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Os obstáculos do desenvolvimento da sexualidade na perspectiva da Terapia

Cognitivo Comportamental

Edilma Edilene da Silva1


Irlanda Cavalcanti da Silva2

Introdução

Atualmente percebe-se que a sexualidade tornou-se um assunto mais evidente


em redes sociais, escolas, instituições etc., porém voltado mais para a questão da
diversidade e identidade de gênero, mas ainda percebe-se que há varias interrogativas
em relação à sexualidade. Já se falou em sexualidade na escola, como uma possível
maneira de educar as crianças a lidar com a sexualidade, porém este tema é bastante
discutido e não é muito aceito pelas famílias ainda, porque percebe-se a presença de
tabus culturais que são arraigadas nas bases familiares.
Neste sentido podemos ainda visualizar autos índices de gravidez na
adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, experiências sexuais abusivas e
traumáticas, dentre outras questões. Entretanto, hoje em dia mesmo com a inserção de
programas na saúde pública que trabalham tais questões com os jovens Programa Saúde
nas Escolas – PSE ainda é visível os índices alarmantes.
Acredita-se que a sexualidade é um tema que causa certos desconfortos para a
maioria das pessoas, seja por não ter conhecimento amplo no assunto, ou por ter receios
de falar sobre o tema e ser mal interpretado, visto que a sociedade ainda carrega muitos
preconceitos e tabus sobre a sexualidade.
Assim, este capítulo objetiva averiguar as influencias das conjecturas sociais e
familiares no desenvolvimento e vivências da sexualidade na vida dos sujeitos e como a
Terapia Cognitivo Comportamental pode explicar os prejuízos de tais influencias tanto
no desenvolvimento da sexualidade como nas vivências sexuais.

Olhares e saberes acerca da Sexualidade


1
Psicóloga Especialista em Docência na Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS;
Mestranda pelo Programa de Mestrado Profissional em Psicologia Práticas e Inovações em Saúde
Mental pela Universidade de Pernambuco – UPE.
2
Psicóloga Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pela Faculdade Franssinette do Recife –
FAFIRE; Mestranda pelo Programa de Mestrado Profissional em Psicologia Práticas e Inovações em
Saúde Mental pela Universidade de Pernambuco – UPE.
A sexualidade humana é um dos elementos que compõe o Ser humano, pois
através dela o sujeito pode expressar afeto, experiências sexuais e predisposições que
são caminhos para a descoberta e construção da sua identidade sexual ao longo da vida.
A sexualidade é vista como algo importante para a constituição humana, neste sentido
precisa ser compreendida em sua totalidade (FAGUNDES, 2005).
Segundo Freud (1996) a sexualidade é de suma importância para a construção da
personalidade, é uma manifestação psíquica que ocorre logo no inicio da vida do sujeito
instituindo a libido, que está presente no homem desde o nascimento até a morte. Ela de
desenvolve através das Fases de Desenvolvimentos Sexual que vai desde o nascimento
até a adolescência, no qual a expressão da libido perpassa por algumas áreas corporais.
Dentre elas as fases oral, anal, fálica, de latência e, posteriormente, a fase genital que é
o começo da fase adulta na qual a sexualidade está focalizada nos genitais, considerada
o berço das experiências sexuais.
Sabe-se que na constituição da sexualidade os fatores biopsicossociais exercem
uma influencia significativa sendo capaz de moldar, direcionar e reprimir alguns
instintos sexuais em decorrência de concepções e valores sócio-culturais que são
perpassados para os sujeitos ao longo da vida deixando marcas no desenvolvimento da
sexualidade (FAGUNDES,2005).
Acredita-se que a sexualidade na maioria dos sujeitos é condicionada através dos
conceitos sociais que são internalizados no decorrer de suas aprendizagens sociais, no
qual este social inclui-se a família, sociedade, cultura e religião; na medida em que o
sujeito não experiência a sexualidade de forma autêntica e honesta, poderá acarretar
desprazeres, experiências traumáticas e aversivas que serão levadas ao longo da vida e
são repassadas para as demais vivências sexuais.
Percebe-se que a camada da sociedade mais conservadora reduz às práticas
sexuais a função reprodutiva e genital, nesta perspectiva a experiência sexual se
restringe apenas papel biológico; assim observa-se que há um direcionamento unilateral
podando outras questões que está para além do biológico, que o autoconhecimento
corporal, a autonomia de usar da melhor forma possível seu corpo para alcançar
sensações prazerosas e experiências significativas que serão levadas para toda sua
existência.
Como havia mencionado anteriormente a sexualidade é composta por fatores
biopsicossociais que interagem entre si, constituindo uma determinada complexidade
que envolve o sujeito. Os fatores biológicos referem-se aos órgãos genitais associados à
reprodução, contemplando a fisiologia orgânica regulada por ações hormonais que
determinarão as características entre homens e mulheres; o psicológico são aspectos
intrínsecos relacionados às emoções, crenças e comportamentos relacionados à
sexualidade; e os socioculturais são as normas, valores e condicionalidades existentes
nas sociedades e instituições sociais que são normalizadoras, neste contexto podemos
encontrar as religiões e as diversas culturas.
Segundo Foucault (1993) o elemento sociocultural exerceria uma forte
influencia nos aspectos relacionados à sexualidade humana, pois afirmava que o
conceito de sexualidade não pertencia ao natural do homem, mas sim a parte do homem
que é constituída pelo social, alertando assim para a existência de uma sexualidade
submetida ao controle coletivo e não subjetivo.
Sabe-se que a família é o primeiro contato social que a criança possui e esta
exerce uma forte influencia na constituição da personalidade do sujeito. No vínculo
familiar são repassados conceitos éticos, morais, culturais, religiosos de forma
progressiva e continua (MOREIRA E MEDEIROS, 2007). Neste sentido percebemos
que até os dias atuais temas voltados para a sexualidade ainda estão submersos em
princípios morais, e estes são muitas vezes as causas para existências de tabus familiares
que dificultam o dialogo sobre sexualidade entre pais e filhos.
As questões que norteiam a sexualidade são desenvolvidas e perpetuadas pela
inabilidade dos pais em falar sobre sexo e suas implicações na vida dos filhos,
consequentemente esta inabilidade é perpassada de geração a geração causando
bloqueios e repressões para a emissão de comportamentos sexualizados dos membros da
família, prejudicando assim a manifestação da sexualidade de forma saudável.
Vale salientar que este tipo de atitude familiar pode causar insegurança em
relação à sexualidade, no qual muitas famílias optam em reprimir, omitir e ou esquivar-
se de dialogar sobre sexualidade por pensar que estarão estimulando algo visto como
negativo para a família, e, no entanto estão de fato estimulando a clandestinidade dos
atos sexuais que levam jovens e adultos a terem consequências negativas e aversivas
(FURLANI, 2004). Em consonância Oliveira & Diaz (1998) afirmam que “[...] a
omissão do adulto, a negação da sexualidade na infância e a falta de diálogo tem
deixado essa área descoberta de uma ação educativa eficaz.”( p. 114).
Podemos perceber de forma explicita esta inabilidade dos pais em relação a
masturbação infantil, algo que é normal, inerente a todas as crianças, momento essencial
da fase fálica – uma das fases do desenvolvimentos sexual de Freud – que muitas vezes
é usurpada da criança em decorrência dos pais não saberes a importância do tocar-se e
descobrir-se, porém é interpretado pelos pais como um comportamento pecaminoso que
precisar ser extinto. Na adolescência já na fase genital – outra fase do desenvolvimento
sexual de Freud – onde os adolescentes estão sendo muitas vezes guiados pelo turbilhão
dos hormônios, vários comportamentos sexuais são reprimidos e recriminados pelos
pais, tais como masturbação, voyeurismo (assistir vídeos sexuais), experiências sexuais
individuais e coletivas; e causam consequências significativas na fase adulta pois
mulheres, muitas vezes não conseguem chegar no orgasmo por não conhecer seu órgão
genital de forma plena e nos homens a ejaculação precoce é a expressão da inaptidão do
controle ejaculatório por questões relacionadas a insegurança, ansiedade durante o ato
sexual e ou por inabilidade do controle ejaculatório.
Dessa forma faz-se necessário compreender de forma mais profunda quais são as
reais influencias das conjecturas sociais e familiares no desenvolvimento e vivências da
sexualidade na vida dos sujeitos; para tanto lançaremos mão dos conceitos
epistemológicos da Terapia Cognitiva Comportamental para explicar tais influencias
nos padrões comportamentais sexuais nos sujeitos.

Conceitos epistemológicos da Terapia Cognitiva Comportamental

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC, doravante) é uma abordagem que


embasa seu trabalho psicoterapêutico no pressuposto de que as cognições influenciam
as emoções e os comportamentos do indivíduo, assim como o comportamento pode ser
moldado mediante o automonitoramento dessas cognições, através da identificação,
avaliação e modificação dos mesmos (KNAPP, 2004).
Vale salientar que este pressuposto fundamenta o modelo cognitivo do
indivíduo. Como afirma Beck (1997) “[...] as emoções e comportamentos das pessoas
são influenciados por sua percepção dos eventos. Não é uma situação por si só que
determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam a
situação” (p. 29).
Sabe-se que estas percepções e interpretações distorcidas advêm de instâncias
mais profundas da psique, peculiares a todos os indivíduos. Estes são chamados de
esquemas, ou seja, estruturas psíquicas duradouras responsáveis pela hermenêutica
utilizada pelo individuo para lidar com as questões inter e intrapessoais. Em sequencias
encontramos as crenças centrais, crenças subjacentes e pensamentos automáticos, que
quando atingidos ativam uma cadeia de efeitos, derivadas da interrelação existentes
entre eles (CAMINHA, et al., 2003).
Definem-se crenças centrais como ideias e conceitos mais profundos e
cristalizados que os indivíduos têm sobre si mesmos, sobre os outros e o mundo. Estas
são construídas através das experiências de aprendizagem que ocorreram durante as
infâncias advindas das relações interpessoais matriarcais (KNAPP, 2004).
A partir daí, são elaborados repertórios comportamentais absolutistas, vistos
pelos indivíduos como verdades, que se encontra em consonância com essas crenças,
moldando a forma de perceber e interpretar os fatos que acontecem ao seu redor. Já as
crenças subjacentes são regras, normas, suposições e atitudes que os indivíduos
desenvolvem para que as crenças centrais possam se manifestar através do
funcionamento comportamental do mesmo (RANGÉ, 2001). Tais crenças são
condições que o indivíduo impõe para manter ativadas suas crenças centrais
(CAMINHA et al., 2003). Por fim, temos os pensamentos automáticos que são
considerados por Knapp (2004) a camada mais superficial do modelo cognitivo. Estes
são pensamentos conclusivos, exagerados, distorcidos acerca de uma situação. São
advindos das instâncias anteriores e são responsáveis pelas emoções que os indivíduos
sentem e como os mesmos se comportam.
Em suma, o modelo cognitivo está resumido na dinâmica da ativação dos
esquemas que os indivíduos constroem ao longo da vida que são responsáveis pela
maneira como os sujeitos interpretam os fatos que acontecem no seu dia-a-dia, através
deles as crenças centrais são ativadas, e consequentemente os padrões comportamentais
e suas emoções (KNAPP, 2004).
Dessa forma faz-se necessário explanar sobre Modelo cognitivo do
desenvolvimento da sexualidade na perspectiva Beckiana e suas implicações no
desenvolvimento da sexualidade como nas vivências sexuais.

Modelo cognitivo do desenvolvimento da sexualidade na perspectiva Beckiana


Considerações Finais

Referencias

BECK, J. S. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.

CAMINHA, R. M.; WAINER, R.; OLIVEIRA, M.; PICCOLOTO, N. M. Psicoterapias


Cognitivo-Comportamentais: teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2003.

KNAPP, P. Terapia Cognitivo-Comportamental na prática psiquiátrica. São Paulo:


Artmed, 2004.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios Básicos de Análise do


Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivo-comportamental: um diálogo com a psiquiatria.


Porto Alegre: Artmed, 2001.
FAGUNDES, T. C. P. C. Sexualidade e gênero – Uma abordagem conceitual. IN:
Ensaios sobre educação, sexualidade e gênero. / organização. Salvador: Helvécia,
2005.

FOUCOULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio: Graal, 1993.

FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras psicológicas


completa: Edições standard Brasileira. Vol VII. Rio de janeiro: Imago, 1996.

FURLANI, J. Mitos e Tabus da Sexualidade Humana – Subsídios ao trabalho em


Educação Sexual. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

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