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Literatura Infantil
na Prática
Psicopedagógica
PROFESSORA
Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro
FICHA CATALOGRÁFICA
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
1
11 2
43
A História dos Fundamentos
Brinquedos, das Teórico-Práticos
Brincadeiras e da e a Ludicidade
Literatura Infantil nas Atividades
Psicopedagógicas
3
83 4 115
Jogos de Perspectivas Neu-
Representação e ropsicossociais e Pe-
Jogos Virtuais dagógicas do Brincar
e a Importância das
Atividades Recreati-
vas na Infância
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149
A Literatura
nos Espaços
Psicopedagógicos
1
A História dos
Brinquedos, das
Brincadeiras e da
Literatura Infantil
Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro
Era uma vez… ou melhor: ainda será. Você está convidado(a) a descobrir
o movimento histórico dos jogos, dos brinquedos e das brincadeiras,
bem como da literatura infantil na educação, a fim de compreender
suas influências no desenvolvimento humano. Além disso, discutire-
mos sobre os jogos e a cultura para conhecer a influência social na
formação humana, no aprendizado e as construções de representações
possíveis por meio dos jogos. Por fim, mergulharemos no conhecimen-
to da importância do lúdico e da literatura infantil como instrumentos
no processo de ensino e de aprendizagem, a fim de estabelecer rela-
ções com a prática psicopedagógica.
UNIDADE 1
Imagine a seguinte situação: uma criança de cinco anos ganha muitos brinquedos
de presente em seu aniversário, mas tem um com o qual ela se afeiçoa mais: um
boneco. Conforme ela cresce, novos brinquedos surgem em sua vida, os quais ela
ganha ou confecciona, mas aquele boneco específico continua em suas brincadeiras
e a acompanha ao longo da infância e até em momentos da adolescência. Contudo,
a maioridade chega, hora de ir para a faculdade, e esse boneco, que ainda traz boas
lembranças, apesar de sua significância, não será levado para essa nova vida, ele é,
então, doado para outra criança. Aquela sensação de nostalgia, porém, fica nessa
criança, agora jovem, que começará uma nova vida; anos de boas lembranças vêm
em segundos, e ela não entende o porquê. O que você considera que um brinquedo
possa significar para uma pessoa e o que podemos aprender com ele?
Brinquedos, jogos, brincadeiras e histórias fazem parte da construção de quem
somos, dos nossos sentimentos, dos nossos valores e nos ensinam a ter afeto, cuida-
do e outros aspectos que dependem da relação sujeito-objeto. Por exemplo, no filme
Toy Story 3, vemos essa história da criança: Andy, que chega à maioridade, enfrenta
esse dilema de saber o que fazer com aqueles brinquedos que o acompanharam por
toda a vida. Entre seus antigos brinquedos, está Woody, um boneco cowboy, que fez
parte de todas as suas aventuras imaginadas na infância.
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UNICESUMAR
Com base na problemática apresentada sobre o que uma pessoa pode apren-
der com seus brinquedos e o que eles podem significar para ela, convido você
a assistir ao filme Toy Story 3 e observar, nas conversas, nos pensamentos, nas
lembranças e nas ações de Andy, a importância que seu boneco Woody e os de-
mais brinquedos tiveram em sua vida.
Anote, a seguir, as observações que você teve sobre a importância do brinque-
do e do brincar na vida de uma pessoa a partir da análise do filme Toy Story 3.
DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 1
“
[...] é o objeto real ou imaginário que antecipa os dados da realidade.
Normalmente visto pelos adultos como sinônimo de divertimento,
de entretenimento ou atividade de descarga de energias, o brinque-
do oferece à criança algo, além disso, pois representa uma fonte de
conhecimento, de satisfação e uma fonte de acesso ao imaginário.
Dessa forma, caro(a) aluno(a), o brinquedo pode ser qualquer objeto, real ou
imaginário, que permita à criança representar a realidade que ela aprende.
Assim, o brinquedo existe há muitos anos, séculos, e não há como estabelecer
um marco de sua origem. Portanto, precisamos fazer um recorte dos brinque-
dos e de seus tempos.
Para Moraes (2013), possivelmente, o Homo sapiens sapiens, há 40 mil anos,
na África, já tinha produzido as primeiras estatuetas de barro para fins ritua-
lísticos. “A transição das bonecas como ídolos para brinquedos provavelmente
ocorreu no Egito, há 5 mil anos. Algumas bonecas tinham braços e pernas arti-
culados e também cabelo humano” (MORAES, 2013, p. 5). Na Grécia Antiga, as
bonecas já eram utilizadas como atualmente, ou seja, um brinquedo. Tanto na
Grécia quanto em Roma, em 500 a.C., as bonecas eram chamadas de nympha
14
UNICESUMAR
“
[...] foi o caso do cavalo de pau, numa época em que o cavalo era o
principal meio de transporte e de tração. Da mesma forma, as pás
que giravam na ponta de uma vareta só podiam ser a imitação feita
pelas crianças de uma técnica que, contrariamente ao cavalo, não era
antiga: a técnica dos moinhos de vento, introduzida na Idade Média.
Mas, enquanto os moinhos de vento há muito desapareceram de
nossos campos, os cata-ventos continuam a serem vendidos nas lo-
jas de brinquedos, nos quiosques dos jardins públicos ou nas feiras.
As crianças constituem as sociedades humanas mais conservadoras.
15
UNIDADE 1
“
Estão na Mesopotâmia e na Anatólia, no Egito e nos Andes, na Pa-
tagônia e nos círculos polares, pradarias ameríndias, janglahindu,
ilhas oceânicas, mundo chinês, australianos e africanos, em todas
as raças e momentos de cultura. Ficam numa lógica dependência
funcional dos ciclos sociais. Menino da civilização de caçadores,
do círculo rural, dos nômades ou sedentários, possui jogo ligado
à mecânica da existência grupal. As mais universais são as bolas,
bonecas e disfarces (CASCUDO, 2016, p. 301-302).
Bom, caro(a) aluno(a), como você deve ter percebido, até o momento, não vimos
o brinquedo como um instrumento pedagógico, educativo, correto? Isso porque
o valor do brinquedo e do brincar com a educação, a aprendizagem e o desen-
volvimento são constructos científicos, de origem ideológica e social, como nos
pontua Brougère (2001). Antes disso, ao longo de toda a evolução do brinquedo
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UNICESUMAR
e do brincar, tivemos esses elementos como parte do ser humano, que exterioriza
a simbolização do sujeito sobre seu mundo e a partir do seu ponto de vista.
Figura 1 - Jogos Infantis: quadro pintado por Pieter Brueghel (1560) / Fonte: Brueghel (1560, on-line).
Descrição da Imagem: temos o quadro de Pieter Brueghel, de 1560, retratando 250 personagens parti-
cipando de 84 brincadeiras no período da Idade Média, tais como utilização de bambolê, brincadeiras de
correr, em grupo e ao ar livre. Eles estão espalhados pelo espaço, em meio a casas feudais e com vesti-
mentas femininas e masculinas da Idade Média (feminino: vestidos longos, véu sobre a cabeça, algumas
com algo semelhante a um avental sobre o vestido; masculino: a maioria de calças, alguns de shorts,
alguns com uma espécie de chapéu da época).
Observe a imagem anterior com atenção. O que você consegue identificar nesse
quadro? Você consegue perceber pessoas brincando? Se sim, consegue identificar
alguma dessas brincadeiras? Já brincou de alguma delas? Pois bem, o quadro do
belga Pieter Brueghel (1525–1569), pintado em 1560, representa 250 persona-
gens participando de 84 distintas brincadeiras, ainda no período da Idade Média.
Algumas são reconhecíveis e permanecem presentes até os dias atuais, como
vemos ao aproximar as imagens da parte inferior central do quadro. A primeira
imagem mostra a brincadeira com o cavalo de pau, enquanto a segunda mostra
a brincadeira com bambolês:
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UNIDADE 1
Figura 2 – Brincadeiras cavalo de pau e bambolê, do quadro Jogos Infantis, de Brueghel (1560)
Fonte: Brueghel (1560, on-line).
Descrição da Imagem: temos um recorte do quadro de Brueghel (1560), retratando uma pessoa sobre um
cavalo de pau, semelhante ao que, hoje, as crianças imitam com cabos de vassouras; e, na segunda parte da
imagem, outras duas pessoas brincam de fazer o bambolê girar no chão, empurrando-o com gravetos, ao
fundo, ainda aparece alguém se escondendo atrás de um barril, como se estivesse brincando de se esconder.
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UNICESUMAR
Figura 3 - Brincadeira cabra-cega e cabo de guerra, do quadro Jogos Infantis, de Brueghel (1560)
Fonte: Brueghel (1560, on-line).
Descrição da Imagem: temos um recorte do quadro de Brueghel (1560), retratando sete pessoas
brincando de cabra cega, sendo que uma delas está com um pano sobre toda a cabeça, e os demais
correm e se escondem; já na segunda parte da imagem, outras seis pessoas brincam de cabo de guerra,
estando divididos em dois trios, em que, em cada equipe, há uma pessoa sobre as costas do outro, e
quem está embaixo segura na cintura de outro que o puxa. Cada um dos que estão sobre os ombros
seguram um lado de uma corda.
Por fim, algumas brincadeiras retratadas por Brueghel (1560) não são mais
identificadas e/ou não são mais realizadas atualmente, mas pudemos obser-
var que brinquedos e brincadeiras se misturam, e muitas análises podem ser
realizadas a partir desse quadro. Vejamos, por exemplo: quem está brincando?
Você notou, caro(a) aluno(a), pelas vestimentas e silhuetas que os personagens
parecem mais adultos do que crianças? E com relação ao semblante, percebeu
que aparentam tristeza ou seriedade?
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UNIDADE 1
PENSANDO JUNTOS
E você, caro(a) aluno(a), o que pensa sobre esses paradoxos que o quadro apresenta? Se-
riam crianças vestidas como adultos brincando? Ou adultos representando ações infantis?
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UNICESUMAR
“
[...] trazendo para esta trama a fabricação das primeiras/os bone-
cas/os e brinquedos (em geral) com fins comerciais, apontam-se
que a mesma ocorreu na Alemanha no século XVI, nas cidades de
Nuremberg, Asburgo e Sonneberg, sendo os produtores de bonecos
chamados de Dochenmacher (fabricantes de bonecos).
Contudo, no início, esses brinquedos não foram fabricados por especialistas, mas,
sim, começaram em oficinas de entalhadores de madeiras, fundidores de esta-
nho e outras oficinas mais rudimentares, visto que não se tinha a infância como
hoje, logo as preocupações e pensamentos sobre essa fase não existiam. Assim, os
brinquedos eram produtos secundários nessas oficinas que produziam móveis e
outros artigos de necessidade da época (BENJAMIN, 2002).
Ainda no século XVI, lá na França, Paris era conhecida como a cidade dos
brinquedos. Segundo Souza (2010), o maior número de artesãos fabricantes de
brinquedos e especialistas em cavalos de batalha — como o representado na Fi-
gura 2, em um recorte do quadro de Pieter Brueghel — encontrava-se no bairro
de Marais, onde também surgiram as primeiras fábricas de bonecas, mas ainda
com o objetivo de servirem como pequenos modelos para as roupas dos estilistas.
De acordo com Postman (2005), por volta de 1400 a 1500, na Europa, os brin-
quedos, sobretudo as bonecas, vistos como artigos infantis, surgiram mesmo com
a ideia de infância a partir de publicações pediátricas que enfatizam a ideia de
que as crianças são seres frágeis que necessitam de proteção por parte dos adultos.
Assim, bonecos e brinquedos em geral passaram a ser utilizados como objetos
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
Quem nunca ouviu ou leu essa literatura? Você se lembra, caro(a) aluno(a), quan-
do conheceu a história da Chapeuzinho Vermelho?
Essa fábula, que, hoje, é um clássico, foi escrita e publicada, a princípio, por
Charles Perrault na Idade Média e, depois, adaptada e reescrita pelos alemães
Jacob Grimm (1785–1863) e Wilhelm Grimm (1786–1859), mais conhecidos
como os irmãos Grimm. Esses linguistas, poetas e escritores colecionavam his-
tórias folclóricas e adaptavam para crianças de sua época — século XIX. Suas
adaptações foram tantas vezes publicadas e readaptadas que, atualmente, já se
tornaram diferentes da versão original.
Assim como esses autores, outros grandes nomes foram importantes para
difundir e consolidar a literatura infantil, ajudando na construção do que temos
hoje. Suas histórias são consideradas clássicas e continuam fazendo parte da vida
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
“
Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de
modo diferente. Pode-se estar falando de jogos políticos, de adultos,
crianças, animais ou amarelinha, xadrez, adivinhas, contar estórias,
brincar de ‘mamãe e filhinha’, futebol, dominó, quebra-cabeça, cons-
truir barquinho, brincar na areia e uma infinidade de outros. Tais
jogos, embora recebam a mesma denominação, têm suas especifi-
cidades [...] (KISHIMOTO, 1997, p. 13).
A nível global, o jogo pode estar associado ao brincar, jogar, recriar ou representar.
Não é diferente em nosso país, mas Brougère (1998) salienta que, como o termo
está muito associado à cultura do local em que é utilizado, precisamos verificar
o que se entende por “jogo” para cada autor e cada local. Aqui, no Brasil, por
exemplo, essa ideia de separar jogo de brincadeira é comum pelo fato de seus
significados estarem divididos: brincadeiras são atividades infantis, e jogos são
atividades com regras. Portanto, o uso da palavra brincadeira, brinquedo ou jogo
depende do autor que a utiliza e que dará seus significados.
Independentemente da variante que os autores utilizem (brinquedo, brin-
cadeira ou jogo), é muito importante observar a época, o contexto e a cultura à
qual está se referindo também. Como descobrimos em parágrafos anteriores, as
bonecas, a princípio, não eram brinquedos, correto? Faziam parte de atividades
adultas e ritualísticas, ao passar do tempo, tornaram-se brinquedos. Dessa forma,
não podemos afirmar que existia o jogo ou a brincadeira infantil com a boneca
no período pré-histórico.
Vejamos um exemplo da relação entre jogo e cultura, a qual também precisamos
considerar: Kishimoto (1998) nos traz o arco e a flecha, uma referência da cultura
indígena. Para muitos desses povos nativos, esse é um instrumento que os adultos
oferecem e ensinam aos pequenos como utilizar, pois, em suas culturas, é um meio
de prepará-los para a arte de caçar. Agora, imagine que você não sabe que nossos
indígenas possuem essa tradição: ao ver as crianças com esses instrumentos, o que
você pensaria provavelmente? Talvez, que eles estivessem brincando.
Na cultura africana, como também descobrimos em leituras passadas, a bo-
neca Abayomi é utilizada como um amuleto pelas crianças:
“
Conta-se que durante a viagem da África para o Brasil as mães
tentando acalmar as crianças, contavam histórias de seus antepas-
sados enquanto faziam pequenas bonecas a partir de pedaços de
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UNIDADE 1
Por mais que, hoje, possamos vê-la como uma boneca Descrição da Imagem:
boneca confeccionada em
e que há possibilidade de uma criança brincar com tecido preto com roupas e
adorno em tecido colorido.
ela devido a uma transformação histórica, a Abayo-
mi tem uma origem de identidade africana, de lutas,
resistências e afeto. Tudo isso estava imerso em um
ato de confecção de bonecas de pano por meio de
tranças de tecido e que eram dadas de presente a uma
criança em um contexto de escravização, torturas e
medo. Todo esse contexto estava implícito na vida da
criança que a recebia.
Na cultura grega e romana antiga, bonecas e
bonecos eram feitos de argila. As meninas gregas
brincavam com bonecas até se casarem e, então, ofe-
reciam-nas à Afrodite, deusa do amor, enquanto os
meninos usavam os bonecos para representar seus
soldados nas brincadeiras (BENJAMIN, 1984).
Costa (2007) nos mostra que os jogos e as brinca-
deiras foram considerados pecaminosos pela Igreja
Católica em meados de 1500. Você já ouviu falar que,
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UNICESUMAR
durante a Idade Média, muitas pessoas, sobretudo mulheres muito jovens, sol-
teiras e sem filhos, foram executadas por acusações de bruxaria? Pois bem, em
alguns desses casos, quando a mulher era pega dançando no quintal de sua casa
ou na chuva, era denunciada como herege. Isso porque a Igreja mandou publicar o
Concílio de Trento (1545-1563), uma resolução com seus dogmas, e foi repassado
à população que deveria se autodeclarar cristã.
NOVAS DESCOBERTAS
Na matéria de Mônica Costa, escrita para a Folha on-line, ela apresenta que
as primeiras famílias europeias que chegaram ao Brasil trouxeram bonecas,
pião, soldadinhos, entre outros brinquedos, bem como algumas canções de
ninar e contos de fada. A matéria é bem interessante e vai ao encontro de
nossas descobertas ao longo dessas seções. Acesse o QR Code ao lado.
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
“
O Lúdico não diz respeito somente a situações de brincadeiras
simbólicas, ele constitui-se de cultura e a própria cultura possui
um caráter lúdico. Além da brincadeira outras situações culturais
são consideradas lúdicas e estimulantes para as crianças. Quando
uma criança compreende sua cultura, é capaz de aprender, conhecer,
identificar e se constituir como um ser pertencente a um determi-
nado grupo (JUCHEM, [2021], [s.p.]).
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UNICESUMAR
meio do brincar, dos brinquedos, das histórias e músicas ouvidas e vistas, dos de-
senhos e pinturas… ou seja, por meio do lúdico. Segundo Vygotsky (1984, p. 114):
“
O jogo [...] cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a
desejar relacionando os seus desejos a um “eu” fictício, ao seu papel
na brincadeira e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições
de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no
futuro, tornar-se-ão seu nível básico de ação real.
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UNIDADE 1
propôs uma educação pautada em recursos e materiais que elaborou, tais como
canções e jogos de sensações e emoções; brinquedos para a aprendizagem de
Geometria e outros conteúdos; e, mesmo, ações pedagógicas que envolvessem
materiais que o aluno pudesse modificar, a fim de que exteriorizasse seus mundos
internos, por exemplo: argila para modelagens, papel para dobraduras, recortes
e afins (SANTOS; COSTA; MARTINS, 2015).
Essas propostas de Friedrich Fröbel, em consonância com teorias surgidas
para a Pedagogia da época e que possuem influências de muitos autores, correntes
e movimentos sociais importantes, são vistos até hoje nas escolas, sobretudo na
Educação Infantil no Brasil, em que as crianças são estimuladas a trabalharem
com esses materiais para diversos fins pedagógicos e cognitivos.
Uma ideia sobre a qual você já deve ter ouvido falar, sobretudo nos últimos
anos com a volta desse conceito, é dos princípios montessorianos: escola/sala
montessoriana, quarto de bebê montessoriano, cama montessoriana para crian-
ças, entre outros. Você sabe de onde vem esse conceito?
Em 1907, Maria Tecla Arte-
misia Montessori (1870–1952),
educadora, médica e pedagoga
italiana, foi convidada para or-
ganizar uma sala para crianças
sem deficiências em uma esco-
la que ofertava educação para
famílias de setores populares.
Para tanto, criou brinquedos es-
peciais ligados à educação mo-
tora que visavam desenvolver:
letras móveis ou recortadas em
cartão-lixa, ábaco, entre outros.
A principal característica des-
sa organização são os móveis e
objetos domésticos cotidianos
que são utilizados para brincar
e são compatíveis ao tamanho
da criança, além de ficarem
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
Descrição da Imagem: na figura, aparece o direito de brincar que consta na Declaração Universal dos
Direitos da Criança (1959) e que foi reafirmado na Convenção dos Direitos da Criança (1989): “Toda criança
terá direito a brincar e a divertir-se, cabendo à sociedade e às autoridades públicas garantirem a ela o
exercício pleno desse direito”; bem como o da Constituição Federal de 1988: “Art. 227. É dever da família,
da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)” e, por fim, no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990): “Do Direito à
Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
[...] IV - brincar, praticar esportes e divertir-se [...]”.
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UNICESUMAR
A imaginação, mais do que inventar algo, é uma complexa atividade humana, que
deve ser considerada uma atividade psíquica, com união entre várias funções
(VYGOTSKY, 1999). Seguindo esse conceito, Gobbo (2018, p. 82) complementa:
“
A imaginação participa da constituição dos processos funcionais,
ou processos psíquicos superiores; não nasce com o sujeito, mas
desenvolve-se durante a vida. Possui um grau de superioridade em
virtude da complexidade das funções humanas relacionadas às fun-
ções primitivas do homem. Os processos psíquicos superiores se
desenvolvem na dependência das situações vividas pelos sujeitos
em suas interações sociais. Considerando, assim, que o psiquismo
humano decorre do desenvolvimento das estruturas cerebrais pela
apropriação que os sujeitos fazem, em suas relações sociais, da ati-
vidade humana historicamente constituída.
Podemos perceber que a imaginação não é algo simples, pois, a nível cognitivo,
envolve aspectos biopsicossociais, ou seja, não basta nascer e ser criança para ima-
ginar. Essa é uma habilidade que, sim, está lá em nosso código genético, por assim
dizer, mas que precisa de oportunidades para surgir, logo, precisa de um estímulo,
de gatilhos, de momentos, de experiências. Isso ocorrerá à medida em que a criança
interagir com o seu meio e os seus pares, ao passo que todo esse contexto trabalhe
com diferentes áreas cerebrais e resulte em desenvolvimento de mais habilidades.
Ao imaginar, a criança cria mundos, inventa personagens, produz instrumentos,
entre outras possibilidades que apenas são possíveis por meio das funções psicoló-
gicas superiores, ao mesmo tempo em que incita as áreas cerebrais responsáveis por
elas (GOBBO, 2018). Percebe, caro(a) aluno(a), que, ao imaginar, a criança não está
apenas “inventando coisas”? É um processo de criação que está relacionado com
suas memórias, vivências, emoções, proporcionando novas memórias, vivências e
emoções. Sim, parece um ciclo, mas não é algo fechado, pois, de cada sensação e
habilidade, desdobram-se outras oportunidades de crescimento do sujeito.
Também, é possível, ao imaginar, resolver conflitos e problemas. Por meio da
literatura, imaginamos um patinho que se sente tão feio e tem alguns problemas
para serem superados logo que nasce: a aceitação da própria família. Esse patinho
passa por uma série de conflitos emocionais, mas, ao final, descobre sua própria
beleza e a forma de encarar a vida sem depender da aceitação do outro.
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UNIDADE 1
A Lebre e a Tartaruga
_ “Condoo-me de ti”, dizia uma vez a lebre à tartaruga: “obri-
gada a andar com a tua casa às costas, não podes passear,
correr, brincar, e livrar-te de teus inimigos”.
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
Nesta fábula adaptada de Esopo (620–560 a.C), um contador de histórias que viveu
na Grécia Antiga, vemos que a moral da história traz um ensinamento sobre a forma
de ver a vida e como se viver. Esses valores eram passados de geração para geração
em sua época, e, atualmente, suas fábulas servem, também, como ponto de partida
para discussões sobre o tema, como instrumentos de imaginação e outros aspectos.
O exemplo é apenas uma das diversas fábulas que temos e, em maioria, abordam
valores como: amor, dignidade, humildade, amizade, lealdade, bondade etc.
A relação da criança com o lúdico está intrinsecamente ligada à sua apren-
dizagem e ao desenvolvimento. Assim como ocorre por meio da literatura, os
brinquedos ajudam o sujeito a se apropriar de imagens e representações diversas.
Por isso, é fundamental proporcionar o espaço e o momento para que toda a
ludicidade possa acontecer:
“
O principal objetivo desta ação é ajudar a criança através do brincar,
a expressar com maior facilidade os seus conflitos e dificuldades,
ajudando-a na sua solução para que consiga uma melhor integração
e adaptação social, tanto no âmbito familiar, como na sociedade
em geral. Nesta modalidade, permite-se, sobretudo a observação e
interpretação do mundo interno da criança e da dinâmica da per-
sonalidade da mesma (COSTA, 2013, p. 43).
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UNICESUMAR
“
O brincar deve ser conduzido de
modo planejado ao ser utilizado em
uma intervenção psicopedagógica,
pois, através dele, a criança poderá se
comunicar de forma mais completa,
consigo mesma e com o mundo, além
de viabilizar a incorporação de valo-
res culturais e sociais, possibilitando
ao profissional trabalhar conteúdos
que ultrapassem a aprendizagem,
como autoestima, cooperação, auto-
conhecimento e autoimagem (SATO;
LAZARI, 2020, [s.p.]).
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UNIDADE 1
Figura 7 - Reflexões para se planejar o brincar livre na sessão psicopedagógica / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta um ciclo de reflexões sobre a brincadeira livre para que o
psicopedagogo utilize como instrumento psicopedagógico: “Por que utilizar a brincadeira livre?”, “O que
observar durante a brincadeira livre?”, “Qual é a relação entre o brincar livre e a aprendizagem?”.
Conforme a Figura 7 nos mostra, apenas com as respostas dessas reflexões é que
o psicopedagogo poderá planejar uma brincadeira livre em sua prática, tanto
na clínica quanto na escola ou em outro lugar de atuação. Por mais que, na es-
cola, haja e seja necessária a brincadeira livre, sobretudo na Educação Infantil,
a atuação psicopedagógica deve ser planejada a fim de observar o sujeito e sua
aprendizagem em todos os momentos e contextos possíveis.
De acordo com Sato e Lazari (2020), o psicopedagogo pode utilizar o lúdico
para proporcionar melhor desempenho do sujeito, independentemente da idade,
desenvolvendo suas habilidades intelectuais, vinculando a cognição a emoções.
Isso, no processo de aprendizagem, faz com que o sujeito estabeleça boas relações
com a aprendizagem, associando a boas memórias e momentos divertidos.
“
Ao utilizar os jogos, as brincadeiras e a ludicidade em suas avalia-
ções ou intervenções, o psicopedagogo objetiva resgatar os aspec-
tos emocionais, afetivos e cognitivos dos conteúdos ministrados
pelo educador em sala de aula, motivando o educando a buscar
uma aprendizagem prazerosa. [...] O lúdico e a ludicidade, como
intervenções psicopedagógicas, auxiliam no desenvolvimento cog-
nitivo, na expressão motora e corporal. Aprender brincando torna
a aprendizagem significativa e mais concreta ao educando (SATO;
LAZARI, 2020, [s.p.]).
40
UNICESUMAR
Dessa forma, é possível utilizar o lúdico para ajudar na aprendizagem e detectar ou-
tras relações com esse processo, envolvendo os aspectos emocionais, por exemplo.
Além disso, a ludicidade permite a avaliação de habilidades psicomotoras, sociais,
afetivas e outras que também são importantes e estão vinculadas à aprendizagem.
Bom, caro(a) aluno(a), retomando nossa problemática inicial, sobre um jo-
vem que se desfaz de seu brinquedo e adentra a vida adulta, conseguimos com-
preender, por meio dessas leituras, o que o brinquedo pode significar para uma
pessoa e o que podemos aprender com eles. Os brinquedos e as brincadeiras
estão imersos em uma ou várias culturas que ajudam a formar quem somos. São
constructos sociais permeados de história, valores, sentimentos e outros aspectos
que permeiam nossa relação com esse objeto. Passar o brinquedo adiante pode
significar a continuidade ou, ao menos, o desejo de que tudo isso continue. Des-
fazer-se de um brinquedo na maioridade pode significar a transição da infância
para a vida adulta. Mas será que deixamos de brincar, imaginar e sonhar pelo fato
de não sermos mais crianças? Quais significações das suas vivências lúdicas traz
até hoje? Como podemos utilizar o lúdico em nossa prática psicopedagógica?
Essas e outras questões ficarão para as próximas discussões, por isso, espero
encontrá-lo nas próximas páginas e que você tenha se divertido tanto quanto eu
nessas aventuras. Agora, é chegado o momento de novas descobertas. Até mais!
Como já é de seu conhecimento a história dos brinquedos e das brincadeiras,
bem como a importância do lúdico para o processo de aprendizagem, tenho um
desafio para você! Imagine que recebe, em seu espaço psicopedagógico, uma
criança que perdeu seu brinquedo preferido, nesse caso, trata-se de um avião
de brinquedo que seu avô lhe deu. Ele era um ex-militar que vivia lhe contando
histórias da aviação e suas aventuras e, por ver o interesse do neto, deu uma ré-
plica de presente. Por conta disso, ele está muito triste, e seu rendimento escolar
começou a cair. Então, a professora regente pediu para que você ajudasse com
esse caso que está prejudicando o desempenho acadêmico da criança. Agora, você
precisa elaborar um plano de ação psicopedagógico. O que fazer?
Elabore uma intervenção psicopedagógica com essa criança, de forma que
ela consiga voltar a aprender e não seja prejudicada por ter perdido esse avião
de brinquedo. Você pode pensar em ações que ajudem essa criança a superar a
frustração ou entender sobre as perdas que ela tem nessa idade, como o brinque-
do, que acontecem, mas que nos ajudam a ter novas aprendizagens e que levem
a essa reflexão por parte da própria criança.
41
Conforme lancei as perguntas ao longo das nossas discussões, gostaria de saber sobre
a sua infância, as suas brincadeiras, os seus brinquedos e as literaturas conhecidas.
É importante termos em mente o que nos faz bem e por quais aventuras já passa-
mos, pois apenas compreendendo a nós mesmos seremos capazes de compreender
e ajudar o outro. Por isso, gostaria que listasse a seguir: a) três brincadeiras que se
recorda da sua infância, que te trazem boas memórias; b) três brinquedos que teve
ao longo de sua vida; c) três histórias que te contaram quando era criança. Vamos lá?
42
2
Fundamentos
Teórico-Práticos
e a Ludicidade
nas Atividades
Psicopedagógicas
Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro
Olá, futuro(a) psicopedagogo(a)! Estou, aqui, para contar para você nossos
novos pontos de embarque e desembarque. A proposta, agora, é analisar
referenciais teórico-metodológicos sobre os processos lúdicos e a formação
dos profissionais de Psicopedagogia, a fim de que você tenha um olhar
científico sobre a ludicidade e práxis em sua atuação, afinal brincar e contar/
escutar histórias é gostoso, mas, também, é algo sério. Além disso, construi-
remos conhecimento teórico e prático para o uso dos recursos lúdicos na
atuação do psicopedagogo no processo de avaliação e de intervenção para
que você desenvolva competências e habilidades necessárias à atuação.
Por fim, esperamos que você desembarque em nossa última parada desta
aventura, verificando alguns jogos, brinquedos e algumas brincadeiras
que podem ser utilizados em avaliações e intervenções psicopedagógicas,
a fim de refletir sobre quais instrumentos pode utilizar em sua atuação.
UNIDADE 2
DIÁRIO DE BORDO
44
UNICESUMAR
45
UNIDADE 2
“
O jogo é, portanto, sob as suas formas essenciais de exercício sen-
sório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade
própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transforman-
do o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os
métodos ativos de educação das crianças exigem que se forneça
às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando elas
cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, per-
manecem exteriores à inteligência infantil.
46
UNICESUMAR
O brinquedo não fica preso apenas ao sentido social que ele tem, ele transcende
na visão da criança, atendendo às suas necessidades e se tornando algo maior
do que simplesmente uma bola ou boneca.
Quando a criança de quatro anos pega uma boneca, ela não vê, ali, um brin-
quedo de plástico que pode usar para brincar. Ela vê um bebê, uma criança que
ela conhece ou se vê refletida em um ser que passa pelas mesmas situações que
vivencia e observa. A criança que pega uma bola para brincar não a vê como um
objeto de chutar apenas, mas, sim, como um tesouro que precisa ser salvo dos
inimigos, uma barriga falsa para suas imitações, entre outras necessidades.
Por falar em imitações, você já brincou de imitar animais com alguma crian-
ça? E você sabia que essa brincadeira pode ajudar nos processos futuros de apren-
dizagem, por exemplo, de alfabetização? Isso mesmo. O que parece uma brinca-
deira inocente na primeira infância, quando, geralmente, ocorre, pode ser muito
importante para a criança de seis e sete anos de idade na fase de alfabetização.
Isso porque nosso sistema alfabético é fonético, ou seja, as letras emitem sons,
assim como os animais: o som que o cachorro faz é “au-au”, e é diferente do gato,
que faz “miau”; o som que a letra A faz pode ser /a/ã/ ou /á/; se juntarmos B+A =
BA, lê-se /ba/, que é diferente de P+A = PA, que se lê /pa/ (LEMLE, 2009).
47
UNIDADE 2
“
Consciência fonoarticulatória é ter conhecimento de qual gesto a
boca está articulando enquanto se fala, sendo esta habilidade res-
ponsável pela distinção das articulações dos sons da fala. É a ca-
pacidade do indivíduo pensar sobre os sons relacionando-os aos
movimentos que os articuladores fazem para produzi-los, sendo que
além de auxiliar a percepção e produção da fala, facilita a aprendi-
zagem do sistema de escrita alfabético. Além disso, torna concreto
um processo que é abstrato. Essa consciência é possível de ser ad-
quirida com treino específico e auxilia muito a aquisição da leitura
e escrita, pois se trata de um método visível, palpável e facilmente
reconhecido pelo aprendiz (COELHO, 2016, p. 27).
48
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Você se lembra, caro(a) aluno(a), dos conceitos mais importantes da teoria piagetiana
sobre seriação, classificação, equilibração, raciocínio lógico, entre outros que nos ajudam
a compreender as provas operatórias? Vale retomar esses conceitos que aplicaremos ao
longo das nossas discussões.
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UNIDADE 2
50
UNICESUMAR
Para Piaget (1999), no brincar, a criança trabalha três estruturas mentais: o exer-
cício, os símbolos e os jogos de regra. Isso porque, segundo Grassi (2008), o jogo
pode ser classificado de três formas de acordo com as fases do desenvolvimento
infantil em que aparecem: a) jogo dos exercícios psicomotores — ao longo
do primeiro ano de vida até os dois anos de idade: caracteriza-se pelo período
sensório-motor — repetição de gestos, assimilação, manipulação dos objetos em
satisfação de seus desejos e hábitos motores —; b) jogo simbólico — dois a sete
anos de idade: lúdico como caráter simbólico, liberdade de regras, ausência de
objetos e lógica da realidade, adaptações do real — aplicação do que foi assimi-
lado, substituição do concreto por símbolos; c) jogo de regras — a partir dos
sete anos de idade em diante: utilização do raciocínio operatório — interesse por
regras, relação entre ideia e pensamento, começa a planejar estratégias, respeito
à moral e ética, aos limites, tempos e à vez de cada um.
Ah! Ficou curioso(a) para saber a resposta da equação? Será que você acertou
o resultado? Vejamos a resposta para descobrir: 5 + 7 x 10 = 75. E então, como se
saiu? Se você acertou, parabéns! Significa que você desenvolveu bem as habilida-
des de seriação e classificação e, ao chegar nos anos finais do Ensino Fundamental
ou Médio, em que se aprende essa equação, você teve elementos básicos para
aprender a resolver na ordem correta. Se você não acertou, fique tranquilo, isso
não quer dizer que você tenha algum problema. Tentemos descobrir o motivo
do erro? Pense… Você se lembra dessa equação? Se não, pode ser esse o motivo,
e, nesse caso, precisa verificar por que não se lembra: será que estudou sobre
ela? Será que o método de ensino e de aprendizagem estavam adequados para
a estimulação necessária? Se sim, por que não acertou? Será que não chegou a
compreender a forma de execução do cálculo? Se foi isso, qual é o motivo distra-
tor da aprendizagem? Entre outras questões. Para ajudá-lo na reflexão, passarei
a forma para resolver esse problema.
Sempre que há essa forma de equação (de grau) a regra é iniciar pelas ope-
rações prioritárias, no caso, a multiplicação, e, depois, soma-se o resultado ao
número fora dessa equação:
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UNIDADE 2
5 + 7 x 10 = ?
5 + 70 = ?
5 + 70 = 75
Resultado: 75
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UNICESUMAR
considerando todo o exposto até aqui. Por meio dos jogos, sobretudo os que apre-
sentam objetivos, situações-problemas a serem superadas e regras a serem segui-
das, podemos analisar as formas como a criança se desafia a vencer o jogo, suas
estratégias e relação com a estrutura, compreensão, atitudes e emoções frente ao
resultado obtido — ganhou/perdeu. Mediante essas observações, o plano de ação
psicopedagógico deve ajudar o sujeito em relação ao gerenciamento do jogo e ao
planejamento de suas ações de forma antecipada à sua jogada (BARRERA, 2020).
Jogos especificamente educativos também fazem parte da prática psicope-
dagógica, dessa forma, há um processo de aprendizagem mais leve, reflexivo,
conduzindo a passos que levam a aprendizados, e faz com que o sujeito se sinta
motivado e com boa autoestima ao final. Assim, precisamos observar, durante o
jogo, a resistência à frustração, o empenho e a motivação, a competitividade e a
cooperação, a relação com regras/limites, bem como as dificuldades e habilidades
que o sujeito possui (BARRERA, 2020).
Ao contrário do que muitos pensam, o lúdico, as brincadeiras, a música não
são exclusividade da criança. Também, precisamos proporcionar aos adolescen-
tes, adultos e idosos os momentos de interação com o meio, com outros sujeitos
e com objetos que podem lhe trazer aprendizagem por meio de pensamentos,
sentimentos e ações. Silva et al. (2020, [s.p.]) enfatizam que:
“
A ludicidade é percebida como uma plena experiência, que pode
colocar o sujeito em uma condição de larga consciência e, isto posto,
em conexão com conteúdos espontâneos de experiências anteriores,
avigorando-as e, em conexão com o presente, revelando possibili-
dades para o futuro. Desse modo, na condição lúdica, o ser humano
está completo, isto é, está vivenciando uma experiência que engloba
pensamento, sentimento e ação, plenamente.
53
UNIDADE 2
“
No lúdico o idoso não é mais do que é na realidade, permitindo-lhe
o aproveitamento de todo o seu potencial. Nele o idoso toma inicia-
tiva, planeja, executa, avalia. Enfim, ele aprende a retomar decisões,
a introjetar o seu contexto social na temática do faz de conta. Ele
aprende a se reeducar. O poder simbólico lúdico do faz de conta
abre um espaço para a apreensão de significados de seu contexto e
oferece alternativas para novas conquistas no seu mundo imaginá-
rio (KISHIMOTO, 2009, p. 35).
Silva et al. (2020) salientam que existem diversas atividades recreativas para ido-
sos com o objetivo de exercitar a agilidade mental, por exemplo, e que muitos já
as utilizam em casa, com a família e amigos, para passar o tempo. Nessa fase, as
práticas de lazer se tornam ambientes de interação e convivência, o que é muito
importante para não haver sensações de abandono, exclusão, solidão, entre outras
que podem acarretar a depressão e demais doenças e malefícios para a saúde.
Grassi (2008) enfatiza que o brincar proporciona aprendizagens indepen-
dentemente do espaço em que o sujeito está, desde que livre de ameaças. Em um
espaço psicopedagógico, há um trabalho de (res)significação dos conhecimen-
tos, propiciando desenvolvimento, novas apropriações, percepções emocionais
e pensamentos para qualquer sujeito, implicando em seu prazer de aprender,
explorar, pesquisar, construir, agir etc. Precisamos ter em mente, enquanto psi-
copedagogos, que o sujeito, nesse momento da brincadeira, do jogo, não tem
o dever de acertar sempre, visto que o erro e até a dificuldade fazem parte do
processo de aprendizagem.
54
UNICESUMAR
“
O erro é inerente a esse processo, faz
parte dele. Logo, quando utilizamos
atividades lúdicas no trabalho psi-
copedagógico, devemos ter clareza
quanto aos objetivos a atingir, quanto
aos procedimentos que vamos utilizar
na tentativa de efetivar o processo de
aprendizagem e a apropriação de co-
nhecimentos, devemos compreender
que aprender e não-aprender estão
inter-relacionados e valorizar os es-
forços daqueles que estão tentando,
errando, refazendo, revendo, acertan-
do e errando novamente. O trabalho
psicopedagógico refere-se à criação de
um espaço em que o conhecimento
poderá ser significado e ressignificado,
levando o sujeito à aprendizagem e ao
desenvolvimento integral, por meio de
atividades lúdicas, de jogo, do brincar,
dos brinquedos e das brincadeiras, que
permitam uma relação vincular dife-
renciada com a aprendizagem e com
o conhecimento a partir da mediação
do profissional que desenvolve as ativi-
dades juntamente com os participantes
do processo (GRASSI, 2008, p. 54).
55
UNIDADE 2
56
UNICESUMAR
A entrevista com os pais ocorre para saber sobre aspectos gestacionais, pe-
rinatais e pós-parto, a relação dos responsáveis com a criança e demais aspectos
do crescimento, desenvolvimento, saúde e educação da criança que ela mesma
não saberia nos informar. Porém, ainda que a criança não consiga expressar com
palavras suas dificuldades, por exemplo, o lúdico pode ajudar, e nós, psicopedago-
gos, precisamos fazer a entrevista com a criança a fim de ter um primeiro contato
com ela e estabelecer confiança.
Nesse ínterim, a sessão de entrevista com a criança consiste em verificar a
(falta de) consciência dela sobre suas dificuldades de aprendizagem, conscienti-
zá-la de forma confortável e estabelecer um “contrato” entre você e ela, de forma
que fique combinado que ambos podem confiar um no outro e que, a cada dia,
empenhar-se-ão mais e mais, de forma divertida e respeitosa (BRENELLI, 2001).
Assim, a aproximação pode ser feita por meio de brincadeiras, cantigas, contação
ou leitura de histórias, entre outras formas, deixando livre para que a criança
explore o lugar, sentindo-se em um ambiente conhecido por ela.
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UNIDADE 2
EXPLORANDO IDEIAS
Para Weiss (2008), o lúdico também torna o processo diagnóstico mais eficaz.
Após a identificação das dificuldades de aprendizagem por meio das entrevistas,
da sessão lúdica e das sessões específicas com provas projetivas, operatórias e
outras, é possível ter um diagnóstico psicopedagógico com a ajuda de outros
profissionais também. Durante essa sessão, o uso do lúdico é fundamental para
o sujeito não a ver como um momento tenso de avaliação, por exemplo.
58
UNICESUMAR
“
A sessão lúdica diagnóstica distingue-se da terapêutica, porque nes-
sa o processo do brincar ocorre espontaneamente, enquanto que na
diagnóstica há limites mais definidos. Nesta última [diagnóstica]
podem ser feitas intervenções provocadoras e limitadoras para se
observar a reação da criança: se aceita ou não brincar naquela situa-
ção, como resiste as frustrações [...] (WEISS, 2008, p. 75).
Outras observações nas sessões são importantes, como: quais são os conhecimen-
tos prévios do sujeito? Qual é o percurso cognitivo que ele utiliza para resolver os
problemas? O que ele aprendeu? O que ele não aprendeu? Os materiais utilizados
por ele na sessão são os mais próximos? Os distantes foram explorados? Explora
todos os materiais? Em caso de desenhos, como explora a folha? Utiliza cálculo
e medidas ou é aleatório? Muda de objeto conforme necessita? Realiza brin-
cadeiras diversificadas ou repetitivas? Finaliza as atividades iniciadas ou troca
com constância? Pede ajuda? Quando pede, é realmente necessária? Resolve im-
previstos quando surge? Como reage? Ações como apagar, desmanchar, separar
acontecem? Com qual frequência? Brinca sozinho, ignorando o psicopedagogo?
Ou olhando-o constantemente? Escolhe brincadeiras mais individuais ou que
precisam da participação do psicopedagogo? (BRANDÃO, 2010).
São várias as observações a serem feitas, mas o importante é sempre buscar
a relação com a queixa que levou o sujeito até a ajuda psicopedagógica. Dessa
forma, criam-se hipóteses e descartam-se outras até chegar ao diagnóstico psi-
copedagógico. Conforme salienta Visca (1991), é necessário sempre considerar,
nessas análises, o nível de desenvolvimento cognitivo do aprendiz e o seu conhe-
cimento prévio sobre o jogo.
Depois que se realiza o diagnóstico psicopedagógico, pode-se elaborar a in-
tervenção, que deve vir mais aliada ainda com o lúdico, visto que é importante
para “[...] tirar o peso da aprendizagem formal, redescobrindo assim, o prazer
em aprender e se relacionar com o que é ensinado de forma mais leve e diverti-
da, transpassando barreiras que foram levantadas no processo de ensino-apren-
dizagem” (SOUZA; DIAS; ERNESTO, 2017, p. 11). Dessa forma, o processo de
aprendizagem torna-se mais atrativo e significativo. Por isso, é importante que o
psicopedagogo tenha grande variedade de materiais lúdicos:
59
UNIDADE 2
“
[...] contação de histórias, fantoches, desenhos, músicas, dramati-
zações, teatros, roda de conversas, jogos de encaixe, quebra-cabeça,
entre tantos outros recursos. Isso lhe possibilitará a observação de
seu paciente em diferentes aspectos sociais, familiares, acadêmicos
e emocionais, de maneira lúdica e não penosa, identificando a raiz
do problema. Atua intervindo como mediador/ajudador no pro-
cesso de reaprendizagem, e orienta pais professores em relação ao
paciente (SOUZA; DIAS; ERNESTO, 2017, p. 11).
60
UNICESUMAR
sutil que seja — podendo representar medo de uma ameaça física, um abuso ou
algo nesse sentido —; e assim por diante.
Dessa forma, Brenelli (2001, p. 174) complementa que “o jogo simbólico ofere-
ce indícios relevantes a respeito dos aspectos emocionais envolvidos no processo
de conhecer e aprender”, e, nesses casos, o psicopedagogo deverá contar com a
ajuda de um psicólogo ou outro profissional especializado para verificar esses
aspectos de forma mais aprofundada e somar ao trabalho psicopedagógico.
A brincadeira deve ser vista pelo psicopedagogo como uma ação em que
a criança expressa uma necessidade. Principalmente, em espaços psicope-
dagógicos, considerar o brincar como algo puramente prazeroso, para elas, é
incorreto, pois, como afirmou Vygotsky (1999, p. 121), “muitas atividades dão à
criança experiências de prazer muito mais intensas do que o brinquedo, como,
por exemplo, chupar chupeta, mesmo que a criança não se sacie”. O autor ainda
enfatiza que alguns jogos, como os que possuem competitividade, “só dão prazer
à criança se ela considera o resultado interessante”, ou seja, se ela ganha.
Segundo Vygotsky (1999), o correto é considerar o brincar e o brinquedo
como uma necessidade da criança, porque a coloca em ações de desenvolvimento
contínuo. Dessa forma, precisamos ver a brincadeira como uma atividade que
ajuda a criança a passar de um nível de conhecimento atual para um potencial
maior, desenvolvendo-se. À medida em que a criança cresce, seus interesses e suas
necessidades mudam. O que é interessante para um bebê já não é tão interessante
para uma criança de dois anos de idade e assim segue.
“
A tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos
imediatamente; normalmente o intervalo entre o desejo e a sua sa-
tisfação é extremamente curto. [...] se não puder tê-lo, poderá ficar
muito mal-humorada; no entanto, comumente poderá ser distraída
e acalmada de forma a esquecer seu desejo. Para resolver essa tensão,
a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e
imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e
esse mundo é o que chamamos de brinquedo. A imaginação é um
processo psicológico novo para a criança; representa uma forma es-
pecificamente humana de atividade consciente, não está presente na
consciência de crianças muito pequenas e está totalmente ausente
em animais (VYGOTSKY, 1999, p. 122).
61
UNIDADE 2
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UNICESUMAR
63
UNIDADE 2
Iniciaremos com alguns brinquedos indicados para se ter nos espaços psicope-
dagógicos — clínico e institucional — devido ao aspecto tradicional que possuem
e, por isso, por estarem mais relacionado com o ambiente que o sujeito em atendi-
mento frequenta, tais como seu grupo familiar e a escola: bonecas, bolas, carrinhos,
quadro e torre de equilíbrio/blocos. Esses brinquedos também podem trazer embu-
tidas as culturas que as famílias possuem, por exemplo: quem brinca com boneca?
Quem brinca com carrinho? Além de outros fatores socioculturais, econômicos e
demais que são necessários considerarmos nas análises psicopedagógicas.
64
UNICESUMAR
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UNIDADE 2
Quadro ou lou-
sa: esse brinquedo,
em especial, atende
a muitos objetivos, mas
é interessante o ter, so-
bretudo, para remeter ao
ambiente escolar, espaço
que, muitas vezes, está atre-
lado ao processo de aprendi-
zagem do sujeito e à sua dificuldade. Mais voltado para crianças de 4 a 12 anos,
o quadro de giz ou a lousa remetem ao ambiente escolar, à sala de aula, em que
o docente escreve as atividades.
Por meio desse brinquedo, a criança expressa um papel social ou faz de conta
de um personagem muito importante para o seu processo de aprendizagem,
podendo transparecer suas relações ou, ao menos, a forma como as vê. Lem-
brando que essas brincadeiras ou jogos podem ser simbólicos, representativos ou
imaginários, por isso, devemos ter muito cuidado com as análises com qualquer
brinquedo, mas, sobretudo, com as bonecas e com o quadro/lousa. Ao ver uma
criança brincando com o quadro, por exemplo, e passando a imagem de um
professor que grita, devemos observar ou entrar no jogo, a fim de descobrir se
trata-se de uma representação, por exemplo, do que ela vê na escola ou que ela
reproduz por ter visto na televisão (BARBOSA; VOLPINI, 2015).
Torre de equilíbrio e/ou blocos de montar: por serem brinquedos bem atra-
tivos por suas cores, formas, quantidades e texturas para crianças bem peque-
nas, para as maiores e alguns adolescentes, são bem interessantes para se ter nos
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UNICESUMAR
67
UNIDADE 2
Imitação: a brincadeira de imitar é muito comum nas famílias desde que o su-
jeito é um bebê e alguém o ensina a imitar o som de um carrinho (brum-brum),
imitar gestos, como bater palmas para cantar parabéns, imitar o som dos ani-
mais, como vimos em parágrafos anteriores, e assim segue até as brincadeiras
em grupo, em que um faz alguma ação e os demais copiam.
Trata-se de uma brincadeira que precisa de mais de uma pessoa, pois alguém
tem que ser imitado ou dizer o que deve ser imitado para que seja mais interessante
às crianças maiores. Então, podemos observar, nessa brincadeira, a relação social do
sujeito, a sua compreensão de comandos, seja o comando físico ou verbal, a coor-
denação motora e/ou as habilidades linguísticas, as percepções — visual, espacial,
auditiva… —, entre outras que dependerão de cada forma de imitação.
Apesar de ser mais indicada para crianças bem pequenas até os 10 anos de
idade, a depender da forma de condução e entonação, pode ser utilizada, tam-
bém, com as demais faixas etárias, sobretudo com idosos. Contudo, um ponto
de atenção precisa ser destacado: a brincadeira de imitação aqui citada, como
vocês viram por meio dos exemplos, é diferente do jogo de imitação que ocorre
quando a criança, às vezes, sozinha, brinca e, nessa ação, reconstrói suas obser-
vações do mundo, como Vygotsky (1999) abordou em sua obra e como veremos
em discussões futuras com base em Piaget (1999).
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UNICESUMAR
Estátua: o princípio básico dessa brincadeira é dançar até a música ou outro som
parar. Ao parar a música, por exemplo, deve-se ficar igual a uma estátua, na última
posição realizada. Trata-se de extravasar, expressar movimentos até que a música
pare. Sabendo que o corpo é um instrumento de expressões e comunicações, fica
evidente a relevância dessa brincadeira. Podemos observar, além desses elementos,
noção de ritmo, criatividade, percepção auditiva, coordenação motora, noção es-
pacial e esquema corporal. Isso de forma simples, mas é possível agregar elementos
e regras nessa brincadeira, dependendo do objetivo, as-
sim mais habilidades podem ser observadas
(AUCOUTURIER, 2007). Por isso, são
interessantes para crianças bem peque-
nas e até os 10 anos de idade.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
“
No processo de formação educacional e cognitiva de uma criança,
percebe-se a importância dos quebra-cabeças no desenvolvimento
físico, neurológico, psicomotor, capacidade de concentração, noção
espacial, percepção visual e aumento de conhecimento sobre diver-
sos assuntos. Alguns estudiosos afirmam, inclusive, que este brin-
quedo auxilia também em processos de amadurecimento e resolu-
ção de questões de cunho psicológico. É recomendado o gradual
aumento do nível de dificuldade em cada jogo para estimular ainda
mais o progresso da criança em todas as áreas anteriormente citadas.
Dominó: outro clássico de muitas infâncias, é mais conhecido por suas pe-
dras de marfim, na cor branca, com bolinhas na cor
preta ou, ainda, no plástico preto com as bolinhas
coloridas. É composto por 28
peças, sendo distribuídas
sete pedras para cada
jogador; caso sobrem,
ficam para ser “com-
pradas”. Inicia quem
tem o (maior) carretão
— pedra com bolinhas
de mesma quantidade
1/1, 2/2…, 6/6 — e ven-
ce quem se livrar de to-
das as peças primeiro.
73
UNIDADE 2
Jogado por muitos sem saber o princípio desse jogo tradicional, o dominó
é pautado em estratégia e probabilidade estatística, pois, se calculam-se as
probabilidades no decorrer do jogo, para saber quem está com as pedras que
darão continuidade na trilha que se inicia no carretão, é possível planejar ações
para vencer o jogo.
Atualmente, temos o dominó com imagens, com números, com frações e ou-
tras formas que podem ser utilizados com diferentes idades, a depender de seus
objetivos. O fato é que esse jogo proporciona trabalhar com sequência, raciocínio
lógico-matemático, resolução de situações-problemas, planejamento, estratégia,
entre outros aspectos (SANTOS, 2016).
74
UNICESUMAR
Apesar de ser um jogo tradicional, com existência de anos, não são todas as
pessoas que têm acesso ao jogo desde a infância em seus lares, por exemplo. Por
ser um jogo complexo, o interesse e a busca pelo xadrez não são tão comuns,
como os citados anteriormente. O xadrez pode contribuir no trabalho com a
resolução de problemas, raciocínio-lógico, antecipação de ações, velocidade no
raciocínio, planejamento, estratégias, entre outros aspectos (GESSI, 2014).
Viu só quantas possibilidades apenas com jogos, brinquedos e brincadeiras
tradicionais você possui para um trabalho psicopedagógico? A intenção, aqui,
é mostrar que nem sempre precisaremos de jogos sofisticados, complexos ou,
mesmo, comprar tudo. Usando a imaginação, é possível proporcionar momentos
de qualidade para a entrevista, as avaliações e as intervenções.
Algumas brincadeiras, por exemplo, nem precisam de materiais, basta a conver-
sação, a interação e outras formas de envolver o sujeito no processo adequado para
seus objetivos psicopedagógicos. Em outros momentos, podemos utilizar recursos
simples, como uma corda, uma massinha de modelar, que são bem acessíveis.
A confecção de alguns jogos também é possível, tais como as cartas das emo-
ções, o quebra-cabeça, o dominó e o jogo da memória. E não para por aí: trou-
xemos, aqui, apenas alguns exemplos, mas, com certeza, você também conhece
jogos, brinquedos e brincadeiras que trabalham muitas habilidades diversificadas
e podem ser aplicados para diferentes faixas etárias e necessidades. Dessa forma,
o importante é sempre providenciar o maior arsenal possível para deixar à dis-
posição no seu espaço psicopedagógico, desde que saiba a intencionalidade, os
objetivos e a forma de se trabalhar com esses objetos e essas brincadeiras.
Entretanto, ainda não acabou. Conforme salientamos em discussões passadas,
o lúdico não fica apenas no brincar e no brinquedo. Podemos providenciar outros
materiais lúdicos que são importantes para o trabalho psicopedagógico. Vejamos
algumas ideias interessantes com os recursos básicos relacionados a desenho e/
ou pintura, literatura e/ou contação de história e musicalização.
Como estamos enfatizando os recursos e as possibilidades mais tradicionais
por serem acessíveis ou passíveis de serem confeccionados, iniciando pelo dese-
nho e pintura, exploraremos o cantinho da arte. Como o espaço psicopedagógi-
co precisa ser organizado, é interessante que você tenha um espaço para desenhos
e pinturas em que o sujeito possa explorar esses materiais, como a tinta, sem ter
que se preocupar em deixar tudo limpo e organizado, bem como que seja fácil
de você arrumar para as próximas sessões.
75
UNIDADE 2
a) Caixa surpresa: você pode utilizar uma caixa de papelão, grande ou pe-
quena, com ou sem enfeites internos e externos, mas que seja, ao menos,
enigmática, para o sujeito se interessar. Dentro da caixa, inserimos ele-
mentos da história ou que remetem a ela. Também, temos a possibilida-
de de inserir elementos aleatórios para brincar de contar uma “história
maluca”, ou seja, uma história que surge a partir dos elementos retirados
da caixa surpresa.
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UNICESUMAR
e) Teatro de fantoches: o
teatro traz consigo a ideia de
cortinas se abrindo, dessa forma,
é necessário um cenário assim, com pe-
quenas paredes, um palco e uma cortina se
77
UNIDADE 2
abrindo. Você pode utilizar caixas de papelão para confecção das paredes
e até um teto. Não se preocupe, pois é só para representar a frente, o palco
do teatro. Para ficar mais leve, pode usar cartolina para o chão, o palco; um
barbante para suspender a cortina e um tecido leve para poder se abrir.
Os fantoches também podem ser confeccionados com meias, saquinhos
de tecidos ou você pode usar os palitoches.
EXPLORANDO IDEIAS
Você sabia que alguns desses instrumentos podem ser confeccionados? Veja alguns exemplos:
a) Tambor: utilizando uma lata de leite em pó, por exemplo, podemos ter esse instrumento e,
ainda, utilizar colheres ou outro objeto de fácil manipulação para ter as baquetas.
b) Chocalho: com uma garrafa pet e algumas pedrinhas, areia ou outros grãos, podemos emitir
um som similar ao dos chocalhos.
c) Pandeiro: com um papelão bem resistente ou outro material similar, podemos perfurar as bor-
das e amarrar tampinhas metálicas de garrafa ou outro material que reproduza um som similar.
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UNICESUMAR
Assim como vimos que o jogo da imitação é muito importante para o processo
futuro de alfabetização, em paralelo, temos a música como elemento importante
para o desenvolvimento da fala, do movimento e da escrita. Antes mesmo de falar,
o bebê canta ou, ao menos, tenta, gorjeia, reproduz sons com a boca de forma re-
petitiva e marcada, ao passo que, aos poucos, insere movimentos com seus braços,
cabeça e pernas ao ouvir um som. Ao longo da infância, balbucia, balança-se até
alinhar som e movimento. Dessa forma sincronizada, estabelece ritmos, manuseia
instrumentos e assim por diante. Tudo isso contribui para o desenvolvimento da
fala, da escrita e da coordenação, que continua de forma progressiva na infância
(SILVA, 2006). Podemos e devemos utilizar como instrumento a musicalização
para estabelecer ritmos e avaliar aspectos relacionados na infância, sobretudo
perante as dificuldades de escrita e de leitura. Na linguagem, também, torna-se
interessante o trabalho com esse recurso, além de ser atrativo e eficaz para o
processo de aprendizagem do sujeito, podendo ser adaptado a cada faixa etária.
Por ora, é isso, caro(a) aluno(a). Espero que tenha aprofundado seus conhe-
cimentos sobre esses recursos lúdicos e tenha muitas ideias para confeccionar
os jogos e demais instrumentos psicopedagógicos para seus atendimentos. Aqui,
vimos algumas opções mais tradicionais e simples, mas com tantas opções e
tecnologias atuais, não podemos ficar apenas com esses exemplos. Dessa forma,
continuaremos explorando mais jogos, brinquedos e brincadeiras nos encontros
a seguir, aumentando o conhecimento teórico e prático, com recursos mais ela-
borados e atuais. Vamos lá?
79
UNIDADE 2
80
1. Ao refletir sobre o andar, falar e pensar, König (1997) enfatiza que “nos primeiros três
anos de sua infância o homem adquire aquelas capacidades que lhe dão, aqui na
Terra, a possibilidade da existência humana”. Isso acontece porque, nesse período,
ocorre a estruturação e interiorização do ser humano.
a) V, V, V.
b) F, V, F.
c) V, F, V.
d) F, V, V.
e) V, F, F
Esse trecho traz a relação do jogo com a criança em uma visão da Epistemologia
Genética, mas, também, temos outras correntes que enfatizam a importância do
brincar na infância.
81
Sobre essa relação criança-brincadeira, é correto afirmar que:
• O próximo jogador deve colocar mais uma peça, de modo que se tenha outra
forma de representação da mesma função. Caso o jogador não tenha, deverá
passar a vez.
Com base nessas regras, é correto afirmar que está se trabalhando com as seguintes
habilidades:
82
3
Jogos de
Representação e
Jogos Virtuais
Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro
Olá, caro(a) aluno(a)! Faz de conta que você é uma criança na Era Digital.
Com qual brinquedo você gostaria de brincar ou qual brincadeira você
gostaria de jogar? Nossa infância teve brinquedos e brincadeiras tão di-
ferentes das que temos atualmente, não é? Por isso, agora que já vimos
as brincadeiras, os brinquedos e os jogos mais tradicionais, exploraremos
o contexto atual. Entretanto, nem tudo é novidade, afinal você já ouviu
alguma criança dizer: “faz de conta que…”? Pois bem, as brincadeiras de
“faz de conta” são atemporais, então precisamos compreendê-las, a fim de
identificar suas significações na infância. Também, exploraremos alguns
jogos de representação para que possamos analisar por meio dos conhe-
cimentos psicopedagógicos. Por fim, conheceremos alguns jogos virtuais
atuais e sua aplicabilidade, a fim de utilizá-los nos espaços psicopedagó-
gicos. Pegue sua varinha de condão, seu chapéu mágico e venha comigo...
UNIDADE 3
Gabriel José é uma criança de quatro anos que gosta muito de brincar de correr,
como muitas crianças de sua idade, mas a sua brincadeira favorita mesmo é mon-
tar cabanas com as cadeiras da cozinha e cobertores e fazer de conta que está em
uma caverna, escondendo-se de monstros das florestas com seus amigos, mas,
sempre que escuta um barulho ou alguém chamando por socorro, sai correndo
da caverna para ajudar. No entanto, em sua casa e nos arredores, é a única criança
dessa idade. Sem ter com quem brincar, seus amigos são imaginários, seus pais
trabalham o dia todo e, quando chegam em casa, não têm disposição para brincar
de altas aventuras. Isso está deixando Gabriel José desmotivado, frustrado, até
mesmo nas atividades escolares. Percebendo isso, a professora Kátia pediu ajuda
psicopedagógica. O que fazer?
Uma importante função da brincadeira de faz de conta é ajudar na autonomia
da criança. Aos quatro anos de idade, esperamos que tenha alguma autonomia,
como escolher roupas, resolver algumas situações da sua infância etc. Ao passo
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UNICESUMAR
85
UNIDADE 3
86
UNICESUMAR
“
[...] uma criança não se comporta de forma puramente simbólica no
brinquedo; ao invés disso, ela quer e realiza seus desejos, permitindo
que as categorias básicas da realidade passem através da experiência.
A criança, ao querer, realiza seus desejos. Ao pensar ela age. As ações
internas e externas são inseparáveis: a imaginação, a interpretação
e a vontade são processos internos conduzidos pela ação externa
(VYGOTSKY, 1998, p. 132).
87
UNIDADE 3
PENSANDO JUNTOS
Com base no exposto até o momento e em tudo que você aprendeu ao longo do seu
curso, caro(a) aluno(a), você considera que a brincadeira na infância se inicia por uma
questão maturacional, ou seja, está ligada à sua fase, idade, bem como a aspectos neuro,
psico e biológicos de sua infância ou mais aos aspectos históricos, culturais e sociais?
88
UNICESUMAR
As crianças bem pequenas, até os cinco ou seis anos de idade, possuem ne-
cessidades de satisfação imediata, ou seja, querem algo no momento em que
falam, veem ou escutam algo. Não adianta falar que, na próxima semana, no
próximo mês ou no final do ano, elas conseguirão o que desejam, pois está além
de sua compreensão e necessidades instantâneas. Como não é sempre que essas
necessidades são atendidas, porém, a criança usa a imaginação para suprir seus
desejos (VYGOTSKY, 1998).
Conceição (2010, p. 38) complementa que “a possibilidade de elaboração entre
significado e ação, pensamento e realidade, bem como a apropriação de conteúdos
reais por meio de situações imaginárias, impulsiona a internalização de conceitos e
processos de desenvolvimento das funções psíquicas”. Por isso, devemos considerar
o faz de conta como importante processo de aprendizagem da criança.
Não só a teoria de Lev Vygotsky e seus colaboradores contribui para a com-
preensão do brincar, do faz de conta e da representação do real na infância. A Teoria
da Epistemologia Genética, de Jean Piaget (1896–1980), também tece argumen-
tos sobre o assunto. Para o referido autor, o ato de brincar se constitui como campo
de desenvolvimento a partir de dois processos fundamentais: a) acomodação; e b)
assimilação. Os conteúdos vivenciados pelas crianças perpassam as brincadeiras
e se transformam em novos conhecimentos (CONCEIÇÃO, 2010).
Para Piaget (1999), ainda no estágio senso-motor — final do primeiro ano
de vida —, o bebê já brinca, já explora o mundo por meio de jogos de exercício,
em que manipula objetos, leva à boca, observa ações e reações sobre os objetos e
assim por diante. Ao longo desse estágio e do subsequente, começa a reconhecer
o mundo e se perceber nele. A partir desse novo conhecimento, de percepção
de si e do/no mundo, os jogos se tornam mais complexos, entrando no âmbito
simbólico, em que temos a assimilação do eu real e a elaboração de conflitos
inconscientes aliados ao aparecimento da linguagem, caracterizando o estágio
da inteligência intuitiva (CONCEIÇÃO, 2010).
O estágio da inteligência intuitiva se inicia, aproximadamente, aos dois
anos de idade e perdura até os sete anos, aproximadamente. Nesse contexto, ve-
mos o jogo simbólico, que, por sua vez, tem a função de “[...] satisfazer o eu por
meio de uma transformação do real em função dos desejos: a criança que brinca
de boneca refaz sua própria vida, corrigindo-a à sua maneira, e revive todos os
prazeres ou conflitos, resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a
realidade através da ficção” (PIAGET, 1999, p. 28). Por isso, o autor anteriormente
89
UNIDADE 3
“
As brincadeiras de “faz de conta” são mais duradouras, com efeitos
positivos sobre o desenvolvimento, quando há imagens mentais
para subsidiar a trama. Crianças que brincam aprendem a deco-
dificar o pensamento dos parceiros por meio da metacognição,
o processo de substituição de significados, típico de processos
simbólicos. É essa perspectiva que permite o desenvolvimento
cognitivo. Possibilita-se que o ser humano desenvolva-se pelo
movimento (inativo), pelo grafismo e imagens mentais (icônico)
e atinja o lógico científico (simbólico).
90
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a figura apresenta a imagem de um quadro de giz, onde se tem escrito BA-BE-BI-
-BO-BU, LA-LE-LI-LO-LU, BO-LA e BOLA, representando a alfabetização por meio da palavra BOLA. Olhando
para o quadro, está um menino imaginando uma bola, que é sua principal representação simbólica até
então. Em seguida, o mesmo menino aparece com a representação simbólica não mais do objeto bola,
mas, sim, da palavra BOLA. Nesse momento, a representação concreta — do objeto bola — é substituída
por meio da compreensão do símbolo abstrato — palavra bola.
91
UNIDADE 3
92
UNICESUMAR
“
O brinquedo terapêutico pode ser utilizado como estratégia com
qualquer criança. A sessão pode variar entre quinze e 45 minutos,
pode ser realizada em qualquer área conveniente e sua meta é com-
preender os sentimentos e as necessidades da criança. Os brinque-
dos necessários, geralmente dispostos em uma caixa, são figuras
representativas da família e animais domésticos, além de objetos
representativos do cotidiano da criança. Contudo, não há um con-
teúdo específico, de forma que o profissional tem liberdade de es-
colha. O brinquedo terapêutico pode ser classificado em três tipos:
. Dramático ou catártico - permite a descarga emocional da criança;
. Instrucional - permite a explicação de procedimentos para a crian-
ça; . Capacitador de funções fisiológicas - permite que a criança seja
capacitada para utilizar suas funções de acordo com sua condição
biofísica (GIACOMELLO; MELO, 2011, p.1572-1573).
93
UNIDADE 3
Figura 2 - Relação entre as etapas que compõem a sessão de Brinquedo Terapêutico Dramático
Fonte: Santos et al. (2020, p. 8).
Descrição da Imagem: a figura mostra a relação que compõe as etapas da sessão de brinquedo terapêutico
dramático, sendo o primeiro o estabelecimento de vínculo, ligado a todas as etapas subsequentes, a segunda
é a exploração e dramatização dos brinquedos e, por fim, parar de brincar, quando se encerra a sessão.
94
UNICESUMAR
“
Na dramaterapia, a brincadeira também é vista como parte de um
contínuo de expressão – como parte de um teatro. Sendo assim,
há uma língua específica (por exemplo, objetos de brincadeira,
brinquedos e jogos) que pode ser parte do modo como o cliente
explora ou expressa o material na dramaterapia. Os conteúdos de
brincadeira na dramaterapia normalmente incluem a brincadeira
com objetos e brinquedos simbólicos, um trabalho de projeção com
objetos na criação de pequenos mundos, a brincadeira dura e bru-
ta, faz de conta ou brincadeiras a atuação de personagens e jogos
(JONES, 2011, p. 302).
95
UNIDADE 3
dos outros através da brincadeira, por exemplo, e a fazer uso de objetos em in-
terações com os outros ao invés de ficar envolvido em atividades de brincadeira
solitária”. Às vezes, nem percebemos que a interação sujeito-sujeito também é uma
aprendizagem, pois já estamos nessa interação há muito tempo; em contrapartida,
para a criança, é uma novidade e, a cada dia, aprende a como ver a si e ao outro,
como lidar com um e outro, assim por diante.
OLHAR CONCEITUAL
96
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
Veja, a seguir, uma atividade desenvolvida por Gondim e Vercelli (2014, p. 3041) com um
grupo de crianças com o objetivo de desenvolver as relações interpessoais:
Vejamos, agora, sobre o jogo da imitação e a sua utilização como recurso de re-
presentação na Psicopedagogia. Já discutimos, anteriormente, como a brincadeira
de imitar ajuda a criança em seu desenvolvimento, de forma natural, quando,
desde a tenra idade, pedimos para ela imitar algo ou alguém. Aqui, exploraremos
o jogo da imitação que acontece, em muitos casos, quando a criança não está sob
intervenção de adultos. Esse jogo acontece com as crianças bem pequenas e cos-
97
UNIDADE 3
tuma perdurar até o fim da infância, por volta dos 12 anos, de forma a modificar
gradativamente. Para Piaget (2010), a imitação é o que dá origem à representação,
de certa forma, mas não é a única fonte.
Para o autor anteriormente citado, a partir das brincadeiras e jogos do período
sensório-motor, em que as imitações ocorrem a fim de assimilar o que está vendo,
ouvindo ou sentindo, o sujeito constrói suas estruturas cognitivas e passa de um
estágio de representação para outro de imaginação, em que novas estruturas se
formam, aliando assimilações, acomodações, representações e pensamentos cada
vez mais abstratos (PIAGET, 2010).
Nesse sentido, Piaget (2010) destacava que a representação emerge da coe-
xistência do significante e significado. Os significantes surgem das imitações,
em que o sujeito acomoda suas estruturas cognitivas, ou seja, conhecimentos já
dominados — imita a mãe ou o pai realizando uma tarefa doméstica porque já
viu como se faz. Já os significados seriam fornecidos pela assimilação de novas
estruturas cognitivas — a criança, ao brincar de casinha, reproduz as ações de
limpeza porque sabe que é uma tarefa doméstica.
Descrição da Imagem: a imagem ilustra a representação a partir do significante para Piaget (2010), confor-
me explicação do parágrafo anterior (significante — imitação — acomodação de estruturas cognitivas — já
viu, ouviu, sentiu… — reproduz).
98
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a imagem ilustra a representação a partir do significado para Piaget (2010), con-
forme explicação do parágrafo anterior (significado — novas ações — assimilação de estruturas cognitivas
— descobriu, aprendeu, apreendeu… — ressignifica).
99
UNIDADE 3
O vínculo de aprendi-
Par educativo 6/7 anos
zagem
A representação do
campo geográfico do
A planta de minha
lugar em que mora 8/9 anos
casa
e a localização real
dentro do mesmo
O vínculo de aprendi-
zagem com o grupo
Família educativa familiar e cada um 6/7 anos
dos integrantes do
mesmo
A delimitação da
continuidade da iden-
O desenho em
tidade psíquica em 4 anos
episódios
função da quantidade
dos afetos
A representação
que se tem de si e
do contexto físico e
O dia do meu
CONSIGO sociodinâmico em um 4 anos
aniversário
MESMO momento de transi-
ção de uma idade e
outra
As atividades escolhi-
Nas minhas férias das durante o perío- 6/7 anos
do de férias escolares
100
UNICESUMAR
O comando para cada prova deve ser preciso e imparcial, por exemplo, com uma
prova mais comum de cada domínio: a) ESCOLAR — Prova projetiva do par
educativo, consigna: “Desenhe duas pessoas. Uma pessoa que ensina e uma que
aprende”; b) FAMILIAR — Prova projetiva da família educativa, consigna: “De-
senhe uma família”; c) CONSIGO — Prova projetiva do desenho em episódios,
consigna: “Dobre a folha assim e coloque sobre a mesa — dividir em seis partes.
Você desenhará uma história: um(a) menino(a) — dependendo do gênero da
criança — que tem o dia todo livre. Desenhe o que ele(a) fará desde que acorda e
sai de sua casa (apontar o quadro 1 — esquerdo superior — na folha da criança
que está sobre a mesa) até o momento em que volta à sua casa”.
As análises iniciais dos desenhos se dão pela posição da folha utilizada, que,
de acordo com Visca (2011, p. 23), podem representar:
ESCOLAR: a) Par educativo (em folha de sulfite, com lápis preto e oferta da borracha) -
Solicitar que o sujeito indique a ordem, nomes e idades dos personagens desenhados,
dar um título ao desenho, relatar o que acontece. Análise: Detalhes, desenho e posição
na folha, quem aparece e suas idades segundo o sujeito, título dos desenhos e relatos;
b) Eu com meus colegas (em folha de sulfite, com lápis preto e oferta da borracha) -
Solicitar que o sujeito indique a ordem, nomes e idades dos personagens desenhados.
Análise: Detalhes, desenho e posição na folha, comentários sobre os personagens; c) A
planta da sala de aula (em folha de sulfite, com lápis preto, oferta da borracha, régua se
o sujeito solicitar) - Solicitar que o sujeito indique a ordem da planta da sala de aula e
depois do lugar que ocupa, perguntas complementares a medida que necessitar. Aná-
lise: Detalhes do desenho, possíveis localizações na sala de aula, comentários sobre a
sala de aula, escolha do lugar, aceitação do lugar, colegas ao redor (VISCA, 2011, p. 211).
101
UNIDADE 3
FAMILIAR: a) A planta da minha casa (em folha de sulfite, com lápis preto, oferta da
borracha e da régua) - Solicitar que o sujeito indique a ordem da planta da casa, depois
o nome de cada ambiente e quem ocupa cada peça, perguntas complementares a
medida que necessitar. Análise: Detalhes do desenho, localização do próprio quarto,
comentários sobre o dormitório, lugar de estudo e reunião familiar; b) Os quatro mo-
mentos de um dia (em folha de sulfite, com lápis preto e oferta da borracha) - Solicitar
que o sujeito indique os quatro momentos do dia. Análise: Adequação à ordem, mo-
mentos escolhidos, atividade realizada, pessoas, campo geográfico, objetos, sequência
do desenho (temporal, espacial, do relato); c) Família educativa (em folha de sulfite, com
lápis preto e oferta da borracha) - Solicitar que o sujeito indique quem desenhou, as
idades de cada um e o que estão fazendo, perguntas complementares a medida que
necessitar. Análise: Nomes e idades, atividades de cada personagem, objetos utilizados,
idade e gênero, relação de parentesco e relatos (VISCA, 2011, p. 212-213).
CONSIGO MESMO: a) O desenho em episódios (em folha de sulfite, com lápis preto)
- Solicitar que o sujeito indique a ordem do desenho, o personagem (nome e idade)
e o que está fazendo em cada episódio. Análise: Representação de tempo e espaço,
tema, elementos relacionais e sociais, movimentos identificatórios; b) O dia do meu
aniversário (em folha de sulfite, com lápis preto e oferta da borracha) - Solicitar que
o sujeito indique o que desenhou, o(s) personagem(ns) (nome e idade) e o que está/
estão fazendo, perguntas complementares a medida que necessitar. Análise: Detalhes
do desenho, espaço geográfico, conteúdo do relato. c) Em minhas férias (em folha de
sulfite, com lápis preto e oferta da borracha) - Solicitar que o sujeito indique o que
desenhou, o(s) personagem(ns) (nome e idade) e o que está/estão fazendo, perguntas
complementares a medida que necessitar. Análise: Adequação ao comando, atividade
representada, marco geográfico escolhido, argumento, coerência interna do relato e o
desenho; d) Fazendo o que mais gosto (em folha de sulfite, com lápis preto e oferta da
borracha) - Solicitar que o sujeito indique o que desenhou, o(s) personagem(ns) (nome
e idade) e o que está/estão fazendo, perguntas complementares a medida que neces-
sitar. Análise: Indecisão na escolha do tema, ato de apagar com mudança de tema, ato
de apagar objeto sem mudar o tema, coerência do relato e desenho, contexto espacial
e temporal em que ocorre a cena (VISCA, 2011, p. 213-215).
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UNICESUMAR
103
UNIDADE 3
24. Clara pensa que seu pai e sua mãe não gostam dela. Por quê?
25. Clara não quer ir à escola hoje. Por quê?
26. Clara não gosta de recitar poesias/falar na frente da classe. Por quê?
27. Clara gostaria, às vezes, de ser menino. Por quê?
28. Clara gostaria de ser maior do que é. Por quê?
29. Clara gosta de uma coisa em sua professora. O que é?
30. Clara, às vezes, fica com raiva na escola. Por quê?
31. Clara, às vezes, não faz o que sua mãe manda. Por quê?
32. Clara prefere brincar com meninos ou meninas? Por quê?
33. Clara não gosta de uma menina da sua classe. Por quê?
34. Clara, às vezes, fica nervosa e preocupada na escola. Por quê?
35. Certo dia, Clara e sua mãe brigaram seriamente. Por quê?
36. Um dia, Clara quis fugir de sua casa. Por quê?
37. Clara não gosta de alguma coisa em sua professora. Por quê?
38. Clara, às vezes, fica muito triste. Por quê?
39. Clara gosta de ficar sozinha. Por quê?
40. Clara acha uma pessoa da sua escola muito boa. Quem é?
41. Quantos anos você pensa que Clara tem?
42. Se Clara fosse grande, forte, o que faria que não pode fazer agora?
43. Se Clara fosse rica, o que faria que não pode fazer agora?
44. Se Clara fosse sabida, o que faria que não pode fazer agora?
45. Se Clara pudesse fazer tudo que ela quisesse, o que faria que não pode
fazer agora?
46. O que Clara quer acima de tudo?/O que Clara mais quer na vida?
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UNICESUMAR
105
UNIDADE 3
Para ilustrar a semelhança dos jogos de simbolismo mais clássicos com o RPG
que temos atualmente, Grando e Tarouco (2008, p. 7-8) comparam as brincadeiras
de mocinho e bandido, bem como a casinha com os jogos virtuais:
106
UNICESUMAR
“
Esta atividade de representação simbólica provavelmente é a mais
antiga forma de se jogar RPG, ainda em uma forma onde os parti-
cipantes não utilizariam tabuleiro e dados, pois apenas, ainda esta-
riam representando um personagem, que terá uma vida temporária
criada por ele. Encontramos muitas vezes um indivíduo, que por
suas características próprias, acaba organizando a atividade e orien-
tando os outros participantes como se este fosse o coordenador ou
Narrador da história, ele pode vir a organizar tudo com ou sem
o auxílio dos participantes e organiza as regras. Os resultados das
ações são definidos pelo senso comum dos participantes, o que for
bom para o grupo fica sendo aceito.
Dessa forma, podemos utilizar, sempre por meio de bons softwares adquiridos
e testados previamente por nós, alguns jogos de RPG que se adequem ao nível
de desenvolvimento e à faixa etária em que nosso público se encontra e sempre
com um propósito a ser alcançado por meio do jogo. Po-
demos observar ou estimular a socialização,
cooperação, criatividade, interativida-
de, interdisciplinaridade, entre outras
questões à medida que o sujeito assu-
me os papéis e desempenha as ações.
Além dos RPG, temos os jogos de
Puzzle, que são aqueles em que o sujei-
to precisa montar um elemento a partir
de outro(s), por exemplo: quebra-cabeça,
ligar pontos, tetris, entre outros. Esses jogos
possuem imensa variedade e possibilidade de
níveis, adequando-se às necessidades, deman-
das e aos objetivos do psicopedagogo, bem
como ao nível de desenvolvimento e idade
do sujeito, o que permite ser utilizado em
qualquer fase. A tradução da palavra puzzle
é quebra-cabeça; dessa forma, podemos com-
preender que esse estilo de jogo trabalha com
perspectiva, percepção visual e espacial, atenção
visual e, tratando-se de um game, trabalha com a
107
UNIDADE 3
“
[...] em geral, todos os sujeitos começaram a jogar raciocinando
dedutivamente, tentando estabelecer lógicas para o jogo; quando
isso não funcionava, rapidamente se criava outra hipótese que seria
testada em seguida, caracterizando o raciocínio do tipo abdutivo.
O erro cometido no jogo não se caracteriza puramente como uma
testagem de hipóteses, o que levaria a acreditar no raciocínio abdu-
tivo (ALEXANDRE, 2020, p. 46).
Dessa forma, vemos que o game proporciona que o sujeito crie formas de pen-
samento, estratégias para resolver problemas e, assim, utilize os diferentes meios
de raciocínio e/ou passe de um para outro à medida que haja necessidade. Ainda
que cometa erros, não se trata, apenas, de verificarmos se o sujeito acertou ou não
o comando e objetivo do jogo, mas, sim, o porquê do erro e onde isso o levou.
108
UNICESUMAR
Regras:
109
UNIDADE 3
Descrição da Imagem: na imagem, vemos dez navios de guerra e um porta-avião dispostos em uma espé-
cie de tabuleiro formado por linhas de A a J e colunas de 1 a 10. Os navios ocupam duas ou três linhas ou
colunas diferentes. Como exemplo, temos um navio ocupando três linhas (6E, 6F e 6G).
Pelas regras do jogo, você pode ter notado que a estratégia consiste em posicionar
os navios de forma a dificultar que o oponente os encontre, sobretudo os maiores.
Para vencer o jogo, também são necessárias estratégias para acertar os quadrados
110
UNICESUMAR
em que estão os navios do oponente. Se você selecionar a casa 6F, por exemplo, o
jogo mostrará que você acertou um alvo e você terá mais uma chance de acertar
mais uma parte desse navio, se ele for grande, ou de acertar outro. Mas como des-
cobrir em qual quadrado podem estar as outras partes? Veja que, se utilizarmos
como exemplo a figura anterior, há um navio ocupando três quadrados (6E, 6F e
6G), mas, ao acertar o 6F, o jogador não sabe se o restante do navio está na linha
F, tendo a probabilidade de estar nas colunas 4 a 8, ou, se está na coluna 6, tendo
a probabilidade de estar nas linhas D a H. E então, qual estratégia você utilizaria?
Como é possível observar, essas questões envolvem raciocínio lógico, que não
necessariamente é um cálculo. Veja as respectivas respostas e suas explicações:
1. Se hoje fosse sexta-feira, ontem seria quinta. Logo, se “ontem fosse ama-
nhã” — aí já sei que amanhã é quinta —, hoje é quarta-feira.
2. Tenho 12 primos, porque três são meus irmãos e um sou eu.
111
UNIDADE 3
3. O total é 10, pois as 10 árvores que ele viu na volta — à esquerda — são
as mesmas que ele viu na ida — quando estava à sua direita —, já que está
andando na mesma rua.
Apesar de, na questão dois, ter sido necessário fazer uma certa conta, nas de-
mais, não foi. Ainda assim, o raciocínio lógico teve que ser utilizado. Copi (1978)
destaca que a lógica está relacionada com métodos e princípios utilizados para
distinguir, por exemplo, o certo do errado. Como os jogos proporcionam uma
maior variedade e jogabilidade, tornam-se mais interessantes do que atividades
escolares básicas que envolvem o raciocínio lógico. Quando trazemos para o
mundo dos games, torna-se mais interativo e estimulante ainda, visto que “o ob-
jetivo da educação intelectual não é saber repetir ou conservar verdades acabadas
[...], é aprender por si próprio a conquista do verdadeiro, correndo o risco de
despender tempo nisso e de passar por todos os rodeios que uma atividade real
pressupõe” (PIAGET, 2005, p. 61). Dessa forma, o sujeito, mais do que aprender
a resolver um problema ou saber a resposta correta, trabalha as suas estratégias
para resolver e descobrir.
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final de mais uma fase. Espero que, ao longo
deste percurso, você tenha ampliado algumas habilidades cognitivas e adquirido
alguns conhecimentos sobre os jogos de representação e os jogos virtuais. Para
você exercitar as habilidades discutidas aqui, separamos alguns sites com jogos
virtuais que você pode acessar gratuitamente para experimentar:
■ Microsoft: possui vários jogos — RPG, Puzzle, entre outros — para você
baixar em seu computador — com o programa da Microsoft — e jogar
com a família ou sozinho. Indicamos o RPG Hidden City: Aventura de
Objetos Escondidos. Ele apresenta uma aventura de descobertas em que
você deve procurar objetos escondidos, explorar diferentes mundos, re-
solver problemas e decifrar mistérios. Indicado para maiores de sete anos.
■ Racha a cuca: é um site que também tem muitas opções de jogos on-line
— não precisa baixar — mais voltados à estratégia, Quiz e Puzzle. Como
citamos nas discussões, indicamos a Batalha Naval para você.
112
UNICESUMAR
Divirta-se!
113
Que tal construir um mapa mental com as palavras-chave trabalhadas ao longo das
nossas discussões? Seguem algumas sugestões: faz de conta, simbolismo, brinquedo
simbólico, projeção, significação, imitação, acomodação e assimilação.
4
Perspectivas
Neuropsicossociais e
Pedagógicas do Brincar
e a Importância das
Atividades Recreativas
na Infância
Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro
Diogo Marcelino é uma criança de seis anos que está aprendendo a ler e a escrever.
Começou a frequentar o 1º ano neste ano e tem uma rotina bem agitada. Depois da
escola, tem aula de natação por duas horas, e a avó é responsável por buscá-lo na
escola de manhã, dar o almoço e levá-lo na natação. Depois, o pai busca no clube e o
deixa na casa de um irmão, onde passa a tarde assistindo televisão. Por fim, quando
sua mãe sai do trabalho, por volta das 18h, passa para pegá-lo e levá-lo para casa.
Contudo, sua rotina não acaba por aí: enquanto ela prepara o jantar, Diogo Marce-
lino faz a tarefa da escola, e, quando não tem, o pai pede que arrume o quarto. Dessa
forma, às 21h, após o jantar, ele está exausto. Dorme e começa a rotina novamente
no dia seguinte. A questão que fica é: com essa rotina cheia de tarefas, ele quase não
brinca. Quais são os impactos disso na aprendizagem e/ou em seu desenvolvimento?
Sabemos que a brincadeira é fundamental na infância e, aos seis anos de idade,
temos a fase do faz de conta, uma brincadeira de representação muito importante
para que a criança organize seus pensamentos, internalize suas aprendizagens
e, assim, desenvolva-se cada vez mais. Sem os momentos de brincadeiras na in-
fância, o sujeito pode ter impactos tanto na aprendizagem escolar como em seu
desenvolvimento da atenção, memória, entre outros.
Sabendo que a aprendizagem é uma necessidade para a criança, enquanto
psicopedagogo(a), o que você poderia sugerir para a família de Diogo Marcelino
para que ele tenha um tempo de brincar?
A partir da sua proposta, anote em seu Diário de Bordo como um momento
de brincadeira na rotina de Diogo Marcelino pode ajudar em sua aprendizagem
e/ou em seu desenvolvimento.
116
UNICESUMAR
Você já parou para analisar a brincadeira de uma criança, caro(a) aluno(a)? Será
que essas brincadeiras suprem suas necessidades ou servem mais às necessi-
dades e expectativas dos adultos? Quais oportunidades reais são oferecidas às
crianças atualmente para o brincar saudável e próspero? Quanto a brincadeira
oferece de liberdade de movimento e de expressão para as crianças? É com base
nessas reflexões que passaremos a compreender mais sobre o brincar ao longo
da infância e os aspectos neuropsicossociais.
É necessário que esse conhecimento seja adquirido para que, enquanto psicope-
dagogos(as), saibamos exatamente o que observar em uma brincadeira infantil.
Por exemplo, como saber fazer a leitura da linguagem da infância — a brinca-
deira — para analisar os aspectos emocionais se eu não sei as implicações que a
117
UNIDADE 4
“
[...] é generalizado entre os psicólogos do desenvolvimento e etólo-
gos que a brincadeira proporciona uma experiência prática essen-
cial para os animais jovens; que eles podem usar os comportamen-
tos que envolvem a brincadeira para desenvolver habilidades que
utilizarão na vida adulta para ter uma vantagem quanto ao potencial
para sua sobrevivência e da sua própria prole. [...]. Quanto mais
complexa a sociedade adulta, mais tempo os animais permanecem
no período de desenvolvimento e mais complexas são as atividades
de brincadeira empregadas por eles (JARVIS, 2011, p. 25).
118
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Caro(a) aluno(a), depois de tantos conceitos e exemplos vistos sobre brincadeiras, você
já consegue distinguir o que é e o que não é brincadeira? Aparentemente, é um conceito
fácil, mas muitos especialistas afirmam não ser, pois a brincadeira está mais relacionada
aos sentimentos do que às ações.
119
UNIDADE 4
120
UNICESUMAR
Com base no exposto, caro(a) aluno(a), eu lhe pergunto: as ações desse aluno
eram brincadeiras ou não? Como você reagiria enquanto mãe/pai, professor(a)
ou mesmo psicopedagogo(a) nessa situação? É comum a repressão dessas ações
e, em alguns casos, até pode levar o sujeito a reprimir o uso de atividades mais
agressivas, mas o que devemos levar em consideração nesses casos e como agir?
Para responder essas perguntas, precisamos entender o que é e o que não é brin-
cadeira. Por isso, esses estudos são tão importantes, e olhar para a brincadeira pelo
viés das emoções é mais eficaz do que se limitar às ações observadas.
Garvey (1977, p. 10) ressalta que, para ser considerada brincadeira, a atividade
deve ser: “agradável para aquele que brinca. Não possui objetivos extrínsecos, sendo
o objetivo intrínseco a busca pela diversão. É espontânea e voluntária. Ela envolve
um comprometimento ativo daquele que brinca”. Dessa forma, se pegarmos o caso
anteriormente citado, vemos os seguintes elementos: os dois alunos se gostavam e
sempre brincavam juntos; ainda que um fosse mais frágil, ele sempre brincava com
o outro de lutinha. Essas observações nos levam a perceber que não se tratava de
brigas, mas, sim, brincadeiras, ainda que duras e brutas; para eles, era agradável, até
121
UNIDADE 4
que um se machucava e daí perdia a graça para ambos, pois não era a intenção; era
uma atividade dos dois, que começava de forma muito natural e sem incentivos,
logo, eles estavam buscando diversão e era voluntário; por fim, ambos participa-
vam de forma a envolver-se nas brincadeiras de forma tão intensa que, às vezes,
o impulso ou a falta de controle dos movimentos acabava machucando o outro.
Mas você pode estar se perguntando: “como atividades agressivas podem ser
consideradas brincadeiras”? Jarvis (2006) explica em sua pesquisa que as brinca-
deiras duras e brutas não só existem, mas são necessárias para o desenvolvimento
da criança. Para a autora, é necessário oferecer o ambiente e a oportunidade
adequada para brincadeiras mais ativas, de uso corporal, para que seja possível
o desenvolvimento saudável da criança e, a longo prazo, o desenvolvimento de
habilidades para a vida adulta.
Infelizmente, cada vez mais, nossa sociedade diminui os espaços para crianças.
Estamos vivendo em prédios, casas geminadas, em que não há mais quintais para
serem explorados, árvores para serem escaladas; as ruas são muito movimentadas
e não possibilitam as brincadeiras com a vizinhança, como bola gol a gol, bets,
esconde-esconde, entre outras; os parques são minorias de espaço pelas cidades e,
assim, tornamos o mundo inviável para as crianças. Os seus espaços de brincadeiras
ficam restritos aos playgrounds de condomínios e demais lugares fechados, como
o shopping center ou em pequenos parques em praças e escolas (JARVIS, 2011).
Por isso, promover boas experiências e garantir as oportunidades de extravasar
as energias acumuladas se fazem cada vez mais necessárias, e, por falta de espaço
diário, devemos investir em qualidade de tempo e de atividades. Se é apenas na
escola que a criança tem acesso ao brincar livre, ao correr, ao escalar e demais brin-
cadeiras de contato corporal, que as experiências sejam de qualidade, isso também
vale para as famílias ao levarem-na ao parque, aos psicopedagogos e psicomotri-
cistas ao realizarem as atividades com corpo e movimento. A linguagem corporal é
muito importante na infância, o movimento é linguagem, então precisamos nutrir
esse corpo com o que é necessário para que seja possível se expressar. Por isso, desde
a tenra idade, já devemos proporcionar as brincadeiras com o corpo de forma a
estimular diferentes posições e explorações corporais, visto que tudo isso implicará
na construção sólida de funções neurológicas da aprendizagem: “a medida em que
as crianças se movem e repetem padrões de movimentos, os movimentos mudam
até que o padrão esteja completo” (JARVIS, 2011, p. 146). Uma aprendizagem se
consolida e novos movimentos e aprendizagens se iniciam.
122
UNICESUMAR
OLHAR CONCEITUAL
Descrição da Imagem: infográfico representando as seguintes fases: “Brincadeira no solo: tanto sobre as
costas quanto sobre a barriga para aumentar o tempo em contato com as superfícies do solo”; “Engatinhar
de barriga: como a primeira ação autodeterminada de deslocamento”; “Engatinhar: uma combinação de
equilíbrio e viagem”; “Empurrar, puxar, esticar, pendurar e escorregar: como as estruturas para a pro-
priocepção, o sentido que fornece retorno instantâneo sobre as ações corporais”; “Girar e balançar: para
construir o sentido vestibular, aquele do equilíbrio e do senso de espaço”.
123
UNIDADE 4
“
Todas as atividades fornecem oportunidades ricas para o vocabulário
ser modelado, para a diversão e o humor acontecerem, para jogos
interativos e imaginativos serem jogados. Músicas e rimas, acompa-
nhadas de brincadeiras duras e brutas, linguagem corporal, cócegas,
todos enviam sinais fortes de que interações verbais são divertidas. Os
bebês logo começam a se engajar em brincadeiras vocais – cantando
sons, fazendo o barulho de engrenagens e telefone antes de serem
capazes de manipular palavras explicitamente (JARVIS, 2011, p. 52).
124
UNICESUMAR
“
1. Ela tem seu próprio conjunto de sinais padrão que indicam “estou
apenas brincando”, incluindo a expressão de brincadeira e a troca de
papéis. 2. Ela não termina na separação dos participantes. 3. A rea-
ção dos participantes da brincadeira social é responder com com-
portamento similar ao invés de um conjunto diferente de padrões
(JARVIS, 2011, p. 31).
125
UNIDADE 4
Quadro 1 - Brincadeiras duras e brutas (D&B) x Comportamentos agressivos / Fonte: Jarvis (2011, p. 33).
126
UNICESUMAR
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UNIDADE 4
128
UNICESUMAR
129
UNIDADE 4
“
A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da in-
fância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais
para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as
interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é
possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação
das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções.
Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as
competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC, seus
direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na Educa-
ção Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situa-
ções nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes
que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas
a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os
outros e o mundo social e natural (BRASIL, 2018, p. 37, grifo nosso).
130
UNICESUMAR
Por meio desse quadro, vemos a brincadeira como condutora das aprendizagens
com os bebês e as crianças bem pequenas nas creches e com as crianças da pré-es-
cola. Aprender sobre as possibilidades que se tem com o corpo — olhos, ouvidos,
membros superiores e inferiores etc. — é muito importante para um bebê de zero a
um ano e meio, pois ele está descobrindo seu corpo — mãos, dedos, pés… — e brin-
car de formar sensorial se torna atrativo e interessante para descobrir seus potenciais
movimentos, gestos e atividades cada vez menos instintivas e mais conscientes. Da
mesma forma, deslocar seu corpo no espaço se faz necessário para os pequeninos
compreenderem as noções de “em cima”,“embaixo” e outras; isso se torna mais eficaz
por meio de brincadeiras que trabalhem esses conceitos — bate palma lá em cima,
bate o pé lá embaixo, pula dentro do círculo, assim por diante (BRASIL, 2018).
131
UNIDADE 4
132
UNICESUMAR
a cada faixa etária, ela se torna mais escassa, sobretudo pelo pensamento de
que “brincadeira é coisa de criança”.
Por esse contexto lúdico da Educação Infantil, algumas pessoas interpre-
tam que não há aprendizagem nessa etapa, apenas brincadeiras, como se fosse
algo insignificante e não passível de aprendizagem. Assim, infelizmente, ouvi-
mos discursos negando o caráter educativo e salientando o assistencialismo,
como se creches e pré-escolas fossem responsáveis só por cuidar de crianças e
que não há aprendizagem. No entanto, você, caro(a) aluno(a), já deve ter per-
cebido que é ao longo dos seis primeiros anos de vida que as grandes janelas
de oportunidades se abrem para o desenvolvimento, e o brincar tem grande
participação (BARTOSZECK, 2007).
Como na Educação Infantil, as atividades são direcionadas, favorecem um
melhor aproveitamento desse período, estimulando de forma adequada para
que a criança se desenvolva globalmente (MELHUISH, 2013). Ainda ouvimos
pais e outras pessoas com discursos depreciativos, como: “na Educação Infantil,
só se brinca”; “no Ensino Fundamental, você verá o que é estudar”; “no Ensino
Fundamental, é coisa séria, não tem brincadeira”. Infelizmente, isso é prejudicial
para a valorização da Educação, aos professores e toda equipe escolar que, cada
vez menos, recebe apoio, investimento e atenção para melhorar o trabalho e,
principalmente, ao aluno, que, além de ser impactado pela falta de valorização
da educação escolar, também pode absorver esses discursos de forma negativa,
com medo e com receio de sair do ambiente que conhece e é tão prazeroso e ir
para um lugar desconhecido e tão sério.
133
UNIDADE 4
PENSANDO JUNTOS
Caro(a) aluno(a), você se lembra de brincadeiras ou momentos lúdicos propostos por seus
professores do Ensino Médio? Eles foram a maioria ou foram exceções?
134
UNICESUMAR
135
UNIDADE 4
“
[...] o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da
criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do com-
portamento habitual de sua idade, além de seu comportamento
diário; no brinquedo é como se fosse maior do que é na realidade.
Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas
as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele
mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.
136
UNICESUMAR
“
[...] a atividade psicomotora, especialmente por meio do jogo, per-
mite que o desempenho psicomotor da criança enquanto joga al-
cance níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao
mesmo tempo favorece a concentração, a atenção, o engajamento
e a imaginação. Como consequência, a criança fica mais calma,
relaxada e aprende a pensar, estimulando sua inteligência. Nesse
contexto, precisamos elucidar os pontos de contato com a realidade,
a fim de que o jogo seja significativo para a criança. Por meio da
observação do desempenho das crianças com seus jogos podemos
avaliar o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico,
manifestam-se suas potencialidades e, ao observá-las, poderemos
enriquecer sua aprendizagem, fornecendo por meio dos jogos os
“nutrientes” do seu desenvolvimento.
137
UNIDADE 4
desenvolvimento, correto? Por mais que até os seis anos de idade nos deparemos
com grandes janelas de oportunidades, não é antecipando a alfabetização que
ajudaremos a criança a ter esse processo de forma mais eficaz e saudável.
Se relembrarmos Piaget (1999), veremos que, nessa idade, a criança ainda
está no estágio sensório motor, caracterizada pela aprendizagem por meio do seu
corpo, do seu mundo, do “eu”. Aqui, o pensamento ainda não é abstrato, logo, qual
é o sentido de se trabalhar com a leitura? Biologicamente, esse cérebro ainda não
tem maturidade para se interessar e aprender sobre a (de)codificação e escrever
corretamente. Mas, então, para que servem as janelas de oportunidades? É para
estimular esse cérebro a curto e longo prazo, assim, na idade adequada, estará
pronto para a alfabetização. Isso deve ser feito de forma a respeitar as condições
de cada fase do desenvolvimento.
Antes de saber ler, o indivíduo deve desenvolver a autopercepção, pois nin-
guém está preparado para aprender sobre o mundo sem saber sobre si. Para
ler, antes, é necessário desenvolver as habilidades relacionadas à noção espacial,
lateralidade, equilíbrio, percepção auditiva e visual, entre outras mais e menos
complexas. Se a alfabetização de fato está programada nos currículos escolares
para iniciar aos seis ou sete anos de idade — faixa etária do
1º e 2º ano do Ensino Fundamental atual —, a preparação
para a leitura deve ocorrer antes, mas não significa que
devemos ensinar a leitura ou cobrar essa habilidade aos
quatro e cinco anos. O que precisamos compreender é
que, para que o sujeito aprenda a ler com eficiência e
qualidade, de forma saudável, precisamos estimular es-
sas habilidades citadas que envolvem
o ato de ler. E como isso acontece?
Por meio da brincadeira.
É por meio das brin-
cadeiras no parque, in-
teragindo, correndo,
escalando, pulando, can-
tando, girando, balançan-
do e conhecendo diferentes
texturas, cores, formas, tama-
nhos e sons que a criança desde
138
UNICESUMAR
“
[...] quando crianças têm dificuldade de postura e de controlar seus
movimentos, acabam tendo dificuldades de atenção e tais caracterís-
ticas podem ser encontradas em crianças que apresentam disgrafia,
pois apresentam dificuldade em relação à organização espacial, não
respeitando os limites das linhas e parágrafos, por exemplo. Breve-
mente, podemos dizer que as habilidades a serem desenvolvidas
são: a relação entre as letras e os sons; a posição de cada letra; sua
localização no espaço; a direção da escrita. Obviamente, existem ou-
tras habilidades envolvidas, mas estas já são suficientes para termos
a noção de que o processo de leitura e escrita englobam habilidades
bastante amplas como o equilíbrio corporal, já citado anteriormen-
te, noções de espaço e tempo, bem como a acuidade visual e audi-
tiva. Mesmo tratando-se de habilidades complexas, elas podem ser
naturalmente vivenciadas e desenvolvidas pelas crianças quando se
permite essa possibilidade através do brincar.
139
UNIDADE 4
140
UNICESUMAR
Ao longo das discussões sobre o brincar, vimos sua relação com o desenvol-
vimento e a aprendizagem, tanto nos aspectos neuropsicossociais quanto peda-
gógicos na perspectiva psicopedagógica. Seja nas escolas ou no ambiente familiar
e nos demais frequentados pelas crianças — parques, centros culturais etc. —,
o(a) psicopedagogo(a) deve considerar a brincadeira como parte fundamental
das construções basilares das habilidades cognitivas. Para além do brincar, ainda
temos as demais atividades lúdicas e que também têm seus valores, inclusive
quando falamos em suas realizações sem o objetivo de educar.
Mesmo quando a criança brinca com seus familiares com uma atividade mais
direcionada pelo adulto ou por colegas e familiares, sem a necessidade de ensinar,
a criança acaba aprendendo algo. Por isso, considerar os momentos lúdicos e de
lazer também é importante para a criança, os seus responsáveis e deve ser de
conhecimento do(a) psicopedagogo(a). Por isso, veremos, a partir de agora, as
atividades recreativas e a relevância na infância.
Considera-se, aqui, atividade recreativa toda aquela realizada de forma es-
pontânea, sem o objetivo de ter aprendizagem e intervenções educativas, bem
como que possui o caráter de hobby, lazer, interação livre com a família, amigos
ou mesmo sozinho (CAMARGO, 1999). Dessa forma, difere-se da brincadeira
que a criança realiza, na maioria das vezes, com representações da sua realidade.
Enquanto o brincar é algo que a criança realiza para suprir suas necessidades,
as atividades recreativas são importantes, mas como uma válvula de escape para
sua energia, um momento voltado para sua qualidade de vida e de tempo com
a família ou mesmo como um passatempo, ainda que individual, para relaxar e
se distrair, por exemplo. O brincar tem a iniciativa da(s) criança(s) e acontece
141
UNIDADE 4
142
UNICESUMAR
143
UNIDADE 4
dos analógicos por virtuais; aumento das atividades na infância — maior tempo
nas creches, frequência de diferentes espaços e casas, atividades extracurriculares
como natação, balé, escolinhas de esporte — e muito mais. Por tudo isso, Jarvis,
Dodds e Brock (2011, p. 353-354) discutem sobre a necessidade de repensarmos
alguns aspectos para a qualidade da infância e ofertarmos:
“
[...] ambientes onde elas estejam seguras e amadas ao mesmo tempo,
e garantir que elas estejam protegidas; tempo e espaço suficiente
para a brincadeira livre; apoio sensivelmente e dar liberdade sufi-
ciente para se engajar em interações sociais independentes, desen-
volvendo relacionamentos positivos com uma ampla extensão de
semelhantes (colegas, amigos, irmãos); a quantidade certa de nível
de ensino estruturado de adultos comprometidos e bem treinados,
apropriado ao próprio estágio de desenvolvimento altamente indi-
vidual das crianças e necessidades contínuas.
Dessa forma, caro(a) aluno(a), essa revisão de hábitos com a criança deve ser
realizada com as escolas, com os pais e com a sociedade como um todo, e o(a)
psicopedagogo(a) tem grande participação nessa ação, visto que pode orientar os
diferentes grupos sobre como proporcionar o aparato do brincar e das atividades
recreativas, salientando a importância de tudo para o desenvolvimento global da
criança e as implicações na aprendizagem e qualidade de vida.
Considerando o exposto, preparamos uma seleção de atividades recreativas
que podem ser indicadas por psicopedagogos(as) aos familiares para desenvolver
com a criança, de acordo com a faixa etária:
Dos zero aos dois anos de idade: como ainda encontramos um sujeito na
fase exploratória e muito dependente de um adulto, as atividades de interação
deverão ser iniciadas e norteadas por um responsável. Como uma das caracte-
rísticas dessas atividades é o vínculo afetivo, o colo é muito importante nessa
faixa etária. Podem ser realizadas atividades de se mover com o bebê no colo,
como uma dança; contação de histórias; músicas; sempre com uso de diferentes
estímulos auditivos, visuais e sinestésicos, para que o bebê aos poucos interaja por
meio de risadas sociais, balbucios, gestos, movimentos voluntários etc.
De dois a seis anos de idade: agora, com uma facilidade de manipulação de
objetos e crescente fortalecimento muscular, as atividades podem envolver mais
144
UNICESUMAR
145
UNIDADE 4
OLHAR CONCEITUAL
Fonte: a autora.
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma discussão sobre a brincadeira. Dessa
vez, o foco foi maior na infância, considerando os aspectos neuropsicossociais e peda-
gógicos que norteiam a aprendizagem e o desenvolvimento ao longo da infância. Tam-
bém, exploramos as atividades recreativas, importantes para os momentos de liberação
da energia acumulada, tempo para descanso e momentos com familiares e amigos de
forma saudável, o que garante um desenvolvimento afetivo e emocional dos sujeitos.
Espero que tenha gostado e aprendido mais sobre o brincar e os seus bene-
fícios. A caminhada até aqui foi prazerosa e interessante, mas ainda não acabou.
Exploraremos de forma mais aprofundada o mundo da imaginação que surge
com a literatura infantil, os benefícios dessa arte significativa para a cultura e para
as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos.
Caro(a) aluno(a), convido você a escolher uma das atividades recreativas
que discutimos e desenvolver com alguma criança que você conheça, podendo
ser filho(a), sobrinho(a), neto(a), primo(a), enteado(a), vizinho(a) ou outras.
Após o desenvolvimento, escreva se foi uma atividade de extravasar ou de rela-
xar, bem como elenque, ao menos, três benefícios que você observou na criança
durante e/ou após a atividade.
146
1. A brincadeira na infância é uma necessidade da criança e, ao mesmo tempo, a aju-
da nas expressões (linguagem) e internalização de conhecimentos. Sabendo disso,
precisamos considerar os aspectos neuropsicossociais intrínsecos nestas atividades.
Portanto, é correto afirmar que:
147
É correto o que se afirma em:
a) V, V, V.
b) F, V, F.
c) V, V, F.
d) F, F, V.
e) V, F, V.
3. As atividades recreativas podem envolver brincadeiras e jogos, mas não param por
aí. Além disso, ainda que contenham brincadeiras, não possuem como característica
a representação que assim se configura por meio de uma necessidade da criança.
Dessa forma, as atividades recreativas são mais atividades de passatempo, seja para
extravasar ou para relaxar, tanto em família, com amigos ou individual. Sabendo disso,
analise as afirmativas a seguir:
I - Podemos dizer que a brincadeira de pular corda com os amigos da rua é uma
atividade recreativa.
II - O faz de conta que a criança desenvolve sozinha, na escola ou em casa sempre
é uma atividade recreativa de relaxamento.
III - Passar o tempo com a família em um piquenique é um exemplo de atividade
recreativa com qualidade de tempo.
IV - Jogar bets na rua com os amigos ajuda a criança a ficar mais descansada e reno-
var suas energias para o dia seguinte.
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
148
5
A Literatura
nos Espaços
Psicopedagógicos
Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro
A Literatura pode ser apresentada ao sujeito desde a tenra idade. Para isso, temos
diferentes gêneros textuais, diferentes materiais de produção de livros e diversas
formas de contar histórias. Na prática psicopedagógica, é muito comum utilizar a
literatura como ponto de partida de uma conversa, da apresentação de conceitos
ou demais trabalhos a serem realizados, sempre de forma lúdica. Mas quais são
as contribuições da literatura para os processos de aprendizagem?
Podemos dizer que “a literatura apresenta um universo ficcional que reflete
a nossa condição humana, ajuda-nos a organizar a nossa experiência, permite
expressar e verbalizar nossas emoções, sensações e vivências que não consegui-
mos nomear” (PORCACCHIA; BARONE; COSTA, 2016, p. 62). Diante dessas
contribuições, o sujeito adquire diferentes conhecimentos ao longo da vida.
Pensando nessas múltiplas possibilidades de aprendizagens que a literatura
nos permite, o que você acha de escolher uma literatura infantil para (re)ler e
verificar suas novas aprendizagens ao fim da leitura?
Com base na escolha da literatura, anote no Diário de Bordo o que você es-
pera aprender e, depois da leitura, anote suas experiências adquiridas:
150
UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
Querido(a) aluno(a), essa é nossa última viagem juntos pelo mundo da ludicidade,
então aproveitemos cada parágrafo sobre a literatura infantil no espaço psicopeda-
gógico. A literatura pode ser utilizada como ferramenta de conhecimento, instru-
mento de lazer, material pedagógico, psicopedagógico e terapêutico, entre muitas
outras funções. Por ser tão versátil, lúdica e acessível em todas as idades, não po-
deríamos deixar de abordá-la na atuação psicopedagógica, seja para avaliações ou
intervenções. Além disso, a literatura trabalha imaginação, afetividade e expressivi-
dade, o que gera muitas aprendizagens, sobretudo se consumida desde a tenra idade.
Por isso, veremos a literatura infantil e as contribuições nas aprendizagens.
A leitura está presente em nossas vidas de maneira muito intrínseca, tanto que
nós, leitores(as), alfabetizados(as) e letrados(as), já nem percebemos. Começamos
a ler quando acordamos e só paramos ao dormir. Seja para ver as horas, ler o
noticiário impresso, ver a linha do ônibus que temos que entrar... até as receitas,
rótulos e demais escritas a que precisamos estar atentos no cotidiano. Nesse meio,
a criança e o adolescente aprendem a conviver e lidar com as situações de leitura
e escrita desde muito pequenos, primeiro nos observando, depois notando as
formas de escritas, até de fato utilizá-las.
151
UNIDADE 5
Por isso, é importante que a criança que está diariamente em contato com esse
mundo grafocêntrico aprenda a lidar com ele, aos poucos, no seu tempo, mas sem-
pre com a ajuda dos adultos. Para tanto, podemos utilizar a literatura infantil, que,
além de proporcionar o contato da criança com as letras, palavras e textos, ajuda a
compreender sua função social, a discriminar letras, números e desenhos, instiga a
imaginação, curiosidade e gosto pela leitura, ajudando, inclusive, a lidar com senti-
mentos e conflitos da infância — medo, raiva, autonomia, organização etc.
Segundo Coelho (2000), a literatura infantil se diferencia das demais — in-
fanto-juvenil e adulta — somente pela natureza do leitor, que, nesse caso, são as
crianças, mas a essência da literatura permanece a mesma. Escolher a literatura
certa para cada faixa etária, porém, é essencial para que o sujeito se interesse me-
diante os elementos que se apresentam na história, o vocabulário e demais aspec-
tos. De forma geral, as literaturas possuem os mesmos elementos compositores,
tais como a história, os personagens, um espaço e uma linguagem temporal, que
possui como objetivo a comunicação com o leitor (COELHO, 2000). Algumas
características da literatura infantil proporcionam maior proximidade do leitor/
ouvinte com a história, sendo o caráter imaginoso, a técnica do desenvolvimento,
o dramatismo e a linguagem.
O desenvolvimento da comunicação ocorre por meio das interações sociais
desde que nascemos. De acordo com Vygotsky (2000, p. 11), “a função da lingua-
gem é a comunicativa. A linguagem é, antes de tudo, um meio de comunicação
social, de enunciação e compreensão”. Diante disso, entendemos que a linguagem
deverá ser utilizada como meio para que o processo de aprendizagem ocorra e
utilizar diferentes instrumentos que trabalhem a escuta e a fala.
PENSANDO JUNTOS
Caro(a) aluno(a), se podemos oferecer a literatura infantil desde a tenra idade, como fazer
isso de forma agradável aos bebês e às crianças pequenas que ainda não foram alfabetiza-
das? É importante que todos os alunos tenham contato com os livros, manipulem-nos, fo-
lheiem as páginas e observem as imagens e palavras, ainda que não saibam decodificá-las
152
UNICESUMAR
oral, desenvolvam-se. Nesse mesmo aspecto, por meio da literatura com rodas de
conversa, seja em casa, na escola ou no atendimento psicopedagógico, podemos
unir a interação e o desenvolvimento da linguagem oral. As crianças, até os seis
anos de idade, geralmente, ainda não dominam as habilidades de leitura e escrita.
Dessa forma, precisam que alguém alfabetizado faça leituras e contações de história.
No entanto, ao se trabalhar com a oralidade, devemos nos atentar a dois
pontos importantes: 1) a criança já utiliza, ainda que não domine totalmente, a
linguagem oral, diante disso, essa forma de comunicação deverá ser explorada;
2) a oralidade deverá ser utilizada como ferramenta para a mediação do conhe-
cimento letrado (SCHMIDT; MARQUES; COSTA, 2003).
Entendemos, dessa forma, que a literatura infantil é um recurso que pode ser
explorado, a fim de que as crianças obtenham um desenvolvimento humanizado,
ou seja, que tenham oportunidades de aprendizagens significativas. Compactuan-
do com essa ideia, Faria (2004, p. 12) afirma:
“
[...] o texto literário é polissêmico, pois sua leitura provoca no leitor
reações diversas, que vão do prazer emocional ao intelectual. Além
de simplesmente fornecer informação sobre diferentes temas - his-
tóricos, sociais, existenciais e éticos, por exemplo -, eles também
oferecem vários outros tipos de satisfação ao leitor: adquirir conhe-
cimentos variados, viver situações existenciais [...].
“
Como a literatura infantil prescinde do imaginário das crianças, sua
importância se dá a partir do momento em que elas tomam con-
tato oralmente com as histórias, e não somente quando se tornam
153
UNIDADE 5
“
Não negamos a possibilidade de ensinar literatura e escrita às crianças
em idade pré-escolar, pelo contrário, achamos desejável que as crianças
mais novas entrem na escola, uma vez que já são capazes de ler e escre-
ver. No entanto, o ensino tem de ser organizado de forma que a leitura
e a escrita se tornem necessárias às crianças. [...] deve ser incorporada
a uma tarefa necessária e relevante para a vida. Só então poderemos
estar certos de que ela se desenvolverá não como hábitos de mãos e
dedos, mas como uma forma nova e complexa de linguagem.
154
UNICESUMAR
cação que a criança aprende; quando a mãe estica os braços em direção ao berço,
a criança já se curva em sua direção, pois, com o tempo, aprende que aquele gesto
significa que a mãe o pegará. Esses movimentos específicos ficam cada vez mais
elaborados e cheios de significados, construídos socialmente (VYGOTSKY, 2000).
Vygotsky (1999) exemplificava a relação dos gestos com a escrita por meio de
uma experiência realizada. Segundo o autor, ao pedir que uma criança de apro-
ximadamente três anos de idade — que ainda não sabia escrever e que ainda não
dava formas aos seus desenhos — desenhasse o ato de correr, ela realizou rabiscos
circulares e desordenados. Ao se deparar com esse pedido, as crianças logo imagi-
nam alguém ou algo correndo, por exemplo, um carro. Os rabiscos desordenados,
na verdade, são os gestos que a criança faz do percurso com o carro de brinquedo.
Diante dessas representações, Vygotsky (1999) considerava os primeiros ra-
biscos das crianças como gestos, e não desenhos. Os três elementos da escrita
estão interligados o tempo todo. A criança usa o gesto para desenhar. Logo, pode-
mos considerar que a brincadeira/o jogo esteve relacionada(o) ao desenho, pois
o gesto registrado é realizado durante as brincadeiras da criança, sendo possível
identificar nesse registro o gesto, a brincadeira e o desenho.
NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 5
(1999, p. 122), “uma troca de roupa [...] torna-se, num jogo, um bebê, porque
os mesmos gestos que representam o segurar uma criança [...] podem ser apli-
cados a eles”. Assim, o movimento da própria criança — seus gestos — é que
atribui função e significado ao objeto. Por isso, precisamos enriquecer essa
linguagem, a princípio, gestos e brincadeiras, por meio de instrumentos que
incentivem a imaginação, vocabulário e repertórios — de gestos, de brincadei-
ras etc. —, assim a literatura se torna fundamental.
As crianças desenham o que conhecem e o que não conhecem. De acordo
com Vygotsky (1999, p. 127), se pedirmos a elas que desenhem a pessoa que está
à sua frente, desenharão uma pessoa sem sequer olhar para ela: “as crianças não
se preocupam muito com a representação; elas são mais simbolistas do que natu-
ralistas [...]”. Com o tempo, elas conseguem representar em seus desenhos ideias
mais complexas de forma mais elaborada, com mais detalhes. A partir de então,
os gestos são substituídos por representações mentais dos objetos. Nesta fase, ao
pedir que a criança desenhe o ato de correr, ela fará o desenho do carro em uma
rua ou de uma pessoa correndo, e não do gesto utilizado em suas brincadeiras.
Aos poucos, a criança cria consciência de que seus desenhos significam algo.
Assim, descobrem que, além de desenhar objetos, também podem “desenhar” a
fala. A escrita é um simbolismo de segunda ordem que gradualmente se
torna simbolismo direto, ou seja, a criança, para escrever a palavra “casa”, pri-
meiro, imagina o objeto, tendo a
necessidade de falar o nome
e, depois, escrever.
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Por meio dos livros, podemos apresentar as letras, ensinar que são elas que for-
mam as palavras e que, assim, conseguimos expressar ideias às outras pessoas.
Esse contato das crianças com as letras se torna saudável pelo fato de ser lúdico,
pois há uma história a ser contada que foi registrada por meio de palavras/le-
tras, essa história proporciona a imaginação e a representação nas brincadeiras,
contribuindo para o desenvolvimento de diferentes linguagens e a criatividade.
De acordo com Sosa (1978), a literatura deve ter alguns elementos fundamentais
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“
Uma última inferência que se pode tirar do conceito de letramento, é que
um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto é, ser analfabeto, mas ser,
de certa forma, letrado (atribuindo a este adjetivo sentido vinculado a le-
tramento). Assim, um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado
social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a leitura e
a escrita têm presença forte, se se interessa em ouvir a leitura de jornais
feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros lêem para ele, se
dita cartas para que um alfabetizado as escreva (e é significativo que, em
geral, dita usando vocabulário e estruturas próprios da língua escrita),
se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum
lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita,
envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita (SOARES, 2010, p. 24).
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Soares (2010) ainda ressalta que, com a criança, não é diferente, pois, se ela tem
acesso a livros e demais materiais impressos, manuseia com interesse e sabe de
suas funções, significa que, mesmo sem saber ler e escrever, já pode ser conside-
rada letrada. Apesar de não saberem ler e escrever palavras, muitas crianças de
três ou quatro anos já sabem o que as placas significam e para que servem, ou seja,
elas leem as placas — proibido estacionar — e sabem a função delas — evitar que
pessoas estacionem naquele ponto por um determinado motivo.
É esse letramento que devemos trabalhar até os seis anos de idade, por exem-
plo, antes do ensino da (de)codificação. Ensinar a criança a interpretar o mun-
do à sua volta. Essa prática deve acontecer por meio do lúdico, assim a literatura
é um ótimo instrumento para que o adulto utilize e passe informações, além de
ensinar as crianças a interpretarem o que a história traz. Nessa fase, a leitura da
história é realizada por um contador, o que proporciona maior atenção por parte
das crianças, provoca reflexões acerca do tema lido e ajuda a trabalhar com as
formas de recontar as histórias de diversas formas (LEMLE, 2009).
Se bem escolhida, a literatura proporciona ao aluno imaginar a história, os
personagens e suas aventuras, bem como fazer relação com outros contos, com
a vida pessoal, visto que a literatura infantil aborda muitos aspectos cotidianos
das crianças, seus conflitos internos e as características da infância. Assim, fica
fácil de se interessarem pelos livros e quererem ouvir cada vez mais histórias e
folhear muitos outros.
A literatura infantil é, portanto, uma riquíssima ferramenta que ajuda a ofere-
cermos diferentes estímulos para crianças de diferentes idades, desde os elemen-
tos visuais com os livros mais simples, até os auditivos e sensoriais, com livros que
possuem recursos sonoros, texturas, entre outros. Esses materiais possibilitam
o desenvolvimento dos sentidos. Por meio do corpo, as crianças sentem o am-
biente e recebem as informações; depois, por meio da cognição, interagem com
o meio e o transformam, podemos considerar que esse exemplo é a síntese da
aprendizagem e do desenvolvimento humano (FONSECA, 2008). É por meio
dos sentidos que começa a aprendizagem de diversos conteúdos. As crianças
são curiosas e sentem a necessidade de tocar, ver de perto, experimentar e sentir
o que apresentamos de novo, assim a educação dos sentidos se faz necessária.
Por meio da literatura, há muito o que ser explorado: ritmos, cheiros, sensa-
ções, entre outros aspectos que são ofertados pela história e pelo próprio livro. O
contato das crianças com os livros é de suma importância; desde a tenra idade,
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“
As diferentes linguagens presentes nas atividades
realizadas nas creches e pré-escolas possibilitam às
crianças trocar observações, ideias e planos. Como
sistemas de representação, essas linguagens esta-
belecem novos recursos de aprendizagem, pois
se integram às funções psicológicas superiores e
as transformam. Com isso ocorre uma reorgani-
zação radical nos interesses e exigências infantis,
modificando a relação existente entre a ação e o
pensamento infantil (OLIVEIRA, 2002, p. 227).
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“
A criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, e com bele-
za, para organizar seu “mundo mágico”, seu universo possível, onde
ela é dona absoluta: constrói e destrói. Constrói e cria, realizando
tudo o que ela deseja. A imaginação bem motivada é uma fonte de
libertação, com riqueza. É uma forma de conquista de liberdade,
que produzirá bons frutos, como a terra agreste, que se aduba e
enriquece, produz frutos sazonados.
É por meio de uma boa contação de história que a criança sente motivação para
se interessar pelas narrativas e, quando maior, por ler sozinha. Dessa forma, a
literatura infantil propicia um caráter imaginoso, misturando fantasia e realidade,
enquanto a contação provoca a curiosidade e interesse. Podemos ver esse misto de
realidade e fantasia em diferentes gêneros textuais, como fábulas, contos e lendas,
mas como já pudemos perceber, sendo esse instrumento importante desde a tenra
idade, é necessário que alguém alfabetizado comece as leituras lá com os bebês e
prossiga até que a própria criança, alfabetizada, consiga ter a iniciativa das leituras.
Em muitos casos, não basta que a literatura seja boa, principalmente, com as
crianças até os seis anos de idade, que dependem do contador da história — pais, ir-
mãos, tios, professores e demais. Nesse contexto, a arte da literatura se encontra com
a arte de contar história. Isso também ocorre no acompanhamento psicopedagógico,
pois, se o profissional quer utilizar a literatura como ponto de partida para uma
aprendizagem, é necessário fornecer meios que instiguem o sujeito a se relacionar
bem com as histórias, personagens, tempo, espaço e demais elementos essenciais.
Muitas crianças gostam de interagir com livros e literaturas, pois se sentem
desafiadas pelas aventuras da história. Isso facilita para o adulto ajudar a criança
a despertar o gosto pela literacia, contudo a mesma forma de contação em todas
as vezes pode levar a uma rotina, o que se torna desinteressante no momento que
deveria ser lúdico, levando à falta de atenção e demais formas de demonstração
de insatisfação. Por isso, precisamos conhecer diferentes formas de contar uma
história e de formas atrativas. Entre alguns recursos que podemos utilizar, estão:
caixa surpresa; varal e avental de história; palitoches e teatro de fantoches, que já
vimos em discussões passadas.
Além de utilizar em seu atendimento com a criança, o(a) psicopedagogo(a)
deve pensar nas alternativas de intervenção com a família, envolvendo a criança,
que pode utilizar a literatura e contação de histórias para momentos de lazer, de
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tentarão os membros e a cabeça do boneco, que pode ser feito de tecidos e espuma.
O interessante é que os bonecos e fantoches proporcionem uma maior interação e
aproximação do sujeito com os personagens da história, e ele mesmo pode manipu-
lá-los depois ou confeccioná-los, de forma a trabalhar com diferentes habilidades.
Como mencionado por Rodrigues (2012), as adaptações dos fantoches propor-
cionaram o surgimento de dedoches, palitoches, bonecos de papel (como se fossem
dobraduras), entre outros mais simples e acessíveis para diferentes públicos. Assim,
pensando na prática psicopedagógica, podemos trabalhar com a imaginação, a
linguagem, a expressão de sentimentos e pensamentos durante a interação sujei-
to-história-personagem, bem como a criatividade, a coordenação motora fina e
demais habilidades motoras na elaboração dos
personagens e a atenção, a memória, a
percepção no momentos em que
o sujeito está ouvindo a literatura
e vendo o boneco.
Passamos, agora, a explorar
sobre o guarda-chuva da lei-
tura, que pode ser produzido de
maneira neutra, com um cenário
comum a diferentes literaturas,
como um parque, um bosque, uma
cidade, uma escola ou qualquer outro
local em que se pode passar mais de uma
história. Esse recurso é confeccionado a par-
tir de um guarda-chuva ou guarda-sol que te-
nha cores e/ou estampas que possam compor o
cenário a ser construído nele, por exemplo, o azul
do céu ou do mar, as flores do chão de um bosque
e assim por diante. Os elementos de composição
do cenário podem ser fixos, como árvores e cons-
truções, e temos a opção de deixar velcros cola-
dos para fixar esses elementos e os personagens
à medida em que aparecem na contação.
Por também contar com materiais de fácil
acesso, podemos deixar que o sujeito confeccio-
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“
Ao contar uma história abordando temas que remetem a valores,
amizade, preconceito, etc., articulam-se recursos simbólicos para
possibilitar a produção de significados ou ação sobre si, sobre os
outros e/ou sobre a realidade compartilhada. Aprender a usar os
recursos simbólicos possibilita a incorporação de novas esferas de
experiências sociais conectadas à experiência emocional atrelada ao
processo de imaginação (PERES; NAVES; BORGES, 2018, p. 152).
Todo o processo de criação do homem advém da imaginação, que, por sua vez,
está relacionada com os aspectos socioculturais do sujeito. Dessa forma, pre-
cisamos estimular a criança a ter seus processos criativos reais e simbólicos.
Costumamos ouvir que as crianças têm grande imaginação, mas, apesar de já
termos essa capacidade em nosso código genético, precisamos ser expostos às
necessidades de imaginação para, então, desenvolvê-la. Dessa forma, não é o fato
de ser criança ou adulto que determina ser mais ou menos criativo, mas, sim, as
condições sociais e culturais que permitem que o sujeito tenha essas experiências.
Peres, Naves e Borges (2018) salientam que a criança que está imersa em
uma cultura semiótica desde o nascimento e que é permeada por signos tem
maior possibilidade de aprendizagens e desenvolvimentos, desde que também
tenha a mediação dos signos e do outro. Em outras palavras, não basta estar
em contato com a contação de história, com brinquedos e com brincadeiras.
Apenas isso não favorecerá o desenvolvimento da linguagem, da imaginação,
da criatividade e assim por diante.
É por meio da interação sujeito-meio-literatura ou outras formas lúdicas
que envolvam elementos imaginativos, permeados de linguagem que ajudem
essa ligação, que a criança é exposta a experiências que de fato proporcionam o
desenvolvimento da imaginação. Para Vygotsky (2010, p. 203), “tudo o que co-
nhecemos do que não houve na nossa experiência nós o conhecemos através da
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UNIDADE 5
imaginação”. Isso ocorre porque, ao longo de nossa vida, alguém, por meio da
linguagem, fez a mediação de conhecimentos básicos sobre essas experiências e
nos permitiu imaginar como pode ser.
Nesse contexto, Luria (1998) afirmava que a linguagem nos ajuda a organizar
nosso pensamento e as demais atividades psicológicas. O que no princípio de
nossas vidas é apenas um meio de comunicação para compreender o outro e se
fazer compreender passa a ser utilizado para codificar experiências, e, por isso,
a imaginação pode ser considerada uma forma de pensamento (lógico-verbal)
ligada a experiências práticas.
Há duas formas de atividades criadoras: a) reprodutiva, ou da memória;
b) combinatória, ou criadora. A primeira tem base na repetição, na memória e
nas lembranças. Ela ocorre por meio da constituição da plasticidade, que permite
que ela seja modificada e conservada ao mesmo tempo. É por meio da atividade
reprodutiva que a criança elabora a atividade criadora, pois
“
[...] quando ela brinca, não apenas recorda as experiências viven-
ciadas, mas as reelabora de forma criativa. A atividade criadora do
ser humano tem como resultado a criação de novas imagens ou
ações, e não a reprodução de impressões ou ações anteriores à sua
experiência. É chamada de atividade criadora do humano aquela
em que se cria algo novo (ZITTOUN, 2016, p. 153).
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“
[...] na psique infantil o imaginário e a fantasia podem ser liberados
pelo contato literário (escrita, audição ou leitura), pois são consti-
tutivos da atividade criadora da criança sobre a realidade. Existe,
portanto, um caminho para chegar ao prazer estético, que na criança
passa pela influência do literário, da brincadeira, dos jogos em seu
imaginário, em sua fantasia, mas que se manifesta como atuação no
mundo, como linguagem (CALDIN, 2001, p. 59).
Dessa forma, a criança também pode ser beneficiada com a literatura com função
terapêutica e, antes disso, como um instrumento de identificação de problemas
e dificuldades que ela talvez não saiba expressar. Nesse sentido, Gillig (1999)
desenvolveu uma pesquisa de cunho psicopedagógico envolvendo a literatu-
ra infantil para a identificação de dificuldades escolares e a função terapêutica
da leitura. Segundo o referido autor, a dificuldade escolar pode ser interpretada
“como uma barreira entre seu mundo, ainda fechado por razões ligadas tanto ao
psicoafetivo quanto ao social, e o espaço escolar, que simboliza a cultura onde
têm êxito aqueles que sabem decodificar os seus segredos” (GILLIG, 1999, p. 19).
Isso acaba impactando não apenas o processo de aprendizagens escolares, mas
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“
Ana Clara tinha dificuldade para falar de si mesma, sentia-se incapaz
para a realização de novas tarefas, não acreditava em seu potencial,
sentia-se inferiorizada em relação às demais pessoas, não falava muito
e era tímida. Demonstrava muito carinho pelas pessoas à sua volta,
sentia necessidade de abraçar e beijar, a todo momento gostava de
ser elogiada em suas atividades. Os primeiros atendimentos de Ana
Clara se deram por análises de desenhos e busca de compreender
como se davam os vínculos de afetividade. [...] Durante as sessões de
avaliação, foi possível perceber que Ana Clara gostava muito de ouvir
histórias e apreciava as leituras, embora tivesse dificuldades quan-
do ela própria devia ler os textos sugeridos durante a atividade. Mas
gostava de narrar diversas histórias e entrar no mundo da fantasia.
Baseando-se nessas percepções, durante as sessões de intervenção,
o trabalho realizado foi através da literatura em diferentes formas,
para que Ana Clara pudesse se sentir mais confiante em si mesma,
entrar no mundo da fantasia dos contos e das mais diversas leituras,
trabalhando sua percepção, autonomia, leitura e escrita, de modo di-
nâmico, para que o aprendizado pudesse acontecer de uma maneira
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“
A utilização de literatura infantil foi muito positiva durante a inter-
venção psicopedagógica, pois representou instrumento principal
de auxílio durante as sessões, levando tanto a paciente quanto a
psicopedagoga à reflexão sobre a afetividade, os motivos das di-
ficuldades, e para que a intervenção pudesse ser de fato realizada.
Os resultados do atendimento foram satisfatórios para a paciente,
sua interação com as atividades propostas foi, sem dúvida alguma,
muito relevante, e ela foi adquirindo autonomia e se percebendo
diante do mundo (PESSOA; ANDRADE; BARONE, 2017, p. 195).
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“
Nos primeiros encontros, ele permanecia em silêncio, apenas olhan-
do atentamente para a psicopedagoga. Quando questionado, tinha
respostas curtas, como: “sim”, “não”, “não sei”. Nas sessões, ele apre-
sentava-se como o bebê de sua mãe e, na escola, sofria bullying,
queixando-se de ser zoado e isolado pela turma. Na tentativa de ser
aceito pelos colegas, a eles se submetia, assumindo o lugar de bobo
da classe ou, então, se mantinha isolado e sozinho a maior parte do
tempo. Até que, em uma sessão, ele demonstrou seu gosto pela lei-
tura de literatura (PORCACCHIA; BARONE; COSTA, 2016, p. 64).
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Vemos, portanto, que ele tinha algumas dificuldades escolares que advinham de
seu relacionamento social dentro da escola. Ao mencionar o gosto pela leitura,
a equipe passou a se organizar para trabalhar com literaturas de sua faixa etária,
selecionando: O tolo, de Nicolai Leskov, e O arco, de Fiódor Sologub. A princípio,
a leitura foi realizada pela psicopedagoga, o adolescente apenas escutava e sorria
em alguns momentos (PORCACCHIA; BARONE; COSTA, 2016).
De acordo com as autoras, em certa sessão, o adolescente se identificou com
uma passagem da história O tolo e pôs-se a falar sobre si, como era tratado na es-
cola e como se sentia em relação a isso. A partir de outros trechos de identificação
com essa e a outra literatura, foi possível o trabalho multidisciplinar, ajudando a
lidar com os aspectos afetivos, sociais e que implicavam no seu processo de apren-
dizagem. De acordo com Porcacchia, Barone e Costa (2016, p. 64), a conclusão a
que se pode chegar com esse caso é que
“
O texto literário fez com que o adolescente se percebesse de outro
lugar, e que numa fase seguida à leitura, ele se implicou, permitindo-
-se falar um pouco de si mesmo. Ele se mostrava numa passividade,
depois da história ele se apresenta de maneira diferente. Parece que a
leitura do texto literário teve uma potência de colocar em crise algu-
ma representação que o adolescente tinha dele mesmo, permitindo
se colocar de maneira diferente diante das questões da realidade da
vida. Nesta intervenção psicopedagógica, a literatura foi importante
e fundamental porque criou espaços que favoreceram a construção
de um bom vínculo entre o adolescente e a psicopedagoga, possibi-
litando momentos lúdicos e criativos que o ajudaram nas reflexões
sobre si mesmo rumo a sua autonomia e autoria de pensamento.
Propiciou, também, a construção de seus conhecimentos cognitivos
e o interesse pelo significado das palavras, [...] como uma terceira
face significativa da literatura.
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Pensando que a literatura tem diferentes funções, como proporcionar conhecimento,
ter um efeito terapêutico ou estabelecer laços com a família nos momentos de contação
de histórias, proponho, como um momento de sua autoavaliação, que elabore um mapa
mental, em que você pode inserir diferentes funções da literatura que aprendeu ao longo
das nossas discussões.
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#REFERÊNCIAS# #UNIDADE 5#
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UNIDADE 1
Insira, em cada linha, respectivamente, três brincadeiras, três brinquedos e três histórias
de sua infância, por exemplo: a) ciranda de roda, pega-pega e esconde-esconde; b) boneca,
casinha de boneca e bilboquê; c) A Bela e a Fera, Chapeuzinho Vermelho e O Mágico de Oz.
UNIDADE 2
196
UNIDADE 3
Fonte: a autora.
UNIDADE 4
197
psicológicas superiores como percepção, memória, linguagem, praxia e pensamento,
por meio de atividades que envolvam regras, comandos e ações direcionadas por
outras pessoas, brincadeiras livres e muito mais.
3. B. Podemos, sim, dizer que a brincadeira de pular corda com os amigos da rua é uma
atividade recreativa, visto que não há intenção de aprender algo ou de representar
uma aprendizagem, necessariamente. Ao contrário do faz de conta, em que a criança
desenvolve sozinha, na escola ou em casa, e que, na maioria das vezes, é uma brin-
cadeira de representação do que ela aprendeu ou de algo que ela está pensando,
sentindo etc. Passar o tempo com a família em um piquenique é um ótimo exemplo
de atividade recreativa, pois não é uma brincadeira necessária para a linguagem da
criança, por exemplo, mas, sim, trabalha os laços, as habilidades emocionais e sociais,
bem como é acompanhada da qualidade de tempo que os sujeitos possuem na com-
panhia um do outro. Jogar bets na rua com os amigos ajuda a criança a extravasar
a energia, o que a deixa fisicamente cansada, e, para renovar suas energias para o
dia seguinte, é preciso uma atividade menos intensa e uma boa noite de descanso.
198
UNIDADE 5
b. Efeito terapêutico: visto que o sujeito se conecta com ele mesmo, suas emo-
ções e seus pensamentos a partir das experiências que a literatura proporciona.
Fonte: a autora.
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