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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ”


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL

SÉRIE DIDÁTICA:

PREVENÇÃO, MANEJO E RECUPERAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS.

NILDO DA SILVA DIAS1


HANS RAJ GHEYI2
SERGIO NASCIMENTO DUARTE3

PIRACICABA - SP
2003

1
Doutorando em Agronomia – Área de Concentração em Irrigação e Drenagem, Departamento de Engenharia
Rural, ESALQ/USP, Piracicaba, SP
2
Prof. Titular, Dr., Departamento de Engenharia Agrícola, CCT/UFCG, Campina Grande, PB
3
Prof., Dr., Departamento de Engenharia Rural, ESALQ/USP, Piracicaba, PB
PREVEÇÃO, MAEJO E RECUPERAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS

APRESETAÇÃO

Nas regiões áridas e semi-áridas, quase sempre a irrigação causa problemas


relativos à salinidade no solo, afetando o desenvolvimento e a produção das plantas
cultivadas. O manejo inadequado do sistema solo - água - planta nos perímetros irrigados
dessas regiões e, conseqüentemente, o aparecimento dos problemas de salinidade de forma
grave, são exemplo disto.
Acredita-se que a falta de conhecimento do manejo adequado das áreas cultivadas
por parte dos agricultores, aliada a desinteresse político com os problemas ambientais,
contribuem para que esta situação permaneça inalterada.
Assim, o principal objetivo deste trabalho é oferecer aos estudantes dos Cursos de
Agronomia e Engenharia Agrícola, subsídios sobre prevenção, manejo e recuperação de
solos afetados por sais, na tentativa de alcançarmos excelentes profissionais, conscientes
dos riscos potenciais da salinidade. Esta apostila é fundamentada principalmente em
capítulos dos livros de RICHARDS (1954), AYERS & WESTCOT (1999) e GHEYI et al
(1997). De bastante utilidade também, foi a apostila elaborada pelos professores Hans Raj
Gheyi (UFCG), José Francismar de Medeiros (ESAM) e Marcos Firmino Batista (UFCG),
apresentando muitas partes transcritas.
Todas as críticas e sugestões que visem ao aperfeiçoamento deste trabalho serão
motivo de satisfação, análise e consideração.

Piracicaba SP, Abril de 2003


Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 1

PREVEÇÃO, MAEJO E RECUPERAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS

1 ITRODUÇÃO

Estima-se que no mundo, cerca de 250 milhões de hectares sejam cultivados sob
irrigação, com sua maior parte localizada em regiões áridas e semi-áridas, pois nelas ocorre
déficit hídrico para as plantas em grande parte do ano e não há distribuição regular das
chuvas, inviabilizando a prática agrícola sob condições de chuva natural.
Todas as águas utilizadas na irrigação contêm sais, embora em quantidades
variáveis, que se acumulam no solo afetando o crescimento e o desenvolvimento das
plantas, dependendo das condições edafoclimáticas da região e das técnicas de manejo das
áreas.
Dentre os problemas causados pelo acúmulo de sais no solo, a diminuição da
disponibilidade de água para as plantas e o encharcamento do solo, são os que mais se
destacam. Ainda que não se disponha de dados exatos sobre a extensão desses problemas
no mundo, estimativas da FAO, segundo Szabolcs (1985) mostram que aproximadamente
metade da área irrigada apresenta problemas sérios de salinidade.
Os efeitos negativos da salinidade poderão ser observados no “stand”, no
crescimento e rendimento das plantas e, em casos extremos, na perda total da cultura.
Devido a esses problemas, cerca de 10 milhões de hectares são abandonados a cada ano
(Szabolcs, 1985). Portanto, o estudo de prevenção, o manejo e recuperação dos solos
afetados por sais são indispensáveis para o sucesso e sustentação da agricultura irrigada.
Para melhor compreensão do problema, apresentam-se, também, informações sucintas
referentes à origem, extensão e efeitos da salinidade.
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2 ORIGEM DOS PROBLEMAS DE SALIIDADE

A origem dos problemas de salinidade se confunde com a própria formação do


solo, que é um produto da intemperização das rochas, envolvendo processos físicos,
químicos e biológicos, mediante a ação de fatores como clima, relevo, organismos vivos e o
tempo. Durante a intemperização, os diversos constituintes das rochas são liberados na
forma de compostos simples.
Observa-se, na Tabela 1, que o oxigênio, o silício e o alumínio, constituem mais de
80 % dos elementos existentes na crosta terrestre. O silício pode ser substituído de forma
isomorfa por alumínio e este por magnésio, dando origem às livres cargas elétricas
negativas das partículas de argila. Ainda em relação à Tabela 1, embora o sódio, cálcio,
magnésio, potássio, cloro, enxofre e o carbono estejam presentes em proporções
relativamente menores, poderão ser acumulados no solo em grandes quantidades, em
virtude desses elementos estarem retidos pela rocha com menores coeficientes de energia
(Tabela 2) e, conseqüentemente, apresentarem alta solubilidade e mobilidade em relação ao
silício, alumínio e ferro (FAO/UNESCO, 1973). Portanto, o acúmulo de elementos no solo
não depende somente do seu teor na rocha mas, também, do coeficiente de energia com que
é retido, da sua mobilidade e solubilidade. Deste modo, os sais solúveis acumulados no solo
são constituídos principalmente dos íons cloreto, cálcio, magnésio, sódio, sulfato e
bicarbonato e, às vezes, de potássio, carbonato e nitrato (Whitemore, 1975).
Os sais liberados durante o processo de intemperização das rochas, dependendo da
geomorfologia da região, podem ser carreados para horizontes inferiores mediante
percolação ou levados a lugares distantes por escoamento superficial, conforme as
condições de relevo, fluxo de água etc; no primeiro caso, os sais são depositados nas águas
sub-superficiais podendo, por capilaridade, acumular-se na superfície do solo a medida em
que a água for evaporada ou consumida pela planta, e o segundo fenômeno é responsável
pela deposição e acumulação de sais em rios, mares, açudes e lagoas. Em regiões úmidas e
por se tratar de zonas com precipitações elevadas, os sais são lixiviados até os lençóis
freáticos ou eliminados através das águas superficiais, com maior freqüência. Enquanto, em
regiões de clima árido e semi-árido, por apresentarem déficit hídrico na maior parte do ano
e, na maioria das vezes, os solos serem rasos ou apresentarem camadas impermeáveis, a
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água, que contém sais, fica sujeita aos processos de evaporação ou evapotranspiração,
podendo atingir, com o tempo, níveis comprometedores para o crescimento e
desenvolvimento das plantas (Pizarro, 1978; Richards, 1970).

Tabela 1 Porcentagem dos elementos mais comuns na crosta terrestre (FAO/UNESCO,


1973)
Elementos Porcentagem (%)
Oxigênio 49,13
Silício 26,00
Alumínio 7,47
Ferro 4,20
Cálcio 3,25
Magnésio 2,40
Potássio 2,35
Hidrogênio 2,35
Titânio 1,00
Carbono 0,61
Cloro 0,35
Fósforo 0,20
Enxofre 0,12
Manganês 0,10
Outros (cerca de 70 elementos) 0,39

Tabela 2 Seqüência de liberação dos íons baseada em seus coeficientes de energia (Ce)
durante o processo de intemperização (FAO/UNESCO, 1973)
Seqüência de liberação
I II III IV
ÍON Ce ÍON Ce ÍON Ce ÍON Ce
Cl- e Br- 0,23 Na- 0,45 SiO32- 2,75 Fe2+ 5,15
NO3- 0,18 K+ 0,36 Al3+ 4,25
SO42- 0,66 Ca2+ 1,75
CO32- 0,78 Mg2+ 2,10

2.1 Processo de salinização e sodificação

As cargas negativas das partículas coloidais de argila, originadas pela substituição


isomórfica e arestas expostas dos cristais, são neutralizadas pela adsorção de outros cátions
presentes na solução do solo. Assim, a composição dos sais solúveis na solução afeta a
proporção de cátions adsorvidos ou trocáveis na micela. Em solos de regiões úmidas,
devido à eliminação das bases (sais de Ca, Mg, Na e K) liberadas durante a intemperização
das rochas, o hidrogênio e o alumínio predominam no complexo. Por outro lado, em solos
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de regiões áridas ou semi-áridas, quando se tem boa drenagem predominam, no complexo,


os cátions de cálcio e magnésio mas, quando se tem solos com drenagem inadequada ou o
lençol freático se encontra próximo à superfície, esses cátions, durante o processo de
concentração dos sais pela evaporação ou evapotranspiração, são precipitados na forma de
carbonato de cálcio e magnésio ou de sulfato de cálcio, visto serem os compostos de menor
solubilidade entre os acumulados (Tabela 3) aumentando, deste modo, a proporção relativa
de sódio solúvel na solução do solo. Quando o sódio solúvel atinge concentração relativa
superior a 50 % na solução, o mesmo passa a ser adsorvido pela micela em proporções
suficientes para promover a dispersão reduzindo, assim, a permeabilidade do solo.
Enquanto o fenômeno de acumulação de sais solúveis no solo é denominado salinização, ao
aumento gradual de sódio trocável se denomina sodificação; trata-se de um processo
posterior à salinização, porém pode ocorrer simultaneamente quando se tem, na solução do
solo, sais exclusivos ou predominantemente de sódio (difícil de ocorrer, pois a rocha em
geral contém um conjunto de compostos químicos).

Tabela 3 Solubilidade (g L-1) dos principais sais encontrados em solos afetados por sais
(Pizarro, 1977)
Solubilidade (g L-1)
Na Mg Ca
CO3 2131 2,512 0,01312
SO4 1851 2622 2,043
Cl 318 353 427
NO3 686 Muito Elevada4 Muito Elevada4
1
A uma temperatura de 20o C. Para as temperaturas de 0, 10 e 30o C, o Na2CO3 e o Na2SO4 apresentam
solubilidade de 70-45, 122-90 e 371-373 g L-1, respectivamente
2
A solubilidade varia com a pressão parcial de CO2 ou pH
3
A solubilidade aumenta na presença de NaCl. Em soluções de 10 e 100 g L-1 de NaCl a solubilidade do
CaSO4 é, respectivamente, 4,2 e 8,48 g L-1. Na presença de Na2SO4, CaCl2 e NaHCO3 diminui devido a
formação de íon par ou formação de Ca(HCO3-). Para 10 g L-1 de Na2SO4, CaCl2 e NaHCO3, a solubilidade
do CaSO4 é 1,9, 1,5 e 0,9 g L-1, respectivamente
4
Composto altamente higroscópico

2.2 Principais fontes de sais que provocam a salinização

Embora a fonte principal e direta de todos os sais presentes no solo seja a


intemperização das rochas (Richards, 1954) são raros os exemplos em que esta fonte de sais
tenha provocado diretamente problemas relacionados com a salinidade do solo. A
salinização do solo por este fenômeno é denominada salinização primária.
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Os problemas de salinidade têm sido associados à água utilizada na irrigação, à


drenagem deficiente e à presença de águas sub-superficiais, ricas em sais solúveis, a pouca
profundidade; nos casos em que a salinização resultante devida à ação antrópica a mesma é
conhecida como salinização secundária. Além disso, a salinização pode ser causada pela
ação dos ventos, das chuvas e das inundações marítimas.

2.2.1 Água utilizada na irrigação


Toda e qualquer água utilizada na irrigação contém sais, embora sua qualidade
possa variar de acordo com o tipo e a quantidade de sais presentes. Por exemplo, enquanto
a água do Rio São Francisco tem concentração salina equivalente a 64 mg L-1, uma água
proveniente de um poço localizado na região do Cariri ou no Sertão da Paraíba, poderá
conter teores de sais acima de 3200 mg L-1; uma água de chuva, dependendo do local e da
época do ano, poderá ter sua concentração salina entre 30 e 60 mg L-1.
Os sais presentes na água são incorporados ao solo, em função de sua
concentração ou condutividade elétrica. Observa-se que, quando se aplica uma lâmina de
100 mm, com teor de sais relativamente baixo, em torno de 320 mg L-1, são incorporados
ao solo 320 kg ha-1 de sais, sendo que a cada evento de irrigação ou lâmina adicional irá
aumentar gradativamente a quantidade desses sais no solo, caso não sejam lixiviados,
precipitados e retirados pelas plantas1.
Nem todos os sais incorporados pelas águas ficam no solo, mesmo em regiões
áridas ou semi-áridas, pois uma parte pode ser eliminada por percolação, por meio de
sucessivas lâminas de irrigação ou chuvas ou, ainda, tornar-se insolúvel mediante a
precipitação, quer por reações químicas ou por atingir limites de solubilidade na solução do
solo. Além disso, outra parte, embora em quantidade pequena, é absorvida pelas plantas
para atender às suas necessidades; contudo, o acúmulo de sais no solo em determinado
local, pode atingir um equilíbrio (Figura 1). Para que a agricultura irrigada seja sustentável,
o nível de concentração de sais no solo, nas condições de equilíbrio, deverá ser inferior ao
limite de tolerância das culturas à salinidade.

1
1 mg L-1 = 1 ppm. Uma lâmina de 100 mm equivale a 1000.000 L ha-1. Para uma concentração de sais de
320 mg L-1, a quantidade de sais incorporados ao solo será: (320 mg L-1) x (1000.000 L ha-1) = 320 kg ha-1
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Água 1

Acúmulo de sais (kg ha-1)


Água 2

Água 3

Lâmina ou tempo

Figura 1 Esquema da relação entre a acumulação de sais no solo de uma determinada


textura em função das lâminas de irrigação aplicadas ou tempo para águas de
diferentes concentrações salinas (o teor de sais da água 3 > água 2 > água 1)

2.2.2 Água do lençol freático


Freqüentemente, os problemas de salinidade na agricultura têm ocorrido devido à
elevação do nível do lençol freático. Neste caso, a água, em razão do movimento
ascendente por capilaridade, atinge a zona radicular e, a medida em que ela é evaporada ou
evapotranspirada, os sais ficam acumulados na superfície. Nas regiões áridas e nos trópicos
úmidos, a profundidade crítica do lençol sujeita a ascensão capilar, varia entre 2,0 a 2,5 m,
dependendo da textura do solo, do clima, da concentração de sais e do manejo da irrigação.
Salienta-se que em solos siltoso a água pode atingir a superfície do solo de uma
profundidade de 6 m mediante esse fenômeno. A Figura 2 mostra um perfil de salinidade
provocado por nível freático elevado. Esta forma de salinização é um processo rápido em
áreas irrigadas em clima quente, principalmente quando o solo permanece em repouso por
longos períodos. A Figura 3 indica a relação entre o fluxo capilar e a profundidade do nível
freático para solos de diferentes texturas.
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CEes (dS m-1)

CEes *
(dS.m-1)

*
CEes = condutividade
elétrica do extrato de
saturação

Figura 2 Perfil de salinidade com lençol freático elevado (Mohamed & Amer, 1972)

m m dia-1

Figura 3 Relação entre a velocidade de fluxo capilar e a profundidade do nível freático para
solos de diferentes texturas (van Hoorn, 1979)
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2.2.3 Inundações pelas águas do mar


Os mares e oceanos se constituem em depósitos naturais de sais, que são carreados
pelas águas escoadas da superfície terrestre até os pontos mais baixos do relevo,
acumulando-se progressivamente. A Tabela 4 apresenta a composição química média da
água do mar. Por ser excessivamente salina (aproximadamente 30 g L-1 ou 3 %) é provável
que ela tenha sido a fonte principal de sais em solos provenientes de depósitos marinhos
que se assentaram em períodos antigos. As inundações periódicas pelas águas do mar,
devido ao fenômeno de marés altas, constituem a principal fonte de sais em áreas de cota
baixa; outra fonte de salinização pelas águas do mar são as pororocas, quando as águas do
mar invadem os leitos dos rios, às vezes até 20 - 30 km de distância, transbordando suas
margens. Quando as marés retrocedem, a água transbordada não acompanha a volta,
ficando depositada em depressões, aumentando a concentração salina em áreas localizadas
nas margens desses rios.

Tabela 4 Composição química média da água do mar


Concentração
Íon meq L-1* mg L-1
Ca 20,9 418
Mg 109,4 1312,8
Na 479,8 11035
K 10,8 421,2
Cl 559,6 19865,8
SO4 7,6 364,8
HCO3 2,5 152,5
Br 0,9 72
Condutividade Elétrica (CE) 48 dS m-1 (a 25 o C) 36000 mg L-1
* Concentração em mg L-1 = meq L-1 x peso equivalente

2.2.4 Transporte de sais pelo vento


Em determinadas situações, a salinização do solo ocorre devido ao transporte de
partículas de sais pelos ventos que sopram das marés para os continentes. Quando as ondas
do mar se chocam com as barreiras ou rochas, parte da água pulveriza-se no ar, podendo ser
evaporada totalmente e, conseqüentemente as partículas de sais resultantes são
transportadas aos lugares mais distantes, dependendo da velocidade e direção do vento.
Este fato pode ser verificado quando se determina a quantidade de sais na água da chuva
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em diferentes distâncias do mar. Desde que na região não existam muitas indústrias, o teor
de sais nas águas de chuva da região costeira é sempre maior que na região interiorana.
Na região de Mossoró, Rio Grande do Norte, ventos nordeste, em épocas de estiagens
prolongadas, podem contribuir para acumulação de sais na poeira que se precipita sobre
grande parte da área durante os meses de outubro e novembro, com maior intensidade. Esta
poeira pode conter quantidades apreciáveis de sais e causar problemas às plantas cultivadas
(Oliveira, 1997). Uma outra possibilidade de transporte de sais pelo vento reside nas áreas
que ficam perto das zonas de exploração de minérios.

3 EXTESÃO DO PROBLEMA DE SALIIDADE

Solos afetados por sais ocupam extensas áreas em várias partes do mundo (Figura
4). Observa-se que a maior extensão dessas áreas está localizada em regiões áridas e semi-
áridas, tais como: Oeste dos Estados Unidos; Altiplanos do México; Sul do Peru e Chile;
Nordeste do Brasil; Norte da África; Sudoeste da África; Ásia e Oriente Médio; no entanto,
nas regiões úmidas há pequenas extensões, principalmente na Hungria, Romênia, Canadá e
nos países mediterrâneos.

Figura 4 Distribuição geográfica das áreas afetadas por sais no mundo (Szabolcs, 1985)
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A Tabela 5, por sua vez, apresenta a situação do avanço da salinidade no mundo,


no final da década de setenta. Verifica-se que 954 milhões de hectares de terras no mundo
são afetados por sais e que aproximadamente 4,5 milhões dessas terras estão localizados no
Brasil, sendo que as regiões da Austrália, Ásia Central e América do Sul lideram em termos
de área, com solos afetados por sais. Considerando-se a área do globo terrestre como sendo
de 14,63 bilhões de hectares (Shantz, 1956) estima-se que o problema de salinidade afeta
aproximadamente 6,5 % da superfície. Estima-se, ainda, que cerca de 1000 000 de ha de
terras são perdidos anualmente, em conseqüência da salinização secundária devido,
sobretudo, às atividades antrópicas relacionadas à agricultura irrigada.
As áreas salinizadas vêm aumentando anualmente, em função tanto da influência
climática quanto do manejo inadequado da irrigação.
No Brasil, estas áreas estão localizadas sobretudo no semi-árido nordestino, cujos
solos apresentam reação alcalinas. A Tabela 6 mostra a extensão das áreas, com solos
afetados por sais em vários estados do Nordeste. A diferença em extensão de salinidade,
nesse estudo e no anterior (Kovda, 1977) talvez seja devido à escala de elaboração dos
mapas, bem como à época de realização do estudo.
Um estudo de levantamento de solos afetados por sais, realizado pelo
Departamento de Engenharia Agrícola da UFPB, utilizando as imagens do “Landsat”
mostrou que na parte Noroeste do estado da Paraíba, abrangendo o Perímetro Irrigado de
São Gonçalo, aproximadamente 18 % da área têm problemas de salinidade (Santos, 1986).
Embora não se tenha levantamentos detalhados nos diversos perímetros irrigados do
Nordeste, cerca de 25 a 30 % das áreas irrigadas apresentam problemas de salinidade
(Goes, 1978). Uma avaliação no Perímetro Irrigado de São Gonçalo, PB, revela que 40 %
da área são afetados por sais (Figura 5) (Cordeiro et al., 1988).com severas restrições ao
desenvolvimento das plantas, já no Perímetro Irrigado de Sumé, PB, a avaliação indica que
26 % das áreas irrigadas são afetados por sais (Figura 6) (Gheyi, 1983).
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Tabela 5 Extensão das áreas afetadas por sais no mundo no final da década de 70 (Kovda,
1977)
Regiões Países
Área Afetada (x 103 ha)
15.755
América do Norte Canadá 7.238
Estados Unidos 8.517
1.965
México e América Central Cuba 316
México 1.649
129.163
Argentina 85.612
Bolívia 5.949
Brasil 4.503
Chile 8.642
América do Sul
Colômbia 907
Equador 387
Paraguai 21.902
Peru 21
Venezuela 1.240
80.538
Etiópia 11.033
Chade 8.267
Egito 7.360
Nigéria 6.502
África Botswana 5.769
Somália 5.602
Kênia 4.858
Sudão 4.874
Tanzânia 3.537
Argélia 3.150
84.838
Iran 27.085
Índia 23.769
Paquistão 10.456
Ásia do Sul
Iraque 6.726
Arábia Saudita 6.002
Afeganistão 3.101
Bangladesh 3.017
211.686
União Soviética 170.720
Ásia Central e Norte
China 36.658
Mongólia 4.007
Ásia Sudeste 19.938
Austrália 357.340
Europa 50.804
Total 954.832
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Tabela 6 Extensão das áreas, em km2, de solos afetados por sais em vários estados da região
Nordeste (Pereira, 1983)

Estados
Solo CE RN PB PE AL SE BA Total
Planossolo Sódico 12.708 3.690 944 5.165 3.370 2.098 30.516 58.491
Solonetez Solodizado 8.436 4.064 2.769 2.654 393 1.013 5.161 24.490
Solonchack 450 837 - - - - - 1.287
Solonético Holomófico 18 - - - - - - 18
Outros 1.645 - - - - - - 1.645
Total 23.257 8.951 3.713 7.819 3.763 3.111 35.677 85.931
Porcentagem (%) 27 10 4,3 9,1 4,4 3,6 41,5 100

Figura 5 Áreas salinizadas do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, PB


Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 13

Figura 6 Áreas salinizadas do Perímetro Irrigado de Sumé, PB

Tem-se, na Tabela 7, a situação de áreas afetadas por sais em diversos perímetros


irrigados administrados pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca no
Nordeste).
Nos Perímetros Irrigados do Vale do São Francisco, embora não se disponha de
dados de levantamentos de todo o vale, estudos realizados por Almeida (1994) revelam que
30 % das áreas da Ilha de Assunção, PE, estão afetados por sais; convém lembrar que,
devido ao fato da salinização ser um processo dinâmico, os estudos de levantamento das
áreas devem ser realizados freqüentemente.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 14

Tabela 7 Extensão das áreas afetadas por sais em Perímetros Irrigados do Nordeste
(DNOCS, 1991)

Diretoria Regional (DR) Superfície Agrícola Superfície Superfície Salinizada


(Unidade/Federação/Perímetro) Útil (ha) Desativada (ha) Extensão (ha) Percentual
Total 26377 3268 2054 7,8
1a DR/PI 3064 260 92 3,0
Caldeirão 388 30 7,7
Fidalgo 308 121 20 6,5
Lagoas do Piauí 469 82 42 9,0
Gurgéia 1899 57 - -
2a DR/CE 10938 1773 564 5,2
Morada Nova 3611 625 274 7,6
Quixabinha 113 - 3 2,7
Iço/Lima Campos 2712 397 122 4,5
Curu-Paraipaba 2033 25
Curu (Recup.) 1068 134 66 6,2
Vázea do Boi 326 20 30 9,2
Forquilha 218 58 20 9,2
Ayres de Souza 615 469 32 5,2
Jaguarema 200 45 15 7,5
Ema 42 - 2 5,0
REG. 3a DIR. 8723 675 1059 12,0
3a DR/PB 2934 158 627 21,4
Sumé 272 62 82 30,1
Eng. Arco-Verde 281 79 22 7,8
São Gonçalo 2381 17 523 22,0
3a DR/RN 1215 403 61 5,0
Cruzeta 138 - 9 6,5
Itans-Sabuji 490 96 25 5,1
Pau dos Ferros 587 307 27 4,6
3a DR/PE 4574 114 371 8,1
Boa Vista 86 - 2 2,3
Custódia 263 48 22 8,4
Moxotó 3939 47 328 8,3
Cachoeira II 239 19 19 7,9
4a DR/BA 3652 560 339 9,3
Vaza Barris 1052 542 309 29,4
Jucurici 130 18 30 23,1
Brumado 2470 - - -
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EXERCÍCIO 1

“ORIGEM E EXTESÃO DO PROBLEMA DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS”

a) Qual a origem dos sais da água e do solo?

b) Definir:

b.1) Salinidade

b.2) Sodicidade

b.3) Salinização primária e secundária

c) Cite os principais sais presentes nos solos e nas águas de irrigação

d) Quais os problemas que a salinidade pode trazer para a agricultura e o futuro da

humanidade?

e) Quais as conseqüências do processo de salinização do ponto de vista ecológico e social?

f) Por que os solos das regiões áridas e semi-áridas são mais propensos ao processo de

salinização?

g) Uma área é irrigada com água contendo 100 g de sais/m3. Se forem aplicados

anualmente 10.000 m3 ha-1 desta água, qual a quantidade de sais adicionada ao solo?

Explique por quê nem todos os sais incorporados pela água permanecem no solo.

h) Com base naa solubilidade dos diferentes sais, estime a composição de uma água que
contém: 5 g L-1 de NaCl, 10 g L-1 de MgSO4, 0,005 g L-1 de CaCO3, após concentrar-se,
devido à evaporação, em 2, 5 e 10 vezes.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 16

4 IDETIFICAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS

A identificação dos solos salinos e sódicos baseia-se em uma série de observações


e estudos da área, incluindo características visuais de campo e diversas análises químicas
feitas em laboratório.

4.1 Identificação visual

4.1.1 Solos salinos

Esses solos correspondem ao tipo descrito por Hilgard (1907) como solos “alcali
branco” e “solonchaks”, pelos autores russos.
Solos salinos podem ser identificados pela presença de crosta branca de sal
precipitado em sua superfície, devido ao movimento ascendente da solução salina e à
intensa evaporação do solo. O excesso de sais nesses solos torna-os floculados, não
apresentando qualquer problema de permeabilidade verificando-se, no entanto, manchas
desnudas.
As manchas desnudas e as crostas de sais visíveis obviamente indicam acumulação
de sais na superfície do solo, porém não evidenciam a salinidade na zona radicular, pois
esta acumulação de sais afeta apenas a germinação e o desenvolvimento das plântulas e as
manchas desnudas mostram nas áreas de produção, apenas que o excesso de sais ocorre na
superfície do solo, não indicando excesso de sais na zona radicular, porém o vigor das
plantas (altura, crescimento e desenvolvimento) próximo às manchas desnudas é um bom
indicador do excesso de sais na zona radicular.
As plantas em solos salinos apresentam crescimento desuniforme e folhas de
coloração verde-azulado, relativamente grossas, cerosas e, dependendo da concentração de
sais existente no solo, apresentam queimaduras marginais.
As observações visuais das áreas não têm caráter conclusivo para identificar
problemas de solos salinos. Por exemplo, solos com excesso de sais solúveis podem reduzir
a produção em até 25% sem apresentar sintomas visuais. Por outro lado, as características
visuais observadas nas plantas podem induzir a uma falsa identificação, uma vez que elas
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 17

não são exclusivas de solos salinos, pois problemas de fertilidade e de caráter morfológico,
desequilíbrio nutricional e déficit hídrico, também provocam sintomas semelhantes; já no
solo, minerais de cálcio como, por exemplo, o gesso, contendo elementos essenciais (cálcio
e enxofre) para o desenvolvimento das plantas, podem formar uma crosta que também é
confundida com os sintomas visuais dos sais solúveis potencialmente nocivos.

4.1.2 Solos sódicos

Esses solos correspondem ao tipo descrito por Hilgard (1906) como solos “alcali
negro” e “solonetz”, pelos autores russos.
A condição estrutural e as alterações da superfície do solo podem ser usadas para
identificar problemas causados pela sodicidade. Solos sódicos são fracamente agregados;
adensados e compactos quando secos, e pegajosos e plásticos quando úmidos. Devido a
esses fatos, os mesmos apresentam baixa permeabilidade, são pegajosos e difícil de serem
trabalhados. A camada superficial apresenta textura grossa e quebradiça, com rachaduras de
1 a 2 cm de espessura e profundidade variável, dando uma falsa impressão de que o solo
não apresenta problema de permeabilidade. Uma outra característica visual desses solos é a
presença de manchas escuras na superfície, decorrentes da solubilidade da matéria orgânica
em meio alcalino, que se deposita em conseqüência da evaporação; além disso, sua baixa
permeabilidade impede a germinação das sementes e o crescimento das plantas, por falta de
aeração, com um sistema radicular muito restrito e pouco desenvolvido.
Embora as características visuais do solo e da planta permitam a identificação das
áreas afetadas por sais, na falta de quantificação as mesmas não são suficientes para o
técnico indicar um programa de manejo ou recuperação da área. Portanto, é indispensável
que o solo seja caracterizado por meio de análises de laboratório. Além disso, quando se
deseja recuperar os solos afetados por sais é imprescindível que se conheçam as principais
causas de ocorrência da salinização, visando à recomendação de práticas de recuperação
adequadas a tais solos.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 18

4.2 Identificação por análise de laboratório e suas determinações

Diversas medidas de laboratório são usadas para se identificar os solos afetados


por sais, sendo as mais importantes o pH da pasta de saturação do solo (pHps),
condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) e a porcentagem de sódio trocável
(PST) (Raij, 1991). Para se avaliar o perigo de sodificação do solo, utiliza-se uma outra
medida, conhecida por relação de adsorsão de sódio (RAS); no entanto, para recuperação e
recomendação de práticas adequadas de manejo desses solos, deve-se realizar uma análise
mais completa das propriedades físicas (textura, densidade, constantes hídricas, infiltração
e condutividade hidráulica) e químicas (cátions trocáveis, tipo de sais solúveis, teor de
carbonato de cálcio, gesso e matéria orgânica).

4.2.1 pH da pasta de saturação do solo

O pH de uma solução aquosa é o logaritmo negativo da atividade do íon


hidrogênio, podendo ser expresso pela equação:

[ ]
pH = − log H + (1)

em que:
pH = Potencial de hidrogênio

H + = Produto entre a concentração de íons hidrogênio e o coeficiente de


atividade. Assim, quanto menor for a concentração dos íons hidrogênio, maior será o pH;
sua determinação também pode ser feita a partir de uma solução aquosa usando-se um
potenciômetro, ou colorimetricamente, mediante o uso de indicadores ou fitas de papéis
especiais que mudam de cor conforme a atividade do íon hidrogênio.
O pH da pasta de saturação do solo é determinado quando o solo se encontra em
forma saturada, ou seja, todos os espaços porosos disponíveis são ocupados pela água
destilada; na análise de rotina, sua determinação é feita na suspensão 1:2,5 e, normalmente,
esses valores são ligeiramente maiores que os da pasta saturada, quando o solo apresenta
caráter salino.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 19

O pH do solo é influenciado pela composição e natureza dos cátions trocáveis,


composição e concentração de sais solúveis e a presença ou ausência do gesso e carbonato
de cálcio e magnésio. Ele serve para indicar a possibilidade de ocorrência de íons tóxicos
de alumínio, ferro e manganês no solo, como também o aumento ou a diminuição da
disponibilidade de nutrientes para as plantas.

4.2.2 Condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) do solo

A condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) do solo expressa a


concentração total de sais solúveis no solo, pelo fato de estar intimamente relacionada com
a concentração total de eletrólitos dissolvidos na solução.
A CEes é afetada pela temperatura da amostra, mobilidade, valência e concentração
relativa dos íons contidos na solução (Rhoades, 1994). A temperatura padrão para medição
da CEes é 25º C e sua unidade de medida é dada em milimho por centímetro (mmho cm-1)
ou em deciSiemens por metro (dS m-1) ambas numericamente equivalentes.
A concentração total de sais solúveis no solo também pode ser expressa em total
de sólidos dissolvidos (TSD), porém o uso da CEes é preferível, pois a concentração de sais
varia inversamente com o teor de umidade do solo. Por exemplo, 0,1 % de sais solúveis
para um solo de textura argilosa, com capacidade de campo igual a 30 %, corresponde a
uma concentração efetiva na solução do solo de 0,33 %, enquanto para um solo de textura
arenosa, com capacidade de campo igual a 10 %, esta concentração será 3 vezes maior (1
%). Essa diferença devido à textura do solo desaparece quando se expressa a concentração
total de sais em termos de CEes.
A Figura 6 ilustra a relação entre a condutividade elétrica e a concentração de
diferentes tipos de sais encontrados em solos salinos, observa-se que, para uma
concentração de 100 mmolc L-1, se na solução prevalecer o sulfato de magnésio, a CE será
aproximadamente 6 dS m-1 e, se na solução predominarem íons de cloretos, a CE se
aproximará de 10 dS m-1. A concentração de sais em função da condutividade elétrica do
extrato de saturação de várias amostras de solos afetados por sais do Oeste dos Estados
Unidos, é apresentada na Figura 7. Algumas relações para se estimar os totais de sais
dissolvidos, baseados nas funções apresentadas nessas figuras, são descritas a seguir:
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 20

- Para a CE < 5 dS m-1 ;


 
TSD ( ppm) = 640 × CE  dS m −1  (2)
 

 
( )
TSD1 mmolc L−1 = 10 × CE  dS m −1  * (3)
 

- Para a CE > 5 dS m-1;


 
TSD ( ppm) = 800 × CE  dS m −1  (4)
 
Concentração – mmolc L-1

Condutividade Elétrica – dS m-1

Figura 6 Relação entre a concentração de sais e a condutividade elétrica de alguns sais


(Richards, 1954)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 21

Concentração – meq L-1

Condutividade Elétrica – dS m-1


Figura 7 Relação entre a concentração de sais e a condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo (Richards, 1954)

A CE de um solo pode ser determinada no extrato de saturação de solo ou em uma


suspensão mais diluída. O preparo da pasta de saturação consiste na agitação, com uma
espátula, da amostra de solo durante a adição gradual de água destilada, até que a mesma
apresente as características desejadas, como superfície brilhosa, movimento lento em
posição inclinada e fácil deslizamento sobre a espátula. Após o preparo da pasta de
saturação deixar a amostra em repouso por 8-10 horas, retira-se o extrato por sucção ou,
aplicando-se pressão, determina-se a CEes por meio de um medidor de condutividade; em
seguida, anota-se a temperatura do extrato e, caso seja necessário, o valor da CE será
convertido para a temperatura padrão de 25 ºC, multiplicando-o por um fator de correção

*
mmolc L-1 = meq L-1
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 22

encontrado em tabelas, gráficos ou por extrapolação. O fator de correção em função da


temperatura observada é fornecido na Figura 8.
A conversão da CEes é dada pela seguinte expressão:

CE es (25º C ) = ft × CE es (t ) (5)
em que:
CEes (25º C ) = CEes convertido para temperatura padrão (25 ºC)

ft = Fator de correção da temperatura

CE es (t ) = Temperatura em que se mediu a CEes

1,12
1,1
Fator de Correção (ft)

1,08 y = 1,6606e
-0,02 X

1,06 2
R = 0,9983
1,04
1,02
1
0,98
0,96
0,94
0,92
0,9
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Temperatura de medição (ºC)

Figura 8 Fator de correção para obtenção da CE a 25º C, em função da temperatura


observada (Adaptado a partir dos dados originais de Richards, 1954)

Caso o volume de extrato coletado seja pequeno, o mesmo poderá ser diluído em
água destilada e a leitura da CE obtida deverá ser multiplicada pelo fator de diluição.
A CE também poderá ser estimada em diferentes relações solo : água destilada
como, por exemplo, 1:1, 1:2,5 e 1:5. Essa estimativa tem a vantagem de ser rápida e não
precisar de equipamentos para retirar o extrato do solo, porém apresenta o inconveniente de
necessitar do preestabelecimento da relação entre a CEes e a CE da solução aquosa do solo
estudado; sua segurança nas determinações depende das características do solo e dos tipos
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 23

de sais nele presentes, pois sais de baixa solubilidade precipitados no solo, podem ser
dissolvidos em proporções maior que no extrato de saturação com a adição de água
destilada e resultar em superestimativa dos riscos de salinidade. De acordo com Filgueira &
Souto (1995) em solos salino- sódicos e sódicos degradados da região de Patos, Estado da
Paraíba, verificou-se possibilidade de se utilizar extratos obtidos em relações mais diluídas
de solo : água destilada, como 1:1 e 1:5, em substituição ao extrato de saturação, para
estimar problemas de solos afetados por sais, por meio da CE.

4.2.3 Percentagem de sódio trocável (PST)

Na identificação de solos afetados por sais é importante se conhecer a percentagem


que o sódio representa em relação à soma de cátions adsorvidos. Esta percentagem
denomina-se percentagem de sódio trocável e seu valor é determinado pela seguinte
equação:

at
PST = × 100 (6)
CTC

em que:

PST = Percentagem de sódio trocável


a t = Sódio trocável ou adsorvido, mmolc kg-1

CTC = Capacidade de troca de cátions do solo ou a soma dos cátions trocáveis


(Ca, Mg, Na, K, Al e H), mmolc kg-1*

O sódio trocável em excesso causa dispersão das partículas de argila, tornando o


solo menos permeável, dificultando ou impedindo a lixiviação dos sais. A aeração e as
condições físicas do solo tornam-se deficientes, podendo reduzir o crescimento e o
desenvolvimento das plantas, sobretudo do sistema radicular.
Além da PST existe outro indicador que pode ser utilizado para expressar a
proporção relativa de sódio trocável em relação aos outros cátions como, por exemplo, a

*
mmolc kg-1 = 10 meq (100 g)-1; Cmolc kg-1 = meq (100 g)-1 e mmolc kg-1 = 10 Cmolc kg-1.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 24

relação de sódio trocável (RST) que é a relação entre o sódio trocável e os demais cátions e
pode ser expressa pela equação:

at
RST = (7)
CTC − at

Substituindo-se o valor de Nat obtido a partir da Eq (7), na Eq (6) pode-se estabelecer


uma relação matemática entre RST e PST.

RST × CTC
at = (8)
1 + RST

RST
PST = × 100 (9)
1 + RST

4.2.4 Relação de adsorção de sódio (RAS)

A RAS é um índice que apresenta concentração relativa de sódio em relação às


concentrações de Ca e Mg na solução ou no extrato de saturação e calculada a partir da
seguinte equação:

a +
RAS = (10)
( )
 Ca + + + Mg + + 
0, 5

 2 

em que a RAS é expressa em (mmol L-1)0,5 e as concentrações de Na, Ca e Mg, em mmolc L-1.

Considerando-se que há equilíbrio entre formas solúveis e trocáveis de


determinado cátion, deve haver uma relação de proporcionalidade entre a RAS e a RST ou
PST, pois ambas tratam de uma mesma espécie de cátions. Deste modo, conhecendo-se a
RAS é possível estimar a PST do solo de forma rápida e indireta na ausência dos resultados
de análise do complexo sortivo. Logo:
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 25

RST α RAS (11)

ou
RST = K G × RAS (12)

donde K G é a constante de Gapon (RST/RAS).

Para os solos do Oeste dos Estados Unidos, Richards (1954) obteve a seguinte
relação entre RAS e RST:

RST = −0,0126 + 0,01475 × RAS (R2 = 0,92) (13)

Considerando-se desprezível o valor do coeficiente linear (- 0,0126) a Eq (13)


ficará resumida a:

RST = 0,01475 × RAS (14)

O coeficiente angular (0,01475) representa o valor da K G . Logo, a partir da


estimativa da RST em função da RAS, é possível se estimar a PST do solo. Substituindo-se
a Eq (14) na Eq (9) tem-se:

100 × (0,01475 × RAS )


PST = (15)
1 + (0,01475 × RAS )

As Eqs (10) e (15) também podem ser apresentadas na forma de nomograma,


permitindo calcular-se a RAS e a PST a partir da concentração de Na e Ca + Mg solúveis
(Figura 9). Deve-se lembrar que o nomograma pode ser utilizado para determinar a RAS de
qualquer solução, no entanto a PST só poderá ser estimada se a RAS for do extrato de
saturação do solo.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 26

Na+ Ca++ + Mg++


mmolc L-1 mmolc L-1
0

Figura 9 Nomograma para se determinar a RAS e estimar o valor correspondente da PST


do solo em equilíbrio com a solução do solo (Richards, 1954)

4.3 Seqüência para determinação do diagnóstico de um solo

A seqüência das análises necessárias para se diagnosticar e recuperar solos


afetados por sais, é apresentada na Figura 10. Em todas as amostras de solo deve-se
determinar o grau de salinidade e a condutividade hidráulica, enquanto as determinações
subseqüentes dependerão do nível alto ou baixo de tais determinações, como indicado neste
diagrama. Usualmente, as determinações são encerradas quando as linhas com setas do
diagrama chegam a um retângulo de parede dupla, exceto no caso de solos com problemas
de sódio, em que é necessário, ainda, determinar os carbonatos de metais alcalinos terrosos
para se escolher o corretivo mais adequado para a recuperação deste solo. As linhas
pontilhadas indicam as determinações alternativas de menor custo e tempo, porém seus
resultados são aproximados e, portanto, em determinadas situações podem não ser muito
confiáveis.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 27

AMOSTRA DO SOLO

CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA PASTA DE SATURAÇÃO

A
NÃO HÁ NÃO HÁ
PROBLEMA DE PROBLEMA DE pHPS PS
PERMEABILIDADE SALINIDADE
DE
B

EXTRATO DE

POSSIBILIDADE DE POSSIBILIDADE SATURAÇÃO


ÍONS TÓXICOS DE ÍONS
DEVIDO A ALTA PST* TÓXICOS

SÓDIO TOTAL B NÃO HÁ


RAS PROBLEMA DE CONDUTIVIDADE
EXTRAÍVEL SÓDIO ELÉTRICA
A B
A
POSSÍVEIS CONDIÇÕES A
B FÍSICAS DESFAVORÁVEIS
SÓDIO TROCÁVEL

PST CTC A
A A B PROBLEMA DE
GESSO SÓDIO

A A A B
* CARBONATOS ALCALINOS
Em solos arenosos e turfosos

A= Alto: K >0,1 e I > 0,25 cm h-1 CORRETIVO ÁCIDO OU CÁLCIO CORRETIVO CÁLCIO
ou CEes > 4,0 ds m-1,
B= Baixo: K<0,1 e I< 0,25 cm h-1
ou CEes < 4,0 dS m-1
K = Condutividade hidráulica saturada
I = Infiltração básica do solo
PS = pasta de saturação
LAVAGEM

Figura 10 Seqüência das determinações para se diagnosticar os solos afetados por sais e
possíveis tratamentos na recuperação (Richards, 1954)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 28

A determinação da condutividade hidráulica de uma amostra de solo é uma


indicação da capacidade de transmissão de água no solo, ou seja, se esta capacidade de
transmissão for alta, significa que a PST do solo não é excessiva. No entanto, nos solos
arenosos e turfosos pode conter uma alta PST tóxica para as plantas e, ao mesmo tempo,
alta permeabilidade; se, porém, a condutividade hidráulica for baixa, deve-se determinar o
sódio total extraível (sódio trocável + sódio solúvel) ou a RAS, como alternativa. Se
qualquer um desses valores for baixo, associado a um baixo valor da condutividade
hidráulica previamente obtido, pode ser resultado de uma má condição física do solo,
relacionada à textura, ao baixo conteúdo de matéria orgânica ou pode, ainda, ser devido à
presença de uma camada compacta ou impermeável do perfil. Neste caso, além da
descrição morfológica do perfil, a determinação da matéria orgânica, a superfície específica
da argila e a análise granulométrica, podem ser úteis.
Se o conteúdo total de sódio extraível e a RAS forem baixos, deve-se determinar o
sódio trocável ou, alternativamente, a PST, a partir do valor da RAS. No caso do sódio
trocável e a PST serem elevados, deve-se determinar o gesso e, se o teor de gesso no solo
for alto, é preciso apenas a lavagem para recuperar o solo; do contrário, faz-se necessário o
uso de melhoradores químicos e, neste, é conveniente determinar a presença ou ausência de
metais alcalinos terrosos para se escolher o tipo de melhorador químico que irá substituir o
sódio trocável. A aplicação de melhoradores deve ser seguida de lavagem. Outras
determinações como pH, percentagem de saturação (PS), CTC, potássio trocável, íons
tóxicos, densidade e textura, proporcionam informações adicionais e devem ser
determinadas, caso necessário.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 29

EXERCÍCIO 2

“IDETIFICAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS”

a) Em que se baseia a identificação dos solos afetados por sais?

b) Quais as características visuais observadas nas plantas e nos solos salinos e sódicos?

c) Por que as características visuais do solo e da planta não têm caráter conclusivo para
identificar problemas de solos afetados por sais? Cite um exemplo em que as características
visuais observadas na planta e no solo podem induzir a uma falsa identificação.

d) Descreva:
d.1) RAS
d.2) PST, RST e KG
d.3) CEes

e) Em que formas se expressa a concentração total de sais solúveis presentes nos solos e
qual delas é considerada a mais adequada?

f) Que unidades de medidas da condutividade elétrica são adotadas atualmente?

g) Quais os fatores que afetam a CE? Uma amostra de solo no laboratório apresentou uma
CE igual a 2,8 dS m-1, a uma temperatura de 23 ºC. Ajuste o valor da condutividade elétrica
para a temperatura padrão, multiplicando-o pelo fator de correção encontrado na Figura 9.

h) Uma análise de água de irrigação apresentou o valor da RAS = 12 (mmol L-1)0,5 e


concentração de Na+ igual a 25 mmolc L-1. Qual a concentração de Ca + Mg e a CE da
água?
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 30

i) Sabe-se que, na ausência dos resultados de análise do complexo sortivo, a PST pode ser
estimada mediante uma relação empírica preestabelecida entre a RST e a RAS. Para solos
do município de Catolé do Rocha, PB, Santos (1997) encontrou a seguinte relação:
RST
RST = 0,01882 × RAS . Demonstre que PST = × 100 e calcule o valor estimado
1 + RST
da PST deste solo, considerando que o mesmo apresenta RAS de 10 (mmol L-1)0,5.

j) Um solo irrigado com água de RAS de 12 (mmol L-1)0,5 encontra-se em condições de


equilíbrio. Se a constante de Gapon (KG) for 0,015, qual será a alteração no valor da RST
do solo se a água no solo ficar concentrada 3 vezes?

k) Um solo apresenta a seguinte análise: pHps= 9,2; CEes= 2,8 dS m-1; Ca, Mg, Na e K
solúvel igual a 2,3; 0,6; 24,5 e 0,1 mmolc L-1, respectivamente e CO3, HCO3, Cl e SO4 igual
a 3,8; 5,2; 17,2 e 1,8 mmolc L-1; Ca, Mg, Na e K trocável igual a 3,2; 2,3; 7,1 e 0,3 cmolc kg
–1
. Calcule:
k.1) O valor da RAS
k.2) O valor da PST e RST no complexo sortivo do solo
k.3) A concentração de sais totais dissolvidos em base de CEes
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 31

5 VERIFICAÇÃO DOS RESULTADOS DE AÁLISE QUÍMICA DOS SOLOS


AFETADOS POR SAIS

5.1 Coerência dos resultados

Uma forma de se estabelecer erros nas análises químicas de solo e água, é utilizar
a interpretação das relações que existem entre os valores que se obtém com diversas
determinações. Portanto, a compreensão dos princípios que estas relações envolvem,
facilita a interpretação das análises.

5.1.1 Condutividade elétrica e concentração total de cátions

A CE em dS m-1, a 25 ºC, quando multiplicada por 10 é aproximadamente igual à


concentração total de cátions ou ânions solúveis expressos em mmolc L-1, de acordo com a
expressão:

CE (dSm −1 ) × 10 ≅ ∑ cátions (mmolc L−1 ) ≅ ∑ ânions (mmolc L−1 ) (16)

5.1.2 Concentração de cátions e ânions

A concentração total de ânions solúveis e a concentração total de cátions solúveis


são aproximadamente iguais quando se expressam em forma equivalente, em mmolc L-1, ou
seja:

∑ ânions ≅ ∑ cátions (17)

Considerando-se:

R=
∑ cátions − ∑ ânions × 100 (18)
∑ cátions + ∑ ânions
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 32

Se,
R < 5 % (Resultado Excelente)
5 % < R < 10 % (Resultado Aceitável)
R > 10 % (Resultado Duvidoso)

5.1.3 pH e concentração de carbonato e bicarbonato

Em um extrato de saturação ou água, a presença de quantidades tituláveis de


carbonato indica que o pH do extrato deverá ser maior que 8,5. A concentração de
bicarbonato raramente excede 10 mmolc L-1 na ausência de carbonato e, se o pH é menor ou
igual a 7,0, quase nunca passará de 3 a 4 mmolc L-1.

5.1.4 pH e concentração de cálcio e magnésio

Para leitura de pH maiores que 8,5, a concentração de cálcio e magnésio, no


extrato de saturação ou água, raramente excede 2 mmolc L-1. Por outro lado, o total de
cálcio e magnésio será baixo na presença de carbonato e a soma de cálcio e magnésio nunca
é alta na presença de concentração elevada de íons bicarbonato.

5.1.5 Cálcio e sulfato em extrato de solo - água e o conteúdo de gesso no solo

A solubilidade do gesso em temperatura normal é aproximadamente igual a 28


mmolc L-1 em água destilada. Em soluções muito salinas esta solubilidade pode ser maior
que 50 mmolc L-1. O efeito dos íons comuns, ou seja, o excesso de cálcio ou sulfato, pode
diminuir a solubilidade em até 20 mmolc L-1. Portanto, o extrato de um solo não gesífero
pode conter mais de 30 mmolc L-1 de cálcio, enquanto um solo gesífero pode conter uma
concentração de cálcio até de 28 mmolc L-1. Deste modo, solos cujo conteúdo de cálcio e
magnésio no extrato de saturação é maior que 20 mmolc L-1, deverão ser verificados seu
conteúdo relativo do gesso. A solubilidade do gesso aumenta na presença de NaCl, mas
diminui na presença de CaCl2 ou Na2SO4 (íons comuns). Na presença de NaHCO3 diminui
por causa da formação de Ca(HCO3)2.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 33

5.1.6 pH e carbonatos de metais alcalinos terrosos

O pH do extrato de saturação de um solo calcário é, invariavelmente, maior que


7,0 e, em geral, menor que 7,5.

5.1.7 pH e gesso

É raro o pH de um solo gessífero saturado exceder a 8,2, independente do valor da


PST.

5.1.8 pH e PST

Se o pH da pasta de saturação é maior que 8,5, indica sempre uma PST maior que
15 e a presença de metais alcalinos terrosos.

5.2 Conversão de resultados de análises químicas

5.2.1 Unidades

5.2.1.1 Transformação de meq L-1 ou mmolc L-1 para mg L-1 ou ppm

mmolc L−1 × Equivalente grama (Eq ) = mg L−1 (19)

em que:
Eq = Peso Atômico, peso iônico ou peso molecular/valência.
Exemplo:

A quantos mg L-1 equivalem 2,59 mmolc L-1 de Mg?

Eq (Mg) = 24/2 = 12, logo


2,59 x 12 = mg L-1
mg L-1 = 31,08
Então, 2,59 mmolc L-1 de Mg equivalem a 31,08 mg L-1 de Mg
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 34

5.2.1.2 Transformação de cmolc kg-1 para ppm ou mg kg-1

ppm ou mg L-1
cmolc kg −1 = (20)
P.Eq × 10

Exemplo:

A quantos ppm eqüivalem 0,3 cmolc kg-1 de K?

0,3 = ppm/(39,1 x 10)


ppm = 117,3
Então, 0,3 cmolc kg-1 de K equivalem a 117,3 ppm ou mg kg-1 de K.

5.2.1.3 Transformação de meq L-1 ou mmolc L-1 na formas solúveis para meq
(100 g)-1 ou cmolc kg-1

meqL−1 × ( % de Saturação do Solo)


m.eq(100 g )
−1
= (21)
1000
Exemplo:

A quantos meq (100 g)-1 equivalem 18,5 meq L-1 de Na em um solo que apresenta
porcentagem de saturação igual a 25?

meq (100 g)-1 = (18,5 x 25)/1000


meq (100 g)-1 = 0,46
Então, 18,5 meq L-1 de Na equivalem a 0,46 meq (100 g)-1 ou cmolc kg-1.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 35

5.2.1.4 Transformação de resultados: fator de multiplicação

Unidade µmho cm-1 mmho cm-1 µS cm-1 dS m-1


µmho cm-1 1 10-3 1 10-3
Mmho cm-1 103 1 103 1
-3
µS cm-1
1 10 1 10-3
dS m-1 103 1 103 1

5.2.1.5 Sistema internacional (SI) de unidades

Atual (SI) Fator


-1 -3 -1
% g kg , g dm e g L 10
Cppm, µg mL , g m -1 -3
mg kg-1, mg dm-3, mg L-1 1
meq (100 cm3)-1 mmolc dm-3 10
meq (100 g)-1 mmolc kg-1 10
meq (100 cm3)-1 cmolc dm-3 1
meq (100 g)-1 cmolc kg-1 1
meq L-1 mmolc L-1 1
t (tonelada) Mg (mega grama) 1
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 36

6 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS QUATO À PRESEÇA DE SAIS

Solos são considerados salinos quando contêm concentração de sais solúveis em


quantidades elevadas para interferir com o crescimento da maior parte das espécies
cultivadas; entretanto, não é uma quantidade fixa de sais, pois depende da espécie da
planta, da textura e capacidade do solo e da composição de sais presentes na solução. Deste
modo, o critério para classificação dos solos afetados por sais é arbitrário, existindo várias
classificações, sendo que cada uma delas apresenta vantagens e desvantagens.
As quatro classificações para solos afetados por sais mais importantes são a russa,
a francesa, a americana e a da FAO, mas a classificação mais simples e mais prática tem
sido a americana.
Esta classificação foi proposta pelo Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos
(Richards, 1954) e se baseia nos efeitos da salinidade sobre as plantas e do sódio trocável
sobre as propriedades do solo, expressos em termos de CEes e PST, respectivamente,
classificando os solos em três categorias: salina, sódica e salina - sódica (Tabela 8). Nesta
classificação, o valor estabelecido da CEes para distinguir solos salinos dos não salinos, é
fixado em 4 dS m-1; entretanto, pode-se encontrar plantas sensíveis aos sais que, por sua
vez, são passíveis de serem afetados em solos que apresentam CEes entre 2 e 4 dS m-1,
razão por que o Comitê de Terminologia da Sociedade Americana de Ciência do Solo,
baixou o limite da CEes de 4 dS m-1 para 2 dS m-1, fazendo a distinção entre solos salinos e
não-salinos e, ainda, recomendou a substituição da PST pela RAS (Glossary of Soil Science
Terms, 1997). Embora sejam classificados como sódicos os solos com PST > 15, vários
resultados de estudos, publicados na literatura, têm mostrado efeitos do sódio sobre a
estrutura do solo, mesmo em níveis inferiores, sendo mais adequado considerar-se sódico
os solos com PST > 7 (Pizarro, 1978).

Tabela 8 Classificação dos solos afetados por sais (Richards, 1954)

Classificação CEes (dS m-1 à 25 ºC) PST (%) pHps


Solos sem problemas de sais <4 < 15 < 8,5
Solos salinos >4 < 15 < 8,5
Solos salino-sódicos >4 > 15 ≤ 8,5
Solos sódicos <4 > 15 ≥ 8,5
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 37

EXERCÍCIO 3

“VERIFICAÇÃO DOS RESULTADOS DE AÁLISE QUÍMICA DOS SOLOS


AFETADOS POR SAIS”

“CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS QUATO À PRESEÇA DE SAIS”

a) Uma análise de solo apresenta os seguintes resultados: pH = 9,2; CEes = 2,4 dS m-1; Na,
Ca, Mg e K trocáveis, respectivamente, igual a 0,3; 0,8; 0,5 e 0,1 cmolc kg-1 e Na+, Ca++,
Mg++ e K+ solúveis, respectivamente, iguais a 20; 2,0; 1,5; e 0,5 mmolc L-1, Cl-, HCO3-,
CO3-- e SO4--, respectivamente, iguais a 15; 4,2; 3,2 e 2,3 mmolc L-1.
Pede-se:
a.1) Verificar se os dados da análise estão coerentes
a.2) Expressar o valor de Na, Ca, Mg e K em termos de mg L-1
a.3) Classificar o solo quanto à presença de sais, de acordo com os critérios propostos
pelo Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos
a.4) Calcular a RAS, RST (considere KG = 0,014) e a PST verdadeira e a estimada pela
RST

b) Quais os parâmetros utilizados para se classificar o solo quanto aos riscos de salinidade e
sodicidade?

c) Dê a relação entre as seguintes unidades que expressam salinidade:

c.1) dS m-1 e mmho cm-1


c.2) dS m-1 e µmho cm-1
c.3) dS m-1 e µS cm-1
c.4) dS m-1 e mg L-1
c.5) mg L-1 e ppm
c.6) dS m-1 e meq L-1
c.7) meq L-1 e mmolc L-1
c.8) g L-1 e mg L-1
c.9) meq L-1 e mg L-1
c.10) cmolc kg-1 e meq 100g-1; cmolc kg-1 e mmolc kg-1
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 38

7 EFEITO DOS SAIS O SOLO E A PLATA

7.1 Efeito dos sais sobre as plantas

Os efeitos da acumulação excessiva dos sais solúveis sobre as plantas podem ser
causados pelas dificuldades de absorção de água, toxicidade de íons específicos e pela
interferência dos sais nos processos fisiológicos (efeitos indiretos) reduzindo o crescimento
e o desenvolvimento das plantas.

7.1.1 Efeito osmótico

As plantas retiram a água do solo quando as forças de embebição dos tecidos das
raízes são superiores às forças com que a água é retida no solo. A presença de sais na
solução do solo faz com que aumentem as forças de retenção por seu efeito osmótico e,
portanto, a magnitude do problema de escassez de água na planta. O aumento da pressão
osmótica (PO) causado pelo excesso de sais solúveis, poderá atingir um nível em que as
plantas não terão forças de sucção suficiente para superar esse PO e, em conseqüência, a
planta não conseguirá absorver água, mesmo de um solo aparentemente úmido. Este
fenômeno é conhecido por seca fisiológica.
Dependendo do grau de salinidade, a planta, em vez de absorver, poderá até perder
a água que se encontra no seu interior. Esta ação é denominada plasmólise e ocorre quando
uma solução altamente concentrada é posta em contato com a célula vegetal. O fenômeno é
devido ao movimento da água, que passa das células para a solução mais concentrada.
Deste modo, a energia necessária para absorver água de uma solução salina é adicional à
energia requerida para absorver água de uma solução do solo não salino.
A Figura 11 mostra a curva de retenção de água de um solo franco-argiloso para
vários níveis de salinidade. Observa-se que a disponibilidade de água para a cultura é
reduzida a medida em que a salinidade aumenta.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 39
TESÃO D’ ÁGUA (BARES)

ABSORÇÃO DE ÁGUA
% DE REDUÇÃO NA
1 4 8 12 16
SALINIDADE DO SOLO (dS m-1)
CAPACIDADADE DE CAMPO
0,33 Supõe-se:

1. Não há aumento nem diminuição de sais na


água do solo
2. Os efeitos de esgotamento e da salinidade na
disponibilidade de água se somam (Potencial
osmótico = - 0,36 CE)
3. A água disponível é a diferença entre a
capacidade de campo e o ponto de
murchamento
4. A água é extraída do solo por efeito de
evapotranspiração da cultura (ETc)

Figura 11 Curvas de retenção de água de um solo franco-argiloso para vários níveis de


salinidade (Ayres & Westcot, 1991)

O potencial osmótico de um solo pode ser estimado conhecendo-se a CE, a partir


da equação:
ψ o ≅ −0,36 × CE (22)
em que:
ψ o = Potencial osmótico, atm
CE = Condutividade elétrica, dS m-1

O potencial total com que a água é retida em um solo salino, pode ser expresso
por:

ψT = ψ m +ψ o (23)
em que:
ψ T = Potencial total com que a água é retida no solo, atm
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 40

ψ m = Potencial matricial do solo, atm.


ψ O = Potencial osmótico da solução do solo, atm.

Devido à baixa concentração de sais solúveis, o potencial osmótico em solos não


salinos é considerado desprezível (ψ O = 0); logo, a água deste solo está disponível a uma
faixa de potencial de - 0,33 e - 15 atm, em condições de capacidade de campo e ponto de
murcha permanente, respectivamente, porém a presença de sais faz com que essa faixa de
disponibilidade seja diminuída, em razão do aumento da tensão total pois, neste caso,
considera-se o potencial osmótico (ψ O < 0)

Exemplo:

O procedimento seguinte explica a forma de se determinar a salinidade e a contribuição


relativa dos sais no aumento do potencial total de um solo salino de textura média, em
condições de umidade à capacidade de campo e ponto de murcha permanente
Dados:
- Salinidade do solo: CEes= 10 dS m-1
- Considerando-se que um solo de textura média tem, normalmente, umidade à
capacidade de campo e ponto de murcha, respectivamente, igual à metade e a um quarto da
condição de saturação, ou seja:
θ S = 2θ CC = 4θ PM (24)
em que:
θ S= Umidade do solo nas condições de saturação, cm3 cm-3 ou %
θ CC e θ PM = Umidade do solo à capacidade de campo e ponto de murcha
permanente, respectivamente, cm3 cm-3 ou %.

PROCEDIMENTOS

a) Solo à capacidade de campo


- A condutividade elétrica, em dS m-1, à capacidade de campo (CECC) é obtida
considerando-se que a solução salina se concentra no solo duas vezes, mediante a Eq. 25;
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 41

CE cc = 2 × CE es (25)

CE cc = 2 × 10 = 20 dS m-1
- O potencial osmótico deste solo à capacidade de campo é obtido segundo a Eq.
22;
ψ o = −0,36 × 20 = - 7,2 atm.
- O potencial total com que a água é retida no solo a capacidade de campo, é
obtido substituindo-se os valores do “ψ m ” e “ψ o ” na Eq. 23;

ψ T = −0,33 − 7,2 = - 7,53 atm.

- A contribuição relativa do ψ O na diminuição do potencial total à capacidade de


campo é obtida mediante a relação percentual entre o potencial osmótico e o potencial total
 − 7,2 
% ψo =   × 100 = 95 % do potencial total
 − 7,53 

b) Solo no ponto de murcha

- A condutividade elétrica, em dS m-1, no ponto de murcha (CEPM) é obtida,


considerando-se que a solução salina se concentra no solo quatro vezes, conforme a Eq. 26;
CEPM = 4 × 10 = 40 dS m-1
- O potencial osmótico deste solo no ponto de murcha é obtido de acordo com a
Eq. 22;
ψ o = −0,36 × 40 = - 14,4 atm.
- O potencial total com que a água é retida no solo em ponto de murcha é obtido,
substituindo-se os valores do “ψ m ” e “ PO ” na Eq. 23;

ψ T = −15 − 14,4 = - 29,4 atm.


- A contribuição relativa do ψ O na diminuição do potencial total no ponto de
murcha é obtida mediante a relação percentual entre o potencial osmótico e o potencial total
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 42

 − 14,4 
% ψo =   × 100 = 48,97 % do potencial total
 − 29,4 
Os cálculos anteriores mostram que a tensão total com que a água é retida no solo
à capacidade de campo e ponto de murcha é, respectivamente, 7,53 e 29,4 atm. É obvio que
a contribuição relativa do ψ O é maior quando o solo se encontra à capacidade de campo e a
mesma é aumentada a cada elevação da CEes. A medida em que o conteúdo de água no solo
diminui, a disponibilidade de água para as plantas varia continuamente em cada camada da
zona radicular, já que tanto o conteúdo de água como ψ O variam continuamente, entre dois
eventos de irrigação, devido ao consumo de água pela planta. Para a mesma profundidade,
pouco depois da irrigação o teor de água no solo se aproxima de seu máximo, enquanto a
concentração dos solutos é mínima; conseqüentemente, ambos os teores variam à medida
que a água é consumida pela planta, sendo que o teor de umidade diminui enquanto os sais
aumentam.
A salinidade do solo reduz a disponibilidade da água no solo; no entanto, nem
todas as culturas são igualmente afetadas pelo mesmo nível de salinidade, pois algumas são
mais tolerantes que outras e podem extrair água com mais facilidade. Com base na resposta
aos sais, as plantas são classificadas em glicófitas e halófitas. As glicófitas representam o
grupo das plantas cultivadas e, na sua maioria, são as menos tolerantes à ação dos sais,
enquanto as halófitas compõem o grupo de plantas que adquirem condições fisiológicas;
portanto, ajustam-se osmoticamente e sobrevivem em meio altamente salino.
Plantas mais tolerantes ao meio salino aumentam a concentração salina no seu
interior, de modo que permaneça um gradiente osmótico favorável para absorção de água
pelas raízes. Este processo é chamado ajuste osmótico e se dá com o acúmulo dos íons
absorvidos nos vacúolos das células foliares, mantendo a concentração salina no citoplasma
em baixos níveis, de modo que não haja interferência com os mecanismos enzimáticos e
metabólicos nem com a hidratação de proteínas das células. Esta compartimentação do sal é
que permite, às plantas tolerantes, viverem em ambientes salinos, porém as plantas
sensíveis à salinidade tendem a excluir os sais na solução do solo, mas não são capazes de
realizar o ajuste osmótico descrito e sofrem com decréscimo de turgor, levando as plantas
ao estresse hídrico, por osmose.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 43

O ajuste osmótico varia entre as diferentes espécies de plantas. Por exemplo,


enquanto na cenoura o aumento da concentração de sacarose, sob condições salinas, é o
componente principal de ajustamento, na beterraba os principais componentes são os sais.
A energia utilizada pela planta para manter o ajustamento osmótico em meio salino, mesmo
em plantas tolerantes, afeta seu crescimento e desenvolvimento.

7.1.2 Efeitos tóxicos

Esses efeitos acontecem quando as plantas absorvem os sais do solo, juntamente


com a água, permitindo que haja toxidez na planta por excesso de sais absorvidos. Este
excesso promove, então, desbalanceamento e danos ao citoplasma, resultando em danos
principalmente na bordadura e no ápice das folhas, a partir de onde a planta perde, por
transpiração, quase que tão somente água havendo, nessas regiões, acúmulo do sal
translocado do solo para a planta e, obviamente, intensa toxidez de sais.
Os danos podem reduzir significativamente os rendimentos e sua magnitude
depende do tempo, da concentração de íons, da tolerância das plantas e do uso da água
pelas culturas. Os problemas de toxicidade freqüentemente acompanham ou complicam os
de salinidade ou permeabilidade, podendo surgir mesmo quando a salinidade for baixa. Os
sintomas de toxicidade podem aparecer em qualquer cultura se as concentrações de sais no
interior são suficientemente altas ou acima de níveis de tolerância da cultura.
Normalmente, a toxicidade é provocada pelos íons cloreto, sódio e boro;
entretanto, muitos outros oligoelementos são tóxicos às plantas, mesmo em pequenas
concentrações.
A absorção foliar acelera a velocidade de acumulação de sais dos íons tóxicos na
planta sendo, muitas vezes, a fonte principal da toxicidade. Os íons, sódio e cloreto podem,
também, ser absorvidos via foliar, quando se molham durante a irrigação por aspersão e,
sobretudo, durante períodos de altas temperaturas e baixa umidade. A Tabela 9 mostra
algumas culturas afetadas por íons específicos.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 44

Tabela 9 Algumas culturas afetadas por íons específicos (Pizarro, 1978)


Íons Fruteiras Hortaliças Culturas extensivas
Amendoeira Milho
Abacateiro
Citros
Na+
Pessegueiro
Videira
Morangueiro
Ca++ Folhosas Linho
Abacateiro Batata Doce Fumo
Cl- Citros
Videira
SO4-- Bananeira Alface
Beterraba açucareira
NO3-
Cana-de-açúcar

7.1.2.1 Cloreto

O cloreto não é retido nem adsorvido pelas partículas do solo, deslocando-se


facilmente com a água do solo, mas é absorvido pelas raízes e translocado às folhas, onde
se acumula pela transpiração.
O primeiro sintoma deste íon, evidenciado pelas plantas, é a queimadura do ápice
das folhas que, em estágios avançados, atinge as bordas e promove sua queda prematura;
nas culturas sensíveis, os sintomas aparecem quando se alcançam concentrações de 0,3 a
1,0 % de cloreto, em base de peso seco das folhas.
A sensibilidade das culturas a este íon é bastante variável como, por exemplo, as
frutíferas, que começam a mostrar sintomas de danos a concentrações acima de 0,3 % de
cloreto, em base de peso seco, as espécies tolerantes podem acumular até 4,0 a 5,0 % de
cloreto sem manifestar qualquer sintoma de toxicidade. A Tabela 10 apresenta, para certas
culturas, os valores de tolerância ao cloreto, medidos no extrato de saturação e na água de
irrigação.
É recomendável manter baixos os níveis de salinidade no solo durante o plantio e
lembrar que os dados publicados na literatura foram obtidos de parcelas com culturas
irrigadas por superfície. Por esta razão, é necessário considerar-se que a irrigação por
aspersão pode causar queimaduras das folhas a nível inferior a esses, pois as folhas também
absorvem os sais.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 45

Tabela 10 Tolerância relativa das plantas (variedades e porta enxerto) ao cloreto, medidas
no extrato de saturação e na água de irrigação (Ayers & Westcot, 1991)

Nível máximo permissível de cloretos


Porta-enxerto ou (meq L-1)
Planta
variedade Zona radicular Água de irrigação
(Cles) (Cla)*
Citros Tangerina Cleópatra 25,0 16,6
Citros Limão e laranja azeda 15,0 10,0
Citros Laranja doce e citrage 10,0 6,7
Frutas do caroço Marianna 25,0 17,0
Frutas do caroço Lovell e Shalil 10,0 6,7
Frutas do caroço Yunnan 7,5 5,0
Abacate West Indian 7,5 5,0
Abacate Mexican 5,0 3,3
Videira Thompson Seedless 20,0 13,3
Videira Cardinal e black Rose 10,0 6,7
Amoreira Boysenberry 10,0 6,7
Amoreira Olallie blackberry 10,0 6,7
Amoreira IndiaSummerRaspberry 5,0 3,3
Morangueiro Lassen 7,5 5,0
Morangueiro Shasta 5,0 3,3
*
Valores máximos aplicáveis apenas para culturas irrigadas por superfície. Para culturas irrigadas por
aspersão pode causar queimadura das folhas a nível inferiores a esses

7.1.2.2 Sódio

A toxicidade ao sódio é mais difícil de diagnosticar que ao cloreto, porém tem sido
identificada claramente como resultado de alta proporção de sódio na água (alto teor de
sódio ou RAS).
Ao contrário dos sintomas de toxicidade do cloreto, que têm início no ápice das
folhas, os sintomas típicos do sódio aparecem em forma de queimaduras ou necrose, ao
longo das bordas. As concentrações de sódio nas folhas alcançam níveis tóxicos após vários
dias ou semanas e os sintomas aparecem, de início, nas folhas mais velhas e em suas bordas
e, a medida em que o problema se intensifica, a necrose se espalha progressivamente na
área internervural, até o centro das folhas. Para as culturas arbóreas, o nível tóxico nas
folhas se encontra em concentrações acima de 0,25 a 0,50 % de sódio, em base de peso
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 46

seco. A Tabela 11 classifica a tolerância de várias culturas ao sódio, utilizando-se três


níveis de percentagem de sódio trocável.

Tabela 11 Tolerância relativa das culturas* ao sódio trocável (Ayers & Westcot, 1991)

Sensíveis (PST < 15) Semi-tolerantes (PST de 15 a 40) Tolerantes (PST > 40)
Caupi Trigo Capim de Rhodes
Grão de bico Tomate Capim Angola
Amendoim Espinafre Algodão
Lentilha Sorgo Capim Bermuda
Tangerina Centeio Beterraba Açucareira
Pêssego Arroz Beterraba
Laranja Rabanete Cevada
Pomelo (grapefruit) Cebola Alfafa
Ervilha Aveia
Milho Mostarda
Algodão (germinação) Trevo
Feijão Cana-de-açúcar
Noz Milheto
Frutas caducifólias Alface
Abacate Fetusca
Cenoura
*
Listada em ordem crescente de tolerância

7.1.2.3 Boro

O boro é um elemento essencial ao desenvolvimento das plantas, porém em


quantidades relativamente pequenas. Para algumas culturas, se o nível de boro na água é de
0,2 mg L-1, as concentrações entre 1 e 2 mg L-1são tóxicas. As águas superficiais raramente
contêm níveis tóxicos de boro, mas as águas de nascentes e as águas de poços podem conter
concentrações tóxicas, principalmente nas proximidades de falhas sísmicas e áreas
geotérmicas (Ayers & Westcot, 1985). De modo geral, os critérios de qualidade de água em
relação ao boro podem ser interpretados a partir das Tabelas 12 e 13.
Os problemas de toxicidade ocorrem, com maior freqüência, por causa do boro na
água que no solo. Os sintomas causados na folha pelo boro se resumem em manchas
amarelas ou secas, principalmente nas bordas e no ápice das folhas velhas. Na medida em
que o boro se acumula, os sintomas se estendem pelas áreas internervurais até o centro das
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 47

folhas. Em alguns casos, os sintomas se manifestam mediante exudação gomosa nos ramos
e no tronco como, por exemplo, na amendoeira.
Na maioria das culturas, os sintomas aparecem quando a concentração de boro nas
folhas excede 250 a 300 mg kg-1 de matéria seca.

Tabela 12 Níveis de tolerância das culturas ao boro na água de irrigação (Ayers & Westcot,
1991)
Concentração
Interpretação
(ppm)
< 0,5 Bom para todas as plantas
0,5 a 1,0 Danos ocorrem nas folhas de plantas sensíveis sem alterar a produção
1,0 a 2,0 Tolerado por semi-tolerantes, mas reduz a produção de plantas sensíveis
2,0 a 4,0 Somente plantas tolerantes produzem satisfatoriamente
> 4,0 Danos em quase todas as plantas

Tabela 13 Tolerância relativa das plantas* ao boro na água de irrigação (Ayers & Westcot,
1991)
Sensíveis Semi-tolerantes Tolerantes
(0,5 a 1,0 ppm) (1,0 a 2,0 ppm) (2,0 a 4,0 ppm)
Limão Batata Doce Cenoura
Pomelo (grapefruit) Pimentão Alface
Abacate Tomate Repolho
Laranja Morango Nabo
Amora Aveia Cebola
Damasco Milho Alfafa
Pêssego Trigo Beterraba
Cereja Cevada Tâmara
Caqui Azeitona Aspargo
Figo Ervilha
Uva Algodão
Maçã Batata
Pera Girassol
Ameixa
Alcachofra
Noz
Noz Pecan
*
Listadas em ordem crescente de tolerância
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 48

7.1.3 Efeitos indiretos

Esses efeitos acontecem quando as altas concentrações de sódio ou outros cátions


na solução interferem nas condições físicas do solo ou na disponibilidade de alguns
elementos, afetando o crescimento e o desenvolvimento das plantas, indiretamente.
Quando no extrato de saturação há teores apreciáveis de carbonato de sódio, o pH
do solo poderá alcançar valores elevados e haver a diminuição na disponibilidade de zinco,
cobre, manganês, ferro e boro, podendo ocorrer deficiência nas plantas cultivadas nessas
condições, principalmente se em pequenas quantidades. Portanto, o crescimento da planta é
influenciado não diretamente pelo excesso de carbonato de sódio, mas pelo seu efeito sobre
o pH.
A presença de um íon em excesso poderá provocar deficiência ou inibir a absorção
de outro, devido à precipitação. Por exemplo, o excesso de sulfato, carbonato e bicarbonato,
poderá precipitar o cálcio e afetar o crescimento da planta pela falta do elemento
precipitado e não pelo excesso de outro íon. Um outro efeito indireto é o excesso de sódio
trocável no solo, que provoca condições físicas desfavoráveis para o crescimento das
plantas, sobretudo para o desenvolvimento do sistema radicular. A presença de sais de
sódio também tende a restringir a taxa de mineralização do nitrogênio (N) já que, com o
aumento de sua concentração no solo, em geral a mineralização do N orgânico é reduzida,
afetando o crescimento da planta, pela redução do N disponível e não pelo excesso de
sódio.

7.2 Efeito dos sais sobre o solo

7.2.1 Efeitos sobre a estrutura

O efeito dos sais sobre a estrutura do solo ocorre, basicamente, pela interação
eletroquímica existente entre os cátions e a argila.
A característica principal deste efeito é a expansão da argila quando úmida e a
contração quando seca, devido ao excesso de sódio trocável. Se a expansão for exagerada,
poderá ocorrer a fragmentação das partículas, causando a dispersão da argila e modificando
a estrutura do solo. De modo generalizado, os solos sódicos, ou seja, com excesso de sódio
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 49

trocável, apresentam problemas de permeabilidade e qualquer excesso de água causará


encharcamento na superfície do solo, impedindo a germinação das sementes e o
crescimento das plantas, por falta de aeração.
A dispersão do solo pode ser explicada com base na interação dos cátions com a
argila. Como já mencionado, a micela do solo ou partícula de argila tem cargas
predominantemente negativas que são neutralizadas por atraírem cátions presentes no
sistema coloidal. Por outro lado, os ânions, por terem cargas negativas, são repelidos,
afastando-se da partícula de argila. Deste modo, é formada ao redor da argila uma dupla
camada iônica.
O modelo mais aceitável desta dupla camada é o de Stern, que consiste de uma
camada de íons adsorvidos na superfície da argila e de uma camada difusa de cátions, de
concentração decrescente, à medida que se afasta da partícula de argila. A certa distância da
argila a concentração de cátions diminui e a de ânions aumenta na solução a medida que se
afasta da partícula, tornado-se balanceadas (Figura 12).
Quanto maior a carga, maior também será a força de atração, razão pela qual os
cátions bivalentes (Ca) são atraídos pela superfície da argila com maior força eletrostática
que os monovalentes (Na).
A força de atração entre as cargas opostas (positiva e negativa) é inversamente
proporcional ao quadrado da distância entre as cargas, ou seja, quanto maior o raio iônico,
menor é a espessura da dupla camada, porém a hidratação dos cátions é um fator importante
a se considerar quando se refere ao raio iônico. Assim, embora o Lítio seja o cátion de
menor raio iônico, ao se hidratar ele tem maior raio e, portanto produzirá menor espessura
da dupla camada (Tabela 14).
A força eletrostática dos bivalentes é superior ao efeito da hidratação, diminuindo
a espessura entre cargas negativas da argila e as cargas positivas dos cátions; assim, a força
de hidratação é superada com mais facilidade pelos bivalentes, fazendo com que o cálcio e
o magnésio sejam mais atraídos à argila que, por exemplo, o sódio; então, a dupla camada
de íons existente ao redor da argila tem espessura menor quando predominam cátions
bivalentes ou mesmo trivalentes, como o Al.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 50

Contraíons
ψo: Potencial na


Potencial
Distância x
Líquido polar
Partícula Dupla Seio da solução
Partícula Camada difusa

Camada adsorvida (Stern)

Figura 12 Modelo de Stern (distribuição dos íons em solução em função da distância da


superfície da argila)

Tabela 14 Raio iônico hidratado e não hidratado em Aº (angstrons)

Íon Raio não hidratado Raio hidratado


Lítio 0,60 10,03
Sódio 0,98 7,90
Potássio 1,33 5,32
Magnésio 1,43 5,37

Por outro lado, o aumento da concentração da solução do solo faz com que os
cátions sejam atraídos fortemente pela superfície da argila (Tabela 15); assim, com o
aumento da relação Ca/Na na solução do solo, a espessura da dupla camada diminui porém,
quando a dupla camada de íons junto à argila contiver muito sódio e poucos íons em
solução (solo irrigado com água baixo concentração de sais) terá espessura relativamente
maior. Então, a alta concentração de sais solúveis no solo (salinidade) não altera a estrutura
do solo com argilas expansivas mas, sim, a baixa concentração de sais (CE < 0,2 dS m-1)
e/ou a alta concentração de sódio.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 51

A espessura da dupla camada exerce efeito pronunciado no comportamento físico


do solo e quando este se encontra mais ou menos em capacidade de campo, a espessura da
dupla camada desenvolve seu potencial máximo e, a medida em que o solo vai perdendo
água, pode alcançar níveis em que a dupla camada não poderá permanecer em sua
espessura normal, particularmente as camadas grossas encontradas em solos sódicos,
transformando-se em uma dupla camada truncada. Ao umedecer o solo, a dupla camada se
expande, causando o fechamento dos poros interagregados e reduzindo a condutividade
hidráulica do solo; além disso, a pressão que originou a expansão empurra as partículas
individuais de argila uma contra a outra, dispersando o solo e seus agregados, fazendo-os
desaparecer em partes. As partículas finas que ficam soltas, obstruem os poros do solo,
reduzindo ainda mais a permeabilidade à água e ao ar.

Tabela 15 Efeito da concentração de cátions no tamanho da dupla camada difusa

Concentração Tamanho da dupla camada iônica (Aº)


(Normal) NaCl CaCl2 AlCl3
10-5 954 477 318
10-4 302 151 101
10-3 95 48 32
10-2 30 15 10
10-1 10 5 3
10 0 3 1,5 1

7.2.2 Efeito sobre o pH

Em geral, para reduzidas concentrações de sais o pH das águas pode ser elevado,
pois a medida em que aumenta a salinidade da água, o pH diminui. Para salinidade maior
que 5 dS m-1 as águas têm pH neutro. Fenômeno semelhante ocorre com a solução do solo.
Por exemplo, a Figura 13 mostra como o pH de um solo aluvial, textura argilosa e pobre em
matéria orgânica, diminui quando se aumenta a condutividade elétrica, cujos valores não
podem ser generalizados para outros tipos de solo, pois esta diminuição varia com as
características do solo.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 52

pH do solo

CEes (mS cm-1 a 25 ºC)

Figura 13 Relação entre o pH de um solo aluvial e a condutividade elétrica (Pizarro, 1977)


Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 53

EXERCÍCIO 4

“EFEITO DOS SAIS O SOLO E A PLATA”

a) Descreva:
a.1) Efeito Osmótico
a.2) Seca Fisiológica
a.3) Efeitos Indiretos

b) Explique o motivo pelo qual o efeito da toxicidade dos íons específicos é maior na
irrigação por aspersão.

c) Para um solo de textura média que apresenta CEes = 4 dS m-1, determine a contribuição
relativa dos efeitos salinos, em virtude da pressão osmótica, quando este solo se encontra à
capacidade de campo e no ponto de murcha permanente.

d) Cite os principais íons que podem causar toxidez.

e) Explique como ocorre a dispersão das partículas de solo com base no conceito da dupla
camada difusa.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 54

8 RECUPERAÇÃO DE SOLOS AFETADOS POR SAIS

8.1 Técnicas de recuperação de solos afetados por sais

Diversas técnicas são empregadas no processo de recuperação de solos afetados


por sais e, entre elas, duas são consideradas fundamentais: a lavagem dos sais e a aplicação
de melhoradores químicos, por atuarem diretamente na eliminação ou correção dos
problemas de salinização; entretanto, existem ainda técnicas auxiliares, tais como: aração
profunda, subsolagem e aplicação de resíduos orgânicos, entre outras, que têm a função não
exatamente de recuperar os solos mas de agirem indiretamente sobre algumas propriedades
do solo, que tornam mais eficiente as técnicas fundamentais de recuperação.
Raramente se consegue a recuperação dos solos afetados por sais utilizando-se um
método isoladamente mas, combinado-se várias dessas técnicas, simultaneamente. O
método ou técnica utilizada na recuperação desses solos vai depender do diagnóstico, uma
vez que se tem causas de salinização diferente. Convém lembrar que o estudo de
drenabilidade do solo é indispensável antes de se iniciar os trabalhos de recuperação.

8.1.1 Técnicas fundamentais

8.1.1.1 Lavagem

A lavagem é a técnica mais prática de se eliminar os sais do solo, e consiste em se


fazer passar, através do perfil do solo, certa quantidade de água que, por sua vez, arrasta os
sais solúveis. Esta técnica pode ser realizada com duas finalidades: a) reduzir a alta
salinidade inicial do solo até níveis toleráveis pelas culturas, denominada lavagem de
recuperação; b) impedir a salinização de solos irrigados não afetados, denominada lavagem
de manutenção.

8.1.1.2 Melhoramento químico

Em se tratando de solos salinos, o procedimento de lavagem é suficiente para sua


recuperação, uma vez que os sais se encontram dissolvidos na solução do solo, sendo
facilmente arrastados pela lâmina de lavagem; entretanto em solos sódicos o uso de
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 55

melhoradores ou corretivos químicos se faz necessário para retirar o sódio que se encontra
adsorvido na micela, mediante a adição de substâncias que contenham, preferencialmente,
cálcio. Deste modo, o uso de corretivos tem a finalidade de fornecer elementos como o
cálcio, ou liberá-lo, quando presente no solo, para substituir o sódio trocável, pois o cálcio
desloca o sódio do complexo de troca, deixando-o na solução do solo, em condições de ser
lavado. Deve-se ressaltar que, como o cálcio tem maior seletividade (força de atração pelas
partículas de argila) mesmo estando presente em menor proporção em relação ao sódio, o
mesmo consegue substituir o sódio, porém se o sódio substituído não for removido
mediante o processo de drenagem, o solo pode tornar-se sódico; daí a importância da
drenagem no processo de recuperação.

[Micela]aa + Ca + + [Micela]CaCa + a +

8.1.2 Técnicas auxiliares

8.1.2.1 Técnicas mecânicas

Aração profunda: Consiste em arar o solo entre 60 e 70 cm de profundidade, com o


propósito de promover a ruptura do solo e a formação de torrões, favorecendo a infiltração
da água durante uma ou duas irrigações, diminuindo o acúmulo de sais solúveis na zona de
semeadura. Esta técnica é recomendada quando há, no solo, camadas de baixa
permeabilidade entre outras mais permeáveis, pois o arado reverte e mistura o solo,
tornando-o mais homogêneo.

Subsolagem: É uma operação que tem, como objetivo, romper as camadas de solo de baixa
permeabilidade, sem inverter as camadas, melhorando a permeabilidade do solo. A
subsolagem reduz os efeitos prejudiciais de camadas compactadas que estão a mais de 30
cm de profundidade, porém seu efeito é de duração temporária, variando de um a dois anos.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 56

Misturas com areia: A adição e mistura de areia em camadas de solos de textura fina têm
a finalidade de melhorar a permeabilidade e a penetração das raízes no solo. Esta técnica
melhora as propriedades transmissoras de água no solo, facilitando a lixiviação dos sais. A
adição de areia é feita pela incorporação na superfície do solo e, em seguida, uma cultura de
sistema radicular pouco profundo é cultivada. Após vários cultivos e práticas culturais,
haverá a mistura e a inversão da areia para as demais camadas, favorecendo a
permeabilidade em todo o perfil.

Inversão de perfis geológicos: Consiste em enterrar o horizonte superficial de um solo de


características indesejáveis, substituindo-o por materiais proveniente de horizontes mais
profundos e que possuem melhores características físico-químicas. A aração profunda
também pode ser aplicada nos solos com excesso de sódio na camada superficial e
contendo, em profundidades maiores, camada de solo rica em gesso; neste caso, a inversão
de perfil remove o gesso para a superfície e enterra o solo com excesso de sódio. Quando se
tem uma camada de solo indesejável muito espessa, de modo que não se permita a inversão
do perfil, recomenda-se o uso da técnica de drenos verticais no horizonte de baixa
permeabilidade. Nesta técnica, a água será drenada de um horizonte de boa permeabilidade
para outro sem, passar fisicamente pelo horizonte intermediário de baixa permeabilidade,
não ocorrendo a acumulação de sais na camada superficial (horizonte A), conforme
ilustrado na Figura 14.

Superfície do solo

Horizonte A

Tubo de drenagem Horizonte B

Horizonte C

Figura 14 Esquema do uso de drenos verticais


Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 57

8.1.2.2 Técnicas biológicas

Aplicação de adubos orgânicos: A adição de matéria orgânica tem, como objetivo,


melhorar a estrutura e a permeabilidade do solo, além de favorecer o aumento da
fertilidade. Os resíduos podem ser deixados como cobertura na superfície ou incorporados
ao solo; quando aplicados na superfície, a evaporação diminui, mantendo a umidade do
solo e impedindo a salinização. O efeito desta prática é temporário e requer incorporações
periódicas durante os cultivos. Os adubos orgânicos podem ser a adubos verdes e/ou
composto.

Cultivos de elevada evapotranspiração: Esses cultivos provocam o abaixamento do


lençol freático, facilitando a lavagem dos sais, além do que a sombra produzida pelas
plantas reduz a evaporação pela superfície do solo, diminuindo o acúmulo de sais. Se a
salinidade inicial do solo não permitir o cultivo de espécies rentáveis, como alfafa e outras
forrageiras, podem ser usadas culturas como cana-de-açúcar ou eucalipto.

Técnicas termelétricas: A exposição do solo a altas e baixas temperaturas melhora sua


permeabilidade, fato explicado pela expansão e contração dos minerais do solo quando
submetido a variações de temperatura. A passagem de corrente elétrica mediante eletrodos
enterrados no solo durante a lavagem dos sais acelera o processo de recuperação dos solos
afetados por sais. O catodo, eletrodo negativo, atrai os cátions do solo, principalmente o
sódio, tornando a lavagem mais eficiente; já o cloreto é atraído pelo anodo, eletrodo
positivo, transformado em gás (Cl2) que é liberado para a atmosfera.

8.2 Recuperação de solos salinos

A recuperação de solos salinos consiste na aplicação de uma lâmina de água ao


solo, capaz de lavar o excesso de sais solúveis do perfil abaixo da zona radicular das
plantas. O processo de recuperação envolve a dissolução dos sais presentes no solo e seu
transporte em profundidade abaixo da zona radicular das plantas. Desta forma, é possível se
reduzir a alta salinidade inicial do solo até níveis toleráveis pelas culturas garantindo,
assim, a produção de alimentos e a sustentabilidade da agricultura irrigada.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 58

O tempo de recuperação e a quantidade de água necessária para lavar os sais da


zona radicular, dependem dos fatores que afetam a eficiência de lixiviação, tais como: a
salinidade inicial do solo, a qualidade da água de irrigação e a profundidade do solo a ser
recuperado.
Em solos de baixa permeabilidade o tempo de recuperação pode levar até 120 dias,
caso em que se recomenda o cultivo de arroz após se ter infiltrado no solo uma lâmina de
10 – 15 cm de profundidade. Evidentemente, a lâmina necessária para lavagem de
recuperação dos sais em solos cultivados deve ser maior, pois parte desta lâmina aplicada
será utilizada para atender à evapotranspiração da cultura.
A profundidade do solo a ser recuperada pela lavagem depende da cultura que se
deseja explorar. Em culturas que apresentam sistema radicular superficial, recomenda-se
uma profundidade de 0,60 m e, para culturas de sistema radicular profundo aconselha-se
dessalinizar cerca de 1,50 m de profundidade, porém não necessariamente de uma única
vez. Para otimizar o processo de recuperação do solo, recomenda-se prolongar-lo pelo
prazo de 2 a 3 anos, aproveitando a área logo após a primeira lavagem de 10-15 cm de
profundidade.
Salienta-se que, durante o processo de lavagem do solo, além dos sais em excesso,
prejudiciais ao crescimento e desenvolvimento das plantas, são eliminados também os
nutrientes essenciais, como N, K, Ca, e S; portanto, logo após a lavagem se deve
estabelecer a fertilidade do solo, mediante a incorporação de matéria orgânica a ele.

8.2.1 Fundamentos da lavagem

A necessidade de lavagem é fundamentada no balanço de água e sais na zona


radicular, os quais se baseiam nos diferentes fluxos de água de um solo irrigado. A
superfície do solo recebe a água proveniente das lâminas de precipitação e da aplicada por
irrigação, parte da qual é infiltrada na zona radicular e outra parte, o excesso, é perdido por
escoamento superficial; já a zona radicular recebe a água infiltrada e a lâmina de água
capilar como contribuição do lençol freático. Quando o conteúdo de água na zona radicular
excede sua capacidade de retenção, o excesso de água é descarregado por percolação
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 59

profunda. Parte da lâmina de precipitação e irrigação, dependendo do método empregado,


pode ser perdida quando interceptada pelas plantas.
O balanço de água na zona radicular de um solo pode ser obtido pela soma
algébrica dos diferentes fluxos de entrada e saídas de água no perfil do solo, em dado
período de tempo, de acordo com a equação:

FLUXO DE ETRADA (Lp + Li + Lg ) − FLUXO DE SAÍDA (Let − Ld ) = ∆LA (27)

em que:
Lp = Lâmina de precipitação, subtraída do escoamento superficial, mm
Li = Lâmina de irrigação, mm
Lg = Lâmina de água capilar como contribuição do lençol freático, mm
Let = Lâmina de evapotranspiração, mm
Ld = Lâmina de percolação profunda, mm
∆LA = Variação da lâmina de água armazenada na zona radicular, mm

O balanço de água no solo pode ser anual, sazonal ou diário; no balanço anual,
quase não há variação da lâmina de água armazenada na zona radicular. Em áreas irrigadas,
onde a precipitação é de pequena intensidade, a lâmina de escoamento superficial é
considerada desprezível (Les = 0). A lâmina capilar de contribuição do lençol freático é
igual a zero quando em solos argilosos o lençol estiver a mais de 7 m de profundidade e,
para solos arenosos, a mais de 3 m de profundidade.
O balanço de sais no solo é deduzido do balanço da água, multiplicando-se cada
componente por sua respectiva concentração salina, assumindo que a única fonte de sais
seja a lâmina de água aplicada no solo durante o evento de irrigação, ou seja, os sais são
altamente solúveis e não precipitam, que são desprezíveis as adições de sais pelas águas de
chuvas e fertilizantes como, também, as extrações pelas culturas; o balanço de sais na zona
radicular pode ser expresso pela equação:

(Li Ci + Lg Cg ) − (Ld Cd ) = ∆Z (28)


em que:
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 60

Ci = Concentração de sais na água de irrigação, g L-1


Cg = Concentração de sais na água capilar, g L-1
Cd = Concentração de sais na água percolada, g L-1
∆Z = Variação do conteúdo de sais na zona radicular, g m-2

A diferença líquida entre o fluxo de entrada e saída equivale às mudanças


resultantes da salinidade da água do solo. Para valores de ∆Z > 0 ocorre acúmulo de sais,
dando origem à salinização secundária do solo, porém quando ∆Z < 0, indica remoção de
sais da zona radicular.
O valor da concentração de sais da Eq 28 pode ser substituído pela condutividade
elétrica, pois o mesmo apresenta relação linear com a concentração de sais em soluções
relativamente diluídas, além de se constituir uma característica fácil de ser medida.
Sob condições de equilíbrio ( ∆Z = 0) e se assumindo que não há variação do
conteúdo de sais na zona radicular, ou seja, os sais incorporados pela lâmina de irrigação
são lixiviados em sua totalidade em lâminas de drenagem, o balanço dos sais na zona
radicular se reduz a:

Ld CEi
= (29)
Li CEd

em que a condutividade elétrica (CE) substitui a concentração de sais.

Salienta-se que CEd não significa CEes, pois a água de drenagem nem sempre é
proveniente de solo saturado mas, na maioria das vezes, a água é removida do solo, em
teores de umidade inferiores à saturação e próximo à capacidade de campo. Neste caso, a
CEd é superior a CEes e se o solo considerado for de textura média, a relação CEd / CEes
será igual a 2 (o valor da umidade do solo à capacidade de campo é a metade em condições
de saturação).
A fração de lixiviação de sais capaz de manter o nível de sais tolerável pela cultura
pode ser obtida a partir da Eq 29:
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 61

Ld CEi
FL = = (30)
Li CEd
em que:
FL = Fração de lixiviação.

Para se estimar a CEd a partir da CEi e FL , deve-se considerar que a planta não
absorve água uniformemente, de toda a zona radicular. Ayers & Westcot (1985)
consideram que a planta absorve do solo, para suas necessidades hídricas, um padrão de
extração de 40, 30, 20 e 10 % da água consumida pelas culturas , respectivamente, da
quarta parte superior à inferior da zona radicular. Portanto, a estimativa da CEd média da
zona radicular deverá ser ponderada de acordo com a proporção de água retida de cada
parte da zona radicular. A Tabela 16 apresenta o fator de concentração de sais no solo
( CEes / CEi ) com base nas considerações do padrão de extração normal, aliado à relação
CEes = 2 x CEd .

Tabela 16 Fatores de concentração (fc) para se estimar a salinidade do extrato de saturação


do solo ( CEes ) a partir da salinidade da água ( CEi ) e da fração de lixiviação
( FL ) (Ayers & Westcot, 1985)

Fração de lixiviação Água necessária Fator de concentração


( FL ) (% ETc) (Fc)
0,05 105,3 3,2
0,10 111,1 2,1
0,15 117,6 1,6
0,20 125,0 1,3
0,25 133,3 1,2
0,40 166,7 0,9
0,60 250,0 0,7
0,70 333,3 0,6
0,80 500,0 0,6
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 62

8.2.2 2ecessidade de lavagem

A necessidade de lavagem (NL) é a fração de água aplicada com a irrigação que


deve atravessar a zona radicular para manter os sais a um nível determinado. Esta
quantidade extra de água percola abaixo da zona radicular, removendo parte dos sais
acumulados.
Salienta-se que a quantidade de água necessária para prevenir a salinização dos
solos irrigados (lavagem de manutenção) é diferente da quantidade necessária para a
recuperação de solos salinos (lavagem de recuperação).

8.2.2.1 Lavagem de manutenção

Para se estimar a necessidade de lavagem de manutenção de um solo irrigado,


necessita-se conhecer tanto a salinidade da água irrigada como a salinidade tolerada pela
cultura. A salinidade da água de irrigação pode ser medida diretamente, em termos de
condutividade elétrica (CEa). A salinidade tolerada pela cultura é a salinidade média da
água contida na zona radicular, representada pela salinidade do extrato de saturação
resultante (CEes) e pode ser estimada utilizando-se dados da literatura.
Desta forma, para culturas específicas a aproximação mais exata da necessidade de
lixiviação de manutenção (NL) pode ser obtida utilizando-se a seguinte equação (Rhoades,
1974 e Rhoades & Merril, 1976):

CEa
L = (31)
5 × CEes − CEa

em que:
L = Necessidade de lixiviação mínima que se necessita para controlar os sais
dentro do limite de tolerância da cultura, fração.
CEa = Salinidade da água de irrigação, dS m-1
CEes = Salinidade média do extrato de saturação do solo, em dS m-1, que
representa a salinidade tolerada por determinada cultura
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 63

Considerando-se que toda a água aplicada durante o evento de irrigação se infiltra


uniformemente no solo e que não existem perdas por escoamento superficial, a lâmina
anual de irrigação que se deve aplicar para satisfazer tanto a demanda da cultura como a
necessidade de lavagem de manutenção, pode ser estimada pela equação abaixo:

ETc
LA = (32)
1 − L
em que:
LA = Lâmina anual de irrigação, mm ano-1
ETc = Evapotranspiração da cultura mm ano-1
L = Necessidade de lixiviação, fração

8.2.2.2 2ecessidade de lavagem de recuperação

Na prática, não é possível se estimar, com exatidão, a lâmina de lavagem de


recuperação necessária, pois ela é influenciada por diversos fatores que ocorrem
simultaneamente, como o fluxo de água a presença de fendas no solo, a solubilidade dos
sais, as restrições na difusão dos sais e a dispersão hidrodinâmica. Neste caso, nem toda a
água aplicada contribui, no processo de dessalinização, para a lavagem dos sais. Parte da
lâmina de lavagem passa diretamente através das fendas e macroporos do solo e sai da zona
radicular com a mesma concentração salina inicial, enquanto outra parte se mistura com a
solução do solo e sai da zona radicular com uma concentração salina que depende da
proporção da mistura, realizando a lavagem dos sais. Enfim, a eficiência da lavagem varia
com os diferentes métodos utilizados na aplicação da lâmina de lavagem.
Antes de se iniciar a lavagem, deve-se nivelar e gradear o terreno e, em seguida,
adicionar uma lâmina de água adequada após a construção dos diques. Não havendo
possibilidade de se nivelar o terreno, recomenda-se a construção dos diques que separam as
parcelas em curvas de nível.
A medida em que se infiltra a lâmina aplicada, lâminas adicionais poderão ser
aplicadas até completar a lâmina total preestabelecida. Se a drenagem do solo não for
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 64

adequada, a lavagem poderá agravar o problema, como o alagamento e a presença do lençol


freático a pouca profundidade; portanto, antes de se iniciar o processo de lavagem deve-se
avaliar a drenabilidade da área e, caso seja necessário, instalar um sistema de drenagem.
Existem diversos modelos matemáticos para simular o movimento e as reações de
sais no solo, durante a lixiviação, mas nenhum deles disponível é capaz de superar
adequadamente as grandes variações que ocorrem com o fluxo de água em condições de
campo. Por isto, esses modelos teóricos não são quase utilizados e, normalmente, as
estimativas da necessidade de lavagem de recuperação de solos salinos se baseiam
principalmente em experiências de campo in loco. Então, antes de se proceder à lavagem de
recuperação, deve-se realizar um pré-teste em condições de campo, para verificar a
eficiência de lavagem, determinando a lâmina de água ideal e o tempo necessário de
recuperação. O pré-teste mostra as dificuldades reais a serem encontradas no processo de
recuperação em larga escala e deve ser realizado em áreas representativas de solos e grau
de salinização, pois qualquer pré-teste na área mais afetada irá recuperar em grau, pelo
menos igual ou maior que nas áreas menos afetadas.

8.2.3 Métodos de lavagem

8.2.3.1 Lavagem por inundação contínua

O método de aplicação de água e a textura do solo são as principais variáveis que


afetam a quantidade de água requerida para lixiviar os sais. Dependendo da textura do solo,
pode-se ter diferentes graus de recuperação para uma mesma lâmina aplicada.
O método de lavagem por inundação contínua possui suas vantagens e
desvantagens em relação aos outros métodos de lavagem, assim relacionadas:
Vantagens
- Lava os sais a maiores profundidades
- pode ser usado quando o lençol freático é elevado e salino, pois a lâmina de
inundação contínua impede o fluxo capilar para a superfície e possível acumulação de sais.
Desvantagens
- O tempo de recuperação é maior que em qualquer outro método de recuperação
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 65

- uma alta proporção de água de lixiviação se desloca rapidamente pelos poros


maiores necessitando, desta forma, de um volume maior de água para deslocar uma unidade
de sais, ocorrendo grande desperdício de água e, em áreas com drenagem deficiente, poderá
causar elevação do lençol freático e possível acumulação de sais
- necessidade de nivelar o terreno; em curvas de nível deve ser aplicado em
parcelas
- a eficiência de lavagem depende da textura do solo.
Para a lixiviação por inundação contínua, pode-se considerar que 70 a 80 % dos
sais solúveis inicialmente contidos no solo, poderão ser lavados com lâmina igual à
profundidade do solo a ser recuperado; por exemplo, uma lâmina de 1,0 m é suficiente para
lixiviar 70 a 80 % dos sais contidos na profundidade de um metro solo.
Entre as equações empíricas utilizadas para se estimar a lâmina de lixiviação
necessária para recuperar um solo salino, pode citar-se a equação desenvolvida por
Hoffmam (1986):

 C   La 
 x  = K
'
 (33)
 Co   Ls 
em que:
C = Concentração de sais que se deseja obter no solo após a lixiviação, dS m-1
Co = Concentração de sais originalmente presentes no solo, dS m-1
La = Lâmina de água necessária para recuperar um solo salino, m
Ls = Profundidade do solo a ser recuperado, m
K’ = Constante que varia com a textura do solo, adimensional

Quando o valor da CEa utilizada na recuperação for elevado deve-se subtraí-lo


tanto da concentração sais original ( Co ) como da concentração desejada ( C ). Nesta
equação o valor de La não inclui as perdas por evaporação e deve ser corrigido quando a
evaporação é maior que 10 % da lâmina de água que infiltra (0,1 x La ). Deste modo, na
lavagem dos sais por inundação contínua, que depende da textura do solo, os valores de K’
encontrados para solos turfosos, franco-argilosos e franco-arenosos, foram de 0,45; 0,3 e
0,1 respectivamente, conforme ilustrado na Figura 16. Observa-se que solos de textura
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 66

franco-arenosos têm maior eficiência de lixiviação que os solos de textura fina. Tal fato se
deve ao menor conteúdo de água nos solos franco-arenosos e, também, por possuírem poros
de diâmetros mais uniformes que os solos argilosos e franco-argilosos.
A menor eficiência na lixiviação dos sais nos solos de textura fina é causada pela
presença de fendas e poros grandes entre agregados e fendas na superfície, que se formam
quando secam, e pelos poros finos dos agregados, quando úmidos.

La/Ls

Figura 16 Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade do solo, necessária para


recuperar um solo salino por inundação contínua (Hoffman, 1980)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 67

8.2.3.2 Lavagem por inundação intermitente

O método de lavagem por inundação intermitente consiste em aplicações de


lâminas de água por ciclo e intervalos de inundação semanais a mensais. Neste método de
lavagem, a relação entre a lâmina de água e a profundidade de solo lixiviado é também de
1:1, porém a quantidade de sais lavados varia entre 80 e 90 % dos sais inicialmente
contidos no solo.
Tal método possui suas vantagens e desvantagens em relação aos outros métodos,
assim relacionados:
Vantagens
- É mais eficiente que a contínua, já que necessita de menos água. Em solo de
textura fina, para remover 70 % dos sais solúveis a lâmina de água por inundação
intermitente é em torno de um terço da requerida por inundação contínua.
- não é necessário fazer o nivelamento do solo
- na fase de fluxo não saturado da lixiviação intermitente, o teor de água é baixo e
seu deslocamento lento, permitindo maior difusão de sais do solo, até a água em
movimento
- menor tempo de recuperação
Desvantagens
- Não lava os sais a maiores profundidades
- não poderá ser aplicado quando o lençol for elevado e salino
Na lavagem por inundação intermitente, a constante K’ da Eq 32 assume um valor
constante de 0,1, independente da textura do solo, conforme ilustrado na Figura 17.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 68

La/Ls
La/Ls

Figura 17 Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade de solo, necessária para


recuperar um solo salino por inundação intermitente (Hoffman, 1980)

8.2.3.3 Lavagem superficial

A lavagem superficial poderá ser utilizada para eliminação de crostas salinas da


superfície do solo. Uma grande lâmina de água é aplicada rapidamente e, enquanto a água
se move, a mesma leva a crosta ou sais dissolvidos, descarregando-os no dreno coletor,
localizado no outro lado da parcela.
O método de lavagem superficial possui suas vantagens e desvantagens em relação
aos outros métodos, assim relacionados:
Vantagens
- Usado para solos de baixa permeabilidade
- não é necessário nivelar nem gradear o solo antes da lavagem
- Elimina crostas salinas da superfície do solo
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 69

Desvantagens
- Não poderá ser usado em solos de boa permeabilidade nem em terrenos
nivelados.

8.3 Recuperação dos solos sódicos ou salino-sódicos

Solos com excesso de sódio podem ser recuperados com o uso de corretivos que
forneçam cálcio. A adição de corretivo ao solo afetado por sódio promove a remoção e a
substituição do sódio trocável por outros íons, preferencialmente cálcio. A correção do solo
pode ser feita de várias maneiras, dependendo da fonte de cálcio disponível, do tipo de
cultura que será implantado na área e da intensidade de degradação do solo.

8.3.1 Tipos de corretivos usados na recuperação de solos afetados por sódio

Os corretivos químicos usados na recuperação de solos afetados por sódio trocável


têm o objetivo de fornecer cátions bivalentes, usualmente o cálcio, para eliminar parte do
sódio adsorvido no complexo de troca, isto é, diminuir a PST.
O tipo e a quantidade de corretivo químico necessário para recuperar um solo
afetado por sódio dependem das características próprias do solo, da disponibilidade e custo
de recuperação. Dentre essas características, salienta-se a adequabilidade do corretivo, que
se baseia na presença ou ausência de carbonatos alcalinos terrosos e pH do solo. Com base
nesses critérios, pode-se classificar o solo em três grupos: a) solos que contêm carbonatos
alcalinos terrosos; b) solos praticamente livres de carbonatos alcalinos terrosos e pH maior
que 7,5 e c) solos praticamente livres de carbonatos alcalinos terrosos e pH menor que 7,5.
Os diferentes corretivos químicos utilizados na recuperação dos solos afetados por
excesso de sódio trocável têm sido agrupado em três tipos: a) sais solúveis de cálcio (gesso
e cloreto de cálcio); b) ácidos ou formadores de ácido (ácido sulfúrico, enxofre, sulfeto
ferroso e sulfato de ferro e alumínio) e c) sais de cálcio de baixa solubilidade (calcário e
resíduo de engenho de cana-de-açúcar).
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 70

8.3.1.1 Gesso

O gesso (CaSO4 2H2O) é o corretivo mais utilizado como fonte de cálcio para
substituir o sódio trocável, em razão do baixo preço, disponibilidade e fácil manuseio; além
disso, ele funciona como fonte de enxofre e cálcio para as plantas. A reação abaixo
descreve a substituição do sódio trocável no solo:

[Micela ]aa + CaSO4 → [Micela ]caca + a 2 SO4

Salienta-se que esta reação é reversível, sendo necessário aplicar-se uma lâmina de
lavagem para eliminar o sulfato de sódio, produto final da reação, para que a recuperação
seja satisfatória. Outrossim, é oportuno que a área salinizada disponha de uma rede de
drenagem em funcionamento, capaz de receber todo o excesso de água. Tal reação é
limitada unicamente pela reduzida solubilidade do gesso; para uma temperatura de 25 ºC é
aproximadamente igual a 2,1 g L-1.
A eficiência de aplicação do gesso depende do tamanho de suas partículas sendo
que, de acordo com Abrol (1982) conseguem-se bons resultados com partículas de gesso
menores que 2 mm de diâmetro, pelo fato de aumentar a sua dissolução e reduzir a
precipitação do cálcio. Sua aplicação pode ser feita diretamente sobre o solo ou
adicionando-o à água de irrigação; no primeiro caso, o gesso é distribuído a lanço e, em
seguida, incorporado ao solo, por gradagem. Para que o gesso se distribua no perfil,
recomenda-se lavar o solo após a aplicação do gesso.
Para eficiência maior na substituição do sódio trocável, é conveniente lavar quase
todos os sais solúveis antes de se aplicar os corretivos, para que uma proporção maior de
cálcio contido no corretivo seja adsorvido pelo complexo; no entanto, a lavagem dos sais
solúveis em excesso poderá causar a dispersão das partículas de argila, diminuindo a
permeabilidade do solo; por isto, as lavagens prévias não devem ser aplicadas para solos
pouco permeáveis.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 71

8.3.1.2 Cloreto de cálcio

A alta solubilidade do cloreto de cálcio (CaCl2 2H2O) aproximadamente igual a


427 g L à 20 oC, torna o um corretivo químico mais eficiente e rápido que o gesso na
-1

recuperação de solos afetados por sódio, porém seu emprego é limitado, por ser
rapidamente lixiviado do perfil do solo e, principalmente, por seu elevado custo. A
substituição do sódio trocável no solo, quando se aplica o cloreto de cálcio, é descrita pela
seguinte reação:

[Micela ]aa + CaCl 2 → [Micela ]caca + 2 aCl

A aplicação do cloreto de cálcio pode ser direta sobre o terreno ou via água de
irrigação.

8.3.1.3 Enxofre

O enxofre é um corretivo químico bastante utilizado, tendo em vista seu baixo


custo. Antes de agir como corretivo, o enxofre elementar passa por uma fase de oxidação
microbiana para produzir o H2SO4. Este processo de oxidação do enxofre no solo é
resultante da ação de bactérias do gênero Thiobacillus, tal como descritas pelas reações
seguintes:

2S + 3O2 → 2 SO3 (oxidação microbiana)

SO3 + H 2O → H 2 SO4

H 2 SO4 + CaCO3 → CaSO4 + CO2 + H 2O

[Micela ]aa + CaSO4 → [Micela ]caca + a 2 SO4

O tempo de oxidação microbiana depende do grau de finura do enxofre, da mistura


com o solo e dos fatores que favorecem a atividade bacteriana, como umidade, temperatura
e população microbiana no solo, entre outros. A bactéria do gênero Thiobacillus é do tipo
aeróbica e, portanto, torna-se indispensável promover a aeração, mantendo o solo à
capacidade de campo, durante a oxidação, o que favorece a atividade microbiana. Por isso,
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 72

os solos tratados com enxofre não deverão ser inundados antes do tempo de oxidação
microbiana, que varia em média de 20 a 30 dias.
Sendo o enxofre um corretivo que aumenta a acidez do solo, deverá ser aplicado
apenas em solos que contenham carbonatos alcalinos terrosos. Neste caso, o uso de enxofre
tem a vantagem adicional de reduzir o pH do solo, aumentando a disponibilidade de
nutrientes para as plantas, como Zn, Mn e Fe, mas, nos demais casos, sua aplicação reduz o
pH, tornando o solo excessivamente ácido; então, para evitar tal perigo, deve-se aplicar, a
uma amostra de solo, uma quantidade de H2SO4 equivalente à dosagem de enxofre e
verificar o pH depois que ocorrer a reação. O pH final não deve ser menor que 6,0 a 6,5.

8.3.1.4 Ácido sulfúrico

O ácido sulfúrico é um corretivo químico de ação muito rápida. Na presença de


carbonatos, sobretudo calcário dolomítico, o ácido sulfúrico forma gesso, tal como descreve
a reação abaixo:

H 2 SO4 + CaCO3 ↔ CaSO4 + CO2 + H 2O

[Micela ]aa + CaSO4 ↔ [Micela]caca + a 2 SO4

Observa-se, na reação, que este ácido reage com o calcário, para formar gesso. A
dissolução do gesso fornece cálcio para a troca com o sódio. Na ausência de carbonatos
alcalinos terrosos no solo, este corretivo causa excessiva acidez, caso em que seu emprego
é muito adequado na presença de carbonatos alcalinos terrosos.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 73

8.3.1.5 Calcário dolomítico

O calcário (CaCO3) é um corretivo muito barato, principalmente quando se


aproveitam os carbonatos existentes no próprio solo. A seqüência de reações que ocorrem
quando o calcário é aplicado em solos afetados por sódio, envolve as etapas:

[Micela]aa + CaCO3 ↔ [Micela]Caa + a2CO3


ou
[Micela]aa + 2 H 2 O ↔ [Micela]HH + 2 aOH

[Micela]HH + CaCO3 ↔ [Micela]caca + CO2 + H 2 O

Normalmente, o efeito do calcário na correção dos solos afetados por sódio tem
sido inferior ao gesso, devido à sua baixa solubilidade. O uso do calcário é indicado em
solos de pH inferior a 7,5 e na ausência de carbonatos alcalinos terrosos, em especial para
solos degradados.
Para melhorar a eficiência do CaCO3 como corretivo, o método mais prático é
fazer sua aplicação, juntamente com adubos orgânicos auxiliando, ainda, com trabalhos
mecânicos, o processo de decomposição microbiana da matéria orgânica.

8.3.1.5 Resíduos industriais

Alguns subprodutos de indústria poderão atuar como corretivos, em virtude de


serem acidificadores e possuírem cálcio. Entre esses subprodutos, o mais utilizado é o
resíduo dos engenhos de cana-de-açúcar. A vinhaça tendo um pH baixo, alto teor de
matéria orgânica e potássio também pode ser utilizado como corretivo para solos sódicos
com ou sem carbonato alcalinos terrosos (Almeida, 1994).
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 74

8.3.2 Quantidade de corretivos e recomendações práticas

A estimativa da quantidade de corretivos a ser utilizado durante a correção,


depende da percentagem inicial de sódio trocável (PSTi), da capacidade de troca de cátions
(CTC), da densidade do solo (Ds), da percentagem final de sódio trocável desejada (PSTf) e
da profundidade do solo a ser recuperada (h).
A dose teórica de corretivo necessária para recuperação é dada pela seguinte
relação:
[ ]
Dt = (PSTi − PST f )× CTC × PE × h × Ds 100 (34)

em que:
Dt = Dose teórica de corretivo, kg ha-1
(PST − PST ) Diferença entre a porcentagem de sódio inicial e final (desejada), %
i f

PE = Peso equivalente do elemento ou composto usado como corretivo (Tabela


17)
h = Profundidade do solo a ser recuperado, cm
Ds = Densidade do solo, g cm-3

Tabela 17 Peso equivalente de diferentes corretivos utilizados na recuperação dos solos


afetados por sódio
Corretivo Fórmula química Peso equivalente (PE)
Gesso CaSO4.2H2O 86
Cloreto de cálcio CaCl2.2H2O 73
Enxofre S 16
Polissulfito de cálcio CaS5 100
Ácido sulfúrico H2SO4 49
Sulfato de ferro FeSO4.7H2O 139
Sulfato de alumínio Al2(SO4)3.18H2O 111
Calcário CaCO3 50
Resíduo dos engenhos - 17-23

A equação para se calcular a dose teórica de corretivo foi deduzida considerando-


se o aproveitamento total do cálcio adicionado e o corretivo com 100 % puro; logo, a dose
prática do corretivo pode ser estimada mediante a equação:
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 75

Dp = Dt × C (35)
em que:
Dp = Dose prática, kg ha-1
C = Coeficiente de correção (indicado na Tabela 18), adimensional

A dose prática de corretivo pode ser determinada em laboratório, agitando-se um


peso conhecido de solo com solução saturada do gesso de concentração conhecida e se
comparando o teor remanescente de Ca + Mg no extrato, determinado pelo método de
titulação.
Na prática, a quantidade de corretivo é determinada pela experiência local e por
condições financeiras, sobretudo quando o gesso é o corretivo usado e as aplicações de
corretivo são freqüentemente efetuadas num determinado número de anos. A prática mais
comum para se recuperar um solo sódico com gesso é se aplicar no máximo 10 ton ha-1 no
primeiro ano e se usar 150 cm de água para lixiviar. Se nos 2 a 3 anos subseqüente fazem-
se aplicações adicionais de 4 ton ha-1, com algumas lixiviações até que a profundidade do
solo desejada esteja eventualmente recuperada (Rhoades & Loveday, 1990).
Um aspecto importante que deve ser considerado durante o planejamento para
recuperação de áreas afetadas por sais, é a escolha de uma espécie tolerante à
salinidade/sodicidade, para então ser cultivada. Neste caso, o arroz é a espécie mais
recomendada durante a recuperação desses solos, em razão da grande tolerância à
sodicidade e a possibilidade de ser cultivado em condições de inundação.

Tabela 18 Valores dos coeficientes de correção (C) recomendados para diferentes


corretivos (Pizarro, 1978)
Corretivo Coeficiente de correção
Gesso 1,25
Cloreto de cálcio 1,10
Enxofre 1,25
Polissulfito de cálcio 1,25
Ácido sulfúrico 1,10
Sulfato de ferro e alumínio 1,10
Calcário 1,25
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 76

9 PREVE2ÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS

Levando-se em consideração que a recuperação dos solos afetados por sais é


demorada e onerosa, faz-se necessário adotar práticas de controle de salinidade nas áreas
irrigadas e produtivas, para garantir a sustentabilidade da agricultura irrigada.
A qualidade da água, o manejo da irrigação e as condições de drenagem, são
aspectos significativos que devem ser considerados na prevenção dos problemas de
salinidade. Ressalta-se que os sais no solo se movimentam com a água e, deste modo, o
controle da salinidade depende principalmente da irrigação, lixiviação dos sais e drenagem.

9.1 Aspectos relacionados com a irrigação e lixiviação

A qualidade da água utilizada na irrigação depende do teor e dos tipos de sais,


podendo variar de acordo com o tipo e a proporção dos sais dissolvidos. A composição
química de algumas águas utilizadas para irrigação no Nordeste brasileiro pode ser
observada na Tabela 19.

Tabela 19 Composição química de algumas águas utilizadas para irrigação no Nordeste


brasileiro

Data da pH CE Cátions (mmoLc L-1) Ânions (mmoLc L-1) RAS


FONTE E LOCAL
Coleta dS m-1 Ca Mg Na K Cl HCO3 CO3 SO4
Barragem Pau dos ferros RN 02/1988 8,2 0,49 1,55 1,30 2,02 0,22 2,40 2,45 0,00 - 1,79
Barragem Armano R Gonçalves RN 04/1989 8,1 0,29 0,95 0,80 1,01 0,13 1,60 1,60 0,00 - 1,08
Açude Sabugi RN 11/1982 8,0 0,29 0,56 0,76 1,88 0,13 1,58 1,25 0,10 - 2,31
Açude São Gonçalo PB 03/1987 7,1 0,24 1,05 0,80 0,61 0,20 0,65 1,85 0,00 - 0,63
Rio São Francisco PE - - 0,07 0,40 0,25 0,25 0,00 0,38 0,63 0,00 0,17 0,44
Rio Piranhas (perenizado) PB 10/1988 7,8 0,27 0,80 0,62 1,05 0,10 0,87 1,70 0,00 0,07 1,25
Açude Pequeno PB 09/1988 7,7 0,28 0,87 0,52 1,23 0,10 0,99 1,78 0,00 0,06 1,46
Poço Amazonas (Angicos RN) 03/1988 7,6 4,80 8,97 12,06 28,01 0,30 43,72 3,12 0,32 1,13 8,64
Poço Amazonas (Encanto RN) 12/1988 8,1 0,53 1,88 1,04 3,07 0,07 3,71 2,25 0,15 0,11 2,78
Poço Tubular (Baraúnas RN) 08/1988 8,0 1,80 4,34 5,82 8,93 0,10 14,46 3,53 0,07 1,13 3,96
Rio Mossoró (perene) RN 01/1989 8,1 0,82 3,10 2,75 3,15 0,10 5,63 2,81 0,36 0,46 1,84
Fonte: Medeiros (1998)

A variação na qualidade das águas para irrigação depende da zona climática, da


fonte de água, do trajeto percorrido, da época do ano, geologia da região e do
desenvolvimento da irrigação. Normalmente, as águas das zonas áridas em épocas mais
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 77

secas do ano apresentam maior teor de sais; águas subterrâneas são mais salinas que as
águas de rios e estas, próximas à foz, contêm mais sais que as próximas à nascente. As
maiores variações sazonais são observadas nas pequenas fontes de água, como pequenos
açudes e poços amazonas (Figura 18).
A avaliação dos riscos de salinização de uma área mediante a água de irrigação
não poderá ser realizada simplesmente pela qualidade da água, pois seus efeitos dependem
das características do solo, da tolerância das culturas exploradas, das condições climáticas
locais e do manejo da irrigação e drenagem, além de suas características físico-químicas.
Assim, a qualidade da água de irrigação pode ser considerada importante fator, mas nunca
se deve esquecer de que ela é tão somente um dos fatores e que não é possível desenvolver
um sistema de classificação de água que possa ser usado em todas as circunstâncias.
Na realidade, não existe um limite fixo da qualidade das águas e seu uso é
determinado pelas condições que controlam a acumulação dos sais e seus efeitos nos
rendimentos das culturas (Ayers & Westcot, 1991). Como exemplo, cita-se o caso de
diversos perímetros irrigados no Nordeste, onde se usa, normalmente, água com baixo teor
de sais (CE entre 0,1 a 1,0 dS m-1) e, mesmo assim, uma parte significativa dessas áreas
apresenta problemas graves de salinidade, devido ao manejo inadequado da irrigação e
drenagem. Neste caso, a salinização do solo existe, não pelo fato da água utilizada na
irrigação conter sais em excesso, mas devido à elevação do lençol freático provocado pela
aplicação de lâminas excessivas de água, perdas de água em canais de distribuição e
drenagem deficiente.
Várias são as classificações propostas para interpretação da qualidade da água para
irrigação (Wilcox, 1948; Doneen, 1954; Richards, 1954; Thorne & Peterson, 1954;
Chistiansen et al., 1977) sendo que a apresentada pela University of Califórnia Committee
of Consultants (1974) é uma das mais compreensivas, conforme a Tabela 20.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 78

Poço Amazonas- Condado, PB

0,7
0,6
CEa (dS m-1)

0,5
0,4
Ano-Precipitação
0,3 1988-736 m m
1989-1255 m m
0,2 1990-580 m m

0,1
0
Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev

Açude Boqueirão – Boqueirão, PB


1,4

1,2
1
CEa (dS m-1)

0,8
Ano-Precipitação
0,6 1988-736 m m
1989-1255 m m
0,4 1990-580 m m

0,2

0
Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev

Açude pequeno – Pombal, PB


0,5

0,4
CEa (dS m )
-1

0,3

0,2
Ano-Precipitação
1988-736 m m
0,1 1989-1255 m m
1990-580 m m

0
Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev

Figura 18 Variação da condutividade elétrica da água de irrigação nos anos de 1988-1990


em três diferentes fontes (Medeiros, 1998)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 79

Tabela 20 Diretrizes para se interpretar a qualidade de água para irrigação (University of


California Commitee of Consultants, 1974)1
Grau de Restrição de Uso
Problema Potencial Unidades Nenhum Ligeira e Moderada Severa
Salinidade (afeta a disponibilidade de água para
as plantas)

Condutividade Elétrica da água (CEa) ou dS m-1 < 0,70 0,7-3,0 > 3,0
Total de sais dissolvidos (SDT) mg L-1 < 450 450-2000 > 2000

Infiltração (avaliada usando-se CEes e RAS,


conjuntamente)2

RAS = 0 – 3 e CEa = > 0,7 0,7 - 0,2 < 0,2


=3–6 e CEa = > 1,2 1,2 - 0,3 < 0,3
= 6 – 12 e CEa = > 1,9 1,9 - 0,5 < 0,5
= 12 – 20 e CEa = > 2,9 2,9 - 1,3 < 1,3
= 20 – 40 e CEa = > 5,0 5,0 - 2,9 < 2,9

Toxicidade dos íons específicos (afeta culturas


sensíveis)

Sódio (Na)3
Irrigação por superfície RAS <3 3,0 - 9,0 >9
Irrigação por aspersão (mmol L-1)0,5 <3 >3
Cloreto (Cl)3
Irrigação por superfície mmoLc L-1 <4 4,0 – 10 > 10
Irrigação por aspersão mmoLc L-1 <3 >3

Boro (B)4 < 0,7 0,7 - 3,0 > 3,0


Outros (afetam culturas sensíveis)
Nitrogênio (NO3 – N) 5 Mg L-1 < 5,0 5,0 - 3,0
Bicarbonato (HCO3)
(apenas aspersão convencional) mmoLc L-1 < 1,5 1,5 - 8,5
PpH Faixa normal: 6,5 - 8,4
1
As diretrizes apresentadas nesta tabela se baseiam na hipótese de que os solos apresentam boa drenagem,
textura média (entre franco-arenoso e franco-argiloso) e solos irrigados pelos métodos de superfície ou
aspersão, permitindo percolação de pelo menos 15 % (FL > 0,15) da água aplicada a nível de parcela.
2
A infiltração aumenta a medida em que aumenta a salinidade
3
A maioria das culturas arbóreas e plantas lenhosas é sensível ao sódio e ao cloreto; no caso de irrigação por
superfície, usam-se os valores indicados. Para a maioria das culturas anuais, que não é sensível, usam-se
tabelas de tolerância das culturas à salinidade (Tabelas 21 e 22). Para a tolerância das fruteiras ao cloreto,
ver Tabela 10. No caso de aspersão convencional e umidade relativa baixa (< 30 %) o sódio e o cloreto
podem ser absorvidos pelas folhas das culturas sensíveis
4
Para tolerância do boro, ver Tabelas 12 e 13
5
NO3 – N, significa nitrogênio em forma de nitrato expresso em termos de nitrogênio elementar (no caso de
análises de águas residuárias devem ser incluídos NH4-N e N (nitrogênio)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 80

Conforme detalhado no item 8.1, uma maneira efetiva de se controlar o aumento


gradativo de sais solúveis na zona radicular, é aplicar uma lâmina adicional de água, além
das necessidades hídricas da cultura, a fim de que pelo menos uma parte dos sais
acumulados seja removida. Dá-se ênfase ao fato de que, para o controle efetivo a longo
prazo, a qualidade de sais removidos por lixiviação deve ser igual ou maior à dos sais
aplicados junto com a água de irrigação.

9.2 Aspectos relacionados à drenagem

A eliminação do excesso de água e sais mediante uma boa drenagem é de grande


importância para o controle e prevenção da salinidade. O uso excessivo de água contribui
para problemas de drenagem e salinidade. Recomenda-se a utilização de quantidades
limitadas de água, de acordo com o uso consuntivo. As perdas excessivas de água na
condução e distribuição deverão ser evitadas para não agravar o problema de drenagem.
O controle automático dos sistemas de distribuição, associado ao revestimento de
canais minimiza as perdas. Por outro lado, o bombeamento de água subterrânea
proporciona um controle direto do lençol freático. O uso consuntivo (superficial +
subterrâneo) de água na irrigação, permite o controle adequado do lençol freático; uma
outra vantagem do bombeamento é a redução do desperdício de água diminuindo, assim, o
trabalho de drenagem.
Nas regiões áridas e semi-áridas não se poderá controlar devidamente o problema
de salinidade intensificado ou criado pela presença de nível freático alto, a menos que se
possa estabelecê-lo e mantê-lo à profundidade segura, de pelo menos 2 m. O controle
adequado do lençol freático requer sistema eficiente de drenagem subsuperficial, que
assegure a eliminação de parte da água salina e seu deslocamento a lugares apropriados.
Quando esta drenagem existe, a salinidade, como conseqüência direta da qualidade de água
e do manejo de irrigação, chega a ser problema unicamente quando os sais se acumulam na
zona radicular em níveis que reduzam a produção das culturas.
O controle efetivo da salinidade deve incluir tanto a drenagem eficiente para
controlar e estabilizar o nível freático, como a lixiviação necessária para evitar a
acumulação excessiva de sais.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 81

O estudo da variação do lençol freático efetuado por meio de poços de observação,


permitirá obter-se informações a respeito da profundidade do lençol freático e da direção do
fluxo de água. A Figura 19 apresenta o mapa de isoípsas de lençol freático e a direção de
fluxo de água para os dados referentes ao mês de maio de 1982, do perímetro de Sumé, PB
(Guedes et al, 1986).
Preferencialmente, o sistema de drenagem na área deverá ser projetado de modo
que fique mais ou menos perpendicular às linhas de fluxo, se a área tiver um declive
pequeno. Como requisito único, esse sistema deverá ser adequado, pelo menos para
eliminar, do solo, a lâmina de água equivalente que deverá passar pela zona radicular para
manter um balanço favorável de sais; um outro aspecto é que o dimensionamento dos
drenos deverá ser calculado com base na época mais crítica do ano, ou seja, o período
chuvoso, levando-se em consideração as características do solo e as exigências das culturas.
Se uma área tem boa drenagem, quer seja natural ou artificial, o balanço favorável
dos sais é mantido apenas pelo controle da qualidade da água de irrigação. Por outro lado,
quando se tem drenagem deficiente, os sais se acumulam na zona radicular e/ou no lençol
freático, dificultando a manutenção de um balanço de sais favorável na área.

Figura 19 Mapas de isoípsas do lençol freático e direção do fluxo de água para os dados
referentes ao mês de maio de 1982, do perímetro Irrigado de Sumé, PB (Guedes, 1986)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 82

EXERCÍCIO 5

"RECUPERAÇÃO E PREVE2ÇÃO DE SOLOS AFETADOS POR SAIS"

a) Quais as principais técnicas de recuperação dos solos afetados por sais?

b) Uma água apresenta o seguinte resultado de análises: pH = 7,2; CEa = 1,9 dS m-1, Ca,
Mg, Na e K, respectivamente 4, 3, 10 e 1 mmolc L-1; Cl, HCO3, CO3 e SO4
respectivamente, igual a 12, 4, 0 e 3 mmolc L-1; Boro = 3,8 mg L-1. Formule as
recomendações de uso dessa água de irrigação para um solo de textura argilosa, visando a
prevenção e o controle da salinidade.

c) Uma água apresenta 146,4 mg L-1 de sódio, 82 mg L-1 de cálcio e 50 mg L-1 de


magnésio. Qual o valor da RAS e a quantidade de gesso a se dissolver para baixar o valor
da RAS para metade?

d) Descreva
d.1) Lavagem de manutenção e recuperação
d.2) Equação básica do balanço de água e sais no solo

e) Quais os diferentes métodos de lavagem do solo? Descreva as vantagens e desvantagens


de cada um.

f) Um solo apresenta condutividade elétrica do extrato de saturação 15 dS m-1 numa


profundidade de 1,0 m. O lençol freático encontra-se a uma profundidade de 2,5 m e a água
apresenta condutividade elétrica de 4,5 dS m-1. Sabendo-se que o agricultor dispõe de água
de irrigação com CE = 1,5 dS m-1 e uma área com solo de textura média, pede-se:
f.1) O método de lavagem mais apropriado neste caso.
f.2) A lâmina de água necessária para baixar a CEes a 3 dS m-1 na profundidade de 1 m.
f.3) As culturas que podem ser cultivadas após a recuperação.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 83

g) Quais os principais corretivos utilizados na recuperação de solos salinos sódicos?


Descreva como o corretivo reage no solo e promove a recuperação.

h) Um solo apresenta a seguinte análise: pH = 9,2; CEes = 2,4 dS m-1; textura média, Na,
Ca, Mg e K trocável, respectivamente, iguais a 7,0; 1,0; 0,5 e 0,1 cmolc kg-1. Na, Ca, Mg e
K solúveis, respectivamente, iguais a 20; 2,0; 1,0; 5,0 e 0,5 mmolc L-1+. Carbonato de cálcio
= 1,5 %. Sabendo-se que o lençol freático está a uma profundidade de 1,2 m e a água
disponível para a irrigação é de baixa salinidade, pede-se calcular:
h.1) A quantidade de corretivo necessária para baixar a PST para 10 na profundidade de
60 cm (da = 1,4 g cm-3)
h.2) Se o preço do gesso e enxofre for de R$50,00 e 240,00 por tonelada,
respectivamente, qual será o corretivo mais indicado? (considere pureza do gesso e enxofre
de 80 e 95 %, respectivamente). Como se deve proceder para recuperar a área?

i) Suponha que, se na camada de 10-20 cm de profundidade do solo da questão anterior


houver 1 % de gesso, quais serão, neste caso, os procedimentos para recuperação?

j) Qual será a salinidade de um solo franco-argiloso com CEes de 1,5 dS m-1, após a
aplicação de uma lâmina de 0,4 m? A recuperação do solo será feita em 40 cm, sendo
separadas duas áreas distintas, em que, na primeira, a água será aplicada por inundação
contínua, enquanto na segunda a inundação será intermitente.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 84

10 MA2EJO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS

Embora os solos afetados por sais apresentem diversos problemas para as plantas,
podem ser aproveitados para várias finalidades, quando se adotam práticas adequadas de
manejo do conjunto solo-água-planta, na área afetada.
Várias práticas de manejo têm sido utilizadas para se produzir economicamente,
em condições de solo ou de água, com altos riscos de salinização, dentre as quais se destaca
o uso de plantas tolerantes à salinidade e sodicidade, sendo importantes os estudos que
visem avaliar a sensibilidade das espécies ao estresse salino.
Além da utilização das culturas tolerantes à salinidade ou sódio trocável, outras
práticas culturais de manejo podem ser úteis para se utilizar, racionalmente, as áreas
afetadas por sais, como a aplicação de irrigação com maior freqüência, as técnicas
adequadas de plantio, o uso de sistemas de irrigação adequados e a escolha do fertilizante
próprio, de acordo com as características do solo.

10.1 Tolerância das culturas à salinidade

A tolerância de uma cultura aos sais é a capacidade de suportar os efeitos do


excesso de sais na zona radicular.
Nem todas as culturas respondem igualmente à salinidade, visto que algumas
produzem rendimentos economicamente aceitáveis a níveis altos de salinidade e outras são
sensíveis a níveis relativamente baixos. Tal fato se deve à melhor capacidade de adaptação
osmótica que algumas plantas têm, o que lhes permite absorver, mesmo em meio salino,
maior quantidade de água.
É muito útil essa variabilidade genética entre as espécies, por permitir a seleção
das culturas mais tolerantes e capazes de produzir rendimentos economicamente aceitáveis,
quando não se pode manter a salinidade do solo abaixo do nível de tolerância das plantas
tradicionalmente cultivadas. A amplitude desta tolerância relativa permite maior uso das
águas de qualidade inferior e aumento da faixa aceitável das águas salinas para irrigação.
A tolerância relativa da maioria das culturas é suficientemente conhecida, o que
enseja a preparação de diretrizes técnicas da salinidade. A Tabela 21 inclui valores de
tolerância das culturas extensivas, hortaliças, forrageiras e frutíferas.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 85

O conceito de tolerância relativa é muito útil para se comparar e selecionar as


culturas. A Figura 20, mostra esquematicamente, esses grupos de tolerância enquanto a
Tabela 22 classifica, em grupos de tolerância relativa, as culturas incluídas na Tabela 21.

CEes

CEes

Figura 20 Limites de tolerância à salinidade das culturas (Maas, 1984)


Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 86

Tabela 21 Tolerância à salinidade das culturas selecionadas e seu rendimento potencial, em


função da salinidade do solo ou da água (Maas & Hoffman, 1977)1
Rendimento Potencial2
Culturas 100 % 90 % 75 % 50 % 0 %3
CEes CEa CEes Cea CEes CEa CEes CEa CEes CEa
EXTE2SIVAS
Cevada (Hordeum vulgare)4
8,0 5,3 10,0 6,7 13,0 8,7 18,0 12,0 28,0 19,0
Algodoeiro (Gossypium hisutum)
7,7 5,1 9,6 6,4 13,0 8,4 17,0 12,0 27,0 18,0
Beterraba açucareira (Beta vulgaris)5
7,0 4,7 8,7 5,8 11,0 7,5 15,0 10,0 24,0 16,0
Sorgo (Sorghum bicolor)
6,8 4,5 7,4 5,0 8,4 5,6 9,9 6,7 13,0 8,7
Trigo (Triticum aestivum)4 e 6
6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6,3 13,0 8,7 20,0 13,0
Trigo duro (Triticum turgidum)
5,7 3,8 7,6 5,0 10,0 6,9 15,0 10,0 24,0 16,0
Soja (Glycine max)
5,0 3,3 5,5 3,7 6,3 4,2 7,5 5,0 10,0 6,7
Caupi (Vigna unguiculata)
4,9 3,3 5,7 3,8 7,0 4,7 9,1 6,0 13,0 8,8
Arroz (Oryza sativa)
3,3 2,2 3,8 2,6 5,1 3,4 7,2 4,8 11,0 7,4
Amendoim (Arachis hypogaea)
3,2 2,1 3,5 2,4 4,1 2,7 4,9 3,3 6,6 4,4
Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum)
1,7 1,1 3,4 2,3 5,9 4,0 10,0 6,8 19,0 12,0
Milho (Zea Mays)
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,2
Linho (Linum usitatissimum)
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7
Feijão-fava (Vicia faba)
1,5 1,1 2,6 1,8 4,2 2,0 6,8 4,5 12,0 8,0
Feijão (Phaseolus vulgaris)
1,0 1,0 1,5 1,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4,2
HORTALIÇAS
Abrobrinha italiana “Zucchini squash”
(Cucurbita pepo melopepo)
4,7 3,1 5,8 3,8 7,4 4,9 10,0 6,7 15,0 10,0
Beterraba (Bela vulgaris)
4,0 2,7 5,1 3,4 6,8 4,5 9,6 6,4 15,0 10,0
Abrobrinha “scallops squash” (Cucurbita
pepo melopepo)
3,2 2,1 3,8 2,6 4,8 3,2 6,3 4,2 9,4 6,3
Brócolis (Brassica oleracea botrytis)
2,8 1,9 3,9 2,6 5,5 3,7 8,2 5,5 14,0 9,1
Tomateiro (Lycopersicum esculentum)
2,5 1,7 3,5 2,3 5,0 3,4 7,6 5,0 13,0 8,4
Pepino (Cucumis sativas)
2,5 1,7 3,3 2,2 4,4 2,9 6,3 4,2 10,0 6,8
Espinafre (Spinacia oleracea)
2,0 1,3 3,3 2,2 5,3 3,5 8,6 5,7 15,0 10,0
Aipo (Apium graveolens)
1,8 1,2 3,4 2,3 5,8 3,9 9,9 6,6 18,0 12,0
Repolho (Brassica oleracea botrytis)
1,8 1,2 2,8 1,9 4,4 2,9 7,0 4,6 12,0 8,1
Batata (Solanum tuberosum)
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7
Milho doce (zea mays)
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7
Batata-doce (Ipomea batatas)
1,5 1,0 2,4 1,6 3,8 2,5 6,0 4,0 11,0 7,1
Pimentão (Capsicum annuum)
1,5 1,0 2,2 1,5 3,3 2,2 5,1 3,4 8,6 5,8
HORTALIÇAS
Alface (Lactuca sativa)
1,3 0,9 2,1 1,4 3,2 2,1 5,1 3,4 9,0 6,0
Rabanete (Raphanus sativus)
1,2 0,8 2,0 1,3 3,1 2,1 5,0 3,4 8,9 5,9
Cebola (Allium cepa)
1,2 0,8 1,8 1,2 2,8 1,8 4,3 2,9 7,4 5,0
Cenoura (Daucus carota)
1,0 0,7 1,7 1,1 2,8 1,9 4,6 3,0 8,1 5,4
Feijão-de-vagem (Phaseolus vulgaris)
1,0 0,7 1,5 1,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4,2
Nabo (Brassica rapa)
0,9 0,6 2,0 1,3 3,7 2,5 6,5 4,3 12,0 8,0
FORRAGEIRA
Agropiro alto (Agropyrun elongahum)
7,5 5,0 9,9 6,6 13,0 9,0 19,0 13,0 31,0 21,0
Agropiro crestado (Agropyron cristatum)
7,5 5,0 9,0 6,0 11,0 7,4 15,0 9,8 22,0 15,0
Capim-bermuda (Cynodon dactylon)
6,9 4,6 8,5 5,6 11,0 7,2 15,0 9,8 23,0 15,0
Cevada forrageira (Hordeum vulgare)7
6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6,4 13,0 8,7 20,0 13,0
Azevém (Lolium perenne)
5,6 3,7 6,9 4,6 8,9 5,9 12,0 8,1 19,0 13,0
Cornichão da folha-estreita (Lotus
comiculatus tenuifolium)8
5,0 3,3 6,0 4,0 7,5 5,0 10,0 6,7 15,0 10,0
Capim-doce (Phalaris tuberosa)
4,6 3,1 5,9 3,9 7,9 5,3 11,0 7,4 18,0 12,0
Festuca alta (Fretuca elatior)
3,9 2,6 5,5 3,6 7,8 5,2 12,0 7,8 20,0 13,0
Agropiro (Agropyron sibiricum)
3,5 2,9 6,0 4,0 9,8 6,5 16,0 11,0 28,0 19,0
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 87

Tabela 21: (Continuação)


Rendimento Potencial2
Culturas 100 % 90 % 75 % 50 % 0 %3
CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa
FORRAGEIRA
Ervilhaca (Vicia angustifolia)
3,0 2,0 3,9 2,6 5,3 3,5 7,6 5,0 12,0 8,1
Capim-sudão (Sorghum sudanense)
2,8 1,9 5,1 3,4 8,6 5,7 14,0 9,6 26,0 17,0
Elimo (Elymus triticoides)
2,7 1,8 4,4 2,9 6,9 4,6 11,0 7,4 19,0 13,0
Caupi (Vigna unguiculata)
2,5 1,7 3,4 2,3 4,8 3,2 7,1 4,8 12,0 7,8
Cornichão-do-pântano (Lotus uliginosus)
2,3 1,5 2,8 1,9 3,6 2,4 4,9 3,3 7,6 5,0
Sesbânia (Sesbania exaltata)
2,3 1,5 3,7 2,5 5,9 3,9 9,4 6,3 17,0 11,0
Esfirofisa (Sphaerophysa salsula)
2,2 1,5 3,6 2,4 5,8 3,8 9,3 6,2 16,0 11,0
Alfafa (Medicago sativa)
2,0 1,3 3,4 2,2 5,4 3,6 8,8 5,9 16,0 10,0
Capim-mimoso (Eragrostis sp.)9
2,0 1,3 3,2 2,1 5,0 3,3 8,0 5,3 14,0 9,3
Milho forrageiro (Zea mays)
1,8 1,2 3,2 2,1 5,2 3,5 8,6 5,7 15,0 10,0
Trevo-de-alexandria (Trifolium
alexandricum)
1,5 1,0 3,2 2,2 5,9 3,9 10,0 6,8 19,0 13,0
Capim-dos-pomares (Dactylis glomerata)
1,5 1,0 3,1 2,1 5,5 3,7 9,6 6,4 18,0 12,0
“Medium foxtail”(Alopecurus pratensis)
1,5 1,0 2,5 1,7 4,1 2,7 6,7 4,5 12,0 7,9
Trevo-vermelho (Trifolium pratense)
1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6
Trevo-híbrido (Trifolium hybridum)
1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6
Trevo-branco (Trifolium repens)
1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6
Trevo moranguinho (Trifolium fragiferum)
1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6
FRUTEIRAS
Tamareira (Phoenix dactylifera)
4,0 2,7 6,8 4,5 11,0 7,3 18,0 12,0 32,0 21,0
Pomelo, Grape-fruit (Citrus paradisi)10
1,8 1,2 2,4 1,6 3,4 2,2 4,9 3,3 8,0 5,4
Laranjeira (Citrus sinensis)
1,7 1,1 2,4 1,6 3,3 2,2 4,8 3,2 8,0 5,3
Pessegueiro (Prunus persica)
1,7 1,1 2,2 1,5 2,9 1,9 4,1 2,7 6,5 4,3
Damasqueiro (Prunus armeniaca)11
1,6 1,1 2,0 1,3 2,6 1,8 3,7 2,5 5,8 3,8
Videira (Vitis sp.)10
1,5 1,0 2,5 1,7 4,1 2,7 6,7 4,5 12,0 7,9
Amendoeira (Prunus dulcis)11
1,5 1,0 2,0 1,4 2,8 1,9 4,1 2,8 6,8 4,5
Ameixeira (Prunus domestica)11
1,5 1,0 2,1 1,4 2,9 1,9 4,3 2,9 7,1 4,7
Amoreira-preta (Rubus sp)
1,5 1,0 2,0 1,3 2,6 1,8 3,8 2,5 6,0 4,0
Amoreira (Rubus ursinus)
1,5 1,0 2,0 1,3 2,6 1,8 3,8 2,5 6,0 4,0
Morangueiro (Fragaria sp.)
1,0 0,7 1,3 0,9 1,8 1,2 2,5 1,7 4,0 2,7
1
Os valores deverão ser considerados apenas como de tolerância relativa entre os grupos de culturas. Os valores de tolerância absoluta
variam com o clima, condições de solo e práticas culturais. Nos solos com alto teor de gesso, as plantas podem tolerar
aproximadamente 2 dS m-1 de salinidade do solo (CEes) acima dos valores de tolerância indicados; no entanto, a salinidade da água
permanece igual, como se mostra nesta tabela
2
A relação entre salinidade do solo e da água (CEes = 1,5 CEa) supõe fração de lixiviação equivalente a 15-20 % e um modelo de
absorção de água na zona radicular igual a 40-30-20-10 (padrão de extração normal). Essas suposições foram usadas para desenvolver
as diretrizes da Tabela 20
3
O rendimento potencial zero implica na salinidade máxima teórica (CEes) com a qual cessam o crescimento e o desenvolvimento da
planta
4
Cevada e trigo são menos tolerantes durante a germinação e o estágio de plântula. CEes não deve ultrapassar 4-5 dS m-1 na camada
arável do solo durante este período
5
Beterraba é mais sensível durante a germinação. CEes não deve ultrapassar 3 dS m-1 nesta fase para as beterrabas ornamentais e
açucareiras
6
As cultivares desenvolvidas comercialmente e que são mais precoces, podem ser menos tolerantes
7
Tolerância reportada é a média de diversas variedades de capim-bermuda. As cultivares “Suwannee” e “Coastal” são cerca de 20 %
mais tolerantes, enquanto as cultivares “Comum”e “Greenfield”são 20 % menos tolerantes
8
O trevo de folha larga parece menos tolerante em relação ao de folha estreita
9
Tolerância reportada é uma média para “Boer”, “Wilman”, “Sand”e “Weeping”. A “Lehman” parece ser 50 % mais tolerante
10
Esses dados são aplicáveis quando os porta-enxertos usados não acumulam Na+ ou Cl- rapidamente ou quando esses íons não
predominam no solo
11
A avaliação da tolerância é baseada no crescimento da árvore e não sobre seus rendimentos
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 88

Tabela 22- Tolerância relativa à salinidade de determinadas culturas (Maas, 1984)1


TOLERA2TES2 MODERADAME2TE SE2SÍVEIS2
Culturas de Fibra, Sementes e Açúcar Culturas de Fibra, Sementes e Açúcar
Algodoeiro Gossypium hirsutum Arroz Oyza sativa
Beterraba Açucareira Beta vulgaris Cana-de-açúcar Saccharum officinarum
Cevada Hordeum vulgare Fava italiana Vicia faba
Jojoba Simmondsia chinensis “Foxtail millet” Setoria italica
Girassol Helianthus annuus
Culturas forrageiras e Gramíneas
Linho Linum usitatissimum
Agropiro alto Agropyron elongatum Mamona Ricinus communis
Agropiro crestado Agropyron crestatum Milho Zea mays
“Alkali sacaton” Sporobolus airoides
Culturas Forrageiras e gramíneas
Capim – bermuda Cynodon dactylon
“Desert saltgrass” Distichlis stricta Alfafa Medicago sativa
Elimo de Altai Elymus junceus “Angleton bluestem” Dichanthium aristatum
Elimo da Rússia Diplachne fusca Astrágalo Astragalus cicer
Grama “Karnal” Puccinellia airoides Aveia forrageira Avena sativa
“Nuttall” “Bentgrass” Agrostis stolonifera palustris
“Burnet” Poterium sanguisorba
Hortaliças
Capim-buffel Cenchrus ciliares
Aspargo Asparagus officinalis Capim-comprido Paspalum dilatatum
Capim-dos-pomares Dactylis glomerata
Fruteiras
Capim-mimoso Eragrostis sp.
Tamareira Phoenix dactylifera Caupi forrageiro Vigna unguiculata
Centeio forrageiro Secale cereale
MODERADAME2TE TOLERA2TES2
Cevadilha lisa Bromus inermis
Cornichão-dos-pomares Lotus uliginosus
Culturas de Fibra, Sementes e Açúcar
Ervilhaca Vicia angustiffolia
Agropiro Agropyron sibiricun Esfirofisa Sphaerophysa salsula
Agropiro delgado Agropyron trachycaulum Grama azul Bouteloua gracilis
Agropiro intermediário Agropyron intermediun “meodow foxtail” Alopecurus pratensis
Agropiro ocidental Agropyron smithii Milho forrageiro Zea mays
Azevém Lolium perenne Sesbânia Sesbatinia exaltada
Azevém italiano Lolium italicum multiflorum Siratro Macroptilium atropurpureum
“Blue paniglass” Panicum antidotale “Tall oatgrass” Arrhenatherum, danthonia
Capim – amarelo Phalaris arundinacea “Timothy” Phleum pratense
Capim- de- rhodes Chloris gayana Trevo-de-alexandria Trifolium alexandrinum
Capim- doce Phalaris tuberosa Trevo-híbrido Trifolium hybridum
Capim-sudão Sorghum sudanense Trevo-ladino Trifolium repens
Cevada forrageira Hordeum vulgare Trevo-moranguinho Trifolium fragiferum
Cevadilha argentina Bromus unioloides Trevo-vermelho Trifolium pratense
Cervadilha montanhosa Bromus marginatus Hortaliças
Cornichão da folha-estreita Lotus corniculatus tenuifolium
Cornichão da folha-larga Lotus corniculatus arvenis Abóbora Curcubita pepo
Elimo Elymus triticoides Abobrinha Curcubita pepo melopepo
Elimo canadense Elymus canadiense Aipo Apium graveolens
Fetusca Fetusca elatior Alface Lactuta sativa
Fetusca alta Fetusca pratensis Batata-doce Ipomoea batatas
Nabo forrageiro Brassica napus Batata-inglesa Solanum tuberosum
Trevo-doce Melilotus albus Berinjela Solanum melongena esculentum
Trevo forrageiro Triticum aestivum Brócolis Brassica oleracea botrytis
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 89

Tabela 22: (continuação)


MODERADAME2TE SE2SÍVEIS2
MODERADAME2TE TOLERA2TES2
Hortaliças
Hortaliças Couve Brassica oleracea acephala
Couve-de-bruxelas Brassica oleracea gemmifera
Abobrinha italiana Cucurbita pepo melopepo Couve-flor Brassice oleracea botrytis
Beterraba açucareira Beta vulgaris Couve-rábano Brassica oleracea gongylode
Topinambo Heliantus tuberosus Espinafre Spinacia oleracea
Melancia Citrullus lanatus
Fruteiras
Melão Cucumis melo
Abacaxi Milho Zea mays
Figueira Nabo Brassica rapa
Jujuba Pepino Cucumis sativas
Mamoeiro Pimentão Capsicum annuum
Oliveira Rabanete Raphanus sativus
Romãzeira Repolho Brassica oleracea capitala
Tomateiro Lycopersicum esculentum
MODERADAME2TE SE2SÍVEIS2
Fruteiras
Culturas de Fibra, sementes e Açúcar
Videira Vitis sp.
Amendoim Arachis hypogaea
SE2SÍVEIS2 SE2SÍVEIS2

Culturas de Fibra, sementes e Açúcar Fruteiras


Feijão Phaseolus vulgaris Cerejeira Prunus besseyi
Gergelim Sesamum indicus Cerejeira-da-europa Prunus avium
Guaiule Parthenium argentatum Cherimólia Anona cherimola
Damasqueiro Prunus armeniaca
Hortaliças
Framboesa Rubus idaeus
Cebola Allium cepa Grape-fruit (pomelo) Citrus paradisi
Cenoura Daucus carota Groselheira Ribes sp.
Chirívia Pastinaca sativa Laranjeira Citrus sinensis
Feijão Phaseolus vulgaris Limeira Citrus aurantifolia
Quiabeiro Abelmoschus esculentus Limoeiro Citrus limon
Macieira Malus sylvestris
Fruteiras
Mangueira Mangifera indica
Abacateiro Persea americana Maracujazeiro Passiflora edulis
Ameixeiro Prunus domestica Morangueira Frageria sp.
Ameixeiro amarelo Eriobotrya japonica Pessegueiro Prunus persica
Amoreira Rubus ursinus Pomelo cubano Citrus maxima
Azeitona preta Syzygium jambos Pereira Pyrus communis
Caquizeiro de virgínia Diospyros virginiana Tangerineira Citrus reticulata
1
Esta informação é apenas um guia sobre a tolerância relativa entre as culturas. A tolerância absoluta varia com o clima,
as condições do solo e as práticas culturais
2
A seqüência da tolerância relativa está definida pelos limites ilustrados na Figura 20. Os melhores detalhes da tolerância
podem ser encontrados na Tabela 21
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 90

10.1.1 Fatores que afetam a tolerância das culturas

10.1.1.1 Fase de desenvolvimento da cultura

A tolerância aos efeitos salinos durante as etapas de germinação e


desenvolvimento inicial das plantas, pode ser diferente. Dentre as fases do ciclo da planta, a
germinação e o desenvolvimento inicial são as mais sensíveis aos efeitos da salinidade e
sua toxidez. Campos & Assunção (1990) verificaram que o potencial osmótico de 1,2 MPa
e os efeitos do íon de sódio, inibiram completamente a germinação das plântulas de arroz,
cultivar IAC 25. Maas (1984) cita experimentos em que o milho doce cultivado nos Estados
Unidos, embora sofra durante o estágio inicial de crescimento, tolera até 9 dS m-1 durante o
enchimento dos grãos, sem prejuízo de sua produtividade.
A Tabela 23 aponta os valores de salinidade para certas culturas que provocarão
50 % de redução nos rendimentos ou na emergência das plântulas. De modo geral, a
salinidade do solo superficial, que recebe as sementes, acima de 4 dS m-1, inibe ou retarda a
germinação e o crescimento inicial das plantas (Ayres & Westcot, 1985).

Tabela 23 Salinidade do extrato de saturação do solo que reduzirá em 50 % a germinação


das culturas (Maas, 1984)
CEes (dS m-1)
Cultura Nome científico
50 % germinação
Cevada (Hordeum vulgare) 16,0 - 24,0
Algodoeiro (Gossypium hirsutum) 15,5
Beterraba açucareira (Beta vulgaris) 6,0 – 12,5
Sorgo (Sorghum bicolor) 13,0
Cártamo (Carthamus tinctorius) 12,3
Trigo (Triticum aestivum) 14,0 – 16,0
Beterraba (Beta vulgaris) 13,8
Alfafa (Medicago sativa) 8,0 – 13,4
Tomateiro (Lycopersicum esculentum) 7,6
Arroz (Orysa sativa) 18,0
Repolho (Brassica oleracea capitata) 13,0
Melão (Cucumis melo) 10,4
Milho (Zea mays) 21,0 – 24,0
Alface (lactuca sativa) 11,4
Cebola (Allium cepa) 5,6 – 7,5
Feijão (Phaseolus vulgaris) 8,0
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 91

10.1.1.2 Espécie de plantas e cultivares

A tolerância da cultura varia tanto entre espécie de plantas como para cultivares da
mesma espécie. Com relação às espécies vegetais, os efeitos da salinidade e/ou sodicidade
são diferentes, variando entre espécies e entre genótipos de uma mesma espécie, visto que
algumas produzem rendimentos aceitáveis, em níveis relativamente altos de condutividade
elétrica, enquanto outras são mais sensíveis.
A seleção e o melhoramento de plantas para se obter maior tolerância à salinidade
são atividades que só recentemente têm adquirido a devida importância, podendo aumentar
bastante a capacidade de usar as fontes de águas mais salinas.

10.1.1.3 Clima

O clima é um fator que influi na tolerância das plantas à salinidade. Normalmente,


as culturas de clima ou estações frias são mais tolerantes à salinidade que as de clima
quente ou meses quentes e secos. Nos meses frios, a demanda de água é menor
(evapotranspiração < precipitação) e, portanto, o efeito da salinidade em diminuir a
disponibilidade de água é menos decisivo. Além de ser menor a demanda de água, é
possível que parte da água de irrigação, ou de chuva, possa ser utilizada para lixiviar os sais
acumulados. Por outro lado, durante os períodos de alta demanda hídrica a extração de água
pelas plantas pode ser insuficiente em razão do esgotamento da água na zona radicular e a
acumulação de sais. Em geral, o clima parece afetar bem mais as culturas sensíveis à
salinidade que as tolerantes.

10.1.1.4 Sistema de irrigação

O método de irrigação por aspersão pode induzir danos maiores às culturas,


quando se utiliza água salina, pois as folhas também absorvem os sais, reduzindo a
produtividade; já nas áreas irrigadas por inundação ou gotejamento devido, não haver
contato da água com a folha, o efeito é menor, aumentando a tolerância das culturas, além
de que os sistemas superficiais são mais efetivos em uma condição onde existe grande
potencial de salinização, para se promover, então, a lixiviação dos sais do perfil do solo.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 92

10.1.2 Critérios para se avaliar a tolerância

De acordo com Richards (1954) os critérios para se avaliar a tolerância das


culturas à salinidade, podem ser englobados de acordo com um dos três critérios: 1)
capacidade da planta sobreviver em solo salino; 2) rendimento da planta em meio salino
(produção satisfatória) e 3) produção relativa.
No caso de espécies florestais, a produção satisfatória é a própria sobrevivência da
espécie. Para a agricultura, deve-se considerar a produção e seus componentes como
também características como germinação, crescimento de planta, stand populacional etc;
este critério não considera a tolerância das plantas em meio salino, porém é um ótimo
parâmetro para se selecionar variedades de uma mesma espécie.
Por outro lado, a produção relativa é um critério que determina o nível de
tolerância da cultura, porém nem sempre uma variedade tolerante à salinidade é mais
produtiva, devendo-se, então, avaliar os critérios de tolerância, conjuntamente. Por
exemplo, a produção de arroz (Cultivar A) em condições não salinas é de 8 ton ha-1 e, em
solo salino (CEes = 5 dS m-1) esta cultivar produz 4 ton ha-1, ou seja, 50 % do seu potencial
(produção relativa) enquanto a cultivar B de arroz produz nas mesmas condições,
respectivamente, 4 e 3 t ha-1, produzindo 75 % do seu potencial. Pode-se observar que,
apesar da cultivar B ter menor produção, é mais tolerante à salinidade, podendo ser
utilizada na programação de melhoramento genético de espécies.

10.1.3 Determinação dos valores de tolerância

Muitas culturas podem tolerar a salinidade do solo até um limite, que é o nível de
salinidade máximo em que a produção não é reduzida, denominada salinidade limiar (SL)
normalmente expressa em termos de CEes. A esta salinidade o rendimento potencial das
culturas é 100 %. Além deste valor limite, ocorrem reduções de produção em maior ou
menor intensidade com o aumento da salinidade do solo. Os valores de tolerância da Tabela
21 foram adaptados de Maas & Hoffman (1977) e Maas (1984) cujos estudos indicam que
o crescimento vegetativo diminui linearmente com o aumento da salinidade acima do valor
da salinidade limiar.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 93

Da Figura 21 tem-se o comportamento do algodoeiro e tomateiro em condições


salinas. O algodoeiro, que é relativamente mais tolerante à salinidade, apresenta um valor
limite de 7,7 dS m-1, enquanto o tomateiro, que é mais sensível, tem valor limiar de 2,5 dS
m-1. Observa-se que, a partir do valor limite, a produção do algodoeiro diminui lentamente
com o aumento da salinidade, enquanto a do tomateiro diminui rapidamente.

100
Tomate
Algodão
80
Produção Relativa

60
(% )

40

20

0
2 4 6 8 10 12
-1
CEes do solo (dS m )

Figura 21 Resposta do algodoeiro e do tomateiro à salinidade do solo (Grattan & Hanson, 1993)

A relação linear entre a salinidade e os rendimentos, desenvolvida por Maas &


Hoffman (1977) e utilizada na preparação da Tabela 21, é representada pela seguinte
equação:

Y = 100 − b(CEes − SL ) (36)


em que:
Y = Rendimento potencial, %
CEes = Salinidade do extrato de saturação, dS m-1

SL = Salinidade limiar da cultura, dS m-1


b = Diminuição do rendimento por aumento unitário de salinidade acima do
valor da salinidade limiar, %/dS m-1
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Os valores de CEes da Tabela 21, exceto os relacionados aos 100% do rendimento


potencial, são calculados reorganizando-se a Eq. 36, da seguinte maneira:

100 + (b × SL − Y )
CE es = (37)
b

em que CEes é a salinidade do extrato de saturação que representa a salinidade do solo,


associada ao rendimento potencial, Y.
A Tabela 21 indica valores de salinidade de água de irrigação (CEa) e níveis de
tolerância à salinidade (CEes) para rendimentos potenciais (Y) de 100, 90, 75, 50 e 0 % de
grande número de culturas. Ressalta-se que os valores de CEes para os rendimentos
potenciais menores que 50 % foram estimados mediante extrapolação dos resultados de
pesquisa obtidos para a faixa entre 100 e 50 %; portanto, na faixa de 0-50 % os rendimentos
esperados poderão apresentar-se com bastante variação.

10.2 Práticas de manejo

10.2.1 Aplicação de irrigação com maior freqüência

A diminuição dos intervalos de irrigação ou aumento de sua freqüência, mantém o


potencial osmótico do solo alto, permitindo a absorção normal de água e nutrientes pelas
plantas. Em irrigações freqüentes, aplicam-se lâminas de água pequenas em intervalos
menores, mas a freqüência de irrigação deve ser tal que não comprometa o crescimento
nem o desenvolvimento da planta, pela falta de aeração provocada pelo excesso de
umidade.

10.2.2 Colocação das sementes

Para diminuir os efeitos da salinidade na germinação, recomenda-se colocar as


sementes na zona de menor concentração de sais. Por exemplo, na irrigação por sulco, as
sementes não devem ser postas em uma só fileira no centro do camalhão porque, devido à
evapotranspiração e ao fluxo capilar nesta zona, a concentração de sais é máxima (Figura
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 95

22A); ao contrário, as sementes postas em fileiras duplas terão maiores índices de


germinação e situarão as plantas na zona de menor concentração de sais (Figura 22 D).
Outra prática utilizada é a irrigação por sulcos alternados e o semeio apenas no sulco
irrigado pois, neste caso, os sais se acumulam no camalhão, em seu extremo oposto à água
de irrigação, deixando no centro concentração menor (Figura 22 B); outra alternativa que
favorece a germinação é a ilustrada na Figura 22 E , na qual se colocam as sementes no
extremo do camalhão adjacente ao sulco irrigado.
Obviamente, a semeadura em fileira dupla não é recomendável em casos de
irrigação por sulcos alternados mas, em geral, ao ser aumentada a profundidade da água nos
sulcos, a germinação das sementes semeadas tende a melhorar, seja em fileiras simples ou
duplas, segundo indicam as Figuras 22 C e 22 F.

Figura 22 Irrigação por sulco e acumulação dos sais nos camalhões planos (Bernstein et al.,
1955)
A Figura 23 ilustra uma prática ainda melhor contra a salinidade, na qual os
camalhões do sulco são construídos em declive e se colocam as sementes imediatamente
acima do nível da água; neste caso, continua-se irrigando até que a frente molhada
atravesse as fileiras das sementes.

Figura 23 Controle da salinidade com camalhões inclinados (Bernstein & Fireman, 1957)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 96

Para assegurar um bom “stand” e diminuir o efeito de salinidade, alguns


agricultores semeiam maior número de sementes por cova. Este aumento pode resultar em
maior densidade de plantio, mas também eleva o custo com sementes e com desbaste das
plantas em excesso e é possível que a distribuição das plantas não seja uniforme e , ainda,
que não obtenha os rendimentos esperados. Com a mesma finalidade, recomenda-se a
utilização das sementes pré-tratadas com águas salinas ou com reguladores de crescimento
no plantio.

10.2.3 Método de irrigação

Deve-se utilizar o método ou sistema de irrigação adequado, de acordo com as


características do solo e da planta. Se o solo apresentar problemas de salinidade, o método
mais adequado será a inundação ou aspersão quando se tem boa drenagem, mas se a água
disponível para irrigação apresentar alto teor de sais, a irrigação por gotejamento será o
mais indicado para reduzir os efeitos nocivos da salinidade.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 97

EXERCÍCIO 6

"MA2EJO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS"

a) Uma cultura de milho semeado em solo uniforme e franco, é irrigada por sulcos, com
água de CEa = 1,2 dS m-1 e eficiência de aplicação de 65 %. Se a evapotranspiração anual
da cultura (ETc) é de 800 mm, determinar a lâmina anual requerida para satisfazer a ETc e
a lixiviação dos sais. Considere 1,7 dS m-1 a condutividade elétrica do extrato de saturação
para o rendimento potencial de 100 %.

b) Descreva:
b.1) Critérios para avaliação da tolerância das culturas à salinidade
b.2) Rendimento potencial
b.3) Tolerância das culturas à salinidade

c) Quais as principais práticas de manejo que permitem o manejo de áreas afetadas por sais
e controle da salinidade em áreas cultivadas sob irrigação?

d) Calcular a produção relativa do tomateiro para uma salinidade média na zona radicular
de 4,0 dS m-1

e) Para a cultura do algodão, determinar as CEes do solo para os rendimentos potenciais de


100, 90, 75, 50 e 0 %

f) Uma cultura tolera uma concentração de sais correspondente a uma condutividade


elétrica do extrato de saturação de 4,0 dS m-1 a 25 ºC é irrigada com água de CEa = 2,0 dS
m-1; considerando-se que a lâmina de água necessária à cultura em cada irrigação é de 30
mm e que serão realizadas 30 irrigações por ano ou ciclo da cultura, pede-se:
f.1) a fração de lixiviação e as lâminas de água necessárias para atender à ETc e a
necessidade de lixiviação;
f.2) a lâmina de lixiviação e a quantidade de sais adicionados ao solo pela água de
irrigação.

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