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DESENVOLVIMENTO
HUMANO E
APRENDIZAGEM
MOTORA
Introdução
Você nasce, aprende a sentar, a engatinhar e dá seus primeiros passos.
Cai, levanta e caminha novamente. Quando percebe, já está correndo
e saltando com destreza. Na segunda infância, aprende-se a chutar, a
arremessar, a rebater, etc. Com a chegada da adolescência, atinge-se
a maturidade para decidir em qual modalidade deseja se especializar,
aplicando e refinando as habilidades motoras, até então desenvolvidas,
em situações esportivas e recreacionais.
Essa alteração do comportamento motor durante a vida é chamada
de desenvolvimento motor. O modelo da ampulheta de Gallahue tem
servido como base para a compreensão de como ocorre o processo de
desenvolvimento motor.
Ampulheta de Gallahue
A ampulheta de Gallahue é um modelo teórico de desenvolvimento motor que
fornece orientações para a descrição e explicação do comportamento motor,
conforme representado na Figura 1. A ampulheta em si representa a visão
descritiva do desenvolvimento, ao passo que o triângulo invertido que a cerca,
a visão explicativa, ou seja, a ampulheta representa como é o desenvolvimento
motor em determinada faixa etária e o triângulo corresponde ao motivo dessas
características motoras ocorrerem.
2 Ampulheta de Gallahue
Controle motor de
competência motora
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Estágio de pré-controle
Nesse estágio, que tem início por volta do 1º ano, as crianças começam a
apresentar maior precisão e controle sobre os seus movimentos. Elas aprendem
a se equilibrar, manipular objetos e locomover-se de modo proficiente.
Estágio inicial
Estágio elementar
Estágio maduro
Sugere-se que crianças podem e devem atingir o estágio maduro por volta
dos cinco ou seis anos. O estágio maduro é reconhecido por um padrão de
movimento bem coordenado, mecanicamente correto e eficiente. O arremesso,
agora, é executado com movimento de braço, tronco e perna, de forma coor-
denada e fluida.
As crianças que atingem esse estágio apresentam uma rápida melhora da
performance: arremessam mais longe, correm mais rápido, pulam mais alto
e mais longe. Ainda assim, a avaliação do padrão de movimento deve ser
realizada pela técnica e não necessariamente pelo rendimento, visto que uma
criança pode compensar uma inabilidade motora por uma maior força, por
exemplo. A habilidade madura pode ser continuamente refinada. Algumas
crianças atingem esse estágio devido à maturação e a um mínimo de influên-
cia ambiental, contudo, a maioria necessita de oportunidades para a prática,
encorajamento e instrução em um ambiente que propicie o aprendizado.
Cabe destacar que, se o desenvolvimento for retardado ao longo de um
período de anos, algumas habilidades podem nunca atingir o padrão maduro,
caso não haja considerável esforço e influência externa. Caso isso ocorra, as
crianças ficam impossibilitadas de adquirir habilidades esportivas especiali-
zadas durante a segunda fase da infância, adolescência e vida adulta.
Estágio transitório
Estágio de aplicação
O estágio de utilização permanente inicia por volta dos 14 anos. Esse estágio é
caracterizado pelo auge do processo de desenvolvimento motor. Os indivíduos
selecionam atividades prazerosas e as levam consigo durante a vida, seja por
diversão, aptidão ou satisfação. Nesse contexto, se insere a prática de esporte
de caráter competitivo (a nível escolar, nacional e olímpico) e recreativo.
Fatores individuais
A hereditariedade é responsável pela tendência de o desenvolvimento hu-
mano ocorrer de modo ordenado e previsível no sentido céfalo-caudal (da
cabeça aos pés) e próximo-distal (do centro do corpo às extremidades), o
que é denominado de sequência desenvolvimentista. Essa tendência pode ser
exemplificada em razão de o bebê obter o controle da musculatura da cabeça
e do pescoço anteriormente ao das pernas (desenvolvimento céfalo-caudal),
bem como o controle dos músculos do tronco anteceder o dos punhos, mãos
e dedos (desenvolvimento próximo-distal).
O controle motor de uma criança também segue uma progressão de padrões
motores globais para movimentos mais refinados e funcionais, processo cha-
mado de diferenciação. Por exemplo, quando um bebê almeja pegar um objeto,
o movimento é bastante deficiente, porque ele não consegue diferenciar braços,
mãos e dedos. No entanto, com o seu desenvolvimento, torna-se capaz de
diferenciar grupos musculares, até atingir um padrão de movimento controlado
e eficiente. Simultaneamente à diferenciação, o processo de integração ocorre.
A integração corresponde à interação coordenada entre músculo e sistemas
sensoriais. No mesmo exemplo anterior, a integração refere-se à interação
entre olhos com o movimento da mão.
Embora o desenvolvimento infantil siga uma sequência universal e resistente
a mudanças, a idade de seu aparecimento pode variar. É comum observar des-
vios de seis meses a um ano. Essa variabilidade está intimamente relacionada
à prontidão. Prontidão refere-se às características do indivíduo e do meio que
tornam uma tarefa apropriada ao domínio de uma criança. Por exemplo, seus
alunos não estarão prontos para executar um rolamento para frente, se não
dominam a progressão de habilidades educativas do posicionamento das mãos
e da cabeça, impulsão de membros inferiores e rolamento sobre as costas. É
necessário fornecer habilidades prévias para atingir as metas.
Por fim, o último fator individual que influencia o desenvolvimento motor
é o período sensível, que corresponde a um período em que aprender novas
habilidades é mais fácil e mais rápido. Uma intervenção adequada nessa
janela de tempo favorece formas positivas de desenvolvimento, mais do que
se essa mesma intervenção ocorresse mais tarde. O período da infância é um
período sensível para a aprendizagem das habilidades motoras fundamentais
e esportivas.
Ampulheta de Gallahue 11
Fatores ambientais
Historicamente, pensava-se que as crianças desenvolviam suas habilida-
des motoras simplesmente pela maturação. Entretanto, atualmente sabe-se
que os fatores ambientais possuem uma importante função na aquisição das
habilidades motoras. Entre os fatores ambientais, destaca-se a necessidade
de encorajamento, as oportunidades frequentes para praticar, a instrução
qualificada e um ambiente que favoreça o desenvolvimento e refinamento
das habilidades motoras. Em outras palavras, as crianças precisam de alguém
que as encorajem a se movimentar e praticar suas habilidades e que as ensine
adequadamente a realizar o gesto motor, bem como necessitam praticar suas
habilidades frequentemente e em um ambiente propício para o seu aprendi-
zado. Nesse sentido, percebe-se a fundamental importância da presença dos
responsáveis pela criança, normalmente, os pais e o professor. São eles quem
devem oferecer de forma direta ou indireta esses recursos.
As crianças devem ser encorajadas a praticar suas habilidades, a descobrir
e a explorar movimentos. Infelizmente, muitas crianças não recebem o en-
corajamento suficiente para o seu desenvolvimento motor. No cenário atual,
muitos pais trabalham fora e, em outros casos, o pai ou mãe solteiro cuida das
crianças, ocasionando falta de tempo e de disposição para envolver as crianças
em exercícios físicos. Nesse contexto, não raro, a atividade física é trocada
por atividades passivas como a televisão e o computador.
Imagine que a criança esteja no período sensível para a aquisição das
habilidades fundamentais, entretanto, não receba incentivo para se engajar
em atividades físicas. O resultado mais provável é que essa criança não irá
desenvolver as habilidades fundamentais de forma eficiente, bloqueando as
etapas de desenvolvimento subsequentes, o que, por sua vez, prejudicará a
sua inserção em contextos esportivos e recreativos.
Além do encorajamento para a atividade física, as crianças também ne-
cessitam de um ambiente adequado para essa prática. Isso inclui recursos e
materiais disponíveis, por exemplo, se um bebê estiver em um ambiente que
não forneça o apoio necessário (uma mesa ou sofá) para ele se impulsionar e
ficar de pé, ele só irá se colocar na posição ereta quando desenvolver força e
equilíbrio suficientes na perna. Outro exemplo seria um bebê que more em
uma casa precária, de chão batido com cascalhos, em que ele talvez pule as
etapas de arrastar-se e engatinhar até que tenha força e equilíbrio nas pernas
para se colocar de pé. Nos dias atuais, cada vez mais, as crianças moram
em apartamentos ou bairros populosos e não possuem acesso a recursos e
ambientes em que possam correr, pular, arremessar, etc. Por esse motivo,
12 Ampulheta de Gallahue
Durante muitas décadas discutiu-se sobre quais fatores exerciam maior influência no
desenvolvimento motor. Atualmente, respeita-se a importância de cada um dos fatores.
Parece que os fatores individuais atuam mais sobre a sequência dos aparecimentos
das habilidades motoras, ao passo que os fatores ambientais, sobre a época de seu
surgimento.
Referência
Leituras recomendadas
GALLAHUE, D. L.; DONNELLY, F. C. Educação física desenvolvimentista para todas as
crianças. 4. ed. São Paulo: Phorte, 2008. 725 p.
MCCLENAGHAN, B. A.; GALLAHUE, D. L. Movimientos fundamentales: su desarrollo y
rehabilitación. 3. ed. Buenos Aires: Médica Panamericana, 1985. 223 p.
PAYNE, V. G.; ISAACS, L. D. Desenvolvimento motor humano: uma abordagem vitalícia.
6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 470 p.