Pastoreio Racional

Voisin
Relatório de Inteligência Analítico - novembro 2012
 Resumo Executivo
O Pastoreio Racional Voisin (PRV) é uma técnica
muito comum para quem deseja manter ou aumentar
a produção leiteira. O leite produzido por meio dessa
técnica garante uma produção técnica eficaz seja
do ponto de vista ambiental, social ou econômica.
Outra vantagem do PRV é que ele aumenta o teor
de matéria orgânica no solo e diminui a compactação,
o que garante uma melhor conservação do solo.
Os produtores que optarem por essa técnica ainda
podem diminuir a necessidade de mão de obra e o
custo de produção. Um dos pontos negativos citados
no relatório sobre o PRV é que ele possui um elevado
custo inicial.
Um dos pontos fundamentais para que se tenha
sucesso com o PRV é saber respeitar o período de
descanso do solo, que no verão pode ser em torno
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de 20 dias, já no inverno com baixas precipitações
e pouca luminosidade pode ser de mais de 40 dias.
O relatório ainda destaca que um dos erros mais
comuns pelos casos de insucesso, nesse tipo de
produção, é a adoção de tempos fixos de repouso.
Determinar tempos específicos pode resultar em um
crescimento desigual das pastagens nas diferentes
estações do ano.
 Sumário Serviço de Apoio às
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Introdução 4
PRV – Pastoreio Racional Voisin 4
Objetivos do PRV 5
Quatro leis do PRV 6
Piqueteamento 7
Manejo no PRV 8
Considerações 9
Fontes 13

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 Manejo racional
INTRODUÇÃO
O Pastoreio Racional Voisin (PRV) (lê-se voazan) é
uma das formas de manejo das pastagens que mais
se adapta às propriedades leiteiras, pois possui um
baixo custo de implantação, de produção e alta pro-
dutividade com uso moderado de insumos externos
à propriedade.
Mesmo com altas produções, algumas empre-
sas rurais leiteiras não obtêm lucro, pois, o elevado
custo de produção devido ao uso intenso de con-
centrados e a grande dependência de agroquímicos
dos sistemas convencionais inviabilizam a ativida-
de, principalmente em longo prazo. O PRV tem como
foco a produção à base de pastagem, respeito ao
meio ambiente, a obtenção de lucro e qualidade de
vida ao produtor rural. Esse sistema tem sido am-
plamente utilizado na produção de leite na região
Sul do Brasil. Vários resultados positivos estão sen-
do alcançados, porém, ainda restam algumas dúvi-
das, tais como: quantos piquetes devem ser feitos?
Que tamanho devem ter os piquetes? Como faço o
manejo das pastagens?
Imagem 1: Pastoreio Racional Voisin, piquetes e pastagem perenes. Fonte: Jonas Ramon.
Essas e outras dúvidas serão esclarecidas nesse
relatório de inteligência, que auxiliará aqueles que já
aderiram ao sistema e querem aperfeiçoar, e princi-
palmente para aqueles que querem começar e im-
plantar o PRV em sua empresa rural leiteira.
PRV – PASTOREIO RACIONAL VOISIN
O Pastoreio Racional Voisin é um método de
manejo ecológico da pastagem que visa aumentar
a produtividade a baixo custo e respeitar o meio
ambiente, por conta da produção intensiva e racio-
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nal de pastagem. O PRV pode ser implantado em
diversas empresas leiteiras, proporcionando menor
necessidade de mão de obra e bem estar animal.
O nome Voisin tem origem no bioquímico francês
André Voisin, que era um observador de sua proprie-
dade e a partir disso e de seu conhecimento, com-
preendeu as relações entre solo, planta e animal.
O Pastoreio Racional Voisin é uma técnica de
manejo avançada, que tem como fundamentos
equilibrar a planta com os animais e melhorar o
solo por meio da inteligência humana. No pasto-
reio racional, há o encontro do animal com o pasto,
 Leite à base de pasto
comandado pelo homem.
OBJETIVOS DO PRV
Melado (2005) cita que o PRV tem uma capaci-
dade de produção três vezes superior a do pastoreio
contínuo que não usa piquetes, além de:
• Aumentar a produção de leite e carne por
hectare;
• Reduzir os custos de produção;
• Maximizar o aproveitamento e o uso do sol
e da chuva;
• Melhorar a fertilidade do solo;
• Melhorar as condições ambientais;
• Produzir alimentos para os animais de alta
qualidade;
• Permitir a integração e aproveitar os produ-
tos existentes na propriedade;
• Permitir bem estar para os animais;
• Assegurar uma atividade sustentável (so-
cial, ambiental e econômica).
O aumento da produção de leite é uma conse-
quência natural da utilização do pasto em seu ponto
Gráfico 1: Curva demonstrando o ponto ótimo para pastoreio, nesse caso, em torno de 23 dias. Fonte: Sorio, 2006.
ótimo de repouso, quando há uma maior produção
de pasto por hectare ano e com um melhor valor
nutritivo. A produção individual, de cada vaca tam-
bém aumenta porque o animal come o pasto segun-
do suas necessidades produtivas e nas quantidades
máximas ingeridas.
De acordo com Melado (2005), em situações
de pastoreio contínuo, sem piquetes, os animais
chegam a caminhar cerca de 10 km por dia, o que
ocasiona um gasto desnecessário de energia, além
da compactação do solo e prejudica o pasto pelo
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pisoteio animal. Uma vaca chega a produzir cerca
de meio litro de leite por dia a menos para cada
quilômetro percorrido em terreno plano, no morro
essa redução pode triplicar devido ao maior esforço
exigido.
No PRV, há um melhor uso das pastagens exis-
tentes, assim os custos são minimizados, pois a
produção é à base de pasto e ainda há diminuição
no uso de adubos comerciais, já que os dejetos dos
animais ficam na pastagem e ajudam na fertilização,
cerca de 40 kg por dia de esterco e urina são produ-
 Manejo racional
zidos por uma vaca de 450 kg de peso vivo, e esse
adubo orgânico possui além de nitrogênio, fósforo
e potássio, vários outros nutrientes, e proporciona
um ambiente favorável para o desenvolvimento de
macro e micro organismos que beneficiam o solo.
QUATRO LEIS DO PRV
Conforme citam os autores Castagna (2005) e
Sorio (2006), André Voisin deixa como legado quatro
leis fundamentais para quem quer ter êxito com o
PRV, baseadas na natureza e aplicadas em diferen-
tes condições das propriedades. As duas primeiras
dizem respeito ao pasto e as duas últimas dizem
respeito aos animais, as máquinas de colher pasto e
como transformá-lo em leite.
1ª Lei do Repouso
Deve-se deixar a área de pasto descansar o
tempo suficiente para que a planta rebrote e possa
ser cortada pelo animal novamente. Esse tempo de
repouso deve permitir que o pasto armazene suas
reservas necessárias para recomeçar um rebrote vi-
goroso e volte a produzir a massa verde necessária.
Esse período de descanso não é igual durante todo o
ano, ele varia de acordo com a estação do ano, con-
dições climáticas e fertilidade do solo. É fundamen-
tal para o sucesso do PRV, adotar o tempo variável
de repouso.
2ª Lei da Ocupação
Os animais devem sair do piquete antes do sur-
gimento do rebrote do pasto. Deve-se evitar que os
animais venham a pastar o rebrote do pasto, o que
vai causar esgotamento das reservas e consequente
degradação da pastagem. A finalidade dessa lei é
não permitir que a vaca coma o rebrote da pasta-
gem.
3ª Lei do Rendimento Máximo
Também chamada de Lei da Ajuda, porque é
preciso ajudar os animais para que possa colher a
maior quantidade de pasto e de melhor qualidade
possível, principalmente para animais de produções
mais elevadas. Quanto menos trabalho para colher
o pasto mais eles irão comer. O animal tendo pasto
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de qualidade a sua disposição não irá gastar energia
na sua procura.
Uma das melhores formas é dividir os animais
em dois lotes, ou seja, o lote de desnate composto
por vacas em lactação e o lote repasse composto
por novilhas e vacas secas; em que o lote desna-
te entra primeiro no piquete, já que possuem maior
exigência nutricional e após o lote repasse que
consome o pasto até a altura adequada para não
prejudicar a pastagem.
4ª Lei dos Rendimentos Regulares
A permanência dos animais no piquete deve ser
no máximo de 1 (um) dia. O ideal é 1 piquete de ma-
nhã (após a ordenha da manhã) e 1 piquete à tarde
(após a ordenha da tarde), para evitar que o pasto e
o estrume deixado pelos animais sejam pisoteados
e formem uma massa com mau cheiro fazendo com
que os animais não queiram mais pastar. Todas as
vezes que os animais entrarem em um novo piquete
encontrarão pasto de qualidade, o que levará a um
consumo em maior quantidade.
Cumprir essas quatro leis só será possível se
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houver no mínimo 60 piquetes e o oferecimento de Quantidade Unidade Descrição R$ unit. R$ total

4000 metros arame galvanizado nº16 0,25 1.000,00
água em todos eles (BERTON et al. 2011).
150 unidade palanques 5x5x120 cm 3,00 450,00
100 unidade isolador castanha 0,60 60,00
PIQUETEAMENTO 15 metros manga isoladora (isotubo) 1,90 28,50
1 unidade aparelhoeletrificador 110,00 110,00
Só é possível produzir no PRV se houver pique- 2 unidade hastes cobreadas 2 metros 16,00 32,00

tes em número e tamanho adequados. Para fazer o 12 metros fio cobre encapado 6 mm 2,10 25,20
1 unidade caixa de água 10.000 litros 1.600,00 1.600,00
piqueteamento, primeiro é necessário definir o nú-
500 metros manga 3/4” 2mm 0,52 260,00
mero de piquetes levando em consideração o tempo 8 unidade torneiras 3/4” 1,00 8,00
de descanso da pastagem entre um corte e outro e, 8 unidade TE 3/4” 1,00 8,00
também, o tempo de ocupação pelos animais, já que 1 unidade tambor plástico 200 litros 60,00 60,00
quanto menor o tempo de ocupação mais piquetes 2 unidade boia grande 5,00 10,00
2 unidade cachimbo 3/4” 1,00 2,00
se fazem necessários.
20 metros manga para jardim 3/4” 1,00 20,00
Nº de piquetes = dias de descanso+ 1 TOTAL 3.673,70
dias de ocupação Tabela 1 Orçamento para a implantação de PRV em 3 hectares de PRV para 20 vacas. Fonte: Jonas Ramon
Exemplo: 30 dias repouso + 1 = 31 piquetes
1 dia de ocupação
100Kg de peso das vacas. Calcular a quantidade de vaca/produção de pasto por metro quadrado. Exem-
pasto por vaca. Exemplo: (450/100) x 20 = 90 Kg plo: 90/1,5 = 60m2/vaca/dia.
Para determinar o tamanho de cada piquete se-
pasto/vaca/dia. • Calcular o tamanho dos piquetes: nº de va-
gundo Ramon (2009), é necessário:
• Verificar a produção de pasto = medir e pe- cas x área/vaca. Exemplo: 15 vacas x 60m2 = 900m2
• Avaliar o peso médio das vacas. Exemplo:
sar 3 amostras do pasto. Exemplo: média 1,5Kg/m2 (piquete de 30mX30m)/dia.
média 450Kg cada vaca.
de pasto verde. O tamanho dos piquetes varia de acordo com o
• Ofertar de 20Kg de pasto verde para cada
• Calcular a área por vaca: quilo de pasto por número de animais, com a capacidade de produção

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de forragem, com o tempo de repouso, com á época
do ano e a fertilidade dos piquetes. Por isso, é rele-
vante a disponibilidade de pasto dentro do piquete,
porque, ás vezes a área dos piquetes é diferente.
Mas a maior ou menor oferta de pastagem pode ser
compensada com o aumento ou diminuição de su-
plementação no cocho. Vale lembrar que piquetes
fixos facilitam muito o manejo e diminuem a neces-
sidade de mão de obra para fazer os piquetes a cada
estação de pastejo (para mais formações ver relató-
rio SIS – Leite a Base de Pasto).
MANEJO NO PRV
e também evitar o super pastejo em que há muitos
animais, pouco pasto e baixa produção por animal,
o manejo da pastagem deve ser feito pela altura do
pasto. Assim, as vacas entram no piquete no pon-
to entre alta produção de forragem e qualidade,
quando o pasto absorve a maior quantidade de luz,
saindo da pastagem antes de prejudicar os pontos
de crescimento, com pouco resíduo para ajudar no
rebrote.Tabela 3: Manejo pela altura em centímetros
de entrada e saída da pastagem pelos animais. Fon-
te: Córdova et al., 2012.
Forrageira
No PRV, também se deseja a intensificação da
produção e o aumento no ganho por área. Para tan-
to, é fundamental que não haja limitações como
deficiências na fertilidade do solo que é a base pro-
dutiva das pastagens. E intensificar a produção não
significa somente investimento em tecnologia como
equipamentos, instalações ou fertilizantes e sim,
aumentar a eficiência da produção.
O modelo de produção predominante na ativi-
dade leiteira é o convencional, com intenso uso de
energia fóssil, não renovável, como combustíveis e
Exemplos Entrada Saída

gramínea de clima temperado festuca, aveia e azevém 20 a 25 7 a 10

Voisin define pastoreio como o encontro da vaca leguminosa de clima temperado trevos, cornichão e lótus 15 a 20 5
consórcio de gramínea e leguminosa de
com o pasto e esse manejo é coordenado pelo pas-
clima temperado festuca+trevo+azevém 20 a 25 5a7
tor, o homem. O objetivo é que seja produzida a gramínea subtropical missioneira gigante e hemártria 25 a 30 7 a 10
maior quantidade de pasto possível e de qualidade, gramínea subtropical consorciada com
leguminosa missioneira+trevos+amendoim 20 a 30 5 a 10
para que esse alimento chegue ao trato digestivo amendoim forrageiro,
leguminosa tropical estilozantes 20 a 25 7 a 10
da vaca e seja transformado em leite com alto valor
capim elefante 80 a 100 40 a 50
biológico (SORIO, 2006).
gramínea tropical braquiária 40 a 60 15 a 20
Para evitar o sub pastejo em que há poucos tifton 20 a 30 5 a 10
animais, muito pasto e baixa produção por hectare Tabela 2: Manejo pela altura em centímetros de entrada e saída da pastagem pelos animais. Fonte: Córdova et al., 2012.

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 Leite à base de pasto
fertilizantes químicos, além de agrotóxicos e revolvi-
mento frequente dos solos, o que leva os produtores
a dependência externa e descapitalização (WEN-
DLING, 2012).
O que auxilia na renda é o fornecimento de água
que deve ir até os animais e não o contrário. Deve-
-se ter uma rede de água que seja simples e eficien-
te em disponibilizar água de qualidade em todos os
piquetes. O custo inicial é alto, mas além de facilitar
a mão de obra também aumenta a produtividade.
CONSIDERAÇÕES
O leite produzido em sistema de PRV é uma for-
ma de produção viável do ponto de vista ambiental,
social e econômico, ou seja, é sustentável respei-
tando o meio ambiente e garantindo renda aos em-
presários rurais que manejam a produção leiteira de
forma racional.
A maneira de produzir mais com menos traba-
lho e menor custo de produção passa pela produção
de leite a base de pasto, já que depende menos de
insumos externos à propriedade se comparados a
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outros sistemas. crescimento desigual das pastagens nas diferentes
No que tange a conservação de solo, o PRV au- estações do ano, portanto, é preciso ter a habilidade
menta o teor de matéria orgânica no solo e diminui de conduzir as vacas aos melhores pastos, saltando
a compactação. Também diminui a necessidade de piquetes se necessário, de acordo com a altura do
mão de obra e o custo de produção. Como ponto pasto.
negativo está o elevado custo e o trabalho de im- O Pastoreio Racional Voisin gera resultados eco-
plantação inicial. nômicos positivos, aumenta a fertilidade do solo,
Em um sistema de pastoreio Voisin, cada piquete preserva o meio ambiente e maximiza a produção
é utilizada cerca de 10 dias por ano, o que permite de leite pelas vacas gerando lucro ao empresário
um descanso do solo e da pastagem de 355 dias, leiteiro.
isso faz com que a degradação da pastagem e do
solo seja evitada.
É fundamental para ter sucesso no PRV respeitar
o período de descanso, que no verão pode ser
em torno de 20 dias, já no inverno com baixas
precipitações e pouca luminosidade pode ser de
mais de 40 dias. Assim sendo, o que mais importa
no manejo da pastagem não é o número de dias e
sim a altura de entrada no pasto pelos animais.
O erro mais comum e responsável pelos casos
de insucesso na adoção do sistema PRV é a ado-
ção de tempos fixos de repouso, ou seja, a cada
30 dias voltar no mesmo piquete. Isso resulta em
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 Fontes Serviço de Apoio às
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