Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Direito
PROFESSORES
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
FICHA CATALOGRÁFICA
Reitor
Wilson de Matos Silva
Dr. Ivan Dias da Motta
Quanto à história, têm-se o mundo grego como ponto de partida, com a primorosa
contribuição do mundo romano, e posteriormente, a construção realizada pela medie-
validade, tendo como pano de fundo, a influência da religião. Chegando à modernidade,
a construção do direito de propriedade, e do positivismo jurídico, e também apresenta
uma perspectiva da visão histórica e contemporânea do Direito.
Para estes estudos, foi adotada o desenvolvimento de uma visão crítica sobre o direito
e sua importância para sociedade, sendo assim, esperamos que todos tenham um
bom estudo e que possam, ao término deste Curso, ter um posicionamento crítico e
também, conhecimentos necessários para avançar na sua formação acadêmica.
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
1
11 2
33
DIREITO E CIÊNCIA DIREITO
PÚBLICO,
DIREITO
PRIVADO E
DIREITO DIFUSO
3
57 4 79
PRINCIPAIS NORMATIVISMO E
DOUTRINAS TEORIAS JURÍDICAS
JURÍDICAS CONTEMPORÂNEAS
5
99
A POSITIVAÇÃO
DO DIREITO
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM
6
117 7
131
NORMA A NORMA
JURÍDICA E A JURÍDICA:
SANÇÃO VALIDADE,
VIGÊNCIA E
RETROATIVIDADE
8
151 9
165
A NORMA TEORIA DO
JURÍDICA: ORDENAMENTO
VALIDADE, JURÍDICO:
VIGÊNCIA E LACUNAS E
RETROATIVIDADE CONFLITOS
NORMATIVOS
10
189
HERMENÊUTICA
JURÍDICA E
ARGUMENTAÇÃO
1
Direito e Ciência
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
De forma geral podemos afirmar que existem duas principais espécies de co-
nhecimento, o conhecimento advindo do senso comum e aquele resultante de
um trabalho de investigação mais bem elaborado, ao qual chamamos de conhe-
cimento científico.
Ainda existe uma dificuldade apresentada por exemplo, por Marcos Nobre,
em aceitar o Direito como uma ciência, contrapondo o Direito muito mais como
um mero reprodutor de normas e intérprete das mesmas, ou seja, não existe nada
de novo e criativo no campo do Direito.
De outro lado, segundo alguns estudiosos e pesquisadores, o Direito pode ser
uma ciência, quando o mesmo se propõe a analisar o fato concreto e sua relação
com o mundo normativo, e deste momento, traçar teorias que nos ajudariam a
compreender o fenômeno jurídico.
Sendo assim, a proposta que se estabelece é de buscar os conhecimentos ne-
cessário para recusar o direito como uma ciência, ou mesmo, para defender o
direito como uma ciência.
12
UNICESUMAR
De forma geral podemos afirmar que existem duas principais espécies de co-
nhecimento, o conhecimento advindo do senso comum e aquele resultante de
um trabalho de investigação mais bem elaborado, ao qual chamamos de conhe-
cimento científico.
O conhecimento é necessariamente uma construção humana e resultante
da intervenção que o homem realiza na natureza como um todo. Para Lalande
o senso comum “é o conjunto das opiniões tão geralmente aceitas admitidas,
numa dada época e num dado meio, que as opiniões contrárias aparecem como
aberrações individuais” (1996, p. 998). Dependendo da época e da região, enfren-
tar o conhecimento do senso comum poderia significar a própria morte, pois
normalmente, este conhecimento se sustenta pelo princípio da autoridade, em
outras palavras, não pode e nem precisa ser contestado, em função de que, aquele
que assim o pronunciou têm uma autoridade no campo social e mesmo religiosa
tão forte, que contrariá-lo é colocar todo o meio social em risco.
Durante a medievalidade, por exemplo, contrariar o conhecimento da Igreja,
ainda que fosse com relação às coisas terrenas, implicava no risco de morte, ou
ainda, severas punições.
Mas isto não quer dizer que todo conhecimento do senso comum deva ser
desprezado, muito pelo contrário, normalmente o conhecimento científico surge
a partir de ideias e observações oriundas da construção deste conhecimento. O
mundo árabe de longa data, anterior mesmo a 900 a.C. já sabia, como resultado
da observação, que as feridas abertas deveriam ser tratadas e limpas, com panos
fervidos em água quente. No entanto, não sabiam, que a este processo chamamos
na ciência de esterilização, e mais ainda, a alta temperatura da água na qual o pano
esta imerso, elimina a maioria dos seres vivos ou não, nocivos à saúde.
É com a observação em alguns dos costumes indígenas, que tratam algumas
doenças com chás de ervas e outros produtos obtidos nas matas, que a medicina
moderna procura buscar curas para outros tipos de doenças, além de procuram
compreender e aprender mais sobre a eficácia da medicina natural. O mesmo
acontece com a acunputura na China, que agora já se incorpora a disciplinas nos
cursos de medicina ocidentais.
13
UNIDADE 1
Contudo, ao longo da
história da humanidade o
homem teve, e ainda, têm,
a necessidade de procu-
rar organizar e aprender
mais sobre este conheci-
mento do senso comum,
aceitando alguns e refu-
tando outros, através do
que conhecemos como
conhecimento científico.
Ensina-nos Lalande que
a “ciência é o conjunto de
conhecimentos e de in-
vestigações com um sufi-
ciente grau de unidade, de
generalidade, e suscetíveis
de trazer aos homens que se lhes consagram conclusões concordantes, que não re-
sultam nem de conclusões arbitrárias, nem de gostos ou interesses individuais que
lhes são comuns, mas de relações objetivas que se descobrem gradualmente e que se
confirmam através de métodos de verificação definidos” (1996, p. 155).
Com fundamentos neste conceito exposto por Lalande, pode-se inferir que uma
das características do conhecimento científico é a sua previsibilidade, em função da
unidade de conhecimentos que o compõe, ou seja, toda a comunidade científica deve
ter acesse a este conhecimento, para poder verificar ou mesmo, segundo Karl Popper,
refutar a verdade referida por ele. Outro aspecto importante, e que o difere funda-
mentalmente de outra forma de conhecimento, é a universalidade, pois a água ferve
a 100 graus Celsius em qualquer lugar da terra, e este experimento pode ser realizado
e conferido por qualquer homem que tenha acesso a um mínimo de instrumentos.
O conhecimento científico não se sustenta pelo apelo chamado discurso de au-
toridade, mas sim pelos seus fundamentos universais e por poder ser colocado a
prova por outros cientistas, para verificar a sua veracidade, ou ainda, refutar como
verdade. No entanto, existem discussões a este respeito, aonde afirmar que existe
uma ideologia da ciência, dominada por países ricos e desenvolvida, no sentido de
restringir a ciência e seu desenvolvimento em países mais pobres, ou em desenvol-
14
UNICESUMAR
vimento. Quem tem trabalhado estas questões de forma mais pontual é o sociólogo
português Boaventura Santos e István Mészáros, um importante filósofo húngaro e
um dos maiores representantes das teorias marxistas do século XX e XXI, e que nãos
erao objetos de nosso estudo.
Segundo Nunes,“enquanto o senso comum é difuso, desorganizado, assistemati-
zado e advém de várias fontes desordenadas e simultâneas, o conhecimento científico
tenta ser coerente, coeso, organizado, sistemático, ordenado e orientado a partir de
fontes específicas e muitas vezes pré-constituídas” (2005, p. 28). O que István Més-
záros e Boaventura Santos discutem, é justamente que em vez do conhecimento
científico estar a serviço da humanidade como um todo, como advém de fontes
específicas, termina por ficar nas mãos de pessoas que detém o poder, sendo assim,
este conhecimento termina por constituir-se num poder usado para subjugar uma
parcela significativa da raça humana.
É referência no mundo para o tratamento da AIDS, a iniciativa tomada duran-
te o governo Fernando Henrique Cardoso, do então ministro da saúde, José Serra,
de ameaçar as indústrias farmacêuticas com a quebra de patentes de remédios que
constituíam um coquetel de medicamentos para amenizar os problemas da AIDS.
Um dos argumentos utilizados foi de que todos conhecimento científico deve estar
a disposição da humanidade, para socorrer os menos favorecidos.
Todo conhecimento científico precisa da elaboração de teorias que explicam
todos os fatores envolvidos na sua construção, e nem sempre, a humanidade dispões
de equipamentos para transformar este conhecimento teórico em conhecimento
prático, neste caso, a comunidade científica diz que o que se tem são hipóteses, que
poderão ou não ser comprovadas num futuro próximo. É necessário lembrar que
uma grande parte das teorias de Einstein ainda não puderam ser comprovadas, nem
por isso deixaram de servir de fundamentos para o desenvolvimento de teorias que
muito têm contribuído para o desenvolvimento da humanidade. Sendo assim,“pode-
-se dizer que a base para a sistematização e do conhecimento científico são os dados
comprovados plenamente. Esses dados tornam-se leis que ordenam todo o conhe-
cimento relativo ao campo de estudo”(Nunes, 2005, p. 28-29). Exemplo próximo de
todos, são as Leis de Newton que nos ensinam que “a toda ação corresponde uma
reação de mesma intensidade e sentido contrário”. Alguém pode duvidar que esta
lei exista? É pelo conhecimento desta lei, e de outras, que a indústria automobilística
pode construir dispositivos que protejam os passageiros de uma batida qualquer,
quando transitando dentro de um veículo.
15
UNIDADE 1
16
UNICESUMAR
fenômeno este que começa a ocorrer a partir do século XVII, que na realidade é
uma conseqüência natural e decorrente da modernidade. É o modelo cartesiano
de ciência. O direito possui algumas ciências autônomas, entre elas: “a ciência do
direito e a dogmática jurídica, a teoria geral do direito, a sociologia jurídica, a his-
tória do direito, a política do direito e a filosofia do direito” (Betioli, 2011, p. 468).
Aqueles que defendem a ideia de que o Direito não é uma ciência, afirmam
que não se podem determinar quem é o objeto de estudo do Direito, posição ao
qual discorda André Franco Montoro, para quem “toda ciência possui um objeto,
que se divide em: material e formal. O objeto material é o setor da realidade de
que se ocupa cada ciência. O objeto formal é o aspecto pelo qual a ciência consi-
dera ou estuda esse setor da realidade” (Siqueira Jr., 2009, p. 279). Determinado
estes elementos é possível caracterizar o Direito como uma ciência, o que fica
evidente quando constatamos que “o objeto material da ciência do direito é o
homem vivendo em sociedade. O objeto formal é o bem num de seus aspectos
fundamentais, que é a justiça” (Siqueira Jr., 2009, p. 279).
Como todo e qualquer conhecimento científico é preciso limitar o campo de
estudo, sendo assim, “a Ciência do Direito é sempre ciência de um Direito positi-
vo, isto é, positivado no espaço e no tempo, como experiência efetiva, passada ou
atual” (Reale, 2009, p. 17). O fato de estudar o direito positivo limita o campo da
subjetividade, pois o que está escrito, é o que é sempre, independente do tempo,
o que se muda na realidade, ao reler o que está escrito, é a possibilidade de uma
compreensão maior sobre o contexto sob o qual este direito fora positivado, as-
sim, por exemplo, fica evidente nas Constituições modernas e democráticas, pós
Segunda Guerra Mundial, a preocupação na proteção dos direitos humanos e já
a partir de 1970, a preocupação mais intensa com as leis de proteção ambiental,
em face de estudos científicos que apresentaram resultados alarmantes sobre a
degradação do meio ambiente.
Nesta mesma linha de defesa da cientificidade do Direito, nos ensina Nunes
que “a Ciência do Direito é uma ciência de investigação de condutas que têm
em vista um dever-ser jurídico, isto é, a Ciência do Direito investiga e estuda as
normas jurídicas. Estas prescrevem aos indivíduos certas regras de conduta que
devem ser obedecidas” (2005, p. 48). Investiga e estuda de que forma a norma
jurídica, com fundamento na coerção, pode ou não conduzir os homens a agirem
de acordo com o objetivo da norma e que se traduz no próprio cerne do Direito,
que é a o de viver uma vida justa e harmoniosa com toda a sociedade.
17
UNIDADE 1
18
UNICESUMAR
19
UNIDADE 1
20
UNICESUMAR
21
UNIDADE 1
22
UNICESUMAR
23
UNIDADE 1
De forma mais simplificada pode-se afirmar que “por direito subjetivo quer-
-se dizer a respeito do direito de algum sujeito. A palavra subjetivo, em direito,
quer sempre se referir a sujeito” (Mascaro, 2013, p. 105). A questão fundamental
para traçar a diferença entre direito e direito subjetivo é de ordem lingüística,
por exemplo, na língua inglesa há uma distinção clara entre “Law (ordenamento
jurídico objetivamente válido) e o termo right (direito subjetivo de determinada
pessoa)” (Dimoulis, 2007, p. 274). A língua portuguesa tem várias palavras que
podem assumir mais de um conceito, como manga, no sentido de fruta e manga,
no sentido de camisa.
Com fundamento no mundo clássico grego, cujo ideal era o do interesse
comum, o direito moderno também incorpora o princípio da solidariedade para
fortalecer o caráter de coercitividade da norma, ao deixar claro que não existe
direito subjetivo ilimitado, porque “as situações subjetivas sofrem limitação pelo
conteúdo de cláusulas gerais e, especificamente, das de ordem pública, de lealda-
de, de diligência e de boa-fé, que se tornaram expressões gerais do princípio da
solidariedade” (Coelho, 2004, p. 212).
A origem do direito subjetivo é recente porque “os direitos subjetivos eram
desconhecidos até o final da Idade Média. Os ordenamentos jurídicos do período
não adotavam a visão individualista, interessando-se pela situação dos grupos
e pelos deveres dos súditos e não pelos direitos individuais” (Dimoulis, 2007,
p. 274-275). Pode-se afirmar que os direitos subjetivos surgem como uma das
características que compõe a modernidade, que é a exaltação do individualismo
e a redução do espaço dos interesses coletivos.
Se a concepção de direitos subjetivos encontram-se consolidada em nosso
ordenamento e cultura jurídica, também pode-se encontrar críticos contra esta
Idea, seja como crítica daqueles que exaltam a supremacia do Estado sobre tudo
e todos, ou ainda, daqueles que defendem a redução do poder do Estado sobre a
vida dos indivíduos, por razões de ordem estrutural e ideológicas.
Defendendo a supremacia do Estado está visão de Hanz Kelsen, quando ad-
verte que a “utilização pode levar ao equivocado entendimento de que o indivíduo
possui direitos imanentes ou naturais que seriam impostos ao próprio Estado”
(Dimoulis, 2007, p. 275). Defende o jurista alemão a sua tese de que direito é
sempre resultante das normas jurídicas criadas pelo Estado e necessariamente
positivadas, e seguindo as formalidades necessárias para lhes conferir validade.
Mais kelsiano do que o próprio Hanz Kelsen, nos ensina Dimoulis (2007) que tal
24
UNICESUMAR
preocupação de Hanz Kelsen não procede em função de que “só o direito objetivo
cria os direitos subjetivos e pode extingui-los ou modificá-los se o considerar
conveniente”(2007, p. 276).
De outro lado, temos a corrente que faz crítica ao direito moderno a partir da
prevalência do capitalismo, para esta vertente, “o conceito de sujeito de direito se
põe historicamente por razões estruturais da reprodução capitalista, o que obriga
o jurista a redimensionar, inclusive, a imediata e simples associação entre sujeito
de direito e dignidade humana, reputada bastante e suficiente” (Mascaro, 2011, p.
105). Como se o sujeito de direito necessariamente precisa-se implorar ao Estado
o reconhecimento de algo que lhe pertence, pela simples condição de ser humano.
O conceito de sujeito de direito surge como um artifício da modernidade e do
próprio capitalismo, para dar garantias formais aos direitos do sujeito, isso não
quer dizer que este sujeito tenha acesso às condições de ordem material, que
precedem como algo contingente, à invocação destes direitos.
Esta formalidade conceitual do direito subjetivo pode ser verificada em vários
autores contemporâneos, como por exemplo, Miguel Reale, citado por Betioli,
para quem “o direito subjetivo, como espécie de situação subjetiva, vem a ser a
possibilidade de exigir-se, de maneira garantida, aquilo que as normas de di-
reito atribuem a alguém como próprio” (2001, p. 325). Possibilidade no sentido
que partes destes direitos subjetivos dependem necessariamente da vontade e da
formalidade do sujeito, para a sua invocação junto aos demais sujeitos, e numa
situação mais extrema ao Estado, o suposto garantidor destes direitos. O direito
pode garantir somente como determinação normativa, mas não a sua efetivida-
de, que segundo Hanz Kelsen, não está no campo do direito e nem da ciência
jurídica, porque esta condicionada a política, que às vezes, requer muito mais do
que uma determinação da norma jurídica, pois exigirá vontade política para o
seu cumprimento.
Continuando, na mesma linha de pensamento desenvolvida por Betioli, “es-
pecífico e próprio do direito subjetivo é a possibilidade de uma pretensão unida
à exigibilidade de uma prestação ou de um ato de terceiro. Assim, a pretensão,
dentro dos moldes previstos pela norma, é garantida pela ordem jurídica, e pode
transformar-se concretamente numa exigência”(2011, p. 325). Quem tem para si
um direito subjetivo, o tem na condição de sujeito ativo, que em outras palavras,
é aquele sujeito que tem, em alguns casos, o direito faculdade de exigir a resti-
tuição de um direito. Em outros casos, o cumprimento de um direito subjetivo
25
UNIDADE 1
não depende da vontade do sujeito de direito, como por exemplo, aquele que se
encontra condenado à morte por uma doença grave e terminal não pode exigir
a realização de sua vontade, que seria, a de possibilitar a realização da eutanásia,
porque neste sentido, é dever subjetivo do Estado, e dever irrenunciável e intrans-
ferível, de tutelar a vida de todos os cidadãos.
Corroborando esta perspectiva é o posicionamento de Siqueira Jr. Para quem
o “direito subjetivo é o reconhecimento pelo direito objetivo de um interesse, seja
ele qual for. O direito subjetivo é a faculdade, a prerrogativa concedida pelo direito
objetivo” (2009, p. 27). O direito objetivo diz o que é, e quais as condições que
podem ensejar a pretensão, e quais os sujeitos que o podem fazer, fica a critério
do direito subjetivo se o fará ou não. É lógico que existem exceções a este querer
ou vontade do sujeito de direito, como por exemplo, daquelas pessoas que não
estão capacitadas aos exercícios de seus direitos, mas continuam sendo sujeitos
de direito, esta pretensão, estabelecida pelo próprio direito objetivo, têm que ser
exercida por terceiros, que, não o fazendo, respondem por omissão.
De uma forma geral,“o direito objetivo é a regra. O direito subjetivo é a transfu-
são da regra abstrata no direito concreto de cada pessoa” (Siqueira Jr., 2009, p. 27).
Caminhando ainda, dentro de linha de pensamento, pode-se concluir que “o
direito subjetivo opõe-se ao dever jurídico. De um lado tem-se o direito subjeti-
vo e, de outro, um dever jurídico colocado em posição diametralmente oposta:
um não existe sem o outro” (Betioli, 2011, p. 325). A todo direito corresponde
necessariamente um dever. Direito é sempre reciprocidade e se constituí dentro
de um círculo de relações de direito-dever.
Reforçando esta relação necessária entre direito objetivo – direito subjetivo
– dever jurídico, nos ensina Nunes que “o direito objetivado como Lei do Inqui-
linato, que regula o despejo do inquilino por falta de pagamento, faz nascer para
o proprietário-locador o direito subjetivo de pleitear o despejo do inquilino”
(2005, p. 131). É o que se chama de círculo de reciprocidades das relações entre
direito-dever. Da mesma forma que, o inquilino na condição de um sujeito de
dever jurídico, efetuando o pagamento do aluguel dentro dos prazos legais, trans-
forma-se em um sujeito de direito subjetivo, porque pode fazer uso do imóvel,
dentro das condições e finalidade do contrato.
Já num posicionamento mais crítico, de uma análise mais ampla do direito,
procurando compreender o direito que vai além do mundo das normas, e que não
está necessariamente protegido de fatores externos ao próprio direito, é possível
26
UNICESUMAR
27
UNIDADE 1
que num passe de mágica, através de um artifício meramente normativo, pois “na
lei penal, diferentemente da civil, o escravo sujeito ativo ou agente do crime era
considerado pessoa e não coisa, o que significava dizer que respondia plenamente
por seus atos, como imputável” (Wehling, 2008, p. 401). Como as leis portugue-
sas tomavam como referência o direito romano, que abolira o direito de vida e
morte do senhor sobre os escravos, foi preciso criar instrumentos jurídicos, que
legitimavam e dava legalidade à aplicação de castigos aos escravos e entre elas, a
fuga era considerada um crime, pois retirava do senhor uma propriedade que lhe
pertencia. Em outras palavras, o escravo era punido com severidade, mas com
amparo na lei, pela sua ousadia em querer a liberdade.
Mas as contradições deste momento histórico nefasto da história da huma-
nidade, ainda nos reservas surpresas maiores, porque “enquanto sujeito passivo,
o mal a ele feito era considerado não dano, mas ofensa física” (Wehling, 2008, p.
401), e o senhor tinha direito a uma indenização civil. A razão era de que a inde-
nização por dano era menor do que a indenização civil, uma vez que esta envolvia
o próprio homem branco e não apenas questões de ordem patrimonial física.
Dentro da lógica estabelecida por este posicionamento crítico sobre o direito,
este não surge como uma vontade que emerge da natureza bondosa dos homens,
mas antes como fruto da própria contradição de sua natureza, neste sentido,
que nasce o direito subjetivo que “passa a ser uma ferramenta técnica para dar
condições ao burguês de amealhar propriedades, bens e créditos. Não é a força
física do burguês que lhe garante a posse. É o direito, intencionalmente, por esse
meio” (Mascaro, 2013, p. 105). É lógico que o burguês não o faz pessoalmente, mas
através da figura, do ente abstrato chamado Estado, que a partir da modernidade,
passa também a ter uma personalidade jurídica. A burguesia constrói ao longo
de um projeto que se inicia no século XV, segundo Gerd Bornheim, artifícios de
legitimidade para fundar então uma legalidade, que lhes garanta, sem o seu uso
da força física, a proteção de seus direitos, através daquele que, supostamente,
defende os interesses coletivos, ou melhor, dizendo, deveria defender.
Embora exista uma predominância sobre a existência do direito subjetivo, tam-
bém existem teorias, fora da área de influência da teoria crítica, então exposta por
Mascaro (2013), que negam a existência dos direitos subjetivos a partir da questão
pertinente à vontade que deve mover o sujeito de direito subjetivo. Neste sentido,
Montoro (2005) de forma sintética, nos apresenta a Teoria Objetiva ou Realista
de Leon Duguit, que concentra a sua negação para a existência do direito subjeti-
28
UNICESUMAR
vo, porque quando se trata de um direito subjetivo que depende de uma vontade
individual, o autor afirma que “nada conhecemos, nem podemos conhecer sobre
a natureza da vontade. Nem mesmo se ela é livre ou determinada” (2005, p. 507).
Quando se trata de uma vontade resultante de uma ordem coletiva, como por
exemplo, determinados grupos sociais e mesmo o Estado, “podemos acaso acre-
ditar que exista na realidade uma vontade coletiva dessas instituições?” (Mon-
toro, 2005, p. 507). Se não é possível conhecer a natureza da vontade individual,
certamente não poderia ser possível conhecer natureza de uma vontade coletiva.
É preciso esclarecer que Leon Duguit é de vertente positivista, portanto, pre-
cisa expurgar e mesmo não admitir, interferências de ordem interna e impossível
de ser determinada, conforme nos ensina Montoro, “Duguit vê no conceito de
direito subjetivo um exemplo de mentalidade metafísica: parecendo explicar o
visível pelo invisível o homem atribui a princípios e causas os fenômenos que
observa” (2005, p. 507). Conforme se pode observar, nem mesmo entre os posi-
tivistas existe um consenso sobre o direito subjetivo.
Existem diversas teorias que tratam da relação entre o direito subjetivo e a
vontade humana, sendo as principais: Teoria da Autorização de García Máynez,
Teoria da Implicação, Teoria da Vontade de Savigny e Windscheid e Teoria do
Interesse de Ihering, que serão apresentadas em momento mais adequado do
curso de direito.
Sintetizando estas concepções que implicam na análise da vontade como
condicionante para a concretização do direito subjetivo, Diniz nos ensina que “é
comum dizer-se que o direito subjetivo é facultas agendi. Porém as faculdades
humanas não são direitos, e sim qualidades próprias do ser humano que inde-
pendem de norma jurídica para sua existência” (2006, p. 248).
Diferentes de teóricos que afirma não ser possível a determinação da facul-
dade humana, Diniz se posiciona de modo diferente, mas com visão positivista,
quando afirma que “compete à norma jurídica ordenar tais faculdades huma-
nas; logo, o uso dessas faculdades é lícito ou ilícito, conforme for permitido ou
proibido. Portanto o direito subjetivo é a permissão para o uso das faculdades
humanas” (2006, p. 248).
No ensina Betioli (2011, p. 326) que o fato de vincular o direito subjetivo à
existência do direito objetivo, ou seja, do direito posto, para utilizar um termo de
Eros Roberto Grau, não quer dizer que, quando do surgimento de novos direitos,
ou mesmo, quando da necessidade de tutelar direitos que ainda não tenham sido
29
UNIDADE 1
30
UNICESUMAR
direito objetivo estabelece o direito subjetivo de cobrar as dívidas, mas dentro das
formalidades exigidas pela legislação. Ao existir abuso de direito subjetivo, fica a
outra parte, no direito, como sujeito ativo, de exigir reparação por dano moral e
outros, embora tal direito, não elimine a necessidade dele de pagar a dívida, ou o
compromisso assumido. A existência de um direito, nem sempre anula deveres
anteriormente estabelecidos.
É preciso esclarecer que “o direito subjetivo se caracteriza pela potencialidade
e pelo exercício efetivo do direito objetivo, podendo o sujeito fazer ameaça desse
exercício, que ao ser efetivado não o pode ser de forma abusiva” (Nunes, 2005, p.
132). É bastante comum, algumas empresas e mesmo pessoas físicas, fazer uma
comunicação sobre um direito ofendido, e que, portanto exigiria como contra-
partida um dever jurídico da outra parte, enviar cobrança extra-judicial através
de um cartório. Neste caso, observado o teor do documento, não existe abuso de
direito subjetivo e nem ofensa, apenas uma forma amigável de tentar resolver um
conflito. É ameaça? Sim, evidentemente que o é. Mas dentro dos limites estabe-
lecidos pelo próprio direito.
Concluindo, se para o positivismo jurídico o direito subjetivo transfere ao su-
jeito de direito, a faculdade de agir ou não, colocando para isso o direito objetivo
à sua disposição, no outro lado, numa visão mais crítica, este direito é próprio
das condições capitalistas e necessário para legitimação do modo de produção
próprio do capitalismo, sendo assim, “o direito subjetivo é tomado como total
abstração de direitos porque tudo e todos podem ser relacionados e mensuráveis
como mercadorias” (Mascaro, 2013, p. 107).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
31
1. Explicar os pressupostos para a construção do conhecimento científico.
32
2
Direito Público,
Direito Privado e
Direito Difuso
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
34
UNICESUMAR
35
UNIDADE 2
Para compreender melhor esta questão faz-se necessário pedir auxílio à Filo-
sofia e mesmo à Ciência Política, sem as quais o Direito seria muito empobrecido.
O comunismo se fundamenta segundo Marx e Engels como “a doutrina caracteri-
zada pela abolição da propriedade de raiz individual e da herança; a socialização
dos meios de transporte e de produção; a educação pública; a organização do
crédito do Estado e o alistamento dos trabalhadores sob a sua direção” (Lalande,
1996, p. 178). É a supressão do indivíduo e a prevalência do Estado, teoria que,
aliás, já estava presente na obra República de Platão. Para o comunismo toda
relação jurídica é sempre de ordem e interesse público, pois o Estado deve ser
provedor de todas as necessidades do indivíduo. A propriedade é sempre de base
comum, ou seja, não existem direito de propriedade enquanto objeto individual,
pois o Estado e somente o Estado é o proprietário de todas as coisas.
Como o comunismo parte do pressuposto de Marx e Engels de que a
história da humanidade foi sempre a história das lutas de classes, ou seja,
entre a burguesia como classe dominante, e o proletariado como classe do-
minada, no cerne desta luta estava justamente o direito de propriedade. Na
visão deles, suprimindo o direito de propriedade, todos seriam igualados em
função de que o acúmulo de riquezas seria do Estado e não mais um direito
do indivíduo, contrapondo à perspectiva liberal e posteriormente capitalista,
que, através do direito subjetivo, permite ao indivíduo acumular tanta riqueza,
quanto for a potencialidade do seu trabalho.
É notório que o comunismo foi parcialmente um fracasso, com exceção da
China, que é um caso particular que não é o nosso objeto de estudo. No entanto,
alicerçando a doutrina comunista temos a ideia de socialismo, cujo conceito é
anterior às próprias ideias comunistas, o próprio Marx reconhece isso, mas que
recebe uma importante contribuição do comunismo.
O socialismo ao qual nos referimos é aquela “doutrina segundo a qual
nãos e pode contar com o livre jogo das iniciativas e dos interesses individuais
em matéria econômica para assegurar uma ordem social satisfatória [...]”
(Lalande, 1996, p. 1043). É a doutrina que defende uma maior participação
do Estado como provedor e distribuidor de riquezas, no início do século XX,
como uma alternativa para enfrentar o avanço desproporcional e desumano
do capitalismo sobre o homem.
Depois da Segunda Guerra Mundial, devido às destruições de todas as ordens,
e principalmente, pela incapacidade aparente, ou mesmo desinteresse da iniciati-
36
UNICESUMAR
37
UNIDADE 2
38
UNICESUMAR
tratuais, etc. Há, de fato, uma nova concepção de social do Direito” (2005, p. 135).
Existem casos inclusive em que o Estado aparece como interventor da própria prá-
tica comercial dos privados, obrigando-os a apresentar condições especiais para a
continuidade do exercício de suas atividades, com sobre taxas de impostos, com a
finalidade de diminuir os impactos resultantes do uso de determinados produtos.
Este exemplo pode ser buscado junto a venda de cigarros, quando o Estado obrigou
os fabricantes a colocar mensagens que alertassem e, portanto, produzissem um
desestímulo de seu consumo, além da tributação voraz de imposto. Na perspectiva
do Estado Liberal, conforme nos ensina Paulo Bonavides, o Estado se manteria in-
diferente, pois as conseqüências que traz o fumo, uma prática milenar e enraizada
na sociedade, é um problema de cada um e não do Estado.
Segundo nos ensina Coelho, “as dificuldades para estabelecer a separação entre
o público e o privado decorrem da inexistência de fronteiras nítidas entre os inte-
resses do Estado e os dos particulares, que freqüentemente se confundem. Existem
atos jurídicos emanados de pessoas tipificamente de direito público, que assumem
formas peculiares ao direito privado” (2004, p. 88-89). Exemplo deste tipo de situa-
ção é a atividade bancária desenvolvida pela Caixa Econômica Federal, instituição
pública, que atua livremente no mercado, no mesmo segmento dos demais bancos
do sistema, ainda que, atendendo as suas finalidades sociais, possa oferecer serviços
específicos em condições melhores e mais favoráveis a setores da sociedade que, por
razões de ordem econômica, não encontrariam abrigo na iniciativa privada.
Justifica esta posição defendida por Coelho, a possibilidade do Estado, diante da
complexidade das relações sociais, às vezes ter necessidade de ir para o campo priva-
do, mas não existe nada de errado para este tipo de situação, quando o faz amparado
na lei, e com fundamento no interesse público, porque “é claro que o Estado pode
participar de uma relação jurídica como se fosse um particular, sem se investir do
seu poder de mando, hipótese em que a relação, sendo de coordenação, é de direito
privado” (Betioli, 2011, p. 280). No entanto, não pode o Estado participar desta forma
no campo privado, com a intenção de realizar práticas contrárias as leis de mercado,
ou seja, prestar serviço ou oferecer produtos, abaixo do preço de custo, provocando
a falência de empresas privadas que comumente atuam no setor. É preciso atender
necessariamente, conforme já exposto, o interesse público.
Mas o que é o interesse público? Para Tavares, “o interesse público é a fina-
lidade última da atividade administrativa. É o que justifica qualquer ação da
Administração Pública e lhe confere as prerrogativas de presunção a seu favor.
39
UNIDADE 2
40
UNICESUMAR
41
UNIDADE 2
42
UNICESUMAR
43
UNIDADE 2
44
UNICESUMAR
receitas e despesas. Embora o Direito Tributário tenha sido criado com o in-
tuito de fornecer respaldo ao contribuinte contra eventuais abusos do Estado,
na prática e na maioria das vezes, o Estado voraz em arrecadar e pernicioso
em gastar, age de forma truculenta desrespeitando diuturnamente tanto a
Constituição Federal, quanto as limitações estabelecidas pelo Código Tribu-
tário Nacional e pelas chamadas leis esparsas.
Para Betioli, o Direito Tributário “tem como objeto o campo das receitas
de caráter compulsório, disciplinando a imposição, fiscalização e arrecadação
de impostos, taxas e contribuições” (2011, p. 282). É compulsório porque o
Estado, diferente do privado, não pode acumular riqueza, pois a sua finalida-
de é outra, que é de arrecadar e retornar em forma de prestação de serviços
necessários à atividade administrativa do Estado, para as políticas públicas e
sociais, investimento na estrutura e infra-estrutura necessária ao desenvol-
vimento da atividade econômica, entre outros.
45
UNIDADE 2
46
UNICESUMAR
O Direito Militar são as normas que regulam apenas os militares, existindo tanto no
âmbito das Forças Armadas Nacional, quanto das Polícias Militares Estaduais. Este
ramo do direito trata de assuntos específicos da atividade militar, mas isso não que
dizer que os mesmos não poderão responder uma ação civil ou mesmo penal, em
função de uso indevido de direitos no exercício de suas funções. Por exemplo, um
policial militar que no exercício de sua função comete um crime qualquer, será jul-
gado pelo Direito Militar, pelo Direito Civil e ainda, se for o caso, pelo Direito Penal.
De forma mais ampla, o Direito Internacional Público “vem a ser aquele que
disciplina as relações internacionais, as relações entre os Estados soberanos e
organismos análogos. As suas fontes principais são os tratados e os costumes
internacionais” (Betioli, 2011, p. 280).
Constitui-se também, de normas jurídicas que regulam as condições para a as-
sinatura de Tratados Internacionais com outros Estados, assim como as convenções
assinadas por organismos internacionais, como a ONU. A proposição e assinatura
de Tratados Internacionais estão no âmbito da competência do Presidente da Re-
pública (Constituição Federal, artigo 84 – VIII), embora o Legislativo seja parte
importante da celebração do Tratado. No entanto, nenhum Tratado Internacional
pode ser assinado se qualquer de suas partes entre em conflito com a Constituição
Federal, ferindo a soberania do Estado em todos os seus campos de atuação.
O Direito Internacional Público é um daqueles direitos que surge e se fortale-
ce a partir do processo de globalização, que acentua a necessidade de que os países
se relacionem como forma de ampliar mercados e mesmo, obter informações e
investimentos de interesse público.
O Direito Internacional Público ganhou maior notoriedade e importância,
quando em 1998, na Conferência de Roma, cujo órgão promotor foi a ONU
(Organização das Nações Unidas), “resultou o Estatuto do Tribunal Penal Inter-
nacional, que vigoraria a partir do reconhecimento por 60 nações, o que veio a
ocorrer em 2002, quando foi instalado em Haia. O Brasil aderiu ao tratado no
47
UNIDADE 2
ano 2000” (Venosa, 2006, p. 30). Este Tribunal tem por finalidade julgar os crimes
cometidos contra a humanidade, tendo já condenados vários tiranos a prisão
perpétua, num reconhecimento de que, certos crimes cometidos por governantes
ou seus mandatários, afrontam a continuidade da existência da própria humani-
dade. Como era de se esperar, Estados Unidos e China não aderiram ao tratado.
Chamado comumente de direito comum, ou o direito que pertence aos cidadãos, em-
bora os demais direitos também o sejam, é este que de modo geral mais afetam as nossas
relações diárias. Nas palavras de De Plácido e Silva, o Direito Civil mostra-se como “o
conjunto de leis que tem por finalidade regular os interesses dos cidadãos entre si ou
entre eles e as entidades coletivas, concernentes à sua capacidade, à família, a seu estado,
a seus bens, considerados, entretanto, como direitos e obrigações de ordem civil”.
Atende as atividades rotineiras dos cidadãos como, por exemplo, a compra
e venda de um imóvel, de um carro, de um bem qualquer, embora possa buscar
subsídios em outros ramos do direito, a saber; no Código de Defesa do Consu-
midor. O escopo de suas leis encontra-se no Código Civil Brasileiro.
48
UNICESUMAR
49
UNIDADE 2
Uma das grandes conquistas da sociedade atual e o Brasil foi um dos inovadores
neste aspecto, já na Constituição Federal de 1988, no artigo 225 nos diz que
“todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações”. Ela traz tanto para o Poder Público, quanto para a coletivi-
50
UNICESUMAR
51
UNIDADE 2
52
UNICESUMAR
53
UNIDADE 2
nhar do Processo deverá seguir as normas ditadas pelo Direito Processual, que
determinará, entre outras coisas: como e quando a ação poderá entrar em juízo;
quais são os requisitos básicos que deverão compor uma petição inicial; como o
juiz deve proceder para aceitar ou mesmo recusar a petição inicial; quais são os
procedimentos que o réu deve tomar para se defender da petição inicial; de que
formas as provas deverão ser produzidas e dispostas dentro do processo; diante
de uma condenação, quais as possibilidades e formas de recursos e finalmente,
uma questão essencial e fundamental: os prazos para apresentação de provas,
recursos e contestação.
O Direito Processual é apenas um instrumento de invocação de um Direito
Material, não é o Direito em si, tanto é que, o conteúdo do processo é na realidade
o julgamento daquilo que se refere ao Direito Material. Mas também é possível
que um determinado litígio seja dado de forma desfavorável, resultante de um
erro processual, tanto por parte dos advogados, quanto do juiz.
De forma geral, os diversos ramos do Direito podem apresentar o seu próprio
Direito Processual, por exemplo, se for um litígio envolvendo questões de família,
será utilizado o Código de Processo Civil; se for litígio envolvendo ofensa à vida,
será utilizado o Código de Processo Penal; se for litígio trabalhista, será utilizado
o Código de Processo Trabalhista; e assim por diante. No entanto, quando não
houver uma legislação processual específica para o ramo do Direito, normalmen-
te será utilizado o Código de Processo Civil.
Finalizando, o Direito assim como resultado da própria complexidade da
sociedade, também tem os seus detalhes, alguns para organizar o próprio direito
e outros, são resultantes de burocracia próprias de países subdesenvolvidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
54
1. Explicar quais as características do Direito Público.
3. É possível inferir que o Direito Difuso se encontra tanto na esfera do Direito Público
quanto do Direito Privado? Fundamentar sua resposta.
55
3
Principais
Doutrinas
Jurídicas
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
58
UNICESUMAR
Jusnaturalismo
59
UNIDADE 3
60
UNICESUMAR
blema que será enfrentado por Agostinho de Hipona logo no início da medieva-
lidade, que vai afirmar a prevalência da fé sobre a razão, porque é justamente por
ter fé em Deus que o homem se utiliza da razão.
Independente da vertente de origem sobre os direitos naturais, estes se carac-
terizam por ser igual para todos, pois tanto a natureza propriamente dita, quanto
as forças de ordem metafísica colocam-se à disposição de todos independentes de
sua condição histórica, social e geográfica. É Cícero, que no Império Romano,“que
faz apologia da lei natural, que não precisa ser promulgada pelo legislador para ter
validade” (Reale, 2009, p. 311). Portanto, não se submete a uma autoridade terrena e
nem da vontade dos homens, pois ela simplesmente existiu e continuará existindo.
Lenio Streck afirma que é possível encontrar uma característica fundamental
para definir o direito natural, porque “toda ideia de direito natural professa um
conceito segundo o qual se compreende por direito tudo aquilo que, no seio do
convívio humano, acontece de acordo com uma ordem de coisas pressupostas”
(Abud; Carnio e Oliveria, 2013, p. 63). Esta ordem se refere a ordem natural das
coisas, que Aristóteles explorou na Ética a Nicômaco, Política e na Metafísica. É
uma ordem que não depende da vontade e nem se submete à vontade humana,
sendo assim, todos os homens tem este Direito.
A ideia da existência de um direito natural precisa de um suporte com relação
à ideia de natureza, e segundo Abud, Carnio e Oliveira, pode se apresentar de três
maneiras diferentes, dependendo do período histórico. No mundo grego clássico
“a ideia de natureza que comandará o conceito de direito será de ordem cosmoló-
gica” (2013, p. 64). A ordem cosmológica será está relacionada diretamente como
o mundo e a percepção que o homem tem em relação a este. Parte da concepção
predominantemente aristotélica de que o mundo é perfeitamente ordenado. Exis-
te naturalmente uma harmonia e uma ordem no cosmos, no mundo.
No mundo medieval, “essa ordem natural será remetida ao modo do ser per-
feito: Deus (2013, p.64). É um direito natural de fundamentação teológica porque
passa necessariamente pela compreensão e crença de que Deus é a criatura mais
perfeita, e a criação do mundo e do homem, esta associada a esta perfeição. A or-
dem das coisas fora estabelecida por Deus, e sendo este o seu criador, esta ordem só
pode ser perfeita. Neste sentido, Tomas de Aquino nos ensina que através da razão
o homem poderá ter conhecimento das leis de natureza, que são apenas uma pálida
ideia das leis divinas. Por ser de natureza teológica já estabelece uma barreira, pois
somente os homens que tiverem fé em Deus, poderão conhecer este direito.
61
UNIDADE 3
62
UNICESUMAR
Para Coelho, “compreendido o que seja direito natural, deve-se entender por
jusnaturalismo a ideia de que o direito positivo tem por finalidade e como limite a
realização do natural” (2004, p. 125). Neste sentido fala-se em direito positivo não
como oposição ao direito natural, mas o direito que tem como ponto de partida
e chegada a existência do primeiro direito. Se o direito natural se fundamenta na
ideia de natureza, independente de que forma esta ideia venha a ser tratada, o
direito positivo é resultado de uma construção própria da cultura humana. Su-
postamente é resultado de uma convenção humana. Um produto artificial. Uma
engenhosidade da racionalidade humana.
Juspositivismo
63
UNIDADE 3
exclui considerar qualquer forma de direito que estabeleça relações diretas que
seja transcendente, ou melhor, dizendo, que esteja além do que o direito positivo
prevê. Expurga influências externa ao Direito, sobre as quais o mesmo não tem
controle ou acesso objetivo. Quanto ao método, é preciso separar o observa-
dor do sujeito observado, porque “a observação deve ser realizada de modo que
nenhum elemento ideológico, psicológico ou político influencie o observador”
(Abud; Carnio e Oliveira, 2013, p. 65). É o critério da neutralidade, neste sentido,
observador deve apenas observador o sujeito, identificar o fato com uma norma
que possa ser aplicada ao mesmo.
A ideia da neutralidade surge como forma de afastar o Direito do campo
da moral, e para isso, “o positivismo nega em princípio a existência de juízos de
valor, pois se prende exclusivamente aos fenômenos que podem ser observados.
Faz apenas juízos de constatação. Desse modo, a lei é guindada à posição de
valor único” (Venosa, 2006, p. 55). A norma tem que ser aplicada em função da
existência do fato, e não pelas circunstâncias que contribuíram ou não para a
realização do fato. Dentro da visão positivista, o cidadão baleado por um acidente
qualquer e que dirigisse o seu veículo em condições precárias até o atendimento
mais próximo e desrespeitasse qualquer lei de trânsito, deveria ser punido, pois
é o fato e não as circunstâncias que determinam a aplicação da norma. É lógico
que, com mais incidência no Direito Penal, as circunstâncias podem servir de
atenuante ou agravante, desde que esteja relacionada com o nexo causal. Mas
são casos específicos.
Para o juspositivismo a norma jurídica “não preceitua determinada conduta
por considerá-la boa, mas apenas comina uma sanção (pena ou execução) no
caso de se preferir conduta contrária à juridicamente devida” (Reale, 2011, p. 461).
A aplicação da norma não pode sofrer contágio por questões de ordem subjetiva,
pois a norma jurídica é construída a partir de uma lógica que determina ser a
coerção um fato que inibe os homens de contrariar a norma.
Conforme já estudado, no século XX uma das contribuições mais expressivas
do juspositivismo foi Hanz Kelsen, que construiu uma das mais sólidas defesas da
cientificidade do Direito, ao limitar a ciência jurídica ao conhecimento e descri-
ção das normas, afirmando que ela “seria uma ciência normativa porque conhece
normas e não porque as estatui” (Diniz, 2006, p. 126). Ao conhecer as normas
consegue identificar “condições de legalidade, de validade dos atos jurídicos, com
sua conformidade às normas que os autorizam” (Perelman, 2000, p. 92).
64
UNICESUMAR
Mas para construir a sua teoria o jusfilósofo austríaco terá que enfrentar,
como outros também o fizeram, a oposição dos jusnaturalistas que, conforme
já exposto, davam ao Direito Natural uma condição de existência metafísica,
ainda que fosse o jusnaturalismo racionalista dos iluministas. Mas as críticas ao
jusnaturalismo não são novas, pois Thomas Hobbes, principalmente no Levia-
tã já apontava os inconvenientes desta teoria, principalmente, quando afirma
que no estado de natureza, que era o estado que antecedia o Contrato Poítico,
o que prevalecia eram as leis de natureza e o direito de natureza, e segundo o
filósofo inglês, aonde todo direito é possível, não existe direito. É lógico que este
problema seria resolvido, quando o soberano absoluto criasse as leis positivas,
para ordenar e estabelecer o governo civil.
É numa posição semelhante que se estabelece a obra de Hanz Kelsen, de forma
mais enfática a sua Teoria Pura do Direito, é preciso compreender que, “o posi-
tivismo jurídico de Kelsen questiona a pretensão teleológica do jusnaturalismo
de estabelecer o que é certo e o que é errado, fornecendo uma solução definitiva
para o problema da justiça” (Tagliavini, 2008, p. 37). Não se pode negar que além
de pretensões de ordem jurídica, existe uma preocupação didático-pedagógica
positivista na obra de Hanz Kelsen, procurando demonstrar que a ciência deve
se preocupar em demonstrar e estudar de forma sistemática, o que se encontra
no campo da realidade possível. No entanto, ao contrário do que possa parecer,
Hanz Kelsen não nega que existem outras áreas do conhecimento que podem
e devem ter preocupações com a questão da justiça e da injustiça, do certo e do
errado, do bom e do mal, apenas que está não deve ser a preocupação do Direito,
se quer se fazer como ciência.
Ainda que críticas possam ser feitas a obra de Hanz Kelsen, notadamente àqueles
que se opõem à prevalência do juspositivismo, é preciso reconhecer que não existe
contradição na construção de sua obra, pois a sua postura metodológica é sempre a
mesma, assim como as suas pretensões: estudar o Direito enquanto ciência.
Para Hanz Kelsen o fato de uma norma ter legalidade não significa que ela
tenha legitimidade, quer dizer apenas que tem legalidade porque é válida, pois
“a validade normativa é pura racionalidade normativa e não se confunde com
valores como legitimidade. Kelsen referia-se à validade normativa e não a valores
morais ou políticos” (Rocha, 2013, p. 150). É sob esta visão que quando residiu
nos Estados Unidos, país que o acolheu quando perseguido pelos nazistas, ao ser
perguntado se o sistema nazista era legal, respondeu que sim.
65
UNIDADE 3
66
UNICESUMAR
é apenas aplicar lei, mas não precisa fazê-lo com sabedoria e nem com juízo de
valor, pois a lei já valorou o que era necessário.
Estas posições do juspositivismo acabaram por desenvolver, principal-
mente nos Cursos de Direito, um fetichismo pela lei. O importante é estudar
e compreender o que está na lei. A lei é a expressão máxima das necessidades
do homem, para que possa viver em sociedade.
Como forma de reação a esta limitação da ciência jurídica ao simples
estudo da norma, insurgem vozes que nos permite ao menos iniciar uma re-
flexão sobre o papel do Direito. Com relação ao fetichismo da lei, como bem
expressa os exemplos citados anteriormente, para uma análise das teorias de
Hanz Kelsen, pode-se afirmar que “o positivismo jurídico (juspositivismo)
vai além da ideia de lei como expressão da vontade geral, para objetivar na
própria lei a vontade. A lei não é a expressão da vontade de alguém, ela ex-
pressa sua própria vontade. Ou, em outras palavras, invertendo-se a ordem
dos fatores, quem obedece à lei não obedece a ninguém” (Mesquita, 2008, p.
79). A lei passa a ter vida e sua vontade (enquanto texto) supera a própria
condição humana de usar a razão, no sentido racionalista do iluminismo, mas
naqueles moldes advindos do mundo grego, de forma mais específica, aquela
que conduz a construção da obra aristotélica.
Ainda segundo nos ensina Mesquita, “para essa doutrina, a lei é um co-
mando, mas um comando despsicologizado, ou seja, objetivado. Não há na
lei, nenhum ato de vontade, nenhuma relação entre pessoas” (2008, p. 81).
Duralex, sed Lex. Dura é a lei, mas é lei. Sendo assim, o juiz é apenas um ins-
trumento que aplica a lei, e não mais um ser pensante, e que deveria articular
a lei com as necessidades da sociedade. É lógico que aqui também se encontra
outra preocupação do juspositivismo, que é o de afastar a possibilidade que
o juiz seja autônomo e possa como realmente acontece, principalmente no
Brasil, ser o juiz mais importante do que a própria lei.
Dentro desta perspectiva juspositivista nos parece que prevalece a ideia
hobessiana sobre a precariedade da natureza humana, que acaba sendo do-
minada pelas paixões e não pela razão, em contraposição a visão aristotélica
do homem, para quem, através da educação, poderia ser um homem virtuoso
e um cidadão da pólis.
Neste mesmo sentido, já não se espera mais do intérprete da lei, que o
mesmo realize a sua tarefa tendo como fundamento o dever moral, utilizando
67
UNIDADE 3
ética para estabelecer críticas sobre a própria moral. Nem mesmo por parte
do cidadão se espera essa noção de dever moral. Neste sentido, nos ensina
Mascaro que “na Teoria Pura do Direito, Kelsen não abre margem a conside-
rar o dever como valor moral. Em sua perspectiva teórica, o dever é só um
instituto técnico extraído da norma jurídica” (2013, p. 108). Nesta perspectiva
suprime-se o homem, enaltece-se a norma. A criatura superou o criador.
Ao longo deste período histórico surgem algumas correntes dentro juspo-
sitivistas, ao qual Mascaro (2013) classifica em juspositivismo eclético, cujo
representante mais expressivo é Rudof Von Ihering; o juspositivismo estrito,
representado por Hanz Kelsen e o juspositivismo ético, representado por Jür-
gen Habermas, que é o “propositor de uma reflexão sobre o direito a partir de
princípios éticos extraídos do consenso social” (2013, p. 59).
Embora, inicialmente este tenha se apresentado como uma possibilidade
de enfrentamento ao juspositivismo, isso acabou por não acontecer, porque
“embora tratem de questões éticas no direito, essa corrente de pensadores,
que se afastou do juspositivismo estrito, ainda é juspositivista, na medida em
que enxerga exatamente nas mesmas estruturas jurídicas contemporâneas os
valores a serem construídos e preservados socialmente” (Mascaro, 2013, p. 59).
Ou seja, não desejam uma ruptura com as estruturas capitalistas já assentadas
a partir da Revolução Francesa, e sim, criar uma espécie de maquiagem para
refazer as faces negativas do juspositivismo.
Finalizando, o juspositivismo se apresentou como uma alternativa importan-
te, num momento histórico e que a humanidade parecia estar sem um referencial
seguro para a condução de seu destino. O problema é que houve uma acomo-
dação e não foi possível sopesar, em momentos mais recentes, a relação custo-
-benefício em termos de construção social e vislumbrar ao Direito, a retomada
importante de sua existência, além do campo de aplicação da norma.
Quanto a Hanz Kelsen, de forma geral, é o autor mais utilizado como
referência para a crítica do juspositivismo, justamente pela densidade de sua
obra e por exigir, um enfrentamento ponto a ponto de suas teorias, no sentido
de que, o bom combate só pode ser travado com um bom opositor comba-
tente. Hanz Kelsen nos oferece esta possibilidade. Desconstruir a sua obra e
relegar a sua importância, não é tarefa fácil e quiça, possível de ser realizada
com argumentos superficiais.
68
UNICESUMAR
Historicismo Jurídico
69
UNIDADE 3
70
UNICESUMAR
71
UNIDADE 3
72
UNICESUMAR
Sociologismo Jurídico
73
UNIDADE 3
Uma das primeiras obras a tratar deste assunto, foi a obra de Eugen Ehrlich (1862-
1922) que “destaca a origem social e não estatal do direito. Há um direito vivo criado,
aplicado e transformado pelo povo. O direito vivo não se manifesta nos códigos e
nem nos tribunais. Encontram-se nos costumes que são seguidos pelas pessoas nas
suas relações sociais” (Dimoulis, 2007, p. 31). Neste sentido, o direito não só nasce das
relações sociais, como ali também encontra a força necessária para o seu reconheci-
mento. Com esta linha de visão,“o centro de gravidade do desenvolvimento jurídico
não radica nem na legislação, nem na ciência jurídica, nem na decisão judicial, mas
na própria sociedade humana” (Coelho, 2004, p. 340). Eis um dos fundamentos para
Reale (2011) afirmar que a sociologia jurídica tinha a pretensão de colocar a ciência
jurídica como um dos apêndices de sua ciência.
O Direito vivo assume a característica de um Direito autônomo, porque é ele
“que evolui, e nem toma conhecimento do estatal. Este último está sempre em atra-
so, e é imponente ante o direito vivo, submetendo-se a ele” (Diniz, 2007, p. 67). Esta
autonomia do Direito vivo faz com que o Direito estatal seja um mero detalhe, que
passa a existir dentro de uma contingência que nem sempre expressa e acompanha
a realidade. A dinâmica da sociedade e de suas relações sociais acaba por absorver o
Direito estatal e estabelece novos parâmetros para a atuação do juiz, que “em caso de
lacuna ou incompletude do direito estatal, deve sujeitar-se ao direito vivo, alcançando
assim a plenitude da ordenação jurídica” (Diniz, 2007, p. 67).
74
UNICESUMAR
Mas esta não é uma característica apenas da obra de Ehrlich, e neste sentido é
que segundo Reale a sociologia jurídica ultrapassou os limites, porque de forma
geral, “os sociologistas do Direito, in genere, levam muito longe a natureza mera-
mente indicativa dos preceitos legais, chegando ao extremo de dizer que o juiz deve
ser posto em face de um fato econômico-social com a liberdade de discipliná-lo
cientificamente, ficando-lhe assegurada a faculdade de criar a norma jurídica exi-
gida pelo caso concreto, desde que forrado de conhecimentos sociológicos” (2011,
p. 437). É o juiz-legislador que com fundamento em fundamentos sociológicos
pode legislar de modo a resolver o conflito, deixando de lado as normas estatais,
fato este que exigiria apenas uma justificação de ordem sociológica. Dentro desta
perspectiva, a construção do ordenamento jurídico seria realizada de acordo com
a dinâmica dos problemas sociais, que deveriam ser interpretados pelo juiz.
Esta supremacia do direito vivo sobre o direito estatal incomodava a visão
tradicional do Direito, que originariamente era de matriz positivista e monista,
ou seja, reconhecida como Direito, somente o Direito emanado pelo Estado, no
entanto, “Ehrlich opõe o direito vivo ao direito do Estado. Esse direito é espon-
tâneo e dinâmico, pois maleável. É direito concreto, cuja eficácia é real, já que se
apoia sobre a ação das associações e porque dispõe de suas próprias sanções”
(Coelho, 2004, p. 341).
O trabalho de Ehrlich busca o conceito de ciência em Auguste Comte, para
afirmar que “a verdadeira ciência do Direito é a Sociologia Jurídica, investigação
dos fatos sociais nos quais o fenômeno jurídico se assenta, sem, por isso, pensar
imediatamente em uma aplicação prática, pelos tribunais, de seus resultados”
(Coelho, 2004, p. 340).
Mas a obra de Ehrlich não foi a única a levantar polêmicas e apresentar alter-
nativas para a superação do juspositivismo. Outro autor importante é Léon Du-
guit (1859-1928) que introduz um novo conceito da sociologia jurídica, embora
este já estivesse presente na obra de sociólogos como Émile Durkheim. Ensina-
-nos Reale que “ninguém mais do que ele contribui para convencer os juristas de
França de que o Direito é uma força social, e que o princípio da socialidade do
Direito deve ser levado em conta tanto pelo legislador como pelo intérprete da
lei” (2011, p. 439-440). Refuta a ideia de Durkheim da existência de uma cons-
ciência coletiva, por entende ser esta é de ordem metafísica, para substituir pela
solidariedade, que no seu entendimento, parece ser mais evidente e eficaz para
compreender a coesão ou dissolução da sociedade.
75
UNIDADE 3
76
UNICESUMAR
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada uma destas correntes traz junto de si uma bagagem histórica e ao mesmo
tempo, uma visão diferente sobre o Direito.
Sendo assim, diante do exposto pelas principais correntes, e outras ainda
haveriam de serem expostas, é possível inferir que o Direito e todas as circunstân-
cias que o envolvem, ainda não encontrou uma doutrina, teoria e um jusfilósofos
que pudesse nos apresentar uma perspectiva que representasse o posicionamen-
to de uma maioria dominante. No entanto, nem deveríamos esperar que isso
acontecesse, uma vez que o Direito esta sempre em construção e conforme nos
ensina Norbeto Bobbio, na obra a Era dos Direitos, a cada direito conquistado
caminhamos sempre em direção a outro direito, e ainda que não seja da forma
como Léon Duguit quer nos ensinar, a sociedade e suas relações sociais continua
a construir o seu próprio Direito.
77
1. Explicar sobre quais argumentos se desenvolve a ideia de jusnaturalismo e sua
relação com os direitos humanos.
78
4
Normativismo e
Teorias Jurídicas
Contemporâneas
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
80
UNICESUMAR
81
UNIDADE 4
Ensina-nos Mascaro que para Hanz Kelsen “o direito só pode ser compreendido
cientificamente a partir de uma especificidade que é normativa, do campo do dever
ser. O Direito não é analisado pelo campo de sua manifestação concreta, como ser”
(2012, p. 342). Hanz Kelsen é considerado um kantiano, e busca em Immanuel Kant
o conceito do imperativo categórico do dever ser, que de forma sintética, é aquilo
que necessariamente tem que ser assim e não pode ser de outra maneira.
Diante do exposto, e completando reflexões já estudadas anteriormente, prin-
cipalmente quando foi abordado o tema ciência e direito, a “ciência do direito,
portanto, trabalha com um método normativo e há de se debruçar sobre um
objeto normativo, fazendo uma redução do todo da realidade jurídica aos limites
do normativo estatal, residindo aí sua pureza” (Mascaro, 2012, p. 343).
Com intenção de abrir caminho para a construção de sua teoria normativista,
é preciso tomar como ponto de partida, e também de chegada, que o Direito é
“uma ordem normativa da conduta humana, ou seja, um sistema de normas que
regulam o comportamento humano” (Kelsen, 1994, p. 5). Sendo o Direito uma
ordem normativa, o que deseja Hanz Kelsen é estudar a norma, daí a necessidade
de construir uma teoria normativista, mas não como norma isolada e individual,
e sim, a norma inserida dentro de uma ordem jurídica.
Reconhece Hanz Kelsen a existência da ordem social que é “ordem normativa
que regula a conduta humana na medida em que está em relação com outras é
uma ordem social” (Kelsen, 1994, p. 25). E está ordem social pode ou não prever
sanções para aqueles que contrariem a conduta estabelecida. No entanto, uma
ordem social não possui uma unidade normativa, porque diversos grupos sociais
que compõem um Estado podem, e normalmente tem, estabelecimento de con-
dutas diferentes, como por exemplo, a existência de religiões que são mais liberais
para o uso determinadas roupas, e outras que são menos liberais.
O mesmo não pode acontecer com uma ordem jurídica, primeiramente por-
que “uma ordem é um sistema de normas cuja unidade é constituída pelo fato de
todas elas terem o mesmo fundamento de validade” (Kelsen, 1994, p. 33) e para
completar, “as normas de ordem jurídica regulam a conduta humana” (Kelsen,
1994, p. 33) como um dever ser no sentido de que determina comportamentos,
o que é diferente de esperar um comportamento de alguém. Determinar quer
dizer que não se espera outra coisa, senão cumprir o que fora determinado, não
restando campo de incerteza. Quando se diz que esperamos determinado com-
portamento, já se parte do pressuposto que ela pode não existir, porque esperar
82
UNICESUMAR
83
UNIDADE 4
84
UNICESUMAR
85
UNIDADE 4
86
UNICESUMAR
cimento, ou para contê-lo, não o faz com juízo de valor de esta exterminando ou
não determinada forma de vida, mas o faz em função dos fins a serem alcançados
e para isso, precisa do domínio da técnica.
Ensina-nos Barzotto que “a norma é o sentido objetivo de dever ser de um ato
de vontade” (2003, p. 37). Em outras palavras, depois de seguido todo o processo
legislativo para a elaboração da norma, o que lhe reconhece a validade, o ato de
vontade deixar de existir, a única coisa concreta que se têm é a norma, sendo
assim, “a norma, enquanto sentido, passa a existir precisamente quando o ato de
vontade que lhe deu origem cessou sua existência” (Barzotto, 2003, p. 37).
Retomando a questão da validade de uma norma jurídica, vamos encontrar
outro complicador, se partirmos do princípio de que “o fundamento de validade de
uma norma pode ser a validade de uma outra norma. Uma norma que representa
o fundamento de validade de uma outra norma é figurativamente designada como
norma superior, por confronto com uma norma que é, em relação a ela, a norma
inferior” (Kelsen, 1994, p. 215). Este complicador é de duas ordens, a saber: a ideia de
norma fundamental, de onde tudo se originou e a ideia de hierarquia das normas.
Para Hanz Kelsen, a validade de uma norma é dada pela autorização de uma
outra norma, que necessariamente lhe antecede, e se fosse assim, iríamos retornar ao
infinito, o que só pode ser, pelo menos por enquanto, algo impossível. Mas o ponto
de partida é a existência de uma norma fundamental, assunto que ainda desperta
calorosos debates na jusfilosofia de Hanz Kelsen. Para Mascaro a “norma funda-
mental é a diretriz do pensamento que diz ao jurista que tal ordenamento é válido,
aquele a que se deve referir no que tange às atividades jurídicas” (2012, p. 350).
A definição necessária da norma fundamental é um dos poucos momentos
de construção axiológica na Teoria Pura do Direito, o momento em que a ques-
tão social se apresenta como necessária para a construção da ciência do direito,
neste sentido,“se queremos conhecer a natureza da norma fundamental, devemos,
sobretudo ter em mente que ela se refere imediatamente a uma Constituição
determinada, efetivamente estabelecida, produzida através dos costumes ou da
elaboração de um estatuto, eficaz em termos globais” (Kelsen, 1994, p. 224).
A norma fundamental é aquela norma a partir do qual os homens passaram
a ter uma obediência efetiva, reconhecendo inclusive o seu caráter de coercitivi-
dade, de comando. Essa questão da norma fundamental deu a Hanz Kelsen muito
trabalho e ao mesmo tempo, como já acontecerá com Auguste Comte e também
com Immanuel Kant, a sensação de que as suas teorias só conseguiam explicar a
87
UNIDADE 4
racionalidade humana até um determinado ponto, e depois disso, era preciso lançar
mão de alguns recursos de ordem metafísica. Immanuel Kant demorou quinze anos
de sua vida para escrever Crítica da Razão Pura e depois, o restante da sua vida
para explicar o que as pessoas não conseguiram entender sobre sua obra. Quando
se trata de teorias filosóficas que procuram explicar um sistema como todo, os
problemas sempre aparecem, principalmente, como é o caso de Hanz Kelsen que
quer assentar toda a sua teoria com os pressupostos estritamente positivistas.
Segundo Barzotto, “a norma fundamental é a garantia da separação entre o
mundo do ser e do dever ser. Ela serve como um mecanismo que isola a nor-
matividade do ordenamento jurídico do contágio dos fatos” (2004, p. 65). É na
realidade um artifício teórico para dizer que tudo se inicia a partir de um ponto
determinado, e segundo Mascaro “para Kelsen, na Teoria Pura do Direito, a nor-
ma fundamental é uma hipótese que permite pensar o ordenamento jurídico. Não
se trata de uma reflexão teórica do jurista que diga se tal ordenamento é bom ou
ruim, justo ou injusto. Trata-se apenas de uma condição para o entendimento da
cadeia lógica das validades de um ordenamento” (2012, p. 351).
No fundo, seria a mesma coisa que perguntar: se Deus criou o mundo, em
que dia e hora isso ocorreu? Reconhece a filosofia que a questão do tempo datado
de dia e hora é apenas um artifício criado pelos homens para uma identificação
temporal de sua existência, e que em nada muda a sua natureza.
Sintetizando essa ideia de norma fundamental, Barzotto nos ensina que “a
norma fundamental pode ser formulada no seguinte modo: Devemos nos com-
portar com aquilo que prescreve a constituição” (2004, p. 41). Neste sentido, seria
a Constituição Federal de 1988 é a norma que confere a validade das demais
normas que constituem o nosso ordenamento jurídico, no sentido de que ela
fornece as diretrizes gerais e às vezes determinam de forma específica, os critérios
e quais as normas necessárias para a criação de outras normas.
Respondendo a questão do outro complicador, que é o da hierarquia das
normas, não se trata especificamente de que uma norma jurídica é mais impor-
tante do que a outra, simplesmente porque ela é superior. A questão é de ordem
técnica e lógica, e normalmente se resolve com a seguinte pergunta: quem tem
competência para legislar sobre um determinado assunto. Não existe graduação
de importância para as normas jurídicas. A questão é meramente técnica e como
forma de organizar, de dar uma ordem, de reconhecer critérios de especificidade
e de finalidade da estrutura que compõe o Estado.
88
UNICESUMAR
Para Kelsen “as normas não existem de forma isolada. Elas estão unidas em
um sistema. No ordenamento jurídico, as normas distribuem-se em camadas
hierárquicas, que descem da norma fundamental até as normas individuais pro-
latadas pelos órgãos aplicadores” (Barzotto, 2004, p. 43). É neste sentido que a
Constituição Federal deixa claro as competências legislativas da União, dos Es-
tados e dos Municípios, e as normas que podem ser legisladas de forma solidária.
Juridicamente não se pode dizer que uma norma jurídica do Município é menos
importante do que a da União, mas sim perguntar: qual a matéria a ser legislada?
O que gera a questão da constitucionalidade ou não da norma.
Quanto a eficácia nos esclarece Kelsen que “a afirmação de que o Direito é efi-
caz significa apenas que a conduta dos homens se conforma às normas jurídicas.
Assim, validade e eficácia referem-se a fenômenos inteiramente diferentes” (2005,
p. 55). A validade sendo uma qualidade técnica situa-se no campo do dever ser,
já a eficácia situa-se no campo do ser.
Para Barzotto “Kelsen insiste no fato de que a eficácia da norma singular
não vem determinada somente pela atividade dos tribunais, mas também pela
conduta dos súditos” (2004, p. 48). A eficácia é o indicativo de que os homens
tem a percepção e certeza de que a norma jurídica é um dever ser que os permite
viver num mundo civilizado. Neste sentido, segundo Kelsen, a eficácia do Direito
“consiste no fato de que os homens são levados a observar a conduta requerida
por uma norma pela ideia que têm dessa norma” (2005, p. 56). Há de se entender
que o homem kelseniano é derivado do homem kantiano, que entende ser o
Direito uma das criações mais perfeitas, resultante da natureza humana, e não o
homem de Marx e Engels, que irá perguntar: por interesse de quem e para quem
fora criado tal Direito?
E para encerrar essa polêmica que Kelsen diz que “a única conotação vincula-
da ao termo eficácia do Direito neste estudo é, portanto, a de que a conduta efetiva
dos homens se conforma às regras jurídicas” (2005, p. 56). No entanto, segundo
Barzotto (2005, p. 49) reconhece Hanz Kelsen que é a eficácia uma condição ne-
cessária para o reconhecimento da validade da norma, porque se dentro de um
ordenamento os homens reconhecem a eficácia das normas, necessariamente
reconhecem também a sua validade, não apenas formal, mas real.
Essa questão da eficácia da norma jurídica, assim como outras, reforça a ideia
de que a teoria normativa de Kelsen pode ser utilizada por qualquer sistema de
governo, independente da sua natureza democrática ou autoritária, porque “o
89
UNIDADE 4
90
UNICESUMAR
de determinada função, ainda que o interesse seja geral, de forma específica ela
afeta somente aquele funcionário.
Existe ainda outra característica da norma jurídica que, de forma geral, pode
provocar certo desconforto para o nosso referencial de Direito, mas que para
Hanz Kelsen isso poderia ser resolvido pela simples interpretação analítica da
norma, pois, “ocasionalmente, afirma-se que as normas podem ter validade não
para o passado, mas apenas para o futuro. Não é assim, e a asserção parece de-
ver-se a uma incapacidade de distinguir a validade de uma norma e a eficácia de
uma norma”. A essa forma de ser da norma é dado o nome de retroatividade, ou
seja, aplicar os efeitos de uma nova lei, a fatos que ocorreram no passado, para
o qual a lei ainda não existia. O que nos alerta que tal equívoco pode existir se
confundir validade com eficácia.
É o próprio Hanz Kelsen que nos esclarece que “nada nos impede de aplicar-
mos uma norma como esquema de interpretação, como padrão de avaliação, para
fatos que ocorreram antes do momento em que a norma veio existir” (Kelsen,
2005, p. 60). A questão é que tecnicamente esta lei pode existir, e ter validade, tudo
depende se existe uma norma anterior a ela, que permite a criação desta norma.
Mas Kelsen resolve essa questão quando afirma que “o valor moral e político das
leis retroativas pode ser discutido, mas não há duvidas quanto à possibilidade de
sua existência” (2005, p. 61).
A análise de Kelsen é quanto a questão técnica, no tratamento do Direito como
técnica de controle social, conforme já abordado, no entanto, a experiência demo-
crática e os valores construídos pela sociedade, entende ser esta uma questão polê-
mica, em função da natureza instável dos homens, conforme já nos alerta Maquia-
vel, Hobbes e outros filósofos. E o melhor a fazer é tomar as devidas cautelas e criar
restrições para este tipo de possibilidade, como veremos um pouco mais adiante,
quando tratarmos deste assunto sob a ótica da Constituição Federal de 1988.
Concluindo, o normativismo lógico de Hanz Kelsen influenciou e continua a
influenciar juristas e estudiosos do Direito. É inconcebível não reconhecer a sua
contribuição e importância para o Direito, no entanto, é preciso também reco-
nhecer que “a teoria pura kelseniana não reflete o todo do direito, muito menos
o todo do direito em relação à totalidade social” (Mascaro, 2012, p. 355). Agrada
os juspositivistas e aqueles que veem o Direito apenas como técnica de conduta
social, mas não nos permite uma reflexão entre o Direito como deveria ser, e o
Direito como ele realmente é.
91
UNIDADE 4
92
UNICESUMAR
93
UNIDADE 4
Para Betioli,“o fato vem a ser o acontecimento social que envolve interesses básicos
e que por isso enquadra-se dentro dos assuntos regulados pela ordem jurídica” (2011,
p. 131). Desde que o homem decidiu viver em sociedade, também decidiu que a sua
vida em sociedade fosse regrada por normas jurídicas comuns a todos os homens.
Quanto ao valor “é o elemento moral do Direito. Se toda obra humana é im-
pregnada de sentido ou valor, igualmente o direito; ele protege e procura realizar
valores ou bens fundamentais da vida social, notadamente a ordem, a segurança e
a justiça”(Betioli, 2011, p. 132). Posicionamento teórico que diverge radicalmente
da proposta positivista de Hanz Kelsen.
No tocante a norma, esta “consiste no padrão de comportamento ou de orga-
nização social imposto aos indivíduos, que devem observá-la em determinadas
circunstâncias” (Betioli, 2011, p. 132).
Diante do exposto, Reale nos ensina que fato-valor-norma não podem existir
de forma separada, “mas coexistem numa unidade concreta” (2002, p. 65), em
outras palavras, a existência singular de um já enseja necessariamente a existência
de outro, porque a vida do “Direito resulta de uma interação dinâmica e dialética
dos três elementos que o integram” (Reale, 2002, p. 65).
Para Mascaro,“a vinculação entre fato e valor é intrínseca ao campo do direito.
Não é possível fazer uma decomposição fenomênica, de tal modo que o fato bruto
seja alheio do valor que se lhe venha a atribuir” (2012, p. 326). Há de se entender
que a teoria desenvolvida por Reale parte de um pressuposto de um mundo que
já esta sendo, e não de um mundo ideal do por vir, este mundo já traz junto si
características de historicidade e cultura, o que lhe permite ter valores já traçados
e outros ainda por construir. Neste sentido, quando o sujeito “A” afirma que deter-
minado ato realizado por “B” não é justo, é porque já tem para si, com fundamento
na historicidade e na cultura, o mínimo de percepção do que é justo ou injusto.
Quanto a norma, novamente Reale demonstra o seu positivismo eclético, por-
que “as normas jurídicas não são pensadas, para Reale, como resultantes da mera
vontade do legislador. Não são, tampouco, extrações de uma racionalidade lógica e
necessária. Há um processo fenomênico, histórico e social, que redundará na con-
fecção da norma jurídica” (Mascaro, 2012, p. 328). Exemplo de processo de produ-
ção normativa chamado de nomogênese, é a Lei Maria da Penha, que surgem como
resultado de uma construção histórico-cultural de uma banalização das agressões
sofridas pelas mulheres, ela não se originou desta suposta vontade do legislador,
antes disso, fora uma imposição da sociedade para que o legislador assim o fizesse.
94
UNICESUMAR
95
UNIDADE 4
96
UNICESUMAR
CONSIDERAÇÕES FINAIS
97
1. Explicar qual o núcleo formativo da teoria da norma.
98
5
A Positivação do
Direito
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
100
UNICESUMAR
Fontes do Direito
101
UNIDADE 5
102
UNICESUMAR
Diniz nos ensina que o termo lei pode ser abordado em dois sentidos diferentes,
a lei no sentido amplo, ou lato,“compreende todo ato de autoridade competente para
editar norma geral, sob forma de injunção obrigatória, como: a lei constitucional, a lei
complementar, a lei ordinária, a lei delegada, a medida provisória, o decreto legislativo,
a resolução do senado, o decreto regulamentar, a instrução ministerial, a circular, a
portaria e a ordem de serviço” (2010, p. 364). Em síntese, é lei o que tem caráter de
obrigatoriedade, criado por uma autoridade competente.
Já no sentido estrito, ou strictu, “é apenas a norma jurídica elaborada pelo Poder
Legislativo por meio de processo adequado” (Diniz, 2010, p. 364). No entanto, dado a
complexidade do Estado Moderno é evidente que o Poder Legislativo não tem con-
dições de legislar sobre tudo e a própria Constituição Federal estabelece legalidade
e legitimidade para que outros o façam, mas o de forma restrita, não como forma de
criar novos direitos, mas sim como a formalidade necessária para realizar direitos pre-
vistos em norma geral, como por exemplo, a competência da Receita Federal em criar
normas estabelecendo a data inicial e final para a Declaração de Imposto de Renda.
Uma norma jurídica é uma regra de conduta social, pois atinge a sociedade
como um todo, ou um segmento da sociedade que por razões diversas precisam
desta norma, e cuja finalidade é regular as atividades dos sujeitos em suas relações
sociais. Toda norma jurídica exprime um “dever ser”, tal qual o imperativo categóri-
co de Kant, ou seja, devemos fazer o que a norma determina, ou não fazer o que ele
determina, sem questionar as razões, pois o Estado sabe qual a melhor norma para
manter a harmonia interna de sua estrutura como um todo. ainda segundo alguns
autores que fazem a análise da norma jurídica a partir da sociologia, estas são regras
que prescrevem uma suposta conduta adequada para que possamos conseguir or-
dem e segurança nas relações sociais. O problema então está na seguinte questão:
quem determina a melhor conduta? Quem tem condições de exercer pressão para
a escolha da melhor conduta? A melhor conduta que interessa a quem? A resposta
a todas estas questões podem ser encontradas numa leitura crítica e cuidadosa
acerca da história do direito no Brasil, como por exemplo aquela apresentada por
Wolkmer (2003) onde este nos mostra que o direito idealizado e construído no
Brasil é aquele que sempre interessou às classes dominantes.
Toda norma jurídica deve conter em si uma das seguintes características: 1) Proi-
bição – Como, por exemplo: No UNICESUMAR é proibido fumar nas Salas de Aulas,
Corredores e Dependências Internas; 2) Obrigatoriedade – Como por exemplo: Para
que o acadêmico passe para o próximo ano de qualquer curso no UNICESUMAR,
103
UNIDADE 5
deverá ter um mínimo de 75% de freqüência nas aulas e tirar nota média final igual
ou superior a 6,00; 3) Permissão – Como por exemplo: É permitido a Adoção de
Crianças, desde que o casal que deseja a adoção, atenda a todas as determinações
impostas pela Lei de Adoção.
Independente da corrente e sua extensividade com relação ao conceito, uma
aspecto é unânime, o de que toda norma jurídica só existe se esta fizer parte de um
ordenamento jurídico constituído de preferência de forma democrática, e que possa
representar os anseios do povo.
Quando nos referimos à legislação, esta nada mais é do que “o conjunto das nor-
mas jurídicas emanadas do Estado, através de seus vários órgãos, dentre os quais
realça-se, com relevo, nesse tema, o Poder Legislativo” (Nunes, 2005, p. 86).
De uma forma geral as fontes estatais do Direito escritas são as seguintes: Consti-
tuição Federal, Estadual e Municipal, Leis complementares, Leis ordinárias, Medidas
Provisórias, Leis Delegadas, Decretos Legislativos, Resoluções, Decretos Regulamen-
tares e outras normas, tais como portarias, circulares, ordens de serviço etc. No nosso
ordenamento jurídico a norma jurídica não-escrita são aquelas advindas do costume
jurídico, quando atende algumas especificidades que será apresentada em momento
oportuno de nosso curso.
Mas somente a norma no sentido geral, e nem a lei jurídica no sentido específico,
seria suficiente, diante da complexidade do mundo moderno, em dar respostas e
tão pouco ordenar a vida do Estado e das pessoas, sendo assim, surge o conceito de
ordenamento jurídico.
Houve a necessidade da criação de muitas outras leis, ao mesmo tempo em que
precisou estabelecer hierarquias entre estas leis, assim surgiu o conceito de Orde-
namento Jurídico, que nas palavras de Nunes “é um conjunto enorme de normas e
princípios jurídicos legislados. São, na verdade, milhares de normas, desde as consti-
tucionais até as portarias” (2005, p. 88). O ordenamento jurídico brasileiro é constituí-
do de milhares de leis que tratam de todas as matérias previstas no direito positivo e
diariamente, temos leis sendo criadas, modificadas e mesmo revogadas, sendo assim,
este ordenamento é dinâmico, embora procure manter certa uniformidade das leis
com relação à Constituição Federal que é o mais importante conjunto de lei e dela
deverá emanar todas as demais leis.
Reale (2006) defende uma ideia mais ampla do conceito de ordenamento jurí-
dico, porque diz que os conceitos tradicionais reduzem tanto a abrangência, quanto
a importância do ordenamento jurídico e este “é o sistema de normas jurídicas in
104
UNICESUMAR
Vamos agora detalhar estes elementos que compõe o nosso ordenamento jurídico.
A Constituição Federal é a lei maior de nosso país, aquela que cria algumas
leis necessárias para estabelecer os aspectos gerais de nossa nação. Mas também
fornece subsídios e normas para a criação de outras leis, que embora não pre-
cisem estar contidas no corpo da Constituição Federal são necessárias para o
desempenho de outras funções do Estado e dos direitos dos cidadãos.
Em tese, nenhuma Lei pode sobrepor ou entrar em conflito com a Consti-
tuição Federal e quando isso ocorre, dizemos que esta lei é Inconstitucional, mas
a declaração de Inconstitucionalidade só poderá ser declarada pelo Superior
Tribunal Federal, conforme determina o artigo 102 da Carta Magna.
As Leis Complementares são as leis cuja criação é prevista pela Constituição
Federal, mas que não foram criadas por elas, por se tratarem de leis específicas
e que auxiliarão no cumprimento da manutenção e ordem do Estado. Como
por exemplo, o direito a defesa do consumidor, que apenas é previsto na Cons-
tituição Federal de uma forma geral, mas criado posteriormente por uma Lei
Complementar, justamente para fazer cumprir de forma mais específica e clara,
um direito conquistado na Carta Magna. Estas leis exigem para a sua aprovação
a chamada maioria absoluta da casa que é a metade mais um, ou seja, a Câmara
dos Deputados Federais tem 513 parlamentares, para se aprovar uma Lei Com-
plementar é necessário a presença de 257 votos, isto é, a metade dos deputados
que é de forma arredondada 266 + 1 voto.
105
UNIDADE 5
106
UNICESUMAR
Presidente da República, cuja atribuição não é legislar, mas que culminou por
se tornar uma prática constante nos dias atuais, principalmente quando o Exe-
cutivo não consegue se articular politicamente para a criação de uma lei que
necessita de aplicação imediata, acaba emitindo essas Medidas Provisórias, que
num primeiro momento não precisam da aprovação do Legislativo. A Medida
Provisória, bem como o seu trâmite e prazo para aprovação ou recusa do Poder
Legislativo, encontra-se no artigo 62 da Constituição Federal, ao qual recomen-
damos uma leitura mais atenta. Inúmeras são as críticas quanto ao uso abusivo
por parte do Poder Executivo no uso dessas medidas. Este tipo de recurso,
mesmo que previsto na Carta Magna, não se coaduna com a definição de um
Estado Democrático de Direito, onde devem imperar a autonomia e harmonia
entre os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário).
Quanto ao Decreto Regulamentar , segundo Nunes “é o ato do Poder Exe-
cutivo e deve ser baixado para regulamentar norma de hierarquia superior,
como, por exemplo, a Lei Ordinária” (2005, p. 93). São leis criadas pelo exe-
cutivo para dar operacionalidade e executividade às leis ordinárias e outras,
criadas pelo Poder Legislativo. É na realidade o reconhecimento de que os
poderes são independentes e harmônicos, na medida em que aquele que tem
a competência para criar a Lei, nem sempre conhece a forma organizacional
do Estado para que se faça cumprir e fiscalizar as Leis. Os poderes têm neces-
sidades de ordem administrativa específicas e que precisam ser regulados de
forma mais dinâmica e dentro do âmbito de suas respectivas organizações e
estrutura hierárquica e mesmo técnica.
As Portarias são normas de ordem administrativa, baixadas pelos mais di-
versos órgãos da Administração Pública, como Banco Central, Ministério da
Educação e outros. Nas palavras do Professor De Plácido e Silva é “toda ordem
ou providência tomada pela administração, formalizada por um termo, que o
respectivo chefe assina, para que todos os subalternos, dela tomando conheci-
mento, a cumpram e a acatem” (1989, Vol. III, p. 394).
Segundo Diniz as portarias estão dentro do âmbito do direito administra-
tivo, caracterizada como norma geral “que órgão superior (desde o Ministério
até uma simples repartição pública) edita para observada por seus subalternos.
Veicula comando administrativo geral e especial, servindo ainda, parfa designar
funcionários para o exercício de funções menores, para abrir sindicâncias e
para inaugurar procedimentos administrativos” (2010, p. 457).
107
UNIDADE 5
108
UNICESUMAR
O fato é que somente uma decisão judicial pode, pelo menos juridicamente,
por fim a um conflito entre duas partes, pois o juiz impõe para as partes a sua deci-
são, ainda que lhes reste recurso a última palavra passará a ser então, daquele juiz.
Neste sentido,“a decisão definitiva possui força de coisa julgada. Essa decisão pode
ser contestada como injusta, juridicamente errada pelas pessoas envolvidas no
conflito e por estudiosos, que eventualmente publicarão comentários criticando
as soluções dadas pelo tribunal” (Dimoulis, 2007, p. 213). Mas é uma decisão final.
Sendo assim, uma decisão judicial constitui-se num importante referencial
para saber o que os juízes estão pensando e como estão tratando determinados
casos. De certa forma, fornece ao jurista um parâmetro para o sucesso ou não de
sua defesa. Mas para que isso aconteça é preciso que a mesma se constitua numa
jurisprudência assentada, em outras palavras, “se muitos tribunais decidem por
um longo período da mesma forma, seu entendimento possui força vinculan-
te maior do que a de uma decisão isolada. Quando temos decisões uniformes,
provenientes de vários tribunais, é muito provável que casos semelhantes sejam
decididos da mesma forma no futuro” (Dimoulis, 2007, p. 215).
Contudo, embora tenha força uma jurisprudência, a mesma não assume
a função e nem o papel de lei geral, pois a mesma pode ser “derrubada”, ou
seja, perder força em função de uma outra decisão judicial que, pela força de
seus argumentos e clareza de interpretação, passa a ser o novo referencial, é
preciso entender que “o juiz não cria a norma jurídica, pois que sua atuação
funcional restringe-se fundamentalmente a ministrar soluções com esteio
nas previsões legais abstratas, objetivadoras da conduta social humana” (Sch-
wartz, 2009, p. 123).
O que principalmente desperta interesse pela jurisprudência é uma busca
incessante da certeza e da segurança jurídica, que nada mais é, do que a obser-
vância de que os tribunais estão se utilizando das mesmas técnicas de inter-
pretação da norma geral, para aplicá-las a casos concretos semelhantes, mas
“isso não impede, todavia, que dois ou mais juízes, defrontando-se, ao mesmo
tempo, com idênticas questões controvertidas levadas a apreciação de suas
competências funcionais, venham dar-lhes soluções diferentes, ainda que, do
ponto de vista fático e das normas aplicáveis, um só devesse ser o veredicto”
(Schawartz, 2009, p. 125). O juiz tem autonomia para decidir o caso concreto,
não porque ele o quer, mas porque assim determina a lei, o que se tem que
ficar atento é com as discrepâncias que se afastam do padrão mediano.
109
UNIDADE 5
110
UNICESUMAR
111
UNIDADE 5
jurídica de que trata a jurisprudência, que poderá ser feita a qualquer momento,
pois depende de um ato de vontade do legislador, a existência de jurisprudência
não pode limitar a extinção da lei de que trata; e b) a apresentação de novos argu-
mentos jurídicos que possam derrubar determinada jurisprudência e também, é
uma questão de composição dos membros das câmaras dos Tribunais Superiores,
que podem mudar o entendimento e a forma de interpretação corrente.
Quanto as fontes não-estatais do Direito, por ser nosso ordenamento de pre-
dominância juspositivista, pouco espaço existem para as mesmas.
Autores contemporâneos como Nunes define o Direito Positivo como “o
conjunto das normas jurídicas escritas e não-escritas (o costume jurídico), vi-
gentes em determinado território e, também, na órbita internacional na relação
entre os Estados” (2005, p.129-130), inserindo já nesta definição, a necessidade
da presença do Estado organizado e que irá dar legalidade e legitimidade a
esta lei escrita e não-escrita. É conveniente ressaltar que no tocante as leis
não-escritas, na realidade elas não existem na forma de leis propriamente ditas,
mas são casos concretos onde um juiz, por não ter encontrado uma lei geral
e abstrata para a solução do mesmo, termina por fundamentar a sua decisão
nos usos e costumes de determinada região ou ainda, pesquisando decisões
tomadas por outros juízes para casos semelhantes. Neste caso, o próprio Có-
digo Civil, na sua Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro no artigo
4 diz o seguinte: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”. A analogia nada mais
é do que a comparação de casos semelhantes, os costumes não estão escritos
mas é uma prática reiterante da sociedade, como por exemplo, o caso do che-
que pré-datado e os princípios gerais do direito, nada mais são do que o corpo
constitutivo de conhecimento do direito adquirido na história da humanida-
de, e que de forma geral, tem aceitação pela maioria dos países que vivem no
Estado Democrático de Direito.
É bom ressaltar que mesmo nos dias atuais, ainda temos estudiosos do direi-
to que ainda defendem o jusnaturalismo, como forma de resolver ou ao menos
amenizar o caos em que vive a sociedade e o sistema judiciário de nosso país.
Quanto ao Costume Jurídico, este se caracteriza por ser “a repetição habi-
tual de um comportamento com a convicção de sua obrigatoriedade. Eles se
vinculam ao poder social, que vem a ser o poder decisório anônimo do povo e
inerente à vida coletiva” (Betioli, 2011. P. 161). É a repetição por uso da socieda-
112
UNICESUMAR
113
UNIDADE 5
114
UNICESUMAR
entanto, segundo nos ensina Reale, “o fato de não ser fonte do direito não priva, to-
davia, a doutrina de seu papel relevantíssimo no desenrolar da experiência jurídica.
Na realidade a sua função é de outra natureza, como se depreende do confronto
entre o que é produzido pelas fontes e o que é revelado pela doutrina” (2002, p. 176).
Outro posição discordante da doutrina ser uma fonte do Direito, é aquela
exposta por Betioli, para quem, “a doutrina não constitui uma fonte do direito,
porque não tem força bastante para revelar uma norma jurídica obrigatória.
Não possui estrutura de poder, indispensável à caracterização das formas de
revelação do direito. Sua força é convincente, não vinculante” (2011, p. 237).
Mesmo não tem força vinculante, sendo ou não uma fonte do direito,
todos reconhecem o papel importante desenvolvido pela doutrina, porque é
através dela que o legislador poderá inclusive, se utilizar para aperfeiçoar a
própria lei, e o desenvolvimento de suas atividades legislativas. Outro aspec-
to importante é que o estudo do direito nas faculdades de Direito e ciências
afins, normalmente ocorrem através dos ensinamentos proporcionados pela
doutrina. Ela é referencial balizador para a tomada de posicionamento teóri-
co-jurídico, e mesmo conduz a prática do jurista.
É Reale, dentro da sua visão culturalista, que expande os horizontes da
importância da doutrina, quando nos ensina que esta, “banha as matrizes do
Direito, indagando do papel histórico e da função atual de cada uma delas, das
relações de dependência existentes entre as diversas fontes do direito, em cada
País e em cada ciclo histórico, e, indo além, esclarece-nos sobre o significado
das normas ou modelos que das fontes derivam” (2002, p. 178).
Finalizando, as fontes do direito não nos revelam apenas a sua origem, mas
a compreensão que a sociedade tem do próprio Direito e que modelo melhor
atende as suas necessidades e expectativas.
Considerações finais
115
1. Explicar quando começa a ocorrer a positivação do Direito Moderno.
116
6
Norma Jurídica e
a Sanção
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
118
UNICESUMAR
119
UNIDADE 6
120
UNICESUMAR
Mas ainda existe outra perspectiva sobre a sanção, “numa perspectiva ju-
rídica técnica capitalista, a ação do sujeito não é um impulso moral, mas sim
um cálculo. Sua escolha por enfrentar uma sanção não é uma queda num mal
intrínseco, e sim uma mera opção ou um encaminhamento a uma determina-
da sanção como consequência de um ato” (Mascaro, 2013, p. 92). O homem
no capitalismo calcula a relação custo-benefício da sanção, e nem sempre se
conduz pela ação moral e tão pouco pelo dever ser. Existem situações em que
o benefício pelo descumprimento da norma é muito maior do que a sanção
prevista pela mesma, sendo assim, é preferível correr o risco, mas antes colher
os benefícios. É o caso, por exemplo, de pessoas que trabalham na informali-
dade buscando produtos em países vizinhos acima da cota permitida, como
o risco é reduzido em função da escassez de recursos para fiscalização e tam-
bém diante da dimensão de nossas fronteiras, o risco, ainda que ilícito, ainda
que corra o risco de perder a mercadoria e outros dissabores, é compensado
pelos benefícios.
Contudo, é necessário destacar, num primeiro momento, a importância
de Hanz Kelsen que separa Direito da moral e da religião, sendo proibido so-
mente o que tem previsão na norma, tirando a subjetividade que já em tempos
anteriores à sua obra, caracterizavam parte do Direito moderno, por outro
lado, apresenta também, não de forma intencional pelo autor, alguns proble-
mas, neste sentido, porque se a sua teoria é um avanço “em face dos velhos
juristas que confundiam direito com moral e religião, mas também apresenta
problemas por ser reducionista, porque não dá conta de explicar quais os inte-
resses sociais, as ideologias, as culturas, os poderes, os constrangimentos e as
relações históricas que estão pode detrás das instituições jurídicas” (Mascaro,
2013, p. 93-94). Esta posição crítica de Mascaro (2013) pode ser mais bem
compreendida se analisarmos porque no Brasil crimes de corrupção têm, na
maioria das vezes, penas leves e via processual tortuosa, capaz de gerar uma
sensação de impunidade, ou então, confiando na morosidade da justiça. A
corrupção no setor público afeta de forma direta os direitos humanos e fun-
damentais, porque desvia verbas de áreas sensíveis e carentes, aumentando
ainda mais o sofrimento, a miséria e alimentando os feudos políticos em re-
giões mais carentes, aonde o povo precisa mendigar e implorar por recursos
que, constitucionalmente e humanamente lhes pertence.
121
UNIDADE 6
122
UNICESUMAR
123
UNIDADE 6
1. Quanto à Hierarquia:
a) Normas Constitucionais.
b) Leis Complementares, Leis Ordinárias, Leis Delegadas, Decretos Le-
gislativos e Resoluções e Medidas Provisórias.
c) Decretos Regulamentares.
d) Outras Normas de Hierarquia Inferior: portarias, circulares, etc.
Já fora estudado que a questão da hierarquia das normas não se trata de importância
subjetiva que se dá a esta ou aquela norma, mas conforme nos ensina Hanz Kelsen,
“a ordem jurídica, especialmente a ordem jurídica cuja personificação é o Estado,
é, portanto, não um sistema de normas coordenadas entre si, que se acham, por
assim dizer, lado a lado, no mesmo nível, mas uma hierarquia de diferentes níveis
de normas” (2005, p. 181). É uma hierarquia que tem por função, entre outras, de
estabelecer competências para legislar, de estabelecer que norma permite dar a
outra norma, critério de validade e vigência.
Para Betioli, “a finalidade prática dessa hierarquia é evitar o caos, pois, caso
contrário, seria grande o problema de dispositivos conflitantes e imensa a confusão
legislativa” (2011, p. 204), principalmente em nosso país, onde de longa data sofre-
mos de uma inflação legislativa, com um número absurdo de normas, que às vezes,
legislam sobre mesmo assunto, ou assuntos que poderia ser legislados simplesmente
por uma norma geral.
124
UNICESUMAR
125
UNIDADE 6
3. Quanto à Aplicabilidade:
a) Normas Jurídicas auto-aplicáveis – São as normas jurídicas que
não necessitam de normas complementares para que as mesmas
possam começar a gerar obrigações e direitos, como por exemplo
no Código Civil, o artigo 1º que diz “toda pessoa é capaz de direitos
e deveres na ordem civil”. Esta norma não precisa esperar o auxílio
de nenhuma outra norma para ser aplicada.
b) Normas Jurídicas Dependente de Aplicação – Algumas normas
jurídicas precisam esperar a criação posterior de outras normas,
para que as mesmas possam começar a gerar direitos e obrigações.
Normalmente este tipo de norma é resultante da própria Cons-
tituição Federal ou Estadual, que pode criar uma Lei que conce-
dem direitos, mas prefere não colocar a especificidade da mesma,
até porque o objetivo da Constituição é o de apresentar as leis na
sua forma geral, então, fica para uma lei posterior definir melhor
a aplicabilidade desta lei. Como exemplo, podemos dizer o artigo
7º da Constituição Federal onde temos que entre alguns direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, está a “participação nos lucros,
ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
participação na gestão da empresa, conforme definido em lei”. O
Congresso Nacional ainda não criou uma lei que possa possibilitar
a aplicação deste inciso constitucional, e o que temos no momento,
são alguns acordos resultantes de convenção coletiva de trabalho,
mas ainda com saldos precários no tocante a real participação dos
trabalhadores. Ainda é mais uma concessão, uma espécie de “auxí-
lio” do que um direito realmente conquistado e efetivado.
Para Betioli, estas normas exigem “para sua vigência, a criação de novas nor-
mas legais que a complementam. O complemento normativo deve decorrer
inequivocamente no sentido de suas disposições” (2011, p. 193), em outras
palavras, o complemento não pode mudar o sentido e o objetivo da norma,
desvirtuando a competência de quem legislou sobre a matéria.
126
UNICESUMAR
127
UNIDADE 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
128
1. Explicar o que é sanção no tocante à norma jurídica e sua relação com aspectos
de ordem psicológica.
4. Como proceder, quando existir um conflito entre uma norma de ordem pública e
outra de ordem privada? Fundamentar sua resposta.
129
7
A Norma
Jurídica:
Validade,
Vigência e
Retroatividade
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
132
UNICESUMAR
133
UNIDADE 7
A vigência é uma consequência direta do critério de validade, uma vez que uma
lei pode ser válida, mas ainda não estar vigente, e só pode ter vigência se satisfeito
o critério de validade e demais exigências acessórias e muitas vezes específicas da
norma. Alguns estudiosos, como Miguel Reale chamam a vigência de validade
formal e a primeira espécie de validade de validade técnica.
Ensina-nos Reale que “não basta que uma regra jurídica se estruture, pois é
indispensável que ela satisfaça a requisitos de validade, para que seja obrigatória.
A validade de uma norma pode ser vista sob três aspectos: o da validade formal
ou técnico-jurídica (vigência), o da validade social (eficácia ou efetividade) e o
da validade ética (fundamento)” (2009, p. 105). Neste sentido, diferente de Hanz
Kelsen que quer estudar o Direito apenas enquanto uma ciência jurídica, Reale
estabelece uma relação entre o Direito enquanto dever ser e o Direito no campo
do ser, ou seja, a existência real e concreta deste direito.
Para Betioli, “vigência pode significar o período, o lapso de tempo, durante
o qual uma lei tem, teve ou terá a possibilidade de ser exigida, de ser imposta às
pessoas, num determinado lugar; abrangeria, por assim dizer, o nascimento, a
vida e a morte da regra legal; é o aspecto temporal, que alguns autores chamam
de validade material, para fins de esclarecer uma diferenciação entre existência
e validade” (2011, p. 243).
A vigência está ligada diretamente com a obrigatoriedade do cidadão em
passar a obedecer a norma a partir de um momento, momento este que poderá
ser definido pela própria lei. Sendo assim, associamos vigência com a questão
temporal. Para que uma norma possa entrar em vigência, depois dos aspectos
formais-técnicos-jurídicos de sua criação, ainda será necessária a sua publicação
no Diário Oficial competente, para que todos tomem ciência da sua existência,
da sua coercibilidade e mesmo o momento a partir da qual a lei passa a vigorar.
De forma objetiva a vigência está associada com o presente e o futuro.
Mas quem pode estabelecer a data em que a Lei entra em vigor? Somente o
órgão competente que a elaborou, e assim mesmo, algumas Leis tem prazo míni-
mo para entrar em vigência. Algumas Leis tem vigência imediata, ou seja, passam
a vigorar a partir da sua publicação no Diário Oficial, outras Leis especificam o
prazo de 45 dias, outras de 90 dias, ou mais se necessário, pois o Legislador tem
que tem o bom senso de saber que nem sempre o Executivo, o Judiciário e seus
134
UNICESUMAR
135
UNIDADE 7
136
UNICESUMAR
137
UNIDADE 7
Embora estes sejam os termos mais conhecidos, alguns autores preferem iden-
tifica-lo com o termo “eficácia da lei no tempo”, o que no resultado final é exata-
mente o mesmo. Neste sentido, “a eficácia da lei no tempo diz respeito ao tempo
de atuação desta até que desapareça do cenário jurídico” (Betioli, 2011, p. 455).
O mesmo Direito que através de procedimentos formais e materiais criam a
leis, é aquele que também pode determinar a saída do cenário jurídico de uma
determinada lei, como por exemplo, “quando surgem novas normas no ordena-
mento jurídico e estas passam a tratar a respeito do mesmo objeto de que tratava
uma velha norma, consideramos então que a norma velha perdeu validade. Tra-
ta-se do fenômeno da revogação: a extinção de uma norma jurídica por meio de
outra, que lhe retira a validade” (Mascaro, 2013, p. 140).
Este dispositivo técnico também está previsto na Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro, quando no seu artigo 2º, parágrafo 1º assim determina: “a lei
posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior”.
A regra geral para a revogação de uma Lei é a seguinte: 1) Competência do órgão
para revogar a Lei – Uma Lei Municipal não poderá revogar uma Lei Estadual; 2)
Critério Hierárquico da Lei – Uma Lei Ordinária não poderá revogar uma Lei Com-
plementar; e 3)Critério Cronológico – A norma jurídica mais nova revoga a antiga.
138
UNICESUMAR
Segundo Dimoulis “o princípio da hierarquia das normas indica que a nova norma
deve ser de nível igual (ou superior) à anterior. Quando o legislador modifica a sua
vontade, a norma anterior perde a validade. Isso é expresso pelo brocardo lex posterior
derogat lei priori (a norma posterior revoga a anterior” (2007, p. 238-239). Condição
esta que está prevista na própria Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Mas a revogação pode-se ainda se dar de duas formas, porque “em se tratando a
extensão da revogação, a norma revogadora pode se contrapor a uma norma revoga-
da” (Mascaro, 2013, p. 141), a esta forma, denomina-se de ab-revogação, ou seja, toda
a norma anterior foi revogada pela norma mais nova. Outra possibilidade é quando
a norma nova revoga apenas uma parte da norma antiga, seja um artigo, parte de
um artigo, parágrafos ou outros, neste caso, quando ocorre uma revogação parcial,
denomina-se derrogação.
Sintetizando, a revogação pode ser total, e neste caso se chama ab-revogação; ou
ainda, ser parcial, e passa a se chamar derrogação.
Quanto a revelação da revogação pelo legislador ela pode ser expressa ou tácita.
Neste sentido, será expressa“quando o elaborador da norma assim o declarar, explicitan-
do qual ou quais normas anteriores estão sendo revogadas” (Betioli, 2011, p. 456). Fica
clara a vontade do legislador. Ou ainda, pode ser expressa, nesse caso, se aplica quando
“houver incompatibilidade entre a lei nova e a antiga, ou pelo fato de que a nova passa
a regular inteiramente a matéria tratada pela anterior” (Betioli, 2011, p. 456).
No entanto, além dos processos técnicos para revogação de uma Lei, existem ainda
situações que estão fora do âmbito técnico-normativo, e que produzem, ao menos so-
cialmente, os mesmos efeitos da revogação técnico-formal,“são os casos em que uma
norma não é revogada nem por ela mesma nem por outra, e, portanto, sua extinção
se dará por uma espécie de abandono social. Nesse tipo de perecimento normativo
estão a caducidade, o desuso e o costume negativo” (Mascaro, 2013, p. 141).
Segundo Mascaro,“na caducidade, verifica-se o surgimento de um evento que faz
por extinguir a razão de ser de uma norma. Se, devido a um terremoto, é decretado es-
tado de calamidade pública, cessando os efeitos calamitosos, caduca também a norma”
(2013, p. 141). Quando uma Lei deixa claro o seu período de vigência, infere-se que ao
final deste período a lei caducou por auto-revogação, no entanto, existem leis que são
elaboradas para atender problemas específicos, em tempos específicos e não ficando
clara e expressa a sua caducidade (auto-revogação), é pacífico o entendimento de que,
se o objetivo para o qual fora criada a lei não mais existe, também não faz sentido a
continuidade de sua existência.
139
UNIDADE 7
140
UNICESUMAR
141
UNIDADE 7
Direito Adquirido
142
UNICESUMAR
Coisa Julgada
É aquela decisão judicial que não cabe mais recurso, ou seja, foi julgada até a
última instância e cuja sentença tenha sido devidamente publicada, conforme as
normas jurídicas determinam. Contra uma decisão judicial de última instância
não há contestação, resta-nos apenas cumprir a sentença. Vamos supor que numa
determinada demanda jurídica, o Superior Tribunal Federal tenha proferido a
sentença em 10/03/2007 e que no dia 11/03/2007 o Legislativo aprovado e o
Presidente da República sancionado uma nova lei que poderia favorecer uma das
partes envolvidas na contenda julgada pelo STF, essa lei não poderia retroagir
para garantir direitos sobre uma coisa que já foi julgada.
Outra questão que ainda poderíamos levantar: é possível questionar uma
coisa julgada? Sim, é possível e chama-se Ação Rescisória e garantida pelo Código
de Processo Civil no Capítulo IV, Da Ação Rescisória cujo principal escopo é o
de prevenir falhas processuais e outras, de forma intencional a prejudicar uma
143
UNIDADE 7
das partes, inclusive eventuais ações de má fé por parte do juiz. O tempo para
propor a ação rescisória se encerra em dois anos, depois de publicada a sentença,
de acordo com o artigo 495 do Código de Processo Civil.
144
UNICESUMAR
145
UNIDADE 7
146
UNICESUMAR
Nos países mais desenvolvidos essa relação pode até ser alcançada, como
por exemplo, na Suíça, na Suécia e outros países onde as diferenças sociais se
tornaram menos acentuadas e o Estado realmente é administrado com efi-
ciência da aplicação dos recursos públicos. Mas será que o mesmo pode ser
estabelecido em países onde uma enorme parte da população passa fome, e
vive de míseros auxílios governamentais, utilizados muito mais como meio
de arregimentação de voto, do que a execução de uma política social justa e
que traga resultados concretos a médio e longo prazo?
Segundo Coelho, “a carência de eficácia, porém, não implica a perda da
vigência, pois nada impede que a norma deixe de ser eficaz apenas tempora-
riamente que possa sê-lo plenamente, a partir do momento em que as condi-
ções sociais o permitam; entretanto, em nenhum momento deixou ela de ser
vigente” (2004, p. 169). Não há dúvida de que em alguns casos, a eficácia está
associada com a adesão a sociedade à norma, ainda que possa ser considerada
como algo subjetivo, a sociedade é quem melhor sabe que tipo de norma ela
precisa. O que acontece em alguns casos, é uma dissociação entre os interesses
da sociedade e aqueles interesses do legislador, é quando se inicia o rompi-
mento entre política no sentido da construção do bem público e política no
sentido de defesa de pessoas ou grupos sociais que se encontram no poder.
Já Betioli, apresenta outra característica da norma jurídica que vai além da
formalidade técnica-jurídica, quando afirma que “toda norma jurídica, além
da validade formal (vigência) e validade social (eficácia), deve ter também va-
lidade ética ou fundamento” (2011, p. 252). Uma norma sem validade ética ou
fundamento é certamente uma norma que não produzirá eficácia no campo
social, quanto ao fundamento “é o valor ou fim visado pela norma jurídica. Na
realidade, toda norma jurídica deve ser sempre uma tentativa d e realização
de valores necessários ao homem e a sociedade” (Betioli, 2011, p. 252).
É uma característica que não está presente nas normas jurídicas de países
totalitários, nas tiranias e nas ditaduras, situações políticas na qual, parte do
pressuposto de que a verdade pertence somente a uma pessoa, ou um grupo de
pessoas que chegaram e exercem o poder. Neste sentido ӎ o valor que legitima
uma norma jurídica” (Betioli, 2011, p. 252), pois a sociedade compreende que
147
UNIDADE 7
148
UNICESUMAR
Considerações finais
149
1. Validade e vigência representam o mesmo momento na existência da norma? Fun-
damentar sua resposta.
2. Uma norma pode retroagir para prejudicar alguém? Fundamentar sua resposta e
explicar o que poderá acontecer se tal fato ocorrer.
150
8
A Norma
Jurídica:
Validade,
Vigência e
Retroatividade
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
152
UNICESUMAR
153
UNIDADE 8
154
UNICESUMAR
155
UNIDADE 8
156
UNICESUMAR
157
UNIDADE 8
158
UNICESUMAR
requisitos essenciais para tanto, podem ingressar em juízo para proteger seus
interesses, quando isso for previsto pelo direito processual” (Dimoulis, 2007, p.
274). Os entes despersonalizados constituem-se das seguintes possibilidades:
aquelas sociedades que não tiveram reconhecimento de pessoa jurídica (camelôs,
por exemplo); massa falida; o espólio; a herança jacente; a herança vacante, todas
prevista no Código Civil.
Segundo a doutrina jurídica predominante, a relação jurídica é constituída
de cinco elementos: 1) sujeitos; 2) vínculo de atributividade; 3) objeto; 4) fato
propulsor; e 5) proteção jurídica.
Quanto aos sujeitos envolvidos na relação jurídica, independente de ser pes-
soa física, jurídica ou ente despersonalizado, caracterizam-se em sujeito ativo e
sujeito passivo, sendo assim, “o sujeito ativo é o titular do direito subjetivo de ter
ou de fazer o que a norma jurídica não proíbe. O sujeito passivo é o que deve
respeitar o direito do ativo, é titular de um dever jurídico” (Siqueira Jr., 2009, p.
164). Assim por exemplo, um sujeito que compra um livro numa livraria, e ainda
não efetuou o pagamento do mesmo, encontra-se na posição de sujeito passivo,
porque tem um dever para com a livraria, o de pagar o livro e a livraria, por outro
lado, desde que tenha entregado o livro em perfeitas condições, encontra-se na
condição de sujeito ativo, pois tem para si um direito, o direito de receber o valor
combinado pelo livro. É lógico que, esta relação pode se inverter em determinado
momento, quando, por exemplo, o livro apresenta páginas com defeito, ou pági-
nas faltando, dá-se início a uma nova relação jurídica e os sujeitos de direito se
encontram em posição opostas, ou seja, agora a livraria é um sujeito passivo, pois
tem que restituir um direito, e o comprador torna-se um sujeito ativo, que tem
para si, o direito de exigir da livraria a restituição de um direito.
Quanto ao vínculo de atributividade, “é o vínculo que confere a cada um dos
participantes da relação o poder de pretender ou exigir algo determinado ou de-
terminável. Quando alguém tem uma pretensão amparada por norma jurídica,
diz-se que tem título para o status ou o ato pretendido, ou, por outras palavras,
está legitimado para exigir o seu direito ou praticar o ato” (Reale, 2002, p. 219).
O vínculo é que cada sujeito tem para si por direito, e que lhes permite querer
estabelecer uma relação jurídica lícita. Por exemplo, o sujeito que tem a escritura
de um determinado apartamento, dando-lhe legitimidade e legalidade sobre o
mesmo, de vender, doar, ou exercer qualquer direito previsto na norma, tem com
este apartamento um vínculo normativo, que lhes conferem estes direitos. De
159
UNIDADE 8
outra parte, o comprador que tem o valor necessário para realizar esta compra,
novamente partindo da linha de visão de que o seu capital é lícito e, precisando
ou por motivo qualquer, comprar este apartamento, pode dizer que, existe entre
os dois um vínculo de atributividade, sobre os bens a ser negociados.
Quanto ao objeto, também chamado de bem jurídico, pode-se dizer que o
“bem é a coisa, res, objeto existente em função da relação jurídica, fixada a partir
da vontade ou da lei. Somente pode ser objeto de direito o bem suscetível de
valoração econômica ou moral” (Siqueira Jr., 2009, p. 164). Tem que ser um bem
que possa ser mensurável e estar à disposição dos sujeitos.
Segundo nos ensina Reale, “o objeto de uma relação jurídica pode ser uma
pessoa, uma prestação, ou uma coisa” (2002, p. 222). A diferenciação do objeto
determina também os limites do direito a ser exercido sobre este, como, por
exemplo, quando o objeto for uma coisa, é lógico que na maioria das vezes, o seu
proprietário pode dispor da coisa como achar melhor, e até mesmo, destruí-la
se achar mais conveniente. O mesmo não se dá sobre a pessoa, tomando como
exemplo, a relação de entre pai e filho, pois o Direito Civil atribui ao pai determi-
nados direitos e deveres sobre a pessoa do filho, isso não deixa de ser uma relação
jurídica, no entanto, o pai não pode dispor do filho como achar melhor, deve
fazê-lo no sentido de lhe permitir desenvolver suas potencialidades, capacidades,
aspectos pertinentes á sua própria condição de ser humano e outros.
Já quando o objeto for uma prestação, esta se caracteriza por “um ato ou uma
abstenção a que se obriga o sujeito passivo, e que o sujeito ativo pode exigir, como
a de pagar X no dia Y. Acontece nos direitos obrigacionais” (Betioli, 2011, p. 300).
Mesmo no caso de uma prestação, esta necessariamente deverá se realizar dentro
dos estritos limites estabelecidos pela legislação e do contrato, não existe por parte
do sujeito ativo, poder absoluto sobre a quem se deve a prestação.
Diante das características dos objetos da relação jurídica, quando se trata de
pessoas, está dentro da esfera do Direito Pessoal, quando se trata de coisa, a esfera
é do Direito Real e finalmente, quando se trata de prestação, a esfera é do Direito
Obrigacional, divisões específicas do Direito Civil e que deverão ser estudas em
momento mais oportuno.
Quanto ao fato propulsor, que nada mais é do que a relação jurídica propria-
mente dita, conforme nos ensina Siqueira Jr para quem “a relação jurídica surge
de um fato propulsor, idôneo a produção de efeitos jurídicos, que trata de um
acontecimento dependente ou não da vontade humana, a que a norma jurídica
160
UNICESUMAR
161
UNIDADE 8
162
UNICESUMAR
Ensina-nos Reale que “há tantos tipos de relações jurídicas quantas possam
ser as variações de fatos sociais e de sua disciplina normativa” (2002, p. 223), sendo
assim, inúmeras são as possibilidades de classificação das relações jurídicas, desde
as mais clássicas, às mais contemporâneas.
Concluindo, conforme ensina-nos Mascaro, “para compreender de maneira
mais profunda o problema da relação jurídica, no entanto, é preciso lembrar que ela
é apenas um momento qualificado das próprias relações sociais. As relações jurídi-
cas, tomadas na sua concretude, são muito mais amplas do que as meras referências
normativas” (2013, p. 116). Ou seja, a relação jurídica não é mero elemento norma-
tivo-técnico, como quer Hanz Kelsen, porque ela surge como um dos componentes
necessário das relações sociais, principalmente num sistema capitalista que faz do
consumo algo mais do que a simples necessidade de sobrevivência.
E ainda que existam relações, que não podem ser caracterizadas como jurídi-
ca por não serem tuteladas pelo Estado, e até mesmo existem contrariando as leis
estabelecidas pelo mesmo terminam por serem necessárias dentro de uma ordem
social cada vez mais injusta e desproporcional, como é o caso, da troca de vale
transporte por dinheiro em espécie, e o trabalhador opta por ir embora a pé para
casa, sendo este recurso, um valor a ser agregado em seu salário, para necessidades
mais urgentes. Outro acontecimento rotineiro é o trabalhador que aceita fazer um
bico após o trabalho, que é uma relação jurídica não tutelada diretamente pelo
Estado, e que tem nestes recursos, um valor considerável agregado ao seu salário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
163
1. Explicar o que é uma relação jurídica.
164
9
Teoria do
Ordenamento
Jurídico: lacunas
e conflitos
normativos
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
166
UNICESUMAR
167
UNIDADE 9
Para Bobbio, “na realidade os ordenamentos são compostos por uma infini-
dade de normas, que, como as estrelas no céu, jamais alguém consegue contar”
(1999, p. 37). Portanto, principalmente num mundo cada vez mais globalizado, é
humanamente impossível que alguém esteja ciente da existência de todas as leis
constantes num ordenamento jurídico, isto se explica em função da “dificuldade
de rastrear todas as normas que constituem um ordenamento dependo do fato
de que geralmente essas normas não derivam de uma única fonte” (1999, p. 37),
ainda mais quando se trata de uma República Federativa, onde além da União,
Estado e Municípios também tem autonomia jurídica para legislar sobre aquilo
que lhes compete, sempre de acordo com a Constituição Federal.
A estrutura interna, tanto social, jurídica, econômica, política é de tal comple-
xidade, que isso acaba refletindo diretamente no Direito, como consequência, “a
complexidade de um ordenamento jurídico deriva do fato de que a necessidade
de regras de conduta numa sociedade é tão grande que não existe nenhum poder
(órgão) em condições de satisfazê-la sozinho” (Bobbio, 1999, p. 38). Neste caso,
inclusive a sociedade é chamada para participar deste processo de produção de
normas jurídica, ainda que não sejam de caráter geral e de efeito erga omnes, em
outras palavras, que não se dirijam a todos os homens, pois se trata de contratos
e outros instrumentos entre particulares, tornam-se indispensáveis para estabe-
lecer a harmonia social necessária ao desenvolvimento de qualquer país.
A complexidade do ordenamento jurídico também nos leva a admitir, com
bastante convicção, a impossibilidade da teoria monista, para quem o Estado é e
deve ser o único produtor de normas jurídicas, e nos possibilita caminhar cada
vez, na direção de um pluralismo jurídico, teoria defendida por Antonio Carlos
Wolkmer e já apresentada em nosso curso.
É em função de ter que regrar um número muito grande e diverso de condu-
tas que o “poder supremo recorre geralmente a dois expedientes: 1) a recepção
de normas já feitas, produzidas por ordenamentos diversos e precedentes; 2) a
delegação do poder de produzir normas jurídicas a poderes ou órgãos inferiores”
(Bobbio, 1999, p. 38).
Assim como quando do estabelecimento da norma jurídica, no ordenamento
jurídico também nos referimos ao critério de validade, neste sentido, nos ensina
Reale que “a validade de todo ordenamento depende, segundo Kelsen, do disposto
na primeira Constituição, devendo-se, porém, notar que o adjetivo primeira não
indica uma precedência cronológica, mas sim uma prioridade lógica” (2002, p.
168
UNICESUMAR
193), que no nosso caso, é a Constituição Federal de 1988, a qual deverá estar
subordinada tanto as leis criadas posteriormente a ela, quanto àquelas criadas
anteriormente, desde que estejam em consonância com a Constituição.
Não podemos nos esquecer de que, mesmo depois de promulgada a Cons-
tituição Federal de 1988, ainda continuou a prevalecer o Código Civil anterior
ao de 2002, é lógico quem quando da interpretação de qualquer um de seus
artigos, que entrasse em conflito com a Constituição Federal de 1988, criando o
que chamamos de inconstitucionalidade, o que deve prevalecer sempre, são os
princípios emanados pela mesma.
Para Reale, defendendo uma visão do Direito enquanto uma construção
histórico-cultural, ou melhor, dizendo, a sua Teoria Tridimensional do Direito,
conforme já apresentado em nosso curso, “o ordenamento jurídico é, sem dúvida,
normativo, mas não é apenas um conjunto gradativo de normas e menos um
sistema de proposições lógicas” (2002, p. 195), em contraposição ao pensamento
de Hanz Kelsen, portanto,“as normas representam o momento culminante de um
processo que é, essencialmente, inseparável dos fatos que estão em sua origem e
dos valores ou fins que constituem a sua razão de ser” (2002, p. 195). Reconhece-se
a normatividade do ordenamento jurídico, mas também reconhece que o mes-
mo não é e nem pode ser, resultado de uma simples construção técnico-lógica,
dissociado da realidade histórico-cultural que o cerca.
Mas porque essa insistência para a existência de uma teoria do ordenamento
jurídico? Neste sentido, é preciso compreender que “toda teoria do ordenamento
tende para a ideia de sistema. Dizendo de melhor maneira, a teoria do ordena-
mento necessita da ideia de sistema para lhe completar sentido e lhe possibilitar
um adequado tratamento para a relação entre as normas jurídicas” (Abud, Cârnio
e Oliveira, 2013, p. 291). É através destas ideias que fundamentam o ordenamento
jurídico que nos permite explicar o Direito como resultado de normas que se
articulam como um todo, e também, estabelecem limites para a sua criação e
do tratamento da matéria a que se referem, em outras palavras, que o Direito
do Trabalho se preocupe com as questões pertinentes à sua materialidade, sem,
contudo, perder a perspectiva que este Direito se articula, como realmente o é,
com outro número elevado de normas, porque produz efeitos diretos e indiretos
nas de mais normas.
Diante desta complexidade é de se esperar que esta ideia de ordenamento
jurídico também apresente as suas próprias limitações, “assim, além do problema
169
UNIDADE 9
170
UNICESUMAR
ordenamento jurídico, são aquelas normas que, por um motivo ou outro, entram
em conflito com outras normas e às vezes, de mesma, ou de hierarquia superior,
gerando o fenômeno conhecido como Antinomia Jurídica.
Ensina-nos Bobbio que “definimos como antinomia aquela situação na qual
são colocadas em existência duas normas, das quais uma obriga e outra proíbe,
ou uma obriga e outra permite, ou uma proíbe e a outra permite o mesmo com-
portamento” (1999, p. 86). De forma exemplificada, se existisse uma norma que
determinasse que o limite máximo de velocidade em uma rodovia fosse de 100
km/h e também, pode parecer absurdo, mas existem casos concretos semelhan-
tes, outra norma determinasse que o limite mínimo fosse de 100 km/h. Como
resolver este tipo de problema, ao qual chamamos de antinomia?
Mas uma antinomia não surge somente com esta condição, ou seja, de cho-
ques entre normas, para Bobbio (1999), para ela exista é preciso atender a duas
condições primárias, a saber: 1) as duas normas devem pertencer ao mesmo or-
denamento, no nosso caso, considera-se apenas o ordenamento jurídico positivo;
2) as duas normas devem ter o mesmo âmbito de validade.
Quanto ao âmbito de validade, este “distinguem-se quatro âmbitos de validade
de uma norma: temporal, espacial, pessoal e material” (Bobbio, 1999, p. 87). No
tocante ao âmbito temporal, quando a norma diz que é proibido transitar em
determinada rua das 12:00 às 14:00 hs, não se confunde e nem pode ser incompa-
tível, quando outra norma determina que é permitido transitar das 14:00 às 20:00
hs. No âmbito ou validade espacial, se refere ao espaço geográfico determinado
pela norma, sendo assim, quando a norma proíbe fumar nos espaços físicos do
UNICESUMAR, não se confunde com a possibilidade de ser poder fumar no
espaço público e, portanto, fora do UNICESUMAR. No âmbito pessoal, ou seja,
o que identifica aquele sobre o qual recai ou não a norma, quando a norma de-
termina que é proibido aos menores de 18 anos dirigir veículo automotor, não
se confunde com a norma que permite, enquanto direito faculdade, aos maiores
de 18 anos poderem tirar a sua Carteira Nacional de Habilitação. E finalmente,
no âmbito da validade material, ou seja, a matéria de que trata a norma, quando
a norma determina que é proibido transitar em determinado local com veículo
automotor, não se confunde com a permissão para circular de bicicleta.
As antinomias entre duas ou mais normas, podem ocorrer sob três condições
diferentes, conforme nos ensina Bobbio, a saber: 1) total-total quando as normas
não podem ser aplicadas em caso nenhum, porque existe um conflito na sua
171
UNIDADE 9
172
UNICESUMAR
especialidade.
Quanto ao critério cronológico o que prevalece é que lex posteriori derogat
priori, ou seja, a lei posterior derroga a anterior, em outras palavras, a lei mais
recente revoga a mais antiga. Este é o caso em que as duas normas se encontram
no mesmo patamar hierárquico, e tem sua origem na mesma fonte de produção.
O entendimento que se dá é que a lei mais nova reflete os anseios mais recentes
da sociedade do que a lei anterior, segundo Bobbio, “imagina-se a Lei como ex-
pressão da vontade do legislador e não haverá dificuldade em justificar a regra. A
regra contrária obstaria o progresso jurídico, a adaptação do Direito às exigências
sociais” (1999, p. 93).
Quanto ao critério hierárquico se aplica a lex superior derogat inferior, ou seja,
a lei superior derroga a inferior. Este é o caso aonde existe conflito entre normas
de diferentes hierarquias quanto as fontes do direito, como, por exemplo, se existir
um conflito entre uma norma da Constituição Federal e uma norma criada pelo
legislador municipal, o que deve prevalecer, sempre, é a norma Constitucional.
Neste sentido, é preciso compreender que “a inferioridade de uma norma em
relação a outra consiste na menos força de seu poder normativo; essa força se
manifesta justamente na incapacidade de estabelecer uma regulamentação que
esteja em oposição à regulamentação de uma norma hierarquicamente superior”
(Bobbio, 1999, p. 93). Pode-se afirma também, que este critério auxilia na busca
da construção da coerência do ordenamento jurídico, pois estabelece quem ter
força normativa maior e capaz de oferecer subsídios para a elaboração e existência
de outras normas.
Quanto ao critério da especialidade o que prevalece é lex specialis derogat
legi generali, em outras palavras, a lei especial derroga a lei geral. O problema
segundo Betioli (2011) é conceituar o que é uma norma especial e para resolver
esta situação, o referido autor cita Maria Helena Diniz, para quem, uma norma
é especial quando “possui em sua definição legal todos os elementos típicos da
norma geral e mais alguns de natureza objetiva ou subjetiva, denominados es-
pecializante. A norma especial acresce um elemento próprio à descrição legal do
tipo previsto na norma geral, tendo prevalência sobre esta” (2011, p. 460). A norma
especial se aprofunda no tratamento de um tema específico, de um problema que
exigiu do legislador tratar algo específico como forma de aumentar a tutela por
parte do Estado, como, por exemplo, o Estatuto do Idoso, ou ainda, o Estatuto da
Criação e do Adolescente. Segundo Bobbio, “a passagem da regra geral à regra
173
UNIDADE 9
174
UNICESUMAR
175
UNIDADE 9
As Lacunas do Ordenamento
176
UNICESUMAR
177
UNIDADE 9
178
UNICESUMAR
das lacunas, uma nomenclatura desenvolvida por Carnelutti, que são os critérios
de autointegração e heterointegração.
O método da autointegração “consiste na integração cumprida através do
mesmo ordenamento jurídico, no âmbito da mesma fonte dominante, sem re-
corrências a outros ordenamentos e com o mínimo recurso a fontes diversas da
dominante” (Bobbio, 1999, p. 147). No nosso caso, a fonte dominante é a estatal,
sendo assim, o jurista deve buscar dentro do ordenamento jurídico brasileiro,
uma solução para preencher a lacuna apresentada no caso concreto.
A própria Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, no artigo 4º
determina que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. Quando a lei é omissa, é
porque existe uma lacuna no direito. Neste sentido, o próprio Bobbio nos ensi-
na que “o método da autointegração apoia-se particularmente em dois procedi-
mentos: 1) a analogia; 2) os princípios gerais do direito” (1999, p. 150). No caso
brasileiro, acrescentam-se os costumes, que já estudamos em momento anterior
em nosso curso.
Mas o que significa a interpretar e aplicar uma norma, para realizar a au-
tointegração, com a utilização da analogia? Ensina-nos Bobbio que a analogia
é o “procedimento pelo qual se atribui a um caso não-regulamentado a mesma
disciplina que a um caso regulamentado semelhante” (1999, p. 151).
A analogia é resultante de um processo de construção lógica entre o que já
está previsto que visa encontrar pontos de convergência para aplicação, no caso
concreto para o qual se apresenta a inexistência de normas, sendo assim, “no
processo analógico, a tarefa do aplicador do direito será a de localizar, no sistema
jurídico vigente, a norma prevista pelo legislador e que apresenta semelhança
fundamental, não apenas acidental, com o caso não previsto” (Betioli, 2011, p.
428). Por exemplo, no comércio praticado através da internet, naquilo que não
tem ainda norma específica, busca-se analogia para as normas já consagradas
do direito empresarial e das relações de consumo de compra e venda para as
transações tradicionais.
Conforme nos esclarece Coelho, “a analogia não ocorre entre normas inter-
pretandas, mas entre situações diversas, das quais uma está claramente regulada,
ao passo que a outra não. Em face dessa carência de regulação jurídica, o juiz pode
aplicar a lei voltada para a situação análoga. Nesse caso, emprega-se o argumento
lógico per analogiam” (2004, p. 322). É um processo de construção lógico-ra-
179
UNIDADE 9
180
UNICESUMAR
181
UNIDADE 9
É neste mesmo sentido, que para Reale “fácil é perceber que, sendo ele-
mentos condicionadores ou fundantes da experiência jurídica, podem ter as
mais diversas origens, consubstanciando exigências de ordem ética, sociológica,
política, ou de caráter técnico” (2002, p. 305). Portanto, não é mera construção
técnica e nem se encontra de forma estática, uma vez que o seu componente
ético, sociológico e política tem um dinamismo próprio que acompanha os an-
seios da sociedade, dos modelos que de tempos em tempos a sociedade projeta
para o seu desenvolvimento.
O método da heterointegração, conforme nos ensina Mascaro, “consiste em
trazer, a um caso dado como lacunoso, uma resposta vinda de fonte externa ao
próprio ordenamento jurídico. Em geral, a heterointegração se faz com o recurso
à comparação com outros ordenamentos, de outros Estados mas também de
outras épocas no mesmo Estado, e também com a busca de orientações fora do
ordenamento jurídico” (2013, p. 161). É preciso observar que quando esta busca
se dá em ordenamentos jurídicos de outros Estados, é preciso que este tenha
princípios constitucionais que se assemelhem ao nosso, pois existe uma diferença
quanto ao objetivo da norma jurídica entre um Estado Democrático e um Estado
Totalitário, porque enquanto no primeiro a lei é a vontade do povo positivada, e
tem muito mais um caráter de norma de conduta no sentido pedagógico; no se-
gundo, a lei traz junto de si o medo necessário à manutenção deste tipo de Estado.
Conforme nos ensina Montesquieu, o sentimento que move uma República é a
virtude, e o sentimento que move o despotismo (Estados Totalitários) é o medo.
Conforme nos ensina Bobbio,“o tradicional método de heterointegração me-
diante recursos a outros ordenamentos jurídicos consistia, no que se refere ao
juiz, na obrigação de recorrer, em caso de lacuna do Direito positivo, ao Direito
natural” (1999, p. 147). Isto ocorre ou ocorria, naqueles ordenamentos jurídicos
aonde o Direito natural tem vigor e força para tal, partindo do pressuposto das
teorias defendidas pelos jusnaturalistas, para quem o “Direito natural era imagi-
nado como um sistema jurídico perfeito, sobre o qual repousava o ordenamento
positivo, por natureza imperfeito: a tarefa do Direito natural era dar remédio
às imperfeições inevitáveis do Direito positivo” (1999, p. 147). É lógico que nos
ordenamentos de predominância juspositivista fica muito difícil este tipo de apli-
cação, mas não podemos nos esquecer de que, por exemplo, um dos principais
fundamentos dos chamados Direitos Humanos, tem a suas origens no Direito
natural e também, muito do Direito positivo se fundamenta sobre estes Direitos.
182
UNICESUMAR
Equidade
183
UNIDADE 9
184
UNICESUMAR
presente ou futura, mas simplesmente porque este tipo de ação contribui para a
construção e o fortalecimento da felicidade coletiva.
Mas a ideia de justiça e injustiça não existe em qualquer lugar, é preciso ter
um referencial, “pois a justiça só pode existir entre aqueles cujas relações mútuas
são reguladas pela lei, e a lei existe no meio daqueles entre os quais existe uma
possibilidade de injustiça, pois a administração da lei significa a discriminação
do que é justo e do que é injusto” (Aristóteles, 2002, p. 11). Encontra-se presente
o realismo aristotélico, pois a ideia de justiça e injustiça só pode existir a partir
de um parâmetro, daquilo que os homens determinaram como minimamente
necessário para se viver em sociedade, e de outro lado, reforça a importância
dada por Aristóteles, para a figura do juiz, porque é natural que numa vida em
sociedade surjam conflitos entre os homens e alguém queira tirar uma vantagem
indevida, sendo assim, “é por isso que, quando ocorrem disputas, os homens têm
de recorrer a um juiz. Ir até um juiz é ir à justiça, pois o juiz ideal é, por assim
dizer, a justiça personificada” (2002, p. 9).
Embora Aristóteles tenha uma percepção positiva sobre a natureza humana,
não descarta a possibilidade do homem, em escolher um comportamento que
contrarie a sua própria essência e natureza, que é o de viver bem e feliz, sabendo
que os homens podem ser injustos por escolha própria de sua vontade, inde-
pendente das origens e motivos destas escolhas, afirma que, “é por isso que não
permitimos que um homem governe, mas sim a lei” (Aristóteles, 2002, p. 11).
Diante do exposto ainda nos resta um problema: o que é a equidade, e qual
sua relação com a justiça e a ação justa ou injusta? Nos adverte Aristóteles que
justiça e equidade não são as mesma coisa, e que a “equidade, embora justa, não
é justiça legal, mas sim uma retificação da justiça legal. A razão disso é que a lei
é sempre uma declaração geral: no entanto, existem casos que não podem ser
abrangidos numa declaração geral” (2002, p. 16).
Existem casos que aplicar a Lei que trata de um caso geral, implica em acen-
tuar uma injustiça já realizada, não porque a lei assim o quer, mas simplesmente,
pela particularidade do caso contrato, que exige outra interpretação acerca da lei.
Ou poderíamos dizer, que durante a Segunda Guerra Mundial, prisioneiros dos
campos de concentração que fugiram dos nazistas, o fizeram de forma injusta,
simplesmente porque existia uma norma jurídica, emanada pelo malfadado Es-
tado Alemão, que assim o determinava? Na visão de Hanz Kelsen talvez sim, mas
não o era, para o conceito de justiça em equidade em Aristóteles.
185
UNIDADE 9
Portanto, conforme nos ensina Aristóteles, a equidade não é justiça legal, mas
é a forma de corrigir eventuais injustiças que seriam cometidas pela ausência da
lei, ou pela aplicação da lei, em casos que, dado a sua peculiaridade, fogem ao
contexto do caso geral para o qual fora criada a norma.
Segundo Schwartz, analisando a equidade a partir da visão aristotélica, “po-
der-se-ia conceituar a equidade como a justiça do caso concreto; é o abrandamen-
to do rigor da lei, em sua dimensão abstrata e generalizante, de modo que, quando
aplicada na solução de um determinado fato social, não resulte em manifesta
injustiça” (2009, p. 151). Não é uma justiça legal, mas é uma justiça corretiva, que
tem relação com a moral, a ética e mesmo com a construção histórica do Direito,
pois os homens espera no mínimo, que o Direito realize a justiça.
No entanto, estamos tratando da equidade como forma de integração às la-
cunas do Direito, pois como ideal a ser seguido, encontram nos defensores do
juspositivismo resistências ferrenhas e contrárias à sua aplicação, porque “o juiz,
como, de resto, qualquer intérprete e aplicador da lei, está rigorosamente sub-
metido ao seu enunciado, só lhe sendo possível questionar a sua validade, a sua
vigência e a sua eficácia” (Schwartz, 2009, p. 153). Posição defendida também por
Hanz Kelsen, para quem o conceito de justiça não pertence ao Direito enquanto
ciência, mas situa-se no campo da ética, da moral e da política, que são elementos
externos ao direito.
Finalizando, embora o tema seja polêmico e não encontre posição pacífica
entre os juristas e estudiosos do Direito, é preciso, segundo nos ensina Reale no
conjunto de sua obra, reconhecer que o Direito também se funda, se estrutura e
precisa se preocupar com questões de cunho axiológico, como forma de fornecer
uma orientação para a direção a ser tomado como referência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
186
1. Explicar a diferença entre o propósito de estudo da teoria da norma e da teoria
do ordenamento jurídico.
4. Explicar se é possível existir uma lei sem que a mesma seja justa.
187
10
Hermenêutica
jurídica e
argumentação
Dr. Ivan Dias da Motta
Me. Cássio Marcelo Mochi
190
UNICESUMAR
Hermenêutica jurídica
191
UNIDADE 10
192
UNICESUMAR
puderam encontrar previsões legais. Estas soluções nada mais são do que a integração
às normas jurídicas, preenchendo assim, a lacunas.
Conforme nos ensina Venosa (2006, p. 178), as lacunas podem ser de várias espé-
cies, e alguns autores até apresentam outras possibilidades, mas de forma geral, podem
ser voluntárias, quando a inexistência da norma é proposital pelo legislador. Para Betioli
“são lacunas voluntárias, ou casos em que a própria norma remete ao órgão judicante a
utilização da equidade” (2011, p. 445). No entanto, o mais comum é o juiz procurar na
jurisprudência uma solução para o caso, uma vez que a questão do julgar com equidade
ainda é tema controverso em nossa cultura jurídica. Ressalta ainda Betioli, que “poder-
-se-ia falar em lacuna voluntária também nos casos em que na redação das normas
se introduz certo grau de indefinição e maleabilidade com a utilização de conceitos
indeterminados, como boa-fé, bons costumes, ordem pública, diligência de um bom
pai de família etc” (2011, p. 445). É o caso em que o juiz ou tem que preencher a lacuna,
com a aplicação destes conceitos.
Conforme já ressaltado, numa cultura jurídica como a brasileira, e como parte
de um descrédito da sociedade nas relações com o Estado, sempre que se envolvem
questões que, para a sua solução é necessário usar de conceitos axiológicos, sempre vai
existir muita polêmica e discordância na aplicação destas formas de solução, sendo
assim, vivemos num ordenamento jurídico onde a grande meta é o máximo de posi-
tivação e um mínimo de relações, onde as soluções passem por conceitos axiológicos.
Ainda existe outro tipo de possibilidade, que dado a inúmeros problemas de or-
dem política, pode existir e que se caracterizam por lacunas voluntárias de origem e
estratégica política mesmo, em outras palavras, quando por falta de consenso, ou por
motivos de vantagem política, o legislador deixa de legislar simplesmente para que os
problemas se agravem, e neste caso, cabe ao judiciário dar soluções a estes casos. Este é
um problema de ordem política e não jurídica.
Ainda, segundo Venosa (2006, p. 178) ainda existe as lacunas involuntárias, sendo
o caso em que o legislador efetivamente não previu solução para um determinado caso
geral. Para estes casos, já foram apresentados as formas de integração.
NOVAS DESCOBERTAS
193
UNIDADE 10
Classificação da Interpretação
194
UNICESUMAR
195
UNIDADE 10
quer norma, sendo assim, é possível identificar qual a verdadeira intenção da sua
elaboração, como, por exemplo, e bem sabemos, que a libertação dos escravos
no Brasil não partiu de questões humanitárias, mas sim por pressão de ordem
econômica por parte da Inglaterra, desmistificando assim, um possível ato de
humanismo da Princesa Isabel e ao identificar estas questões, e caminhando de
forma mais profunda na história, verificaremos que a Lei Áurea em nada apoiou
o escravo colocado em liberdade por seu senhor.
A interpretação sociológica refere-se à adaptação das leis às realidades e
condições sociais e a investigação das razões sociais que motivaram a lei, e seus
reflexos no momento atual. Para Mascaro, a interpretação sociológica “alcança
um nível maior do que o da própria norma jurídica. Vai buscar na sociedade, as
causas que geraram base à formação da norma. Os conflitos sociais, as lutas de
classe, as contradições, os interesses em jogo, a cultura, pressões políticas, econô-
micas, culturais, religiosas etc., tudo isso entra em campo para o entendimento
da norma jurídica” (2011, p. 174).
A interpretação teleológica tem similaridade com a interpretação sociológi-
ca, quanto ao fato de observar o aspecto social, no entanto, segundo nos ensina
Dimoulis, o “raciocínio é o seguinte: ao criar a lei, o legislador pretendia tutelar
determinados interesses ou bens e alcançar certas finalidades. Se entre a criação
da lei e o momento atual houve mudanças sociais, devemos aplicar a norma após
termos identificado qual seria a vontade do mesmo legislador se ele legislasse em
nossos dias” (2007, p. 180). Em outras palavras, é trazer a intenção do legislador
para interpretar a norma nos dias atuais.
Para Nunes, ainda com referência a interpretação teleológica, “essa regra de
interpretação teleológica, quando trata do encontro dos princípios maiores, que
são fins inalienáveis deve valer-se de valores no ato de interpretar. A fixação do
sentido de justiça, bem comum, fim social depende de apreciação valorativa do
fim da norma jurídica e do meio social a qual ela se dirige” (2005, p. 270). Neste
caso, foge da mera interpretação sistemática-lógica do texto, para conhecer os
seus fins no sentido axiológico e social, como resultado deste processo, “costu-
ma-se chamar esse tipo de interpretação, também de axiológica, em função dos
valores que leva em consideração, ou sociológica, porque tenta pensar e adaptar
a norma às necessidades sociais vigentes à época da interpretação” (2005, p. 270).
Reale quando do desenvolvimento e exposição da Teoria Tridimensional do
Direito, e no conteúdo de sua obra, já nos apresenta essa visão da interpretação
196
UNICESUMAR
teleológica da norma jurídica, quando na sua exposição nos ensina que “inter-
pretar uma lei importa, previamente, em compreendê-la na plenitude de seus fins
sociais, a fim de poder-se, desse modo, determinar o sentido de cada um de seus
dispositivos. Somente assim ela é aplicável a todos os casos que correspondam
àqueles objetivos” (2002, p. 289).
197
UNIDADE 10
198
UNICESUMAR
Escola da Exegese
Esta escola é posterior à Escola dos Glosadores, mas herdou algumas de suas ca-
racterísticas, conforme esclarecido no tópico anterior. No entanto, se aprofundam
em algumas questões, procurando descobrir as intenções do legislador, conhe-
cendo os processos que antecederam à elaboração da norma, neste sentido, o in-
terpretador deve apenas aplicar a norma de acordo com a intenção do legislador.
Alguns autores nominam também, como Escola racionalista ou legalista.
Esta Escola tem a sua origem como resultante do processo de codificação, sur-
gindo na França no século XIX, de forma indireta Napoleão e a sua insistência
de estabelecer de forma rígida a sua personalidade à codificação, contribuíram
significativamente à construção dos postulados desta Escola. Sendo assim, “a
principal premissa desse movimento metodológico se apresenta no comando
de respeitabilidade que existe entre o texto e o intérprete (no caso, os juízes):
este devir ater-se, rigorosamente, aos dizeres contidos na compilação. Era
necessário manter fidelidade aos artigos do código” (Abud, Cârnio e Oliveira,
2013, p. 328). O resultado deste método é que código e Direito passam a ser a
mesma coisa. O juiz passa a ser um intérprete gramatical e lógico do código.
Não pode e nem deve criar.
199
UNIDADE 10
É uma típica escola de seu tempo histórico e das mudanças próprias deste tempo,
portanto,“este tipo de abordagem metodológica deve-se ao clima de total subordina-
ção e desconfiança a que estavam submetidas a jurisprudência (juízes) e a erudição
(doutrinadores). Assim, é natural que a escola dominante de pensamento praticasse
uma interpretação literal dos códigos, razão pela qual conhecida como escola exegé-
tica” (Abud, Cârnio e Oliveira, 2013, p. 329). Napoleão considerava o seu código uma
das obras primas da racionalidade, resultante do seu esforço e empenho político para
dar aos franceses, algo de que poderiam se orgulhar.
No tocante a forma de interpretação, Reale nos ensina que “é somente graças à
interpretação lógica e gramatical que, segundo, a Escola da Exegese, o jurista cumpria
o seu dever primordial de aplicador da lei, de conformidade com a intenção original
do legislador. Este é o lema caracterizador da Escola” (2002, p. 280). Era uma fidelida-
de ao texto e não ao Direito, até porque, para esta Escola Direito e código significam
exatamente a mesma coisa.
Foi e continua sendo uma Escola influente e para ela,“a lei é elevada a plano tão alto
que passou a ser como a única fonte do direito. Dizia, por exemplo, Demolombe: os tex-
tos acima de tudo. Aubry: toda alei, nada além da lei. Laurent: os códigos nada deixam
ao arbítrio do intérprete; o direito está escrito nos textos da lei” (Betioli, 2011, p. 390).
Concluindo, para esta Escola o direito está contido na lei e passa a ter vida pró-
pria, e a função do intérprete é a de retirar dos textos das leis, as soluções para os
casos concretos, toda a lei, nada mais do que a lei. Portanto, seguir o código e seguir
e aplicar a lei, é tornar o direito algo real e concreto, é realizar justiça. O texto legal é a
única fonte do direito. Dentro deste rigor metodológico, esta Escola de interpretação,
traz quatro característica fundamental: “a sistematicidade jusnaturalista-racionalista;
a radical separação entre fato e direito; a identificação total entre código (estatuto) e
direito; e o dogma da literalidade na interpretação dos artigos dos códigos” (Abud,
Cârnio e Oliveira, 2013, p. 329).
Escola Histórica
Para esta Escola de interpretação a lei tem vida própria, portanto, o intérprete
deve observar o que o legislador quis e o que ele poderia querer no tempo atual,
em outras palavras, adaptar a velha lei aos tempos atuais. Por ironia do destino,
a França usou este método, para manter vivo o Código Civil Francês, ou, como
200
UNICESUMAR
201
UNIDADE 10
Este movimento inicia-se na França com as obra de François Gény, e teve seu ápice
entre 1905 e 1914, e depois, pelas obras de alguns autores alemães, principalmente
Hermann Kantorowicz.
Esta Escola de interpretação, tinha uma característica que irá fundar uma das
principais críticas contra a mesma, pois interpretava os textos, e, ia além dos mesmos,
pois criava novos direitos, quando da existência da lacunas.
Com fundamentos na obra de François Gény, o mesmo afirmava que a lei é
sem dúvida a fonte mais importante do Direito, no entanto, não é a única fonte. Se
o jurista se deparar com uma lacuna na lei, deve primeiro procurar resolver o pro-
blema através das fontes oriundas dos costumes, da jurisprudência e da doutrina,
no entanto, se estas fontes não forem, ou não se mostrarem suficientes, o juiz deve
usar legislar e criar uma lei para resolver o caso concreto que se apresenta. Há casos
em que o juiz pode inclusive, agir praeter legis, ou seja, ir contra a lei. Segundo nos
ensina Montoro, na existência de lacunas e na impossibilidade de resolvê-las pela
via tradicional, “o intérprete deve recorrer a outras fontes, e não violentar a lei para
força-la a dizer o que ela não pôde ter previsto, como pretende a doutrina da evolução
histórica” (2005, p. 438).
No Brasil um dos principais críticos contra esta Escola de interpretação é Carlos
Maximiliano, que afirma na sua obra Hermenêutica Jurídica, ser perigoso conceder
ao juiz, algo mais do que a sua função que é a de aplicador do Direito, com fundamen-
202
UNICESUMAR
203
UNIDADE 10
Decorrido todo este tempo histórico, e com o surgimento ainda da chamada Escola
da Jurisprudência dos Valores, que apenas tira parte da subjetividade do juiz, subs-
204
UNICESUMAR
tituindo por questões axiológicas, não se pode tirar o mérito de que estas Escolas
denunciaram o excesso perigoso da prática dogmática, transformando-se num fun-
damentalismo normativo jurídico, sendo assim, apontaram a necessidade de uma
nova perspectiva de interpretação que também levasse em conta a realidade social.
Outro aspecto importante é que seus fundadores pelo menos ousaram em levantar,
trazer a tona, problemas até então não apontados, tirando o Direito de uma zona de
conforto que se encontrava, principalmente após o processo de codificação.
Argumentação jurídica
Direito se manifesta não somente através dos fenômenos sociais, dos textos legais,
das decisões judiciais, mas, sobretudo através da argumentação jurídica como aquela
que invoca e expõe as suas considerações e estudos sobre o fato e sua relação com
o Direito.
O enfraquecimento da argumentação jurídica como técnica necessária para que
o jurista revelasse ao mundo e ao juiz, a possível relação entre o mundo dos fatos e
o mundo do Direito, é segundo Mascaro (2013), resultado da prevalência do posi-
tivismo jurídico, fortemente influenciado pelo modo de produção capitalista, que
transformou o Direito em mero domínio da técnica. Reale também nos ensina que
ao levar a Ciência do Direito ao tecnicismo decisional foi preciso retirar do Direito
a “riqueza verbal” e o Direito ficou apenas restrito “à fria lógica das formas ou fórmu-
las jurídicas. Perdera-se, em suma, o valor da Retórica, confundida erroneamente e
impiedosamente como verbalismo dos discursos vazios” (2002, p. 88).
Segundo Mascaro, após a revolução francesa, e com a ascensão do posi-
tivismo jurídico a argumentação jurídica fica extremamente restrita, “porque
havia até mesmo a proibição de interpretar as normas jurídicas, como se se
imaginasse que elas pudessem falar por si próprias, sem que o jurista, quando as
lesse, já não as estivesse interpretando situacionalmente” (2013, p. 186). Nãos e
interpreta o texto normativo, apenas se aplica o que nele está contido, que, aliás,
fora defendido pela Escola da Exegese, conforme já apresentado anteriormente
em nosso curso.
No entanto, acontecimentos históricos como a Primeira e Segunda Guerra Mun-
dial, o acirramento do capitalismo e seus problemas de ordem social, começaram a
produzir mudanças, e como consequência, “a partir de meados do século XX já se
205
UNIDADE 10
206
UNICESUMAR
CONSIDERAÇÕES FINAIS
NOVAS DESCOBERTAS
EXPLORANDO IDEIAS
Como os temas tratados no livro são extensos e normalmente não podem ser encontrados
em uma única obra, sugerimos que procurem os temas por capítulos, principalmente em si-
tes de Universidades que tenham grupos de pesquisas relacionados diretamente ao Direito.
NOVAS DESCOBERTAS
207
UNIDADE 10
LEITURA COMPLEMENTAR
Do Estado, do Direito e da Política: reflexões
Os conceitos de Estado, de Direito e de Política se encontram tão profundamente
interligados que não se pode com proveito analisá-los de forma separada.
Samuel Pinheiro Guimarães
Introdução
208
UNICESUMAR
LEITURA COMPLEMENTAR
em harmonia se não fora pela existência do Estado, ente maléfico e autoritário que
perturba e impede o desabrochar da sociedade civil. A Economia é representada
como um espaço livre, dinâmico e criativo, onde empresários, capitalistas e inves-
tidores são responsáveis pelo progresso e pela prosperidade de todos enquanto
que o Estado aparece como uma entidade intervencionista, ineficiente, corrupta
e corruptora.
Todavia, não existe Sociedade Civil sem Estado, mesmo quando este aparece
como instrumento de um regime ditatorial ou autoritário, pois sem o Estado e sem
normas jurídicas, a sociedade seria tão somente um emaranhado confuso de lutas
violentas de interesses. A não ser nos territórios coloniais, onde as instituições do
Estado colonial aparecem como criaturas da potência estrangeira, alheia e opres-
sora da sociedade local, se pode falar de separação entre Sociedade Civil e Estado.
Por outro lado, não há Economia sem Estado, pois são as normas jurídicas que
regulam as atividades econômicas e que, através das agências do Estado, garantem
a observação das relações entre trabalho e capital (lato sensu), qualquer que seja
o sistema econômico de uma determinada sociedade: agrária primitiva, antiga,
feudal, capitalista, socialista ou comunista.
Hoje há uma tendência a considerar que a expressão mais moderna da Sociedade
Civil seriam as organizações não governamentais, que representariam melhor os
interesses do povo, principalmente em Estados em que as classes hegemônicas são
conservadoras e opressoras. Todavia, em muitas circunstâncias, as organizações
não governamentais que atuam em um país, em especial quando é ele subdesen-
volvido, representam em realidade interesses particulares e estrangeiros e estão
longe de representar a sociedade civil. De toda forma, não têm essas organizações
representatividade e legitimidade já que seus integrantes se auto-escolheram, e
assim é de estranhar e de preocupar a tendência atual de incorporar representantes
de ONGs em organismos do Estado.
Ao tratar dos temas do Estado, do Direito, da Política, da Sociedade e da Economia
há sempre uma certa repetição de ideias e de argumentos, devido à sua estreita
interelação, pelo que me penitencio.
209
1. Explicar qual a finalidade e aplicação da hermenêutica jurídica.
210
CONCLUSÃO GERAL
ABRANTES, Elizabeth Sousa. “O Dote é a Moça Educada”: mulher, dote e instrução em São Luis
na Primeira República. Tese de Doutorado. Universidade Federal fluminense (Niterói): 2010.
Disponível em: http://www.historia.uff.br/stricto/td/1252.pdf.
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos. S.J. e A. Ambrósio de Pina, S.J. São
Paulo: Nova Cultural, 1999.
ADAMS, Ian; DYSON, R. W.. Cinquenta Pensadores Políticos Essenciais – Da Grécia antiga aos
dias atuais. Trad. Mario Pontes. Rio de Janeiro: Difel, 2006.
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos Direitos dos Povos. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1961.
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. Trad. José Roberto Martins Filho. São Pau-
lo: Brasiliense, 1995.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. In: Grandes Filósofos do Direito. São Paulo: Martins Fon-
tes, 2002.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia. 3ª ed.. São Paulo: Mo-
derna, 2006.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: MORRIS, Clarence (org.). Os Grandes Filósofos do Direito.
Trad. Reinaldo Guarany. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ASHTON, Peter Walter. A Common Law e a Equity do Direito Anglo-Saxônico. In: Revista do
Ministério Público do RS. Porto Alegre: n. 64 out. 2009 – dez. 2009 p. 163-187.
BAGNOLI, Vicente; BARBOSA, Susana Mesquita; OLIVEIRA, Cristina Godoy. História do Direito.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
BARBEIRO, Heródoto e CANTELE, Bruna Renata. Ensaio Geral: 500 anos de Brasil. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1999.
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. São Paulo: Saraiva,
2009.
BASILE, Tatakis. La Filosofia Griega Patristica Y Bizantina. In: PARAIN, Brice (dirección). Historia
de la Filosofia – Del Mundo Romano al Islam Medieval. Volumem 3. México: Siglo XXI Editores,
1972.
212
BETIOLI, Antonio Bento. Introdução ao Direito. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
BILLIER, Jean-Cassien & MARYIOLI, Aglaé. História da Filosofia do Direito. TRad. Maurício de
Andrade. Barueri, SP: Manole, 2005.
BITTAR, Eduardo C. B. e ALMEIDA, Guilherme de Assis. Curso de Filosofia do Direito. 2ª ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico – Lições de Filosofia do Direito. Trad. Márcio Pugliesi,
Edson Bini e Carlos E. Rodrigues. São Paulo: Ícone, 2006.
BOBBIO, Norberto. Teoria da Norma Jurídica.Trad. Fernando Pavan Baptista e Ariani Bueno
Sudatti. Bauro, SP: Edipro, 2005.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Trad. Maria Celeste Cordeiro Leite dos
Santos, 10ª ed.. Brasília: Editora UNB, 1999.
BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 9ª Ed.. São Paulo: Malheiros, 2009.
CAPORALINI, José Beluci (coord.). Reflexões Sobre o Essencial de Santo Agostinho. Maringá, PR:
Chicetec, 2007.
CASTILHO, Ricardo. Justiça Social e Distributiva – Desafios para Concretizar Direitos Sociais. São
Paulo: Saraiva, 2009.
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e Brasil. 5. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2007.
COELHO, Luiz Fernando. Aulas de Introdução ao Direito. Barueri, SP: Manole, 2004.
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga: estudo sobre o culto, o direito, as instituições da Grécia
e de Roma. Trad. Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. 8 ed.. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.
CICCO, Cláudio De. História do Pensamento Jurídico e da Filosofia do Direito. 3ª ed.. São Paulo:
Saraiva, 2006.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 31ª ed.. São Paulo: sAraiva,
2012.
DAVID, René. O Direito Inglês. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 2ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico Universitário. São Paulo: Saraiva, 2010.
213
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 18. Ed.. São Paulo: Saraiva,
2006.
DUSO, Giuseppe. Revolução e Constituição do Poder. In: DUSO, Giuseppe (org.). O Poder – His-
tória da Filosofia Política Moderna. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
ESTEVÃO, José Carlos. Da Antiguidade Tardia à Idade Média. In: MACEDO JR., Ronaldo Porto
(coord.). Curso de Filosofia Política. São Paulo: Atlas, 2008.
FERRAZ Junior, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito – Técnica, Decisão e Domina-
ção. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. 12. Ed.. São Paulo: Sa-
raiva, 2010.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 35ª Ed.. São Paulo: Sarai-
va, 2009.
FREITAS, Lorena de Melo. Marxismo, Direito e a problemática da ideologia jurídica. Artigo apre-
sentado ao 4º colóquio Marx e Engels. CEMARX / UNICAMP. Novembro de 2005. Disponível em:
http://www.ifch.unicamp.br/cemarx/site/.
HESPANHA, António Manuel. Cultura Jurídica Europeia – Síntese de uma milénio. Florianópolis
(SC): Fundação Boiteaux, 2005.
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. Trad. Maria Tereza Lopes Teixeira e Mar-
cos Penchel. 22ª Ed.. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
JAEGER, Werner. Paidéia – A Formação do Homem Grego. Trad. Artur M. Parreira. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
KANTOROWICZ, Ernest H. Os Dois Corpos do Rei – Um Estudo sobre Teologia Política Medieval.
Trad. Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
KELSEN, Hanz. Teoria Geral do Direito e do Estado. Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
KELSEN, Hanz. Teoria Pura do Direito. Trad. João Batista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
214
LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. 2ª Ed.. São Paulo: Martins Fontes,
1996.
LESSA, Pedro. Estudos de Filosofia do Direito. 2. Ed.. Campinas, SP: Bookseller, 2002.
LOCKE, John. Dois Tratados Sobre o Governo. Trad. Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História – Lições Introdutórias. 3ª ed.. São Paulo:
Atlas, 2008.
MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de. Oriente, Ocidente e Ocidentalização: Discutindo Con-
ceitos. In: Revista da Faculdade do Seridó, v. 1, n. 0, jan/jun.2006. Disponível em: http://www.
faculdadedoserido.com.br/revista/v1_n0/helder_alexandre_medeiros_de_macedo.pdf.
MACIEL, José Fábio Rodrigues; AGUIAR, Renan. História do Direito. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MAGEE, Bryan. História da Filosofia. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Loyola, 1999.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Trad. Maria Lúcia Como. 20ª Ed.. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1998.
MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. 2ª ed.. São Paulo: Atlas, 2012.
MASCARO, Alysson Leandro. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª Ed.. São Paulo: Atlas, 2013.
MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Ensino Jurídico, Literatura e Ética. Brasília: OAB Editora,
2006.
MENDES, Gilmar. Direito Adquirido, Ato Jurídico Perfeito, Coisa Julgada e Segurança Jurídica.
In: MENDES, Gilmar, COELHO, Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional, 5. Ed.. São Paulo: Saraiva, 2010.
MESQUITA, Márcio Satalino. O Fetichismo da Lei e o Ensino do Direito. In: TAGLIAVINI, João Vir-
gílio (org.). A Superação do Positivismo Jurídico no Ensino do Direito. Araraquara, SP: Junqueira
e Marin, 2008.
MICHEL, Alain. La Filosofia em Grecia Y Roma desde el 130 A. de C. Hasta el 250 D. de C.. In:
PARAIN, Brice (dirección). Historia de la Filosofia – Del Mundo Romano al Islam Medieval. Volu-
mem 3. México: Siglo XXI Editores, 1972.
215
MOCHI, Cássio Marcelo. A constituição do estado moderno: do ideal de liberdade para o Prin-
cípio da dignidade da pessoa humana. In: REVISTA DE DIREITO PÚBLICO, UNIVERSIDADE ESTA-
DUAL DE LONDRINA, V. 4, N. 1, P. 1-26, JAN/ABR. 2009.
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª Ed.. São Paulo: Revista dos Tri-
bunais, 2005.
MORAES, Guilherme Peña de. Curso de Direito Constitucional. 3ª ed.. São Paulo: Atlas, 2010.
MORAIS, Jose Luiz Bolzan de. O Estado e seus Limites. Reflexões Iniciais sobre a Profanação do
Estado Social e a Dessacralização da Modernidade. In: OLIVERIA NETO, Francisco José Rodri-
gues; COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; MEZZAROBA, Orides; BRANDÃO, Paulo de Tarso.
Constituição e Estado Social: Os Obstáculos à Concretização da Constituição. São Paulo: Revista
dos Tribunais; Coimbra: Editora Coimbra, 2008.
MOTTA FILHO, Sylvio Clemente da; BARCHET, Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 2ª Ed..
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
MOTTA, Ivan Dias da & MOCHI, Cássio Marcelo. A Personalidade No Mundo Clássico - Uma
Visão Jurídico-Literária. Curitiba, PR: Juruá, 2009.
MUÑOZ, Alberto Alonso. O Paradigma Aristotélico. In: MACEDO JR., Ronaldo Porto. Curso de
Filosofia Política. São Paulo: Atlas, 2008.
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de História do Direito. 15ª ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
NOBRE, Marcos. Et alii. O que é Pesquisa em Direito? São Paulo: Quartier Latin, 2005.
NOGUEIRA, Rubem. Curso de Introdução ao Estudo do Direito. 4ª ed.. São Paulo: Noeses, 2007.
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 6ª Ed.. São Paulo: Saraiva, 2005.
OLIVEIRA, Carlos Eduardo de. Filosofia Política e Idade Média. In: RAMOS, Flamarion Caldeira;
MELO, Rúrion e FRATESCHI, Yara (coord.). Manual de Filosofia Política. São Paulo: Saraiva, 2012.
PEDROSA, Henrique E. G.. Introdução Didática ao Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
PETIT, Eugène. Tratado Elemental de Derecho Romano. 23ª Ed.. México: Editorial Porruá, 2007.
PINTO, Felipe Martins. A Inquisição e o Sistema Inquisitório. In: Rev. Fac. Direito UFMG, Belo
Horizonte, n. 56, p. 189-206, jan./jun. 2010.
POLANYI, Karl. A Grande Transformação – As origens da nossa época. Trad. Fanny Wrobel. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2000.
RAMOS, Edith Maria Barbosa. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: América Jurídica,
2003.
216
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª Ed.. São Paulo: Saraiva, 2002.
REALE, Giovanni & ANTISERI, Dario. História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média. Vol. I. 6ª
ed.. São Paulo: Paulus, 1990.
ROCHA, José Manuel de Sacadura. Fundamentos de Filosofia do Direito. 4ª Ed.. São Paulo: Atlas
S.A., 2013.
RUBY, Christian. Introdução à Filosofia Política. Trad. Maria Leonor F. R. Loureiro. São Paulo:
UNESP, 1998.
SGARBI, Adrian. Clássicos de Teoria do Direito. 2. Ed.. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
SILVA NETO, Manoel Jorge e. Curso de Direito Constitucional. 5ª Ed.. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009.
SIQUEIRA Jr., Paulo Hamilton Siqueira. Teoria do Direito. São Paulo: Saraiva, 2009.
SILVA, Francisco C. Teixeira da. Sociedade Feudal – guerreiros, sacerdotes e trabalhadores. São
Paulo: Brasiliense, 1982.
SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado – Novos Paradigmas em Face da Globalização.
4ª Ed.. São Paulo: Atlas, 2011.
SUPIOT, Alain. Homo juridicus. Ensaio Sobre a Função Antropológica do Direito. Trad. Maria E.
de A. Prado Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
TAGLIAVINI, João Virgílio. Para Além do Positivismo Jurídico: Kelsen que supera Kelsen. In: TA-
GLIAVINI, João Virgílio (org.). A Superação do Positivismo Jurídico no Ensino do Direito. Arara-
quara, SP: Junqueira e Marin, 2008.
TAVARES, Quintino Lopes Castro. O Sentido Liberal de Interesse Público. In: CADEMARTORI,
Luiz Henrique Urquhart (org.). Temas de Política e Direito Constitucional Contemporâneo. Flo-
rianópolis (SC): Momento Atual, 2004.
TELLES JUNIOR, Goffredo. Iniciação na Ciência do Direito. 4ª ed.. São Paulo: Saraiva, 2009.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Trad. Mário da Gama Kury. 4. Ed. Editora Uni-
versidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 2001. Disponível em: http://www.funag.gov.br/biblioteca/dm-
documents/0041.pdf.
217
VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao Estudo do Direito. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.
WEHLING, Arno. O Escravo ante a Lei Civil e a Lei Penal no Império (1822-1871). In: WOLKMER,
Antonio Carlos (org.). Fundamentos de História do Direito. 4. Ed.. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
WIEACKER, Franz. História do Direito Privado Moderno. Trad. A. M. Botelho Hespanha. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1967.
WOLF, Francis. A Invenção da Política. In: A Crise do Estado Nação. Adauto Novaes (org.). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
WOLKMER, Antonio Carlos (org.). Fundamentos de História do Direito. 4 ed. Belo Horizonte,
MG: Del Rey, 2008.
WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 6ª ed. São Paulo: Sarai-
va, 2008.
WOLKMER, Antonio Carlos. História do Direito no Brasil. 3ª ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
WOLKMER, Antonio Carlos. Ideologia, Estado e Direito. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2000.
218