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Sistemas integrados

uma nova opção de


produção agropecuária
sustentável no Semiárido
Rafael Gonçalves Tonucci
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Caprinos e Ovinos
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Sistemas integrados
uma nova opção de produção
agropecuária sustentável no
Semiárido

Rafael Gonçalves Tonucci

Embrapa
Brasília, DF
2023
Embrapa Caprinos e Ovinos
Fazenda Três Lagoas, Estrada Sobral/Groaíras, Km 4
Caixa Postal: 71
CEP: 62010-970 - Sobral, CE
Fone: (88) 3112-7400
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Vergne Dias, Manoel Everardo Pereira Ilustrações
Mendes, Marcilio Nilton Lopes da Frota, Renan Roque
Tânia Maria Chaves Campêlo
1ª edição
Supervisão editorial Publicação digital (2023): PDF
Alexandre César Silva Marinho
Maíra Vergne Dias

Normalização bibliográfica
Tânia Maria Chaves Campêlo

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Embrapa Caprinos e Ovinos
Tonucci, Rafael Gonçalves.
Sistemas integrados: uma nova opção de produção agropecuária sustentávelno Semiári-
do / Rafael Gonçalves Tonucci. – Brasília, DF : Embrapa, 2023.
PDF (20 p.) : il. color.

ISBN 978-65-89957-51-5

1. Produção integrada. 2. Pastagem. 3. Agricultura sustentável. 4. Sistema de cultivo. I.


Embrapa Caprinos e Ovinos. II. Título.

CDD 633.2

Tânia Maria Chaves Campêlo (CRB-3/620) @Embrapa, 2023


Olá, tudo bem?
Somos a Ana Maria e o João Francisco e também
somos proprietários de um pequeno rebanho de caprinos
e ovinos. Estamos aqui para conversar com você sobre
os sistemas integrados como alternativa para aumentar a
produtividade ao mesmo tempo em que cuidamos do solo!

Mas antes de falarmos sobre esse importante tema


explicarei um pouco sobre os Objetivos do Desenvolvi-
mento Sustentável (ODS), da Organização das Nações
Unidas (ONU). Os ODS estabelecem critérios para
redução e erradicação da pobreza e da extrema pobreza
através de ações que impactem no adequado e eficiente
uso de tecnologias agrícolas, em especial a integração
lavoura-pecuária-floresta, com práticas de desenvolvi-
mento agronômico.

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É isso aí, João! As boas práticas para o cuidado com nossos reba-
nhos também passam pelo cuidado com nosso chão! Ao adotar
sistemas integrados como a integração lavoura-pecuária ou a inte-
gração lavoura-pecuária-floresta estamos aumentando a produtivi-
dade do solo, melhorando a qualidade da forragem e ainda produ-
zindo mais numa mesma área! Isso é conhecimento na prática, que
no fim das contas vai virar tranquilidade pra nossas famílias!

produção agropecuária sustentável no semiárido


Sistemas integrados: uma nova opção de

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Uma opção de produção
sustentável no Semiárido

O s produtores do Nordeste bra-


sileiro têm por tradição, além
da criação animal, exercer atividades
tenha ganhos crescentes no curto,
médio e longo prazos ficando, desta
forma, menos vulnerável às oscilações
agrícolas como o cultivo do milho, do do mercado (queda de valor de uma
sorgo e do feijão, que servirão para sua determinada matéria-prima) e do
alimentação e de seu rebanho. A ideia ambiente (período com muita ou pouca
da integração de bovinos, ovinos e ca- chuva).
prinos em atividades silviculturais não é
nova, o que talvez seja novo é o fato de O desenvolvimento agrícola susten-
que a integração do animal à ativida- tável passa por aspectos como a
de florestal seja capaz de melhorar a conservação da sustentabilidade e
produtividade. dos serviços ambientais, da melhoria
e conservação da água e do solo, da
Os sistemas que permitem ao agricul- valorização dos sistemas tradicionais
tor uma receita crescente ao longo de manejo dos recursos, dentre outros.
do tempo têm ganhado cada vez mais Assim, modelos de sistemas que inte-
importância. O aumento da produtivi- grem em pequenos módulos de terra
dade da terra com a produção integra- múltiplas atividades, como a silvicultu-
da em uma mesma área é uma alter- ra, a pecuária e a agricultura, se tornam
nativa para aumentar a diversificação uma oportunidade de incremento e
da produção da propriedade. Modelos diversificação de renda, bem como a
agrícolas nos quais o produtor explore melhoria na qualidade de vidas das
atividades distintas permitem que ele famílias.

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Tipos de sistemas
integrados na Caatinga
Na Caatinga é comum o uso da manipu- produção de volumoso, destaca-
lação da vegetação, isto é, a modifica- mos aqui duas novas possibilidades
ção da cobertura florística visando ade- embasadas nos conhecimentos já
quá-la aos objetivos desejados. Dentre adquiridos ao longo de décadas de
as alternativas de manejo da vegetação estudo.
da Caatinga que buscam aumentar a

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Sistema de integração lavoura-
pecuária (ILP – Sertão)
O sistema ILP consiste em, na mesma Nos últimos anos estão sendo desen-
área, a combinação de diferentes sis- volvidos modelos que buscam adaptar
temas produtivos, como grãos, fibras, as técnicas já consagradas e conso-
carne/leite, em consórcio, em rotação lidadas de cultivo e consorciação de
ou em sucessão. A ILP é uma excelente culturas no bioma Cerrado, como o
alternativa para a recuperação de áreas Sistema Santa Fé e o Sistema Barreirão,
degradadas por meio da intensificação para um ambiente Semiárido no bioma
do uso da terra, pois a combinação de Caatinga. Essas adaptações passam
diferentes espécies vegetais permite, pela escolha das espécies das cultu-
de forma sustentável, maior produção ras anuais substituindo o milho por
por área. Esse sistema otimiza o uso do culturas mais tolerantes à falta d’água,
solo com a produção de grãos em áreas como o sorgo e o milheto. A escolha
de pastagens e melhora a produtivida- de espécie forrageira perene também
de das pastagens como consequência seguiu a mesma lógica, selecionando
da sua renovação pelo aproveitamento espécies conhecidamente mais tole-
da adubação residual da lavoura, possi- rantes à seca, como o capim massai
bilitando maior ciclagem de nutrientes e o capim buffel, em detrimento das
e o aumento da matéria orgânica do braquiárias amplamente utilizadas no
solo. Cerrado. Os resultados indicaram que
a adoção do modelo ILP – Sertão pro-
porcionou um aumento na produção
de forragem disponível para o animal
de aproximadamente 35%, mostrando o
enorme potencial de uso para garantir
a segurança alimentar dos rebanhos.

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Sistema de integração lavoura-
pecuária-floresta (ILPF – Caatinga)
O sistema ILPF é uma estratégia que Estes dois sítios têm a quantidade
visa a produção sustentável e integra de árvores original suprimida a fim
atividades agrícolas, pecuárias e flo- de deixar uma cobertura de solo de
restais realizadas na mesma área, em 40% a 20%, respectivamente, pos-
cultivo consorciado, em sucessão ou sibilitando aumentar a penetração
rotacionado, e busca efeitos positivos de luz no sub-bosque e a produção
dessa combinação entre os componen- de biomassa do pasto e da cultura
tes do agroecossistema, contemplando agrícola. Ressalta-se que a supres-
a adequação ambiental, a valorização são das árvores se dá de forma
do homem e a viabilidade econômica. aleatória, mas sempre mantendo
a proporcionalidade numérica das
Os sistemas de integração do animal espécies existentes e o arranjo es-
e da agricultura no ambiente flores- pacial da floresta original. O último
tal começaram a ser implantados na sítio é uma floresta nativa, onde não
Caatinga a partir da década de 1990 há supressão de árvores e represen-
com o desenvolvimento do SAF-Sobral, ta, aproximadamente, 20% da área

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criado com a premissa de que o animal total do sistema.
desempenha um papel importante para
integrar as atividades agrícolas e flores-

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tais. Neste sistema, a área é dividida em
três sítios: um sítio é uma mistura de
floresta nativa e pastagem (composto
por espécies nativas e exóticas) e o
outro sítio é uma integração do com-
ponente florestal com a agricultura.

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Dando sequência e aprimorando os gar- 2012, também conhecida como novo
galos desse primeiro modelo foi criado “Código Florestal”, e o produtor ainda
o ILPF-Caatinga que tem como objetivo pode desmatar. O sistema, portanto,
básico intensificar e otimizar o uso da possibilita o uso sustentável da área,
terra. No rearranjo é proposta a abertu- pois, além de permitir a produção ani-
ra de faixas de 15 m a 20 m e mantendo mal e a extração de madeira (manejo
faixas de vegetação de 10 m a 15 m da sustentável), pode ainda conservar até,
vegetação nativa (Figura 1). Esse tipo no mínimo, 30% da vegetação nativa,
de configuração é recomendado em que desempenha um papel muito im-
áreas consolidadas das propriedades, portante na composição da dieta e no
onde a conservação não é exigida pela bem-estar dos rebanhos, principalmen-
legislação Lei 12.651, de 25 de maio de te no período seco do ano.

Foto: Márcio José Vieira Landim

Figura 1. Visão geral de um sistema ILPF-Caatinga na Embrapa Caprinos e Ovinos, Sobral, CE.

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Benefícios dos
sistemas integrados
Os sistemas integrados têm se mos- levar a um desbalanço na oferta
trado bastante promissores em todas de forragem e desencadear um
as regiões do Brasil e apresentam um processo de degradação (Figura 2B
potencial enorme de uso, além do au- e C). O uso de sistemas como o ILP-
mento de área no bioma Caatinga. Nes- F-Caatinga permite que, ao realizar
se bioma é comum o uso da vegetação a manipulação correta da vegetação
nativa (herbácea ou arbustiva) como nativa, um incremento na oferta
pastagem para os animais. Entretanto, de forragem, reduzindo a pressão
a alta pressão de pastejo (número de de pastejo, viabilizando a atividade
animais/volume de forragem) pode agropecuária (Figura 2D e E).

produção agropecuária sustentável no semiárido


(B) (C)

Sistemas integrados: uma nova opção de


(A)

(D) (E)

Figura 2. Esquema mostrando o potencial que os sistemas integrados, com manipulação da


vegetação nativa, têm de incrementar a produção de reduzir a degradação ambiental. O bioma
Caatinga é utilizado como pastagem para alimentação de ruminantes no Semiárido brasileiro
(A); o super pastejo e as altas taxas de lotação diminuem o desempenho animal e iniciam o
processo de degradação (B); estratégias de manejo erradas levam a um ambiente altamente
degradado com baixo desempenho animal e alta emissão de carbono (C); o ILPF aumenta a
produção de forragem, permitindo que os agricultores armazenem para os anos seguintes (D); o
ILPF intensifica o uso da terra com maior desempenho animal e baixas emissões de carbono (E).

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Além de aumentar a produção de for- orgânica no solo (MOS). Esse incremen-
ragem, os sistemas integrados também to é acompanhado por uma melhora na
aumentam a cobertura do solo, compo- eficiência de uso da água, visto que a
nente principal de qualquer sistema de MOS proporciona uma maior retenção
produção e muitas vezes negligencia- de água, permitindo que as plantas
do. Os sistemas integrados promovem fiquem verdes por mais tempo ou
um aumento da fertilidade do solo, suportem veranicos/estiagem por mais
principalmente nos teores de matéria tempo (Figura 3).

(A)

(B)

(C)

Figura 3. Esquema mostrando o potencial que os sistemas integrados têm de incrementar e diversi-
ficar a produção em uma mesma área com agregação de valor aos produtos, melhorando as condi-
ções edáficas. Produtos protéicos com alta qualidade e valor - aumentando a renda dos agricultores
e sua segurança alimentar (A); produtos com longa vida (cerca, móveis etc.) imobilizando carbono
por muitos anos (B); aumenta o SOC, uma ótima maneira de capturar carbono da atmosfera por
longos períodos.

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Os sistemas integrados também Outro benefício importante da
podem trazer benefícios ambientais ILPF-Caatinga é a sua adoção como
para a propriedade. Esses sistemas são técnica de recuperação de áreas
sabidamente sequestradores de carbo- degradadas. A Caatinga apresenta
no e, portanto, abre uma possibilidade atualmente 30 a 40% de suas áreas
de aumento de renda e agregação de em algum estádio de degradação,
valor aos produtos por eles produzi- estando algumas delas em proces-
dos (Figura 3). Existe ainda diferentes so de desertificação. Ao utilizar os
linhas de créditos especiais com taxas princípios do sistema integrado
e carências bastante atrativas para a ILPF-Caatinga é possível recompor
implementação e o estabelecimen- essas áreas de forma produtiva, a
to desses sistemas, como exemplo partir do quinto ano da implantação
podemos citar o Plano ABC+ e o Pronaf (Figuras 4 e 5).
ABC+ Floresta.

produção agropecuária sustentável no semiárido


(D)
(C)
(B)

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(A)

Figura 4. Esquema de recuperação de uma área degradada utilizando os sistemas integrados.


Ano 0: terra altamente degradada com solo nu incapaz de produzir (A); ano 1: introduzir árvores
na área e aplicar cobertura no solo (B); ano 2: as árvores estão crescendo e o solo é capaz de
começar a produzir cobertura verde (C); ano 4: a área é restaurada e o solo pode produzir forra-
gem para a pecuária (D).

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A B

Foto: Rafael Tonucci

Foto: Rafael Tonucci


C D

Foto: Rafael Tonucci

Foto: Rafael Tonucci


E
Figura 5. Cronologia de uma área degradada
recuperada com a adoção de sistema integrado
na Fazenda Triunfo, em Ibaretama, CE. Ano 0
(A); ano 1 (B); ano 2 (C); ano 4 (D); ano 8 (E).

Foto: Rafael Tonucci

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Economicamente, esses sistemas da venda da madeira e do estoque
também são viáveis em curto e médio de forragem na forma de silagem,
prazos. Os dados de pesquisas relata- enquanto os maiores custos foram
ram que a implementação do ILPF-Ca- com a mão de obra, com retorno do
atinga custou certa de R$25.000,00 e investimento a partir do quarto ano.
que a maior parte da receita advém

Passo a Passo de Implantação


do ILPF-Caatinga
Com base nas avaliações de implan- incrementando o uso sustentável
tação do sistema agrossilvipastoril e da área, permitindo a produção
identificadas as necessidades de ajuste animal e a extração escalonada de
apontadas pelos agricultores, foi pro- madeira.
posto um novo arranjo de manipulação
da vegetação da Caatinga em faixas, de A implantação segue seis etapas:

produção agropecuária sustentável no semiárido


forma a consolidar um sistema de inte- (1) abertura de área; (2) destoca e
gração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) limpeza das faixas; (3) preparo do
para reduzir a necessidade de mão de solo; (4) plantio de culturas anu-

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obra, aumentando a produtividade, ais e perenes; (5) colheita; e (6)
enriquecendo e preservando a diversi- produção de silagem. Após essa
dade nativa da vegetação da Caatinga. fase de implantação, consolidou-se
O rearranjo proposto utiliza uma área o estabelecimento do pasto e foi
de uso consolidado na propriedade realizado o manejo para produção
com uma manutenção de, no mínimo, animal em pastejo.
30% da vegetação nativa conservada,

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Abertura e destoca da área
Os arranjos para a abertura da área são utilização de máquinas específicas, que
faixas de vegetação conservada inter- deixam o resíduo florestal triturado
calada com áreas de faixas desmatadas no campo, tem como maior vantagem
na sua totalidade (Figura 1). a cobertura do solo com o material
lenhoso e a redução no tempo e no
custo de mão de obra. Contudo, o equi-
A configuração final fica da
pamento tem um valor relativamente
seguinte forma:
a) Faixas conservadas de 10 m alto. Nas faixas abertas não há seleção
intercaladas por faixas suprimidas para permanência de nenhuma espé-
de 20 m. cie arbórea além daquelas protegidas
b) Faixas conservadas de 15 m interca- por lei (isto é, aroeira e ipê), quando
ladas por faixas suprimidas de 15 m.
presentes.

A abertura da área pode ser feita de É necessária a destoca das faixas


forma manual ou com máquina espe- desmatadas e esse procedimento é
cífica para supressão vegetal e manu- muito importante tendo em vista que
tenção da galhada triturada no campo todas as atividades a serem realizadas
manual. O corte manual tem como van- dentro das faixas visam minimizar os
tagem um maior aproveitamento da danos causados pelos tocos e raízes às
madeira (lenha e estacas). Entretanto, máquinas e aos implementos.
esse tipo de abertura aumenta muito
o custo com mão de obra. Enquanto a

Quando o objetivo é apenas a forma-


ção de pastagem sem o uso de ciclo
agrícola, a destoca torna-se desne-
cessária.

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Preparo do solo e plantio
O preparo do solo é realizado com os O plantio deve ser realizado de
usos de implementos convencionais, forma mecanizada sempre que
como uso de arado e grade niveladora. possível. A semente do capim deve
Quando a supressão é feita de forma ser misturada ao adubo imediata-
manual recomenda-se que as aparas mente antes do plantio, a fim de
sejam trituradas e incorporadas ao solo não causar perda na viabilidade
em etapa posterior. Casa seja necessá- das sementes, e mistura deve ser
rio e baseado em análise do solo, de- acondicionada no compartimento
ve-se realizar a correção da acidez com de adubo da plantadeira. Nas caixas
no mínimo 90 dias de antecedência ao de semeadura coloca-se a semen-
plantio. A adubação deve ser realizada te da cultura anual de interesse.
com base em análise prévia do solo e Caso haja o interesse de fazer um
segundo nível tecnológico compatível plantio consorciado com mais de
com a propriedade e produção espe- duas espécies, pode-se acondicio-
rada, conforme os princípios das boas nar sementes nas caixas de forma
práticas agrícolas. intercalada.

produção agropecuária sustentável no semiárido


Colheita e produção de silagem

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O material produzido no campo deverá forragem colhida seja ensilada, o
ser colhido quando mais de 60% da que inclui a cultura agrícola anual, a
cultura agrícola de grão se encontra um forragem perene (capim) e o pasto
pouco antes do ideal para produção de nativo que, propositadamente, não
silagem. Essa antecipação na colheita é é retirado da área com a finalidade
fundamental para permitir que, ainda, de aumentar a produção de volumo-
haja chuva para a rebrota do capim, so. No momento da ensilagem não
favorecendo o seu pleno estabele- deve haver separação dos diferen-
cimento. Recomenda-se que toda a tes tipos de volumosos.

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Manejo da pastagem e
produção animal
Após a colheita do material para ensila- a produção animal sem que haja o
gem é esperado que haja a rebrota do superpastejo e um aumento na pressão
capim. Assim, o manejo do pasto, no de pastejo. Recomenda-se que esse
ano de estabelecimento, deve ser para monitoramento seja realizado segundo
produção de volumoso diferido, seguin- os princípios da orçamentação forra-
do as recomendações de pesquisas. geira. Para avaliar o estabelecimento
Os animais podem pastejar a área que do pasto e quando será necessário rein-
ficou fechada durante 90 dias (outubro troduzir a cultura agrícola nas faixas
a dezembro). intensificadas, recomenda-se seguir os
critérios na Tabela 1.
A taxa de lotação deve ser periodica-
mente ajustada, a fim de maximizar

O que é o orçamento forrageiro?


São cálculos da quantidade de forragem disponível e da necessidade de for-
ragem de sistemas pastoris. Sua missão é garantir um equilíbrio adequado
entre produção e demanda de forragem de modo a fornecer subsídio para a realiza-
ção do planejamento alimentar da propriedade, e assim contribuir para aumentar a
eficiência de uso do pasto, a produtividade e o desempenho animal.

Acesse o cardápio forrageiro


com todas as informações e
cálculos em suas duas possibi-
lidades. Você pode clicar nas
imagens, acessar via qrcode
ou mesmo digitar os links.
Em pdf (http://bit.ly/3WQC97i) ou
aplicativo (https://bit.ly/3GoJ7ZX).

Tabela 1. Recomendação de manejo e uso da pastagem após o estabelecimento do sistema.


Cobertura de forragem Recomendação
Menor que 60% Utilizar o plantio consorciado novamente (cultura anual + capim)
Entre 60 e 85% Ressemeadura com o capim
Acima de 85% Pasto estabelecido

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Sistemas integrados: uma nova opção de

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produção agropecuária sustentável no semiárido
“Depois que colho o milho, coloco os ani-
mais para aproveitarem a palhada”
Luciano de Oliveira Sousa
Experiências reais

A adoção de sistemas integrados de produção, com


lavoura e criação de animais no mesmo espaço, tem
sido uma opção para os criadores de caprinos e ovinos
No município de Sumé (PB) o produtor Luciano de Oli-
veira Sousa é criador de caprinos e vacas leiteiras há 20
anos e tem experiência nesse assunto. Como os custos
do Semiárido brasileiro. Isso porque a prática conjunta para a lavoura são altos, ele afirma que planta apenas
dessas duas atividades confere maior sustentabilidade e o que consegue, de acordo com sua capacidade finan-
ajuda a melhorar a produtividade. ceira, e busca aumentar a produção com a estratégia de
integrar lavoura e pecuária.

Milho, feijão, sorgo e cunhã são


algumas das culturas que Lucia-
no adota nos 30 hectares de sua
propriedade. Para a alimentação
do rebanho, além do capim, ele
também utiliza moringa, gliricídia
e palma forrageira e garante que
essa estratégia tem ajudado a
aumentar a produção de leite dos
animais. “Depois que eu colho o
milho para fazer silagem, coloco
os animais para aproveitarem o
que restou da palhada”, explica.

De acordo com os pesquisadores


da Embrapa, a presença do reba-
nho se alimentando no local onde
foi feita a colheita ajuda a melho-
rar a qualidade do solo, promo-
vendo a ciclagem de nutrientes.
Luciano já aboliu o uso do fogo
na sua propriedade e só o utiliza
muito raramente, o que também
é uma forma de ajudar na susten-
tabilidade de sua produção.
Agradecemos a colaboração da jornalista Adriana Brandão Nascimento Machado (MTb 01067 JP/CE) na coleta de infor-
mações e elaboração do texto "Experiências reais".

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