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ADOLESCENTES rbarroso@utad.pt
U N I V E R S I DA D E D E C O I M B R A
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PLANO DE TRABALHO
1. Conceptualização
2. Características do processo de desenvolvimento sexual
3. Comportamentos sexuais (da infância à adolescência)
4. Aspetos centrais da sexualidade (normativa e problemática) na adolescência
5. Processo de avaliação psicológica de adolescentes que praticaram abusos sexuais
6. Processo de intervenção psicológica com adolescentes que praticaram abusos sexuais
1. Programa PBX
INTRODUÇÃO
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VIOLÊNCIA SEXUAL
(NAÇÕES UNIDAS, 2010)
NORMATIVOS ATÍPICOS
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INTERVENÇÃO PSICOEDUCATIVA
INTERVENÇÃO CLÍNICA
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CONCEPTUALIZAÇÃO
Violência sexual
Transgressão Opicamente associada a agressores adultos
Mas uma parte significaOva dos abusos sexuais é comeOda por jovens
menores de 18 anos.
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CONCEPTUALIZAÇÃO
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CONCEPTUALIZAÇÃO
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Neste processo, o período da adolescência e início da idade adulta é uma fase durante a qual
os jovens desenvolvem
amizades intensas,
relacionamentos românticos,
os seus interesses sexuais
e, em determinado momento, podem dar início à sua atividade sexual.
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A gestão das emoções positivas e negativas que decorrem desses laços fortes permitem aos
adolescentes oportunidades
de aprender a lidar com as emoções,
adquirirem competências de regulação emocional,
descobrirem preferências, desenvolver a sua identidade sexual,
praticar a afirmação de limites.
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Risco: tende a focar-se nas consequências da sexualidade (e.g., gravidez indesejada ou doenças sexualmente
transmissíveis).
A enfâse das discussões é, assim, muitas vezes colocada na restrição ou na eliminação dos comportamentos sexuais na adolescência.
Desenvolvimental: centra-se nos comportamentos sexuais normativos nesta faixa etária, nas várias
componentes da sexualidade, tais como
o início do surgimento de cognições sexuais, da identidade sexual, ou questões associadas ao desejo e impulso sexual
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AD
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INF
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O problema poderá surgir quando este percurso não se estabelece de acordo com a
normatividade desenvolvimental desejável.
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Por vezes denominados por “comportamentos genitais” ou “comportamentos relacionados com sexo e com
sexualidade”.
Na idade pré-escolar é comum existir estimulação genital em ambos os sexos (Araji, 2004; Murrie, 2012)
Permanência muito próxima das outras pessoas, pelo toque nos seios da sua mãe ou de outras mulheres, pela
tentativa de olhar para outras pessoas quando estas se encontram nuas ou despidas
O toque nos seus próprios genitais em público tende a desaparecer depois dos cinco anos de idade em virtude,
julga-se, da maior (re)pressão parental para terminar com esse tipo de práticas, tornando-se estas
progressivamente mais privadas (Bancroft, 2006)
Outro tipo de práticas mais explícitas (e.g., simular atos sexuais, simular sons sexuais ou estimulação genital com
objetos) são extremamente raras e, a existirem, podem indicar que a criança testemunhou comportamentos
sexuais em adultos ou que experienciou abuso sexual (Murrie, 2012)
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Tende a aumentar a curiosidade sobre a sexualidade dos adultos, apresentando um maior interesse na
visualização de fotografias de pessoas nuas ou despidas, tentativas mais frequentes de observar nudez na
televisão ou falar/questionar os pais sobre os atos sexuais (Bancroft, 2006).
Os comportamentos sexuais são demonstrados de forma mais discreta (em comparação com os anos anteriores),
respeitando as normas sociais do contexto em que se está inserido,
podendo manifestar inicialmente algum contacto sexual ou exposição genital com os seus pares através de jogos (e.g., “brincar aos
médicos” ou “ao pai e mãe”)
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As manifestações que poderão ser consideradas preocupantes neste período etário dizem respeito à intensidade dos
comportamentos sexuais
por exemplo, preocupação frequente e repetida envolvendo esta temática,
observar-se a associação entre manifestações sexuais com comportamentos agressivos e/ou coercivos.
Em suma, a normatividade dos comportamentos sexuais nesta fase etária é posta em causa a partir do momento em que a
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Um aspeto que é afirmado em vários estudos é o facto de a atividade sexual dos adolescentes não dever ser sobrestimada e que, ainda
que haja alguns adolescentes que mantêm relações sexuais com múltiplos parceiros, a promiscuidade é a exceção e não a regra.
Vários autores recomendam que os próprios profissionais clínicos e forenses não devem assumir que as normas
por eles observadas quando eram adolescentes, ou até as normas que aprenderam enquanto estudantes, refletem
a sexualidade normativa desses dias, sendo necessário uma reactualização e revisão constante dos dados
estatísticos.
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Socialização sexual
Reportório sexual
Cognições sexuais (ou fantasias sexuais)
Simbolismo (fetiches e parcialismos)
Rituais
Impulsos sexuais
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REPORTÓRIO SEXUAL
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Neste âmbito, pode haver abstinência, não existir parceiro (masturbação) e/ou podem existir
parceiros sexuais.
Surgem neste reportório sexual as cognições sexuais (por vezes denominadas de fantasias sexuais),
pensamentos e imagens sexuais que ativam sexualmente o adolescente, que se vão organizando e
solidificando desde esta fase da vida do indivíduo, e que permitem vivenciar de modo intenso a
experiência sexual.
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Nem todas as fantasias são sexuais, algumas poderão ser de vingança, desilusão amorosa, …
Alguns estudos referem que é precisamente a vivência de determinada fantasia sexual que torna
o ato extraordinário e inesquecível.
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¤ Amostra de 1500 adultos (população normal, equilibrada entre H/M, com média de 30 anos), na resposta a um
questionários sobre fantasias sexuais (55 fantasias)
¤Conclusões:
¤As fantasias sexuais tendem a ser comuns e raramente atípicas
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Fetiches
Objecto inanimado pelo qual uma pessoa sente vinculação sexual (soutiens,
cuecas, meias, cintos, sapatos altos,…)
Parcialismo
Vinculação com determinada parte do corpo pela qual os sentimentos sexuais
são ativados (seios, pernas, pés, nádegas,…)
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Simbolismo Sexual
Processo semelhante em termos de fetiches e parcialismos
Agressão é extremamente visual e com um carácter simbólico em alguns
casos
Manifestação problemática
Questão da admissibilidade
Quando o fetiche ou parcialismo tem necessariamente que estar presente (ou tem
de fazer parte num encontro sexual), é normalmente sinal de uma atração pouco
saudável com o símbolo
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Rituais
Também aqui manifestam os rituais nos seus comportamentos
Modo e Sequência
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Impulso sexual
Há algo que induz o indivíduo a realizar algum comportamento sexual
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Impulso sexual
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INDIVIDUALIDADE SEXUAL
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SOCIALIZAÇÃO SEXUAL
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Influência da família
Podemos observar de que modo a sua interferência se efetua num estudo de
Finkelhor (1978*) que categorizou as famílias em a) sexualmente positivas, b)
sexualmente negativas, c) hipersexualizadas e d) hiposexualizadas.
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Influência da família
Estudo de Finkelhor (1978; Goulet & Tardif, 2019)
Nas famílias sexualmente positivas a criança/adolescente recebe, ao longo do seu desenvolvimento, informações corretas sobre as questões de
sexualidade, são transmitidas atitudes positivas sobre o seu corpo, a privacidade é promovida (distinguindo-se claramente os limites e papéis
sexuais entre adultos e filhos) e há demonstração de afeto físico.
Nas famílias sexualmente negativas as discussões sobre sexo e sexualidade tendem a ser suscitadas ou comentadas com ansiedade e com
tabus.
Nas famílias hipersexualizadas os membros da família usam-se frequentemente uns aos outros como objetos no seu quotidiano, procurando
cada membro testar a/o seu poder de atração e de adequação nos outros, havendo fronteiras familiares pouco definidas e pouca distinção
entre sexualidade dos adultos e sexualidade dos menores.
Nas famílias hiposexualizadas parece haver um claro desencorajamento da discussão e da manifestação de comportamentos sexualizados
dentro do contexto familiar.
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Influência da família
Sobre a influência da história familiar na sexualidade alguns dados têm sugerido (Ryan,
2012) que os resultados negativos no âmbito da sexualidade em crianças e
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Esta ascendência dos pares parece ser ampliada pela cultura juvenil que envolve o jovem, baseada em
grande parte, atualmente,
pela emergência das novas tecnologias (e.g., televisão, música, redes sociais), concretamente nas mensagens
transmitidas pelos media e partilhadas pelos adolescentes, desfazendo muitas vezes as fronteiras geográficas e
culturais (Murrie, 2012).
Deste modo, neste período desenvolvimental, a par do consumo de drogas e de outros comportamentos
que preocupam os progenitores, o sexo é muitas vezes um veículo, eventualmente problemático, de
afirmação e testagem da autonomia e independência.
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Mas... atualmente há outras circunstâncias, em especial o acesso generalizado a equipamentos e outras tecnologias
Pornografia é o meio de obtenção de educação sexual para uma percentagem significativa de adolescentes...
A principal preocupação prende-se como o impacto nos papeis de género (aspeto crucial na educação sexual)
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https://itstimewetalked.com
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§Intervenção atempada
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NORMATIVOS ATÍPICOS
INTERVENÇÃO PSICOEDUCATIVA
INTERVENÇÃO CLÍNICA
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SEXUALIDADE
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DIMENSÕES DA SEXUALIDADE
Dimensão do desejo, ou seja, a importância da sexualidade em todas as suas
possibilidades para aumentar o desejo por estimulação sexual.
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Pedofilia
Preferência sexual por esquemas corporais pré-púbicos (DSM-5: 302.2)
Hebefilia
Preferência sexual por esquemas corporais no início da puberdade (DSM-5: 302.9 SOE)
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• Dissexualidade
• Termo genérico que designa o comportamento de molestar
sexualmente
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DISSEXUALIDADE
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• Considerações
• Delegação de responsabilidade (“eu não fiz nada aquela
criança, não sou eu ali, as imagens já ali estavam antes,...”)
• Uso de imagens legais de menores em circunstâncias
“autoproduzidas” (e.g., adolescentes em poses eróticas nas
redes sociais)
• Uso de materiais sexuais específicos e não explícitos (e.g.,
materiais fetichistas)
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PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA
SEXUAL EM PORTUGAL
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PREVALÊNCIA
BARROSO, BRAZ, RAPOSO & OLIVEIRA (IN PRESS)
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PREVALÊNCIA
BARROSO, BRAZ, RAPOSO & OLIVEIRA (IN PRESS)
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PREVALÊNCIA
BARROSO, BRAZ, RAPOSO & OLIVEIRA (IN PRESS)
Número de condenados (adolescentes) por crimes sexuais em Portugal entre 2008 e 2017
(Fonte: Direção-Geral da Política da Justiça, 2018)
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Prevalência
Barroso,Braz,Raposo&Oliveira(inpress)
250
202
196
200
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Feminino
Masc uli no
100
50
11 12
6
0
2015 2016 2017
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(Pedófilos)
20.7%
78
39
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ADULTOS
300
275
250
200
150
100
50 43
15.6%
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Tozdan, S., Briken, P., & Dekker, A. (2019). Uncovering Female Child Sexual Offenders-Needs and Challenges for Practice and
Research. Journal of clinical medicine, 8(3), 401. doi:10.3390/jcm8030401
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Tozdan, S., Briken, P., & Dekker, A. (2019). Uncovering Female Child Sexual Offenders-Needs and Challenges for Practice and
Research. Journal of clinical medicine, 8(3), 401. doi:10.3390/jcm8030401
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Tozdan, S., Briken, P., & Dekker, A. (2019). Uncovering Female Child Sexual Offenders-Needs and Challenges for Practice and
Research. Journal of clinical medicine, 8(3), 401. doi:10.3390/jcm8030401
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Hipótese abusador-abusado
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Hipótese Abusador-Abusado
Estudo de Marshall & Barbaree (1990)
Referem que os JAS tenderão a diferenciar-se de outros jovens agressores nas avaliações relativas
ao abuso infantil ou negligência, apresentando maior défice de competências sociais, mais
problemas de autorregulação e maior ativação sexual em relação a crianças ou à prática de sexo
coercivo.
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Hipótese abusador-abusado
Considera-se que os sujeitos que foram vítimas de abuso sexual têm maior
probabilidade em se envolverem em agressões sexuais
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Hipótese abusador-abusado
Estudo de Hunter, Figueredo & Malamuth (2010)
Sobre os efeitos, desde os 13 anos, do abuso físico e sexual e da exposição à violência e à pornografia, em 256 JAS
Revelaram que a história de vitimação por um agressor do sexo masculino estava relacionado com os interesses sexuais
pedófilos dos adolescentes agressores, sendo também mais provável que este agrida uma vítima do sexo masculino.
No entanto, sobre isto, outras investigações acrescentam que o fator determinante se prende com a
severidade do abuso, isto é, quanto mais intrusivo (e.g. tocar vs penetração) for o abuso, maior a
probabilidade de no futuro existir repetição dessa prática em outros (Knight, 2004).
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PERSPETIVAS TEÓRICAS
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PRINCÍPIO DO RISCO: Intervenções compatíveis com o nível de risco (a intervenção será mais
eficaz quando o nível de intensidade (duração e frequência) é compatível com o risco).
(Princípio da Descrição Profissional) que estabelece que o julgamento clínico deve substituir os outros
princípios se as circunstâncias o justificarem.
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MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
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BASES CONCEPTUAIS
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RACIONAL
Propõe que os agressores sexuais sejam orientados por objetivos e procurem adquirir bens humanos primários
fundamentais como ações, experiências e atividades que sejam benéficos para o bem-estar individual e que são
procurados para o seu próprio bem (e.g., relacionamentos/intimidade, ação/autonomia, felicidade/prazer e equilíbrio
emocional).
As consequências da agressão sexual não resultam do desejo de obter esses bens, mas dos
métodos e estratégias que os indivíduos criam para alcançá-los.
Segundo este modelo, estas estratégias são desenvolvidas atendendo aos antecedentes dos
infratores, das suas histórias de desenvolvimento e das capacidades internas e externas para
atingir esses bens.
Por exemplo, num agressor sexual que procure a intimidade, o foco deixa de ser a intimidade que procura, que é
semelhante a todos os seres humanos, mas os meios que usa para atingi-la (e.g., procurar crianças).
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As intervenções com agressores sexuais com este modelo podem contribuir para a redução de
risco e aumentar a motivação e o envolvimento com a intervenção através de uma maior
atenção às necessidades de responsividade e a criação de uma forte aliança terapêutica
(Ward & Stewart, 2003; Yates, 2009).
Alguns autores têm indicado que a aplicação do MGL num programa de diminuição do risco de
reincidência tende a melhorar a motivação para a participação na intervenção, no progresso
da mesma e, ainda, na maior probabilidade de conclusão (Yates, 2009).
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Princípios base
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MODELO DE AUTORREGULAÇÃO
(WARD & HUDSON, 1998; YATES, 2016)
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FASES DO PROCESSO
DE AVALIAÇÃO
COMPREENSIVA DE
AGRESSORES SEXUAIS
(ADAPTADO DE RICH,
2009) .
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Vitimização Sexual
Identidade Sexual
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Identidade Sexual
Se acha atraente ou não atraente para os outros, do ponto de vista romântico ou sexual?
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FASES DO PROCESSO DE
AVALIAÇÃO
COMPREENSIVA DE
AGRESSORES SEXUAIS
(ADAPTADO DE RICH, 2009) .
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RISCO DE REINCIDÊNCIA
Conceito de Risco
Risco de quê?
E… em risco, porquê?
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Défices na em patia
Défices nos rem orsos
Im pulsividade
Problem as no controlo da raiva
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Para ser usada com rapazes com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos
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A cotação é feita numa escala entre 0 e 2 (de ausência do item a clara presença do
item).
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Nunca se deve tomar qualquer decisão baseada unicamente nesta escala, mas
sim integrado num conjunto mais vasto e compreensivo de metodologias de
avaliação
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FORMULAÇÃO CLÍNICA
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FORMULAÇÃO CLÍNICA
Ainda que possua um papel central de enorme importância em qualquer processo de intervenção psicológica, a formulação
clínica é muitas vezes negligenciada.
Neste programa de intervenção com condenados por agressão sexual, a sua realização para cada um dos agressores envolvidos no mesmo é
necessária e fundamental.
A formulação clínica é útil para refinar e organizar as informações recolhidas para que estas possam ser utilizadas
eficazmente no planeamento das intervenções.
A formulação clínica (ou formulação de caso) é um método de enorme importância que permite integrar informações de forma
a facilitar o desenvolvimento de hipóteses testáveis.
De um modo geral, a formulação de caso permitirá a) elucidar acerca do problema em causa; b) explicar o início desse
problema e o que motiva a sua manutenção; e c) desenvolver um plano de intervenção individualizado.
De forma a completar o plano de intervenção, é essencial atender a fatores de manutenção do problema e potenciar os
efeitos protetores. Conceptualizando, a formulação de caso informa vários componentes como, a formulação do problema,
avaliação de risco e avaliação psicométrica. (ver esquema)
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FORMULAÇÃO CLÍNICA
É importante notar que o comportamento sexual desviante não apresenta uma
causa universal, sendo necessário atribuir uma causa singular, que poderá variar de
indivíduo para indivíduo (Calder, 2011; Rith, 2003).
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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA SEXUAL
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TRATAMENTO
TENDO EM VISTA A REABILITAÇÃO
Adultos
Medicação
ISRC
Outros (não autorizados na maior parte dos países)
Hormonal (baixar testosterona e diminuir as eventuais compulsões)
“Castração química”
The Good Lives Model (GLM) (Ward, 2002; 2006; 2012; 2014)
Implementação de competências e de “pontos fortes” do agressor (para diminuir a reincidência)
Modelo de intervenção promissor
Modelo da Autorregulação
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ANÁLISE PÓS-INCIDENTE
Mudanças necessárias
Foco clínico
Intervenção manualizada, mas sem rigidez
Atendendo à diferenciação dos agressores
Foco nas competências e nos fatores dinâmicos (que podem suscitar mudanças)
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ANÁLISE PÓS-INCIDENTE
Modelos de intervenção com potencial demostrado:
Modelo Cognitivo-comportamental
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Vantagens
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Atitudes do terapeuta
O que o terapeuta NÃO deve fazer?
ü Ter uma abordagem desafiadora, agressiva e desvalorizadora;
ü Interações hos9s e / ou irritadas;
ü Colocar ênfase excessiva em questões nega9vas;
ü Falta de interesse, o9mismo ou crença nos clientes e na sua capacidade de
mudança;
ü Ausência de uma abordagem colabora9va do tratamento;
ü Desconsideração da influência das caracterís9cas interpessoais do
terapeuta no resultado do tratamento;
ü Não evitar metas que contribuam para os clientes desenvolverem um es9lo
de vida feliz e sa9sfatório.
(Mann & Fernandez, 2016)
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ATITUDES DO TERAPEUTA
ü Genuíno; ü Diretividade;
ü Caloroso; ü Flexibilidade;
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EXEMPLO DA ESTRUTURA DE UM
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO
COM AGRESSORES SEXUAIS
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1. Siria et al (2020).
Destaca os fatores de risco relacionados com a história familiar, certas características de personalidade,
e o desenvolvimento de "inadequada sexualização ”(em 96% dos casos). Esta última variável era
principalmente relacionado ao início precoce do consumo de pornografia (70%), com um ambiente
familiar sexualizado (26%) e à vitimização sexual durante a infância (22%).
Chamam a atenção para o comportamento sexualizado, e o desenvolvimento sexual.
2. Ueda (2017)
Adolescentes que abusam de crianças tendem a ser mais propensos a serem submissos, têm menor
autoestima e demostram mais problemas de internalizadores, enquanto os adolescentes que abusam dos
seus pares/adultos tendem a ser mais agressivos, antissociais e mais propensos a mostrar problemas de
comportamento externalizador.
Chama a atenção para a necessidade de realizar intervenções individuais e em função da tipologia de
vítima.
3. Babchishin et al (2015).
Agressores online tinham maior empatia com a vítima, maior desvio sexual do que os agressores offline.
Mas os online tendem a ter mais autocontrolo. Tanto os agressores online e offline relataram maiores
taxas de abuso físico e sexual na infância do que a população em geral.
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CASOS PRÁTICOS
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1. O António (nome fictício) é um jovem de 15 anos de idade que se encontra a cumprir uma
medida de acompanhamento educativo. De acordo com os dados processuais e evidenciados
em tribunal, o António e um amigo (também com 15 anos), de forma premeditada, abordaram
a vítima que se encontrava sozinha (tinha 13 anos e era do sexo feminino). Os dois adolescentes
regressavam da escola e seguiram a vítima até ao elevador do edifício onde esta residia,
entraram no mesmo e impediram-na de selecionar o andar que pretendia, imobilizando-a.
Tendo em conta a superioridade física e o uso da força, deixaram a vítima na impossibilidade
de resistir. Seguiram-na até ao último andar do edifício e, neste patamar, concretizaram coito
vaginal, sem qualquer método contracetivo.
2. O ato sexual foi realizado por António e depois pelo seu amigo, alternadamente. Deste
episódio não existiu denúncia, nessa altura, por parte da vítima. Uma situação semelhante
voltou a acontecer, após sensivelmente 1 ano, envolvendo o mesmo procedimento, a mesma
vítima e os mesmos agressores. Esta última agressão sexual desencadeou a denúncia por parte
da vítima. Mais tarde, a vítima referiu não ter comunicado o primeiro episódio abusivo porque
tinha medo dos agressores e também porque receava a reação da sua mãe, antecipando
poder existir pouco apoio e compreensão.
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MOTIVO DA INTERVENÇÃO
1. O António é um jovem a quem lhe foi aplicada uma medida de acompanhamento educativo
pelo período de 1 ano, na sequência da prática de dois crimes de violação. A atual medida
pressupõe uma intervenção a nível de um comportamento pró-social, nomeadamente a nível da
autorregulação.
2. Já antes tinha sido imposta uma outra medida de acompanhamento educativo, pelo período de
2 anos, com incidência na área escolar, com controlo da assiduidade, do aproveitamento e do
comportamento na área da saúde mental, bem como para a aquisição de comportamentos
pessoais e sociais, com vista ao desenvolvimento de um comportamento pró-social, na sequência
de um crime de ofensa à integridade física.
3. Relativamente ao processo de intervenção, o jovem está presente em todas as sessões de
acompanhamento, porque é obrigatório, e não faz uma adesão efetiva, apesar de, por vezes,
identificar as consequências de comportamentos disruptivos.
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1. O António reside com a mãe e dois irmãos. Mantém contacto regular com a restante família, falando
todos os dias e visitando-os quase todas as semanas. O pai cumpriu pena de prisão durante 18 meses
pela prática de um crime de tráfico de droga.
2. A situação económica da família sempre foi precária, assegurada a partir do Rendimento Social de
Inserção e de prestações familiares atribuídas. As práticas parentais educativas eram asseguradas
pela progenitora (apesar das diminuídas competências pessoais e sociais), sendo inconsistente, com
disciplina inadequada e demonstrando dificuldades em controlar o comportamento do jovem. Residia
num bairro de habitação social constituído por uma população carenciada, onde coexistem diversas
problemáticas sociais, nomeadamente a nível da marginalidade e da delinquência.
3. Relativamente ao percurso escolar, o António não concluiu o 8.o ano de escolaridade, tendo reprovado
nos 6.o e 7.o anos. Revelava dificuldades de adaptação e de integração, manifestando um
comportamento mais instável e perturbador e assumindo atitudes de desrespeito e de desafio com os
agentes educativos. Atualmente, o António encontra-se a frequentar um curso profissionalizante, que
lhe permitirá a equivalência ao 9.o ano de escolaridade.
4. O jovem foi sinalizado para consultas de pedopsiquiatria e psicologia, na sequência de alterações de
humor, elevada reatividade e instabilidade, problemas de sono e dores de cabeça recorrentes,
acompanhamento que interrompeu, entretanto, por sua iniciativa, perspetivando vir a retomá-lo
brevemente.
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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
2. Transmitiu que a sua namorada atual tem conhecimento da situação e que também nunca deu
importância (“É insignificante para ela também”). A nível do comportamento sexual, admitiu ter
tido o seu primeiro relacionamento dessa natureza com uma jovem da mesma idade,
mencionando algumas relações afetivas sem envolvimento sexual e outras revestindo-se de um
comportamento predominantemente físico/sexual, sem componente afetivo/emocional,
considerando-as num contexto de experimentação e descoberta da sexualidade característico
da adolescência.
3. Negou ter tido, em qualquer destes relacionamentos, comportamentos de
agressividade/abusos, assim como não se identificou com interesses sexuais desviantes ou
obsessivos.
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• Sentimentos de Ansiedade • Não revela vontade de descrever o atual agregado familiar, nem a sua
• Crenças desajustadas sobre o abuso sexual • Razoável capacidade para, no abstrato, perceber e avaliar que se
FORMULAÇÃO DO CASO
• Baixo autoestima trata de uma interação de caracter abusivo ou consentida
• Desconforto interno, podendo dar origem, por vezes, a um funcionamento • Sem problemas cognitivos
• Inconsistência de práticas parentais e disciplina inadequada • Relacionamento amoroso, registado como uma relação íntima positiva
• Associação negativa a pares ou influências negativas • Atualmente, os progenitores acompanham o processo do jovem
• Ambiente inseguro ou insatisfatório para mudança • Boa coordenação entre os profissionais da ETE e a família
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INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA
1. No caso de António, foi proposta uma intervenção através da aplicação do “Programa de intervenção
psicológica com adolescentes que se envolveram em comportamentos sexualmente (PBX)” (Barroso et al.,
2020), composto por 36 sessões, atualmente em uso pelo Ministério da Justiça em centros de detenção juvenil,
nas equipas tutelares educativas e em equipas de intervenção externa credenciadas para o efeito. É exigida
autorização prévia do Ministério da Justiça para que possa ser implementado na comunidade, requerendo
antecipadamente o estabelecimento de um protocolo específico e a realização de formação técnica
especializada.
2. O Programa tem como objetivo intervir com o António utilizando o restante período da medida tutelar de
acompanhamento educativo a que se encontra sujeito, de modo a impulsionar a mudança comportamental
pretendida. É importante mencionar que o envolvimento no Programa, apesar de ser centrado na vertente da
sexualidade do jovem, não requer que o indivíduo assuma, desde logo, a prática dos crimes sexuais que
praticou (e/ou que foi alvo de medida tutelar) ou fale dos abusos sexuais que cometeu. No entanto, deve
estar ciente da necessidade de abordar durante a intervenção os motivos que levaram à ocorrência desses
problemas (eventualmente, a médio ou longo prazo).
3. Sustentada nos modelos anteriormente descritos, a intervenção deve centrar as sessões de intervenção: na
comunicação (por exemplo, perceber o processo de transmissão e de receção de informação); nas relações
sociais e emoções (por exemplo, aceitar as emoções negativas e as formas funcionais de prática de
regulação emocional); na empatia (por exemplo, reconhecer as suas ações e implicações para a outra
pessoa); na sexualidade (por exemplo, identificar os interesses e as fantasias sexuais); e na identificação das
diferenças entre a visualização de pornografia e a vida real, das crenças e dos mitos (por exemplo, entender
as dinâmicas e os indicadores de uma relação abusiva) e dos esquemas cognitivos (por exemplo, tomar
consciência da existência de erros no processamento de informação).
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INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA
1. Independentemente da tipologia do crime geral executado pelos jovens (por exemplo, jovem
que praticou também um crime não sexual), a intervenção deverá ser focalizada nas
necessidades associadas à sexualidade. Desta forma, ainda que se possa desenvolver
competências mais gerais, é importante que existam abordagens interventivas mais marcadas,
no âmbito das quais são abordados esquemas cognitivos (por exemplo, trabalhar esquemas
cognitivos que justifiquem agressões sexuais) e processos de mudança (por exemplo, adquirir
estratégias adaptativas que evitem a reincidência e possibilitem o processo de mudança dos
esquemas cognitivos desadaptativos), definido um plano de emergência (por exemplo, criar
uma hierarquia de risco para fatores de risco individuais e sinais de alerta) e planeado o futuro
(por exemplo, estabelecer objetivos e estratégias alcançáveis; Barroso et al., 2020).
2. É importante notar que este Programa de intervenção é específico para a agressão sexual e
não substitui qualquer outra intervenção terapêutica, ou seja, não dispensa outras intervenções
terapêuticas sempre que um nível de perturbação ou psicopatologia assim o exija.
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ADOLESCENTES rbarroso@utad.pt
U N I V E R S I DA D E D E C O I M B R A
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