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RISCOS E CRISES
PROFESSORA
Me. Fernanda Julie Parra Fernandes Rufino
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O SEU LIVRO
NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Renata Cristina Souza Chatalov
Projeto Gráfico e Capa
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho Núcleo de Educação a Distância. MELLO, Karyna Buhler de.
e Thayla Guimarães
Gerenciamento de Riscos e Crises.
Editoração Fernanda Julie Parra Fernandes Rufino.
Bruna Stefane Martins Marconato
Jean Carlos Cedemachi Nogueira
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020.
Design Educacional
192 p.
Jociane Karise Benedett “Graduação - EaD”.
Revisão Textual
1. Gerenciamento 2. Riscos 3. Crises. EaD. I. Título.
Meyre A. P. Barbosa
Ilustração
André Azevedo
Fotos CDD - 22 ed. 658.4
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Shutterstock Impresso por:
ISBN 978-65-5615-066-6
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-
versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-
Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
http://lattes.cnpq.br/7867304750238505
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
Querido(a) aluno(a), para que você obtenha conhecimentos fundamentais sobre o Gerencia-
mento de Crises e Riscos, na Unidade 4, “Aspectos Relacionados ao Causador do Evento Crítico”,
analisaremos seus tipos bem como a forma de contato que deve ser realizado pelo negociador
com o CEC. Ao final, serão expostas algumas considerações importantes sobre a influência do
Causador do Evento Crítico nas vítimas e/ou reféns, em especial, a Síndrome de Estocolmo.
explorando ideias
quadro-resumo
conceituando
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conecte-se
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
8 UNIDADE 02
50
NOÇÕES SOBRE O PROCESSO DE
GERENCIAMENTO DE NEGOCIAÇÃO
RISCOS E CRISES
UNIDADE 03
82 UNIDADE 04
116
ASPECTOS ASPECTOS
OPERACIONAIS RELACIONADOS
DO GERENCIAMENTO AO CAUSADOR
DE CRISES DO EVENTO CRÍTICO
UNIDADE 05
150 FECHAMENTO
184
GERENCIAMENTO CONCLUSÃO
DE CRISES NA GERAL
SEGURANÇA
EMPRESARIAL
1
NOÇÕES SOBRE
GERENCIAMENTO DE
riscos e crises
PROFESSORA
Me. Fernanda Julie Parra Fernandes Rufino
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: Conceitos e características de crise
• gerenciamento de crises • Primeira Intervenção em Crises
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar os conceitos de crises e suas características • Apresentar as noções de gerenciamento de
crises • Analisar as dez fases da doutrina da Primeira Intervenção em Crises.
INTRODUÇÃO
CARACTERÍSTICAS
de crise
10
“
As crises como o próprio nome já diz, são situações complicadas e
UNICESUMAR
difíceis de serem atendidas. Entretanto, técnicas básicas, como por
exemplo, se manter em local seguro, utilizar os equipamentos de
segurança adequados, ou ainda, tentar diminuir o estresse da situa-
ção, podem fazer a diferença entre a vida e a morte dos envolvidos
(SILVA, 2015, p. 25).
Em outras palavras, podemos entender a crise como momentos que fogem das
ocorrências rotineiras, situações que não se resolvem com respostas rápidas e
superficiais, por exemplo, um roubo mediante sequestro, em que não há como se
resolver sem a verificação e o planejamento da resposta que será dada.
conceituando
A palavra crise vem do termo latino “crisis”, oriundo do grego, que, por sua vez, foi her-
dado da raiz indo-europeia “ker” ou “sker”, que significa “cortar”, e que daria, mais tarde,
origem a palavras como “critério”.
Fonte: adaptado de Salignac (2011, p. 21).
Além disso, Silva (2015) ensina-nos que existem técnicas básicas para realizar o
gerenciamento de uma crise, e que isso pode ser um fator determinante em re-
lação à vida de todos os envolvidos, seja a vítima, sejamos agentes de segurança,
seja o Causador do Evento Crítico (CEC).
A seguir, podemos verificar alguns exemplos de situações que se enquadram
no conceito de crises:
“
a- Roubos ou outros crimes frustrados com a tomada de
reféns;
b- Extorsões mediante sequestro;
c- Rebeliões com reféns em estabelecimentos prisionais,
unidades de internação, cadeias públicas ou delegacias;
d- Mentalmente perturbados, barricadas ou não, com toma-
da de vítimas, reféns ou sozinho;
11
“
UNIDADE 1
pensando juntos
Aquele que se empenha a resolver as dificuldades, resolve-as antes que elas surjam.
Aquele que se ultrapassa a vencer os inimigos, triunfa antes que as suas ameaças se
concretizem.
(Sun Tzu)
12
UNICESUMAR
A crise é, normalmente, um momento em que surgem muitas dúvidas e incer-
tezas, é um momento em que todas as ações são extremamente importantes e
decisivas para o sucesso ou insucesso do gerenciamento da crise (SILVA, 2015).
Além do conceito de crise, o gestor da segurança deve conhecer outros con-
ceitos relacionados com o gerenciamento de riscos e crises, como “Evento ou
situação crucial”:
“
significa algo “crítico”,“decisivo”,“grave”,“muito importante”. Essa ex-
pressão, portanto, significa que numa crise há pessoas na iminência
de serem mortas, ou seja, o risco para elas é real e presente. É o caso
das pessoas mantidas como reféns ou vítimas por indivíduos por
quaisquer motivações, ou até mesmo os indivíduos suicidas quando
encontrados no ensaio final para a morte (tentativa de suicídio)
(SILVA, 2015, p. 37).
13
UNIDADE 1
Acomp
Necessidade de É um evento caótico, de próximo
muitos recursos para baixa probabilidade de tanto pela
sua solução. ocorrência, mas graves como pel
consequências. e pe
Acompanhamento
um evento caótico, de próximo e detalhado,
baixa probabilidade de tanto pelas autoridades
ocorrência, mas graves como pela comunidade
consequências. e pela mídia.
14
ou éticos. Nesse sentido, temos que ter em mente que a solução a ser alcançada
UNICESUMAR
é a garantia da vida e da dignidade de todos os envolvidos da crise, a vítima, os
agentes e, inclusive, o CEC. Ressalta-se que, ao contrário do que muitos pensam,
o gerenciamento de crises e riscos visa à melhor solução cabível que inclui a
“preservação da vida de todos os envolvidos, mesmo que, infelizmente, isso, por
vezes, não ocorra, pois em algumas situações a morte do CEC é inevitável para
salvaguardar a vida das vítimas da situação” (SILVA, 2015, p. 39).
Outro conceito importante, de ponto crítico, pode ser entendido como “o
local onde se instalou a crise, ou seja, onde está localizado o causador do evento,
com o sem reféns ou vítimas” (SILVA, 2015, p. 39), ou ainda, como “todo o espaço
físico controlado pelo CEC, onde ele tem acesso e pode modificar sua estrutura”
(SILVA, 2015, p. 39). Sobre o ponto crítico, é importante sabermos que ele é um
elemento crucial no gerenciamento de riscos e crises, pois dele se pode ter infor-
mações importantíssimas que serão utilizadas no planejamento do processo de
gerenciamento (SILVA, 2015).
Como já mencionamos anteriormente, no evento crítico, há o causador do
evento crítico – o CEC, a partir deste momento, falaremos um pouco sobre este.
Silva ensina-nos que “de maneira genérica, Causador do Evento Crítico (CEC)
é todo aquele que dá causa a um evento crítico. Sua motivação pode ser a mais
variada possível, entre elas, manter reféns após crimes frustrados” (SILVA, 2015,
p. 40). Ele também pode ser denominado “provocador do evento crítico” (PEC)
(SALIGNAC, 2011, p. 16).
Além disso, importante destacar que o CEC pode ser enquadrado em três
tipos específicos: 1) indivíduos que cometem crimes, ou seja, “criminosos”; 2)
indivíduos que cometem atentados terroristas e 3) indivíduos com algum tipo de
perturbação mental; sendo assim, você pode verificar que não é todo CEC que se
enquadra como criminoso, pois há situações em que uma pessoa comum, porém
em surto, poderá ser o Causador do Evento Crítico que você deverá gerenciar
(SILVA, 2015).
conceituando
15
Continuando com os conceitos importantes relacionados ao gerenciamento de
UNIDADE 1
“
“Vítimas” formam uma categoria que diz respeito àquelas pessoas
capturadas e que não têm valor para os captores, sendo antes um
objeto de seu ódio: o captor busca a eliminação física dessas pessoas
ou danos à sua integridade. Uma vítima não tem outro valor para
quem a captura, exceto da realização dos desejos de seu captor.
Nesse sentido, podemos entender que situações que envolvem vítimas deman-
dam respostas diferenciadas de situações que envolvem reféns, pois, como já
mencionado, a vítima, normalmente, tem um vínculo com o CEC, por exemplo,
um casal ou ex-casal, e, ainda, situações que envolvem o sentimento de vingança
(SILVA, 2015). Com isso, podemos concluir que o CEC dificilmente negociará a
vítima, pois ele tem um interesse especial pela pessoa que ela representa, e isso
aumenta o risco de sofrer agressões físicas ou, até mesmo, que seja vítima de
homicídio por parte do CEC.
Um exemplo de ocorrência de crise que envolveu tanto vítima quanto refém
foi a situação ocorrida em 2008, no Brasil, a qual ficou mais conhecida como o
“Caso Eloá”, em que Lindemberg (ex-namorado da vítima Eloá) invadiu o apar-
tamento em que ela estava com outros amigos, dentre eles, sua amiga Nayara. O
16
desfecho da história foi trágico, mas, para nós, neste momento, fica o exemplo de
UNICESUMAR
uma crise em que havia a presença de uma vítima (Eloá), pois tinha um vínculo
anterior com o CEC, e também, uma refém (Nayara) que, apesar de conhecer o
CEC, por ser namorado de sua amiga, não tinha um vínculo específico, inclusive,
na situação ela foi liberada, inicialmente, pelo CEC, pois o foco dele era a ex-na-
morada, que não era nem negociável, nem trocável (SILVA, 2015).
É importante saber que o CEC, quando tem em sua posse uma vítima, caso
ele pratique homicídio contra ela, tem grandes chances de se suicidar em segui-
da. Ao contrário do CEC que está com um refém, pois seu intuito é conseguir
algo além daquela situação, logo, ele preza por sua vida (SILVA, 2015). Portanto,
lembre-se: qualquer um pode se tornar refém de uma situação, mas somente
aqueles que têm um vínculo anterior com o CEC podem se tornar vítimas. E o
gestor da segurança, ao se deparar com a crise, deve realizar a análise e perceber
se está diante de uma ocorrência em que envolve um refém ou vítima, pois isso
influenciará nos procedimentos que serão adotados no gerenciamento da crise.
17
2 GERENCIAMENTO
UNIDADE 1
de crises
explorando Ideias
A doutrina de Gerenciamento de Crises tem sua origem nos Estados Unidos, a partir dos
anos 60, e chegou ao Brasil, em meados da década de 1980, pelo Departamento de Polícia
Federal. Os norte-americanos, ao longo de quatro décadas, formularam os princípios e
técnicas que até hoje são utilizadas para a resolução dos eventos críticos em vários países.
Fonte: Silva (2015, p. 29).
“
O gerenciamento de crises vinha sendo realizado de forma casuís-
tica, confiado que estava à notória capacidade de improvisação,
chamado “bom-senso”, ao “jeitinho” ou à habilidade individual do
policial encarregado de solucionar as situações crise - eventos cuja
ocorrência era pouco mais que episódica dentro da realidade cri-
minal brasileira (SALIGNAC, 2011, p. 19).
“
por ser a atividade de Gerenciamento de Crises extremamente com-
plexa, o preparo dos envolvidos deve ser regido pelo princípio da
antecipação, ou seja, agir antes do fato com o intuito de minimizar
a surpresa de uma eventual ocorrência e os desgastes gerados por
ela (SILVA, 2015, p. 33).
19
Sendo assim, aquele que se prepara, antecipadamente, terá mais chances de suces-
UNIDADE 1
“
processo eficaz de identificar, obter e aplicar em conformidade com
a legislação vigente, as medidas estratégicas adequadas para a reso-
lução do evento crucial, a fim de preservar a vida e a integridade
física dos envolvidos, a aplicação da lei e o restabelecimento da or-
dem pública (MONTEIRO et al., 2008, p. 10).
pensando juntos
“
O gerenciamento de crises pode ser descrito como um proces-
so racional e analítico de resolução de situações críticas baseado
em probabilidades. Deve lidar, sob uma tremenda compressão de
tempo, com complexos problemas sociais, econômicos, políticos,
ideológicos e psicológicos, quando eles se manifestam em termos
destrutivos. Não se trata de uma ciência exata, um processo rápido
e fácil de solução de problemas - cada crise apresenta características
únicas, exigindo, portanto, soluções individualizadas, que deman-
dam cuidadosa análise e flexão.
20
Para melhor entendermos a importância do estudo, da preparação prévia, do trei-
UNICESUMAR
namento etc. no gerenciamento de crises, Salignac (2011) elenca alguns tópicos
como justificativa. Vejamos:
“
a) Por suas características intrínsecas, os eventos críticos provo-
cam estresse;
b) O estresse reduz a capacidade de desempenho em tarefas de
solução de problemas;
c) O gerenciamento de crises é uma complexa tarefa de solução
de problemas;
d) Os resultados da incompetência profissional podem ser ime-
diatos e fatais (SALIGNAC, 2011, p. 24).
“
chefiado por um policial denominado gerente da crise, é, ao contrá-
rio, composto por técnicos de segurança pública: policiais federais,
estaduais civis e militares, representantes de organismos públicos e
privados interessados ou atingidos pelo evento crítico, GT e Grupo
de Negociadores (SALIGNAC, 2011, p. 18).
21
UNIDADE 1
conceituando
Teatro de operações: é todo o local onde se desenrola a ação, incluindo o ponto crítico e
toda a área circundante.
Fonte: Silva (2015, p. 46).
Neste momento, você pode estar se perguntando se isso não seria prejudicial
ao gerenciamento da crise, porém adianto que não. Esta situação tem o intuito
de tornar o processo organizado e especializado, evitando dispersão de ordens
e erros que podem ser cometidos por uma ordem advinda de alguém que não
tem qualificação para gerenciar uma crise (SILVA, 2015).
conceituando
22
Importante trazer o ensinamento de Silva (2015, p. 47-48) relacionado ao Cmt.
UNICESUMAR
TO, quando ele menciona que
“
Todos os elementos administrativos e operacionais disponíveis es-
tarão sob o seu comando, incluindo os responsáveis pelo isolamen-
to do teatro de operações, as equipes especializadas, o efetivo de
apoio, os assessores logísticos, de imprensa, etc. Basicamente, todas
as questões pertinentes à crise devem passar por ele. O Comandante
do Teatro de Operações deve planejar, com seus assessores, as ações
necessárias, visando o encerramento da crise de maneira aceitável e,
para implementar tais ações, deve buscar a autorização do Gerente
da Crise.
conceituando
(...) Negociação Técnica e Negociação Tática, sendo o primeiro referente aos procedimen-
tos utilizados na resolução da crise pelos meios de negociação pura, exclusivamente. Já
a Negociação Tática indica que o profissional busca meios e condições de dar suporte à
ação dos grupos táticos, concomitantemente, à negociação técnica propriamente dita.
Fonte: Salignac (2011, p. 17).
“
o responsável pelo contato direto com o CEC, sendo qualificado
como porta-voz dos responsáveis pelo gerenciamento do evento.
Ele informa ao CEC sobre as decisões tomadas e tem condições de
buscar informações importantes junto a ele. Além disso, utiliza as
técnicas de barganha e convencimento, visando o fim da crise sem
violência.
23
Como visto, o Negociador é uma figura de suma importância no processo de ge-
UNIDADE 1
renciamento de crises, logo, não é qualquer pessoa que pode assumir esta função,
é necessário que o indivíduo passe por uma qualificação específica. Marcos Man-
darini (2005) cita algumas características que a pessoa do Negociador deve ter:
A Equipe de Negociação tem várias funções, mas podemos entender que o núcleo
do seu objetivo é conseguir um acordo com o CEC para que a crise seja finaliza-
da com uma solução aceitável. Além disso, a Equipe de Negociação é composta
por “Comandante, Negociador Principal, Negociador Secundário, Negociador
Anotador, Apoio Logístico e Psicólogo” (SILVA, 2015, p. 53).
Importante mencionar que existe a possibilidade de o Negociador receber
apoio de outra figura, chamada de Intermediário, ou seja, é aquela pessoa que não
integra a equipe especializada, mas que também faz o contato direto com o CEC,
ou seja, aquele que tem o contato verbal com ele, que pode ser tanto por telefone
quanto face a face, momento em que deverá estar extremamente protegido pela
equipe presente no gerenciamento de crises, e proporá ao CEC as negociações;
negociações estas que o Intermediário recebe do Negociador (SILVA, 2015).
24
Ainda sobre os Intermediários, Silva (2015, p. 50) ensina que
UNICESUMAR
“
A prática tem mostrado, em geral, que pessoas da família ou que
tiveram relacionamento amoroso com o CEC são péssimos interme-
diários, pois acirram as emoções e aumentam o nível de tensão do
local, principalmente se forem os pivôs dos infortúnios do CEC. Mãe,
pai, irmãos, ex-namorados, ex-cônjuges, entre outros, devem ser, em
princípio, vetados como intermediários e só autorizados depois de
uma análise rigorosa. Indivíduos suicidas podem pedir o contato com
religiosos (padres, freiras, pastores, rabinos) o que também não é um
bom sinal, pois podem estar buscando algum tipo de perdão final.
Por fim, o contato entre Intermediário e CEC deve durar somente o necessário,
ou seja, ser breve. Lembrando que: o Intermediário nunca ocupará o papel do
Negociador, pois ele nada mais é do que uma ferramenta a ser utilizada para
alcançar a “solução aceitável” à crise (SILVA, 2015).
Até o momento, podemos verificar que as figuras e a equipe citadas são res-
ponsáveis pelo diálogo com o CEC, contudo há casos em que é necessário que a
equipe do gerenciamento de crises aja e, para isso, temos o Grupo de Intervenção
(GI), responsável pelo “arrombamento tático, ações em ambientes verticais, téc-
nicas não letais, ações em ambientes hostis e contraterrorismo”. (SILVA, 2015, p.
55). Esse Grupo tem o intuito de proteger, por exemplo, a Equipe de Negociação,
além de realizar a intervenção na necessidade do salvamento dos reféns, com ou
sem uso de força letal.
Ao longo desta aula, pudemos aprender a essência do processo de gerencia-
mento de crises, além de conhecer figuras importantes que fazem parte desse
processo. Lembrando sempre que, em todo gerenciamento de crise, o objetivo
almejado é a solução aceitável.
explorando Ideias
Decisões, desde as mais simples às mais complexas, vão sendo tomadas a todo momento
(o fornecimento de água ou alimentação para as pessoas capturadas e para os PEC, o
atendimento médico de urgência a um capturado no interior do ponto crítico, a interrup-
ção ou interceptação das comunicações telefônicas, a interrupção do fornecimento de
energia elétrica daquele ponto ou, até mesmo, o uso de força letal).
Fonte: Salignac (2011, p. 25).
UNICESUMAR
o risco de empregar o tiro de comprometimento?”, pois, caso o CEC esteja muito
próximo da vítima ou do refém, esse tiro pode ser um erro fatal.
O último critério a ser analisado é o critério da aceitabilidade. Este alude que
toda ação dos envolvidos no gerenciamento da crise devem estar fundamenta-
dos na lei e, inclusive, pautando-se pelos princípios morais e éticos da sociedade
(SALIGNAC, 2011). Dessa forma, antes de decidir sobre a prática de determinada
ação, é necessário que seja analisado se ela está de acordo com a lei, além disso,
se essa ação será aceita pela sociedade nos sentidos éticos e morais. Para melhor
entendermos, Salignac ensina que deve ser realizado o seguinte questionamento:
“esta decisão é aceitável sob os pontos de vista legal, moral e ético?” (SALIGNAC,
2011, p. 26).
explorando Ideias
A aceitabilidade inclui também a ética. Dentro deste raciocínio, não pode o responsável
pelo gerenciamento da crise tomar decisões nem exigir dos seus subordinados a prática
de ações que causem constrangimentos no seio do organismo policial.
Fonte: Salignac (2011, p. 27).
27
Grau de risco e nível de resposta no
UNIDADE 1
gerenciamento de crises
Quadro 1 - Classificação dos graus de risco ou ameaça / Fonte: Salignac (2011, p. 29).
Como se vê, o FBI divide os graus de riscos em quatro, porém essa não é uma
classificação absoluta. Salignac (2011) menciona que podem ser utilizadas, por
exemplo, cores para designar o grau de risco da crise, como amarelo, âmbar e
vermelho. Além disso, o autor ressalta que realizar a análise do grau da crise é
28
uma das primeiras tarefas a serem desenvolvidas no processo de gerenciamento
UNICESUMAR
da crise, tendo em vista que, a partir dessa informação, decorrerá o nível de res-
posta a ser empregado.
Caro está que, após ser determinado o grau de risco da crise, o agente saberá
qual o nível de resposta a ser empregado. Vejamos, então, quais são os quatro
níveis de resposta que o FBI adota:
NÍVEL CORRESPONDENTE
29
Caro(a) aluno(a), estudamos aspectos relacionados ao gerenciamento de riscos
UNIDADE 1
explorando Ideias
O agente da segurança privada, ao deparar-se com uma crise, deve, imediatamente, acio-
nar o 190 e colocar em prática, naquilo que for possível, a doutrina da PIC.
Fonte: a autora.
3
PRIMEIRA
INTERVENÇÃO
em crises
30
“
(...) confere-se à Polícia Militar restabelecer a ordem pública sem
UNICESUMAR
envidar esforços no sentido de preservar a incolumidade das pes-
soas envolvidas. O ordenamento jurídico confere ao organismo
policial exclusividade no poder-dever de agir, através do poder de
polícia que lhe é facultado, e a ele recai esta responsabilidade de
administrar e solucionar as situações de crises (GAIA, 2003, p.10).
Devemos sempre ter em mente que é função dos órgãos de segurança pública
realizar a Primeira Intervenção em Crises e, em seguida, o Gerenciamento da Cri-
se com os grupos especializados. Porém os agentes da segurança privada podem
deparar-se com uma crise, por exemplo, envolvendo um VIP. Nesse sentido, é
interessante que os agentes e o gestor da segurança privada conheçam a doutrina
da “Primeira Intervenção em Crise”, utilizando alguns dos seus passos a fim de
evitar erros fatais antes da chegada dos órgãos da segurança pública, que deverão
assumir a situação.
Antes de aprendermos os dez passos dessa doutrina, é necessário conhecer-
mos a sua origem, assim como conhecemos a origem da doutrina de Gerencia-
mentos de Crises. A “Primeira Intervenção em Crise” (PIC) foi criada por Marco
Antônio da Silva, um oficial da Polícia Militar do Paraná, no ano de 2005, devido
à grande demanda que, naquela época, a Companhia de Polícia do Choque estava
recebendo para atender ocorrências de riscos e crises (SILVA, 2015). Nesse senti-
do, Marco Antônio, por meio de estudos e por sua experiência, criou a doutrina
PIC para que o policial que tivesse o primeiro contato com a crise estivesse em
condições de agir de forma técnica a fim de não aumentar o nível de gravidade
da situação até a chegada da Equipe de Gerenciamento de Crises (SILVA, 2015).
Essa doutrina tem o intuito de afastar qualquer atitude de empirismo, ama-
dorismo e improvisação daquele que teve o primeiro contato com a crise. Sendo
assim, estudaremos os dez passos da doutrina para que sejamos capazes de con-
duzir, no primeiro momento, o gerenciamento da crise até a chegada da Equipe
especializada (SILVA, 2015, p. 69). Isto é, os passos dessa doutrina ocorrem na
fase da “Resposta Imediata” do processo de Gerenciamento de Crises (SILVA,
2015, p.80).
31
A seguir, verificaremos quais os passos da PIC, os quais devem ser realizados de
UNIDADE 1
2- Conter a crise, a fim de não deixar que ela se alastre ou mude de local.
Esses são os dez passos da doutrina da Primeira Intervenção em Crises, são ações
técnicas que, ao serem seguidas, diminuirão o nível de gravidade da situação e,
principalmente, as chances da ocorrência de uma tragédia durante os primeiros
momentos das crises que, normalmente, é quando o nível de gravidade da situa-
ção está elevadíssimo.
32
A partir de agora, estudaremos um pouco mais cada passo da doutrina PIC.
UNICESUMAR
pensando juntos
Caso não tenha visualização imediata do ponto crítico, analise o local buscan-
do informações com possíveis testemunhas e se prepare para localizá-lo;
Quadro 4 - Procedimentos básicos para localizar o ponto crítico / Fonte: Silva (2015, p. 84).
Como vimos, o primeiro passo da PIC é encontrar o ponto exato de onde a crise
está instalada. Dessa forma, o agente poderá seguir para as medidas posteriores
cabíveis diante da crise (SILVA, 2015).
33
Conter a crise
UNIDADE 1
“
Outro fator importante a ser levado em conta é a pressão exercida
sobre o CEC. Ele tem que sentir-se pressionado para que possa dar
as respostas esperadas pelas autoridades policiais responsáveis pelo
gerenciamento. Se o CEC tiver autonomia de acesso para diver-
sos ambientes dentro de uma loja, por exemplo, será muito difícil
controlá-lo e pressioná-lo na busca de respostas positivas (SILVA,
2015, p. 86).
Como vimos, a doutrina da PIC tem uma sequência lógica a fim de que cada
passo posterior ao outro se complemente. Nesse sentido, encontrar o ponto crí-
tico e, após, iniciar a contenção da crise, inclusive com a impossibilidade de que
o CEC saia do local, têm o intuito de impedir que o nível de risco aumente. E,
para complementarmos o nosso aprendizado do passo 2, ou seja, conter a crise,
vejamos o quadro a seguir:
1- Ao localizar o ponto crítico, faça tudo o que estiver ao seu alcance e o que
for possível para manter o CEC no mesmo local em que foi encontrado;
34
3- Inicialmente, tente a utilização de barreiras físicas de contenção, por
UNICESUMAR
exemplo, o estacionamento da viatura em ponto estratégico, impedindo a
passagem do veículo do CEC, o trancamento de portas, portões e janelas, ou
qualquer outro obstáculo que o impeça de avançar;
4- Caso seja possível, inutilize qualquer meio de transporte viável para a fuga
do CEC, por exemplo, fure os pneus do veículo dele; mas só faça isso se esti-
ver em plenas condições de segurança; caso contrário, não o faça;
6- Fale calmamente que você está ali para ajudar; se o CEC falar que matará
um refém caso você não saia do local, contradiga, salientando que se ele “ma-
tar alguém ali, será difícil estabelecer uma conversação tranquila e proporcio-
nar a ajuda”; fale devagar, sem afobação;
7- Se ele pedir um carro para fugir do local, ou mesmo, quiser fugir a pé com
um refém, esclareça sobre a inviabilidade desse pedido no momento; diga
que é muito mais vantajoso que ele permaneça onde está, pois você quer
muito ajudá-lo e só conseguirá fazê-lo caso ele ficar;
8- Se o CEC continuar exigindo, negue, mas não diga o “não” direto. O “não”,
dessa forma, tem o poder de dificultar qualquer conversação; um não dis-
farçado pode ajudar, por exemplo, em vez de dizer “eu não vou te dar um
carro”, tente “veja, é praticamente impossível eu conseguir um carro agora;
espero que você entenda a minha situação e confie em mim”;
9- Jamais seja voluntário para se trocar por um refém ou sair do ponto crítico
com o CEC; atitudes heroicas como essa já foram registradas pelo Brasil, ago-
ra, e, conforme já foi bastante frisado, podem ocasionar desgraças;
10- Crises em locais abertos, como ruas, praças, estacionamentos etc., são
difíceis de serem contidas, porém, se este for o caso, o primeiro interventor
deve fazer de tudo para que o CEC seja contido; lembre-se que não é possí-
vel continuar tomando os demais passos se o CEC estiver em movimento.
35
Isolar a crise
UNIDADE 1
Nesse momento, o primeiro interventor em crise ou a equipe que está com ele no
local da crise deverá impossibilitar o contato do CEC com o mundo exterior, ou
seja, o CEC não poderá, por exemplo, ter acesso à televisão, a rádio, à internet, a
telefone ou a outras pessoas (SILVA, 2015). Em outras palavras, pode-se dizer que
o CEC deve estar em uma situação que não consiga, de maneira alguma, receber
informações sobre a crise. Para ilustrar, podemos imaginar aquelas situações em
que o CEC está no ponto crítico com vítimas ou reféns e que acompanha pela
televisão toda a atividade da equipe do gerenciamento. Isso é algo desastroso,
pois o CEC pode se antecipar às estratégias e ações da equipe.
Sendo assim, o primeiro interventor deve impedir o contato do CEC com
aquelas pessoas que chegam à crise, como familiares, imprensa etc. Além disso,
é importante mencionar que, em relação aos telefones celulares, é difícil cortar
o acesso do CEC ao mundo externo, sendo assim, uma medida que o primeiro
interventor da crise pode realizar é manter contato frequente com o CEC, a fim
de que ele não fique com tempo disponível ou ocioso para manter contato com
outras pessoas, o que pode aumentar o nível de risco da crise (SILVA, 2015).
Silva(2015, p. 90) menciona que “apesar de não ser incomum, esse contato é alta-
mente condenável e contraria todos os preceitos aqui estudados” .
Este é um passo difícil de ser concretizado, por isso, o PIC deve ser uma pessoa
altamente qualificada para lidar com a situação. Silva (2015, p. 94) ressalta que
“não é missão do primeiro interventor negociar. Quem negocia é o especialista
em Negociação, o Negociador, integrante de uma equipe especializada em Nego-
ciação”. Sendo assim, você deve estar se perguntando: mas o que, então, deve fazer
o PIC? Ele deve interagir com o CEC, no sentido de acalmá-lo, visando conseguir
o maior número de informações e, caso o CEC insista em algum pedido, o PIC
deve ter a capacidade de fazê-lo entender que, naquele momento, os pedidos não
podem ser atendidos (SILVA, 2015).
A justificativa dessa medida dá-se pelo fato de que o início de uma crise
conta com alto risco e qualquer atitude deve ser pensada, analisada e, caso seja
36
concedido algum pedido do CEC, pode ser precipitado e que, ao invés de ajudar
UNICESUMAR
na intervenção, pode levá-la ao fracasso (SILVA, 2015). Sobre esse assunto, cabe
destacar os dizeres de Silva (2015, p. 95):
“
Somente durante o processo de Negociação posterior, realizado pelo
policial militar especialista, é que haverá mais tempo para se analisar
de maneira criteriosa as exigências do CEC e conceder-lhe aquelas
que forem tecnicamente viáveis. Na prática, há muita confusão sobre
esse assunto. Muitos primeiros interventores se auto intitulam nego-
ciadores e concedem tudo o que o CEC exige. Obviamente, o risco
se torna enorme quando o empirismo prevalece numa primeira
intervenção.
Coletar informações
Todos os passos da doutrina PIC são muito importantes, mas este é um dos
principais e demanda do primeiro interventor em crise algumas características
peculiares, como o próprio controle emocional. Pense bem: se o agente que está
realizando a primeira intervenção não consegue controlar o seu próprio estresse
com a situação, como ele diminuirá o estresse da crise?
Uma orientação importante, nesse passo, é: “fale calmamente com o CEC”
(SILVA, 2015, p. 109). Em outras palavras, podemos entender que independente-
38
mente de como o CEC o trate, seja com xingamentos, seja com ameaças, o primei-
UNICESUMAR
ro interventor deve manter a calma, a fim de não aumentar o estresse da situação.
O primeiro interventor deve ter em mente que, apesar do contato que ele está
estabelecendo com o CEC, ainda assim, ele pode sofrer um ataque. Nesse senti-
do, o primeiro interventor deve cuidar de sua segurança, mantendo-se em local
seguro. Silva (2015, p. 113) ensina-nos que:
“
A segurança do primeiro interventor é algo que não pode ser rele-
vada nunca. E, uma possível atitude violenta do CEC jamais deve
ser subestimada. Achar que o CEC não atirará contra o primeiro
interventor é um engano que pode ser fatal.
“
1- Desde a sua chegada à crise e em toda e qualquer ação
desenvolvida, certifique-se que sua vida não está correndo
riscos desnecessários
2- Proteja-se atrás de objetos, paredes, portas, veículos
e nunca se aproxime do CEC sem condições plenas de
segurança; lembre-se que ele está sob pressão e poderá
agir com violência a qualquer aproximação;
3- Jamais adentre ao ponto crítico, nem por conta pró-
pria nem por exigência do CEC; (...)
4- Nunca troque-se por um refém e nunca proponha isso;
(...)
5- Deixe de pensar em medalhas, promoções e elogios
nesse momento e pense em sua vida e na vida dos inocen-
tes que precisam de você; (...).
39
Tenha sempre essas orientações consigo, pense primeiro em sua vida, não se co-
UNIDADE 1
Neste passo, o primeiro interventor em crise precisa afastar todas as pessoas que
não devem participar do processo de intervenção, como curiosos, imprensa, fa-
miliares. Isso deve ocorrer para a própria preservação da integridade física dessas
pessoas, pois, em uma crise, tudo pode acontecer, inclusive, a morte de um ter-
ceiro. Sendo assim, o interventor deve afastar essas pessoas. Ressalta-se que esse
passo está intimamente ligado com o passo 3, que versa sobre o isolamento do
local. Dessa forma, o primeiro interventor estará protegendo a vida de terceiros,
protegendo a sua própria vida e reforçando o isolamento do local.
Além disso, importante destacar que os curiosos e a imprensa tentarão, a todo
custo, conseguir a melhor imagem, o melhor ângulo da crise, mesmo que isso
coloque em risco as suas próprias vidas. Cabe ao primeiro interventor em crise
explicar que, naquele momento, eles devem manter-se em local seguro, a fim de
preservar suas vidas e que, posteriormente, receberão as informações cabíveis,
mas que devido ao alto risco que os primeiros momentos da crise têm, eles devem
manter-se em local que garanta a sua proteção (SILVA, 2015, p. 121).
explorando Ideias
Se alguém alegue que tem o direito de imprensa e exigir chegar mais perto do ponto crí-
tico, responda com polidez: O seu direito de cobertura do fato não é superior ao direito à
vida das pessoas que estão em risco lá dentro.
Fonte: Silva (2015, p. 121).
UNICESUMAR
Tático (GOST) para que assumam as ações técnicas no gerenciamento da crise”
(SILVA, 2015, p. 122).
Apesar de esse passo ser adotado pelos Policiais Militares, é importante que
o gestor da segurança privada tenha esta informação. Nesse sentido, Silva (2015,
p. 126) menciona que
“
Com a chegada das equipes especializadas, esteja preparado para
repassar todas as informações; Permaneça no local pelo tempo
necessário, de acordo com as orientações dos especialistas; se você
estiver mantendo um bom contato com o CEC, poderá ser mantido
nesse contato de maneira orientada.
Sendo assim, o gestor da segurança privada, quando se deparar com uma crise
em andamento e realizar a primeira intervenção, deve ter em mente que poderá
utilizar as orientações da doutrina da PIC, a qual foi criada para regular as ativi-
dades da Polícia Militar do Paraná, lembrando sempre que o gerenciamento da
crise será realizado pela equipe especializada da segurança pública. Porém isso
não diminui a importância da qualificação do gestor da segurança privada, a fim
de obter esses conhecimentos, pois, como já mencionei, você poderá deparar-se
como uma crise e, com os conhecimentos adquiridos, poderá desempenhar um
bom papel nos primeiros momentos dela, o que será de grande importância para
os agentes de segurança pública que assumirão o gerenciamento da crise.
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 1
42
na prática
2. Quando se está diante de uma crise, é necessário empregar técnicas e táticas espe-
cializadas durante toda a crise, como a Primeira Intervenção em crise, a Negociação
e, até mesmo, o emprego do tiro de comprometimento. Sobre os conceitos relacio-
nados com o processo de gerenciamento de crises, analise as afirmativas:
I - Evento ou situação crucial: crucial significa algo crítico, decisivo, grave, muito
importante. Esta expressão, portanto, significa que, numa crise, há pessoas na
iminência de serem mortas, ou seja, o risco para elas é real e presente. É o caso
das pessoas mantidas como reféns ou vítimas por indivíduos com quaisquer
motivações, ou até mesmo, os indivíduos suicidas quando encontrados no en-
saio final para a morte (tentativa de suicídio).
II - Resposta especial: para o entendimento de uma crise, é necessária a atuação de
grupos policiais devidamente treinados e especializados para tal missão. Estes
grupos são: Equipe de Negociação, Grupo de Intervenção e Atiradores de Pre-
43
na prática
cisão. Este aspecto não pode ser negligenciado, pois, ao contrário, o risco para
as pessoas inocentes ameaçadas se potencializa, significativamente.
III - Solução aceitável: busca-se, em toda crise, uma solução que atenda aos pre-
ceitos aceitáveis, sejam legais, sejam morais e/ou éticos; assim, ao findar-se o
evento, o ideal é que estejam garantidas a vida e a integridade física de todos
os envolvidos, inclusive, daquelas que dão causa ao evento. Em determinadas
ocasiões, porém, a morte daquele que causa o evento, o Causador do Evento
Crítico (CEC), poderá ocorrer para que as vidas de pessoas inocentes sejam
salvas, estando este amparado, legalmente.
IV - Ponto crítico é o local onde se instalou a crise, ou seja, onde está localizado o
causador do evento, com ou sem reféns ou vítimas. Em outras palavras, é todo
o espaço físico controlado pelo CEC, onde ele tem acesso e pode modificar sua
estrutura. O ponto crítico é um dos elementos menos relevante para o geren-
ciamento da crise, pois, além de se constituir numa importante fonte de infor-
mações para o processo, é a partir dele que toda a estrutura do gerenciamento
é montada e organizada.
( ) O negociador não precisa ter curso especializado para realizar essa função.
( ) A doutrina da Primeira Intervenção em Crises só pode ser aplicada pelo Grupo
de Gerenciamento da Crise.
( ) A doutrina da Primeira Intervenção em Crises, apesar de ter sido criada com o
intuito de apoiar as demandas da Polícia Militar do Paraná, também pode ser
utilizada por agentes da segurança privada, tendo em vista que qualquer indiví-
44
na prática
duo está exposto a se deparar com uma crise, e o conhecimento dessa doutrina
é importante para que a crise não tenha um desfecho trágico, devido à falta de
técnica dos primeiros atendimentos.
a) F, F e V.
b) V, F e F.
c) F, F e F.
d) V, F e V.
e) F, V e F.
a) O FBI classifica os graus de risco e ameaça em: alto risco, altíssimo risco, risco
elevado, ameaça extraordinária e ameaça exótica.
b) A classificação adotada pelo FBI em relação aos níveis de resposta relaciona-se,
diretamente, com os níveis de resposta, a título de exemplo, o nível um corres-
ponde à crise de altíssimo risco.
c) A classificação adotada pelo FBI em relação aos níveis de resposta relaciona-se,
diretamente, com os níveis de resposta, a título de exemplo, o nível um corres-
ponde à crise de alto risco.
d) Os critérios de ação no gerenciamento de crise são: a necessidade, a prudência
e a aceitabilidade.
e) O critério de ação aceitabilidade só deve ser observado em algumas ações do
gerenciamento de crises, tendo em vista que haverá ações que vão de encontro
à lei, e isso já é o suficiente.
5. A Primeira Intervenção em Crise (PIC) foi criada por Marco Antônio da Silva, em
2005, devido à grande demanda recebida pela Polícia do Choque em ocorrências
de riscos e crises. Cite os passos da Primeira Intervenção em Crises, na sequência
em que devem acontecer.
45
aprimore-se
O QUE É CRISE?
Para Mitroff, “crise é algo negativo que não pode ser completamente contido dentro
das paredes de uma organização” . Uma crise pode mudar radicalmente o desen-
volvimento de qualquer projeto, ela é “o resultado de uma ocorrência real de algum
evento, onde a situação de emergência está fora de controle” . O Institute for Cri-
sis Management, dos EUA, conceitua crise como sendo “uma ruptura significante
nos negócios que estimula uma extensa cobertura dos meios de comunicação” .
McLoughlin foi além ao dizer que “em uma crise, o prejuízo para a empresa – real
ou potencial – é considerável, e ela não pode, por si mesma, colocar um ponto final
na questão” .
O Dicionário Aurélio oferece diversos significados para “crise”, indo desde o as-
pecto pessoal até o social. Crise pode ser uma “mudança brusca que se produz no
estado de um doente e que se deve à luta entre o agente agressor infeccioso e as
forças de defesa do organismo”, como também pode ser um “momento perigoso
ou difícil de uma evolução ou de um processo”, ou mesmo uma “crise econômica,
ruptura periódica do equilíbrio entre produção e consumo, que traz como conse-
qüências desemprego generalizado, falências, alterações dos preços e depreciação
dos valores circulantes”.
O Dicionário Michaelis define crise como sendo um “momento crítico ou decisi-
vo”, uma “situação aflitiva; base difícil; colapso”, uma “conjuntura perigosa, situação
anormal e grave” .
Como vemos, há diversas definições de crise, porque ela abrange desde o as-
pecto pessoal do indivíduo até o social, desde algo que ofereça risco a uma única
pessoa até algo que ponha em perigo toda uma instituição.
Veremos, então, diversos exemplos daquilo que pode ser considerado como
sendo uma crise.
Exemplos de crise
a) Crise Econômica. Uma crise econômica é um momento no qual a economia
mostra indicadores negativos, podendo gerar falências, desemprego em
46
aprimore-se
47
aprimore-se
48
eu recomendo!
livro
49
2
O PROCESSO DE
NEGOCIAÇÃO
PROFESSORA
Me. Fernanda Julie Parra Fernandes Rufino
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: Noções gerais sobre o processo de
negociação • O negociador • Estratégias de negociação
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar os aspectos gerais do processo de negociação • Apresentar os aspectos relacionados ao
negociador • Apresentar as estratégias de negociação.
INTRODUÇÃO
O PROCESSO
de negociação
conceituando
Por vezes, a sociedade acredita que a tarefa dos negociadores é um mero acessório
na solução do conflito, porém é preciso entender que o papel do negociador é a
função principal do cenário do evento, pois, por meio dela, a situação pode ser
52
totalmente resolvida sem prejuízos de vida para ambos os lados e, caso contrário,
UNICESUMAR
pode tornar o cenário um verdadeiro ambiente de caos.
Este pensamento equivocado pode ser exemplificado pelos inúmeros eventos
críticos ocorridos nas décadas passadas que tiveram finais questionáveis e foram,
massivamente, explorados pela mídia, inclusive com coberturas ao vivo, como
no caso do assalto ao Banco do Brasil da cidade de Goioerê, no Paraná, o caso do
ônibus 174, na cidade do Rio de Janeiro, e no caso da menina Eloá.
A seguir, passaremos por cada um desses casos reais a fim de entendermos
o que aconteceu e refletirmos sobre a importância do emprego das técnicas de
gerenciamento de crises e da negociação:
dinheiro, armas e dois reféns (a freira e o padre). Todas as vidas foram preservadas.
O assalto perdurou por dias, e muitos erros foram cometidos. Descobriu-se,
inclusive, que “Irmã Letícia”, no momento em que atuou como negociadora oficial
daquela crise, já não era mais freira e não tinha intuito de ajudar o órgão da segu-
rança pública, muito pelo contrário. As técnicas de negociação ainda não estavam
sistematizadas no órgão policial, o que permitiu, na época, que a freira exercesse a
função de negociadora principal, o que, como veremos ao longo do nosso estudo,
é inadmissível, pois, para ser negociador, é necessário fazer parte do órgão de se-
gurança pública bem como ter qualificação específica (SEFAZ, [2020], on-line)¹.
Outro erro marcante foi a troca de reféns, que não é aconselhada nas técnicas
de negociação atuais. Depois desse evento crítico que expôs o despreparo da po-
lícia paranaense, o comando geral da polícia do Paraná decidiu criar um pelotão
de Operações Especiais semelhante à SWAT estadunidense, que, atualmente, é
conhecido por COE – Comandos e Operações Especiais.
Outro fato que elevou o descrédito da população com relação às equipes de ne-
gociação ocorreu em 12 de junho de 2000, quando Sandro Barbosa Nascimen-
to manteve reféns passageiros do ônibus 174, na zona sul da cidade do Rio de
Janeiro. A ação durou, aproximadamente, quatro horas, foi transmitida ao vivo
em todo país e terminou com a lamentável morte de uma das passageiras e a
morte do sequestrador (GAIA, 2003). Portando uma arma calibre 38, Sandro
manteve como reféns dez passageiros, o que obrigou as forças policiais a cerca-
rem o ônibus, pois o criminoso, ao se utilizar da presença da imprensa, obrigou
os passageiros a escreverem frases de terror nas janelas do ônibus (GAIA, 2003).
Após longas horas de tensão, todos os reféns foram liberados, com exceção
de uma, a professora Geísa Firmo Gonçalves, que, usada como escudo humano
pelo sequestrador, foi atingida por um disparo de arma de fogo após uma ati-
tude despreparada de um dos policiais da ação. O disparo resultou na morte da
professora, o sequestrador também veio a óbito por asfixia, dentro da viatura da
polícia, enquanto seguia para a delegacia. A imprensa não poupou palavras de
indignação contra a instituição policial responsável pelo gerenciamento daque-
la crise (GAIA, 2003). Nessa situação, o gerenciamento da crise não conseguiu
atingir o seu objetivo principal: salvar vidas.
54
UNICESUMAR
explorando Ideias
Caso Eloá
rados para atuar diante de crises e riscos e que colocavam a vida dos envolvidos,
inclusive deles mesmos, em risco.
56
O apoio da polícia americana foi muito importante, pois já contava com certa
UNICESUMAR
experiência no assunto, tendo em vista que lá esta problemática já era estuda-
da desde a década de 70. Nesse sentido, para a qualificação dos nossos policias,
foram realizados diversos treinamentos em parcerias entre a polícia americana
e forças policiais de todo o Brasil, com o intuito de difundir esse conhecimento
em nosso país.
Após alguns anos de capacitação dos agentes policiais, o assunto passou a
se disseminar em grandes e pequenas cidades. Houve, também, o aumento de
obras literárias sobre gerenciamento de crises e negociação em nosso país, o que
tornou mais fácil a pesquisa e o aprendizado das técnicas adequadas, embora
ainda esteja muito longe do ideal.
Diante deste contexto, a doutrina de gerenciamento de crises alude que o
ambiente básico do processo de negociação é aquele que se desenvolve utilizando
técnicas de persuasão. Em outras palavras, o principal fator que determina o êxito,
ou não do gerenciamento da crise é como se desenvolve a negociação, por isso, a
importância da qualificação do policial negociador.
pensando juntos
É um equívoco acreditar que o fator determinante para solução de uma crise gira em tor-
no da aquisição de equipamentos caros, como viaturas sofisticadas, tecnologias de última
geração, armas super potentes. O item mais importante nesse contexto é o negociador
(bem capacitado e bem treinado), capaz de entender o Causador do Evento Crítico e as
suas angústias.
Não se pode negar que o evento crítico demanda equipe e equipamentos espe-
cializados; porém, de nada adianta uma equipe de 30 policiais ou equipamentos
de última geração se, no gerenciamento da crise, não estiver presente o policial
negociador para empregar as técnicas de negociação e possibilitar um ambiente
favorável para o sucesso do gerenciamento da crise.
No Brasil, dentro do campo das noções básicas sobre o gerenciamento da
crise, a negociação preza por alguns objetivos básicos, como: ganhar tempo,
abrandar exigências e colher informações.
O motivo para ganhar tempo na negociação da crise existe para acalmar a
situação, ao ponto de possibilitar que o CEC retorne ao nível de racionalidade,
pois, no início da crise, os níveis de estresse e tensão estão muito elevados, tor-
nando, dessa forma, improdutiva qualquer forma de comunicação.
57
Já com relação ao abrandamento das exigências, este servirá para que o CEC
UNIDADE 2
entenda que não receberá tudo que exigir e entender, também, que só conseguirá
o que pede desde que, em contrapartida, forneça algo em troca, criando, assim,
uma relação de ação versus recompensa ou garantia. Isso diminuirá os possíveis
prejuízos humanos derivados da crise.
Colher informações é uma atitude que se inicia juntamente com o conhe-
cimento da crise e só deve terminar quando o agente já estiver sob a tutela do
Estado, e todos os reféns ou vítimas, em liberdade e seguros. Nessa etapa, ocorre
a reunião de dados sobre o causador, suas motivações e intenções para auxiliar
na tomada de decisão se há, ou não, necessidade de utilização de uma força tática
de maneira coercitiva ou, até mesmo, neutralizadora.
É importante mencionar que, para a efetivação desta coleta de informações,
podem ser usados, além de dados derivados do próprio CEC, outros vindos dos
reféns e vítimas resgatados, ou ainda, com outros causadores que já estiverem em
poder da força policial.
Outra recomendação que se deve às experiências de casos pretéritos é que
a negociação de uma crise deve ser direcionada no sentido de diminuição dos
riscos, assim, nenhuma exigência deve ser atendida se direcionar a crise para esta
condição, como: exigências de trocas de reféns, munições, armas, transportes etc.
É preciso buscar uma estabilidade emocional e conduzir o CEC a pensamentos
de que tudo caminha para pacificação, evitando, assim, estimular o pensamento
de que ainda pode haver novas estratégias para o seu plano.
58
Lembramos que a solução para uma crise sem prejuízos humanos ou com o míni-
UNICESUMAR
mo prejuízo possível é resultado de forças que devem atuar de maneira sistêmica,
dessa forma, deve-se manter uma unidade entre negociador, forças policiais e
equipe tática, todos sob o comando do negociador. Então, de maneira alguma,
devem ser tomadas decisões individualmente, sob pena de prejuízos semelhantes
aos ocorridos nos casos mencionados no início desta unidade.
Antes de passarmos para a análise da pessoa do negociador, é importante
destacar os ensinamentos de Gaia (2003) sobre o grupo de negociação, do qual
o negociador faz parte. Assim, vejamos:
“
O grupo de negociação é estruturado com a finalidade de estabele-
cer as estratégias de negociação e, após aprovação do comandante
da cena de ação, implementá-las conforme a doutrina de geren-
ciamento de crise. Esta equipe desempenha o papel de realizar a
interlocução com os perpetradores, e neste sentido, é importante
que ele esteja devidamente estruturado (GAIA, 2003, p. 63).
59
Chefe de equipe: organizar o grupo, distribuir tarefas e supervisionar ativi-
UNIDADE 2
2 O NEGOCIADOR
60
Como mencionado, o negociador é o elemento mais importante no cenário da crise,
UNICESUMAR
ele é o elo entre o causador do evento crítico e gerente da crise, que representa o Es-
tado na busca da paz social. Por estes motivos, o negociador deve ser o mais capaci-
tado entre os integrantes daquele ambiente de extrema instabilidade, que é a crise.
Parte desta necessidade de capacitação da figura do negociador vem da exigência
de certas qualidades e características desse profissional, convencionadas dentro da
doutrina específica acerca deste tema. Vejamos nas palavras de Gaia(2003, p. 65):
“
Dentre essas características, segundo a doutrina do FBI, poder-se-ia
enumerar as seguintes: Conhecimento global da doutrina de geren-
ciamento de crises; Respeitabilidade e confiabilidade; Maleabilida-
de; Fleuma e paciência; Espírito de equipe; Disciplina; Autoconfian-
ça; Autocontrole; Comunicabilidade, e Perspicácia. Essa listagem é
meramente exemplificativa, constituindo, no conjunto, aquilo que
poderia ser considerado como o perfil do negociador ideal.
Cumpre destacar, como o próprio excerto nos mostra, que qualquer rol de quali-
dades ou aptidões exigidas para o exercício da função de negociador é meramente
convencionada na doutrina, não existindo, até o presente momento, legislação
que especifique tais qualidades.
explorando Ideias
Quando destacamos que deve ser o mais capacitado, significa que o negociador tem
que ter conhecimento de diversas áreas, ao contrário dos grupos especializados que,
em geral, são extremamente capacitados em um assunto específico. O negociador
deverá ter um conhecimento multidisciplinar para conseguir levar a crise a um
desfecho aceitável. Porém nada impede que o negociador conte com o apoio de
outros profissionais, como vimos anteriormente, da psicologia e psiquiatria.
61
Neste sentido, cumpre destacar os dizeres de Santos e Ventura (2013, p. 97)
UNIDADE 2
“
[...] aos padrões mundialmente consagrados, dotando o policial
negociador com as ações apropriadas à atuação segura durante a
negociação de reféns, por meio do estabelecimento da prioridade
de salvar vidas, por intermédio da avaliação técnica do incidente,
desenvolvendo a cultura da negociação e a consolidação da função
de negociador.
A habilidade principal que o negociador deve ter, sem dúvida, é a maturidade emo-
cional, pois, no desempenho de suas funções, ele se deparará com situações extre-
mamente delicadas, sabendo que sua ação pode decidir sobre a vida ou morte dos
envolvidos. Ademais, existem várias outras condições peculiares desta função que o
testarão, emocionalmente, e, em hipótese alguma, o negociador deverá responder ou
agir de forma temperamental, muito pelo contrário, o negociador deverá procurar
manter a serenidade necessária para compreender e responder de acordo com o que
aquele momento necessita para alcançar a solução mais pacífica possível. Sobre a
maturidade emocional, Gaia (2003, p. 66) ressalta a sua importância:
“
Ter maturidade emocional para manejar com abusos, ridicularidades
e declarações insultuosas, advindas do perpetrador. E neste particular,
estas situações limites também originam-se das autoridades que pres-
sionam os policiais para que dêem uma rápida solução ao problema.
A boa comunicabilidade também faz parte das características defendidas pela dou-
trina como qualidade indispensável ao agente negociador. Isso se deve ao fato de
a fala ser a principal ferramenta de trabalho desse profissional. Nesta perspectiva,
cabe destacar os ensinamentos de Gaia (2003) sobre essa característica que um
negociador deve ter:
“
O mesmo acontece com a comunicabilidade. Como esperar bons re-
sultados de um negociador que não tenha qualidades semiológicas
suficientemente desenvolvidas para se comunicar com desenvoltura,
sob pressão, com pessoas perigosas, em momentos de crise? (GAIA,
2003, p. 65).
62
UNICESUMAR
Outra habilidade que se torna imprescindível é a visão sistêmica, isso se faz ne-
cessário para entender o cenário como um todo, isso ressalta a importância do
negociador ter conhecimento multidisciplinar, pois o ajudará a analisar o cenário
e os envolvidos sem deixar passar nenhum detalhe importante. Ressalta-se que o
ponto crítico e o seu arredor devem ser encarados como um ambiente complexo
e sistemático. É necessário que o negociador entenda todos os fatores que estão
envolvidos em cada caso concreto. Essa característica está relacionada com a
capacidade cognitiva aliada à maturidade operacional e emocional desse agente.
Podemos considerar, também, como um dos pontos importantes, o conhe-
cimento jurídico e operacional do negociador, por exemplo, para que não sejam
concedidos ou autorizados ao CEC pedidos que exorbitem a esfera legal e ope-
racional, o que colocaria em risco toda a negociação e agravaria a estabilidade
do cenário crítico. Há situações em que o negociador deverá orientar o CEC que
aquela exigência não é possível, inclusive, ressaltando que o próprio CEC sabe
que tal pedido não pode ser acatado. Vale lembrar que o negociador tem o trei-
namento adequado para fazer isso, conforme as técnicas de negociação.
Dessa forma, é imprescindível, como vimos, que o negociador passe por
qualificação técnica específica e que também passe por capacitações ao longo
de sua carreira. Os órgãos de segurança pública, normalmente, oferecem essas
capacitações, periodicamente, para que os negociadores estejam aptos a interme-
diar qualquer situação de risco que necessite de sua intervenção e a fim de que
apliquem as técnicas mais atuais sobre a negociação.
Além das qualidades anteriormente descritas, o negociador deve possuir al-
gumas características essenciais para o bom desempenho da função. Podemos
citar como exemplo:
a) Bom estado físico e mental, esta qualidade é indispensável, pois, caso o
próprio negociador esteja com alguma enfermidade, não conseguirá a
estabilidade e a concentração necessária para tranquilizar o CEC e os
outros envolvidos na ocorrência de vulto.
b) Desempenhar tarefas em estado de tensão deve ser bem desenvolvido
por se tratar de uma condição que se repetirá com frequência na carreira
do negociador de crises, pois é impossível imaginar uma crise onde não
haja decisões sem estado de tensão.
63
UNIDADE 2
c) Deve ser um ouvinte ativo, essa característica diz respeito ao saber ou-
vir. O bom ouvinte escuta e entende a informação, transformando-a em
decisões ou feedbacks. Dessa forma, é indispensável no grupo de habi-
lidades a serem desenvolvidas pelo negociador. Vejamos o que pensa
GAIA (2003, p. 66) a respeito do ouvinte ativo:
“
Deve ser bom ouvinte e ter excelentes habilidades como entrevista-
dor, transmitindo confiança e credibilidade. Estabelecido um víncu-
lo de confiabilidade entre o negociador e o perpetrador, as tratativas
progressivamente mudarão e ao invés de discutirem-se posições, a
tônica circuncidará princípios e o negociador poderá desenvolver
um argumento lógico bastante consistente com acentuado senso
comum.
64
UNICESUMAR
explorando Ideias
O medo do erro e de ser punido ocorre na maioria das empresas e organizações públicas
e os negociadores precisam se auto-realizarem, desafiarem, serem desafiados, buscar
respostas e solucionar problemas, o que os motivará a se sentirem parte integrante do
processo e peça necessária à corporação.
Fonte: Santos e Ventura (2013, p. 95).
explorando Ideias
Ademais, o CEC precisa sentir que está sendo ouvido, perceber que tem alguém
que está interessado em resolver a situação estabelecida no momento de crise.
Isso fará com que o negociador ganhe autoridade e a confiança do causador do
evento para gerenciar o momento. Sobre isso, ressalta-se que:
65
“
Um negociador que não inspira respeito e confiança nos seus pares e
UNIDADE 2
explorando Ideias
Como se pode verificar, esse papel tático do negociador, hoje pacificamente assentado na
doutrina de gerenciamento de crises, faz com que os policiais escolhidos para esse impor-
tante mister sejam bem treinados e dotados de características pessoais bem peculiares.
Fonte: Gaia (2003, p. 65).
UNICESUMAR
O PROCESSO
de negociação
explorando Ideias
o causador apenas aceita a morte do seu alvo como solução. Por isso, é tarefa do
negociador entender cada cenário e iniciar o processo de intervenção da melhor
maneira disponível. De acordo com Salignac (2011, p. 121),
“
Nem todo incidente crítico é negociável. Em um número significa-
tivo de vezes, o PEC não se interessa por uma solução pacífica - na
realidade, seu objetivo é a eliminação física da pessoa capturada e,
portanto, o negociador necessita de parâmetros que indiquem a
possibilidade, ou não, de negociar com o PEC, (...).
“
• A primeira diz respeito à negociação técnica, que é o processo
de convencimento do CEC, por meio da dialética no intuito de
estabelecer uma linha negociável em busca de uma solução pací-
fica e legal da crise, utilizando, para alcançar esse convencimento,
as técnicas adquiridas por treinamentos técnicos ou doutrinários.
68
Tática: na negociação tática, percebendo que o processo de negociação evo-
UNICESUMAR
lui negativamente, o negociador passará a reunir o maior número de infor-
mações possíveis visando suprir a aplicação das demais alternativas táticas
caso torne-se necessário o seu emprego na ocorrência.
Nessa perspectiva, caso o negociador decida pela abordagem tática, deverá obter
informações pertinentes, como número de vítimas, reféns, armas, e coordenar a
ação interventiva utilizando técnicas que minimizem os riscos para as pessoas
envolvidas no evento. Em outras palavras, o processo de negociação pode ser
dividido em duas partes bem delimitadas em função dos seus objetivos: nego-
ciação real, aquela cujo negociador busca uma rendição do causador do evento
de maneira voluntária, diminuir a violência, ou abrandar exigências utilizando
técnicas de barganha, por meio da atenção ativa e atendendo exigências, desde
que sejam exigências razoáveis; e negociação tática, aquela que evolui da pri-
meira, pois, aqui, o objetivo torna-se outro, que é a invasão tática. Nesse momento,
esgotaram-se as esperanças de uma rendição pacífica e voluntária e, então, cabe
ao negociador obter o máximo de informações para subsidiar a ação da equipe
tática que deverá estar de prontidão.
Sobre o negociador e seu papel tático, destacam-se os ensinamentos de Gaia
(2003, p. 44):
“
(...) o negociador (ou negociadores) têm um papel tático de suma
importância no curso da crise. Esse papel tático, segundo o FBI,
pode ser desempenhado de três maneiras: através da coleta de in-
formações, durante as negociações; da utilização de técnicas de ne-
gociação que otimizem a efetividade do risco de uma ação tática e
pelo uso de técnicas de negociação específicas, como parte de uma
ação tática coordenada.
69
UNIDADE 2
explorando Ideias
Na coleta de informações, o negociador é a mais confiável fonte de que pode dispor o co-
mandante de cena de ação. Através dele, é possível saber a respeito da condição mental,
do estado de espírito e da personalidade dos elementos causadores da crise.
Fonte: Gaia (2003, p. 44).
Na busca por estas informações, o negociador pode observar alguns sinais no CEC
que podem ajudar a identificar quando ele está propenso a negociar. Podemos citar
como exemplo quando o CEC demonstra o desejo de se manter vivo, ou ainda, se
ele demonstrar medo da ação tática. As exigências feitas pelo CEC também podem
descrever se ele tem intenção em negociar, caso essas exigências sejam realistas, fica
demonstrado que ele tem interesse em uma solução pacífica.
Embora não sejam os únicos indícios a serem buscados, esse tipo de sinal pode
determinar se o CEC tem ou não a intenção de permanecer vivo, o que faz toda a dife-
rença no cenário da crise, pois pessoas que perderam a vontade de permanecer vivas
não demonstram medo de ações táticas, o que, certamente, colocará em risco todos
na ação. Este raciocínio relembra-nos que a ação tática sempre será a exceção à regra,
ou seja, só se aplica caso outros meios de solução da crise tornarem-se ineficientes.
É importante sempre ressaltar que, para que o negociador tenha êxito, é necessá-
rio estabelecer um vínculo de confiança com o CEC, pois, sem esse vínculo, dificil-
mente haverá qualquer diálogo, o que é imprescindível no processo de negociação.
Para criar esse vínculo, o negociador deve se apresentar ao CEC e deixar claro que
será com ele que o CEC conversará, a fim de que a situação se encerre da melhor
maneira para todos.
Ressalta-se que, assim como no processo de Primeira Intervenção em Crises,
algumas palavras são proibidas no processo de negociação, como: “morte, invasão,
grupo de intervenção, sniper, rendição, refém (esta palavra pode enfatizar o papel do
poder do CEC e o papel de objeto do ameaçado; troque por pessoa, visando huma-
nizar a relação entre eles)” (SILVA, 2015, p. 99).
pensando juntos
UNICESUMAR
uma vítima (caso em que o CEC utiliza como intermediário para a comunica-
ção), o negociador buscará coletar o maior número de informações sobre tudo
que envolve o cenário da crise, como a quantidade exata de CECs, vítimas, reféns
e armas. Tal etapa pode ser entendida como: prover suporte técnico, a qual se
orienta que a atuação do negociador se direcione no sentido de subsidiar, com
informações, a ação da equipe tática para a tomada de decisão de como agir,
inclusive, se necessário, atuando juntamente com a equipe. É importante que,
neste momento, o negociador não deixe transparecer para o CEC as intenções
de uma ação invasiva.
explorando Ideias
Uma maneira de confirmar tais informações é por meio do diálogo ou, até mes-
mo, da aproximação do local em que a crise está instalada, isto é, do ponto crítico,
para realizar a entrega de comida, por exemplo. O negociador deve estar atento a
todos os detalhes e aproveitar todas as oportunidades para colher o máximo de
informações. Sobre isso, Gaia (2003, p. 45) explica que
“
a aproximação do ponto crítico com o objetivo de dialogar ou fazer
entregas (de comida, água, cigarros, etc... ), possibilita uma observação
mais próxima e detalhada do interior do ponto crítico, com a conse-
qüente coleta de dados que podem ser de grande importância para
orientação do grupo tático. Nesta oportunidade também podem ser
procedidos registros, filmagens, fotos do ponto crítico e das pessoas
que lá se encontram, através de equipamentos discretos além, de cole-
tar declarações escritas dos perpetradores ou dos reféns, para análise.
É importante deixar claro que a negociação “não é uma ciência exata, exigirá
do negociador um conhecimento amplo acerca da doutrina do gerenciamento
de crises” (NETO et al., 2018, p. 194). As estratégias citadas anteriormente são
exemplificativas, pois é o negociador quem, obrigatoriamente, deverá passar por
qualificação específica, inclusive para ter o domínio das técnicas de gerenciamen-
to de crises, analisará o caso concreto para decidir quais estratégias de negociação
empregar, visando sempre que a crise não “se alastre e tome proporções maiores
que as atuais” (NETO et al., 2018, p. 194).
72
O negociador, quando alia as qualidades necessárias às estratégias de negocia-
UNICESUMAR
ção, consegue encaminhar a crise para um desfecho aceitável. Por fim, nota-se que o
negociador tem que ter um jogo de cintura, pois o estresse da crise, como já vimos,
é superior ao de uma situação normal, logo, as atitudes do negociador podem tanto
conseguir que as vidas sejam preservadas quanto o contrário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
73
aprimore-se
NEGOCIAÇÃO E LIDERANÇA
74
aprimore-se
75
aprimore-se
conhecer mais sobre aquela pessoa ou organização com a qual negociamos e, assim,
analisar as possibilidades para a tomada de decisões. Devemos ampliar a nossa com-
preensão sobre o termo ‘negociação’, o qual, como já foi apresentado, não está apenas
relacionado com transações entre empresas nacionais ou internacionais e, nem sem-
pre, faz referência ao lucro ou qualquer outro tipo de benefício financeiro.
Negociar é encontrar possibilidades, soluções, é convencer com base em argumen-
tos, é questionar, apresentar ideias, usar estratégias que favoreçam o discurso. Quando
se negocia, busca-se como objetivo ganhar, obter sucesso, e essa vitória se dá pela
persuasão.
Fonte: Sousa (2015).
76
na prática
77
na prática
I - O negociador deve ter estar atento a crise em quase todo o tempo do geren-
ciamento de crises, pois é normal que uma pessoa, depois de algumas horas,
abaixe o seu nível de concentração.
II - O controle emocional é uma das principais habilidades do negociador, conside-
rando que o nível de estresse de uma crise é diferente de uma situação rotineira,
para se tornar negociador, é preciso ter a capacidade de controlar o emocional.
III - A visão de túnel é uma das habilidades do negociador, já que, assim, ele conse-
guirá focar no CEC e nos reféns ou vítimas da crise.
IV - Não é necessário conhecimento jurídico para que o negociador exerça sua
função, logo, ele deve praticar seus atos pautando-se somente nas técnicas
operacionais.
( ) Ouvinte eficaz.
( ) Paciente, calmo e instável.
( ) Determinado e focado.
78
na prática
a) V, F e F.
b) V, V e V.
c) V, F e V.
d) F, V e F.
e) F, F e V.
a) V, F e F.
b) V, V e V.
c) V, F e V.
d) F, V e V.
e) F, F e V.
79
eu recomendo!
livro
filme
A negociadora
Ano: 2012
Sinopse: a especialista em negociação de reféns, Cameron Grain-
ger, decide se retirar do serviço, após um jovem morrer numa
negociação, em Detroit. Agora, ela é chamada de volta à ação
quando a própria irmã se torna uma vítima.
filme
80
eu recomendo!
conecte-se
O vídeo mostra cenas de como uma Freira fez papel de negociadora em um assal-
to a uma agência bancária no Paraná.
https://www.youtube.com/watch?v=BIu4JTepvEI
81
3
ASPECTOS OPERACIONAIS
DO GERENCIAMENTO
de crises
PROFESSORA
Me. Fernanda Julie Parra Fernandes Rufino
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Organização do Cenário e da crise
• Uso de armamento letal e não letal • Invasão tática.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar aos alunos aspectos relacionados à organização do local do gerenciamento da crise • Apre-
sentar ao aluno aspectos sobre o uso de armamento letal e não letal no processo de gerenciamento
da crise • Apresentar informações acerca da invasão tática.
INTRODUÇÃO
DO CENÁRIO
da crise
Como já sabemos, o local onde está instaurada a crise é denominado ponto críti-
co e merece especial atenção dos agentes envolvidos no gerenciamento da crise.
Além disso, as imediações no entorno do ponto crítico também recebem trata-
mento especial pelos agentes, seja para a proteção da integridade física das pes-
soas que ali se encontram (agentes da segurança, curiosos, familiares, imprensa
etc.), seja para evitar que a crise se alastre para além do ponto crítico.
Neste sentido, o chefe do grupo de gerenciamento de crises deve empregar
técnicas para organizar o cenário da crise e proceder com o gerenciamento desta.
De acordo com Salignac (2011), o chefe do grupo do gerenciamento da crise tem
oito tarefas principais relacionadas – direta ou indiretamente – com a organiza-
ção do cenário da crise. A seguir, vejamos quais são essas tarefas:
84
4 - Ações a serem tomadas no curso da resolução: o caso de rendição e no
UNICESUMAR
caso de uso de força letal;
6 - Ações de desmobilização;
85
Continuação da coleta e do processamento de
UNIDADE 3
Aqui, o gerente da crise deve garantir que a coleta de informações não cesse, ou não
seja interrompida durante o gerenciamento da crise, nem mesmo após o desfecho
da crise, pois os agentes podem encontrar informações importantes, por exemplo,
no ponto crítico após a saída do CEC e das vítimas ou reféns (SALIGNAC, 2011).
O gerente deve garantir que a polícia judiciária possa realizar o seu trabalho,
como a realização de perícias e exames de corpo de delito nos envolvidos, como:
vítimas, reféns, CEC e, até mesmo, quem porventura feriu-se, durante o geren-
ciamento da crise (SALIGNAC, 2011).
86
Ações de desmobilização
UNICESUMAR
Após o desfecho da crise, é necessário que haja a desmobilização do aparato
envolvido no gerenciamento da crise. Aqui, o gerente avaliará a situação junta-
mente com os policiais, além de providenciar o recolhimento de armas e outros
objetos que foram utilizados pela equipe de segurança pública, inclusive, Salignac
menciona que o gerente fará a última entrevista ou contato com a mídia (SA-
LIGNAC, 2011).
87
2
USO DE
UNIDADE 3
ARMAMENTO
letal e não letal
Caro(a) aluno(a), como vimos, o cenário da crise deve ser organizado seguindo
os preceitos estratégicos para que o gerenciamento possa ser realizado da melhor
maneira e alcançar o seu objetivo final: salvar as vidas envolvidas. Mas, infeliz-
mente, sabemos que há situações de crise em que nem todas as vidas conseguem
ser salvas. Nessa perspectiva, vale destacar os ensinamentos de Brasiliando e Melo
(2018, p. 7):
“
O Estado se vê então diante desta dicotomia de manter a ordem sem
deixar de preservar vidas. Como então encontrar o meio termo para
cumprir seu dever com eficiência? Nas alternativas potencialmente
não letais. A criação, desenvolvimento e utilização de Instrumentos
de Menor Potencial Ofensivo em todo mundo tornou-se a melhor
alternativa encontrada pelo Estado para solução aceitável dos con-
flitos, pois estes instrumentos visam tão somente debilitar, incapa-
citar ou diminuir a capacidade operativa do infrator.
UNICESUMAR
tratégia é a utilização de armamento não letal, o qual pode ser utilizado antes do
armamento letal, como a arma de fogo, que, de acordo com Brito(2015, p. 13),
“somente deve ser empregada como último recurso para a resolução das ocor-
rências, estritamente nos casos de defesa da própria vida ou da vida de terceiros” .
No mesmo sentido, discorrem Brasiliano e Melo (2018) sobre o uso do ar-
mamento de menor potencial ofensivo. Vejamos:
“
Ao longo do tempo vários instrumentos de menor potencial ofen-
sivo foram desenvolvidos para uso das forças de segurança. Estes
instrumentos são fabricados de forma que, se usados dentro de suas
especificidades, com a técnica correta, não provoque a morte, nem le-
sões graves, mas somente a incapacitação, debilitação e contenção do
indivíduo no qual seja utilizado (BRASILIANO; MELO, 2018, p. 12).
explorando Ideias
90
antitumulto, mosquetão federal AMI-640, máscaras de gás, escudos, caneleiras,
UNICESUMAR
dentre outro” (BRITO, 2015, p. 15). Além disso, alguns equipamentos não letais
demandam a utilização de munições não letais. Vejamos o seu conceito:
“
São artefatos e munições que foram desenvolvidos com a finalida-
de de reduzir a capacidade combativa do oponente sem causar-lhe
graves lesões. Podem ser lançadas manualmente ou disparadas por
armas de fogo ou outros armamentos e equipamentos específicos.
Citam-se como exemplos, as seguintes munições não letais: mu-
nições químicas, granadas explosivas, granadas fumígenas,
munições de impacto controlado (elastrômetro), dentre outros.
(BRITO, 2015, p. 15, grifo nosso).
91
Art. 2° No caso de munições calibre 12 com balins de borracha ou plástico e
UNIDADE 3
92 Quadro 3 - Armamento não letal para a segurança privada / Fonte: Polícia Federal (2012).
Agora, passaremos para a análise das munições não letais disponíveis no Brasil
UNICESUMAR
para o uso da segurança pública. Você notará que há mais munições disponíveis
para a segurança pública do que as permitidas para a segurança privada, mas isso
não diminui a importância de conhecermos todas as munições. Então, vejamos
o quadro a seguir:
Agentes Químicos
Espargidores Químicos
Agentes Fumígenos
Granadas Explosivas
93
UNIDADE 3
conceituando
Cabe destacar que os agentes lacrimogêneos mais utilizados pelas forças de se-
gurança privada e, inclusive, da segurança pública, são “OC (Oleoresina de Cap-
saicina), mais conhecido como spray de pimenta, e o CS (Ortoclorobenzalmalo-
nonitrilo) comumente chamado de gás lacrimogêneo” (BRASILIANO; MELO,
2018, p. 12-13) e que, como vimos, estão de acordo com a autorização do Exército
e da Polícia Federal.
Conforme ensina Brito, “a maioria dos agentes lacrimogêneos se encontra em
estado líquido ou sólido, por isso a terminologia ‘gás lacrimogêneo’ é incorreta
ou empírica” (BRITO, 2015, p. 21). Portanto, devemos evitar o máximo chamar
o armamento não letal agente lacrimogêneo de gás.
Vejamos, agora, orientações importantes sobre o uso dos agentes lacrimogêneos.
(2) procurar uma área arejada ou onde haja incidência de vento (quanto
maior a quantidade de vento, mais rápida será a descontaminação);
94
(3) lavar a área afetada com água fria em abundância, sobretudo, a região dos
UNICESUMAR
olhos, rosto e mãos (nunca utilizar água quente);
(7) não esfregar a pele e os olhos com as mãos, visto que este procedimento
aumentará a contaminação;
Quadro 5 - Orientações para descontaminação - Agente Químico CS / Fonte: PMPR (2015, p. 8).
Por fim, devido ao alto poder do CS, ele não deve ser empregado em local fechado,
como em residências; também deve ser evitada a sua utilização perto de hospitais
ou escolas, pois poderá causar a morte de pacientes ou crianças e adolescentes,
que são mais vulneráveis ao CS, inclusive, pessoas idosas, pessoas com doenças
respiratórias, grávidas e recém-nascidos (BRITO, 2015, p. 25).
explorando Ideias
(2) retirar o excesso do agente químico do rosto e lavá-lo com sabão neutro;
(3) lavar a área afetada com água fria em abundância, sobretudo a região dos
olhos, rosto e mãos (nunca utilizar água quente);
(4) levar a pessoa até um local arejado e, se possível, onde haja vento;
Por fim, também deve -se atentar às mesmas observações do CS para não aplicar
próximos de locais, como escolas e hospitais, ou utilizá-los em grávidas e idosos.
b) Espargidores Químicos: são invólucros metálicos que carregam agentes
lacrimogêneos CS e OC. Os tamanhos variam, alguns até cabem no bolso.
Brito (2015, p. 32) afirma que, nos espargidores químicos,
“
Além da substância química específica, é adicionado ao seu recipien-
te um gás propelente sob pressão, o qual é o responsável por expelir
toda a substância em seu interior. Este propelente geralmente é com-
posto pela mistura dos gases propano/butano, mistura química que
é altamente inflamável, todavia, já existem no mercado espargidores
fabricados com outros propelentes que não são inflamáveis (...).
96
UNICESUMAR
explorando Ideias
Para obter uma incapacitação temporária efetiva, o jato deve ser direcionado diretamente
para o rosto do oponente e deve atingir a região dos olhos. Isso irá provocar o fecha-
mento involuntário das pálpebras, afetando temporariamente a visão do infrator, o qual irá
perder a noção de espaço e do terreno, além de causar uma forte sensação de ardência na
sua pele, quebrando a resistência física que estava oferecendo contra a equipe (...). Todavia
não deve atingir outra região, pois o uso desta tecnologia não letal não se tornará eficiente.
Fonte: Brito (2015, p. 34).
“Pelo fato de não ser explosiva, não possui raio de segurança, sendo assim,
pode ser arremessada próximo aos oponentes, para que estes sejam conta-
minados antes de tentarem lançar o artefato contra o efetivo” (...).
“
projéteis que têm por finalidade lançar o agente químico CS a dis-
tâncias maiores do que as alcançadas pelas granadas de mão, trans-
formando-se em uma alternativa tática para o controle de tumultos
e distúrbios civis.
“
Impacto Controlado: é aquele artefato bélico utilizado por um mi-
litar que poderá controlar os efeitos a serem causados no oponente,
considerando a distância e o local do corpo a ser alvejado. Podem
ser classificadas em dois grupos: munições jato direto e munições
com projéteis, ambos os grupos encontrados nos calibres 12, 37/38
mm, 38.1 mm e 40 mm e nos calibres 0.68 pol somente são utiliza-
dos os projéteis (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2017, p. 41).
98
Por fim, dentro dos invólucros de metal, há um misto de pirotécnico e de agente
UNICESUMAR
lacrimogêneo CS, logo, deve-se observar as mesmas questões relativas aos demais
armamentos de menor potencial ofensivo que utilizam o agente CS.
e) Granadas explosivas: as granadas explosivas apresentam dois modelos:
a granada defensiva e a granada ofensiva. Independentemente de qual for
o modelo, algumas orientações devem ser observadas no momento da
utilização das granadas explosivas. Vejamos:
Quadro 8 - Orientações básicas acerca das granadas explosivas / Fonte: PMPR (2015, p. 9 -10).
99
Granadas Defensivas são utilizadas com a finalidade de causar dano, le-
UNIDADE 3
são ou morte do oponente, são fabricadas com alto explosivo (maior que
1000m/s – velocidade de decomposição do explosivo) e possuem cinta de es-
tilhaçamento ou somente podem ser utilizados pelos integrantes das Forças
Armadas.
100
(1) A distância mínima e máxima em relação ao operador e ao agressor, a
UNICESUMAR
identificação precisa do alvo e a região corporal a ser atingida (sempre na
região das pernas), a presença de pessoas alheias aos atos de violência ou
pessoas vulneráveis;
(2) Não devem ser disparos acima da linha da cintura. Disparos na região
do baixo ventre (região pélvica), no tórax ou na cabeça são proibidos, pois
podem provocar graves lesões ou até mesmo a morte de pessoas, o que
contraria completamente a finalidade do emprego do material não letal;
(6) A munição a ser utilizada nos calibres 37/40 mm, 18 mm (no caso do
Lançador FN 303) ou outros que venham a ser adquiridos pela Corporação,
também deverá ser constituída de projétil singular, de modo a evitar que,
nas ações de CDC, pessoas inocentes sejam atingidas devido ao emprego de
munições que não permitem a adequada seletividade do alvo.
Quadro 10 - Orientações básicas - munições de impacto controlado / Fonte: PMPR (2015, p. 11-12).
101
Como visto, para utilizar essa munição, é necessário armamento adequado, po-
UNIDADE 3
102
Art. 16. A fabricação de armas de choque elétrico fica condicionada a auto-
UNICESUMAR
rização do Comando do Exército, nos termos do art. 42 do R-105. Art. 17. As
armas de choque elétrico fabricadas no País ou importadas serão submeti-
das a avaliação técnica.
Parágrafo único. As armas de choque elétrico importadas poderão ser
dispensadas da avaliação técnica no País, desde que apresentem documen-
tação, acompanhada de tradução para o idioma português, realizada por
tradutor público juramentado, a qual comprove a realização de avaliação
técnica em laboratório estrangeiro de renome internacional e homologado
no Centro de Avaliação do Exército - CAEx.
Art. 18. As armas de choque elétrico e suas munições não podem ser vendi-
das no comércio especializado.
§ 1°. Os entes públicos poderão adquirir armas de choque elétrico direta-
mente do fabricante ou por importação, mediante autorização prévia da
DFPC.
§ 2°. As empresas de segurança privada, após portaria autorizativa da aquisi-
ção, expedida pelo Departamento de Polícia Federal, poderão adquirir armas
de choque elétrico, mediante autorização da DFPC, diretamente do fabrican-
te ou por importação.
§ 3°. 0 adquirente de arma de choque elétrico deverá manter a guarda per-
manente da nota fiscal ou fatura comercial de compra do produto, de modo
a comprovar a origem lícita, sob pena de apreensão do material nos termos
do art. 241 do R-105.
Art. 19. A transferência de propriedade de arma de choque elétrico está
sujeita a autorização da DFPC.
103
(3) Distância mínima e máxima em relação ao agressor- em geral os disparos
UNIDADE 3
(4) A região corporal a ser atingida será tronco, costas ou pernas, jamais devendo
ser disparado na região da cabeça, pescoço, órgãos genitais ou seios femininos;
(8) O risco de a pessoa atingida cair sobre objetos perigosos (objetos pontia-
gudos, cacos de vidro, outros);
104
UNICESUMAR
explorando Ideias
Espargidores Químicos;
Granadas Explosivas;
Carga de Cassetes;
105
3
INVASÃO
UNIDADE 3
TÁTICA
106
UNICESUMAR
pensando juntos
Não fujam do campo de batalha diante de qualquer número de inimigos, mas permane-
çam firmes em seus postos e neles vençam ou morram.
(Lema espartano)
Sobre o Grupo Tático (GT), é importante entendermos que é “um grupo de po-
liciais que recebe treinamento diferenciado e intensivo destinado para atuar em
situações onde haja ocorrências de evento críticos e que demandam uma ação
interventiva de choque. Cada equipe é composta por sete a dez homens e devem
seguir os preceitos da disciplina, hierarquia e lealdade, além disso, exigem-se do
combatente muita coragem e treinamentos constantes” (SALIGNAC, 2011, p. 67).
Destaca-se que o GT é composto por dois subgrupos táticos, isto é, de um
lado, temos os atiradores de precisão (snipers) e de outro lado, temos os atacan-
tes (assaultes), os quais têm a missão de resgatar os reféns ou vítimas. E o grupo
tático, em sua totalidade, é comandado pelo Chefe ou Comandante do Grupo
Tático, que, inclusive, jamais deve ser confundido com o Gerente da Crise, o qual
estudamos no início desta unidade (SALIGNAC, 2011).
Outro ponto a ser destacado, é que cada integrante do grupo tático deve in-
gressar de forma voluntária, isso ocorre porque os integrantes se submeterão a
situações diferenciadas de outras equipes policiais, como decidir entre a vida ou a
morte de pessoas. Ademais, os GTs podem utilizar equipamentos exclusivos para
a função que exercem, como escudos balísticos, proteções extras para membros
inferiores e superiores, entre outros.
Cumpre destacar os ensinamentos de Salignac (2011, p. 17) acerca dos grupos
táticos, os quais, em seu entendimento, são “equipes de policiais que recebem
treinamento intensivo e diferenciado, voltado para a resposta a eventos críticos
por meio de métodos de impacto direto: assalto, armas, equipamentos e táticas
especiais”.
Como mencionado, compondo a equipe tática, também existe a figura do
sniper que, sem dúvida, é um dos personagens que mais desperta a curiosidade e a
imaginação da população. O sniper é um atirador especial, é um militar membro
das Forças Armadas ou das forças policiais, ele é especializado em tiros de longa
distância e precisão. Esse atirador de elite só é utilizado quando o causador do
evento crítico deve ser neutralizado para evitar um mal maior, como a morte dos
reféns ou vítimas.
107
O grupo tático faz parte do processo de gerenciamento de crises e riscos. A
UNIDADE 3
invasão tática é uma das estratégias que o chefe ou comandante da crise pode
empregar visando salvaguardar a integridade física dos envolvidos, mesmo que,
infelizmente, seja necessário neutralizar o CEC por meio do tiro de comprome-
timento. As ações executadas pelo grupo tático seguem alguns princípios bási-
cos: “rapidez, surpresa e agressividade da ação” (SALIGNAC, 2011, p. 81). Esses
princípios norteiam a ação do grupo tático, a qual deve
“
(...) intimidar e sobrepujar a tal ponto os provocadores que o instin-
to de sobrevivência faça com que sua atenção se desloque das pes-
soas capturadas para os policiais atacantes. Nesse breve momento
de indecisão, os policiais atacantes, tendo teoricamente as vantagens
do treinamento superior, da surpresa e do equipamento de proteção,
serão capazes de neutralizar os provocadores e separá-los dos reféns
(SALIGNAC, 2011, p. 81).
Para finalizarmos o nosso estudo acerca da invasão tática, vejamos um caso real
em que foi utilizado o grupo tático, mais especificamente, o atirador de elite, o
caso em questão é o do sequestro de um ônibus na Ponte Rio-Niterói. A crise
ocorreu em agosto de 2019, quando um homem sequestrou um ônibus com 37
passageiros, que foram utilizados como reféns. Após algumas horas de tentativas
de negociações e ameaças por parte do sequestrador, o sniper entrou em ação
e efetuou disparos contra o homem, que não resistiu aos ferimentos. Todo o
sequestro foi transmitido pelas emissoras de televisão. Embora tenha tido um
desfecho favorável para os passageiros do ônibus, é preciso ter cautela ao utilizar
os serviços de um sniper, pois ele deve ser a última opção no cenário da crise,
pois, quando há a necessidade de se utilizar esse recurso, inevitavelmente, haverá
perdas humanas.
Por fim, cumpre mencionar que o conteúdo aqui repassado são noções acerca
da invasão tática, tendo em vista que essa estratégia disponível dentro do geren-
ciamento de crises será executada por grupos especializados, como o Comando
de Operações Táticas (COT) do Departamento da Polícia Federal ou o Comando
de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar do Paraná.
108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da nossa terceira unidade. Inicialmente, pas-
samos por oito tarefas, as quais foram apresentadas no decorrer do nosso estudo e
são de responsabilidade do gerente da crise, a fim de organizar o cenário da crise.
Vimos que essas tarefas são exemplificativas, pois o gerente deverá analisar o caso
concreto, ao passo que ele pode aplicar todas as tarefas estudadas ou algumas, mas
sempre se baseando na doutrina do gerenciamento de crises e riscos.
Em seguida, vimos alguns tipos de armamento de menor potencial ofensivo
utilizado pelos órgãos da segurança pública, entre eles, há alguns que a segu-
rança privada está autorizada a utilizar, como o espargidor de agente químico
lacrimogêneo (CS ou OC) e a munição no calibre 12 com projéteis de borracha
ou plástico.
Ao longo do nosso estudo, constatamos que o uso do armamento de menor
potencial ofensivo deve observar algumas técnicas, como não utilizar granadas
explosivas próximas de escolas ou hospitais ou em locais onde tenha a presença
de idosos e mulheres grávidas, pois estas pessoas são mais sensíveis aos agentes
químicos utilizados e, em vez de uma incapacitação temporária, pode causar
lesões gravíssimas e até a morte.
Posteriormente, estudamos a invasão tática, uma estratégia normalmente
empregada quando os esforços utilizados no gerenciamento de crises, como a
negociação, não geram os resultados esperados. Lembrando que a invasão tática
será realizada por um grupo especializado, o qual recebeu treinamento especí-
fico para tal missão e que deve estar a pronto emprego durante o processo de
gerenciamento de crises.
Por fim, é importante ressaltar que o conteúdo apresentado nesta unidade
são noções que complementam o nosso conhecimento acerca do processo de
gerenciamento de crise e auxiliam o gestor da segurança privada a desenvolver
um senso crítico acerca deste assunto tão complexo. Esperamos que tenha apro-
veitado o conteúdo. Abraços!
109
na prática
2. O armamento não letal ou de menor potencial ofensivo é aquele que tem o intuito
de incapacitar, de forma temporária, a ameaça. O Exército autoriza a segurança
privada a utilizar alguns tipos de armamento não letal. Quanto a este armamento
utilizado, leia e assinale a(s) afirmativa(s) a seguir:
110
na prática
3. Sabemos que as armas não letais, se usadas dentro de suas especificidades, com
as técnicas adequadas, não devem provocar a morte, nem lesões graves, apenas a
incapacitação, debilitação e contenção do indivíduo sobre o qual é utilizada (BRASI-
LIANO; MELO, 2018). Sobre os armamentos de menor potencial ofensivo, assinale
Verdadeiro (V) ou Falso (F):
a) V , V , V , F e V.
b) F , V , V , V e F.
c) V , F , V , F e V.
d) F , F , V , V e V.
e) V , V , V , V e F.
111
na prática
112
aprimore-se
113
aprimore-se
O COT usa uma grande variedade de armas leves como fuzis automáticos, rifles
de snipers, submetralhadoras e pistolas. Entre os fuzis automáticos os membros do
COT podem usar o M16 e a sua versão mais curta o M4. Entre as submetralhadoras
podemos encontrar a sempre presente H&K MP5, em suas várias versões.
O COT é uma referência na América do Sul e está sempre pronto a operar nas
áreas urbanas e rurais, desde pequenos povoados a grandes centros urbanos, nas
grandes florestas brasileiras, ao longo da nossa costa marítima e nas grandes faixas
de fronteiras, e em qualquer ambiente seja no sertão, nas montanhas, no pantanal,
nas favelas ou nos portos. Por sua larga experiência e profissionalismo o COT tem
hoje as atribuições de planejar, coordenar, dirigir, controlar, avaliar e executar – em
nível nacional – as operações em casos de seqüestro, além de outras ações de natu-
reza especial de competência do DPF.
Também é atribuição do COT presta apoio aos órgãos centrais e descentraliza-
dos no desempenho de missões de alto risco, cujas características exijam policiais
com treinamento específico em armas e táticas especiais. De importância inquestio-
nável nas ações que envolvam segurança de dignitários, negociação em crimes com
refém e seqüestro de aeronaves, entre outros.
Fonte: Saga Policial (2014, on-line)2.
114
eu recomendo!
livro
filme
conecte-se
115
4
ASPECTOS RELACIONADOS
AO CAUSADOR
do evento crítico
PROFESSORA
Me. Fernanda Julie Parra Fernandes Rufino
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: Tipos de Causadores de Evento
Crítico • Contato com o CEC • Influência do CEC nos reféns ou nas vítimas.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Expor os principais perfis dos Causadores do Evento Crítico • Apresentar algumas técnicas de contato
com o Causador do Evento Crítico • Apresentar a Síndrome de Estocolmo.
INTRODUÇÃO
CAUSADORES
de Evento Crítico
3- Prisioneiros em revolta;
5- Sequestradores.
118
O grupo responsável pelo gerenciamento de crises deve ter em mente que o CEC
UNICESUMAR
pode não ser um criminoso, muito pelo contrário, o CEC pode ser alguém que
sofre de doenças mentais e esteja em surto. Ressalta-se que, independentemente
do tipo de CEC, o gerenciamento de crise deve sempre se pautar nos princípios e
valores estudados nas unidades passadas, visando sempre um desfecho aceitável.
119
Para apoiar o gerenciamento de crises do grupo especializado diante de CEC
UNIDADE 4
c) Espere rejeição e ódio: tente clarificar o que ouvir por meio da paráfrase e cer-
tifique-se de que o PEC entenda que você não é um policial comum, mas sim, um
negociador que busca a segurança e o bem-estar do provocador;
e) Permita a verbalização dos sentimentos do PEC, se isso reduzir sua fúria e medo: se
isso não reduzir a intensidade emocional do PEC, mude o tema dos diálogos;
g) Não argumente a respeito das ilusões e alucinações do PEC: discuta temas basea-
dos na realidade e nos fatos;
Quadro 2 - Lidando com CEC paranoico ou esquizofrênico / Fonte: Salignac (2011, p. 129-130).
Depressão
120
O negociador poderá utilizar a técnica rapport que, inclusive, é uma técni-
UNICESUMAR
ca empregada na mediação de conflitos. O rapport é uma técnica em que uma
pessoa cria um laço com o outro, mostrando a ele que se importa com ele. Dessa
forma, cria-se uma empatia, isto é, uma afinidade com o CEC, dando espaço a
uma comunicação/negociação com chances de alcançar um resultado aceitável.
A seguir, vejamos aspectos importantes quando o CEC é uma pessoa com
depressão:
Procure identificar o momento pelo qual passa o captor: na excitação, existe o perigo
real das violências contra as pessoas capturadas, enquanto na fase depressiva o suicí-
dio é uma hipótese viável.
Fique atento a declarações espontâneas do tipo “tudo bem – acho que já sei o que
vou fazer!”, que podem indicar ideias suicidas. Não se incomode em discutir com o
captor a respeito do suicídio – essa discussão pode auxiliar o PEC na percepção de
alternativas antes não examinadas.
Personalidade antissocial
121
(2011) menciona que, normalmente, cometem crimes antes dos 15 anos de idade,
UNIDADE 4
Particularmente treinadas na vida das ruas, essas pessoas usarão suas habilidades na
negociação, o que facilitará o trabalho do negociador: o PEC reconhecerá sua posição
desvantajosa e tentará retirar o maior lucro possível da situação em que se envolveu.
Uma abordagem eficiente é a de clarificar as desvantagens advindas de agressões a
pessoas capturadas e as vantagens da rendição.
Pessoas que buscam aprovação social, incessantemente, para provar que têm va-
lor, pois acreditam, na verdade, que são pessoas perdedoras, além de evitarem
qualquer tipo de estresse, seja ele mínimo, são consideradas pessoas que têm
algum desajuste de personalidade. Como esse tipo de CEC busca a aprovação das
pessoas, como família e amigos, Salignac (2011) menciona que é uma péssima
ideia, durante a negociação, deixar que o CEC tenha contato com essas pessoas
sem uma análise crítica, pois elas podem desencadear uma ação drástica do CEC,
como suicídio. Nesse sentido, Salignac expõe as seguintes frases características do
CEC com personalidade desajustada: “vou mostrar a eles que sou capaz de fazer
algo realmente grande”, “vou mostrar a eles que realmente posso fazer alguma
coisa!” ou, ainda, “vou mostrar a todo mundo que não sou mais aquele otário”
(SALIGNAC, 2011, p. 134).
Vejamos como o negociador deve lidar com um CEC com a personalidade
desajustada ou dependente:
122
A negociação é viável, pois o PEC apresenta pensamento claro (tem vínculo com a
UNICESUMAR
realidade) e pode entender as consequências de seus atos. Ofereça compreensão e
aceitação – um meio de “sair dessa” sem “falhar novamente”.
No caso de suicidas, a própria dependência pode ser utilizada pelo negociador como
estratégia de negociação. Esses provocadores buscam alguém que lhes diga o que e
como fazer – ao demonstrar atenção, compreensão e respeito, o negociador toma o
lugar da pessoa ou das pessoas nas quais o PEC buscou (e não obteve) apoio.
A abordagem deve ser um pouco diferente com sujeitos que se envolvem em crimes:
a pessoa de quem dependem poderá estar envolvida no evento crítico, seja como
parceiro, seja como refém. Nesses casos, a melhor opção é dirigir a negociação a esta
pessoa – na realidade, a única fonte da confiança do PEC.
Suicidas
Uma abordagem do tipo “sei que você está sofrendo muito, fulano. Tudo bem, eu sei
que você pode e é capaz de tirar sua vida, se é isso que você realmente quer. Eu só
gostaria de ter uma chance de te ajudar a explorar todas as opções antes que você
tome uma decisão” pode ter grande efeito.
123
Por fim, cabe destacar que o senso comum se pauta em que, diante de um suicida
UNIDADE 4
É muito comum uma crise que envolva delinquentes surpreendidos pela segu-
rança pública ou privada durante uma ação criminosa. Como exemplo, podemos
mencionar uma quadrilha que está no meio da execução de um roubo a um es-
tabelecimento comercial quando se depara com a polícia militar. Normalmente,
a quadrilha utiliza os clientes como reféns para serem moeda de troca com os
agentes da segurança pública.
Vejamos quais são as orientações de Salignac sobre a atuação do negociador
neste caso:
124
Prisioneiros em revolta
UNICESUMAR
As situações de crises em estabelecimentos prisionais, normalmente, estão pau-
tadas em algumas situações, como a reclamação dos presos por melhoria de con-
dições na prisão, protestos contra maus-tratos, entre outros (SALIGNAC, 2011).
Essa é outra situação cujo estresse está entre os mais altos níveis. Por vezes, os
reféns são agentes da segurança pública, o que aumenta ainda mais a delicadeza
da crise, além da presença da mídia e de familiares dos agentes como também dos
presos. Logo, é interessante que o negociador tenha certa experiência no processo
de negociação (SALIGNAC, 2011).
Sobre o assunto, Salignac (2011) expõe algumas medidas que podem ser to-
madas pelos agentes da segurança pública responsáveis pelo gerenciamento da
crise, como isolar os rebelados. Durante o processo de negociação, é importante
destacar que a possibilidade de interlocutores participarem do processo deve ser
muito bem analisado pelo negociador. Sabe-se que há casos em que o interlocutor
se volta contra a segurança pública, adotando uma postura de apoio total aos
rebeldes, o que pode dificultar o trabalho da segurança pública.
125
Uma abordagem eficiente para a negociação baseia-se no convencimento dos cap-
UNIDADE 4
tores de que já houve suficiente destaque para a sua causa, suas exigências foram
ouvidas por todos e a violência contra os capturados provocará descrédito ou revolta
da opinião pública.
Quadro 9 - Lidando com CEC fanático político ou religioso / Fonte: Salignac (2011, p. 143).
Por fim, destaca-se que esse tipo de CEC, normalmente, ofende os agentes da
segurança pública, logo, devem estar preparados, pois não poderão reagir a fim
de não colocar em risco o gerenciamento da crise.
Sequestradores
126
UNICESUMAR
Há casos em que, mesmo após a negociação e o pagamento da quantia exigida
pelo CEC, ainda assim, o refém sofre violência grave ou, até mesmo, é morto.
Como vimos, são diversos os tipos de Causadores do Evento Crítico e, diante
de cada um deles, o negociador deve empregar as técnicas padrões de negociação,
além de outras específicas de acordo com o tipo de CEC. Ressalta-se que essa é
uma lista meramente exemplificativa, portanto, a equipe do gerenciamento de
crises deve sempre se atualizar, pois, em determinado dia, pode se deparar com
um tipo de CEC diferente dos padrões aqui mencionados.
127
2
UNIDADE 4
CONTATO COM O
CEC
pensando juntos
UNICESUMAR
verdade. Nenhuma boa negociação fundamenta-se em mentiras e truques, por isso
digo meu nome verdadeiro. Preocupações com segurança são infundadas em relação
ao fornecimento do nome, pois nesses dias que correm somos facilmente localizáveis
por quem quer que nos queira encontrar (...). Uso sempre o meu primeiro nome e
evito títulos. O bom andamento das conversações tende a produzir um resultado
interessante: em determinado momento, o negociador passa a ser tratado por senhor
ou doutor (mais um indicativo de que o rapport foi alcançado).
b) Sou do(a): nem sempre declaro minha condição de policial - como sou policial
federal, não é falso dizer que “sou do Ministério da Justiça”. Isso deve ser objeto de
discussão com o GGC e com os demais integrantes do grupo de negociação antes da
apresentação, pois, em certos casos, existe alguma dificuldade de comunicação entre
o PEC e a Polícia, principalmente em eventos de conotação política. Novamente, a
verdade deve basear a estratégia – posso omitir um dado, mas responderei sincera-
mente se me for perguntado.
d) Estou aqui para ajudar: aqui, o negociador se apresenta como uma fonte de apoio
do provocador, clarificando sua missão e apontando, sutilmente, a real posição do
provocador.
não estão dando a devida atenção a ele, o que poderá desencadear uma atitude
catastrófica.
A atenção ativa é tão importante no contato com o CEC, que Salignac (2011)
ensina que ela pode ser realizada de quatro maneiras para atingir objetivos di-
ferentes. Vejamos:
130
A técnica da atenção ativa, conhecida também como escuta ativa, demanda do
UNICESUMAR
profissional não só conhecimentos técnicos sobre negociação, mas um conhe-
cimento multidisciplinar, envolvendo a psicologia, pois o negociador não pode,
simplesmente, receber a informação que lhe é dada. Ele deve analisar o contexto
em que ela é fornecida, como o CEC está no momento em que ele repassa aquela
informação. Esse conjunto deve ser analisado pelo negociador por meio da téc-
nica da escuta ativa. Por fim, ressalta-se que “a utilização eficiente das técnicas
de atenção ativa é capaz, por si só, de prover a solução de um grande número de
eventos críticos” (SALIGNAC, 2011, p. 173).
Sobre o contato com o CEC, ainda é importante destacarmos alguns pontos,
como a utilização do telefone para proceder com a comunicação. Inclusive, esta é
uma boa tática, pois as ligações podem ser gravadas e, posteriormente, utilizadas
para segurança do próprio negociador ou para análises do procedimento de ne-
gociação. Porém, ao utilizar este meio de comunicação, deve-se ter em mente que
haverá mais dificuldade no rapport, devido à impessoalidade da comunicação
(SALIGNAC, 2011).
Outra opção que pode ser utilizada é o negociador se posicionar entre muros
ou paredes e manter a comunicação com o CEC, dessa forma, o negociador estará
protegido, porém, aqui, assim como o uso do telefone, o rapport é mais difícil de
ser estabelecido (SALIGNAC, 2011, p.175).
explorando Ideias
Em um evento no qual um avião foi tomado com dois reféns, os captores exigiram o con-
tato por meio de bilhetes que eram jogados pela porta da aeronave. O processo teve curta
duração: era lento, os provocadores tinham dificuldade para escrever certas sentenças e,
em determinado momento, o papel simplesmente acabou.
Fonte: Salignac (2011, p. 175).
O contato direto com o CEC, isto é, o frente a frente, também pode ser utilizado
pelo negociador. Este é um contato que possibilita o rapport, porém é um dos mais
arriscados e deve ser empregado somente após a observação de medidas de segu-
rança, como o posicionamento do sniper e do Grupo Tático (SALIGNAC, 2011).
131
Vejamos algumas orientações sobre o contato com o CEC:
UNIDADE 4
a) Não aceite o diálogo se o captor lhe apontar uma arma: insista que ele a guarde ou
aponte para posição segura. Um argumento decisivo é o próprio exemplo (o negocia-
dor pode argumentar algo do tipo: “ei, eu não estou sequer usando uma arma, então
não é necessário que você me aponte a sua”.
c) Evite o uso do método do contato direto com mais de um captor por vez: isso faci-
lita o estabelecimento de diálogos produtivos, com menores ruídos de comunicação,
além de aumentar a segurança do negociador.
d) Nunca faça movimentos bruscos e mantenha o olhar firme: uma postura atenta e
confiável ajuda a relaxar o PEC. Comportamento agitado do negociador pode induzir
o provocador a imaginar que um assalto é iminente.
e) Tenha sempre uma rota de escape, com pontos de abrigo do fogo do PEC: a rota
de fuga deve ter sido planejada antes do início dos contatos – segurança nunca é
demais.
f) Nunca dê as costas ao captor: após a realização dos contatos, aguarde que o pro-
vocador inicie o deslocamento de retorno. Assim, não só os aspectos de segurança
serão reforçados como também se evita a sensação, pelo provocador, de pressa ou
pouca atenção do negociador.
h) Atente para o comportamento não verbal: quais os sinais emitidos pelo provoca-
dor? Está relaxado ou tenso? A simples observação de suas atitudes pode revelar
intenções não verbalizadas.
132
k) Use linguagem adequada ao entendimento do captor e tenha cuidado com obsce-
UNICESUMAR
nidades ou linguagem profana: palavras rebuscadas podem ser consideradas como
arrogância ou ofensa, por isso busque comunicar-se com o provocador num nível que
ele entenda, sem, entretanto, resvalar na vulgaridade (a prática tem mostrado que
provocadores preferem não ser imitados por alguém que se esforça por se expressar
em gírias ou maneirismo que desconhece). Profanações ou blasfêmias podem atingir
diretamente o provocador, dificultando, ou mesmo, impossibilitando o prosseguimen-
to dos contatos.
Para finalizarmos o nosso estudo sobre o contato com o CEC, é importante ana-
lisarmos como deve ser o contato quando se é o capturado, ou seja, quando o
negociador é feito de refém pelo CEC. Salignac (2011) ensina que, quando o
negociador foi feito de refém, ele deve, logo nos primeiros instantes, decidir se
tentará uma fuga ou não. O autor afirma que o policial, caso decida fugir, deve
fazer isso logo, pois estará em plenas condições físicas e mentais.
Além disso, Salignac (2011) explica que o negociador não deve bancar o
herói, ao passo que deve aceitar a situação de capturado e manter o controle
emocional. O negociador deve, também, seguir as instruções do CEC, além de
tentar descansar o máximo possível para que tenha forças caso seja necessário
agir, taticamente; deve aproveitar e observar o máximo possível, sem deixar que
o CEC note isso. Deve-se evitar ficar argumentando ou discutindo com o CEC
ou, até mesmo, com outros policiais durante a negociação, que deve continuar a
ajudar os demais capturados a manter a calma e, se o grupo tático agir, deixá-los
agir, não interfir (SALIGNAC, 2011). Estas são algumas orientações importantes
para pautar a ação do negociador quando ele for capturado pelo CEC, tendo em
vista que deixará de exercer o papel ativo na negociação e passará para um papel
passivo, estando sob a guarda do CEC.
133
3
INFLUÊNCIA DO CEC
UNIDADE 4
NOS REFÉNS
ou nas vítimas
“
A síndrome recebeu este nome em referência ao famoso assalto
de Norrmalmstorg do Kreditbanken em Norrmalmstorg, Esto-
colmo que durou de 23 de agosto a 28 de agosto de 1973. Nesse
acontecimento, as vítimas continuavam a defender seus capto-
res mesmo depois dos seis dias de prisão física terem terminado.
Eles mostraram um comportamento reticente nos processos ju-
diciais que se seguiram. O termo foi cunhado pelo criminólogo e
psicólogo Nils Bejerot, que ajudou a polícia durante o assalto, e se
referiu à síndrome durante uma reportagem. Ele foi então adota-
do por muitos psicólogos no mundo todo e é, até hoje, utilizado
(FERREIRA-SANTOS, 2016, p. 14).
UNICESUMAR
reação emocional manifestada pelas pessoas capturadas, inicialmente na busca
da sobrevivência física”, além disso, é importante mencionar que “no decorrer do
evento crítico, a Síndrome evolui para uma empatia e identificação, persistindo
seus efeitos, em variada forma, mesmo após a resolução da crise” (SALIGNAC,
2011, p. 163).
explorando Ideias
“
Quando uma pessoa passa por uma situação extremamente crítica
em que sua existência fica completamente à mercê de outra, que de-
tém o poder de vida ou de morte sobre ela, pode-se estabelecer um
tipo de relação dependente em que a vítima adere psicologicamente
ao agressor. Nesses casos, pode-se estabelecer uma espécie de amor
ou paixão que decorre de um processo inconsciente de preservação
cujo mecanismo mais evidente se expressa pela idealização e pela
identificação, notadamente pela identificação projetiva, através da
quais características da vítima são projetadas no agressor, com o fim
de manter o controle do outro, defender-se dele e proteger-se de um
mal grave e inesperado que ele pode causar.
135
UNIDADE 4
pensando juntos
“
a) Capturados desenvolvem sentimentos afeição pelos captores;
b) Capturados desenvolvem sentimentos negativos e hostilidade
em relação às autoridades que atuam no caso;
c) Captores desenvolvem sentimentos positivos em relação aos
capturados (SALIGNAC, 2011, p. 163).
“
Evento traumático (assalto, sequestro, abuso sexual, violência) com
ameaça física ou psicológica; crença de que o desfecho irá acontecer;
a percepção da vítima, no contexto de terror, de gestos de atenção
(carinho, amabilidade, gentileza) por parte do agressor; e o senti-
mento de impotência para escapar (TRINDADE, 2010, p. 213).
136
dos a percepção de que seus captores são igualmente humanos e não monstros,
UNICESUMAR
com mesmos desejos e necessidades, provavelmente vítimas das circunstâncias”
(SALIGNAC, 2011, p. 164). Corrobora esse entendimento o fato de que “a vítima,
além de não conseguir sentir ódio pelo seu agressor, ainda passa a se colocar em
seu lugar, a ver o mundo através de seus olhos, pois, afinal, é pelos olhos do agres-
sor que a vítima se constitui como sujeito” (TRINDADE, 2010, p. 214).
explorando Ideias
“
a) aspectos positivos da síndrome: a mais importante vantagem
do estabelecimento da Síndrome é que, quanto mais evidente a
exteriorização de suas características pelos captores e seus reféns,
tanto menores as possibilidades de violência contra os captura-
dos. É evidente que alguns desenvolvimentos da situação crítica
podem alterar esse quadro, mas se o sistema como um todo não
sofrer significativas descompensações, seja pela introdução de
novos elementos, seja por interferências externas ao seu equilí-
brio (atuação equivocada no negociador ou do GT, por exemplo),
maiores problemas não devem ocorrer.
137
b) aspectos negativos: curiosamente, alguns autores não mencio-
UNIDADE 4
138
b.6) Fique atento à escalada do envolvimento: principalmente
UNICESUMAR
quando há captores e capturados de sexos diferentes. Se forem
deixados à própria sorte, sem constantes intervenções do negocia-
dor, relacionamentos indesejados poderão ocorrer” (SALIGNAC,
2011, p. 165-166).
explorando Ideias
No Brasil, um fato pitoresco, que poderia até ser encarado como “cômico se não fosse
trágico” marca o início de nossa história do sequestro. Remonta ao século XVIII, quando,
no dia 21 de setembro de 1711, uma expedição francesa comandada pelo corsário René
Duguay-Trouin toma o Rio de Janeiro depois de nove dias de sítio à cidade. O navegante
impõe condições para sair de lá: receber o equivalente a 2 milhões de libras francesas. As
negociações duram semanas. Os governantes portugueses regateiam. Não dispunham de
toda aquela imensa quantia à mão. Duguay-Trouin ameaça queimar a vila inteira, então
com 12 000 habitantes. Por fim, em 28 de outubro, os portugueses cedem, embora não
paguem tudo que os sequestradores haviam pedido. Mas, quando duas semanas depois,
eles partem para a França, o total apurado - produto em sua maior parte do saque da
cidade - constituía uma fortuna: 600 quilos de ouro, 610 000 cruzados, cem caixas de açú-
car, 200 bois, escravos e dezenas de outros itens. A expedição, em parte financiada com
dinheiro oficial francês, havia rendido quase 100% de lucro. Assim terminou o primeiro
sequestro do Rio de Janeiro.
Fonte: Ferreira-Santos (2006, p. 16).
139
Para finalizarmos o nosso estudo sobre a influência do CEC nos reféns ou nas
UNIDADE 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
CEC e vítima ou refém, isto é, a Síndrome de Estocolmo. Este é um assunto mui-
to importante, que causa diversas dúvidas entre as pessoas, e que nós pudemos
aprender de forma clara para, quando estivermos diante de uma situação que
envolva essa síndrome, saibamos agir corretamente. De maneira resumida, vimos
que a Síndrome de Estocolmo é um vínculo entre CEC e capturado, gerado após
grande trauma, como um sequestro, o que, normalmente, resulta em dificuldade
na atuação do negociador.
Querido(a) aluno(a), espero que tenha aproveitado o conteúdo.
141
na prática
2. Causadores de Eventos Críticos podem ser de vários tipos. É importante que o nego-
ciador da crise identifique o tipo de CEC para que proceda com as devidas técnicas
de negociação. Analise as alternativas a seguir sobre tipos de CEC:
142
na prática
143
aprimore-se
1. ESCUTA ATIVA
2. MODO AFIRMATIVO
Desde a primeira etapa de mediação, as afirmações buscam definir quais são os ob-
jetivos da técnica. O modo afirmativo consta de algumas técnicas inerentes: separar
o problema das pessoas, compartilhar percepções, usar palavras positivas e focar
no futuro.
Para separar o problema das pessoas, o mediador pode construir, com a par-
ticipação das partes, uma lista das questões a serem resolvidas. É proposto pelo
mediador que os mediandos digam quais pontos desejam abordar, o mediador os
anota e afirmar sobre a dificuldade de resolver todos ao mesmo tempo e realça o
benefício de abordarem um dos pontos sobre o qual possam conversar.
(...)
144
aprimore-se
3. MODO INTERROGATIVO
Por último, mas não menos importante, o modo interrogativo é a técnica mais uti-
lizada pelos mediadores. Esta técnica consiste em questionar os mediandos, permi-
tindo a eles conversar diretamente expressar suas emoções, questionamentos, a
complexidade do conflito e estimular a criação de ideias.
Existem diversos tipos de perguntas. As perguntas exploradoras são úteis para
revelar o que está oculto; por exemplo, perguntas que utilizam os pronomes “o quê”,
“quando”, “onde”, “como”, etc. o mediador recomendável que busque muitos deta-
lhes possíveis do conflito pois, de acordo com André Gomma de Azevedo, “pergun-
tas sobre as particularidades da situação podem fazer o problema parecer menos
complicado e levar as pessoas a pensar as soluções de maneira específica e prática”.
145
aprimore-se
146
eu recomendo!
livro
filme
Síndrome de Estocolmo
Ano: 2019
Sinopse: Baseado na história real de um dos assaltos mais famo-
sos de todos os tempos, que originou a Síndrome de Estocolmo,
em 1973, a qual define o estado psicológico de alguém, submeti-
do a um tempo prolongado de intimidação, que passa a ter sim-
patia pelo agressor. Como será ser mantido refém de um assalto
a um banco durante seis dias e criar laços afetivos com o assal-
tante e sequestrador? Foi o que aconteceu em 1973, num banco em Estocolmo.
Lars Nystrom, um ex-condenado, mantém reféns os funcionários de um banco de
Estocolmo enquanto negocia com a polícia – além do dinheiro, o assaltante exige
a libertação de um companheiro de crime. Este filme é baseado numa história
verdadeira: o assalto de seis dias ao banco sueco Kreditbanken.
147
eu recomendo!
filme
Refém
Ano: 2005
Sinopse: após passar por uma tragédia pessoal enquanto traba-
lhava como negociador de reféns para o Departamento de Polícia,
Jeff Talley (Bruce Willis) pede demissão do cargo e decide traba-
lhar como delegado na pequena cidade de Bristo Camino. Jeff
quer paz, e a pacata cidade tem tudo para lhe proporcionar isto.
Porém quando três adolescentes vão à casa de uma família com o
objetivo de roubar o carro dela, eles ficam presos dentro da casa e decidem tomar
todos como seus reféns. A situação força Jeff a atuar como negociador dos reféns,
fazendo um trabalho que ele preferia nunca mais ter que realizar em sua vida.
148
anotações
5
GERENCIAMENTO
DE CRISES NA
Segurança Empresarial
PROFESSORA
Me. Fernanda Julie Parra Fernandes Rufino
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Crise em Segurança Empresarial:
artefatos explosivos • Crise e Gerenciamento de crise Empresarial: comunicação • O papel do gestor
nos momentos de crises.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar noções sobre crise empresarial envolvendo artefatos explosivos (bombas) • Discorrer sobre
as noções sobre Crise e Gerenciamento de crise Empresarial envolvendo a comunicação • Expor o papel
do gestor nos momentos de crises.
INTRODUÇÃO
EMPRESARIAL:
artefatos explosivos
UNICESUMAR
bombas, é necessário que nós conheçamos um pouco os artefatos explosivos. Neste
momento, cabe destacar os ensinamentos de Vinícius Cavalcante (2012, p. 5):
“
AS BOMBAS: Simplificando muito a abordagem de um tema que é
extremamente técnico e complexo, pode-se dizer que uma bomba -
simples ou disfarçada - será constituída do componente explosivo
principal, do explosivo iniciador, detonador ou espoleta e do “gati-
lho” de acionamento ou interruptor, o qual, normalmente camufla-
do, poderá tomar inúmeras formas. Dificilmente nos depararemos
com um objeto que exteriorize aquela idéia clássica de bananas de
dinamite, fios, relógio e pilhas.
153
As BOMBAS ou ARTEFATOS EXPLOSIVOS variam de acordo
UNIDADE 5
pensando juntos
Diante de uma larga frente de batalha, procure o ponto mais fraco e, ali, ataque com a
sua maior força.
(Sun Tzu)
154
BAIXO EXPLOSIVO – Substâncias de baixo poder como explosivos, passam
UNICESUMAR
do estado sólido para o gasoso com certa lentidão (velocidade subsônica).
Normalmente, deflagram quando confinados, sendo empregados, principal-
mente, nas cargas de propulsão de projéteis, nos rastilhos para os estopins,
escavações de terra etc. Ex.: Pólvora negra, pólvora sem fumaça.
155
CONTENTOR DE BOMBAS – Recipiente de alta resistência, normalmente,
UNIDADE 5
explorando Ideias
UNICESUMAR
estão (COTTA, 2017, p. 21):
“
- atuar em incidentes críticos que envolvam artefatos explosivos e
“bombas sujas” (aquelas cujo componente pode ser químico, bioló-
gico, radiológico ou nuclear) objetivando a sua remoção, desmante-
lamento, neutralização, desativação ou destruição, de acordo com a
análise dos especialistas, mediante deliberação;
157
UNIDADE 5
UNICESUMAR
vos é da segurança pública, logo, assim que recebida uma ameaça de bomba via
telefone, ou de outros modos, é imprescindível que se entre em contato com o
órgão policial, por exemplo, por meio do 190, para que a equipe especializada
em antibomba seja acionada.
O acionamento da segurança pública é necessário, pois, além de serem espe-
cialistas no assunto, como já mencionamos, quando se trata de bomba, talvez só
tenhamos uma única chance de constatar se aquilo é ou não um artefato explosivo
e, infelizmente, podemos acabar descobrindo que é real, porém sermos atingidos
de maneira fatal. Após o acionamento, os agentes da segurança privada ou o gestor
poderão realizar o isolamento do local a fim de preservar o artefato de curiosos
e evitar que ele seja acionado.
A partir do momento em que o COE chega, a equipe fará a varredura do
local, localizando, exatamente, onde se encontra o artefato e, por conseguinte,
desativando a bomba e, quando estiver tudo em segurança, o local será liberado
para circulação das pessoas.
conceituando
Cabe destacar que a maioria dos artefatos explosivos não aparenta o que são, em
sua maioria, os criminosos utilizam meios de disfarce, como uma mochila comum
ou uma pasta de executivo, logo, quando nos depararmos com objetos como: paco-
tes, bolsas, maletas, embrulhos suspeitos, devemos considerá-los como explosivo.
Quando mencionamos “suspeitos”, você pode entender como objetivos em locais
onde não deveriam estarou, onde, comumente, não ficam, como uma maleta den-
tro de um banheiro. Um olhar crítico do gestor ou do agente de segurança privada
poderá salvar vidas, a da equipe, a do cliente e a de terceiros que estiverem à volta.
159
UNIDADE 5
explorando Ideias
explorando Ideias
(...) relação entre objetos, quantidade de explosivos e distância de segurança sem prote-
ção. Eles servem como um guia rápido para definição preliminar dos perímetros de iso-
lamento. Objeto/Quantidade aproximada de explosivo/ Distância sem proteção (metros):
Encomenda Postal Até 1 Kg / 119 m; Maleta Até 6 Kg / 203 m; Mochila Até 10 Kg / 256 m;
Mala Até 100 Kg / 551 m; Veículo + 1.000 Kg / 1.187 m.
Fonte: Cotta (2017, p. 24).
160
Antes de finalizarmos o nosso estudo sobre gerenciamento de crises com situação
UNICESUMAR
de bombas, não podemos deixar de verificar como se dá, de fato, o gerenciamento
deste tipo de crise pelo grupo especializado da segurança pública. Para tanto,
vejamos como age o GATE (COTTA, 2017, p. 23):
“
O Controlador do Incidente organizará os perímetros de segurança
da seguinte forma:
Como vimos, a segurança pública sempre deve ser acionada de imediato, mas há
casos em que o artefato explode antes da chegada da equipe especializada. Nessas
situações, os agentes da segurança privada ou o gestor poderão adotar algumas
técnicas, entre elas: socorrer as vítimas naquilo que é possível, isolar o local para
que ninguém mais se torne uma vítima e, também, preservar o local a fim de se
resguardar os vestígios da ocorrência para posterior investigação, verificar se
existe outro tipo de perigo, como: desmoronamento ou, até mesmo, outra bomba,
e acionar os órgãos públicos: bombeiro, SAMU, Polícia Militar e Defesa Civil.
161
2
CRISE E GERENCIAMENTO
UNIDADE 5
DE CRISE
empresarial: comunicação
UNICESUMAR
lado a lado com a defesa do direito dos consumidores; logo, cada pessoa se vê
protegida por ambos, direito do consumidor e de se expressar. O direito do con-
sumidor protege este de ser vítima de empresas que tentam lucrar com a situação
de hipossuficiência na qual o consumidor se encontra, ou seja, a situação de
vulnerabilidade frente à empresa que tem um enorme aparato e funcionários
altamente qualificados, até mesmo para defesa em possível processo judicial de-
mandado pelo consumidor.
Além destes fatores, é importante destacar que os meios de comunicação tam-
bém ganharam força e passaram a ser, amplamente, protegidos, possuindo, então,
liberdade de informação, por exemplo, jornalística, para noticiar fatos. “Com essa
democratização, os meios de comunicação, consequentemente, tiveram sua livre
iniciativa restaurada, podendo noticiar fatos das organizações e pessoas, sem
medo de retalhações” (SILVEIRA, 2010, p. 2).
Apesar das empresas terem a liberdade de expor fatos sobre a sociedade a fim
de que sejam concretizados, por exemplo, o pluralismo político e a democracia,
visando sempre à evolução de nosso país, é certo que há tanto pessoas como im-
prensa que acabam utilizando esses direitos de maneira distorcida, por exemplo,
ao espalhar ou noticiar fake news, notícias falsas, e que, muitas vezes, podem
denegrir a imagem de empresas ou pessoas.
Nesta perspectiva, com o avanço de direitos, o século XXI também enfrenta
o avanço da criminalidade e, por consequência, o avanço da criação de empre-
sas privadas de segurança, tendo em vista que a segurança pública não é eficaz
para assegurar o direito à segurança previsto na Constituição. E como sempre, o
tema segurança é delicado, pois envolve, diretamente, a vida das pessoas, e não
seria diferente para a comunicação, seja ela advinda de um cidadão, seja de uma
empresa jornalística, sempre que há a possibilidade, é noticiado algo envolvendo
o tema segurança, por vezes, de maneira negativa, e quando pensamos em uma
empresa privada de segurança, isso pode causar um desastre empresarial.
163
UNIDADE 5
explorando Ideias
Entende-se como crise o evento com resultados negativos, que ameaçam, severamente,
a saúde financeira, a marca e a reputação ou relacionamentos com a equipe de funcioná-
rios, clientes ou fornecedores. Deste modo, o ato de gerenciamento de crises torna-se im-
prescindível e vital para a administração de qualquer organização, pois reduz ou ameniza
os impactos de curto, médio e longo prazo causados, principalmente, à marca, reputação
e ao market share da empresa.
Fonte: Borgonovi e Macedo (2012, p. 64).
“
A maioria dos administradores de crises são advogados, justamente
por seu caráter centrado e a frieza e racionalidade de suas palavras
e ações. E, possivelmente, também, pela previsão dos prejuízos que
atingem as organizações envolvidas em demandas judiciais decor-
rentes de crises. Mas, nesse aspecto, os relações-públicas também
são tidos como profissionais aptos a trabalharem com essa admi-
nistração, ainda que hoje poucos profissionais se dediquem a essa
área. O fato de a administração de relacionamentos ser atribuição
exclusiva de relações públicas demonstra que a adequação desta área
profissional em tratar da administração de crises é evidentemente
superior a outras profissões (BORGONOVI; MACEDO, 2012, p. 54).
UNICESUMAR
perda que elas podem sofrer, em momentos de conflito, é de sua credibilidade. A
credibilidade é constituída durante anos, mas, para perdê-la, basta um momento
em que a empresa aja equivocadamente” (BORGONOVI; MACEDO, 2012, p. 55).
explorando Ideias
pensando juntos
Crises nas organizações, sejam elas de qualquer natureza, são pautas certas nos veículos
de comunicação. Mas não é por isso que os planos de crise e sua administração são im-
portantes. Eles são importantes para antever desgastes desnecessários, pois crises que
não são previstas pelas organizações causam grandes perdas, não só economicamente,
mas também de credibilidade.
(Cláudio Augusto Borgonovi e Luiz Carlos Passos Macedo)
Como pudemos observar, apesar de haver diversos tipos de crises em que uma
empresa pode se encontrar, demos destaque à crise envolvendo a comunicação,
tendo em vista que, ao envolvermos o tema segurança, esse é um tipo de crise
que tem grandes chances de você se deparar, em algum momento de sua jornada,
como gestor da segurança privada. Ao contrário de empresas de alimentos, que se
preocupam com questões específicas alimentícias, ou empresas de empreiteiras,
que demandam questões específicas de construção civil que, se algo “dar errado”,
é tema da mídia. As empresas de segurança estão em foco ou são alvos o tempo
todo, pois tanto alguns cidadãos quanto empresas de comunicação esperam o
menor deslize de um agente para colocar nos holofotes da mídia.
E quando uma crise desse modelo ocorre e é mal gerenciada, pode causar
diversos danos à empresa, como:
“
Danos à reputação, tanto das empresas, quanto de seus executivos
[...];
Queda da produtividade;
UNICESUMAR
seguidos pelo gestor e sua equipe responsável pelo gerenciamento da crise em-
presarial, dentre tais princípios, podemos destacar alguns (NETO, 2013, p. 26):
“
Administrar a incerteza: apresentar uma comunicação con-
sistente, identificar a causa do problema, contatar os afetados,
determinar os riscos presentes e futuros;
Responder à crise: reduzir a incerteza, coordenar as ativida-
des, disseminar as informações, não usar a ambiguidade para
ganhar tempo e confundir o público;
Resolver a crise: indenizar as vítimas, renovar a reputação da
organização, registrar os eventos;
Aprender com a crise: melhorar a segurança e a prevenção,
rever os padrões da indústria, otimizar e aperfeiçoar o diálogo
com a comunidade. Ao contrário do que muitos possam pen-
sar, o plano de comunicação não pode estar desvinculado do
plano de gestão de crises, que contemplará em seu contexto
as atividades básicas da administração, como planejamento,
organização, execução e controle. A eficácia da comunicação
dependerá da abordagem planejada, da liderança e de pessoal
treinado com base nas melhores práticas e benchmarks de
crises anteriores.
167
3
O PAPEL DO GESTOR NO
UNIDADE 5
GERENCIAMENTO
de crise
pensando juntos
168
“
Persuasão – Um líder eficaz deve inspirar as pessoas a segui-
UNICESUMAR
-lo. Isto pode parecer simplista, mas um verdadeiro Gestor de
Crises deve ter a capacidade para acalmar, motivar e capacitar
os membros da equipe durante a resposta a um incidente. É
imperativo que o líder mantenha as habilidades e competên-
cias essenciais para o estabelecimento de autoridade. O líder
deve inspirar confiança e se conectar emocionalmente e in-
telectualmente com a Alta Administração e com os outros
membros da EGC.
Coragem – Nem todos os líderes são capazes de tomar deci-
sões rapidamente e com confiança em situações de crise, prin-
cipalmente se as informações estão incompletas. O famoso es-
critor americano Ernest Hemingway fornece uma explicação
simples de coragem, definindo-a como “grace under pressure”.
Habilidades podem ser desenvolvidas, mas a capacidade de
manter a cabeça no lugar em uma situação muito tensa, tomar
decisões rapidamente e liderar uma equipe no meio de um
desastre é um dom intrínseco.
Equilíbrio – Muitas organizações entendem que a colabo-
ração é uma parte fundamental do processo de tomada de
decisão, mas em uma situação de crise, existem momentos em
que uma decisão precisa ser tomada imediatamente, mesmo
que as informações estejam incompletas e obscuras.
Habilidades aprendidas – Embora muitos outros traços
permitam que o Gestor de Crises seja eficaz, três princípios
devem ser seguidos:
Comunicação – Não é nenhum segredo que estratégias de
comunicação bem executadas são parte integrante de uma res-
posta eficaz à crise. No entanto a comunicação realizada pelo
Gestor de Crises deve ser mais granular do que a estratégia
global de comunicação da organização. Este líder deve com-
binar suas habilidades naturais para inspirar e capacitar, por
meio de uma comunicação clara e direta. O Gestor de Crise
deve comunicar a todos os envolvidos as metas e os objetivos
de forma transparente.
169
Finalidade – O Gestor de Crises deve fornecer uma dire-
UNIDADE 5
“
Dizer a verdade neste momento, mesmo que não se tenha a resposta,
desperta, perante os envolvidos na crise, responsabilidade para com
o tratamento do caso. Esta postura torna o posicionamento coerente
e evita as retratações, que nesses momentos demonstram descaso.
O monitoramento e o arquivamento dos fatos e reclamações aju-
dam no futuro posicionamento da organização, pois uma crise pode
sempre retornar (BORGONOVI; MACEDO, 2012, p. 64).
170
São atitudes que podem preservar a existência da empresa de segurança privada
UNICESUMAR
e manter a sua credibilidade. Além disso, é importante mencionar a necessidade
de um Plano de Contingência para o gerenciamento de crises envolvendo, dire-
tamente, a empresa de segurança privada. Em destaque, vejamos o conceito de
Plano de Contingência:
“
O Plano de Contingência - PLANCON funciona como um plane-
jamento da resposta e por isso, deve ser elaborado na normalidade,
quando são definidos os procedimentos, ações e decisões que devem
ser tomadas na ocorrência do desastre. Por sua vez, na etapa de res-
posta, tem-se a operacionalização do plano de contingência, quando
todo o planejamento feito anteriormente é adaptado à situação real do
desastre (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2017, p. 21).
pensando juntos
A empresa num momento de crise não pode dirigir todos os esforços para a solução da
crise, a continuidade da organização é fundamental nesses momentos de fragilidade.
(Cláudio Augusto Borgonovi e Luiz Carlos Passos Macedo)
171
A importância do Plano de Contingência, o qual abrange as questões relevantes
UNIDADE 5
“
(...) a proteção da empresa frente a possíveis processos judiciais de
funcionários, acionistas ou clientes; segurança em saber que a em-
presa através de sua equipe pode responder eficazmente às ameaças;
uma estratégia de marketing e vantagem competitiva sendo que
o cliente se sentirá mais seguro, pois entende que a empresa tem
uma grande capacidade de atendimento mesmo em caso de crise,
sem interrupções no fornecimento ou na prestação de serviços; e
minimização das perdas do patrimônio da empresa e manutenção
da participação e do valor de mercado da mesma (BORGONOVI;
MACEDO, 2012, p. 65).
“
No âmbito de empresas e instituições, planejamentos contingenciais
devem ser estabelecidos (se possível com o auxílio dos especialistas
da polícia local), de forma que, ante ao menor alerta, se possa dar
encaminhamento às providências que situações assim vem reque-
rer. Assim como os outros procedimentos de emergência, a busca a
artefatos explosivos deve ser previamente normatizada e ensaiada,
podendo ser executada pelos próprios funcionários, brigadistas de
incêndio ou seguranças, desde que instruídos para tal (CAVAL-
CANTE, 2012, p. 4).
172
Diante de uma crise, você – como gestor da segurança privada – deve, imediata-
UNICESUMAR
mente, reunir a equipe que o auxiliará no gerenciamento da crise. Como vimos,
as crises que envolvem, diretamente, a empresa, podem advir de desastres natu-
rais, por exemplo, um incêndio, ou até mesmo de questões advindas da mídia,
quando colocam em foco ações mal realizadas dos agentes de segurança privada.
Seja como for, são situações delicadas, as quais demandam que você coloque em
prática todas as características de um gestor eficaz bem como a execução do plano
de contingência para minimizar os danos à imagem e à credibilidade da empresa.
pensando juntos
Um soberano jamais deve colocar em ação um exército motivado pela raiva; um líder
jamais deve iniciar uma guerra, motivado pela ira.
(Sun Tzu)
173
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 5
174
na prática
175
na prática
176
na prática
3. Existem diversos tipos de artefatos explosivos, cada um com seu conceito e modo
de utilização, inclusive, alguns deles não têm uma aparência que, normalmente,
se espera de um objeto com poder de explosão, como as cartas bombas. Sobre o
assunto, assinale a alternativa correta.
177
na prática
5. Sempre quando há uma crise, diversas são as técnicas para o seu gerenciamento,
dentre tais técnicas, têm-se as ações que devem ser empregadas por aquele que
primeiro se depara com a crise a fim de amenizar os seus impactos. Discorra sobre
a atuação do Primeiro Interventor em caso de ocorrência com artefatos explosivos.
178
aprimore-se
179
aprimore-se
Em 2009, por exemplo, duas grandes construtoras nacionais passaram por co-
lapsos para os quais, aparentemente, não estavam preparadas para enfrentar. Agi-
ram de forma reativa e low profile em um cenário marcado por forte perplexidade e
assédio da mídia. Nas duas situações, uma parceria entre as áreas de comunicação
corporativa, jurídica, marketing e produção poderia evitar ou minimizar o impacto
negativo do ocorrido, ao identificar antecipadamente as vulnerabilidades das em-
presas e recomendar correções, bem como o treinamento adequado do pessoal.
COMUNICAÇÃO CORPORATIVA É UMA HARD DISCIPLINE: A comunicação cor-
porativa, ou corporate affairs, como é denominada nas empresas internacionais,
tornou-se uma hard discipline nos últimos anos, uma função da administração que
ajuda a organização a construir uma reputação favorável no processo de relaciona-
mento com seus públicos. Usando o conhecimento sobre as realidades da institui-
ção e de seu ambiente externo, essa área assume grande importância estratégica ao
atuar como parceira das demais funções nos processos de planejamento e tomada
de decisões gerenciais.
COMO SE CONSTRÓI E SE MANTÉM A REPUTAÇÃO CORPORATIVA: A identidade
de uma empresa é o resultado de como o público a enxerga por meio das ações de
suas diversas áreas e porta-vozes. O reflexo dessa identidade se transforma na ima-
gem da companhia, sendo que a soma de imagens positivas e negativas, ao longo
do tempo, constitui a sua reputação. Se a identidade for gerada por ações de comu-
nicação que denotam ética, coerência e credibilidade, a imagem será positiva. Se as
condutas refletirem posturas contraditórias e dissonantes, a identidade estará asso-
ciada à desconfiança e, consequentemente, a imagem será negativa. Com o objetivo
de zelar pela reputação, a comunicação corporativa atua em parceria com os demais
segmentos da empresa em atividades, como: propaganda corporativa; comunicação
interna; relacionamento com os investidores, com o governo e com a mídia; comuni-
cação sobre responsabilidade social; gestão e comunicação de risco e de crise.
180
aprimore-se
181
eu recomendo!
livro
Operações Antibombas
Autor: Décio José Aguiar Leão
Editora: Ícone
Sinopse: Operações Antibombas é um livro escrito, originalmente,
como monografia para o curso de pós-graduação em Política e
Estratégia da USP, realizada pelo autor, em 2000. O texto base
foi ampliado e atualizado e, ao longo da última década, tornou-se
uma fonte de referência para os profissionais de segurança pública que atuam
com bombas e explosivos, no Brasil. O livro destina-se não apenas aos técnicos
explosivistas, mas também a outros profissionais de segurança pública e das For-
ças Armadas, especialistas em segurança pública, sociólogos, antropólogos, cien-
tistas políticos e especialistas de relações internacionais, profissionais do Direito,
advogados, promotores, juízes, jornalistas, historiadores, estudiosos e pesquisa-
dores de Ciências Militares e policiais em geral, que necessitam conhecer como é
a organização e a operação de um Esquadrão de Bombas bem como conhecer e
analisar os incidentes com bombas e explosivos.
182
eu recomendo!
filme
Guerra ao Terror
Ano: 2010
Sinopse: JT Sanborn (Anthony Mackie), Brian Geraghty (Owen El-
dridge) e Matt Thompson (Guy Pearce) integram o esquadrão an-
tibombas do exército americano, em ação em pleno Iraque. Eles
trabalham na destruição de um explosivo, fazendo com que seja
detonado sem que atinja alguém. Entretanto, um erro faz com
que o artefato exploda e mate Thompson. Em seu lugar, é envia-
do o sargento William James (Jeremy Renner), que possui sangue frio em ação.
Isto gera alguns desentendimentos com Sanborn, que o considera irresponsável.
Apesar disto, o trio segue na ativa, tendo consciência de que cada dia concluído
de trabalho é um dia a mais de vida.
conecte-se
Aprenda mais sobre Esquadrão Antibombas com a equipe especializada dos Esta-
dos Unidos no Afeganistão.
https://www.youtube.com/watch?v=gNKeF5K_zTc
183
conclusão geral
conclusão geral
Querido(a) aluno(a), ao longo dos nossos estudos, tivemos contato com temas im-
portantes da doutrina de Gerenciamento de Crises e Riscos. Na primeira unidade,
aprendemos aspectos do processo de gerenciamento de crises e riscos, dentre eles,
o conceito e as características de crise, em seguida, passamos para a análise destes
e, por fim, aprendemos a doutrina da Primeira Intervenção de Crises.
Na Unidade 2, analisamos o processo de negociação, bem como, em específico,
a figura do negociador e as técnicas de negociação utilizadas por ele. Vimos que tal
processo é de competência de policiais especializados em negociação em crises e
riscos, tendo em vista ser um processo delicado e complexo, o qual pode determi-
nar o resultado do gerenciamento da crise.
Já na Unidade 3, aprendemos aspectos operacionais do gerenciamento de crises,
como a organização do cenário, isto é, de todo local em volta do ponto crítico. Nesta
unidade, ainda vimos o uso do armamento letal e não letal bem como o emprego da
equipe tática que, como vimos, deverá estar de prontidão durante o gerenciamento
da crise.
Nas últimas unidades, estudamos aspectos relacionados ao Causador do Evento
Crítico (CEC), como os tipos de CEC e a influência que eles causam nas vítimas e re-
féns. Por fim, também estudamos o gerenciamento de crises envolvendo artefatos
explosivos e, em especial, as crises envolvendo a comunicação, tendo em vista que
estão diretamente relacionadas à imagem e àcredibilidade da empresa de seguran-
ça privada bem como o papel do gestor, a fim de que participe ativamente desse
tipo de gerenciamento de crises e mantenha não só a imagem da empresa, mas
também, a sua existência.
Esperamos que você tenha aproveitado o conteúdo. Abraços fraternos.
184
referências
BRITO, R. M. Manual técnico: emprego de munições não letais. Curitiba: Departamento Cul-
tural da Associação da Vila Militar, 2015.
COTTA, F. A. Ações do primeiro interventor na gestão de incidentes críticos com bombas e ex-
plosivos. Treinamento Policial Em Revista, a. 2, n. 2., nov./2017. Disponível em: https://www.
policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/apm/19012018134227192.pdf. Acesso
em: 17 abr. 2020.
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referências
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pecialização em Administração Policial) – Departamento de Ciências Sociais Aplicadas, Uni-
versidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/
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sAllowed=y. Acesso em: 17 abr. 2020.
MINISTÉRIO DA DEFESA. Caderno de Instrução – Tecnologia Menos Letal. 1. ed. Brasília: Mi-
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referências
ROSA, M. A síndrome de Aquiles: como lidar com as crises de imagem. 2. ed. São Paulo:
Gente, 2001.
TRINDADE, J. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. 4. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2010.
187
referências
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: http://www.efaz.fazenda.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=53.
Acesso em: 15 abr. 2020.
188
gabarito
UNIDADE 1 UNIDADE 3
1. D 1. C.
2. B 2. D.
3. A 3. A.
4. C 4. B.
5. F, V,V.
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gabarito
UNIDADE 4 UNIDADE 5
1. C 1. C
2. D 2. D
3. C 3. C
4. B 4. B
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anotações
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