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PROFESSOR
Me. Rubem Almeida Mariano
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NA VERSÃO
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EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Maria Cristina Araújo de Brito
Cunha
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Projeto Gráfico e Capa Núcleo de Educação a Distância. MARIANO, Rubem Almeida.
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho
Filosofia.
e Thayla Guimarães Rubem Almeida Mariano.
Editoração
Bruna Stefane Martins Marconato Maringá - PR.: UniCesumar, 2020.
Design Educacional 240 p.
Ivana Cunha Martins “Graduação - EaD”.
Kaio Vinicius Cardoso Gomes 1. Filosofia 2. Conhecimento 3. Sociedade . EaD. I. Título.
Revisão Textual
Carla Cristina Farinha
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 101
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
ISBN 978-65-5615-095-6
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-
versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-
Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
http://lattes.cnpq.br/0634102403900329
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
FILOSOFIA
Em segundo lugar, a disciplina, que ora inicia, faz parte do currículo do seu curso e foi aprovada
pela Unicesumar sob o olhar atento do Ministério da Educação e Cultura – MEC. Desde o início
do novo século, circulam as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação que tem como
objetivo fortalecer a formação de profissionais competentes, críticos e comprometidos com o
exercício da profissão. Especificamente, a Resolução CNE/CES n. 15, de 13 de março de 2002,
do MEC (BRASIL, 2002) assinala um perfil profissional que ressalta uma atuação competente,
promotora, criativa e propositiva como profissional do Serviço Social, no conjunto das relações
sociais e no mercado de trabalho.
Não se assuste caríssimo(a). Diante disso, não há milagres. Não há atalhos. Não há fórmulas
mágicas ou a aquisição do conhecimento por osmose (transmissão material do conhecimen-
to). Aprender, conhecer e se desenvolver não tem outro método, a não ser: estudando, lendo
e aprendendo. Essa parte é sua. A nossa é oferecer uma proposta curricular que atenda às
diretrizes nacionais para a sua formação de maneira excelente. A disciplina de Filosofia está
presente como disciplina propedêutica, ou seja, como disciplina nas áreas humanas que pre-
cede, como fase preparatória e indispensável, do seu curso para a sua formação profissional
ou intelectual.
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
Logo, a tarefa não é simples, mas é, absolutamente, desafiadora. Como é desafiador fazer
uma viagem para um novo mundo. Nesse sentido, quero convidá-lo(a) para fazer uma viagem
ao mundo maravilhoso da Filosofia. Aprender a pensar de uma maneira muito especial e
imprescindível para os nossos dias: organizar o pensamento, sistematizar as ideias e saber
fazer a boa crítica que se torna uma verdadeira bússola na construção do conhecimento e
na desconstrução do não conhecimento, por exemplo, as Fake News.
Nessa perspectiva, caríssimo(a), estruturamos as cinco unidades com temas clássicos, inte-
ressantes e atuais que o(a) levarão para lugares que esperamos que você queira, novamente,
visitá-los, em outras viagens que você fizer sozinho(a). Ressaltamos que, das cinco unidades
que tem este livro, em quatro, abrimos com a aula sobre o porquê, ou seja, quais razões
ou motivos da filosofia, do conhecimento, da ética, da moral e da política. O objetivo é bem
simples, ensinar fazendo, ou seja, enquanto você estuda filosofia, já vê como se constrói o
pensamento crítico e a autocrítica na perspectiva filosófica.
Do ponto de vista da aprendizagem, caro(a) aluno(a), temos em cada uma das cinco unidades,
os seguintes objetivos: (1) justificar a importância do pensamento filosófico crítico e fazer as
primeiras aproximações sobre a forma de pensar e elaborar ideias, à luz da metodologia filo-
sófica; (2) introduzir conhecimentos elementares sobre a História da Filosofia, que abordam
da antiguidade ao tempo contemporâneo, sempre primando pelas características principais
de cada período; (3) analisar a importância do conhecimento (epistemologia) humano para
os nossos dias e a sua importância no incremento crítico do ato criativo, transformador e
dignificante do ser humano, por meio do trabalho; (4) conhecer, de forma crítica, os funda-
mentos e as teorias filosóficas sobre a ética e a moral bem como as suas importâncias para o
desenvolvimento da convivência social; (5) analisar os fundamentos teóricos e as concepções
políticas clássicas e as suas implicações na formação dos estados e dos governos nacionais
bem como as relações de poder que se estabelecem na sociedade por meio de ações polí-
ticas, por exemplo, a valorização dos direitos humanos e das políticas públicas, como forma
de enfrentamento dos conflitos existentes na questão social.
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
Caríssimo(a) aluno(a), volto a lembrá-lo(a) de sua excelente escolha, mas ela se concretizará
quando, no silêncio das noites ou das madrugadas, nos intervalos do seu almoço ou do jantar,
nos finais de semana (quando os seus amigos e amigas começarem a chamá-lo(a) para as
diversões e as baladas), você estudar. Como lhe disse no início, não existe outro método a não
ser o estudo atencioso da matéria a ser compreendida. Posso lhe antecipar que esse tempo
passará e você, pode não acreditar, sentirá saudades do tempo da faculdade. Do nosso lado,
estamos preparados para ficar com você nesse tempo.
Assim, seja bem-vindo(a) mais uma vez e vamos iniciar a nossa viagem ao mundo maravi-
lhoso da Filosofia propriamente dita. Acomode-se, sente-se, aperte os cintos e vamos partir.
Vamos lá?
ÍCONES
pensando juntos
explorando ideias
quadro-resumo
conceituando
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conecte-se
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
10 UNIDADE 02
62
PENSAR INTRODUÇÃO
FILOSOFICAMENTE À FILOSOFIA
UNIDADE 03
106 UNIDADE 04
154
CONHECIMENTO ÉTICA, MORAL
E ANTROPOLOGIA E SOCIEDADE
FILOSÓFICA
UNIDADE 05
194 FECHAMENTO
234
POLÍTICA E CONCLUSÃO
SOCIEDADE GERAL
1
PENSAR
FILOSOFICAMENTE
PROFESSOR
Me. Rubem Almeida Mariano
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O porquê da Filosofia hoje • A
presença da Filosofia na vida cotidiana • As características do pensar mítico • As características do
pensar filosófico • Os tipos de conhecimento humano presentes na sociedade atual.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Entender o porquê da Filosofia nos dias de hoje • Compreender a presença da Filosofia na vida coti-
diana • Entender as características do pensar mítico • Estudar as características do pensar filosófico •
Compreender os tipos de conhecimento humano presentes na sociedade atual.
INTRODUÇÃO
DA FILOSOFIA
hoje
UNICESUMAR
uma pergunta: quando a gente se propõe a fazer uma viagem, seja ela de média ou
de longa distância, temos que levar acessórios e equipamentos que são importan-
tes e necessários tê-los em nossa mala ou mochila. Que acessórios e equipamentos
costumamos levar em uma viagem? Além de roupas de uso pessoal, de banho,
de higiene e medicamentos, temos de levar, também, um aparelhinho chamado:
“celular”. Acredite, se quiser: hoje, ninguém, neste mundo de meu Deus, viaja sem
levar consigo um celular; e se for um iphone, claro que é melhor. Brincadeiras
à parte, hoje, um celular é tão necessário quanto, ou melhor, levar a boa e velha
cadernetinha de anotações e, até mesmo, a nossa cabeça. Eu sei, estou exagerando
um pouco, porém veja essa história e se não tenho um pouco de razão: esses dias,
eu conversava com uma motorista de aplicativo e ela me dizia: “moro aqui, mais
de 20 anos, e conheço bem a nossa cidade; mas, hoje, por causa do uso diário
do aplicativo de localização, eu não sei mais como chegar em um local, mesmo
que tenha estado várias vezes nele. Confesso, que, sem o aplicativo, fico perdida”
afirmou com um sorriso largo e desconcertada. Essa conversa está parecendo
uma conversa de loucos. Nada disso! Não é loucura, mas é a mais pura realidade
em nossos dias.
Você pode estar se perguntando: “aonde ele quer chegar?”. Veja só! Quando
comparo a importância de um celular com a nossa cabeça, nada mais faço do
que constatar, a partir da realidade social e tecnológica atual, que esse equipa-
mento está tomando o lugar da nossa cabeça. Pense comigo: o que temos dentro
da nossa cabeça? Fisicamente, um cérebro, nosso hardware! Verdade, isso nós já
sabemos. Mas você sabe o que tem dentro de um cérebro? Hoje, os cientistas têm
estudado mais o nosso cérebro; sendo assim, existe uma área de conhecimento
chamada Neurociência, que se dedica muito para conhecê-lo, além de ter nos
ajudado a viver melhor, principalmente, em nosso cotidiano. Uma informação
que já temos é que, além de comandar, neurologicamente, todas as nossas ações
e comportamentos, o cérebro tem a capacidade de armazenar e buscar informa-
ções que precisamos para a realização das nossas atividades cotidianas. O celular,
também, tem um cérebro cheio de informações, que são armazenadas nas cha-
madas “memórias”, e uma delas é a memória interna. Porém esse cérebro que o
celular possui consegue, de uma forma muito mais eficiente e rápida do que um
cérebro humano, buscar e apresentar, na palma da nossa mão, as informações
que precisamos, apenas, em um click sobre um assunto que temos interesse ou
urgência. Além disso, hoje, o celular pode acessar muitas informações sobre os
13
mais diversos assuntos na internet; principalmente, informações sobre objetos,
UNIDADE 1
UNICESUMAR
essas perguntas ou questionamentos que surgem são frutos da nossa admiração.
Elas podem parecer muito natural, quando você se depara com o desconhecido.
Contudo “perguntar” da maneira como perguntamos, hoje, não é uma atitude na-
tural do ser humano, como se fosse um fenômeno físico, químico ou bioquímico,
como as águas de um rio que correm por meio de um leito em meio às matas e
florestas, ou como a chuva que cai suavemente no início de uma manhã. O quê?
O ato de perguntar foi criado? Feito por alguém? Sim, isso mesmo. Perguntar foi
uma criação do ser humano, há mais de 2,5 mil anos, pelos gregos, por meio de
um jeito de pensar, de articular o pensamento. O nome dado para esse jeito de
pensar foi batizado de filosofar, e, assim, surgia a Filosofia, no mundo a partir do
Ocidente (CHAUÍ, 2015).
No título desta aula, aparece a palavra: “porquê”, e Ferreira (2004) nos informa
que essa palavra, escrita dessa forma, é um substantivo masculino que pede explica-
ção sobre um determinado fato, razão ou motivo sobre alguma coisa. Nesse sentido,
pode-se fazer a seguinte pergunta: “quais os fatos, razões ou motivos que tornam a
filosofia importante para quem estuda na universidade, como você e seus colegas?”
Nessa mesma direção, surgem outras perguntas, como: “o que é filosofia? Para que
ou para quem ela serve? Como pensar filosoficamente?”, e as possíveis respostas
serão encontradas ao longo desta nossa viagem que, apenas, está se iniciando. Mas,
agora, temos que terminar este primeiro tópico, minimamente, cientes do porquê
da filosofia hoje. Então, listaremos os motivos, ou dito melhor, as finalidades da
filosofia para quem vive e quer viver melhor em nosso tempo não como objeto de
outros seres humanos, mas como sujeito de sua própria história. Ninguém gosta
de ser tratado como se fosse um fantoche ou marionete. Por isso, estudar é um ato
libertador, como já dizia Freire (2011), e, muito mais, é quando essa aprendizagem
tem, como base, uma formação filosófica adequada e consistente, vejamos:
1. Aprender a interpretar as atitudes das pessoas, suas intenções e disposições.
2. Aprender a ler além da palavra o mundo, o seu contexto.
3. Buscar sentido no seu pensar e no seu agir na sociedade.
4. Desenvolver as diversas inteligências humanas, a sua relação consigo mes-
mo, o seu meio e outras formas de vida existentes.
5. Saber viver consigo mesmo e em meio as outras pessoas, saber se calar
e se manifestar, saber discernir o bem do mal, mesmo quando este se
transforma, aparentemente, naquilo que é bom e justo como vemos as
chamadas fake news.
15
6. Olhar e ver as palavras e ações daqueles que estão à margem ou esqueci-
UNIDADE 1
dos, ou, ainda, não são ouvidos pela maioria da sociedade como sendo,
também, importantes.
7. Poder interpretar as ações, falas e intentos dos que estão longe, mas, tam-
bém, daqueles que estão perto e não são vistos nem notados.
8. Entender e diferenciar o que vem a ser ética, moral, imoral e amoral bem
como distinguir entre querer, dever e poder das nossas ações em sociedade.
9. Buscar a liberdade e a felicidade, não só com o coração ou com a vontade,
mas, também, com a razão.
10. Respeitar a si mesmo e ao outro ser humano não, somente, em palavras,
mas em gestos e atitudes concretas.
11. Entender como se dá as elaborações epistemológicas do conhecimento e
suas mais diversas construções e utilidades para a humanidade.
12. Compreender a linguagem humana e suas mais diversas manifestações
por meio da fala, da escrita, da expressão corporal, pictórica, espiritual,
dentre tantas outras manifestações culturais.
13. Discernir os conflitos humanos e se posicionar diante deles com autono-
mia e ciência de sua posição.
14. Ler e interpretar a história da humanidade e seus ensinamentos, bem
como tirar as devidas lições para a vida pessoal e social, a partir daqueles
que viveram no passado e vivem na atualidade.
15. Adentrar no mundo da interioridade e da subjetividade humana e nas
suas relações com os outros seres vivos do nosso ecossistema.
16. Olhar a cultura humana e ver nela as expressões de diversidade, das aspi-
rações e anseios dos povos vivos ou já extintos.
17. Compreender a questão do poder e as suas formas de expressão política,
de governo e de sistemas organizacionais, ao longo do tempo e em nosso
cotidiano.
18. Saber diferenciar o ser humano nos aspectos individuais e sociais e vice-
-versa.
19. Perceber o sentido das teorias e sistemas filosóficos, sociológicos, teoló-
gicos, psicológicos, antropológicos, dentre tantos outros.
20. Ler o que não está escrito, dito ou falado nas falas e nas produções cultu-
rais e artísticas do ser humano.
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21. Saber ouvir o silêncio e entender o que se diz, da maneira que está sendo
UNICESUMAR
dita, bem como saber diferenciar o ato do “silêncio” do ato de “ser silen-
ciado” na vida individual ou coletiva da humanidade.
22. Caminhar pelos mundos da paixão, do amor, da dor, do sofrimento, da
paz, da alegria, dos conflitos e, assim, enxergar a si mesmo e o outro, em
uma relação EU-TU-NÓS e não, de forma espúria, EU-TU-ISSO.
23. Perceber os diversos momentos da humanidade e as suas mais expressivas
necessidades e ações, que, de alguma forma, deixaram heranças funda-
mentais para os povos de todo o mundo.
24. Compreender as diversas formas de comunicação e discernir entre os
seus conteúdos e intentos: por que isso está sendo divulgado agora e desta
forma e não o foi antes ou daquela outra maneira?
25. Ler uma biografia de alguma personalidade conhecida, badalada, ou, sim-
plesmente, anônima, e ver não somente aquilo que seu autor quer trans-
mitir sobre a personagem bibliográfica, mas aquilo que você, por meio
do saber filosófico, apreende única e exclusivamente, mediante a relação
que se dá cognitiva, afetiva e espiritualmente da sua leitura.
26. Compreender e distinguir as epistemologias sob a direção da razão, da fé
ou da vontade humana.
27. Ver o belo ou o estético nas manifestações culturais e artísticas das perso-
nalidades consagradas ou anônimas, estas últimas que não caem no gosto
estético de pessoas poderosas ou de uma, duas ou três gerações, mas que
fala, silenciosa e contundentemente, ao coração, mesmo que seja de um
único ser humano solitário.
28. Ser um meio, uma ponte ou um instrumento de acesso ao ser humano e
sua realidade onde vive, bem como saber lançar sobre essa realidade as
suas próprias ideias e ações, para que haja diálogo com outras pessoas
e, dialeticamente, seja influenciado (constituído) e influenciar (consti-
tuidor) sua própria subjetividade e as intersubjetividades (outros seres
humanos), que se relacionam em seu tempo e espaço.
29. Cuidar da própria saúde, do próximo e da humanidade, por meio do
pensar instrumental ou tecnológico.
30. Fomentar saberes necessários para a formação do ser humano como tal.
31. Resistir as aventuras e os modismo beligerantes que tanto tentam contra
a própria existência humana, como ato de autodestruição.
17
32. Poder dizer o que bem quiser, mesmo que ninguém note ou escute você,
UNIDADE 1
no momento.
33. Sentir e interpretar a letra ou a melodia de uma música, consagrada ou não.
34. Compor música, poesia, prosa ou qualquer outra coisa que se possa pen-
sar, falar ou escrever.
35. Brincar com os pensamentos e com as palavras no seu interior ou com
pessoas próximas ou distantes que se interligam, por meio das redes so-
ciais ou dos mais diferentes ambiente virtuais que se fazem presentes.
36. Expressar o seu amor ou raiva, bem como saber interpretar o amor de
quem o quer bem ou aquele que o odeia.
37. Adentrar, silenciosamente, nos mais diversos mundos dos seres huma-
nos, como: nos mundos dos religiosos, dos neuróticos, dos psicóticos,
dos artistas, dos políticos, dos tímidos, dos depressivos, dos bipolares, dos
ansiosos, dos perversos, dos psicopatas, dos socialistas, dos comunistas,
dos liberais, dos fascistas, dos antissociais, dos trabalhadores, dos servi-
dores públicos, dos profissionais liberais, dos mártires, dos monstros, dos
abusadores, dos abusados, dos assediados, dos assediadores, das crianças,
dos jovens, dos gays, das lésbicas, dos heterossexuais, dos bissexuais, dos
pobres, dos miseráveis, dos ricos, dos machos, dos brancos, amarelos, ín-
dios e negros, dos milionários, dos donos da mídia, dos falidos, dos bem
sucedidos, dos poderosos do capital financeiro, dos empresários, das mães
que sofrem a perda de um filho, dos cientistas, dos pesquisadores, dos
analfabetos, do doutores, dos sábios, dos que meditam, dos que vivem só,
dos que vivem acompanhados, dos que moram nas periferias dos grandes
centros ou nos lugares mais longínquos dos grandes centros urbanos, dos
estudantes universitários, bem como dentre tantos outros mundos, que
independem do poder da escrita ou da comunicação. A filosofia serve
para o ser humano se aproximar e entender a si mesmo e as mais diversas
formas de sua humanidade, as quais podem ser criadas, ou afirmadas, ou
negadas, ou combatidas, vorazmente.
38. Dar condições ao ser humano na árdua missão de distinguir a diferença en-
tre uma notícia ou imagem verdadeiras ou das fake news nas redes sociais.
39. Buscar entender o significado e o sentido do que é feito e produzido pelas
mãos humanas, em todos os tempos, como a descoberta da roda, do fogo,
da chave, da bola, dentre tantos outros inventos.
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40. Aprender a distinguir, preservar e conservar o que é necessário, essencial
UNICESUMAR
e durável do que é desnecessário, secundário e efêmero.
41. Ter a capacidade de usar as palavras na escrita ou na fala com o sentido e
tom que bem quiser ou desejar, bem como saber se defender do outro ser
humano quando esse lhe impõe, nas suas palavras, outros sentidos que
não aqueles pretendidos por você mesmo.
42. Ter condições de criar, elaborar e desenvolver um projeto desde as pri-
meiras pinceladas, elaborações de sua produção textual até o seu desen-
volvimento teórico e prático.
43. Escolher o que quer, deseja ou imagina como sendo bom e justo para si
ou para as pessoas que vivem ao seu lado e que partilham a existência
com você.
44. Desenvolver o autoconhecimento por meio da análise de si, das suas ca-
pacidades, habilidades e limites cognitivos, afetivos e comportamentais.
45. Por fim, em minha lista, é claro, como diria Aristóteles, buscar a felicidade
(ARISTÓTELES, 2000). Porém, para não perder o hábito filosófico, o que
é felicidade? Qual a sua natureza? É ter bens materiais ou espirituais? Um
historiador dos nossos tempos, Harari (2018), disse que filósofos, religio-
sos e poetas chegaram a uma conclusão mínima de que a felicidade está
implicada com os fatores sociais, éticos e espirituais.
Você está vendo, caro(a) aluno(a), o que é ser capaz de pensar filosoficamente?
Modestamente, podemos lhe afirmar que essas finalidades da filosofia vão lon-
ge, é só para você ver que podemos continuar essa lista. Que tal você, também,
acrescentar outras finalidades da importância da filosofia para o ser humano,
após você estudar um pouco mais de filosofia? Está feito o desafio, como aqueles
desafios que as pessoas fazem umas para as outras nas redes sociais, você topa?
Agora, para finalizar esta aula, o que você entende desta ideia: a filosofia, utiliza
um tipo de pensamento que chamamos de crítico, serve sempre para ajudar o ser
humano na compreensão de si mesmo e do outro bem como agir em prol de si
mesmo e do meio onde vive, para garantir a sua vida e existência. Uma questão de
sobrevivência da nossa espécie. O que você acha disso? O que você percebeu dessa
aula? O que destacaria como importante? O que faltou abordar, neste início dos
seus estudos? Pois bem, continuaremos a nossa viagem ao mundo maravilhoso
da Filosofia, indo para a segunda aula desta Unidade 1.
19
2
A PRESENÇA DA
UNIDADE 1
FILOSOFIA NA
vida cotidiana
20
mundo da leitura, conheci e posso conhecer a história da humanidade de outros
UNICESUMAR
lugares, mesmo sem nunca ter pisado neles. Isso porque estudei ao longo do
tempo e estudo o dia a dia, com isso conheço melhor a história da humanidade
e a minha própria história de vida.
Você pode me responder onde você se encontra agora, neste instante? Você
tem consciência plena sobre tudo que você faz? É comum a maioria das pessoas,
acredito que você esteja dentre essas, responder “sim” para a primeira pergunta,
e um grandíssimo “não” para a outra. Respondemos dessa forma por causa dos
conhecimentos advindos da psicanálise, da teoria do inconsciente, em especial. Po-
rém, também, você pode dizer “sim” e “sim”, ou “não” e “não”, ou “não” e “sim”,“talvez”
e “não”,“sim” e “talvez”, ou, ainda, “talvez” e “talvez”. Enfim, você pode responder das
mais diversas maneiras essas duas questões. Dito diferente, você pode responder
da maneira que quiser. O que quero dizer com isso é que nós pensamos de um
determinado jeito que é comum, na maioria das vezes, apresentar justificativas e
argumentos que consideramos plausíveis para as nossas respostas. Essa forma de
pensar nem sempre foi assim, mas veremos isso em outra oportunidade. Agora, o
importante é você observar que a maneira, de uma forma geral, que pensamos nos
ajuda a viver a nossa vida, tanto pessoal quanto profissionalmente. Nesse sentido,
a forma que pensamos, hoje, possui elementos do pensar filosoficamente, e isso só
é possível observar se você tem a sua formação, principalmente, no mundo oci-
dental, onde pensa-se, na maioria das vezes, preservando uma determinada lógica.
Nessa direção, ainda, é muito comum respondermos às situações ou problemas
que enfrentamos, utilizando argumentos e razões. O filósofo Gramsci (1978, p. 45)
afirma que “não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filóso-
fo, que não pense, precisamente porque o pensar é próprio do homem como tal”.
Isso sugere que, de alguma maneira, todas as pessoas utilizam um certo senso da
filosofia no dia a dia. Sobre essa questão da filosofia no cotidiano, são comuns os
filósofos e as filósofas atuais, ao escreverem, argumentarem que a filosofia, como
é um conhecimento que já tem mais de 2.500 anos, influencia, culturalmente, o
modo das pessoas pensarem e agirem, mesmo que, muitas vezes, elas não estejam
cientes dessa maneira de pensar. Especificamente, sobre o pensamento filosófico
como elemento cultural, a partir de Cotrim (2006), pode-se depreender que a
filosofia é adquirida pela aprendizagem, transmitida de geração em geração por
meio da linguagem; é uma criação exclusiva dos seres humanos e é múltipla e
variada no tempo e no espaço, de sociedade para sociedade. Vejamos, a seguir,
por sua vez, dois exemplos de filósofas brasileiras, sobre a relação da filosofia
21
com o nosso cotidiano. Aranha e Martins (2013) observam que existem questões
UNIDADE 1
“
Utilizamos perguntas como “que horas são?”, ou “que dia é hoje?”;
UNICESUMAR
de situações que têm relação com a filosofia. Logo, surge uma ques-
tão muito comum quando se adentra ao mundo da Filosofia: útil ou
inútil para o conhecimento o agir humano? Essa questão da utilidade
da filosofia é estudada e respondida pelas filósofas Aranha e Martins
(2013) e Chauí (2015). Elas partem do modo de pensar filosófico.
Perguntam: o que é útil? O que é inútil? Para que serve a filosofia
em minha vida? Elas concordam, também, que o conhecimento que
reina, na atualidade, está muito voltado para o que é prático e ime-
diato. Assim, se sou advogado, engenheiro ou fisioterapeuta, eu não
vejo lugar para a filosofia na minha profissão, a qual é influenciada,
fortemente, por uma filosofia chamada de “pragmatismo”, ou seja, útil
é aquilo que me serve e me dá retorno imediato do que preciso. As
filosofas citadas concordam que, se for tomar como referência essa
concepção, de fato a filosofia não é útil, mas, sim, inútil. Como você
sabe, porém, a história da humanidade não começou com o seu nas-
cimento e nem com o nascimento do pragmatismo filosófico, antes ou
até mesmo, no próprio período do surgimento da filosofia, já haviam
outras compreensões filosóficas que fundamentaram a importância
da filosofia para a humanidade. Aranha e Martins (2013) observam
que há uma ideia que a filosofia não serve para nada. Assim qual seria
a sua utilidade? Nessa perspectiva, se levar em conta o pensamento
dominante, na sociedade, ela seria inútil, pois útil é o que dá retorno
imediato ou o que vai “cair” no vestibular ou para que estudar filosofia
se não vou utilizar na minha vida profissional.
Ainda, sobre esse tema, mas em uma direção, totalmente, opos-
ta, a filosofia seria útil como forma de pensar diferente, ajudando a
ver a partir de outro ângulo ou perspectiva, quando estamos, total-
mente, mergulhados ou com uma visão estreita da realidade. Ainda,
as autoras compreendem que a filosofia é perigosa, pois possibilita
desestabilizar o status quo (“o estado das coisas”), ao se confrontar
com o poder estabelecido. Já Chauí (2015, p. 18) procede o seguinte
questionamento filosófico: “não poderíamos, porém, definir o útil de
outra maneira?”. A resposta dada é um sim. Em seguida ela apresenta
a utilidade da filosofia para os filósofos clássicos:
23
“
Platão definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser
UNIDADE 1
“
Abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum;
24
Diante do que foi apresentado e estudado, nesta aula, você acha que a filosofia faz
UNICESUMAR
ou não parte do nosso cotidiano? Outra questão, a filosofia é útil ou inútil? Tudo
bem, não precisa me responder agora. Mas, pelo que pude observar, a filosofia faz,
sim, parte da vida cotidiana do ser humano moderno, bem como é um conheci-
mento bem tipificado, característico, peculiar, o qual apresentaremos melhor nas
próximas aulas, e, ainda, é bem próprio do modo de pensar filosófico a criticidade,
que pode enriquecer os saberes humanos sempre com o fino e determinado ob-
jetivo de dar ao próprio ser humano a condição de ser autônomo e senhor de sua
própria história contra os possíveis enganos que lhe são próprios também, afinal
quem não erra ou se equivoca; principalmente, quando o ser humano se utiliza,
apenas, do senso comum e de simples opiniões pessoais abandonando, por sua
vez, o bom senso que deve nutrir um pensamento crítico e fundamentado, no
mais que puder, em argumentos sólidos.
3
AS CARACTERÍSTICAS
DO PENSAMENTO
mítico
Meu caro(a) aluno(a), em nossa viagem para o mundo da Filosofia, temos que dar
uma breve parada. Vamos fazer pit stop. O objetivo, dessa parada, é, justamente,
para você entender melhor o mundo maravilhoso da Filosofia. E, assim, seguir-
mos a nossa viagem. Farei comparações e apresentarei características do jeito de
25
pensar mítico. Didaticamente, nosso cérebro registra melhor quando fazemos
UNIDADE 1
26
Segundo Aranha (2012), a palavra “mito”, em grego mythos, significa “pala-
UNICESUMAR
vra”, “o que significa dizer”, “narrativa”. A consciência mítica é predominante em
culturas de tradição oral, quando ainda não há escrita, ou seja, é uma narrativa
na qual a palavra é usada para transmitir e comunicar, coletivamente, a tradição
oral, preservando sua memória e garantindo a continuidade da cultura (MA-
RIANO, 2007).
“
[...] para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido
para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque
confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, basea-
da, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador
(CHAUÍ, 2015, p. 33).
sobre a terra provêm todos de Zeus e eram aceitos como sendo uma verdade
absoluta e não havia a mínima necessidade de comprovação dessa afirmação (IN-
CRONTRI; BIGHETO, 2010). Assim, os mitos são um sistema simbólico oficial,
bem como uma conduta verbal de significados que tem um sentido próprio de
confiança, acima de tudo, sem ter o crivo da racionalidade crítica à moda como
conhecemos. Conforme Incrontri e Bigheto (2010, p.16),“o mito é um pensamen-
to acrítico, pois não explica nem analisa sua maneira de conhecer ou o processo
pela qual chega ao saber. O mito é inquestionável e incontestável”. Tal status de
sagrado deve-se à crença de que quem narra ou conta um mito é o escolhido e
enviado dos deuses. Sobre isso, Chauí (2015, p. 33) esclarece que “Quem narra o
mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o
poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados
e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que
possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito – é sagrada porque vem
de uma revelação divina”. Curiosidade! Você tem? Dizem que todo mundo tem
curiosidade. Deve ser por isso que faz tanto sucesso os programas de reality show
nas tevês no mundo inteiro. Você tem curiosidade de saber como ou quando o
mundo foi feito? Quem o fez? Particularmente, eu tenho. Nesse sentido, uma das
funções do mito era, justamente, narrar um tipo de explicação da época, a origem
do mundo e de tudo o que nele existe. A filósofa Chauí (2015, p. 32-34) nos infor-
ma que os mitos, nos tempos antigos, tinham três maneiras principais de tratar
esses assuntos por meio do que chamamos, hoje, de cosmogonias e teogonias:
“
Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que
existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas
relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi-humanos e se-
midivinos), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma
deusa com um humano), os humanos, os metais, as plantas, os animais,
as qualidades, como quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau,
justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc. A narração da origem é, assim,
uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das
qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados, por
exemplo: observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias
de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a
pessoa amada ou para seduzi-la e também serem amadas, o mito narra
a origem do amor, isto é, o nascimento do deus Eros (que conhecemos
28
mais com o nome de Cupido): houve uma grande festa entre os deuses.
UNICESUMAR
Todos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e
faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu
com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu
Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e
miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se
fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse
alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa
astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semi-
morto, ora rico e cheio de vida.
“
[...] considerando-o vivo, o mito... não é uma explicação que respon-
da a um interesse científico, mas uma renovação narrativa de uma
realidade primordial, contada como resposta a desejos religiosos
profundos, a ânsias morais [...] um mito é um modo de dar sentido
a um mundo sem sentido. Mitos são padrões narrativos que dão
significados a nossa existência.
“
[...] se o sentido da existência é apenas o que colocamos na vida por
nossa própria força individual, como Sartre defendia, ou se existe
um sentido que precisamos descobrir como afirmava Kierkegaard,
o resultado é o mesmo: os mitos são os nossos modos de encontrar
esse sentido e esse significado.
Acredito, meu caro(a) aluno(a), que é necessário, neste momento, fazer uma ob-
servação, em nosso estudo, sobre as características do pensar mítico. Diria que é
importantíssimo fazer a seguinte ressalva: há dois sentidos para o que vem a ser
mito: o sentido negativo, como algo falso, ilusório e não verdadeiro; e o sentido
positivo, como algo que expressa uma determinada verdade sobre a realidade e a
existência humana dos povos e das civilizações por meio dos contos, dos folclores,
das lendas, das histórias, dentre outros, que se transmite e se ramifica em um pro-
cesso, extremamente, complexo e dialético de geração à geração, de comunidade à
comunidade e de pai ou mãe para filho(a). Diz-se que algo ou alguém é mito, no
30
sentido negativo, quando se acredita pia e cegamente em uma determinada coisa
UNICESUMAR
ou pessoa, sem o mínimo, ou nenhum, questionamento, por exemplo, acreditar na
ciência como a única forma ou maneira de se explicar a vida humana. Ou, ainda,
acreditar, cegamente, em uma “explicação” dada por um político, a partir de um
fórum legislativo, sobre um processo de impeachment de um chefe do executivo
federal, estadual ou municipal, sem considerar o contexto ou as razões políticas
do momento, bem como os questionamentos dos fundamentos jurídicos sobre
uma devida matéria.
No sentido de questionamento da ordem estabelecida das coisas, do status
quo, a filosofia, desde os gregos, contribuiu para a busca do entendimento de
nossas atitudes. Hoje, por meio do pensar filosófico dos questionamentos do
que vem a ser/porque fazemos de uma determinada maneira e não de outra (ou
seja, em outras palavras, o que/por que vemos de uma determinada maneira
ou de outra, ou o que/por que falamos de uma determinada maneira e não de
outra) certamente, o pensar filosófico ajuda-nos a desmistificar ideias que não
têm amparo na realidade.
O sentido positivo, por sua vez, de mito é observado por diversos autores
e autoras, em diversas perspectivas, destaco dois, como Aranha (2012) e May
(1992), e ressalto, principalmente, o último. A primeira observa a importância
do mito para a significação social das relações entre as pessoas, segundo Aranha
e Martins (2013, p. 23), “até hoje o mito permanece na raiz da inteligibilidade
humana. A função fabulosa persiste nos contos populares, no folclore, mas não
só. Por exemplo: palavras como lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morrer não se
esgotam com explicações racionais”. Já o segundo, May (1992), apresenta a função
imprescindível do mito e sua importância para a sociedade atual, como fator
estruturante mental e emocional diante de um tempo de mudanças significativas
e profundas que tem possibilitado instabilidades nos mais diversos campos da
vida, como no político, social, cultural, artístico, religioso, dentre outros, atingin-
do, assim, a Psique humana. Para May (1992, p. 3), “criar mitos é essencial para
se obter saúde mental”. Nessa mesma direção, este último autor defende a tese
que os mitos eram e são vitais bem como fortes para proporcionar uma socie-
dade saudável e não patológica, como se tem observado por meio de números
expressivos de doenças e transtornos mentais que atingem a humanidade, como
taxas altíssimas de suicídio, depressão e ansiedade. Assim, caro(a) aluno(a), fica
a distinção e observação sobre esses dois aspectos negativo e positivo de mito.
31
4
AS CARACTERÍSTICAS
UNIDADE 1
DO PENSAMENTO
filosófico
UNICESUMAR
e valorizando as condições materiais de vida, e um dos principais filósofos, já no
Período Moderno, que defendeu essa ideia foi o alemão Karl Marx (1818-1883).
Assim, o aspecto social, histórico e cultural foram e são, hoje, essenciais para en-
tender como o ser humano se desenvolveu no mundo. Essa ideia das condições
históricas e culturais pode parecer para você muito simples, mas investigue e
procure saber mais e você verá que, nem sempre, o ser humano pensou assim.
Você nunca se pegou dizendo: “nossa, nunca pensei ou imaginei isso ou aquilo
dessa maneira!” ou “oh meu Deus, como, hoje, eu posso ver essas coisas tão dife-
rentes do meu passado”. Assim, devido às condições materiais da vida, surgiram
os conhecimentos, a universidade, os cursos, as pesquisas e as profissões que
temos, como os filósofos, matemáticos, astrônomos, químicos, psicólogos, ad-
vogados, cientistas, professores, assistentes sociais, dentre tantas outras. Por isso,
hoje, quando estudamos o conhecimento humano, no caso, aqui, as características
do pensamento filosófico, estamos dizendo que as condições históricas, as quais
serão melhores estudadas nas próximas unidades, possibilitam entender melhor
o surgimento e, consequentemente, o desenvolvimento dessa forma específica de
pensar, ou seja, o pensar filosófico, bem como outras formas também.
“Filosofia” é uma palavra composta que vem da língua grega: philo e sophia.
A primeira significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais, e a segunda
quer dizer sabedoria (ABBAGNANO, 1982). Chauí (2015, p. 19) faz o seguinte
comentário: “[...] filosofia significa amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo
saber... filósofo é o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o
conhecimento, o estima, o procura e o respeita”.
Aqui, há uma observação que tem de ser feita sobre o preconceito que se tem,
muitas vezes, contra a filosofia. Tal observação o faço em nome do bom senso
para quem está iniciando o conhecimento do mundo maravilhoso da Filosofia:
quando uma pessoa ou um(a) aluno(a) diz: “a filosofia é muito chata — ‘aff ’ —,
por isso, eu não gosto dela”, devemos entender melhor essa indignação e repulsa
bem como colocá-la em seus devidos termos. Então, vejamos: agora que você
está conhecendo, de forma introdutória, a origem da palavra “filosofia”, você já
tem uma ideia de quem estuda filosofia não é um deus ou uma pessoa melhor do
que a outra, mas, apenas, e tão somente, uma pessoa igual a você, um ser huma-
no que, apenas, gosta do saber, é um amigo da sabedoria, somente. Outra coisa
importantíssima é que quem buscar a sabedoria ou conhecimento irá se deparar
33
com a sua própria miserabilidade intelectual, isso porque, cada vez que procura
UNIDADE 1
e acha algo que lhe dá melhor entendimento, a própria pessoa se descobre como
ignorante; por isso, já dizia o velho e bom filósofo Sócrates, “Só sei que nada sei”
(CORTELLA, 2019, p. 23).
Caro(a) aluno(a), é claro que Sócrates não era um “burrão”, mas ele, também,
não se compreendia como um “sabichão”. Ele, realmente, aprendia com as pessoas e
acreditava que o conhecimento do mundo era maior do que ele. Diante disso, peço
que leia bem devagar: o único caminho moral e ético de quem estuda, principal-
mente, filosofia, é o caminho da humildade e do autoconhecimento. No entanto
acredito que, se você teve essa infeliz experiência de estudar filosofia e concluiu
que ela é chata e o fez com que não gostasse de filosofia, possivelmente, é porque
você deva estar se referindo a uma determinada situação ou pessoa com quem
estudou ou que as pessoas, com quem conviveu, não se interessavam em conhecer
as coisas de forma mais aprofundadas; sendo assim e dessa maneira, o que pôde
ter ocorrido é que você, caro(a) aluno(a), teve contato com a filosofia por meio de
pessoas que não se interessam, não têm curiosidade e se acham donas do saber,
são pessoas arrogantes e prepotentes, que não tem nada a ver com o espírito de
quem estuda filosofia ou quer conhecer mais e melhor as coisas. Portanto, lembre-
-se sempre do sentido original da palavra “filosofia”: pessoas iguais, amigos, que
buscam o saber, a sabedoria. Entendeu? Ficou bom? Dessa forma, continuaremos
nossa aula, buscando identificar as características do pensar filosófico.
Quando dizemos que Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé, é o rei do fu-
tebol, queremos dizer que essa pessoa, Pelé, é um excepcional jogador, o melhor de
todos, mas, em hipótese nenhuma, diz-se que ele é o único ou que não há outros
jogadores que não sejam muito bons ou bons jogadores, bem como não se afirma
que Pelé é o fundador do futebol. Assim, também, ocorre quando estudamos sobre
o surgimento da filosofia. Há vários personagens e figuras que se constituem como
importantes na história do pensamento filosófico; na filosofia, um tipo de Pelé foi o
filósofo Sócrates e este era tão importante, que sua vida e obra se tornaram um marco
divisor da cronologia da história da filosofia. Assim como Jesus Cristo é, em especial,
para o Mundo Ocidental, um marco divisório da história, antes e depois de Cristo
(a.C. e d.C.), na filosofia, também, ocorre essa distinção dos filósofos que existiram
antes e depois da existência de Sócrates, ou seja, recebem a alcunha de os Pré-socrá-
ticos (antes de Sócrates) e os Pós-socráticos (depois de Sócrates) (ARANHA, 2012).
Confere-se, por sua vez, ao filósofo grego Pitágoras de Samos (V a.C.) por ter
criado a palavra “filosofia”. Ele teria dito que a sabedoria plena e completa pertence,
34
somente, aos deuses, mas que os homens poderiam desejá-la ou, até mesmo, amá-
UNICESUMAR
-la, tornando-se filósofos. Chauí (2015) nos informa que Pitágoras teve um pensa-
mento bem objetivo e claro sobre o papel do filósofo. Esse filósofo disse, certa vez,
comparando as pessoas que iam aos jogos olímpicos de sua época, esses mesmos
que assistimos até hoje pelos meios de comunicação: os comerciantes, que faziam
negócios; os competidores, que disputavam os jogos; e os contempladores, que as-
sistiam aos jogos, que esses últimos, portanto, iam para contemplar os jogos, avaliar
o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Chauí (2015), compa-
rando esse público observado por Pitágoras, como se fosse filósofo, comenta que
ele não age como um comerciante ou proprietário que tenha algo para comprar ou
possuir, bem como não age pela adrenalina de um competidor; por fim, não utiliza
das ideias como condição para vencer seus opositores, mas age pelo simples desejo
de observar e contemplar, de forma avaliativa, a vida, ou seja, pelo simples prazer
do saber das coisas.
Segundo, Aranha e Martins (2013), a filosofia nasceu por volta dos séculos VII
e VI a.C., na Ásia Menor, na cidade de Mileto. Considera-se que o primeiro filósofo
foi Tales de Mileto (ARANHA; MARTINS, 2013). A filosofia tratava, inicialmente,
do conhecimento cosmológico, denominado cosmologia, ou seja, o estudo racional
sobre o mundo ordenado da Natureza. Para você fazer uma ideia, caro(a) aluno(a),
tudo era muito rudimentar em relação aos nossos dias, que temos estudos avança-
dos em astronomia com potentes equipamentos tecnológicos de altíssima precisão
e alcance. Assim, a maneira encontrada pelos primeiros filósofos para conhecer o
mundo e tudo que nele havia, foi fazendo perguntas, por exemplo:“por que os seres
nascem, crescem, desenvolvem, envelhecem e morrem?”, “por que a vida está em
constante mudança?”,“por que há coisas que mudam mais rápido do que as outras?”.
Quem faz um excelente estudo sobre as características peculiares da filosofia,
desde o seu surgimento e desenvolvimento, é a filósofa brasileira Marilena Chauí,
professora aposentada da Universidade de São Paulo (USP), quando se debruça
em buscar as possíveis definições do que possam vir a ser “Filosofia”. Assim, ela
nos informa que há, pelo menos, quatro definições gerais do que seria a Filosofia,
vejamos: (1) visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura;
(2) sabedoria de vida; (3) esforço racional para conceber o Universo como uma
totalidade ordenada e dotada de sentido e (4) fundamentação Fundamentação
teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. Sobre essa última definição, a
própria Chauí (2015, p.15) faz o seguinte comentário:
35
“
A Filosofia, cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princí-
UNIDADE 1
Outra questão importante para se caracterizar o pensar filosófico e para que ele
não se confunda com outras formas de pensamento bem como para que você,
também, não pague “mico” por aí, é a seguinte: distinguir filosofia de outras ati-
vidades do pensar humano. Assim, Chauí (2015, p. 16) enfatiza essa diferença:
“
A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedi-
mentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica
sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma
interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das
obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia,
mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da
sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, com-
preensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do poder.
Não é história, mas interpretação do sentido dos acontecimentos
enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio
tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação humanos, co-
nhecimento da transformação temporal dos princípios do saber e
do agir, conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres,
a Filosofia sabe que está na História e que possui uma história.
Sobre o que vem a ser filosofia e sua distinção, em especial, de outras formas de
pensar, como ciência, Cortella (2019, p. 23) afirma que “Filosofia é um modo de
pensar – sistemático, organizado e método com questões precisas daquilo que
se faz – para indagar sobre os porquês. E por que não é como. Quem pergunta
pelo como é a ciência”. Mariano (2007, p. 38-39) ressalta que há características
do pensar filosófico, como a reflexão filosófica, que podem ser compreendidas
por meio de três atitudes, sendo elas: a criticidade, a radicalidade e a totalidade.
Vejamos, uma a uma, então:
1. Criticidade: a palavra “crítica” tem vários sentidos, como a arte de julgar o
valor, de examinar, discernir, construir critérios ou, ainda, colocar o objeto
observado em crise para ver se é falso ou verdadeiro. Portanto, a criticida-
36
de chama a atenção para uma atitude de questionamento minucioso com
UNICESUMAR
critério. Por isso, é necessário ter o cuidado de estabelecer critérios que
definam falsidade ou veracidade. Exemplo típico disso é quando vemos
um crítico de cinema comentar um determinado filme, ou seja, ele critica
não de qualquer maneira, mas o faz usando critérios, previamente, esta-
belecidos; portanto, a crítica feita sempre a partir de um ponto de vista.
2. Radicalidade: outra característica da filosofia é buscar a origem do pro-
blema, e esse ato é chamado de radicalidade, não no sentido popular, como
os adolescentes usam: “cara irado, radical demais”, mas como sentido de
buscar as origens ou as causas primeiras de uma determinada questão
estudada. Portanto, buscam-se as raízes, os fundamentos, os princípios de
um objeto pesquisado. Veja o exemplo: diante de um problema que ocor-
reu no trabalho, buscam-se as causas que geraram tal situação-problema,
ou seja, o ato de radicalidade é identificar o que originou ou ocasionou
tal situação-problema.
3. Totalidade: por fim, a totalidade é uma marca bem clara da filosofia, e ela
é diferente da ciência. Preocupa-se com o particular, o específico, é aquela
que se volta para a totalidade das coisas, pois a filosofia compreende que
a realidade é sempre multifacetada. A filosofia está interessada, portanto,
na reflexão sobre a totalidade e a abrangência da questão observada ou
estudada. Pode-se fazer os seguintes questionamentos que nos levem a
refletir sobre outros aspectos mais abrangentes, como: quais as causas?
Quais são as áreas? Quais as implicações? Quais as relações que podem
ser feitas ou estarem implicadas?
Nesse sentido, Chauí (2015) corrobora quando explica que uma das caracterís-
ticas peculiares e fundamentais da filosofia é a atitude filosófica, ou seja, uma
atitude de perguntar pela natureza das coisas é, por exemplo, perguntar: o que
é o tempo?”, ao invés de perguntar: “que horas são ou que dia é hoje?”. Assim,
utilizando esse raciocínio, a Filosofia é “a decisão de não aceitar como óbvias e
evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos
de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado
e compreendido” (CHAUÍ, 2015, p. 9). Logo, nessa atitude filosófica, tem-se a
atitude de criticidade, de questionamento, de indagação, de reflexão. Sobre essa úl-
tima atitude, de reflexão, muito importante para todos nós seres humanos, Chauí
(2015, p. 13) comenta que:
37
“
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movi-
UNIDADE 1
“
A Filosofia se preocupa em pensar as razões da existência. Pensar
aquilo que, de fato faz com que o ser humano tenha sentido. Por
exemplo, do que é feita a realidade? Por que é deste modo e não de
outro? Qual o propósito que as pessoas dão à vida? Qual o lugar
do mal dentro disso? A felicidade existe ou é uma ilusão? Por que
existe alguma coisa, em vez de nada existir? Por que as coisas são
como são? Por que eu estou nessa rota? Qual a origem do mal? Por
que nós somos finitos? Para que existimos para depois deixarmos de
aqui estar? Será que essa ideia de amizade em que chamamos todo
mundo de “amigos” não é superficial?
38
Caro(a) aluno(a), para finalizar essa aula, espero passar para
UNICESUMAR
você as características do pensamento filosófico da melhor ma-
neira. Espero, sinceramente, que você não esteja entendendo
que o pensar filosófico é um mero amontoado de ideias, mas,
se você ler e reler esta aula, perceberá que a filosofia é um co-
nhecimento que se caracteriza, fundamentalmente, como uma
atitude e não, apenas, uma mera reação, e isso é muito impor-
tante, pois, quando temos atitude, temos, na realidade, uma
consciência que nos possibilita tomar decisão, agir a partir dos
nossos próprios propósitos e intentos. Contudo, quando temos
a ideia de, apenas, reagir, revelamos nossas possíveis vulnera-
bilidades e somos conduzidos a caminhos que, muitas vezes,
não queremos trilhar, assim como o grão de área é levado pelo
vento ou quando nos sentimos à deriva.
HUMANO PRESENTES
na sociedade atual
UNICESUMAR
formação acadêmica mais adequada, sólida e humana. Os efeitos positivos dessa
formação, certamente, não serão sentidos, apenas, durante o período dos seus
estudos universitários, caro aluno(a), mas acredito que esses efeitos benéficos
serão sentidos, também, ao longo de sua vida profissional e pessoal, no sentido
de ter uma boa e justa serventia.
Para entendermos porque o ser humano tem mais de um tipo de conheci-
mento, explicaremos a partir do ponto de vista do comportamento humano, à luz
do conhecimento da antropologia filosófica. Dessa forma, as pessoas pensam e
agem de forma diferentes, porque elas conhecem ou apreendem o mundo, no seu
desenvolvimento físico e mental, a partir de suas primeiras experiências culturais
e, assim, quanto se tornam adultas e começam a se locomover, mudar de lugar
e se relacionar com outras pessoas, revelam suas posições e entendimentos, os
quais têm influência advinda de sua criação, formação e experiências vividas da
família, da escola e do cotidiano.
Mais adiante, trataremos os aspectos da antropologia filosófica que aborda,
especificamente, a questão cultural. Por ora, é importante saber que essas expe-
riências, adquiridas ao longo do desenvolvimento humano, dão-se no tempo e no
espaço. Período e momento são palavras sinônimos que nos remetem ao conceito
de tempo. Todo e qualquer ser humano está sujeito ao tempo, nascemos, vivemos
e morremos durante um determinado tempo, assim, pensa a maioria das pessoas.
Por sua vez, ambiente, meio e lugar são palavras sinônimas que nos remetem ao
conceito de espaço. Nessa direção, é comum falar, não sei se você já disse isso,
conversando com um amigo ou amiga: “você não é daquele tempo” ou “aquele
tempo que era bom!”, referindo-se a um determinado período e lugar vividos,
bem como emitindo um juízo de valor sobre eles. São frases que nos remetem
aos conceitos de tempo e de espaço, respectivamente. Por exemplo, hoje, o tempo
da criança é diferente do tempo do adulto, no sentido de qualidade existencial
do tempo não quantitativo, mas qualitativo.
Em nossa cultura, há o tempo do adulto, o do trabalhar, e o tempo da criança,
o do brincar; este, por conseguinte, para a criança, é um momento que se presen-
tifica, que se inicia e se encerra nos próprios acontecimentos, que são esperados,
ansiosamente, para acontecer. Nesse sentido, o tempo revela, também, o espaço,
o ambiente, um determinado contexto: o tempo de jogar bolinha de gude, burca,
burquinha, peteca, bila, dentre tantos outros nomes, ou soltar ou empinar pipa,
papagaio, pandorga ou raia, dentre, também, tantos outros nomes, que são uti-
41
lizados pelo povo em nosso país. Essas eram algumas das atividades de criança
UNIDADE 1
(naquela época, a maioria que brincava com essas atividades era os meninos,
as meninas brincavam de boneca e de casinha) que ocorriam em um determi-
nado tempo e espaço. Dizia-se, naquela época, assim: “agora é tempo de soltar
papagaio”, “agora é tempo de jogar bolinha ou brincar de patinete ou carrinho de
rolimã” etc., aí, todo mundo fazia o que era o tempo de fazer. Engraçado, não é?
É verdade, porém, que há crianças que crescem e não deixaram de ser crianças;
como adultas, essas pessoas continuam brincando de bolinha de gude, soltando
pipa ou empurrando carrinho de rolimã ladeira abaixo ou, mais recentemente,
jogam videogames com os seus filhos e filhas, sabe por quê? Porque essas pes-
soas viveram em um tempo/espaço determinado, que as marcou afetivamente
e, assim, compreenderam que esse tempo/espaço lhes foram muito bom e lhes
fizeram muito bem o fato de pensar sobre o tempo e o lugar em que viveram como
crianças. Assim, quando essas pessoas, hoje, agora, adultas emitem seus juízos
ou se manifestam sobre qualquer tema, as brincadeiras do seu tempo/espaço
de criança são referências, conteúdos, princípios éticos, morais, costumes, que
pautam as suas atitudes no hoje e a sua formação, por meio do seu pensamento
e, assim, reproduzem aos seus filhos, netos e bisnetos.
Outra característica de tempo/espaço é que ambos podem mudar. Podemos
percebê-los de forma diferentes como o ato de comunicar uma determinada
situação, um evento vivido. Vamos exemplificar: quem tem mais de 50 anos de
idade nasceu antes da criação da internet, a qual ocorreu em 1969, nos Estados
Unidos. Em um passado recente, quando, ainda, era rudimentar o desenvolvi-
mento do mundo virtual e a internet não havia ganho o mundo, como hoje, as
pessoas pensavam e agiam em um tempo/espaço que parecia, repito, parecia, que
era mais longo, no sentido negativo mesmo, demorado, custoso, mas as pessoas,
naquela época e naquele espaço, não sentiam o que, possivelmente, sente-se, hoje,
quando se fala daquele tempo como sendo: “tempo difícil”, “tempo bom”, “lugar
difícil de viver”, “como tenho saudade daquele tempo e lugar” ou a famosa frase:
“éramos felizes e não sabíamos”.
Agora, veja essa comparação sobre a mudança da nossa percepção do tempo/
espaço e as formas qualitativa e quantitativa de tempo e espaço: quando morreu
Getúlio Vargas, presidente do Brasil, em 24 de agosto de 1954, o qual se suicidou
(COSTA, 2019), as pessoas ficaram sabendo de sua morte, por exemplo, em uma
cidadezinha do interior do Paraná, Santa Fé, três dias depois do ocorrido. A notícia,
segundo um senhor morador que viveu na época de Vagas, o qual eu o conheci,
42
chamado Lourival, disse-me que a notícia chegou a cavalo na cidade dele; isso
UNICESUMAR
mesmo, naquela época ou naquele espaço, a notícia chegava às pessoas por meio
de mensageiros que utilizavam cavalos como veículos para se comunicarem, para
levar e trazer as notícias e informações. Três dias depois da morte de Vargas, con-
siderando que a notícia saiu de uma cidade vizinha, muito conhecida no Brasil, a
cidade de Londrina, ambas do Norte do Paraná, no Sul do Brasil. Agora, veja essa
comparação, mais recentemente, sobre a comunicação, também, de uma outra
personalidade que morreu já neste novo século, 2009, o cantor americano Michael
Jackson, o rei da música Pop. Você pode imaginar quanto tempo o mundo todo
ficou sabendo da morte de Michel, inclusive, a cidade de Santa Fé no Paraná?
Em menos de 60 minutos. Isso mesmo! Em menos de 1 hora. Você sabe quantos
quilômetros tem Santa Fé à Londrina? Segundo dados aproximados, veiculados
na internet, a distância corresponde a 99,6 Km. E dos Estados Unidos ao o Brasil?
Segundo dados aproximados, veiculados na internet, a resposta é 7.300 Km. Nes-
se sentido, o tempo muda, pois as condições e as tecnologias utilizadas mudam
também, ou seja, a mudança do tempo e do espaço está relacionada às mudanças
culturais, no caso, as mudanças tecnológicas associadas à comunicação, à informa-
ção e às condições materiais e culturais de viver e de conhecer. Fantástico, não é?
O que é Conhecimento?
Pois bem, agora, ao responder esta pergunta que apresentamos, neste subtópico,
nosso objetivo é lhe proporcionar um melhor entendimento sobre a forma que
o ser humano faz para compreender o mundo que o cerca e, paulatinamente,
conhecer, também, a si mesmo. Este último objetivo, conhecer a si mesmo, é
mais complexo e demorado, portanto, é preciso que você tenha persistência. Sem
nenhum eufemismo, e sendo bem objetivo e direto, é mais difícil conhecer a si
mesmo do que quaisquer outras coisas, mas não é impossível fazê-lo; você verá!
Popularmente, conhecimento é entendido como prática de vida, experiência,
noção, discernimento das coisas, consciência de si mesmo. No sentido acadêmico,
conhecimento é um ato ou efeito de conhecer um objeto; no sentido metafórico,
como o pensamento se debruça sobre um determinado objeto, como definição,
percepção, apreensão completa, análise etc. (FERREIRA, 2004). Se você prestar
bem a atenção, perceberá que, no ato de conhecer, estão presentes dois elementos
muito importantes e indissociáveis: o primeiro refere-se ao sujeito que conhece, o
43
qual é ser humano, você; e o segundo refere-se ao objeto, o qual é conhecido pelo
UNIDADE 1
ser humano, que pode ser qualquer coisa passiva de ser observada e apreendida;
assim, pode ser um objeto material (uma empresa, um órgão do corpo humano,
uma sociedade ou um determinado povo) ou um objeto ideal (os números ou
as figuras geométricas).
Pergunto a você, mas já aviso que é uma brincadeira pedagógica: você já viu
andando por aí, em uma calçada das ruas onde você mora, o número “2”, isso
mesmo, o número “2” de mãos dadas com uma “raiz quadrada” ou uma “equação
do segundo grau”? Certamente, não! Mas eu e você dizemos que, tanto uma
raiz quadrada quanto uma equação do segundo grau, existem, são reais dentro
da nossa cabeça, de forma ideal, fazem parte, somente, do mundo das ideias, do
pensamento, porém esses objetos não são objetos materiais, como, por exemplo,
uma cadeira. Independentemente, os objetos ideais, também, fazem parte da vida
de qualquer estudante seja ele do ensino médio, seja superior, não é? Uma coisa
que já sabemos, hoje, é que ambos (sujeito e objeto) estão em constante relação.
O sujeito, o ser humano, é aquele que apreende informações a respeito do objeto
graças à capacidade intelectual e racional (HESSEN, 2003).
Para Luckesi (2002), o conhecimento é a compreensão inteligível da realidade
que o sujeito humano adquire por meio de sua confrontação com essa mesma rea-
lidade vivida. Portanto, conhecimento consiste na condição intelectual ou racional
que o ser humano tem para compreender a realidade material ou ideal que vive;
além disso, ele tem como uma das finalidades principais utilizar o conhecimento
para seu benefício próprio ou da coletividade. Essa ideia, a qual é dominadora, é
uma herança do conhecimento científico, o qual veremos mais adiante.
Os tipos de conhecimento
UNICESUMAR
nosso tempo, ao mundo capitalista e aos avanços científicos obtidos.
Desse modo, você, caro(a) aluno(a), verá alguns dos tipos de conhecimento que
mais se tem registro na sociedade e que se estuda até hoje, porém, não quer dizer
que eles sejam os únicos conhecimentos existentes. Isso não é uma mera afirmação
especulativa, mas uma pura inferência, uma vez que, hoje, constatamos a diversi-
dade, por exemplo, de seres vivos, em nossa fauna e flora, que não foram, ainda,
identificados; logo, por isso, a inferência: pode-se ter tipos de conhecimento que não
se tem informação e que circula nas sociedades, em nosso planeta. Nesse sentido,
para limitar os nossos estudos, por meio dos assuntos que trataremos, que não deixa
de ser um ato político sobre isso, estudaremos outros tipos de conhecimento, como
o tecnológico, o artístico ou político, também, mais adiante, quando tratarmos so-
bre filosofia política. Agora, veremos os cinco tipos de conhecimentos: o mítico,
o religioso, o senso comum, o filosófico e o científico. Alguns já tratamos mais
aprofundadamente, como são os casos do conhecimento mítico e filosófico.
Conhecimento Mítico
Segundo o Ferreira (2004), mito, do grego mythos, significa “fábula”. É uma nar-
rativa na qual a palavra é usada para transmitir e comunicar, coletivamente, a
tradição oral, preservando sua memória e garantindo a continuidade da cultura.
Como já abordamos anteriormente, mas é sempre importantíssimo lembrar, entre
70 mil e 30 mil anos atrás, tem-se as primeiras informações de invenção de uten-
sílios, adereços e equipamentos de uso pessoal e coletivo da Era Homo sapiens,
como locomoção, joias, armas e roupas, bem como os primeiros indícios de reli-
gião, comércio e estratificação social (HARARI, 2018). Portanto, o conhecimento
mítico é uma das formas mais elementares do pensar humano do Homo sapiens.
Segundo Harari (2018), essa forma se iniciou com a “Revolução Cognitiva”.
Naquele tempo, o ser humano começou a pensar e a se comunicar, pela primeira
vez, utilizando lendas, mitos, deuses e religiões. Pode-se dizer que a maneira que
os mitos foram utilizados revelou uma espécie de linguagem ficcional, representa-
tiva e simbólica muitíssima peculiar e distinta dos outros seres vivos (você já sabe
que os outros seres vivos se comunicam também, não sabe? Muito bem, vamos
continuar). Isso quer dizer, então, que os mitos foram e, ainda, são utilizados para
“explicar” a origem do mundo, da espécie humana, dos povos e das comunidades
45
existentes sobre a face da terra, por meio de uma linguagem simbólica, que se
UNIDADE 1
Conhecimento Religioso
UNICESUMAR
especulações sobre o modo de vida do ser humano. Um dos estudiosos da socio-
logia, chamado Émile Durkheim, estudou a religião ao longo do tempo. Dentre
as características fundamentais, ele defende a tese de que toda e qualquer religião
apresenta dois elementos: primeiro, o sagrado em contrapartida ao profano; e o
segundo, o aspecto coletivo, social da religião (DURKHEIM, 2010). Sendo assim,
a religião produz o conhecimento religioso, ao longo do tempo, para capacitar,
intelectualmente, religiosos e seguidores de seus deuses e divindades. Exemplos: os
deuses gregos e romanos, o Deus dos hebreus, do Cristianismo e do Islamismo e as
divindades, como o deus Sol, a Natureza, além de seres humanos que se tornaram
entes sagrados, como, no Budismo, Buda e, no Cristianismo, Jesus Cristo, por meio
de seus ensinamentos e conhecimentos deixados oralmente e que, posteriormente,
foram organizados e se tornaram escritos e livros sagrados até hoje, como o Tripi-
taka, no Budismo, e a Bíblia, no Cristianismo.
Nesse sentido, o conhecimento religioso é dogmático, é inquestionável, em
que os valores e os fins são objetivos, dados, todo baseado na autoridade revelada,
por meio da tradição escrita (a Bíblia, no Cristianismo), ou, na autoridade pessoal,
por meio da tradição oral (tradição indígena) (LAKATOS; MARCONI, 2011).
Este conhecimento utiliza símbolos e ritos para ensinar sobre os ensinamentos
e as doutrinas. Um bom exemplo é o simbolismo, que representa o altar para as
religiões, o espaço de adoração da divindade. Ele afirma a majestade da divindade.
Assim, todas as religiões têm seus símbolos e ritos, e esses símbolos, por sua vez,
podem ser objetos ou pessoas. Na religião muçulmana, temos o Alcorão, um livro;
no Cristianismo, o padre e o pastor, como autoridade religiosa; no Candomblé, a
mãe e o pai de santo, como guias espirituais. Esses são símbolos de autoridade e res-
peito, os quais têm toda a confiança e são os representantes legítimos da divindade
na face da terra. Portanto, o conhecimento religioso busca, ainda, dar “explicações”
para os fenômenos naturais, humanos e espirituais e oferecem modelos de com-
portamento e de entendimento integradores do mundo e da vida, dando, assim,
sentido e segurança ao ser humano para viver e agir diante do presente e do futuro.
Conhecimento Filosófico
Conhecimento Científico
48
■ Falível: o conhecimento científico é falível, pois este não é absoluto ou
UNICESUMAR
final, mas progressivo.
Caro(a) aluno(a), para que você compreenda melhor o conhecimento senso co-
mum, peço que você o relacione com o conhecimento científico, que acabamos
de estudar, no subtópico anterior. O conhecimento senso comum, por sua vez,
também, é conhecido como empírico; é um tipo de conhecimento que não é
regido pelo rigor metodológico nem pela racionalidade científica, mas, sim, ba-
seia-se na experiência pessoal. Nesse sentido, os ditados populares, por sua vez,
são exemplos típicos desse tipo de conhecimento, assim sendo, veja os exemplos:
■ A saliva de uma pessoa que sofre de epilepsia pode transmitir a doença.
■ Comer manga com leite faz mal.
■ Grávidas perdem dentes, pois o bebê absorve todo cálcio do organismo delas.
■ Reumatismo é doença de velho.
49
ilusório, falso, mitificado e mistificador. Santos (2002, p. 56), porém, difere dessa
UNIDADE 1
“
[...] uma aproximação do conhecimento do senso comum ao conhe-
cimento científico com a da descrição de algumas características do
próprio senso comum, tais como causa e intenção; prática e prag-
mática; transparência e evidência; superficialidade e abrangência;
espontaneidade; flexibilidade; persuasão.
“
Assistemático – não há uma ordem sistemática ou organização de
conjunto. Este conhecimento nasce da tentativa do ser humano resol-
ver os problemas do dia a dia; Empírico – a base deste conhecimento
está na simples experiência pessoal das pessoas; Ingênuo – Não há
questionamento ou problematização da realidade de maneira objetiva
e crítica; Presa fácil das aparências – Este conhecimento fica preso
à aparência e não aquilo que é real. Por exemplo, parece que o sol
gira em torno da terra, que permanece parada ao centro do univer-
so. Contudo, sabemos hoje cientificamente que é a terra que gira em
torno do sol; Fragmentado – Não há uma percepção mais elaborada
e complexa como estabelecer conexões onde estas poderiam ser veri-
50
ficadas sistematicamente. Por exemplo: para a pessoa comum é difícil
UNICESUMAR
fazer ligação entre combustão e a respiração; Particular – este conhe-
cimento tem um método restrito. A partir de uma parcela restrita da
realidade faz generalizações muitas vezes apressadas e imprecisas, não
considerando a realidade com um todo. Subjetivo – este conhecimen-
to é subjetivo quando se avalia a partir de um único sujeito sem se
preocupar com os demais, por exemplo, temperatura, valor e juízo a
respeito das coisas: moda, costumes, sabor, beleza, etc.
explorando Ideias
pensando juntos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
52
na prática
a) Persas.
b) Incas.
c) Chineses.
d) Gregos.
e) Maias.
2. A Filosofia faz parte do nosso cotidiano. Segundo Aranha e Martins (2013), existem
questões filosóficas presentes em nosso dia a dia. Leia os exemplos cotidianos de
cunho filosófico a seguir:
I - Quando alguém informa que horas são como forma de ser educado.
II - Quando troca de um emprego por outro, não tão bem remunerado, mas que
é mais de seu agrado.
III - Quando alterna a jornada de trabalho com a prática de esporte ou com a opção
de ficar em casa assistindo à tevê.
IV - Quando alguém decide votar em um candidato por ser de um determinado
partido.
53
na prática
3. Uma das formas mais antigas do pensamento humano é a forma de pensar miti-
camente. O mito tem relação com histórias, contos e lendas dos povos antigos e
atuais. Algumas dessas histórias, por exemplo, remontam a períodos muito distantes
e tinham, como principal meio de comunicação, a oralidade e não a escrita. Assinale
Verdadeiro (V) ou Falso (F) sobre as características do pensar mítico:
4. Pensar filosoficamente tem um modo bem peculiar de ser. Do ponto de vista histó-
rico, em seu surgimento e até hoje, segundo Chauí (2015), a filosofia tem uma tarefa
a ser cumprida. Leia as opções a seguir e assinale a alternativa verdadeira sobre
duas das principais características do pensar filosófico, desde o seu nascimento,
que o autor valoriza:
54
na prática
I - Usa somente a razão, o que lhe confere suas características críticas e argumen-
tativas.
II - As proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida por
meio da experimentação.
III - É um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria).
IV - A base deste conhecimento está na simples experiência pessoal das pessoas.
55
aprimore-se
A FILOSOFIA NO MUNDO
1. Seja a filosofia o que for, está presente em nosso mundo e a ele necessariamente
se refere. Certo é que ela rompe os quadros do mundo para lançar-se ao infinito.
Mas retorna ao finito para aí encontrar seu fundamento histórico sempre original.
Certo é que tende aos horizontes mais remotos, a horizontes situados para além do
mundo, a fim de ali conseguir, no eterno, a experiência do presente. Contudo, nem
mesmo a mais profunda meditação terá sentido se não se relacionar à existência
do homem, aqui e agora. A filosofia entrevê os critérios últimos, a abóbada celeste
das possibilidades e procura, à luz do aparentemente impossível, a via pela qual o
homem poderá enobrecer-se em sua existência empírica. A filosofia se dirige ao in-
divíduo. Dá lugar à livre comunidade dos que, movidos pelo desejo de verdade, con-
fiam uns nos outros. Quem se dedica a filosofar gostaria de ser admitido nessa co-
munidade. Ela está sempre neste mundo, mas não poderia fazer-se instituição sob
pena de sacrificar a liberdade de sua verdade. O filósofo não pode saber se integra a
comunidade. Não há instância que decida admiti-lo ou recusá-lo. E o filósofo deseja,
pelo pensamento, viver de forma tal que a aceitação seja, em princípio, possível.
2. Mas como se põe o mundo em relação com a filosofia? Há cátedras de filosofia
nas universidades. Atualmente, representam uma posição embaraçosa. Por força
da tradição a filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, objeto de desprezo.
A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece de qualquer utili-
dade prática. É nomeada em público mas - existirá realmente? Sua existência se pro-
va, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar. A oposição se traduz em
fórmulas como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além de
meu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso
equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abs-
ter-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso,
num capítulo qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará
ter “opiniões” e contentar-se com elas. A polêmica torna-se encarniçada. Um instinto
vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse,
teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma
claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente.
56
aprimore-se
E surge os detratores, que desejam substituir a obsoleta filosofia por algo de novo
e totalmente diverso. Ela é desprezada como produto final e mendaz de uma teolo-
gia falida. A insensatez das proposições dos filósofos é ironizada. E a filosofia vê-se
denunciada como instrumento servil de poderes políticos e outros. Muitos políticos
veem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcioná-
rios são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam de
uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos.
Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desapare-
cessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensine, menos estarão os
homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia. Assim, a filosofia se vê ro-
deada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. A auto
complacência burguesa, os convencionalismos, o hábito de considerar o bem-estar
material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar a ciência em função
de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a bonomia dos políticos, o
fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome literário - tudo isso proclama a
antifilosofia. E os homens não o percebem porque não se dão conta do que estão
fazendo. E permanecem inconscientes de que a antifilosofia é uma filosofia, embora
pervertida, que, se aprofundada, engendraria sua própria aniquilação.
3. O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mun-
do não quer. A filosofia é. portanto, perturbadora da paz. E a verdade o que será? A
filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser-verdadeiro segundo os
modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade
única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante,
que penetra no infinito. No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia
leva esse conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas relações com
tudo quanto existe, o Filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao inter-
câmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo.
Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, obser-
vam que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com
seus concidadãos, do destino comum da humanidade. Eis por que a filosofia não se
transforma em credo. Está em contínua pugna consigo mesma.
Fonte: Jaspers (2001, p. 138).
57
eu recomendo!
livro
58
anotações
anotações
anotações
2
INTRODUÇÃO
À FILOSOFIA
PROFESSOR
Me. Rubem Almeida Mariano
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Preocupações da Filosofia pré-
-socrática • O legado da Filosofia Clássica • A Filosofia Medieval • A Filosofia Moderna e suas conquistas
• As marcas da Filosofia contemporânea.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar as principais preocupações da filosofia pré-socrática • Distinguir entre os clássicos os seus
principais temas filosóficos abordados • Diferenciar os tipos de produção filosófica no Período Medieval
• Precisar, além das principais filosofias, os momentos distintos que podem ser compreendidos como
modernidade • Listar as principais marcas da filosofia contemporânea.
INTRODUÇÃO
FILOSOFIA
pré-socrática
“
Kosmos (Universo): esse conceito pressupõe que o universo é um ser
totalmente ordenado, composto de beleza e harmonia. - Phusis (Na-
tureza): a natureza possui dois aspectos fundamentais. Em primeiro
lugar, é a natureza que subjaz a todas as coisas. Os pré-socráticos
estudam qual é a natureza das coisas, isto é, aquilo que lhe é próprio,
que lhe pertence a si mesma. - Archê (Princípio): é o princípio origi-
nário de todas as coisas, de onde todas provêm. - Logos (Razão): é o
caráter distintivo da filosofia antiga, sua característica fundamental.
Devemos dar razões, explanar, o porquê das ocorrências do mundo.
66
é efêmera e finita. Essas indagações dos primeiros filósofos, ainda, são as nossas
UNICESUMAR
mesmas perguntas, claro, diante de situações, totalmente, novas dos nossos dias.
Quem sabe eles identificaram, de forma profunda, as necessidades da alma hu-
mana. Fica a questão para você pensar!
Vamos continuar a nossa viagem? Então, as perguntas que os pré-socráticos
se faziam eram tais como essas, a seguir:
“
Por que os seres nascem e morrem?
Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes?
Por que os diferentes também parecem fazer surgir os dife-
rentes?
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece,
envelhece e desaparece.
Por que as coisas se tornam opostas ao que eram?
Por que nada permanece idêntico a si mesmo?
De onde vêm os seres?
Para onde vão, quando desaparecem?
Por que se transformam?
Por que se diferenciam uns dos outros?
Por que tudo parece repetir-se? (CHAUÍ, 2015, p. 27).
67
PENSAMENTO MÍTICO PENSAMENTO FILOSÓFICO
UNIDADE 2
Como nos informam Aranha e Martins (2013), contudo, essas explicações mí-
ticas haviam perdido sua força, pois não convenciam nem satisfaziam a quem
desejava conhecer, mais a fundo, a verdade sobre o mundo e as coisas que há nele.
Por que não mais satisfazia as pessoas daquele tempo? Essa é uma boa pergunta
filosófica. Curioso? Continuemos, então! Portanto, ressaltaremos, aqui, uma das
marcas muito importante para seu conhecimento e entendimento do por que
surgem os mais diversos questionamentos, em um dado momento, sobre um
jeito de pensar, (como o pensar mítico, que já havia, praticamente, conquistado
ou dominado a mente das pessoas), isto é, como se, de repente, mas não é, sur-
gissem questionamentos a essa determinada forma de pensar, como se nunca ela
fosse tida como um pensamento da maioria. Intrigante, não é? Mas como assim?
O que aconteceu? As pessoas não sabem o que pensar? Não sabem o que fazer?
Nada disso. A resposta desses questionamentos vem das ciências sociais e das
condições históricas de cada época. São as condições históricas de cada época,
que produz e se torna constituinte um determinado jeito de pensar. Esse jeito
que os filósofos pré-socráticos começaram a pensar, eles chamaram de “filosofia”;
esse jeito, por sua vez, segundo Chauí (2015), tinha estas características: racional,
lógico e sistemático. Outras marcas ressaltadas por Chauí (2015), sobre o jeito de
pensar pré-socrático, eram as formas originais de tratar as próprias mudanças que
eles viviam na época deles, como, por exemplo: em relação aos mitos, eles eram
racionalizados, os deuses eram humanos; em relação aos conhecimentos, eles
eram universais e não, somente, práticos, para o uso direto na vida; em relação
68
à organização social e política, os Pré-socráticos criaram, além da Ciência ou da
UNICESUMAR
Filosofia, também, a política, e, por fim, em relação ao pensamento, inventaram
a ideia ocidental da razão como um pensamento sistemático que segue regras,
normas e leis de valor universal. Sobre, ainda, as condições históricas, propria-
mente ditas da época, Chauí (2015) apresenta as seguintes condições:
“
• As viagens marítimas.
• A invenção do calendário.
• A invenção da moeda.
• A invenção da política.
Então, o que faz as pessoas pensarem como pensam é uma relação de duas vias:
uma via, a qual chamaremos de “prática, vivência cultural” e a outra via, chama-
remos de “pensar e refletir sobre aquilo que se faz”. Assim, temos o surgimen-
to, sempre, de um jeito de pensar novo, porque o ser humano, nesse sentido,
sempre, se renova, justamente, porque lhe surgem novas situações, sempre, que
lhe preocupam, e ele precisa pensar sobre para resolver tal situação. Portanto, o
pensamento filosófico foi um jeito que os gregos encontraram para encontrar
solução as suas preocupações, e que, ao longo dos tempos, esse jeito foi renova-
do e transformado pelos muitos pensadores, que, hoje, chamamos “pensadores
clássicos”. “Da Grécia até a contemporaneidade, a filosofia é dividida em escolas
filosóficas, organizadas de acordo com o período histórico e as principais carac-
terísticas de pensamento” (CRUZ, 2018, on-line)2. Sendo assim, veremos as escolas
pré-socráticas, os filósofos que compunham essas escolas e seus pensamentos, de
forma sintética, conforme Hobuss (2014).
69
Filósofos da Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaxi-
UNIDADE 2
70
■ Diferentemente da escola jônica, especificamente a de
UNICESUMAR
Heráclito de Éfeso, não acreditavam na existência da
pluralidade do real, ou seja, a realidade sempre estaria
em constante movimento, dinamicidade, como profes-
sava Heráclito. Portanto, para essa escola, a realidade era
imóvel, única, eterna, imutável, sem princípio ou fim,
contínua e indivisível.
71
2
O LEGADO
UNIDADE 2
DA FILOSOFIA
clássica
UNICESUMAR
sibilitou o surgimento das preocupações, das elaborações, das fertilizações e das
consagrações de suas ideias; e essas ideias, por sua vez, marcaram e proliferam,
significativamente, não somente o mundo grego, mas também o mundo romano;
assim, foram sendo transmitidas essas ideias até aos mais diversos rincões do
nosso planeta chegando até você, nos dias de hoje.
O Período Clássico, se assim pudéssemos imaginá-lo, como um grande guar-
da-chuva, pode ser denominado “Período Antropológico”. Portanto, antropolo-
gia quer dizer estudo sobre o ser humano. Se, antes, com os pré-socráticos, as
preocupações estavam relacionadas à origem e à constituição do universo com
os clássicos, as preocupações estão voltadas, intensamente, para os “ântropos”
(ser humano). Consequentemente, foi com Sócrates, apesar de não ter deixado
registros escritos, que ocorreram as primeiras ideias sobre as questões humanas
envolvendo os temas da ética, da política e das técnicas; e, posteriormente, com
Platão e Aristóteles, na tentativa de sistematizar o pensamento filosófico como
um todo, à luz dos critérios da verdade e da ciência sobre a cosmologia e a an-
tropologia (CHAUÍ, 2015).
Naquele tempo, os olhares dos gregos estavam voltados para uma determi-
nada política, educação, economia e religião. Na política, apesar de cada cidade
tivesse a sua própria organização social, por exemplo, Atenas, que admitia a escra-
vidão por dívida ou guerras, enquanto Esparta possuía os servos estatais ligados
ao governo, ambas as cidades eram governadas pela oligarquia de proprietários
das terras cultiváveis, contudo buscavam e defendiam a democracia. Na educação,
Atenas e Esparta cultivavam a beleza e a virtude mediante o desenvolvimento das
artes, música, pintura, arquitetura, escultura, ou seja, de uma boa educação para a
formação de cidadãos. Na economia, por sua vez, a Grécia se baseava em produtos
artesanais, a agricultura e o comércio e, na religião, os gregos valorizavam muito
a religiosidade como forma de integração cultural. Eram politeístas e, de alguma
forma, abertos às mais diferentes experiências religiosas que se caracterizavam
entre eles pelo, então, processo expansionista e de desenvolvimento do seu do-
mínio, no mundo antigo. Conforme Soares (2011, p. 33),
“
[...] a época helenística se caracterizou por um conjunto de impor-
tantes transformações em diversos domínios da sociedade, incluindo
o das representações e dos sistemas simbólicos, dada a importância
dos fatores de natureza religiosa para os homens do Mundo Antigo.
73
Nesse sentido, também, a relação dos gregos com as diversas etnias, que eram
UNIDADE 2
por eles dominadas e escravizadas, eram marcadas com as suas digitais culturais
e politeístas, mas eles não ficavam ilesos, pois, também, eram atingidos pelas cul-
turas e religiosidades dos não-gregos. Quem retrata, de forma objetiva, o aspecto
religioso entre os gregos, neste período, é Soares (2011, p. 34), quando diz que:
“
No que concerne à religião, podemos observar uma tendência à
individualidade dos princípios religiosos (LÉVÊQUE, 1987, p. 144).
A religião helênica sempre ocupou uma posição central na pólis,
exercendo um papel de integração do indivíduo à comunidade, a
partir do cumprimento diário dos ritos (GRIJALVO, 2008, p. 122).
Não que a devoção às divindades ancestrais, como Zeus, Hera, Apo-
lo, Héracles e tantas outras pertencentes ao panteão políade tenha se
tornado repentinamente obsoleta (LÉVÊQUE, 1987, p. 147; PETIT,
1987, p. 63; SILVA, 2009, p. 89). Todavia, os gregos estavam abertos a
novas experiências religiosas (KOESTER, 2003, p. 414). Em virtude
dos novos desafios a que foram submetidos, eles não hesitaram em
experimentar outras vias de acesso às manifestações do sagrado
como forma de conforto frente aos novos rumos da vida cotidiana e
de revelação do sentido oculto das súbitas reviravoltas que atingiam
o seu mundo (BURKERT, 1991, p. 27).
74
Sócrates (470 – 399 a.C.)
UNICESUMAR
Você sabia que há outra semelhança entre este Sócrates da filosofia
e Jesus Cristo? Ambos não escreveram uma única linha. Nenhum
sequer! Acredita? Mas os divulgadores e escritores de suas ideias e
pensamentos foram seus principais primeiros discípulos; no caso de
Jesus Cristo, temos a informação que foram Mateus, Marcos, Lucas,
João, Paulo, dentre outros; de Sócrates, por sua vez, o principal deles
foi Platão, e este é considerado um dos grandes intérpretes e divulga-
dor das ideias e pensamentos socráticos. São dois os temas que Platão
confere aos conhecimentos socráticos: um sobre o ser humano e o
outro sobre os sofistas, professores ambulantes da época antiga.
Um dos primeiros temas que Sócrates tratou foi a virtude; dessa
forma, para Sócrates, segundo Hobuss (2014), a virtude é conhe-
cimento, e este, por seu turno, deve ser entendido como ciência e
sabedoria, que orienta e faz com que o ser humano pratique o que é
bom e belo; assim, os homens sábios (os quais conhecem, praticam
ações belas e boas) e os que não são sábios não as fazem e, mesmo
que o tentassem fazer, não conseguiriam: “o saber é um bem, e a
ignorância é um mal”, isto assinala que o saber pode nos possibilitar
a felicidade e, assim, conduzir-nos, corretamente, ao uso dos bens,
pelo fato de possuir a ciência (ou conhecimento, ou sabedoria), que
nos proporciona tal virtude (HOBUSS, 2014). Um outro tema que
Sócrates abordou foi o método socrático, conhecido como método
dialético socrático. Esse método consistia em um exercício dialó-
gico com o interlocutor, que tinha, como característica básica, um
intercâmbio de perguntas e respostas a partir de uma proposição
inicial, posta pelo seu emissor, que deveria sustentar sua posição
diante dos questionamentos contínuos de seu interlocutor, o que,
normalmente, não ocorria, conforme Sócrates (HOBBUS, 2014).
Dessa forma, o referido método apresenta três momentos, segundo
Hobuss (2014), veja-os, caro(a) aluno(a):
I - A ironia – dissimulação do não saber – “só sei que nada sei”.
II - A refutação – desconstrução da tese do oponente.
III - A maiêutica - como um parteiro da verdade.
75
Platão (427 – 347 a.C.)
UNIDADE 2
“
O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras
das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos.
Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O
que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo ex-
terior? O mundo das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade.
Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja
libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mun-
do real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam,
espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação
de Sócrates à morte pela assembleia ateniense)? Porque imaginam
que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro.
Nessa mesma direção, ainda, Platão trata o tema da dialética. O filósofo entendia
que dialética é o instrumento que, a partir do qual, pelo diálogo, pode-se definir,
essencialmente, algo, como o ato de dialogar, ou seja, saber “interrogar e respon-
76
der” (HOBUSS, 2014). Outro tema abordado, ainda, é a ética e a política. Sobre a
UNICESUMAR
ética, Platão se baseou na relação felicidade e virtude. A felicidade é considerada
como a meta mais alta a ser atingida, e as virtudes são condições dessa ética que
se constitui necessariamente no contexto da pólis. Em relação à política, é clássica
sua posição sobre o governo, o qual deve ser centrado no filósofo e na ordem
estabelecida pela natureza do homem, conforme Hobuss (2014):
I - Apetitiva (os agricultores).
II - Irracionais (escravos).
III - Racionais (os filósofos, governantes).
Outro tema muito importante que Aristóteles abordou foi a Filosofia Política.
Com Aristóteles tem-se os fundamentos do pensamento político que nos influen-
cia até hoje, por exemplo, os próprios vocabulários que utilizamos para tratar o
77
tema da política e do político, como: tirania, monarquia, oligarquia, aristocracia,
UNIDADE 2
78
3
A FILOSOFIA
UNICESUMAR
MEDIEVAL
79
Por que abordamos o assunto “preconceito” quando se estuda o período me-
UNIDADE 2
80
pois, desse modo, você poderá ter elementos para entender melhor a filosofia
UNICESUMAR
desta época e julgar, se, realmente, o mundo dito “medieval”, é, tão assim, negativo
como se diz dele. Quando nos referimos a um determinado lugar, como espaço
físico, logo vem à cabeça o espaço geográfico e as condições de vida, pois estes
revelam como as pessoas eram. Inicialmente, em relação ao lugar que se refere ao
Período Medieval, ele está relacionado, de forma geral, aos três atuais continentes:
Ásia, Europa e África. Você sabia que existe uma área de estudo da Geografia que
estuda as geografias do passado e a forma que um local ou região muda através
do tempo, a chamada geografia histórica?
Bauab (2007), comentando um trecho determinado sobre a geografia me-
dieval, atesta que há uma clara delimitação das possibilidades de conhecimento,
ou seja, como de fato era, geograficamente, esse período, pois este era limitado
pelo dogmatismo religioso da fé cristã. Isso porque trechos ou perícopes oficiais,
gerados dentro da sociedade medieval, sempre, eram recontados pelo que já ha-
via sido revelado pela religião de verdades atemporais. Nesse sentido, pode-se
entender que esta perspectiva, sempre, carregava consigo a impossibilidade do
conhecimento mais pleno do novo ou da ideia moderna de conhecimento cientí-
fico. O próprio Bauab (2007) observa que obras importantes, como a “Geografia”
de Ptolomeu (Séc. I e II d.C.), sempre estiveram em um segundo plano, pois o
que se proliferavam era uma geográfica com base em mitos antigos e explicações
religiosas.
Do ponto de vista demográfico (populacional), por sua vez, a Idade Média
apresentava números expressivos de natalidade e mortalidade. Tal situação ocor-
ria devido às questões relacionadas ao clima e ao meio ambiente, como os fatores
de estiagens, enchentes e doenças. Do ponto de vista econômico, se tomar os
séculos IV-X, tem-se a informação de “escassez endêmica” (quando atinge uma
população numa dada região), ou seja, uma baixa produtividade agrícola e arte-
sanal gerava, também, uma baixa disponibilidade de bens de consumo e, conse-
quentemente, um recuo do comércio e da economia monetária. Já o crescimento
que ocorrem nos séculos XI-XIII, que, segundo Bauab (2007), alguns chamam
de “Idade Média Central”, conheceu importantes mudanças nos elementos que
tinham caracterizado a fase anterior. Do ponto de vista político, segundo Chauí
(2015), o tempo é de domínio da Igreja Romana na Europa. Ela mandava e des-
mandava, fazia e desfazia,“ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa
e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas” (CHAUÍ,
2015, p. 55).
81
Nesse sentido, a Filosofia Medieval, principalmente, durante os séculos V-XV,
UNIDADE 2
Incontri e Bigheto (2010) afirmam que a Filosofia Patrística, a qual, também, pode
ser denominada Filosofia Cristã, devido à forte relação que havia entre filosofia
racional e a fé do Cristianismo, na época. Pode parecer contraditório? Dependen-
do do ponto de vista, sim. É verdade que, nem sempre, há muita lógica ou coe-
rência histórica, à primeira vista, nas ações humanas, isto é, a Igreja, por sua vez,
utilizava-se da filosofia como forma de sustentar seus dogmas com argumentos
82
filosóficos. Um tipo de filosofia muito utilizado pela Igreja foi o neoplatonismo,
UNICESUMAR
que se originou em Platão; nesse sentido, surgiram, também, no início da patrís-
tica, movimentos apologistas, ou seja, de defesa da fé cristã contra as chamadas
“heresias” (doutrinas falsas) nos debates internos da Igreja. É importante lembrar
que a Igreja era, ainda, uma instituição em vias de formação, dava os primeiros
passos e, também, tinha objetivo pretensioso de conquistar novos seguidores.
A Filosofia Patrística tem o seu início com os escritos paulinos e joaninos e seu
término no século VIII, com o início a Filosofia Medieval, assim compreende
Chauí (2015, p. 120) e, ainda, faz o seguinte comentário:
“
A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelec-
tuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar
a nova religião – o Cristianismo - com o pensamento filosófico dos
gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível
convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filo-
sofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização
e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que
recebia dos antigos. Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de
Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e seus nomes
mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes,
Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São
João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boé-
cio. A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para
os filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado
original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de
Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos,
etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já
que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Intro-
duziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de “homem
interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual
o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.
dentre outras ideias, a forma como as pessoas pensavam (no mundo de Agosti-
nho, estas estabeleciam-se os conflitos entre matéria e espírito, e corpo e alma).
Assim, por sua vez, Agostinho, também, concedeu à tradição cristã os mais novos
e duradouros fundamentos para a doutrina cristã de todos os tempos.
“
A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mun-
do), a diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à
84
segunda), a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma (es-
UNICESUMAR
pírito), O Universo como uma hierarquia de seres, onde os supe-
riores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos,
alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder
temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis
os grandes temas da Filosofia medieval. Outra característica mar-
cante da Escolástica foi o método por ela inventado para expor as
ideias filosóficas, conhecida como disputa: apresentava-se uma tese
e essa devia ser ou refutada ou defendida por argumentos tirados da
Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros Padres da Igreja. Assim,
uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa dependendo
da força e da qualidade dos argumentos encontrados nos vários
autores. Por causa desse método de disputa - teses, refutações, defe-
sas, respostas, conclusões baseadas em escritos de outros autores -,
costuma-se dizer que, na Idade Média, o pensamento estava subor-
dinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia é considerada
verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade reco-
nhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa, um santo). Os teólogos
medievais mais importantes foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto
Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto
Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura. Do
lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico:
Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi.
85
4
A FILOSOFIA
UNIDADE 2
MODERNA E
suas conquistas
“
1. Que pertence ao tempo presente ou a uma época relativamente
recente; hodierno, atual.
2. Que tem pouco tempo, por oposição ao que é velho novo, recente:
comprei um carro moderno.
UNICESUMAR
sos estudos aqui, uma vez que essa palavra é polissêmica, tem vários sentidos e
significados. Segundo Abbagnano (1982), o referido adjetivo foi introduzido pelo
latim pós-clássico e significa, literalmente, “atual” (de modo = agora). Portanto,
o mesmo “foi empregado pela Escolástica a partir do século XIII para indicar a
nova lógica terminista, designada como via moderna em comparação com a via
antiqua da lógica aristotélica”. (ABBAGNANO, 1982, p. 679).
Diante do exposto, caro(a) aluno(a), estamos usando o termo “filosofia mo-
derna” para tratar, de alguma forma, das seguintes filosofias e respetivos períodos:
Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI); Filosofia Moderna (do
século XVII a meados do século XVIII); e Filosofia da Ilustração ou Iluminismo
(meados do século XVIII ao começo do século XIX). Como você pode ver são
muitos assuntos e um tempo, significativamente, elástico. Contudo o importante,
mais uma vez, é você estar ciente dos conhecimentos que estão sendo tratados e
discutidos para qualificar o seu conhecimento sobre a nossa disciplina, que estou,
ludicamente, chamando-o de “uma viagem ao mundo maravilhoso da filosofia”.
Posso lhe dizer, caro(a) aluno(a), que um dos principais objetivo dessa nossa
viagem não é, apenas, chegar ao mundo maravilhoso da filosofia, mas também
desfrutar do próprio caminho como processo, que ocorre e se torna, assim, uma
grata felicidade de crescimento e amadurecimento, intelectual e humanístico, pois
uma das idiossincrasias da modernidade é, justamente, o desenvolvimento do
espírito humanístico que brota do estudo sobre os lugares que temos abordado,
em especial, os continentes Africano, Asiático e Europeu, que, posteriormente,
incluirá às Américas do Norte e Latina e, assim, o nosso país, a nossa atual Re-
pública Federativa do Brasil. Outra observação importante é que, nesta aula, não
daremos muita atenção a um ou outro filósofo (isso faremos depois, nas outras
unidades que serão temáticas), pois Período Moderno é, deverasmente, rico e
repleto de filosofias e filósofos. O que pretendo, ao longo desta aula, é precisar
essas filosofias — da Renascença e do Iluminismo — que citei anteriormente e,
assim, precisar as marcas da Filosofia Moderna como um todo.
Inicialmente, conforme Aranha (2012), a Renascença é um tempo em que
ocorreram grandes transformações, as quais já se iniciaram na Idade Média, por
exemplo, o surgimento da burguesia, a revolução comercial, o desenvolvimento
da economia capitalista, a formação das monarquias nacionais, a Reforma Pro-
testante e as grandes navegações, que levaram às descobertas do Novo Mundo.
Nessa mesma direção, para tratar, ainda, sobre a Renascença, tomaremos as ideias
87
de Chauí (2015), como roteiro da nossa viagem, pois, como você já deve ter no-
UNIDADE 2
“
1. Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e da descoberta
dos livros do Hermetismo; nela se destacava a ideia da Natureza
como um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza como
um microcosmo (como espelho do Universo inteiro) e pode agir
sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, pois
o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia)
entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e
criar outros, como um deus.
UNICESUMAR
nunca vistas até aquele momento. Críticas mais duras e profundas eram feitas
à Igreja Romana. Essas críticas, de alguma forma, possibilitaram um expressivo
abalo às estruturas institucionais de poder (a exemplo do que foi a Contrarrefor-
ma e o recrudescimento do poder da Inquisição), diante da Reforma Protestante,
em que, ali, hoje, pode-se dizer, estavam presentes as primeiras ideias de um libe-
ralismo nascente: a defesa da liberdade de expressão, de pensamento e de crença.
Alguns nomes mais importantes desse período são, segundo Chauí (2015):
Dante Alighieri, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel,
Montaigne, Erasmo de Rotterdam, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau
de Cusa. Sobre a Filosofia moderna (do século XVII a meados do século XVIII)
propriamente dita, Aranha (2012) faz uma
exposição que precisa esse período, ao afir-
mar que o paradigma da racionalidade que
se delineava era o de uma razão que buscas-
se libertar crenças e superstições, fundan-
do-se na própria subjetividade e não mais
na autoridade, seja ela política ou religiosa.
Cada vez mais, o giro epistemológico ia con-
solidando, em que se evidencia uma razão
antropocentrista. Por isso, é que sobressai o
racionalismo cartesiano de René Descartes
(1596-1650), que será considerado o pai da
Filosofia Moderna. Nessa mesma direção
ainda, A Renascença é conhecida, também,
como o Grande Racionalismo Clássico; as-
sim, segundo Chauí (2015, p. 57) são três as
grandes mudanças intelectuais ocorridas
nesse período:
“
1. Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conheci-
mento”, isto é, a Filosofia, em lugar de começar seu trabalho conhe-
cendo a Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa
indagando qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer
e demonstrar a verdade dos conhecimentos. [...] Como pode conhe-
cer os corpos da Natureza?
89
2. A resposta à pergunta acima constituiu a segunda grande mu-
UNIDADE 2
90
“
Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas ca-
UNICESUMAR
pacidades e nos poderes da razão humana como houve no Grande
Racionalismo Clássico. Os principais pensadores desse período fo-
ram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa,
Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi.
“
1. Pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade
social e política (a Filosofia da Ilustração foi decisiva para as idéias
da Revolução Francesa de 1789);
91
Por fim, e a partir do exposto, esse período marca três grandes interesses: pelas
UNIDADE 2
5
AS MARCAS
DA FILOSOFIA
contemporânea
92
principais ideias e filósofos que marcaram a história da filosofia e da humanidade.
UNICESUMAR
Esta aula tem o objetivo, portanto, de abordar as principais marcas da filosofia
contemporânea. Nessa direção, esse adjetivo “contemporânea” carrega diversos
sentidos, tais como:
“
1. Que habitou ou teve seu início na mesma época: prefiro ler auto-
res contemporâneos de Clarice Lispector.
“
[...] Esse período, por ser o mais próximo de nós, parece ser o mais
complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias
filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito grandes porque
as estamos vendo surgir diante de nós.
Hoje, já se pode dizer, a partir do que a História testemunha para nós, nos séculos
XX e XXI, que a humanidade, de uma forma geral, foi do céu ao inferno, da glória
ao fracasso, da riqueza à miséria, do otimismo ao pessimismo, da paz à guerra.
Nesse sentido, sempre, deve-se valorizar o entendimento do que significa esse
período ou recorte histórico, isto é, as mais diversas ideias ou filósofos que se
destacaram, que são estudados na história da filosofia recente.
Incontri e Bigheto (2010), ao datar esse período da filosofia, fazem uma ponde-
ração, no mínimo pertinente, sobre a caracterização da datação tida como contem-
porânea. Os referidos autores ressaltam que, desde o século XIX até o presente sécu-
lo XXI, pode-se observar um clima histórico de prolongamento do entusiasmo do
progresso e da ciência. Por exemplo, os avanços tecnológicos com a comunicação
de massa e a revolução digital, em especial, na esteira da invenção do computador
93
e da internet, assinalam as exuberâncias desse nosso tempo. Contudo, em especial,
UNIDADE 2
o século XXI não é somente rosas e flores, símbolos das utopias revolucionárias,
mas, também, há espinhos, símbolos das guerras mundiais ocorridas.
Por isso, caro(a) aluno(a), a filosofia contemporânea traz, em uma de suas
marcas principais, a expressão de ideias e filósofos que podem ser considerados,
aparentemente, contraditórios, mas que se explicam pela realidade histórica que
as formou, por exemplo, o Idealismo Dialético de Hegel; o Positivismo de Comte;
o Materialismo de Marx; o Niilismo de Nietzsche; a Fenomenologia de Husserl; o
Existencialismo de Sartre; a Psicanálise de Freud; e a Indústria Cultural de Adorno
e Horkheimer (ARANHA, 2012). De uma forma especial, da passagem do século
XIX para o XX, devido ao impacto, deverasmente, frustrante das expectativas do
domínio da natureza e de tudo aquilo que poderia atingir o ser humano, como
as doenças, o mundo sofreu significativo abalo com as duas guerras mundiais, a
primeira de 1914-1918 e a segunda de 1939-1945.
A participação do Brasil, nessas duas guerras mundiais, deu-se de uma forma
coadjuvante aos grandes aliados; na primeira, auxiliou no envio de medicamentos
e pessoal médico; e, na segunda, no envio de tropas brasileiras para se juntarem
aos aliados na Itália (COTRIM, 2006). Mais exemplos das principais marcas desse
período, do ponto de vista da produção filosófica, de ideias e de filósofos, caro(a)
aluno(a), há duas grandes tendências que dominam esse período: o ceticismo e
subjetivismo. A primeira alimenta a produção e o desenvolvimento de filosofias
estruturadas na desconfiança e na inutilidade, onde surgiram as filosofias pragmá-
ticas e anti-humanistas, como o estruturalismo. A segunda tendência, subjetivismo,
proporciona filosofias para a busca do interior do ser humano, para dentro, para
o particular ou para o ensimesmamento, ainda, é onde surgiram as filosofias hu-
manistas existencialistas e fenomenológicas, como a Fenomenologia e o Existen-
cialismo (COTRIM, 2006). Por fim, trataremos, agora, sobre a filosofia no Brasil.
Caro(a) aluno(a), inicialmente, há uma questão a se colocar: há uma filosofia
tipicamente brasileira? Segundo Incontri e Bigheto (2010), essa questão está em
aberto, ou seja, há estudiosos que não consideram pertinente essa questão; outros
afirmam que, apesar de não haver uma filosofia, originalmente, à moda brasileira,
há uma originalidade na interpretação das filosofias advindas dos grandes centros
filosóficos, como da Grécia, Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, União
Soviética, dentre outros. Caro(a) aluno(a), apesar de se estar tratando, somente
94
agora, nesta aula, sobre a filosofia no Brasil, é importantíssimo registrar que, desde
UNICESUMAR
o século XVI, tem-se, de forma embrionária, o pensamento intelectual brasileiro
(INCONTRI; BIGHETO, 2010). Do século XVI ao século XVII, sob o comando
dos jesuítas que seguiam a filosofia escolástica tomista (você se lembra de São
Thomas do Aquino?), foram eles os grandes catequizadores e educadores em solo
nacional que influenciou, significativamente, aqueles que, aqui, estiveram. Dessa
forma, Incontri e Bigheto (2010, p. 413) comentam que:
“
No final do século XVIII, a elite intelectual brasileira, a exemplo
da portuguesa, começou a se modernizar. Os pensadores tomaram
contato com as ideias filosóficas e cientificas do mundo moderno.
Entre os séculos XVII e XVIII, o Brasil passou por transformações
internas que geraram impactos na vida intelectual dos brasileiros.
A população do país nesse período chegou a quase três milhões de
habitantes; surgiram centros urbanos que favoreceram as atividades
intelectuais. Os pensadores brasileiros voltaram-se para as questões
científicas e técnicas do pensamento moderno. Os que iam estu-
dar em Portugal voltavam ao Brasil impregnados do pensamento
iluminista, como foi o caso de Francisco Jose Lacerda e Almeida
(geólogo), Alexandre Rodrigues Ferreira (médico e naturalista), Jose
Bonifácio de Andrada e Silva (naturalista e mineralogista) e Jose
Joaquim de Azeredo Coutinho (fundador do seminário de Olinda).
Esses intelectuais defendiam a filosofia natural, ou seja, o estudo
científico-racional da natureza. A elite pretendia renovar o pensa-
mento brasileiro e trazer prosperidade e civilização ao país, para
colocá-lo em consonância como o modelo filosófico e científico
europeu.
É importante ressaltar, por fim, que, durante todo transcorrer do século XX, em
especial, conforme nos informa Incontri e Bigheto (2010), o Brasil esteve conec-
tado com todos os movimentos mais importantes que passaram na Europa e
nos Estados Unidos, com as suas mais diversas filosofias e modas, como a onda
irracionalista comandada pelas ideias de Nietzsche, Deleuze, Foucault e Guatarri.
Essas filosofias foram, devidamente, contextualizadas à realidade nacional, por
exemplo, o positivismo, neopositivismo, marxismo, cientificismo e sua crítica,
fenomenologia, existencialismo, crítica à razão instrumental, dentre outras.
95
UNIDADE 2
explorando Ideias
Como todas as outras criações e instituições humanas, a Filosofia está na História e tem
uma história. Na História, a Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões
que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do
que é novo e, ainda, não foi compreendido. A Filosofia procura enfrentar essa novidade,
oferecendo caminhos, respostas e, sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo
permanente com a sociedade e a cultura de seu tempo, do qual ela faz parte. A filosofia
tem uma história: as respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos de
uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou,
frequentemente, tornam-se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja
aproveitando o passado filosófico, seja criticando-o e refutando-o. Além disso, as transfor-
mações ocorridas nas compreensões epistemológicas e metodológicas de aquisição do
conhecimento humano podem ampliar e diminuir os campos de investigação da própria
Filosofia.
Fonte: Chauí (2015).
pensando juntos
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Caro(a) aluno(a), pudemos voltar a atenção para como a filosofia surgiu, ao lon-
go da história da humanidade, como constituída ou como constituinte de seu
tempo e de sua própria história, como conhecimento. A ideia básica, esperamos
que tenha nos entendidos, não é, simplesmente, enaltecer o passado por meio de
uma delimitação rígida de datas, eventos, filosofias ou condições históricas “a” ou
“b”, até porque, quando se trata de temas ou assuntos da história, sempre, existem
possibilidades de se fazer novas leituras, interpretações ou delimitações. Nosso
modesto intento, portanto, foi localizá-lo, muita mais, aos temas e aos persona-
gens filósofos, como forma de orientação propedêutica. Acreditamos que isso
ocorreu, quando, em diversos momentos, na maioria das vezes, no início de cada
uma das aulas, pudemos tratar temas de cunho pedagógico, linguístico, conceitual
e social, que, de alguma maneira, estão relacionadas à unidade que ora se estuda.
Na primeira aula, vimos a importância dos conhecimentos relacionados ao
ser humano; na segunda, apresentamos que toda ideia ou ação tem um contexto,
pretexto e conjuntura; na terceira, abordamos o preconceito, que se apresenta
de várias maneiras ou tipos, inclusive, como preconceito histórico; na quarta,
demonstramos o sentido polissêmico da palavra “moderna”, que revelou que essa
palavra foi dita, pela primeira vez, no Período Medieval; e, por fim, na última aula,
vimos a importância da visão panorâmica.
Esperamos, mais uma vez, que os temas e os assuntos estudados, nesta uni-
dade, por meio das aulas sobre as marcas principais das filosofias pré-socrática,
clássica, medieval, moderna e contemporânea, tenham ajudado você a ter uma
visão geral da história da filosofia bem como possibilitado uma melhor localiza-
ção no tempo e no espaço das produções e correntes filosóficas. Acreditamos que
esta unidade possa contribuir para que as outras três unidades futuras possam
ser estudadas com mais proveito e riqueza de conhecimento.
97
na prática
98
na prática
a) Segundo Chauí (2015), é, nesse período, que a Filosofia Cristã tem o seu principal
abalo e declínio.
b) Resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos
primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião, o Cristianismo, com o
pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois, somente, com tal conciliação
seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela.
c) Nesse clima, surge um dos temas mais brilhantes da época, as provas da exis-
tência de Deus e da alma; com isso, poderia ser demonstrado, racionalmente, a
existência do infinito criador e do espírito humano imortal, segundo Chauí (2015).
d) Inicia-se a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a
ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus, como trindade una, de
encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição
dos mortos etc.
e) Um dos principais teólogos e filósofos desse período é Santo Agostinho, que
introduz a ideia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbí-
trio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.
99
na prática
100
aprimore-se
Sob vários aspectos pode a história da filosofia suscitar interesse. Quem quiser des-
cortinar o ponto central, deve buscá-lo no nexo essencial que liga os tempos aparen-
temente passados com o grau atualmente alcançado pela filosofia. Tal nexo não é
um fato exterior suscetível de ser descurado na história desta ciência; exprime, pelo
contrário, o caráter íntimo da filosofia; e as vicissitudes desta história, perpetuan-
do-se nos seus efeitos, como qualquer outro acontecimento, são produtivas de ma-
neira que lhes é peculiar: outra coisa não pretendemos senão ilustrar isto mesmo o
mais claramente que nos seja possível.
A história da filosofia representa a série dos espíritos nobres, a galeria dos heróis
da razão pensante, os quais, graças a essa razão, lograram penetrar na essência das
coisas, da natureza e do espírito, na essência de Deus, conquistando assim com o
próprio trabalho o mais precioso tesouro: o do conhecimento racional.
Na história política, o indivíduo, na singularidade da sua índole, do seu gênio,
das suas paixões, da energia ou da fraqueza de caráter, em suma, em tudo o que
caracteriza a sua individualidade, é o sujeito das ações e dos acontecimentos. Na
história da filosofia, estas ações e acontecimentos, ao que parece, não têm o cunho
da personalidade nem do caráter individual; deste modo, as obras são tanto mais
insignes quanto menos a responsabilidade e o mérito recaem no indivíduo singular,
quanto mais este pensamento liberto de peculiaridade individual é, ele próprio, o
sujeito criador. Primeiramente, estes atos do pensamento, enquanto pertencentes
à história, surgem como fatos do passado e para além da nossa existência real. Na
realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra da história; ou, para falar
com maior exatidão, do mesmo modo que na história do pensamento o passado é
apenas uma parte, assim no presente, o que possuímos de modo permanente está
inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. O patrimônio da
razão autoconsciente que nos pertence não surgiu sem preparação, nem cresceu só
do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais propria-
mente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero humano.
101
aprimore-se
102
aprimore-se
na arte, na ciência, nas capacidades intelectuais em geral. Parece ter sido o que
sucedeu com os chineses que, vai para dois mil anos, teriam estacionado no atual
grau de desenvolvimento. Mas o espírito do mundo não pode cair neste repouso
indiferente, como se deduz do simples conceito essencial do espírito, pois que o seu
viver é o seu agir. Ora, a ação pressupõe uma matéria preexistente sobre a qual se
exerça, não só a fim de a aumentar com o acréscimo de novos materiais, senão prin-
cipalmente para a elevar e transformar. Deste modo, aquilo que todas as gerações
produziram como ciência, como patrimônio espiritual, constitui uma herança acu-
mulada pelo trabalho de todos os homens que nos precederam, um templo onde
todas as gerações humanas, gratas e alegres, depuseram o que as ajudou a viver e o
que elas conseguiram extrair da profundidade da natureza e do espírito. A recepção
desta herança equivale ao exercício da posse dela. Ela forma a alma das sucessivas
gerações, a sua substância espiritual e como que um hábito transmitido, os seus
princípios, prejuízos e riquezas; e, ao mesmo tempo, tal herança degradou-se ao
ponto de servir de matéria para ser transformada e elaborada pelo espírito. Desta
maneira se vai modificando o patrimônio herdado, e simultaneamente se enriquece
e conserva o material elaborado.
Fonte: Hegel (1980, p. 327-328).
103
eu recomendo!
livro
O Mundo de Sofia
Autor: Jostein Gaarder
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2012
Sinopse: Cartas anônimas começam a chegar à caixa de correio
da menina Sofia. Elas trazem perguntas sobre a existência e o
entendimento da realidade. Por meio de um thriller emocionan-
te, Gaarder conta a história da filosofia, dos pré-socráticos aos pós-modernos, de
maneira acessível, a todas as idades.
Comentário: a leitura desse livro tem o singelo atrativo de possibilitar a você,
caro(a) aluno(a), revisitar temas e discussões filosóficas que advém do nascimen-
to da filosofia, como os pré-socráticos até aos nossos dias, em um estilo clássico
de romance, que proporciona, além da identificação com as discussões, o ensejo
para o desenvolvimento do pensamento criativo e o aprofundamento reflexivo do
ponto de vista existencial. Uma excelente leitura para que gosta de certo tom de
ficção misturado à realidade histórica.
104
anotações
3
CONHECIMENTO E
ANTROPOLOGIA
filosófica
PROFESSOR
Me. Rubem Almeida Mariano
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O porquê do conhecimento
humano hoje • Os modos de conhecer e suas implicações no fazer humano e na vida social • Co-
nhecimento e ideologia • Antropologia filosófica, cultura e sociedade do conhecimento • Trabalho,
Alienação e Mercado.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Analisar a importância do conhecimento humano na atualidade • Apresentar os modos de conhecer e
suas implicações no fazer humano e na vida social • Relacionar o conhecimento da tradição filosófica
e as suas implicações com o tema “ideologia” • Tratar, de maneira introdutória, a inter-relação entre
antropologia filosófica, cultura e sociedade do conhecimento • Abordar, de forma conceitual, os temas:
Trabalho, Alienação e Mercado.
INTRODUÇÃO
Quem diria que um dia o ser humano se daria conta que poderia haver
“algo” entre ele e o objeto observado? E o mais surpreendente é que esse
“algo” não é na forma-substância “material”, mas na forma-substância
“ideal”, ou seja, o conhecimento. Hoje, este é mais do que um dos ele-
mentos necessários, ele é o próprio produto dessa nova sociedade que ir-
rompe, em uma, impressionante, velocidade criativa. Contudo, e de igual
maneira, também, surgem significativos problemas advindos da condição
estruturante dessa sociedade, que se organiza em redes e sistemas de novas
tecnologias que, por sua vez, encontra, na informação (por exemplo, nas
notícias), a sua matéria prima e, assim, forma uma complexa rede que,
paradoxalmente, quando atingida, pode gerar problemas de magnitudes
nunca antes ocorridas, como as fake news.
Assim, nesta unidade, teremos como objetivos: analisar a importância
do conhecimento humano na atualidade; apresentar os modos de conhecer
e suas implicações no fazer humano e na vida social; relacionar o conheci-
mento da tradição filosófica e as suas implicações com o tema “ideologia”;
tratar, de maneira introdutória, a inter-relação entre antropologia filosó-
fica, cultura e sociedade do conhecimento; e, por fim, abordar, de forma
conceitual, os temas: Trabalho, Alienação e Mercado. Nesse sentido, nesta
unidade, trataremos as seguintes aulas: o porquê do conhecimento humano
hoje; os modos de conhecer e suas implicações no fazer humano e na vida
social; conhecimento e ideologia; antropologia filosófica, cultura e socie-
dade do conhecimento; e trabalho, alienação e mercado. Por fim, espero
que a ementa proposta nesta unidade qualifique, cada dia mais, você com
os estudos que compreendemos como pertinentes para a sua formação
acadêmico-profissional.
1
O PORQUÊ
UNIDADE 3
DO CONHECIMENTO
humano hoje
Caro(a) aluno(a), iniciamos, agora, mais uma aula, desta vez, a primeira da Unida-
de 3, a qual abordaremos o conhecimento e a antropologia filosófica. Em filosofia,
esses dois temas são considerados cruciais, porque ambos implicam em duas
disposições grandiosas e significativas do ser humano: o ato do conhecimento
e o ato da produção. A primeira disposição aponta para o ato do conhecimento,
ela assinala a capacidade cognitiva do ser humano de conhecer e de apreender o
mundo à sua volta. Aristóteles (1991) compreendia que a racionalidade do ser hu-
mano era o diferencial em relação aos outros seres vivos da natureza. A segunda
disposição, por sua vez, aponta para o ato da produção, ela assinala a capacidade
criativa do ser humano de transformar os elementos presentes na natureza em
prol de seus interesses e desejos: o poder transformador do trabalho.
Assim, conhecimento/racionalidade e produção/trabalho têm possibilitado,
ao longo dos tempos, condições ao ser humano de viver na face da terra, pois
ambas as disposições promovem, simultaneamente, as condições de segurança
e de sobrevivência do ser humano (diante de outros seres vivos, fenômenos e
de eventos ameaçadores ou de seus próprios semelhantes) bem como atuam,
propriamente, no conhecimento/produção de bens e artefatos culturais. Nesse
sentido, a palavra “porquê”, observada no título desta aula, aponta, também, para
os motivos da importância de um conhecimento atual que se faz e refaz por meio
das críticas constantes entre os filósofos, conforme testemunha a própria história
da filosofia.
108
Segundo Dicio ([2020], on-line)5, a palavra “porquê” é um substantivo mas-
UNICESUMAR
culino que pede explicação sobre um determinado fato, razão ou motivo sobre
alguma coisa. Nesse sentido, faremos a seguinte pergunta: quais razões ou motivos
que tornam o conhecimento humano tão importante e necessário para quem faz
um curso superior, como você e seus colegas estão fazendo? A resposta é que se
possa ter certeza do que irá fazer como profissional. Portanto, o motivo que nos
leva a estudar o conhecimento humano, nesta disciplina, é a busca do verdadeiro
conhecimento, da certeza do que, eu e você, como profissionais, por exemplo,
estaremos pensando, falando ou fazendo, ou seja, saber fazer o correto e não o
incorreto; o verdadeiro e não o falso; o certo e não o errado, o real e não o irreal;
o adequado e não o inadequado; o preciso e não o impreciso; o necessário e não
o desnecessário; o útil e não o inútil; o bom e não o ruim; o bem e não o mal; o
valor e não o desvalor; o importante e não o desimportante; o prioritário e não o
secundário, dentre tantas outras situações que são necessárias responder diante
das mais diversas situações que se apresentam na vida pessoal, profissional e social.
Caro(a) aluno(a), em relação à certeza do que temos de saber, exemplifica-
remos a importância e a encruzilhada que nos encontramos na atualidade: por
exemplo, diferenciar uma notícia verdadeira de uma falsa ou vice-versa, da real
de uma falsa, estamos nos referindo à questão das fake news na internet. Desse
modo, essas falsas notícias têm um imenso poder viral, espalham-se muito rá-
pido. As pessoas, tomadas pelo apelo emocional das informações falsas, fazem
com esse tipo de material “noticioso” passe como sendo verdade, sem verificar
ou confirmar se os conteúdos desses materiais são verdadeiros. Assim, o mundo
vive e acredita, nem que seja num raio de um instante (o qual faz muita diferença
no mundo virtual), em uma determinada notícia ou informação veiculada como
sendo a mais absoluta expressão da verdade ou realidade, mas que de fato é uma
notícia falsa, a qual não tem nenhuma evidência no mundo real. Assim, a questão
das fake news, conforme Carvalho e Mateus (2018), ganham notoriedade, a partir
de pequenos boatos da internet, ao tratar de diversos assuntos, dentre eles, os re-
lacionados à política, como as supostas acusações de influências de informações
manipuladas em redes sociais, nas campanhas eleitorais dos EUA e da Alemanha.
Podemos acrescentar, ainda, as eleições, também, ocorridas no Brasil no ano de
2018, quando, durante o processo eleitoral junto ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), foram abertos processos de denúncia e julgados recursos de um partido
contra o outro, alegando o uso das fake news no processo eleitoral. Diante disso, o
109
mundo tem reagido, segundo Carvalho e Mateus (2018), de forma crescente, com
UNIDADE 3
“
Conjunto de circunstâncias em que é atribuída grande importân-
cia, sobretudo social, política e jornalística, a notícias falsas ou a
versões verossímeis dos factos, com apelo às emoções e às crenças
pessoais, em detrimento de fatos apurados ou da verdade objetiva
(ex.: a mentira e os boatos alimentam a pós-verdade; o tema do
momento é o pós-verdade nas redes sociais).
110
Informação que se divulga ou aceita como fato verdadeiro devido à
UNICESUMAR
forma como é apresentada e repetida, mas que não tem fundamento
real (ex.: estas pós-verdades negam anos de evidências científicas).
= FATOIDE
111
“
[...] dá-se o nome de conhecimento à reação que se estabelece en-
UNIDADE 3
UNICESUMAR
“O”?; já o tema da origem do conhecimento humano estuda o ser humano que
conhece. A tradição filosófica compreende que o ser humano é um “S” cognoscen-
te (inteligente). Este sujeito, segundo a observação fenomenológica, revela uma
estrutura dualista: espiritual e sensível, ou seja, ideal e material.
A possibilidade do conhecimento
uma forma de batizar os que aceitam ao Cristianismo que é por meio da imersão
nas águas correntes, segundo a Bíblia.
Por fim, como atitude ingênua, o dogmatismo possui uma atitude tanto psicoló-
gica quanto historicamente, e um bom exemplo disso é a filosofia grega, com os
Pré-socráticos. Estes estavam tão voltados para a questão do ser, que não sentiam
que o próprio conhecimento era um problema. Contudo, com os sofistas, deu-se
um novo momento na filosofia, eles abordaram, pela primeira vez, o problema
do conhecimento; e, com Kant, tivemos a crítica ao dogmatismo metafísico, e os
principais exemplos de filósofos desse dogmatismo metafísico são: Descartes,
Leibnitz e Wolff; assim, ele afirmava que dogmatismo é o proceder dogmático da
razão pura, sem a crítica do seu próprio poder (HESSEN, 2003). Contudo é bom
observar que a crítica kantiana se ajusta a um dogmatismo metafísico e não lógico.
A segunda possibilidade refere-se ao conhecimento sob a perspectiva do
Ceticismo (enganar, examinar). Este nega a possibilidade de o “S” apreender
o “O”. Para o cético, o conhecimento real do objeto é impossível. Diante disso, não
se vê formular qualquer juízo, mas, sim, abster-se, totalmente, de julgar. Para o
ceticismo, o objeto não existe, e sua atenção volta-se para o sujeito (meio, círculo
cultural), na função do conhecimento, que ignora, completamente, a significa-
ção do objeto. Há quatro tipos de ceticismos: o lógico, o metafísico, o ético e o
religioso. Vejamos:
a) Ceticismo lógico: é absoluto e radical, pois dúvida de tudo e de todos.
b) Ceticismo metafísico: nega-se a existência do conhecimento.
c) Ceticismo ético: nega-se a existência de um conhecimento moral.
d) Ceticismo religioso: nega-se a possibilidade do conhecimento religioso.
O ceticismo encontra-se na antiguidade com Pirrón (360-270). Este dizia que era
impossível o sujeito apreender o objeto, portanto, não há conhecimento. De dois
114
juízos contraditórios, um é, finalmente, tão, exatamente, verdadeiro como o outro.
UNICESUMAR
Contudo temos, com Arcesilao, Carneades e Bayle, um ceticismo intermédio
ou acadêmico; segundo essa compreensão, é impossível um saber rigoroso que
aponte e expresse a, mais plena e absoluta, verdade das coisas.
Nesse sentido, nunca temos certeza que os nossos juízos concordam, totalmen-
te, com a realidade, mas pode-se dizer que parecem ser verdadeiros ou prováveis
que tenham relação entre si. Não há certeza rigorosa, somente, probabilidade.
Observa-se, de alguma forma, que há marcas desse ceticismo na atualidade, como
o conhecimento cientifico. A pesquisa cientifica ocorre por meio de teorias que se
estabelecem a partir da verificação de hipóteses entre o que se prediz e a realidade
observada. Podemos citar, ainda, um ceticismo especial, na modernidade, com
Montaigne (1592), que é o ceticismo ético; o metafísico, com David Hume e Au-
gusto Comte; o metódico, com Descartes; e o ceticismo religioso (agnosticismo),
com Herbert Spencer, o qual afirma a impossibilidade de conhecimento absoluto.
A terceira possibilidade refere-se ao conhecimento sob a perspectiva do
Pragmatismo (ação). O pragmatismo é um aspecto novo do ceticismo, pois o
pragmatismo abandona o conceito da verdade no sentido da concordância entre
pensamento e o ser, ou seja, ele estabelece um novo conceito de verdade; sendo
assim, para o pragmatismo, verdadeiro é o que significa útil, valioso, fomentador
da vida. O pragmatismo parte não da concepção que o ser humano é teórico, mas
prático, o seu intelecto está a serviço da sua vontade e da sua ação. O verdadeiro
fundador e criador do termo pragmatismo foi William James (1910). Temos, ainda,
Schiller que nomeou o pragmatismo de humanismo. Nessa perspectiva, Nietzsche,
outro defensor do pragmatismo, dizia que “[...] a verdade não é um valor teórico,
mas apenas uma expressão para designar a utilidade, para designar aquela função
do juízo que conserva a vida e serve a vontade do poder” (NIETZSCHE, 1918 apud
HESSEN, 2003, p. 50). Por fim, Hessen (2003, p. 50) dizia que o “[...] intelecto não
foi dado para conhecer a verdade, mas sim para atuar”.
Certamente, os conceitos de verdadeiro e útil são distintos, contudo é notório
o ceticismo nessa posição pragmática, uma vez que essa posição não está interes-
sada em valores absolutos ou abstratos, mas práticos ou materiais, que podem
ser verificados pela própria experiência individual ou particular. Nada de valores
universais ou lógicos. Assim, o pragmatismo, assemelha-se ao ceticismo, quando
nega a esfera lógica em desconhecer o valor próprio, a autonomia do pensamento
humano. O pragmatismo nega a esfera lógica em desconhecer o valor próprio, a
autonomia do pensamento humano.
115
A quarta possibilidade refere-se ao conhecimento sob a perspectiva do Cri-
UNIDADE 3
A Origem do Conhecimento
116
o nacionalismo, funda-se deste no pensamento. O conhecimento matemático
UNICESUMAR
serviu de modelo à interpretação racionalista; assim, nesse modelo, o pensamento
impera com absoluta independência de toda a experiência, seguindo, somente,
as suas próprias leis. Quase todos os grandes representantes do racionalismo
provêm da matemática: Platão (racionalismo transcendente); Plotino e Santo
Agostinho (racionalismo teológico); Malebranche e Gioberti (racionalismo teog-
nosticismo); Descartes e Laibnitz (racionalismo imanente); e o racionalismo ló-
gico (a última forma de racionalismo), segundo Hessen (2003).
Segunda fonte: refere-se ao Empirismo (experiência). Para este, a única
fonte do conhecimento humano se dá por meio da experiência. Na opinião do
empirismo, não há qualquer patrimônio a priori da razão. A consciência do sujei-
to não tira os seus conteúdos da razão, mas, sim, da experiência. Segundo o empi-
rismo, a consciência humana está vazia, como se esta fosse uma tábua rasa, uma
folha de papel, totalmente, em branco, e quem escreve é a experiência. Todos os
nossos conceitos, incluindo os mais gerais e abstratos, procedem das experiências,
sendo assim, o empirismo parte dos fatos concretos, por exemplo: a criança nasce
sem ter nenhuma informação registrada, e, a partir de suas experiências, essas
informações são registradas, desde experiências mais elementares até conceitos
gerais e universais. Os defensores do empirismo, quase sempre, são das ciências
naturais, vejamos: na Antiguidade, temos os sofistas, os estoicos e os epicuristas;
na Idade Moderna, temos John Lock (1632-1704), com a teoria das experiências
externas e internas; David Hume (1711-1776), com a teoria das impressões; Con-
dillac (1715-1780), com a teoria do sensualismo; e John Stuart Mill (1806-1873),
com teoria que reduz à matemática e a lógica à experiência.
Terceira fonte: refere-se ao Intelectualismo. Este está entre o racionalismo
e o empirismo. O intelectualismo defende que ambos os fatores tomam parte na
produção do conhecimento. O intelectualismo sustenta, junto ao racionalismo,
que há juízos, logicamente, necessários e, universalmente, válidos não, apenas, so-
bre os objetos ideais (isto é, também, admitido pelos principais representantes do
empirismo), mas também sobre os objetos reais. O intelectualismo deriva o fator
racional do empírico; todos os conceitos procedem, segundo ele, da experiência.
Para o intelectualismo, o conhecimento humano tem, como base, a experiência e
o pensamento. Portanto, na Antiguidade, temos, como representante do intelec-
tualismo, Aristóteles, o qual diz que as ideais são as formas essenciais das coisas; e,
na Idade Média, temos São Tomás de Aquino, o qual diz que se começa recebendo
117
das coisas concretas imagens sensíveis. O intelecto age, extraindo delas (coisas) as
UNIDADE 3
118
2
OS MODOS DE
UNICESUMAR
CONHECER E SUAS
implicações no fazer
humano e na vida social
“
A intuição empírica – é o conhecimento imediato baseado em uma
experiência que independe de qualquer conceito; essa intuição po-
de-se dá através da experiência sensível (pelos órgãos dos sentidos)
e psicológica (pela experiência interna das percepções, emoções,
sentimentos e desejos).
UNICESUMAR
freudiana do “id”, “ego” e “superego” no funcionamento psíquico humano, apesar
dessas elaborações serem, universalmente, aceitas, ninguém, até hoje, achou ne-
nhum desses elementos teóricos dentro do ser humano ou das disposições neu-
rológicas e mentais fisicamente. Desse modo, os conceitos, abstrações racionais,
orientam determinados conhecimentos sobre o que se observa, analisa ou estuda.
Nessa direção, para compreender o mundo cheio de conflitos, a razão supera a
multidão de situações e informações, organizando, em conceitos e ideias gerais, o
fim de chegar a determinadas conclusões que possibilitem o agir humano (ARA-
NHA; MARTINS, 2013). Veja esse outro exemplo: quando um médico (sujeito)
examina uma pessoa doente (objeto), a razão ajuda o profissional, oferecendo
conceitos e ideias das possíveis doenças (patologias) que se relacionam aos sin-
tomas apresentados pela pessoa examinada. Para que o médico tenha certeza
do seu diagnóstico, ele pode pedir exames auxiliares (sangue, urina, radiografia
etc.) que o ajudam em seu diagnóstico ou em sua avaliação final. Essa forma de
conhecer, portanto, é discursiva, pois usa a linguagem racional, a razão, ou seja, os
conhecimentos, devidamente, ordenados, servem de mediação para determinar
ou influenciar o que se observa. Veja que esta forma de conhecer é bem diferente
da intuição que conhece o objeto de modo direto, sem nenhum tipo mediação.
Por fim, caro(a) aluno(a), trataremos, ainda, o ato de conhecer, como ato da
consciência, no fazer humano na vida social. Essa ideia é muito interessante e
pertinente para os nossos estudos. Chauí (2015) advoga que nós, seres humanos,
somos seres racionais conscientes, e isso quer dizer que o ser humano é dotado
da capacidade para conhecer, para saber o que conhece e para saber o que sabe
que conhece. Calma! Não é mero trocadilho, mas questões importantes. Vamos
estudando! Leia atentamente e, se não entender, leia novamente com calma. Co-
nhecer algo novo sempre precisa de atenção e foco, afinal, passa pela nossa cabeça
milhares de pensamentos e ideias em frações de segundo e, quando estamos
ansiosos, essas ideias ou pensamentos aumentam ainda mais de forma cúbica.
Recapitulemos, então: estudamos o ato de conhecer como ato de consciência;
nesse sentido, é um ato de conhecimento sobre as coisas e sobre si mesmo, do
mundo externo e do mundo interno a nós, seres humanos, não necessariamente
nessa ordem, porque tudo é importante, mas, primeiro, ao observar o mundo
externo, o ser humano conhece um determinado objeto fora de si e observa a
formação de colônias de fungos, por meio de um microscópico, ou observa o
seu próprio mundo interno, por meio das sensações e percepções que têm em
121
determinada situação vivida. Agora, em segundo lugar, a consciência conhece
UNIDADE 3
esse conhecimento que é produto desse ato de observação externa e interna tam-
bém; o nome que chamamos para esse tipo de conhecimento, produzido pela
consciência, é reflexão, ou seja, é o ato de pensar o que se pensa ou pensou, do
que sentiu ou do que se sente ou do que se fez ou faz. É um recurso espetacular
da nossa consciência!
Ainda sobre o ato de conhecer, nessa mesma linha que estamos estudando,
como o ato de consciência, afirmamos que há graus de consciência, ou seja, as-
sim como sabemos, mais ou menos, sobre um mesmo assunto, assim, também, a
nossa consciência aprende a realidade em que nós seres humanos vivemos mais
ou menos; assim, ela depende da nossa própria condição humana, pois a nossa
consciência não faz parte do nosso corpo, ela é o nosso corpo; assim, por exem-
plo, quando ela é atingida fisicamente (por exemplo, quando uma pessoa sofre
um traumatismo craniano), é, também, atingido o que ela produz, o conhecer.
Explicaremos melhor: segundo Chauí (2015), apesar de sabemos, por exemplo, se
é dia ou noite, que horas são, dia da semana ou onde estamos precisamente, isso
revela, plenamente, a nossa capacidade de senso percepção temporal e espacial
sobre si mesmo, porém isso não significa, necessariamente, que a nossa consciên-
cia esteja sempre alerta e atenta a tudo e a todos. Seria maravilhoso, mas isso não
é um ato humano, mas, sim, divino; a nossa humanidade é cheia limitações e o
não desenvolvimento sobre esse autoconhecimento sobre nós mesmos tem nos
levado, muitas vezes, a sofrermos consequências, não poucas vezes, fatais.
Assim, portanto, o ato de conhecer, como ato de consciência, também, implica
no fazer humano socialmente, pois todo e qualquer ser humano, quando ciente
dos seus deveres ou responsabilidades, não age como se espera que aja, ou seja,
pode ser que esta pessoa não tenha consciência do seu papel, mesmo sabendo o
que tem de fazer. Portanto, conferimos ao estado de consciência algumas condi-
ções físicas e mentais para servir de critérios para se fazer o julgamento se uma
pessoa está ou não ciente do que faz ou do que fez.
Complexo né, caro(a) aluno(a)? Concordo, por isso, também, que desenvol-
vemos estudos sobre o nosso conhecimento, nossa cognição ou inteligência, pois,
por exemplo, no mundo do trabalho, realizamos diversas atividades, desde as mais
simples às mais difíceis, complexas e perigosas, que envolvem a vida de pessoas,
inclusive a sua, e de organizações e corporações também. Há outros assuntos que
envolvem o conhecer, como relacionamentos afetivos, familiares, profissionais,
sistemas e formas de governos, políticas no sentido geral e específico, economia,
122
arte, forma de organização do ambiente de trabalho e da forma como a sociedade
UNICESUMAR
se organiza e da relação que se dá entre os seus diversos agentes sociais.
Por fim, os atos de conhecer implicam, sem dúvida nenhuma, no fazer humano
e na vida social. Desde a forma como apreendemos o mundo e o organizamos até
o uso do conhecimento que temos para aplicarmos em nosso própria vida pessoal
e social. Por isso, pensar filosoficamente deve ser um ato crítico não no sentido de
se tornar uma pessoa chata ou “do contra”, mas empregar essa condição fantástica
do conhecimento para a proteção da vida, dentre elas, da vida social, em que o
fazer humano ocorre e expressa sua capacidade racional, cognitiva e intelectual.
3
CONHECIMENTO
E IDEOLOGIA
Não para não! Vamos, vamos! Agora não é hora de beber água: ouço essa fala do meu
counting quando estou fazendo crossfit. Isso não quer dizer que não se tenha hora
para parar e beber água, pelo contrário já passei por situações que ele me dizia: “pare,
sente e descanse e depois você volta, beleza”. Primeiro, aprendi que há momentos de
continuar e de parar quando se faz crossfit. Ambas as atitudes estão relacionadas ao
autoconhecimento das minhas condições físicas especificamente. Contudo o meu
counting tem formação em educação física e conhece o corpo humano fisicamente
como poucos, por isso ele pode me ajudar mesmo que o objeto que estamos nos
123
referindo seja o meu próprio corpo. Lembrou do conhecimento discursivo, abstra-
UNIDADE 3
to, racional. O meu counting conhece mais o ser humano do ponto de vista teórico
do que eu; claro que eu posso me sentir e me perceber mais do que qualquer outra
pessoa, por isso deve haver o bom senso entre a intuição, que é o conhecimento que
temos de nós mesmos e o conhecimento discursivo teórico, no caso especifico, sobre
o corpo humano que o meu counting tem formação. Tranquilo!
Portanto, neste tópico precisamos continuar estudando e refletindo sobre o co-
nhecimento. Contudo, agora, vamos entrar numa zona cinzenta. Voando em céu de
brigadeiro (expressão para dizer que o céu está totalmente limpo sem nuvens ou azul)
e de repente à frente surgem nuvens CB – Cumulonimbus, ou seja, as nuvens mais
perigosas da Terra. Isso mesmo! Em um dia ensolarado, é muito gostoso ver as nuvens
no céu como se fossem bolas de algodão flutuando no ar, mas quando surgem essas
nuvens “CBs”, elas estão avisando que “o mar não está para peixe” (expressão popular
para dizer que a frente a situação não é nada boa). As nuvens CB são causadas pelos
ventos em linha reta em altitudes mais elevadas, que cortam o topo da nuvem, e tam-
bém por uma inversão sobre a tempestade, causada pelo aumento da temperatura
acima da troposfera (ECHER, MARTINS; PEREIRA, 2006), isso quer dizer que se
um avião entrar nessas nuvens há perigo e risco real dele cair.
Caro(a) aluno(a), toquei nesse assunto, como exemplo, não para colocar medo
em você e assim você parar de andar de avião, nada a ver; hoje, já sabemos que voar
de avião é muito, mas muito mais seguro do que andar de carro nas rodovias. Fiz essa
comparação para assinalar que devemos ter os devidos cuidados quando se estuda
“conhecimento e ideologia”. Esses temas, ambos relacionados, são muito importantes,
contudo a imensa maioria das pessoas não dá atenção a eles e, como, na maioria das
vezes, não são da área da filosofia ou da área das humanidades, compreendem que
tudo termina em ideias ou qualquer tipo de pensamento, simples assim. Mas não é
isso que se nota quando se estuda esses temas, vamos lá! Recapitulando, em nossa
viagem ao mundo maravilhoso da filosofia, o objetivo de conhecer é ter certeza
do que se sabe, pensa, sente e faz. Assim, o conhecimento está associado à busca
da verdade. Como já vimos, a filosofia, também, estuda o que é verdade, se esta
existe e quais as condições de aprendê-la. Assim, quando estudamos conhecimento
e ideologia, estamos, realmente, em uma área cinzenta, porque pode confundir, e
nós, também, podemos não perceber o que estamos comunicando a você. Por isso,
todo o cuidado é pouco. Não podemos ser ingênuos como foram os Pré-socráticos,
devemos dar a devida atenção e medida para entender e, assim, saber nos colocar,
da melhor maneira, sobre todo e qualquer assunto que se coloca, assim como uma
124
questão importante como essa. O que significa ideologia? Segundo Dicio ([2020],
UNICESUMAR
on-line)7, ideologia é um:
“
Substantivo feminino.
filosófica, a qual diz que o ser humano, por meio das religiões, constrói explica-
ções projetivas sobre a origem e a finalidade de tudo que esteja relacionado ao
mundo. Portanto, a origem do termo alienação, segundo Chauí (2015), faz parte
do pensamento advogado por Feuerbach, o qual afirmava que o ser humano é
o criador da sua existência e realidades; contudo passa a não acreditar em suas
próprias criações como não sendo obras de suas mãos, como criador.
Para Chauí (2015), o surgimento, a implantação e o fortalecimento da ideo-
logia se dá por causa de três grandes formas da alienação, as quais são: alienação
social, econômica e intelectual. Nessa direção, a função principal da ideologia é
ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas e dar a essas divisões aparência
de união completa e forte, bem como fazer acreditar que há diferenças. Mas elas
são, absolutamente, naturais, quer entre os seres e as relações políticas e sociais,
quer entre as pessoas em sociedade. Portanto, a finalidade da ideologia, no en-
tendimento de Chauí (2015), é proporcionar a naturalização das condições de
vida, como se estas fossem, absolutamente, normais, corretas e justas, ou seja,
sem nenhum tipo de contradição ou interesse político. Agora, apresentaremos
os procedimentos da ideologia, segundo Chauí (2015), vejamos:
■ Inversão: coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas últimas em
efeitos.
■ Imaginário social: a segunda maneira de operar da ideologia é a produção, por
meio da imaginação reprodutora.
■ Silêncio: a coerência e a unidade do imaginário social ou ideologia vêm, por-
tanto, do que é silenciado.
UNICESUMAR
relaciona com a postura subjetiva envolvida em seu próprio processo de enun-
ciação. Explicaremos melhor, caro(a) aluno(a): o ideológico está relacionado ao
aspecto funcional, com respeito a alguma relação de dominação social (explo-
ração), de maneira, intrinsecamente, não transparente; para ser eficaz, a lógica
de legitimação, da relação de dominação, tem de permanecer, necessariamente,
oculta. O próprio Zizek (1996, p. 14) dá um exemplo oportuno:
“
Quando, uma potência ocidental intervém num país do Terceiro
Mundo em decorrência de violações dos direitos humanos, pode
ser perfeitamente “verdadeiro” que, nesse país, os direitos humanos
mais elementares não tenham sido respeitados, e que a intervenção
ocidental irá efetivamente melhorar o quadro desses direitos. Mes-
mo assim, essa legitimação é ideológica, na medida em que deixa
de mencionar os verdadeiros motivos pela intervenção (interesses
econômicos etc.). O modo mais destacado dessa “mentira sob o dis-
farce da verdade”, nos dias atuais é o cinismo: com desconcertante
franqueza,“admite-se tudo”, mas esse pleno reconhecimento de nos-
sos interesses não nos impede, de maneira alguma, de persegui-los; a
fórmula do cinismo já não é o clássico enunciado marxista do “eles
não sabem, mas é o que estão fazendo”; agora, é “eles sabem muito
bem o que estão fazendo, mas fazem assim mesmo”.
Portanto, ideologia não deve ser entendida como simples “ilusão” ou “falsa cons-
ciência”, mas como uma ação funcional em prol de algo que pode estar rela-
cionado ao verdadeiro; ela não manifesta as reais intenções que são guardadas
pela esfinge da dominação e do poder, pois ambas sob a capa de uma causa ou
razão verdadeira. Zizek (1996) expõe os possíveis sentidos associados ao termo
“ideologia”, assim, ele afirma que ideologia como um complexo de ideias (teorias,
convicções, crenças, métodos de argumentação); a ideologia em seu aspecto ex-
terno, ou seja, a materialidade da ideologia, os Aparelhos Ideológicos de Estado,
e, por fim, o campo mais fugidio, a ideologia “espontânea” que atua no cerne da
própria “realidade” social.
Por fim, não menos importante, caro(a) aluno(a), Zizek (1996) observa a
inversão da não-ideologia em ideologia, ou seja, mesmo que se empregue uma
conscientização do próprio gesto (teórico ou prático) de sair da esfera ideológi-
ca, ao negar o caráter ideológico, na realidade, essa negação conduz ao próprio
127
cerne fundamental da ideologia como tal. Nesse sentido, ainda, toda e qualquer
UNIDADE 3
4
ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA,
CULTURA E
sociedade do conhecimento
Caro(a) aluno(a), estudaremos, nesta aula, três temas correlatos, isto é, que têm
relação entre si, sendo eles: Antropologia Filosófica, Cultura e Sociedade do Co-
nhecimento. É importante ressaltar que abordaremos os referidos temas, de forma
elementar e introdutória, nos seus aspectos conceituais. Inicialmente, a grosso
modo, o ser humano é o ponto de contato entre esses três temas, pois o ser hu-
mano é produtor e produto dele mesmo dialeticamente. Explicaremos melhor: o
ser humano é determinado pelo meio ou cultura onde vive e, assim, determina a
cultura como sujeito que a constrói. Logo, Cultura pode ser compreendida como
substrato filosófico da inteligência humana; como ser racional, o ser humano é
128
capaz de elaborar, compreender as suas necessidades e, ao mesmo tempo, utili-
UNICESUMAR
zá-las como produto e, assim, autodeterminar-se, por meio dos costumes, pelos
próprios bens e produtos que ele mesmo os produz; por isso e a partir de um
determinado contexto de necessidades, utiliza o que foi produzido por ele mes-
mo, como se fosse uma necessidade imperiosa, a ponto de ser entendido como
absolutamente “natural”. Contudo o mundo para nós, seres humanos, sempre é
cultural, no sentido que é o ser humano cria e recria a sua vida, realidade, no seu
sentido mais amplo possível.
Atenção! Uma ressalva, caro(a) aluno(a): essas elaborações que fizemos an-
teriormente, sobre os temas desta aula, não as tome como devaneios bestiais
ou meras elucubrações, as quais são popularmente conhecidas como: “viajar na
maionese”. Nunca subestime o ato do conhecimento. Nunca! O crescimento in-
telectual, também, vem pelo ouvir o outro. Por isso, agora, é a hora de você con-
siderar tudo que você estudado, por meio de uma leitura atenta e crítica.
A partir do momento em que o ser humano começou a perceber que tem
capacidade cognitiva, que pode conhecer e problematizar o próprio ato do co-
nhecimento, como sendo um ato crítico, ele tem proporcionado a si mesmo con-
dições intelectuais mais sofisticadas (no sentido de elaborações complexas) para
poder não somente contemplar (como afirmavam os antigos filósofos sobre o
objetivo do conhecimento), mas, fundamentalmente, extrair todas as riquezas
(uma cultura da exploração e da conquista), tanto do mundo exterior quanto
interior do ser humano.
Não é por acaso que, atualmente, os conhecimentos das áreas biológicas e
humanas estão em alta e revelando funcionamentos e disposições que, possivel-
mente, estejam nas causas ou se relacionado com as condições das produções
dos mais diversos transtornos que acometem o ser humano na atualidade, como
a depressão, a ansiedade e o suicídio. Portanto, pode parecer um pensamento
sem nexo, mas continue a estudar, a ler e a refletir sobre tudo que você pode ler e
estudar, além disso empregue, honestamente, suas disposições para entender, pois
o que estamos tratando, aqui, modestamente, é a fonte do conhecimento, como
um olho d’água. Vivemos um tempo em que o conhecimento é uma riqueza e a
informação a sua matéria prima (sociedade do conhecimento), quanto mais você
domina e entende o conhecimento e os mais diversos temas que estão relaciona-
dos a ele, mais você ganha melhores condições para viver a sua própria existência
e, assim, pode fazer suas próprias escolhas movidas de forma mais racional pos-
sível e que tenham justificativas plausíveis, especialmente, que atendam às suas
129
necessidades bem como contribuam socialmente para atender as necessidades
UNIDADE 3
do meio social onde você vive. Para concluir a introdução desta aula, registre,
caro(a) aluno(a), nessa direção, que esses temas (antropologia filosófica, cultura
e sociedade do conhecimento) não são meros produtos ou resultados do ato de
conhecer, são temas que produzem o próprio conhecimento, pois quem fomenta
essa produção somos nós mesmos, o ser humano. Logo, quando se diz que os
referidos temas têm relação entre si, surgem algumas perguntas: um tema é mais
importante do que os outros dois? Por qual tema começar a estudar? Quais os
critérios para saber quando um tema é mais importante do que o outro ou não há
nada disso? Um tema é a base do outro e assim sucessivamente? Qual tem maior
importância no momento, ou não existe uma hierarquia entre eles? Que tipo de
momento pode explicar esses temas? Lembre-se, caro(a) aluno(a), quem estuda
utiliza o pensamento, assim como quem faz academia utiliza o corpo. Você possi-
velmente já fez academia e deve ter sentido um pouco de indisposição para fazer
os exercícios físicos iniciais; mas, quando você começou a perceber os resultados
obtidos, foi pegando gosto em fazer, ainda mais, os exercícios da academia; dessa
forma, também, é estudar, você está usando uma disposição, “seu pensamento”,
que é um produto do seu cérebro, ou seja, quando você pensa ou raciocina, está
exercitando o seu cérebro e, no começo, pode surgir uma certa indisposição, mas,
se você continuar e se motivar em querer conhecer e aprender a fazer o que deseja
como profissional, certamente, terá mais disposição em conhecer. É isso! Agora,
vamos ao que interessa, aos temas e seus conteúdos elementares e introdutórios
para os nossos estudos nesta nossa viagem ao mundo maravilhoso da filosofia.
A Antropologia Filosófica, segundo Abbagnano (1982), refere-se a uma
exposição sistemática dos conhecimentos que se têm a respeito do ser humano.
A partir de Kant, já na modernidade, o termo ganha sentido diversos, como:
1. Aquilo que a natureza faz do ser humano.
2. Em uma perspectiva pragmática, aquilo que o homem faz como ser livre
ou então o que pode ou deve fazer de si mesmo.
3. Na perspectiva da antropologia física, que considera o ser humano como
ser biológico, isto é, em sua estrutura somática, em suas relações com o
ambiente e em suas classificações raciais.
4. Do ponto de vista da antropologia cultural, a qual considera o ser humano
como ser social a partir das suas características que derivam das suas mais
diversas relações sociais.
130
Nesse sentido, Chauí (2015) observa que o olhar da antropologia para a cultura
UNICESUMAR
tem um prisma que procura entender em que momento e de que maneira os
seres humanos se afirmam como diferentes da Natureza, fazendo, assim, surgir
o mundo cultural. Desse modo, há um certo consenso filosófico que os humanos
diferem da natureza, devido à linguagem e à ação por liberdade. Do ponto de vista
antropológico, pode-se definir a Cultura como tendo três sentidos principais,
segundo Chauí (2015):
1. Criação da ordem simbólica da lei, isto é, de sistemas de interdições e
obrigações, estabelecidos a partir da atribuição de valores a coisas (boas,
más, perigosas, sagradas, diabólicas), a seres humanos e às suas relações
(diferença sexual e proibição do incesto, virgindade, fertilidade, puro-im-
puro, virilidade, diferença etária e forma de tratamento dos mais velhos e
mais jovens, diferença de autoridade e formas de relação com o poder etc.)
bem como aos acontecimentos (significado da guerra, da peste, da fome,
do nascimento e da morte, obrigação de enterrar os mortos, proibição de
ver o parto etc.).
2. Criação de uma ordem simbólica da linguagem, do trabalho, do espaço,
do empo, do sagrado e do profano, do visível e do invisível. Os símbolos
surgem tanto para representar quanto para interpretar a realidade, dan-
do-lhe sentido pela presença do ser humano no mundo.
3. Conjunto de práticas, comportamentos, ações e instituições pelas quais
os humanos se relacionam entre si e com a natureza e dela se distinguem,
agindo sobre ela ou por meio dela, modificando-a. Este conjunto funda
a organização social, sua transformação e sua transmissão de geração a
geração.
UNICESUMAR
um ser constituído de matéria, puramente, física, desvinculado de qual-
quer concepção religiosa. Os autores desse pensamento foram Leucipo
e Demócrito.
■ Os clássicos, como Sócrates e Platão, compreendiam que o ser humano
é um ser espiritual no sentido que a razão é o poder da racionalidade
e, por meio do diálogo, é possível o ser humano conhecer a si mesmo e
ao outro no convívio social; logo, o ser humano é um ser de moralidade
imanente, ou seja, nasce com ele e que deve se expressar no convívio com
outros seres humanos no desenvolvimento dessa potencialidade, o que,
para Platão, seria a alma a responsável pelo pensar e amar, a essência do
ser humano. Dessa maneira, a alma é superior e o corpo inferior. Nessa
mesma direção, no início da modernidade, Descartes afirma que o ser
humano é uma substância pensante e não dependente de nada que seja
material, isto é, uma alma pensante.
■ Nos períodos em que a Igreja se tornou hegemônica, as ideias de Agostinho
(influenciado por Platão) e São Tomás de Aquino (influenciado pelas ideias
de Aristóteles) se apresentaram como grandes sínteses entre o pensamento
clássico. Agostinho defendia a ideia de que guardamos, na alma, uma lem-
brança da nossa origem divina e do obstáculo do pecado original e Aquino,
filósofo e teólogo, defendia a ideia de que o ser humano é, ao mesmo tempo,
corpo e alma, ambos pertencendo a uma mesma substância.
■ No período iluminista, são avivadas as duas posições: os materialistas e os
humanistas. De um lado, como Voltaire ou Diderot, a matéria estática ou
em movimento dava legitimidade à existência de uma inteligência natural
e, assim, não religiosa, como acreditavam alguns; de outro lado, como Con-
dillac e Rousseau, com concepções humanistas, defendiam a concepção de
que o ser humano é composto de corpo e alma; esta dá características ao
corpo e é imortal; assim, principalmente, Rousseau afirmava à existência
de Deus e da natureza humana como sendo algo social e política.
■ Para os filósofos Marx e Engels, o ser humano é um ser material, em que
a realidade é que o determina e, assim, ele produz sua própria existência e
o mundo; além disso, é, por meio da existência do homem, que o mundo,
também, é constituído e formado. Dessa maneira, o ser humano não é um
ser espiritual, ideal ou qualquer coisa parecida que seja, mas é material,
um resultado dinâmico do seu tempo e espaço social, cultural e histórico.
133
■ Para Cassirer, neokantista, o ser humano é um ser complexo. O referi-
UNIDADE 3
Por fim, do ponto de vista da história da filosofia, podemos observar que o ser hu-
mano é um ser complexo e que vai se revelando, ao longo dos tempos, como ser
estático ou dinâmico, como ser único, diverso ou universal ou, ainda, como ser ma-
terial, regional, existencial, social, político, cultural, artístico e religioso bem como se
mostra e se esconde de si mesmo, devido às suas próprias condições e capacidades
conscientes e inconscientes. Portanto, o conhecimento sobre o que é o ser humano
está mais do que nunca aberto, uma vez que o entendimento de uma boa parcela
da humanidade o vê como um ser que, independentemente de cada uma das con-
cepções existentes, do ponto de vista dos estudos antropológicos e históricos, revela
uma diversidade instigante e curiosa.
Quanto à Sociedade do Conhecimento, segundo Burch ([2020], on-line)8,
a noção do termo “sociedade do conhecimento” (ou como alguns preferem cha-
mar: sociedade da informação) aparece, pela primeira vez, no final da década de
90, principalmente, nos círculos acadêmicos. Outro aspecto desse termo é que este
está relacionado à contemporaneidade, conforme afirma Tünnermann (2008, p.
7): “[...] uma das características da sociedade contemporânea é o papel central do
conhecimento nos processos de produção, ao ponto do qualificativo mais frequente
hoje empregado ser o de sociedade do conhecimento”. Esse termo já é empregado
por organizações internacionais como UNESCO e a própria ONU, conforme Burch
([2020], on-line)8, que, assim, informa e comenta:
“
A UNESCO, em particular, adotou o termo “sociedade do conheci-
mento” ou sua variante “sociedades do saber” dentro de suas políticas
institucionais. Desenvolveu uma reflexão em torno do assunto que
134
busca incorporar uma concepção mais integral, não ligada apenas
UNICESUMAR
à dimensão econômica. Por exemplo, Abdul Waheed Khan (subdi-
retor-geral da UNESCO para Comunicação e Informação), escreve
[3]: “A Sociedade da Informação é a pedra angular das sociedades
do conhecimento. O conceito de “sociedade da informação”, a meu
ver, está relacionado à ideia da “inovação tecnológica”, enquanto o
conceito de “sociedades do conhecimento” inclui uma dimensão de
transformação social, cultural, econômica, política e institucional,
assim como uma perspectiva mais pluralista e de desenvolvimento.
O conceito de “sociedades do conhecimento” é preferível ao da “so-
ciedade da informação” já que expressa melhor a complexidade e o
dinamismo das mudanças que estão ocorrendo. (...) o conhecimento
em questão não só é importante para o crescimento econômico, mas
também para fortalecer e desenvolver todos os setores da sociedade”.
Diante do exposto, caro(a) aluno(a), observa-se que, ao longo dos tempos, o ser
humano tem se apresentado como um ser híbrido, claro que no sentido figura-
do, que se caracteriza como sendo um ser composto por elementos diferentes
culturalmente. Dessa maneira, o ser humano é atingido pela força das culturas
estabelecidas, as quais são constituídas por ele próprio dialeticamente. Como
criador de culturas, por meio das diversas ações que emprega, quer, no convívio
social com outros seres humanos ou em sua relação à biodiversidade, revelar,
portanto, suas qualificações e habilidades que o diferenciam dos outros seres
vivos na busca do atendimento das suas questões existenciais e, também, de suas
necessidades básicas e fundamentais de sobrevivência, alimentando, consequen-
temente, a sua vida, no sentido mais amplo e profundo do que possa vir a ser a
existência humana.
136
5
TRABALHO,
UNICESUMAR
ALIENAÇÃO E
mercado
Caro(a) aluno(a) chegamos à nossa última aula desta Unidade 3. Quem disse que
seria fácil? Pode até ser para quem já conhece, de alguma forma, os temas, aqui,
abordados nesta disciplina, mas mexer com o pensamento e, principalmente,
fazer a gente pensar sobre si mesmo, de forma individual ou coletiva, não é uma
das coisas mais simples que se possa fazer. Mas lhe afirmo que estudar filosofia
é um bem necessário, principalmente, para quem vive nesta nova sociedade que
se descortina dia a dia: a sociedade do conhecimento. Cada vez mais, o conhe-
cimento é a própria fonte, riqueza ou produto de valor e subestimá-lo é assinar
seu próprio atestado de óbito.
Agora, abordaremos os temas clássicos dos estudos das humanidades, princi-
palmente, da Filosofia, Sociologia, Ciências Sociais e História, que são: trabalho,
alienação e mercado. Por isso, procuraremos ser o mais objetivo possível, mas
também queremos construir com você os elementos básicos e necessários para
o seu próprio entendimento e desenvolvimento. Seguimos, então, nessa viagem
ao mundo maravilhoso da filosofia. Antes de colocar as questões conceituais dos
termas (trabalho, alienação e mercado) que estudaremos, queremos que você
reflita sobre a seguinte informação: quando uma pessoa se torna adulta, hoje, do
ponto de vista econômico, ela também se torna uma força de trabalho. A ciên-
cia estatística, assim, chama-nos de capital humano, dentro da lógica capitalista,
como uma mercadoria que temos o nosso valor. Não, não fique chocado(a)!
137
Agora, é hora de você estudar um dos termos que, de alguma forma, você vi-
UNIDADE 3
verá diariamente: o seu trabalho. Por isso, um adulto e, muito mais, um adulto que
tem uma formação universitária tem de conhecer o que é sua natureza e como se
dá a relação de sua própria condição com as determinações e as condições de um
sistema que, devidamente, estruturado do ponto de vista legal, cultural e social
exige de todos nós que somos, de alguma forma, mão de obra o devido enten-
dimento. Por isso, é importante salientar que estudar o tema “trabalho” é muito
importante, pois este representa a sua própria vida; conhecê-lo é poder fazer as
suas escolhas da melhor maneira, como temos dito. Então, sigamos o cortejo do
conhecimento às definições de trabalho, alienação e mercado.
Por trabalho entende-se, inicialmente, como substantivo, então, vejamos seus
sentidos, segundo Dicio ([2020], on-line)9:
“
O emprego, o ofício ou a profissão de alguém: “não tenho trabalho!”
UNICESUMAR
tância, possibilitando uma alteração de seu aspecto ou forma.
Assim, caro(a) aluno(a), você já pode ver a riqueza dessa palavra que nos remete,
certamente, a importância dessa atividade humana na atualidade. Para Cotrim
(2006), trabalho é entendido, por sua vez, como atividade em que o ser humano
coloca sua energia para satisfazer necessidades ou atingir determinado objetivo.
Uma das principais atividades humanas, o trabalho, revela a condição de um
projeto mental que dá sentido a uma conduta a ser desenvolvida para se chegar
a um determinado objetivo. Logo, nessa perspectiva, o trabalho é um meio de
transformação do mundo natural para o mundo cultural, de forma bem elemen-
tar; assim, exemplificaremos: a partir do feijão (alimento natural), podemos fazer
uma feijoada (um prato típico); do arroz e carne seca (especiarias naturais), o ar-
roz carreteiro (um prato típico); da madeira cedro (uma das espécies de madeira
natural), uma mesa para uma sala de jantar (um móvel de utilidade coletiva).
Aprofundando, ainda mais, sobre esse termo, Dallago (2010, p. 1) afirma que:
“
[...] assim, Engels (1985) afirma que na medida em que o homem
coloca seu corpo, sua consciência a serviço de algum objetivo, vai
travar relação com a natureza e com outros homens. Neste sentido,
a atividade do trabalho é o elemento de desenvolvimento do próprio
homem, sendo este indispensável à sua existência. A relação ho-
mem e natureza só existem em função do trabalho, pois este trans-
forma a matéria vinda da natureza em riquezas ao mesmo tempo
em que transforma a si mesmo. Desta forma, se compreende que
139
as transformações ocorridas no modo de produção e nas relações
UNIDADE 3
Portanto, o trabalho deve ser entendido como um bem cultural e de valor, pois
observa-se seu espaço significativo como elemento cultural estruturante da vida
humana em sociedade, em nosso caso, em uma determinada sociedade capitalista
como força de trabalho, sobrevivência, ou seja, uma atividade, absurdamente,
relevante do ponto de vista social, envolvendo diversas estruturas do aparato
jurídico-administrativo e econômico da sociedade e, não menos importante, os
diversos conflitos sociais que se estabelece envolta dessa atividades na cidade e no
campo. Segundo Dicio ([2020], on-line)10, alienação, pode ser entendida como:
“
• Transferência de propriedade ou de direito: alienação de bens.
140
Caro(a) aluno(a), estamos diante de um termo polissêmico, e você sabe o que
UNICESUMAR
é polissemia? Você viu duas questões fundamentais que você tem de empregar,
aqui, para estudar não somente esse termo, mas qualquer termo que seja polis-
sêmico. Desse modo, primeiro, do ponto de vista linguístico, polissemia significa
a existência de um grande número de significados, e, segundo, que o significado
dependerá do contexto em que a palavra está inserida. Viu? Isso quer dizer que o
termo “alienação” possui sentido, principalmente, filosófico ou psicológico. Quem
fez um excelente estudo sobre esse termo e que abordou o sentido do ponto de
vista filosófico e psicológico foi Chauí (2015). Segundo a referida autora, aliena-
ção é o fenômeno criado pelo próprio ser humano; quando este cria e, ao longo
do tempo, passa a acreditar como se ele tivesse vida por si mesmo, independente
dele próprio, assim, não o reconhece como uma criação social ou cultural de
suas próprias mãos. Diante disso, a autora, ainda, observa que o ser humano não
se reconhece como ser histórico ou político do seu próprio espaço social. Para
responder a essa questão, Chauí (2015) desenvolveu sua exposição, utilizando
outro filósofo, Marx, o qual observou o modo de produção econômico das so-
ciedades, ou seja, como os seres humanos construíam a sua própria realidade
econômica e social.
Assim, Marx trata da divisão social do trabalho, ou seja, na luta pela sobre-
vivência, os seres humanos se agrupam para explorar os recursos da Natureza e
dividem as tarefas: família, comércio, trabalho servil (escravidão), o poder po-
lítico (Estado), religião e guerra. Nessa direção, sobre o desenvolvimento social,
para Marx, a sociedade se constitui mediante as condições materiais da vida
social e política; ele observou mudanças nas condições históricas e materiais,
ainda, paralelamente, observou, também, as mudanças no modo de produção,
por exemplo, no sistema feudal para o capitalista. Assim, a mudança não se dá
por vontade livre da natureza, mas estão relacionadas às condições econômicas,
sociais e culturais em que o ser humano está inserido (CHUAÍ, 2015).
É muito importante, porém, entendermos, neste momento, caro(a) aluno(a),
os conhecimentos que o senso comum tem sobre a sociedade. Sabemos que a
maioria das pessoas pensam orientadas pelo senso comum, por isso trataremos
disso agora. Chauí (2015), em relação ao senso comum, dá o seguinte exemplo:
quando evoca a pobreza como determinada pela condição individual e não como
consequência da estrutura social estabelecida em que a pessoa se encontra.
No entendimento de Chauí (2015), há três formas da alienação: a alienação
social, quando o ser humano não se vê como agente das instituições sociais e
141
políticas; a alienação econômica, quando o ser humano não se identifica como
UNIDADE 3
aquele que cria ou é afetado, economicamente, pela sua própria produção; e, por
fim, a alienação intelectual, quando o ser humano não reconhece a falsa dico-
tomia entre trabalho material e intelectual. Diante do exposto, a alienação social
pode ser entendida, também, como desconhecimento das condições histórico-so-
ciais concretas, vividas e produzidas pela ação humana, bem como, também, sob
o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Diante disso, há
uma dupla alienação; por um lado, os homens não se reconhecem como agentes
e autores da vida social, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indiví-
duos, plenamente, livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando
quiserem. Cotrim (2006), por sua vez, observa que o tema da alienação pode estar
associado, também, ao consumo e ao lazer.
Alienação do consumo: antes, porém, deve ser observado que há uma
grande e absoluta concentração de renda, em especial no Brasil, mas também
no mundo onde, apenas, 15% da população mundial consome, enquanto 85%
são alijados, mesmo que participem de alguma forma, de usufruir dos bens e
das riquezas produzidas pela sociedade. Nesse sentido, é que se dá o fenômeno
da alienação no consumo, quando, objetivamente, consumir significa participar
de um patrimônio construído pela sociedade, além de atender às necessidades
individuais, como produtos de primeira necessidade, e, ainda, observa-se que
esse fenômeno está associado às necessidades não das pessoas, mas da expansão
do sistema capitalista, de busca permanente de lucratividade. Nessa perspectiva,
Baudrillard (2007 apud COTRIN, 2006) considera que a lógica do consumo se
baseia, exatamente, na impossibilidade de que todos consumam.
Alienação do lazer: o lazer, aqui abordado, será compreendido como uma
mercadoria; assim como ocorre na alienação do trabalho e do consumo, as pes-
soas não usufruem das riquezas e dos bens produzidos, assim, também, não usu-
fruem do seu tempo livre e, muito menos, dos bens e produtos artísticos produ-
zidos pela indústria cultural. Nesse sentido, o lazer alienado tem duplo sentido; o
primeiro refere-se quando a escolha é determinada da indústria cultural, a partir
dos bens de consumo, propagandeados pela publicidade; o segundo refere-se
quando a pessoa é excluída por não ter as condições de usufruir as riquezas
produzidas pela sociedade.
Agora, caro(a) aluno(a), trataremos do nosso último tema: mercado. A palavra
“mercado”, também, é uma palavra polissêmica, isto é, tem diversos sentidos.
Vejamos, conforme Dicio ([2020], on-line)11:
142
“
Lugar público, ao ar livre ou em recinto fechado, onde se vendem e
UNICESUMAR
onde se compram mercadorias.
143
Mercado oficial, local ou condição em que as mercadorias, as moe-
UNIDADE 3
UNICESUMAR
existência de uma esfera de relações sociais separadas da vida privada e política.
O Estado, por meio da lei e da força, tem o poder para dominar e para reprimir,
pois seu papel é garantir a ordem pública, tal como defendida pelos proprietários
e seus representantes (INCONTRI; BIGHETO, 2010).
Diante do exposto, o sentido de “Mercado” está sob o guarda-chuva do modo
de produção capitalista e amparado por um robusto sistema jurídico-econômi-
co-social liberal, isto é, diferentemente das sociedades tradicionais, a economia
liberal de corte capitalista tem uma lógica que é acumular capital, suas riquezas e,
cada vez mais, bens de produção. Nessa direção, a economia é que vigora “o sistema
de mercado”, ou seja, o coração da economia é “o Mercado”. Nesse sentido, a pessoa
passa a ser um cliente ou consumidor e deixa de ser uma pessoa hospitalizada ou
uma pessoa que estuda em uma escola particular, por exemplo. A lógica estabeleci-
da é de mercado e não da cidadania, na concepção mais abrangente possível. Nessa
lógica, as pessoas, por sua vez, têm valor, conforme suas condições financeiras, ou
seja, quando elas fazem parte da classe social consumista.
Conforme Mariano (2007), na lógica de mercado, há um jogo que faz as pes-
soas competirem entre si, denominado concorrência; esse jogo exalta os melhores
e exclui os que não conseguem atingir as metas previstas. Como todo jogo que
envolve disputa; esse, principalmente, advoga um espírito individualista em que
o importante é cuidar de si e se proteger dos outros. As pessoas, ou melhor, os
concorrentes passam a ser vistos como alvo da fúria e do desejo de vencer; aqui,
novamente, estabelece-se o “custe o que custar” ou, ainda, a compreensão dita
maquiavélica: “os fins justificam os meios”.
Segundo Smith (2007 apud MARIANO, 2007), em nome da sobrevivência
no Mercado e do Mercado, o ser humano deve agir por interesses e não pela
cooperação. Nessa linha de raciocínio, as pessoas valorizam, muito mais, algo que
lhe interessa do que o espírito fraterno e religioso de ajudar. Isso quer dizer, por
exemplo, que não é o coração da boa vontade do padeiro ou do açougueiro que
proporciona bons produtos para as refeições de seus clientes, mas é, justamente,
o interesse financeiro que os faz agir positivamente nessa relação. Por fim, por
exemplo, dentro do sistema de mercado, a natureza é a fonte de recursos ilimitados
(será?), e o Brasil é um grande celeiro, ainda, de recursos inesgotáveis (será?); como
se vê, a disputa atual sobre a exploração da biodiversidade e riquezas minerais na
Amazônia, dentre elas, o tão falado e propalado, “nióbio”, que tem sido motivado
e “vendido”, internacionalmente, pelo atual governo brasileiro.
145
UNIDADE 3
explorando Ideias
pensando juntos
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Os temas tratados, nesta unidade, são, realmente, muito importantes, mesmo
sendo conteúdos densos e, não poucas vezes, complexos. De um lado, estuda-
mos o conhecimento e, de outro, o estudo filosófico sobre o ser humano, em
antropologia filosófica. Ambos têm uma complexidade inerente, ou seja, estão
relacionados ao ser humano, mas não é, somente, isso. Ambos os temas estão
relacionados, também, à necessidade de entendimento, e isso não é tão simples
assim. Seja sincero com você mesmo, é fácil falar de si mesmo, sobre suas virtudes
ou defeitos? Não é, e você sabe disso. Agora, imagine essa questão, no âmbito da
ciência, em que a exigência e rigor são maiores ainda. Por isso, abordamos todos
os temas tratados com o máximo de cuidado para que não se perdesse a qualidade
da discussão e o conteúdo apresentado, ainda, de forma elementar, introdutória
e sempre com a preocupação de deixar o mais claro possível para você entender
o que se estava tratando e quais os objetivos dos temas apresentados.
Esperamos, sinceramente, ter conseguido comunicar o máximo de informa-
ções e possibilitar as condições para você entender os assuntos, os quais são de
fundamental importância para a sua formação. Esperamos, ainda, que os temas
e assuntos estudados, nesta unidade, tenham possibilitado, além do conheci-
mento, despertar em você a curiosidade sobre os seguintes temas: o porquê do
conhecimento humano hoje; os modos de conhecer e suas implicações no fazer
humano e na vida social; conhecimento e ideologia; antropologia filosófica, cul-
tura, sociedade do conhecimento, trabalho, alienação e mercado.
147
na prática
2. Conforme vimos, na segunda aula, que há duas formas de o ser humano apreender
a realidade, ou seja, por meio da intuição ou do conhecimento discursivo. Para Ara-
nha e Martins (2005), o verdadeiro conhecimento se dá em uma relação contínua e
dialética entre essas duas formas. Leia atentamente as afirmações a seguir:
I - É um conhecimento mediatizado.
II - Utiliza a linguagem como meio de conhecimento.
III - O conhecimento se dá de forma evidente.
IV - Nada se coloca entre o “S” e o “O”.
148
na prática
149
na prática
Assinale a alternativa correta sobre as ideias apresentadas pela filósofa Chauí (2015):
150
aprimore-se
O ser humano constrói as suas teorias para explicar experiências realizadas e dis-
cutir conceitos a partir de observações e análises feitas, sistematizando, assim, o
seu conhecimento. Suas abordagens teóricas são constituídas de valores e culturas
sociais que também podem ser chamadas de filosofia de vida ou visão de mundo. As
teorias que o homem organiza para sistematizar o conhecimento são pautadas em
conceitos e princípios usados para explicar algo que foi experimentado e analisado.
Da mesma forma que o homem tem sua filosofia de vida, ele utiliza-se da filo-
sofia como ciência do conhecimento para resolver os problemas da vida, tentando
buscar explicações para a realidade na qual se insere. A história cultural do homem
revela que ele sempre esteve ligado à construção do conhecimento, expressando-o
como práxis social. Seria insuficiente demonstrar aqui os vínculos existentes entre
o desenvolvimento humano e as práticas sociais, hoje imprescindíveis no campo
da produção do conhecimento. Esse vínculo apresenta grande relevância em cons-
truções teóricas dos seres humanos, pois contribui para re-estruturar a visão de
homem, mundo, sociedade, cultura, do valor e dos diversos saberes. Conhecer o
mundo, a sociedade com seus valores culturais e a realidade de que faz parte é
transcender o conhecimento [...].
[...] A humanidade, ao longo dos tempos, reuniu muitas informações que foram
armazenadas e esquematizadas como conhecimento. Essas informações, experiên-
cias e concepções despertaram o desejo de conquistar a liberdade de pensamento,
abrindo caminhos para registros dos fenômenos que estavam ao alcance da inteli-
gência humana. O homem, ao relacionar-se com o mundo e com os diversos modos
de vida que o rodeia, passa a desenvolver diferentes formas de conhecimentos e faz
evoluir o meio em que se insere, trazendo muitas contribuições para a sociedade.
Fonte: Almeida e Alves (2009, p. 68-69).
151
eu recomendo!
livro
1984
Autor: George Oewell.
Editora: Companhia das Letras.
Ano: 2005.
Sinopse: o livro 1984 tem como cenário uma sociedade governa-
da por um Estado supremo (onisciente, onipresente e onipoten-
te), que consegue oprimir aqueles que divergem de suas ordens
e penetrar em suas mentes. Esse Estado se expressa por meio do Partido, que
trabalha, incessantemente, para conseguir controlar os cidadãos, o que faz pri-
vando-os de sua liberdade. A todo o momento, pessoas são expostas ao controle
do Estado, o detentor absoluto dos meios de comunicação. Com isso, os cidadãos
são forçados a viver cercados de todos os tipos de propaganda com informações
manipuladas. As cidades são cheias de cartazes impressos com o Grande Irmão, o
líder do partido, e sua frase: “Big Brother is watching you”, lembrando à população
que o Partido estava sempre vigiando suas vidas.
152
anotações
4
ÉTICA, MORAL
E SOCIEDADE
PROFESSOR
Me. Rubem Almeida Mariano
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O porquê da ética e da moral hoje
• Compreendendo os termos “moral” e “ética” em Filosofia • Os tipos de éticas: da Grécia à atualidade
• A moral e suas teorias bem como seu caráter sócio histórico • Ética, moral e sociedade.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Assinalar a importância da ética e da moral na atualidade. • Diferenciar, filosoficamente, os termos:
“ética” e “moral” • Abordar os fundamentos e as concepções de ética • Apresentar as principais teorias
e fundamentos da moral • Analisar a relação entre ética, moral e sociedade.
INTRODUÇÃO
ÉTICA E DA
moral hoje
No final do século XX, Srour (2005) já observava que o mundo vivenciava, entre
avanços e consequências, a era das revoluções científicas e tecnológicas nunca
156
vista. Nesse sentido, o físico e escritor Sagan (2009, p. 22) sintetizou e precisou,
UNICESUMAR
de forma brilhante, o cenário mundial do século passado, ao dizer:
“
[...] o século XX será lembrado por três grandes inovações: meios
sem precedentes de salvar, prolongar e intensificar a vida; meios sem
precedentes de destruir a vida, inclusive pondo a nossa civilização
global pela primeira vez em perigo; e percepções sem precedentes
da natureza de nós mesmos e do universo. Todos esses três desen-
volvimentos foram realizados pela ciência e tecnologia, uma espada
de dois gumes afiados.
157
Sobrevida”, que chamava atenção para as preocupações e preservação da vida em
UNIDADE 4
nosso planeta bem como cobrava das autoridades competentes medidas urgentes
para possibilitar as condições de vida para as futuras gerações e povos. Por sua
vez, a segunda conferência ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, em 1992,
a qual foi denominada Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, ou, mais conhecida, “Conferência Rio-92”, reafirmando as
decisões adotadas em Estocolmo, 1972, declarava a necessidade urgente dos paí-
ses associados promoverem acordos e parcerias globais para a criação de novos
níveis de cooperação para o cumprimento dos contratos e, assim, garantirem a
preservação integral do meio ambiente no planeta. Face a essa realidade.
3. Terceira razão: observa-se a necessidade de critérios que sirvam de parâ-
metros para auxiliar no julgamento ético das ações dos países em relação
ao meio ambiente. Assim, reafirmamos, de antemão, a vida como critério
ético-moral (MARIANO, 2007).
Assim, o que estamos tratando, aqui, caro(a) aluno(a), não é uma mera conversa
de ambientalistas, que são contra, por exemplo, ao desenvolvimento em detri-
mento da vida naturalista (os quais, diga-se de passagem, têm argumentos plau-
síveis como alternativa de defesa do planeta Terra), mas sobre o comportamento
humano, e isso quer dizer que o nosso objetivo é tratar sobre os comportamentos
éticos ou morais do ser humano, hoje, em sua relação com o meio onde vive. Ain-
da, sobre essa questão provocativa, abordada anteriormente, sobre a manutenção
ou os perigos eminentes de destruição da vida, diríamos, caro(a) aluno(a), que,
se comparássemos o que estamos tratando a um jogo de xadrez, o ser humano
estaria tomando um xeque mate da própria vida. Isso mesmo, um xeque mate
158
daqueles! Aliás, você sabe jogar xadrez? Se porventura não,“xeque mate” significa
UNICESUMAR
decretar o final da partida. Nessa situação, o rei não pode ser coberto por nenhu-
ma outra peça nem pode ser movido para nenhuma outra casa, sem ser tomado
por uma peça do adversário. Assim, quem deu xeque mate vence, e quem tomou
o xeque mate perde, ou seja, a partida está encerrada. Agora, em nosso caso, em
relação à questão provocativa, ou seja, sobre a manutenção das reais condições de
vida existentes, sem a devida atenção e preservação do nosso meio ambiente, não
é tão simples assim, pois envolvem muitos interesses, isto é, mesmo que estejam
formadas ou dadas todas as condições necessárias para se aplicar um xeque mate,
o ser humano se cria ou/e se recria, apresenta ações alternativas/criativa.
5. Quinta razão: a realidade em que vivemos é complexa. Acredite, caro(a)
aluno(a), ela é assim não porque os intelectuais, os estudiosos ou os pes-
quisadores a complicam, mas porque ela é assim mesmo, ou seja, a vida é
complexa porque o ser humano é complexo. Não somente em sua cons-
tituição física, mas também nas suas diversas dimensões: mentais, psico-
lógicas, políticas, sociais, econômicas, culturais, religiosas, dentre tantas
outras. Lembra-se da superioridade da Teologia à Filosofia no período
Medieval? Então, questione, investigue e analise! Tire as suas próprias
conclusões, se você, de fato, é um ser vivo e ativo do seu tempo.
Logo, essas ações indiretas não são menos danosas do que às diretas, ou seja, o
fato, por exemplo, de não se ter políticas ambientais sustentáveis de destinação
do lixo, que são produzidos nas grandes cidades, não é mais danoso do que o
cumprimento e a fiscalização de leis ambientais e preservação da biodiversidade,
por exemplo, lançar plásticos na natureza, e a preservação e proteção dos direitos
dos povos indígenas ou quilombolas. E aí? O que você acha? Proponho que você
observe, criticamente, a sua própria realidade, em sua cidade ou em seu bairro,
ou, até mesmo, em suas relações pessoais ou profissionais. Exercite o pensamento
159
crítico! Agora, continuaremos falando mais sobre o porquê da ética e da moral
UNIDADE 4
“
• Reunião de homens e/ou animais que vivem em grupos organi-
zados; corpo social.
UNICESUMAR
o médico veterinário não cuida dos animais; ou seja, seria um verdadeiro caos
ou, melhor, seria o fim da sociedade. Esta não existiria, pois não haveria coesão
social ou uma ordem social mínima para que ela sobrevivesse. Diante disso, é
pertinente, caro(a) aluno(a), considerar algumas questões sobre a importância
dos temas da ética e da moral como elementos importantes para o desenvolvi-
mento da sociedade, bem como para que o estudo da ética possibilite atitudes
morais razoável para a convivência social. Nesse sentido, Baczko (1996), ao tratar
sobre o imaginário social, observa a importância deste como fator estruturante
da sociedade em seu desenvolvimento:
■ Platão utilizava os mitos como forma de coesão social, diante da frag-
mentação social dos novos tempos da filosofia, e os empregava por meio
do pensamento crítico.
■ Durkheim, por sua vez, ressaltava as estruturas sociais e os sistemas de
representação coletivas com o intuito de assegurar o consenso e a coesão
social, o fato social.
■ A Psicanálise (Freud) afirmava a “imaginação” não como uma “faculda-
de” nem como um poder psicológico autônomo (como a fé, a vontade, o
desejo, nesse sentido restrito), mas, sim, como uma “atividade global do
sujeito” para dar sentido e organizar um mundo ajustado as suas neces-
sidades e aos seus conflitos.
Diante do exposto, caro (a) aluno(a), acredito que você tenha notado que o ser
humano produz conhecimentos que deem conta de explicar determinados fe-
nômenos sociais, por exemplo, a questão da coesão social. Conforme vimos
anteriormente, o imaginário social pode dar coesão social bem como pode ser
identificado a partir das elaborações de alguns teóricos da área social.
8. Oitava razão: o entendimento da moral e da ética é necessário para a for-
mação intelectual do estudante em nível superior, contudo muito mais se
faz quando esse(a) aluno(a) tem que exercer as suas funções e contribuir
com a sociedade onde vive.
UNICESUMAR
pal, como ser racional, o ser crítico. Sem uma compreen-
são crítica, portanto, podemos afirmar que a formação
desse profissional está comprometida negativamente,
pois “arranca” dele a sua alma, a sua essência. Nesse sen-
tido, é que se coloca a importância da moral e da ética,
como bem ressalta Rios (2013), ao falar de competência
profissional:
12. Décima segunda razão: toda e qualquer profissão
passa pelo saber “fazer bem feito” e o que tem de
ser feito, e isso é praticar o seu dever. Isso aponta
e ressalta o agir moral como um aspecto impor-
tante do ser profissional na sociedade.
Diante das considerações e das razões, apontadas anteriormente, por fim, caro(a)
aluno(a), ainda, há uma última razão que destacaremos a seguir:
16. Décima sexta razão: a realização atenta dessa própria tarefa, cheia de
razões e motivos listados anteriormente, que se impõe como exercício
prático para uma consciência ética e moral em prol de uma sociedade o
quanto mais inclusiva. Essa tarefa não é em absoluto fácil ou rápida, mas,
extremamente, necessária e urgente. Ela se inicia com a sua formação
consistente e sólida filosoficamente.
Por isso, caro(a) aluno(a), convido você a continuar a nossa viagem ao mundo
maravilhoso da Filosofia; para tanto, reflita sobre suas atitudes morais e os prin-
cípios e valores que as fundamentam nesse momento de sua vida, pois, assim,
você já estará vivenciando o conteúdo desta Unidade 4; então, vamos às demais
aulas, para que você possa ter, ainda, mais elementos para a sua formação e au-
toavaliação.
164
2
COMPREENDENDO OS TERMOS
UNICESUMAR
“MORAL” E “ÉTICA”
em filosofia
Caso, em seu cotidiano, você, ainda, não tenha ouvido falar sobre ética e moral,
esses assuntos são tratados e valorizados em Nível Superior. Afinal, as organi-
zações, por exemplo, têm normas e regras a serem seguidas para o bom funcio-
namento de suas existências. Portanto, quando nos referimos a essas normas e
regras, estamos, justamente, tratando dos temas da ética, moral e seus códigos.
Assim, o código de ética possui valores, princípios e regras, que são expressões,
165
tipicamente, da moral desejada, para que esta seja cumprida, são chamadas nor-
UNIDADE 4
mas morais. As palavras “ética” e “moral” são dois termos importantíssimos que
temos de entender logo de início, para melhor aproveitar o estudo dessa aula.
Antes de entramos no mundo da filosofia, propriamente dito, vejamos o que nos
diz Dicio ([2020, on-line)13 sobre a ética:
“
• Segmento da filosofia que se dedica à análise das razões que oca-
sionam, alteram ou orientam a maneira de agir do ser humano, ge-
ralmente tendo em conta seus valores morais.
Sobre a moral, Dicio ([2020], on-line, grifo nosso)14 diz que esta palavra pode
funcionar como substantivo ou como adjetivo. Vejamos:
“
Substantivo:
• Preceitos e regras que, estabelecidos e admitidos por uma socieda-
de, regulam o comportamento de quem dela faz parte.
Adjetivo:
• Que está de acordo com os bons costumes; que explica, disciplina,
ensina.
UNICESUMAR
diferentes (ética vem do grego e moral vem do latim), ambas têm sentido aproxi-
mado de uma palavra da nossa língua: “costume”. Porém, vamos nos aprofundar
mais um pouco o que significa moral e ética. A palavra moral, do latim, moris,
quer dizer: “[...] o conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos
indivíduos numa sociedade dada” (VAZQUEZ, 2017, p. 45). Tem a ver, portanto,
com a prática, com o comportamento, propriamente dito, da pessoa em suas re-
lações no cotidiano em uma determinada sociedade. Isso aponta que a moral é
sempre relativa a uma determinada sociedade, ainda, ela, segundo Srour (2005, p.
62),“é um dos mais poderosos mecanismos de reprodução social, porque define o
que é permitido e proibido, justo e injusto, lícito e ilícito, certo e errado. Ao arrolar
obrigações, fins e responsabilidades, suas normas são prescrições que pautam as
decisões e moldam as ações dos agentes”. Ou, dito de outro modo, é a “maneira
de se comportar regulada pelo uso” de um determinado grupo social. Veja esses
dois exemplos: “Devo cumprir a promessa “x” que fiz ontem ao meu amigo “y”,
embora hoje perceba que o cumprimento me causará certos prejuízos? Devo
dizer sempre a verdade ou há ocasiões em que devo mentir?” (VAZQUEZ, 2017,
p. 35). Esses questionamentos, por sua vez, remetem-nos a atitudes práticas, e isso
quer dizer que estamos no campo da moral. Moral, por fim, são normas, regras
ou leis adquiridas que devem ser observadas pelos participantes, por exemplo,
de uma empresa, de uma igreja ou de uma família.
A palavra ética, vem do grego, ethos, que quer dizer: “reflexão a respeito das
noções e princípios que fundamentam a vida moral” (VAZQUEZ, 2017, p. 56).
Portanto, refere-se ao campo, estritamente, teórico. Nas palavras de Sung e Silva
(2011, p. 30), a ética é “uma reflexão teórica que analisa e critica ou legitima os
fundamentos e princípios que regem um determinado sistema moral (dimensão
prática)”. Os seguintes exemplos podem ajudar: “A definição do que é bom não
é um problema do cotidiano, do particular, mas um problema geral de caráter
teórico, da ética. A reflexão não é um ato prático, mas um ato teórico, do mundo
das ideias” (VAZQUEZ, 2017, p. 38). Essas afirmações, por sua vez, remetem-nos
a atitudes teóricas e gerais, e não ao mundo da prática, por isso, a ética está no
campo da reflexão, enquanto a moral está no campo do comportamento propria-
mente dito. Conforme Srour (2005, p. 34):
“
Enquanto a moral tem uma base histórica, o estatuto da ética é teóri-
co, corresponde a uma generalidade abstrata e formal, diria racional.
167
Logo, a ética estuda as morais e as moralidades, analisa as escolhas
UNIDADE 4
Isto não quer dizer que ética e moral estejam separadas; pelo contrário, ambas se
relacionam reciprocamente, enquanto ação humana: teoria e prática, ou, ainda,
conhecidas como práxis que significa ação-reflexão, que seriam lados de uma
mesma moeda. Nesse sentido, ética e moral caminham juntas, ou seja, como já
dissemos, todo comportamento precisa de fundamentos teóricos, o primeiro é a
moral e o segundo é a ética.
Portanto, conforme foi exposto, os termos “ética” e “moral” se aproximam e se
distanciam um do outro e, algumas vezes, podem até se confundir, por exemplo:
quando, em um processo de seleção, o entrevistador pede para que o entrevistado
leia o código de ética da empresa; porém, na realidade, o código de ética é um
código moral da empresa, no sentido prático, ou seja, aquilo que a empresa quer
que a pessoa, sendo selecionada, faça, pratique ou viva segundo os valores que a
empresa acredita. Contudo o importante é que você tenha claro o sentido e os
campos aos quais esses termos fazem parte e estão relacionados: ética é teoria, re-
flexão, princípio, valor, fundamento necessário, argumento teórico, a partir de uma
determinada perspectiva de vida ou existência do mundo religioso, humanístico,
epistemológico, filosófico ou ideológico.
Dessa maneira, a ética se relaciona ao abrangente, ao fundamental ou ao univer-
sal. Ela discute sobre as elaborações teóricas dos valores imprescindíveis, como, por
exemplo o Bem, a Justiça, a Vida, a Liberdade, o Amor, a Alegria, a Saúde, a Paz, dentre
outros, bem como se o sentido desses valores é realmente único ou diverso; assim,
procede sempre a reflexão filosófica sobre a ética. A moral, por sua vez, é prática, ação,
comportamento, atitude, norma, regra, lei, padrão social que se faz e é instituída a
partir de valores e princípios de uma determinada sociedade ou organização. Dessa
maneira, a moral está relacionada a uma condição construída social e culturalmente
e aceita por um determinado grupo de pessoas ou de uma sociedade específica; as-
sim pode-se afirmar que se tem várias morais, ou seja, tipos de comportamentos para
uma determinada situação, como: comer à mesa, falar a verdade, relacionamento
conjugal ou afetivo, vida religiosa ou espiritual, dentre tantas outras situações que
o ser humano realiza no mundo, as quais, a partir da observação, manifestam-se de
formas distintas, diversas ou, até mesmo, de formas contraditórias, por exemplo, o
certo como sendo o errado e o errado como sendo o certo.
168
Além disso, essas formas contraditórias, ainda, são dependentes do sentido
UNICESUMAR
dado pelo ser humano em cada uma de suas ações, e esse sentido, por sua vez,
é considerado pela ética e pela moral como sendo importante para se fazer a
chamada avaliação moral ou ética dos atos humanos. O Direito utiliza muito
os fundamentos filosóficos do sentido, da intenção e das condições da ação, com
o intuito de julgar, avaliar e, assim, aplicar as penas a serem dadas referentes a
um determinado comportamento moral que a sociedade – representada pelo
juiz – considera como sendo algo que atinge à organização social e às normas
estabelecidas, por exemplo: crimes, delitos, infrações ou desrespeitos à ordem
social ou individual.
3
OS TIPOS DE ÉTICAS:
DA GRÉCIA À
atualidade
O tema da ética, logo, nos primeiros anos do surgimento da Filosofia, entre os gregos,
foi tratado com atenção. Isso se justifica pelo fato desse tema estar relacionado à con-
vivência social na pólis, em especial, em Atenas. Do passado antigo aos nossos dias,
a vida em sociedade é um tema sempre caro a todos os conhecimentos, em especial,
aos conhecimentos filosófico, sociológico, psicológico e ciências sociais. Assim, no
período clássico, com Sócrates, Platão e Aristóteles temos uma produção significativa
e expressiva sobre o tema da ética e da moral, porém nosso objetivo não é abordar
esses temas extensivamente, pelo contrário, tratar-nos-emos de forma sumarizada.
Assim sendo, segundo Vazquez (2017), Sócrates, um dos primeiros a tratar
desses temas, compreendia que bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam.
Então, quando o ser humano conhece o Bem, age conforme deve, e, à medida que
vai conhecendo-o, não pode deixar de fazê-lo, do mesmo modo, quando aspira o
bem, o ser humano conhece a si mesmo, sente-se seguro e dono de si, e, assim, con-
sequentemente, torna-se feliz. Nessa mesma direção, virtude e vício se diferenciam
substancialmente; a primeira é sabedoria e conhecimento, e o segundo é ignorância.
É importante ressaltar que o saber, em Sócrates, é o saber sobre o ser humano, ou
seja, conforme a célebre afirmação socrática, “conhece-te a ti mesmo e conhecerás
o universo e os deuses e o universo”.
170
Para Platão (2002 apud VASQUEZ, 2017), a ética e a moral estavam relacio-
UNICESUMAR
nadas à vida na pólis, na qual as ideias, somente, poderiam ser identificadas pelo
filósofo, e este poderia ajudar as pessoas, que vivem em sociedade, a viverem de
uma forma mais educada e coerente. Assim, as virtudes se dividem, conforme a
classe social, respectivamente: a prudência e a sabedoria (os governantes e filóso-
fos); a fortaleza e a valentia (os guerreiros); temperança e autodomínio (artesão e
comerciantes); e a justiça seria como equilíbrio de todas as virtudes e, a partir dela,
deveria haver harmonia entre todas as partes (classes sociais) da sociedade, ou seja,
uma vida harmônica por todos os cidadãos e cidadãs da pólis. Para Aristóteles
(2004), o ser humano era um animal político, social e racional. A felicidade seria
o fim último do ser humano em sociedade. Assim, compreendia que havia três
formas de se obter obtê-la: pela virtude, pela sabedoria e pelo prazer. Desse modo,
todos esses meios, necessariamente, deveriam ser orientados pela razão.
Nos primeiros anos da Era Cristã, Cícero (106 a.C a 46 d.C), dentre os romanos
influenciados pela filosofia grega, foi um dos grandes elaboradores que observava
a importância da filosofia como uma grande solução para a conduta das pessoas
em sociedade, com o seu caráter e seus costumes. Entre os romanos, também, as
virtudes eram, sobremaneira, destacadas como aspectos da moral. Os romanos
compreendiam que elas deveriam ser exercidas por meio da retidão e da hones-
tidade (ARANHA, 2012). Segundo Vasquez (2017), a moral era compreendida
como um conjunto de deveres que a natureza impôs ao ser humano, tanto em
seus aspectos individual quanto social. No Período Medieval, os valores éticos e as
normas morais foram determinados pelas referências da religião cristã, ou seja, a
partir dos ensinamentos de Jesus Cristo. Na prática, os princípios e a moral cristã
eram determinados pelas lideranças religiosas, isto é, pelo Papado. Um dos grandes
nomes do período medieval é São Thomas de Aquino; este afirmava que Deus era
o legislador, e os padres, os intérpretes da lei. Assim, o poder da determinação da
moral e dos costumes do povo, durante todo o período, foram regidos pelo poder
da Igreja e de seus representantes, os padres. Na modernidade, por fim, a moral é
compreendida como uma expressão vinda do interior do próprio ser humano. Um
dos principais nomes desse período é Immanuel Kant, filósofo alemão. Para ele, a
moral é autônoma no sentido que a lei é ditada pela própria consciência moral do
ser humano (MARIANO, 2007).
Por fim, a ética, está relacionada à política em relação ao poder e ao seu exercí-
cio e finalidade; a bioética (é uma área do conhecimento que estuda os problemas e
implicações morais despertados pelas pesquisas científicas em biologia e medicina)
171
em relação à vida humana e às melhorias da qualidade de vida do ser humano; e a
UNIDADE 4
A classificação da Ética
172
da vida. A concepção empírica não questiona o que o ser humano “deve
UNICESUMAR
fazer”, mas examina o que “o ser humano, normalmente, faz”. Sendo, assim,
cada ser humano age de uma maneira e isso nos leva para o relativismo
ético. Parafraseando um ditado popular,“cada pessoa tem seu próprio jeito
de ser”. Podemos citar, pelo menos, três correntes filosóficas que seguem
essa concepção empirista: anarquismo, utilitarismo e ceticismo.
Exemplo prático: para a compreensão anarquista, o ser humano tem que
aceitar, em primeiro lugar, as leis naturais que o acompanham ao nascer.
São elas que regem o verdadeiro comportamento, ou seja, as chamadas
necessidades básicas, por exemplo, comer, beber e sexo. O anarquista não
admite que as leis da sociedade civil organizada, como as proibições ou
restrições, inibam desejos e prazeres naturais.
2. Ética de Bens: esta doutrina é bem diferente da ética empírica. Ela advoga
que há um bem supremo fundamental. Segundo Nalini (2001, p. 75), “a
criatura humana é capaz de se propor fins, eleger meios e colocar em práti-
ca os últimos, para alcançar os primeiros”, ou seja, para essa compreensão,
o ser humano tem fins superiores que orientam o comportamento hu-
mano. Contudo, dentro dessa doutrina, há posições que diferem qual é o
bem supremo que deva orientar o comportamento humano. Sendo assim,
dentre estas, temos três grandes posições que influenciaram os grandes fi-
lósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, sendo elas: a primeira refere-se
ao eudemonismo, que acredita que o bem supremo é a felicidade, pois esta
nasce com o ser humano; a segunda refere-se ao idealismo ético, o qual
defende que o bem supremo refere-se à prática dele; e, por fim, a terceira
que se refere ao hedonismo, o qual entende que é o prazer o bem maior.
Exemplo prático: para a pessoa que é orientada pelo idealismo ético,
praticar o bem, independente das consequências que possa vir a sofrer
ou tenha de enfrentar. Portanto, importa a realização da prática do bem,
da maneira que ela exige por meio dos seus princípios e valores, pois a
felicidade e o prazer pessoal são consequências necessárias dessa prática.
Isto quer dizer, por exemplo, que o ato de devolver o dinheiro achado ao
seu verdadeiro dono é uma prática do bem superior, o qual proporciona,
verdadeiramente, a felicidade ou o prazer a despeito do valor do dinheiro
e do que este possa proporcionar a quem o achou.
173
3. Ética Formal: esta concepção defende a consciência racional,a partir da
UNIDADE 4
lei moral. É dado esse nome “Ética formal”, porque vem de racional, do
campo da lógica. O importante, portanto, é cumprir, logicamente, o que
tem de ser feito. Deve-se cumprir, conforme às exigências da consciência
racional e não conforme os sabores do ambiente externo. O filósofo por
excelência dessa doutrina é Kant, e ele advoga que o certo é fazer o que é
lógico ou racional.
Exemplo prático: segundo Kant, as regras ou as leis do comportamento,
que são estabelecidas, segundo a consciência racional, devem ser cum-
pridas independente das condições e consequências externas. Veja esta
situação: uma turma da faculdade, com 40 pessoas (conscientes racio-
nalmente), determinou que faria um churrasco em um final de semana e
que cobraria R$ 10,00 reais para o pessoal da turma, R$ 5,00 para amigos
(externos) e familiares bem como R$ 20,00 reais para seus professores.
Isso quer dizer que foram estabelecidas três categorias com seus respec-
tivos valores para o pessoal da turma, amigos e familiares bem como
seus professores. Diante disso, deve-se cumprir o que fora combinado,
portanto, não é justificável, racionalmente, alguém, como uma pessoa da
turma, mesmo que tenha participado, diretamente, da organização do
churrasco, ser isento de pagar os R$ 10,00 reais. Isso porque a consciência
racional acusa que essa atitude não é lógica nem coerente, pois funciona
de maneira irracional influenciada pelas questões externas e não seguem
as normas estabelecidas e acordadas racionalmente. Por essas razões, esta
atitude deve ser considerada antiética.
4. Ética Valorativa: esta doutrina ética defende que o comportamento mo-
ral deve ser orientado e pautado por aquilo que é valioso. Isso é, facilmen-
te, constatável, pois qualquer pessoa pode dar valor a objetos materiais,
sentimentais e ideais, por exemplo. Contudo não se pode ter uma ideia
arbitrária ou aleatória do valor, como se cada pessoa, ao seu bel prazer,
determinasse, para o conjunto da sociedade, o que é ou não valioso. Do
ponto de vista da organização social, a existência do valor está associada
aquilo que a sociedade, por sua vez, compreende, aceita e respeita como
sendo valioso, e isso é determinado pela maioria, ou seja, os valores são
uma convenção, e eles se expressam nas leis ou nos códigos morais apro-
vados pela sociedade por meio do legislativo municipal, estadual e federal.
174
UNICESUMAR
Exemplos práticos: do ponto de vista pessoal,
em nossa cultura, amar ou odiar uma pessoa
revela um determinado valor compreendido
como positivo, se houver amor, carinho; ou,
como negativo, se houver ódio, raiva. Do pon-
to de vista social, a vida biológica, no Brasil,
é um valor social supremo defendido pela
Constituição. Pode-se dizer que a vida biológi-
ca deve ser garantida e respeitada pelo Estado
e por todos que, aqui, vivem. Nesse sentido,
o valor determina o comportamento moral
de um povo, no caso do Brasil, a vida é com-
preendida como um valor superior, por isso,
do ponto de vista legal, é um crime matar a
vida de uma outra pessoa.
175
4
A MORAL E SUAS TEORIAS
UNIDADE 4
E SEU CARÁTER
sócio-histórico
UNICESUMAR
ajudar no entendimento da própria realidade, em que se está inserido; para as
tomadas de decisões que se apresentam, constantemente, na dinâmica social:
família, trabalho, política, dentre outras.
Critério ético
Antes de avançar, o que vem a ser um critério? Segundo Dicio ([2020], on-line)15,
critério é uma palavra que, do ponto de vista morfológico, é um substantivo:
“
• Capacidade para distinguir o verdadeiro do falso, o bom do ruim.
Dessa maneira, o critério é uma parte importante para se pensar sobre a moral,
uma vez que orienta e constitui as condições, propriamente ditas, para o agir
humano; um determinado critério funciona como um start (começo) da própria
ação moral, ou seja, age-se nessa ou naquela situação que, por sua vez, é oriunda
de determinado critério avaliativo, que remete a uma situação identificada como
sendo necessária para o agir (MARIANO, 2007). Nesse sentido, o critério ético se
coloca como meio necessário para proceder a avaliação ou o julgamento de uma
determinada situação vivida, uma vez que o ser humano é um ser racional. Sobre
essa questão da construção do critério ético, Boff (2011, p. 18) observa que “foi
a razão crítica, articulada pelos grandes filósofos Platão e Aristóteles, aquele que
deu o salto do daimon (percepção ética fundamental ou moral) ao ethos (sistema
racional de princípios)”.
Assim, seguindo esse tipo de critério, constituído anteriormente, que tem os
elementos conceituais e filosóficos observados, apontamos a vida, como critério
177
ético. Não, apenas, no sentido orgânico ou biológico, mas vista nas dimensões
UNIDADE 4
“
O medieval não tinha a sutileza dos gregos. Eles usaram o palavra
moral (que vem de mos / moris, hábito é hábito) tanto costumes,
caráter e princípios e valores. Eles o moldam. Tudo isso foi designa-
do pelo termo “moral”. Mas dentro da moralidade eles distinguiram
entre moral teórica (filosofia moral), que estuda os princípios e ati-
tudes que iluminam as práticas e moral prática, que analisa os atos
à luz da atitudes e estudar a aplicação dos princípios à vida.
Posturais morais
“
• Posição do corpo: postura reta.
178
Logo, postura, utilizada neste texto, tem o sentido relacionado ao modo de pensar
UNICESUMAR
como posicionamento adquirido, a partir de uma determinada concepção. Nesse
sentido, conforme Boff (2011 p.16), a moral “faz parte da vida concreta. Trata da prá-
tica real das pessoas, que se expressam por meio dos costumes, hábitos e valores cul-
turalmente estabelecidos”. Assim, caro(a) aluno(a), como apresentado anteriormente,
reiteramos a vida humana como critério fundamental para avaliação e julgamento
dos comportamentos do ser humano em sociedade. Nesse sentido, abordaremos
tipos de posturas morais, como comportamentos que as pessoas têm tido na atua-
lidade. Portanto, a seguir, apresentaremos, três posturas morais mais comuns que as
pessoas adotam, diante de determinadas situações em que é preciso agir, sendo elas:
Moral Essencialista, Moral Individualista e Ética da Responsabilidade.
Moral Essencialista: esta postura é uma das mais comuns. Ela defende que
as pessoas agem sempre orientadas por um conjunto de normas herdadas, que
devem servir de base para o comportamento moral das pessoas em toda e qual-
quer situação. São normas que funcionam como “regulação” ou como os “meus
deveres”. São assim imperativos categóricos que legitimam toda e qualquer ação
(ARANHA; MARTINS, 2005). Na maioria das vezes, o sentido é absoluto e uni-
versal, ou seja, o que é mentira, aqui, onde moro, também, é mentira, lá longe, do
outro lado do mundo. A pessoa que possui essa postura é muito comum conceber
uma determinada prática moral, como sendo uma verdade universal. O espírito
altruísta é muito forte nessa postura, isto é, sempre valoriza o que é externo e não
interno. Um bom exemplo disso é a pessoa religiosa que acredita em verdades
absolutas, sem a mínima possibilidade de exceções ou justificativas que possam
ser consideradas como válidas. Para esse tipo de pessoa, não há contextualização
ou reforma daquilo que se tem afirmado. Desse modo, a Moral Essencialista é
típica das sociedades mais tradicionais e conservadoras.
Moral Individualista: esta postura advoga uma posição bem diferente da
Moral Essencialista. Não há verdades universais ou absolutas, mas cada um, se-
gundo a sua consciência, tem a sua própria verdade. A razão humana é que de-
termina quando e como agir. Não há um ser superior ou um plano divino que
pré-estabelece e orienta as ações humanas, ou seja, cabe ao ser humano cuidar de
si mesmo, pois seu detentor é ele mesmo. É isso que é pregado na modernidade
atual: autonomia e liberdade dos indivíduos. A máxima individualista é: “Cada
um cuida de si mesmo”. Um exemplo dessa moral é a pessoa que só faz as coisas
pensando em obter vantagem pessoal em tudo que faz. A Moral Individualista é
própria da sociedade capitalista e de mercado atual.
179
Ética da Responsabilidade: por fim, esta postura moral acredita que é o
UNIDADE 4
180
5
ÉTICA, MORAL
UNICESUMAR
E SOCIEDADE
“
• Reunião de homens e/ou animais que vivem em grupos organi-
zados; corpo social.
181
Como se pôde observar, o sentido dado a palavra “sociedade” é diverso, contudo
UNIDADE 4
182
A ética, em especial, em uma perspectiva profissional, segundo Dowbor
UNICESUMAR
(2002), é o eixo central das condições de sobrevivência do sistema atual, pois os
tipos de produtos e insumos que se manipulam hoje, se não houver um compor-
tamento ético, ou seja, uma predisposição individual e institucional de buscar o
bem comum, poderá destruir a vida humana. É isso que se pode imaginar devido
às novas tecnologias de alta potência, e o fácil acesso a elas são fatores que, tam-
bém, contribuem para a destruição da vida humana, um exemplo disso é o uso
de produtos químicos, como o Mercúrio na garimpagem de ouro, que causam
prejuízos nefastos ao meio ambiente e a humanidade.
Afirmar, portanto, a necessidade da ética, no exercício profissional, é uma
abrupta redundância que agride não só a nossa língua, mas, principalmente, o ser
profissional. Sabe por quê? Porque profissão, segundo Nalini (2016, p. 60), “é uma
atividade pessoal, desenvolvida de maneira estável e honrada, ao serviço dos ou-
tros e a benefício próprio, de conformidade com a própria vocação e em atenção
à dignidade da pessoa humana”. Isto quer dizer que ninguém é profissional para
si mesmo, ou seja, a finalidade do exercício profissional é estar a serviço do bem
comum, em outras palavras, a serviço do outro e de sua autorrealização, objeti-
vos de uma mesma ação que tem como grande beneficiada à sociedade. Há uma
expectativa, portanto, da sociedade pelo cumprimento do papel do profissional.
Dessa forma, reflita conosco, caro(a) aluno(a): quantas atividades, modalidades
e tipos de profissões que são envolvidas, diariamente, na produção, na comerciali-
zação e no serviço para garantir a nós as condições básicas de vida (como a água
tratada que chega a nossa casa, o pão que comemos diariamente, a roupa, o lazer,
a moradia, a saúde, a educação, o transporte, a telefonia etc.)?
Continuando a nossa reflexão, veja este exemplo agora: quando ingerimos um
alimento, como a carne de boi, em nossas refeições diárias, fazemos isso natural-
mente, ou seja, não passa pela nossa cabeça que a carne não foi cuidada e super-
visionada como devia. Se não fosse dessa maneira, não a colocaríamos na boca e,
muito menos, não a ingeriríamos. Nós chamamos isso de credibilidade profissional;
é isso que pensamos sobre a empresa que nos vende a carne bem como do profis-
sional que nos atende na hora da compra. Por isso, a ética profissional é um bem
necessário. Contudo agir de maneira conjugada, pensando no seu próprio bem e
na coletividade, é algo que não é muito simples de fazer, quando vivemos a reali-
dade do dia a dia. Muitas vezes, somos tentados a tirar esse objetivo nobre do bem
comum da nossa vida profissional. Isso ocorre quando você não somente ouve, mas
183
escuta vozes, dizendo sedutoramente que você vai ganhar mais sem precisar fazer
UNIDADE 4
muito esforço, como: “ninguém está vendo”,“se for pego, eu nego até a morte”,“todo
mundo faz”, “não se preocupe, isso não vai dar em nada”, “as pessoas não merecem
que eu faça o melhor para elas”. Ao dar atenção a essas máximas, você, enquanto
profissional, estará negando o papel de um profissional sério, decente e ético.
UNICESUMAR
muito bem, quais as intenções e efeitos ou consequências que envolvem as deci-
sões. Portanto, ser responsável, enquanto profissional, é um dever, é uma máxima
absoluta, não se pode eximir das obrigações. Segundo Srour (2005, p. 68), “todo
agente social poder ser responsabilizado pelas escolhas que faz. Não lhe é per-
mitido alegar neutralidade ou desconhecimento de causa”. Essa afirmação deve
ser um mote na vida profissional, em número e grau, para quem quer trilhar os
caminhos de uma profissão ética.
Por fim, a terceira atitude é o compromisso. Ao profissional cabe desenvolver
uma relação baseada em valores sólidos consigo mesmo e com o seu local de
trabalho. Ser comprometido é cumprir com os deveres que são esperados pelas
contrapartes da profissão. Peguemos como exemplo um empresário. Este deve
ser comprometido com seus colaboradores, com seus clientes e com a sociedade
como um todo. Esta consciência profissional “do compromisso”, também, é uma
máxima que deve ser encarada como absoluta. Empreendedores que não são
comprometidos com seus colaboradores começam mal. E o tempo mostrará que
isso, também, ocorrerá com clientes e com a sociedade. Ser comprometido é ter
uma relação de pertença ao lugar e as pessoas em que vive, ou seja, ter uma relação
forte profissional com as pessoas e com o lugar onde está inserido.
explorando Ideias
pensando juntos
Uma sociedade que tem como bem maior a vida humana, poder ser considerada huma-
nista, filosoficamente uma sociedade liberal. Contudo, quando se observa que seus fun-
damentos legais, por exemplo, não dignificam o ser humano, ela é de fato uma sociedade
liberal?
185
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 4
Os tempos não estão para peixe. Essa afirmação suscita, imediatamente, a seguinte
questão: em que sentido ou em que área do nosso tempo não está bom? Sem ser
catastrófico, é claro, mas sendo o mais realista possível, na área das relações e dos
comportamentos entre as pessoas na sociedade. Isso nos remete à ética e à moral.
Dizer que a sociedade está em crise seria redundante e pouco original. Contudo
negar que há comportamentos e atitudes morais, na sociedade, que atinge à pró-
pria vida humana, não é uma loucura. Afinal, pode-se fazer algo, moralmente,
aceito, mas não eticamente. Esse entendimento pode ser compreendido como
um substrato precioso de que estudou todas as aulas desta unidade e pôde apre-
ciar, entender, distinguir e aprofundar conceitos fundamentais sobre os temas
abordados nesta unidade, em especial.
Com sequência selecionada do plano de estudo, objetivamos construir um
entendimento e compreensão crítica dos temas estudados: o porquê da ética e da
moral hoje; compreendendo os termos “moral” e “ética” em Filosofia; os tipos de
éticas: da Grécia à atualidade; a moral e suas teorias e seu caráter sócio-histórico
e ética, moral e sociedade; bem como ter alcançados objetivos: assinalar a impor-
tância da ética e da moral na atualidade; diferenciar filosoficamente os termos
“ética” e “moral”; abordar os fundamentos e as concepções de ética; apresentar as
principais teorias e fundamentos da moral e analisar a relação entre ética, moral
e sociedade.
Assim como é importante o estudo sobre o conhecimento humano para
apreender a realidade e, dessa maneira, possibilitar ações construtivas para pre-
servação da própria espécie humana, também, é importante o estudo sobre ética
e moral bem como a relação desses temas com a realidade social, uma vez que,
por meio do agir e do comportamento humano, pode-se alcançar a tão desejada
e anelada convivência social. É importante ressaltar que, sem esta, é impossível
haver condições para o desenvolvimento da vida individual e social.
186
na prática
2. Os temas da ética e da moral fazem parte do nosso cotidiano, por exemplo, quando
um entrevistador, em uma seleção de emprego, solicita ao entrevistado a leitura do
código de ética da empresa em que ocorre o processo seletivo. Assim, o código de
ética possui os valores, princípios (os quais estão no campo da ética) bem como as
regras e normas que expressam as exigências da empresa (as quais estão no campo
da moral). Leia, atentamente, as afirmações a seguir:
I - Princípios.
II - Ação-Reflexão.
III - Leis.
IV - Ação-Comportamento.
187
na prática
4. Na quarta aula, foi advogado, do ponto de vista filosófico, que a vida humana é o
critério fundamental para avaliação e julgamento dos próprios comportamentos do
ser humano em sociedade; contudo ressalta-se que o sentido dado a vida é mais
amplo possível. Nessa direção, do ponto de vista moral, foram estudadas posturas
morais, como comportamentos esperados das pessoas na atualidade, sendo elas:
Moral Essencialista, Moral Individualista e Ética da Responsabilidade. Leia, atenta-
mente, e marque a alternativa correta sobre a moral essencialista:
188
na prática
I - Atitude de criticidade.
II - Atitude de competência.
III - Atitude de responsabilidade.
IV - Atitude de compromisso.
189
aprimore-se
ÉTICA DA RESPONSABILIDADE
No âmbito da ética, seja ela antiga, moderna ou contemporânea, uma das questões
centrais é aquela que trata da fundamentação ou justificação de princípios ou nor-
mas morais. Para que se responda de modo seguro e sistemático e, portanto, não
fragmentário e precário à pergunta “o que devo fazer?”, que no entender de Kant é
aquela que resume todos os esforços no campo da moral, mais do que uma indica-
ção, é necessário oferecer razões.
Com efeito e, até mesmo, para além do campo de investigação filosófica, os seres
humanos não se contentam simplesmente em obedecer cegamente e o tempo todo
uma regra, autoridade ou instituição, sem que se interpelem a respeito da validade
ou legitimidade da mesma. Cortina (2003, p. 79) acertadamente observa que: “Dian-
te da imposição ou da proposição de normas, ante o convite para se seguir deter-
minados ideais de conduta, os homens perguntam – com tanto mais frequência,
quanto mais críticos – ‘porquê?’”.
Deste modo, ao filósofo da moral cabe a tarefa de se posicionar de maneira
definida com relação à exigência de apresentar as razões para que determinados
princípios ou formas de conduta possam ser aceitos e seguidos por todos os seres
racionais.
No cenário filosófico contemporâneo as múltiplas perspectivas ou tentativas de
resposta ao problema de se conceber e justificar um princípio para a moralidade su-
gerem de modo indireto que isso é quase impossível ou que, no melhor dos casos,
teremos apenas tentativas menos problemáticas que outras ou, como afirma Tu-
gendhat em suas Vorlesungen über Ethik, respostas mais plausíveis ou menos plau-
síveis (1993, p. 30)1. De um lado este incessante recomeçar ou reelaborar no plano
de fundamentação da moral fortalece o caráter eminentemente crítico da filosofia
da moral e propicia um aprimoramento dos argumentos, o que resulta num perma-
nente desenvolvimento da própria ética. Por outro lado, a pluralidade de perspecti-
vas sinaliza indiretamente uma crise de orientação que, pode até mesmo reforçar a
justificação de uma postura de ceticismo ou relativismo ético2.
190
aprimore-se
191
eu recomendo!
livro
192
anotações
5
POLÍTICA E
SOCIEDADE
PROFESSOR
Me. Rubem Almeida Mariano
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O porquê da política hoje • As
teorias políticas clássicas: da Grécia à atualidade • Política e as teorias liberais • Política e as teorias
socialistas • Política, direitos humanos e políticas públicas.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apontar a importância da política hoje • Expor filosoficamente as ideias e as teorias políticas • Listar as
características fundamentais do pensamento político do liberalismo • Identificar as características fun-
damentais do pensamento político do socialismo • Analisar as implicações político-sociais da relação
entre as políticas públicas e os direitos humanos.
INTRODUÇÃO
DA POLÍTICA
hoje
Nesta aula, diferentemente das outras, as quais exporemos uma lista, de certa
forma, considerável de razões ou motivos sobre o objeto a ser abordado, quere-
mos ressaltar e destacar algumas ideias principais sobre a importância da política
para uma sociedade democrática, a partir do filósofo Aristóteles, uma vez que,
nas próximas aulas, haverá tempo e espaço para apresentar outros pensadores
sobre esse mesmo tema. Antes, porém, de dar continuidade, caríssimo(a), abor-
daremos um outro tema importantíssimo para o pensamento crítico: o óbvio.
Isso mesmo! Sobre aquilo que é evidente, inquestionável e irrefutável. Contudo,
quando se estuda esse tema – o óbvio –, é necessário fazer algumas considerações
imprescindíveis, neste momento.
Dessa forma, iniciaremos, dando um brevíssimo passeio sobre os sentidos da
palavra “óbvio”, conforme Dicio ([2020], on-line)17. A origem etimológica desta
palavra vem do latim obvius e é empregada, morfologicamente, como substan-
tivo ou adjetivo: como substantivo masculino óbvio é “o que é evidente”. Veja
esse exemplo singular de Albert Einstein: “Tornou-se chocantemente óbvio que
a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade”. Isso quer dizer que o óbvio
está associado aquilo que é incontestável como se tivesse vendo, absolutamente,
tudo a olho nu; observa-se que o óbvio se apresenta e se coloca não em todo o
tempo, mas pode surge em um dado momento da nossa percepção, ou seja, nem
sempre ele se dá desde o primeiro momento que olhamos ou pensamos sobre
determinada situação. Estarrecedor! Possivelmente.
196
Nessa direção, o óbvio sempre chama a atenção acentuadamente quando ele se re-
UNICESUMAR
vela e se apresenta de forma impositiva, taxativa ou inquestionável, como se o mesmo
fosse um verdadeiro insight (clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo)
na concepção psicanalítica (teoria fundada por Sigmund Freud, que advogava que o
processo de entendimento da vida consciente se dá quando a consciência apreende
verdades ocultas do mundo inconsciente da própria pessoa). Como adjetivo, óbvio
significa que “cujo teor é de fácil entendimento; que salta aos olhos; claro e evidente.
Que não é suscetível de dúvidas; em que não há incerteza; evidente ou incontestável”.
Neste último sentido da palavra óbvio, ou seja,“ser algo evidente”, Descartes, o pai
da Filosofia Moderna, teve como um dos grandes objetivos do seu pensamento ra-
cionalista ter a mais absoluta certeza sobre o que é o óbvio. Todavia o filósofo nunca
considerou essa tarefa como sendo algo de fácil realização, pois, para ele, a existência
da verdade só seria possível por meio da exposição das condições necessárias que
legitimaram o ser das coisas, ou seja, a verdade está na demonstração da sua mais
pura evidência; logo, Descartes acreditava que a verdade só seria possível quando
ela se apresentasse de tal forma, isto é, em hipótese alguma, poderia ser contestada
ou questionada nos seus fundamentos, mas expressa única e exclusivamente na-
quilo que ela é. Por isso, Descartes chegou à conclusão que, somente, o pensamento
é a única coisa que não se pode negada, sendo assim afirmou: “Penso, logo existo”
(DESCARTES, 2001).
Do ponto de vista filosófico, porém, em especial, o óbvio nem sempre é tão ulu-
lante, pois o que, para um filósofo, estava dado como certo e definitivo, para outro,
não era assim, ou seja, a partir de novas elaborações, este filósofo (que discordava
do outro sobre algo ser certo e definitivo) via o óbvio como um novo elemento,
totalmente, diferente do outro filósofo, ou, até mesmo, construía teorias e metodo-
logias contrárias às afirmações que havia se constituído como verdades absolutas
e inquestionáveis, como são os casos entre Platão e Aristóteles; Estoicismo e Epi-
curismo; Descartes e Locke; e um dos casos mais emblemáticos: entre o mestre e
seu discípulo, ou seja, os filósofos Hegel e Marx, respectivamente, que produziram
epistemologias divergentes com o idealismo e o materialismo alemães.
Explicaremos melhor, acompanhe, caro(a) aluno(a), o seguinte raciocínio:
quando temos dois seres humanos, indivíduos, tratando sobre qualquer assunto
em questão, um deles, ao olhar de um determinado ponto de vista (lugar, seja este
físico ou não. Se for físico, de cima de uma mesa, a partir de uma cidade do interior,
ou, se não for físico, de uma determinada classe social, religião, estilo de vida, pers-
pectiva, cenário, realidade, experiência etc.), afirma, de uma determinada maneira,
197
que uma coisa pode ser assim ou assada; porém, o outro pode diferir dessa opinião.
UNIDADE 5
Por que isso ocorre? Possivelmente, o óbvio que é visto por um e não por outro se
deva porque ambos estão olhando um mesmo objeto a partir de lugares diferentes.
Explicando melhor: isso ocorre, caríssimo(a), por causa da “posição”, do lugar,
que o ser humano se coloca, o chamado “ponto de vista”, ou seja, o que é visto é visto
sempre a partir de um determinado ponto (lugar); dessa maneira, o que é dito, afir-
mado, discutido ou defendido por uma determinada pessoa pode não ser vista e,
assim, defendida por uma outra, pois esta se coloca, por sua vez, em uma “posição”
(lugar) diferente; dessa maneira, esta última pode não considerar óbvio aquilo que é
tido como verdade absoluta pela primeira pessoa. Devido à divergência de pontos de
vista é que surgiram a necessidade de construir as condições políticas e sociais para
a convivência social entre as pessoas e a importância da elaboração e da aplicação
das leis, das normas, da ética, da moral, dos padrões linguísticos e da política.
Esta última, portanto, é um bem necessário e fundamental para esta sociedade,
a qual vivemos. Por exemplo, se afirmarmos que “a política, no seu sentido mais
amplo, é a única saída para o ser humano conviver em sociedade”. Sabe o que você
pode fazer? Dar aquela olhada nessa afirmação acima, afasta-se da tela do seu note
ou computador, encosta-se na sua cadeira ou poltrona e abrir aquele grande, largo e
questionador sorriso e dizer consigo: “esse professor deve está de brincadeira comigo
– a política, a única saída para a sociedade brasileira – trabalhar sim, essa é a saída!
Esse aí deve ser um daqueles doutrinadores fanáticos, tentando doutrinar pessoas
com seus pensamentos envelhecidos”.
Primeiramente, caríssimo(a), respeito a sua posição e concordo, em parte, que o
trabalho sempre é a saída de uma sociedade como a nossa, pois é ele que produz, de
fato, a nossa riqueza. Mas não acredito que você pense que não seja importantíssimo
buscar a convivência social, pois, para se poder trabalhar, a convivência é funda-
mental. Quero lembrá-lo que essa minha afirmação tem o objetivo de fazer única
referência à forma e não ao conteúdo, isto é, não estou defendendo uma política par-
tidária A ou B ou C, aqui; mas estou afirmando, categoricamente, que necessitamos
de ter uma forma(s), maneira(s) ou modo(s) que possibilita(m) a convivência social,
pois, sem a qual, não teremos sequer a possibilidade de produzir, pois muito do que
fazemos por meio do trabalho é de forma coletiva, em grupo, dupla, turma ou equipe.
Compreendo que o ser humano, definitivamente, não se basta assim mesmo. Agora,
a verdade tem que ser dita que essa(s) forma(s), maneira(s) ou modo(s), pode(m)
até vir dos céus, como um milagre, mas ela(s) terá(ão) de passar, necessariamente,
pela política, seja ela partidária ou não.
198
No Brasil, as leis e normas sociais são feitas e aprovadas nos parlamentos mu-
UNICESUMAR
nicipais, estaduais e federais, a partir dos conflitos sociais que surgem e se estabe-
lecem dentre os mais diversos grupos, segmentos e movimentos sociais, os quais,
também, buscam o seu espaço na determinação da forma de ser do Estado, ou seja,
como indutor da convivência social entre seus habitantes. Desse modo, seja qual for
a forma encontrada para promover a convivência social, esta sempre se dará por
meio do fazer político; quer partidário, institucional, dos movimentos sociais ou,
até mesmo, dos anseios individuais. Assim, pode ser que a convivência social não
se faça, necessariamente, por meio desses meios organizados coletivamente, mas,
sim, a partir de interesses individuais, como bem ressaltava Weber (1999) ao tratar
dos anseios coletivos, que não, necessariamente, expressam-se por meio de ações
sociais e políticas organizadas sistematicamente, por exemplo, o momento do voto
nos sistemas democráticos.
Portanto, caríssimo(a), o que “liga”, dá “sentido” ou “possibilita” a convivência
social, em uma sociedade democrática de direito, como a nossa, é a construção e a
constituição, por meio da cena do espaço público, no qual forças e interesses sociais
atuam e se expressam na ocupação política dos três poderes do Estado brasileiro
(legislativo, executivo e judiciário), que se inter-relacionam, de forma independente
e harmônica. Sendo assim, a política não se reduz, em absoluto, à política partidá-
ria, esta, porém, necessariamente, expressa aquela bem como as outras instituições
presentes na sociedade, como os meios de comunicação, as forças produtivas do
capital, do trabalho e do poder simbólico, como as religiões, as forças armadas, os
movimentos sociais e os mais diversos indivíduos que se fazem presentes na socie-
dade (MARIANO, 2007). Dessa maneira, aquilo que é ou pode parecer óbvio para
um, pode não ser ou não parecer para outro e assim vice-versa; por isso, a tarefa da
filosofia é, mediante o conhecimento racional, buscar entendimentos, por mais con-
flituosos que sejam ou pareçam em uma determinada situação, e utilizar a reflexão
filosófica crítica para construir saídas e condições para a convivência social entre
as pessoas e seus interesses, em sociedade.
É importante ressaltar que, do ponto de vista filosófico, cada pessoa e certamen-
te você, desenvolve as condições e a capacidade de pensar por si só (ler e analisar,
atentamente, tudo que lhe for apresentado pela sua própria condição intelectual, me-
diante o exercício da reflexão crítica). Por isso, é importante que você se atente que,
na sociedade em que vivemos, ou seja, a do conhecimento, a conquista das mentes e
das consciências das pessoas é o grande objetivo para se fazer delas correligionárias
ou adeptas a uma determinada forma de pensar ou agir sobre qualquer tema que
199
esteja relacionado, por exemplo, à economia, política, comportamento social ou à
UNIDADE 5
UNICESUMAR
a razão acima de suas paixões para se estabelecer a convivência social, na qual haja
uma vida feliz, individual e coletiva. Esse intendo é feito por Aristóteles, a partir de
sua concepção sobre o ser humano como ser social, que, necessariamente, precisa
ter seus comportamentos voltados, única e exclusivamente, para o bem comum,
uma vez que, naturalmente, o ser humano precisa conviver com outros como, única
e exclusivamente, forma de preservação da própria vida humana. Portanto, para o
filósofo, cabe à política a tarefa de constituir todas as condições para que ocorra a
tão esperada convivência social e, com ela, necessariamente, a felicidade individual
e coletiva; contudo, para Aristóteles, o fim último da sociedade democrática, a qual,
também, repousa na finalística do bem comum, só é possível se houver a prática da
política como atitude de todos que vivem na sociedade, valorizando e preservando a
própria constituição e condição da sociedade, da pólis, da cidade, como espaço vital
de convivência (existência do coletivo, de todos), uma vez que o ser humano é um
animal social e, também, político. Assim, Aristóteles (1998, p. 7) argumenta sobre
a importância da cidade, da sociedade, como sendo o bem supremo, na qual todos
devem, necessariamente, buscar o bem comum como fim último da preservação
da humanidade:
“
Vemos que toda a cidade é uma espécie de comunidade, e toda co-
munidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de
todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um
bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que
a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras visa
ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade, isto é, a
comunidade política.
Nesse sentido, cabe a todos, que vivem em sociedade, buscar preservá-la como bem
de todos os bens, isto é, os quais só são possíveis serem usufruídos se houver a va-
lorização da própria sociedade como bem maior e supremo, uma vez que todas as
coisas têm uma finalidade e todos os que vivem em sociedade têm suas ações que,
necessariamente, devem cooperar para a manutenção da cidade, da sociedade, ou
seja, do espaço público que se vive, a cidade. Por isso, Aristóteles (1998) entende que,
assim como há muitas ações, artes e ciências (profissões), em uma sociedade, que
buscam realizar o seu determinado fim, sem, contudo, perder o sentido maior para
onde todos devem convergir, que é para o bem maior, para o filósofo, a sociedade,
201
cabe à política, como um traço natural do ser humano, conduzir as ações, as artes e
UNIDADE 5
as ciências para um único fim por meio do bem comum, que é a convivência social
para a felicidade individual e coletiva.
Dessa maneira, o filósofo aborda a política como sendo de natureza da pólis, da
cidade, que tem o bem humano, como finalidade, e o bem do Estado, como bens
maiores (em que prevalece o Estado em relação ao indivíduo, como forma de pre-
servar, fundamentalmente, o ser humano em todas as suas dimensões), os quais têm,
como finalidade, por sua vez, a preservação das condições da vida humana para a
sua felicidade individual e coletiva:
“
Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina
quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as
que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as
faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e
a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais
ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não
devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das ou-
tras, de modo que essa finalidade será o bem humano. Com efeito,
ainda que tal fim seja o mesmo tanto para o indivíduo como para o
Estado, o deste último parece ser algo maior e mais completo, quer
a atingir, quer a preservar. Embora valha bem a pena atingir esse
fim para um indivíduo só, é mais belo e mais divino alcançá-lo para
uma nação ou para as cidades-estados (ARISTÓTELES, 1998, p. 3).
Portanto, caríssimo(a), espero que tenha entendido que a política é uma atividade hu-
mana necessária e indissociável da sociedade democrática, pois, segundo Aristóteles,
esse modo de viver, em sociedade, só é possível quando todos estão convencidos de
que devem buscar o bem comum, para que todos sejam felizes, no sentido de preser-
vação da própria sociedade, que deve ser lida como a preservação da espécie humana.
Nessa direção, por fim, a felicidade precisa, necessariamente, de condições para se
estabelecer e se tornar uma realidade. Portanto, a nossa Constituição (BRASIL, 1988,
p. 25) afirma, no Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo II, Dos
Direitos Sociais, no Art. 6º, que “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimen-
tação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social,
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição”. Para finalizar, caríssimo(a), afirmaremos que é óbvio, portanto,
que a política é o único meio que se coloca como necessário, em uma sociedade de-
202
mocrática, para que as condições de uma vida digna e feliz, no sentido aristotélico,
UNICESUMAR
seja cumprida e garantida, individual e coletivamente, a todos os cidadãos e cidadãs
indistintamente.
2
AS TEORIAS POLÍTICAS
CLÁSSICAS:
da grécia à modernidade
“
1. O significado de governo, entendido como direção e adminis-
tração do poder público, sob a forma do Estado. O senso comum
social tende a identificar governo e Estado, mas governo e Estado
são diferentes, pois o primeiro diz respeito a programas e projetos
que uma parte da sociedade propõe para o todo que a compõe,
enquanto o segundo é formado por um conjunto de instituições
permanentes que permitem a ação dos governos [...].
204
soberano ou um único líder ou, ainda, por um grupo restrito de entendidos ou, até
UNICESUMAR
mesmo, pelo povo, de forma direta ou participativa, ou, ainda, e por fim, por meio
de seus representantes, como acontece, em nosso país, quando elegemos vereadores,
deputados estaduais e federais para as respectivas câmaras, municipal, estadual e
federal. Nesse sentido, caríssimo(a), estudaremos, de forma panorâmica, alguns dos
pensadores que contribuíram ou foram referências quando elaboraram filosofias ou
teorias a respeito do tema da política ou do modo de como se deveria organizar a
sociedade em que estes se encontravam inseridos, como são os casos dos pensado-
res: Platão (427-347 a.C.) (do período clássico, uma vez que já estudamos algumas
das ideias de Aristóteles); alguns dos filósofos, teólogos e pensadores medievais,
principalmente, Agostinho (354-430 d.C.), Dante Alighieri (1265-1321 d.C.) e Mar-
sílio de Pádua (1275-1342 d.C.); no Renascimento, com Maquiavel (1469-1527
d.C.); no início da modernidade, com os contratualistas, Thomas Hobbes (1588-
1679 d.C.), John Locke (1632-1704 d.C.) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778 d.C.).
205
sabedoria, que, com poder político, deveriam sair do meio dos filósofos. Portanto,
UNIDADE 5
UNICESUMAR
honestidade e de decência, o papado é tão perigoso para o gênero humano que
causaria, senão detiveram, um prejuízo intolerável à civilização e à pátria”.
No Período do Renascimento e da Idade Moderna, quando contemporâneos,
de então, voltaram o seu olhar para a Grécia Antiga, a partir das novas descobertas
e dos novos escritos da tradição grega e romana, por exemplo, com a finalidade de
lançar luzes para os novos tempos que estavam se descortinando ou emergindo
com novos valores, em que se destacam os valores humanísticos e científicos,
diante de um contexto de desenvolvimento das cidades, da ascensão da burguesia
comercial e do fortalecimento das monarquias nacionais, esse contexto, por sua
vez, dinamicamente, era constituinte e constituído, ao mesmo tempo, pelos novos
ventos, pensamentos e entendimentos de sociedade surgiam alimentando a nova
realidade que ia se fazendo a cada momento. Como expressão desse momento
fértil e dinâmico, temos pensadores que assinalaram ideias como manifestação
de anseios de todo um tempo como, também, eles mesmos foram influenciadores
do seu próprio tempo com suas ideias, como é caso do ilustre filósofo Maquiavel
(1469-1527 d.C.), no Renascimento, considerado um dos principais filósofos
da ciência política; na modernidade, temos os filósofos contratualistas: Thomas
Hobbes (1588-1679 d.C.), John Locke (1632-1704 d.C.) e Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778 d.C.).
Maquiavel (1469-1527 d.C.): não é por um mero acaso que este filósofo é
considerado um dos principais filósofos da ciência política. Enquanto os Períodos
Clássico e Medieval compreendiam a política a partir da normatização, ou seja,
a idealização do bom governo, seja ele cristão ou não, Maquiavel, por meio do
seu olhar (relatado em sua obra “O Príncipe”) voltado para a realidade, elaborou
ideias como se deveria fazer política para se conquistar o poder e não perdê-lo;
assim, a partir desse olhar fixo em direção do mundo vivido e não do mundo das
ideias desejadas, Maquiavel olhava a política como ela, de fato, era, mediante as
relações que se davam entre as pessoas, suas posições, seus interesses e da relação,
principalmente, do monarca com seus súditos e seus respectivos climas de con-
flitos e instabilidades, que assolavam a Itália, na época de então, sob a expectativa
de unificação, marcadas pelas lutas internas e externas (ARANHA; MARTINS,
2005). Nesse sentido, a obra principal desse filósofo, “O Príncipe”, é, sem dúvida
nenhuma, o coroamento e a passagem de uma forma de ver a política, isto é, vê-la
não mais de forma idealizada, para atingir e interferir uma determinada realidade,
mas, sim, como a partir daquilo que os seres humanos fazem para conquistar e
207
manter-se no poder político. Nesse sentido e a partir desse contexto, Maquiavel
UNIDADE 5
208
“
• Pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade
UNICESUMAR
social e política (a Filosofia da Ilustração foi decisiva para as ideias
da Revolução Francesa de 1789);
cia social, realizar um contra social entre todos, em que todos abririam mão de
seus direitos à liberdade e a transferiram a uma única pessoa ou a um grupo de
pessoas. Essa nova ordem deve ser celebrada como um novo pacto onde todos
passam suas vontades e desejos para alguns poucos governarem, determinando
o que, quando e como se pode fazer socialmente. Assim, a compreensão de Es-
tado de Hobbes deve ser entendido como pactuado ao soberano, isto é, quando
a sociedade outorga a uma pessoa ou a um grupo de pessoas o poder para de-
terminar as regras e as condições de vida em sociedade. Dessa forma, uma vez
concedido o poder ao Estado este não pode ser contestado, mas respeitado. Por
isso, também, que este, na concepção hobbesiana, pode utilizar do poder da força
para garantir a ordem entre aqueles que, de uma forma ou de outra, concederam
toda a autoridade ao Estado.
John Locke (1632-1704 d.C.): Locke era filósofo, médico e filho da burgue-
sia comerciante. Defensor da concepção empirista, apoiou as ideias da implanta-
ção do liberalismo do seu tempo, participando das revoluções liberais ocorridas
na Europa e nas Américas. Um dos grandes teóricos do liberalismo, em sua obra
“Dois tratados sobre o governo civil”, apresenta os fundamentos do liberalismo
nascente. Sobre a natureza humana, afirmava a necessidade de o ser humano se
unir em um contrato social para constituir a sociedade civil organizada. Ainda,
Locke sempre afirmava que os direitos naturais humanos deveriam ser obser-
vados para limitar o poder do Estado; assim, o Estado, ciente da possibilidade
das insurreições, quando ocorre de o governo trair a confiança depositada nele
mesmo, caberia, portanto, ao próprio Estado viabilizar e tutelar o livre exercício da
propriedade, da palavra e da iniciativa econômica. Nesse sentido, caberia, ainda,
ao Poder legislativo, como poder supremo, o qual todas as instituições devem
fazer referência e estarem submetidas ao que seria legislado, votado ou decidido.
É importante, ressaltar, por fim, assim como a democracia ateniense era limitante,
excluindo pessoas dela, a concepção política apresentada por Locke, também,
entendia que, somente, os que tinham fortunas podiam gozar, plenamente, da
cidadania, podendo votar e ser votado (ARANHA, 2012).
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778 d.C.): guardadas as devidas e justas
proporções, Rousseau era um crítico do absolutismo de governo. Com esse filó-
sofo é que surgiu a modalidade do contrato social da democracia direta. Quem
210
deve governar ou ter o poder político não é uma pessoa ou um grupo restrito
UNICESUMAR
de iluminados ou soberanos, mas o povo, de forma direta. Isso porque o ser
humano nasce livre e bom, contudo este, quando emerge na sociedade, que é
desigual entre ricos e pobres, poderosos e fracos, senhores e escravos, sofre as
consequências e, assim, corrompe-se. O poder, nas mãos do povo, deve ser ma-
terializado e expressado por meio de leis, e estas, como sendo a vontade geral
de todos os cidadãos e cidadãs, devem ser aprovadas e legitimadas por meio de
assembleias. Assim, as leis, quando feitas ou ratificadas pelo povo cuja soberania
é inalienável, devem, também, honrá-las e respeitá-las como sendo a elas seus
súditos (ARANHA, 2012).
Ainda, na modernidade e posteriormente na contemporaneidade, surgiram
teorias e concepções políticas como o liberalismo, socialismo e neoliberalismo,
além disso, fortaleceu-se a concepção de Estado, instituição mais forte e comple-
xa, criada e sustentada pelos mais diversos países e governos, trataremos desses
assuntos nas próximas aulas. Por ora, para concluir esta parte, é fundamental
ressaltar que a política nasce como um forma idealizada de organização social,
onde ocorrem normatizações e determinações a partir de referenciais filosóficos
específicos; contudo, ao longo dos tempos, o ser humano, como grande artífice da
política, percebe que esta é um meio necessário de organização social e que não
está associada, necessariamente, à vida privada, mas sempre deve ser considerada,
uma vez que cabe à política atender às necessidades mais elementares e básicas
do ser humano, individual e socialmente.
A partir de Maquiavel e dos novos tempos de uma nova forma de governar,
porém, estabelece-se: do privado para o público; em que os fundamentos da
política deem conta de atender ao espírito republicano, não mais do poder a
um soberano ou a um grupo de iluminados, mas construir novos sistemas po-
líticos, instituições e organizações, que possibilitem o livre exercício desse novo
homem que se faz a partir do Renascimento e que, até hoje, está em construção,
em especial, pela esfinge do Estado republicano, democrático de direito e liberal
bem como as suas mais diversas nuances, as quais se constituem verdadeiras
antíteses, como as concepções do totalitarismo, das ditaduras democráticas e do
fascismo italiano e alemão; dos sistemas de governos social-democráticos, do
socialismo, do socialismo democrático, do liberalismo democrático e totalitário,
dentre outros.
211
3
POLÍTICA E AS
UNIDADE 5
TEORIAS
liberais
“
• Conhecimento não prático, ideal, independente das aplicações.
212
Nota-se, de antemão, que essa palavra é polissêmica e, por isso, inspira cuidados
UNICESUMAR
na busca de um sentido específico. Em nosso estudo, portanto, o sentido mais
aproximado que se deve entender por teoria é um conjunto sistematizado (ra-
cionalmente lógico e científico) de ideias ou leis sobre um assunto. Por Liberal,
conforme Dicio ([2020], on-line, grifo nosso)20, essa palavra pode ser empregada
como adjetivo ou substantivo:
“
Adjetivo:
213
ideias de liberdade intelectual e o respeito à tolerância, as quais se constituem
UNIDADE 5
com algumas das principais ideias liberais, que iriam florescer, mais exatamente,
no Período Iluminista francês, ainda, no século XVII. O segundo, formado em
filosofia e economia, nascido na Escócia, mas, radicalizando, vivido na Inglaterra,
foi considerado o pai da economia moderna e um dos grandes elaboradores do
liberalismo econômico. Viveu em um cenário turbulento no século XVIII.
Segundo Cotrim (2006), inicialmente, o Estado surge para possibilitar as con-
dições de convivência social entre aqueles que vivem em uma mesma cidade ou
região. Assim, “o estado teria a função de garantir a segurança dos indivíduos
e de seus direitos naturais, como a liberdade e a propriedade, conforme expõe
Locke em sua obra ‘Segundo Tratado sobre o Governo’” (COTRIM, 2006, p. 278).
A seguir, apresentaremos algumas ideias dessa obra, “Segundo Tratado sobre
o Governo”, que revela as fontes filosóficas e teóricas do liberalismo em Locke
(1876, p. 82-94):
■ Sobre o poder político, segundo Locke, "é o direito de fazer leis, aplicando a
pena de morte ou [...] qualquer pena menos severa, a fim de regulamentar e
de preservar a propriedade, assim como de empregar a força da comunida-
de para a execução de tais leis e a defesa da república contra as depredações
do estrangeiro, tudo isso tendo em vista apenas o bem público".
■ Compreende Locke: "é muito melhor o estado de natureza, onde os ho-
mens não são obrigados a se submeter à vontade injusta de outro homem:
e, onde aquele que julga, se julga mal em causa própria ou em qualquer
outro caso, tem de responder por isso diante do resto da humanidade”.
■ Sobre o estado de guerra, entende Locke: "evitar este estado de guerra [...]
é uma das razões principais porque os homens abandonaram o estado de
natureza e se reuniram em sociedade".
■ Sobre a escravidão “o homem, pela sua liberdade natural, deve estar livre
de qualquer poder superior na terra, exceto se há um poder estabelecido,
por consentimento na comunidade civil, que rege leis decretadas pelo le-
gislativo, de acordo com a confiança nele depositada".
■ O poder legislativo (novo estado) possui como objetivo primordial manter
o bem coletivo, proporcionar segurança, paz, enfim atuar em prol de todos
que abriram mão da sua liberdade e confiaram no poder da sociedade
para representar os indivíduos e aplicar as leis estabelecidas - conhecidas
pelo povo. A função do poder supremo no exterior é prevenir ou reparar
as agressões do estrangeiro.
214
Ainda, contemplando o aspecto histórico, Chauí (2015, p. 521) observa que, na
UNICESUMAR
teoria liberal, o Estado tem função tríplice:
“
• por meio das leis e do uso legal da violência (exército e polícia),
garantir o direito natural de propriedade, sem interferir na vida
econômica, pois, não tendo instituído a propriedade, o Estado não
tem poder para nela interferir. Donde ideia de liberalismo, isto é,
o Estado deve respeitar a liberdade econômica dos proprietários
privados, deixando que façam as regras e as normas das atividades
econômicas;
216
assim, respostas diferentes foram dadas,
UNICESUMAR
na Itália e na Alemã, surgiu o fascismo
e o nazismo. Contudo, na América e na
Inglaterra, a resposta foi a intervenção do
Estado na economia com a política do es-
tado do bem-estar social (Welfare State),
que consiste, basicamente, no controle da
economia pelo Estado. O principal nome
que fundamenta essa concepção foi John
Maynard Keynes (1883-1946) (ARA-
NHA, 2012).
Por fim, a mais recente transformação
do liberalismo seguiu no caminho, dia-
metralmente, inverso da saída da crise de
1929, o caminho foi o aprofundamento
do liberalismo, diante da recuperação da
economia, mas face às alegações que o
Estado estava sendo pesado ao desenvol-
vimento. Assim, na década de 60, diante
da crise fiscal do Estado e o aumento do
déficit público da inflação e da instabili-
dade social, surgiu a teoria do novo libe-
ralismo, denominado neoliberalismo que
prega, basicamente, o retorno do Estado
mínimo, ideia fundamentada, nas teorias
do austríaco Friedrich von Hayek (1899-
1992). Na prática, Estados Unidos e Ingla-
terra implementaram políticas de privati-
zação em massa (universidades, prisões,
serviço de aposentadoria e empresas esta-
tais), cortes com políticas sociais e gastos
com pessoal (ARANHA, 2012).
217
4
POLÍTICA E AS
UNIDADE 5
TEORIAS
socialistas
“
A guisa de simples reflexão sobre como o horizonte da imaginação
histórica está sujeito a mudança, vemo-nos, in medias res, obrigados
a aceitar a inexorável pertinência do conceito de ideologia. Até uma
ou duas décadas atrás, o sistema produção-natureza (a relação pro-
218
dutivo-exploratória do homem com a natureza e seus recursos) era
UNICESUMAR
percebido como uma constante, enquanto todos tratavam de imagi-
nar diferentes formas de organização social da produção e do comér-
cio (o fascismo ou o comunismo como alternativas ao capitalismo
liberal); hoje, como assinalou Fredric Jameson com muita perspicá-
cia, ninguém mais considera seriamente as possíveis alternativas ao
capitalismo, enquanto a imaginação ao popular é assombrada pelas
visões do futuro «colapso da natureza”, da eliminação de toda a vida
sobre a Terra. Parece mais fácil imaginar o «fim do mundo” que uma
mudança muito mais modesta no modo de produção, como se o
capitalismo liberal fosse o «real» que de algum modo sobrevivera,
mesmo na eventualidade de uma catástrofe ecológica global. As-
sim, pode-se afirmar categoricamente a existência da ideologia qua
matriz geradora que regula a relação entre o visível e o invisível, o
imaginável e o inimaginável. Bem como as mudanças nessa relação.
Essa citação nos possibilita, por meio de um exemplo histórico, como o citado
pelo autor, pensar sobre quantas outras questões, ideias, comportamentos, atitu-
des e ações que temos como certas ou absolutamente certas ou, até mesmo, como
sendo “naturais”, mas que, na realidade, somos tomados e levados ou pelo calor
da hora ou pelas circunstâncias que se apresentam como sendo verdades que se
evidenciam por si mesmas, mas que, na realidade, não são testadas e verificadas
com seriedade ou cientificidade.
Quando tratamos de teorias políticas, estamos, na realidade, “mexendo” nos
fundamentos e na constituição estruturante de uma sociedade, no imaginário
social de um povo, ou seja, os milhares de anos que constituíram o Homo Sapiens,
os mais de vinte e cinco séculos de religiosidade cristã no ocidente, os mais de
trezentos anos das revoluções científica, burguesa e industrial e estas últimas sob
o manto do sistema capitalista e as suas revisões. Todos esses elementos históri-
cos se mostram, por sua vez, como elementos culturais determinantes e, assim,
arraigados, de tal maneira, na vida das pessoas e de nossa história, como se esses
(elementos culturais) fossem uma segunda pele (expressão cunhada, certa vez,
pelo jogador Marcelinho Carioca quando, então, jogador do Corinthians, ao fazer
menção do seu grande amor pelo time); logo, tornando-se difícil dissociar ou
tentar separar o que, na realidade, foi uma ideia pensada e colocada em prática
como alternativa para resolver os problemas que os seres humanos enfrentam
num dado momento.
219
Veja, uma rápida reflexão, para terminar essa parte: a nossa consciência sobre
UNIDADE 5
UNICESUMAR
ganharam espaço diante das péssimas condições de vida dos trabalhadores den-
tro do sistema liberal capitalista vigente. Houve a reformulação na compreensão
do direito à propriedade e uma maior interferência do Estado na economia para
garantir a igualdade social.
Ao individualismo exacerbado, as teorias socialistas apresentam propostas de
solidariedade, cooperação e responsabilidade social. Atribuem-se aos filósofos e
teóricos Saint-Simon, Fourier e Proudhon e Owen, inicialmente, como os socia-
listas utópicos, e, depois, com Marx e Engels, que cunharam o nome de socialis-
mo científico. Essas ideias tornam-se reais quando, em 1917, a Revolução Russa,
liderada por Lênin, deu origem a União Soviética (URSS), a primeira república
socialista, seguida, depois, por China, Cuba e alguns país do continente Africano.
Ainda, também, surgiam novas concepções e movimentos interessados em
criticar o modelo capitalista, como ocorreu com o Anarquismo no século XIX.
Essa concepção não aceitava, em absoluto, nenhum tipo de gerenciamento de
qualquer tipo de autoridade, sobretudo o Estado. Pregava ações não-coercitivas
e defendia a cooperação e a autodisciplina mútua. As decisões deveriam vir, ne-
cessariamente, de baixo, pois, somente, esses conhecem a sua própria realidade.
Além disso, o anarquismo defendia um sistema igualitário, assim, seus ideais
identificavam-se com as ideias socialistas, de uma forma geral, defendidas por
Marx e Engels, contudo fazia sérias críticas ao conceito de autoridade marxista,
que se relaciona ao conceito de ditadura do proletariado. (ARANHA; MARTINS,
2012; CHAUÍ, 2015).
De forma geral, uma das principais bases das teorias socialistas está nas ideias
de Marx e Engels, principalmente, em relação à política, no Manifesto Comunista.
Aranha e Martins (2012) informam que o clima da época, por volta do ano da
publicação do manifesto, em 1848, era marcado por conflitos muito fortes entre
as forças conservadoras da nobreza e do clero contra a burguesia, de tal maneira
que, em um único conflito, entre liberais e socialistas, dizimou cerca de 10 mil
mortos. Na base do pensamento socialista, na versão marxista, estava, justamente,
o propósito do operariado vir ao poder. Dividir o poder não era ou não estava
nos planos da nobreza ou da burguesia certamente; assim os conflitos tornam-se
constantes. Essas ideias, que faziam circular, por meio do manifesto, eram vistas
com muito receito.
Do ponto de vista teórico, uma das bases do pensamento socialista se deve, es-
pecificamente, ao conceito marxista: o materialismo histórico dialético (CHAUÍ,
221
2015). Esta teoria defende o inverso do idealismo, ou seja, a matéria ou o real é
UNIDADE 5
prioridade na relação com as ideias. Isso quer dizer que é a realidade material
que deve ser valorizada, em primeiro lugar, na produção do conhecimento. As
ideias, pelo contrário, são resultados das experiências concretas da vida. Exem-
plo: a realidade econômica, social e política é que determina as ideias que as
pessoas têm de sua cultura e do meio em que vivem. Dessa maneira, o modo de
produção capitalista, ao explorar a mão de obra do trabalhador, cria todo um
sistema que legitima o status quo do sistema capitalista como sendo um sistema,
absolutamente, natural, o que, de fato, não é, porque, em primeiro lugar, o sistema
capitalista nem sempre foi um modo de produção, pelo contrário, é um modelo
mais recente na humanidade.
Por fim, tem-se diversas experiências socialistas no mundo, por exemplo, a
da União Soviética com a ideia do proletariado no poder, mas o que veio a se
efetivar foi a ideia do partido único. Houve conflitos das mais diversas ordens,
internas e de enfrentamento de opositores à revolução. Contudo, em 1940, os
russos eliminaram o analfabetismo e se projetaram como uma superpotência
mundial (ARANHA, 2005). De fato, nesse sentido, o socialismo se tornou uma
ameaça direta às pretensões do liberalismo e do capitalismo, como alternativa dos
países em processo de produção e de vida para a humanidade. Ainda, registra-se
que, da mesma maneira que o liberalismo criou versões para a superação de
suas contradições, o socialismo passou por reformulações e, coincidentemente,
a concepção social democrática foi uma das saídas. No mundo socialista, essa
concepção possibilitou experiências exitosas de conquistas sociais com políti-
cas de um Estado forte e distribuição de riqueza, como quem deve pagar mais
impostos são aqueles que mais ganham. Países como Suécia, Noruega, Finlândia,
Grã-Bretanha, Alemanha ocidental, na Áustria, Holanda e Bélgica são exemplos
dessa concepção que originou experiências bem-sucedidas.
222
5
POLÍTICA, DIREITOS
UNICESUMAR
HUMANOS E
políticas públicas
Nossa viagem está chegando ao fim com esta aula, e, como toda viagem, passa-
mos por lugares desconhecidos, que nos chamaram a atenção e que nos leva-
ram a outras realidades bem diferentes daquelas que já pudéssemos ter vivido.
Contudo o nosso trajeto sempre primou pela formação e informação intelectual
da tradição filosófica de espírito crítico e autocrítico. Certamente, é uma gran-
de pretensão. Esperamos tê-lo alcançado, mas é o futuro que dirá. Mais do que
fazer uma aula para trazer informações sobre o que são os direitos humanos e
as políticas públicas, é possibilitar a você a construção do conhecimento crítico
sobre esses assuntos ou demais assuntos relacionados aos que temos tratado neste
livro. Pois tenho certeza, caro(a) aluno(a), que você pode fazer essa busca em um
simples clique, acessando, de forma rápida, com um bom buscador da internet,
informações de entidades, universidades e órgãos associados aos temas, como a
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos humanos, que são de
extrema confiança e credibilidade.
Nosso objetivo, nesta aula é nos posicionar, diante desses dois temas, dentro
dos nossos estudos, em especial, nesta Unidade 5, que aborda o tema da política
como tema maior. Dessa maneira, objetiva-se oportunizar uma reflexão filosó-
fica crítica sobre esses temas e a política e vice-versa, no atual contexto. Sobre o
atual contexto político, corroboraremos com algumas das conclusões que Harari
(2018) faz e chega sobre o tempo presente. A narrativa liberal venceu o fascismo
de Hitler e Mussolini, os quais não vivem mais, e o comunismo soviético, com
223
a queda emblemática do muro de Berlim em 1989, ou seja, democracia política,
UNIDADE 5
UNICESUMAR
dependência e subserviência, mesmo que, de fato, ocorram situações de combate a
situações, realmente, desumanas. Compreendemos, então, que aí está um dos grandes
“X” da questão que se coloca para a formação de profissionais críticos e que estarão
nas trincheiras do serviço público, organizacional ou na sociedade como um todo.
explorando Ideias
Os “pais” fundadores da área de políticas públicas foram: Laswell (1936), que introduz a
expressão policy analysis (análise de política pública), ainda, nos anos 30, como forma de
conciliar conhecimento científico/acadêmico com a produção empírica dos governos e,
também, como forma de estabelecer o diálogo entre cientistas sociais, grupos de interes-
se e governo; Simon (1957) introduziu o conceito de racionalidade limitada dos decisores
públicos (policy makers), argumentando, todavia, que a limitação da racionalidade poderia
ser minimizada pelo conhecimento racional; Lindblom (1959) questionou a ênfase no
racionalismo de Laswell e Simon bem como propôs a incorporação de outras variáveis à
formulação e análise de políticas públicas, tais como as relações de poder e a integração
entre as diferentes fases do processo decisório, o qual não teria, necessariamente, um
fim ou um princípio; e Easton (1965), que contribuiu para a área ao defini-la como um
sistema, ou seja, como uma relação entre formulação, resultados e o ambiente.
Fonte: adaptado de Souza (2002, p. 3-4).
pensando juntos
Segundo Souza (2002, p. 5), a política pública pode ser entendida como:
“
O campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o
governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente)
e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas
ações (variável dependente). Em outras palavras, o processo de for-
mulação de política pública é aquele através do qual os governos
traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão
resultados ou as mudanças desejadas no mundo real.
A partir dessa definição e à luz do nosso entendimento exposto, até aqui, as polí-
ticas públicas têm papel preponderante no direcionamento dos conflitos sociais,
em nosso caso, no sistema capitalista, que aflige a coletividade ou uma parte sig-
nificativa da sociedade com o desemprego, a miséria, a fome, as doenças, a falta
de moradia e de condições básica e mínimas de vida, bem como têm o papel de
servir no contingenciamento da não formação de novos bolsões de excluídos
ou miseráveis, tornando-se, assim, o meio social menos instável, crítico ou in-
flacionado, com um certo controle por parte de governos e de estados; por sua
vez, na medida do possível, não atingir aqueles, em última instância, que são
considerados como os seus grandes mantenedores, ou seja, as elites políticas,
econômicas, sociais e religiosas, uma vez que elas detêm o poder do capital ou o
poder simbólico.
226
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Caríssimo(a) aluno(a), esperamos que, ao final desta unidade estudada, o nos-
so tema tenha ganhado uma nova significação. Assinalamos isso, uma vez que
a desinformação e a própria falta de formação sobre o que significa de fato a
política. Essa situação coloca o ser humano na condição de presa fácil daqueles
que, cientes da importância capital da política, usufruem de suas benesses, ape-
nas e tão somente, individual e, raríssimas vezes, coletivamente. Como vimos a
política é uma atividade humana que nasce como uma atividade indissociável
do ser humano como ser social. Assim, a política é, como pensavam os gregos,
a ciência mais excelente, pois é ela que tem a tarefa de construir a realidade da
vida daqueles que vivem em sociedade, principalmente, em relação ao fator da
sobrevivência coletiva e das necessidades individuais do ser humano. Logo, essa
tarefa coloca-se como, extremamente, necessária.
A convivência social, portanto, mostra-se como um desafio, que vem desde
que o ser humano convive com outros seres humanos, há milhares de anos, antes
mesmo da criação e da invenção da política, pelos gregos, como nós a conhe-
cemos. Assim, procuramos dar aos temas tratados, além das informações mais
precisas possíveis e fundamentais, um tom, sempre, crítico e autocrítico do co-
nhecimento filosófico, por meio de conteúdos apresentados, rigorosamente, à luz
da boa tradição filosófica corrente, em nosso país e no mundo atual.
Esperamos, mais uma vez, que os temas e assuntos estudos, nesta unidade,
tenham atendido os objetivos expostos na introdução: apontar a importância
da política hoje; expor filosoficamente as ideias e as teorias políticas; listar as
características fundamentais do pensamento político do liberalismo; identificar
as características fundamentais do pensamento político do socialismo; e analisar
as implicações político-sociais da relação entre as políticas públicas e os direitos
humanos.
227
na prática
1. Na primeira aula desta unidade, tratamos dos motivos e das razões da política hoje.
Vimos, à luz do pensamento clássico, em Aristóteles, que a política tem papel impres-
cindível para a formação da cidade-estado do tempo do nosso filósofo e revelava,
ainda, uma característica distintiva do ser humano: um animal político. Diante disso,
leia, atentamente, as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta sobre a
importância da política para o ser humano como ser social.
a) Convivência social.
b) Convivência individual.
c) Convivência dos maiorais.
d) Convivência dos que, realmente, trabalham.
e) Convivência, apenas, entre homens e mulheres.
I - Ao olhar o mundo vivido, a política, de fato, deve vir a partir das relações que se
estabelecem entre as pessoas, suas posições e seus interesses.
II - A política da pólis deveria estar nas mãos das pessoas mais bem preparadas.
III - Afirmava, categoricamente, que todo o poder vem de Deus e deve ser compreen-
dido como bom e justo a todos aqueles que o seguem e são batizados em nome
de Deus, pai de Jesus Cristo.
IV - O homem é um lobo para outro homem.
228
na prática
4. Na quarta aula, quando tratamos as teorias socialistas, ficou a nítida impressão que
o ser humano é um ser autônomo que, diante de suas necessidades, cria alterna-
tivas. Assim, as teorias socialistas foram alternativas aos avanços das teorias, dos
governos e do estado liberal que proporciona a uma grande e expressiva parcela da
sociedade, em especial, na Europa e Estados Unidos, condições de vida subumana.
Leia, atentamente, as afirmações, a seguir, e assinale a única que é verdadeira com
relação aos pontos defendidos pelas teorias socialistas:
229
na prática
230
aprimore-se
NICOLAUS MACLAVELLUS:
MAGNÍFICO LAURENTIO MEDICI LUNIORI SALUTEM
231
aprimore-se
Aceite, pois, Vossa Magnificência esta pequena oferenda com o mesmo espírito
com que lha envio; obra que, se for lida e considerada com diligência, tornará paten-
te meu extremo desejo de que o Senhor alcance a grandeza que a fortuna e outras
suas qualidades lhe prometem. E, se do ápice de sua altura Vossa Magnificência por
momentos volver os olhos para estes lugares baixos, saberá quanto eu desmereci-
damente tenho suportado uma grande e contínua adversidade da fortuna.
Fonte: Maquiavel (2017, p. 30).
232
eu recomendo!
livro
O Príncipe
Autor: Nicolau Maquiavel.
Editora: Edipro.
Ano: 2016.
Sinopse: este “opúsculo” (como o próprio Maquiavel o chamou)
escrito por um cortesão italiano da época renascentista, endere-
çado “ao magnífico Lorenzo de Medici “ (na época, o Duque de
Urbino, em Florença) e publicado, somente, após a sua morte, acabou por ser
reconhecido pela posteridade como um dos tratados políticos mais fundamentais
elaborados pelo pensamento humano e que teve um papel crucial na construção
do conceito de Estado como o conhecemos na modernidade. Mais uma excelente
leitura para seu crescimento na literatura mundial. Vale a pena conferir.
233
conclusão
conclusãogeral
geral
conclusão
conclusão
geral
geral
Caro(a) aluno(a), chegamos a nossa última parada. Espero que você tenha aprovei-
tado todos os temas abordados sobre o conhecimento filosófico e que estes contri-
buam para habilitá-lo(a), propedeuticamente, para a realização do seu curso. Nessa
jornada, vimos a importância do pensamento filosófico crítico para a nossa socieda-
de, a qual é considerada sociedade do conhecimento, pois é imprescindível o senso
crítico face à Era da Pós-verdade, no tempo das redes sociais.
Observamos, de forma panorâmica, a formação e o desenvolvimento do conhe-
cimento filosófico, por meio do testemunho da História, do contexto histórico, social
e político, na trama da produção dos pensamentos, do surgimento dos filósofos
e de suas importâncias para as mais diversas épocas. Analisamos, de forma rela-
cional, os conhecimentos (epistemologias), a antropologia e a importância do ato
criativo, transformador e dignificante do ser humano, por meio do trabalho. Reser-
vamos, também, um espaço para o estudo crítico sobre a ética e a moral; dessa for-
ma, vimos que ambas são necessárias para a convivência social em uma sociedade
democrática.
Apresentamos as teorias políticas clássicas do liberalismo e do socialismo bem
como as suas implicações na relação com o poder dos estados e dos governos na-
cionais, mediante as ações políticas. Utilizamos, como exemplo de reflexão, as polí-
ticas dos direitos humanos e das políticas públicas, como forma de enfrentamento
dos conflitos existentes, oriundos dos problemas sociais como desemprego, fome,
miséria, doenças, falta de moradia, falta de seguridade social, dentre outras.
Assim, esperamos, por fim, que você tenha gostado da nossa viagem ao mun-
do maravilhoso da Filosofia, porém, como já dissemos, mais importante do que a
chegada é o próprio transcurso da viagem, da passagem, ao longo da história da
humanidade, dos seus contextos econômicos, sociais e políticos na produção e no
desenvolvimento do conhecimento humano. Até a próxima!
234
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Em: https://www.dicio.com.br/liberal/. Acesso em: 30 abr. 2020.
239
gabarito
UNIDADE 1 UNIDADE 4
1. D. 1. E.
2. D. 2. A.
3. A. 3. A.
4. C. 4. C.
5. B. 5. D.
UNIDADE 2 UNIDADE 5
1. D. 1. A.
2. A. 2. C.
3. C. 3. D.
4. C. 4. E.
5. B. 5. A.
UNIDADE 3
1. A.
2. A.
3. C.
4. E.
5. D.
240