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Bernardo van Raij

Instituto Agronômico
Campinas (SP)
Gesso na Agricultura

Bernardo van Raij

Instituto Agronômico
Campinas (SP), 2008
Ficha elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e Documentação doInstituto Agronômico

R149g Raij, Bernardo van


Gesso na agricultura / Bernardo van Raij. Campinas: Instituto Agronômico,
2008.
233 p.: il.

ISBN: 978-85-85564-16-2

1. Gesso. 2. Agricultura I. Raij, Bernardo vanII. Título

CDD 553.63

Comitê Editorial do Instituto Agronômico


Oliveiro Guerreiro Filho
Ricardo Marques Coelho
Cecilia Alzira Ferreira Pinto Maglio

Equipe participante desta publicação


Projeto gráfico e editoração eletrônica: quebra-cabeça
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Criação da capa: Marcos van Ray
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Tiragem: 1.000 exemplares (março de 2008)


Sumário

página

Capítulo 1
Introdução... eceeacesceranereerarenarenceeneeneraneno Í

Capítulo 2
Barreira Química em Subsolos Ácidos... 1

Capítulo 3
Produção de Gesso ............ e ieeeererererereeceraceneenas 25

Capítulo 4 o
Propriedades do Gesso ...........cereemeeereeeeneeereranerenerenos 33

Capítulo 5
Aspectos Nutricionais ............eeeeeeseererererereranenaeera 49

Capítulo 6
Solo e Interação com Gesso ............... crer 65

Capítulo 7
Propriedades Eletroquímicas de Solos.............ees 89,
Capítulo 8
Gesso e Atributos Químicos do Solo... 113

Capítulo 9
Gesso € Propriedades Físicas do Solo... 135

Capítulo 10
Gesso para Milho e Outros Cereais.............si 145

Capítulo 11
Gesso para Cana-de-Açúcar ............ are 165

Capítulo 12
Gesso para Soja e outras Culturas... 179

Capítulo 13
Gesso como Melhorador de Solos..........................a 203

Capítulo 14
Perspectivas para o Uso de Gesso na Agricultura .................... 221

Capítulo 15
Conclusões........ eee errerrerrereaa nana rrr era reaaaa aa errereda 231
Este livro é dedicado ao
Engenheiro Agrônomo Fernando Penteado Cardoso

Pela sua incansável atuação em prol da conservação


e da fertilidade do solo
Pelo estímulo e apoio, pela Agrisus, para a publicação deste livro
Capítulo 1
Introdução

1.1 Ocorrência de solos ácidos e a prática da calagem... 2


1.2 A acidez do subsolo ............. eae cereraerersenentaranã 4
1.3 Gesso como melhorador de subsolos ácidos .....................i., 5
1.4 Relação com a agricultura conservacionista................s 7
Referências .........scerceerenenereoerenanerrre senna ces eanaantcncerenantarecresaarenies 8

Brasil tem uma enorme área de solos ácidos em todas as


regiões, ocupando espaço relativamente menor apenas no semi-
árido nordestino. Na importante região do cerrado, palco da maior
ampliação da área agrícola do mundo nas últimas décadas, mas também
em outras regiões, há quase absoluta predominância de solos com
elevadas saturações por alumínio e baixos teores de cálcio ao. longo do
perfil. Essa condição impede o desenvolvimento radicular no subsolo de
muitas culturas, significando plantas mais suscetíveis a períodos de falta
de água, o que limita a produtividade.
A calagem é importante prática agrícola para a correção da acidez,
dos solos. Contudo, seu efeito em geral fica restrito à camada superficial do
solo, não resolvendo o problema da acidez subsuperficial, embora possa
atenuá-la em alguns casos, principalmente em condições de revolvimento
frequente do solo, como na agricultura convencional. Calagens profundas
têm mostrado, por meio de aumentos de produção, que a acidez do subsolo
prejudica a produtividade. Contudo, incorporar calcário a grandes
profundidades é prática excessivamente onerosa, não sendo viável do ponto
de vista econômico. Por outro lado, alguns desses mesmos experimentos
mostraram que o gesso, um sal solúvel que penetra no solo, pode aliviar a
acidez do subsolo, sem que seja necessário revolvê-lo.
2 Gesso na agricultura

A descoberta do efeito do gesso em subsolos, promovendo


desenvolvimento radicular com aproveitamento da água em camadas mais
profundas de solos durante veranicos, criou a expectativa de ser possível
melhorar solos ácidos ao longo do perfil, para estimular o maior crescimento
radicular. O gesso, sal neutro, solúvel em água, penetra no subsolo, onde
reduz o efeito tóxico que o alumínio tem sobreasraízes, além de eliminar a
deficiência de cálcio, que também impede o desenvolvimento radicular.
O uso do gesso no melhoramento de solos ácidos envolve novos
conceitos e conhecimentos, que serão discutidos neste livro. Há um número
considerável de trabalhos de revisão sobre o uso de gesso em solos ácidos
que serão citados neste capítulo, em que será dada uma idéia geral da
problemática do gesso.

1.1 Ocorrência de solos ácidos e a prática da calagem

Segundo estimativa de Eswarane outros (1997), com base em dados


da FAO e de outras organizações, solos ácidos ocupam em tomo de 3,8
bilhões de hectares no mundo, correspondendo a 25,9% da área total de
solos. A maior parte dos solos ácidos está na América do Sul, onde ocupam
1,2 bilhões de hectares, ou 66% da área total dos solos do continente.
A enorme extensão de solos ácidos no Brasil não encontra paralelo
no mundo. Eles predominam em quase todasas regiões, só ocupando áreas
relativamente menores no semi-árido nordestino (Olmos e Camargo, 1976).
Na importante região dos cerrados do Brasil Central, palco da maior
ampliaçãoda área agrícola no mundo nas últimas décadas, a predominância
de solos ácidos com elevadas saturações por alumínio trocável e teores
baixosde cálcio é quase absoluta em solos não cultivados, conformeregistram
vários autores que escreveram livros sobre solos e agricultura da região dos
cerrados (Goedert, 1983; Lopes, 1983; Goedert, 1985; Malavolta e Kliemann,
1985; Sousa, 2002; Harrington e Sorensen, 2004). Pode-se dizer que a
Amazônia, com área ainda maior, segue o mesmo padrão de solos ácidos,
com os baixos teores de cálcio e as elevadas saturações por alumínio
encontrados em solos dos cerrados.
Um pouco de história é útil para ajudara situar o assunto.
Na década de 1970, o Brasil passava por uma fase em que a fertilidade
do solo era um dos principais focos de atenção na agricultura. De um lado
havia solos de áreas agrícolas antigas, originalmente férteis, desgastados
por anos de uso sem correção da acidez e com adubação insuficiente para
repor a fertilidade perdida por exportações pelas colheitas, erosão e
degradação promovida por excessivo revolvimento do solo com arações e
Introdução 3

gradagens, que passaram a ser recuperados por meio de calagem, adubação,


medidas de controle da erosão e outras práticas. De outro lado, ocorria a
expansão da área cultivada em solos ácidos de baixíssima fertilidade, como
os dos campos gerais e dos cerrados. A prática da agricultura nesses solos
era um desafio que a agronomia brasileira enfrentou com galhardia. A
pesquisa, atenta aos desenvolvimentos, criou as bases para a ocupação dos
solos de baixa fertilidade, com destaque para a região dos cerrados, que
logo se destacou como a mais promissora área para expansão da agricultura
brasileira e até mundial.
O começo da virada da agricultura de solos naturalmente férteis, com
uso mínimode insumos, para uma agricultura com maiorrível tecnológico,foi
dificil. Um dos principais problemasera a elevada acidez dossolos. Identificou-
se 0 alumínio, e não mais o pH baixo, como o principal fator da acidez dos
solos que prejudicava as culturas. Ficou claro que a toxidez de alumínio não
afetava as plantas cultivadas da mesma maneira, havendo diferenças entre
espécies e até mesmo entre variedades da mesma espécie, Por isso mesmo o
arroz, espécie muito tolerante a alumínio, foi muito usado corno primeira cultura
em solos mal corrigidos do cerrado, muitas vezes com o objetivo de formar
pastagens. Com o passardos anos, a soja passou a ser cultivada como excelente
opção, em alguns casos em rotação com outras culturas.
A calagem e a adubação, com destaque para a aplicação de fósforo,
foram os grandes instrumentos de construção da fertilidade do solo.
A acidez excessiva dos solos foi corrigida pela calagem, com base
em resultados da análise de solo. A recomendação da aplicação do calcário
é padrão: aplicar a metade do calcário antes da aração e a outra metade
depois da aração, devendo-se proceder a incorporação ao solo através de
gradagem. Nessa prática, ainda recomendável para áreas novas, a chamada
camada arável do solo, um volume constituido de 1 hectare de área por 20
em de profundidade, é o objeto principal das atenções, comoé ainda hoje na
amostragem de solo. A consideração dessa camada também facilita, e muito,
cálculos sobre teores no solo e quantidades de insumos a aplicar. Neste
livro, a camada de 0-20 cm será denominada de “camada superficial”, o
solo abaixo de 20 cm será denominado de “subsolo”.
De forma geral, o calcário incorporado na camada arável corrige
principalmente o volume de solo em que o corretivo é misturado, por se
tratar de substância insolúvel em água, que não tem mobilidade no solo,
dependendode sua acidez para dissolver. Uma vez dissolvido o calcário, os
elementos cálcio e magnésio são liberados comocátions trocáveis, sendo
adsorvidos à fase sólida do solo, continuando, assim, sem possibilidade de
movimentação para camadas mais profundas do solo.
4 Gesso na agricultura

A movimentação no solo dependerá da existência de ânions móveis,


que são nitrato, cloreto e sulfato.
Na agricultura convencional, com arações e gradagens frequentes, é
favorecida a mineralização da matéria orgânica que, na parte final do
processo, conhecida por nitrificação, libera o ânion nitrato e o cátion
hidrogênio, que por sua vez libera o cálcio trocável. Dessa forma,o nitrato
de cálcio formado pode deslocar-se ao longo do perfil do solo. O nitrato,
sendo absorvido em profundidade, diminuia acidez do solo; o cálcio favorece
o desenvolvimento radicular. Há muitas observações em que a calagem
incorporada na camadaarável do solo favorece o desenvolvimento radicular
em profundidade.
Presume-se, do que foi dito, que os efeitos observados em
experimentos de calagem da agricultura convencional, em melhorar o
ambiente radicular do subsolo, serão bem menos intensos na agricultura
de conservação ou no plantio direto, já que não ocorre o revolvimento do
solo.

1.2 A acidez do subsolo

Olmos e Camargo (1976) já tinham ressaltado a importância do


alumínio em horizontes subsuperficiais em afetar negativamente a produção
agrícola, por limitar a absorção de água e nutrientes. Os autores ressaltaram
que o problemaseria tanto mais grave quanto maiscrítica fosse a deficiência
de água para as culturas.
Dessa forma, a acidez do solo, assunto já complexo por si só, pelos
múltiplos fatores envolvidos que podem afetar o crescimento das plantas,
deveria ser vista também pela ótica do perfil do solo, ou do subsolo, onde as
raízes das plantas também podem atuar em busca de água e nutrientes.
Nessa época admitia-se que seria possível corrigir a acidez dos solos pela
boa incorporação de calcário na camada arável, mas os efeitos ficariam
circunscritos à camadaarável ou superficial do solo, pouco excedendo 15 a
20 cm de profundidade. Essa situação seria pouco favorável ao
desenvolvimento radicular em profundidade, em subsolosácidos, já que as
raízes das plantas não se desenvolvem bem em solos contendo excesso de
alumínio e teores baixos de cálcio. Embora essa afirmação não seja
totalmente verdadeira, posto que em muitos casos o calcário incorporado na
camada arável do solo tem eferto benéfico sobre o subsolo, serviu de incentivo
para que se buscasse conhecer o efeito da correção da acidez do solo em
maior profundidade,
Introdução 5

Problemaspara culturas, decorrentes da acidez em profundidade,já


eram reconhecidos e registrados na literatura internacional. Diversos
trabalhos foram realizados para tentar caracterizar sua importância ao
desenvolvimento radicular e à produção das culturas. Farina e Chamnon
(1988), além de apresentarem umarevisão sobre o assunto, mostraram que
a calagem, aplicada até 70 cm de profundidade, aumentou a produção de
milho cultivado em um Ultisol da África do Sul. Bouton e outros (1986) e
Sumner e outros (1986) constataram efeito positivo sobre a produção de
alfafa pela aplicação de calcário em Ultisol ácido da Geórgia até 1 metro de
profundidade.
Merece especial atenção o trabalho de Gonzales-Erico e outros (1979),
realizado em solo originalmente sob vegetação de cerrado do Distrito Federal.
Os autores obtiveram considerável aumento de produção de milho pela
incorporação de calcário na profundidade de 0-30 cm, em comparação com
a incorporação mais próxima da usual, de 0-15 cm de profundidade. Os
pesquisadores observaram, em um período de veranico, maior extração de
água do solo no tratamento de calcário até 30 cm de profundidade, em
relação à incorporação até 15 cm, e que, no último caso, as plantas
mostraram-se murchas.
Esses exemplos mostraram que a acidez subsuperficial de solos é um
fator de redução da produtividade das culturas. Contudo, não apresentaram
uma solução, pois incorporações profundas e bem-feitas de calcário são por
demais dispendiosas.
De qualquer forma, o que existia era uma consciência de que o
enraizamento das plantas é restrito em subsolos ácidos, o que torna as plantas
cultivadas mais suscetíveis à falta de água em períodos de seca. O assunto
preocupava, já que veranicos, que ocorrem com certa freqiiência em plena
época das chuvas no Planalto Central, podem causar sério dano às culturas,
com maior gravidade se o sistema radicular ficar limitado à camada arável.
Acabou sendo encontrada uma solução, totalmente inédita e
inesperada, que nem sequer havia sido cogitada nas hipóteses dos planos de
pesquisa da época.

1.3 Gesso como melhorador de subsolos ácidos

Em meado da década de 1970, o acaso fez com que um experimento


que estava sendo desenvolvido para outra finalidade apontasse um novo
caminho para aliviar a acidez do subsolo. Uma comparação de fosfatos
estava sendo realizada em solo de cerrado do Distrito Federal, como relatam
Ritchey e outros (1980).
6 Gesso na agricultura

Dentre os materiais avaliados estavam o superfosfato triplo (ST) e o


superfosfato simples (SS). Durante um dos veranicos da região, um fato
inusitado surpreendeu os pesquisadores. Nas parcelas do tratamento ST, as
plantas de milho ficavam murchas, enquanto no tratamento SS estavam
túrgidas. Foi uma observação notável, que não ficou sem explicação. Uma
pesquisa minuciosa revelou que,no tratamento com superfosfato simples,havia
maior aprofundamento radicular e maior extração de água das camadas mais
profundas do solo. Em comparação com o tratamento ST, as camadas mais
profundas do solo do tratamento SS continham menos alumínio e mais cálcio.
Como o superfosfato simples difere do superfosfato triplo pelo gesso que
contém,os efeitos observados foram atribuídos a esse componente do adubo,
Surgia, assim, pela observação relatada, uma possível nova técnica
de melhoria do ambiente radicular de subsolos ácidos. Estaria aí a solução
para corrigir a acidez de subsolos, em que o efeito da calagem não chega
com a velocidade desejável?
A descoberta do efeito peculiar do gesso surgiu em uma época em
que a indústria de ácido fosfórico vinha contemplando com preocupação o
empilhamento de grandes quantidades do subproduto fosfogesso nas
imediações das indústrias. Os resultados indicavam umafeliz convergência:
de um lado, a identificação de uma necessidade imprevista de gesso para a
agricultura; de outro, o desejo da indústria de ácido fosfórico de dar um
destino útil ao gesso. Parecia estar se delineando umautilização nobre para
os milhõesde toneladas de gesso que vinham se acumulando como subproduto
da fabricação de ácido fosfórico.
Houve um período de intensa atividade, e muitas informações foram
reunidas em diversas revisões, destacando-se dois seminários realizados no
Brasil (Ibrafos, 1986, 1992) e três simpósios ou reuniões na Flórida, o boletim
técnico de Malavolta e outros (1979); o livro de Rai) (1988); os artigos de
Shainberg e outros (1989); Alcordo e Rechcigl (1993); Sumner (1993) e de
Ritchey e Sousa (1997).
Contudo, passados os anos, a pesquisa arrefeceu e o uso de gesso nã
agricultura estabilizou, não atendendo às expectativas mais otimistas, por mais
que tenham sido feitas reuniões, seminários, palestras e cursos, e publicados
panfletos, artigos, revisões do estado da arte e livros. O que aconteceu? Qual
a razão de a gessagem não ter se consolidado como uma prática consciente
de melhoria de subsolos ácidos? Esta é a pergunta que este livro pretende
responder e, ao mesmo tempo, apontar caminhos a seguir para atender ou
investigar melhor as oportunidades de uso de gesso na agricultura.
A aplicação dos dois principais elementos químicos do gesso, cálcio e
enxofre, como nutrientes, a rigor não é abrangida no escopo do livro; mas
introdução 7

achou-se importante tratar desse assunto, embora de formabreve. Existem


condições específicas de culturas com necessidades especiais de cálcio às
quais o gesso atende bem. Além disso, as enormes áreas do Brasil Central
e da Amazônia são amplamente deficientes em enxofre, sendo o gesso um
dos produtos alternativos para suprir o nutriente.

1.4 Relação com a agricultura conservacionista

Há um fator a mais a considerar. Já na década de 1980, quando se


achava que o controle da fertilidade do solo seria suficiente para garantir a
produtividade, o fenômeno da erosão colocava em dúvida essa percepção,
ao remover a parte mais fértil dos solos, além de causarestragos irreversíveis
nos solos e nos cursos d'água. Campanhas de conservação do solo e
programas de microbacias hidrográficas foram realizados com maior sucesso
nos Estados do Sul. Foi, porém, o desenvolvimento do plantio direto ou, de
forma mais ampla,da agricultura de conservação, que criou nova expectativa
para a agricultura,
. Praticar a agricultura conservacionista significa não revolver o solo.
Isso resulta em corrigir a acidez colocando calcário na superfície do solo,
portanto em condições muito desfavoráveis de dissolução. Nesse caso, o
gesso, um sal solúvel, move-se facilmente para dentro do solo e, nesse
particular, seria mais adequado do que o calcário. É um sério engano,
contudo, considerar o gesso como alternativa ao calcário. Na realidade, o
gesso começa a atuar no subsolo onde o efeito da calagem não alcança,
sendo literalmente “expulso” da camada superficial, ondenão tem função
a exercer como corretivo de solos ácidos. Aplica-se o gesso nasuperfície
do solo, na expectativa de que ele se movimente pelo perfil do solo e altere
as propriedades desfavoráveis do subsolo. Assim, a dinâmica de solutos
no solo passa a ser um assunto importante no manejo da fertilidade do
subsolo.
O assunto é complexo, por várias razões. O efeito principal do gesso,
que é a redução da toxidez de alumínio no subsolo, para promover o esperado
efeito no melhor aproveitamento de água, ou maior resistência à seca,
depende, para se manifestar, de fatores climáticos, imprevisíveis e fora do
alcance de controle técnico da agricultura de sequeiro. Além disso, em que
condições de subsolos e quanto aplicar de gesso são questões ainda não
bem resolvidas. Diferenças de comportamento de solos, por causa das
diferenças de mineralogia, e de comportamento de plantas, pela diferença
de tolerância a alumínio entre espécies e variedades, aumentam a
imprevisibilidade.
8 Gesso na agricultura

Além disso, mais importante do que prevenir veranicos talvez seja a


extensão do período de crescimento das culturas de “safrinha”, se elas
puderem ter o ciclo alongado pela absorção de água de camadas mais
profundas do solo ou se culturas perenes puderem aproveitar água do solo
por mais tempo no período da seca.
Dessa forma, é importante que o assunto seja esmiuçado, de forma
que se possa obter orientações mais precisas. É o que se pretende com este
livro. Uma característica importante é mostrar os resultados de muitos
experimentos, tornando-os disponíveis a pessoas que dificilmente têm acesso
a essas informações.

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Capítulo 2
Barreira Química em Subsolos Acidos

2.1 Barreira química no subsolo e a ação do gesso .................s, D


2.2 Absorção de água e nitrato do subsolo... 3
2.3 Calagem e a correção da acidez do subsolo ..............c 16
2.4 Diferenças entre plantas em relação à acidez... 20
2.5 Calagem e gessagem no plantio direto ................ 21
2.6 Sugestão de pesquisa .......... eee erre meereereereree escanear 2
Referências... cereerarrerrecercraeaeraere rara eeranerenenreenrarantata 2

Toda de alumínio e, com menosfrequência, deficiência de cálcio, afetam


o desenvolvimento das raízes em solos, até mesmo impedindo seu
crescimento. Nesses casos diz-se que há no solo uma barreira química
decorrente da acidez elevada. Neste capítulo é demonstrada a importância
de se romper essa barreira, reduzindo o efeito negativo da acidez sobre as
raizes das plantas, para melhor aproveitamento de água e nitrogênio nítrico
pelas culturas. A calagem superficial em alguns casos permite algum efeito
na reduçãoda acidez do subsolo, principalmente na agricultura convencional,
em que o solo é submetido a frequentes revolvimentos, mas na agricultura
de conservação isso deverá ser insignificante. A calagem profunda pode
proporcionar aumentos de produção, mas é impraticável do ponto:de vista
econômico.
Por outro lado, o gesso, que percola através do perfil, é eficaz, em
alguns casos, em favorecer o rompimento de barreira química no subsolo
pelas raízes, com a vantagem de ser um insumo que pode ser aplicado na
superficie. Sendo um sal solúvel em água, dissolve com a água de chuva e
penetra facilmente no subsolo, dentro dos limites possíveis impostos pela
solubilidade.
12 Gesso na agricultura

Assim,O gesso configura-se como um insumo importante no manejo


da fertilidade do subsolo na agricultura conservacionista. Contudo, faltam
informações sobre quantidades a aplicar não só de gesso, mas também de
calcário, para o plantio direto. Além disso, o gesso não atua como melhorador
em muitos solos, dependendo das características eletroquímicas.
Neste capítulo, a calagem e a gessagem são discutidas dentro
do enfoque de rompimento da barreira química de subsolos ácidos pelas
raízes.

2.1 Barreira química no subsolo e a ação do gesso

O alumínio é o principal fator de acidez do solo prejudicial às culturas.


O alumínio trocável ocorre de forma generalizada em solos ácidos. Sua
ação se faz sentir nas raizes das plantas, que se alongam mais lentamente.
Mais tarde, engrossam e não se ramificam normalmente; as pontas das
raizes desintegram e adquirem cor marrom. As raízes adventícias proliferam
enquanto a coroa da planta está viva (Reid, 1976). Em estágios mais
avançados da toxidez, a parte aérea também é danificada, existindo
correlação estreita entre o peso das raízes e o da parte aérea das plantas.
O alumínio é reconhecido comoo principal fator da acidez dos solos
que afeta negativamente a produtividade das culturas. Com a calagem é
possível neutralizar o elemento,principalmente se houver mistura do corretivo
da acidez com o solo. A prática da calagem, com a boa incorporação do
corretivo no solo na camada arável, resulta em efetiva e rápida neutralização
da acidez. No plantio direto, contudo, tal neutralização não é tão eficaz, já
que o calcário, aplicado sobre a superfície do solo, permanece, às vezes por
muito tempo, na forma de carbonato, insolúvel, à espera de acidez que o
dissolva. Dessa forma, se o subsolo for muito ácido, as raizes das culturas
mais suscetíveis à acidez ficarão confinadas em camada superficial pouco
espessa do solo, em que encontram condições adequadas de desenvolvimento.
Esta é a situação já predominante nos dias atuais.
Ainda na época em que praticamente só existia a chamada “agricultura
convencional”, Ritchey e outros (1980) foram os primeiros a realizar trabalho
que não só demonstrou a existência de barreira química para a penetração
das raízes de milho no subsolo, como também indicou uma maneira de eliminá-
la. Na tabela 2.1 são mostrados alguns dados que ilustram a problemática
em discussão. O experimento, já discutido no Capítulo 1, foi com milho,
comparando fosfatos,entre eles o superfosfato triplo e o superfosfato simples.
Os resultados foram obtidos após aproximadamente duas semanasde severa
seca, cerca de três anos após a aplicação dos adubos.
Barreira química em subsolos ácidos 13

O assunto tinha um precedente na África do Sul, onde dois


pesquisadores (Reeve e Sumner, 1972) verificaram que o sulfato de cálcio,
percolado através de colunas contendo amostra de um Oxisol, reduzia o
alumínio do solo e elevava o pH. Contudo, nesse caso a experimentação
não envolveu planta.
Pelos resultados da tabela 2.1, verifica-se que o gesso (tratamento
SS) provocou expressiva redução da saturação por alumínio e isso estava
associado ao maior aprofundamento do sistema radicular « a uma maior
absorção de água do subsolo. Note-se que o efeito foi observado até 120
cm e que na camada de 105-120 cm houve expressiva redução da saturação
por alumínio, de 74% no tratamento ST a apenas 8% notratamento SS.
O experimento de Ritchey e outros (1980) será discutido com maiores
detalhes no Capítulo 8. A apresentação feita aqui tem o objetivo de mostrar
esse exemplo marcante de solo com barreira quimica, representada pela
elevada saturação de alumínio, e como o gesso permitiu eliminá-la.

Tabela 2.1. Efeito de superfosfato triplo (ST) e superfosfato simples (SS) na saturação de
alumínio, ocorrência de raízes e teor de água no solo, em experimento com fosfatos em
um Oxisol de Planaltina (DF)

. Saturação por alumínio Presença de raizes Teor de água


Profundidade
ss ST ss ST ss
emo Yo Sim ou não —— %

E) l I4 sim sim 13,6 16,6


15-30 I2 30 sim sim - 1841 19,9
30-45 47 21 sim sim 20,2 217
45-60 61 2 sim sim 22,7 20,6
60-75 62 17 não sim 23,6 20,8
75-90 73 18 não sim 24,3 23,3
90-105 90 22 não sim 25,0 23,2
105-120 74 8 não sim 25,3 24,1
Fonte: Ritchey e outros (1980).

2.2 Absorção de água e nitrato do subsolo

Asraizes, não se aprofundando no subsolo, deixam de absorver água


e nutrientes da parte do solo que não alcançam. No caso de nutrientes, o
principal é o nitrogênio na forma de nitrato, forma muito móvel, facilmente
removida do perfil pela água que percola através do solo.
14 Gesso na agricultura

Na figura 2.1, é apresentada a imagem de um experimento de calagem


em sorgo realizado em Mococa (Quaggio e outros, 1991). A foto mostra
plantas de sorgo murchas, em período de veranico, no tratamento que recebeu
menoscálcio comocalcário. No canto superior esquerdo dafoto é possível
visualizar plantas de um tratamento corrigido, sem problema de falta de
água,e no fundo, no meio da foto, um tratamento intermediário. Neste caso,
se não houvesse o suprimento de água do subsolo, seria de esperar que as
plantas maiores é que deveriam estar murchas, pela maior área foliar para
transpiração. Note-se também, na figura 2.1, a coloração verde-escura do
tratamento com doses mais elevadas de calcário, indicando, também maior
absorção de nitrogênio.

Figura 2.1. O sorgo, por não ter raízes profundas por causa de barreira química no subsolo,
sofre com a falta de água em veranico. Cortesia J. A. Quaggio, Instituto Agronômico,
Campinas (SP).
Barreira química em subsolos ácidos 15

Em outro experimento, realizado em Itararé (Furlani e outros, 1991),


verificou-se a importância do enraizamento profundo para a absorção de
nitrato. As imagens da figura 2.2 ilustram bem esse fato. Embora o
experimento tenha sido de calagem,e todosos tratamentos tenham recebido
as mesmas quantidades de nitrogênio, no campo havia sintomas típicos de
deficiência de nitrogênio nas plantas de milho dos tratamentos com menores
doses de calcário, destacando-se as plantas do solo corrigido, mais vigorosas
e com sistema radicular mais profundo.

Figura 2.2. O milho, com raizes profundas devido a maiores teores de cálcio em profundidade,
aproveita melhor o nitrogênio nítrico do subsolo. Cortesia J. A. Quaggio, Instituto
Agronômico, Campinas (SP).
16 Gesso na agricultura

Note-se que são apresentados experimentos de calagem para ilustrar


esses dois pontos, relacionadosa barreiras químicas: absorção de água e de
nitrato do subsolo. O leitor certamente ficará intrigado com a apresentação
dessas imagens de experimentos de calagem, ao invés de gessagem. É uma
questão de disponibilidade das imagens. A questão importante é que o
desenvolvimento dasraizes foi estimulado, de forma similar ao que aconteceu
com o gesso no caso ilustrado na tabela 2.1. Nos dois casos, representados
nasfiguras 2.1 e 2.2, atribui-se o maior desenvolvimento dasraizes à lixiviação
de nitrato de cálcio ao longo do perfil de solo.
Pode-se questionar se a calagem reduz ou não a acidez do subsolo,
para romper barreiras químicas, ou se há necessidade do gesso para essa
finalidade. As respostas a essas duas questões não são diretas e irão variar
comas circunstâncias. Este assunto será retomado no Capítulo 8, após uma
longadiscussão sobre as inúmeras facetas que o gesso como insumo para o
melhoramento do subsolo apresenta.
Umacoisa é certa: para haver aproveitamento de águae nitrato pelas
plantas de subsolos muito ácidos, é preciso que asraízes estejam lá e, para
isso, pode ser necessário romper a barreira química representada pela toxidez
de alumínio e/ou deficiência de cálcio, nos casos em que ela está presente.
Já foi visto que gesso e calcário podem ser eficazes. Esclarecer em que
condições cada insumo atua é o principal assunto deste livro.

2.3 Calagem e a correção da acidez do subsolo

A calagem é a forma mais tradicional e disseminada de corrigir a


acidez dos solos. É necessário discutir esse assunto, pois é essencial que a
gessagem seja feita em conjunto com a calagem paraevitar sérios problemas
futuros de acidificação do subsolo e de deficiência de magnésio.
O cálculo da necessidade de calagem de um solo é realizado com a
fórmula (Raij, 1981):
(V,- V) CTC
NC=———— “2
10 PRNT |
NC é a necessidade de calagem, dada em t/ha de calcário para uma
camada de solo de 20 cm de profundidade; o PRNT expressa o conteúdo
neutralizante do calcário em CaCO, equivalente; CTC é a capacidade de
troca de cátions do solo, expressa em mmol, /dm'; V, é a saturação por
bases do solo e V, é a meta de saturação por bases a ser atingida pela
calagem. A meta de calagem recomendada, V,, é variável para culturas,
sendo mais elevada para culturas menos tolerantes à acidez.
Barreira química em subsolos ácidos 17

Noplantio direto recomenda-se também amostraro solo de 0-20 cm,


como é feito de forma geral para culturas anuais e perenes, mantendo-se,
assim, toda a consistência do sistema de amostragem e interpretação de
análise de solo. Contudo, no plantio direto instalado, existe uma tendência
em amostrar o solo e determinar a necessidade de calagem apenas para a
camada de 0-10 cm. A quantidade calculada seria a metade se a camada de
0-20 em fosse uniforme. Como a camada do solo de 0-10 em costuma ser
bem menos ácida do que a camada de 10-20 em, a recomendação de calagem
resulta ainda menor.
Vale aqui fazer uma pergunta: aplicar bem menos calcário no plantio
direto, em relação com o quese faz no plantio convencional, para o qual as
recomendações têm ampla experimentação de lastro, é uma medida correta,
ou mesmo prudente? O plantio direto tem um efeito tão importante no solo
que consegue afetar, pela camada de palha criada, até mesmo a fertilidade
do subsolo?
À literatura edafológica registra inúmeros trabalhos que mostram
efeitos positivos da incorporação profunda de calcário na produção de
culturas. Registra também efeitos importantes da calagem na agricultura
convencional, com revolvimento do solo, em causar aumentos de produção,
associados a efeitos do calcário em reduzir a acidez do subsolo.
Um trabalho importante, já citado na Introdução, é o de Gonzales-
Érico e outros (1979), realizado no cerrado do Distrito Federal. Parte dos
resultados é mostrada na tabela 2.2. É marcante o efeito de uma
incorporação mais profunda do calcário no solo. No caso, foram avaliados
três cultivos apenas, mas percebe- se que o efeito da incorporação mais
profunda do calcário sobre a produção acentua-se com o tempo. Oito
toneladas por hectare de calcário incorporado a 0-15 cm, que é uma
profundidade próxima da usada em plantio convencional, têm
aproximadamente o mesmo efeito na produção do que apenas 1 t/ha de
calcário aplicado de O a 30 cm. Note-se que aqui não se está lidando com
grandes profundidades no perfil do solo.
Pode-se perguntar qual seria a profundidade melhor para a correção
do solo. Na tabela 2.3 são apresentados diversos experimentos em que foi
avaliada a incorporação profunda de calcário, em comparação com a
testemunha sem corretivo e com tratamento com gesso aplicado na superfície.
Note-se que, em todos os casos, a calagem profunda afetou a produçãoe,
nos experimentos da Geórgia, esse tratamento foi superior à aplicação de
gesso €, por sua vez, superior à testemunha. No experimento da África do
Sul, o tratamento com gesso superou, em dois anos, o tratamento calagem
profunda.
18 Gesso na agricultura

Tabela 2,2. Influência da profundidade de incorporação do corretivo naeficiência da calagem para


milho. Ensaio realizado em Latossolo Vermelho Escuro de cerrado, em Planaltina, DF

. Produção de grãos Vs
Calcário Sr, Sr, o Indice, %
1 cultivo 2 cultivo 3 cultivo Média
tha kg/ha
Testemunha sem calcário
0 2.115 4.569 880 2.521 100
Calcário incorporado a 0-15 cm de profundidade
l 3.423 5.281 1.474 3.397 135
2 3.531 5.689 1.863 3.694 146
4 4.004 5.903 2.265 4.057 161
8 3.723 5.960 2.052 3.912 155
Calcário incorporado a 0-30 cm de profundidade
l 4.019 5.684 2.086 3.930 155
2 4.341 5.858 2.573 4.257 169
4 4.797 6.682 3.058 4.846 192
8 4.792 7.266 3.601 5.220 207
Fonte: Gonzales-Erico (1979).

Ressalte-se o efeito do gesso, mesmo quandoo efeito na produção é


inferior à calagem profunda, por ser um tratamento viável na prática, enquanto
a calagem profunda não é factível.
Tabela 2.3. Efeito de calagem profundae gesso aplicado na superfície para diversas culturas

Produções
Ano Cultura
Testemunha Calagemprofunda |. Gesso
kg/ha

Experimento na Geórgia, EUA, com calcário incorporadoe 35 t/ha de gesso


1981 Soja 941 1.816 1.216
1982 Soja 1.283 2.007 1.613
1983 Milhosilagem 26.200 41.000 35.400
Experimento na África do Sul, com calcário incorporado 5 t/ha de gesso

1983/1984 Milho 4.773 5.989 - 5.80


1984/1985 Milho 7.804 8.377 9.046
1985/1986 Milho 5.898 6.393 7.046
Experimento na Geórgia, EUA, com calcário incorporado e 10 t/ha de gesso

1982 Alfafa 9.730 12.810 10.360


1983 Alfafa 7.180 11.130 9.080
1984 Alfafa 10.670 15.710 13.590
1985 Alfafa 3.290 7.920 7.160
Fontes Hammel e outros (1985); Farina e Chanon (1988); Sumner e outros (1986).
Barreira química em subsolos ácidos 19

As informações na literatura sobre o aprofundamento do efeito da


calagem são controvertidas. Há diversas observações mostrando o efeito
da calagem em favorecer o enraizamento profundo. Quaggioe outros (1985)
verificaram que, após 24 meses,12 t/ha de calcário aplicado em Cambissolo
haviam elevadoos teores de cálcio mais magnésio em cerca de 15 mmol/dmº,
a uma profundidade de 50 cm. Em outro experimento, em Latossolo Roxo
distrófico de cerrado, uma aplicação de 6 t/ha de calcário elevou os teores
da Ca + Mg a 5 mmol, /dm” e o pH em água de 4,6 a 5,0, apóstrinta meses
da aplicação do corretivo (Quaggio e outros, 1982).
Pelas perdas de Ca e Mg que podem ocorrer em solos, é surpreendente
que às vezes não haja maior correção dos solos em profundidade. Em
experimento relatado por Raij et al. (1982), foi verificada substancial perda
de Ca e Mg da camada arável. As quantidades aplicadas de calcário foram
de 0,3, 6e 9 t/ha (com PN de 81% e PRNT de 59% de CaCO;equivalente).
Para a dose máxima, de9 t/ha, as perdas anuais foram de 6,0 mmolJdm” de
Ca e de 6,2 mmol, /dm”de Mg, o que corresponde a 1,22 t'ha de CaCo;
equivalente emcada ano. Para a aplicação de 3,0 t/ha, as perdas foram de
2,9 mmol, /dm” de Ca e de 3,0 mmol, /dm” de Mg, ou seja, de 0,59 t/ha de
CaCO,equivalente. São quantidades muito elevadas, considerando que as
perdas em cinco anos foram de cinco vezes essas perdas anuais. As
extrações pelas colheitas são modestas frente à magnitude de perdas de Ca
e Mg. Infelizmente, não se tem informações sobre os ânions que
acompanharam as perdas de bases ao longo do perfil. Contudo, ressalte-se
que o experimento recebeu aplicações anuais de 90 kg/ha de N como sulfato
de amônio e de 90 kg/ha de P,Os como superfosfato simples, o que significa
bastante sulfato apliçado. A acidez da camada de 20-40 cm de profundidade
foi consideravelmente reduzida noterceiro ano, por efeito do calcário, com
aumentos de pH de,4,5 para 4,9 e redução da saturação por alumínio de
69% para 29%. Contudo, dois anos depois a saturação por alumínio do
tratamento com dose máxima de calcário havia aumentado para 51%. Em
resumo, embora nesse exemplo tenha havido grandes perdas de Ca e Mg
da camada arável, esses elementos não conseguiram manter a correção do
subsolo em condições adequadas.
Pode-se perguntar se seria possivel conseguir uma correção do subsolo
pela aplicação de quantidades mais elevadas de calcário. Se o corretivo for
incorporado ao solo e as doses forem elevadas, isso será possível, conforme
mostrado por Sousa e Ritchey (1986), com experimento de calagem deoito
anos de duração e aplicações de até 22,5 t/ha de calcário. Note-se, contudo,
que os autores obtiveram importante efeito apenas até cerca de 50 cm de
profundidade, mas o efeito ainda era pequeno até cerca de 100 cm de
profundidade, mesmo com a elevada aplicação de 22,5 t/ha de calcário.
20 Gesso na agricultura

Por esses dados, verifica-se que a penetração da “onda alcalinizante”


do calcário aplicado é bastante limitada, mesmo com quantidades elevadas
de corretivo. Por outro lado, o efeito de 4,5 t/ha de gesso no experimento
relatado na tabela 2.1 chegou a pelo menos 120 cm e, pela tendência dos
resultados, pode ter chegado a profundidade bem maior. Essa discussão
ilustra, de forma bem marcante, a diferença de efeito do calcário e do gesso.
Messick e outros (1984) mostraram que somente a aplicação de
calcário não é suficiente para promover a movimentação de bases, Os
autores não observaram correção do subsolo pela aplicação de calcário em
sete Ultisols da Virgínia, EUA, em um período de quatro anos.
O efeito do calcário em doses elevadas, impregnando o solo com a
“onda alcalinizante”, de cima para baixo, contrasta com o efeito do gesso, em
geral removido da camada superficial do solo, que tem pequena capacidade
de reter sulfato, atuando em maior profundidade no perfil do solo. No caso de
calagens elevadas, o aumento do pH provoca a redução da adsorção de sulfato,
diminuindo portanto o efeito do gesso, que é “empurrado” perfil abaixo.
| Para complementar esta discussão, é interessante registrar o efeito
no solo dos montes de calcário ou gesso no campo, que resultam, muitas
vezes, em solos estéreis para o primeiro, e plantas vigorosas nos locais onde
havia montes de gesso.

2.4 Diferenças entre plantas em relação à acidez

A diferença de comportamento de plantas em relação à acidez é


conhecida há muito tempo. Para lembrar situações extremas, pode-se
mencionar que o conhecimento prático já mostra que arroz e mandioca, por
exemplo, são plantas muito tolerantes à acidez, enquanto algodão e alfafa
são bem pouco tolerantes.
A tolerância de plantas a alumínio é considerada o mais importante
fator requerido para a adaptação de espécies e cultivares a solos minerais
ácidos (Marschner, 2002). São muito úteis os processosde seleção de plantas
emrelação à tolerância ao alumínio, em soluções nutritivas ou em solos. A
genética tem potencial para resolver o problema de toxicidade de alumínio e
manganês (Reid, 1976).
É importante que se conheçaa tolerância de espécies e de variedades,
para que seja possível ajustar as plantas e as necessidades de calcário e
gesso porregião. No Brasil, isso é especialmente importante em regiões
distantes das fontes dos insumose desprovidas de malhasviárias de qualidade.
Trata-se, porém, de informação que raramente é utilizada para a maioria
das espécies e cultivares.
Barreira química em subsolos ácidos 21

A título de ilustração, para os Estados Urtidos, Singer e Munns (1987)


apresentam a classificação mostrada na tabela 2.4.
Algumas dessas posições podem ser contestadas para as condições
brasileiras. Por exemplo, parte das cultivares de trigo do Brasil, com
melhoramento em solos ácidos, tende a ser bastante tolerante à acidez.

Tabela 2.4. Sensibilidade relativa à acidez do solo de várias espécies de plantas cultivadas
nos Estados Unidos

Sensibilidade da planta à acidez Espécie de planta cultivada

Altamente sensível Alfafa, feijão, ervilha, trevo vermelho, ervilhaca,


leucena, espinafre, algodão
Sensível Repolho,trigo, soja, trevo branco, sorgo
Moderadamente tolerante Amendoim,batata, aveia, arroz, centeio, milho
Tolerante Stilosantes, cudzu, abacaxi, chá, café, blueberry
Fonte: Singer e Munns (1987, p. 238).

2.5 Calagem e gessagem no plantio direto

Embora haja casos em que o efeito da calagem se faz sentir no subsolo,


principalmente na agricultura convencional, é de se prever que com o sistema
de plantio direto, ou de agricultura conservacionista, em que o corretivo é
aplicado na superfície, sem incorporação, não ocorra efeito significativo da
calagem em profundidade. É, por vezes, até difícil conseguir a correção
adequada da camada superficial de 0-20 em de solo. T
É esperado que a mistura do corretivo de acidez com o solo acelere a
reação de neutralização, o que foi mostrado por Kaminski e outros (2005),
ao comparar doses e modos de incorporação de calcário no solo. Os autores
constataram melhor efeito no aprofundamento da ação do calcário quando
foi misturado ao solo, em comparação com a aplicação superficial. Contudo,
o efeito foi limitado, por ter havido revolvimento do solo apenas uma vez no
início, não sendo comparável essa situação com as observações feitas em
experimentos em cultivo convencional, com arações e gradagens anuais.
Por outro lado, o gesso desce rapidamente para dentro do perfil de
solo e produz os seus efeitos no subsolo. Deve-se lembrar que o gesso é um
sal neutro e não tem efeito direto em reduzir a acidez do solo. Como será
visto posteriormente, mesmo a neutralização de alumínio, que ocorre em
alguns casos,constitui apenas uma troca de posições de acidez e alcalinidade,
revertida com o passar do tempo.
22 Gesso na agricultura

Dessa forma, parece prudente aplicar calcário para pelo menos manter
sob controle a acidificação que ocorre inevitavelmente em solos cultivados,
principalmente por ação de adubos nitrogenados ou pela decomposição da
matéria orgânica. Este assunto merecerá uma discussão mais detalhada adiante.
Não há dúvida de que o gesso encontra espaço como insumo da
agricultura conservacionista, pela sua característica de solubilidade e livre
penetração no solo. No entanto, faltam informações para se poder generalizar
as recomendações.

2.6 Sugestão de pesquisa

Comoserá visto adiante, as informações mais importantes sobre acidez


em profundidade em solos estão nos levantamentos de solos, faltando
informações sobre a acidez de solos cultivados. Também é preciso conhecer
como o manejo dos solos, com correções de acidez e adubações, está afetando
o subsolo. À pesquisa proposta deverá dar informações úteis sobre a
possibilidade de ocorrência de barreiras químicas em solos.

2.6.1 Levantamento da fertilidade do subsolo

Realizar levantamentos da situação de subsolos de solos diversos,


através de tradagens nas profundidades 0-20, 20-40, 40-60, 60-80 e 80-100
cm. Retirar amostras na área cultivada e, sempre que possível, na área
próximado mesmo solo sem cultivo. Determinar, no mínimo, AU Ca”;
Mg eKecalculara saturação por alumínio. Comparando com os critérios
em uso para gessagem,será possível indicar se o solo necessitarárde gesso,
admitindo esses critérios como ponto de partida.

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Barreira química em subsolos ácidos 23

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acid soil profile through deep liming and surface application of gypsum. Soil Sci. Soc. Am.
J. 50:1254-1278, 1986.
Capítulo 3
Produção de Gesso

3.10 que é gesso... rreeereeeracacerarenra arara acena ren seeeaareareresa 26


3.2 Reservas e exploração de gipsita... reais 27
3.3 Produção de fosfogesso ........... is eierreaereraneeasarereeararaeraaets 28
3.4 Quantidades produzidas ......... rear eeranreniereça 28
3.5 Legislação para uso agrícola ...........eeeerenrereerereeana 29
3.6 Sugestão de pesquisa... eee eee reneanireererenanaa 30
Referências ........ e errererance careta na erea ereta rare cenantararenatnias 31

O principal uso de gesso na agricultura mundial se dá na correção de


solos sódicos. Na agricultura brasileira, o uso preferencial é, em solos
ácidos, uma aplicação inédita em termos mundiais. O fosfogesso, subproduto
da fabricação de ácido fosfórico, é o produto mais usado.
Além do fosfogesso, o Brasil tem abundantes jazidas de gipsita,
importante indústria de mineração e transformação do mineral no sertão
pernambucano, além de outras indústrias e jazidas em outros Estados no
Nordeste, Centro-Oeste e Norte (Lyra Sobrinhoe outros, 2002). É de supor
que, havendo interesse agronômico para o uso de gesso nessas regiões, a
gipsita moída poderá ampliar as condições econômicas de uso.
Três fatores restringem o maior uso de gesso na agricultura: (1) o
custo de transporte, que limita a distância da fonte até a propriedade agrícola
em que o produto pode ser usado; (2) a falta de informações quantitativas
de respostas de culturas que permitam uma análise econômica em que o
custo de transporte é um ingrediente essencial; (3) a água contida no
fosfogesso, além de onerar o transporte, dificulta a aplicação.
Neste capítulo discute-se a disponibilidade de gesso no Brasil e o
potencial de uso na agricultura.
26 Gesso na agricultura

3.1 O que é gesso

Na definição do dicionário Aurélio, “gesso é gipsita cozida, que faz


pega com água € é por isso empregado nas moldagens”. Essa definição
coincide com a da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Curi, 1993), que
considera o gesso um material manufaturado a partir de gipsita moída e
aquecido entre 190 e 200º €, até que cerca de 75% da água tenha sido
eliminada. O autor também admite gesso como um subproduto da fabricação
de superfosfato (na realidade, fabricação de ácido fosfórico). Outro termo
usado é “gesso de argamassa”.
Em inglês só há o termo gypsum para denominar ambos, gipsita e
gesso. A Sociedade Norte-Americana de Solos (SSSA, 1997) considera
gesso (gvpsum) o nome comum de sulfato de cálcio (CaSO, 2H,0), usado
para suprir cálcio para melhoramento de solos com alta saturação de sódio.
Essa definição não considera a aplicação do gesso para correção de solos
ácidos, prática ainda pouco conhecida na ciência do solo mundial.
Na natureza, o mineral gipsita, CaSO, 2H,0, é o mais comum dos
sulfatos (Deer e outros, 1966). Geralmente ocorre associado ao mineral
anidrita, CaSO,, de pouca expressão econômica, e ao hemi-hidrato ou
bassanita, CaSO,.2H,0. À ocorrência principal da gipsita é em depósitos
sedimentares associados com calcário, xisto, margae argilas e em depósitos
de evaporitos.
Umaextensa descrição sobre gipsita no Brasil é dada no capítulo de
Lyra Sobrinho e outros (2002), dentro do Balanço Mineral Brasileiro.
Interessante é que esses autores denominam o mineral com duas molécutas
de água como gipsita e o material parcialmente desidratado pelo calor, o
hemi-hidrato, como gesso. O conhecido fosfogesso é denominado pelos
autores de gipsita secundária ou gipsita química, mas reconhecem também
a denominação especial de “fosfogesso”. Da mesma forma, o material
resultante da dessulforização de gases de termoelétricas, também uma gipsita
secundária ou química, é denominado de “dessulfogesso”. Esse tipo de gesso
não é importante no Brasil.
No Brasil, decidiu-se não usar o termo “fosfogesso”,
internacionalmente consagrado, e adotar o termo “gesso agricola”, priorizando
assim o uso e não a origem do material (Ibrafos, 1986). Como diferentes
produtos podem ser usados na agricultura, no decorrer do livro não será
utilizado o adjetivo “agrícola”. No país, as alternativas principais para uso
agrícola são o fosfogesso e a gipsita proveniente de mineração, sem
aquecimento. Como esses dois produtos diferem em algumascaracterísticas
que afetam o uso agrícola, os dois termos, gipsita e fosfogesso, serão
Produção de gesso 27

empregados para os materiais utilizados na agricultura sempre que for


importante a distinção. Na maior parte das vezes, contudo, será usada
simplesmente a palavra “gesso”, pressupondo que representa um dos dois
produtos empregados na agricultura, e não o gesso industrial.
Ressalte-se que a gipsita e o gesso dela produzido têm múltiplas
utilidades, além do uso agrícola, que não serão detalhadas aqui, mas que
podem ser apreciadas no trabalho de Lyra Sobrinho (2002). Contudo,
nenhuma aplicação supera, em termos quantitativos, o uso agrícola,

3.2 Reservas e exploração de gipsita

As principais reservas de gipsita do Brasil estão localizadas no


Nordeste, Norte e Centro-Oeste, enquanto o fosfogesso é produzido no
Sudeste e no Centro Oeste. Significa que a gipsita está, de forma geral, em
regiões muito distantes para uso econômico na agricultura. Na agricultura
brasileira, muita ênfase tem sido dada aouso agrícola do fosfogesso e pouca
atenção ao uso da gipsita (Ibrafos, 1986; Raij, 1988; Ibrafos, 1992). A gipsita
é importante para uso na agricultura no Nordeste, Centro-Oeste e Norte do
país.
Asprincipais reservas de gipsita do Brasil estão indicadas na tabela
3.1. Bahia, Pará e Pernambuco têm as maiores reservas. Contudo, do ponto
de vista econômico, os principais depósitos estão localizados na Bacia
Sedimentar do Araripe, principalmente em Pernambuco, que apresenta
minério de excelente qualidade industrial.

Tabela 3.1. Reservas de gipsita no Brasil, em 2000

Reservas de gipsita em 2000, em 1.000 t


Estado Medida Indicada Inferida Total %

Amazonas 357 1.365 1.722 0,1


Bahia 461.344 93.997 166.280 721.620 432
Ceará 4411 - - 4411 03
Maranhão 37.240 657 - 37.897 2,3
Pará 189.620 204.119 186.740 580.479 34,8
Pernambuco 157.616 59.125 91.693 308.434 18,5
Piauí 1.649 522 1.243 3.414 0,2
Tocantins 771 4.443 5.373 10.593 0,6
Totais 853.014 364.228 451.328 1.668.571 100,0
Fonte: Lyra Sobrinho e outros (2002).
28 Gesso na agricultura

A produção de gipsita no Brasil foi de 1,54 milhão de toneladas


em 2000. Pernambuco dominou amplamente a produção, com uma
participação de 90,0%, seguido de Ceará com 4,3%, Maranhão com
3,7%, Amazonas com 1,1%, Tocantins com 0,4%, Bahia com 0,4% e
Piauí com 0,2%.
Deve-se ressaltar que o pólo gesseiro do Araripe, de longe o principal
do país, é um tanto isolado, com uma barreira na logistica do transporte,
distante que é tanto do mar como das regiões agrícolas mais importantes do
Nordeste. Assim, o uso da gipsita é restrito à região de fruticultura do pólo
Petrolina-Juazeiro e a parte dos cerrados da Bahia.

3.3 Produção de fosfogesso

A produção do fosfogesso, um subproduto da reação de ácido sulfúrico


com rocha fosfatada, realizada com o fim de produzir ácido fosfórico, pode
ser representada, de forma simplificada, por:
Car(PO,)oF> + 10H,SO, + 20H,0 — 10CaS0,.2H0 + 6H:;POs +2HF [3 . 9

Essa reação exemplifica apenas um caso, o do processo denominado


di-hidratado, havendo alternativas que operam com menos água no sistema,
resultando em sulfato de cálcio também com menos água. No processo
di-hidratado, correspondente à Equação 3.1, para cada tonelada de P em
ácido fosfórico são produzidas em torno de 11 toneladas de fosfogesso
(Robinson, 1980).
Na realidade, o fosfogesso pode ser obtido por três processos
diferentes, que determinam o grau de hidratação do sulfato de cálcio. São
eles: o processo di-hidrato, o processo hemi-hidrato e o processo hemi-di-
hidrato (Alcordo e Recheigl, 1993). Segundo esses autores, para cada tonelada
de P, são produzidas 9,8 t de fosfogesso seco pelo processo hemi-hidratado;
os processos di-hidratado e e hemi-hidratado produzem 11,2 t de fosfoges-
so seco,
As quantidades de fosfogesso produzidas dependem de quanto se
fabrica de ácido fosfórico. No mundo todo, inclusive no Brasil, existe um
descompasso entre a utilização do ácido fosfórico e o consumo de fosfogesso,
resultando em enormes quantidades acumuladas deste último.

3.4 Quantidades produzidas

Ostrês produtos importantes, do ponto de vista comercial, são a gipsita,


o gesso e o fosfogesso. Pelo que foi comentado anteriormente, o gesso
propriamente dito não é usado na agricultura, mas principalmente na
Produção de gesso 29

construção civil e em uma série de outras aplicações. As quantidades


produzidas dos três materiais, ao longo de mais de uma década, são dadas
na tabela 3,2.

Tabela 3.2. Evolução da produção de gipsita, gesso (para construçãocivil) e fosfogesso

Produção
Anos Rar
Gipsita Gesso Fosfogesso

1.000 t
1988 789 275 3.301
1989 861 314 3.667
1990 824 288 2.417
1991 970 343 3.295
1992 897 372 2.324
1993 906 306 2.807
1994 834 319 3.267
1995 953 427 3.321
1996 1126 458 3800
1997 1.507 523 3.550
1998 1.532 666 3.680
1999 1.528 599 4.617
2000 1.541 670 4,841
Fonte: Lyra Sobrinho e outros (2002), com base em dados de DNPM/Dirin e Ibrafos.

O fosfogesso é produzido em quantidades muito maiores do que a


gipsita. Enquanto esta tem a sua produção controlada pelo mercado,
principalmente de gesso industrial e uma parcela menor para uso agricola,
no caso do fosfogesso o que controla a quantidade produzida é a capacidade
e a demanda às indústrias em produzir ácido fosfórico.
Como o gesso é um produto muito onerado pelo transporte, que
inviabiliza seu uso em grandes distâncias do local de produção, o uso agrícola
acaba ficando restrito a um raio de poucas centenas de quilômetros em
torno das fábricas. As principais indústrias que produzem fosfogesso estão
em Cubatão (SP), Uberaba (MG), e Catalão (GO), e as principais minerações
de gipsita estão localizadas no oeste do Estado de Pernambuco.

3.5 Legislação para uso agrícola

A legislação para uso agricola foi atualizada recentemente, por meio


da Instrução Normativa n.º 10 e respectivos anexos, de 28 de outubro de
2004, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
30 Gesso na agricultura

O Anexo 1 apresenta definições e normas sobre as especificações e


as garantias, as tolerâncias, o registro, a embalagem e a rotulagem dos
corretivos de acidez, corretivos de alcalinidade, corretivos de sodicidade e
dos condicionadores de solo destinadosà agricultura.
As seguintes definições do Art. 1.º da Instrução Normativa n.º 10
dizemrespeito ao gesso:
IH - corretivo de sodicidade: produto que promove a redução da
saturação de sódio no solo;
IV - condicionador do solo: produto que promove a melhoria das
propriedadesfísicas, físico-químicas ou atividade biológica do solo, podendo
recuperar solos degradados ou desequilibradosnutricionalmente.
No que se refere à natureza física, o Art. 2.º estabelece que os
corretivos de sodicidade terão a natureza física sólida, apresentando-se em
pó, caracterizados como produtos constituídos de partículas que deverão
passar 100% em peneira de 2 mm, no mínimo 70% em peneira de 0,84 mm
e no mínimo 50% em peneira de 0,3 mm. Note-se que essa especificação
vale também para corretivos de acidez e de alcalinidade.
De acordo com o Art. 5.º, o corretivo de sodicidade sulfato de cálcio
deve ter no mínimo 160 g/kg de Ca e 130 g/kg de S. Esses valores são os
mesmos do sulfato de cálcio como fertilizante mineral simples, de acordo
com o Anexo II. O sulfato de cálcio pode ser obtido na fabricação de ácido
fosfórico ou no beneficiamento da gipsita, E pode ser registrado como
condicionador de solo, não se aplicando, porém, duas regras exigidas para
esse, que são: retenção mínima de 60% de água e capacidade de troca de
cátions de no mínimo 200 mmol. /dm”. :
Como se verá ao longo do texto, essas especificações não abarcam
adequadamente as funções do gesso ou sulfato de cálcio em solos ácidos.
Ressalte-se, ainda, que a legislação não emprega termos como fosfogesso ou
gesso agricola, mas reconhece as duas origens do gesso usado na agricultura.

3.6 Sugestão de pesquisa

O grande problema do uso de gesso na agricultura assemelha-se ao


problemado calcário. Ou seja, calcário e gesso são produtos de baixo valor
agregado e seu custo sobe rapidamente quando as distâncias de transporte
aumentam. Dessa forma, um dos elementos importantes para planejar a
logística de uso de calcário e gesso passa pelo mapeamento de custos desses
produtos, levando em conta as jazidas e indústrias e os locais de consumo, o
meio de transporte, a qualidade das estradas etc.
Produção de gesso 31

3.6.1 Custo de gesso e calcário em diferentes regiões agrícolas

Trata-se de assunto que aceita muitas abordagens, que podem culminar


em modelos complexos para previsão de custos, algo que é feito pela indústria
de fertilizantes, em estudos de logística. Sugere-se, como pesquisa, um
levantamento de custos dos dois produtos, calcário e gesso, chegando às
propriedades agrícolas. Em cada caso, será preciso identificar a origem e o
destino de cada material. Com georreferenciamento deverá ser possível
construir um mapa de custos dos produtos nos locais de consumo em relação
às fontes de onde se originaram, também georreferenciadas.

Referências

ALCORDO, I. S.; RECHEIGL, J. E. Phosphogypsum in agriculture: a review. Adv. Agron.


49, San Diego: Academic Press. p. 55-118.

CURI, N., coord. Vocabulário de ciência do solo. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo, 1993. 90p.

DEER, W. A.; HOWIE, R. A.; ZUSSMAN.An introduction to the rock-forming minerals.


New York: John Wiley, 1966. 528p.

IBRAFOS.Anais do I Seminário sobre o Uso do Fosfogesso na Agricultura. Brasília: Embrapa-


DDT, 1986. 296p.

IBRAFOS. Anais do II Seminário sobre o Uso do Fosfogesso na Agricultura. São Paulo:


Instituto Brasileiro do Fosfato, 2002, 413p.

LYRA SOBRINHO, A. €. P; AMARAL, A. J. R.; DANTAS, J. O. C.; DANTAS, J. R. A.


Gipsita. In: Balanço Mineral Brasileiro, 2001. Brasília: DNPM, 2002. p. 7-23.

RAIJ, B. van. Gesso agrícola na melhoria do ambiente radicular no subsolo, São Paulo:
Anda, 1988. 88p.

ROBINSON, N. Phosphoric acid technology. In: KHASAWNEH, F, E.; SAMPLE, E. C.;


KAMPRATH, E. J., eds. The role of phosphorus in agriculture. Wisconsin: American
Society of Agronomy, 1980. p. 151-193.

SSSA. Glossary of soil science terms. Madison, EUA: Soil Science Society of America,
1997. 134p.
Capítulo 4
Propriedades do Gesso

4.1 Condições físicas da gipsita e do fosfogesso ...................s 3


4.2 Principais elementos químicos e impurezas ............seseeesea 35
4.3 Conteúdo de metais pesados em gesso ........ sema 37
4.4 Radionuclídeos em fosfogesso ..........cerereeereererererrerrerreeareas 39
4.5 Solubilidade do gesso... re rerrereaeeraeaeraraeereneraanarnas 45
4.6 Sugestões de pesquisa ............. e eereneceerereraeaseeerenacranna 46
Referências... sr eraeeareeaieaeaeeeneraentarenea renan tenareaeataneata 47

H um contraste bastante grande entre a gipsita e o fosfogesso, para uso


agrícola. O primeiro é material seco, que pode ser moído, tal como é
feito com o calcário. O segundo é material muitas vezes úmido, o que dificulta
a aplicação. o
Do ponto de vista químico, a gipsita tem poucas impurezas, enquanto
o fosfogesso reflete parte das impurezas existentes em fosfatos, lembrando
que os minerais fosfáticos, as apatitas, apresentam estruturas cristalinas um
tanto “frouxas”, podendo agasalhar substituições isomórficas de um grande
número de elementos. Por isso as impurezas do fosfogesso também requerem
atenção. Principalmente metais pesados e radionuclídeos despertam maior
interesse.
A solubilidade em água é o importante fator diferencial do gesso em
relação ao calcário: nem alta demais, que promovarápidalixiviação de íons
em solos, nem baixa demais, que tome o material inerte no solo.
Discutem-se, neste capítulo, as propriedades físicas e químicas do
gesso usado na agricultura, as impurezas contidas, em termos de metais
pesados e radionuclídeos, e as condições de solubilidade.
34 Gesso na agricultura

4.1 Condições físicas da gipsita e do fosfogesso

Fosfogesso e gipsita têm origens bem diferentes, afetando as


condições físicas em que os produtos são encontrados para aplicação.
Segundo Lyra Sobrinho e outros (2002), a gipsita é um mineral de dureza
2 e densidade 2,35. Ocorre, em geral, em granulação fina a média, estratificada
ou maciça. A cor é variável e, dependendo das impurezas, pode ser incolor,
branca, cinza ou amarronzada, Para uso agrícola, o material deve atender às
condições de granulometria descritas em 3.5. Ressalte-se que as exigências
legais de granulometria são as utilizadas para calcário, sobre o qual se dispõe
de ampla literatura. No caso de gipsita, há falta de informações para o
comportamento das diferentes frações granulométricas, principalmente em
solos ácidos. É assunto que precisa ser esclarecido, pela diferença de
comportamento no solo dos dois insumos,o que deixa dúvidas sobre a aplicação
das mesmas regras de granulometria para calcário e gesso, O calcário depende
de acidez para dissolução; a gipsita é solúvel em água e dissolve diretamente.
A velocidade de dissolução de partículas de gesso é função do tamanho
delas. As menores dissolvem mais rapidamente, pela maior superfície
específica exposta. À gipsita dissolve mais lentamente do que o fosfogesso
(Sumner, 1993).
No caso do fosfogesso, o tamanho das partículas não tem sido objeto
de maior interesse, pois se trata de subproduto que, por razões econômicas,
limita o manuseio visando reduzir o teor de água ou alterar a composição
granulométrica. O problema é outro. Paolinelli et al. (1986), referindo-se às
indústrias existentes na época, em Cubatão (SP) e Uberaba (MG),ressaltam
que umadas dificuldades para aplicação do fosfogesso é o elevadoteor de
umidade, que é da ordem de 25% a 30% após separação no processo de
fabricação de ácido fosfórico. O material é bombeado para lagoas de
armazenamento com adição de água, ocorrendo decantação de sólidos, que
formam uma lama com cerca de 80% de água, Após a decantação e
separação do excesso de água, o fosfogesso é armazenado em pilhas, com
teores variáveis de umidade, com máximos entre 25%e 30%. Naspilhas,
onde o fosfogesso está depositado, é feita uma primeira secagem, pela
drenagem natural e ação da energia solar. No campo, máquinas aplicadoras
de calcário distribuem o fosfogesso com teores de umidade de 10% a 22%
sem maiores problemas.
Na nova unidade de produção de ácido fosfórico em Catalão (GO), o
fosfogesso é lançado diretamente ao ar e depositado em pilhas sem passar
pelo processo de lagoas de decantação, tendo assim condição física mais
favorável para aplicação direta.
Propriedades do gesso 35

Outra informação importante é que o gesso dissolve e movimenta-


se mais rapidamente nos solos se for incorporado com gradagem em solo
arado. A dúvida é se esse detalhe significa que o efeito será menor se o
gesso for aplicado sobre o solo em sistemas de agricultura de conservação
(Shainberg e outros, 1989). Note-se que neste caso o tamanho das partículas
também passa a ser importante, principalmente para a gipsita. Por outro
lado, a maior umidade existente no solo abaixo da camada de palha deve
favorecer a dissolução.

4.2 Principais elementos químicos e impurezas

Pela Equação 3.1 verifica-se que o gesso é produto da reação de


apatita e ácido sulfúrico, resultando em sulfato de cálcio, ácido fosfórico e
ácido fluorídrico. O fosfogesso contém parte das impurezas dos fosfatos
usados em sua fabricação, já que o ácido sulfúrico empregado nesse processo
não tem teores relevantes de componentes estranhos. O restante das
impurezas passa para o ácido fosfórico.
Para compreender a ocorrência de impurezas no fosfogesso, é
importante a referência ao minério usado na fabricação do ácido fosfórico.
O mineral de fósforo mais comum nos minérios e rochas fosfáticas é a
apatita. É bastante comum a apresentação da apatita, o mineral de fósforo
mais importante, como a fluorapatita, Ca (PO ) F,. Esta é uma
representação muito simplificada e não reflete que a estrutura da apatita é
muito aberta, apresentando em geral substituições isomórficas de outros
elementosna estrutura. Essas substituições são mais importantes nos fosfatos
de origem sedimentar, em comparação com fosfatos de origem ígnea ou
metamórfica. Os fosfatos de origem sedimentar são os que mais se afastam
da composição da fluorapatita. Na realidade, existe uma série de composições,
definidas pelos extremosseguintes (McClellan e Gremillion, 1980):

Ca (PO JF, Ca 10 apNa Mg (PO) COD FE, (OB),


(fluorapatita) (francolita) [4.1]
Além dos elementos indicados na fórmula empírica, sódio e magnésio,
estima-se em cerca de 65 as possíveis substituições por outros elementos
(Lehr, 1980).
A composição química do gesso é dominadapelo sulfato de cálcio di-
hidratado, seu componente predominante. Na tabela 4.1 são apresentadas
as composições teóricas dos compostos correspondentes aos minerais
contidos em minérios de gipsita. A título de comparação, também é incluído
o carbonato de cálcio, que contém 1,36 vezes mais cálcio do que sulfato de
cálcio di-hidratado.
36 Gesso na agricultura

Tabela 4.1. Composição teórica dos compostos correspondentes a minerais presentes em


gipsita ou gesso e do calcário calcítico

Mineral Composto Ca, gkg S, gkg


Gipsta Cas0,2H,0 294 235
Semi-hidrato CasO,. 4H,0 276 221
Anidrita Caso, 233 189
Calcita Caco, 400 0

Natabela 4.2 são mostrados os componentes principaisde fosfogesso,


dessulfogesso e gipsita, conforme apresentado por Sumner (2003). Os teores
de cálcio correspondem, em porcentagem da composiçãoteórica, a 85% no
fosfogesso, 79 e 77% nos dessulfogessos e 93% na gipsita. O enxofre contido
corresponde a 80% do valor teórico no fosfogesso, 79 e 77% nos
dessulfogessos e 71% na gipsita.

Tabela 4.2. Elementos principais em um fosfogesso, dois dessulfogessos e uma gipsita

. Fosfogesso Dessulfogesso Dessulfogesso Gipsita da


Elemento contido . . o. .
da Flórida da Flórida dellinois Nova Escócia
>>> glkgoukgtt

Cálcio- Ca 251 244 243 272


Enxofre - S 189 186 1.822 166
Boro - B 0,76 0,88 1,58 0,42
Magnésio - Mg 0,03 0,15 1,00 466
Silício - Si 1,16 0,52 0,78 0,54
Alumínio - Al 1,09 0,59 0,57 3,28
Fósforo - P 2,11 0,07 0,07 0,00
Ferro - Fe 0,82 0,39 0,53 2,2
Potássio - K 0,21 0,00 0,10 0,66
Sódio - Na 0,20 0,02 0,03 0,06
Fonte: Informações privadas dadas por C. Ishak a Sumner (2003).

Quanto aos demais elementos químicos, a maior parte é bastante


comum na natureza. Alguns casos merecem atenção.
Ressaltem-se as quantidades consideráveis de boro nas quatro fontes,
lembrando que alguns dos principais compostos de boro são solúveis em
água e também voláteis, o que explicaria a presença do elemento inclusive
Propriedades do gesso . 37

no dessulfogesso. Como as necessidades de boro para as culturas muitas


vezes são supridas com 1 a 2 kg/ha de B, a aplicação de 1 a 2 toneladas de
gesso já seria o suficiente, Este é um detalhe importante que não temsido
objeto de atenção no Brasil. O fato torna-se mais importante se for lembrado
que Ca e B têm efeito similar no crescimento radicular, ou seja, a presença
desses nutrientes no solo é necessária para garantir o desenvolvimento das
raizes, visto que os dois não se translocam das partes áreas para as raízes
das plantas.
Outro componente importante é o fósforo, presente apenas no
fosfogesso. O valor de 2,11 kg/t de P mostrado na tabela 4.2 equivale a
cerca de 5 kg/t de P.O,. Esse valor tende a ser mais baixo, pois, com a
melhoria na eficiência de fabricação do ácido fosfórico, os teores de fósforo
no fosfogesso são reduzidos.
A presença de flúor no fosfogesso é também importante, pois se
trata de elemento com forte poder de complexação de alumínio. Esse
assunto será retomado posteriormente. Para os fosfogessos do Brasil, os
teores de F, indicados por Freitas (1992), são para produção de diversas
rochas; em g/kg, de 2,6 para Tapira, 5,8 para Araxá, 5,7 para Catalão e
12,0 para Flórida.

4.3 Conteúdo de metais pesados em gesso

Minerais fosfáticos têm teores bem variáveis de metais pesados. Por


esta razão, existe preocupação com a adição ao solo, por meio da adubação,
de elementos potencialmente tóxicos, principalmente de cádmio, que pode
ingressar na cadeia alimentar e acumular no organismo humano. As faixas
de teores das principais “impurezas” em fosfatos, que poderiam representar
problemas ambientais se em quantidades muito elevadas, são indicadas na
tabela 4.3. São dadas ordens de grandeza de elementos menores contidos
em fosfatos de rocha, bem como os valores médios da crosta terrestre.
Percebe-se que há umenriquecimento de cádmio, arsênio e zinco em fosfatos,
em comparação com os teores médios encontrados em rochas da crosta
terrestre, e que a amplitude de variação é muito grande. Por outro lado, os
teores de chumbo, cobre e níquel em fosfatos estão próximos das médias da
crosta terrestre.
Na fabricação de ácido fosfórico e gesso, os elementos menores
contidos nosfosfatos são distribuídosentre os dois compostos. Para os metais
pesados, Becker (1989), citado por Rutherford e outros (1994) menciona as
seguintes porcentagens de transferência de alguns elementos da rocha
fosfática para o fosfogesso: Cd, 30-54; Cu, 64-100; Zn, 20-49; Cr, 3-26.
38 Gesso na agricultura

Tabela 4.3. Ordens de grandeza das concentrações de elementos traços em fosfatos de


origens diversas

Concentração dos elementos emfosfatos


Elemento —. - T— Crosta terrestre
Média Mínimo Máximo

mgkg mg/kg
Arsênio 41 0,5 235 1,8
Cádmio 16 0,2 340 0,2
Chumbo 1 2 76 12,5
Cobre 39 10 176 55
Níquel 32 0,5 25 75
Zinco 310 20 2.648 70

Fontes: Fosfatos - Juste (1992); crosta terrestre - Plant e Rajswell (1983).

A relevância dos teores de metais pesados pode ser discutida tendo


como referência os valores orientadores da Cetesb (Casarini e outros, 2001),
estabelecidos como limites em solos visando prevenir a contaminação de
águas subterrâneas.
Cabe um comentário sobre os cálculos. Os resultados de análises
químicas mostrados até aqui foram expressos em mg/kg. A referência para
cálculos de adições ou conteúdos em solos é um volume de um paralelepípedo
com base de um hectare e altura (ou profundidade) de 20 cm. A camada
superficial de 20 cm de solo é chamada “camada arável” ou “camada
superficial”, que corresponde a um volume de 2.000 m”. Para os cálculos
será considerada a densidade do solo de 1,5 kg/dm”, do que resulta um peso
de solo de 3.000 toneladas ou, ainda, de 3.000.000 kg de solo por hectare
por 20 em de profundidade. Assim, o conteúdo de 1 mg/kg de um elemento
no solo equivale a 3 kg/ha.
No caso do fosfogesso, será apresentado um exemplo de cálculo
para o cádmio, o elemento presente em fosfatos que mais tem sido objeto de
preocupação ambiental e de saúde. Além disso, o exemplo de cálculo servirá
para a discussão dos demais elementos.
O valor de alerta para cádmio, segundo a Cetesb, é de 3 mg/kg de
solo, o que equivale a 9 kg/ha. Umatonelada de fosfogesso com teor médio
de Cd de 16 g/t (Tabela 4.3) necessitaria de aplicações de cerca de 560 t/ha
para atingir o valor de alerta. Uma quantidade de gesso tão elevada jamais
seria adicionada a qualquer solo. Mesmose o fosfogesso for adicionado ao
solo regularmente, não haverá garantia de aumento dos teores de cádmio.
Juste (1992) analisou o teor de cádmio em amostrasde solos de experimentos
que receberam aplicações de quantidades bastante altas de fosfatos por
Propriedades do gesso 39

muitos anos, em alguns casos por mais de um século, constatando redução


de cádmio ou aumentos pequenos. Isso se explica pela absorção do elemento
pelas plantas e, portanto, remoção do sistema, e por possíveis perdas por
lixiviação ou erosão, que também removem o metal do sistema.
Como não há limites estabelecidos para aplicações máximas de metais
pesados em solos através de fosfatos, foi feita uma comparação com as
quantidades máximas permitidas em aplicações de biossólidos, ou lodo de
esgoto, material que vem sendo utilizado em quantidades crescentes na
agricultura. Os valores apresentados na tabela 4.4 consideram aplicações
de 50 t/ha de fosfogesso e os teores médios de metais dados na tabela 4.3.
À mesma argumentação é válida para os demais elementos.

Tabela 4.4. Comparação dos conteúdos médios de metais pesados em fosfogesso e os limites
máximos permitidos em biossólidos, e das adições pelo fosfogesso (50 t/ha) em solos e
as aplicações máximas aceitáveis, de conformidade com a Norma Técnica Cetesb
Protocolo 4.230/99

Teor contido Máximo permitido Adiçãoaosolo Adição máxima


Elemento
em fosfogesso em biossólido pelo fosfogesso em biossólidos
mg/kg oukgf kg/ha

Arsênio 41 75 2,0 41
Câádmio 16 85 0,8 39
Chumbo HM 840 0,6 1.500
Cobre 39 4.300 2,0 300
Zinco 310 7.500 15,5 2.800

Os números indicam que o fosfogesso não representa uma


preocupação no que conceme ao risco de contaminação de solos com metais
pesados, estando as quantidades prováveis adicionadas em solos muito abaixo
dos limites permitidos para biossólidos, produto usado em solos em elevadas
aplicações por área. Contudo, sempre que for utilizado fosfato de origem
pouco conhecida, é preciso obter a análise das impurezas e realizar uma
avaliação de risco de haver contaminação expressiva do solo.

4.4 Radionuclídeos em fosfogesso

O fosfogesso apresenta teores variáveis de elementos radioativos e


isso tem despertado preocupação sobre o potencial de esses elementos
afetarem a saúde, o que não parece ser um problema, como se pretende
demonstrar com a discussão seguinte.
4U Gesso na agricultura

Radionuclideos ou isótopos radiativos de diversos elementos ocorrem


naturalmente na natureza, sendo amplamente disseminados, inclusive em
solos. Os isótopos urânio-238 e tório-232, que servem de referência para
considerações sobre outros isótopos,tiveram origem no magma, na formação
do sistemasolar, sendoinstáveis, decaindo progressivamente e produzindo
uma progênie, ou “filhotes” de outros isótoposinstáveis que também decaem,
até se transformarem emisóiopo estável de chumbo. Denomina-se meia-
vida o tempo que umisótopo radioativo leva para reduzir sua quantidade, ou
atividade, à metade. Na tabela 4.5 observam-se os principais isótopos dos
elementos radioativos, suas meias-vidas e as principais radiações emitidas.

Tabela 4.5. Isótopos das séries de decaimento do urânio-238 e do tório-232

"Série dedecaimentodourânio-23 Bo Série de decaimento do tório-232


Isótopo Meia-vida -Principalradiação Isótopo Meia-vida Principal radiação

“y 4,5 x 10" anos 07 “ph 1,41 x 10ºanos a


“ph 24,1 dias By “Ra 6,7 anos B
“pa 6,75 hora B,y “ac 6,13 horas Oy
+y 2,48 x 10" anos ay ph 1,91 anos [08
rh 8,0 x 10 anos O, Y “Ra 3,64 dias a
“Ra 1.622 anos E. Y “Rn 55,35. A
“Rn 3,82 dias a “po 0455 q
“po 3,05 min o “pb 10,64 horas Y
“ph 26,8 min o “Bi 60,6min. a, B
“pj 19,7min q By “po 3,04 x 10" a
“po 1,6x 10 min q “erp 340min Boy €
“pp 22,0 anos OY “pb Estável
“Bi 5,01 dias p . - -
“po 138,4 dias a - -
“pb Estável - - = e

Fonte: Bowie e Plant (1983).

Neste ponto é necessário recordaralgunsprincípios da teoria atômica.


Um átomo é formado por um número igual de prótons, partículas de carga
elétrica positiva, e elétrons, partículas de carga elétrica negativa. Esse número
define o número atômico. Por exemplo, o número atômico do urânio é 92,
indicando a existência de 92 elétrons e 92 prótons. Os prótons encontram-
se no núcleo, juntamente com os nêutrons, que não têm carga. A massa
atômica de prótons e nêutrons é similar e define a massa atômica do elemento
ou do isótopo. Cada elemento pode apresentar um número variável de
Propriedades do gesso 41

nêutrons, representando diferentes isótopos. O isótopo de urânio-238 tem


92 prótons e 146 nêutrons. O urânio tem dois isótopos principais,
representados por “*U e ”*U, que ocorrem,respectivamente, na proporção
de 99,3% e 0,7%.
A longa meia-vida dos isótopos de urânioe tório, “U, “*U e *2Th,
permitiu a persistência desses elementos radioativos desde sua gênese. Eles
são a fonte primária de outros isótopos radioativos formadosna série de
decaimento. O urânio tem três isótopos, “*U, *“U, **U, cada um com sua
série de decaimento (Cotton e Wilkinson, 1966). O último pode também ser
considerado como parte da série de decaimento de “*U. A atividade
específica de **U é cerca de vinte vezes maior do que a de *U (Bowie e
Plant, 1983), mas é este último que forma a base da produção de energia
nuclear.
Ressalte-se que a longa meia-vida e a ampla distribuição dos elementos
radioativos na natureza faz com que exista uma radioatividade natural do
ambiente, ou radioatividade “de fundo”. Dessa forma, na aplicação de
fosfogesso, o importante é verificar a possibilidade de serem acrescentadas
quantidades de elementos radioativos que poderiam elevar consideravelmente
a radicatividade do solo. Ao discutir o fosfogesso como fonte de elementos
radioativos, é interessante lembrar que a radioatividade do fosfogesso vem
dos fosfatos e que estes vêm sendo usados na agricultura mundial desde o
século 19, sem que tenham sido registrados problemas de radioatividade
que comprometessem seu uso. Essa afirmação pressupõe a não-utilização
de fosfatos de alta radioatividade, que são considerados minérios de urânio
e não devem ser usados na agricultura.
Cabe, ainda, lembrar que existe na natureza o potássio radioativo,
responsável pela maior parte da emissão de radiação pelo solo. O potássio
tem três isótopos, “K, “K e “K, com respectiva abundância de 93,08,
0,012 e 6,90%. Destes, o “K é radioativo.
Ainda como explicação para o conteúdo da tabela 4.5, cabe um
esclarecimento sobre os tipos de radiação emitidos pelos radionuclideos. A
desintegração de um radionuclídeo, ou isótopo radioativo, libera enorme
quantidade de energia e radiações ionizantes de três tipos, representadas
por letras gregas: o (alfa), B (beta) e y (gama). À radiação o consiste de
uma partícula constituída de dois prótons e dois nêutrons, sendo de pequena
penetração, 2 a 5 cm no ar, podendo causar sério dano se o radionuclídeo
for inalado ou ingerido em quantidades apreciáveis., A radiação [3 é um elétron
emitido de um núcleo instável, podendo atingir até cerca de 3 m no ar. À
radiação Y é radiação eletromagnética, de alto poder de penetração,atingindo
dezenas de metros no ar.
42 Gesso na agricultura

Como os isótopos de urânio e seus “filhotes” costumam ocorrer


associados, em decorrência das transformações sequenciais, na prática é
comumapenas a determinação do “Ra, que tem uma meia-vida de 1.622
anos e é seguido pelo decaimento de uma série de radionuclídeos de meia-
vida curta. Outra razão importante para a determinação do rádio é que ele
produz um isótopo gasoso, o radônio, ?Rn, de importância ambiental pela
mobilidade que tem por causa do estado físico em que se encontra na
natureza.
A taxa de decaimento de um radionuclídeo ou isótopo radioativo é
expressa na unidade becquerel (Bq), definido como uma desintegração por
segundo. Essa é a representação do Sistema Internacional de Unidades.
Pelas diferenças em comportamento químico, há separação dos
radionuclídeos na fabricação do ácido fosfórico e fosfogesso, rompendo-se
o equilíbrio entre os vários isótopos da série natural de decaimento de urânio-
238 e tório-232. Freitas (1992) informa que cerca de 86% do **U e 70% do
“2Th passam para o ácido fosfórico, enquanto 85% do “Ra passa para o
fosfogesso (Freitas, 1992). Mazzilli e outros (2000), em trabalho de
caracterização radioquímica de fosfogessos do Brasil, concluíram que 90%
do “Ra e 89% do *2Th foram encontrados no fosfogesso. O rádio, porser
um metal alcalino-terroso, faz parte do grupo que inclui o cálcio, o estrôncio
e o bário na tabela periódica e, assim, tem propriedades similares, o que
explica sua concentração no gesso. O urânio já é um elemento com maior
afinidade com ácido fosfórico, sendo transferido em maiores proporções
para esse produto.
O nível de radioatividade do fosfogesso produzido na Flórida varia
de 296 a 1.406 Bq/kg, com uma média de 747 Ba/kg (Alcordo e
Recheigl, 1993).
Rutherford e outros (1994) apresentam uma tabela com as atividades
de radionuclídeos em fosfogessos produzidos em várias partes do mundo.
São dados valores para vários isótopos, mas aqui só será feita referência ao
“Ra, Os resultados, para diferentes regiões, representando casos isolados
e não extremos, expressos em Bq/kg, são os seguintes: Alberta - 500 e 890;
Austrália - 451 e 500; Flórida - 820 a 1.140; Hungria, 1.093; Louisiana-
700-1.700; Mississippi - 780; Suécia - 15; Iugoslávia - 390.
Para o Brasil, Freitas (1992) oferece diversas informações sobre o
fosfogesso. O autor ressalta que, com exceção da rocha de Itataia (CE),
ainda não explorada comercialmente (e que é vista como jazida de urânio),
as rochas fosfáticas nacionais apresentam baixos níveis de radioatividade
natural, em comparação com as estrangeiras. Considerando o outro lado da
questão, para solo não cultivado, Freitas (1992) revela que foram observados
Propriedades do gesso 43

valores de 7 a 56 Bq/kg de “Ra. Esta última informação serve de lembrete


para a ampla disseminação de elementos radioativos na natureza, em rochas
e solos. Ou seja, os elementos radioativos existem normalmente em rochas,
solos, água e ar. Malavolta (1992) apresenta uma discussão em que descarta
algum problemapela adição de elementos radioativos ao solo, pela existência
de radiação natural que pouco se altera e por nem sequer as pilhas de
fosfogesso apresentarem problemas para quem, por exemplo, caminha sobre
elas.
Mazzilli e outros (2000) realizaram uma caracterização radioquímica
minuciosa de fosfogessos brasileiros, com determinações de radiações y de
“Ra, “Th, “K e “Pb, e de radiações a de “*U, *“U, “ºTh,Th, Th
e *ºPo. Foram feitas avaliações em quatro fosfogessos dos maiores
produtores do Brasil, denominados A, B, C e D (Tabela 4.6). Em três dos
quatro casos, a rocha fosfática utilizada também foi avaliada. Nota-se que
apenas o fosfogesso A tem valores da mesma ordem dos valores indicados
para fosforitas (fosfatos sedimentares), embora mais próximos dos valores
baixos. Os demais fosfogessos têm atividade bem mais baixa de “Ra.

Tabela 4.6. Concentrações de rádio-226 em quatro fosfogessos produzidos no Brasil e nas


rochas fosfáticas utilizadasna fabricação

. . Concentração de atividade de “Ra, Bq kg”


Material avaliado
Média Desvio-padrão, + Faixade variação

Fosfogesso do produtor A (3 amostras) 695 47 , 642-729


Fosfato de rocha do produtor À (2) LIZ 459 796-1.445
Fosfogesso do produtor B (3) 100 7 93-107
Fosfato de rocha do produtor B (3) 140 I0 130-150
Fosfogesso do produtor C (3) 266 21 249-289
Fosfato de rocha do produtor C (3) 249 2 393-415
Fosfogesso do produtor D (1) 22 0 -

Fonte: Mazzilli e outros (2000).

A principal preocupação com a aplicação de fosfogesso ao solo é a


adição de radionuclideos em níveis que possam prejudicar a saúde humana.
Narealidade, já existem radionuclídeos no solo, como podeser inferido pelos
teores de urânio e tório divulgados pela Unscear (2000), com valores médios
de “Ra de 17 a 67 e extremos observados de O a 440 Ba/kg.
44 Gesso na agricultura

Como ocorre comalguns metais pesados, os fosfatos acumulam uma


quantidade de urânio e tório acima da média das rochas,principalmente nas
de origem sedimentar. É comum a caracterização da radioatividade em
termos de ?*Ra, lembrando que a maior parte do Ra do fosfato de rocha
fica no gesso, o que se explica pela semelhança de comportamento químico
de cálcio e rádio.
A preocupação com o acúmulo de radionuclídeos em solos,por parte
da Usepa, segundo Rhuterford e outros (1994), refere-se principalmente à
emanação de radônio se for construída habitação no local no futuro. Outra
preocupação é a absorção de radionuclídeos pelas plantas, com o possível
ingresso na cadeia alimentar.
Existem algumas pesquisas sobre radionuclídeos em solos tratados
com fosfogesso. Mays e Mordvedt (1986) aplicaram diversas doses, de até
116 t/ha!, de um fosfogesso contendo atividade de 925 Ba/kg de “Ra.
Mesmo com os teores de ?“Ra tendo aumentado de 35 a 73 Bq/kg no solo,
não houve aumento significativo de absorção de “Rapelas plantas de trigo,
soja e milho. Em outro experimento, com aplicação de 10 tha de fosfogesso
com atividade de 660 Bq/kg de Ra, não houve aumento estatisticamente
significativo de cinco radionuclídeos absorvidos por alfafa e soja e aumento
apenas marginal da radioatividade do solo. Arkhipov e outros (1984)
observaram que a adição de até 20 t/ha de gesso aumentou o nível de
radionuclídeos no solo, porém a absorção pelas plantas e o acúmulo em
grãos de trigo foi apenas um pouco maior do que na testemunha.
Rutherford e outros (1994) discutem várias simulações que
parecem muito distantes da realidade brasileira e até dos Estados Unidos,
além de não teremsuporte experimental. Por exemplo, é citado o trabalho
de May e Mordvedt (1986), em que uma aplicação de 112 t/ha! de
fosfogesso contendo 925 Bq/kg aumentou a atividade do solo de 35 para
73 Bq/kg de “Ra. Os autores citam o valor de referência de 190 Bq/kg
de “Ra como limite federal para áreas contaminadas com refugo de
urânio em que habitações possam vir a ser construídas, afirmando que
esse limite poderia ser superado se mais algumas dessas aplicações de
112 t/ha fossem repetidas. É uma hipótese absurda, mas, como foi
publicada, acaba sendo levada em conta.
Admitindo, por exemplo, a aplicação de fosfogesso contendo, em
números redondos, 600 Bq/kg de “Ra,a aplicação anual de 0,5 t/ha durante
um século, em um total de 59 t/ha, a adição de radioatividade ao solo seria
equivalente a 10 Ba/kg. A simples comparação desse número com os valores-
limite de ocorrência em solos de O a 440 Bq/kg de Ra reportados pela
Unscear (2000) ou, ainda, com o valor de referência nos Estados Unidos
Propriedades do gesso 45

para a construção de residências em áreas contaminadas com refugo de


urânio, de 190 Bq/kg de “Ra (Rutherford e outros, 1994), mostra que se
trata de valor pouco significativo.
Outra preocupação, mais relacionada à agricultura, é a passagem de
elementos radioativos para a cadeia alimentar. Os dados da Unscear (2000)
atestam sobre a exposição mundial média à radiação de fontes naturais. Os
resultados estão em mSv, sendo Sievert (Sv) o equivalente de dose a que o
organismoestá submetido. Os valores são os seguintes: radiação cósmica e
cosmogênica - 0,39; radiação terrestre externa - 0,48; exposição por inalação
(séries de urânio, tório, radônio e torônio) - 1,26; exposição por ingestão -
0,29. Portanto, o ingresso de radionuclídeos na cadeia alimentar, que é um
acontecimento natural, não deverá ser afetado de forma significativa,
sobretudo por ser a exposição de radiação por ingestão a menos importante.
Além disso, do valor de 0,29, 0,17 são devidosà ingestão de “K,ou potássio
radioativo, e apenas 0,12 da série de urânioe tório.

4.5 Solubilidade do gesso

o gesso tem uma solubilidade aproximada de 2,5 g/litro. A solubilização


do gesso em geral é rápida e ocorre a imediata dissociação, representada
por:
(CaSO) 2 (Ca) + (SO) [4.2]
sólido

Note-se que o ânion e o cátion do sulfato de cálcio, um sal neutro, não


perdem a identidade ao dissolver, passandoa existir o cátion Ca” e o ânion
So> em solução. Este aspecto é lembrado para fazer umá diferenciação
com o carbonato de cálcio, um sal alcalino que, reagindo com acidez, tem o
ânion carbonato convertido em água e gás carbônico. Essa é a razão pela
qual o ânion carbonato é considerado um “receptor de prótons”, o que o
ânion sulfato não é.
Embora se reconheça a solubilidade do gesso em água, há alguns
problemas relacionados. Sunmer (1992) menciona que a velocidade com
que o gesso dissolve pode ter alguma importânciae, por essa razão,é preciso
ter dados da análise granulométrica. A taxa de dissolução do gesso é função
do tamanho de partículas e, por consequência, da superfície específica. A
dissolução é mais rápida em solo do que em água e as gipsitas tendem a
dissolver mais lentamente.
Outros fatores são importantes. Por exemplo, a presença de outros
sais altera a solubilidade. Se os cátions forem monovalentes, a solubilidade
aumentará (Nakayama, 1971).
46 o , Gesso na agricultura

Sumner (1993) ressalta que existem diferenças na composição


granulométrica de gessos de diferentes origens e que é importante ter
conhecimento sobre a granulometria. Mostra os resultados indicados na tabela
4.7. Pela magnitude dos valores, é possível que as exigências mínimas de
granulometria para gesso, discutidas em 3.5, não sejam adequadas para o
gesso usado na agricultura. Basta comparar os limites exigidos, ou seja,
100% das partículas passando na peneira de 2 mm, 70% em peneira de 0,84
mm e 50% na peneira de 0,3 mm. Note-se que a peneira mais aberta usada
na obtenção dos resultados da tabela 4,7 foi de 0,25 mm, e mesmo assim
quase todo o material do gesso mais grosseiro, a gipsita, passou por ela.

Tabela 4.7. Análise granulométrica de um fosfogesso, dois dessulfogessos e umagipsita

Tamanho de Fosfogesso Dessulfogesso Dessulfogesso Gipsita da


partículas da Flórida da Flórida de Illinois Grã-Bretanha
mm gkg

> 0,25 0,5 23,0 0,5 119,9


0,25-0,10 67,0 10,3 123,0 173,5
0,10-0,05 202,0 13,5 634,7 173,3
0,05-0,02 683,5 900,5 180,6 400,5
< 0,02 47,0 52,7 61,2 132,8
Fonte: Bolan e outros (1992).

4.6 Sugestões de pesquisa

Faltam informações básicas sobre o gesso, tais como composição


química em micronutrientes, granulometria e cinética de dissolução das
partículas em solos. As sugestões são dadas a seguir.
4.6.1 Micronutrientes contidos em gessos
Obter amostras representativas de fosfogessose gipsitas e determinar
os teores de boro, cobre e zinco.

4.6.2 Velocidade de dissolução de gesso em solos

Obter amostras representativas de fosfogessos e gipsitas (podem ser


as mesmasde 4.6.1), definir procedimentoe realizar análise granulométrica
dos materiais. Em seguida, definir procedimento e avaliar a cinética de
dissolução dos gessos em água e em solos. Se for considerado necessário,
proceder igualmente para frações mais grosseiras separadas dos gessos.
Propriedades do gesso 47

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Capítulo 5
Aspectos Nutricionais

5.1 Gesso comofonte de enxofre ........... ii errceceereracaciaceeae 50


5.2 Condições especiais para o cálcio do gesso .............s 52
5.3 Cálcio e desenvolvimento radicular.............. esses 4
5.4 Toxidez de alumínio .........c ris cereeeeerieerarrereree arame rereerenareraraesa 56
5.5 Análise de cálcio, alumínio e enxofre em solos ...........ssemes 59
5.6 Sugestões de pesquisa ............ e reerereraceentereerarereeeas 6!
Referências... sic reecea ce eneraaenarereracereareeaaacecanereraracaraça 62

s três macronutrientes secundários, cálcio, magnésio e enxofre, dois


deles componentes principais do gesso, têm uma particularidade na
economia da produção agrícola: eles não têm preço. Fazem parte de alguns
adubosque são valorizados pelos teores de macronutrientes primários; estão
também em corretivos da acidez, que são valorizados pelo poder de
neutralização. Isso coloca uma dificuldade na discussão do assunto. O que
se buscará aqui é identificar situações em que o gesso atue como fonte
diferenciada de enxofre e cálcio para as culturas, ou seja, não se tratará de
aspectos gerais, normalmente informados em publicações sobre nutrição de
plantas, mas sim daqueles aspectos em que o gesso tenha uma oportunidade
de uso, seja por condições especiais de solo, acessibilidade ou por aspectos
nutricionais de algumas culturas.
Os dois principais nutrientes vegetais contidos no gesso, enxofre e
cálcio, requerem discussões diferentes. Certamente é o cálcio do gesso que
tem aspectos teóricos e práticos mais interessantes.
Nocaso do enxofre, cuja deficiência é às vezes negligenciada, o gesso
é uma fonte de S importante. A forma disponível é o sulfato, de eficiência
plenamente comprovada,não necessitando ser discutida. Uma vez no solo,
50 Gesso na agricultura

contudo, a dinâmica do íon sulfato e a interação com a fase sólida vão


determinar a disponibilidade para as plantas.
No caso do cálcio a situação muda bastante. A forma de sal solúvel
em água confere ao gesso efeitos peculiares que o carbonato de cálcio não
tem. Além disso, o cálcio é o elemento em geral predominante no solo como
cátion trocável e a deficiência como nutriente muitas vezes não é clara,
ficando encoberta, quando em teores baixos, pelos sérios problemas de acidez
ocasionados principalmente pela toxidez de alumínio. Contudo, a necessidade
de Ca pelas raízes é realmente um problema importante e está, juntamente
com a toxidez de alumínio, no cerne da ação do gesso como melhorador de
subsolos ácidos.
Complementa a questão nutricional o alumínio, elemento tóxico que
prejudica seriamente o desenvolvimento dasraízese, por consegiiência, todo
o funcionamento da planta, já que a absorção de água e nutrientes é
prejudicada.
A interpretação da análise de solo em cálcio, sulfato e alumínio, tanto
da camada superficial como para o subsolo, é assunto ainda polêmico, que
merecerá uma discussão no final do capítulo.

5.1 Gesso como fonte de enxofre

Não há nenhuma dúvida de que o gesso é uma excelente fonte de


enxofre para as culturas. Além disso, ao contrário do cálcio, que pode ser
fornecido em grandes quantidades ao solo na forma de calcário, o enxofre é
um elemento que pode ou não estar presente em sistemas de produção em
quantidades suficientes, dependendo do uso ou não de superfosfato simples,
sulfato de amônio e do próprio gesso, além de formulações que podem ou
não conter S. O uso variável desses adubos deve-se, em parte, à baixa
concentração em nutrientes primários, o que onera o custo de transporte,
além do preço maior da unidade de N no sulfato de amônio. Assim, em
regiões mais distantes, há preferência por adubos de maior concentração
em macronutrientes primários, que não contêm enxofre. Nessas condições
e pela mesma razão, ou seja, custo de transporte, o gesso também não é
usado a grandes distâncias dos locais de produção.
Como o elemento na planta ocorre, em sua maior parte, em proteinas,
no solo, o enxofre encontra-se, principalmente, em forma orgânica, na
camada superficial. Nessa parte do solo, o sulfato não encontra condições
adequadas de adsorção e o ânion sulfato, SO,” tende a mover-se para o
subsolo.
Aspectos nutricionais 51

O enxofre: pode ser adicionado ao solo pela atmosfera, maiores


quantidades perto de regiões urbanas e industriais. No último caso, as
quantidades podem exceder a 100 kg/ha por ano. Na famosa Estação
Experimental de Rothamsted, Grã-Bretanha, as adições anuais de S
aumentaram com o tempo, de 8 kg/ha em 1881-1887 a 21 kg/ha em 1969-
1973 e, mais recentemente, 25 a 35 kg/ha. A deposição média anual de
enxofre naquele país foi estimada em 70 kg/ha (Wild, 1988).
Nas últimas décadas, com as medidas antipoluição que requerem
retirada do enxofre proveniente das emanações gasosas da queima de
combustíveis fósseis, houve uma redução geral do enxofre no ar dos países
industrializados, inclusive no Brasil. Contudo, criou-se outro problema- o
acúmulo de dessulfogesso que, como o fosfogesso, tende também a se
acumular perto das indústrias que o produzem.
NoBrasil, a possibilidade da ocorrência da deficiência de enxofre é
maiornas regiões mais distantes dos grandes centros industrializados.
O país utilizou em 2004, segundo a Anda (2005), cerca de 1,8 milhão
de toneladas de sulfato de amônio (com 210 kg/ft de S) e 6 milhões de
toneladas de superfosfato simples (com 160 kg/t de S), o que representa
grande quantidade de S carreado para a agricultura, respectivamente, 380
mil toneladas como sulfato de amônio e 850 mil toneladas como superfosfato
simples. Isso dá mais do que cerca de 1 milhão de toneladas de S contido no
fosfogesso fabricado anualmente no Brasil, do qual aproximadamente metade
vai para a agricultura.
Considerando que as quantidades de S removidas pelas colheitas estão
na faixa de 10 a 30 kg/ha de S, isso representa, para uma área de 50 milhões
de hectares, de 500 mil a 1,5 milhão de toneladas de S. Esses números
parecem indicar um equilíbrio entre adições e remoções de S. Contudo, se
forem levadas em conta as perdas e, principalmente,as áreas de pastagens,
o panorama mudará bastante. Deve-se lembrar, também, que cerca da
metade do fosfogesso produzido não está sendo usada na agricultura e que
a distribuição de S nãoé uniforme. Pode-se inferir que muitasáreas agrícolas
brasileiras não recebem enxofre suficiente para atender às necessidades
das culturas.
Parece, então, que há espaço para colocar o gesso como fonte de
enxofre na agricultura, dependendo de custo de transporte, adubos usados e
as respostas das culturas.
Há um grande número de resultados positivos com enxofre na
adubação.
52 Gesso na agricultura

Alcordo e Rechcigl (1993), em sua revisão sobre fosfogesso na


agricultura, analisaram o assunto por gruposde culturas. Osautores afirmam
que a deficiência de S no mundo para culturas vem aumentando. Para milho,
a resposta a S é fortemente dependente da resposta a N (Rabuffeti e
Kamprath, 1977). Os autores apresentam diversos outros resultados positivos
para cereais, dos quais alguns serão lembrados aqui. Oates e Kamprath
(1985) obtiveram respostas de trigo a gesso com doses de S de 22 a 90 kg/ha
em que as plantas tinham concentração de S inferior a 0,6 g/kg e relação
N:S de 21:1. É importante a observação dos autores de que não havia resposta
em casos em que ocorria acúmulo de sulfato no horizonte B, em solos com
elevados teores de óxidos de alumínio e ferro. Em Bangladesh, em 1.042
experimentos de adubação de trigo, realizados de 1981 a 1983, houve aumento
médio de produção de 21% pela aplicação de 20 kg/ha de S como gesso. No
mesmopaís e período, em 125 kg de gesso aplicados em arroz, verificou-se
que 97% de 3.368 áreas demonstrativas foram responsivas a gesso, com
aumentos de produção de 19% a 41%. Para a mesma cultura, Wang e
outros (1976) constataram deficiência de enxofre em solos de várzeas da
bacia do Baixo Amazonas. Na África do Sul foram verificados aumentos de
produção de 51 t/ha de cana-de-açúcar com 22 a 45 kg/ha de S como gesso.
Em pastagens, segundo Alcordo e Rechcigl (1993), há muitas informações
disponíveis, mostrando respostas a gesso em produção, melhorando a
digestibilidade e contribuindo para maior adequação da relação N'S.
No Brasil foi realizado, em 1988, um simpósio sobre enxofre e
micronutrientes na agricultura. São pertinentes a enxofre como nutriente os
capítulos referentes a respostas de culturas anuais e perenes à aplicação de
enxofre (Vitti e outros, 1988) e as respostas das pastagens à aplicação de
enxofre (Werner e Monteiro, 1988). Respostas a enxofre foram obtidas em
várias regiões do país para soja, feijão, arroz irrigado, trigo, milho, cana-de-
açúcar, algodão, café e outras culturas (Vitti e outros, 1988). Já no caso de
pastagens, a resposta a enxofre em gramíneas depende da aplicação de
outros nutrientes, principalmente nitrogênio. Contudo, em pastagens
consorciadas com leguminosas, que fixam o nitrogêniono ar, foi mostrada a
importância da aplicação do enxofre (Werner e Monteiro, 1988).

5.2 Condições especiais para o cálcio do gesso

O cálcio, tanto em minerais como em solos, ocorre sempre na forma


iônica de Ca”, que é também a forma importante para a nutrição. O
mecanismo de absorção de cálcio pela planta é o fluxo de massa. Contudo,
embora as quantidades do nutriente na solução do solo sejam relativamente
altas, a absorção nãoé elevada, porque a capacidade das plantas de absorver
Aspectos nutricionais 53

o nutriente é limitada, pois a absorção ocorre apenas nas extremidades das


raízes, nas quais as paredes celulares do endoderma ainda não estão
suberizadas (Tisdale e Nelson, 1985).
As necessidades de cálcio das plantas não são das mais elevadas em
relação às quantidades em geral existentes em solos comoteores trocáveis,
considerados disponíveis. Contudo, a interpretação das quantidades
disponíveis no solo é dificultada pela ocorrência simultânea, em solos ácidos,
de teores baixos de cálcio em presença de condições de toxidez de alumínio.
Em geral, a acidez dos solos limita mais o crescimento de raízes do que a
falta de cálcio. Esse processo tem dificultado o isolamento do efeito do
cálcio como nutriente, da ação de neutralização da acidez, representada em
geral pelo alumínio, quando são aplicados corretivos da acidez que contêm
cálcio, como é o caso de calcário.
Muitos laboratórios do mundo nem determinam o cálcio, considerando
que, coma correçãorotineira da acidez do solo pela calagem mais a aplicação
de adubos contendo o elemento, haverá adição em quantidades suficientes
para garantir o suprimento adequado das culturas. De qualquer forma, exceto
para algumas culturas que têm exigências especiais em cálcio (tomate, citros,
amendoim, maçã, manga, etc.), é muito rara a deficiência de cálcio em
condições de campo.
Nãoseinclui aqui o problema do desenvolvimento radicular em subsolos
ácidos, assunto que será discutido em 5.3.
Em umarevisão sobre o uso de gesso em solos, Shainberg e outros
(1989) relatam vários casos de efeitos especiais de cálcio para culturas.
Um dos casos importantes é o uso de gesso na cultura do amendoim, havendo
necessidade de um suprimento adequado de cálcio na região de formação
dos frutos, dentro do solo, para o desenvolvimento de amendoim livre de
doenças. Os autores afirmam que o papel do gesso em suprir Ca pode ser
estendido a outras culturas. Isto porque a quantidade de gesso requerida
para elevar a atividade do cálcio na solução do solo é muito menor do que no
caso de suprimento por carbonato de cálcio. Há evidência de que teores
adequados de Ca são difíceis de atingir em solos de cargas variáveis
fortemente ácidos (Fox e outros, 1985). Também há evidência de que o Ca
tem papel importante na qualidade de produtos agrícolas. Como exemplo, o
gesso reduziu a quantidade de raízes de armazenagem na batata (McGuire
e Kelman, 1984) e a incidência de bitter pit em maçã (Boon, 1980). Na
África do Sul, o efeito deletério da calagem na incidência de sarna em batata
levou ao uso generalizado de gesso em regiões em que ela é produzida em
solos ácidos pobres em cálcio.
54 Gesso na agricultura

Na Austrália, o gesso é considerado mais eficaz que o calcário em


combater os efeitos de Phytophthora cinnamoni em abacate (Trochoulias e
outros, 1986). Quaggio (1996) apresenta resultados que mostram que o cálcio
é importante para evitar o colapso interno da manga.
Em outra revisão, Alcordo e Rechcigl (1993) apresentam uma
avaliação muito detalhada sobre o uso do gesso como fonte de Ca e S. Os
autores usam uma expressão interessante, “necessidade de uma fonte de
Ca outra que não calcário”. Citando também Tisdale e outros (1985), eles
lembram que a deficiência de Ca causa falha no desenvolvimento dos brotos
terminais e quebra da estrutura das membranas das células, provocando
falha de crescimento e prejuízo para a qualidade de alguns produtos agricolas.
Os autores defendem que, para algumas culturas que necessitam de
quantidades elevadas de cálcio para suportar culturas comercialmente viáveis,
outra fonte de cálcio que não calcário pode ser necessária.
Nos Estados Unidos é prática corrente a aplicação de gesso no
amendoim de sementes grandes tipo Virgínia, que é diferente do amendoim
mais cultivado no Brasil. Quaggio e outros (1982) não obtiveram efeito do
gesso aplicado em amendoim variedade Tatu. O gesso aplicado em cana-
de-açúcar como fonte de cálcio, em solos do Havaí deficientes no elemento,
aumentou a produção de cana-de-açúcar da mesma forma que calcário
(Ayres, 1972). Na Flórida, a aplicação de gesso em solo arenoso aumentou
a produção de laranjas, bem como o brix, a quantidade de suco e o teor de
Ca. Em outro solo, o fosfogesso aumentou o brix do suco, o teor de cálcio e
reduziu a acidez titulável (Myhre e outros, 1990).

5.3 Cálcio e desenvolvimento radicular

Segundo Marschner (1993), os principais impedimentos que restringem


a penetração de raízes no subsolo, prejudicando a absorção de água e
nutrientes, são aeração deficiente, impedimentos mecânicos e acidez. No
caso da acidez, os principais fatores são deficiência de cálcio, que será
discutida a seguir, e o excesso tóxico de alumínio, que será discutido em 5.4.

O papel do cálcio no desenvolvimento radicular em solos está bem


estabelecido (Marschner, 1993). Em valores de pH abaixo de 5, muitas vezes
a inibição ao alongamento radicular deve-se a formas monoméricas de
alumínio. Por outro lado, o cálcio protege as raízes do estresse causado pelo
pH baixo. Para cada cultura, as exigências em cálcio para o crescimento
radicular não são fixas, mas dependem do pH e da concentração de outros
cátions, inclusive alumínio. Um exemplo disso é dado por Lund (1970) para
o algodoeiro. Com 10 mg/L de Ca, 0,5 mg/L de Al inibiu o alongamento de
raízes. Já com 40 mg/L de Ca, a concentração de 1,0 mg/L de Al não afetou
Aspectos nutricionais 55

as raízes. Esse exemplo mostra que é dificil isolar o efeito do cálcio do


efeito do alumínio sobre as raízes.
Mesmoassim, é possível avaliar o comportamento isolado do cálcio,
que tem a ver com o fato de o elemento ser imóvel no floema, não se
translocando das partes aéreas para as partes mais novas das raízes em
desenvolvimento. Assim, o cálcio requerido para o crescimento de raízes
deve ser absorvido da solução externa nas zonas apicais. Marschner (1993)
ressalta que, mesmo quando uma quantidade adequadade calcário é misturada
apenas ao solo superficial, as raízes são severamente restringidas em sua
capacidade de penetrar em subsolos ácidos.
Haynes e Robins (1948) verificaram que raízes de tomateiro colocadas
em soluções nutritivas contendo todos os nutrientes, exceto o cálcio,
pereciam. Quando as soluções continham cálcio, a integridade funcional
das raízes era mantida, mesmo em ausência de outros nutrientes. Ao que
parece, o cálcio evita que as raízes percam sua propriedade de
semipermeabilidade, essencial à absorção de nutrientes (Pearson, 1966).
Têm sido feitas tentativas de avaliar o limite em que osteores de cálcio
são insuficientes ao desenvolvimento radicular em solos. Howard e Adams
(1965) constataram limites de cálcio em solução de 0,15 mmol/L mostrando
deficiência e 0,29 mmol/L não mostrando deficiência para raizes de algodão.
Emsolos,o teor mínimoa inibir o crescimento radicular foi de 2,5 mmol./kg e
8 mmol/kg em solo com vermiculita. Essa diferença em solos desapareceu
quando o cálcio foi expresso como fração dos cátions totais (Ca + Mg + K +
Mn + Al), os limites críticos estando em torno de 0,12 e 0,13, o que está
próximo do valor de 0,15 observado por Adams (1966). Em outro trabalho,
Adams e Moore (1983) definiram o limite crítico de Ca em 17% da CTC
efetiva, valores mais baixos inibindo o crescimento radicular do algodoeiro.
Para as condições brasileiras, Ritchey e outros (1982) relataram que,
em algunssolos altamente intemperizados do Planalto Central do Brasil, os
níveis de cálcio do subsolo foram insuficientes para proporcionar crescimento
normal de raízes de trigo, soja e milho. Em outro trabalho, Ritchey e outros
(1983), utilizando um método biológico, notaram que severas restrições ao
crescimento radicular das plantas foram observadas quando o teor no solo
se situava nos limites da faixa de 0,2 a 0,5 mmol. /kg. Os autores mostraram
que 1,0 a 1,5 mmol. /kg de Ca no solo, como cloreto, fosfato ou carbonato,
normalizavam o crescimento de raizes.
Embora o gesso seja uma fonte de cálcio solúvel, sua aplicação em
solos muito ácidos pode não resolver o suprimento de cálcio para as plantas.
Assim, Fried e Peech (1946), aplicando CaSO, em solo ácido cultivado com
alfafa em vasos, constataram absorção alta de Al e Mn e baixa de Ca, em
comparação com o tratamento com CaCO,.
56 Gesso na agricultura

Nesse caso, o cátion Ca? do gesso deve ter deslocado Al” e Mn?
para a solução do solo, incrementando a absorção pelas plantas. É o que
pode ocorrer em solos que não adsorvem sulfato. Essa observação mostra
a necessidade de diagnose caso a caso para decidir sobre a aplicação de
gesso em solos.

5.4 Toxidez de alumínio

O alumínio é o principal elemento associado ao efeito negativo da acidez


do solo sobre as plantas. Sua ação se faz sentir nas raízes das plantas, ao contrário
do manganês, outro elemento que pode ocorrer em teores tóxicos em solos, cujo
efeito é mais importante na parte aérea. Segundo Marschner (1993), a ação
tóxica do alumínio é primariamenterelacionada a raízes, que se tomam espessas
como resultado da inibição do alongamentodo eixoprincipal e das raízeslaterais.
Com acidificação crescente do solo, a penetração de raízes no solo é inibida,
particularmente no subsolo, resultando em sistemas radiculares mais rasos, com
correspondente menorutilização de água e nutrientes.
No Brasil, a toxidez de alumínio é de grande importância, sendo de
ocorrência generalizada na maior parte dos solos (Olmos e Camargo, 1976).
A calagem pode resolver o problema na camada superficial do solo, mas
dificilmente promoverá correção no subsolo, dentro das atuais aplicações
praticadas no plantio direto. Uma das dificuldades de verificar se a acidez
do solo representa barreira química é estabelecer critérios adequados para
amostrar raízes no campo (Pearson, 1966).
Para os solos do Sudeste dos Estados Unidos, Adams e Lund (1966)
ressaltaram que o desenvolvimento limitado de raízes no subsolo, naquela
região, foi devido principalmente ao efeito detrimental do alumínio.
Comparando solos contendo caulinita, vermiculita ou montemorilonita,três
minerais de argila bastante distintos, os autores constataram relações
diferentes entre a penetração de raízes do algodoeiro e valores críticos de
pH, alumínio trocável ou saturação por alumínio dos solos. Contudo, todos
os subsolos apresentaram uma relação comum entre a penetração de raízes
e a atividade molar de Al na solução dosolo.
Nafigura 5.1 são apresentadas as relações discutidas para algodão e
café. Comparandoas duas espécies vegetais, constata-se que o crescimento
relativo de raizes do algodoeiro foi mais afetado, o que se explica pela menor
tolerância dessa espécie à toxidez do alumínio em relação ao cafeeiro.
As diferenças entre variedades de uma mesma espécie na tolerância
a alumínio podemser grandes, conforme ilustrado nafigura 5.2, para cultivares
de milho, um sensível e outro tolerante à toxidez de alumínio.
Aspectos nutricionais 57

tivo de

2
&
É
E Algodão
õia
$
S

q 1 a a â &
Atividade mala de ARS O É

Figura 5.1. Crescimento relativo de raízes de algodão e café em relação à atividade de alumínio
em solução. Fontes: algodão - Adams e Lund (1966); café - Pavan e Bingham (1982).

Tolerância de
cultivares de milho à
toxidez por alumínio

Toxidez de AI **

Figura 5,2. Efeito de alumínio nas raízes de milho Tauiba sensível e tolerante ao elemento.
Cortesia Pedro Roberto Furlani, Instituto Agronômico, Campinas (SP).

Pavan e Bingham (1982) mostraram que a atividade do Al”livre em


solução é o indicador mais consistente da toxicidade do alumínio em soluções
de solo (Tabela 5.1), confirmando a observação de Adams e Lund (1966).
Contudo, a determinação da atividade de alumínio na solução do solo é muito
complexa e não pode ser feita rotineiramente. Por essa razão, a saturação
por alumínio, embora não tão consistente, é um índice preferível, que pode
ser facilmente obtido em laboratórios de rotina de análise de solo.
58 Gesso na agricultura

Tabela 5.1. Limites críticos de A! estabelecidos por diferentescritérios para café crescendo
em Oxisols e Ultisols tratados com CaCO;

é . Solos usados no estudo


Relação considerada
I 2 3 4 5 6
APtrocável, mmolkg O 13,0 3,0 10,0 1,9 10,6
Saturação de Al, % 2 25 15 20 3 15
Conc. Al total, umol/L 14,8 15,0 44,0 i4,8 18,4 18,6
Conc. AP*, umol/L 8,4 7,9 12,7 8,3 70 10,1 :
Atividade AP*, umol/L 4,4 3,8 4,1 4,3 4,2 4,6
Fonte: Pavan e Bingham (1982).

Khasawneh (1971) ressalta que a absorção, pela planta, de


determinado ion em solução depende não só da atividade desse íon, mas
também daatividade de outros íonse de relações que existem entre íons em
solução e na fase sólida.
Esse aspecto pode ter importância para aplicações de gesso, pela
alteração possível na relação de atividades de cátions. Sumner e outros
(1986) apresentam números que dão idéia da ordem de magnitude dessas
mudanças. Considerando, como exemplo, os dados mostradospelos autores,
da camada de 30 a 45 cm, para o tratamento sem gesso, as atividades de
cálcio e de alumínio na solução do solo eram, respectivamente, 114 e 4,0
umol/L e a relação de atividades (Ca?)(AI)! igual a 6,72. Notratamento
com gesso, os valores correspondentes de atividades eram de 1.123 e 3,0
umol/L e a relação, de 23,2.
Há comprovação de que, mesmo em solução nutritiva, o sulfato de
cálcio reduz a toxicidade do alumínio. Isso foi demonstrado por Adamse
Lund (1966) para o algodão cultivado em vasos com solo e solução nutritiva
emrecipiente colocado por baixo. Para soluções contendo 0,30 mg/L de Al,
as concentrações de 0,5, 1,0, 5,0 e 10,0 mmol/L de CaSO, ocasionaram
crescimentos médios de raizes, respectivamente, de 6,4, 7,3, 8,2 e 9,8 cm.
O ânion SO* é importante na redução da atividade de Al”. Pavan
(1983) apresentou dados de crescimento radicular de cafeeiro em solo,
equilibrado com soluções de Call, 0,01 mol/L e CaSO0,01 mol/L,obtendo
os resultados apresentados na tabela 5.2. Os dados mostram que o sulfato
de cálcio promoveu a redução do alumínio livre em solução e o maior
desenvolvimento dasraízes. Já o ânion cloreto, nas condições do experimento,
não se associou com o alumínio.
Aspectos nutricionais 59

Tabela 5.2. Espécies químicas de alumínio e crescimento de raizes do cafeeiro cultivado em


soluções de CaCl, 0,01 mol/L e CaSO, 0,01 mol/L em equilíbrio com dois solos

. SoloL Solo 2
Avaliação
Caso, Call, Caso, Call,

Espécies de alumínio

Altotal, umol/L 604 564 255 214


Al”, umol/L 223 550 93 200
AIOH”, umol/L - -14 7 14
AISO *, umol/L 338 - 155 -
24
AICI , umol/L - -
Desenvolvimento das raízes

Peso das raízes, g/planta 78 32 142 80


Fonte: Pavan (1983).

Além do sulfato, o fosfogesso contém o ânion fluoreto, F”, que forma


complexos muito mais estáveis com alumínio do que o sulfato. Cameron e
outros (1986) observaram que tanto SO,” como F” reduzem toxicidade de
Al em solução, promovendo o alongamento de raizes, maso efeito do fluoreto
é maior.
Diversos compostos orgânicos existentes na solução do solo
complexam alumínio, reduzindo suaatividade e, por consequência,a toxidez
para as raízes das plantas. Este é um tema que tem sido bastante discutido,
principalmente em relação ao plantio direto.

5.5 Análise de cálcio, alumínio e enxofre em solos

A interpretação dos resultados da análise de solo para cálcio,


alumínio e enxofre em solos no Brasil é bastante discrepante. Para analisar
o assunto serão comparadas as informações para Rio Grande do Sul e
Santa Catarina (Wiethôlter, 2004), São Paulo (Rai) e outros, 1996), Minas
Gerais (Ribeiro e outros, 1999) e cerrados (Sousa e Lobato, 2002). Essas
citações referem-se a obras importantes para cada uma dessas regiões,
contendo cada uma delas um grande volume de informações sobre
fertilidade do solo e adubação.
A interpretação dada para cálcio em amostras superficiais é muito
contrastante. Assim, Rai) e outros (1985) indicam, para São Paulo, como
limites de teores baixos, médios e altos, respectivamente, 0-3, 4-7 e > 7
: mmol, /dm”. Rio Grande do Sul e Santa Catarina apresentam, para classes
* equivalentes, 0-20, 21-40 e > 40 mmol/dm”.
60 Gesso na agricultura

Para Minas Gerais, os limites de cinco classes de teores aumentam


da seguinte forma: 0-4, 5-12, 13-24, 25-40 e > 40 mmol,/dm”, ocupando o
mesmointervalo da interpretação do Sul. Parece claro quese está diante de
critérios diferentes. Para São Paulo, procuraram-selimitescríticos do ponto
de vista nutricional, que parecem bem baixos, estando de acordo com a rara
deficiência de cálcio em culturas. Para o cerrado, não são definidos limites
de interpretação, que na realidade são desnecessários na prática. Muitos
laboratórios de análise do solo de outros países não fazem análise de cálcio,
partindo do pressuposto que, com a correção da acidez, cálcio suficiente
será suprido.
O uso dos teores de alumínio em camadas superficiais de solos é
também discrepante. Ocorre que a calagem,se realizada pelos critérios de
elevação da saturação por bases, como em São Paulo, ou de elevação do
pH, como no Rio Grande do Sul, dispensa o resultado de alumínio trocável,
Contudo, em Minas Gerais e no cerrado, é recomendada a redução de Al e
a elevação dos teores de Ca + Mg pela calagem, embora também seja
considerada a elevação da saturação por bases como critério de calagem.
A interpretação de teores de S nos solos também não é uniforme. No
Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os limites para teores baixos, médios
e altos são, em mg/dm, respectivamente, de: 0-2,0, 2,1-5,0,e > 5,1. Em São
Paulo, esses teores variam de 0-4, 5-10 e >10. Em Minas Gerais, além de
teores de S, que variam de 1,7 a 27,0, considera-se o fósforo remanescente
como indicador da capacidade de adsorção de sulfato pelo solo. Cabe uma
observação sobre a diagnose da disponibilidade de enxofre para as plantas,
com base no teor de sulfato nosolo. O sulfato da camada superficial, enquanto
permanece aí, está prontamente disponível. Por outro lado, oânion
movimenta-se para o subsolo, onde pode ser fortemente adsorvido. Nessas
condições, há necessidade de maiores informações sobre o grau de
disponibilidade de S no subsolo.
No caso da gessagem, o maior interesse é para a interpretação de
resultados de amostras do subsolo. Sousa e Lobato (2002) recomendam
gesso para a região do cerrado, quando o teor de cálcio for menor do que
5 mmol, /dm” e a saturação por alumínio, maior do que 20%. Raij e outros
(1996) recomendam gesso para São Paulo, quando o teor de cálcio do
subsolo for inferior a 4 mmol. /dm' e a saturação por alumínio estiver acima
de 40%. Também é recomendada a aplicação de gesso para a mangueira
quando há ocorrência de colapso interno dos frutos. A recomendação
de gesso é feita em Minas Gerais para subsolos que possuem menos
de 4 mmol./dm” de cálcio, e/ou mais que 5 mmol, /dm” de alumínio e mais
que 30% de saturação de alumínio.
Aspectos nutricionais 61

5.6 Sugestões de pesquisa

A disponibilidade de S e Ca em solos ainda tem diversos aspectos não


bem esclarecidos. No caso do enxofre, a fácil transferência de sulfato da
camada superficial para o subsolo requer uma avaliação sobre a sua
disponibilidade nessas condições. No caso do cálcio, faltam estudos para
determinar a concentração critica no solo em que comece a ocorrer
deficiência do elemento. A toxidez de alumínio, por sua vez, é afetada por
diversos fatores.

5.6.1 Disponibilidade de sulfato em amostras de solo superficiais e


de subsolos

Um estudo desses pode ser realizado com amostras de solos retiradas


de 0-20 e 20-40 cm de profundidade. Experimentos em vasos em que todos
os nutrientes, menos S, são supridos permite avaliar a disponibilidade no solo
de sulfato através de correlações entre S absorvido pela planta e atributos
de solos, tais como capacidade de adsorção, pH em CaCle S determinado
no solo por diversos extratores.

5.6.2 Limites críticos de cálcio no solo

Um estudo desses pode ser feito em solos com Al baixo e acidez


baixa, em solos de texturas variadase diferentes espécies de plantascultivadas
em vasos.
Os nutrientes serão adicionados ao solo, que terá também a acidez
corrigida, de forma que os teores crescentes de Ca estejam nas mesmas
condições de acidez. Para conseguir isso, o cálcio deve ser acrescentado ao
solo como carbonato de cálcio e como gesso.

5.6.3 Critérios para toxidez de Al em solos

Esse estudo pode ser feito em vasos, com amostras de texturas


variáveis e diferentes saturações de Al. Podem ser usadas amostras
superficiais de solo e também amostras de subsolos e plantas-teste com
tolerâncias variáveis a Al,
Os estudos podem ser feitos aplicando-se o cálcio como carbonato e
como gesso. A matéria seca de plantas pode, então, ser correlacionada com
diversos atributos de acidez, com a hipótese, a ser confirmada ou não, de
que a saturação por alumínio deverá ser a melhoravaliação da toxidez relativa
do elemento para diferentes plantas.
62 Gesso na agricultura

5.6.4 Avaliação da toxidez de alumínio em amostras coletadas ao


longo do perfil de solo

Com amostras retiradas de 80-100 cm de profundidade, realizar


cultivos com técnica de raiz bipartida vertical, consistindo em um vaso pequeno
colocado em um vaso maior (Carvalho e Raij, 1997). O vaso maior contém
a terra do subsolo e receberá três tratamentos: testemunha, CaCO; e gesso,
além de quantidades iguais, para os três vasos, de água, KNO, e NH,NO:.
O vaso menor, com solo fértil, terá uma planta-teste, bem desenvolvida. O
bloco de solo do vaso menor é colocado no solo do vaso maior. Após
determinado período de crescimento, diversos parâmetros são avaliados,
tais como água consumida, matéria seca, peso de raízes, N, Ca e S absorvidos,
análise de Al, bases trocáveis, nitrato e amônio no solo. Posteriormente,
poderá ser escolhido apenas um indicador para o teste. À comparação
permitirá avaliar o efeito do gesso em relação à testemunha e do carbonato
de cálcio. Dessa maneira, pode-se identificar os subsolos com maior potencial
de resposta à aplicação de gesso.

Referências

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Capítulo 6
Solo e Interações com Gesso

6.1 Conceito de solo... rea rereereceneeneneaneneranererarnanas 66


6.2 Constituição física e propriedades coloidais................. 68
6.3 Estrutura e densidade ........... e ireaercaceererenerarenaeas A
6.4 Mineralogia e composição química ............. ereto B
6.5 Disponibilidade de água no solo... errar 7
6.6 Capacidade de troca de cátions e pH... 80
6.7 Classificação de solos ............. e rerereeecre inerentes 82
6.8 Sugestões de pesquisa... scceaeaeereneneeseocacaeneenaencaaaea 86
Referências... ie rereenaierataneracaciaeairaeea recair eaeaenceaarentas 86

O solo, a parte superficial intemperizada, não consolidada, da crosta


terrestre, contendo matéria orgânica e organismosvivos, é o meio em
que se desenvolvem os vegetais, que dele obtêm,através das raízes, água e
nutrientes.
A estrutura do solo ou a formação de agregados é o principal fator
que influi no aumento da porosidade, importante atributo do solo, por permitir
o livre fluxo de água e ar. Assim, para manter o solo em condições de alta
produtividade, é importante conservar sua estrutura em condições adequadas.
Isso se consegue com o manejo adequado de restos de culturas ou pela
adição de outros residuos, visando preservar ou aumentar a matéria orgânica
do solo e, com o controle da erosão, para evitar a remoção do solo das
partículas mais finas e mais ricas em argila e matéria orgânica, ou seja,
aquelas fundamentais à agregação. Evitar ou diminuir o revolvimento do
solo, para reduzir a oxidação da matéria orgânica, e tomar medidas para
minimizar a compactação com máquinas, são medidas importantes que estão
presentes na agricultura de conservação.
66 Gesso na agricultura

Mas não é somente a camada superficial do solo que é importante no


caso da agricultura de conservação. Características dos perfis de solos são
também relevantes na dinâmica da água. Algumas plantas podem ter sistemas
radiculares extensos e profundos, o que aumenta consideravelmente o volume
explorado de solo, condição importante em períodos de déficit hídrico. Quando
há no solo impedimentosfísicos ou químicos à penetração deraízes, a água
existente nas camadas abaixo desses impedimentos fica inacessível para as
plantas, reduzindo assim sua capacidade de suprir água, pela diminuição do
volumede solo explorado pelas raízes. É um assunto importante em solos
ácidos, em que a ocorrência de alumínio trocável ou a deficiência de cálcio
no subsolo impedem o aprofundamento do sistema radicular, ou seja,
condições em que o gesso pode ser usado para melhoramento do subsolo.
Neste capítulo, são discutidas as propriedades dos solos, destacando-
se aquelas que têm a ver com o uso do gesso como melhorador de subsolos
ácidos.

6.1 Conceito de solo

O solo, a parte superficial intemperizada, não consolidada, da crosta


terrestre, contendo matéria orgânica e organismos vivos, é o meio em que
se desenvolvem os vegetais. E um recurso natural fundamental para a
produção agrícola, graças a um conjunto de propriedades que lhe permite
sustentar plantas, dando-lhes as condições necessárias de desenvolvimento.
Trata-se de um material poroso, que favorece a penetração de raízes e
supre as necessidades das plantas em água e nutrientes minerais. Comojá
foi visto no Capítulo 2, há casos em que a acidez do subsolo atua como
barreira química, prejudicando o desenvolvimento do sistema radicular,
condição em que o gesso pode ser utilizado para remover ou atenuar essa
situação.
Ressalte-se que os organismos existentes no solo, ou melhor, sobre
ele, são responsáveis pela introdução de dois importantes elementos para a
vida — carbono e nitrogênio — que não existem nas rochas. Também é
importante lembrar que a matéria orgânica reforça o caráter eletronegativo
dos solos, o que não favorece a ação do gesso como melhorador de subsolos
ácidos.
Naagricultura convencional, em que o solo é submetido a revolvimento
por aração e gradagem,ele fica sujeito à degradação por erosão e perda de
matéria orgânica e nutrientes. Quandoo solo é acidificado ou é naturalmente
ácido, a correção dessa acidez é feita por incorporação de calcário na camada
arável. Já foi no Capítulo 2 que, quanto melhor a incorporação do corretivo
Solo € interações com gesso 67

da acidez ao solo, melhor o efeito sobre as culturas. Com a prática do plantio


direto, que tem incontestáveis virtudes, por manter o solo sempre coberto e,
portanto, em grande parte livre dos problemas da erosão e da oxidação
excessiva da matéria orgânica que ocorre em solo revolvido e exposto, ocorre
uma dificuldade na correção da acidez. O calcário, aplicado na superfície,
não está mais tão sujeito à reação com a acidez do solo, mas depende em
grande parte de fontes externas de acidez para dissolver. Essa acidez é, em
boa parte, decorrente da reação de nitrificação de amônio, que provém da
mineralização de compostos orgânicos ou defertilizantes minerais, liberando
o ion hidrogênio no sistema, que poderá dissolver o calcário se entrar em
contato com ele.
Esse assunto: pode ser visto como uma situação especial de
intemperismo químico,que altera a composição dos minerais e que pode ser
de vários tipos, dependendo da reação envolvida. Em geral, a água é o
agente principal, pela sua condição de solvente e pela possibilidade de mover
solutos de um local para outro. Compostos dissolvidos, como oxigênio, gás
carbônico e, em muitas situações, ácidos ou complexantes orgânicos,
aumentam o poder de intemperismo da água. O calcário tem todas as
condições para dissolver no solo, sendo instável em meio ácido. Mas é
discutível se, no caso do sistema de plantio direto, a dissolução pode se dar
com a velocidade desejável.
Poroutro lado, foi discutida no Capítulo 5 a importância do cálcio para
o desenvolvimento radicular. Pelo menos em parte dos solos espera-se que o
gesso possa suprir o cálcio. Daí porque, e considerando a importância do
cálcio no desenvolvimento radicular, o gesso, sulfato de cálcio, solúvel em
água, é lembrado como um composto químico que poderia fazer o que o calcário
não faz: colocar rapidamente cálcio nas camadas mais profundas do solo.
Retomando a discussão de solos, lembre-se que a biota, representada
por diversos tipos de organismos vivos — plantas, microorganismos,
invertebrados e outros — no solo ou no revestimento vegetal que o recobre,é
que diferencia o solo de material geológico não consolidado. Um componente
fundamental do solo, a matéria orgânica, material estranho nas rochas, tem
origem no processo da fotossíntese, que transforma gás carbônico, oxigênio,
hidrogênio e nutrientes minerais em compostos orgânicos de plantas e outros
vegetais clorofilados. Dois importantes elementos químicos não existentes no
material de origem, carbono e nitrogênio, são incorporados à matéria orgânica,
na forma de compostos orgânicos,ao longo do tempo de desenvolvimento do
solo. Com a interação de material de origem e clima, o solo adquire
características únicas, peculiares a cada combinação dos seus fatores de
formação, caracterizando uma íntimainter-relação com o meio ambiente.
68 Gesso na agricultura

Com o advento do plantio direto, o solo cultivado passa a ficar mais


parecido com o solo sob condições naturais, com gradientes de concentrações
de nutrientes que reduzem com a profundidade, mesmo a poucoscentímetros
da superfície. Com a estabilização do solo, sem revolvimento, e mantendo-
o coberto com vegetação viva ou morta, há expectativa inclusive de aumento
da matéria orgânica do solo, revertendo a tendência de redução gradativa.
Ressalte-se também que uma das características importantes de
diversos solos dos trópicos úmidos é a grande profundidade, bem maior do
que a de solos de clima temperado. No caso do gesso, com o que se pretende
estimular o aprofundamento do sistema radicular em solos, essa grande
profundidade pode ser útil, principalmente pela possibilidade de ampliar o
reservatório de água para as plantas em periodos de seca. Por outro lado,
dependendo do solo, as quantidades necessárias de gesso podem ser muito
elevadas.

6.2 Constituição física e propriedades coloidais

O solo, em decorrência dos processos de formação, é constituído de


partículas sólidas e espaços porosos, ocupados por água e ar. As partículas
sólidas, em geral com predominância de materiais inorgânicos, são
representadas por minerais primários ou secundários, além de matéria
orgânica. O tamanho dessas partículas é estável e, portanto, a textura é
considerada um atributo inerente ao solo. As propriedades de superfície de
solos são, em parte, determinadas pela textura.
No caso da gessagem de solos, é importante conhecer como essas
propriedades de superfícies são afetadas pelo gesso ou como elas afetam a
ação do gesso no solo, tanto em subsolos ácidos como em solos sódicos.
Granulometria é o primeiro aspecto que será considerado.
Do ponto de vista físico, o solo pode ser identificado como um
material contendo partículas unitárias de vários tamanhos. Em geral, essas
partículas são inorgânicas e, para fins práticos de análise de solo, são
ignoradas partículas vegetais de restos de plantas ou outras partículas
orgânicas. À própria matéria orgânica do solo, que dificilmente atinge mais
de 50 g/kg em solos minerais, é, em geral, desconsiderada em
determinações das partículas unitárias do solo.
Quando os solos contêm mais de 200 g/kg de matéria orgânica
(Embrapa, 1999), eles são considerados orgânicos e não há uma preocupação
maior em avaliar as partículas minerais, posto que a matéria orgânica domina
amplamente as chamadas propriedades de superfície. Solos orgânicos, ou
Solo e interações com gesso 69

Organossolos, são de ocorrência restrita a condições de má drenagem,e as


condições de falta de oxigênio restringem a decomposição de matéria
orgânica, que se acumula.
A análise granulométrica é um procedimento laboratorial que visa
classificar as partículas do solo pelos respectivos tamanhos e medir as frações
correspondentes (Embrapa, 1997). Pedras e cascalhos, importantes
obstáculos mecânicos existentes em solos, embora bastante raros nos solos
brasileiros, não são amostrados, já que não influem na maioria das suas
propriedades. No laboratório, uma primeira etapa consiste em separar
partículas grosseiras das amostras de solo. A fração retida em peneira de 2
mm contém cascalho e calhaus. A fração que passa na peneira, denominada
terra fina seca ao ar (TFSA),é utilizada para a maior parte das determinações
físicas, químicas e mineralógicas nos laboratórios de análise de solo.
São determinadas as frações granulométricas denominadas areia
grossa, areia fina, silte ou limo e argila (Tabela 6.1). Cabe um comentário
sobre dois significados bem diferentes da palavra “argila”. Quando a
referência é feita à fração granulométrica, fala-se em “fração argila”. Outro
uso da palavra é em “minerais de argila”, um assunto diferente que será
discutido em 6.4.

Tabela 6.1 Escala internacional de classificação das partículas no solo


Nr

o no Limites dos diâmetros


Fração granulométrica
partículas no
mm
Atgila < 0,002 -
Silte ou limo ,002-0,02
Areia fina 0,02-0,2
Areia grossa 0,2-2

Dependendo da constituição do solo em frações granulométricas,


são reconhecidos os seguintes grupamentos texturais (Embrapa, 1999,
Apêndice B):
* Textura arenosa - compreende as classes texturais areia € areia
franca.
* Textura média- solo com menosde 350 g/kg de argila e mais de 150
g/kg de areia, excluídas as classes texturais areia e areia franca.
* Textura argilosa - composição granulométrica de 350 a 600 g/kg de
argila.
* Textura muito argilosa - mais de 600 g/kg deargila.
70 | Gesso na agricultura

* Textura siltosa - menos de 350 g/kg de argila e menos de 150 g/kg


de areia.
As frações mais finas do solo, de argila e matéria orgânica, conferem-
lhe as chamadas propriedades de superfície. A matéria orgânica ocorre em
intima associação com a argila (Willd, 1988), e as propriedades do solo
decorrem dessa interação. Um exemplo disso ocorre em solos com altos
teores de óxidos de ferro e alumínio na fração argila, que têm a capacidade
de adsorver sulfato praticamente eliminada ou muito reduzida pela matéria
orgânica na camada superficial do solo, como será visto no Capítulo 7.
Um aspecto de importância fundamental para a definição das
propriedades dos solos é o aumento da superfície exposta das partículas por
unidade de peso de solo, ou superfície específica, que está associada com a
diminuição do diâmetro médio delas. O conceito de superfície específica pode
ser ilustrado iniciando com um cubo de 1 cm de lado e pesando1 g. A superficie
específica será dada por seis faces de 1 cm? cada uma,resultando em 6 em?
g. Se esse cubo for dividido em cubos de 0,1 cm de lado, a superficie específica
será dé 1000 x 6x 0,1? = 60 cm”. Assim, quanto menoresaspartículas, maior
a superfície específica. A fração argila e a matéria orgânica ocorrem finamente
divididas no solo, com partículas de tamanho reduzido, o que resulta em
superficie especifica de dezenas a centenas de metros quadrados por grama.
Em solos derivados de cinzas vulcânicas, que contêm alofanas, a superfície
específica pode atingir centenas de metros quadrados por grama. Embora a
superficie específica em geral não seja determinada de forma rotineira,ela é
refletida, pelo menos em parte, pelos teores de argila, na capacidade de troca
de cátions ou de adsorção de fosfato ou sulfato.
Asfrações mais finas do solo, argila e matéria orgânica, são também
consideradas de natureza coloidal, o que decorre da elevada superficie
específica. Colóides são sistemas físico-químicos que contêm duas fases,
uma das quais, a fase dispersa, está extremamente subdividida e imersa na
outra, a fase dispersora. As partículas da fase dispersa, ou micelas, podem
ter dimensões que variam aproximadamente entre 5 x 10º cm e 107 cm, ou
seja, abaixo do limite superior da fraçãoargila, que é de 2 x 10? cm, mas
acima das dimensões de átomos ou íons simples, que são da ordem de pouco
mais de 10* cm. Na realização da análise granulométrica faz-se uso das
propriedades coloidais da fração argila. O solo é disperso em água para
realizar essa análise, o que é conseguido pela desagregação mecânica e
adição de hidróxido de sódio, que eleva muito as cargas elétricas negativas
do solo. Obtém-se uma suspensão coloidal, com as partículas de argila, ou
micelas, permanecendo em suspensão por muito tempo, enquanto aspartículas
de tamanho maior, silte e areia, decantam para o fundo do frasco.
Solo e interações com gesso 71

Aspartículas coloidais do solo têm alta atividade de superfície, o que


implica, entre outras coisas, alta capacidade de retenção de cátions, de água
e de fosfato e, em algunscasos, de sulfato.
Os minerais de argila e a matéria orgânica apresentam cargas elétricas
negativas na superficie das particulas, responsáveis pela troca de cátions.
Outros minerais do solo, os óxidos hidratados de ferro e alumínio, têm elevada
capacidade de adsorção de fosfatos e, com menos intensidade, de sulfato.
Comoserá visto adiante, os óxidos hidratados de ferro e alumínio são os
principais responsáveis pela adsorção de sulfato em solos.
No caso do gesso, a magnitude dos fenômenos envolvidos determina
as condições de uso do insumo em solos sódicos e ácidos. Nos solos sódicos,
é a capacidade de troca de cátions que reflete a superficie específica e
determina a magnitude dos problemas. No caso de subsolos ácidos, a
superfície específica (não determinada rotineiramente) e a natureza
mineralógica da fração argila determinam a capacidade do solo de reter
sulfato, importante aspecto que afeta o efeito do gesso. Os valores de
adsorção de íons ou cargaselétricas refletem, de formagrosseira, a superfície
especifica do solo.

6.3 Estrutura e densidade

Um aspecto fundamental do solo é a sua estrutura. A simples


existência de uma mistura de partículas sólidas, de diferentes tamanhos, já
condiciona a existência de um volume de poros em solos. Contudo, solos em
geral têm porosidade muito mais elevada do que a do regolito. Na maioria
dos solos, ocorre a agregação de partículas unitárias, de forma que não
ficam distribuídas ao acaso, mas sim reunidas em agregados ou torrões, que
são aglomeradosde partículasunitárias que se formam por causa de atrações
físicas entre as partículas do solo ou através de agentes cimentantes ou
aglutinadores, como óxidos de ferro e alumínio e matéria orgânica.
A matéria orgânica do solo atua na estruturação do solo por meio de
polímeros com cargas que unem as partículas isoladas de argila, formando
agregados. Em solosde regiões tropicais, os óxidos de ferro são importantes
agentes cimentantes, contribuindo para a formação de umaestrutura muito
estável, principalmente nos Latossolos.
A existência no solo de cátions divalentes, cálcio e magnésio, ou de
alumínio trivalente, é importante para manter os colóides do solo floculados.
Por outro lado, cátions monovalentes, com destaque para o sódio, favorecem
a dispersão dos colóides do solo, levando à deterioração da estrutura.
72 Gesso na agricultura

A estrutura do solo ou a formação de agregados é o principal fator


que influi no aumento da porosidade, importante atributo do solo, favorecendo
o livre fluxo de água e ar. Assim, para conservar o solo em condições de alta
produtividade, é importante manter a estrutura em condições adequadas.
Isso se consegue com o manejo adequado de restos de culturas ou adição
de matéria orgânica, visando preservar a matéria orgânica do solo, e com o
controle da erosão, que tende a remover dele as particulas mais finas e mais
ricas em argila e matéria orgânica, ou seja, aquelas fundamentais à agregação.
Evitar ou diminuir o revolvimento do solo, para reduzir a oxidação da matéria
orgânica, e tomar medidas para minimizar sua compactação com máquinas
são outras medidas importantes.
A estrutura do solo pode entrar em colapso com a dispersão da argila,
o que ocorre principalmente em solos com excesso de sódio. Nesses casos,
o gesso é utilizado para corrigir esse problema. Mesmo em solos ácidos, o
gesso pode melhorar sua estrutura, reduzindo o escorrimento de água e
facilitando a infiltração.
Porosidade e densidade são outros atributos importantes em solos.
Do ponto de vista físico, o solo é um sistema heterogêneo, constituído das
fases sólida,líquida e gasosa. A fase líquida pode ser considerada continua,
no sentido de ser possível a movimentação de um ponto a outro do solo, sem
deixar essa fase. A fase gasosa e principalmente a sólida podem ser
consideradas descontínuas. A porosidade, volume ocupado por água e ar,
confere ao solo condições adequadas ao desenvolvimento radicular e à
existência de organismosvivos diversos.
Existem dois tipos de poros no solo. Os macroporos, de maior diâmetro,
permitem a livre drenagem de água e a movimentação de ar. Os microporos
permitem a retenção de água por capilaridade.
Para calcular a porosidade dos solos, são necessárias medidas de dois
tipos de densidade, denominadas densidade do solo ou global e densidade de
partículas ou real. A densidade representa o peso seco do volume de solo no
campo,incluindo a matéria sólida e o volume de poros sem água. A densidade
de partículas representa o peso do volume da matéria sólida, sem os poros.
Pode-se escrever:
D, = P/Vs [6.1]
D, = PV, [6.2]
Nessas equações, D, é a densidade do solo inalterado; D, é a
densidade das partículas ou da matéria sólida do solo; P é o peso do solo
seco; V, é o volumedo solo incluindo poros e V, é o volume de partículas ou
da matéria sólida do solo.
Solo e interações com gesso 73

A densidade de partículas de solos minerais tem um valor em torno


de 2,7 kg/dm”, que é a ordem de grandeza das densidades de quartzo e de
silicatos, minerais que predominam no solo. Em solos derivados de rochas
básicas (“terras roxas”), que contêm minerais ferruginosos de maior
densidade, como magnetita e ilmenita, a densidade de partículas pode chegar
a 3 kg/dm. Por outro lado, em solos com teores altos de matéria orgânica,
que é um material leve, a densidade do solo cai muito, podendoser inferior
a 1 kg/dm'.
A densidade pode variar de menos de 0,5 kg/dm”, para solos com
elevados teores de matéria orgânica, a valores de 1,5 kg/dm” para solos
arenosos. Os valores mais comuns em solos estão entre 1,0 e 1,4 kg/dm,
maiores valores para solos mais arenosos. Solos arenosos compactados
podem ter densidade de até 2 kg/dm”.
Para calcular a porosidade, considera-se que o volume total do solo é
a soma do volume ocupado pelas partículas, ou fase sólida, com o volume
ocupado pelos poros, ou:
V=V+V, [6.3]
Como a porosidade do solo será expressa em porcentagem do volume
total, podemos considerar este como unitário e calcular o volume de poros
como:
V,=1-D,D, [6.4]
A densidade foi representada acima em quilogramas por decimetro
cúbico, ou kg/dm”, que equivale a g/em”. Os resultados de densidade são
usados para converter resultados expressos em peso de solo para aexpressão
por volume, ou vice-versa. É preciso cuidado com esse detalhe, para
interpretar resultados corretamente. Para fertilidade, é mais conveniente a
expressão por volume. Esse assunto pode ser exemplificado para três solos
que contenham 4 mmol./kg de cálcio, o limite crítico para subsolos (item
5.5), e que apresentem, respectivamente, densidades de 0,5, 1,0 e 1,5
kg/dm. Esses números se referem a solos orgânico, argiloso e arenoso. Os
resultados de cálcio, expressos por volume, serão, respectivamente, de 2, 4
e 6 mmol,/dm”. Como se percebe, são diferenças muito significativas.

6.4 Mineralogia e composição química

Do ponto de vista da composição, podem-se considerar, no solo, uma


fração inorgânica ou mineral, em geral predominante em solos bem drenados,
e umafração orgânica. As fases líquida e gasosa, pelo caráter dinâmico que
têm, não são incluídas na composição química dosolo.
74 Gesso na agricultura

A origem remota de todos os minerais da litosfera são as rochas


ígneas, que podem ser transformadas em rochas metamórficas ou
sedimentares. Minerais são elementos ou compostos químicos formados
em geral por processos inorgânicos, de composições químicas definidas e
ocorrência natural na crosta terrestre. Os minerais existentes no solo refletem
o material de origem, bem como os processos de intemperismo. Os minerais
do material de origem que persistem no solo são os minerais primários. Os
minerais secundários são os que se formam dos produtos de decomposição
do material de origem dosolo.
As partículas mais grosseiras do solo são mais ricas em minerais
primários. Destaca-se o quartzo que, pela sua resistência, é o mineral mais
abundante das areias de quase todos os solos. O quartzo existe em grande
parte das rochas e somente aquelas que não o contêm dão origem a solos
pobres no mineral. Outros minerais primários podem ocorrer nas frações
grosseiras de solos, principalmente feldspatos, micas, magnetita e ilmenita,
os dois primeiros em solos menos intemperizados,os dois últimos em solos
derivados de rochas básicas.
Nafração argila são encontrados minerais secundários, destacando-
se os chamados minerais de argila e os óxidos de ferro e alumínio.
Os minerais de argila são silicatos de alumínio com estruturas
laminares que não têm limites no sentido horizontal. As estruturas básicas
dos minerais de argila são lâminas de tetraedros de sílica (um átomo de
silício envolto por quatro átomos de oxigênio ocupando os vértices do
tetraedro) e lâminas de octaedros de alumina (um átomo de alumínio envolto
por seis átomos de oxigênio ocupando os vértices do octaedro). Com base
nos números dessas lâminas, os minerais de argila são classificados em tipo
2:1, contendo duas lâminas de tetraedros de sílica e uma de alumina,e tipo
1:1, com uma lâmina de tetraedro de sílica e uma lâmina de octaedro de
alumina. O principal mineral de argila 1:1 é a caulinita; os principais minerais
de argila 2:1 são montemorilonita, vermiculita e ilita.
No Brasil, o mineral de argila mais comum em solos de climas quentes
e úmidos é a caulinita, que é do tipo 1:1. A relação molar SiO;:ALO;,
conhecida comoki, é igual a 2. Valores de ki são freguentemente apresentados
na caracterização química de solos em estudos pedológicos. O ki dá uma
idéia preliminar da predominância dos minerais de argila. Valores acima de
2,no horizonte B, indicam a presença de argilas do tipo 2:1, enquanto valores
mais baixos são indicativos da presença de óxidos hidratados de alumínio.
Umadas propriedades importantes dos minerais de argila é a troca de cátions,
assunto que será discutido no Capítulo7,
Solo e interações com gesso 75

Outros minerais existentes na fração argila dossolos são os chamados


óxidos de ferro e alumínio, cujas fórmulas empíricas são as seguintes (Deer
e outros, 1965):
* Gibbsita - AI(OH);
* Goetita - FeO.0H
* Hematita - Fe,O;
* Magnetita - Fe.Fe,O,
* Iimenita - Fe.TiO,
Além desses minerais, em geral cristalinos, podem ocorrer em solos
silicatos de alumínio amorfos, com relação ki não bem definida, mas em
geral menor do que 2. Esses minerais, conhecidos como alofanas, podem
ocorrer, em pequenas proporções, em solos brasileiros. Eles são importantes
emsolos derivados de cinzas vulcânicas, existentes em regiões com atividade
vulcânica recente ou atual, mas também ocorrem em outros solos.
Caracterizam-se por elevada superfície específica e forte interação com a
matéria orgânica, o que dá aos solos contendo esses minerais superfícies
específicas muito elevadas e coloração escura, devido aos altos teores de
matéria orgânica.
De forma geral, admite-se que os óxidos de ferro e alumínio são
capazes de adsorvero sulfato, com destaque para a gibbsita. Esses minerais
se tornam,assim,o foco de atenção em solos com os quais o gesso interage.
Por outro lado, solos com teores elevados de minerais de argila, quando
ácidos, apresentam teores elevados de alumínio trocável e têm menor
capacidade de retenção de sulfato. ”
Além da fração mineral, um componente fundamental do solo, a
matéria orgânica, material estranho nas rochas, tem origem no processo
da fotossíntese, realizado pelas plantas, que transforma gás carbônico,
oxigênio, hidrogênio e nutrientes minerais em compostos orgânicos. É
oportuno fazer aqui uma observação. Ao se pensar em sistemas de
plantio direto para sequestrar carbono, é importante ressaltar a
necessidade de os outros nutrientes estarem presentes, com destaque
para o nitrogênio.
O desenvolvimento gradativo de vegetais e outros organismos, durante
o processo de transformação de rochas em solos, permite o acúmulo
progressivo da matéria orgânica. Em condições de solos sob vegetação
natural, o teor de matéria orgânica do solo representa o estágio de equilíbrio
entre as adições de matéria orgânica pelo sistema biológico mencionado e
dentro do solo e as perdas por decomposição.
76 Gesso na agricultura

Na prática da agricultura convencional, em que há frequente


revolvimento do solo por aração e gradagem, ocorrem grandes perdas de
matéria orgânica do solo, em relação aos teores originais de solo com a
vegetação natural, o que é muito agravado por erosão e queimadas. Daí a
razão de haver forte redução da matéria orgânica em solos cultivados em
relação à situação anterior, com floresta, por exemplo. A agricultura de
conservação tem potencial de reverter de forma efetiva esse processo de
degradação da matéria orgânica e do solo, resultando em novas condições
de equilibrio.
A matéria orgânica conserva, em suas estruturas quimicas, elementos
remanescentes das estruturas dos seres vivos que os originaram, refletindo
sua composição, com predominância daqueles elementos que participam
em maiores teores nos compostos orgânicos: carbono, hidrogênio, oxigênio,
nitrogênio, enxofre e fósforo. Esses elementos participam daestrutura básica
da matéria orgânica, constituída de cadeias e anéis de carbono, contendo
hidrogênio e oxigênio, e grupamentos funcionais diversos nos quais se
destacam nitrogênio, enxofre e fósforo. À constituição quimica da matéria
orgânica do solo não é definida em termos de compostos específicos, como
ocorre com os minerais, pois é formada a partir de uma multiplicidade de
resíduos orgânicos, submetidos, por sua vez, a diversos tipos de reações e
ações de organismos diversos. Alguns componentes gerais do húmus, em
geral de peso molecular elevado, incluem polissacarídeos, proteinas e outras
substâncias de composição incerta.
Para fins práticos, considera-se que a matéria orgânica do solo,
ou húmus, tem em média 58% de carbono. Com base nisso, tem-se a
seguinte fórmula:
Matéria orgânica (%) = Carbono (%) x 1,724 [6.5]
Alguns números podem ajudar a fixar o raciocínio. Assim, pode-se
considerar, para facilitar a lembrança, as relações 100:10:2:1 de C:N:P:S.
Esses números são ordens de grandeza que têm origem na relação desses
elementos em plantas e no que resta no solo após a humificação. Discussões
amplas sobre essas relações podem ser encontradas em doislivrosclássicos
da literatura edafológica: Russell (1973); Tisdale e outros (1985).
O húmus, ou matéria orgânica do solo, não é apenas uma fonte de
nutrientes. Talvez mais importantes sejam as notáveis propriedades de
natureza coloidal que apresenta, decorrentes de uma estrutura orgânica
complexa, aliada a uma fina subdivisão de partículas. Através de suas longas
cadeias orgânicas, a matéria orgânica funciona como condicionador de solo,
agregando partículas minerais e conferindo ao solo condições favoráveis de
Solo e interações com gesso 77

porosidade e friabilidade. A matéria orgânica aumenta a capacidade de


retenção de água dos solos e é responsável, em grande parte, pela capacidade
de troca de cátions. No caso de adsorção de sulfato, importante para o
efeito de gesso em solos, a matéria orgânica não retém sulfato, por ser
eletronegativa; pelo contrário, repele o ânion.

6.5 Disponibilidade de água no solo

À água ocupa umaparte dos poros do solo, sendo o espaço restante


ocupado por ar. A quantidade de água existente no solo em um
determinado momento resulta do balanço de adições, por chuva, orvalho
ou irrigação, e das remoções, por drenagem, escorrimento e
evapotranspiração. Em condições de drenagem livre, existe um máximo
de água que o solo pode reter, que corresponde ao teor existente no solo
saturado após a remoção do excesso de água por drenagem. É a chamada
capacidade de campo. Nessa situação, a água saiu dos poros maiores,
ficandoretida nos microporos ou poros capilares e adsorvida em partículas
de solo de menor tamanho. Um limite inferior importante corresponde
ao teor de água em que as plantas apresentam murcha permanente, por
não conseguirem absorvera água ainda existente no solo. É o chamado
ponto de murchamento permanente. Com base nesses extremos,
considera-se disponível no solo a quantidade de água contida entre o
mínimo, correspondente ao ponto de murchamento, e o máximo,
correspondente à capacidade de campo. Esta é uma descrição muito
limitada do problema de armazenamento de água no solo, que serve às
finalidade deste livro. Na prática o assunto é bem mais complexo: Maiores
detalhes são fornecidos em livros de edafologia ou física do solo
(Reichardt, 1978; Singer e Munns, 1987; Wild, 1988).
A água retida no solo deve ser expressa, de preferência, na base de
volume de água para volumedesolo, ou seja, dm'/dm”. Também tem sido
usada a expressão em milímetros de água para uma determinada
profundidade, o que é uma maneira útil para trabalhos de irrigação. A
expressão do teor de água por peso de terra seca a 105 “C, ou g/kg, é outra
forma de apresentar resultados, mas para fins práticos eles devem ser
convertidos para volume.
Em solos arenosos, que têm menores capacidades de armazenamento
de água,as culturas são mais suscetíveis a deficiências hidricas ocasionais.
Nos solos argilosos, a capacidade de campo é elevada, mas o ponto de
murchamento também, devido aos elevados potenciais de retenção de água
partículas menores e em microporos.
78 Gesso na agricultura

Características dos perfis de solos são importantes na dinâmica da


água. Assim, em solos com distribuição uniforme de argila, como ocorre em
Latossolos, a ascensão de água no perfil, por capilaridade, em direção à
superfície onde ocorre evaporação, pode ser facilitada, Já em alguns solos
com aumento do teor de argila em profundidade e com um horizonte
superficial arenoso, como é o caso de alguns Argissolos, ocorre
descontinuidade na estrutura de poros, a ascensão não é favorecida e o solo
conserva melhor a água.
Algumasplantas possuem sistemas radiculares extensos e profundos,
o que aumenta consideravelmente o volume explorado de solo e, assim, é
maior a possibilidade de absorver água, principalmente em períodos de déficit
hídrico. Merrill e outros (2002), para o Centro-Norte dos Estados Unidos,
avaliaram a profundidade de raizes de várias plantas cultivadas sob plantio
direto. A profundidade máxima atingida pelas raízes foi de 145 cm para
girassol, 113 cm para canola e 99 em para soja.
Timlin e outros (2001) identificaram setenta áreas com diferentes
profundidades do solo, em plantação de milho do Estado de Nova York,
variandode 20 ema 100 cm. Cada uma dessas áreas foi dividida em duas
subáreas pareadas, que receberam ou não irrigação. A Irrigação resultou
em aumentos significativos de produção de milho, maiores nas partes mais
rasas do solo, de menos de 50 em de profundidade. Com irrigação não houve
diferença entre as diversas áreas, mostrando que, quando a profundidade do
solo decrescia, aumentava a importância da água como fator limitante da
produtividade.
Fiorin e outros (1997), em solo Podzólico Vermelho- Amarelo de Santa
Maria, RS, verificaram relação direta entre o armazenamento de água no
horizonte A e a produção de grãos. As áreas com horizonte A profundo, nos
dois anos agricolas do estudo, apresentaram maior quantidade de água
armazenada, correspondendo aos maiores valores de produção de matéria
seca e de grãos.
Quandoo solo apresenta impedimentosfísicos ou químicos à penetração
de raízes, a água existente nas camadas abaixo desses impedimentos fica
inacessível para as plantas, reduzindo assim a capacidade do solo de suprir
água, pela diminuição do volume explorado pelas raízes. É um assunto
importante em solos ácidos, em que a ocorrência de alumínio trocável ou a
deficiência de cálcio no subsolo constituem “barreiras químicas” que impedem
o aprofundamento do sistema radicular.
O suprimento de água é mais importante em certos períodos das
culturas. Rosolem (2005) indica as seguintes exigências hídricas da soja, em
milímetros por dia, para diversos estádios de desenvolvimento da cultura:
Solo e interações com gesso 79

Semeadura - emergência ............ ren eerererereneerernerntetera 22


Emergência - início do florescimento .............ci errei 541
Início do florescimento - surgimento de vagens ............i 74
Surgimento de vagens - 50% de folhas amarelas................. 6,6
50% de folhas amarelas - maturação... 3;7
O mesmo autorcita trabalhos indicando quea produtividade máxima
da soja só é obtida se o sistema radicular atinge até | m de profundidade.
Umacurva mostrada em figura revela que, se as raízes atingirem apenas 60
em, a produção de soja será de 70% do máximo,
Wild (1988) apresenta duas informações importantes. Uma
refere-se a plantio direto. Em ano seco, nesse sistema de produção,
um solo argiloso sob plantio direto armazenou 10% a mais de água do
que sob plantio convencional, especialmente abaixo de 50 cm de
profundidade, o que permitiu ao trigo obter 22 mm a mais de água do
solo não perturbado. Outro resultado mostra que em trigo de inverno,
em periodo seco, raízes a mais de | m de profundidade, representando
apenas 3% do peso total delas, foram responsáveis pelo'suprimento de
cerca de 20% da água usada,
Esses trabalhos levam a umareflexão sobre qual seria a profundidade
de correção de barreira química de solos que se deve almejar com a
gessagem. Além disso, quando se trata de aplicação de gesso para melhor
aproveitamento de água do solo, em geral menciona-se que isso seria
importante para períodos de veranico, na época de maior desenvolvimento
das culturas. Em geral não é lembrada a segundacultura, ou “safrinha”, tão
difícil de conduzir a bom termo em vastas áreas do Brasil Central, onde
ocorrem secas prolongadas e severas no inverno. Um “prolongamento” do
ciclo proporcionado pela água das camadas mais profundas do subsolo poderia
ser desejável.
Pesquisadores da Embrapa Cerradosjá apontavam para a importância
da profundidade de raízes de algumas culturas cultivadas no cerrado há
bastante tempo (Luchiari Júnior e outros, 1986). Os autores indicam
profundidades possíveis, se não existirem fatores impeditivos, de até 2 m
para milho e 1,5 m para soja e feijão.
Informações de Csiro (2005) mostraram a importância da absorção
de água entre 130-170 cm de profundidade pelo trigo, o que levou ao aumento
de produção de 67 kg/ha de grãos por mililitro de água usada, ou cerca de
uma tonelada a mais de trigo para apenas 15 mm de água absorvida de
camadas profundas.
80 Gesso na agricultura

Esses resultados atestam a necessidade de maiores conhecimentos


sobre a importância da água de camadas mais profundas do solo para a
produtividade das culturas.
A água do solo é o veículo de transferência de elementos químicos, nutrientes
e outros elementosdo solo paraas raízes. Na realidade, não se trata de água pura,
mas sim de solução: a solução do solo. A água, ao percolar através do perfil do
solo, leva em solução nutrientes que, se deslocados abaixo do alcance das raizes,
são perdidos. A isso se chama lixiviação. Em solos com menor capacidade de
retenção de água, de textura leve, as perdas porlixiviação são maiores.

6.6 Capacidade de troca de cátions e pH

Uma das mais importantes propriedades do solo é a troca de íons,


principalmente de cátions. Os solos apresentam, nos minerais da fração
argila e na matéria orgânica, uma carga elétrica negativa, que é
contrabalançada por cátions. Os componentes da capacidade de troca de
cátions, a pH 7, são:

Soma de bases: SB = Ca” + Mg” +K + Na. [6.6]


Acidez total a pH 7: H + AL” [6.7]
Capacidade de troca de cátions: CTC = SB + H+ AU [6.8]
Capacidade de troca de cátions efetiva: CTC.; = SB + Al [6.9]
A CTC e componentes são expressos em mmol./kg, no caso de
pedologia, e em mmol. /dm” em trabalhosde fertilidade do solo, com mmol,
representando o milimol de carga. Anteriormente, mmol. era chaniado
miliequivalente e representado por 100 g ou por 100/cm”. Portanto, os
resultados na representação de mol./dm” são dez vezes maiores do que a
representação em meq/100 cm”.
A CTC é ocupada por umaparte ácida, H + Al” e umaparte básica,
a SB. O grau de acidez do solo é medido pelo pH em suspensões de terra
em água, cloreto de potássio | mol/L ou cloreto de cálcio 0,01 mol/L. A
diferença entre o pH em KCI 1 mol/L e o pH em água é chamada de ApH
(delta pH). Normalmente, amostras superficiais de solos ou de solos
eletronegativos apresentam valores de pH negativos, evidenciando carga
negativa superior à carga positiva.
Um conceito muito prático é o de saturação por bases, calculado por:

100 SB
V=e———
6.10
CTC [6.10]
Solo e interações com gesso 81

Outro conceito útil é o da saturação por alumínio, diretamente usado


para diagnosticar a necessidade ou não de aplicação de gesso em solo. O
cálculo é feito por:
100 AP”
m=————— [6.11]
CTC
A CTC indica o tamanho do “reservatório” do solo em cátions
trocáveis, conforme expresso nafigura 6.1, que mostra a ocupação da CTC
com diversos cátions e sua relação com o pH.
A saturação por bases indica o quanto da CTC está ocupado pelos
cátions básicos, Ca?*, Mg”, K' e Na”. Para amostras superficiais de solos,
em que a CTC é predominantemente devida à matéria orgânica (Raij, 1969),
podem ser estabelecidas, para diferentes regiões, relações lineares entre o
pH e a saturação por bases (Raij, 1968). Um exemplo é dado para São
Paulo, na figura 6.2., indicando a relação esquemática entre a saturação por
bases e o pH dos solos, determinado em água ou cloreto de cálcio.
Essas relações representam a camada superficial de solos, não
podendo ser utilizadas tal e qual para amostras de subsolos.

pH em pH em
CaCl, HO À
80-| |6,6 -

554 |6,1 H

451 151 ABr


pH atual

do solo
40

Figura 6.1. Representação esquemática da CTC do solo como um reservatório cujo nível de
bases é indicado pelo pH. Se a acidez é neutralizada, desaparece primeiro o alumínio,
depois o hidrogênio, e o pH sobe.
82 Gesso na agricultura

pH em água
pH em Call, 0,01 M
oq

0 20 40 60 so 100
Saturação de bases (V%)

Figura6.2. Relação esquemática entre saturação porbases e o pH, determinado em CaCl, 0,01
mol/L ou emágua, pertinente a amostras superficiais de solos do Estado de São Paulo.

6.7 Classificação de solos

A ação do gesso como melhorador de subsolos ácidos parece ter


uma importante relação com as condições climáticas, que por sua vez afetam
os solos. De formageral, pode-se dizer que as piores condições para efeitos
positivos do gesso estão na Região Sul e as melhores na Região Centro-
Oeste. Isso tem a ver com as propriedades dos solos, que se tornam mais
eletronegativos em regiões mais frias.
Da maneira como o solo é formado, com ação predominante de
organismos próximo da superficie, ocorre uma diferenciação no sentido
vertical, formando-se camadas distintas, denominadas horizontes. Ao
conjunto de horizontes que vai da superfície do solo até o material de origem
denomina-se perfil do solo. Os horizontes são denominados pelasletras O,
A, BeC, na segiiência de horizontes menos os mais profundos.
Em solos cultivados, constantemente revolvidos por arações e
gradagens, forma-se uma camada bastante uniforme, chamada de camada
arável ou horizonte Ap. Para fins práticos de fertilidade do solo, é comum
considerar essa camada como tendo 20 cm de profundidade, embora em
geral ela possa ser um pouco menos espessa. No caso da agricultura
conservacionista, em que o solo não é revolvido, a camada superficial passa,
novamente, a assemelhar-se à de solos virgens, em que grande parte da
adição de materiais orgânicos se dá na superficie, e a ação subterrânea por
ação de raízes e organismosdiversos, comoinsetos e minhocas, por exemplo.
Solo e interações com gesso 83

Resultados contraditórios sobre efeitos de calcário ou gesso em


culturas, que têm surgido com bastante fregiiência nos meioscientíficos da
ciência do solo, provavelmente têm a ver com a diferença da natureza dos
solos, aspecto pouco explorado em estudos de calagem e gessagem.
O Brasil é bastante avançado em classificação de solos, que tem
forte sustentação em amplo trabalho de campo realizado no país há mais de
meio século. Os principais levantamentos de solos realizados no Brasil são
apresentados na relação bibliográfica apresentada em Embrapa (1999).
A classificação de solos descrita por Embrapa (1999, apêndice L) é
recente e ainda pouco conhecida. Muitos trabalhos técnico-científicos
apresentam a denominação de solos utilizada até 1999. As relações da
classificação nova com a anterior são mostradas para alguns solos mais
importantes na tabela 6.2.
As diversas classes de solos podem apresentar horizontes com
determinados atributos, decisivos ou não na classificação. Alguns serão
ressaltados, buscando-se aqueles que possam interferir de forma positiva
no efeito de gesso em solos.
Um conceito importante é o de atividade da fração argila, em termos
de capacidade de troca de cátions. Para permitir a comparação de solos de
diferentes texturas, os resultados de capacidade de troca de cátions são
transformados para quilograma de argila, incluindo o efeito da matéria
orgânica. O cálculo é feito por:

(CTC x 1.000)
CTC. (da fração argila) = —————— - [6.12]
Teor de argila

sendo o teor de argila dado em g/kg. A argila é considerada como tendo


atividade alta quando a CTC, é igual ou superior a 270 mmol. /kg; é de
atividade baixa quando inferior a esse número. Este critério aplica-se para
distinguir classes de solos. Contudo, para a maior parte dos solos bem
drenados do Brasil, trata-se de um limite bem acima dos valores encontrados
normalmente.
A saturação por bases (valor V) é utilizada para distinguir classes de
solos, com base em resultados do horizonte B, com um limite de 50% entre
saturaçõespor basesalta e baixa. É uma avaliação muito útil para determinar
anecessidade de calcário dos solos, mas pouco útil para estimar a necessidade
de aplicar gesso.
O caráter alumínico, medido no horizonte B, tem como limites o teor de
alumínio trocável no solo maior ou igual a 40 mmol/kg, além de saturação por
alumínio maior ou igual a 50% e/ou saturação por bases menor que 50%.
84 Gesso na agricultura

É possível que solos que tenham horizonte B com caráter alumínico


sejam indiferentes à aplicação de gesso. Isso porque os altos teores de
alumínio indicam também elevada carga negativa do solo e provável pouca
adsorção de sulfato. Além disso, os teores de alumínio são excessivos para
serem afetados pela gessagem. Adverte-se, contudo, que se trata de hipóteses
a serem verificadas experimentalmente.

Tabela 6.2. Principais características e relação entre as classes de solo do Sistema Brasileiro
de Classificação e a classificação anteriormente usada

Classe de . Exemplos da classificação


solo atual Alguns atributos anterior (Oliveira, 1999)
Alissolos Argila de atividade de 200 mmolkg! Podzólico
ou mais e Al > 40 mmol/kg'. Vermelho-Amarelo
Argissolos Argila de atividade baixa e horizonte B textural. Podzólicos

Cambissolos Matéria mineral com Litossolo, solos de


horizonte B incipiente. Campos do Jordão
Chernossolos Horizonte A chernozêmico sobre Brunizem Avermelhado
B textural, alta saturação por bases
e argila de atividade alta.

Espodossolos Horizonte B espódico subjacente Podzol Hidromórfico


a horizonte eluvial E.

Gleissolos Solos hidromórficos com horizonte glei. Glei Pouco Húmico

Latossolos Material mineral com Latossolos Amarelo, Roxo,


horizonte B latossólico. Vermelho-Escuro e Vermelho-
Amarelo
Luvissolos Horizonte B textural com argila de Podzólico Vermelho-
atividade alta e saturação por bases alta. Amarelo Eutrófico

Neossolos Material mineral ou orgânico pouco espesso. Areia Quartzosa

Nitossolos Horizonte B nítico (reluzente) Podzólico Vermelho-


de argila de atividade baixa. Amarelo Álico

Organossolos Solos pouco desenvolvidos, constituídos Solo Orgânico Álico


de material orgânico

Planossolos Solos minerais imperfeitamente Planossolo Eutrófico


ou mal drenados.
Plintossolos Solos minerais formados sob condições de Plintossolo Pétrico
restrição à percolação, apresentando plintização. Distrófico
Vertissolos Horizonte vértico, com pronunciadas Vertissolos
mudanças de volume com o aumento
do teor de umidade do solo.

Fonte: Embrapa (1999).


Solo e interações com gesso 85

O caráter sódico de solos é utilizado para distinguir horizontes ou


camadas de solos que apresentem saturação por sódio (100 Na /CTC)igual
ou maior do que 15% em alguma parte da seção de controle que define a
classe. Para fins de manejo, umaalta saturação de sódio é indesejável, e o
processo mais utilizado no mundo para reduzir essa saturação é a aplicação
de gesso, seguida de irrigação e drenagem dosolo.
Caráter ácrico é um termo utilizado para alguns solos, que
provavelmente devem ser o alvo preferido da aplicação de gesso. O termo
refere-se a materiais de solos contendo quantidades iguais ou menores que
15 mmol/kg de argila de CTC.; (Equação 6.11.), devendo,ainda, preencher
pelo menos umadas seguintes condições: (1) pH em KCI 1 mol/L igual ou
superior a 5,0, ou (2) ApH positivo ou nulo.
A CTC. de solos ácricos, já extremamente baixa, vem em geral
associada com teores baixos de bases e de alumínio trocável. Isso faz com
que seja muito fácil reduzir a saturação de alumínio desses solos. Contudo,
se a adsorção de sulfato é muito elevada, isso pode exigir quantidades
elevadas de gesso para atingir maiores profundidadesdo solo.
Umaalternativa interessante para avaliar o efeito de gesso em solos
é a separação em solos cauliníticos e oxídicos, feita pelo índice kr, calculado
pela expressão:
kr = SiO,(ALO; + Fe,0) [6.13]
Para os cálculos, os óxidos (em porcentagem) devem ser divididos
pelos seus pesos moleculares.
Outro índice similar é o ki, calculado por: '
ki = (SiO,x 1,70/ALO; [6.14]
O ki é uma importante referência para a avaliação de caulinita em
solos, considerando-se que umacaulinita pura tem um índice ki de 2.
Para classificação, solos cauliníticos devem ter kr maior do que 0,75
e solos oxídicos, kr igual ou menor do que 0,75.
Para fins de adsorção de sulfato, pode-se especular que os óxidos
hidratados de alumínio, ou gibbsita, seriam mais importantes que os óxidos
de ferro e, se isso for verdade, o índice ki seria mais relevante no caso.
Correia e outros (2002) fazem considerações interessantes sobre solos
e relações com uso e manejo que são úteis para esta discussão. Ressaltem-
se alguns atributos químicos usados em fertilidade do solo, segundo osautores,
aplicáveis ao horizonte B:
* Solos eutróficos: têm saturação por bases igual ou acima de 50%,
são normalmente de boafertilidade natural e têm alumínio nulo ou reduzido.
86 Gesso na agricultura

* Solos distróficos: a saturação por bases é menor que 50% e são


normalmente de baixa fertilidade natural, com alumínio nulo ou baixo.
* Solos álicos: apresentam saturação por alumínio maior ou igual a
50%; em geral têm baixa fertilidade e alumínioalto.
* Solos ácricos: têm ApH nulo ou positivo e CFC, menor que 15
mmol;/kg de argila, sem desconto da matéria orgânica; apresentam capacidade
de adsorção de ânions (fosfato, sulfato,nitrato e cloreto).
Ostrês últimos grupos de solos têm problemas variáveis de acidez no
subsolo, podendo todos serem cogitados como provavelmente responsivosa gesso.

6.8 Sugestões de pesquisa

Assugestões dadas a seguir têm a finalidade de despertar o interesse


em apreciar melhoros resultados de análises de perfis de levantamentos de
solos e relacioná-los com a “fertilidade do subsolo”.

6.8.1 Identificação de solos com barreiras químicas

Com base em resultadosde análises químicas de perfis e de tradagens


dos levantamentosde solos de sua região,identificar os solos com provável
barreira químicae a que profundidade se inicia, usando oscritérios para São
Paulo do item 5.5. Para fazerisso, antes converter os resultados para volume
de solo.
Grupar esses solos por unidades de solo e classificação e pelos
atributos do horizonte B de eutróficos, distróficos, álicos e ácricos.
Determinar a CTC, da amostra de solo correspondente ao centro do
horizonte B. Relacionar com os dois itens anteriores.

6.8.2 Cálculos da correlação saturação por bases e pH

Ampliar o gráfico da Figura 6.2. e plotar os resultados, com base em


pH e V, separadamente, do horizonte superficial e do horizonte B, utilizando
cores para diferenciar diferentes agrupamentos de solos.

Referências

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Solo e interações com gesso 87

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Capítulo 7
Propriedades Eletroquimicas de Solos

71 A troca de ions em solos... crer ceara 9


7.2 Materiais trocadores de ions em solos ..........errerrran 9
7.3 Equilíbrio da solução do solo com a fase sólida... 9%
7.4 A reação do solo ........ sie irereereereererereneanaerenaaeneananaraaaearaeaaiea 99
7.5 Ateoria da dupla camada elétrica... 101
7.6 Íons em relação à superfície... 104
7.70 ponto de carga zero .............s ss enicerraresaneearneereaaneereacraaaata 105
7.8 Propriedades eletroquímicas de solos de cargas variáveis ................ 106
7.9 Sugestões de pesquisa ............ ren ceerentenenieereenteenataiaos 109
Referências ........... see eeerneeereceenenerenereraceereaeoerenaeeaaneeeanrerernareos 110

A existência de cargas elétricas na superfície das partículas do solo é


responsável pela propriedade de troca de íons e, também, pelo
comportamento coloidal dessas partículas da fração argila. Embora solos
possam apresentar a propriedade de troca de ânions, a predominância é a
troca de cátions e este é, assim, o tema mais estudado em regiões temperadas
do mundo, de onde vem a maior parte do conhecimento da ciência do solo.
Em condições tropicais úmidas, os solos diferem dos de regiões
temperadas em sua constituição e, em consegiiência, nas propriedades de
superfície. Explica-se isto pela composição química. Minerais de argila, com
exceção do mais resistente, caulinita, são raros. Processos intensos de
intemperismo que atuaram no solo e, muitas vezes, previamente no material
geológico de origem, dele removeram sílica e bases do solo durante a
pedogênese, resultando em solos com a fração argila constituída
predominantemente por caulinita e óxidosde ferro e alumínio, além de matéria
90 Gesso na agricultura

orgânica, À influência da composição mineralógica desses solos nas


propriedades eletroquímicas torna-os bastante diferentes de solos de regiões
temperadas. Contudo, ressalte-se que mesmo assim ainda predominaa troca
de cátions na camada superficial do solo.

7.1 A troca de íons em solos

Trocadores de íons são materiais insolúveis que contêm, adsorvidos


em cargas elétricas superficiais, íons de carga oposta à da superfície, que
podem ser trocados por outros íons de mesma carga. Considerando X a
fase sólida de um trocadorde íons, tem-se, para troca de cátions, o seguinte
exemplo:
XNa'+KCIZX K'+NaCl [7.1]
Nessa reação de troca iônica, o cátion trocável Na”, adsorvido na
superfície negativa da fase sólida, foi permutado com o cátion de mesmo
sinal, K*. Se houver um grande excesso de KCl, a maior parte do Na” será
removida do solo.
Mais detalhes sobrea troca de íons são dados por Helfferich (1962),
Rai) (1971), Sparks (1995) e Meurer (2006).
Da mesma forma, uma reação de troca de ânions pode ser
exemplificada por:
X”CI; + NaSO, 2 X”SO* + 2NaCI [7.2)
A reação é similar à anterior. Mas, neste caso, por ser o sulfato
divalente mais fortemente retido na superfície do trocador de ânions, é
possível realizar a extração de Cl de forma mais eficiente que na
reação anterior.
No caso de solo, com diversos cátions trocáveis, a extração com
sulfato de cálcio é representada na Figura 7.1.
Percebe-se também, na Figura 7.1, que o sulfato de cálcio aumenta
os teores de potássio e magnésio em solução, por troca iônica. Dessa forma,
com a gessagem, o fluxo de solução de sulfato de cálcio descendo pelo
perfil irá arrastar K* e Mg” perfil abaixo, podendo haver perda expressiva
se os devidos cuidados não forem tomados. É assunto que será discutido em
diversas partes deste livro.
A solução de sulfato de cálcio tem uma concentração máximalimitada
por sua solubilidade e, por essa razão, remove pouco Al”, um cátion
fortemente retido no solo porser trivalente. Assim, a lixiviação de alumínio
através do gesso não será tão importante como é para K e Mg.
Propriedades eletroquímicas de solos 91

Ca Ca Caso,

Mg Ca MgSO,
Solo + 4CasSo, = Solo +
K Ca 1/2 K,SO0,

Al Ca AL(SO,)s

Figura 7.1. Representação da troca de cátions em solosatravés de sulfato de cálcio.

Mais algumasinformações são necessárias para situar melhora troca


de cátions, agora focando o trocador. O excesso de carga elétrica negativa
superficial do trocador de cátions é contrabalançado por cátions trocáveis,
também denominados contra-íons. Além disso, na solução do solo ocorrem
também ânions, ou seja, íons com carga elétrica igual à da superfície,
denominados co-íons, que são repelidos. Para manter a eletroneutralidade
do sistema, esses ânions são contrabalançados por quantidade equivalente
de contra-ions, além dos que estão adsorvidos. Essa situação é ilustrada na
figura 7.2, que mostra uma superfície (maneira esquemática de ilustrar a
“superficie” exposta das partículas de solo) com carga elétrica negativa
contrabalançada por cátions trocáveis e, no interior da solução, mais distante
da superfície, os íons, cátions e ânions, que nada mais são do que sais solúveis.
Ressalte-se que, em climas úmidos, os sais podem ser lixiviados ou
removidos do perfil do solo pela água de drenagem. Já em climas mais
secos, sais podem se acumular no solo e até chegar a concentrações que
inviabilizam o crescimento dasplantas.
A figura 7.2 é correta para um solo que é essencialmente um trocador
de cátions e não adsorve sulfato. Todos os estudos teóricos de troca de
cátions em solos consideram que os cátions são adsorvidos por atração de
cargas elétricas e os ânions são repelidos. Como veremos em outras partes
deste livro, no caso de solos tratados com gesso, se o sulfato é adsorvido às
partículas do solo, a situação muda. Este é o detalhecrítico que possibilita o
uso do gesso no melhoramento de subsolos ácidos em solos dos trópicos
úmidos. O assunto será retomado posteriormente. Por enquanto, continua-
se a discussão da troca catiônica, aplicável à camada superficial de solos.
Outro fator que deve ser considerado em troca iônica é a energia de
retençãodos elementos no solo. Para cátions, a ordem de retenção em
solos ocorre na seguinte ordem, denominadasérie liotrópica:
AP >>Ca!>Mg” >>K'> Na [7.3]
92 Gesso na agricultura

906 0
|
É
e
|
E

|
Cátions tracáveis
«a
«
Superfície sólida Solução do solo

Figura 7.2. Representação esquemática da solução adjacente à superfície negativa do solo.

O primeiro e principal fator determinante da energia de atração é a


carga do cátion; o segundo é o tamanho do cátion ou íon hidratado (os
cátions em solução são circundados por moléculas de água), os cátions
menores sendo retidos com maior energia.
Para os ânions não se pode apresentar uma sequência similar, por
haver mais de um mecanismo participando da retenção. Mesmona camada
superficial, os íons fosfato são fortemente adsorvidos na maioria dos solos,
embora em grande parte por formar compostos insolúveis, que podem ser
compostos de superfície, com metais como Fe, Al, Ca e outros, em um
processo chamado de troca de ligantes. O sulfato em geral é pouco retido
na camada superficial, mesmo em solos com elevados teores de óxidos de
ferro e alumínio, mas é retido também por troca de ligantes ou por troca
iônica em subsolos oxídicos. Nitrato e cloreto praticamente não são adsorvidos
na camada superficial dos solos, podendo ser retidos por troca iônica em
subsolos oxídicos, embora com muito menos intensidade que o sulfato.
Propriedades eletroquímicas de solos 93

Até agora o ion hidrogênio, muito importante natroca de cátions, não


foi discutido. Na realidade, ele não é um cátion trocável comotal, mas ocorre
não dissociado em diversos grupos ionogênicos de solo, tendo mais um papel
de definir as cargas elétricas em solos, bloqueando-as ou não, dependendo
do pH do meio, como será visto na discussão da origem datroca de tons em
solos. Além disso, em condições de acidez muito elevada no solo, ocorre
dissolução de minerais e aparecimento do cátion trocável AU em lugar dos
ions H.

7.2 Materiais trocadores de íons em solos

A troca de íons, discutida em 7.1, implica na existência de substâncias


com a propriedade de troca de íons. Solos são sistemas complexos e, como
regra, diversos componentes orgânicos e minerais estão presentes nas frações
finas. Portanto, a propriedade de troca de íons, com ampla predominância
da troca de cátions na camada superficial, é resultante das propriedades
individuais e interações dos componentes isolados.
Os principais materiais que possuem a propriedade de troca de íons
em solos são os minerais de argila, a matéria orgânica, os óxidos de ferro e
alumínio e os silicatos de alumínio amorfos, conhecidos como alofanas.
Os minerais de argila, descritos em 6.4, podem ser divididos nostipos
2:1 e 1:1. Em minerais de argila 2:1 predominam cargaselétricas negativas
permanentes, que têm origem em substituições isomórficas nas estruturas
dos minerais. Substituições isomórficas consistem na permuta dos íons que
seriam os “naturais” da estruturacristalina por outros com aproximadamente
o mesmo tamanho, mas que podem ter carga elétrica diferente. No caso
dos minerais de argila, é comum a substituição de silício tetravalente por
alumínio trivalente na camada tetraédrica e de alumínio trivalente por
magnésio divalente na camada octaédrica. A estrutura perfeita dos minerais
seria neutra se eles não tivessem recebido essas substituições isomórficas.
À ocorrência delas resulta na existência de um excesso de carga negativa,
contrabalançada pelos cátions trocáveis existentes na superfície dos minerais.
Os minerais de argila 2:1 que ocorrem em solos e têm importante carga
permanente são ilita, montmorilonita e vermiculita, com valores aproximados
de capacidade de troca de cátions, respectivamente, de 400, 1.200 e 1.500
mmol. /kg. A alta capacidade de troca de cátions desses minerais deve-se,
em parte, à propriedade de expansão que apresenta e permite a participação
de superfícies internas nos processos de troca de cátions. Os três minerais
manifestam exclusivamente troca de cátions. Têm estrutura frágil e são
facilmente intemperizados em climas úmidos e quentes como o do Brasil,
onde são raros em solos bem drenados.
94 Gesso na agricultura

Nas regiões tropicais úmidas, o mais importante mineral de argila é a


caulinita, que é do tipo 1:1. Esse mineral possui capacidade de troca de
cátions baixa, da ordem de 50 a 100 mmol, /kg. A caulinita pode desenvolver
cargas nas arestas e nas superfícies expostas, que sempre serão uma de
tetraedros desílica (termo antigo para dióxido de silício), outra de octaedros
de alumina (termo antigo para trióxido de alumínio). A superfície de sílica é
muito mais eletronegativa, enquanto a de alumina pode desenvolver cargas
positivas.
A CTC da matéria orgânica é de uma magnitude muito grande, em
comparação com a fração mineral dos solos. A sede das cargas elétricas
negativas está em grupamentos funcionais existentes nas grandes cadeias
orgânicas de ácidos húmicos e ácidos fúlvicos, conforme descreve Wild
(1988). A dissociação dos vários grupos funcionais existentes no solo,
orgânicos ou minerais, depende do pH da solução, do conteúdoeletrolítico
do meio e, principalmente, das características de força de ácido ou base de
cada grupo. Algumas macromoléculas, como proteínas, podem apresentar
cargas elétricas líquidas negativas ou positivas, ou podem ser isoelétricas. À
matéria orgânica humificada do solo é constituída de estrutura orgânica de
elevada massa molecular, apresentando grupamentos funcionais diversos,
os citados acimae outros. Contudo, mesmo havendo gruposdecaráter básico,
a matéria orgânica do solo é predominantemente de natureza ácida, nunca
se tornando isoelétrica, com as propriedades acídicas sendo determinadas
principalmente por grupos carboxílicos abaixo de pH 7 e por hidroxilas
fenólicas e enólicas a valores mais elevados de pH (Broandbent e Bradford,
1952; Wiklander, 1964). -
Em solos dostrópicos úmidose dentro do temadeste livro, têm especial
interesse os óxidos hidratados de ferro e alumínio, apresentados em 6.4. Os
óxidos desenvolvem cargas elétricas superficiais em duas etapas. A primeira
consiste na hidratação superficial, com a formação do “hidróxido” de
superfície e dissociação-associação de prótons (H”) dos grupos OH expostos
(Parks, 1967). A segunda etapa é responsável pela formação de cargas
superficiais de ferro (III) e alumínio, em mecanismo esquematizado por
Parks e Bruyn (1962), reproduzido na Figura 7.3. A figura mostra que as
cargas positivas têm origem na adsorção de H, e as cargas negativas, na
dissociação de hidroxilas da superficie.
Outro material que apresenta propriedades de troca de íons é chamado
de alofana, que consiste em uma gama de silicatos de alumínio amorfos com
relações sílica-aluminavariáveis. São mais freguentes em solos recentes, derivados
de cinzas vulcânicas. Têm superficie específica muito elevada.
Propriedades eletroquímicas de solos 95

OH 2 2+

4
Fe

+ 2 o
INOH,

+2H + 504 [/

/ IN
O 2

Fe
+cat+20H [N cat+2n,o
em
o 0

Fe

Figura 7.3. Representação esquemática do desenvolvimento de cargas elétricas negativas €


positivas em superfície hidratada de óxido de ferro, comretenção de sulfato decálcio.

No solo, o efeito desses diferentes componentes na CTC não é


aditivo. Isso porque há fortes interações entre matéria orgânica e
minerais de argila, ou de óxidos com minerais de argila, e, ainda, o
bloqueio físico de cargas elétricas dos componentes por agregação.
Assim, o conhecimento da composição mineralógica e química total
dos solos ajuda na compreensão da evolução de cargas, mas não permite
previsões quantitativas.
Estudos realizados com solos de São Paulo mostram que, em
amostras superficiais de solos, a maior parte da CTC é devida à matéria
orgânica (Tabela 7.1), com valores variando de 56% a 82% para as
oito amostras de solo apresentadas. Essa elevada contribuição deve-
se não somente à importante CTC específica da matéria orgânica, mas
também à baixa CTC específica da fração mineral de solos tropicais,
lembrando ainda que os teores de argila são muito mais elevados do
que os de matéria orgânica.
Para os mesmossolos, a contribuição da fração mineral torna-se mais
importante no horizonte B, com participação menor da matéria orgânica.
Assim, há solo com 59% de contribuição da matéria orgânica na CTC (LEa,
da Tabela 7.2) e outro com apenas 6% (PVls).
96 Gesso na agricultura

Tabela 7,1. Capacidade de troca de cátions total e da matéria orgânica (MO) de amostras
superficiais de solos do Estado de São Paulo

Legenda . . CTC, mmol /Xg


Profundidade Argila MO — CTC da MO
do solo MO Total
cm —— gkg-—— %
PVIs 0-6 50 1,8 22 32 69
Pml 0-15 60 6,0 21 33 64
PIn 0-14 120 25,2 82 100 82
Pe 0-16 190 24,0 60 74 81
Pv 0-12 130 14,0 27 37 73
TE 0-15 640 45,1 150 244 61
LR 0-18 590 45,1 I61 289 56
LEa 0-17 240 2,1 29 39 74

Fonte: Raij (1969).

Tabela 7.2. Capacidade de troca de cátions total e da matéria orgânica (MO) de amostras do
horizonte B de solos do Estado de São Paulo

Legenda . . CTC, mmol /kg


Profundidade Argila MO e CTC da MO
do solo MO Total
em — gkg — Yo

PVls 115-150 170 28 2 35 6


Pml 75-100 270 3,6 9 50 18
Pln 47-100 240 33 2 36 33
Pe 45-74 530 8,5 20 55 36
PV 59-110 560 5,2 15 40 33
TE 55-130 710 3,6 13 78 17
LR 58-82 580 15,2 59 148 40
LEa 74-114 310 5,9 19 32 59
Fonte: Raij (1969).

A matéria orgânica é importante para o comportamento do gesso em


solos. Comoela é fortemente eletronegativa, cria um ambiente de repulsão
do ânion SO,”, que é pouco retido no horizonte superficial de qualquer solo,
como será mostrado posteriormente.
Propriedades eletroquímicas de solos 97

7.3 Equilibrio da solução do solo com a fase sólida

Na figura 7.2 foi mostrada a solução do solo em contato com a


superfície de suas partículas, representada para fins didáticos como uma
camada continua, e a solução do solo em que se movimentam as espécies
químicas.
Já foi discutido que o solo, sendo uma massa porosa, pode ter parte
dos espaços vazios entre as partículas sólidas, os poros, ocupada por água.
Na realidade, não se trata de água pura, mas de uma solução contendo
diversos solutos importantes para as plantas, principalmente os nutrientes e
elementos tóxicos.
A solução preenche parte dos poros do solo, e é dela que as plantas
absorvem os nutrientes. Há equilíbrio entre os íons existentes na solução
com a fase sólida do solo. No caso do gesso, será dada especial atenção à
presença de alumínio, cálcio e sulfato, cada um com comportamento próprio.
A solução do solo, distribuída irregularmente pela rede de poros e
como filmes em tomo das partículas coloidais, é sujeita a variações de
concentração mesmo a curtas distâncias. Essa é uma das grandes
dificuldades em caracterizá-la. A outra é a extração da solução do solo.
Resulta que, embora se reconheça a importância da solução do solo
na nutrição vegetal, pois é dela que as plantas absorvem os nutrientes, o seu
estudo é complexo e não são numerosos os trabalhos que a abordam em
profundidade. É muito difícil extrair dos solos a solução em teores próximos
dos que ocorrem em condições de campo, retida sob tensões consideráveis,
mantendo ainda constante sua composição, mesmo que média.
O equilíbrio existente entre os componentes em solução e na fase
sólida é alterado pela diluição, de forma diferenciada para diversos solutos,
o que impede que os extratos refittam, de maneira correta, a composição da
solução do solo.
Naprática, têm surgido simplificações para o estudo da solução do
solo, tais como o extrato de saturação ou extração na relação 1:1, que são
úteis se as limitações implícitas forem levadas na devida conta. Diversos
exemplos serão mostrados em outros capítulos, envolvendo estudos com
gesso em soluções obtidas como extrato de saturação.
Em solos ácidos predominam os cátions Ca”, Mg”, K' e Na em
solução, além do Al”. Em solos alcalinos é comum haver considerável
quantidade de sais em solução e o surgimento de bicarbonato, HCO,
associado a pH elevado, além de teoresaltos de Na” e SO,”.
98 Gesso na agricultura

Além das formas simples dos íons, a solução do solo contém formas
complexas, representadas por um grande número de espécies químicas em
solução, iônicas ou não, cujas concentrações e atividades são calculadas
por computador, usando programas específicos. É assunto que será discutido
no Capítulo 8.
É importante destacar que na solução do solo ocorrem cátions e ânions
em quantidades estequiométricas, ou seja, quantidades iguais, em termos de
milimols de carga. Essa é uma informação importante para a compreensão
de alguns processos que ocorrem no solo, como por exemplo lixiviação de
sais, que muitas vezes tem sido considerada levando em conta apenas cátions
ou apenas ânions, com o que a descrição fica incompleta.
Um conceito importante a ser considerado no equilíbrio da solução do
solo com a fase sólida é a interface sólido-líquido, sede de importantes
reações envolvendo diversos elementos químicos. O equilíbrio entre
componentes da fase sólida e da fase líquida tem como consegiiência a
transferência de espécies de uma fase para a outra. Portanto, os elementos
existentes na solução do solo estão em estreita dependência da composição
e das propriedades da fase sólida. No caso do sulfato, há diferenças
marcantes de comportamento. Em solos de clima temperado, de elevada
carga negativa, o sulfato é repelido pela superficie das partículas; em solos
dos trópicos úmidos, oxídicos, o sulfato é retido com considerável energia,
com efeitos práticos na ação do gesso.
Há vários tipos de equilíbrio entre solução e fase sólida. Os íons Ca”,
Mg”, K*, Na”, NH* e Al”, em solos de acidez elevada, apresentam um
equilíbrio de troca de cátions. Fosfatos são controlados por processos de
adsorção conhecidos comotrocade ligantes,na realidade uma reação química
com a superfície. Os íons NOye Cl" em geral interagem pouco com a
superfície das partículas, sendo até repelidos, permanecendo em solução,
sendo retidos apenas em subsolos com cargas elétricas positivas. O íon
So” pode ter comportamento similar ao de nitrato e cloreto ou do fosfato,
dependendo das condições da superfície das partículas do solo, mas, mesmo
em solos em queele é adsorvido,a energia de adsorção é muito inferior à de
retenção de fosfato.
Um assunto muito contemplado na pesquisa é o equilíbrio entre cátions
na solução do solo e os cátions trocáveis adsorvidos no solo. Embora os
teores trocáveis sejam os determinados em análise de solo, as plantas retiram
os cátions, através das raizes, da solução do solo.
A lei da ação das massas, utilizada para desenvolver equações de
equilíbrio, não pode ser aplicada a equilíbrio entre cátions em solução e
Propriedades eletroquímicas de solos 99

adsorvidosao solo, pois pressupõe o uso de atividade de íons, e não há como


estabelecer com precisão a atividade dos cátions trocáveis.
Para contornar essa dificuldade, têm sido desenvolvidas diversas
expressões matemáticas semi-empíricas, as quais têm se mostrado válidas
em diferentessituações experimentais. Uma das expressões mais simples e
mais usada, relacionando os cátions trocáveis com os cátions em solução, é
a equação de Gapon, que pode ser representada, para os cátions K* e Ca”:

=k
Kroc. K*

[7.4]
Ca” oc. + Mg” oc. (Ca? + Mg” )'?

Nessa equação, K'ic € Caro. + Mg”oc. representam os cátions


trocáveis; K' e Ca?* + Mg”, as concentrações dos íons em solução e k é
uma constante. A constante de Gapon, k, é característica para as condições
experimentais, variando com o tipo de colóide, a densidade de carga e a
saturação de cátions.
Mott (1987) pondera que o uso de concentrações poderia não parecer
adequado nesse tipo de equação. Contudo, a equação de Gapon tem sido
usada extensivamente em estudos de salinidade, com a constatação que
relações equivalentes de sódio e raiz quadrada de cálcio + magnésio são
muito parecidas com as relações correspondentes utilizando atividades, ao
invés de concentrações.
Um aspecto importante da equação de Gapon é a associação de
diferentes concentrações de cátions na solução de equilíbrio com o solo, com
uma mesma relação de cátions trocáveis, desde que a Equação 7.4 seja
satisfeita. Isso porque, não havendo depleção considerável doscátions trocáveis
e sendo k constante, dentro de limites bastante amplos, é a relação de
concentrações, K'/[Ca” + Mg”, que passaa ser constante (Schofield, 1947).
No caso de solos tratados com gesso, a equação de Gapon pode ser
utilizada na forma:

Ca” oe. + Mg q. (Ca? + Mg”

=k [7.5]
APoe. (APS!

7.4 A reação do solo

No Capítulo 6 foram apresentadas algumasdefinições relacionadas à


acidez do solo e capacidade de troca de cátions. Agora, o importante tema
reação do solo será detalhado.
100 Gesso na agricultura

A reação do solo é avaliada por meio do pH, que é normalmente


medido em umasuspensão de solo em água ou em solução salina.
Do ponto de vista químico, ácidos são substâncias que, em solução,
liberam prótons, ou íons hidrogênio, H . Ao contrário, bases são substâncias
capazes de receber prótons. Em solos, os sistemas de interesse são, em
geral, aquosos, podendo-se utilizar as expressões das atividades dos íons
hidrogênio, (H ) e hidroxila (OH ).
A dissociação de um ácido em solução pode ser representada por:
HA ZH +HA [7.6]
,o. . . pie + A. « ,m- 014
O ácido HA dissocia-se no cátionH eno ânion (simbólico) A . Ácidos
fortes dissociam-se totalmente. Ácidos fracos, que têm mais pertinência
com problemas de acidez de solos, dissociam-se muito pouco.
Pelo fato de ácidos fracos se dissociarem muito pouco, ocorrem em
solução concentrações muito baixas de íons hidrogênio, tão baixas que se
torna inconveniente a representação em números decimais. O conceito de
pH, introduzido para representar concentrações (é mais correto dizer
atividade, mas esse detalhe não é importante para as discussões que se
seguem) muito baixas do ion hidrogênio, é definido por:

1
pH = log (H= (1) [7.7]

Com essa representação, uma solução contendo 0,00001


mol/L de H' tem pH 5. Esse tipo de representação é também usado para
constantes de equilíbrio. Pode-se dizer que p (qualquer coisa) =-log (qualquer
coisa) (Christian, 1994).
A dissociação da água é dada por (Tan, 1993):
Hº + OH = HO PK= 101º [7.8]
Resulta que:
pH + pOH = 14 [7.9]
Dessa forma, a escala de pH varia de O a 14. Valores abaixo de 7 indicam
acidez; acima, alcalinidade. Aneutralidade corresponde ao pH 7. Em solos podem
ser encontrados valores de pH de menosde 3 até cerca de 9, embora os valores
mais comuns ocorram na faixa intermediária, onde existem as condições mais
favoráveis de desenvolvimento da maior parte das plantas cultivadas.
Solos apresentam poder tampão, que é a resistência de mudança do
pH pela adição de pequenas quantidades de ácido ou base. Considerando
Propriedades eletroquimicas de solos 101

neste ponto somente a fração inorgânica do solo, Sparks (1995) ensina que,
para solos com pH variando de 4,5 a 5,5, o mecanismo principal de
tamponamento é o alumínio, de 5,5 a 7,3, os silicatos e acima de pH 7,3, 0
carbonato. Como a maior parte dossolosbrasileiros são ácidos, o alumínio é
o mais importante fator associado à acidez dos solos do ponto devista químico,
sendo também o principal fator do ponto de vista das plantas.
Ás condições mais apropriadas para a maioria das culturas é a faixa
de reação que vai de solos moderadamente ácidos a ligeiramente alcalinos.
São indesejáveis os extremosde acidez elevada, encontrada em climas úmidos,
ou de alta alcalinidade, que é acompanhada de excesso de sódio e, muitas
vezes, de salinidade, condições encontradas em climas áridos ou semi-áridos.
À reação do solo tem efeitos diretos ou indiretos sobre a maioria dos
nutrientes, afetando a disponibilidade para as plantas. Além disso, em diversos
assuntos que serão tratados adiante, neste e em outros capítulos, a reação
do solo se faz presente, já que ela afeta de forma importante numerosas
reações químicas e processos, com destaque para a adsorção de sulfato.
A determinação do pH é feita de três maneiras (Claessen, 1997), ou
seja, em água, em CaCl1, 0,01 mol/L. e em KCl 1 mol/L. A determinação do
pH em água é a mais comum e aplica-se tanto em fertilidade do solo como
em pedologia. O pH em CaCl, é usado em fertilidade do solo, e o pH em
KCl em pedologia. Um atributo calculado é especialmente relevante para a
consideração sobre gesso no subsolo. É o chamado delta pH, calculado por:
ApH = pH Ke” PHpo
H [7.10]

7.5 A teoria da dupla camada elétrica .

Nafigura 7.20 nota-se, de forma esquemática, a superfície externa das


partículas coloidais do solo, com suas cargas negativas. Contrabalançando
essas cargas estão os contra-íons, de carga elétrica positiva. Essa situação
configura a existência de uma dupla camada elétrica, de cargas negativas na
superfície das partículas dos solos,e de cargas positivas dos cátions trocáveis
na solução adjacente. Além disso, as cargas negativas são fixas na superfície,
enquanto a camadapositiva, dos cátions, tem caráter difuso,já que eles podem
mover-se para longe da superficie, atraídos por um gradiente de concentração.
Aqui serão discutidos alguns aspectos relativos à teoria da dupla
camada elétrica, desenvolvida independentemente por Gouy (1910) e
Chapman (1913), daí receber a denominação de teoria de Gouy-Chapman.
Essa teoria descreve a distribuição de contra-íons e co-íons nolíquido próximo
da interface sólido-líquido, relacionando as variáveis carga superficial,
potencial elétrico, concentração de íons e distância da superficie.
102 Gesso na agricultura

Maiores detalhes podem ser encontrados em Overbeek (1952), Olphen


(1963), Parks e Bruyn (1962), Rai) e Peech (1972) e Raij (1982), entre
outros. O objetivo da discussão não é entrar em detalhes da teoria da dupla
camada elétrica, mas apenas dar uma idéia das variáveis que estão
envolvidas, visando oferecer ao leitor uma idéia qualitativa do funcionamento
da teoria.
A maior parte dos estudos com solos e argilas trata de superfícies
com carga elétrica negativa e, em geral, com eletrólitos simétricos (cátions
e ânions com mesmos valores absolutos de cargas).
O modelo assume a existência de pontos de cargas negativas
distribuídas uniformemente sobre a superficie plana. A distribuição de íons
na camada difusa é governada pela relação de Boltzmamn:
n=nexp (ze'P/kT) [7.11]
na qual n; é a concentração de íons do tipo i, em número de íons por cm”; n
é a concentração da solução de equilíbrio; z; é a valência dos íons de tipo 1;
e é a carga elétrica; *P é o potencial elétrico e kT representa a energia
cinética média.
Uma representação esquemática da distribuição de íons na camada
difusa é dada na figura 7.4. Na abscissa é representada a distância do íon
da superficie e na ordenada, a concentração. Note-se que a concentração
do cátion é mais elevada próximo da superfície, devido à atração pelas cargas
negativas, tendendo para a concentração da solução na medida em que se
afasta. Esse comportamento é explicado pelo fato de o cátion estar submetido
a duas forças opostas: a da atração eletrostática pela carga negativa da
superfície e a da difusão, pela tendência do íon de deslocar-se para posições
de maior concentração para concentrações mais baixas encontradas na
solução de equilíbrio. Com o ânion acontece o oposto, havendo umaregião,
próximo da superfície de baixa concentração, devido à repulsão pelas cargas
elétricas de mesmo sinal da superfície, além de existir o gradiente de
concentração que promove a difusão, neste caso, da concentração do líquido
em equilíbrio em direção à superfície. Forma-se, próximo à superfície, uma
região de exclusão de ânions.
Um conceito importante é o de espessura da dupla camadaelétrica,
dado por:
x=1/x [7.12]
O valor de x é calculado pela expressão:
Kº = 8 qne?z”/ekT [7.13]
Propriedades eletroquimicas de solos 103

Concentração de íons

s =nexp (-z eVkT)

no=nexp(+zeWkT)

Distância da superfície

Figura 7.4. Representação esquemática da distribuição de ionspositivos e negativos em uma


dupla camada difusa do tipo Gouy-Chapman.

O conceito de espessura da dupla camadaelétrica é importante para


entender os fenômenosde dispersão e floculação. O significado de x é dado
pela Equação 7.11 e a unidade de representação é em reciproca de
comprimento, o quesignifica que o produto xx é adimensional. A quantidade
1/x é a distância na qual o potencial cai a 1/e de seu valor na superfície e ela
coincide com o centro de gravidade da carga espacial (Scoefield, 1947;
Raij, 1971, 1986). Mesmo sendo o decaimento do potencial na dupla camada
exponencial, 1/x é uma estimativa conveniente da espessura da dupla
camada. A camada de exclusão de ânions, contudo, é mais bem estimada
por 2/x (Scoefield, 1947b).
Em termospráticos, pode-se considerar x como proporcional à valência
do contra-íon e à raiz quadrada da concentração desse íon na solução.
Quantitativamente, significa que o aumento da carga do contra-ion e/ou o
aumento na concentração da solução reduzem a espessura da dupla camada
elétrica. Um exemplo é a substituição de sódio por cálcio, através do gesso,
em solos sódicos. A maior espessura da dupla camada elétrica promovida
pelo sódio, que estimula a dispersão, dá lugar a uma situação de menor
espessura, com o cálcio, que estimula a floculação.
104 Gesso na agricultura

A teoria de Gouy-Chapman não é adequada para concentraçõessalinas


altas ou para potenciais de superfície elevados. Isso se deve ao fato de os
ions serem considerados pontos de carga, sem um volume, podendo
aproximar-se da superficie negativa sem limites. Stem (1924) introduziu
uma correção para o volume dos íons, o que, no caso de solos, permitiu
considerável melhoria em cálculos envolvendo cargas elétricas em solos
(Rai) e Peech, 1972). Os detalhes não serão dados aqui, mas ressalte-se
que os exemplos numéricos de potenciais que serão apresentados já incluem
o cálculo, de acordo com Stem (1924).

7.6 Ions em relação à superfície

Em diversas discussões já foi ressaltada a diferença de


comportamento de tons em relação à superficie das partículas do solo. Aqui
se descrevem essas diferenças de forma mais detalhada. Os íons em solução
diferem em seu comportamento em relação à superfície sólida. Três tipos
gerais podem ser reconhecidos.
Os tons indiferentes comportam-se como contra-íons ou co-ions e a
interação com a superfície não ultrapassa a energia de atração eletrostática
entre cargas elétricas contrárias. Os íons, se próximos da superfície, ou
mesmo na camada de Stern, não perdem a camada de hidratação e não
cruzam interface sólido-líquido. Exemplossão os cátions Ca”, Mg”, K*e
Na”, e os ânions NO;e CI. Merece especial atenção o ânion SO;”, que
pode se comportar como ion indiferente em condições de predomínio de
carga negativa e ausência de minerais que têm uma interação mais forte
com sulfato. .
Os íons especificamente adsorvidos são considerados assim se a
energia de interação é relativamente alta, em geral por causa da formação
de ligação química predominantemente covalente. Os íons são, pelo menos
parcialmente, desidratados quando adsorvidos pela superfície. A reação não
é reversível e os íons especificamente adsorvidosnão são trocáveis, passando
a fazer parte da superfície sólida. A sua liberação, em soluções aquosas em
contato com a superfície, é governada por princípios do produto de
solubilidade e, em geral, as concentrações de equilíbrio em soluçãosão baixas.
Os exemplos mais importantes para solos são os íons orto-fosfato (H,PO;
HPO,”) e o íon fluoreto (F), que está presente como impureza em fosfogesso
e é importante em reações com alumínio.
Em casos em que a energia de interação entre a superficie é baixa, a
não ser que uma reação com a superficie tenha sido estabelecida, é muitas
vezes difícil decidir se os íons são ou não especificamente adsorvidos. E
Propriedades eletroquímicas de solos 105

possivelmente o caso do íon SO,”, em que todo um gradiente pode ser


encontrado, desde camadas mais superficiais de solos, com adsorção muito
baixa, até o horizonte B de solos, com altos teores de óxidos de alumínio ou
ferro, com elevada capacidade de adsorção do ânion.
Os íons determinadores de potencial são encontrados em solução
e na fase sólida. A interface atua como uma camada semipermeável,
permitindo a passagem apenas dos íons determinadores de potencial
em ambasas direções. O processo assemelha-se à adsorção específica,
mas, no caso dos íons determinadores de potencial, é reversível, A
liberação ou adsorção pela superfície, bem como o potencial, dependem
das espécies iônicas em solução. Os íons determinadores de potencial
podem ser visualizados como carreadores de cargas elétricas da
superfície para a solução e vice-versa. Em solos, eles são representados
por H' e OH.

7.7 O ponto de carga zero — PCZ

- Em sistemas aquosos, como é o caso de interesse para solos, o pH é


considerado referência, e os íons H*e OH" são os determinadores de
potencial. No caso de materiais anfóteros, como é o caso de amostras de
alguns subsolos oxídicos, o pH em quea cargaelétrica superficial é reduzida
a zero é um valor característico, chamado de ponto de carga zero (PCZ).
Note-se que isso se refere à carga líquida, podendo existir quantidades iguais
de íons de carga oposta. Esse aspecto é muito importante para o caso do
gesso. Admitindo que a cargaelétrica dos solos é devida apenas à adsorção
de íons Hº e OH”, conforme ilustrado na figura 7.3, o potencial elétrico
superficial devido às cargas elétricas é determinado pelo pH da solução de
equilíbrio e dado por uma relação do tipo de Nernst:
“Po, = (RT/F) In (HH,al [7.14]
Ou, substituindo valores na equação:

Po, = 59 (PCZ —- pH), emmVa 25 “C [7.15]


Nessas equações, o PCZ, ou ponto de carga zero, é o valor do pH da
solução de equilibrio em que a carga elétrica líquida da superficie reduz-se a
zero. As Equações 7.14 e 7.15 mostram que o potencial é calculado pelo pH
do solo, tendo comoreferência de potencial nulo o pH do PCZ.
A eletroneutralidade do sistema exige que a carga da superfície seja
balanceada pelo excesso de carga na fase líquida, na qual a carga líquida
superficial, o , é opostamente igual à carga total espacial da solução, dada por:
o = (2 nekT/n)” sinh (ze'P/2kT) [7.16]
106 Gesso na agricultura

Nessa equação, n é a concentração da solução em equilíbrio em número


de íons por cm”; E é a constante dielétrica do meio; z é a valência do contra-
íon, e os outros simbolos têm o significado usual;
O ponto de carga zero obtido por curvas de titulação é ilustrado
na figura 7.5 para o horizonte A, de um Latossolo Roxo Ácrico. O valor
do PCZ, de 3,84, está abaixo dos menores valores de pH que ocorrem
nesses solos, indicando que o solo permanece eletronegativo a qualquer
valor de pH. O mesmo já não ocorre com o horizonte B, do mesmo solo,
com um valor de PCZ de 6,16 (Figura 7.6), indicando reversão de carga
negativa para positiva para valores de pH abaixo do PCZ (Raij, 1971;
Rai) e Peech, 1972).

-10A Nac!
—[D-- 0,001N
8 fem 0,01N
” O 0,1N
Se 1N
Be
Q ú
o PCZ: 3,84
>
O
E 4
E
s
5 «24
s
a
e |
zo
VU
eq
>
S +42 -

+4 +

+6 T T | T
2 3 4 5 6 7 8
pH
Figura 7,5. Representaçãográfica da variação da carga elétrica líquida de uma amostra do
horizonte Ap de um Latossolo Roxo Ácrico do Brasil, derivada de curvas detitulação em
diferentes concentrações salinas. Fonte: Raij (1971).

7.8 Propriedades eletroquímicas de solos de cargas variáveis

Os conceitosdiscutidos aplicam-se bastante bem a solos dos trópicos


úmidos, inclusive os do Brasil. Os materiais coloidais dos solos dos trópicos
úmidos não apresentam cargas permanentes, característica de argilas 2:1,
ausentes nesses solos. Apresentam, assim, “cargas elétricas variáveis”,
Propriedades eletroquímicas de solos 107

origem da denominação de solos de cargas variáveis, bastante usada. Essas


cargas elétricas são responsáveis por propriedades únicas dos solos, que
proporcionam interação peculiar com o gesso. Elas também têm sido
chamadas de “cargas dependentes de pH”.

NaCl
aa [= G,001N PCZ: 6,16
—A— 0,01N
ore (IN

D
—S— 4N
o 2
Q

o
E 9 1 a 1
na
o
3
s
q +24
e
oo
qo

2? +4+
&
O

+86

+8 T T T T 1 T
2 3 4 5 6 7 8
pH

Figura 7.6. Representação gráfica da variação da carga elétrica líquida de uma amostra do
horizonte B» de um Latossolo Roxo Ácrico do Brasil, derivada de curvas detitulação em
diferentes concentrações salinas. Fonte: Rai) (1971). ”

O fator principal de variação de cargas elétricas em solos é o pH,


conforme as Equações 7.14 e 7.15. Na Equação 7.16 nota-se que também
influem a concentração da solução de equilíbrio e a valência do contra-íon.
As cargas elétricas negativas do solo aumentam com a elevação do pH. Já
as cargas positivas, quando existem condições para seu aparecimento, variam
em sentido inverso, ou seja, aumentam com a diminuição do pH do solo.
Outra maneira de determinar as cargas elétricas do solo, mais
informativa que a determinação das cargas elétricas líquidas ilustradas nas
figuras 7.5 e 7.6., é medir separadamente cargas elétricas negativas e
positivas, pela adsorção de cátions e ânions. Pelo caráter variável das cargas,
isso é feito em soluções salinas de diferentes concentrações e valores de
pH. Na tabela 7.3 são apresentados alguns resultados de cargas elétricas
determinadas em cloreto de sódio, para ilustrar os conceitos abordados em
relação à variação de pH.
108 Gesso na agricultura

Os resultados da tabela 7.3, para amostras superficiais e do horizonte


B,, mostram cargas elétricas negativas maiores para o solo TE, enquanto o
LR apresenta carga negativa menor e carga positiva líquida no horizonte
B,. Esses dois solos ilustram extremos de solo mais eletronegativo, com
PCZ mais baixo, e solo maiseletropositivo, com PCZ mais alto: Admitindo a
composição mineralógica similar ao longo do perfil para cada um dos dois
solos e não existindo gradiente textural, as diferenças de cargas negativas e
positivas do horizonte A para o horizonte B devem-se ao efeito da matéria
orgânica, que é marcante, no caso.

Tabela 7.3. Valores de cargas elétricas, a dois valores de pH, de amostras superficiais e do
horizonte B,, determinados em NaC! 0,2 mol/L para um Latossolo Roxo e uma Terra
Roxa Estruturada

Amostra Potencial de Cargaselétricas do solo Líquida


de solo pi superfície Negativa Positiva Líquida teórica*

mV ——————=-—. mmol. /kg

TE-Ap 6,0 -242 88 -9+* -96 -80


5,0 -183 64 -3 -67 -60
TE-B, 6,0 -201 65 - -66 -64
5,0 -142 52 6 -46 -45
LR-Ap 6,0 -143 49 -4 -53 -54
5,0 -77 34 5 -29 -33
LR-B, 6,0 0 12 10 -2 0
5,0 59 6 18 12 42
Fonte: Valores interpolados dos originais de Raij (1971), Raij e Peech (1972).
* Valor calculado pela teoria da dupla camada elétrica.
** Os valores negativos de cargas positivas devem-se à exclusão de ânions, não corrigida no caso.

Outro aspecto importante é a retenção simultânea de cátionse ânions,


contrastando com o quese ilustra nasfiguras 7.2 e 7.4, que mostram cátions
atraídos para a superfície e ânions repelidos. No exemplo em discussão,
poderia ser o caso da amostra TE-Ap, que apresenta considerável carga
negativa a pH 6 e repulsão de ânions.
- Note-se a concordância bastante boa para a carga elétrica negativa
obtida no laboratório e a calculada pela teoria de dupla camadaelétrica de
Gouy-Chapman, corrigida para o tamanho dos íons segundo o modelo de
Stern.
Propriedades eletroquimicas de solos 109

Natabela 7.4 são apresentados dados similares, mas com o sal MgSO,
e apenas para o horizonte B.

Tabela 7.4. Valores de cargas elétricas, em dois valores de pH e duas concentrações de


equilíbrio de MgSO,, em amostras do horizonte B, de uma Terra Roxa Estruturada (TE)
e um Latossolo Roxo (LR)

Soto Concentração de pH Potencial de Cargas eléricas do solo Líquida


MgsoO, mol /L superficie Negativa Positiva Líquida teórica
mV ————— mmol kg
TE-B, 0,01 6,0 -148 87 16 -71 -84
5,0 -89 67 27 -40 -44
0,001 6,0 -148 73 08 -65 -62
5,0 -D0 50 17 -33 -26
LR-B, 0,01 6,0 18 18 28 10 04
5,0 77 07 38 31 22
0,001 6,0 19 13 21 08 01
5,0 88 06 30 24 n

Fonte: Valores interpolados dos originais de Rai) (1971); Raij e Peech (1972).

Os resultados da tabela 7.4 realçam o contraste dos dois solos, um


eletronegativo, o outro fortemente eletropositivo. Note-se, no solo TE, a
carga positiva, ou seja, retenção de sulfato, mas ela diminui bastante com o
aumento do pH e com a redução da concentração do sal. E a carga elétrica
líquida é negativa. Já o solo LR possui carga líquida positiva em-todas as
alternativas mostradas, que também é afetada pelo pH e concentraçãosalina
de equilíbrio. Ressalte-se que as concentrações consideradasestão na ordem
de grandeza de soluções de solos de climas úmidose que o sal usado, sulfato
de magnésio, é bastante parecido com o sulfato de cálcio. Dessa forma, o
exemplo é adequado para a discussão que se faz com o gesso.
Emborao caso tenhasido tratado como se o ânion SO; fosse um íon
indiferente, espera-se adsorção específica de SO,” e, portanto, não estaria
de acordo com as premissas da teoria de dupla camada elétrica, que se
aplica a íons indiferentes. Mesmo assim,os valores calculados não diferem
tanto assim dos valores medidos (Tabela 7.4).

7.9 Sugestões de pesquisa

A melhor compreensão de troca iônica e adsorção de cátions e ânions


requer alguns estudos relacionados com o gesso em solos.
110 Gesso na agricultura

7.9.1 Troca iônica de soluções de solos ácidos tratados ou não com


gesso

À sugestão é realizar estudos de soluções de gesso em contato com o


solo, em diversas condições de concentração e de relações água:solo, para
verificar se se aplicam as relações descritas em 7.3, especialmente de Ca”
em relação a K*, Mg” e AP”,
Da mesma forma, pode ser avaliada a troca de ânions, especialmente
SO,” em relação a Cl ou NO,.

7.9.2 Avaliação de adsorção de sais por condutividade elétrica

Um dos elementos técnicos que falta para equacionar melhor a


aplicação de gesso em solos é um indicador de sua capacidade de adsorver
simultaneamente cátions e ânions. Sugere-se equilibrar vários solos com
solução de sulfato de cálcio e medir a condutividade elétrica da suspensão
para estimar a adsorção de sais. A condutividade deveservir para a avaliação
de “adsorção de gesso”. Os resultados podem ser verificados através de
avaliação de Ca?” e SO” remanescentes na solução.

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Capítulo 8
Gesso e Atributos Químicos do Solo

8.1 Alterações esperadas no solo.............aias 4


8.2 Reações de gesso na camada superficial de solos................. AR 15
8.3 Alterações no perfil do solo... erre receeceraeareenirees 17
8.4 Nitrato no subsolo... erereeceererenarenteraeeaerenerarenrartarasa 123
8.5 Gesso e espécies químicas em solução... 125
8.6 Gesso em solos sádicos ........ irei ceeraererarterceaeereeerereertrarasa 131
8.7 Sugestões de pesquisa .............c erre cerecereenctereeea centena 132
Referências... ierereereerearnierorreneraceeeaeaeaacaara ra erarre rara neaesneta 133

gesso, ou sulfato de cálcio, é um composto relativamente simples,


tendo em sua estrutura cálcio, na forma de cátion Ca”, e enxofre, na
forma de ânion SO/. São esses dois íons, em solução ou adsorvidos ao
solo, responsáveis pelas propriedades peculiares do gesso em solos e plantas.
A seguir discute-se como se dá a reação do gesso com solos e como
diversos elementos químicos são afetados. Há quatro aspectos que serão
examinados: (1) a reação de CalCO, e de CaSO, com o solo superficial; (2)
areação de sulfato de cálcio no subsolo; (3) o efeito do gesso na especiação
química em solução; (4) a reação de gesso em solos sódicos.
O que se espera do gesso, em subsolos ácidos, é que o sal percole
através do solo e que produza efeitos favoráveis para o desenvolvimento
* radicular e um minimo de efeitos indesejáveis.
Serão apresentados exemplos de resultados experimentais para ilustrar
conceitos ou subsidiar as discussões. A maior parte desse tipo de informação,
contudo, será apresentada e discutida nos capítulos dedicados à gessagem
para culturas,
114 Gesso na agricultura

8.1 Alterações esperadas no solo

Para facilitar comparações e adquirir noção de ordens de grandeza


das quantidades envolvidas na calagem e gessagem e os efeitos teóricos
esperados em resultados de análise de solo, alguns valores comparativos
são apresentados na tabela 8.1, referentes aos componentes teóricos de
calcário calcítico, calcário dolomítico e gesso.

Tabela 8.1. Composição teórica de carbonato de cálcio, de carbonato duplo de cálcio e


magnésio e de sulfato de cálcio di-hidratado e efeito máximo esperado de 1 tha em
resultados de análise de solo da camada superficial, de 20 cm de espessura

Variável Caco, CalO,.MgCo, Caso,.2H0

Ca - g/kg ou kg/t no produto 400 217 294


Ca - mg/dm” no solo 200 109 147
Ca- mmol,/dm” no solo 10 8,9 7,4
Mg- g/kg ou kg/t no produto 132 132 -
Mg - mg/dm? no solo 66 66 -
Mg - mmol(dm? no solo 54 5;4 -
S - gkg ou kg/t no produto - - 235
S - mg/dm? no solo - - 118
S - mmol/dm” no solo - - 7,4

Esses valores mostram o que se pode esperar. Na prática, nenhum


dos três materiais considerados tem 100% de pureza, parte dos produtos
pode não dissolver, a aplicação não é totalmente uniforme, aumentándo o
erro de amostragem,e, além disso, há deslocamento de íons para camadas
mais profundas do solo. Por essas razões, é bastante razoável não esperar
recuperação, pela análise de solo, da camada superficial, de muito mais do
que 50% do que foi aplicado.
Um dos problemas que tem sido levantado no caso da gessagem é a
perda de magnésio que ela pode acarretar. Daí a razão de se considerar
também o calcário dolomítico ao compor a tabela 8.1, por se tratar de insumo
que deve ser aplicado juntamente com gesso em solos com teores baixos de
magnésio,
Outro elemento que pode ser removido do solo por gessagens elevadas
é o potássio. Alguns números podem ser apresentados, para caracterizar as
quantidades envolvidas. Umatonelada de KC1, o adubo mais comum, contém
524 g/kg de K, que correspondem a 262 g/dm/ de solo, com base na camada
arável, o que equivale a 6,7 mmol. /dm”.
Gesso e atributos químicos do solo 115

Por causa de possíveis deficiências de Mg e K, além da necessidade de


manter os solos devidamente corrigidos, é sempre necessário avaliar a acidez
do solo e os teores de K e Mg em casos de aplicações elevadas de gesso.
Cabem alguns comentários sobre os números da tabela 8.1, começando
com informações sobre as unidades de representação empregadas. Os que
atuam há mais tempo em solos certamente lembram-se do miliequivalente e
das representações em meq/100 cm” de solo (ou meqg/100 g, no caso de
pedologia). Basicamente, duas coisas ocorreram com a atualização dessas
unidades: (1) a base de referência mudou de 100 cm” (ou 100 g) para 1 dm”
(ou 1 kg) e, portanto, os resultadossão dez vezes maiores; (2) o miliequivalente
mudou de nome, passando a chamar-se milimol de carga, ou mmol.
Consultando tabela periódica, são encontradosos valores de massas
atômicas dos elementos que compõem o CaCO;: Ca -40;C-12:0-16.0s
valores são dados em g/mol. A massa molecular do carbonato de cálcio é de
100 g, valor redondo assim por mera coincidência. Dessa forma, o sal contém
400 g/kg ou 400 kg/t de Ca. Aqui não se deve deixar passar a observação da
conveniência de expressar resultados em g/kg, que equivale a kg/t.
A aplicação de 1 t/ha de CaCO,ao solo corresponde a 200 mg/dm”
ou 10 mmol, /dm”. Lembre-se que isso representa 1 meq/100 cm”, na unidade
antiga, no caso equivalente a 1 t/ha da CaCO,. Recorde-se que o PRNT -
poder relativo de neutralização total - é dado em equivalente carbonato de
cálcio. Assim, dá para somar Ca e Mg. Note-se, por exemplo, que, do ponto
de vista teórico, a dolomita pura é mais eficaz na neutralização da acidez,
tendo um poder de neutralização (PN) de 108% de CaCO;equivalente. O
sulfato de cálcio, com 294 g/kg de Ca, supre o equivalente a 7,35 mmol, /dm”
de Ca” ao solo, mas o PRNT ou PN é zero.

8.2 Reações de gesso na camada superficial de solos

O sulfato em geral não é retido na camada superficial de solos. O


ânion SO,” é lixiviado, carreando perfil abaixo quantidade equivalente de
cátions. À principal reação de gesso em solos, nessas condições, é a troca
de cátions, representada na figura 7.1.
É comum existir uma certa confusão entre o papel do calcário e do
gesso na “correção”do solo. Pela discussão realizada, deve ter ficado claro
que os dois produtos são muito diferentes. Além disso, o calcário tem uso
universal em qualquersolo ácido, enquanto o gesso é de uso restrito a alguns
solos ácidos do mundo, embora sejam os que predominam no Brasil Central.
Por outro lado, o gesso é largamente usado em regiões de climas semi-
áridos ou áridos para a remoção de sódio do solo.
116 Gesso na agricultura

O carbonato de cálcio é um sal básico e, como tal, reage com


qualquer ácido, quer seja droga de laboratório, quer seja acidez do
solo. Para facilidade de representação, a reação será mostrada com
ácido clorídrico:

CaCO, + 2HC] = Ca» + 2CIH' + H,O + CO, [8.1]


Lembrando uma regra da química, que a reação de ácido com base
produz sal e água, pela neutralização tem-se, no caso, a formação de cloreto
de cálcio e de água, além do CO,, que saí do sistema por ser um gás. No
solo acontece a mesma coisa, ficando as cargas negativas expostas
(correspondentes ao Cl da Equação 8.1) e contrabalançadas pelo Ca”. O
importante, no caso, é o papel do fon carbonato de “receptor de prótons” ou,
em outras palavras, de íons hidrogênio, que perde seu caráter ácido ao ser
incorporado em molécula de água.
A mesma reação, com sulfato de cálcio, pode ser assim
representada:

CaSO, + 2HCI = Ca”! + SO,” + 2H! + 2CI [8.2]


Nesse caso, o ânion sulfato permanece como tal e não atua como
“receptor de prótons”. Assim, o gesso não neutraliza a acidez do solo e
o ácido adicionado apenas dissocia em H' e Cr. Narealidade, não há
reação. Além disso, não se espera efeito do sulfato na camada superficial
do solo, por razões já discutidas no Capítulo 7.
Dessa forma, a reação do gesso na camada superficial do solo é a
de troca de cátions, e a maior preocupação com a gessagem é a perda
de Mg e K por lixiviação. Esta realmente é uma possibilidade, e alguns
resultados serão mostrados.
Na tabela 8.2 são mostrados alguns resultados de análise de
solo de um experimento de doses de calcário e gesso, realizado em
Tatuí, em Latossolo Vermelho-Escuro Álico textura argilosa. Percebe-
se que o calcário afetou os teores de cálcio, de magnésio e de
alumínio, além de aumentar a saturação por bases e reduzir a saturação
por alumínio. Note-se também o efeito do calcário em reduzir o teor
de sulfato na camada arável, o que se deve à elevação da carga
negativa do solo. Mesmo com a quantidade bastante elevada de gesso
aplicado ao solo, esse insumonão alterou, de forma estatisticamente
significativa, nenhum resultado de análise de solo na amostra da
camada superficial, nem mesmo K e Mg. Todos os efeitos observados
devem-se ao calcário.
Gesso e atributos químicos do solo 117

Tabela 8.2. Efeito de calcário e gesso na análise de solo da amostra de 0-20 cm de profundidade,
em experimento com milho em Tatuí, em Latossolo Vermelho Escuro Álico, textura
argilosa, 41 meses após a aplicação dos corretivos

Tratamento Cátions trocáveis


V Gesso Z E z 3 SO, V m
Calcário Ca Mg K A]
tha ————— mmol Idm=-——— Y%

0 0 19b 6b 45a I9a 36a 23b 39 a


0 8 21b Sb 40a iGa 43a 16b 35a
12 0 4a 20a 38a 2b 12b 64a 3b
I2 8 4a I9a 40a 2b 1,6b 63a 3b

Fonte: Raij e outros (1998).

8.3 Alterações no perfil do solo

Pela gessagem, esperam-se mudanças ao longo do perfil do solo,


aumento de Ca e sulfato e mesmo redução de Al. Há casos citados, na
literatura, de redução do Al” trocável, que é um cátion ácido, pelo sulfato.
O que se admite é que o sulfato, por troca de ligantes, remova hidroxilas e
estas contribuam para insolubilização de Al. O processo não acontece em
todos os solos e é de ocorrência limitada.
Na tabela 2.1, usada na discussão de barreiras químicas em solos,
foram mostrados resultados experimentais que permitem a associação de
maior volume de raízes e maior absorção de água em profundidade no perfil
do solo com a redução da saturação por alumínio. Osresultados de sulfato
nãoestão disponíveis, mas os valores de pH, Ca + Mg e de Al, apresentados
na tabela 8.3, ajudam a explicar os resultados observados. Há considerável
aumento de pH e dos teores de Ca + Mg no tratamento SS, que contém
gesso. Também ocorre considerável redução de alumínio. Esse caso é um
exemplo extremo do efeito favorável do gesso em solo ácido, efeito esse
constatado até 120 cm e que provavelmente se estende a profundidades
ainda maiores.
Vários mecanismos têm sido propostos para a adsorção do sulfato
em superfícies de óxidos. O fundamental é a penetração do sulfato na
estrutura da superfície da partícula mineral, o que pode ocorrer em superfícies
ou em bordas. Admite-se que, nas superfícies, o sulfato forme uma ponte
entre dois átomos do metal (Rajan, 1978; Parfitt e Smart, 1978). Um dos
mecanismos propostosé ilustrado na figura 8.1.
118 Gesso na agricultura

Um dos pontos importantes dessa reação de superfície, representada


na figura 8.1, é a liberação de OH, que poderia neutralizar o alumínio, com
o íon cálcio ocupando seu lugar como cátion trocável, contrabalançando a
carga negativa do solo. Contudo, essa não pode ser considerada uma reação
de neutralização, já que é reversível, por hidrólise do íon sulfato. Porém,
mesmosendo umasituação termodinamicamenteinstável, cumpre seu papel
de reduzir o alumínio no solo, com importantes consegiiências práticas, que
persistem nele por muito tempo. Deve-se ressaltar, contudo, que não é uma
reação que ocorre de forma generalizada em solos.
Admitindo a reação da figura 8.1 ocorrendo de forma crescente com
aumento da profundidade, na medida em que o gesso penetra no solo, o que
se torna mais importante é a dinâmica do processo, havendo um deslocamento
dossais perfil abaixo com a água de percolação. A quantidade de cátions
que vai se movimentar depende, no exemplo, da liberdade do co-íon SO”
de se movimentar. Em geral, na camada superficial isso é facilitado pelas
condições desfavoráveis de adsorção de sulfato, conforme já discutido no
Capítulo 6.

FeOH Fe -—— O O
Ny
+50 Ss +0H+H,0(3,10)

FeoH; Fe -— O
7 NO
Figura 8.1. Representação esquemática da troca de ligantes de sulfato na superfície de óxido
hidratado de ferro (Rajan, 1978).

Na tabela 8.3 são apresentados mais alguns resultados, que revelam


que houve efetiva redução da acidez do solo pelo gesso contido em
superfosfato simples.
Outro trabalho em que são comparados o superfosfato triplo e o
superfosfato simples para algodão foi relatado por Silva e Raij (1992). Os
resultados de pH em CaCL, e dos teores de Ca, Mg e K são apresentados
na tabela 8.4. O aumento do pH atesta efetiva redução da acidez do subsolo
com o superfosfato simples. Da mesmaforma,os teores de Ca são maiores
ao longo do perfil. Esse trabalho permite também comprovara lixiviação de
Mg e K, pelo aumento dos teores desses nutrientes em profundidade, ao
longo do perfil, para o tratamento SS em relação a ST.
Gesso e atributos quimicos do solo 119

Tabela 8.3. Efeito de superfosfato triplo (ST) e superfosfato simples (SS) em atributos da
acidez em experimento de milho em um Oxisol do Distrito Federal

Profundidade pi Cat Mg AI
ST SS ST ss ST ss
em —— mmol, /dm"— —— mmol/dm-——

0-15 5,4 541 34 19 0,3 3,1


15-30 5,0 4,7 21 13 2,9 5,6
30-45 4,6 4,7 8 14 7 3;7
45-60 4,1 4,8 5 15 7,8 2,0
60-75 4,0 4,5 4 HM 6,5 2,3
75-90 4,2 4,6 2 8 5,4 1,8
90-105 42 4,3 I 5 4,0 1,4
105-120 4,2 44 l 5 2,8 0,4

Fonte: Ritchey e outros (1980).

Tabela 8.4. Resultados de análise de solo de amostras retiradas a diferentes profundidades,


após dezessete anos, de experimento de algodão realizado em Guaira, comparando
superfosfato triplo (ST) e superfosfato simples (SS)

Profundidade pH CaCl, Ca Mg K
de amostragem sT ss ST ss sT ss ST Ss
cm >>> mmol/dm”

0-20 5,2 5,4 17 24 9 7 2,7 0,9


20-40 4,6 47 7 10 4 4 12 0,7
40-60 4,3 4,9 3 2 2 4 0,4 0,5
60-80 42 5,0 4 9 0 4 0,2 0,5
80-100 4,3 5,2 2 8 Í 4 0,1 0,4
100-120 4,5 4,9 4 6 0 3 -0,3 0,7

Fonte: Silva e Rat) (1992).

Uma das questões que pode ser levantada é como possíveis efeitos
da gessagem em indicadores de acidez no subsolo se comparam aosefeitos
da calagem. Carvalho e Raij (1997) realizaram estudo com amostras de
subsolos de cinco solos do Estado de São Paulo para responder a essa
questão, ou seja, avaliar o efeito comparativo de correção com gesso ou
com calcário. O experimento foi feito usando uma técnica de raiz partida
vertical, com milho inicialmente cultivado em pequenos vasos com solo fértil,
que foram, depois da germinação, introduzidos nas amostras de subsolos
tratados. Note-se que o estudo em vasos permite comparar o efeito direto
de gesso e calcário nos subsolos. Os tratamentos foram testemunha,
CaSO,.2H,0 puro, fosfogesso e CaCO;. Os insumos foram aplicados na
base de 10 mmol, /dm”, o que equivale a 1 t/ha de carbonato de cálcio.
Neste ponto são apresentados, na tabela 8.5, resultados de análise de solo.
Posteriormente, outras informações do experimento serão discutidas.
120 Gesso na agricultura

Tabela 8.5. Efeito de tratamentos de amostras de subsolos com sulfato de cálcio, fosfogesso
e carbonato de cálcio emresultados de análise de solo

Solos
Tratamentos
LVal-l LRac-l LRac-2 LEal LVal-2
pH em HO

Testemunha 4,82b 5,l5c 6,14b 5,28 b 4,98b


Sulfato de cálcio 4,5lc 5,19 be 6,18b 5,02 c 46lc
Fosfogesso 4,49c 5,21b 6,18b 5,05 c 4,64 c
Carbonato de cálcio 5,08 a 5,50 a 6,55 a S5la 5,30a

pH em Call,

Testemunha 4,07d 442c 5,57 c 4,34c 4,09 c


Sulfato de cálcio 4,12c 4,65 b 5,80b 4,52 b 4,28b
Fosfogesso 4,16b 4,65 b 5,78b 5,53 b 4,30b
Carbonato de cálcio 4,34a 4,87 a 5,94 a 467a 4,53a

AI”, mmol/dm'
Testemunha 1357 a 23a 0,0 7la 86a
Sulfato de cálcio 12,0b 16b 0,0 5,6b 6,7b
Fosfogesso - 10,8 c I5b 0,0 56b 6,5 b
Carbonato de cálcio 6,6 d 0,0 c 0,0 2,3 c 2,7c

H + AL, mmol/dm'

Testemunha 544a 44,8a 249a 48,2 50,9


Sulfato de cálcio 51lb 42,0b 25,0 a 45,2 48,0
Fosfogesso 51,3b 41,8b 249 a 45,1 48,9
Carbonato de cálcio 38,3 c 33,8c 22,0b 36,1 36,4

Saturação por alumínio, %

Testemunha 85a Sla 0 61 a 80 a


Sulfato de cálcio 47b Hb 0 27b 34b
Fosfogesso 45b “db 0 26b 33b
Carbonato de cálcio 35 c 0 0 I4c 20c

ca”, mmol/dm'

Testemunha 0,62 c 0,45 c 0,38c 2,50 c 0,45 c


Sulfato de cálcio 12,15 a 11,20 a 9,30 a 13,89 a 12,08 a
Fosfogesso 2,15a 11,13 a 9,25 a 14,25 a 11,92 a
Carbonato de cálcio 9,22b 9,88b 7,18b 12,12b 9,88b

SO, mmol/dm'
Testemunha 1,9b 0,1b 0,1b 3,6b 10b
Sulfato de cálcio WNsta 86a 75a 10,6a 10,6 a
Fosfogesso 11,8a 8,5 a 73 a 10,2 a 10,2 a
Carbonato de cálcio 20b 0,1b 0,2 b Llb Lla

Fonte: Carvalho e Raij (1997).


Gesso e atributos químicos do solo 121

No caso das medidas de pH, os resultados apontam para uma


controvérsia com relação ao efeito do gesso. Observando-se o pH em água,
nota-se que o carbonato de cálcio aumentou o pH, como esperado, mas que
o gesso o reduziu em quatro dos cinco solos. O efeito do gesso sobre o pH
do solo não é consistente com o efeito sobre o alumínio, já que nesses casos
houve diminuição dos teores do metal. Na realidade, o pH em água dá
resultados falsos em casos como esse, sendo uma demonstração do chamado
efeito de salno pH, efeito há muito conhecido na ciência do solo (Schofield
e Taylor, 1955). A determinação do pH em solução 0,01 mol/L, de CaCL,
reduz o erro introduzido na medida do pH pela ocorrência de pequenas
quantidades de sais no solo. Essa foi a razão que motivou a introdução do
pH em cloreto de cáicio no Brasil, com o que se nivela por baixo o efeito de
sais presentes no solo, obtendo-se melhor reprodutibilidade nas análises de
laboratório, além de os valores serem mais corretos. É um detalhe que deve
ser observado na análise de solos tratados com gesso, especialmente
importante ao se avaliar seu efeito ao longo do perfil. Tomae outros (1999)
mostram resultados de condutividadeelétrica em experimento após dezesseis
anos da aplicação de gesso. Constataram que a condutividade mantinha-se
alta, indicando teores mais elevados de sais em relação à testemunha. Em
um desses casos, o pH determinado em água, levando a resultados baixos
por causa dos sais presentes, pode conduzir à conclusão de que o gesso
acidificou o solo.
Para o pH em cloreto de cálcio, os resultados mostram que o gesso
aumentou o pH nos cinco solos e que o efeito foi um pouco menor do que o
do carbonato de cálcio. Ou seja, através desse indicador, percebe-se que,
nos solos do experimento, o gesso reduziu efetivamente a acidez do solo.
Como seria de esperar, o CaCO; teve o maior efeito na redução da acidez
do solo, avaliado através do pH e dos teores de alumínio. O gesso reduziu
menos o Al, mas o efeito foi significativo nos quatro solos que continham o
elemento. Nosolo 1 o fosfogesso foi significativamente mais eficaz do que
o sulfato de cálcio na redução do Al. É possível que isso possa ser atribuído
ao fluoreto contido no fosfogesso. Os teores de fluor são baixos, mas o
poder complexante em relação a Al é muito maior do que o do sulfato.
Os teores de cálcio aumentaram mais com gesso e fosfogesso do
que com o carbonato de cálcio. Mas há outro efeito do gesso que deve ser
muito bem observado. Note-se, na tabela 8.5, que os valores de saturação
por alumínio diminuíram nos solos pelo efeito do sulfato de cálcio e do
fosfogesso, em parte por redução efetiva do Al, mas principalmente pela
elevação considerável dos teores de Ca. Este detalhe tem grande
importância prática.
122 Gesso na agricultura

Note-se que também houve uma redução significativa, por ação do


sulfato de cálcio e do gesso, da acidez total, H + Al”, para quatro dos cinco
solos, No caso do solo LRac-2, que não tem alumínio e possui menoscálcio,
a acidez total foi pouco reduzida, embora o pH tenha aumentado bastante.
Como contraponto, em solos com teores elevados de alumínio, os
efeitos do gesso nas propriedades químicas do subsolo podem não ser tão
relevantes. Na tabela 8.6 são apresentados resultados de análise de solo de
amostras retiradas do subsolo do mesmo experimento de Tatuí para o qual
foram apresentadosresultados da camada superficial na tabela 8.2. De forma
geral, houve pequenos aumentos de Ca e Mg, o K teve pequena redução
que não atingiu significância estatística, o Al sofreu apenas pequena redução
e o sulfato aumentou um pouco com a gessagem. As alterações foram muito
modestas, considerando as quantidades aplicadas de calcário e gesso e o
grau de acidez do solo.

Tabela 8.6. Efeito de calcário e gesso nos resultados de análise de solo de amostras de 20-40,
40-60 e 60-80 cm de profundidade, em experimento com milho em Tatuí, em Latossolo
Vermelho-Escuro álico, textura argilosa, 41 meses após a aplicação dos corretivos

Tratamento Cátions trocáveis 2


= esso z 2+ + 3 SO, V m
Calcário Ca Mg K AI
tha ———— mmol/dm' %

Profundidade de 20-40 cm
0 7a 5b 36a 24a 1b 10 a 62a
8 I0a 3c 28a 25a I6a la “60a
12 0 8a 7a 26a 22a 13 ab i3a 56a
12 8 8a 6a 24a 23a I5a I0a 59a
Profundidade de 40-60 cm

0 0 10b 4c 22a 2a Hb 2a 58a


0 8 13 ab 5 be l6a 19 ab 7a l4a 49 ab
2 0 Hab 7ab 20a 19 ab Bb I5a 50 ab
I2 8 l4a 8a 2la I7b l6a I8a 41b
Profundidade de 60-80 cm

0 0 6b 3b 17a 2 ab 6b 8a 6la
0 8 I0a 5ab 3a I8b l4a Ba 52a
12 0 7b 5ab 14a 22 ab 7b la 62a
12 8 la 7a Ia 23a l6a l4a 54 a

Fonte: Raij e outros (1998).


Gesso e atributos químicos do solo 123

8.4 Nitrato no subsolo

O nitrogênio, macronutriente primário de elevado custo, é


extremamente móvel em solos na forma de nitrato, podendo facilmente ser
lixiviado para fora do alcance das raízes, se não for absorvido, acompanhando
a frente de água. O nitrato pode ser visto, na fertilidade do subsolo, sob dois
aspectos.
O primeiro aspecto diz respeito ao enraizamento mais profundo, que
pode representar a diferença entre a planta absorver ou nãoo nitrato contido
no subsolo. Souza e Ritchey (1986) demonstraram isso de forma muito clara,
usando o gesso como promotor do desenvolvimento radicular, conforme
mostrado na figura 8.2,
N-NOs (mmol, / 1009)
0 01 0,2
o L L |

15 4
Profundidade de amostragem (em)

30 +

45 +

Dose de gesso t/ha


60 —
O——S 0
LA 6

75

Figura 8.2. Distribuição de nitrato em diferentes profundidades de Latossolo Vermelho-


Escuro cultivado com milho, na estação seca de 1983, com irrigação, na presença e
ausência de gesso. Fonte: Souza e Ritchey (1986).

Além disso, o nitrato absorvido é um veículo de transferência de


alcalinidade da camada superficial para o subsolo, algo que pode ser muito
importante no caso do plantio direto. O nitrato pode atuar como agente
complementar ao gesso na redução da acidez do subsolo.
A afirmação de que nitratos carreiam alcalinidade para o subsolo
requer explicação. Como a maior parte do nitrato do solo é decorrente, em
grande parte, da nitrificação do íon amônio, pode-se discutir o tema com
base na superfície do solo sob plantio direto.
124 Gesso na agricultura

Lembre-se que a principal reação de acidificação do solo é a reação


de nitrificação de amônio, assim expressa:
2NH,' + 40, —> 2NO;+ 2H,0 + 4H' [8.3]
Essa reação ocorre independentemente da origem do amônio:
fertilizante mineral, adubo orgânico ou fixação simbiótica. É comum
expressar-se o chamado índice da acidez de fertilizantes em termos de
quantidade de carbonato de cálcio para neutralizar a acidez resultante. Na
tabela 8.7 são apresentados aiguns números que ajudam a esclarecer o
assunto.

Tabela 8.7. Equivalente de acidez ou de basicidade de fertilizantes nitrogenados.A coluna do


meio representa a perda máximade todo o nitrogênio

Calcário necessário para neutralizar a acidez


Fertilizante de adubos - kg de CaCO,por kg de N
Lixiviação de N-NOs-% Tisdale e outros
0 100 - metade
Sulfato de amônio 34 L6 5,35
Nitrato de amônio 0 34 1,8
Uréia 0 3,4 1,8
Fixação biológica 0 3,4 Não consta
Nitrato de cálcio -3,4 0 -1,35

Fontes: Tisdale e outros (1985).

Há duas situações extremas mostradas na tabela 8.7. Se não houver


remoção de nitrato,o nitrato de amônio, a uréia e o N decorrente de fixação
biológica não acidificarão o solo e o nitrato de cálcio deixará um resíduo
alcalino equivalente a 3,4 kg de CaCO; por 1 kg de N. O sulfato de amônio
acidificará o solo pela remoção de sulfato por lixiviação. Por outro lado, se
houver remoção total do nitrato do solo, o que significa remoção de porção
equivalente de bases, o solo se acidificará de forma a exigir as quantidades
de carbonato de cálcio indicadas na terceira coluna da tabela 8.7.
Admitindo a absorção parcial de nitrato pelas plantas e que em regiões
úmidas há perda de nitrato porlixiviação, os valores usados na prática são
os indicados na coluna da direita.
Essa discussão mostra a importância de evitar a perda de nitrato do
solo, não só pelo desperdício de nitrogênio, nutriente caro, mas também pela
acidificação do solo e perda de bases.
Gesso e atributos químicos do solo 125

Um mecanismo importante que explica a elevação do pH da rizosfera


pela absorção de nitrato pelasraizes é a absorção diferenciada de cátions e
ânions. Há muito o temajá havia sido abordado por Pierre (1928), ao verificar
que a acidificação causada por adubos nitrogenados, em solos cultivados
com plantas, era menor do que a esperada. Em trabalho mais recente, Pierre
e outros (1970) referem-se ao excesso de bases no solo após a absorção de
nitrato pelas plantas. Basicamente, em termos estequiométricos, as plantas
em geral absorvem maisnitrato que cátions básicos, K*, Ca?” e Mg”, o que
resulta em um resíduo alcalino no solo.
Dessa forma, voltando à situação do plantio direto e à aplicação de
adubosnitrogenados que acidificam o solo, pode-se imaginar que o hidrogênio
decorrente da reação de nitrificaçãolibere o equivalente em cátions trocáveis
ou dissolva o calcário. Ficam nosolo, pois, nitrato e cátions básicos, ou seja,
sais, que podem movimentar-se no solo. Ocorrendo a absorção de nitrato,
não haverá perdas e o pH no ponto de absorção aumentará. Dai dizer-se
que o nitrato transfere alcalinidade para dentro do perfil de solo.
"Hã resultados experimentais que confirmam o efeito de nitrato em
reduzir a acidez do subsolo. Abrufia e outros (1964) constataram diminuição
do alumínio trocável em camadas profundas de solo que recebeu quantidades
elevadas de calcário e adubosnitrogenados, aplicados na superfície do solo
cultivado com capim. Observação similar foi feita por Weir (1974) em pomar
de citros, que constatou melhoria do subsolo em conseqiiência do movimento
descendente de bases promovido por adubosnitrogenados. Adamse Pearson
(1969) demonstraram o efeito de nitrato de cálcio em corrigir a acidez do
subsolo de capineiras. A basicidade residual de Ca(NO;), variou de 1,7 a
2,5 kg de CaCO,por kg de N, portanto, um pouco acima do valor dado por
Tisdale e outros (1985), de 1,35, mostrado natabela 8.7.
Nos experimentos do CPAC, a absorção de nitrato foi mostrada na
figura 8.2. Em umasituação como essa é possível esperar uma redução da
acidez em profundidade em consequência da absorção denitrato. No caso, os
autores (Souza e Ritchey, 1986) determinaram a absorção de nitrato do subsolo
em 44 kg/ha de N, o que daria cerca de 100 kg de CaCO; de basicidade, o que
corresponde a 1 mmol. /dm” para uma camada de solo de 20 cm de espessura.

8.5 Gesso e espécies químicas em solução

O gesso, ou sulfato de cálcio, além dos efeitos em solos, envolvendo


troca de íons, troca de ligantes e solubilidade, tem reações que influenciam
a atividade de alumínio em solução e, como consegiência, a toxicidade do
elemento para as raízes.
126 Gesso na agricultura

Na solução do solo existe um grande número de espécies químicas,


sujeitas a diversos tipos de reação. Um exemplo esquemático de uma reação
é dada por Lindsay (1979) e Sparks (1995):
aA + bB 2º cC + dD [8.4]
q ao 0
para a qual se tem a constante de estabilidade termodinâmica, K. , expressa
assim:

o
» OD)
(O(D)
E [8.5]
(A) (B)
As letras minúsculas referem-se aos coeficientes estequiométricos,
e as maiúsculas são as espécies químicas. Os parênteses indicam atividade
química.
À atividade de um íon em solução, também chamada de concentração
efetiva, não é medida diretamente. O que se mede é a concentração do ion,
que multiplicada pelo coeficiente de atividade, que varia de 0 a 1, representa
a atividade. Este assunto não será detalhado aqui.
Em soluções de solo contendo gesso, como em qualquer solução,
existe equilíbrio quimico ou termodinâmico, conforme exemplificado pela
Equação 8.5. Na tabela 8.8 são dados exemplos de reações de equilibrio,
com as respectivas constantes de equilíbrio. Uma extensa relação é dada
no livro de Lindsay (1979).
Constantes de equilíbrio muito baixas indicam condições menos
favoráveis de dissolução ou dissociação. É o caso dasolubilidade de AI(OH),,
um composto quimico de baixa solubilidade em água. No caso dos pares
iônicos, ressalte-se a existência de AIF*'e AISO,”, pela pertinência que têm
com o fosfogesso.
É importante ter em mente que essas reações estão presentes
simultaneamente e em equilíbrio. Isso significa que nenhuma espécie química
pode ser isolada das demais. Se houver remoção de algumas espécies da
solução, por precipitação em formasólida insolúvel, por exemplo, as reações
de equilíbrio se reajustarão, de forma que todas as constantes de equilíbrio
sejam atendidas.
Estudos detalhados de especiação iônica em soluções envolvendo
alumínio e gesso são importantes para melhor compreensão de como
ocorrem diferentes reações que podem aliviar a toxidez do alumínio
para as plantas.
Nasolução do solo, diversos íons participam das diversas reações,
desde as de dissolução de compostos pouco solúveis, hidrólise ou formação
Gesso e atributos químicos do solo 127

de pares iônicos. Algumas dessas reações são apresentadas na tabela 8.8,


Juntamente com as constantes de estabilidade termodinâmica ou
simplesmente constantes de equilíbrio. O cálculo das atividades das
diferentes espécies químicas em solução é relativamente fácil para
soluções contendo somente um composto químico. Os cálculos se
tornam muito complexos e laboriosos para um conjunto de reações de
equilíbrio simultâneas e, para esses casos, são usados programas de
computador desenvolvidos com a finalidade de avaliar a contribuição
de diferentes espécies químicas em solução. Há vários desses
programas em uso em pesquisas de geoquimica. No Brasil, na ciência
do solo, foi bastante popular o programa GEOCHEM (Sposito e
Mattigod, 1979), usado nos cálculos de resultados experimentais
mostrados neste livro. Mesmo com programas como esse, ou outros
mais recentes, a manipulação e interpretação dos dados é tarefa que
exige treinamento especializado.

Tabela 8.8. Algumas constantes de equilíbrio (K) de interesse para solos ácidos tratados com
gesso, referentes a 25 “Ce força iônica zero

Reação K

Compostos pouco solúveis


A(OH) ZA” +30H Lixo?
CasS0,2H,0 7 Ca” +SO, +2H,0
Hidrólise
A +HO ZAlOH”+H 9,5 x 10º
GA+ I5H,0 ZION), x 10%
Pares iônicos
AREA+ 1,0x 10"
AISO, PAIso” 6,3x 10º
Caso Ca” + so 5,25 x 10º
CatiPO,“2 ca+ HPO* 1,98x 10
Cano,Ze“+NO, 5,25 x 10º
Mgso* E Mg“so 5,88x 10"
KSO, Pso/ Lx 10"
Fonte: Adams (1971).
128 Gesso na agricultura

Tabela 8.9. Especiação química de Al e Ca na solução do solo (extrato de saturação), em


tratamentos com carbonato de cálcio e gesso, com amostra de Latossolo Roxo de Londrina

Profundidade, Al, Composição do extrato Ca


z : 3 vc Caso,
cm umol/L Al AISO, AIOH AHWOH), AIWOH), umol/L
% de Al, ——% de Ca —
Tratamentos com CaCO,

0-5 0 0 0 0 0 0 5160 95 0
5-10 0 0 0 0 0 0 3610 98 0
10-20 15 50 0 28 12 10 410 100 0
20-40 23 70 2 21 5 2 40 100 0
40-60 31 76 2 18 4 0 so 100 0
60-80 50 80 1 16 3 0 60 100 0
80-100 53 80 l 16 3 0 60 100 0
Tratamentos com CaSO,
0-5 90 42 37 e) 4 2 7500 68 29
5-10 70 40 44 13 3 0 3900 60 34
10-20 60 42 44 12 2 0 2100 64 31
20-40 53 48 40 lo 2 0 1800 68 28
40-60 45 60 29 10 2 0 1300 72 26
60-80 60 60 29 10 2 0 1000 72 25
80-100 68 64 26 9 l 0 600 75 21

Fonte: Pavan e outros (1984). Al, e Ca, = concentração total de Al e Ca, respectivamente.

À seguir será discutido um exemplo prático de experimento realizado


por Pavan e outros (1984). Os resultados, mostrados na Tabela 8.9, foram
obtidos em estudo com colunas, contendo amostras de solo de um Latossolo
Roxo. CaCO; e CaSO, foram misturados com a terra dos 2 cm superficiais
e submetidos a lixiviação com água. O CaCO,eliminou o alumínio até 10
cm de profundidade, tendo possivelmente afetado esse elemento até 20 cm.
A concentração de cálcio aumentou até 20 cm. Ressalte-se que no tratamento
com CaSO, o alumínio total em solução aumentou, o que se deve à troca
iônica de Ca” por AP*. Contudo, o AÍ* livre em solução é um pouco menor
e há considerável concentração de AISO,”. Como é impossível isolar os
efeitos das diferentes formas, deve-se ressaltar o fato de o gesso, mesmo
não eliminandoo alumínio ao se deslocar em profundidade no solo,introduzir
fatores que reduzem a atividade de Al na solução do solo, como é o caso do
aumento de cálcio, que reduz a saturação por alumínio, e do aumento de
sulfato, que reduz a atividade do alumínio pela formação de complexos.
Gesso e atributos químicos do solo 129

Natabela 8.10 é apresentado um conjunto de dados de experimento


com gesso, realizado em um Argissolo da Geórgia, Estados Unidos. Nesse
caso, trata-se de comparação de tratamento com e sem gesso em
experimento de campo e a amostragem foi feita depois de dois anos. Os
resultados das espécies químicas são dados em teores e não porcentagem
do Al total, comofoi o caso da tabela 8.9, mas as informações são similares.

Tabela 8.10 Efeito de gesso, em comparação com o tratamento sem gesso, em propriedades
químicas da solução do solo extraída dois anos após o tratamento. O experimento foi
instalado em Typic Hapluduit argiloso, caulinítico da Geórgia, EUA

Profun- Concentração de Atividade de


didade Al, AÍ AISO, AIOH” AKOH)) AKOH) Ca t
Ca” Caso) A ca”
em umol/L
Tratamento sem gesso

0-15 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1.780 1.680 100 0,0 1.120
15-30 13,0 8,4 0,5 3,2 0,9 0,0 420 410 10 4,2 344
30-45 12,40 84 0,0 2,4 LO 0,2 400 400 0 3,8 174
45-60 11,0 7,8 0,0 2,4 0,5 0,3 250 250 0 4,0 Ii4
60-75 10,0 6,8 0,0 2,5 0,5 0,2 160 160 0 4,0 72
75-90 9,0 5,8 0,0 2,4 0,5 0,3 70 70 0 3,0 37
90-105 10,0 6,6 0,0 2,6 0,5 0,3 40 40 0 4,0 28

Tratamento com gesso

0-15 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7.850 6.840 1.010 0,0 3.630
15-30 15,0 5,4 5,0 2,9 1,0 0,7 4.220 3.790 439 2,4 2,537
30-45 15,0 6,2 4,9 2,4 1,0 0,5 2.420 2.120 300 3,7 1,486
45-60 14,0 73 3,3 2,4 0,6 0,4 1.620 1.510 110 3,0 1.123
60-75 13,40 7,3 0,6 3,3 1,1 0,7 980 960 20 7,0 741
75-90 12,0 64 0,3 3,3 1,2 0,8 750 740 10 3,3 606
90-105 10,0 5,4 0,2 2,1 1,0 0,7 480 480 0 3,2 408

Fonte: Sumner e outros (1986). Al e Ca, = concentração total de Al e Ca, respectivamente.

Carvalho e Raij (1997), com amostras do experimento parcialmente


apresentado na tabela8.4, realizaram um estudo em que é possível comparar
o efeito isolado de calcário, de gesso ou de fosfogesso nas espécies químicas
em solução (Tabela 8.11). Ressalte-se o aumento de alumínio total em solução
pela aplicação do gesso, nos solos 1 e 5, em relação à testemunha, bem
como o aumento de atividade. Nos outros três solos, que têm teores de Al
muito mais baixos, isso já não é tão importante.
130 Gesso na agricultura

Como seria de esperar, o gesso aumentou o Ca em solução,


mas de forma muito mais intensa nos solos 1 a 5. Nos outros três
solos, os teores de Ca em solução são muito mais baixos, indicando
adsorção ao solo. Essas grandes diferenças de adsorção entre os
solos estudados são surpreendentes e apontam para a necessidade
de melhor compreensão do assunto.

Tabela 8.11. Distribuição relativa das principais espécies químicas de Ca e Al e atividades


desses elementos em experimento de vaso com milho, em função de tratamentos com
sulfato de cálcio, fosfogesso e carbonato de cálcio

Tratamento Al A AISO, AI-OH ALF aa” Ca Ca” CasO, aca”


3

umol/L —————% do A|————— —gmol/L— —% de Ca— umolL

LVal-l
Testemunha 6,6 74 8 18 - 4,0 17 99 i 15,7
Caso, 36,3 48 s0 4 - 7,9 1.549 85 I5 928,4
Fostogesso 34,70 37 40 3 20 5,47 1.698 84 16 994,9
Caco, 0 32 61 13 26 - 15 28 97 3 24,2
LRac-l
Testemunha 1,6 83 2 14 - 1,0 19 99 1 17,0
Caso, 0 63 13 31 - 0,5 25 97 3 22,2
Fosfogesso 0,9 I 0 0 98 0,0 27 97 2 23,1
Caco, 0,0 - - - - 0,0 16 99 1 15,1

LRac-2
Testemunha - - - - - - 1 100 0 1,0
Caso, - - - - - - 141 93 7 “110,8
Fostogesso - - - - - - 133 93 7 103,4
Caco, - - - - - - l 99 l 13
LEal
Testemunha 2,9 63 3 35 - 1,6 3 190 0 2,7
Caso, 157 51 18 30 - 0,6 69 95 5 57,1
Fosfogesso 1,8 2 l 1 97 0,0 105 95 5 86,3

Caco, ul 50 4 47 - 0,5 2 99 t 1,9


LVal-2
Testemunha 3,7 61 7 32 - 1,9 5 98 2 4,2
Caso, 16 45 46 4 - 3,9 1.540 85 I5 926,9
Fosfogesso 18,6 33 31 6 3] 2,9 1.318 86 14 814,7
Caco, 19 23 4 8 - 0,4 14 98 2 12,7

Fonte: Carvalho e Raij (1997).


Significado dos termos: Al, e Ca, = concentração total de Al e Ca, respectivamente; AI-OH =
AIOH? + AKOH), + AXOH)), AI-F = AIR? + AIR, + AIR,
Gesso e atributos químicos do solo 131

8.6 Gesso em solos sódicos

Ao contrário de solos ácidos, que se formam por lixiviação dos cátions


básicos para fora do perfil do solo, solos salinos e sódicos se desenvolvem
pelo acúmulo de sais e de sódio. Isso ocorre em climasáridos e semi-áridos,
em que a evapotranspiração excede a precipitação. Em muitos casos, os
problemas são agravados pela água de irrigação, que sempre carreia sais
para os solos.
Os mais importantes indicadores de problemas de salinidade e
sodicidade são o pH,a condutividade elétrica, a porcentagem de sódio trocável
da capacidade de troca de cátions e a relação de adsorção de sódio.
Solos salinos possuem condutividade elétrica do extrato de
saturação acima de 4 dS/m (decisiemens por metro). A medida da
condutividade elétrica, feita por condutivímetro provido de célula de
condutividade, utiliza como padrão a solução 0,01 mol/L de KC1. A
condutividade dessa solução é de 1,41 dS/ma 25 “C (Raij e outros, 2001).
Shaw (1999) mostra a complexidade das relações de salinidade com a
produtividade das culturas para as condições da Austrália, país em que
predominam solos sódicos e salinos. Lembra que o gesso, quando presente
em solos, interfere em medidas de condutividade elétrica. Uma solução
saturada de gesso, com 2,5 g/L ou 0,0145 mol/L,apresenta condutividade
elétrica de 2,2 dS/m. A condutividade elétrica é uma medida facilmente
realizada no laboratório, ou mesmo no campo, apresentando uma relação
linear com a concentração de sais em solução.
Ossais solúveis, normalmente encontrados em solos salinos, contêm
predominantemente os cátions sódio, cálcio e magnésio, e os ânions cloreto,
sulfato e bicarbonato. Nitrato e potássio, que são absorvidos em grandes
quantidades pelas plantas, aparecem em quantidades bem menores.
A salinidade afeta o crescimento das plantas, principalmente pelo
aumento da pressão osmótica do meio, reduzindo a disponibilidade de água.
O efeito sobre as plantasafeta as produções muito antes de sintomas visuais
se tornarem aparentes. Os efeitos da salinidade sobre as plantas variam
entre espécies e cultivares.
Solos sódicos apresentam porcentagem de saturação por sódio acima
de 15%. O cálculo é feito por:
PSS = (100 x Na)/ CTC [8.6]
A sodicidade afeta a estrutura do solo, que colapsa com a dispersão
da argila, prejudicando a permeabilidade e a aeração, o que causa uma série
de efeitos danososa solo e planta, como será discutido no Capítulo 9.
132 Gesso na agricultura

Quando sodicidade e salinidade ocorrem simultaneamente, os solos


são salino-sódicos. É interessante notar que a presença de sais impede, até
certo ponto, o efeito danoso do sódio na dispersão dos colóides do solo,
mantendo a argila floculada.
O manejo de solos salinos ou alcalinos envolve a adição de certos
insumos, dependendo dos problemasde cada caso, e lixiviação dossais para
fora da zona radicular, além do controle da água da irrigação. Para reduzir o
excesso de sódio, ou sodicidade, o produto mais usado é o gesso ou sulfato
de cálcio. A reação que ocorre, de troca iônica, é esta:
[solo] Na, + CaSO, & [solo] Ca + Na;SO, [8.7]
Como o cálcio é mais fortemente retido no solo que o sódio, a reação
tende para a direita. A etapa subseguente é eliminar o excesso de sais do
solo, principalmente de sódio, com a adição de água para promover a
“lixiviação. À água pode ser um insumo escasso ou caro em muitas situações,
dificultando ou até impedindo a recuperação de solos.

8.7 Sugestões de pesquisa

Há necessidade de resultados experimentais que contribuam para


melhor compreensão das reações de gesso no subsolo, para diferentes tipos
de solos. Alguns estudos foram sugeridos no Capítulo 2. O que parece mais
importante, neste ponto, é contribuir para o estabelecimento de critérios de
avaliação da reação de gesso em solos, que podem ser estudados com base
em experimentos emcolunas, como, por exemplo,os realizados por Camargo
e Raij (1989), mas excluindoostratamentosde alteração artificial da reação
do solo e trabalhando apenas com amostras de solo em condições naturais.

8.7.1 Lixiviação de sulfato em solos

O estudo deve ser feito com amostras de solos com diferentes


propriedades eletroquímicas, superficiais e de subsolos, desde solos bem
eletropositivos até os eletronegativos. O estudo em colunas pode ser realizado
usando técnica similar à de Camargo e Raij (1989) ou outra, que emprega
um processo semelhante ao da cromatografia de troca de íons, mas não
com a preocupação com os solutos, mas sim com o material adsorvente da
coluna. Para evitar a interferência da baixa solubilidade em água do sulfato
de cálcio, e como o estudo é para caracterizar solo, sugere-se o uso de
sulfato de magnésio. No líquido percolado, sugere-se determinar SO,” e
medir a condutividade elétrica. A comparação dos picos, para diferentes
solos, dará uma idéia da retenção de SO,”pelo solo.
Gesso e atributos químicos do solo 133

8.7.2 Efeito do gesso na reação de solos

O estudo pode ser feito com amostras de solos com diferentes


propriedades eletroquímicas, superficiais e de subsolos, desde solos bem
eletropositivos até os eletronegativos. Passar solução quase saturada de
sulfato de cálcio através do solo até saturação por sulfato. Passar dois
volumes de água pela coluna e, em seguida, analisar o solo em atributos de
acidez e teor de sulfato, comparando com as amostras de solo originais,
para avaliar o efeito do gesso em atributos químicos.

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Capítulo 9
Gesso e Propriedades Físicas do Solo

9.1 Natureza coloidal e dispersão do solo... ceerecerrererans 135


9.2 Efeito do gesso na estrutura do solo... caes 138
9.3 Encrostamento superficial... terrena creenarenaaeaaea 140
9.4 Gesso e camadas adensadas no solo ......... ienes 140
9.5 Condutividade hidráulica do solo... 141
9.6 Sugestões de pesquisa .............. eee eeeraraaererennarereneatas 142
Referências... rrerncaeaane rea aenaer enem er racer aerea rnraaaios 142

muito conhecido o principal efeito do gesso em melhorar as propriedades


físicas de solos sódicos. Trata-se de um efeito direto na estrutura do
solo, em que um cátion que favorece a dispersão das partículas, o sódio, é
substituido por outro que favorece a floculação,o cálcio. Além disso, o gesso
tem efeitos favoráveis no solo, em quebrar o encrostamento superficial,
aliviar camadas adensadas e aumentar a condutividade hidráulica, tanto para
solos sódicos como para ácidos.

9.1 Natureza coloidal e dispersão do solo

Em 7.5 tratou-se da teoria da dupla camada elétrica existente em


torno de partículas de solo de menor tamanho, que tem caráter coloidal.
Aqui o assunto será retomado, de forma geral, considerando o solo como
tendo predominância de cargas negativas.
Algumas propriedades ou atributos físicos do solo são determinados
pela natureza coloidal. Isso não quer dizer que o solo seja um colóide por si
só, mas que as partículas de menor tamanho comportam-se comotal, dentro
das propriedades determinadas pela existência da dupla camada elétrica,
ilustrada na figura 7.4.
136 Gesso na agricultura

Galembeck (s.d.) produziu um texto sobre “o estado coloidal” queirá


subsidiar alguns dos conceitos aqui abordados. Segundo o autor, uma
suspensão ou solução coloidal distingue-se de soluções de sais e outros
compostos por ser formada por dois ou mais componentes físicos - um
forma um domínio contínuo, e outro, um domínio descontinuo. Com fregiiência,
os sistemas são visualmente turvos ou opacos. No caso de suspensões de
argila em água, por exemplo, a água é o domínio contínuo,e as partículas de
argila em suspensão, o domínio descontinuo.
É importante esclarecer que o que mantém as partículas coloidais em
suspensão é a interação das duplas camadaselétricas delas, que se repelem.
Assim, quanto mais for favorecido o aumento da espessura da dupla camada
elétrica, maior será a estabilidade da suspensão.
Outra característica importante é o tamanho das partículas coloidais,
que devem ter dimensões inferiores a | gm. Compare-se com limite superior
da fração argila, de 2 um, ou 0,002 mm. Lembre-se que essa reduzida
dimensão das partículas da fração argila faz com que a superfície exposta
das partículas, ou superfície específica, seja muito grande.
Comojá foi discutido, as partículas, no caso de solos e de minerais de
argila, têm carga elétrica superficial negativa, contrabalançada por cátions
trocáveis, situação que resulta na existência de dupla camadaelétrica difusa.
Dupla camada elétrica por existirem as cargas negativas nas partículas
coloidais e, adsorvidas a elas, as cargas positivas dos cátions trocáveis.
Difusa porque, conforme ilustrado na figura 7.4, os cátions trocáveis, ao
mesmo tempo que são atraídos para a superfície, tendem em direção à
concentração mais baixa da solução de equilibrio. Com os ânions ocorre o
contrário, ou seja,eles são repetidos da superficie das partículas do solo, ao
mesmo tempo que tendem a se difundir em direção a ela por causa do
gradiente de concentração. Além disso, a espessura da dupla camadaelétrica,
discutida em 7.5, é reduzida se aumenta a carga do contra-ion ou a
concentração da solução de equilíbrio.
Aspartículas de argila, em uma suspensão coloidal estável, repelem-
se, por causa da carga elétrica superficial. No laboratório de física do solo,
as suspensões de argila para análise granulométrica são mantidas estáveis
pela aplicação de NaOH, que, além de elevar muito a carga negativa do
solo, coloca no sistema, como contra-íon, o cátion Na”, que favorece a
dispersão, por aumentar a espessura da dupla camada elétrica difusa. Além
disso, em solos com muito cáicio, o cátion cálcio tem sua carga neutralizada
por reação com hexametafosfato de sódio (Embrapa Solos, 1997), evitando
dessa forma seu efeito floculante,
Gesso e propriedades físicas do solo 137

Um problema que muitas vezes levanta dúvidas é a ocorrência de


dispersão do solo e formação de crostas pela aplicação de calcário,
principalmente o do tipo calcinado. Esse efeito surpreende, já que se espera
que os cátions Ca” e Mg” floculem o solo. No caso, existe um efeito do
calcário aumentando muito a carga negativa das partículas do solo, pela
elevação do pH, além de o efeito floculante dos dois cátions adicionadosser
menor do que o efeito do cátion trivalente AlÉ, que é neutralizado. Além
disso, para haver floculação adequada, é importante a existência de um
mínimo de sais no solo, e esse é outro fator a ser considerado.
A concentração de sais no solo pode ser reduzida, por exemplo, em
períodos chuvosos, em que ocorre remoção porlixiviação. Em consequência,
aumenta a espessura da dupla camada elétrica, o que favorece a dispersão.
Um exemplo dessa dispersão induzida pelas baixas concentrações de sais
nas suspensões são as enxurradas barrentas que saem dos solos,
evidenciando a dispersão de argila.
Solos sódicos com argilas do tipo 2:1, de alta atividade, apresentam os
problemas de dispersão de uma forma muito mais intensa do que solos ácidos.
Um detalhe importante relacionado a óxidos de ferro e alumínio é o
seu caráter anfótero, podendo esses minerais desenvolver cargas negativas
a valores de pH acima do PCZ (vide 7.7) e cargas positivas a valores de pH
menores do que o PCZ. Na figura 9.1 é mostrado como uma amostra de
Latossolo Roxo Ácrico dispersa em ambosos lados do PCZ (Raij, 1971).

Figura 9.1 Dispersão da amostra de solo do horizonte B, de um Latossolo Roxo Ácrico a


diferentes valores de pH (os valores de pH, indicados nos cilindros, da esquerda para a
direita, são 3, 4,5, 6, 7,8 e 9). Fonte: Raij (1971)
138 Gesso na agricultura

9.2 Efeito do gesso na estrutura do solo

Solos contêm partículas coloidais, orgânicas, minerais ou desses dois


materiais associados, em geral com importante atividade de superfície. Essas
partículas são fundamentais para a formação da estrutura do solo e sua
estabilidade, por sua vez, depende de como essas partículas se comportam
em relação a cátions trocáveis e sais em solução.
Uma das condições essenciais para que o solo mantenha condições
adequadasde trocas gasosas e de água é a existência de porosidade adequada,
que muito depende da estrutura dele, manifestada através de agregados
estáveis. Os agregados são constituídos de partículas unitárias mantidas coesas
por agentes cimentantes e, principalmente, por condições de floculação dos
colóides. Para esta floculação, é importante a existência de cátions divalentes
no solo, principalmente cálcio, bem comosais na solução do solo.
A mais importante aplicação do gesso na agricultura se dá em solos
de regiões secas, para reduzir o efeito pernicioso do sódio na deterioração
da estrutura do solo. Em solos sódicos, o excesso de sódio faz com que as
partículas de argila dispersem, provocando o entupimento de poros. Existe
uma denominação para solos que dispersam com facilidade: solos dispersivos.
Em solos sódicos (Alcordo e Rechcigl, 1993; Shainberg e outros 1989),
o mineral de argila dominante é a montmorilonita, mas vermiculita e ilita também
são comuns. Considera-se que a matéria orgânica também é relativamente
alta, significando solos de elevada CTC, muito acima dos valores de solos
ácidos dos trópicos úmidos. Esses solos, durante períodos de chuva, têm os
agregados superficiais desmanchados pelas gotas de água e, em seguida,
algumaspartículas de argila descem pelos seus poros, entupindo-os e formando
crosta de alguns milímetros de espessura. Secando, essas crostas tornam a
emergência de plântulas muito difícil. Além da dispersão física, que também
pode ser aumentada por efeito mecânico, a dispersão pode ocorrer também
dentro do solo, em uma intensidade que depende da saturação por sódio e da
concentração de eletrólitos na solução percolante. Má percolação de água
durante chuvas ou irrigação e formação de crostas pela secagem do solo são
os dois principais problemas que têm que ser mitigados.
A ação floculante do cálcio é, por vezes, conhecida como efeito
“condicionador de solos” (Mehlich e Tewari, 1974). Não é correto considerar
o gesso como condicionador de solos quando se trata da melhoria química
do ambiente radicular do subsolo.
Shainberg e outros (1989) e Sumner (1992) lembram que a crença
comum de que solos dispersivos são apenas aqueles que têm teores muito
elevados de Na não procede. Os autores afirmam que camadas superficiais
Gesso e propriedades físicas do solo 139

de diversos tipos de solos altamente intemperizados, ao redor do mundo,


dispersam sob condições de baixa concentração de eletrólitos na solução do
solo ou com aplicação de energia mecânica. Os mesmos autores fazem
uma descrição aplicável ao fenômeno da erosão, similar à dada para solos
sódicos. Iniciando com o impacto da gota de chuva, agregados na superficie
do solo são desintegrados, e a argila, dispersando, separa-se das partículas
maiores, movendo-se para dentro dos espaços porosos, que são bloqueados,
reduzindo assim a infiltração e aumentando o escorrimento superficial e a
erosão.
Por outro lado, há evidências de que o efeito condicionador do gesso
se aplica a solos ácidos, altamente intemperizados, quando estes contêm
baixos teores de sais na sua solução. A explicação para isso é também
tirada da teoria dos colóides. O que mantém suspensões de colóides
dispersos é a mútua repulsão entre as particulas, e esta repulsão aumenta
com a diminuição do teor de eletrólitos da solução do solo, o que muitas
vezes ocorre pela simples diluição promovida pela água da chuva. Miller e
outros (1986) discutem esse assunto e apresentam dadosevidenciando o
efeito, do gesso agrícola aplicado na superfície de solos do Sudeste dos
Estados Unidos em aumentar a infiltração de chuva simulada e reduzir as
perdas por erosão.
O efeito do gesso na floculação do solo é facilmente observado no
laboratório. Amostras superficiais de solos recém-tratados com gesso
permitem a obtenção de extratos aquosos límpidos, ou seja, não há argila
dispersa em água. Já em amostras não tratadas com gesso, mesmo tendo
recebido calcário, observam-se extratos turvos, com argila dispersa em água.

Cabe recordar que a argila dispersa em água é uma determinação


rotineira em laboratórios de pedologia, com o objetivo de caracterização de
solos (Embrapa Solos, 1997, p. 35-37). O grau de floculação, que representa
a relação entre a argila naturalmente dispersae a argila total, obtida após a
dispersão mecânica e química do solo, informa sobre o grau de estabilidade
dos agregados. O grau de floculação é calculado por:
Grau de floculação = 100 (AT - AD) /AT [9.1]
sendo AT a argila total, e AD, a argila dispersa em água.
Roth e Pavan (1991) verificaram que um Latossolo Roxo Distrófico
de Londrina, tratado com CaCO,, teve aumentada a dispersão de argila e
diminuída a taxa de inflitração de água. A adição de gesso reduziu a argila
dispersa na água escorrida e aumentou a infiltração de água no solo. Esses
efeitos, contudo, são temporários, persistindo enquanto o gesso estiver na
camada superficial do solo.
140 Gesso na agricultura

Roth e outros (1986), em estudo com simulador de chuva realizado


em cafezal plantado em Latossolo Roxo do Iapar (Instituto Agronômico do
Paraná), em Londrina, SP, verificaram que o gesso provocou um pequeno
aumento na estabilidade de agregadose no índice de infiltração. É possível
que, nesse trabalho,o efeito do gesso na amostra superficial já não fosse tão
importante por causa da lixiviação do sal para camadas mais profundas do
solo. Isso porque o teste foi realizado dois anos após a aplicação do gesso, e
a concentração do sal no solo superficial poderia ser muito baixa.

9.3 Encrostamento superficial

A formação de crostas em solos é especialmente danosa para a


emergência de plântulas. Miller (1988) mostrouo efeito benéfico da aplicação
de 2 t/ha de fosfogesso sobre as linhas de plantio no período de emergência
de algodão, conforme é mostrado na tabela 9.1. O efeito benéfico observado
foi devido à prevenção de crosta acima da semente durante a primeira chuva
após o plantio.
Tabela 9.1. Efeito da aplicação superficial de fosfogesso na emergência de plântulas de
algodão cultivado em Typic Kandiudult da Geórgia, EUA

) Porcentagem de emergência após os seguintes dias após o plantio


Tratamento
3 4 5 9 iz
Testemunha 12 22 35 56 68
Fosfogesso 37 45 55 69 79
Fonte: Miller (1988).

Sumner (1993) discute o encrostamento em alguns solos tropicais. O


autor cita diversos trabalhos que mostram a dispersão de Alfisols e Oxisols
com aumentos de carga negativa por meio da calagem, mostrando assim
que mesmo a presença decátions divalentes como Ca”* e de Mg”* pode não
ser suficiente para evitar a dispersão e todas as suas consequências
desfavoráveis. Outra informação importante é que pequenas adições de
sódioa esses solos podem ter severosefeitos deletérios na taxa deinfiltração,
enxurrada e erosão. Uma das causas da maior dispersão com a calagem é
a substituição do cátion trivalente Al”por cátions divalentes Ca?" e Mg”,
que têm menor poder de floculação, conforme já discutido em 9.1.

9.4 Gesso e camadas adensadas no solo

Efeito interessante do gesso em propriedades físicas do solo foi


observado por Radcliffe e outros (1986) na Geórgia, EUA, em um Ultisol
Gesso e propriedades fisicas do solo 141

ácido, com barreira física e química para a penetração de raízes no subsolo.


Três anos após a aplicação de 10 t/ha de gesso, em experimentos com
alfafa, pêssego e sem vegetação, os autores observaram menorresistência
do solo à penetração por penetrômetro, maiores quantidades de agregados
estáveis em água e aumento na condutividade hidráulica nos tratamentos
com vegetação, principalmente com alfafa. No terreno limpo,osefeitos não
foram observados. Os autores concluíram que a causa da melhoria nas
propriedades físicas do solo foram as raízes que, ao penetrarem e se
desenvolverem no subsolo, estimuladas pelo gesso, alteraram as condições
de macroporosidade. Ou seja, o gesso reduziu a barreira química do subsolo,
favorecendo a penetração de raizes que, por sua vez, melhoraram as
propriedadesfísicas do solo,
Segundo Sumner (1992), tanto gipsita como fosfogesso incorporados
na camadasuperficial do solo reduziram o índice de cone, que caracteriza a
força necessária para introduzir o penetrômetro no solo, de camadas duras
de subsolos, após tempo suficiente para a frente de gesso descer no perfil
do solo. Esse processo foi atribuido ao efeito direto do gesso na floculação
e agregação do subsolo,e indireto, pelo melhor enraizamento.
Borges e outros (1997) realizaram um estudo de laboratório para avaliar
o efeito de matéria seca de crotalária e de gesso na compactação simulada de
um Latossolo Vermelho Escuro Distrófico. Os tratamentos proporcionaram
redução da densidade/compactação do solo, propiciando aumento da porosidade
total e melhor equilíbrio na relação ar/água na porosidade dosolo.

9.5 Condutividade hidráulica do solo

Sumner (1992), citando comunicação privada de Chaing (1991), relata


este trabalho, mostrando, em amostras inalteradas de três Ultissolos, severas
reduções na condutividade hidráulica quando lixiviadas com água destilada.
O percolado continha argila dispersa em água, evidência de degradação da
estrutura do solo e ocorrência de dispersão de argila dentro do perfil . Quando
a lixiviação foi feita com solução saturada de gesso, a condutividade hidráulica
foi mantida em nível muito mais elevado e o liquido percolado não continha
argila dispersa.
Sumner (1993) apresenta uma tabela resumindo doze estudos do efeito
do fosfogesso na infiltração de água em Inceptissolos, Ultissolos e Alfissolos.
Em onzelocais, a taxa final de infiltração foi muito mais elevada no tratamento
com gesso do que no controle sem gesso. Melo (1988) observou aumento
da condutividade hidráulica emtrês solos do Ceará pela aplicação de gesso
em quantidade suficiente para substituir todo o sódio trocável.
142 Gesso na agricultura

9.6 Sugestões de pesquisa

Oprincipal efeito do gesso na melhoria das propriedades físicas é


redução do grau de dispersão da argila. Isso se deve mais à manutenção de
uma força eletrolítica na solução do solo do que ao efeito floculante do
cátion Ca . Assim, a melhor compreensão do efeito do gesso na manutenção
da estabilidade do solo, em quaisquer condições, parece ser o ponto
importante.
Não será detalhado aqui, mas, para a pesquisa, é necessário estabelecer
delineamentos apropriados. Por outro lado, observações simples podem ser
feitas em nível de fazenda, em campos de observação ou de validação de
tecnologia ou de pesquisa.

9.6.1 Determinação de quantidades mínimas de gesso para flocular


o solo

Amostras da camada superficial de vários solos, após agitadas em


125 mL de" água, conforme Embrapa Solos (1997), recebem adições de
CaSO,.2H,0, para completar a concentração, em mol/L de: 0; 0,0010;
0,0025; 0,0050; 0,0075; e 0,0100. A argila dispersa em água é determinada.

9.6.2 Melhoria de solos encharcados

Emcondições de solos que encharcam com irrigação, aplicar, na água


de irrigação, solução saturada de gesso. Essa solução pode vir acompanhada
de adubos nitrogenados e cloreto de potássio, dentro do que sefaz
normalmente emfertirrigação, mas não de adubos fosfatados. Avaliar a
argila dispersa em águae a infiltração de água, comparativamente a áreas
que não receberam gesso.

9.6.3 Alívio de áreas compactadas

Em solos compactados com subsolos ácidos, aplicar gesso, realizar


plantio de plantas pivotantes, entre outras, e, ocasionalmente, verificar a
resistência do solo ao penetrômetro e determinaro índice de cone.

Referências

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Gesso e propriedades físicas do solo 143

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O USO DO GESSO NA AGRICULTURA, 2., 1992. Anais... São Paulo: Ibrafos, 1992. p. 8-
40.
Capítulo 10
Gesso para Milho e Outros Cereais

10.1 Comportamento do milho frente à acidez... 146


10.2 Experimentos na região do cerrado ...........reareeeeeeres 147
10.3 Isolando efeitos no subsolo ............. eee reereereeraneearan 149
10.4 Outros resultados do Brasil... setenta 155
10.5 Experimentos do exterior... eaereeeneaeneerereerenaeereenasa 157
10.6 Sugestões de pesquisa... iceerreeerarrereerenaceneraneçea 161
Referências... eeeererenerererarenaaaneracaoeraeneaereereenaacaeraceçãs 162

milho é uma das culturas que mais pode se beneficiar de um


enraizamento profundo. Quando a cultura é de alta produtividade, a
exigência em água é grande e déficits hídricos durante o ciclo podem ser
muito prejudiciais. Além disso, é cultura que tem alta demanda em nitrogênio,
havendo sempre risco de que parte do nutriente se perca por lixiviação.
Foi a cultura do milho que permitiu a identificação do efeito do
gesso no aprofundamento do sistema radicular no subsolo, conforme
discutido anteriormente. Demonstrou-se também com milho que o gesso,
ao estimular o aprofundamento do sistema radicular, permitiu a
absorção de nitrato do subsolo que, sem a aplicação do gesso, não foi
absorvido.
Esses dois assuntos - absorção de água e de nitrato do subsolo — são
os mais importantes efeitos que se pode esperar de um desenvolvimento
mais profundo do sistema radicular, não só para a cultura do milho, que no
caso serviu como planta-teste para ilustrar de forma inquestionável a
importância do gesso no melhoramento de subsolos ácidos, como também
para outras culturas. Dessa forma, parece lógico começar a discussão de
gesso para diversas culturas pelo milho,
146 Gesso na agricultura

10.1 Comportamento do milho frente à acidez

O milho é uma cultura que tem respondido com bastante frequência à


calagem. É também umadasculturas mais estudadas,pela alta produtividade
e exigências em nutrientes, e pelo cultivo generalizado em todo o país, embora
com ampla variação de produtividade.
Há evidências de que o milho responde muito bem à calagem no
plantio convencional. Camargo (1982), em cinco cultivos de milho realizados
em solo Podzólico Vermelho-Amarelo com pH 4,6 e 48% de saturação por
alumínio, obteve elevadas respostas durante os cinco anos, sem reaplicação
do corretivo. As maiores produções foram obtidas com a saturação por
bases acima de 60% e ausência de alumínio trocável na camada arável
(Rai) e outros, 1983).
Outro trabalho que ressalta bema importância da calagem para milho
é o de Gonzales-Erico e outros (1979), que mostraram não só o efeito da
correção da acidez do solo para o milho, mas também a importância de essa
correção ser mais profunda (Tabela 2.2), tanto para a produtividade da cultura
como para a maior absorção de água em período de veranico.
Ao se tratar de plantio direto, parece haver uma mudançanas respostas
à calagem, que são menores, o que em parte pode ser consequência das
melhores condições de solo proporcionadas pelo sistema de cultivo,
combinadas com melhor fertilidade do subsolo de muitas áreas de plantio
direto, anteriormente cultivadas com aplicações de corretivos e fertilizantes.
Emani e outros (2002) desenvolveram um experimento de calagem
em Lages (SC), em um Oxisol com pH 4,7, 56% de saturação por alumínio
e 33 mmol./dm” de Al. Foram aplicadas doses de calcário até 18 t/ha, com
incorporação e dividindo as parcelas em plantio convencional e plantio direto.
Em dois de três anos, o plantio convencional deu maiores produções. A
produção máxima foi obtida com pH 6,5.
Caires et al. (20024) instalaram experimento em Latossolo Vermelho
Distrófico de Ponta Grossa (PR), manejado há 15 anos no sistema de plantio
direto. A análise de solo realizada antes da instalação do experimento indicou
pH em CaCl, de 4,5, 18% de saturação por alumínio e 32% de saturação por
bases. As doses iniciais de calcário foram de 0,2, 4 e 6 t/ha; sete anos depois,
as parcelas foram divididas em duas subparcelas, uma delas recebendo mais
3 t/ha de calcário. Amostras de solos retiradas de 0-5, 5-10 e 10-20 cm de
profundidade revelaram aumentos de saturação por bases, respectivamente,
para as três profundidades, de 19% a 58%, 18% a 40% e 18% a 27%. A
redução do alumínio deu-se até a profundidade de 60 cm. As produções de
milho, de 9,5 t/ha, não foramafetadas estatisticamente pelos tratamentos.
Gesso para milho e outros cereais 147

Miranda e outros (2005) relatam experimento de calagem com


incorporação ou não de calcário em Latossolo Vermelho de Planaltina (DF).
O pH do solo era de 5.1, saturação por bases de 4%, saturação por alumínio
de 82% e 590 g/kg de argila, Um detalhe importante é que o calcário, 4 t/ha,
foi incorporado, MO PC, antes da aplicação em superfície para o plantio
direto. Em uma produção de soja colhida em 2001, observou-se pouca
diferença entre PC e PD, Já no milho colhido em 2002 houve produções
bemmais elevadas para o PC. Soja e milho, cultivados em seguida, já não
mostraram efeito do modo de incorporação, ressaltando-se que as
produtividades de milho superaram as 10 t/ha.
Há diversos outros trabalhos de calagem que poderiam ser citados,
mas fugiria ao escopo deste trabalho. Quatro livros recentes abordam bem
o assunto, sob a ótica de calagem no Brasil (Wiethólter, 2000; Quaggio,
2000), do uso de corretivos da acidez do solo no plantio direto (Kaminski,
2000) e do sistema de plantio direto como base para o manejo da fertilidade
do solo (Lopese outros, 2004).
- Pode-se concluir que há resposta do milho à calagem se o solo
for ácido, e a redução da acidez do subsolo é benéfica à cultura. No
plantio convencional, o calcário penetra mais no solo, mas esse efeito é
menos pronunciado no plantio direto, em que não ocorrem constantes
revolvimentos do solo. No plantio direto, a incorporação do calcário no
início é útil, mas a diferença, em relação à aplicação na superfície,
desaparece com o tempo.

10.2 Experimentos na região do cerrado

Foi a cultura do milho que permitiu a identificação do efeito do


gesso no aprofundamento do sistema radicular no subsolo, conforme
discutido anteriormente. Na tabela 2.1 foi mostrado o efeito do gesso na
redução da saturação de alumínio ao longo do perfil do solo e os efeitos
associados de presença de raízes e absorção de água de camadas mais
profundas do solo, até 120 cm. Outros resultados do experimento (Tabela
8.3) evidenciaram que o gesso teve efeito no aumento do pH do solo,
nos teores de Ca + Mg e na redução de alumínio trocável. Esse conjunto
de resultados mostrou muito bem o potencial do gesso na melhoria do
ambiente radicular no subsolo. A figura 10.1 ressalta alguns aspectos do
trabalho. São representados os teores de alumínio e de cálcio + magnésio
para os tratamentos com superfosfato triplo e com superfosfato simples,
bem como um estudo de lixiviação de gesso em coluna com o mesmo
solo, porém sem plantas.
148 Gesso na agricultura

Nota-se que osteores de alumínio são mais baixos no solo sem planta
(C), em relação ao tratamento com ST no campo com planta (A), porém
mais elevados do que no tratamento com ST com planta (B). Esta observação
abre espaço para a hipótese de que parte da redução da acidez em
profundidade, no tratamento SS, seja decorrente da absorção de nitrato pelas
raízes mais profundas,
Um aspecto curioso, mostrado na figura 10.1 e nas tabelas 2.1 e 8.3,
diz respeito à aparente maior acidificação superficial do solo com tratamento
SS. Se o conteúdo de Ca + Mgaté 120 em de profundidade for convertido
em equivalente CaCO;, tem-se 5,7 t/ha no tratamento com ST e 6,8 t/ha no
tratamento com SS. Porém, nos 30 cm superiores, o tratamento com ST
contém 4,1 t/ha, contra apenas 2,4 t/ha no tratamento com SS, o que parece
mostrar uma inversão do problema de acidez, com maior acidificação da
camada superficial do solo no tratamento com superfosfato simples.
Sousa e Ritchey (1986b) apresentaram resultados quantitativos,
referentes ao efeito do gesso na retirada de água do perfil do solo. A
distribuição de raízes é apresentada nafigura 10.2, mostrando distribuição
maior em profundidade para aplicação de 6 t/ha de gesso.
Profundidade (cm)

O O O | ret
1 0 1 21 0 1 2 3
AB! Ca?t + Mg?t AB: Cat + Mg? ABr Cat + Mg'*
Figura 10.1. Distribuição de alumínio e de cálcio + magnésio em solos com os seguintes
tratamentos: (A) superfosfato triplo, experimento de campo após quatro anos; (B)
superfosfato simples, experimento de campo após quatro anos; (C) superfosfato simples,
apóslixiviação de água em coluna. Fonte: Ritchey e outros (1980).
Gesso para milho e outros cereais 149

O efeito dessa situação refletiu na produção de milho, conforme


mostram os resultados da tabela 10.1. Eles referem-se a experimento
desenvolvido nos doisanos, na época seca do ano, com irrigação, comparando
o resultado sem déficit hídrico com um tratamento em que o milho ficou 21
dias sem irrigação. O aumento da produção com gesso é considerável, embora
bem aquém do efeito produzido pelairrigação.
Sousa e Ritchey (1986a, 1986b) computaram a lâmina de águautilizada
pela cultura até 120 cm de solo para o primeiro plantio. Os valores foram de
61 mm, 76 mm, 90 mm e 90 mm, respectivamente, para os tratamentos de 0,
2,4eGt/ha.

0 2 1
, '
E 53% 34%
45d jencenenao-o- q-ó
5S 27% 25%

8 30- Cesporseçoo!
E 1 ,
õ 10% ! 112%
o 45 — , Dose de gesso FRA io
B (t/ha) r
B 8% ! 119%
E
E 607
—. Po)
tpoeoaç
Boo
a. 2%
em 6 Lo!
! 110%
, 1

15 — toma
Figura 10.2. Distribuição relativa do sistema radicular de milho cultivado no período seco de
1983, noventa dias após a emergência, com e sem aplicação de gesso, no perfil de um
Latossolo Vermelho-Escuro argiloso. Fonte: Sousa e Ritchey (1986).

Relembre-se que a absorção de nitrogênio também é um fator que


pode estar envolvido em um caso como este, exemplificado na figura 8.3.

10.3 Isolando efeitos no subsolo

No caso do milho, como para outras culturas, uma das questões que
se levanta é se haverá resposta das culturas a gesso. Tem-se os critérios
dos órgãos oficiais, que serão discutidos no Capítulo 13, mas o assunto é
indiscutivelmente complicado. Dois fatores principais estão envolvidos:solo
e planta.
150 Gesso na agricultura

O solo deve ter condições acentuadas de acidez no subsolo para que


o efeito do gesso se manifeste, e isso tem suassutilezas, conforme discutido
em 8.3. Além disso, a espécie ou variedade de planta também é importante,
dependendo do grau de tolerância à toxidez de alumínio.

Tabela 10.1. Efeito da aplicação de gesso, em condições de déficit hídrico, em comparação


com milho irrigado em Latossolo Vermelho-Escuro de cerrado

Gesso Produção de grão de milho em 1982, Produção de grão de milho em 1983,


aplicado após dias sem irrigação após dias sem irrigação
tha kg/ha kg/ha
0 21 0 21
0 3.503 1.710 4.201 2.833
2 - 2.770 3.219
4 - 2.820 4.049
6 4.166 3.106 6.052 4.941
Fonte: Carvalho e outros (1986).

O experimento discutido em 8.3 e na tabela 8.4 mostrou ser possível


avaliar diretamente o efeito do gesso utilizando amostras do próprio subsolo,
isolando dessa forma efeitos que podem ocorrer em diferentes partes do
solo. No caso do experimento, na publicação de Carvalho e Raij (1997), os
resultados mostrados na tabela 8.4 permitiram constatar o efeito do gesso
na redução da acidez e na saturação por alumínio. Referentes ao mesmo
trabalho, os resultados da tabela 8.10 mostram o efeito dominante de cálcio
e sulfato em solos tratados com gesso nas espécies químicas em solução,
contribuindo para a redução daatividade de Al e para um grande aumento
na atividade de Ca”. O trabalho tem outros aspectos que vale a penadiscutir,
relativos ao efeito comparativo do melhoramento do subsolo com calcário,
sulfato de cálcio ou fosfogesso, e a metodologia usada, que serve para avaliar
partes do subsolo, permitindo inferir sobre o possível efeito do gesso aplicado
na superfície em melhorar o ambiente para as raízes no subsolo.
Natabela 10.2 são informadosos atributos dos subsolos avaliados
por Carvalho e Raij (1997). Os solos têm teores muito baixos dos cátions
trocáveis Ca”, Mg” e K”. Especificamente o Ca?*, se for considerado o
limite utilizado para recomendação de Ca”, que é de < 4 mmol, /dm” de
Ca”, todos os solos se qualificariam para gessagem. Na questãode saturação
por alumínio (m), apenas o solo LRac2 não se qualificaria por esse critério,
já que não apresenta Al trocável. As demais quatro amostras têm saturação
por alumínio alta.
Gesso para milho e outros cereais 151

Tabela 10.2. Atributos analíticos das amostras de subsolos utilizadas em estudo de


melhoramento do solo comsulfato de cálcio, fosfogesso e carbonato de cálcio

Atributos dos Solos


solos LVal-l LRac-l LRac-2 LEal LVal-2

Argila, g/Xg 330 680 520 580 400


pH em CaCl; 0,01 mol/L 4,03 4,40 5,53 4,32 4,10
ApH (PH ia - PH) -0,6 -0,4 0,3 -0,8 -0,7
Complexo de troca de cátions, valores determinados

Ca”, mmol(dm 0,9 0,7 0,6 3,0 0,7


Mg”, mmol/dm” 0,6 04 0,2 1 0,8
K"mmol/dm” 0,5 02 0,2 0,4 03
Al”, mmol/dm” 13,8 24 0,0 72 87
H + Al”, mmol/dm' 55,0 43,7 25,0 48,5 50,6
Complexo de troca de cátions, valores calculados

SB, mmol, /dm” 2,0 13 1,0 45 18


CTC, mmol/dm' 57,0 45,0 26,0 53,0 52,4
CTC,mmol/dm' 15,8 37 1,0 117 10,5
V% 4 3 4 8 3
m, % 87 65 0 62 83
Fonte: Carvalho e Raij (1997).

Natabela 10.3 são mostrados resultados de condutividade elétrica,


K” trocável, NH;' e NO,contidos nas amostras de subsolos após o.cultivo
de milho. Note-se os valores mais elevados observados pela aplicação de
gesso na primeira e na última amostras de solo. Essas amostras são as
que têm os menores teores de argila, os valores de pHc,ecw mais baixos, os
valores de CTC e de Al” mais elevados, indicando possível menor
capacidade de retenção de sulfato, em comparação com os demais solos,
por serem os solos mais eletronegativos. Por outro lado, o solo LRac-1
possui condutividade elétrica, nos tratamentos com gesso, praticamente
igual à da testemunha ou do tratamento com calcário, indicando forte
adsorção de sulfato, talvez maior do que no solo LRac-2, outro solo de
caráter ácrico do grupo.
Ressaltem-se ainda, na tabela 10.3, os menores valores de potássio e
de amônio no solo para os três tratamentos em relação à testemunha,
indicando maior absorção pelo milho, mas sempre ficando um teorresidual,
menor para o solo LRac-2, que não tem alumínio. Neste caso, até na
testemunha houve maior absorção dos dois elementos.
152 Gesso na agricultura

Note-se que, no caso do nitrato, ion extremamente móvel no solo, os


valores no solo foram reduzidos a zero pelo efeito dos tratamentos,
permanecendo um resíduo, variável entre solos, no tratamento testemunha,

Tabela 10.3. Valores de condutividade elétrica, potássio trocável, N amonical e N nítrico


contidos nas amostras de subsolos do estudo de melhoramento do solo com sulfato de
cálcio, fosfogesso e carbonato de cálcio, após o cultivo de milho

Tratamentos Solos
LVal-] LRac-i LRac-2 LEal LVal-2

Condutividadeelétrica, dSm”
Testemunha 0,079 0,068 0,045 0,067 0,071
Sulfato de cálcio 0,438 0,084 0,159 0,124 0,413
Fosfogesso 0,460 0,083 0,161 0,144 0,390
Carbonato de cálcio 0,086 0,056 0,050 0,061 0,078

K” mmol/dm
Testemunha . 1,20 a 1,l0a 0,50 a 0,95 a 0,95 a
Sulfato de cálcio 0,55 b 0,48 c 0,25 b 0,52 be 0,42 b
Fosfogesso 0,55 b 0,48 c 0,30 b 0,48 c 0,42 b
Carbonato de cálcio 0,55 b 0,62 b 0,35 b 0,62 b 0,45 b
N-NH,, mg/dm”

Testemunha 12,8a 11.4a S,5a 10,2 a 6,0 a


Sulfato de cálcio 5,8b 4,5b 23b 33b 31b
Fosfogesso 5,8b Slb 2,8b 35b 28b
Carbonato de cálcio 53b 5lb 25b 34b 32b

N-NO,, mg/dm”
Testemunha 5,5 6,2 2,1 3,6 1,0
Sulfato de cálcio 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fosfogesso 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Carbonato de cálcio 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: Carvalho e Raij (1997).

Na tabela 10.4 são apresentados resultados que indicam o efeito


dos tratamentos em parâmetros da planta de milho, mostrando o efeito
positivo do gesso no comprimento de raízes, na absorção de água e na
produção de matéria seca. É nítido o efeito dos três sais no aumento da
absorção de água, com efeito médio maior das duas formas de sulfato de
Gesso para milho e outros cereais 153

cálcio em relação ao carbonato de cálcio. Houve também diferença entre


os solos. O comprimento das raízes foi muito afetado pelos corretivos,
que não diferiram entre si. Contudo, no solos LRac-2, que não têm
alumínio trocável (Tabela 10.2), o crescimento das raízes foi maior. A
matéria seca foi afetada de forma positiva para os três sais, com aumento
maior proporcionado pelo sulfato de cálcio e fosfogesso. Note-se que,
para esses três parâmetros, os maiores valores foram sempre obtidos
para o solo LRac-1, em que não havia alumínio trocável, mas simteor de
cálcio extremamente baixo (Tabela 8.4). Esse é um resultado que aponta
para um comportamento diferenciado dos solos ácricos, com subsolos
possivelmente mais fáceis de corrigir, desde que a movimentação do
gesso não seja muito prejudicada pela forte adsorção de sulfato no solo.

Tabela 10.4. Comprimento de raízes, absorção de água e matéria seca de milho da parte aérea
das plantas para cinco subsolos e quatro tratamentos do estudo de melhoramento do
solo com sulfato de cálcio, fosfogesso e carbonato de cálcio

Solos
Tratamentos .
LVal-] LRac-l LRac-2 LEal LVal-2 Média
Água absorvida, mL/vaso

Testemunha 1.472b 1.538 c 1.712 b 1.548c 179177b 1,597c


Sulfato de cálcio 1.594 a 1.885 a 2.036 a 1.931la 2000a 1.889a
Fosfogesso 1.593 a 1912 a 2.019a 1.969a 20182 1.902a
Carbonato de cálcio 1.619a 1.734 a 1.972a 1.786b 1.940a 1.810b

Média I.S70C 1.768B 1935 A 1.808B I.9I9A -

Comprimento de raízes, cmn/dm” de solo


Testemunha 196 c 222b 390 b 298 b 283b 278b
Sulfato de cálcio 399b 630 a 658 a 583 a 605 a 575 a
Fosfogesso 438b 653 a 698 a 6l6a 656 a 612a
Carbonato de cálcio 549a 591 a 642 a 536 a 584 a 580 a

Média 396 € 524 B S97A 508 B 5322 B -

Matéria seca da parte aérea, g/vaso


Testemunha 4,85b 5,03 c 6,22 c 5,90 c 6,12b 5,46 c
Sulfato de cálcio 581a 6,99 a 7,54a 6,77ab 7,27a 6,85 à
Fosfogesso 5,99 a 6,84 a 7,50 a 6,97 a 7,5la 6,99 a
Carbonato de cálcio 6,09 a 5,75 b 6,91 b 6,33 b 6,97 a 6,41 b

Média 5,68C 6,15 B 7,04 A 6,29B G697A -


Fonte: Carvalho e Raij (1997).
154 Gesso na agricultura

Na tabela 10.5 são apresentados os conteúdos de P, S, Ca e Mg


contidos na matéria seca do milho e as quantidades absorvidas de N e K.
Nocaso de P e Mg, os tratamentos com ostrês sais proporcionaram uma
redução de teores em relação à testemunha, o que pode ser explicado por
diluição em uma quantidade maior de matéria seca, já que os teores desses
dois elementos eram muito baixos nos cinco subsolos.
Tabela 10.5. Macronutrientes na matéria seca da parte aérea de milho para quatro tratamentos
de melhoria de cinco subsolos do estudo de melhoramento do solo com sulfato decálcio,
fosfogesso e carbonato de cálcio

Solos
Tratamentos
LVal-l LRac-1 LRac-2 LEal LVal-2
Teor de P, gkg

Testemunha 3,0 a 29a 23a 21a 2,55 a


Sulfato de cálcio 25b 2,2 be 2,0 ab 20b 19b
Fosfogesso 2,5 b L9e 2,1 ab 2,0b 20b
Carbonato de cálcio 23b 24b 1,8b 2,3 ab L8b
TeordeS, gkg
Testemunha 0,7b 07a 0,5 c 07a 0,7b
Sulfato de cálcio I6a 0,8 a 0,8 a 0,8 a la
Fosfogesso I6a 0,8 a 0,8 a 0,8a Ia
Carbonato de cálcio 0,9b 0,7 a 0,6b 0,8 a 0,7b
Teor de Ca, gkg
Testemunha 29b 2,7b 2,1c 3,6€ 24c
Sulfato de cálcio 56a 5;7a 5S,;7a 5,55a 55a
Fosfogesso 54a 59a 59a 5;7a 5S3a
Carbonato de cálcio 53a 3,8 a 3,8b 47b 45b
Teor de Mg, g/kg
Testemunha 30a 2588a 20a 28a 2,7 a
Sulfato de cálcio 23b l8a I8a 23b 20b
Fosfogesso 23b 20a 1a 23b 20b
Carbonato de cálcio 22b 22a 18a 2,5 ab 1,8b
N absorvido, mg/vaso
Testemunha s8b 50b 64b 55b 63b
Sulfato de cálcio 78a 75a 74a 70a 7a
Fosfogesso 78a 7a 7a 72 74 a
Carbonato de cálcio 79 a la T6a la 73 a
K, absorvido, mg/vaso
Testemunha 34b 35c 57c 42b 50b
Sulfato de cálcio óla 65 a 69 a 66 a 69 à
Fosfogesso 64 a 63a 7lab 65 ab 69a
Carbonato de cálcio 62 a 55b 63b 61b 65 a

Fonte: Carvalho e Raij (1997).


Gesso para milho e outros cereais 155

Cálcio e enxofre foram adicionados em grandes quantidades aos


subsolos, como duas formas de sulfato de cálcio; apenas cálcio foi adicionado
no caso de carbonato de cálcio. Iniciando pelo cálcio, nota-se um efeito
muito grande dos três tratamentos. Comparando os tratamentos entre si,
para três dos cinco subsolos,o sulfato de cálcio e o fosfogesso proporcionaram
maiores teores de Ca na matéria seca, em comparação com o tratamento
com carbonato de cálcio,
No caso do enxofre, os resultados são interessantes, pois apontam
para diferença marcante entre solos. Note-se, inicialmente, que a testemunha
praticamente não se diferenciou do tratamento com carbonato de cálcio,
que é um resultado esperado. Contudo, em três dos cinco solos também não
houve diferença em relação aos outros dois tratamentos. Sulfato de cálcio e
fosfogesso apresentaram efeitos no aumento dos teores de S apenas para
os solos LVal-1 e LVal-2, que são aqueles com maior saturação de alumínio
(Tabela 8.4), e os maiores valores de condutividade elétrica do extrato de
saturação (Tabela 11.2), o que deve ser consequência da menor adsorção
pelo solo de sulfato e, portanto, maior atividade do ânion na solução do solo.
Este parece ser um detalhe da maior importância, tendo a ver não somente
com a disponibilidade de S no subsolo para as plantas, mas também com a
adsorção de sulfato e movimentação ao longo do perfil de solo.

10.4 Outros resultados do Brasil

Um dos pontos que deve interferir no efeito do gesso em subsolos


ácidosé a tolerância do milho cultivado à toxicidade de alumínio.
Um experimento realizado em Tatuí, SP, que já teve a parte de solos
mostrada natabela8.5 e discutida em 8.3, revelou que a tolerância de variedades
de milho também é fator importante a ser levado em conta, Algunsresultados
são mostradosna tabela 10.6. Os valores médios de produção para o tratamento
sem calcário e sem gesso foram de 4.300 kg/ha de milho para a cultivar
tolerante e de 4.229 kg/ha para a cultivar sensível, ou seja, praticamente iguais.
Em termosderesposta,a cultivar sensível deu respostas bem mais acentuadas.
Note-se quetanto o calcário comoo gesso deram resultadossignificativosaté
as maiores doses aplicadas dos dois insumos, mas não houve efeito de interação,
ou seja, parece existir alguma independência nas respostas à calagem e ao
gesso, o que está de acordo com a idéia de que o calcário atua mais próximo
da superfície, e o gesso, em profundidade. Ressalte-se também a importante
resposta da calagem, se forem comparadasas aplicações de 12 t/ha em relação
a 6 t/ha. Também houve resposta a gesso, se comparadas as doses de 8 t/ha
em relação a 4 t/ha.
156 . Gesso na agricultura

Tabela 10.6. Aumentos de produção, total de quatro anos de duas cultivares de milho,
tolerante e sensível a alumínio, para três doses de calcário e três de gesso

. Gesso, t/ha
Calcário, tfha
0 4 8
Cultivar tolerante a alumínio

0 0 240 248
6 1.452 2.572 3.052
12 4.124 4.392 5.580

Cuitivar sensivel a alumínio


0 1.292 3.548
6 3.248 5.560 6.352
I2 5.228 6.792 7.252

Fonte: calculado a partir de resultados de Rat) e outros (1998).

De certa forma, esses resultados surpreendem. O solo não tem


deficiência de cálcio e a saturação por alumínio em profundidade, bastante
elevada, da ordem de 50% a 60%, foi pouco afetada pelo gesso. Por
outro lado, mesmo que tenha havido algumaresposta a gesso, a elevada
saturação por alumínio pode ser responsável pelo limite relativamente
baixo de produtividade do experimento, da ordem de 6 t/ha de milho
(Rai e outros, 1998).
Esse experimento merece atenção no que se refere ao efeito do gesso
no subsolo, por se tratar, provavelmente, de um solo com caráter
eletronegativo suficientemente acentuado para inibir maior influência no solo
e na produção.
Os resultados da camada de 0-20 em de profundidade (Tabela 8.2),
para as doses máximas de calcário e gesso, mostram que o calcário aumentou
de maneira significativa os teores de Ca”, de Mg?* e a saturação por bases,
e diminuiu o teor de AP* e a saturação por alumínio. Interessante é que o
gesso não afetou os teores de Ca”, Mg” e K*, mas apenas os teores de
SO”, embora pouco tenha restado nessa camada. Ressalte-se o efeito da
calagem emreduzir o teor de sulfato.
Nas camadas de 20-40, 40-60 e 60-80 cm, os efeitos esperados do
gesso pouco se manifestaram (Tabela 8.6). Os resultados de sulfato,
praticamente iguais nos tratamentos com ou sem gesso,indicam que já havia
muito no solo, de adubações anteriores. Mas o solo é ácido na superfície e
também em profundidade. Decerta forma, ainda surpreende que tenha havido
algum aumento de produção devido ao efeito do gesso, que foi significativo
apenaspara a cultivar sensível ao alumínio, proporcionando em média cerca
da metade do aumento de produção propiciado pela calagem (Tabela 10.6).
Gesso para milho e outros cereais 157.

Em algunstrabalhosrealizados em Ponta Grossa (PR), foram obtidas


respostassignificativas ao gesso. Em Latossolo Vermelho-Escuro Distrófico,
há quinze anos sob plantio direto, foram avaliadas 0, 2, 4 e 6 t/ha de calcário
e 0,4,8e 16t/ha de gesso, para uma sucessão de milho,trigo e soja (Caires
e outros, 1999). O solo tinha 16 mmol, /dm” de Ca”* e 18% de saturação por
alumínio na camada de 20-40 cm de profundidade, oferecendo, portanto,
baixa expectativa de resposta a gesso. O gesso afetou o subsolo
favoravelmente, mas aumentou a produção de grãos apenas no cultivo de
milho. Outro experimento foi realizado nainstalação de plantio direto em um
Latossolo Vermelho Distrófico, sem e com 4,5 t/ha de calcário, e com 0, 3,
6 e 9 t/ha de gesso, com e sem incorporação do calcário e aplicação de
gesso na superfície (Caires e outros, 2001). Como o solo tinha, na camada
de 20-40 cm,teor de Ca de 7 mmol, /dmí e saturação por alumínio de 15,
não seria de esperar resposta acentuada a gesso. Contudo, em condição de
deficiência hídrica, foi observada resposta significativa de gesso na produção
de grãos de cevada. Em um experimento de calagem e gessagem para
trigo, Caires e outros (2002b), em solo medianamente ácido, obtiveram
resposta na produção de grãos pela gessagem, mas não com a calagem.

10.5 Experimentos do exterior

Estudos de gesso com milho foram realizados na África do Sul e no


Estado da Geórgia, Estados Unidos.
Resultados de incorporação profunda de calcário, até 1 metro,
revelaram que a correção da acidez do subsolo é um fator importante para
aumentar a produtividade e, embora incorporação tão profunda como a
testada não tenha viabilidade prática, o experimento deixou claro quea acidez
do subsolo prejudicou o desenvolvimento da cultura. O resultado mais
importante, mostrado na tabela 2.3 para milho, é que o gesso pode, em
parte, reduzir o efeito deletério da acidez.

Tomae outros (1999) relatam dois experimentos iniciados em 1981


em um Typic Kanhapludult da Geórgia, EUA, com aplicações de 35 t/ha
(experimento 1) e 10 t/ha (experimento 2) de gesso. O experimento 1 foi
cultivado por dois anos com soja, seguido de um ano de milho e depois cinco
anos de alfafa. O segundo experimento foi cultivado por oito anos com
alfafa. Depois, os dois experimentos foram deixados em pousio, basicamente
com capim. Em 1997, foram retomados, com cultivo de milho. As produções
do experimento 1, sem e com gesso, foram, respectivamente, de 6,7 e 10,1
t/ha de milho. Para o experimento 2, as produções foram de 6,6 e 8,5 t/ha de
grãos de milho.
158 Gesso na agricultura

Foi feita amostragem do solo dos experimentos até profundidade de


120 cm, usando um amostrador de tubo de 25 mm. Foram retiradas amostras
compostas de quinze pontos. Nafigura 10.3 são apresentados os resultados
de Ca? e de SO,”. Após dezesseis anos, o solo apresentou consideráveis
teores de cálcio, que são maiores na superfície, mas a diferença dos
tratamentos demonstra a persistência no solo do efeito do gesso. No caso
do sulfato, também se percebe um acúmulo no perfil devido a gesso, embora
os teores da testemunha também sejam elevados, provavelmente por causa
de adubações anteriores. Por outro lado, os teores de sulfato são muito
baixos na superfície, como seria esperado (Tabelas 8.2 e 8.6).

Ca?* trocável (mmol, /1009) SOZImg/kg)


0 2 4 6 0 400 800 1200
0 l Í 4 | j |

20 +

5 40- -
uv
s
o 604 4
Q
o
2
o
E 80
+ o

100 + .
= Controle -0- Controle
120 — »[ Gesso + [+ Gesso

Figura 10.3, Efeito de gesso aplicado na superfície do solo nosteores de Ca” edesO” em
diferentes profundidades,dezesseis anos após a aplicação. Fonte: Toma e outros (1999).
Reproduzida com permissão.

A figura 10.4 mostra o pH medido em água e em CaCl,. Curiosamente,


o pH na superfície, por qualquer dos dois métodos, é bem maior para gesso
do que para a testemunha. Ressaltem-se, contudo, as diferenças entre pH
em água para os dois tratamentos, que não ocorrem para o pH em CaCh. É
mais uma demonstração do “efeito de sal” no pH medido em água,discutido
em 8.3, com base nos resultados da tabela 8.4.
Gesso para milho e outros cereais 159

pH (H,0) pH (CaCt,)
4,5 5,0 5,5 60 6,5 4,0 4,5 50 55 6,0
0 ! ] | ] l J
|

20 +

ER E
Yu

8
o 60 5
O
c
S
5 80 +
a

100 — a

120 + m0- Controle + -€0- Controle


=[h Gesso =[+ Gesso
140
Figura 10.4. Efeito de gesso aplicado na superfície do solo, nos valores de pH em água e em
CaCl,, emdiferentes profundidades, dezesseis anos após a aplicação. Fonte: Toma e
outros. (1999). Reproduzida com permissão.

Na figura 10.5 relacionam-se os resultados de condutividade elétrica


ao longo do perfil do solo, indicando a presença de sais decorrente da
aplicação de gesso após dezesseis anos. Essa observação revela a
importância de se usar a medida de condutividade elétrica, que é simples e
confiável, para monitorar estudos de lixiviação e identificar a presença de
sais ao longo do perfil de solos ácidos.
Na figura 10.6 nota-se que houve efeito do gesso na redução efetiva
de alumínio. Isso, combinado com o aumento de Ca”, leva a considerável
redução na saturação por alumínio.
O gesso promoveu uma redução de magnésio ao longo do perfil (Figura
10.7). Contudo, neste caso, o teor na superfície ainda era suficiente, embora
Já próximo do limite crítico, e grande parte do Mg ficou no perfil do solo, ao
alcance das raizes.
O trabalho de Tomae outros (1999) é importante por várias razões.
Aponta para um considerável efeito do gesso ao longo do tempo. Os
resultados de análise de solo mostram que o efeito deve estender-se por
muito mais tempo do que os dezesseis anos avaliados. É uma informação
importante para estudos econômicos, se for comprovado que uma correção
de todo um perfil do solo, a consideráveis produtividades, é uma prática que
aumenta a produtividade das culturas.
160 Gesso na agricultura

Condutividade elétrica (nS/cm)

0 50 100
0
= Controle
20 = Gesso

40 +
Profundidade (cm)

60 —

80

100 —

120

140
Figura 10.5. Efeito de gesso aplicado na superficie do solo, na condutividade elétrica, a
diferentes profundidades, dezesseis anos após a aplicação. Fonte: Tomae outros(1999).
Reproduzida com permissão.

AP* trocável (mmol, /100g)


10 20 3,0
o

] |

20 —

40 +
Profundidade (cem)

60 -|

80

100 1

120 + =0- Controle


Dl Gesso

140

Figura 10.6. Efeito de gesso aplicado na superfície do solo, nosteores de Al, em diferentes
profundidades, dezesseis anos após a aplicação. Fonte: Toma e outros (1999).
Reproduzida com permissão.
162 Gesso na agricultura

Essas amostragens podem também ser realizadas em estudos de


agricultura de precisão, em áreas de produtividades diversas, para verificar
se há efeito da acidez do subsolo nas produções de grãos.

10.6.2 Experimentos de calagem x gessagem

Tanto os critérios de calagem quanto os de gessagem em sistemas de


plantio direto passam, atualmente, por uma fase de reavaliação. Por outro
lado, faltam experimentos suficientes em quantidade e distribuição geográfica,
bem como em variedade de solos, para melhor avaliar o assunto. Sugere-se
o estudo de doses combinadas de calcário e gesso, com os seguintescritérios.
Amostraro solo de 20 em 20 cm, até 100 cm. Só realizar o experimento
se o subsolo for considerado responsivo a gesso, peloscritérios atuais. Para
cada uma das camadas de 20 cm, calcular a necessidade de calagem para
50% de saturação por bases. Somar os valores de necessidade de calagem
calculados para as cinco camadas de solos, obtendo a necessidade de
calagem para 1 m de profundidade.
Para gesso, com base em teste de adsorção de sulfato, para cada
uma das cinco amostras, calcular a quantidade de gesso a aplicar e somar
os valores para as cinco camadas de solo.
Aplicar, em todas as dezesseis combinações de experimento fatorial
4x4,as doses 0, 0,25, 0,50 e 1,00 das quantidades anteriores, para calcário
e gesso. Aplicar uniformemente na superfície, sem incorporar.
Plantar milho. Obter dados de produção durante alguns anos, sem
reaplicar os corretivos. Adubar bem, com cuidados especiais para potássio e
micronutrientes, mas não adicionar magnésio e enxofre. Conduzir o experimento
por vários anos. Apenasos resultados de produção são suficientes para avaliar
as condições econômicas de aplicação de calcário e gesso.
Análises químicas de solos e folhas, outras determinações de
laboratório e avaliação do sistema radicular são informações importantes,
mas que têm um custo elevado. Assim, a decisão sobre realizá-las deve ser
postergada até que se tenha avaliação da magnitude dos efeitos dos insumos
sobre a produção de milho,

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Capítulo 11
Gesso para Cana-de-Açúcar

11.1 Acidez do solo e resposta à calagem... 165


11.2 Efeito da calagem e da gessagem no solo... 167
11.3 Resposta da cana-de-açúcar à calagem e gessagem ...........s 172
11.4 Sugestões de pesquisa... eres eneraceeeaerarrerrerena 176
Referências erecrea cena cena ria cena cre aana canta Caracas cena aaa rea cg area aa ar aa traaa area errar antnn 177

A cana-de-açúcar é uma planta bastante tolerante à acidez. Talvez por


isso as respostas à calagem, quando ocorrem, não têm sido muito
acentuadas, mesmo em solos considerados muito ácidos.
Além disso, há pesquisadores que acreditam que bastaria suprir o
cálcio necessário para satisfazer as necessidades da cultura, sem
preocupação com a correção da acidez do solo. Nesse caso, o gesso poderia
suprir as necessidades de cálcio sem haver a correção da acidez.
Neste capítulo, a questão do gesso para cana-de-açúcar é colocada
em comparação com calagem. É importante avaliar, considerando o quefoi
dito antes, se cada um dos dois insumos, calcário e gesso, pode atender às
mesmas necessidades da cana, que seria o caso se o problema se resumisse
ao fornecimento de cálcio (e magnésio como nutriente), ou se os dois podem
ter ação complementar.

11.1 Acidez do solo e resposta à calagem

O fato de a cana-de-açúcar se desenvolver em uma larga faixa


de pH, que vai de 4,0 a 8,3 (Schmehl e Humbert, 1964), aponta para uma
possível menor necessidade de calagem, em comparação com outras
culturas.
166 Gesso na agricultura

Poroutro lado, porse tratarde planta que permanece longo período


no mesmo lugar, podendo receber seis ou mais cortes anuais, a prescrição
de calagem deve levar em conta a redução de bases no solo que pode
ocorrer nesse período. Há diversos trabalhos sobre calagem e gessagem
que mostram vários aspectos da cultura em relação a respostas a enxofre, a
calcário e a gesso (Demattê, 2005; Vitti e outros, 1992).
Marinho e Albuquerque (1983) apresentam uma minuciosa revisão
sobre calagem para cana-de-açúcar no mundo. Fica evidente a grande
tolerância da cana-de-açúcar a alumínio. Mesmo assim, relatam diversos
trabalhos em que foram obtidas respostas da cana à calagem, embora em
alguns casos o efeito tenha sido atribuído ao cálcio como nutriente, e não
à correção da acidez. Os autores citam que, em diversos países, apenas
os teores de cálcio e magnésio, e não a acidez, são considerados para a
prescrição de calagem. Isso representa pouco se for considerada a
magnitude da acidez dos solos e as recomendações de calagem que seriam
feitas para outras culturas. Assim, para o Havaí, o nível crítico de Ca?” no
solo seria de 7 mmol,/dm, valor posteriormente elevado a 11,5. Na África
do Sul, o limite estaria em 7,5 mmol,/dm” de Ca”. Na Austrália, o limite de
cálcio era de 8,5 mmol./dmº. Para o Brasil, há várias indicações,
destacando-se a de Zambello Junior e Orlando Filho (1981), com um limite
de 7,5 mmol,/dm” de Ca”.
O capítulo de revisão de Marinho e Albuquerque, com base em dados
de diversas origens, apresenta uma correlação linear entre saturação por
alumínio e a produção relativa, que permitiu definir a produção máxima, ou
seja, 100% de produção relativa, com uma saturação por alumínio de zero.
Por outro lado, para saturação por alumínio próxima de 100, o valor de
produção relativa ainda era de cerca de 70%.
Pearson (1975), ao tratar da acidez do solo e calagem nos trópicos
úmidos, ressalta que a cana-de-açúcarestá entre as culturas menossensíveis
à acidez do solo, mas que, mesmo assim, fortes respostas à calagem têm
sido observadas com frequência. Desses resultados considerados, muitos
eram do Havaí, e a probabilidade de resposta à calagem aumentava bastante
para teores mais baixos da Ca?” trocável, com maiores respostas na faixa
de aproximadamente até 20 mmol./dm . Numa tentativa de generalizar, o
autor indica pH de 5 em água como um limite abaixo do qual a cana-de-
açúcar provavelmente responde à calagem. O autor também ressalta a
elevada tolerância da cana à toxidez de alumínio.
Rossetto e outros (2004) relatam um trabalho de calagem e adubação
potássica de cana-de-açúcar em seis experimentos desenvolvidos no Estado
de São Paulo, Os solos estavam com saturação por bases variando de 7% a
Gesso para cana-de-açúcar 167

28% e teores de Ca” variando de 4 a 9 mmol,/dm”. Somente em dois


experimentos ocorreram respostas à calagem, de 8 e 13 t/ha de colmos,
confirmando assim a adaptação da cana a solos de elevada acidez.

11.2 Efeito da calagem e da gessagem no solo

As recomendações da calagem para São Paulo (Spironello e outros,


1996) preconizam a elevação da saturação por bases a 60% antes do plantio
da cana-de-açúcar, não passando contudo de 5 t/ha de calcário. Também
deve ser considerada a aplicação de magnésio se o teor de Mg”for inferior
a 5 mmol;/dm” de Mg”. O gesso é recomendado se, na camada de 20-40
cm de profundidade, o teor de Ca? for inferior a 4 mmol;/dm” e/ou a
saturação por alumínio for maior do que 40%. Nessas condições, a
necessidade de gesso é dada por:
NG = Argila (em g/kg) x 6 = kg/ha de gesso a aplicar [1.1]
Em MinasGerais, Korndórfer e outros (1999) calculam a necessidade
de calagem para a cana por:
NC = [30 - (Ca” + Mg9]/ 10 [11.2]
A necessidade de calagem é dada em t/ha, e os valores de Ca” e
Mg”, em mmol, (dm.
Para gessagem usam a Fórmula 11,1.
No Rio Grande do Sul, a calagem da cana-de-açúcar é recomendada
para elevar o pH a 6 e não há recomendação de gessagem. Para o cerrado,
Sousa e Lobato (2002) recomendam calagem para elevar a saturação por
bases a 50% e manter o Mg” no mínimo em 5 mmol, /dm”. A gessagem é
indicada por:
NG =7,5 x argila (%) = kg/ha de gesso a aplicar [11.3]
Esses critérios devem ser considerados quando forem avaliados
resultados experimentais de gessagem para cana-de-açúcar.
Diversos experimentos de calagem e gessagem para cana-de-açúcar
foram realizados pelo Planalsucar, todos com quatro cortes de cana.
Morelli e outros (1992) publicaram um deles, consistindo em
experimento fatorial com doses crescentes de calcário e de gesso, mostrando
resultados de análises químicas ao longo do perfil de solo e de quatro cortes
de produção de cana-de-açúcar. Os resultados ajudarão a ilustrar diversos
aspectos da aplicação do gesso para cana. O experimento foi realizado no
município de Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho-Escuro Álico, com
120 g/kg de argila na camada de 0-25 cm,e 160 g/kg na camada de 25-50 cm.
168 Gesso na agricultura

O solo tinha uma CTC de 35 mmol, /dm” e saturação por bases de


15% na camada de 0-25 cm. Na camada de 25-50 cm, considerada na
diagnose da necessidade de aplicação de gesso, os teores de Ca e de Al,
respectivamente de 1,2 e 6,5 mmol,/dm”, além da saturação de alumínio de
76%, indicavam tratar-se de solo em que se poderia esperar resposta a
calcário e gesso, segundo critérios para São Paulo (Spironello e outros, 1996).
As aplicações, tanto de calcário quanto de gesso, foram de 0,2,4e 6 t/ha
em um esquema fatorial 4 x 4. Foram realizados quatro cortes de cana e
realizadas amostragens de solo ao longo do perfil do solo aos 18 e 27 meses
após o plantio.
Natabela 11.1 são mostrados resultados de Ca”, Mg” e de SO,
em duas épocas de amostragem, considerando apenas as doses extremas,
de O e 6 t/ha de cada insumo, Note-se que a aplicação somente de calcário
teve efeito nos teores da cálcio até a camada mais profunda amostrada.
O mesmo ocorreu com o magnésio, em grau mais acentuado. Com a
adição de gesso, os teores de cálcio aumentaram muito, distribuindo-se
ao longo do perfil amostrado, e o magnésio foi deslocado para camadas
mais profundas.

Tabela 11.1. Teores de cálcio e magnésio no experimento de calagem e gessagem de cana-de-


açúcar, desenvolvido em Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho-Escuro Álico, em dois
períodos de amostragem

Ca”, mmol /dm” Mg”, mmol /dm”


Profun- i
. Gesso, O t/ha Gesso, 6 t/ha Gesso, O t/ha Gesso, 6 t/ha
didade 18 27 I8 27 18 27 I8 27
em meses
Calcário, O t/ha

0-25 4,0 3,5 11,2 7,9 1,7 0,9 0,6 0,8


25-50 17 2,0 6,9 4,9 0,6 0,5 0,5 0,6
50--75 13 Li 6,7 4,6 0,6 0,5 0,8 0,6
75-100 LO 0,8 6,0 4,3 0,3 0,5 14 0,8
100-125 0,8 0,6 4,2 44 0,2 0,5 13 0,7
Calcário, 6 t/ha
0-25 12,3 13,0 20,5 23,4 8,9 9,3 5,6 6,1
25-50 22 44 75 9,5 3 2,8 1,9 2,1
50-75 13 2,0 5,9 5,2 0,7 o! 1,9 na
75-100 14 L6 6,8 5,0 0,8 0,8 3, 12
100-125 1,8 1,4 6,2 5, LO 0,7 3,8 14
Fonte: Morelli e outros (1992).
Gesso para cana-de-açúcar 169

O sulfato distribuiu-se ao longo do perfil de solo, já estando presente


mesmo sem a aplicação de gesso, em teores baixos, mas bastante uniformes
(Tabela 11.2). Com a aplicação do gesso, houve aumento, mas percebe-se
também uma expressiva diminuição para a amostragem de 27 meses em relação
à de 18 meses. É possível que os teores observadosaos 27 mesesjá indiquem
certo equilibrio com o solo, que seria então da ordem de pouco mais de 3 a 4
mmol/dm” de SO, talvez mais elevado em camadas mais profundas.
Tabela 11.2. Teores de sulfato e alumínio no experimento de calageme gessagem de cana-de-
açúcar desenvolvido em Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho-Escuro Álico, em dois
períodos de amostragem

so, mmol /dm' AL, mmol /dm'


Profun- é
. Gesso, O t/ha Gesso, 6 t/ha Gesso, O t/ha Gesso, 6 t/ha
didade 18 27 18 27 I8 27 18 27
em meses
Calcário, O t/ha

0-25 0,6 0,8 53 2,4 7,3 9,2 7,8 7,8


25-50 0,6 0,9 5,3 2,6 74 84 8,2 7,8
50-75 0,5 0,8 6,6 34 A 7,3 73 73
75-100 0,7 0,7 73 4,1 6,4 6,8 6,5 6,7
100-125 0,6 0,7 4,3 4,4 6,7 7 6,4 6,4

Calcário, 6t/ha
0-25 0,7 0,3 3,8 2,8 13 1 0,7 0,5
25-50 0,8 0,8 4,5 2,9 6,8 4,5 5,2 3,5
50-75 0,9 0,8 5,5 3,6 6,5 6,2 5,6 5,7
75-100 0,7 0,9 8,0 4,7 5,8 5;7 5,0 5,0
100-125 0,7 0,8 7 4,7 5,5 6,0 5,4 4,6
Fonte: Morelli e outros (1992).

Na ausência da calagem, o alumínio praticamente não variou para as


duas amostragens nos tratamentos com e sem gesso. Já com a adição de
calcário, houve redução acentuada do Al” na camada de 0-25 cm, com um
efeito importante na camada de 25-50 cm. O calcário sozinho reduziu o
alumínio ao longo de todo o perfil, com efeito mais acentuado na superfície
do solo. Deve-se lembrar, porém, que a quantidade de calcário é muito elevada
para solos com apenas 160 g/kg de argila.
A combinação de calcário com gesso acentuou a redução de alumínio
em todas as camadas amostradas, principalmente na amostragem de 27
meses, Este é um aspecto importante, pois indica um fato que merece ser
mais observado. Ou seja, o gesso sozinho não reduziu o teor de alumínio,
mas, em presença do calcário, essa redução ocorreu.
170 Gesso na agricultura

Até aqui foram discutidos parâmetros de solos conhecidos como “fator


quantidade”, um termo bastante usado para espécies químicas em solos,
especialmente para acidez, fósforo e potássio. Na tabela 11.3 são mostrados
os resultados de fatores intensidade, ou seja, o pH, a saturação por bases e
a saturação por alumínio. Essestrês fatores são importantes por permitirem
comparações entre solos de capacidades de troca de cátions diferentes.

Tabela 11.3. Valores de pH, saturação por bases e saturação por alumínio no experimento de
calagem e gessagem de cana-de-açúcar, desenvolvido em Lençóis Paulista em Latossolo
Vermelho-Escuro Alico, em dois períodos de amostragem

Profun- pH-CaCl, V% Mg, %


didade Gesso, Gesso, Gesso, Gesso, Gesso, Gesso,
0 t/ha 6 t/ha 0 t/ha 6 tha O tha 6 t/ha
em I8 27 I8 27 I8 27 18 27 18 27 I8 27
meses
Calagem, O t/fha

0-25 4,0 39 40 41 6 9 2U 17.57 68 41 47


>

25-50 40 40 4,0 41 7 8 19 Ho 7%Ô 7 53 59


50-75 4,0 41 40 41 7 7.2 I8 79 91 49 53
75-100 4,1 40 40 41 7 6 24 I5 83 84 47.57
100-125 43 41 41 44 5 4 UN 7.87 88 54º 56

Calagem, 6 t/ha
0-25 4,5 52 50 53 47/52 55 59 6 7 3 2
25-50 4,3 43 42 45 1 23/27 32 66 38 36 23
50-75 40 41 42 42 9 53 25 20 76 67º 42 48
75-100 4,1 41 42 43 Wo 12 32 2 RB 70 34; 45
100-125 41 41 43 43 3 10 34 23 66 55 50 4]
Fonte: Morelli e outros (1992).

O pHem CaCl, variou até 75 cm pela aplicação de calcário. A


aplicação de 6 t/ha de gesso não teve efeito no pH. Em presença da calagem,
o gesso acentuou o aumento do pH, o que está coerente com a observação
feita para o alumínio. Note-se que o efeito no pH foi de 0,2 unidade, ao se
comparar resultados aos 27 meses.
A saturação por bases foi afetada de forma considerável pelo gesso,
mesmo na ausência da calagem, o que se explica pela lixiviação de sais
decorrente da aplicação do gesso que, por serem neutros, não afetam o pH.
Note-se que, aos 27 meses, parte desse efeito já tinha desaparecido. Nos
tratamentos com calcário, houve efeito na saturação por bases com a calagem
Gesso para cana-de-açúcar 171

isolada, com aumentos coerentes com a previsão de quatro unidades de V para


cada 0,1 unidade de pH, admitindo os valores aproximados de pH em CaCl, na
faixa de 4a 6,5, e a saturação por bases de O a 100%. Com a calagem e o efeito
combinado do gesso, os valores de saturação por bases aumentaram bastante,
embora com uma redução acentuada aos 27 meses, em comparação com os 18
meses. Interessante é que os valores de V diminuem a 50-75 cm e depois
aumentam de novo, o que é reflexo da calagem nas camadas superiores e do
gesso penetrando nas camadas mais profundas, com adsorção de sulfato.
O melhor indicador do efeito de calcário e gesso no solo,principalmente
para inferir sobre a toxicidade de alumínio para as plantas, é, sem dúvida, a
saturação por alumínio, conforme foi discutido em 5.4. Essa saturaçãoreflete,
ao mesmo tempo, a diminuição de AP* no solo e o aumento debases. Avaliando
os resultados dessa maneira, ressalta o grande efeito dos insumos, já importante
para calcário e muito mais acentuado para a gessagem. Valores de magnésio
de mais de 80% são reduzidos, conforme os resultados da tabela 11.3, a valores
da ordem de 40%, o que é altamente significativo do ponto de vista prático.
Note-se que a redução da saturação por alumínio ocorre em todo o perfil,
Comparando as duas camadas de 0-25 e 25-50 cm nos tratamentos com
calcário, com e sem gesso, a saturação por alumínio diminui com o tempo, o
que se deve à dissolução das partículas mais grosseiras do calcário no solo.
Nas camadas mais profundas, a saturação por alumínio aumenta com o tempo,
o que se deve à perda de bases do solo por lixiviação.
Ao analisar os resultados das diferentes tabelas, pode-se perder de
vista o que realmente ocorreu com o solo no caso desse experimento em
termos de balanço de bases. Alguns números, apresentados na tabela 11.4,
informam sobre isso. Como quantidades adicionadas, consideraram-se as
informações discutidas em 8.1, sobre valores esperados no solo pela
calagem e pela gessagem. Assim, considerou-se o calcário com PRNT de
100 como adicionando 10 mmol, /dm” ao solo por tonelada de CaCO;.
Como o calcário tinha PRNT de 63%, o valor adicionado, em 6 t/ha, foi de
37,8 mmol;/dm, distribuídos em 21,7 mmol. de Ca” e 16,1 mmol. de Mg”.
No caso do gesso, foi considerado que cada tonelada acrescenta ao solo 5
mmol./dmº, de Ca”* e de SO”.
Ao comparar os resultados, dois aspectos devem ser observados. O
primeiro é se a quantidade adicionada foi refletida nos aumentos; o segundo,a
tendência de perdas entre uma amostragem e outra. No tratamento só com
gesso, os valores de Ca” e o SO”, na primeira amostragem, praticamente
refletiram o que foi adicionado; na segunda amostragem, o sulfato diminuiu
bem mais que o cálcio, possivelmente pela correção da acidez proporcionada
pela calagem, reduzindo assim a capacidade do solo de reter sulfato.
172 Gesso na agricultura

No tratamento só com calcário, os valores de Ca?' e de Mg” estão


bem abaixo do esperado na primeira amostragem,o que se deveu à dissolução
incompleta do calcário; na segunda amostragem,os valores maiores de Ca?
e de Mg” indicam maior dissolução do calcário. Finalmente, o tratamento
com os dois insumos revelou valores bastante próximos do esperado para
Ca?” e Mg”na primeira amostragem; na segunda amostragem ainda houve
aumento de Ca”, mas o Mg” diminuiu,pela lixiviação promovida pelo gesso.

Tabela 11.4. Balanço de cálcio, magnésio e sulfato para os diversos tratamentos, nos dois
períodos de amostragem, no experimento de calagem e gessagem com cana-de-açúcar
desemvolvido em Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho-Escuro Álico

Valor ca”, mmol, dm” Mg”, mmol, dm” SOS mmol, /dm”
I8meses 27meses Iômeses 27meses 1I8meses 27 meses

Quantidades adicionadas
Calculado Calcário - 21,7; gesso -30,0 Calcário - 16,1 Gesso - 30,0

Tratamento sem calcário ou gesso


Determinado 11,0 10,0 4,3 3,6 3,8 4,9

Calcário - O t/ha; gesso - 6 t/ha


Determinado 43,8 32,6 5,8 4,4 36,0 21,1
Aumento 32,8 22,6 1,5 0,8 32,2 16,2

Calcário - 6 t/ha; gesso - O t/ha


Determinado 23,8 28,0 15,5 18,8 4,8 4,5
Aumento 12,8 18,0 11,2 15,2 LO -0,4
Calcário - 6 t/ha; gesso - 6 t/ha
Determinado 58,6 60,3 20,4 14,9 36,1 234
Aumento 47,6 50,3 16,1 11,3 32,3 18,5

Fonte: valores calculados com base nos resultados de Morelli e outros (1992).
() Com base em PRNT de 63. O poder de neutralização total do calcário é 87%.

11.3. Resposta da cana-de-açúcar à calagem e gessagem

Morelli e outros (1992) apresentaram importante aumento de


produção, mostrado na tabela 11.5. É importante observar que nem com
calcário e nem com gesso se obtém a produção máxima, conseguida com a
combinação dos dois. Como nãofoi feito ajuste de função de resposta aos
resultados, ao escolher-se pontos isolados carrega-se um pouco do erro
experimental. Contudo, como as diferenças são bastante acentuadas, isso
não deve atrapalhar o raciocínio. O aumento máximo de produção, para os
Gesso para cana-de-açúcar 173

quatro anos, somente com calcário, foi de 54,4 t/ha para 4 t/ha de calcário;
para 6 t/ha de gesso, foi de 51,6 t/ha de colmos. Com a combinação dessas
duas quantidades, o aumento foi de 76,8 t/ha para o uso desses dois insumos.

Tabela 11.5. Aumentos acumulados de produção em quatro cortes de cana-de-açúcar no


experimento de calagem e gessagem desenvolvido em Lençóis Paulista em Latossolo
Vermelho-Escuro Álico

Doses de Aumento de produção de cana, em t/ha, para doses de gesso, em t/ha


calcário 0 2 4 6
tha

0 0() 28,8 49,2 516


2 44,8 59,6 72,8 61,2
4 54,4 89,2 74,4 76,8
6 45,2 732 584 772
Fonte: valores calculados com base nos resultados de Morelli e outros (1992).
() A produção média anual desse tratamento foi de 99,1 t/ha.

O que chama mais a atenção, no caso da cana, são as produtividades


relativamente elevadas obtidas em solos com teores muito baixos de bases
e saturações de alumínio muito elevadas, não só neste caso, mas em vários
outros experimentosrelatados por Penatti e Forti (1993). Para que se tenha
uma idéia da situação, na tabela 11.6 são apresentados resultados de análise
de solos de seis experimentos, sendo um o já discutido de Morelli e outros
(1992) e cinco publicados por Penatti e Forti (1993). Pela análise de solo,
todos os seis experimentos deveriam receber calagem pelo critério do IAC,
e apenas os solos LR-2 e LVA-11 não necessitariam de gesso (Spironello e
outros, 1996).
Os resultados de produção apresentados na tabela 11.7 permitem
mais algumas observações importantes. São seis experimentos em solos
muito ácidos, conforme os resultados da tabela 11.6. Note-se que foram
apresentados os resultados médios das produções de quatro anos e a
produção do quarto corte. Este último resultado é apresentado para indicar
a possibilidade de os cortes continuarem. Em todosos solos, exceto o LVEa,
a produção do quarto corte é inferior à média dos quatro cortes, comoseria
de esperar. Dos seis experimentos, apenas no LR-2 não houve efeito
significativo de calagem ou gessagem na produção, além de se observar
maior produtividade. Com aplicações de calcário e gesso, as produtividades
de colmos dos experimentos foram bem mais elevadas do que a testemunha,
exceto no solo LR-2, em que a produtividade continuou alta no quarto ano,
mas não houve resposta a calcário e gesso.
174 Gesso na agricultura

Tabela 11.6. Resultadosiniciais de análise de solos dos seis experimentos de calagem e gesso
paraa cana-de-açúcar

Profundi- . pH » +
Legenda Argila Ca Al SB CTC CTC V m
dade CaCl, el.
em gkg mmol/dm' —%
LVEa 0-25 20 490) 34 59 54 113 350 I5 52
25-50 160 49() 12 65 21 8,6 280 8 7%,
LVA-9 0-20 220 3,9 LO 11,2 23 13,5 713 3 83
20-40 230 3,9 0,5 10,7 16 12,3 51,6 3 87
LR-2 0-25 790 4,2 83 94 140 234 73,0 19 40
25-50 760 4,2 91 92 13,6 232 68,6 20 40
LVA-11 0-25 140 4,5 9,1 Ii 136 147 40,6 33 7
25-50 140 4,4 63 21 98 11,9 34,8 28 18
LVA-9 0-25 190 4,4 58 21 10,2 123 332 31 17
25-50 190 4,0 0,5 75 20 9,5 36,0 6 79
LVE-3 0-25 590 4,0 L9 187 50 23,7 930 5 79
25-50 590 4,1 L9 19,0 4,5 23,5 925 5 38
Fonte: solo LV Ea, Morelli e outros (1992); demais solos, Penatti e Forti (1993).
(') pH em água.

Esse conjunto de seis experimentos, desenvolvidos por quatro anos


emsolos ácidos, é único para estudos de calcário e gesso. Não há nada
parecido para nenhuma outra cultura. Os resultados são importantes para
avaliar se as aplicações de calcário e gesso são econômicas. Na tabela 11.8
são apresentadas diversas informações que permitem apreciar essa questão.
Como informações básicas, são fornecidos os valores do PRNT dos calcários
e os valores da necessidade de calagem (NC) e de gessagem dos solos, de
acordo com oscritérios vigentes do Instituto Agronômico (Spironello e outros,
1996). Em seguida, são indicadas duas colunas do que se chamou de dose
adequada, que consiste nas quantidades ótimas, tanto de calcário como de
gesso, com base nos dados da tabela 11.7. Finalmente, é indicado o aumento
de produção de cana-de-açúcar proporcionado pelas doses adequadas de
calcário e gesso e o custo dos corretivos. A “moeda” no caso é a produção
de cana-de-açúcar, tendo-se considerado tanto calcário como gesso custando
2 t/ha de colmos por tonelada de cada insumo, valor provavelmente
exagerado, arredondado para cima com base em considerações econômicas
detalhadas para os experimentosfeitos por Penatti e Forti (1993). O resultado
econômico é altamente positivo para todosos casos, isso sem contar cortes
subsegiientes de cana-de-açúcar. Um ponto importante é que as necessidades
de calagem (NC) e de gessagem (NG), feitas por recomendações oficiais
(Spironello e outros, 1996), estão subestimadas.
Gesso para cana-de-açúcar 175

Tabela 11.7. Produções de cana-de açúcar nos seis experimentos de cana-de-açúcar

Média das produções de quatro Produção do quarto corte


Calcário cortes de cana-de açúcar de cana-de açúcar
para doses de gesso para doses de gesso
tha t/ha

Solo LVEa - Usina Barra Grande


0 2 4 6 0 2 4 6
0 99 106 Wa n2 88 100 no 12
2 Ho 114 17 114 HO 116 113 118
4º 113 121 118 118 13 126 116 114
6 Ho 117 114 118 113 125 118 126

Solo LVA-9 - Fazenda Augusta, Usina Catanduva


0 15 3,0 6,0 0 1,5 3,0 6,0
0 102 100 106 16 72 62 79 87
2,5 108 118 114 18 81 93 86 84
5,0 116 119 121 19 90 90 95 91
10,0 120 122 116 120 89 97 87 93

Solo LR-2 - Fazenda Saltinho, Usina São Manoel


0 2 4 8 0 2 4 8
0 131 132 130 130 17 21 121 12
2 129 130 131 134 120 119 115 118
3 132 129 129 130 lg Ho 112 7
4 128 135 130 134 ni HG 19 118

Solo LVA-11 - Fazenda Pau D'Alho, Usina São Manoel


0 Í 2 4 0 Í 2 4
0 79 83 85 86 62 68 72 75
Ls 84 86 81 90 68 74 67 73
2,25 84 83 85 90 73 75 69 73
3,00 89 86 84 90 73 2 73 73

Solo LVA-9 -Fazenda Prata, Usina São José Zillo


0 12 2,4 4,8 0 12 2,4 4,8
0 64 77 84 83 40 66 7 78
0,9 85 85 90 88 75 77 78 83
1,35 80 80 86 92 67 75 79 83
1,80 91 93 90 94 76 88 81 83

Solo LVE-3 - Fazenda Pouso Alegre, Usina São José Zillo


0 2,5 5,0 10,0 0 2,5 5,0 10,0
0 105 113 115 120 88 92 93 98
2,5 1 14 120 119 92 94 99 96
5,0 122 118 116 123 101 101 93 102
10,0 118 119 121 124 95 93 103 106

Fontes: primeiro experimento: Morelli e outros (1992); demais experimentos: Penatti e Forti (1993).
176 Gesso na agricultura

Tabela 11.8. Necessidades de calagem e gesso dasseis áreas, doses adequadasretiradas dos
dados experimentais, aumento de produção correspondente e custo da aquisição,
transporte e aplicação dos insumos

PRNT do Necessi- Necessi- Aumento de Custo dos


o Dose adequada . .
Solo do calcário, dade de dadede -—————»— produção corretivos
Calcário Gesso DD
de Calo, calcário gesso em 4 anos aplicados ()

% t/ha t/ha de colmos

LVEa 63 2,5 1,0 4 2 76 12


LVA-9 77 5,3 1,4 10 6 72 32
LR-2 73 4,1 0 0 0 12 0
LVA-I1 69 1,6 0 3 4 44 14
LVA-9 61 1,6 1,1 1,8 4,8 120 13
LVE-3 52 9,8 3,5 10 10 76 40

OS Considerando o custo de 1 t de calcário ou | t de gesso em 2 t de colmos.

11.4 Sugestões de pesquisa

A cana-de-açúcar, apesar de ser considerada muito tolerante à acidez


dos solos, responde à aplicação de calcário e gesso, e os dois insumos
precisam ser aplicados para obtenção da produção máxima. A cultura
certamente precisa de maiores informações, para que os efeitos de calcário
e gesso sejam compreendidos e para que seja possível avaliar as doses a
serem aplicadas, considerando inclusive o custo de transporte.

11.4.1 Calcário ou gesso: a função de cada um para cana-de-açúcar

A sugestão é utilizar pelos menos quatro subsolos, tendo teores de


cálcio muito baixose teores de alumínio desde nulosaté bastante elevados.
Fazer quatro tratamentos por solo: 00, CO, 0G e CG. Cultivar a cana-de-
açúcar em vasos grandes, controlando as quantidades de água aplicadas.
Avaliar o efeito do calcário e do gesso nas produções de matéria seca e
delimitar resultados de análise de solo associados com o grau de resposta da
cultura.

11.4.2 Calagem e gessagem para cana-de-açúcar

Realizar experimentos, principalmente em solos nunca cultivados com


a cultura, explorando oslimites da correção do solo. Amostrar o solo de 20
em 20 cm, até 100 cm de profundidade. Calcular a quantidade de calcário,
camada por camada, até 100 cm, para elevar a saturação por bases a 50%,
somando os valores para obter a necessidade de calagem até | m de
Gesso para cana-de-açúcar 177

profundidade. Aplicar dose de gesso com base em testes de adsorção de


sulfato de cálcio das camadas de 20 cm de solo até 100 em de profundidade.
Aplicar 0, 0,25, 0,50 e 1,00 vezes essas quantidades, de calcário dolomítico e
de gesso, em uma combinação fatorial com 4x 4= I6 tratamentos.Se possível,
fazer duas repetições, ou seja, 32 parcelas. Aplicar o calcário e o gesso a
lanço, em área total. O modo de incorporar ou não deverá ser feito como na
rotina da propriedade. Adubar muito bem, inclusive com micronutrientes.
Amostrar o solo, em tratamentos extremos, a cada dois anos. Tempos menores
e amostragem em todas as parcelas podem ser considerados, dependendo do
desenvolvimento da cana e diferenciação dos tratamentos.

Referências

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do solo. Piracicaba: Potafos, 2005. (Encarte de Informações Agronômicas n.º 11)

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do Solo de Minas Gerais, 1999. 359p.

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OLMOS,I L.J.; CAMARGO,M. N. Ocorrência de alumínio tóxico nos solos do Brasil, sua
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RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO,J. A.; FURLANI,A.M. C. Recomendações


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ZAMBELLO JUNIOR.; ORLANDO FILHO, J. Adubação da cana-de-açúcar na Região


Centro-Sul do Brasil. Boletim Técnico Planalsucar, Piracicaba, 3:5-26, 1981.
Capítulo 12
Gesso para Soja e outras Culturas

12.1 Soja e outras leguminosas ........... ii ircereeeeeeereerareereeerares 179


12.2 Algodão... rereae eee erereeeraaeaeeea carter eeee rara rereaaransseos 188
12.3 Café eee re rerererere aerea at areraereenera rare cerraaerarecatrera 192
12.4 Resultados diversos com outras culturas..........eeseeeenrs 195
12.5 Sugestões de pesquisa ...........iii recriar aeenreraererantess 197
Referências... ericeira created 198

Pr as demais culturas não existem tantas informações como para milho


e cana-de-açúcar. Por essa razão, elas serão discutidas em conjunto
neste capítulo. A preocupação será, como foi nos Capítulos 10 e 11, identificar
condições de resposta ou ausência de resposta do gesso como melhorador
de subsolos. Também como nos capítulos anteriores, a calagem é uma
referência necessária. Da mesma forma, análises químicas do subsolo são
também fundamentais para melhor compreender a resposta das culturas a
gesso, mas nem sempre estão disponíveis.

12.1 Soja e outras leguminosas

A soja é a principal leguminosa cultivada no mundo e no Brasil. É


planta que fixa nitrogênio do ar e, dessa maneira, independe em grande
parte do nitrogênio do solo. Assim, um dos importantes efeitos do gesso, no
aprofundamento do sistema radicular do milho, que é o de permitir a absorção
de nitrato do subsolo, pode não ser tão relevante nessa cultura.
A soja, em geral, é cultura responsiva à calagem em solos ácidos. As
respostas à calagem têm dois fatores importantes a serem considerados,
além do alumínio.
180 Gesso na agricultura

Umé a toxicidade de manganês, sendo a soja cultura especialmente


afetada por excessos desse elemento. Outro fator é a deficiência de
molibdênio, elemento essencial no mecanismo de fixação simbiótica de
nitrogênio pela soja. O molibdênio tem a disponibilidade aumentada pela
elevação do pH do solo. Nos dois casos não parece muito importante a
acidez do subsolo.
Em uma revisão internacional para os trópicos úmidos, Pearson (1975)
sugere resposta de soja à calagem quando a saturação de alumínio é maior
do que 10%. Respostas à calagem acima de pH 5,5 são, provavelmente,
devidas ao aumento da disponibilidade de molibdênio. A mesma observação
é feita para o amendoim, com uma explicação de que o amendoim responde
à calagem pelas suas exigências peculiares em cálcio. Kamprath (1984)
chama a atenção para o fato de muitas vezes a soja ser responsiva à calagem
a baixas saturações de Al, por aliviar a toxicidade de manganês.
Deficiência de cálcio é um importante fator muitas vezes associado
ao excesso de acidez, existindo solos nos trópicos úmidos com baixos teores
do elemento. Kamprath (1984) discute resultados de pesquisa de Andrew e
Norris (1961) sobre a resposta a cálcio de quatro leguminosas de clima
temperado e cinco leguminosas de clima tropical usadas em pastagens. O
solo era muito arenoso, com pH de 5,5. Crescimento máximo da maioria
das espécies foi conseguido com 26% da saturação de cálcio da CTC a pH
7 ou teor de Ca?” de 8,7 mmol.kg.
Sendo as necessidades de cálcio atendidas por teores bastante baixos
do nutriente no solo, não surpreende o menor grau de resposta da soja à
gessagem no quese refere a cálcio como nutriente. Por outro lado, continua
existindo a possibilidade de uso do gesso visando estímulo do enraizamento
profundo para ampliar o acesso da cultura à água do subsolo. Além disso, a
soja muitas vezes é plantada em sistema de rotação com outras culturas,
que podem ser responsivas a gesso por aproveitarem o nitrato do subsolo,
além do efeito favorável na absorção de água. Esse processo pode ocorrer
não apenas em veranicos, mas também nas culturas que adentram o periodo
seco do ano, as chamadas culturas de “safrinhas”.
Um dos primeiros trabalhos mais detalhados sobre gesso para soja
foi realizado por Hammel e outros (1985) em solo Typic Hapludult
(Argilossolo) no Estado da Geórgia, Estados Unidos. O solo era muito ácido,
de 15 a 100 cm de profundidade, com cálcio muito baixo, menos de 4 mmol;/
kg abaixo de 60 cm de profundidade, alumínio de mais de 20 mmol,/kg e
saturação por alumínio de mais de 80%. Os tratamentos foram testemunha,
35 t/ha de gesso incorporado de 0-15 cm, revolvimento do solo para reduzir
descompactação e mistura de solo com calcário, na base de 4 a 6 t/ha por
- Gesso para soja e outras culturas 181

camada de 0-15 cm. Amostragens de solo realizadas no terceiro ano


mostraram redução de alumínio de cerca de 2 a 10 mmol,/kge elevação de
cálcio a cerca de 30 mmol./kg. O gesso proporcionou aumentos de produção,
mas que foram ainda menores do que a incorporação profunda de calcário.
Em 1983 ocorreu forte veranico e foi avaliado o efeito na absorção de água.
Natabela 12.1 são apresentados dados de produção de soja e de milho e de
remoção de água de 15 a 105 cm de profundidade. Os resultados atestam o
efeito do gesso, mas, em comparação com o tratamento com mistura de
calcário com o solo, apenas parte do efeito da acidez do subsolo foi atenuada,
O mesmoexperimento foi objeto de estudo posterior para milho,para avaliar
o efeito residual do gesso em longo prazo (Tomae outros, 1999), já relatado
parcialmente em 10,5.

Tabela 12.1. Efeito de modificações físicas e químicas do perfil de solos em produções de


soja e milho silagem e na remoção de água em veranico, na profundidadedo solo de 15
a 105 cm

Produções == Água removida


Soja, 1981 Soja, 1982 Milho silagem, 1983 em veranico

kg/ha mm

Testemunha 941 1.283 26.200 6


Gesso 1216 1.613 35.400 27
Mistura do solo 1.183 0.861 26.000 6
Mistura do solo 1.761 2.007 41.000 48
com calcário
Fonte: Hammel e outros (1985).

No cenário nacional, Sousa e outros (1992) fizeram uma avaliação


dos resultados de gesso para soja existentes até a época de preparo do texto
que publicaram. Foram mostrados os resultados de dois plantios de soja,
obtidos no mesmo experimento com milho da Tabela 10.1, realizados na
estação das águas e colhidos em 1983 e 1984, nos dois casos após cultura
de milho, mas, ao contrário do milho, não houve resposta a gesso para a
soja. Os autores (Carvalho e outros, 1986) sugerem que a soja apresenta
umacerta resistência a déficits hídricos. Em trabalho de divulgação, Sousa
e outros (1996) são específicos em indicar produção de soja de 2,1 t/ha sem
gesso e 2,4 t/ha com gesso para veranicos na época da floração. Para milho,
as produções correspondentes foram de 3,2 t/ha sem gesso e 5,5 t/ha com
gesso; para trigo, respectivamente, de 2,2 t/ha e 3,5 t/ha. Esses resultados
confirmam a hipótese já discutida de que os cereais respondem melhor ao
gesso do que a soja, por se beneficiarem da absorção de nitrato em
profundidade.
182 Gesso na agricultura

Em experimento realizado em Jaciara, MT, em Latossolo Vermelho-


Escuro de cerrado, foram observadas respostas de soja a gesso
proporcionando aumentos de produção de 30% e 9% em dois anos
consecutivos (Villar e outros, 1987). Os aumentos chegaram a 700 kg/ha de
soja. Em outro experimento, localizado em Paracatu, MG, em campo de
validação de tecnologia, foi observado aumento de produção de 459 kg/ha
pela aplicação de gesso.
Quaggio e outros (1993) instalaram um experimento de calagem e
gesso para soja em Latossolo Vermelho-Escuro Endoeutrófico Podzólico
de Mococa (SP). No solo havia saturação por bases, na camada de 0-20
cm, de 33% e, na camada de 20-40 cm, de 28%, saturação por alumínio de
25%, teor de cálcio de 11 mmol./dm” e teor de sulfato de 0,42 mmol,/dm”.
Osresultados de produção, para os dois anos, são mostrados na tabela 12.2
Houve acentuada resposta à calagem, e os pequenos aumentos de produção
de soja proporcionados pelo gesso não atingiram significância estatística.

Tabela 12.2. Resposta da soja a calcário e gesso, em dois cultivos sucessivos, em Mococa,
SP.

Calcário Gesso .
Média
tha 0 2 4 6
t/ha tha
Produção de soja no ano agricola 1985/1986 - kg/ha
Õ 1.041 887 1.012 1.229 1.043 c
3 2.100 1.942 2.179 2.229 2412b
6 1.983 2.137 2.358 2416 2.223 ab
9 2.625 2.487 2.658 2.391 2.540 a
Média 1.937 ab 1.863 b 2.052a 2.066 a -
Produção de soja no ano agricola 1986/1987 - kg/ha
0 1.423 1.427 1.596 1.731 1.544 c
3 2.287 2.287 2.283 2.376 2.308 b
6 2.585 2.673 2.941 2.556 2.689 ab
9 2.876 2.869 2.822 2.848 2.854 à
Média 2.293 a 2314a 24lla 2377 a -
Fonte: Quaggio e outros (1993).

Seis meses após a aplicação de calcário e gesso, foi avaliada a


lixiviação de cátions e de sulfato no solo. O sulfato foi deslocado para fora
da camada de 0-20 cm mesmo na mais alta aplicação de gesso, confirmando
um comportamento bastante típico, já que o pH mais elevado da camada
superficial mais a presença de fósforo inibem a adsorção de sulfato. Por
on== 03 + uv una, pura quai turam aplicados cerca de 30
mmol/dr', tantode Ca” quanto de SO”, foi possível verificar o gesso
aplicado nas camadas de 20-40 e 40-60 cm de profundidade. Na ausência
de calcário, o gesso provocou remoção considerável de Mg” da camada
arável para o subsolo. As perdas foram proporcionalmente menores para
maiores doses de calcário aplicado. Nesse trabalho, não foram constatadas
perdas de K do solo pela aplicação de gesso, mas houve redução de K na
camadaarável do solo pela aplicação de calcário, o que se atribuiu a maiores
exportações de K pelas maiores colheitas de soja proporcionadas pela
calagem e não a perdas por lixiviação.
Outro experimento de doses de calcário e gesso foi realizado em um
Latossolo Roxo Distrófico de Ribeirão Preto (Rat e outros, 1994). O solo
tinha saturação por bases de 11% na camada de 0-20 em. Na camada de
20-40 cm, a saturação por bases era de 6%, o teor de Ca” de 2 mmol/dm”
eo pH em CaCl, de 4,0. A área experimental havia sido cultivada por muito
tempo comcafé, tendo recebido adubações constantes de sulfato de amônio
e de superfosfato simples ao longo do tempo. Portanto,a intensa acidificação
do solo, originalmente fértil, foi promovida pela adubaçãonitrogenada, não
devidamente corrigida pela calagem.
Na tabela 12.3 são apresentadas as doses aplicadas dos corretivos. O
experimento foi um fatorial 5 x 5 e as doses foram aplicadas em valores dos
décimos dos quadrados de 3, 5, 7, 9 e 11, em quilogramas por hectare. São
relacionadas também,na tabela 12.3, as produções médias de três anos, calculadas
pela função de resposta que permite calcular as produções (Y, em kg/ha) em
função das quantidades aplicadas de calcário e de gesso (C e G, em t/ha):
Y=1.761+167,3C-7C'+90,86-5G”-2CG Rº=0,811 [12.1]

Tabela 12.3. Produções médias estimadas pela função de resposta, para três anos de produção
de soja em Latossolo Roxo Distrófico de Ribeirão Preto (SP), em função de+ quantidades
aplicadas de calcário e gesso

Quantidade de Produções de soja (kg/ha) para quantidades de gesso (t'ha)


calcário, tha 0,4 146 3,6 6,4 10,0

0,9 1.941 2.036 2.162 22N 2.296


2,5 2.169 2.260 2.380 2.480 2.394
4,9 2.444 2.530 2.640 2.726 2.723
8,1 2.686 2.163 2.861 2.930 2.903
1241 2.786 2.854 2.935 2.982 2.926
Fonte: Raij e outros (1994).
184 Gesso na agricultura

Ressalte-se que esse tipo de polinômio é de grande interesse para o


cálculo das doses mais econômicas, das melhores combinações de calcário
e de gesso e dos retornos esperados. Trata-se, portanto, de ferramenta
essencial para o planejamento da calagem e da gessagem.
Durante os três anos foram constatados efeitos significativos de
calcário e gesso (Rai) e outros, 1994). Contudo, para avaliações de caráter
econômico é usada a função de resposta para ilustrar a maneira de utilizar
os resultados para estabelecer as melhores combinações de calcário e gesso,
Para isso, devem ser calculadas as doses mais econômicas, o que é feito
pela fórmula (Rai), 1991, p. 305-309):
X. = (a, - clvY(-ao)] [12.2]
X. é a dose mais econômica; a, e a, são os coeficientes do
polinômio do segundo grau; c/v é a relação de preços entre o custo do
insumo e o valor do produto. Para o cálculo, dividiu-se o termo de interação
da Equação 12.1 entre os termos do segundo grau para calcário e gesso,
obtendo-se assim curvas independentes para os dois insumos. A relação
c/v foi considerada como120, ou seja, 120 kg/ha de soja para pagar uma
tonelada de calcário ou de gesso. Os cálculos foram feitos para o polinômio
representando as produções médias de três anos e, portanto, considerou-
se nos cálculos um valor de c/v de 40. Com isso, as doses mais
econômicas foram de 8,0 t/ha de calcário e 4,2 t/ha de gesso. Como
foram aplicadas doses mínimas de 0,9 t/ha de calcário e 0,4 t/ha de
gesso, os valores seriam mais favoráveis à calagem e à gessagem se a
referência de aplicação dos insumos fosse zero.
Foi feita análise de solo da camada de 0-20 cm de profundidade, de
amostragensrealizadas em dois e 38 meses após a aplicação dos corretivos.
Os resultados apresentados na tabela 12.4 referem-se aos tratamentos 11,
14,41 e 44, que envolvem aplicação das doses extremas de 0,9 e 8,1 t/ha de
calcário e de 0,4 e 6,4 t/ha de gesso respectivamente.
O efeito esperado da calagem no pH e nos teores de cálcio, magnésio,
acidez total e alumínio se fez sentir já na amostragem realizada dois meses
apósa aplicação dos insumos. O gesso, como esperado, afetou os teores de
sulfato e de cálcio. O aumento verificado no teor de sulfato, da ordem de 25
mmol. /dm”, pode ser considerado dentro das expectativas, levando em conta
que seriam esperados aumentos de cerca de 32 mmol,/dm” de solo, para as
6,4 t/ha de gesso aplicadas, pois nem todo o sulfato é recuperado na análise
e parte pode ter lixiviado para fora da parte de solo amostrada, Ressalte-se
a elevada quantidade de sulfato já existente no solo no tratamento sem
aplicação de gesso.
Gesso para soja e outras culturas 185

Tabela 12.4. Resultados de análise de solos do experimento de calagem e gessagem em


Latossolo Roxo distrófico de Ribeirão Preto (SP), amostragens de 1987 e de 1991 da
camada de 0-20 cm de profundidade

Tratamento SO, Ca” Mg” K


2
AÍ CTC CTC, PH V m
[2 [D[701[""D0— mmol /dm”

Amostragem de 1987
n 12 9 4,4 35 28 95 20 4,18 18 I4
I4 37 32 37 33 36 12 43 4,41 35 8
41 15 31. 12,0 30 058 89 47 5,13 52 2
44 35 47. U8 28 09 108 63 54 57 I
Amostragem de 1991
H I6 2 LO Lo 11,7 105 17 3,84 5 70
i4 W 2 27 I4 85 101 25 4,15 Ig 35
41 q Is 55 17 36 86 26 457. % I4
44 12 25 64 22 18 83 28 470 3 6
Fonte: Raij e outros (1994).

Em 1991, 38 meses após a aplicação dos corretivos, persistiram os


efeitos significativos de calcário sobre os parâmetros de acidez, pH e AL O
gesso também contribuiu para a redução da saturação por alumínio e o
aumento da saturação por bases. O teor de potássio foi reduzido no tratamento
de gesso sem calagem. Alémdisso, houve redução geral em 1991, em relação
a 1987, indicando possíveis perdas por lixiviação, já que as adubações
acrescentaram quantidades suficientes do nutriente para reposição das
remoções pela cultura.
Natabela 12.5 são apresentadosos resultados de amostragem de subsolo,
realizada em 1991, nas profundidades de 20-40, 40-60 e 60-80 cm de
profundidade. O gesso reduziu a acidez em todo o intervalo avaliado, com efeitos
significativos na redução do alumínio e aumento do pH em CaC], da saturação
por bases e por alumínio. O mesmo efeito foi observado para a calagem.
Osresultados de sulfato merecem discussão à parte, pelas implicações
não corriqueiras que envolvem esse solo, que tem características peculiares
impostas por adubações anteriores com muito sulfato aplicado, além de
características de acentuada capacidade de adsorção de sulfato, Na camada
de 20-40 cm, os teores em torno de 30 mmol,/dm” foram pouco afetados pela
solução de sulfato que atravessou o solo, indicando saturação do solo com o
ânion. Essa situação persiste ainda na camada de 40 a 60 em de profundidade,
embora com valores mais baixos de SO,”, da ordemde 20 mmol,/dm”. Apenas
na camada de 60 a 80 cm o efeito do gesso começou a aparecer.
186 Gesso na agricultura

Tabela 12.5. Resultados de análise de solos do experimento de calagem e gessagem em


Latossolo Roxo Distrófico de Ribeirão Preto (SP), amostragens de 1991, das camadas
de 20-40, 40-60 e 60-80 em de profundidade

Tratamento SO? Ca” Mg”? K* AI CTC CTC. pHa Y m

——>mmol/dm” Ya

Profundidade de 20-40 cm
HM 30 6 3, 0,9 61 100 17 3,97 q 36
I4 26 5 21 0,8 39 93 22 4,17 19 I8
41 30 Io 43 0,7 47 93 20 4,12 16 24
44 29 15 3,3 06 33 87 22 4,23 22 15

. Profundidade de 40-60 em
H 20 4 1,2 7 7 70 14 4,25 I0 5
I4 22 8 25 L6 42 78 26 448 28 16
41 20 o 33 LO 36 68 19 447 2 19
44 I8 9 39 069 3 80 27 4,53 30 12
Profundidade de 60-80 cm
E! 9 6 LO I4 3 58 2 4,42 I4 27
14 15 I6 25 I4 12 63 21 4,71 32 6
41 13 9 2,5 i2 25 59 I5 4,53 22 16
44 20 7 45 2 13 62 20 477037 5
Fonte: Raij e outros (1994).

Outro aspecto que chama a atenção é a desproporção entre sulfato e


a soma de bases, com ampla vantagem para o primeiro. O solo deste trabalho,
denominado Unidade Quadras no levantamento da Estação Experimental
de Ribeirão Preto, onde foi realizado o experimento (Oliveira e Muniz, 1975),
apresenta, para um perfil dessa unidade de solo, relação sílica:alumina, ou
ki, 0,9, evidenciando a presença de gibbsita, um óxido hidratado de alumínio.
O teor de óxidos de ferro também é elevado, da ordem de 30%, embora
nem tudo esteja na fração argila. De qualquer forma, a condição mineralógica
do solo é favorável à alta adsorção de SO”. Em Latossolo Roxo Ácrico da
mesmaregião, com ki de 0,6, Raij e Peech (1972) determinaram retenção
de sulfato, no horizonte B, de 30 mmol;/dmº, um valor obtido em laboratório
similar ao resultado de campo do experimento em discussão.
Os resultados apresentados têm diversas implicações conceituais para
a ciência do solo. Uma delas é que o sulfato retido em excesso sobre as
bases na realidade representa acidez e, portanto, é considerado na
determinação da necessidade de calagem,o que já foi aventado por Mehlich
(1964), que usou a expressão “acidez devida a sulfato”, Coleman e Thomas
Gesso para soja e outras culturas 187

(1967) reconheceram que, em casos como esse, consideráveis quantidades


do corretivo são consumidas para produzir CaSO, e MgSO..
Fica a dúvida de como eliminar esse tipo de acidez do subsolo pela
calagem. Os resultados da tabela 12.5 demostram que isso não é fácil e que
houve apenas pequena correção. Além disso, fica em aberto a questão do
conceito de “bases trocáveis” ou retenção de cátions, ou ainda CTC efetiva,
nesse tipo de situação, pois parte dos cátions não é a rigor trocável, já que
contrabalança os ânions retidos no solo.
Caires e outros (2001) realizaram uma pesquisa de calagem e
gessagem para soja, com 0, 2, 4 e 6 t/ha de calcário e 0, 4, 8 e 12 t/ha de
gesso em Latossolo Vermelho Distrófico de Ponta Grossa, PR, em área há
quinze anos sob plantio direto. A camada 0-20 em do solo apresentava 32%
de saturação por bases e 18% de saturação por alumínio. Na camada 20-40
cm, a saturação por bases era de 19%, a saturação por alumínio de 31% e
o teor de cálcio de 11 mmol,/dm”. Houve efeito da calagem na produção de
soja, mas não do gesso.
Outro experimento de Caires e outros (2003) foi realizado em
Latossolo Vermelho Distrófico de Ponta Grossa (PR), em solo ocupado por
pastagem. O solo estava com 38% de saturação por bases e 6% de saturação
por alumínio. No subsolo, a 40-80 cm de profundidade, o solo continha 8
mmol,/dm” de Ca e 6 mmol,./dm” de Al. Os tratamentos incluíram 4,5 t/ha
de calcário, aplicado na superficie ou incorporado, e, em subparcelas, 0, 3,
6 e 9 t/ha de gesso. O calcário incorporado promoveu melhor correção da
acidez em camadas mais profundas do solo. Não houve resposta à aplicação
de calcário e de gesso na produção de soja.
Esses dois experimentos foram realizados em solos que não deveriam
receber gesso pelo critério do IAC, que preconiza gessagem quando, na
camadade 20-40 cm de profundidade,o teor de Ca” é inferior a 4 mmol/dm”
e/ou a saturação de alumínio é maior do que 40% (Rai) e outros, 1986,p.
18). Portanto, eles confirmam a adequação desse critério.
Em experimento com amendoim em Latossolo Roxo Distrófico com
4 mmol,/dmº de Al”, 7 mmol,/dm” de Ca”, 20% de saturação por bases e
27% de saturação por alumínio, os pequenosefeitos de gesso sobre a cultura
do amendoim nãoatingiram significância estatística (Quaggio e outros, 1982).
No trabalho de Tomae outros (1999), que já foi discutido para milho,
são mostrados resultados de produção de alfafa plantada após o milho. O
experimento 1, realizado dezessete anos apósa aplicação inicial de 35 t/ha
de gesso, produziu 6.804 t/ha de matéria seca de alfafa em três cortes,
contra 3.918 kg/ha sem gesso.
188 Gesso na agricultura

Da mesma forma, o experimento 2, realizado dezesseis anos após a


aplicação inicial de 10 t/ha de gesso, produziu 9.096 t/ha de matéria seca de
alfafa, contra 5.345 t/ha obtidas sem aplicação de gesso. Esses experimentos
mostram um prolongado efeito residual do gesso aplicado, fator importante
na economia de aplicação do insumo.

12.2 Algodão

O algodoeiro é umaplanta considerada pouco tolerante à acidez dos


solos. Para São Paulo, respostas à calagem foram obtidas mesmo em
condições emqueo solo não mais continha alumínio trocável (Raij e outros,
1983), e a produtividade máximateórica chegou atingir valores calculados
acima da necessidade de calagem para elevar a saturação por bases a 70%
(Raij e Quaggio, 1997).
Dos e Lund (1975) realizaram estudo em Ultisol do Alabama em
solos em que o pH da camadade 15 a 30 cm de profundidade variava de 4,4
a 6,2. Na cultura de algodão, sem irrigação, observavam-se nas plantas
grande concentração de raízes na superfície do solo a pH 4,4, poucasraízes
aprofundando a mais de 15 cm, com a raiz pivotante morrendo ou entortando
para o lado. Nos demais valores de pH, as raízes aprofundavam-se mais
abaixo de 15 cm, com a raiz pivotante estendendo-se até 45 a 60 cm. Os
autores observaram também que a quantidade de água extraída do solo de
15 a 60 em de profundidade aumentava na medida em que aumentava o pH
do solo. Por outro lado, o problema de menor produção do algodão, com
raizes rasas devido a subsolos ácidos, foi contornado pela irrigação.
Essa é umasituação bastante típica de acidez do subsolo limitando o
desenvolvimento radicular. Adams (1984) discute a acidez do subsolo para
o Sul dos Estados Unidos. O autor afirma que a dificuldade de corrigir a
acidez em profundidade diretamente pela calagem torna a prevenção da
acidez do subsolo algo desejável. É preciso lembrar, neste ponto, que não se
cogitava, naquela época e naquela região, a aplicação de gesso. Adams e
outros (1970) confirmaram o prejuízo que subsolos ácidos podem causar na
produtividade, demonstrando, em câmara de crescimento, que as produções
de algodão foram reduzidas em cerca de um terço quando as raizes ficavam
confinadas no horizonte Ap por causa de horizonte de solo fortemente ácido
logo abaixo. Contudo, Adamse Pearson (1970) verificaram, em experimento
desenvolvido no mesmo local, que a produção de amendoim e suas raízes
foram insensíveis à mesma acidez do subsolo que limitou a produção de
algodão e restringiu o crescimento das raízes ao horizonte Ap, mostrando
assim a diferença de comportamento diante da acidez dessas duas culturas.
Gesso para soja e outras culturas 189

Embora existam referências ao emprego de gesso na agricultura


irrigada para algodão (Cardozier, 1957), nos Estados Unidos predominam
sua recomendação como fonte de enxofre (Hinkle e Brown, 1966). No
Brasil, o produto tem sido avaliado principalmente nesse aspecto, embora
concorrendo com outras fontes, como sulfato de amônio e superfosfato
simples (Silva e Rai, 1992). Ressalta-se o grande número de experimentos
que Silva e Raij (1992) reuniram, com base em fontes da literatura, indicando
fortes respostas do algodoeiro a gesso como fonte de enxofre. Essa afirmação
é feita com base nas quantidades aplicadas, que forneceram apenas 30 kg/
ha de S. De qualquer forma,ficou demonstrada mais uma vez a importância
da aplicação de S para as culturas, especialmente do Brasil Central.
Como melhorador de solo para o algodoeiro, Silva e outros (1997)
relatam um experimento realizado em Latossolo Roxo Distrófico de Guaíra,
SP. No solo havia, na camada arável, saturação por bases de 32% e teores
de K, Ca e Mg,respectivamente, de 2,5, 12 e 6 mmol,/dm”. Na tabela 12.6.
são apresentados os resultados de produção de algodão dos primeiros dois
anos de cultivo.
No primeiro ano, o aumento médio de produção pelo uso de calcário
foi de 5% a 8%, e o efeito do gesso, de 10% a 16%. Ressalte-se, contudo,
o efeito maior do gesso em doses mais altas de calcário, o que destaca o
efeito aditivo dos corretivos. No segundo ano, o rendimento foi pouco
influenciado pelos tratamentos, com baixo efeito residual do calcário.

Tabela 12.6. Resultados de experimento de calagem e gessagem parao algodoeiro, desenvolvido


em Guaíra (SP). Os corretivos foram aplicados apenas no primeiro ano

Quantidades de gesso de
Calcário aplicado Média
0 2 4 6
tha tha
Produções de algodão para o ano agrícola 1986/1987 - kg/ha
0,6 3.478 3.500 3.466 3.966 3.603
1,8 3.479 3.941 3.878 3.794 3.7N
3,0 3.338 3.881 4.141 4.194 4.194
Média 3.428 3.774 3.828 3.985 -
Produções de algodão para o ano agrícola 1987/1988 - kg/ha
0,6 3.206 3.088 3.028 3.269 3,148
1,8 3.269 3.488 3.225 3.072 3.264
3,0 2.816 2.919 3.056 3.047 2.960
Média 3.097 3.165 3.103 + 3.129 -
Fonte: Silva e outros (1997).
190 Gesso na agricultura

Após reaplicação dos produtos, a ação do gesso e do calcário


acentuou-se nas duas colheitas subseguentes, conforme mostrado na tabela
12.7. A calagem propiciou aumentos de produção de 16% a 19% ea
gessagem, de 13% a 20%. Ressaltem-se dois pontos importantes do ponto
de vista prático.
O primeiro diz respeito às doses aplicadas, no conjunto das duas
aplicações, tanto de calcário como de gesso, que são mais elevadas do que
as recomendadas. O segundo aspecto é que as maiores produções só são
obtidas com a combinação dos dois insumos.
Silva e outros (1997) mostraram, nesse trabalho, um surpreendente
efeito na melhoria no perfil do solo. Os resultados deixam claro que, para o
diagnóstico da acidez do solo e a correção, não deve ser levada em conta
apenas a camada superficial de 20 cm de solo, mas um volume bem maior
que necessita ser corrigido com calcário e gesso.

Tabela 12.7. Resultados de experimento de calagem e gessagem para o algodoeiro, conduzido


em Guaira, SP, com reaplicação dos corretivos no terceiro ano.

Calcário total Quantidades totais de gesso


. Média
aplicado 0 4 8 12
t/ha t/ha

Produções de algodão para o ano agrícola 1988/1989 - kg/ha


1,2 1.823 1.998 2113 2.163 2.024
3,6 2.175 2.606 2.438 2.394 2.403
6,0 1.973 2.131 2.625 2.635 2.341
Média 1.990 2.245 2.392 2.397 -
Produções de algodão para o ano agrícola 1989/1990 - kg/ha
12 1.929 1.935 2.188 2.341 2.098
3,6 2.135 2.279 2.266 2316 2.249
6,0 1.973 2.485 2.663 2,529 2.411
Média 2.011 2.233 2.373 2.395 -
Fonte: Silva e outros (1997).

Em trabalho de longa duração, com aplicação durante dezessete anos


de superfosfato triplo e superfosfato simples,ressalta o efeito do superfosfato
simples, ou do gesso contido, na redução da acidez do perfil do solo e no
deslocamento perfil abaixo de magnésio e potássio. Os resultados são
mostrados na tabela 12.8.
Gesso para soja e outras culturas 191

Tabela 12.8. Resultados de análise de amostras de solo retiradas nasfaixas de adubação com
superfosfato triplo (ST) e superfosfato simples (SS), após dezessete anos de aplicação
anual do equivalente a 100 kg/ha de P,Q,para o algodoeiro, em experimento realizado
emLatossolo Roxo de Guaira

Profundidade pH em CaCl, Ca” Mg? K*


de amostragem ST ss sT ss ST ss ST ss
em —> mmol(dr —
0-20 5,2 5,4 157 24 0,9 0,7 0,27 0,09
20-40 4,6 4,7 0,7 LO 04 04 012 007
40-60 4,3 4,9 0,3 12 02 0,4 0,04 0,05
60-80 4,2 5,0 0,4 0,9 O 0,4 0,02 0,05
80-100 4,3 5,2 0,2 0,8 01 0,4 0,01 0,04
100-120 4,5 4,9 0,4 0,6 0,2 0,3 0,03 0,07
Fonte: Silva e Raij (1992).

Esse é um dos raros experimentos em que o gesso produz importante


correção da acidez do solo, bastante parecido com o experimento relatado
por Ritchey e outros (1980), ilustrado nas tabelas 2.1 e 8.3. O efeito do
superfosfato simples na elevação do pH em CaC1, ocorreu ao longo de todo
o perfil e ainda foi de 0,4 unidade na camada mais profunda amostrada, de
100 a 120 em, o que permite inferir um provável efeito em camadas ainda
mais profundas. O aumento do teor de cálcio se deu ao longo de toda a
parte amostrada do perfil do solo.
As “perdas” de Mg e K, que têm sido ressaltadas em alguns
experimentos com gesso, são, em parte, redistribuição ao longo do perfil.
Assim, no caso do magnésio, há mais do elemento presente no solo até 120
em de profundidade no tratamento com superfosfato simples em relação ao
superfosfato triplo, o que provavelmente se deve ao pH mais elevado, com
maior carga negativa livre do solo, bem como à maior presença de cálcio,
que leva à redução do magnésio lixiviado. A constatação de maiores
quantidades de Mg no solo tratado com sulfato de cálcio (do superfosfato
simples) não deixa de ser um resultado inesperado. Quanto ao potássio, a
quantidade contida no solo amostrado corresponde,para o tratamento SS, a
76% da contida no tratamento com ST. Ressalte-se, contudo, para esse
experimento de competição de adubos fosfatados, que no tratamento com
superfosfato simples as produções de algodão foram maiores do que com
superfosfato triplo (Silva e outros, 1987), o que significa maior remoção de
K pelas colheitas.
192 Gesso na agricultura

12.3 Café

O café é muitas vezes considerado muito tolerante à acidez, quando


o manganês não é um! fator de acidez (Pearson, 1975; Carvajal, 1984).
Não obstante, há estudos mostrando respostas importantes pela redução
da saturação por alumínio, como será mostrado adiante. Além disso,
Guimarães (1992) discute diversos levantamentos do estado nutricional
das lavouras cafeeiras de Minas Gerais que concluem pela ocorrência de
elevada percentagem de casos com baixos teores de Ca. Dessa forma,
levando em conta a elevada acidez e baixos teores de cálcio em muitos
dos solos das regiões cafeeiras do Brasil, com destaque para a região dos
cerrados, certamente o gesso pode ter importância no melhoramento de
subsolos para o café.
A comparação do algodão, cultura que acabou de ser discutida, com
o café, foi feita na figura 5.1, mostrando que o crescimento relativo de
raízes é afetado pela atividade de alumínio na solução em contato com as
raízes, mas esse efeito é bem menor para o café do que para o algodão,
revelando realmente maior tolerância do café à acidez.
Contudo, isso não indica indiferença, havendo necessidade, comoexiste
para algodão e outras culturas, de estabelecer as condições em que o efeito
tóxico do alumínio se manifesta, Na tabela 5.1 foi mostrado que o melhor
critério para inferir sobre o efeito tóxico de alumínio em solos para asraízes
de cafeeiro é a atividade de Al no extrato de saturação, mas que, por se
tratar de medida de dificil realização, a saturação por alumínio é um critério
mais indicado, pela facilidade de determinação por qualquer laboratório de
análise de solo.
Informação importante para avaliar a ação do gesso em diferentes
condições é o efeito positivo que o sulfato de cálcio tem, em relação ao
cloreto de cálcio, em reduzir a toxicidade de alumínio para raizes de café em
solução nutritiva e em aumentar seu desenvolvimento (Tabela 5.2.).
Pavan e Bingham (1982) mostraram a importância do gesso sobre
mudas do cafeeiro, ao penetrar em solo ácido, em comparação com o
carbonato de cálcio, que não se movimenta, como mostram os resultados da
tabela 12.9. Percebe-se que o gesso tem efeito sobre o alumínio no solo,
reduzindo os teores, bem como na redução da saturação por alumínio, o que
se deve em grande parte ao aumento do Ca”. Isso resultou no efeito
favorável do gesso no aumento do desenvolvimento das raízes e da parte
aérea das mudas de café, embora esse efeito tenha sido menos acentuado
do que o do CaCO:.
Gesso para soja e outras culturas 193

Tabela 12.9. Relação entre a produção de matéria seca de mudas decafé e tratamentos de solo
com CalO,ou CasO,, após sete semanas de cultivo

Peso de mudas
Saturação de Trata- pH em Teores trocáveis, Saturação .
Al almejada mento água Al” ca” de Al decateiro
. Raizes Topo
Y% —— mmol /dm—— Ya g/vaso-———
Solo n.º 2 - Eutrorthox
7 - 4,1 28,3 6,0 74 44d I4lc
45 Caco, 4,3 16,3 19,2 49 5,7 be 17,2%
15 Cato, 4,6 13,0 33,8 25 76a 2l,la
0 CaCO 4,8 8,7 44,6 15 7,Ja 212a
0) Caco, 52 4,0 73,5 5 80a 214a
0 Caso, 42 10,1 33,7 21 6,0 be 20,1 a
Solo n.º 3 - Tropudult
37 Calo, 4,4 55 6,0 36 44b 16,2c
i5 Caco, 5,0 2,3 21,7 9 6,5 a 198a
0 Caco, 5,2 LO 27,2 3 6,6a 20,1 a
0 Caco, 5,8 0,0 31,5 0 6,7a 20,4 a
0 Caso, 4,5 15 6,0 8 5,5ab 18,0ab
() Duas vezes a quantidade de corretivo para reduzir Al a zero.
Fonte: Pavan e Bingham (1982).

Outro estudo relatado por Chaves e outros (1987) foi realizado com
colunas de solo tratadas com corretivos de diferentes maneiras (Tabela
12.10.). O solo tinha 12 mmol,/dm” de A! e 16,8 mmol;/dm” de Ca?, O
calcário teve efeito crescente sobre as mudas do cafeeiro, na medida em
que era incorporado mais profundamente, com efeito máximo para
incorporaçãoa 60 cm. Já o gesso, aplicado na superficie do solo e penetrado
nele porlixiviação, teve acentuado efeito sobre o peso dasraizes, da matéria
seca produzida, do volume radicular e da área foliar. Estatisticamente, O
efeito do CaSO, foi similar ao do CaCO; incorporado a 30 em, masinferior
à incorporação a 60 cm. Note-se que esse efeito intermediário do gesso,
maior do que a testemunha e menor do que o calcário incorporado em
profundidade no solo, é similar aos resultados obtidos em experimentos de
campopara milho (Tabela 2.3). O trabalho mostra a importância da correção
profunda da acidez do solo, que não é praticamente viável, e como o CaSO,
pode ser empregado comoalternativa para promover o desenvolvimento do
sistema radicular do cafeeiro. Merece atenção o fato de esse solo apresentar
teores bastante altos de cálcio e, mesmo assim, mostrar efeitos tão marcantes
da aplicação do gesso.

O
194 Gesso na agricultura

Tabela 12.10. Influência de diferentes corretivos, aplicados no solo e submetidos a lixiviação,


no desenvolvimento de mudas de cafeeiro

Pesu da matéria seca


Tratamento >————>—>—— Volumeradicular Área foliar
Raizes Parte aérea
g/planta em*/planta em?/planta

Testemunha 0,24 d 0,77 d Ll5d 133c


CalO,, superficie 1,73 c 7,66 c 7,50 c 1.082 b
Calo0,, 0:30 cm 6,07a 20.24 b 31.70b 2.639 a
CaCo0,, 0-60 em 190 a 29,69 à 45,00 a 2.900 a
CalO,, 30-60 em 0,28 c 0,94 d 100 d 179 c
MgCO,, 30-60 cm U,l4d 0,22 d 6,90 d 42d
CasSO,, superfície 723a 19,22 b 33,52 b 2476 a

Fonte: Chaves e outros (1987).

Umexperimento instalado em Latossolo Roxo Distrófico de São


Sebastião do Paraíso (MG), com baixos teores de alumínio e de cálcio,
permitiu a obtenção dos resultados da tabela 12.11 (Guimarães, 1992). O
efeito do gesso foi bem mais acentuado que o da calagem. O autor relata
que o efeito do calcário na análise de solos, para aplicação de calcário,
manifestou-se somente na camada superficial, enquanto para gesso estendeu-
se às camadas inferiores do solo. O autor relata que trincheiras abertas nos
tratamentos apenas com calcário constataram a concentração radicular na
superficie do tratamento testemunha. Nostratamentos com calcário e gesso,
correspondentes às melhores produtividades, o sistema radicular era amplo,
até aproximadamente 200 cm de profundidade.
Como para outras culturas, também esse experimento aponta para
maiores produções com alguma combinação de calcário e gesso, no caso a
metade da dose máxima testada para cada um dos dois insumos.
Tabela 12.11. Produções de café obtidas comdiversas combinações de calcário e gesso, em
experimento realizado em Latossolo Roxo Distrófico de São Sebastião do Paraíso.
Média de sete produções, expressas em sacas de café beneficiado

Calcário Média com


Gesso
0 750 1.500 3.000 gesso
kg/ha —— kg/ha sacas/ha
Ô 23,2 33,9 28,0 31,4 29,1
1290 40,5 39,5 42,8 45,5 42,1
2580 41,7 39,9 46,3 41,6 42,4
Média com calcário 35,1 37,8 39,0 39,5 -

Fonte: Guimarães (1992).


Gesso para soja e outras culturas 195

12.4 Resultados diversos com outras culturas

Há muitas informações sobre o uso de gesso para culturas. No livro


do II Seminário sobre o Uso do Gesso na Agricultura (Ibrafos, 1992) há
vários capítulos dedicados a gesso para plantas cultivadas. Sumner (1993)
oferece uma longa lista bibliográfica sobre o efeito do gesso em solos.
Provavelmente, os trabalhos mais importantes relacionados com o escopo
deste livro foram aqui considerados. Contudo, há mais algumas informações
interessantes, que ajudam a reforçar o conhecimento sobre o efeito do gesso
em solos ácidos.
Em dois experimentosrealizados por Pavan e Bingham (1986) e Pavan
e outros (1987) com maçã, ficou evidente a diferença de gesso e carbonato
de cálcio em suprir cálcio para as plantas. Foi aplicado calcário calcítico, em
1984, em quantidades de 3,75 t/ha em Inceptisol e de 1,6 tha em Oxisol,
com reaplicação dessas quantidades no segundo ano. As quantidades de
gesso aplicadas nos dois solos supriram as mesmas quantidades de cálcio
que o calcário calcítico. Amostragem de solo realizada em 1986 revelou os
resultados da tabela 12.12.

Tabela 12.12. Efeito de corretivos de solo em determinações químicas em experimentos de


maçã instalados em dois solos do sul do Paraná

Ca? AP

Profundidade
Controle Caco, Gesso Controle Caco, Gesso

em > mmol (dm


Inceptisol
0-10 9,2 70,0 22,6 12,2 - 6,8
10-20 7,6 42,6 20,0 16,0 8,2 5,2
20-40 3,0 5,8 18,0 14,2 IO 6,0
40-60 2,6 3,0 10,0 10,2 10,0 72
60-80 2,6 3,0 8,2 11,0 10,0 8,1
80-100 3,0 3,0 4,0 10,0 50 10,0
Oxisol
0-10 3,6 36,2 19,2 - - -
10-20 3,0 19,0 8,0 - - -
20-40 2) 6,4 4,0 - - -
40-60 2,0 3,0 3,2 - -
G0-80 LO 1,8 L6 LO 12 -L,0
80-100 10 LO 10 1,0 LO 1,0
Fonte: Pavan e Bingham (1986).
196 Gesso na agricultura

É evidente o efeito do CaCO, em neutralizar alumínio até 20 cm de


profundidade nos dois solos, bem como em elevar os teores de cálcio, com
efeito pronunciado até 20 cm de profundidade e algum efeito até 40 cm. O
gesso aumentou o teor de cálcio até praticamente 100 cm no Inceptisol e
um pouco menos no Oxisol. Ressalte-se que, no caso desse Inceptisol, o
gesso proporcionou considerável redução do alumínio até 80 cm de
profundidade; não havia alumínio no Oxisol. O gesso teve, então, nitidamente,
um efeito “melhorador” do solo, com destaque para o subsolo; o calcário
teve efeito mais acentuado na camada superficial do solo. Esses efeitos
refletiram na macieira (Tabela 12.13).

Tabela 12.13. Influência de carbonato de cálcio e sulfato de cálcio na densidade de raizes de


macieiras, cálcio nas folhase frutos e na produção de maçãs

Densidade de raizes
Profundidade
Controle Caco, Gesso
cm . cm'g

Inceptisol
0-10 52b 132a li8a
10-20 60b 68b 108a
20-60 I6b I8b 89a
Oxisol
0-10 80 c l44a 10b
10-20 108b l10a 100b
20-60 32b 32ab 44a
Fonte: Pavan e Bingham (1986).

O gesso aumentou a densidade de raizes no Inceptisol até a


profundidade de 60 em. O efeito foi melhor do que o do carbonato de cálcio
mesmona camada de 10-20 cm. No Oxisol, o efeito foi modesto a 20-60 cm,
masressalte-se que se tratava de solo praticamente sem alumínio, embora
apresentasse teores muito baixos de cálcio em profundidade. O efeito dos
corretivos nos teores foliares da Ca, na produção de maçã e nos teores de
Canos frutos é mostrado na tabela 12.14. Note-se o efeito dos dois corretivos
no teor de Ca nas folhas dos dois experimentos. Já a produção foi maior
com gesso no Inceptisoi e maior com carbonato de cálcio no Oxisol. Os
teores de Ca nos frutos não foram significamente afetados.
Gesso para soja e outras culturas 197

Tabela 12.14. Efeito de carbonato de cálcio e sulfato de cálcio em teores de cálcio em folhas
e frutos e na produção de maçã.

Tratamento Cana folhas Produção Ca no fruto


gkg kg/árvore gkg
Inceptisol
Controle 10,4b . 44c 0,29 a
Calo, 14,2b 6,6b 0,29 a
Gesso 15,8 a 9la 0,35 a

Oxisol
Controle H,8b 42c 0,29 a
Caco, I4,2a 82a 0,35 a
Gesso 14,0 a 6,9 b 0,29 a

Fonte: Pavan e Bingham (1986).

“ Háculturas que parecem responder mais ao cálcio do que à correção


da acidez. Uma delas pode ser a batata. Silva e outros (1987) realizaram um
experimento em solo com 2 mmol,/dm” de Ca**, 15 mmol,/dm” de AP e
81% de saturação por alumínio. A aplicação de gesso e de hidróxido de
cálcio resultou nas mesmas produções de matéria seca, indicando que, nesse
caso, o fornecimento de cálcio foi o fator predominante no efeito do corretivo
da acidez.
Por outro lado, Faria e outros (2003), estudando várias combinações
de calcário e gesso em Argissolo Vermelho Amarelo arenoso de Petrolina,
PE, com pH em água de 5,9, praticamente sem alumínio e com 9 mmol/dm”
de Ca, obtiveram maiores produções de melão e redução da podridão apical
com o uso apenas de calcário, mostrando-se a gessagem desnecessária no
caso.

12.5 Sugestões de pesquisa

A soja é a cultura que ocupa a maior área cultivada do país, em solos


dos mais diversos, de Sul a Norte. É cultura bastante rústica e não requer
adubação nitrogenada, contrastando bastante, dessa forma, com o milho. A
expectativa de resposta da soja a gesso em alterar o subsolo é maisrestrita
ao problema de absorção de água do subsolo.
São sugeridos alguns estudos, similares aos apresentados para
milho (10.6.1).
198 Gesso na agricultura

12.5.1. Levantamento da fertilidade do subsolo em regiões de soja

Em regiões de cultivo de soja em plantio direto, amostrar o solo de 20


em 20 em, até 100 cm de profundidade. Analisar argila, matéria orgânica,
cátions trocáveis, inclusive Al”, acidez total a pH 7, CTC, sulfato,
condutividade elétrica e pH em CaCh,. Calcular a saturação por bases e por
alumínio. Realizar essa amostragem em várias áreas de produtividades
contrastantes de soja. Contudo, somente amostrar plantações bem cuidadas.
Georreferenciar os locais para possível futuro regresso.

12.5.2 Experimentos de calagem x gessagem

Tanto a calagem como a gessagem, em sistemas de plantio direto,


passam atualmente por uma fase de reavaliação de critérios. Por outro
lado, faltam experimentos suficientes em quantidade e distribuição
geográfica, bem como em variedade de solos, para melhor avaliar o
assunto. Sugere-se o estudo de doses combinadas de calcário e gesso,
com os seguintescritérios:
a) Amostrar o solo de 20 em 20 em até 100 cm. Só realizar o
experimento se o subsolo for considerado responsivo a gesso, pelos
critérios atuais. Para cada uma das camadas de 20 cm, calcular a
necessidade de calagem para 50%. Somar os valores, obtendo a
necessidade de calagem para 100 cm de profundidade. Dimensionar
as quantidades a aplicar de gesso para as cinco camadas de solo, com
base em teste de adsorção de gesso. Somar, obtendo a necessidade de
gesso para 100 cm de profundidade.
b) Planejar um experimento fatorial completo, 4 x 4. Para isso, aplicar
todas as dezesseis combinações das doses 0, 0,25, 0,50 e 1,00 vezes as
quantidades acima, para calcário e gesso. Aplicar uniformemente na
superfície, sem incorporar. Conduzir o experimento por vários anos. Ajustar
superfície de resposta aos resultados e calcular aspectos econômicos,
considerando custos de calcário e gesso e valor recebido pela soja.

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Gesso para soja e outras culturas 201

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MT, 1987. 7p. (Pesquisa em andamento, 14)
Capítulo 13
Gesso como
Melhorador de Solos

13.1 Melhoria de solos sódicos ........ sr eieererieeaereererenanatienoa 203


13.2 Melhoria de subsolos ácidos... 205
13.3 Lixiviação de sais em solos ácidos ............ see 210
13.4 Gesso como insumoda agricultura conservacionista ............... 216
13.5 Sugestões de pesquisa... erenerenarerarana 217
Referências ....... ir eracencereacarennan sera naracenaerarereriaaeraceaçãs 218

gesso como melhorador de solos tem duas grandes funções na


agricultura: corretivo de solos sódicos e melhorador do ambiente
radicular de subsolos. No primeiro caso, o alvo é principalmente a camada
superficial e o objetivo é a remoção de sódio trocável; no segundo, o alvo é
o subsolo e o objetivo é a redução da toxidez de alumínio trocável ou o
fornecimento de cálcio para as raizes.
Neste capítulo, são discutidos esses dois casos, começando com os
solos sódicos. No caso da correção de subsolos ácidos, o enfoque principal
do uso do gesso é para as condições da agricultura conservacionista, em
que o calcário é aplicado na superficie do solo e este não é revolvido. Nessas
condições, o gesso tem uma função complementar à calagem,distribuindo-
se ao longo do perfil do solo e aliviando, em certos solos, a “barreira química”
que impede ou prejudica o desenvolvimento radicular no subsolo.

13.1 Melhoria de solos sódicos

Solos sódicos são definidos comotendo mais de 15% da capacidade


de troca de cátions ocupada por sódio.
204 Gesso na agricultura

A ocupação da CTC com sódio, em porcentagem, é chamada de


porcentagem de sódio trocável, representada por PST.
Na classificação brasileira de solos, o caráter sódico é mais
provavelmente encontrado na ordem dos Planossolos (Embrapa, 1999), que
tem uma variedade de solos extrapolando, por exemplo, o semi-árido. De
qualquer forma, no Brasil espera-se o caráter sódico não só no solo, mas
tambémna água, no semi-árido do Nordeste e em algumas regiões costeiras.
No Nordeste, os Estados que têm solos com caráter sódico e/ou salino são
mostrados na tabela 13.1. Note-se que a área ocupada é de mais de 9
milhões de hectares.

Tabela 13.1. Áreas de solos afetados por sais em sete Estados do Nordeste, segundo o
Serviço Nacional de Levantamento e Conservação do Solo.

Área ocupada pelos solos


Solo
CE RN PB PE AL SE BA Total
km?

Planossolo sódico 12.708 3.690 944 5.165 3.370 2.098 30.516 58.491
Solonetz solodizado 8.436 4.064 2.760 2.654 393 1.013 5.161 24.490
Solonchack Solonétzico 450 837 - - - - - 1.287
Halomórfico 18 - - - - - - 18
Outros 1.645 - - - 120 520 4.544 6.829
Total 23.257 8.591 3.713 7.819 3.883 3.681 40.221 91.115
Fonte: Pereira e outros (1986).

O limite de interpretação de 15%, usado para delimitar o caráter sódico


de solos, é, como referência para manejo de solos sódicos, um valor muito
elevado. Segundo Rangesamy e Churchman (1999),na Austrália e na África
do Sul, valores bem mais baixos, da ordem de 5% a 6%, são considerados
mais realistas. Diferenças de comportamento entre solos seriam decorrentes
da textura e mineralogia da fração argila, atributos variáveis que requerem
diferentes concentrações de eletrólitos para atingir floculação.
Para a Austrália, Rangesamy e Churchman (1999) afirmam não haver
método que permita uma previsão exata das doses mais efetivas de gesso
para a redução da sodicidade.
Sparks (1995) descreve a correção de solos sódicos. É necessário
água de boa qualidade para remover o excesso de sais solúveis e o gesso,
CaS0,.2H,0, para deslocar o sódio do solo por troca iônica e removê-lo
como Na;SO,. É importante que o gesso seja incorporado ao solo, para
propiciar boa reação, que pode ser representada por:
Gesso com melhorador de solos 205

[solo] Na, + CaSO, & Na;SO, + [solo] Ca [13.1]


O solo deve ser rapidamente lavado com água, inicialmente
contendo alta concentração de eletrólitos, com predominância de Ca” e
Mg”*, seguida de lavagem com água com teores mais baixosde eletrólitos,
para remover excesso de sais. Isso é especialmente importante se o
solo é salino-sódico.
Um ponto importante é controlar a água de irrigação, para prevenir
aumentos de sódio. A caracterização da água de irrigação é dada pela relação
de adsorção de sódio:
RAS = Na”/ (Ca” + Mg!) [13.2]
Essa fórmula também é usada para o extrato de saturação e, nesse
caso, o solo é sódico se o valor de RAS é superior a 13, Para águas de
irrigação, valores seguros são menores do que 3; valores acima de 5 são
consideradosperigosos (Reichardt, 1978). É bom lembrar que o gesso pode
ser colocado na água de irrigação, para aumentar a relação Ca/Na.
“Em solos da região semi-árida, para remover Na” do selo, o cálculo
da necessidade de gesso é feito segundo Pereira (1998):
NG = 0,22 Na” [133]
A necessidade de gesso é dada em toneladas por hectare, e Na”, o
sódio trocável, é expresso em mmol/dm”.

13.2 Melhoria de subsolos ácidos

No item 2.4, discutiu-se sobre a calagem para redução da acidez do


subsolo e, em alguns casos, ela pode contribuir na melhoria do subsolo para
as raizes, A maior parte dos experimentos de calagem, contudo,foi realizada
emplantio convencional, com o calcário incorporado € o solo estando sujeito
arevolvimentos por arações e gradagens, que degradam a matéria orgânica,
contribuindo para a lixiviação de nitrato, que carreia cálcio e magnésio para
o subsolo.
Em se tratando de calagem no plantio direto, a expectativa é de
movimentação lenta da “onda alcalinizante” decorrente do calcário aplicado
na superficie do solo. Mesmo que o calcário seja incorporado no início do
plantio direto, não existirão as condições para degradação da matéria orgânica
que há no plantio convencional. A maior parte dos trabalhos consultados que
tratam de calagem em plantio direto mostra uma movimentação limitada de
bases para camadas mais profundas do solo, especialmente para quantidades
mais baixas.
Capítulo 13
Gesso como
Melhorador de Solos

13.1 Melhoria de solos sódicos ............ reiterar 203


13.2 Melhoria de subsolos ácidos... eee 205
13.3 Lixiviação de sais em solos ácidos ........... errar 210
13.4 Gesso como insumoda agricultura conservacionista..................... 216
13.5 Sugestões de pesquisa... arara 217
Referências... rreieraarrcene a erareniarane rara rraceerareranicranias 218

gesso como melhorador de solos tem duas grandes funções na


agricultura: corretivo de solos sódicos e melhorador do ambiente
radicular de subsolos. No primeiro caso, o alvo é principalmente a camada
superficial e o objetivo é a remoção de sódio trocável; no segundo, o alvo é
o subsolo e o objetivo é a redução da toxidez de alumínio trocável ou o
fornecimento de cálcio para as raízes.
Neste capítulo, são discutidos esses dois casos, começando com os
solos sódicos. No caso da correção de subsolos ácidos, o enfoque principal
do uso do gesso é para as condições da agricultura conservacionista, em
que o calcário é aplicado na superficie do solo e este não é revolvido. Nessas
condições, o gesso tem uma função complementar à calagem, distribuindo-
se ao longo do perfil do solo e aliviando, em certos solos, a “barreira química”
que impede ou prejudica o desenvolvimento radicular no subsolo.

13.1 Melhoria de solos sódicos

Solos sódicos são definidos como tendo mais de 15% da capacidade


de troca de cátions ocupada por sódio.
206 Gesso na agricultura

Nessas condições, o efeito do calcário é, em grande parte, limitado à


camada superficial, definida de 0 a 20 cm de profundidade, e mesmo dentro
desta o solo será tanto mais rico em nutrientes quanto mais rasa for a
amostragem, em geral feita a 0-10 ou 0-5 cm de profundidade, ou seja, há
um gradiente de concentração. Dessa forma, tem-se um problema,se forem
considerados os resultados experimentais, para o plantio convencional,
indicando que a incorporação mais profunda de calcário ou o efeito de doses
elevadas incorporadasno solo afetam de forma favorável o desenvolvimento
radicular do subsolo e a produtividade. Como ficariam situações similares
na agricultura de conservação? Não mais arar e gradear solos com subsolos
muito ácidos, através do plantio direto, não seria uma maneira de perpetuar
a limitação que a acidez do subsolo acarreta para o desenvolvimento das
culturas?
A expectativa, com a irreversível difusão das técnicas de agricultura
de conservação, que preconizam não revolver o solo e mantê-lo coberto, é
que o gesso, por ser um sal solúvel que penetra livremente no solo, possa
contribuir para aliviar os problemas da acidez do subsolo, reduzindo a
toxicidade do alumínio e suprindo cálcio para asraízes.
Contudo, deve-se ter em conta que calcário e gesso atuam em
partes diferentes do solo e que a calagem introduz alcalinidade a ele,
reduzindo a acidez a partir da superfície. Assim, a redução da acidez
do solo continua sendo uma necessidade e não é possível substituir
calcário por gesso.
O importante, do ponto de vista prático, é que resultados de diversos
experimentos que comparam doses de calcário e de gesso mostram que
produções máximas não podem ser obtidas com os insumos isoladamente,
mas sim com combinações dos dois (Tabelas 10.6, 11.5, 11.7, 12.3, 12.6,
12.7€e1211).
A região, cujos solos, em princípio, respondem mais provavelmente à
gessagem, é a chamada região do cerrado. Embora com mais de 200 milhões
de hectares, a aplicação do gesso fica limitada à distância econômica de
transporte do insumo. Um livro recente descreve, com base em experiência
na região, a correção do solo e adubação na região do cerrado (Sousa e
Lobato, 2002a). Segundo os autores, ao se tratar de melhoria do subsolo,
diversos fatores devem ser considerados e, ao que tudo indica, as atuais
recomendações de aplicação de gesso são no mínimo incompletas, por
diversas razões que serão descritas a seguir.
Começando com a recomendação mais recente, exatamente para
a região dos cerrados (Sousa e Lobato, 2002b), baseia-se em dois
Gesso com melhorador de solos 207

momentos. O primeiro é o do diagnóstico, que define se o gesso deve


ounão ser usado. Assim, os autores afirmam haver grande probabilidade
de resposta ao gesso se, nas camadas de 0-20 e 20-40 em, ou de 30-50
cm, a saturação por alumínio é maior do que 20% e o teor de cálcio é
menor do que 5 mmol./dm”. Nesses casos, são feitas as seguintes
recomendações:
Culturas anuais: NG = 5 x argila [13.4]
Culturas perenes: NG = 7,5 x argila [13.5]
A necessidade de gesso, NG, é dada em kg/ha,e a argila é expressa
em g/kg.
Os autores informam que as doses recomendadas de gesso têm
efeito residual de no minimo cinco anos, podendo estender-se por quinze
anos, dependendo do solo, não havendo, então, necessidade de reaplicação
nesses períodos.
Para São Paulo há uma fórmula única:

NG =6x argila [13.6]


A fórmula se aplica quando, na camada de solo de 20-40 cm, os
teores de Ca” são inferiores a 4 mmol/dmº e a saturação por alumínio é
maior que 40%. Contudo, a recomendação explicita está apenas nas tabelas
de adubação de café e cana-de-açúcar, o que mostra uma incerteza, na
época da publicação das recomendações (Raij e outros, 1996), sobre a
conveniência de aplicar gesso.
Para Minas Gerais (Ribeiro e outros, 1999), o gesso deve ser aplicado
quando na camada subsuperficial (20 a 40 em ou 30 a 60 em) houver Ca”
igual ou inferior a 4 mmol./dm” e/ou Almaior do que 5 mmol;/dm” e/ou,
ainda, quando a saturação de alumínio é maior do que 30%. As quantidades
a aplicar ou a necessidade de gesso (NG), para uma camada subsuperficial
de 20 cm de espessura, estão na tabela 13,2.
No critério de diagnose, os três procedimentos têm em comum a
consideração dosteores de cálcio e de saturação por alumínio, embora com
pequenas diferenças nos limites de interpretação. Em Minas Gerais, o teor
de alumínio também é considerado.
Na quantificação de doses a aplicar, os três procedimentos têm em
comum o uso da argila. Minas Gerais introduz a profundidade a ser atingida
como um critério, já que a recomendação é para camadas de solo de 20 cm,
o que parece uma opção adequada. Por outro lado, a recomendação para
cada camada de 20 cm é baixa.
208 Gesso na agricultura

Tabela 13.2. Necessidade de gesso com base no teor de argila do solo, segundo recomendação
do Estado de Minas Gerais

Argila NG
gkg tha
0a 150 0,0 a 0,4
150 a 350 0,42 0,8
350 a 600 0,82 1,2
600 a 1.000 122a1,6
Fonte: Ribeiro e outros (1999).

Deve-se ressaltar que as quantidades recomendadas de gesso,


nos três casos, não são elevadas, considerando as curvas de respostas
de diversos experimentos. Elas são conservadoras e levam em
consideração não tanto a economia da gessagem, mas a preocupação
em não impor gastos elevados aos produtores e evitar perdas de K e Mg
por lixiviação, o que não é um problema importante para os níveis de
aplicação recomendados. Por outro lado, não contemplam maior
aprofundamento do efeito do gesso, embora isso seja possível, no caso
de Minas, mas com doses recomendadas muito baixas, que deixam
dúvidas sobre a profundidade que realmente será atingida. Deve-se
lembrar que, no experimento relatado por Ritchey e outros (1980), cujos
resultados aparecem reproduzidos nas tabelas 2.1 e 8.3, o tratamento
sem gesso (superfosfato triplo, no caso) apresentava raízes até 60 cm,
enquanto o tratamento com gesso (superfosfato simples) tinha raízes
até a profundidade avaliada de 120 cm.
Emborao teor de argila seja um atributo de solo que pode ser usado
na quantificação da gessagem, sua consideração não dá sustentação para o
uso em solos de propriedades eletroquímicas muito diferentes, com
capacidades diversas de retenção de sulfato. Alves (2002) mostra menor
adsorção e maior dessorção de sulfato em solos cauliníticos em relação a
solos mais oxídicos.
Na tabela 13.3 é feita uma comparação entre as doses que
seriam recomendadas para os solos de onze experimentos de campo
com várias culturas. Foram realizados os cálculos de necessidade de
calagem e de gessagem preconizada para o Estado de São Paulo
(Raij e outros, 1996), com metas de saturação por bases para a
Gesso com melhorador de solos 209

calagem de 60% para a cana-de-açúcar e a soja, e de 70% para o


milho e o algodão, utilizando a fórmula 2.1 No caso da gessagem, a
necessidade de gesso foi calculada pela fórmula 13.6.
As doses para produção máxima são mais elevadas do que as
quantidades recomendadas, mas isso pode ser apenas aparente, pelo
caráter assintótico de curvas de resposta, que seguem a “lei dos
incrementos decrescentes”, ou seja, para incrementos cada vez
maiores de calcário ou gesso, são cada vez menores os aumentos de
produção.

Tabela 13.3. Confronto entre doses recomendadas de calcário e gesso e as quantidades


associadas com produções máximas, para onze experimentos de campo cujosresultados
foramapresentados nas tabelas indicadas. O teor de argila, saturação por alumínio (m)
e o teor de cálcio referem-se ao subsolo; a saturação por bases, à camada superficial

Calcário, Gesso, tha


Cultura Tabela e Argila Ca m v Prod. Prod.
especificação Recom. máx. Recom. máx.

gkg mmol /dm Ya tha

Milho 10.6 (500)* 7 62 36 3,8 12 3,0 8


Cana 11.5 160 1,2 59 5 1,6 0 1,0 6
Cana 11.7-LVEa 160 1,2 76 15 1,6 4 1,0 2
Cana 11.7-LVAO 230 0,5 87.3 4,1 4 1,4 5
Cana 11.7-LR-2 760 9,1 40 19 3,0 3 4.6 6

Cana H.7-LVAMN 140 6,3 I8 33 1,1 1,5 0,8 6

Cana 1ET-LVA-9 190 0,5 79 31 0,9 1,8 ul 4,8


Cana 11.7-LV E-3 590 1,9 81 5 5,1 10 3,5 10

Soja 12.2 (500)* 1 25 33 1,6 9 3,0 6


Soja 12.3 (700)* 2 55 dl 4,6 8,1 4,2 6,4
Algodão 12.7 (700)* 5 17. 32 2,5 3 3,0 6,0
* Valores estimados.

Faltaminformações sobre a influência de diversos atributos de solos


para uma recomendação de gesso mais “científica”, destacando-se adsorção
de sulfato, profundidade a ser atingida pela gessagem, valores críticos de
saturação por alumínio entre espécies e variedades, influência de avanço de
“onda” de sais de cálcio com ânions monovalentes, como nitrato e cloreto
adiante da “onda” de sulfato etc.
210 Gesso na agricultura

13.3 Lixiviação de sais em solos ácidos

A lixiviação de sais através do solo pela aplicação de gesso deve ser


feita adotando-se de critérios técnicos, que até o momento são no mínimo
incompletos. Se, de um lado, pretende-se aprofundar o sistema radicular
para que as raízes das plantas possam absorver mais água e nitrato, por
outro lado, não se pode aceitar perdas de nutrientes valiosos, ou por falta
de acesso pelas raízes, ou pelo excesso de adição de gesso. Assim, a
gessagem, e até mesmo a calagem, devem também ser avaliadas dentro
da ótica de controlar a lixiviação de espécies químicas minerais através
do perfil do solo.
Deve-se lembrar que tanto o calcário como o gesso buscam, como
efeito principal, a melhoria do solo para o desenvolvimento radicular. Assim,
a correção se dará onde o insumoestiver. Isso nada tem a ver com aplicações
localizadas ou o fornecimento de nutrientes, Ca, Mg e S, que devem ser
considerados efeitos secundários importantes, mas que não são objeto desta
discussão.
É conveniente começar com a calagem. Por muito tempo já se usa o
conceito de “camada arável”, de O a 20 cm de profundidade, que é o objeto
dos cálculos das quantidades de calcário a aplicar. Já foi mostrado que a
incorporação mais profunda do calcário tem consideráveis benefícios para
as plantas, pela ampliação do volume de solo corrigido (Tabelas 2.2 € 2.3).
No plantio convencional, submetido a arações e gradagens, ocorre
mineralização da matéria orgânica, que libera nitrato, facilmente lixiviado
através do perfil do solo, carreando cálcio e melhorando o ambiente radicular,
conforme mostrado na figura 2.2.
Por outro lado, no plantio direto estabelecido, o calcário é aplicado na
superfície e, não havendo mineralização muito acentuada da matéria orgânica,
como no plantio convencional, a movimentação de cálcio, embora ocorra, é
muito menos intensa. Isso por si só seria um problema para a redução da
acidez no perfil do solo. Outro problema é a tendência de amostrar o solo
apenas de O a 10 cm, uma amostra menos ácida, e fazer o cálculo para
corrigir a acidez apenas dessa camada, o que daria menos da metade do
calcário preconizado atualmente. Assim, fica-se com o solo com apenas
uma pequena camadacorrigida. E certo que no plantio direto, com a camada
de palha cobrindo o solo, infiltra mais água e há menor evaporação. Assim,
há melhor economia de água do que no plantio convencional. A questão é
saber se isso é suficiente para garantir produtividades mais elevadas a longo
prazo. Umaacidez menor no subsolo, estimulando o enraizamento profundo
em áreas de plantio direto, seria benéfica ou desnecessária? Perguntas como
Gesso com melhorador de solos 211

esta só podem ser respondidas através de experimentação de campo. Mas


não se trata de comparar agricultura convencional com plantio direto, mas
sim da aplicação de doses elevadas de calcário, associado com gesso, no
plantio direto.
Nafigura 13.1 observa-se o efeito de aplicações elevadas de calcário
em Latossolo Vermelho Escuro argiloso de Planaltina (DF), no aumento do
pH em profundidade (Sousa e Ritchey, 1986). O que fica claro pela figura é
que, para haver aprofundamento do efeito da calagem no perfil do solo, são
necessárias aplicações altas. Mesmo assim, aplicações de 15,0 e 22,5 t/ha
tiveram um efeito principal apenas até 50 cm, com pequenoefeito a maiores
profundidades, até 100 em. A aplicação de 7,5 t/ha, aindaalta para os padrões
correntes de calagem, teve um efeito bem menosintenso no perfil do solo,
embora com algum efeito até 100 cm de profundidade. O efeito do calcário
no subsolo permite a hipótese de ânions como SO, NO; e CI estarem
carreando cálcio e o pH estar se elevando pela absorção desses ânions em
profundidade, principalmente de nitrato. Quando o pH é muito elevado em
partes do solo afetadas pelo calcário, pode-se considerar também a presença
de HCO;que pode contribuir para o aprofundamento do fluxo alcalinizante.

pH do solo (água 1:1)


45 5,0 55 6,0 6,5 Z,0

RETO
! l ) ]

30
Profundidade do solo (cm)

454

60 —

75 +
Dose de calcário
t/ha
90 + —Oo— o

cf 75
105 + -—[I— 15,0
—>— 225
120 ASR
Figura 13.1. Efeito de doses de calcário aplicado em um Latossolo Vermelho-Escuro
argiloso, após oito anos de cultivos, no pH em diferentes profundidades. Fonte:
Sousa e Ritchey (1986).
212 Gesso na agricultura

No caso da aplicação apenas de gesso, ocorre um maior efeito em


profundidade, como é mostrado nafigura 13.2, com aplicação de 6,9 t/ha de
gesso, após percolação de 1.200 mm de água através de colunas contendo
solo (Sousa e Ritchey, 1986). Note-se que o gesso, nesse caso, atingiu cerca
de 70 em de profundidade. Essa curva de eluição do gesso é determinada
pela retenção de sulfato, emborao indicador no caso seja Ca”* + Mg”. Pela
recomendação de gessagem pelocritério do IAC,considerando o solo argiloso
(Equação 13.6), a aplicação de gesso seria da ordem de 4 t/ha, ou seja, uma
quantidade que não afetaria o solo provavelmente em mais de uns 50 cm.

Ca?* + Mgº* (meg/1009)


0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
| |
Profundidade de amostragem (em)

Fosfogesso t/ha

105 — e()— 6,9


-—[U— 0
120

Figura 13.2. Distribuição de cálcio em um perfil de Latossolo Vermelho-Escuro, com ou sem


adição de gesso, após percolação de 1.200 mm de água através de colunas contendosolo.
Fonte: Sousa e Ritchey (1986).

Outra maneira de ver o assunto é comparar a lixiviação de Ca”


acompanhado de diversos ânions em colunas de Latossolo Vermelho-Escuro.
Isso é mostrado na figura 13.3, para aplicação de 50 mmol,/kg de Ca” ao
solo, na forma de carbonato, sulfato e cloreto (Sousa e outros, 1986).
Gesso com melhorador de solos 213

Ca (meg/1009)
0 0,5 10 15 40
0 ! l L !

VR
30 +

60 —

E 90 +
S
v
B
o 1207
l
E
pe]

8
o 150

180 4 —O-— Sem aplicação de Ca


—-— cos
210 + so;
—-- CIT

240 ? X

Figura 13.3. Distribuição de Ca?*, em diferentes profundidades, de um Latossolo Vermelho-


Escuro, reconstituído em colunas, para diferentes fontes de cálcio fornecendo 50
mmol, /dm? de Ca?*, apóspercolação de 1.200 mm de água. Fonte: Sousae Ritchey (1986).

Para gesso, isso equivale a cerca de 10 t/ha. Note-se que o carbonato


é extinto e o cálcio, que fica na forma trocável, não penetra muito no solo,
por faltar o ânion acompanhante. O Ca” aplicado como sulfato avançaaté
uns 60 em no solo,e o resultado da curva sugere uma adsorção máxima de
sulfato da ordem de 1,2 mmol. /kg de solo. O resultado por volume de solo é
um pouco maior, provavelmente da ordem de 1,4 mmol,/dm, considerando
densidade do solo de 1,2 kg/dm”. O cloreto avança muito mais em
profundidade. Na prática, as quantidades de cloreto são limitadas pelas
quantidades de potássio aplicadas e parte não é lixiviada, mas absorvida
pelas plantas. É mais realista acreditar que a maior parte de umafrente de
lixiviação como a mostrada ocorra com NO;e que,se o nitrato for absorvido,
haverá aumento do pH em profundidade (vide 8.4).
Ainda com relação à questão da lixiviação, perdas de magnésio e
potássio são uma preocupação na utilização de gesso, e a adição de sais ao
solo deve ser controlada de formaa evitar isso.
214 Gesso na agricultura

Perdas de magnésio parecem mais fáceis de contornar, além de o


elemento ser barato. Principalmente na agricultura conservacionista, em
que o calcário é lançado na superfície do solo, onde reage lentamente, basta
o uso de calcário dolomítico para um suprimento contínuo de magnésio.
O caso do potássio é mais sério, pelo alto custo do nutriente.
Paradoxalmente, a adição de cálcio e magnésio ao sistema ajuda na redução
das perdas de potássio (Raij e Camargo, 1974). Por outro lado, a adição do
ânion sulfato promove a lixiviação, perfil abaixo, de sais solúveis. Neste
caso, as perdas de potássio dependerão da profundidade que esses sais
atingirem. Pode-se levantar a hipótese de parte desse potássio ser absorvido
pelas plantas e reciclado para a superficie do solo.
O nitrato deve ter comportamento similar ao do cloreto, mostrado na
figura 13,3. Por outro lado, em solos com caráter ácrico, com cargas elétricas
positivas, há adsorção de nitrato e a lixiviação é retardada, conforme
mostraram Raij e Camargo (1974), estudando a movimentação de nitrato
em quatro amostras de subsolos e em vermiculita (Figura 13.4). Na
vermiculita, o nitrato acompanha a frente de água deslocada através do
solo. Ressalte-se, contudo, que, em solos ácricos, a adsorção de sulfato
deve reduzir a capacidade do solo de reter nitrato.
O sulfato de cálcio se desloca através do solo dentro dos limites
impostos peloproduto de solubilidade do sal, cujas soluções apresentam
concentrações máximas da ordem de 0,014 mol/L. Para uma camada de 20
cm de profundidade de um solo e 30% de retenção máxima de água, isso
representa cerca de 8 mmol./dm” de gesso na solução do solo, ou
aproximadamente 1,6 t/ha. Por outro lado, sais de Mg e K são muito mais
solúveis, proporcionandolixiviação mais rápida de sulfato.
As cargaselétricas do solo têm um efeito importante na lixiviação de
Ca?* e de SO,”. O trabalho de Camargo e Raij (1987) demonstra isso,
conforme pode ser visto na figura 10.3, No caso, foram usadastrês amostras
de solo, cada uma em três condições de acidez, visando obter condições
diversas de cargas elétricas em solos: sem tratamento, com o pH diminuído
por HNO, e com o pH aumentado com MgCO;. As curvas mostram que o
Ca?” é mais retido a valores de pH mais altos, e o SO,”, mais retido a
valores de pH mais baixos, o que está de acordo com as expectativas,
descritas no Capítulo 7. Em todos os casos, houve considerável retardamento
dos íons lixiviados em relação à frente de água, o que é indicado pelos
valores de V/Vo maiores do que 1, Nesse caso, V, é o volume de água
retido na coluna, e V é o volume percolado.
Gesso com melhorador de solos 215

0 i
Latossolo Vermelho ácrico argiloso

10

0 a
Latossolo Vermelho eutrófico argiloso
Concentração de No; no efluente, mmol/L

10

5 A

0 N.
Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico textura média

Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico textura média

0 05 1,0 1,5 2,0 25 3,0


Vermiculita com areia

Figura 13.4. Curvas de eluiçãode nitrato em amostras do horizonte B; de quatro solos e uma
mistura de vermiculita com areia (10 + 90). A quantidade de nitrato aplicada foi de 2
mmol, por coluna de 100 g de solo. Fonte: Raij e Camargo (1974).

Vale a pena um comentário sobre as curvas mostradas na figura 13.5


para o pH do solo em condição natural. Note-se que os picos para Ca?* e SO,”
são bastante parecidos para os três solos, indicando lixiviação similar dos dois
íons. Por outro lado, de cimapara baixo,os picos são bem maiores no Latossolo
Vermelho-Amarelo a 0-40 cm,indicando pequenaretenção de sulfato, menores
paraeste solo a 40-80 cm e muito reduzidos no Latossolo Roxo. São exemplos
que apontam para o comportamento variável de gesso em solos.
Ascinco figuras mostradasilustram aspectos diferentes do “manejo
da fertilidade do subsolo”, que deve ser feito através de aplicação de insumos
na superficie do solo, controlando sua lixiviação através do dimensionamento
adequado das quantidades aplicadas.
216 Gesso na agricultura

Latossolo vermelho amarelo (0 — 40 cm)


2
Ca?t 2-
so
“pHbaixo pHnatural pHalto' “pHbaixo pHnatural”pHaito '

o
O 0,54 q 4 a 1 -

sas
[TT] fo TT ET IT TT TT TT IT TTTT
Latossolo vermelho amarelo (40 - 80 cm)

o
OS
Ó
0,5) + + - +A +

E TI CT TT Los TT TT Ls o TT TT
Latossolo roxo goetítico (60 —- 80 em)

o
oO 0,5 + + - - 4
o /N A /-
IN
1

Figura 13.5. Curvas de eluição de Ca** e de SO*, representativas de lixiviação de gesso


através de três amostras de solos em colunas,a três valores de pH para cadasolo. Fonte:
Camargoe Rai) (1987).

13.4 Gesso como insumo da agricultura conservacionista

Não foram encontrados muitos trabalhos de campo que possam ser


considerados suficientes para caracterizar situações de agricultura
conservacionista. Nem mesmo para a agricultura convencional a
experimentação existente publicada pode ser considerada suficiente, o que
quer dizer estudos de gesso em combinação com calagem, em solos com
acidez acentuada no subsolo. Muitos experimentos recentes encontrados
na literatura são em solos há muito cultivados, o que significa, em geral,
históricos de muitos anos de aplicação de corretivos e fertilizantes, que
certamente já melhoraram o subsolo, Outro fato relevante é que todos os
experimentos apresentados na tabela 13.3, que permitem o estabelecimento
de doses ótimas de calcário e gesso, além de terem resultados de análise de
solo para avaliar o diagnóstico de necessidade de gesso, são apenas do
Estado de São Paulo, enquanto as áreas mais promissoras para uso de gesso
estão mais ao norte.
Gesso com melhorador de solos 217

O conjunto de experimentos apresentado na tabela 13.3, com destaque


para os experimentos de cana-de-açúcar, mostra muito bem as respostas
de calcário e gesso. Em todos os casos, as doses para produção máxima
superaram as doses recomendadas. No caso da cana, o que surpreende é a
magnitude das respostas, considerando tratar-se de cultura reconhecidamente
muito tolerante à acidez. Isso deixa uma quase certeza de que outras culturas,
cultivadas em solos de baixa fertilidade, podem ter respostas similares às
obtidas para cana-de-açúcar. Isso, de certa forma, encontra apoio nos
experimentos com milho, soja e algodão que foram instalados em solos em
que não seria de esperar grandes respostas a gesso, mas mesmo assim
apresentaram respostas.
Contudo, os experimentos da tabela 13.3 referem-se a plantio
convencional. Como seria no plantio direto?
Fica-se com uma impressão de vazio no que se refere a experimentos
adequados para o sistema de plantio direto. Eles simplesmente não existem,
pelo menos não em delineamentos adequados e em solos com maior
probabilidade de resposta a gesso localizados no centro do país.
Assim, embora o gesso tenha tudo para se constituir em insumo
importante para a agricultura conservacionista, as informações de pesquisa
para equacionar seu uso são insuficientes.

13.5 Sugestões de pesquisa

Há vários aspectos a considerar, com destaque para experimentação


de campo e estudos de lixiviação de íons.

13.5.1 Obtenção de funções de resposta

Experimentos fatoriais, em que são comparadas doses de calcário e


gesso, permitem diversos cálculos importantes, podendo-se calcular as
produções correspondentes a diferentes combinações de calcário e gesso,
estabelecer doses econômicas e definir as melhores combinaçõesa utilizar
de calcário ou de gesso, dependendo dos preços desses dois insumos em
cada local,
Infelizmente, porém, experimentos que deveriam ser quantitativos,
via de regra são usados como qualitativos. Muitas publicações restringem-
se a informações sobrea significância dos efeitos lineares e quadráticos ou
de eventuais interações. O ajuste de modelos matemáticos, como a Equação
12.1, ajustada em resultados de experimento de soja, raramente é utilizado.
Detalhes sobre este assunto são dados em Raij (1991).
218 Gesso na agricultura

A sugestão de pesquisa é que seja feito o ajuste de polinômio ao


experimento da tabela 11.5, de cana-de-açúcar, e ao experimento 12,7, de
algodão. O polinômio podeser o seguinte:
Y=ataC+a C+taG+aG'+aCG [13.7]
Esses polinômios devem, então, ser utilizados para o estabelecimento
das melhores combinações de calcário e gesso, com base em custos dos
produtos aplicadose dos valores dos produtos colhidos.

13.5.2 Verificação da série liotrópica em solos

Preparar uma solução contendo quantidades estequiometricamente


iguais de Ca”, Mg”, K”, SO, CI e NO;. Preparar colunas contendo
amostras de vários solos, com propriedades eletroquímicas contrastantes,
coletadas a 0-20 cm e a 80-100 cm de profundidade. Saturar o solo com
solução 0,01 mol/L de CaCl,. Em seguida, adicionar a solução com os diversos
tons ao solo, em volumes determinados, e percolar quantidades sucessivas
do mesmo volume de água, coletando na saída do tubo de percolação.
Determinar os seis tons em solução. Traçar gráficos como os das figuras
13.4€e 13.5.

Referências

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SPARKS, D. L. Environmental soil chemistry. San Diego: Academic Press, 1995. 267p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Recomendações de adubação e calagem


para o Estado do Ceará. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 1993. 248p.
Capítulo 14
Perspectivas parao Uso de Gesso
na Agricultura

14.1 Necessidades de pesquisa... 222


14.2 Diagnóstico de campo da fertilidade do subsolo ........... 225
14.3 Quanto calcário e gesso aplicar .........seiesieceeceerererereenaranos 228
14.4 Sugestões de pesquisa ........cetreseerareeeearaeeacenaereaiaeererans 229

ode-se dizer que a pesquisa com gesso no Brasil parou antes do tempo.
Talvez pela natureza das respostas em culturas, muito dependentes
das condições climáticas, ou por haver uma falsa impressão de que o
assunto já estava sob controle, a verdade é que, desde a metade da
década de 1990, pouco ocorreu de mais relevante em termos de
conhecimento novo, embora algum esforço de pesquisa sempre tenha
existido. Também nos Estados Unidos, onde importante pesquisa estava
em andamento na década de 1980, o trabalho desacelerou. Seriam
necessários trabalhos de longa duração, com avaliações mais detalhadas
para melhor equacionar o assunto. Há falta, principalmente, de
refinamento dos critérios de diagnose da necessidade de gesso e
experimentos de calagem e gessagem que permitam estabelecer as
quantidades a aplicar desses dois insumos.
Por outro lado, a rápida expansão do plantio direto e a necessidade
prática da aplicação do calcário na superficie do solo estão trazendo também
muita controvérsia.
Assim, como combinações de calcário e gesso parecem resultar em
maiores produções do que a aplicação de cada um desses dois materiais
separadamente, essas combinações precisam ser avaliadas em
experimentação de campo.
222 Gesso na agricultura

Levando isso em consideração, a discussão deste capítulo é


direcionada ao que deve ser realizado, além de ressaltar o que é feito hoje e
quais as limitações e perspectivas. Neste capítulo não são feitas citações
bibliográficas, mas todo o conhecimento aqui exposto está embasado na
matéria apresentada anteriormente.

14.1 Necessidades de pesquisa

Inicia-se este subcapítulo com um texto entre aspas, para demonstrar


que não houve exagero na afirmação acima de que a pesquisa com gesso
no Brasil praticamente parou.

“7.3 Necessidades de pesquisa


A pesquisa do gesso agricola, como um produto melhorador do ambiente
radicular de subsolos ácidos, deveria merecer atenção muito maior do que vem
tendo, por uma série de razões convergentes.
1. Ao contrário de outras técnicas, que tiveram origem no exterior e
receberam aperfeiçoamento e adaptações locais, a 'gessagem”, com o enfoque de
corrigir subsolos ácidos, foi praticamente uma descoberta brasileira e pode
alastrar-se para outros países do mundo. Resta saber se vamos desenvolver o
assunto em nosso país ou se iremos aguardar as soluções de paises desenvolvidos.
2. Outro aspecto importante diz respeito à pretensão que os cientistas de solo
têm hoje de equacionar a correção de condições químicas desfavoráveis de subsolos
ácidos. Isso podeter importantes consegiiênciaspara a produção agricola de extensas
áreas brasileiras, pelo aumento da produção agricola que seria ocasionado pela
melhor absorção de água e nutrientes de camadas profundas de solos.
3. Umterceiro aspecto importante é a existência de perto de 20 milhões de
toneladas de gesso agrícola junto às indústrias de ácido fosfórico, constituindo
hoje um incômodorejeito a ocupar extensas áreasperto defábricas. É desnecessário
frisar a importância de o gesso vir a ser um insumo agricola, recomendado pelos
órgãos oficiais.
4. Um quarto assunto a se considerar é a própria necessidade que existe
das recomendações de gesso contarem com o respaldo de órgãos oficiais de
pesquisa. Existe hoje uma grande promoção comercial do gesso agricola, que
não encontra apoio nos órgãos oficiais de pesquisa. Isto gera dúvidas e
insegurança entre os técnicos da extensão e agricultores que, ao indagarem sobre
as quantidades a aplicar, não recebem respostas conclusivas.
5. Ainda um quinto enfoque que pode ser lembrado é que a pesquisa sobre
gesso agricola aborda diversos aspectos de quimica, fisica, fertilidade e
classificação de solos, além de envolver nutrição vegetal e conhecimentos sobre
Perspectivas para o uso de gesso na agricultura 223

o comportamento de espécies e variedades. Porse tratar de assunto comtal riqueza


de desdobramentos importantes, a pesquisa com o gesso agricola será, com certeza,
altamente educativa.
6. Por todasessas razões, a pesquisa precisa ser ampliada. Além disso, ela
necessita ser altamente objetiva, para que algumas informações fundamentais
sejam obtidas o mais depressa possível.
7. Certamente, a maiordúvida reside em quando e quanto aplicar de gesso.
Para isso são necessários ensaios de doses crescentes de gesso, em combinações
com dosescrescentes de calcário. Essesensaios, que devem ser conduzidospor um
mínimo de três anos, darão os elementos para se desenvolvercritériosde aplicação
de gesso, tanto do ponto de vista quimico como do ponto de vista econômico.
Além do mais, as áreas experimentais permitirão avaliaros efeitos do insumo no
subsolo, com o passar dos anos.
8. Outro tema que precisa atenção é o desenvolvimento de algumtipo de
critério para diagnosticar se o subsolo apresenta barreira química para a
penetração de raizes. Isso envolverá estudos de quimica do solo em associação
com o comportamento de diferentes espécies e variedades.
9. O efeito do gesso sobre diferentes solos necessita ser melhor conhecido,
no que concerne aos mecanismosde reação, principalmente envolvendo o alumínio
trocável. ”

Esse texto foi o último do livro “Gesso agricola na melhoria do ambiente


radicular no subsolo”, de B. van Raij, publicado em 1988, pela Anda. Ou
seja, reflete o pensamento do autor passados vinte anos. Infelizmente, quase
tudo ainda é muito atual. As razões ultrapassam o campotécnico-científico
e não são difíceis de identificar, mas não cabe neste livro discuti-las. É
importante, porém, que se registre e haja uma consciência dos fatores que
emperram a pesquisa, para que daqui a vinte anos tudo não continue como
está hoje e esteve há vinte anos.
A seguir, essas recomendações serão reavaliadas, acrescentando o
que hoje seria necessário, na opinião deste autor, e será feito na seqiiência
dos números que antecedem os parágrafos do texto reproduzido acima.
No caso do item 1, pouco foi acrescentado. Alguma coisa que foi
publicada no exterior já estava em andamento em 1988. Equacionar a
correção de subsolos ácidos (Item 2) também é assunto que pouco evoluiu
e, a continuar a tendência atual, nada de novo em termos de informações
sobre gessagem deverá ocorrer. Basta lembrar que há pouca pesquisa de
caráter conclusivo nas áreas mais propícias para o uso de gesso, que incluem
Estados como Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás,
Tocantins, Maranhão e Bahia.
224 Gesso na agricultura

Tudo indica que as pilhas de gesso deverão continuar a aumentar


(Item 3), mesmo que a gessagemjá conte com respaldo dos órgãos de
governo (Item 4), especialmente na região dos cerrados. O problema é que
essas recomendações de gesso podem ser consideradas muito conservadoras
(vide 13.2), não atingindo o potencial de melhoramento do subsolo por
aplicações que penetrem mais profundamente no solo. Assim, a gessagem
ainda não é uma prática recomendada com segurança pelos técnicos e
tampouco é implementada com confiança de que dará retorno por muitos
produtores. Paradoxalmente, é uma prática de forma geral bem aceita, mas
as aplicações tendem a ser cautelosas e sem muito critério técnico.
Os inúmeros efeitos secundários do gesso, além do aprofundamento
radicular favorecendo a absorção de água e nitrato do subsolo, têm sido
pouco explorados (Item 5), o que se deve à pouca atenção dada à própria
pesquisa do uso agrícola do gesso. E a urgência de ampliar a pesquisa (Item
6), sugerida em 1988, provavelmente era apenas de alguns poucos
pesquisadores. Atualmente, uma promoção comercial eficaz consegue
colocar cerca de 2 milhões de toneladas de fosfogesso e mais algumas
centenas de milhares de toneladas de gipsita na agricultura, mas é difícil
dimensionar com algumaprecisão o mercado potencial com as informações
disponíveis.
A dúvida sobre em que condições de solo aplicar gesso (Item 7) em
parte pode ser considerada resolvida, já que a indicação com base em teores
de cálcio e saturação por alumínio parece satisfatória (13,2), necessitando,
porém, de refinamento para diversas culturas. Os pontos mais importantes,
não considerados nas recomendações de gesso, são a profundidade a ser
atingida e a capacidade de adsorção de sulfato pelo solo. Ainda no item 7,
são sugeridos experimentos com doses crescentes de calcário e gesso, que
foram em parte realizados para o Estado de São Paulo (vide algumas
informações na tabela 13.2), embora diversos em solos não muito ácidos,
havendo necessidade de experimentos em outros Estados e em solos com
maior evidência de poderem apresentar barreiras químicas.
O item 8 sugere o desenvolvimento de algum tipo de critério para
diagnosticar barreiras químicas para raizes de plantas. Embora algunstestes
tenham sido desenvolvidos, não se tornaram determinações rotineiras em
laboratórios de análise de solo.
Finalmente, no item 9 é lembrado que o efeito do gesso sobre diferentes
solos precisa ser mais bem conhecido. Isto é absolutamente necessário para
definir as condições de solo mais propícias de ter o subsolo melhorado em favor
de maior absorção de água e de nitrato no subsolo. Já foi demonstrado que há
solos com subsolos muito ácidos que não respondem à gessagem, possivelmente
Perspectivas para o uso de gesso na agricultura 225

por causa de uma condição mineralógica que não favorece a retenção de sulfato.
Esses casos precisam ser delimitados para aperfeiçoar a diagnose qualitativa de
necessidade ou possibilidade de sucesso do uso de gesso.

14.2 Diagnóstico de campo da fertilidade do subsolo

Como já foi ressaltado em várias partes deste livro, o uso de gesso é


útil quando existe no solo uma barreira química decorrente do excesso de
alumínio e/ou deficiência de cálcio que pode impedir o desenvolvimento de
raízes. Trata-se de um tema complexo, em quea planta é um fator importante,
já que existem diferenças de tolerância a alumínio entre espécies e
variedades. Removida a barreira química, as raizes podem penetrar mais
profundamente no subsolo, aproveitando água € nitrato de camadas mais
profundas, que sem o melhoramento causado pelo gesso seriam inacessíveis.
Critérios de diagnose foram descritos em 13.2. Eles se baseiam nos
teores da Ca?” e de AP” e na saturação por Al”*, na camada de solo de 20 a
40 cm. Os limites estabelecidos pelas várias instituições variam, sendo os
teores de Ca” inferiores a 4 ou 5 mmol,/dm” e a saturação por alumínio
maior do que 20%, 30% ou 40%. Os resultados experimentais existentes,
embora pouco numerosos, permitem afirmar que os limites críticos
estabelecidos são razoáveis, necessitando, porém, de ajustes para diferentes
espécies e variedades.
Além da situação de solos de baixa fertilidade natural, não corrigidos,
responsivos a calagem e gessagem, há que reconhecer dois tipos de
situações. Solos de alta fertilidade natural, que foram acidificados por
adubações nitrogenadas e cultivos, apresentam a camada superficial mais
ácida que o subsolo. Diversos experimentos com gesso foram realizados
em solos assim, não apresentando respostas,já que o subsolo não era ácido.
Outra situação é de solos de baixa fertilidade natural, em que é realizada a
correção da acidez da camada superficial, mas persistem os problemas de
barreira química no subsolo. É difícil estimara participação de solos nessa
situação na agricultura, mas deve ser elevada na região do cerrado.
A análise química de solo na camada de 20 a 40 cm é importante para
inferir sobre a resposta ou não de culturas à gessagem, podendo, em muitos
casos, refletir também a situação das camadas mais profundas. Amostragens
mais profundas, de 40 a 60 cm, por exemplo, talvez fossem mais seguras.
Por outro lado, pode haver interesse em amostrar o solo até profundidades
maiores, por exemplo, 100 cm, para verificar se está livre de barreiras
químicas até essa profundidade. Para a pesquisa, a amostragem de 20 em
20 em, até 100 cm, seria uma opção importante.
226 Gesso na agricultura

As amostras do perfil de solos, tiradas de 20 em 20 cm, até 100 cm,


podem ser consideradas de grande importância para avaliar comoestão as
áreas agrícolas no que se refere à fertilidade do subsolo. As avaliações
possíveis são as seguintes, considerando apenas o subsolo, já que a camada
superficial deve ser corrigida com calcário, de acordo com o cálculo usual:
a) Ca” - Teores abaixo de 5 mmol,/dm” requerem atenção.
b) AIÉ- Teores altos são um grande problema, já que em geral estão
associados a solo com argila mais eletronegativa. Um exemplo disso é o
experimento da tabela 8.6, em que mesmo a aplicação de 8 t/ha de gesso
não teve efeito na saturação por bases do subsolo e, além disso, há um limite
de retenção de sulfato que determina inclusive os teores de cálcio e magnésio
retidos no solo. É curioso que muitos acreditem que um dos sérios problemas
dos solos da região dos cerrados é a ocorrência de teores elevados de alumínio
tóxico, o que não é verdadeiro. Alta é a saturação por alumínio, dada em
porcentagem da CTC efetiva. Os teores em geral são baixos, o que torna os
solos da região tão favoráveis ao uso de gesso.
c) Mg”- Teores crescentes em profundidade indicam lixiviação do
elemento, que pode ser causada por aplicações de gesso ou simplesmente
para restabelecer a ordemnatural da série liotrópica (vide Equação 7.3) em
solos que receberam calcário dolomítico. Deve-se ter atenção para que o
teor na camada superficial não caia abaixo de 5 mmol,/dm” de Mg”.
d) K'- Teoresaltos no subsolo indicam lixiviação. Aplicações elevadas
de gesso, sem o uso de adubo potássico, podem trazer problemas de
deficiência do elemento. Por outro lado, as elevadas absorções de potássio
pelas culturas contribuem para trazer o K de volta para a superfície do solo
através de reciclagem pela biomassa.
e) m - A saturação por alumínio é, provavelmente, o melhor índice para
aferir o excesso de acidez para as raízes das plantas. Solos com teores baixos
de alumínio e CTC,, baixa, comuns em extensas áreas do Brasil, têm a
saturação por alumínio facilmente reduzida, pelo simples acréscimo de Ca?*.
Em casos em que ocorre também uma redução do alumínio, a redução da
saturação por alumínio é ainda maior, Um exemplo foi constatado para cana-
de-açúcar (Tabela 11.1). No tratamento com calcário, aos 27 meses, no
tratamento com gesso, em relação ao sem gesso,o teor de Ca” na profundidade
de 75 a 100 em aumentou de 1,6 a 5,0 mmol,/dm” (Tabela 11.1) e o teor de
AP* diminuiu de 6,0 para 4,6 mmol,/dm” (Tabela 11.2); nessa situação, a
saturação por alumínio diminuiu de 70 para 45% (Tabela 11,3).
f) Ve pH A relação saturação por bases (V) e pH não obedece, em
subsolos, à relação estabelecida para amostras da camada superficial. É um
Perspectivas para o uso de gesso na agricultura 227

bom índice para compararo efeito de calagens e gessagens no subsolo, mas


apenas para comparar resultados no mesmo solo ou solos similares. Não
serve para aferir o grau de acidez para raízes de plantas, por exemplo. Por
outro lado, é possível ter uma idéia das características eletroquímicas do
solo. Utilizando a relação de saturação por bases e pH estabelecidos para a
superfície, pode-se comparar o pH avaliado, em água ou em CaCL,, com o
valor que seria esperado para a saturação por bases da amostra do subsolo.
Se o valor for maior, o solo tenderá a ser mais eletropositivo e responder
melhor ao gesso; se for menor, tenderá a ser mais eletronegativo e responder
menos ao gesso.
g) Argila - É um dos mais importantes atributos do solo. Solos com
mais argila retêm mais água e são menos suscetíveis a veranicos. O teor de
argila é utilizado diretamente para estabelecer a quantidade de gesso a aplicar
(Equação 13.5). Contudo,o critério é precário, considerando que nãoé levada
em conta a mineralogia, ou melhor, a “capacidade de adsorção de gesso” do
solo.
h) CTC - A capacidade de troca de cátions é um atributo dos mais
importantes e tem relação com a utilização de gesso. À CTC da fração
argila, expressa em mmol./dm” ou em mmolvkg de argila (vide Equação
6.12), é um importante indicador da atividade do solo. Solos oxídicos tendem,
no Brasil, a apresentar valores baixos, o que favorece a ação do gesso em
subsolos muito ácidos.
i) Matéria orgânica - No subsolo, a matéria orgânica tem relação
com o teor de argila. Embora seja conhecido que solos maisargilosos contêm
maiores teores de matéria orgânica, dentro de mesmas texturas, ocorrem
teores bastante variáveis de matéria orgânica em solos, inclusive subsolos.
Teores relativamente maiores de matéria orgânica reforçam o caráter
eletronegativo do solo, o que é menos favorável à ação do gesso como
melhorador do subsolo.
j) SO- O ânion sulfato e sua distribuição ao longo do perfil
amostrado, até 100 cm, revelam o efeito do gesso em solos. Os resultados
devem ser expressos em mmol,/dm” de SO,” e não em mg/dm” de S, para
que seja possível comparar as quantidades com os cátions aplicados, além
de somar com outros ânions. Teores baixos de sulfato ao longo do perfil do
solo indicam que não houve aplicação. Por outro lado, em solos que
receberam quantidades consideráveis de enxofre, em gesso ou em adubos,
deve-se encontrar sulfato ao longo do perfil, de forma semelhante à mostrada
na figura 10.3 e nas tabelas 11.2 e 12.5 Com figuras desse tipo é possível
estabelecer a capacidade máxima de retenção de sulfato em condições de
campo com livre percolação de solução de sulfato de cálcio.
228 Gesso na agricultura

D NOy- A presença de nitrato em amostras de subsolo pode ser um


importante indicativo de que o ânion não está sendo absorvido pelas plantas
por existir uma barreira química que impede asraízes de absorvê-lo.
m) CF - A presença de cloreto, em climas úmidos, indica até onde
chegouo efeito dos adubos ao longo do perfil.
n) Condutividade elétrica - Esta é uma determinação muito
interessante para avaliar o efeito do gesso em solos e para acompanhar sua
movimentação no subsolo. Na figura 10.5 observa-se que o efeito do gesso
em aumentar a condutividade elétrica pode persistir por dezesseis anos e
provavelmente muito mais.
0) Boro - Este micronutriente é lixiviado através do perfil do solo com
muita facilidade. Trata-se de elemento que, tal como o cálcio, precisa estar
presente na região de desenvolvimento das raízes, visto não se translocar
da parte aérea das plantas para as raízes. Assim, em subsolos deficientes
em boro, o desenvolvimento inadequado das raízes pode, eventualmente,
ser atribuído erroneamente à deficiência de cálcio ou toxidez de alumínio.
p) Classificação de solos - Não existem, de forma geral, mapas
detalhados de solos que possam servir para o planejamento direto das:
propriedades. Contudo, é interessante tentar identificar, pelo menos
aproximadamente, as unidades de solo da área trabalhada, com base em
levantamentos de solos regionais, e procurar informações,tais comoatividade
de argila, relações ki e kr, delta pH etc., que podem ajudar a explicar o
comportamento das plantas frente ao gesso.
Essalista de atributos mostra os recursos disponíveis para avaliar a
fertilidade do subsolo. Naprática, somente o teor de Ca” e a saturação por
alumínio já são muito informativos para inferir sobre a possibilidade de
resposta ou não de culturas a gesso.

14.3 Quanto calcário e gesso aplicar

Calagem e gessagem são práticas agrícolas de múltiplosefeitos sobre


a reação do solo, tendo em consequência efeitos na absorção de nutrientes
ou elementos tóxicos. Dessa forma, é muitas vezes difícil isolar causas €
efeitos. Acrescentem-se as diferenças de comportamento dasplantas frente
à acidez e, principalmente no caso do gesso, o fato de a planta precisar ou
não buscar águae nitrato no subsolo.
A calagem em sistemas de plantio direto, na opinião deste autor, deve ser
feita de acordo com as recomendaçõesexistentes para o plantio convencional,
pelo menosaté que a pesquisa conclua por alternativa melhor. Lembre-se que
Perspectivas para o uso de gesso na agricuitura 229

amostragem de O a 20 cm e aplicação de calcário na superfície são usadas há


muito tempo em culturas perenes, como café, citros e pastagens. Dessa forma,
não parece haver necessidade dealterar os critérios vigentes.
Quanto ao gesso, as quantidades recomendadas não são elevadas e
poderiam provavelmente ser aumentadas em solos com capacidade
considerável de retenção de sulfato. Também isso deve ser feito com cuidado.
Ressaltem-se, contudo, os resultados apresentados na tabela 13.2, que
indicam necessidades de gesso bem acima das quantidades recomendadas
para obter produção máxima, principalmente para cana-de-açúcar, algodão
e um experimento com soja. Comoo gesso pode apresentar um prolongado
efeito residual, de muitos anos, há um resultado econômico favorável que se
acentua com o tempo.
Resultados conclusivos sobre quantidades de gesso a aplicar dependem
de experimentação de campo, em que devem ser avaliados os efeitos de
doses de calcário e gesso sobre a produção.
No caso de solos sódicos, em geral se usa gesso, maso calcário também
pode ser aplicado, pelo menos em parte, se o solo não for muito alcalino.

14.4 Sugestões de pesquisa

A pesquisa com gesso neste capítulo prioriza assuntos que podem dar
respostas em pouco tempo sobre o uso de gesso e indicar caminhos para
assuntos que requerem detalhamento.

14.4.1 Diagnóstico da fertilidade do subsolo

Este é um trabalho essencial para fornecer uma idéia de como estão


os soloscultivados no que se refere a atributos que digam respeito à aplicação
de gesso. Sugere-se amostragem de solo em camadas de 20 cm, até a
profundidade de 100 cm.
Essa amostragem pode ser feita em propriedades e até em grandes
regiões, desde que se tenha algum critério para definir as áreas que serão
amostradas. É possível prever uma grande importância na agricultura de
precisão, como um critério importante para diagnosticar diferenças em
produtividade. As determinações a serem feitas podem ser todas as
indicadas em 14.2, ou apenas parte delas. Como mencionado, são
fundamentais apenas o teor de cálcio e a saturação por alumínio para
estabelecer se há ou não possibilidade de barreira química. As demais
determinações, contudo, são muito úteis para entender melhor o
comportamento do gesso no subsolo.
230 Gesso na agricultura

14.4.2 Validação de tecnologia de calagem e gessagem

Duas hipóteses suportam a proposta feita aqui. Ambas assentam-se


sobre a premissa de que não se deve mais tratar de corrigir apenasa acidez
da camada superficial do solo, mas sim melhorar também o ambiente radicular
ao longo do perfil.
A primeira hipótese refere-se à calagem e parte do princípio de que,
mesmo no plantio direto, a correção efetiva do subsolo pela calagem é
importante para o melhor enraizamento dasplantas a maiores profundidades.
Como o calcário é aplicado na superficie, onde a dissolução é mais difícil,
inclusive dependendo da reatividade do material, devem ser aplicadas
quantidades elevadas. A segunda hipótese considera que há evidências de
que o aproveitamento da água do subsolo pode ocorrer a profundidades
consideráveis do solo, a mais de 100 cm, significando que o melhoramento
do subsolo deve atingir essa parte mais profunda do solo.
Essa experiência é sugerida a produtores que queiram testar os seus
limites e é válida para qualquer cultura. À área escolhida pode ser do tamanho
que for considerado conveniente, podendo ser de 100, 1.000 ou 10.000 (1 ha)
m. O fundamental é que o diagnóstico indicado em 14.3 mostre que o subsolo
tem problemas prováveis de barreira química, ou seja, cálcio baixo e saturação
por alumínio alta. As quantidades de calcário a aplicar devem ser calculadas
para até | m de profundidade. Através da Equação 2.1, calcular, para cada
camada de solo de 20 cm, a necessidade de calagem para saturação por bases
de 50%. Somar e fazer a correção pelo PRNTpara o calcário queserá utilizado.
O gesso será aplicado com base em teste de adsorção realizado nas
cinco camadas de 20 cm de solo, até 100 em.
Aplicar o calcário e o gesso na superfície do solo, sem incorporar.
Aplicar na área micronutrientes e potássio, para evitar problemas de
deficiência desse nutriente. Realizar as colheitas e comparar as produções
com as das áreas adjacentes.

14.4.3 Experimentos fatoriais calcário x gesso

A versão mais simples consiste em aplicarcalcário e gesso, obter


dados de produção e ajustar superfícies de resposta para realizar cálculos
econômicos. Estudos mais aprofundados de solos e de nutrição podem ser
realizados, dependendo da disponibilidade de recursos. No mais,as instruções
são as mesmas de 14.4.2, Sugere-se um esquema fatorial 4 x 4, dando
dezesseis combinações, aplicando, tanto para calcário como para gesso, 0,
0,25, 0,50 e 1,00 das quantidades de calcário e gesso sugeridas em 14.4.2.
230 Gesso na agricultura

14.4.2 Validação de tecnologia de calagem e gessagem

Duas hipóteses suportam a proposta feita aqui. Ambas assentam-se


sobre a premissa de que não se deve mais tratar de corrigir apenas a acidez
da camada superficial do solo, mas sim melhorar também o ambiente radicular
ao longo do perfil.
A primeira hipótese refere-se à calagem e parte do princípio de que,
mesmo no plantio direto, a correção efetiva do subsolo pela calagem é
importante para o melhor enraizamento das plantas a maiores profundidades.
Como o calcário é aplicado na superficie, onde a dissolução é mais dificil,
inclusive dependendo da reatividade do material, devem ser aplicadas
quantidades elevadas. A segunda hipótese considera que há evidências de
que o aproveitamento da água do subsolo pode ocorrer a profundidades
consideráveis do solo, a mais de 100 cm,significando que o melhoramento
do subsolo deve atingir essa parte mais profunda do solo.
Essa experiência é sugerida a produtores que queiram testar os seus
limites e é válida para qualquer cultura. A área escolhida pode ser do tamanho
que for considerado conveniente, podendo ser de 100, 1.000 ou 10.000 (1 ha)
m. O fundamental é que o diagnóstico indicado em 14.3 mostre que o subsolo
tem problemas prováveis de barreira química, ou seja, cálcio baixo e saturação
por alumínio alta. As quantidades de calcário a aplicar devem ser calculadas
para até 1 m de profundidade. Através da Equação 2.1, calcular, para cada
camada de solo de 20 cm, a necessidade de calagem para saturação por bases
de 50%. Somare fazer a correção pelo PRNT para o calcário que será utilizado.
O gesso será aplicado com base em teste de adsorção realizado nas
cinco camadas de 20 cm de solo, até 100 cm.
Aplicar o calcário e o gesso na superfície do solo, sem incorporar.
Aplicar na área micronutrientes e potássio, para evitar problemas de
deficiência desse nutriente. Realizar as colheitas e comparar as produções
com as das áreas adjacentes.

14.4.3 Experimentos fatoriais calcário x gesso

À versão mais simples consiste em aplicar calcário e gesso, obter


dados de produção e ajustar superfícies de resposta para realizar cálculos
econômicos. Estudos mais aprofundados de solos e de nutrição podem ser
realizados, dependendo da disponibilidade de recursos. No mais,as instruções
são as mesmas de 14.4.2. Sugere-se um esquema fatorial 4 x 4, dando
dezesseis combinações, aplicando, tanto para calcário como para gesso, 0,
0,25, 0,50 e 1,00 das quantidades de calcário e gesso sugeridas em 14.4.2.
Capítulo 15
Conclusões

discussão e as informações apresentadas neste livro, sobre o uso de


gesso na agricultura, permitem as seguintes conclusões:
15.1. O gesso é um insumo agrícola que melhora o sistema radicular das
plantas no subsolo; por ser um sal solúvel, penetra no subsolo. O
aprofundamento radicular promovido pelo gesso favorece a absorção de
-água de camadas mais profundas do solo, conferindo às culturas maior
resistência à seca em veranicos e safrinhas. Espera-se maior atenção para
o assunto considerandoo sistemade plantio direto, em que o efeito do calcário
aplicado na superfície do solo tem ainda menor influência na acidez do subsolo
que no cultivo convencional, podendo o gesso ter importante efeito
complementar ao melhorar o ambiente radicular de camadas mais profundas
do solo.
15.2. Solos ácidos podem apresentar uma barreira química no subsolo,
ocasionada pela acidez, que impede ou dificulta o desenvolvimento das raízes.
Nesses casos, em diversos tipos de solos, mas não todos, o gesso pode
estimular o enraizamento profundo no subsolo. Essa ação ocorre pelo
aumento dos teores de cálcio, redução da saturação por alumínio e, em
alguns casos, efetiva redução da acidez do subsolo.
15,3. O principal tipo de gesso disponível no Brasil é o fosfogesso, subproduto
da fabricação de ácido fosfórico. Existe excesso desse material próximo
das indústrias em que é produzido, em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Além desse, existe o gesso de mineração, a gipsita, produzido em maior
escala em Pernambuco. Os dois produtos podem ser usados na melhoria de
subsolos ácidos e na correção de solos sódicos.
15.4. O principal constituinte do fosfogesso é o sulfato de cálcio, sendo
cálcio e enxofre, na forma de sulfato, seus principais constituintes. O material
não contém impurezas químicas quantitativamente importantes do ponto de
vista ambiental ou alimentar. Contém micronutrientes em quantidades
232 Gesso na agricultura

importantes do ponto de vista agricola. Comoé de elevada umidade, o materia]


possui condições físicas que dificultam a aplicação.
15.5. O gesso é excelente fonte de cálcio e enxofre para as plantas. O
cálcio, na forma de sulfato, tem-se revelado uma fonte diferenciada, em
diversos casos, aumentando os teores de cálcio em plantas em proporção
maior do que quantidades equivalentes de carbonato de cálcio. O sulfato de
cálcio promove o desenvolvimento radicular emcertos solos deficientes em
cálcio ou com saturação por alumínio elevada.
15.6. O gesso interage de forma diferenciada com o solo, dependendo da
matéria orgânica e da natureza da mineralogia da fração argila. À adsorção
de sulfato é um dos principais fatores envolvidos, sendo a retenção desse
ânion e, consequentemente, do gesso, diminuída pela matéria orgânica e
minerais de argila, e aumentada pela presença de óxidos hidratados de ferro
e alumínio. Em consegiiência, a ação mais acentuada do gesso ocorre em
profundidade no perfil do solo. Efeitos mais acentuados do gesso estão ligados
às características do solo e são mais esperados, de uma forma geral, nos
solos mais intemperizados do Brasil Central.
15.7. A ação do gesso em solos é governada pelas propriedades
eletroquímicas do solo. A maior parte dos solos brasileiros enquadra-se
em solos de cargas variáveis, com carga negativa aumentando com a
elevação do pH e cargas positivas, quando presentes, desenvolvendo
em pH mais baixo, o que significa em camadas mais profundas do solo.
O desenvolvimento de cargas elétricas em solos pode ser previsto pela
teoria da dupla camada elétrica, permitindo inferências sobre solos com
base em sua classificação.
15.8. O gesso, sendo um sal solúvel, penetra no solo, sendo em geral
rapidamente removido da camada superficial por lixiviação. A adsorção de
sulfato no subsolo, nos solos em que ocorre, promove aumento da
concentração de sulfato e cálcio na solução do solo, o que reduz a toxicidade
de alumínio para raízes de plantas. Em alguns solos ocorre a efetiva redução
de alumínio. Por outro lado, em solos que pouco retêm sulfato, os sais
decorrentes da aplicação do gesso serão rapidamente removidos pelas água
de percolação.
15.9. O gesso tem efeito floculante no solo, reduzindo a dispersão de argila.
Este é um efeito há muito conhecido em solos sódicos, contudo revela-se
também em solos ácidos. Há registro de efeitos favoráveis do gesso em
evitar formação de crostas superficiais ou em reduzir o adensamento de
camadas do subsolo. O gesso pode, também, influir de forma favorável na
condutividade hidráulica de solos.
Conclusões 233

15.10. Há dados experimentais revelando o efeito favorável do gesso para


milho, com melhor desenvolvimento de raízes no subsolo e consegiiente
aumento na absorção de água e de nitrogênio nítrico. Melhores resultados
são conseguidos com combinações de calcário e gesso. Nos Estados Unidos
foram obtidos resultados positivos com gesso dezesseis anos apósa aplicação,
com aumento na produção de milho.
15.11. Para cana-de-açúcar há resultados de experimentos fatoriais com
calcário e gesso em seis locais, cinco apresentando efeito favorável dos
tratamentos na produção. O efeito máximo sobre a produção foi conseguido
com combinações de doses de calcário e gesso. Nesses casos, as atuais
recomendações de calagem e gessagem são inferiores àquelas necessárias
para a produção máxima econômica, apontando para maiores aplicações dos
insumos como um fator para aumentar a produtividade da cultura.
15.12. Para soja há dados experimentais indicando efeito positivo da
gessagem. Quandoavaliada em presença da calagem, os melhores resultados
são conseguidos com combinações de calcário e gesso. No caso do algodão
foram obtidos resultados favoráveis pela gessagem, mesmo em solo com
subsolo não muito ácido. Também nesse caso o melhor resultado é obtido
com combinação de calcário e gesso. Respostas a gesso foram verificadas
para café e maçã.
15.13. O gesso é o principal insumo para a correção de solos sódicos, atuando
na permuta de sódio, elemento que degrada a estrutura do solo, por cálcio,
elemento que promove a melhoria da estrutura. Em solos ácidos, o gesso
age em profundidade e, por essa razão, o diagnóstico deve ser embasado
em amostra de solo do subsolo, em geral de 20 a 40 cm de profundidade. As
recomendações atuais baseiam-se no teor de cálcio e na saturação por
alumínio como critérios de diagnose e no teor de argila do solo para
quantificação das aplicações. As quantidades indicadas raramente chegam
a 4 t/ha, o que torna as recomendações seguras, porém atingindo não mais
de cerca de 50 cm de solo. Há informações que apontam para a vantagem
de maiores aplicações de gesso, com melhor especificação de profundidades
a serem atingidas e com quantificação de doses, levando em conta a
capacidade de “adsorção de gesso” pelos solos.
15.14. Há grande possibilidade de ampliação do uso de gesso na agricultura.
Para confirmar esta afirmação, são necessárias amostragens de solos mais
profundas, para verificar a ocorrência de barreira química no subsolo.
Constatada essa presença, devem ser avaliadas aplicações mais elevadas de
calcário e gesso, almejando correções mais profundas do perfil do solo. Isso
podeser feito em tratamento único, em áreas de validação de pesquisa, ou em
experimentos fatoriais quantitativos, com combinações de doses de calcário e
gesso. Nos dois casos devem ser prevenidas deficiências nutricionais.
ESSO na agricultura - Tecnologia para solos tropicais

enorme extensão de solos ácidos no Brasil não encontra paralelo no mundo.


Eles predominam em quase todas as regiões.”

"Toxidez de alumínio e, com menos frequência, deficiência de cálcio no solo,


afetam o desenvolvimentodas raizes, até impedindo seu crescimento.”

“Nesses casos, diz-se que há


no solo uma barreira química decorrente da acidez elevada.”

“Em diversos tipos de solos, mas não em todos, o gesso pode estimular
o enraizamento profundo no subsolo."

"Toda a prática da correção da acidez, já complexa porsi só, pelos múltiplos


fatores envolvidos, passou a ser vista também pela ótica do perfil do solo,
ou do subsolo, onde as raízes das plantas também podem atuar
em busca de água e nutrientes."

"Gesso, um sal solúvel que se movimenta através do perfil, é eficaz


em favorecer as raízes em rompera barreira química do subsolo.”

"Emsolos ácidos, o gesso age em profundidade e, por essa razão,


o diagnóstico deve ser feito com base em amostra do subsolo."

"Melhores resultados são conseguidos com combinações


de calcário e gesso."

ny

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