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VIOLÊNCIA SEXUAL PRATICADA POR Ricardo Barroso

ADOLESCENTES rbarroso@utad.pt

U N I V E R S I DA D E D E C O I M B R A

JOVENS AGRESSORES SEXUAIS

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4/27/23

ADOLESCENTES QUE SE ENVOLVERAM EM


COMPORTAMENTOS SEXUAIS ABUSIVOS
( D E N O M I N A Ç Ã O M A I S R E C E N T E . . . E M A I S C O R R E TA )

O que leva alguns adolescentes (e adultos) a terem comportamentos


sexualmente agressivos e outros não?

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PLANO DE TRABALHO

Objetivo: Compreender o comportamento sexual normativo na adolescência, tendo sempre


como contraponto o comportamento sexual problemático.
Requer conhecimentos da Psicologia do desenvolvimento, Psicopatologia do desenvolvimento,
Processamento cognitivo, Psicologia clínica e Sexologia clínica

1. Conceptualização
2. Características do processo de desenvolvimento sexual
3. Comportamentos sexuais (da infância à adolescência)
4. Aspetos centrais da sexualidade (normativa e problemática) na adolescência
5. Processo de avaliação psicológica de adolescentes que praticaram abusos sexuais
6. Processo de intervenção psicológica com adolescentes que praticaram abusos sexuais
1. Programa PBX

INTRODUÇÃO

O conceito da violência sexual abrange um largo conjunto de atos


sexualmente violentos, tais como:
­ violações, abuso sexual de menores, prostituição forçada, tráfico para
exploração sexual ou mutilação genital feminina. Mais recentemente:
violência sexual baseada em imagens.

As práticas de violência sexual podem ser realizadas por


adolescentes ou adultos sendo, na sua maioria, praticadas por
agressores do sexo masculino sobre vítimas do sexo feminino,
embora estejam identificados comportamentos de violência sexual
cometidos por mulheres sobre homens e, também, em relações do
mesmo sexo.

Quando é usada a força física, a agressão envolve penetração física


forçada (ainda que possa ser ligeira), na boca, na vulva ou no ânus,
usando o pénis, outras partes do corpo ou um objeto.

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VIOLÊNCIA SEXUAL
(NAÇÕES UNIDAS, 2010)

CONTINUUM DO DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE


DOS INTERESSES E COMPORTAMENTOS SEXUAIS

NORMATIVOS ATÍPICOS

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INTERVENÇÃO PSICOEDUCATIVA

INTERVENÇÃO CLÍNICA

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CONTINUUM DO DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE

O tipo de comportamento sexual juvenil que é motivo de avaliação pelo


psicólogo encontra-se ao longo de um continuum que varia

­ entre comportamento sexual típico

­ comportamento sexual inapropriado

­ e, num ponto ainda mais extremado, encontra-se o comportamento


sexualmente agressivo.

CONCEPTUALIZAÇÃO

Violência sexual
­ Transgressão Opicamente associada a agressores adultos
­ Mas uma parte significaOva dos abusos sexuais é comeOda por jovens
menores de 18 anos.

Até há alguns anos, a violência sexual juvenil era jusOficada...


­ Pelas fase desenvolvimental (tudo exploratório...)
­ Minimizados (e.g., “são coisas de rapazes, coisas da idade”).

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CONCEPTUALIZAÇÃO

Desde a década de 90 do século XX, em particular nos contextos norte-americano e canadiano


­ Progressivo interesse pelo estudo das características destes adolescentes agressores por parte de
diversos investigadores, profissionais e até pelo poder legislativo (Barbaree & Marshall, 2006).

Esta atenção decorreu em especial:


­ do crescente empenho profissional na reparação do dano provocado às vítimas;
­ na imputação das responsabilidades dos crimes aos seus autores;
­ alguns estudos começarem a apresentar resultados indicativos de que muitos dos agressores
sexuais adultos tinham iniciado o seu comportamento agressor durante a adolescência (Angel et
sal., 2006).

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CONCEPTUALIZAÇÃO

É essencial que se compreendam os aspetos principais do desenvolvimento sexual normativo


que ocorrem durante a infância e adolescência.

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL NORMATIVO NA


ADOLESCÊNCIA

A adolescência é um período desenvolvimental caracterizado por uma diversidade de


aquisições, de comportamentos, de processos de autodefinição e de construção da ação no
mundo e na relação com os outros,
­ sendo também marcado pela exploração e pela curiosidade sexual e pela procura das primeiras relações de
intimidade.

Neste processo, o período da adolescência e início da idade adulta é uma fase durante a qual
os jovens desenvolvem
­ amizades intensas,
­ relacionamentos românticos,
­ os seus interesses sexuais
­ e, em determinado momento, podem dar início à sua atividade sexual.

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL NORMATIVO


NA ADOLESCÊNCIA

A gestão das emoções positivas e negativas que decorrem desses laços fortes permitem aos
adolescentes oportunidades
­ de aprender a lidar com as emoções,
­ adquirirem competências de regulação emocional,
­ descobrirem preferências, desenvolver a sua identidade sexual,
­ praticar a afirmação de limites.

­ O desenvolvimento de relacionamentos íntimos é, assim, uma tarefa fundamental durante a adolescência.

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL NORMATIVO NA


ADOLESCÊNCIA
ABORDAGEM SEGUNDO UMA PERSPETIVA DE RISCO VS . ABORDAGEM DESENVOLVIMENTAL

­ Risco: tende a focar-se nas consequências da sexualidade (e.g., gravidez indesejada ou doenças sexualmente
transmissíveis).
­ A enfâse das discussões é, assim, muitas vezes colocada na restrição ou na eliminação dos comportamentos sexuais na adolescência.

­ Desenvolvimental: centra-se nos comportamentos sexuais normativos nesta faixa etária, nas várias
componentes da sexualidade, tais como
­ o início do surgimento de cognições sexuais, da identidade sexual, ou questões associadas ao desejo e impulso sexual

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL NORMATIVO NA


ADOLESCÊNCIA
ABORDAGEM SEGUNDO UMA PERSPETIVA DE RISCO VS . ABORDAGEM DESENVOLVIMENTAL

Sabemos atualmente que o desenvolvimento sexual é um processo


contínuo que começa na infância e continua ao longo da vida

­ sendo o desenvolvimento sexual do adolescente uma continuação do desenvolvimento


sexual da infância (e.g., aprender sobre o que pode, ou não, ser adequado em termos de
sexualidade)

­ e prepara o terreno para a formação de relacionamentos sexuais e românticos de longo


prazo na idade adulta.

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ENQUADRAMENTO DESENVOLVIMENTAL DOS


INTERESSES SEXUAIS NORMATIVOS E ATÍPICOS/DESVIANTES

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TRANSIÇÕES (E ESPECIFICIDADES) DESENVOLVIMENTAIS AO NÍVEL DA SEXUALIDADE

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL NORMATIVO NA


ADOLESCÊNCIA
ONDE PODERÁ ESTAR O PROBLEMA?

O problema poderá surgir quando este percurso não se estabelece de acordo com a
normatividade desenvolvimental desejável.

O desenvolvimento sexual apresenta-se, assim, ao longo de um continuum que varia entre


­ comportamento sexual típico
­ o comportamento sexual inapropriado
­ e, num ponto ainda mais extremado, encontra-se o comportamento sexualmente agressivo.

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL NORMATIVO NA


ADOLESCÊNCIA
COMPORTAMENTO SEXUAL (DO PONTO DE VISTA EVOLUTIVO, ANIMAL)

Qual os sinais de excitação sexual?

O comportamento sexual inclui as respostas diretamente associadas à estimulação genital e à


cópula, seja em relações homossexuais ou heterossexuais.

Os estudos realizados sobre o comportamento sexual dos animais, especialmente dos


primatas, forneceram uma melhor compreensão dos dados existentes a respeito do
comportamento sexual do ser humano.
­ Do ponto de vista animal, a cópula heterossexual culmina na transferência de esperma do macho para a fêmea,
com subsequente fertilização dos óvulos e reprodução da espécie.

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL NORMATIVO NA


ADOLESCÊNCIA
COMPLEXIDADE EM TORNO DO COMPORTAMENTO SEXUAL HUMANO

Contudo, no ser humano o reportório sexual é extraordinariamente complexo e não se


esgota neste impulso biológico básico
­ existe um conjunto de dimensões cognitivas associadas,
­ representações psicológicas (e.g., identidade de género) e sociais (e.g., papéis de género) em torno do
comportamento sexual.

­ o termo sexualidade abrange, uma ampla gama de experiências


­ incluindo as de orientação sexual, de desejo, cognições sexuais, emoções, atitudes e comportamentos.
­ O comportamento sexual em si inclui um conjunto de atividades que incluem, mas não se limitam, a beijos, toques sexuais, sexo oral, sexo com
penetração (sexo vaginal e anal) e masturbação (tocar os próprios órgãos genitais por prazer)

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


INFÂNCIA
IDADE PRÉ-ESCOLAR (3-5 ANOS)

­ Por vezes denominados por “comportamentos genitais” ou “comportamentos relacionados com sexo e com
sexualidade”.

­ Na idade pré-escolar é comum existir estimulação genital em ambos os sexos (Araji, 2004; Murrie, 2012)

­ Permanência muito próxima das outras pessoas, pelo toque nos seios da sua mãe ou de outras mulheres, pela
tentativa de olhar para outras pessoas quando estas se encontram nuas ou despidas

­ O toque nos seus próprios genitais em público tende a desaparecer depois dos cinco anos de idade em virtude,
julga-se, da maior (re)pressão parental para terminar com esse tipo de práticas, tornando-se estas
progressivamente mais privadas (Bancroft, 2006)

­ Outro tipo de práticas mais explícitas (e.g., simular atos sexuais, simular sons sexuais ou estimulação genital com
objetos) são extremamente raras e, a existirem, podem indicar que a criança testemunhou comportamentos
sexuais em adultos ou que experienciou abuso sexual (Murrie, 2012)

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


INFÂNCIA
EM PRÉ-ADOLESCENTES (8-12 ANOS)

­ Tende a aumentar a curiosidade sobre a sexualidade dos adultos, apresentando um maior interesse na
visualização de fotografias de pessoas nuas ou despidas, tentativas mais frequentes de observar nudez na
televisão ou falar/questionar os pais sobre os atos sexuais (Bancroft, 2006).

­ Os comportamentos sexuais são demonstrados de forma mais discreta (em comparação com os anos anteriores),
respeitando as normas sociais do contexto em que se está inserido,
­ podendo manifestar inicialmente algum contacto sexual ou exposição genital com os seus pares através de jogos (e.g., “brincar aos
médicos” ou “ao pai e mãe”)

­ já mais tarde, pode começar a existir exploração de comportamentos masturbatórios.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
EM PRÉ-ADOLESCENTES (8-12 ANOS)

­ As manifestações que poderão ser consideradas preocupantes neste período etário dizem respeito à intensidade dos
comportamentos sexuais
­ por exemplo, preocupação frequente e repetida envolvendo esta temática,

­ presença de contactos sexualizados persistentemente e consistentemente com várias pessoas

­ observar-se a associação entre manifestações sexuais com comportamentos agressivos e/ou coercivos.

­ Em suma, a normatividade dos comportamentos sexuais nesta fase etária é posta em causa a partir do momento em que a

curiosidade e exploração deixam de estar presentes.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)

­ Mudanças no desenvolvimento físico (características sexuais secundárias)

­ Existem já competências cognitivas especificas


­ Os guiões específicos sobre o comportamento masculino ou feminino que se encontravam em desenvolvimento têm agora uma
componente sexual definida e as respostas sexuais começam a influenciar as novas relações, emergindo a distinção entre
relacionamentos sexuais e não sexuais (Tolman & McClelland, 2011).

­ Um aspeto que é afirmado em vários estudos é o facto de a atividade sexual dos adolescentes não dever ser sobrestimada e que, ainda
que haja alguns adolescentes que mantêm relações sexuais com múltiplos parceiros, a promiscuidade é a exceção e não a regra.

­ Vários autores recomendam que os próprios profissionais clínicos e forenses não devem assumir que as normas
por eles observadas quando eram adolescentes, ou até as normas que aprenderam enquanto estudantes, refletem
a sexualidade normativa desses dias, sendo necessário uma reactualização e revisão constante dos dados
estatísticos.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
COMPETÊNCIAS COGNITIVAS
Neste período etário existem condições psicológicas para compreender os fatores
que definem
­ a presença ou ausência de comportamento sexual agressivo
­ bem como a natureza da interação e do relacionamento em causa
­ Ou seja, entender o que é o consentimento e a coerção (Barroso, 2016).

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
COMPETÊNCIAS COGNITIVAS

Por consentimento entende-se um acordo ou um acordo


implícito, em que a pessoa que consente deverá possuir:
­ 1) uma compreensão do que é proposto,
­ 2) conhecimento dos padrões sociais daquilo que é proposto,
­ 3) consciência dos potenciais riscos e consequências,
­ 4) conhecimento das alternativas,
­ 5) decisão voluntária, assumindo o princípio de que o acordo
e o desacordo serão respeitados,
­ 6) competências mentais.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA ADOLESCÊNCIA


ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
COMPETÊNCIAS COGNITIVAS

Em relação à coerção, esta refere-se às pressões existentes que impedem a


vítima de optar de livre vontade, podendo ser

­ experienciada diretamente (e.g., uso da força para obter ato sexual)

­ de forma percepcionada (e.g., vulnerabilidade da vítima face a um agressor


mais velho e/ou mais forte),

­ motivada por ganhos secundários (e.g., obtenção de dinheiro ou favores)

­ ou por perdas secundárias (e.g., perdas materiais ou, então, percepcionadas,


tais como perda de amor, amizade ou carinho, podendo estas ser
manifestadas de modo explícito pelo agressor ou percepcionadas de forma
implícita pela vítima)
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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
­ As perspetivas contemporâneas sugerem que o desenvolvimento sexual dos adolescentes se encontra
substancialmente enraizado em três componentes:

­ Socialização sexual

­ A emergência da individualidade sexual (por vezes denominado de autoconceito sexual)

­ Reportório sexual
­ Cognições sexuais (ou fantasias sexuais)
­ Simbolismo (fetiches e parcialismos)
­ Rituais
­ Impulsos sexuais

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REPORTÓRIO SEXUAL

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
REPORTÓRIO SEXUAL

­ Conjunto de comportamentos sexuais (com ou sem parceiro) com os quais os adolescentes


desenvolvem conhecimentos, adquirem experiências, selecionam estímulos sexuais específicos e,
neste sentido, fazem escolhas e tomam decisões.

­ Neste âmbito, pode haver abstinência, não existir parceiro (masturbação) e/ou podem existir
parceiros sexuais.

­ Surgem neste reportório sexual as cognições sexuais (por vezes denominadas de fantasias sexuais),
pensamentos e imagens sexuais que ativam sexualmente o adolescente, que se vão organizando e
solidificando desde esta fase da vida do indivíduo, e que permitem vivenciar de modo intenso a
experiência sexual.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
REPORTÓRIO SEXUAL

­ Cognições sexuais (ou fantasias sexuais)


­ Alguns autores afirmam ter de estar presente uma fantasia sexual para haver relação sexual,
isto é, para haver experiênciação sexual.
­ Algo que conduz a um contexto propício
­ Com outros ou só.
­ Simples (e.g., música de fundo, pouca iluminação) ou mais complexas (e.g., uso de adereços).

­ Nem todas as fantasias são sexuais, algumas poderão ser de vingança, desilusão amorosa, …

­ Alguns estudos referem que é precisamente a vivência de determinada fantasia sexual que torna
o ato extraordinário e inesquecível.

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(estudo sobre fantasias sexuais, com adultos)


Joyal, Cossette, & Lapierre, 2014

¤ Amostra de 1500 adultos (população normal, equilibrada entre H/M, com média de 30 anos), na resposta a um
questionários sobre fantasias sexuais (55 fantasias)
¤Conclusões:
¤As fantasias sexuais tendem a ser comuns e raramente atípicas

¤ Raras (2%): sexo com crianças e sexo com animais


¤ Invulgares (16%), semelhante para H/M: urinar sobre o parceiro (“chuva dourada”), vestir roupa do sexo
oposto, obrigar alguém a ter sexo, abusar de pessoa bêbeda ou adormecida, ter sexo com dois/três/mais
homens/mulheres.
¤ Mais habituais (85%): sentimentos amorosos durante a relação sexual, ambiente romântico, sexo oral,
relação com dois/duas parceiros(as) ao mesmo tempo. Comum a submissão (obrigada/amarrada/dominação).
¤Diferenças entre H/M: as mulheres reconhecem muito melhor a diferença entre fantasia e desejo de a
realizar. Não querem que se torne realidade (homens gostariam de as realizar)
¤Clinicamente importante focarmo-nos no efeito e não no conteúdo (nenhuma deverá ser
considerada invulgar)

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COMPORTAMENTO DE AGRESSÃO SEXUAL

Elementos do Comportamento Sexual


­ Fantasias Sexuais
­ Experienciam-nas do mesmo modo.
­ Importância da vivência, ou a possibilidade em tornar realidade,
certa fantasia sexual.
­ Mais simples (e.g., roçar-se) a mais complexas (e.g., envolvem
violência ou submissão)
­ Escalada

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
REPORTÓRIO SEXUAL
Simbolismo Sexual
­ O sexo é muito visual. Somos estimulados diariamente, e vende (e.g.,
publicidade).

­ Fetiches
­ Objecto inanimado pelo qual uma pessoa sente vinculação sexual (soutiens,
cuecas, meias, cintos, sapatos altos,…)

­ Parcialismo
­ Vinculação com determinada parte do corpo pela qual os sentimentos sexuais
são ativados (seios, pernas, pés, nádegas,…)

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COMPORTAMENTO DE AGRESSÃO SEXUAL

Simbolismo Sexual
­ Processo semelhante em termos de fetiches e parcialismos
­ Agressão é extremamente visual e com um carácter simbólico em alguns
casos

­ Manifestação problemática
­ Questão da admissibilidade
­ Quando o fetiche ou parcialismo tem necessariamente que estar presente (ou tem
de fazer parte num encontro sexual), é normalmente sinal de uma atração pouco
saudável com o símbolo

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
REPORTÓRIO SEXUAL
Rituais
­ Tendem a seguir os princípios da natureza humana no dia a dia
­ Rotinas diárias

­ Por exemplo, um parceiro (que conhece já bem a sua parceira) sabe


quando ela se encontra recetiva a um comportamento sexual (e.g., um
gesto ou uma expressão)

­ Os atos sexuais tendem a desenrolar-se da mesma forma e a seguir a


mesma sequência

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COMPORTAMENTO DE AGRESSÃO SEXUAL

Rituais
­ Também aqui manifestam os rituais nos seus comportamentos
­ Modo e Sequência

­ Provavelmente um dos elementos mais graves. Pode implicar “dependência”.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
REPORTÓRIO SEXUAL

Impulso sexual
­ Há algo que induz o indivíduo a realizar algum comportamento sexual

­ Pode até ser pensado ao longo do dia


­ Excitação sexual quando vê alguém em concreto
­ Envolvimento sexual com alguém que se pretende

­ Podem estar presentes sem se poder considerar “problemático”

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COMPORTAMENTO DE AGRESSÃO SEXUAL

Impulso sexual

­ Poderá existir dificuldade em controlar (embora seja controlável)

­ Há algo que o impele a cometer o abuso sexual

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA

Importância da dimensão sexual


­ Muito mais importante que a dimensão psicopatológica

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PROBLEMAS AO NÍVEL DA SEXUALIDADE


(SEXUALIDADE DESVIANTE)
Existência do problema em vários domínios da vida do ser humano,
independentemente de:
­ Nível socioeconómico
­ Profissão / formação
­ Etnia
­ Estado civil
­ Área geográfica
­ Parentesco
­ (...)

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INDIVIDUALIDADE SEXUAL

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
INDIVIDUALIDADE SEXUAL
Refere-se à subjetividade sexual, à identidade de género, bem como o
desenvolvimento de um self que imagina (no presente ou no futuro) a
existência de relações sexuais e a experiência de prazer sexual.

Afirmação da identidade sexual (LGBT+) na adolescência


­ Por vezes com outras experiências prévias

A individualidade sexual também incorpora a consciência do desejo sexual


por outros e a capacidade de desejar os outros.

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SOCIALIZAÇÃO SEXUAL

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
SOCIALIZAÇÃO SEXUAL
Refere-se aos contextos sociais em que os adolescentes desenvolvem
conhecimentos e experiências sexuais.

Família e grupo de pares são (principais?) fontes de conhecimento e


experiência e fornecem pontos de referência para a interpretação e
significado das experiências sexuais.

Papel dos media e das novas tecnologias atualmente, fornecendo recursos


visuais, auditivos, e quadros textuais para permitem a aprendizagem e a
avaliação de informações sexuais e padrões de comportamento sexual.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
COMO É QUE ESTES INTERESSES SURGEM?
Adolescência (> 12 anos)
­ Para além dos fatores biológicos, o contexto familiar e o grupo de pares/cultura juvenil parecem
ter uma influência fundamental nos comportamentos sexuais e na vivência de afeto e intimidade
na adolescência:

­ “DOIS FATORES CLÁSSICOS”:


­ a família uma preponderância maior no período pré-adolescente
­ o grupo de pares durante a adolescência.

­ “UM FATOR CONTEMPORÂNEO”:


­ Influência dos media na socialização sexual de adolescentes

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Comportamentos sexuais ao longo da adolescência


Adolescentes (> 12 anos)
Como é que estes interesses surgem?

Influência da família
­ Podemos observar de que modo a sua interferência se efetua num estudo de
Finkelhor (1978*) que categorizou as famílias em a) sexualmente positivas, b)
sexualmente negativas, c) hipersexualizadas e d) hiposexualizadas.

­ A sexualidade familiar é composta por três dimensões:


­ 1) a atitude familiar em relação à sexualidade (cultura familiar)
­ 2) a intimidade presente das relações familiares
­ 3) privacidade, ou o respeito familiar pelos papéis e fronteiras pessoais de cada um dos membros

­ * (reforçado pelos dados de Goulet e Tardif, 2019)

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
COMO É QUE ESTES INTERESSES SURGEM?

Influência da família
­ Estudo de Finkelhor (1978; Goulet & Tardif, 2019)
­ Nas famílias sexualmente positivas a criança/adolescente recebe, ao longo do seu desenvolvimento, informações corretas sobre as questões de
sexualidade, são transmitidas atitudes positivas sobre o seu corpo, a privacidade é promovida (distinguindo-se claramente os limites e papéis
sexuais entre adultos e filhos) e há demonstração de afeto físico.

­ Nas famílias sexualmente negativas as discussões sobre sexo e sexualidade tendem a ser suscitadas ou comentadas com ansiedade e com
tabus.

­ Nas famílias hipersexualizadas os membros da família usam-se frequentemente uns aos outros como objetos no seu quotidiano, procurando
cada membro testar a/o seu poder de atração e de adequação nos outros, havendo fronteiras familiares pouco definidas e pouca distinção
entre sexualidade dos adultos e sexualidade dos menores.

­ Nas famílias hiposexualizadas parece haver um claro desencorajamento da discussão e da manifestação de comportamentos sexualizados
dentro do contexto familiar.

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
COMO É QUE ESTES INTERESSES SURGEM?

Influência da família
­ Sobre a influência da história familiar na sexualidade alguns dados têm sugerido (Ryan,
2012) que os resultados negativos no âmbito da sexualidade em crianças e

adolescentes estão associados a:


­ ignorância sobre a sexualidade
­ a atitudes negativas em relação ao sexo
­ a situações tensas/ansiosas
­ com a força, brutalidade ou coerção

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS AO LONGO DA


ADOLESCÊNCIA
ADOLESCENTES (> 12 ANOS)
COMO É QUE ESTES INTERESSES SURGEM?

Influência do grupo de pares


Inclui-se na fase desenvolvimental de cisão com muitas das normas e valores parentais.

Esta ascendência dos pares parece ser ampliada pela cultura juvenil que envolve o jovem, baseada em
grande parte, atualmente,
­ pela emergência das novas tecnologias (e.g., televisão, música, redes sociais), concretamente nas mensagens
transmitidas pelos media e partilhadas pelos adolescentes, desfazendo muitas vezes as fronteiras geográficas e
culturais (Murrie, 2012).

Deste modo, neste período desenvolvimental, a par do consumo de drogas e de outros comportamentos
que preocupam os progenitores, o sexo é muitas vezes um veículo, eventualmente problemático, de
afirmação e testagem da autonomia e independência.

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Interesses sexuais através da influência dos media na socialização


sexual de adolescentes
(ou, melhor, impacto da pornografia...)
Tópico frequente desde há alguns anos.... Pelo menos desde anos 50, com a Playboy

Mas... atualmente há outras circunstâncias, em especial o acesso generalizado a equipamentos e outras tecnologias
­ Pornografia é o meio de obtenção de educação sexual para uma percentagem significativa de adolescentes...

E à diversidade e qualidade dos materiais disponíveis

A principal preocupação prende-se como o impacto nos papeis de género (aspeto crucial na educação sexual)

Outra preocupação: Sexting


­ Pouco esclarecimento sobre o efeito futuro
­ Estudo indicam que o impacto é diferenciado, até positivo (diferente adultos vs. adolescentes)
­ Problemas surgem quando existe a partilha não consentida de imagens nas redes sociais (sexting abusivo ou não consensual)

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Impacto da pornografia no desenvolvimento sexual

(Neil Malamuth, UCLA)

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Exemplo de projeto de intervenção


https://itstimewetalked.com

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Âmbito genérico do projeto: “It’s time we talked”

https://itstimewetalked.com

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“The Porn Factor”


It’s a performance
https://itstimewetalked.com

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“The Porn Factor”


Possible influence on attitudes
https://itstimewetalked.com

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It can create pressure


https://itstimewetalked.com

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Same sex content


https://itstimewetalked.com

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ASPETOS IMPORTANTES AO NÍVEL DA


INTERVENÇÃO

§Intervenção atempada

§ Importância da Educação Sexual

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Intervenção no âmbito dos interesses e comportamentos


sexuais

NORMATIVOS ATÍPICOS
INTERVENÇÃO PSICOEDUCATIVA

INTERVENÇÃO CLÍNICA

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SEXUALIDADE

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DIMENSÕES DA SEXUALIDADE
­ Dimensão do desejo, ou seja, a importância da sexualidade em todas as suas
possibilidades para aumentar o desejo por estimulação sexual.

­ Dimensão da reprodução, isto é, a sua importância para a reprodução.

­ Dimensão da vinculação, ou seja, a sua importância para o atendimento das


necessidades psicossociais básicas de aceitação, proximidade e segurança pela
comunicação sexual

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ESPECTRO DAS PERTURBAÇÕES SEXUAIS

­ Perturbações da Função Sexual

­ Perturbações do Desenvolvimento Sexual

­ Perturbações de Identidade de Género (Transexualidade/Disforia de


Género)

­ Perturbações da Reprodução Sexual

­ Perturbações das Preferências Sexuais (Parafilias)

­ Perturbações do Comportamento Sexual (Dissexualidade)

63

PERTURBAÇÕES DAS PREFERÊNCIAS SEXUAIS


(BARROSO, RAMIÃO, FIGUEIREDO, & PECHORRO, 2018; SETO ET AL., 2008)

­ Pedofilia
­ Preferência sexual por esquemas corporais pré-púbicos (DSM-5: 302.2)

­ Hebefilia
­ Preferência sexual por esquemas corporais no início da puberdade (DSM-5: 302.9 SOE)

• Possuem fantasias, ativação e impulsos sexualmente


estimulantes, sobre o parceiro sexual desejado e
prática sexual
• Manifesta-se no final da puberdade / início da
idade adulta de modo exclusivo ou não exclusivo e
permanecem categoricamente estáveis
• Preferência sexual = destino e não escolha!
• Preferência sexual ≠ Comportamento sexual
• Comportamentos sexuais envolvendo crianças não
são suficientes para o diagnóstico de um distúrbio
pedofílico ou hebefílico
• Prevalência: 1% - 5%

64

32
4/27/23

USO DE IMAGENS DE ABUSO SEXUAL DE


CRIANÇAS
• A Internet Watch Foundation (IWF) tem identificado páginas
da web que fornecem a chamada "pornografia infantil”

• 1.351 páginas no ano de 2010


• 13.182 páginas no ano de 2013
• 78.589 páginas no ano 2017
• 105.047 páginas no ano 2018
• 198.678 páginas no ano 2019
• (...)
• 361.026 páginas em 2021

65

USO DE IMAGENS DE ABUSO SEXUAL DE


CRIANÇAS
(RIEGEL, 2004; SETO ET AL., 2006)

• Associação entre imagens de abuso sexual de crianças


(IASC) e preferência sexual
• Relevância de materiais sexuais explícitos e não explícitos para
ativação sexual (especificamente com esquema corporal, sexo e
interação sexual)
• Uso repetido de de IASC...
• ... Não é por “acidente” ou coincidência, mas sim baseado numa decisão
• ... Usado para servir fantasias sexuais, para atingir ativação sexual e
satisfação
• ... Correlação com interesses sexuais específicos e fantasias individuais
• ... Muito seletivos

• O uso de IASC pode ser considerado um indicador válido por


preferência sexual pedofílica ou hebéfila

66

33
4/27/23

PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO SEXUAL


(DISSEXUALIDADE)
KLAUS BEIER (2019)

• Dissexualidade
• Termo genérico que designa o comportamento de molestar
sexualmente

• Expressão sexual de falha em se conformar com as normas


sociais, evidenciadas no negligenciar de necessidades típicas
expectáveis e interesses no parceiro sexual

• Culpabilidade do comportamento é irrelevante para a


avaliação clínica da dissexualidade

67

DISSEXUALIDADE

• Comportamento sexual (comportamento que é motivado


sexualmente)

• ... Que viola a integridade de outros

• ... Que o consentimento não é esperado

• ... Que resulta no ferir pessoal ou em outros

• ... Que envolve pessoas que não são capazes de dar


consentimento informado

68

34
4/27/23

DISSEXUALIDADE E VISUALIZAÇÃO DE IMAGENS DE


ABUSO SEXUAL DE CRIANÇAS
(KONRAD, AMELUNG, & BEIER, 2018)

• Considerações
• Delegação de responsabilidade (“eu não fiz nada aquela
criança, não sou eu ali, as imagens já ali estavam antes,...”)
• Uso de imagens legais de menores em circunstâncias
“autoproduzidas” (e.g., adolescentes em poses eróticas nas
redes sociais)
• Uso de materiais sexuais específicos e não explícitos (e.g.,
materiais fetichistas)

• Dissexualidade em relação a materiais sexualmente explícitos


e não explícitos de crianças, compreende material ilegal, mas
não se restringe a ele

• O debate sobre este conceito pode ajudar o terapeuta e o


cliente a desenvolver uma atitude em relação ao uso de
diferentes qualidades de materiais

69

PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA SEXUAL

70

35
4/27/23

CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS EM TORNO DA VIOLÊNCIA SEXUAL

71

PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA
SEXUAL EM PORTUGAL

72

36
4/27/23

PREVALÊNCIA (PONTO DE VIRAGEM)


(BARROSO, LEITE, MANITA, & NOBRE, 2011)

73

PREVALÊNCIA
BARROSO, BRAZ, RAPOSO & OLIVEIRA (IN PRESS)

Número total de crimes sexuais registados em Portugal entre 2008 e 2017


(Fonte: Direção-Geral da Política da Justiça, 2018)
­ Em média, de 3% a 5% dos crimes registados em Portugal

74

37
4/27/23

PREVALÊNCIA
BARROSO, BRAZ, RAPOSO & OLIVEIRA (IN PRESS)

Número de condenados por crimes sexuais em Portugal entre 2008 e 2017


(Fonte: Direção-Geral da Política da Justiça, 2018)
­ Em média, de 2% a 4% dos condenados em Portugal

75

PREVALÊNCIA
BARROSO, BRAZ, RAPOSO & OLIVEIRA (IN PRESS)

Número de condenados (adolescentes) por crimes sexuais em Portugal entre 2008 e 2017
(Fonte: Direção-Geral da Política da Justiça, 2018)

76

38
4/27/23

Prevalência
Barroso,Braz,Raposo&Oliveira(inpress)

Adolescentes Agressores Sexuais (por sexo)


(Fonte: Direção-Geral da Política da Justiça, 2018)

250

202
196
200
172

150

Feminino
Masc uli no
100

50

11 12
6
0
2015 2016 2017

77

Prevalência (interesses pedófilos)


Barroso,Braz,Raposo&Oliveira(inpress)

ADOLESCENTES / JOVENS ADULTOS


140 Agressores
(Total)

29
(Pedófilos)
20.7%

78

39
4/27/23

Prevalência (interesses pedófilos)


Barroso,Braz,Raposo&Oliveira(inpress)

ADULTOS

300
275

250

200

150

100

50 43

15.6%

79

PREVALÊNCIA (MULHERES AGRESSORAS SEXUAIS)


TOZDAN, BRIKEN, & DEKKER (2019)

Tozdan, S., Briken, P., & Dekker, A. (2019). Uncovering Female Child Sexual Offenders-Needs and Challenges for Practice and
Research. Journal of clinical medicine, 8(3), 401. doi:10.3390/jcm8030401

80

40
4/27/23

PREVALÊNCIA (MULHERES AGRESSORAS SEXUAIS)


TOZDAN, BRIKEN, & DEKKER (2019)

Tozdan, S., Briken, P., & Dekker, A. (2019). Uncovering Female Child Sexual Offenders-Needs and Challenges for Practice and
Research. Journal of clinical medicine, 8(3), 401. doi:10.3390/jcm8030401

81

PREVALÊNCIA (MULHERES AGRESSORAS SEXUAIS)


TOZDAN, BRIKEN, & DEKKER (2019)

Necessidade de rejeitar estereotipos em relação à violência sexual


­ Cuidadoras, guarda de criança, entre outros papeis…

Tozdan, S., Briken, P., & Dekker, A. (2019). Uncovering Female Child Sexual Offenders-Needs and Challenges for Practice and
Research. Journal of clinical medicine, 8(3), 401. doi:10.3390/jcm8030401

82

41
4/27/23

Hipótese abusador-abusado

83

DIFERENCIAÇÃO ENTRE JOVENS AGRESSORES


SEXUAIS E NÃO SEXUAIS

Hipótese Abusador-Abusado
­ Estudo de Marshall & Barbaree (1990)
­ Referem que os JAS tenderão a diferenciar-se de outros jovens agressores nas avaliações relativas
ao abuso infantil ou negligência, apresentando maior défice de competências sociais, mais
problemas de autorregulação e maior ativação sexual em relação a crianças ou à prática de sexo
coercivo.

84

42
4/27/23

DIFERENCIAÇÃO ENTRE JOVENS AGRESSORES


SEXUAIS E NÃO SEXUAIS

Hipótese abusador-abusado
­ Considera-se que os sujeitos que foram vítimas de abuso sexual têm maior
probabilidade em se envolverem em agressões sexuais

­ A teoria da aprendizagem social e o condicionamento clássico aqui um


papel importante

­ O mecanismo que associa o abuso sexual a agressões sexuais posteriores é


desconhecido, variando as opiniões dos autores.

85

DIFERENCIAÇÃO ENTRE JOVENS AGRESSORES


SEXUAIS E NÃO SEXUAIS

Hipótese abusador-abusado
­ Estudo de Hunter, Figueredo & Malamuth (2010)
­ Sobre os efeitos, desde os 13 anos, do abuso físico e sexual e da exposição à violência e à pornografia, em 256 JAS
­ Revelaram que a história de vitimação por um agressor do sexo masculino estava relacionado com os interesses sexuais
pedófilos dos adolescentes agressores, sendo também mais provável que este agrida uma vítima do sexo masculino.

­ No entanto, sobre isto, outras investigações acrescentam que o fator determinante se prende com a
severidade do abuso, isto é, quanto mais intrusivo (e.g. tocar vs penetração) for o abuso, maior a
probabilidade de no futuro existir repetição dessa prática em outros (Knight, 2004).

86

43
4/27/23

Avaliação e intervenção clínica com


adolescentes agressores sexuais

87

PERSPETIVAS TEÓRICAS

88

44
4/27/23

MODELO RISCO/NECESSIDADE/RESPONSIVIDADE (RNR)


( ANDREWS & BONTA, 2010)

PRINCÍPIO DO RISCO: Intervenções compatíveis com o nível de risco (a intervenção será mais
eficaz quando o nível de intensidade (duração e frequência) é compatível com o risco).

PRINCÍPIO DA NECESSIDADE: As intervenções devem ser direcionadas às necessidades


criminais dos agressores, ou seja, a fatores de risco específicos associados ao comportamento (de
agressão sexual).

PRINCÍPIO DA RESPONSIVIDADE: A intervenção deve ser aplicada de forma a responder às


diversas características do indivíduo (e.g., cultura, personalidade, inteligência, competências
cognitivas, linguagem). Deste modo, o tratamento a efetuar não deve ser rígido, estático e
padronizado.

(Princípio da Descrição Profissional) que estabelece que o julgamento clínico deve substituir os outros
princípios se as circunstâncias o justificarem.

89

MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

90

45
4/27/23

MODELO GOOD LIVES (WARD & BROWN, 2004)

BASES CONCEPTUAIS

The importance of adopting a positive approach to treatment;

The relationship between risk management and good lives;

Causal preconditions of therapy;

Impact of therapists’ attitudes toward offenders.

91

MODELO GOOD LIVES (WARD, MANN, & GANNON, 2007)

RACIONAL
­ Propõe que os agressores sexuais sejam orientados por objetivos e procurem adquirir bens humanos primários
fundamentais como ações, experiências e atividades que sejam benéficos para o bem-estar individual e que são
procurados para o seu próprio bem (e.g., relacionamentos/intimidade, ação/autonomia, felicidade/prazer e equilíbrio
emocional).

As consequências da agressão sexual não resultam do desejo de obter esses bens, mas dos
métodos e estratégias que os indivíduos criam para alcançá-los.

Segundo este modelo, estas estratégias são desenvolvidas atendendo aos antecedentes dos
infratores, das suas histórias de desenvolvimento e das capacidades internas e externas para
atingir esses bens.
­ Por exemplo, num agressor sexual que procure a intimidade, o foco deixa de ser a intimidade que procura, que é
semelhante a todos os seres humanos, mas os meios que usa para atingi-la (e.g., procurar crianças).

92

46
4/27/23

MODELO GOOD LIVES


(WARD, MANN, & GANNON, 2007)

As intervenções com agressores sexuais com este modelo podem contribuir para a redução de
risco e aumentar a motivação e o envolvimento com a intervenção através de uma maior
atenção às necessidades de responsividade e a criação de uma forte aliança terapêutica
(Ward & Stewart, 2003; Yates, 2009).

Alguns autores têm indicado que a aplicação do MGL num programa de diminuição do risco de
reincidência tende a melhorar a motivação para a participação na intervenção, no progresso
da mesma e, ainda, na maior probabilidade de conclusão (Yates, 2009).

Recentemente, o Modelo de Autorregulação foi integrado ao MGL de forma a proporcionar a


inclusão de fatores de risco (Yates & Ward, 2008), mantendo-se assim consistente com os
princípios da prática clínica e forense com agressores sexuais.

93

MODELO GOOD LIVES


(LAWS & WARD, 2011)

As várias competências que os indivíduos adquirem enquanto se encontram em terapia


ajudam no processo de reintegração.
­ As competências sociais, de intimidade, de autorregulação, de resolução de problemas, regulação sexual e de
gestão emocional contribuem para que o indivíduo melhore as suas capacidades individuais e, deste modo,
permite–lhe viver uma vida de acordo com as suas necessidades e compromissos.

94

47
4/27/23

MODELO GOOD LIVES


(WARD, 2002; 2012; LAWS & WARD, 2011)

Princípios base

95

MODELO DE AUTORREGULAÇÃO
(WARD & HUDSON, 1998; YATES, 2016)

O Modelo da Autorregulação (MA) sugere uma sequência de nove fases


distintas que resultam numa agressão sexual (ver esquema)

Este modelo de intervenção tem a particularidade de reconhecer que alguns


agressores sexuais podem apresentar a tentativa de recusar-se à agressão,
enquanto outros procuram ativamente oportunidade para agredir.

Defende que os indivíduos apresentam diferenças na capacidade de


autorregulação, constituindo grupos de agressores, nomeadamente
­ os que não controlam o seu comportamento (caracterizados pela desinibição e desregulação
comportamental)
­ os que fazem esforços para controlar ativamente o seu comportamento fazendo recurso a
estratégias pouco eficazes e contraproducentes, e
­ os que possuem competência de autorregulação intactas, mas que mantem objetivos
inadequados (e.g., desejo explícito de prejudicar os outros).

96

48
4/27/23

PROCESSO DE AVALIAÇÃO CLÍNICA

97

ELEMENTOS QUE DEVEM FAZER PARTE DE UM PROCESSO DE AVALIAÇÃO


COMPREENSIVA DE AGRESSORES SEXUAIS

“A atividade judicatória atende a uma multiplicidade de


factores que têm a ver com as garantias de imparcialidade,
razões de ciência, a espontaneidade dos depoimentos, a
verosimilhança, a seriedade, o raciocínio, as lacunas, as
hesitações, a linguagem, o tom de voz, o comportamento, os
tempos de resposta, as coincidências, as contradições, o
acessório, as circunstâncias, o tempo decorrido, o contexto
sociocultural, a linguagem facial e gestual, inclusive a dos
olhares, e até saber interpretar as pausas e os silêncios dos
depoentes, para perceber e aquilatar quem estará a falar a
verdade e até que ponto, consciente ou inconscientemente, a
mesma verdade poderá estar a ser distorcida”

98

49
4/27/23

FASES DO PROCESSO
DE AVALIAÇÃO
COMPREENSIVA DE
AGRESSORES SEXUAIS
(ADAPTADO DE RICH,
2009) .

99

AVALIAÇÃO DA DIMENSÃO SEXUAL


Desenvolvimento Sexual (comportamento não agressivo)

Vitimização Sexual

Identidade Sexual

Comportamento Sexualmente Agressivo

Interesses Sexuais e Ativação

100

50
4/27/23

AVALIAÇÃO DA DIMENSÃO SEXUAL


Desenvolvimento Sexual (comportamento não agressivo)
­ Desenvolvimento Sexual (não agressivo)
­ Se teve namorada/o
­ Idade da 1ª experiência sexual
­ Idades das/dos parceiros sexuais
­ Extensão das experiências sexuais: toque, sexo oral, masturbação, penetração,…
­ Uso (e frequência) de pornografia e de que tipo
­ Idade de início do uso de pornografia
­ Idade com que se masturbou pela 1ª vez
­ Fantasias masturbatórias atuais
­ Comportamentos sexuais de outros membros da família

101

AVALIAÇÃO DA DIMENSÃO SEXUAL


Vitimação Sexual

­ História de abuso sexual


­ Perpretador(es), com nomes, idades e relação
­ Circunstâncias da vitimação sexual
­ Detalhes da vitimação
­ Como é que sentiu quando a vitimação ocorreu
­ Impacto da vitimação
­ Efeitos da vitimação no desenvolvimento sexual futuro
­ Efeitos da vitimação no comportamento sexual abusivo futuro

102

51
4/27/23

AVALIAÇÃO DA DIMENSÃO SEXUAL

Identidade Sexual
­ Se acha atraente ou não atraente para os outros, do ponto de vista romântico ou sexual?

­ Orientação sexual: hetero, homo, bisexual, não tem a certeza

103

AVALIAÇÃO DA DIMENSÃO SEXUAL

Comportamento Sexualmente Agressivo


­ O que se passou e com quem
­ Idade no momento da agressão
­ Nome e idades das vítimas
­ Relacionamentos com a vítimas
­ Número de vítimas
­ Durante quanto tempo e número e vezes
­ Descrição de cada agressão: o que, onde, quando, como, acompanhado de quem e porquê.
­ Grau de planeamento.
­ Como foi descoberto
­ Qual a probabilidade de o abuso continuar a ocorrer se não tivesse sido descoberto
(aumentando de gravidade e frequência? Incluiria novas vítimas?)

104

52
4/27/23

AVALIAÇÃO DA DIMENSÃO SEXUAL


Interesses Sexuais e Ativação
­ Interesses sexuais: género, idade e aparência
­ Fantasias sexuais
­ Com instrumentos específicos...?
­ EFS-W (Wilson, 1982; Barroso, Manita & Nobre, 2010)
­ 40 itens na versão original (32 itens, versão portuguesa)
­ Quatro subscalas (Intimas, Exploratórias, Impessoais e Sado-Masoquistas)

­ SFQ (Daleidin, Kaufman, Hilliker, & O’Neil, 1998)


­ Interessante. Mas… tem 127 itens.
­ Globalmente desviantes
­ Globalmente não desviantes
­ Fantasias masturbatórias

105

AVALIAÇÃO DO RISCO DE REINCIDÊNCIA

106

53
4/27/23

FASES DO PROCESSO DE
AVALIAÇÃO
COMPREENSIVA DE
AGRESSORES SEXUAIS
(ADAPTADO DE RICH, 2009) .

107

RISCO DE REINCIDÊNCIA
Conceito de Risco

­ Risco para quem?

­ Risco de quê?

­ Risco quando e/ou em que circunstâncias?

­ E… em risco, porquê?

108

54
4/27/23

FATORES DE RISCO DE REINCIDÊNCIA


(POR CATEGORIA)
CRENÇAS SEXUAIS, ATITUDES E ATIVAÇÃO (Drive)
­ Presença de interesses sexuais desviantes
­ Preocupações de índole sexual
­ Crenças ou atitudes que suportam o comportamento sexualmente abusivo
­ Desejo em continuar com comportamentos que poderão ser sexualmente abusivos (ou inapropriados)

HISTÓRIA DOS COMPORTAMENTOS SEXUALMENTE ABUSIVOS


­ Múltiplas vítimas
­ Uso de violência, força ou ameaças
­ Grau de coerção envolvido
­ Diferença de idades entre perpetrador e vítima
­ Vítimas de ambos os sexos
­ Vítimas estranhas/desconhecidas
­ Múltiplos tipos de comportamento sexualmente agressivo
­ História prévia de comportamento sexualmente agressivo
­ Agressão sexual continuada após primeira detecção
­ História da duração do abuso sexual
­ Progressão e desenvolvimento dos comportamentos sexuais abusivos ao longo do tempo
­ Uso de planeamento
­ Severidade do comportamento sexualmente agressivo

109

FATORES DE RISCO DE REINCIDÊNCIA


HISTÓRIA DE VITIMIZAÇÃO
­ Vítima de abuso sexual ou de abuso físico
­ Resposta atual à ocorrência de vitimização

HISTÓRIA DE COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL EM GERAL


­ Agressão
­ Problemas de comportamento na comunidade/trabalho (ou escola)
­ Detenções por crimes não sexuais
­ Problemas comportamentais precoces
­ Nível de gravidade do comportamento antissocial, múltiplos tipos de problemas de
comportamento
­ Abuso de substâncias

110

55
4/27/23

FATORES DE RISCO DE REINCIDÊNCIA


CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
­ M otivação para a m udança

­ Défices na em patia
­ Défices nos rem orsos

­ N egação dos com portam entos e/ou não assum ir as responsabilidades

­ Défices nas capacidades cognitivas e nos insights

FUNCIONAMENTO PSICOSSOCIAL EM GERA


­ Défices na autorregulação

­ Im pulsividade
­ Problem as no controlo da raiva

­ Défices nas com petências sociais e na capacidade de interações sociais

­ Presença de dificuldades em geral no funcionam ento social

RELAÇÕES FAMILIARES E PADRÃO DE FUNCIONAMENTO


­ Contexto fam iliar disfuncional ou com m últiplos stressores

­ Estabilidade e consistência das figuras m ais próxim as


­ Pouco envolvim ento fam iliar no processo de tratam ento

­ História de violência fam iliar

­ Fronteiras físicas e sexuais no contexto da fam ília

­ Relacionam entos deficitários entre os m em bros da fam ília

CONDIÇÕES AMBIENTAIS EM GERAL


­ Estabilidade das condições de vida

­ Estabilidade das circunstâncias associadas ao trabalho/profissão

­ N atureza e qualidade do sistem a de suporte (social, com unitário,...)

­ O portunidades para novas agressões sexuais

RESPOSTA AO(S) TRATAMENTOS(S)


­ Problem as em com pletar intervenções/tratam entos psicológicos
­ Desvalorização do processo de intervenção

111

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DO RISCO DE


REINCIDÊNCIA (ADOLESCENTES)

Juvenile Sex Offender Assessment Protocol (J-SOAP-II)


­ Prentky & Righthand (2003)
­ Versão Portuguesa (Barroso & Manita, 2009)

112

56
4/27/23

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO RISCO DE


REINCIDÊNCIA (ADOLESCENTES)
JSOAP-II
­ Checklist que tem como objetivo ajudar os profissionais na revisão dos fatores de
risco que foram identificados pela literatura especializada como estando
associados a agressões sexuais e criminais

­ Para ser usada com rapazes com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos

­ Fatores risco estáticos e dinâmicos

113

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO RISCO DE


REINCIDÊNCIA (ADOLESCENTES)
JSOAP-II
­ Possui no total 28 itens/fatores de risco, organizados em quatro escalas:
­ Comportamento Antissocial/Impulsividade
­ Impulso Sexual/Preocupação
­ Intervenção
­ Ajustamento/Estabilidade na Comunidade

­ A cotação é feita numa escala entre 0 e 2 (de ausência do item a clara presença do
item).

114

57
4/27/23

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO RISCO DE


REINCIDÊNCIA (JOVENS)
JSOAP-II
­ A sua validade preditora ainda está a ser estudada de forma mais rigorosa. Por
esse motivo, não existe ainda qualquer ponto de corte

­ Nunca se deve tomar qualquer decisão baseada unicamente nesta escala, mas
sim integrado num conjunto mais vasto e compreensivo de metodologias de
avaliação

115

FORMULAÇÃO CLÍNICA

116

58
4/27/23

FORMULAÇÃO CLÍNICA
Ainda que possua um papel central de enorme importância em qualquer processo de intervenção psicológica, a formulação
clínica é muitas vezes negligenciada.
­ Neste programa de intervenção com condenados por agressão sexual, a sua realização para cada um dos agressores envolvidos no mesmo é
necessária e fundamental.

A formulação clínica é útil para refinar e organizar as informações recolhidas para que estas possam ser utilizadas
eficazmente no planeamento das intervenções.

A formulação clínica (ou formulação de caso) é um método de enorme importância que permite integrar informações de forma
a facilitar o desenvolvimento de hipóteses testáveis.

De um modo geral, a formulação de caso permitirá a) elucidar acerca do problema em causa; b) explicar o início desse
problema e o que motiva a sua manutenção; e c) desenvolver um plano de intervenção individualizado.

De forma a completar o plano de intervenção, é essencial atender a fatores de manutenção do problema e potenciar os
efeitos protetores. Conceptualizando, a formulação de caso informa vários componentes como, a formulação do problema,
avaliação de risco e avaliação psicométrica. (ver esquema)

117

FORMULAÇÃO CLÍNICA
É importante notar que o comportamento sexual desviante não apresenta uma
causa universal, sendo necessário atribuir uma causa singular, que poderá variar de
indivíduo para indivíduo (Calder, 2011; Rith, 2003).

A avaliação individual toma aqui um papel importante, havendo a necessidade de


desenvolver uma hipótese de trabalho individual sobre como os fatores
predisponentes interagem com outros fatores desencadeantes e fatores de proteção
no desenvolvimento do comportamento sexual desviante.

­ Ver esquema com as informações relevantes a considerar para a formulação de caso de


indivíduos com comportamento sexual desviante.

­ Esta informação inclui o funcionamento familiar, história de vinculação/apego, traços da


personalidade, história de desenvolvimento, história de trauma, e diagnostico
psiquiátrico e psicológico.

118

59
4/27/23

119

FASES DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO CLÍNICA

120

60
4/27/23

ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA SEXUAL

121

TRATAMENTO
TENDO EM VISTA A REABILITAÇÃO

Adultos
­ Medicação
­ ISRC
­ Outros (não autorizados na maior parte dos países)
­ Hormonal (baixar testosterona e diminuir as eventuais compulsões)
­ “Castração química”

­ Terapia Cognitivo-Comportamental (“based on principles of risk, needs, and


responsivity”)
­ Importância da prevenção de recaída

­ The Good Lives Model (GLM) (Ward, 2002; 2006; 2012; 2014)
­ Implementação de competências e de “pontos fortes” do agressor (para diminuir a reincidência)
­ Modelo de intervenção promissor

­ Modelo da Autorregulação

122

61
4/27/23

INTERVENÇÃO COM AGRESSORES SEXUAIS NO UK


(“ESCÂNDALO NOS MEDIA”, VERÃO DE 2017)

Ministra esconde relatório sobre eficácia do SOTP


britânico
Custo de 100 milhões de libras (desde 1991)
Programas de seis meses realizado por “para-
profissionais” sem formação especializada
aumentava reincidência de pedófilos e violadores

Implicava mudanças urgentes (com base em estudos


técnicos credíveis)

123

ANÁLISE PÓS-INCIDENTE
Mudanças necessárias
­ Foco clínico
­ Intervenção manualizada, mas sem rigidez
­ Atendendo à diferenciação dos agressores

­ Intervenção realizada por profissionais especializados (com competências


clínicas/terapêuticas)

­ Intervenção individual é preferencial

­ Foco nas competências e nos fatores dinâmicos (que podem suscitar mudanças)

­ Contexto de intervenção (prisão vs. comunidade)

124

62
4/27/23

ANÁLISE PÓS-INCIDENTE
Modelos de intervenção com potencial demostrado:

­ Modelo RNR (risk-need-responsivity model; Andrews, Bonta, & Wormith, 2011)

­ Modelo Cognitivo-comportamental

­ Modelo Good-Lives (Ward,Yates,& Willis,2012)

125

TERAPIA INDIVIDUAL VS. TERAPIA EM GRUPO

• Aumento da confidencialidade (que é mais difícil de garantir


Vantagens num contexto de grupo);
• Mais oportunidades para explorar questões individuais (que
em contexto de grupo poderiam ser tópicos difíceis e
embaraçosos de abordar);
• Flexibilidade da sessão e a duração geral do tratamento;
• Existem agressores sexuais que sofrem de défices cognitivos,
défices interpessoais e problemas psiquiátricos que são mais
adequados de trabalhar numa terapia individual.
Desvantagens

• Mais demorada e elevada em custos financeiros;


• A opção da mesma em vez da terapia de grupo, pode
desencorajar os agressores a discutir questões críticas.

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TERAPIA INDIVIDUAL VS. TERAPIA EM GRUPO

Vantagens

• O potencial terapêutico das interações e relações que emergem durante o


processo de grupo;
• A aquisição de novas perspetivas que de outra forma não estariam disponíveis;
• A prática de competências;
• A promoção do incentivo, do apoio mútuo e do reforço de ganhos individuais;
• A possibilidade de abordar questões individuais em contexto de grupo.

(Mann & Fernandez, 2006)

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CONTEÚDOS QUE ALGUNS PROGRAMAS DE


INTERVENÇÃO DEMONSTRAM COMO SENDO EFICAZES

O foco dos programas de tratamento de agressores sexuais é


prevenir uma recaída do seu comportamento sexual inapropriado,
melhorando a capacidade que o indivíduo tem para se regular.

Durante o tratamento, os participantes são convidados a


identificar os indicadores cognitivos e/ou comportamentais
pertinentes para o seu comportamento sexual inapropriado.

Estes podem ser indicadores internos, como raiva, problemas de intimidade,


entre outros; ou indicadores externos, como a facilidade de acesso a
potenciais vítimas ou conflitos interpessoais.

As técnicas de gestão destas problemáticas passam muitas vezes


por estratégias de gestão de raiva, de competências sociais, entre
outras, a supervisão da liberdade condicional.

Quando o agressor sexual é alguém impulsivo e pobre na


resolução de problemas é importante dirigir a atenção no treino de
competências cognitivas, complementar às técnicas de gestão
acima descritas.

(Mann & Fernandez, 2016)

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ASPETO FUNDAMENTAL NO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

O facto de existir uma grande


heterogeneidade dos agressores sexuais
pode trazer algumas dificuldades na
aplicabilidade.

Contudo vários investigadores defendem que um


grupo de intervenção heterogéneo pode ser
benéfico, uma vez que oferecem várias
perspetivas, a partilha de experiência e, em última
análise, o sucesso do tratamento está nas mãos do
tratamento.

O/A terapeuta é determinante na intervenção,


uma vez que é essencial que este/esta possua
características como empatia, autenticidade,
respeito, diretividade, incentivo à participação,
esperança e confiança.

(Mann & Fernandez, 2016)

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Atitudes do terapeuta
O que o terapeuta NÃO deve fazer?
ü Ter uma abordagem desafiadora, agressiva e desvalorizadora;
ü Interações hos9s e / ou irritadas;
ü Colocar ênfase excessiva em questões nega9vas;
ü Falta de interesse, o9mismo ou crença nos clientes e na sua capacidade de
mudança;
ü Ausência de uma abordagem colabora9va do tratamento;
ü Desconsideração da influência das caracterís9cas interpessoais do
terapeuta no resultado do tratamento;
ü Não evitar metas que contribuam para os clientes desenvolverem um es9lo
de vida feliz e sa9sfatório.
(Mann & Fernandez, 2016)

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ATITUDES DO TERAPEUTA

O que o terapeuta DEVE fazer?

ü Empático; ü Realizar perguntas abertas;

ü Genuíno; ü Diretividade;

ü Caloroso; ü Flexibilidade;

ü Respeitar; ü Encorajar e transmitir confiança;

ü Apoiar; ü Sensibilidade emocional.

(Mann & Fernandez, 2016)

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§ Curiosamente, a dissimilaridade entre os terapeutas (sexo, idade, raça ou


personalidade) também foi associada a resultados melhores;

§ Muitos programas tentam ter coterapeutas do sexo masculino e feminino,


com base no pressuposto de que ter coterapeutas de sexo oposto
proporciona oportunidades para modelar interações homem-mulher
apropriadas e respeitadoras.

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EXEMPLO DA ESTRUTURA DE UM
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO
COM AGRESSORES SEXUAIS

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RESULTADOS DOS ESTUDOS MAIS RECENTES SOBRE


OS FATORES DETERMINANTES NA INTERVENÇÃO
COM JOVENS QUE SE ENVOLVERAM EM
COMPORTAMENTOS SEXUAIS ABUSIVOS

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O QUE NOS DIZEM AS META-ANÁLISES E REVISÕES SISTEMÁTICAS MAIS


RECENTES SOBRE QUEM AGRIDE SEXUALMENTE?

1. Siria et al (2020).
­ Destaca os fatores de risco relacionados com a história familiar, certas características de personalidade,
e o desenvolvimento de "inadequada sexualização ”(em 96% dos casos). Esta última variável era
principalmente relacionado ao início precoce do consumo de pornografia (70%), com um ambiente
familiar sexualizado (26%) e à vitimização sexual durante a infância (22%).
­ Chamam a atenção para o comportamento sexualizado, e o desenvolvimento sexual.

2. Ueda (2017)
­ Adolescentes que abusam de crianças tendem a ser mais propensos a serem submissos, têm menor
autoestima e demostram mais problemas de internalizadores, enquanto os adolescentes que abusam dos
seus pares/adultos tendem a ser mais agressivos, antissociais e mais propensos a mostrar problemas de
comportamento externalizador.
­ Chama a atenção para a necessidade de realizar intervenções individuais e em função da tipologia de
vítima.

3. Babchishin et al (2015).
­ Agressores online tinham maior empatia com a vítima, maior desvio sexual do que os agressores offline.
Mas os online tendem a ter mais autocontrolo. Tanto os agressores online e offline relataram maiores
taxas de abuso físico e sexual na infância do que a população em geral.

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O QUE NOS DIZEM AS META-ANÁLISES E REVISÕES SISTEMÁTICAS MAIS


RECENTES SOBRE QUEM AGRIDE SEXUALMENTE?
1. Hanson & Morton-Borgon (2005).
­ Identificaram a existência de preferências sexuais desviantes e a orientação antissocial como os
principais preditores de reincidência sexual para agressores sexuais adolescentes (e adultos). A
orientação antissocial foi o principal preditor de reincidência violenta e
­ Identificou alguns fatores de risco dinâmicos que ser alvo de atenção nas intervenções (e.g.,
preocupações sexuais, autorregulação).
­ Muitas variáveis por vezes abordadas em programas de intervenção com agressores sexuais (e.g.,
negação de crime sexual, empatia com a vítima, motivação assumida para o tratamento) tinham pouca
ou nenhuma relação com reincidência sexual.

2. Pullman & Seto (2012)


­ A maioria dos adolescentes que agridem sexualmente são infratores generalistas (semelhantes a outros
adolescentes infratores não sexuais).
­ Uma minoria de agressores sexuais são especialistas. E, quando o são, apresentam fatores etiológicos e
de risco específicos incluindo: a) abuso / maus-tratos sexuais na infância e 2) interesses sexuais atípicos.

3. Van den Berg et al (2018).


­ Fatores de risco dinâmicos (ou seja, que podem ser passiveis de mudança) são os mais importantes em
termos de mudança comportamental.
­ E.g., o interesse sexual, a autorregulação sexual, as atitudes antissociais, funcionamento social e afetivo

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O QUE NOS DIZEM AS META-ANÁLISES E REVISÕES SISTEMÁTICAS MAIS


RECENTES SOBRE QUEM AGRIDE SEXUALMENTE?

1. Helmus et al. (2018).


­ As atitudes que suportam (ou legitimam ou minimizam os efeitos) as agressões sexuais são preditoras de
continuidade. Mais evidente em abusadores de menores. Um importante fator de risco que deve ser alvo
de intervenção.

2. Whitaker et al., (2008)


­ Fatores familiares estão fortemente relacionados com a perpetração de crimes sexuais com menores e
devem ser pontos de intervenção para interromper o desenvolvimento de agressões sexuais infantis, bem
como outros comportamentos negativos.
­ Outros pontos com enorme potencial de mudança comportamental com a intervenção: desenvolvimento
de práticas sociais adequadas e promoção de competências emocionais que contribuem para o crime
sexual.

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BASES CIENTÍFICAS DA INTERVENÇÃO (TANTO O “PBX” COMO O “PASS”)

Os fatores desenvolvimentais antes descritos


­ Dimensões associadas ao desenvolvimento sexual

Os resultados provenientes de dados (selecionados) da investigação científica


mais recente

Abordagem clínica do processo de intervenção

Modelos teóricos mais sustentados

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CASOS PRÁTICOS

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ANTÓNIO (15 ANOS)

1. O António (nome fictício) é um jovem de 15 anos de idade que se encontra a cumprir uma
medida de acompanhamento educativo. De acordo com os dados processuais e evidenciados
em tribunal, o António e um amigo (também com 15 anos), de forma premeditada, abordaram
a vítima que se encontrava sozinha (tinha 13 anos e era do sexo feminino). Os dois adolescentes
regressavam da escola e seguiram a vítima até ao elevador do edifício onde esta residia,
entraram no mesmo e impediram-na de selecionar o andar que pretendia, imobilizando-a.
Tendo em conta a superioridade física e o uso da força, deixaram a vítima na impossibilidade
de resistir. Seguiram-na até ao último andar do edifício e, neste patamar, concretizaram coito
vaginal, sem qualquer método contracetivo.
2. O ato sexual foi realizado por António e depois pelo seu amigo, alternadamente. Deste
episódio não existiu denúncia, nessa altura, por parte da vítima. Uma situação semelhante
voltou a acontecer, após sensivelmente 1 ano, envolvendo o mesmo procedimento, a mesma
vítima e os mesmos agressores. Esta última agressão sexual desencadeou a denúncia por parte
da vítima. Mais tarde, a vítima referiu não ter comunicado o primeiro episódio abusivo porque
tinha medo dos agressores e também porque receava a reação da sua mãe, antecipando
poder existir pouco apoio e compreensão.

141

ANTÓNIO (15 ANOS)

MOTIVO DA INTERVENÇÃO

1. O António é um jovem a quem lhe foi aplicada uma medida de acompanhamento educativo
pelo período de 1 ano, na sequência da prática de dois crimes de violação. A atual medida
pressupõe uma intervenção a nível de um comportamento pró-social, nomeadamente a nível da
autorregulação.
2. Já antes tinha sido imposta uma outra medida de acompanhamento educativo, pelo período de
2 anos, com incidência na área escolar, com controlo da assiduidade, do aproveitamento e do
comportamento na área da saúde mental, bem como para a aquisição de comportamentos
pessoais e sociais, com vista ao desenvolvimento de um comportamento pró-social, na sequência
de um crime de ofensa à integridade física.
3. Relativamente ao processo de intervenção, o jovem está presente em todas as sessões de
acompanhamento, porque é obrigatório, e não faz uma adesão efetiva, apesar de, por vezes,
identificar as consequências de comportamentos disruptivos.

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ANTÓNIO (15 ANOS)

HISTÓRIA DE DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL E CLÍNICA

1. O António reside com a mãe e dois irmãos. Mantém contacto regular com a restante família, falando
todos os dias e visitando-os quase todas as semanas. O pai cumpriu pena de prisão durante 18 meses
pela prática de um crime de tráfico de droga.
2. A situação económica da família sempre foi precária, assegurada a partir do Rendimento Social de
Inserção e de prestações familiares atribuídas. As práticas parentais educativas eram asseguradas
pela progenitora (apesar das diminuídas competências pessoais e sociais), sendo inconsistente, com
disciplina inadequada e demonstrando dificuldades em controlar o comportamento do jovem. Residia
num bairro de habitação social constituído por uma população carenciada, onde coexistem diversas
problemáticas sociais, nomeadamente a nível da marginalidade e da delinquência.
3. Relativamente ao percurso escolar, o António não concluiu o 8.o ano de escolaridade, tendo reprovado
nos 6.o e 7.o anos. Revelava dificuldades de adaptação e de integração, manifestando um
comportamento mais instável e perturbador e assumindo atitudes de desrespeito e de desafio com os
agentes educativos. Atualmente, o António encontra-se a frequentar um curso profissionalizante, que
lhe permitirá a equivalência ao 9.o ano de escolaridade.
4. O jovem foi sinalizado para consultas de pedopsiquiatria e psicologia, na sequência de alterações de
humor, elevada reatividade e instabilidade, problemas de sono e dores de cabeça recorrentes,
acompanhamento que interrompeu, entretanto, por sua iniciativa, perspetivando vir a retomá-lo
brevemente.

143

ANTÓNIO (15 ANOS)

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

1. Na avaliação psicológica, verificou-se que o António não reconheceu a prática da violação,


referindo que houve, de facto, uma relação sexual, mas que foi consensual. O jovem não
expressou nenhuma empatia face à vítima, referindo os factos como “insignificantes”.

2. Transmitiu que a sua namorada atual tem conhecimento da situação e que também nunca deu
importância (“É insignificante para ela também”). A nível do comportamento sexual, admitiu ter
tido o seu primeiro relacionamento dessa natureza com uma jovem da mesma idade,
mencionando algumas relações afetivas sem envolvimento sexual e outras revestindo-se de um
comportamento predominantemente físico/sexual, sem componente afetivo/emocional,
considerando-as num contexto de experimentação e descoberta da sexualidade característico
da adolescência.
3. Negou ter tido, em qualquer destes relacionamentos, comportamentos de
agressividade/abusos, assim como não se identificou com interesses sexuais desviantes ou
obsessivos.

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FATORES PESSOAIS PREDISPONENTES FATORES CONTEXTUAIS PREDISPONENTES

• Impulsividade e Agressividade • Instabilidade familiar associada à reclusão do progenitor

• Reduzida capacidade de autorregulação • Poucos modelos de referência positivos

• Sentimentos de Ansiedade • Não revela vontade de descrever o atual agregado familiar, nem a sua

• Dificuldades em lidar com a frustração relação com a namorada

FATORES PESSOAIS QUE MANTÊM O PROBLEMA FATORES PESSOAIS DE PROTEÇÃO

• Crenças desajustadas sobre o abuso sexual • Razoável capacidade para, no abstrato, perceber e avaliar que se

FORMULAÇÃO DO CASO
• Baixo autoestima trata de uma interação de caracter abusivo ou consentida

• Imaturidade psicoafectiva • Capacidade de estabelecer interações positivas com pares

• Desconforto interno, podendo dar origem, por vezes, a um funcionamento • Sem problemas cognitivos

rígido de autoafirmação na forma de pensar e agir

• Negação/ambivalência sobre o comportamento sexual desviante

FATORES CONTEXTUAIS DE MANUTENÇÃO FATORES DE PROTEÇÃO CONTEXTUAIS


• Comunicação limitada sobre assuntos sexuais • Existência de laços afetivos com a família

• Inconsistência de práticas parentais e disciplina inadequada • Relacionamento amoroso, registado como uma relação íntima positiva

• Associação negativa a pares ou influências negativas • Atualmente, os progenitores acompanham o processo do jovem

• Ambiente inseguro ou insatisfatório para mudança • Boa coordenação entre os profissionais da ETE e a família

• Oportunidades educacionais/empregos pobres • Família aceita o plano de formulação e intervenção

• Fraca adesão do jovem à MAE, nomeadamente às sessões de

acompanhamento, faltando frequentemente

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ANTÓNIO (15 ANOS)

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA
1. No caso de António, foi proposta uma intervenção através da aplicação do “Programa de intervenção
psicológica com adolescentes que se envolveram em comportamentos sexualmente (PBX)” (Barroso et al.,
2020), composto por 36 sessões, atualmente em uso pelo Ministério da Justiça em centros de detenção juvenil,
nas equipas tutelares educativas e em equipas de intervenção externa credenciadas para o efeito. É exigida
autorização prévia do Ministério da Justiça para que possa ser implementado na comunidade, requerendo
antecipadamente o estabelecimento de um protocolo específico e a realização de formação técnica
especializada.

2. O Programa tem como objetivo intervir com o António utilizando o restante período da medida tutelar de
acompanhamento educativo a que se encontra sujeito, de modo a impulsionar a mudança comportamental
pretendida. É importante mencionar que o envolvimento no Programa, apesar de ser centrado na vertente da
sexualidade do jovem, não requer que o indivíduo assuma, desde logo, a prática dos crimes sexuais que
praticou (e/ou que foi alvo de medida tutelar) ou fale dos abusos sexuais que cometeu. No entanto, deve
estar ciente da necessidade de abordar durante a intervenção os motivos que levaram à ocorrência desses
problemas (eventualmente, a médio ou longo prazo).

3. Sustentada nos modelos anteriormente descritos, a intervenção deve centrar as sessões de intervenção: na
comunicação (por exemplo, perceber o processo de transmissão e de receção de informação); nas relações
sociais e emoções (por exemplo, aceitar as emoções negativas e as formas funcionais de prática de
regulação emocional); na empatia (por exemplo, reconhecer as suas ações e implicações para a outra
pessoa); na sexualidade (por exemplo, identificar os interesses e as fantasias sexuais); e na identificação das
diferenças entre a visualização de pornografia e a vida real, das crenças e dos mitos (por exemplo, entender
as dinâmicas e os indicadores de uma relação abusiva) e dos esquemas cognitivos (por exemplo, tomar
consciência da existência de erros no processamento de informação).

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ANTÓNIO (15 ANOS)

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

1. Independentemente da tipologia do crime geral executado pelos jovens (por exemplo, jovem
que praticou também um crime não sexual), a intervenção deverá ser focalizada nas
necessidades associadas à sexualidade. Desta forma, ainda que se possa desenvolver
competências mais gerais, é importante que existam abordagens interventivas mais marcadas,
no âmbito das quais são abordados esquemas cognitivos (por exemplo, trabalhar esquemas
cognitivos que justifiquem agressões sexuais) e processos de mudança (por exemplo, adquirir
estratégias adaptativas que evitem a reincidência e possibilitem o processo de mudança dos
esquemas cognitivos desadaptativos), definido um plano de emergência (por exemplo, criar
uma hierarquia de risco para fatores de risco individuais e sinais de alerta) e planeado o futuro
(por exemplo, estabelecer objetivos e estratégias alcançáveis; Barroso et al., 2020).

2. É importante notar que este Programa de intervenção é específico para a agressão sexual e
não substitui qualquer outra intervenção terapêutica, ou seja, não dispensa outras intervenções
terapêuticas sempre que um nível de perturbação ou psicopatologia assim o exija.

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VIOLÊNCIA SEXUAL PRATICADA POR Ricardo Barroso

ADOLESCENTES rbarroso@utad.pt

U N I V E R S I DA D E D E C O I M B R A

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