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Sérgio Roberto de Medeiros Freire

Presidente do Conselho Deliberativo Estadual

José Ferreira de Melo Neto


Diretor Superintendente

João Hélio Costa da Cunha Cavalcanti Júnior


Diretor Técnico

Murilo Diniz
Diretor de Administração e Finanças

Vamberto Torres de Almeida


Gestor do APRISCO Nordeste-RN

Idalécio Pinheiro de Figueiredo


Presidente

Valéria Maria Ferreira da Cruz


Diretora

Alexandre de Medeiros Wanderley


Engenheiro Agrônomo

Amanda Valéria Ferreira da Cruz Albuquerque


Zootecnista

Klênio Fabrício Vieira Albuquerque


Zootecnista

Leonardo Pereira dos Santos


Médico Veterinário

Lajes – RN, maio de 2009


APRESENTAÇÃO

As atividades ligadas ao meio rural são notadamente revestidas de grande tradição. No entanto, nos últimos
anos a agropecuária brasileira tem apresentado significativo crescimento na produção e na produtividade
através da adoção de inovações tecnológicas.

Nesse sentido, para que a tradicional caprinovinocultura praticada na Região do Sertão Central Cabugi, no
Estado do Rio Grande do Norte, tivesse acesso a um número cada vez maior de informações e inovações
tecnológicas, foi criada pela Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Sertão do Cabugi – ACOSC a
Incubadora de Empresas do Agronegócio da Caprinovinocultura do Sertão do Cabugi – INEAGRO-CABUGI, com
o decisivo apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte – SEBRAE-RN
através do Programa SEBRAE-RN de Incubadoras de Empresas, do Projeto do Arranjo Produtivo Local (APL) da
Caprinovinocultura do Cabugi e do Projeto APRISCO Nordeste – RN.

Os desafios são muitos, mas os objetivos vêm sendo gradativamente alcançados e os resultados começam a
aparecer.

Assim, é com grande alegria que apresentamos um desses resultados: a Tecnologia de Produção de Palma
Forrageira Adensada e Irrigada, processo inovador de produção de alimento para os rebanhos caprinos,
ovinos e bovinos no semi-árido nordestino, trabalho desenvolvido pela Empresa SERTÃO VERDADEIRO
Consultoria Agropecuária Ltda., incubada da INEAGRO-CABUGI.

Ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte – SEBRAE-RN nossos
agradecimentos por apoiar mais esta iniciativa. Aos produtores rurais nossa recomendação de que
introduzam a inovação tecnológica em suas propriedades. Aos empreendedores da SERTÃO VERDADEIRO
nossos parabéns pelo trabalho e pela dedicação com que vêm cumprindo a missão que escolheram:
“transformar as consideradas adversidades em eficiência de produção”.

Valéria Maria Ferreira da Cruz


Diretora da INEAGRO-CABUGI
INTRODUÇÃO

Falar da viabilidade da produção agropecuária no semi-árido significa levar em conta seus recursos naturais e
procurar transformar as consideradas adversidades em eficiência de produção.

Há mais de 20 anos estamos experimentando tecnologias, aplicando os ensinamentos das universidades e das
instituições de pesquisa, além dos ensinamentos daqueles que compreendem o verdadeiro papel de cada
elemento natural e a perfeita simbiose entre clima, plantas, animais e gente – os sertanejos.

Na contínua busca por alternativas para assegurar a sustentabilidade e aumentar a rentabilidade econômica
da produção agropecuária na Região do Sertão Central Cabugi, no Rio Grande do Norte, que se constitui numa
das zonas mais desafiadoras do Estado para produção de reserva alimentar para os rebanhos nos longos
períodos de estiagem, encontramos a Tecnologia de Adensamento de Palma Forrageira desenvolvida em
Juazeirinho – PB.1

Introduzimos o cultivo de palma adensada na região, inicialmente sem o uso de irrigação. Durante 02 a 03
anos testamos a posição da raquete durante o plantio e diversos tipos de solos, dos mais argilosos aos mais
arenosos. No entanto, em todas as práticas adotadas a planta sofria muito durante o segundo semestre de
cada ano e para evitar perdas mais drásticas, resolvemos cortar toda a parte superior da planta. Ou seja, na
tentativa de solucionar o problema criamos outro, pois precisando ou não cortávamos a planta. Surgiu daí
duas idéias: fazer farelo de palma e usar água sob a forma de irrigação.

Assim, depois de muitas idas e vindas chegamos à Tecnologia de Produção de Palma Forrageira Adensada e
Irrigada e com ela atingimos um rendimento superior a 600 t / ha (seiscentas toneladas por hectare) no
primeiro ano de cultivo, resultado que apresentamos agora nessa cartilha editada com o apoio do SEBRAE-RN.

1
Projeto Palma – Cadeia Produtiva de Alimentação – Tecnologia de Adensamento. SEBRAE-PE, 2003
PRODUÇÃO PALMA ADENSADA E IRRIGADA
O método ora apresentado para produção de palma consiste num plantio super adensado, com uso de
adubação química e orgânica e com uso de irrigação durante o período de estiagem.

1. SELEÇÃO E PREPARAÇÃO DAS SEMENTES (raquetes)

Escolha raquetes sadias, de preferência as que estejam localizadas no meio da planta, nem muito verde, nem
muito madura. Corte as raquetes na junta, com uma faca bem amolada e limpa. Se as raquetes estiverem
“gordas”, ou seja, com bastante água como é o caso das raquetes colhidas próxima ao final ou no início do
período das chuvas, o ideal é colocá-las para secar, na sombra, por um período de até 15 dias. Porém, na hora
do plantio observar a “cicatrização” do local do corte é mais importante do que a quantidade d’agua da
mesma.

2. ESCOLHA E PREPARAÇÃO DO TERRENO

É importante lembrar que estamos tratando de cultivo de alta intensidade, com projeções para altas
produções, portanto devemos escolher o melhor terreno possível para a implantação desta cultura que é
permanente. A palma cresce bem em diversos tipos de terreno, porém como qualquer outra cultura tem suas
preferências. Após testar o plantio em diversos tipos de solos, dos mais arenosos aos mais argilosos,
concluímos que o terreno ideal deve ser: plano, profundo e arreno-argiloso. Além disso, o produtor deve levar
em conta a distância entre a área de plantio e o centro de manejo de seus animais para reduzir os custos de
produção.

O ideal é aproveitar terrenos já utilizados para outras culturas evitando novos desmatamentos na
propriedade. É fundamental que o terreno seja destocado e fazer o que se segue:

a) Corte da terra: Aração e gradagem – evitar solos compactados. Quanto maior o destorroamento do
solo, melhor será o desenvolvimento das raízes.
b) Distância entre sulcos: Os sulcos, com uma profundidade em torno de 25 cm, para facilitar a adubação,
devem ser abertos com espaçamentos de 1,5 metros ou 2,0 metros, assim teremos populações de
75.000 ou 50.000 plantas por hectare, respectivamente.

Toda área destinada a cultivo deve ser cercada para evitar acesso dos animais. No caso da palma os cuidados
devem ser redobrados, pois no período da estiagem o plantio será um grande atrativo para os animais.

3. ADUBAÇÕES E PLANTIO

As adubações são fundamentais para obtenção dos bons resultados na produção da palma forrageira
adensada. É fácil entender por que: é só comparar uma mesa de seis lugares com seis pessoas para se
alimentarem e a mesma mesa com sessenta pessoas. A quantidade de alimento necessária para alimentar
sessenta é maior.

A adubação de fundação é feita antes do plantio. A adubação geralmente sugerida é de 50 a 150 gramas de
super-fosfato simples (dependendo da analise de solo) por metro linear de sulco, mais 5,0 Kg de esterco,
colocados sobre o solo sempre nesta seqüência.

O plantio deve ser feito, de preferência, de 30 a 60 dias antes do início do período chuvoso, utilizando 10 (dez)
raquetes por metro de sulco. Durante 02 a 03 anos testamos também a posição da raquete e recomendamos
que sejam plantadas de frente para o sol e enterradas 50% com uma inclinação de 45º (plantadores de palma
da Paraíba acham que essa questão não influi na produção, mas nossa avaliação indica que esse cuidado é de
extrema importância para obtenção dos resultados alcançados). Como a distância entre os sulcos é de 1,5 ou
2,0 metros, significa que serão utilizadas 50 mil a 75 mil raquetes por hectare, sem contarmos com as
eventuais perdas.

A adubação de cobertura é feita com esterco bovino, caprino e ou ovino, na proporção de 5,0 kg por metro
linear, no meio das “carreiras” das plantas, durante ou logo após o primeiro corte. Com o objetivo de
aumentarmos ainda mais a produção, poderemos realizar de uma a quatro adubações nitrogenadas por ano
utilizando adubos, tipo uréia, na proporção de 50 gramas por metro linear a cada aplicação. As adubações de
cobertura deverão ser realizadas com intervalo superior a 60 dias, período em que as raquetes se
desenvolvem e se inicia o crescimento da raquete seguinte. Quem determinará uma maior ou menor
adubação será a necessidade do produtor. Num ano com maior produção de outras forrageiras aliada às
práticas de conservação e armazenamento de alimentos, resultando em reserva compatível com a
necessidade do rebanho, não recomendamos o uso tão intensivo de adubos inorgânicos.
4. TRATOS CULTURAIS

Com a chegada das chuvas é natural o surgimento de mato na plantação da palma e tendo em vista o uso de
adubação a tendência é que o mato se desenvolva com mais facilidade. Por isso, é importante realizar
diversas limpas ao longo do período das chuvas para evitar que o mato concorra com a palma, diminuindo sua
produção. As limpas, que devem ser feitas com enxada tomando-se o cuidado para não atingir as raízes da
palma que são rasas, não só evitam o crescimento do mato como favorecem a entrada de ar no solo
melhorando o crescimento da planta.

No caso de incidência de Cochonilha, um agrônomo deve ser imediatamente consultado sobre o tratamento
mais adequado. Em nosso estado predomina a cochonilha de escamas de fácil controle. A Cochonilha
conhecida como “do Carmim” está presente nos estados da Paraíba e Pernambuco inviabilizando o cultivo da
palma forrageira. As barreiras sanitárias estão impedindo a entrada em nosso estado.
5. IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO

Como mencionamos na introdução, a produtividade alcançada pelo plantio de palma adensada na Região do
Sertão Central Cabugi, no Rio Grande do Norte, só foi possível com a utilização de irrigação no período da
estiagem.

A irrigação, que só deve ser ligada quando a palma começar a apresentar sinais de desidratação, é feita
através de tubos gotejadores ou fitas gotejadoras. Estamos alcançando bons resultados utilizando 5,0 litros de
água por 1,0 metro linear, com intervalo de 15 (quinze) dias.

6. COLHEITA

Após 12 meses do plantio a palma já pode ser colhida e utilizada para alimentação do rebanho ou como
semente para a expansão da área cultivada. A colheita deve ser feita por fileira de sulco a sulco, cortando as
raquetes nas juntas com uma faca bem amolada e limpa. O Ideal é que se deixe apenas a raque “mãe”, essa
prática tem se mostrado fundamental para obtenção de melhores resultados no corte seguinte.

O rendimento ou a produtividade está ligado diretamente ao sistema de produção adotado. O que ora apresentamos
tem atingido uma produtividade superior a 600 toneladas por hectare, já a partir do primeiro ano.
7. ADUBAÇÃO PÓS-COLHEITA

Após o primeiro ano ou após os cortes anuais, é recomenda uma adubação anual de cobertura com esterco na
proporção de 5,0 kg por metro e uma em conjunto com 50 gramas de super-fosfato simples por metro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns estudiosos poderão questionar a utilização de irrigação para uma cultura xerófila de reconhecida
adaptação ao semi-árido. Outros poderão apontar o elevado custo de implantação da tecnologia, cerca de 10
mil reais por hectare, como inviável. Reconhecemos que o sistema por nós aqui apresentado precisa de
estudos e pesquisas para aprimorá-lo. No entanto, além de profissionais somos também criadores de
caprinos, ovinos e bovinos no semi-árido nordestino e como tal só podemos dizer que os resultados obtidos
pela nossa experimentação são acima de tudo uma grande oportunidade para o desenvolvimento da pecuária
regional.

Como o custo de implantação para a fundação de 01 hectare de palma adensada e irrigada estar em torno de
R$ 10.000,00 (dez mil reais), estamos em fase de experimentação para o estabelecimento de um sistema
simplificado para pequenos produtores, com custos bem reduzidos e uso de materiais reaproveitáveis.

Além disso, nossa meta agora é seguir fazendo experiências e avaliando também a utilização do farelo da
palma forrageira como fonte energética na alimentação dos rebanhos. Mas, esta história é assunto para a
próxima cartilha. Até lá.

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