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Parte V - Drenagem para controle

da salinidade e recuperação
de áreas afetadas por sais
Drenagem agrícola no manejo
20 dos solos afetados por sais
Vera L. A. de Lima1, Maria S. S. de Farias1 & João C. F. Borges Júnior2

1 Universidade Federal de Campina Grande


2 Universidade Federal de São João del-Rei

Introdução
Drenagem agrícola e salinidade
Diagnóstico de problemas de drenagem
Profundidade do lençol freático
Poços de observação
Condutividade hidráulica do solo
Porosidade
Critérios de drenagem
Envoltórios
Aplicação de modelos na drenagem agrícola
Modelagem com base no balanço hídrico e de sais na zona radicular
Modelagem com base na equação de Richards (ER) e na equação de convecção-
dispersão (ECD)
Critérios de dimensionamento implementados na modelagem
Exemplo de aplicação
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
370 Vera L.A. de L. et al.

Drenagem agrícola no manejo


dos solos afetados por sais

INTRODUÇÃO saneamento e mitigação de impactos ambientais.


Conceitos atuais, como de drenagem controlada,
A necessidade do aumento da produção agrícola, a Biodrenagem, tem sido consolidados.
criação de novas demandas e a perspectiva de Exemplos de insucesso, em Projetos de Irrigação pelo
desenvolvimento levou alguns setores a procurarem não uso da técnica de drenagem, podem ser citados
meios de produção mais eficientes, nesse contexto como os casos ocorridos nas áreas do Departamento
inscreve-se a ampliação das áreas irrigadas, essa ação Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS),
na perspectiva da sustentabilidade ambiental deve localizadas no Polígono das Secas, onde pelo menos
contemplar um manejo eficiente da drenagem agrícola, 3.268 ha estão desativados, o que corresponde a 13,7%
minimizando os impactos nos solos, principalmente no das superfícies irrigadas em operação nos projetos de
que diz respeito aos processos de salinização e ou irrigação. Em alguns perímetros, a área salinizada atinge
sodificação. porcentuais elevados, como Sumé, PB, com 30,1%, Vaza
Tradicionalmente, tem-se como objetivo da drenagem Barris, BA, com 29,4%, Jucurici, BA, com 23,l% e São
possibilitar condições ambientais propícias ao Gonçalo,PB, com 22,0%( Barreto et, al. 2004).
desenvolvimento de plantas, além de preservar
propriedades físicas e químicas do solo (Ferreira, 2001). DRENAGEM AGRÍCOLA E SALINIDADE
Em regiões de clima úmido, a drenagem propicia a
retirada do excesso de água no perfil do solo, criando Embora os solos afetados por sais ocorram
condições de aeração, que permitam o desenvolvimento extensivamente, sob condições naturais, os problemas de
adequado das culturas, e de execução de operações maior importância econômica para a agricultura surgem,
mecanizadas, como preparo de solo e colheita. quando solos produtivos tornam-se salinizados
Em regiões irrigadas de clima árido ou semiárido, a (salinização secundária), como resultado da irrigação mal
drenagem é implantada como vistas à manutenção do operacionalizada, uma vez que um projeto de irrigação
lençol freático a profundidades suficientes para controle envolve elevados custos para o produtor, seja na
da concentração de sais na solução do solo em níveis aquisição de equipamentos e obras de infra-estrutura
adequados à produção agrícola, além da retirada de como na operação dos sistemas. Segundo Tanji (1990) e
lâminas percoladas advindas de excedentes de irrigação Rhoades et al. (1992), a ameaça de salinização
ou chuva ou da aplicação de lâminas de lixiviação. antropogênica e elevação das superfícies freáticas, aliada
Nestas regiões, portanto, verifica-se a expressiva às recentes descobertas de elementos tóxicos nas águas
retirada de sais de áreas produtivas ou em recuperação de drenagem, constituem-se a principal dificuldade para
por meio da drenagem. a sustentabilidade da agricultura irrigada.
A drenagem deve ser vista, portanto, integrada a outros As culturas, quando produzidas em regiões áridas
processos, como irrigação e, ou subirrigação, de modo a consumem grandes quantidades de água segundo
promover um manejo adequado de água e solo, orientado Smedema & Shiati (2002), enquanto a produção de 1 kg
conforme objetivos diversos, como produção agrícola, de grão em zona temperada consume menos do que 0,5
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 371

m3 de água nas zonas áridas são necessários de 1.5–2.5 A destinação adequada da água de drenagem inclue
m 3 . O elevado consumo de água nesta atividade a redução dos volumes de água drenada, o uso de bacias
contribui para elevar a concentração de sais no solo e de evaporação, o reuso da água de forma direta ou pela
nas fontes de água. mistura com água de boa qualidade para a irrigação e o
A acumulação de sais, na rizosfera, prejudica o emprego da biodrenagem. Este sistema consiste em
crescimento e desenvolvimento das culturas, provocando remover, por meio do uso de vegetação, da água perdida
um decréscimo de produtividade e, em casos mais por percolação, nos sistemas de irrigação. Thiyagarajan
severos, pode levar a um colapso da produção agrícola. & Umadevi (2006) confirmam que o uso da vegetação,
Isto ocorre em razão da elevação do potencial osmótico ou biodrenagem pode ser combinado a drenagem
da solução do solo, por efeitos tóxicos dos íons específicos convencional promovendo a disposição dos efluentes com
e alteração das condições físicas e químicas do solo. menor custo e de forma ambientalmente adequada.
Desta percepção, elucida-se que diante da Na concepção de um projeto de irrigação, quando da
problemática econômica e ambiental da salinização na etapa de diagnóstico da área, deve ser incluído na
agricultura, é essencial a indicação de medidas que avaliação estudos de drenagem, com objetivo de elaborar
apontem soluções concretas para o problema um projeto considerando as necessidades de implantação
apresentado. Diversos pesquisadores afirmam que um dos da drenagem na área. O plano de monitoramento do
meios mais efetivos para controlar o problema da sistema, deve fazer parte do projeto, só assim é possível
salinidade consiste na lixiviação dos sais e no fazer uma retroalimentação de ações estratégicas que
rebaixamento do lençol freático, o que pode ser viabilizado possam ser implantadas no projeto.
aplicando-se uma lâmina de irrigação extra e construindo Manter uma produtividade satisfatória das culturas
sistemas de drenagem subterrânea, que possibilitem em áreas intensamente irrigadas, depende de uma
coletar e conduzir a água salina de drenagem para fora drenagem adequada. Em longo prazo, a sustentabilidade
da área irrigada. da atividade agrícola sem a drenagem é questionável, em
Sales et al. (2004) analisando o desempenho de um termos de se manter não só a integridade ambiental e o
sistema de drenagem subterrânea em área cultivada com lençol freático baixo mas, também, a própria
a cultura da videira no Ceará, constataram que embora o produtividade das culturas, devido aos riscos acelerados
sistema de drenagem reduziu os níveis de salinidade do de encharcamento e salinidade na zona radicular efetiva
solo, que antes da instalação da drenagem alcançava das culturas (Manguerra & Garcia, 1997). Esses riscos
valores de até 10 ds m-1 , para uma faixa de salinidade podem ser prevenidos por um controle melhor da água,
que não apresenta riscos para a cultura. assegurando-se que todo projeto de irrigação tenha uma
A fração da água de irrigação, que percola, drenagem adequada (Garcia et al., 1992; Datta et al.,
normalmente arrasta consigo sais solúveis, fertilizantes, 2000).
resíduos de defensivos e de herbicidas, nutrientes e outros
produtos químicos de modo que, o efluente da drenagem DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS
subterrânea constitui uma fonte de contaminação das DE DRENAGEM
águas, a jusante do perímetro irrigado Lima (1998).
Frota Júnior et al. (2007) investigando a influência O conhecimento e diagnóstico dos problemas de
antrópica na adição de sais no trecho perenizado da bacia drenagem agrícola têm como principal finalidade
hidrográfica do Rio Curu, Ceará concluíram que as maiores determinar a extensão da área com problemas de
alterações foram registradas quando as águas cruzavam drenagem, identificar as causas dos excessos de água,
perímetros irrigados e áreas urbanas, expressando a ação quantificar as entradas e saídas de água, a freqüência e
antrópica sobre a qualidade das águas superficiais na bacia duração das recargas, determinar a profundidade do
do Curu, sendo que o íon que apresentou maior incremento nível freático e sua relação com a precipitação e os
na sua concentração foi o sódio; níveis das águas superficiais da área de entorno.
Os impactos da irrigação na elevação da salinidade O diagnóstico compreende o estudo básico sobre o
das águas dos rios é destacada por Smedema & Shiati solo, precipitação, águas superficiais e subterrâneas, para
(2002) como um problema que ocorre quase sempre nas tanto é necessário o levantamento de dados da área por
áreas semi-áridas ou áridas e que está diretamente meio de fotografias aéreas, mapas topográficos e de
relacionada com a retirada da água, de boa qualidade, do solos, e dados de clima, cultivos,
rio para atender a irrigação e o retorno da água de O levantamento topográfico deverá fornecer
drenagem salina para o rio, ocasionando a degradação da informações sobre a localização de pontos de descarga
qualidade da água a juzante da área irrigada. do sistema de drenagem subterrâneo. A partir desta
372 Vera L.A. de L. et al.

análise, sendo necessário implantação de um sistema de A B


drenagem deverá ser realizado levantamento com escala
adequada à área analisada; curvas de nível adequadas ao
relevo / natureza do terreno; delimitação do terreno,
demarcando as vias de entorno; referências topográficas
e geográficas: edificações, cercas, estradas, caminhos e
no mínimo dois pontos de referência com as respectivas
cotas, de fácil identificação no campo, para verificação
do levantamento topográfico; delimitação das áreas onde
ocorre vegetação de maior porte, se houver;
detalhamento dos acidentes topográficos e geográficos
levantados em campo.

Profundidade do lençol freático


Para um tratamento adequado dos problemas de
drenagem é necessário o conhecimento das flutuações do
nível freático no espaço e no tempo. A profundidade do
lençol freático pode ser determinada através do uso de
poços de observação, piezômetros, sendo o poço de
observação o mais utilizado nas pesquisas de drenagem.
A partir dos dados da profundidade do lençol em 16 16

relação à superfície do terreno são construídos mapas de 14 14

isoprofundidade, ISOBATAS (profundidade do lençol) 12 12

Figura 1A. Este é o mapa mais importante para mostrar 10 10

áreas com problemas de drenagem subterrânea. 8 8

Os mapas de elevação do Lençol freático em relação 6 6

4 4

a um plano de referência ou de ISOHYPSAS, Figura 1B 2 2

fornecem dados de: gradiente hidráulico, direção do fluxo, 0


0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

área de recarga ou descarga e o valor relativo da Figura 1. (A) Mapa de Isobatas; (B) Mapa de Isoypsas
condutividade hidráulica.

Poços de observação
São poços perfurados com trado manual, revestidos
ou não com tubos de 1 a 2 polegadas, perfurados ou
ranhurados de modo a permitir a entrada da água do
lençol freático, devem ser envelopados com tela de
material sintético. Recomenda-se deixar uma sobra no
tubo a partir da superfície do terreno de 0,50 m e usar um
tampão na extremidade superior.
Entretanto, devido à sua simplicidade podem sofrer
obstruções e outros efeitos destrutivos que os inutilizam
especialmente se o solo for instável. Assim convém tomar
certos cuidados a fim de preservar a sua funcionalidade
por um tempo prolongado. A Figura 2 mostra o esquema Figura 2. Esquema de um poço de observação
de um poço de observação.
Para se conhecer a situação do lençol freático em a seguinte densidade de pontos de observação em função
uma área são necessárias informações de vários pontos da área (Tabela 1), segunda Ridder (1974).
motivo pelo qual se deve instalar uma rede de poços na As medições da profundidade do lençol freático
área em estudo. Recomenda-se que sejam instalados em podem ser realizadas: semanais, quinzenais ou mensais,
locais de fácil acesso em qualquer tempo e sua posição dependem do objetivo do estudo, pode ser utilizada uma
deve ser imediatamente identificada a fim de não sonda que emita um som ao entrar em contato com a
prejudicar a coleta sistemática de dados. Recomenda-se água ou uma sonda elétrica, entre outros.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 373

Tabela 1. Número de poços de observação por área constante de proporcionalidade entre o gradiente e o
Área (ha) Número de Pontos de Observação fluxo de um meio poroso.
100 20 A determinação de K 0 pode ser feita através de
1.000 40 métodos de laboratório e de campo, em que os de
10.000 100 laboratório mais usuais, são: permeâmetro de carga
100.000 300 constante e carga variável. Os métodos de campo, são
mais precisos, tendo em vista o maior volume de solo
Os níveis de água de superfície em contato com a considerado sem alteração da sua estrutura. No campo,
água subterrânea não podem ser esquecidos nesse tipo destacam-se os métodos que usam o princípio do fluxo
de levantamento. A água de um curso natural é contínuo, como o furo de trado (poço), os de fluxo
alimentada basicamente pelo lençol freático. Quando isso constante, sendo que o princípio do fluxo contínuo é mais
ocorre continuamente, o curso é perene ou efluente. utilizado; os mais aplicados são o do furo de trado (não
Quando o nível freático é rebaixado durante certo tempo, aconselhado para solos arenosos) e o método de Porchet,
o curso passa a ser intermitente ou afluente. A também conhecido como método inverso, uma vez que
verificação do nível de um curso d’água ou lago que mede a K0 na ausência do lençol freático (Barreto et al.,
estejam em contato com o lençol freático é de grande 2004).
utilidade. Os métodos de laboratório apresentam o
Farias (1999) avaliando a profundidade do lençol inconveniente de usarem amostras de tamanho reduzido,
freático no Perímetro irrigado de São Gonçalo-PB, e, portanto, representativas de pequeno volume de solo.
verificou que aproximadamente 80% da área avaliada, Os métodos de campo, são mais precisos, tendo em vista
encontrava-se com o lençol freático próximo a superfície, o maior volume de solo considerado sem alteração da
indicando a necessidade de implantação de um sistema sua estrutura.
de drenagem na área. Não sendo possível, medir a condutividade hidráulica,
Com base no diagnóstico, deverão ser identificadas e valores de referencia podem ser encontrados em livros
apresentadas as áreas de solo que necessitam a de drenagem em função do tipo de solo (Tabela 2).
implantação de sistema de drenagem subterrânea,
imediata, ou seja, juntamente com a implantação do Tabela 2. Valores de condutividade hidráulica para solos de
projeto de irrigação; áreas que poderão necessitar diferentes texturas
drenagem subterrânea após o início da irrigação da área Tipo de Solo Condutividade Hidráulica (m dia-1)
e áreas que não necessitarão de drenagem subterrânea, Textura fina < 0,036
Textura media 0,036 - 1,560
mesmo após a introdução de irrigação.
Textura grossa 1,560 - 3,000
Turfa 3,000 - 6,000
Condutividade hidráulica do solo Fonte: Silveira (1992)
Back et al. (1990) afirmam, que para a aplicação das
equações de drenagem, deve-se conhecer a No Perímetro irrigado de São Gonçalo-PB (Barreto
condutividade hidráulica do solo saturado, a et al., 2004) constataram grandes variações espaciais,
macroporosidade, a estratigrafia do perfil, os parâmetros horizontal e vertical, nos valores da condutividade
geométricos do sistema, o critério de drenagem e a hidráulica saturada, no solo aluvial estudado atribuídas,
recarga do lençol freático; entretanto, essas variações em parte, à gênese e à evolução do solo local, devido aos
processos de sedimentação aluvial. O autor sugere, um
podem, também, estar associadas a efeitos de outros
estudo mais detalhado em campo, utilizando-se um
parâmetros físicos de solo. A condutividade hidráulica
método mais abrangente como o da descarga dos
depende da textura, do arranjo das partículas (estrutura),
drenos, agregando-se a condutividade hidráulica a outros
da dispersão das partículas finas e da sua densidade, e
parâmetros físicos de solo, estudados para fins de
da massa sólida. drenagem.
Entre os parâmetros físicos de solo para fins de
drenagem, a condutividade hidráulica do solo saturado K0, Porosidade
medida no campo, tem a maior importância no A Porosidade total (P) é o nome dado à porção do solo
dimensionamento e planejamento da drenagem interna, não ocupada por sólidos. Essa porção varia de 30 a 60%
particularmente importante quando se busca a eficácia do (0,3 a 0,6). Em geral solos arenosos são menos porosos,
domínio hidrológico para uma decisão correta dos embora seus poros sejam maiores. A porosidade total
critérios de drenagem, em termos de espaçamento entre exerce influência sobre a retenção de água no solo,
drenos, uma vez que o valor de K 0 representa a aeração e enraizamento das plantas.
374 Vera L.A. de L. et al.

A porosidade drenável ou macroporosidade (), salinização dos solos. Nas regiões semi-áridas a definição
representa a proporção de macroporos responsáveis pela dos critérios de drenagem deve conjugar a manutenção
drenagem e aeração do solo Pizarro (1978) e Beltran de uma profundidade que permita condições adequadas
(1986) definem a porosidade drenável como uma fração de aeração na zona radicular dos cultivos, o atendimento
da porosidade total na qual a água se move livremente, a necessidade de lixiviação e minimizar a capilaridade
cujo valor equivale ao conteúdo de ar presente no solo das águas salinas Sarwar et al. (2000).
na capacidade de campo. Em condições de regime
variável a porosidade drenável é utilizada, juntamente ENVOLTÓRIOS
com a condutividade hidráulica do solo saturado (K), para
cálculo do espaçamento entre linhas de dreno. A operação dos sistemas de drenagem requer o
A determinação da porosidade drenável em campos controle do carreamento de partículas do solo, pela água
experimentais de drenagem ou em modelos reduzidos de para o interior do tubo drenante, este transporte de solo
laboratório pode ser feita através de medições pode reduzir significativamente a eficiência do sistema de
simultâneas de descarga de drenos (q) e cargas drenagem. Para o controle deste problema recomenda-
hidráulicas (h). Os resultados obtidos por este se o emprego de envoltório apropriado ao tipo de solo e
procedimento são mais representativos das condições tubo utilizado (Dierickx & Yuncuoglu, 1982).
reais estudadas, por envolver um volume maior de solo Stuyt & Dierickx (2004) enfatizam que o envoltório
nas determinações, o que contribui para a redução da deve ser usado não apenas para proteger o sistema de
variabilidade espacial dos dados (Queiroz, 1997). drenagem da entrada de partículas de solo, mas também
para facilitar a entrada da água nos drenos em razão da
CRITÉRIOS DE DRENAGEM maior permeabilidade que esses materiais criam em torno
da tubulação.
Segundo Oosterbaan (1988) os critérios de drenagem O envoltório pode ser constituído de material mineral,
devem ser definidos para períodos longos, levando-se em sintético ou orgânico (Batista et al., 1998). Materiais
conta a produção da cultura, o solo, o período crítico, e, orgânicos, inclusive resíduos como palhas de arroz, fibras
se possível, obter dados em campos pilotos vizinhos; de coco e folhas podem ser usados como envoltórios,
definir a profundidade do lençol freático mais elevada muitos desses produtos tem apresentado segundo Stuyt
durante o período crítico; fazer um balanço d’água para & Dierickx (2004) desempenho hidráulico superior aos
estes locais e determinar a taxa de descarga nos drenos, materiais utilizados comercialmente.
a cada mês, calculando-se também a descarga média no Almeida (2005) avaliando os envoltórios em manta
período crítico. bidim OP-20, brita zero e espuma encontrou um
Se o regime de fluxo da água para os drenos é desempenho hidráulico satisfatório, Os envoltórios de sisal
constante, o primeiro critério consiste em adotar uma e raspas de borracha provenientes de sandálias inibiram,
descarga específica, s, de forma que o nível freático visualmente, a entrada de partículas do material poroso
permaneça estacionário. O segundo critério estabelece para o interior dos tubos Drenoflex, PVC liso e Kananet
que a profundidade mínima do lençol freático no ponto sendo o envoltório em brita zero superior, seguido do
médio entre dois drenos consecutivos. Se a recarga é material espuma. O autor salienta que a espuma, produto
variável a adoção de critérios de regime permanente sintético à base de poliuretano, pode ser utilizada como
levaria a adoção de sistemas muito densos de custo opção para material envoltório na drenagem,
elevado. Neste caso assevera Beltrán (1986) pode-se apresentando, inclusive, desempenho hidráulico superior
armazenar a água no espaço poroso drenável do solo ao envoltório em manta bidim OP-20.
acima do nível de drenagem, para reter parte da água
que percola. Sarwar et al. (2000) avaliando parâmetros APLICAÇÃO DE MODELOS
hidráulicos em projetos de drenagem no Paquistão NA DRENAGEM AGRÍCOLA
identificaram como principal causa da baixa eficiência
dos sistemas o estabelecimento de critérios baseados Um modelo pode ser considerado como uma
em regime permanente deixando de considerar as representação simplificada da realidade, auxiliando no
condições hidrológicas de campo que eram de regime entendimento dos processos que envolvem esta
variável. realidade. Os modelos estão sendo cada vez mais
A posição ótima do lençol freático depende da relação utilizados em estudos ambientais, pois ajudam a entender
entre o nível freático e a produção dos cultivos, a o impacto das mudanças no uso da terra e prever
trafegabilidade de máquinas agrícolas e os riscos de alterações futuras nos ecossistemas.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 375

Modelos computacionais podem ser utilizados para Precipitação Irrigação


Escoamento
embasar decisões na agricultura. Há décadas, o Superfície
superficial Infiltração
desenvolvimento de modelos vem sendo incentivado para Evapotranspiração do solo
lidar com a complexidade inerente ao planejamento e Zona
radicular
manejo de sistemas de irrigação e, ou drenagem,
Percolação
decorrente do grande número de variáveis e processos Fluxo
ascendente Lençol
envolvidos no sistema solo-planta-atmosfera. Estrato
freático
No escopo da agricultura irrigada, modelos de Dreno Dreno semipermeável
simulação são aqueles nos quais são considerados, de
forma contínua, os efeitos e interações dos processos que Drenagem Drenagem
governam os estados do sistema solo-agua-planta-
atmosfera ou de seus subsistemas (Borges Júnior et al., Sípege
2008). Podem computar o fluxo de água e solutos no
solo e incluir o termo de ascensão e extração da água, Estrato
diferindo quanto às aproximações conceituais, grau de permeável
complexidade e aplicações em pesquisas e propostas de
Estrato
manejo (Tarjuelo & Juan, 1999). De modo geral, as impermeável
aplicações empregam dados meteorológicos (séries
históricas), solo, culturas, manejo de irrigação, Figura 3. Representação esquemática do balanço hídrico na
configurações de sistemas de drenagem. Dados zona radicular e do movimento de água abaixo da zona
financeiros podem também serem requeridos em alguns radicular, considerando-se a drenagem artificial
casos.
Geralmente, modelos mais sofisticados envolvem Vinculado ao balanço hídrico, o balanço de sais tem
maior quantidade de processos descritos e, sido utilizado em modelagem (Prajamwong et al., 1997;
conseqüentemente, maior requerimento de dados de Cai et al., 2003; Borges Júnior, 2004) para monitorar
entrada, devendo-se considerar, na escolha do modelo, os tendências na variação da salinidade em longos períodos
objetivos do estudo em questão e recursos disponíveis. em projetos de irrigação, em larga ou pequena escala,
Diversos modelos computacionais têm sido propostos conforme discutido por Or & Wraith (1997).
para simular processos em sistemas agrícolas sujeitos à A aplicação destes modelos ao delineamento de
irrigação e, ou drenagem. Entre as aproximações sistemas de drenagem em áreas irrigadas de regiões
implementadas nesses modelos, cita-se o balanço hídrico áridas ou semiáridas requer que a dinâmica de sais na
na zona radicular e as soluções numéricas da equação de zona radicular seja considerada, o que permitirá
Richards para escoamento combinado em meio saturado inferências acerca do impacto da salinidade, aliada ao
e não-saturado, em uma, duas ou três dimensões (Skaggs, déficit hídrico, sobre a produtividade de culturas.
1999). Enquanto na primeira categoria se tenha, Modelos computacionais como o DRAINMOD-S
comumente, o balanço de sais vinculado ao balanço hídrico (Kandil et al., 1992; Wahba & Christen, 2006) e o MCID
na zona radicular, aproximações numéricas da equação (Ferreira et al., 2006; Borges Júnior et al., 2008) são
de convecção-dispersão (ECD), relativa ao transporte de exemplos.
solutos no solo, são, geralmente, empregadas em modelos Sendo o movimento de sais dependente do
baseados na equação de Richards. movimento de água no solo, uma abordagem simples
para a dinâmica de sais na zona radicular consiste em
Modelagem com base no balanço hídrico e de sais vincular o balanço de sais ao balanço hídrico. O balanço
na zona radicular de sais na zona radicular para uma área irrigada pode ser
O balanço hídrico na zona radicular é um dos expresso pela Eq. 1:
procedimentos básicos implementados em vários modelos
de simulação aplicáveis como ferramentas de decisão em c Arm , t Arm t  c Arm, t 1A rm t 1  c I, t I t  c FA , t FA t 
irrigação e drenagem, como o DRAINMOD (Skaggs, c TR , t TR t  c PP , t PPt (1)
1981), o SISDRENA (Miranda, 1997) e o MCID (Borges
Júnior et al., 2008). Juntamente com o monitoramento do
teor de água do solo e de dados climáticos, o balanço em que:
hídrico, esquematizado na Figura 3, pode ser empregado cArm - concentração de sais na solução do solo,
no manejo da irrigação e no cálculo de suas componentes, kg m-3;
como a evapotranspiração real e a percolação profunda. t - inteiro representando o intervalo de tempo;
376 Vera L.A. de L. et al.

Arm - lâmina armazenada na zona radicular, m; K(h) - condutividade hidráulica do meio não-
cI - concentração de sais na água de irrigação, saturado, m dia-1.
-3
kg m ;
I - lâmina de irrigação, m; Dividindo-se o perfil do solo em incrementos z, a
cFA - concentração de sais na água freática, Eq. 2 pode ser escrita na forma de diferenças finitas,
kg m-3; como
FA - fluxo ascendente oriundo do lençol freático
(ascensão capilar), m; h i 1  h i
q  K(h i )  K(h i ) (3)
c TR - concentração média de sais na solução Δz
absorvida pelas plantas, kg m-3;
Tr - transpiração real, m;
Explicitando-se a equação acima para hi+1, obtém-se
cPP - concentração de sais na solução percolada,
kg m-3;
Δz
PP - percolação profunda ou lâmina percolada h i 1  h i  Δz  q (4)
K(h i )
para abaixo da zona radicular, m.

É usual considerar que a retirada de sais pelas plantas Nas Eqs. 3 e 4, os valores de h são negativos, assim
é desprezível, ou seja, que cTR é igual a zero. Porém, esta como os valores de q, visto que o eixo de coordenadas
componente pode ser significativa, já que reflete a vertical é orientado para baixo.
absorção de nutrientes, como o potássio, pelo sistema O procedimento para obtenção de valores de
radicular. Vale também notar a capacidade de algumas profundidade do lençol freático correspondentes a
espécies, por exemplo, as do gênero Atriplex (erva sal), determinados valores de fluxo ascendente máximo (qmax)
com notável capacidade de desenvolvimento em consiste das seguintes etapas:
ambientes salinos, bem como de dessalinização de solos.
i. Obter as funções K() e (h) para o solo em
O balanço hídrico em áreas de lençol freático raso
questão, em que  é o teor de água em base volumétrica
requer a estimativa do fluxo ascendente proveniente do
(m3 m-3).
lençol freático (escoamento na região não saturada do
ii. Estabelecer valores de q = qmax, para os quais serão
perfil do solo), que chega à base da zona radicular. Esta
estimativa pode ser baseada na curva característica do calculadas as respectivas posições do lençol freático.
solo, evapotranspiração real da cultura e profundidade do iii. Considerar, como condição de contorno, que o teor
lençol freático. Procedimentos numéricos similares aos de água do solo, junto ao plano que passa pela base da
descritos por Skaggs (1981), Duarte (1997) e Borges zona radicular, é baixo em relação à capacidade de
Júnior (2004), possibilitam a determinação de valores campo. Sugere-se que este valor seja -5 mca (-50 kPa).
máximos do fluxo ascendente, para cada profundidade do A consideração de um baixo valor de potencial matricial
lençol freático em relação à base da zona radicular. Estes na base da zona radicular é empregada visando calcular
procedimentos são relativos à condição de regime o fluxo ascendente máximo, já que quanto menor o valor,
permanente. maior será o fluxo.
A equação para o fluxo ascendente, em qualquer iv. Calcular h2 pela Eq. 4, utilizando o valor de K(-5)
ponto abaixo da zona radicular, pode ser obtida a partir e um dos valores de qmax já estabelecidos.
da Darcy-Buckingham, dada por v. Calcular h3, utilizando o valor de K(h2) na Eq. 4 e,
assim, sucessivamente.
q   K h   K h 
dh
(2)
dz A posição do lençol freático, correspondente ao valor
de qmax utilizado e tendo como referência a base da zona
em que: radicular, é aquela para a qual o valor de h = 0.
q - fluxo ascendente oriundo do lençol freático, A aplicação da técnica acima descrita requer o
-1
m dia ; conhecimento da relação funcional entre condutividade
z - coordenada vertical, positiva para baixo, m; hidráulica e potencial matricial, que pode ser obtida a
h - carga de pressão, m (somatório das partir da curva característica. Considerando que a carga
componentes de pressão e matricial do potencial total da de pressão, h, é igual ao potencial matricial, m, pode-se
água no solo; para meio não saturado, portanto, equivale utilizar o modelo de Genutchen (1980) e Mualem (1976)
ao potencial matricial); para estas funções.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 377

A função (m), conforme descrita pelo modelo de Hydrus1-D (Simunek et al., 2005), com base apenas em
Genuchten (1980), é expressa por: classes texturais.

θS  θ r Tabela 3. Parâmetros dos modelos de Genuchten e Mualem


θ(Ψ m )  θ r 
1  αΨ 
(5) para curva característica e condutividade hidráulica de
n m
m solo não saturado
S r  Kvo
Solo n
(m m )
3 -3 (cm -1
) (m dia-1)
em que:
(m) - teor de água como função do potencial Argiloso 0,4588 0,0982 0,015 1,2529 0,1475
Franco 0,3991 0,0609 0,0111 1,4737 0,1204
matricial m (m), m3 m-3;
Franco
r - teor de água residual do solo, m3 m-3; arenoso
0,3870 0,0387 0,0267 1,4484 0,3825
S - teor de água do solo saturado, m3 m-3;
 - parâmetro com dimensão igual ao inverso
-1 Com os dados presentes na Tabela 1, utilizou-se o
da tensão, m ; e
programa MCID (Borges Júnior et al., 2008) para obter a
n, m - parâmetros adimensionais, em que
variação do fluxo ascendente máximo para diferentes
m = 1-1/n.
profundidades do lençol freático, conforme apresentado na
Figura 4. Na figura, verifica-se que, para uma profundidade
Genuchten (1980) utilizou o modelo estatístico de
do lençol freático igual a 0,5 m, os fluxos ascendentes
distribuição de tamanho de poros de Mualem (1976) para
máximos serão iguais a 6,7, 16,8 e 4,7 mm dia-1, para os
obter uma equação para estimativa da função de
solos argiloso, franco e franco arenoso considerados,
condutividade hidráulica em meio não saturado em
respectivamente, indicando diferentes potencialidades de
termos de parâmetros da retenção de água no solo:
carreamento de sais para a zona radicular.

 
2
K θ   Kvo S ej 1  1  S1/m
m 25

 e  (6)
dia ) dia )
-1

20
-1
máximo (mm(mm

em que:
Fluxo ascendente máximo

15

K() - condutividade hidráulica do solo não-


saturado, em função do ao teor de água , m dia-1;
Fluxo ascendente

10

Kvo - condutividade hidráulica vertical do solo


saturado, m dia-1; 5

Se - teor de água efetivo, adimensional; e


j - parâmetro relativo à conectividade de 0
poros, adimensional. 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Profundidade do lençol freático (m)
Profundidade do lençol freático (m)
Argiloso Franco Franco arenoso

O teor de água efetivo, Se, é dado por Figura 4. Fluxo ascendente máximo para diferentes
profundidades do lençol freático
θΨ m   θr 1
Se  
1  αΨ 
(7)
θ S  θr n m Modelagem com base na equação de Richards (ER)
m
e na equação de convecção-dispersão (ECD)
Lorenzo Adolph Richards (1904–1993) formulou, em
O parâmetro j foi estimado em 0,5, representando 1931, uma equação que governa a dinâmica da água em
uma média obtida para muitos solos (Mualem, 1976; solos não saturados. Trata-se de uma equação diferencial
Simunek et al., 2005). não linear, não tendo, de modo geral, solução analítica.
A aplicação dos procedimentos acima descritos Portanto, requer-se o uso de métodos numéricos para
possibilita verificar, para diferentes solos, o fluxo obtenção de soluções.
ascendente máximo. Para fins de ilustração, estes Em uma dimensão, a equação de Richards (ER) pode
procedimentos foram executados para três tipos de solo, ser expressa por:
cujas características apresentadas na Tabela 3 foram
obtidas por meio do modelo computacional de θ h   h 
 C(h)   K(h)  K(h)  S(h) (8)
pedotransferência Rosetta, implementado no programa t t z  z 
378 Vera L.A. de L. et al.

em que C(h) é a capacidade hídrica específica em função A modelagem em duas ou três dimensões, embora
da carga de pressão, z e t são, respectivamente, as tenha maior requerimento computacional, aplica-se
variáveis de posição e tempo, K(h) é a relação funcional prontamente às zonas saturadas e não saturadas do solo.
entre condutividade hidráulica e carga de pressão e S(h) Permite a consideração adequada da heterogeneidade do
é o termo fonte ou sumidouro de água, que pode ser solo e fluxo preferencial, bem como uma representação
usado para representar a retirada de água pelas raízes de mais realística de estruturas, como drenos e linhas
plantas. subsuperficiais de irrigação, implantadas no sistema a ser
Generalizando para três dimensões, a ER é descrita estudado.
como: Segundo McWhorter & Marinelli (1999), alguns
autores tem empregado simplificações do modelo físico-
θ K z (h)
 .K (h)h  
matemático considerando separadamente o fluxo nas
 S(h)  div q  S(h) (9)
t z zonas não saturada e saturada. Um exemplo é o
programa CSUID (Garcia et al., 1995; Mangerra e
em que K é o tensor condutividade hidráulica, Kz(h) é a Garcia, 1995), em que o fluxo é calculado na zona não
condutividade hidráulica na direção z em função de h, div saturada aplicando-se a equação de Richards na forma
é o operador divergente e q é o vetor fluxo. unidimensional, vinculado à zona saturada em que o a
A equação de convecção-dispersão (ECD), para dinâmica de água é modelada bidimensionalmente pela
transporte de solutos, pode ser escrita como: aplicação da equação de Boussinesq. Em ambas as
zonas, a dinâmica de solutos é modelada pela equação de
θc  convecção-dispersão.
 .cq  θD.c   c' (10) O SWATRE é um modelo para escoamento transiente
t
vertical no solo. O modelo inclui um termo sumidouro
para extração de água pelas raízes e duas funções para
em que escoamento em direção aos drenos. Uma versão mais
c - concentração de soluto, kg m-3; avançada incorpora o transporte de soluto. A vantagem
q - vetor fluxo, m h-1;
desta aproximação é que ela é baseada numa teoria
D - tensor do coeficiente de dispersão, cm2 h-1; e
robusta para movimento vertical de água na zona não-
c’ - termo fonte ou sumidouro, kg m-3 h-1.
saturada. Como a maior parte do movimento de água em
meio não-saturado tende a ocorrer em direção vertical,
Como exemplos de modelos baseados em soluções
mesmo com drenos no solo, esta aproximação pode
numéricas da equação de Richards e da equação de
fornecer estimativas realistas das condições de solo
convecção-dispersão (ECD), fora do País, cita-se:
acima do lençol freático. Outra vantagem do modelo é a
SWATRE (Belmans et al., 1983), CSUID (Garcia et al.,
1995) e Hydrus (Rassam et al., 2003; Hassam et al., possibilidade de sua aplicação para solos sem lençol
2005; Simunek et al., 2005; Simunek et al., 2008), este freático. Devido o SWATRE combinar conceitos de
último talvez o mais difundido atualmente no âmbito escoamento de água no solo, salinidade do solo e
global. drenagem, ele pode ser usado para analisar problemas de
Abordagens em uma, duas ou três dimensões são excesso de água e salinidade em agricultura irrigada
verificadas em modelos desta categoria. A modelagem (Skaggs, 1999; Tarjuelo & Juan, 1999).
em uma dimensão tem como vantagem o menor O modelo computacional Hydrus-1D (Simunek et al.,
requerimento computacional, em termos de memória e 2005) simula o movimento de água com base na
capacidade de processamento, e menor requerimento de equação de Richards, o transporte de calor e de solutos,
dados. O fluxo na zona saturada na base do perfil em uma dimensão, em regime variável. No modelo
(condição de contorno de base) pode ser calculado por Hydrus-2D (Rassam et al., 2003; Hassam et al., 2005)
meio de relações entre fluxo de drenagem e nível o movimento de água, calor e transporte de solutos são
freático. Outras vantagens como robustez nos tratados em duas dimensões. Recentemente foi
procedimentos numéricos e disponibilidade de dados disponibilizada a versão Hydrus-2D/3D, para modelagem
hidrodinâmicos do solo são citadas por Dam et al. tridimensional.
(2004). Como desvantagens, estes autores citam a O pacote Hydrus-2D é constituído pelo programa
validade apenas para a região não saturada do solo e a computacional Hydrus2 e pela interface gráfica
necessidade na utilização de parâmetros médios para Hydrus2D, que facilita sua utilização. Resolve,
tratamento da heterogeneidade do solo e do fluxo numericamente, a equação de Richards para escoamento
preferencial. em meio saturado e não saturado, e a equação de
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 379

convecção-dispersão para transporte de calor e solutos. No modelo DRAINMOD-S, a resposta geral da


A equação regente do movimento de água incorpora um cultura é calculada por (Skaggs, 1999):
termo sumidouro para considerar a extração de água por
raízes. A equação de transporte de solutos considera o Y
YR   YRW * YRD * YRS * YRP (11)
transporte convectivo-dispersivo na fase líquida e a Yp
difusão na fase gasosa. Neste modelo, as equações
diferenciais são resolvidas numericamente por esquemas
de elementos finitos do tipo Galerkin (Segerlind, 1984; em que
Gerald e Wheatley, 2003). Um recurso importante é a YR - produtividade relativa total, decimal;
inclusão do algoritmo de Marquardt-Levenberg para Y - produtividade real, kg ha-1;
obtenção, por meio de estimativa inversa, de parâmetros Yp - produtividade potencial, kg ha-1;
hidráulicos do solo e, ou parâmetros de transporte de YRW - produtividade relativa, caso ocorra
solutos, a partir de dados observados para variáveis de estresse devido somente ao excesso de água no solo,
estado em escoamentos sob regimes transientes e decimal;
permanentes. YRD - produtividade relativa, caso ocorra
No Brasil, o desenvolvimento de modelos estresse devido somente ao déficit hídrico, decimal;
computacionais, baseados em soluções numéricas de YRS - produtividade relativa, caso ocorra
equações diferenciais relativas ao movimento de água no estresse devido somente à salinidade, decimal; e
solo e ao transporte de solutos teve início ao final da YRP - produtividade relativa, caso ocorra perdas
década passada. Cita-se, dentre outros voltados para de produtividade devido a atraso nas operações de
aplicações na agricultura, os trabalhos de Costa (1998; plantio em decorrência de umidade elevada do solo,
modelo SIMASS), Oliveira et al. (2000; modelo MTSES), decimal.
Miranda (2001); Miranda et al. (2005; modelo MIDI) e
Corrêa et al. (2006; modelo SIMASS-C). No modelo
No DRAINMOD-S, tanto YRW quanto YRD são
SIMASS-C levou-se em consideração também a
calculados com base no índice diário de estresse
presença de sistema radicular ativo. As aproximações
(Hardjoamidjojo et al., 1982; Evans & Fausey, 1999),
numéricas mais empregadas das equações diferenciais
IDS, que é a soma, ao longo do período de cultivo, do
parciais envolvidas são baseadas nos métodos de
diferenças finitas (Costa, 1998; Oliveira et al., 2000; produto do fator diário de estresse, por meio do qual se
Corrêa et al., 2006) e volumes finitos (Miranda et al., quantifica a magnitude e duração do estresse, pelo fator
2005; Rivera et al., 2006). de susceptibilidade da cultura em cada fase fenológica.
O método de elementos finitos (MEF), implementado Já a resposta da cultura à salinidade emprega relações
no pacote Hydrus, é uma técnica numérica empregada similares à apresentada por Allen et al., (1998).
na solução de equações diferenciais, especialmente as No modelo computacional MCID, o estresse devido
parciais (EDP), como a equação de Richards e a à salinidade e ao déficit hídrico são baseados na seguinte
equação de convecção-dispersão (ECD). Uma relevante relação, preconizada por Allen et al., (1998):
vantagem do MEF sobre outros métodos, como o de
diferenças finitas, é a adequabilidade no tratamento de  Y   ETr 
1    Ky1   (12)
regiões com geometria complexa, ou seja, com contornos  Yp   ETp 
irregulares.

Critérios de dimensionamento implementados na em que


modelagem Ky - fator de resposta da cultura, decimal;
Em ambas as categorias de modelagem, a dinâmica ETr - evapotranspiração real, mm, somada para
de água e solutos na zona radicular deve ser relacionada uma fase fenológica ou para o ciclo;
com funções quer permitam estimar o impacto do déficit ETp - evapotranspiração potencial, mm, somada
hídrico e de sais sobre a produtividade de culturas. Em para uma fase fenológica ou para o ciclo;
áreas sujeitas a períodos de elevado lençol freático, com
invasão total ou parcial da zona radicular, o estresse O cálculo de ETr leva em consideração os estresses
sujeito ao excesso de água também deve ser devido à salinidade e ao déficit hídrico, conforme Allen
considerado. Por meio da produtividade, pode-se, então, et al. (1998), por meio do cálculo de coeficientes de
verificar quais configurações de drenagem (espaçamento estresse devido à salinidade e ao déficit hídrico, aplicados
e profundidade de drenos) são mais apropriadas. diariamente. O estresse devido ao excesso de água é
380 Vera L.A. de L. et al.

calculado de modo similar ao implementado para o avaliados. A profundidade de drenos considerada foi de
DRAINMOD-S (Borges Júnior et al., 2008). 1,2 m.
Comumente, modelos computacionais mecanísticos, O programa converte valores de condutividade
baseados nas equações de Richards e da convecção- elétrica, dS m-1, para concentração, mg L-1, usando uma
dispersão, não abrangem, dentre as variáveis de saída, relação de 700 (mg L -1) por dS m -1. Esta relação é
estimativas da produtividade. Contudo, estes modelos têm aproximada, dependendo da composição de íons
algoritmos implementados que visam a estimar o impacto verificada (Rhoades et al., 1992).
de condições no ambiente da zona radicular sobre a Na Figura 5 apresenta-se a variação da salinidade na
evapotranspiração. Assim, por meio de relações como zona radicular ao longo do primeiro ano da modelagem,
aquela apresentada na Eq. 12, estimativas de simulada para os espaçamentos de 30 e 50 m.
produtividade podem também ser feitas. Em algumas Observam-se maiores concentrações para o
versões do Hydrus e no SWATRE, a extração de água espaçamento de 50 m, conforme esperado, já que
pelas raízes é feita empregando a metodologia proposta maiores espaçamentos proporcionam menores
por Feddes et al. (1978, apud Simunek et al., 1999; profundidades do lençol freático e, consequentemente,
Skaggs, 1999). Nesta metodologia, a extração é maiores fluxos ascendentes que levarão sais presente na
dependente da carga de pressão h. zona saturada para a zona radicular.
A adoção de critérios financeiros tem sido também
7
uma opção para projeto de sistemas de drenagem. A
6
análise financeira abrange o cálculo de produtividade,
Salinidade (kg m -3)
5
com base em dados climáticos, solos e de cultura. Além 4
disso, permite identificar, por meio do fluxo de caixa ao 3
longo da vida útil do projeto, combinações de 2
espaçamento e profundidade de drenos que otimizem o 1
retorno financeiro. Critérios de avaliação de projeto, 0

como o valor presente líquido, podem ser empregados. 0 50 100 150 200 250 300 350 400
Dia do ano

L = 30 m L = 50 m
Exemplo de aplicação
Figura 5. Variação da salinidade na zona radicular para o ano
Será apresentada, a fim de ilustração, a aplicação do
de 1978 e espaçamentos entre drenos iguais a 30 e 50 m
modelo MCID para determinação do espaçamento entre
drenos, considerando dados de clima e solo obtidos por
Andrade et al. (2008) no perímetro de irrigação do De todos os espaçamentos avaliados, aquele indicado
Gorutuba, no Norte de Minas Gerais. Neste perímetro para o projeto foi o de 30 m, que proporcionou maior
são observados processos de salinização em algumas retorno financeiro, com base no critério do valor presente
áreas com lençol freático pouco profundo. líquido. Neste exemplo, este espaçamento também
Considerou-se o cultivo de milho, plantado em 15 de proporcionou a máxima produtividade relativa total, YR.
fevereiro. Foram utilizadas séries históricas de dados A variação de YRW, YRD, YRS e YR é apresentada na
Figura 6. Observa-se, como esperado, decréscimo em
diários de precipitação e evapotranspiração de referência
YRW e YRS e acréscimo em YRD com aumento no
de 1978 a 2003. Empregou-se dados de cultura obtidos
espaçamento entre drenos. YR, obtido pelo produto de
de Allen et al. (1998), inclusive para estimativa do
impacto na evapotranspiração real decorrentes de 100

estresse hídrico e salinidade. Assim, considerou-se uma 90


80
condutividade elétrica limiar no extrato da pasta saturada 70

do solo, CElimiar, igual a 1,7 dS m-1 e um coeficiente b de 60


(%)

50
redução na produtividade por acréscimo em CElimiar igual 40

a 12% (dS m-1)-1. Dados para cálculo do estresse devido 30


20
ao excesso de água foram obtidos de Duarte (1997). 10
0
Considerou-se cultivo irrigado, com turno de rega fixo 0 20 40 60 80 100
de sete dias e lâmina constante de 20 mm, bem com Espaçamento (m)

condutividades elétricas da água de irrigação e freática YRW YRD YRS YR

iguais a 2 e 3 dS m-1, respectivamente. Figura 6. Variação de produtividade relativas em resposta a


Testaram-se espaçamentos de 10 a 100 m, em estresse por excesso de água, YRW, déficit hídrico, YRD,
intervalos de 10 m, totalizando 10 espaçamentos salinidade, YRS e produtividade relativa total, YR
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 381

YRW, YRD e YRS, tem um máximo para o Duarte, S. N.; Ferreira, P. A.; Pruski, F. F.; Martinez, M. A.
espaçamento igual a 30 m. Modelo para avaliação de desempenho de sistemas de
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Dimensionamento de sistemas
21 de drenagem
Hermínio H. Suguino1 & José C. Barros2

1 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba


2 Projetos Técnicos Ltda

Introdução
Drenagem superficial
Escoamento superficial
Tempo de concentração (Tc)
Duração das chuvas
Tempo de recorrência
Intensidade máxima de chuva (I)
Coeficiente de escoamento (c)
Seleção de chuvas
Fórmula Cypress-Creek
Fórmula de McMath
Cálculo da vazão de escoamento superficial pelo método das curvas-número
Cálculo para duração maior que o tempo de concentração
Dimensionamento de sistemas de drenagem
Seção mais eficiente de um dreno
Dreno parcelar
Obras complementares
Drenagem de áreas com altos teores de matéria orgânica
Escavação de drenos
Nomenclatura dos drenos
Conservação e manutenção de drenos
Cálculos de espaçamento entre drenos e dimensionamento de drenos subterrâneos
Cálculo de espaçamento entre drenos
Dimensionamento
Estudo de caso: Projeto irrigado Brígida
Referências
Anexo 1. Terminologia e simbologia em drenagem agrícola
Anexo 2. Quadro de quantitativos e custos
Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados
ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
384 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Dimensionamento de sistemas
de drenagem

INTRODUÇÃO Para bacias maiores que 50 ha, pode ser usada a


fórmula de McMath que contém fator de correção de
A implantação de sistemas de drenagem superficial área, evitando assim que a vazão aumente na mesma
e subterrânea, permite controlar os níveis de salinidade proporção que a área da bacia. Por outro lado, a fórmula
nos perfis dos solos, além de escoar os excessos d´água fornece valores muito baixos para bacias grandes,
em velocidades não erosivas e proteger estradas e digamos, aleatoriamente, da ordem de 800 ha.
estruturas de irrigação. Toda água de irrigação possui Valores mais confiáveis para bacias maiores que 50
pequenas quantidades de sais dissolvidos, que se não ha podem ser obtidos utilizando o método das curvas-
forem removidas proporcionalmente na mesma número, desenvolvido pelo Serviço de Conservação de
quantidade em que estão sendo adicionadas, o sal poderá Solos dos EEUU.
estar se concentrando, onde a partir de determinado nível Há ainda a possibilidade de uso da fórmula Cypress-
começa a ocorrer quebra de produção chegando até a creek que também será apresentada neste trabalho.
esterilização do solo. A terminologia e simbologia
frequentemente utilizada nos estudos de drenagem - Fórmula racional
agrícola estão resumidos no Anexo I.

DRENAGEM SUPERFICIAL

Escoamento superficial
É a parte da precipitação total, em uma área, que onde:
escoa sobre a superfície do terreno. Existem muitas Q - vazão (m3 s-1);
fórmulas que permitem fazer estimativas das descargas C - coeficiente de escoamento que é a razão entre
máximas de escoamento superficial em função das o volume de água escoado superficialmente e o volume
características da bacia, do seu uso e da intensidade de água precipitado (adimensional);
máxima de precipitação para a duração e recorrência I - intensidade máxima de chuva (mm h-1);
desejados. Como base deste trabalho foi escolhida a A - área da bacia (ha).
fórmula racional por ser de uso simples e prático. Esta
fórmula, por outro lado, superestima os resultados para Tempo de concentração (Tc)
bacias maiores que 50 ha. O motivo principal da É o tempo de deslocamento de uma partícula de água
obtenção de vazões altas é o fato da fórmula admitir do ponto mais distante de uma bacia até o ponto de saída
em seus princípios que a chuva é uniformemente desta. Neste momento toda bacia estará contribuindo
distribuída em toda a área da bacia, o que geralmente simultaneamente na formação da descarga máxima de
não acontece quando a chuva é do tipo convectiva, que escoamento.
comumente é bastante localizada, de alta intensidade Supõe-se, para efeito de cálculo, que a precipitação
e baixa duração. é uniforme em intensidade, em toda a bacia considerada
Dimensionamento de sistemas de drenagem 385

quando a duração da chuva é igual ao tempo de Tempo de recorrência


concentração. Tempo de recorrência ou período de retorno é o
Existe também um grande número de fórmulas de período em que uma determinada chuva apresenta a
cálculo do tempo de concentração (Tc); apresenta-se a probabilidade de ocorrer pelo menos uma vez. A título
seguir a fórmula de Kirpich, utilizado pelo U.S. Bureau de ilustração, uma chuva de 1 hora de duração e tempo
of Reclamation. de recorrência de 10 anos deverá ocorrer em torno de
10 vezes para cada 100 anos.
Os projetos de drenagem superficial são concebidos
geralmente para tempo de recorrência superiores a 5
anos. A decisão quanto ao período de recorrência de uma
determinada chuva deveria ser feita em função de um
balanço econômico entre os prejuízos anuais previstos,
provenientes de perdas agrícolas e danos a estruturas e
os custos anuais de escavação de drenos e construção
onde: de estruturas de maior capacidade.
Tc - tempo de concentração (min);
L - comprimento máximo percorrido pela água (m); Intensidade máxima de chuva (I)
H - diferença de altura entre o ponto mais distante De uma maneira geral, os valores de precipitações
e o ponto de saída da bacia (m). pluviométricas disponíveis no Brasil são provenientes de
leituras feitas com o emprego de pluviômetros, que
A declividade geral da bacia é dada pela fórmula fornecem somente leituras diárias.
S = H/L. Outra fórmula recomendada, por levar em Nos cálculos de vazões de escoamento superficial é
comum necessitar-se de valores de precipitação para
consideração a altitude média da bacia, é a de Giandotti,
durações que vão de frações de hora a algumas horas.
a seguir:
Este tipo de dado é fornecido por pluviógrafos, que
registram as alturas de precipitações em função do
tempo. Neste caso, de posse de registros de várias
estações para uma série de anos, pode-se preparar
tabelas ou curvas de intensidade-duração-frequência de
chuvas. Pfafstetter (1975) a partir de dados provenientes
em que: de pluviógrafos preparou, para muitas áreas do Brasil,
S - superfície da bacia (km2); uma série de curvas de alturas de precipitação para
L - comprimento da linha do talvegue (km); diversas durações e tempos de recorrência. Pode
Hm - altitude média da bacia (m); ocorrer que a área a ser estudada não esteja coberta
Ho - altitude no final do trecho (m). pelo seu trabalho e nem disponha de leituras provenientes
de pluviógrafos. Neste caso, se os únicos dados
Duração das chuvas disponíveis forem de leituras de pluviômetros, é
Tempo utilizado para a determinação da chuva de necessário que sejam empregados artifícios de cálculo
projeto em bacias que possuam áreas de acumulação da para transformar valores de chuvas diárias em chuvas
água. Pode ser igual ao tempo de concentração ou ao com duração de 24 h e chuvas de períodos inferiores,
tempo de drenagem. inclusive frações de hora. Torrico desenvolveu um
A duração das chuvas pode ser igual ou superior ao método capaz de fazer as transformações desejadas no
tempo de concentração, dependendo da existência de preparo de tabelas ou curvas, que permitam obter
área de acumulação de água dentro da bacia e também intensidades de chuvas para diversas durações e
da tolerância da cultura à inundação. frequências. Segundo Torrico, a metodologia a ser
Algumas culturas podem permanecer inundadas por adotada é a seguinte:
períodos de tempo que variam de algumas horas a dias, - Compilam-se para cada ano os dados das chuvas
como a cultura do arroz que tem mostrado tolerar máximas diárias dos postos pluviométricos da região do
períodos maiores podendo chegar a 6 dias, embora não projeto.
sejam conhecidas pesquisas nesse sentido. Na grande - Os projetos que abranjam regiões muito extensas,
maioria das vezes a duração das chuvas, para efeito de com climas diferentes, ou que contenham micro-clima,
projeto, é igual ao tempo de concentração. deverão ser subdivididos em sub-regiões.
386 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 1. Valores para converter alturas de chuva de 24 h em chuva de 1 h e chuva de 6 min

- Calcula-se, empregando qualquer método estatístico


(Hazen, Gumbel, Person, etc.) e, para cada estação
meteorológica, a chuva máxima de um dia para o tempo
de recorrência desejado. Para a conversão das chuvas
máximas diárias em chuvas com duração entre 6 min e
24 h, adota-se a seguinte metodologia.
- Converte-se a chuva de um dia em chuva de 24 h,
multiplicando-se a primeira pelo fator 1,10.
- Determina-se, através da Figura 1, a isozona na qual
a área do projeto se situa.
- Na Tabela 1 fixam-se, para a isozona do projeto e
para o tempo de recorrência previsto, as percentagens
para 6 min e 1 h.
- A partir dos percentuais para 1 h e para 6 min,
obtidos na mesma tabela e da chuva de 24 h (100%),
calcula-se as alturas de precipitação para 6 min e para
1 h.
- Delimitam-se, Figura 2, as alturas de chuva para
24 h, para 1 h e para 6 min de duração. Figura 1. Isozona de igual relação
- Liga-se a seguir os pontos para obter as alturas de
chuva versus duração em horas. Pode-se assim obter
as alturas de chuvas para qualquer tempo de duração
entre 6 min e 24 h.
- A partir da altura de chuva e sua duração obtém-
se a intensidade de precipitação em mm h-1.
Uma outra forma de solucionar o problema é aquele
que consiste em estimar diretamente a intensidade
Altura da chuva (cm)

máxima de chuva a partir, segundo Pires (1982), de


valores da precipitação máxima diária para o período de
recorrência desejado, o que pode ser feito empregando-
se a fórmula:

onde:
I - intensidade máxima de chuvas (mm h-1); Tempo de duração (h)
p - precipitação máxima diária (mm); Figura 2. Alturas de chuvas versus tempo de duração em
Tc - tempo de concentração (min). horas
Dimensionamento de sistemas de drenagem 387

Esta fórmula, recomendada por Pizarro para as Várias outras fórmulas poderão ser usadas para o
condições da Espanha, vem, de acordo com Pires (1982), cálculo do escoamento superficial sendo que a escolha
dando bons resultados na drenagem de várzeas do Estado desta ou daquela vai depender das informações
de Minas Gerais. O autor, no entanto, não apresenta uma hidrológicas existentes, da dimensão e forma fisiográfica
análise dos resultados obtidos, considerando as da área e do grau de precisão desejado.
recorrências utilizadas nos dimensionamentos dos drenos,
áreas das bacias drenadas e períodos decorridos após a Seleção de chuvas
implantação e cada sistema de drenagem. Não é indicado Os dados de chuvas podem ser apresentados em
também para que condições da Espanha em que a fórmula tabelas, onde as intensidades máximas de precipitação
foi desenvolvida. de cada ano e para cada duração escolhidas, são
Tendo-se calculado o tempo de concentração (Tc) e colocados em colunas decrescentes.
tendo-se escolhido o tempo de recorrência desejado (5, Na Tabela 3 são apresentados a título de exemplo,
10, 15, 20, 25 anos etc.) que é uma função do risco Luthin (1973), valores tabulados de um posto dos E.U.A.
assumido para a estrutura projetada, calcula-se com base para precipitações máximas de 31 anos, ocorridas no
nos registros de precipitações da região a intensidade período de 1904 a 1934 inclusive. Não são apresentados
máxima de chuva em mm h-1. os dados em ordem decrescente até ao 31º pelo fato de
que o décimo número da coluna já representa o valor
Coeficiente de escoamento (c) correspondente a uma recorrência igual a 1:2,3 ou
Este coeficiente depende de vários fatores como solo, aproximadamente 1:3 anos. Usando esta tabela a seleção
cobertura vegetal, grau de saturação do solo e declividade da chuva seria feita da seguinte maneira:
geral da bacia.
O ideal é que fosse obtido através de dados N=fn
experimentais, colhidos na própria bacia ou então que
fosse proveniente de bacias próximas, mas que onde:
apresentem condições similares. N - número de anos de registro de chuvas;
É comumente obtido em função de fatores como f - frequência ou recorrência desejada;
textura predominante da área, declividade geral da bacia n - número de ordem, na coluna, de valores anuais
e tipo de cobertura vegetal, utilizando- se para isso tabelas decrescentes de chuvas.
existentes, como a Tabela 2.
Exemplo:
Tabela 2. Valores do coeficiente de escoamento superficial
(c)
a) Registro de chuvas para período de 31 anos: N =
31;
b) No caso de querermos uma recorrência de 10
anos: f = 10;
c) N = fn n = N/f = 31/10 = 3,1 ~ 3.

Neste caso, os valores de precipitação situados na


3ª linha apresentam probabilidade de se repetirem a cada
10 anos. Para tempo de concentração ou duração de 30
min e recorrência de 10 anos encontra-se, na Tabela 3,
o valor 34,5 mm. Como na fórmula o valor de "I" é
tomado em mm h-1, basta então multiplicá-lo por 2;
obtêm-se então I = 69,0 mm h-1.
Muitas vezes são preparadas tabelas que apresentam
os valores de precipitação de uma dada região, em
Tendo-se obtido os valores de C, I e A, calcula-se a mm h-1, em função do período de retorno e do tempo de
vazão Q empregando-se a fórmula Q = CIA/360. Em concentração (ver Tabela 4). Neste caso basta determinar
função da descarga obtida, dimensiona- se a obra o tempo de concentração e assumir qual o período de
desejada que pode ser a seção de um dreno, um bueiro retorno desejado para obter-se intensidade de precipitação
ou um outro tipo de estrutura desejado. diretamente em mm h-1.
388 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 3. Alturas máximas de precipitação anuais para diversas durações


Duração
5 10 15 30 60 90 120
(min)
Ordem Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec.
1 1908 21,6 1908 30,5 1908 35,6 1908 43,7 1908 54,6 1908 62,5 1919 75,4
2 1921 19,3 1915 26,4 1915 30,0 1904 49,4 1904 48,8 1915 60,5 1908 66,8
3 1915 18,5 1921 23,6 1904 28,2 1915 34,5 1915 43,2 1904 54,4 1904 59,8
4 1934 18,3 1904 22,4 1921 26,2 1921 31,0 1926 36,8 1921 46,0 1921 53,9
5 1929 16,8 1926 21,3 1926 24,6 1926 30,0 1921 35,6 1926 41,9 1926 46,5
6 1926 15,8 1934 20,3 1934 23,4 1931 28,0 1914 33,8 1914 38,1 1917 41,7
7 1931 13,0 1929 19,8 1929 22,7 1934 26,1 1931 31,8 1931 35,6 1914 39,4
8 1904 11,4 1931 17,3 1931 20,8 1929 25,7 1934 30,5 1917 34,5 1931 38,4
9 1917 9,1 1911 13,2 1911 17,0 1911 24,1 1929 29,0 1934 34,0 1934 37,1
10 1914 7,1 1917 13,0 1917 15,8 1917 21,1 1911 28,2 1929 32,3 1929 35,8
11 1911 5,3 1914 8,9 1914 12,7 1914 20,1 1917 27,7 1911 31,2 1911 34,0

Tabela 4. Intensidade de precipitação em mm h -1 para o posto “x” em função do tempo de concentração e período de
retorno
Tempo de
Concentração 2 5 10 15 20 25 50 75 100
(anos) (min)
5 123,6 159,0 182,4 195,4 202,8 221,8 233,4 246,0 255,0
10 102,0 127,8 144,6 154,2 160,2 167,4 182,4 191,4 198,6
15 85,8 110,4 126,6 136,2 141,6 147,6 162,6 171,6 177,6
20 76,2 98,4 112,8 121,8 126,0 131,4 144,6 153,0 158,6
25 67,2 86,4 99,0 106,2 110,4 114,6 126,6 133,8 138,6
30 61,2 78,0 89,4 96,0 99,6 103,8 114,6 120,6 124,8
40 51,6 66,6 76,2 81,6 85,2 88,8 97,8 103,2 106,8
50 45,0 58,2 67,2 72,6 75,0 78,6 87,0 91,8 95,4
60 39,6 52,8 61,2 66,0 69,0 72,6 80,4 85,2 88,8
75 32,4 43,2 50,4 54,6 57,0 60,0 66,6 70,8 73,2
90 27,6 37,2 43,2 46,8 48,6 51,0 57,0 60,0 62,4
105 24,0 31,8 37,2 40,2 42,0 43,8 48,6 51,6 54,0
120 21,6 28,2 33,0 35,4 37,2 39,0 43,2 45,6 47,4

Para algumas áreas existem curvas como aquela da Fórmula Cypress-Creek


Figura 3, que correlacionam a precipitação, em mm,
com a duração em horas, para determinadas curvas de
recorrência. Neste caso, após estimar-se a duração da
chuva, entra-se no gráfico e acha-se a altura da lâmina
de água precipitada para a duração considerada; a onde:
seguir, calcula-se a precipitação ou intensidade (I) de Q - descarga (m3 s-1);
precipitação em mm h-1. A - área da bacia (ha);
A obra intitulada “Chuvas Intensas no Brasil” C - coeficiente que engloba características de solo,
apresenta grande quantidade de curvas provenientes de cobertura vegetal, declividade e condições de
leitura de pluviógrafos de postos de serviços de precipitação.
meteorologia do Ministério da Agricultura. Nas curvas
estão correlacionadas as alturas de precipitação, em mm, O valor “C” pode ser obtido diretamente na área a
com as durações e os tempos de recorrência ser drenada ou nas imediações desta.
(Pfafstetter, 1975). Para obter-se o valor desejado é preciso que existam
Também são apresentadas fórmulas empíricas e bueiros ou pontilhões sob estradas ou canais, e que se
tabelas que visam definir precipitações máximas em disponha de plantas topográficas para delas obter-se as
função da duração e do tempo de recorrência. áreas das bacias que contribuem para cada ponto de
Uma outra fórmula que é bastante utilizada nos deságue. De posse desses valores, adicionados do
Estados Unidos, é a fórmula Cypress Creek. conhecimento, mesmo que aproximado, do tempo de
Dimensionamento de sistemas de drenagem 389

onde:
Q - vazão (m3 seg-1);
C - coeficiente de escoamento de McMath;
i - intensidade de chuvas (mm h-1);
A - área da bacia (ha);
- declividade no talvegue principal (m m-1).
Altura (mm)

Na Tabela 5 são apresentados os coeficientes de


McMath, sendo o valor "C" a soma dos três coeficientes
selecionados para caracterizar a bacia.
Esta fórmula foi obtida em função da fórmula racional,
sendo que o valor da intensidade de chuvas é obtido da
mesma forma que para a fórmula citada. Possui um fator
Duração (h)
Figura 3. Curva de altura-duração-frequência de chuvas para de redução de área que evita um aumento linear e irreal
o posto meteorológico de Piaçabuçu-AL das vazões em função das áreas de contribuição.

existência de cada estrutura e após obter-se informações, Cálculo da vazão de escoamento superficial pelo
na área, sobre o funcionamento de cada estrutura método das curvas-número
considerada, se já houve transbordamento, quantas vezes É um método prático que aparentemente tem
e quando, pode-se então determinar o valor do resultado na obtenção de valores confiáveis de
coeficiente “C” com razoável segurança. escoamento superficial. É o método mais utilizado pela
O valor “C” é empregado para obter-se a descarga CODEVASF para bacias de contribuição maiores que
máxima para determinada recorrência. Só pode ser 50 ha.
extrapolado para áreas que apresentem condições de O fluxograma da Figura 4 indica como proceder no
solo, topografia e clima semelhantes. uso do método, enquanto que as Tabelas 6, 7 e 8 orientam
O Serviço de Conservação de Solos dos Estados como obter os dados necessários para os cálculos de que
Unidos (USDA, 1971) apresenta uma série de tabelas e trata o fluxograma.
curvas que visam a obtenção do coeficiente desejado. Valores de curva-número para as condições
Para fazer uso das curvas precisa-se, no entanto, de uma anteriores de precipitação podem ser obtidos utilizando-
série de informações que geralmente não existem em se os fatores constantes da Tabela 8.
nossas condições, o que limita entre nós o uso da fórmula.
Esta fórmula foi utilizada no cálculo de vazões do Precipitações dos 5 dias anteriores a chuva considerada
sistema de drenagem superficial do projeto Senador Nilo
Coelho - Petrolina - Pe, com área de 25.000 ha. Condição (mm)
A partir de estimativas de vazões máximas ocorridas em I 0 - 35
bueiros de estradas que cortam a área, observando marcas II 35 - 52
de nível de água deixados, foi possível obter um valor “C” III Mais de 52
razoavelmente confiável, que no caso foi igual a 35.
Exemplo de cálculo de escoamento superficial Bacia
Fórmula de McMath de 400 ha.
a) Método - curvas-número
- Grupo hidrológico - B

Tabela 5. Valores representativos de média ponderada de características de bacias, necessários para o cálculo do coeficiente
de McMath
Condições de Tipo de Condições Topográficas
Tipo de Solo
Escoamento Cobertura Vegetal da Bacia
Baixa Área coberta de gramíneas - 0,08 Areia - 0,08 Área plana - 0,04
Moderada Cobertura vegetal iCtensa - 0,12 Textura leve - 0,12 Ligeiramente ondulada 0,06
Média Cobertura razoável a rala - 0,16 Textura média - 0,16 Ondulada a montanhosa 0,08
Alta Cobertura rala a esparsa - 0,22 Textura pesada (argilosa) - 0,22 Montanhosa a escarpada 0,11
Muito alta Cobertura esparsa e solo Textura pesada a área Escarpada 0,15
descoberto - 0,30 rochosa - 0,30
390 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 6. Dados da bacia


Grupo Características Características
A Baixo potencial de escoamento. Solos que
possuem altas taxas de infiltração ainda em
condições completamente úmidas. Neste
grupo se classificam os solos arenosos e muito
bem drenados.
B Solos que tem taxas de infiltração moderadas
quando úmidos.
Compreende principalmente solos profundos
e moderadamente profundos, drenagem boa e
moderada. Textura de moderadamente fina a
moderadamente grossa. São solos que
possuem taxas moderadas de transmissão de
água.
C Solos que tem infiltração lenta quando
completamente úmidos e consistem
principalmente de solos com uma camada
que impede o movimento descendente da
água, ou que possuem texturas finas a
moderadamente fina. Estes solos tem uma
lenta transmissividade de água.
D Alto potencial de escoamento. Solos com uma
baixa taxa de infiltração quando
completamente molhados. Consistem
principalmente de solos argilosos com um alto
potencial de expansão, solos com um lençol
freático alto e permanente. Solos com fragipan
Figura 4. Fluxograma para o escoamento superficial (barreira) ou camada argilosa superficial, e
solos muito superficiais sobre uma camada
- CN = 75. impermeável. Estes solos tem taxa de
- Infiltração potencial transmissão de água muito baixa.
Grupos de solo segundo o potencial de escoamento superficial (*) Segundo Schwab et al., Soil
- Tempo de concentração and water conservation engineering, pág.105.

Tc = 0,0195 K 0,77

sendo,

- Para L = 4 770 m e H = 6,5 m, Tc = 168 min = 2 h


e 50 min ou 2,8 h.
- Para Tc = 2 h e 50 min e TR = 10 anos, a - Fórmula Cypress-Creek
precipitação total estimada para a área é P = 44 mm.
- Precipitação total que escoa é igual

Para 0,00028 C = 0,01, obtido a partir de estimativas


de campo provenientes de estruturas existentes em área
com condições que, mais ou menos, se aproximam da
- Calculo de vazão de escoamento superficial área do projeto Formoso de Irrigação, obtêm-se:
Dimensionamento de sistemas de drenagem 391

Tabela 7. Curvas-número (cn) representando escoamento superficial para as condições de solo, cobertura vegetal e umidade
abaixo apresentadas (condições de umidade ii e ia = 0,2 S)*
Grupos de Solo
Cobertura Uso
Tratamento ou Prática Condição Hidrológica A B C D
da Terra
Número da Curva
Cultura em fileiras (milho, Fileiras retas Ruim 72 81 88 91
algodão, tomate, etc.) Fileiras retas Boa 67 78 85 89
Fileiras em contorno Ruim 70 79 84 88
Fileiras em contorno Boa 65 75 82 86
Anterior + terraças Ruim 66 74 80 82
Anterior + terraças Boa 62 71 78 81
Culturas em fileiras Fileiras retas Ruim 65 76 84 88
estreitas (trigo, arroz) Fileiras retas Boa 63 75 83 87
Fileiras em contorno Ruim 63 74 82 85
Fileiras em contorno Boa 61 73 81 84
Anterior + terraças Ruim 61 72 79 82
Anterior + terraças Boa 59 70 78 81
Leguminosas em Fileiras retas Ruim 66 77 85 89
fileiras estreitas ou Fileiras retas Boa 58 72 81 85
forrageiras em rotação Fileiras em contorno Ruim 64 75 83 85
(também hortaliças) Fileiras em contorno Boa 55 69 78 83
Anterior + terraças Ruim 63 73 80 83
Anterior + terraças Boa 51 67 76 80
Pastagens Ruim 68 79 86 89
(pastoreio) Regular 49 69 79 84
Boa 39 61 74 80
Fileiras em contorno Ruim 47 67 81 88
Fileiras em contorno Regular 25 59 75 83
Fileiras em contorno Boa 6 35 70 79
Pastagens (feno) Boa 30 58 71 78
Floresta Ruim 45 66 77 83
Regular 36 60 73 79
ou Bosque Boa 25 55 70 77
* Boa - Cobertura em mais de 75% da área; Regular - entre 50 e 75%; Ruim - menor de 50% da área; Ia = água inicial retida (plantas, empoçamento e água que se infiltra antes do início do
escoamento superficial. (*) Segundo Shwab et al. Soil and water conservation engeneering - pag. 104

Tabela 8. Fatores de conversão de curvas-número para as - Fórmula de McMath


condições I e III para Ia = 0,2 S*

onde:
S - declividade em m m-1 (S = 6,5 m/4.770 m).

Esta fórmula não deve ser recomendada principalmente


* Segundo Schwab et al. Soil and water conservation engineering - pág.106. para áreas grandes.
392 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

- Fórmula Racional - Tolerância da cultura do arroz à submersão = 6 dias.


- Perdas de água das chuvas por infiltração,
evaporação e transpiração - 15%.

Q = 6,1 m3 s-1 - valor muito alto. Não é recomendado


o seu uso para áreas maiores que 50 ha.
Área = A = 120 ha.
Bacia de 10.000 ha Duração da chuva = 6 dias ou 144 h. Recorrência
Método das curvas-número assumida = 10 anos.
- Tempo de concentração - Tc = 0,0195 k0,77 - Para 144 h de duração e 10 anos de recorrência
encontra-se, na Figura 3, uma lâmina de chuva de 245
mm.

- Precipitação total para a duração escolhida O coeficiente de escoamento superficial é a


relação entre o volume escoado e o volume
P = 64 mm precipitado; como 15% da água precipitada se infiltra
e evapora, restam, para escoar, 85% do total ou
- Total da precipitação que escoa

- Coeficiente de escoamento
- A vazão neste caso pode também ser estimada da
seguinte forma

- Vazão do dreno
Neste caso o método racional pode ser usado para
áreas maiores que 50 ha, desde que haja segurança
quanto ao cálculo estimativo da lâmina de chuvas do
período considerado, mesmo ocorrendo chuvas
- Fórmula Cypress-Creek convectivas que geralmente cobrem áreas pequenas.
Em função das condições especificas de dedução de
cada fórmula ou método de determinação da vazão de
escoamento superficial e suas limitações e não existindo
uma fórmula especifica ou adaptada para as condições
da área a ser estudada, recomenda-se:
1. Áreas de até 50 ha - usar o método ou fórmula
racional.
Cálculo para duração maior que o tempo de concentração 2. Para áreas de 50 ha até cerca de 400 ha, utilizar
Área de várzea argilosa contendo 120 ha de arroz valores médios obtidos entre a fórmula de McMath e o
irrigado. Assume-se: método das curvas-número, tomando valores nunca
Dimensionamento de sistemas de drenagem 393

inferiores aos obtidos pela fórmula racional para área de


até 50 ha.
3. Para áreas de bacias situadas entre 400 e 2000 ha,
usar preferencialmente os valores da curva que une
dados obtidos para 400 ha e o valor obtido através do
método das curvas-número para bacia de contribuição de
2000 ha.
Figura 5. Seção trapezoidal de dreno
4. Na falta de dados de chuvas e em última opção,
poderá ser usada a fórmula Cypress Creek, desde que Seção mais eficiente de um dreno
sejam obtidas informações confiáveis no campo. É aquela que mais se aproxima da forma semicircular,
5. Para áreas de contribuição maiores que 2000 ha, no entanto, em drenagem dificilmente pode- se seguir
usar método das curvas-número. este princípio, tendo em vista os seguintes fatos:
6. Para áreas maiores poderá ser usado, como opção, - Talude - é uma função das características do solo
hidrograma de escoamento superficial. a ser drenado.
- Profundidade - é definida em função da posição da
Dimensionamento de sistemas de drenagem área em relação ao ponto de descarga; da profundidade
O dimensionamento dos sistemas de drenagem é da camada que apresente resistência ao corte ou ainda
comumente feito utilizando-se a fórmula de Manning em função da necessidade ou não de drenar também o
onde: perfil do solo.
- Largura - geralmente de 0,50 m; 0,80m; 1,00m;
1,50m ou 2,00m, dependendo da profundidade e vazão de
projeto e também do tipo de equipamento de escavação
disponível.
Para o dimensionamento de drenos abertos são
onde:
apresentados nas Tabelas 9, 10 e 11 os valores de
Q - vazão - m³ s-1;
coeficientes de rugosidade, velocidades de fluxo da água e
n - coeficiente de rugosidade;
taludes compatíveis com os diversos tipos de solo.
R - raio hidráulico - A/P;
S - declividade do dreno - m m-1;
Dreno parcelar
A - área do dreno - m².
É um dreno raso que tem como finalidade principal
Na Figura 5 é apresentado desenho esquemático de
coletar os excedentes de irrigação do lote ou parcela.
dreno trapezoidal, onde:
Tabela 9. Coeficientes de rugosidade de Manning
A = bh + h2z;
Características dos Drenos
Características dos Drenos Coeficientes
Coeficiente
Drenos cortados em rocha, trechos retos
0,035
P = b + 2h e regulares
Drenos retos, bem limpos e regulares 0,023
b - base menor, m; Drenos de seção grande e bem limpo 0,032
h - altura considerada, m; Drenos largo, profundo escavado em
solo
z - talude, m;
Drenos em solo aluvial e com
p - perímetro molhado, m. 0,030
vegetação pouco densa
A vazão de um dreno é igual a sua sessão vezes a Drenos com vegetação intensa 0.040
Drenos com pequena seção 0,040
velocidade média de fluxo, onde:
Drenos com pouca irregularidade e
0,035
limpos
Q = VA Drenos de seção média, fundo e taludes
0,045
irregulares e vegetação densa
Drenos escavados com draga, talude e
0,045
fundo irregulares e com vegetação rala
Drenos com paredes irregulares,
escavados com draga e muita 0,080
V - velocidade, m s-1. vegetação em seu leito
394 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 10. Velocidades máximas de fluxo d’água recomendadas Drenagem de áreas com altos teores de matéria
em função do tipo de solo orgânica
Velocidade Nestas áreas é comum o fenômeno da subsidência,
Textura do SoloTextura do Solo
(m s-1) podendo haver, em casos especiais, rebaixamento de até
Argiloso (argila 1:1 fortemente 50 cm. Frequentemente as valas são abertas e após o
1,8
cimentada, tipo argilito) rebaixamento do material, devido à oxidação são, então,
Argilosa (argila 1:1) 1,2
aprofundadas. A oxidação da matéria orgânica se dá
Argilosa (argila dispersiva) 0,4*
Franco argilosa 0,8 após a drenagem e ocupação pelo ar dos poros do solo,
Franca 0,9 devido a ação de bactérias aeróbicas, que convertem a
Franco arenosa e areia fina 0,7 matéria orgânica em dióxido de carbono. A subsidência
Cascalho fino 1,5 é também devida a perda de suporte do solo com a
Cascalho grosso 1,8 eliminação de água. Observações feitas em solos
Velocidade mínima para evitar orgânicos da Europa e Estados Unidos indicam que há
0,3
deposição de silte ou areia fina em média um rebaixamento de ordem de 2,5 cm/ano e
Mínima para evitar a germinação de que a subsidência é uma função da espessura da camada
0,5
ervas daninhas drenada ou profundidade do lençol freático. Nos
Mínima para inibir o crescimento de
0,8 primeiros anos após a drenagem a subsidência é maior
ervas daninhas
* Sugerido em função de problemas encontrados. Não existem valores experimentais.
devido a compactação inicial sofrida pelo solo drenado.
Onde não existam dados referentes a subsidência, pode-
Tabela 11. Taludes de drenos recomendados em função do se assumir que haverá, com o tempo, um rebaixamento
tipo de solo da ordem de 25 a 35% em relação a profundidade inicial
Tipo de Solo Taludes (V - H) dos drenos.
Solo turfoso 1:0 a 1:0,25
Argiloso pesado 1:0,5 a 1:1 Escavação de drenos
Argiloso e franco siltoso 1:1 a 1:1,5 É feita com emprego de dragas, para drenos de
Franco arenoso 1:1,5 a 1:2 grandes dimensões ou retroescavadeira, para drenos
Areia 1:2 a 1:3 menores. É conveniente, sempre que os drenos forem de
* Para argilas dispersivas não existem dados. Supõe-se que o melhor é implantar o dreno e vegetar
artificialmente as suas paredes para protegê-las da erosão principalmente pelo impacto das águas dimensões pequenas confeccionar e utilizar na
da chuva.
retroescavadeira uma concha de forma trapezoidal. A
Tem em geral a forma de “V” com talude que de um lado implantação de drenos pode ser também manual, o que
torna o serviço em geral muito caro e demorado, só se
pode ser, por exemplo, de 1:1. Do outro, o talude deve ser
justificando para trabalhos de pequena monta e quando
suave, podendo ser de 1:10 ou mais. De início a sua
não existe máquina na proximidade da área a ser
construção pode fazer parte das obras de preparo do lote
drenada. Para pequeno volume de trabalho, o transporte
para a irrigação. É um dreno que pode ser destruído e
de uma máquina situada a grande distância pode tornar
refeito após cada cultivo, principalmente quando se trata
o seu emprego economicamente inviável, devido
de irrigação por gravidade, em sulcos. Pode ter
principalmente a componente relativa a custo de
profundidade ligeiramente superior à dos sulcos, devendo
transporte. Deve-se ter sempre em mente que os
ser reconstruído pelos ocupantes do lote, após cada
trabalhos de escavação de drenos jamais devem ser
cultivo, empregando sulcadores apropriados, enxada,
feitos sem acompanhamento topográfico, com checagem
motoniveladora etc.
de cotas de fundo, para que a sua escavação seja feita
De uma maneira geral, as atribuições de um de acordo com a declividade do projeto.
engenheiro de drenagem terminam quando começa o
dreno parcelar, sendo que a drenagem de projeto vai Nomenclatura dos drenos
obrigatoriamente até esse nível. As denominações de cursos d’água existentes, de
fluxo temporário ou permanente, devem ser mantidas.
Obras complementares A nomenclatura, sempre que se tratar de rede de
Bueiros, quedas, pontes, pontilhões são as obras drenagem de grande porte, deve ser codificada conforme
complementares mais comuns. São projetadas segue de acordo com a norma da ABNT, NBR 14143:
geralmente em escala 1:50, devendo a topografia do local 1º Espaço - Letra D (maiúscula)
de cada obra ser feita a nível de detalhe. Na parte 2º Espaço - Letras P,S,T ou Q, identificando
referente a anexos são apresentadas plantas-tipo para respectivamente, o dreno principal, secundário, terciário
diferentes obras. ou quaternário.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 395

3º e 4º Espaços - Número correspondente ao dreno O plantio de gramíneas ou leguminosas de pequeno


principal, ou zero, caso não haja mais de um dreno porte em taludes de drenos, com fins de protegê-los, não
considerado como principal; tem sido feito até o momento em nosso país por ser uma
5º e 6º Espaços - Número, a partir de 01, prática muito onerosa, mesmo sendo empregado o
correspondente ao dreno secundário; processo da hidros- semeadura.
7º e 8º Espaços - Número, a partir de 01, O problema de proteção de taludes se torna mais
correspondente ao dreno terciário; necessário em áreas onde há predominância de argila
9º e 10º Espaços - Número, a partir de 01, expansiva tipo 2:1 (teor de argila natural baixo).
correspondente ao dreno quaternário. Em casos como esses, tudo indica que a melhor opção
O dreno DPO1 será sempre aquele cujas águas é proteger as paredes do dreno, imediatamente após a
desembocam mais a jusante do maior coletor natural (rio, sua escavação, por meio do plantio de vegetação
riacho ou talvegue). Os demais drenos principais serão apropriada.
denominados de jusantes para montante segundo a ordem Quanto a limpeza de vegetação, é geralmente feita
de deságue. manualmente através de roçagem. Esta deveria, para
Para drenos secundários, terciários e quaternários, o drenos de seções maiores, ser sempre feita com o
número correspondente ao dreno deve estar em ordem emprego de máquinas apropriadas, constituídas de
crescente, de jusante para montante. Quando dois drenos ceifadeira hidráulica de braço móvel e ajustável, acoplada
desaguarem em um mesmo ponto, a numeração será a trator de roda, que poderia roçar não só as paredes
crescente da esquerda para a direita. como também o fundo do dreno.
Existem todavia situações em que não é possível No caso de desassoreamento, este também pode ser
enumerar os drenos principais (DP) de acordo com o feito manualmente, para drenos pequenos, ou
esquema proposto. Nesses casos, sugere-se que o DP mecanicamente para drenos maiores sempre que a
01 seja o de maior porte e os demais sejam enumerados operação for julgada necessária.
no sentido horário. A Figura 6 exemplifica o
procedimento proposto. CÁLCULOS DE ESPAÇAMENTO ENTRE
DRENOS E DIMENSIONAMENTO
DE DRENOS SUBTERRÂNEOS

Cálculo de espaçamento entre drenos


Existem muitas fórmulas para o cálculo do
espaçamento entre drenos. A escolha da fórmula a ser
usada vai depender das características do perfil do solo
da área a ser drenada, principalmente no que se refere
a profundidade da barreira e às características dos
horizontes ou camadas de solo.
As fórmulas mais comumente empregadas são:
- Fluxo contínuo
Donnan (fluxo horizontal)
Hooghoudt (fluxo horizontal e radial)
Figura 6. Desenho esquemático mostrando a nomenclatura Ernst(fluxo vertical,horizontal e radial)
do sistema de drenagem (NBR 14143)
- Fluxo variável
Conservação e manutenção de drenos Glover-Dumn(fluxo horizontal)
O ideal é que cada dreno, imediatamente após a sua Boussinesq (fluxo horizontal)
escavação, tivesse as suas paredes cobertas com vegetação
de porte rasteiro para evitar a erosão de seus taludes. Fórmulas de Donnan: Foi desenvolvida para fluxo
Em áreas úmidas e de solos férteis em profundidade, horizontal proveniente de irrigação, tendo sido
essa cobertura é feita espontaneamente por plantas empregada com êxito no Vale Imperial da Califórnia -
nativas em curto período de tempo. Em áreas menos EUA.
favorecidas pelas condições climáticas e de solo, as Condições de uso:
paredes dos drenos se mantém parcialmente desnudas ou - Fluxo permanente com lençol freático constante;
desprotegidas por longos períodos de tempo, o que facilita - Fluxo somente horizontal;
a erosão de seus taludes. - Solo homogêneo até a barreira;
396 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

- Sistema de drenos paralelos e infinitos; Esse principio baseia-se na hipótese de Dupuit -


- Recarga homogeneamente distribuída. Forchheimer que considera que o fluxo ocorre em
trajetória horizontal, o que na realidade não ocorre,
O cálculo do espaçamento entre drenos e dado pela principalmente nas imediações dos drenos onde as linhas
fórmula: de fluxo são notadamente curvas;entretanto para os
pontos onde a declividade da superfície do lençol for
pouco inclinada, a hipótese de D F pode ser considerada
como válida para:
- Solo homogêneo, portanto com um único valor de
condutividade hidráulica representativo do perfil do solo.
onde os parâmetros são ilustrados através da Figura 7, - Fluxo da água em solo saturado segundo os
sendo: princípios da Lei de Darcy.
L - espaçamento entre drenos - m; - Existência de barreiras abaixo das linhas de dreno
K - condutividade hidráulica - m dia-1; a uma profundidade - d.
B - altura do lençol freático em relação ao - Existência de uma recarga contínua - R.
impermeável, no ponto médio entre drenos - m; - Origem das coordenadas (referência) tomada sobre
D - distância entre a superfície da água, na vala ou a barreira, situada abaixo das linhas de dreno.
tubo de drenagem e a barreira - m; Esquema para dedução da formula, concebido por
R - coeficiente de drenagem subterrânea ou recarga Houghoudt é apresentado na Figura 8.
- m dia-1.

Figura 7. Desenho mostrando os parâmetros da fórmula do Figura 8. Desenho ilustrativo da dedução da formula de
Donnan Hooghoutt para o calculo do espaçamento entre drenos
subterrâneos
Se a vala ou tubos de drenagem estiverem sobre o
impermeável a fórmula fica reduzida a: Observa-se que um plano vertical, que passe pelo
centro, entre dois drenos consecutivos, divide a figura
acima em duas partes iguais com dois sentidos de fluxo.
Toda água que penetre no solo pelo lado esquerdo do
plano flue para o dreno situado deste lado, o mesmo
ocorrendo para o lado oposto.
Esta fórmula é mais recomendada para solos rasos a
Ao considera-se uma seção situada entre o dreno e o
serem drenados por valas abertas com bases inferiores
situadas próximo da barreira. plano divisor de fluxo, tem-se que o volume de água que
passa por essa seção ou plano vertical, tendo como limites
Fórmula de Hooghoudt: Foi desenvolvida por as superfície do lençol e a barreira,considerando-se uma
Hooghoudt, na Holanda, para fluxo horizontal e radial. largura unitária, é igual a recarga (R) multiplicada pela
Utiliza as mesmas suposições que a fórmula de Donnan, distância entre essa seção e o plano situado entre os
tendo após sua dedução sido incluído o fluxoradial. drenos ou:
A dedução da fórmula baseia-se nos seguintes
princípios:
- Fluxo de água contínua, com drenos paralelos e
equidistantantes.
- Gradiente hidráulico em qualquer ponto do terreno
igual à inclinação do lençol freático sobre o ponto Aplicando-se a lei de Darcy, pode-se obter uma
considerado - dy/dx. segunda equação para o fluxo de água, ou seja: qx = K i.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 397

Igualando-se as equações tem-se: A fórmula aplica-se para drenos subterrâneos, tipo


vala aberta ou drenos tubulares.
h - altura do lençol freático no ponto médio entre os
drenos - m;
L - espaçamento entre drenos - m;
K1 - condutividade hidráulica acima do nível dos
drenos - m dia-1;
K2 - condutividade hidráulica acima do nível dos
drenos - m dia-1.

A equação pode ser integrada entre os limites: A formula de Hooghoudt, a principio, não considerava
X = 0 e Y= D (para fins práticos despreza-se o valor o fluxo radial que ocorre abaixo da linha dos drenos, no
“b” por ser muito pequeno). que o seu emprego resultava em grandes distorções para
X = L/2 e Y = B = D + h. os espaçamentos maiores quando a barreira se encontrava
mais profunda.
Para barreira situada a 2,0 m abaixo das linhas de
dreno o erro já era significativo.
Para resolver o problema foi introduzido, pelo autor,
o concerto de profundidade equivalente da barreira (d)
onde os valores das distancias entre o fundo dos drenos
e a barreira (D) são substituídos, na formula, por valores
menores obtidos através de tabela ou cálculos.
É recomendada para solos homogêneos, ou seja, com
uma única camada ou horizonte até a barreira, ou para
solos com dois horizontes onde os drenos ficariam
situados na transição destes, conforme ilustrado na Figura
9, sendo:

Para

Figura 9. Desenho mostrando os parâmetros utilizados na


fórmula de Hooghoudt
398 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Para d = 0, drenos-m dia-1; drenos entubados o perímetro molhado p = r para o dreno


h - altura do lençol freático no ponto médio entre trabalhando a meia seção.
drenos - m; Com fins ilustrativos, a Tabela 12 mostra valores de
D - espessura da camada de solo saturado entre o espessura do estrato equivalente d, segundo Hooghoudt,
fundo do dreno e a barreira - m; obtidos para tubos de 0,10 m de raio.
d - espessura do estrato equivalente - m; O cálculo do valor d e consequentemente, de L, pode
R - coeficiente de drenagem subterrânea - m dia-1. ser feito conforme segue:
- Estima-se um valor para L, atribuindo-se a d um
Estrato equivalente: Na fórmula de Hooghoudt foi valor menor que D;
introduzido um fator de resistência radial, representado pela - Com o valor obtido para L, obtém-se outro valor
letra “d” ou espessura do estrato equivalente, para para d;
compensar a resistência ao fluxo que ocorre nas - Com o valor obtido para d, calcula-se um novo valor
proximidades dos drenos. para L e assim sucessivamente, até que os valores se
A espessura do estrato equivalente é uma função da tornem constantes; desta forma chega- se aos valores
espessura real da camada de solo, situada entre o dreno finais de d e do espaçamento entre drenos L.
e a barreira, representada pela letra D, do espaçamento
entre drenos L e do raio do tubo. Pode ser calculada pela Exemplo de uso da fórmula
seguinte expressão: - Drenos instalados a 1,30 m de profundidade e lençol
a 0,80 m da superfície do terreno:
- K = condutividade hidráulica = 0,3 m dia-1;
- h = altura do lençol freático no ponto médio entre
drenos = 0,50 m; (1,30 m - 0,80 m)
- R = coeficiente de drenagem subterrânea = 0,008 m
dia-1;
Sendo D, d e p expressos em metros - m, onde p - D = espessura da camada de solo situada entre o
representa o perímetro molhado do tubo ou da vala. Para fundo do dreno e a barreira = 1,70 m;

Tabela 12. Profundidades equivalentes de barreira - d


Dimensionamento de sistemas de drenagem 399

- p = raio hidráulico do tubo = 0,103 m. hr - perda de carga hidráulica devido ao componente


Obtenção da espessura do estrato equivalente: d de fluxo radial, m.
=10,40 m (assumidos)

Figura 10. Desenho esquemático mostrando os parâmetros


da fórmula de Ernst

o que resulta em uma equação de 2º grau, do tipo ax² +


bx + c = 0, sendo: L - Espaçamento entre drenos - m
R - coeficiente de drenagem subterrânea - m dia-1;
d L Dv- espessura da camada onde ocorre fluxo vertical
1,40 15,73 - m;
0,96 13,46 Kv- condutividade hidráulica da camada onde ocorre
0,89 13,09 fluxo vertical - m dia-1;
0,88 13,02 h -altura do lençol freático no ponto médio entre
drenos - m;
- d = espessura do estrato equivalente = 0,88 m; Kr - condutividade hidráulica da camada onde ocorre
- L = espaçamento calculado entre drenos = 13,02 m. fluxo radial - m dia-1;
Dr - espessura da camada onde ocorre fluxo radial m;
Fórmula de Ernst - Condições de uso: Foi a - fator geométrico para fluxo radial = 4,2;
desenvolvida para condições de solos que contenham dois p - perímetro molhado do dreno - m.
ou mais horizontes, onde a fórmula de Hooghoudt não
Exemplo
possa ser aplicada.
Lâmina a ser drenada devido ao rebaixamento do
O princípio geral de desenvolvimento da fórmula
lençol freático de 74,4 cm para 80 cm de profundidade
consiste na divisão das perdas de carga hidráulica durante em período de 3 dias;
o fluxo da água em 3 componentes, conforme ilustrado h = Altura do lençol freático no ponto médio entre
na Figura 10. drenos = 0,50 m; R = (55,6 cm - 50 cm) x 0,10/3 = 0,19
cm/dia = 0,0019 mm dia-1;
h = hh + hv + hr L = Espaçamento entre drenos - m;
Kv =Condutividade hidráulica para fluxo vertical = 1,0
em que: m dia-1;
h - perda total de carga hidráulica, m; Kr = Condutividade hidráulica na camada com fluxo
hh - perda de carga hidráulica devido ao componente radial = 1,0 m/dia; Dv =Espessura da camada onde
de fluxo horizontal, m; ocorre fluxo vertical = 0,50 m dia-1;
hv - perda de carga hidráulica devido ao componente Dr = Espessura da camada onde ocorre fluxo radial
de fluxo vertical, m; = 0,30 m dia-1;
400 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

a = Fator geométrico para fluxo radia l = 4,2, obtido onde:


da Figura 11 ou nomograma de Ernst para K2 / K1 = K - condutividade hidráulica = 0,3 m dia-1;
0,15 eD2/D0 = 4,7; t - tempo de drenagem = 3 dias;
p = Perímetro molhado = 0,13 m. V - porosidade drenável = 0,055;
ho - altura máxima assumida para o lençol freático no
ponto médio entre drenos = 0,93 m;
ht - altura assumida para o L freático, no ponto
médio entre drenos, após um determinado tempo = 0,50
m;
d - profundidade do estrato equivalente = 0,88 m.

0,50 = 0,095 + 0,0007L2 + 0,00137L h = (ho + ht)/4 = 0,36m

0,00047L2 + 0,004L - 0,50 = 0

L = 34 m

L = 16,14

Figura 11. Nomograma para a determinação do fator


geométrico “a” da fórmula de Ernst para o cálculo da
resistência radial (Wr)
Figura 12. Desenho mostrando os parâmetros da fórmula de
Glover-Dumn
Fórmula de Glover-Dumm - fluxo variável: As
fórmulas de fluxo variável não trabalham diretamente As recomendações contidas na literatura sempre
com valores de recarga e sim com os valores de apontam para um ajuste no espaçamento entre drenos
porosidade drenável e tempo estimado de rebaixamento para valores maiores, havendo inclusive sugestões para
do lençol freático até uma profundidade prefixada. dobrar o espaçamento e se necessário implantar
Porosidade drenável é o volume de poros de um volume posteriormente linhas intermediárias.
de solo, saturado, que fica livre de água quando Para o caso deste trabalho julga-se conveniente
submetido a uma tensão de 6 kPa (59,2 cm de coluna de implantar o sistema com espaçamento entre drenos de 20,0
água). A porosidade drenável pode ser obtida em mesa m e observar o seu desempenho para as chuvas de projeto.
de tensão, em laboratório, o que é trabalhoso e
dispendioso, razão pela qual é obtida, normalmente em Fórmula de Boussinesq: A fórmula é apropriada para
barreira situada próxima da zona radicular, onde o dreno,
função da média dos valores de c. hidráulica saturada de
por problema de profundidade da barreira, deve ser
campo, com o uso da fórmula. V2 = k(m dia-1)/100
situado sobre a mesma, para que seja aproveitada, ao
Foram desenvolvidas considerando que a irrigação máximo, a profundidade efetiva do solo. O seu uso é
não é um processo contínuo a sim aplicada por um idêntico ao da fórmula de Glover-Dumn, conforme
determinado período e intervalo de tempo. A Figura 12 ilustrado na Figura 13, com exceção da existência de
ilustra o emprego da fórmula a seguir: fluxo radial.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 401

de drenagem com alinhamento vertical perfeito, onde


sempre ocorre pequenos desalinhamentos.
Especificações técnicas para fins de implantação de
drenos subterrâneos entubados exigem que não ocorram
afastamentos do eixo vertical de projeto de mais de 1,0
cm por cada 3,0 m e que esses valores não sejam
cumulativos.
O cálculo do comprimento máximo do tubo pode ser
feito conforme segue:
a) Cálculo da capacidade do tubo dreno
Figura 13. Esquema mostrando os parâmetros da fórmula de Como o fluxo de água nos drenos se dá a pressão
Boussinesq atmosférica, o cálculo da vazão ou descarga e feita pela
fórmula de Manning onde:
Exemplo de cálculo:
L - espaçamento entre drenos - m; Q = 1/n A r 2/3 S 1/2
K - condutividade hidráulica = 0,27 m dia-1;
hi - altura do lençol antes do início das irrigações ou sendo:
das chuvas. Q - descarga (m3 s-1 ou l s-1);
ho - altura máxima estimada para o lençol freático no n - coeficiente de rugosidade de Manning;
ponto médio entre drenos = 1,24 m ; A - área molhada (m2);
ht - altura estimada para o lençol freático no ponto R - raio hidráulico (m);
médio entre drenos após o tempo de drenagem estimado S - declividade do tubo (m m-1).
= 0,60 m; No caso dos tubos corrugados de drenagem o
t - Tempo de drenagem assumido 3 dias; coeficiente de rugosidade, n = 0,016; em função deste
v - Porosidade drenável = 0,052. valor e empregando-se a fórmulas acima citada chega-
se às seguintes fórmulas simplificadas:
- Dreno trabalhando a ½ seção.

Q = 10 D 8/3 S 1/2

L = 9,0 m. sendo “D” o diâmetro interno do tubo


- Dreno trabalhando a ¾ de seção. Área de fluxo -
O espaçamento do projeto deve ser de 10 ou 15 m, com A = 0,63 D2
a finalidade de reduzir custos de implantação do sistema. Perímetro Molhado - P = 2,09 D Raio Hidráulico - R
= 0,30 D
Dimensionamento
O dimensionamento de drenos subterrâneos na Q = 17,5 D 8/3 S 1/2
realidade se resume ao cálculo dos comprimentos das
linhas de drenos, tendo em vista que obrigatoriamente Para tubos corrugados de PVC, DN 65, o diâmetro
tem-se que trabalhar com os tubos de drenagem interno é de 58,5 mm; para tubo de polietileno DN 75, é
existentes no mercado. O primeiro passo consiste então de 67,0 mm; para tubo de PVC DN100 é de 91,4 mm e
em conhecer os tipos tubo existentes na praça para para DN 110, de 101,4 mm.
então, com base em cálculos, definir-se qual a extensão Exemplo: Para tubo de PVC, DN 65, trabalhando a
a ser adquirida de cada tipo de tubo no que se refere a ½ seção e com declividade de 0,4% ou 0,004 m m-1 tem-
diâmetro interno e nominal. se:
De uma maneira geral é recomendado que os tubos
de drenagem trabalhem, para recarga de projeto, a ½ Q = 10 x (0,0585) 8/3 x (0,004) 1/2 = 0,0003 m³ s-1
seção ou no máximo ¾ de sua capacidade, o que permite
que mesmo após um pequeno assoreamento a linha ainda b) Cálculo da recarga unitário (q)
funcione satisfatoriamente. Um outro motivo dessa folga Para um coeficiente de drenagem subterrânea de R
se deve ao fato de se trabalhar com tubos de pequeno = 0,004 m/dia e espaçamentos entre drenos de L = 30,0
diâmetro e em função de dificuldades em instalar linhas m, conforme a Figura 14, tem-se:
402 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Distribuição dos lotes parcelares:

Figura 14. Representação esquemática de área unitária de


captação de água por um dreno

q = 30,0 m x l,0 m x 0,004 m dia-1

q = 0,120 m³/dia x m

q = 1,389 x 10-6 m³/s x m Os estudos e projetos de drenagem realizados no


Perímetro Irrigado Brígida foram iniciados em 1996, com
c) Cálculo do comprimento do tubo: a contratação, por parte da CODEVASF, de empresa de
O comprimento do tubo é obtido dividindo-se a engenharia para a realização de estudos e elaboração de
capacidade de projeto deste pela quantidade de água a projetos de drenagem coletora e drenagem do solo,
ser captada a cada metro de linha ou recarga unitária. propriamente, dita. Nessa época, foram selecionados 126
(cento e vinte e seis) lotes que apresentavam indícios de
má drenabilidade, com perdas significativas de produção,
no período chuvoso (dezembro-março), devido à
localização topográfica ou a profundidade do solo, inferior
a 1,0m.
A empresa contratada, na época, foi a Habítese
Engenharia LTDA, que, ao final dos trabalhos
executados de campo (realizando tradagens, abertura de
trincheiras e testes de condutividade hidráulica),
Entende-se que a linha ao atingir 216 m estará, para as tomando-se como base os estudos pedológicos existentes,
condições acima mencionadas, trabalhando a ½ seção. elaborou o projeto, e, após a aprovação da CODEVASF,
foi licitada a implantação, em 1998. Durante esse período
ESTUDO DE CASO: PROJETO (de 11 anos, aproximadamente), a CODEVASF, realizou
IRRIGADO BRÍGIDA outras etapas de estudos, devido ao surgimento de outros
lotes com problemas de drenagem. Os dados referentes
O Perímetro Irrigado Brígida, integrante do Sistema aos projetos de drenagem implantados, no período de
Itaparica, está localizado na região semiárida do nordeste 1998 a 2009, estão resumidos na Anexo 2.
brasileiro, à margem esquerda do Rio São Francisco, no Foram implantados no Perímetro Brígida, nesse
município de Orocó, no Estado de Pernambuco. Tem na BR período, compreendendo 05(cinco) etapas de
- 428 sua principal via de acesso. As suas coordenadas implantação, drenos subterrâneos em uma área de
geográficas são as seguintes: latitude sul entre 8º 18’ a 8º 1.014,0 ha (mil e quatorze), atendendo a 307 (trezentos
34’, longitude oeste entre 39º 22’ a 39º 27’. e sete) lotes parcelares, que representam 71% da área
As características edafoclimáticas da área são as irrigável, totalizando 510.165,0 m e, aproximadamente
seguintes: 80,0 km de drenos coletores superficiais;
Nessa última etapa, o investimento para a
Clima;
implantação de drenos subterrâneos, considerando o
BSh - tropical semiárido;
espaçamento médio entre as linhas de drenos de 20,0 m,
Temperatura média anual - 26 °C; instalados a uma profundidade média de 1,20 m,
Umidade relativa média anual - 60%; utilizando retroescavadeira de pneus, foi de,
Evaporação média anual - 2.080 mm; aproximadamente, R$ 8 mil ha-1;
Tipos de solos existentes no perímetro (%): Como exemplo, apresentamos abaixo o orçamento
- Argissolos - 65; para implantação de 19,70 km de drenos coletores
- Latossolos - 2,5; abertos, 1,04 km de drenos coletores entubados e 103.500
- Neossolos litólicos - 26,5; m de drenos subterrâneos, para a tender a 70 (setenta)
- Planossolos háplicos - 6,0. lotes agrícolas do Perímetro Brígida, em 2008/9.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 403

REFERÊNCIAS Rhodia S. A. Drenos; princípios básicos e sistemas drenantes.


São Paulo: 1978. 64p.
ABNT. NBR 14145. Drenagem agrícola terminologia e Schwab, G. O. et al. Precipitation. In: Soil and Water
simbologia. Rio de Janeiro,1998. 6p. Conservation Engineering. 2ed. New York: John Wiley &
CODEVASF/GEEPI CHESF. Drenagem subterrânea do Projeto Sons, 1966.
Taborga, J. J. T. Práticas hidrológicas. Rio de Janeiro:
Caraíbas: setor 01- agrovilas 01 e 02: Brasília:1994. v.1.
TRANSCON, 1974. 120p.
Luthin, J. N. Drainage engineering. New York: Robert E.
Teixeira, A. L. Cálculo estimativo de hidrograma de cheia. Belo
Engineering, 1973. 250p.
Horizonte: 1969. 14p.
Martínez, B. J. Drenaje agrícola. Espanha: Instituto Nacional USDA. Soil Conservation Service: drainage of agricultural
de Reforma e Dessarollo Agrário, 1986. 239p. land. Washington: 1971. v.1. National engineering
Millar, A. A. Drenagem de terras agrícolas; princípios, handbook, section 16
pesquisas e cálculos. Petrolina: SUDENE, 1974. v.1. USDA BUREAU. Drainage manual: A water resources
Pires, E. T. Informações mínimas para drenagem de várzea. Belo technical publication. Denver: 1978. 268p.
Horizonte: EMATER, 1982. 30p. Villea, S. M., Matto, A. Hidrologia aplicada. São Paulo
Pfafstetter, O. Chuvas intensas no Brasil; Relação entre McGraw-Hill do Brasil, 1975. 245p.
precipitação, duração e freqüência de chuvas com Wilken, P. S. Engenharia de drenagem superficial. São Paulo:
pluviógrafos. SP: DNOS, 1975. 419p. 1978. 478p.
404 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

ANEXO 1 Drenagem subterrânea: processo de remoção do


excesso de água do solo, com a finalidade de propiciar
Terminologia e simbologia em drenagem agrícola condições favoráveis de umidade, aeração, manejo agrícola
Neste capítulo são apresentadas as definições e os e prevenir a salinização ou remover excesso de sais.
símbolos mais comumente utilizadas em drenagem agrícola, Dreno: condutor aberto ou subterrâneo, tubular ou
o que contribui para a uniformização da linguagem entre de material poroso, destinado a remover o excesso da
os técnicos da área. As definições e símbolos aqui água proveniente de sua área de influência.
utilizados constam de uma relação parcial extraída da NBR Dreno interceptor: dreno que tem por finalidade
14145 (ABNT, 1998), estando portanto sujeitas a interceptar fluxo superficial e/ou subterrâneo de áreas
modificações sempre que a norma citada for revisada. adjacentes situadas à montante.
Dreno de encosta: dreno interceptor situado em pé-
Terminologia-definições de-morro ou encosta.
Área de influência do dreno: área efetiva da qual Dreno subterrâneo: conduto subterrâneo utilizado
a água em excesso é captada e removida pelo dreno. para coletar e conduzir, por gravidade, a água proveniente
Base de drenagem: cota mínima ou cota de do lençol freático de sua área de influência.
chegada de um sistema de drenagem. Indica se a área Dreno vertical: condutor vertical através de camada
será drenada por gravidade ou bombeamento. impermeável, pelo qual a água de drenagem da
Caixa de inspeção: estrutura intercalada na linha superfície ou subsuperfície é escoada.
de dreno subterrâneo entubado para facilitar a inspeção
Duração de chuvas: tempo utilizado para a
e a manutenção do sistema.
determinação da chuva de projeto em bacias que
Camada impermeável ou barreira: camada de
possuam áreas de acumulação de água. Pode ser igual
solo cuja condutividade hidráulica vertical saturada é igual
ao tempo de concentração ou ao tempo de drenagem.
ou inferior a 1/10 da média ponderada da condutividade
Envoltório: material mineral, sintético ou vegetal,
hidráulica saturada das camadas superiores.
colocado ao redor do tubo de drenagem com a finalidade
Carga hidráulica: potencial de pressão expresso em
altura equivalente a uma coluna de água em relação a de facilitar o fluxo da água para o seu interior e minimizar
um plano de referência (mca). a desagregação e o carreamento de partículas do solo.
Coeficiente de drenagem subterrânea ou recarga: Escoamento superficial: fração da água de
taxa de remoção do excesso de água do solo, expressa precipitação ou irrigação que alcança os cursos de água
em altura de lâmina de água por dia (m dia-1). através do fluxo de superfície.
Coletor: condutor aberto ou subterrâneo destinado Espaço aéreo do solo: volume de poros ocupado
a receber as águas de outros drenos e conduzi-las ao pela fase gasosa para um dado conteúdo volumétrico de
ponto de descarga. água no solo, expresso em porcentagem.
Condutividade hidráulica saturada (k): propriedade Fluxo: volume de água que atravessa uma dada
hidráulica de um meio poroso saturado que determina o seção transversal de solo por unidade de tempo.
fluxo em função do gradiente hidráulico (m dia-1). Franja capilar: faixa do solo acima do nível freático
Densidade de partículas: relação entre a massa das onde o valor da tensão da água é inferior a 6 kPa.
partículas do solo seco a 105ºC, até massa constante, e o Gradiente hidráulico: expressão numérica da
volume das partículas (g cm-3). variação da carga hidráulica por unidade de distância
Densidade do solo: relação entre a massa do solo (adimensional).
seco a 105º C, até massa constante e o volume total do Infiltração: movimento vertical descendente da água
solo coletado com estrutura não deformada (g cm-3). no solo (cm h-1).
Dique: obra hidráulica, de terra ou concreto, de Infiltração básica: lâmina de água que flui através
proteção contra inundações. de um solo, por unidade de tempo, após a estabilização
Drenagem: processo de remoção do excesso de do fluxo (cm h-1).
água da superfície do solo e/ou subsolo. Linhas equipotenciais: são curvas imaginárias que
Drenagem agrícola: processo de remoção do unem pontos de mesmo potencial de água no solo.
excesso de água da superfície do solo e/ou subsolo Linhas de fluxo: trajetória seguida por uma
visando o aproveitamento agrícola. molécula de água durante o seu movimento no solo.
Drenagem natural do solo: escoamento natural do Linhas de isoprofundidade (isóbatas): linhas que
excesso de água do solo e/ou subsolo. unem pontos de mesma profundidade do lençol freático.
Drenagem superficial: processo de remoção do Linha piezométrica: linha que representa a
excesso de água da superfície do solo para torná-lo distribuição da pressão ao longo de condutos ou meios
adequado ao aproveitamento agrícola. porosos.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 405

Macrodrenagem: sistema de drenos escavados para Tempo de recorrência ou período de retorno:


coletar os excedentes de águas de chuvas e subterrâneas período, em anos, que uma chuva de intensidade igual
de sua área de influência. ou superior, apresenta a probabilidade de ocorrer pelo
Nível freático: medida da profundidade da superfície menos uma vez.
freática num determinado ponto do perfil do solo.
Vazão: volume de um fluido que atravessa uma seção
Permeabilidade: propriedade do solo de conduzir
água. transversal por unidade de tempo (m3 s-1).
Piezômetros: tubo de medição pontual da pressão Velocidade de escoamento superficial: Velocidade
piezométrica (hidrostática) de aquífero subterrâneo. com que a água escoa sobre uma dada superfície do
Indica a direção do movimento vertical da água no solo. terreno.
Poço de observação do lençol freático: furo de Talude: inclinação das paredes de dreno.
trado no solo, revestido ou não por tubo perfurado, com
a finalidade de medir o nível freático. Simbologia - representação
Ponto de descarga: ponto final de um sistema de Talvegue ou dreno natural
drenagem, onde ocorre o deságue por gravidade.
Porosidade drenável: volume de poros de um
volume de solo, saturado, que fica livre de água quando
submetido a uma tensão de 6 kPa. Dreno ou coletor superficial aberto
Porosidade total: relação entre o volume de poros
e o volume total de solo, expressa em porcentagem.
Potencial de água no solo: representa o trabalho Dreno subterrâneo entubado
realizado, por unidade de volume de água, no estado
padrão, quando é elevada isotérmica, isobárica e
reversivelmente para o ponto considerado no solo.
Pressão artesiana: pressão hidráulica existente em Caixa de inspeção
um aquífero subterrâneo confinado, como consequência
da situação do nível freático do aquífero em ponto mais
elevado. Caminho de serviço-estrada
Queda: estrutura que visa a dissipação de energia
da água em ponto localizado.
Rede de fluxo: representação gráfica das linhas de
fluxo e das linhas equipotenciais. Bueiro
Sistema de drenagem: conjunto de drenos,
estruturas e equipamentos interligados visando o
escoamento do excesso de água de sua área de
influência.
Sistema de drenagem subterrânea: conjunto de
drenos subterrâneos, coletores, estruturas e Ponte
equipamentos, que tem por finalidade controlar o nível
de ascensão do lençol freático de sua área de influência.
Sistema de drenagem superficial: conjunto de
drenos, estruturas e equipamentos interligados, visando
o escoamento do excesso de água superficial de sua área Passagem molhada
de influência.
Superfície freática: superfície da água livre no solo
ou na sua superfície, submetida à pressão atmosférica.
Taxa de difusão de oxigênio: massa de oxigênio Açude
que passa por unidade da área do solo e por unidade de
tempo.
Tempo de concentração: tempo que a água de
escoamento superficial leva para se deslocar do ponto
mais distante da bacia de captação até ao ponto de Dique de proteção
descarga.
Tempo de drenagem: tempo de escoamento de toda
a água acumulada em uma área.
406 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Estação de Bombeamento Área inundável

Pântano
Canal de irrigação

Regadeira
Córrego

Adutora
Rio

Tubulação de pressão

Limite de propriedade
Curvas de nível

Limite de área do projeto

Isóbata-Isoprofundidade do lençol

Cerca

Isoípsa-Curva de nível do lençol


Tradagem

Lago ou lagoa perene


Cores propostas para planta de isoprofundidade de
lençol freático (isóbata) ou representações gráficas:

- 0-50 cm - Vermelho
Lago ou lagoa periódica - 50-100 cm - Azul
- 100-150 cm - Laranja
- 150-200 cm - Verde
- 200 - + cm - Sem cor
Mangue
Observação: as dimensões dos símbolos podem variar
em função da escala adotada em cada projeto.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 407

ANEXO 2
Quadro de quantitativos e custos
Item Discriminação Un. Quant. Pr. Unit. Pr. Total
1.0 Instalação, mobilização e desmobilização conforme
especificações técnicas vb 1,00 54.175,06 54.175,06
2.0 Locação de veiculo básico para 5 passageiros, com
ar condicionado, ano não inferior a 2006, com até
10.000 km rodados dia 310,00 108,47 33.627,18
3.0 Serviços topográficos: locação, nivelamento e
contra-nivelamento, fornecimento de caderneta de
campo calculadas e digitadas km 124,30 588,10 73.101,25
4.0 Sondagem geotécnica - Tradagem manual até 1,5m,
a cada 20m, ao lado da estaca topográfica un 149,34 16,42 2.452,81
5.0 SERVIÇOS PRELIMINARES
5.1 Desmatamento e limpeza da faixa, p/exec. de drenos
coletores abertos conf. Especificações técnicas m2 157.600,00 0,22 35.156,65
5.2 Limpeza da faixa de construção p/exec. De drenos
colet. entubados e drenos subterrâneos, conforme
especificações técnicas m2 418.160,00 0,16 66.074,12
6.0 ESCAVAÇÃO DE DRENOS COLETORES ABERTOS
6.1 Escavação em material de 1a. Categoria m3 100.312,40 2,19 219.483,51
6.2 Escavação em material de 2a. Categoria m3 4.868,42 2,92 14.202,80
6.3 Escavação em material de 3a. Categoria m3 411,18 51,05 20.989,48
7.0 DESTINAÇÃO DO MATERIAL ESCAVADO
7.1 Espalhamento ao longo das faixas de execução dos
drenos - material de 1a. Categoria m3 63.355,20 1,09 69.310,58
7.2 Transporte para locais de bota-fora, incluindo carga e
descarga - materiais de 2a. e 3a. Categoria m3 42.236,80 5,90 248.988,96
8.0 IMPLANTAÇÃO DE DRENOS SUBTERRANEOS
PARCELARES COM TUBOS CORRUGADOS
PERFURADOS DN65 E DN100 DE PVC OU PEAD,
de acordo com ABNT NBR 15073.2004, envelopados
com manta geotextil, conforme especificações técnicas
8.1 Escavação de valas p/ instalação de drenos subterrâneos
8.1.1 Escavação mecânica de valas m3 49.680,00 2,19 108.699,83
8.1.2 Escavação manual de valas m3 993,60 13,69 13.599,37
8.2 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos corrugados
perfurados DN65 m 103.000,00 8,12 836.574,22
8.3 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos corrugados
perfurados DN100 m 500,00 11,70 5.849,98
8.4 Reaterro de valas
8.4.1 Reaterro mecânico de vala m3 30.404,16 1,09 33.262,15
8.4.2 Reaterro manual de vala m3 20.269,44 5,47 110.970,83
9.0 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE CAIXAS DE
INSPEÇÃO E INSPEÇÃO/JUNÇÃO
Conforme especificações técnicas um 173,00 66,62 11.525,72
10.0 ESTRUTURAS
10.1 Em alvenaria de pedra argamassada 1:3 m3 370,00 189,44 70.091,03
11.0 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE TUBOS DE
CONCRETO TIPO CA II PARA CONSTRUÇÃO DE
BUEIROS, conforme especificações técnicas
11.1 Bueiro - d=800mm m 145,00 179,35 26.005,70
11.2 Bueiro - d=1000mm m 10,00 267,77 2.677,67
11.3 Bueiro - d=1200mm m - 363,24 -
12.0 IMPLANTAÇÃO DE DRENOS COLETORES ENTUBADOS,
conforme especificações técnicas
12.1 Escavação mecânica de valas
12.1.1 Escavação em material de 1a. categoria m3 898,56 2,92 2.621,40
12.1.2 Escavação em material de 2a. categoria m3 99,84 4,38 436,90
12.2 Reaterro manual compactado de valas m3 332,80 8,03 2.671,43
12.3 Reaterro mecânico de vala m3 665,60 1,09 728,17
12.4 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos de PVC
rígido, classe leve - DN 150, conforme especificação
técnica m 1.040,00 16,64 17.301,65
TOTAL GERAL 2.080.578,45
22 Biodrenagem

Salomão de S. Medeiros1, Pedro D. Fernandes1,


José A. Santos Jr.2 & Hans R. Gheyi3

1
Instituto Nacional do Semi-Árido
2 Universidade Federal de Campina Grande
3 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Princípios da biodrenagem
Principais culturas utilizadas na biodrenagem
Vantagens e limitações da biodrenagem
Biodrenagem e controle da salinidade do solo
Cenários para implantação do sistema de biodrenagem
Sistema de cultivo em sequeiro
Interceptação dos fluxos de águas subterrâneas
Controle das vazões de descarga
Sistema de cultivo irrigado
Interceptação do fluxo de água
Complementação ao sistema de drenagem convencional
Planejamento de sistemas de biodrenagem
Dimensionamento do sistema de biodrenagem
Estudos de casos e experiências
Índia
Israel
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
410 Salomão de S. Medeiros et al.

Biodrenagem

INTRODUÇÃO Já a drenagem subterrânea pode ser entendida como


um sistema de canais abertos conectados a uma malha
Extensas superfícies irrigadas estão localizadas em de tubos perfurados, ou constituídos de material poroso,
áreas com problema de drenagem, onde o elevado nível enterrados e conectados entre si, visando à remoção do
do lençol freático tem provocado perdas na produção, excesso de água do perfil do solo, com a finalidade de
dificuldades no manejo do solo e até deterioração de propiciar aos cultivos condições favoráveis de umidade,
suas propriedades físico-químicas; segundo Heuperman aeração, manejo agrícola e prevenindo a salinização e a
remoção do excesso de sais da área. Dessa forma a
et al. (2002), cerca de um terço das áreas irrigadas no
drenagem interna facilita a melhoria das condições
mundo enfrentam problema desta natureza (60 milhões
físicas, químicas e biológicas do solo, criando condições
de hectares), e destas, aproximadamente 20 milhões de favoráveis para o aumento e a melhoria da produtividade
hectares apresentam-se acúmulo de sais (salinização). e qualidade dos produtos.
Ante toda essa problemática, a drenagem convencional No entanto, um dos maiores entraves para utilização
(superficial e/ou subsuperficial) apresenta-se como desses sistemas de drenagens são o seu alto custo e os
técnica de engenharia amplamente difundida e impactos ambientais gerados por ocasião da instalação,
consolidada na resolução do problema. operação e manutenção. Neste contexto, o presente
A drenagem convencional é uma prática que permite texto se propõe a abordar a técnica da biodrenagem
a incorporação de áreas com deficiência de drenagem ao como tecnologia alternativa para resolução dos
processo produtivo, possibilita o incremento da problemas de alagamento, rebaixamento do nível do
produtividade agrícola, controla e recupera áreas com lençol freático e controle das concentrações de sais
problemas de salinidade e/ou sodificação, evita a (salinidade) no perfil do solo, que vem sendo
ocorrência de inundações, promovendo o seu largamente empregada em países como a Índia,
saneamento, e mantendo sob controle os agentes Austrália, Israel, Paquistão e Estados Unidos (Ram, et
causadores de doenças de veiculação hídrica, além de al., 2008; Gafni & Zohar, 2007; Heuperman et al., 2002;
Gafni & Zohar, 2001).
evitar danos à infra-estrutura de obras civis (Bernardo,
2005; Batista et al., 2002).
PRINCÍPIOS DA BIODRENAGEM
Quando de caráter superficial, a drenagem consiste
de um sistema de canais abertos conectados entre si, O termo biodrenagem é relativamente novo, embora,
com a função de remover o excesso de água da o uso da técnica tenha sido observado em diversas áreas
superfície do solo, na ocorrência de um evento de na resolução dos problemas de drenagem. Heuperman et
precipitação ou irrigação. Normalmente, este tipo de al. (2002) e Ram et al. (2008), relatam que a
sistema de drenagem é empregado em áreas planas, com biodrenagem pode ser entendida como o processo de
solo de baixa capacidade de infiltração e permeabilidade extração de água do solo através do sistema radicular das
ou com camadas impermeáveis logo abaixo da superfície plantas, e sua eliminação na forma de vapor, por meio dos
do solo. processos de evaporação e transpiração (Figura 1).
Biodrenagem 411

nível do lençol freático e controle das concentrações de


sais no solo em áreas com deficiência de drenagem.
Holmes & Wronski (1981) sugerem que nas
condições climáticas do sudeste da Austrália, com
precipitação média anual de 700 mm, as florestas de
eucaliptos podem promover um déficit anual de 250 mm,
enquanto culturas agrícolas, em condições semelhantes,
algo em torno de 180 mm. Tais estimativas implicam que
uma bacia que contém floresta de eucalipto, por exemplo,
deve, naquelas condições, produzir cerca de 70 mm a
Figura 1. Conceito de biodrenagem
menos de deflúvio anual, em comparação a exploração
A evaporação é o processo no qual a água na forma somente de culturas anuais.
líquida é convertida em vapor de água a partir de uma Já Akram et al. (2009), em seus trabalhos realizados
superfície evaporante (logos, rios, solo úmido, vegetação na Índia citam a Tamarix troupii, Tortilis acácia e
molhada, etc.). Já o processo de transpiração consiste na Acacia nilótica como espécies de alto potencial para
vaporização da água líquida contida nos tecidos vegetais utilização em sistemas de biodrenagem.
para a atmosfera, controlada predominantemente através
da abertura e/ou fechamento dos estômatos. VANTAGENS E LIMITAÇÕES
Considerando, a disponibilidade de água na superfície DA BIODRENAGEM
do solo, o processo de evapotranspiração pode ser
influenciado pelo clima, características da cultura Segundo Ram et al. (2008), as principais vantagens da
explorada, o tipo de manejo adotado e o meio de cultivo. biodrenagem em relação aos sistemas de drenagem
Então, a escolha de espécies de vegetais que promovam convencional são: baixo custo de implantação e
uma intensa demanda evapotranspirométrica é fator manutenção; inexistência de custos operacionais, em
determinante para o sucesso da biodrenagem. No razão das plantas utilizarem sua bioenergia para drenar
entanto, em áreas com problemas de drenagem o excesso de água do solo para a atmosfera; maior vida
localizadas em regiões áridas e semiáridas, e que útil do sistema, e sua consequente valorização ao invés
possuam problemas de salinidade, as espécies escolhidas de depreciação; inexistência de emissário e de geração
também devem apresentar tolerância aos efeitos dos sais, de efluentes; redução dos impactos ambientais; resolução
uma vez que a capacidade de absorção de água pode ser dos problemas de alagamento e controle da salinidade do
diretamente afetada. solo; auxilia também no sequestro de carbono, atenuando
Outra característica a ser considerada por ocasião da os problemas decorrentes dos gases do efeito estufa;
escolha da cultura a ser utilizada na biodrenagem é a sua aumento da cobertura vegetal; atua como quebra vento
posterior rentabilidade, isto é, aliar culturas que atendam em sistemas agroflorestais; além de proporcionar renda
aos requisitos da técnica (ter uma alta demanda adicional ao produtor devido a produção de madeira,
evapotranspirométrica), e que promova uma frutos etc.
remuneração ao produtor através dos seus produtos: Na Tabela 1, encontram-se elencados alguns
madeira, frutas, forragens etc. parâmetros que apontam as potencialidades e limitações
do sistema de biodrenagem em relação aos sistemas
PRINCIPAIS CULTURAS UTILIZADAS convencionais; e na Tabela 2, estão sumarizado diversos
NA BIODRENAGEM cenários, e que tipo de sistema de drenagem é mais
adequado a cada situação.
Atualmente, vários trabalhos têm sido desenvolvidos
com diversas espécies vegetais, na busca de selecionar BIODRENAGEM E CONTROLE
as mais adaptadas para resolução dos problemas de DA SALINIDADE DO SOLO
drenagem.
Heuperman et al. (2002) e Ram et al. (2008), A prática da irrigação sempre aporta certa
descrevem em seus trabalhos desenvolvidos em regiões quantidade de sais ao solo, mesmo quando o suprimento
de clima árido e simiárido, que a implantação do sistema de água é de boa qualidade; as causas deste processo
de biodrenagem utilizando o cultivo de eucaliptos tem remetem aos grandes volumes de água aplicados via
tornado-se uma opção bastante interessante, frente a irrigação, que ao final de um ciclo de cultivo aporta
resolução dos problemas de alagamento, rebaixamento do quantidades significativas de sais.
412 Salomão de S. Medeiros et al.

Tabela 1. Comparação entre diferentes métodos de drenagem


Métodos de Drenagem

Parâmetros Convencional
Biodrenagem
Horizontal Vertical

Eficiência e dependência - Boa eficiência - Boa eificiência - Vários sistemas têm


- Necessida de emissário - Necessidade de reúso dos apresentado bons resultados
- Lagoa de evaporação tem efluentes - Atualmente, não tem sido uma
apresentado resultados - Lagoa de evaporação tem alternativa em grandes projetos
intermediários apresentado resultados de irrigação
- Evaporadores solares podem intermediários - Não há necessidade de
compor o sistema. - Evaporadores solares podem implantação de emissários.
compor o sistema.

Custo - Médio a alto - Médio a alto - Baixo custo e com


possibilidade de retorno
econômico

Vantagens / limitações - Apresenta maior controle do - Proporciona controle do nível - Permite incorporação de áreas
nível do lençol freático do lençol freático e do alagadas ao processo produtivo
- Permite incorporação de áreas escoamento superficial - Proporciona controle do nível
alagadas ao processo produtivo - Permite incorporação de áreas do lençol freático
- Oferece maior controle da alagadas ao processo produtivo - Oferece segurança a cultura
salinidade do solo e a - Oferece maior controle da explorada quanto as ações de
possibilidade da retirada do salinidade do solo e a ventos fortes
excesso de sais da área. possibilidade da retirada de sais - Possibilita uma renda extra ao
da área. produtor, devido a extração de
madeira, óleos vegetais e
produtos florestais
- Incrementa a biodiversidade
local
- Ocupa uma área considerável
quando comparado ao sistema
de drenagem superficial
- Proporciona controle limitado
da salinidade do solo.

Operação e Manutenção - Manutenção periódica da - Manutenção periódica da - Necessidade de poda, desbaste


tubulação e drenos abertos tubulação, motobombas, telas, e colheita da madeira
- Remoção periódica dos sais etc. - Controle de pragas e doenças.
nas lagoas de evaporação. - Consumo de energia elevado
em relação a outros métodos.

Área ocupada - Somente para os drenos - O sistema ocupa uma área - Ocupa áreas relativamente
abertos e lagoas de evaporação. muito pequena. grande; em sistemas
implantados na Índia o sistema
chega a ocupar 10% da área
irrigada.

Exigência de água de boa - Não se aplica. - Não se aplica. - Somente durante a fase de
qualidade estabelecimento das árvores.

Necessidade de energia - Eventualmente, utiliza-se de - Para retirada da água - Não se aplica.


estações de bombeamento subterrânea através das estações
elevatórias quando o terreno de bombeamento elevatória.
apresenta limitações
topográficas que não permite o
escoamento gravitacional.

Impacto ambiental causado no - Adverso; devido à água de - Adverso; devido à água de - Positivo; pelo fato do sistema
entorno drenagem apresentar altas drenagem apresentar altas não produzir afluentes.
concentrações de sais, produtos concentrações de sais, produtos - Em face da possibilidade de
químicos e nutrientes químicos e nutrientes. acúmulo de sais na área do
- Lagoas de evaporação quando sistema, haverá necessidade de
não bem manejadas podem implantação de uma área de
causar impactos ambientais disposição final dos sais.
significativos.
Adaptado de Heuperman et al. (2002).
Biodrenagem 413

Tabela 2. Escala de eficiência dos sistemas de drenagem segundo as características da região


Potencial e Limitações da Biodrenagem
Escala de Eficiência
Cenários Benefícios/
Viabilidade Méritos dos Sistemas de Drenagem
Limitações
Região úmida com Viável Menor custo com Ocupação de Região com Região com
água subterrânea de impacto ambiental parte da área excesso de água déficit de água
boa qualidade positivo. com o sistema 1. Biodrenagem 1. Drenagem
2. Drenagem superficial
subsuperficial 2. Biodrenagem
3. Drenagem 3. Drenagem
superficial subsuperficial
Região úmida com Quando a Menor custo com Ocupação de Região costeira Interior
água subterrânea de salinidade do solo impacto ambiental parte da área
má qualidade é excessiva (por positivo com o sistema 1. Drenagem 1. Biodrenagem
exemplo, mais de subsuperficial 2. Drenagem
12 dS m-1) a 2. Biodrenagem superficial
efetividade do 3. Drenagem 3. Drenagem
sistema pode ser superficial subsuperficial
comprometida
Regiões áridas e Viável Menor custo com Não apresenta 1. Drenagem superficial
semiárida, com água impacto ambiental limitações 2. Biodrenagem
subterrânea de boa positivo 3. Drenagem subsuperficial
qualidade
Regiões áridas e Quando a Menor custo com Quando se Região costeira Interior
semiárida, com água salinidade do impacto ambiental dispõem da água
subterrânea de má solo é excessiva positivo de qualidade 1. Drenagem 1. Biodrenagem
qualidade (por exemplo, inferior para subsuperficial 2. Drenagem
mais de 12 dS m-1) irrigação 2. Biodrenagem superficial
a efetividade do 3. Drenagem 3. Drenagem
sistema pode ser superficial subsuperficial
comprometida
Adaptado de Kapoor (2010).

Estudos desenvolvidos por Akram et al. (2009), e semiáridas é o equilíbrio do balanço de sais e a sua
demonstram que em sistemas de biodrenagem, a acumulação na região dos biodrenos; para estes autores
salinidade do solo na região das linhas de plantio, a sustentabilidade do sistema é questionável, exceto
denominado biodrenos, eleva-se nos primeiros dois anos quando a qualidade da água de irrigação é boa ou, o
e, mantendo-se estáveis nos anos subsequentes. No sistema está implantado em um local onde a precipitação
entanto, a salinidade do solo é proporcional à média anual é elevada.
concentração de sais da água de irrigação; porém, Em zonas áridas e semiáridas, a viabilidade desse
quando se utiliza águas com baixas concentrações, sistema só pode ser alcançada se algum tipo de
pequenas frações de lixiviação são suficientes para mecanismo de remoção sal for incluído o sistema; estes
manter os níveis de sais baixos na zona radicular dos mecanismos podem ser a colheita da folhagem,
biodrenos. Contudo, à medida que a concentração de sais raspagem de sais acumulados na superfície do solo onde
na água de irrigação aumenta, há um incremento estão os biodrenos e consórcio utilizando culturas que
significativo da salinidade na zona radicular dos possuem a capacidade de extrair sais do solo, como a
biodrenos, interferindo de forma negativa na absorção de atriplex. Nesses casos alguns autores como Heuperman
água. et al. (2002) sugerem combinar a técnica da biodrenagem
Em contrapartida, nas áreas onde a camada com as tecnologias de engenharia de drenagem
impermeável esta localizada em maiores profundidades, convencionalmente utilizadas.
menor será a concentração de sais na zona radicular dos Obviamente que os estudos relativos à utilização da
biodrenos, devido o deslocamento vertical dos sais para biodrenagem como alternativa para a prevenção e
as camadas mais profundas. controle da salinidade em regiões áridas e semiáridas
De acordo com Akram et al. (2009), a principal necessita de estudos mais aprofundados, no entanto,
restrição da utilização da biodrenagem em regiões áridas Akram et al. (2009), apontam que a salinidade máxima
414 Salomão de S. Medeiros et al.

inicial da água do solo passível de controle através da quando o sistema de biodrenagem é superdimensionado
técnica da biodrenagem num período de 5 a 10 anos é de – onde se cria uma zona (área localizada no topo da
cerca de 5 dS m-1. Em muitos casos, até mesmo uma encosta) de elevada demanda de água
salinidade do solo inicial de 3 dS m -1 não pode ser (evapotranspiração), que ocasiona uma brusca redução
tolerada durante um longo período de tempo, por exemplo, do nível do lençol freático no trecho de jusante (Figura
20 anos. 2), reduzindo a disponibilidade de água no solo para as
Nessas condições, assumindo que a salinidade da culturas de sistema radicular pouco profundo, além da
água do solo é quase 1,5 vezes a salinidade da água de diminuição do fluxo de água para o leito dos rios e
irrigação (Ayres & Westcot, 1999), pode-se concluir que abastecimento dos poços explorados na área.
o sistema de biodrenagem pode não funcionar
corretamente quando a salinidade da água de irrigação
excede 3,3 dS m -1 . Isso é verdade, claro, onde a
precipitação anual é de 250 mm, como foi o caso da área
onde estes estudos foram realizados. Considerando que
a chuva dilui a salinidade da água do solo, pode-se
esperar que o risco de salinização do solo seja menor em
áreas úmidas.

CENÁRIOS PARA IMPLANTAÇÃO


DO SISTEMA DE BIODRENAGEM

Segundo Heuperman et al. (2002) a biodrenagem


pode ser empregada tanto em sistemas de cultivos de
sequeiro como irrigados.
Em sistema de cultivo de sequeiro a biodrenagem
pode atuar no controle de recarga dos aquíferos, na Figura 2. Plantio de árvore em área de recarga objetivando
interceptação dos fluxos das águas subterrâneas e no controle do nível do lençol freático. (Adaptado de
controle das vazões de descarga; já em sistemas Heuperman et al., 2002)
irrigados sua atuação é no controle do nível do lençol
Interceptação dos fluxos de águas subterrâneas
freático da área; na interceptação do fluxo de água em
Outra contribuição da biodrenagem nos sistemas de
áreas que apresentam maiores probabilidade de
cultivo de sequeiro é a interceptação dos fluxos de água
ocorrência de infiltração (áreas próximas aos canais de
subterrânea nas áreas de encostas; então, a instalação
irrigação) e/ou complementando ações dos sistemas de
dos biodrenos deve ser na mudança da face convexa para
drenagem convencional.
côncava (Figura 3).
Sistema de cultivo em sequeiro
Controle de recarga dos aquíferos: Em sistemas
naturais a sustentabilidade ambiental depende do
equilíbrio entre os fluxos de recarga e descarga da água
subterrânea. Notadamente em sistemas de cultivos
anuais, caracterizadas por apresentarem sistemas
radiculares pouco profundos e com baixo consumo de
água, associado à baixa capacidade de movimentação de
água dos aquíferos têm favorecido invariavelmente a
elevação do nível freático e a consequente salinização
dos solos, frente ao desequilíbrio entre os fluxos de água
de recarga e descarga.
Na Figura 2, apresenta-se o cenário onde a
biodrenagem pode atuar no caso do controle da recarga
de aquíferos; entretanto, deve-se ressaltar que sistema de Figura 3. Plantio de árvore em encosta objetivando interceptar
biodrenagem mal planejados em áreas de recarga pode o fluxo de água subterrânea lençol freático. (Adaptado de
ocasionar efeitos negativos. Tal situação pode ocorrer Heuperman et al., 2002)
Biodrenagem 415

Controle das vazões de descarga consequência a ruptura de suas placas de concreto,


Nas áreas de várzeas onde o nível do lençol freático ocasionado pela elevação do nível do lençol freático,
é superficial, a introdução da técnica da biodrenagem provocado pela irrigação excessiva e agravada pela
pode favorecer condições satisfatórias ao precipitação ocorrida no período chuvoso.
desenvolvimento de sistema de cultivo de sequeiro
(Figura 4). Todavia, neste caso existem contestações a
cerca da sustentabilidade do sistema. Smedema (1997)
e Heuperman (2000) sugerem que em áreas de várzeas
o sistema de biodrenagem pode ser implantado apenas
como ação complementar ao sistema convencional.

Figura 5. Área localizada no Perímetro Irrigado de São


Gonçalo, Sousa-PB, em completo abandono devido altas
concentrações de sais na superfície do solo (detalhe A) e
do nível do lençol freático a menos de 20 cm da superfície
(detalhe B)

A B
Figura 4. Plantio de árvore em área de várzea objetivando
controle das vazões de descargas. (Adaptado de
Heuperman et al., 2002)

Sistema de cultivo irrigado


Controle do nível do lençol freático: É vasta a
quantidade de áreas cultivadas no Brasil, irrigadas ou
não, que apresentam problemas de drenagem natural.
Segundo Batista et al. (2002), somente no Vale do Rio
São Francisco estima-se que existam, aproximadamente,
50.000 ha irrigados que apresentam problemas de
salinidade, ocasionado principalmente pela deficiência
de drenagem, e destas, somente na região do sub-médio Figura 6. Deslocamento de um trecho do canal principal do
São Francisco existem em torno de 15.000 ha Perímetro Irrigado Formoso, Bom Jesus da Lapa-BA (A)
salinizados e em completo abandono. A existência de com a consequente ruptura de suas placas de concreto
áreas irrigadas com problemas de salinização (B) decorrente do alto nível do lençol freático
ocasionados principalmente pela falta de drenagem e
manejo inadequado da irrigação não é exclusividade do Na Figura 7, observa-se o afloramento de água em
Vale do São Francisco, atualmente, no estado da uma área de carga e descarga de um “packing house”
Paraíba vários perímetros irrigados encontram-se em ocasionando danos à estrutura de pavimentação, em
situação semelhante (Figura 5). razão do elevado nível do lençol freático.
Além da salinização dos solos, outro grave problema Em ambas as situações (Figuras 5, 6 e 7) os
ocasionado pela elevação do nível do lençol freático são transtornos e perdas econômicas são grandes, porém, a
os danos causados as obras civis das áreas irrigadas. Na adoção de um manejo de irrigação racional (baseado nas
Figura 6 (A e B), pode ser constatado o levantamento necessidades hídricas das culturas), associada a
(empuxo) de um trecho de canal, tendo como implantação de um sistema de biodrenagem podem
416 Salomão de S. Medeiros et al.

Figura 7. Afloramento superficial de água em área de carga e


descarga de um packing house ocasionado pelo elevado B
nível do lençol freático no Perímetro Irrigado Nilo
Coelho, Petrolina-PE

constituir em soluções eficientes, frente ao controle do


nível do lençol freático.

Interceptação do fluxo de água


Os vazamentos ocorridos ao longo dos canais de
irrigação (Figura 8) é também uma das causas
relacionadas à elevação do nível do lençol freático em
áreas irrigadas. Dependendo da natureza do vazamento
podem ocorrer altas taxas de infiltração de água
causando nas áreas adjacentes alagamento e
consequentemente problemas de salinidade. Outro
problema relacionado com vazamentos dos canais são os Figura 8. Ocorrência de vazamentos ao longo dos canais de
irrigação no Perímetro Irrigado Tourão (A), Juazeiro-BA
danos a infraestrutura da propriedade, em especial, a
e São Gonçalo (B), Sousa-PB
malha viária (Figura 8 B).
Sendo, o desgaste das juntas de dilatação e as trincas
em áreas que requer gastos com sistemas de
ocorridas nas placas de concreto (Figura 8 A e B,
bombeamento, em face das limitações topográficas
respectivamente) as principais causas para a ocorrência
(Figura 9).
de vazamentos nos canais de irrigação; a solução
precede de uma adequada manutenção preventiva dos
PLANEJAMENTO DE SISTEMAS
canais; entretanto, dependendo da natureza do
vazamento a implantação da biodrenagem pode minimizar DE BIODRENAGEM
os efeitos negativos, pela interceptação do fluxo de água
subterrânea, evitando assim encharcamento e O planejamento de qualquer sistema de drenagem
alagamento das áreas adjacentes e os danos a malha requer o conhecimento das características do solo,
viária. geologia, topografia, estudos da variação do lençol
freático e da qualidade de sua água, qualidade da água
Complementação ao sistema de drenagem de irrigação e do tipo de sistema a ser utilizado,
convencional condutividade hidráulica, porosidade drenável, condições
A biodrenagem também pode, e deve sempre ser climáticas e quais culturas irão ser exploradas
utilizada quando possível complementando ações dos economicamente na área do projeto. Então, na
sistemas de drenagem convencional. O principal cenário implantação de um sistema de biodrenagem além destas
que se pode lançar mão da biodrenagem como ação características, deve-se conhecer a taxa de
complementar, é na retirada de parte do excesso de água evapotranspiração diária da espécie vegetal, de modo
Biodrenagem 417

Figura 9. Área de várzea em que as limitações topográficas restringem o escoamento de água por meio gravitacional

que seu valor seja compatível com a taxa de recarga  - declividade da curva de pressão de vapor, kPa
líquida. °C-1;
Para fins de planejamento consideram-se que as Rn - radiação líquida na superfície de cultivo,
plantas que irão constituir os biodrenos estão livres de MJ m-2 dia-1;
pragas e doenças, sem restrições nutricionais, em G - fluxo de calor do solo, MJ m2 dia-1;
excelentes condições de umidade no solo, baixo níveis de  - constante psicrométrica, kPa °C-1;
salinidade e, alcançando elevados índices de Tméd - temperatura média do ar medida a 2 m de
produtividade; nestas condições a evapotranspiração altura, °C;
processa-se em condições padrão, podendo ser estimada e s - pressão média de saturação de vapor, kPa;
pelo produto da evapotranspiração do cultivo de ea - pressão real de vapor, kPa;
referência e o coeficiente de cultivo (Eq. 1). u2 - velocidade do vento medida a 2 m de altura,
m s-1.
ETc  ETo * K c (1)
Por outro lado, a capacidade de absorção de água pela
em que: plantas é bastante influenciada pelas concentrações de
sais no solo, no entanto, as plantas que irão constituir os
ETc - evapotranspiração do cultivo em condições
biodrenos deverão apresentar tolerância (Tabela 3) a fim
padrão, mm dia-1;
de minimizar esse efeito.
ETo - evapotranspiração do cultivo de referência,
mm dia-1;
DIMENSIONAMETO DO SISTEMA
Kc - coeficiente de cultivo, admensional.
DE BIODRENAGEM
O conceito de evapotranspiração do cultivo de Do ponto de vista hidrológico, o dimensionamento dos
referência foi introduzido para estudar a demanda de sistemas de drenagem consiste em determinar a relação
evapotranspiração da atmosfera, independente do tipo e entre o espaçamento e a profundidade dos drenos
estádio de desenvolvimentos das culturas, e das práticas laterais, de modo que, o sistema satisfaça um
de manejo; porém, em face da não restrição de água na determinado critério de drenagem. Todavia, os modelos
superfície de evapotranspiração de referência, as utilizados no cálculo dos espaçamentos dos drenos são
características do solo não influenciam o seu valor, sendo, agrupados de acordo com o regime de escoamento:
as variáveis meteorológicas (temperatura do ar, umidade permanente e variável.
relativa, velocidade do vento e radiação solar) as únicas A aplicação dos modelos de regime permanente
a influenciá-la, onde, o modelo FAO Penman-Monteith pressupõe que o lençol freático encontra-se estabilizado no
tem sido proposto como padrão para sua estimativa tempo e no espaço, isto é, a quantidade de água que entra
(Allen et al., 2006). no sistema (carga) é igual à quantidade eliminada pelos
drenos (descarga). Esta situação geralmente ocorre em
  regiões, onde as chuvas têm baixa intensidade e longa
0,408 * R n  G    u 2 e s  e a 
900
 duração. Neste caso, Heuperman et al. (2002), indicam o
 Tmed  273 
ETo  (2) modelo desenvolvido por Hooghoudt (Eq. 3) como o mais
   1  0,34u 2 
indicado na estimativa do espaçamento entre biodrenos.

onde: 8KYo h 4Kh 2


L2   (3)
ETo - evapotranspiração de referência, mm dia1; R R
418 Salomão de S. Medeiros et al.

Tabela 3. Relação de algumas espécies arbóreas que podem Considerando o cenário apresentado na Figura 10,
ser utilizadas em biodrenagem, classificadas segundo a uma R = 0,0005 m dia -1; Yo = 10 m e h = 10 m; as
tolerância ou sensibilidade à salinidade distâncias entre biodrenos (L) serão de 1.500, 500 e 150
Classificação Espécies m para valores de K de 1, 0,1 e 0,01 m dia -1 ,
Tolerante Tamarise troupii, Tamarise
respectivamente.
(CEes 25 - 35 dS m-1) artiaulata, Prosopis juliflora,
Pithecollobium dulce, Sob condições de regime variável a principal proposta
Parkinsonia aculeata, para espaçamento de drenos foi feito por Glover-Dumm
Acacia farnesiana (Eq. 4), pressupondo que: em consequência do evento de
Moderadamente tolerante Callistemon lanceolatus, chuva ou de irrigação, o lençol freático eleva-se a certa
(CEes 15 - 25 dS m-1) Acacia nilotica, Acacia altura, em relação a seu nível inicial e, cessada o evento,
pennatula, Acacia tortilis, ele começa a descer; esta situação corresponde ao caso
Casuarina glauca, Casuarina de regiões com precipitação irregular, de intensidade
obessa, Casuarina variável e de curta duração. No Brasil, especialmente no
equisetifolia, Eucalyptus
semiárido, os regimes pluviométricos têm esta
camaldulensis, Leucaena
leucocephala, Erescentia
característica, sendo este modelo uma boa aproximação.
alata
Moderadamente sensível Casuarina cunninghamiana,  2 K d  h t
(CEes 10 - 15 dS m-1) Eucalyptus tereticornis, L2  (4)
 h 
Acacia auriculiformis,   ln1,16 o 

Guazuma ulmifolia,  ht 
Leucanea shannonii,
Samanea saman, Albizzia
caribea, Senna atomeria, em que:
Terminalia arjuna, Pongamia L - distância entre os biodrenos (m);
pinnata K - condutividade hidráulica do extrato saturado
Sensível Syzigium cumimi, Syzigium (m dia-1);
(CEes 7 - 10 dS m-1) fruticosum, Tamarindus d - estrato do solo (m);
indica, Salix spp., Acacia t - tempo transcorrido a partir do momento que o
deanei, Albizia quachepela,
lençol freático começou a descer (dias);
Alelia herbertsmithi,
Ceaselpimia eriostachya,
h - raiz quadrada do produto entre h0 e ht;
Caesalpinia velutina, μ - espaço poroso drenável que se considera
Halmatoxylon brasiletto constante;
Adaptado de Heuperman et al., 2002. h0 - carga hidráulica inicial no ponto médio entre os
biodrenos (m).
onde: ht - carga hidráulica inicial no ponto médio entre os
L - Distância entre biodrenos (m) biodrenos no tempo (t).
R - Taxa de recarga (m dia-1)
Yo - Distância entre o rebaixamento do nível do ESTUDOS DE CASOS E EXPERIÊNCIAS
lençol freático e a camada de impedimento (m)
K - Condutividade hidráulica do extrato saturado Índia
(m dia-1) O estudo ora apresentado foi desenvolvido na
h - depressão do lençol freático (m) Unidade de Pesquisa de Puthi, distrito de Hissar no

Figura 10. Rebaixamento do lençol freático em razão da distância entre linhas de plantio. (Adaptado de Heuperman et al., 2002)
Biodrenagem 419

estado de Haryana, e consistiu em avaliar a configuração foi de 60 m e entre poços de 33 m (Figura 11 B). No
de um sistema de biodrenagem, em uma área com sentido Norte/Sul da área foram construídos quatro
problemas de alagamento devido à deficiência de camalhões no formato trapezoidal (base maior 2,60 m,
drenagem natural e a ocorrência de vazamentos em base menor 2,00 m e altura de 0,50 m), espaçados a cada
canais de irrigação (Figura 11 A). Anteriormente, ao 66 m. Em cada camalhão foram plantadas duas fileiras
agravamento dos problemas de drenagem na área era de árvores (Eucalyptus tereticornis) no espaçamento
possível a exploração de milheto, feijão, mostarda, 1,0 x 1,0 m, resultando em uma densidade de 300 plantas
algodão e trigo, todavia, à medida que o problema foi se por hectare. Em razão desta densidade de plantio, o
intensificando a exploração resumiu-se ao cultivo de trigo sistema de biodrenagem ocupou apenas 4% da área
e arroz. O clima da região é semiárido monsonico, com total, permitindo que 96% da área fossem exploradas
verão quente, inverno frio e precipitação média de 212 com trigo.
mm. O solo da área experimental apresentava textura Por meio da Figura 12, constata-se que a configuração
arenosa, sodicidade e condutividade elétrica (CE) da do sistema de biodrenagem apresentou eficácia no
pasta saturada do solo variando de 0,53 a 2,67 dS m-1. controle do nível do lençol freático da área. Segundo
Para monitorar o nível do lençol freático da área Ram, et al. (2008), dois anos e três meses após a
experimental foram instaladas duas fileiras de poços de implantação do sistema, a redução média do lençol
observação, uma mais ao Norte e outra mais ao Sul; o freático na área experimental foi em torno de 18 cm;
espaçamento entre as fileiras dos poços de observação enquanto, durante o período compreendido entre abril de
2005 a abril de 2008 o rebaixamento médio foi de 85 cm
A (Figura 12).
Profundidade (m)

Distância (m)
Figura 12. Comportamento do lençol freático antes e após
B implantação do sistema de biodrenagem. (Adaptado de
Ram et al., 2008)

Ram, et al. (2008), também relatam que em maio de


2008, a taxa de transpiração das plantas alcançou
valores médios de 50 L dia-1 por planta, correspondendo
a 438 mm por ano em uma região com precipitação
média de 212 mm. Diante do exposto, evidencia-se que
o sistema de biodrenagem pode a vir como uma
alternativa na incorporação de áreas com deficiência de
drenagem ao processo produtivo, possibilitando assim o
incremento da produção agrícola. Outros aspectos
importantes do sistema é a geração de renda adicional na
Figura 11. Localização (A) e layout (B) da Unidade de propriedade, por meio da produção de madeira, e a
Pesquisa de Puthi. (Adaptado de Ram et al., 2008) contribuição ao meio ambiente, pela possibilidade de
420 Salomão de S. Medeiros et al.

sequestro de carbono; os autores relatam ainda que o A


sistema de biodrenagem implantada na Unidade de
Pesquisa de Puthi, após cinco anos e quatro messes,
produziu em média 47 m 3 ha -1 de madeira, reteve
aproximadamente, 25 t ha-1 de carbono e possibilitou que
os rendimentos de trigo na área fosse 3,34 vezes
superior as das áreas adjacentes ao sistema.

Israel
O Vale de Yizre’el é uma extensa planície circundada
de montanhas localizada na porção Norte do Estado de
Israel (Figura 13 A); caracteriza-se por apresentar clima
semiárido, e preponderância de Vertissolos crômicos
com predomínio de argila montmorilonita, e não
isotrópicos. Em meados dos anos 1960, quando o
algodão tornou-se a cultura dominante no Vale, a
irrigação foi amplamente difundida e diversos
reservatórios foram construídos visando regularizar a
oferta de água no período de escassez (verão). Ao longo B
dos anos, essas ações associadas às condições climáticas
e ao uso indiscriminado de águas de qualidade inferior
(águas residuárias tratadas) associado à falta de manejo
de irrigação em solos com deficiência de drenagem
resultou na elevação do nível do lençol freático,
provocando a salinização e o início do processo de
sodificação de extensas áreas agrícolas (Gafni & Zohar,
2001 e Heuperman et al., 2002). Gafni & Zohar (2007),
relatam que os efeitos da salinidade foram mais
pronunciados em meados da década de 1980, quando,
estudos identificaram que em todo o Vale de Yizre’el
mais de 1.500 ha apresentavam indícios de salinização, Figura 13. Mapa de situação do Vale Yizre’el no Estado de
dos quais, 800 ha já se encontravam em processo Israel (A) e localização das cinco áreas piloto de
avançado de salinização e sodificação. biodrenagem (B)
Estudos apontaram que a primeira ação para inibir os
avanços da salinização e sodificação, e a incorporação área de 0,625 ha utilizando-se de onze clones diferentes
das áreas já afetadas ao processo produtivo, passava no espaçamento de 3 x 3 m, alcançando uma densidade
inicialmente, pelo rebaixamento do nível do lençol de plantio de 1.100 árvores por hectare. As variáveis
freático; então, vários tipos de sistemas de drenagem monitoradas foram nível do lençol freático; salinidade do
convencional foram concebidos, testado e amplamente solo, expressa pela concentração de cloreto (Cl -) e
utilizados em todo o Vale, provando-se ser um sucesso. condutividade elétrica do extrato da pasta saturação do
No entanto, com o declínio da rentabilidade das culturas solo (CE), e a sodicidade pela relação de adsorção de
exploradas, e agravada pela falta de subsídio do governo, sódio (RAS).
a drenagem convencional tornou-se economicamente No entanto, sendo as áreas experimentais de Nahalal
inviável, abrindo discussões entre os especialistas, acerca e Genigar (Figura 13 B) representativas dos dois
da viabilidade da biodrenagem (Gafni & Zohar, 2007). extremos em termos de clima, hidrologia, salinidade,
Os estudos de biodrenagem foram realizados com sodicidade e associada à taxa de crescimento das
duração de dez anos (1993 a 2003), em cinco áreas espécies de eucalipto plantadas, foram objeto de estudo
experimentais (Figura 13 B), representativas da mais detalhado por Gafni & Zohar (2007). De acordo
variabilidade climática, regime hidráulico e do grau de com relatos desses autores, a precipitação média anual
salinização e sodificação que o Vale Yizre’el apresentava. em Nahalal é de 650 mm, e a área também recebe o
Na implantação do sistema de biodrenagem foram excesso de água a partir de várias outras fontes locais;
plantadas mudas de Eucalyptus camaldulensis em um já em Genigar, a precipitação média anual é de 450 mm
Biodrenagem 421

e não recebe contribuição de nenhuma fonte externa de Já na área experimental de Genigar (Figura 14 B), o
água. A evaporação máxima registrada durante a sistema de biodrenagem mostrou-se mais efetivo no
execução do experimento foi de 6,9 mm dia-1 em agosto controle do nível do lençol freático, mantendo-se
de 2003. aproximadamente a 2,0 m de profundidade, na maior
Na Figura 14, são registradas as flutuações sazonais parte do tempo. Segundo Gafni & Zohar (2007), a
dos níveis dos lençóis freáticos nas áreas experimentais efetividade do sistema deve-se a maior extração de água
de Nahalal (A) e Genigar (B), e em áreas nas suas
pelas plantas (evapotranspiração) quando comparadas
adjacências. Observa-se que nas áreas experimentais o
com o volume precipitado e a baixa influência de fontes
sistema de biodrenagem influenciou o nível do lençol
de águas externas (irrigação).
freático em relação às áreas sem o sistema; no entanto,
Na Figura 15 e na Tabela 4, apresenta-se o
na área experimental de Nahalal apesar do sistema de
biodrenagem extrair aproximadamente 1.350 mm por ano, comportamento da salinidade do solo, expressa pela CE
as flutuações do nível do lençol freático foi semelhante e a concentração de Cl- no perfil do solo (por ser o íon
a da área em sua adjacência, em virtude das presente em maior concentração em relação aos demais
contribuições dos volumes de entrada de água íons na solução do solo) durante os dez anos de
(precipitação e fontes externas) se aproximar dos monitoramento nas áreas experimentais de Nahalal e
extraídos (evapotranspiração das árvores) pelo sistema Genigar. Constata-se que na área experimental de
de biodrenagem, em grande parte do tempo, exceto no Nahalal o comportamento da salinidade no perfil do solo
período de estiagem. (Figura 15 A e Tabela 4) até 4,0 m de profundidade foi

A A
Condutividade elétrica (dS m-1)
Profundidade (m)

Profundidade (m)

B B
Condutividade elétrica (dS m-1)
Profundidade (m)

Profundidade (m)

Figura 14. Comportamento do nível do lençol freático nas Figura 15. Comportamento da condutividade elétrica do
áreas experimentais de Nahalal (A) e Genigar (B) e em extrato saturado do solo nas unidades experimentais de
áreas nas suas adjacências no Vale Yizre’el, Israel. Nahalal (A) e Genigar (B) no Vale Yizre’el, Israel.
(Adaptado de Gafni & Zohar, 2007) (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
422 Salomão de S. Medeiros et al.

Tabela 4. Concentrações de Cl- no perfil do solo nas áreas experimentais de Nahalal e Genigar localizadas no Vale Yizre’el,
Israel. (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
Concentração de Cloreto (mg L-1)
Prof.
(m) Nahalal Genigar
1993 1999 2001 2002 2003 1993 1999 2001 2002 2003
0,00 - 0,30 232 1498 1558 1007 1052 3607 705 293 226 484
0,30 - 0,60 612 1370 2245 632 816 1072 1390 524 852 744
0,60 - 0,90 682 1216 673 422 482 725 1513 974 1471 1194
0,90 - 1,20 533 676 675 388 472 489 1446 1567 1644 1651
1,20 - 1,50 610 600 706 415 275 730 1267 1484 1766 1999
1,50 - 1,80 476 320 547 389 293 559 1260 1500 1753 2028
1,80 - 2,10 414 277 801 412 186 450 1267 1402 1619 2147
2,10 - 2,50 - 233 618 516 171 - 1493 1321 1678 2027
2,50 - 300 - 531 256 251 192 - 1589 1409 2228 2356
3,00 - 350 - 405 248 260 233 - 1376 1787 1596 2105
3,50 - 400 - - 266 271 248 - - 2054 467 820
4,00 - 4,50 - - 337 282 181 - - 1729 459 207
4,50 - 5,00 - - 334 245 187 - - 307 293 179
5,00 - 5,50 - - 280 280 203 - - 421 221 213
5,50 - 6,00 - - - 280 211 - - 424 212 193

altamente variável; influenciada pela limitada capacidade (Figura 15 B), a camada superficial (0 – 0,60 m)
de drenagem do solo, que manteve o nível do lençol apresentava altos valores de CE (> 10 dS m -1 ), e
freático elevado na maior parte do tempo (Figura 14 A), posteriormente, observa-se uma redução significativa; em
restringindo a lixiviação dos sais para as camadas uma análise mais cuidadosa do comportamento da CE no
inferiores. Gafni & Zohar (2007), ressaltam que, além das perfil do solo ao longo do tempo, observa-se aumento da
condições ambientais locais (condutividade hidráulica do CE com aumento da profundidade; revelando uma
solo, regime pluviométrico, balanço hídrico, qualidade da migração gradual dos sais para as camadas mais
água local e o volume extraído pelo sistema de profundas (Tabela 4).
biodrenagem), o uso excessivo de insumos agrícolas A implantação do sistema de biodrenagem não
(adubos) e o manejo de irrigação inadequado nas áreas demonstrou efetividade na redução dos níveis de
adjacentes pode ter influenciado esse comportamento. sodicidade do solo nas áreas experimentais (Tabela 5).
Quanto à área experimental de Genigar, observa-se Na área experimental de Nahalal observa-se um ligeiro
que antes da implantação do sistema de biodrenagem aumento da RAS na camada de 0 – 0,60 m, atingido um

Tabela 5. Valores da razão de absorção de sódio (RAS) no perfil do solo nas áreas experimentais de Nahalal e Genigar
localizadas no Vale Yizre’el, Israel. (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
RAS L-1)1/2
RAS (mmol
Prof.
(m) Nahalal Genigar
1993 1999 2001 2002 2003 1993 1999 2001 2002 2003
0 - 0,30 4,79 4,70 7,21 5,53 6,31 7,63 4,37 6,31 6,76 9,50
0,30 - 0,60 5,10 4,03 6,34 4,95 7,36 7,93 6,5 7,11 9,62 9,80
0,60 - 0,90 5,12 3,84 3,85 4,58 4,44 7,35 6,83 8,00 8,37 9,46
0,90 - 1,20 4,97 2,97 3,67 3,61 4,20 8,11 7,17 8,54 8,27 10,74
1,20 - 1,50 5,09 2,79 3,74 3,54 3,57 8,18 7,40 8,73 8,14 10,67
1,50 - 1,80 4,25 2,56 3,20 3,90 3,03 8,48 7,30 9,06 8,82 11,18
1,80 - 2,10 3,96 2,50 3,36 2,92 2,93 7,92 7,27 8,55 9,67 11,22
2,10 - 2,50 - 2,36 3,03 2,69 3,08 - 8,83 9,24 10,29 11,78
2,50 - 300 - 2,58 2,52 2,43 3,09 - 10,08 10,15 11,16 11,23
3,00 - 350 - 2,77 2,51 2,38 3,20 - 8,84 11,44 8,56 14,46
3,50 - 400 - - 2,66 2,31 3,19 - - 12,09 6,36 10,01
4,00 - 4,50 - - 2,66 2,30 3,07 - - 10,73 6,22 6,06
4,50 - 5,00 - - 2,63 2,28 2,82 - - 6,78 4,90 6,17
5,00 - 5,50 - - 2,67 2,34 3,05 - - 6,83 4,32 5,78
5,50 - 6,00 - - - 2,25 3,06 - - 7,92 4,16 5,45
Biodrenagem 423

valor máximo de 7,36 em 2003, posteriormente, foi Densidade de plantio é outro ponto que deve ser
observado uma pequena redução nas demais camadas. considerado, visto que, o sistema deve promover a
Na área experimental de Genigar o efeito da máxima taxa de evapotranspiração por unidade de área
sodicidade no solo foi mais pronunciado que em Hahalal, ocupada.
muito embora, tenha ocorrido redução do nível do lençol 2. Tolerância das espécies florestais a salinidade do
freático ao longo dos anos (Figura 16 B), a migração de solo: geralmente, as áreas com problemas de drenagem,
sódio no perfil do solo foi incipiente, quando comparados especialmente, aquelas localizadas em regiões áridas e
aos de Ca2+, Mg2+ e Cl- resultando em aumentos nos semiáridas, apresentam concentrações significativas de
valores de RAS, mas, sem afetar de forma significativa sais na solução do solo; em princípio, os sais tendem
a condutividade hidráulica do solo. afetar negativamente o desenvolvimento das plantas,
devido o efeito osmótico restringir a disponibilidade de
CONSIDERAÇÕES FINAIS água e, reduzindo a taxa de evapotranspiração da
cultura. Pode haver também o efeito tóxico de íons
Atualmente no Brasil, não existem relatos na literatura específicos, como sódio, cloreto e boro, dentre outros,
especializada acerca do uso da biodrenagem, apesar do que causam sintomas característicos de injúria,
sistema apresentar inúmeras potencialidades, em associados à acumulação do íon específico na planta.
especial em áreas irrigadas no semiárido. Entretanto, estudos direcionados na definição de espécies
A bacia do São Francisco atualmente apresenta uma florestais tolerantes a salinidade, constitui-se fator
superfície irrigada de 514 mil hectares (ANA, 2009), preponderante para a eficiência do sistema de
onde, uma porção significativa tem apresentado biodrenagem.
problemas de drenagem. Nessa bacia, atualmente, 3. Balanço de sais: a rigor, todas as águas naturais,
encontram-se implantados vários Perímetros Públicos de quer sejam elas de origem pluvial, superficial ou
Irrigação, onde é possível verificar áreas com problemas subterrânea, contêm sais dissolvidos em quantidades
de alagamento, nível do lençol freático elevado e com variadas, porém, a prática de irrigação, mesmo quando se
problemas de salinização. Nessas condições, a utiliza água de boa qualidade aporta significativas
implantação de sistemas de biodrenagem pode constituir quantidades de sais ao solo, em razão dos elevados
em uma alternativa viável, frentes a resolução dos volumes de água aplicados. Pesquisas em várias regiões
problemas de drenagem e os elevados custos dos demonstram que a absorção do sais pelas plantas é
sistemas convencionais; todavia, estudos norteadores insignificante em comparação com as aportas via
deverão ser realizados objetivando a definição de irrigação. Hoffman (1990) menciona que na maioria das
critérios técnicos adequados as condições locais. condições agrícolas onde a salinidade é uma
Dentre as prioridades de pesquisas destacamos: preocupação, as remoções dos sais pelas colheitas podem
1. Extração de água pelo sistema de biodrenagem: as ser ignoradas na equação do balanço de sais. Então,
plantações florestais de eucalipto têm estado no meio de estudo direcionado a espécies florestais que, além de
grandes controvérsias e continuam a despertar promover a extração máxima de água, incorpore em sua
acalorados debates quanto a seus impactos no meio biomassa, significativa quantidade de sais, visando à
ambiente. De modo geral, criticam-se os efeitos sobre o manutenção do equilíbrio de sais no solo.
solo (empobrecimento e erosão) e a água (impacto sobre 4. Manejo do sistema de biodrenagem: estudos
a umidade do solo, os aquíferos e lençóis freáticos) (Vital, também devem orientar os critérios técnicos quanto aos
2007); neste contexto, estudos comparativos entre o tratos culturais, desbaste, modelo de exploração do
consumo de água em plantações de eucaliptos potencial madeireiro sem o comprometimento da
(Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden) e de florestas eficiência do sistema e a relação custo beneficio do
nativas (Mata Atlântica) desenvolvidos por Almeida & sistema.
Soares (2003), constataram que os consumos se
equivalem. Sendo a evapotranspiração da cultura o meio REFERÊNCIAS
de extração de água pelo sistema de biodrenagem,
Akram, S.; Kashkouli, A, H.; Pazira, E. Sensitive variables
pesquisas quanto ao consumo de espécies florestais mais
controlling salinity and water table in a bio-drainage
adaptadas as condições do semiárido brasileiro precisam system. Berlin: Springer Science, 2009, p.271-285.
ser realizadas, demonstrando que o balanço entre as Allen, R. G.; Pereira, L. S.; Raes, D.; Smith, M.
entradas (precipitação, irrigação e/ou contribuição Evapotranspiración del cultivo - Guías para la
externas) e saídas (evapotranspiração) de água na área determinación de los requerimientos de agua de los
seja negativo, comprovando a eficácia do sistema. cultivos. Rome: FAO, 2006. 298p. Riego y Drenaje Paper 56
424 Salomão de S. Medeiros et al.

Almeida, A. C.; Soares, J. V. Comparação entre uso de água em Holmes, J. W.; Wronski, E. B. The influence of plant
plantações de Eucalytus grandis e floresta ombrófila densa communities upon the hydrology of catchments.
(Mata Atlântica) na costa leste do Brasil. Revista Árvore, Agricultural Water Management, v.4, p.19-34, 1981.
v.27, n.2, p.159-170, 2003. Kapoor, A. S. Bio drainage - potential and limitations. http://
ANA - Agência Nacional de Águas. Conjuntura dos recursos l i b r a r y. w u r. n l / e b o o k s / d r a i n a g e / d r a i n a g e _ c d /
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Drenagem como instrumento de dessalinização e L.), em Campos dos Goytacazes, RJ. Revista Brasileira
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Gafni, A.; Zohar, Y. Sodicity, conventional drainage and bio- Waterlogging & Salinity. Karnal: Central Soil Salinity
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n.6, p.1269-1279, 2001. Ram, J.; Garg, V. K.; Toky, O. P.; Minhas, P. S.; Tomar, O. S.;
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79p. GRID Iptrid Network Magazine Issue 9, 3p, 1997.
Hoffman, G. J. Leaching fraction and rootzone salinity control. Vital, M. H. F. Impacto ambiental de florestas de eucaliptos.
New York: ASCE Manual & Report on Engineering Revista do Banco Nacional de Desenvolvimento
Practice, No. 71. 1990. Sustentável, v.14, n.28, p.235-276, 2007.
Recuperação de solos afetados
23 por sais
Lourival F. Cavalcante1, Rivaldo V. dos Santos2, Fernando F. Ferreyra H.3,
Hans R. Gheyi4 & Thiago J. Dias1

1
Universidade Federal da Paraíba
2Universidade Federal de Campina Grande
3 Universidade Federal do Ceará
4 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Técnicas de recuperação de solos afetados por sais
Técnicas fundamentais
Técnicas auxiliares
Recuperação de solos salinos
Fundamentos da lavagem
Necessidade de lavagem
Lavagem de manutenção
Lavagem de recuperação
Métodos de lavagem
Lavagem por inundação contínua
Lavagem por inundação intermitente
Lavagem superficial
Recuperação dos solos sódicos e salino-sódicos
Tipos de corretivos usados na recuperação de solos afetados por sódio
Calculo da necessidade de corretivos e recomendações práticas
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
426 Lourival F. Cavalcante et al.

Recuperação de solos
afetados por sais

INTRODUÇÃO outro lado, no processo de recuperação de solos


afetados, para que a lavagem dos sais seja efetiva, as
Os solos afetados por sais ocorrem em importantes condições de drenagem dos solos devem ser adequadas
extensões no mundo, principalmente em regiões áridas de maneira que os sais solúveis, sódio trocável e ou boro
e semiáridas, onde a irrigação é necessária para uma possam ser removidos da zona radicular.
agricultura bem sucedida. A elevação do conteúdo de
sais solúveis no solo influencia no comportamento das TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO DE SOLOS
culturas de diversas maneiras, através de mudanças nas AFETADOS POR SAIS
proporções de sódio trocável, na reação dos solos, nas
propriedades físicas dos solos, no potencial osmótico da Diversas técnicas são empregadas para a
solução do solo e nos efeitos tóxicos de íons recuperação de solos afetados por sais e, dentre elas,
duas são consideradas fundamentais: a lavagem dos
específicos. Estas mudanças influenciam na atividade
sais e a aplicação de melhoradores químicos, por
das raízes das plantas e dos microorganismos do solo,
atuarem diretamente na eliminação ou correção dos
consequentemente, na produtividade das culturas.
problemas de salinização; entretanto, existem as
O manejo adequado dos solos afetados por sais é
técnicas auxiliares, tais como: aração profunda,
essencial para uma agricultura irrigada eficiente e
subsolagem e aplicação de resíduos orgânicos, entre
sustentável. Compreende a recuperação de solos outras, que têm a função não exatamente de recuperar
afetados por sais, geralmente causada por uma os solos, mas de atuarem sobre algumas propriedades
irrigação inadequada e a manutenção ou prevenção dos do solo, que tornam mais eficiente as técnicas
solos irrigados não afetados e os recuperados. Envolve fundamentais de recuperação.
as aplicações das teorias e conhecimentos existentes Raramente se consegue a recuperação dos solos
da física e química do solo, como também das relações afetados por sais utilizando-se um método isoladamente.
irrigação-salinidade e produção-salinidade. A eficiência pode ser mais expressiva combinando-se
Na recuperação e manejo dos solos afetados, o fator duas ou mais técnicas, simultaneamente. O método ou
chave é o movimento da água através do perfil do solo. técnica utilizada na recuperação desses solos depende do
A taxa de infiltração (q) e a condutividade hidráulica do diagnóstico, uma vez que, se tem causas de salinização
solo (K) diminuem com a diminuição da salinidade do solo diferentes. Neste sentido, o estudo da drenabilidade do
e com o aumento do sódio trocável. Isto, em parte, é solo constitui prática indispensável antes de se iniciar os
devido ao impacto mecânico e ação dispersante da água trabalhos de recuperação.
aplicada e deposição das partículas liberadas do solo na
superfície. No entanto, através de várias combinações de Técnicas fundamentais
cultivos, uso de corretivos do solo e práticas de lavras Lavagem: A lavagem é a técnica mais prática de se
podem ser mantidas a q e K em valores adequados. Por reduzir os sais do solo, e consiste em se fazer passar,
Recuperação de solos afetados por sais 427

através do perfil do solo, determinado volume de água homogêneo, mais poroso para a dinâmica de ar, água e
que, por sua vez, carreia os sais solúveis para além do nutrientes.
ambiente radicular. Esta técnica pode ser realizada com Subsolagem: É uma operação que tem basicamente os
duas finalidades: a) minimizar a alta salinidade inicial do mesmos objetivos da aração profunda só que em menor
solo para níveis toleráveis pela maioria das culturas, profundidade, mas é recomendada para profundidades
denominada lavagem de recuperação; b) prevenir contra além de 30 cm. Tem ainda como objetivo, romper as
a salinização dos solos irrigados não afetados, camadas compactadas do perfil de baixa permeabilidade
denominada lavagem de manutenção e se caracteriza aumentando o espaço poroso, sem inverter as camadas,
como técnica de prevenção contra a expansão acelerada melhorando a permeabilidade do solo. A subsolagem
dos sais nas áreas irrigadas. reduz os efeitos prejudiciais de camadas compactadas
Melhoramento químico: Nos solos salinos, a lavagem que estão a mais de 30 cm de profundidade, porém seu
é suficiente para sua recuperação, devido os sais já efeito é de duração temporária, variando de um a dois
estarem dissolvidos na solução do solo, sendo facilmente anos.
arrastados pela lâmina de lavagem; entretanto, em solos Mistura com areia: A adição e mistura de areia em
sódicos o uso de melhoradores ou corretivos químicos se camadas de solos de textura fina têm a finalidade de
faz necessário para deslocar o sódio que está adsorvido aumentar a macroporosidade e a permeabilidade para
na micela, mediante a adição de substâncias que crescimento mais eficiente das raízes no solo. Esta
contenham, preferencialmente, cálcio. Deste modo, os técnica aumenta as propriedades transmissoras de água
corretivos têm a finalidade de fornecer elementos como no solo, como infiltração, percolação profunda, facilitando
o cálcio, ou liberá-lo, quando presente no solo, para a lixiviação dos sais. A adição de areia é feita pela
substituir o sódio trocável, pois o cálcio desloca o sódio incorporação na superfície do solo e, em seguida, uma
do complexo de troca para a solução que será lixiviado cultura de sistema radicular pouco profundo é cultivada.
após a lavagem. Após vários cultivos e práticas culturais, haverá a
Deve-se ressaltar que, o cálcio por ter maior mistura e a inversão da areia para as demais camadas,
seletividade, ou seja, maior força de atração pelas favorecendo a permeabilidade em todo o perfil (Pizzarro,
partículas de argila, mesmo estando presente em menor 1978). Uma das inconveniências dessa prática é a grande
proporção em relação ao sódio, consegue substituí - ló quantidade de areia exigida em geral, de 700 a 1.000
como indicado no esquema seguinte: t ha-1.
Inversão de perfis geológicos: Consiste em deslocar
Micela Na
Na  Ca

 Micela Ca  2 Na  o horizonte superficial de um solo de características
indesejáveis e substituí-lo por materiais provenientes de
horizontes mais profundos para melhorias nos atributos
Porém se o sódio substituído não for removido mediante físico-químicos. A aração profunda também pode ser
o processo de lavagem seguido de drenagem, o solo pode aplicada nos solos com excesso de sódio na camada
tornar-se sódico; isto evidencia a importância da superficial e contendo, em profundidades maiores,
drenagem no processo de recuperação dos solos salinos camada de solo rica em gesso; neste caso, a inversão
– sódicos e sódicos. de perfil remove o gesso para a superfície e desloca o
solo com excesso de sódio para as camadas mais
Técnicas auxiliares profundas. Quando se tem uma camada de solo muito
Técnicas mecânicas: espessa, com impedimento à água, ar e crescimento
Aração profunda: Consiste em arar o solo até a das raízes, de modo que não se permita a inversão do
profundidade de 60 e 70 cm, com o objetivo de promover perfil, recomenda-se o uso da técnica de drenos
a ruptura do solo e a formação de torrões. Essa prática verticais no horizonte de baixa permeabilidade. Esta
contribui para a melhoria da estrutura do solo, técnica viabiliza a drenagem da água, de um horizonte
favorecendo a infiltração e percolação da água durante de boas condições hídricas para outro, sem passar
uma ou duas irrigações, resultando em menor acúmulo de fisicamente pelo horizonte intermediário de baixa
permeabilidade, não ocorrendo à acumulação de sais na
sais solúveis na zona de semeadura. Esta técnica é
camada superficial (horizonte A), conforme ilustrado na
recomendada quando o solo possui camadas de baixa
Figura 1.
permeabilidade entre outras mais permeáveis, devido o
Técnicas biológicas:
arado reverter e misturar o solo, tornando-o mais Aplicação de adubos orgânicos: A adição de matéria
428 Lourival F. Cavalcante et al.

assim, a produção de alimentos e a sustentabilidade da


agricultura irrigada.
O tempo de recuperação e a lâmina de água
necessária para lavar os sais da zona radicular,
dependem dos fatores que afetam a eficiência de
lixiviação, tais como: a salinidade inicial do solo, a
qualidade da água de irrigação e a profundidade do solo
a ser recuperado.
Figura 1. Esquema do uso de drenos verticais no solo Em solos de baixa permeabilidade o tempo de
recuperação pode levar até 120 dias. Neste caso se
orgânica tem como objetivo, melhorar a estrutura, reduzir recomenda o cultivo de arroz após se ter infiltrado no solo
a densidade e aumentar a permeabilidade e na atividade uma lâmina de água de 100 a 150 mm. Evidentemente,
microbiológica (Silva et al., 2008) com reflexo positivo no a lâmina necessária para lavagem de recuperação dos
aumento da fertilidade do solo. Os resíduos podem ser sais em solos cultivados deve ser maior, pois a maior
usados como cobertura na superfície ou incorporados ao parte desta lâmina aplicada será utilizada para atender à
solo; quando aplicados na superfície reduzem a evapotranspiração da cultura.
evaporação mantendo o solo mais úmido, reduzindo os A profundidade do solo a ser recuperada pela
riscos de salinização. O efeito desta prática é temporário lavagem depende da cultura que se deseja explorar. Em
e requer incorporações periódicas durante os cultivos. Os culturas que apresentam sistema radicular superficial,
adubos orgânicos podem ser adubos verdes e/ou recomenda-se uma profundidade de 0,60 m e, para
composto. culturas de sistema radicular profundo aconselha-se
Cultivos de elevada evapotranspiração: São cultivos dessalinizar cerca de 1,50 m de profundidade, porém não
que provocam o abaixamento do lençol freático, necessariamente de uma única vez (Tanji, 1990). Para
contribuindo para maior eficiência da lavagem dos sais. otimizar o processo de recuperação do solo, recomenda-
Além desta vantagem a sombra das plantas reduz a se prolongar-lo pelo prazo de 2 a 3 anos, aproveitando a
intensidade da evaporação pela superfície do solo, área logo após a primeira lavagem de 10-15 cm de
diminuindo o acúmulo de sais. Quando o nível elevado da profundidade.
salinidade inicial do solo não permitiu o cultivo de Durante o processo de lavagem do solo, com a
espécies economicamente viáveis, como alfafa e outras lixiviação dos sais em excesso que são prejudiciais ao
forrageiras, podem ser usadas culturas como cana-de- crescimento e desenvolvimento das plantas, são lixiviados
açúcar. também os nutrientes essenciais, como N, K, Ca, Mg e
Técnicas termelétricas: A exposição do solo às altas S; portanto, logo após a lavagem se deve estabelecer a
e baixas temperaturas melhora a permeabilidade, fato fertilidade do solo, preferencialmente pela incorporação
explicado pela expansão e contração dos minerais do solo de matéria orgânica.
quando submetido às variações de temperatura. A
passagem de corrente elétrica mediante eletrodos Fundamentos da lavagem
instalados no solo durante a lavagem dos sais acelera o A necessidade de lavagem é fundamentada no balanço
processo de recuperação dos solos afetados por sais. O de água e sais na zona radicular, os quais se baseiam nos
catodo, eletrodo negativo, atrai os cátions do solo, diferentes fluxos de água de um solo irrigado. A superfície
principalmente o sódio, tornando a lavagem mais do solo recebe a água proveniente das lâminas de
eficiente; já o cloreto é atraído pelo anodo, eletrodo precipitação e da água aplicada por irrigação, parte da
positivo, transformado em gás (Cl2) que é liberado para qual é infiltrada na zona radicular e outra parte, o excesso,
a atmosfera. é perdido por escoamento superficial; já a zona radicular
recebe a água infiltrada e a lâmina de água capilar como
RECUPERAÇÃO DE SOLOS SALINOS contribuição do lençol freático. Quando o conteúdo de
água na zona radicular excede sua capacidade de
A recuperação de solos salinos consiste na aplicação retenção, o excesso de água é extraído por percolação
de uma lâmina de água ao solo, capaz de lavar o excesso profunda. Parte da lâmina de precipitação e de irrigação,
de sais solúveis do perfil abaixo da zona radicular das dependendo do método empregado, pode ser perdida
plantas. O processo de recuperação envolve a dissolução quando interceptada pelas plantas.
dos sais presentes no solo e seu transporte em O balanço de água na zona radicular de um solo pode
profundidade abaixo da zona radicular das plantas. ser obtido pela soma algébrica dos diferentes fluxos de
Desta forma, é possível se reduzir a alta salinidade inicial entrada e saída de água no perfil do solo, em dado
do solo até níveis toleráveis pelas culturas garantindo, período de tempo, de acordo com a Eq. (1):
Recuperação de solos afetados por sais 429

LEa  LSa  L A (1) ser aplicada aumenta de 164,6 para 210 mm, mas a
redução da lâmina de água percolada ou drenada de 31,5
ou para 25,1 mm resulta num balanço de água positivo, isto
é, DLA > 0, com valor de 6,4 mm. Esta situação expressa
Lap  Lai  Lag  Laet  Lad  L A que foram adicionados mais sais ao solo do que lixiviados
e ao longo do período de uso da área, caso não se faça
uma drenagem, o solo tenderia a se tornar salino.
em que: O balanço de sais no solo deve ser deduzido do
LEa - Fluxo de entrada de água, mm balanço da água, multiplicando-se cada componente por
LSa - Fluxo de saída de água, mm sua respectiva concentração salina, assumindo que a
Lap - Lâmina de precipitação, subtraída do única fonte de sais seja a lâmina de água aplicada no solo
escoamento superficial, mm durante o evento de irrigação. Devido os sais serem
Lai - Lâmina de irrigação, mm altamente solúveis e não se precipitam e que são
Lag - Lâmina de água capilar como contribuição desprezíveis as adições de sais pelas águas de chuvas e
do lençol freático, mm fertilizantes como, também, as extrações pelas culturas;
Laet - Lâmina de evapotranspiração, mm o balanço de sais na zona radicular pode ser expresso
Lad - Lâmina de percolação profunda, mm pela Eq. (2):
LA - Variação da lâmina de água armazenada
na zona radicular, mm. (2)

O balanço de água no solo pode ser anual, sazonal ou


diário; no balanço anual, quase não há variação da lâmina em que:
de água armazenada na zona radicular. Em áreas Csai - Concentração de sais na água de irrigação,
irrigadas, onde a precipitação é de pequena intensidade, g L-1
a lâmina de escoamento superficial é considerada Csag - Concentração de sais na água capilar, g L-1
desprezível (Les = 0). A lâmina capilar de contribuição Csad - Concentração de sais na água percolada,
do lençol freático é igual a zero quando em solos argilosos g L-1
o lençol estiver a mais de 7 m de profundidade e, para S - Variação do conteúdo de sais na zona
solos arenosos, a mais de 3 m de profundidade. radicular, g m-2

A diferença líquida entre o fluxo de entrada e de saída


Exercício 1
equivale às mudanças resultantes da salinidade da água
No intervalo de 30 dias, uma área deve ser irrigada
ao solo. Para valores de Z > 0 ocorre acúmulo de sais,
com uma lâmina de 210 mm (Lai) até uma faixa de 50
dando origem à salinização secundária do solo, porém
cm, adotando uma fração de lixiviação (FL) de 15%. No
quando Z < 0, indica remoção ou lixiviação de sais da
mesmo período, foram registradas pluviosidades (Lap) de
zona radicular (Pizarro, 1978; Tanji, 1990).
32 mm e o lençol freático contribuiu por ascensão capilar O valor da concentração de sais da Eq. 2 pode ser
(Lag), com 13,4 mm para a camada onde se situam as substituído pela condutividade elétrica, pois o mesmo
raízes das plantas. A evapotranspiração da cultura (Laet) apresenta relação linear com a concentração de sais em
foi de 178,5 mm e a lâmina de água drenada (Lad) 31,5 soluções relativamente diluídas, além de se constituir
mm. Nesta situação, se verifica que a lâmina de água a numa variável fácil de ser medida.
ser aplicadas por irrigação com base na Eq. (1) é de
164,6 mm. O fluxo de entrada de água é: LEa = Lap + Exercício 2
Lai + Lag = 32 + 164,6 + 13,4 mm = 210 mm e o fluxo No primeiro caso do exercício 1 o balanço de água na
de saída: LSa = Laet + Lad = 178,5 + 31,5 mm = 210 área foi nulo. Entretanto, isso não significa que o balanço
mm, resultando em balanço nulo de água: DLA = LEa – de sais também seja nulo, isto é, a quantidade de sais
LSa = 210 – 210 mm = 0. adicionada à área pela pluviosidade, irrigação e por
Em termos de manejo, pelo menos duas situações capilaridade (ascensão capilar) seja igual a retirada pelas
devem ser consideradas nessa área: a) ausência de plantas e lixiviada com a drenagem ou percolação. Na
pluviosidade e da lâmina de água por ascensão capilar; b) grande maioria dos casos, a salinização ocorre porque a
mesmo admitindo uma fração de lixiviação de 15% a extração pelas plantas e por percolação é inferior ao
lâmina de drenagem ou percolação profunda foi reduzida adicionado pela água de irrigação e a fertilização do solo
de 31,5 para 25,1mm. Neste caso, a lâmina de irrigação a com insumos químicos.
430 Lourival F. Cavalcante et al.

Os valores de condutividade elétrica medidos na Exercício 3


água de irrigação (CEai), de precipitação (CEap), da Adotando as condições de equilíbrio de balanço de
água capilar (CEag) e percolada ou drenada (CEad) sais no solo (S = 0), uma cultura que exige uma lâmina
foram respectivamente: 1,2; 0,009; 0,9 e 6,7 dS m -1. de evapotranspiração de 60 mm e tolera uma CEad de
Estes dados devem ser multiplicados pelo fator 0,64 até 6 dS m -1, deve ser irrigada durante 10 dias em
para o cálculo da concentração de sais (Pizarro, 1978)
quatro propriedades que apresentam o mesmo tipo de
e cada lâmina de água deve ser multiplicada por 10 para
transformação de mm em L m -2 . Desta forma, o solo e águas de 0,6; 0,9; 1,2 e 1,5 dS m-1. Qual a lâmina
balanço de sais usando a expressão (2) do primeiro de água a ser aplicada em cada propriedade?
caso do exercício 1 é: Inicialmente deve ser calculada a necessidade de
S = (Lai Csai + Lap x Csap + Lag Csag) - (Lad x lixiviação (NL) para o solo de cada propriedade
Csad) através da Eq. 3. Em seguida, admitir que a Lai = Lad
S = (164,6 x 10 x 0,77 + 13,4 x 10 x 0,58 + 32 x 10 + Laet e substituir em Lad/Lai obtendo Lai = Laet/1-
x 0,006) - (31,5 x 10 x 4,28) NL e a eficiência de lavagem pela relação Laet/Lai,
S = 1347 - 1347 = 0 como apresentado na Tabela 1.
Verifica-se na Tabela 1 que para um mesmo tipo de
No segundo caso, do exercício 1, sem a participação solo a necessidade de lavagem, a lâmina de água a ser
da precipitação e da ascensão capilar a condutividade
aplicada e a lâmina de água que deve ser drenada no
elétrica da água drenada foi 8 dS m-1, a capacidade de
drenagem do solo foi reduzida para 25,1mm, a lâmina de período aumentam, e a eficiência de lavagem é
água de irrigação foi aumentada de 164,6 mm para 210 comprometida com o aumento do teor salino (CEai) da
mm. Pelos resultados a adição de sais à área foi superior água de irrigação.
à lixiviada. Salienta-se que CEad não significa CEes, pois a água
S = (Lai x Csai) - (Lad x Csad) de drenagem nem sempre é proveniente de solo saturado
S = 1.617 – 1.285 = 332 g m 2, equivalente 3.320 mas, na maioria das vezes, a água é removida do solo, em
kg ha-1 teores de umidade inferiores à saturação e próximo à
capacidade de campo. Neste caso, a CEad é superior a
Sob condições de equilíbrio (S = 0) e assumindo CEes se o solo for de textura média, a relação Cead
que não há variação do conteúdo de sais na zona CEes será igual a 2, se o valor da umidade do solo
radicular, ou seja, os sais incorporados pela lâmina de estiver ao nível capacidade de campo e será a metade
irrigação são lixiviados em sua totalidade pela
(0,5) se o solo atingir o nível de saturação, como
drenagem, o balanço dos sais na zona radicular se
apresentado em Ayers & Westcot (1999).
reduz a:
Nas áreas intensamente cultivadas pode ocorrer
adensamento e a relação CEai/CEes pode ser alterada
(3) devido a redução na macroporosidade do solo. Este
fenômeno se reflete na diminuição da capacidade de
drenagem resultando em maior acumulo de sais no solo.
ou Uma das técnicas capaz de manter o nível de sais no solo
tolerável pelas plantas pode ser obtida pela fração de
lixiviação, a partir da Eq. 4:

em que a condutividade elétrica da água de irrigação e (4)


da água drenada (CE) substitui a concentração de sais.

Tabela 1. Valores da necessidade de lavagem (NL), lâmina de água de irrigação (Lai), lâmina de água de drenagem (Lad) e
eficiência de lavagem (EL) em função da salinidade da água de irrigação (CEai) e da água de drenagem (CEal) do solo

LEs = Fluxo de entrada de sais; LSs = Fluxo de saída de sais; DS = Balanço de sais
Recuperação de solos afetados por sais 431

em que: Exercício 5
FL - Fração de lixiviação. Uma cultura deve ser irrigada com água de 1,2 dS m-1,
em que o padrão de extração (ETC = Laet) está indicado
Exercício 4 na Figura 2. A evapotranspiração de 1.200 mm conforme
A concentração salina da água que percola abaixo do o modelo padrão indica que 40% da água são extraídos
ambiente radicular das plantas, expressa pela pelas raízes do primeiro quarto superior, 30% do segundo,
condutividade elétrica da água de drenagem (CEad), deve 20% do terceiro e 10% pelas raízes do último quarto
ser calculada em função da concentração da água de inferior. A fração de lixiviação (FL) adotada deve ser
irrigação (CEai), adotando uma fração de lixiviação (FL) 0,15. Isto indica que 15% da água de irrigação percolam
ou necessidade de lavagem (NL) de 0,15 (Ayres & abaixo da zona radicular e que os restantes 85% são
Westcot, 1999). Esta situação convenciona que 85% da absorvidos pelas plantas.
água fornecida referem-se à evapotranspiração da cultura.
Ao empregar a Eq. (4) contata-se que a
concentração de sais da água que ultrapassa a área
radicular das plantas (CEad) irrigada com cada tipo de
água do exercício 3 é 4, 6, 8 e 10 dS m -1 ,
respectivamente, e a lamina de evapotranspiração das
plantas (Laet) corresponde a 51 mm. Entretanto, as
planas não absorvem igualmente a água contida em toda
a faixa onde se situam as raízes. A proporção absorvida
em relação à evapotranspiração diminui com o aumento
da profundidade do sistema radicular.
Para se estimar aCEad a partir da CEai e FL, deve-
se considerar que a planta não absorve água
uniformemente, de toda a zona radicular. Ayers &
Westcot (1999) consideram que a planta absorve do solo,
para suas necessidades hídricas, um padrão de extração
de 40, 30, 20 e 10% da água consumida pelas culturas,
respectivamente, da quarta parte superior à inferior da
zona radicular. Portanto, a estimativa da condutividade
elétrica média da água de drenagem (CEad) da zona
radicular deverá ser ponderada de acordo com a Figura 2. Esquema representativo da absorção de água ao
proporção de água retida em cada respectiva faixa da longo do sistema radicular das plantas
zona radicular. A Tabela 2 apresenta o fator de
concentração de sais no solo (CEes/CEai) com base nas Esse modelo ou procedimento considera que o
considerações do padrão de extração normal, aliado à consumo da água pelas plantas aumenta a concentração
relação CEes = 2 x CEad. de sais da água de drenagem, ao longo das faixas, onde
se localizam as raízes como apresentado na Figura 2. O
Tabela 2. Fatores de concentração (Fc) para se estimar a modelo também considera que a salinidade deve ser
salinidade do extrato de saturação do solo (CEes) a partir avaliada da seguinte forma:
da salinidade da água (CEai) e da fração de lixiviação (FL) a) na superfície do solo - CEadZr0 (Z0); b) final do
(Ayers & Westcot, 1999)
primeiro quarto superior - CEadZr 1 (Z1); c) final do
segundo quarto - CEadZr 2 (Z2); d) final do terceiro
quarto - CEadZr 3 (Z 3); e) final do quarto inferior -
CEadZr4 (Z4).
Esse tipo de prática obedece às seguintes etapas:
1) Cálculo da lâmina de irrigação (Lai) de modo a
atender a evapotranspiração (ETC = Laet) da cultura
para uma fração de lixiviação (FL = NL) de 0,15.
432 Lourival F. Cavalcante et al.

A salinidade média da água contida ou que atravessa


toda a zona radicular (CEadZr) é obtida pela média
aritmética dos cinco valores referentes a CEadZr 0,
CEadZr 1 , CEadZr 2 , CEadZr 3 e CEadZr 4 .
2) Toda a água aplicada atravessa a superfície do solo Correspondente a:
(Z 0 ) e lixivia os sais acumulados. Nessa faixa, a
salinidade da água drenada (CEad) corresponde a
salinidade da água de irrigação (CEai). Pela expressão:
CEaiZr 0 = CEadZ 0 = CEai = 1,2 dS m -1 . Em que:
CEaiZr0 = salinidade da água de irrigação na superfície
do solo; CEadZr0 = salinidade da água que atravessa a Este valor expressa que a salinidade da água do solo
superfície do solo. contida no ambiente radicular corresponde a 3,2 vezes a
3) A concentração salina da água que drena do solo salinidade da água de irrigação, como comentado por
(CEad) de cada quarta parte do ambiente das raízes para Ayers & Westcot (1999).
a quarta parte seguinte deve ser calculada pela Eq. (4):
Necessidade de lavagem
A necessidade de lavagem (NL) refere-se a fração
de água aplicada além da irrigação que deve atravessar
a zona radicular para manter os sais a um nível tolerado
pelas culturas. A quantidade extra de água que percola
Ao adotar os critérios admitidos pelo modelo padrão abaixo da zona radicular remove parte dos sais
de extração de água pelas plantas os valores da CEad no acumulados no ambiente das raízes.
final de cada faixa (quarta parte) da Figura 2 é: Salienta-se que a quantidade de água necessária para
a) Primeiro quarto superior, prevenir a salinização dos solos irrigados correspondente
a lavagem de manutenção é diferente da quantidade
FL1 = (1.411 - 0,4 x 1.200) / 1.411 = 931/1.411 = 0,66 necessária para a recuperação de solos salinos, expressa
pela lavagem de recuperação.

Lavagem de manutenção
Para se estimar a necessidade de lavagem de
manutenção de um solo irrigado, necessita-se conhecer
b) Segundo quarto, tanto a salinidade da água de irrigação como a salinidade
tolerada pela cultura. A salinidade da água de irrigação
FL2 = (931 - 0,3 x 1.200)/1411 = 573/1.411 = 0,40 pode ser medida diretamente, em termos de condutividade
elétrica (CEa). A salinidade tolerada pela cultura é a
salinidade média da água contida na zona radicular,
representada pela salinidade do extrato de saturação
resultante (CEes) e pode ser estimada utilizando-se
dados da literatura, com base na Tabela 2.
c) Terceiro quarto, Desta forma, para culturas específicas a aproximação
mais exata da necessidade de lixiviação de manutenção
FL3 = (573 - 0,2 x 1200)/1.411 = 333/1.411 = 0,24 (NL) pode ser obtida utilizando-se a seguinte equação
(Rhoades, 1974; Rhoades & Merril, 1976; Ayers &
Westcot, 1999):

(5)
d) Último quarto ou fim da zona radicular,

FL4 = (333 - 0,1 x 1.200)/1.411 = 213/1.411 = 0,15 em que:


NL - Necessidade de lixiviação mínima que se
necessita para controlar os sais dentro do limite de
tolerância da cultura.
Recuperação de solos afetados por sais 433

CEai - Salinidade da água de irrigação, dS m-1 lençol freático próximo à superfície; portanto, antes de se
CEes - Salinidade média do extrato de saturação iniciar o processo de lavagem deve-se avaliar a
do solo, que representa a salinidade tolerada por drenabilidade da área e, caso seja necessário, instalar um
determinada cultura, dS m-1 sistema de drenagem.
Existem diversos modelos matemáticos para simular o
Considerando-se que toda a água aplicada durante o movimento e as reações de sais no solo, durante a
evento de irrigação se infiltra uniformemente no solo e lixiviação, mas nenhum deles disponível é capaz de superar
que não existem perdas por escoamento superficial, a adequadamente as grandes variações que ocorrem com o
lâmina anual de irrigação que se deve aplicar para fluxo de água em condições de campo. Por isto, esses
satisfazer tanto a demanda da cultura como a modelos teóricos não são quase utilizados e, normalmente,
necessidade de lavagem de manutenção, pode ser as estimativas da necessidade de lavagem de recuperação
estimada pela equação abaixo: de solos salinos se baseiam principalmente em
experiências de campo in loco. Desta forma, antes de se
(6)
proceder à lavagem de recuperação, deve-se realizar um
pré-teste em condições de campo, para verificar a
capacidade de infiltração e drenagem para avaliar a
eficiência de lavagem, determinando a lâmina de água
em que: ideal e o tempo necessário de recuperação. O pré-teste
Lai - Lâmina anual de irrigação, mm ano-1 mostra as dificuldades reais a serem encontradas no
ETc - Laet - Evapotranspiração da cultura, mm ano-1 processo de recuperação em larga escala e deve ser
NL - Necessidade de lixiviação ou fração de realizado em áreas representativas de solos e grau de
lixiviação. salinização, pois qualquer pré-teste na área mais afetada
irá recuperar em grau, pelo menos igual ou maior que nas
Lavagem de recuperação áreas menos afetadas.
Na prática, não é possível se estimar, com exatidão, a
lâmina de lavagem de recuperação necessária, pois ela é MÉTODOS DE LAVAGEM
influenciada por diversos fatores que ocorrem
simultaneamente, como o fluxo de água, a presença de Lavagem por inundação contínua
fendas no solo, diferenças na solubilidade dos sais, O método de aplicação de água e a textura do solo
restrições na difusão dos sais e a dispersão hidrodinâmica. são as principais variáveis que define o volume ou lâmina
Neste caso, nem toda a água aplicada contribui, no de água requerida para lixiviar os sais. Dependendo da
processo de dessalinização, para a lavagem dos sais. textura do solo, pode-se ter diferentes graus de
Muitas vezes, parte da lâmina de lavagem passa recuperação para uma mesma lâmina aplicada.
diretamente através das fendas e macroporos do solo e O método de lavagem por inundação contínua possui
sai da zona radicular com a mesma concentração salina vantagens e desvantagens em relação aos outros
inicial, enquanto outra parte se mistura com a solução do métodos de lavagem, assim relacionadas:
solo e sai da zona radicular com uma concentração salina Vantagens:
que depende da proporção da mistura, realizando a a) Lixivia os sais das camadas mais profundidades;
lavagem dos sais. Enfim, a eficiência da lavagem varia b) É adequado para o solo com lençol freático
com os diferentes métodos utilizados na aplicação da elevado e salino, devido a lâmina para lavagem por
lâmina de lavagem. inundação contínua impedir o fluxo capilar para a
Antes de se iniciar a lavagem, deve-se nivelar e superfície, reduzindo a acumulação de sais.
gradear o terreno e, em seguida, adicionar uma lâmina de Desvantagens:
água adequada após a construção dos diques. Não a) O tempo de recuperação é maior que em
havendo possibilidade de se nivelar o terreno, qualquer outro método de recuperação;
recomenda-se a construção dos diques que separam as b) Uma elevada proporção de água de lixiviação se
parcelas em curvas de nível. desloca rapidamente pelos poros maiores necessitando,
A medida que a lâmina de águas se infiltra, lâminas desta forma, de um volume maior de água para deslocar
adicionais poderão ser aplicadas até completar a lâmina uma unidade de sais, ocorrendo grande desperdício de
total preestabelecida. Se a drenagem do solo não for água e, em áreas com drenagem deficiente, poderá
adequada, a lavagem poderá agravar ainda mais o causar elevação do lençol freático e possível acumulação
problema, com a saturação do solo e a formação do de sais (Pizarro, 1978).
434 Lourival F. Cavalcante et al.

c) Exige nivelamento do terreno, em curvas de nível formam quando há perdas de água na evaporação ou
e a água deve ser aplicada em parcelas; drenagem e pelos poros finos dos agregados, quando
d) A eficiência de lavagem depende da textura do úmidos.
solo.
Para a lixiviação por inundação contínua, pode-se
considerar que 70 a 80% dos sais solúveis inicialmente
contidos no solo, poderão ser lavados com lâmina igual

concentração inicial, C/Co


Sais no solo em relação à
à profundidade do solo a ser recuperado; por exemplo,
uma lâmina de 1,0 m ou 1000 mm é suficiente para
lixiviar 70 a 80% dos sais contidos na profundidade de um
metro de solo.
Entre as equações empíricas utilizadas para se estimar
a lâmina de lixiviação necessária para recuperar um solo
salino, pode citar-se a equação desenvolvida por
Hoffman (1986):

Lâmina de lixiviação por unidade


(7)
de profundidade do solo, Lar/Ls
Figura 3. Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade
do solo, necessária para recuperar um solo salino por
inundação contínua (Hoffman, 1980)
em que:
C - Concentração de sais que se deseja obter
Exercício 6
no solo após a lixiviação, dS m-1
Atualmente os problemas de salinidade também são
Co - Concentração de sais originalmente
frequentes em áreas sob cultivo protegido de hortaliças,
presentes no solo, dS m-1
flores e produção de mudas. Blanco (1999), Medeiros et
Lar - Lâmina de necessária água para lixiviação
ou recuperação de um solo salino, m al. (2002), Souza et al. (2003) e Silva et al. (2004) após
Ls - Profundidade do solo a ser recuperado, m avaliarem a salinidade do solo, em função de fontes e
K’ - Constante que varia com a textura do solo, doses de fertilizantes nitrogenados, potássios e
e o método de aplicação da lâmina de água. concluíram a necessidade de lavagem dos respectivos
solos, ao final de cada cultivo.
Quando o valor da CEai utilizada na recuperação for Blanco & Folegatti (2001) realizaram a lavagem
elevado deve-se subtraí-lo tanto da concentração de sais contínua de um Nitossolo (Palendalt Oxico) salinizado
original (Co) como da concentração desejada (C). Nesta durante o cultivo com pimentão. O solo foi lavado com
equação o valor de Lai não inclui as perdas por água de boa qualidade (CEai = 0,22 dS m-1) usando as
evaporação e deve ser corrigido quando a evaporação é lâminas (L): 2/3L, 1L e 3/2L, para lixiviação dos sais e
maior que 10% da lâmina de água que infiltra (0,1 x Lai). os métodos de aplicação de água foram por gotejamento
Desse modo, na lavagem dos sais por inundação e inundação.
contínua, que depende da textura do solo, os valores de Pelos resultados, conforme a Figura 4 se constata que
K’ encontrados para solos turfosos, franco-argilosos e o aumento da lâmina relativa de lavagem promoveu maior
franco-arenosos, foram de 0,45; 0,3 e 0,1 extração de sais; entretanto, o método por gotejamento
respectivamente, conforme ilustrado na Figura 2. foi mais eficiente na recuperação do solo do que por
Observa-se que solos de textura franco-arenosos têm inundação. Este comportamento pode variar entre solos
maior eficiência de lixiviação que os solos de textura fina. de textura diferentes, adensamento natural e tipo de
Tal fato se deve ao menor conteúdo de água nos solos cultura explorada.
franco-arenosa e, também, por possuírem poros de Nos cultivos em ambientes protegidos em que as
diâmetros mais uniformes que os solos argilosos e águas em geral, são de boa qualidade, o aumento da
franco-argilosos. salinidade do solo está diretamente associado ao índice
A menor eficiência na lixiviação dos sais nos solos de salino e as doses dos fertilizantes aplicados diretamente
textura fina é causada pela maior microporosidade que no solo ou por fertirrigação. Esta limitação tem sido mais
limita a dinâmica de água, presença de fendas com poros severa na produção contínua da olericultura, floricultura
grandes entre agregados e fendas na superfície, que se e formação de mudas pela elevada exigência de
Recuperação de solos afetados por sais 435

Lavagem por inundação intermitente


O método de lavagem por inundação intermitente ou
intercalada consiste em aplicações de lâminas de água
por ciclo em intervalos de inundação semanais ou
CEes (dS m-1)

mensais. Neste método de lavagem, a relação entre a


y=-0,2887+1,8777 R2=0,93
lâmina de água e a profundidade de solo lixiviado é
também de 1:1, porém a quantidade de sais lavados varia
entre 80 e 90% dos sais inicialmente contidos no solo.
Esse método de lavagem também possui vantagens e
y=-0,7048+2,1281 R2=0,97
desvantagens em relação aos outros métodos, assim
relacionados:
Lâmina relativa de lavagem Dentre as vantagens se destacam:
Figura 4. Valores da salinidade do solo (CEes) antes (A) e a) Possui maior eficiente que a lavagem contínua,
depois (D) da aplicação de lâminas de lixiviação por go- porque necessita de menor lâmina de água para
tejamento (G) e inundação (I) utilizando diferentes lâmi- lixiviação dos sais. Em solo de textura fina, para remover
nas de lavagem 70% dos sais solúveis à lâmina de água necessária para
inundação intermitente gira em torno de um terço da
nutrientes como nitrogênio, potássio, cálcio, magnésio requerida por inundação contínua;
(Blanco, 1999; Folegatti, 2001; Medeiros et al., 2002). b) Não é necessário fazer o nivelamento do solo;
c) No fluxo não saturado da lixiviação intermitente, o
Exercício 7 teor de água é baixo e o seu deslocamento é lento,
O monitoramento da salinidade do solo provocada permitindo maior difusão de sais do solo;
por fontes e doses de nitrogênio durante a formação d) A recuperação é mais rápida;
de mudas de maracujazeiro amarelo, sem aplicação de As principais desvantagens são:
lâmina de lixiviação evidencia, como indicado na a) Não lava os sais das camadas mais profundidades,
Figura 5, que dentre as fontes, o sulfato de amônio foi acima de 1 m;
a que mais elevou o caráter salino do solo, seguido do b) Não pode ser aplicado quando o lençol estiver
nitrato de cálcio e uréia respectivamente. A excessiva próximo à superfície e a água freática for salina.
elevação da condutividade elétrica do solo de valores Na lavagem por inundação intermitente, a constante
abaixo de 4 para até próximo de 14 dS m -1 revela a K’ da Eq. 7 assume um valor constante de 0,1,
necessidade de lavagem do solo até mesmo para independente da textura do solo, conforme ilustrado na
doses menores fornecidas juntamente com a água de Figura 5.
irrigação. Outra inconveniência observada por Sousa
et al. (2003) é que, dentre as fontes de nitrogênio, o
sulfato de amônio foi a que mais acidificou o
substrato.
à concentração inicial, C/Co
Sais no solo em relacão
CEes (dS m-1)

Lâmina de lixiviação por unidade


Doses nitrogênio (gL-1) de profundidade do solo, La/Ls
Figura 5. Valores da condutividade elétrica do extrato de Figura 6. Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade
saturação do solo fertirrigado com distintas fontes e de solo, necessária para recuperar um solo salino por
doses de nitrogênio inundação intermitente (Hoffman, 1980)
436 Lourival F. Cavalcante et al.

Lavagem superficial originariamente possui baixo teor de sais solúveis


A lavagem superficial poderá ser utilizada para (menor CEes) e em geral, maiores conteúdos de sódio
eliminação de crostas salinas da superfície do solo. Uma trocável a lavagem promove a lixiviação destes
grande lâmina de água é aplicada rapidamente e, respectivos sais sem deslocar ou transferir o sódio
enquanto a água se move, a mesma arrasta a crosta com adsorvido às micelas para a solução do solo e ser
os sais dissolvidos, desaguando-as no dreno coletor, lixiviado com a lavagem.
localizado no outro lado da parcela. Com a lixiviação do material solúvel a proporção do
O método de lavagem superficial possui algumas
sódio trocável adsorvido ao solo passa a predominar
vantagens e desvantagens em relação aos outros
ainda mais, resultando em maior dispersão das argilas,
métodos.
diminuindo as propriedades físicas como infiltração,
Vantagens:
a) Usado para solos de baixa permeabilidade; permeabilidade, drenagem e macroporosidade que são
b) Não é necessário nivelar nem gradear o solo antes essenciais à dinâmica da água, ar, nutrientes e ao
da lavagem; crescimento vegetativo das plantas (Gobran et al., 1982;
c) Elimina crostas salinas da superfície do solo. Hussain et al., 2001).
Desvantagens:
a) Não poderá ser usado em solos de boa Tipos de corretivos usados na recuperação de
permeabilidade nem em terrenos nivelados. solos afetados por sódio
Os corretivos químicos usados na recuperação de
RECUPERAÇÃO DOS SOLOS SÓDICOS solos afetados por sódio trocável têm o objetivo de
E SALINO-SÓDICOS fornecer cátions bivalentes, usualmente o cálcio, para
eliminar parte do sódio adsorvido no complexo de
Solos com excesso de sódio trocável podem ser troca, isto é, diminuir a percentagem de sódio trocável
recuperados com o uso de corretivos que forneçam (PST).
cálcio seguido de lavagem com a própria água utilizada O tipo e a quantidade de corretivo químico necessário
para irrigação. A adição de corretivos aos solos afetados para recuperar um solo comprometido por sódio
por sódio promove a substituição e a remoção do sódio
dependem das características próprias do solo, da
trocável por outros cátions, preferencialmente cálcio, mas
em menor proporção pode ocorrer a substituição do sódio disponibilidade no mercado e custo de recuperação.
por hidrogênio. A correção do solo pode ser feita de Dentre essas características, salienta-se a adequabilidade
várias maneiras, dependendo da fonte de cálcio do corretivo, que se baseia na presença ou ausência de
disponível, do tipo de cultura que deverá ser implantada carbonatos alcalinos terrosos e pH do solo. Com base
na área e da intensidade do nível de degradação do solo. nesses critérios, pode-se classificar o solo em três
Nos solos comprometidos pela sodicidade, a lavagem grupos: a) solos que contêm carbonatos alcalinos
isolada ao invés de corrigir, muitas vezes, eleva ainda terrosos; b) solos praticamente livres de carbonatos
mais o caráter sódico. Essa prática nesse tipo de solo, alcalinos terrosos e pH maior que 7,5 e c) solos
lixívia os sais solúveis, mas não desloca o sódio adsorvido praticamente livres de carbonatos alcalinos terrosos e pH
ao complexo de troca para ser lixiviados com a lavagem menor que 7,5.
e a drenagem, como indicado na Tabela 3. Os diferentes corretivos químicos utilizados na
recuperação dos solos afetados por excesso de sódio
Tabela 3. Valores da condutividade elétrica do extrato de
trocável têm sido agrupados em três tipos: a) sais
saturação - CEes, antes e depois da lavagem de dois solos
degradados por sódio sem utilização de corretivos
solúveis de cálcio (gesso e cloreto de cálcio); b) ácidos
químicos. ou formadores de ácido (ácido sulfúrico, enxofre, sulfeto
ferroso e sulfato de ferro e alumínio) e c) sais de cálcio
de baixa solubilidade (calcário e resíduo de engenho de
cana-de-açúcar).

Gesso: O gesso (CaSO 4 2H2O) apesar da sua baixa


Extraído de Cavalcante (2000); PSL = Percentual de sais lixiviados
solubilidade em água, é o corretivo mais utilizado como
fonte de cálcio para substituir o sódio trocável, em razão
Exercício 8 do baixo preço, disponibilidade no mercado e fácil
No solo salino-sódico por possuir mais sais solúveis manuseio; além disso, ele funciona como fonte de
(maior CEes) o percentual de lixiviação de sais sempre enxofre e cálcio para as plantas. A reação abaixo
é superior ao do solo sódico. Neste último, que descreve a substituição do sódio trocável no solo:
Recuperação de solos afetados por sais 437

MicelaNa
Na  CaSO 4  Micela Ca  Na 2 SO 4
salino-sódico. Estes resultados indicam também que a
recuperação física do solo degradado por sódio (PST) é
mais lenta do que a recuperação química (CEes).
A reação é reversível, por isso torna-se necessário
aplicar-se uma lâmina de lavagem para lixiviar o sulfato Exercício 10
de sódio, que é produto final da reação, para que a A matéria orgânica oriunda do esterco bovino,
recuperação paulatinamente ocorra e seja satisfatória. associada à drenagem também exerce eficiência na
Para isso, uma rede de drenagem se constitui em prática recuperação de solos afetados pela sodicidade. Um solo
obrigatória para lixiviação dos sais e do excesso de água. salino-sódico de Sumé - PB, abandonado há mais de 10
Tal reação é mais fortemente limitada pela reduzida anos pelo excesso de sais solúveis (CEes = 13,4 dS m-1)
solubilidade do gesso, que na temperatura de 25 ºC é e sódio trocável (PST = 18,4%), um ano após ser tratado
aproximadamente igual a 2,1 g L-1. com esterco bovino e drenagem subterrânea produziu
tomate em nível econômico.
Exercício 9
Pelos resultados a lavagem nos tratamentos sem Tabela 5. Produtividade de tomate Santa Clara em um solo
drenagem, independentemente da dose do gesso salino-sódico submetido à drenagem e esterco bovino.
aplicada, compromete ainda mais o nível salino (CEes)
e sódico (PST) em relação ao solo antes da aplicação
do corretivo químico. Nestas situações, ocorre a
solubilização do gesso através das irrigações, mas sem
a lavagem seguida de drenagem os sais solubilizados
que não são lixiviados voltam a ser adsorvidos pelo
complexo argílico do solo. Ao considerar que a reação
do cálcio pelo sódio é reversível, o sódio volta a
dispersar as argilas, depauperado ainda mais as
propriedades físicas do solo. Extraído e adaptado de Araújo (1990); SD = Sem drenagem; CD = Com drenagem; A 0 = Sem
NPK; A1 = com NPK; M0 = sem matéria orgânica: M 1 = 7 t ha-1; M2 = 14 t ha-1 de esterco de
Verifica-se também que apesar da lavagem reduzir a curral

CEes de 23,4 para 15,5 dS m-1 o nível de sodicidade ao


invés de diminuir foi incrementado de 18,8 para 20,2%. Uma avaliação nas linhas indica a expressiva
No solo com drenagem, o aumento da dose de gesso superioridade dos efeitos da drenagem no solo sem
de 25 para 50% da necessidade do solo (NG) com matéria orgânica e nas colunas a importância da
apenas uma lavagem, aos 30 dias após a incorporação do fertilização do solo com NPK (A1), no incremento da
corretivo, não foi suficiente para reduzir a salinidade produtividade.
(CEes) e a sodicidade (PST) para valores abaixo de 4 O monitoramento do nível salino e da sodicidade de
dS m-1 e de 15% respectivamente. um solo na maioria dos casos é feito pela avaliação
No solo com 25 e 50% de gesso sob condições de simultânea da condutividade elétrica do extrato de
drenagem a condutividade elétrica foi reduzida de 23,4 saturação (CEes) e da percentagem de sódio trocável -
para 13,6 e 8,5 dS m-1, a percentagem de sódio trocável PST (Richards, 1974; Pizarro, 1978; Tanji, 1990; Santos
de 18,8 para 17,5 e 16,2% respectivamente. Os & Ferreyra, 1997; Ruiz et al., 2004; Freire & Freire,
decréscimos apesar de promissores, com diminuições de 2007). Além destas variáveis, também devem ser
41,8 e 63,6% na salinidade e de 6,9 e 13,8% na monitoradas o aumento da capacidade de drenagem pela
sodicidade, expressam que o solo ainda permanece como condutividade hidráulica, aumento da porosidade total e

Tabela 4. Dados do extrato de saturação antes e depois da incorporação de doses de gesso em um solo salino-sódico sem
e com drenagem

Extraído e adaptado de Agra & Cavalcante (1992); NG = Necessidade de Gesso do solo; SD = Solo sem drenagem; CD = Solo com drenagem
438 Lourival F. Cavalcante et al.

diminuição da microporosidade do solo (Cavalcante & propiciou maior dinâmica de água e lixiviação mais
Silveira, 1985; Silveira, 1997). rápida do sódio transferido dos locais de troca para a
Um solo salino-sódico foi incorporado com gesso e solução do solo e para ser lixiviado juntamente com
acondicionado em colunas de PVC de 75 mm de outros cátions dissolvidos com as lavagens subsequentes.
diâmetro e 50 cm de altura. Aos 70 dias de incubação, Quanto ao gesso aplicado na superfície do solo os
o solo apresentava os resultados químicos e físicos resultados da literatura são conflitantes. Khosla & Abrol
indicados na Tabela 6. (1972) e De Jong (1982) constataram maior eficiência
A eficiência de aplicação do gesso depende da quando aplicado na superfície em relação ao incorporado
granulometria de suas partículas sendo que, de acordo ao solo. Para Barros et al. (2004), apesar da eficiência
com Abrol (1982) conseguem-se resultados promissores do gesso em reduzir a condutividade elétrica e a relação
com partículas de gesso menores que 2 mm de diâmetro, de adsorção de sódio, em solos salino-sódicos de distintas
devido aumentar a sua dissolução e reduzir a classes texturais, não obtiveram diferenças entre o gesso
precipitação do cálcio. na superfície e incorporado. Por outro lado, Gobran et al.
O gesso pode ser aplicado diretamente no solo (1982) e Cavalcante & Silveira (1985) obtiveram maiores
incorporando na superfície ou adicionando a água de reduções das variáveis químicas e físicas para o gesso
irrigação. No primeiro caso, adotam-se dois incorporado ao solo.
procedimentos: o corretivo é distribuído a lanço e Para maior eficiência na substituição do sódio
incorporado através de gradagem até a profundidade que trocável, é conveniente lavar quase todos os sais solúveis
se deseja recuperar, ou pode também ser fornecida antes de se aplicar os corretivos, para que uma
diretamente na superfície do solo; em ambas as proporção maior de cálcio contido no corretivo seja
situações, recomenda-se a lavagem após a adição do adsorvida pelo complexo; no entanto, a lavagem dos sais
corretivo para promover a distribuição mais homogênea solúveis em excesso poderá causar a dispersão das
no perfil. No segundo caso, o gesso é misturado com a partículas de argila, diminuindo a permeabilidade do solo;
água de irrigação (Silveira, 2000). por isto, as lavagens prévias não devem ser aplicadas
para solos pouco permeáveis.
Exercício 11
Os valores antes e aos 70 dias depois da Exercício 12
incorporação do corretivo químico, evidenciam reduções Após avaliar a efetividade agronômica do gesso na
expressivas de natureza química pela diminuição da recuperação de solos salino-sódicos e sódicos indicada
salinidade (CEes), da sodicidade (PST) e de natureza na Tabela 7, Magalhães (1995), concluiu que o aumento
física pelo aumento da macroporosidade, condutividade das doses de gesso na superfície de dois solos
hidráulica, redução do espaço microporoso e melhoria da comprometidos por sódio, do estado de Pernambuco,
estruturação do solo (Oster & Frenkel, 1980; Gheyi et al., reduziu expressivamente a sodicidade. A redução da
1997; Barros et al., 2006). PST em função do gesso aplicado em relação aos
Os dados expressam a ação positiva do gesso quando valores iniciais dos respectivos solos aumentou de 62,8
associado à drenagem na recuperação de solos para 83,9% no perímetro irrigado de Ibimirim e de 30,9
degradados pela sodicidade, ao nível de proporcionar a 75,7% em Custódia respectivamente. Em ambos os
condições para a germinação das sementes e solos, a PST foi reduzida para níveis abaixo de 10% e,
crescimento das plantas. O aumento da macroporosidade portanto, com condições de cultivo em ambos os solos.

Tabela 6. Condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST), macro, microporosidade
e condutividade hidráulica do solo saturado, após incorporação do gesso.

Extraído e adaptado de Morais (1990); A = Antes da aplicação do gesso; M = Macroporosidade; m = Microporosidade; M e m = Respectivamente incrementos da macro e microporosidade; Ks =
Condutividade hidráulica do solo saturado
Recuperação de solos afetados por sais 439

Tabela 7. Valores referentes à percentagem de sódio trocável foram mantidas sob regime de saturação com água
inicial (PSTi), percentagem de sódio trocável final (PSTf) sintética (NaHCO 3 , Na 2 SO 4 , NaCl, KCl, MgCl 2 e
e redução da percentagem de sódio trocável (PST) em
função do gesso aplicado na superfície de dois solos
CaCl2) de condutividade elétrica 1,01 d Sm-1 sem e com
degradados por sais. saturação de gesso, ao nível de 2,5 g L -1. A cada 24
Gesso PSTi PSTf PST horas eram avaliados, do volume lixiviado, as variáveis
Perímetro de
Aplicado contidas na Tabela 8.
Irrigação/Local %
cmolc kg-1 A lavagem do solo com qualquer tipo de água reduziu
5,9 18,7 62,8 significativamente a condutividade elétrica, a
Ibimirin-01, PE 11,8 50,3 13,0 74,2
percentagem de sódio trocável e aumentou a dinâmica da
17,7 8,1 83,9
água em relação ao solo antes da aplicação dos
3,5 24,8 30,9
Custódia-07, PE 7,0 16,9 52,9 tratamentos. Observa-se também que a superioridade foi
35,9 mais expressiva nas amostras tratadas com água
10,5 8,7 75,7
Extraído e adaptado de Magalhães (1995); PSTi e PSTf = Respectivamente percentagem de só- sintética mais gesso. Estas melhorias nos aspectos
dio trocável dos solos antes e depois da aplicação superficial do gesso
químicos e físicos constatados também por Shainberg et
Quanto ao gesso fornecido juntamente com a água de al. (1988) evidenciam efeitos positivos do cálcio, oriundo
irrigação, em geral, as dosagens aplicadas são menores gesso ou de outro composto químico que o contenha, na
do que quando incorporadas ou aplicadas na superfície do redução da salnidade, sodicidade, concentração de sódio
solo. Este modo de aplicação apesar de fornecer o gesso trocável e aumento da capacidade de drenagem expressa
com boa parte já solubilizada e proporcionar distribuição pela condutividade hidráulica do solo.
mais homogênea na profundidade requerida, não tem sido
recomendado para sistema de irrigação pressurizado de
Cloreto de cálcio: A alta solubilidade do cloreto de
alta frequência como microaspersores, gotejamento e
outros afins. cálcio (CaCl2 2H2O) aproximadamente igual a 427 g L-1
A baixa solubilidade do corretivo químico em doses à 20 oC, torna o um corretivo químico mais eficiente e
comparadas às aplicadas diretamente no solo pode rápido que o gesso na recuperação de solos afetados por
promover a obstrução dos emissores e comprometer todo sódio, porém seu emprego é limitado, por ser
o sistema de irrigação. Por isso, juntamente com a água rapidamente lixiviado do perfil do solo e, principalmente,
o gesso é mais frequentemente fornecido na irrigação por seu elevado custo. A substituição do sódio trocável
por inundação ou infiltração em sulco. no solo, quando se aplica o cloreto de cálcio, é descrita
pela seguinte reação:
Exercício 13
Amostras de solos com CEes entre 1,15 e 8,76 d Sm-1
e PST de 4,62 a 33,77%, foram avaliadas em tubos de
MicelaNa
Na  CaCl 2  Micela Ca  2 NaCl

PVC de 4,7 cm de diâmetro interno com 20 e 50 cm de


altura, dreno na base final inferior para drenagem e A aplicação do cloreto de cálcio pode ser direta sobre
lixiviação dos sais. Durante 10 dias as colunas de solo o terreno ou via água de irrigação.

Tabela 8. Valores médios da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST),
teores trocáveis de cálcio e sódio, condutividade hidráulica do solo saturado (Ks) e condutividade elétrica do lixiviado
(CEl)
CEs PST Ca2+ Na+ Ks CEl
Tratamentos
dS m-1 % cmolc kg-1 cm h-1 dS m-1
Antes 4,97 a 15,28 a 5,89 c 2,22 a - -
Água sem gesso 2,35 b 11,18 ab 6,75 b 1,59 ab 0,37 b 10,84 a
Água com gesso 2,35 b 8,30 b 7,24 a 1,19 b 0,61 a 11,77 a
Z1 0-20 cm 3,00 a 8,92 b 6,77 a 1,23 b 0,47 a 8,82 b
Z2 20-50 cm 3,45 a 14,25 a 6,48 a 2,11 a 0,51 a 15,79 a
CV (%) 70,00 57,45 10,27 63,17 90,70 101,03
dms águas 1,60 4,61 0,47 0,73 0,8 4,63
dms Z - 3,13 - 0,49 0,18 4,63
Extraído de Silveira (2000); Z= Tamanho da amostra
440 Lourival F. Cavalcante et al.

Enxofre: O enxofre é um corretivo químico bastante solos com calcário dolomítico, o ácido sulfúrico forma
utilizado, tendo em vista seu baixo custo. Antes de agir gesso, como explicita a reação abaixo:
como corretivo, o enxofre elementar passa por uma fase
de oxidação microbiana para produzir o H 2SO4. Este H 2SO 4  CaCO 3  CaSO 4  CO 2  H 2 O
processo de oxidação do enxofre no solo é resultante da Micela Na
Na  CaSO 4  Micela Ca  Na 2 SO 4
ação de bactérias do gênero Thiobacillus, tal como
descritas pelas reações seguintes:
A reação do ácido sulfúrico com o calcário produz o
2S  3O 2  Irrigação  2SO 3 (oxidação microbiana) gesso. A dissolução do gesso fornece cálcio para a troca
SO 3  H 2 O  H 2SO 4 com o sódio, que substituirá o sódio adsorvido ao solo
através da reação de simples troca. Nos solos sem os
H 2SO 4  Micela Na
Na  Micela H  Na 2 SO 4
H
carbonatos alcalinos terrosos esse corretivo causa
Micela Na
Na  CaSO 4  Micela Ca  Na 2 SO 4 excessiva acidez, o que justifica seu emprego nos solos
ricos em carbonatos alcalinos terrosos.

O tempo de oxidação microbiana depende do grau de Exercício 14


finura ou granulometria do enxofre, da mistura com o solo Após fornecer ácido sulfúrico aos níveis de 0; 1,8; 3,6;
e dos fatores que favorecem a atividade bacteriana, como 5,4 e 7,2 g kg -1 , em dois solos salino-sódicos dos
umidade, temperatura e população microbiana no solo, perímetros irrigados de Condado, PB, com CEes (8,4 dS
entre outros. A bactéria do gênero Thiobacillus é do tipo m-1), PST (47,3%) e pH = 9,1 e de São Gonçalo, Sousa,
aeróbica, por isso, torna-se indispensável promover a PB, com CEes (17,1 dS m-1), PST (52,9%), pH 8,1 e
aeração, mantendo o solo com umidade na capacidade de proceder a lavagem com água não salina (CE = 0,5 dS
campo, durante a oxidação para acelerar ou pelo menos m-1) a cada 30 dias, ao final de quatro lavagens, Leite
manter a atividade microbiana. Pelo exposto, os solos (2005) constatou eficiência do ácido sulfúrico na
tratados com enxofre não deverão ser inundados antes do correção dos respectivos solos, como mostrado na
tempo de oxidação microbiana, que varia em média de 20 Figura 7.
a 30 dias. Com a lavagem e a aplicação do ácido sulfúrico a
Por ser o enxofre um corretivo que aumenta a acidez condutividade elétrica do extrato de saturação – CEes foi
do solo, sua aplicação deverá se limitar aos solos que reduzida no solo de Condado de 8,4 e de 17,1 dS m-1 em
contenham carbonatos alcalinos terrosos. Neste caso, o São Gonçalo, para valores menores de 2 dS m-1 em
uso de enxofre tem a vantagem adicional de reduzir o ambos os solos (Figura 7A). Nas mesmas condições a
pH, aumentando a disponibilidade de nutrientes para as percentagem de sódio trocável foi diminuída de 47,3 para
plantas, como Zn, Mn e Fe, mas, nos demais casos, sua menos de 7% em Condado e de 52,9 para menos de 8%
aplicação reduz o pH, tornando o solo excessivamente em São Gonçalo (Figura 7B) e o pH de 9,1 para 6,0 e de
ácido; para evitar esse perigo, deve-se aplicar, a uma 8,1 para abaixo de seis nos solos de Condado e São
amostra de solo, uma quantidade de H2SO4 equivalente Gonçalo respectivamente (Figura 7C).
à dosagem de enxofre e verificar se o pH depois que
ocorrer a reação não foi reduzido para valores abaixo de Calcário dolomítico: O calcário (CaCO 3 ) é um
6,0. corretivo de adequada disponibilidade no mercado e
muito barato, principalmente quando se aproveitam os
Ácido sulfúrico: Além dos corretivos químicos como carbonatos existentes no próprio solo. A sequência de
cloreto de cálcio, gesso, formadores de ácidos com reações que ocorrem quando o calcário é aplicado em
sulfato de alumínio e sulfato de ferro, o ácido sulfúrico solos afetados por sódio, envolve as seguintes etapas:
também pode ser empregado na correção dos solos
comprometidos pela sodicidade. Resultados de Yahia et Micela Na
Na  CaCO 3  Micela Ca  Na 2 CO 3
al. (1975), Gheyi et al. (1995), Niazi et al. (2001), Sadiq
et al. (2003), Leite (2005) e Sadiq et al. (2007) revelaram
ou
eficiência da aplicação do acido sulfúrico em solos
degradados por sódio trocável.
O ácido sulfúrico é um corretivo químico de ação MicelaNa
Na  2 H 2 O  Micela H  2 NaOH
H

muito rápida. Na presença de carbonatos, sobretudo em MicelaHH  CaCO3  MicelaCa  CO 2  H 2 O


Recuperação de solos afetados por sais 441

A Para melhorar a eficiência do CaCO3 como corretivo,


o método mais prático é fazer sua aplicação, juntamente
com adubos orgânicos seguido de aração ou gradagem
para ativar o processo de decomposição microbiana da
CEes (dS m-1)

matéria orgânica.

Matéria orgânica: A matéria orgânica mesmo não


sendo considerado corretivo químico, exerce efeitos
positivos na melhoria química e física dos solos afetados
por sais (Gheyi et al., 1995; Neves, 1997; Cavalcante
B et al., 2002). Apesar de seus baixos valores
quantitativos, principalmente em cálcio, promove a
liberação de CO2, produz ácidos orgânicos e estimula a
oxidação biológica e a atividade microbiana (Grupta et
PST (%)

al., 1984; Leite, 1990; Silva, 1997). Essa situação


resulta na diminuição da CEes, PST e aumenta a
dinâmica da água no solo.

Exercício 15
A adição de matéria orgânica oriunda do esterco de
C curral a um solo salino-sódico contribuiu para redução do
caráter salinidade (CEes) e sodicidade (PST). Verifica-
se que apesar da redução crescente da PST,
numericamente a diminuição dos efeitos deletérios da
sodicidade é mais lenta do que o da salinidade. Dentre
pH

as doses aplicadas a maior redução da condutividade


elétrica correspondeu a 10 t ha -1; a partir desse valor
houve uma maior dissolução de sais resultando em
maiores valores de condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo Tabela 9.
O aumento da CEes com o aumento das doses da
Ácido sulfúrico (g kg-1)
Figura 7. Valores de condutividade elétrica do extrato de
matéria orgânica não se constitui em desvantagem porque
saturação (CEes) – A, percentagem de sódio trocável observam-se diminuições da PST, com a redução dos
(PST) – B e de pH – C de dois solos salino-sódicos riscos de sodicidade; nessas situações em geral, há
tratados com ácido sulfúrico: solo de Condado (——) e aumento da porosidade total, da capacidade de drenagem
de São Gonçalo (___) expressa pelo aumento da condutividade hidráulica do
solo saturado como indicado na Tabela 10.
Os efeitos do calcário na correção dos solos afetados
por sódio são inferiores aos do gesso, devido à sua baixa Exercício 16
solubilidade, que é de contra 2,1 g L-1. O uso do calcário O teor de matéria orgânica do solo salino-sódico foi
é indicado em solos de pH inferior a 7,5 e que não elevado para 1,68 e 2,52% com esterco de curral.
possuem carbonatos alcalinos terrosos, em especial para Durante 10 dias o solo foi irrigado mantendo-se a
solos degradados, por sódio trocável. umidade ao nível da capacidade de campo. Após esse

Tabela 9. Valores da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) e da percentagem de sódio trocável (PST) em
resposta à aplicação de matéria orgânica

Extraído e adaptado de Neves (1997); PST = Percentagem de sódio trocável; SS = Solo salino-sódico; S = Solo salino; Valor entre parêntese corresponde à redução percentual em relação ao valor
original (A)
442 Lourival F. Cavalcante et al.

Tabela 10. Valores de condutividade elétrica dos lixiviados (CEl) e condutividade hidráulica (Ks) de um solo salino-sódico
cultivado com plantas leguminosas antes e depois da aplicação de matéria orgânica

Extraído e adaptado de Cavalcante et al. (2002); * antes da semeadura

período efetuou-se uma lavagem com água não salina


adotando uma fração de lixiviação de 0,15 e foram
avaliadas a condutividade elétrica dos lixiviados (CEl) e

Umidade (g kg-1)
a condutividade hidráulica do solo saturado.
Imediatamente após a lavagem do solo, sementes de
feijão guandu (Cajanus cajan L.) e de Mucuna preta
(Stylozobium atterrinum Pit. Et. Tmacc) foram semeadas
e 60 dias após foi realizada outra lavagem e obtidos os
valores da condutividade elétrica das suspensões
drenadas e a condutividade hidráulica do solo saturado.
A adição de matéria orgânica e a lavagem Potencial matricial (MPa)
Figura 8. Curva de retenção de água de um solo salino-
promoveram a lixiviação dos sais e aumento da
sódico sem corretivo químico (—), com aplicação de
hidrodinâmica do solo. Do ponto de vista químico a vinhaça (———), com gesso e lixo urbano (—’”’”—).
condutividade elétrica foi expressivamente reduzida e Extraído de Santos (2002)
fisicamente à matéria orgânica elevou consideravelmente
a velocidade da água no perfil de lenta, variando de 1,27 Pela referida figura, se verifica que no solo com
a 5,08 mm h-1 para lenta a moderada que se situa entre vinhaça a disponibilidade de água às plantas supera a do
5,08 a 20,32 mm h -1 no período de 60 dias após a solo com gesso + lixo urbano e do solo sem nenhum tipo
incorporação do esterco de bovino. Apesar da marcante de acondicionador. A superioridade na armazenagem de
redução dos índices da salinidade e do aumento da água do solo com vinhaça é atribuída à ação da matéria
dinâmica da água no solo não foram detectadas orgânica coloidal nela contida, que aumenta o estado de
diferenças estatísticas entre as doses do esterco bovino agregação e aeração do solo, resultando em aumento do
sobre a melhoria química e física do solo e nem sobre a espaço macroporoso como indicado na Figura 9.
germinação das sementes, matéria seca total e das raízes
de ambos os tipos de plantas (Cavalcante et al., 2002). Exercício 18
Resultados da literatura indicam que a vinhaça Um solo salino-sódico de condutividade elétrica do
também exerce ação positiva na correção de solos extrato de saturação 42,5 dS m-1, percentagem de sódio
afetados por sódio trocável (Ruiz et al., 1997). Em geral,
tem se verificado diminuição da elevada força de
retenção de água, da condutividade elétrica do extrato de
saturação no caso dos solos salino-sódicos e aumento da
Macroporos (%)

condutividade hidráulica do solo saturado, da


macroporosidade e da porosidade total em solos salino-
sódicos e sódicos.

Exercício 17
Após avaliar os efeitos da vinhaça e lixo urbano sobre
a retenção de água em um solo salino – sódico, Santos
(2002), verificou que a ordem de retenção de água nos Doses de vinhaça (%)
diferentes tratamentos foi: solo com vinhaça < solo com Figura 9. Valores médios de macroporos do solo, em
gesso + lixo urbano < solo sem nenhum dos insumos função das doses de vinhaça aplicadas. Extraído de
(Figura 8). Silva (2004)
Recuperação de solos afetados por sais 443

Tabela 11. Valores da condutividade elétrica, pH, sódio, total de sais lixiviados e condutividade hidráulica de um solo
salino-sódico saturado

Extraído e adaptado de Silveira (1997); CEl e TSL = Respectivamente condutividade elétrica e total de sais medidos no lixiviado; Ks = Condutividade elétrica do solo saturado. Médias seguidas de
mesmas letras nas colunas não diferem entre si por Tukey para p < 0,05

trocável 52,1%, pH 10,6, condutividade hidráulica do Exercício 19


saturado 0,8 mm h1 foi tratado com as doses de gesso 0, Um solo salino-sódico do Perímetro irrigado de Sumé
25, 50, 75 e 100% e incubado com água e vinhaça com CEes variando 3,9 a 11 dS m-1, PST = 26,6 a 36,9%
(Tabela 11). Durante 330 dias o solo foi irrigado com e pH = 8 a 9,1, na camada de 0-160 cm, foi tratado com
água destilada, mantendo-se a umidade próxima à 1,2 t ha-1 de ácido sulfúrico, 16 t ha-1 de esterco de curral
capacidade de campo. Duas lavagens foram feitas uma e 30 t ha-1 de gesso. Em seguida foi submetido ao cultivo
aos 210 e outra aos 330 dias; os valores de condutividade de quatro cultivares de arroz (Oryza sativa) seguido de
elétrica, pH, sódio, total de sais lixiviados e a Capim cameron (Pennisetum purpureum).
condutividade elétrica do solo saturado referentes à No período de 1983 a 1987, foi verificado que apesar
segunda lavagem estão contidos na Tabela 11. das acentuadas reduções da condutividade elétrica do
Ao considerar a situação inicial do solo se constata extrato de saturação (CEes) e a percentagem de sódio
expressiva redução da condutividade elétrica, do total de trocável (PST) entre todos os métodos de recuperação,
sais e de sódio lixiviados. inclusive a testemunha, a maior eficiência numérica
Os maiores valores de pH, os mais baixos de sobre estas variáveis foi constatada nos tratamentos com
condutividade elétrica, de sódio, do total de sais lixiviados gesso. Os valores da CEes aos sete meses após o cultivo
e os menores da condutividade hidráulica expressam do arroz já apresentava valores entre 1,6 e 3,2 dS m-1,
como discutidos por Richards (1974), Pizarro (1978), mas a percentagem de sódio trocável, exceto no solo com
Tanji (1990), Santos (2002) que a lavagem isolada de gesso, ainda se apresentava elevada, variando de 20,5 a
solos comprometidos por sódio agrava ainda mais o 31,6%, principalmente na camada de 30-60 cm.
caráter sodicidade. Esta situação ocorre porque a No final do experimento, constatou-se os mais baixos
lavagem sem aplicação de um corretivo lixivia os sais valores da CEes, variando de 0,2 a 1,4 dS m-1 na faixa
solúveis, mas não desloca o sódio dos sítios de troca para de 0-60 cm, com maiores reduções em relação à
a solução para ser lixiviado com a lavagem seguinte do condição inicial do solo, na profundidade de 0-30 cm.
solo. Registrou-se também declínio acentuado da PST
No que se refere ao gesso o aumento das doses, inclusive na testemunha, principalmente na faixa de solo
apesar das marcantes reduções, em relação ao solo antes entre 0-30 cm. Para Gheyi et al (1995), a redução da
da aplicação dos tratamentos, não interferiu na PST mesmo no tratamento controle (testemunha), pode
condutividade elétrica, pH e teor de sódio nos lixiviados. ser resposta da melhoria da permeabilidade do solo, em
Verifica-se também que a utilização de doses acima de função do cultivo da área associada a decomposição da
75% da exigência de gesso do solo não resultou em matéria orgânica constituída pelas raízes.
superioridade estatística no total de sais lixiviados e na Finalmente, os distintos métodos de recuperação de
condutividade hidráulica do solo. solo salino-sódico não revelaram efeitos significativos
Comparativamente a vinhaça superou o gesso tanto entre si sobre as produções médias de arroz e capim
em proporcionar maior lixiviação de sódio, de sais Cameron. Entretanto, verifica-se na Tabela 12
lixiviados bem como proporcionar maior nível de melhoria tendências de superioridade do gesso de ácido sulfúrico
física para a drenagem, pelo aumento da condutividade para o arroz, esterco de curral e gesso sobre o
hidráulica e redução do pH. A superioridade da rendimento do capim Camerom.
condutividade elétrica comparada ao gesso evidencia Um solo salino-sódico do Perímetro Irrigado de São
maior ação da vinhaça na capacidade de extração de sais Gonçalo, Sousa, PB, foi submetido às aplicações de 20
de solos degradados por sódio. t ha-1 de gesso, 15 t ha-1 de casca de arroz, 40 m3 ha-1
444 Lourival F. Cavalcante et al.

Tabela 12. Produção de quatro cultivares de arroz e massa fresca de capim-camerom referente a oito cortes em um solo
salino-sódico do perímetro irrigado de Sumé, PB, submetido aos distintos métodos de recuperação

Extraído e adaptado de Gheyi et al. (1995); 1-BR IRRGA 409; 2= POKALI; 3=IR 2058; 4=IR2053. Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas não diferem pelo
teste de Tukey para p < 0,05

de vinhaça, 40 t ha -1 de esterco de curral e um em todas as variáveis estudadas. Indica também que das
tratamento controle ou testemunha, isto é, solo tratado oito variáveis a sequência esterco de curral > gesso foi
apenas com água. O solo foi lixiviado continuamente registrada em sete, inclusive na produtividade. Pelos
durante 40 dias mantendo uma lâmina de 8 cm de carga resultados a correção de solos com o uso de
hidráulica nas parcelas e em seguida foi cultivado com condicionadores orgânicos apresenta viabilidade como
arroz e avaliadas as variáveis indicadas na Tabela 13. observado também por Gheyi et al. (1995), Neves (1997),
Ruiz et al. (1997), Cavalcante et al. (2002).
Exercício 20
No período de 1996 a 1997, Gomes et al. (2000) Tabela 14. Ordem de sequência dos diferentes métodos de
verificaram que dentre os métodos de recuperação o recuperação de um solo salino-sódico do Perímetro
gesso foi o que mais reduziu a percentagem de sódio Irrigado de São Gonçalo, Sousa, Paraíba
trocável e a vinhaça foi a que mais contribuiu para a
diminuição da condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo. No tocante as variáveis relativas à
cultura, exceção feita ao número de panícula, massa da
panícula e produtividade do arroz, todos os métodos de
recuperação superaram a testemunha nas demais
variáveis avaliadas. Especificamente no rendimento da
cultura, a ordem crescente da produtividade foi: Esterco
de curral (8,81 t ha-1) > Gesso (6,78 t ha-1) > Casca de EC = Esterco de curral; G = Gesso; CA = Casca de arroz; V = Vinhaça; T = Testemunha
arroz (6,28 t ha-1) > Vinhaça (5,66 t ha-1) > Testemunha
(3,38 t ha-1). Resíduos industriais: Alguns subprodutos de indústria
A ordem das sequências crescentes dos efeitos dos poderão atuar como corretivos, em virtude de serem
distintos condicionadores do solo, como indicado na acidificadores e possuírem cálcio. Dentre esses
Tabela 14, evidencia a superioridade do esterco de curral subprodutos, o mais utilizado é o resíduo dos engenhos de

Tabela 13. Valores médios e incrementos, em relação à testemunha do comprimento (CP) e número de panícula (NP),
número de ramificações (NR) e massa de panícula (MP), número de grãos (NG), e densidade da panícula (DP), massa
de 100 grãos (MG) e rendimento de arroz sob inundação de um solo salino-sódico do perímetro irrigado de São Gonçalo,
Souza, PB, submetido a diferentes métodos de recuperação

Extraído e adaptado de Gomes et al. (2000); T=testemunha; Valores seguidos de mesmas letras minúsculas nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey para p < 0,05; Números entre
parêntese expressa a superioridade percentual em relação à testemunha
Recuperação de solos afetados por sais 445

cana-de-açúcar. A vinhaça tendo um pH baixo, alto teor em que:


de matéria orgânica e potássio também pode ser NG - Necessidade de gesso (kg ha-1);
empregada como corretivo para solos afetados por sódio Ds - Densidade do solo (g cm-3);
trocável com ou sem carbonato alcalinos terrosos tanto h - Profundidade do solo a ser recuperada;
para melhoria química como das propriedades físicas PEq - Peso equivalente do gesso = 86;
(Almeida, 1994; Ruiz et al., 1997; Santos, 2002; Silva, Na+x - Teor de sódio trocável do solo (cmolc kg-1).
2004).
Para Pizarro (1978) a estimativa da dosagem de
Calculo da necessidade de corretivos e gesso a ser utilizado durante a correção da sodicidade de
recomendações práticas um solo depende da percentagem inicial de sódio trocável
Na literatura há diversos procedimentos metodológicos (PSTi), da capacidade de troca de cátions (CTC), da
para se quantificar a dosagem de corretivo químico a ser densidade do solo (Ds), da percentagem final de sódio
aplicado num solo salino-sódico ou sódico. Dentre os trocável desejada que o solo atinja (PST f ), da
métodos três podem ser empregados: a) Richards (1974); profundidade do solo a ser recuperada (h) e do peso
b) Awad & Abbott (1976); c) Pizarro (1978). Ao equivalente do corretivo químico.
considerar os aspectos econômicos e disponibilidade no A dose teórica de gesso necessária para recuperação
mercado, o gesso tem sido o corretivo mais empregado, do solo para ser obtida pela Eq. (9):
apesar de não ser o mais eficiente na redução da
sodicidade dos solos. Dt  PSTi  PSTf   CTC  PEq  h  Ds 100 (9)
Baseado na concentração de sódio trocável, densidade
do solo, profundidade de aplicação e peso equivalente em que:
Richards (1974) sugere a quantificação da dosagem de
Dt - Dose teórica do corretivo, kg ha-1;
gesso exigida pelo solo com base na Tabela 15.
(PSTi – PSTf) - Diferença entre a porcentagem de
Tabela 15. Dosagem de gesso calculada em função do teor
sódio inicial e final, desejada, isto é, a PST que se deseja
de sódio trocável para corrigir o solo até a profundidade que o solo atinja em %. Em geral esse valor é de 10%;
15 ou 30 cm PEq - Peso equivalente do elemento ou composto
usado como corretivo (Tabela 16);
h - Profundidade do solo a ser recuperado, cm;
Ds - Densidade do solo, g cm-3.

Tabela 16. Peso equivalente de diferentes corretivos


utilizados na recuperação dos solos afetados por sódio

Os cálculos referentes às dosagens para recuperação


do solo às profundidades de 0-15 e de 0-30 cm foram
feitos para solos com densidade 1,4 kg dm-3. Isto requer
correções em função desse valor para solos com
densidades diferentes. Em todos os casos as doses de corretivo foram
Awad & Abbott (1976) admitem que teores de sódio obtidas considerando-se o aproveitamento total do cálcio
abaixo de 0,5 cmol c kg -1 não oferecem riscos de adicionado e o corretivo com 100% de pureza. Por isso,
sodicidade; para eles a necessidades de gesso (NG) pode (Pizarro, 1978) a dose prática do corretivo pode ser
ser obtida pela Eq. (8). estimada mediante a equação:

NG = (Na+x - 0,5) Ds h PEq (8) (10)


446 Lourival F. Cavalcante et al.

em que: Tabela 18. Atributos químicos e físicos dos solos empregados


Dp- Dose prática, kg ha-1 no cálculo da necessidade de gesso para correção da
C - Coeficiente de correção (indicado na Tabela 17), sodicidade de dois solos irrigados
adimensional.

Tabela 17. Valores dos coeficientes de correção (C)


recomendados para diferentes corretivos químicos
(Pizarro, 1978)

*=Extraído Leite et al. (2007); **=Extraído de Pereira et al. (1982); Na+x = Sódio trocável; CTC
= Capacidade de troca catiônica; h = profundidade do solo que se deseja recuperar; Ds = Den-
sidade do solo

Ao considerar, em função da baixa solubilidade do


gesso (2,1 g L-1), que a dose máxima recomendada para
aplicação seja de 10 t ha-1 no primeiro ano (Rhoades &
A dose prática de corretivo pode ser determinada em Loveday, 1990), se constata que ambos os solos,
laboratório, agitando-se um peso conhecido de solo com independentemente da forma de calcular (Tabela 19)
solução saturada do gesso de concentração conhecida e exigem elevadas quantidades de gesso. Nestas
se comparando o teor remanescente de Ca + Mg no condições, o mais viável é efetuar os cálculos para
extrato, determinado pelo método de titulação. correção da sodicidade até a camada de 15 cm e nos 2
Na prática, a quantidade de corretivo é determinada ou 3 seguintes fazem-se aplicação de 4 t ha -1 com
pela experiência local e por condições financeiras, lixiviações até a profundidade de 30 cm para que haja
sobretudo quando o gesso é o corretivo usado e as distribuição do cálcio solubilizado para substituição do
aplicações são frequentemente efetuadas num sódio no complexo de troca.
determinado número de anos. A prática mais comum
para se recuperar um solo sódico com gesso é se aplicar Tabela 19. Dosagens de gesso estimadas conforme diferentes
autores, para os solos do Perímetro Irrigado Engenheiro
no máximo 10 t ha -1 no primeiro ano e se usar uma
Arco Verde, Condado, PB e Perímetro Irrigado de São
lâmina de água de 150 cm, para lixiviar. Se nos 2 a 3 Gonçalo, Sousa, PB, até a profundidade de 30 cm
anos subsequente fazem-se aplicações adicionais de 4 t
ha-1, com algumas lixiviações até que a profundidade do
solo desejada esteja eventualmente recuperada (Rhoades
& Loveday, 1990).
Um aspecto importante que deve ser considerado
durante o planejamento para recuperação de áreas
afetadas por sais, é a escolha de uma espécie tolerante
à salinidade ou a sodicidade, conforme o caráter salino *Considerando a percentagem de sódio trocável final (PSTf) de 10%

ou sódico da área para ser cultivada. Neste caso, o


Dentre as metodologias a que mais superestima a
arroz é a espécie mais recomendada durante a
quantificação da necessidade de gesso para correção da
recuperação desses solos, em razão da grande tolerância
sodicidade dos solos é a de Richards (1974). O
à sodicidade e a possibilidade de ser cultivado em
procedimento sugerido por Pizarro (1978), para qualquer
condições de inundação. dos solos é o que apresenta maior viabilidade em relação
aos demais. Neste sentido, deve-se considerar ainda que
Exercício 21 foram adicionados à dose teórica 25% para obtenção da
Dois solos salino-sódicos, um do Perímetro Irrigado dose prática ou técnica. Caso a adição não fosse feita,
Engenheiro Arco Verde, Condado, PB e outro do as dosagens seriam de 28.898 e 23.590 kg ha -1 para o
Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa, PB, com os solo de Condado e São Gonçalo respectivamente.
atributos químicos e físicos contidos na Tabela 18 Mesmo assim continuaram sendo excessivas.
exigem dosagens distintas de gesso para redução da Uma das tentativas de não se aplicar doses elevadas
sodicidade. com riscos de se prejudicar ainda mais o solo é fracionar
Recuperação de solos afetados por sais 447

a dosagem de 100% para 25,50 e 75% e selecionar a De Jong, E. Reclamation of soils contaminated by sodium
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Indicadores de rentabilidade
24 da recuperação de solos sódicos
Raimundo N. T. Costa1, Claudivan F. de Lacerda1,
Luiz A. C. da Silva1 & Ana P. B. de Araújo1

1 Universidade Federal do Ceará

Introdução
Análise de investimento
Atualização de fluxos monetários
Taxa interna de retorno (TIR = r*)
Cálculo da TIR (r*)
Relação benefício-custo (Rb/c)
Cálculo e análise do fator de recuperação de capital
Estudos de caso na bacia hidrográfica do Rio Curu-CE
Características do solo e processo técnico da recuperação (Caso I)
Indicadores de rentabilidade e payback da recuperação (Caso I)
Características do solo e processo técnico da recuperação (Caso II)
Indicadores de rentabilidade e payback da recuperação (Caso II)
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
450 Raimundo N. T. Costa et al.

Indicadores de rentabilidade
da recuperação de solos sódicos

INTRODUÇÃO desenvolvida para as condições peculiares de cada


região. Visando propiciar condições favoráveis de
A salinização e a sodificação dos solos constituem um umidade, aeração e balanço de sais ao sistema radicular
fator extremamente importante no contexto do universo das culturas, faz-se necessária a instalação de um
agronômico, haja vista proporcionarem ao longo do sistema de drenagem subterrânea em áreas irrigadas, o
tempo, expansão significativa de áreas com restrições à que constitui uma das principais infra-estruturas no
exploração agrícola, especialmente em se tratando de processo de dessalinização dos solos, além de prevenir e
regiões áridas e semi-áridas irrigadas, reduzindo
solucionar os problemas associados à elevação do lençol
sensivelmente a produtividade das culturas a níveis
freático. Na recuperação de solos sódicos, que
antieconômicos.
De acordo com Leite et al. (2007), nos perímetros constituem os que apresentam o maior grau de
irrigados é frequente o surgimento de solos afetados por degradação, deve-se fazer o uso de corretivos que
sais devido o manejo ineficiente do solo e da água, a contenham cálcio solúvel, bem como práticas mecânicas
drenagem deficiente em decorrência da baixa adequadas.
condutividade hidráulica dos solos, a falta de manutenção A importância da inserção desta vasta área
dos coletores, as condições topográficas desfavoráveis e degradada por sais ao processo produtivo se faz
a constante exploração agrícola das terras. necessária, tendo em vista os retornos, seja na dimensão
A grande maioria dos problemas de sais está inserida social, pela geração de empregos diretos e indiretos, seja
nos perímetros irrigados pelo método de superfície, tanto pelos aspectos relacionados à dimensão econômica. No
por aspectos relacionados ao manejo do sistema solo- Brasil, os dados demonstram que, aproximadamente 3,2
água, quanto pela falta de manutenção dos drenos milhões de hectares irrigados, correspondem a 5% da
coletores, que funcionam como fonte de recarga de água área cultivada, 16% da produção total e 35% do valor
salina para o interior dos lotes. econômico da produção (Mantovani et al., 2006).
A deficiência no suprimento de energia elétrica, a Diversas pesquisas têm demonstrado a viabilidade
carência de capital humano qualificado, de recursos técnica do processo de recuperação de solos degradados
financeiros, a tradição, a qualidade da água de irrigação,
por sais com resultados promissores já no primeiro ano.
dentre outros fatores levam o agricultor irrigante
No entanto, o custo do processo de recuperação e, o
nordestino a utilizar, em grande escala, a irrigação por
superfície para desenvolver suas atividades agrícolas. tempo necessário para a recuperação do capital alocado
Conforme Walker & Skogerboe (1987), a prática da tem inibido o investimento por parte dos agricultores
irrigação por superfície data de milhares de anos e irrigantes.
representa coletivamente a prática da irrigação mais
comum na atualidade. Dentre as vantagens da utilização ANÁLISE DE INVESTIMENTO
desse método de irrigação, os autores citam o mínimo de
inversão de capital necessário para se desenvolver a prática. Atualização de fluxos monetários
A recuperação de solos afetados por sais deve seguir Ao se efetuar um investimento, é de suma
uma aplicação criteriosa de tecnologia específica importância analisar a rentabilidade do mesmo no longo
Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 451

prazo, visto que os retornos advindos deste investimento n

 (1  r)
Ii
ocorrerão durante vários anos. Para isto faz-se (Ia)  i
i 1
necessário do conhecimento do conceito de valor
presente de um fluxo monetário.
Segundo Lapponi (2000), para atualizarmos um fluxo - Valor atual das receitas
monetário ou de renda, necessitamos definir a princípio
uma taxa de desconto real r, que normalmente considera- n

 (1  r)
Ri
se a taxa média de juros de mercado. Assim, dado um (Ra)  i
fluxo de renda V 1 , V 2 , ..., V n , proveniente de um i 1

investimento, podemos determinar várias medidas de


análise de investimentos. - Valor atual dos custos
Sendo Vi um valor monetário no ano i, o valor atual
de Vi (Vi0), isto é, o valor Vi no ano zero é obtido através n

 (1  r)
Ci
da seguinte expressão: (Ca)  i
i 1
1
Vi0  Vi 
(1  r ) i
- Valor atual líquido

onde r é o custo de oportunidade do capital. n n n

 (1  r)  (1  r)  (1  r)
Ri Ci Ii
(VAL)  Ra  Ca  Ia  i
 i
 i
i 1 i 1 i 1
Considere a Tabela 1.
O valor final apresentado na tabela (345) denomina-
se benefício líquido atual (BLA) ou valor atual líquido ou,
(VAL). Sempre que este valor (VAL), estimado a uma
taxa de desconto correspondente ao custo de oportunidade n n
Ri  Ci
 (1  r)  (1  r)
Ii
do capital, for superior a zero, o investimento será viável. VAL  i
 i
Ao compararmos dois investimentos seleciona-se aquele I 1 i 1

que apresenta maior VAL.


Cálculo dos valores atuais, considerando que o custo No caso particular em que todos os investimentos
de oportunidade do capital seja r% ao ano, e que a vida
sejam realizados no ano zero (I0), temos:
útil do investimento (o horizonte de planejamento do
investimento) seja de n anos, tem-se: n
Ri  Ci
- Valor atual dos investimentos
VAL   (1  r)
i 1
i
 I0

Tabela 1. Fluxos monetários em valores correntes (nominais ou de mercado) e atualizados (reais ou constantes)
Valores Correntes F.D. Valores Atualizados
Anos
(r = 5%)
Invest. Receita Custos RL Invest. Receita Custos RL
0 400 - - (400) 1 400 - - (400)
1 400 - - (400) 0,9524 381 - - (381)
2 200 300 150 (50) 0,9070 181 272 136 (45)
3 - 350 150 200 0,8638 - 302 130 172
4 - 400 200 200 0,8227 - 329 165 164
5 - 400 200 200 0,7835 - 313 157 156
6 - 400 200 200 0,7462 - 298 149 149
7 - 400 200 200 0,7107 - 284 142 142
8 - 400 200 200 0,6768 - 271 135 136
9 - 400 200 200 0,6446 - 258 129 129
10 - 400 200 200 0,6139 - 246 123 123
Total 1.000 3.450 1.700 750 - 962 2.573 1.266 345
Benefício Líquido Atualizado (Valor Líquido Atualizado) 345
RL: Renda Líquida; FD: Fator de desconto
452 Raimundo N. T. Costa et al.

O VAL representa o retorno líquido atualizado gerado L

pelo investimento. Isto significa que todo o investimento


realizado foi ressarcido (recuperado) e remunerado à
taxa de desconto r utilizada, e ainda gerou um lucro extra
igual ao VAL (R$ 345,00).
O VAL não deve ser tomado, de uma maneira geral, L1

como um critério básico suficiente para a determinação


da viabilidade do investimento, dada as dificuldades em L2
se determinar o valor exato da taxa de desconto a ser
aplicada na atualização. r*

r1 r2 r
Taxa interna de retorno (TIR = r*)
Uma maneira de se fugir das dificuldades de se
Figura 1. Relação entre receita líquida atualizada e taxa de
determinar a taxa de desconto correspondente ao custo desconto
de oportunidade do capital, na determinação da
viabilidade de investimentos, é o emprego da taxa interna L1  L 2 L
de retorno que tem a característica de ser calculada  * 1 1
r2  r1 r r
somente através dos dados próprios (internos) do
investimento.
Sabe-se que a taxa de juros que se paga por um L 1 (r2  r1 )
r*   r1
financiamento pode ser considerada como o “preço do L1  L 2
dinheiro”, é o que se paga pelo uso de capitais
monetários de terceiros. Portanto, uma elevação na taxa
de juros provoca, simultaneamente, um aumento nos Exemplo: considerando a Tabela 2:
custos do investimento e queda da receita líquida. Assim,
existe uma relação inversa entre a taxa de desconto (r) 1
F.D.  (fator de desconto) 
e a receita líquida atualizada (L), conforme Figura 1. (1  r ) i
Nota-se que dentre as inúmeras taxas de desconto
possíveis apenas uma (r*) anula a receita líquida
109(18  10)
atualizada. Esta taxa específica recebe a denominação r*   10  15,2%
de taxa interna de retorno. De modo mais formal; 109  ( 59)
podemos definir taxa interna de retorno como a taxa de
desconto que anula a receita líquida atualizada. Ou seja: Observações: uma taxa interna de retorno de 10%
pode ser facilmente comparada com opções de
n n
Ri  Ci investimento no mercado financeiro; tais como uma
 (1  r )  (1  r
Ii
 0
* i * i
) rentabilidade de 10% em títulos, rentabilidade de 6% em
i 1 i 1
poupança, etc.
Cálculo da TIR (r*)
A partir do gráfico acima, pode-se deduzir através do Relação benefício-custo (Rb/c)
teorema de semelhança de triângulo que a seguinte A relação benefício-custo (Rb/c) é definida como a
relação é verdadeira: relação entre o somatório das receitas atualizadas (Ra)
e o somatório dos custos atualizados (Ca), a uma taxa
Tabela 2. Transformação de valores nominais em valores reais
Valores Nominais F.D. Valores Atualizados F.D. Valores Atualizados
Anos
(r1=10%) (r2=18%)
R C Ra Ca Ra Ca
0 - 1.000 1 - 1.000 1 - 1.000
1 450 100 0,9091 409 91 0,8475 381 85
2 450 100 0,8264 372 83 0,7182 323 72
3 450 100 0,7513 338 75 0,6086 274 61
4 450 100 0,6830 307 68 0,5158 232 51
Total 1.800 1.400 - 1.426 1.317 - 1.210 1.269
Receita líquida atualizada L1 = $109 L2 = -$59
R: Receita; C: Custo; Ra: Receita atualizada; Ca: Custo atualizado
Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 453

de desconto adequada (o custo de oportunidade do onde, r é a taxa de desconto.


capital). Como.
Sabemos que o valor atualizado (Ro) de uma renda
n
Ri no ano n (Rn) é obtido através da seguinte relação:
 Ra   (1  r)
i 1
i

RN
Ro 
1  r n
e

n
Ci Substituindo-se Rn obtido anteriormente nesta expressão,
i 1
Ca 
(1  r ) i
teremos:

R
1  r n  1
teremos: r
Ro 
1  r n
n
Ri
 Ra   (1  r) i
Rb / c  i 1 ou
 Ca  n
Ci
i 1 (1  r ) i
Ro  R
1  r n  1
r 1  r n

Considerando os dados da Tabela 2, obtemos:


Assim, o termo
1426
Rb / c   1,08
1317 1  r n 1
r
O critério de decisão é que o investimento será
considerado viável se Rb/c  1. Assim, quanto maior a ou
relação benefício-custo mais viável tende a ser o
investimento, e, consequentemente mais estável este 1  r n  1
investimento se apresenta às oscilações de mercado
r 1  r n
(preço do produto, preços dos insumos e a taxa de juros
de mercado).
é denominado de fator de recuperação de capital, ou seja;
Cálculo e análise do fator de recuperação de capital é o fator que remunera um capital a uma taxa de desconto
Todo o investimento deve gerar ao longo de sua vida r durante um período de investimento n.
útil um fluxo de renda que, a princípio, para que esse
investimento seja viável, faz-se necessário que os Outra variável relevante, sobretudo para tomada de
valores atualizados desses rendimentos, através de uma decisão do agricultor, refere ao número de anos
taxa de juros adequada (custo de oportunidade do necessários para que todo o investimento realizado seja
capital) devam ser no mínimo iguais ao total do capital recuperado (as receitas geradas superem os custos),
investido. também conhecido como período de recuperação do
Considerando-se que um investimento I gere uma capital, ou payback period. Segundo Azevedo Filho
renda anual constante, durante toda a sua vida útil, igual (1996), o payback period ou período de recuperação
a R, podemos determinar o valor acumulado das rendas do capital é um indicador voltado à medida do tempo
no ano n (Rn), através da seguinte expressão1 : necessário para que um projeto recupere o capital
investido. Dessa forma, quanto menor o payback
Rn  R
1  r n  1 period mais atrativo é o investimento em termos
r econômicos.
454 Raimundo N. T. Costa et al.

ESTUDOS DE CASO NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO CURU-CE

Características do solo e processo técnico da


recuperação (Caso I)
Costa et al. (2005) desenvolveram estudo na área
irrigada DS2 da Fazenda Experimental Vale do Curu,
contígua ao Perímetro Irrigado Curu Pentecoste, Ceará.
Atributos físicos e químicos do solo apresentados nas
Tabelas 3 e 4 respectivamente, verificam de acordo com
Richards (1954) tratar-se de um solo sem problemas de
sodicidade na camada de (0-0,20m), a extremamente
sódico na camada de (0,40-0,60m), porém, sem problemas
de salinidade. A transmissão de água no solo avaliada
através da condutividade hidráulica do solo saturado (Ko) Figura 2. Terreno sistematizado
era no início dos trabalhos de recuperação praticamente
nula.

Tabela 3. Atributos físicos do solo no início do experimento


Dens. do Cap. de Porosidade
Prof. Classificação
solo campo total
(m) textural
(kg m-3) (m3 m-3) (%)
0,00 - 0,20 Fra. siltoso 1400 0,39 48,50
0,20 - 0,40 Fra. argiloso 1560 0,41 46,50
0,40 - 0,60 Fra. argiloso 1560 0,42 47,50

Tabela 4. Atributos químicos do solo no início do experimento


Prof. pH em CE Mat. Org. PST
(m) Água (dS m-1) (%) (%)
0,00-0,20 7,4 1,12 1,52 6,71 Figura 3. Sistema de drenagem subterrânea
0,20-0,40 7,5 1,35 0,98 25,76
0,40-0,60 7,7 1,84 0,96 36,56

Após a sistematização do terreno (Figura 2) para ser


irrigado por sulcos, instalou-se um sistema de drenagem
subterrânea com drenos laterais espaçados de 17,5 m
(Figura 3). Em seguida a área foi submetida a tratamento
mecânico constituído pela associação de aração,
subsolagem e gradagem.
No primeiro período de irrigação cultivou-se feijão-
de-porco, procedendo-se, na época da floração, a
incorporação de sua massa verde através de duas
gradagens cruzadas. Em seguida incorporou-se gesso
(Figura 4) em quantidade equivalente a 17876 kg ha -1
Figura 4. Incorporação de gesso
calculada para reduzir a percentagem de sódio trocável
(PST) a 10,0% até a profundidade de 0,45 m. Por fim Indicadores de rentabilidade e payback da
cultivou-se arroz, sob regime de irrigação por inundação, recuperação (Caso I)
objetivando proceder a uma lavagem dos sais solúveis, Na Tabela 5 visualizam-se os fluxos monetários em
solubilizar o gesso e a obtenção de uma renda para valores correntes e atualizados para uma safra de arroz
minimizar os custos da recuperação. No segundo período (1o semestre) e uma safra de melão (2o semestre) com
de irrigação cultivou-se melão, oportunidade em que o vistas ao cálculo dos indicadores de rentabilidade. Na
solo já apresentava um valor de Ko igual a 0,25 m dia-1 elaboração do referido quadro considerou-se o ano “zero”
e PST em torno de 8%. como o ano dos investimentos: instalação de drenos
Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 455

Tabela 5. Fluxos monetários em valores correntes e atualizados para uma safra de arroz (1o semestre) e uma safra de melão
(2o semestre) em área de 1,0 ha - março 2000
Investimento/ Valores Atualizados
Custo Receita F.D.*
Ano Reinvestimento
(R$) (R$) (r=12%) Custo/Investimento (R$) Receitas (R$)
(R$)
0 - 3.019,54 - 1,0000 3.019,54 -
1 990,90 - 102,11 0,8929 884,77 91,17
2 2.513,66 - 4.004,33 0,7972 2.003,89 3.192,25
3 2.513,66 2.820,00 4.004,33 0,7117 3.795,97 2.850,28
4 2.513,66 - 4.004,33 0,6355 1.597,43 2.544,75
5 2.513,66 - 4.004,33 0,5674 1.426,25 2.272,06
6 2.513,66 - 4.004,33 0,5066 1.273,42 2.028,59
7 2.513,66 - 4.004,33 0,4523 1.136,93 1.811,16
8 2.513,66 - 4.004,33 0,4039 1.015,27 1.617,35
9 2.513,66 - 4.004,33 0,3606 906,43 1.443,96
10 2.513,66 - 4.004,33 0,3220 809,40 1.289,39
Somas 23.613,84 5.839,54 36.141,08 17.869,50 19.140,96
* FD = fator de desconto

laterais, aplicação de gesso, tratamentos mecânicos e em estudo. A TIR, estimada em 17,7%, por ser maior do
custo de produção e de incorporação de adubação verde que o custo de oportunidade do capital (12% a.a),
(feijão-de-porco), num total de R$ 3.019,54 (março de também demonstra viabilidade do referido processo.
2000). Os benefícios iniciaram-se apenas a partir do ano Tendo em vista a implantação de um novo sistema de
“1”. drenagem, considerou-se que o mesmo seria capaz de
No ano “1” as despesas se compuseram do custo de incrementar os benefícios do plano de recuperação em
produção da cultura do arroz, custo da irrigação 10%. Dessa forma, analisaram-se os indicadores de
(aquisição de sifões, tarifa de água e aplicação) e rentabilidade através de uma análise de sensibilidade
manutenção do sistema de drenagem. Já os benefícios considerando-se tal incremento das receitas e dos custos,
ou receitas foram compostos pelo incremento da inalterados.
produtividade de arroz em relação à produtividade obtida Conforme Hillier & Lieberman (1988), a análise de
antes do processo de recuperação do solo por Ferreyra sensibilidade tem como objetivo testar a estabilidade do
& Coelho (1986), cujo incremento foi de 392,75 kg ha-1. projeto em termos de sua rentabilidade e, assim, avaliar
No ano “2”, as despesas se compuseram dos custos a influência de variações em determinados parâmetros
de produção das culturas do arroz e do melão, do custo sobre os resultados básicos do projeto. Nessa análise,
da irrigação e da manutenção do sistema de drenagem. considerando-se os custos inalterados e um incremento
Já os benefícios foram compostos pelo incremento da de 10% nas receitas, obtêm-se os indicadores Rb/c =
produtividade do arroz acrescida da produção física do 1,18; VPL = R$ 3.185,46 e TIR = 25,49%.
melão. Justifica-se a utilização de toda a produção física A análise do fluxo de caixa apresentada na Tabela 5
do melão, tendo em vista que o solo da área do demonstra que somente ao final do oitavo ano, período
experimento se prestava unicamente ao cultivo de arroz “payback”, as receitas começariam a superar os custos,
antes da sua recuperação. com uma margem de R$ 253,61. Esta condição limita
Os custos e receitas dos anos subsequentes foram consideravelmente investimentos por nossos agricultores
considerados iguais ao ano “2”, tendo sido considerado irrigantes no processo de recuperação dos solos.
um reinvestimento em um novo sistema de drenagem Há que se considerar a carência de informações de
subterrânea no ano “3”, considerando que o sistema indicadores econômicos da recuperação de solos
instalado inicialmente constituído de manilhas de barro se afetados por sais. Finalmente, há de se convir que se
apresentava vulnerável a avarias. deva estabelecer sempre um manejo adequado da
Os indicadores de rentabilidade do processo de irrigação a fim de minimizar os riscos de salinidade do
recuperação em que consta um plano anual constituído solo.
por uma safra de melão e uma de arroz foram de: Rb/c
= 1,07; VPL = R$ 1.271,34, considerando-se uma taxa de Características do solo e processo técnico da
desconto r de 12% ao ano e TIR = 17,7%. Estes recuperação (Caso II)
resultados demonstram, com base nos critérios de Araújo (2009) desenvolveu pesquisa no núcleo D do
decisão, viabilidade do processo de recuperação do solo Perímetro Irrigado Curu Pentecoste–CE em solo de
456 Raimundo N. T. Costa et al.

textura franco-argilosa, classificado como Neossolo e/ou investimentos na recuperação do solo sódico e
flúvico com percentagem de sódio trocável em torno de instalação de um sistema de drenagem subterrânea.
50% e transmissão de água no perfil de solo praticamente Quanto aos benefícios foram constituídos pelos valores
nula. brutos da produção associados às culturas do feijão-de-
A área da pesquisa, cultivada com coqueiro e feijão- corda consorciado com a cultura do coqueiro até o
de-corda, recebeu o seguinte preparo mecânico: aração, terceiro ano.
gradagem, sistematização do terreno, subsolagem (Figura A amortização dos investimentos da recuperação do
5), nova gradagem e sulcamento. Em seguida a aplicação solo sódico e instalação do sistema de drenagem
de 40 t ha-1 de matéria orgânica (Figura 6A) e 20 t ha-1 subterrânea foram realizadas em três anos com período
de gesso (Figura 6B).
de carência de dois anos.
O valor inicial da PST da ordem de 50% foi reduzido
Na Tabela 6 são apresentados os elementos
após o período chuvoso, ou seja; um ano após a aplicação
econômicos para cálculo dos indicadores de
dos tratamentos mecânicos e químicos para o nível de
4%. De acordo com Gheyi et al. (1995), a aplicação de rentabilidade, considerando-se um horizonte de 10 anos.
gesso em solos salino-sódicos resulta em uma expressiva As receitas dos dois primeiros anos foram compostas
diminuição da PST logo no primeiro ano de sua pelo valor bruto da produção (VBP) da cultura do feijão-
aplicação. de-corda. No terceiro ano, pelo VBP das culturas do
feijão-de-corda e do coqueiro e, nos demais anos, pelo
Indicadores de rentabilidade e payback da VBP da cultura do coqueiro.
recuperação (Caso II) Quanto aos custos do processo de recuperação
A análise dos indicadores de rentabilidade foi realizada compuseram-se no primeiro ano do custo de produção da
de forma ex-ante e ex-post. Consideraram-se os custos cultura do feijão-de-corda e custo de instalação e
produção da cultura do coqueiro. No segundo ano, do
custo de produção da cultura do feijão-de-corda e
manutenção da cultura do coqueiro. No terceiro ano, do
custo de produção e manutenção das culturas do
coqueiro e feijão-de-corda, além da primeira parcela da
amortização dos investimentos. No quarto e quinto anos,
do custo de manutenção da cultura do coqueiro e
respectivas amortizações e, do sexto ao décimo anos, do
custo de manutenção da cultura do coqueiro.
Os indicadores de rentabilidade, considerando-se uma
taxa de desconto de 12% ao ano, do processo de
recuperação foram de: relação benefício/custo (Rb/C)
de 1,14; valor presente líquido (VPL) de R$ 2.391,90 e
Figura 5. Subsolagem do terreno taxa interna de retorno (TIR) igual a 20,86 %. Os

A B

Figura 6. Distribuição de matéria orgânica (A) e de gesso agrícola (B)


Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 457

Tabela 6. Dados para o cálculo dos indicadores de rentabilidade


Valores Nominais (R$) F.D. Valores Atualizados (R$)
Ano*
Custos Receitas (r=12%) Custos Receitas
1 2.745,00 1.473,00 1,0000 2.745,00 1.473,00
2 1.745,00 1.473,00 0,8929 1.558,11 1.315,24
3 5.472,00 3.167,00 0,7972 4.362,28 2.524,73
4 4.527,00 2.543,00 0,7118 3.222,32 1.810,11
5 4.527,00 3.391,00 0,6355 2.876,91 2.154,98
6 800,00 4.239,00 0,5674 453,92 2.405,21
7 800,00 4.239,00 0,5066 405,28 2.147,48
8 800,00 4.239,00 0,4523 361,84 1.917,30
9 800,00 4.239,00 0,4039 323,12 1.712,13
10 800,00 4.239,00 0,3606 288,48 1.528,58
Soma 23.016,00 33.242,00 16.597,26 18.988,76
*Definiu-se como ano 1 o primeiro ano do horizonte de planejamento do projeto, para efeito de análise do investimento.

referidos indicadores demonstram, com base nos critérios impacto social associado à geração de empregos
de decisão, boa viabilidade do processo de recuperação diretos e indiretos em razão da incorporação destas
(Rb/c > 1,0 e VPL > 0). áreas ao processo produtivo, há a necessidade do
Quanto à taxa interna de retorno (20,86%), principal governo criar uma linha de crédito específica para
indicador de rentabilidade de um projeto, por ser maior investimentos e custeio destinado à recuperação de
do que o custo de oportunidade do capital considerado na solos degradados por sais, a uma taxa de juros, prazo
presente análise (12%) mostra a viabilidade do referido de carência e tempo de amortização dos investimentos
processo. Em outras palavras, a TIR igual a 20,86 % compatíveis com as condições atuais dos agricultores
significa que o capital alocado no projeto suporta uma familiares destes perímetros irrigados.
elevação da taxa de desconto de até 20,86 ao ano para
cada ano do horizonte de análise do projeto. Ou seja, o REFERÊNCIAS
referido investimento só será inviável se a taxa média de
juros de mercado atingir valores superiores à referida Araújo, A. P. B. Análise técnico-econômica da recuperação de
taxa interna de retorno (20,86 %). um solo sódico no Perímetro Irrigado Curu Pentecoste, CE.
Na análise de rentabilidade para uma taxa de juros Fortaleza: UFC, 2009, 61p. Dissertação Mestrado
de 6% ao ano, a relação benefício/custo (Rb/c) é de Azevedo Filho, A. J. B. V. Elementos de matemática financeira
e análise de projetos de investimento. Piracicaba: DESR/
1,28; o valor presente líquido (VPL) é de R$ 5.328,85
ESALQ, 1996. (Série Didática,109). Disponível em: <http:/
e a taxa interna de retorno (TIR) igual a 20,86,
am.esalq.usp.br/desr/dum/dum.html>. Acesso em 1996.
demonstrando alta viabilidade do processo de Costa, R. N. T.; Saunders, L. C.U.; Oliveira Jr., N. M.; Biserra,
recuperação; pois, a esta taxa todo o investimento J. V. Indicadores econômicos da recuperação de um solo
realizado será recuperado e remunerado à taxa de 6%, sódico em condições de drenagem subterrânea no Vale do
e ainda provocará um lucro extra igual a R$ 5.328,85. Curu, CE. Irriga. v.10, n.3, p.272-278, 2005.
Somente ao final do nono ano, período payback, as Ferreyra H., F. F.; Coelho, M. A. Efeito de doses de gesso e
receitas começariam a superar os custos, com uma subsolagem na produtividade de arroz em solo sódico.
margem de R$ 1.151,40. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v.10, n.3, p.157-161,
1986.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Gheyi, H. R.; Azevedo, N. C.; Batista, M. A. F.; Santos, J. G. R.
Comparação de métodos na recuperação de solo salino-
sódico, Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.19, p.173-
Considerando os elevados investimentos realizados
178, 1995.
pela União na construção e manutenção dos Perímetros
Hillier, F. S.; Lieberman, G. J. Introdução à pesquisa operacional.
Públicos Irrigados, a significativa área de solos 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
degradada por sais e, fora do processo produtivo, à 806 p.
redução de renda do irrigante comprometendo a Lapponi, J. C. Projetos de investimento: construção e avaliação
qualidade de vida da família, o propósito pelo qual estes do fluxo de caixa. 1. ed. São Paulo: Lapponi Treinamento e
perímetros irrigados foram criados e, sobretudo o Editora, 2000. 376p.
458 Raimundo N. T. Costa et al.

Leite, M. E.; Cavalcante, F. L.; Diniz, A. H. I.; Santos dos V. R.; Richards, L. A. Diagnóstico y hehabilitacion de suelos salinos
Alves, S. da G.; Cavalcante, L. H. I. Correção da sodicidade y sódicos. Washington, DC: Departamento de Agricultura
de dois solos irrigados em resposta a aplicação de gesso de Los Estados Unidos da América, 1954, 172p. Manual de
agrícola. Irriga, v.12, n.2, p.168-176, 2007. agricultura, 60
Mantovani, E.C.; Bernardo, S.; Palaretti, L.F. Irrigação Walker, W. R.; Skogerboe, G. V. Surface irrigation: Theory and
princípios e métodos. 1. ed. Viçosa: UFV, 2006. 318p. practice. New Jersey: Prentice-Hall, 1987. 386p.
Fitorremediação de solos afetados
25 por sais
Maria B. G. dos S. Freire1, Edivan R. de Souza1 & Fernando J. Freire1

1 Universidade Federal Rural de Pernambuco

Introdução
Definição de fitorremediação
Histórico da fitorremediação em solos afetados por sais
Período de recuperação
Espécies de plantas para fitorremediação
Gênero Atriplex
Uso da biomassa produzida na alimentação animal
Mecanismos e processos envolvidos na fitorremediação
Manejo da fitorremediação
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
460 Maria B.G. dos S. Freire et al.

Fitorremediação de solos
afetados por sais

INTRODUÇÃO envolvem o emprego de plantas e sua microbiota


associada e de amenizantes do solo, além de práticas
O crescimento de áreas degradadas pela salinidade e, agronômicas que, se aplicadas em conjunto, removem,
ou, sodicidade de solos tem ocorrido no Brasil e no imobilizam ou tornam os contaminantes inofensivos ao
mundo, especialmente em regiões de clima árido e semi- ecossistema (Accioly & Siqueira, 2000).
árido em que a baixa precipitação pluvial não é suficiente Esta prática é utilizada com frequência quando o
para promover a lixiviação dos sais advindos do contaminante do solo trata-se de um metal pesado,
intemperismo dos minerais formadores dos solos. porém pode ser empregada em solo sódico ou salino
Processos de recuperação química destes solos sódico, onde o contaminante é o sal e, ou, o sódio (Qadir
demandam o uso de corretivos e aplicação de lâminas de et al., 2007). Neste caso, a técnica empregada,
lixiviação, exigindo um sistema de drenagem, sendo de fitoextração, utiliza espécies de plantas que absorvem e
elevados custos e difíceis de serem implementados. acumulam o sódio na parte aérea, a qual pode ser
Algumas pesquisas têm apontado a técnica da removida da área. Estes autores afirmam que a
fitorremediação como alternativa de manejo dessas fitoextração é uma estratégia eficiente de recuperação
áreas degradadas, através do cultivo de plantas capazes de solos salino sódicos, com performance comparável à
de acumular os sais em excesso, retirando-os do solo. utilização de corretivos químicos.
Para isso, é preciso utilizar espécies de plantas Para que a técnica se torne mais viável é desejável
capazes não só de tolerar elevados níveis de sais, como que se possa aproveitar a biomassa retirada após a
também de produzir biomassa suficiente para extrair extração. No caso dos metais pesados esta pode ser
quantidades consideráveis dos sais. Por outro lado, a compactada e incinerada ou passar por um processo de
introdução de plantas em áreas sem cobertura vegetal industrialização e reaproveitar alguns elementos
possibilita melhora na estruturação do solo e incrementa metálicos. No caso da remoção de sais, existe um destino
a atividade biológica por meio de microorganismos final que ajuda no processo que é o aproveitamento de
associados às plantas. algumas espécies na alimentação animal. A taxa de
Contudo, são necessários estudos aprofundados sobre remoção de um contaminante é dependente da biomassa
espécies mais adequadas, bem como formas de manejo coletada no final do ciclo, do número de cortes por ano
das mesmas, para que propiciem a melhoria da qualidade e da concentração do contaminante na porção colhida
ambiental em solos degradados pela salinidade e (Accioly & Siqueira, 2000).
sodicidade, além da utilização racional da produção da A fitorremediação apresenta-se como um método de
cultura como fonte de renda adicional no meio rural. remediação de solos contaminados de custo razoável,
ambientalmente mais seguro e de maior aceitação pelo
DEFINIÇÃO DE FITORREMEDIAÇÃO público do que os métodos mais agressivos ao ambiente
(Nascimento et al., 2009). Comentam ainda que é uma
A fitorremediação é uma estratégia de tecnologia emergente, ainda com diversas limitações e
biorremediação que consiste de procedimentos que com poucos exemplos de técnicas comercialmente
Fitorremediação de solos afetados por sais 461

disponíveis, mas com grande chance de sucesso, devido cultivadas com algodão (Gossypium hirsutum L.), a
a sua viabilidade econômica e benefícios ambientais. primeira cultura pós fitorremediação. As produtividades de
É importante destacar que a fitorremediação envolve, algodão foram de 1,82 Mg ha-1 para o tratamento com
por ação direta da planta ou indireta pelo estímulo gesso e 2,10 Mg ha -1 para o tratamento com
desta sobre a microbiota rizosférica, a descontaminação, fitorremediação. A PST na camada de 0,3 m do solo
por meio da extração ou degradação por diversos decresceu de 70 para 5% no tratamento com gesso e 65
processos: fitoextração, fitodegradação, fitovolatilização, para 6% no tratamento com fitorremediação (Tabela 1).
fitoestimulação e fitoestabilização (Accioly & Siqueira ,
Tabela 1. Percentagem de sódio trocável (PST) de um solo
2000).
de Fresno (Califórnia) em função da aplicação de gesso
O processo aplicável à técnica de remediação pelos (recuperação convencional de solos sódicos) e
vegetais de solos afetados por sais é a fitoextração, em fitorremediação (cultivo de plantas). Baseado em dados
que as plantas extraem e translocam os íons para a parte de Kelley & Brown (1934) e Kelley (1937)
aérea, que pode ser colhida e destinada a um manejo
apropriado, dependendo do tipo de cultura adotada. O
objetivo nesse caso é a redução das concentrações de
sais e depende, principalmente, da habilidade das plantas
em extrair tais elementos, considerando as condições de
clima e solo.

HISTÓRICO DA FITORREMEDIAÇÃO
EM SOLOS AFETADOS POR SAIS

Relatos de estudos de fitorremediação em solos a

b
Aplicação de gesso: 37 Mg ha-1 (22 Mg em 1920 e 15 Mg em 1921);
Cultivo de cevada por dois anos, trevo por dois anos, e alfafa por cinco anos;
afetados por sais são encontrados na literatura desde os c
Cultivo de grama bermuda por dois anos, cevada por um ano, alfafa por quatro anos e aveia
por um ano.
anos de 1920 e 1930, em que Kelley e associados Fonte: Radir et al. (2007)

(Kelley, 1937; Kelley & Brown, 1934) realizaram uma


Na fase seguinte dos ensaios de campo na Califórnia,
série de experimentos de campo na Califórnia que fazem
Kelley (1937) iniciou um experimento de fitorremediação
parte dos primeiros estudos sobre fitorremediação em
com a grama bermuda [Cynodon dactylon (L.) Pers.]
solos sódicos. O solo usado na pesquisa foi um como a primeira cultura fitorremediadora. A gramínea foi
“solonetz” (sódico) de textura argilo-arenosa localizado cultivada por dois anos seguida de cultivo de um ano com
no Rancho Kearney, próximo de Fresno, Califórnia, com cevada, alfafa por quatro anos, e aveia (Avena sativa L.)
as seguintes propriedades químicas nos 30 cm por um ano, totalizando oito anos de cultivo. Após a
superficiais: pH=9,2-9,7; CTC=4,3-4,4 cmol c kg -1; fitorremediação, a PST na camada de 0,3 m decresceu
PST=57-70% e CE 1:5 =6,1-7,2 dS m -1 . O solo de 57 para 1%, com uma redução média no perfil (0-1,2
apresentava-se uniforme quanto à textura na camada de m) de 73 para 6% (Tabela 1).
0,6-0,9 m, com uma fina camada compactada de 0,05- Partindo do mesmo princípio de utilização de plantas
0,15 m rica em calcita. como extratoras de sais de solos, em 1920, DeSigmond
Na primeira fase dos estudos, Kelley & Brown (1934) (1924) realizou experimento em Bekescsaba, na Hungria,
aplicaram um total de 37 Mg ha -1 de gesso utilizando uma mistura de gramíneas e leguminosas
parceladamente, 22 Mg em 1920 e 15 Mg em 1921. Após em solo sódico de baixa permeabilidade, obtendo
cada aplicação de gesso as parcelas eram inundadas e melhoramento das condições do solo. Trabalhos
mantidas submersas por três semanas, com água de CE semelhantes com o uso de plantas no manejo de solos
de 0,3 dS m-1 e RAS de 0,7. A mesma quantidade de água sódicos foram desenvolvidos por Knight (1935) em
Fallon, Nevada e por Wursten & Powers (1934) em
foi aplicada no tratamento com fitorremediação. Cevada
Vale, Oregon.
(Hordeum vulgare L.) foi a primeira cultura usada no
Na Índia, o cultivo de gramíneas e arbóreas tolerantes
tratamento com fitorremediação, mantida por dois anos, a sais é um importante passo no manejo de solos salinos
seguida de um ano com cultivo de trevo de cheiro indiano e sódicos (Singh, 1998). Assim, diversos sistemas de
(Melilotus indicus L.), um ano com trevo branco indiano cultivo baseados no uso de plantas no manejo de solos
(M. albus Medik.) e cinco anos com cultivo contínuo de afetados por sais foram usados no século vinte em
alfafa (Medicago sativa L.). Após o cultivo da alfafa, as variados locais no mundo e continuam atualmente,
parcelas foram mantidas em pousio por um ano e especialmente pelo aumento da demanda de gesso para
462 Maria B.G. dos S. Freire et al.

Fitorremediação Química
outros fins, encarecendo o produto para a agricultura, e 18
a redução de subsídios ao setor agrícola. 17
16
15
PERÍODO DE RECUPERAÇÃO 14
13
12

Experimentos
De acordo com Nascimento et al. (2009), um dos 11
gargalos à implementação da fitoextração em escala 10
9
comercial é o prazo relativamente longo requerido para 8
a diminuição dos teores de sais no solo a níveis 7
requeridos. Este problema torna-se menos preocupante 6
5
diante das inúmeras vantagens verificadas com o uso de 4
vegetação em área inóspita para o crescimento de 3
2
culturas alimentares, pastagens convencionais, etc. Tais 1
benefícios são citados por Qadir et al. (2007):
0 20 40 60 80 100
a) Elimina o custo com corretivos químicos; Percentagem de decréscimo da PST ou RAS
Fonte: Radir et al. (2007)
b) Possibilita o uso de produtos fornecidos pela Figura 1. Sumário de 17 experimentos comparando o
espécie cultivada; decréscimo da percentagem de sódio trocável – PST e
c) Melhora a estabilidade dos agregados do solo e relação de adsorção de sódio – RAS por meio da
criação de macroporos, o que otimiza as propriedades fitorremediação e recuperação química. As barras indicam
a percentagem de decréscimo em relação aos níveis
hidráulicas do solo e proliferação das raízes;
iniciais de RAS e PST. Fontes: 1 (Robbins, 1986a), 2 e 3
d) Promove maior disponibilidade de nutrientes; (Kausar & Muhammed, 1972), 4 (Qadir et al., 1996), 5
e) Possibilita a recuperação do solo em profundidades e 6 (Rao & Burns, 1991), 7 (Ahmad et al., 2006), 8 (Singh
maiores; e & Singh, 1989), 9 (Ahmad et al., 1990), 10 (Ilyas et al.,
f) Após a fitorremediação e no próprio processo, o 1997), 11 (Kelley & Brown, 1934), 12 (Batra et al., 1997),
solo pode aumentar o sequestro de carbono, tendo 13 e 14 (Muhammed et al., 1990), 15 (Qadir et al.,
implicações ambientais positivas. Além de ser uma 2002), 16 (Ghaly, 2002), 17 (Helalia et al., 1992) e 18
(média dos 17 experimentos). Os experimentos de 1 a 7
solução viável para pequenos agricultores que, foram conduzidos em lisímetros e os demais em
normalmente, dispõem de poucos recursos financeiros. condições de campo
Diversas espécies de plantas podem ser adotadas, no
entanto, quando o objetivo é a retirada do cloro e sódio Entretanto, no Brasil, experimentos conduzidos com
do solo, as halófitas apresentam-se como a alternativa halófitas com objetivo de fitorremediar o solo ainda são
mais indicada, pela capacidade de sobreviver em solos escassos. Dentre as pesquisas que vem sendo
com teores de sódio mais elevados. desenvolvidas nesse sentido, a Atriplex nummularia L.
Em uma avaliação de 17 experimentos conduzidos é a espécie com maior destaque, tendo em vista as
em diferentes partes do mundo, Qadir et al. (2007) características de crescimento vegetativo e a alta
realizaram uma comparação entre corretivos químicos concentração de sais encontrada nos tecidos. Trabalhos
e fitoextração, com resultados bem interessantes desenvolvidos por pesquisadores do Centro de Pesquisa
(Figura 1). Os tratamentos químicos (aplicação de Agropecuária do Trópico Semi-Árido da EMBRAPA e
do grupo de Ciência do Solo da Universidade Federal
gesso em todos os experimentos) resultaram em um
Rural de Pernambuco vem adotando a Atriplex
decréscimo de 60% dos níveis de sodicidade inicial
nummularia L. como forma de minimizar os efeitos dos
(PST e RAS) enquanto um decréscimo de 48% foi
sais no solo. Na Tabela 2 são apresentados dados já
calculado para os tratamentos que adotaram a publicados de experimentos desenvolvidos por
fitorremediaçãoo. Em alguns experimentos, a pesquisadores nessas instituições.
fitorremediação foi menos eficiente que, segundo os Considerando-se um solo salino-sódico com CEes de
autores, pode-se atribuir a: 1) não foi usada uma cultura 30 dS m-1; sódio trocável de 3,31 cmolc kg-1; CTC de
tolerante à salinidade e sodicidade; 2) o período de 4,68 cmolc kg-1 e PST de 70,58 % na camada de 0-30 cm;
cultivo não foi o suficiente ou o mais adequado. Em e CEes de 16,00 dS m-1; sódio trocável de 4,8 cmolc kg-
média (últimas barras-18), a correção química reduziu 1
; CTC de 6,5 cmolc kg-1 e PST de 73,85 % na camada
a PST ou a RAS em cerca de 60% e a fitorremediação de 30-60 cm. Estimando-se a concentração de sais
em aproximadamente 50%. solúveis (CS), em mg L-1, pela equação: CS = 800 CE
Fitorremediação de solos afetados por sais 463

Tabela 2. Produção de matéria seca e extração de sais pela Atriplex nummularia L. em condição de campo e casa-de-vegetação
Finalidade Tempo (dias) Condição MS1 (kg ha-1) Extração (kg) Referência
2
Fitorremediação 135 Casa veg. 7.283 966 (Na, K, Cl) Souza (2010)
Fitorremediação3 130 Casa veg. 3.000 300 de Na Leal et al. (2008)
Fitorremediação 480 Campo 8.040 560,50 (Na, K, Cl) Souza (2010)
IRD4 375 Campo 13.819,8 2.222 (cinzas) Porto et al. (2006)
IRD5 380 Campo 9.436 1.053 (cinzas) Porto et al. (2001)
1
Matéria seca;
2
Estimativa baseada na produção em vaso de 12 kg, planta mantida a 75% da umidade na capacidade de campo (caule + folha);
3
Estimativa baseada na produção em vaso de 8 kg, planta mantida na capacidade de campo (caule + folha);
4
Irrigação com rejeito de dessalinizador, planta irrigada com 300 L semana -1 (caule grosso + caule fino + folha);
5
Irrigação com rejeito de dessalinizador, planta irrigada com 75 L semana -1 (caule grosso + caule fino + folha).

(Rhoades et al., 1992) e calculando-se o Na adsorvido suprir suas demandas inorgânicas, as halófitas
eletrostaticamente, chega-se aos valores de sais de apresentam-se como alternativas economicamente
26.040 kg ha-1 e 14.952 kg ha-1 contidos na primeira e viáveis.
segunda camada, respectivamente. Sendo assim, o
aporte de sais até 60 cm de profundidade é de 40.902 ESPÉCIES DE PLANTAS PARA
kg ha-1. FITORREMEDIAÇÃO
Tomando-se como referência dados de produção de
A seleção de espécies a serem utilizadas na
matéria seca e conteúdos de Na+, K+ e Cl- extraídos pela
fitorremediação deve ser baseada não só na habilidade
Atriplex nummularia L. (Souza, 2010), de 966 kg ha-1 em
de suportar elevados níveis de salinidade e sodicidade,
quatro meses e meio de cultivo em casa de vegetação
mas também na capacidade de fornecer um produto útil
(2.608,2 kg ha-1 ano-1), seriam necessários em torno de na propriedade rural. Outro pré requisito para uso na
oito anos para reduzir em cinquenta por cento os teores fitorremediação em solos afetados por sais é a
de sais até 60 cm de profundidade. Essas estimativas capacidade de suportar ambientes com deficiência de
apontam para uma eficiência de extração de sais pela oxigênio, problema que frequentemente ocorre em solos
Atriplex, mas para conclusões mais detalhadas e dessa natureza, quer pela necessidade de irrigações
direcionadas para as diversas condições de solo e clima intensivas na lixiviação de sais, ou pela dificuldade natural
faz-se necessária a realização de experimentos em de infiltração de água nas épocas chuvosas, mantendo o
condição de campo com um tempo maior de avaliações solo inundado por períodos relativamente longos. Assim,
das propriedades do solo e da planta, para que se possa genótipos que apresentem estas condições conjuntamente
adequar um programa de manejo eficiente de devem ser preferidos para uso na fitorremediação de
fitoextração no semi-árido do Brasil. solos salinos e sódicos.
Além da Atriplex nummularia L., outras espécies Existem inúmeras espécies halófitas que concentram
halófitas podem ser adotadas para biorremediar solos sais e tem boa produção de biomassa vegetal, além de
afetados por sais. Ravindran et al. (2007) encontraram servir como bom alimento forrageiro, com teores de fibra
resultados promissores para as seguintes espécies: e proteína bruta dentro dos padrões exigidos para
Suaueda maritima, Sesuvium portulacastrum, produção de animais. Embora muitas dessas halófitas não
sejam difundidas no Brasil, podem ser objeto de
Excoecaria agallocha, Clerodendron inerme,
pesquisas futuras, pois são encontrados resultados
Ipomoea pes-caprae e Heliotropium curassavicum
promissores, já que produzem boas quantidades de massa
extraindo do solo, num período de quatro meses: 504,00;
seca em curto período de tempo e, mesmo as que são
473,93; 396,34; 359,50; 325,18 e 301,46 kg ha -1 de
perenes, podem sofrer corte ao longo do ano, fornecendo
NaCl, respectivamente; nos solos sob estes cultivos a forragem para alimentação animal.
relação de adsorção de sódio foi reduzida em 82, 75, 71, Como exemplo dessas halófitas com bom
67, 58 e 50%, respectivamente. desempenho para serem cultivadas em ambientes com
Durante ou após o processo de fitoextração ainda é altas concentrações de sais no solo e água, podendo
bastante questionado o destino final da biomassa vegetal revegetar as áreas salinas e ao mesmo tempo
com altos teores de sais nos tecidos. No caso dos proporcionar o uso como forragem para os animais
elementos contaminantes serem sais que, normalmente, caprinos, ovinos e bovinos, encontram-se: Kochia
os animais requerem na alimentação, principalmente para scoparia (Kafi et al., 2010); Aster trifolium L. (Geissler
464 Maria B.G. dos S. Freire et al.

et al., 2009); Panicum turgidum e Suaeda fruticosa dias


(Khan et al., 2009).
Ravindran et al. (2007), comparando seis espécies de
halófitas na recuperação de solos salinos em campo,
observaram declínio gradual da RAS e da CE do solo num
período de 120 dias de cultivo, paralelamente ao aumento

CE - dS m-1
da CE medida em extrato de tecidos vegetais (Figuras 2
e 3). Das seis espécies, a Suaeda marítima e a Sesuvium
portulacastrum exibiram maior acumulação de sais em
seus tecidos, coincidindo com os menores valores de RAS
no solo cultivado com as mesmas. Vale ressaltar o curto
período de cultivo das espécies, de apenas 120 dias, sendo
possível a obtenção de resultados mais expressivos em
intervalos mais prolongados.
Fonte: Ravindran et al. (2007)
Espécies:
dias 1. Suaeda marítima
2. Sesuvium portulacastrum
3. Excoecaria agallocha
4. Clerodendron inerme
5. Ipomoea pes-caprae
6. Heliotropium curassavicum
Figura 3. Condutividade elétrica (CE) de amostras de solos
salinos naturais cultivados com seis espécies de
RAS

halófitas. Valores mostrados são as médias ± desvios


padrões de cinco repetições. *Significativo a 5% de
probabilidade

com mais de 400 espécies distribuídas nas diversas regiões


áridas e semiáridas do mundo, particularmente na Austrália,
Fonte: Ravindran et al. (2007)
onde apresenta uma elevada diversidade de espécies e
Espécies: subespécies (Franclet & Le Houérou, 1971). É um arbusto
1. Suaeda marítima de vida longa que se constitui em um dos recursos
2. Sesuvium portulacastrum forrageiros adaptados a terrenos de sequeiro das regiões
3. Excoecaria agallocha áridas e semiáridas em diversos continentes.
4. Clerodendron inerme As halófitas podem regular a concentração de sais de
5. Ipomoea pes-caprae várias maneiras: eliminação do sal, através de eliminação
6. Heliotropium curassavicum
de substância volátil, glândulas e pêlos vesiculares
Figura 2. Relação de adsorção de sódio (RAS) de amostras
de solos salinos naturais cultivados com seis espécies de
(Atriplex); suculência, diluição dos sais pelo aumento do
halófitas. Valores mostrados são as médias ± desvios volume celular; redistribuição do sal, Na+ e Cl- podem ser
padrões de cinco repetições. *Significativo a 5% de translocados pelo floema de um local de maior
probabilidade concentração para outro de menor; entre outros processos
(Zhu, 2001).
Barrett-Lennard (2002) sugerem 26 espécies de A literatura brasileira ainda é escassa no que concerne
plantas resistentes a sais possíveis de serem utilizadas em aos trabalhos que exploram a Atriplex nummularia Lindl,
fitorremediação na Austrália, capazes de fornecer produtos sob condição de campo com intuito de recuperação de
ou serviços de valor para a agricultura, mas isso vai solos afetados por sais. Uma grande parte dos trabalhos
depender das peculiaridades de cada região. está relacionada com aspectos anatômicos e fisiológicos,
e poucos relacionados à fitorremediação dos solos. No
GÊNERO ATRIPLEX entanto é de extrema importância aliar o conhecimento
da anatomia e fisiologia da planta com os aspectos
Dentre as culturas mais utilizadas na fitorremediação relacionados ao solo.
de solos afetados por sais, destacam-se espécies do gênero A tolerância das plantas à salinidade, notadamente de
Atriplex, pertencente à família Chenopodiaceae, que conta muitas halófitas, é devida a mecanismos fisiológicos
Fitorremediação de solos afetados por sais 465

especializados de acumulação de sais no interior das A estrutura de tricomas vesiculares e dos elementos
células, ou de eliminação através de vesículas especiais de condução do xilema em folhas jovens e adultas de
existentes na superfície das folhas. Quando cheias, essas Atriplex nummularia Lindl produzidas sob diferentes
vesículas se rompem e liberam os sais em finas camadas níveis de salinidade em experimentos sob condições de
de cristais que se aderem à superfície da folha. Estes campo e casa de vegetação foi estudado por Pimentel-
cristais de sais contribuem na economia de água pela Galindo (2001). Verificou-se que a extensibilidade da
planta, pela reflexão dos raios solares, minimizando as parede das vesículas promoveu aumento nas dimensões
perdas de água, reduzindo a temperatura da folha e da célula vesicular, em resposta à elevação da salinidade,
mantendo a turgidez das células (Glenn et al., 1998). Na compensando a redução na área foliar e na densidade dos
Atriplex nummularia os dois mecanismos acontecem tricomas, tanto em folhas jovens quanto em folhas adultas,
juntamente, mas o de acumulação no interior dos tecidos resultando numa significativa capacidade acumuladora de
da planta é de maior importância e ocorre principalmente sais no interior dessas células.
nas folhas, que apresentam aspecto brilhoso de coloração Avaliando o potencial da Atriplex nummularia na
verde-acinzentada (Figura 4). fitorremediação de solo salino-sódico sob irrigação com
águas salinas (175, 500 e 1.500 S cm-1), Leal et al. (2008)
A B verificaram o potencial do gesso como potencializador da
fitoextração de sódio (ausência e aplicação de 50% da
dose recomendada pela necessidade de gesso), em
experimento de casa de vegetação. As avaliações se
deram até 130 dias após o transplantio. Os autores
afirmam que a Atriplex nummularia comportou-se como
planta hiperacumuladora de sódio, possuindo potencial de
uso na fitoextração deste elemento no solo. No entanto
Figura 4. (A) Folha de Atriplex nummularia aos 10 meses de
só puderam detectar reduções significativas de sódio no
idade cultivada em campo (foto própria); (B) Detalhe de
vesículas de acúmulo de sais em folha de Atriplex solo a partir de 100 dias após o transplantio. Observa-se
nummularia (Porto et al., 2001) a necessidade de estudos a longo prazo, seja em casa-
de-vegetação ou no campo, para a obtenção de resultados
Cabral (1998) avaliou a influência das halófitas do mais consistentes da atuação desta planta na redução dos
gênero Atriplex na salinidade e sodicidade do solo no teores de sais em solos.
município de São Bento do Una – PE em três subáreas Outro aspecto que deve ser considerado em um
(sem cultivo de Atriplex, cultivo de Atriplex nummularia, programa de fitorremediação é o tempo gasto para
cultivo de Atriplex undulata) com espaçamento de 5 x 5 recuperar a área. Barrett-Lennard (2002) estimou que
m. As amostragens iniciaram-se aos dois anos de idade sob condições de não irrigação, espécies halófitas com
para a Atriplex nummularia e 3 meses para a Atriplex uma produtividade de 10 t ha-1 e 25% de concentração
undulata em profundidades variando de 0 a 120 cm em de sal na biomassa seca (250 g kg -1) seria necessário
pontos localizados a 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0 m do caule da planta. em torno de vinte anos consecutivos para remover
Verificou-se que a Atriplex nummularia foi mais eficiente metade do conteúdo inicial de sais (86 Mg ha-1) presente
no processo de ciclagem do sódio e contribuiu para maior em dois metros de profundidade de um solo afetado por
retenção de umidade no solo. sais. Tomando-se como referência dados de produção
Krishnapillai & Ranjan (2005), usando um solo salino- da massa seca de Atriplex nummularia (Porto et al.,
sódico abandonado de um parque da província de 2006) e teores de Na + nas diferentes partes da planta
Manitoba (Canadá), aplicaram a técnica de fitoextração (Leal et al., 2008), estima-se que a Atriplex extraia em
com a Atriplex patula e avaliaram o potencial de
torno de 500 kg ha-1 ano-1 de sódio nas condições do
remoção de sais durante um período de 150 dias de cultivo
Nordeste Brasileiro. Nesse contexto, considerando um
em laboratório com potes em camada de 20 cm de
profundidade. As plantas foram colhidas aos 150 dias, solo com percentagem de sódio trocável média de 51%,
atingindo altura de 45 cm; após a análise da massa concentração de sódio trocável de 5,7 cmol c kg -1 ,
seca estimou-se que o potencial de remoção foi de 0,25 densidade do solo de 1,3 g cm-3 e condutividade elétrica
kg m-3 de cloreto e 0,06 kg m-3 de sódio. Com esses do extrato de saturação média do solo de 26 dS m -1,
resultados, estimou-se que as plantas chegariam a valores seriam contabilizados algo em torno de 3.600 e 14.600
de extração de 2.500 kg ha-1 de cloreto e 600 kg ha-1 de kg ha -1 de sódio presentes em 20 e 80 cm de
sódio, ao considerar uma profundidade do sistema profundidade do solo, respectivamente. Sendo assim,
radicular de 20 cm. seriam necessários dezessete anos de cultivos sucessivos
466 Maria B.G. dos S. Freire et al.

para extrair metade do conteúdo de sódio, quando se da espécie, ou como feno ou silagem quando cultivada,
considera uma extração de 500 kg ha -1 ano-1 de sódio. mas a forma de feno é a mais utilizada (Araújo, 2009).
Vale salientar que os dados dos teores de sódio extraídos A disponibilidade de ovinos a serem abatidos no
de Leal et al. (2008) foram obtidos de plantas com 130 Nordeste Brasileiro não supre a demanda interna por este
dias após o transplantio, em virtude da ausência de dados produto. Assim, a superação dos problemas que
com idades superiores. interferem no fornecimento de carne ovina, dentro das
Pesquisas futuras ainda são necessárias para a exigências de qualidade, regularidade e quantidade
definição do manejo mais adequado da cultura, como requerida pelos demais segmentos da cadeia produtiva,
espaçamento, podas, irrigação e adubação. Contudo pode representar perspectiva concreta de aumento de
existem alguns trabalhos em andamento comparando a renda para os agricultores do Nordeste (Souto et al.,
Atriplex nummularia com outras técnicas de recuperação 2005).
de solos salino sódicos (gesso, estercos, polímero O termo “Agricultura Biossalina” é bem amplo e tem
sintético), verificando a efetividade da poda no sido utilizado para descrever agricultura em escala que
desenvolvimento da cultura e na retirada de sais do solo aborda a salinidade nos níveis água e solo, ou ambas
e avaliando a influência da umidade do solo na extração (Masters et al., 2007). As halófitas crescem sob
de sais pela planta (Souza, 2010). condições salinas e, historicamente, têm sido usadas
Fato curioso é observado em relação a sua capacidade como forragem para ruminantes ou como componentes
de produção de biomassa com alto teor de proteína sem de rações mistas para substituir volumoso, podendo
uso de fertilização nitrogenada, apesar do N ser ajudar na conversão, pelo animal, em carne, lã e outros
componente dos aminoácidos formadores das proteínas. subprodutos [Araújo (2009); Mattos (2009); Norman et
Em estudo da microbiota associada às plantas de Atriplex al. (2008); Masters et al. (2007); Ghaly (2002)].
nummularia em condições de campo no Agreste de O Brasil possui um grande potencial para a exploração
Pernambuco, já foi possível determinar a presença de de pequenos ruminantes domésticos frente às condições
inúmeras bactérias, algumas delas fixadoras de N que, favoráveis para a produção de carne e seus derivados,
possivelmente, explicam esta observação (Santos, 2010). além de calçados e vestuários oriundos do abate desses
animais. As condições ambientais propícias, aliadas à
USO DA BIOMASSA PRODUZIDA ampla disponibilidade de terras, principalmente nas
NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL fronteiras em expansão do semiárido nordestino,
propiciam custo de produção relativamente baixos,
Historicamente têm-se buscado alternativas para favorecendo esse mercado. Entretanto, os sistemas de
convivência com os longos períodos de estiagens e a produção vigentes representam um retrato de baixos
baixa oferta de biomassa em regiões da caatinga, e isso níveis de organização da cadeia produtiva, com reflexos
vem se intensificando nos últimos anos, como tentativa de nos índices de produtividade, na qualidade dos produtos e
fixar o homem no campo. A concentração de chuvas em na falta de regularidade na oferta (Leite, 2005).
um período curto do ano tem levado a busca de A ovinocaprinocultura no Nordeste tem elevada
forrageiras que consigam suportar estas longas estiagens. importância por constituir fonte alternativa de renda para
Em contrapartida, tentativas de acúmulo de água e a agricultura familiar, tradicionalmente adotada em áreas
manejo errôneo em cultivos irrigados têm possibilitado o secas. Contudo, não atingiu todo seu potencial pela
aparecimento de reservatórios salinos e áreas escassez de alimento nas épocas de estiagem, assim, o
salinizadas, dificultando a produção racional da carne conhecimento e aprimoramento de dietas alternativas para
ovina (Araújo, 2009). A caatinga, vegetação natural e esses rebanhos, ressaltando a função das forrageiras
base da alimentação dos ruminantes na região Nordeste halófitas, notadamente a Atriplex nummularia L., seria
do Brasil, encontra-se submetida a um processo de fundamental para o incremento da produtividade dos
degradação que diminui a produção de fitomassa, rebanhos e, consequentemente, para a melhoria das
reduzindo ainda mais o alimento disponível para os condições de vida da população rural.
animais nos meses secos do ano. As halófitas têm a capacidade de fornecer alimento
A erva-sal (Atriplex nummularia Lind.) é uma planta verde, muitas vezes durante a estação seca, quando
halófita, que pode ser considerada como alimento ocorre escassez de alimento (Masters et al., 2007).
volumoso de digestibilidade aparente variando de 39% a Quando se trabalha com produção intensiva, a integração
70% (Souto et al., 2005). Sua oferta tem sido feita na de rações formuladas com forragens halófitas também se
forma de pastejo direto em área de geração espontânea apresenta com uma estratégia promissora.
Fitorremediação de solos afetados por sais 467

Os pastos de erva-sal podem produzir alimento ovinos se alimentando de uma mistura 1:1 de feno
suficiente e de boa qualidade para justificar os custos de (digestibilidade da massa seca de 0,57) e atriplex (1,5 kg
estabelecimento dos sistemas de produção. Além disso, de massa seca dia-1) foi significativamente maior que na
suplementos com alto teor de fibras, como palha ou ingestão somente de feno (0,9 kg massa seca dia-1) ou
restolhos de culturas, podem complementar a dieta dos somente atriplex (0,7 kg de massa seca dia -1). Com a
animais e melhorar seu desempenho (Norman et al., mistura, o ovino apresentou um ganho de peso de 70 g
2008). O corte de forrageiras halófitas estimula o dia-1.
crescimento de ramos mais tenros, possibilitando assim Outros resultados interessantes foram observados por
o pastejo e a melhor digestibilidade pelos ruminantes, Thomas et al. (2007) oferecendo vários tipos de dietas,
devendo-se, sobretudo, escolher uma altura e idade em que os ovinos preferiram aquelas com alto teor de
adequada para esse corte, evitando assim a morte do sais e alta energia; assim, os autores concluíram que
vegetal cultivado (Souza, 2010). suplementos com alta energia são mais fáceis de serem
Norman et al. (2008) comentam que a Atriplex consumidos junto com atriplex. Sugerem, ainda, que
nummularia apresenta bons valores de proteína bruta suplementos volumosos devem ter digestibilidade entre
(140 g kg-1 de massa seca) e digestibilidade da celulase 0,52 e 0,60 para complementar com uma dieta com alto
pepsina (0-52 g kg-1 de massa seca). Contudo, apresenta teor salino.
altas concentrações de sais solúveis nas folhas (220 Mattos (2009), avaliando o desempenho de dietas a
g kg -1 de massa seca), enxofre (4-6 g kg -1 de massa base de palma forrageira e feno de atriplex para
seca) e nitrato (173 g kg -1 de massa seca). Estas cordeiros da raça Santa Inês em confinamento no semi-
concentrações são maiores que as recomendadas árido Nordestino (Petrolina – PE), concluíram que o nível
para os ruminantes e poderiam conduzir à redução da de 35% de palma forrageira e 20% de feno de atriplex
ingestão da biomassa da planta (Masters et al., 2007). (complementadas com grão de milho moído, farelo de
A acumulação de sais resulta em concentração de cinzas soja e uréia) na dieta, resultou em maior taxa de
nas folhas de 150-270 g kg-1 de massa seca, podendo crescimento; todavia, do ponto de vista econômico, a
diminuir a digestibilidade. No entanto, há escassez de inclusão de 67,9% de palma e 8,3% de feno de atriplex
estudos que avaliem a produção de biomassa e valor promoveu melhor retorno financeiro, com rentabilidade de
nutritivo, em particular sob condições de campo, em que 69%. Os resultados indicam que a utilização de palma
as características espaciais e morfológicas da planta forrageira (Opuntia fícus-indica Mill) em dietas
diferem das observadas em sistemas controlados completas à base de feno de erva-sal (Atriplex
(Norman et al., 2008). nummularia L.) apresenta-se como alternativa viável
Norman et al. (2008), comparando a performance de para a produção de cordeiros em confinamento.
ovelhas alimentadas com Atriplex nummularia e Observou-se, ainda, que tais dietas possibilitam uma
Atriplex amnicola atribuem a preferência pela primeira produção de carne que não compromete os aspectos de
às seguintes características: as plantas de Atriplex qualidade relacionados à composição centesimal, fração
nummularia são eretas, de forma cônica e podem lipídica e características sensoriais.
alcançar dois metros de altura, com folhas largas de 2- A substituição total da palma forrageira por farelo de
5 cm de diâmetro com formato oblongo. Muitas das milho e feno de atriplex (48% de feno de atriplex)
folhas são encontradas próximas aos galhos mais tenros. possibilitou um ganho de peso médio diário de 233 g dia-1
Já as plantas de Atriplex amnicola são prostradas, (Araújo, 2009). A associação do feno de atriplex com o
chegando a diâmetros que variam de 1 a 4 m com média farelo de milho e farelo de soja promoveu ganho de peso
de altura menor que 1 m. As folhas são menores (0,5 de acima dos relatados por Souto et al. (2005), que
diâmetro e 1-2 cm de altura) e estão em galhos mais encontraram ganhos de 190 g dia -1 em ovinos
lenhosos. Embora não testado, especula-se que a consumindo dieta com 38% de feno de Atriplex, 7% de
arquitetura da planta promova a facilidade da mordida ao melancia forrageira e 55% de raspa de mandioca.
animal alimentando-se da Atriplex nummularia. Os Souto et al. (2004) avaliaram o consumo e a
autores observaram maior ganho de peso e crescimento digestibilidade aparente de nutrientes em cinco dietas
de lã para alimentação a base de Atriplex nummularia. para carneiros contendo diferentes níveis de feno de
A complementação entre atriplex e a utilização de erva-sal (Atriplex nummularia L.): 38,30; 52,55; 64,57;
outro volumoso com baixa qualidade tem sido 74,85 e 83,72%, associadas à melancia forrageira
demonstrada em vários experimentos de nutrição animal. (Citrulus lanatus cv. citroides) e à raspa de mandioca
Warren et al. (1990) observaram que o ganho de peso de (Manihot esculenta Crantz) enriquecida com 5% de
468 Maria B.G. dos S. Freire et al.

ureia, em formulação. Os resultados obtidos para algumas espécies como Distichlis spicata e Sporobolus
consumo e digestibilidade aparente, da maioria dos virginicus irrigadas com água subterrânea de 30 dS m-
1
nutrientes, revelaram um bom potencial para combinação produziram acima de 45 t ha-1 ano-1 de massa seca de
entre o feno da erva-sal com a melancia forrageira e a feno. Estes resultados demonstram o potencial de
raspa de mandioca, em dietas para ovinos no semi-árido fornecimento de forragem de plantas utilizadas na
nordestino. fitorremediação de solos afetados por sais, material esse
Souto et al. (2005), nas mesmas condições passível de ser utilizado no incremento de produção de
experimentais, observaram que as médias diárias de animais em condições de estresse hídrico e salino.
ganho de peso vivo obtido pelos carneiros, ao longo do Araújo et al. (2002) estimaram a relação benefício/
período de engorda, revelaram um bom potencial custo de dietas para engorda de ovinos em confinamento
forrageiro do feno de erva-sal combinado em quaisquer contendo diferentes percentuais de feno de erva sal,
das proporções estudadas com melancia forrageira e com encontrando que a dieta contendo 64,57% de feno
raspa de mandioca. permitiu ganho de peso intermediário, mas foi a que
A utilização do feno de erva-sal, como fonte volumosa apresentou melhor relação benefício/custo, evidenciando
em dietas para ovinos, garantiu um aporte de nutrientes a viabilidade econômica e ambiental de uso da atriplex na
e ganhos de peso vivo de até 145 g dia-1 (Souto et al., alimentação de ovinos em confinamento.
2005). A elevação dos níveis de feno de erva sal nas
MECANISMOS E PROCESSOS ENVOLVIDOS
dietas, não alterou o consumo da massa seca e proteína
NA FITORREMEDIAÇÃO
bruta, demonstrando que os ovinos podem apresentar boa
tolerância à participação de plantas halófitas em suas
O processo da fitorremediação envolve não apenas a
dietas (Souto et al., 2004). O nível médio de consumo de extração de sais pela cultura utilizada, mas é a junção dos
massa seca das dietas com o feno de erva sal foi de efeitos de alguns mecanismos que atuam em conjunto
1.033 g dia-1. para a melhoria do solo inicialmente degradado (Figura
Santos et al. (2009) avaliaram a composição de macro 5). Qadir et al. (2007) citam como mecanismos:
e microminerais de silagens e os teores de ácidos a) O incremento na pressão parcial de CO2 na zona
orgânicos (lático, acético e butírico) em dietas compostas radicular pela respiração das raízes e aumento da
de erva sal (Atriplex nummularia Lindl.) e capim elefante atividade biológica com o cultivo das plantas elevaria a
(Pennisetum purpureum Schum.) nas proporções de dissolução de calcita em solos calcáreos, promovendo a
100:0, 80:20, 60:40, 40:60, 20:80 e 0:100 e concluíram que
em todas as proporções os teores de macrominerais e
microminerais foram considerados adequados, além da
melhoria no perfil de ácidos orgânicos.
As informações obtidas permitem sugerir o uso
combinado da erva sal, da melancia forrageira e da
raspa de mandioca, como fontes de nutrientes em dietas
para acabamento de ovinos no semiárido. Resultados
promissores misturando a Atriplex com concentrados
também foram encontrados por Abu-Zanat &Tabbaa
(2006).
Quanto à oferta de forragem, a Atriplex spp irrigada
com água salina de drenagem apresentou rendimentos de
2,2-5,3 t ha-1 ano-1 de massa seca (Watson & O’Leary,
1993). Gêneros como Atriplex, Salicornia, Distichlis,
Cressa e Batis apresentaram bons rendimentos com
água de condutividade elétrica de até 70 dS m-1 (Masters
et al., 2007). Embora algumas dessas plantas necessitem
Adaptada: Qadir et al. (2007)
de cuidados especiais quanto à propagação, Atriplex
Figura 5. Ilustração dos processos atuantes na
lentiformis, Batis maritima, Atriplex canescens, fitorremediação de solos afetados por sais: aumento na
Salicornia bigelovii e Distichlis Palmeri produziram pressão parcial de CO2 na zona radicular, liberação de
mais de 10 t ha-1 ano-1 (Glenn & O’Leary, 1985). De prótons (H+), efeitos físicos das raízes, aumento no teor
acordo com o Centro Internacional de Agricultura Salina de matéria orgânica e remoção de sais pela colheita da
(Internacional Center for Biosaline Agriculture, 2004), parte aérea das plantas
Fitorremediação de solos afetados por sais 469

liberação de Ca2+, HCO3- e CO32- na solução do solo; em permenaneçam na área afetada e que se procure
solos não calcáreos, o aumento na pressão parcial de conciliar um manejo das mesmas com culturas agrícolas,
CO2 resultaria na liberação de H+ e redução do pH do preferencialmente em forma de consórcio. Trabalhos
solo; em que o Ca 2+ na primeira situação e o H + na nesse sentido vêm sendo desenvolvidos em sistemas
segunda, atuariam na substituição do Na+ do complexo de agrosilvipastoris, que associam a planta fitorremediadora
troca do solo, minimizando seus efeitos sobre as com culturas agrícolas e animais.
propriedades físicas do solo e sobre as plantas; Quando a salinidade e, ou, sodicidade é oriunda de
b) A liberação de prótons pelas raízes no processo de causas antrópicas, se o processo de acúmulo for contido,
absorção de elementos do solo contribui para a redução após a fitorremediação, a medida que o solo possibilitar
do pH nas proximidades das raízes. É reconhecido o o crescimento de outras plantas podem ser adotadas
processo de extrusão de H+, associada à atividade de uma culturas agrícolas inicialmente tolerantes aos sais, sendo
H+-ATPase da membrana plasmática das células, e esse substituídas gradativamente por outros cultivos, desde
atuaria no pH e substituiria o Na + liberando-o para a que o manejo adotado após a recuperação não implique
solução do solo, facilitando sua absorção pela planta; em nova exposição do problema.
c) O efeito físico das raízes está relacionado a sua Outro ponto que deve ser observado quanto ao tempo
importância na formação de macroporos e manutenção de recuperação são as propriedades do solo, ou seja, se
da estrutura do solo, facilitando a infiltração de água no o problema predominante for a sodicidade, com elevados
perfil juntamente com o Na+ liberado do complexo de teores de sódio trocável comparado a um solo salino-
troca, bem como as trocas gasosas, principalmente em sódico, com acúmulo de sais solúveis além do sódio
camadas mais profundas, difíceis de serem atingidas por trocável, provavelmente esse último será recuperado em
menor tempo. Mas tudo depende dos níveis destes sais
outras técnicas de recuperação de solos salinos e
solúveis e trocáveis. Nesse sentido, o tipo de salinização
sódicos;
é um fator que fornecerá subsídios para indicar o tempo
d) O aumento nos teores de matéria orgânica com o
do processo de recuperação e o manejo das possíveis
cultivo de plantas atuaria na agregação das partículas do
práticas agropecuárias que poderão ser implementadas.
solo, possibilitando maior estabilidade de agregados;
e) Extração de sais pela parte aérea das plantas, na
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dependência da produção de biomassa aérea e da
concentração de sais no tecido vegetal retirado do
A necessidade de recuperação dos solos afetados por
sistema (folhas, ramos, galhos, caules). Todos os
sais, assim como aqueles que apresentam problemas de
mecanismos associados à fitorremediação dependem da
acidez e contaminação por metais pesados é
espécie de planta envolvida e das condições ambientais
fundamental, já que o recurso solo tem se tornado cada
reinantes no meio. Assim, plantas que tenham a
vez mais importante quando se pretende manejar
capacidade de aumentar a pressão parcial de CO 2 no adequadamente os diversos sistemas produtivos
solo, de liberar mais prótons para o meio externo, de mantendo a sustentabilidade do ambiente.
adicionar mais matéria orgânica ao sistema e, finalmente, O uso de plantas para fitorremediar o solo está se
de extrair maiores quantidades de sais, seriam as mais tornando cada vez mais presente devido aos benefícios
indicadas para uso na fitorremediação de solos afetados que propiciam às propriedades químicas e físicas do solo,
por sais. Adicionalmente, é preciso que as mesmas além da possibilidade de um manejo sustentável e
tenham a capacidade de sobreviver e produzir aproveitamento dos produtos advindos dos vegetais, quer
satisfatoriamente em regiões de clima árido e semiárido, seja diretamente para o agricultor e, ou, para os animais
onde normalmente são mais frequentes os solos salinos explorados na pecuária regional.
e sódicos. Pesquisas na área de fitorremediação de solos
afetados por sais, embora escassas no Brasil, evidenciam
MANEJO DA FITORREMEDIAÇÃO a possibilidade de recuperação de solos degradados pela
salinidade e sodicidade por agricultores, especialmente
O conhecimento dos processos de acúmulo de sais aqueles com reduzidos recursos financeiros e técnicos,
nos solos é importante para que o manejo da haja vista o preço para implementação dessas
fitorremediação seja efetivo. Por exemplo, ao se “tecnologias verdes”. Nesse sentido, os resultados das
considerar um solo salino em que a fonte dessa pesquisas e os próprios ensaios experimentais devem ser
acumulação de sais é de origem primária, o processo da repassados e inseridos nessas comunidades rurais para
fitorremediação deverá ser contínuo, ou seja, é que as mesmas observem os benefícios através das
interessante que as espécies fitorremediadoras experiências in situ.
470 Maria B.G. dos S. Freire et al.

As espécies adotadas para fitorremediação são as Cabral, C. D. G. Dinâmica da salinidade no sistema solo-planta
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manejo dessas ainda deve ser pesquisado, procurando Dissertação Mestrado
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solo-animal-homem”, precisando acontecer uma Geissler, N.; Hussin, S.; Koyro, H. W. Interactive effects of
conscientização de pesquisadores, extensionistas e NaCl salinity and elevated atmospheric CO2 concentration
respectivos órgãos de trabalho, para que só assim os on growth, photosynthesis, water relations and chemical
composition of the potential cash crop halophyte Aster
agricultores também se conscientizem sobre a sua
tripolium L. Environmental and Experimental Botany, v.65,
adoção. As pesquisas ainda são escassas, motivo pelo p.220-231, 2009.
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