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PASTOREIO VOISIN

Guia dos Primeiros Passos

André Sorio
AVISOS LEGAIS

Redistribuição:

Você concorda que não irá copiar, redistribuir ou explorar

comercialmente toda e qualquer parte deste documento sem a

permissão expressa do autor.

Autor:

André Sorio

Citação:

SORIO, A. Pastoreio Voisin: guia dos primeiros passos. Brasília,


2020. Livro eletrônico. 1ª edição. Disponível em
www.consultoriapecuaria.com.br.
Sumário
SOBRE MIM ........................................................................................................................................... 4

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 7

1 – IMPORTÂNCIA DO MANEJO ADEQUADO DOS PASTOS ........................................................ 8

2 – PASTOREIO RACIONAL VOISIN ............................................................................................... 14

3 – PASTAGENS NAS REGIÕES TROPICAIS ................................................................................... 20

3.1 - GRAMÍNEAS........................................................................................................................................... 24

3.2 - LEGUMINOSAS ...................................................................................................................................... 26

1) Influência sobre a nutrição dos animais .................................................................................................... 28

2) Influência sobre a produção de capim ........................................................................................................ 28

4 – DEFINIR O TEMPO DE REPOUSO DA PASTAGEM................................................................ 30

5 – DEFINIR O MOMENTO DA TROCA DO PIQUETE ................................................................ 34

6 - CARACTERÍSTICAS DOS BOVINOS QUE DETERMINAM A NECESSIDADE DE PASTO . 38

6.1 – BOIS E GARROTES ............................................................................................................................... 39

6.2 – VACAS .................................................................................................................................................... 41

6.3 - NOVILHAS PARA REPOSIÇÃO ............................................................................................................. 43

7 – CHEGOU A HORA DE DIVIDIR A PASTAGEM ........................................................................ 45

7.1 – PLANEJANDO OS PIQUETES .............................................................................................................. 48

7.2 - QUANTIDADE DE PIQUETES .............................................................................................................. 51

7.3 - ÁREA SOCIAL ........................................................................................................................................ 53

8 - PLANO DE PASTOREIO: O COTIDIANO NAS FAZENDAS .................................................... 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 58

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 59

CONECTE-SE COM A GENTE .......................................................................................................... 61

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SOBRE MIM

Meu pai, Humberto Sorio, divulga e defende a utilização racional de

pastagens, através do Pastoreio Voisin, desde a década de 1960, quando isso

poderia até parecer loucura.

Cresci vendo seus acertos e dificuldades na busca pela tropicalização de

um método que nasceu na Europa e se espalhou pelo mundo. O conceito de

Área Social para os bovinos e a popularização da cerca elétrica estão entre os

exemplos dessa adaptação e difusão de tecnologias, que hoje parecem tão

banais, mas foram sempre precedidas de muito trabalho de demonstração de

eficiência a pecuaristas de toda a América Latina.

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Estudei agronomia e tive a maravilhosa oportunidade de estagiar desde

o primeiro dia na empresa de meu pai, fazendo trabalhos operacionais no

campo, botando a mão na massa mesmo. Depois, com o aumento de meus

conhecimentos e habilidades fui aprendendo tudo que era possível sobre

planejamento pecuário e manejo de pastos, com ele, seus sócios e demais

consultores da empresa.

Como grande parte dos jovens, eu quis seguir meu caminho,

independente e criei a SORIO Assessoria Empresarial Rural em 1999. Desde

o início tivemos a meta de trabalhar nos mais diversos ecossistemas de

pastagem. Hoje temos experiências exitosas com fazendas desde o Semiárido

– com chuvas de 500 mm ao ano – até a Amazônia Ocidental – onde chove

mais de 3 mil mm anuais.

Com o tempo, alcançamos resultados dos quais nos orgulhamos:

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Contamos com um grupo de profissionais com sólida experiência de

campo. Isso permite implantar e conduzir, de forma rápida e eficaz, sistemas

de produção viáveis e lucrativos, baseados na pecuária intensiva agroecológica.

Temos forte compromisso com o pecuarista, nosso cliente, e por isso

mantemos a tradição de entregar recomendações de confiança, independentes,

e sintonizadas com a real necessidade da propriedade.

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INTRODUÇÃO

Conciliar os interesses do pasto e do animal que pasta é fazer manejo

de pastagens. Há muita ciência por trás, mas também um pouco de arte. Por

isso, deve aliar conhecimentos técnicos e científicos com capacidade de

observação por parte de vaqueiros e pecuaristas.

O grande objetivo de manejar os pastos é permitir aos animais a

utilização eficiente da forragem produzida sem que se comprometa a

sustentabilidade e a perenidade da pastagem. Ao final, o resultado deve ser o

aumento da produção de carne e leite e, claro, da rentabilidade da propriedade

rural.

O manejo correto dos pastos traz diversos benefícios à pecuária e à

sociedade. Entre eles, o aumento da quantidade de animais mantidos na

propriedade, maior controle sobre o fornecimento de pasto, menor custo de

alimentação do gado, perenização dos pastos e diminuição da emissão de

gases do efeito estufa.

Os principais conceitos do manejo de pastagem em regiões tropicais

são apresentados nesta obra, de maneira direta e descomplicada. Nosso

objetivo é ampliar o conhecimento do leitor sobre as técnicas de utilização do

pasto e ajudar a melhorar o desempenho econômico da pecuária.


1

Importância do

Manejo Adequado

dos Pastos
As plantas e os animais têm requerimentos conflitantes (10). O bovino

precisa de pasto para crescer e produzir e para isso irá cortar a gramínea, que

sofrerá o impacto de perder suas folhas e sua capacidade de realizar

fotossíntese, neste processo.

Se a importância econômica do pasto é sua função de alimentar os

ruminantes, não se esqueça que os animais exercem profunda ação sobre o

pasto do qual se alimentam.

Por isso, medidas de manejo são tomadas para equilibrar este processo,

de maneira que animal e planta tenham suas necessidades atendidas e a

fazenda se mantenha produtiva.

Ao manejar corretamente o pasto alcança-se 4 objetivos fundamentais

(11; 15):

1. Produzir a máxima quantidade de forragem de qualidade por hectare;

2. Propiciar que a maior quantidade possível do alimento produzido

chegue ao trato digestório do animal;

3. Obter o menor custo possível por quilograma de forragem produzida;

4. Manter a perenidade produtiva das pastagens.

Utilizar o pasto de maneira extensiva destrói as gramíneas, tornando a

pastagem rala e cheia de plantas indesejáveis. Desfolha frequente, predatória e

intensa das plantas forrageiras, como ocorre no pastejo contínuo, resulta em

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redução progressiva na produtividade e determinam a degradação da pastagem

(8; 9).

O pecuarista deve tomar a direção do manejo e gerenciar o

crescimento, a colheita e a conversão do pasto.

O que é um piquete?

Área cercada, de tamanho reduzido, onde os animais permanecem pouco tempo.

É a base estrutural do manejo racional dos pastos.

Dividir a área em piquetes é o primeiro passo para tornar mais

uniforme o pastejo e melhorar a colheita de pasto pelos animais. Com isso,

será possível, simultaneamente:

1. Descansar os pastos de forma rotineira;

2. Observar o crescimento da oferta forrageira;

3. Tornar mais uniforme o pastejo;

4. Controlar o consumo de pasto pelos bovinos;

5. Equilibrar o máximo desempenho por animal e por hectare.

O que é um lote?

Grupo de animais, de categoria homogênea, que ocupa um grupo de piquetes.

Exemplo: lote de vacas paridas; lote de garrotes; etc.

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10
Quanto mais piquetes existirem para cada lote, mais fácil será seu

manejo e melhores resultados serão obtidos no pasto e nos animais. Para fins

de recomendação geral, sugerimos que cada lote de animais ocupe um módulo

de rotação com pelo menos 16 piquetes.

O que é um módulo?

Cada lote de animais deve ter seu próprio grupamento de piquetes, onde será feita a

rotação de pastos. Esse grupamento chamamos Módulo.

A divisão da área em piquetes relativamente pequenos possibilita que o

pasto seja bem manejado, com um piquete sendo utilizado pelos animais

enquanto os demais ficam em repouso.

ANOTE

Não há número máximo de piquetes, quanto mais o/a pecuarista puder construir, melhor

será o manejo de seus pastos.

Desta forma, o manejo do pasto é o ponto de partida para qualquer

intervenção antes que outro tipo de mudança deva ser considerado. Esse fato

não quer dizer que práticas como correção do solo, adubação e irrigação não

sejam desejáveis. Significa apenas que, numa escala de prioridades, todo

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processo de intensificação da produção deve passar primeiro pela colheita

bem feita da forragem produzida (3).

Qual a finalidade do manejo de pasto?

Alcançar a maior quantidade de animais alimentados por um capim de boa qualidade.

Tudo sem comprometer a perenidade produtiva pastagem ao longo dos anos.

Em resumo, a pecuária necessita em seu alicerce uma abundância de

forragens, de forma a garantir de modo sustentável a alimentação dos animais

e isso se constitui o embasamento sobre o qual se constrói a produção

pecuária (5).

De sua importância em todo o processo da pecuária em regiões

tropicais vem a necessidade de que se conheça a planta forrageira – em seus

aspectos externos e internos – e sua interação com o clima, solo e relevo.

Afinal capacidade de produção de pasto em cada propriedade está ligada

diretamente ao ambiente onde está localizada e às práticas de manejo

adotadas.

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Por isso, a utilização racional dos pastos proporciona muitas vantagens

àqueles que querem ser efetivos na administração da forragem fornecida aos

bovinos:

1. Aumenta a quantidade de animais que é possível manter na fazenda;

2. Evita a degradação das pastagens;

3. Permite controlar a quantidade de pasto ofertada aos animais;

4. Preserva a pastagem das perdas por excesso de pisoteio;

5. Ajuda a diminuir a seletividade dos bovinos;

6. Permite que se implante e monitore uma rotina de visitas

obrigatórias dos vaqueiros aos animais e ao pasto;

7. Amansa o gado.

Piquete recém pastejado (à esquerda) e o contraste com o piquete ocupado pelos bovinos,

em Tocantins.

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2

Pastoreio

Racional

Voisin
Pastoreio racional é, também, manejo ecológico, e isso implica dizer

que é o manejo concomitante do solo, da planta e do animal. Não é nem a

exploração dos três nem o sacrifício de um. Por esse juízo entende-se que

simultaneamente é preciso melhorar o valor nutritivo da forragem, aumentar a

carga animal e incrementar o desempenho dos animais (7).

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15
Coube ao cientista francês André Voisin (16; 17) organizar os princípios

para o manejo racional do pasto e dos animais. Ele estabeleceu uma técnica

baseada no que chamou de Quatro Leis Universais do Pastoreio Racional.

Em sua homenagem, também chamamos de Leis do Pastoreio Voisin. São 2

leis destinadas ao pasto e mais 2 leis destinadas aos animais. Resumidamente,

as leis do pastoreio racional são apresentadas em seguida.

ATENÇÃO

Pastejo não é o mesmo que Pastoreio!

O bovino pasteja, colhe o pasto com a boca. É um ato fisiológico, necessário para a

alimentação dos ruminantes.

Já pastoreio é o ato de guiar o pastejo dos animais. É um ato humano e racional.

1ª Lei - Lei do repouso

Ao pasto deve ser concedido um tempo de repouso que permita à

planta acumular reservas orgânicas, de modo que possa rebrotar novamente

de forma vigorosa, após o pastejo e antes da próxima ocupação do piquete

(16).

Não se administra pastagens, sob nenhuma hipótese, sem se dar a

máxima atenção aos tempos de repouso. E o tempo de repouso necessário

para a recuperação da forrageira é influenciado diretamente pelo clima. Nas

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épocas mais quentes e chuvosas ocorre um crescimento do pasto mais

acelerado. Enquanto isso, nas épocas secas a recuperação das gramíneas é

mais demorada.

Como consequência, para atender à 1ª Lei, os períodos de descanso

devem ser baseados no crescimento da planta. Nas chuvas, o pasto pode

descansar pouco e já ficar em condições adequadas de pastejo. Na seca, é

necessário aumentar o período de descanso, dando oportunidade para o pasto

se recuperar.

2ª Lei - Lei da ocupação

Deve-se evitar que o ruminante corte o pasto mais de uma vez dentro

do mesmo período de ocupação do piquete (16).

Por esse motivo é que a construção de grande número de piquetes

possibilita que se consiga menor tempo de ocupação de cada um deles. Isso

evita que os animais comam o início da rebrota do pasto e debilitem suas

reservas.

A velocidade de rebrota do pasto é maior durante as épocas chuvosas.

Assim, os bois que ficam muito tempo numa mesma área provocarão mais

danos ao pasto na época das chuvas do que na época seca, quando a

velocidade de crescimento das plantas é menor.

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3ª Lei - Lei da ajuda

O rebanho deve ser separado em categorias animais, conforme a

necessidade nutricional de cada uma delas (16).

Para complementar a 3ª Lei, deve-se dar atenção à altura do pasto. A

faixa ótima de altura de pastejo, do ponto de vista do bovino, se situa entre 12

e 30 cm de altura. Um pasto muito alto é de difícil pastejo, assim como um

pasto muito baixo.

Para se obter máximo desempenho, os animais devem ser trocados para

outro piquete antes que seja atingida a altura mínima crítica que dificulta o

pastejo (1). No entanto, na seca, com menor oferta de pasto e necessidade de

economia de forragem, esse manejo só se realiza na prática com os lotes de

terminação ou com vacas leiteiras em pico de produção.

4ª Lei - Lei dos Rendimentos Regulares

Aos animais deve ser fornecida, todos os dias, uma quantidade similar

de forragem, de forma que haja regularidade em seu desempenho. A

quantidade de pasto ingerida é influenciada diretamente pelo tempo em que os

animais permanecem no piquete (16).

Quanto mais tempo o lote fica em um mesmo piquete, menor será a

ingestão voluntária de pasto, e não é difícil de entender os porquês:

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No período inicial de pastejo o consumo é alto, pois os animais colhem

o pasto com facilidade. Conforme a pastagem fica mais baixa, os bovinos

necessitam dar mais bocadas por minuto para manter o consumo. Essa

compensação tem limites, e a partir de 10 cm os bovinos não conseguem

manter o ritmo inicial de consumo (4). Existe nítida correlação entre a altura

do pasto e a disposição de pastar por parte dos animais (15).

A isso se soma a quantidade de esterco e urina que vão sendo

espalhados pela área e as perdas por pisoteio. Desta forma, ocorre uma

diminuição natural do apetite por ingerir mais pasto. Essas características vão

se agravando quanto maior o tempo de ocupação, o que vai diminuindo ainda

mais a ingestão de pasto pelos animais.

ANOTE

Um princípio geral rege as 4 leis: deve-se ajudar o pasto em seu crescimento e, ao mesmo

tempo, dirigir os animais no momento de consumo do pasto.

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3

Pastagens

em Regiões

Tropicais
Os pastos tropicais apresentam um comportamento em comum,

independente da espécie - crescimento rápido nas épocas chuvosas e

crescimento lento durante a seca. Algumas espécies podem apresentar até

mesmo crescimento nulo no auge da seca - agosto/setembro no Brasil Central

ou dezembro/janeiro no Semiárido Nordestino.

Portanto, não adianta conhecer somente a produção anual de matéria

seca dos pastos. Para uma utilização correta dessa informação é importante

que se saiba também como se dá a distribuição do crescimento dos pastos e

os eventuais desequilíbrios na oferta de forragem ao longo do ano.

No período seco da maior parte do Brasil pecuário ocorrem 3

características climáticas que prejudicam o crescimento das plantas forrageiras:

1. Estiagem, com 5 a 7 meses de pouca ou nenhuma chuva.

Umidade do solo é o fator isolado mais poderoso de crescimento


dos pastos.

2. Temperaturas mais baixas, com ocorrência de geada em alguns

lugares.

Os pastos tropicais crescem melhor em temperaturas entre 25 e 30 °C.

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3. Menor luminosidade, pois os dias são mais curtos e pode haver

nuvens, mesmo sem chover.

A luminosidade influencia a fotossíntese que é a principal reação que


determina se haverá crescimento de folhas ou não.

Essa variação da oferta de pasto provocada pelo clima é um desafio

efetivo para quem quer produzir animais a pasto com eficiência e

rentabilidade.

Um exemplo: Rebanho de 120 vacas no sul de Goiás, comendo

Decumbens. Suas necessidades nutricionais irão variar de acordo com o

estágio de prenhez e parição do lote – vaca parida precisa de mais comida que

a vaca solteira. Mas a oferta de pasto irá variar de acordo com a época de

chuvas e de seca. Isto é, as variações de oferta e demanda não ocorrem devido

às mesmas causas e nem no mesmo momento.

Logo abaixo, no GRÁFICO 1, é possível visualizar esta situação típica

que ocorre na oferta de pastagem ao longo do ano no Brasil Central.

Nessa fazenda em Mato Grosso do Sul, onde fizemos as amostragens

para o gráfico, a oferta forrageira no mês de abril é quatro vezes maior do que

no mês de setembro. Em cada sub-região do Brasil situações como esta se

repetem, naturalmente variando conforme o regime de chuvas daquele local.

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GRÁFICO 1 – Oferta mensal de Braquiarão (média de 2006 a 2016)
Sul de Mato Grosso do Sul
Em kg de matéria seca por hectare

Fonte: Sorio Assessoria, relatórios de campo, 2017

Outro fator que se deve levar em conta é que mesmo na comparação

entre as espécies de gramíneas também ocorrem variações na oferta em cada

período do ano. Os pastos mais produtivos costumam ser também aqueles

que apresentam maior diferença entre a oferta da época chuvosa e da época

seca.

De forma prática, os capins do gênero Panicum (Aruana, Massai,

Mombaça, Tanzânia e outros) concentram 70% de sua produção anual de

matéria seca nos 6 meses mais chuvosos. Os pastos dos gêneros Brachiaria

(Braquiarão, Decumbens, Humidícola e outros) e Cynodon (Estrela, Tifton e

outros) apresentam distribuição um pouco melhor, crescendo cerca de 60%

do total durante a estação chuvosa.

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3.1 - Gramíneas

Existem diversas espécies e variedades de gramíneas tropicais utilizadas

para bovinos. Estão espalhadas por quase todo o Brasil, do Paraná à Roraima,

do Acre à Paraíba. Na TABELA 1 apresentamos as principais:

TABELA 1 – Principais gramíneas cultivadas utilizadas no Brasil.

Em terrenos sujeitos a encharcamento periódico são muito comuns:

Canarana; Capim-Angola; Setária; Tanner-Grass; e Tangola.

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Alguns pastos que foram plantados no passado continuam presentes

em diversas sub-regiões, mas aos poucos vão perdendo importância, pois

espécies e variedades mais modernas ocupam seu espaço.

Merecem ser citados por ainda ocuparem áreas significativas nas regiões

tradicionais de pecuária (em ordem alfabética): Capim-Gordura; Colonião;

Pangola; Pangolão; Sempre-Verde e Tanzânia.

Outras espécies são plantadas em pequenas áreas irrigadas,

especialmente Tifton, para cavalos, e Capim-Elefante para pastejo direto de

vacas leiteiras.

No entanto, não é arriscado dizer que mais que 90% da área de

pastagens plantadas no Brasil é composta dos capins descritos ali em cima, na

TABELA 1.

Capim Buffel, em Alagoas.

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É importante lembrar que, normalmente, as gramíneas menos exigentes

em termos de fertilidade de solo são também as menos produtivas e as mais

resistentes, apesar de apresentarem a menor qualidade nutricional.

Do ponto de vista de manejo, deve-se ter em mente que Andropogon,

Decumbens, Humidícola e Tifton toleram pastejos mais rasos do que

Braquiarão, Mombaça, Tanzânia e Xaraés.

Braquiarão variedade Piatã, no Acre.

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3.2 - Leguminosas

A introdução de leguminosas, em consorciação com o capim, traz

diversos benefícios para o sistema solo – planta - animal.

Leguminosas apresentam teor de proteína em suas folhas bem

superiores aos da gramínea. Por isso, pastagens consorciadas com leguminosas

são mais nutritivas, principalmente na estação seca.

Mas, principalmente, pastagens consorciadas são mais produtivas, pois

as leguminosas fornecem nitrogênio para o solo, estimulando o crescimento

das gramíneas através de uma adubação natural.

Na TABELA 2 estão resumidas as principais leguminosas tropicais

utilizadas no Brasil.

TABELA 2 - Principais leguminosas utilizadas no Brasil.

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Merecem ser citadas, por seu potencial: Algaroba, Gliricídia, Java e

Puerária. As duas primeiras são de porte arbustivo e as duas últimas são

rasteiras.

Então, quando se introduz leguminosas em consorciação com o capim,

existem 2 ganhos perceptíveis:

1) Influência sobre a nutrição dos animais

Em relação às gramíneas, as leguminosas têm teor de proteína mais alto

e menor presença de fibras não-digeríveis. Para melhorar, a tendência dos

bovinos é consumirem mais as leguminosas durante a estação seca, quando o

capim perde muito de seu valor nutritivo. Assim, a dieta que os animais

conseguem obter quando pastejam simultaneamente gramíneas e leguminosas

fica mais rica e equilibrada

2) Influência sobre a produção de capim

Sem nitrogênio não existe produção de pasto. As bactérias que vivem

em simbiose nas raízes das leguminosas têm capacidade de fixar o nitrogênio

atmosférico, trazendo às gramíneas este nutriente tão importante e tão caro.

Esta é a maneira mais econômica de suprir o pasto com este nutriente. A

quantidade de nitrogênio que as leguminosas podem fornecer ao pasto é

significativa, e pode ser vista na TABELA 2, lá em cima.

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Para entender melhor o que significa essa economia que as leguminosas

proporcionam é só transformar a quantidade fixada em adubo comercial.

Por exemplo, o estilosantes pode fixar de 60 a 150 kg de nitrogênio, o

que equivale a uma adubação grátis de 132 a 330 kg de ureia todos os anos!

Leguminosa Estilosantes consorciada com Braquiarão variedade Xaraés, em Goiás.

Diversos pecuaristas afirmam, e podemos comprovar, que muitas

leguminosas nativas costumam reaparecer nas áreas sob rotação. De qualquer

maneira, somente o produtor que praticar um manejo adequado, conforme

preconizado neste livro, conseguirá desfrutar do benefício permanente da

consorciação de gramíneas e leguminosas.

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4

Definir o Tempo

de Repouso

da Pastagem

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A característica mais marcante do Pastoreio Voisin é a variação do

tempo de repouso do pasto de acordo com a velocidade de recuperação da

planta.

Assim, na época chuvosa e quente os tempos de repouso devem ser

menores do que na estação seca, pois o pasto se recupera muito mais rápido

após o pastejo. Quando se entende esta característica dos pastos e se aplica ao

manejo da propriedade, estão sendo atendidos os preceitos da 1ª Lei, a do

Descanso.

Como resultado, a produção de forragem aumenta e a quantidade de

gado na propriedade também.

ANOTE

Se você quiser o máximo resultado NUNCA utilize tempo fixo de descanso da pastagem.

Os períodos de descanso devem ser baseados na observação do

crescimento da planta e na quantidade de pasto disponível. Sob condições de

estresse nas plantas, como na seca, é necessário aumentar o período de

descanso. Se as condições ambientais forem favoráveis, então poderá ser

utilizado um tempo de descanso menor (6).

Tabelas e recomendações generalistas, com base em número fixo de

dias de intervalo entre pastejos, geram resultados menores do que seria

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possível pelo potencial produtivo das espécies tropicais, especialmente as do

gênero Brachiaria e Panicum (2).

Na TABELA 3 pode-se visualizar uma indicação para as condições do

Brasil tropical, levando em conta clima e pastagens aqui plantadas:

TABELA 3 – Tempo sugerido de repouso para o pasto

Fonte: Sorio Junior, 2003 adaptado pelos autores

Não consideramos o ideal, mas é possível utilizar as informações

simplificadas da TABELA 4, no início da transição para o manejo racional dos

pastos, enquanto o pecuarista e sua equipe estão ainda na fase de

aprendizagem:

TABELA 4 – Tempo sugerido de repouso para o pasto – simplificado

Fonte: Sorio Junior, 2003 adaptado pelos autores

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Seguindo essas orientações o pasto terá tempo de recuperar tanto suas

folhas - alimento do gado - quanto a parte subterrânea, que é a principal

responsável pela acumulação da energia que será usada quando a planta for

desfolhada novamente.

ANOTE

Os animais não devem voltar ao piquete até que o pasto se recupere.

Gado entrando em piquete de Braquiarão variedade Marandu, em Goiás.

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5

Definir o Momento

da Troca do

Piquete
Quando a planta é consumida pelo gado, necessita de energia para a

produção de nova brotação. Essa energia é proveniente de 2 fontes: de suas

reservas e da fotossíntese realizada pelas folhas remanescentes.

A planta necessita de mais reservas orgânicas quando há pouca área

foliar remanescente ou quando as folhas forem de baixa eficiência

fotossintética, estando velhas ou secas.

Utilizando suas reservas as folhas que restaram começam a rebrotar e

também aparecem novas folhas. É um processo relativamente lento, pois a

planta precisa mobilizar suas energias e conta com poucas folhas para fazer

fotossíntese.

ANOTE

Se o gado consumir a rebrota do pasto logo após o corte a planta enfraquecerá, pois terá

que mobilizar mais reservas para seguir rebrotando. Isso pode levar ao esgotamento da

gramínea e à degradação do pasto.

Resultados de pesquisa e observações práticas têm mostrado que

desfolhas frequentes e intensas de plantas forrageiras, sem descanso

adequado, resultam em redução progressiva na produtividade da pastagem.

Basicamente, isto acontece pela diminuição da capacidade do restabelecimento

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dos níveis originais de reservas orgânicas, que são o motor da rebrota das

plantas.

Por estes motivos, é preferível que a ocupação de um piquete seja curta

e é sobre isso que versa a 2ª Lei, a da Ocupação.

Do ponto de vista do gado, a permanência durante muito tempo em

um piquete diminui seu consumo de pasto e seu desempenho produtivo,

mesmo havendo disponibilidade aparente de comida. Então, ocupação do

piquete por pouco tempo também permite o cumprimento da 4ª Lei, a dos

Rendimentos Regulares.

Assim, a decisão do momento de tirar o gado de um piquete e levá-lo a

outro deve ser baseada em:

1. oferta disponível de pasto;

2. necessidade de forragem pelo lote que utiliza o piquete naquele

momento;

3. quantidade de piquetes disponíveis para o lote.

De qualquer forma, tudo isso deve estar conectado com a

recomendação de se proporcionar ao pasto descanso suficiente para recompor

suas reservas e para crescer suas folhas.

De forma prática, o tempo de ocupação de um piquete pode variar de

12 horas a 10 dias, de acordo com o tamanho e com os objetivos da

propriedade.

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ANOTE

Quem troca de piquetes com maior frequência alcança resultados melhores, tanto de

produção de pasto quanto de desempenho animal.

As trocas de piquetes podem ser mais frequentes na época de

crescimento mais acelerado do pasto, que coincide com meses em que há

chuva.

Quanto mais atenção se der ao tempo correto de retirada dos animais

do piquete e ao descanso do pasto, melhores serão os resultados de oferta de

forragem ao longo do ano.

Se há mais pasto, pode-se manter mais animais na propriedade, com

melhor condição de alimentação.

Piquete de Mombaça no ponto para o gado sair, no Rio Grande do Norte.

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6

Características dos

Bovinos que Determinam

a Necessidade de Pasto
Seria muito mais fácil se os animais tivessem requerimentos nutricionais

semelhantes em qualquer época do ano. Mas isso não ocorre, então é

importante entender fatos e momentos na vida do bovino que interferem na

necessidade de forragem, como forma de atender à 3ª Lei, a da Ajuda.

Por exemplo: um garrote em recria/engorda modifica sua necessidade

alimentar em função da variação de peso vivo. Já para uma vaca adulta em

reprodução as variações na necessidade de forragem ao longo do ano são

provocadas, basicamente, pelos diversos estágios da gestação e da lactação.

A seguir serão apresentadas as características mais importantes dos

bovinos que conduzem a um manejo prático, mas ao mesmo tempo eficiente.

6.1 – Bois e Garrotes

Os animais em recria e engorda costuma receber bastante atenção, pois

significam, na maior parte das propriedades, a receita que será auferida com a

bovinocultura.

Assim, aos machos em recria/engorda sempre são destinados os

melhores pastos, com a intenção de se reduzir o tempo que leva da desmama

ao abate. Justamente por isto, são estes animais que costumam receber

suplementação alimentar, seja na forma de volumoso, seja na forma de

concentrado.

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Lote de garrotes cruzados, no Tocantins.

No caso do Pastoreio Voisin, onde se busca a manutenção de grande

quantidade de animais em áreas menores, busca-se limitar a seletividade do

pasto pelos animais, sem descuidar do ganho de peso.

Como se alcança isso? Simples! Utilizando alta carga instantânea –

levando os animais a consumir todo o pasto disponível - combinada com

trocas frequentes de piquete - fornecendo pasto descansado e com a melhor

qualidade possível aos animais.

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O que é carga instantânea?

É a relação entre quantidade de animais e área ocupada naquele momento.

Exemplo: Lote de 100 garrotes de 300 kg de peso vivo

Ocupando módulo de 80 hectares, dividido em 32 piquetes de 2,5 hectares.

(100 garrotes x 300 kg por cabeça)/2,5 hectares

Resultado: Carga instantânea = 12.000 kg/hectare.

6.2 – Vacas

Não se deve deixar em segundo plano a nutrição das fêmeas do

rebanho, sob pena de se deparar com índices de prenhez e parição baixos,

com consequências diretas na rentabilidade da pecuária de cria.

As vacas devem receber atenção especial nessa questão nutricional,

afinal elas são responsáveis pela produção dos bezerros. A gestação de 40

semanas de duração e a produção de leite são fatores que interferem de

maneira significativa na necessidade de pasto pela fêmea ao longo do ano.

Grande parte da escassez de bezerros que assombra a pecuária

brasileira é oriunda do descuido com a alimentação das vacas e novilhas.

Por isso, é importante entender como varia a necessidade das vacas mês

a mês, influenciada, especialmente, pelo estágio de prenhez e parição em que

se encontra.

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Durante os 6 primeiros meses de gestação a vaca prenhe tem necessidade

nutricional semelhante à uma vaca vazia. Isso quer dizer que alguma restrição

alimentar sofrida nessa fase não influi no desenvolvimento do feto. No

período de simples manutenção, as fêmeas podem tolerar o consumo de pasto

de baixa qualidade, mais fibroso, sem interferir no desempenho geral do

rebanho.

Em seguida, nos últimos 3 meses antes do parto a vaca aumenta em 30%

sua necessidade de pasto. É fundamental que na fase final da gestação a fêmea

receba alimentação adequada para que o feto se desenvolva e ocorra o

nascimento de um bezerro forte, com grande chance de sobrevivência.

Lote de vacas solteiras, no Acre.

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O crescimento dos bezerros durante as 8 primeiras semanas de vida é

determinado basicamente pela quantidade de leite produzido por sua mãe.

Bezerros que recebem aleitamento adequado apresentam crescimento

acelerado, com influência inclusive no período pós-desmama. Por isso,

durante a lactação, as vacas devem receber alimento abundante, para

garantirem sua produção de leite.

Atenção especial deve ser dada à vaca de primeira cria, chamada

primípara, que deve receber forragem em quantidade e qualidade superiores,

pois além da gestação ainda necessita completar seu próprio desenvolvimento.

6.3 - Novilhas para Reposição

Da mesma forma, as novilhas - que serão as vacas do futuro - não

podem ser negligenciadas na alimentação. Quanto mais rápido elas crescerem,

menor será a idade à primeira prenhez, que é um fator de impacto importante

na economia de um rebanho.

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Lote de novilhas de recria, em Mato Grosso do Sul.

As novilhas que estiverem com maior peso no momento da primeira

monta apresentarão vida reprodutiva mais longa. Da mesma forma, novilhas

bem alimentadas costumam antecipar a puberdade, e ficam prontas para

emprenhar mais cedo.

A recomendação geral é que novilhas de corte não sejam expostas aos

touros antes de atingir 280 kg. Algumas novilhas cruzadas com raças

europeias de grande porte, como Simenthal e Charolês, devem ter peso

mínimo de 300 kg à primeira monta.

Para isso, sugere-se que as novilhas sejam manejadas seguindo regras

parecidas com as que se utiliza para a recria de bezerros e garrotes. Isto é,

destinando a esta categoria pastos que permitam a aceleração do ganho de

peso.

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7

Chegou a Hora

de Dividir

a Pastagem
Quem guia seu manejo pelas Quatro Leis do Manejo Racional

necessita dividir sua pastagem em piquetes, de forma que seja possível que se

alterne longos tempos de descanso e curto tempo de ocupação pelo gado.

Qualquer divisão que se faça irá representar um avanço em relação ao

pastoreio contínuo. Mas não necessariamente irá trazer o melhor resultado

possível senão forem levadas em conta algumas premissas na hora de planejar

a divisão do pasto.

Garrotes e novilhas podem ser manejados em lotes relativamente

grandes e, portanto, os piquetes para estas categorias podem ser maiores. Já

para bois próximos ao abate é mais prudente que se utilize lotes pequenos,

mais homogêneos, para evitar excesso de brigas. Assim, indicamos que os

piquetes para estes animais sejam menores.

Por sua vez, as vacas de cria toleram lotes grandes de animais, e isso

quer dizer que se pode manejá-las com piquetes maiores. Esta mesma

categoria também não necessita de grande desempenho, então é possível

cogitar a utilização de dias mais espaçados para a troca de piquetes, que é

outro fator que permite a construção de piquetes maiores.

Na situação oposta se encontram as vacas leiteiras. Esta categoria

animal precisa da melhor alimentação que o pasto possa proporcionar. E isto

só se obtém com o fornecimento frequente de pasto novo e descansado.

Sugerimos que após cada ordenha seja oferecido um piquete novo às vacas em

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lactação, o que leva à necessidade de módulos com muitos piquetes, de

tamanho reduzido.

Em uma mesma propriedade, pela diversidade de categorias animais,

podem coexistir diversos tamanhos de piquetes, dependendo da finalidade a

que o módulo se destina. Não existe regra fixa, mas normalmente

propriedades de grande porte comporta lotes e piquetes maiores.

Propriedades menores, que necessitam do máximo de eficiência de pastejo

para melhorar seus índices econômicos, devem optar por piquetes menores,

que possibilitem movimentação mais frequente dos bovinos para pastos

descansados (13).

A construção de cercas, naturalmente, é a forma que se utiliza para

conseguir alcançar a quantidade adequada de piquetes em determinada área.

Neste particular, as cercas elétricas constituem a alternativa de menor

investimento para a divisão de área. São mais baratas e mais rápidas de

construir que a cerca convencional. Utilizam menos arame e menos madeira e,

por isso, são mais fáceis de se manter.

Claro que é necessária atenção para a instalação e funcionamento do

equipamento eletrificador, garantido que o choque chegue até o piquete onde

o gado esteja naquele dia. Mesmo isso é algo relativamente simples e que,

rapidamente, passa a fazer parte da rotina da fazenda desde que seja dada

atenção ao treinamento dos vaqueiros.

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Detalhe de colchete de cerca elétrica de 3 fios com manoplas, no Tocantins

7.1 – Planejando os Piquetes

A divisão da área em piquetes pequenos possibilita que o pasto seja

bem manejado, com um piquete sendo utilizado pelos animais e os demais em

crescimento, sem gado em cima - repousando após o pastejo.

Como o gado não tem acesso à toda a pastagem ao mesmo tempo, as

plantas têm tempo de se recuperar, armazenando energia para o próximo ciclo

de crescimento.

Antes de colocar a divisão no campo, deve-se obter o mapa detalhado

do pasto a ser dividido. Nele, localize o ponto de água para o gado.

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Se for aguada natural, possivelmente estará localizada em um dos

cantos do pasto. Neste caso, o projeto usará corredores para dar acesso dos

piquetes à água. Muita atenção para que a aguada não fique a mais de 500

metros da saída do piquete.

Exemplo de divisão com utilização de aguada natural. Módulo de 16 piquetes, com 2 Áreas

Sociais, em Tocantins.

Se o pasto não tiver água, a solução é colocar bebedouro encanado e

nesse caso, claro, a preferência é por construí-lo no centro do pasto. Nesse

caso será mais fácil projetar a divisão, pois a caminhada do gado ficará menor.

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Exemplo de divisão: 4 módulos de 16 piquetes e 2 Áreas Sociais cada, em Mato Grosso.

Resolvida a água, escolhe-se uma cerca convencional existente como

referência e a partir dela projeta-se as cercas que serão construídas, partindo

em ângulo de 90 graus, com o cuidado de não projetar piquetes que sejam

muito compridos e estreitos.

ANOTE

Para evitar custos desnecessários se esforce para utilizar as cercas já existentes em seu

projeto de divisão de pasto.

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7.2 - Quantidade de piquetes

Cada lote de animais deve ter um módulo à sua disposição, dividido em

vários piquetes, permitindo a rotação dos pastos.

Não há número máximo de piquetes. Quanto maior for o número de

divisões construídas na propriedade, melhores serão os resultados do manejo

dos pastos.

No entanto, algumas regras gerais podem ser seguidas: bois em

terminação devem ter mais piquetes do que vacas de corte; assim como vacas

leiteiras em produção devem contar com mais piquetes que as vacas secas.

Recomenda-se pelo menos 8 piquetes por lote de cria; 16 piquetes por

lote de recria ou engorda; e 32 piquetes por lote em lactação.

Quem não quiser seguir a sugestão acima, pode planejar a quantidade

de piquetes levando em conta o tempo de descanso necessário na pior época

do ano.

Assim, a quantidade de piquetes irá variar conforme o tempo de

descanso necessário e o tempo de ocupação planejado. No QUADRO 1 estão

exemplos desse raciocínio.

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QUADRO 1 – Quantidade de piquetes e tempo de descanso
em função do tempo de ocupação.

o:

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7.3 - Área Social

Também pode ser chamada de área de lazer, aguada ou praça.

São raras as propriedades onde se pode planejar água em todos os

piquetes. Desta forma, a construção de uma área comum onde fica a água é a

solução que diminui o investimento no sistema de abastecimento.

Bebedouro em Área Social, na Bahia.

Uma Área Social deve contar com fornecimento de água – natural ou

encanada. Também é o local onde deve ficar o cocho para sal e, se não houver

sombra na pastagem, aqui pode-se formar um bosque ou abrigo artificial.

Recomenda-se 20 m² por animal na Área Social

Exemplo: se o lote tiver 100 cabeças, a área de lazer deverá ter ao

menos 2.000 m², o que significa um quadrado de aproximadamente 45 x 45 m.

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Plano de Pastoreio:

O Cotidiano

nas Fazendas
Plano de Pastoreio é uma ferramenta muito importante e, quase sempre,

negligenciada no dia a dia das propriedades pecuárias.

Apesar de toda a ciência e cuidado com que se busca entender e aplicar o manejo

das pastagens, as informações que devem chegar ao vaqueiro precisam ser de fácil

entendimento.

Uma atividade cotidiana e aparentemente sem complexidade, como o momento

da troca de piquetes, leva em conta um cálculo fundamental – os dias de ocupação dos

piquetes e o tempo necessário naquela época do ano para o capim se recuperar após o

pastejo.

Assim, Plano de Pastoreio é a ordem que chega ao pessoal de campo quanto à

rotina de troca de piquetes de cada lote. É nesse documento que é planejada e

registrada a rotina e frequência de rotação que se deseja aplicar a uma pastagem.

Um Plano de Pastoreio é necessário quando o pecuarista deseja gerenciar

efetivamente o pasto. Desta maneira, o vaqueiro não terá dúvidas de quanto tempo o

lote pode permanecer em cada piquete para alcançar o consumo projetado e atingir as

metas de produção ao final.

No QUADRO 2, é possível ver um Plano de Pastoreio real, utilizado entre os

meses de abril e junho, para garrotes e bois:

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QUADRO 2 – Exemplo prático de Plano de Pastoreio

Note-se a quantidade de informações importantes que ficam registradas num

Plano de Pastoreio:

1. Tempo de ocupação dos piquetes em cada módulo;

2. Os piquetes que estão com menos pasto ou mais pasto que os demais e que,

por isso, devem ter um manejo particular;

3. Tempo de descanso planejado para aquele período.

Tudo isso traduzido de maneira que qualquer vaqueiro consegue entender e

cumprir no campo.

Para garantir que o Plano de Pastoreio seja cumprido pelo vaqueiro e identificar

possíveis falhas de planejamento e/ou execução utiliza-se a Ficha de Controle de

Ocupação. Assim fica registrado o que ocorreu no campo durante o período de

vigência do pasto. A seguir compartilhamos o modelo utilizado por nossa empresa.

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Modelo de Ficha de Controle de Ocupação de Piquetes

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pastagens, a despeito de serem a base de uma pecuária bem sucedida, são

continuamente utilizadas de forma inadequada pelos pecuaristas.

Pouco adianta fazer investimentos de vulto em animais de genética superior, se o

rebanho não tiver alimentação abundante e barata à disposição, como só o pasto é

capaz de fornecer.

O ganho por animal pode aumentar entre 20 e 50% e a produtividade por

hectare pode facilmente dobrar somente com o uso adequado de técnicas de manejo de

pastagem. Isso tudo e ainda manter a perenidade das pastagens ao longo dos anos.

Resumindo: utilizando cercas elétricas como ferramenta e a movimentação do

gado como estratégia, é possível administrar o pasto. Se o manejo for bem conduzido,

este sistema irá produzir mais forragem e os animais terão acesso a um pasto de melhor

qualidade, resultando em uma propriedade mais lucrativa.

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REFERÊNCIAS

1 - BESKOW, W.B. História, estrutura e manejo dos sistemas de produção pastoril da


Nova Zelândia. In: FEDERACITE. As pastagens nativas gaúchas. Porto Alegre:
Ideograf, 2003. p. 91-105. (FEDERACITE XI).

2 - DA SILVA, S.C. Manejo do pastejo para obtenção de forragem de qualidade. In:


SIMPÓSIO GOIANO SOBRE MANEJO E NUTRIÇÃO DE BOVINOS, 8, 2006,
Goiânia, GO. Anais... Goiânia: CBNA, 2006. p. 101-130.

3 - DA SILVA, S.C.; NASCIMENTO JUNIOR, D. Sistema intensivo de produção de


pastagens In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE NUTRIÇÃO ANIMAL,
2, São Paulo, 2006. Anais. São Paulo, CBNA, 2006. cd-rom

4 - HODGSON, J. Grazing management: science into practice. New York: Longman


Scientific & Technical, 1990. 203 p.

5 - MELADO, J. Pastagem ecológica e serviços ambientais da pecuária sustentável.


Revista de política agrícola. Ano XVI, n. 3, jul-set 2008. p.113-117

6 - MURPHY, B. Greener pastures on your side of the fence: better farming with
Voisin management intensive grazing. Colchester: Arriba, 1998. 380 p.

7 - PRIMAVESI, A. M. Manejo ecológico de pastagens. São Paulo: Nobel, 1985. 184 p.

8 - PRIMAVESI, A. M. Manejo ecológico do solo. São Paulo: Nobel, 1990. 549 p.

9 - RODRIGUES, L. R. A ; RODRIGUES, T. J. D. Ecofisiologia de plantas


forrageiras. In: CASTRO, P.R.C.; FERREIRA, S.; YAMANDA, T. (Ed.) et al.
Ecofisiologia da produção agrícola. Piracicaba: Potafós, 1987. 249 p.

10 - SBRISSIA, A. F.; DA SILVA, S. C. O ecossistema de pastagens e a produção


animal. In: MATTOS, W. R. S. (Ed). A Produção Animal na Visão dos Brasileiros.
Piracicaba: SBZ, 2001, p. 731-754.

11 - SMETHAN, M.L. Manejo del pastoreo. In: LANGER, R.H.M (Ed.). Las pasturas
y sus plantas. Montevideo: Hemisferio Sur, 1981. p. 57-103.

12 - SORIO ASSESSORIA. Relatórios de campo, 2017.

13 - SORIO, A. Produtividade versus sustentabilidade nos sistemas de produção de


bovinos: uma visão administrativa sobre o método Voisin. In: Encontro estadual de

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pastagens do Tocantins, 1, 2006, Palmas, TO Anais... Planaltina: Embrapa, 2006. p. 50-
63

14 - SORIO JUNIOR, H. A ciência do atraso: índices de lotação pecuária no Rio


Grande do Sul. Passo Fundo: UPF, 2000. 102 p.

15 - SORIO JUNIOR, H. Pastoreio Voisin: teorias, práticas e vivências. Passo Fundo:


UPF, 2003. 408 p.

16 - VOISIN, A. Productividad de la hierba. Madrid: Tecnos, 1967a. 499 p.

17 - VOISIN, A. Dinámica de los pastos. Madrid: Tecnos, 1967b. 452 p.

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PASTOREIO VOISIN
Guia dos Primeiros Passos

André Sorio

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