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Sistemas integrados
uma nova opção de produção
agropecuária sustentável no
Semiárido
Embrapa
Brasília, DF
2023
Embrapa Caprinos e Ovinos
Fazenda Três Lagoas, Estrada Sobral/Groaíras, Km 4
Caixa Postal: 71
CEP: 62010-970 - Sobral, CE
Fone: (88) 3112-7400
www.embrapa.br
www.embrapa.br/fale-conosco/sac
Secretário-Executivo Copidesque
Alexandre César Silva Marinho Carlos Joaquim Einloft
Lívia Martins Soares
Membros
Alexandre Weick Uchôa Monteiro, Revisão de texto
Aline Costa Silva, Carlos José Mendes Lívia Martins Soares
Vasconcelos, Fábio Mendonça Diniz, Maíra
Vergne Dias, Manoel Everardo Pereira Ilustrações
Mendes, Marcilio Nilton Lopes da Frota, Renan Roque
Tânia Maria Chaves Campêlo
1ª edição
Supervisão editorial Publicação digital (2023): PDF
Alexandre César Silva Marinho
Maíra Vergne Dias
Normalização bibliográfica
Tânia Maria Chaves Campêlo
ISBN 978-65-89957-51-5
CDD 633.2
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É isso aí, João! As boas práticas para o cuidado com nossos reba-
nhos também passam pelo cuidado com nosso chão! Ao adotar
sistemas integrados como a integração lavoura-pecuária ou a inte-
gração lavoura-pecuária-floresta estamos aumentando a produtivi-
dade do solo, melhorando a qualidade da forragem e ainda produ-
zindo mais numa mesma área! Isso é conhecimento na prática, que
no fim das contas vai virar tranquilidade pra nossas famílias!
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Uma opção de produção
sustentável no Semiárido
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Tipos de sistemas
integrados na Caatinga
Na Caatinga é comum o uso da manipu- produção de volumoso, destaca-
lação da vegetação, isto é, a modifica- mos aqui duas novas possibilidades
ção da cobertura florística visando ade- embasadas nos conhecimentos já
quá-la aos objetivos desejados. Dentre adquiridos ao longo de décadas de
as alternativas de manejo da vegetação estudo.
da Caatinga que buscam aumentar a
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Sistema de integração lavoura-
pecuária (ILP – Sertão)
O sistema ILP consiste em, na mesma Nos últimos anos estão sendo desen-
área, a combinação de diferentes sis- volvidos modelos que buscam adaptar
temas produtivos, como grãos, fibras, as técnicas já consagradas e conso-
carne/leite, em consórcio, em rotação lidadas de cultivo e consorciação de
ou em sucessão. A ILP é uma excelente culturas no bioma Cerrado, como o
alternativa para a recuperação de áreas Sistema Santa Fé e o Sistema Barreirão,
degradadas por meio da intensificação para um ambiente Semiárido no bioma
do uso da terra, pois a combinação de Caatinga. Essas adaptações passam
diferentes espécies vegetais permite, pela escolha das espécies das cultu-
de forma sustentável, maior produção ras anuais substituindo o milho por
por área. Esse sistema otimiza o uso do culturas mais tolerantes à falta d’água,
solo com a produção de grãos em áreas como o sorgo e o milheto. A escolha
de pastagens e melhora a produtivida- de espécie forrageira perene também
de das pastagens como consequência seguiu a mesma lógica, selecionando
da sua renovação pelo aproveitamento espécies conhecidamente mais tole-
da adubação residual da lavoura, possi- rantes à seca, como o capim massai
bilitando maior ciclagem de nutrientes e o capim buffel, em detrimento das
e o aumento da matéria orgânica do braquiárias amplamente utilizadas no
solo. Cerrado. Os resultados indicaram que
a adoção do modelo ILP – Sertão pro-
porcionou um aumento na produção
de forragem disponível para o animal
de aproximadamente 35%, mostrando o
enorme potencial de uso para garantir
a segurança alimentar dos rebanhos.
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Sistema de integração lavoura-
pecuária-floresta (ILPF – Caatinga)
O sistema ILPF é uma estratégia que Estes dois sítios têm a quantidade
visa a produção sustentável e integra de árvores original suprimida a fim
atividades agrícolas, pecuárias e flo- de deixar uma cobertura de solo de
restais realizadas na mesma área, em 40% a 20%, respectivamente, pos-
cultivo consorciado, em sucessão ou sibilitando aumentar a penetração
rotacionado, e busca efeitos positivos de luz no sub-bosque e a produção
dessa combinação entre os componen- de biomassa do pasto e da cultura
tes do agroecossistema, contemplando agrícola. Ressalta-se que a supres-
a adequação ambiental, a valorização são das árvores se dá de forma
do homem e a viabilidade econômica. aleatória, mas sempre mantendo
a proporcionalidade numérica das
Os sistemas de integração do animal espécies existentes e o arranjo es-
e da agricultura no ambiente flores- pacial da floresta original. O último
tal começaram a ser implantados na sítio é uma floresta nativa, onde não
Caatinga a partir da década de 1990 há supressão de árvores e represen-
com o desenvolvimento do SAF-Sobral, ta, aproximadamente, 20% da área
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Dando sequência e aprimorando os gar- 2012, também conhecida como novo
galos desse primeiro modelo foi criado “Código Florestal”, e o produtor ainda
o ILPF-Caatinga que tem como objetivo pode desmatar. O sistema, portanto,
básico intensificar e otimizar o uso da possibilita o uso sustentável da área,
terra. No rearranjo é proposta a abertu- pois, além de permitir a produção ani-
ra de faixas de 15 m a 20 m e mantendo mal e a extração de madeira (manejo
faixas de vegetação de 10 m a 15 m da sustentável), pode ainda conservar até,
vegetação nativa (Figura 1). Esse tipo no mínimo, 30% da vegetação nativa,
de configuração é recomendado em que desempenha um papel muito im-
áreas consolidadas das propriedades, portante na composição da dieta e no
onde a conservação não é exigida pela bem-estar dos rebanhos, principalmen-
legislação Lei 12.651, de 25 de maio de te no período seco do ano.
Figura 1. Visão geral de um sistema ILPF-Caatinga na Embrapa Caprinos e Ovinos, Sobral, CE.
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Benefícios dos
sistemas integrados
Os sistemas integrados têm se mos- levar a um desbalanço na oferta
trado bastante promissores em todas de forragem e desencadear um
as regiões do Brasil e apresentam um processo de degradação (Figura 2B
potencial enorme de uso, além do au- e C). O uso de sistemas como o ILP-
mento de área no bioma Caatinga. Nes- F-Caatinga permite que, ao realizar
se bioma é comum o uso da vegetação a manipulação correta da vegetação
nativa (herbácea ou arbustiva) como nativa, um incremento na oferta
pastagem para os animais. Entretanto, de forragem, reduzindo a pressão
a alta pressão de pastejo (número de de pastejo, viabilizando a atividade
animais/volume de forragem) pode agropecuária (Figura 2D e E).
(D) (E)
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Além de aumentar a produção de for- orgânica no solo (MOS). Esse incremen-
ragem, os sistemas integrados também to é acompanhado por uma melhora na
aumentam a cobertura do solo, compo- eficiência de uso da água, visto que a
nente principal de qualquer sistema de MOS proporciona uma maior retenção
produção e muitas vezes negligencia- de água, permitindo que as plantas
do. Os sistemas integrados promovem fiquem verdes por mais tempo ou
um aumento da fertilidade do solo, suportem veranicos/estiagem por mais
principalmente nos teores de matéria tempo (Figura 3).
(A)
(B)
(C)
Figura 3. Esquema mostrando o potencial que os sistemas integrados têm de incrementar e diversi-
ficar a produção em uma mesma área com agregação de valor aos produtos, melhorando as condi-
ções edáficas. Produtos protéicos com alta qualidade e valor - aumentando a renda dos agricultores
e sua segurança alimentar (A); produtos com longa vida (cerca, móveis etc.) imobilizando carbono
por muitos anos (B); aumenta o SOC, uma ótima maneira de capturar carbono da atmosfera por
longos períodos.
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Os sistemas integrados também Outro benefício importante da
podem trazer benefícios ambientais ILPF-Caatinga é a sua adoção como
para a propriedade. Esses sistemas são técnica de recuperação de áreas
sabidamente sequestradores de carbo- degradadas. A Caatinga apresenta
no e, portanto, abre uma possibilidade atualmente 30 a 40% de suas áreas
de aumento de renda e agregação de em algum estádio de degradação,
valor aos produtos por eles produzi- estando algumas delas em proces-
dos (Figura 3). Existe ainda diferentes so de desertificação. Ao utilizar os
linhas de créditos especiais com taxas princípios do sistema integrado
e carências bastante atrativas para a ILPF-Caatinga é possível recompor
implementação e o estabelecimen- essas áreas de forma produtiva, a
to desses sistemas, como exemplo partir do quinto ano da implantação
podemos citar o Plano ABC+ e o Pronaf (Figuras 4 e 5).
ABC+ Floresta.
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A B
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Economicamente, esses sistemas da venda da madeira e do estoque
também são viáveis em curto e médio de forragem na forma de silagem,
prazos. Os dados de pesquisas relata- enquanto os maiores custos foram
ram que a implementação do ILPF-Ca- com a mão de obra, com retorno do
atinga custou certa de R$25.000,00 e investimento a partir do quarto ano.
que a maior parte da receita advém
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Abertura e destoca da área
Os arranjos para a abertura da área são utilização de máquinas específicas, que
faixas de vegetação conservada inter- deixam o resíduo florestal triturado
calada com áreas de faixas desmatadas no campo, tem como maior vantagem
na sua totalidade (Figura 1). a cobertura do solo com o material
lenhoso e a redução no tempo e no
custo de mão de obra. Contudo, o equi-
A configuração final fica da
pamento tem um valor relativamente
seguinte forma:
a) Faixas conservadas de 10 m alto. Nas faixas abertas não há seleção
intercaladas por faixas suprimidas para permanência de nenhuma espé-
de 20 m. cie arbórea além daquelas protegidas
b) Faixas conservadas de 15 m interca- por lei (isto é, aroeira e ipê), quando
ladas por faixas suprimidas de 15 m.
presentes.
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Preparo do solo e plantio
O preparo do solo é realizado com os O plantio deve ser realizado de
usos de implementos convencionais, forma mecanizada sempre que
como uso de arado e grade niveladora. possível. A semente do capim deve
Quando a supressão é feita de forma ser misturada ao adubo imediata-
manual recomenda-se que as aparas mente antes do plantio, a fim de
sejam trituradas e incorporadas ao solo não causar perda na viabilidade
em etapa posterior. Casa seja necessá- das sementes, e mistura deve ser
rio e baseado em análise do solo, de- acondicionada no compartimento
ve-se realizar a correção da acidez com de adubo da plantadeira. Nas caixas
no mínimo 90 dias de antecedência ao de semeadura coloca-se a semen-
plantio. A adubação deve ser realizada te da cultura anual de interesse.
com base em análise prévia do solo e Caso haja o interesse de fazer um
segundo nível tecnológico compatível plantio consorciado com mais de
com a propriedade e produção espe- duas espécies, pode-se acondicio-
rada, conforme os princípios das boas nar sementes nas caixas de forma
práticas agrícolas. intercalada.
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Manejo da pastagem e
produção animal
Após a colheita do material para ensila- a produção animal sem que haja o
gem é esperado que haja a rebrota do superpastejo e um aumento na pressão
capim. Assim, o manejo do pasto, no de pastejo. Recomenda-se que esse
ano de estabelecimento, deve ser para monitoramento seja realizado segundo
produção de volumoso diferido, seguin- os princípios da orçamentação forra-
do as recomendações de pesquisas. geira. Para avaliar o estabelecimento
Os animais podem pastejar a área que do pasto e quando será necessário rein-
ficou fechada durante 90 dias (outubro troduzir a cultura agrícola nas faixas
a dezembro). intensificadas, recomenda-se seguir os
critérios na Tabela 1.
A taxa de lotação deve ser periodica-
mente ajustada, a fim de maximizar
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Sistemas integrados: uma nova opção de
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produção agropecuária sustentável no semiárido
“Depois que colho o milho, coloco os ani-
mais para aproveitarem a palhada”
Luciano de Oliveira Sousa
Experiências reais
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