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SÉRIE DIDÁTICA:
PIRACICABA - SP
2003
1
Doutorando em Agronomia – Área de Concentração em Irrigação e Drenagem, Departamento de Engenharia
Rural, ESALQ/USP, Piracicaba, SP
2
Prof. Titular, Dr., Departamento de Engenharia Agrícola, CCT/UFCG, Campina Grande, PB
3
Prof., Dr., Departamento de Engenharia Rural, ESALQ/USP, Piracicaba, PB
PREVEÇÃO, MAEJO E RECUPERAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS
APRESETAÇÃO
1 ITRODUÇÃO
Estima-se que no mundo, cerca de 250 milhões de hectares sejam cultivados sob
irrigação, com sua maior parte localizada em regiões áridas e semi-áridas, pois nelas ocorre
déficit hídrico para as plantas em grande parte do ano e não há distribuição regular das
chuvas, inviabilizando a prática agrícola sob condições de chuva natural.
Todas as águas utilizadas na irrigação contêm sais, embora em quantidades
variáveis, que se acumulam no solo afetando o crescimento e o desenvolvimento das
plantas, dependendo das condições edafoclimáticas da região e das técnicas de manejo das
áreas.
Dentre os problemas causados pelo acúmulo de sais no solo, a diminuição da
disponibilidade de água para as plantas e o encharcamento do solo, são os que mais se
destacam. Ainda que não se disponha de dados exatos sobre a extensão desses problemas
no mundo, estimativas da FAO, segundo Szabolcs (1985) mostram que aproximadamente
metade da área irrigada apresenta problemas sérios de salinidade.
Os efeitos negativos da salinidade poderão ser observados no “stand”, no
crescimento e rendimento das plantas e, em casos extremos, na perda total da cultura.
Devido a esses problemas, cerca de 10 milhões de hectares são abandonados a cada ano
(Szabolcs, 1985). Portanto, o estudo de prevenção, o manejo e recuperação dos solos
afetados por sais são indispensáveis para o sucesso e sustentação da agricultura irrigada.
Para melhor compreensão do problema, apresentam-se, também, informações sucintas
referentes à origem, extensão e efeitos da salinidade.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 2
água, que contém sais, fica sujeita aos processos de evaporação ou evapotranspiração,
podendo atingir, com o tempo, níveis comprometedores para o crescimento e
desenvolvimento das plantas (Pizarro, 1978; Richards, 1970).
Tabela 2 Seqüência de liberação dos íons baseada em seus coeficientes de energia (Ce)
durante o processo de intemperização (FAO/UNESCO, 1973)
Seqüência de liberação
I II III IV
ÍON Ce ÍON Ce ÍON Ce ÍON Ce
Cl- e Br- 0,23 Na- 0,45 SiO32- 2,75 Fe2+ 5,15
NO3- 0,18 K+ 0,36 Al3+ 4,25
SO42- 0,66 Ca2+ 1,75
CO32- 0,78 Mg2+ 2,10
Tabela 3 Solubilidade (g L-1) dos principais sais encontrados em solos afetados por sais
(Pizarro, 1977)
Solubilidade (g L-1)
Na Mg Ca
CO3 2131 2,512 0,01312
SO4 1851 2622 2,043
Cl 318 353 427
NO3 686 Muito Elevada4 Muito Elevada4
1
A uma temperatura de 20o C. Para as temperaturas de 0, 10 e 30o C, o Na2CO3 e o Na2SO4 apresentam
solubilidade de 70-45, 122-90 e 371-373 g L-1, respectivamente
2
A solubilidade varia com a pressão parcial de CO2 ou pH
3
A solubilidade aumenta na presença de NaCl. Em soluções de 10 e 100 g L-1 de NaCl a solubilidade do
CaSO4 é, respectivamente, 4,2 e 8,48 g L-1. Na presença de Na2SO4, CaCl2 e NaHCO3 diminui devido a
formação de íon par ou formação de Ca(HCO3-). Para 10 g L-1 de Na2SO4, CaCl2 e NaHCO3, a solubilidade
do CaSO4 é 1,9, 1,5 e 0,9 g L-1, respectivamente
4
Composto altamente higroscópico
1
1 mg L-1 = 1 ppm. Uma lâmina de 100 mm equivale a 1000.000 L ha-1. Para uma concentração de sais de
320 mg L-1, a quantidade de sais incorporados ao solo será: (320 mg L-1) x (1000.000 L ha-1) = 320 kg ha-1
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 6
Água 1
Água 3
Lâmina ou tempo
CEes *
(dS.m-1)
*
CEes = condutividade
elétrica do extrato de
saturação
Figura 2 Perfil de salinidade com lençol freático elevado (Mohamed & Amer, 1972)
m m dia-1
Figura 3 Relação entre a velocidade de fluxo capilar e a profundidade do nível freático para
solos de diferentes texturas (van Hoorn, 1979)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 8
em diferentes distâncias do mar. Desde que na região não existam muitas indústrias, o teor
de sais nas águas de chuva da região costeira é sempre maior que na região interiorana.
Na região de Mossoró, Rio Grande do Norte, ventos nordeste, em épocas de estiagens
prolongadas, podem contribuir para acumulação de sais na poeira que se precipita sobre
grande parte da área durante os meses de outubro e novembro, com maior intensidade. Esta
poeira pode conter quantidades apreciáveis de sais e causar problemas às plantas cultivadas
(Oliveira, 1997). Uma outra possibilidade de transporte de sais pelo vento reside nas áreas
que ficam perto das zonas de exploração de minérios.
Solos afetados por sais ocupam extensas áreas em várias partes do mundo (Figura
4). Observa-se que a maior extensão dessas áreas está localizada em regiões áridas e semi-
áridas, tais como: Oeste dos Estados Unidos; Altiplanos do México; Sul do Peru e Chile;
Nordeste do Brasil; Norte da África; Sudoeste da África; Ásia e Oriente Médio; no entanto,
nas regiões úmidas há pequenas extensões, principalmente na Hungria, Romênia, Canadá e
nos países mediterrâneos.
Figura 4 Distribuição geográfica das áreas afetadas por sais no mundo (Szabolcs, 1985)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 10
Tabela 5 Extensão das áreas afetadas por sais no mundo no final da década de 70 (Kovda,
1977)
Regiões Países
Área Afetada (x 103 ha)
15.755
América do Norte Canadá 7.238
Estados Unidos 8.517
1.965
México e América Central Cuba 316
México 1.649
129.163
Argentina 85.612
Bolívia 5.949
Brasil 4.503
Chile 8.642
América do Sul
Colômbia 907
Equador 387
Paraguai 21.902
Peru 21
Venezuela 1.240
80.538
Etiópia 11.033
Chade 8.267
Egito 7.360
Nigéria 6.502
África Botswana 5.769
Somália 5.602
Kênia 4.858
Sudão 4.874
Tanzânia 3.537
Argélia 3.150
84.838
Iran 27.085
Índia 23.769
Paquistão 10.456
Ásia do Sul
Iraque 6.726
Arábia Saudita 6.002
Afeganistão 3.101
Bangladesh 3.017
211.686
União Soviética 170.720
Ásia Central e Norte
China 36.658
Mongólia 4.007
Ásia Sudeste 19.938
Austrália 357.340
Europa 50.804
Total 954.832
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 12
Tabela 6 Extensão das áreas, em km2, de solos afetados por sais em vários estados da região
Nordeste (Pereira, 1983)
Estados
Solo CE RN PB PE AL SE BA Total
Planossolo Sódico 12.708 3.690 944 5.165 3.370 2.098 30.516 58.491
Solonetez Solodizado 8.436 4.064 2.769 2.654 393 1.013 5.161 24.490
Solonchack 450 837 - - - - - 1.287
Solonético Holomófico 18 - - - - - - 18
Outros 1.645 - - - - - - 1.645
Total 23.257 8.951 3.713 7.819 3.763 3.111 35.677 85.931
Porcentagem (%) 27 10 4,3 9,1 4,4 3,6 41,5 100
Tabela 7 Extensão das áreas afetadas por sais em Perímetros Irrigados do Nordeste
(DNOCS, 1991)
EXERCÍCIO 1
b) Definir:
b.1) Salinidade
b.2) Sodicidade
humanidade?
f) Por que os solos das regiões áridas e semi-áridas são mais propensos ao processo de
salinização?
g) Uma área é irrigada com água contendo 100 g de sais/m3. Se forem aplicados
anualmente 10.000 m3 ha-1 desta água, qual a quantidade de sais adicionada ao solo?
Explique por quê nem todos os sais incorporados pela água permanecem no solo.
h) Com base naa solubilidade dos diferentes sais, estime a composição de uma água que
contém: 5 g L-1 de NaCl, 10 g L-1 de MgSO4, 0,005 g L-1 de CaCO3, após concentrar-se,
devido à evaporação, em 2, 5 e 10 vezes.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 16
Esses solos correspondem ao tipo descrito por Hilgard (1907) como solos “alcali
branco” e “solonchaks”, pelos autores russos.
Solos salinos podem ser identificados pela presença de crosta branca de sal
precipitado em sua superfície, devido ao movimento ascendente da solução salina e à
intensa evaporação do solo. O excesso de sais nesses solos torna-os floculados, não
apresentando qualquer problema de permeabilidade verificando-se, no entanto, manchas
desnudas.
As manchas desnudas e as crostas de sais visíveis obviamente indicam acumulação
de sais na superfície do solo, porém não evidenciam a salinidade na zona radicular, pois
esta acumulação de sais afeta apenas a germinação e o desenvolvimento das plântulas e as
manchas desnudas mostram nas áreas de produção, apenas que o excesso de sais ocorre na
superfície do solo, não indicando excesso de sais na zona radicular, porém o vigor das
plantas (altura, crescimento e desenvolvimento) próximo às manchas desnudas é um bom
indicador do excesso de sais na zona radicular.
As plantas em solos salinos apresentam crescimento desuniforme e folhas de
coloração verde-azulado, relativamente grossas, cerosas e, dependendo da concentração de
sais existente no solo, apresentam queimaduras marginais.
As observações visuais das áreas não têm caráter conclusivo para identificar
problemas de solos salinos. Por exemplo, solos com excesso de sais solúveis podem reduzir
a produção em até 25% sem apresentar sintomas visuais. Por outro lado, as características
visuais observadas nas plantas podem induzir a uma falsa identificação, uma vez que elas
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 17
não são exclusivas de solos salinos, pois problemas de fertilidade e de caráter morfológico,
desequilíbrio nutricional e déficit hídrico, também provocam sintomas semelhantes; já no
solo, minerais de cálcio como, por exemplo, o gesso, contendo elementos essenciais (cálcio
e enxofre) para o desenvolvimento das plantas, podem formar uma crosta que também é
confundida com os sintomas visuais dos sais solúveis potencialmente nocivos.
Esses solos correspondem ao tipo descrito por Hilgard (1906) como solos “alcali
negro” e “solonetz”, pelos autores russos.
A condição estrutural e as alterações da superfície do solo podem ser usadas para
identificar problemas causados pela sodicidade. Solos sódicos são fracamente agregados;
adensados e compactos quando secos, e pegajosos e plásticos quando úmidos. Devido a
esses fatos, os mesmos apresentam baixa permeabilidade, são pegajosos e difícil de serem
trabalhados. A camada superficial apresenta textura grossa e quebradiça, com rachaduras de
1 a 2 cm de espessura e profundidade variável, dando uma falsa impressão de que o solo
não apresenta problema de permeabilidade. Uma outra característica visual desses solos é a
presença de manchas escuras na superfície, decorrentes da solubilidade da matéria orgânica
em meio alcalino, que se deposita em conseqüência da evaporação; além disso, sua baixa
permeabilidade impede a germinação das sementes e o crescimento das plantas, por falta de
aeração, com um sistema radicular muito restrito e pouco desenvolvido.
Embora as características visuais do solo e da planta permitam a identificação das
áreas afetadas por sais, na falta de quantificação as mesmas não são suficientes para o
técnico indicar um programa de manejo ou recuperação da área. Portanto, é indispensável
que o solo seja caracterizado por meio de análises de laboratório. Além disso, quando se
deseja recuperar os solos afetados por sais é imprescindível que se conheçam as principais
causas de ocorrência da salinização, visando à recomendação de práticas de recuperação
adequadas a tais solos.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 18
[ ]
pH = − log H + (1)
em que:
pH = Potencial de hidrogênio
( )
TSD1 mmolc L−1 = 10 × CE dS m −1 * (3)
*
mmolc L-1 = meq L-1
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 22
CE es (25º C ) = ft × CE es (t ) (5)
em que:
CEes (25º C ) = CEes convertido para temperatura padrão (25 ºC)
1,12
1,1
Fator de Correção (ft)
1,08 y = 1,6606e
-0,02 X
1,06 2
R = 0,9983
1,04
1,02
1
0,98
0,96
0,94
0,92
0,9
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Caso o volume de extrato coletado seja pequeno, o mesmo poderá ser diluído em
água destilada e a leitura da CE obtida deverá ser multiplicada pelo fator de diluição.
A CE também poderá ser estimada em diferentes relações solo : água destilada
como, por exemplo, 1:1, 1:2,5 e 1:5. Essa estimativa tem a vantagem de ser rápida e não
precisar de equipamentos para retirar o extrato do solo, porém apresenta o inconveniente de
necessitar do preestabelecimento da relação entre a CEes e a CE da solução aquosa do solo
estudado; sua segurança nas determinações depende das características do solo e dos tipos
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 23
de sais nele presentes, pois sais de baixa solubilidade precipitados no solo, podem ser
dissolvidos em proporções maior que no extrato de saturação com a adição de água
destilada e resultar em superestimativa dos riscos de salinidade. De acordo com Filgueira &
Souto (1995) em solos salino- sódicos e sódicos degradados da região de Patos, Estado da
Paraíba, verificou-se possibilidade de se utilizar extratos obtidos em relações mais diluídas
de solo : água destilada, como 1:1 e 1:5, em substituição ao extrato de saturação, para
estimar problemas de solos afetados por sais, por meio da CE.
at
PST = × 100 (6)
CTC
em que:
*
mmolc kg-1 = 10 meq (100 g)-1; Cmolc kg-1 = meq (100 g)-1 e mmolc kg-1 = 10 Cmolc kg-1.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 24
relação de sódio trocável (RST) que é a relação entre o sódio trocável e os demais cátions e
pode ser expressa pela equação:
at
RST = (7)
CTC − at
RST × CTC
at = (8)
1 + RST
RST
PST = × 100 (9)
1 + RST
a +
RAS = (10)
( )
Ca + + + Mg + +
0, 5
2
em que a RAS é expressa em (mmol L-1)0,5 e as concentrações de Na, Ca e Mg, em mmolc L-1.
ou
RST = K G × RAS (12)
Para os solos do Oeste dos Estados Unidos, Richards (1954) obteve a seguinte
relação entre RAS e RST:
AMOSTRA DO SOLO
A
NÃO HÁ NÃO HÁ
PROBLEMA DE PROBLEMA DE pHPS PS
PERMEABILIDADE SALINIDADE
DE
B
EXTRATO DE
PST CTC A
A A B PROBLEMA DE
GESSO SÓDIO
A A A B
* CARBONATOS ALCALINOS
Em solos arenosos e turfosos
A= Alto: K >0,1 e I > 0,25 cm h-1 CORRETIVO ÁCIDO OU CÁLCIO CORRETIVO CÁLCIO
ou CEes > 4,0 ds m-1,
B= Baixo: K<0,1 e I< 0,25 cm h-1
ou CEes < 4,0 dS m-1
K = Condutividade hidráulica saturada
I = Infiltração básica do solo
PS = pasta de saturação
LAVAGEM
Figura 10 Seqüência das determinações para se diagnosticar os solos afetados por sais e
possíveis tratamentos na recuperação (Richards, 1954)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 28
EXERCÍCIO 2
b) Quais as características visuais observadas nas plantas e nos solos salinos e sódicos?
c) Por que as características visuais do solo e da planta não têm caráter conclusivo para
identificar problemas de solos afetados por sais? Cite um exemplo em que as características
visuais observadas na planta e no solo podem induzir a uma falsa identificação.
d) Descreva:
d.1) RAS
d.2) PST, RST e KG
d.3) CEes
e) Em que formas se expressa a concentração total de sais solúveis presentes nos solos e
qual delas é considerada a mais adequada?
g) Quais os fatores que afetam a CE? Uma amostra de solo no laboratório apresentou uma
CE igual a 2,8 dS m-1, a uma temperatura de 23 ºC. Ajuste o valor da condutividade elétrica
para a temperatura padrão, multiplicando-o pelo fator de correção encontrado na Figura 9.
i) Sabe-se que, na ausência dos resultados de análise do complexo sortivo, a PST pode ser
estimada mediante uma relação empírica preestabelecida entre a RST e a RAS. Para solos
do município de Catolé do Rocha, PB, Santos (1997) encontrou a seguinte relação:
RST
RST = 0,01882 × RAS . Demonstre que PST = × 100 e calcule o valor estimado
1 + RST
da PST deste solo, considerando que o mesmo apresenta RAS de 10 (mmol L-1)0,5.
k) Um solo apresenta a seguinte análise: pHps= 9,2; CEes= 2,8 dS m-1; Ca, Mg, Na e K
solúvel igual a 2,3; 0,6; 24,5 e 0,1 mmolc L-1, respectivamente e CO3, HCO3, Cl e SO4 igual
a 3,8; 5,2; 17,2 e 1,8 mmolc L-1; Ca, Mg, Na e K trocável igual a 3,2; 2,3; 7,1 e 0,3 cmolc kg
–1
. Calcule:
k.1) O valor da RAS
k.2) O valor da PST e RST no complexo sortivo do solo
k.3) A concentração de sais totais dissolvidos em base de CEes
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 31
Uma forma de se estabelecer erros nas análises químicas de solo e água, é utilizar
a interpretação das relações que existem entre os valores que se obtém com diversas
determinações. Portanto, a compreensão dos princípios que estas relações envolvem,
facilita a interpretação das análises.
Considerando-se:
R=
∑ cátions − ∑ ânions × 100 (18)
∑ cátions + ∑ ânions
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 32
Se,
R < 5 % (Resultado Excelente)
5 % < R < 10 % (Resultado Aceitável)
R > 10 % (Resultado Duvidoso)
5.1.7 pH e gesso
5.1.8 pH e PST
Se o pH da pasta de saturação é maior que 8,5, indica sempre uma PST maior que
15 e a presença de metais alcalinos terrosos.
5.2.1 Unidades
em que:
Eq = Peso Atômico, peso iônico ou peso molecular/valência.
Exemplo:
ppm ou mg L-1
cmolc kg −1 = (20)
P.Eq × 10
Exemplo:
5.2.1.3 Transformação de meq L-1 ou mmolc L-1 na formas solúveis para meq
(100 g)-1 ou cmolc kg-1
A quantos meq (100 g)-1 equivalem 18,5 meq L-1 de Na em um solo que apresenta
porcentagem de saturação igual a 25?
EXERCÍCIO 3
a) Uma análise de solo apresenta os seguintes resultados: pH = 9,2; CEes = 2,4 dS m-1; Na,
Ca, Mg e K trocáveis, respectivamente, igual a 0,3; 0,8; 0,5 e 0,1 cmolc kg-1 e Na+, Ca++,
Mg++ e K+ solúveis, respectivamente, iguais a 20; 2,0; 1,5; e 0,5 mmolc L-1, Cl-, HCO3-,
CO3-- e SO4--, respectivamente, iguais a 15; 4,2; 3,2 e 2,3 mmolc L-1.
Pede-se:
a.1) Verificar se os dados da análise estão coerentes
a.2) Expressar o valor de Na, Ca, Mg e K em termos de mg L-1
a.3) Classificar o solo quanto à presença de sais, de acordo com os critérios propostos
pelo Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos
a.4) Calcular a RAS, RST (considere KG = 0,014) e a PST verdadeira e a estimada pela
RST
b) Quais os parâmetros utilizados para se classificar o solo quanto aos riscos de salinidade e
sodicidade?
Os efeitos da acumulação excessiva dos sais solúveis sobre as plantas podem ser
causados pelas dificuldades de absorção de água, toxicidade de íons específicos e pela
interferência dos sais nos processos fisiológicos (efeitos indiretos) reduzindo o crescimento
e o desenvolvimento das plantas.
As plantas retiram a água do solo quando as forças de embebição dos tecidos das
raízes são superiores às forças com que a água é retida no solo. A presença de sais na
solução do solo faz com que aumentem as forças de retenção por seu efeito osmótico e,
portanto, a magnitude do problema de escassez de água na planta. O aumento da pressão
osmótica (PO) causado pelo excesso de sais solúveis, poderá atingir um nível em que as
plantas não terão forças de sucção suficiente para superar esse PO e, em conseqüência, a
planta não conseguirá absorver água, mesmo de um solo aparentemente úmido. Este
fenômeno é conhecido por seca fisiológica.
Dependendo do grau de salinidade, a planta, em vez de absorver, poderá até perder
a água que se encontra no seu interior. Esta ação é denominada plasmólise e ocorre quando
uma solução altamente concentrada é posta em contato com a célula vegetal. O fenômeno é
devido ao movimento da água, que passa das células para a solução mais concentrada.
Deste modo, a energia necessária para absorver água de uma solução salina é adicional à
energia requerida para absorver água de uma solução do solo não salino.
A Figura 11 mostra a curva de retenção de água de um solo franco-argiloso para
vários níveis de salinidade. Observa-se que a disponibilidade de água para a cultura é
reduzida a medida em que a salinidade aumenta.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 39
TESÃO D’ ÁGUA (BARES)
ABSORÇÃO DE ÁGUA
% DE REDUÇÃO NA
1 4 8 12 16
SALINIDADE DO SOLO (dS m-1)
CAPACIDADADE DE CAMPO
0,33 Supõe-se:
O potencial total com que a água é retida em um solo salino, pode ser expresso
por:
ψT = ψ m +ψ o (23)
em que:
ψ T = Potencial total com que a água é retida no solo, atm
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 40
Exemplo:
PROCEDIMENTOS
CE cc = 2 × CE es (25)
CE cc = 2 × 10 = 20 dS m-1
- O potencial osmótico deste solo à capacidade de campo é obtido segundo a Eq.
22;
ψ o = −0,36 × 20 = - 7,2 atm.
- O potencial total com que a água é retida no solo a capacidade de campo, é
obtido substituindo-se os valores do “ψ m ” e “ψ o ” na Eq. 23;
− 14,4
% ψo = × 100 = 48,97 % do potencial total
− 29,4
Os cálculos anteriores mostram que a tensão total com que a água é retida no solo
à capacidade de campo e ponto de murcha é, respectivamente, 7,53 e 29,4 atm. É obvio que
a contribuição relativa do ψ O é maior quando o solo se encontra à capacidade de campo e a
mesma é aumentada a cada elevação da CEes. A medida em que o conteúdo de água no solo
diminui, a disponibilidade de água para as plantas varia continuamente em cada camada da
zona radicular, já que tanto o conteúdo de água como ψ O variam continuamente, entre dois
eventos de irrigação, devido ao consumo de água pela planta. Para a mesma profundidade,
pouco depois da irrigação o teor de água no solo se aproxima de seu máximo, enquanto a
concentração dos solutos é mínima; conseqüentemente, ambos os teores variam à medida
que a água é consumida pela planta, sendo que o teor de umidade diminui enquanto os sais
aumentam.
A salinidade do solo reduz a disponibilidade da água no solo; no entanto, nem
todas as culturas são igualmente afetadas pelo mesmo nível de salinidade, pois algumas são
mais tolerantes que outras e podem extrair água com mais facilidade. Com base na resposta
aos sais, as plantas são classificadas em glicófitas e halófitas. As glicófitas representam o
grupo das plantas cultivadas e, na sua maioria, são as menos tolerantes à ação dos sais,
enquanto as halófitas compõem o grupo de plantas que adquirem condições fisiológicas;
portanto, ajustam-se osmoticamente e sobrevivem em meio altamente salino.
Plantas mais tolerantes ao meio salino aumentam a concentração salina no seu
interior, de modo que permaneça um gradiente osmótico favorável para absorção de água
pelas raízes. Este processo é chamado ajuste osmótico e se dá com o acúmulo dos íons
absorvidos nos vacúolos das células foliares, mantendo a concentração salina no citoplasma
em baixos níveis, de modo que não haja interferência com os mecanismos enzimáticos e
metabólicos nem com a hidratação de proteínas das células. Esta compartimentação do sal é
que permite, às plantas tolerantes, viverem em ambientes salinos, porém as plantas
sensíveis à salinidade tendem a excluir os sais na solução do solo, mas não são capazes de
realizar o ajuste osmótico descrito e sofrem com decréscimo de turgor, levando as plantas
ao estresse hídrico, por osmose.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 43
7.1.2.1 Cloreto
Tabela 10 Tolerância relativa das plantas (variedades e porta enxerto) ao cloreto, medidas
no extrato de saturação e na água de irrigação (Ayers & Westcot, 1991)
7.1.2.2 Sódio
A toxicidade ao sódio é mais difícil de diagnosticar que ao cloreto, porém tem sido
identificada claramente como resultado de alta proporção de sódio na água (alto teor de
sódio ou RAS).
Ao contrário dos sintomas de toxicidade do cloreto, que têm início no ápice das
folhas, os sintomas típicos do sódio aparecem em forma de queimaduras ou necrose, ao
longo das bordas. As concentrações de sódio nas folhas alcançam níveis tóxicos após vários
dias ou semanas e os sintomas aparecem, de início, nas folhas mais velhas e em suas bordas
e, a medida em que o problema se intensifica, a necrose se espalha progressivamente na
área internervural, até o centro das folhas. Para as culturas arbóreas, o nível tóxico nas
folhas se encontra em concentrações acima de 0,25 a 0,50 % de sódio, em base de peso
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 46
Tabela 11 Tolerância relativa das culturas* ao sódio trocável (Ayers & Westcot, 1991)
Sensíveis (PST < 15) Semi-tolerantes (PST de 15 a 40) Tolerantes (PST > 40)
Caupi Trigo Capim de Rhodes
Grão de bico Tomate Capim Angola
Amendoim Espinafre Algodão
Lentilha Sorgo Capim Bermuda
Tangerina Centeio Beterraba Açucareira
Pêssego Arroz Beterraba
Laranja Rabanete Cevada
Pomelo (grapefruit) Cebola Alfafa
Ervilha Aveia
Milho Mostarda
Algodão (germinação) Trevo
Feijão Cana-de-açúcar
Noz Milheto
Frutas caducifólias Alface
Abacate Fetusca
Cenoura
*
Listada em ordem crescente de tolerância
7.1.2.3 Boro
folhas. Em alguns casos, os sintomas se manifestam mediante exudação gomosa nos ramos
e no tronco como, por exemplo, na amendoeira.
Na maioria das culturas, os sintomas aparecem quando a concentração de boro nas
folhas excede 250 a 300 mg kg-1 de matéria seca.
Tabela 12 Níveis de tolerância das culturas ao boro na água de irrigação (Ayers & Westcot,
1991)
Concentração
Interpretação
(ppm)
< 0,5 Bom para todas as plantas
0,5 a 1,0 Danos ocorrem nas folhas de plantas sensíveis sem alterar a produção
1,0 a 2,0 Tolerado por semi-tolerantes, mas reduz a produção de plantas sensíveis
2,0 a 4,0 Somente plantas tolerantes produzem satisfatoriamente
> 4,0 Danos em quase todas as plantas
Tabela 13 Tolerância relativa das plantas* ao boro na água de irrigação (Ayers & Westcot,
1991)
Sensíveis Semi-tolerantes Tolerantes
(0,5 a 1,0 ppm) (1,0 a 2,0 ppm) (2,0 a 4,0 ppm)
Limão Batata Doce Cenoura
Pomelo (grapefruit) Pimentão Alface
Abacate Tomate Repolho
Laranja Morango Nabo
Amora Aveia Cebola
Damasco Milho Alfafa
Pêssego Trigo Beterraba
Cereja Cevada Tâmara
Caqui Azeitona Aspargo
Figo Ervilha
Uva Algodão
Maçã Batata
Pera Girassol
Ameixa
Alcachofra
Noz
Noz Pecan
*
Listadas em ordem crescente de tolerância
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 48
O efeito dos sais sobre a estrutura do solo ocorre, basicamente, pela interação
eletroquímica existente entre os cátions e a argila.
A característica principal deste efeito é a expansão da argila quando úmida e a
contração quando seca, devido ao excesso de sódio trocável. Se a expansão for exagerada,
poderá ocorrer a fragmentação das partículas, causando a dispersão da argila e modificando
a estrutura do solo. De modo generalizado, os solos sódicos, ou seja, com excesso de sódio
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 49
Contraíons
ψo: Potencial na
Potencial
Distância x
Líquido polar
Partícula Dupla Seio da solução
Partícula Camada difusa
Por outro lado, o aumento da concentração da solução do solo faz com que os
cátions sejam atraídos fortemente pela superfície da argila (Tabela 15); assim, com o
aumento da relação Ca/Na na solução do solo, a espessura da dupla camada diminui porém,
quando a dupla camada de íons junto à argila contiver muito sódio e poucos íons em
solução (solo irrigado com água baixo concentração de sais) terá espessura relativamente
maior. Então, a alta concentração de sais solúveis no solo (salinidade) não altera a estrutura
do solo com argilas expansivas mas, sim, a baixa concentração de sais (CE < 0,2 dS m-1)
e/ou a alta concentração de sódio.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 51
Em geral, para reduzidas concentrações de sais o pH das águas pode ser elevado,
pois a medida em que aumenta a salinidade da água, o pH diminui. Para salinidade maior
que 5 dS m-1 as águas têm pH neutro. Fenômeno semelhante ocorre com a solução do solo.
Por exemplo, a Figura 13 mostra como o pH de um solo aluvial, textura argilosa e pobre em
matéria orgânica, diminui quando se aumenta a condutividade elétrica, cujos valores não
podem ser generalizados para outros tipos de solo, pois esta diminuição varia com as
características do solo.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 52
pH do solo
EXERCÍCIO 4
a) Descreva:
a.1) Efeito Osmótico
a.2) Seca Fisiológica
a.3) Efeitos Indiretos
b) Explique o motivo pelo qual o efeito da toxicidade dos íons específicos é maior na
irrigação por aspersão.
c) Para um solo de textura média que apresenta CEes = 4 dS m-1, determine a contribuição
relativa dos efeitos salinos, em virtude da pressão osmótica, quando este solo se encontra à
capacidade de campo e no ponto de murcha permanente.
e) Explique como ocorre a dispersão das partículas de solo com base no conceito da dupla
camada difusa.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 54
8.1.1.1 Lavagem
melhoradores ou corretivos químicos se faz necessário para retirar o sódio que se encontra
adsorvido na micela, mediante a adição de substâncias que contenham, preferencialmente,
cálcio. Deste modo, o uso de corretivos tem a finalidade de fornecer elementos como o
cálcio, ou liberá-lo, quando presente no solo, para substituir o sódio trocável, pois o cálcio
desloca o sódio do complexo de troca, deixando-o na solução do solo, em condições de ser
lavado. Deve-se ressaltar que, como o cálcio tem maior seletividade (força de atração pelas
partículas de argila) mesmo estando presente em menor proporção em relação ao sódio, o
mesmo consegue substituir o sódio, porém se o sódio substituído não for removido
mediante o processo de drenagem, o solo pode tornar-se sódico; daí a importância da
drenagem no processo de recuperação.
[Micela]aa + Ca + + [Micela]CaCa + a +
Subsolagem: É uma operação que tem, como objetivo, romper as camadas de solo de baixa
permeabilidade, sem inverter as camadas, melhorando a permeabilidade do solo. A
subsolagem reduz os efeitos prejudiciais de camadas compactadas que estão a mais de 30
cm de profundidade, porém seu efeito é de duração temporária, variando de um a dois anos.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 56
Misturas com areia: A adição e mistura de areia em camadas de solos de textura fina têm
a finalidade de melhorar a permeabilidade e a penetração das raízes no solo. Esta técnica
melhora as propriedades transmissoras de água no solo, facilitando a lixiviação dos sais. A
adição de areia é feita pela incorporação na superfície do solo e, em seguida, uma cultura de
sistema radicular pouco profundo é cultivada. Após vários cultivos e práticas culturais,
haverá a mistura e a inversão da areia para as demais camadas, favorecendo a
permeabilidade em todo o perfil.
Superfície do solo
Horizonte A
Horizonte C
em que:
Lp = Lâmina de precipitação, subtraída do escoamento superficial, mm
Li = Lâmina de irrigação, mm
Lg = Lâmina de água capilar como contribuição do lençol freático, mm
Let = Lâmina de evapotranspiração, mm
Ld = Lâmina de percolação profunda, mm
∆LA = Variação da lâmina de água armazenada na zona radicular, mm
O balanço de água no solo pode ser anual, sazonal ou diário; no balanço anual,
quase não há variação da lâmina de água armazenada na zona radicular. Em áreas irrigadas,
onde a precipitação é de pequena intensidade, a lâmina de escoamento superficial é
considerada desprezível (Les = 0). A lâmina capilar de contribuição do lençol freático é
igual a zero quando em solos argilosos o lençol estiver a mais de 7 m de profundidade e,
para solos arenosos, a mais de 3 m de profundidade.
O balanço de sais no solo é deduzido do balanço da água, multiplicando-se cada
componente por sua respectiva concentração salina, assumindo que a única fonte de sais
seja a lâmina de água aplicada no solo durante o evento de irrigação, ou seja, os sais são
altamente solúveis e não precipitam, que são desprezíveis as adições de sais pelas águas de
chuvas e fertilizantes como, também, as extrações pelas culturas; o balanço de sais na zona
radicular pode ser expresso pela equação:
Ld CEi
= (29)
Li CEd
Salienta-se que CEd não significa CEes, pois a água de drenagem nem sempre é
proveniente de solo saturado mas, na maioria das vezes, a água é removida do solo, em
teores de umidade inferiores à saturação e próximo à capacidade de campo. Neste caso, a
CEd é superior a CEes e se o solo considerado for de textura média, a relação CEd / CEes
será igual a 2 (o valor da umidade do solo à capacidade de campo é a metade em condições
de saturação).
A fração de lixiviação de sais capaz de manter o nível de sais tolerável pela cultura
pode ser obtida a partir da Eq 29:
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 61
Ld CEi
FL = = (30)
Li CEd
em que:
FL = Fração de lixiviação.
Para se estimar a CEd a partir da CEi e FL , deve-se considerar que a planta não
absorve água uniformemente, de toda a zona radicular. Ayers & Westcot (1985)
consideram que a planta absorve do solo, para suas necessidades hídricas, um padrão de
extração de 40, 30, 20 e 10 % da água consumida pelas culturas , respectivamente, da
quarta parte superior à inferior da zona radicular. Portanto, a estimativa da CEd média da
zona radicular deverá ser ponderada de acordo com a proporção de água retida de cada
parte da zona radicular. A Tabela 16 apresenta o fator de concentração de sais no solo
( CEes / CEi ) com base nas considerações do padrão de extração normal, aliado à relação
CEes = 2 x CEd .
CEa
L = (31)
5 × CEes − CEa
em que:
L = Necessidade de lixiviação mínima que se necessita para controlar os sais
dentro do limite de tolerância da cultura, fração.
CEa = Salinidade da água de irrigação, dS m-1
CEes = Salinidade média do extrato de saturação do solo, em dS m-1, que
representa a salinidade tolerada por determinada cultura
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 63
ETc
LA = (32)
1 − L
em que:
LA = Lâmina anual de irrigação, mm ano-1
ETc = Evapotranspiração da cultura mm ano-1
L = Necessidade de lixiviação, fração
C La
x = K
'
(33)
Co Ls
em que:
C = Concentração de sais que se deseja obter no solo após a lixiviação, dS m-1
Co = Concentração de sais originalmente presentes no solo, dS m-1
La = Lâmina de água necessária para recuperar um solo salino, m
Ls = Profundidade do solo a ser recuperado, m
K’ = Constante que varia com a textura do solo, adimensional
franco-arenosos têm maior eficiência de lixiviação que os solos de textura fina. Tal fato se
deve ao menor conteúdo de água nos solos franco-arenosos e, também, por possuírem poros
de diâmetros mais uniformes que os solos argilosos e franco-argilosos.
A menor eficiência na lixiviação dos sais nos solos de textura fina é causada pela
presença de fendas e poros grandes entre agregados e fendas na superfície, que se formam
quando secam, e pelos poros finos dos agregados, quando úmidos.
La/Ls
La/Ls
La/Ls
Desvantagens
- Não poderá ser usado em solos de boa permeabilidade nem em terrenos
nivelados.
Solos com excesso de sódio podem ser recuperados com o uso de corretivos que
forneçam cálcio. A adição de corretivo ao solo afetado por sódio promove a remoção e a
substituição do sódio trocável por outros íons, preferencialmente cálcio. A correção do solo
pode ser feita de várias maneiras, dependendo da fonte de cálcio disponível, do tipo de
cultura que será implantado na área e da intensidade de degradação do solo.
8.3.1.1 Gesso
O gesso (CaSO4 2H2O) é o corretivo mais utilizado como fonte de cálcio para
substituir o sódio trocável, em razão do baixo preço, disponibilidade e fácil manuseio; além
disso, ele funciona como fonte de enxofre e cálcio para as plantas. A reação abaixo
descreve a substituição do sódio trocável no solo:
Salienta-se que esta reação é reversível, sendo necessário aplicar-se uma lâmina de
lavagem para eliminar o sulfato de sódio, produto final da reação, para que a recuperação
seja satisfatória. Outrossim, é oportuno que a área salinizada disponha de uma rede de
drenagem em funcionamento, capaz de receber todo o excesso de água. Tal reação é
limitada unicamente pela reduzida solubilidade do gesso; para uma temperatura de 25 ºC é
aproximadamente igual a 2,1 g L-1.
A eficiência de aplicação do gesso depende do tamanho de suas partículas sendo
que, de acordo com Abrol (1982) conseguem-se bons resultados com partículas de gesso
menores que 2 mm de diâmetro, pelo fato de aumentar a sua dissolução e reduzir a
precipitação do cálcio. Sua aplicação pode ser feita diretamente sobre o solo ou
adicionando-o à água de irrigação; no primeiro caso, o gesso é distribuído a lanço e, em
seguida, incorporado ao solo, por gradagem. Para que o gesso se distribua no perfil,
recomenda-se lavar o solo após a aplicação do gesso.
Para eficiência maior na substituição do sódio trocável, é conveniente lavar quase
todos os sais solúveis antes de se aplicar os corretivos, para que uma proporção maior de
cálcio contido no corretivo seja adsorvido pelo complexo; no entanto, a lavagem dos sais
solúveis em excesso poderá causar a dispersão das partículas de argila, diminuindo a
permeabilidade do solo; por isto, as lavagens prévias não devem ser aplicadas para solos
pouco permeáveis.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 71
recuperação de solos afetados por sódio, porém seu emprego é limitado, por ser
rapidamente lixiviado do perfil do solo e, principalmente, por seu elevado custo. A
substituição do sódio trocável no solo, quando se aplica o cloreto de cálcio, é descrita pela
seguinte reação:
A aplicação do cloreto de cálcio pode ser direta sobre o terreno ou via água de
irrigação.
8.3.1.3 Enxofre
SO3 + H 2O → H 2 SO4
os solos tratados com enxofre não deverão ser inundados antes do tempo de oxidação
microbiana, que varia em média de 20 a 30 dias.
Sendo o enxofre um corretivo que aumenta a acidez do solo, deverá ser aplicado
apenas em solos que contenham carbonatos alcalinos terrosos. Neste caso, o uso de enxofre
tem a vantagem adicional de reduzir o pH do solo, aumentando a disponibilidade de
nutrientes para as plantas, como Zn, Mn e Fe, mas, nos demais casos, sua aplicação reduz o
pH, tornando o solo excessivamente ácido; então, para evitar tal perigo, deve-se aplicar, a
uma amostra de solo, uma quantidade de H2SO4 equivalente à dosagem de enxofre e
verificar o pH depois que ocorrer a reação. O pH final não deve ser menor que 6,0 a 6,5.
Observa-se, na reação, que este ácido reage com o calcário, para formar gesso. A
dissolução do gesso fornece cálcio para a troca com o sódio. Na ausência de carbonatos
alcalinos terrosos no solo, este corretivo causa excessiva acidez, caso em que seu emprego
é muito adequado na presença de carbonatos alcalinos terrosos.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 73
Normalmente, o efeito do calcário na correção dos solos afetados por sódio tem
sido inferior ao gesso, devido à sua baixa solubilidade. O uso do calcário é indicado em
solos de pH inferior a 7,5 e na ausência de carbonatos alcalinos terrosos, em especial para
solos degradados.
Para melhorar a eficiência do CaCO3 como corretivo, o método mais prático é
fazer sua aplicação, juntamente com adubos orgânicos auxiliando, ainda, com trabalhos
mecânicos, o processo de decomposição microbiana da matéria orgânica.
em que:
Dt = Dose teórica de corretivo, kg ha-1
(PST − PST ) Diferença entre a porcentagem de sódio inicial e final (desejada), %
i f
Dp = Dt × C (35)
em que:
Dp = Dose prática, kg ha-1
C = Coeficiente de correção (indicado na Tabela 18), adimensional
secas do ano apresentam maior teor de sais; águas subterrâneas são mais salinas que as
águas de rios e estas, próximas à foz, contêm mais sais que as próximas à nascente. As
maiores variações sazonais são observadas nas pequenas fontes de água, como pequenos
açudes e poços amazonas (Figura 18).
A avaliação dos riscos de salinização de uma área mediante a água de irrigação
não poderá ser realizada simplesmente pela qualidade da água, pois seus efeitos dependem
das características do solo, da tolerância das culturas exploradas, das condições climáticas
locais e do manejo da irrigação e drenagem, além de suas características físico-químicas.
Assim, a qualidade da água de irrigação pode ser considerada importante fator, mas nunca
se deve esquecer de que ela é tão somente um dos fatores e que não é possível desenvolver
um sistema de classificação de água que possa ser usado em todas as circunstâncias.
Na realidade, não existe um limite fixo da qualidade das águas e seu uso é
determinado pelas condições que controlam a acumulação dos sais e seus efeitos nos
rendimentos das culturas (Ayers & Westcot, 1991). Como exemplo, cita-se o caso de
diversos perímetros irrigados no Nordeste, onde se usa, normalmente, água com baixo teor
de sais (CE entre 0,1 a 1,0 dS m-1) e, mesmo assim, uma parte significativa dessas áreas
apresenta problemas graves de salinidade, devido ao manejo inadequado da irrigação e
drenagem. Neste caso, a salinização do solo existe, não pelo fato da água utilizada na
irrigação conter sais em excesso, mas devido à elevação do lençol freático provocado pela
aplicação de lâminas excessivas de água, perdas de água em canais de distribuição e
drenagem deficiente.
Várias são as classificações propostas para interpretação da qualidade da água para
irrigação (Wilcox, 1948; Doneen, 1954; Richards, 1954; Thorne & Peterson, 1954;
Chistiansen et al., 1977) sendo que a apresentada pela University of Califórnia Committee
of Consultants (1974) é uma das mais compreensivas, conforme a Tabela 20.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 78
0,7
0,6
CEa (dS m-1)
0,5
0,4
Ano-Precipitação
0,3 1988-736 m m
1989-1255 m m
0,2 1990-580 m m
0,1
0
Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
1,2
1
CEa (dS m-1)
0,8
Ano-Precipitação
0,6 1988-736 m m
1989-1255 m m
0,4 1990-580 m m
0,2
0
Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
0,4
CEa (dS m )
-1
0,3
0,2
Ano-Precipitação
1988-736 m m
0,1 1989-1255 m m
1990-580 m m
0
Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
Condutividade Elétrica da água (CEa) ou dS m-1 < 0,70 0,7-3,0 > 3,0
Total de sais dissolvidos (SDT) mg L-1 < 450 450-2000 > 2000
Sódio (Na)3
Irrigação por superfície RAS <3 3,0 - 9,0 >9
Irrigação por aspersão (mmol L-1)0,5 <3 >3
Cloreto (Cl)3
Irrigação por superfície mmoLc L-1 <4 4,0 – 10 > 10
Irrigação por aspersão mmoLc L-1 <3 >3
Figura 19 Mapas de isoípsas do lençol freático e direção do fluxo de água para os dados
referentes ao mês de maio de 1982, do perímetro Irrigado de Sumé, PB (Guedes, 1986)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 82
EXERCÍCIO 5
b) Uma água apresenta o seguinte resultado de análises: pH = 7,2; CEa = 1,9 dS m-1, Ca,
Mg, Na e K, respectivamente 4, 3, 10 e 1 mmolc L-1; Cl, HCO3, CO3 e SO4
respectivamente, igual a 12, 4, 0 e 3 mmolc L-1; Boro = 3,8 mg L-1. Formule as
recomendações de uso dessa água de irrigação para um solo de textura argilosa, visando a
prevenção e o controle da salinidade.
d) Descreva
d.1) Lavagem de manutenção e recuperação
d.2) Equação básica do balanço de água e sais no solo
h) Um solo apresenta a seguinte análise: pH = 9,2; CEes = 2,4 dS m-1; textura média, Na,
Ca, Mg e K trocável, respectivamente, iguais a 7,0; 1,0; 0,5 e 0,1 cmolc kg-1. Na, Ca, Mg e
K solúveis, respectivamente, iguais a 20; 2,0; 1,0; 5,0 e 0,5 mmolc L-1+. Carbonato de cálcio
= 1,5 %. Sabendo-se que o lençol freático está a uma profundidade de 1,2 m e a água
disponível para a irrigação é de baixa salinidade, pede-se calcular:
h.1) A quantidade de corretivo necessária para baixar a PST para 10 na profundidade de
60 cm (da = 1,4 g cm-3)
h.2) Se o preço do gesso e enxofre for de R$50,00 e 240,00 por tonelada,
respectivamente, qual será o corretivo mais indicado? (considere pureza do gesso e enxofre
de 80 e 95 %, respectivamente). Como se deve proceder para recuperar a área?
j) Qual será a salinidade de um solo franco-argiloso com CEes de 1,5 dS m-1, após a
aplicação de uma lâmina de 0,4 m? A recuperação do solo será feita em 40 cm, sendo
separadas duas áreas distintas, em que, na primeira, a água será aplicada por inundação
contínua, enquanto na segunda a inundação será intermitente.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 84
Embora os solos afetados por sais apresentem diversos problemas para as plantas,
podem ser aproveitados para várias finalidades, quando se adotam práticas adequadas de
manejo do conjunto solo-água-planta, na área afetada.
Várias práticas de manejo têm sido utilizadas para se produzir economicamente,
em condições de solo ou de água, com altos riscos de salinização, dentre as quais se destaca
o uso de plantas tolerantes à salinidade e sodicidade, sendo importantes os estudos que
visem avaliar a sensibilidade das espécies ao estresse salino.
Além da utilização das culturas tolerantes à salinidade ou sódio trocável, outras
práticas culturais de manejo podem ser úteis para se utilizar, racionalmente, as áreas
afetadas por sais, como a aplicação de irrigação com maior freqüência, as técnicas
adequadas de plantio, o uso de sistemas de irrigação adequados e a escolha do fertilizante
próprio, de acordo com as características do solo.
CEes
CEes
A tolerância da cultura varia tanto entre espécie de plantas como para cultivares da
mesma espécie. Com relação às espécies vegetais, os efeitos da salinidade e/ou sodicidade
são diferentes, variando entre espécies e entre genótipos de uma mesma espécie, visto que
algumas produzem rendimentos aceitáveis, em níveis relativamente altos de condutividade
elétrica, enquanto outras são mais sensíveis.
A seleção e o melhoramento de plantas para se obter maior tolerância à salinidade
são atividades que só recentemente têm adquirido a devida importância, podendo aumentar
bastante a capacidade de usar as fontes de águas mais salinas.
10.1.1.3 Clima
Muitas culturas podem tolerar a salinidade do solo até um limite, que é o nível de
salinidade máximo em que a produção não é reduzida, denominada salinidade limiar (SL)
normalmente expressa em termos de CEes. A esta salinidade o rendimento potencial das
culturas é 100 %. Além deste valor limite, ocorrem reduções de produção em maior ou
menor intensidade com o aumento da salinidade do solo. Os valores de tolerância da Tabela
21 foram adaptados de Maas & Hoffman (1977) e Maas (1984) cujos estudos indicam que
o crescimento vegetativo diminui linearmente com o aumento da salinidade acima do valor
da salinidade limiar.
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 93
100
Tomate
Algodão
80
Produção Relativa
60
(% )
40
20
0
2 4 6 8 10 12
-1
CEes do solo (dS m )
Figura 21 Resposta do algodoeiro e do tomateiro à salinidade do solo (Grattan & Hanson, 1993)
100 + (b × SL − Y )
CE es = (37)
b
Figura 22 Irrigação por sulco e acumulação dos sais nos camalhões planos (Bernstein et al.,
1955)
A Figura 23 ilustra uma prática ainda melhor contra a salinidade, na qual os
camalhões do sulco são construídos em declive e se colocam as sementes imediatamente
acima do nível da água; neste caso, continua-se irrigando até que a frente molhada
atravesse as fileiras das sementes.
Figura 23 Controle da salinidade com camalhões inclinados (Bernstein & Fireman, 1957)
Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 96
EXERCÍCIO 6
a) Uma cultura de milho semeado em solo uniforme e franco, é irrigada por sulcos, com
água de CEa = 1,2 dS m-1 e eficiência de aplicação de 65 %. Se a evapotranspiração anual
da cultura (ETc) é de 800 mm, determinar a lâmina anual requerida para satisfazer a ETc e
a lixiviação dos sais. Considere 1,7 dS m-1 a condutividade elétrica do extrato de saturação
para o rendimento potencial de 100 %.
b) Descreva:
b.1) Critérios para avaliação da tolerância das culturas à salinidade
b.2) Rendimento potencial
b.3) Tolerância das culturas à salinidade
c) Quais as principais práticas de manejo que permitem o manejo de áreas afetadas por sais
e controle da salinidade em áreas cultivadas sob irrigação?
d) Calcular a produção relativa do tomateiro para uma salinidade média na zona radicular
de 4,0 dS m-1