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Aconselhamento

Cristão
PROFESSOR
Me. Eugênio Soria de Anunciação

ACESSE AQUI O SEU


LIVRO NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE

FICHA CATALOGRÁFICA

Coordenador(a) de Conteúdo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Roney de Carvalho Luiz Núcleo de Educação a Distância. ANUNCIAÇÃO, Eugênio
Soria de.
Projeto Gráfico e Capa
André Morais, Arthur Cantareli e Aconselhamento Cristão. Eugênio Soria de Anunciação.
Maringá - PR: Unicesumar, 2022. Reimpresso em 2023.
Matheus Silva
Editoração 216 p.
Piera Consalter Paoliello ISBN 978-85-459-2315-2
Design Educacional
“Graduação - EaD”.
Jociane Karise Benedett
1. Aconselhamento 2. Cristão 3. Conselheiro. 4. EaD. I. Título.
Revisão Textual
Carlos Augusto Brito Oliveira
CDD - 22 ed. 209
Curadoria
Fabiana Bruna Gozer Dias
Ilustração
Eduardo Aparecido Alves Impresso por:
Fotos
Shutterstock Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
02511308
Eugênio Soria de Anunciação
Olá, querido aluno e querida aluna! Eu sou o Eugênio
n ncia ão, filho do Pa lo nio e da isa, irmão do
César e da Claudia, marido da Aletheya e pai do Caio. Amo
tecnologia, comportamento humano e diálogo intercul-
tural e interreligioso. Em um mundo cheio de diferenças,
nada melhor do que aprender com aquele que pensa e
enxerga a vida de maneira diferente da minha. Em termos
de cinema, sou fã de Star Wars, de séries, fã de Stran-
ger Things (o que foi o volume 1 da 4ª temporada???), de
literat ra, aficcionado pela escrita de ar i M ra ami,
em especial, a trilogia “1Q84” e “O Elefante desaparece”.
Em termos de música, amo Jazz, em especial Duke Elling-
ton – “In a sentimental mood”. Na área da teologia, gosto
demais de Paul Tillich, em especial, a sua Teologia Siste-
mática, e os diversos escritos de Emil Brunner. Na área
acadêmica, sou formado em Teologia, com Pós-Gradua-
ção em Gestão do Terceiro Setor e Mestrado em Análise
do Comportamento Aplicada, com ênfase em engenharia
de sistemas comportamentais. Tudo isso está relacionado
ao ee fi e a o na minha ida mais importante,
a compreensão que eu tenho de quem eu sou em Cristo:
uma nova criatura. Amo estar com pessoas e amo reali-
zar tarefas. Toda a minha experiência sempre envolveu o
relacionamento com pessoas. A minha formação pessoal
me permitiu ser fascinado pela incrível complexidade do
ser humano, o que me conduziu para a minha formação
acad mica e profissional ssa tra et ria pode ser trad -
zida em uma palavra: “facilitação”. Esta é a minha missão
de vida. Em um mundo complexo e muitas vezes confu-
so, o me desafio pessoal acilitar para e as coisas
complicadas se tornem menos confusas para as pessoas.
Ajudando a elas, eu estou ajudando a mim.
ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Aconselhamento Cristão. Em um primeiro momento, parece que vamos ensinar a você


como falar o que as pessoas precisam ouvir para terem as suas vidas mudadas… espero
que não seja essa a sua expectativa, porque aconselhamento cristão tem mais a ver com
ouvir do que com falar, propriamente dito. Diante disso tudo, qual é a função do Acon-
selhamento Cristão em uma grade curricular de Teologia, e como isso pode contribuir
para o seu desenvolvimento acadêmico e ministerial? Nesta matéria, vamos descobrir
como isso é possível! Antes de mais nada, preciso que você responda a seguinte pergunta
para si mesmo: “como você aprendeu a ouvir o Espírito Santo, e as pessoas?”
Tendo como ponto de partida a pergunta inicial proposta, vamos olhar com atenção
para o ser h mano, afinal, para aprendermos a o ir as pessoas, precisamos entender
como elas pensam, sentem e reagem. Partindo deste ponto, vamos aprender juntos
e o aconselhamento cristão tem como rande desafio para o conselheiro cristão, a
habilidade de ouvir o Espírito Santo e de ouvir as pessoas.
Espero que você esteja tão empolgado quanto eu para caminharmos juntos e cons-
truirmos coletivamente o conhecimento. Um conceito que será bastante utilizado neste
material é o dos “efeitos noéticos do pecado”. Você já ouviu ou leu sobre este conceito
bíblico-teológico? Ele é amplamente utilizado na antropologia teológica. Para cons-
truirmos juntos o conhecimento, quero convidar você a realizar uma pesquisa sobre
os e eitos no ticos do pecado e e anote os si nificados encontrados na pes isa
e ita sobre os res ltados da s a pes isa sobre os e eitos no ticos do pecado
e tente estabelecer conexões sobre como este conceito pode dialogar com o aconse-
lhamento cristão e a capelania cristã. Isso ajudará você a construir o conhecimento por
experiência própria. Quando esse conhecimento é construído a partir da sua curiosi-
dade, ele se torna algo que pertence a você!
Falando em conhecimento, que tal adquirirmos uma noção do que trabalharemos
em cada unidade deste material? Vamos lá! Na unidade 1, vamos lançar um olhar es-
pecial sobre o conceito das emoções humanas a partir do olhar da Psicologia, Análise
do Comportamento e, principalmente, da Bíblia. O segundo conceito são os “efeitos
noéticos do pecado”, que nos auxiliam na compreensão das reações humanas diante
de Deus, de si mesmo, dos outros e da natureza. Compreender a interação entre as
emoções humanas e os efeitos noéticos do pecado é uma ferramenta poderosa para
o conselheiro cristão.
Já na Unidade 2, vamos estudar sobre as bases do aconselhamento e da capelania
cristã a partir de conceitos históricos e áreas de atuação atuais. Na Unidade 3, tendo
Cristo como nosso exemplo e foco, olharemos com atenção para as sete habilidades
de aconselhamento que devem ser desenvolvidas pelo conselheiro e capelão, além
dos sete elementos b sicos para a s a at a ão a nidade , amos identificar a
importância do autoconhecimento para o aconselhamento cristão, em três conceitos
m ito claros e definidos pela eolo ia, e ser irão de base para as oito pr ticas em
aconselhamento que são determinantes para a atuação do conselheiro e do capelão,
na condução das pessoas ao conhecimento de Deus e de si mesmas, em Jesus.
Por fim, na nidade , amos tratar de temas e procedimentos, em especial, m
olhar atento às relações familiares como promotoras de saúde ou doença emocional,
como resultado dos efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano afastado de Deus.
om rela ão aos procedimentos, amos abordar especificamente dois temas e mais
exigem demanda do conselheiro cristão e do capelão cristão: crises conjugais e luto.
Neste livro que você tem em mãos, vamos caminhar durante cinco unidades, na
construção conjunta deste conhecimento – eu apresento algumas experiências minhas
e compartilho um pouco do conhecimento adquirido, e você, aluno e aluna, compartilha
também as suas percepções a partir das suas experiências. Esse trabalho em conjunto
auxiliará você a compreender de maneira prática como o trabalho ministerial de acon-
selhamento, ou capelania, pode ser desenvolvido, não apenas no ambiente eclesiástico,
mas também em empresas, escolas, hospitais e tantos outros lugares onde haja pes-
soas que precisam ser ouvidas. Agora, é sua vez de agir: lendo, compartilhando suas
experiências e praticando o conteúdo aprendido.
Espero que você seja abençoado nesta nossa caminhada, muito mais do que eu fui
abençoado na produção deste material. Quero que você saiba que o texto foi produzido
em oração e busca da direção de Deus para as nossas vidas! Leia o conteúdo deste
livro com carinho e atenção! Sei que será uma bênção na sua vida! Aproveitando, entre
em contato para nos contar o que você usou na prática do conteúdo aprendido e que
considera que foi de fundamental importância na experiência do aconselhamento ou
capelania.
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS

empre e encontrar esse cone, Ao longo do livro, você será convida-


este a conectado internet e inicie do a a re etir, estionar e trans-
o aplicati o nices mar perien- ormar pro eite este momento
ce pro ime se dispositi o m el
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ão de cada ob eto oport nidade de e plorar termos
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tido, de orma mais ob eti a
RODA DE CONVERSA

Pro essores especialistas e con i-


NOVAS DESCOBERTAS
dados, ampliando as disc ss es
sobre os temas n anto est da, oc pode aces-
sar conte dos online e amplia-
ram a disc ssão sobre os ass ntos
de maneira interati a sando a tec-
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
nolo ia a se a or
ma dose e tra de conhecimento
sempre bem inda Posicionando
se leitor de ode sobre o c di- OLHAR CONCEITUAL
o, oc ter acesso aos deos e
este elemento, oc encontrar di-
complementam o ass nto disc tido
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sentadas na orma de in o r ficos,
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a darão no entendimento do con-
te do de orma r pida e clara

ando identificar o cone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
9 2
45
ACONSELHAMENTO OS FUNDAMENTOS DO
CRISTÃO: MARCO ACONSELHAMENTO
PSICO-BÍBLICO- CRISTÃO E DA
TEOLÓGICO CAPELANIA CRISTÃ

3
87 4 123
O PERFIL E TEOLOGIA E
O PAPEL DO PRÁTICAS EM
CONSELHEIRO ACONSELHAMENTO
CRISTÃO CRISTÃO

5
157
TEMAS E
PROCEDIMENTOS EM
ACONSELHAMENTO E
CAPELANIA CRISTÃ
1
Aconselhamento
Cristão: Marco
Psico-Bíblico-
Teológico
Me. Eugênio Soria de Anunciação

O primeiro conceito que trabalharemos se nesta unidade, se refere às


“emoções humanas”. Todas as pessoas sabem que sentem algo, pou-
cas pessoas conse em identificar o e sentem, e menos pessoas
ainda têm a habilidade de gerenciar as suas emoções. Conhecer as
emoções é desenvolver a capacidade de lidar com as elas. O segundo
conceito, diz respeito aos “efeitos noéticos do pecado”, que nos au-
xiliam na compreensão das reações humanas diante de Deus, de si
mesmo, dos outros e da natureza. Compreender a interação entre as
emoções humanas e os efeitos noéticos do pecado, é uma ferramenta
poderosa para o conselheiro cristão Por fim, apresentaremos concei-
tos básicos bíblico-teológicos do aconselhamento cristão.
UNIDADE 1

Eu estava em meu gabinete pastoral, quando chegou um homem, abrindo de ma-


neira brusca a porta da sala, falando de maneira rápida e descontrolada: “Pastor,
eu sei que eu posso ser disciplinado e até expulso da igreja, mas eu vim aqui para
avisar de uma decisão que eu tomei – vou me separar da minha esposa! Não tem
mais jeito, e eu vou fazer isso! Pode me expulsar da igreja!”
Toda aquela raiva despejada em um tom de voz enérgico, revelava muito mais
do que simplesmente descontentamento e ira. Havia muitas emoções entrelaçadas,
como se fossem fios emaranhados no coração daquele homem de cabelos brancos.
Respirando fundo e pedindo o auxílio do supremo Conselheiro – o Espíri-
to Santo de Deus – eu pedi para ele entrar, sentar-se em uma cadeira, respirar,
e me contar o que estava acontecendo.
“Eu estou casado há 33 anos e a minha vida tem sido um tormento! Eu não
aguento mais essa mulher! Ele vive para infernizar a minha vida! Ela reclama de
tudo, nada está bom! Eu vou me separar dela!”
Imagine-se como um conselheiro espiritual, lidando com uma situação des-
sa: como você reagiria diante da posição e das palavras desse homem? Você já
experimentou uma situação assim?

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UNICESUMAR

Está impresso em nosso DNA. Diante de situações de perigo, temos duas escolhas
a fazer: lutar ou fugir. Independentemente da escolha que fazemos, o que está
em jogo é o nosso senso de preservação. Todos nós, habitantes do planeta terra,
em pleno século XXI, temos a tendência de buscar sempre o caminho mais fácil
diante das dificuldades que precisamos enfrentar. Isto acontece, porque o cérebro
humano foi feito para buscar a autopreservação. Isso significa que, a todo custo,
o cérebro humano se preocupa em manter o seu corpo vivo.
O ser humano sempre viveu em sociedade e, em comunidade, aprendeu a
se comportar e a desenvolver novas habilidades. A partir de escavações arqueo-
lógicas e evidências históricas, é possível observar que as sociedades humanas
evoluíram de comunidades caçadoras-coletoras, para comunidades agrícolas,
há cerca de 12.000 anos, no que é denominado de “Revolução Agrícola”. Antes,
pequenos clãs precisavam migrar de um lugar para outro à procura de caça e
frutos, mas a partir da obtenção do conhecimento da plantação, houve o ajunta-
mento de pequenos clãs para o cultivo e a colheita de alimento, permitindo que
a humanidade desenvolvesse novas habilidades.
Nesses dois movimentos da humanidade, os seres humanos precisavam
lidar com os perigos imediatos, como o ataque de animais maiores e a invasão
de outros grupos de humanos, e a forma como reagiam a esses potenciais
perigos, era lutar ou fugir.
À medida que as comunidades humanas foram evoluindo, surgiram os vila-
rejos, as aldeias, as cidades fortificadas, os estados-cidade, povos, até chegarmos
ao moderno conceito de nação. Com esse longo processo de estruturação em
comunidades, os seres humanos foram desenvolvendo culturas e cosmovisões –
maneiras típicas de se enxergar e explicar o mundo ao redor.


Nossos hábitos alimentares, nossos conflitos (...) são todos conse-
quência do modo como nossa mente de caçadores-coletores intera-
ge com o ambiente pós-industrial de nossos dias, com megacidades,
aviões, telefones e computadores. Esse ambiente nos dá mais recur-
sos materiais e vida mais longa do que a desfrutada por qualquer
geração anterior, mas também nos faz sentir alienados, deprimidos
e pressionados (HARARI, 2017, p. 49).

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UNIDADE 1

Mesmo sendo um habitante do século XXI, na porção definida como ocidental


do nosso planeta, você pode observar como a mentalidade caçadora-coletora
ainda atua em nosso meio. Boa parte da população, não vive mais nas selvas, mas
em cidades. Não há mais o risco de sermos atacados por grandes animais, ou de
sermos invadidos por uma tribo diferente da nossa – pelo menos em nosso país.
Ainda assim, com essa mentalidade caçadora-coletora, para a autopreservação,
desenvolvemos comportamentos motivados para a nossa proteção. Não é à toa
que o estresse, é considerado o mal do século.
Lembre-se de que temos a tendência de procurar sempre o caminho mais fácil.
Isso se reflete facilmente em nossa forma de viver atualmente. O que é mais fácil:

■ Realizar práticas esportivas, ou viver uma vida mais sedentária?


■ Beber água, ou beber refrigerante?
■ Comer frutas, ou comer doces?

Por mais absurdo que pareça, o nosso cérebro está a todo momento evitando a
nossa fadiga. Para ele, quanto menos nos cansarmos, viveremos por mais tempo.
Contudo, o caminho mais fácil nem sempre é o mais adequado.
Aquele homem, no gabinete pastoral, estava procurando o caminho mais fácil
diante das dificuldades do seu casamento. Pelo menos, era o que ele pensava – que
o real problema dele era o casamento, ou melhor, a sua esposa. Eu também estava
diante do dilema da escolha do caminho mais fácil: já que a separação era uma
decisão tomada por ele, seria mais fácil simplesmente colocá-lo em disciplina.
Aparentemente o problema estaria resolvido.
Em nossa cultura latina, damos muito mais valor as nossas sensações, do
que ao que pensamos. As pessoas mais emocionais são consideradas mais legais
e divertidas, enquanto as pessoas mais racionais são consideradas chatas e enfa-
donhas. Com isso, vemos muitas pessoas vivendo mais em busca de sensações e
experiências do que em busca de entender e significar a sua vida.
O desafio do aconselhamento cristão não é apresentar respostas e soluções às
pessoas. Boa parte da tarefa do aconselhamento cristão está em ajudar as pessoas
a fazerem as perguntas corretas e a encontrarem as respostas adequadas a essas

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UNICESUMAR

perguntas. E a primeira pergunta que abre o nosso entendimento para tudo aquilo
que Deus quer fazer em nossas vidas, a partir das dificuldades que enfrentamos,
é esta: “por que eu estou me sentindo assim, diante desta situação?”
A Drª. Rosana Alves é bem conhecida no meio cristão, por suas palestras e
ministrações em algumas igrejas pelo mundo, em especial no Brasil e nos Estados
Unidos, o que, talvez, poucas pessoas saibam, é que ela é PhD em neurociência.
Muito do que ela explica sobre as relações humanas, está construída sobre duas
bases: o conhecimento bíblico e o conhecimento científico.

NOVAS DESCOBERTAS

Assista ao vídeo “É possível atuarmos sobre nossas emoções?”, da Drª.


Rosana Alves, acessando o Qr-Code, a seguir. Nele ela explica as dife-
renças sobre emoções e sentimentos.

A partir do que lemos até aqui e do vídeo que você assistiu, use seu Diário de
Bordo e reflita sobre alguma experiência que você teve nesta semana, boa ou
ruim. Escolha uma emoção que surgiu em você, a partir desta experiência, e anote
as reações que você percebeu no seu corpo, como resultado do que aconteceu.
As emoções são um excelente indicativo do que se passa em nossos corações.
Estudiosos do comportamento humano identificaram que as emoções são os
processos bioquímicos que acontecem a partir do cérebro humano, em especial,
no chamado Sistema Límbico (também denominado de Cérebro Emocional).
Sentimentos são as emoções examinadas e elaboradas. Vamos conhecer um pou-
co sobre alguns conceitos importantes acerca das emoções humanas e, também,
olhar teologicamente para algumas influências que afetam as nossas emoções e
sentimentos. Volte para o seu Diário de Bordo e olhe novamente para a emoção
que você escolheu anteriormente. Observando as reações que você percebeu no
seu corpo, quais sentimentos você identifica que surgiram a partir da emoção
escolhida? Lembre-se, emoções são as reações que percebemos em nosso corpo a
partir de uma situação, e os sentimentos são as emoções examinadas e elaboradas.

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UNIDADE 1

DIÁRIO DE BORDO

O cérebro humano é alvo de pesquisas científicas desde o século XVIII, a par-


tir dos trabalhos do médico e anatomista Franz Joseph Gall (Figura 1). Já no
século dezenove, Pierre Paul Broca (Figura 2), na França, realizou o primeiro
mapeamento das funções cerebrais, a partir da observação de pacientes com
danos cerebrais. Ainda no século XIX, o fisiologista e psicólogo vienense Sig-
mund Exner (Figura 3), o psicanalista austríaco Sigmund Freud (Figura 4) e o
médico francês Israel Waynbaum, realizaram pesquisas pioneiras, que levaram
à construção de um conhecimento ainda incipiente, mas importante, das redes
neuronais e das estruturas componentes dos circuitos emocionais. Em 1937, o
anatomista estadunidense James Papez, empreendeu importante avanço para o
aprofundamento da compreensão do cérebro com relação às emoções.

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UNICESUMAR

FRANZ JOSEPH GALL

Figura 1 - Franz Joseph Gall - neuroanato-


mista e fisiologista alemão, desenvolvedor
da frenologia / Fonte: Wikimedia Commons

Descrição da Imagem: retrato de um homem de meia idade, parcialmente calvo, com roupas típicas do sé-
culo dezoito, com uma camisa branca, com a gola levantada, e uma espécie de lenço adornando a camisa,
como se fosse uma gravata. Sobre a camisa branca, ele veste o que parece ser um grosso casaco escuro.

PAUL PIERRE BROCA

Figura 2 - Paul Pierre Broca - médico, ana-


tomista e antropólogo francês / Fonte: Wi-
kimedia Commons

Descrição da Imagem: retrato de um homem de meia idade, vestido com uma camisa branca, gravata
preta e sobre a camisa, um colete escuro abotoado e com um terno também escuro. O homem possui
um pouco de calvície, embora o cabelo que lhe resta esteja penteado para o lado, da esquerda para a
direita. Ele possui proeminentes costeletas que continuam ligadas à barca nas laterais do rosto, porém,
sem bigode ou cavanhaque. Ele está olhando parcialmente para a sua direita.

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UNIDADE 1

SIEGMUND RITTER

Figura 3 - Siegmund Ritter Exner von Ewar-


ten - fisiologista austríaco - Domínio Público
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição da Imagem: retrato de um homem de meia idade, um pouco calvo, com uma barba cerrada. Ele
está vestido com uma camisa branca, gravata escura e sobre a camisa um terno escuro. Ele está olhando
parcialmente para a sua direita.

SIGMUND FREUD -

Figura 4 - Sigmund Freud - neurologista


austríaco e fundador da Psicanálise
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição da Imagem: retrato de um homem com barba e cabelos brancos, vestido com uma camisa
branca, gravata preta e sobre a camisa, um colete e terno escuros. No colete, há uma corrente de relógio
de bolso, indicando que há um relógio no bolso à direita. Com a mão direita, o homem segura um charuto,
e a mão esquerda está na cintura.

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UNICESUMAR

Um dos casos mais famosos de estudos sobre o cérebro humano é o de Phineas


Gage (Figura 5), também no século XIX. Ele era um operário que sobreviveu a
um grave acidente cerebral, quando teve a sua cabeça atravessada por uma barra
de ferro, provocando uma grande mudança em seu comportamento:


antes do acidente, Gage era um trabalhador capaz e eficiente, com
uma forma de pensar equilibrada, sendo visto como um homem
astuto, inteligente e talentoso. Após o evento mórbido, tornou-se
indeciso, demonstrando indiferença, falsidade, deslealdade e deslei-
xo. Mostrava-se ainda impaciente e inábil para estabelecer qualquer
plano para o futuro” (BEER, 2011, p. 41-42).

PHINEAS GAGE

Figura 5 - Phineas Gage com a barra de ferro


que atravessou o seu crânio / Fonte: Wiki-
media Commons

Descrição da Imagem: retrato de um jovem, sentado e segurando uma barra de ferro com a sua mão
esquerda. O jovem está trajando uma camisa branca com um colete escuro e um terno também escuro,
com os botões abertos, e no bolso esquerdo no terno há um lenço branco. A sua mão direita está sobre
a sua perna direita. O jovem está com o olho direito aberto e o esquerdo fechado, sendo este último
sequela do acidente.

17
UNIDADE 1

PENSANDO JUNTOS

"A vida não examinada não vale a pena ser vivida" (Irvin Yalom)

Imagino que você se questione: o que todas essas informações, apresentadas até
aqui, têm a ver com o aconselhamento cristão? Continue firme na construção do
conhecimento. Todas essas informações servem como base para o conhecimento
que estamos adquirindo e ajudarão você para um aconselhamento cristão efetivo.

NOVAS DESCOBERTAS

Sugiro que você assista ao vídeo "O incrível caso de Phineas Cage",
acessando o Qr Code a seguir. Neste vídeo, os produtores do canal
"Neurociência Descomplicada" explicam sobre como Phineas P. Gage,
e se acidente de trabalho ficaram no centro de ma re ol ão ne -
rocient fica de entendimento do ncionamento do c rebro deo
interessante porque introduz, historicamente, a evolução da pesquisa
e do conhecimento do cérebro, e como este evento foi importante
para a compreensão da formação das emoções no cérebro.

As emoções são as reações do nosso corpo, diante dos estímulos que recebemos
do ambiente. Elas são processadas em nosso cérebro, e disparadas pelo nosso
corpo. Essa descoberta só foi possível, a partir de inúmeros estudos iniciados há
muito tempo. A partir das diversas descobertas, chegou-se à conclusão de que
as emoções humanas estão ligadas ao nosso cérebro, em especial ao conjunto de
estruturas do cérebro, chamadas de “Sistema Límbico”. Ele é o responsável pelo
gerenciamento dos processos emocionais, do controle motivacional, pelo apren-
dizado e pela memória, através de “conexões com diversos circuitos nervosos,
que, através de seus neurotransmissores, promovem respostas fisiológicas do
sistema nervoso somático e, também, à inervação do sistema nervoso visceral”
(ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al., 2008).
Embora, a nossa tendência seja classificar as emoções em “emoções boas”
e “emoções más”, os neurocientistas defendem a hipótese de que “as emoções
exercem funções mediadoras que contribuem para a sobrevivência e o bem-estar
do organismo” (LEDOUX, 2012, p. 654). No final das contas, uma das funções

18
UNICESUMAR

das emoções é preservar o ser humano. Há um consenso no meio científico e


acadêmico, de que existem emoções primárias e emoções secundárias. As emo-
ções primárias possuem uma reação biológica idêntica em todos os organis-
mos, como medo, raiva, tristeza, alegria, repugnância, entre outras. As emoções
secundárias, necessitam de aprendizagem e condicionamento cultural, como
por exemplo: ciúme, embaraço, culpa, vergonha, entre outras.
Para a teologia cristã, as emoções são reconhecidas como expressões legítimas
do coração humano. Na carta aos efésios, encontramos: “Fiquem irados e não
pequem. Não deixem que o sol se ponha sobre a ira de vocês” (Efésios 4:26 NAA).
Uma emoção que, aparentemente, é vista como algo negativo, é compreendida
biblicamente como uma expressão legítima. Observe que ficar irado não é pecado
– o problema está em como esta raiva se manifestará. Outro aspecto interessante é
que a ira não deve permanecer por muito tempo no coração humano; ela precisa
ser colocada para fora.

PENSANDO JUNTOS

Uma pessoa que não sabe gerir as suas emoções, é refém das próprias emoções.

19
UNIDADE 1

A partir da minha adolescência, eu desenvolvi um comportamento


mais calado. Falava apenas o necessário. Sempre gostei mais de ouvir
as pessoas, do que falar com elas. Entretanto, este comportamento,
colocou em risco o meu casamento. O fato de sermos cristãos, não
é garantia de que viveremos casamentos eternamente felizes. Ha-
verá momentos bons e momentos ruins, como em todo casamento
humano. Enquanto escrevo essas linhas, eu e minha esposa estamos
comemorando 22 anos e 28 dias de casamento, pela graça e bondade
de Deus em nossas vidas! Em uma das nossas crises, procuramos
ajuda terapêutica profissional. Foi uma bênção para as nossas vidas
e para o casamento. Durante uma das sessões de terapia, a psicóloga
nos ajudou a estabelecer linhas de comunicação. Eu e minha espo-
sa conversávamos sobre muitas coisas, mas não falávamos sobre
o essencial. Minha esposa é muito mais falante do que eu, então a
nossa tendência era ela falar muito e eu escutar muito – nos bons
e nos maus assuntos. Quando discutíamos ela colocava para fora a
sua ira e eu engolia a minha. Ambos estávamos atuando de maneira
pecaminosa. Ela me feria com as suas palavras e eu a feria com o
meu silêncio! Nesta sessão de psicoterapia, em especial, a psicóloga
nos orientou a falarmos das nossas emoções, ou seja, como nos sen-
tíamos quando nos desentendíamos por alguma questão. A psicó-
loga se dirigiu a minha esposa e a incentivou: “Comece contigo”. Ela
sabia que seria mais fácil começar com ela, já que eu me escondia
em meu silêncio. Minha esposa, respirou fundo e falou: “Sabe,
amor… eu não conheço as suas emoções quando temos algum
desentendimento… Eu brigo com você, porque eu me importo
com você, porque eu quero ajustar o que precisa ser ajustado…
mas você se fecha, fica quieto, não fala nada…” Então, vieram
as palavras que me abriram os olhos para o meu pecado: “Toda
vez que você fica quieto e não reage diante das nossas crises, eu
me sinto agredida. É como se você não se importasse comigo!”
Aquelas palavras pesaram o meu coração. Não era a minha in-
tenção provocar essa emoção nela. Eu queria evitar conflitos e
desgastes, mas com a minha maneira quieta de expressar a minha
ira, eu acabava piorando a situação.

20
UNICESUMAR

NOVAS DESCOBERTAS

Sugiro que você assista ao vídeo "Casamento é negociação", acessan-


do o Qr-Code a seguir. Neste vídeo, o psicólogo, psicanalista e pes-
isador i lberto anns aborda as dific ldades para se manter
um casamento nos dias de hoje e aponta as causas que tornaram as
relações matrimoniais tão efêmeras. O vídeo apresenta importantes
informações sobre a formação cultural do casamento e alternativas
para mantê-lo de uma forma que valha a pena.

Aquele homem que eu atendi no gabinete pastoral, estava reagindo emocional-


mente às influências do ambiente. Somando o conteúdo emocional que ele
carregava naquele momento e a forma como ele falava, nos leva a descrever um
dos sentimentos dele como “raiva”. Os demais sentimentos decorrentes da emo-
ção (percebidas pelas reações do corpo) estavam confusos para ele. Ele não sabia
como reagir. Parecia que queria se livrar rapidamente daquela situação incômoda:


A raiva é uma emoção crua, uma força poderosa e muito difícil
de conter. Para que ela apareça, basta que as coisas simplesmente
aconteçam de um modo diferente do que esperamos. Expressamos
raiva quando somos maltratados, quando sentimos que fomos enga-
nados, quando alguém nos ofende ou quando não toleramos algum
tipo de comportamento (FRAZZETTO, 2014, p. 15).

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Alegria, Culpa, Raiva, Amor


Autor: Giovanni Frazzetto
Editora: Agir
Sinopse: Somos levados por uma viagem pelos sentimentos de rai-
va, culpa, ansiedade, tristeza, alegria, amor - e o quanto a ciência consegue
explicar o que antes recorríamos a outros tipos de exploradores da vida in-
terior. A partir de perguntas ouvidas ao longo da sua carreira como neu-
rocientista, Frazzetto dividiu o livro em seis emoções: raiva, culpa, medo e
ansiedade, tristeza, empatia e amor, sendo cada uma delas contextualizada
com recentes descobertas cient ficas e e peri ncias pessoais

21
UNIDADE 1

Você já se perguntou por que as pessoas reagem de maneira tão agressiva nas
redes sociais? Por que somos tão inclinados às polarizações em nossas vidas?
A verdade é que as pessoas vivem as suas vidas, sem refletir sobre o porquê
de suas ações e reações. O nome ao qual a teologia cristã dá a esta realidade
deformada de relacionamentos, é “queda”.
A ideia de pecado, não é apenas fazer coisas ruins, mas viver a sua vida como
se Deus não existisse. Pecado fala de separação, de afastamento e de rebelião.
Uma das tristes consequências que o pecado produz é a alienação – o ser humano
desconectado de Deus, de si mesmo, dos outros seres humanos e da criação. A
partir da queda, a condição humana é de alienação existencial e essa alienação
é pecado. Os pecados que são cometidos pelas pessoas, são apenas expressões
dessa alienação: “não é a desobediência à lei que torna um ato pecaminoso, mas o
fato de ser uma expressão da alienação do ser humano com relação a Deus, com
relação aos seres humanos e com a relação a si mesmo” (TILLICH, 2005, p. 341).
O pecado causou o que a teologia cristã denomina de “efeitos noéticos do
pecado”, sobre o ser humano. O termo “noético”, “vem do grego noésis (latim: in-
tellectus) e se refere à capacidade intelectual ou racional do ser humano” (GOBRY,
2007, p. 95). Isso significa que a pessoa humana inteira foi afetada pelo pecado,
em todos os níveis da sua existência:

22
UNICESUMAR

■ os nossos corpos adoecem e morrem de-


vido ao pecado;
■ as nossas emoções se tornam doentes e
afetadas por nosso egoísmo;
■ a vontade humana está aprisionada aos
desejos e impulsos do coração caído, que
sempre são maus;
■ a própria capacidade humana de pen-
sar e raciocinar foi duramente afetada
pela queda.

Como evidência, as nossas relações foram profun-


damente afetadas também em todos os níveis. Na
narrativa poético-teológica de Gênesis 3, vemos
todas as dimensões relacionais humanas sendo
totalmente deturpadas por causa da realidade do
pecado, afetando a nossa relação com Deus, conos-
co, com o próximo e com a natureza.
Essa terrível dinâmica permanece ainda em
nossos dias e em nossas relações.
Observe que a narrativa de Gênesis se preo-
cupa em demonstrar que a queda estabeleceu
esta ruptura relacional na humanidade. Ao se
perceberem nus, o homem e a mulher se des-
conectaram da criação, arrancando folhas de
figueira, para esconder a sua nudez. Em seguida,
eles se desconectaram de Deus, se escondendo
da sua presença. A consequência dessa ruptura
é que se desconectaram de si mesmos, escon-
dendo os seus sentimentos e se desconectaram
uns dos outros, culpabilizando o outro. Ao fim,
a mulher culpa a serpente, se eximindo por com-
pleto da sua responsabilidade.

23
UNIDADE 1

OLHAR CONCEITUAL

DESCONEXÃO DA CRIAÇÃO DESCONEXÃO COM DEUS


“Após comerem o fruto “Ao ouvirem a voz de
proibido, homem e mulher se Deus, o homem e a
percebem nus e costuraram mulher se esconderam
folhas de figueira para EFEITOS NOÉTICOS da presença de Deus”.
esconder a nudez”. (Gn. 3.8)
DO PECADO
(Gn. 3.7)

DESCONEXÃO DO OUTRO DESCONEXÃO DE SI


“Ao ser perguntado sobre a sua desobediência, o “Quando Deus se dirige
homem diz que a culpa não era dele, mas de Deus e ao homem, ele diz que
da mulher - de Deus, porque ele havia criado a mulher ficou com medo e se
e da mulher, porque havia lhe dado do fruto proibido”. escondeu de Deus”.
(Gn. 3.12) (Gn. 3.10)

O conceito bíblico de pecado é baseado totalmente na compreensão dos efei-


tos noéticos do pecado sobre o ser humano. Lembre-se de que para a teologia
bíblica, pecado é “errar o alvo”. A pergunta que devemos partir, então, é: “qual
é o alvo que devemos acertar?”.
Na narrativa poético-teológica de Gênesis 1:26-27 lemos: “E Deus disse: - Fa-
çamos o ser humano à nossa imagem, conforme a nossa semelhança [...]. Assim
Deus criou o ser humano a sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou”. O ser humano foi criado com um propósito: “existir à imagem

24
UNICESUMAR

e à semelhança de Deus”. O problema é que as pessoas compreendem de maneira


equivocada este conceito bíblico-teológico, imaginando que “existir à imagem e
à semelhança de Deus”, significa se concentrar apenas nos aspectos espirituais
da vida: “Negar qualquer aspecto do que significa ser uma pessoa totalmente
humana feita à imagem de Deus, traz consigo consequências catastróficas a longo
prazo, especialmente sob a tendência de separar a saúde emocional da espiritual”
(SCAZZERO, 2012, p. 51).

PENSANDO JUNTOS

A vida espiritual não é, portanto, uma vida completamente separada, desarraigada da


condição humana e transplantada para o ambiente angélico. Vivemos como criaturas es-
pirituais quando vivemos como homens que procuram a Deus (Thomas Merton).

Para uma compreensão adequada do conceito de “existir à imagem e à semelhan-


ça de Deus”, é necessário prestarmos atenção aos verbos utilizados na conversa
de Deus consigo: “façamos” e “nossa”, pois esses verbos indicam “a imagem de
um Deus que é o único Deus, mas que não é por isso solitário, mas inclui em Si
a diferenciação e a relação de Eu e Tu” (BARTH, 1958, p. 192). Isto significa que
a criação do ser humano levou em consideração a expressão comunitária de
Deus, manifestada no mistério da Trindade. O ser humano foi criado para viver à
imagem e à semelhança de Deus, à medida que se compreende, não como oposto
aos demais humanos, mas complementar, homem e mulher foram criados por
Deus para manifestar de maneiras diferentes a imagem de Deus, um ao outro.
Um dos primeiros efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano foi torná-lo
totalmente corrupto e depravado, sem a imagem de Deus em si. O apóstolo Paulo
descreveu esta realidade, utilizando uma expressão muito comum aos gregos
de sua época, em especial os epicureus: “Carne” (sarx). Para eles, o conceito de
“Carne” é diferente do conceito de “Corpo”, ou seja, “Carne”, “não é uma parte
anatômica do corpo, mas um sentido abstrato e totalmente novo; o sujeito da
dor e do prazer” (SILVA, 2016, p. 85).
Na teologia paulina, “Carne” é, então, a natureza humana dominada pelo pe-
cado e alienada de Deus! Com isso, o ser humano se opõe a Deus e se emaranha
no pecado, “à medida que se entrega às obras (desejos) da ‘Carne’” (THISELTON,
2000 apud BROWN; COENEN, 2000. p. 278). Mais do que aquilo que o ser hu-

25
UNIDADE 1

mano comete de erros a partir do seu corpo, a sua “Carne” é a forma de pensar
e viver a vida, completamente contrárias a Deus! O ser humano é teorreferente,
ou seja, ele é motivado por Deus: a favor ou contra ele.


Decaímos a um nível não só de perversão de conhecimento, mas
também de natureza; somos rebeldes contra Deus porque temos
culpa verdadeira, reversos quanto aos pensamentos porque muda-
mos a verdade em mentira, inversos quanto à teorreferência porque
queremos ser deuses de nós mesmos (GOMES, 2014, p. 24-25).

Para a teologia paulina: “O mal não é identificado com a matéria [corpo]. A ‘carne’
só se torna ‘má’, quando o homem consente em suas solicitações” (CERFAUX,
2003, p. 67). Rookmaaker (2018, p. 25), por exemplo, deixa muito claro, quando
escreveu: “toda ação humana flui do coração, onde escolhemos estar contra ou a
favor de Deus, contra ou a favor de Cristo”.
Principalmente na teologia paulina encontrada em Gálatas, vemos a distinção
que Paulo apresenta entre as “obras da Carne” e o “fruto do Espírito”. As obras
da “Carne” são pensamentos e atitudes realizadas no plural, simbolizando a singula-
ridade do nosso desespero em viver distante de Deus, enquanto o fruto do Espírito é
uma ação singular (o fruto do Espírito é Amor), com uma ação múltipla em nossas
vidas. As obras da Carne indicam um contraponto entre “Carne” e “Espírito”, um
comportamento no qual havia “uma mera repetição de hábitos, de satisfação de
desejos, de uma vida impulsiva e instintiva, ou seja, uma vida desordenada” (SILVA,
2016, p. 143). A primeira compreensão que devemos ter do fruto do Espírito é que
ele é do Espírito, e não do ser humano. O que pertence à humanidade são as obras
da “Carne”, mas o fruto é do Espírito: “Se a imagem é correta, então as obras da
carne são ‘feitas’, enquanto o fruto do Espírito ‘nasce’” (MOLTMANN, 1998, p. 171).

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UNICESUMAR

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas


Autor: Ricardo Barbosa de Sousa
Editora: Ultimato
Sinopse: Não são os acontecimentos que determinam nossos senti-
mentos e emoções.
Para o pastor Ricardo Barbosa, nem sempre o que acreditamos combina com
o que sentimos porque não percebemos Deus no meio dos acontecimentos.
Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas mostra que nossos senti-
mentos e emoções, em grande parte, seguem nossos pensamentos e convic-
ções. E, mais importante, a maturidade cristã só pode ser alcançada quando
integramos essas duas realidades de maneira harmoniosa e transformadora.
Uma leitura cheia de sabedoria que vai ajudar o leitor a aprofundar suas
convicções e amadurecer suas emoções.

Segundo a teologia bíblica cristã, todo ser humano nasce debaixo desta terrível
influência que o conduz, desde cedo, a uma vida rebelde a Deus. Uma das expres-
sões mais claras, se manifesta na forma em como o bebê humano interage com os
demais humanos. Se o bebê está com fome e precisa ser amamentado, ele chora
para conseguir o que quer – não importa se a sua mãe está cansada e dormindo –
ele quer ter as suas necessidades saciadas naquele exato momento. Esta é a forma
mais primitiva que aprendemos de relacionamento com as outras pessoas. Há,
inclusive, um ditado popular que afirma: “Quem não chora, não mama”, ou seja,
para você ter os seus desejos atendidos, é necessário que você deixe muito claro.
Se necessário, faça escândalo!

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UNIDADE 1

NOVAS DESCOBERTAS

Sugiro que você assista ao vídeo "Falling Plates", acessando o Qr-Co-


de a seguir. Este vídeo foi produzido pelo site: www.fallingplates.com
para apresentar, de maneira visual, a realidade da queda sobre o ser
humano. Este vídeo ajudará você a compreender e aprofundar o con-
ceito de queda e efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano.

O ser humano, por natureza, é um ser totalmente desconectado de Deus, de si


mesmo, dos outros e da natureza. A principal deformidade é que passamos a
viver na intensa loucura de satisfazer apenas os nossos desejos e vontades, que
estão debaixo da influência do pecado – eu passo a ser a pessoa mais importante
para mim, em todo o universo! Os outros? Eles existem apenas para atender os
meus desejos. Nada mais infantil. Nada mais real. Como o ser humano perdeu a
imagem de Deus em si, ele está constantemente colocando outras imagens em seu
coração. A única forma de termos a imagem de Deus restaurada no ser humano
é a partir de alguém que tenha a imagem de Deus. Na teologia paulina, Jesus é
a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15). A partir de Jesus, há uma dupla
revelação: 1) de quem Deus é; e 2) de como o ser humano pode vir a ser.

Quero convidar você para ouvir o Podcast sobre as difer-


enças entre uma vida vivida na Carne e uma vida vivida
pelo Espírito, onde apresentaremos as principais diferenças,
de acordo com a proposta apresentada por Paulo, em
Gálatas 5.

Voltando ao episódio daquele homem de cabelos brancos, que entrou de maneira


brusca no gabinete pastoral, falando de maneira rápida e descontrolada, em um
tom de voz enérgico para explicar que havia tomado a decisão de se separar da
sua esposa, podemos estabelecer uma conexão importante entre os dois concei-
tos apresentados até aqui: “efeitos noéticos do pecado” e “carne”. Ao observar as
reações deste homem, podemos perceber que ele estava manifestando as desco-
nexões do seu coração. Ele estava tão focado na sua dor, que não conseguia olhar

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UNICESUMAR

para Deus e para os outros, dando espaço mais para as “obras da Carne” do que
para o “fruto do Espírito”.
Para a compreensão das bases bíblicas e teológicas do aconselhamento cris-
tão, precisamos, estar atentos a três pontos que servem de bússola ou GPS para
o trabalho do conselheiro cristão:

■ a importância das emoções para o ser humano;


■ a influência do pecado sobre todo o ser humano (incluindo as suas emoções);
■ os dois caminhos de se viver a vida: na Carne ou pelo Espírito.

Lembre-se de que diante de situações de perigo, temos duas escolhas a fazer: lutar
ou fugir, e as nossas escolhas no momento, serão baseadas em nosso senso de
preservação. A forma como este senso de preservação se manifesta se dá a partir
das nossas emoções. A raiva, por exemplo, é como se fosse um alarme disparado,
indicando que houve algum tipo de violação – por isso ela geralmente é barulhenta!
O medo, por outro lado, tende a ser uma emoção que se manifesta de forma mais
silenciosa. As emoções revelam o coração humano, sem precisar usar palavras.
O desafio do conselheiro cristão é conduzir as pessoas que procuram
a sua ajuda, para que elas não sejam mais levadas por suas emoções, dian-
te das circunstâncias da vida, mas conduzi-las a Cristo, pois apenas a ação
sobrenatural do Espírito Santo de Deus é que pode, efetivamente, provocar
mudanças profundas, de dentro para fora, na vida de todo ser humano. Uma
das grandes crises da igreja evangélica é que ela exige de pessoas que ainda
não se renderam a Jesus, que elas tenham atitudes de pessoas cristãs!
A partir de tudo o que vimos até aqui, observamos que, naturalmente, o ser
humano é rebelde contra Deus, egoísta e focado apenas na busca por sua felici-
dade. Para que este tipo de pessoa tenha uma postura que condiga com a fé cristã,
é necessário que ela seja apresentada ao evangelho.
Partindo deste ponto, podemos observar, então, que o aconselhamento cristão
tem duas tarefas principais:

■ Para aqueles que não são cristãos e buscam um aconselhamento cristão,


o desafio é conduzi-los a Cristo;
■ Para aqueles que são cristãos e buscam um aconselhamento cristão, o
desafio é conduzi-los a uma vida vivida pelo Espírito Santo.

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UNIDADE 1

O papel do conselheiro cristão não é promover terapia psi-


cológica – isto é atribuição de profissionais formados para
este fim, como psicólogos, psicanalistas e terapeutas. O
papel do conselheiro cristão é conduzir as pessoas a Cristo
e a uma vida dirigida pelo Espírito Santo. Assista ao vídeo
“O papel do conselheiro cristão”, para aprofundar um pouco
mais este conceito.

Geralmente, quando as pessoas pensam em aconselhamento cristão, a primeira


imagem que lhes vêm à cabeça é a ideia de um pastor em seu gabinete, ouvindo e
conversando com pessoas. Imagino que você tenha notado o nome desta matéria:
“Aconselhamento Cristão”. Caso não tenha notado, utilizamos “Aconselhamento Cris-
tão”, em vez de “Aconselhamento Pastoral”.Você imagina por que fizemos esta escolha?
Antes, deixe-me compartilhar uma história de quando eu era adolescente,
no milênio passado…
Eu estava entre os meus 13 e 14 anos de idade, preocupado com o que seria
do meu futuro profissional. Era um dia de semana, nas férias de meio de ano. Eu
estava voltando da igreja da qual eu era membro, após uma reunião de oração
que acontecia às tardes, para os adolescentes da igreja. O caminho entre a igreja e
a casa dos meus pais, era cercado por ruas arborizadas. A cidade na qual eu vivia
naquela época era quente, mas, por causa das árvores, a temperatura diminuía
um pouco entre as sombras. Naquela tarde em especial, a temperatura estava
mais alta dentro do meu coração, do que do lado de fora da minha cabeça. Eu
estava andando e conversando com Deus, sobre o meu futuro, os meus medos de
não conseguir sustentar uma família e não saber ao certo que escolhas eu deveria
fazer. Durante essa caminhada, os meus olhos foram conduzidos para uma pequena
placa, em uma pequena porta que conduzia a uma escada, que por sua vez, levava
as pessoas a uma sala sobreloja. Na placa, havia um nome esquisito, que não me
lembro mais, porém, recordo que era algo relativo à tecnologia. Mais precisamente,
era uma escola de informática, que estava oferecendo um curso de programação,
na linguagem Cobol. Entrei nessa sala, escutei o que eles tinham a oferecer, peguei
um folheto do curso e fui para casa todo empolgado com essa possibilidade. Cria
que era uma direção de Deus para a minha vida naquele momento!
Chegando na casa dos meus pais, todo eufórico, entreguei o folheto para a
minha mãe, contando a minha experiência e que eu gostaria muito de fazer aquele

30
UNICESUMAR

curso de programação. Minha mãe acolheu a minha história e o folder da escola.


Ela me disse que entregaria para o meu pai quando ele voltasse do trabalho. Como
um bom adolescente, é claro que eu não aguentei esperar o meu pai chegar do
trabalho, descansar, tomar o seu banho e jantar. Fui atropelando todo o processo.
O meu pai me ouviu com atenção, olhou e revirou o folheto e me disse que pen-
saria a respeito. A noite se passou e o dia seguinte chegou. Eu já me esquecera do
que havia experimentado no dia anterior. Na hora do almoço, o meu pai chegou
todo feliz, com um papel para mim. Ele me disse assim: “Eu pensei a respeito do
que você me disse. E acho que o melhor para você não é fazer um curso de pro-
gramação. Inscrevi você em outro curso. Você vai fazer datilografia! Quando eu
tinha a sua idade, o meu pai me matriculou em um curso de datilografia”.
Você imagina a minha frustração. Eu estava empolgado com a possibilidade
de estudar novas tecnologias para o futuro, mas o meu pai imaginava que o me-
lhor para mim seria me preparar para o presente.
Este é um aprendizado que eu carrego comigo em minha vida e em meu
ministério. Podemos ter as melhores intenções para ajudar os outros, mas se não
estivermos dispostos a ouvi-los, corremos o risco de mais atrapalhar do que de
ajudar. Isto significa que utilizamos “Aconselhamento Cristão”, em vez de “Acon-
selhamento Pastoral”, porque é uma tarefa que não precisa ser realizada por al-
guém que tenha o título de “pastor”, mas por aqueles cristãos que desenvolvam a
habilidade de ouvir as pessoas e de ouvir o Espírito Santo de Deus. O conselheiro
cristão não é aquele que tem as respostas para todas as perguntas, mas aquele
que sabe ouvir as perguntas das pessoas. O termo técnico que se dá a esta escuta
qualificada para uma orientação bíblica, é “poimênica”:

31
UNIDADE 1


A poimênica não é somente uma ação minha para com o outro,
mas igualmente uma resposta minha ao apelo do outro. Portanto, é
muito importante lembrar que eu preciso respeitar as preocupações
que moveram o outro a me procurar para pedir auxílio. (...) apesar
de eu poder prestar a ele muitos tipos de ajuda, talvez esta ajuda
venha a prejudicá-lo mais do que outra coisa, se eu desprezar a sua
necessidade, a sua preocupação, movida pela fé ou pela falta dela
(WANGEN, 1979, p. 98).

O mundo no qual vivemos, é muito diferente do mundo em que os nossos pais


e avós viveram. As pessoas sentem uma necessidade maior de serem ouvidas. A
digitalização da vida, a partir da pandemia do coronavírus, evidenciou isso de
uma maneira muito clara. Dos inúmeros amigos que temos nas mídias digitais,
quantos são realmente aqueles com quem podemos falar sobre as nossas emo-
ções e a nossa vida? Aliás, aproveitando este momento, sem olhar no seu celular
ou computador, você sabe quantos amigos tem nas redes sociais? E, na vida real,
quantos amigos de verdade você tem?
Quando falamos em “Aconselhamento Cristão”, uma palavra nos ajuda a com-
preender melhor o papel daquele que aconselha a partir da visão cristã: “aco-
lhimento”. Isso significa que, para o estudante de Teologia que deseja atuar no
aconselhamento cristão e na capelania cristã, é imprescindível que ele perceba
que a ação do acolhimento envolve uma atenção para as


(...) necessidades individuais, grupais, comunitárias, familiares,
conjugais, sociais dentre outras. Essas necessidades cobram res-
postas da igreja. Contudo, essas respostas precisam de funda-
mentação também Teológica, para que esses ministérios, ações
e vocações da igreja estejam em consonância com a Palavra de
Deus e, assim, sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico
e prático (MARIANO, 2016, p. 21).

É importante conhecer os processos biológicos e psicológicos das emoções, assim


como compreender a influência do pecado e os seus efeitos noéticos no coração
humano, porém, sem um conhecimento bíblico que fundamente o seu trabalho
teológico e a sua prática cristã, dificilmente alguém conseguirá atuar de maneira
apropriada no aconselhamento cristão. Será como receber alguém entusiasmado

32
UNICESUMAR

com um folheto de curso de programação, e entregar para ele uma matrícula em


um curso de datilografia.
A partir da narrativa bíblica de Gênesis 3, observamos que o pecado causou
um grande estrago em todas as dimensões da vida humana: “vergonha, solidão,
autoproteção, caracterizados como a dor emocional que marcaram Adão e Eva em
Gênesis 3” (SCAZZERO, 2012, p. 55). Compreender a riqueza e a complexidade de
sentimentos, pensamentos, desejos e esperanças que há dentro de todos nós, é um
trabalho duro. O profeta Jeremias, inspirado pelo Espírito Santo, deixou registrado:
“O coração é mais enganoso do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto;
quem pode compreendê-lo?” (Jeremias 17:9). Por isso, as ações que melhor carac-
terizam o aconselhamento cristão são o acolhimento e o cuidado mútuos.
Em um mundo cada vez mais repleto de pessoas focadas apenas em si mes-
mas, o papel do conselheiro cristão é fundamental para ajudar as pessoas a lida-
rem com as suas desconexões. A base bíblica para o aconselhamento cristão parte
da compreensão de que não devemos seguir o caminho de Caim (Judas 1:11),
que é marcado pelo forte egocentrismo.
Na sequência da narrativa de Gênesis 3, que relata a desobediência de
Adão e Eva, encontramos em Gênesis 4, a narrativa dos seus filhos Caim e
Abel. A estrutura literária de Gênesis 3 e 4 revelam que pessoas desconectadas
de Deus, estabelecem relações conjugais fragmentadas e famílias desestru-
turadas. As sociedades humanas, são o reflexo desta desconexão. As doenças
emocionais e psicológicas são fruto desta terrível integração.

33
UNIDADE 1

Adão e Eva vinham de um processo de completa transparência, onde não apenas


os corpos deles estavam nus, mas os seus corações estavam igualmente desnuda-
dos (Gênesis 2:25). Após a queda, a relação conjugal deles ficou profundamente
abalada, onde nenhum deles assumia a responsabilidade, mas tentava encontrar
culpados para os seus erros (Gênesis 3.11-13) – o homem culpou a Deus e à mu-
lher, que por sua vez, culpou a serpente. A família deles é iniciada então, em um
processo de dor, vergonha e culpa, após a expulsão deles do jardim (Gênesis 3.23).
Em Gênesis 4, encontramos uma narrativa muito rica e interessante. Primei-
ramente nasceu Caim, que é um filho celebrado, alegria em meio à vergonha,
ao ponto de Eva falar: “Com a ajuda do Senhor tive um filho homem” (Gênesis
4:1). No versículo 2, nasceu Abel. Nada de celebração. Nada de especial. Caim
significa “adquirido”. Abel significa “vazio”. O nome para a cosmovisão hebraica,
significava o que a pessoa se tornaria. O versículo 2 continua expondo a tensão
nessa família. Caim, era o filho favorito, o primogênito, que se torna agricultor,
trabalhando próximo aos pais. Abel, torna-se pastor de ovelhas, tendo que acom-
panhá-las onde houvesse pastagem. O resultado dessa diferenciação é conhecido
de todos nós. Era natural para Caim, o filho celebrado por sua mãe, entender que
ele merecia ser aceito por Deus – afinal, todo mundo o aceitava. No coração de
Caim, já que Deus não havia aceitado ele e muito menos a sua oferta (Gênesis
4:5), Caim resolveu se vingar de Deus, matando Abel.
Quando Caim é abordado por Deus, sobre o que havia acontecido com Abel,
a resposta dele revela toda a indiferença do coração humano afetado pelo pecado:
“Por acaso sou o guardador do meu irmão?” (Gênesis 4.9). É exatamente este o
sentimento que invade o coração das pessoas, por causa da influência do pecado:

■ O que eu tenho a ver com a vida dele?


■ Se não mexe com a minha vida, por que eu preciso me preocupar?
■ Antes ele do que eu!

A partir desta terrível experiência, Caim se retirou da presença de Deus e pas-


sou a viver ao leste do Éden (Gênesis 4:16). Em nenhum momento da narrativa,
vemos Deus ameaçando Caim de morte. Pelo contrário, vemos Deus acolhendo
o coração adoentado de Caim. Como todos nós, em pleno século XXI, Caim foi
fruto da criação que ele teve.

34
UNICESUMAR

Não importa quão terrível é o comportamento de alguém, sempre há uma his-


tória por trás. Estar aberto às histórias das pessoas, não significa encontrar jus-
tificativas para os atos errados e pecaminosos das pessoas. Antes, significa estar
aberto a procurar entender o que se passa na história de todos nós.
Biblicamente falando, o cuidado com o outro, é iniciado a partir do acolhi-
mento. Acolher significa dar refúgio, abrigo ou proteção. O acolhimento envolve
aceitar a pessoa. Isto significa que o conselheiro cristão atua sem preconceitos,
independentemente das falhas e dos erros da pessoa.


O objetivo do aconselhamento é dar estímulo e orientação às pes-
soas que estão enfrentando perdas, decisões difíceis ou desaponta-
mentos. O processo de aconselhamento pode estimular o desen-
volvimento sadio da personalidade; ajudar as pessoas a enfrentar
melhor as dificuldades da vida, os conflitos interiores e os bloqueios
emocionais; auxiliar os indivíduos, famílias e casais a resolver con-
flitos gerados por tensões interpessoais, melhorando a qualidade de
seus relacionamentos; e, finalmente, ajudar as pessoas que apresen-
tam padrões de comportamento autodestrutivos ou depressivos a
mudar de vida (COLLINS, 2011, p. 17).

No Antigo Testamento, vemos o conceito de “cidades de refúgio”. Na divisão da


terra prometida, a tribo de Levi foi escolhida para viver em 48 cidades, das quais

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UNIDADE 1

seis foram designadas “cidades de refúgio” por ordem de Deus, sendo três de cada
lado do rio Jordão (Números 35:13, 14). Essas “cidades de refúgio” serviam de
abrigo e proteção para aqueles que haviam cometido algum tipo de homicídio,
sem a intenção de praticá-lo (Números 35:15). Em Números 35:16-23 encontra-
mos os critérios que ajudavam a determinar quando um crime é intencional e
quando é involuntário. Quando alguém era morto, os parentes masculinos mais
próximos do assassinado agiam como “vingadores de sangue”, podendo matar os
que haviam cometido tal ato. As “cidades de refúgio” permitiam que o homicida
se refugiasse dos “vingadores de sangue”, até ser julgado de maneira adequada
(Números 35:12-19; Deuteronômio 19:12).

NOVAS DESCOBERTAS

Sugiro que você assista ao vídeo "“O amor vem do lugar mais imprová-
vel"”, acessando o Qr-Code a seguir. O cineasta e artista Yann Arthus-
-Bertrand passou três anos coletando histórias da vida real de 2.000 mu-
lheres e homens em 60 países, trabalhando com uma equipe dedicada
de trad tores, ornalistas e cine rafistas este deo, ele apresenta m
recorte do relato de um assassino que se encontra preso, cumprindo o
seu julgamento, e como ele foi tratado pela mãe e avó das suas vítimas.

Nós não conseguimos separar as pessoas dos seus pecados. Infelizmente, somos
condicionados a pensar que as pessoas são o que fazem. Com isso, rotulamos as
pessoas de acordo com os seus comportamentos, que observamos em determi-
nadas situações. O próprio rótulo de “pecadores” é uma herança que vem dos
fariseus, a quem Jesus combatia nos evangelhos. É muito difícil para as pessoas
que frequentam igrejas de um modo geral, acolherem pessoas que são conside-
radas “pecadoras”. Ao olhar para a forma como Jesus lidava com as pessoas, ve-
mos que ele compreendia que essas pessoas cometiam pecados, mas de maneira
nenhuma as rotulava. Pelo contrário, ao acolher essas pessoas, Jesus provocava
uma mudança intensa na vida delas, como no caso da mulher pega em adultério,
relatado no evangelho de João, cap. 8, vers. 10-11:

36
UNICESUMAR


— “Mulher, onde estão eles? Ninguém condenou você?”

Ela respondeu:

— “Ninguém, Senhor!”

Então, Jesus disse:

— “Também eu não a condeno; vá e não peques mais”.

Acolher as pessoas não significa aceitar ou concordar com os seus erros e pecados.
Acolher as pessoas significa abrigar o coração delas, que se encontra machucado
com tantas dores que a vida nos causa. Lembre-se disso: pessoas machucadas,
machucam pessoas; pessoas acolhidas, acolhem pessoas. O que você acha que
aconteceria se os cristãos acolhessem os “pecadores”, como Jesus fazia, em vez de
ficarem apontando os pecados deles?


Jesus era absolutamente sincero, profundamente compassivo, alta-
mente sensível e espiritualmente maduro. Ele se mantinha fiel ao
compromisso de servir seu Pai celestial e a humanidade (nesta or-
dem) e, também, se preparava para desempenhar bem a sua tarefa
através de constantes períodos de oração e meditação. Jesus conhe-
cia profundamente as Escrituras e procurava levar os necessitados
a se voltarem para ele em busca de ajuda, para que pudessem en-
contrar paz, esperança e segurança eternas (COLLINS. 2011, p. 20).

Um exemplo muito claro de acolhimento que vemos no Novo Testamento, foi a


atuação de Ananias com Paulo. Ananias acolheu Paulo quando ele era mais te-
mido pelos cristãos. Havia um grande preconceito contra ele, mas em obediência
a Deus, Ananias acolheu Paulo. Por causa desta atitude, Ananias foi usado por
Deus para “ajudar” a escrever mais da metade do Novo Testamento. Por causa
do acolhimento de Ananias, Paulo teve a sua forma de pensar e se comportar
transformada (Atos 9.10-19).

37
UNIDADE 1

O aconselhamento cristão não está restrito a um gabinete pastoral. Ele é vivi-


do no dia a dia, no contato com as pessoas, na disponibilidade de acolhê-las e
na capacidade de ouvi-las. Uma vez que o conselheiro cristão ouve o coração
das pessoas, ele pode conduzi-las aos princípios bíblicos que nortearão as
suas vidas. Para isso, é importantíssimo que o conselheiro cristão desenvolva
a habilidade do diálogo. Uma das bases do perfil do conselheiro cristão é a
capacidade de estabelecer um diálogo com o aconselhando. A partir do diálo-
go, não apenas o conselheiro se abre ao aconselhando, como o aconselhando
se sente seguro para se abrir com o conselheiro.
O diálogo se estabelece na compreensão de que a diferença está presente entre
todas as pessoas do mundo. Mesmo pessoas que pertencem à mesma religião,
possuem opiniões diferentes entre si. Por exemplo, no meio cristão há pessoas
mais tradicionais e outras mais avivadas. Quando focamos apenas nas diferenças,
deixamos de lado aquilo que é importante: as semelhanças. Lembre-se de que,
em razão da queda, as pessoas estão totalmente desconectadas de Deus, de si
mesmas, dos outros e da criação de Deus. A terrível tendência da humanidade é
a polarização. O diálogo é um caminho importantíssimo para a cura não somente
das pessoas, mas das sociedades humanas.
No início desta unidade, indicamos que o desafio do aconselhamento cristão
não é apresentar respostas e soluções às pessoas, mas ajudá-las a se fazerem as per-
guntas corretas para encontrar as respostas adequadas a estas perguntas. O perfil
do conselheiro cristão não é o de alguém que tem respostas para as dúvidas das
pessoas, mas a de alguém que caminha junto com elas, exatamente como Jesus fazia.
No evangelho de João, no capítulo 4, há uma narrativa importante para quem
quer atuar como conselheiro cristão. Jesus conversa com uma mulher samari-
tana que já estava em seu quinto relacionamento amoroso. Como Deus, Jesus
conhecia não apenas a situação social daquela mulher, mas também, os aspectos
emocionais que ela mesma não tinha consciência. Durante todo o diálogo, Jesus
direciona a mulher a fazer perguntas. E essas perguntas vão revelando as camadas
do seu coração para ela mesma, ao ponto de ela compreender o que precisava
ser mudado em sua atitude. Da mesma forma, quando um conselheiro cristão se
coloca diante do Espírito Santo, que sonda o interior do ser humano, ele pode ser
guiado para ajudar o aconselhando a investigar as suas intenções e motivações
que estão escondidas para ele mesmo.

38
UNICESUMAR

Por essa razão, o perfil do conselheiro cristão é um perfil de alguém aberto ao


diálogo, para atuar como um facilitador para o aconselhando. O respeito pelas
diferentes formas de se enxergar a vida, não significa necessariamente concordar
ou endossar os valores que estão associados à pessoa. A identidade de uma pessoa
(por exemplo: sexo, religião, raça, nacionalidade, origem social, orientação política
etc.) deve ser respeitada e reconhecida. Uma vez que o aconselhando se sente res-
peitado e acolhido, ele se abre ao conselheiro e, depois, à mensagem do conselheiro.
O diálogo lida com as noções e os preconceitos, tanto pessoais como coletivos,
do conselheiro e do aconselhando. A partir do diálogo, os preconceitos podem ser
superados, centrando-se no questionamento, na escuta, na suspensão do julga-
mento e na busca de semelhanças com base no respeito às diferenças. O diálogo
lida com o pensamento e a compreensão e tem a missão de esclarecer e superar
mal-entendidos. O diálogo, portanto, concentra-se em ouvir, entender e reconhecer
as perspectivas das opiniões dos outros. Isto é feito por meio de: construção de rela-
cionamentos; encontrar um terreno comum; e focalizar o processo de diálogo nas
semelhanças e diferenças. O objetivo final é construir pontes de comunicação entre
aqueles que são diferentes, e transformar a relação de um estado de intolerância,
estereotipagem e incompreensão para um estado de compreensão e respeito mais
profundo das diferenças de cada um. Exatamente como Jesus fazia!

39
UNIDADE 1

O diálogo é um método transformador de construção da paz. É transforma-


dor porque muda as percepções individuais do outro e, portanto, de possíveis
conflitos. Como resultado, ele transforma a relação entre as partes de uma
relação de inimizade para uma relação de compreensão e respeito, ajudando
o aconselhando a diferenciar entre a pessoa e o problema. Uma pessoa que
é conduzida em um processo de diálogo se tornará aberta ao diálogo com
os outros. Inevitavelmente, ela estará disposta a resolver as suas pendências.
Assim como a mulher samaritana, após o seu encontro com Jesus.
O ambiente do aconselhamento deve ser um espaço seguro e acolhedor para
as pessoas exporem as suas suposições e questionarem as suas percepções e jul-
gamentos. O diálogo enfatiza o questionamento, a escuta e a cocriação, sendo
um espaço seguro e mútuo onde as pessoas podem suspender seu julgamento e
correr o risco de compartilhar seus sentimentos e percepções.


O diálogo atende as necessidades mais profundas e mais amplas
do que simplesmente ‘chegar ao sim’. O objetivo de uma negocia-
ção é chegar a um acordo entre as partes que diferem. A intenção
do diálogo é alcançar um novo entendimento e, ao fazê-lo, formar
uma base totalmente nova para pensar e agir. Não tentamos apenas
chegar a um acordo, tentamos criar um contexto de onde possam
surgir muitos novos acordos e buscamos descobrir uma base de
significado compartilhado que pode ajudar muito a coordenar e
alinhar nossas ações com nosso valor (ISAACS, 1999, p. 19).

O diálogo pode construir relacionamentos, conscientizar e contribuir para a re-


solução de conflitos, portanto, ele deve ser abordado com uma atitude de apren-
dizagem e busca de compreensão e colaboração. Tal atitude sempre coloca o
relacionamento e o propósito em primeiro plano. O objetivo do diálogo, como
Shafiq e Abu-Nimer (2011, p. 1) descrevem, “não é eliminar as diferenças de opi-
nião e convicção, mas ganhar, compreender e aceitar essas diferenças. O diálogo
não é procurar derrotar ou silenciar os outros, mas aprender, compreender e
aumentar o conhecimento deles”.
O que geralmente distingue o diálogo dos outros meios de resolução de con-
flitos é que ele se enquadra no mecanismo transformador do conflito (transfor-
mação do conflito), transformando o conflito de uma relação competitiva em

40
UNICESUMAR

cooperativa, concentrando-se em uma relação comum e sua sustentabilidade. O


diálogo é a ferramenta mais apropriada para o conselheiro cristão.
Relembrando o que vimos até aqui sobre o aconselhamento cristão:

■ o conselheiro cristão pode ser qualquer cristão que desenvolva a habili-


dade de ouvir as pessoas e de ouvir o Espírito Santo de Deus;
■ o conselheiro cristão não é aquele que tem as respostas para todas as
perguntas, mas aquele que sabe ouvir as perguntas das pessoas;
■ o conselheiro cristão deve utilizar a ferramenta teológica poimênica,
para aconselhar as pessoas;
■ o conselheiro cristão deve ter uma atitude acolhedora para ouvir as
demandas do aconselhando;
■ o conselheiro cristão deve utilizar a ferramenta de facilitação do diálogo,
para ajudar a si mesmo e ao aconselhando a quebrar preconceitos e en-
xergar situações e pessoas a partir de uma outra perspectiva.

Voltando à história que eu contei no início desta unidade, sobre aquele homem de
cabelos brancos que havia decidido se separar da sua esposa, você se lembra que
eu pedi o auxílio do supremo Conselheiro – o Espírito Santo de Deus, para lidar
com aquela situação?
A conversa com aquele irmão se repetiu durante dois anos, até que ele com-
preendesse o que estava acontecendo com ele e como ele precisava reagir diante
da situação. O trabalho de um conselheiro espiritual, raramente é rápido. Difi-
cilmente, em uma conversa, o conselheiro conseguirá chegar à raiz do coração
humano e poderá ajudar efetivamente as pessoas. É uma tarefa lenta de acolhi-
mento e de orientação.
A primeira pergunta que eu fiz para ele, naquela manhã, é a pergunta que abre
o nosso entendimento para tudo aquilo que Deus quer fazer em nossas vidas, a
partir das dificuldades que enfrentamos: “por que você está se sentindo assim,
diante desta situação?” Esta pergunta é fundamental, porque ajuda as pessoas a
focarem no presente, no que está acontecendo naquele exato momento. Isso é
imprescindível, para ajudá-los a olhar apenas para o seu coração e como ele está
reagindo às situações e às pessoas.
Não é à toa que lemos na carta de Tiago 5.16: “Portanto, confessem os seus
pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que vocês sejam curados.

41
UNIDADE 1

Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo”. Quando ajudamos as pessoas a fala-
rem o que está acontecendo com os seus corações, elas se abrem à possibilidade de
cura. Em cartas trocadas entre o Pastor Oskar Pfister e o Psicanalista Sigmund Freud
(1998), ambos entendiam que a cura do coração, vem pela fala, ou seja, pela capaci-
dade de explicar o que se passa no coração humano. Lembre-se de que ouvir é uma
das habilidades mais importantes no aconselhamento cristão, porque quando você
se dispõe a ouvir as dores das pessoas, elas se abrem para escutar a Palavra de Deus.

42
A partir do que vimos até aqui, quero convidar você a preencher o mapa de em-
patia a seguir, colocando as suas percepções sobre o aconselhamento cristão nas
igrejas. Caso você não tenha opinião estabelecida sobre as questões no mapa de
empatia, converse com três pessoas que conheça, mesmo que de outras igrejas,
e faça as perguntas que estão no mapa de empatia para elas. Com as respostas
delas, re ita e preencha o se mapa de empatia

O que você pensa e sente sobre


a tarefa do aconselhamento
cristão?

O que você ouve quando O que você vê na forma


alguém está esbravejando como se costuma aconselhar
por algum motivo? pessoas nas igrejas?

O que você
costuma falar e fazer para
pessoas que vêm pedir conselhos?

Quais as posturas que você espera de alguém, Quais são as necessidades das pessoas
quando você precisa de conselhos? que esperam conselhos?
2
Os Fundamentos
do Aconselhamento
Cristão e da
Capelania Cristã
Me. Eugênio Soria de Anunciação

Nesta unidade, vamos estudar sobre as bases do aconselhamento


cristão e da capelania cristã a partir de conceitos históricos e áreas de
atuação atuais. Conversaremos sobre a possibilidade de diálogo entre
a fé cristã e os conceitos das ciências sociais, como a psicologia, a psi-
canálise e a psiquiatria. Veremos também, de maneira panorâmica, os
três modelos de aconselhamento cristão que são mais difundidos em
nosso país, além do conceito de discipulado e mentoria como forma
de aconselhamento cristão.
UNIDADE 2

“Você nunca pensou em atuar em capelania?” Essa pergunta foi feita a mim por
um colega de ministério pastoral que estava compartilhando a sua experiên-
cia com capelania. Era o final de uma tarde, após uma semana intensa de um
Congresso de Pastores. O cansaço de todos no carro era evidente. Tínhamos
ainda pela frente mais duas horas de viagem, mas a empolgação daquele colega,
compartilhando as suas experiências com policiais militares era realmente re-
vigorante! “Você nunca pensou em atuar em capelania?” – essa pergunta ficou
ecoando em meu coração durante a viagem de retorno. “Pode deixar que eu vou
indicar o seu nome, para você atuar na sua cidade!” Essa nova possibilidade de
atuação realmente seria fantástica para mim!
Em menos de três dias, a organização responsável pelo trabalho de capelania
militar entrou em contato comigo, querendo fazer uma entrevista. Seria um tra-
balho voluntário, mas o ganho com a experiência, para mim, seria muito maior.
Marcamos o dia para conversarmos. A responsável pelas equipes de capelães
na região onde eu vivo morava em outra cidade, e coordenava doze setores, em
diversas cidades na região metropolitana de São Paulo. Essa mulher era muito
enérgica – se eu não soubesse a profissão dela diria que era uma militar –, mas ao
mesmo tempo ela também era muito cuidadosa e zelosa com a capelania militar.

46
UNIDADE 2

Ela compartilhou algumas experiências tristes e outras alegres com a atuação na


capelania, e fez várias perguntas sobre a minha formação teológica e experiência
em aconselhamento cristão e capelania.
Após a entrevista, a responsável agendou uma primeira visita ao batalhão no
qual eu atuaria como capelão voluntário. Era um setor no qual vários capelães
passaram, mas nenhum permaneceu por muito tempo – no máximo alguns me-
ses. Os comandantes deste batalhão não estavam abertos à capelania. No primeiro
dia, chegamos com antecedência. Eu fui apresentado ao comandante responsável
e tive a oportunidade de conversar pela primeira vez com alguns militares do
batalhão. A recepção foi um pouco receosa, o que era normal. Nem todos os
militares que estavam lá eram cristãos; havia militares espíritas, umbandistas e
ateus. A preocupação deles era saber o que esse “pastor” faria nessa tal “capelania”.
Na semana seguinte, cheguei antecipadamente ao horário de início das ativi-
dades, apresentei-me e aguardei a autorização para iniciar a capelania. Tive uma
hora semanal para o contato com todos no batalhão. Neste primeiro dia, durante
60 minutos, eu fiquei em uma cadeira, aguardando a autorização para iniciar
o trabalho da capelania naquele dia. A cadeira foi o contato mais duradouro
naquele dia. Não me autorizaram a entrar no batalhão. Durante 3 semanas, não
houve nenhuma autorização para que a capelania fosse iniciada. Nessas 3 sema-
nas, eu chegava antecipadamente e ficava aguardando a autorização para iniciar
a capelania. Mal sabia eu que a capelania já havia começado – não do jeito que
eu imaginava. Eles estavam me observando para ver como seria a minha reação:
se eu exigiria respeito, esbravejando e gritando, ou se eu respeitaria a ordem da
instituição. Antes de iniciar a capelania, eu precisava conquistar o respeito daque-
las pessoas. Eu fiquei sabendo desse teste alguns meses depois. Após esse período
de teste, tive a oportunidade de realmente iniciar a capelania. Antes das pessoas
se abrirem à mensagem, elas precisam se abrir ao mensageiro. A cada semana de
contato com os policiais, eu conseguia conquistar a confiança deles ao ponto de
muitos me procurarem, em momentos específicos, para abrirem os seus corações.
Uma das pessoas que me procurou, compartilhou o quanto estava se sentindo
sozinho, pois havia sido abandonado por seu cônjuge. A sua solidão era tão dolo-
rida, que pensava em tirar a própria vida para acabar com o seu sofrimento. Você
já foi procurado por alguém que estava se sentindo dessa maneira? O que você
falaria a essa pessoa? Se você fosse um capelão, como direcionaria a conversa?

47
UNIDADE 2

No Brasil, o número de policiais que cometem sui-


cídio é maior do que os que morrem em serviço.
De acordo com o relatório anual do Fórum Bra-
sileiro de Segurança Pública, de outubro de 2020,
no ano de 2019, 65 policiais militares e 26 policiais
civis cometeram suicídio, enquanto o número de
PMs mortos em serviço foi de 56 e o de policiais
civis foi 16. Uma das funções do papel da capela-
nia militar, por exemplo, é atuar na prevenção de
casos assim. Porém, não são apenas os policiais
que passam por situações emocionais extremas.
Uma pesquisa intitulada “Global Perceptions Of
The Impact Of Covid-19” (Percepções Globais dos
Impactos da Covid-19) foi realizada em 28 países
no ano de 2021, apresentando dados que mostram
que os brasileiros são os que mais se sentiram soli-
tários na pandemia. Dos brasileiros entrevistados,
50% consideraram-se solitários Frequentemente/
Sempre/Algumas vezes, e 38% Quase nunca/Nun-
ca. Sentir-se solitário é um indicativo importante
sobre a nossa saúde emocional. A questão é como
lidamos com emoções assim (IPSOS, 2021).

48
UNIDADE 2

OLHAR CONCEITUAL

UM TERÇO DOS ADULTOS EM TODO O MUNDO


SE SENTE SOLITÁRIO
Com que frequência você se sente solitário?
Frequentemente/Sempre/Algumas vezes Quase nunca/Nunca

Brasil 50% 28%


Turquia 46% 32%
Índia 43% 27%
Arábia Saudita 43% 37%
Itália 41% 29%
Fonte: Global Perceptions of the Impact of Covid-19 - Ipsos.

49
UNIDADE 2

Acesse o QR Code a seguir e leia a resenha do livro “De-


pressão: doença ou problema espiritual?”, de Ângelo Vieira
da Silva, Mestre em Ciências das Religiões pela Faculdade
Unida de Vitória/ES, e o artigo “Anjos, demônios e transtor-
nos mentais: os desafios do aconselhamento pastoral no
contexto Pentecostal”, de Nilton Eliseu Herbes, Doutor em
Teologia pela Augustana-Hochschule, Neuendettelsau, Ale-
manha, e professor na Faculdade EST, e de Daniel da Silva
Borges, Bacharel em Teologia pela Universidade Luterana
do Brasil. Bacharel em Teologia pela Universidade Luterana
do Brasil. Observe os apontamentos identificados sobre até
onde um problema emocional pode ser uma questão de
saúde e até onde pode ser algo espiritual.

A partir das leituras da resenha do livro e do artigo, escreva em seu Diário de


Bordo o que você identificou como pontos em comum e as diferenças entre os
textos. Em seguida, escreva um parágrafo sobre o seu pensamento acerca dos
temas abordados, identificando as principais diferenças entre um problema de
ordem emocional e um problema de ordem espiritual.

DIÁRIO DE BORDO

50
UNIDADE 2

Há alguns anos, é possível observar um aumento na preocupação com as doenças


relacionadas à chamada saúde mental, ou saúde emocional, como a depressão, a
síndrome do pânico e a ansiedade, consideradas doenças do século 21 que são
desencadeadas por diversos fatores, entre eles, uma rotina de vida mais inten-
sa e cansativa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300
milhões de pessoas sofrem com depressão em todo o mundo (ONU, 2017). De
acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (2022):

■ A depressão contribui de maneira determinante para o desenvolvimento


de outras doenças emocionais.
■ As mulheres são mais afetadas do que os homens pela depressão.
■ Em casos extremos, a depressão pode levar a pessoa ao suicídio (índice
maior entre os homens).
■ Existem vários tratamentos eficazes para o combate da depressão, como
medicamentos e tratamentos psicológicos.

Um dos fatores que mais desencadeia problemas emocionais nas pessoas é a


injustiça social. O Brasil é um dos países com a maior diferença de renda, algo
muito comum também em toda a América Latina. Aliás, a América Latina é
considerada a região do mundo com a maior desigualdade de renda, de acordo
com o relatório de desenvolvimento humano de 2020 do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD Brasil, 2021). Só para você ter uma ideia,
“a taxa de pobreza na América Latina aumentou de 28%, em 2014, para 31% no
ano passado (2019), segundo dados da Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (CEPAL). Do total de pobres que a região ‘ganhou’ nos últimos
cinco anos, 26 milhões sofrem com a pobreza extrema, sendo o Brasil a principal
fonte desse retrocesso” (LISSARDY, 2020, s.p.).

51
UNIDADE 2

As pessoas estão adoecendo emocionalmente diante da difícil tarefa de conse-


guir ao menos o “pão nosso de cada dia”. As pressões econômicas externas, como
o preço do barril do petróleo e a influência do dólar estadunidense, aliados às
pressões econômicas internas, como a inflação e os jogos políticos de poder que
levam à falta de credibilidade internacional do Brasil. Esses são alguns dos fatores
que afetam negativamente a economia do nosso país e, dessa forma, o rendimen-
to econômico e o poder de compra das famílias. Com o aumento da inflação,
aumenta também o desemprego. Com o medo do desemprego, as pessoas se
submetem a subempregos e à precarização do trabalho:


“Em um cotidiano atarefado, em que a reflexão crítica não é prioridade,
passamos progressivamente a aceitar certos problemas sociais, a con-
siderá-los, inclusive, como normais ou como o esperado. Legitimamos
dia após dia a manutenção de situações desumanas, decorrentes da de-
sigualdade social e da pobreza” (ACCORSSI et al., 2012. p. 537).

Entre as principais doenças emocionais do século XXI, encontram-se a Depressão, a


Síndrome do Pânico, a Síndrome de Burnout, o Transtorno de Ansiedade Generali-
zada e a Síndrome do Pensamento Acelerado. Essas e outras doenças emocionais são

52
UNIDADE 2

o resultado da forma como o nosso mundo se organizou e vive. Quando falamos em


problemas de saúde emocional, lidamos com síndromes e transtornos emocionais.
O Dicionário de Psicologia da American Psychological Association (Associação
Americana de Psicologia), define “síndrome” como o “conjunto de sintomas e sinais
que são geralmente devidos a uma única causa (ou conjunto de causas relacionadas)
e juntos indicam uma doença ou transtorno físico ou mental particular” (VAN-
DENBOS, 2010, p. 845), e “transtorno emocional” como “reações emocionais de
desadaptação que são inadequadas ou desproporcionais à realidade” (VANDEN-
BOS, 2010, p. 984). Isto significa que as doenças emocionais devem ser tratadas
com a devida importância. Não podemos jamais cair no erro de espiritualizar as
doenças emocionais. Tratar síndromes e transtornos emocionais não é atribuição
do conselheiro cristão, ou do capelão. Há muitos casos de síndromes e transtor-
nos emocionais que foram tratados apenas a partir da espiritualidade, mas que
serviram somente para que as pessoas evitassem o acompanhamento psicológico
profissional, “aumentando e muito as consequências negativas de velhas feridas”
(CASHWELL et al., 2010, p. 163). É importante ressaltar que todos nós desenvol-
vemos algumas síndromes e transtornos emocionais, em graus variados.
As emoções são um excelente indicativo do que se passa em nossos cora-
ções e os nomes que damos a emoções, são o que sentimos: sentimentos são
as emoções examinadas e elaboradas. Vale ressaltar que, por causa dos efeitos
noéticos do pecado, todos os seres humanos estão desconectados de Deus, de
si mesmos, dos outros e da criação. Como consequência, muitas das nossas di-
ficuldades emocionais são reflexo dessas desconexões. Sabemos o que sentimos,
mas muitas vezes não compreendemos por que sentimos.
Tanto o aconselhamento cristão, quanto a capelania cristã, preocupam-se
com a assistência espiritual das pessoas. A diferença, como veremos à frente,
está no campo de atuação de ambos. Na Teologia existe o campo da Teologia
Prática, que é onde se encontram as áreas de aconselhamento cristão e cape-
lania cristã. O ponto em comum para o aconselhamento cristão e a capelania
cristã, na Teologia Prática, está no conceito de “poimênica”.
O termo “poimênica” é uma palavra grega que tem a sua origem no verbo
poimen, que carrega o significado “de pastor que cuida do rebanho” (COENEN;
BROWN, 2000, p. 1587). Em sentido amplo,“poimênica pode ser definida como o
agir pastoral, na comunidade de fé, em ajuda às pessoas que fazem parte dessa co-
munidade ou não, por meio da convivência em um contexto de Koinonia” (SILVA,

53
UNIDADE 2

2018, p. 22). Partindo desta definição, podemos compreender que o sentido de


“poimênica” pode ser encontrado tanto no Antigo quanto no Novo Testamento:


[...] a poimênica, no mundo semita [do Antigo Testamento], está
muito próxima da luta constante do ser humano para manter ou
resgatar a sua relação com Deus por meio das diferentes articula-
ções da vida em comunidade, como o culto e o sacrifício a Deus.
Entretanto, compreende igualmente a busca por uma plena e justa
integração social do indivíduo que cai no abismo do isolamento,
que negligencia a sua relação com Deus e, consequentemente, não
mais se considera parte integrante do povo de Deus. Ali onde o ser
humano petrifica o seu coração, onde vive exclusivamente a partir
do seu próprio ar, da sua exclusiva respiração, - isto é, vive ao redor
do seu próprio ser -, a nefesh sucumbe, já não encontrará fôlego de
vida e, por fim, clamará: “Como suspira a corça pelas correntes de
água, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42.1)”.

[...]

“A poimênica neotestamentária encontra no termo grego “paraclein”,


“paraclesis”, o seu conceito-chave que aponta para a oferta de sal-
vação e de vida em abundância oferecida por Cristo em sua vida e
cruz. A “paraclesis” remete ao consolo da salvação que Cristo oferece
por meio de sua graça (2 Ts 2.16); entretanto, igualmente admoesta
às pessoas a transformarem suas vidas cotidianas, desafiando-as a
realizar uma identificação com Jesus Cristo também no decurso de
um sofrimento (2 Co 1.5-7)” (HOEPFNER, 2008, p. 55-65).

Diante das nossas desconexões, provocadas pelos efeitos noéticos do pecado e


que causam essas séries de síndromes e transtornos emocionais em todos os se-
res humanos, a poimênica é um “ato de acolhimento das pessoas expostas a esse
processo e que buscam no simbolismo religioso a reconstituição de sua vida esti-
lhaçada em fragmentos de formas de vir a ser deixadas no caminho”. (NOÉ, 2000,
p. 12), e o “ministério de ajuda da comunidade cristã para com os seus membros
e para outras pessoas que a procuram na área da saúde através da convivência
diária no contexto da Igreja” (SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1998, p. 292).

54
UNIDADE 2

É importante enfatizar que a poimênica não é uma ferramenta exclusiva do pastor


ou da pastora, mas de pessoas que estejam dispostas a ouvir e acompanhar outras
pessoas para ajudá-las. Tanto o aconselhamento cristão, quanto a capelania cristã,
a partir da poimênica, têm como objetivo, “libertar, potencializar e sustentar a
integridade centrada no Espírito. Os métodos de poimênica e de aconselhamen-
to são importantes dimensões desse ministério possibilitadores de integridade”
(CLINEBELL, 2011, p. 25).

PENSANDO JUNTOS

Há um ditado xhosa que ensina: Umuntu ngumuntu ngabantu, ou seja: “Pessoas depen-
dem de pessoas para serem pessoas” (James M. Houston)

Historicamente, a poimênica pode ser observada logo no início da Igreja Cristã, a


partir de diversos textos, como a “Carta a uma Jovem Viúva”, de João Crisóstomo, no
ano de 380 d.C.; o “Livro de Cuidado Pastoral”, de Gregório, o Grande, no final do
século VI; e a carta “Catorze Consolos Para os Exaustos e Sobrecarregados”, escrita
por Martinho Lutero, em 1520. Eles demonstram de maneira clara a preocupação
da Igreja Cristã no cuidado com as pessoas, a partir do ensino e da vivência pas-
toral (MARIANO, 2016, p. 34). O Aconselhamento Cristão, por sua vez, dentro da
Teologia Prática, encontra a sua base no trabalho pastoral, que tinha como tarefa
principal o cuidado do pastor com as pessoas que pertenciam à sua igreja:


Nos primeiros séculos o aconselhamento pastoral recebia o nome
de ‘cura das almas’. Em sua origem, a palavra cura não tem o signi-
ficado atual, hoje em dia se refere a sarar. Antes, uma pessoa curava
a outra quando se dava um trato adequado, quando se interessava
por ela. Era primordialmente uma atitude, e a ênfase não estava no
resultado, mas, antes de tudo na relação. Curar indicava comumen-
te ‘cuidar’, ‘ter interesse por’, incluía o conceito de saúde entendida
como crescimento (ZARACHO, 2007, p. 25).

Estudiosos da prática do cuidado pastoral e aconselhamento muitas vezes usavam


o termo “cura de almas”, citada por Zaracho (2007), para se referir ao trabalho

55
UNIDADE 2

de aconselhamento cristão ou pastoral. McNeill citado por O’Connor (2003),


descreveu o cuidado pastoral como a “cura de almas”, enfatizando que, no século
XX, a “cura de almas” foi muito influenciada pela psicoterapia.“No entanto, ele não
chama isso de aconselhamento pastoral. Em vez disso, a psicoterapia tornou-se
parte do cuidado pastoral” (O’CONNOR, 2003, p. 4).
O Aconselhamento Pastoral compreendido atualmente é considerado um
fenômeno do século XX, a partir de pastores estadunidenses que adicionaram
conceitos psicológicos aos seus ministérios, ao ponto de, em meados do século,
ele se tornar uma especialidade do ministério que exigia treinamento diferen-
ciado. Com isso, os conselheiros pastorais formados, reivindicavam uma origem
do aconselhamento pastoral, estabelecida em uma antiga compreensão hebraica
e cristã de cuidado, expandida através da história da igreja cristã ocidental e da
Reforma Protestante, e mais tarde focada na parceria da teologia moderna e das
ciências comportamentais no final do século XIX (HUNTER, 1990; O’CONNOR,
2003; MAYNARD; SNODGRASS, 2015).
A partir deste movimento, desenvolveu-se a discussão sobre o fato de o Acon-
selhamento Pastoral, ou o Aconselhamento Cristão, servir como substituto para
o acompanhamento profissional psicológico/psiquiátrico. Este é um risco des-
necessário e deve ser evitado a todo custo. Sempre que for o caso, o conselheiro
cristão deve encaminhar as pessoas quem ele atende para os profissionais com-
petentes. O aconselhamento cristão não substitui o tratamento psicológico ou
psiquiátrico. Lembre-se que o aconselhamento cristão tem duas tarefas principais:

Para aqueles que não são cristãos e buscam um aconselhamento cristão,


o desafio cond i los a risto

Para aqueles que são cristãos e buscam um aconselhamento cristão, o


desafio cond i los a ma ida pelo sp rito anto

Um aspecto importante, é que para alguns autores, “aconselhamento pastoral”,


“aconselhamento cristão” e “aconselhamento bíblico”, são sinônimos, cujo objetivo é
“ajudar aos outros em todo e qualquer aspecto da vida dentro de um relacionamen-
to de cuidado” (HURDING, 2013, p. 36). Ao enfatizar que a ajuda se dá “em todo
e qualquer aspecto da vida”, um grande desafio é identificado para o conselheiro

56
UNIDADE 2

cristão. Isso significa que é necessária uma preparação adequada, pois nem todos
os assuntos referentes à vida são fáceis de serem trabalhados e compreendidos. Um
conselheiro cristão precisa estudar bastante, ler muito e se preparar para ser usado
por Deus. Quando falamos em estudar e ler bastante, não nos referimos apenas
a livros técnicos que, com certeza, contribuirão para a formação do conselheiro
cristão. A preocupação primeira do conselheiro cristão, é o estudo da Bíblia e a com-
preensão da teologia bíblica, pois elas são as ferramentas fundamentais para que
um aconselhamento seja efetivamente cristão. Todo processo de aconselhamento
realmente cristão, é feito sob oração, busca de orientação na Palavra de Deus, busca
de orientação do Espírito Santo e na sincera intenção de obediência à vontade de
Deus (CLINEBELL, 1987; COLLINS, 2005; HURDING, 2013).
A Capelania, por sua vez, encontra as suas origens na França, por volta de
1700 d.C., quando o termo “capelania” foi criado, porque, em tempos de guerra, o
rei enviava para os acampamentos militares, uma relíquia dentro de um oratório,
que recebia o nome de “Capela”, que ficava sob os cuidados do sacerdote, que era
um conselheiro dos militares:


“A ideia progrediu e mesmo em tempo de paz, a capela continuava
no reino, sempre com um sacerdote que era o conselheiro. O costu-
me passou a ser observado também em Roma. Em 1789, esse ofício
foi abolido na França, mas restabelecido em 1857, pelo Papa Pio
IX. A esta altura, o sacerdote que tomava conta da capela, que era
chamado capelão, passava a ser o líder espiritual do Soberano Rei e
de seus representantes. O serviço costumava estender-se também
a outras instituições: Parlamentos, Colégios, Cemitérios e Prisões
(FERREIRA; ZITI, 2002, p. 53).

Uma das diferenças essenciais entre o aconselhamento cristão e a capelania cris-


tã, é aquela apontada por Williams (1968). Enquanto o “Pastoral Care” que para
ele, é sinônimo de “capelania”, envolve “atos de ajuda, feitos por pessoas cristãs
representativas, direcionados para a cura, sustentação, orientação e reconciliação
de pessoas problemáticas cujos problemas surgem no contexto de significados e
preocupações finais” (CLINEBELL apud WILLIAMS, 1968, p. 3), o aconselha-
mento cristão, quando realizado por pastores, deve ter como base elementos da
Bíblia e da Psicologia:

57
UNIDADE 2


A psicologia estuda o com-
portamento das pessoas,
enquanto a religião for-
nece esperança para essas
mesmas pessoas, indepen-
dentemente de seu com-
portamento. A psicologia
se concentra nas relações
humanas como elas são,
enquanto a religião inspira
e motiva as pessoas a mudar
e melhorar sua condição.
Apoiado pela psicologia e
pela religião, o pastor entra
na arena dos relacionamen-
tos e se torna um partici-
pante ativo (DICKS, apud
WILLIAMS, 1968, p. 3).

É importante, neste momento, identifi-


carmos também que há diferenças entre
o aconselhamento psicológico e o aconse-
lhamento cristão. No aconselhamento psi-
cológico, por exemplo, o profissional, com
formação psicoterapêutica específica para
desempenhar o seu trabalho, lida com as
questões relativas aos aspectos psicosso-
ciais da pessoa. No aconselhamento cristão,
a ênfase está em lidar com os problemas e
dificuldades da vida sob o ponto de vista re-
ligioso e espiritual. Tanto o aconselhamento
cristão, quanto a capelania cristã, partem da
tarefa da poimênica – do cuidado com as
pessoas – e esse cuidado deve ser mútuo,
pois é uma das características da vida co-
munitária da fé. Enquanto o aconselha-

58
UNIDADE 2

mento cristão envolve um acompanhamento


mais prolongado com o aconselhando, visando
a mudanças na vida da pessoa e tratando tam-
bém da sua vida comunitária de fé; a capelania
cristã envolve um acompanhamento mais pon-
tual com o aconselhando, lidando com questões
relacionadas à ética e à espiritualidade da pessoa,
visando a uma orientação específica para uma
determinada circunstância ou evento. Enquanto
o aconselhamento cristão se dá na vida comu-
nitária da igreja, a capelania cristã se dá na vida
comunitária fora da igreja. O aconselhamento
cristão deve ser realizado em ambientes onde
haja tranquilidade para o aconselhando: igrejas,
casas, cafeterias ou salas de atendimento pró-
prias para o aconselhamento. Um cuidado mui-
to importante: se você for aconselhar alguém do
sexo oposto, tenha uma pessoa do mesmo sexo
junto a você para evitar transtornos. A capelania
tem uma atuação mais abrangente, podendo ser
realizada nas seguintes modalidades:

■ Hospitalar
■ Infantil
■ Hospitalar infantil
■ Carcerária
■ Militar
■ Escolar
■ Social
■ Assistencial
■ Familiar
■ Urbana
■ Esportiva
■ Empresarial

59
UNIDADE 2

OLHAR CONCEITUAL

A partir das propostas de Williams (1968) e O’Connor (2003), sobre as diferenças


entre o aconselhamento cristão e a capelania cristã, observe o quadro a seguir.
Quadro 1 - Diferenças entre o Aconselhamento Cristão e a Capelania Cristã

Questão Aconselhamento Cristão Capelania Cristã

Quem toma a iniciativa Membro da Igreja ou visitante Capelão

Acordo Terapêutico entre Sim Não


conselheiro e aconselhado

Contexto Vida comunitária na igreja Vida comunitária


fora da igreja

Duração do
Longa Duração Curta Duração
acompanhamento

Ênfase no Perspectiva bíblica e Perspectiva bíblica,


acompanhamento psicológica ética e moral

Ministração Ministra mudanças na Ministra a presença de


vida da pessoa, a partir Deus na vida da pessoa,
da perspectiva bíblica, a partir da perspectiva
podendo se utilizar de bíblica, podendo se
perspectivas psicológicas utilizar de perspectivas
éticas e morais

60
UNIDADE 2

A base para o aconselhamento cristão e a capelania cristã é a Bíblia. O apósto-


lo Paulo escreveu: “E eu mesmo, meus irmãos, estou certo de que vocês estão
cheios de bondade, têm todo o conhecimento e são aptos para admoestar uns
aos outros” (Romanos 15.14). A referência para os cristãos é a Bíblia, principal-
mente em tudo o que ela revela sobre Jesus; no Antigo Testamento encontramos
sinalizações para a vinda do Messias; no Novo Testamento encontramos o cum-
primento dessas sinalizações, na pessoa de Jesus Cristo. O conselheiro cristão
pode se utilizar de materiais, livros e outros conhecimentos, mas a fonte principal
para o aconselhamento é a Bíblia. A tarefa do aconselhamento cristão envolve a
oração, a busca de orientação na Bíblia, a orientação do Espírito Santo e a obe-
diência à vontade de Deus. O aconselhamento cristão e a capelania cristã não são
realizados somente por pastores vocacionados, mas por todos que possuem um
chamado poimênico, evidenciado o dom espiritual de cuidado com as pessoas.
O aconselhamento cristão e a capelania cristã possuem, então, 3 componentes:

Sua base é cristã, porque nós somos discípulos de Cristo.

Sua atuação é bíblica, porque a Palavra de Deus é a nossa fonte de fé e prática.

Sua prática é pastoral, porque o nosso objetivo é cuidar do próximo.

Isso significa que quando você estiver aconselhando alguém, a sua perspectiva
no aconselhamento deve ser cristã e bíblica, ou seja, que você utilize a Palavra de
Deus, para compreender como os efeitos noéticos do pecado estão afetando as
emoções e os sentimentos das pessoas e, também, para indicar a direção bíblica
para as decisões que as pessoas precisam tomar diante dessas circunstâncias. Co-
nhecer a Bíblia é importantíssimo para que você seja guiado pelo Espírito Santo,
para conduzir as pessoas na aplicação dos princípios bíblicos para as situações
difíceis da vida, de forma cristã, bíblica e pastoral. Os conhecimentos básicos ou
aprofundados de psicologia, nos ajudam e muito como ferramentas auxiliares no
aconselhamento cristão, mas a nossa base de atuação deve ser sempre a Bíblia:

61
UNIDADE 2

“há muito na terapia secular que é a manifestação da graça comum de Deus e


harmoniza-se com sua palavra revelada” (HURDING, 2013, p. 17). Lembre-se de
que o aconselhamento cristão não pode ser tratado como uma terapia psicoló-
gica, pois ele lida com os problemas e dificuldades da vida sob o ponto de vista
religioso e espiritual.

NOVAS DESCOBERTAS

Acesse o QR Code a seguir para assistir o vídeo do Pr. Antônio Carlos


Costa, chamado “Graça Comum e Música Não Cristã”. Ele apresenta
a graça comum como uma atuação maravilhosa do Espírito Santo de
Deus, para abençoar o mundo que é alvo do amor de Deus, na cons-
trução de conhecimento em várias áreas da vida humana.

No aconselhamento cristão existem diferentes modelos e propostas de atuação. Entre


eles, vamos conhecer, de maneira panorâmica, o modelo noutético de Jay Adams, o
modelo voltado para o Discipulado de Gary Collins e o modelo holístico de Clinebell.
O aconselhamento noutético foi desenvolvido pelo pastor presbiteriano
estadunidense Jay Edward Adams (ver Figura 1). Jay Adams (1929-2020) é
considerado um dos grandes iniciadores do movimento de aconselhamento
bíblico, sendo “uma figura influente entre os conselheiros evangélicos nos dois
lados do Atlântico” (HURDING, 2013, p. 317). No Brasil, os seus principais li-
vros são “Conselheiro capaz”, e o “Manual do conselheiro cristão”, sendo ambos
publicados pela editora Fiel. Jay Adams começou a elaborar o aconselhamento
noutético a partir do final dos anos 1960 do século passado. Este modelo se
baseia na confrontação a partir das Escrituras. Em outras palavras, o aconse-
lhando apresenta a sua dificuldade ao conselheiro, que deve confrontá-lo com
o ensino claro da Bíblia, a respeito daquela questão específica.
A palavra “noutético”, vem do verbo grego noutheteo, significando literalmen-
te “o ato de pôr em mente” (formado pelo substantivo nous, [mente], e o verbo
tithemi, [pôr, colocar]). No grego, este verbo tem o sentido de exercer influência
sobre a mente da pessoa, indicando que há uma resistência por parte dela (SEL-
TER, 2000 apud BROWN; COENEN, 2000, p. 766):

62
UNIDADE 2


Nenhum vocábulo em português comunica o pleno sentido da palavra
nouthétesis. Uma vez que se trata de um vocábulo rico de significação,
sem equivalente exato em português, ele é transliterado neste volume [...]
os conceitos inerentes a essa palavra talvez não existam em nosso idioma”
(ADAMS, 1987, p. 57).

Adams (1987, p. 63) utilizou a palavra grega nouthétesis, de modo transliterado:


“noutétese”, para indicar este modelo de aconselhamento, como um “treinamento
pela palavra”. O aconselhamento noutético é, então, segundo Adams (1987), uma
técnica bíblica de aconselhamento.

JAY EDWARD ADAMS

Figura 1 - Jay Edward Adams - pastor presbite-


riano, escritor estadunidense e desenvolvedor
do modelo de aconselhamento noutético
Fonte:https://nouthetic.org/wp-content/
uploads/2020/10/2-400x573.jpg. Acesso em:
12 jul. 2022.

Descrição da Imagem: Retrato em sépia, de um homem sorrindo, com cabelos e barba grisalhos e óculos
de grau quadrado. Ele veste um terno escuro com camisa e gravata em tonalidades claras.

Jay Adams rejeitava qualquer tipo de integração do aconselhamento cristão com


a ciências humanas para tratar da saúde emocional, não aceitando, por exemplo,
as contribuições da psicologia, da psicanálise ou da psiquiatria. Suas teses são
amplamente difundidas no meio evangélico, conduzindo muitos cristãos e pas-
tores ao afastamento da pesquisa científica e dos estudos da Psicologia. Adams foi
fortemente influenciado pelo trabalho do professor e psicólogo Orval Hobart
Mowrer (1907-1982) (Figura 2), que era um ferrenho crítico da psicanálise e da
psiquiatria. Jay Adams considerava enganoso conceitos como “psicose” e “neuro-
se”, chegando à conclusão de que as doenças emocionais ocorrem “por causa de

63
UNIDADE 2

seu comportamento pecaminoso não perdoado e inalterado” (ADAMS, 1987, p.


13). Existe apenas pecado, não doença (ADAMS, 1970, p. xi). Além disso, não há
psiquiatria na Bíblia (ADAMS, 1987, p. 9).

ORVAL HOBART MOWRER

Figura 2 - Orval Hobart Mowrer - psicólogo


estadunidense e professor de psicologia na
Universidade de Illinois
Fonte: 3bp (2022).

Descrição da Imagem: Retrato em preto e branco, de um homem parcialmente calvo, com cabelos nas
laterais, trajando um terno escuro quadriculado sobre uma camisa de tonalidade clara e uma gravata
de tom escuro.

Os conselheiros bíblicos começam seu aconselhamento com um ambiente de


Deus. Simplesmente, Deus é soberano (ADAMS, 1993, p. 4) e ele sabe e se preocu-
pa com tudo. Deus pode fazer qualquer coisa de acordo com Sua própria vontade
e age em Seu próprio tempo. Os seres humanos, por outro lado, vivem em um
mundo “feito por Deus, sustentado por Deus e interpretado por Deus” (POWLI-
SON, 2000, p. 202) e existem em um ambiente de “realidades humanas, antes de
Deus” (POWLISON, 2001, p. 46). Com isso, existem apenas duas opções: viver
no ambiente de Deus por meio da obediência ou em um ambiente peca-
minoso por meio da desobediência. O pecado é o elemento fundamental no
aconselhamento bíblico no centro de lidar com os problemas humanos. Os seres
humanos sofrem por causa de seus pecados intencionais e esses sofrimentos estão
relacionados a quatro realidades diferentes:
■ Deus;
■ pecado individual;
■ Adão;
■ Satanás.

64
UNIDADE 2

Às vezes, o sofrimento se enquadra em uma ou duas categorias e, às vezes, em


todas elas. Os conselheiros cristãos devem atuar como pessoas que guiam os
sofredores de um ambiente ligado ao pecado para um ambiente ligado a Deus.
Os conselheiros cristãos esperam conhecer todas as passagens bíblicas que se
relacionam com os problemas dos sofredores para orientá-los a um ambien-
te de Deus. As Escrituras fornecem tudo o que é necessário para os problemas
dos sofredores. Por isso, os conselheiros cristãos devem não apenas conhecer as
passagens bíblicas relevantes, mas também interpretá-las biblicamente. Como
Adams (1988, p. 5) escreve: “Uma pessoa que não pode interpretar a Palavra de
Deus corretamente não pode aconselhar biblicamente”.

As três ideias encontradas na palavra nouthétesis são:


confronto, preocupação e mudança.

Simplificando, o aconselhamento noutético consiste em confrontar amorosamen-


te as pessoas com profunda preocupação, a fim de ajudá-las a fazer as mudan-
ças que Deus exige. No conceito de “confronto”, a ideia é a de que um cristão,
pessoalmente, dá conselho a outro a partir das Escrituras. Ele não o confronta
com suas próprias ideias ou com as ideias dos outros. O conselheiro cristão que
se utiliza da metodologia noutética, acredita que tudo o que é necessário para
ajudar outra pessoa a amar a Deus e ao próximo, pode ser encontrado na Bíblia.
Com relação à “preocupação”, o aconselhamento é sempre feito em benefí-
cio do aconselhando; o seu bem-estar está sempre em vista no aconselhamento
cristão. Há sempre uma nota calorosa e familiar no aconselhamento cristão que
é feito entre as pessoas que foram salvas, que procuram ajudar uns aos outros a se
tornarem mais semelhantes a Cristo. Os cristãos consideram seu aconselhamento
como parte do processo de santificação pelo qual um cristão ajuda outro a passar
por alguma dificuldade que o impede de avançar em seu crescimento espiritual.
Já o conceito de “mudança” enfatiza que o aconselhamento é feito, porque
há algo na vida de outro cristão que não atende aos requisitos bíblicos e que,
portanto, o impede de honrar a Deus. Todo tipo de aconselhamento tenta mudar
as pessoas, mas somente os conselheiros cristãos sabem o que um aconselhando
deve se tornar como resultado do aconselhamento: ele deve se parecer mais com
Cristo. Ele é o Padrão. O aconselhamento é feito por cristãos que estão conven-

65
UNIDADE 2

cidos de que Deus é capaz de fazer as mudanças necessárias à medida que sua
Palavra é ministrada no poder do Espírito.
O modelo noutético é um tipo de aconselhamento, cujo objetivo é orientar
o aconselhando, para uma vida correta diante de Deus, a partir da correção e da
denúncia de qualquer padrão de comportamento que seja incoerente com a vida
cristã. Para Adams, o aconselhamento noutético pode ser realizado por todos
os cristãos e não apenas os pastores, e pode ser vivenciado como uma atividade
normal da vida diária. Ele se baseava em textos do Novo Testamento, principal-
mente a partir da teologia paulina, para defender esta ideia:


Em Colossenses 3.16, Paulo exorta: ‘Habite ricamente em vós a pala-
vra de Cristo; instruí-vos’ (por ora vamos simplesmente transliterar
a palavra seguinte) ‘confrontando-vos uns aos outros nouteticamen-
te’. Segundo Paulo, todos os cristãos devem ensinar-se e confrontar-
-se mutuamente, de maneira noutética. Em apoio dessa proposição,
Paulo escreveu também (em Romanos 15.14): ‘E certo estou, meus
irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de
bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos confron-
tardes uns aos outros nouteticamente’ (ADAMS, 1987, p. 55).

A técnica do aconselhamento noutético envolve necessariamente a compreensão


de que há algo errado com a pessoa e que ela precisa ser confrontada para a iden-
tificação de qual pecado está atuando em sua vida. Duas perguntas são essenciais
para que o conselheiro cristão apresente ao aconselhando: “O que está errado” e
“O que é que você andou fazendo?” (ADAMS, 1987, p. 62). Para tanto, o método
noutético de Adams possui três elementos básicos:

1. Confrontar o pecado

A noutétese atua juntamente com a instrução e o ensino. A confrontação nou-


tética parte sempre do problema apresentado pelo aconselhando para tratar o
pecado que é motivo do problema. Atuando diretamente sobre o pecado que se
encontra na raiz dos comportamentos indesejados, o aconselhamento noutético
procura efetuar mudança de conduta e de personalidade.

66
UNIDADE 2

2. Atuar verbalmente

Para que haja transformação na conduta e na personalidade do aconselhando,


Adams propõe a utilização de “confrontação verbal pessoa a pessoa” a partir dos
conceitos bíblicos, para colocar a mente da pessoa em ordem, conduzindo a mu-
danças de seus esquemas comportamentais para que eles se adequem aos padrões
bíblicos (ADAMS, 1987, p. 59).

3. Beneficiar o aconselhando

O terceiro elemento presente na noutétese, tem como objetivo, beneficiar o acon-


selhando. A função da correção verbal não é puni-lo ou castigá-lo, mas mudar
aquilo que, em sua vida, o prejudica: “a meta deve ser a de enfrentar diretamente
os obstáculos e vencê-los verbalmente, não com o fim de puni-lo, mas de ajudá-lo”
(ADAMS, 1987, p. 63).
O método noutético é uma metodologia de aconselhamento cristão que não
aceita integração com as ciências humanas e possui um forte dogmatismo. Para
Jay Adams, todas as enfermidades de causas não-orgânicas, ou seja, emocionais
e espirituais, são na verdade causadas pelo pecado. Isso nos remete aos amigos
de Jó e à teologia que eles defendiam ao culparem Jó de um pecado cometido e
não confessado, por isso ele se encontrava no estado de miséria, falência e perda
da saúde. O próprio Jó, por outro lado, atesta a sua inocência, afirmando que não
havia cometido os pecados apresentados por seus amigos.
No método noutético, a atenção está voltada para o pecado. Identificar o pe-
cado e confrontar o aconselhando, à luz da Palavra de Deus, para que ele mude
de comportamento. Esse é o foco do modelo noutético de Jay Adams: a mudança
de comportamento, a partir da confrontação do pecado do aconselhando, com a
Bíblia. Na confrontação bíblica, o aconselhando é apresentado ao seu pecado e es-
pera-se que haja uma mudança de comportamento como resposta. Esta mudança
de comportamento é o que Jay Adams identifica como processo de santificação
dos salvos. Por essa razão, o modelo noutético não pode ser aplicado, de acordo
com Jay Adams, em pessoas incrédulas que ainda não se converteram a Cristo.
Se uma pessoa não convertida procurar um conselheiro noutético, o primeiro
desafio do conselheiro é conduzir a pessoa a Cristo. Somente a partir da sua

67
UNIDADE 2

conversão é que se procede o aconselhamento noutético. A fase de evangelização


é chamada no modelo noutético, de “pré-aconselhamento”: “Você não consegue
aconselhar incrédulos no sentido bíblico da Palavra (mudá-los, santificá-los por
meio da obra do Espírito Santo, na medida em que sua Palavra é ministrada em
seus corações) enquanto permanecem incrédulos” (ADAMS, 1979, p. 326).
Este método se propõe a conduzir o conselheiro cristão a confiar na pre-
sença e na atuação sobrenatural do Espírito Santo, na conversão do incrédulo e
no processo de santificação do convertido, a partir da Bíblia. É uma abordagem
autoritativa, diretiva e disciplinadora, ou seja, porque se baseia na Bíblia, o seu
método é um método assertivo, confrontando o pecado dos aconselhados com
os ensinamentos da Bíblia para que as pessoas mudem seus comportamentos, a
partir da Bíblia. É um método que serve para determinadas situações, mas não
para todas as situações, especialmente aquelas nas quais comportamentos ina-
dequados colocam a vida da pessoa em algum tipo de risco.
Gary Collins (ver Figura 3) é psicólogo, professor e cofundador da Associa-
ção Americana de Conselheiros Cristãos e desenvolvedor do modelo de acon-
selhamento cristão voltado para o Discipulado. No Brasil, os seus livros mais
conhecidos são “Ajudando uns aos outros” (1982) e “Aconselhamento Cristão”
(1984/2004). O modelo de Gary Collins, diferentemente do modelo noutético
de Jay Adams, considera a contribuição da psicologia, psicanálise e psiquiatria
para o aconselhamento cristão, a partir de uma validação desses conceitos, a
partir da própria Bíblia:


“Toma por certo que o Deus que fala através da Bíblia também reve-
lou verdades acerca do seu universo por meio da ciência, inclusive
a psicologia. Logo, leva-se a sério os métodos e as técnicas psicoló-
gicas, embora devam ser testados, não somente de modo científico
e pragmático, mas primeiramente à luz da Palavra de Deus escrita”
(COLLINS, 2005, p.29).

A tarefa do conselheiro cristão está profundamente ligado ao seu objetivo como


discípulo de Jesus, de “levar o indivíduo a um relacionamento pessoal com Jesus
Cristo e ajudá-lo a encontrar o perdão e alívio dos efeitos incapacitantes do pe-
cado e culpa” (COLLINS, 1988, p. 16). Segundo a proposta de Collins (2005), ao
ensinar tudo o que Jesus ensinou (Mateus 28.19-20), as pessoas serão capazes de

68
UNIDADE 2

se conhecer melhor, conhecer melhor a Deus, conhecer melhor os outros e serem


transformadas. Para isso, a psicologia tem um papel importante como ferramenta
de apoio para o aconselhamento cristão. No modelo de Collins, pode e deve haver
um diálogo e uma aproximação entre teologia e psicologia, tendo sempre a Bíblia
como norte para o aconselhamento cristão:


“Não é uma atitude realista esperar que chegaremos um dia a uma
só abordagem bíblica ao aconselhamento, assim como não des-
cobrimos uma só abordagem bíblica às missões, à evangelização,
ou à pregação. Em grande medida, as técnicas de aconselhamento
dependem da personalidade do conselheiro e da natureza dos pro-
blemas do aconselhando, mas devemos procurar descobrir as várias
técnicas e as diferentes abordagens ao aconselhamento que surgem
dos ensinamentos da Escritura ou que são claramente consistentes
com ela” (COLLINS, 2005, p. 21).

GARY R. COLLINS

Figura 3 - Gary R. Collins - psicólogo e escritor


estadunidense
Fonte: Gary Collins (2022).

Descrição da Imagem: Retrato colorido de um homem de meia idade, com cabelo levemente despentea-
do e grisalho, vestido com uma camiseta na cor preta e de óculos de grau, sorrindo levemente enquanto
olha para a câmera, tendo ao fundo vários livros dispostos em estantes próximas à parede.

Para Collins (2004), a igreja do Novo Testamento era uma comunidade terapêuti-
ca, além de atuar no ensino, na evangelização e no discipulado. Todas as ações da
igreja devem ter como foco esta atuação terapêutica a partir do cuidado mútuo.
Quando algum desses elementos é deixado de lado, há igrejas desequilibradas e

69
UNIDADE 2

doentes emocionalmente. Por isso a palavra-chave para o modelo de Collins é


Discipulado:


“O conselheiro cristão procura levar as pessoas a ter um relaciona-
mento pessoal com Jesus Cristo, ajudando-as, assim, a encontrar
perdão e a se livrar dos efeitos incapacitantes do pecado e da culpa.
O objetivo final do cristão é ajudar os outros a se tornar discípulos
de Cristo e a discipular outras pessoas” (COLLINS, 2004, p. 17).

A ênfase do método de Gary Collins está na preparação do conselheiro e a sua


relação com o aconselhando. O objetivo a ser alcançado no aconselhamento,
parte da observação e da escuta qualificada dos problemas e das necessidades
dos aconselhandos, porém, sempre da dependência da direção do Espírito Santo.
Em vez de existir um diálogo entre o conselheiro e o aconselhando, o conselheiro
desafia o aconselhando a manterem “um ‘triálogo’ que envolva a presença de Deus
no centro do processo de aconselhamento realmente eficiente” (SOUZA, 2015,
p. 18). Os objetivos do aconselhamento, no modelo proposto por Collins (2004,
p. 77) devem levar em consideração:

70
UNIDADE 2

1. Ajudar a pessoa a superar o momento agudo da crise e voltar ao seu


estado normal;
2. Diminuir o nível de ansiedade, preocupação e outras inseguranças que
podem seguir durante a crise e permanecer depois que ela passar;
3. Ensinar técnicas de controle de emergências para que a pessoa possa antever
e lidar eficazmente com crises futuras;
4. Ministrar os ensinamentos bíblicos sobre situações de crise, para que a
pessoa possa tirar lições dos acontecimentos e amadurecer.

Em sua compreensão, o aconselhamento cristão está preocupado com o “relacio-


namento do aconselhando com Jesus Cristo e a aceitação dos valores cristãos”
(COLLINS, 1980, p. 326). O aconselhamento cristão é uma atividade para ajudar
as pessoas a serem novas criações através da ajuda do Espírito Santo. Os aconse-
lhandos são pessoas que são influenciadas por sua natureza e comportamentos
pecaminosos, por isso, eles precisam se perceber perdoados e curados por Deus
através da ajuda de conselheiros cristãos. Para este trabalho, Collins (2001, p. 21)
define um conselheiro cristão como “um servo de Jesus Cristo profundamente
comprometido e guiado pelo Espírito, que aplica suas habilidades, habilidades,
treinamento, conhecimento e insights dados por Deus na tarefa de ajudar os
outros a integridade pessoal, competência interpessoal, estabilidade mental e
maturidade espiritual”. Portanto, os conselheiros cristãos são “crentes que vêm de
diferentes perspectivas teológicas, usam diferentes abordagens de aconselhamen-
to e têm diferentes níveis de treinamento e experiência” (COLLINS, 2001, p. 21).
Para Collins, o aconselhamento cristão tem a ver com Deus, com Cristo, com
o Espírito Santo, com a Igreja e com o futuro. Os conselheiros cristãos devem
ajudar os aconselhandos a conhecer a Deus e ter um relacionamento correto com
Deus por meio de Jesus Cristo, que é a pessoa da Trindade que atua na reconci-
liação. O Espírito Santo capacita os aconselhandos a resolver os seus problemas
e os capacita a mudar suas vidas e personalidades diariamente. Os conselheiros
cristãos ajudam os aconselhandos a pertencer à comunidade da igreja e a resolver
os seus problemas por meio da Igreja. A Igreja também precisa de conselheiros
cristãos para ajudar pastores e líderes espirituais. Sobre o futuro, os conselheiros
cristãos ajudam os aconselhandos a ter esperança no futuro e a entender que as
suas vidas estão no processo de santificação e glorificação.

71
UNIDADE 2

Os conselheiros cristãos precisam de várias características especiais para fazer


aconselhamento: “autocompreensão, qualidades psicológicas e qualidade espiri-
tual” (COLLINS, 1972, pp. 17-20). A primeira é a autocompreensão que significa
autoconhecimento. Conselheiros cristãos devem conhecer as suas necessidades,
os problemas e as questões da vida, devido ao relacionamento com os aconse-
lhandos. Os conselheiros cristãos também precisam conhecer os seus valores e as
visões de mundo, porque influenciam a direção do aconselhamento. A segunda
são as qualidades psicológicas de compreensão dos outros, aceitação, distância,
capacidade de conviver com as pessoas e experiência. Para o modelo de acon-
selhamento cristão voltado para o Discipulado de Collins, os conselheiros cris-
tãos precisam conhecer a Deus, a Jesus Cristo, a Bíblia, o Espírito Santo, a igreja
e outros temas teológicos necessários. Essas qualidades espirituais ajudam os
conselheiros cristãos a orientar e aconselhar seus clientes de maneira espiritual.
Os conselheiros cristãos precisam de habilidades apropriadas para execu-
tar o aconselhamento da seguinte forma: construção de relacionamento, escuta
ativa, observação cuidadosa, uso do silêncio, perguntas sábias, como responder,
utilização de recursos espirituais e término positivo (COLLINS, 1972, pp. 22-
34). Construir relacionamentos (rapport) é crucial para que os aconselhandos se
abram, tornando o aconselhamento eficaz. Os conselheiros cristãos podem enten-
der os aconselhandos através da escuta ativa. A observação do comportamento
dá muitas pistas para os conselheiros cristãos entenderem os aconselhandos. O
silêncio deles dá um significado importante aos conselheiros cristãos. Quando
os aconselhandos ficam em silêncio, os conselheiros cristãos os encorajam a se
sentirem à vontade para não falar e os ajudam a falar quando estiverem prontos.
Existem diferentes maneiras de usar perguntas sábias, como:

■ Fazer perguntas abertas,


■ Não fazer perguntas fechadas,
■ Fazer perguntas indiretas,
■ Não fazer perguntas repetidamente e
■ Evitar perguntas do porquê.

Há muitas maneiras diferentes de responder aos aconselhandos: sondagem,


compreensão, apoio, interpretação, avaliação e respostas ativas. Para usar

72
UNIDADE 2

os recursos espirituais, os conselheiros cristãos devem usar passagens bíblicas,


oração, dar passagens bíblicas específicas aos clientes e sentir o Espírito Santo
juntos. O término positivo está relacionado a ver o futuro positivamente, termi-
nar as sessões de aconselhamento com orações curtas, resumir o conteúdo do
aconselhamento e avaliar a eficácia do aconselhamento.
Existem questões éticas no aconselhamento, como “confidencialidade, con-
tato físico, exploração psicológica e uso indevido do aconselhamento, consen-
timento informado dos valores cristãos, imposição da continuação do aconse-
lhamento e reconhecimento da limitação do conselheiro” (COLLINS, 1972, p.
38). Há também perigos no aconselhamento de “excesso de confiança em infor-
mações unilaterais, conclusões precipitadas, envolvimento excessivo, lapsos de
informação, falta de referência, ênfase excessiva ou insuficiente no espiritual e
um ministério desequilibrado” (COLLINS, 1972, p. 39-42).
Um ministério desequilibrado significa a negligência de outras responsabi-
lidades de pregação, visitas e entrevistas como pastores.
O processo de aconselhamento pode ser dividido em (COLLINS, 1972):

■ Contato
■ Fase introdutória
■ Delineamento do problema
■ Trabalho em busca de soluções
■ Conclusão

O contato com os aconselhandos é a primeira fase do aconselhamento. Em


muitos casos, o contato com os aconselhandos ocorre de forma indireta e não
oficial. A fase introdutória inclui a construção de relacionamento e sondagem
dos problemas dos aconselhandos. A fase de delineamento do problema in-
clui avaliar os aconselhandos, receber reclamações e estabelecer os objetivos do
aconselhamento. A fase de trabalhar em direção a soluções é a fase de resolver
os problemas dos aconselhandos com os clientes. Neste estágio, os conselheiros
cristãos devem ser ativos na solução dos problemas apresentados em cooperação
com os clientes. A conclusão inclui a avaliação e discussão das metas, o processo,
a eficácia e o futuro após o aconselhamento.
Existem muitos tipos diferentes de aconselhamento (COLLINS, 1972, p. 50-54):

73
UNIDADE 2

■ Apoio;
■ Confronto;
■ Educação;
■ Prevenção;
■ Espiritual;
■ Encaminhamento;
■ Aconselhamento de profundidade.

O objetivo do aconselhamento de apoio é “apoiar, sustentar e estabilizar a pes-


soa problemática e ajudá-la a ganhar força e estabilidade para que possa lidar
com seus problemas” (COLLINS, 1972, p. 50). O objetivo do aconselhamento
de confronto é fazer com que os aconselhandos enfrentem os seus problemas,
pecados, erros, contradições e construam um padrão moral para os problemas
apresentados. O objetivo do aconselhamento educativo é fornecer informações,
ensinar algumas habilidades e descobrir certos fatos e questões. O objetivo do
aconselhamento preventivo é antecipar os problemas antes que eles apareçam
e evitar o agravamento dos problemas existentes. O objetivo do aconselhamento
espiritual é descobrir quais são os problemas teológicos, ajudar os aconselhandos
a descobrir o significado e o propósito da vida e ensinar como crescer espiritual-
mente. O objetivo do aconselhamento de referência é ajudar o cliente a ter outro
conselheiro e apoiá-lo a continuar o aconselhamento.
Collins (1972) recomenda trabalhar dentro de uma cosmovisão cristã, in-
tegrando aspectos da psicologia com a Bíblia. Ele pressupõe que o coração hu-
mano é movido pela necessidade ou desejo de desenvolver uma atividade ou
causar impacto no mundo, e a necessidade de se conectar com os outros de forma
amorosa. Com essa suposição em mente, Collins optou por uma abordagem de
aconselhamento participativo, na qual tanto o facilitador quanto o aconselhando
se envolvem em um diálogo amigável e participativo. Ambos são ativos na me-
dida em que ambos falam, e são passivos na medida em que ouvem um ao outro
igualmente em sua busca de satisfação de necessidades.

PENSANDO JUNTOS

“O que nos torna humanos não é a mente, mas o coração, não é a habilidade de pensar,
mas a capacidade de amar” (Henri Nouwen)

74
UNIDADE 2

O aconselhamento holístico de Howard J. Clinebell (1922-2005) (ver Figura 4)


é baseado em libertação e crescimento. Diferentemente do que possa parecer, o
modelo de aconselhamento de Clinebell não está estabelecido em princípios de
cura e libertação do movimento de batalha espiritual. É um modelo que procura
apresentar princípios bíblicos para o aconselhamento das pessoas, a partir de:


uma dimensão da poimênica, é a utilização de uma variedade de
métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com
seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao cres-
cimento e, assim, a experimentar a cura de seu quebrantamento.
O aconselhamento pastoral é uma função reparadora, necessária,
quando o crescimento das pessoas e seriamente comprometido ou
bloqueado por crises (CLINEBELL, 1987, p. 25).

O livro mais conhecido de Clinebell no Brasil é “Aconselhamento Pastoral: mo-


delo centrado em libertação e crescimento”, publicado pela editora Sinodal. O
aconselhamento pastoral, para Clinebell (1987), tem como funções: estabelecer
papéis curativos, apoiador, orientador e reconciliador na vida do aconselhando,
a partir do conselheiro, com o propósito de conduzir as pessoas a descobrirem
os seus potenciais. O resultado esperado desta ação poimênica, é conduzir o
aconselhando à integralidade da vida, em suas seis dimensões:

1. Despertamento da forma de pensar;


2. Revitalização do corpo;
3. Renovação e enriquecimento dos relacionamentos íntimos do aconselhando;
4. Aprofundamento na interação com o ambiente e o cuidado com ele;
5. Crescimento em relação às instituições significativas na vida do aconselhando, e
6. Aprimoramento no relacionamento pessoal com Deus.

A ideia de ser humano para Clinebell (1987), é fortemente influenciada pela cos-
movisão hebraica e do Antigo Testamento, ou seja, o ser humano não é tratado
como um ser dividido, mas integral, como uma unidade de dimensões, dentro
de uma visão holística, em uma visão comunitária. Daí vem o termo “aconselha-
mento holístico”. Mariano (2016, p. 20) resumiu assim o conceito antropológico
de Clinebell (1987):

75
UNIDADE 2


a) É assim que a Bíblia reafirma o sentido de glorificar a Deus no
corpo (1Cor. 6:19), e não fora dele ou desconsiderando-o. b) Que
se deve amar a Deus com todas as dimensões humanas (Mc. 12:30).
c) Que se deve viver a vida alimentando os relacionamentos em
paz, shalom, do Antigo Testamento, ou em comunhão, koinonia, na
perspectiva do Novo Testamento. d) O respeito à Criação (ecologia)
como ato único da vida. ‘E viu Deus que tudo era bom’. e) A liberta-
ção é tanto pessoal quanto social. Tanto o pecado quanto a salvação
são comunitários e sociais, assim como individuais, onde o Novo
Testamento afirma ‘Conhecereis a liberdade [verdade] e a verdade
vos libertará’ (Jo. 8:32). Nota-se que o ser humano é compreendido
pelas escrituras em uma dimensão holística e integral para o cres-
cimento, conforme Clinebell”.

HOWARD JOHN CLINEBELL

Figura 4 - Howard John Clinebell - pastor me-


todista e professor estadunidense de acon-
selhamento pastoral / Fonte: The Clinebell
Institute (2022).

Descrição da Imagem: Retrato em preto e branco de um homem de meia idade sorrindo levemente, com
cabelo levemente grisalho, com óculos de grau quadrado, de armação grossa, vestido com um terno na
tonalidade escura, sobre uma camisa de tom claro e uma gravata com tonalidade escura..

Por outro lado, Clinebell (1987) compreendia que o aconselhamento pastoral


contribuía para a permanente renovação de vitalidade de uma igreja, na mesma
medida em que as pessoas são renovadas em seus relacionamentos e grupos. Não
é apenas a pessoa que é renovada, mas todos em sua volta são afetados direta-
mente pela ação poimênica do aconselhamento pastoral. Assim como Collins,
Clinebell (1987) defendia um diálogo e integração entre o aconselhamento pas-
toral e as ciências sociais:

76
UNIDADE 2


O modelo de Clinebell abriu-se para impulsos da psicologia hu-
manística, porém tenta fundamentá-la biblicamente. Uma visão
aberta para o pluralismo religioso nas sociedades modernas, a
ênfase no aspecto comunitário, a sensibilidade para os proble-
mas causados pelo sexismo e a injustiça social nas cidades do norte
e na relação norte-sul do planeta aproximam esta concepção das
necessidades da realidade latino-americana (SCHNEIDER-HAR-
PPRECHT; ZWETSCH, 2011, p. 269-270).

Em sua opinião, o ambiente da igreja é importante no processo de aconselha-


mento, pois onde houver acolhimento, a cura e a restauração podem ser experi-
mentadas, onde existe verdadeira comunhão e mutualidade, o processo de cura e
libertação acontecem mais rapidamente e de forma profunda: “o aconselhamento
pastoral pode ser instrumento de cura e crescimento na medida que nos ajuda
a desenvolver o mais difícil de conseguir na época em que vivemos: relaciona-
mentos profundos” (CLINEBELL, 1987, p. 15). A proposta de aconselhamento
pastoral de Clinebell (1987) é descrito por ele, como “um novo paradigma holís-
tico, centrado em crescimento e libertação, para a poimênica e o aconselhamento
libertador, tendo em seu centro a integralidade espiritual e ética” (CLINEBELL,
1987, p. 17), como uma integração de “cura e crescimento a nível intrapsíquico e
interpessoal com mudança construtiva nas estruturas e instituições mais amplas
em que as pessoas vivem (...) para integrar com a poimênica as demais funções
do ministério [...] que visa tornar as instituições mais possibilitadoras de cresci-
mento” (CLINEBELL, 1987, p. 17).
Os tipos básicos de cuidado pastoral e aconselhamento enfatizados por CLI-
NEBELL (2011, p. 30), o cuidado holístico que inclui o cultivo da integridade em
sete dimensões da vida, são estes:

■ Dimensão física;
■ Dimensão menta;
■ Dimensão relaciona;
■ Dimensão recreativa;
■ Dimensão do trabalho;
■ Dimensão da sociedade/natureza;
■ Dimensão espiritual/ética.

77
UNIDADE 2

Clinebell aborda áreas específicas de preocupação, incluindo o aconselhamento


de curto prazo em crises, crises desafiadoras, situações crônicas, incluindo doen-
ças de longo prazo, luto e quebrantamento espiritual. Ele recomenda também o
aconselhamento educativo e de apoio, bem como cuidados em grupo, juntamente
com o encaminhamento de indivíduos a conselheiros profissionais quando ne-
cessário. Clinebell (2011, p. 347) indica que os pastores precisam “ser capazes de
funcionar simultaneamente como professores, conselheiros e treinadores” para
fornecer cuidados holísticos e treinar conselheiros leigos.
Clinebell é, sem dúvida, o defensor mais entusiasmado de adotar uma abor-
dagem holística no cuidado pastoral. Tão inclusiva é a sua abordagem, que ele
descreve cada aspecto possível da vida humana, como parte do processo pastoral:
gênero, estágios da vida, corpo e mente, atividades e relacionamentos do
lado esquerdo e direito do cérebro fazem parte dessa abordagem holística
(CLINEBELL, 2011, p. 31-50). A pessoa inteira deve ser conduzida à plenitude
e ser libertada do pecado, dos problemas, ou de qualquer coisa que a impeça de
ter uma vida abundante. O crescimento em todas as áreas da vida é responsabili-
dade de um conselheiro, ao conduzir um aconselhando à cura. Esta abordagem é
abrangente, em que a mente e o corpo são revitalizados e as pessoas são capacita-
das para atingir todo o seu potencial. Ao descobrir e desenvolver possibilidades,
que ainda não foram descobertas,“os pontos fortes em seu caráter podem facilitar
o fortalecimento e o crescimento” (CLINEBELL, 2011, p. 29).
A partir da compreensão destes modelos de aconselhamento cristão, dispo-
níveis pela Teologia Prática, podemos ver a sua aplicabilidade na vida da igreja,
no discipulado como orientação, amizade e aconselhamento mútuo.
Quando Jesus retornou ao céu após a sua ressurreição, Ele deixou instruções
claras aos seus discípulos, tanto para os que estavam com ele naquele dia, como
para cada discípulo de Jesus que viria depois deles: “Portanto, vão e façam discípu-
los de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou
com vocês todos os dias até o fim dos tempos.” (Mateus 28:19-20). Na Teologia, esta
instrução de Jesus é chamada de a “Grande Comissão”, porque essas palavras repre-
sentam uma missão crítica para a igreja enquanto o povo aguarda o seu retorno.
Um “discípulo” é uma espécie de aluno, ou seja, é alguém que segue o ensi-
no de alguém, aprende e modela a sua vida de acordo com outra pessoa – neste
caso, com Jesus. A ênfase da “Grande Comissão”, está em ensinar as pessoas que

78
UNIDADE 2

forem batizadas, a guardar todas as coisas que Jesus ordenou. As pessoas a quem
Jesus deu essas instruções essenciais tinham uma compreensão muito boa do
que significava ser seus discípulos. Eles deixaram tudo para segui-lo e, por três
anos, absorveram a sua instrução, experimentando incríveis altos e baixos ao
descobrirem o que significava seguir Jesus. Quando Jesus disse aos seus discípulos
para fazerem discípulos de todas as nações, eles não teriam visto isso como uma
tarefa casual para ajustar entre outros interesses. Isso precisaria se tornar seu
foco principal. Os discípulos teriam entendido as palavras de Jesus como tendo
algumas implicações muito importantes. Vejamos cada parte do que Ele disse:

Vão
Fazer discípulos não é uma atividade passiva. Requer um comporta-
mento intencional e estratégico. Os seguidores de Cristo não podiam
esperar que as pessoas viessem até eles e pedissem para se tornarem
discípulos. Eles teriam que sair e fazê-los, o que fala de comportamento
estratégico e intencional. O verbo no grego dá a seguinte ideia: “aonde
quer que vocês forem, ou estejam”.

Façam discípulos
Para fazer outros discípulos, os discípulos de Jesus teriam que compar-
tilhar a mensagem do evangelho com pessoas que nunca ouviram an-
tes. Mas esse foi apenas o primeiro passo. Um discípulo é mais do que
alguém que se converte a uma nova religião. É alguém que dedicou a
sua vida a seguir Jesus. Comunicar o evangelho é um elemento crítico
para fazer discípulos, mas não é o fim.

De todas as nações
Jesus era um homem judeu, mas durante o seu ministério na Terra, ele
ensinou que Deus não estava apenas redimindo o povo de Israel para
si mesmo, mas estava redimindo o mundo. Na mesma época em que
deu a “Grande Comissão”, Jesus disse aos seus discípulos: “Mas vocês
receberão poder ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e
até os confins da terra.” (Atos 1:8). Isso é fundamental para entender a
ação que Jesus estava propondo. Por exemplo, os judeus desprezavam
os samaritanos, mas Jesus estava derrubando muros de hostilidade

79
UNIDADE 2

(Efésios 2:14), trazendo uma mensagem de paz e reconciliação – de rel-


acionamentos restaurados – não apenas para Israel e Samaria, mas para
o mundo inteiro. Discípulos são derrubadores de muros de hostilidade
e promotores de mensagem de paz e reconciliação.

Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do


Espírito Santo
O batismo é uma inauguração na comunidade de Deus. Um seguidor
de Jesus deve declarar sua fidelidade a Jesus, identificando-se com a
sua morte e ressurreição, que é o que o batismo ilustra. O significado
bíblico do batismo carrega em si a ideia de purificação. Fica claro nesta
instrução que a comissão de Jesus inclui pessoas se tornando seus
seguidores, mas não se limita a isso. Trata-se de se identificar e entregar
sua vida ao Deus que o conhece, o criou e o ama.

Ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho


ordenado a vocês
É aqui que o discipulado vai além do evangelismo. O processo de
discipulado é mais do que ensinar a pessoas o conhecimento correto
sobre Deus. Um discípulo modela a si mesmo tendo alguém como
modelo e referencial. Fazer discípulos de Jesus vai além de ensinar fatos
sobre Jesus. Significa ensinar as pessoas a conhecer e ser como Jesus –
obedecer a Deus e buscar o melhor para suas vidas.

O discipulado é uma jornada de decisões intencionais que levam à maturidade


em seu relacionamento com Jesus, para que você se torne mais semelhante a ele
em suas atitudes, foco e, finalmente, comportamento. Requer um compromisso
do discípulo em potencial e dos fazedores de discípulos. Não é algo que acontece
por acidente ou da noite para o dia, e não pode ser concluído em uma aula de
seis semanas. Este é um compromisso para a vida inteira de seguir a Deus com
todo o seu ser e aprender e, eventualmente, ensinar os outros sobre como segui-lo.
Em uma carta a um grupo de cristãos em uma cidade chamada Éfeso, Paulo,
um dos primeiros seguidores de Jesus, e que escreveu grande parte do Novo Testa-

80
UNIDADE 2

mento, explica que Deus dá dons (aliás, “dons” significam “um presente”) aos seus
discípulos para ajudá-los a fazer outros discípulos. Ele começa encorajando-os a
fazer tudo o que puderem para manter a unidade do Espírito (Efésios 4:3). Isso é
crítico porque o discipulado deve acontecer entre uma comunidade de discípulos,
que a Bíblia chama de “a igreja” ou “o corpo de Cristo”.
Paulo explica que Deus equipou o seu povo – a igreja – com dons e habili-
dades específicas. Esses dons “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado
de pessoa madura, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:12-13).
Discipulado é o processo de amadurecimento em sua fé, ao ponto de você
se tornar mais parecido com Cristo. Para o apóstolo Paulo, discipulado acontece
quando você está conectado a outros discípulos de Jesus. Ele escreveu: “para que
não mais sejamos como crianças, arrastados pelas ondas e levados de um lado para
outro por qualquer vento de doutrina, pela artimanha das pessoas, pela astúcia
com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado
pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o
seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor” (Efésios 4.14-16).
O processo de discipulado na comunidade protege você de falsas visões de
Deus, das tentativas de Satanás de isolá-lo com seus próprios pensamentos e
sentimentos, e das ideias culturais contrárias aos propósitos de Deus.
Em alguns momentos da caminhada cristã, as pessoas tropeçam e caem. To-
dos enfrentamos dificuldades, dor e perda. Quando isso acontece, precisamos
de outros ao nosso redor para nos lembrarem a guardar tudo o que Jesus nos
ordenou. Quando isso acontece, a comunidade cristã se torna um lugar onde as
pessoas estão usando os seus dons para ajudar uns aos outros a crescer, e o uso
combinado desses dons contribui para uma cultura que torna o discipulado pos-
sível. E mesmo quando as coisas se tornam difíceis, a comunidade cristã pode ser
um lugar onde experimentamos e vivemos o perdão e a reconciliação. Em tudo
isso, o discipulado é parte do processo à medida que seguimos a Cristo juntos e
à medida que somos orientados e orientamos outros ao longo do caminho.

81
UNIDADE 2

Quero convidar você para ouvir o Podcast sobre como o


discipulado pode ser uma ferramenta eficaz no combate
aos efeitos noéticos do pecado e a sua utilização no acon-
selhamento cristão. Neste podcast, vamos conversar com
um pastor que tem se utilizado do discipulado como forma
de aconselhar as pessoas na perspectiva cristã.

A comunidade cristã é um elemento tão crítico do discipulado que a Bíblia diz,


no Livro de Hebreus: “Cuidemos também de nos animar uns aos outros no amor
e na prática de boas obras. Não deixemos de nos congregar, como é costume de
alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem
que o Dia se aproxima.” (Hebreus 10:24-25). O discipulado acontece quando os
membros das igrejas servem e encorajam uns aos outros, assim como outras
pessoas. A frequência à igreja não se traduz automaticamente em discipulado. É
difícil para alguém crescer como discípulo sem alguma conexão com uma igreja
local. Porém, por outro lado, ir à igreja não garante crescimento em maturidade.
O crescimento cristão requer uma abordagem prática. A Bíblia frequen-
temente demonstra a importância da orientação. Paulo orientou outros discí-
pulos de Cristo para ajudá-los a serem maduros e eficazes em fazer discípulos.
Na carta do Novo Testamento chamada Tito, você pode ver o relacionamento
de orientação de Paulo com outro discípulo, chamado Tito. Neste livro, Paulo
enfatiza a importância de cristãos maduros encorajando e guiando crentes ima-
turos. A orientação que acontece no discipulado cristão é diferente da orien-
tação que você vê em outros contextos. Por exemplo, alguém que o orienta em
sua carreira pode permitir que você conduza o relacionamento. O mentor de
carreira se coloca à disposição para responder às dúvidas e preocupações do
mentorado. A mentoria que cria discípulos é diferente. Em um contexto de
discipulado, o mentor tem uma agenda. É mais do que reunir-se regularmente
para discutir um capítulo de um livro apenas por causa da discussão. Há um
propósito e um objetivo mais profundo por trás da tarefa em mãos.
Um mentor que faz discípulos molda intencionalmente a compreensão, as
atitudes e o comportamento de alguém. Eles estão modelando como um discí-
pulo se parece em palavras e ações. Como Paulo, o mentor pode dizer: “Siga meu
exemplo, como eu sigo o exemplo de Cristo” (1 Coríntios 11:1). Isso não significa

82
UNIDADE 2

que eles são perfeitos ou têm tudo planejado, mas sig-


nifica que eles estão tentando seguir a Deus com toda
a sua vida. Parte disso inclui os mandamentos de Deus
para compartilhar Jesus com outras pessoas e ensinar as
coisas que aprenderam sobre Ele para os outros. Men-
tores muitas vezes foram orientados por outra pessoa.
Eles podem procurar mentores ao longo de sua vida.
Um mentor que faz discípulos reconhece vários ní-
veis de compreensão e crescimento nos discípulos que
estão orientando e viaja com eles, orientando-os à me-
dida que se tornam mais semelhantes a Jesus. Eles criam
um espaço seguro para a pessoa com quem estão se en-
contrando para ser honesto. A mentoria não funciona
se as duas partes estiverem no mesmo lugar em suas
jornadas de discipulado – embora também seja útil ob-
ter responsabilidade e comunidade de pessoas que estão
no mesmo lugar em suas jornadas espirituais. À medida
que alguém cresce em sua fé, eles alcançam outros que
estão caminhando por onde já estiveram, ajudando-os
a se tornarem como Jesus também.
Jesus passou três anos treinando seus seguidores
para fazer novos discípulos porque somente um dis-
cípulo pode fazer outro discípulo. O plano de Jesus é
exatamente este: que os seus discípulos façam discípulos
dele e que, por sua vez, eles formem mais discípulos de
Jesus. A vida cristã não pode ser vivida no individua-
lismo. Não é apenas sobre você e Jesus. Ela exige uma
vida comunitária, de povo de Deus, de comunidade de
fé. Em uma carta aos discípulos de Jesus em uma cidade
chamada Filipos, Paulo escreveu: “Irmãos, sejam meus
imitadores e observem os que vivem segundo o exemplo
que temos dado a vocês” (Filipenses 3:17). É através do
exemplo dos outros que você aprende o que significa ser
um discípulo – e é através do seu exemplo que os outros
aprendem com você.

83
UNIDADE 2

NOVAS DESCOBERTAS

Título: A árvore da cura


Autor: Roger F. Hurding
Editora: Vida Nova
Sinopse: Este livro divide-se em duas partes: a primeira apresenta
o desenvolvimento das psicologias seculares, e a segunda parte põe diante
do leitor a resposta cristã, m ito bem representada por fi ras como nton
oisen, eslie eatherhead, Pa l it , a dams, ar ollins, arr rabb,
el n hes, Pa l o rnier, r ce arramore e ran a e, al m de -
rios outros, de menor expressão no Brasil, cujos pensamentos, entretanto,
também são merecedores de atenção e de estudo.
Comentário: Para aqueles que desejam se aprofundar no aconselhamen-
to cristão, este livro é fundamental não apenas pelos aspectos históricos e
teóricos, mas principalmente por apresentar conceitos práticos de aconse-
lhamento cristão.

Diante dos desafios apresentados a quem deseja enveredar pelo caminho do


aconselhamento cristão: como atuar no campo profissional? Uma boa experiên-
cia pode ser vivenciada no projeto de extensão que o Curso de Teologia tem com
o Centro Judiciário de Solução de Conflitos (CEJUSC), ambos da Unicesumar.
Este projeto tem como objetivo auxiliar no andamento de processos judiciais,
através de sessões de mediação e de conciliação, em especial, de conflitos fami-
liares, infanto-juvenis, escolares e imobiliários.
Para atuar profissionalmente como mediador judicial, não é necessário ser
magistrado ou servidor do Judiciário. O requisito necessário é ter uma graduação
há pelo menos dois anos em qualquer curso superior reconhecido pelo Ministé-
rio da Educação e ter participado de algum curso de capacitação (Lei nº. 13.140
de 26 de junho de 2015 (Lei da Mediação)). O mediador judicial atua como um
facilitador para o entendimento das partes que estão em conflito, auxiliando no
diálogo entre elas. De acordo com o Código de Ética de Conciliadores e Me-

84
UNIDADE 2

diadores Judiciais, o trabalho deve ser feito com imparcialidade, auxiliando o


desenvolvimento de soluções consensuais para a disputa em questão. O mediador
não tem poder de decisão sobre o desfecho do processo no qual está atuando e
nem substitui advogados ou defensores públicos.
Para atuar como mediador judicial, é necessário fazer um curso de forma-
ção de mediadores que seja reconhecido pela Escola Nacional de Formação
e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) ou pelos tribunais. Eles são
ofertados pelos próprios tribunais ou por instituições reconhecidas e cre-
denciadas pelos Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Soluções
de Conflitos (Nupemec), atendendo ao conteúdo programático, número de
exercícios simulados e carga horária mínimos estabelecidos pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e pelo Ministério da Justiça.
Este é apenas um dos caminhos disponíveis para um bacharel em Teologia. É
importante que você encontre uma forma de atuar profissionalmente a partir da
sua formação em Teologia. Outras oportunidades estão disponíveis para os alunos
e alunas de Teologia, como o aconselhamento cristão, a capelania, o ensino, entre
outros. Fique atento às oportunidades e descubra onde Deus quer usar a sua vida!

85
este momento, para a d lo na fi a ão do conte do apresentado nesta ni-
dade, solicitamos que você faça dois mapas conceituais. O primeiro mapa con-
ceitual deve conter 3 semelhanças e 3 diferenças entre Capelania Cristã e Acon-
selhamento Cristão. O segundo mapa conceitual deve conter os três modelos
de aconselhamento cristão est dados nesta nidade modelo no t tico de a
dams, o modelo de ar ollins e o modelo hol stico de linebell, com os se s
principais conceitos e diferenças.

86
3
O Perfil e o Papel
do Conselheiro
Cristão
Me. Eugênio Soria de Anunciação

Observaremos a atuação do Espírito Santo no aconselhamento cristão


a partir da centralidade da cruz de Cristo, revelando um Deus que sofre
e se compadece, como princípio de empatia. A partir disso, é possível
ao conselheiro cristão abordar os aconselhandos, tendo sempre Cristo
como foco. Para tanto, é necessário que o conselheiro cristão desen-
volva sete habilidades de aconselhamento: acolher, escutar, comentar,
perguntar, confrontar, ensinar e avaliar, além de sete elementos básicos
para a atuação do conselheiro cristão: busca pela excelência, visão de
mundo cristã, fé pessoal, chamado pessoal, pessoa e obra de Deus,
intervenções e recursos espirituais. Ao término desta unidade, apre-
sentamos um relato prático de aconselhamento cristão.
UNIDADE 3

Eu acabara de iniciar o meu trabalho pastoral em uma nova cidade. Ainda


eram os primeiros meses naquele lugar. Momento de adaptação e acultura-
ção. No trabalho pastoral, aprendi há muito tempo, que a pregação precisa
estar alinhada ao aconselhamento cristão. Na pregação, os problemas são
levantados e, no aconselhamento, eles são tratados.
Uma mulher que estivera no culto anterior me procurou durante a semana
para conversar comigo. A sala pastoral possuía uma janela na porta, com um
revestimento especial – quem está do lado de fora consegue enxergar o que se
passa no gabinete pastoral, mas quem está do lado de dentro não consegue ver
quem está do lado de fora. Além disso, uma diaconisa da igreja estava de plantão
neste horário. Tudo isso fora eticamente desenhado para garantir segurança tanto
com conselheiro, quanto para qualquer pessoa à procura de aconselhamento.
No domingo anterior, a pregação fora sobre como o rei Davi enfrentou mo-
mentos de depressão e o quanto isso havia sido uma intensa luta para ele durante
algum tempo da sua vida, baseado no Salmo 42, cujo coração encontra-se no
versículo 5: “Por que você está abatida, ó minha alma? Por que se perturba dentro
de mim? Espere em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu”.
Esta tensão entre o abatimento de Davi e a esperança em Deus foram o ponto de
partida para aquela mulher me procurar para uma conversa pastoral.
Ela iniciou a conversa explicando um pouco a sua história de vida. Ela havia
sido membro daquela igreja desde a sua infância. Na juventude, aparentemente sem
explicação alguma, ela não tinha ânimo para se levantar da cama. Nada deixava
ela feliz ou satisfeita. Estamos falando de meados dos anos 1980. A sua família não

88
UNICESUMAR

entendia as suas reações. Algumas tias diziam que ela estava de frescura. Amigos
da família suspeitavam que ela estivesse anêmica. A liderança da igreja dizia que
ela estava em pecado. Todos diziam saber o que se passava dentro dela, por mais
que ela mesma não conseguisse compreender o porquê. E a cada nova reação das
pessoas para fazê-la sair dessa situação, mais triste e desanimada ela se encontrava.
Enquanto eu escutava aquela mulher, eu estava em oração, pedindo a Deus
que me orientasse em como eu poderia abençoar a vida dessa irmã. Ouvindo o
seu relato e observando as suas expressões faciais, não me parecia que ela vivia
mais em melancolia, mas por algum motivo que eu não compreendia, ela preci-
sava colocar tudo isso para fora.
Ela respirou fundo e fez uma pausa considerável. Era visível que ela estava
emocionada. Os seus olhos se encheram de lágrimas e a voz ficou mais em-
bargada, ao ponto de ela limpar a garganta com aquele som inconfundível que
todos fazemos quando isso acontece. Enxugando as lágrimas de seus olhos, ela
começou a relatar, ainda emocionada:
— “Sabe pastor… Toda essa situação era extremamente dolorosa. Ninguém
estava interessado em saber como eu estava. Mesmo que eu não soubesse explicar
o que se passava dentro de mim, eu ansiava que as pessoas pudessem estar do
meu lado. Mas ninguém pastor, ninguém… nem minha família, nem os amigos
da minha família, nem a minha igreja…”
Ela pegou um lenço em sua bolsa, para assoar o nariz. Em seguida, suspirou
fortemente, como que para pegar coragem e continuar o relato:
— “A gota d’água, foi quando o pastor daquela época, foi me visitar. Inicial-
mente eu fiquei esperançosa, afinal, um homem de Deus veio ver como eu estava.
Eu era muito jovem e estava com medo do que estava acontecendo comigo… Eu
precisava de uma palavra de esperança e ânimo. Mas o que veio, eu não podia
acreditar! Ele impôs as suas mãos sobre a minha cabeça e, em vez de orar por
mim, começou a expulsar os demônios que ele achava que estavam dentro de
mim. Ele repetia constantemente que crente não fica triste, que crente não fica
desanimado. Se eu estava passando por aquilo, é porque eu tinha cometido algum
pecado e demônios tinham entrado na minha vida!”
Mais uma vez ela pegou o lenço em sua bolsa, para assoar o nariz. E continuou:
— “Sabe, pastor. A partir daquele dia, eu deixei de acreditar em Deus. Que Deus
é esse que não está atento a dor do meu coração, ao ponto de alguém que pregava em
nome dele, me tratar daquela forma? A minha vontade de morrer se tornou muito

89
UNIDADE 3

intensa a partir daquele dia, como eu nunca tinha sentido antes. Mas então… Deus
colocou uma mulher de outra igreja, para me visitar. Os meus pais não gostaram da
ideia, afinal, era de uma igreja diferente! Ela orou por mim. Não me julgou. Pergun-
tou como eu estava. E me convidou para participar de um grupo de apoio. É como
se Deus estivesse falando para mim, que ele estava sim, atento ao meu sofrimento!”
Em todo esse momento, eu não falei nada.Apenas ouvi o seu coração. Entendia, pelo
Espírito Santo, que essa mulher precisava colocar tudo isso para fora. E ela continuou:
— “Eu quero agradecer pela mensagem que o senhor trouxe no domingo. Le-
vou mais de 20 anos para eu entender o que se passava em mim. Hoje eu entendo
que o que eu tinha não era anemia, frescura ou pecado; eu estava doente – eu
estava com depressão. Na mensagem de domingo, quando o senhor falava como
Davi se sentia rasgado ao meio, com a sua alma abatida e perturbada e ainda
assim, ansiando por algum movimento de Deus para tirá-lo do abatimento, foi
como se o senhor tivesse colocado em palavras os meus sentimentos”.
Ao final, ela compartilhou que atuava como facilitadora de grupos de Alcoó-
licos Anônimos na cidade, para ajudar pessoas que se encontravam fracas diante
dos desafios da vida. Na sua dor, ela encontrou em Deus o motivo para viver uma
vida com propósito. Eu agradeci imensamente o aprendizado que ela me pro-
porcionara com o seu testemunho. Orei pela vida dela e pedi que ela orasse pela
minha vida também. Foi um momento sobrenatural de crescimento para ambos.

90
UNICESUMAR

Neste caso, o aconselhamento cristão serviu para escutar um coração que estava à
procura de respostas há mais de 20 anos. Você imagina o quanto eu colocaria em
risco esse aconselhamento, se começasse a falar sem deixá-la se manifestar? E você,
já lidou com uma situação como essa, de alguém lhe procurar para colocar para
fora o que tornava o seu coração pesado? Como você reagiu? Conseguiu apenas
ouvir o coração da pessoa, ou ficou falando sem deixar a pessoa se manifestar?
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos da América, no ano de 2019, revelou
que a maioria dos adolescentes abandona a igreja quando se tornam jovens adultos.
Dois terços (66%) dos jovens adultos americanos que frequentavam uma igreja
protestante regularmente por pelo menos um ano na adolescência dizem que desis-
tiram de frequentá-la por pelo menos um ano, entre as idades de 18 e 22 anos, de
acordo com um estudo realizado pela Lifeway Research. Trinta e quatro por cento
dizem que continuaram a frequentar duas vezes por mês ou mais. Embora os 66%
possam significar uma porcentagem preocupante para muitos líderes da igreja, os
números podem parecer mais esperançosos quando comparados a um estudo de
2007, também promovido pela Lifeway Research (2019). Anteriormente, 70% dos
jovens de 18 a 22 anos deixavam a igreja por pelo menos um ano.
Toda comunidade de fé tem em seu rol de membros o que é considerado o
rol de membros inativos. Nessa lista estão as pessoas que por algum motivo não
frequentam mais a comunidade de fé por meses seguidos. Os motivos para essas
pessoas não estarem mais presentes nas igrejas locais podem ser variados, porém,
se não perguntarmos, faremos apenas suposições. O problema das suposições é
que muitas vezes elas não são acertadas.

Acesse o QR Code a seguir e assista parte da palestra de


Renato Vargens sobre os três tipos de desigrejados, que é
um fenômeno que cada vez mais tem crescido em nosso
país e procure 5 pessoas que já não fazem mais parte da
sua comunidade de fé e peça para que cada uma delas, in-
dividualmente, aponte 3 motivos que levaram elas a não
participarem mais da comunidade de fé.

91
UNIDADE 3

Importante: explique que você está cumprindo um processo de aprendizado


na sua formação teológica e que o que for compartilhado nesse momento
não será aberto a ninguém da liderança. Lembre-se de que a confiança é a
base essencial de um bom conselheiro cristão. Desenvolva essa habilidade a
partir desta experiência.
A partir das informações lidas até aqui, do vídeo que você assistiu e da conver-
sa que você teve com as 5 pessoas que não fazem mais parte da sua comunidade
de fé, escreva em seu Diário de Bordo de que forma o aconselhamento cristão
poderia ter evitado a saída desses irmãos e irmãs da sua igreja.

DIÁRIO DE BORDO

92
UNICESUMAR

Toda igreja cristã sofre com as taxas de abandono – índices


de pessoas que em determinados momentos da sua vida
deixam de frequentar uma comunidade de fé. Para Scott
McConnell (EARL, 2019, s.p.), diretor executivo da Life-
way Research:


A boa notícia para os líderes cristãos é
que as igrejas não parecem estar perden-
do mais jovens do que há 10 anos. No en-
tanto, a diferença na taxa de abandono de
vez em quando não é grande o suficiente
estatisticamente para dizer que realmente
melhorou. A realidade é que as igrejas pro-
testantes continuam a ver a nova geração
se afastar como jovens adultos. Indepen-
dentemente de quaisquer fatores externos,
a igreja protestante está lentamente enco-
lhendo por dentro.

A taxa de abandono para adultos jovens acelera com a


idade, segundo o estudo. Enquanto 69% dizem que fre-
quentavam uma igreja aos 17 anos, esse número caiu para
58% aos 18; e 40% aos 19 anos. Quando chegam aos 20
anos, cerca de 1 em cada 3 diz que frequentava a igreja
regularmente:


À medida que esses adolescentes chegam
ao final da adolescência, mesmo aqueles
com histórico de frequência regular à igre-
ja são afastados assim que ganham maior
independência, como uma carteira de mo-
torista ou um emprego. A questão é: eles se
tornarão adultos mais velhos que têm todas
essas coisas e ainda frequentam uma igreja
ou eles escolherão por ficar longe da igreja
por mais de um ano (MEYER, 2019, s.p.).

93
UNIDADE 3

Cinco principais razões pelas quais os desistentes da igreja dizem


que pararam de frequentar a igreja
Entre os jovens adultos (23-30 anos) que frequentaram uma igreja protestante regularmente
por pelo menos um ano no ensino médio:

Mudei para a faculdade e parei de


34%
frequentar a igreja.

Os membros da igreja pareciam críticos


32%
ou hipócritas.

Eu não me sentia conectado com as


29%
pessoas da minha igreja.

Minhas responsabilidades de trabalho me


25%
impediram de comparecer.

Minhas responsabilidades de trabalho me


24%
impediram de comparecer.

Observações: Os entrevistados foram solicitados a selecionar todas as opções aplicáveis

Figura 1- Cinco principais razões pelas quais os desistentes da igreja dizem que pararam de frequentar
a igreja / Fonte: adaptado de LifeWay Research (2019).

Descrição da Imagem: Percentuais dos cinco principais motivos de desistência de frequentar uma igreja,
de jovens adultos entre 23 e 30 anos, que frequentaram uma igreja protestante por pelo menos um ano
no ensino médio sendo compostos pelos itens: mudar para a faculdade e não frequentar mais (34%),
membros da igreja parecendo críticos ou hipócritas (32%), não se sentir mais conectado às pessoas em
sua igreja (29%), discordar da posição da igreja em questões políticas e sociais (25%), e responsabilidades
de trabalho (24%).

Os cinco motivos específicos para a evasão frequente foram: mudar para a faculda-
de e não frequentar mais (34%); membros da igreja parecendo críticos ou hipócritas
(32%); não se sentir mais conectado às pessoas em sua igreja (29%); discordar da
posição da igreja em questões políticas ou sociais (25%); e responsabilidades de
trabalho (24%). A maioria das razões pelas quais os jovens adultos deixam a igreja
refletem mudanças de prioridades pessoais e mudanças em seus próprios hábitos.

94
UNICESUMAR

Quase metade (47%) dos que abandonaram a escola e frequen-


taram a faculdade dizem que a mudança para a faculdade de-
sempenhou um papel em não frequentar mais a igreja por pelo
menos um ano.


Na maioria das vezes, as pessoas não estão deixan-
do a igreja por amargura, pela influência de ateus
universitários ou por uma renúncia de sua fé. O
que a pesquisa nos mostra pode ser ainda mais
preocupante para as igrejas protestantes: não havia
nada na experiência da igreja ou no fundamento
de fé daqueles adolescentes que os levasse a buscar
uma conexão com uma igreja local quando entra-
vam em uma nova fase da vida. O tempo que pas-
savam com atividades na igreja foi simplesmente
substituído por outra coisa (EARL, 2019, s.p.).

A alta desistência não surpreendeu o pastor Chris Brooks, que


lidera a congregação Kairós na Igreja Batista em Brentwood,
Tennessee, nos EUA. A maioria dos que frequentam o culto de
terça-feira à noite de Kairós tem entre 22 e 29 anos. Brooks afir-
ma que “há uma quantidade substancial de pessoas nesta faixa
etária que, por qualquer motivo, decidiu que a igreja não é mais
parte integrante da construção de sua fé ou que sua fé não é mais
parte integrante deles” (MEYER, 2019). No Brasil também não é
diferente. Um dos fenômenos mais comuns é o chamado noma-
dismo religioso, ou seja, muitas pessoas transitam de uma igreja
para outra: “A imagem é semelhante a um grupo de mochileiros,
sem lugar definido para acampar e que se instala por um bre-
ve período em algum ‘acampamento da fé’, buscando algo para
consumir e satisfazer o apetite por consumo e sede de novidade”
(BITUN, 2010, p. 95-96).

95
UNIDADE 3

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Feridos em nome de Deus


Autor: Marília de Camargo César
Editora: Mundo Cristão
Sinopse: Quando a fé se deixa manipular, pessoas viram presas
ceis de toda sorte de ab so confian a a t ntica e sincera em e s
é gradualmente substituída pela submissão acrítica aos desmandos de
lideranças despreparadas. Por ser uma religiosidade descaracterizada da
adoração sincera, mais cedo ou mais tarde o castelo de cartas desmo-
rona deixando feridas abertas pelo caminho. É esta relação doentia que
a jornalista Marília Camargo desvenda em uma reportagem que avança
pelos meandros da igreja evangélica brasileira liderada em boa medida
por pessoas embevecidas pelo próprio poder de manipular.
Comentário: Nesta pesquisa realizada pela jornalista Marília de Camargo Cé-
sar, lemos relatos reais de pessoas que se sentiram coagidas e abusadas na
sua fé em Deus a partir de lideranças que se impunham sobre os liderados.
Embora seja uma postura completamente antibíblica e anticristã, essa forma
de liderança impositiva é mais comum nas igrejas do que se imagina. O aspec-
to esperançoso dos relatos apresentados é que, mesmo diante de experiên-
cias terríveis que geraram traumas, a fé em Deus sobreviveu em meio ao caos.

Desde os números do censo do ano 2000, pode-se observar que o decréscimo


no número de adeptos que se consideram membros da Igreja Católica Apostó-
lica Romana no Brasil sinaliza certo trânsito religioso, com deslocamentos para
grupos pertencentes a categorias de evangélicos (igrejas protestantes, de missão,
pentecostais, neopentecostais ou evangélica não determinada), religiões mediúni-
cas (kardecismo, umbanda e candomblé) e sem-religião (PIERUCCI, 2004). Bitun
(2011, p. 494) enfatiza que essa transformação do panorama religioso brasileiro
nas últimas décadas pode ser observada “por um lado, a partir da busca indivi-
dual por novas expressões religiosas e, por outro lado, pela intensa fragmentação
institucional”. Villasenor (2011, p. 4-5) definiu esse trânsito religioso assim:

96
UNICESUMAR


Os indivíduos, ao se desvincularem do seu antigo credo, não transitam de
forma imediata para outro, ficando durante algum tempo experimentando
algumas opções de pertença, até se fixarem ou não a uma única denomi-
nação ou igreja. A pessoa era católica, se converteu a uma denominação
evangélica, mas não conseguiu seguir a denominação, e não irá voltar para
o grupo católico depois de se converter ao evangélico, e acaba ficando sem
religião. Quando se tem essas desconversões dentro dos grupos evangéli-
cos, se pode engrossar a categoria dos sem religião.

Um dos possíveis indícios desse trânsito religioso parece ser o abuso espiritual
praticado por parte da liderança das igrejas evangélicas. Esta é uma prática muito
mais comum do que se possa imaginar entre as igrejas evangélicas. Não há como
medir se uma pessoa que assume um papel de liderança em uma igreja pratica o
abuso espiritual de uma maneira inicialmente intencional, ou se é uma constru-
ção gradual, à medida em que vai experimentando o poder de influência como
líder na vida de outras pessoas:


Figura bíblica de proteção e direcionamento, o pastor virou para
muitos evangélicos um intermediário entre Deus e os homens. (...)
Idealizar e mistificar o pastor, acreditando ser ele a voz de Deus na
terra, uma pessoa sempre madura, ética e bem resolvida do ponto de
vista emocional, contribui significativamente para difundir a prática
do abuso espiritual, tema principal das histórias relatadas a seguir. É
certo que, como menciona um dos entrevistados, não se pode culpar
a criança por idealizar a figura do pai, por ser apenas uma criança. No
entanto, pode-se culpar o pai, por vestir a fantasia e por tentar viver
segundo uma imagem idealizada. A questão, porém, é que há crianças
demais, super-heróis em excesso e, consequentemente, histórias sem
fim sobre lideranças que avançam o sinal no trato com seus liderados.
Sentimento de onipotência, legalismo, farisaísmo, feridas emocionais
não curadas mascaram a profunda incapacidade do líder de perceber
as próprias faltas e carências, adubando a lavoura de uma relação
abusiva (CAMARGO, 2013, p. 10-11).

97
UNIDADE 3

Um dos principais reflexos percebidos no meio evangélico é o aumento constante


de pessoas que se identificam como “sem-igrejas”, ou “desigrejados”. A narrativa
comum às pessoas deste grupo tem a ver com traumas das suas experiências co-
munitárias, geralmente causadas por líderes. Bomilcar (2012, p. 23) identificou
os seguintes grupos que sofrem em sua relação com as igrejas:


a) Os assumidos sem-igreja: aqueles que se identificam como não
pertencentes a nenhuma igreja e, portanto, não possuem vínculos,
parcerias ou compromissos institucionais com comunidades e de-
nominações.

b) Os desencantados com a igreja: são aquelas pessoas que se decep-


cionaram com a instituição formal religiosa e permanecem a uma
distância preventiva da experiência comunitária de ser igreja. Estas
pessoas passam a ser apenas usuários da igreja em alguns momentos,
participando de congressos, projetos ou encontros do seu interesse.

c) As pessoas inseridas como membros de uma igreja ou como lí-


deres eclesiásticos que vivem relacionamentos superficiais e quase
nulos na igreja que estão inseridas e que não desenvolvem a expe-
riência comunitária.

98
UNICESUMAR

d) As pessoas recolhidas em pequenos grupos que se reúnem in-


formalmente em casas, escritórios, salões alugados, parques ou es-
colas, e que não querem serem vistos ou reconhecidos como uma
organização.

e) Pessoas que foram agentes de ferimentos e decepções e não se


reconhecem como tal.

f) Pessoas que foram alvos de abuso espiritual por parte da liderança


e que estão decepcionadas com as relações e a instituição.

g) Os sem-igreja que acompanham mensagens e reflexões pela in-


ternet. Permanecem como observadores, sem comunhão com o
outro e sem compromisso de qualquer tipo.

h) Por fim, há outros religiosos que não passaram por uma real
experiência de conversão, de mudança de mente (metanóia), e não
entenderam, discerniram ou aceitaram de fato o evangelho de Cris-
to, seu reino e sua missão. Vivem farisaicamente na religião e na
instituição que é chamada de igreja, sem de fato ser igreja de forma
comunitária e relacional.

Quero convidar você para ouvir o Podcast sobre uma con-


versa com um desigrejado. Uma das principais ferramentas
do aconselhamento cristão é a habilidade de ouvir. Neste
podcast eu quero convidá-lo a ouvir os relatos desta pes-
soa que atualmente se identifica como desigrejada e como
as suas experiências traumáticas com a liderança foram
cruciais para a sua decisão.

Ao alinhar a história da mulher que sofria de depressão com a pesquisa realizada


nos EUA e com pesquisas acadêmicas sobre o trânsito religioso, podemos obser-
var que algo em comum com as pessoas que saem de uma igreja, tem a ver com
o sentimento de desacolhimento e descuido das lideranças das igrejas. Em vez
de agregarem pessoas, muitas iniciativas acabam afastando as pessoas. A triste
realidade é que os desigrejados, são filhos machucados pelas igrejas.

99
UNIDADE 3

Uma das principais tarefas do aconselhamento cristão é o acolhimento. É uma


ação pastoral, não no sentido do título religioso, mas da atuação ministerial que
envolve uma atenção para as:


[...] necessidades individuais, grupais, comunitárias, familiares,
conjugais, sociais dentre outras. Essas necessidades cobram respos-
tas da igreja. Contudo, essas respostas precisam de fundamentação
também Teológica, para que esses ministérios, ações e vocações
da igreja estejam em consonância com a Palavra de Deus e, assim,
sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico e prático (MA-
RIANO, 2016, p. 21).

A atenção às demandas das pessoas é uma das mais importantes tarefas da igreja,
por isso, é importante que o conselheiro cristão conduza as pessoas que procu-
ram a sua ajuda. O movimento é para que elas não sejam mais levadas por suas
emoções, diante das circunstâncias da vida, mas sim, conduzidas a Cristo, pois
apenas a ação sobrenatural do Espírito Santo de Deus é que pode, efetivamente,
provocar mudanças profundas, de dentro para fora na vida de todo ser humano.
Para isso, é necessário que o conselheiro cristão desenvolva habilidades impres-
cindíveis para atuar ministerialmente, sempre na dependência do Espírito Santo.
Existem diferentes abordagens, técnicas e atitudes do conselheiro, que precisam
ser conhecidas e desenvolvidas para essa atuação ministerial.
Há uma literatura considerável em língua portuguesa que aborda essas ques-
tões, como por exemplo: Mannóia (1985), Casere (1985), Collins (2011), Barrien-
tos (1991), Szentmártoni (2004), Clinebell (2000), Schipani (2004), e Sathler-Ro-
sa (2004). Boa parte desses estudiosos compreende que o método não-diretivo
de Carl Rogers influenciou grandemente os modelos de aconselhamento cristão,
entre eles, Szentmártoni (2004), Collins (2011), Barrientos (1991), Casere (1985)
e Clinebell (2000). Isso significa que, à parte das diferenças entre as abordagens,
técnicas e atitudes do conselheiro, há uma convergência quanto ao aconselha-
mento que passa, necessariamente, pelo estabelecimento de vínculos entre o con-
selheiro e o aconselhando, para um bom desenvolvimento do aconselhamento:

100
UNICESUMAR


Tudo isso levanta uma questão: existe uma teoria unificada de acon-
selhamento cristão? A resposta correta deve ser um retumbante:
Não! [...] Deve haver mais de uma teoria, pois a verdade bíblica é
multiperspectiva e não há como se entender a multiforme sabedoria
de Deus senão cercando as coisas temporais observadas com as
lentes dos princípios por ele revelados (GOMES, 2004, p. 19).

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Tornar-se pessoa


Autor: Carl Rogers
Editora: WMF Martins Fontes
Sinopse ilos fico e pro ocante, este li ro constit i m res mo da
longa experiência do Dr. Carl Rogers no campo da psicoterapia. Introdução
indispensável ao processo do tornar-se, destina-se não apenas a psicólogos e
psiquiatras, mas a todos os que se interessam pelo desenvolvimento do ser
humano e de sua personalidade.
Comentário: Este livro serve de base teórica psicológica para as principais
correntes de aconselhamento cristão. O autor indica o processo de “tornar-se
pessoa”, apresentando sugestões para promover o crescimento pessoal, as ca-
racterísticas do relacionamento psicoterapia como processo, a pessoa em pleno
ncionamento, re e es sobre a pessoa e a trans orma ão da personalidade

A base para o aconselhamento cristão é o que Jesus deixou registrado nos evan-
gelhos. Lembre-se de que no aconselhamento cristão, há o elemento sobrenatural
da atuação divina pelo Espírito Santo de Deus que:

■ é o Parakletos (Conselheiro, Consolador, Encorajador) enviado pelo Pai


(João 14.26);
■ ajuda as pessoas a se lembrarem de tudo o que Jesus ensinou (João 14.26);
■ convence as pessoas, do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8);
■ ensina e testemunha a respeito de Cristo (João 15.26)
■ guia à verdade, que é Cristo (João 16.13);
■ glorifica a Cristo (João 16.14);
■ anuncia a Cristo (João 16.15).

101
UNIDADE 3

Perceba que tanto o aconselhamento cristão quanto a atuação do Espírito Santo


têm como objetivo e centralidade: conduzir as pessoas a Cristo! Apenas quando
as pessoas estiverem em Cristo é que serão verdadeiramente novas pessoas (2
Coríntios 5.17). Moltmann (2014) desenvolveu a sua Teologia da Cruz ao encon-
trar Deus no meio da dor, sofrimento e abandono: “A morte de Jesus é o centro
de toda a teologia cristã” (MOLTMANN, 2014, p. 252). A centralidade de Cristo
refere-se também ao aconselhamento cristão, pois:


[...] Por ter sido abandonado por Deus, o Crucificado leva Deus
aos abandonados dele. Por meio do seu sofrimento, ele traz cura
aos sofredores. Por meio de sua morte, ele traz vida eterna aos que
morrem. Por isso, o Cristo atacado, repelido, sofredor e mortal tor-
nou-se o centro da religião dos oprimidos e da piedade dos carentes
de salvação (MOLTMANN. 2014, p. 70).

O sofrimento e a morte de Cristo são uma forma de Deus tornar claro o quan-
to ele compreende o sofrimento humano e o quanto ele é capaz de consolar
aquele que sofre:


Deus sofre! Senão não poderia amar. O sofrimento está entre Deus e
Deus. Deus não somente se envolve com o sofrimento, mas o sofri-
mento está nele mesmo, ele participa ativamente deste sofrimento.
Porém o sofrimento de Deus não se dá da mesma maneira que o
nosso. A sua essência é a misericórdia. Se Deus não for empático,
não pode consolar a criatura humana. Somente quem prova um
mesmo sentimento é capaz de consolar porque tem empatia (DE
OLIVEIRA, 2016, p. 125).

Jesus sofreu e morreu sozinho para aqueles da mesma forma, se encontram em


sofrimento, agonia e abandono; nisso estão em comunhão com Jesus. Por essa
razão, Deus se compadece da dor e sofrimento: “Jesus sofreu e morreu solita-
riamente. Os discípulos, no entanto, sofrem e morrem em comunhão com ele”
(MOLTMANN, 2014, p. 81). A centralidade de Cristo no aconselhamento cristão
passa, necessariamente, pela compreensão de que o Deus abandonado é o Deus
presente também no sofrimento humano. Em Jesus, Deus se compadece do so-

102
UNICESUMAR

frimento da humanidade, porque ele mesmo sofreu e compreende de maneira


plena o que é ser abandonado e rejeitado.
Por essa razão é importantíssimo levarmos em consideração a presença e
atuação do Espírito Santo no aconselhamento cristão. Comumente, chamamos o
Espírito Santo de “Consolador” (Paraklétos), baseados no evangelho de João, que,
aliás, é o único escrito do Novo Testamento a chamar o Espírito Santo dessa for-
ma. A palavra grega que é utilizada no evangelho de João, “paraklétos”, encontra
o seu significado, como aquele que ajuda não falando, mas simplesmente estando
presente (LIPSIUS apud GRAYSTON, 1981, p. 70). É muito interessante que, ao
procurar palavras que pudessem expressar a compreensão da ação sobrenatural
de Deus em nosso mundo, como uma ação “espiritual”, João, guiado pelo Espírito
Santo, escolheu a palavra “Paraklétos”:


[...] isto sugere para o Espírito Santo uma imagem muito peculiar
que na cristandade primitiva, sobretudo na Síria, era muito familiar,
mas que veio a perder-se no patriarcalismo do Império Romano:
a imagem da mãe. Se os fiéis “nascem” de novo do Espírito Santo,
então o Espírito é a “Mãe” dos filhos de Deus [...] Se o Espírito San-
to é o “Consolador”, então Ele consola assim como a mãe consola
(MOLTMANN, 1998, p. 152).

PENSANDO JUNTOS

O aconselhamento bíblico deve ir ao centro de nossos problemas e ao centro da solução


de e s, o e sempre si nifica ir cr ohn Piper

Durante um encontro de aconselhamento cristão, o conselheiro ajuda o aconse-


lhando a olhar para as possibilidades e oportunidades diante das situações relata-
das por ele. O conselheiro não dirá ao aconselhando o que ele deve fazer. O papel
do conselheiro cristão é auxiliar o aconselhando a assumir a responsabilidade
pelo que faz. Por exemplo, um aconselhando pode perguntar ao conselheiro “o
que você me aconselharia a fazer nesta situação? O conselheiro poderia respon-
der corretamente dizendo: “vamos explorar as ideias que você tem” ou “que
ideias você tem?” Essa resposta ajuda o aconselhando a perceber que ele deve
desempenhar algum papel para chegar à resposta certa.

103
UNIDADE 3

O aconselhamento cristão procura capacitar o aconselhando a assumir o con-


trole total após explorar todas as opções disponíveis, tendo sempre como base,
os princípios de Jesus. A partir da autocompreensão, o aconselhando precisa ser
conduzido aos conceitos que Jesus deixou registrado, acerca das situações que
estão sendo relatadas em sua vida. Nas palavras do reformador João Calvino
(1536/2003, p. 48): “O conhecimento de Deus nos leva ao conhecimento de nós
mesmos”. A partir das demandas do aconselhandos, o conselheiro deve colocar
tais demandas, frente a frente com os ensinos de Jesus, para que o aconselhando
observe o que está em acordo e o que está em desacordo em sua vida.
Outra diferença importante do aconselhamento cristão, é o aspecto do
cuidado mútuo. Como cremos na atuação sobrenatural do Espírito Santo,
não apenas o conselheiro cristão é usado por Deus para abençoar a vida do
aconselhando, mas o próprio aconselhando também é usado por Deus para
falar ao coração do conselheiro cristão. A própria Bíblia apresenta alguns
conceitos importantes sobre o cuidado mútuo.
Em Romanos 15:14, lemos: “E eu mesmo, meus irmãos, estou certo de que
vocês estão cheios de bondade, têm todo o conhecimento e são aptos para ad-
moestar uns aos outros”. A palavra grega para o verbo “admoestar” significa:
“um apelo à mente onde está presente uma oposição. A pessoa é tirada de um
falso caminho mediante a admoestação, o ensino, lembrança e encorajamento;

104
UNICESUMAR

e sua conduta deve ser corrigida” (RIENECKER, 1995, p. 281). Muitas vezes
associamos admoestação com palavras de reprovação, mas o termo grego tem
um uso mais amplo do que isso – o que é colocado na mente, que pode ser uma
advertência ou reprovação, mas também pode ser a mais gentil sugestão ou enco-
rajamento. Importante ressaltar que para o apóstolo Paulo, a base da admoestação
é a bondade. Todo aconselhamento que não é baseado no bem do outro, não é
aconselhamento cristão. Tristemente, é muito mais comum do que pensamos,
líderes de igreja assumirem uma postura anticristã no momento de aconselhar
ou admoestar as pessoas de sua igreja:


Na prática, o abuso ocorre de formas variadas, umas escancaradas,
outras sutis. Ser tachado de rebelde ou de insubordinado apenas
por ter resistido a uma ordem pastoral, por discordar dela, é um
exemplo de abuso. Foi o que ocorreu na história de Marcos. É ser
humilhado inúmeras vezes diante de terceiros. Ser exposto como
alguém alheio à visão do corpo, do ‘mover do Espírito’, para usar
um jargão bem evangélico (CAMARGO, 2013, p. 22).

Skinner (1974 [2006]), psicólogo estadunidense que dedicou a sua vida em es-
tudar e compreender o comportamento humano, afirmou que o medo é uma
maneira utilizada por agências de controle para reforçar o comportamento
de alguém. Entre as agências de controle, estariam o Governo, a Economia e a
Religião: “Fazer o bem porque se é reforçado pelo bem de outrem merece
maior apreço do que fazer o bem porque a lei assim exige. No primeiro caso,
a pessoa se sente bem-disposta; no segundo, pode sentir pouco mais do que o
medo de ser punida” (SKINNER, 1974 [2006], p. 110).
“A culpa é uma narrativa profundamente infiltrada no cristianismo” (FRAZ-
ZETTO, 2014, p. 56-57), e um dos maiores instrumentos para incentivar o bom
comportamento. A culpa mancha, nos faz sentir sujos e indignos. E é muito mais
fácil manipular pessoas que se sentem indignas. O problema é que a culpa só
funciona se a figura de autoridade estiver presente para lembrar o risco de ameaça
se tornar realidade ao culpado! Por isso, os líderes religiosos se empenham tanto
em pregações e ensinamentos essencialmente comportamentais. Porém, basta
o líder não estar presente para as pessoas continuarem em seus erros e pecados.

105
UNIDADE 3

Para evitar esse tipo opressivo de liderança, devemos sempre lembrar que a base
do aconselhamento cristão é o que Jesus deixou registrado nos evangelhos. Preste
atenção a essas palavras de Jesus registradas no evangelho de Lucas:


Não julguem e vocês não serão julgados; não condenem e vocês não
serão condenados; perdoem e serão perdoados; deem e lhes será
dado; boa medida, prensada, sacudida e transbordante será dada a
vocês; porque com a medida com que tiverem medido vocês serão
medidos também (Lucas 6.37-38).

Por que você vê o cisco no olho do seu irmão, mas não repara na
trave que está no seu próprio olho? Como você poderá dizer a seu
irmão: ‘Deixe, irmão, que eu tire o cisco que está no seu olho’, se você
não repara na trave que está no seu próprio olho? Hipócrita! Tire
primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar
o cisco que está no olho do seu irmão (Lucas 6.41-42).

O conselheiro cristão deve evitar a todo custo, assumir uma postura de orgulho
espiritual, julgando-se superior ao aconselhando. Somos apenas vasos de barro
nas mãos do oleiro (2 Coríntios 4.7). Todos nós cometemos muitos pecados,
caímos, temos fraquezas e passamos por dificuldades. Por isso, é importantíssimo
que o conselheiro cristão seja empático, autêntico e não seja possessivo. Na lite-
ratura especializada essas atitudes são consideradas fundamentais para um acon-
selhamento cristão efetivo para uma ajuda genuína. Mariano (2016, p. 60-61) ao
citar Barrientos (1991), apresenta, por outro lado, uma lista com os principais
aspectos que o conselheiro cristão deve estar atento durante o aconselhamento:

■ Proporcionar clima de confiança.


■ Fazer com que a pessoa se sinta ao nível do conselheiro. Para isto é me-
lhor usar duas cadeiras ou poltronas, ou uma de frente para a outra em
uma mesa.
■ Ter em mente e transmitir à pessoa que é possível enfrentar a situação e
até resolvê-la.
■ Escutar com muita atenção. Há pessoas que se sentem aliviadas de sua
carga pelo simples fato de que alguém as escuta com interesse e amor.

106
UNICESUMAR

■ Ir captando, entre os detalhes do relato, os possíveis assuntos ventrais


relacionados.
■ Não dar opiniões negativas como: “que mau...” “que horror...”.
■ Não interromper o relato, a não ser que seja para fazer alguma pergunta
esclarecedora ou que falte para completar o quadro.
■ Discernir em silêncio aspectos que a pessoa poderia encobrir e que cor-
respondem a seu modo de ver o assunto.
■ Ao final do relato, ajudar a pessoa a ver o problema como um todo, sem
reparar em detalhes, a menos que seja necessário. Levá-la a reconhecer
os fatores centrais que entram em jogo.
■ Ajudá-la a encontrar as causas. Aqui é necessário dar oportunidade para
que a pessoa opine e que ambos dialoguem até que concordem.
■ Ajudar a pessoa a fazer um plano ou propor-lhe um alvo realista que
tentará alcançar nos dias seguintes.
■ Quando necessário, levar a pessoa a colocar seu problema diante do Se-
nhor em oração, pedir libertação e dar graças por ela.
■ Caso a pessoa não saiba orar, fazer a oração com a pessoa.
■ Por fim, fazer uma seleção de textos bíblicos e indicar para a pessoa ler e
meditar sobre eles e relacioná-los aos seus problemas.

107
UNIDADE 3

Mgbejiofor (2017), em seu artigo “The Seven Pillars of Christian Counseling: Be-
drock to Christian Education (Os sete pilares do aconselhamento cristão: alicerce
para a educação cristã)”, identifica sete habilidades que devem ser desenvolvidas
pelo conselheiro cristão:

1. Habilidade de acolher
2. Habilidade de escutar
3. Habilidade de comentar
4. Habilidade de perguntar
5. Habilidade de confrontar
6. Habilidade de ensinar
7. Habilidade de avaliar

OLHAR CONCEITUAL
Os sete pilares do aconselhamento cristão

Habilidade Habilidade Habilidade Habilidade Habilidade Habilidade Habilidade


de acolher de escutar de comentar de perguntar d
de confrontar de ensinar de avaliar
Contato Visual, Escuta Ativa, Demonstrar Perguntas Colocações de Discussões, Ouvir
Postura, Gestos Empatia, Ouvir sentimentos, Abertas, forma gentil, Diálogos, desconfiando,
com os olhos Incentivar a fala Método amorosa e resposta Ouvir com
Diretivo sem imediata Sensibilidade
julgamentos

Na habilidade de acolher, os conselheiros cristãos devem dar atenção total a cada


aconselhando, através de contato visual, pois ele atua em várias regiões do cérebro
em um sistema que integra cognição, emoção e ação, envolvendo estímulos que
induzem atenção, concentração e memória. O contato visual promove a conexão.
Outra forma de demonstrar acolhimento tem a ver com a postura física do con-
selheiro cristão. O desafio é a postura física do conselheiro demonstrar atenção
em vez de tensão. Braços cruzados revelam incômodo e defesa, enquanto pernas
agitadas comunicam impaciência. Os gestos são importantes elementos para se

108
UNICESUMAR

comunicar acolhimento. Por exemplo, acenos de cabeça para cima e para baixo
indicam que o conselheiro cristão está compreendendo o que o aconselhando está
verbalizando. Collins (2011) enfatiza que o conselheiro deve demonstrar ao acon-
selhando que está prestando atenção a tudo o que ele diz. Isso envolve:


(a) contato visual - olhar nos olhos da pessoa, mas não fixamente,
como forma de transmitir compreensão e desejo de ajudar; (b) pos-
tura - que deve ser relaxada e não tensa, inclinando-se, periodica-
mente, na direção do aconselhando; e (c) gestos – naturais, mas não
excessivos, nem de um tipo que possa distrair a atenção do interlo-
cutor. O conselheiro deve ser cortês, gentil e fortemente motivado
a compreender os outros (COLLINS, 2011, p. 48).

Moltmann (2014) enfatiza que Deus não fica distante observando o sofrimento
humano, ele se envolve com sua criação, com o sofredor e abandonado: “Ele ouviu
a dor do seu povo que era escravo no Egito e os livrou com mão forte, guiou Israel
durante 40 anos no deserto. E também sofreu com eles no cativeiro babilônico.
Deus sofre no sofrimento do seu povo. Deus sente a dor que seu povo sente, no
abandono da Cruz, Deus sentiu a dor de ser rejeitado” (MOLTMANN, 2014, p.
347). Acolher o outro é encontrá-lo em sua dor e sofrimento, através da empatia.
Habilidade de escutar envolve mais do que atenção passiva ou indiferente às
palavras que vêm da outra pessoa. A escuta eficaz é um processo ativo que envolve
a capacidade de deixar de lado os seus próprios conflitos, preconceitos e preocu-
pações, enquanto pessoa, para que você possa atuar como conselheiro cristão, em
favor do seu aconselhando. Para isso, é importante evitar expressões verbais e não-
-verbais sutis de desaprovação ou julgamento sobre o que está sendo dito, mesmo
quando o conteúdo for ofensivo ou chocante. Mais do que escutar o que é dito
em palavras, é necessário estar atento ao tom de voz, o ritmo da fala, ideias que se
repetem, assim como a postura, os gestos, as expressões faciais e outras pistas que o
aconselhando apresenta. Isso se chama, na escuta ativa, de “ouvir com os olhos”. Isso
envolve também, esperar pacientemente, durante períodos de silêncio ou lágrimas,
enquanto o aconselhado cria coragem suficiente para compartilhar algo doloroso
ou faz uma pausa para organizar seus pensamentos. Collins (2011, p. 48-49) indica
que para que o processo de escuta seja eficiente, é necessário:

109
UNIDADE 3


Ser capaz de deixar de lado seus próprios conflitos, tendências e
preocupações para poder se concentrar no que o aconselhando está
transmitindo.

Evitar sutis expressões, verbais ou não, de desaprovação ou julga-


mento em relação ao que está sendo dito, mesmo quando o con-
teúdo for repugnante.

Manter os olhos e ouvidos bem abertos para detectar mensagens


transmitidas pelo tom de voz, postura, gestos, expressões faciais e
outras pistas não verbais.

Ouvir não apenas o que está sendo dito, mas perceber o que está
sendo omitido.

Aguardar pacientemente durante os períodos de silêncio ou acessos


de choro em que o aconselhando está reunindo coragem para falar
de algum fato doloroso, ou apenas organizando o pensamento e se
recompondo para continuar a sessão.

Olhar para o aconselhando quando ele estiver falando, mas sem


encarar nem deixar que os olhos fiquem passeando pela sala.

Ter consciência de que é possível aceitar o aconselhando, sem que isso


signifique ter que compactuar com suas ações, valores ou crenças.
Jesus aceitou a mulher apanhada em adultério, muito embora não
aprovasse seu comportamento. Pode ser útil tentar colocar-se na posi-
ção do aconselhando e procurar ver as coisas sob o seu ponto de vista.

Houve um tempo em que os conselheiros eram ensinados a prestar atenção e


ouvir, mas a fazer apenas comentários específicos ocasionais. Essa abordagem,
segundo Mgbejiofor (2017, p. 97), “deixou as pessoas frustradas porque o con-
selheiro parecia estar escutando, mas não se envolvendo”. Bons conselheiros são
bons comentadores. A habilidade de comentar envolve a capacidade de dirigir
gentilmente a conversa, como forma de incentivo ao aconselhando: “você deve
sentir muito isso”, “imagino que tenha sido frustrante”, “deve ter sido diverti-
do”, entre outras afirmações Collins (2011, p. 49). Esta habilidade é chamada de
modelo diretivo. Demonstrar os seus sentimentos em palavras, é uma maneira
de fazer com que o aconselhando saiba que estamos com ele, procurando en-

110
UNICESUMAR

tender como ele se sente ou pensa. Tenha cuidado para não comentar após cada
declaração, mas faça isso periodicamente. Mariano (2016, p. 63) identifica como
pontos importantes para um aconselhamento diretivo:


Orientar ou liderar dialogicamente.

Refletir conjuntamente de maneira presente.

Perguntar com o objetivo único de buscar informações úteis.

Confrontar ideias ou comportamentos que não sejam percebidos.

Informar de maneira abrangente fatos relevantes.

Interpretar comportamentos e eventos.

Apoiar e encorajar sempre.

A habilidade de perguntar, quando utilizada com cuidado, pode trazer muitas


informações úteis. As melhores perguntas são as abertas, que exigem que o outro
detalhe a sua resposta, como por exemplo: “Fale-me sobre o seu casamento”, “Que
tipo de coisas estão deixando você infeliz?”. Perguntas abertas são mais adequa-
das do que as perguntas fechadas, nas quais as pessoas respondem apenas “sim”
ou “não”. (“Você é casado?”, Você está infeliz?” “Qual é a sua idade?”). O ideal é
evitar perguntas que comecem com o “por quê”, “porque elas tendem a parecer
críticas ou estimulam longas discussões e análises intelectuais que impedem o
aconselhando de enfrentar sentimentos ou mágoas reais” (COLLINS, 2011, p.
49). Mesmo quando os aconselhados querem ser honestos e cooperativos, há
questões ou informações que eles nunca pensam em mencionar. Por exemplo,
no episódio do caminho de Emaús (Lucas 24.13-35), Jesus ouvia atentamente
os homens perplexos, mas ao mesmo tempo ele fazia perguntas para ajudá-los
a elaborar os seus sentimentos (“O que é que vocês estão discutindo pelo cami-
nho?”, “Do que se trata?”) e compreender o que estava acontecendo. O desafio
do aconselhamento cristão não é apresentar respostas e soluções às pessoas. Boa
parte da tarefa do aconselhamento cristão está em ajudar as pessoas a fazerem
as perguntas corretas e a encontrarem as respostas adequadas a essas perguntas.
Há momentos no aconselhamento cristão, em que os aconselhandos preci-
sam ser desafiados a enfrentar problemas que preferem evitar, desenvolver novas

111
UNIDADE 3

perspectivas sobre si mesmos ou seu ambiente, e tomar medidas para


resolver conflitos com os outros, ou evitar comportamentos e atitudes
autodestrutivas. A habilidade de confrontar é um elemento impor-
tante para o conselheiro que lida “com pessoas que gostam de recla-
mar e se sentir vítimas, mas que relutam em tomar qualquer atitude
para mudar” (MGBEJIOFOR, 2017, p. 99). Apesar de suas queixas,
muitas dessas pessoas têm medo de mudar, não sabem como mudar,
talvez tenham algo bioquímico que esteja impedindo a mudança, ou
em alguns casos se sintam mais à vontade com seus problemas ao
invés de assumir a responsabilidade e o risco de fazer algo diferente.
Szentmártoni (2004, p. 64) enfatizava que “A diferença entre a consulta
e o trabalho pastoral está no fato de que deve, de vez em quando ex-
cluir temporariamente os juízos morais sobre a conduta do indivíduo
e se concentrar sobretudo nos processos psicológicos que possam
levar a pessoa a uma maturidade mais desenvolvida”.
Um caso muito interessante é de uma jovem mulher casada que
durante muito tempo, foi considerada uma pessoa preguiçosa. Ob-
viamente, ela era vista como uma pessoa sem força de vontade. Não
importava o quanto ela ou sua família orasse por ela. Não havia mu-
danças. Inclusive, muitas pessoas a julgavam por essa falta de força
de vontade. Como pastor da família, guiado pelo Espírito Santo, su-
geri que ela procurasse uma ajuda profissional psiquiátrica, pois há
casos em que o cérebro pode não responder de maneira adequada.
Após a primeira consulta com a psiquiatra, ela fez alguns exames e
foi constatado que ela, na verdade, sofria de Síndrome do Pensamen-
to Acelerado. Os manuais médicos e psiquiátricos ainda não trazem
uma descrição desta síndrome, mas estudiosos da área identificam um
padrão de comportamento, no qual há uma manifestação de pensar
muito acelerada, e semelhante a certos estados de ansiedade, muito
semelhante a alguns transtornos de ansiedade e TDAH (Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade). É como se o cérebro entrasse
em um processo de muito gasto energético, para alimentar diversos
pensamentos ao mesmo tempo, levando a pessoa a uma sensação
incrível de cansaço! Essa mulher foi medicada e, atualmente, tem re-
tomado a sua vida, de maneira saudável.

112
UNICESUMAR

Por muitos anos, os conselheiros cristãos simplesmente confrontavam as pessoas


para se mexerem e fazerem algo sobre suas situações. Collins (2011, p. 50) enfa-
tiza que desafiar, ou confrontar, “não significa atacar nem condenar impiedosa-
mente uma outra pessoa”, mas “fazer nossas colocações de forma gentil, amorosa
e sem parecer que estamos julgando a outra pessoa”. Às vezes, as pessoas precisam
ser desafiadas sobre a sua percepção de si mesmas ou dos outros. Por exemplo,
os pais podem perceber seu filho adolescente como rebelde e com a intenção de
tornar a vida miserável para eles. Isso pode não ser um retrato preciso do filho ou
das lutas que podem estar acontecendo dentro dele. Qualquer que seja a situação,
o desafio é mais eficaz quando feito de maneira amorosa, gentil, sem julgamen-
tos, mas firme. Se houver várias questões sobre as quais você pode desafiar seu
aconselhando, não as levante todas de uma vez, pois isso pode sobrecarregar a
pessoa, o foco deve ser em uma questão de cada vez. Como os conselheiros po-
dem esperar, as pessoas respondem de forma diferente ao serem desafiadas, às
vezes, há concordância com o conselheiro, uma determinação de fazer mudanças
ou uma confissão de pecado com uma experiência significativa de perdão.
De muitas maneiras, todas as técnicas de aconselhamento são formas es-
pecializadas de educação espiritual e psicológica (COLLINS, 2011; MGBEJIO-
FOR, 2017). O conselheiro é um educador que usa diferentes formas de ensinar:

113
UNIDADE 3

instruir, modelar, contar histórias curtas, apontar para filmes ou gravações de


vídeo que podem ser úteis e orientar os aconselhandos à medida que aprendem
pela experiência a lidar com os problemas da vida. A habilidade de ensinar se
torna mais eficaz no aconselhamento cristão, quando os diferentes sentidos do
aconselhando estão envolvidos, auxiliando, também, quando “as discussões são
específicas e não vagas e focadas em situações concretas (“Como posso contro-
lar meu temperamento quando sou criticado? pela minha esposa?”) em vez de
objetivos nebulosos (“quero que a vida seja mais feliz”)” (COLLINS, 2011, p. 51).
Uma poderosa ferramenta de aprendizagem é a resposta imediata. Isso envolve a
capacidade de um conselheiro e aconselhando dialogarem aberta e diretamente
com o que está acontecendo no “imediato”, aqui e agora do relacionamento:


Nesse tipo de dinâmica são comuns frases como: ‘Neste exato mo-
mento, estou me sentindo frustrado com você’, ou ‘Estou começan-
do a ficar irritado, porque acho que você não está prestando atenção’.
Essas declarações francas permitem aos indivíduos expressar e ela-
borar suas emoções e sentimentos negativos antes que estes cresçam
e envenenem a alma. As respostas imediatas também ajudam os
aconselhandos (e conselheiros) a compreender melhor como suas
ações afetam os outros e como eles reagem emocionalmente nas
relações interpessoais. Essa compreensão é um importante aspecto
didático do aconselhamento (COLLINS, 2011, p. 51).

Ensinar, biblicamente falando, tem a ver com a capacidade de se caminhar ao lado


de alguém, enquanto se ensina mutuamente. O aprendizado sempre é mútuo – uma
das principais características da comunidade cristã. Por essa razão, a habilidade de
ensinar no aconselhamento cristão está intimamente ligada ao discipulado:


O aconselhamento pelo discipulado tem por objetivo o treinamento
das pessoas para serem agentes eficazes no crescimento de crentes
rumo à integridade em Cristo. É aprender a trabalhar em coopera-
ção com o Espírito Santo no processo de santificação. Por essa razão
devemos aprender a combinar Discipulado com Aconselhamento
(SWEETEN apud HURDING, 2013, p. 346).

114
UNICESUMAR

A habilidade de avaliar envolve a compreensão de que toda “história oficial-


mente contada”, é uma versão de um ponto de vista. Toda história tem, no mí-
nimo, dois lados, duas narrativas. É sábio lembrar que os aconselhandos nem
sempre contam toda a história e nem sempre dizem o que realmente querem,
precisam, pretendem. Às vezes, um aconselhado apresenta deliberadamente uma
imagem distorcida, deixando de fora detalhes embaraçosos ou potencialmente
incriminadores. Muitas vezes, os aconselhados não conseguem ver seus pro-
blemas em uma perspectiva mais ampla e, às vezes, procuram ajuda com um
problema, mas não conseguem ver ou relutam em levantar outros problemas
mais profundos. Ao aconselhar, é importante que o conselheiro cristão faça as
seguintes perguntas a si mesmo:

■ O que ela ou ele realmente está perguntando?


■ O que essa pessoa realmente quer de um conselheiro?
■ Parece que pode haver problemas ou questões além das que estão sendo
apresentadas?

Muitas vezes, as pessoas procuram um conselheiro para tratar de um assunto, mas


na verdade, não há nenhum interesse em mudar. Em vez disso, elas estão procu-
rando simpatia, atenção, catarse, o ponto de vista de outra pessoa, uma maneira
de escapar de alguma situação desagradável ou palavras que acabam sendo usadas
como munição para atacar alguém de quem não gostam. Ao ouvir, você começa
a suspeitar desses motivos subjacentes e percebe que muitas vezes eles nem são
reconhecidos pelo aconselhado. Com o tempo, você vai querer levantar isso e falar
sobre eles no aconselhamento. O conselheiro não tenta inventar novas questões ou
forçar os aconselhandos a considerar tópicos, eles não querem discutir:


Nenhum conselheiro deve tentar inventar novas questões, nem for-
çar os aconselhandos a falar de tópicos que eles não querem discutir.
Porém, seu trabalho será mais frutífero se você aprender a ouvir
com sensibilidade, sabendo que muitas das coisas que ouvimos têm
outro significado além do aparente (COLLINS, 201, p. 51).

115
UNIDADE 3

Mesmo assim, seu trabalho será mais eficaz se você aprender a ouvir com sensi-
bilidade e tentar não aceitar tudo ao pé da letra. “Também ajuda, se você estiver
ciente de que nenhuma pessoa, nem mesmo os conselheiros, podem ouvir com
total objetividade” (MGBEJIOFOR, 2017, p. 102). Todos nós temos filtros pes-
soais, familiares, culturais, teológicos e outros que nos ajudam a classificar e dar
sentido às informações que vêm à nossa mente. Tudo isso aponta novamente
para a necessidade de sabedoria e discernimento do conselheiro. Parte disso
vem com a experiência, mas os cristãos sabem que a sensibilidade vem com
mais frequência quando oramos, pedindo discernimento, orientação, clareza e
percepção precisa que vem do Espírito Santo.
Um aspecto importante é levantado na pesquisa de Bufford (1997) sobre as
diferentes abordagens de aconselhamento cristãs, que são muito mais parecidas
do que podem parecer inicialmente. Ele elencou sete elementos básicos comuns
às abordagens de aconselhamento cristãs existentes e que devem nortear a atua-
ção de um conselheiro cristão (BUFFORD, 1997, p. 118-119):

1. Busca pela excelência: Certamente o aconselhamento para ser conside-


rado cristão, precisa necessariamente envolver um trabalho cuidadoso e de
qualidade. Fazer um bom aconselhamento é um dos aspectos importantes
do aconselhamento cristão, pois encontra a sua base no conceito de “fazer
como para o Senhor” (Colossenses 3.23). Um conselheiro cristão deve ser
alguém que se prepara constantemente para atuar de maneira adequada.
2. Visão de mundo cristã: Para que o aconselhamento seja cristão, o con-
selheiro deve estar comprometido com uma visão de mundo cristã. Seria
uma zombaria chamar de cristão o aconselhamento que é conduzido a
partir de uma visão de mundo não-cristã (ou, mais apropriadamente, an-
ti-cristã). É nesse sentido que Powlison (1984) defende uma visão bíblica
das pessoas, por exemplo.
3. Valores cristãos: Da mesma forma, para ser cristão, os valores da abor-
dagem particular do aconselhamento devem ser orientados pela teologia

116
UNICESUMAR

cristã: meios, fins e motivos devem ser examinados a partir exclusivamen-


te da nossa melhor compreensão das Escrituras.
4. Fé pessoal do conselheiro: Para que o aconselhamento seja cristão, o con-
selheiro deve ter uma fé pessoal, um relacionamento pessoal com o Deus
da Bíblia e da teologia cristã – o Deus criador e sustentador que está sempre
presente. Os conselheiros cristãos “devem ser cristãos calorosos e animados
que lêem a Bíblia e frequentam a igreja” (WAHKING, 1984, p. 58).
5. Chamado pessoal do conselheiro: Wahking (1984, P. 58) afirma que
“conselheiros devem ter um senso intuitivo de chamado para serem
conselheiros cristãos”. É importante que a igreja reconheça e valide este
chamado ministerial na vida de homens e mulheres que se disponham e
sirvam a partir do aconselhamento cristão.
6. Pessoa e obra de Deus: O aconselhamento cristão deve reconhecer, con-
vidar e envolver a presença e a obra de Deus no processo de aconselha-
mento. O aconselhamento cristão não é meramente um empreendimento
humano.“Deus está envolvido através da obra de orientação e capacitação
do Espírito Santo, o perdão e a reconciliação de Jesus Cristo e a justiça e
misericórdia de Deus Pai” (BUFFORD, 1997, p. 119).
7. Intervenções e recursos espirituais: O aconselhamento cristão não se
limita às ferramentas de abordagens não-cristãs; ele inclui com gratidão
aqueles recursos que são derivados das tradições cristãs, incluindo dar e
receber perdão, oração (por, com e para pessoas). Leitura devocional da
Palavra, momentos de solitude e uma série de outros recursos incluídos
nas disciplinas espirituais são sugeridos como ferramentas de apoio para
o aconselhamento cristão (FOSTER, 2007; WILLARD, 2021). O acon-
selhamento cristão não se limita apenas ao uso dos recursos disponíveis
no ambiente de aconselhamento. Também se vale de todos os recursos
da comunidade cristã, incluindo encaminhamento a pastores e outros
líderes espirituais, incentivando o envolvimento na comunidade cristã
por meio de adoração, comunhão, sacramentos e serviço.

117
UNIDADE 3

Leia com atenção o relato abaixo descrito por Clinebell (2000, p. 76-83):

Bill Shaw telefona para Kurt Matthews, pastor de uma igreja no centro
da cidade, para solicitar um atendimento. Ele havia aparecido na igreja
três semanas antes da ligação e não havia retornado. Ele não estava
em seu quarto na filial local da YMCA quando o pastor tentou visitá-lo.
Quando voltou, encontrou o cartão do pastor com uma breve men-
sagem: “Lamento não ter encontrado. Fiquei feliz em vê-lo na igreja!” Essa
visita aparentemente improdutiva levou Bill a telefonar pedindo ajuda. O
cartão, que ele carregava na carteira vários dias antes da ligação, comuni-
cava a preocupação do pastor, bem como seu número de telefone.
Bill: Olá, aqui é Bill Shaw. Encontrei o seu cartão. Lamento não estar em
casa quando você chegou. (Sua voz tinha um tom monótono).
Pastor: Bom ouvir, Bill! Passei para cumprimentá-lo e dar-lhe as bo-
as-vindas à comunidade. Você é novo na cidade?
Bill: Sim, mudei-me para a costa de St. Louis no mês passado. Decidi
que tentaria recomeçar a vida por aqui.
Pastor: Bem, estou feliz por tê-lo conosco. Como estão as coisas para você?
Bill: Bom, mas é um pouco difícil se acostumar com um novo lugar. A
propósito, há algumas coisas que eu gostaria de discutir com você. Não
quero tomar muito do seu tempo, mas... ah.:. ,
Pastor: Será um prazer vê-lo. Que horas você tem? Qual você acha que é
a melhor hora para passar no meu escritório?
Bill: Bem, estou procurando um emprego agora, então não tenho prob-
lema de tempo.
Pastor: Infelizmente eu tenho que sair da cidade agora para uma con-
ferência. Mas conte-me um pouco sobre sua situação.
Bill: Bem, minha esposa pediu o divórcio há três meses, e desde então
tenho me sentido muito deprimido. Durante estes últimos dias, senti
como se tivesse que olhar para cima para ver o chão. Não tenho con-
seguido dormir muito.
Pastor: Parece-me que as coisas não estão indo bem para ele. Você terá
tempo para nos encontrarmos na igreja em vinte minutos?
Bill: Sim, mas não quero atrasar sua viagem.
Pastor: Ok. Eu gostaria de poder falar com você um pouco antes de
partir. Meu escritório fica na Oak Street. Há uma entrada separada da
igreja. Te espero às 13h15.
Bill: Tudo bem, eu vou vê-lo então.
No dia e hora marcados, o pastor recebe a visita de Bill Shaw, cumpri-
mentando-o na porta de seu escritório e depois de uma pequena con

118
UNICESUMAR

versa inicial sobre o tempo, ele diz: "Conte-me mais sobre sua situação".
Isso encoraja Bill a se concentrar em seu problema como ele o percebe
(o "problema como é"). Quase sempre há problemas mais profundos
dos quais o aconselhando pode não estar ciente, mas a regra de ouro é
começar com o problema como ele é.
Ao longo de sua descrição, Kurt gradualmente adquire algumas informações
básicas sobre a vida e os relacionamentos complicados de Bill. Ele descobre
que ele tem trinta e sete anos, que foi casado por doze anos tempestuosos
antes de se divorciar, que tem dois filhos e que teve vários empregos, prin-
cipalmente como mecânico de automóveis. Kurt se lembra das palavras de
Bill ao telefone sobre "começar de novo", sugerindo que seu modo de vida
anterior desmoronou. Enquanto Bill fala, o pastor ouve tentando perceber os
grandes sentimentos entre os muitos que Bill expressa:
Bill: Este divórcio me atingiu como uma tonelada de tijolos. Claro, tivemos
nossos desentendimentos e ela estava me ameaçando com o divórcio,
mas quando aconteceu, não pude acreditar. Eu me assustei, naturalmente,
mas principalmente eu senti que algo grande estava faltando.
Pastor: Você se sentiu derrotado e vazio; algo extremamente importante
em sua vida tinha sido arrancado!
Bill: Sim, e a sensação de vazio é pior estando tão longe. Tenho muitas
saudades dos meus filhos. (Há uma grande tristeza em sua voz.) Meu
filho começou como escoteiro este ano, e essa é uma atividade em que
os pais deveriam estar com seus filhos.
Pastor: A distância torna a sua perda ainda mais dolorosa porque você
não consegue vê-lo e se envolver em sua vida.
(Neste ponto da entrevista, o pastor está simplesmente tentando ouvir e
refletir as atitudes e sentimentos dominantes do homem).
Bill: Sim, eu me pergunto se não cometi um grande erro ao me mudar
para cá. Eu queria ser um pai para os meus filhos e ainda assim senti
que tinha que deixar este lugar que me afetou. Tive azar nos meus
trabalhos, tive problemas em dois deles devido ao meu temperamento.
Eu pensei que talvez fosse melhor começar de novo onde eu não tinha
minhas velhas sombras por perto. Acho que também queria mostrar à
minha ex-esposa que eu não precisava dela, que eu poderia viver sem ela!
Pastor: A dor de ambos os problemas - trabalho e casamento - o fez
sentir que era melhor se mudar. Mas agora você tem sérias dúvidas
porque sente falta de seus filhos.
Bill: (Acena positivamente com a cabeça). Não há esperança para o meu
casamento, mas não quero que os meus filhos cresçam sem mim!
Pastor: Você se sente poderosamente puxado em duas direções.

119
UNIDADE 3

É muito difícil para você decidir se volta ou fica.


Bill: É verdade, e quanto mais resmungo isso em minha mente, pior
me sinto. Tenho a sensação de andar em círculos. Eu estava deitado na
minha cama no quarto da Associação me sentindo cada vez pior. Tudo
isso faz sentido? Pareceu-me que não vale a pena lutar. Então me lem-
brei do cartão do pastor e decidi ligar para conversar.
Pastor: Estou feliz que você fez. Você está se sentindo desolado e sem
esperança.
(O pastor agora tem uma visão parcial do motivo pelo qual Bill Shaw
pediu ajuda a ele. Ele sabe que veio por conta própria por causa de sua
aflição interior de solidão e tristeza e seu conflito sobre voltar para St.
Louis).
Pastor: Você mencionou no telefone que não está trabalhando agora.
Bill: Isso mesmo. Mas uma pessoa na garagem em frente aos correios
me disse que poderia me levar lá para trabalhar a partir da próxima
segunda-feira.
Pastor: Você se sentirá melhor agora que terá um emprego.
Bill: Bem, nunca tive problemas para encontrar um emprego: estudei
mecânica. Mas será bom voltar a trabalhar e sair daquela sala; Além disso,
estou quase falido. Eu não podia pagar minha passagem de ônibus para
St. Louis agora, mesmo que decidisse que era isso que eu tinha que fazer.
Pastor: Eu ficaria feliz em caminhar com você enquanto você decide o
que é melhor para você e seus filhos. Tudo bem se nos encontrarmos na
sexta-feira no mesmo horário?
Bill: Ok.
Pastor: Bem, vamos começar a trabalhar juntos neste assunto.
Bill: Sim.
Pastor: Como você se sente agora sobre sua situação? (O objetivo desta
pergunta era registrar o quão deprimido e sem esperança esse homem
ainda se sentia.)
Bill: Melhor. Isso me ajuda a tirar algumas coisas do meu peito.

É possível perceber nesse relato que o aconselhamento cristão é um processo


lento e gradual para ajudar as pessoas a lidarem com os seus problemas. Ob-
serve que a todo o momento o Pastor está demonstrando acolhimento a dor de
Bill. Não importa o quanto Bill tenha errado, como ele mesmo disse, “por causa
de seu temperamento”. Acolher envolve ouvir a dor do outro, mesmo que você
não concorde com as decisões tomadas. Veja também que o Pastor está sempre
aplicando as habilidades de escutar, comentar e perguntar. O modelo diretivo é

120
UNICESUMAR

importante para auxiliar o aconselhando a colocar em ordem as suas emoções,


sentimentos e pensamentos. Uma vez que Bill se sentiu acolhido, se dispôs a
estabelecer uma relação de diálogo, para resolver as suas pendências internas.

NOVAS DESCOBERTAS

Assista, acessando o QR Code a seguir, o vídeo: Capelania no Pizza


Company – breves relatos de ação de capelania empresarial que está
surtindo efeito positivo no ambiente de trabalho e na vida dos fun-
cionários.

Estamos em um momento em que as pessoas estão à procura de autoconhecimen-


to. Grandes e médias empresas estão investindo em cursos de capacitação para
os seus funcionários. Uma das áreas que mais cresce na capelania empresarial é a
espiritualidade. Desenvolver a espiritualidade das pessoas como forma de melho-
rar a qualidade de vida, é um diferencial que a Teologia, em especial a matéria de
aconselhamento cristão e capelania cristã, podem fornecer a você, aluno e aluna.
Como bacharel em Teologia, você pode aproveitar alguns cursos de aper-
feiçoamento para aprimorar a sua atuação como conselheiro cristão ou capelão
empresarial cristão. Por exemplo, um bacharel em Teologia com aperfeiçoamento
em Coaching e Desenvolvimento de Pessoas, ou em Novas Abordagens de Gestão
de Conflitos e/ou Capacitação de Pessoas, pode atuar de maneira muito interes-
sante em um programa de autoconhecimento para o aumento da produtividade
no trabalho e a diminuição de conflitos. Habilitar e desenvolver o potencial das
pessoas no seu ambiente de trabalho, contribuirá para a resolução de problemas
familiares também, promovendo uma qualidade de vida maior.
Adicionar ao conhecimento teológico que você está desenvolvendo com os co-
nhecimentos básicos de coaching aplicado ao treinamento e desenvolvimento de
pessoas, desde percepções e novas ferramentas operacionais e estratégicas da gestão,
até os métodos mais utilizados na administração de conflitos organizacionais, fará um
diferencial enorme em sua carreira e ministério. O aprendizado de técnicas de desen-
volvimento de pessoas por meio da gestão por competência e métodos alternativos
para resolução de conflitos, além de habilidades e técnicas de profissionais da área de
gestão de pessoas que atuam com fundamentos e processos relacionados à gestão por
competências, podem ser igualmente utilizadas para você abençoar a sua igreja local.

121
A partir do que vimos até aqui, quero convidar você a preencher o mapa de empa-
tia a seguir colocando as suas percepções sobre a atuação prática do conselheiro
cristão, em especial, com relação às pessoas que não se sentem acolhidas em suas
igrejas locais. Com a sua experiência de vida e de igreja, somado ao conhecimento
ad irido at a i, re ita e preencha o se mapa de empatia

O que você pensa e sente sobre as pessoas


que não permanecem
nas igrejas?

O que você ouve quando O que você vê na forma como o


alguém revela incômodo e insatisfação aconselhamento cristão poderia
com a sua igreja? ajudar essas pessoas?

O que você costuma


falar e fazer para pessoas que estão
pensando em sair de suas igrejas?

Quais as posturas que você espera de um líder que está sendo criticado pelos membros da igreja?
4
Teologia e
Práticas em
Aconselhamento
Cristão
Me. Eugênio Soria de Anunciação

esta nidade, amos identificar a import ncia do a toconhecimento


para o aconselhamento cristão a partir de tr s conceitos m ito claros
e definidos pela eolo ia stes conceitos ser irão de base para as oito
pr ticas em aconselhamento cristão, e são determinantes para a
at a ão do conselheiro cristão e do capelão cristão na cond ão das
pessoas ao conhecimento de e s e de si mesmas, em es s
UNIDADE 4

Ele era um rapaz de 18 anos e frequen-


tava a nossa comunidade de fé a três
domingos. No primeiro domingo, ele se
sentou na última fileira do templo. No
terceiro domingo, já estava sentado nas
fileiras do meio. Eu percebi que ele se en-
turmou com facilidade com a nossa co-
munidade. Ao final do terceiro culto, ele
me procurou, perguntando se podería-
mos conversar durante a semana. Olhei
a minha agenda e combinamos de tomar
um café. Para mim, uma cafeteria é um
ambiente bom para um primeiro conta-
to. O burburinho do ambiente permite
que as pessoas se sintam mais acolhidas
e protegidas. No dia e hora marcados, nos
encontramos para tomar o café.
Na minha atividade pastoral, traba-
lhamos séries temáticas de pregação. A
pregação é uma estratégia de condução
para o aconselhamento pastoral. Nas
mensagens aos domingos, levantamos
questões para que as pessoas comecem
a se questionar sobre as suas vidas a
partir da Palavra de Deus. Naquele mês,
realizamos uma série de mensagens
com o tema: “Cada um tem a sua his-
tória” na qual a partir das histórias das
irmãs Marta e Maria, traçamos paralelos
com as nossas histórias. As experiências
de Marta e Maria chamaram a atenção
deste jovem. Ele queria entender melhor
como a vida dele poderia ser vivida de
uma maneira mais efetiva com Deus.

124
UNIDADE 4

Figura 1 - Tela do episódio 3: “Quando o amor diz ‘Ainda não’“, da Série de Mensagens “Cada um tem
a sua história”, baseada no evangelho de João 11.1-16 / Fonte: O autor

Descrição da Imagem: m tablet apoiado sobre ma mesa, com a tela li ada, sim lando m aplicati o
de streamin di ital mão es erda de ma pessoa toca a tela com os dedos indicador e pole ar, indi-
cando e reali ar o mo imento de pin a, para ampliar a tela no e seria ma escolha de pro rama
para assistir, c o t t lo Marta e Maria ando o amor di inda não

Após pedirmos os cafés e aguardarmos, o jovem começou falando sobre como


aquelas mensagens e o acolhimento da igreja estavam sendo importantes para ele.
Inicialmente ele começou fazendo perguntas sobre a Bíblia, sobre Deus e sobre o
pecado. Sabe quando a pessoa tem muita curiosidade e não sabe por onde começar?
Era assim com o coração dele. Ele tinha iniciado a faculdade naquele ano e estava
pensando sobre o seu futuro. Neste momento, chegaram os cafés. Ele pediu um
cappuccino, eu um coado. Alguns goles depois, ele começou a abrir o seu coração:
— Pastor, essa série de mensagens tem mexido muito com o meu coração. Eu não
conhecia a história de Marta e Maria. Na pregação deste domingo, quando o pastor
falou de que Deus é tão presente em nossa história ao ponto de podermos simples-

125
UNIDADE 4

mente dizer a ele que não sabemos o que fazer diante de algumas circunstâncias da
vida. Aquilo fez muito sentido para mim. Eu estou me sentindo exatamente assim.
Tenho um futuro pela frente, mas tenho muito medo e nem sei ao certo o porquê.
— Entendo perfeitamente — respondi para ele. — Quando o irmão de Marta
e Maria estava muito doente, elas puderam simplesmente mandar dizer a Jesus:
‘Aquele a quem amas está doente’. Muitas vezes não sabemos as causas das nossas
dores. O mais importante é saber que podemos dizer a Jesus que algumas coisas
não estão legais dentro da gente.
— Eu estou neste momento. Tem muita coisa bagunçada dentro do meu
coração. Eu não consigo sequer entender por onde começar, mas eu sei que
eu preciso de Jesus na minha vida!”
Aquele primeiro café foi o início de uma caminhada de transformação na
vida daquele jovem. Combinamos de nos encontrar no gabinete pastoral no dia
seguinte, para começarmos essa caminhada de aconselhamento cristão. No dia e
hora marcados, começamos essa caminhada de transformação. Iniciamos a con-
versa, pedindo que o Espírito Santo nos iluminasse e nos conduzisse à verdade,
ajudando a mim e a ele, para que entendêssemos o que não conseguiríamos de
outra forma. Após a oração, eu falei:
— Eu imagino que você esteja aqui à procura de respostas. Eu preciso come-
çar dizendo isso para você: ‘Eu não tenho as respostas que você procura’. O meu
papel aqui, em um primeiro momento, é ajudar você a fazer perguntas e em um
segundo momento, servir de ‘espelho’. Isso significa que eu vou repetir algumas
falas suas para que você se escute e juntos, na dependência do Espírito Santo, a
gente consiga compreender o que Deus quer, tudo bem?
Ele balançou positivamente com a cabeça, e iniciou:
— Mas eu não sei nem por onde começar…
Então respondi:
— Imagine que você está trazendo aqui para mim, uma caixa de quebra-ca-
beças, com 5.000 peças. Você vê a imagem pronta na caixa, mas quando despeja
o conteúdo na mesa, está tudo bagunçado. O nosso trabalho, aqui, será identificar
as peças-chave, para começar a montar esse quebra-cabeça. Com o tempo, va-
mos nos acostumando com a voz de Deus e tudo começará a se encaixar. Não se
preocupe em dizer as palavras certas. Fale o que vier ao seu coração.
Ele iniciou falando sobre alguns sentimentos do momento, como o medo do
futuro, de que ele não daria conta da sua vida, de que nunca seria capaz de fazer

126
UNIDADE 4

nada bom. Todo sentimento do presente, sempre é um eco do passado. Após ele
me falar sobre esses sentimentos, daquele momento, eu pedi que ele me falasse
um pouco sobre a sua relação com a sua mãe e com o seu pai. Ele poderia esco-
lher sobre quem falaria em primeiro lugar. As nossas primeiras relações humanas
determinam o tipo e a qualidade de relacionamentos que teremos no futuro, com
relação a Deus, com a gente mesmo e com os outros.
Quando ele começou a contar sobre as suas experiências de abandono, agressões
e violências emocionais e físicas que sofrera ainda na infância, entendi que aí estava
uma peça-chave importante para começarmos a montar o quebra-cabeça. Neste mo-
mento, expliquei para ele o plano de Deus ao colocar um bebê que sequer consegue
cuidar de si mesmo, em uma relação com um pai e uma mãe (às vezes biológicos, às
vezes adotivos), para fazer com que este bebê se desenvolva plenamente em todas as
dimensões da vida. Também expliquei que, por causa dos efeitos noéticos do pecado,
nem sempre nossos pais conseguem cumprir os seus papéis de maneira adequada e
que esses buracos vão se estabelecendo em nosso coração, reverberando durante toda
a nossa vida enquanto não tratarmos eles de maneira adequada.
O jovem ouviu atentamente as minhas explicações, e disse:
— Faz muito sentido isso, pastor! Eu nunca havia percebido isso, que as mi-
nhas histórias do passado me influenciavam ainda hoje. Eu achava que se eu
simplesmente não pensasse nelas, elas deixariam de existir.
Então eu finalizei aquele primeiro encontro:
— Por hoje, isso é o suficiente. Agora, eu preciso que você vá para a sua casa e
converse com Deus sobre tudo isso, durante a sua semana. Vamos nos encontrar na
próxima semana. Fique atento aos seus sentimentos. Pode ser que você fique muito sen-
sível, por estar revisitando essas experiências nesta semana. Mas lembre-se de que Deus
estará com você e que você pode dizer a todo momento a ele, o quanto está doendo.

127
UNIDADE 4

O autoconhecimento é uma qualidade muito apreciada na liderança e na


gestão de pessoas. Pesquisas como as de Begley (2006); Goleman e Boyatzis
(2008); Santos et al. (2014) e Stach (2019) sugerem que quando nos vemos
com clareza, somos mais confiantes e mais criativos. Tomamos decisões mais
sólidas, construímos relacionamentos mais fortes e nos comunicamos com
mais eficiência. Somos melhores trabalhadores que recebem mais promoções
e somos líderes mais eficazes com funcionários mais satisfeitos e empresas
mais lucrativas. “O papel vital da empatia e do autoconhecimento desem-
penham uma liderança eficaz” (GOLEMAN; BOYATZIS, 2008). Pesquisas
acadêmicas e científicas feitas com líderes ao redor do mundo indicam que
apenas de 10% a 15% das pessoas pesquisadas realmente se encaixam nos cri-
térios de autoconhecimento, ou seja, o número de pessoas que têm consciên-
cia de si mesmo é bem pequeno (EURICH, 2018). Líderes sem autoconheci-
mento têm a tendência de caminhar para dois extremos: 1) Querer agradar
a todos, ou 2) Querer que as coisas aconteçam de acordo com a sua vontade.
De acordo com a Psicologia Social, há dois tipos de relacionamentos que
moldam a nossa identidade: a socialização primária e a socialização secundária.
A socialização primária é aquela que é realizada na família – recebemos o mesmo
sobrenome e somos ensinados a enxergar a vida a partir do mesmo prisma da
nossa família. A socialização secundária é aquela que é realizada fora da família,
com os vizinhos, a escola, a igreja, o trabalho etc. É quando ampliamos a com-
preensão de quem somos diante dos outros, além da nossa família.

Acesse o QR Code a seguir e assista ao vídeo com a


música do Teatro Mágico “Eu não sei na verdade quem eu
sou”, que faz parte do DVD Recombinando Atos ao vivo
em São Paulo, prestando atenção à forma como Fernando
Anitelli explica a maneira como recebemos e construímos
conceitos.

A partir das informações obtidas até aqui e do vídeo que você assistiu, escreva em seu
Diário de Bordo, qual é a forma como você se enxerga neste momento da sua vida.

128
UNIDADE 4

DIÁRIO DE BORDO

Uma das principais propostas do cristianismo, é ajudar as pessoas a se enxerga-


rem como elas realmente estão desconectadas de Deus, de si mesmas, das outras
pessoas e da criação, para que elas sejam transformadas pela ação sobrenatural
do Espírito Santo. É um caminho de autoconhecimento. E este caminho, necessa-
riamente, passa por conhecermos a Deus, de acordo com aquilo que ele revelou
sobre si mesmo. Nas palavras do reformador João Calvino (1536/2003, p. 48): “O
conhecimento de Deus nos leva ao conhecimento de nós mesmos”.
Em nossa tentativa de compreender o mundo no qual vivemos como forma
de compreender a nós mesmos, estabelecemos uma primeira relação eu - mundo.
Em outras palavras, tudo aquilo que não se refere a mim e se encontra fora de
mim, é identificado como uma espécie de objeto de estudo, ficando mais claro
este estabelecimento de relação:

EU – MUNDO

(sujeito) – (objeto)

129
UNIDADE 4

De uma maneira muito simples, quando olho para o que existe fora de mim,
associo isso a um objeto a ser compreendido (seja esse “objeto” uma coisa, um
fenômeno da natureza, uma pessoa). Eu assumo o papel de sujeito, no sentido de
ser aquele que está tentando decifrar os enigmas do que estou vendo (objeto). Este
é um dos desafios da ciência – buscar compreender e explicar a realidade. Porém,
nem sempre o pensamento humano foi científico. O pensamento científico é um
processo metodológico que


parte da definição de um objeto a ser estudado, tendo como base um
referencial teórico apropriado para, a partir da observação e análise
de um conjunto de fenômenos, levantar hipóteses que possam ser
verificáveis, correspondendo objetivamente ao que podemos cha-
mar de realidade (PASSOS; USARSKI, 2013, p. 38).

O pensamento humano surgiu primeiramente como uma forma mágico-mística,


que foi evoluindo gradativamente à medida em que as sociedades humanas se
desenvolviam. A tentativa humana de explicar o mundo, foi a partir dos deuses,
até chegar ao indivíduo. Veja o quadro a seguir:

MUNDO MUNDO MUNDO


MUNDO
ANTIGO MEDIEVAL MODERNO
Categorias HIPERMODERNO
2.500 a.C. – 500 d.C. – 1.500 d.C. –
Depois de 2.000 d.C.
500 d.C. 1.500 d.C. 2.000 d.C.

Os deuses O Deus cris- A razão huma-


Os sentimentos huma-
são a medida tão é a medi- na é a medida
Cosmovisão nos são a medida de
de todas as da de todas de todas as
todas as coisas
coisas as coisas coisas

Precisamos
Precisamos Precisamos
fazer o que a Eu preciso fazer o que
Ideia Central agradar os agradar ao
razão humana eu sinto
deuses Deus cristão
nos diz

Quadro 1 - A evolução do pensamento humano, como forma de explicar a realidade / Fonte: O autor

130
UNIDADE 4

A forma de pensamento humano que regia o Mundo Antigo foi uma evolução
do panteísmo (tudo e todos compõem a divindade), para o totemismo (plantas,
animais e ancestrais como divindades), depois para o politeísmo (vários deuses),
para o henoteísmo (vários deuses, mas um deus superior aos demais), até a no-
ção de monoteísmo (existência de apenas um deus verdadeiro). Essa tentativa
de explicar a realidade a partir de uma linguagem primitiva mágico-mística, foi
a origem do pensamento religioso, que é um sistema que ainda hoje influencia
poderosamente o pensamento do ser humano hipermoderno. Esse processo se
deu, porque todo movimento religioso é um movimento também social. Lembra
das socializações primária e secundária? Estão aqui presentes.
Para os filósofos empiristas como Locke e Hobbes, por exemplo, todo conhe-
cimento nasce da percepção dos sentidos humanos. O problema é que o conhe-
cimento de Deus não pode estar condicionado apenas às sensações humanas.
Por isso a teologia cristã concorda que o conhecimento humano de Deus não é
exaustivo, ou seja, não podemos conhecer Deus em sua totalidade, apenas naquilo
que o próprio Deus revelou sobre si. A teologia reformada, em sua aversão a toda
idolatria, insistiu que Deus ultrapassa infinitamente o nosso entendimento, a
nossa imaginação e a nossa linguagem. Calvino chegava a afirmar que “o coração
humano é uma perpétua fábrica de ídolos” (CALVINO, 1536/2003, p. 113). De
fato, em toda tentativa humana de se explicar a Deus, no sentido de defini-lo, há
o risco de se estabelecer um ídolo, um não-Deus:


É desrespeitoso! Pretendemos saber o que dizemos quando enuncia-
mos a palavra “Deus”! Atribuímos-lhe a posição mais alta de nosso
mundo e, em assim fazendo, colocamo-lo, fundamentalmente, na
mesma linha em que estamos, nós e as coisas materiais; achamos que
Ele “precisa de alguém” e que podemos ordenar as nossas relações
com Ele como arranjamos qualquer outro relacionamento. [...] Con-
fundimos a eternidade com a temporalidade. Esta é a nossa falta de
respeito no relacionamento com Deus. Secretamente, nesse nosso
modo de proceder, somos nós os Senhores. Para nós não se trata de
Deus, porém das nossas necessidades, de nossos desejos e conveniên-
cias, pelas quais queremos que Deus se oriente (BARTH, 2009, p. 52).

131
UNIDADE 4

A razão humana não é capaz de conhecer plenamente


a Deus. Por isso, o risco de se estabelecer um ídolo, ou seja,
um não-Deus, é apenas uma manifestação da arrogância hu-
mana:


Quem define a Deus está dizendo que, em últi-
ma instância, conhece a Deus. E quem afirma
que conhece a Deus, na realidade, não fala de
Deus em si, mas da representação de Deus que
nós humanos nos fazemos. O Evangelho o diz
sem rodeios: “Ninguém jamais viu a Deus” (Jo
1,18). Ou seja, Deus não está ao nosso alcance.
Fato este realçado pelos evangelhos sinóticos:
“Somente o Filho conhece o Pai” (Mt 11,27; Lc
10,22) (CASTILLO, 2017, p. 15).

É na temporalidade – a dimensão humana – que acontece a


revelação do Deus que habita a dimensão da eternidade. Isso
acontece, porque a nossa dimensão está restrita ao espaço-
-tempo, ou nas palavras de Paulo, a nossa dimensão está con-
tida em Deus: “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos”
(Atos 17.28). Essa dimensão humana, que está contida em
Deus, é uma dimensão com início, meio e fim – a história da
humanidade terá o seu último momento, mas a história de
Deus permanece por toda a eternidade.


A partir do momento em que Deus se revela e,
portanto, se dá a conhecer em um ser humano,
a partir deste momento, nossa maneira de en-
tender a Deus ficou radicalmente modificada.
Vale dizer, crendo em Jesus como “revelação
de Deus”, cremos em um Deus vinculado ao
humano de maneira indissociável, encarnado
no humano e, portanto, fundido com o huma-
no (CASTILLO, 2006, p. 69).

132
UNIDADE 4

Figura 2 - Esquema para mostrar as diferenças entre a realidade de Deus (Espiritual/Eternidade) e a


realidade do ser humano (Corporal/Temporal) / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: adro es em tico indicando d as linhas do tempo linha s perior, sinali-
ando a eternidade , remetendo hist ria de e s, o dimensão espirit al em ma lin a em b blica,
o tempo e se chama ho e se nda linha, sinali a a temporalidade , a hist ria da h manidade, o
dimensão h mana, e se encontra restrita ao espa o tempo entro desta linha, podemos er as atro
dimens es do e an elho, e ormam a dimensão da temporalidade ria ão c s e terra eda do
ser h mano eden ão em risto es s o a ria ão no os c s e no a terra ntre a linha de tempo
da dimensão h mana e a dimensão espirit al h ma seta indicando para cima, e se remete o a
ria ão no os c s e no a terra

Por isso, a revelação plena de Deus acontece em Jesus. Mais do que isso. Em Jesus há
uma dupla revelação. Ele revela o que Deus deseja que o ser humano conheça
sobre ele e revela também o tipo de ser humano que podemos vir a ser nele.


Ao referir-nos à “humanidade de Jesus”, na realidade estamos falan-
do mais propriamente de seu projeto de vida. Trata-se do extremo
oposto de tudo aquilo que significa “dominação” sobre a terra. E,
portanto, de tudo o que é próprio da “identificação”, daquilo que é
próprio da terra, do que está abaixo ou junto ao solo. É a partir desta
perspectiva que se torna possível viver e sentir como realidade a
nossa humanidade (CASTILLO, 2017, p. 33).

Por isso, como conselheiros cristãos, precisamos ter uma compreensão cristoló-
gica extremamente bíblica. Quando compreendemos quem Jesus realmente é e
a forma como ele revelou a Deus, e também como a humanidade pode vir a ser
Nele, começamos o processo de autoconhecimento, de nos tornarmos novas cria-
turas (2 Coríntios 5.17). Isso significa que o nosso parâmetro deve ser o próprio

133
UNIDADE 4

Jesus. Por exemplo, se você se comparar a um assassino, você se enxergará como


alguém superior; mas ao se comparar a Jesus e a capacidade dele em perdoar, você
será confrontado com o quanto precisa ainda ser mudado. Isso é importantíssi-
mo para a atuação do conselheiro e do capelão cristão: não adianta aplicarmos
técnicas corretas, se o nosso centro de compreensão do ser humano não estiver
em Jesus – ele é o nosso alvo, o nosso parâmetro!

Quero convidar você para ouvir o Podcast sobre como o


autoconhecimento está intimamente ligado ao conheci-
mento de Deus, como afirma o teólogo reformado João
Calvino. A busca pelo conhecimento de Deus, a partir da
revelação especial de Jesus Cristo é o caminho proposto
pelo cristianismo para promover o autoconhecimento

134
UNIDADE 4

PENSANDO JUNTOS

não so em e ostaria de ser


e não so em e poderia ser, ainda,
e não so em e de eria ser Mas ra as a e s
e não so mais em e era
Martin ther in

Um dos principais equívocos no aconselhamento


cristão e na capelania cristã, é a ideia de que aquele
que aconselha deve ser alguém que cai em um des-
ses dois extremos: a) alguém que apenas ouve, ou b)
alguém que apenas fala. Quando falamos em técni-
cas de aconselhamento cristão e capelania cristã, a
palavra-chave é diálogo. Isso significa que essas duas
ações (ouvir e falar), devem ser trabalhadas em con-
junto. Diálogo é mais do que uma conversa.
A palavra “diálogo” é derivada das palavras gregas
διά (diá) que significa “através” e λόγος (logos) que
significa “palavra”, assim como do verbo διαλέγομαι
(dialegomai), que significa “estar envolvido em uma
conversa com outro” (BROWN; COENEN, 2000, p.
1632). O diálogo é comumente entendido como um
processo de comunicação em que ideias, opiniões
ou valores são trocados por meio de uma conversa
oral. O diálogo também representa o caminho mais
direto para criar uma conexão humana. No diálogo,
o objetivo é ajudar o aconselhando a colocar em pa-
lavras os seus sentimentos e pensamentos que muitas
vezes estão conflitantes internamente. Geralmente
as pessoas sabem que sentem algo, mas não conse-
guem colocar em palavras o que sentem. O diálogo
bem-sucedido inclui estabelecer um entendimento
mútuo e descobrir como avançar juntos.

135
UNIDADE 4

Para uma compreensão do diálogo, Helde (2021) apresenta uma metáfora tridi-
mensional – a cabeça, o coração e a mão – para ilustrar a natureza multifacetada
do diálogo. Quando queremos entender, lidar, conduzir e ensinar o diálogo, todas
as três dimensões são importantes.


A cabeça refere-se à mente e aponta para a importância de adquirir
conhecimento sobre o diálogo com o objetivo de desenvolver uma
mente aberta e uma mentalidade dialógica – ou seja, uma cons-
ciência e capacidade de escolher conscientemente uma abordagem
dialógica, mesmo em situações de profundo desacordo que caso
contrário, pode levar à escalada de um conflito ou até mesmo a uma
briga. Em vez disso, a pergunta deve ser feita: “Eu quero ou preciso
(lutar e) vencer? Ou posso buscar oportunidades para dialogar com
a mente aberta, tentando entender outras perspectivas?”

O coração refere-se a um conjunto de valores dialógicos – respeito às


diferenças, igualdade, abertura, tolerância, reconhecimento, empatia
e compaixão. A dimensão do coração implica a crença no diálogo
como um valioso construtor de pontes entre pessoas de diferentes
opiniões, origens e identidades. O desejo humano compartilhado
de se conectar com os outros oferece a oportunidade de entender até
mesmo aqueles que podem ser percebidos como diferentes.

Por fim, a mão refere-se a um conjunto de habilidades práticas e


ações necessárias para que o diálogo aconteça. As habilidades são
técnicas e ferramentas comunicativas que apoiam e aprimoram o
diálogo – por exemplo, questionamento e curiosidade, que podem
ser demonstrados fazendo perguntas abertas e exploratórias e apli-
cando a escuta ativa com o coração e a mente abertos. A dimensão
da mão também pode incluir certas diretrizes para comportamen-
tos construtivos que incentivam o diálogo e apoiam uma conversa
ou processo (HELDE, 2021, p. 26).

Shashoua (2017, p. 22) apresenta as seguintes ferramentas e abordagens para o


diálogo:

136
UNIDADE 4

■ Ouvir
■ Ter consciência das suas suposições
■ Evitar colocar rótulos nas pessoas
■ Suspender o julgamento e o preconceito
■ Descubra a função do que está sendo verbalizado; pergunte qual é a fun-
ção desta fala?
■ Seja empático

A partir de um processo de diálogo, o conselheiro cristão e o capelão cristão


devem estar atentos ao processo de aconselhamento em si como uma forma de
contribuir para uma mudança significativa na vida do aconselhando, ligada ao
problema que originalmente tornou o processo necessário. O processo de aconse-
lhamento é um conjunto de atividades que visa garantir que o conselheiro cristão
resolva satisfatoriamente um problema relacionado à vida do aconselhando, que
resultará em uma disposição de mudança.
Todo processo de aconselhamento exige como condição fundamental que o
aconselhando esteja disposto a mudar algo em sua vida e, por isso mesmo, peça
ajuda. Ele solicita ajuda aberta e voluntariamente; não é outra pessoa, mas ele
mesmo que pede ajuda, o que implica um reconhecimento claro da sua incapa-
cidade de enfrentar sozinho a situação que o aflige (ADAMS, 1987; CLINEBELL,
1987, COLLINS, 2001). É arriscado e muitas vezes sem sucesso tentar realizar
um processo de aconselhamento sem essa demanda de ajuda. Sob essa condição,
é mais provável que o processo falhe miseravelmente. No entanto, há situações
em que fica claro para nós que alguém precisa de ajuda, mas não há procura por
ajuda. Nesses casos, podemos fazer uma oferta respeitosa de saber; algo como
uma oferta de ajuda mais ou menos clara que não vai além disso. Temos um
exemplo dessa atitude no caso do paralítico de Betesda. Jesus fez uma oferta de
cura e não passou a curar o enfermo até que ele pediu ajuda:


Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Jesus, ven-
do-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, per-
guntou:

— Você quer ser curado?

137
UNIDADE 4

O enfermo respondeu:

— Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando


a água é agitada. Quando tento entrar, outro enfermo chega antes
de mim.

Então Jesus lhe disse:

— Levante-se, pegue o seu leito e ande. Imediatamente o homem


se viu curado e, pegando o leito, começou a andar. E aquele dia era
sábado (João 5.5-9).

Uma tentação pela qual todo conselheiro cristão e capelão cristão passam é assu-
mir o papel de superiores, pelo fato de estarem aconselhando outras pessoas. Isso
é um grande risco. Acima de tudo, é importante que o conselheiro se reconheça
como alguém em falta. O conselheiro não é um sujeito sem culpa, isto é, perfeito,
sem problemas, totalmente espiritual, infalível, irrepreensível, com uma vida
inquestionavelmente santa, ou algo semelhante. Pelo contrário, o conselheiro é
apenas um ser humano sujeito à graça de Deus, e nada mais. Tem o seu próprio
espinho na carne e, sem ostentá-lo, tenta servir a Deus e aos outros:


E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações,
foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me
esbofetear, a fim de que eu não me exalte. Três vezes pedi ao Senhor
que o afastasse de mim. Então ele me disse: “A minha graça é o que
basta para você, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” De boa
vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo (2 Coríntios, 12.7-9).

Aqui você percebe a importância do autoconhecimento, que é resultado do co-


nhecimento de Deus revelado em Jesus. Quanto mais a pessoa está em contato
com Jesus, mais é exposto ao seu próprio coração e mais honesto é consigo e com
os outros. Este reconhecimento é explícito, ou seja, a atitude do conselheiro a esse
respeito é clara: ele se mostra ao outro em sua fraqueza de tal forma que o outro
entende que ninguém é perfeito e que o próprio conselheiro compartilha com ele
a existência de um problema pessoal. Ser sujeito em falta “destrona” o conselheiro
de qualquer posição de onipotência (RIVERA-LEDESMA, 2011, p. 9).

138
UNIDADE 4

Outra prática imprescindível do conselheiro cristão é a lembrança constante que,


no aconselhamento cristão, há o elemento sobrenatural da atuação divina pelo
Espírito Santo de Deus. Isso significa que o aconselhamento é um dom dado por
Deus. É claro que o conselheiro cristão se capacita e aprende a atuar de maneira
adequada, mas nada disso terá validade se ele esquecer que ele, como conselheiro,
é apenas uma ferramenta nas mãos de Deus.


Os aconselhadores/as pastorais melhores preparados para auxiliar
as pessoas são aqueles não somente altamente treinados na teoria e
nas técnicas de aconselhamento da teologia, mas também pessoal-
mente treinados para refletir o caráter cristão dentro e fora da sala
de aconselhamento. Este caráter não pode ser credenciado através
de diplomas de graduação ou aprendido na sala de aula: ele vem de
anos de treinamento fiel nas disciplinas espirituais - oração, estudo
das Escrituras, reclusão, jejum, culto em comunidade (MCMINN
apud SCHIPANI, 2004, p. 121).

Perceba que tanto o aconselhamento cristão quanto a atuação do Espírito Santo


têm como objetivo e centralidade, conduzir as pessoas a Cristo! Apenas quando
as pessoas estiverem em Cristo, é que serão verdadeiramente novas pessoas (2
Coríntios 5.17). O objetivo de todo aconselhamento é fazer com que o aconse-
lhando seja conduzido a Cristo e nesta relação restaurada, ele resolva os seus pro-
blemas, dirigido pelo Espírito Santo, se tornando independente do conselheiro.
Isso nos leva a outra prática importante que o conselheiro cristão deve levar
em consideração: o cuidado com a transferência. O conceito de transferência é
muito importante na psicologia e na psicoterapia. Seu controle adequado é o que
diferencia o terapeuta. Um requisito básico e fundamental de todo conselheiro
cristão é que ele aprenda a se reconhecer e a controlar sua própria transferência.
A transferência é um conceito desenvolvido pela psicanálise, que identifica um
“deslocamento de projeção para o analista de sentimentos e desejos inconscientes
originalmente dirigidos a indivíduos importantes, como os pais, na infância do
paciente” (VANDENBOS, 2010, p. 970). Este é um processo afetivo através do qual
transferimos para uma pessoa sentimentos (bons ou ruins), ou atitudes (boas ou
ruins), que originalmente experimentamos em relação à outra pessoa. Isso significa
que o conselheiro pode transferir para o aconselhando, sentimentos de antipatia,

139
UNIDADE 4

culpa, amor, simpatia, entre outros, que ele realmente sente por outra pessoa, com
pouca, ou nenhuma consciência disso. O conselheiro cristão é chamado a estar
sempre atento aos seus sentimentos. À luz da Bíblia, os piores resultados de acon-
selhamento cristão ocorrem quando o conselheiro não tem este autoconhecimento
e autocontrole suficientes, para estar atento aos seus próprios erros:


Jesus lhes contou também uma parábola: — Será que um cego pode
guiar outro cego? Não é fato que ambos cairão num buraco? — O
discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for
bem-instruído será como o seu mestre. — Por que você vê o cisco no
olho do seu irmão, mas não repara na trave que está no seu próprio
olho? Como você poderá dizer a seu irmão: “Deixe, irmão, que eu
tire o cisco que está no seu olho”, se você não repara na trave que está
no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu olho
e então você verá claramente para tirar o cisco que está no olho do
seu irmão (Lucas 6.39-42).

Não há como impedir que haja a transferência, isto faz parte da nossa natureza
humana. O que é possível evitar é deixar que esses sentimentos controlem os seus
pensamentos e os seus comportamentos. Introspecção é a capacidade de olhar
para dentro de nós mesmos e analisar os nossos sentimentos e as nossas atitudes.
Essa é uma habilidade muito importante a ser desenvolvida não apenas na sua
atuação como conselheiro cristão, mas como pessoa, pois ela traz muito ganho
nas relações humanas. A introspecção é o processo de “acessar diretamente os
nossos próprios processos psicológicos internos, julgamentos, percepções ou
estados” (VANDENBOS, 2010, p. 531). Em outras palavras, é a capacidade de
olhar para dentro de si mesmo. Essa é uma capacidade que é desenvolvida a partir
das disciplinas espirituais, principalmente na leitura devocional da Palavra de
Deus e de momentos específicos de oração. Uma outra ajuda muito importante
para evitar a transferência, é o próprio conselheiro cristão ter a ajuda e o apoio
de outro conselheiro cristão mais experiente.

140
UNIDADE 4

NOVAS DESCOBERTAS

Título: elebra ão da isciplina


Autor: ichard oster
Editora: Vida
Sinopse: lassificando as disciplinas em tr s mo imentos do sp rito
anto, o a tor mostra como cada ma delas contrib i para ma ida es-
pirit al e ilibrada s disciplinas interiores le am os amintos de e sa
ma trans orma ão en na s disciplinas e teriores são m re e o das
prioridades do eino de e s em se s filhos s disciplinas com nit rias
lembram nos de e na com nhão entre os cristãos e nos apro ima-
mos mais de e s

A partir da percepção de que todos nós estamos sujeitos a realizar transferências,


é importante olharmos com atenção para a outra face desta moeda: o julgamento.
No cristianismo, como na psicoterapia, o conselheiro não está lá para julgar o
aconselhando que abriu o seu coração em busca de ajuda. Quando alguém pro-
cura aconselhamento, é muito comum que fale da tristeza de seu coração. Isso
significa que o conselheiro cristão estará muitas vezes exposto a histórias con-
denáveis, escandalosas, perversas, cheias de ódio, ressentimento, agonia, solidão
e dor, muita dor. Entretanto, nada dá ao conselheiro qualquer direito de julgar
sua vida, pois a sua função nesta caminhada é ouvir e procurar compreender as
feridas que levaram o aconselhando a esta situação tão difícil relatada. Aqui entra
o papel da empatia. Se no aconselhamento cristão, o conselheiro julgar o acon-
selhando, isto fará com que ele feche o seu coração para o conselheiro cristão e
para o aconselhamento. Para o cristianismo, o julgamento vem de Deus e não do
conselheiro. Se o aconselhando caiu hoje, o papel do conselheiro é ajudá-lo a se
levantar e continuar na batalha. O conselheiro cristão não deve tornar realidade
aquela citação que diz que os cristãos não deixam soldados feridos no campo de
batalha, pois quando veem um irmão cair, voltam para acabar com ele. Julgar um
irmão de fé dentro do cristianismo tem consequências graves:

141
UNIDADE 4


Você, porém, por que julga o seu irmão? E você, por que despreza o seu
irmão? Pois todos temos de comparecer diante do tribunal de Deus. Como
está escrito: “Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo
joelho, e toda língua dará louvores a Deus.” Assim, pois, cada um de nós
prestará contas de si mesmo diante de Deus. A liberdade e o amor. Por-
tanto, deixemos de julgar uns aos outros. Pelo contrário, tomem a decisão
de não pôr tropeço ou escândalo diante do irmão (Romanos 14.10-13).

O apóstolo Paulo também adverte: “Por isso, você é indesculpável quando julga
os outros, não importando quem você é. Pois, naquilo que julga o outro, você
está condenando a si mesmo, porque pratica as mesmas coisas que condena”
(Romanos 2.1). Por esta razão o conselheiro cristão deve se abrir onde mora a
dor do aconselhando, essa ferida que leva o aconselhando a agir como age e que
faz ele cair. Julgar não é uma boa opção, especialmente quando o julgamento é
baseado nas aparências. É essencial ver sempre além do que é evidente, como
o Senhor faz: “Ele terá o seu prazer no temor do Senhor. Não julgará segundo
a aparência, nem decidirá pelo que ouviu dizer (Isaías 11.3). Perceba que estar
atento ao conteúdo da dor do outro, não significa concordar com as decisões
erradas que ele toma. É apenas uma forma de tentar compreender as razões que
levam a pessoa a insistir em decisões equivocadas: “A tolerância é patrimônio das
verdadeiras convicções” (TOURNIER, 2002, p. 41).
Isto conduz à outra prática do conselheiro cristão, que é a aceitação incondi-
cional da pessoa. Isso significa que o conselheiro cristão aceita o aconselhando
como ele é e está – com todas as suas falhas, medos, fraquezas, pontos fortes e
outros atributos pessoais, bons ou maus.


De modo geral e instintivamente, costumamos focar em outras coi-
sas que não Deus e sua graça em busca de justificação, de esperança,
de significado e de segurança. Acreditamos no evangelho até certo
ponto, mas não passamos aos níveis mais profundos. A aprovação
alheia, o sucesso profissional, o poder e a influência, a família e a
identidade com o grupo - todas essas coisas servem como “mule-
tas funcionais” para nossos corações, ocupando o lugar de tudo o
que Cristo fez, e, por causa disso, continuamos a ser motivados em
grande medida pelo medo, pela raiva e pela falta de autocontrole
(KELLER, 2010, p. 149)

142
UNIDADE 4

A base bíblica para esta postura é o que encontramos na parábola dos dois filhos
perdidos:


Jesus continuou: — Certo homem tinha dois filhos. O mais moço
deles disse ao pai: “Pai, quero que o senhor me dê a parte dos bens
que me cabe.” E o pai repartiu os bens entre eles. — Passados não
muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu
para uma terra distante e lá desperdiçou todos os seus bens, vivendo
de forma desenfreada. — Depois de ter consumido tudo, sobreveio
àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade.
Então foi pedir trabalho a um dos cidadãos daquela terra, e este o
mandou para os seus campos a fim de cuidar dos porcos. Ali, ele
desejava alimentar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas
ninguém lhe dava nada. Então, caindo em si, disse: “Quantos traba-
lhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou morrendo
de fome! Vou me arrumar, voltar para o meu pai e lhe dizer: ‘Pai,
pequei contra Deus e diante do senhor; já não sou digno de ser cha-
mado de seu filho; trate-me como um dos seus trabalhadores.’” E,
arrumando-se, foi para o seu pai. — Vinha ele ainda longe, quando
seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.
E o filho lhe disse: “Pai, pequei contra Deus e diante do senhor; já
não sou digno de ser chamado de seu filho.” O pai, porém, disse aos
servos: “Tragam depressa a melhor roupa e vistam nele. Ponham um
anel no dedo dele e sandálias nos pés. Tragam e matem o bezerro
gordo. Vamos comer e festejar, porque este meu filho estava mor-
to e reviveu, estava perdido e foi achado.” E começaram a festejar.
— Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando voltava, ao
aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos
empregados e perguntou o que era aquilo. E ele informou: “O seu
irmão voltou e, por tê-lo recuperado com saúde, o seu pai mandou
matar o bezerro gordo.” — O filho mais velho se indignou e não
queria entrar. Saindo, porém, o pai, procurava convencê-lo a entrar.
Mas ele respondeu ao seu pai: “Faz tantos anos que sirvo o senhor
e nunca transgredi um mandamento seu. Mas o senhor nunca me
deu um cabrito sequer para fazer uma festa com os meus amigos.
Mas, quando veio esse seu filho, que sumiu com os bens do senhor,
gastando tudo com prostitutas, o senhor mandou matar o bezerro

143
UNIDADE 4

gordo para ele!” — Então o pai respondeu: “Meu filho, você está
sempre comigo; tudo o que eu tenho é seu. Mas era preciso festejar
e alegrar-se, porque este seu irmão estava morto e reviveu, estava
perdido e foi achado.” (Lucas 15.11-31).

Keller (2010, p. 167) enfatiza que “tanto o caminho sensual do filho mais novo
quanto o caminho ético do filho mais velho são becos sem saída espirituais”. A
única alternativa para ambos os caminhos, é o acolhimento que o pai concede aos
dois filhos – eles são aceitos pelo pai, independentemente das escolhas erradas
que fizeram pela vida – um em uma vida dissoluta e o outro em uma vida regrada.
Este é um aspecto incrível da graça revelada em Cristo Jesus e uma dimensão que
precisa ser resgatada pelos conselheiros cristãos:


A graça nos atinge quando estamos em grande dor e desassosse-
go. Ela nos atinge quando andamos pelo vale sombrio da falta de
significado e de uma vida vazia… Ela nos atinge quando, ano após
ano, a perfeição há muito esperada não aparece, quando as velhas
compulsões reinam dentro de nós da mesma forma que tem feito
há décadas, quando o desespero destrói toda a alegria e coragem.
Algumas vezes naquele momento uma onda de luz penetra nossas
trevas, e é como se uma voz dissesse: “Você é aceito. Você é aceito,
aceito pelo que é maior do que você, o nome do qual você não co-
nhece. Não pergunte pelo nome agora. talvez mais tarde. Não tente
fazer coisa alguma agora, talvez mais tarde você faça o bastante. Não
busque nada, não realize nada, não planeje nada. Simplesmente
aceite o fato de que você é aceito”. Se isso acontece conosco, expe-
rimentamos a graça (TILLICH, apud MANNING, 2005, p. 27-28).

É o que o apóstolo Paulo deixou muito claro: “Pois o amor de Cristo nos cons-
trange” (2 Coríntios 5.14) e, “Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém co-
nhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já
agora não o conhecemos deste modo. E, assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios
5.16-17). E para não restar dúvidas, ele enfatiza:

144
UNIDADE 4


Ora, tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo
por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber,
que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
levando em conta os pecados dos seres humanos e nos confiando a
palavra da reconciliação (2 Coríntios 5.18-19).

Deus ama tanto a humanidade, que em Cristo, ele indica que aceita a todos nós.
E ele nos ama tanto que deseja nos transformar de dentro para fora, em uma ação
sobrenatural do seu Espírito Santo. Dessa forma, o aconselhamento cristão e a
capelania cristã, são ferramentas preciosas no processo de santificação de cada
um de nós. É o que os evangelhos chamam de gente que ouve as palavras de Jesus
e as coloca em prática, sendo comparadas a uma casa que é construída sobre a
rocha, em contraposição a uma casa construída sobre a areia.

PENSANDO JUNTOS

e s o ama como oc , mas se rec sa a dei lo desse eito le er e oc se a


simplesmente como es s Ma cado

145
UNIDADE 4

Imagine Maria Madalena, a mulher pega em adultério; a samaritana dos cinco


maridos junto ao poço de Jacó, a Saulo de Tarso, o assassino e perseguidor dos
cristãos; ao homem que na cruz disse ao Senhor: “Lembra-te de mim quando
entrares no teu reino!” Todos eles foram aceitos incondicionalmente pelo Senhor,
e graças a isso, foram transformados. Para o cristianismo, Deus criou todas as
criaturas na terra. Toda a criação pertence ao Senhor, e isso inclui todos os seres
humanos. Quando Jesus ensinou “Ame o seu próximo como a si mesmo”, ele não
especificou que esse próximo deveria ser cristão, ou santo, ou da mesma igreja
que a sua. Próximo é quem está em necessidade.
Outra prática importante para o conselheiro cristão e para o capelão cristão,
tem a ver com a linguagem. A forma como nos comunicamos e o conteúdo que
compartilhamos pode servir para ajudar alguém a sair do buraco, ou a entrar
mais ainda nele:


Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça
no falar, é um indivíduo perfeito, capaz de refrear também todo o
corpo. Ora, se colocamos um freio na boca dos cavalos, para que nos
obedeçam, também lhes dirigimos o corpo inteiro. Observem, igual-
mente, os navios que, sendo tão grandes e impelidos por fortes ventos,
são dirigidos por um pequeníssimo leme, e levados para onde o piloto
quer. Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes
coisas. Vejam como uma fagulha incendeia uma grande floresta! Ora,
a língua é um fogo; é um mundo de maldade. A língua está situada
entre os membros do nosso corpo e contamina o corpo inteiro, e
não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como
também ela mesma é posta em chamas pelo inferno (Tiago 3.2-6).

Por esta razão, a orientação bíblica encontrada em Tiago 1.19 é clara: “Vocês
sabem estas coisas, meus amados irmãos. Cada um esteja pronto para ouvir, mas
seja tardio para falar e tardio para ficar irado”. Estar pronto para ouvir, significa
prestar atenção ao que o outro diz, segui-lo em todas as suas palavras, segui-lo
em suas emoções, sentimentos, pensamentos, atitudes e narrativas. Ao ouvirmos
com atenção, poderemos ver com mais clareza. Ao fazê-lo, vamos além do bem
e do mal; nos concentramos no aconselhando e em sua circunstância. Estamos
interessados em saber o que realmente aconteceu com ele. Onde está a pedra
de tropeço que afeta a sua vida, como ele a ver, como lida com isso, que papel

146
UNIDADE 4

desempenha em sua vida, entre outras questões. Ser tardio para falar significa
pensar com calma antes de dizer algo. O bom conselheiro cristão ouve muito
e fala pouco. É um erro pensar que o conselheiro é obrigado a saber o que está
acontecendo com o outro. Quem melhor pode responder a esta pergunta é o
próprio aconselhando. O conselheiro cristão deve estar sempre em espírito de
oração, quando atende um aconselhando. Por essa razão, antes de falar alguma
coisa, ele precisa perguntar ao Espírito Santo se deve falar o que veio ao seu
coração. Muito importante: falar, não significa dizer o que você acha. A melhor
estratégia de fala no aconselhamento, tem a ver com as perguntas. As perguntas
iluminam o caminho da vida; não há melhor resposta do que aquela cujo signi-
ficado leva a melhores perguntas.
Quando você atua como um conselheiro cristão; isto é, quando a função de
aconselhamento é exercida sob a supervisão ou sob a aprovação de uma igreja,
as pessoas assumem (ou têm a fantasia) que a nossa opinião representa a opinião
autorizada de Deus. Se fomos designados para esse papel, certamente é porque
Deus assim o dispôs. Por que duvidar do que dizemos? Se dissermos sim, é sim;
se dissermos não, é não. Sob essa condição, as pessoas apenas acreditam, e nossas
palavras afetam consideravelmente a sua existência, para melhor ou para pior.
Nossas palavras têm o dobro ou o triplo de poder só porque as dizemos como
representantes de Deus, e porque as pessoas nos atribuem esse lugar dentro de
sua esfera afetiva mesmo sem perceber, seja verdade ou não.

147
UNIDADE 4

Nesta relação, percebemos que o aconselhando também experimenta a transfe-


rência. Quando um aconselhando se aproxima do conselheiro para obter orien-
tação, há uma alta probabilidade de que sua disposição em relação ao aconse-
lhamento cristão seja positiva. Isso significa que ele dará crédito à declaração
do conselheiro, considerando-o uma figura de autoridade. Isso é transferência.
Graças a essa transferência, o conselheiro e as suas palavras são muito valorizados
pelo aconselhando. Quanto mais positiva for a sua atitude e os seus sentimentos
em relação ao conselheiro, mais crédito e influência o conselheiro terá. Aqui é o
momento de o conselheiro estar muito atento para não cair em tentação:


Um dos principais sofrimentos experimentados por aqueles que
estão no ministério chama-se baixa auto-estima. Muitos líderes e
ministros hoje sentem cada vez mais que conseguem causar muito
pouco impacto. Estão muito ocupados, mas não veem muito efeito.
Parece que os seus esforços são infrutíferos. Enfrentam um núme-
ro decrescente de pessoas nas reuniões da igreja, e descobrem que
psicólogos, psicoterapeutas, conselheiros e médicos são, frequente-
mente, mais dignos de créditos do que eles (NOUWEN, 2002, p. 19).

Todos nós temos o anseio de sermos aceitos e valorizados. Quando somos procu-
rados por pessoas, para ajudá-las em suas necessidades, devemos lembrar que o
nosso papel como conselheiros cristãos é apenas conduzir essas pessoas a Cristo.
Não podemos cair na tentação de assumir a transferência que o aconselhando faz
sobre nós. O alvo é ajudar o aconselhando a se aproximar de Jesus:


O cristianismo não é uma ideologia contraposta a outras. É uma vida
inspirada pelo Espírito Santo. Suas vitórias são apenas vitórias sobre si
mesmo, e não sobre os outros. Ele se propaga mediante a humildade e
voltando-se para si mesmo, não por meio de vitórias. De modo que, se
quisermos ajudar o mundo na crise atual, não devemos acreditar que
há dois lados que se enfrentam: o de Cristo, do qual fazemos parte, e
o dos demais, que são nossos adversários. Paremos de dizer: “Voltem
a nós, porque possuímos a verdade”. Mas digamos: “Voltemos todos
juntos a Cristo” (TOURNIER, 2002 p. 143).

148
UNIDADE 4

Em um mundo onde segredos são expostos a todo o momento, é fundamental


que o conselheiro cristão preze pela confidencialidade. Para que um relaciona-
mento de aconselhamento funcione bem, deve haver confiança entre o acon-
selhando e o conselheiro. O aconselhando deve saber que tudo o que ele disser
durante uma sessão de aconselhamento será mantido em absoluto segredo pelo
conselheiro. E não é o caso de querermos manter algo escondido; acontece que é
o próprio aconselhando e não o conselheiro que deve assumir a responsabilidade
de trazer à luz o que precisa ser trazido à luz, se houver. Por sua vez, o conselheiro
tem a responsabilidade, a obrigação ética, de manter silêncio absoluto, sobretu-
do, o que o sujeito lhe conta na privacidade de uma sessão de aconselhamento.
Falar sobre o que foi dito na sessão é um ato de calúnia contra o aconselhando.
O conselheiro sempre se cala em relação ao seu saber sobre o outro. Mas e no
caso de ser uma questão que traga profundo desconforto ao conselheiro cristão,
o que ele deve fazer? Conversar com outro conselheiro-orientador, que siga a
mesma exigência ética de confidencialidade. Esse outro conselheiro também
tem a responsabilidade de permanecer em silêncio. No entanto, o conselheiro
só pode dirigir-se a este conselheiro e revelar a experiência do seu conselheiro
se tiver alguma questão técnica sobre o caso, ou algum aspecto transferencial
dele próprio ou do conselheiro que não consiga dar conta de forma adequada.
O conselheiro cristão deve ser um reflexo de Jesus na vida do aconselhando:
“Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque
eram como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”
(Marcos 6.34). Este é um fato: muitos procuram conselheiros, como ovelhas sem
pastor. Assim como Jesus, o conselheiro estenderá a mão para eles, se curvando
para os quebrantados, os doentes, os solitários, os amedrontados, e os curará para
ajuntá-los no aprisco com os outros, sob os cuidados do Bom Pastor:


Em verdade, em verdade lhes digo: quem não entra no curral das
ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, esse é ladrão e sal-
teador. Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das
ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele
chama as suas próprias ovelhas pelo nome e as conduz para fora.

149
UNIDADE 4

Depois de levar para fora todas as que lhe pertencem, vai na frente
delas, e elas o seguem, porque reconhecem a voz dele. Mas de modo
nenhum seguirão o estranho; pelo contrário, fugirão dele, porque
não conhecem a voz dos estranhos (João 10.1-5).

Uma vida de oração é imprescindível para que o conselheiro cristão atue de


maneira equilibrada e eficaz. É muito importante que em suas orações diárias,
o conselheiro coloque aos pés do Senhor todos os pensamentos e sentimentos
sobre os quais se aborreceu durante o dia, a fim de compreendê-los e curá-los
de tal maneira que ele mantenha o seu coração tão equilibrado e saudável quan-
to possível. Lembre-se de que todo sentimento começa como um pensamento.
Bons pensamentos dão bons sentimentos; Pensamentos ruins dão sentimentos
ruins. Colocar nossas ideias diante de Deus para entendê-las mais claramente
esclarecerá nossos sentimentos e os ordenará. Parte da tarefa do conselheiro será
desenvolver em seu aconselhando, a habilidade e o hábito de fazer o mesmo em
sua própria vida. Ambos, como bons ramos, acabarão dando frutos.
Após conhecermos práticas do aconselhamento embasadas na Palavra de
Deus, precisamos também, definir o setting terapêutico, ou seja, o contexto em
que o aconselhamento cristão deve acontecer.
A experiência nos mostrou que as condições em que o aconselhamento será
realizado devem ser sempre muito claras. Isso é o que é chamado de setting terapêu-
tico. Estabelecer um contexto, é colocar um marco, definir um conjunto de limites
que orientarão a atividade de aconselhamento. Essa estrutura atribui limitações,
direitos e responsabilidades tanto ao conselheiro quanto ao aconselhando, que
devem ser fielmente cumpridos para deixar claro para ambas as partes o que exa-
tamente cada um pode esperar do outro. Isso é importante, porque, dentre outras
razões, a influência da transferência dos papéis de cada um, tende a se confundir e
muitas vezes, quando isso acontece, a relação entre os dois se torna “algo mais” do
que uma relação de aconselhamento. Com isso, há o risco de se perder o controle
da situação. Geralmente, a definição do setting terapêutico é combinada entre o
conselheiro e o aconselhando na primeira sessão. As regras que devem orientar o
processo de aconselhamento cristão e que devem ser claramente estabelecidas no
final da primeira sessão com o aconselhando, uma vez que este indica que deseja
continuar a frequentar o aconselhamento, são as seguintes:

150
UNIDADE 4

Tempo
É prudente definir um horário específico e sistemático para as sessões
de aconselhamento; quando vocês se verão, qual o dia da semana e
qual a duração de cada sessão. Haverá momentos em que o aconsel-
hando vai querer permanecer em sessão, até resolver uma infinidade
de dúvidas, entretanto, isso deve ter um limite de tempo, entre outras
razões porque o problema a ser abordado deve ser limitado. O aconsel-
hando saberá que terá apenas um prazo definido para apresentar a sua
situação. Definir um dia e hora fixos a cada semana ajuda o próprio ac-
onselhando a sistematizar internamente o que ele trará a cada sessão.
Normalmente o tempo de cada sessão é fixado em 50 minutos quando
o aconselhamento é individual, e no máximo uma hora e meia quando
é familiar (incluindo aconselhamento de casal ou matrimonial).

Local
Um local específico deve ser definido para cada sessão. Tome nota do
fato de que uma sessão de aconselhamento não é um encontro social,
mas é uma atividade em que o aconselhando busca a cura para uma
área emocional/espiritual da sua vida. Por essa razão, o local designado
deve, acima de tudo, permitir privacidade. Não deve ser um lugar de
trânsito pelo qual outras pessoas passem de vez em quando. Deve ser
um espaço privado onde o aconselhando possa falar, chorar, se deses-
perar, até gritar (e até usar palavras de alto som), com total liberdade e
sem que outros o observem. No entanto, além dessas condições ideais,
alguns conselheiros se reúnem com os aconselhandos em um café mais
ou menos discreto. Conheço um que usa um Starbucks durante a man-
hã para realizar suas consultorias. Uma última observação: o conselheiro
cristão muitas vezes vai a vários lugares em busca de ovelhas perdidas.
Você pode ir a um parque, a uma cantina, a uma cela de prisão, a um
lixão, à rua ou a qualquer outro lugar onde se encontrem ovelhas. O
conselheiro geralmente se adapta às demandas do local, e mesmo as-
sim, deve manter ao máximo as condições mínimas de enquadramento
sem perder de vista, nem o conselheiro, nem o consulente, que se trata
de um ato de aconselhamento. Um aspecto muito importante: o ideal
é que homens aconselhem outros homens e mulheres aconselhem
outras mulheres, para evitar que haja transferências perigosas que es-
timulem envolvimentos amorosos inadequados.

151
UNIDADE 4

Clareza
O conselheiro cristão deve deixar bem claro desde o início, que a sua
formação é cristã e que seu aconselhamento segue essa linha; e que
em alguns momentos ele, como conselheiro cristão, poderá usar a
Bíblia. Obviamente, se alguém procura um conselheiro cristão que atua
diretamente nos escritórios pastorais da Igreja, imagina-se que essa
pessoa sabe que o conselheiro atue dessa forma. Contudo, é importante
certificar-se de que eles sabem. É muito importante evitar surpresas e,
principalmente se o aconselhando não for cristão, esclareça a questão
sem entrar em polêmicas inúteis para ouvi-lo e ajudá-lo. Talvez quando
o aconselhando não-cristão veja a misericórdia e a sabedoria do con-
selheiro, fique intrigado para saber de onde ele obtém sua paz e queira
um pouco dela. Um exemplo disso é a reação que a mulher samaritana
teve diante do Senhor no poço de Jacó (João 4.1-39).

Disponibilidade
Existem casos de emergência nas quais o aconselhando passa por uma
situação emocional difícil, como por exemplo, a luta para abandonar
algum vício, o início de um tratamento antidepressivo, ou ainda estar
vivendo sob constante e intenso estresse familiar. Em situações assim, é
necessário que o conselheiro cristão preste apoio urgente no momento
menos esperado. É importante decidir de acordo com as circunstân-
cias de cada conselheiro se o conselheiro poderá ou não o procurar
a qualquer hora do dia ou da noite. Em caso positivo, é importante
esclarecer ao aconselhando a necessidade de ele aprender a lidar
com a própria vida, e concordar com ele sobre a possibilidade de ligar
por telefone caso ele se sinta muito mal, e precise falar. Essa atitude é
importante quando, por exemplo, temos um aconselhando que acaba
de sair de uma tentativa de suicídio e vai em busca de ajuda espiritual.
Certamente o psicólogo ou psiquiatra que o atende previu uma recaída;
Considerando isso, não faz mal receber uma segunda fonte de apoio
sem esquecer a primeira. No entanto, existem outros casos em que o
aconselhando é extremamente exigente e isso faz parte do seu prob-
lema pessoal. Ele não aprendeu a enfrentar a vida sozinho e age de
forma infantil na maioria das vezes exigindo atenção constante. É um
caso extremo; há outros casos intermediários que também demandam
atenção contínua. É importante reconhecer quando pode surgir uma
emergência e quando é o próprio sujeito que tece excessivamente uma
dependência crescente do conselheiro que deve ser evitada.

152
UNIDADE 4

OLHAR CONCEITUAL

EVITAR ASSUMIR O REFLITA JESUS PARA O


PAPEL DE SUPERIOR ACONSELHANDO
O conselheiro é apenas O desafio do conselheiro
um ser humano sujeito à cristão é conduzir as
graça de Deus. pessoas a Cristo.
1 8
MANTENHA A
LEMBRARDA ATUAÇÃO Práticas em CONFIDENCIALIDADE
SOBRENATURAL DO Aconselhamento A base da confiança entre
ESPÍRITO SANTO 2 Cristão 7 aconselhando e conselheiro,
O aconselhamento é um é a capacidade do conselheiro
dom dado por Deus. em guardar segredos.

CUIDADO COM A ATENÇÃO À LINGUAGEM


TRANSFERÊNCIA
3 6 UTILIZADA
O conselheiro cristão é Não basta falar; é necessário
chamado a estar sempre 4 5 saber ouvir e também o
atento aos seus sentimentos momento exato de falar.

EVITE O JULGAMENTO DO ACEITE INCONDICIONALMENTE


ACONSELHANDO O ACONSELHANDO
Para isso, é importante desenvolver Aceitar a pessoa não significa concordar
a empatia. com os seus erros, mas estar presente
para ajudar a pessoa.

Clinebell apud Mariano (2016, p. 64-65) resume a atuação do conselheiro cristão


a partir da primeira sessão de aconselhamento cristão, da seguinte forma:

1. Estabelecer o rapport como base para a relação terapêutica;


2. Escutar de forma disciplinada, bem como refletir sobre os sentimentos
do aconselhando;
3. Adquirir uma compreensão aproximada do “marco de referência interna”
da pessoa do aconselhando a partir do seu mundo pessoal;
4. Fazer um primeiro diagnóstico sobre a natureza do problema do aconselhan-
do, ou seja, como suas relações estão fracassando para satisfazer as suas ne-
cessidades e quais são os recursos e limitações para fazer frente a sua situação;
5. Tendo como base esse primeiro diagnóstico, sugerir uma aproximação
para dar ajuda;
6. Se houver a necessidade de um aconselhamento continuado, proceder
com a estruturação dessa relação de ajuda.

153
UNIDADE 4

Rapport é uma palavra de origem francesa, que significa “trazer de volta”. O ra-
pport é utilizado como uma técnica capaz de criar ligação entre as pessoas, uma
conexão para facilitar a comunicação. Sem esquecer a importância de ouvir e
responder calorosamente aos sentimentos, há certas questões para as quais o
conselheiro precisa de respostas, de preferência durante a primeira sessão. Para
Clinebell (1987, p. 81), “se essas respostas não forem obtidas durante a primeira
fala do aconselhando, o conselheiro deve fazer as perguntas diretamente, uma
vez que o relacionamento tenha começado a se estabelecer”. Entre eles, listamos:

■ Por que você veio pedir ajuda agora?


■ Por que você me procurou?
■ Qual é o problema como você o vê?
■ Você está por vontade própria ou veio principalmente por causa da pres-
são de outra pessoa? Como você se sente aqui?
■ Que tipo de ajuda você quer e espera de mim?

NOVAS DESCOBERTAS

o deo a se ir, dispon el atra s do ode, arol Portilho ala


sobre a t cnica de rapport e como oc pode s la para con istar
mais pessoas o rapport oc obser a e acompanha o o tro st da
se s ostos e pre er ncias para trat lo da orma com e ele ostaria

Há algumas pessoas que têm atuado profissionalmente como conselheiros cris-


tãos. É possível trabalhar em igrejas, organizações não-governamentais (ONGs),
centros religiosos e associações comunitárias, sendo responsáveis por promover
atividades de evangelização, organizar conferências de famílias e casais, ouvir opi-
niões e conselhos de pessoas de diferentes idades individualmente ou em grupos.

154
UNIDADE 4

Uma área de forte demanda é o aconselhamento familiar, incluindo casais e edu-


cação de filhos. Um bacharel em teologia pode realizar, por exemplo, um MBA
em Gestão da Comunicação Organizacional, para atuar no processo de gestão
da comunicação e o desenvolvimento de uma comunicação mais assertiva. Um
dos principais fatores de desentendimentos familiares é a falta de comunicação.
Um profissional que consiga aliar o conhecimento teológico e prático do acon-
selhamento cristão, com conteúdo de qualidade de comunicação organizacional,
pode desenvolver uma série de produtos para serem disponibilizados em termos
de capelania empresarial, por exemplo.
Um dos fatores de acidentes de trabalho está relacionado a distrações e
preocupações referentes a problemas familiares. Um conselheiro cristão pode
desenvolver um produto que ofereça capacitação em comunicação familiar, per-
mitindo ao mesmo tempo, atuar na resolução de conflitos dentro das próprias
empresas, como forma de diminuir custos operacionais das empresas. Além do
curso que pode ser realizado em algumas semanas, pode-se desenvolver um tipo
de aconselhamento e capelania com os funcionários que desejarem este tipo de
acompanhamento.

155
maior parte do e apreendemos em nosso c rebro se d a partir dos est -
m los is ais Para a d lo a fi ar o conte do desta nidade, eremos e
oc desen ol a m Mapa Mental sobre a toconhecimento e as pr ticas do
aconselhamento cristão partir do conte do apresentado

1. dentifi e os tr s conceitos para se obter a toconhecimento, de acordo com


a teolo ia
2. dentifi e as oito caracter sticas da pr tica do aconselhamento cristão

amos l
5
Temas e
Procedimentos em
Aconselhamento e
Capelania Cristã
Me. Eugênio Soria de Anunciação

Nesta unidade, vamos tratar de temas e procedimentos em aconse-


lhamento e capelania cristã. Sobre temas, abordaremos o núcleo de
geração de questões psicológicas e emocionais do indivíduo: a sua
relação com a família. A família é a base da saúde ou do adoecimen-
to emocional do indivíduo. Isso é resultado dos efeitos noéticos do
pecado sobre o ser humano afastado de Deus. Com relação aos pro-
cedimentos, amos abordar especificamente dois temas e mais
exigem demanda do conselheiro cristão e do capelão cristão: crises
familiares e luto. Compreender as bases emocionais que conduzem
a crises familiares e ao luto é importante para que o conselheiro e o
capelão cristãos saibam como conduzir a tarefa de acompanhamento.
UNIDADE 5

Você se lembra daquele jovem de 18 anos que me procurou para iniciar um


aconselhamento cristão, que eu citei na unidade anterior? Quero continuar um
pouco com a história dele. Após a nossa primeira conversa, uma semana depois,
retomamos de onde paramos.
– “E então, como foi a sua semana?” - Iniciei o aconselhamento com essa
pergunta.
– “Foi… digamos… interessante…” - Ele respondeu com um ar de surpresa.
Eu permaneci quieto, para que ele continuasse a falar.
– “Foi a primeira vez na minha vida que eu pensei sobre ela. Algumas lem-
branças foram extremamente dolorosas, mas de alguma forma, creio que foi im-
portante eu voltar a elas”.
Então, ele me relatou um episódio em especial, quando foi agredido verbal
e fisicamente por sua mãe. Este era um momento em que ele tentara de todas as
maneiras apagar da sua memória, devido à intensa dor causada. Ele era apenas
uma criança de seis anos de idade. Essa dor o acompanhava havia doze anos. En-
quanto ele compartilhava os detalhes do olhar da sua mãe, a maneira como ela se
dirigiu a ele vociferando e praguejando, e as agressões físicas, era visível o quanto
aquele rapaz de 18 anos estava aprisionado emocionalmente àquele episódio.
Geralmente, é assim. A nossa estrutura emocional, afetada pelos efeitos noéticos
do pecado, nos mantêm prisioneiros a eventos traumatizantes da nossa história.
Após ele colocar para fora todas essas terríveis lembranças, eu perguntei para ele:

158
UNICESUMAR

– “Você se culpa pelo que aconteceu naquele dia?”


– “Não… eu era apenas uma criança…”
– “Você culpa a sua mãe pelo que ela fez a você?”
– “Ela era a adulta da relação. Ela não poderia ter feito isso comigo!” – Ele res-
pirou fundo, olhando para baixo e continuou: – “Mas sabe pastor? Você me disse
para eu revisitar essas experiências da minha vida nesta semana que passou, e que
eu poderia falar disso tudo com Deus. Enquanto eu me lembrava de cada gesto,
cada expressão, cada palavra da minha mãe, vinha o seguinte ao meu coração:
eu conseguia enxergar a dor dela. Eu não consigo culpá-la pelo que ela me fez…
de alguma forma, eu consegui olhar para a dor do coração dela. Eu não entendo
que dor é essa, mas me parece que é algo que ela não queria mais com ela.”
Entendendo o que Deus estava fazendo no coração do jovem, eu procurei
orientá-lo:
– “A Bíblia nos ensina em João 16.13, que o Espírito Santo nos guiaria em
toda a verdade. Jesus afirmou no evangelho de João, que ele é a verdade que nos
libertaria. Você está em um processo de se aproximar de Cristo e, nesta caminha-
da de fé, você está se encontrando consigo mesmo. E este encontro com Jesus é
sempre libertador”.
Em seguida, expliquei para ele como o pecado afetou terrivelmente a capaci-
dade humana de enxergar as coisas como elas realmente são, e o quanto o nosso
mundo está mergulhado na mentira. Como resultado, culpamos os outros e nos
afastamos uns dos outros. Ao final daquele encontro, falei assim para ele:
– “O ambiente familiar é o lugar onde a gente mais se desenvolve. Não apenas
a partir das situações boas, mas também, nas situações ruins. O desafio é a gente
conseguir olhar para os nossos pais e saber que eles não são infalíveis, e aprender
também com os erros deles. Um problema muito comum é querermos colocar
toda a culpa da nossa situação, sobre os ombros de quem nos educou”.
Logo, contei uma história para ele, que utilizo em algumas pregações:
– Havia duas vizinhas que viviam em pé de guerra. Não podiam se encon-
trar na rua que era briga na certa. Depois de um tempo, uma delas descobriu o
verdadeiro valor da amizade e resolveu que iria fazer as pazes com a outra. Ao
se encontrarem na rua, muito humildemente, disse: Minha vizinha, já estamos
nessa desavença há anos e sem nenhum motivo aparente. Estou propondo para
você que façamos as pazes e vivamos como duas boas e velhas amigas. A vizi-
nha, na hora, estranhou a atitude da velha rival, e disse que iria pensar no caso.

159
UNIDADE 5

Pelo caminho foi matutando: “Essa mulher não me engana, está querendo me
aprontar alguma coisa e eu não vou deixar barato. Vou mandar-lhe um presente
para ver sua reação”. Chegando em casa, preparou uma bela cesta de presentes,
cobrindo-a com um lindo papel, mas encheu-a de esterco de vaca. “Eu adoraria
ver a cara dela ao receber esse ‘maravilhoso’ presente. Vamos ver se ela vai gostar
dessa”. Mandou a empregada levar o presente à casa da rival, com um bilhete:
“Aceito sua proposta de paz e para selarmos nosso compromisso, envio-te esse
lindo presente”. A mulher estranhou o presente, mas não se exaltou. “O que será
que ela está propondo com isso? Não estamos fazendo as pazes? Bem, deixa pra
lá” – pensou consigo mesma. Alguns dias depois, a vizinha que havia enviado o
esterco de presente, atende a porta e recebe uma linda cesta de presentes coberta
com um belo papel. No exato momento ela pensou: “Ah… É a vingança daquela
asquerosa. O que será que ela me aprontou?” E qual não foi a sua surpresa ao
abrir a cesta e ver um lindo arranjo das mais belas flores que podiam existir num
jardim, e um cartão com a seguinte mensagem: “Estas flores são o que te ofereço
em prova da minha amizade. Foram cultivadas com o esterco que você me enviou
e que proporcionou excelente adubo para meu jardim. Afinal, cada um dá o que
tem em abundância em sua vida”.
E então, eu concluí:
– “Preste bem atenção nisso: ‘Ninguém dá o que não tem’. A sua mãe deu a
você o que ela tinha. Infelizmente, não era o que você precisava. A pergunta, a
partir de agora, que você está se encontrando com Cristo, é: ‘o que você fará com
o que estão dando para você?’”
Hoje, esse jovem de 18 anos já cresceu e se desenvolveu muito mais em sua
vida e caminhada cristã. É visível o quanto o Espírito Santo tem transformado e
usado a vida dele. Ele ensinou a nossa comunidade de fé a vivermos em família.
Inclusive, o seu batismo foi um momento marcante na vida da igreja, onde foi
visível a transformação que apenas o Espírito Santo pode realizar na vida de
pessoas machucadas.
Assim como na experiência deste rapaz, todos nós temos histórias familia-
res que contribuíram para formar quem nós somos – para o bem e para o mal.
Olhando para a sua história de vida, você consegue perceber o quanto as suas
experiências familiares contribuíram para a sua formação? Todas as nossas ex-
periências familiares deixam marcas positivas e negativas. Não há como fugir

160
UNICESUMAR

disso. Uma questão importante é como podemos lidar com essas experiências,
para extrair o melhor de cada uma delas? Como o aconselhamento cristão e a
capelania cristã podem ajudar as pessoas a encontrar essas respostas?
A família é um ambiente de crescimento emocional, ou de adoecimento emo-
cional. Os filhos, são a melhor expressão dos desajustes familiares. É verdade que
não existe família perfeita, mas as suas disfunções são sinalizadas na forma como
os filhos se apresentam:


Quando uma pessoa tem dificuldades de passar de uma etapa à outra
do ciclo vital, as tensões internas do sistema familiar ou conjugal se
incrementam e podem ser absorvidas por uma pessoa desse sistema,
que passa a apresentar sintomas. Tais sintomas são facilmente con-
fundidos com doenças e, muitas vezes, precipitadamente tratados de
forma isolada de todo o conjunto - o que promove uma desorganiza-
ção ainda maior. Um exemplo claro pode ser visto quando pais e mães
têm certos padrões educacionais (especialmente disciplinares), para
os filhos quando estes estão na primeira e segunda infância, e mantêm
os mesmos padrões quando os filhos entram na adolescência. Tratar
os filhos adolescentes com os padrões infantis é sinônimo de infantili-
zá-los e isso causa reações nos filhos, as quais são interpretadas como
rebeldias ou até doenças (GRZYBOWSKI, 2021, p. 5-6).

A transição da infância para a adolescência é um momento desafiador para qual-


quer família, em função das mudanças que se estabelecem para todos. A Organi-
zação Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2021) identificou sobre os adolescentes:

■ Uma em cada seis pessoas no mundo tem entre 10 e 19 anos.


■ As condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global
de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos.
■ Metade de todas as condições de saúde mental começa aos 14 anos de
idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.
■ Em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e
incapacidade entre adolescentes.
■ O suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15
a 19 anos.

161
UNIDADE 5

■ As consequências de não abordar as condições de saúde mental dos ado-


lescentes se estendem à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental
e limitando futuras oportunidades.
■ A promoção da saúde mental e a prevenção de transtornos são funda-
mentais para ajudar adolescentes a prosperar.

Freitas et al. (2020), realizaram pesquisa para avaliar a influência das rela-
ções familiares na saúde e no estado emocional dos adolescentes, chegando
à conclusão de que “os aspectos das relações familiares têm maior peso para
o estado emocional dos adolescentes. A constatação é de que o adequado
funcionamento familiar se relaciona negativamente ao início de problemas de
comportamento na adolescência” (FREITAS et al., 2020, p. 105). Isso significa
que quanto mais funcional for uma família, menos problemas de comporta-
mento haverá por parte de um adolescente.
Diferentemente do que se imagina, os pais não perdem um filho na adoles-
cência. A rebeldia adolescente é apenas a manifestação daquilo que se perdeu na
infância. Contudo, nunca é tarde para se estabelecer conexões. A fé cristã enfatiza
as segundas chances que Deus dá ao ser humano.

Acesse o QR Code, a seguir, e ouça o podcast de nove


minutos do Pense Laranja: “PLAB 011: Ansiedade: Guia de
Conversa Para Pais (Ensino Médio)”. Como o próprio nome
propõe, a ideia é estabelecer algumas práticas que auxiliem
no diálogo entre pais e filhos. O Pense Laranja é uma es-
tratégia para a igreja unir-se à família e levar as crianças a
desenvolver um relacionamento com Jesus.

A partir das informações obtidas até aqui e do podcast que você escutou, escreva
em seu Diário de Bordo, como você se sente em relação à sua adolescência – o
que você mais gostaria que tivesse acontecido, para ajudá-lo a ter saúde emocio-
nal? Como você pretende contribuir para desenvolver a saúde emocional de seus
filhos, netos e sobrinhos? E enquanto um conselheiro cristão, como você acha
que poderá auxiliar os adolescentes que te procuram?

162
UNICESUMAR

DIÁRIO DE BORDO

Uma das grandes demandas do aconselhamento cristão e da capelania cristã tem


a ver com a necessidade das pessoas em lidar com seus problemas pessoais. Os
conselheiros e os capelães cristãos têm mantido uma grande preocupação com a
família, principalmente por causa da importância que a Bíblia e o ensino cristão
dão à família. O aconselhamento cristão e a capelania cristã podem atuar no am-
biente familiar, para contribuir com a restauração de relacionamentos rompidos
(tanto com outros membros da família quanto com Deus) e a restauração de si
mesmo como um indivíduo.
Um lugar onde a divisão é evidenciada é através das relações interpessoais.
Em nenhum lugar o conflito interpessoal é mais evidenciado do que na família.
O objetivo do aconselhamento cristão é ajudar o indivíduo a corrigir essa divisão.
A família tem muitas funções complexas. De acordo com Carter (1999, p.
191), na cultura ocidental, a família deve desenvolver seis funções na sociedade:

1. Reprodução de indivíduos e substituição dos mais velhos pelos mais


novos.

163
UNIDADE 5

2. Regulação do comportamento sexual dos seus integrantes.


3. Responsabilidade econômica dos dependentes (crianças, idosos, defi-
cientes, doentes).
4. Socialização dos mais jovens, para aprender a conviver em sociedade.
5. Atribuição de status.
6. Provisão para intimidade, pertencimento e apoio emocional.

Mesmo os conselheiros cristãos, também acreditam que essas funções possuem


uma relevante importância social, visto que a família é considerada o principal
sistema para atender às necessidades de sobrevivência do grupo ou indivíduos,
ou seja, a unidade fundamental da organização social. Para os cristãos, a família
foi a primeira instituição social estabelecida por Deus, no livro de Gênesis:


O Senhor Deus disse ainda: “Não é bom que o homem esteja só; farei
para ele uma auxiliadora que seja semelhante a ele” (Gênesis 3.18).
Então, o Senhor Deus fez cair um pesado sono sobre o homem, e este
adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. E
da costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus formou uma
mulher e a levou até ele. E o homem disse: “Esta, afinal, é osso dos
meus ossos e carne da minha carne; será chamada varoa, porque do
varão foi tirada.” Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mu-
lher, tornando-se os dois uma só carne. Ora, um e outro, o homem e a
sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam (Gênesis 3.21-25).

164
UNICESUMAR

À luz deste texto bíblico, o conceito cristão de casamento é que homens e mulhe-
res entram no casamento como iguais. Deus não retirou a mulher da cabeça do
homem, para ela ser superior a ele e tampouco a retirou dos pés do homem, para
que ela fosse inferior a ele. Na narrativa bíblica, Deus retira a mulher da costela do
homem, ou seja, do lado, para ser igual, debaixo do braço, para ser protegida e do
lado do coração, para ser amada. É verdadeiramente triste o quanto esta incrível
verdade bíblica foi se perdendo no processo cultural das sociedades humanas.
Já na época de Jesus, a pergunta que se fazia era com relação à legitimidade da
decisão do marido em se separar da sua esposa por qualquer motivo (Mateus
19.1-12; Marcos 10.1-12). A opção de separação no casamento pertencia apenas
ao homem e não à mulher, afinal, ela era apenas mais uma propriedade dele, pois
“para se tornar sua esposa, ele precisou comprá-la como qualquer mercadoria”
(JEREMIAS, 2010, p. 483).
Outro aspecto muito importante e fundamental para a compreensão teo-
lógica da importância da família na saúde do indivíduo, está no versículo 25
de Gênesis 3: “Ora, um e outro, o homem e a sua mulher, estavam nus e não se
envergonhavam”. Em uma relação conjugal é mais fácil desnudar o corpo, do
que desnudar o coração. Antes da queda, homem e mulher viviam nus e não se
envergonhavam - não havia o que se esconder um do outro. Depois da queda,
eles se esconderam de Deus, e um do outro, com folhas de figueira.
Embora haja um forte apoio na Bíblia para os papéis a serem desempenha-
dos por homens e mulheres, os casais cristãos são convidados, desde o início, a
abordar o casamento como uma parceria. O propósito final da família é criar um
ambiente de amor. O colapso ou rompimento dessa parceria igualitária é uma das
principais causas para o fracasso do desenvolvimento de um ambiente de amor:


Quando os pais descumprem, sucessivamente, as regras por eles es-
tabelecidas, ensinam aos filhos três atitudes indesejáveis: (1) que as
regras não são para serem cumpridas; (2) que a autoridade (pais ou
professores) pode ser desrespeitada; além de (3) ensinar manipula-
ção emocional. Esta aprendizagem terá sérias consequências para as
atitudes futuras da criança ou do adolescente (GOMIDE, 2004, p. 17).

165
UNIDADE 5

A consequência dos efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano foi fatal desde
o início, promovendo a ruptura de comunicação entre o marido e a esposa. Após
darem ouvidos às mentiras da serpente e desobedecerem a Deus, ambos se es-
condem de Deus e um do outro. As folhas de figueira não foram suficientes para
esconder a culpa que ambos sentiam. Entretanto, nenhum deles quis assumir a
responsabilidade. O erro tinha sido cometido pelo outro. Este é o padrão que se
repete até hoje nos casamentos. Maridos e esposas jogam a responsabilidade da
sua infelicidade um sobre o outro. Essa é uma decorrência do aprendizado em
suas famílias de origem:


É a partir da experiência do relacionamento do pai e da mãe que
cada indivíduo cria um esquema de como se relacionar com seu
parceiro ou sua parceira nas formas de expressar afeto, lidar e en-
frentar (ou não) as dificuldades e resolver conflitos. É o subsistema
conjugal que fornece aos filhos e às filhas o modelo para as relações
íntimas e cotidianas (GRZYBOWSKI, 2021, p. 8).

Quando um casal não se relaciona na base da parceria, as divisões vão se espa-


lhando na família. Os filhos evidenciam o quanto o casal está separado, mesmo
convivendo no mesmo ambiente. A própria narrativa do Gênesis torna isso muito
claro: Adão teve relações com Eva, a sua mulher. Ela ficou grávida e deu à luz Caim.
Então ela disse: “Adquiri um varão com o auxílio do Senhor”. Depois, deu à luz Abel,
irmão de Caim. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi agricultor (Gênesis 4.1-2).
Veja a diferença que é feita entre os dois filhos. Após a catástrofe da expulsão
do Jardim do Éden, o filho mais velho é celebrado: Caim - aquele que foi um pre-
sente de Deus para o casal. Algum tempo depois, nasce o segundo filho, chamado
Abel. Este segundo filho é associado como irmão de Caim. Enquanto o nome de
Caim tem um significado especial, o nome de Abel não indica nenhum signifi-
cado: “deve-se observar que Abel é mencionado em Gênesis 4 sem nenhuma ex-
plicação, fato que não pode deixar de ter significado, já que quase todos os nomes
próprios em Gênesis são explicados por assonâncias” (HARRIS, 1998, p. 336).
Outro aspecto importante desta relação familiar disfuncional, é o fato de que
Caim se tornou um agricultor, enquanto Abel se tornou um pastor de ovelhas.
Caim, enquanto agricultor, se envolve naquilo que está associado à sua própria
família, à terra. Ele cultiva e cuida do ambiente no qual a família vive. Abel, en-

166
UNICESUMAR

quanto pastor de ovelhas, precisa procurar pastos adequados para as ovelhas,


ficando um tempo considerável distante de seus pais e irmão. A narrativa bíblica
é muito explícita ao demonstrar esses movimentos de distanciamento e proximi-
dade dos filhos com os seus pais. Caim é o filho celebrado. Abel é o filho.
Por mais que os pais e as mães façam questão de enfatizar que amam os seus
filhos de maneira igual, as interações familiares nem sempre demonstram isso.
Contudo, nem sempre tem a ver com amor, ou a falta dele, mas com as afinidades
perante à vida: “ansiamos pelo que talvez seja o elogio mais profundo da vida: o
fato dos nossos filhos escolherem viver de acordo com nosso sistema de valores”
(SOLOMON, 2013, p. 12). Filhos que se encontram distantes de seus pais, se
sentem assim por algumas percepções diferentes da vida.
No caso da primeira família relatada na Bíblia, essas disfunções resultaram
em um tipo de relacionamento igualmente disfuncional de Caim, com Deus e
com o seu irmão Abel. Ambos traziam ofertas a Deus, mas o texto nos ensina
que “o Senhor se agradou de Abel e de sua oferta, mas de Caim e de sua oferta
não se agradou” (Gênesis 4.4-5). Veja que, antes da oferta ser aceita por Deus, a
pessoa é que era observada:

■ O Senhor se agradou de Abel


e de sua oferta.
■ O Senhor não se agradou de Caim
e de sua oferta.

Como resultado, Caim, o filho celebrado e preferido, ao se deparar com o fato de ele
não ser tratado por Deus da mesma maneira, decide agir como um pequeno tirano,
provavelmente pensando assim: “já que eu não fui aceito e muito menos a minha
oferta, então, eu tirarei a vida do meu irmão; Deus não terá nem a ele e nem a mim”.
Caim mais uma vez se relaciona com Deus na base da sua autossuficiência religio-
sa. Os resquícios dessa forma de relacionamento com Deus perduram até hoje na
humanidade: “Por isso, na visão cristã, o pedido de ‘livramento do mal’ é dirigido ao
Pai nosso; o mal nada mais é do que justamente o caos, a desordem, a desmedida. O
Pai nos livra do mal dando-nos a ordem, separando-nos do caos” (RISÉ, 2007, p. 21).
Do ponto de vista da poimênica e da teologia, todas as crises de relacionamen-
to assumem o seu início, em nosso relacionamento rompido com Deus. Assim
como Adão e Eva tiveram o seu relacionamento com Deus rompido por causa do

167
UNIDADE 5

pecado e dos efeitos noéticos sobre eles, a sua relação como indivíduos e casal foi
igualmente afetada, atingindo também os seus relacionamentos futuros com os
seus filhos. Observamos, então, as seis dimensões de relacionamentos rompidos,
a partir do pecado e sua atuação no coração humano:

1. Relacionamento rompido com Deus.


2. Relacionamento rompido consigo.
3. Relacionamento rompido com o cônjuge.
4. Relacionamento rompido com os filhos.
5. Relacionamento rompido com a sociedade.
6. Relacionamento rompido com a criação.

Preste bastante atenção neste momento. Todo aconselhamento cristão parte do


pressuposto de que todos os problemas das pessoas são decorrentes dos seus pro-
blemas originais com Deus. Não adianta exigirmos de uma sociedade não-cristã,
que ela se porte de uma maneira cristã, enquanto as pessoas que compõem essa
sociedade, não forem apresentadas ao evangelho de Jesus Cristo:


Decaímos a um nível não só de perversão do conhecimento, mas tam-
bém de natureza; somos rebeldes contra Deus porque temos culpa
verdadeira, reversos quanto aos pensamentos porque mudamos a ver-
dade em mentira, inversos quanto à teorreferência porque queremos
ser deuses de nós mesmos - e somos fugidios quanto ao seu amor. Se
ímpios, vivemos sob a presença, o poder e a penalidade do pecado. Se
redimidos, estamos livres da penalidade do pecado, mas vivemos ainda
a tensão da presença e do poder do pecado (GOMES, 2014, p. 24-25).

Quando alguém procura a ajuda de um conselheiro cristão ou de um capelão


cristão, não importa qual seja o problema que ele traga: um problema emocional,
um problema no casamento, um problema de relacionamento - todo e qualquer
tipo de problema tem a sua raiz, a sua base, no relacionamento rompido com
Deus. É claro, que o conselheiro cristão e o capelão cristão estarão atentos à dor
e ao sofrimento do aconselhando, mas o desafio primordial deles é conduzir a
pessoa totalmente a Cristo, pois apenas quando a pessoa estiver em Cristo é que
ela terá uma transformação verdadeiramente sobrenatural:

168
UNICESUMAR


Se não sabemos que existe uma pessoa como Deus, não sabemos a
primeira coisa (a coisa mais importante) sobre nós mesmos, uns aos
outros e nosso mundo. Isso porque... a verdade mais importante sobre
nós e eles, é que fomos criados pelo Senhor e dependemos totalmente
dele para nossa existência contínua (PLANTINGA, 2000, p. 217).

Geralmente, os efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano são usados apenas
para explicar a doença física e a morte. Contudo, a nossa incapacidade de confiar
em Deus e a corrupção de nossa capacidade de raciocinar livremente, é mais do
que plenamente expressa em nossa rejeição a Jesus Cristo. A verdade é que os
efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano são desastrosos. Quando Eva foi
tentada pela serpente no jardim, e Adão comeu do fruto proibido, eles não reali-
zaram simples atos de rebelião. A tentação “vocês serão como Deus” (Gênesis 3.5)
não era uma afirmação de que os humanos realmente se tornariam divindades,
mas sim que eles se tornariam autônomos, “conhecedores do bem e do mal” por
conta própria, sem referência a Deus! Em vez de aceitar a palavra de Deus, Eva
a julgou e tentou entendê-la com referência a si mesma: a criatura tentou julgar
o seu Criador. Ela tapou os ouvidos do seu coração e como uma criança peque-
na ignorando os seus pais, gritou repetidamente: “Eu! Eu! Eu!” Ao se afastar de
Deus, Adão e Eva, e toda a humanidade depois deles, estavam realmente tentando
cometer suicídio ontológico. Se o que nos torna humanos é que fomos criados à
imagem de Deus, então negar Deus é negar a própria coisa que nos torna huma-
nos. O pecado procura destruir e, no nosso caso, estamos dispostos a participar
da tentativa de nos aniquilar. Assim, o pecado traz a morte. Por essa razão, toda
demanda apresentada no aconselhamento cristão e na capelania cristã leva muito
a sério o poder e a influência do pecado!

PENSANDO JUNTOS

Existe uma religião que convive muito bem as três grandes religiões do mundo: cristia-
nismo, islamismo e hinduísmo, e supera a todas. É a religião do eu quero o que é meu!
(Millôr Fernandes)

Observe com atenção a cada uma destas situações:

■ Um marido se queixa da sua esposa, porque ela não o valoriza.

169
UNIDADE 5

■ Uma mãe que é bruta com os seus filhos e alega que nunca recebeu cari-
nho quando era criança.
■ Um adolescente assume uma postura rebelde diante de seus pais.
■ Uma mulher se sente ressentida por não ter a vida que queria.

Essas e outras situações parecidas encontram a sua raiz no mesmo sentimento


que invadiu o coração de Adão e Eva - serem iguais a Deus. Tudo o que as pessoas
querem é se sentir valorizadas (idolatradas) e serem admiradas (invejadas), seja
pelo seu poder financeiro (influência), ou por sua beleza ou força físicas (adoração):


A maioria das pessoas passa a vida tentando transformar em rea-
lidade os sonhos mais caros a seu coração. Mas a vida não é isso,
“a busca pela felicidade”? Procuramos incessantemente modos de
adquirir tudo o que desejamos e nos dispomos a sacrificar muito
para alcançá-las. Nunca imaginamos que concretizar os desejos
mais profundos do nosso coração talvez seja a pior coisa que po-
deria nos acontecer (KELLER, 2018, p.29).

Perceba que a egolatria - esse desejo de ser adorado como um deus, é algo muito
sutil e que só pode ser vencido a partir da ação do Espírito Santo de Deus na vida
da pessoa, através da Palavra de Deus. Paulo aborda isso em Colossenses 1.21,
quando afirma que por causa do nosso pecado fomos “inimigos no entendimento
pelas obras más que praticavam”. Nossa imoralidade e atos perversos não são os
motivos primários para nossa separação de Deus, como alguns diriam, mas sim
a forma de pensar hostil que está por trás deles:


Procedendo ao aconselhamento, o conselheiro deverá manter em
mente que seu trabalho consiste em fazer a hermenêutica da Es-
critura enquanto faz a hermenêutica da pessoa à luz da Palavra, a
fim de ajudá-la no processo de transformação espiritual da teoria e
prática de vida (GOMES, 2014, p. 93).

Observe que a raiz de todo problema emocional está no egocentrismo humano,


neste desejo de querer ser Deus. Os desdobramentos deste egocentrismo são
perceptíveis na forma como as sociedades humanas se estabelecem em um ciclo

170
UNICESUMAR

interminável de competição, no qual o outro é o responsável direto pela minha


felicidade ou infelicidade. Isso adoece. E muito.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: deuses Falsos


Autor: Timothy Keller
Editora: Vida Nova
Sinopse: Sucesso, dinheiro, amor verdadeiro — a vida perfeita. Mui-
tos de nós depositam a fé e a esperança nessas coisas, acreditando que
sejam capazes de trazer a felicidade. No fundo, porém, sabemos que nada
disso pode garantir satisfação plena. Em Deuses falsos, Timothy Keller mos-
tra que uma compreensão adequada da Bíblia revela a verdade acerca da
sociedade e de nosso próprio coração. Nessa mensagem poderosa, enxer-
gamos nossa tendência de buscar em outras coisas aquilo que só Deus pode
nos dar. Também somos apresentados a um novo caminho: aquele que leva
a uma esperança que não pode ser abalada pelas circunstâncias da vida.

Dentro da tarefa de aconselhamento cristão e capelania cristã, encontramos al-


guns desafios pontuais que precisam ser considerados de maneira apropriada:
as crises familiares e o luto.
As crises familiares são muito comuns não apenas em nosso país, mas em
todo o mundo. Este é um dos efeitos do pecado sobre a humanidade - não con-
seguimos viver em parceria. O apóstolo Paulo escreveu aos gálatas, chamando
essa inclinação para a divisão como um fenômeno das obras da carne. Toda crise
conjugal, no fundo, não é uma crise conjugal, mas uma crise pessoal. Isto significa
que cada um dos cônjuges trouxe para o casamento uma bagagem emocional que
não foi tratada. Com isso, os desentendimentos e as discussões são apenas mani-
festações dessas bagagens trazidas. Algumas informações importantes levantadas
por Litchfield (2014, p. 69) indicam:

1. Com o aumento do adultério, divórcio, problemas sexuais, tensões finan-


ceiras, vícios, violência doméstica e uma diminuição do compromisso
com os votos matrimoniais, os casamentos estão se desfazendo rapida-
mente. Em todo o mundo ocidental, a taxa de divórcio é de 30% a 60%, e
é muito maior em alguns países, como a Rússia.

171
UNIDADE 5

2. A taxa de casamento está diminuindo. Mais e mais pessoas estão optando


por permanecer solteiras ou escolher a coabitação como uma alternativa
ao casamento. Os números divulgados pelo Australian Bureau of Statistics
em 2005 mostraram que a taxa de casamento foi a mais baixa já registrada.
Embora tenha havido um aumento no número de casamentos, os números
de divórcios permaneceram altos em cerca de 50.000 por ano. Em 2011, cer-
ca de 60% dos casais nos EUA moravam juntos antes de decidirem se casar.

Outra tendência interessante que afeta o casamento hoje é que “20% dos casamen-
tos no Ocidente começam on-line, a partir de sites de namoro, enquanto um terço
dos casais de baby boomers se encontram on-line” (LITCHFIELD, 2014, p. 69).
O resultado é que a terapia de casais está em crescente demanda e se tornou
a parte principal da terapia familiar, e, também, o tipo mais comum de aconse-
lhamento em geral. A visão bíblica do casamento é que Deus pretendia que fosse
um relacionamento permanente e duradouro entre um homem e uma mulher,
independentemente das provações, doenças, reveses financeiros ou estresses
emocionais que possam ocorrer. Deus está fortemente comprometido com a
instituição do casamento e odeia o divórcio e o repúdio (Malaquias 2.16). Os
conselheiros e capelães cristãos, em geral, precisam estar comprometidos em
manter o casamento e encorajar os casais a resolver os problemas em vez de fugir
deles. Litchfield (2014, p. 70) identificou em pesquisa realizada na Austrália, das
42 questões que mais surgem no aconselhamento cristão em casamento:

172
UNICESUMAR

• Dependência e codependência.
• Aborto.
• Necessidades básicas de marido e mulher não atendidas.
• As crianças e os problemas dos pais.
• Doença crônica e dor.
• Problemas de comunicação e resolução de conflitos.
• Aliança, amor, papéis.
• Casamentos transculturais.
• Violência doméstica e abuso.
• Casamentos de facto (coabitação).
• Diferenças nos sexos, temperamentos e outras diferenças.
• Casamentos de idosos.
• Síndrome do ninho vazio.
• Problemas de família e amigos.
• Problemas de gestão financeira.
• Culpa.
• Falta de compromisso com o casamento.
• Baixa autoestima e identidade.
• Infertilidade.
• Vício em Internet e mídia (tecnologia).
• Pornografia na internet.
• Intimidade (espiritual, intelectual, emocional, física).
• Lazer e questões recreativas.
• Climatério masculino e feminino.
• Problemas de casamento de meia-idade.
• Aborto espontâneo.
• Misoginia e codependência.
• Problemas recém-casados.
• Problemas de personalidade.
• Problemas pré-matrimoniais.
• Problemas de crianças e jovens.
• Problemas de novo casamento.
• Ressentimento.
• Separação e divórcio.
• Vício sexual.
• Problemas sexuais e disfunções sexuais.
• Questões espirituais (religiosas).
• Televisão.
• Infidelidade e adultério.
• Negócios inacabados da família de origem ou casamentos anteriores.
• Gravidez indesejada e filhos.

173
UNIDADE 5

Quero convidar você para ouvir o Podcast sobre como a


família pode ser um ambiente de promoção ou de adoeci-
mento emocional, e como o aconselhamento cristão pode
contribuir para que as pessoas consigam superar certos
traumas emocionais. Dê o play e vamos nos aprofundar
um pouco mais nesta temática.

De acordo com Mariano (2016, p. 115), “o homem e a mulher se atraem porque


cada um espera que o relacionamento satisfaça várias necessidades suas. Cada
qual traz por dentro do casamento uma constelação singular de necessidades da
personalidade”. É possível observar como o desejo de ser Deus está sempre em
foco neste tipo de desentendimento.
Collins (2011, p. 544) observa que a origem dos problemas, do ponto de vista
bíblico, é justamente quando “o casal se afasta dos princípios bíblicos”, os quais são
transformados, consequentemente, em problemas conjugais. Mariano (2016, p.
115-116) elenca cinco problemas que recorrentemente acontecem nas famílias,
a partir dos problemas conjugais:


a) Comunicação defeituosa – esta é uma das principais causas de
discórdia conjugal. É quando um não consegue ouvir ou responder
ao outro. E isso se dá pelas mensagens verbais e não verbais, em nos-
so dia a dia. Por exemplo, quando um marido diz “eu te amo”, para
ele fazer isso é comprar um presente; mas sua esposa não o entende,
pois quer ouvir literalmente as palavras de sua boca.

b) Atitudes egocêntricas defeituosas – se aproximar de alguém é um


risco. Há uma tendência de não nos abrirmos para as críticas e uma
possível rejeição quando permitimos que outra pessoa nos conheça
intimamente, sinta nossa insegurança e perceba nossas fraquezas. É
bem mais fácil fazer críticas ao outro do que aceitar ou reconhecer
as atitudes defensivas e egocêntricas que estão provocando tensão.

c) Tensão interpessoal – quando nos casamos, já temos um reper-


tório de habilidades sociais desenvolvidas, pois temos duas ou três
décadas de vida e já estamos bem “treinados” em um modo de vida,
ou seja, em viver “solteiros”. Quando nos casamos, temos que in-

174
UNICESUMAR

teragir e buscar conviver com o outro, e aqui são fundamentais o


entendimento e os processos de síntese para a construção madura
de uma conjugalidade. Quando isso não ocorre, e há má vontade
por parte de um dos cônjuges, certamente, os problemas conjugais
vão aparecer. Esses problemas muitas vezes se configuram nessas
áreas: sexo, papéis no relacionamento, religião, valores, necessidades
e dinheiro.

d) Pressões externas – elas acontecem devido a pessoas ou situações,


como:

- Sogros e filhos que interferem no relacionamento.

- Amigos que fazem exigências sobre o tempo do casal.

- Crises que interrompem os relacionamentos familiares.

- As exigências profissionais.

e) Tédio – à medida que vão se passando os anos, os casais se es-


tabelecem na rotina, acostumando-se um ao outro e sem perceber,
caminham para a auto absorção, autossatisfação e autopiedade, de-
saparecendo o prazer de viver a dois. Isso também é desestimulante
e rotineiro. Os casais começam a buscar em outros lugares variados
desafios.

175
UNIDADE 5

Não é à toa que vemos pessoas altamente estressadas no dia a dia. A família
deveria ser um ambiente de conforto e refúgio do mundo exterior. Entretanto,
como cada um dos cônjuges já vem carregado de bagagens da vida, somada à
expectativa de que o outro deveria me fazer feliz, o ambiente familiar se torna
um barril de pólvora. Aquela ideia de que “viveram felizes para sempre” vem
atrelada à noção de “me casar com alguém que me faça feliz”. Você percebe o
quanto o pecado nos desconecta de nós mesmos e do outro? A responsabilidade
da minha vida é jogada sobre a vida de outra pessoa - a minha alegria ou infeli-
cidade são consequência do outro e nunca minha. Litchfield (2014), procurando
dar ferramentas de apoio aos conselheiros cristãos, identificou as cinco fases do
casamento. Segundo ele o casamento funcional passa por cinco estágios normais
e progressivos de crescimento no amor:


Amor idealista — isso ocorre durante o primeiro período de romantismo
e idealismo, durante o qual há uma moldagem em unidade. É quando o
amor é cego, quando há muito romance e amor eros.

Amor realista — muitas vezes vem logo após o casamento, mas pode
levar um ou dois anos. É encarar a realidade. É caracterizada por
expectativas fracassadas, diferenças, conflitos, impacto do histórico
familiar e o surgimento de peculiaridades de personalidade.

Amor confortável – isso ocorre durante os anos 11-20, onde há um


estabelecimento da identidade individual e uma identidade definida
no casamento.

Amor renovado - isso ocorre durante os anos 21-30 e envolve luto


e aceitação das perdas do casamento, como estresse financeiro, ju-
ventude perdida, diminuição da sexualidade, sonhos não realizados,
crise da meia-idade, síndrome do ninho vazio, vida nova e frescor,
e deixando de tentar mudar um ao outro.

Amor transcendente – esse tipo de amor ocorre após 30 anos de casa-


mento. Esta é uma bela fase do casamento que é caracterizada por amor
maduro, respeito e compreensão e transmissão para a próxima geração.
Durante esse período, há uma descoberta de novas razões para existir
depois que as principais tarefas de alcançar a segurança financeira e nu-
trir a próxima geração foram concluídas (LITCHFIELD, 2014, p. 72-73).

176
UNICESUMAR

Aqui, parece haver dois fenômenos que contribuem para a disfuncionalidade no


casamento: a agilidade do mundo moderno e o egocentrismo. Exatamente por
vivermos em um mundo cada vez mais ágil, onde acessamos o que queremos, no
momento que queremos, vemos pessoas muito mais imediatistas e impacientes.
Some-se a isso, a nossa tendência natural de egocentrismo, onde medimos as
pessoas e as situações a partir das nossas percepções, e podemos compreender
o quanto a vida é propícia para gerar doenças emocionais nos indivíduos. Por
esta razão o conselheiro e capelão cristãos são tão importantes. Eles podem ser
grandemente usados por Deus, para trazer alívio e cura aos corações sobrecarre-
gados e cansados. O objetivo do aconselhamento cristão e da capelania cristã, em
sua atuação em crises conjugais, é contribuir para a formação de um casamento
funcional saudável dos aconselhandos, que é caracterizado da seguinte forma:

• Compreensão correta dos papéis de cada cônjuge.


• Igualdade em parceria.
• Compromisso com Jesus Cristo.
• Compromisso com o casamento.
• Amor incondicional e amizade.
• Respeito e confiança.
• Intimidade (espiritual, emocional, física).
• Responsabilidade pelas ações e pela própria felicidade.
• Autodisciplina (o ego precisa ser subjugado ao espiritual).
• Crescimento (individual e conjugal).
• Boa modelagem e criação dos filhos.
• Objetivos individuais e objetivos em comum.

Algumas ações práticas são importantes, dentre elas, o gerenciamento das di-
ferenças entre os cônjuges. Deus criou as pessoas individualmente e exclusiva-
mente: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe.
Graças te dou, visto que de modo assombrosamente maravilhoso me formaste;
as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (Salmo 149:13-
14). Muitas características são determinadas antes do nascimento. Muitas outras
são determinadas pela cultura, herança familiar, modelo e experiência. Aceitar
as diferenças entre as características pode ser fonte de muitos problemas para os
casais. Por isso, é muito importante que o conselheiro e capelão cristãos atuem
para desenvolver o diálogo entre o casal em crise.

177
UNIDADE 5

Mariano (2016), citando Clinebell (2000), indica os objetivos do aconselha-


mento de crise matrimonial, para ajudar os casais a aprenderem como fazer com
que seus relacionamentos proporcionem maior satisfação mútua de necessidades:


Reabrir suas linhas de comunicação bloqueadas e aprender habili-
dades de comunicação mais efetivas.

Interromper a escalada do ciclo autoperturbador de ataque mútuo


e retaliação, desencadeado pela frustração profunda das satisfações
mútuas de necessidade.

Se conscientizar dos pontos fortes e dos recursos não utilizados em


si próprio e em seu relacionamento, os quais pode usar para efetuar
mudanças construtivas em si próprio e em seu matrimônio.

Identificar áreas específicas em que crescimento e/ou mudança


precisa acontecer na conduta de cada um, a fim de interromper sua
crise e tornar seu casamento mais compensador de necessidades
recíprocas.

Negociar e, então, executar planos viáveis e justos de mudanças, nos


quais cada pessoa assume a responsabilidade de mudar a sua parte
na interação entre os dois.

Experimentar o reavivamento da energia para mudança em espe-


rança realista. Mudança construtiva gera esperança realista, e es-
perança gera mais mudança. São três as maneiras que se manifesta
essa esperança no aconselhamento:

capacidade que o casal demonstra empaticamente de mudar e de


crescer;

conscientização maior dos pontos fortes e dos seus recursos;

mudança de comportamento autolesivo dentro de si próprio e entre os dois.

Descobrir, explorar e, até certo ponto, exorcizar as raízes subcons-


cientes ou inconscientes de imagens conflitantes do papel a ser
desempenhado e de necessidades neuróticas aprendidas principal-
mente pelos pais. Lidar com fantasias, temores e raiva que compro-

178
UNICESUMAR

metem o relacionamento. Pode haver necessidade de aconselha-


mento individual entre as sessões do casal.

Renegociar e revisar aspectos de maior importância na relação


matrimonial que sejam injustos e/ou inviáveis (CLINEBELL, 2000
apud MARIANO, 2016, p. 116-117).

O aconselhamento cristão para crises conjugais é um processo longo. Tudo


depende do interesse e da abertura do casal que procura ajuda. Há casais que
estão dispostos a corrigir o que precisa ser mudado na relação, mas há casais
que chegam imensamente machucados. Nestes casos, é importante, também, o
acompanhamento de um terapeuta profissional habilitado, como forma de ajuda
na resolução deste problema. Nos casos em que há a abertura do casal para o
aconselhamento, o conselheiro cristão e o capelão cristão devem atuar de uma
maneira muito pontual, principalmente para auxiliar o casal na reconstrução ou
no estabelecimento de uma linha de comunicação entre eles. Inicie demonstran-
do disposição para ajudar e valorizando a iniciativa do casal em buscar ajuda.
Esteja atento a como cada um está se sentindo neste primeiro encontro. Observe
o cônjuge menos motivado, estabelecendo sintonia com ele e despertando espe-
rança realista da possibilidade de mudanças no casamento. Pesquise há quanto
tempo a crise ou os problemas vêm se desenvolvendo. Dê oportunidades iguais
para que cada um do casal descreva como enxerga a situação. Ajude, também, o
casal a identificar o que ainda aprecia no cônjuge, além dos pontos fortes e dos
recursos potenciais que eles têm para fortalecer o casamento - faça-os focarem
nas coisas boas. Dê tarefas semanais para cada um deles, por exemplo, contribuir
com certas tarefas em casa; a troca de bilhetes de elogios; o retorno aos gestos de
carinho entre outros. Acima de tudo, ore com eles e por eles. A atuação sobrena-
tural do Espírito Santo é imprescindível e real nestes casos.
Uma das grandes crises conjugais que o conselheiro cristão e o capelão cristão
acabam lidando tem a ver com a violência doméstica. De acordo com o Atlas da
Violência 2021, no ano de 2019, “3.737 mulheres foram assassinadas no Brasil”
(CERQUEIRA et al. 2021, p. 36), vitimadas por violência doméstica ou familiar,
ou por discriminação à condição de mulher, como também em dinâmicas de-
rivadas da violência urbana, como roubos seguidos de morte e outros conflitos
(CERQUEIRA et al. 2021, p. 36). O próprio relatório do Atlas da Violência, apon-

179
UNIDADE 5

ta: “A análise dos últimos onze anos indica que, enquanto os homicídios de mu-
lheres nas residências cresceram 10,6% entre 2009 e 2019, os assassinatos fora das
residências apresentaram redução de 20,6% no mesmo período, indicando um
provável crescimento da violência doméstica” (CERQUEIRA et al. 2021, p. 41).
Brasil: Taxa de homicídios de mulheres dentro e fora das residências (2009 a 2019)
4,0
3,5
3,5 3,4 3,4 3,4
3,0 3,2 3,3 3,3 3,2 3,2
Taxa de homicídios

3,0
2,5
2,0 2,3

1,5
1,0 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2 1,3 1,3 1,3 1,2
1,1 1,1
0,5
0,0
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Taxa de homicídios na residência Taxa de homicídios fora da residência

Figura 1 - Brasil: Taxa de Homicídios Dentro e Fora das Residências (2009 a 2019)
Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de
Estudos e nálises da Dinâmica Demográfica e S/S S/CG E - Sistema de nforma es sobre or-
talidade - S número de homicídios de mulheres na F de residência foi obtido pela soma das
seguintes C Ds : 5- e 35, ou se a: óbitos causados por agressão mais interven ão legal

Descrição da Imagem: fi ra trata se de m r fico e retrata a ta a de homic dio de M lheres dentro


e fora das residências de 2009 a 2019. Os homicídios em casa são retratados em azul e fora de casa em
laranja. De forma geral os homicídios em casa mantém-se na faixa de 1,0 e 1,5 de forma constante e os
homicídios fora de casa entre 3,0 e 3,5 caindo para 2,3 em 2019.

Mesmo com a criação de leis como a “Lei Maria da Penha” (2006), que torna crime
a violência contra a mulher, incluindo violência física, sexual, psicológica, patri-
monial e moral (BRASIL, 2006), e a “Lei do Feminicídio” (2015), que estabelece
o feminicídio no rol dos crimes hediondos, a violência contra a mulher segue
aumentando de maneira alarmante.
A CPI da violência contra a mulher da Câmara Municipal de São Paulo ela-
borou uma cartilha on-line como um guia de apoio a mulheres em situação de
violência doméstica, na qual qualifica violência física, sexual, psicológica, patri-
monial e moral (CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2021).

180
UNICESUMAR

Violência Física é qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal


da mulher, como:
■ Atirar objetos.
■ Empurrar, sacudir, apertar os braços.
■ Puxar os cabelos.
■ Tapas e socos.
■ Espancamento.
■ Estrangulamento ou sufocamento.
■ Lesões com objetos cortantes ou perfurantes.
■ Ferimentos causados por queimaduras ou armas de fogo.
■ Tortura.

Violência Psicológica é qualquer conduta que cause dano emocional e diminui-


ção da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, como:

■ Ameaças.
■ Constrangimento e/ou Humilhação.
■ Ridicularização e/ou Insultos.
■ Chantagem e/ou Exploração.
■ Isolamento: proibir de estudar, viajar ou de falar com amigos e parentes.
■ Vigilância constante e/ou Perseguição.
■ Limitação do direito e ir e vir.
■ Tirar liberdade de crença.
■ Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sua me-
mória e sanidade.

Violência Sexual é qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a


participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação
ou uso da força, como:
■ Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa.
■ Impedir o uso de métodos contraceptivos.
■ Forçar matrimônio, gravidez ou prostituição por meio de coação, chan-
tagem, suborno ou manipulação.

181
UNIDADE 5

■ Forçar a mulher a abortar.


■ Estupro.

Violência Patrimonial é qualquer conduta que configure retenção, subtração,


destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados
a satisfazer suas necessidades, como:

■ Controlar o dinheiro.
■ Deixar de pagar pensão alimentícia.
■ Estelionato.
■ Causar danos propositais a objetos da mulher ou dos quais ela goste.
■ Destruição de documentos pessoais.
■ Furto.
■ Privar de bens, valores ou recursos econômicos.
■ Extorsão.

Violência Moral é qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou in-


júria, como:

■ Acusar a mulher de traição.


■ Emitir juízos morais sobre a conduta.
■ Rebaixar a mulher por meio de xingamentos.
■ Fazer críticas mentirosas.
■ Expor a vida íntima.
■ Desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.

No contexto de violência familiar e doméstica, é possível perceber a escalada gra-


dual de tensões entre o casal a partir de conflitos interpessoais, que se iniciam em
agressões verbais e crescem de tal maneira, até que o autor da violência costuma
recorrer ao objeto que está mais próximo para agredir a companheira:

182
UNICESUMAR


O uso das armas brancas e de outros tipos de armas, por si só, não
sugere uma configuração específica e, assim como os crimes co-
metidos durante o dia, podem estar associados a várias situações
de violência letal. Mas é mais comum que sejam usadas em crimes
cometidos em contextos de violência familiar ou doméstica, quando
a fatalidade decorre de um conflito interpessoal crescente, no qual
a morte não é ‘planejada’ e o agressor recorre a objetos que estejam
disponíveis no ambiente (GOMES, 2014, p. 227).

Infelizmente, o ambiente que deveria fornecer segurança para as mulheres, acaba


sendo um dos fatores de maior violência contra elas. O feminicídio íntimo, que
é o homicídio que vitimiza a mulher no seu ambiente doméstico e familiar, é o
encerramento extremo de um ciclo de violência. É importante enfatizar que o
agressor comum nos casos de violência doméstica, geralmente se apresenta à
sociedade, como um “cidadão de bem”, “pai de família”, “trabalhador”, não sendo
violento na rua, com os colegas ou no ambiente de trabalho, mas sendo agressivo
com a companheira e, por vezes, até mesmo com os filhos e com outros familiares
(SANEMATSU, 2019):


Mesmo perante o cenário existente no Brasil, em que uma a cada cin-
co mulheres, independentemente da idade e do nível de escolaridade,
refere já ter sido espancada pelo cônjuge, companheiro, namorado ou
ex-companheiros, a violência doméstica e familiar contra a mulher
é um fenômeno velado estimando-se que, em cada cinco mulheres
agredidas, uma não tenha tomado nenhuma atitude perante o ocor-
rido, o que remete à subnotificação e dificulta o conhecimento da real
dimensão do problema (VIANA et al., 2018, p. 924).

Um dos importantes papéis do aconselhamento cristão e da capelania cristã é


auxiliar a mulher, vítima de agressão, a identificar um relacionamento abusivo e
se libertar deste ciclo pecaminoso e criminoso. Todo tipo de violência deve ser
combatida e denunciada! Como conselheiros cristãos e capelães cristãos, deve-
mos sempre atuar em favor do oprimido.

183
UNIDADE 5

Como cristãos, cremos na intervenção sobrenatural do Espírito Santo, na transformação


do ser humano caído. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que
crê (Romanos 1.17). Por isso, é necessário também, lançar um olhar sobre o agressor:


Os motivos que levam os agressores a usarem suas forças ou outros
meios que machuquem as suas vítimas, por vezes, são motivos fú-
teis, tentam justificar seu descontrole na conduta da vítima, alegam
que foi a própria vítima quem começou, pois não faz nada correto,
não faz o que ele manda. Quando o agressor foi vítima de abuso ou
agressão na infância, tem medo e precisa ter o controle da situação
para se sentir seguro, por este motivo, usa a sua força na violência,
para ter o controle desejado, e é neste ponto que deve existir uma
reflexão e análise mais aprofundada quando do encarceramento do
indivíduo, trabalhar com ele o seu lado psicológico, querer saber
como foi sua infância, se ela foi perturbada ou tranquila, se teve
algum tipo de abuso na sua adolescência. Não basta a simples impo-
sição da condenação, é necessário um acompanhamento contínuo,
voltado à reabilitação deste agressor, com uma equipe multidis-
ciplinar, composta por psicólogos, assistentes sociais e assistentes
jurídicos (LORENCENA; WALTRICH, 2016, p. 2-3).

De qualquer modo, a preocupação principal do conselheiro cristão e do cape-


lão cristão é cuidar daquele que está sendo agredido e oprimido. No caso das
mulheres, muitas delas buscam compreender a relação de violência que sofrem
através da religião:


Querem entender o porquê de seu sofrimento e de sua permanên-
cia na relação violenta. Buscam na religião respostas para a trans-
formação do companheiro, que antes jurou amá-la e respeitá-la,
mas que agora a agride violenta e sistematicamente. Essa busca de
compreensão pode se dar, frequentemente, através da oração, do
diálogo com Deus. Muitas vezes, essa busca – ou até mesmo al-
gum aconselhamento religioso – as direcionam para a história da
crucificação de Jesus. Cria-se uma espécie de conformação com a
situação de violência através do sofrimento de Jesus, pois este é o
maior sofrimento existente (KROB, 2014, p. 210).

184
UNICESUMAR

O risco é quando a religião acaba validando as ações do agressor. Uma das prin-
cipais crises para as mulheres cristãs que frequentam alguma igreja evangélica,
tem a ver com o medo de elas estarem em pecado simplesmente ao pensarem
na possibilidade de se separar do companheiro agressor. Muitas vezes esse senti-
mento é reforçado por um posicionamento de lideranças evangélicas que retiram
textos bíblicos de seus contextos, como pretexto para suas opiniões.
Nos evangelhos, vemos duas narrativas sinóticas em Mateus 19.1-12 e em
Marcos 10.1-12. Dependendo da tradução que se lê, a pergunta gira em torno
da ação repudiar/divorciar: “É permitido ao homem repudiar a sua mulher por
qualquer motivo?” (Mateus 19.3; Marcos 10.2). A pergunta feita a Jesus pelos
fariseus, revelava muito mais do que uma simples curiosidade da lei.
Na cabeça dos fariseus - o sexo forte, o homem, a imagem de Deus - tem o
direito de exercer o seu poder sobre tudo: a terra, os animais, os outros e, prin-
cipalmente, sobre a mulher. Para os fariseus, quem não é homem está abaixo do
gênero masculino e, por isso, é considerado como alguém inferior, uma coisa, um
produto, que serve para servir, que serve apenas para ser consumido.
Jesus conhecia as intenções humanas. Ele sabia o que se passava no coração
dos homens, das mulheres e das crianças. Ninguém conseguia se esconder dele.
Até hoje é assim. A resposta de Jesus é imediata, citando a Lei: “No princípio, o
Criador, os fez homem e mulher, e os dois se tornarão uma só carne” (Gênesis
2.24). A ênfase de Jesus está neste fato: “o que Deus uniu, ninguém separe”. Para
Jesus não há pessoas melhores do que outras. O mundo não está dividido entre
santos e pecadores, como bem gostavam de enfatizar os fariseus. O mundo é feito
de pessoas – gente que foi criada à imagem e semelhança de Deus! O Criador os
fez homem e mulher: diferenças que se complementam! Não se dando por satis-
feitos, os fariseus perguntam: “Então, por que Moisés mandou dar uma Certidão
de Divórcio à mulher e mandá-la embora?” (Mateus 19.7; Marcos 10.4) Mais uma
vez, Jesus os deixou desconcertados: “Moisés permitiu que vocês se divorciassem
de suas mulheres, por causa da dureza do coração de vocês. Mas não foi assim
desde o princípio” (Mateus 19.8; Marcos 10.5-6).
Divórcio é um dos temas mais espinhosos pelo fato de que o pensamento
evangélico acerca do divórcio ser profundamente influenciado por ideias que
nem sempre são bíblicas, mas essencialmente moralistas. Muitos casais que passa-
ram por divórcio, foram excluídos, sendo considerados pessoas de segunda classe,
gente que não conseguiu cumprir com a sacralidade do matrimônio. Muitas atro-

185
UNIDADE 5

cidades foram cometidas contra as mulheres, em nome dessa posição “superior”


do homem. Esse pecado permanece ainda hoje! Na história da humanidade, há
inúmeros relatos de mulheres sendo maltratadas e humilhadas, com a aprovação
deste tipo de pensamento de superioridade do homem.
Por exemplo, para os judeus, a mulher era obrigada a chamar o seu marido de
“amo” ou “senhor”, termos que um escravo dava ao seu senhor, ou um súdito ao seu
rei. Além disso,“as mulheres eram contadas como posses, coisas que pertenciam ao
seu marido, assim como a casa, o campo, os escravos, e os animais” (VAUX, 2004,
p. 62). Na Torah, existia um mandamento claro sobre a separação de um casal: “Se
um homem se casar com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar
nela algo que ele reprova, dará Certidão de Divórcio à mulher e a mandará embora”
(Deuteronômio 24.1). A ênfase da pergunta dos fariseus, recaía sobre a expressão
neste mandamento da Lei: “encontrar nela algo que ele reprova”. Perceba a sutileza
da má-intenção: a possibilidade de separação do casal se baseava no fato do marido
encontrar algo que reprovava em sua esposa, então, o que poderia ser definido como
“algo que o marido reprova”? Toda a pressão estava sobre as mulheres!
Jesus respondeu sem titubear: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os
fez homem e mulher e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá
à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne? Assim, eles já não são dois, mas
sim, uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe” (Mateus 19.4-7). A
pergunta dos fariseus estava baseada na Torah, por isso, a resposta de Jesus também
se baseou nela. A sua resposta era uma citação direta de Gênesis 1.17 e 2.24.

186
UNICESUMAR

Dentro do farisaísmo, existiam duas escolas clássicas de interpretação da Lei:


a Escola de Hillel e a Escola de Shammai. Havia diferenças na interpretação
desse texto da Lei: A Escola de Shammai ensinava que “um homem não podia
repudiar a sua esposa, a menos que tivesse descoberto nela, falta de castidade
ou traição” (MULHOLLAND, 2011, p. 154). Para a Escola de Hillel, um homem
podia repudiar a sua esposa,“até mesmo se ela queimasse sua comida, ou se falasse
tão alto em sua própria casa, a ponto dos vizinhos a ouvirem” (HENDRIKSEN,
2003, p. 477). Dependendo da resposta de Jesus, ele “agradaria” os discípulos de
Shammai, ou os discípulos de Hillel. Se Jesus respondesse de acordo com a Escola
de Shammai, que por motivo de traição da esposa, o homem poderia repudiá-la,
os fariseus poderiam acusar Jesus de ser hipócrita, pois ele sempre demonstrou
Graça para com os pecadores. Mas se Jesus respondesse de acordo com a Escola
de Hillel, de que qualquer motivo seria razão para o repúdio da esposa, os rígidos
fariseus lhe acusariam de ser um liberal (HENDRIKSEN, 2003).
A regra comum do casamento naquela época, era totalmente baseada na
pretensa superioridade do homem diante da mulher. A pergunta que os fariseus
fizeram a Jesus deixava isto muito claro: “É permitido ao homem repudiar a sua
mulher por qualquer motivo?” (Mateus 19.3). Embora o casamento se baseasse
na tal “superioridade” masculina, a Torah previa um dispositivo de proteção às
mulheres, como vimos: “Se um homem se casar com uma mulher e depois não a
quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará Certidão de Divórcio
à mulher e a mandará embora” (Deuteronômio 24.1).
A opção de separação no casamento, pertencia apenas ao homem e não à mu-
lher, afinal, ela era apenas mais uma propriedade dele; para se tornar sua esposa,
ele precisou comprá-la como qualquer mercadoria. A formalidade do repúdio era
simples, “bastando ao marido realizar uma afirmação solene contrária ao dia do
casamento: ‘Ela já não é minha esposa e eu já não sou seu marido’, e redigir um
documento de repúdio, chamado Certidão de Divórcio (JEREMIAS, 2010 p. 486).
De acordo com o texto de Deuteronômio 24.1-4, o homem deveria escrever uma
Certidão de Divórcio e mandar embora (repudiar) a sua esposa, mas a esposa não
poderia fazer o mesmo (VAUX, 2004). O texto da Torah que rege a separação de um
casal, não ficou restrito apenas ao primeiro versículo. Ele continua: “Se, depois de
sair de casa, ela se tornar mulher de outro homem, e este não gostar mais dela, lhe
dará Certidão de Divórcio, e a mandará embora. Ou se o segundo marido morrer, o
primeiro, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que ela

187
UNIDADE 5

foi contaminada. Seria detestável para o Senhor. Não tragam pecado sobre a terra
que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança” (Deuteronômio 24.2-4).
Repudiar, não significava divórcio, mas abandono! Se um homem repudiasse
a sua esposa, sem lhe dar a Certidão de Divórcio para continuar a sua vida, quem
se oporia? A mulher repudiada?
Pois Jesus se opôs! Citando a importância do cuidado com as mulheres re-
pudiadas, ele afirmou: “É mais fácil o céu e a terra desaparecerem do que cair da
Lei o menor traço. Quem repudiar a sua mulher e se casar com outra mulher
estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher repudiada
pelo seu marido estará cometendo adultério” (Lucas 16.17-18). Jesus condenou a
maldade desses homens em despedir, repudiar uma mulher que quase não teria
chances de sobreviver! Ele fazia coro com os profetas: “Eu odeio o repúdio, diz
o Senhor, o Deus de Israel, e o homem que se cobre de violência como se cobre
de roupas”, diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam
infiéis” (Malaquias 2.16). O fato é que Deus odeia o repúdio, pois mandar a mu-
lher embora sem o resguardo e proteção de uma Certidão de Divórcio é ser infiel
contra o próprio Deus! Jesus usou onze vezes a palavra repúdio e em todas elas,
ele proibiu essa atitude. Jesus nunca proibiu a Certidão de Divórcio, requerida
pela Lei. Tanto isso é verdade que, em lugar algum nos Evangelhos, lemos alguma
afirmação de Jesus nestes termos: “Se o homem conceder Certidão de Divórcio à
sua mulher, ambos cometerão adultério”. A Certidão de Divórcio era vista como
dos males, o menor, pois era uma forma de proteger a mulher repudiada.
“A Certidão de Divórcio deixava a mulher livre” (VAUX, 2004, p. 62) para re-
construir a sua vida, possibilitando inclusive, a condição de casar-se novamente!
Isso mesmo! A Torah entendia que a Certidão de Divórcio era uma forma de
preservar a dignidade da mulher – depois do primeiro casamento dissolvido, ela
poderia casar novamente. Isso é confirmado na história dos judeus:


Aquele que por qualquer motivo quiser separar-se da mulher, como
acontece frequentemente, prometer-lhe-á por escrito que jamais a
tornará a pedir de volta, a fim de que ela tenha liberdade de tornar a
casar-se – e não se permitirá o divórcio senão com essa condição. E
se depois de haver casado com outro, esse segundo marido a tratar
mal ou vier a morrer e o primeiro a quiser receber de novo, não lhe
será permitido voltar para junto dele (JOSEFO, 1990, p. 225).

188
UNICESUMAR

Jesus respondeu de uma forma a não deixar dúvidas aos seus questionadores. A
pergunta era se, por “qualquer razão”, o homem poderia repudiar a sua mulher. “A
resposta de Jesus foi que, por “algum motivo”, sim, é possível o homem se separar de
sua mulher, mas por “qualquer motivo”, não, ele não pode se separar da sua mulher”
(TASKER, 2011, p. 143). Contudo, mais do que isso, Jesus fez questão de enfatizar
que o marido deveria pensar duas vezes antes de dar a Certidão de Divórcio à sua
esposa, pois ela poderia se tornar esposa de outro homem e, por isso, não poderia
voltar a ser esposa dele, mesmo que fosse repudiada por seu novo marido, ou ele
morresse. O contexto bíblico do divórcio, significa proteger a mulher desamparada.
Uma mulher que sofre algum tipo de violência doméstica: psicológica, física,
sexual, patrimonial ou moral, não pode passar por mais violência emocional, a
partir de uma opressão em sua fé. Ela precisa ser orientada a lidar com a questão,
de modo a proteger a si mesma e aos seus filhos:


À essas mulheres, apenas falta o reconhecimento de que têm capacidade
para tal. Deus nos cuida com amor e nos estimula a fazer uso deste poder
interior, nos abrindo portas para entendermos quem somos e o quanto
somos importantes no mundo: “Posso enfrentar qualquer coisa com a força
que Cristo me dá”. No entanto, é fundamental entender que crer somente
em Deus não é o suficiente. É preciso confiar que Deus também crê em nós.
As mulheres que passam por situações de violência, geralmente, têm uma
autoestima tão prejudicada que demoram a perceber sua própria força.
Aos poucos, podem recuperar a dignidade humana que lhes foi roubada,
descobrindo-se como mulheres criadas por Deus para a felicidade, a soli-
dariedade e a vida plena. E então, estarão livres para cultivarem, antes de
mais nada, o amor próprio (KROB, 2014, p. 215).

Isso significa que o conselheiro cristão e o capelão cristão, ao olharem para a mulher
que sofre violência doméstica devem denunciar a agressão sofrida, pois além de pe-
cado, é crime, e orientar a mulher a procurar ajuda adequada, junto a organizações de
apoio a mulheres. Mais do que isso. A própria igreja pode ser um ambiente de prote-
ção, para que as mulheres da comunidade no entorno, não passem por isso sozinhas.
Do ponto de vista do agressor, o conselheiro cristão e o capelão cristão tam-
bém podem atuar de maneira positiva, auxiliando na transformação da mentali-
dade influenciada pelo pecado que faz os homens acreditarem serem superiores
às mulheres e tomarem consciência de que, em Cristo, é possível que eles sejam

189
UNIDADE 5

transformados pela ação sobrenatural do Espírito Santo. Para isso, é imprescin-


dível que o tema de “masculinidade tóxica” seja conversado nas igrejas, para que
uma masculinidade saudável seja construída também, comunitariamente. Espe-
cialistas defendem que a principal política de prevenção à violência doméstica é
o investimento em educação, com a inclusão de debates sobre as desigualdades
nos currículos escolares. Isso provocaria nas próximas gerações a desconstrução
dos estereótipos tão presentes na sociedade brasileira (MADUREIRA, 2014).
Outro ponto importante no aconselhamento cristão tem a ver com as perdas,
as quais todos nós estamos sujeitos durante a nossa vida. Este é o sentimento de
luto. De acordo com a Vandenbos (2010, p. 568), o luto é


o processo de sentir ou expressar tristeza após a morte de um ente
querido, ou o período durante o qual isto ocorre. Ele envolve tipi-
camente sentimentos de apatia e abatimento, perda de interesse no
mundo exterior, e diminuição na atividade e iniciativa. Essas reações
são semelhantes à depressão, mas são menos persistentes e não são
consideradas patológicas.

190
UNICESUMAR

Embora o processo de luto seja diferente de pessoa para pessoa, existem expe-
riências semelhantes envolvidas em todos os processos normais de luto, incluindo
luto pela perda, reajuste após a perda e reorganização da vida. Kübler-Ross (2017)
desenvolveu os conhecidos cinco estágios do luto: negação, raiva, barganha, de-
pressão e aceitação - cada um ocorrendo em sua própria ordem, possivelmente
mais de uma vez, e sem tempo definido (CLINTON et al., 2005). Mas o que acon-
tece quando o processo normal de luto é prolongado, interrompido, ou ausente
desde o início? O luto normal pode facilmente se tornar um luto anormal, que
tem muitas formas, causas, problemas e resoluções; e com técnicas apropriadas e
adequadas de aconselhamento cristão, pode ajudar o aconselhando a voltar para
o caminho que muitos percorrem no processo normal de luto.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Sobre a morte e o morrer


Autor: Elizabeth Küler-Ross
Editora: Martins Fontes
Sinopse: esta obra e se torno m cl ssico, ela e plora pela pri-
meira e os cinco est ios sobre a morte ne a ão e isolamento, rai a, bar-
ganha, depressão e aceitação. Através de trechos de entrevistas e conversas,
a autora proporciona ao leitor um melhor entendimento de como a morte
iminente a eta o paciente, o profissional en ol ido e a am lia do paciente
Elisabeth Kübler-Ross descreve as experiências de pacientes terminais, suas
agonias e frustrações, numa tentativa de encorajar as pessoas a não se afas-
tar dos doentes condenados, mas, antes, apro imar se deles e a d los em
seus últimos momentos.

Além do luto considerado “normal”, ou seja, aquele que é vivenciado em seus


cinco estágios, há também os lutos “complicados”. O luto complicado é um termo
tanto no singular quanto no plural para respostas de luto, às vezes usado para
abranger certas formas de luto consideradas anormais. Pesquisadores cristãos
do luto complicado, principalmente Rando (1993) e Burke e Neimeyer (2013)
identificam uma lista de fatores complicadores que incluem morte traumática,
doença mental, morte de uma criança, morte inaceitável e falta de apoio social. A
psicóloga clínica e tanatóloga Therese Rando (1993) define luto complicado como
“Um termo genérico que indica que, dado o tempo decorrido desde a morte, há

191
UNIDADE 5

algum comprometimento, distorção ou falha de um ou mais dos processos de


luto” (RANDO, 1993, p. 12). Da mesma forma, o professor de psicologia de Har-
vard, William Worden (2001) define o luto complicado como “a intensificação do
luto ao nível em que a pessoa está sobrecarregada, recorre a um comportamento
desadaptativo ou permanece interminavelmente no estado de luto sem progres-
são do processo de luto até a conclusão’’ (WORDEN, 2001, p. 89). O luto ausente,
por exemplo, é uma forma de luto complicado, onde poucos, ou nenhum sinal, são
mostrados em relação ao luto ou à morte a que está relacionado. Isso geralmente
é causado pela negação ou evitação em relação à própria perda. Outra forma de
luto complicado, é o luto antecipatório, que é quando o enlutado se depara com o
conhecimento da morte iminente de um ente querido - geralmente dentro de um
curto período de tempo - e às vezes pode afetar negativamente o relacionamento
com a pessoa que está morrendo por retraimento e evitação.
Worden (2001, p. 27) identifica quatro tarefas específicas no processo de luto
“normal”:

1. Aceitar a realidade da perda.


2. Trabalhar com a dor do luto.
3. Ajustar-se a um ambiente em que o falecido está desaparecido.
4. Realocar emocionalmente o falecido e seguir em frente com a vida.

Quando essas tarefas não podem ser navegadas com sucesso, o luto pode se tornar
complicado, expresso nas seguintes respostas:

■ Luto prolongado – A pessoa está ciente de que o luto não está se resol-
vendo após muitos meses ou anos desde o evento da perda.
■ Luto retardado – As emoções da pessoa são frustradas, mesmo que pos-
sam ter tido uma resposta emocional no momento da perda.
■ Luto exagerado – Caracterizado por ansiedade excessiva, depressão ou
raiva que podem prejudicar o funcionamento normal da pessoa.
■ Sintomas somáticos ou comportamentais - A pessoa está experimentando
sintomas físicos ou problemas comportamentais sem estar ciente de que o luto
não resolvido pode estar no centro do problema (WORDEN 2001, p. 101).

192
UNICESUMAR

Terri Daniel (2019) é capelã clínica inter-religiosa, profissional de trauma clínico


certificado e educadora de fim de vida, certificado em morte e luto pela Asso-
ciation of Death Education and Counseling nos EUA. Também é bacharel em
Estudos Religiosos pela Marylhurst University, mestre em Cuidados Pastorais
pela Fordham University e mestre em Cuidados Pastorais e Aconselhamento pelo
San Francisco Theological Seminary. Ela realizou um estudo sobre a Teologia
Tóxica como fator contribuinte no luto complicado, identificando como certas
mentalidades teológicas podem perturbar o bem-estar psicológico e, em alguns
casos, levar a lutos complicados, depressão e até doenças. Ela denominou essas
mentalidades teológicas perturbadoras, de “teologias tóxicas”. Neste estudo, ela
descreveu a seguinte cena verídica:


Em outubro de 2015, uma equipe de reportagem de televisão co-
briu a história de um menino de 10 anos chamado Kyler Bradley,
que foi diagnosticado com câncer no cérebro inoperável. A equipe
filmou Kyler em sua sala de aula cercado por seus amigos, que foram
instruídos pelo professor a “orar por um milagre”. As palavras exa-
tas do repórter no segmento de notícias foram: ‘‘Kyler acredita em
milagres. Assim como seus colegas de classe. A professora plantou
essa ideia quando contou a 30 crianças de 10 anos sobre o câncer de
Kyler”. Kyler morreu seis meses depois e, quando compartilhei essa
história com os educadores e conselheiros da minha rede profissio-
nal, houve uma discussão apaixonada sobre a escolha inadequada
da professora de usar a oração como estratégia de enfrentamento
para seus alunos. Nós nos perguntamos como os pais dessas crian-
ças lidaram com a pergunta inevitável: “Por que Deus não ouviu?”
(DANIEL, 2019, p. 197-199).

Esta é uma tensão existente entre a fé e a vida. Como cristãos, cremos no poder de
Deus para curar os doentes e ressuscitar os mortos. Por outro lado, cremos tam-
bém na soberania de Deus, que permanece no controle das situações que fogem
ao nosso controle. O problema não é que Deus não escute as nossas orações, mas
é que nós não conseguimos compreender os caminhos de Deus:

193
UNIDADE 5


“Porque os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, e os
caminhos de vocês não são os meus caminhos”, diz o Senhor.“Porque,
assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus cami-
nhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos
são mais altos do que os pensamentos de vocês (Isaías 55.8-9).

As crianças que oraram pela recuperação de Kyler, não apenas tiveram que chorar
a perda de seu amigo, mas também foram forçadas (pela insistência da professora
na oração) a lidar com questões teológicas complexas e uma crise de fé. Schipani
(2017 apud DANIEL, 2019, p. 199) aponta que muitas das crenças religiosas
tóxicas que reconhecemos hoje estão enraizadas nas tradições de fé abraâmica e
identifica algumas de suas principais características:

■ Eles incluem formas de violência emocional, espiritual, moral e às vezes


física ou sexual e abuso de poder.
■ Eles comprometem a saúde emocional/mental e estão ligados à disfunção
mental/emocional.
■ Eles existem em um espectro de intensidade que varia de insalubre e
prejudicial a letal.

Embora as crianças na sala de aula de Kyler não estivessem sendo abusadas


emocionalmente, e sua experiência com orações não respondidas não levasse
necessariamente a uma disfunção mental, a abordagem da professora certamente
poderia caracterizar o lado “insalubre” do espectro indicado por Schipani, “elas
foram encorajadas a ver Deus como um todo-poderoso que concede desejos e
que poderia ser influenciado pelas suas orações” (DANIEL, 2019, p. 199).
Como essas crianças lidaram com a destruição da sua fé, dependerá de como
as suas perguntas foram respondidas por suas famílias: “se, por exemplo, se dis-
sesse a uma das crianças que a doença de Kyler era um castigo pelo pecado, ou
que Kyler não foi para o céu porque não foi batizado, as sementes da teologia
tóxica seriam plantadas firmemente no solo fértil de uma experiência de luto
na infância” (DANIEL, 2019, p. 199). Como os estudiosos cristãos Maxwell e
Perrine (2016) descreveram em sua análise no estudo “The Problem of God in
the Presence of Grief” (O Problema de Deus na Presença da Dor): “O perigo de
abordar o luto com teologia é que ele pode inevitavelmente reduzir um fenômeno
complexo e muitas vezes desconcertante a uma ideologia constrangedora que

194
UNICESUMAR

pode até resultar na imposição de dano ao invés de alívio. A ajuda de Deus para
o luto não é, portanto, sentida de maneira uniforme” (MAXWELL; PERRINE,
2016, p. 179). Aqui se encaixa o conceito de “teologia tóxica” ao qual se refere
Daniel (2019). Este conceito foi baseado no conceito de “religião tóxica” de Mor-
row (1998), como “qualquer sistema no qual experiências e respostas humanas
legítimas são envergonhadas por instituições e sistemas religiosos” (MORROW,
1998, p. 266). A quebra emocional pode surgir quando a percepção de uma pessoa
das crenças e comportamentos exigidos por sua religião estão em conflito com a
experiência real da pessoa, fazendo-a se sentir envergonhada e diminuída, pois
a sua vida não condiz com o que ela diz crer.
A teologia é tóxica quando limita a experiência espiritual à mera aceitação
de crenças e doutrinas. As principais características da teologia tóxica incluem:

■ Uma hierarquia de poder autoritária que exige obediência.


■ Políticas de separatismo.
■ Acesso restrito a fontes externas de informação.
■ Uma realidade baseada em ameaças (inferno, punição divina, fim dos
tempos catastrófico).
■ Técnicas psicológicas de controle da mente que encorajam o isolamento.

Daniel (2019, p. 200) identifica que a teologia tóxica inclui esses recursos:

■ Os seguidores são presos a um sistema rígido e estático de crenças.


■ Desencorajamento para questionar e explorar.
■ As pessoas de fora são vistas com suspeita ou desdém.
■ O pluralismo religioso é inaceitável.
■ Os textos bíblicos são interpretados literalmente.
■ Deus é visto como uma figura paterna autoritária.
■ Uma crença de que Deus recompensa a piedade e a fidelidade.
■ Comportamentos/crenças que não estão de acordo com doutrinas estritas
são punidos por Deus.
■ Desastres naturais, epidemias e tragédias comunitárias são maldições de Deus.

Por outro lado, quando há a utilização de uma teologia bíblica saudável para o
aconselhamento cristão e a capelania cristã, em especial no acompanhamento do

195
UNIDADE 5

enlutado, os resultados podem ser incrivelmente positivos. Estudos


como os de Dyer e Hagedorn (2013) mostraram que a integração de
espiritualidade e fé no aconselhamento do luto e na própria resposta
ao luto contribuiu para aconselhandos mais felizes e mais capazes de
lidar com os eventos que causaram o luto, além de fazer com que te-
nham uma visão mais positiva, visão da vida em geral, do que clientes
que não têm uma fé integrada ou individual. Uma das razões para
isso, pode ser porque estamos vivendo em um momento histórico,
no qual a espiritualidade já não é encarada como algo tóxico, mas
benéfico. Basta se debruçar sobre as inúmeras pesquisas relativas
aos benefícios da oração, da participação em cultos entre outros. Por
causa do impacto que o luto tem nos seres humanos física, mental,
emocional, relacional e espiritualmente, o aconselhamento cristão
pode ser muito benéfico, porque as pessoas instintivamente procu-
ram um poder superior em momentos de grande pressão (DYER;
HAGEDORN, 2013).
Uma das grandes ajudas à pessoa em sua dor é a profunda com-
preensão do conselheiro cristão das implicações teológicas da con-
dição humana de quebrantamento e separação de Deus, e a com-
preensão e disposição de cumprir a Grande Comissão e caminhar
ao lado dos aconselhandos em sua dor: “A pessoa poderá ser crente
ou não, mas em todo caso, estaremos tratando com uma pessoa que,
por mais indigna que seja por causa do pecado, tem a dignidade
que lhe confere o porte de imagem de Deus” (GOMES, 2014 p. 137).
Dessa forma, as pessoas enlutadas podem ser consoladas pelo fato
de estarem sendo acompanhadas por um Deus misericordioso e
amoroso que também conheceu a dor, pela morte e ressurreição de
Seu Filho, Jesus Cristo; e que por causa desse sacrifício, elas têm ga-
rantida a promessa de vida eterna com seus entes queridos após esta
vida. Elas também podem ser consoladas pelo fato de que o próprio
conselheiro enfrentou adversidades e sofrimento semelhantes em
sua vida, e que, embora esse sofrimento ou trauma possa ser dife-
rente do seu, ele faz parte de toda vida humana e, na verdade, ajuda
a qualificar o conselheiro por sua posição de confortar os outros
como eles mesmos foram consolados por Deus (2 Coríntios 1.3-5).

196
UNICESUMAR

A Bíblia está repleta de relatos sobre a morte e o luto de pessoas. No Antigo Tes-
tamento, por exemplo, lemos sobre Jacó chorando a perda de José e se recusando
a ser consolado (Gênesis 37.35), Davi lamentando a perda prematura do filho
recém-nascido (2 Samuel 12.15-23) e a morte de Absalão durante uma batalha
(2 Samuel 18.33), e Jeremias pranteando a morte do rei Josias (2 Reis 23.28-30).
No Novo Testamento, as muitas passagens sobre a morte e o luto podem ser
agrupadas em duas categorias, nas quais Cristo está relacionado:


1. Cristo deu outro sentido ao luto. Há muitos incrédulos que cho-
ram sem ter nenhuma esperança no futuro. Para eles, a morte é o fim
de um relacionamento — para sempre. Os cristãos não creem assim.
As duas passagens que falam mais claramente sobre esse assunto no
Novo Testamento, nos dão motivo para ter esperança até mesmo
nos momentos de dor. “Pois, se cremos que Jesus morreu e ressus-
citou, assim também Deus, mediante Jesus, trará juntamente em sua
companhia os que dormem”. Podemos confortar e animar uns aos
outros com essas palavras, convencidos de que, no futuro,“os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. [...] E,
quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o
que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra
que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.”’ Para o cristão,
a morte não é o fim da existência; ela é o começo da vida eterna.
Aquele que crê em Cristo sabe que os cristãos sempre estarão com

197
UNIDADE 5

o Senhor. A morte física vai continuar existindo enquanto o diabo


tiver permissão de exercer poder sobre a morte, mas, através da cru-
cificação e da ressurreição, Cristo derrotou a morte e prometeu que
todo o que vive e crê nele “não morrerá, eternamente”. Saber disso
é algo confortador, mas não acaba com a profunda dor da perda e
com a necessidade de consolo. Numa discussão a respeito da morte,
Paulo estimulou seus leitores a terem coragem e não desanimarem,
pois o crente que perde o corpo vai para a presença do Senhor. Nós,
cristãos, somos incentivados a permanecer firmes, “inabaláveis”, en-
tregando-nos à obra do Senhor, pois sabemos que este trabalho “não
é vão”, aguardando com confiança a nossa ressurreição.

2. Cristo demonstrou a importância do luto. Logo no início de seu


ministério, Jesus pregou o Sermão do Monte e falou sobre o sofri-
mento. “Bem aventurados os que choram” - disse ele - “porque serão
consolados”. Quando Lázaro morreu, Jesus ficou abalado e profun-
damente comovido. Ele aceitou sem comentários a visível irritação
de Maria, irmã de Lázaro, e chorou com os que o pranteavam. Jesus
sabia que Lázaro estava para ser ressuscitado dentre os mortos, mas
ainda assim o Senhor sofreu. Ele também se retirou (provavelmente
para chorar) quando soube que João Batista havia sido executado.
No jardim do Getsêmani, Jesus estava “profundamente triste”, talvez
sofrendo por antecipação uma dor mais intensa, porém semelhan-
te àquela que Davi sentiu vendo seu filhinho morrer. Portanto, até
mesmo para o cristão o sentimento de luto é normal e saudável. Há
casos, porém, em que pode se tornar patológico e nocivo. Como
veremos adiante, essa diferença interessa particularmente ao con-
selheiro cristão (COLLINS, 2011, p. 401-402).

Collins (2011, p. 415) pede para que o conselheiro cristão esteja atento ao enluta-
do e a alguns dos comportamentos a seguir, sendo que poucos ou nenhum deles
eram visíveis antes do falecimento do ente querido.

■ Relutância em falar sobre o morto, acompanhada de grande tristeza sem-


pre que o nome do falecido é mencionado.

198
UNICESUMAR

■ Tendência de falar do morto usando o tempo presente (por exemplo, “Ele


não aprova o que estou fazendo”).
■ Ameaças claras ou sutis de autodestruição.
■ Depressão profunda e persistente, muitas vezes acompanhada de culpa
e baixa autoestima.
■ Comportamento antissocial.
■ Hostilidade extrema, mau humor ou culpa.
■ Consumo excessivo de álcool ou uso de drogas.
■ Retraimento e recusa em se relacionar com outras pessoas.
■ Impulsividade.
■ Doença psicossomática persistente.
■ Veneração de objetos que lembram a pessoa falecida e o vínculo que havia
entre ela e o enlutado.
■ Recusa em alterar a arrumação do quarto da pessoa falecida ou em se
desfazer de seus pertences.
■ Oposição às sugestões de procurar um aconselhamento ou outras formas
de ajuda.
■ Recusa estóica de demonstrar emoção ou de parecer afetada pela morte
(isto geralmente indica negação do luto e fuga à realidade).
■ Atitude alegre, quase eufórica (às vezes explicada como “regozijo no Se-
nhor”).
■ Excesso de ocupações e hiperatividade incomum.

Outra questão comumente observada, especificamente no aconselhamento cris-


tão, é que muitos conselheiros, geralmente, carecem de treinamento suficiente
em métodos clínicos, especialmente métodos para aconselhamento de luto. Uma
orientação e compreensão bíblica ao longo da vida é obviamente inestimável para
o conselheiro cristão, e uma das melhores ferramentas que um conselheiro pode
utilizar é receber uma educação contínua adequada e atual nas muitas formas
de experiências de aconselhamento das quais eles podem fazer parte, bem como
outros temas e questões que poderiam ajudá-los a se relacionar com os aconse-
lhandos em um nível mais profundo.

199
UNIDADE 5

NOVAS DESCOBERTAS

Desde o ano de 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em


parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organizam nacio-
nalmente o etembro marelo dia de setembro , oficialmen-
te, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece
durante todo o ano, com especial ênfase no mês de setembro. No
Brasil, são registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos e mais
de 1 milhão de suicídios no mundo. Você pode acessar o site da cam-
panha Setembro Amarelo, para conhecer mais sobre esta iniciativa e
promover ações de conscientização em sua comunidade, através do
QR Code a seguir.

Conselheiros e capelães cristãos, que trabalham com pessoas enlutadas de todas


as idades e origens, acham a experiência bastante gratificante, delicadamente
terna e imensamente rica. Esse serviço é um privilégio e uma responsabilidade
(ABI-HASHEM, 1999). Ao ajudar e ministrar às necessidades dos enlutados, os
cuidadores estão realmente tocando as profundezas espirituais das pessoas como
se estivessem entrando em um jardim secreto ou pisando em solo sagrado. No
entanto, esse trabalho também pode ser desgastante e estressante para todas as
partes envolvidas. Os conselheiros geralmente assumem um risco constante ao
se exporem à dor dos outros, por isso, os cuidadores precisam praticar um bom
autocuidado, permanecer em contato uns com os outros para suporte contínuo,
comunicação aberta, expressão emocional, troca de ideias e aprendizado contí-
nuo. Caso contrário, o fardo de cuidar dos enlutados pode, às vezes, esgotar os
recursos internos dos conselheiros e “levar a entorpecimento emocional, des-
moralização e, finalmente, esgotamento. O estresse de tal cuidado também pode
resultar em tentativas mal-adaptativas de auto-calmante” (EXLINE et al., 1996,
p. 18) comportamentos, estilo de vida não saudável e eficácia diminuída como
ajudantes de pessoas. Assim, os conselheiros que lidam com o luto não precisam
perder a capacidade e a alegria de facilitar a resolução do luto, observar os efeitos
purificadores do luto e, virtualmente, contribuir para a recuperação emocional,
restauração da paz interior e crescimento pessoal das pessoas enlutadas.

200
UNICESUMAR

Dentro do aconselhamento cristão e da capelania cristã, uma forma de atuar no


aconselhamento familiar envolve a criação de cursos de finais de semana com a
possibilidade de desenvolvimento posterior de atendimento personalizado por
um tempo determinado, de acordo com as necessidades dos casais que procuram
ajuda. Por exemplo, pode ser oferecido um final de semana de aprimoramento de
comunicação não-violenta para casais. Durante o encontro podem ser apresenta-
dos alguns conceitos relacionados à dinâmica familiar, relacionados à criação de
filhos. Com essas pequenas inserções, o conselheiro ou capelão cristão pode desper-
tar a necessidade de casais, de tratarem questões em um atendimento personalizado.
Outra área de atuação, agora, voltada para o aconselhamento de pessoas en-
lutadas, envolve a criação de grupos de apoio para pessoas enlutadas. A parti-
cipação em um grupo de apoio, com pessoas que estão compartilhando dores
semelhantes e dificuldades parecidas, permite que o participante se abra melhor
ao processo, podendo, também, ser direcionado para uma ação de aconselha-
mento mais personalizada, permitindo uma melhor evolução.

201
Um dos processos mais importantes para o conselheiro cristão e o capelão cris-
tão é o autoconhecimento. Ser consciente de seus pensamentos, sentimentos e
emoções, é fundamental para que o trabalho do aconselhamento/capelania seja
realizado de maneira adequada.

O que você pensa e sente sobre a tarefa do


aconselhamento cristão para
pessoas enlutadas?

Como você se sente quando O que você vê na forma como se


ouve alguém falando para o costuma aconselhar as pessoas
enlutado: “Deus quis assim”? enlutadas nas igrejas?

O que você costuma


falar e fazer para pessoas enlutadas?

Quais você acha que são as necessidades das pessoas enlutadas que esperam conselhos?
UNIDADE 1

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213
UNIDADE 2

Primeiro Mapa Conceitual

As 3 semelhanças entre Aconselhamento Cristão e Capelania Cristã é que ambos


partem da Bíblia, da Poimênica e eles não são realizados somente por pastores voca-
cionados, mas por todos aqueles que possuem um chamado poimênico, evidenciado
no dom espiritual do cuidado com as pessoas.

ACONSELHAMENTO
QUESTÃO CAPELANIA CRISTÃ
CRISTÃO

Quem toma a Membro da igreja


iniciativa ou visitante Capelão

Acordo terapêutico
entre conselheiro Sim Não
e aconselhado

Contexto Vida comunitária Vida comunitária


na igreja fora da igreja

Duração do
Longa duração Curta duração
acompanhamento

Ênfase no Perspectiva bíblica Perspectiva bíblica,


acompanhamento e psicológica ética e moral

Ministra mudanças Ministra a presença


na vida da pessoa, de Deus na vida
a partir da da pessoa, a partir
perspectiva bíblica, da perspectiva
Ministração
podendo se utilizar bíblica, podendo
de perspectivas se utilizar de
psicológicas perspectivas
éticas e morais

214
Segundo Mapa Conceitual

ACONSELHAMENTO MODELO DE ACONSELHAMENTO


NOUTÉTICO GARY COLLINS HOLÍSTICO

Autor: Jay Edward Adams Autor: Gary Collins Autor: Howard J. Clinebell
Principais conceitos: Principais Conceitos: Principais conceitos:
Na confrontação a partir das A tarefa do conselheiro É baseado em libertação
Escrituras. Em outras palavras, o cristão está e crescimento.
aconselhando apresenta a sua profundamente ligado Diferentemente do que
dificuldade ao conselheiro, que ao seu objetivo como possa parecer, o modelo
deve confrontá-lo com o ensino discípulo de Jesus, de de aconselhamento de
claro da Bíblia, a respeito “levar o indivíduo a um Clinebell não está
daquela questão específica. relacionamento pessoal estabelecido em
com Jesus Cristo. princípios de cura e
Rejeitava qualquer tipo de
libertação do
integração do aconselhamento No modelo de Collins,
movimento de batalha
cristão com a ciências humanas, pode e deve haver um
espiritual.
para tratar da saúde emocional, diálogo e uma
não aceitando por exemplo, as aproximação entre O aconselhamento
contribuições da psicologia, da teologia e psicologia, pastoral tem como
psicanálise ou da psiquiatria. tendo sempre a Bíblia funções, estabelecer
como norte para o papéis curativo,
As doenças emocionais ocorrem
aconselhamento apoiador, orientador e
“por causa de seu
cristão. reconciliador na vida do
comportamento pecaminoso
aconselhando, a partir
não perdoado e inalterado” A igreja do Novo
do conselheiro, com o
(ADAMS, 1987, p. 13). Testamento era uma
propósito de conduzir as
comunidade
O modelo noutético é um tipo pessoas a descobrirem
terapêutica, atuando no
de aconselhamento, cujo os seus potenciais.
ensino, na
objetivo é orientar o
evangelização e no A ideia de ser humano é
aconselhando, para uma vida
discipulado. Por isso, fortemente influenciada
correta diante de Deus, a partir
todas as ações da igreja pela cosmovisão
da correção e da denúncia de
devem ter como foco, hebraica e do Antigo
qualquer padrão de
esta atuação Testamento, ou seja, o
comportamento que seja
terapêutica, a partir do ser humano não é
incoerente com a vida cristã.
cuidado mútuo. tratado como um ser
Para Adams, o aconselhamento dividido, mas integral,
O objetivo a ser
noutético pode ser realizado por como uma unidade de
alcançado no
todos os cristãos e não apenas dimensões, dentro de
aconselhamento, parte
os pastores, e pode ser uma visão holística, em
da observação e da
vivenciado como uma atividade uma visão comunitária.
escuta qualificada dos
normal da vida diária.
problemas e das O aconselhamento
A noutétese atua juntamente necessidades dos pastoral contribui para a
com a instrução e o ensino. A aconselhandos, porém, permanente renovação de
confrontação noutética parte sempre da vitalidade de uma igreja,
sempre do problema dependência da na mesma medida em
apresentado pelo aconselhando, direção do Espírito que as pessoas são
para tratar o pecado que é Santo. renovadas em seus
motivo do problema. relacionamentos e grupos.

215
UNIDADE 4

A razão humana não é capaz


de conhecer plenamente a Deus
Em Jesus há uma dupla revelação:
Ele revela o que Deus deseja que o
O conhecimento de Deus ser humano conheça sobre ele e
nos leva ao conhecimento revela também o tipo de ser
de nós mesmos humano que podemos vir a ser
nele

Como é possível obter autoconhecimento,


de acordo com a Teologia

As oito características da prática do


Aconselhamento Cristão

EVITAR ASSUMIR O LEMBRAR DA ATUAÇÃO


PAPEL DE SUPERIOR SOBRENATURAL DO
ESPÍRITO SANTO

O conselheiro é apenas um
ser humano sujeito à graça O aconselhamento é um
de Deus. dom dado por Deus.

CUIDADO COM A EVITE O JULGAMENTO


TRANSFERÊNCIA DO ACONSELHANDO

O conselheiro cristão é Para isso, é importante


chamado a estar sempre desenvolver a empatia.
atento aos seus sentimentos

ACEITE INCONDICIONALMENTE ATENÇÃO À LINGUAGEM


O ACONSELHANDO UTILIZADA

Aceitar a pessoa não significa concordar Não basta falar; é necessário


com os seus erros, mas estar presente saber ouvir e também o
para ajudar a pessoa. momento exato de falar.

MANTENHA A REFLITA JESUS PARA


CONFIDENCIALIDADE O ACONSELHANDO

A base da confiança entre


aconselhando e conselheiro, O desafio do conselheiro
é a capacidade do conselheiro cristão é conduzir as pessoas
em guardar segredos. a Cristo.

216

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