidade ainda elevada, o crescimento


natural da população brasileira deu um enorme salto, atingindo 2,9% em 1960,
sendo que no início desse mesmo século o índice era de 1,8%.

LEGENDA: Acima, charge publicada em 1904, demonstrando a resistência da


população às campanhas de vacinação defendidas por Oswaldo Cruz
(representado ao centro da imagem) por não compreender os benefícios das
vacinas e por criticar a obrigatoriedade da vacinação.

CRÉDITO: Leônidas Freire

127

- A queda da natalidade e a diminuição do crescimento natural

A partir das décadas de 1960 e 1970, no entanto, o crescimento natural da


população começou a declinar em virtude da queda da taxa de natalidade,
como é possível observar no gráfico na página 126. As causas dessa
diminuição estão relacionadas ao avanço da urbanização ocorrida no país,
fenômeno que provocou grandes mudanças no comportamento demográfico da
população brasileira.

Com o ingresso cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho, como
forma de ajudar no sustento da família, elas passaram a encontrar muitas
barreiras quando desejavam ter filhos, por causa do risco de serem
dispensadas, da falta de creches etc. Além disso, passaram a ter menos tempo
para os cuidados e a convivência familiar, o que, somado aos gastos mais
elevados com alimentação, saúde, lazer e educação, levou muitas delas a
optar por um número menor de filhos.

A popularização dos métodos contraceptivos, como pílulas anticoncepcionais,


preservativos, diafragmas e esterilizações, aliada aos programas de
planejamento familiar desenvolvidos pelo Estado, também contribuiu para a
redução da taxa de natalidade. Com isso, houve também uma sensível queda
da taxa de fecundidade, que expressa o número médio de filhos por mulher
(em idade reprodutiva), como mostra o gráfico abaixo.
LEGENDA: Em cerca de 50 anos, a taxa de fecundidade no Brasil despencou
de 6,3 filhos por mulher (1960) para cerca de 1,7 (2015). É por isso que,
atualmente, temos o predomínio de famílias reduzidas, ao contrário de décadas
atrás, quando as famílias eram numerosas.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/. Acesso em: 14 dez. 2015. CRÉDITO:
Fotomontagem de E. Cavalcante formada pela imagem Neil
Bromhall/SPL/Latinstock

A taxa de natalidade no país continua em queda e o crescimento natural da


população, em torno de 1,2%, de acordo com o censo de 2010, tende a
diminuir ainda mais nas próximas décadas. As projeções demográficas indicam
que, no período entre 2020 e 2030, o crescimento natural da população
brasileira deve ficar em torno de 0,6%, índice que se aproxima ao dos países
mais desenvolvidos do mundo, que estará em média em 0,2%, de acordo com
dados da ONU.

128

A estrutura da população brasileira

Ao longo das últimas décadas, as transformações demográficas da população


brasileira, decorrentes da queda da taxa de natalidade e de mortalidade e do
aumento da expectativa de vida da população, sobretudo em virtude dos
avanços na área da saúde, vêm acarretando grandes mudanças na estrutura
etária da nossa população. Essas mudanças redesenham a pirâmide etária
brasileira, como podemos observar nas pirâmides etárias abaixo.

FONTE DOS GRÁFICOS: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE). Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 14 dez. 2015. CRÉDITO
DAS ILUSTRAÇÕES: E. Cavalcante

A queda das taxas de natalidade e fertilidade, por exemplo, leva a uma


diminuição relativa do número de crianças e jovens no total da população, fato
que pode ser percebido pelo gradativo estreitamento ocorrido na base da
pirâmide etária. Ainda assim, o porcentual de crianças e jovens em nossa
população, em torno de 33%, é elevado quando comparado ao percentual dos
países desenvolvidos, que possuem taxas de natalidade mais baixas.
O aumento da expectativa de vida, por outro lado, tem provocado uma
elevação do número de adultos e idosos no total da população, o que se pode
verificar pelo alargamento da parte intermediária e do topo da pirâmide. Em
apenas três décadas, a participação de pessoas com 60 anos ou mais na
população total aumentou de 6% (em 1980) para 11% (em 2010). Em números
absolutos, isso significa que a população idosa do país saltou de
aproximadamente 7 milhões para mais de 20 milhões de pessoas.

Boxe complementar:

Estrutura

A estrutura da população refere-se à maneira como ela está distribuída


conforme a faixa etária (idade) e o sexo (masculino ou feminino). Em nosso
estudo da estrutura da população brasileira, consideramos as seguintes faixas
de idade: crianças e jovens (de 0 a 19 anos); adultos (de 20 a 59 anos); e
idosos (60 anos ou mais).

Fim do complemento.

- Identifique e descreva as principais mudanças ocorridas na forma (base,


corpo e ápice) da pirâmide etária brasileira. A alteração na sua forma indica
quais mudanças no comportamento demográfico (taxas de natalidade,
mortalidade e envelhecimento) da população brasileira ao longo das últimas
décadas? Apresente suas hipóteses.

129

- O envelhecimento da nossa população

De acordo com as projeções demográficas, em 2050, o Brasil contará com


cerca de 64 milhões de idosos, cerca de 30% do total da população. A
velocidade com que o processo de envelhecimento da população brasileira
vem ocorrendo nos coloca diante de uma nova realidade demográfica e de um
grande desafio: garantir melhor qualidade de vida a esse crescente número de
idosos.

A conquista de um envelhecimento ativo e saudável passa, necessariamente,


por uma grande readequação das políticas públicas voltadas para atender às
necessidades dessa camada da população. Isso significa maiores
investimentos nas áreas da saúde, com especial atenção ao tratamento de
doenças que atingem a velhice, além da concessão de aposentadorias e
benefícios previdenciários que sejam suficientes para assegurar condições
dignas de vida, como prevê o Estatuto do Idoso (veja quadro abaixo).

Outra barreira a ser superada é a dos preconceitos, que ainda são amplamente
disseminados tanto na sociedade em geral quanto nos próprios grupos
familiares.

A diminuição da participação de crianças e jovens (0 a 19 anos) na população


e o aumento da participação de idosos (60 anos ou mais) indicam que a
população está passando por um rápido processo de envelhecimento,
característica típica de países que estão a caminho de concluir o processo de
transição demográfica (conforme estudado na unidade 4). O gráfico a seguir
mostra a evolução dessas faixas etárias no total da população.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 14 dez. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

- A população brasileira vem adquirindo características de países como


Estados Unidos, Japão e Alemanha. Tendo em vista essa realidade, que
carências em nosso país passam a ficar evidentes?

Boxe complementar:

Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/2003)

[...]

Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder


Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.

[...]

Art. 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à


saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de dignidade. [...]
BRASIL. Estatuto do Idoso. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2003. p. 7-9.

Fim do complemento.

130

Contexto geográfico

Ponto de vista

A mulher e o mercado de trabalho

[...]

Histórias [...] de mulheres chefes de família que fazem o possível e o


impossível para conciliar maternidade, atividade doméstica e vida profissional
são cada vez mais comuns no dia a dia do Brasil. [...] O aumento da
responsabilidade financeira das mulheres, no entanto, ainda contrasta com os
grandes problemas enfrentados por elas no mercado de trabalho. Soma-se a
isso uma carência de serviços públicos como creches, restaurantes e
lavanderias comunitárias, além de uma cultura machista que ainda joga nos
ombros da mulher toda a responsabilidade pela vida familiar e doméstica,
dificultando seu crescimento profissional. Nesse caldeirão de fatores,
desenvolve-se em silêncio um fenômeno econômico e social que é encarado,
no Brasil e em nível internacional, como um dos principais desafios deste
milênio para os formuladores de políticas públicas: a feminização da pobreza.
[...]

Contrariando o que ocorre na maioria dos países, a mulher brasileira possui, de


maneira geral, nível de escolaridade superior ao do homem. Uma radiografia
das estatísticas sobre o mercado de trabalho, no entanto, mostra que tal
vantagem não corresponde a maior valorização dentro do mundo profissional.
[...] Para piorar, são elas as mais atingidas pelo desemprego e as que mais se
concentram em empregos precários e no mercado informal. Para militantes do
movimento feminista, a desvalorização da força de trabalho da mulher é fruto
de uma realidade cruel, em que mitos e preconceitos ainda formam barreiras
invisíveis para sua ascensão profissional. [...]

CAMPOS, André. Pobreza tem sexo. Problemas Brasileiros, São Paulo, n. 369,
p. 34-5. maio/jun. 2005.
Embora essa realidade venha se alterando, é a passos lentos que essa
alteração ocorre. Veja, a seguir, alguns dados comparativos sobre as
disparidades entre homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro.

FONTES: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/
mulher_mercado_trabalho_perg_ resp_2012.pdf. Acesso em: 10 dez 2015.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Disponível em:
portal.mte.gov.br. Acesso em: 10 dez. 2015. CRÉDITO: Renan Fonseca

- Após a leitura do texto e a análise das informações apresentadas nos gráficos


acima, reflita sobre a seguinte questão: existe plena igualdade de gêneros em
nossa sociedade? Que mudanças são necessárias para garantir essa
igualdade? Exponha seu ponto de vista.

131

Pobreza e renda no Brasil

FONTE: INSTITUTO de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Disponível em:


www.ipeadata.gov.br. Acesso em: 14 ago. 2015. CRÉDITO: Fotomontagem de
E. Cavalcante formada pela imagem R. R. Rufino/ASC Imagens

FONTE: INSTITUTO de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Disponível em:


www.ipeadata.gov.br. Acesso em: 14 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Em nosso país, algumas das principais razões do desemprego, da economia


informal e do trabalho infantil são pobreza e distribuição desigual de renda,
tendo como característica marcante a concentração de riqueza nas mãos de
uma peque na parcela da população (gráfico 1). Essa desigualdade de
rendimentos gera uma grande divergência entre ricos e pobres em relação ao
acesso a itens básicos, como alimentação, saúde, educação, vestuário,
moradia, saneamento e transporte.

No Brasil, um representativo contingente de pessoas vive em condições


precárias, muitas vezes se situando abaixo da linha de pobreza (com cerca de
1,25 a 2 dólares por dia). Embora esses índices estejam em declínio, em 2013,
aproximadamente 5,5% da população brasileira viviam nessas condições
(gráfico 2).

A disparidade de renda na sociedade brasileira possui características regionais


diferenciadas. Os indicadores de condições de vida da população das regiões
Norte e Nordeste são menos favoráveis do que os registrados nas regiões
Sudeste e Sul. Entre outros fatores, isso se deve ao menor acesso à educação
e à saúde de qualidade, em grande parte, por causa dos escassos recursos
financeiros das famílias.

Em 2013, no Brasil, o rendimento médio familiar per capita era de R$ 936,00, e


26% das famílias recebiam valores abaixo desse limite. Os valores dos
rendimentos nas regiões Nordeste e Sul são visivelmente desiguais: R$ 598,00
e R$ 1 146,00, respectivamente.

Boxe complementar:

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Indicadores sociais como nível de renda, saúde e educação são importantes


componentes para analisar as condições de vida da população de determinado
país. Esses fatores compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Países como Noruega e Austrália têm o IDH acima de 0,935; já no Níger e em


Zimbábue, países de extrema pobreza localizados na África, o IDH encontra-se
em 0,348 e 0,509 respectivamente.

Ainda que o Brasil apresente destaque do crescimento econômico e de o PIB


estar entre os oito maiores do mundo, esses componentes não
necessariamente coincidem com o desenvolvimento humano. Apesar das
melhorias na área da saúde (aumento da expectativa de vida) e da educação
(diminuição da taxa de analfabetismo), essas áreas ainda deixam a desejar,
contribuindo para que o IDH do país seja de 0,755, segundo o relatório de
2015, comparável ao de países vizinhos como Venezuela e Peru.

Fim do complemento.

- Sabendo que o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, reflita
sobre a seguinte questão: crescimento econômico pode ser considerado
sinônimo de desenvolvimento social? Justifique sua opinião.
132

Os fluxos migratórios no Brasil

Em 2013, de acordo com dados estatísticos levantados pelo IBGE,


aproximadamente 40% dos brasileiros residiam fora dos seus municípios de
origem e, destes, 16% não moravam na unidade da federação em que
nasceram. Esses números revelam a intensidade com que os fluxos
migratórios ocorrem no nosso país.

Desde o período colonial, os movimentos migratórios no Brasil estão


associados a fatores de ordem econômica. Quando a economia
agroexportadora açucareira no Nordeste entrou em declínio e a exploração de
ouro nas Minas Gerais teve início, por volta do século XVIII, um enorme
contingente de pessoas se deslocou para essa região.

Mais tarde, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, a
prosperidade da economia cafeeira seguida do processo de industrialização e
de urbanização (assunto que será estudado na unidade 7) deslocou o grande
foco de atração populacional para o eixo Rio-São Paulo.

- O êxodo rural

Ao longo da segunda metade do século XX, os movimentos migratórios no país


foram marcados pelo intenso êxodo rural, que levou milhões de pessoas a
migrar do campo para as cidades. Para se ter uma ideia desse êxodo, basta
ver os números: em um período de cinco décadas, entre 1940 e 1990, cerca de
50 milhões de pessoas deixaram o campo e foram viver nos centros urbanos.

O êxodo rural, que se intensificou a partir da década de 1950, esteve


diretamente associado ao rápido processo de urbanização e industrialização
pelo qual o país passou, fato que atraiu muitos trabalhadores para as cidades
(veja os dados da tabela a seguir).

CRÉDITO: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 15 ago. 2015.

Outros fatores também impulsionaram a saída de milhares de camponeses do


espaço rural:
- a expropriação das terras, que obrigou muitos agricultores a vender suas
propriedades para pagar dívidas contraídas com bancos;

- o processo de mecanização das lavouras, que substituiu grande parte da mão


de obra dos trabalhadores rurais pelo uso de máquinas e implementos
agrícolas;

- a ampliação da legislação trabalhista, que estendeu aos trabalhadores rurais


os mesmos benefícios já conquistados pelos demais trabalhadores, porém não
respeitada pelos empregadores no campo.

LEGENDA: Boa parte da população que saiu do campo se deslocou para os


grandes centros urbanos, que se tornaram áreas atrativas no que diz respeito à
mão de obra. Como essas cidades não receberam investimentos suficientes
em infraestrutura (saneamento básico, moradias, equipamentos de saúde, de
educação, de lazer etc.), elas cresceram de maneira desordenada com a
formação de bairros completamente desestruturados, a exemplo do mostrado
acima, em Salvador, Bahia, em 2013.

CRÉDITO: Sergio Pedreira/Pulsar

133

- As migrações inter-regionais

De 1950 a 2000, os fluxos migratórios no território brasileiro se aceleraram


ainda mais com a intensificação das migrações inter-regionais, ou seja, entre
as diferentes regiões do país.

A partir da década de 1950, por exemplo, o crescimento da atividade industrial


desencadeou grandes fluxos migratórios do Nordeste para os maiores centros
urbanos do Sudeste, sobretudo em direção ao estado de São Paulo. Nesse
estado, a expansão das fábricas e das atividades urbanas significava uma
oportunidade de trabalho e, consequentemente, de melhores condições de vida
para os migrantes.

Desde então, as migrações inter-regionais se tornaram ainda mais intensas


com o processo de ocupação e povoamento das áreas mais interioranas do
país. A partir das décadas de 1960 e 1970, por exemplo, os fluxos migratórios
do Nordeste ocorrem em direção às novas áreas agrícolas e aos garimpos
abertos na Amazônia.

Nessa mesma época, outras correntes migratórias do Nordeste e do Sudeste


também se dirigem para o Centro-Oeste, atraídas pela construção de Brasília.
Além disso, a migração de nordestinos para as demais regiões do país,
especialmente no período entre 1940 e 1970, também foi desencadeada pelo
fenômeno das secas que assolaram o Sertão Nordestino. A partir da década de
1970, os grandes fluxos migratórios dos estados do Sul, de São Paulo e Minas
Gerais também se deslocaram para o Centro-Oeste e o Norte, atraídos pela
abertura de novas áreas de colonização agrícola.

CRÉDITO: Gilberto Alicio

CRÉDITO: Gilberto Alicio

CRÉDITO: E. Cavalcante.

FONTE DOS MAPAS: GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geográfico
do estudante. São Paulo: FTD, 2011. p. 19. 1 atlas. Escalas variam.

134

- Uma nova dinâmica migratória

Ao longo das últimas três décadas, os fluxos migratórios sofreram uma


profunda alteração. Com o processo de desconcentração da atividade industrial
e econômica (veja página 177) e a consequente diminuição das oportunidades
de trabalho no Sudeste, os fluxos migratórios para os grandes centros urbanos
da região começaram a diminuir. Esse fato e o crescimento econômico das
cidades interioranas, do próprio Sudeste e também de outras regiões do país,
que passaram a receber parte dos investimentos produtivos até então
instalados em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, redirecionaram os
fluxos migratórios pelo território.

No caso do Nordeste, por exemplo, embora ainda se mantenha como principal


região de saída de pessoas quando comparada ao restante do país, verifica-se
a ocorrência de movimentos migratórios de retorno. São fluxos de pessoas que
deixam o Sudeste, atraídas principalmente pela expansão econômica ocorrida
em capitais nordestinas como Salvador, Fortaleza e Recife.
Se a dispersão do crescimento econômico em direção ao interior reduziu o
fluxo populacional para as grandes capitais do Sudeste, esse fenômeno
contribuiu para o aumento dos fluxos em sentido inverso. Assim, tem sido cada
vez maior o contingente de pessoas que deixam os grandes centros
metropolitanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, para se fixar nas médias e
grandes cidades do interior, que prosperam economicamente com a chegada
de novos investimentos. Isso explica por que essas duas maiores metrópoles
do país são justamente as capitais que menos crescem em termos
populacionais, tanto em relação a outras capitais que se localizam nas áreas
de expansão da fronteira agrícola, como em relação às capitais do Nordeste e
do Sul do país.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Resultados_Gerais_da_
Amostra/errata_migracao.pdf. Acesso em: 3 nov. 2015. CRÉDITO: E.
Cavalcante

- Verifique, no mapa acima, quais são os estados de maior entrada e os


estados de maior saída de migrantes no país.

135

Migrações pendulares

Se os fluxos migratórios em direção às grandes metrópoles do Sudeste


apresentaram uma diminuição relativa ao longo das últimas décadas, como já
foi visto, essas e outras grandes áreas metropolitanas do país se destacaram
pela ocorrência de intensas migrações pendulares, aquelas formadas pelo
deslocamento diário (ida e volta) de pessoas entre moradia e local de trabalho.

Esse tipo de migração se torna mais intenso à medida que a cidade cresce,
deslocando os trabalhadores de renda mais baixa para áreas periféricas
distantes ou mesmo para cidades vizinhas, que passaram a ser chamadas de
cidades-dormitório, onde os custos com moradia (aluguéis e imóveis) são bem
menores. Isso explica por que nas maiores cidades do país, como São Paulo e
Rio de Janeiro, muitos trabalhadores chegam a gastar de três a quatro horas
por dia nesse vaivém diário.
Para esses trabalhadores de renda mais baixa, essa rotina exaustiva se agrava
com a precariedade do transporte coletivo de massa (ônibus, metrôs, trens):
veículos superlotados, atrasos frequentes, preço elevado das tarifas e
conduções em péssimo estado de conservação são alguns dos principais
problemas que os usuários enfrentam diariamente.

Migrações temporárias e sazonais

As migrações temporárias são aquelas em que o migrante reside durante


apenas um período predeterminado de tempo no lugar para o qual se deslocou.
Esses fluxos migratórios podem durar de apenas alguns dias ou semanas, até
alguns meses ou anos.

Incluem-se nesse tipo as migrações de trabalhadores que deixam o lugar onde


vivem em determinada época do ano para retornar depois em outro período.
São as chamadas migrações sazonais, que também ocorrem com certa
frequência em várias regiões do país. Em geral, esses fluxos migratórios são
formados por trabalhadores rurais temporários que se deslocam para outras
regiões em períodos de colheita para complementar a renda familiar,
retornando após o término da safra.

Os deslocamentos a que se submetem esses trabalhadores não têm


repercussão apenas na vida econômica dessas pessoas, mas também em sua
cultura e em suas relações sociais. O texto abaixo destaca o exemplo dos
migrantes temporários que saem da região Nordeste e se deslocam para o
cerrado mineiro para trabalhar nas lavouras de café.

[...]

Estes trabalhadores, para realizar o trabalho temporário de safra, deixam suas


famílias em sua região de origem e procuram na atividade sazonal uma
complementação de sua renda, entre outras possibilidades. Assim,
permanecem na região produtora de café entre dois a cinco meses,
normalmente entre maio e setembro [...].

[...] São, normalmente, homens: adolescentes, jovens, casados, solteiros e,


mais recentemente, algumas mulheres que acompanham seus maridos no
trabalho na lavoura ou realizam atividades domésticas para grupos de
trabalhadores como lavar roupas, cozinhar, entre outras atividades na região
do café. [...]

CARMO, Maria A. Angelotti. Trabalhadores temporários, trabalhadores o tempo


todo: o deslocamento para a safra de café na região do cerrado mineiro.
Travessia, São Paulo, ano XXI, n. 61, p. 43. maio/ago. 2008.

LEGENDA: Acima, colheita manual de café em Juruaia, Minas Gerais, em


2014.

CRÉDITO: João Prudente/Pulsar

136

Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. A população brasileira formou-se da miscigenação de diferentes povos.


Descreva esse processo.

2. O Brasil possui grande extensão territorial e a quinta maior população do


mundo. Podemos dizer que o Brasil é um país populoso e/ou povoado?
Explique.

3. Quais contrastes marcam a distribuição da população pelo território


brasileiro? Dê exemplos.

4. Quais fatores históricos influenciaram a concentração demográfica na faixa


leste do território brasileiro?

5. Que razões explicam a ocupação e o povoamento mais intenso das terras do


interior do país?

6. Quais foram as razões da queda nas taxas de mortalidade, por volta da


década de 1940, que se refletiu no aumento do crescimento natural da
população brasileira?

7. A partir de 1960 e 1970, o crescimento natural da população passou a


diminuir. Que fatores desencadearam esse processo?
8. Dê alguns exemplos das consequências sociais resultantes da desigual
distribuição de renda no Brasil.

9. Cite os fatores de atração das cidades e os fatores de repulsão do campo


que motivaram o êxodo rural no Brasil.

10. Diferencie:

a) migração pendular;

b) migração temporária;

c) migração sazonal.

Expandindo o conteúdo

11. Leia o texto abaixo, analise o gráfico e responda às questões da página


seguinte.

Brasil não está preparado para o envelhecimento da população

O Brasil deverá chegar a 2050 com cerca de 15 milhões de idosos, dos quais
13,5 milhões com mais de 80 anos. Segundo dados da Organização Mundial
da Saúde (OMS), em 2025, o país será o sexto do mundo com o maior número
de idosos. Apesar da criação de políticas voltadas para essa camada da
população, como o Estatuto do Idoso, instituído em 2003, a velocidade do
envelhecimento tem superado a implementação de ações para oferecer
melhores condições de vida à terceira idade.

"O processo é muito rápido, e as políticas públicas não têm acompanhado isso.
Viver em uma sociedade com muito mais idosos do que crianças requer um
planejamento intenso", diz o médico geriatra Luiz Roberto Ramos, da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Com o envelhecimento populacional, o Brasil terá redução do número de


jovens na força produtiva ativa, assinalou Ramos. "Vai aumentar o número de
pessoas que terão dependência social dessa produção. Isso tem de ser
planejado. O país está correndo contra o tempo." Hoje, segundo a OMS, o
Brasil tem 21 milhões de pessoas com mais de 65 anos.

O envelhecimento da população tem reflexo direto no Produto Interno Bruto


(PIB) brasileiro. Somente as doenças crônicas não transmissíveis, que afetam
principalmente idosos, provocam impacto anual de 1% no PIB, segundo
estimativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). De acordo com a
Comissão para Estudo do Envelhecimento Mundial, anualmente são gastos
cerca de R$ 60 bilhões com doenças típicas da terceira idade no Brasil.

[...]

BOCCHINI, Bruno. Brasil não está preparado para o envelhecimento da


população. Agência Brasil, Brasília, 1 º out. 2011. Disponível em:
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-10-01/brasil-nao-esta-
preparado-para-envelhecimento-da-populacao. Acesso em: 16 out. 2015.

137

*Projeção

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: http://biblioteca.ibge.gov.br/. Acesso em: 14 ago. 2015. CRÉDITO: Gilberto
Alicio

a) Que projeções para 2050 o texto descreve em relação aos idosos da


população brasileira?

b) Como o gráfico expressa a transição demográfica pela qual a população


brasileira vem passando?

c) Explique a seguinte afirmação: "Com o envelhecimento populacional, o


Brasil terá redução do número de jovens na força produtiva ativa". É possível
visualizar esse processo no gráfico acima? Explique.

d) Você concorda com o título desse texto? Elabore um texto explicando sua
resposta.

12. Analise as pirâmides etárias das regiões brasileiras, referentes ao ano de


2010 do Censo Demográfico do IBGE.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/censos/censo_demografico_2010/resultados_gerais_da_am
ostra/errata_migracao.pdf. Acesso em: 3 nov. 2015. CRÉDITO DAS
ILUSTRAÇÕES: Gilberto Alicio
a) Observe o formato de cada uma das pirâmides etárias.

b) As pirâmides das regiões brasileiras estão apresentando formato condizente


às transformações demográficas ocorridas no país, conforme evolução
mostrada na página 128? Explique.

c) As representações das regiões Norte e Nordeste apresentam base mais


larga e ápice mais estreito que as demais. Que características
socioeconômicas essa estrutura reflete?

138

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

A influência indígena na cultura brasileira

É provável que você conheça alguém chamado Ubiratan ou Jacira. Pode ser
também Iracema, Tainá, Cauã ou Jandira. Quem vive ou já visitou o Rio de
Janeiro, com certeza ouviu falar em Tijuca, Itaipu, Ipanema, Jacarepaguá,
Itapeba, Pavuna e/ou Maracanã. Em São Paulo, quem não conhece Itaim,
Itaquaquecetuba, Butantã, Piracicaba, Jacareí e Jundiaí? Não importa onde se
viva, qualquer brasileiro já teve contato com uma infinidade de palavras de
origem indígena, sobretudo da língua tupi-guarani (união entre as tribos
tupinambá e guarani), como carioca, jacaré, jabuti, arara, igarapé, capim, guri,
caju, maracujá, abacaxi, canoa, pipoca e pereba.

Mas não foi só na língua portuguesa que tivemos influência indígena. Sua
herança e contribuição para a formação da cultura brasileira vai além: passa da
comida à forma como nos curamos de doenças. Os índios, através de sua forte
ligação com a floresta, descobriram nela uma variedade de alimentos, como a
mandioca (e suas variações como a farinha, o pirão, a tapioca, o beiju e o
mingau), o caju e o guaraná, utilizados até hoje em nossa alimentação. Esse
conhecimento das populações indígenas em relação às espécies nativas é
fruto de milhares de anos de conhecimento da floresta. Lá, eles
experimentaram o cultivo de centenas de espécies como o milho, a batata-
doce, o cará, o feijão, o tomate, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o abacaxi, o
mamão, a erva-mate e o guaraná.
Outro benefício que herdamos da intensa relação dos índios e a floresta é em
relação às plantas e ervas medicinais. O conhecimento da flora e das
propriedades das plantas os fez utilizá-las nos tratamento de doenças. Por
exemplo, a alfavaca que tem função antigripal, diurética e hipotensora, ou o
boldo que é digestivo, antitóxico, combate a prisão de ventre e pode ser usado
também nas febres intermitentes (que cessam e voltam logo) são descobertas
dos índios utilizadas no nosso dia a dia.

O artesanato também não fica de fora. Bolsas trançadas com fios e fibras,
enfeites e ornamentos com penas, sementes e escamas de peixe são
utilizados em diversas regiões do país, que sequer têm proximidade com uma
aldeia indígena.

Segundo Chang Whan, pesquisadora e curadora do Museu do Índio do Rio de


Janeiro, embora nós tenhamos o costume de separar a cultura indígena da
cultura brasileira, essa dissociação não está correta. "A cultura brasileira
resulta da conjunção de muitas influências culturais, inclusive temos todas
essas contribuições dos índios, com a influência na toponímia (nome dos
lugares), na onomástica (nomes próprios), na culinária e no tratamento de
saúde utilizando as ervas medicinais. Portanto, não devemos fazer essa
dissociação", explica.

INFLUÊNCIA da cultura indígena em nossa vida vai de nomes à medicina.


Globo Ecologia, Rio de Janeiro, 30 mar. 2012. Disponível em:
http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2012/03/influencia-dacultura-
indigena-em-nossa-vida-vai-de-nomes-medicina.html. Acesso em: 20 out.
2015. Globo Ecologia/Globo Comunicação e Participação S.A.

CRÉDITO: Marcela Pialarissi

139

A Geografia no cinema

Gaijin: ama-me como sou

CRÉDITO: Filme de Tizuka Yamasaki. Gaijin: ama-me como sou. Brasil. 2005

Título: Gaijin: ama-me como sou

Diretor: Tizuka Yamasaki


Principais atores: Tamlyn Tomita, Louise Cardoso, Luís Melo e Lissa Diniz

Ano: 2005

Duração: 130 minutos

Origem: Brasil

O filme apresenta o drama vivido por uma imigrante japonesa e suas


descendentes no Brasil. O filme mostra também a ida dos descendentes dos
imigrantes para a terra natal de seus antepassados em busca de melhores
condições de vida.

faltou as informações: Para assistir/ Para ler / Para navegar

Para assistir

- CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles. Europa filmes, 1998.

O filme revela como é a vida das pessoas que migram pelo país, envolvendo a
história de uma mulher, que decide ajudar um garoto a encontrar seu pai, em
uma viagem do Rio de Janeiro ao Sertão nordestino.

- GAIJIN: os caminhos da liberdade. Direção: Tizuka Yamasaki. CPC, 1980.

O filme retrata diversos aspectos que marcaram a história dos imigrantes


japoneses no Brasil no início do século XX. Entre eles, a convivência entre
imigrantes japoneses, italianos e os migrantes nordestinos.

- MORTE e vida Severina. Direção: Zelito Viana. Embrafilmes, 1977.

Baseado no clássico da literatura brasileira escrito por João Cabral de Melo


Neto, em 1966, esse filme retrata a vida do migrante nordestino Severino, que,
assim como muitos outros nordestinos, partiu do sertão em direção ao litoral do
Nordeste em busca de melhores condições de vida.

Para ler

- ANDREAZZA, Maria Luiza; NADALIN, Sérgio O. Imigrantes no Brasil: colonos


e povoadores. Curitiba: Nova Didática, 2000.

- IOKOI, Hilda M. Grícoli. Ser índio hoje: a tensão territorial. São Paulo: Loyola,
1999.
- PAIVA, Odair da Cruz. Brasileiros na hospedaria dos imigrantes: a migração
para o estado de São Paulo (1888-1993). São Paulo: Memorial do Imigrante,
2001.

- RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São


Paulo: Companhia das Letras, 2006.

- SANTOS, Regina B. dos. Migração no Brasil. São Paulo: Scipione, 1994.

- SILVA JR., Hélio (Org.). O papel da cor: raça/etnia nas políticas de promoção
da igualdade. São Paulo: Ceert, 2003.

- VALIM, Ana. Migrações : da perda da terra à exclusão social. 11. ed. São
Paulo: Atual, 2009.

Para navegar

- FUNDAÇÃO Nacional do Índio (FUNAI). Disponível em: http://tub.im/4e2u8m.


Acesso em: 24 set. 2015.

- INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:


http://tub.im/kdp2qw. Acesso em: 24 set. 2015.

- MUSEU da Imigração do Estado de São Paulo. Disponível em:


http://tub.im/g62c9y. Acesso em: 24 set. 2015.

- POVOS Indígenas no Brasil (PIB). Disponível em: http://tub.im/8nqrky. Acesso


em: 24 set. 2015.

140

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UTFPR-PR)

Crescimento vegetativo

Denomina-se taxa de crescimento vegetativo (ou crescimento natural) a


diferença entre as taxas de natalidade e as taxas de mortalidade vigentes
durante um certo período em uma determinada população. Quanto maior esta
diferença, maior é o crescimento natural da população. Se a diferença entre
essas duas taxas for positiva, significa que a população aumentou durante o
período pesquisado. Quando a diferença é negativa, a população natural
diminui. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a evolução
demográfica no Brasil, é correto afirmar que:

a) o Brasil ainda não se livrou das grandes endemias nem das doenças
infectoparasitárias. A malária, a dengue e o cólera ainda contribuem para a
queda das taxas de mortalidade, resultando em um acentuado crescimento
vegetativo na atualidade.

b) entre 1940 e 1970, enquanto as taxas de natalidade declinavam, as taxas de


mortalidade permaneceram em patamares bastante elevados. O resultado foi
um elevado crescimento vegetativo neste período.

c) o resultado da discrepância crescente entre a mortalidade e a natalidade foi


o aumento das taxas de crescimento vegetativo da população brasileira. Em
1940, a população total do país era de aproximadamente 41 milhões; em 1970,
de 93 milhões: um crescimento de cerca de 130% em apenas trinta anos.

d) a taxa de mortalidade infantil no Brasil está sendo reduzida


sistematicamente nos últimos decênios, estando muito próxima dos países
desenvolvidos, cujo percentual é de aproximadamente 1%.

e) A estrutura etária da população brasileira está em lenta alteração. Em 1980,


38% da população tinha entre 0 e 14 anos de idade; em 2000 esse percentual
já havia decaído para 29%. Esta mudança representa uma queda nas taxas de
mortalidade e aumento nas taxas de natalidade.

2. (UNESP-SP) Analise o gráfico.

CRÉDITO: E. Cavalcante

A partir da análise dos dados apresentados no gráfico e de seus


conhecimentos, é correto afirmar que:

a) a curva populacional da região Nordeste apresenta crescimento acentuado a


partir da década de 1970, superando a da região Sudeste.

b) a região Sul manteve constante seus índices de crescimento populacional


em todo o período analisado, espelhando um forte fluxo migratório para a
região.
c) a curva populacional da região Sudeste, a partir da década de 1980,
apresenta um crescimento mais acelerado do que a curva populacional do
Brasil.

d) apesar de as regiões Nordeste e Sudeste, na década de 1940, possuírem


números populacionais semelhantes, a curva da região Nordeste supera a da
região Sudeste a partir da década de 1970.

e) as regiões Norte e Centro-Oeste, em todo o período analisado,


apresentaram comportamentos próximos em seus números absolutos de
população.

141

3. (UEL-PR) Da Copa de 1970 à Copa de 2010, a população brasileira passou


de 93 139 037 para uma população estimada em 193 114 840 habitantes
(IBGE - Popclock em 23 jun. 2010).

Com base nos conhecimentos sobre a dinâmica do crescimento vegetativo da


população no Brasil, ao longo desses 40 anos, assinale a alternativa
CORRETA.

a) A taxa de crescimento anual da população brasileira foi maior na primeira


década do século XXI que nos anos 1970, apesar da estabilização da taxa
bruta de mortalidade.

b) A contínua redução da taxa de fecundidade explica a queda na taxa de


crescimento anual da população, apesar de o número total de habitantes ter
mais que dobrado.

c) Nas duas últimas décadas, apesar do aumento das taxas brutas de


natalidade, as taxas anuais de crescimento vegetativo da população brasileira
se estabilizaram devido ao comportamento do saldo migratório.

d ) O crescimento absoluto de aproximadamente 100 milhões de habitantes foi


proporcionado pela elevação das taxas de fecundidade no Brasil ao longo do
período.

e) O fato de a população absoluta ter mais que dobrado no período se deve ao


saldo migratório positivo ocasionado pela absorção de centenas de milhares de
imigrantes italianos e japoneses.
4. (Fuvest-SP) A imigração de italianos (desde o final do século XIX) e a de
japoneses (desde o início do século XX), no Brasil, estão associadas a:

a) uma política nacional de atração de mão de obra para a lavoura e às


transformações sociais provocadas pelo capitalismo na Itália e no Japão.

b) interesses geopolíticos do governo brasileiro e às crises industrial e política


pelas quais passavam a Itália e o Japão.

c) uma demanda de mão de obra para a indústria e às pressões políticas dos


fazendeiros do sudeste do país.

d) uma política nacional de fomento demográfico e a um acordo com a Itália e o


Japão para exportação de matérias-primas.

e) acordos internacionais que proibiram o tráfico de escravos e à política


interna de embranquecimento da população brasileira.

5. (UFPE-PE) Leia, com atenção, o texto a seguir. A população brasileira vem


apresentando transformações na sua estrutura etária ao longo das distintas
fases da transição demográfica. Diferentemente do que ocorria antes, quando a
população apresentava uma estrutura etária expressivamente jovem, realçada
em pirâmides etárias de bases amplas, na atualidade, constatam-se mudanças
significativas no formato da pirâmide. Esta progressiva ampliação da
expectativa de vida da população brasileira tem sido objeto de estudos e
conduzido a demandas de políticas públicas que atendam aos novos desafios
impostos por essa nova conjuntura e perspectiva demográfica. Comumente
essas transformações são relacionadas à atuação de cada um dos principais
componentes da dinâmica demográfica, tais como fecundidade, mortalidade e
migração.

Com base no texto e nos conhecimentos que possui sobre o tema enfocado,
analise as proposições abaixo.

- A fecundidade no Brasil foi diminuindo ao longo dos anos, basicamente como


consequência das transformações ocorridas na sociedade.

- Os avanços da Medicina e as melhorias nas condições gerais de vida da


população repercutem no sentido de elevar a média de vida do brasileiro.
- As taxas de natalidade iniciaram sua trajetória de declínio em meados de
1960, com a introdução e a difusão dos métodos anticonceptivos orais no
Brasil.

- O Brasil apresenta diminuição crescente da mortalidade infantil decorrente,


dentre outros fatores, da ampliação de acesso a serviços de saúde e
saneamento básico. Entretanto, ainda possui elevado número de óbitos quando
se compara com alguns países da América do Sul.

- A migração internacional é um dos fatores de maior impacto na composição


atual da estrutura etária e na expectativa de vida no país.

a) F-V-F-F-F.

b) V-V-V-V-F.

c) F-V-V-F-F.

d) V-F-V-V-F.

e) V-F-F-F-F.

142

6. (UPM-SP)

O Brasil em 2020

Será, é claro, um Brasil diferente sob vários aspectos. A maior parte deles,
imprevisível. Uma década é um período longo o suficiente para derrubar
certezas absolutas (ninguém prediz uma Revolução Francesa, uma queda do
Muro de Berlim ou um ataque às torres gêmeas de Nova York). Mas é também
um período de maturação dos grandes fenômenos incipientes - dez anos antes
da popularização da internet já era possível imaginar como ela mudaria o
mundo. Da mesma forma, fenômenos detectá veis hoje terão seus efeitos mais
fortes a partir de 2020.

David Cohen, Revista Época, 25/05/2009

CRÉDITO: E. Cavalcante

Com base no enunciado, observe as afirmações abaixo, assinalando V


(verdadeiro) ou F (falso).
- A diminuição da fecundidade no Brasil deve-se às transformações
econômicas e sociais que se acentuaram na primeira metade do século XX
devido à intensa necessidade de mão de obra no campo, inclusive de
mulheres, fato este que elevou o país ao patamar de agrário-exportador.

- Devido à mudança do papel social da mulher do século XX, ela deixa de viver,
exclusivamente, no núcleo familiar, ingressando no mercado de trabalho e
passando a ter acesso ao planejamento familiar e a métodos contraceptivos.
Esses aspectos, conjugados, explicam a diminuição vertiginosa das taxas de
fecundidade no Brasil.

- As quedas nas taxas de natalidade de um país levam, ao longo do tempo, ao


envelhecimento da população (realidade da maioria dos países desenvolvidos).
Neste sentido, verifica-se uma forte tendência a um mercado de trabalho
menos competitivo e exigente, demandando menos custos do Estado com os
aspectos sociais.

Dessa forma, a sequência CORRETA, de cima para baixo é:

a) V-V-V.

b) F-V-V.

c) V-V-F.

d) F-V-F.

e) V-F-V.

7. (PUC-PR) A estrutura demográfica brasileira caracteriza-se por:

a) Aumento nas taxas de fecundidade e natalidade e aumento nos indicadores


de mortalidade infantil, indicando aumento do crescimento vegetativo.

b) Aumento da fecundidade, redução da expectativa de vida e aumento das


imigrações, indicando crescimento da população adulta.

c) Aumento da expectativa de vida, diminuição das taxas de fecundidade e de


mortalidade e aumento da população com idade superior a 60 anos.

d) Aumento da natalidade e da expectativa de vida, indicando crescimento


demográfico significativo da população de 0 a 5 anos.
e) Aumento das emigrações, indicando a falta de perspectivas de vida e
decréscimo na quantidade de população jovem e adulta.

8. (FGV-SP) Analise a distribuição da PEA (População Economicamente Ativa)


por setor de atividade e assinale a alternativa que melhor explique seu
significado.

CRÉDITO: E. Cavalcante

a) Com maior contingente de trabalhadores no setor primário do que no


secundário, pode-se afirmar que o Brasil, a despeito do crescimento
econômico, ainda se mantém como uma economia agroexportadora.

b) O setor secundário emprega cerca de um terço do que emprega o setor


terciário, o que indica que a economia brasileira é assentada mais pelo capital
especulativo do que pelo capital produtivo.

c) O grande contingente de trabalhadores no setor terciário é típico de um país


urbanizado, dado que as atividades deste setor são mais intensas em cidades.

d) O setor primário emprega 20,9% da PEA, o que indica que seu


desenvolvimento é orientado por uma estrutura agrícola tradicional que
demanda mão de obra numerosa.

e) Os setores primário e secundário empregam percentuais bem inferiores da


PEA em relação ao terciário, o que é um indicador de déficit na balança
comercial, na medida em que demonstra que o país não produz a maior parte
dos produtos industriais e agrícolas para atender à demanda interna.

143

9. (UDESC-SC) Sobre a população feminina e sua participação no mercado de


trabalho, assinale a alternativa INCORRETA.

a) Chama a atenção a maior participação no mercado de trabalho das


mulheres da região Sul, onde também são verificadas as maiores taxas de
ocupação da população feminina.

b) O aumento da escolaridade feminina, a queda da fecundidade, as novas


oportunidades oferecidas pelo mercado e as mudanças nos padrões culturais
são as principais causas do aumento da participação feminina no mercado de
trabalho.

c) As mulheres vêm aumentando sua participação no mercado de trabalho nos


últimos anos.

d) "A volta ao lar" já é uma realidade absoluta para a maioria das mulheres
trabalhadoras nas grandes cidades brasileiras, fruto do desemprego e das
desigualdades salariais entre homens e mulheres.

e) As mulheres ainda hoje fazem parte da maioria que estão à procura de


emprego.

10. (UFG-GO) As migrações internas no território brasileiro tiveram papel de


destaque, com movimentos variáveis no tempo e no espaço. Os fluxos
migratórios internos, durante a década de 1990, direcionaram-se
predominantemente para:

a) o Sudeste por causa da expansão da atividade industrial.

b) as grandes metrópoles em consequência dos deslocamentos da população


rural em direção às cidades.

c) o Centro-Oeste em decorrência da Marcha para o Oeste.

d) os municípios de pequeno e médio porte, em razão do acesso ao emprego e


pelo custo de vida mais baixo.

e) o Sul, estimulados pelas políticas desenvolvidas pelo governo federal.

11. (UFSC-SC)

A maior cidade nordestina do mundo [São Paulo]. Nordestinos, cearenses,


baianos, paraí bas e demais: [...].

NEVES, Amilcar. Relatos de sonhos e de lutas. São Paulo: Estação Liberdade:


Fundação Nestlé de Cultura, 1991. p. 71.

Herdara o Santa Rosa pequeno, e fizera dele um reino, rompendo os seus


limites pela compra de propriedades anexas. Acompanhava o Paraí ba com as
várzeas extensas e entrava de caa tinga adentro.

REGO, José Lins do. Menino de engenho. São Paulo: José Olympio, 2005. p.
104.
A partir da leitura dos excertos acima, assinale: a(s) proposição(ões)
CORRETA(S).

(01) Os fluxos migratórios internos no Brasil dirigiam-se para o Sudeste,


principalmente para São Paulo.

(02) O primeiro excerto caracteriza um fluxo migratório conhecido como


migração intrarregional.

(04) O Sertão, principal sub-região econômica do Nordeste brasileiro, tem sua


economia baseada na policultura.

(08) A irrigação, a partir de açudes ou barragens, vem proporcionando o


crescimento da fruticultura na Região Norte do Brasil, principal área do
romance Menino de engenho, de José Lins do Rego.

(16) Entre as causas da configuração política e econômica do Nordeste, tal


como entendida atualmente, pode-se relacionar a decadência das oligarquias
tradicionais sob o impacto do modelo agroexportador.

(32) No Nordeste brasileiro, a transumância ocorre entre os trabalhadores,


principalmente sem qualificação, que residem no Agreste ou no Sertão e que
se deslocam para a Zona da Mata para realizar, sobretudo, o corte da cana-de-
açúcar.

144

unidade 6 - Urbanização

LEGENDA: Paisagem da cidade de Auckland, Nova Zelândia , em 2014.

CRÉDITO: Geoffrey Billing/Alamy Stock Photo/Latinstock

145

Quando pensamos em urbanização, logo pensamos em cidade. A cidade


guarda toda a complexidade e contradição do aspecto urbano. Ao observar a
paisagem de uma grande cidade, vemos construções, painéis envidraçados e o
movimento de pessoas e veículos pelas ruas, os quais refletem apenas parte
do que ela reserva em seu interior. Além disso, o modo de vida que vem
predominando na sociedade atual, as desigualdades e as relações entre as
diferentes faces do espaço urbano têm sido produzidos e reproduzidos nessas
cidades.

- A imagem abaixo mostra a paisagem da maior área metropolitana da Nova


Zelândia, a aglomeração urbana de Auckland, com cerca de 1,34 milhão de
habitantes. A formação de metrópoles como essa e de muitas outras
espalhadas pelos mais diversos países revela uma das características do
processo de urbanização ocorrido pelo mundo. Que condições uma cidade
deve reunir para ser considerada uma metrópole? Além de Auckland, diga o
nome de outras importantes metrópoles que existem no mundo e também em
nosso país.

146

A cidade

As primeiras cidades surgiram, provavelmente, há cerca de 3 500 anos a.C., na


região da Mesopotâmia, nas planícies fluviais drenadas pelos rios Tigre e
Eufrates (atual Iraque). Depois, apareceram no vale do rio Nilo, na África, e
também no vale dos rios Indo (na Índia) e Amarelo (na China). A localização
dessas cidades nas proximidades dos grandes rios tem uma explicação de
ordem geográfica-natural, como relata o texto a seguir.

[...] Essas cidades surgiram em regiões com predomínio de climas semiáridos,


daí a necessidade de se fixarem perto dos rios, repartir a água, repartir os
escassos pastos, e proceder ao aproveitamento das planícies inundáveis, ricas
em húmus e propícias ao desenvolvimento da agricultura.

[...]

SPÓSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e urbanização. São Paulo:


Contexto, 1997. p. 18.

LEGENDA: Gravura que representa a cidade de Babilônia, localizada na região


da Mesopotâmia, às margens do rio Eufrates, atualmente território do Iraque.
No século VI a.C., estava entre as maiores cidades do mundo.

CRÉDITO: Johann Bernhard Fischer von Erlach. 1721. Gravura. Coleção


particular. Foto: The Stapleton Collection/Bridgeman Images/Easypix
Além da localização geográfica, as cidades mais antigas tinham algumas
características em comum: eram governadas por reis, que também
desempenhavam o papel de chefes religiosos; apresentavam uma nítida
diferenciação entre as tarefas comunitárias, por exemplo, entre sacerdotes,
artesãos, ferreiros, agricultores, pastores e escravos; e possuíam uma clara
segregação em seu espaço interno, pois os grandes templos ficavam na parte
central, onde também moravam as pessoas mais influentes do ponto de vista
político e econômico.

Mesmo recebendo o excedente do que era produzido no campo e produzindo


de forma artesanal utensílios domésticos, ferramentas, armas etc., as cidades
da Antiguidade tinham um papel político-religioso preponderante: eram,
essencialmente, centros de poder e negócios.

Embora as primeiras cidades tenham surgido há tanto tempo, algumas delas


chegaram a ter uma população bem numerosa, como Roma, que no início da
era cristã somava mais de um milhão de habitantes. Apesar disso, a maioria da
população continuou vivendo no campo ao longo de quase toda a história da
humanidade.

Historicamente, portanto, podemos dizer que o campo precedeu a cidade,


sendo bem mais antigo que ela. Durante milênios, aliás, o campo existiu sem
as cidades, e elas, mesmo quando surgiram, não continuariam existindo sem o
campo.

LEGENDA: Escavações das ruínas da cidade de Ur, na Mesopotâmia, atual


Iraque, ocorridas entre 1922 e 1934. Os vestígios mais antigos dessa cidade
datam de cerca de 5 mil anos atrás.

CRÉDITO: De Agostini Picture Library/The Bridgeman Art Library/Keystone

147

- A economia feudal e o retrocesso urbano

No século X, já na Idade Média, com a expansão do feudalismo, as cidades


europeias passaram por um longo período de retrocesso e decadência. Como
sabemos, o modo de produção feudal se baseava quase apenas na atividade
agrícola, sustentada nos latifúndios e na servidão.
Com isso, a economia voltou-se para o interior dos feudos: quase tudo de que
se precisava (alimentos, roupas, utensílios, ferramentas etc.) era produzido e
também consumido nos limites dos feudos e nos seus arredores.

Essa economia autossuficiente, intrafeudal, sem mercados externos restringiu


muito as atividades comerciais, diminuindo a importância econômica e política
até então exercida pelas cidades.

LEGENDA: Representação do cotidiano de um feudo em Siena, entre os


séculos XIII e XIV.

CRÉDITO: Limbourg brothers. Séc. XV. Pergaminho. Musée Condé. Chantilly,


França

- O comércio e o ressurgimento das cidades

O ressurgimento do comércio mercantil, ocorrido no continente europeu por


volta do século XI, levou também ao renascimento das cidades medievais, que,
aos poucos, reconquistaram suas funções econômicas.

Com a reativação do comércio, cresceu também a produção artesanal, o que


deu aos trabalhadores artesãos a possibilidade de deixar as atividades do
campo e sobreviver do seu próprio ofício. O excedente do que era produzido,
por sua vez, passou a ser comercializado por uma nova e crescente classe
social urbana - a burguesia -, composta de mercadores e comerciantes.

Nos lugares de maior circulação, como cruzamentos de estradas, embocaduras


de rios, rotas ou caminhos já existentes, o comércio se expandiu com maior
rapidez, formando aglomerados que, mais tarde, se transformaram em cidades.
Uma malha relativamente densa de cidades se formou na parte central e
ocidental do continente europeu, algumas delas contando com dezenas de
milhares de habitantes, número expressivo para aquela época (veja tabela
abaixo).

Tabela: equivalente textual a seguir.

Importantes cidades europeias (séc. XIV e XV)

Cidade População

Paris 250 mil


Veneza 190 mil

Florença 90 mil

Bruges 80 mil

Madri 53 mil

Roma 40 mil

Nápoles 40 mil

Bruxelas 40 mil

FONTE: SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e urbanização. São Paulo: Contexto,


1997. p. 33.

A ascensão da burguesia comercial e o ressurgimento da vida urbana geraram


excedentes monetários e uma acumulação primitiva do capital que, séculos
mais tarde, levaram à desestruturação do modo de produção feudal e à sua
ruptura para o capitalismo.

148

- Capitalismo, industrialização e urbanização

No final do século XVIII, a taxa de urbanização mundial, isto é, o percentual de


pessoas que viviam nas cidades, não chegava a 3% da população total, ou
seja, de cada cem habitantes do planeta, menos de três viviam em cidades.
Ainda que o desenvolvimento da economia comercial tenha promovido o
surgimento e o crescimento de inúmeras cidades no continente europeu, a
população urbana era muito pequena em relação à população rural.

Boxe complementar:

Urbanização

Chamamos de urbanização o processo no qual a população urbana passa a


crescer de maneira mais acelerada que a população do campo. Isso pode
ocorrer com a transferência em grande escala da população do campo para as
cidades. São as migrações rural-urbanas, conhecidas nos países
subdesenvolvidos como êxodo rural.
No entanto, o processo de urbanização em um país ou em uma região não
consiste somente no crescimento das cidades, mas também no aumento da
porcentagem da sua população urbana em relação à sua população total.

Fim do complemento.

Ao se firmar como espaço da produção industrial e da força de trabalho, a


cidade passou a centralizar as atividades comerciais e de serviços,
consolidando definitivamente seu papel de comando na economia.

[...]

A cidade vai ganhando expressão à medida que nela vai se desenvolvendo a


manufatura e para ela vai convergindo a grande massa de trabalhadores
expulsos do campo. Essa massa de trabalhadores possui um sentido duplo.
Para o modo de produção nascente vão fornecer mão de obra barata
trabalhando nas manufaturas; ao tornarem-se assalariados, permitem a criação
de um mercado interno.

[...]

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade. São Paulo: Contexto, 1997. p. 65.

LEGENDA: Tela retratando a paisagem de parte da cidade de Londres,


Inglaterra, em 1822.

CRÉDITO: John O'Connor. 1884. Óleo sobre tela. Museu de Londres. Reino
Unido. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

149

Com o nascimento da indústria moderna, portanto, o processo de urbanização


se tornou mais consistente e a população urbana mundial passou a crescer em
ritmo acelerado, aumentando expressivamente ao longo de todo o século XX.
Em 1900, apenas 10% da população mundial vivia em cidades; em 1950, esse
número atingia 29%, chegando a quase 50% no final do século. As tendências
demográficas indicam que a população urbana no mundo ainda vai continuar
aumentando em relação à população rural, como podemos verificar nas
informações mostradas no gráfico abaixo.
FONTES: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects
2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wup/dataquery/. Acesso em: 17
ago. 2015. CHESNAIS, Jean-Claude. La population du monde: de l'antiquité à
2050. Paris: Bordas, 1991. p. 3; 59. CRÉDITO: E. Cavalcante

- Até a década de 1990, a maior parte da população mundial ainda vivia no


campo. No início do século XXI essa proporção se inverteu, quando a maioria
da população passou a viver nas cidades. De acordo com as projeções, reflita
sobre como serão as aglomerações urbanas em 2030 e 2050.

Boxe complementar:

Como definir uma cidade?

Não existe uma definição muito clara, nem muito precisa, sobre o que é uma
cidade. Os critérios utilizados para definir uma cidade variam muito de um país
para outro.

No Brasil, por exemplo, considera-se como cidade toda sede de município,


independentemente do tamanho de sua população. Nesse caso, as cidades
são definidas por um critério jurídico-administrativo estabelecido pela nossa
legislação.

Por esse critério, a taxa de urbanização do nosso país, calculada pelo IBGE,
levando em conta o número de pessoas que moram em cidades e também em
distritos, vilas e povoados, chega aos 85%. Esse índice é equivalente aos
verificados nos países mais industrializados e urbanizados da Europa e da
América do Norte. Mas se utilizássemos o critério adotado em outros países, a
nossa população urbana seria menor. Nos Estados Unidos, por exemplo, os
moradores que vivem em pequenas aglomerações são considerados
população rural e não urbana. Leio o texto a seguir.

[...]

A cidade é uma realização humana, uma criação que vai se constituindo ao


longo do processo histórico e que ganha materialização concreta, diferenciada,
em função de determinações históricas específicas. [...]. A cidade, em cada
uma das diferentes etapas do processo histórico, assume formas,
características e funções distintas. Ela seria, assim, em cada época, o produto
da divisão, do tipo e dos objetos de trabalho, bem como do poder nela
centralizado. Por outro lado, é necessário considerar que a cidade só pode ser
pensada na sua articulação com a sociedade global, levando-se em conta a
organização política, e a estrutura do poder da sociedade, a natureza e
repartição das atividades econômicas, as classes sociais.

Pode-se dizer, a princípio, que a cidade nasce da necessidade de se organizar


um dado espaço no sentido de integrá-lo e aumentar sua independência
visando determinado fim. Isto é, a sobrevivência do grupo no lugar, e o
rompimento do isolamento das áreas agora sob sua influência.

[...]

CARLOS, Ana Fani A. A cidade. São Paulo: Contexto, 1997. p. 57.

Fim do complemento.

150

O fenômeno desigual da urbanização

Mesmo que a população urbana no mundo venha aumentando de modo


contínuo ao longo dos últimos dois séculos, é preciso ressaltar que o processo
de urbanização tem ocorrido de maneira bastante desigual entre as diferentes
regiões e países do mundo.

Se existem países muito urbanizados, com mais de 90% de seus habitantes


residindo em cidades, ainda temos países agrários com populações
predominantemente rurais, apesar de o processo de urbanização nesses
países vir ocorrendo de modo acelerado. Observe o mapa abaixo.

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Urbanization Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wup/cd-rom/. Acesso em: 17 ago.
2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

- Urbanização nos países desenvolvidos

Como se pode constatar no mapa acima, os países mais urbanizados do


mundo, salvo algumas exceções, são aqueles que se encontram nas regiões
mais desenvolvidas e industrializadas. O processo de urbanização nesses
países ocorre há mais tempo, tendo se iniciado há mais de dois séculos com as
revoluções industriais.

Desde os séculos XVIII e XIX, à medida que esses países foram se


industrializando, as cidades geraram novos postos de trabalho não apenas na
indústria, como também nas atividades do comércio e dos serviços, atraindo
boa parte da mão de obra até então empregada no campo. Com a indústria,
houve também uma revolução agrícola, isto é, uma modernização do campo
derivada, principalmente, da mecanização das lavouras, que, como vimos,
expulsou muitos trabalhadores das áreas agrícolas.

151

Nos países onde ocorreram esses processos, sobretudo no continente


europeu, as cidades tiveram um crescimento muito acelerado, o que levou à
degradação das áreas urbanas e à deterioração da qualidade de vida das
populações urbanas.

Ainda no século XIX, as grandes cidades industriais europeias, como Londres e


Manchester (Inglaterra), Glasgow (Escócia) e Paris (França), caracterizavam-
se pela presença de bairros carentes e pelas condições insalubres que
favoreciam a proliferação de doenças e epidemias, dada a falta de saneamento
básico (água encanada, rede de esgoto) e de serviços de limpeza e coleta de
lixo.

O texto a seguir descreve algumas dessas características dos centros urbanos


industriais daquela época.

[...]

Nas novas cidades industriais, estavam ausentes as tradições mais


elementares de serviços públicos municipais. Bairros inteiros às vezes ficavam
sem água até mesmo das bicas locais. Vez por outra, os pobres tinham de sair
de casa em casa, nos bairros de classe média, a pedir água, como poderiam
pedir pão durante uma crise de alimentos. Com essa falta de água para beber
e lavar, não admira que se acumulassem as imundícies. Os esgotos abertos,
não obstante o mau cheiro que produziam, indicavam relativa prosperidade
municipal. [...]
MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e
perspectivas. Tradução Neil R. da Silva. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2004. p. 501.

LEGENDA: Representação exemplificando a proliferação das moradias de


operários e suas condições precárias em Londres, entre 1860 e 1880.

CRÉDITO: Gustave Dore. Séc. XIX. Gravura. Coleção particular. Foto:


Stapleton Collection/Corbis/Latinstock

As precárias condições de vida nesses centros urbanos, assim como o


surgimento de movimentos operários, levaram a população a conclamar não
apenas por melhores salários e direitos trabalhistas, mas também por melhores
condições de vida. Pressionados por lutas e reivindicações populares, os
governos desses países passaram a intervir nas cidades.

Aos poucos, tais intervenções melhoraram a infraestrutura geral das cidades


com a construção de moradias adequadas e áreas de lazer, ampliação das
redes de água e esgoto, melhoria no sistema viário e no transporte público,
investimentos nas áreas de educação, saúde, segurança etc. Nessas cidades,
as indústrias e as atividades terciárias (comércio e serviços) se expandiram
rapidamente, absorvendo a mão de obra proveniente do campo.

Ao mesmo tempo, outras cidades foram se desenvolvendo com a


descentralização da produção industrial e o intenso comércio gerado pela
circulação de pessoas e mercadorias, formando uma densa e articulada rede
urbana. Assim, o processo de urbanização nos países mais desenvolvidos foi
ocorrendo de forma mais equilibrada, e as cidades, dotadas dos equipamentos
e serviços urbanos necessários, cresceram de maneira mais organizada e
planejada.

De modo geral, os países desenvolvidos já estão bastante urbanizados, tendo


grande parte de sua população em áreas urbanas, como Canadá (82%),
Holanda (90%), Suécia (86%), Dinamarca (88%), Alemanha (75%), Reino
Unido (83%) e Bélgica (98%). Como as migrações do campo para as cidades já
reduziram muito nesses países, suas taxas de urbanização tendem a se
estabilizar em torno de 80% a 90%. Isso não significa, porém, que as cidades
desses países se estagnaram; elas continuam aumentando, mas em ritmo mais
lento, devido ao próprio crescimento natural da população urbana e à
imigração.

152

- Urbanização nos países subdesenvolvidos

Nos países subdesenvolvidos, a urbanização teve características bem


diferentes, se comparada com a forma clássica ocorrida no mundo
desenvolvido. Embora o processo de urbanização desses países seja
considerado tardio, iniciando-se a partir da segunda metade do século XX, ele
ocorreu de forma mais intensa e homogênea que nos países desenvolvidos.

O aumento da população urbana nesses países se deu em poucas décadas


pelo êxodo rural. Em quase todos eles, a transferência em massa da população
do campo para as cidades foi desencadeada por fatores repulsivos - típicos dos
países subdesenvolvidos -, que levaram boa parte da população rural a
abandonar o campo. Esses fatores estavam ligados às péssimas condições de
vida no campo, decorrentes do aumento da concentração fundiária, da falta de
apoio técnico e financeiro aos pequenos produtores, da baixa produtividade
das lavouras, das dificuldades econômicas etc.

Glossário:

Êxodo rural: processo social que consiste na migração em massa da população


residente na área rural para as cidades, motivada por fatores econômicos,
políticos e sociais.

Fim do glossário.

A urbanização em países de industrialização tardia

Nos países subdesenvolvidos de industrialização tardia, o processo de


urbanização também foi impulsionado pelo avanço da atividade industrial, que
atraiu um grande contingente de mão de obra do campo para os centros
urbanos e, ao mesmo tempo, promoveu a mecanização das lavouras,
expulsando das terras muitos trabalhadores. Com isso, o êxodo rural se
intensificou acelerando ainda mais o processo de urbanização. É o que ocorreu
no Brasil, no México e na Argentina, onde a taxa de urbanização se igualou ou
mesmo superou a registrada nos países desenvolvidos.
Nem todos os países urbanizados são, necessariamente, industrializados. Mas
podemos dizer que os países industrializados são urbanizados, à exceção da
China e da Índia, países que possuem as maiores populações do planeta.
Nesses dois países de industrialização também recente, o processo de
urbanização se acelerou nas últimas décadas, mas a maior parte de suas
populações ainda permanece no campo (veja tabela abaixo).

Tabela: equivalente textual a seguir.

Países: taxa de urbanização (em %)

Países de industrialização tardia

1970 1990 2015 2030*

China 17,4 26,4 49,2 68,7

Índia 19,8 25,5 32,7 39,5

Brasil 55,9 75,6 85,4 88,5

México 59,0 71,4 79,2 82,8

*Projeção.

FONTES: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: http://servicodados.ibge.gov.br/download/download.ashx?
http=1&u=biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/93/cd_2010_caracterist
icas_populacao_domicilios.pdf. Acesso em: 7 jul. 2015.

Países pouco urbanizados

Há muitos outros países subdesenvolvidos nos quais o processo de


urbanização ainda é incipiente, sobretudo naqueles que se encontram em
regiões pobres, como na África e na Ásia. Eles continuam essencialmente
agrários e dependentes de economias primárias, com a maioria de sua
população vivendo no campo. Em alguns desses países, a população urbana
não chega sequer a 20% da população total: Etiópia e Nepal (19%), Uganda
(16%), Burundi (12%). Vários desses países, porém, chamam a atenção pela
relativa rapidez com que a população urbana vem aumentando, principalmente
nas grandes metrópoles. Observe na tabela abaixo essa evolução.
Tabela: equivalente textual a seguir.

Países pouco urbanizados

1970 1990 2015 2030*

Burundi 2,8 6,3 12,1 17,3

Vietnã 18,3 20,3 33,6 43,0

Camboja 16,0 15,5 20,7 25,6

Mianmar 22,8 24,6 34,1 42,8

*Projeção.

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wup/cd-
rom/wup2014_xls_cd_files/wup2014-f02-proportion_urban.xls. Acesso em: 7
jul. 2015.

153

Contexto geográfico

Ponto de vista

Saturação das metrópoles

[...] Daqui para frente, projeções da Organização das Nações Unidas (ONU)
apontam para um aumento significativo da taxa de urbanização nas próximas
décadas, que deve atingir 59,7%, em 2030 e 69,6%, em 2050. Os novos e
antigos centros urbanos vão absorver a maior parte do crescimento que está
por vir.

Tal transformação em larga escala vai afetar, sobretudo, as regiões pobres e


emergentes mais populosas. Já fortemente urbanizados, os países mais
desenvolvidos devem experimentar um aumento relativamente pequeno do
índice de população urbana: dos 74% atuais para cerca de 85% em meados
deste século, impelindo as possibilidades de expansão ao limite. O mesmo vale
para a América Latina, em razão de sua urbanização precoce, ocorrida desde o
início do século XX, e diferente daquela dos países ricos.
Por seu lado, a África e a Ásia vão experimentar - aliás, já experimentam - uma
ruptura de equilíbrio. A população urbana africana, que foi multiplicada por
mais de dez entre 1950 e hoje (de 33 milhões para 373 milhões), chegará a 1,2
bilhão em 2050. Na Ásia, onde ela atingia 237 milhões em meados do século
passado, hoje chega a 1,6 bilhão e deverá mais que dobrar. Dessa forma, mais
da metade dos indianos vão morar em cidades, assim como quase três quartos
dos chineses e quatro quintos dos indonésios.

[...]

A urbanização extensiva de regiões pobres e emergentes revolucionou os


modos de ser e agir de grande parte da humanidade, e vai continuar a fazê-lo
cada vez mais rapidamente. Ao mesmo tempo origem e consequência das
migrações que intensifica, ela cria novas estratificações sociais e acentua o
movimento de transformação do ecossistema global pelo ser humano.

[...]

Fenômeno irreversível, a urbanização desafia nossa capacidade de produzir


bens públicos, sobretudo educação, cultura, saúde e um ambiente saudável
para o conjunto das populações, pré-requisito para o desenvolvimento
sustentável que garanta o bem-estar coletivo e, portanto, a expansão das
liberdades individuais.

[...]

GOLUB, Philip S. Saturação das metrópoles. Le Monde Diplomatique Brasil,


São Paulo, 5 mar. 2010. Disponível em: www.diplomatique.org.br/artigo.php?
id=634. Acesso em: 20 out. 2015.

LEGENDA: Cidade do Cairo, Egito, em 2011.

CRÉDITO: Alessandro Gnolfo/EyeEm/Getty Images

154

- Problemas urbanos nos países subdesenvolvidos

O intenso êxodo rural ocorrido nos países subdesenvolvidos levou ao


crescimento acelerado de muitas cidades, sobretudo dos maiores centros
urbanos, para onde os migrantes se dirigiram em busca de oportunidades de
trabalho e melhores condições de vida. Para essas pessoas, as grandes
cidades ofereciam a possibilidade de uma vida mais fácil, com acesso a bens
materiais e culturais, enfim, maiores possibilidades de progresso social.

Ao se tornarem ponto de chegada de trabalhadores vindos do campo e dos


pequenos centros urbanos, essas cidades passaram a crescer em ritmo muito
acentuado. Com isso, a urbanização nesses países ficou marcada pela
formação de metrópoles gigantescas.

LEGENDA: Em 1950, havia oito cidades no mundo com população superior a 5


milhões de habitantes. Em 2025, o mundo terá 92 cidades com esse mesmo
número de habitantes, 71 delas localizadas nos países subdesenvolvidos,
várias com mais de 10 milhões de habitantes (veja gráfico acima e, no mapa da
página 159, verifique a localização das cidades apresentadas no gráfico).

FONTE: UNITED Nations Population Division. World Urbanization Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wup/cd-
rom/wup2014_xls_cd_files/wup2014-f22-cities_over_300k_ annual.xls. Acesso
em: 18 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

O crescimento dessas cidades imensas, porém, ocorreu de maneira


desordenada, com a formação de loteamentos e bairros periféricos distantes,
muitas vezes desprovidos de infraestrutura e serviços básicos. Essa expansão
periférica se deu em grande parte pela especulação imobiliária, em que
agentes imobiliários e grandes construtoras passaram a adquirir vastas áreas
no entorno das cidades com o objetivo de aguardar a sua valorização para
então vendê-las a preços bem mais elevados, após a implantação de serviços
públicos e outras benfeitorias.

Com isso, a paisagem dessas metrópoles e de outras grandes cidades nos


países subdesenvolvidos teve como característica a formação de bairros
extremamente pobres e deteriorados, erguidos muitas vezes em áreas de risco,
como nas encostas de morros, sujeitos a deslizamentos de terra, e nas várzeas
fluviais, onde é comum a ocorrência de enchentes, como em muitas cidades
brasileiras. Esses bairros também são marcados pela falta de moradias
adequadas e pela ausência de serviços essenciais, como saneamento básico,
limpeza pública, iluminação, segurança pública etc.
155

Nessas grandes cidades, o ritmo de expansão das atividades econômicas,


tanto da indústria como do comércio e dos serviços, não foi capaz de absorver
o grande aumento da mão de obra. Essa situação gerou um problema duplo:
por um lado, aumentou as taxas de desemprego, agravando ainda mais a
situação socioeconômica da população mais pobre; por outro, provocou o
"inchaço" da economia informal ao aumentar o contingente de trabalhadores
empregados em atividades de baixa remuneração, como vendedores
ambulantes, catadores de papel e sucata etc.

Desse modo, podemos dizer que o processo de urbanização nos países


subdesenvolvidos teve como característica a deterioração da qualidade de vida
urbana, especialmente nas grandes metrópoles. Como muitas dessas cidades
continuam crescendo de maneira acelerada, a questão urbana nesses países é
um dos problemas mais complexos e preocupantes a serem enfrentados.

Boxe complementar:

América Latina: habitação e favelas

Cerca de 111 milhões de pessoas vivem em favelas nos países da América


Latina, alerta a ONU (Organização das Nações Unidas) [...] no estudo "Estado
das Cidades da América Latina e Caribe". O relatório inédito foi produzido pelo
ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos)
e informa que, até 2050, 90% da população da América Latina viverá em
cidades. No entanto, o déficit habitacional é "tão alto que poucos países podem
aspirar à universalização da habitação digna no curto ou médio prazo", alerta a
organização.

A América Latina e o Caribe são as regiões mais urbanizadas do mundo.


Atualmente, a sua população contabiliza 588 milhões de latino-americanos e
representa 8,5% da mundial. Hoje, quase 80% dos latino-americanos vivem em
cidades, o dobro do que na Ásia ou na África e um volume superior ao dos
países desenvolvidos. Em menos de quatro décadas, a população em cidades
na região deve aumentar em dez pontos percentuais. No entanto, a
desigualdade e a pobreza se expressam nas habitações precárias espalhadas
pelos centros urbanos. De acordo com o estudo, a quantidade e a qualidade de
habitações disponíveis não é suficiente para garantir condições mínimas a
todos.

[...]

ORTIZ, Fabíola. Segundo a ONU, 111 milhões de pessoas vivem em favelas


na América Latina. UOL Notícias, São Paulo, 21 ago. 2012. Disponível em:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/08/21/segundoa-onu-
111-milhoes-de-pessoas-vivem-em-favelas-na-america-latina.htm. Acesso em:
20 out. 2015.

LEGENDA: Moradias precárias e falta de infraestrutura básica em Lima, no


Peru, em 2015. Em muitas cidades, o crescimento desordenado acarreta a
ocupação indevida do solo, como na foto abaixo.

CRÉDITO: imageBROKER/Alamy Stock Photo/Latinstock

Fim do complemento.

156

Rede e hierarquia urbana

O processo de urbanização ligado ao desenvolvimento industrial acaba por


formar uma rede urbana, ou seja, um conjunto de cidades interligadas umas às
outras pelos sistemas de transportes e comunicações, por meio dos quais
circulam fluxos de pessoas, mercadorias, informações, capitais etc.

No início, essas redes se estruturaram no interior dos países conforme eles se


urbanizavam e se desenvolviam economicamente. Mas, à medida que o
processo de urbanização se difundiu pelo mundo, formou-se uma rede urbana
mundial, decorrente do aumento crescente dos fluxos no espaço geográfico
planetário, o que se deu com o advento da globalização (assunto que
estudaremos mais detalhadamente no volume 3), que tomou impulso com a
entrada do capitalismo em sua fase informacional.

Boxe complementar:

Desenvolvimento econômico e redes urbanas

Quanto mais complexa e desenvolvida a economia de um país ou de uma


região, e quanto maior a sua taxa de urbanização, maiores serão os fluxos que
circulam entre as cidades e, consequentemente, mais densa e articulada a sua
rede urbana. Por isso, as redes urbanas mais amplas e mais dinâmicas são
encontradas nas regiões mais industrializadas e urbanizadas dos países
desenvolvidos, como no nordeste e na costa oeste dos Estados Unidos, na
porção centro-ocidental do continente europeu e no sudeste do território
japonês.

Redes urbanas também importantes, porém menos expressivas, são


encontradas em outras áreas de grande concentração urbano-industrial. Como
exemplo, podemos citar as redes de cidades polarizadas por São Paulo
(Brasil), Buenos Aires (Argentina), Cidade do México (México), Mumbai (Índia)
e Jacarta (Indonésia).

Muitos outros países subdesenvolvidos, porém, como os que se apoiam em


economias agrárias e têm taxa de urbanização reduzida, apresentam redes
urbanas incipientes e desarticuladas. Em alguns casos, tais países contam com
poucas cidades dispersas pelo território, centros urbanos com populações
pouco numerosas e sem expressão econômica, sem formar, de fato, uma rede
urbana.

LEGENDA: Acima, imagem de satélite noturna da rede urbana formada entre


as cidades de Antuérpia e Bruxelas, na Bélgica, em 2014.

CRÉDITO: NASA

Fim do complemento.

157

- A hierarquia urbana

As relações que as cidades estabelecem entre si no interior de uma rede


urbana são hierárquicas, com cidades que estão na base dessa hierarquia e
outras que estão no topo. Nessa hierarquia urbana, a posição de uma cidade
vai depender do papel que ela desempenha como centro polarizador,
influenciando uma área maior ou menor, conforme seu poder de atração. Esse
poder é determinado, principalmente, pela quantidade e pela complexidade de
bens, serviços e equipamentos oferecidos por essa cidade polarizadora.
Sendo assim, na base dessa hierarquia urbana, encontram-se as cidades
menores, que existem em grande número e que, em geral, oferecem os
serviços mais básicos, exercendo influência restrita sobre as áreas mais
próximas. No topo dessa hierarquia, estão as cidades que exercem influência
sobre outras cidades, por oferecerem enorme gama de bens e serviços,
inclusive os mais especializados (centros médico-hospitalares complexos,
centros tecnológicos e financeiros, universidades, institutos de pesquisas etc.).

Do século XIX a meados da década de 1970, a concepção de hierarquia


urbana utilizada se baseava em um modelo rígido, verticalizado, em que uma
vila seria influenciada por uma cidade maior, que seria influenciada por outra
maior ainda, e assim por diante (figura A).

O crescente avanço tecnológico ocorrido com a revolução técnico-científica das


últimas décadas alterou profundamente as relações entre as cidades. Esses
avanços tecnológicos promoveram uma intensa modernização nos sistemas de
telecomunicações e de transportes, provocando um "encurtamento" do tempo e
das distâncias. A transmissão praticamente instantânea das informações e a
possibilidade de viagens em meios de transportes cada vez mais rápidos a
custos cada vez menores tornaram mais intensas e mais complexas as
relações entre as diferentes localidades geográficas.

Isso levou à configuração de uma nova hierarquia urbana, em que os núcleos


urbanos menores (vilas, povoados, cidades pequenas) podem se relacionar
não apenas com a cidade maior mais próxima, mas também com uma
metrópole, mesmo ela estando a muitos quilômetros de distância. Caso os
moradores desses núcleos tenham acesso a certos recursos tecnológicos,
como sistemas de telefonia - fixa e/ou móvel -, internet, antena parabólica etc.,
eles podem estar mais integrados à grande metrópole do que os próprios
moradores dessas grandes aglomerações que não disponham de tais recursos
(figura B).

Desse modo, o que separa as cidades e determina a relação hierárquica entre


elas não é mais a distância física, mas sim a possibilidade de acesso às novas
tecnologias, o que é determinado, em grande parte, pela maior ou menor
disponibilidade de renda de seus habitantes.
FONTE: Ilustração produzida com base em: SANTOS, Milton. Metamorfoses do
espaço habitado. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 55. CRÉDITO: Renan
Fonseca

158

Conurbação, metrópoles e megalópoles

As cidades mais influentes e mais importantes na hierarquia da rede urbana de


um país são as metrópoles: cidades muito populosas, geralmente mais bem
dotadas de equipamentos urbanos, que constituem importantes centros de
consumo e concentram intensa atividade econômica. Além de abrigar a sede
das principais empresas, essas cidades também oferecem os mais diversos e
especializados serviços, como grandes bancos, corretoras e bolsas de valores
(setor financeiro), clínicas, laboratórios e hospitais avançados de referência
(serviços médico-hospitalares), universidades, centros tecnológicos, institutos
de pesquisas (educação) etc. Por isso, as metrópoles exercem grande
influência sobre as demais cidades da rede urbana que se encontram
espalhadas por uma vasta área geográfica.

A formação de uma metrópole ocorre com a expansão horizontal do seu sítio


urbano (área efetivamente ocupada por uma cidade), que cresce tanto a ponto
de se encontrar com cidades vizinhas. Esse processo de união entre duas ou
mais cidades, chamado conurbação, forma imensas áreas urbanizadas, onde,
em geral, fica difícil distinguir os limites que separam uma cidade da outra.

Quando duas ou mais metrópoles e suas respectivas cidades vizinhas crescem


a ponto de se unirem em uma gigantesca área urbanizada, temos a formação
de uma megalópole ("mega": grande, "polis": cidade). O mapa abaixo mostra a
área ocupada pela maior megalópole do mundo, conhecida como BosWash,
que se estende de Boston (Bos) até Washington (Wash), no nordeste dos
Estados Unidos.

FONTES: REFERENCE atlas of the world. 9. ed. London: Dorling Kindersley,


2013. 1 atlas. Escalas variam. U. S. Census Bureau. Disponível em:
http://quickfacts.census.gov/. Acesso em: 10 nov. 2015. CRÉDITO: E.
Cavalcante

- Cidades globais e megacidades


À medida que a produção econômica se dispersa pelo mundo, os espaços
mundiais vão estabelecendo relações entre si, formando uma complexa rede
geográfica. Os pontos que articulam essa rede geográfica são formados pelas
chamadas cidades globais, centros urbanos que concentram o grande poder
econômico de empresas transnacionais e que, por isso, exercem papel de
comando na organização da economia mundial.

São cidades que concentram os principais centros financeiros e bancários do


mundo. Configuram-se, também, como polos irradiadores das inovações
tecnológicas (que movem o processo de globalização), criadas nos mais
avançados centros e institutos de pesquisa sediados nessas mesmas cidades.
Como a área de influência delas alcança uma vasta porção do nosso planeta,
elas também são denominadas metrópoles mundiais.

O conceito de cidade global expressa uma ideia qualitativa, que procura


mostrar a importância e a influência mundial de certas cidades. Não é um
conceito quantitativo ou meramente demográfico, haja vista que algumas
cidades globais nem são tão populosas, a exemplo de Zurique, na Suíça, com
pouco mais de 1,2 milhão de habitantes (veja foto da próxima página), e de
Bruxelas, na Bélgica, com uma população em torno de 2 milhões de habitantes.
O que as torna cidades globais é o papel político, econômico, financeiro e
tecnológico que exercem em escala mundial.

Glossário:

Transnacional: tipo de empresa também conhecida como multinacional, com


filiais instaladas em diversos países do mundo; é originária, em geral, de
países desenvolvidos, e tem seus produtos comercializados pelo mundo todo.

Fim do glossário.

159

Embora algumas das cidades globais também sejam consideradas


megacidades, é preciso fazer uma distinção conceitual importante. Se as
cidades globais são definidas pelo seu caráter qualitativo, pelo poder de
influência que exercem sobre vastas áreas do nosso planeta, as megacidades
são definidas estritamente pelo critério quantitativo, ou seja, pelo seu
contingente demográfico. Segundo o conceito utilizado pela Organização das
Nações Unidas (ONU), megacidades são aglomerações urbanas com mais de
10 milhões de habitantes.

LEGENDA: Acima, paisagem de parte da cidade de Zurique, Suíça, em 2014.

CRÉDITO: Joana Kruse/Alamy Stock Photo/Latinstock

Com base nesses critérios, as aglomerações de Nova York, Tóquio e São


Paulo são tanto cidades globais, devido ao poder de influência que exercem,
quanto megacidades, devido ao grande número de habitantes que possuem. Já
a cidade de Lagos, capital da Nigéria, mesmo com 13,1 milhões de moradores,
pode ser considerada apenas uma megacidade, dada sua reduzida influência
no mundo. Veja no mapa a distribuição geográfica das cidades globais e das
megacidades.

Observação:

De acordo com a concentração de equipamentos modernos, a sofisticação de


serviços oferecidos, a presença de centros universitários e institutos de
pesquisa de alta tecnologia, a densidade e a qualidade das redes e dos
serviços de transportes e de comunicações, o poder de influência que as
cidades globais exercem no espaço mundial pode ser maior ou menor.
Considerando essa influência, as cidades globais podem ser classificadas em
três níveis: alfa, beta e gama. As cidades alfa são as mais importantes porque
suas áreas de influência têm alcance mundial; entre elas temos Nova York,
Londres, Paris e Tóquio. As cidades beta apresentam capacidade de influência
intermediária, como Roma, Atenas e Cairo. As cidades gama, por sua vez,
possuem menor capacidade de influência em relação aos dois outros grupos,
entre elas estão Antuérpia (Bélgica), Doha (Catar), Nairóbi (Quênia) e Valência
(Espanha).

Fim da observação.

FONTES: UNITED Nations Population Division. World Urbanization Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/wpp/. Acesso em: 18 ago. 2015.
GLOBALIZATION and World Cities (GaWC). Disponível em:
www.lboro.ac.uk/gawc/world2012t.html. Acesso em: 18 ago. 2015. CRÉDITO:
E. Cavalcante
160

Infográfico

MEGACIDADES: FORMIGUEIROS HUMANOS

Cerca de 439 milhões de pessoas estão vivendo atualmente em 29


megacidades espalhadas pelo mundo. Veja no mapa a localização dessas
cidades.

FONTES: UNITED Nations Population Division. World Urbanization Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wpp/dvd/files/1_indicators
%20(standard)/excel_files/1_population/wpp2015_pop_f01_1_total_population_
both_sexes.xls. Acesso em: 22 fev. 2016. THE ECONOMIST. Bright lights, big
cities. Disponível em: www.economist.com/node/21642053. Acesso em: 22 fev.
2016. CRÉDITO: Paula Radi

Crescimento acelerado

Em 1950, somente as cidades de Nova York e Tóquio somavam, cada uma,


mais de 10 milhões de habitantes. Desde então, o número de megacidades
vem aumentando década a década. As estimativas indicam que em 2030
haverá 41 megacidades no mundo. Juntas, essas megacidades vão abrigar
cerca de 730 milhões de pessoas.

161

162

Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Descreva, sinteticamente, as principais características das organizações


urbanas da Antiguidade.

2. Com a expansão do feudalismo, as cidades europeias passaram por um


longo período de retrocesso e decadência. Explique por que isso ocorreu.

3. Explique a relação entre urbanização e industrialização.

4. Selecione palavras-chave que caracterizem o processo de urbanização:


a) nos países desenvolvidos;

b) nos países subdesenvolvidos.

5. Nos países subdesenvolvidos, a transferência em massa de trabalhadores


do campo para as cidades foi geralmente desencadeada por vários fatores
repulsivos que levaram boa parte da população rural a abandonar o campo.
Identifique esses fatores.

6. Cite alguns problemas urbanos decorrentes do crescimento desordenado


das cidades nos países subdesenvolvidos.

7. Defina rede urbana. Dê exemplos de redes urbanas mais densas e


articuladas e de redes menos expressivas.

8. Cite os fatores que estabelecem uma hierarquia urbana.

9. Diferencie:

a) cidades globais;

b) megacidades.

Expandindo o conteúdo

10. Analise a tabela.

Tabela: equivalente textual a seguir.

Cidade com mais de 5 milhões de habitantes

Ano Países desenvolvidos Países subdesenvolvidos Total

1950 5 2 7

1980 8 16 24

2015 18 53 71

CRÉDITO: UNITED Nations Population Division. World Urbanization Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wup/cd-
rom/wup2014_xls_cd_files/wup2014-f22-cities_over_300k_annual.xls. Acesso
em: 17 ago. 2015.

a) O que ocorreu com o número de cidades com mais de 5 milhões de


habitantes ao longo do período representado?
b) Há diferença, em relação a esse fenômeno, entre os países desenvolvidos e
subdesenvolvidos? Justifique sua resposta.

c) Explique a estabilização urbana nos países desenvolvidos.

11. Leia o texto e responda às questões a seguir.

O desafio das megacidades

[...]

As megacidades são mais do que apenas grandes cidades. Suas dimensões


proporcionam novas dinâmicas e uma diferente complexidade e simultaneidade
de fenômenos e processos - físicos, sociais e econômicos. Elas também são
palco de interações intensas e intrincadas entre diferentes processos
demográficos, sociais, políticos, econômicos e ecológicos. Naquelas que
apresentam períodos de elevado crescimento econômico surgem
frequentemente oportunidades consideráveis, bem como fortes pressões no
sentido de mudanças, geralmente acompanhadas por degradação ambiental.

No mundo em desenvolvimento, as megacidades tendem a crescer mais


rapidamente do que o dimensionamento de suas infraestruturas o permitiria.
Essa expansão descontrolada pode originar grandes volumes de tráfego,
elevadas concentrações industriais e sobrecargas ambientais; pode desregular
e inflacionar os mercados imobiliários, levar a um planejamento habitacional
deficiente e, em alguns casos, originar o convívio lado a lado de situações
extremas de pobreza e riqueza, promovendo tensões sociais.

163

As megacidades caracterizam-se por uma enorme diversidade demográfica.


Nelas coexistem com frequência grupos de várias etnias, comunidades e
estratos sociais com diferentes raízes culturais e estilos de vida. Devem ainda
ser consideradas as variações de crescimento econômico, a polarização social,
a qualidade das infraestruturas e de intervenção pública.

Tal escala e dinamismo, a complexa interação de processos e a concentração


absoluta de capital humano tornam as megacidades incubadoras de enorme
crescimento e inovação. Elas são os focos da globalização, bem como os
motores para o desenvolvimento; é nelas que se encontra um vasto leque de
capacidade e de potencial humano, criatividade, interação social e diversidade
cultural.

[...] Contudo, para muitos moradores das megacidades, sejam eles ricos ou
pobres, a qualidade de vida é habitualmente reduzida. A poluição do ar, da
água e dos solos, as deficiências nos abastecimentos de água e de energia, o
congestionamento do tráfego, os problemas de saúde ambiental, a exiguidade
dos espaços verdes, a pobreza e a má nutrição, a segurança social e os
problemas de segurança pública e social resultam em várias preocupações e
restrições aos habitantes. [...]

Como poderemos alcançar megacidades mais sustentáveis, mais seguras e


onde se verifique uma utilização mais equilibrada dos recursos?

[...]

O DESAFIO das megacidades. Revista Planeta, São Paulo, ed. 437, fev. 2009.
Disponível em: http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/unesco-planeta/o-
desafio-das-megacidades. Acesso em: 20 out. 2015.

a) O que são megacidades? Cite algumas delas.

b) Devido ao crescimento desordenado de muitas megacidades, seus


habitantes convivem com diferentes problemas. Descreva alguns deles.

c) De acordo com o texto, as megacidades são "os focos da globalização".


Explique por quê.

d) Em sua opinião, quais desafios as megacidades precisam superar? Elabore


um texto argumentativo, expressando suas ideias sobre esse tema e, depois,
apresente-o aos colegas da sala.

LEGENDA: Vista de caos urbano em Calcutá, Índia, em 2013.

CRÉDITO: D Chakraborty/Demotix/Corbis/Latinstock

164

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

Turismo de favela
É cada vez maior o número de pessoas que buscam o turismo de favela, ou
turismo da miséria, no Rio de Janeiro. As paisagens compostas de casas
amontoadas e de ruas estreitas e o cotidiano simples de seus moradores vêm
atraindo estrangeiros de diferentes lugares do mundo. Leia o texto a seguir,
que mostra parte de uma entrevista realizada com a antropóloga Bianca Freire-
Medeiros.

[...] O chamado turismo de favela, ou turismo da miséria, é um fenômeno em


expansão, como atesta [...] a antropóloga Bianca Freire-Medeiros. Por mais
estranho que possa parecer, a violência é, na visão da pesquisadora, o que
mais seduz os turistas. [...] Só a favela da Rocinha, destino favorito no Rio,
recebe cerca de 3 500 visitantes por mês, a maior parte vinda da Europa e dos
Estados Unidos. [...]

Como teve início o turismo da miséria?

O turismo em favela tem como antecedente histórico a prática do slumming,


termo com registro em dicionário, realizada pelas elites inglesas da era
vitoriana, nos anos de 1880. Os ricos iam visitar, por curiosidade ou caridade,
os espaços segregados da cidade. Era quase como se fossem às colônias - de
chineses, italianos e outros. Virou moda fazer essas visitas. Isso dura até os
anos 1920. A situação contemporânea começou por volta de 1990. No Rio de
Janeiro, há um mito de origem, segundo o qual o turismo em favela começou
com a ECO 92, quando se passou a levar estrangeiros à Rocinha - pessoas
ligadas em ecologia e interessadas em alternativas ao turismo de massa. Na
África do Sul, esse tipo de turismo teve início com fim do Apartheid, em 1994, e
os roteiros turísticos para as townships, localidades que até então estavam
isoladas.

[...]

Que imagens os turistas mais fotografam?

O que se vê é um interesse primordial pelas habitações. Acho que é


impactante para quem vem de formas urbanas mais organizadas pensar como
é possível haver tantas construções desalinhadas e como se faz tanta coisa em
espaços exíguos. [...]

É por uma questão econômica que a favela abre as portas para o turismo?
Olha, essa foi uma questão que me impressionou muito. A maior justificativa
para receber o turista seria o dinheiro que ele traz. Mas essa não é a prioridade
dos moradores. O que eles dizem é que a oportunidade que o turismo
proporciona é de construir uma representação diferente da favela. Uma
imagem positiva. [...] O morador não é otário. Ele sabe que o turista vai lá
querendo ver o tráfico, querendo ver a arma, mas aí eles têm a chance de
mostrar que a favela não é só isso.

[...]

MAIA, Maria Carolina. Turismo de favela: violência atrai visitantes. Veja, São
Paulo, 17 fev. 2010. Disponível em:
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/turismo-favela-violencia-atrai-visitantes.
Acesso em: 20 out. 2015.

165

A Geografia no cinema

Quem quer ser um milionário?

CRÉDITO: Filme de Danny Boyle. Quem quer ser um milionário?. EUA e Reino
Unido. 2009

Título: Quem quer ser um milionário?

Diretor: Danny Boyle

Principais atores: Dev Patel, Freida Pinto e Anil Kapoor

Ano: 2009

Duração: 120 minutos

Origem: Estados Unidos e Reino Unido

Jamal Malik é um rapaz pobre de 18 anos que cresceu em meio às favelas de


Mumbai, na Índia. Ao participar de um programa de televisão, em que concorre
a um prêmio milionário, Jamal utiliza diversos conhecimentos que adquiriu ao
longo de sua vida para responder às perguntas do jogo. No entanto, muitas
pessoas não acreditam que um rapaz de origem pobre como ele pode dominar
tanta cultura.

Esse filme retrata a miséria e a violência existentes nas favelas de Mumbai.


Para assistir

- DIÁRIOS de motocicleta. Direção: Walter Salles. Focus Features, 2004.

O filme apresenta parte da vida do jovem Che Guevara, em 1952, quando


decide, junto com seu amigo Alberto Granado, realizar uma viagem por
algumas regiões da América Latina.

Durante essa viagem, além de conhecer diversas paisagens, os amigos


reconhecem aspectos que marcam a vida de habitantes de países latinos,
entre eles a desigualdade social.

Para ler

- BRANCO, Samuel M. Ecologia da cidade. 25. ed. São Paulo: Moderna, 2003.

- CORRÊA, Roberto L. O espaço urbano. 4. ed. São Paulo: Ática, 1999.

- MORENO, Júlio. O futuro das cidades. São Paulo: Senac, 2009.

- SCARLATO, Francisco C.; PONTIN, Joel A. O ambiente urbano. São Paulo:


Atual, 2011.

- SPOSITO, Maria Encarnação B. Capitalismo e urbanização. São Paulo:


Contexto, 2000.

Para navegar

- BRASIL. Ministério das cidades. Disponível em: http://tub.im/n8or6c. Acesso


em: 25 set. 2015.

- E-METROPOLIS - Revista Eletrônica de Estudos Urbanos e Regionais.


Disponível em: http://tub.im/dpmwvo. Acesso em: 25 set. 2015.

- METRÓPOLE Estadão. Disponível em: http://tub.im/xv4v7u. Acesso em: 16


out. 2015.

- UNIVERSIDADE de São Paulo (USP). Urbanização. Disponível em:


http://tub.im/eayfva. Acesso em: 25 set. 2015.

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Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.


1. (UDESC-SC) As primeiras cidades, como Ur e Babilônia, surgiram na
Mesopotâmia, nos vales dos rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque. Acredita-se
que, por volta de 2500 a.C., Ur chegou a ter 50 mil habitantes e Babilônia, 80
mil. Sobre o aparecimento e crescimento das cidades, é correto afirmar que:

I. as cidades surgiram no momento em que algumas sociedades passaram a


ter condições de produzir alimentos suficientes para garantir a subsistência dos
agricultores e abastecer moradores urbanos que, assim, puderam dedicar-se a
outras atividades;

II. no desenvolvimento histórico das cidades, elas passaram a ser o lugar por
excelência do comércio, do artesanato e, principalmente, passaram a ser o
lugar do poder;

III. depois que a humanidade criou as cidades, elas nunca mais pararam de
crescer, sobretudo as cidades ocidentais que, durante a Idade Média, se
reproduziram como nunca;

IV. as principais cidades da Antiguidade eram aquelas com um papel político


importante. O próprio termo "capital" é derivado do latim caput, que significa
"cabeça";

V. renascimento urbano é o termo usado para explicar o enorme crescimento


das cidades, ocorrido na era Contemporânea; tal era foi marcada pela
metropolização das capitais no mundo inteiro.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas II e V são verdadeiras.

d) Somente a afirmativa I é verdadeira.

e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

2. (UFAL-AL) Sobre o tema "Urbanização", analise as afirmações a seguir.

1. A partir do final do século XIX, houve nos países desenvolvidos um processo


de suburbanização da população de maior poder aquisitivo, que procurava
distanciar-se das concentrações populacionais e industriais e dos problemas
ambientais dos centros urbanos.

2. A partir da década de 1950, houve uma ampliação considerável da superfície


ocupada pelas cidades nos países subdesenvolvidos, num ritmo muito mais
intenso do que o verificado nos países onde a urbanização acontecera há mais
tempo.

3. Toda cidade é uma forma de organização complexa, do ponto de vista


socioespacial, pois seu desenvolvimento depende da infraestrutura
administrativa, cultural e tecnológica.

4. A cidade surgiu com as primeiras civilizações da Antiguidade, mas foi a partir


da Revolução Industrial que surgiu o maior desenvolvimento urbano de toda a
História da humanidade.

Está(ão) CORRETA(S):

a) 4 apenas.

b) 1 e 2 apenas.

c) 1, 2 e 4 apenas.

d) 2, 3 e 4 apenas.

e) 1, 2, 3 e 4.

3. (UERJ-RJ)

De Karl Marx a Max Weber, a teoria social clássica acreditava que as grandes
cidades do futuro seguiriam os passos industrializantes de Manchester, Berlim
e Chicago - e, com efeito, Los Angeles, São Paulo e Pusan (Coreia do Sul)
aproximaram-se de certa forma dessa trajetória. No entanto, a maioria das
cidades do hemisfério sul se parece mais com Dublin na época vitoriana, que,
como enfatizou o historiador Emmet Larkin, não teve igual em meio a "todos os
montes de cortiços produzidos pelo mundo ocidental no século XIX, uma vez
que os seus cortiços não foram produto da Revolução Industrial".

Adaptado de Planeta favela. São Paulo: Boitempo, 2006.


De forma diferente do que ocorreu nos países desenvolvidos, o crescimento
das cidades na maior parte dos países subdesenvolvidos está relacionado ao
processo de:

a) periferização da atividade industrial, com intensos fluxos pendulares.

b) urbanização fundamentada no setor terciário, com alto nível de


informalidade.

c) favelização nas periferias, com predomínio de empregos no setor industrial


de base.

d) metropolização em um ponto do território, com população absorvida pelo


setor quaternário.

167

4. (UFC-CE) O processo de urbanização é um dos traços marcantes do mundo


contemporâneo presente em países desenvolvidos e subdesenvolvidos,
entretanto, a urbanização apresenta características distintas em cada uma
dessas realidades. Analise as afirmações abaixo sobre essas características.

I. Nos países desenvolvidos, as cidades estruturam-se gradativamente para


absorver os migrantes e, por conseguinte, melhoram as condições de moradia,
de serviços e a oferta de emprego.

II. Nos países subdesenvolvidos, a urbanização acelerada está associada às


péssimas condições de vida no campo e à estrutura fundiária concentrada, o
que estimula o êxodo rural.

III. Nos países subdesenvolvidos, o rápido e desordenado crescimento das


cidades deu origem ao fenômeno denominado macrocefalia urbana.

IV. Nos países desenvolvidos, a urbanização está relacionada à presença da


indústria na cidade e à ausência de técnicas modernas no campo, o que
acentuou a migração rural-urbana.

Assinale a alternativa CORRETA .

a) Apenas II é verdadeira.

b) Apenas I e II são verdadeiras.

c) Apenas I, II e IV são verdadeiras.


d) Apenas I, II e III são verdadeiras.

e) Apenas II, III e IV são verdadeiras.

5. (UTFPR-PR) Assinale a alternativa que NÃO contém características corretas


da urbanização no contexto atual.

a) Em alguns países desenvolvidos, como os que constituem o Reino Unido, a


urbanização já cessou, restringe-se apenas a um limitado crescimento urbano,
que decorre do crescimento vegetativo da população e da imigração.

b) O primeiro requisito para uma cidade global é a centralidade: deve estar


localizada nos núcleos densos de economias nacionais de grande porte, que
estejam dinamicamente inseridas na globalização.

c) As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro integram uma complexa região


urbana, a qual desempenha na América do Sul o papel de cidade global.

d) No Brasil, a insuficiência dos recursos aplicados na infraestrutura urbana


decorre da rápida expansão das cidades.

e) O desenvolvimento do capitalismo sempre gera industrialização e


urbanização de maneira uniforme e controlada em todos os países do mundo.

6. (UERJ-RJ)

E os governos do Terceiro Mundo sabem ainda menos sobre as suas fronteiras


urbanas, esses estranhos limbos onde se faz a transição entre cidades
ruralizadas e campos urbanizados. A orla urbana é a zona de impacto social
onde a força centrífuga da cidade colide com a implosão do campo.

MIKE DAVIS Adaptado de Planeta favela. São Paulo: Boitempo, 2006.

O trecho sublinhado sugere que a orla urbana das grandes metrópoles do


Terceiro Mundo é a expressão espacial da convergência de dois processos.
Esses dois processos, significativos na segunda metade do século XX, são:

a) verticalização e imigração.

b) periferização e êxodo rural.

c) conurbação e migração pendular.

d) industrialização e tráfico de mão de obra.


7. (UNESP-SP) Correlacione os conceitos a seguir:

I. Urbanização;

II. Rede urbana;

III. Hierarquia urbana;

IV. Polarização e

V. Metrópole.

- As aglomerações urbanas mantêm e reforçam laços interdependentes entre si


e com outras áreas que elas atraem. Estas áreas que sofrem atração podem,
às vezes, pertencer a regiões homogêneas diversas. Estas áreas criam um
sistema urbano regional mais bem definido. Portanto, as regiões, de forma
geral, nada mais são que recortes territoriais destas áreas.

168

- A característica marcante da estrutura dos sistemas de cidades que varia de


acordo com seu tamanho, com a extensão de sua área de influência espacial e
com a sua qualidade funcional no que se refere aos fluxos de bens, de
pessoas, de capital e de serviços. No esquema atual das relações entre as
cidades, uma vila pode se relacionar diretamente com a metrópole nacional, ao
contrário do esquema clássico, onde a vila se relaciona, primeiramente, com a
cidade local, depois com o centro regional e, em sequência, com a metrópole
regional e nacional.

- O processo vinculado às transformações sociais que provocam a mobilização


de pessoas, geralmente, de espaços rurais para centros urbanos. Essa
mobilização de pessoas é motivada pela busca por estratégias de
sobrevivência, visando à inserção no mercado de trabalho bem como na vida
social e cultural do centro urbano.

- O conjunto articulado ou integrado de áreas urbanas que cobrem um


determinado espaço geográfico e que se relacionam continuamente.

- O termo empregado para cidade central de uma determinada região


geográfica, densamente urbanizada, que assume posição de destaque na
economia, na política, na vida cultural etc. A mancha urbana é formada,
geralmente, por cidades com tendência ao fenômeno de conurbação. Vários
municípios formam uma grande comunidade, interdependente entre si e com a
preocupação de resolver os problemas de interesse comum.

A sequência correta obtida a partir da correlação entre os conceitos e as


definições é:

a) I, II, IV, V, III.

b) II, V, I, III, IV.

c) IV, III, I, II, V.

d) III, IV, I, II, V.

e) IV, I, V, II, III.

8. (ENEM-MEC) As cidades não são entidades isoladas, mas interagem entre


si e articulam-se de maneira cada vez mais complexa à medida que as funções
urbanas e as atividades econômicas se diversificam e sua população cresce.
Intensificam-se os fluxos de informação, pessoas, capital, mercadorias e
serviços que ligam as cidades em redes urbanas.

Sobre esse processo de complexificação dos espaços urbanos é correto


afirmar que:

a) a centralidade urbana das pequenas cidades é função da sua capacidade de


captar o excedente agrícola das áreas circundantes e mantê-lo em seus
estabelecimentos comerciais.

b) as grandes redes de supermercados organizam redes urbanas, pois seus


esquemas de distribuição atacadista e varejista circulam pelas cidades e
fortalecem sua centralidade.

c) as capitais nacionais são sempre as grandes metrópoles, pois concentram o


poder de gestão sobre o território de um país, além de exportarem bens e
serviços.

d) o desenvolvimento das técnicas de comunicação, transporte e gestão


permitiu a formação de redes urbanas regionais e nacionais articuladas a redes
internacionais e cidades globais.
e) a descentralização das atividades e serviços para cidades menores ocasiona
perda de poder econômico e político das cidades hegemônicas das redes
urbanas.

9. (ENEM-MEC)

Além dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrônicos, o automóvel


produzido pela indústria fordista promoveu, a partir dos anos 50, mudanças
significativas no modo de vida dos consumidores e também na habitação e nas
cidades. Com a massificação do consumo dos bens modernos, dos
eletroeletrônicos e também do automóvel, mudaram radicalmente o modo de
vida, os valores, a cultura e o conjunto do ambiente construído. Da ocupação
do solo urbano até o interior da moradia, a transformação foi profunda.

MARICATO, E. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles


brasileiras. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 12 ago. 2009
(adaptado).

Uma das consequências das inovações tecnológicas das últimas décadas, que
determinaram diferentes formas de uso e ocupação do espaço geográfico, é a
instituição das chamadas cidades globais, que se caracterizam por:

a) possuírem o mesmo nível de influência no cenário mundial.

b) fortalecerem os laços de cidadania e solidariedade entre os membros das


diversas comunidades.

c) constituírem um passo importante para a diminuição das desigualdades


sociais causadas pela polarização social e pela segregação urbana.

d) terem sido diretamente impactadas pelo processo de internacionalização da


economia, desencadeado a partir do final dos anos 1970.

e) terem sua origem diretamente relacionada ao processo de colonização


ocidental do século XIX.

169

10. (UFG-GO) A polarização que os centros urbanos exercem uns sobre os


outros determina a hierarquia urbana, em escala nacional. Nessa perspectiva,
a concepção de metrópole regional abrange:
a) extensas regiões, com influências que ultrapassam o limite estadual.

b) cidades menores e vilas dentro de um limite determinado pelo centro


regional.

c) distritos, povoados, comunidades rurais e áreas vizinhas, no limite municipal.

d ) todo o território nacional, direcionando a vida econômica e social.

e) centros regionais menores, com raio de ação inferior à esfera estadual.

11. (FGV-RJ)

Vivemos numa era verdadeiramente global, em que o global se manifesta


horizontalmente e não por meio de sistemas de integração verticais, como o
Fundo Monetário Internacional e o sistema financeiro. Muito da literatura sobre
a globalização foi incapaz de ver que o global se constitui nesses densos
ambientes locais.

Saskia Sassen, 13 de agosto de 2011.


www.estadao.com.br/noticias/suplementos,a-globalizacao-do-protesto,
758135,0.htm

Assinale a alternativa que contém uma proposição coerente com os


argumentos apresentados no texto:

a) As metrópoles não apenas sofrem os efeitos da globalização, mas são


espaços que produzem a globalização.

b) As forças globais, tais como o FMI e os sistemas financeiros, não afetam os


ambientes locais, desde que eles sejam densos.

c) Na escala global, os agentes operam horizontalmente, enquanto, na escala


local, os agentes operam verticalmente.

d) A noção de escala global deixou de ter importância em geografia, já que o


global só se revela por meio do local.

e) A globalização conferiu densidade a todos os ambientes locais, na medida


em que suas forças atingem todos os lugares.

12. (UEL-PR) Sobre o conceito de cidades globais e megacidades, considere


as afirmativas a seguir.
I. As cidades globais possuem grande influência regional, nacional e
internacional e, de acordo com a influência que desempenham na esfera
global, são classificadas em três grupos: alfa, beta e gama.

II. As megacidades mundiais, a exemplo de Rio de Janeiro, Buenos Aires e


Jacarta, também são cidades globais por apresentarem uma grande
concentração populacional.

III. O grupo alfa representa cidades de maior influência no cenário global, a


exemplo de Londres, Paris, Frankfurt, Milão (europeias), além de Nova York,
Tóquio, Los Angeles, Chicago, Hong Kong e Singapura.

IV. Tanto as cidades globais como as megacidades recebem seu nome por
apresentarem grande concentração de riquezas distribuídas de maneira
uniforme entre seus habitantes.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e III são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

13. (FGV-SP) As chamadas cidades globais, como São Paulo, não são apenas
cidades grandes, mas exercem funções específicas no mundo globalizado.
Assinale a alternativa que menos caracteriza uma cidade global.

a) Cidades globais têm conexão direta com o mundo financeiro, por intermédio,
sobretudo, da Bolsa de Valores.

b) Cidades globais abrigam sedes administrativas de grandes empresas


transnacionais.

c) Cidades globais caracterizam-se por dispor de infraestrutura sofisticada


voltada ao setor de serviços e comunicação.

d) Cidades globais caracterizam-se por sediarem importantes portos de grande


fluxo comercial.
e) Cidades globais costumam sediar grandes eventos políticos, comerciais,
esportivos e culturais.

170

unidade 7 - Urbanização e industrialização no Brasil

LEGENDA: O Brasil urbano e industrial tem sido construído pelas mãos de


muitos brasileiros, como os operários da construção mostrada nessa imagem,
na cidade de São Paulo, em 2012.

CRÉDITO: Delfim Martins/Pulsar

171

Os processos de urbanização e industrialização em nosso país ocorreram de


maneira intensa, tendo sido iniciados há aproximadamente um século. Desde
então, o Brasil passou por uma curva muito acentuada de desenvolvimento
urbano-industrial, que pode ser observada nos tipos de indústrias, na
tecnologia que dominam, no crescimento das cidades e em suas paisagens,
que revelam o modo de vida urbano da maioria da população.

Compreender as consequências desse acelerado e desordenado crescimento


urbano no Brasil também nos auxilia a compreender a relação desse
crescimento com o mundo atual, e suas implicações econômicas, políticas e
sociais.

- A partir de que época o processo de urbanização ocorrido em nosso país


tomou impulso? Que fatores promoveram esse processo de urbanização? Que
mudanças ocorreram na sociedade brasileira quando o país deixou de ser
agrário e se transformou em um país urbano e industrial?

172

O processo de urbanização do Brasil

Até as primeiras décadas do século XX, o Brasil ainda era um país agrário, e a
maior parte de sua população vivia no campo. Em 1872, quando foi realizado o
primeiro levantamento demográfico do país, apenas 6% da população brasileira
morava em cidades. Nessa mesma época, havia algumas centenas de cidades
espalhadas pelo território. Dessas, três contavam com mais de 100 mil
habitantes: Rio de Janeiro (275 mil), Salvador (129 mil) e Recife (116 mil).

As condições históricas e econômicas, impostas por mais de três séculos de


colonização portuguesa, mantiveram a vida econômica e política do período
colonial ligada essencialmente ao campo. Com esse modelo agrário-
exportador, podemos dizer que as cidades representavam um prolongamento
do espaço rural no período colonial.

O texto a seguir descreve outras importantes características das primeiras


cidades brasileiras.

[...]

Quanto à colonização portuguesa no Brasil, os estímulos foram diferentes para


a produção do território e da urbanização. Nos primórdios da ocupação, sua
economia, baseada na produção agrícola, era orientada para a exportação, daí
as planícies e os terraços litorâneos terem sido escolhidos para a implantação
dos primeiros núcleos urbanos. Os sítios escolhidos eram os localizados
próximos a baías ou enseadas junto dessas planícies.

Nossas primeiras grandes cidades estiveram intrinsecamente ligadas à função


de porto comercial e à função militar. As condições de tais sítios favoreciam
não somente a ligação com as áreas de produção agrícola como também o
estabelecimento seguro de bases militares para garantir a posse da Colônia.

[...]

SCARLATO, Francisco Capuano. População e urbanização brasileira. In:


ROSS, Jurandyr L. Sanches (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp,
1995. p. 413.

LEGENDA: Acima, obra de arte Cidade Maurícia e Recife, à beira-mar, em


1653.

CRÉDITO: Frans Post. 1653. Óleo sobre madeira. Coleção particular

- Urbanização e industrialização no Brasil

Como estudamos na unidade anterior, o processo de urbanização pode ser


caracterizado quando a população urbana passa a aumentar em ritmo mais
acelerado que a rural, superando-a. A urbanização brasileira tomou impulso
somente a partir da década de 1930, quando o processo de industrialização no
país se acelerou (assunto que estudaremos mais adiante).

Com o desenvolvimento da atividade industrial, as cidades se tornaram focos


de atração populacional, o que levou um enorme contingente de trabalhadores
a migrar do campo para os centros urbanos. As pessoas eram atraídas pela
oferta de empregos nas fábricas, assim como no comércio e nos serviços
(atividades terciárias), que também se ampliavam rapidamente à medida que
as indústrias se expandiam.

173

A partir das décadas de 1940 e 1950, o processo de urbanização se tornou


ainda mais intenso com a instalação de grandes mineradoras e indústrias de
base (siderúrgicas, metalúrgicas e petroquímicas) na região Sudeste do país.

Embora a indústria tenha tido um papel decisivo no crescimento urbano, alguns


estudiosos afirmam que ela não explica, por si só, o rápido processo de
urbanização ocorrido em nosso país. Isso porque o intenso êxodo rural, que
levou milhões de pessoas a migrar do campo para as cidades durante a
segunda metade do século XX, também foi provocado por fatores de repulsão
no campo. As péssimas condições de vida na zona rural, o aumento da
concentração fundiária, o avanço da mecanização nas atividades agrícolas,
assim como a legislação trabalhista, que estendeu aos trabalhadores do campo
os mesmos benefícios garantidos aos da cidade, levaram muitos donos de
terras a dispensar mão de obra. Com isso, milhões de brasileiros deixaram o
campo em busca de trabalho e condições de vida melhores nos centros
urbanos.

O gráfico a seguir mostra como a população urbana brasileira aumentou


rapidamente, em relação à rural, a partir de 1940.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 12 fev. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Observe o gráfico e verifique:

a) o contingente da população urbana e rural em 1940 e também em 2014;


b) o ritmo de crescimento da população urbana nas últimas décadas;

c) o que ocorreu com a população rural (aumentou ou diminuiu) nesse período;

d) em que década a população urbana se tornou maior que a população rural.

O gráfico mostra que, atualmente, cerca de 85% da população brasileira vive


em áreas urbanas. Essa taxa de urbanização pode ser comparada à dos
países mais industrializados e urbanizados do mundo.

No Brasil, o critério utilizado pelo IBGE, órgão do governo federal responsável


pela realização dos censos demográficos e econômicos, considera como
população urbana todas as pessoas que residem em cidades (sede dos
municípios) e vilas (sede dos distritos). Com isso, mesmo os moradores das
pequenas aglomerações urbanas que estão muito mais voltadas para as
atividades do campo são considerados como população urbana.

Em outros países, ao contrário, uma aglomeração para ser considerada urbana


deve apresentar determinadas características como número de habitantes
mínimo, presença de equipamentos urbanos, comércio variado, serviços
diversos (escolas, hospitais, correios, bibliotecas, agências bancárias etc.).

174

- A urbanização no território brasileiro

Embora a taxa de urbanização brasileira seja elevada, ela apresenta diferenças


consideráveis entre os estados e as regiões do país. Quando comparamos os
dados da população urbana de cada estado brasileiro, verificamos que os
índices de urbanização são mais elevados nas regiões Sudeste, Sul e parte do
Centro-Oeste do país, principalmente onde os processos de industrialização e
de modernização do campo foram mais intensos. Em estados como São Paulo
e Rio de Janeiro, por exemplo, a taxa de urbanização fica acima de 96%.

Ao observar o mapa abaixo, podemos verificar que a taxa de urbanização


também é elevada nos estados do Centro-Oeste, cuja ocupação foi mais
recente, nas décadas de 1960 e 1970, com o avanço da fronteira econômica.
Embora a ocupação dessas áreas tenha sido impulsionada pela expansão das
atividades agrícolas, o processo de concentração fundiária ocorrido na região,
associado ao desenvolvimento de uma agropecuária moderna e altamente
mecanizada, com reduzida utilização de mão de obra, provocou o êxodo de
milhares de pessoas para as cidades. Essas razões explicam as altas taxas de
urbanização verificadas em Goiás (92%), no Mato Grosso do Sul (90%) e no
Mato Grosso (82%).

Em contrapartida, outros estados ainda apresentam taxas de urbanização


reduzidas, como Pará (69%), Piauí (68%) e Maranhão (58%), este último o
menos urbanizado do país. Analise o mapa e compare.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/59/pnad_2013_v33_br.pdf.
Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

175

Urbanização e metropolização no Brasil

O intenso processo de urbanização no Brasil levou ao crescimento acelerado


de alguns grandes centros urbanos. A partir da década de 1930, verificou-se
uma forte tendência à concentração das atividades urbano-industriais nas
cidades do Sudeste, em especial em centros urbanos já maiores, como São
Paulo e Rio de Janeiro.

Oferecendo condições mais vantajosas e favoráveis ao desenvolvimento da


atividade industrial, como mercado consumidor em expansão; melhor
infraestrutura urbana, de transportes e de telecomunicações; e disponibilidade
de capital, energia, mão de obra etc., essas cidades se tornaram grandes focos
de atração populacional. Esses centros urbanos cresceram rapidamente com a
disseminação das fábricas e das atividades terciárias (comércio e serviços) e
logo se transformaram em metrópoles (leia quadro abaixo).

Boxe complementar:

Metrópole

Metrópole não é apenas uma cidade grande. No sentido geográfico, uma


metrópole deve ser uma cidade grande, ter crescimento que extrapole o
perímetro de seu município, abrangendo aglomerados rurais e cidades do
entorno (conurbação), conservando, ainda assim, a autonomia político-
administrativa desses centros; concentração de atividades de serviços e
proliferação de subcentros; trânsito com fluxo pendular, envolvendo toda a área
de conurbação.

Fim do complemento.

A partir de 1950, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro continuaram crescendo


em ritmo acelerado, o êxodo rural e a migração inter-regional levaram um
grande contingente de pessoas a se deslocarem do campo e dos pequenos
centros urbanos em direção às cidades maiores, gerando uma forte tendência
da concentração urbana em escala regional.

Assim, essas cidades também cresceram rapidamente, originando novas


metrópoles, entre elas, Belo Horizonte, no Sudeste; Salvador, Recife e
Fortaleza, no Nordeste; Porto Alegre e Curitiba, no Sul; Manaus e Belém, no
Norte; Goiânia e Brasília, no Centro-Oeste.

Desse modo, a intensa urbanização brasileira, ocorrida ao longo do século


passado, foi acompanhada por um processo de metropolização, ou seja, pela
grande concentração demográfica nas metrópoles.

Verifique, no mapa abaixo, como as metrópoles se difundiram pelo território do


país com o processo de urbanização.

FONTES: SANTOS, Milton; SILVEIRA Maria Laura. O Brasil: território e


sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. LIV.
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/censos/censo_demografico_2010/caracteristicas_gerais_do
s_indigenas/pdf/publicacao_completa.pdf. Acesso em: 19 ago. 2015.
CRÉDITO: E. Cavalcante

176

- As regiões metropolitanas

Com o grande incremento populacional, as metrópoles cresceram e se


expandiram de maneira horizontal, formando bairros periféricos cada vez mais
distantes das áreas centrais. Devido a essa expansão, muitas vezes, as áreas
urbanas das cidades vizinhas se uniram fisicamente por processos de
conurbação (já estudado na unidade anterior), formando imensas e contínuas
aglomerações urbanas.

A fim de disciplinar o crescimento horizontal e promover o planejamento urbano


integrado dessas grandes aglomerações, foram instituídas as chamadas
regiões metropolitanas, reconhecidas, por lei aprovada em 1973, como um
conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma
cidade central, com serviços públicos e infraestrutura comuns.

Com a criação das regiões metropolitanas, alguns problemas típicos dessas


grandes cidades, como os relacionados a transporte, habitação, educação,
saúde, abastecimento de água e esgoto, fornecimento de energia, uso do solo
e poluição, devem ser tratados em conjunto, e não de forma isolada, pela
administração de cada cidade vizinha.

Nos dias atuais, o Brasil possui 66 regiões metropolitanas oficialmente


reconhecidas pelo IBGE. Juntas, concentram cerca de 103 milhões de
habitantes (aproximadamente 50% da população total do país). A tabela abaixo
apresenta informações sobre algumas regiões metropolitanas mais populosas
do nosso país.

Tabela: equivalente textual a seguir.

Brasil: regiões metropolitanas (RMs) - 2015

RMs População Área (km²)

São Paulo - SP 21.090.791 7.946,9

Rio de Janeiro - RJ 12.280.703 6.734,3

Belo Horizonte - MG 5.829.921 15.000,0

Porto Alegre - RS 4.258.926 10.346,0

Fortaleza - CE 3.985.295 7.440,0

Salvador - BA 3.953.288 4.353,7

Recife - PE 3.914.317 2.770,5

Curitiba - PR 3.502.790 16.581,7


Campinas - SP 3.094.181 3.791,8

Manaus - AM 2.523.901 127.121,6

Vale do Paraíba e Litoral Norte - SP 2.453.387 16.192,6

Goiânia - GO 2.421.831 7.315,2

Belém - PA 2.402.437 3.565,8

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/tabunit.asp?t=1&n=7&z=t&o=4. Acesso
em: 8 out. 2015.

LEGENDA: Vista aérea da cidade de Fortaleza, no Ceará, em 2013. A região


metropolitana da capital cearense é a mais populosa da Região Nordeste, com
aproximadamente 4 milhões de habitantes.

CRÉDITO: Rubens Chaves/Pulsar

177

- A desconcentração industrial e a interiorização urbana

Desde a década de 1980, a urbanização brasileira tem seguido uma nova


tendência marcada pelo crescimento das cidades de porte médio, com
população entre 100 mil e 500 mil habitantes, localizada em grande parte no
interior do território (veja sequência de mapas abaixo). Essa mudança está
ligada, sobretudo, ao fenômeno de interiorização do crescimento econômico do
país, ocorrido com o processo de desconcentração da atividade industrial
(assunto que veremos mais adiante).

FONTES: SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e


sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. XLVI -
XLIX. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/censos/censo_demografico_2010/caracteristicas_gerais_do
s_indigenas/pdf/publicacao_completa.pdf. Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO
DAS ILUSTRAÇÕES: E. Cavalcante

Nas áreas metropolitanas, fatores como a escassez e o alto custo dos terrenos,
os congestionamentos, a falta de segurança, o maior custo da mão de obra, a
atuação dos sindicatos, entre outros, levaram muitas indústrias a redirecionar
seus investimentos para as maiores cidades do interior. Em contrapartida, nos
últimos anos, muitas dessas indústrias também foram atraídas pela concessão
de incentivos fiscais, como redução e até mesmo isenção de impostos, doação
de terrenos, instalações de infraestrutura, oferecidas pelos governos municipais
como forma de incentivar a vinda de tais investimentos a seus municípios.

Com isso, muitas cidades médias do país se tornaram foco de convergência


populacional, atraindo migrantes dos pequenos centros urbanos vizinhos em
busca de melhores oportunidades de trabalho, além de parte dos trabalhadores
que deixaram as metrópoles, tanto em razão da redução de postos de trabalho
em alguns setores específicos, sobretudo da indústria, como do aumento do
custo de vida e das dificuldades de sobrevivência nos grandes centros
urbanos. Isso levou, portanto, ao estabelecimento de uma nova dinâmica dos
fluxos migratórios pelo território, caracterizada pelo predomínio da migração
urbana-urbana em todas as regiões do país.

Embora os centros urbanos regionais tenham apresentado maior crescimento e


até mesmo assumido algumas das funções até então desempenhadas
somente pelas metrópoles, é importante destacar que as metrópoles, como
São Paulo e Rio de Janeiro, não perderam sua influência. Ao contrário, elas
ainda abrigam as sedes das maiores empresas nacionais e estrangeiras,
oferecem os serviços mais especializados e, por isso, continuam sendo centros
de comando das decisões mais importantes, sobretudo de ordem econômica.

178

A rede urbana brasileira

O intenso e acelerado processo de urbanização ocorrido no Brasil, além de


promover o rápido crescimento da nossa população urbana, aumentou o
número de cidades em todas as regiões do país. Entre as milhares de cidades
(cerca de 5 570, em 2015) espalhadas pelo território nacional, encontramos
centros urbanos pequenos, com poucos milhares de habitantes, cidades de
porte médio e grande e imensas aglomerações (metrópoles) onde vivem
milhões de pessoas.
O conjunto formado por todas essas aglomerações urbanas originou uma
complexa rede de cidades, que chamamos de rede urbana. Conforme já
estudamos na unidade anterior, a formação de uma rede urbana pressupõe
também a existência de uma hierarquia urbana, que vai se configurar de
acordo com o poder de influência (polarização) exercido por diferentes cidades
no interior dessa rede.

O maior ou menor poder de polarização exercido por uma cidade se expressa,


sobretudo, pelo potencial econômico, pelo nível de centralização de decisões
políticas, pela funcionalidade de seus equipamentos urbanos e pela
diversidade e complexidade dos bens e serviços que oferece. Portanto, assim
como ocorre na hierarquia urbana mundial, no Brasil, os postos mais altos
dessa hierarquia são ocupados pelas maiores (e poucas) cidades que exercem
influência sobre todo o país, enquanto os postos mais baixos são ocupados
pelos (milhares) pequenos centros urbanos com influência restrita aos seus
arredores (veja mapa na página seguinte).

Com base nesses critérios, o IBGE identifica e classifica a existência dos


seguintes grupos hierárquicos de cidades na rede urbana brasileira:

- Grande metrópole nacional: a cidade de São Paulo (foto A, de 2014), com


aproximadamente 21 milhões de habitantes em toda a sua área metropolitana
(dados de 2015), encontra-se no topo da hierarquia urbana do país. Por
concentrar a maior parte das sedes de grandes empresas nacionais e
estrangeiras, a cidade exerce forte influência econômica sobre todo o território
nacional. Por estar fortemente integrada aos fluxos mundiais, conectando a
economia nacional com a economia mundial, essa metrópole também é
considerada uma cidade global.

CRÉDITO: Alexandre Cappi/Pulsar

- Metrópoles nacionais: nesse nível hierárquico, encontram-se as cidades do


Rio de Janeiro e de Brasília (foto B, de 2015). Com cerca de 12,3 milhões de
habitantes em sua área metropolitana (dados de 2015), a cidade do Rio de
Janeiro exerce forte influência econômica e cultural. Com cerca de 2,9 milhões
de habitantes (dados de 2015), a capital federal tem expressão econômica
reduzida se comparada ao Rio de Janeiro e a São Paulo, mas desempenha
importante influência político-administrativa, sendo o centro das decisões
políticas de repercussão nacional e internacional.

CRÉDITO: João Prudente/Pulsar

179

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
ftp://geoftp.ibge.gov.br/divisao_urbano_regional/mapas/divisao_urbano_regiona
l_2013.pdf. Acesso em: 13 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

- Metrópoles: nesse nível, encontram-se cidades como Porto Alegre (foto C, de


2014), Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém e Manaus.
Com população entre 2 milhões (Manaus) e 2,9 milhões de habitantes
(Salvador), ambos os dados de 2015, essas cidades apresentam economias
diversificadas, concentram grandes empresas com forte projeção nacional e
importantes órgãos político-administrativos, embora com poder de influência
menor que o das metrópoles nacionais.

CRÉDITO: Zig Koch/Pulsar

- Capitais regionais: cidades que possuem área de influência sobre as regiões


em que estão localizadas. Possuem população que varia de 50 mil a 955 mil
habitantes, como Juiz de Fora (MG), Londrina (PR), Ribeirão Preto (SP),
Dourados (MS) e Caruaru (PE) (foto D, em 2013), e oferecem estrutura
diversificada de comércio, serviços e indústrias. Junto com as metrópoles,
essas cidades complementam e polarizam milhares de cidades menores
espalhadas pela rede urbana brasileira.

CRÉDITO: Leo Caldas/Pulsar

180

Brasil: país urbano e industrializado

Se até o início do século XX o Brasil era um país agrário, com mais de 90% da
população vivendo no campo, como vimos anteriormente, a economia brasileira
também se baseava em atividades primárias, voltadas principalmente para a
exportação. Esse modelo econômico agrário-exportador imposto pelos
colonizadores portugueses durante mais de três séculos impediu o
desenvolvimento da atividade manufatureira em nosso país, como descreve o
texto a seguir.

[...]

O obstáculo definitivo para a indústria no Brasil foi a produção de gêneros


agrícolas em alta escala para o exterior, molda do sistema colonial. Constituía-
se a grande empresa, trabalhada pelo escravo no latifúndio. As propriedades
territoriais eram entidades autônomas, isoladas umas das outras. De
exigências modestas, dispensavam intercâmbio. O básico é obtido no mundo
rural. A autossuficiência significa falta de diversificação do mercado. A
ausência de transportes dificulta o relacionamento. Sem mercado interno não
há necessidade de mais. A estrutura da propriedade rural explica a falta de
núcleos urbanos expressivos [...]. O trinômio monocultura, latifúndio e
escravidão é incompatível com o esforço manufatureiro. [...]

IGLÉSIAS, Fernando. A industrialização brasileira. São Paulo: Brasiliense,


1985. p. 26-27.

LEGENDA: Acima, imagem da tela Moagem de Cana no Engenho, que retrata


negros africanos trabalhando na moenda em um engenho de cana-de-açúcar,
em meados do século XIX.

CRÉDITO: Benedito Calixto de Jesus. s.d. Óleo sobre tela. Museu Paulista da
USP, São Paulo (SP)

Sendo assim, a atividade industrial no Brasil teve início somente no final do


século XIX, com o aparecimento de fábricas voltadas para a produção de bens
de consumo não duráveis, como tecidos, roupas, calçados, alimentos e
bebidas. O crescimento da atividade industrial no país foi motivado pela
conjuntura econômica e social da época.

No auge da economia cafeeira, que se expandiu pelo Sudeste, foram criadas


condições favoráveis ao desenvolvimento de um primeiro surto industrial.
Financiados pelos altos lucros alcançados com as exportações de café, muitos
cafeicultores, por vezes associados ao capital estrangeiro, diversificaram seus
interesses econômicos, redirecionando parte desses lucros para atividades não
agrícolas. Assim, investiram não apenas em fábricas, mas também em
ferrovias, atividades portuárias, constituição de bancos etc.
Nessa mesma época, a abolição da escravatura e o processo de imigração
estrangeira intensificado (veja quadro na página seguinte) promoveram a
expansão do trabalho assalariado e do mercado consumidor interno, criando,
assim, condições imprescindíveis para a expansão mais acelerada da atividade
industrial.

181

Boxe complementar:

Os imigrantes e a indústria nascente

Com o fim do tráfico de escravos, ocorrido em 1850, em plena ascensão da


economia cafeeira, o fornecimento de mão de obra necessária para as lavouras
se deu pelo estímulo à imigração de trabalhadores europeus, sobretudo
italianos, espanhóis e portugueses e, depois, asiáticos, principalmente
japoneses.

Assim, após a abolição definitiva da escravatura, com a Lei Áurea, assinada


em 1888, o país já havia recebido uma grande quantidade de imigrantes. Isso
porque os fazendeiros, como forma de garantir os baixos salários, promoviam a
entrada de imigrantes em número muito superior à necessária. Como muitos
desses imigrantes já se dedicavam ao trabalho operário no interior das fábricas
em seu país de origem, representaram vasta oferta de uma experiente mão de
obra para a nascente indústria brasileira.

LEGENDA: Acima, grupo de imigrantes europeus que trabalhava na fábrica de


óleo Matarazzo, em São Paulo, em 1900.

CRÉDITO: 1900. Autor desconhecido. Foto: Acervo Iconographia

Fim do complemento.

- A crise do café e a indústria

Embora a atividade industrial estivesse se expandindo no país desde o final do


século XIX, foi a partir da crise econômica de 1929 que a industrialização
brasileira teve maior impulso. A quebra da Bolsa de Nova York (veja texto
abaixo) afetou duramente as exportações do café brasileiro, causando enormes
prejuízos ao setor. Na época, a agricultura cafeeira era a principal atividade
econômica do país, representando cerca de 70% da nossa pauta de
exportações.

[...]

No ano de 1929, a nova grande potência internacional [Estados Unidos] sofreu


um enorme abalo, conhecido como a Grande Depressão ou Crise de 29. Essa
crise consistiu na quebra da Bolsa de Nova York, devido à superprodução da
indústria americana. Isso levou não só à desvalorização de seus produtos,
como também de seu mercado financeiro e de sua moeda. Devido à
dependência econômica da maioria dos países ocidentais com relação aos
Estados Unidos, esta crise que, a princípio, era só americana, transformou-se
numa crise mundial que a todos afetou.

A economia brasileira também não escapou ilesa das consequências da


Grande Depressão. Por um lado, nosso café, que já vinha sendo produzido em
excesso desde a década de 1910, perdia, com a crise americana, seu maior
mercado consumidor, fazendo com que seus preços declinassem
assustadoramente. Quem iria comprar um produto supérfluo como o café, em
meio a tantos desastres e falências? [...]

MENDONÇA, Sônia. A industrialização brasileira. São Paulo: Moderna, 1995.


p. 37.

LEGENDA: Na imagem acima, queima de café, próximo ao porto de Santos,


em 1931. Nesse período, cerca de 10 mil sacas de café eram queimadas por
dia.

CRÉDITO: 1931. Autor desconhecido. Foto: Acervo Iconographia

Com a crise da economia cafeeira, os investimentos passaram a ser


direcionados para outras atividades, em particular, para a criação de novas
indústrias, quase sempre dedicadas à produção de bens de consumo não
duráveis, o que levou a uma rápida ampliação e diversificação do setor
industrial.

182

- O Estado e o processo de industrialização


Além da crise do café, mudanças políticas importantes ocorridas no país
também foram determinantes para o desenvolvimento mais efetivo da
industrialização brasileira. A ascensão do governo de Getúlio Vargas (1930-
1945) assinalou a destituição da oligarquia agroexportadora que dominou a
vida política e econômica do país durante toda a primeira fase da República
(1889-1930), abrindo perspectivas mais favoráveis em prol da industrialização.

De cunho nacionalista, o governo de Vargas adotou medidas para acelerar o


processo de industrialização do país, investindo prioritariamente na instalação
das indústrias de base. Com a intervenção estatal e a aplicação de enormes
somas, o governo criou grandes empresas públicas consideradas estratégicas
para a arrancada industrial: no setor de mineração, a Companhia Vale do Rio
Doce - atual Vale -, criada em 1942, para atuar na exploração do minério de
ferro, em Minas Gerais; no setor siderúrgico, a Companhia Siderúrgica
Nacional - CSN -, inaugurada em 1946, no município de Volta Redonda, estado
do Rio de Janeiro; no setor petroquímico, a Petrobras, fundada em 1953, no
segundo mandato do governo Vargas.

LEGENDA: Construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta


Redonda, Rio de Janeiro, em 1941.

CRÉDITO: 1941. Autor desconhecido. Foto: Acervo Iconographia

Com o objetivo de incentivar o crescimento da atividade industrial, o Estado


também passou a facilitar a importação de máquinas e equipamentos,
restringindo, por outro lado, a importação de produtos industrializados. Essas
medidas foram tomadas com o intuito de que a indústria nascente pudesse
atender à demanda interna, fabricando os produtos industrializados que, até
então, eram importados. Sendo assim, esse modelo de industrialização
implantado inicialmente em nosso país se baseou, segundo os especialistas,
na substituição de importações.

- A indústria e o capital estrangeiro

Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o país ingressou em


uma nova fase de desenvolvimento industrial, decorrente da implantação do
chamado Plano de Metas. Embalado por uma política desenvolvimentista, o
governo traçou um ambicioso programa de crescimento econômico que seria
capaz de fazer o país crescer "50 anos em 5". Para isso, fez a aplicação de
grandes investimentos em diversos setores prioritários, como agricultura,
energia, transportes, construção civil, saúde, educação etc.

A execução desse plano aumentou a capacidade energética do país, ampliou


em muito a rede de transportes, privilegiando a opção das rodovias, além de
melhorar a infraestrutura já existente no país, por exemplo, com a ampliação
das instalações portuárias. Promoveu a renovação e o reaparelhamento das
grandes indústrias de base, substituindo equipamentos e maquinários já
desgastados e tecnologicamente atrasados.

Os investimentos estatais em obras de infraestrutura, somados a fatores como


mão de obra barata e numerosa, mercado consumidor em expansão e
abundância de matérias-primas, atraíram o capital estrangeiro.

183

Assim, o processo de industrialização do país ingressou em uma nova fase,


marcada pela crescente presença de empresas multinacionais, voltadas
principalmente para a produção de bens de consumo, como automóveis,
eletrodomésticos, produtos químico-farmacêuticos etc., além de bens
intermediários, como materiais elétricos, mecânicos, de transportes, de
comunicações etc.

Estabeleceu-se, desse modo, o tripé da produção industrial brasileira,


constituído pelo capital nacional, amplamente investido na produção de bens
de consumo não duráveis; pelo capital estatal, aplicado nas indústrias de base
ou de bens de produção; e pelo capital estrangeiro, com forte participação nas
indústrias de bens de consumo duráveis.

Podemos considerar, ainda, que o Brasil teve um processo de industrialização


tardio, uma vez que esse processo se efetivou quase dois séculos após o
advento da Revolução Industrial.

LEGENDA: Acima, propaganda do automóvel Simca Chambord, de fabricação


francesa, ganhando espaço no mercado consumidor brasileiro, em 1960.

CRÉDITO: O Cruzeiro. 17/12/1960. CPDOC/FGV

Observação:
Produtos, empresas e suas marcas citados nesta obra não figuram
recomendação ou indicação comercial. Eles foram usados apenas como
recurso didático.

Fim da observação.

- A distribuição da indústria pelo território

Observe os gráficos a seguir.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/1719/pia_2013_v32_n1_em
presa. pdf. Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

Os dados apresentados nesses gráficos mostram que a produção industrial


brasileira se encontra fortemente concentrada no Sudeste do país. O elevado
índice de industrialização dessa região pode ser observado tanto na avantajada
proporção de trabalhadores empregada no setor secundário (gráfico A), quanto
no valor da produção industrial gerado em relação às demais regiões do país
(gráfico B).

Para efeito de comparação, cerca de 49% das indústrias existentes no país


estão instaladas no Sudeste, seguida pelas regiões Sul (29%), Nordeste (12%),
Centro-Oeste (6%) e Norte (3%). O mapa da página seguinte representa a
distribuição da atividade industrial no território brasileiro.

184

Inúmeros fatores contribuíram para que a atividade industrial se desenvolvesse


mais no Sudeste do país a partir da década de 1930, entre os quais podemos
destacar:

- a disponibilidade de capital proveniente da economia cafeeira que se


desenvolveu na região (como já visto);

- a concentração de investimentos públicos destinados à criação de indústrias


de base (siderúrgicas, metalúrgicas, mineradoras, petroquímicas) e de
infraestrutura (ampliação das ferrovias, abertura de estradas de rodagem,
geração de energia etc.);
- a existência de mão de obra numerosa, inclusive de muitos imigrantes com
experiência na atividade operária;

- a existência de um amplo mercado consumidor e em franca expansão (na


época, a região já contava com alguns dos centros urbanos mais populosos do
país, como as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, então capital federal, e
Belo Horizonte);

- a disponibilidade de matérias-primas e recursos naturais, entre eles, o grande


potencial hidrelétrico, formado por rios que drenam áreas de planaltos e
depressões; e a existência de grandes jazidas minerais, como a região do
quadrilátero ferrífero, em Minas Gerais.

Glossário:

Quadrilátero ferrífero: área situada na porção central do estado de Minas


Gerais, com cerca de 7.000 km², que apresenta importantes jazidas de minério
de ferro, ouro e manganês.

Fim do glossário.

FONTES: ATLAS geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 136.
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/economia_cadastro_de_empresas/2013/cempre2013.pdf.
Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

185

- Concentração e dispersão: a dinâmica espacial da indústria

A partir das décadas de 1970 e 1980, verificou-se um movimento de


desconcentração espacial da atividade industrial pelo território do Brasil, como
podemos observar nos dados da tabela a seguir. Essa diminuição relativa da
atividade industrial nos grandes centros econômicos do Sudeste não significa,
porém, a perda da importância dessa região no comando econômico-industrial
do país, como estudamos.

Tabela: equivalente textual a seguir.

Brasil: valor da transformação industrial (%)

Região/Ano 1970* 1980 2000 2013


Sudeste 80,7 72,6 65,9 59,2

Sul 12,0 15,8 18,5 19,6

Nordeste 5,7 8,0 8,9 9,4

Norte e Centro-Oeste 1,6 3,6 6,7 11,8

FONTES: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acessos em: 23 jul. 2015. *ROSS, Jurandyr L. Sanches
(Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001. p. 377.

Esse processo de dispersão do parque industrial pelo território ganhou impulso


quando o governo federal, visando diminuir as desigualdades regionais, criou
políticas para promover o desenvolvimento das regiões economicamente
periféricas. Essa política consistiu na implantação e ampliação da infraestrutura
(usinas hidrelétricas, rodovias) em regiões marginalizadas do ponto de vista
histórico. Também promoveu a criação de órgãos federais voltados ao
desenvolvimento econômico dessas regiões, como a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a Superintendência de
Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco).

Mas a dispersão da atividade industrial também foi motivada por fatores como
o encarecimento dos custos de produção nos grandes centros urbanos, já
mencionado anteriormente; os incentivos fiscais (redução e isenção de
impostos); entre outras vantagens, como a doação de terrenos, oferecidos por
alguns governos como forma de atrair novas indústrias aos seus respectivos
estados.

Observação:

A criação da Zona Franca de Manaus (em 1957) esteve entre as ações do


governo, por intermédio da Sudam, no sentido de promover a industrialização
da região Norte, ampliando a articulação dessa região com o restante do país.
O número de estabelecimentos industriais na Zona Franca é baixo se
comparado a outras regiões do país, mas nela encontram-se importantes
indústrias de bens de consumo duráveis, como eletroeletrônicos, motocicletas,
entre outros produtos. Abaixo, Zona Franca de Manaus, Manaus, 2014.

Fim da observação.

CRÉDITO: Rubens Chaves/Pulsar

186

Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Qual era a função das primeiras cidades brasileiras?

2. Quais foram os principais fatores que levaram à urbanização brasileira, a


partir da metade do século XX?

3. O Sudeste e o Centro-Oeste são as regiões brasileiras que apresentam


taxas mais elevadas de urbanização. A urbanização nessas regiões, porém, se
explica por fatores diferentes. Explique os fatores que impulsionaram o
processo de urbanização nessas regiões.

4. Podemos dizer que o processo de urbanização brasileira foi acompanhado


por um processo de metropolização. Justifique.

5. Quais os objetivos da criação das regiões metropolitanas? Dê exemplos.

6. Explique os fatores que têm levado à desconcentração industrial e à


interiorização urbana no Brasil.

7. As cidades médias, nos últimos anos, têm atraído um número cada vez
maior de migrantes. Por que isso ocorre?

8. Defina e dê exemplos:

a) grande metrópole nacional;

b) metrópoles nacionais;

c) metrópoles;

d ) capitais regionais.
9. Em que consistiu o modelo de industrialização denominado substituição de
importações?

10. Cite os principais fatores da concentração industrial na região Sudeste do


Brasil.

Expandindo o conteúdo

11. Analise o gráfico.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

a) Qual é a região mais urbanizada do Brasil? E a região menos urbanizada do


Brasil?

b) O que ocorreu com a taxa de urbanização da região Centro-Oeste ao longo


do período representado?

c) Quais regiões apresentaram maior crescimento ao longo desse período?

d) A urbanização é homogênea pelo território brasileiro? Explique sua resposta


com base nos dados do gráfico.

187

12. Leia o texto e realize as atividades propostas.

Industrialização

[...] Desde o século XIX, e sobretudo nas primeiras décadas do século XX,
consolidou-se a crença de que industrialização era sinônimo de modernização.
Assim, sociedades ditas tradicionais, por exemplo, as da América Latina das
primeiras décadas do século XX, começaram a se esforçar por assentar suas
economias em bases industriais sólidas.

Apesar da polêmica, parece haver consenso que tais sociedades (no caso da
América Latina) não podiam seguir os mesmos passos que as potências
capitalistas plenamente industrializadas, devido a seu contexto histórico, em
que a economia se encontrava dependente do capital monopolista já
estabelecido nos países avançados. [...] No caso latino-americano, os
chamados países de industrialização retardatária ou de Capitalismo tardio
tiveram de enfrentar entraves internos e externos ao processo de
industrialização. Externamente, sua dependência com relação às economias de
Capitalismo avançado dificultou o estabelecimento de uma indústria
competitiva, pois as nações já industrializadas detinham o monopólio do capital
e da tecnologia e produziam artigos industriais com menor custo. Internamente,
havia setores da elite, ligados à economia de exportação de bens primários,
que propagavam a ideia de que seus países tinham uma natural "vocação
agrícola", justificando, assim, uma divisão do trabalho internacional em que
cabia a algumas nações a produção de bens industriais, e a outras, a produção
de matérias-primas. Outro problema enfrentado pelas nações latino-
americanas foi, dada a pouca capitalização de suas economias, criar um
mercado consumidor interno para bens industriais. Particularmente em países
com o Brasil, as ações econômicas em prol da industrialização dependeram de
medidas políticas advindas do Estado para organizar a produção, favorecer os
industriais privados, criar empresas estatais, "harmonizar" as classes sociais
(impedindo os conflitos), disciplinar a força de trabalho pela violência e/ou
persuasão de sindicatos controlados pelo Estado etc. Seja como for, a
especificidade histórica da América Latina dificultou o processo de "transição"
de suas economias. [...]

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos


históricos. São Paulo: Contexto, 2010. p. 231-232.

CRÉDITO: William Ju/Shutterstock.com

a) Assim como em outros países latino-americanos, o processo de


industrialização no Brasil teve início no final do século XIX e início do século
XX. Que fatores impediam o desenvolvimento da indústria em nosso país até
então?

b) Por que a industrialização no Brasil foi chamada de retardatária ou tardia?

c) De acordo com o texto, quais foram os entraves externos e internos ao


processo de industrialização?

d) De que maneira o capital estatal, o nacional e o estrangeiro atuaram no


processo de industrialização do Brasil?

e) Elabore um texto explicativo descrevendo qual foi a relação entre o apogeu e


a crise da economia cafeeira no Brasil e o processo de industrialização do país,
abordando os seguintes tópicos: capital, diversificação, infraestrutura, mão de
obra e mercado consumidor.

188

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

Os centros de tradições culturais

A urbanização brasileira, ocorrida ao longo do século passado, levou milhares


de pessoas a migrarem para os grandes centros urbanos brasileiros.

Com o objetivo de preservar e divulgar os costumes e tradições da terra natal,


alguns grupos de migrantes criaram nas cidades para onde migraram os
Centros de Tradições, ou seja, os CTs. Nesses locais, além de se reunirem
com seus conterrâneos, os migrantes podem resgatar e preservar hábitos de
sua cultura por meio de danças, ritmos musicais, composições literárias,
comidas típicas, entre outros.

O texto a seguir trata sobre o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) e o Centro


de Tradições Nordestinas (CTN).

CRÉDITO: Oleg Yashin/Shutterstock.com

Na região metropolitana de São Paulo, pouco mais de 40 quilômetros separam


o Rio Grande do Sul do Nordeste. Para dançar vanerão em um fandango no
Centro de Tradições Gaúchas (CTG) União e Tradição, em Embu, e, na
mesma noite, curtir um forró no Centro de Tradições Nordestinas (CTN), no
bairro do Limão, basta viajar uma hora de carro. Pontos de encontro de
migrantes que vivem por aqui, esses locais permitem apreciar músicas e
danças típicas, além de matar a saudade de comidas difíceis de encontrar fora
de seus estados de origem. Tanto no centro de tradições nordestinas quanto
no gaúcho, quem nunca saiu de São Paulo pode imaginar que está no
estrangeiro: os costumes, os trajes e o vocabulário mudam. [...] No CTG, a
impressão é que falta apenas o vento minuano soprando lá dentro para
completar o cenário. O galpão onde se realizam os bailes lembra um rancho de
fazenda. Até as placas de indicação são um tanto obscuras para os não
iniciados. Elas apontam ao bolicho (bar) e ao banheiro de peão e de prenda
(homem e mulher, em gauchês). [...] Convidados costumam chegar a caráter,
vestindo a pilcha. As prendas exibem modelos bordados e recatados. Já os
peões rodam pelos salões com bombachas, lenços e botas. Decote, bermuda e
minissaia são vetados. Quem não está "pilchado" se sente um peixe fora
d'água, mas podem-se alugar ali mesmo roupas adequadas. [...] No CTN, o
clima de festa é bem parecido. Alguns garçons usam chapéu de coco e deixam
escapar um "sim, meu rei" quando estão diante dos clientes. Num barracão de
27.000 metros quadrados, cerca de 8.000 pessoas se espremem a cada
sábado ou domingo para ver de perto as dançarinas de bandas de forró. [...]
Cada um se diverte à sua moda. É para lá que vão os nordestinos - cerca de
70% dos migrantes da capital - quando querem encontrar os amigos perdidos
na cidade. A entrada é gratuita e o galpão chega a receber 100.000
frequentadores todo mês. [...] O prato que mais se vê nas mesas é o baião de
dois, que leva arroz, feijão-de-corda e queijo de coalho. [...]

SALVO, Maria Paola de. Conheça os centros de tradições gaúchas e


nordestinas. Veja São Paulo, São Paulo, 7 dez. 2010. Disponível em:
http://vejasp.abril.com.br/materia/conheca-os-centrosde-tradicoes-gauchas-
nordestinas. Acesso em: 30 out. 2015. Maria Paola de Salvo/Abril
Comunicações S.A.

CRÉDITO: Marcio Jose Bastos Silva/Shutterstock.com

189

A Geografia no cinema

Tapete vermelho

CRÉDITO: Filme de Luiz Alberto Pereira. Tapete vermelho. Brasil. 2006

Título: Tapete vermelho

Diretor: Luiz Alberto Pereira

Atores principais: Paulo Goulart, Paulo Betti, Matheus Nachtergaele, Gorete


Milagres e Vinicius Miranda

Ano: 2006

Duração: 100 minutos


Origem: Brasil

Quinzinho e sua família moram em uma área rural do interior. O sonho de


Quinzinho é levar seu filho, Neco, para assistir a um filme do personagem
Mazzaropi no cinema.

Saindo de sua propriedade rural, Quinzinho e sua família passam por várias
cidades em busca da realização de seu sonho.

O filme retrata as aventuras e os dramas enfrentados pela família ao longo


dessa viagem.

Para assistir

- CIDADES inventadas. Direção: Renato Barbieri. Brasil, 2010.

O documentário aborda a questão estratégica e geopolítica da criação das


cidades de Salvador, Recife e Brasília. Além disso, também trata do acelerado
processo de urbanização brasileira no século passado.

Para ler

- CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade. São Paulo: Contexto, 2000.

- GERAB, William Jorge; ROSSI, Waldemar. Indústria e trabalho no Brasil:


limites e desafios. São Paulo: Atual, 2001.

- HARDMAN, Foot; LEONARDI, Victor. História da indústria e do trabalho no


Brasil: das origens aos anos 20. São Paulo: Ática, 2004.

- MENDONÇA, Sonia Regina de. A industrialização brasileira. 2. ed. São Paulo:


Moderna, 2004.

- RODRIGUES, Rosicler Martins. Cidades brasileiras : o passado e o presente.


São Paulo: Moderna, 2003.

- SPOSITO, Eliseu Savério. Redes e cidades. São Paulo: Editora da Unesp,


2008.

Para navegar

- BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)


. Disponível em: http://tub.im/n7qjhq. Acesso em: 6 out. 2015.
- CONFEDERAÇÃO Nacional da Indústria (CNI). Disponível em:
http://tub.im/n46p8p. Acesso em: 6 out. 2015.

- MUSEU da Pessoa. Disponível em: http://tub.im/i5ikyx. Acesso em: 6 out.


2015.

- SÉRIES Históricas e Estatísticas. Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatísticas (IBGE). Disponível em: http://tub.im/hf3uqc. Acesso em: 6 out.
2015.

190

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UNICAMP-SP)

O Brasil experimentou, na segunda metade do século 20, uma das mais


rápidas transições urbanas da história mundial. Ela transformou rapidamente
um país rural e agrícola em um país urbano e metropolitano, no qual grande
parte da população passou a morar em cidades grandes. Hoje, quase dois
quintos da população total residem em uma cidade de pelo menos um milhão
de habitantes.

(Adaptado de George Martine e Gordon McGranahan, "A transição urbana


brasileira: trajetória, dificuldades e lições aprendidas", em Rosana Baeninger
(Org.), População e cidades: subsídios para o planejamento e para as políticas
sociais. Campinas: Nepo/Brasília: UNFPA, 2010, p. 11.)

Considerando o trecho acima, assinale a alternativa CORRETA.

a) A partir de 1930, a ocupação das fronteiras agrícolas (na Amazônia, no


CentroOeste, no Paraná) foi o fator gerador de desloca mentos de população
no Brasil.

b) Uma das características mais marcantes da urbanização no período


19301980 foi a distribuição da população urbana em cida des de diferentes
tamanhos, em especial nas cidades médias.
c) Os últimos censos têm mostrado que as grandes cidades (mais de 500 mil
habitan tes) têm tido crescimento relativo mais acelerado em comparação com
as médias e as pequenas.

d) Com a crise de 1929, o Brasil voltouse para o desenvolvimento do mercado


inter no através de uma industrialização por substituição de importações, o que
deman dou mão de obra urbana numerosa.

2. (UFRGS-RS) Com relação ao recente processo de urbanização brasileiro, é


correto afirmar que:

a) o fenômeno urbano, no Brasil, caracteriza-se pelo crescimento homogêneo


das aglomerações urbanas, sobretudo pelo aumento da produção industrial.

b) o maior controle por parte do Estado bra sileiro contribui para a diminuição
do cres cimento das grandes cidades brasileiras.

c) o aumento da participação das cidades médias, na economia nacional,


favorece a desconcentração da riqueza dos grandes centros urbanos do Brasil.

d) a aceleração do movimento migratório para as grandes metrópoles nacionais


é impul sionada pelo crescimento industrial e pelas melhorias na qualidade de
vida.

e) o aumento de organizações criminosas com poder paralelo ao Estado


dificulta o cres cimento das médias cidades e a implemen tação de políticas
habitacionais.

3. (ENEM-MEC)

O Centro-Oeste apresentou-se como extremamente receptivo aos novos


fenômenos da urbanização, já que era praticamente virgem, não possuindo
infraestrutura de monta, nem outros investimentos fixos vindos do passado.
Pôde, assim, receber uma infraestrutura nova, totalmente a serviço de uma
economia moderna.

SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo: Ed. Usp, 2005 (adaptado).

O texto trata da ocupação de uma parcela do território brasileiro. O processo


econômico diretamente associado a essa ocupação foi o avanço da:

a) industrialização voltada para o setor de base.


b) economia da borracha no sul da Amazônia.

c) fronteira agropecuária que degradou parte do cerrado.

d) exploração mineral na Chapada dos Gui marães.

e) extrativismo na região pantaneira.

4. (UNESP-SP) A construção de Brasília durante o governo Juscelino


Kubitschek (19561961) teve, entre suas motivações oficiais,

a) afastar de São Paulo a sede do governo federal, impedindo que a elite


cafeicultora continuasse a controlálo.

b) estimular a ocupação do interior do país, evitando a concentração das


atividades econômicas em áreas litorâneas.

c) deslocar o funcionalismo público do Rio de Janeiro, permitindo que a cidade


tivesse mais espaços para acolher os turistas.

d) tornar a nova capital um importante centro fabril, reunindo a futura indústria


de base do Brasil.

e) reordenar o aparato militar brasileiro, expan dindo suas áreas de atuação até
as fron teiras dos países vizinhos.

191

5. (PUC-PR) Sobre a urbanização no Brasil, é CORRETO afirmar:

I. O processo de urbanização no Brasil iniciase, de fato, no período do


pósguerra com a ins talação, no País, de indústrias multinacionais. Esse
processo dáse pela repulsão do campo e pela atração da cidade.

II. No Brasil, o processo de urbanização foi es sencialmente concentrador,


gerando grandes cidades e metrópoles.

III. O crescimento desenfreado dos centros urba nos no Brasil tem trazido
consequências, como o trabalho informal e o desemprego decorrente de
sucessivas crises econômicas.

IV. Um dos problemas graves provocado pela ur banização no Brasil é a


marginalização dos excluídos que habitam áreas sem infraestrutu ra urbana e,
junto a isso, o aumento da crimi nalidade.
V. As principais redes urbanas do Brasil estão na faixa litorânea, devido a
fatores econômicos, históricos e geográficos.

a) Todas as assertivas são verdadeiras.

b) Apenas as assertivas I, II e III são verdadei ras.

c) Apenas as assertivas I e II são verdadeiras.

d) Apenas a assertiva I é verdadeira.

e) Apenas a assertiva II é verdadeira.

6. (Fuvest-SP)

A metrópole se transforma num ritmo intenso. A mudança mais evidente refere-


se ao deslocamento de indústrias da cidade de São Paulo [para outras cidades
paulistas ou outros estados], uma tendência que presenciamos no processo
produtivo - como condição de competitividade - que obriga as empresas a se
modernizarem.

A. F. A. Carlos, São Paulo: do capital industrial ao capital financeiro, 2004.


Adaptado.

Com base no texto acima e em seus conheci mentos, considere as afirmações:

I. Um dos fatores que explica o deslocamento de indústrias da capital paulista é


o seu trânsito congestionado, que aumenta o tempo e os custos da circulação
de mercadorias.

II. O deslocamento de indústrias da capital pau lista tem acarretado


transformações no mer cado de trabalho, como a diminuição relativa do
emprego industrial na cidade.

III. O deslocamento de indústrias da cidade de São Paulo decorre, entre outros


fatores, do alto grau de organização e da forte atuação dos sindicatos de
trabalhadores nessa cidade.

Está correto o que se afirma em:

a) I, apenas.

b) I e II, apenas.

c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.

e) I, II e III.

7. (UTFPR-PR)

"Nos Estados Unidos, poderosos centros industriais como Detroit e Chicago


foram vítimas de profundas alterações provocadas pela Revolução
Tecnológica, e novos centros econômicos surgiram no oeste e sul desse país.
O Brasil também experimentou significativa desconcentração industrial, mas
não houve o desmantelamento da indústria em São Paulo, pois, embora tenha
havido perda relativa na participação do processo industrial (desconcentração),
não há sinais de obsolescência do parque industrial."

(Aurílio Sérgio Costa Caiado, Dr. em Economia (IEUnicamp/2002), professor da


Universidade de Sorocaba/SP em Reestruturação Produtiva e Localização
Industrial)

Entre as alternativas, assinale a única que des creve corretamente o processo


de expansão industrial regional no Brasil nas últimas décadas.

a) A baixa oferta de fontes de energia resultou em maior concentração de


indústrias em estados que hoje são os maiores produto res de eletricidade, gás
natural e petróleo.

b) São Paulo e sua capital não detêm mais a hegemonia industrial do passado,
pois a maior parte da produção vem de estados vizinhos como Rio de Janeiro,
Paraná e Minas Gerais.

c) O comando das atividades econômicas acompanhou a dispersão das


indústrias, tanto que surgiram novas metrópoles glo bais no Brasil fora do eixo
RioSão Paulo.

d) A principal causa da desconcentração indus trial vem do fato da maioria das


indústrias do país ser defasada tecnologicamente, exigindo crescente mão de
obra barata.

e) Mesmo com as unidades fabris atraídas por incentivos fiscais para outros
estados, o comando e a gerência do processo produtivo ainda concentra-se em
São Paulo.
192

8. (UEM-PR) Sobre a urbanização e a rede urbana brasileira, assinale o que for


correto.

(01) A rede urbana é constituída por um determinado número de cidades, que


ocupam diferentes posições dentro de uma hierarquia, desempenhando a
função de nós, ou vértices, de sistemas de fluxos de pessoas, bens, serviços e
capitais.

(02) O forte êxodo rural, decorrente da modernização da agricultura, produziu


um intenso e acelerado processo de urbanização nas cidades do Nordeste,
reproduzindo taxas e ritmos semelhantes àqueles observados na região
Sudeste.

(04) Na região Sul, a urbanização ocorreu de forma lenta até o início da década
de 1970. O processo se acelerou, entretanto, com o advento da mecanização
da agricultura e da concentração fundiária, que promoveu o êxodo rural.

(08) A urbanização do Centro-Oeste se atrasou em relação às outras regiões e


o seu desenvolvimento urbano tem se mantido lento. Em comparação com as
outras regiões do país, possui atualmente a quarta taxa de urbanização.

(16) Dentro da hierarquia da rede urbana brasileira, Florianópolis é um exemplo


de metrópole nacional, enquanto que Porto Alegre é a única metrópole global
localizada na região Sul.

9. (UFG-GO) Na estrutura espacial de um país, a rede urbana contribui para


demonstrar o nível de integração entre os diversos espaços e lugares. Em se
tratando das funções das metrópoles brasileiras atuais na organização da rede,
as suas características são:

a) crescimento urbano descontrolado e prevalência dos centros históricos para


as funções administrativas.

b) conurbação com municípios próximos e integração da gestão com as


metrópoles nacionais.

c) aumento de frotas de veículos e limitação da expansão urbana.

d) formação de novas centralidades e crescimento de funções terciárias.


e) intercâmbio com o comércio internacional e criação de centros de inovações
tecnológicas.

10. (UFAL-AL) As afirmativas a seguir abordam alguns aspectos do tema


Urbanização no Brasil. Analise-as atentamente.

1. Para analisar o crescimento das cidades no Brasil, é importante destacar a


população total, a população caracterizada como urbana, o índice de
urbanização no ano em que foi realizado o censo e as taxas de crescimento
dessa urbanização.

2. A grande cidade no Brasil se torna o lugar de todos os capitais e de todos os


trabalhos, isto é, o teatro de numerosas atividades marginais do ponto de vista
tecnológico, organizacional, financeiro, previdenciário e fiscal.

3. A urbanização no Brasil deve ser entendida como um processo que resulta


da transferência de pessoas do campo para a cidade, isto é, o crescimento da
população urbana em face do êxodo rural.

4. Entre os fatores repulsivos que contribuíram sensivelmente para a


aceleração do êxodo rural no Brasil, estão a concentração de terras, a
mecanização da lavoura e a falta de apoio governamental mais efetivo ao
homem do campo.

5. A rede urbana no Brasil é formada pelo sistema de cidades, interligadas


umas às outras através dos sistemas de transportes e de comunicações, pelos
quais fluem pessoas, mercadorias e informações.

Estão CORRETAS apenas:

a) 1 e 4 apenas.

b) 3 e 5 apenas.

c) 1, 2 e 3 apenas.

d) 2 e 5 apenas.

e) 1, 2, 3, 4 e 5.

193

11. (UFAM-AM)
Na grande cidade há cidadãos de diversas ordens ou classes, desde o que,
farto de recursos, pode utilizar a metrópole toda, até o que, por falta de meios,
somente utiliza parcialmente, como se fosse uma pequena cidade, uma cidade
local. Dessa forma, a rede urbana e o sistema de cidades também têm
significados diversos, segundo a posição financeira do indivíduo. Há, num
extremo, os que podem utilizar todos os recursos ali presentes. Em outro, há os
pobres de recursos, que são prisioneiros do lugar, isto é, dos preços, da
carência local. Para estes a rede urbana é uma realidade pertencente a um
sonho insatisfeito. Por isso são cidadãos diminuídos incompletos.

Adaptação extraída de SANTOS, Milton. Espaço do cidadão (1987).

No estudo das cidades, qual das alternativas a seguir melhor espelha os


aspectos mencio nados no texto.

a) As regiões sul e sudeste receberam esma gadora quantidade de migrantes,


cuja mão de obra qualificada contribuiu para o de senvolvimento e
descentralização das con dições de infraestrutura urbana.

b) A modernização da indústria proporcionou a concentração de pessoas nas


grandes cidades, facilitando as condições de mo radia e qualidade de vida nos
núcleos urbanos.

c) O espaço urbano é amplamente dominado por agentes hegemônicos, que


direcionam investimentos para seus interesses, organi zando o tráfego de
veículos particulares, informação e energia. Relegam, assim, in vestimentos
sociais, excluindo os pobres da modernização.

d) A rede urbana das cidades brasileiras pro picia transformações no espaço,


possibili tando às políticas públicas atender aos requisitos de cidadania e
inclusão das classes menos privilegiadas.

e) A partir da década de 70, a infraestrutura de transportes e comunicação foi


se ex pandindo pelo país, favorecendo as condi ções de urbanização para
excluídos sociais.

12. (UTFPR-PR) As proposições a seguir abordam o desenvolvimento


industrial brasileiro.
I. Por meio da industrialização, o Brasil ingres sou na modernidade e construiu
uma eco nomia que está entre as maiores do mundo. Embora a
industrialização seja dependente, não foi capaz de corrigir os graves proble
mas sociais do país.

II. A partir de 1955, o Brasil começou a receber diversas subsidiárias


estrangeiras, acentuan dose a internacionalização da economia.

III. A indústria, entre outras coisas, encarregou se da desarticulação das áreas


econômicas, isolandoas e assim compondo o espaço eco nômico nacional
integrado.

IV. Com o processo de industrialização, a Região Sul apresentou grande


crescimento do setor agropecuário, transformandose no celeiro agrícola do
país. Nas últimas décadas, com o processo de descentralização da indústria,
tornouse importante região industrial do país.

V. No período após a Segunda Guerra ocorreu importante etapa da


industrialização brasileira, pois foi implantada a Companhia Siderúrgica
Nacional - CSN, que se enquadrada na cate goria de bens de consumo não
duráveis.

Estão CORRETAS apenas as proposições:

a) I, II e IV.

b) III e V.

c) I, III e V.

d) III e IV.

e) I e II.

13. (UTFPR-PR) Identifique a alternativa correta em relação à atividade


industrial no Brasil.

a) A atividade industrial tem participação pou co significativa na economia


nacional, gerando poucos empregos diretos e indiretos, ou seja, nas fábricas
ou nas diferentes atividades que com ela se relacionam.
b) No Brasil, as grandes empresas são res ponsáveis pela maior parte dos
empregos gerados nos setores industriais, consequên cia de seu maior índice
de automação.

c) No Brasil, os custos internos de produção e a comercialização eram e ainda


são mais elevados que os encontrados em outras regiões do globo, como no
Leste e Sudes te da Ásia, o que dificulta a competitivida de no mercado
internacional.

d) A distribuição regional das indústrias no Brasil reflete a homogeneidade


socioeco nômica nacional, fazendo com que ocorra uma boa distribuição dos
estabelecimentos industriais por todo território nacional.

e) O polo petroquímico de Camaçari (RJ) foi instalado durante a década de 50,


provo cando alterações econômicas regional, em função da matériaprima
produzida.

194

unidade 8 - A urbanização brasileira e seus problemas

LEGENDA: Vista da favela de Paraisópolis e do bairro do Morumbi. Esta


paisagem urbana representa a desigualdade na cidade de São Paulo, em
2013.

CRÉDITO: Delfim Martins/Pulsar

195

[...]

A cidade não para, a cidade só cresce

O de cima sobe e o de baixo desce

[...]

Chico Science & Nação Zumbi. A cidade. In: Da Lama ao Caos. Chaos/Sony
Music. 1994.

O trecho de música citado acima aborda o aspecto da desigualdade, que é


marcante no Brasil, sobretudo no espaço urbano. Essa desigualdade pode ser
observada, por exemplo, na segregação espacial revelada nas diferentes
paisagens dos bairros precários e nas paisagens dos bairros de alto padrão.
Além disso, o rápido e desordenado crescimento do espaço urbano, como tem
ocorrido na atualidade, tem vindo acompanhado de repercussões sociais,
econômicas e ambientais.

- Observando as paisagens das cidades brasileiras, sobretudo dos maiores


centros urbanos, que implicações podem ser apontadas como consequências
do acelerado e desordenado processo de urbanização ocorrido em nosso país?
Quais são os principais problemas de ordem social, econômica e ambiental que
podemos visualizar nas paisagens das cidades brasileiras?

196

Urbanização excludente

O acelerado processo de urbanização ocorrido no Brasil, assunto que


estudamos na unidade anterior, apresentou características típicas do
subdesenvolvimento. Foi um processo que se apoiou na industrialização tardia,
ocorrida somente no século XX, embasada na transferência de tecnologias
mais avançadas importadas de países já industrializados. O setor industrial
brasileiro, por sua vez, não foi capaz de absorver a numerosa mão de obra que
migrou do campo para os centros urbanos.

Com isso, muitos dos trabalhadores que não conseguiram emprego nas
fábricas ingressaram no setor terciário, em geral, exercendo atividades
informais, pouco qualificadas, de baixa remuneração e sem vínculo
empregatício. Dado o enorme e crescente número de pessoas trabalhando nos
chamados subempregos, por exemplo, guardadores de carros, vendedores
ambulantes, catadores de sucata etc., houve o que chamamos de hipertrofia,
ou seja, um inchaço do setor terciário. O gráfico abaixo mostra o
comportamento da população economicamente ativa (PEA) nos diferentes
setores da economia.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 19 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

LEGENDA: Comércio ambulante na cidade de São Paulo, em 2015.

CRÉDITO: Alexandre Tokitaka/Pulsar


O grande número de subempregados, somado ao de desempregados, formou
um imenso exército de reserva que atendeu aos interesses do capital industrial.
Assim, dado o excesso de oferta de força de trabalho, esse exército de reserva
contribuiu para manter os níveis salariais em patamares reduzidos, e também
podia ser aproveitado nos períodos em que o crescimento econômico
necessitasse de mais mão de obra.

Esse conjunto de falta de emprego ou de empregos mal remunerados e a falta


de planejamento urbano para abrigar esse contingente populacional explicam
em parte o aumento da pobreza e da miséria visível nas nossas cidades,
sobretudo nos maiores centros urbanos do país. Devido à urbanização muito
rápida, as grandes cidades cresceram de forma desordenada, sem os
investimentos públicos suficientes para munir o espaço urbano de
infraestrutura, equipamentos e serviços necessários para o bem-estar de seus
habitantes.

Com base nessa perspectiva, pode-se dizer que as características dessa


urbanização expressam o próprio processo de modernização da economia e da
sociedade brasileira, que, marcado por seu caráter concentrador, levou ao
aprofundamento das desigualdades socioeconômicas, excluindo grande
parcela da sociedade de seus benefícios.

Glossário:

Exército de reserva: termo usado por Karl Marx para caracterizar o grupo de
trabalhadores desempregados. Segundo ele, esse exército é muito importante
para o capitalismo na medida em que impede a pressão sobre o valor dos
salários.

Fim do glossário.

197

- Cidades, desigualdades e segregação espacial

No Brasil, o processo de urbanização teve como traço marcante o surgimento e


o agravamento de inúmeros problemas sociais urbanos, que eclodiram à
medida que as cidades cresceram rapidamente e se expandiram de maneira
desordenada. Guardadas as diferenças de intensidade, as cidades brasileiras,
sobretudo os maiores centros urbanos, apresentam problemas parecidos e
revelam enormes carências, como a falta de habitação e de transportes, os
altos índices de violência e criminalidade, a insuficiência ou mesmo a ausência
de serviços essenciais (abastecimento de água, rede de esgoto, segurança,
iluminação, educação, saúde etc.).

Como o espaço da cidade é fragmentado, ou seja, dividido entre os grupos e


as classes sociais, tais problemas se materializam na paisagem urbana,
expressando uma nítida segregação espacial, determinada pelas diferentes
condições socioeconômicas, principalmente a renda da população. Assim,
quanto maiores as desigualdades sociais, maiores também são as
disparidades de moradia, de acesso aos serviços e, portanto, de qualidade de
vida. Em suma, o que determina a segregação espacial é o valor do espaço
urbano (terrenos e imóveis), o que obriga a população de baixa renda a se
instalar nos bairros e imóveis de preços mais acessíveis, por consequência, os
mais desprovidos de infraestrutura e outros aparatos urbanos e, por vezes,
distantes dos postos de trabalho (leia texto abaixo).

[...]

O acesso à moradia está ligado ao seu preço, que, por sua vez, depende da
localização na cidade.

Quando alguém compra uma casa, está comprando também as oportunidades


de acesso aos serviços coletivos, equipamentos e infraestrutura. Está
comprando a localização da moradia, além do imóvel propriamente dito.
Edifícios residenciais de mesma área, mesmos materiais de construção,
mesmos acabamentos têm preços diferentes, dependendo de onde se situam:
num bairro com transporte abundante, praças, escolas, arborização,
iluminação, etc., ou na periferia, que reúne carências múltiplas e onde o
número de homicídios é mais alto, pois o serviço da polícia se faz de forma
distinta na cidade, priorizando a defesa dos patrimônios pessoais. Até mesmo o
tipo de vizinhança interfere na valorização de imóveis e terrenos.

[...]

MARICATO, Ermínia. Habitação e cidade. 4. ed. São Paulo: Atual, 1997. p. 43.
LEGENDA: Fotografia de extensa favela em primeiro plano e, ao fundo, prédios
de luxo em Salvador, Bahia, em 2015.

CRÉDITO: Sérgio Pedreira/ Pulsar

198

A produção capitalista do espaço urbano

Um dos problemas urbanos mais graves, em especial nas grandes


aglomerações, é o da moradia. Segundo dados do IBGE, na Pesquisa Nacional
de Amostra por Domicílios (Pnad), o déficit habitacional em todo o país chegou
a cerca de 5,2 milhões de moradias em 2012. Esse déficit habitacional explica
o grande aumento do número de submoradias (favelas, cortiços, barracos etc.)
construídas, em geral, em áreas de risco ou insalubres, como encostas de
morros e margens de córregos. E revela também a face mais visível do
crescimento desordenado das cidades e da segregação espacial urbana.

Nas nossas cidades, a questão da moradia envolve fatores complexos. De um


lado, o aumento do déficit habitacional, em parte, se explica pela própria
política de planejamento urbano conduzida pelo Estado, que, durante décadas,
não priorizou a construção de moradias a preços acessíveis para as camadas
da população de mais baixa renda. Por outro lado, além de atender apenas a
uma parcela que lutava pelo sonho da casa própria, a construção de conjuntos
habitacionais nas áreas mais afastadas também significou o acesso à moradia
na periferia mais distante do centro da cidade. Isso acentuou ainda mais o
processo de periferização da população, especialmente nos grandes centros
urbanos do país.

Embora o crescimento das metrópoles brasileiras tenha como traço marcante a


expansão de bairros populares nas periferias mais distantes, a ocupação dos
subúrbios mais afastados (fora da cidade ou até mesmo do perímetro urbano)
também passou a ocorrer pela formação de condomínios fechados de elevado
padrão. Instalados nos melhores terrenos, próximos a vias de acesso e
dotados da mais completa infraestrutura e forte esquema de segurança (muros
altos, vigilância particular, acesso controlado), os condomínios de médio e alto
padrão abrigam uma elite socioeconômica privilegiada.
O medo da violência urbana crescente tem impulsionado a construção desses
condomínios, que se multiplicam em ritmo acelerado e se tornam cada vez
mais presentes nas paisagens das grandes e médias cidades brasileiras. Se,
por um lado, os condomínios significam o direito legítimo do cidadão pela
busca de maior segurança, por outro, constituem espaços privados e de
circulação restrita, que expressam a concretização da segregação
socioespacial urbana em seu nível mais elevado. As imagens abaixo retratam
essa disparidade.

CRÉDITO: Pedro Amatuzzi/Folhapress

LEGENDA DAS IMAGENS: Bairro da periferia, destituído de asfaltamento e


outros serviços (foto A, de 2015), enquanto em outra periferia proliferam
condomínios de alto padrão (foto B, de 2012), ambos em Campinas, São
Paulo.

CRÉDITO: João Prudente/Pulsar

199

- A especulação imobiliária

A inércia do Estado na política habitacional favoreceu, por sua vez, a


especulação imobiliária pelos agentes econômicos privados (grandes
empresas imobiliárias, construtoras, incorporadoras e loteadoras), que
passaram a controlar o mercado de terras e imóveis visando à obtenção de
lucros exorbitantes.

Com isso, as cidades começaram a ser loteadas conforme os interesses do


capital, ou seja, para a lógica da obtenção de lucro, alcançado com a crescente
valorização do espaço urbano. Isso ocorre da seguinte maneira: após se
apossarem de grandes áreas vazias no entorno mais próximo da cidade, os
agentes econômicos esperam que o poder público implante a infraestrutura
necessária (pavimentação, redes de água e esgoto, eletrificação etc.) até os
conjuntos habitacionais populares construídos nas áreas periféricas mais
distantes da cidade. Para alcançar essas áreas, a infraestrutura
necessariamente é implantada também nos terrenos vazios mais próximos,
reservados pelos especuladores, que lucram muito com a venda desses
terrenos valorizados por essas obras.
Por outro lado, a especulação imobiliária tem se aproveitado da falta de
fiscalização e regulação do poder público sobre o solo urbano para abrir
loteamentos clandestinos na borda mais periférica das grandes cidades. Esses
loteamentos, destinados à população mais pobre, são criados ilegalmente, sem
a mínima infraestrutura necessária. São bairros, portanto, que formam uma
espécie de "cidade clandestina", que sobrevive à margem da legislação urbana
e da administração pública.

O texto a seguir descreve como a classe econômica dominante se apropria do


espaço urbano, definindo o processo de ocupação e segregação
socioeconômica nesse espaço.

Sua atuação [da classe dominante ou algumas de suas frações] se faz, de um


lado através da autossegregação na medida em que ela pode efetivamente
selecionar para si as melhores áreas, excluindo-as do restante da população:
irá habitar onde desejar. A expressão dessa segregação da classe dominante é
a existência de bairros suntuosos e, mais recentemente, dos condomínios
exclusivos e com muros e sistema próprio de vigilância, dispondo de áreas de
lazer e certos serviços de uso exclusivo [...]. A classe dominante ou uma de
suas frações, por outro lado, segrega os outros grupos sociais na medida em
que controla o mercado de terras, a incorporação imobiliária e a construção,
direcionando seletivamente a localização dos demais grupos sociais no espaço
urbano.

CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1995. p. 63-64.

LEGENDA: Acima, em primeiro plano, condomínio de alto padrão, provido de


áreas verdes e casas luxuosas, situado em local afastado do centro urbano de
Curitiba, Paraná, em 2013. Este é um exemplo de segregação urbana.

CRÉDITO: Antonio Costa/Olhar Imagem

200

- O problema do transporte urbano

Ocupando lugares cada vez mais distantes do centro da cidade, uma grande
parcela dos moradores dessas periferias passa a depender do transporte
coletivo ou de massa (ônibus, trens, metrô) para se deslocar para o trabalho, a
escola, os serviços médicos etc.

Com isso, a população enfrenta diariamente a precariedade dos sistemas de


transporte, caracterizada pela falta de conduções, atrasos frequentes, veículos
superlotados e passagens caras. Essa situação amplia o espaço de tempo, já
elevado, gasto no deslocamento em longos trajetos entre os bairros periféricos
e outros destinos.

Tais problemas revelam uma dupla questão: de um lado, a falta de maiores


investimentos na expansão e melhoria do transporte coletivo urbano por parte
do poder público; por outro, a atuação de grupos empresariais poderosos que
exploram o setor, os quais buscam enormes lucros cobrando caro pelas
passagens e oferecendo um serviço de péssima qualidade.

Para economizar os gastos e o tempo despendido com o transporte diário,


muitas famílias se instalam em cortiços, habitações alternativas formadas em
geral por velhos casarões ou edifícios abandonados que ainda existem nas
áreas mais centrais da cidade. Neles, famílias inteiras amontoam-se em
pequenos quartos, quase sempre em péssimas condições de conservação.

LEGENDA: Aspecto do transporte público em Salvador, Bahia, em 2011.

CRÉDITO: Mauricio Simonetti/Pulsar

- A violência urbana

Embora o aumento da violência nos centros urbanos tenha causas complexas,


as raízes desse problema encontram-se, em grande parte, na crescente
exclusão e marginalização em que grande parcela da população vive. A
pobreza não é a principal causa da violência, visto que as cidades mais pobres,
em geral, não são as mais violentas. Ocorre que os bairros mais carentes da
cidade, onde o poder do Estado não se impõe, disponibilizando serviços
públicos à população, inclusive segurança pública, tornam-se territórios
favoráveis ao crescimento da violência urbana.

Aproveitando-se da ausência de aparato estatal, da omissão das autoridades e


da corrupção policial, o crime organizado se instala nesses bairros, onde
encontra refúgio para seus líderes e para a prática de atividades criminosas.
Os moradores desses bairros, por sua vez, tornam-se "reféns" desses
criminosos e acabam vítimas dos conflitos decorrentes do confronto entre
quadrilhas rivais pelo controle de tais áreas, ou desta com policiais.

LEGENDA: Protesto em São Paulo contra onda de assaltos e violência urbana


em um bairro da cidade, em 2011.

CRÉDITO: Carlos Cecconello/Folhapress

201

Contexto geográfico

Estudo de caso

Singapura: uma cidade que anda na linha

"Todos os dias, cerca de 200 000 pessoas vão morar em cidades. Toda
semana, brota uma nova cidade do tamanho de Kyoto ou Barcelona. Em 2050,
70% da população mundial viverá em cidades, em comparação com os 50% de
hoje. O desafio das cidades será garantir aos seus 6,4 bilhões de habitantes
acesso a energia, água, transporte, emprego e habitação de qualidade." O
texto acima, estampado com destaque em uma das entradas do Ministério do
Desenvolvimento de Singapura, reflete a preocupação dos governantes dali
com o futuro. [...]

É preciso ponderar que estamos falando de uma ilha com [quase] 700
quilômetros quadrados, menos da metade da área do município de São Paulo,
com 5 milhões de habitantes [...] (a proporção é de um estrangeiro para cada
quatro singapuranos nativos), e cheia de restrições a seus moradores, que
pagam caro (não só no sentido literal) caso descumpram suas leis. [...] Mas o
fato é que a cidade funciona com uma perfeição quase irreal. Vamos a alguns
exemplos.

Quem vive em Singapura não tem a menor ideia do que é mofar em um


congestionamento. A frota da cidade é de cerca de 900 000 veículos, incluindo
aí caminhões e motos. Comprar um carro custa caro, e mantê-lo, mais ainda.
[...] Com isso, a ideia é que a frota não ultrapasse o número atual. O
desestímulo não para por aí. Há 25 pedágios eletrônicos espalhados só na
região central - na cidade toda são 73. Cada vez que o motorista passa sob um
deles e ouve um agudo "pipi" do chip instalado no para-brisa, sabe que lá se
foram entre 65 centavos e 2,60 reais, dependendo do lugar e do horário.

Em contrapartida, Singapura é extremamente bem servida de transporte


coletivo. São 3 300 ônibus (97% com ar-condicionado) e 129,7 quilômetros de
metrô. Criado em 1987, ele tem 87 estações espalhadas por quatro linhas. Um
trem não demora mais que três minutos para chegar. [...]

[...] Além da forte presença no mercado financeiro internacional e dos


excelentes índices educacionais, o país passou por grandes transformações.
Uma delas pode ser vista ao longo do Rio Singapura, onde se enfileiram
dezenas de bares e restaurantes. Antes uma região degradada, agora é
possível passear ali em pequenos barcos por suas águas despoluídas após
dez anos de pesados investimentos. [...]

ZAPPAROLI, Alecsandra. Singapura: uma cidade que anda na linha. Veja São
Paulo, São Paulo, 1º jun. 2011. Disponível em:
http://vejasp.abril.com.br/materia/a-experiencia-singapura. Acesso em: 4 out.
2015.

- Em sua opinião, o que é necessário para que as grandes cidades brasileiras


possam ser organizadas, limpas e seguras, a exemplo de Singapura?

LEGENDA: Vista noturna da moderna cidade de Singapura, localizada no sul


da Ásia, em foto de 2015.

CRÉDITO: Freedom Man/Shutterstock.com

202

As cidades e os problemas ambientais

O processo de urbanização em nosso país também foi acompanhado pelo


surgimento e agravamento de inúmeros problemas ambientais, que afetam
atualmente nossas cidades. Embora muitos deles (poluição atmosférica,
contaminação das águas, produção de lixo e descarga de esgotos etc.) possam
ser observados em quase todos os centros urbanos do país, eles são mais
visíveis e mais intensos nas maiores cidades, sobretudo nas grandes
aglomerações metropolitanas, que, via de regra, se expandiram de maneira
rápida e desordenada, produzindo impactos ambientais negativos no sistema
urbano.

Mas é preciso considerar que o processo de modernização que forjou a


sociedade urbana brasileira, influenciada por uma industrialização tardia e por
um modelo capitalista excludente, contribuiu para o agravamento dos
problemas ambientais no meio urbano. Vejamos a seguir alguns dos principais
problemas ambientais que afetam as cidades brasileiras.

- Poluição do ar

A poluição atmosférica nos centros urbanos é gerada, principalmente, pela


emissão de materiais particulados (fuligem) e gases tóxicos, como monóxido
de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO 2), expelidos das chaminés das
fábricas e dos escapamentos dos veículos automotores. Estes últimos são os
que, em geral, mais contribuem para a poluição do ar, devido ao seu grande
número em circulação nos grandes centros urbanos. Do total de cerca de 1,6
milhão de toneladas de monóxido de carbono emitidas na atmosfera da cidade
de São Paulo, por exemplo, cerca de 97% têm origem na crescente frota de
veículos que circula pela cidade.

Outra fonte de poluição atmosférica que também afeta os centros urbanos,


ainda que em menor escala, provém da incineração (queima) de lixo, galhos e
folhas de árvores etc. em terrenos baldios ou abandonados.

A elevada concentração de fuligem e gases poluentes forma, na baixa


atmosfera, uma espécie de névoa - o smog - (foto abaixo), que reduz a
visibilidade, limitando a visão do horizonte. Isso ocorre, sobretudo, pela
ausência de correntes de ventos capazes de dispersar os poluentes
atmosféricos.

Quando inalados, esses poluentes acarretam diversas consequências nocivas


para a saúde humana. A poluição do ar pode causar de irritação nos olhos e na
garganta, dor de cabeça, tosse prolongada e sonolência, a doenças
respiratórias (bronquite, asma, rinite), problemas que atingem com maior
frequência crianças e idosos, grupos etários mais sensíveis aos efeitos da
poluição. Estudos científicos também indicam que a exposição prolongada a
essa poluição pode provocar doenças ainda mais graves, como enfisema e
câncer pulmonar.

LEGENDA: Intensa poluição do ar sobre os bairros da zona norte da cidade de


São Paulo, em foto de 2014. Observa-se claramente a formação de smog na
baixa atmosfera.

CRÉDITO: Fabio Colombini

203

Contexto geográfico

Estudo de caso

A poluição do ar e a inversão térmica

Os efeitos da poluição atmosférica, sobretudo nos maiores centros urbanos,


também podem ser agravados pelas inversões térmicas, fenômenos
atmosféricos naturais mais frequentes durante os meses de inverno, quando as
massas de ar frio penetram pelo centro-sul do país.

As inversões térmicas ocorrem quando uma camada de ar frio, estagnada


próximo à superfície, é repentinamente encoberta por uma camada de ar
quente. Com isso, o fenômeno impede a formação de ventos ascendentes na
atmosfera. Como se sabe, o ar se esfria à medida que a altitude aumenta.
Nessas condições, o ar mais quente, por ser mais leve, tende a subir,
realizando movimentos ascendentes (figura A).

Mas, com a inversão térmica, ocorre o inverso: a camada de ar mais quente


permanece acima do ar frio, que fica mais próximo à superfície e impede sua
dispersão, aumentando, assim, a concentração dos poluentes atmosféricos
lançados por fábricas, veículos e outras fontes (figura B). Concentrada sobre a
cidade, essa poluição piora a qualidade do ar, afetando a saúde das pessoas.

As inversões térmicas são fenômenos de curta duração, podendo durar de


poucas horas a alguns dias. Elas, em geral, se formam no início da manhã,
quando o ar se encontra mais frio. À medida que o solo e o ar próximo da
superfície vão se aquecendo após o nascer do Sol, o fenômeno vai se
desfazendo, e o padrão da circulação atmosférica habitual se restabelece.
LEGENDA: As grandes cidades são lugares favoráveis para a ocorrência das
inversões térmicas. Isso porque as enormes áreas construídas e
impermeabilizadas absorvem e retêm grande quantidade de calor durante o
dia. À noite, entretanto, esse calor é rapidamente liberado para a atmosfera, o
que torna o ar próximo ao solo mais frio. Ao amanhecer, esse ar mais frio
facilita a formação das inversões térmicas.

FONTE: Ilustrações produzidas com base em: CHRISTOPHERSON, Robert W.


Geossistemas: uma introdução à Geografia física. Tradução Francisco Eliseu
Aquino et al. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. p. 75. CRÉDITO DAS
ILUSTRAÇÕES: Paula Radi

204

- Ilhas de calor

Outro fenômeno climático que também contribui para intensificar os níveis de


poluição nas grandes aglomerações urbanas é a chamada ilha de calor. Esse
fenômeno, que também é resultado de alterações humanas sobre o meio
ambiente, se caracteriza pelas diferenças de temperatura média entre as
regiões centrais das grandes cidades e suas periferias. Na Grande São Paulo,
por exemplo, os termômetros chegam a registrar, num mesmo momento do dia,
variações de até 10 ºC entre as temperaturas mais elevadas das áreas centrais
da capital e as regiões do entorno periférico.

A explicação para variações térmicas tão acentuadas está ligada às diferenças


de irradiação de calor entre as áreas centrais e as periferias. As áreas centrais,
mais densamente edificadas e impermeabilizadas, com seus prédios e
construções, ruas, avenidas e viadutos pavimentados, se aquecem com mais
intensidade e irradiam o calor para a atmosfera, tornando o ar mais quente.
Como os grandes edifícios dificultam a circulação dos ventos, o calor não se
dispersa, mantendo as temperaturas mais altas. Outros fatores, como a
excessiva poluição gerada pelo grande número de veículos em circulação e a
falta de áreas verdes, também colaboram para esse aumento das temperaturas
nas áreas mais centrais das cidades.

Com as ilhas de calor, que ocasionam temperaturas do ar mais elevadas,


formam-se zonas de baixa pressão atmosférica, que facilitam a ascensão do
ar. Com isso, os ventos passam a soprar, sobretudo durante o dia, em direção
ao centro da cidade, carregando consigo boa parte dos poluentes atmosféricos
das zonas industriais periféricas.

As ilhas de calor têm sido verificadas também em Manaus e Belém, ou seja,


fora do grande centro industrial do país. Leia o texto a seguir.

Polos de desenvolvimento da Amazônia brasileira, encravadas na imensa,


quente e úmida floresta tropical, Manaus e Belém começam a apresentar
alterações climáticas típicas das grandes cidades. Entre 1961 e 2010, a
temperatura média da capital amazonense aumentou 0,7 grau Celsius (ºC) e
atingiu 26,5 ºC, segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe). No mesmo período, a temperatura média da capital paraense
subiu 1,51 °C e alcançou 26,3 ºC. Em ambos os casos, a elevação se deve
principalmente ao crescimento da área urbanizada das cidades, processo que
se acentuou nas duas últimas décadas, embora efeitos mais globais, ligados às
mudanças climáticas de grande escala, também possam ter tido algum impacto
sobre esse índice. [...]

Com mais prédios, concreto e asfalto tomando o lugar da vegetação nativa, o


chamado efeito ilha urbana de calor, fenômeno conhecido há tempos por
paulistanos e cariocas, também apareceu com força nas duas principais
capitais da região Norte. [...]

PIVETTA, Marcos. Ilha de calor na Amazônia. Pesquisa Fapesp on-line, São


Paulo, ed. 200, out. 2012. Disponível em:
http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/10/11/ilha-de-calor-na-amazonia/. Acesso
em: 4 nov. 2015.

Glossário:

Grande São Paulo: também conhecida como Região Metropolitana de São


Paulo, é a área cujo intenso processo de conurbação agrupa 39 municípios
adjacentes à capital paulista.

Fim do glossário.

LEGENDA: Paisagem da cidade de Manaus, Amazonas, em 2015.

CRÉDITO: Ernesto Reghran/Pulsar


205

- Poluição hídrica

Nos centros urbanos, em especial nas maiores cidades, a degradação dos


recursos hídricos (rios, córregos, mananciais, represas, lençóis subterrâneos
etc.) resulta, principalmente, do despejo de poluentes lançados diretamente em
cursos e reservatórios de água.

Grande parte dessa poluição provém de esgotos domésticos, sobretudo


dejetos humanos de origem orgânica, e de efluentes industriais compostos dos
mais diversos tipos de resíduos e materiais. Em geral, essa poluição chega aos
cursos de água por meio de ligações clandestinas e irregulares, que levam
parte dos esgotos até as galerias subterrâneas que captam a água das chuvas.
Além disso, devido à precariedade dos serviços de saneamento básico, que
não se expandiram no mesmo ritmo em que as cidades cresceram, muitas
áreas urbanas são desprovidas de redes coletoras e o esgoto acaba sendo
lançado a céu aberto, atingindo as fontes hídricas. No Brasil, cerca de 41% dos
domicílios não têm coleta de esgoto sanitário. Soma-se a isso a grande
quantidade de materiais e resíduos que, jogada nas margens de rios e
córregos ou levada das vias públicas pelas águas das chuvas, também
contribui para a contaminação das águas.

A utilização de água contaminada coloca em risco a saúde da população,


podendo transmitir inúmeras doenças, como cólera, verminoses, disenteria,
hepatite A, entre outras. A contaminação dessas águas também afeta a vida
aquática, levando muitos animais e plantas à morte.

Glossário:

Disenteria: infecção ou inflamação do intestino provocada por bactérias e


parasitas que resulta em dores abdominais, diarreia, mal-estar, febre,
desidratação, entre outros sintomas.

Fim do glossário.

LEGENDA: Com a enorme quantidade de poluentes que recebem todos os


dias, as águas dos rios que atravessam as cidades se transformaram em
esgoto a céu aberto, rios fétidos e sem vida aquática. A fotografia acima, de
2014, mostra canal poluído na cidade de Ruy Barbosa, na Bahia.

CRÉDITO: Cesar Diniz/Pulsar

Tabela: equivalente textual a seguir.

Brasil: 10 rios mais poluídos

Rio Principais causas da poluição

Dejetos industriais e domésticos, principalmente


no trecho que passa pela
1 Tietê - SP
capital paulistana, e poluição proveniente de
atividades agropecuárias.

Falta de saneamento básico por causa do


2 Iguaçu - PR elevado número de habitantes
em torno do rio.

3 Ipojuca - PE Despejo de lixo e de esgoto no curso do rio.

4 Dos Sinos - Poluição por esgoto doméstico e despejo de


RS resíduos industriais.

Despejo de esgoto, dejetos de suínos criados no


5 Gravataí - RS entorno, poluição
industrial e resíduos sólidos.

Presença de substâncias tóxicas, como arsênio,


6 Das Velhas - cianeto e chumbo,
MG provenientes do parque industrial da Região
Metropolitana de Belo Horizonte.

7 Capibaribe -
Poluição por resíduos urbanos.
PE

Poluentes de indústrias metalúrgicas e


8 Caí - RS
mecânicas.

9 Paraíba do Sul Dejetos industriais, domésticos e agropecuários.


- RJ

Contaminação química por indústrias e por


10 Doce - MG atividades agrícolas
(pesticidas e herbicidas).

CRÉDITO: CENTRO das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP). IBGE


apresenta ranking dos 10 rios mais poluídos no Brasil. Disponível em:
www.ciespjacarei.org.br/noticias/ibge-apresenta-ranking-dos-10- rios-mais-
poluidos-do-brasil/. Acesso em: 29 set. 2015.

206

- Resíduos urbanos

Os resíduos urbanos constituem sério problema ambiental que afeta a maioria


das cidades brasileiras, sobretudo os maiores centros urbanos. Diariamente, os
sistemas urbanos produzem toneladas de resíduos, gerados em domicílios,
escolas, estabelecimentos comerciais, indústrias, hospitais etc.

Assim, ao discutir o problema dos resíduos urbanos, é preciso considerar duas


questões importantes. Uma delas diz respeito ao próprio modelo de sociedade
industrial, que, calcada na acelerada expansão tecnológica, que torna os
produtos obsoletos com muita rapidez, e no consumo exagerado, leva a
população a gerar quantidades cada vez maiores de resíduos.

Outra questão importante está ligada ao destino desses materiais. Embora


existam alternativas adequadas, a maior parte dos resíduos urbanos
produzidos no país não recebe o devido cuidado, sendo depositada em
terrenos destinados exclusivamente para esse fim, como lixões e aterros
sanitários (veja quadro abaixo).

Em muitas cidades, o problema também se agrava pela deficiência dos


serviços de coleta, que não atendem a todos os bairros de forma regular e
efetiva. Nesses casos, os resíduos acabam tendo uma destinação inadequada,
jogados em terrenos baldios, calçadas, ruas, margens de córregos e rios.

Boxe complementar:

Lixões e aterros sanitários


Nos lixões a céu aberto, os materiais e resíduos são jogados diretamente no
solo, sem nenhum tipo de separação e sem qualquer medida de proteção ao
meio ambiente.

Nos aterros sanitários, ao contrário, o material, previamente selecionado, é


depositado em terrenos preparados. O solo é nivelado e impermeabilizado com
argila e mantas sintéticas para evitar a sua contaminação e também a do lençol
freático pelo chorume. Coletado por meio de drenos, o chorume produzido no
aterro é encaminhado para estações de tratamento de efluentes. Além disso,
os aterros possuem sistemas para liberar os gases produzidos pela
decomposição dos materiais orgânicos.

Fim do complemento.

LEGENDA: Pessoas que vivem da coleta de materiais retirados de um lixão em


Luziânia, Goiás, em 2014.

CRÉDITO: Raimundo Paccó/Frame/Folhapress

207

Resíduos, ambiente e saúde

Quando depositado de maneira incorreta, o acúmulo de resíduos acarreta uma


série de riscos e problemas, entre os quais podemos destacar:

- a proliferação de insetos (moscas e baratas), ratos e outros animais


transmissores de doenças;

- a contaminação do solo e também das pessoas que manipulam diretamente


os materiais;

- a contaminação do subsolo e do lençol freático pelo chorume, resíduo líquido


de cor escura proveniente da decomposição da matéria orgânica;

- a perda da qualidade ambiental, provocada pelo mau cheiro e pelo


degradante aspecto visual.

Esses problemas ambientais se agravam ainda mais pelo fato de que boa parte
dos resíduos descartados leva muito tempo até se decompor, permanecendo
por décadas no ambiente. Veja quadro a seguir.

LEGENDA: Papel: 3 meses


LEGENDA: Fralda descartável: 600 anos

LEGENDA: Chiclete: 10 anos

LEGENDA: Lata de alumínio: mais de 100 anos

LEGENDA: Saco plástico: de 30 a 40 anos

LEGENDA: Vidro: 4000 anos

CRÉDITO DAS FOTOGRAFIAS: Fotomontagem formada pelas imagens


OlegDoroshin,anaken2012, Jiri Hera, Ints Vikmanis, Kovalchuk Oleksandr,
Evgeny Karandaev/Shutterstock.com

Reciclagem: uma alternativa possível

Existem inúmeras alternativas para amenizar os impactos gerados pelos


resíduos urbanos. No caso dos resíduos domésticos, por exemplo, o ideal é a
prática da reciclagem em larga escala. Muitos materiais (vidros, plásticos,
papéis e metais) podem ser separados para serem reciclados e reaproveitados.
Como essa prática reduz significativamente o volume de resíduos produzido,
torna-se mais fácil tratar de forma correta o que foi descartado.

No caso dos resíduos orgânicos (restos de alimentos), a alternativa pode ser a


compostagem, técnica que transforma restos de alimentos em adubo natural
para o solo. Há, ainda, o destino específico de alguns tipos especiais de
resíduos. Os resíduos hospitalares, por exemplo, devido ao seu alto risco de
contaminação, devem ser incinerados; já os materiais tóxicos devem ser
recolhidos com cuidado e tratados de maneira específica.

O aumento da produção de resíduos é um reflexo do elevado e crescente


padrão de consumo que praticamos atualmente. Reflita sobre a problemática
da geração de resíduos, sob os seguintes pontos de vista:

a) reduzir o consumo visando à diminuição da necessidade de explorar mais


matérias-primas diretamente da natureza;

b) diminuir a produção de resíduos cujo destino não tem sido o mais adequado;

c) dar destino adequado aos resíduos domésticos, industriais e agropecuários.

208

Atividades
Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. O "inchaço" do setor terciário nas grandes cidades brasileiras é


consequência do modelo de urbanização ocorrido em nosso país? Explique.

2. Como a segregação socioespacial pode ser percebida na paisagem do


espaço urbano? O que determina essa segregação?

3. O crescimento desordenado dos centros urbanos tem provocado graves


problemas sociais. Dê alguns exemplos.

4. De que maneira os agentes econômicos privados conseguem obter elevados


lucros por meio da especulação imobiliária?

5. Cite alguns fatores que contribuem para o aumento da violência urbana.

6. Quais são os principais problemas ambientais das cidades brasileiras? Em


sua opinião, esses problemas ocorrem apenas nas grandes cidades? Explique
sua resposta.

7. Explique como se formam as ilhas de calor.

8. Quais são as consequências resultantes da má destinação e acúmulo de


resíduos em locais impróprios? Dê exemplos.

Expandindo o conteúdo

9. Observe a foto e responda às questões.

LEGENDA: Na imagem acima, cortiço localizado na cidade de São Paulo, em


foto de 2012.

CRÉDITO: Rubens Chaves/Pulsar

a) Os cortiços, em geral localizados nas áreas centrais das grandes cidades,


são áreas deterioradas. Os cortiços são um exemplo da urbanização
excludente? Explique.

b) Qual é a relação entre a ocupação desses locais e as problemáticas


enfrentadas pela população que depende de transporte coletivo?

10. Leia o texto e realize as atividades propostas a seguir.

O transporte urbano no Brasil


As maiores cidades brasileiras, assim como muitas grandes cidades de países
em desenvolvimento, foram adaptadas, nas últimas décadas, para o uso
eficiente do automóvel, o que correspondeu a um projeto de privatização da
mobilidade, fortemente associada aos interesses das classes médias formadas
no processo de acumulação capitalista. Vários esquemas de financiamento e
incentivo mercadológico promoveram grande ampliação da frota de automóveis
no Brasil e, mais recentemente, da frota de motocicletas, neste caso atendendo
a um público mais jovem e novos grupos em ascensão social e econômica.

Paralelamente, o sistema de transporte público foi crescentemente


negligenciado, em uma pedagogia negativa para afastar a sociedade do seu
uso como principal forma de transporte motorizado. O transporte público,
apesar de alguns investimentos importantes em locais específicos,
permaneceu insuficiente e de baixa qualidade e tem experimentado crises
financeiras cíclicas, ligadas principalmente à incompatibilidade entre custos,
gratuidades, tarifas e receitas, bem como às deficiências na gestão e na
operação. Adicionalmente, ele experimentou um declínio na sua importância,
eficiência e confiabilidade junto ao público, passando a ser visto como um "mal
necessário" para aqueles que não podem dispor do automóvel ou da
motocicleta.

209

A motorização privada da mobilidade trouxe consigo grandes impactos


negativos, na forma de aumento dos custos de operação dos ônibus, dos
acidentes, da poluição e dos congestionamentos [...] Como o uso do automóvel
requer o consumo de grande espaço físico nas vias, o congestionamento
cresceu e rebaixou a velocidade dos ônibus para 12 a 15 km/h, quando o
desejável e possível com tratamento adequado é 20 a 25 km/h. Isso levou ao
aumento dos custos operacionais dos ônibus entre 15% e 25%, sendo o custo
adicional repassado aos usuários pagantes, na maioria com baixo nível de
renda. [...]

Às grandes diferenças de qualidade entre o transporte público e o individual


devem ser acrescentadas as vantagens do custo de usar automóveis ou motos:
uma viagem de 7 quilômetros no pico da tarde em uma grande cidade, usando
transporte público, leva mais do que o dobro do tempo da viagem em
automóvel ou motocicleta, além de custar o triplo da viagem em moto e apenas
10% a menos que a viagem em auto. No campo ambiental, nas cidades com
mais de 60 mil habitantes o transporte individual foi, em 2010, responsável por
87% das emissões de poluentes locais (que afetam a saúde das pessoas) e
por 64% das emissões de dióxido de carbono (CO 2), principal poluente do
efeito estufa, que afeta a saúde da Terra. Na área da segurança do trânsito,
morrem no Brasil 40 mil pessoas por ano, a maioria relacionada ao uso de
veículos privados, com índices por habitante entre 4 e 6 vezes superiores aos
dos países desenvolvidos. [...]

A questão, portanto, é saber quais podem ser as bases de uma política de


mobilidade ambientalmente saudável, equitativa e sustentável, por meio da
qual o transporte urbano seja organizado de forma a garantir prioridade aos
deslocamentos não motorizados e por transporte público, para que sejam feitos
com qualidade e eficiência. Assim, as perguntas mais importantes para o nosso
futuro são:

Que sistema de transporte urbano devemos organizar para acomodar, com


qualidade e eficiência, os futuros deslocamentos nas cidades brasileiras?

Qual deve ser o tratamento dispensado a cada modo de transporte e quais


deles devem ter prioridade?

[...]

VASCONCELLOS, Eduardo A. O transporte urbano no Brasil. Le Monde


Diplomatique Brasil, São Paulo, 1º jun. 2012. Disponível em:
www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1181. Acesso em: 4 nov. 2015.

LEGENDA: Congestionamento em avenida no centro da cidade de São Paulo,


em 2014.

CRÉDITO: Levi Bianco/Brazil Photo Press

a) A que o texto se refere com "privatização da mobilidade"? De acordo com o


texto, de que maneira esse fenômeno urbano tem sido estimulado?

b) Você concorda que esse processo tem desestimulado a população a usar o


transporte coletivo? Justifique sua resposta.
c) Você tem observado essa realidade pelas ruas do lugar onde mora? Como
isso afeta o seu dia a dia?

d) Elabore um texto argumentativo, que pode ser produzido individualmente ou


em dupla, respondendo às duas questões propostas ao final do texto. Depois,
apresente-o aos colegas da sala.

210

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

A desigualdade socioeconômica retratada na poesia

O Brasil é um dos países do mundo de maior desigualdade socioeconômica.


Por isso, muitos brasileiros sofrem diariamente com a discriminação devido às
desigualdades sociais existentes em nosso país.

A poesia é uma das maneiras pelas quais as pessoas denunciam e manifestam


sua indignação sobre a desigualdade socioeconômica.

Veja a poesia a seguir.

Daqui de cima...

Daqui de cima eu lembro

Dos tempos que ia

De noite, de dia

Pra construção.

Trabalho pesado

O rosto suado

Os calos na mão.

Coloca tijolo

Saudade, consolo,

Do filho no Norte.

E bate cimento

Na chuva, no vento
A falta de sorte

Daqui de cima eu vejo

E com o dedo aponto

O prédio já pronto

Que eu construí.

Agora é escola

Meu sonho, esmola

É trazer meu guri.

Paredes fabrico

Pro filho do rico

Ter onde estudar.

Meu filho não lê

Não sabe escrever

Não arrisca sonhar.

DALAI, Ricardo. Daqui de cima... Disponível em:


http://ricardodalai.blogspot.com.br/2013/04/daqui-de-cima.html. Acesso em: 4
nov. 2015.

LEGENDA: Desigualdade socioeconômica visível na paisagem de Recife,


Pernambuco, em 2012.

CRÉDITO: Leo Caldas/Pulsar

211

A Geografia no cinema

Cidade de Deus

CRÉDITO: Filme de Fernando Meirelles. Cidade de Deus. Brasil. 2002

Título: Cidade de Deus

Diretor: Fernando Meirelles

Atores principais: Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino da Hora e Seu Jorge


Ano: 2002

Duração: 130 minutos

Origem: Brasil

Por meio da história da vida de Buscapé, jovem pobre que mora na favela
Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, o filme retrata diversos aspectos que
marcaram a vida em algumas áreas urbanas. A violência, o crime e a pobreza
são alguns dos temas abordados ao longo do filme.

Para assistir

- ESTRADA das lágrimas 1 400. TV Cultura: São Paulo, 1992.

Documentário que retrata as condições de vida de moradores da comunidade


de Heliópolis, São Paulo, em 1992. Ao longo do documentário são retratados
vários aspectos, entre eles, a localização de moradias próximo aos morros e às
margens de córregos.

- SANEAMENTO básico. Direção: Jorge Furtado. Sony Pictures, 2007.

Depois que os moradores de Linha Cristal ficam sabendo da construção de


uma grande fossa para o tratamento de esgoto no vilarejo, um grupo se reúne
e se mobiliza contra a construção. O filme retrata a produção de um vídeo para
essa mobilização.

Para ler

- CANTO, Reinaldo. As cidades brasileiras conseguirão tratar seu lixo? Carta


Capital, 16 maio 2014. Disponível em: http://tub.im/9sc7r8. Acesso em: 8 out.
2015.

- DAVIS, Mike. Planeta favela. Tradução Beatriz Medina. São Paulo: Boitempo,
2006.

- LEITE, Ligia Costa. Meninos de rua: a infância excluída no Brasil. São Paulo:
Atual, 2000. (Coleção Espaço & Debate).

- MARICATO, Ermínia. Habitação e cidade. 7. ed. São Paulo: Atual, 2010.

- RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas cidades brasileiras. São Paulo:


Contexto, 2003.
- SCARLATO, Francisco Capuano; PONTIN, Joel Arnaldo. O ambiente urbano .
São Paulo: Atual, 1999.

Para navegar

- BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) .


Disponível em: http://tub.im/yvdrj7. Acesso em: 8 out. 2015.

- FOLHA de S.Paulo. Disponível em: http://tub.im/zad4jf. Acesso em: 8 out.


2015.

- OBSERVATÓRIO de Favelas. Disponível em: http://tub.im/b6vwkf. Acesso


em: 8 out. 2015.

- O ESTADO de S. Paulo. Disponível em: http://tub.im/xsf628. Acesso em: 8


out. 2015.

- REVISTA Problemas Brasileiros. Disponível em: http://tub.im/w642kp. Acesso


em: 8 out. 2015.

212

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UEPB-PB) Escreva F ou V (Falso ou Verdadeiro) para as proposições que


tratam de realidades concretas vivenciadas no espaço urbano brasileiro pela
população de baixa renda.

- As favelas, que muitas vezes são vistas por milhares de brasileiros apenas
como lugar da desordem social, agregam milhares de trabalhadores que
disponibilizam sua força de trabalho a serviço do desenvolvimento econômico
do país. Esses trabalhadores não têm acesso a outro lugar no solo urbano,
nem condições de usufruir das benesses do mundo moderno.

- A segregação residencial é consequência de um espaço mercadoria, cujos


valores de uso e troca definem as formas de apropriação e de luta pelo direito
de morar na cidade.

- O espaço urbano de uma grande cidade como São Paulo é hoje a soma de
várias cidades que apresentam realidades diversas sem articulação entre si.
- A falta de empregos nas grandes cidades brasileiras inclui na paisagem
mendigos que moram embaixo de viadutos (sem-teto), pedem esmolas ao lado
de crianças além de subempregados e crianças que disputam espaços nos
semáforos para venderem bugigangas na busca da sobrevivência.

- A violência em toda sua dimensão não é problema apenas das grandes


metrópoles; nas cidades de menor porte ela também se faz presente. Vem
deixando sua marca registrada em muitas escolas brasileiras.

A alternativa que apresenta a sequência CORRETA é:

a) V-V-F-V-V.

b) V-V-V-F-V.

c) F-F-F-V-V.

d) V-F-V-F-V.

e) F-V-F-V-V.

2. (Fuvest-SP) Desde o final da década de 1970, no Brasil, os movimentos


sociais urbanos têm reivindicado o chamado Direito à Cidade, em que a
moradia é elemento fundamental. Acerca desse tema, considere os gráficos,
seus conhecimentos e as seguintes afirmações:

FONTE: IBGE, 2006/2007. CRÉDITO: E. Cavalcante

I. A Região Sudeste responde por mais da metade do PIB nacional, sendo,


porém, a região com maior déficit habitacional. Consequentemente, forte
concentração de capital não significa acesso à moradia.

II. A Região Nordeste tem o segundo maior déficit habitacional e a terceira


maior participação no PIB nacional. Isso significa que a histórica desigualdade
social nessa região foi superada.

III. A Região Norte tem o segundo menor déficit habitacional e a menor


participação no PIB nacional. Isso significa que o déficit habitacional é um
problema desvinculado da produção/ distribuição de riqueza.

Está correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.

c) I e III, apenas.

d) II e III, apenas.

e) I, II e III.

213

3. (UFPB-PB) No processo brasileiro de urbanização, a apropriação da terra


segue a tendência de sua valorização, atendendo aos interesses de
reprodução do capital. Nessa lógica, observa-se, por um lado, que o uso do
solo causa efeitos na constituição das formas dos espaços construídos nas
cidades. Por outro lado, assinala-se que, na caracterização dessas paisagens,
a valorização da terra promove impactos na organização dos espaços internos
dos centros urbanos. Enfim, essas cidades apresentam paisagens próprias ou
singulares, visíveis em sua organização espacial, que se relacionam
diretamente com a estrutura socioeconômica da população.

A partir do exposto, identifique as consequências resultantes do processo de


urbanização nas cidades brasileiras:

- Segregação urbana, retratando a espacialização dos espaços orientados para


fins de moradia, segundo os respectivos níveis de renda de cada fração da
população.

- Segregação urbana, traduzindo a fragmentação do hábitat nas cidades,


conforme a divisão da população em classes sociais, habitando zonas, bairros
e outras áreas urbanas correspondentes.

- Exclusão urbana, revelando a marginalização das áreas nos bairros mais


pobres, tipo favelas e invasões, frente aos bairros de extrema riqueza e
privilegiados, realidade essa originada pela alta concentração de renda.

- Articulação urbana, retratando a ligação dos bairros ao centro


tradicionalmente de comércio e de serviços, através dos principais eixos de
circulação, favorecendo, assim, um desenvolvimento dinâmico e articulado de
toda a economia urbana.
- Integração urbana, demonstrando a ligação entre todas as zonas, bairros e
demais áreas das cidades, independente do padrão de renda do conjunto de
sua população, potencializando, assim, uma paisagem socialmente harmônica
e dinâmica.

4. (ENEM-MEC)

Subindo morros, margeando córregos ou pen duradas em palafitas, as favelas


fazem parte da paisagem de um terço dos municípios do país, abrigando mais
de 10 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geo grafia
e Estatística (IBGE).

MARTINS, A. R. A favela como um espaço da cidade. Disponível em:


www.revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 31 jul. 2010.

A situação das favelas no país reporta a graves problemas de desordenamento


territorial. Nesse sentido, uma característica comum a esses espaços tem sido:

a) o planejamento para a implantação de infraestruturas urbanas necessárias


para atender as necessidades básicas dos moradores.

b) a organização de associações de moradores interessadas na melhoria do


espaço urbano e financiadas pelo poder público.

c) a presença de ações referentes à educação ambiental com consequente


preservação dos espaços naturais circundantes.

d) a ocupação de áreas de risco suscetíveis a enchentes ou desmoronamentos


com consequentes perdas materiais e humanas.

e) o isolamento socioeconômico dos moradores ocupantes desses espaços


com a resultante multiplicação de políticas que tentam reverter esse quadro.

5. (PUC-PR) Sobre a urbanização no Brasil, é CORRETO afirmar:

I. O processo de urbanização no Brasil inicia-se, de fato, no período do pós-


guerra com a instalação, no País, de indústrias multinacionais. Esse processo
dá-se pela repulsão do campo e pela atração da cidade.

II. No Brasil, o processo de urbanização foi essencialmente concentrador,


gerando grandes cidades e metrópoles.
III. O crescimento desenfreado dos centros urbanos no Brasil tem trazido
consequências, como o trabalho informal e o desemprego decorrente de
sucessivas crises econômicas.

IV. Um dos problemas graves provocados pela urbanização no Brasil é a


marginalização dos excluídos que habitam áreas sem infraestrutura urbana e,
junto a isso, o aumento da criminalidade.

V. As principais redes urbanas do Brasil estão na faixa litorânea, devido a


fatores econômicos, históricos e geográficos.

a) Todas as assertivas são verdadeiras.

b) Apenas as assertivas I, II e III são verdadeiras.

c) Apenas as assertivas I e II são verdadeiras.

d) Apenas a assertiva I é verdadeira.

e) Apenas a assertiva II é verdadeira.

214

6. (UFLA-MG) Analise a letra da música abaixo.

Minha Alma (A paz que eu não quero)

A minha alma está armada

e apontada para a cara

do sossego

pois paz sem voz

não é paz é medo [...]

As grades do condomínio

são para trazer proteção

mas também trazem a dúvida

se não é você que está nessa prisão

me abrace e me dê um beijo

faça um filho comigo


mas não me deixe sentar

na poltrona no dia de domingo

procurando novas drogas

de aluguel nesse vídeo

coagido pela paz

que eu não quero

seguir admitindo

http://o-rappa.musicas.mus.br/letras/28945.

Assinale a alternativa que indica o problema central destacado na letra da


música.

a) A formação da chamada cidade informal das regiões metropolitanas.

b) A falta de infraestrutura básica nos subúrbios das metrópoles.

c) O aprofundamento da pobreza nas grandes cidades brasileiras.

d) A violência criminal que atormenta os moradores dos grandes centros


urbanos.

7. (Cesgranrio-RJ)

"Numa manhã ensolarada de domingo, mora dores de São Conrado, bairro da


zona Sul do Rio de Janeiro, foram surpreendidos por momentos de terror e
pânico. Ao se referir ao episódio numa entrevista aos meios de comunicação, o
antropólogo Luiz Eduardo Soares ressaltou:

'Antes, o palco era sempre a Rocinha, mas agora foi o bairro, o asfalto, a
região próxima aos prédios e condomínios. Isso muda a geografia da guerra
urbana. Do ponto de vista político, cultural e social, representa uma tragédia,
pois o Rio está no centro das atenções internacionais'."

"Antropólogo vê episódio como tragédia social". O Globo. Caderno Opinião, 1º


caderno, 22/08/2010, p. 6.

O crescimento do crime organizado e a violência dele decorrente têm


provocado amplos debates sobre as causas da violência no Brasil,
principalmente nas grandes áreas metropolitanas.
Nesse contexto, os fatores facilitadores da violência são de ordem:

a) estrutural, pois o crescimento veloz e desordenado dos centros urbanos,


com deficiente infraestrutura, aliados à manutenção dos índices de
desigualdade social, resultam num ambiente social propício à criminalidade.

b) conjuntural, pois, a partir da década de 80, a ausência de políticas públicas


voltadas para a diminuição das desigualdades sociais favoreceu a falta de
controle pelo Estado no combate à criminalidade.

c) econômica, pois o declínio do poder aquisitivo da população nas últimas


décadas elevou os índices de desemprego, facilitando a cooptação de mão de
obra pelo crime organizado.

d) histórica, já que, tradicionalmente, as grandes áreas metropolitanas são


palco de violência contra as classes populares, como ocorreu na Revolta da
Vacina e na Revolta de Canudos, durante a República Velha no Brasil.

e) política, em função do avanço das ditaduras latino-americanas a partir da


década de 80, cuja característica comum foi a criação de forças paramilitares,
responsáveis pelo aparecimento e perpetuação de um Estado policial e
repressor.

8. (FGV-SP) A Lei do Clima, uma lei ambiental municipal de São Paulo


recentemente aprovada, previa, entre outras ações, que, a cada ano, 10% da
frota de ônibus passasse a utilizar biocombustíveis (etanol ou biodiesel) em
substituição aos movidos a combustíveis fósseis. No entanto, os novos ônibus
adquiridos pela Prefeitura, desde então, continuam sendo movidos a diesel,
(Folha de S.Paulo, 16/06/2010, p. C1), o que afeta o meio ambiente e a
sociedade de diferentes formas.

Assinale a alternativa que não descreve uma consequência da queima de


combustíveis fósseis.

a) Chuva ácida.

b) Efeito estufa.

c) Poluição atmosférica.

d) Doenças respiratórias.
e) Inversão térmica.

215

9. (UFPR-PR) A urbanização é um processo que apresentou considerável


intensificação com o advento da revolução industrial. Desde então, as cidades
passaram a concentrar cada vez mais pessoas, atividades e mercadorias,
produzindo importantes alterações na natureza local. O clima urbano atesta um
aspecto dessas alterações, fato evidenciado de maneira clara na poluição do ar
das grandes cidades.

Quanto à poluição do ar nas grandes cidades, é incorreto afirmar:

a) A poluição atmosférica urbana pode ser tanto de origem natural quanto


decorrente das atividades humanas.

b) A ocorrência de chuvas ácidas nas cidades está relacionada, principalmente,


à concentração de poluentes na atmosfera local.

c) A poluição atmosférica é composta por gases e material particulado e,


quando intensa e associada a nevoeiro, dá origem ao smog.

d) Na estação de inverno, quando o ar torna-se mais pesado devido às baixas


temperaturas, a atmosfera tende a concentrar poluentes.

e) A concentração e dispersão de poluentes na atmosfera, ao longo do ano, se


mantém constante, pois os gases e os materiais particulados são imunes às
condições térmicas do ar.

10. (UFPB-PB) Durante muito tempo na história da humanidade, a produção de


lixo foi pequena. No entanto, a partir da primeira Revolução Industrial, com o
início dos processos de industrialização e urbanização, a produção de lixo
aumentou substancialmente.

Considerando o exposto e a literatura sobre o tema, identifique as afirmativas


CORRETAS:

- A produção de lixo nas grandes metrópoles brasileiras aumentou


significativamente com a industrialização a partir dos anos de 1950, porém
houve um aumento na mesma escala nos processos de reciclagem desse lixo.
- A maior parte do lixo produzido no Brasil é depositada corretamente em
aterros sanitários, construídos a partir de projetos de engenharia que impedem
a contaminação do solo e das águas.

- A decomposição da matéria orgânica presente no lixo produz um líquido


escuro e ácido denominado de chorume, que, se não tratado corretamente,
pode infiltrar-se no subsolo e contaminar o lençol freático.

- A parte orgânica do lixo doméstico, composta principalmente de restos de


alimentos, pode ser transformada em adubo orgânico através de usinas de
compostagem.

- O lixo urbano não coletado pode ser carregado para os cursos-d'água que
cruzam as cidades diminuindo consideravelmente sua vazão, o que pode
ocasionar, em períodos chuvosos, graves enchentes.

11. (UFSCAR-SP) O lixo é um dos problemas ambientais mais preocupantes


no âmbito das cidades, não só brasileiras, mas de todo o mundo. Sobre esta
questão, assinale a opção correta.

a) A produção de lixo cresce na razão inversa do poder aquisitivo das


populações. Isso ocorre porque os segmentos de alto poder aquisitivo adotam
posturas mais conscientes em relação ao destino do lixo.

b) A participação do lixo orgânico em relação ao total de lixo produzido é menor


nos bairros de baixo poder aquisitivo e maior nos bairros de classes média e
alta. Isso decorre das diferenças na qualidade de nutrição entre os estratos
populacionais.

c) O Brasil figura entre os países do mundo que mais reciclam latas de


alumínio e papelão. Esse resultado decorre da conscientização da população e
da implantação de programas de coleta de lixo seletiva nas principais cidades
brasileiras.

d) O lixo representa uma fonte de trabalho e renda para uma população cada
vez mais numerosa, sobretudo nos grandes centros urbanos do Brasil. Assim,
muitas pessoas retiram do lixo coletado nas ruas e nos lixões a principal fonte
de sua sobrevivência.
e) O lixo produzido nas cidades brasileiras tem um destino apropriado. Verifica-
se que, na grande maioria dos casos, ele é depositado em aterros sanitários
tecnicamente adequados ou é incinerado.

216

unidade 9 - A agricultura no mundo

LEGENDA: Cena de colheita retratada em pintura na tumba de Menna, escriba


que viveu na XVIII dinastia egípcia, provavelmente durante os reinados de
Tutmés IV e Amenhotep III, em cerca de 1400 a.C.

CRÉDITO: Autor desconhecido. c.1400 a.C. Afresco. Tumba de Menna, Tebas,


Egito. Foto: De Agostini/G. Dagli Orti/Glow Images

Glossário:

Escriba: no Egito antigo, aquele que dominava a escrita e que era incumbido,
pelos faraós, de registrar todos os acontecimentos da sociedade e redigir as
normas do povo.

Fim do glossário.

217

A agricultura é uma prática milenar, a exemplo da pintura mostrada nestas


páginas, que a retrata sendo realizada, aproximadamente, entre 1550 e 1070
a.C., no Egito antigo.

A produção de alimentos sempre foi uma preocupação da humanidade. Em


certos períodos, muitos questionamentos se voltaram para a proporção entre a
quantidade de alimentos produzidos e o número de pessoas que necessitavam
ser alimentadas. Atualmente, sabemos que a produção de alimentos é mais do
que suficiente para alimentar toda a população do mundo, ainda que tenha sido
desenvolvida de forma nada heterogênea ao longo do tempo e no espaço
mundial.

- Assim como no passado, a produção de alimentos para o consumo da


população mundial depende diretamente da agricultura, o que mostra a grande
importância dessa atividade para a sociedade atual. O que diferencia a
atividade agrícola praticada hoje daquela praticada há milhares de anos? Como
o desenvolvimento da agricultura provoca modificações nas paisagens e na
organização do espaço agrário? Qual a relação entre técnica e agricultura?

218

A atividade agrícola

A agricultura, que surgiu há cerca de 10 mil anos, é uma das mais antigas
atividades humanas. Historicamente, o desenvolvimento das atividades
agrícolas marcou a formação das primeiras sociedades humanas sedentárias,
até então formadas por comunidades de caçadores e coletores nômades. A
expressão "Revolução Neolítica" foi criada pelo arqueólogo australiano Vere
Gordon Childe (1892-1957) para designar o momento histórico em que o Homo
sapiens se tornou sedentário, fixando-se nos lugares onde passou a produzir
seus próprios alimentos.

Acredita-se que a agricultura tenha surgido, inicialmente, ao longo de várzeas e


vales fluviais, a exemplo de onde prosperaram as primeiras grandes
civilizações, como a dos sumérios na Mesopotâmia (entre os rios Tigre e
Eufrates, atual Iraque), a dos egípcios (às margens do rio Nilo), a dos chineses
(no vale do rio Yang-Tsé Kiang) e a dos hindus (no vale dos rios Ganges e
Indo). Para cultivar os alimentos, esses povos aproveitavam a fertilidade
natural dos solos, ricos em matéria orgânica que as águas dos rios
depositavam em suas margens na época das cheias e das vazantes.

LEGENDA: A cena acima representa uma aldeia no período Neolítico.

CRÉDITO: Arthur Kampf. 1864-1950. Coleção particular. Foto: akg-


images/Latinstock

- Agricultura, natureza e tecnologia

A partir da Revolução do Neolítico, o desenvolvimento da atividade agrícola


passou a depender das condições do meio natural e dos limites por ele
impostos ao desenvolvimento e à produtividade das lavouras.

Conforme sua fertilidade e suas características físico-químicas, certos tipos de


solos, por exemplo, são mais favoráveis do que outros às espécies cultivadas.
As condições climáticas, em especial, as variações de temperatura e os índices
pluviométricos, estabelecem limites geográficos para os cultivos (veja texto
abaixo).

Boxe complementar:

Clima e agricultura

A temperatura do ar e do solo afeta todos os processos de crescimento das


plantas. Todos os cultivos possuem limites térmicos mínimos, ótimos e
máximos para cada um de seus estágios de crescimento. Os cultivos tropicais,
como o cacau e as tâmaras, exigem altas temperaturas o ano inteiro. Muitos
cultivos, como o café, banana e cana-de-açúcar, são muito sensíveis às
geadas. Por outro lado, o centeio tem necessidade de baixas temperaturas e
pode suportar as temperaturas de congelamento durante o longo período
hibernal de dormência. Temperaturas abaixo de 6°C podem ser letais à maior
parte das plantas. As temperaturas letais mais altas para a maior parte das
plantas situam-se entre 50°C e 60°C, dependendo da espécie, estágio de
crescimento e tempo de exposição à alta temperatura. As baixas temperaturas
matam ou prejudicam as plantas. O resfriamento prolongado das plantas, com
temperaturas acima do ponto de congelamento, retarda o crescimento vegetal
e pode matar as plantas adaptadas somente a condições quentes. [...]

[...] Por exemplo, o coco e o abacaxi crescem somente quando as


temperaturas estão sempre acima de 21°C durante pelo menos uma parte da
estação de crescimento. As frutas cítricas, o algodão, a cana-de-açúcar e o
arroz não crescerão bem se as temperaturas estiverem abaixo de 15°C.

AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Tradução Maria


Juraci Zani dos Santos. São Paulo: Difel, 2007. p. 264-265.

Fim do complemento.

219

Como forma de superar as restrições do meio físico, toda a história da


agricultura é marcada pelo desenvolvimento de técnicas capazes de ampliar o
controle humano sobre as condições naturais impostas aos cultivares. Foi
assim, portanto, que os seres humanos criaram novas e mais resistentes
variedades de plantas, desenvolveram adubos, fertilizantes, sistemas de
irrigação e novas técnicas de cultivo, ampliando muito tanto as áreas de solos
cultiváveis quanto a produtividade das lavouras.

Com o mesmo objetivo de aumentar a produção, o desenvolvimento da


atividade agrícola também é marcado pela criação e pelo aperfeiçoamento de
novos e mais avançados instrumentos de trabalho, do surgimento de foices,
enxadas e arados de tração animal à produção das mais sofisticadas máquinas
agrícolas, cada vez mais usados no trabalho no campo (tratores, arados
mecânicos, colheitadeiras, pulverizadores etc.).

Embora esses avanços tecnológicos tenham gerado grandes saltos de


produtividade, isso não significa que eles eliminaram os condicionamentos do
meio natural. Ainda hoje, a atividade agrícola continua sujeita às alterações
climáticas e ambientais, que fogem ao controle humano.

- A organização das atividades no espaço rural

Como sabemos, o desenvolvimento da atividade agrícola resulta da


intervenção humana sobre a natureza ao longo da história. Essa intervenção
ocorre de maneira desigual entre as diferentes regiões do planeta, de modo
que as atividades agrícolas conferem características heterogêneas ao espaço,
que assume feições muito distintas de um lugar para o outro.

O meio físico (fertilidade do solo, topografia, condições climáticas, recursos


hídricos), a maior ou menor disponibilidade de capital ou de recursos
tecnológicos, as relações de trabalho no campo, as políticas agrícolas e a
estrutura fundiária podem ser apontados como alguns dos principais fatores
que interferem na configuração espacial das atividades agrícolas praticadas no
espaço rural. Veja os exemplos abaixo.

CRÉDITO: Wayne Hutchinson/Alamy Stock Photo/Latinstock

CRÉDITO: blickwinkel/Alamy Stock Photo/Latinstock

LEGENDA DAS IMAGENS: A modernização do espaço agrário depende,


necessariamente, da disponibilidade de capitais para investimentos em
recursos tecnológicos (máquinas mais avançadas e mais eficientes, por
exemplo), o que interfere diretamente na produtividade das lavouras. As
imagens abaixo mostram os contrastes tecnológicos entre uma propriedade
rural moderna, localizada na Escócia em 2015 (foto A), e outra propriedade
localizada na Indonésia, em 2014 (foto B), onde o cultivo é realizado com
técnicas bastante rudimentares.

220

Os sistemas de produção agrícola

A interação entre os vários fatores que interferem nas atividades do meio rural
determina a existência de diferentes sistemas agrícolas. De maneira geral, um
sistema agrícola pode ser definido como a forma ou o modelo de produção
agropecuária que se pratica em determinada propriedade rural, observando-se
fatores como o capital (recursos financeiros que determinam se o sistema é
moderno ou atrasado, intensivo ou extensivo), a terra (define o tamanho das
propriedades) e o trabalho (indica o tipo de mão de obra utilizada na terra, mais
ou menos numerosa, qualificada ou sem qualificação, familiar ou contratada).

No entanto, existem várias maneiras de se classificar os diferentes tipos de


sistemas agrícolas existentes no mundo, pois os critérios utilizados para defini-
los variam muito entre um estudo e outro.

- Sistemas agrícolas tradicionais

Os sistemas agrícolas tradicionais são aqueles que se caracterizam, em geral,


pelo uso de técnicas rudimentares, pelo baixo nível de exploração da terra e
pela baixa produtividade, independentemente do tamanho da área de cultivo ou
de criação. Embora nesses aspectos sejam semelhantes, tais sistemas não
são homogêneos e podem apresentar características bem distintas de uma
região para outra.

São sistemas agrícolas praticados em países subdesenvolvidos, destacando-


se nas paisagens agrárias de países mais pobres e atrasados
tecnologicamente da América Latina, da África e da Ásia, embora também
ocorram em certas áreas agrícolas tradicionais de países desenvolvidos
(algumas regiões agrícolas do Japão, de Portugal, da Grécia, da Itália e da
França).

Vejamos, a seguir, as características dos principais sistemas agrícolas


tradicionais praticados no mundo.
- Agropecuária tradicional de subsistência: caracteriza-se pelo uso de mão de
obra familiar em pequenas propriedades rurais, nas quais a produção está
voltada quase exclusivamente para o consumo dos agricultores que se
alimentam do que plantam (arroz, feijão, mandioca, milho, batata) e de
pequenas criações (galinhas, porcos, cabras, vacas, ovelhas). O pequeno
excedente da produção vai para o abastecimento do mercado mais próximo,
por meio do qual o agricultor complementa a subsistência da família e da
propriedade. Como as atividades de cultivo e criação são praticadas por meio
de técnicas rudimentares, as propriedades apresentam produtividade reduzida
e baixo nível de aproveitamento das terras. Por falta de recursos e assistência
técnica, os agricultores utilizam práticas agrícolas que negligenciam a
conservação ambiental. Sem os cuidados necessários, o solo, por exemplo,
quase sempre exposto aos processos erosivos, vai perdendo sua fertilidade
natural e pode, até mesmo, inviabilizar o uso da terra.

LEGENDA: Acima, pequena propriedade familiar localizado em Uauá, Bahia,


em 2014.

CRÉDITO: imageBROKER/Alamy Stock Photo/Latinstock

221

- Agricultura itinerante: ou de roça, como também é chamada no Brasil. Trata-


se de uma prática bastante comum nas regiões onde a atividade agrícola
avança em áreas ocupadas por florestas, matas, savanas e campos naturais.
Com o emprego de mão de obra familiar e técnicas rudimentares, os pequenos
agricultores fazem a derrubada e a queima da vegetação como forma de limpar
o terreno para o plantio. Devido ao uso de técnicas tradicionais, os solos são
levados à exaustão e perdem sua fertilidade após alguns anos de cultivo. Com
isso, o agricultor abandona a terra e abre uma nova área de cultivo, onde o
ciclo se repetirá. O nome itinerante vem desse constante deslocamento.

LEGENDA: Acima, queimada para abertura de área de pastagem no estado do


Amazonas, em 2013.

CRÉDITO: guentermanaus/Shutterstock.com

- Plantations: sistema agrícola introduzido pelos europeus, a partir do século


XVI, em seus domínios coloniais espalhados pela América, África e Ásia. Como
exemplo, podemos citar o cultivo de cana-de-açúcar que os portugueses
implantaram na faixa litorânea nordestina do Brasil. Como herança da
dominação colonial, as plantations constituem grandes propriedades
(latifúndios) monocultoras de gêneros tropicais, com produção voltada
principalmente para o abastecimento do mercado externo, reduzido nível
técnico e emprego de mão de obra barata e sem qualificação (no período
colonial, utilizava-se mão de obra escrava).

Atualmente, essas lavouras dominam as paisagens de extensas áreas rurais


em várias regiões de países subdesenvolvidos, com destaque para a produção
de café, cana-de-açúcar e banana em países latino-americanos; de café, cacau
e amendoim em países africanos; de chá, algodão, fumo e borracha
(seringueiras) em países do sul e sudeste asiático. A economia de muitos
desses países se apoia quase exclusivamente na exportação desses gêneros
agrícolas, com boa parte da produção controlada por empresas transnacionais,
originárias de países ricos e desenvolvidos.

LEGENDA: Cultura de chá, em área de plantation no Vietnã, em 2015.

CRÉDITO: Chen Feng Chih/Getty Images

222

- Agricultura de jardinagem: amplamente difundida em países do sul, sudeste e


leste asiático, sobretudo em riziculturas (cultivo de arroz). Trata-se de um
sistema agrícola intensivo, praticado em pequenas e médias propriedades
rurais, com técnicas minuciosas - daí o nome agricultura de jardinagem. Faz
uso intensivo da mão de obra familiar ou comunal em todas as etapas da
produção: preparo do solo, plantio e replantio das mudas, aplicação de adubos,
controle de pragas e do nível da água utilizada na irrigação das lavouras, e
colheita. Com esses cuidados, as lavouras alcançam alta produtividade.

Essas lavouras são cultivadas em áreas densamente povoadas, em que os


agricultores procuram aproveitar ao máximo os espaços disponíveis. Nas
vertentes das montanhas, por exemplo, os cultivos são realizados com técnicas
de terraceamento, ou seja, construção de terraços em curvas de nível que
protegem o solo da ação erosiva das chuvas. A construção de canais de
irrigação, por sua vez, permite o plantio das lavouras em áreas de planícies
inundáveis.

Glossário:

Mão de obra familiar ou comunal: refere-se à atividade realizada pelos


integrantes da família, ou pelos habitantes de uma comunidade, de uma
colônia ou agrupamento de pessoas, nas terras de um estabelecimento
agropecuário, comunitárias ou comuns.

Fim do glossário.

LEGENDA: Na agricultura de jardinagem praticada nos países asiáticos, as


atividades de cultivo são reguladas pelo clima regional das monções. No início
da estação chuvosa, entre os meses de maio e outubro, os rizicultores se
dedicam ao preparo do solo nas áreas de várzeas e nos terraços montanhosos.
Após as primeiras chuvas, é iniciado o plantio do arroz, que se desenvolverá
durante os meses chuvosos (monções úmidas de verão). Com a chegada da
estação seca (monções secas de inverno), que se estende de novembro a
abril, começa a colheita do arroz, feita em geral de forma manual. Ao lado,
plantação de arroz na Tailândia, em 2015.

CRÉDITO: TZIDO SUN/Shutterstock.com

- Pastoreio nômade: pecuária tradicional bastante comum em algumas regiões


áridas e semiáridas do planeta, sobretudo onde as condições climáticas tornam
o desenvolvimento da atividade agrícola inviável ou antieconômica. Esse tipo
de pastoreio é comum na região do Sahel, área que se estende pela borda sul
do deserto do Saara na África, em países do Oriente Médio e da Ásia Central,
e nas planícies do deserto de Gobi, que se estendem pela China e Mongólia.

LEGENDA: Também conhecido como transumante, o pastoreio nômade se


caracteriza pelo deslocamento constante das criações, em geral, formadas por
rebanhos de ovelhas, cabras, camelos, vacas, que os pastores conduzem para
lugares onde haja água e pastagem. Trata-se, portanto, de uma pecuária
extensiva de subsistência, com pequena parte da produção destinada ao
abastecimento do mercado.

CRÉDITO: Blaine Harrington III/Alamy Stock Photo/Latinstock


223

- Sistemas agrícolas modernos

Os sistemas agrícolas modernos se caracterizam pela utilização de aparatos


tecnológicos avançados, como maquinários (tratores, arados mecânicos,
colheitadeiras) e insumos (adubos, fertilizantes, sementes melhoradas
geneticamente, vacinas, medicamentos e rações). Além do aparato
tecnológico, essas atividades recebem assistência técnica sistemática, com
acompanhamento permanente de engenheiros agrônomos, veterinários, entre
outros profissionais especializados. Em virtude disso, a produtividade
alcançada é bastante elevada, com a produção voltada tanto para o
abastecimento do mercado interno quanto do externo.

Em geral, sob o controle de grandes empresas do agronegócio, esses sistemas


agrícolas empregam mão de obra contratada e assalariada, portanto, sem
vínculo com a terra. Ao explorar o trabalho assalariado, tais sistemas agrícolas
promovem a introdução de relações tipicamente capitalistas de produção no
espaço agrário.

Outro aspecto característico desse sistema agrícola está na forte integração e


complementaridade das atividades agrícolas e pecuárias aos setores
industriais e de serviços. Enquanto os principais insumos e máquinas
empregados pela agropecuária moderna são fornecidos por indústrias
especializadas em atender a demanda do campo, a produção agrícola
abastece as agroindústrias especializadas em transformar a produção
agropecuária em produtos industrializados. Tem-se, assim, a formação de
complexos agropecuários com a criação de uma grande cadeia produtiva que
envolve vários outros segmentos da economia, como os setores de logística
(transporte, armazenagem), comercialização, energia, administração,
comunicação e marketing, crédito, entre outros.

LEGENDA: A agropecuária moderna é o sistema agrícola predominante nos


países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, França, Inglaterra,
Alemanha, Holanda, Itália, Austrália e Nova Zelândia. Também é praticado em
regiões agrícolas de países subdesenvolvidos, como no centro-sul do Brasil, na
Argentina, no México e na África do Sul. Ao lado, modernas colheitadeiras em
lavoura de soja no município de Tangará da Serra, Mato Grosso, em 2012.

CRÉDITO: Paulo Fridman/Pulsar

Se, por um lado, o alto grau de capitalização do campo impulsiona o avanço da


modernização das atividades agrárias, tanto da agricultura quanto da pecuária,
verifica-se, por outro lado, uma tendência de aumento da concentração das
terras no espaço rural onde complexos agroindustriais têm se instalado. Com
pesados investimentos em tecnologia, as grandes empresas que atuam no
setor conseguem baixar os custos de produção, ampliando, em consequência,
sua lucratividade. Como boa parte dos produtores, sobretudo pequenos e
médios proprietários rurais, não consegue acompanhar essa modernização
dada às limitações financeiras, muitos deles vão perdendo as condições de
competir no mercado e acabam vendendo suas propriedades às empresas ou
aos grandes proprietários mais capitalizados que dominam o setor.

224

Explorando o tema

A Revolução Verde

Podemos dizer que a agropecuária moderna surgiu à medida que o campo foi
incorporando as inovações tecnológicas (máquinas, equipamentos, insumos
agrícolas) produzidas no interior das fábricas que surgiram com a Revolução
Industrial, ocorrida em meados do século XVIII (assunto que estudamos na
unidade 1). Se a incorporação desses recursos tecnológicos trouxe profundas
mudanças nas práticas agrícolas e, como consequência, na organização do
espaço rural, foi apenas em meados do século XX, com o advento da
Revolução Verde, que a agricultura moderna passou a ser difundida.

Essa revolução teve início por volta da década de 1950, com o surgimento de
um verdadeiro "pacote" tecnológico voltado para a modernização das
atividades agrícolas, incluindo o desenvolvimento de sementes híbridas, isto é,
resultantes do cruzamento de plantas, muito mais resistentes e produtivas; a
aplicação intensiva de novos adubos químicos e defensivos agrícolas
(inseticidas, herbicidas, fungicidas) e o uso de maquinários nas lavouras.
Sob o pretexto de que tais tecnologias aumentariam muito a produção de
alimentos, sua utilização em larga escala passou a ser defendida como
possível solução para o problema da fome no mundo. Com a ajuda financeira
de grandes grupos econômicos dos Estados Unidos, esse "pacote" tecnológico
foi introduzido inicialmente no México e, depois, em países do sul, sudeste e
leste do continente asiático, em grandes cultivos de trigo e milho, na Índia e no
Paquistão, e de arroz, nas Filipinas e na China. Pouco depois, essas
tecnologias chegaram a outros países subdesenvolvidos, entre eles, o Brasil.

- A Revolução Verde e a fome no mundo

Embora os recursos tecnológicos tenham promovido um salto enorme na


produtividade por área plantada e aumentado consideravelmente a produção
de alimentos, os resultados da Revolução Verde tornaram-se bastante
questionáveis, alvo de críticas acirradas no mundo, nem todas procedentes.
Uma dessas críticas sustenta que ela não foi capaz de resolver o problema da
fome, que, aliás, chegou a aumentar em certos países e regiões do mundo.

LEGENDA: O discurso de que a Revolução Verde poderia combater o


problema da fome no mundo foi defendido e amplamente divulgado pelas
grandes empresas multinacionais do setor agrícola dos Estados Unidos. Mas a
substituição da agricultura tradicional por uma agricultura moderna em países
subdesenvolvidos representou, na verdade, a possibilidade de expansão dos
negócios dessas empresas por meio da venda de equipamentos e insumos que
elas mesmas fabricavam. A fotografia mostra trabalhador indiano aplicando
inseticida sem qualquer equipamento de proteção individual, na Índia, em 2011.

CRÉDITO: Narinder Nanu/AFP/Getty Images

225

Essa questão, no entanto, precisa ser analisada nos seus devidos termos. Na
verdade, a fome e a subnutrição diminuíram bastante nas áreas em que a
Revolução Verde foi implantada, em especial, nos países asiáticos mais
pobres. O aumento da fome ocorreu justamente em regiões mais pobres da
América Latina e da África, onde a revolução não foi implantada.

Isso nos remete a outra questão: se a quantidade de alimentos produzida hoje


é suficiente para alimentar de forma adequada toda a população do planeta,
por que a fome e a subnutrição ainda afetam e vitimam milhões de pessoas no
mundo? Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO), 11 em cada 100 habitantes do planeta sofrem de fome
crônica ou desnutrição severa. Observe o mapa abaixo.

Analisado a partir dessa perspectiva, conclui-se que o problema da fome não


está ligado apenas à maior ou menor disponibilidade de alimentos, mas sim à
sua distribuição, pois há enormes contingentes de pessoas que sobrevivem
com rendimentos tão ínfimos que não conseguem ter acesso à alimentação
mínima necessária. Isso significa, portanto, que a fome decorre de problemas
de ordem social, política e econômica, e não apenas das técnicas de produção.

FONTE: FOOD and Agriculture L Organization (FAO). Disponível em:


http://faostat.fao.org/site/563/default.aspx. Acesso em: 11 ago. 2015.

FONTES: UNITED Nations Population Division. World Population Prospects


2015. Disponível em: http://esa.un.org/wpp/unpp/p2k0data.asp. Acesso em: 8
jul. 2015. FOOD and Agriculture Organization (FAO). Disponível em:
http://faostat.fao.org/site/567/desktopdefault.aspx?pageid=567#ancor. Acesso
em: 8 jul. 2015. CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES: E. Cavalcante

- Observe o mapa e identifique as regiões do mundo mais afetadas pela fome.


Analisando a distribuição da fome no mundo, podemos dizer que existe relação
entre fome e pobreza? A fome é um problema que poderia ser evitado? Reflita
sobre isso com base nas informações apresentadas no gráfico. Em sua
opinião, que medidas poderiam ser tomadas para reduzir ou mesmo eliminar a
fome no mundo?

226

- Revolução Verde, concentração fundiária e impactos ambientais

Outras críticas, mais consistentes, questionam os impactos sociais e


ambientais causados pela Revolução Verde. Nos países onde foi implantada
de maneira mais efetiva, ela favoreceu principalmente os grandes proprietários
de terras que dispunham de recursos financeiros e vantagens (acesso a
créditos, linhas de financiamentos, incentivos, subsídios etc.) para a aquisição
dos insumos e maquinários agrícolas vendidos a preços elevados. Assim,
muitos dos pequenos e médios proprietários menos capitalizados não
conseguiram acompanhar o aumento dos custos de produção, necessários
para aumentar a produtividade de suas lavouras e, ao mesmo tempo, se
manterem competitivos no mercado. Diante disso, esses agricultores acabaram
se endividando e se viram obrigados a vender suas terras, o que levou ao
aumento da concentração fundiária e do êxodo rural.

Do ponto de vista ambiental, a Revolução Verde também trouxe uma série de


impactos negativos, entre os quais podemos destacar:

- a substituição de extensos ecossistemas naturais (florestas, campos,


cerrados) por grandes monoculturas;

- a proliferação de vários tipos de pragas cada vez mais resistentes aos


agrotóxicos, exigindo a aplicação de quantidades maiores;

- a contaminação do solo e das águas pela excessiva utilização de fertilizantes


e adubos químicos (veja foto abaixo);

- a deterioração do solo em decorrência do intenso uso de máquinas pesadas; ·


a perda da biodiversidade e o empobrecimento biológico pela eliminação de
espécies da flora e fauna provocada pelo avanço das grandes monoculturas
sobre os ecossistemas naturais;

- e a contaminação residual de alimentos pelo excesso de adubos químicos e


agrotóxicos empregados nas lavouras (leia texto na página seguinte).

LEGENDA: Aplicação de pesticida por avião em Patos de Minas, Minas Gerais,


em 2015.

CRÉDITO: Andre Dib/Pulsar

227

Explorando o tema

Monoculturas e seus impactos ambientais

[...] A monocultura mecanizada tem a vantagem do aumento da produção e da


taxa de produtividade, mas, em contrapartida, provoca grandes danos na
fauna, na flora e no solo.

O cultivo de espécie vegetal única (soja, trigo, algodão, milho, entre outros) em
grandes extensões de terras favorece o desenvolvimento de grande quantidade
de pequenas espécies animais invasoras, as pragas que se alimentam desses
produtos. É o caso da lagarta da soja (foto abaixo), do besouro-bicudo do
algodão e de bactérias como o ácaro dos mamoeiros, o cancro-cítrico dos
laranjais e as pragas que infestam os canaviais. Já o cultivo de várias espécies,
ou seja, a policultura, implica a competitividade entre elas e elimina a
possibilidade da disseminação de pragas. Nas monoculturas as pragas se
proliferam rapidamente, e em dois ou três dias uma plantação de soja ou de
algodão pode ser totalmente dizimada. Para evitar isso, utilizam-se cada vez
mais os inseticidas e fungicidas químicos, que podem ser altamente
prejudiciais à saúde do homem.

O cultivo mecanizado é obrigatoriamente acompanhado do uso de fertilizantes


químicos, e para controle das chamadas "ervas daninhas", ou do "mato", que
nascem e crescem mais rapidamente que as espécies plantadas, aplicam-se
os herbicidas, tão tóxicos, quanto os venenos aplicados para controlar os
insetos e fungos.

A aplicação frequente de quantidades cada vez maiores desses produtos


químicos, genericamente chamados de insumos agrícolas, contamina o solo.
Além disso, eles são transportados pela chuva para os riachos e rios, afetando,
desse modo, a qualidade das águas que alimentam o gado, abastecem as
cidades e abrigam os peixes. O veneno afeta a fauna, e os pássaros e os
peixes desaparecem rapidamente das áreas de monocultura, favorecendo a
proliferação de pragas, lagartas, mosquitos e insetos em geral. [...]

ROSS, Jurandyr L. S. A sociedade industrial e o ambiente. In: ROSS, Jurandyr


L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 226.

LEGENDA: Na fotografia acima, lagarta atacando folha de soja.

CRÉDITO: Nigel Cattlin/Alamy Stock Photo/Latinstock

FONTE: ASSOCIAÇÃO Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO). Um alerta


sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 - Agrotóxicos, Segurança
Alimentar e Nutricional e Saúde. Disponível em: www.abrasco.org.br/site/wp-
content/uploads/2015/03/Dossie_Abrasco_01.pdf. Acesso em: 9 nov. 2015.
CRÉDITO: Gilberto Alicio

228
Infográfico

Alimentos transgênicos

Os alimentos modificados geneticamente sempre existiram. No entanto, com a


biotecnologia moderna e com a decodificação do ADN (ácido
desoxirribonucleico), mais conhecido por sua sigla em inglês DNA
(desoxyribonucleic acid), esses processos têm sido previsíveis e controláveis.

Os benefícios

O desenvolvimento de plantas transgênicas permitiu a obtenção de alimentos


com maior teor de vitaminas, minerais, proteínas ou menos gordura. Em alguns
casos, o desenvolvimento da tecnologia genética conseguiu atrasar o
amadurecimento de frutas e verduras, além de torná-las mais resistentes a
pragas específicas, o que possibilita a redução do uso de agrotóxicos nas
culturas. A modificação genética também produz vegetais de porte menor e
com desempenho produtivo ainda maior.

FONTE: Sociedade Brasileira de Agricultura. Disponível em:


http://sna.agr.br/lavouras%ADtransgenicas%ADavancam%ADno%ADbrasil
%ADe%ADja%ADocupam%ADmais%ADde%AD42%ADmilhoes%ADde
%ADhectare/1/3. Acesso em: 31 mar. 2016.

Brasil

Em 2014, foram plantados 42,2 milhões de hectares utilizando sementes


transgênicas. Em 2015, a taxa de plantio usando transgênicos alcançou:

93% na soja

82% no milho

66% no algodão

O ranking do uso de transgênicos (em milhões de hectares)

1 - EUA: 73,1

2 - Brasil: 42,2

3 - Argentina: 24,3

O milho Bt
O milho Bt é uma variedade resultante de modificação genética resistente à
broca europeia do milho. É mais significativa nas lavouras de milho dos
Estados Unidos e da Europa.

As plantas originadas da variedade Bt produzem em seus tecidos a proteína


cry. Assim, quando as larvas se alimentam das folhas ou do caule da planta,
acabam morrendo.

229

O símbolo

Os alimentos transgênicos são identificados por um símbolo (abaixo, símbolo


usado no Brasil), conforme exigido por lei na maioria dos países.

LEGENDA: Símbolo de alimento transgênico no Brasil.

CRÉDITO: Vanessa Van/Shutterstock.com

Os prós e os contras do melhoramento genético

CRÉDITO: Vitiuk Viktor/Shutterstock.com

- Ampliação do conhecimento científico com o avanço das pesquisas genéticas.

- Qualidade da produção e alimentos mais nutritivos.

- Plantas mais resistentes a pragas.

- Redução do uso de agrotóxicos.

- Redução dos custos de produção e barateamento dos alimentos.

CRÉDITO: Vitiuk Viktor/Shutterstock.com

- Ignora as consequências a longo prazo para o meio ambiente e a saúde.

- Muito compensador para grandes produtores.

- Aumento nos casos de alergias aos alimentos.

- Pode gerar insetos cada vez mais resistentes.

- Perda de biodiversidade.

- Surgimentos de ervas daninhas muito resistentes.

230
Sistemas agrícolas alternativos

Agricultura orgânica, ecológica, sustentável ou agroecológica são algumas das


denominações para os sistemas agrícolas alternativos. A agricultura alternativa
busca evitar a ocorrência de impactos ambientais e sociais, como os resíduos
de agrotóxicos encontrados nos alimentos devido aos atuais sistemas agrícolas
tradicionais e modernos de produção. Veja, a seguir, a quantidade de amostras
de alimentos cultivados com emprego de produtos químicos, em que foram
detectados altos índices de agrotóxicos não permitidos ou com quantidade
além da permitida.

FONTE: AGÊNCIA Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Disponível em:


http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/58a5580041a4f6669e579ede61db
78cc/relat%c3%b3rio+para+2011-12+-+30_10_13_1.pdf?mod=ajperes. Acesso
em: 10 nov. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

As práticas de produção agrícola alternativas, ao contrário, procuram


estabelecer uma relação de harmonia com a natureza. Para tanto, essa
agricultura substitui o uso de adubos químicos tóxicos pelos de origem
orgânica (estercos, palhas, forragens, restos de vegetais) e utilizam o controle
biológico, que consiste em usar predadores naturais (fungos, larvas, vespas,
besouros) para controlar as doenças e as pragas que atacam as lavouras. Em
geral, são técnicas utilizadas em pequenas e médias propriedades rurais que
promovem a policultura (cultivo de vários gêneros agrícolas) como forma de
promover a biodiversidade necessária para manter o equilíbrio natural.

Como as lavouras precisam de cuidados permanentes, a produção orgânica é


realizada principalmente em pequenas propriedades policultoras familiares, o
que aumenta a oferta de trabalho no meio rural e favorece o estabelecimento
da população no campo.

Boxe complementar:

A produção orgânica

A agropecuária orgânica é praticada na maioria dos países do mundo,


abrangendo cerca de 37,5 milhões de hectares de terras agricultáveis. Em
2012, a comercialização desses produtos no mundo alcançou 64 bilhões de
dólares. O Brasil se destaca na produção mundial de orgânicos, em grande
parte para exportação, principalmente para Japão, Estados Unidos e países da
União Europeia. Mesmo com 1,9 milhão de hectares de terras destinadas à
produção orgânica, o Brasil ainda tem muito a crescer. O mercado interno vem
se ampliando, mas, para que esses alimentos sejam a opção do brasileiro, os
preços devem se tornar mais acessíveis, já que ainda custam de 40% a 100%
mais que os produtos convencionais.

Para que uma propriedade possa cultivar produtos orgânicos, ela deve passar
por análise, readequação e constante monitoramento a fim de atender às
exigências necessárias para receber o selo de certificação orgânica.

Além da sustentabilidade ambiental, a agropecuária orgânica assegura a


produção de alimentos muito mais saudáveis, livres dos produtos químicos que
são utilizados nas lavouras e nas criações, e que chegam até a mesa dos
consumidores. Embora a agricultura orgânica tenha fatores tão positivos, sua
produção ainda ocorre em pequena escala, o que torna mais elevado os preços
dos produtos cultivados nesse sistema. Por isso, seu consumo é a opção de
uma parcela restrita da população, aquela que dispõe de condições para pagar
mais caro por tais produtos.

LEGENDA: O Selo Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg),


vinculado ao Ministério da Agricultura, é a garantia ao consumidor de que o
produto adquirido segue as normas de produção orgânica.

CRÉDITO: SisOrg

Fim do complemento.

231

A produção agropecuária no mundo

A partir da segunda metade do século XX, a produção agropecuária mundial


começou a crescer de maneira acelerada, em parte, devido à ampliação das
áreas de cultivo e pastagens, e também ao aumento considerável da
produtividade decorrente do processo de modernização do campo,
impulsionado, por um lado, pela disseminação da Revolução Verde, como já
vimos.
Por isso, as atividades agrícolas e pecuárias assumiram grande destaque na
economia e no comércio mundial. Atualmente, o mercado agrícola internacional
movimenta mais de 1,7 trilhão de dólares por ano, somando os valores gerados
com exportações e importações entre os países do globo. Essas atividades
também desempenham um papel importante na produção de alimentos para
suprir a demanda de consumo da população mundial. No entanto, de acordo
com estimativas da FAO, até 2050, a produção mundial de alimentos terá que
aumentar em cerca de 60% para atender ao crescente consumo da sociedade
atual.

Analisada no contexto mundial, a produção agropecuária difere de maneira


significativa entre os países, assumindo características muito particulares entre
as diversas regiões do planeta, o que decorre, sobretudo, das grandes
diferenças tecnológicas empregadas na realização das atividades agrárias. Em
virtude disso, é importante avaliar essas diferenças e analisar as principais
características da produção agropecuária em países desenvolvidos e
subdesenvolvidos.

FONTE: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4.


ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 46. 1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E.
Cavalcante

232

- A agropecuária no mundo desenvolvido

Nos países desenvolvidos, a agropecuária é moderna e avançada


tecnicamente, com elevados investimentos em capital e alta tecnologia. Em
razão dos altos índices de mecanização, do uso intensivo de fertilizantes e
agrotóxicos, das técnicas de correção e conservação dos solos e da aplicação
da biotecnologia, a produtividade da agricultura e da pecuária praticada nesses
países é bastante elevada, mesmo empregando cada vez menos mão de obra,
substituída pela própria mecanização agrícola. Em média, os países
desenvolvidos empregam menos de 5% de sua população economicamente
ativa no setor agrícola, quando em alguns países subdesenvolvidos esse índice
chega a mais de 60%.
Com os elevados índices de produtividade, os países desenvolvidos se
destacam na produção de vários gêneros agropecuários. Essa enorme
produção abastece o próprio mercado interno e responde por grande parte do
volume de produtos agropecuários que circulam no mercado mundial, onde são
negociados como commodities. É por isso que a quebra na safra de um grande
produtor agrícola como os Estados Unidos, por exemplo, tem reflexos diretos
na cotação dos produtos agrícolas em escala mundial.

Se existe certa homogeneidade em relação ao nível das técnicas agrícolas


utilizadas nos países desenvolvidos, a organização do espaço agrário difere
bastante entre eles. Nos Estados Unidos, por exemplo, predomina a agricultura
moderna e empresarial, de alta rentabilidade e integrada na cadeia produtiva
do agronegócio. A produção agropecuária do país apoia-se em grandes
lavouras monocultoras que se distribuem espacialmente na forma de cinturões
(belts) especializados na produção de determinados gêneros: corn belt (milho),
wheat belt (trigo), cotton belt (algodão), ranching belt (pecuária extensiva) e
dairy belt (pecuária leiteira e policulturas). Veja o mapa abaixo.

FONTE: REFERENCE atlas of the world. 9. ed. London: Dorling Kindersley,


2013. p. 17. 1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E. Cavalcante

233

Os países desenvolvidos do continente europeu, por sua vez, também se


destacam como grandes produtores agrícolas, posição alcançada tanto pela
modernização de suas propriedades rurais quanto pelo intenso aproveitamento
do espaço agrário.

As terras são utilizadas de maneira intensiva com predomínio de pequenas e


médias propriedades policultoras, que utilizam técnicas agrícolas clássicas,
como a rotação de culturas. Isto é, em uma mesma área, os agricultores
cultivam diferentes gêneros, alternados com pecuária e períodos de repouso do
solo.

O clima temperado que predomina em boa parte do continente favorece o


cultivo de cereais (trigo, aveia, centeio, cevada), além de batata, beterraba,
entre outros. Na pecuária, destacam-se as criações de bovinos, suínos e
ovinos. França, Espanha, Alemanha e Itália estão entre os maiores produtores
agrícolas do continente (veja gráfico e foto abaixo).

FONTE: FOOD and Agriculture Organization (FAO). Disponível em:


http://faostat3.fao.org/download/q/qc/e. Acesso em: 8 jul. 2015. CRÉDITO: E.
Cavalcante

LEGENDA: Área agrícola na região do vale do Rio Sena, na França, em 2014.

CRÉDITO: Forget Patrick/Alamy Stock Photo/Latinstock

Políticas agrícolas no mundo desenvolvido

A pujante produção agropecuária nos países mais desenvolvidos tem sido


sustentada por políticas agrícolas protecionistas. Subsídios, financiamentos,
barreiras sanitárias, cotas e sobretaxas de importação são algumas das
medidas protecionistas adotadas há décadas por esses países como forma de
incentivar a produção interna e proteger seus produtores rurais da concorrência
externa.

Os Estados Unidos, por exemplo, possuem uma Lei Agrícola (Farm Bill) que
concede enormes subsídios ao setor agrícola, recursos que o governo
transfere diretamente aos seus agricultores. Calcula-se que cerca de 14% da
renda líquida desses agricultores advém dos recursos governamentais. Além
disso, o país impõe uma série de barreiras comerciais, como alíquotas de
importação elevadas e imposição de cotas, utilizadas como forma de limitar a
entrada de produtos agrícolas no país e, assim, proteger seus agricultores da
concorrência externa. Outras medidas protecionistas adotadas são justificadas,
nem sempre com argumentos válidos, por razões de ordem sanitária.

Os países que compõem o bloco da União Europeia também utilizam medidas


protecionistas apoiadas no estabelecimento de uma Política Agrícola Comum
(PAC), que estabelece um sistema de subsídios para a agricultura. Com essa
política, assegura-se também a formação de um mercado único do qual os
países do bloco possam importar e exportar livremente seus produtos
agrícolas. Ao estabelecer tal medida, os países do bloco europeu conseguem
proteger seus agricultores em relação às importações provenientes do mercado
agrícola mundial a preços mais baixos.
A política agrícola protecionista exercida pelas nações mais ricas tem afetado
de maneira direta os países subdesenvolvidos, cujas economias estão, em
geral, apoiadas nas exportações de gêneros agropecuários.

234

- A agropecuária no mundo subdesenvolvido

A atividade agropecuária de países subdesenvolvidos apresenta características


singulares, dada a grande heterogeneidade existente entre eles. Isso não nos
impede de traçar alguns pontos em comum sobre a prática agrícola entre esses
países, entre os quais podemos destacar:

- O modelo agroexportador: no espaço agrário de muitos países


subdesenvolvidos, podemos observar a presença de grandes lavouras
comerciais voltadas para a exportação, herança das enormes plantations que
os europeus introduziram em suas colônias. Essas lavouras comerciais são
encontradas sobretudo em países como Brasil, México, Argentina, Índia e
China, onde o processo de industrialização impulsionou a modernização de
áreas agrícolas (em contraste com a coexistência de áreas ainda atrasadas
nesses países) com a introdução de capitais e tecnologias no campo, tornando-
os grandes produtores agrícolas. Abaixo navio sendo carregado com soja no
porto de Itaqui, no Maranhão, em 2013.

CRÉDITO: Mauricio Simonetti/Pulsar

- O reduzido nível tecnológico e a baixa produtividade: nos países


subdesenvolvidos e atrasados tecnologicamente verifica-se o predomínio de
uma agropecuária tradicional, praticada com técnicas rudimentares e com
baixa produtividade. Nas áreas rurais mais pobres de tais países, os
agricultores, completamente descapitalizados e sem qualquer tipo de
assistência técnica ou financeira, dedicam-se a atividades de subsistência, em
geral, praticadas com técnicas arcaicas, como queimadas, arado de tração
animal, trabalho manual no plantio e colheita das lavouras. Abaixo agricultura
tradicional na Etiópia, África, em 2014.

CRÉDITO: Alexander Ludwig/Alamy Stock Photo/Latinstock


- A concentração das terras e os conflitos fundiários: outra característica
marcante no espaço agrário de muitos países subdesenvolvidos, a exemplo do
que ocorre no nosso país, é a elevada concentração fundiária. Nesses países,
grande parte das terras permanece em poder de uma pequena elite
latifundiária, o que, em parte, também se explica pela herança histórica das
imensas plantations que as metrópoles europeias introduziram em seus
domínios coloniais. Essa excessiva concentração das terras tem sido,
atualmente, foco de tensões e conflitos fundiários entre fazendeiros e
camponeses. Em muitos países, é grande o número de camponeses e
pequenos agricultores que já perderam suas terras e estão organizados em
movimentos sociais que lutam pela reforma agrária (página seguinte), a
exemplo do que ocorre no Brasil, como veremos na próxima unidade.

235

Reforma agrária: a reorganização das terras

Em linhas gerais, a realização de uma ampla reforma agrária leva à


reorganização da estrutura fundiária, promovendo uma distribuição mais justa
das terras de um país. Para isso, é necessário que o Estado promova a
desapropriação de grandes propriedades improdutivas, dividindo-as em lotes
para assentar os agricultores e trabalhadores rurais sem-terra.

O sucesso de uma reforma agrária, porém, não depende apenas da


redistribuição das terras. Para fixar a população no campo, o governo precisa
oferecer apoio aos assentados, como assistência técnica e financeira, garantia
de preços e facilidades na comercialização da safra e produtos de valor
agregado. Quando realizada nesses moldes, a reforma agrária não garante
apenas o acesso à terra, mas também a oportunidade para que os agricultores
e suas famílias possam trabalhar e viver no campo em melhores condições.

Glossário:

Desapropriação: processo que transfere para o domínio do Estado bens e


propriedades em função de seu interesse social ou de sua utilidade ou
necessidade pública, mediante a prévia indenização a seus proprietários.

Fim do glossário.
LEGENDA: Acima, protesto de agricultores por melhorias na política agrária no
Paraguai, em 2014.

CRÉDITO: Norberto Duarte/AFP Photo

Agricultura familiar: necessária para alimentar o mundo

[...]

Os assentamentos da reforma agrária integram uma parcela de trabalhadores


rurais que eram assalariados em propriedades alheias ou que foram expulsos
do campo devido à mecanização. O retorno ao meio rural é uma reconstrução
da vida local, já que os assentamentos se configuram como espaços que
agregam famílias de diferentes localidades. Além de se adequarem à produção
da nova região, os assentados têm que estabelecer uma vida social a partir dos
contatos com outros assentados, assim como com o meio urbano próximo,
principal centro de escoamento da produção.

O desenvolvimento a partir da pequena produção familiar tem grandes


opositores, baseados especialmente no argumento do "progresso do país". [...]

A reforma agrária, no entanto, é necessária para que o desenvolvimento


econômico do país seja acompanhado por uma distribuição de renda. Apoiar a
agricultura familiar não implica em conter a modernização agrícola, mas sim
reorganizar o meio rural e seus recursos.

Mudanças importantes ocorreram para a agricultura familiar nos últimos anos,


enquanto outros setores como a reforma agrária permaneceram estagnados.
Enquanto o número de famílias assentadas não aumenta como os movimentos
sociais desejam, a agricultura familiar foi oficialmente reconhecida pelo governo
brasileiro, especialmente através do Pronaf. Com ele, os agricultores que antes
eram vistos como a parte empobrecida do campo, hoje se tornam alternativas
ao modelo de desenvolvimento do latifúndio.

[...]

SCHNORR, Júlia. Agricultura familiar é necessária para alimentar o mundo. Le


Monde Diplomatique Brasil, São Paulo. Disponível em:
www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=2999&tipo=acervo. Acesso em: 5 nov.
2015.
236

Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Estabeleça a relação entre agricultura, tecnologia e o cultivo dos mais


diversos gêneros agrícolas em lugares com diferentes características físicas.

2. O que é um sistema de produção agrícola?

3. Diferencie os sistemas de produção agrícola tradicional e moderno.

4. Sobre a Revolução Verde, explique:

a) em que consistiu essa revolução;

b) a relação entre o aumento da produtividade e a manutenção da fome no


mundo;

c) os impactos ambientais gerados por essa revolução.

5. Dentre os sistemas agrícolas tradicionais, a agricultura de jardinagem possui


características que lhe conferem elevada produtividade. Quais são as
peculiaridades que a diferenciam dos demais sistemas tradicionais?

6. Defina o que são sistemas agrícolas alternativos. Dê exemplos.

7. Quais são as diferenças entre a agricultura praticada nos Estados Unidos e a


praticada nos países europeus desenvolvidos?

8. Como as políticas protecionistas interferem na agropecuária praticada por


países desenvolvidos? Exemplifique.

9. Caracterize as principais diferenças entre a atividade agropecuária praticada


em países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

10. No que consiste uma reforma agrária e quais são seus objetivos?

Expandindo o conteúdo

11. Leia o texto a seguir e responda às questões.

Entrevista com o demógrafo Roberto Luiz do Carmo


Em 1798, um economista britânico chamado Thomas Malthus formulou uma
teoria populacional que previa um apocalipse de fome e guerra se a população
humana não parasse de crescer. Sua ideia era que a população cresceria em
progressão geométrica, enquanto nossa capacidade de produzir alimentos só
cresceria em progressão aritmética. Logo, em um futuro próximo, faltaria
comida para alimentar tanta gente.

Hoje, mais de dois séculos depois, a previsão não se confirmou. A população


não parou de crescer e estamos todos, bem ou mal, vivos. Mas a teoria
malthusiana ainda ressoa entre os mais alarmistas - principalmente agora que
estamos atingindo o índice de 7 bilhões de seres humanos. Como dar comida
para essa multidão? Como impedir o colapso de nosso já desgastado meio
ambiente?

Para responder a essas perguntas, a GALILEU conversou com o demógrafo


Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Núcleo de Pesquisas da População
(NEPO) da Unicamp. Segundo o pesquisador, os cientistas de hoje não veem
nenhum perigo decorrente de uma superpopulação humana. Nossas modernas
técnicas de agricultura garantirão que não falte comida nas próximas décadas -
se ainda há fome no mundo, é porque os alimentos são mal distribuídos, e não
por causa do excesso de gente. [...]

237

Ainda é possível dizer que uma superpopulação humana ameaça o planeta?

Eu tomaria muito cuidado na abordagem dessa questão. Não é possível, de


maneira alguma, sustentar uma posição catastrofista em relação ao
crescimento populacional. Não existem elementos científicos para isso. O
argumento malthusiano mostrou-se totalmente equivocado. Ou seja, mesmo
com o crescimento populacional da segunda metade do Século XX, não houve
uma crise significativa na produção de alimentos. Houve, pelo contrário, um
aumento substancial nessa produção. As situações de fome que afligem muitos
países de tempos em tempos, principalmente na África, derivam da
incapacidade de inserção no mercado para compra desses alimentos. Ou seja,
em nível do mercado global, existe uma produção capaz de atender a
população mundial. O que não existe é acesso aos mercados por parte de
alguns países.

[...]

Existe alguma estimativa de quantos seres humanos o planeta é capaz de


carregar sem se exaurir?

Joel E. Coehn no livro "How Many People Can the Earth Support?", publicado
pela primeira vez em 1995, já deu a resposta que considero definitiva. Depois
de reconstruir grande parte das avaliações realizadas historicamente sobre a
"capacidade de suporte" do planeta, ele conclui o livro afirmando: "depende".
Depende do nível de consumo e do tipo de uso que essa população faça dos
recursos ambientais. Em um padrão de consumo muito baixo, a Terra pode
sustentar muito mais do que os 7 bilhões atuais. Ao nível de consumo
crescente em que vivemos, com o tipo de uso que se faz dos bens naturais,
creio que já ultrapassamos o limite. O que sustenta o volume atual da
população é, paradoxalmente, a desigualdade de acesso aos bens e à riqueza
que caracteriza a organização da sociedade atual, com um grande volume de
população vivendo em situações de baixíssimo consumo, e um grupo muito
reduzido (embora crescente) de pessoas com um elevadíssimo padrão de
consumo dos recursos. O grande desafio das próximas décadas é a busca da
redução das desigualdades, sem que isso signifique dilapidação/contaminação
dos recursos naturais. Mas isso exige um outro estilo de desenvolvimento
econômico e social.

Então Malthus estava errado?

Malthus estava totalmente equivocado. Em um exercício muito simples de


imaginação basta pensar: se não nascesse mais nenhum ser humano será que
os problemas sociais e ambientais estariam resolvidos? Não estou também
dizendo que o volume populacional não é importante. É sim fundamental. Mas
existem outros aspectos que precisam ser considerados de maneira
concomitante quando se analisa a questão populacional, como padrão de
consumo e estilo de desenvolvimento.

ROSA, Guilherme. Crescimento da população não ameaça planeta, consumo


sim. Galileu, Rio de Janeiro, 31 jan. 2012. Disponível em:
http://revistagalileu.globo.com/revista/common/0,,emi291017-17770,00-
crescimento+da+populacao+nao+ameaca+planeta+consumo+sim.html. Acesso
em: 5 nov. 2015.

CRÉDITO: studioVin/Shutterstock.com

a) As teorias de Malthus não se cumpririam porque o ser humano conseguiu


ampliar as áreas cultivadas e a produtividade nos campos. Como isso foi
possível?

b) Explique a seguinte afirmação: "se ainda há fome no mundo, é porque os


alimentos são mal distribuídos, e não por causa do excesso de gente".

c) Em uma de suas respostas, o entrevistado cita um estudo sobre as


estimativas de capacidade da Terra em sustentar a população que abriga.
Explique a relação que ele estabelece entre população e consumo. Qual é o
padrão de consumo estabelecido na atualidade?

238

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

O cultivo do milho e a cultura mexicana

O milho é parte integrante da mesa dos mexicanos. Mas além de ser uma
presença constante e comum na dieta desse povo, também é considerado um
alimento sagrado. Essa concepção provém da cultura mexicana, cuja
população descende em cerca de 30% de povos ameríndios e 60% de
eurameríndios.

O texto abaixo aborda a importância desse cultivo para a cultura mexicana.

Milho: corpo e alma do México

[...]

A história do milho está intimamente relacionada com o México. Até hoje diz-se
no país que "o deus do milho criou o homem para que este lhe prestasse
tributo". Como explica o historiador mexicano Guillermo Bonfil, "as grandes
civilizações do passado e a própria vida de milhões de mexicanos de hoje têm
como raiz e fundamento o generoso milho. Ele foi e continua sendo um eixo
fundamental para a cultura e a criatividade de centenas de gerações. Exigiu o
desenvolvimento e o aperfeiçoamento contínuo de inumeráveis técnicas para o
seu cultivo".

"Levou ainda ao surgimento de uma cosmogonia e de um sistema de crenças e


práticas religiosas que consideram o milho uma planta sagrada, permitiu a
elaboração de uma arte culinária de surpreendente riqueza, marcou o sentido
do tempo e organizou o espaço em função de seus próprios ritmos e
exigências e deu motivo para as mais variadas formas de expressão estética.
Por tudo isso, o milho é o próprio fundamento da cultura mexicana."

[...]

SOLAGES, Patrícia de. Milho: corpo e alma do México. Revista Planeta, São
Paulo, ed. 442, dez. 2007. Disponível em: www.revistaplaneta.com.br/milho-
corpo-ealma-do-mexico/. Acesso em: 5 nov. 2015.

LEGENDA: Para os ameríndios, o milho é um alimento sagrado criado por


Cintéotl, o deus do milho, representado na imagem acima.

CRÉDITO: Artista desconhecido. Séc. X. Escultura em calcário. Museu


Regional Potosino, San Luis Potosi, Mexico. Foto: The Bridgeman Art
Library/Keystone

Glossário:

Ameríndios: povos que já habitavam a América na época da chegada dos


europeus a essas terras.

Eurameríndios: população descendente de etnias europeias e indígenas


americanos.

Cosmogonia: conjunto de princípios ou doutrinas que explicam a origem do


universo.

Fim do glossário.

239

A Geografia no cinema

Food, Inc.

CRÉDITO: Filme de Robert Kenner. Comida S.A. EUA. 2008


Título: Food, Inc. (Comida S.A.)

Diretor: Robert Kenner

Atores principais: Eric Schlosser e Michael Pollan

Ano: 2008

Duração: 94 minutos

Origem: Estados Unidos

Qual é a origem dos alimentos que consumimos todos os dias?

Esse documentário, ao abordar essa questão, retrata com grande riqueza de


detalhes o interesse das indústrias de alimentos em não divulgar a verdadeira
origem dos alimentos que as pessoas compram para consumir.

Para assistir

- NÓS alimentamos o mundo. Direção: Erwin Wagenhofer. Áustria, 2005.

Todos os dias milhares de toneladas de alimentos, ainda bons para o consumo,


vão para o lixo devido às exigências das leis de consumo em relação aos
prazos de validade.

Esse e outros aspectos que envolvem o desperdício de alimentos, o meio


ambiente e a fome no planeta são apresentados neste documentário.

Para ler

- ADAS, Melhem. A fome: crise ou escândalos? São Paulo: Moderna, 2004.

- CASTRO, Josué de. Geografia da fome. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2005.

- CONWAY, Gordon. Produção de alimentos no século XXI : biotecnologia e


meio ambiente. Tradução Mauro Celso Paciornick. São Paulo: Estação
Liberdade, 2003.

- EHLERS, Eduardo. O que é agricultura sustentável. São Paulo: Brasiliense,


2009.

- GREEN, Jen. Alimentos transgênicos. Tradução Claudia Cabilio. São Paulo:


Difusão Cultural do Livro, 2008.
- MARAFON, Glaucio José. O desencanto da terra: produção de alimentos,
ambiente e sociedade. Rio de Janeiro: Garamond, 2011. (Desafios do século
XXI).

- SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. 2. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1993.

- VEIGA, José Eli da (Org.). Transgênicos: sementes da discórdia. São Paulo:


Senac, 2007.

Para navegar

- FOOD and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). Disponível


em: http://tub.im/3bn345. Acesso em: 9 out. 2015.

- PORTAL do agronegócio. Disponível em: http://tub.im/gxb9hi. Acesso em: 9


out. 2015.

- REPÓRTER Terra - Transgênicos. Disponível em: http://tub.im/uxkqpy.


Acesso em: 9 out. 2015.

240

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UEM-PR) Sobre o meio rural e suas transformações, assinale o que for


correto.

(01) A partir do século XVIII, no período da revolução industrial, o


aperfeiçoamento de instrumentos e técnicas de cultivo, tais como arado de aço
e adubos, permitiu o aumento da produtividade agrícola, origi nando a
agricultura moderna.

(02) Ainda que a inovação tecnológica tenha determinado ganhos de


produtividade com o crescimento da produção por área e ampliado os limites
das áreas agrícolas, o desenvolvimento da produção rural ainda hoje necessita
de grandes exten sões de terras com condições climáticas e solos favoráveis.

(04) Procedimentos técnicos, como a aduba ção e a irrigação e drenagem, têm


dimi nuído a dependência da agricultura do meio natural. Entretanto, a difusão
dessas inovações pelo espaço mundial é irregu lar, tornando o meio rural muito
diversifi cado.

(08) Na agropecuária extensiva, são utilizadas pequenas extensões de terras,


podendo ser mantidas vastas áreas naturais pre servadas. Há o predomínio do
capital, uma vez que apresenta grande mecani zação e a mão de obra utilizada
é bem qualificada.

(16) O plantation é um sistema agrícola típico de países desenvolvidos. As


suas caracte rísticas atuais são: o minifúndio (pequenas propriedades rurais),
policultura (cultivo de vários produtos agrícolas) e mão de obra qualificada.

2. (ENEM-MEC)

A interface clima/sociedade pode ser considerada em termos de ajustamento à


extensão e aos modos como as sociedades funcionam em uma relação
harmônica com seu clima. O homem e suas sociedades são vulneráveis às
variações climáticas. A vulnerabilidade é a medida pela qual a sociedade é
suscetível de sofrer por causas climáticas.

AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 2010 (adaptado).

Considerando o tipo de relação entre ser humano e condição climática


apresentado no texto, uma sociedade tornase mais vulnerável quando:

a) concentra suas atividades no setor primário.

b) apresenta estoques elevados de alimentos.

c) possui um sistema de transporte articulado.

d) diversifica a matriz de geração de energia.

e) introduz tecnologias à produção agrícola.

3. (UFRGS-RS) A produção agrícola é diversificada mundialmente devido às


distintas condições físicas, econômicas, tecnológicas e culturais das regiões
geográficas.

A seguir, no primeiro bloco, são citados quatro sistemas agrícolas. No segundo


bloco, são apresentadas as caracterizações de três deles. Associe
adequadamente as caracterizações aos respectivos sistemas.
1. Agricultura de jardinagem.

2. Agricultura de "plantation".

3. Agricultura moderna.

4. Agricultura ecológica.

(_____) Predomínio de pequenas ou médias pro priedades especializadas na


rizicultura, que adotam técnicas milenares de cultivo e utilizam mão de obra
familiar.

(_____) Produção obtida em médias e grandes propriedades altamente


capitalizadas, que apresentam alta produtividade em decor rência, entre outros
fatores, da seleção de sementes e da mecanização intensiva.

(_____) Produção obtida em pequenas e médias propriedades com mão de


obra familiar, com uso de técnicas de controle biológi co e informacional,
fertilizantes orgânicos e rotação de culturas.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo,


é:

a) 4 - 1 - 2.

b) 2 - 4 - 1.

c) 1 - 3 - 4.

d) 1 - 3 - 2 .

e) 2 - 1 - 4.

241

4. (UFPE-PE) "É um tipo de sistema agrícola pri mitivo, adotado historicamente


nos ecossistemas de floresta tropical, em que o ser humano derruba trecho da
floresta, queimandoo como preparo da terra para o cultivo de subsistência,
obtendo durante poucos anos (4 a 6) alimento e, posteriormente, abandonando
essa área que se tornou improdutiva. Passa então a ocupar novo trecho de
floresta e assim por diante. A área inicial abandonada, onde se estabeleceu
vegetação secundária, após cerca de 20 anos, poderá ser novamente utilizada
para o cultivo". Essa é a definição do:
a) Sistema de "plantation".

b) Sistema Intensivo.

c) Sistema de Agricultura Vazante.

d) Sistema de Agricultura Itinerante.

e) Sistema de Rotação de Culturas.

5. (UEM-PR) Sobre agricultura e práticas agrícolas, assinale o que for correto.

(01) Plantation é o sistema agrícola típico dos países subdesenvolvidos,


utilizado amplamente durante a colonização europeia na América, Ásia e
África.

(02) Nos países desenvolvidos, o emprego massivo de tecnologia na


agricultura produz uma forte integração entre o setor agrícola e o setor
industrial.

(04) A integração entre o setor agrícola e o setor industrial se iniciou com o


primeiro abastecendo o segundo com matérias-primas e se completou com a
transformação do setor agrícola em mercado consumidor de produtos
industriais.

(08) No Brasil, as chamadas commodities agrícolas servem para medir o nível


de interdependência agricultura-indústria e para comparar o nível de
desenvolvimento da agricultura brasileira com a praticada em outros países
desenvolvidos.

(16) A economia camponesa de subsistência é composta por pequenas


propriedades, nas quais predomina o autoconsumo, ou seja, nelas são
cultivados os alimentos necessários para a manutenção da família, e apenas o
excedente da produção é comercializado.

6. (IFSP-SP) Leia o texto a seguir.

O fato é que a produção focada na exportação pode reduzir a oferta doméstica


de alimentos por dois caminhos simultâneos: a) substituição ao nível da
composição da produção (cultivando-se mais soja ao invés de arroz e feijão); e
b) alterações tecnológicas que privilegiam o uso intensivo da terra e
equipamento, reduzindo o emprego de moradores residentes e com eles as
culturas de subsistência, cujos excedentes eventuais formavam uma
importante parcela da oferta que chega aos centros urbanos.

(www.portaldoagronegocio.com.br)

Do conteúdo do texto, pode-se concluir que:

a) a modernização do campo, com a utilização de máquinas agrícolas, só


ocorre nas culturas voltadas para a exportação, como a soja.

b) a agricultura voltada para a exportação, como a soja, absorve a maior parte


da mão de obra existente no campo.

c) os pequenos produtores têm preferido cultivar soja, ao invés de arroz e


feijão, pois é uma cultura que não exige grandes investimentos.

d) o aumento das exportações de produtos agrícolas pode reduzir a produção


de alimentos para o mercado interno.

e) a exportação de alimentos, em países de agricultura tradicional, só é


possível pela redução da produção voltada para o mercado interno.

7. (Unimontes-MG) O sudeste asiático destaca-se como a região do planeta


com a maior produção de arroz. Além do clima favorável, o sistema agrícola
adotado é fundamental para se obter alta produtividade do solo. O sistema
agrícola utilizado na rizicultura do sudeste asiático caracteriza-se por:

a) usar agrotóxicos e pesticidas para tornar o arroz mais resistente a pragas.

b) apresentar cultivo em grande propriedade, com adoção do sistema de


plantation.

c) adotar técnicas intensivas, com abundância de trabalho humano e baixa


mecanização.

d) empregar rotação de cultura para diminuir o desgaste do solo.

242

8. (UFU-MG) Observe as afirmações sobre a produção agropecuária e as


novas relações cidade-campo.

I . A grande evolução tecnológica ocorrida com a Revolução Industrial propiciou


o aumento da produção, a transição da manufatura para a indústria e a
ampliação da divisão do trabalho. A industrialização consolidou a sociedade
rural baseada em unidades produtivas autônomas e a subordinação da cidade
ao campo, dando lugar a uma sociedade tipicamente rural.

II. Nos países desenvolvidos e industrializados, a produção agrícola foi


intensificada por meio da modernização das técnicas empregadas, utilizando
cada vez menos mão de obra. Enquanto isso, nos países subdesenvolvidos, as
regiões agrícolas, principais responsáveis pelo abastecimento do mercado
externo, passam por semelhante processo de modernização das técnicas de
cultivo e colheita, mas, aliado a isso, tem-se o êxodo rural acelerado, que
promove a expulsão dos trabalhadores agrícolas para as periferias das grandes
cidades.

III. De acordo com o grau de capitalização e o índice de produtividade, a


produção agropecuária pode ser classificada em intensiva ou extensiva. A
agropecuária intensiva ocorre nas propriedades que utilizam técnicas
rudimentares, com baixo índice de exploração da terra e, consequentemente,
alcançam baixos índices de produtividade. Já as propriedades que adotam
modernas técnicas de preparo do solo, cultivo, colheita e apresentam elevados
índices de produtividade são classificadas em extensiva.

IV. Atualmente, observa-se a tendência à grande penetração do capital


agroindustrial no campo, tanto nos setores voltados ao mercado externo quanto
ao mercado interno. Nesse sentido, verifica-se que a produção agrícola
tradicional tende a se especializar não para concorrer com o mais forte, mas
para produzir a matéria-prima utilizada pela agroindústria.

Assinale a alternativa que apresenta as afirmações CORRETAS.

a) Apenas II e III.

b) Apenas I, II e III.

c) Apenas I, III e IV.

d) Apenas II e IV.

9. (AMAN-RJ) Sobre a Revolução Verde e seus efeitos na agricultura dos


países subdesenvolvidos, podemos afirmar que
I . conseguiu melhorar a produtividade e reduzir as quebras de safra causadas
por enchentes ou pragas.

II. ampliou o emprego intensivo de trabalho humano, reduzindo drasticamente o


êxodo rural.

III. deflagrou processos de valorização das terras e de concentração fundiária.

IV. incentivou a policultura e a difusão de práticas tradicionais da agricultura de


subsistência como a coivara e a rotação de terras.

V. exigiu maior capitalização dos agricultores e maior especialização da força


de trabalho.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas CORRETAS.

a) I e IV.

b) II e IV.

c) I, II e V.

d) I, III e V.

e) II , III e IV.

10. (UFSM-RS) Através do gráfico, observe os resultados obtidos pela


"revolução verde".

FONTE: MOREIRA, Igor. O espaço geográfico - Geografia geral e do Brasil.


São Paulo: Ática, 2002. p. 83. CRÉDITO: E. Cavalcante

A partir de seus conhecimentos e dos resultados demonstrados no gráfico, é


possível afirmar:

I. O principal objetivo proposto pela "revolução verde" era aumentar a produção


mundial de alimentos e a produtividade agrícola com o uso intensivo de
fertilizantes e de sementes para erradicar a fome no mundo.

II. No gráfico, o aumento do consumo de cereais indica que houve crescimento


da produção agrícola entre 1960 e 1980; como a superfície cultivada
permaneceu estável no mesmo período, é possível concluir que o uso de
fertilizantes resultou no aumento da produtividade.
III. O gráfico mostra que o consumo de fertilizantes deu-se em ritmo muito mais
acelerado que o consumo de cereais, permitindo concluir que os grandes
beneficiários do processo foram as grandes empresas químicas produtoras de
insumos.

243

Está(ão) CORRETA(S):

a) apenas I.

b) apenas III.

c) apenas I e II.

d) apenas II e III.

e) I , II e III.

11. (PUC-RS) A introdução de organismos geneticamente modificados (OGMs)


de alto rendimento pode implicar uma homogeneização cada vez maior das
práticas de cultivo e, também, do meio natural. Por outro lado, o homem tem
abandonado os cultivares tradicionais, mais adaptados aos diferentes
ecossistemas. Essa situação, que preocupa os ambientalistas, é denominada:

a) Revolução Verde.

b) Assoreamento Biotecnológico.

c) Erosão Genética.

d) Corredor Transgênico.

e) Biopirataria.

12. (UNIFESP-SP) Apesar das críticas de ambientalistas e de cientistas,


aumentou no mundo a área cultivada:

a) com irrigação por águas subterrâneas, com destaque para a Argentina e o


Paraguai, que exportam frutas para o Mercosul.

b) de milho para geração de energia, em especial no Brasil e na Rússia,


maiores exportadores de biodiesel do planeta.

c) de soja transgênica, com destaque para os Estados Unidos e o Brasil, que


estão entre os maiores produtores da Terra.
d ) com defensivos agrícolas, em especial nos países do Sahel, que exportam
arroz para países asiáticos e europeus.

e) de cana-de-açúcar para produzir álcool, em especial em Cuba e na


Alemanha, o que diminuiu a biodiversidade nesses países.

13. (UEL-PR) Sobre sementes transgênicas no mundo contemporâneo, é


correto afirmar:

a) Têm constituído a base da agricultura familiar em expansão, razão pela qual


o atual governo do Paraná vem defendendo seu uso.

b) A atuação de empresas que fabricam sementes transgênicas diminui a


possibilidade de criação de monopólios no setor de alimentos.

c) O uso de sementes transgênicas se expande, mesmo não havendo


consenso científico sobre os seus efeitos no corpo humano pelo seu consumo
em longo prazo.

d) O uso de sementes transgênicas tem resultado na diminuição dos subsídios


agrícolas dos países centrais a seus produtores rurais locais.

e) A utilização de transgênicos foi consensual entre movimentos sociais e


organismos internacionais como tentativa de solucionar os problemas da crise
alimentar.

14. (UEL-PR)

"A opinião pública tem sido informada que o surto da fome está ligado à
escassez de produtos agrícolas, o que decorre das más colheitas provocadas
pelo aquecimento global e pelas alterações climáticas, do aumento de
consumo de cereais na Índia e na China, do aumento dos custos dos
transportes e da crescente reserva de terras para a produção dos
agrocombustíveis.

Todas essas causas têm contribuído para o problema, mas não são suficientes
para explicá-lo. Estes aumentos especulativos, tal como os preços do petróleo,
resultam de o capital financeiro ter começado a investir fortemente nos
mercados internacionais de produtos agrícolas depois da crise do investimento
no setor imobiliário."
(Adaptado: SANTOS. B. S. Transnacionais de alimentos lucram com aumento
da fome. Carta Maior. Economia. 7 maio 2008.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre os subtemas, assinale a


alternativa CORRETA.

a) A crise alimentar, outrora um problema de ordem econômica, transformou-


se, no contexto da globalização, numa questão essencialmente ecológica.

b) Desequilíbrios globais e "bolhas especulativas" compõem o conjunto de


fenômenos na base da crise alimentar.

c) Por ser de dimensão global, a crise alimentar tem garantido a inclusão mais
igualitária dos países com vocação agrícola no mercado mundial.

d) A crise alimentar é fictícia e tem por finalidade básica permitir aos governos
neoliberais a elevação do valor de seus produtos agrícolas.

e) A escassez de alimentos é específica das economias capitalistas, uma vez


que não é registrada, historicamente, em outros modos de produção.

244

unidade 10 - O espaço agrário brasileiro

LEGENDA: Paisagem rural em Londrina, Paraná, em 2015.

CRÉDITO: Ernesto Reghran/Pulsar

245

Historicamente, as atividades agropecuárias apresentaram, e ainda


apresentam, papel de destaque em nosso país, tendo sido essenciais para o
desenvolvimento econômico e a ocupação do território desde o início da
colonização portuguesa, ocorrida nas primeiras décadas do século XVI.

Um território de dimensões continentais, no qual, em grande parte, o clima e os


solos favorecem a agricultura, embasa a notória vocação do nosso país à
agropecuária, que vem se desenvolvendo cada vez mais. No entanto, esse
desenvolvimento não tem ocorrido sem o enfrentamento de problemáticas,
como o desafio da modernização, a concentração de terras e seus
desdobramentos.
- O Brasil ocupa posição de destaque como grande produtor agrícola mundial.
Quais são as potencialidades agrícolas que fazem do nosso país um grande
produtor mundial de alimentos? O país se destaca na produção de quais
gêneros agropecuários? Embora tenha uma vasta extensão territorial, por que
existem conflitos pela posse da terra em diversas regiões do nosso país?

246

A agropecuária no Brasil

A atividade agrária em nosso país ganhou importância, primeiramente, com as


grandes plantations de cana-de-açúcar introduzidas na região litorânea
nordestina. Depois, outras atividades agropecuárias tiveram grande valor
econômico e contribuíram para o processo de ocupação e povoamento do
território. A expansão da pecuária extensiva de bovinos, entre os séculos XVII
e XVIII no interior do sertão nordestino e no extremo sul do país, e o cultivo de
café nos estados do Sudeste, entre o final do século XIX e as primeiras
décadas do século XX, são exemplos dessas atividades.

A expansão das atividades agropecuárias em nosso país foi favorecida tanto


por fatores de ordem econômica (por exemplo: a expansão do mercado
consumidor interno e o avanço das condições técnicas empregadas no campo)
como por fatores naturais, entre eles, as vastas extensões de terras cujo relevo
apresenta ondulações suaves, a fertilidade natural de boa parte dos solos, a
disponibilidade de recursos hídricos na maior parte do território e o predomínio
de climas quentes favoráveis ao desenvolvimento dos cultivos tropicais.

Aproveitando-se dessas vantagens e de fatores como políticas de crédito e


incentivos ao desenvolvimento agrário, o Brasil alcançou posição de grande
produtor agrícola mundial, destacando-se nos dias atuais na produção de soja,
café, milho, algodão, cana-de-açúcar, laranja e também na criação de bovinos
e aves, entre vários outros gêneros agropecuários.

A importância dessas atividades para o país se traduz em números: elas


empregam cerca de 16% da população economicamente ativa (gráfico A) e
respondem por cerca de 6% do PIB brasileiro (gráfico B), embora essa
participação chegue a 23% de toda a riqueza produzida internamente, se
considerarmos a cadeia produtiva completa do agronegócio.
FONTES: THE WORLD Bank. Disponível em:
http://databank.worldbank.org/data/reports.aspx?source=worlddevelopment-
indicators#. Acesso em: 12 ago. 2015. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Disponível em:
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_2014.pdf. Acesso
em: 12 ago. 2015. CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES: Gilberto Alicio

- A produção agropecuária brasileira

A produção agrícola brasileira é bastante diversificada, sendo obtida em


lavouras temporárias e permanentes. As lavouras temporárias são formadas
pelos cultivos de curta duração, em geral menos de um ano, que fornecem
apenas uma safra, sendo necessário um novo plantio após a colheita, como as
lavouras de arroz, feijão, milho, algodão e soja. Já as lavouras permanentes
são formadas pelos cultivos de longa duração, que produzem durante vários
anos consecutivos, a exemplo das lavouras de café, laranja e cacau.

Do total da área ocupada por cultivos agrícolas no país, as lavouras


temporárias ocupam 92%, enquanto as lavouras permanentes, apenas 8%.
Essas lavouras são cultivadas em propriedades de tamanhos variados, cuja
produção pode ser voltada tanto para fins de subsistência quanto para o
abastecimento do mercado interno ou externo.

247

Historicamente, as políticas agrícolas implantadas em nosso país por meio de


financiamentos, créditos e subsídios beneficiaram, em especial, os grandes
proprietários rurais, priorizando as monoculturas comerciais e de exportação.
Nas últimas duas décadas, contudo, ocorreu uma mudança nos rumos dessa
política agrícola, e os incentivos se voltaram também para as lavouras
destinadas ao abastecimento do mercado interno (arroz, feijão, milho e
mandioca), cultivadas, sobretudo, em pequenas e médias propriedades rurais.
Com isso, essas lavouras apresentaram significativo aumento da área cultivada
e também da produção.

Na pecuária, o Brasil se destaca como um dos maiores criadores de animais do


mundo. Os principais rebanhos brasileiros são os de bovinos, suínos, ovinos e
caprinos. O país também sobressai como o quarto maior produtor mundial de
aves, com destaque para as criações de frangos e galinhas. Os dados do
último censo agropecuário do país (2006) revelaram que cerca de 44% das
propriedades rurais apresentavam algum tipo de criação animal, enquanto a
área de pastagens alcançava cerca de 62% da área total ocupada pela
agropecuária.

A partir das décadas de 1970 e 1980, impulsionada pela expansão da fronteira


econômica em direção ao interior do país, a pecuária de corte expandiu-se em
direção às regiões Centro-Oeste e Norte, com a formação de grandes áreas de
criação de gado bovino. A ampla disponibilidade de terras a preços baixos
favoreceu a formação de enormes fazendas voltadas, sobretudo, para a
criação extensiva, aquela em que o gado é criado solto nas pastagens, sem
receber maiores cuidados, o que resulta em baixos índices de produtividade e
rentabilidade.

Já nas regiões economicamente mais dinâmicas, como em certas áreas do


Centro-Sul (Triângulo Mineiro, oeste paulista e catarinense, Campanha
Gaúcha, sudoeste paranaense), há o predomínio de criações semiextensivas
de bovinos. Nessa prática, o rebanho é criado em melhores pastagens,
recebendo acompanhamento veterinário e vacinação contra doenças, ração
balanceada, entre outros cuidados que melhoram as condições de sanidade
dos animais. Essas práticas contribuem para melhorar a qualidade e a
produtividade dos rebanhos.

Em relação à pecuária leiteira, a produtividade do rebanho bovino também é


maior nas regiões em que o gado é criado de forma intensiva, com destaque
para as bacias leiteiras do centro-norte gaúcho, centro-oeste catarinense,
sudoeste e campos gerais paranaenses, centro-sul mineiro. Nas regiões de
criação extensiva, porém, a produtividade leiteira, assim como ocorre com a
pecuária extensiva de corte, atinge níveis bem mais baixos.

A suinocultura e a avicultura são atividades que se concentram em pequenas e


médias propriedades rurais, em áreas de maior concentração de frigoríficos,
com destaque para o centro-oeste de Santa Catarina, onde as criações
abastecem essas empresas. Observe a tabela abaixo.

Tabela: equivalente textual a seguir.


FONTES: FOOD and Agriculture Organization (FAO). Disponível em:
http://faostat3.fao.org/download/q/qc/e. Acesso em: 16 nov. 2015. INSTITUTO
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/66/pam_2014_v41_br.pdf.
Acesso em: 16 nov. 2015. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Disponível em:
www.ibge.gov.br/biblioteca/visualizacao/periodicos/84/ppm_2014_v42_br.pdf.
Acesso em: 16 nov. 2015.

248

Os mapas apresentados a seguir mostram a distribuição geográfica da


produção agropecuária brasileira.

FONTES: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial.


4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 144. 1 atlas. Escalas variam. *INSTITUTO
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
www.ibge.gov.br/biblioteca/visualizacao/periodicos/84/ppm_2014_v42_br.pdf.
Acesso em: 16 nov. 2015. CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES: E. Cavalcante

Observação:

A fim de privilegiar a leitura e o efeito visual, os mapas apresentados nesta


página não seguem o mesmo padrão cartográfico adotado no livro. No entanto,
a escala, a orientação e a legenda estão representadas corretamente.

Fim da observação.

249

Ao analisar a distribuição geográfica da produção agropecuária brasileira,


verificamos que vários cultivos e criações se distribuem de maneira desigual
pelo território. Observe, por exemplo, que as lavouras de arroz estão
concentradas principalmente no Rio Grande do Sul (maior produtor de arroz do
país), enquanto as lavouras de café se concentram, sobretudo, nos estados do
Sudeste.

Outras lavouras, no entanto, são cultivadas de maneira mais difusa,


espalhadas pelo território, como ocorre com o feijão e o milho, gêneros
cultivados em vários estados e regiões do país. A mesma coisa se verifica com
a pecuária, com os bovinos espalhados por quase todos os estados, e a
criação de suínos, com produções maiores concentradas no Sul e em alguns
outros estados.

Observe abaixo o mapa do uso do solo brasileiro.

FONTE: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4.


ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 143. 1 atlas. Escalas variam. CRÉDITO: E.
Cavalcante

Observe atentamente o mapa acima e identifique:

a) as regiões do país que apresentam maior grau de modernização do campo;

b) as regiões dominadas pela pequena agricultura comercial e de subsistência;

c) o que mais caracteriza o uso do solo na região Norte do país.

LEGENDA: Colheita de lavoura de arroz no município de Santa Maria, Rio


Grande do Sul, em 2013.

CRÉDITO: Gerson Gerloff/Pulsar

LEGENDA: Produção de café sendo espalhada para secar em fazenda no


município de Conceição da Aparecida, Minas Gerais, em 2014.

CRÉDITO: João Prudente/Pulsar

250

A modernização do campo brasileiro

A crescente safra alcançada pela agropecuária brasileira se apoia no


incremento da produção agrícola, impulsionada pelo processo de
modernização, que, ao longo das últimas décadas, vem provocando mudanças
significativas no espaço agrário do nosso país.

Ao discorrer sobre o processo de modernização da agricultura brasileira, é


preciso considerar a existência de opiniões distintas e até divergentes sobre o
tema. Alguns autores consideram como processo de modernização da
agricultura apenas as modificações de base técnica, o que nesse caso significa
a utilização intensiva de máquinas (tratores, colheitadeiras e outros
implementos) e insumos agrícolas (adubos, fertilizantes, defensivos agrícolas
etc.). Nesse sentido, a modernização agrícola pode ser considerada sinônimo
de mecanização ou tecnificação do campo.

Outros estudiosos, porém, sustentam que o processo de modernização do


campo não pode ser analisado apenas pelo viés dos avanços técnicos. Eles se
apoiam no fato de que, mesmo nas regiões em que as técnicas de produção
foram modernizadas, ainda persistem problemas que não condizem com a
modernização do campo, como a baixa produtividade, a existência de trabalho
não assalariado (parceiros, arrendatários, posseiros), o subemprego em
atividades não agrícolas e a pobreza no campo.

Independentemente do ponto de vista adotado, é certo que o processo de


modernização da agricultura brasileira começa por volta da década de 1950,
com a importação de máquinas e insumos agrícolas, tornando-se mais efetiva
na década seguinte, quando se instala no nosso país um setor industrial (com
empresas nacionais e estrangeiras) especializado na produção dos
equipamentos e insumos necessários.

A partir dessa época, com o intuito de acelerar o avanço da mecanização no


campo, o Estado passa a conceder linhas de créditos e financiamentos
bancários, o chamado crédito rural, de forma que os produtores rurais
pudessem investir na modernização de suas propriedades. Esse apoio,
entretanto, privilegiou quase exclusivamente os grandes proprietários rurais
para que produzissem gêneros agrícolas de maior valor no mercado externo,
as chamadas commodities, como café, laranja, soja e milho (gráficos abaixo).

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 16 nov. 2015. CRÉDITO: Fotomontagem
criada com Gilberto Alicio, jeehyun, Valentyn Volkov e Vinicius
Tupinamba/Shutterstock.com

A estratégia do Estado se voltou, portanto, para a obtenção de grandes safras


agrícolas, a fim de ampliar as exportações e obter superávits (saldos positivos
na balança comercial), gerando divisas para promover o pagamento da dívida
externa do país adquirida com empréstimos contraídos no exterior.

251

- As relações de trabalho no campo


O processo de modernização agrária e o avanço da produção tecnificada, além
de reduzirem o número de mão de obra no campo em virtude do aumento de
maquinários, também provocaram grandes mudanças nas relações de trabalho
no meio rural. Com a chegada das máquinas, muitos trabalhadores rurais
foram "expulsos" do campo, formando uma imensa massa de pessoas que se
deslocaram para os centros urbanos ou para as regiões de fronteira agrícola.
Muitos desses trabalhadores que foram para as cidades se tornaram
trabalhadores volantes assalariados, conhecidos popularmente como boias-
frias nos estados do Centro-Sul do país.

O avanço do trabalho assalariado no campo decorreu do próprio processo de


expansão das relações de produção capitalista no meio rural. Ao serem
obrigados a vender a sua força de trabalho em troca de um pagamento ou
remuneração, os trabalhadores rurais assalariados se tornaram subordinados
aos interesses dos proprietários das terras, que detêm os meios de produção e
os exploram, se apropriando dos lucros gerados por aquilo que o trabalhador
produziu (leia o texto abaixo).

[...]

As relações capitalistas de produção são relações baseadas no processo de


separação dos trabalhadores dos meios de produção [a terra, no caso do
espaço rural], ou seja, os trabalhadores devem aparecer no mercado como
trabalhadores livres de toda a propriedade, exceto de sua própria força de
trabalho.

[...]

Assim, os trabalhadores devem estar no mercado livres dos meios de


produção, mas proprietários de sua força de trabalho, para vendê-la ao
capitalista; este sim, proprietário dos meios de produção. É por isso que a
relação social capitalista é uma relação baseada na liberdade e na igualdade,
pois somente pessoas livres e iguais podem realizar um contrato. Um contrato
de compra e venda da força de trabalho. [...]

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo de produção capitalista, agricultura e


reforma agrária. São Paulo: FFLCH, 2007. p. 36.

LEGENDA: Acima, colheita de mandioca em Paranavaí, Paraná, em 2015.


CRÉDITO: Ernesto Reghran/Pulsar

A exploração dessa mão de obra pode ter caráter permanente ou temporário.


No trabalho temporário, a mão de obra é contratada em determinados períodos
do ano (em geral na colheita das safras, como cana-de-açúcar, laranja, café,
algodão, batata), nos quais recebe o pagamento por produtividade (quantidade
colhida) ou por dia de trabalho.

252

Além do trabalho assalariado, outras relações de trabalho também estão


presentes no espaço rural brasileiro. O sistema de arrendamento, por exemplo,
consiste num contrato de aluguel da terra, no qual o proprietário cede ao
arrendatário o direito de uso do solo por um tempo determinado e com o
pagamento de uma quantia fixa em dinheiro ou parte da produção obtida.

No sistema de parceria, por sua vez, não existe uma quantia fixa a ser paga;
nesse caso, os custos e os lucros da produção são divididos entre o
proprietário e o parceiro na proporção estabelecida previamente em contrato.
Em relação à propriedade da terra, existe o caso de posseiros, agricultores que
ocupam ou tomam posse de terras ociosas ou devolutas (públicas), e também
de grileiros, que tentam adquirir lotes de terras por meio da falsificação de
documentos de titularidade delas.

Glossário:

Grileiro: esse termo vem da técnica utilizada para essa prática, que consiste
em colocar escrituras de propriedades falsas em caixas com grilos, de modo
que os documentos fiquem amarelados pelos excrementos desses insetos e
roídos, dando a eles uma aparência mais envelhecida e supostamente
verdadeira.

Fim do glossário.

- Uma modernização desigual

Se o processo de modernização das técnicas agrícolas privilegiou os grandes


proprietários rurais, esse processo também se deu de maneira bastante
desigual no espaço rural brasileiro. Analise o mapa a seguir e verifique como o
índice de modernização do campo é bastante desigual entre as regiões do
país. Identifique quais são as áreas rurais mais avançadas e mais atrasadas
tecnologicamente. Observe também o índice de modernização do campo no
estado em que você mora.

FONTE: ATLAS nacional do Brasil digital. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2005.
(CD-ROM). CRÉDITO: E. Cavalcante

De acordo com o mapa, os maiores índices de modernização do espaço


agrário são registrados no Centro-Sul do território, impulsionados
principalmente pelo avanço da agricultura capitalista comercial, marcada pela
expansão das agroindústrias, como usinas de açúcar e álcool, fábricas de
óleos vegetais e de sucos concentrados, frigoríficos, laticínios e vinícolas.

253

O avanço dessas agroindústrias acelerou o processo de modernização das


atividades agrárias, estabelecendo uma cadeia de produção do campo ao
destino dos produtos beneficiados ou industrializados seja no mercado interno,
ou no externo. É o caso, por exemplo, da recente expansão das usinas de
açúcar e álcool em direção aos estados do Centro-Oeste, que passaram a
ocupar áreas até pouco tempo dominadas pela tradicional pecuária extensiva.

Outro fator que contribuiu para o avanço da modernização agrária no Centro-


Sul está ligado à expansão das cooperativas. Com a falta de apoio financeiro
do governo, os pequenos e médios proprietários rurais passaram a se
organizar em cooperativas agrícolas, como forma de se tornarem mais
competitivos no mercado. Assim organizados, os agricultores conseguem
melhores preços e formas de pagamento para a compra de maquinários e
insumos, condições favoráveis na comercialização das safras, assistência
técnica e créditos especiais (financiamentos) para a modernização de suas
propriedades.

Além das cooperativas, muitas propriedades rurais também se tecnificaram


com a chamada integração vertical, sistema caracterizado pela parceria entre
pequenos e médios pecuaristas e a agroindústria, sobretudo frigoríficos. Por
meio desse sistema, amplamente difundido nos estados do Paraná e de Santa
Catarina, as empresas frigoríficas ficam encarregadas de fornecer os animais,
além de rações, medicamentos e assistência técnica veterinária, assegurando
a compra total da produção, enquanto os produtores rurais ficam responsáveis
pela criação dos animais (frangos e suínos), garantindo a saúde e a qualidade
deles até que atinjam o peso ideal de abate.

É preciso salientar, porém, que o avanço da modernização não se dá de


maneira homogênea no território, e que por isso, mesmo nessa região,
coexistem no espaço agrário propriedades modernas e propriedades que ainda
empregam técnicas tradicionais (veja imagens abaixo).

CRÉDITO: Delfim Martins/Pulsar

LEGENDA DAS IMAGENS: Na fotografia A, produção agrícola tradicional de


cana-de-açúcar, em Teresina, no Piauí, em 2015. Na fotografia B, produção
agrícola moderna em Chapadão do Sul, em Mato Grosso do Sul, em 2014.

CRÉDITO: Thomaz Vita Neto/Tyba

Embora os índices de modernização do campo sejam mais elevados no


Centro-Sul, a moderna agricultura comercial também vem avançando em
outras regiões do país. No oeste da Bahia, assim como no sul do Maranhão e
do Piauí, por exemplo, extensas áreas de cerrados vêm sendo ocupadas por
grandes lavouras mecanizadas, sobretudo de soja. No vale do rio São
Francisco, nas proximidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), a irrigação está
transformando áreas de sertão em modernos "oásis" agrícolas, destinados à
produção de frutas (melão, uva, goiaba, maracujá, manga) para o
abastecimento dos mercados interno e externo.

254

A concentração de terras no Brasil

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/censos/censo_agropecuario_2006/censo_agropecuario_200
6.zip. Acesso em: 17 ago. 2015. CRÉDITO: Gilberto Alicio

- O gráfico acima apresenta outra característica marcante do espaço agrário


brasileiro: a concentração das terras nas mãos de uma parcela muito restrita de
grandes proprietários.
- A leitura desse gráfico revela que cerca de 1% das grandes propriedades
rurais, chamadas latifúndios (estabelecimentos rurais com mais de mil
hectares), ocupam aproximadamente 45% da área total de estabelecimentos
rurais do país. Enquanto isso, os minifúndios (estabelecimentos rurais com até
10 hectares), embora correspondam à metade do número de estabelecimentos
rurais, ocupam pouco mais de 2% do total de terras. Observe e compare.

- A formação dos latifúndios como modelo de exploração agrária

Essa distribuição tão desigual das terras que caracteriza o espaço agrário
brasileiro tem origem histórica e remonta ao início do período do Brasil colonial,
com a criação das capitanias hereditárias. Coube aos capitães-donatários a
tarefa de promover a distribuição dessas terras em grandes propriedades, as
chamadas sesmarias, criadas para estimular a colonização e a exploração
econômica dessas terras, para assegurar a posse do território colonial. Como o
processo de ocupação e exploração econômica do território se deu calcado na
formação das grandes plantations de cana-de-açúcar, a origem da estrutura
fundiária ficou muito concentrada, com as terras nas mãos de poucas pessoas.

Com a Lei de Terras de 1850, a doação de terras se torna proibida; a partir daí,
a única maneira de se adquirir a posse de qualquer propriedade rural somente
será possível por meio de sua compra. Isso foi muito vantajoso para os
grandes fazendeiros que já dispunham de extensas propriedades, mas tornou o
acesso à terra mais difícil para aqueles que não a tinham. Analisada no
contexto de seu tempo, essa lei defendeu os interesses do latifúndio, visto que
o fim da escravidão, que já se vislumbrava como certa, e a chegada da mão de
obra assalariada dos imigrantes poderiam ameaçar o status quo vigente. De
fato, isso assinalou o predomínio dos grandes proprietários de terra na vida
econômica e política do país até o século seguinte, quando entra em cena a
elite industrial (assunto estudado na unidade 7).

Glossário:

Capitão-donatário: indivíduo que herdava ou recebia do Rei a posse da


Capitania Hereditária.

Sesmarias: terras devolutas, pertencentes à Coroa portuguesa, que eram


doadas a pessoas de confiança da Coroa para a produção agrícola. Cabia ao
beneficiário a obrigação de iniciar o cultivo num prazo de até três anos. Caso
não o cumprisse, estaria sob pena de revogação da doação e de pagar a
sesma (origem do nome sesmaria), ou seja, um sexto do que viesse a ser
produzido nessas terras, para a Coroa.

Fim do glossário.

- Políticas agrícolas, latifúndios e monoculturas

Se razões históricas explicam as raízes da concentração de terra em nosso


país, essa estrutura fundiária tão desigual também está ligada às
transformações ocorridas com o avanço da modernização no campo ao longo
das últimas décadas, como já foi abordado. Para promover o avanço desse
processo de modernização, a política agrícola privilegiou, financeira e
tecnicamente, as grandes monoculturas de exportação. Sem o apoio
necessário, os pequenos proprietários rurais passaram a enfrentar muitas
dificuldades para se manter em suas propriedades, e muitos deles foram
obrigados a vender suas terras para pagar dívidas contraídas com bancos.

255

Assim, muitos dos pequenos agricultores foram expropriados de suas terras, ou


seja, perderam suas propriedades, o que contribuiu ainda mais para o aumento
da concentração das terras nas mãos de uma elite agrária formada por grandes
latifundiários. Expropriados de suas terras ou expulsos pela mecanização, que
substituiu grande parte da mão de obra utilizada no meio agrário, milhares de
famílias de pequenos agricultores se viram obrigadas a deixar o campo e
migrar para as cidades em busca de emprego e melhores condições de vida.
Vivendo principalmente na periferia das cidades, esses migrantes serviram aos
interesses dos latifundiários como mão de obra temporária e mal remunerada,
os chamados trabalhadores rurais volantes ou boias-frias.

- Identifique no mapa o grau de concentração de terra entre os estados


brasileiros. O que se pode concluir ao se comparar essa concentração entre o
Sul e o Sudeste e as demais regiões do país?

LEGENDA: A excessiva concentração fundiária que ocorre no espaço agrário


brasileiro revela a existência de um grande paradoxo: embora o Brasil seja um
dos países com maior disponibilidade de terras agricultáveis do mundo,
milhares de camponeses que vivem em diferentes regiões do país não
possuem propriedade para plantar e produzir para o sustento de sua família.
Essa concentração fundiária, no entanto, ocorre de maneira heterogênea,
sendo mais elevada em alguns estados do que em outros. Veja mapa acima.

FONTE: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível


em:
www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/brasil_20
06/comentarios.pdf. Acesso em: 18 ago. 2015. CRÉDITO: Leonardo Mari

Tabela: equivalente textual a seguir.

Brasil e outros países da América: índice de Gini da propriedade da terra

País Ano Gini País Ano Gini

Brasil 2006 0,854 Uruguai 2000 0,790

Estados Unidos 2002 0,780 Colômbia 1990 0,774

Canadá 1991 0,640 Paraguai 1990 0,930

Argentina 2002 0,850 Bolívia 1989 0,768

LEGENDA: O nível de concentração fundiária em um país pode ser medido


pelo índice de Gini, coeficiente utilizado como medida de desigualdade. O
índice varia entre 0 (zero) e 1 (um); com índice mais próximo de zero, menor
será a desigualdade; com índice mais próximo de 1, maior ela será. Na análise
da estrutura fundiária, esse índice revela os níveis de concentração das terras
de um país.

FONTE: DEPARTAMENTO Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos


(DIEESE). Disponível em: www.dieese.org.br/anu/anuariorural/anuariorural10-
11.pdf. Acesso em: 10 set. 2015.

256

- Questão da terra e conflitos no campo

A intensa concentração fundiária que caracteriza o espaço agrário brasileiro


tem gerado um estado de tensão permanente no campo, levando à eclosão de
inúmeros conflitos pela posse da terra entre trabalhadores rurais sem-terra e
fazendeiros. Tendo como marca a violência e o grande número de mortes
decorrentes da luta pela terra, os conflitos sociais no campo brasileiro têm
ocorrido em quase todas as regiões do país. No entanto, existe certa
concentração territorial desses conflitos. Veja o mapa abaixo.

LEGENDA: Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), somente


em 2014 cerca de 600 mil pessoas estiveram envolvidas pela disputa de cerca
de oito milhões de hectares de terras, boa parte delas improdutiva.

FONTE: COMISSÃO Pastoral da Terra (CPT). Disponível em:


www.cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-
campo-brasil-publicacao/2392-conflitos-no-campobrasil-2014?Itemid=23.
Acesso em: 18 ago. 2015. CRÉDITO: E. Cavalcante

A partir da década de 1960, concomitantemente ao processo de aumento da


concentração fundiária no país, esses conflitos se acirraram com o
fortalecimento de movimentos sociais de trabalhadores rurais que, organizados
em ligas camponesas, entidades de classe, sindicatos de trabalhadores rurais
ou mesmo representados por partidos políticos de esquerda e determinados
setores da igreja católica, passaram a lutar em defesa de uma ampla reforma
agrária no país.

Ao defender a reforma agrária, o objetivo desses movimentos é uma


distribuição mais justa e igualitária das terras, que diminua a intensa
concentração fundiária que persiste historicamente no nosso país.

- Reforma agrária no Brasil

A ideia da realização de uma ampla reforma agrária vem se arrastando desde a


época em que o Brasil foi governado por militares (1964-1985), momento em
que não passou do plano das intenções. Embora aprovada na nova
Constituição Federal de 1988, a ideia de que a terra possui uma função social,
devendo ser utilizada para a produção de alimentos e de matérias-primas,
gerando renda e emprego aos trabalhadores do campo, a concretização de
uma efetiva e abrangente reforma agrária ainda caminha a passos lentos.

A dificuldade em promover a reforma agrária encontra-se principalmente na


grande resistência exercida pela bancada ruralista, formada por deputados e
senadores que defendem os interesses dos grandes latifundiários, se opondo e
criando obstáculos para que essa reforma ocorra. Além disso, mesmo com a
existência de leis que regulamentam os processos de desapropriação de
terras, os grandes latifundiários e ruralistas conseguem impedir a
desapropriação de suas terras por meio de processos judiciais que se arrastam
por décadas nos tribunais, em ações que contestam os laudos de
desapropriação, bem como o valor das indenizações.

257

Tal situação, portanto, tem contribuído para a manutenção das tensões e dos
conflitos sociais que afetam o campo brasileiro. Engajados em movimentos
sociais organizados, a exemplo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), milhares de famílias continuam lutando por uma distribuição mais
justa das terras e pelos inúmeros benefícios que uma reforma agrária pode
promover, entre eles: a diminuição das tensões no campo; o aumento da
produção de alimentos em pequenas e médias propriedades, bem como a
diminuição dos seus preços pelo aumento da oferta; a geração de mais
empregos no campo e fixação de um número maior de pessoas no meio rural.

Sem uma ampla reforma agrária, portanto, a realidade do campo brasileiro


continua marcada pela existência de uma das estruturas fundiárias mais
concentradas do mundo, pelo empobrecimento dos camponeses, pelo aumento
do número de famílias que vivem em acampamentos à beira de estradas ou
terras ocupadas, na sua luta por um pedaço de terra.

LEGENDA: Acampamento dos sem-terra em Maurilândia, em Goiás, em 2014.

CRÉDITO: Thomaz Vita Neto/Pulsar

Boxe complementar:

É necessário refletir sobre a reforma agrária

A questão da reforma agrária no Brasil é um assunto polêmico. Leia o que diz o


professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, um importante estudioso das
questões do campo no Brasil, quando questionado sobre a necessidade de
uma reforma agrária no campo brasileiro.

[...] A Constituição Brasileira é clara, límpida. A propriedade privada à terra está


subordinada a sua função social. Isto quer dizer o seguinte: a propriedade
privada da terra não é uma propriedade como outra qualquer. Quando uma
pessoa tem um automóvel, pode deixá-lo na garagem da sua casa
apodrecendo e ninguém poderá falar nada. É um direito dele, que tem o direito
absoluto sobre aquela propriedade. Evidentemente, desde que não esteja
atrapalhando terceiros. Com relação à propriedade privada da terra não, pois
não é uma propriedade absoluta. Ou seja, está submetida ao seu uso produtivo
e ao fato de essa produção seja feita respeitando as leis trabalhistas e as leis
ambientais, e não se produza produtos interessando os tóxicos que estão
definidos na Constituição como situação em que a propriedade não cumpriria a
sua função social.

Nós temos no Brasil hoje, do ponto de vista das grandes propriedades, 120
milhões de hectares de grandes propriedades, as quais, no cadastro do Incra,
já estão identificadas como improdutivas, ou seja, que não cumprem a sua
função social. Qual é a obrigação constitucional do Incra?

Desapropriá-las e destiná-las à reforma agrária, para que cumpram sua função


social.

Ao mesmo tempo, há, no Brasil, cerca de 250 milhões de hectares de terras


apropriadas indevidamente. [...] A função do Estado é fazer com que o preceito
constitucional da função social da propriedade privada da terra seja cumprido.
É evidente que é função do estado promover a redistribuição dessas terras
através de programas de reforma agrária.

[...]

INSTITUTO Humanitas Unisinos. Questão fundiária ainda não está resolvida.


Carta Capital, São Paulo, 10 jan. 2011. Disponível em:
www.cartacapital.com.br/politica/15-das-terras-no-brasil-sao-de-pessoas-sem-
documentosentrevista-com-ariovaldo-umbelino/. Acesso em: 5 nov. 2015.

- De acordo com o texto, o que significa dizer que a terra possui uma função
social? Analisada a partir da perspectiva de que a terra possui função social,
exponha seu ponto de vista sobre a necessidade de uma ampla reforma
agrária em nosso país.

Fim do complemento.
258

Atividades

Anote as respostas no caderno.

Sistematizando o conhecimento

1. Descreva como, historicamente, as atividades agrícolas tiveram papel de


destaque no Brasil.

2. Quais os fatores econômicos e naturais que contribuíram para o


desenvolvimento da agropecuária no Brasil?

3. Diferencie:

a) lavouras temporárias;

b) lavouras permanentes.

4. Cite alguns produtos agropecuários cuja produção brasileira se destaca em


nível mundial.

5. Observe novamente os mapas na página 248 , escolha um dos gêneros


agropecuários mostrados e descreva a distribuição espacial dessa produção no
território brasileiro.

6. Explique o papel do Estado no processo de modernização do campo


brasileiro a partir de 1950 e também os objetivos dessa política agrícola.

7. O processo de modernização da agricultura brasileira pode ser analisado a


partir de dois pontos de vista distintos. Explique essa diferença com base no
que você estudou.

8. Caracterize as seguintes relações de trabalho no campo:

a) assalariado;

b) arrendamento;

c) parceria;

d ) posseiros;

e) grileiros.
9. Cite as vantagens obtidas por meio da organização dos produtores rurais em
cooperativas.

10. Quais foram as mudanças ocorridas com relação à aquisição de terras, a


partir de 1850, com a Lei de Terras?

11. Elabore um texto discursivo expondo sua opinião sobre o seguinte tema:
"Questão da terra, conflitos no campo e reforma agrária no Brasil".

Expandindo o conteúdo

12. Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

Comunidades quilombolas no Brasil

Local isolado, formado por escravos negros fugidos... Esta talvez seja a
primeira ideia que vem à mente quando se pensa em quilombo. Se pedirem um
exemplo, o Quilombo de Palmares, com seu herói Zumbi, será certamente a
referência mais imediata.

Essa noção remete-nos a um passado remoto de nossa História, ligado


exclusivamente ao período no qual houve escravidão no País. Quilombo seria,
pois, uma forma de se rebelar contra esse sistema, seria onde os negros iriam
se esconder e se isolar do restante da população.

Consagrada pela "História oficial", essa visão ainda permanece arraigada no


senso comum. Por isso o espanto quando se fala sobre comunidades
quilombolas presentes e atuantes nos dias de hoje, passados mais de cem
anos do fim do sistema escravocrata.

Foi principalmente com a Constituição Federal de 1988 que a questão


quilombola entrou na agenda das políticas públicas. Fruto da mobilização do
movimento negro, o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) diz que:

"Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando


suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-
lhes os respectivos títulos".

259
A concretização desse direito suscitou logo de início um acalorado debate
sobre o conceito de quilombo e de remanescente de quilombo. Trabalhar com
uma conceituação adequada fazia-se fundamental, já que era isso o que
definiria quem teria ou não o direito à propriedade da terra.

No texto constitucional, utiliza-se o termo "remanescente de quilombo", que


remete à noção de resíduo, de algo que já se foi e do qual sobraram apenas
algumas lembranças. Esse termo não corresponde à maneira que os próprios
grupos utilizavam para se autodenominar nem tampouco ao conceito
empregado pela antropologia e pela História.

A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), na tentativa de orientar e


auxiliar a aplicação do Artigo 68 do ADCT, divulgou, em 1994, um documento
elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras Rurais em que
se define o termo "remanescente de quilombo".

"Contemporaneamente, portanto, o termo não se refere a resíduos ou


resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica.
Também não se trata de grupos isolados ou de uma população estritamente
homogênea. Da mesma forma nem sempre foram constituídos a partir de
movimentos insurrecionais ou rebelados, mas, sobretudo, consistem em grupos
que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de
seus modos de vida característicos num determinado lugar."

Deste modo, comunidades remanescentes de quilombo são grupos sociais cuja


identidade étnica os distingue do restante da sociedade.

É importante deixar claro que, quando se fala em identidade étnica, trata-se de


um processo de autoidentificação bastante dinâmico, e que não se reduz a
elementos materiais ou traços biológicos distintivos, como cor da pele, por
exemplo.

A identidade étnica de um grupo é a base para sua forma de organização, de


sua relação com os demais grupos e de sua ação política. A maneira pela qual
os grupos sociais definem a própria identidade é resultado de uma confluência
de fatores, escolhidos por eles mesmos: de uma ancestralidade comum,
formas de organização política e social a elementos linguísticos e religiosos.
Esta discussão fundamentou-se também nos novos estudos históricos que
reviram o período escravocrata brasileiro, constatando que os quilombos
existentes nessa época não eram frutos apenas de negros rebeldes fugidos.
Eram inúmeros e não necessariamente se encontravam isolados e distantes de
grandes centros urbanos ou de fazendas.

Esses estudos mostraram que as comunidades de quilombo se constituíram a


partir de uma grande diversidade de processos, que incluem as fugas com
ocupação de terras livres e geralmente isoladas, mas também as heranças,
doações, recebimentos de terras como pagamento de serviços prestados ao
Estado, simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior
de grandes propriedades, bem como a compra de terras, tanto durante a
vigência do sistema escravocrata quanto após sua abolição.

O que caracterizava o quilombo, portanto, não era o isolamento e a fuga e sim


a resistência e a autonomia. O que define o quilombo é o movimento de
transição da condição de escravo para a de camponês livre.

Tudo isso demonstra que a classificação de comunidade como quilombola não


se baseia em provas de um passado de rebelião e isolamento, mas depende
antes de tudo de como aquele grupo se compreende, se define.

Atualmente, a legislação brasileira já adota este conceito de comunidade


quilombola e reconhece que a determinação da condição quilombola advém da
autoidentificação.

[...]

COMISSÃO Pró-Índio de São Paulo (CPISP). Disponível em:


www.cpisp.org.br/comunidades/html/i_oque.html. Acesso em: 5 nov. 2015.

O texto apresentado traz uma definição das comunidades quilombolas, tendo


como base a autoidentificação de seus integrantes. Essas comunidades, em
geral, estão muito relacionadas às questões do campo, pois grande parte se
estabelece nele e vive dele.

Pesquise e elabore um texto-síntese sobre como essas comunidades


quilombolas têm vivido, o que produzem, qual sua relação com a cidade, como
é a organização interna, qual é o papel da mulher nessas comunidades, entre
outros. Procure saber também quais e como são as políticas públicas voltadas
para esses grupos. Você pode iniciar a pesquisa consultando o site do
Programa Brasil Quilombola da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial (http://tub.im/2amxe3) e da Fundação Cultural dos Palmares
(http://tub.im/gax65n). Essa atividade pode ser realizada individualmente ou em
duplas.

260

Ampliando seus conhecimentos

Geografia, ciência e cultura

Paisagens rurais em arte naïf

A arte naïf, também conhecida como arte primitiva moderna, é considerada


entre os críticos como uma arte ingênua e espontânea, ou seja, produzida por
pessoas que não possuem formação acadêmica na área das artes.

Geralmente, nesse tipo de arte, o artista produz suas obras a partir de suas
próprias experiências pessoais e de maneira simples, sem extremo rigor
técnico.

Para outros críticos, a arte naïf é livre das convenções, produzida com total
liberdade estética e de expressão.

As imagens apresentadas retratam duas paisagens rurais por meio da arte naïf.
Elas foram produzidas pelo artista Henry Vitor, de Minas Gerais, em 2012.

LEGENDA: Tempo de paz.

CRÉDITO: Henry Vitor. 2012. Óleo sobre tela. Coleção particular

LEGENDA: Verdes memórias.

CRÉDITO: Henry Vitor. 2012. Óleo sobre tela. Coleção particular

261

A Geografia no cinema

O veneno está na mesa

CRÉDITO: Filme de Silvio Tendler. O veneno está na mesa. Brasil. 2012

Título: O veneno está na mesa


Diretor: Silvio Tendler

Ano: 2012

Duração: 50 minutos

Origem: Brasil

O documentário apresenta a questão do uso abusivo de agrotóxicos nas


lavouras brasileiras. Além disso, retrata os problemas ambientais e de saúde,
tanto do agricultor quanto dos consumidores, decorrentes da utilização
indiscriminada desses produtos.

Para assistir

- GARAPA. Direção: José Padilha. Brasil, 2009. 110 minutos.

Esse documentário apresenta o drama da fome no Brasil ao retratar a vida de


três famílias brasileiras que convivem com esse problema. Por meio de
imagens reais, o documentário nos faz refletir sobre o desperdício de alimentos
na casa de muitos brasileiros enquanto outros passam dias à base de água
com açúcar.

Para ler

- CHIAVENATO, Júlio José. Violência no campo: o latifúndio e a reforma


agrária. São Paulo: Moderna, 2004.

- GRAZIANO, Francisco. Qual reforma agrária? Terra, pobreza e cidadania.


São Paulo: Geração Editorial, 1996.

- PORTELA, Fernando; VESENTINI, José William. Êxodo rural e urbanização .


São Paulo: Ática, 2004.

- PORTELA, Fernando; FERNANDES, Bernardo Mançano. Reforma agrária.


São Paulo: Ática, 2004.

- VALIM, Ana. Migrações: da perda da terra à exclusão social. São Paulo:


Atual, 2009.

Para navegar

- AGRONLINE. Disponível em: http://tub.im/gzomjm. Acesso em: 9 out. 2015.


- ATLAS da Questão Agrária Brasileira. Disponível em: http://tub.im/3cnyu.
Acesso em: 9 out. 2015.

- BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).


Disponível em: http://tub.im/4o7yzq. Acesso em: 9 out. 2015.

- COMISSÃO Pastoral da Terra (CPT). Disponível em: http://tub.im/frvhen.


Acesso em: 9 out. 2015.

- CONFEDERAÇÃO da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Disponível em:


http://tub.im/d8wy2t. Acesso em: 9 out. 2015.

- EMPRESA Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (EMBRAPA). Disponível


em: http://tub.im/kujcgf. Acesso em: 9 out. 2015.

- INSTITUTO Nacional da Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Disponível


em: http://tub.im/3e2f3w. Acesso em: 9 out. 2015.

- MINISTÉRIO do Desenvolvimento Agrário - Núcleo de Estudos Agrários e


Desenvolvimento Rural (Nead). Disponível em: http://tub.im/d6bqqw. Acesso
em: 9 out. 2015.

- MOVIMENTO dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) . Disponível em:


http://tub.im/ncndtw. Acesso em: 9 out. 2015.

- REVISTA Palmares. Disponível em: http://tub.im/ms7vdr. Acesso em: 9 out.


2015.

262

Questões do Enem e Vestibular

Anote as respostas no caderno.

1. (UDESC-SC) Sobre as atividades econômicas do campo brasileiro, é correto


afirmar que:

I . a bovinocultura (criação de bois e vacas) é a atividade de maior importância


na pecuária brasileira. A pecuária de bovinos é realizada basicamente de forma
extensiva;

II. em diversas regiões do Brasil ainda se desenvolve a agricultura tradicional,


ou seja, sem o emprego de máquinas e com uso de técnicas rudimentares,
como a colheita e a semeadura feitas de maneira manual ou com a tração
animal;

III. a atividade econômica que desenvolve o cultivo de plantas, comestíveis ou


não, denomina-se agricultura;

IV. a agricultura destina-se à comercialização das matérias-primas e dos


alimentos produzidos (agricultura comercial); e também ao sustento do
produtor, ou seja, dos próprios agricultores (agricultura de subsistência);

V. nas últimas décadas nota-se a expansão da agricultura moderna no Brasil,


com o aumento do número de propriedades que utilizam máquinas e
implementos agrícolas, adubos, fertilizantes e sementes selecionadas,
sobretudo as grandes fazendas.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Somente as afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas IV e V são verdadeiras.

e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

2. (Unioeste-PR) Sobre a agricultura no Brasil, leia as assertivas a seguir:

I . A mecanização agrícola e a liberação de mão de obra na agricultura foram


importantes fatores de migração da população do campo para as cidades.

II. A concentração fundiária, que se observa, entre outros estados, no Paraná e


no Mato Grosso do Sul, é fator de expropriação de camponeses que passam a
buscar áreas da fronteira agrícola da Amazônia ou se direcionam aos centros
urbanos.

III. Os boias-frias são trabalhadores sazonais característicos da implantação de


relações capitalistas modernas no campo.

IV. O avanço da pecuária extensiva na Amazônia e a ocupação das áreas de


cerrado visando à cultura de grãos resultaram na redução da taxa de
urbanização dos Estados do Mato Grosso e de Rondônia.
Assinale a alternativa cujas afirmativas estão CORRETAS.

a) I, III e IV.

b) II , III e IV.

c) III e IV.

d) I, II e IV.

e) I, II e III.

3. (UFU-MG) A agricultura tem grande importância na economia brasileira.


Além de gerar empregos e fornecer alimentos, é fonte de matérias-primas
industriais e geradora de receitas obtidas com as exportações. Sobre a
agricultura brasileira assinale a alternativa INCORRETA.

a) As práticas agrícolas adotadas desencadearam uma série de problemas


ambientais, como a exaustão do solo, a proliferação de pragas e a poluição das
águas.

b) A agropecuária moderna convive, lado a lado, com áreas de práticas


seculares de produção, como ocorre, por exemplo, no Centro-Sul do país.

c) A estrutura fundiária brasileira caracteriza-se pelo predomínio de pequenas


propriedades muito produtivas que utilizam pouca mão de obra.

d) O modelo de desenvolvimento agrícola, adotado em boa parte do país, tem


elevado a ocupação de áreas cada vez maiores, com lavouras monoculturas e
pastagens.

263

4. (UFES-ES) As plantações de soja ocupam, atualmente, cerca de 35% das


áreas de lavoura no Brasil (IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2006).

Sobre a soja, é CORRETO afirmar:

a) A produção de soja se destina ao abastecimento interno, compondo,


atualmente, uma das bases alimentares da população brasileira.

b) A expansão das lavouras de soja se fez com a intensa utilização de


tecnologias agrícolas, tais como maquinários e insumos.
c) A expansão do cultivo da soja promove uma melhor distribuição de terras,
pois é realizada por pequenos produtores rurais.

d ) A soja é uma das principais commodities brasileiras, destinada,


principalmente, à produção de biodiesel.

e) A produção de soja diminui a dependência das importações de grãos para


consumo humano, contribuindo para o programa de segurança alimentar.

5. (FATEC-SP)

O agronegócio envolve operações desde as pesquisas científicas relacionadas


ao setor até a comercialização dos produtos, determinando uma cadeia
produtiva entrelaçada e interdependente.

(ALBUQUERQUE, Maria Adailza Martins de et alii. Geografia: sociedade e


cotidiano. São Paulo: Escala, 2010.)

Podem-se acrescentar outras características ao agronegócio, dentre as quais a


seguinte:

a) mantém centros de tecnologia avançados, voltados à agricultura orgânica.

b) expande os cultivos de grãos da região Centro-Oeste para a região Sudeste.

c) promove a concentração de terras e o desemprego no campo.

d) possibilita ao país a autossuficiência nas matérias-primas para a indústria.

e) planeja a expansão das lavouras, barrando o desmatamento e os impactos


ambientais.

6. (Unicamp-SP)

A observação do canavial fornece, numa primeira impressão, a imagem de um


mar de cana, um todo homogêneo no qual se distribuem os trabalhadores.
Essa visão se desfaz quando se analisa o processo de trabalho. Na medida em
que se penetra no interior das relações de produção, descortina-se um
universo submerso, pilar básico de uma estrutura de dominação.

SILVA, Maria Aparecida de Moraes. Errantes do fim do século. São Paulo:


Fundação Editora da Unesp, 1999. (Adaptado)
A respeito das relações de trabalho nas fazendas de cana-de-açúcar em várias
regiões do Brasil, é correto afirmar que:

a) A elevada mecanização da lavoura e as exigências das leis trabalhistas


levam os antigos cortadores de cana a serem empregados nos setores de
produção no interior das usinas de álcool e de açúcar.

b) A expansão dos canaviais e o aumento da produção de álcool e de açúcar


permitem que os trabalhadores permaneçam empregados durante todo o ano,
reduzindo o trabalho sazonal.

c) As usinas eliminam os pagamentos dos trabalhadores por produtividade no


corte da cana, e, com isso, os ganhos salariais passam a ser computados
apenas pelos dias trabalhados.

d) Os trabalhadores são migrantes sazonais que se deslocam para o trabalho


manual nos canaviais e retornam para suas antigas regiões após a colheita,
dedicando-se a atividades de subsistência.

264

7. (UFG-GO) O Brasil é um dos maiores exportadores de commodities do


mundo. O termo commodities está associado a produtos primários com baixo
valor agregado, sejam eles minerais, sejam agrícolas. São produzidos em larga
escala, negociados prioritariamente no mercado internacional e têm os seus
valores estabelecidos em bolsas de mercadorias que definem seus preços
futuros. São exemplos de commodities agrícolas:

a) trigo, feijão, batata, cacau e café.

b) açúcar, soja, milho, algodão e café.

c) soja, arroz, trigo, feijão e banana.

d) milho, mandioca, cacau, açúcar e arroz.

e) café, algodão, feijão, banana e arroz.

8. (UFRGS-RS) Assinale a alternativa que indica a correta relação entre a


região brasileira, a atividade econômica existente, o uso de tecnologia e o
relevo em que se desenvolve.

a) Região Sul - pecuária - melhoria genética - chapadões


b) Região Centro-Oeste agricultura comercial - irrigação - chapadões

c) Região Nordeste - pecuária extensiva - melhoria genética - planície costeira

d) Região Centro-Oeste - agricultura de subsistência - sementes modificadas -


serras

e) Região Sul - agricultura comercial - terraceamento - planície costeira

9. (UFPB-PB) Considerando a chamada modernização da agropecuária


brasileira, julgue os itens a seguir:

- A denominação "modernização conservadora" justifica-se por se tratar de um


processo que revela, ao mesmo tempo, o avanço tecnológico e o retrocesso do
ponto de vista social e ambiental.

- Os principais fatores que permitiram a modernização da agropecuária


nacional foram: a mecanização, a invenção de defensivos e de fertilizantes
químicos e a biotecnologia.

- A modernização do processo produtivo, tanto da agricultura quanto da


pecuária, colocou o Brasil como um dos mais importantes exportadores de
produtos agropecuários do mercado global.

- A biotecnologia avança na produção de sementes mais aptas a diversos tipos


de solos e climas, a exemplo da criação de sementes transgênicas que
aumentou a produção de alimentos, especificamente, para o mercado interno.

- A agroecologia se beneficiou do avanço biotecnológico da produção de


sementes transgênicas, possibilitando cultivos livres da utilização dos
agrotóxicos e independentes de grandes empresas multinacionais.

10. (UEG-GO)

Pesquisas recentes têm constatado transformações muito importantes que vêm


ocorrendo nas áreas rurais do mundo e do Brasil.

Alguns velhos mitos estão sendo derrubados, outros parecem estar surgindo.
Pode-se perceber, no entanto, que está cada vez mais difícil delimitar o que é
rural e o que é urbano.

OLIC, Nelson B. Disponível em: www.clubemundo.com.br/revistapangea.


Acesso em: 24 ago. 2010.
Sobre este assunto, é correto afirmar:

a) o rural pode ser caracterizado como sinônimo de atraso e de pobreza,


enquanto o urbano representa a modernidade, o progresso e os avanços
tecnológicos.

b) o espaço rural de países como o Brasil ainda é marcado pelo predomínio de


atividades agrícolas, justificando assim o alto percentual da população no
campo, em detrimento da cidade.

c) o espaço urbano se identifica como o locus das atividades industriais, de


comércio e serviços, enquanto o rural é a área destinada apenas às atividades
agropastoris; do ponto de vista espacial, rural e urbano se opõem.

d) os grandes complexos agroindustriais implantados em Goiás nas últimas


décadas refletem a interligação da agricultura ao restante da economia, não
podendo ser separada dos setores que lhe fornecem insumos e/ou compram
seus produtos.

11. (UEL-PR) Leia o texto a seguir.

É possível identificar no Brasil vários municípios cuja urbanização se deve


diretamente à expansão da fronteira agrícola moderna, formando cidades
funcionais ao campo denominadas de "cidades do agronegócio".

(Adaptado de: ELIAS, D.; PEQUENO, R. "Desigualdades socioespaciais nas


cidades do agronegócio". Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais.
2007. v.9. n.1. p.25-29.)

265

Sobre a expansão da fronteira agrícola moderna e o surgimento das "cidades


do agronegócio", assinale a alternativa correta.

a) A expansão da fronteira agrícola moderna e a criação das cidades do


agronegócio ocorreram a partir de 1970, com a incorporação das terras do
cerrado, impulsionada por políticas públicas voltadas à ocupação de terras e ao
desenvolvimento local.
b) A fronteira agrícola moderna e o aparecimento das cidades do agronegócio
estão associados às políticas do governo Vargas direcionadas à agricultura,
com a criação, em 1951, do Sistema Nacional de Crédito Rural.

c) A fronteira agrícola moderna e o aparecimento das cidades do agronegócio


ocorreram após investimentos dos Estados Unidos, na década de 1950, em
território brasileiro para produção destinada à exportação.

d) As cidades do agronegócio estão localizadas predominantemente no


Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, estados onde ocorreu a
expansão da fronteira agrícola moderna a partir da década de 1960.

e) Por intermédio da expansão da fronteira agrícola moderna e da criação das


cidades do agronegócio, a partir da década de 1950, houve uma difusão do
meio técnico-científico-informacional em todo o território nacional.

12. (UTFPR-PR) No Brasil, quanto à questão agrária, é correto afirmar:

a) A maior participação do agronegócio na balança comercial superou o valor e


volume de produtos industrializados, desencad eando na última década um
superávit comercial.

b) A Lei de Terras, criada em meados do século 19, contribuiu para uma


melhor distribuição de terras agricultáveis, ampliando a ocupação de várias
regiões do país.

c) A modernização do campo, como a implantação de implementos agrícolas


através de financiamentos subsidiados pelo Estado, gerou uma maior
produtividade, desestimulando o produtor rural a ocupar novas áreas rurais,
mudando o perfil do modo extensivo para intensivo.

d) A concentração de grandes extensões de terras nas mãos de muitos


proprietários ocorre desde a colonização, contribuindo para o desenvolvimento
agroexportador, e a diversidade de produtos agrícolas.

e) No Sul, em regiões de colonização, as propriedades são pequenas se


comparadas com a estrutura fundiária brasileira, cujas dimensões são
equivalentes à estrutura fundiária europeia.
13. (UFG-GO) Os movimentos de luta pela terra no Brasil, oriundos da
concentração da propriedade da terra, intensificaram-se na década de 1980 na
porção sul do país, por causa:

a) do grande número de minifúndios.

b) do intenso processo de modernização da agricultura.

c) da expansão da fronteira agrícola.

d) d a tradição camponesa dos imigrantes europeus.

e) das ações organizadas pelas Ligas Camponesas.

14. (UECE-CE) "Com a modernização do campo, os trabalhadores rurais


passam a ser expulsos da terra sem direitos ou garantias, enfrentando uma
realidade nova e hostil. Os laços familiares e coletivos, e também a indústria
doméstica, são brutalmente transformados, chegando a serem dissolvidos. Os
trabalhadores rurais adentram a sociedade de mercado pela porta dos fundos,
tendo de se adaptar a uma condição onde os elementos básicos para a
reprodução da existência são as mercadorias."

MEDINA, Etore. Vivendo a Vida de Rapina.

O trecho acima se refere a um personagem da estrutura agrária brasileira


identificado como:

a) boia-fria.

b) migrante sazonal.

c) posseiro.

d) assalariado permanente.

266

15. (UFSC-SC) Sobre a agricultura e a estrutura fundiária brasileiras, assinale


a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

01) A reforma agrária realizada pelo regime militar (1964-1985) erradicou os


problemas de grilagem de terras, principalmente na região amazônica.

02) Historicamente, a falta de políticas agrárias que favorecessem os pequenos


produtores rurais criou uma situação de violência no campo.
04) Um dos fatores que explicam as lutas dos movimentos sociais no campo é
o elevado incentivo aos grandes proprietários de terras, voltados a produtos
para exportação, em detrimento dos pequenos produtores rurais, que
produzem basicamente para o mercado interno.

08) O domínio da técnica sobre a natureza por parte dos pequenos produtores
rurais brasileiros trouxe a possibilidade de aumentar a produção e a
produtividade relativa a produtos alimentícios e com maior demanda interna,
como o feijão e a mandioca.

16) A agricultura brasileira pode ser caracterizada como uma produção


capitalista, na qual a indústria se inseriu de maneira a comandar a produção
agrícola.

32) As lavouras do Nordeste e do Sudeste brasileiros tiveram grande


desenvolvimento durante os anos 1960 a 1980, direcionando sua produção
para o mercado interno, mas na atualidade não conseguem repetir os mesmos
desempenhos.

16. (PUCRS-RS) Em relação ao sistema fundiário brasileiro, é INCORRETO


afirmar que há:

a) uma concentração de terras nas mãos de um pequeno grupo de grandes


proprietários.

b) uma regulamentação em lei que proíbe a desapropriação de pequenas,


médias e grandes propriedades produtivas para fins de assentamento rural.

c) uma distribuição equilibrada entre as propriedades com áreas inferiores a


hectares e as que ultrapassam hectares.

d) uma forte alteração na estrutura fundiária quando ocorre a morte de


proprietários, devido às leis de herança que orientam a divisão das
propriedades entre os herdeiros.

e) um panorama de conflitos e embates na área rural, relacionado a uma


estrutura fundiária discrepante.

17. (IFSP-SP) Leia o texto sobre as origens da estrutura fundiária brasileira.


"Com a independência do Brasil e, depois, com o fim da escravidão, trataram
os governantes de abrir a possibilidade de, através da 'posse', legalizar
grandes extensões de terras. Com a Lei de Terras de 1850, entretanto...".

(ROSS, J. (Org.) Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996, p. 482.)

Assinale a alternativa que completa o texto de forma válida e adequada.

a) promoveu-se uma radical democratização do acesso à terra, através da


possibilidade de posseiros legalizarem as terras familiares.

b) o acesso à terra passou a se dar por meio da compra em dinheiro, o que


limitou o acesso desse recurso por parte dos ex-escravos ou trabalhadores
livres e pobres.

c) incentivou-se, através do acesso legal à terra, a formação de grandes


correntes migratórias em direção às lavouras agroindustriais no norte do país.

d) abriram-se possibilidades reduzidas de trabalho no campo, estimulando a


abertura de novas fronteiras agrícolas na Amazônia para a extração de
petróleo e gás.

e) a possibilidade de acesso popular à terra tornava-se reduzida, pois as terras


passaram a ser quase monopolizadas pelo Estado e pela Igreja.

18. (UFPR-PR)

No Censo Agropecuário de 2006 foram identificados 4 367 902


estabelecimentos de agricultura familiar. Eles representavam 84,4% do total,
mas ocupavam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área dos
estabelecimentos agropecuários brasileiros. Já os estabelecimentos não
familiares representavam 15,6% do total e ocupavam 75,7% da sua área. Dos
80,25 milhões de hectares da agricultura familiar, 45% eram destinados a
pastagens, 28% a florestas e 22% a lavouras. Ainda assim, a agricultura
familiar mostrou seu peso na cesta básica do brasileiro, pois era responsável
por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46%
do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo e, na pecuária, 58% do
leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos.

(Fonte: IBGE, Censo Agropecuário - Agricultura familiar 2006, divulgado em 30


de setembro de 2009.)
267

Com base nas informações apresentadas acima, considere as seguintes


afirmativas:

1. O índice dos produtos consumidos na cesta básica do brasileiro está de


acordo com o índice de distribuição de terras no Brasil.

2. A segurança alimentar no Brasil depende em maior medida da produção


agropecuária realizada nos estabelecimentos não familiares (com 75,7% da
área).

3. O elevado índice de áreas com florestas (28%) nos estabelecimentos de


agricultura familiar se constitui num empecilho para o aumento da
produtividade.

4. A produção da agricultura familiar está relacionada com o abastecimento do


mercado interno.

Assinale a alternativa CORRETA .

a) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.

b) Somente a afirmativa 4 é verdadeira.

c) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

19. (UEM-PR) Leia o trecho.

O espaço rural brasileiro, desde o início do século XXI, enfrenta muitos


desafios, mas recebe o reconhecimento internacional devido à sua atuação no
mercado externo.

São obstáculos enfrentados pelos produtores agrícolas relacionados ao


contexto do trecho anterior:

a) A falta de crédito e financiamento para a lavoura.

b) As medidas protecionistas adotadas pelos países ricos.

c) A deficiência de mão de obra qualificada para o trabalho agrícola.


d ) O problema da seca e o aumento da desertificação nas regiões agrícolas.

20. (UDESC-SC) O setor agropecuário é responsável por grande parte do PIB


brasileiro, comportando a produção para o consumo interno e para a
exportação. Numere a coluna, relacionando o cultivo descrito a sua
característica.

1. café

2. cana-de-açúcar

3. soja

4. uva

5. trigo

( ) produção marcante sobre extensas áreas do oeste paulista,


predominantemente em grandes propriedades e em latifúndios.

( ) importante cultivo de exportação brasileiro, as maiores regiões produtoras


concentram-se nos estados do Mato Grosso e do Paraná.

( ) tradicional cultivo no Rio Grande do Sul, hoje também marcante no interior


da região nordeste do Brasil.

( ) cultivo marcante no estado de Minas Gerais, sendo o Brasil o maior produtor


mundial.

( ) importante cultivo nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e


Paraná, sendo o Brasil ainda importador.

A sequência correta é, de cima para baixo.

a) 1 - 2 - 4 - 5 - 3

b) 4 - 3 - 1 - 5 - 2

c) 2 - 3 - 4 - 1 - 5

d) 3 - 4 - 2 - 1 - 5

e) 5 - 3 - 2 - 1 - 4

21. (PUC-RS) Sobre a produção agrícola brasileira é INCORRETO afirmar que:


a) os derivados de cana-de-açúcar estão entre os produtos agrícolas incluídos
na pauta de exportação nacional.

b) o arroz produzido no Brasil, principalmente em pequenas propriedades, é


exportado para os países asiáticos.

c) o café está entre os produtos agrícolas nacionais que têm garantia de


colocação no mercado externo.

d) os cítricos estão entre os produtos que têm boa colocação no mercado


mundial.

e) o trigo não tem produção nacional suficiente para o abastecimento do


mercado interno.

268

Respostas

- Questões do Enem e Vestibular

unidade 1 - Natureza, sociedade e espaço geográfico

1. (01) e (04). Total: 05.

2. E.

3. B.

4. (02), (04) e (16): Total: 22.

5. B.

6. D.

7. D.

8. C.

9. B.

10. D.

11. D.

12. B.

unidade 2 - Indústria e espaço geográfico


1. (01), (08) e (64). Total: 73.

2. (01), (02), (04), (08) e (16). Total: 31.

3. B.

4. C.

5. C.

6. C.

7. D.

8. D.

9. D.

10. B.

11. E.

12. B.

13. E.

unidade 3 - Fontes de energia

1. E.

2. (01) e (02). Total: 03.

3. B.

4. E.

5. D.

6. C.

7. D.

8. D.

9. E.

10. A.

11. B.

12. B.
13. E.

14. E.

15. C.

16. B.

unidade 4 - População mundial

1. F-F-V-V-V.

2. F-V-V-F-V.

3. B.

4. B.

5. D.

6. E.

7. C.

8. D.

9. E.

10. B.

11. B.

12. A.

13. A.

14. D.

unidade 5 - População brasileira

1. C.

2. E

3. B.

4. A.

5. B.

6. D.
7. C.

8. C.

9. D.

10. D.

11. (01), (16) e (32). Total: 49.

269

unidade 6 - Urbanização

1. B.

2. E.

3. B.

4. D.

5. E.

6. B.

7. C.

8. E.

9. D.

10. A.

11. A.

12. B.

13. D.

unidade 7 - Urbanização e industrialização no Brasil

1. C.

2. C.

3. C.

4. B.

5. A.
6. E.

7. B.

8. (02) e (16). Total: 18.

9. D.

10. E.

11. C.

12. A.

13. C.

unidade 8 - A urbanização brasileira e seus problemas

1. A.

2. A.

3. V-V-V-F-F.

4. D.

5. A.

6. D.

7. A.

8. E.

9. D.

10. F-F-V-V-V.

11. D.

unidade 9 - A agricultura no mundo

1. (01), (02) e (04). Total: 07.

2. A.

3. A.

4. D.

5. (01) e (08). Total: 09.


6. D.

7. C.

8. D.

9. D.

10. B.

11. C.

12. C.

13. C.

14. B.

unidade 10 - O espaço agrário brasileiro

1. E.

2. E.

3. C.

4. B.

5. C.

6. D.

7. B.

8. B.

9. V-V-V-F-F.

10. D.

11. A.

12. E.

13. B.

14. A.

15. (02), (04) e (16). Total: 22.

16. C.
17. B.

18. B.

19. B.

20. C.

21. A.

270

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272

Lista de siglas

AMAN-RJ - Academia Militar das Agulhas Negras

CEFET-BA - Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia

CEFET-GO - Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás

CEFET-MG - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Cesgranrio-RJ - Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior do


Grande Rio

ENEM-MEC - Exame Nacional do Ensino Médio

FATEC-SP - Faculdade de Tecnologia de São Paulo

FEI-SP - Faculdade de Engenharia Industrial

FGV-RJ - Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro

FGV-SP - Fundação Getulio Vargas de São Paulo

FMP-RS - Fundação Escola Superior do Ministério Público

FURG-RS - Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul

FUVEST-SP - Fundação Universitária para o Vestibular

IBMEC-RJ - Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais

IFBA-BA - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia

IFSP-SP - Instituto Federal de São Paulo


PUC-MG - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

PUC-PR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná

PUC-RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

UDESC-SC - Universidade do Estado de Santa Catarina

UECE-CE - Universidade Estadual do Ceará

UEG-GO - Universidade de Goiás

UEL-PR - Universidade Estadual de Londrina

UEM-PR - Universidade Estadual de Maringá

UEPB-PB - Universidade Estadual da Paraíba

UERJ-RJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFAL-AL - Universidade Federal de Alagoas

UFAM-AM - Universidade Federal do Amazonas

UFBA-BA - Universidade Federal da Bahia

UFC-CE - Universidade Federal do Ceará

UFES-ES - Universidade Federal do Espírito Santo

UFF-RJ - Universidade Federal Fluminense

UFG-GO - Universidade Federal de Goiás

UFLA-MG - Universidade Federal de Lavras

UFMG-MG - Universidade Federal de Minas Gerais

UFMS-MS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

UFPB-PB - Universidade Federal da Paraíba

UFPE-PE - Universidade Federal de Pernambuco

UFPI-PI - Universidade Federal do Piauí

UFPR-PR - Universidade Federal do Paraná

UFRGS-RS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul


UFRN-RN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNICAMP-SP - Universidade Estadual de Campinas

UNIOESTE-PR - Universidade Estadual do Oeste do Paraná

UNIR-RO - Fundação Universidade Federal de Rondônia

UFRRJ-RJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UFRR-RR - Universidade Federal de Roraima

UFSCar-SP - Universidade Federal de São Carlos

UFSC-SC - Universidade Federal de Santa Catarina

UFSM-RS - Universidade Federal de Santa Maria

UFU-MG - Universidade Federal de Uberlândia

UNESP-SP - Universidade Estadual Paulista

UNIFESP-SP - Universidade Federal de São Paulo

Unimontes-MG - Universidade Estadual de Montes Claros

UPM-SP - Universidade Presbiteriana Mackenzie

UTFPR-PR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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