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Cristão
PROFESSOR
Me. Eugênio Soria de Anunciação
FICHA CATALOGRÁFICA
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ACONSELHAMENTO OS FUNDAMENTOS DO
CRISTÃO: MARCO ACONSELHAMENTO
PSICO-BÍBLICO- CRISTÃO E DA
TEOLÓGICO CAPELANIA CRISTÃ
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87 4 123
O PERFIL E TEOLOGIA E
O PAPEL DO PRÁTICAS EM
CONSELHEIRO ACONSELHAMENTO
CRISTÃO CRISTÃO
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TEMAS E
PROCEDIMENTOS EM
ACONSELHAMENTO E
CAPELANIA CRISTÃ
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Aconselhamento
Cristão: Marco
Psico-Bíblico-
Teológico
Me. Eugênio Soria de Anunciação
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UNICESUMAR
Está impresso em nosso DNA. Diante de situações de perigo, temos duas escolhas
a fazer: lutar ou fugir. Independentemente da escolha que fazemos, o que está
em jogo é o nosso senso de preservação. Todos nós, habitantes do planeta terra,
em pleno século XXI, temos a tendência de buscar sempre o caminho mais fácil
diante das dificuldades que precisamos enfrentar. Isto acontece, porque o cérebro
humano foi feito para buscar a autopreservação. Isso significa que, a todo custo,
o cérebro humano se preocupa em manter o seu corpo vivo.
O ser humano sempre viveu em sociedade e, em comunidade, aprendeu a
se comportar e a desenvolver novas habilidades. A partir de escavações arqueo-
lógicas e evidências históricas, é possível observar que as sociedades humanas
evoluíram de comunidades caçadoras-coletoras, para comunidades agrícolas,
há cerca de 12.000 anos, no que é denominado de “Revolução Agrícola”. Antes,
pequenos clãs precisavam migrar de um lugar para outro à procura de caça e
frutos, mas a partir da obtenção do conhecimento da plantação, houve o ajunta-
mento de pequenos clãs para o cultivo e a colheita de alimento, permitindo que
a humanidade desenvolvesse novas habilidades.
Nesses dois movimentos da humanidade, os seres humanos precisavam
lidar com os perigos imediatos, como o ataque de animais maiores e a invasão
de outros grupos de humanos, e a forma como reagiam a esses potenciais
perigos, era lutar ou fugir.
À medida que as comunidades humanas foram evoluindo, surgiram os vila-
rejos, as aldeias, as cidades fortificadas, os estados-cidade, povos, até chegarmos
ao moderno conceito de nação. Com esse longo processo de estruturação em
comunidades, os seres humanos foram desenvolvendo culturas e cosmovisões –
maneiras típicas de se enxergar e explicar o mundo ao redor.
“
Nossos hábitos alimentares, nossos conflitos (...) são todos conse-
quência do modo como nossa mente de caçadores-coletores intera-
ge com o ambiente pós-industrial de nossos dias, com megacidades,
aviões, telefones e computadores. Esse ambiente nos dá mais recur-
sos materiais e vida mais longa do que a desfrutada por qualquer
geração anterior, mas também nos faz sentir alienados, deprimidos
e pressionados (HARARI, 2017, p. 49).
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UNIDADE 1
Por mais absurdo que pareça, o nosso cérebro está a todo momento evitando a
nossa fadiga. Para ele, quanto menos nos cansarmos, viveremos por mais tempo.
Contudo, o caminho mais fácil nem sempre é o mais adequado.
Aquele homem, no gabinete pastoral, estava procurando o caminho mais fácil
diante das dificuldades do seu casamento. Pelo menos, era o que ele pensava – que
o real problema dele era o casamento, ou melhor, a sua esposa. Eu também estava
diante do dilema da escolha do caminho mais fácil: já que a separação era uma
decisão tomada por ele, seria mais fácil simplesmente colocá-lo em disciplina.
Aparentemente o problema estaria resolvido.
Em nossa cultura latina, damos muito mais valor as nossas sensações, do
que ao que pensamos. As pessoas mais emocionais são consideradas mais legais
e divertidas, enquanto as pessoas mais racionais são consideradas chatas e enfa-
donhas. Com isso, vemos muitas pessoas vivendo mais em busca de sensações e
experiências do que em busca de entender e significar a sua vida.
O desafio do aconselhamento cristão não é apresentar respostas e soluções às
pessoas. Boa parte da tarefa do aconselhamento cristão está em ajudar as pessoas
a fazerem as perguntas corretas e a encontrarem as respostas adequadas a essas
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UNICESUMAR
perguntas. E a primeira pergunta que abre o nosso entendimento para tudo aquilo
que Deus quer fazer em nossas vidas, a partir das dificuldades que enfrentamos,
é esta: “por que eu estou me sentindo assim, diante desta situação?”
A Drª. Rosana Alves é bem conhecida no meio cristão, por suas palestras e
ministrações em algumas igrejas pelo mundo, em especial no Brasil e nos Estados
Unidos, o que, talvez, poucas pessoas saibam, é que ela é PhD em neurociência.
Muito do que ela explica sobre as relações humanas, está construída sobre duas
bases: o conhecimento bíblico e o conhecimento científico.
NOVAS DESCOBERTAS
A partir do que lemos até aqui e do vídeo que você assistiu, use seu Diário de
Bordo e reflita sobre alguma experiência que você teve nesta semana, boa ou
ruim. Escolha uma emoção que surgiu em você, a partir desta experiência, e anote
as reações que você percebeu no seu corpo, como resultado do que aconteceu.
As emoções são um excelente indicativo do que se passa em nossos corações.
Estudiosos do comportamento humano identificaram que as emoções são os
processos bioquímicos que acontecem a partir do cérebro humano, em especial,
no chamado Sistema Límbico (também denominado de Cérebro Emocional).
Sentimentos são as emoções examinadas e elaboradas. Vamos conhecer um pou-
co sobre alguns conceitos importantes acerca das emoções humanas e, também,
olhar teologicamente para algumas influências que afetam as nossas emoções e
sentimentos. Volte para o seu Diário de Bordo e olhe novamente para a emoção
que você escolheu anteriormente. Observando as reações que você percebeu no
seu corpo, quais sentimentos você identifica que surgiram a partir da emoção
escolhida? Lembre-se, emoções são as reações que percebemos em nosso corpo a
partir de uma situação, e os sentimentos são as emoções examinadas e elaboradas.
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UNIDADE 1
DIÁRIO DE BORDO
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Descrição da Imagem: retrato de um homem de meia idade, parcialmente calvo, com roupas típicas do sé-
culo dezoito, com uma camisa branca, com a gola levantada, e uma espécie de lenço adornando a camisa,
como se fosse uma gravata. Sobre a camisa branca, ele veste o que parece ser um grosso casaco escuro.
Descrição da Imagem: retrato de um homem de meia idade, vestido com uma camisa branca, gravata
preta e sobre a camisa, um colete escuro abotoado e com um terno também escuro. O homem possui
um pouco de calvície, embora o cabelo que lhe resta esteja penteado para o lado, da esquerda para a
direita. Ele possui proeminentes costeletas que continuam ligadas à barca nas laterais do rosto, porém,
sem bigode ou cavanhaque. Ele está olhando parcialmente para a sua direita.
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UNIDADE 1
SIEGMUND RITTER
Descrição da Imagem: retrato de um homem de meia idade, um pouco calvo, com uma barba cerrada. Ele
está vestido com uma camisa branca, gravata escura e sobre a camisa um terno escuro. Ele está olhando
parcialmente para a sua direita.
SIGMUND FREUD -
Descrição da Imagem: retrato de um homem com barba e cabelos brancos, vestido com uma camisa
branca, gravata preta e sobre a camisa, um colete e terno escuros. No colete, há uma corrente de relógio
de bolso, indicando que há um relógio no bolso à direita. Com a mão direita, o homem segura um charuto,
e a mão esquerda está na cintura.
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“
antes do acidente, Gage era um trabalhador capaz e eficiente, com
uma forma de pensar equilibrada, sendo visto como um homem
astuto, inteligente e talentoso. Após o evento mórbido, tornou-se
indeciso, demonstrando indiferença, falsidade, deslealdade e deslei-
xo. Mostrava-se ainda impaciente e inábil para estabelecer qualquer
plano para o futuro” (BEER, 2011, p. 41-42).
PHINEAS GAGE
Descrição da Imagem: retrato de um jovem, sentado e segurando uma barra de ferro com a sua mão
esquerda. O jovem está trajando uma camisa branca com um colete escuro e um terno também escuro,
com os botões abertos, e no bolso esquerdo no terno há um lenço branco. A sua mão direita está sobre
a sua perna direita. O jovem está com o olho direito aberto e o esquerdo fechado, sendo este último
sequela do acidente.
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UNIDADE 1
PENSANDO JUNTOS
"A vida não examinada não vale a pena ser vivida" (Irvin Yalom)
Imagino que você se questione: o que todas essas informações, apresentadas até
aqui, têm a ver com o aconselhamento cristão? Continue firme na construção do
conhecimento. Todas essas informações servem como base para o conhecimento
que estamos adquirindo e ajudarão você para um aconselhamento cristão efetivo.
NOVAS DESCOBERTAS
Sugiro que você assista ao vídeo "O incrível caso de Phineas Cage",
acessando o Qr Code a seguir. Neste vídeo, os produtores do canal
"Neurociência Descomplicada" explicam sobre como Phineas P. Gage,
e se acidente de trabalho ficaram no centro de ma re ol ão ne -
rocient fica de entendimento do ncionamento do c rebro deo
interessante porque introduz, historicamente, a evolução da pesquisa
e do conhecimento do cérebro, e como este evento foi importante
para a compreensão da formação das emoções no cérebro.
As emoções são as reações do nosso corpo, diante dos estímulos que recebemos
do ambiente. Elas são processadas em nosso cérebro, e disparadas pelo nosso
corpo. Essa descoberta só foi possível, a partir de inúmeros estudos iniciados há
muito tempo. A partir das diversas descobertas, chegou-se à conclusão de que
as emoções humanas estão ligadas ao nosso cérebro, em especial ao conjunto de
estruturas do cérebro, chamadas de “Sistema Límbico”. Ele é o responsável pelo
gerenciamento dos processos emocionais, do controle motivacional, pelo apren-
dizado e pela memória, através de “conexões com diversos circuitos nervosos,
que, através de seus neurotransmissores, promovem respostas fisiológicas do
sistema nervoso somático e, também, à inervação do sistema nervoso visceral”
(ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al., 2008).
Embora, a nossa tendência seja classificar as emoções em “emoções boas”
e “emoções más”, os neurocientistas defendem a hipótese de que “as emoções
exercem funções mediadoras que contribuem para a sobrevivência e o bem-estar
do organismo” (LEDOUX, 2012, p. 654). No final das contas, uma das funções
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PENSANDO JUNTOS
Uma pessoa que não sabe gerir as suas emoções, é refém das próprias emoções.
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UNIDADE 1
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NOVAS DESCOBERTAS
“
A raiva é uma emoção crua, uma força poderosa e muito difícil
de conter. Para que ela apareça, basta que as coisas simplesmente
aconteçam de um modo diferente do que esperamos. Expressamos
raiva quando somos maltratados, quando sentimos que fomos enga-
nados, quando alguém nos ofende ou quando não toleramos algum
tipo de comportamento (FRAZZETTO, 2014, p. 15).
NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 1
Você já se perguntou por que as pessoas reagem de maneira tão agressiva nas
redes sociais? Por que somos tão inclinados às polarizações em nossas vidas?
A verdade é que as pessoas vivem as suas vidas, sem refletir sobre o porquê
de suas ações e reações. O nome ao qual a teologia cristã dá a esta realidade
deformada de relacionamentos, é “queda”.
A ideia de pecado, não é apenas fazer coisas ruins, mas viver a sua vida como
se Deus não existisse. Pecado fala de separação, de afastamento e de rebelião.
Uma das tristes consequências que o pecado produz é a alienação – o ser humano
desconectado de Deus, de si mesmo, dos outros seres humanos e da criação. A
partir da queda, a condição humana é de alienação existencial e essa alienação
é pecado. Os pecados que são cometidos pelas pessoas, são apenas expressões
dessa alienação: “não é a desobediência à lei que torna um ato pecaminoso, mas o
fato de ser uma expressão da alienação do ser humano com relação a Deus, com
relação aos seres humanos e com a relação a si mesmo” (TILLICH, 2005, p. 341).
O pecado causou o que a teologia cristã denomina de “efeitos noéticos do
pecado”, sobre o ser humano. O termo “noético”, “vem do grego noésis (latim: in-
tellectus) e se refere à capacidade intelectual ou racional do ser humano” (GOBRY,
2007, p. 95). Isso significa que a pessoa humana inteira foi afetada pelo pecado,
em todos os níveis da sua existência:
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UNIDADE 1
OLHAR CONCEITUAL
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PENSANDO JUNTOS
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UNIDADE 1
mano comete de erros a partir do seu corpo, a sua “Carne” é a forma de pensar
e viver a vida, completamente contrárias a Deus! O ser humano é teorreferente,
ou seja, ele é motivado por Deus: a favor ou contra ele.
“
Decaímos a um nível não só de perversão de conhecimento, mas
também de natureza; somos rebeldes contra Deus porque temos
culpa verdadeira, reversos quanto aos pensamentos porque muda-
mos a verdade em mentira, inversos quanto à teorreferência porque
queremos ser deuses de nós mesmos (GOMES, 2014, p. 24-25).
Para a teologia paulina: “O mal não é identificado com a matéria [corpo]. A ‘carne’
só se torna ‘má’, quando o homem consente em suas solicitações” (CERFAUX,
2003, p. 67). Rookmaaker (2018, p. 25), por exemplo, deixa muito claro, quando
escreveu: “toda ação humana flui do coração, onde escolhemos estar contra ou a
favor de Deus, contra ou a favor de Cristo”.
Principalmente na teologia paulina encontrada em Gálatas, vemos a distinção
que Paulo apresenta entre as “obras da Carne” e o “fruto do Espírito”. As obras
da “Carne” são pensamentos e atitudes realizadas no plural, simbolizando a singula-
ridade do nosso desespero em viver distante de Deus, enquanto o fruto do Espírito é
uma ação singular (o fruto do Espírito é Amor), com uma ação múltipla em nossas
vidas. As obras da Carne indicam um contraponto entre “Carne” e “Espírito”, um
comportamento no qual havia “uma mera repetição de hábitos, de satisfação de
desejos, de uma vida impulsiva e instintiva, ou seja, uma vida desordenada” (SILVA,
2016, p. 143). A primeira compreensão que devemos ter do fruto do Espírito é que
ele é do Espírito, e não do ser humano. O que pertence à humanidade são as obras
da “Carne”, mas o fruto é do Espírito: “Se a imagem é correta, então as obras da
carne são ‘feitas’, enquanto o fruto do Espírito ‘nasce’” (MOLTMANN, 1998, p. 171).
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NOVAS DESCOBERTAS
Segundo a teologia bíblica cristã, todo ser humano nasce debaixo desta terrível
influência que o conduz, desde cedo, a uma vida rebelde a Deus. Uma das expres-
sões mais claras, se manifesta na forma em como o bebê humano interage com os
demais humanos. Se o bebê está com fome e precisa ser amamentado, ele chora
para conseguir o que quer – não importa se a sua mãe está cansada e dormindo –
ele quer ter as suas necessidades saciadas naquele exato momento. Esta é a forma
mais primitiva que aprendemos de relacionamento com as outras pessoas. Há,
inclusive, um ditado popular que afirma: “Quem não chora, não mama”, ou seja,
para você ter os seus desejos atendidos, é necessário que você deixe muito claro.
Se necessário, faça escândalo!
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NOVAS DESCOBERTAS
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para Deus e para os outros, dando espaço mais para as “obras da Carne” do que
para o “fruto do Espírito”.
Para a compreensão das bases bíblicas e teológicas do aconselhamento cris-
tão, precisamos, estar atentos a três pontos que servem de bússola ou GPS para
o trabalho do conselheiro cristão:
Lembre-se de que diante de situações de perigo, temos duas escolhas a fazer: lutar
ou fugir, e as nossas escolhas no momento, serão baseadas em nosso senso de
preservação. A forma como este senso de preservação se manifesta se dá a partir
das nossas emoções. A raiva, por exemplo, é como se fosse um alarme disparado,
indicando que houve algum tipo de violação – por isso ela geralmente é barulhenta!
O medo, por outro lado, tende a ser uma emoção que se manifesta de forma mais
silenciosa. As emoções revelam o coração humano, sem precisar usar palavras.
O desafio do conselheiro cristão é conduzir as pessoas que procuram
a sua ajuda, para que elas não sejam mais levadas por suas emoções, dian-
te das circunstâncias da vida, mas conduzi-las a Cristo, pois apenas a ação
sobrenatural do Espírito Santo de Deus é que pode, efetivamente, provocar
mudanças profundas, de dentro para fora, na vida de todo ser humano. Uma
das grandes crises da igreja evangélica é que ela exige de pessoas que ainda
não se renderam a Jesus, que elas tenham atitudes de pessoas cristãs!
A partir de tudo o que vimos até aqui, observamos que, naturalmente, o ser
humano é rebelde contra Deus, egoísta e focado apenas na busca por sua felici-
dade. Para que este tipo de pessoa tenha uma postura que condiga com a fé cristã,
é necessário que ela seja apresentada ao evangelho.
Partindo deste ponto, podemos observar, então, que o aconselhamento cristão
tem duas tarefas principais:
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UNIDADE 1
“
A poimênica não é somente uma ação minha para com o outro,
mas igualmente uma resposta minha ao apelo do outro. Portanto, é
muito importante lembrar que eu preciso respeitar as preocupações
que moveram o outro a me procurar para pedir auxílio. (...) apesar
de eu poder prestar a ele muitos tipos de ajuda, talvez esta ajuda
venha a prejudicá-lo mais do que outra coisa, se eu desprezar a sua
necessidade, a sua preocupação, movida pela fé ou pela falta dela
(WANGEN, 1979, p. 98).
“
(...) necessidades individuais, grupais, comunitárias, familiares,
conjugais, sociais dentre outras. Essas necessidades cobram res-
postas da igreja. Contudo, essas respostas precisam de funda-
mentação também Teológica, para que esses ministérios, ações
e vocações da igreja estejam em consonância com a Palavra de
Deus e, assim, sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico
e prático (MARIANO, 2016, p. 21).
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“
O objetivo do aconselhamento é dar estímulo e orientação às pes-
soas que estão enfrentando perdas, decisões difíceis ou desaponta-
mentos. O processo de aconselhamento pode estimular o desen-
volvimento sadio da personalidade; ajudar as pessoas a enfrentar
melhor as dificuldades da vida, os conflitos interiores e os bloqueios
emocionais; auxiliar os indivíduos, famílias e casais a resolver con-
flitos gerados por tensões interpessoais, melhorando a qualidade de
seus relacionamentos; e, finalmente, ajudar as pessoas que apresen-
tam padrões de comportamento autodestrutivos ou depressivos a
mudar de vida (COLLINS, 2011, p. 17).
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UNIDADE 1
seis foram designadas “cidades de refúgio” por ordem de Deus, sendo três de cada
lado do rio Jordão (Números 35:13, 14). Essas “cidades de refúgio” serviam de
abrigo e proteção para aqueles que haviam cometido algum tipo de homicídio,
sem a intenção de praticá-lo (Números 35:15). Em Números 35:16-23 encontra-
mos os critérios que ajudavam a determinar quando um crime é intencional e
quando é involuntário. Quando alguém era morto, os parentes masculinos mais
próximos do assassinado agiam como “vingadores de sangue”, podendo matar os
que haviam cometido tal ato. As “cidades de refúgio” permitiam que o homicida
se refugiasse dos “vingadores de sangue”, até ser julgado de maneira adequada
(Números 35:12-19; Deuteronômio 19:12).
NOVAS DESCOBERTAS
Sugiro que você assista ao vídeo "“O amor vem do lugar mais imprová-
vel"”, acessando o Qr-Code a seguir. O cineasta e artista Yann Arthus-
-Bertrand passou três anos coletando histórias da vida real de 2.000 mu-
lheres e homens em 60 países, trabalhando com uma equipe dedicada
de trad tores, ornalistas e cine rafistas este deo, ele apresenta m
recorte do relato de um assassino que se encontra preso, cumprindo o
seu julgamento, e como ele foi tratado pela mãe e avó das suas vítimas.
Nós não conseguimos separar as pessoas dos seus pecados. Infelizmente, somos
condicionados a pensar que as pessoas são o que fazem. Com isso, rotulamos as
pessoas de acordo com os seus comportamentos, que observamos em determi-
nadas situações. O próprio rótulo de “pecadores” é uma herança que vem dos
fariseus, a quem Jesus combatia nos evangelhos. É muito difícil para as pessoas
que frequentam igrejas de um modo geral, acolherem pessoas que são conside-
radas “pecadoras”. Ao olhar para a forma como Jesus lidava com as pessoas, ve-
mos que ele compreendia que essas pessoas cometiam pecados, mas de maneira
nenhuma as rotulava. Pelo contrário, ao acolher essas pessoas, Jesus provocava
uma mudança intensa na vida delas, como no caso da mulher pega em adultério,
relatado no evangelho de João, cap. 8, vers. 10-11:
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“
— “Mulher, onde estão eles? Ninguém condenou você?”
Ela respondeu:
— “Ninguém, Senhor!”
Acolher as pessoas não significa aceitar ou concordar com os seus erros e pecados.
Acolher as pessoas significa abrigar o coração delas, que se encontra machucado
com tantas dores que a vida nos causa. Lembre-se disso: pessoas machucadas,
machucam pessoas; pessoas acolhidas, acolhem pessoas. O que você acha que
aconteceria se os cristãos acolhessem os “pecadores”, como Jesus fazia, em vez de
ficarem apontando os pecados deles?
“
Jesus era absolutamente sincero, profundamente compassivo, alta-
mente sensível e espiritualmente maduro. Ele se mantinha fiel ao
compromisso de servir seu Pai celestial e a humanidade (nesta or-
dem) e, também, se preparava para desempenhar bem a sua tarefa
através de constantes períodos de oração e meditação. Jesus conhe-
cia profundamente as Escrituras e procurava levar os necessitados
a se voltarem para ele em busca de ajuda, para que pudessem en-
contrar paz, esperança e segurança eternas (COLLINS. 2011, p. 20).
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UNIDADE 1
“
O diálogo atende as necessidades mais profundas e mais amplas
do que simplesmente ‘chegar ao sim’. O objetivo de uma negocia-
ção é chegar a um acordo entre as partes que diferem. A intenção
do diálogo é alcançar um novo entendimento e, ao fazê-lo, formar
uma base totalmente nova para pensar e agir. Não tentamos apenas
chegar a um acordo, tentamos criar um contexto de onde possam
surgir muitos novos acordos e buscamos descobrir uma base de
significado compartilhado que pode ajudar muito a coordenar e
alinhar nossas ações com nosso valor (ISAACS, 1999, p. 19).
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UNICESUMAR
Voltando à história que eu contei no início desta unidade, sobre aquele homem de
cabelos brancos que havia decidido se separar da sua esposa, você se lembra que
eu pedi o auxílio do supremo Conselheiro – o Espírito Santo de Deus, para lidar
com aquela situação?
A conversa com aquele irmão se repetiu durante dois anos, até que ele com-
preendesse o que estava acontecendo com ele e como ele precisava reagir diante
da situação. O trabalho de um conselheiro espiritual, raramente é rápido. Difi-
cilmente, em uma conversa, o conselheiro conseguirá chegar à raiz do coração
humano e poderá ajudar efetivamente as pessoas. É uma tarefa lenta de acolhi-
mento e de orientação.
A primeira pergunta que eu fiz para ele, naquela manhã, é a pergunta que abre
o nosso entendimento para tudo aquilo que Deus quer fazer em nossas vidas, a
partir das dificuldades que enfrentamos: “por que você está se sentindo assim,
diante desta situação?” Esta pergunta é fundamental, porque ajuda as pessoas a
focarem no presente, no que está acontecendo naquele exato momento. Isso é
imprescindível, para ajudá-los a olhar apenas para o seu coração e como ele está
reagindo às situações e às pessoas.
Não é à toa que lemos na carta de Tiago 5.16: “Portanto, confessem os seus
pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que vocês sejam curados.
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UNIDADE 1
Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo”. Quando ajudamos as pessoas a fala-
rem o que está acontecendo com os seus corações, elas se abrem à possibilidade de
cura. Em cartas trocadas entre o Pastor Oskar Pfister e o Psicanalista Sigmund Freud
(1998), ambos entendiam que a cura do coração, vem pela fala, ou seja, pela capaci-
dade de explicar o que se passa no coração humano. Lembre-se de que ouvir é uma
das habilidades mais importantes no aconselhamento cristão, porque quando você
se dispõe a ouvir as dores das pessoas, elas se abrem para escutar a Palavra de Deus.
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A partir do que vimos até aqui, quero convidar você a preencher o mapa de em-
patia a seguir, colocando as suas percepções sobre o aconselhamento cristão nas
igrejas. Caso você não tenha opinião estabelecida sobre as questões no mapa de
empatia, converse com três pessoas que conheça, mesmo que de outras igrejas,
e faça as perguntas que estão no mapa de empatia para elas. Com as respostas
delas, re ita e preencha o se mapa de empatia
O que você
costuma falar e fazer para
pessoas que vêm pedir conselhos?
Quais as posturas que você espera de alguém, Quais são as necessidades das pessoas
quando você precisa de conselhos? que esperam conselhos?
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Os Fundamentos
do Aconselhamento
Cristão e da
Capelania Cristã
Me. Eugênio Soria de Anunciação
“Você nunca pensou em atuar em capelania?” Essa pergunta foi feita a mim por
um colega de ministério pastoral que estava compartilhando a sua experiên-
cia com capelania. Era o final de uma tarde, após uma semana intensa de um
Congresso de Pastores. O cansaço de todos no carro era evidente. Tínhamos
ainda pela frente mais duas horas de viagem, mas a empolgação daquele colega,
compartilhando as suas experiências com policiais militares era realmente re-
vigorante! “Você nunca pensou em atuar em capelania?” – essa pergunta ficou
ecoando em meu coração durante a viagem de retorno. “Pode deixar que eu vou
indicar o seu nome, para você atuar na sua cidade!” Essa nova possibilidade de
atuação realmente seria fantástica para mim!
Em menos de três dias, a organização responsável pelo trabalho de capelania
militar entrou em contato comigo, querendo fazer uma entrevista. Seria um tra-
balho voluntário, mas o ganho com a experiência, para mim, seria muito maior.
Marcamos o dia para conversarmos. A responsável pelas equipes de capelães
na região onde eu vivo morava em outra cidade, e coordenava doze setores, em
diversas cidades na região metropolitana de São Paulo. Essa mulher era muito
enérgica – se eu não soubesse a profissão dela diria que era uma militar –, mas ao
mesmo tempo ela também era muito cuidadosa e zelosa com a capelania militar.
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OLHAR CONCEITUAL
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DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
“
“Em um cotidiano atarefado, em que a reflexão crítica não é prioridade,
passamos progressivamente a aceitar certos problemas sociais, a con-
siderá-los, inclusive, como normais ou como o esperado. Legitimamos
dia após dia a manutenção de situações desumanas, decorrentes da de-
sigualdade social e da pobreza” (ACCORSSI et al., 2012. p. 537).
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
“
[...] a poimênica, no mundo semita [do Antigo Testamento], está
muito próxima da luta constante do ser humano para manter ou
resgatar a sua relação com Deus por meio das diferentes articula-
ções da vida em comunidade, como o culto e o sacrifício a Deus.
Entretanto, compreende igualmente a busca por uma plena e justa
integração social do indivíduo que cai no abismo do isolamento,
que negligencia a sua relação com Deus e, consequentemente, não
mais se considera parte integrante do povo de Deus. Ali onde o ser
humano petrifica o seu coração, onde vive exclusivamente a partir
do seu próprio ar, da sua exclusiva respiração, - isto é, vive ao redor
do seu próprio ser -, a nefesh sucumbe, já não encontrará fôlego de
vida e, por fim, clamará: “Como suspira a corça pelas correntes de
água, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42.1)”.
[...]
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UNIDADE 2
PENSANDO JUNTOS
Há um ditado xhosa que ensina: Umuntu ngumuntu ngabantu, ou seja: “Pessoas depen-
dem de pessoas para serem pessoas” (James M. Houston)
“
Nos primeiros séculos o aconselhamento pastoral recebia o nome
de ‘cura das almas’. Em sua origem, a palavra cura não tem o signi-
ficado atual, hoje em dia se refere a sarar. Antes, uma pessoa curava
a outra quando se dava um trato adequado, quando se interessava
por ela. Era primordialmente uma atitude, e a ênfase não estava no
resultado, mas, antes de tudo na relação. Curar indicava comumen-
te ‘cuidar’, ‘ter interesse por’, incluía o conceito de saúde entendida
como crescimento (ZARACHO, 2007, p. 25).
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
cristão. Isso significa que é necessária uma preparação adequada, pois nem todos
os assuntos referentes à vida são fáceis de serem trabalhados e compreendidos. Um
conselheiro cristão precisa estudar bastante, ler muito e se preparar para ser usado
por Deus. Quando falamos em estudar e ler bastante, não nos referimos apenas
a livros técnicos que, com certeza, contribuirão para a formação do conselheiro
cristão. A preocupação primeira do conselheiro cristão, é o estudo da Bíblia e a com-
preensão da teologia bíblica, pois elas são as ferramentas fundamentais para que
um aconselhamento seja efetivamente cristão. Todo processo de aconselhamento
realmente cristão, é feito sob oração, busca de orientação na Palavra de Deus, busca
de orientação do Espírito Santo e na sincera intenção de obediência à vontade de
Deus (CLINEBELL, 1987; COLLINS, 2005; HURDING, 2013).
A Capelania, por sua vez, encontra as suas origens na França, por volta de
1700 d.C., quando o termo “capelania” foi criado, porque, em tempos de guerra, o
rei enviava para os acampamentos militares, uma relíquia dentro de um oratório,
que recebia o nome de “Capela”, que ficava sob os cuidados do sacerdote, que era
um conselheiro dos militares:
“
“A ideia progrediu e mesmo em tempo de paz, a capela continuava
no reino, sempre com um sacerdote que era o conselheiro. O costu-
me passou a ser observado também em Roma. Em 1789, esse ofício
foi abolido na França, mas restabelecido em 1857, pelo Papa Pio
IX. A esta altura, o sacerdote que tomava conta da capela, que era
chamado capelão, passava a ser o líder espiritual do Soberano Rei e
de seus representantes. O serviço costumava estender-se também
a outras instituições: Parlamentos, Colégios, Cemitérios e Prisões
(FERREIRA; ZITI, 2002, p. 53).
57
UNIDADE 2
“
A psicologia estuda o com-
portamento das pessoas,
enquanto a religião for-
nece esperança para essas
mesmas pessoas, indepen-
dentemente de seu com-
portamento. A psicologia
se concentra nas relações
humanas como elas são,
enquanto a religião inspira
e motiva as pessoas a mudar
e melhorar sua condição.
Apoiado pela psicologia e
pela religião, o pastor entra
na arena dos relacionamen-
tos e se torna um partici-
pante ativo (DICKS, apud
WILLIAMS, 1968, p. 3).
58
UNIDADE 2
■ Hospitalar
■ Infantil
■ Hospitalar infantil
■ Carcerária
■ Militar
■ Escolar
■ Social
■ Assistencial
■ Familiar
■ Urbana
■ Esportiva
■ Empresarial
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UNIDADE 2
OLHAR CONCEITUAL
Duração do
Longa Duração Curta Duração
acompanhamento
60
UNIDADE 2
Isso significa que quando você estiver aconselhando alguém, a sua perspectiva
no aconselhamento deve ser cristã e bíblica, ou seja, que você utilize a Palavra de
Deus, para compreender como os efeitos noéticos do pecado estão afetando as
emoções e os sentimentos das pessoas e, também, para indicar a direção bíblica
para as decisões que as pessoas precisam tomar diante dessas circunstâncias. Co-
nhecer a Bíblia é importantíssimo para que você seja guiado pelo Espírito Santo,
para conduzir as pessoas na aplicação dos princípios bíblicos para as situações
difíceis da vida, de forma cristã, bíblica e pastoral. Os conhecimentos básicos ou
aprofundados de psicologia, nos ajudam e muito como ferramentas auxiliares no
aconselhamento cristão, mas a nossa base de atuação deve ser sempre a Bíblia:
61
UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
62
UNIDADE 2
“
Nenhum vocábulo em português comunica o pleno sentido da palavra
nouthétesis. Uma vez que se trata de um vocábulo rico de significação,
sem equivalente exato em português, ele é transliterado neste volume [...]
os conceitos inerentes a essa palavra talvez não existam em nosso idioma”
(ADAMS, 1987, p. 57).
Descrição da Imagem: Retrato em sépia, de um homem sorrindo, com cabelos e barba grisalhos e óculos
de grau quadrado. Ele veste um terno escuro com camisa e gravata em tonalidades claras.
63
UNIDADE 2
Descrição da Imagem: Retrato em preto e branco, de um homem parcialmente calvo, com cabelos nas
laterais, trajando um terno escuro quadriculado sobre uma camisa de tonalidade clara e uma gravata
de tom escuro.
64
UNIDADE 2
65
UNIDADE 2
cidos de que Deus é capaz de fazer as mudanças necessárias à medida que sua
Palavra é ministrada no poder do Espírito.
O modelo noutético é um tipo de aconselhamento, cujo objetivo é orientar
o aconselhando, para uma vida correta diante de Deus, a partir da correção e da
denúncia de qualquer padrão de comportamento que seja incoerente com a vida
cristã. Para Adams, o aconselhamento noutético pode ser realizado por todos
os cristãos e não apenas os pastores, e pode ser vivenciado como uma atividade
normal da vida diária. Ele se baseava em textos do Novo Testamento, principal-
mente a partir da teologia paulina, para defender esta ideia:
“
Em Colossenses 3.16, Paulo exorta: ‘Habite ricamente em vós a pala-
vra de Cristo; instruí-vos’ (por ora vamos simplesmente transliterar
a palavra seguinte) ‘confrontando-vos uns aos outros nouteticamen-
te’. Segundo Paulo, todos os cristãos devem ensinar-se e confrontar-
-se mutuamente, de maneira noutética. Em apoio dessa proposição,
Paulo escreveu também (em Romanos 15.14): ‘E certo estou, meus
irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de
bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos confron-
tardes uns aos outros nouteticamente’ (ADAMS, 1987, p. 55).
1. Confrontar o pecado
66
UNIDADE 2
2. Atuar verbalmente
3. Beneficiar o aconselhando
67
UNIDADE 2
“
“Toma por certo que o Deus que fala através da Bíblia também reve-
lou verdades acerca do seu universo por meio da ciência, inclusive
a psicologia. Logo, leva-se a sério os métodos e as técnicas psicoló-
gicas, embora devam ser testados, não somente de modo científico
e pragmático, mas primeiramente à luz da Palavra de Deus escrita”
(COLLINS, 2005, p.29).
68
UNIDADE 2
“
“Não é uma atitude realista esperar que chegaremos um dia a uma
só abordagem bíblica ao aconselhamento, assim como não des-
cobrimos uma só abordagem bíblica às missões, à evangelização,
ou à pregação. Em grande medida, as técnicas de aconselhamento
dependem da personalidade do conselheiro e da natureza dos pro-
blemas do aconselhando, mas devemos procurar descobrir as várias
técnicas e as diferentes abordagens ao aconselhamento que surgem
dos ensinamentos da Escritura ou que são claramente consistentes
com ela” (COLLINS, 2005, p. 21).
GARY R. COLLINS
Descrição da Imagem: Retrato colorido de um homem de meia idade, com cabelo levemente despentea-
do e grisalho, vestido com uma camiseta na cor preta e de óculos de grau, sorrindo levemente enquanto
olha para a câmera, tendo ao fundo vários livros dispostos em estantes próximas à parede.
Para Collins (2004), a igreja do Novo Testamento era uma comunidade terapêuti-
ca, além de atuar no ensino, na evangelização e no discipulado. Todas as ações da
igreja devem ter como foco esta atuação terapêutica a partir do cuidado mútuo.
Quando algum desses elementos é deixado de lado, há igrejas desequilibradas e
69
UNIDADE 2
“
“O conselheiro cristão procura levar as pessoas a ter um relaciona-
mento pessoal com Jesus Cristo, ajudando-as, assim, a encontrar
perdão e a se livrar dos efeitos incapacitantes do pecado e da culpa.
O objetivo final do cristão é ajudar os outros a se tornar discípulos
de Cristo e a discipular outras pessoas” (COLLINS, 2004, p. 17).
70
UNIDADE 2
71
UNIDADE 2
72
UNIDADE 2
■ Contato
■ Fase introdutória
■ Delineamento do problema
■ Trabalho em busca de soluções
■ Conclusão
73
UNIDADE 2
■ Apoio;
■ Confronto;
■ Educação;
■ Prevenção;
■ Espiritual;
■ Encaminhamento;
■ Aconselhamento de profundidade.
PENSANDO JUNTOS
“O que nos torna humanos não é a mente, mas o coração, não é a habilidade de pensar,
mas a capacidade de amar” (Henri Nouwen)
74
UNIDADE 2
“
uma dimensão da poimênica, é a utilização de uma variedade de
métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com
seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao cres-
cimento e, assim, a experimentar a cura de seu quebrantamento.
O aconselhamento pastoral é uma função reparadora, necessária,
quando o crescimento das pessoas e seriamente comprometido ou
bloqueado por crises (CLINEBELL, 1987, p. 25).
A ideia de ser humano para Clinebell (1987), é fortemente influenciada pela cos-
movisão hebraica e do Antigo Testamento, ou seja, o ser humano não é tratado
como um ser dividido, mas integral, como uma unidade de dimensões, dentro
de uma visão holística, em uma visão comunitária. Daí vem o termo “aconselha-
mento holístico”. Mariano (2016, p. 20) resumiu assim o conceito antropológico
de Clinebell (1987):
75
UNIDADE 2
“
a) É assim que a Bíblia reafirma o sentido de glorificar a Deus no
corpo (1Cor. 6:19), e não fora dele ou desconsiderando-o. b) Que
se deve amar a Deus com todas as dimensões humanas (Mc. 12:30).
c) Que se deve viver a vida alimentando os relacionamentos em
paz, shalom, do Antigo Testamento, ou em comunhão, koinonia, na
perspectiva do Novo Testamento. d) O respeito à Criação (ecologia)
como ato único da vida. ‘E viu Deus que tudo era bom’. e) A liberta-
ção é tanto pessoal quanto social. Tanto o pecado quanto a salvação
são comunitários e sociais, assim como individuais, onde o Novo
Testamento afirma ‘Conhecereis a liberdade [verdade] e a verdade
vos libertará’ (Jo. 8:32). Nota-se que o ser humano é compreendido
pelas escrituras em uma dimensão holística e integral para o cres-
cimento, conforme Clinebell”.
Descrição da Imagem: Retrato em preto e branco de um homem de meia idade sorrindo levemente, com
cabelo levemente grisalho, com óculos de grau quadrado, de armação grossa, vestido com um terno na
tonalidade escura, sobre uma camisa de tom claro e uma gravata com tonalidade escura..
76
UNIDADE 2
“
O modelo de Clinebell abriu-se para impulsos da psicologia hu-
manística, porém tenta fundamentá-la biblicamente. Uma visão
aberta para o pluralismo religioso nas sociedades modernas, a
ênfase no aspecto comunitário, a sensibilidade para os proble-
mas causados pelo sexismo e a injustiça social nas cidades do norte
e na relação norte-sul do planeta aproximam esta concepção das
necessidades da realidade latino-americana (SCHNEIDER-HAR-
PPRECHT; ZWETSCH, 2011, p. 269-270).
■ Dimensão física;
■ Dimensão menta;
■ Dimensão relaciona;
■ Dimensão recreativa;
■ Dimensão do trabalho;
■ Dimensão da sociedade/natureza;
■ Dimensão espiritual/ética.
77
UNIDADE 2
78
UNIDADE 2
forem batizadas, a guardar todas as coisas que Jesus ordenou. As pessoas a quem
Jesus deu essas instruções essenciais tinham uma compreensão muito boa do
que significava ser seus discípulos. Eles deixaram tudo para segui-lo e, por três
anos, absorveram a sua instrução, experimentando incríveis altos e baixos ao
descobrirem o que significava seguir Jesus. Quando Jesus disse aos seus discípulos
para fazerem discípulos de todas as nações, eles não teriam visto isso como uma
tarefa casual para ajustar entre outros interesses. Isso precisaria se tornar seu
foco principal. Os discípulos teriam entendido as palavras de Jesus como tendo
algumas implicações muito importantes. Vejamos cada parte do que Ele disse:
Vão
Fazer discípulos não é uma atividade passiva. Requer um comporta-
mento intencional e estratégico. Os seguidores de Cristo não podiam
esperar que as pessoas viessem até eles e pedissem para se tornarem
discípulos. Eles teriam que sair e fazê-los, o que fala de comportamento
estratégico e intencional. O verbo no grego dá a seguinte ideia: “aonde
quer que vocês forem, ou estejam”.
Façam discípulos
Para fazer outros discípulos, os discípulos de Jesus teriam que compar-
tilhar a mensagem do evangelho com pessoas que nunca ouviram an-
tes. Mas esse foi apenas o primeiro passo. Um discípulo é mais do que
alguém que se converte a uma nova religião. É alguém que dedicou a
sua vida a seguir Jesus. Comunicar o evangelho é um elemento crítico
para fazer discípulos, mas não é o fim.
De todas as nações
Jesus era um homem judeu, mas durante o seu ministério na Terra, ele
ensinou que Deus não estava apenas redimindo o povo de Israel para
si mesmo, mas estava redimindo o mundo. Na mesma época em que
deu a “Grande Comissão”, Jesus disse aos seus discípulos: “Mas vocês
receberão poder ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e
até os confins da terra.” (Atos 1:8). Isso é fundamental para entender a
ação que Jesus estava propondo. Por exemplo, os judeus desprezavam
os samaritanos, mas Jesus estava derrubando muros de hostilidade
79
UNIDADE 2
80
UNIDADE 2
mento, explica que Deus dá dons (aliás, “dons” significam “um presente”) aos seus
discípulos para ajudá-los a fazer outros discípulos. Ele começa encorajando-os a
fazer tudo o que puderem para manter a unidade do Espírito (Efésios 4:3). Isso é
crítico porque o discipulado deve acontecer entre uma comunidade de discípulos,
que a Bíblia chama de “a igreja” ou “o corpo de Cristo”.
Paulo explica que Deus equipou o seu povo – a igreja – com dons e habili-
dades específicas. Esses dons “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado
de pessoa madura, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:12-13).
Discipulado é o processo de amadurecimento em sua fé, ao ponto de você
se tornar mais parecido com Cristo. Para o apóstolo Paulo, discipulado acontece
quando você está conectado a outros discípulos de Jesus. Ele escreveu: “para que
não mais sejamos como crianças, arrastados pelas ondas e levados de um lado para
outro por qualquer vento de doutrina, pela artimanha das pessoas, pela astúcia
com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado
pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o
seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor” (Efésios 4.14-16).
O processo de discipulado na comunidade protege você de falsas visões de
Deus, das tentativas de Satanás de isolá-lo com seus próprios pensamentos e
sentimentos, e das ideias culturais contrárias aos propósitos de Deus.
Em alguns momentos da caminhada cristã, as pessoas tropeçam e caem. To-
dos enfrentamos dificuldades, dor e perda. Quando isso acontece, precisamos
de outros ao nosso redor para nos lembrarem a guardar tudo o que Jesus nos
ordenou. Quando isso acontece, a comunidade cristã se torna um lugar onde as
pessoas estão usando os seus dons para ajudar uns aos outros a crescer, e o uso
combinado desses dons contribui para uma cultura que torna o discipulado pos-
sível. E mesmo quando as coisas se tornam difíceis, a comunidade cristã pode ser
um lugar onde experimentamos e vivemos o perdão e a reconciliação. Em tudo
isso, o discipulado é parte do processo à medida que seguimos a Cristo juntos e
à medida que somos orientados e orientamos outros ao longo do caminho.
81
UNIDADE 2
82
UNIDADE 2
83
UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
84
UNIDADE 2
85
este momento, para a d lo na fi a ão do conte do apresentado nesta ni-
dade, solicitamos que você faça dois mapas conceituais. O primeiro mapa con-
ceitual deve conter 3 semelhanças e 3 diferenças entre Capelania Cristã e Acon-
selhamento Cristão. O segundo mapa conceitual deve conter os três modelos
de aconselhamento cristão est dados nesta nidade modelo no t tico de a
dams, o modelo de ar ollins e o modelo hol stico de linebell, com os se s
principais conceitos e diferenças.
86
3
O Perfil e o Papel
do Conselheiro
Cristão
Me. Eugênio Soria de Anunciação
88
UNICESUMAR
entendia as suas reações. Algumas tias diziam que ela estava de frescura. Amigos
da família suspeitavam que ela estivesse anêmica. A liderança da igreja dizia que
ela estava em pecado. Todos diziam saber o que se passava dentro dela, por mais
que ela mesma não conseguisse compreender o porquê. E a cada nova reação das
pessoas para fazê-la sair dessa situação, mais triste e desanimada ela se encontrava.
Enquanto eu escutava aquela mulher, eu estava em oração, pedindo a Deus
que me orientasse em como eu poderia abençoar a vida dessa irmã. Ouvindo o
seu relato e observando as suas expressões faciais, não me parecia que ela vivia
mais em melancolia, mas por algum motivo que eu não compreendia, ela preci-
sava colocar tudo isso para fora.
Ela respirou fundo e fez uma pausa considerável. Era visível que ela estava
emocionada. Os seus olhos se encheram de lágrimas e a voz ficou mais em-
bargada, ao ponto de ela limpar a garganta com aquele som inconfundível que
todos fazemos quando isso acontece. Enxugando as lágrimas de seus olhos, ela
começou a relatar, ainda emocionada:
— “Sabe pastor… Toda essa situação era extremamente dolorosa. Ninguém
estava interessado em saber como eu estava. Mesmo que eu não soubesse explicar
o que se passava dentro de mim, eu ansiava que as pessoas pudessem estar do
meu lado. Mas ninguém pastor, ninguém… nem minha família, nem os amigos
da minha família, nem a minha igreja…”
Ela pegou um lenço em sua bolsa, para assoar o nariz. Em seguida, suspirou
fortemente, como que para pegar coragem e continuar o relato:
— “A gota d’água, foi quando o pastor daquela época, foi me visitar. Inicial-
mente eu fiquei esperançosa, afinal, um homem de Deus veio ver como eu estava.
Eu era muito jovem e estava com medo do que estava acontecendo comigo… Eu
precisava de uma palavra de esperança e ânimo. Mas o que veio, eu não podia
acreditar! Ele impôs as suas mãos sobre a minha cabeça e, em vez de orar por
mim, começou a expulsar os demônios que ele achava que estavam dentro de
mim. Ele repetia constantemente que crente não fica triste, que crente não fica
desanimado. Se eu estava passando por aquilo, é porque eu tinha cometido algum
pecado e demônios tinham entrado na minha vida!”
Mais uma vez ela pegou o lenço em sua bolsa, para assoar o nariz. E continuou:
— “Sabe, pastor. A partir daquele dia, eu deixei de acreditar em Deus. Que Deus
é esse que não está atento a dor do meu coração, ao ponto de alguém que pregava em
nome dele, me tratar daquela forma? A minha vontade de morrer se tornou muito
89
UNIDADE 3
intensa a partir daquele dia, como eu nunca tinha sentido antes. Mas então… Deus
colocou uma mulher de outra igreja, para me visitar. Os meus pais não gostaram da
ideia, afinal, era de uma igreja diferente! Ela orou por mim. Não me julgou. Pergun-
tou como eu estava. E me convidou para participar de um grupo de apoio. É como
se Deus estivesse falando para mim, que ele estava sim, atento ao meu sofrimento!”
Em todo esse momento, eu não falei nada.Apenas ouvi o seu coração. Entendia, pelo
Espírito Santo, que essa mulher precisava colocar tudo isso para fora. E ela continuou:
— “Eu quero agradecer pela mensagem que o senhor trouxe no domingo. Le-
vou mais de 20 anos para eu entender o que se passava em mim. Hoje eu entendo
que o que eu tinha não era anemia, frescura ou pecado; eu estava doente – eu
estava com depressão. Na mensagem de domingo, quando o senhor falava como
Davi se sentia rasgado ao meio, com a sua alma abatida e perturbada e ainda
assim, ansiando por algum movimento de Deus para tirá-lo do abatimento, foi
como se o senhor tivesse colocado em palavras os meus sentimentos”.
Ao final, ela compartilhou que atuava como facilitadora de grupos de Alcoó-
licos Anônimos na cidade, para ajudar pessoas que se encontravam fracas diante
dos desafios da vida. Na sua dor, ela encontrou em Deus o motivo para viver uma
vida com propósito. Eu agradeci imensamente o aprendizado que ela me pro-
porcionara com o seu testemunho. Orei pela vida dela e pedi que ela orasse pela
minha vida também. Foi um momento sobrenatural de crescimento para ambos.
90
UNICESUMAR
Neste caso, o aconselhamento cristão serviu para escutar um coração que estava à
procura de respostas há mais de 20 anos. Você imagina o quanto eu colocaria em
risco esse aconselhamento, se começasse a falar sem deixá-la se manifestar? E você,
já lidou com uma situação como essa, de alguém lhe procurar para colocar para
fora o que tornava o seu coração pesado? Como você reagiu? Conseguiu apenas
ouvir o coração da pessoa, ou ficou falando sem deixar a pessoa se manifestar?
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos da América, no ano de 2019, revelou
que a maioria dos adolescentes abandona a igreja quando se tornam jovens adultos.
Dois terços (66%) dos jovens adultos americanos que frequentavam uma igreja
protestante regularmente por pelo menos um ano na adolescência dizem que desis-
tiram de frequentá-la por pelo menos um ano, entre as idades de 18 e 22 anos, de
acordo com um estudo realizado pela Lifeway Research. Trinta e quatro por cento
dizem que continuaram a frequentar duas vezes por mês ou mais. Embora os 66%
possam significar uma porcentagem preocupante para muitos líderes da igreja, os
números podem parecer mais esperançosos quando comparados a um estudo de
2007, também promovido pela Lifeway Research (2019). Anteriormente, 70% dos
jovens de 18 a 22 anos deixavam a igreja por pelo menos um ano.
Toda comunidade de fé tem em seu rol de membros o que é considerado o
rol de membros inativos. Nessa lista estão as pessoas que por algum motivo não
frequentam mais a comunidade de fé por meses seguidos. Os motivos para essas
pessoas não estarem mais presentes nas igrejas locais podem ser variados, porém,
se não perguntarmos, faremos apenas suposições. O problema das suposições é
que muitas vezes elas não são acertadas.
91
UNIDADE 3
DIÁRIO DE BORDO
92
UNICESUMAR
“
A boa notícia para os líderes cristãos é
que as igrejas não parecem estar perden-
do mais jovens do que há 10 anos. No en-
tanto, a diferença na taxa de abandono de
vez em quando não é grande o suficiente
estatisticamente para dizer que realmente
melhorou. A realidade é que as igrejas pro-
testantes continuam a ver a nova geração
se afastar como jovens adultos. Indepen-
dentemente de quaisquer fatores externos,
a igreja protestante está lentamente enco-
lhendo por dentro.
“
À medida que esses adolescentes chegam
ao final da adolescência, mesmo aqueles
com histórico de frequência regular à igre-
ja são afastados assim que ganham maior
independência, como uma carteira de mo-
torista ou um emprego. A questão é: eles se
tornarão adultos mais velhos que têm todas
essas coisas e ainda frequentam uma igreja
ou eles escolherão por ficar longe da igreja
por mais de um ano (MEYER, 2019, s.p.).
93
UNIDADE 3
Figura 1- Cinco principais razões pelas quais os desistentes da igreja dizem que pararam de frequentar
a igreja / Fonte: adaptado de LifeWay Research (2019).
Descrição da Imagem: Percentuais dos cinco principais motivos de desistência de frequentar uma igreja,
de jovens adultos entre 23 e 30 anos, que frequentaram uma igreja protestante por pelo menos um ano
no ensino médio sendo compostos pelos itens: mudar para a faculdade e não frequentar mais (34%),
membros da igreja parecendo críticos ou hipócritas (32%), não se sentir mais conectado às pessoas em
sua igreja (29%), discordar da posição da igreja em questões políticas e sociais (25%), e responsabilidades
de trabalho (24%).
Os cinco motivos específicos para a evasão frequente foram: mudar para a faculda-
de e não frequentar mais (34%); membros da igreja parecendo críticos ou hipócritas
(32%); não se sentir mais conectado às pessoas em sua igreja (29%); discordar da
posição da igreja em questões políticas ou sociais (25%); e responsabilidades de
trabalho (24%). A maioria das razões pelas quais os jovens adultos deixam a igreja
refletem mudanças de prioridades pessoais e mudanças em seus próprios hábitos.
94
UNICESUMAR
“
Na maioria das vezes, as pessoas não estão deixan-
do a igreja por amargura, pela influência de ateus
universitários ou por uma renúncia de sua fé. O
que a pesquisa nos mostra pode ser ainda mais
preocupante para as igrejas protestantes: não havia
nada na experiência da igreja ou no fundamento
de fé daqueles adolescentes que os levasse a buscar
uma conexão com uma igreja local quando entra-
vam em uma nova fase da vida. O tempo que pas-
savam com atividades na igreja foi simplesmente
substituído por outra coisa (EARL, 2019, s.p.).
95
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
96
UNICESUMAR
“
Os indivíduos, ao se desvincularem do seu antigo credo, não transitam de
forma imediata para outro, ficando durante algum tempo experimentando
algumas opções de pertença, até se fixarem ou não a uma única denomi-
nação ou igreja. A pessoa era católica, se converteu a uma denominação
evangélica, mas não conseguiu seguir a denominação, e não irá voltar para
o grupo católico depois de se converter ao evangélico, e acaba ficando sem
religião. Quando se tem essas desconversões dentro dos grupos evangéli-
cos, se pode engrossar a categoria dos sem religião.
Um dos possíveis indícios desse trânsito religioso parece ser o abuso espiritual
praticado por parte da liderança das igrejas evangélicas. Esta é uma prática muito
mais comum do que se possa imaginar entre as igrejas evangélicas. Não há como
medir se uma pessoa que assume um papel de liderança em uma igreja pratica o
abuso espiritual de uma maneira inicialmente intencional, ou se é uma constru-
ção gradual, à medida em que vai experimentando o poder de influência como
líder na vida de outras pessoas:
“
Figura bíblica de proteção e direcionamento, o pastor virou para
muitos evangélicos um intermediário entre Deus e os homens. (...)
Idealizar e mistificar o pastor, acreditando ser ele a voz de Deus na
terra, uma pessoa sempre madura, ética e bem resolvida do ponto de
vista emocional, contribui significativamente para difundir a prática
do abuso espiritual, tema principal das histórias relatadas a seguir. É
certo que, como menciona um dos entrevistados, não se pode culpar
a criança por idealizar a figura do pai, por ser apenas uma criança. No
entanto, pode-se culpar o pai, por vestir a fantasia e por tentar viver
segundo uma imagem idealizada. A questão, porém, é que há crianças
demais, super-heróis em excesso e, consequentemente, histórias sem
fim sobre lideranças que avançam o sinal no trato com seus liderados.
Sentimento de onipotência, legalismo, farisaísmo, feridas emocionais
não curadas mascaram a profunda incapacidade do líder de perceber
as próprias faltas e carências, adubando a lavoura de uma relação
abusiva (CAMARGO, 2013, p. 10-11).
97
UNIDADE 3
“
a) Os assumidos sem-igreja: aqueles que se identificam como não
pertencentes a nenhuma igreja e, portanto, não possuem vínculos,
parcerias ou compromissos institucionais com comunidades e de-
nominações.
98
UNICESUMAR
h) Por fim, há outros religiosos que não passaram por uma real
experiência de conversão, de mudança de mente (metanóia), e não
entenderam, discerniram ou aceitaram de fato o evangelho de Cris-
to, seu reino e sua missão. Vivem farisaicamente na religião e na
instituição que é chamada de igreja, sem de fato ser igreja de forma
comunitária e relacional.
99
UNIDADE 3
“
[...] necessidades individuais, grupais, comunitárias, familiares,
conjugais, sociais dentre outras. Essas necessidades cobram respos-
tas da igreja. Contudo, essas respostas precisam de fundamentação
também Teológica, para que esses ministérios, ações e vocações
da igreja estejam em consonância com a Palavra de Deus e, assim,
sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico e prático (MA-
RIANO, 2016, p. 21).
A atenção às demandas das pessoas é uma das mais importantes tarefas da igreja,
por isso, é importante que o conselheiro cristão conduza as pessoas que procu-
ram a sua ajuda. O movimento é para que elas não sejam mais levadas por suas
emoções, diante das circunstâncias da vida, mas sim, conduzidas a Cristo, pois
apenas a ação sobrenatural do Espírito Santo de Deus é que pode, efetivamente,
provocar mudanças profundas, de dentro para fora na vida de todo ser humano.
Para isso, é necessário que o conselheiro cristão desenvolva habilidades impres-
cindíveis para atuar ministerialmente, sempre na dependência do Espírito Santo.
Existem diferentes abordagens, técnicas e atitudes do conselheiro, que precisam
ser conhecidas e desenvolvidas para essa atuação ministerial.
Há uma literatura considerável em língua portuguesa que aborda essas ques-
tões, como por exemplo: Mannóia (1985), Casere (1985), Collins (2011), Barrien-
tos (1991), Szentmártoni (2004), Clinebell (2000), Schipani (2004), e Sathler-Ro-
sa (2004). Boa parte desses estudiosos compreende que o método não-diretivo
de Carl Rogers influenciou grandemente os modelos de aconselhamento cristão,
entre eles, Szentmártoni (2004), Collins (2011), Barrientos (1991), Casere (1985)
e Clinebell (2000). Isso significa que, à parte das diferenças entre as abordagens,
técnicas e atitudes do conselheiro, há uma convergência quanto ao aconselha-
mento que passa, necessariamente, pelo estabelecimento de vínculos entre o con-
selheiro e o aconselhando, para um bom desenvolvimento do aconselhamento:
100
UNICESUMAR
“
Tudo isso levanta uma questão: existe uma teoria unificada de acon-
selhamento cristão? A resposta correta deve ser um retumbante:
Não! [...] Deve haver mais de uma teoria, pois a verdade bíblica é
multiperspectiva e não há como se entender a multiforme sabedoria
de Deus senão cercando as coisas temporais observadas com as
lentes dos princípios por ele revelados (GOMES, 2004, p. 19).
NOVAS DESCOBERTAS
A base para o aconselhamento cristão é o que Jesus deixou registrado nos evan-
gelhos. Lembre-se de que no aconselhamento cristão, há o elemento sobrenatural
da atuação divina pelo Espírito Santo de Deus que:
101
UNIDADE 3
“
[...] Por ter sido abandonado por Deus, o Crucificado leva Deus
aos abandonados dele. Por meio do seu sofrimento, ele traz cura
aos sofredores. Por meio de sua morte, ele traz vida eterna aos que
morrem. Por isso, o Cristo atacado, repelido, sofredor e mortal tor-
nou-se o centro da religião dos oprimidos e da piedade dos carentes
de salvação (MOLTMANN. 2014, p. 70).
O sofrimento e a morte de Cristo são uma forma de Deus tornar claro o quan-
to ele compreende o sofrimento humano e o quanto ele é capaz de consolar
aquele que sofre:
“
Deus sofre! Senão não poderia amar. O sofrimento está entre Deus e
Deus. Deus não somente se envolve com o sofrimento, mas o sofri-
mento está nele mesmo, ele participa ativamente deste sofrimento.
Porém o sofrimento de Deus não se dá da mesma maneira que o
nosso. A sua essência é a misericórdia. Se Deus não for empático,
não pode consolar a criatura humana. Somente quem prova um
mesmo sentimento é capaz de consolar porque tem empatia (DE
OLIVEIRA, 2016, p. 125).
102
UNICESUMAR
“
[...] isto sugere para o Espírito Santo uma imagem muito peculiar
que na cristandade primitiva, sobretudo na Síria, era muito familiar,
mas que veio a perder-se no patriarcalismo do Império Romano:
a imagem da mãe. Se os fiéis “nascem” de novo do Espírito Santo,
então o Espírito é a “Mãe” dos filhos de Deus [...] Se o Espírito San-
to é o “Consolador”, então Ele consola assim como a mãe consola
(MOLTMANN, 1998, p. 152).
PENSANDO JUNTOS
103
UNIDADE 3
104
UNICESUMAR
e sua conduta deve ser corrigida” (RIENECKER, 1995, p. 281). Muitas vezes
associamos admoestação com palavras de reprovação, mas o termo grego tem
um uso mais amplo do que isso – o que é colocado na mente, que pode ser uma
advertência ou reprovação, mas também pode ser a mais gentil sugestão ou enco-
rajamento. Importante ressaltar que para o apóstolo Paulo, a base da admoestação
é a bondade. Todo aconselhamento que não é baseado no bem do outro, não é
aconselhamento cristão. Tristemente, é muito mais comum do que pensamos,
líderes de igreja assumirem uma postura anticristã no momento de aconselhar
ou admoestar as pessoas de sua igreja:
“
Na prática, o abuso ocorre de formas variadas, umas escancaradas,
outras sutis. Ser tachado de rebelde ou de insubordinado apenas
por ter resistido a uma ordem pastoral, por discordar dela, é um
exemplo de abuso. Foi o que ocorreu na história de Marcos. É ser
humilhado inúmeras vezes diante de terceiros. Ser exposto como
alguém alheio à visão do corpo, do ‘mover do Espírito’, para usar
um jargão bem evangélico (CAMARGO, 2013, p. 22).
Skinner (1974 [2006]), psicólogo estadunidense que dedicou a sua vida em es-
tudar e compreender o comportamento humano, afirmou que o medo é uma
maneira utilizada por agências de controle para reforçar o comportamento
de alguém. Entre as agências de controle, estariam o Governo, a Economia e a
Religião: “Fazer o bem porque se é reforçado pelo bem de outrem merece
maior apreço do que fazer o bem porque a lei assim exige. No primeiro caso,
a pessoa se sente bem-disposta; no segundo, pode sentir pouco mais do que o
medo de ser punida” (SKINNER, 1974 [2006], p. 110).
“A culpa é uma narrativa profundamente infiltrada no cristianismo” (FRAZ-
ZETTO, 2014, p. 56-57), e um dos maiores instrumentos para incentivar o bom
comportamento. A culpa mancha, nos faz sentir sujos e indignos. E é muito mais
fácil manipular pessoas que se sentem indignas. O problema é que a culpa só
funciona se a figura de autoridade estiver presente para lembrar o risco de ameaça
se tornar realidade ao culpado! Por isso, os líderes religiosos se empenham tanto
em pregações e ensinamentos essencialmente comportamentais. Porém, basta
o líder não estar presente para as pessoas continuarem em seus erros e pecados.
105
UNIDADE 3
Para evitar esse tipo opressivo de liderança, devemos sempre lembrar que a base
do aconselhamento cristão é o que Jesus deixou registrado nos evangelhos. Preste
atenção a essas palavras de Jesus registradas no evangelho de Lucas:
“
Não julguem e vocês não serão julgados; não condenem e vocês não
serão condenados; perdoem e serão perdoados; deem e lhes será
dado; boa medida, prensada, sacudida e transbordante será dada a
vocês; porque com a medida com que tiverem medido vocês serão
medidos também (Lucas 6.37-38).
Por que você vê o cisco no olho do seu irmão, mas não repara na
trave que está no seu próprio olho? Como você poderá dizer a seu
irmão: ‘Deixe, irmão, que eu tire o cisco que está no seu olho’, se você
não repara na trave que está no seu próprio olho? Hipócrita! Tire
primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar
o cisco que está no olho do seu irmão (Lucas 6.41-42).
O conselheiro cristão deve evitar a todo custo, assumir uma postura de orgulho
espiritual, julgando-se superior ao aconselhando. Somos apenas vasos de barro
nas mãos do oleiro (2 Coríntios 4.7). Todos nós cometemos muitos pecados,
caímos, temos fraquezas e passamos por dificuldades. Por isso, é importantíssimo
que o conselheiro cristão seja empático, autêntico e não seja possessivo. Na lite-
ratura especializada essas atitudes são consideradas fundamentais para um acon-
selhamento cristão efetivo para uma ajuda genuína. Mariano (2016, p. 60-61) ao
citar Barrientos (1991), apresenta, por outro lado, uma lista com os principais
aspectos que o conselheiro cristão deve estar atento durante o aconselhamento:
106
UNICESUMAR
107
UNIDADE 3
Mgbejiofor (2017), em seu artigo “The Seven Pillars of Christian Counseling: Be-
drock to Christian Education (Os sete pilares do aconselhamento cristão: alicerce
para a educação cristã)”, identifica sete habilidades que devem ser desenvolvidas
pelo conselheiro cristão:
1. Habilidade de acolher
2. Habilidade de escutar
3. Habilidade de comentar
4. Habilidade de perguntar
5. Habilidade de confrontar
6. Habilidade de ensinar
7. Habilidade de avaliar
OLHAR CONCEITUAL
Os sete pilares do aconselhamento cristão
108
UNICESUMAR
comunicar acolhimento. Por exemplo, acenos de cabeça para cima e para baixo
indicam que o conselheiro cristão está compreendendo o que o aconselhando está
verbalizando. Collins (2011) enfatiza que o conselheiro deve demonstrar ao acon-
selhando que está prestando atenção a tudo o que ele diz. Isso envolve:
“
(a) contato visual - olhar nos olhos da pessoa, mas não fixamente,
como forma de transmitir compreensão e desejo de ajudar; (b) pos-
tura - que deve ser relaxada e não tensa, inclinando-se, periodica-
mente, na direção do aconselhando; e (c) gestos – naturais, mas não
excessivos, nem de um tipo que possa distrair a atenção do interlo-
cutor. O conselheiro deve ser cortês, gentil e fortemente motivado
a compreender os outros (COLLINS, 2011, p. 48).
Moltmann (2014) enfatiza que Deus não fica distante observando o sofrimento
humano, ele se envolve com sua criação, com o sofredor e abandonado: “Ele ouviu
a dor do seu povo que era escravo no Egito e os livrou com mão forte, guiou Israel
durante 40 anos no deserto. E também sofreu com eles no cativeiro babilônico.
Deus sofre no sofrimento do seu povo. Deus sente a dor que seu povo sente, no
abandono da Cruz, Deus sentiu a dor de ser rejeitado” (MOLTMANN, 2014, p.
347). Acolher o outro é encontrá-lo em sua dor e sofrimento, através da empatia.
Habilidade de escutar envolve mais do que atenção passiva ou indiferente às
palavras que vêm da outra pessoa. A escuta eficaz é um processo ativo que envolve
a capacidade de deixar de lado os seus próprios conflitos, preconceitos e preocu-
pações, enquanto pessoa, para que você possa atuar como conselheiro cristão, em
favor do seu aconselhando. Para isso, é importante evitar expressões verbais e não-
-verbais sutis de desaprovação ou julgamento sobre o que está sendo dito, mesmo
quando o conteúdo for ofensivo ou chocante. Mais do que escutar o que é dito
em palavras, é necessário estar atento ao tom de voz, o ritmo da fala, ideias que se
repetem, assim como a postura, os gestos, as expressões faciais e outras pistas que o
aconselhando apresenta. Isso se chama, na escuta ativa, de “ouvir com os olhos”. Isso
envolve também, esperar pacientemente, durante períodos de silêncio ou lágrimas,
enquanto o aconselhado cria coragem suficiente para compartilhar algo doloroso
ou faz uma pausa para organizar seus pensamentos. Collins (2011, p. 48-49) indica
que para que o processo de escuta seja eficiente, é necessário:
109
UNIDADE 3
“
Ser capaz de deixar de lado seus próprios conflitos, tendências e
preocupações para poder se concentrar no que o aconselhando está
transmitindo.
Ouvir não apenas o que está sendo dito, mas perceber o que está
sendo omitido.
110
UNICESUMAR
tender como ele se sente ou pensa. Tenha cuidado para não comentar após cada
declaração, mas faça isso periodicamente. Mariano (2016, p. 63) identifica como
pontos importantes para um aconselhamento diretivo:
“
Orientar ou liderar dialogicamente.
111
UNIDADE 3
112
UNICESUMAR
113
UNIDADE 3
“
Nesse tipo de dinâmica são comuns frases como: ‘Neste exato mo-
mento, estou me sentindo frustrado com você’, ou ‘Estou começan-
do a ficar irritado, porque acho que você não está prestando atenção’.
Essas declarações francas permitem aos indivíduos expressar e ela-
borar suas emoções e sentimentos negativos antes que estes cresçam
e envenenem a alma. As respostas imediatas também ajudam os
aconselhandos (e conselheiros) a compreender melhor como suas
ações afetam os outros e como eles reagem emocionalmente nas
relações interpessoais. Essa compreensão é um importante aspecto
didático do aconselhamento (COLLINS, 2011, p. 51).
“
O aconselhamento pelo discipulado tem por objetivo o treinamento
das pessoas para serem agentes eficazes no crescimento de crentes
rumo à integridade em Cristo. É aprender a trabalhar em coopera-
ção com o Espírito Santo no processo de santificação. Por essa razão
devemos aprender a combinar Discipulado com Aconselhamento
(SWEETEN apud HURDING, 2013, p. 346).
114
UNICESUMAR
“
Nenhum conselheiro deve tentar inventar novas questões, nem for-
çar os aconselhandos a falar de tópicos que eles não querem discutir.
Porém, seu trabalho será mais frutífero se você aprender a ouvir
com sensibilidade, sabendo que muitas das coisas que ouvimos têm
outro significado além do aparente (COLLINS, 201, p. 51).
115
UNIDADE 3
Mesmo assim, seu trabalho será mais eficaz se você aprender a ouvir com sensi-
bilidade e tentar não aceitar tudo ao pé da letra. “Também ajuda, se você estiver
ciente de que nenhuma pessoa, nem mesmo os conselheiros, podem ouvir com
total objetividade” (MGBEJIOFOR, 2017, p. 102). Todos nós temos filtros pes-
soais, familiares, culturais, teológicos e outros que nos ajudam a classificar e dar
sentido às informações que vêm à nossa mente. Tudo isso aponta novamente
para a necessidade de sabedoria e discernimento do conselheiro. Parte disso
vem com a experiência, mas os cristãos sabem que a sensibilidade vem com
mais frequência quando oramos, pedindo discernimento, orientação, clareza e
percepção precisa que vem do Espírito Santo.
Um aspecto importante é levantado na pesquisa de Bufford (1997) sobre as
diferentes abordagens de aconselhamento cristãs, que são muito mais parecidas
do que podem parecer inicialmente. Ele elencou sete elementos básicos comuns
às abordagens de aconselhamento cristãs existentes e que devem nortear a atua-
ção de um conselheiro cristão (BUFFORD, 1997, p. 118-119):
116
UNICESUMAR
117
UNIDADE 3
Leia com atenção o relato abaixo descrito por Clinebell (2000, p. 76-83):
Bill Shaw telefona para Kurt Matthews, pastor de uma igreja no centro
da cidade, para solicitar um atendimento. Ele havia aparecido na igreja
três semanas antes da ligação e não havia retornado. Ele não estava
em seu quarto na filial local da YMCA quando o pastor tentou visitá-lo.
Quando voltou, encontrou o cartão do pastor com uma breve men-
sagem: “Lamento não ter encontrado. Fiquei feliz em vê-lo na igreja!” Essa
visita aparentemente improdutiva levou Bill a telefonar pedindo ajuda. O
cartão, que ele carregava na carteira vários dias antes da ligação, comuni-
cava a preocupação do pastor, bem como seu número de telefone.
Bill: Olá, aqui é Bill Shaw. Encontrei o seu cartão. Lamento não estar em
casa quando você chegou. (Sua voz tinha um tom monótono).
Pastor: Bom ouvir, Bill! Passei para cumprimentá-lo e dar-lhe as bo-
as-vindas à comunidade. Você é novo na cidade?
Bill: Sim, mudei-me para a costa de St. Louis no mês passado. Decidi
que tentaria recomeçar a vida por aqui.
Pastor: Bem, estou feliz por tê-lo conosco. Como estão as coisas para você?
Bill: Bom, mas é um pouco difícil se acostumar com um novo lugar. A
propósito, há algumas coisas que eu gostaria de discutir com você. Não
quero tomar muito do seu tempo, mas... ah.:. ,
Pastor: Será um prazer vê-lo. Que horas você tem? Qual você acha que é
a melhor hora para passar no meu escritório?
Bill: Bem, estou procurando um emprego agora, então não tenho prob-
lema de tempo.
Pastor: Infelizmente eu tenho que sair da cidade agora para uma con-
ferência. Mas conte-me um pouco sobre sua situação.
Bill: Bem, minha esposa pediu o divórcio há três meses, e desde então
tenho me sentido muito deprimido. Durante estes últimos dias, senti
como se tivesse que olhar para cima para ver o chão. Não tenho con-
seguido dormir muito.
Pastor: Parece-me que as coisas não estão indo bem para ele. Você terá
tempo para nos encontrarmos na igreja em vinte minutos?
Bill: Sim, mas não quero atrasar sua viagem.
Pastor: Ok. Eu gostaria de poder falar com você um pouco antes de
partir. Meu escritório fica na Oak Street. Há uma entrada separada da
igreja. Te espero às 13h15.
Bill: Tudo bem, eu vou vê-lo então.
No dia e hora marcados, o pastor recebe a visita de Bill Shaw, cumpri-
mentando-o na porta de seu escritório e depois de uma pequena con
118
UNICESUMAR
versa inicial sobre o tempo, ele diz: "Conte-me mais sobre sua situação".
Isso encoraja Bill a se concentrar em seu problema como ele o percebe
(o "problema como é"). Quase sempre há problemas mais profundos
dos quais o aconselhando pode não estar ciente, mas a regra de ouro é
começar com o problema como ele é.
Ao longo de sua descrição, Kurt gradualmente adquire algumas informações
básicas sobre a vida e os relacionamentos complicados de Bill. Ele descobre
que ele tem trinta e sete anos, que foi casado por doze anos tempestuosos
antes de se divorciar, que tem dois filhos e que teve vários empregos, prin-
cipalmente como mecânico de automóveis. Kurt se lembra das palavras de
Bill ao telefone sobre "começar de novo", sugerindo que seu modo de vida
anterior desmoronou. Enquanto Bill fala, o pastor ouve tentando perceber os
grandes sentimentos entre os muitos que Bill expressa:
Bill: Este divórcio me atingiu como uma tonelada de tijolos. Claro, tivemos
nossos desentendimentos e ela estava me ameaçando com o divórcio,
mas quando aconteceu, não pude acreditar. Eu me assustei, naturalmente,
mas principalmente eu senti que algo grande estava faltando.
Pastor: Você se sentiu derrotado e vazio; algo extremamente importante
em sua vida tinha sido arrancado!
Bill: Sim, e a sensação de vazio é pior estando tão longe. Tenho muitas
saudades dos meus filhos. (Há uma grande tristeza em sua voz.) Meu
filho começou como escoteiro este ano, e essa é uma atividade em que
os pais deveriam estar com seus filhos.
Pastor: A distância torna a sua perda ainda mais dolorosa porque você
não consegue vê-lo e se envolver em sua vida.
(Neste ponto da entrevista, o pastor está simplesmente tentando ouvir e
refletir as atitudes e sentimentos dominantes do homem).
Bill: Sim, eu me pergunto se não cometi um grande erro ao me mudar
para cá. Eu queria ser um pai para os meus filhos e ainda assim senti
que tinha que deixar este lugar que me afetou. Tive azar nos meus
trabalhos, tive problemas em dois deles devido ao meu temperamento.
Eu pensei que talvez fosse melhor começar de novo onde eu não tinha
minhas velhas sombras por perto. Acho que também queria mostrar à
minha ex-esposa que eu não precisava dela, que eu poderia viver sem ela!
Pastor: A dor de ambos os problemas - trabalho e casamento - o fez
sentir que era melhor se mudar. Mas agora você tem sérias dúvidas
porque sente falta de seus filhos.
Bill: (Acena positivamente com a cabeça). Não há esperança para o meu
casamento, mas não quero que os meus filhos cresçam sem mim!
Pastor: Você se sente poderosamente puxado em duas direções.
119
UNIDADE 3
120
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
121
A partir do que vimos até aqui, quero convidar você a preencher o mapa de empa-
tia a seguir colocando as suas percepções sobre a atuação prática do conselheiro
cristão, em especial, com relação às pessoas que não se sentem acolhidas em suas
igrejas locais. Com a sua experiência de vida e de igreja, somado ao conhecimento
ad irido at a i, re ita e preencha o se mapa de empatia
Quais as posturas que você espera de um líder que está sendo criticado pelos membros da igreja?
4
Teologia e
Práticas em
Aconselhamento
Cristão
Me. Eugênio Soria de Anunciação
124
UNIDADE 4
Figura 1 - Tela do episódio 3: “Quando o amor diz ‘Ainda não’“, da Série de Mensagens “Cada um tem
a sua história”, baseada no evangelho de João 11.1-16 / Fonte: O autor
Descrição da Imagem: m tablet apoiado sobre ma mesa, com a tela li ada, sim lando m aplicati o
de streamin di ital mão es erda de ma pessoa toca a tela com os dedos indicador e pole ar, indi-
cando e reali ar o mo imento de pin a, para ampliar a tela no e seria ma escolha de pro rama
para assistir, c o t t lo Marta e Maria ando o amor di inda não
125
UNIDADE 4
mente dizer a ele que não sabemos o que fazer diante de algumas circunstâncias da
vida. Aquilo fez muito sentido para mim. Eu estou me sentindo exatamente assim.
Tenho um futuro pela frente, mas tenho muito medo e nem sei ao certo o porquê.
— Entendo perfeitamente — respondi para ele. — Quando o irmão de Marta
e Maria estava muito doente, elas puderam simplesmente mandar dizer a Jesus:
‘Aquele a quem amas está doente’. Muitas vezes não sabemos as causas das nossas
dores. O mais importante é saber que podemos dizer a Jesus que algumas coisas
não estão legais dentro da gente.
— Eu estou neste momento. Tem muita coisa bagunçada dentro do meu
coração. Eu não consigo sequer entender por onde começar, mas eu sei que
eu preciso de Jesus na minha vida!”
Aquele primeiro café foi o início de uma caminhada de transformação na
vida daquele jovem. Combinamos de nos encontrar no gabinete pastoral no dia
seguinte, para começarmos essa caminhada de aconselhamento cristão. No dia e
hora marcados, começamos essa caminhada de transformação. Iniciamos a con-
versa, pedindo que o Espírito Santo nos iluminasse e nos conduzisse à verdade,
ajudando a mim e a ele, para que entendêssemos o que não conseguiríamos de
outra forma. Após a oração, eu falei:
— Eu imagino que você esteja aqui à procura de respostas. Eu preciso come-
çar dizendo isso para você: ‘Eu não tenho as respostas que você procura’. O meu
papel aqui, em um primeiro momento, é ajudar você a fazer perguntas e em um
segundo momento, servir de ‘espelho’. Isso significa que eu vou repetir algumas
falas suas para que você se escute e juntos, na dependência do Espírito Santo, a
gente consiga compreender o que Deus quer, tudo bem?
Ele balançou positivamente com a cabeça, e iniciou:
— Mas eu não sei nem por onde começar…
Então respondi:
— Imagine que você está trazendo aqui para mim, uma caixa de quebra-ca-
beças, com 5.000 peças. Você vê a imagem pronta na caixa, mas quando despeja
o conteúdo na mesa, está tudo bagunçado. O nosso trabalho, aqui, será identificar
as peças-chave, para começar a montar esse quebra-cabeça. Com o tempo, va-
mos nos acostumando com a voz de Deus e tudo começará a se encaixar. Não se
preocupe em dizer as palavras certas. Fale o que vier ao seu coração.
Ele iniciou falando sobre alguns sentimentos do momento, como o medo do
futuro, de que ele não daria conta da sua vida, de que nunca seria capaz de fazer
126
UNIDADE 4
nada bom. Todo sentimento do presente, sempre é um eco do passado. Após ele
me falar sobre esses sentimentos, daquele momento, eu pedi que ele me falasse
um pouco sobre a sua relação com a sua mãe e com o seu pai. Ele poderia esco-
lher sobre quem falaria em primeiro lugar. As nossas primeiras relações humanas
determinam o tipo e a qualidade de relacionamentos que teremos no futuro, com
relação a Deus, com a gente mesmo e com os outros.
Quando ele começou a contar sobre as suas experiências de abandono, agressões
e violências emocionais e físicas que sofrera ainda na infância, entendi que aí estava
uma peça-chave importante para começarmos a montar o quebra-cabeça. Neste mo-
mento, expliquei para ele o plano de Deus ao colocar um bebê que sequer consegue
cuidar de si mesmo, em uma relação com um pai e uma mãe (às vezes biológicos, às
vezes adotivos), para fazer com que este bebê se desenvolva plenamente em todas as
dimensões da vida. Também expliquei que, por causa dos efeitos noéticos do pecado,
nem sempre nossos pais conseguem cumprir os seus papéis de maneira adequada e
que esses buracos vão se estabelecendo em nosso coração, reverberando durante toda
a nossa vida enquanto não tratarmos eles de maneira adequada.
O jovem ouviu atentamente as minhas explicações, e disse:
— Faz muito sentido isso, pastor! Eu nunca havia percebido isso, que as mi-
nhas histórias do passado me influenciavam ainda hoje. Eu achava que se eu
simplesmente não pensasse nelas, elas deixariam de existir.
Então eu finalizei aquele primeiro encontro:
— Por hoje, isso é o suficiente. Agora, eu preciso que você vá para a sua casa e
converse com Deus sobre tudo isso, durante a sua semana. Vamos nos encontrar na
próxima semana. Fique atento aos seus sentimentos. Pode ser que você fique muito sen-
sível, por estar revisitando essas experiências nesta semana. Mas lembre-se de que Deus
estará com você e que você pode dizer a todo momento a ele, o quanto está doendo.
127
UNIDADE 4
A partir das informações obtidas até aqui e do vídeo que você assistiu, escreva em seu
Diário de Bordo, qual é a forma como você se enxerga neste momento da sua vida.
128
UNIDADE 4
DIÁRIO DE BORDO
EU – MUNDO
(sujeito) – (objeto)
129
UNIDADE 4
De uma maneira muito simples, quando olho para o que existe fora de mim,
associo isso a um objeto a ser compreendido (seja esse “objeto” uma coisa, um
fenômeno da natureza, uma pessoa). Eu assumo o papel de sujeito, no sentido de
ser aquele que está tentando decifrar os enigmas do que estou vendo (objeto). Este
é um dos desafios da ciência – buscar compreender e explicar a realidade. Porém,
nem sempre o pensamento humano foi científico. O pensamento científico é um
processo metodológico que
“
parte da definição de um objeto a ser estudado, tendo como base um
referencial teórico apropriado para, a partir da observação e análise
de um conjunto de fenômenos, levantar hipóteses que possam ser
verificáveis, correspondendo objetivamente ao que podemos cha-
mar de realidade (PASSOS; USARSKI, 2013, p. 38).
Precisamos
Precisamos Precisamos
fazer o que a Eu preciso fazer o que
Ideia Central agradar os agradar ao
razão humana eu sinto
deuses Deus cristão
nos diz
Quadro 1 - A evolução do pensamento humano, como forma de explicar a realidade / Fonte: O autor
130
UNIDADE 4
A forma de pensamento humano que regia o Mundo Antigo foi uma evolução
do panteísmo (tudo e todos compõem a divindade), para o totemismo (plantas,
animais e ancestrais como divindades), depois para o politeísmo (vários deuses),
para o henoteísmo (vários deuses, mas um deus superior aos demais), até a no-
ção de monoteísmo (existência de apenas um deus verdadeiro). Essa tentativa
de explicar a realidade a partir de uma linguagem primitiva mágico-mística, foi
a origem do pensamento religioso, que é um sistema que ainda hoje influencia
poderosamente o pensamento do ser humano hipermoderno. Esse processo se
deu, porque todo movimento religioso é um movimento também social. Lembra
das socializações primária e secundária? Estão aqui presentes.
Para os filósofos empiristas como Locke e Hobbes, por exemplo, todo conhe-
cimento nasce da percepção dos sentidos humanos. O problema é que o conhe-
cimento de Deus não pode estar condicionado apenas às sensações humanas.
Por isso a teologia cristã concorda que o conhecimento humano de Deus não é
exaustivo, ou seja, não podemos conhecer Deus em sua totalidade, apenas naquilo
que o próprio Deus revelou sobre si. A teologia reformada, em sua aversão a toda
idolatria, insistiu que Deus ultrapassa infinitamente o nosso entendimento, a
nossa imaginação e a nossa linguagem. Calvino chegava a afirmar que “o coração
humano é uma perpétua fábrica de ídolos” (CALVINO, 1536/2003, p. 113). De
fato, em toda tentativa humana de se explicar a Deus, no sentido de defini-lo, há
o risco de se estabelecer um ídolo, um não-Deus:
“
É desrespeitoso! Pretendemos saber o que dizemos quando enuncia-
mos a palavra “Deus”! Atribuímos-lhe a posição mais alta de nosso
mundo e, em assim fazendo, colocamo-lo, fundamentalmente, na
mesma linha em que estamos, nós e as coisas materiais; achamos que
Ele “precisa de alguém” e que podemos ordenar as nossas relações
com Ele como arranjamos qualquer outro relacionamento. [...] Con-
fundimos a eternidade com a temporalidade. Esta é a nossa falta de
respeito no relacionamento com Deus. Secretamente, nesse nosso
modo de proceder, somos nós os Senhores. Para nós não se trata de
Deus, porém das nossas necessidades, de nossos desejos e conveniên-
cias, pelas quais queremos que Deus se oriente (BARTH, 2009, p. 52).
131
UNIDADE 4
“
Quem define a Deus está dizendo que, em últi-
ma instância, conhece a Deus. E quem afirma
que conhece a Deus, na realidade, não fala de
Deus em si, mas da representação de Deus que
nós humanos nos fazemos. O Evangelho o diz
sem rodeios: “Ninguém jamais viu a Deus” (Jo
1,18). Ou seja, Deus não está ao nosso alcance.
Fato este realçado pelos evangelhos sinóticos:
“Somente o Filho conhece o Pai” (Mt 11,27; Lc
10,22) (CASTILLO, 2017, p. 15).
“
A partir do momento em que Deus se revela e,
portanto, se dá a conhecer em um ser humano,
a partir deste momento, nossa maneira de en-
tender a Deus ficou radicalmente modificada.
Vale dizer, crendo em Jesus como “revelação
de Deus”, cremos em um Deus vinculado ao
humano de maneira indissociável, encarnado
no humano e, portanto, fundido com o huma-
no (CASTILLO, 2006, p. 69).
132
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: adro es em tico indicando d as linhas do tempo linha s perior, sinali-
ando a eternidade , remetendo hist ria de e s, o dimensão espirit al em ma lin a em b blica,
o tempo e se chama ho e se nda linha, sinali a a temporalidade , a hist ria da h manidade, o
dimensão h mana, e se encontra restrita ao espa o tempo entro desta linha, podemos er as atro
dimens es do e an elho, e ormam a dimensão da temporalidade ria ão c s e terra eda do
ser h mano eden ão em risto es s o a ria ão no os c s e no a terra ntre a linha de tempo
da dimensão h mana e a dimensão espirit al h ma seta indicando para cima, e se remete o a
ria ão no os c s e no a terra
Por isso, a revelação plena de Deus acontece em Jesus. Mais do que isso. Em Jesus há
uma dupla revelação. Ele revela o que Deus deseja que o ser humano conheça
sobre ele e revela também o tipo de ser humano que podemos vir a ser nele.
“
Ao referir-nos à “humanidade de Jesus”, na realidade estamos falan-
do mais propriamente de seu projeto de vida. Trata-se do extremo
oposto de tudo aquilo que significa “dominação” sobre a terra. E,
portanto, de tudo o que é próprio da “identificação”, daquilo que é
próprio da terra, do que está abaixo ou junto ao solo. É a partir desta
perspectiva que se torna possível viver e sentir como realidade a
nossa humanidade (CASTILLO, 2017, p. 33).
Por isso, como conselheiros cristãos, precisamos ter uma compreensão cristoló-
gica extremamente bíblica. Quando compreendemos quem Jesus realmente é e
a forma como ele revelou a Deus, e também como a humanidade pode vir a ser
Nele, começamos o processo de autoconhecimento, de nos tornarmos novas cria-
turas (2 Coríntios 5.17). Isso significa que o nosso parâmetro deve ser o próprio
133
UNIDADE 4
134
UNIDADE 4
PENSANDO JUNTOS
135
UNIDADE 4
Para uma compreensão do diálogo, Helde (2021) apresenta uma metáfora tridi-
mensional – a cabeça, o coração e a mão – para ilustrar a natureza multifacetada
do diálogo. Quando queremos entender, lidar, conduzir e ensinar o diálogo, todas
as três dimensões são importantes.
“
A cabeça refere-se à mente e aponta para a importância de adquirir
conhecimento sobre o diálogo com o objetivo de desenvolver uma
mente aberta e uma mentalidade dialógica – ou seja, uma cons-
ciência e capacidade de escolher conscientemente uma abordagem
dialógica, mesmo em situações de profundo desacordo que caso
contrário, pode levar à escalada de um conflito ou até mesmo a uma
briga. Em vez disso, a pergunta deve ser feita: “Eu quero ou preciso
(lutar e) vencer? Ou posso buscar oportunidades para dialogar com
a mente aberta, tentando entender outras perspectivas?”
136
UNIDADE 4
■ Ouvir
■ Ter consciência das suas suposições
■ Evitar colocar rótulos nas pessoas
■ Suspender o julgamento e o preconceito
■ Descubra a função do que está sendo verbalizado; pergunte qual é a fun-
ção desta fala?
■ Seja empático
“
Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Jesus, ven-
do-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, per-
guntou:
137
UNIDADE 4
O enfermo respondeu:
Uma tentação pela qual todo conselheiro cristão e capelão cristão passam é assu-
mir o papel de superiores, pelo fato de estarem aconselhando outras pessoas. Isso
é um grande risco. Acima de tudo, é importante que o conselheiro se reconheça
como alguém em falta. O conselheiro não é um sujeito sem culpa, isto é, perfeito,
sem problemas, totalmente espiritual, infalível, irrepreensível, com uma vida
inquestionavelmente santa, ou algo semelhante. Pelo contrário, o conselheiro é
apenas um ser humano sujeito à graça de Deus, e nada mais. Tem o seu próprio
espinho na carne e, sem ostentá-lo, tenta servir a Deus e aos outros:
“
E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações,
foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me
esbofetear, a fim de que eu não me exalte. Três vezes pedi ao Senhor
que o afastasse de mim. Então ele me disse: “A minha graça é o que
basta para você, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” De boa
vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo (2 Coríntios, 12.7-9).
138
UNIDADE 4
“
Os aconselhadores/as pastorais melhores preparados para auxiliar
as pessoas são aqueles não somente altamente treinados na teoria e
nas técnicas de aconselhamento da teologia, mas também pessoal-
mente treinados para refletir o caráter cristão dentro e fora da sala
de aconselhamento. Este caráter não pode ser credenciado através
de diplomas de graduação ou aprendido na sala de aula: ele vem de
anos de treinamento fiel nas disciplinas espirituais - oração, estudo
das Escrituras, reclusão, jejum, culto em comunidade (MCMINN
apud SCHIPANI, 2004, p. 121).
139
UNIDADE 4
culpa, amor, simpatia, entre outros, que ele realmente sente por outra pessoa, com
pouca, ou nenhuma consciência disso. O conselheiro cristão é chamado a estar
sempre atento aos seus sentimentos. À luz da Bíblia, os piores resultados de acon-
selhamento cristão ocorrem quando o conselheiro não tem este autoconhecimento
e autocontrole suficientes, para estar atento aos seus próprios erros:
“
Jesus lhes contou também uma parábola: — Será que um cego pode
guiar outro cego? Não é fato que ambos cairão num buraco? — O
discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for
bem-instruído será como o seu mestre. — Por que você vê o cisco no
olho do seu irmão, mas não repara na trave que está no seu próprio
olho? Como você poderá dizer a seu irmão: “Deixe, irmão, que eu
tire o cisco que está no seu olho”, se você não repara na trave que está
no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu olho
e então você verá claramente para tirar o cisco que está no olho do
seu irmão (Lucas 6.39-42).
Não há como impedir que haja a transferência, isto faz parte da nossa natureza
humana. O que é possível evitar é deixar que esses sentimentos controlem os seus
pensamentos e os seus comportamentos. Introspecção é a capacidade de olhar
para dentro de nós mesmos e analisar os nossos sentimentos e as nossas atitudes.
Essa é uma habilidade muito importante a ser desenvolvida não apenas na sua
atuação como conselheiro cristão, mas como pessoa, pois ela traz muito ganho
nas relações humanas. A introspecção é o processo de “acessar diretamente os
nossos próprios processos psicológicos internos, julgamentos, percepções ou
estados” (VANDENBOS, 2010, p. 531). Em outras palavras, é a capacidade de
olhar para dentro de si mesmo. Essa é uma capacidade que é desenvolvida a partir
das disciplinas espirituais, principalmente na leitura devocional da Palavra de
Deus e de momentos específicos de oração. Uma outra ajuda muito importante
para evitar a transferência, é o próprio conselheiro cristão ter a ajuda e o apoio
de outro conselheiro cristão mais experiente.
140
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
141
UNIDADE 4
“
Você, porém, por que julga o seu irmão? E você, por que despreza o seu
irmão? Pois todos temos de comparecer diante do tribunal de Deus. Como
está escrito: “Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo
joelho, e toda língua dará louvores a Deus.” Assim, pois, cada um de nós
prestará contas de si mesmo diante de Deus. A liberdade e o amor. Por-
tanto, deixemos de julgar uns aos outros. Pelo contrário, tomem a decisão
de não pôr tropeço ou escândalo diante do irmão (Romanos 14.10-13).
O apóstolo Paulo também adverte: “Por isso, você é indesculpável quando julga
os outros, não importando quem você é. Pois, naquilo que julga o outro, você
está condenando a si mesmo, porque pratica as mesmas coisas que condena”
(Romanos 2.1). Por esta razão o conselheiro cristão deve se abrir onde mora a
dor do aconselhando, essa ferida que leva o aconselhando a agir como age e que
faz ele cair. Julgar não é uma boa opção, especialmente quando o julgamento é
baseado nas aparências. É essencial ver sempre além do que é evidente, como
o Senhor faz: “Ele terá o seu prazer no temor do Senhor. Não julgará segundo
a aparência, nem decidirá pelo que ouviu dizer (Isaías 11.3). Perceba que estar
atento ao conteúdo da dor do outro, não significa concordar com as decisões
erradas que ele toma. É apenas uma forma de tentar compreender as razões que
levam a pessoa a insistir em decisões equivocadas: “A tolerância é patrimônio das
verdadeiras convicções” (TOURNIER, 2002, p. 41).
Isto conduz à outra prática do conselheiro cristão, que é a aceitação incondi-
cional da pessoa. Isso significa que o conselheiro cristão aceita o aconselhando
como ele é e está – com todas as suas falhas, medos, fraquezas, pontos fortes e
outros atributos pessoais, bons ou maus.
“
De modo geral e instintivamente, costumamos focar em outras coi-
sas que não Deus e sua graça em busca de justificação, de esperança,
de significado e de segurança. Acreditamos no evangelho até certo
ponto, mas não passamos aos níveis mais profundos. A aprovação
alheia, o sucesso profissional, o poder e a influência, a família e a
identidade com o grupo - todas essas coisas servem como “mule-
tas funcionais” para nossos corações, ocupando o lugar de tudo o
que Cristo fez, e, por causa disso, continuamos a ser motivados em
grande medida pelo medo, pela raiva e pela falta de autocontrole
(KELLER, 2010, p. 149)
142
UNIDADE 4
A base bíblica para esta postura é o que encontramos na parábola dos dois filhos
perdidos:
“
Jesus continuou: — Certo homem tinha dois filhos. O mais moço
deles disse ao pai: “Pai, quero que o senhor me dê a parte dos bens
que me cabe.” E o pai repartiu os bens entre eles. — Passados não
muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu
para uma terra distante e lá desperdiçou todos os seus bens, vivendo
de forma desenfreada. — Depois de ter consumido tudo, sobreveio
àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade.
Então foi pedir trabalho a um dos cidadãos daquela terra, e este o
mandou para os seus campos a fim de cuidar dos porcos. Ali, ele
desejava alimentar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas
ninguém lhe dava nada. Então, caindo em si, disse: “Quantos traba-
lhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou morrendo
de fome! Vou me arrumar, voltar para o meu pai e lhe dizer: ‘Pai,
pequei contra Deus e diante do senhor; já não sou digno de ser cha-
mado de seu filho; trate-me como um dos seus trabalhadores.’” E,
arrumando-se, foi para o seu pai. — Vinha ele ainda longe, quando
seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.
E o filho lhe disse: “Pai, pequei contra Deus e diante do senhor; já
não sou digno de ser chamado de seu filho.” O pai, porém, disse aos
servos: “Tragam depressa a melhor roupa e vistam nele. Ponham um
anel no dedo dele e sandálias nos pés. Tragam e matem o bezerro
gordo. Vamos comer e festejar, porque este meu filho estava mor-
to e reviveu, estava perdido e foi achado.” E começaram a festejar.
— Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando voltava, ao
aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos
empregados e perguntou o que era aquilo. E ele informou: “O seu
irmão voltou e, por tê-lo recuperado com saúde, o seu pai mandou
matar o bezerro gordo.” — O filho mais velho se indignou e não
queria entrar. Saindo, porém, o pai, procurava convencê-lo a entrar.
Mas ele respondeu ao seu pai: “Faz tantos anos que sirvo o senhor
e nunca transgredi um mandamento seu. Mas o senhor nunca me
deu um cabrito sequer para fazer uma festa com os meus amigos.
Mas, quando veio esse seu filho, que sumiu com os bens do senhor,
gastando tudo com prostitutas, o senhor mandou matar o bezerro
143
UNIDADE 4
gordo para ele!” — Então o pai respondeu: “Meu filho, você está
sempre comigo; tudo o que eu tenho é seu. Mas era preciso festejar
e alegrar-se, porque este seu irmão estava morto e reviveu, estava
perdido e foi achado.” (Lucas 15.11-31).
Keller (2010, p. 167) enfatiza que “tanto o caminho sensual do filho mais novo
quanto o caminho ético do filho mais velho são becos sem saída espirituais”. A
única alternativa para ambos os caminhos, é o acolhimento que o pai concede aos
dois filhos – eles são aceitos pelo pai, independentemente das escolhas erradas
que fizeram pela vida – um em uma vida dissoluta e o outro em uma vida regrada.
Este é um aspecto incrível da graça revelada em Cristo Jesus e uma dimensão que
precisa ser resgatada pelos conselheiros cristãos:
“
A graça nos atinge quando estamos em grande dor e desassosse-
go. Ela nos atinge quando andamos pelo vale sombrio da falta de
significado e de uma vida vazia… Ela nos atinge quando, ano após
ano, a perfeição há muito esperada não aparece, quando as velhas
compulsões reinam dentro de nós da mesma forma que tem feito
há décadas, quando o desespero destrói toda a alegria e coragem.
Algumas vezes naquele momento uma onda de luz penetra nossas
trevas, e é como se uma voz dissesse: “Você é aceito. Você é aceito,
aceito pelo que é maior do que você, o nome do qual você não co-
nhece. Não pergunte pelo nome agora. talvez mais tarde. Não tente
fazer coisa alguma agora, talvez mais tarde você faça o bastante. Não
busque nada, não realize nada, não planeje nada. Simplesmente
aceite o fato de que você é aceito”. Se isso acontece conosco, expe-
rimentamos a graça (TILLICH, apud MANNING, 2005, p. 27-28).
É o que o apóstolo Paulo deixou muito claro: “Pois o amor de Cristo nos cons-
trange” (2 Coríntios 5.14) e, “Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém co-
nhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já
agora não o conhecemos deste modo. E, assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios
5.16-17). E para não restar dúvidas, ele enfatiza:
144
UNIDADE 4
“
Ora, tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo
por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber,
que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
levando em conta os pecados dos seres humanos e nos confiando a
palavra da reconciliação (2 Coríntios 5.18-19).
Deus ama tanto a humanidade, que em Cristo, ele indica que aceita a todos nós.
E ele nos ama tanto que deseja nos transformar de dentro para fora, em uma ação
sobrenatural do seu Espírito Santo. Dessa forma, o aconselhamento cristão e a
capelania cristã, são ferramentas preciosas no processo de santificação de cada
um de nós. É o que os evangelhos chamam de gente que ouve as palavras de Jesus
e as coloca em prática, sendo comparadas a uma casa que é construída sobre a
rocha, em contraposição a uma casa construída sobre a areia.
PENSANDO JUNTOS
145
UNIDADE 4
“
Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça
no falar, é um indivíduo perfeito, capaz de refrear também todo o
corpo. Ora, se colocamos um freio na boca dos cavalos, para que nos
obedeçam, também lhes dirigimos o corpo inteiro. Observem, igual-
mente, os navios que, sendo tão grandes e impelidos por fortes ventos,
são dirigidos por um pequeníssimo leme, e levados para onde o piloto
quer. Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes
coisas. Vejam como uma fagulha incendeia uma grande floresta! Ora,
a língua é um fogo; é um mundo de maldade. A língua está situada
entre os membros do nosso corpo e contamina o corpo inteiro, e
não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como
também ela mesma é posta em chamas pelo inferno (Tiago 3.2-6).
Por esta razão, a orientação bíblica encontrada em Tiago 1.19 é clara: “Vocês
sabem estas coisas, meus amados irmãos. Cada um esteja pronto para ouvir, mas
seja tardio para falar e tardio para ficar irado”. Estar pronto para ouvir, significa
prestar atenção ao que o outro diz, segui-lo em todas as suas palavras, segui-lo
em suas emoções, sentimentos, pensamentos, atitudes e narrativas. Ao ouvirmos
com atenção, poderemos ver com mais clareza. Ao fazê-lo, vamos além do bem
e do mal; nos concentramos no aconselhando e em sua circunstância. Estamos
interessados em saber o que realmente aconteceu com ele. Onde está a pedra
de tropeço que afeta a sua vida, como ele a ver, como lida com isso, que papel
146
UNIDADE 4
desempenha em sua vida, entre outras questões. Ser tardio para falar significa
pensar com calma antes de dizer algo. O bom conselheiro cristão ouve muito
e fala pouco. É um erro pensar que o conselheiro é obrigado a saber o que está
acontecendo com o outro. Quem melhor pode responder a esta pergunta é o
próprio aconselhando. O conselheiro cristão deve estar sempre em espírito de
oração, quando atende um aconselhando. Por essa razão, antes de falar alguma
coisa, ele precisa perguntar ao Espírito Santo se deve falar o que veio ao seu
coração. Muito importante: falar, não significa dizer o que você acha. A melhor
estratégia de fala no aconselhamento, tem a ver com as perguntas. As perguntas
iluminam o caminho da vida; não há melhor resposta do que aquela cujo signi-
ficado leva a melhores perguntas.
Quando você atua como um conselheiro cristão; isto é, quando a função de
aconselhamento é exercida sob a supervisão ou sob a aprovação de uma igreja,
as pessoas assumem (ou têm a fantasia) que a nossa opinião representa a opinião
autorizada de Deus. Se fomos designados para esse papel, certamente é porque
Deus assim o dispôs. Por que duvidar do que dizemos? Se dissermos sim, é sim;
se dissermos não, é não. Sob essa condição, as pessoas apenas acreditam, e nossas
palavras afetam consideravelmente a sua existência, para melhor ou para pior.
Nossas palavras têm o dobro ou o triplo de poder só porque as dizemos como
representantes de Deus, e porque as pessoas nos atribuem esse lugar dentro de
sua esfera afetiva mesmo sem perceber, seja verdade ou não.
147
UNIDADE 4
“
Um dos principais sofrimentos experimentados por aqueles que
estão no ministério chama-se baixa auto-estima. Muitos líderes e
ministros hoje sentem cada vez mais que conseguem causar muito
pouco impacto. Estão muito ocupados, mas não veem muito efeito.
Parece que os seus esforços são infrutíferos. Enfrentam um núme-
ro decrescente de pessoas nas reuniões da igreja, e descobrem que
psicólogos, psicoterapeutas, conselheiros e médicos são, frequente-
mente, mais dignos de créditos do que eles (NOUWEN, 2002, p. 19).
Todos nós temos o anseio de sermos aceitos e valorizados. Quando somos procu-
rados por pessoas, para ajudá-las em suas necessidades, devemos lembrar que o
nosso papel como conselheiros cristãos é apenas conduzir essas pessoas a Cristo.
Não podemos cair na tentação de assumir a transferência que o aconselhando faz
sobre nós. O alvo é ajudar o aconselhando a se aproximar de Jesus:
“
O cristianismo não é uma ideologia contraposta a outras. É uma vida
inspirada pelo Espírito Santo. Suas vitórias são apenas vitórias sobre si
mesmo, e não sobre os outros. Ele se propaga mediante a humildade e
voltando-se para si mesmo, não por meio de vitórias. De modo que, se
quisermos ajudar o mundo na crise atual, não devemos acreditar que
há dois lados que se enfrentam: o de Cristo, do qual fazemos parte, e
o dos demais, que são nossos adversários. Paremos de dizer: “Voltem
a nós, porque possuímos a verdade”. Mas digamos: “Voltemos todos
juntos a Cristo” (TOURNIER, 2002 p. 143).
148
UNIDADE 4
“
Em verdade, em verdade lhes digo: quem não entra no curral das
ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, esse é ladrão e sal-
teador. Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das
ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele
chama as suas próprias ovelhas pelo nome e as conduz para fora.
149
UNIDADE 4
Depois de levar para fora todas as que lhe pertencem, vai na frente
delas, e elas o seguem, porque reconhecem a voz dele. Mas de modo
nenhum seguirão o estranho; pelo contrário, fugirão dele, porque
não conhecem a voz dos estranhos (João 10.1-5).
150
UNIDADE 4
Tempo
É prudente definir um horário específico e sistemático para as sessões
de aconselhamento; quando vocês se verão, qual o dia da semana e
qual a duração de cada sessão. Haverá momentos em que o aconsel-
hando vai querer permanecer em sessão, até resolver uma infinidade
de dúvidas, entretanto, isso deve ter um limite de tempo, entre outras
razões porque o problema a ser abordado deve ser limitado. O aconsel-
hando saberá que terá apenas um prazo definido para apresentar a sua
situação. Definir um dia e hora fixos a cada semana ajuda o próprio ac-
onselhando a sistematizar internamente o que ele trará a cada sessão.
Normalmente o tempo de cada sessão é fixado em 50 minutos quando
o aconselhamento é individual, e no máximo uma hora e meia quando
é familiar (incluindo aconselhamento de casal ou matrimonial).
Local
Um local específico deve ser definido para cada sessão. Tome nota do
fato de que uma sessão de aconselhamento não é um encontro social,
mas é uma atividade em que o aconselhando busca a cura para uma
área emocional/espiritual da sua vida. Por essa razão, o local designado
deve, acima de tudo, permitir privacidade. Não deve ser um lugar de
trânsito pelo qual outras pessoas passem de vez em quando. Deve ser
um espaço privado onde o aconselhando possa falar, chorar, se deses-
perar, até gritar (e até usar palavras de alto som), com total liberdade e
sem que outros o observem. No entanto, além dessas condições ideais,
alguns conselheiros se reúnem com os aconselhandos em um café mais
ou menos discreto. Conheço um que usa um Starbucks durante a man-
hã para realizar suas consultorias. Uma última observação: o conselheiro
cristão muitas vezes vai a vários lugares em busca de ovelhas perdidas.
Você pode ir a um parque, a uma cantina, a uma cela de prisão, a um
lixão, à rua ou a qualquer outro lugar onde se encontrem ovelhas. O
conselheiro geralmente se adapta às demandas do local, e mesmo as-
sim, deve manter ao máximo as condições mínimas de enquadramento
sem perder de vista, nem o conselheiro, nem o consulente, que se trata
de um ato de aconselhamento. Um aspecto muito importante: o ideal
é que homens aconselhem outros homens e mulheres aconselhem
outras mulheres, para evitar que haja transferências perigosas que es-
timulem envolvimentos amorosos inadequados.
151
UNIDADE 4
Clareza
O conselheiro cristão deve deixar bem claro desde o início, que a sua
formação é cristã e que seu aconselhamento segue essa linha; e que
em alguns momentos ele, como conselheiro cristão, poderá usar a
Bíblia. Obviamente, se alguém procura um conselheiro cristão que atua
diretamente nos escritórios pastorais da Igreja, imagina-se que essa
pessoa sabe que o conselheiro atue dessa forma. Contudo, é importante
certificar-se de que eles sabem. É muito importante evitar surpresas e,
principalmente se o aconselhando não for cristão, esclareça a questão
sem entrar em polêmicas inúteis para ouvi-lo e ajudá-lo. Talvez quando
o aconselhando não-cristão veja a misericórdia e a sabedoria do con-
selheiro, fique intrigado para saber de onde ele obtém sua paz e queira
um pouco dela. Um exemplo disso é a reação que a mulher samaritana
teve diante do Senhor no poço de Jacó (João 4.1-39).
Disponibilidade
Existem casos de emergência nas quais o aconselhando passa por uma
situação emocional difícil, como por exemplo, a luta para abandonar
algum vício, o início de um tratamento antidepressivo, ou ainda estar
vivendo sob constante e intenso estresse familiar. Em situações assim, é
necessário que o conselheiro cristão preste apoio urgente no momento
menos esperado. É importante decidir de acordo com as circunstân-
cias de cada conselheiro se o conselheiro poderá ou não o procurar
a qualquer hora do dia ou da noite. Em caso positivo, é importante
esclarecer ao aconselhando a necessidade de ele aprender a lidar
com a própria vida, e concordar com ele sobre a possibilidade de ligar
por telefone caso ele se sinta muito mal, e precise falar. Essa atitude é
importante quando, por exemplo, temos um aconselhando que acaba
de sair de uma tentativa de suicídio e vai em busca de ajuda espiritual.
Certamente o psicólogo ou psiquiatra que o atende previu uma recaída;
Considerando isso, não faz mal receber uma segunda fonte de apoio
sem esquecer a primeira. No entanto, existem outros casos em que o
aconselhando é extremamente exigente e isso faz parte do seu prob-
lema pessoal. Ele não aprendeu a enfrentar a vida sozinho e age de
forma infantil na maioria das vezes exigindo atenção constante. É um
caso extremo; há outros casos intermediários que também demandam
atenção contínua. É importante reconhecer quando pode surgir uma
emergência e quando é o próprio sujeito que tece excessivamente uma
dependência crescente do conselheiro que deve ser evitada.
152
UNIDADE 4
OLHAR CONCEITUAL
153
UNIDADE 4
Rapport é uma palavra de origem francesa, que significa “trazer de volta”. O ra-
pport é utilizado como uma técnica capaz de criar ligação entre as pessoas, uma
conexão para facilitar a comunicação. Sem esquecer a importância de ouvir e
responder calorosamente aos sentimentos, há certas questões para as quais o
conselheiro precisa de respostas, de preferência durante a primeira sessão. Para
Clinebell (1987, p. 81), “se essas respostas não forem obtidas durante a primeira
fala do aconselhando, o conselheiro deve fazer as perguntas diretamente, uma
vez que o relacionamento tenha começado a se estabelecer”. Entre eles, listamos:
NOVAS DESCOBERTAS
154
UNIDADE 4
155
maior parte do e apreendemos em nosso c rebro se d a partir dos est -
m los is ais Para a d lo a fi ar o conte do desta nidade, eremos e
oc desen ol a m Mapa Mental sobre a toconhecimento e as pr ticas do
aconselhamento cristão partir do conte do apresentado
amos l
5
Temas e
Procedimentos em
Aconselhamento e
Capelania Cristã
Me. Eugênio Soria de Anunciação
158
UNICESUMAR
159
UNIDADE 5
Pelo caminho foi matutando: “Essa mulher não me engana, está querendo me
aprontar alguma coisa e eu não vou deixar barato. Vou mandar-lhe um presente
para ver sua reação”. Chegando em casa, preparou uma bela cesta de presentes,
cobrindo-a com um lindo papel, mas encheu-a de esterco de vaca. “Eu adoraria
ver a cara dela ao receber esse ‘maravilhoso’ presente. Vamos ver se ela vai gostar
dessa”. Mandou a empregada levar o presente à casa da rival, com um bilhete:
“Aceito sua proposta de paz e para selarmos nosso compromisso, envio-te esse
lindo presente”. A mulher estranhou o presente, mas não se exaltou. “O que será
que ela está propondo com isso? Não estamos fazendo as pazes? Bem, deixa pra
lá” – pensou consigo mesma. Alguns dias depois, a vizinha que havia enviado o
esterco de presente, atende a porta e recebe uma linda cesta de presentes coberta
com um belo papel. No exato momento ela pensou: “Ah… É a vingança daquela
asquerosa. O que será que ela me aprontou?” E qual não foi a sua surpresa ao
abrir a cesta e ver um lindo arranjo das mais belas flores que podiam existir num
jardim, e um cartão com a seguinte mensagem: “Estas flores são o que te ofereço
em prova da minha amizade. Foram cultivadas com o esterco que você me enviou
e que proporcionou excelente adubo para meu jardim. Afinal, cada um dá o que
tem em abundância em sua vida”.
E então, eu concluí:
– “Preste bem atenção nisso: ‘Ninguém dá o que não tem’. A sua mãe deu a
você o que ela tinha. Infelizmente, não era o que você precisava. A pergunta, a
partir de agora, que você está se encontrando com Cristo, é: ‘o que você fará com
o que estão dando para você?’”
Hoje, esse jovem de 18 anos já cresceu e se desenvolveu muito mais em sua
vida e caminhada cristã. É visível o quanto o Espírito Santo tem transformado e
usado a vida dele. Ele ensinou a nossa comunidade de fé a vivermos em família.
Inclusive, o seu batismo foi um momento marcante na vida da igreja, onde foi
visível a transformação que apenas o Espírito Santo pode realizar na vida de
pessoas machucadas.
Assim como na experiência deste rapaz, todos nós temos histórias familia-
res que contribuíram para formar quem nós somos – para o bem e para o mal.
Olhando para a sua história de vida, você consegue perceber o quanto as suas
experiências familiares contribuíram para a sua formação? Todas as nossas ex-
periências familiares deixam marcas positivas e negativas. Não há como fugir
160
UNICESUMAR
disso. Uma questão importante é como podemos lidar com essas experiências,
para extrair o melhor de cada uma delas? Como o aconselhamento cristão e a
capelania cristã podem ajudar as pessoas a encontrar essas respostas?
A família é um ambiente de crescimento emocional, ou de adoecimento emo-
cional. Os filhos, são a melhor expressão dos desajustes familiares. É verdade que
não existe família perfeita, mas as suas disfunções são sinalizadas na forma como
os filhos se apresentam:
“
Quando uma pessoa tem dificuldades de passar de uma etapa à outra
do ciclo vital, as tensões internas do sistema familiar ou conjugal se
incrementam e podem ser absorvidas por uma pessoa desse sistema,
que passa a apresentar sintomas. Tais sintomas são facilmente con-
fundidos com doenças e, muitas vezes, precipitadamente tratados de
forma isolada de todo o conjunto - o que promove uma desorganiza-
ção ainda maior. Um exemplo claro pode ser visto quando pais e mães
têm certos padrões educacionais (especialmente disciplinares), para
os filhos quando estes estão na primeira e segunda infância, e mantêm
os mesmos padrões quando os filhos entram na adolescência. Tratar
os filhos adolescentes com os padrões infantis é sinônimo de infantili-
zá-los e isso causa reações nos filhos, as quais são interpretadas como
rebeldias ou até doenças (GRZYBOWSKI, 2021, p. 5-6).
161
UNIDADE 5
Freitas et al. (2020), realizaram pesquisa para avaliar a influência das rela-
ções familiares na saúde e no estado emocional dos adolescentes, chegando
à conclusão de que “os aspectos das relações familiares têm maior peso para
o estado emocional dos adolescentes. A constatação é de que o adequado
funcionamento familiar se relaciona negativamente ao início de problemas de
comportamento na adolescência” (FREITAS et al., 2020, p. 105). Isso significa
que quanto mais funcional for uma família, menos problemas de comporta-
mento haverá por parte de um adolescente.
Diferentemente do que se imagina, os pais não perdem um filho na adoles-
cência. A rebeldia adolescente é apenas a manifestação daquilo que se perdeu na
infância. Contudo, nunca é tarde para se estabelecer conexões. A fé cristã enfatiza
as segundas chances que Deus dá ao ser humano.
A partir das informações obtidas até aqui e do podcast que você escutou, escreva
em seu Diário de Bordo, como você se sente em relação à sua adolescência – o
que você mais gostaria que tivesse acontecido, para ajudá-lo a ter saúde emocio-
nal? Como você pretende contribuir para desenvolver a saúde emocional de seus
filhos, netos e sobrinhos? E enquanto um conselheiro cristão, como você acha
que poderá auxiliar os adolescentes que te procuram?
162
UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
163
UNIDADE 5
“
O Senhor Deus disse ainda: “Não é bom que o homem esteja só; farei
para ele uma auxiliadora que seja semelhante a ele” (Gênesis 3.18).
Então, o Senhor Deus fez cair um pesado sono sobre o homem, e este
adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. E
da costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus formou uma
mulher e a levou até ele. E o homem disse: “Esta, afinal, é osso dos
meus ossos e carne da minha carne; será chamada varoa, porque do
varão foi tirada.” Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mu-
lher, tornando-se os dois uma só carne. Ora, um e outro, o homem e a
sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam (Gênesis 3.21-25).
164
UNICESUMAR
À luz deste texto bíblico, o conceito cristão de casamento é que homens e mulhe-
res entram no casamento como iguais. Deus não retirou a mulher da cabeça do
homem, para ela ser superior a ele e tampouco a retirou dos pés do homem, para
que ela fosse inferior a ele. Na narrativa bíblica, Deus retira a mulher da costela do
homem, ou seja, do lado, para ser igual, debaixo do braço, para ser protegida e do
lado do coração, para ser amada. É verdadeiramente triste o quanto esta incrível
verdade bíblica foi se perdendo no processo cultural das sociedades humanas.
Já na época de Jesus, a pergunta que se fazia era com relação à legitimidade da
decisão do marido em se separar da sua esposa por qualquer motivo (Mateus
19.1-12; Marcos 10.1-12). A opção de separação no casamento pertencia apenas
ao homem e não à mulher, afinal, ela era apenas mais uma propriedade dele, pois
“para se tornar sua esposa, ele precisou comprá-la como qualquer mercadoria”
(JEREMIAS, 2010, p. 483).
Outro aspecto muito importante e fundamental para a compreensão teo-
lógica da importância da família na saúde do indivíduo, está no versículo 25
de Gênesis 3: “Ora, um e outro, o homem e a sua mulher, estavam nus e não se
envergonhavam”. Em uma relação conjugal é mais fácil desnudar o corpo, do
que desnudar o coração. Antes da queda, homem e mulher viviam nus e não se
envergonhavam - não havia o que se esconder um do outro. Depois da queda,
eles se esconderam de Deus, e um do outro, com folhas de figueira.
Embora haja um forte apoio na Bíblia para os papéis a serem desempenha-
dos por homens e mulheres, os casais cristãos são convidados, desde o início, a
abordar o casamento como uma parceria. O propósito final da família é criar um
ambiente de amor. O colapso ou rompimento dessa parceria igualitária é uma das
principais causas para o fracasso do desenvolvimento de um ambiente de amor:
“
Quando os pais descumprem, sucessivamente, as regras por eles es-
tabelecidas, ensinam aos filhos três atitudes indesejáveis: (1) que as
regras não são para serem cumpridas; (2) que a autoridade (pais ou
professores) pode ser desrespeitada; além de (3) ensinar manipula-
ção emocional. Esta aprendizagem terá sérias consequências para as
atitudes futuras da criança ou do adolescente (GOMIDE, 2004, p. 17).
165
UNIDADE 5
A consequência dos efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano foi fatal desde
o início, promovendo a ruptura de comunicação entre o marido e a esposa. Após
darem ouvidos às mentiras da serpente e desobedecerem a Deus, ambos se es-
condem de Deus e um do outro. As folhas de figueira não foram suficientes para
esconder a culpa que ambos sentiam. Entretanto, nenhum deles quis assumir a
responsabilidade. O erro tinha sido cometido pelo outro. Este é o padrão que se
repete até hoje nos casamentos. Maridos e esposas jogam a responsabilidade da
sua infelicidade um sobre o outro. Essa é uma decorrência do aprendizado em
suas famílias de origem:
“
É a partir da experiência do relacionamento do pai e da mãe que
cada indivíduo cria um esquema de como se relacionar com seu
parceiro ou sua parceira nas formas de expressar afeto, lidar e en-
frentar (ou não) as dificuldades e resolver conflitos. É o subsistema
conjugal que fornece aos filhos e às filhas o modelo para as relações
íntimas e cotidianas (GRZYBOWSKI, 2021, p. 8).
166
UNICESUMAR
Como resultado, Caim, o filho celebrado e preferido, ao se deparar com o fato de ele
não ser tratado por Deus da mesma maneira, decide agir como um pequeno tirano,
provavelmente pensando assim: “já que eu não fui aceito e muito menos a minha
oferta, então, eu tirarei a vida do meu irmão; Deus não terá nem a ele e nem a mim”.
Caim mais uma vez se relaciona com Deus na base da sua autossuficiência religio-
sa. Os resquícios dessa forma de relacionamento com Deus perduram até hoje na
humanidade: “Por isso, na visão cristã, o pedido de ‘livramento do mal’ é dirigido ao
Pai nosso; o mal nada mais é do que justamente o caos, a desordem, a desmedida. O
Pai nos livra do mal dando-nos a ordem, separando-nos do caos” (RISÉ, 2007, p. 21).
Do ponto de vista da poimênica e da teologia, todas as crises de relacionamen-
to assumem o seu início, em nosso relacionamento rompido com Deus. Assim
como Adão e Eva tiveram o seu relacionamento com Deus rompido por causa do
167
UNIDADE 5
pecado e dos efeitos noéticos sobre eles, a sua relação como indivíduos e casal foi
igualmente afetada, atingindo também os seus relacionamentos futuros com os
seus filhos. Observamos, então, as seis dimensões de relacionamentos rompidos,
a partir do pecado e sua atuação no coração humano:
“
Decaímos a um nível não só de perversão do conhecimento, mas tam-
bém de natureza; somos rebeldes contra Deus porque temos culpa
verdadeira, reversos quanto aos pensamentos porque mudamos a ver-
dade em mentira, inversos quanto à teorreferência porque queremos
ser deuses de nós mesmos - e somos fugidios quanto ao seu amor. Se
ímpios, vivemos sob a presença, o poder e a penalidade do pecado. Se
redimidos, estamos livres da penalidade do pecado, mas vivemos ainda
a tensão da presença e do poder do pecado (GOMES, 2014, p. 24-25).
168
UNICESUMAR
“
Se não sabemos que existe uma pessoa como Deus, não sabemos a
primeira coisa (a coisa mais importante) sobre nós mesmos, uns aos
outros e nosso mundo. Isso porque... a verdade mais importante sobre
nós e eles, é que fomos criados pelo Senhor e dependemos totalmente
dele para nossa existência contínua (PLANTINGA, 2000, p. 217).
Geralmente, os efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano são usados apenas
para explicar a doença física e a morte. Contudo, a nossa incapacidade de confiar
em Deus e a corrupção de nossa capacidade de raciocinar livremente, é mais do
que plenamente expressa em nossa rejeição a Jesus Cristo. A verdade é que os
efeitos noéticos do pecado sobre o ser humano são desastrosos. Quando Eva foi
tentada pela serpente no jardim, e Adão comeu do fruto proibido, eles não reali-
zaram simples atos de rebelião. A tentação “vocês serão como Deus” (Gênesis 3.5)
não era uma afirmação de que os humanos realmente se tornariam divindades,
mas sim que eles se tornariam autônomos, “conhecedores do bem e do mal” por
conta própria, sem referência a Deus! Em vez de aceitar a palavra de Deus, Eva
a julgou e tentou entendê-la com referência a si mesma: a criatura tentou julgar
o seu Criador. Ela tapou os ouvidos do seu coração e como uma criança peque-
na ignorando os seus pais, gritou repetidamente: “Eu! Eu! Eu!” Ao se afastar de
Deus, Adão e Eva, e toda a humanidade depois deles, estavam realmente tentando
cometer suicídio ontológico. Se o que nos torna humanos é que fomos criados à
imagem de Deus, então negar Deus é negar a própria coisa que nos torna huma-
nos. O pecado procura destruir e, no nosso caso, estamos dispostos a participar
da tentativa de nos aniquilar. Assim, o pecado traz a morte. Por essa razão, toda
demanda apresentada no aconselhamento cristão e na capelania cristã leva muito
a sério o poder e a influência do pecado!
PENSANDO JUNTOS
Existe uma religião que convive muito bem as três grandes religiões do mundo: cristia-
nismo, islamismo e hinduísmo, e supera a todas. É a religião do eu quero o que é meu!
(Millôr Fernandes)
169
UNIDADE 5
■ Uma mãe que é bruta com os seus filhos e alega que nunca recebeu cari-
nho quando era criança.
■ Um adolescente assume uma postura rebelde diante de seus pais.
■ Uma mulher se sente ressentida por não ter a vida que queria.
“
A maioria das pessoas passa a vida tentando transformar em rea-
lidade os sonhos mais caros a seu coração. Mas a vida não é isso,
“a busca pela felicidade”? Procuramos incessantemente modos de
adquirir tudo o que desejamos e nos dispomos a sacrificar muito
para alcançá-las. Nunca imaginamos que concretizar os desejos
mais profundos do nosso coração talvez seja a pior coisa que po-
deria nos acontecer (KELLER, 2018, p.29).
Perceba que a egolatria - esse desejo de ser adorado como um deus, é algo muito
sutil e que só pode ser vencido a partir da ação do Espírito Santo de Deus na vida
da pessoa, através da Palavra de Deus. Paulo aborda isso em Colossenses 1.21,
quando afirma que por causa do nosso pecado fomos “inimigos no entendimento
pelas obras más que praticavam”. Nossa imoralidade e atos perversos não são os
motivos primários para nossa separação de Deus, como alguns diriam, mas sim
a forma de pensar hostil que está por trás deles:
“
Procedendo ao aconselhamento, o conselheiro deverá manter em
mente que seu trabalho consiste em fazer a hermenêutica da Es-
critura enquanto faz a hermenêutica da pessoa à luz da Palavra, a
fim de ajudá-la no processo de transformação espiritual da teoria e
prática de vida (GOMES, 2014, p. 93).
170
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
171
UNIDADE 5
Outra tendência interessante que afeta o casamento hoje é que “20% dos casamen-
tos no Ocidente começam on-line, a partir de sites de namoro, enquanto um terço
dos casais de baby boomers se encontram on-line” (LITCHFIELD, 2014, p. 69).
O resultado é que a terapia de casais está em crescente demanda e se tornou
a parte principal da terapia familiar, e, também, o tipo mais comum de aconse-
lhamento em geral. A visão bíblica do casamento é que Deus pretendia que fosse
um relacionamento permanente e duradouro entre um homem e uma mulher,
independentemente das provações, doenças, reveses financeiros ou estresses
emocionais que possam ocorrer. Deus está fortemente comprometido com a
instituição do casamento e odeia o divórcio e o repúdio (Malaquias 2.16). Os
conselheiros e capelães cristãos, em geral, precisam estar comprometidos em
manter o casamento e encorajar os casais a resolver os problemas em vez de fugir
deles. Litchfield (2014, p. 70) identificou em pesquisa realizada na Austrália, das
42 questões que mais surgem no aconselhamento cristão em casamento:
172
UNICESUMAR
• Dependência e codependência.
• Aborto.
• Necessidades básicas de marido e mulher não atendidas.
• As crianças e os problemas dos pais.
• Doença crônica e dor.
• Problemas de comunicação e resolução de conflitos.
• Aliança, amor, papéis.
• Casamentos transculturais.
• Violência doméstica e abuso.
• Casamentos de facto (coabitação).
• Diferenças nos sexos, temperamentos e outras diferenças.
• Casamentos de idosos.
• Síndrome do ninho vazio.
• Problemas de família e amigos.
• Problemas de gestão financeira.
• Culpa.
• Falta de compromisso com o casamento.
• Baixa autoestima e identidade.
• Infertilidade.
• Vício em Internet e mídia (tecnologia).
• Pornografia na internet.
• Intimidade (espiritual, intelectual, emocional, física).
• Lazer e questões recreativas.
• Climatério masculino e feminino.
• Problemas de casamento de meia-idade.
• Aborto espontâneo.
• Misoginia e codependência.
• Problemas recém-casados.
• Problemas de personalidade.
• Problemas pré-matrimoniais.
• Problemas de crianças e jovens.
• Problemas de novo casamento.
• Ressentimento.
• Separação e divórcio.
• Vício sexual.
• Problemas sexuais e disfunções sexuais.
• Questões espirituais (religiosas).
• Televisão.
• Infidelidade e adultério.
• Negócios inacabados da família de origem ou casamentos anteriores.
• Gravidez indesejada e filhos.
173
UNIDADE 5
“
a) Comunicação defeituosa – esta é uma das principais causas de
discórdia conjugal. É quando um não consegue ouvir ou responder
ao outro. E isso se dá pelas mensagens verbais e não verbais, em nos-
so dia a dia. Por exemplo, quando um marido diz “eu te amo”, para
ele fazer isso é comprar um presente; mas sua esposa não o entende,
pois quer ouvir literalmente as palavras de sua boca.
174
UNICESUMAR
- As exigências profissionais.
175
UNIDADE 5
Não é à toa que vemos pessoas altamente estressadas no dia a dia. A família
deveria ser um ambiente de conforto e refúgio do mundo exterior. Entretanto,
como cada um dos cônjuges já vem carregado de bagagens da vida, somada à
expectativa de que o outro deveria me fazer feliz, o ambiente familiar se torna
um barril de pólvora. Aquela ideia de que “viveram felizes para sempre” vem
atrelada à noção de “me casar com alguém que me faça feliz”. Você percebe o
quanto o pecado nos desconecta de nós mesmos e do outro? A responsabilidade
da minha vida é jogada sobre a vida de outra pessoa - a minha alegria ou infeli-
cidade são consequência do outro e nunca minha. Litchfield (2014), procurando
dar ferramentas de apoio aos conselheiros cristãos, identificou as cinco fases do
casamento. Segundo ele o casamento funcional passa por cinco estágios normais
e progressivos de crescimento no amor:
“
Amor idealista — isso ocorre durante o primeiro período de romantismo
e idealismo, durante o qual há uma moldagem em unidade. É quando o
amor é cego, quando há muito romance e amor eros.
Amor realista — muitas vezes vem logo após o casamento, mas pode
levar um ou dois anos. É encarar a realidade. É caracterizada por
expectativas fracassadas, diferenças, conflitos, impacto do histórico
familiar e o surgimento de peculiaridades de personalidade.
176
UNICESUMAR
Algumas ações práticas são importantes, dentre elas, o gerenciamento das di-
ferenças entre os cônjuges. Deus criou as pessoas individualmente e exclusiva-
mente: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe.
Graças te dou, visto que de modo assombrosamente maravilhoso me formaste;
as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (Salmo 149:13-
14). Muitas características são determinadas antes do nascimento. Muitas outras
são determinadas pela cultura, herança familiar, modelo e experiência. Aceitar
as diferenças entre as características pode ser fonte de muitos problemas para os
casais. Por isso, é muito importante que o conselheiro e capelão cristãos atuem
para desenvolver o diálogo entre o casal em crise.
177
UNIDADE 5
“
Reabrir suas linhas de comunicação bloqueadas e aprender habili-
dades de comunicação mais efetivas.
178
UNICESUMAR
179
UNIDADE 5
ta: “A análise dos últimos onze anos indica que, enquanto os homicídios de mu-
lheres nas residências cresceram 10,6% entre 2009 e 2019, os assassinatos fora das
residências apresentaram redução de 20,6% no mesmo período, indicando um
provável crescimento da violência doméstica” (CERQUEIRA et al. 2021, p. 41).
Brasil: Taxa de homicídios de mulheres dentro e fora das residências (2009 a 2019)
4,0
3,5
3,5 3,4 3,4 3,4
3,0 3,2 3,3 3,3 3,2 3,2
Taxa de homicídios
3,0
2,5
2,0 2,3
1,5
1,0 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2 1,3 1,3 1,3 1,2
1,1 1,1
0,5
0,0
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Taxa de homicídios na residência Taxa de homicídios fora da residência
Figura 1 - Brasil: Taxa de Homicídios Dentro e Fora das Residências (2009 a 2019)
Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de
Estudos e nálises da Dinâmica Demográfica e S/S S/CG E - Sistema de nforma es sobre or-
talidade - S número de homicídios de mulheres na F de residência foi obtido pela soma das
seguintes C Ds : 5- e 35, ou se a: óbitos causados por agressão mais interven ão legal
Mesmo com a criação de leis como a “Lei Maria da Penha” (2006), que torna crime
a violência contra a mulher, incluindo violência física, sexual, psicológica, patri-
monial e moral (BRASIL, 2006), e a “Lei do Feminicídio” (2015), que estabelece
o feminicídio no rol dos crimes hediondos, a violência contra a mulher segue
aumentando de maneira alarmante.
A CPI da violência contra a mulher da Câmara Municipal de São Paulo ela-
borou uma cartilha on-line como um guia de apoio a mulheres em situação de
violência doméstica, na qual qualifica violência física, sexual, psicológica, patri-
monial e moral (CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2021).
180
UNICESUMAR
■ Ameaças.
■ Constrangimento e/ou Humilhação.
■ Ridicularização e/ou Insultos.
■ Chantagem e/ou Exploração.
■ Isolamento: proibir de estudar, viajar ou de falar com amigos e parentes.
■ Vigilância constante e/ou Perseguição.
■ Limitação do direito e ir e vir.
■ Tirar liberdade de crença.
■ Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sua me-
mória e sanidade.
181
UNIDADE 5
■ Controlar o dinheiro.
■ Deixar de pagar pensão alimentícia.
■ Estelionato.
■ Causar danos propositais a objetos da mulher ou dos quais ela goste.
■ Destruição de documentos pessoais.
■ Furto.
■ Privar de bens, valores ou recursos econômicos.
■ Extorsão.
182
UNICESUMAR
“
O uso das armas brancas e de outros tipos de armas, por si só, não
sugere uma configuração específica e, assim como os crimes co-
metidos durante o dia, podem estar associados a várias situações
de violência letal. Mas é mais comum que sejam usadas em crimes
cometidos em contextos de violência familiar ou doméstica, quando
a fatalidade decorre de um conflito interpessoal crescente, no qual
a morte não é ‘planejada’ e o agressor recorre a objetos que estejam
disponíveis no ambiente (GOMES, 2014, p. 227).
“
Mesmo perante o cenário existente no Brasil, em que uma a cada cin-
co mulheres, independentemente da idade e do nível de escolaridade,
refere já ter sido espancada pelo cônjuge, companheiro, namorado ou
ex-companheiros, a violência doméstica e familiar contra a mulher
é um fenômeno velado estimando-se que, em cada cinco mulheres
agredidas, uma não tenha tomado nenhuma atitude perante o ocor-
rido, o que remete à subnotificação e dificulta o conhecimento da real
dimensão do problema (VIANA et al., 2018, p. 924).
183
UNIDADE 5
“
Os motivos que levam os agressores a usarem suas forças ou outros
meios que machuquem as suas vítimas, por vezes, são motivos fú-
teis, tentam justificar seu descontrole na conduta da vítima, alegam
que foi a própria vítima quem começou, pois não faz nada correto,
não faz o que ele manda. Quando o agressor foi vítima de abuso ou
agressão na infância, tem medo e precisa ter o controle da situação
para se sentir seguro, por este motivo, usa a sua força na violência,
para ter o controle desejado, e é neste ponto que deve existir uma
reflexão e análise mais aprofundada quando do encarceramento do
indivíduo, trabalhar com ele o seu lado psicológico, querer saber
como foi sua infância, se ela foi perturbada ou tranquila, se teve
algum tipo de abuso na sua adolescência. Não basta a simples impo-
sição da condenação, é necessário um acompanhamento contínuo,
voltado à reabilitação deste agressor, com uma equipe multidis-
ciplinar, composta por psicólogos, assistentes sociais e assistentes
jurídicos (LORENCENA; WALTRICH, 2016, p. 2-3).
“
Querem entender o porquê de seu sofrimento e de sua permanên-
cia na relação violenta. Buscam na religião respostas para a trans-
formação do companheiro, que antes jurou amá-la e respeitá-la,
mas que agora a agride violenta e sistematicamente. Essa busca de
compreensão pode se dar, frequentemente, através da oração, do
diálogo com Deus. Muitas vezes, essa busca – ou até mesmo al-
gum aconselhamento religioso – as direcionam para a história da
crucificação de Jesus. Cria-se uma espécie de conformação com a
situação de violência através do sofrimento de Jesus, pois este é o
maior sofrimento existente (KROB, 2014, p. 210).
184
UNICESUMAR
O risco é quando a religião acaba validando as ações do agressor. Uma das prin-
cipais crises para as mulheres cristãs que frequentam alguma igreja evangélica,
tem a ver com o medo de elas estarem em pecado simplesmente ao pensarem
na possibilidade de se separar do companheiro agressor. Muitas vezes esse senti-
mento é reforçado por um posicionamento de lideranças evangélicas que retiram
textos bíblicos de seus contextos, como pretexto para suas opiniões.
Nos evangelhos, vemos duas narrativas sinóticas em Mateus 19.1-12 e em
Marcos 10.1-12. Dependendo da tradução que se lê, a pergunta gira em torno
da ação repudiar/divorciar: “É permitido ao homem repudiar a sua mulher por
qualquer motivo?” (Mateus 19.3; Marcos 10.2). A pergunta feita a Jesus pelos
fariseus, revelava muito mais do que uma simples curiosidade da lei.
Na cabeça dos fariseus - o sexo forte, o homem, a imagem de Deus - tem o
direito de exercer o seu poder sobre tudo: a terra, os animais, os outros e, prin-
cipalmente, sobre a mulher. Para os fariseus, quem não é homem está abaixo do
gênero masculino e, por isso, é considerado como alguém inferior, uma coisa, um
produto, que serve para servir, que serve apenas para ser consumido.
Jesus conhecia as intenções humanas. Ele sabia o que se passava no coração
dos homens, das mulheres e das crianças. Ninguém conseguia se esconder dele.
Até hoje é assim. A resposta de Jesus é imediata, citando a Lei: “No princípio, o
Criador, os fez homem e mulher, e os dois se tornarão uma só carne” (Gênesis
2.24). A ênfase de Jesus está neste fato: “o que Deus uniu, ninguém separe”. Para
Jesus não há pessoas melhores do que outras. O mundo não está dividido entre
santos e pecadores, como bem gostavam de enfatizar os fariseus. O mundo é feito
de pessoas – gente que foi criada à imagem e semelhança de Deus! O Criador os
fez homem e mulher: diferenças que se complementam! Não se dando por satis-
feitos, os fariseus perguntam: “Então, por que Moisés mandou dar uma Certidão
de Divórcio à mulher e mandá-la embora?” (Mateus 19.7; Marcos 10.4) Mais uma
vez, Jesus os deixou desconcertados: “Moisés permitiu que vocês se divorciassem
de suas mulheres, por causa da dureza do coração de vocês. Mas não foi assim
desde o princípio” (Mateus 19.8; Marcos 10.5-6).
Divórcio é um dos temas mais espinhosos pelo fato de que o pensamento
evangélico acerca do divórcio ser profundamente influenciado por ideias que
nem sempre são bíblicas, mas essencialmente moralistas. Muitos casais que passa-
ram por divórcio, foram excluídos, sendo considerados pessoas de segunda classe,
gente que não conseguiu cumprir com a sacralidade do matrimônio. Muitas atro-
185
UNIDADE 5
186
UNICESUMAR
187
UNIDADE 5
foi contaminada. Seria detestável para o Senhor. Não tragam pecado sobre a terra
que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança” (Deuteronômio 24.2-4).
Repudiar, não significava divórcio, mas abandono! Se um homem repudiasse
a sua esposa, sem lhe dar a Certidão de Divórcio para continuar a sua vida, quem
se oporia? A mulher repudiada?
Pois Jesus se opôs! Citando a importância do cuidado com as mulheres re-
pudiadas, ele afirmou: “É mais fácil o céu e a terra desaparecerem do que cair da
Lei o menor traço. Quem repudiar a sua mulher e se casar com outra mulher
estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher repudiada
pelo seu marido estará cometendo adultério” (Lucas 16.17-18). Jesus condenou a
maldade desses homens em despedir, repudiar uma mulher que quase não teria
chances de sobreviver! Ele fazia coro com os profetas: “Eu odeio o repúdio, diz
o Senhor, o Deus de Israel, e o homem que se cobre de violência como se cobre
de roupas”, diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam
infiéis” (Malaquias 2.16). O fato é que Deus odeia o repúdio, pois mandar a mu-
lher embora sem o resguardo e proteção de uma Certidão de Divórcio é ser infiel
contra o próprio Deus! Jesus usou onze vezes a palavra repúdio e em todas elas,
ele proibiu essa atitude. Jesus nunca proibiu a Certidão de Divórcio, requerida
pela Lei. Tanto isso é verdade que, em lugar algum nos Evangelhos, lemos alguma
afirmação de Jesus nestes termos: “Se o homem conceder Certidão de Divórcio à
sua mulher, ambos cometerão adultério”. A Certidão de Divórcio era vista como
dos males, o menor, pois era uma forma de proteger a mulher repudiada.
“A Certidão de Divórcio deixava a mulher livre” (VAUX, 2004, p. 62) para re-
construir a sua vida, possibilitando inclusive, a condição de casar-se novamente!
Isso mesmo! A Torah entendia que a Certidão de Divórcio era uma forma de
preservar a dignidade da mulher – depois do primeiro casamento dissolvido, ela
poderia casar novamente. Isso é confirmado na história dos judeus:
“
Aquele que por qualquer motivo quiser separar-se da mulher, como
acontece frequentemente, prometer-lhe-á por escrito que jamais a
tornará a pedir de volta, a fim de que ela tenha liberdade de tornar a
casar-se – e não se permitirá o divórcio senão com essa condição. E
se depois de haver casado com outro, esse segundo marido a tratar
mal ou vier a morrer e o primeiro a quiser receber de novo, não lhe
será permitido voltar para junto dele (JOSEFO, 1990, p. 225).
188
UNICESUMAR
Jesus respondeu de uma forma a não deixar dúvidas aos seus questionadores. A
pergunta era se, por “qualquer razão”, o homem poderia repudiar a sua mulher. “A
resposta de Jesus foi que, por “algum motivo”, sim, é possível o homem se separar de
sua mulher, mas por “qualquer motivo”, não, ele não pode se separar da sua mulher”
(TASKER, 2011, p. 143). Contudo, mais do que isso, Jesus fez questão de enfatizar
que o marido deveria pensar duas vezes antes de dar a Certidão de Divórcio à sua
esposa, pois ela poderia se tornar esposa de outro homem e, por isso, não poderia
voltar a ser esposa dele, mesmo que fosse repudiada por seu novo marido, ou ele
morresse. O contexto bíblico do divórcio, significa proteger a mulher desamparada.
Uma mulher que sofre algum tipo de violência doméstica: psicológica, física,
sexual, patrimonial ou moral, não pode passar por mais violência emocional, a
partir de uma opressão em sua fé. Ela precisa ser orientada a lidar com a questão,
de modo a proteger a si mesma e aos seus filhos:
“
À essas mulheres, apenas falta o reconhecimento de que têm capacidade
para tal. Deus nos cuida com amor e nos estimula a fazer uso deste poder
interior, nos abrindo portas para entendermos quem somos e o quanto
somos importantes no mundo: “Posso enfrentar qualquer coisa com a força
que Cristo me dá”. No entanto, é fundamental entender que crer somente
em Deus não é o suficiente. É preciso confiar que Deus também crê em nós.
As mulheres que passam por situações de violência, geralmente, têm uma
autoestima tão prejudicada que demoram a perceber sua própria força.
Aos poucos, podem recuperar a dignidade humana que lhes foi roubada,
descobrindo-se como mulheres criadas por Deus para a felicidade, a soli-
dariedade e a vida plena. E então, estarão livres para cultivarem, antes de
mais nada, o amor próprio (KROB, 2014, p. 215).
Isso significa que o conselheiro cristão e o capelão cristão, ao olharem para a mulher
que sofre violência doméstica devem denunciar a agressão sofrida, pois além de pe-
cado, é crime, e orientar a mulher a procurar ajuda adequada, junto a organizações de
apoio a mulheres. Mais do que isso. A própria igreja pode ser um ambiente de prote-
ção, para que as mulheres da comunidade no entorno, não passem por isso sozinhas.
Do ponto de vista do agressor, o conselheiro cristão e o capelão cristão tam-
bém podem atuar de maneira positiva, auxiliando na transformação da mentali-
dade influenciada pelo pecado que faz os homens acreditarem serem superiores
às mulheres e tomarem consciência de que, em Cristo, é possível que eles sejam
189
UNIDADE 5
“
o processo de sentir ou expressar tristeza após a morte de um ente
querido, ou o período durante o qual isto ocorre. Ele envolve tipi-
camente sentimentos de apatia e abatimento, perda de interesse no
mundo exterior, e diminuição na atividade e iniciativa. Essas reações
são semelhantes à depressão, mas são menos persistentes e não são
consideradas patológicas.
190
UNICESUMAR
Embora o processo de luto seja diferente de pessoa para pessoa, existem expe-
riências semelhantes envolvidas em todos os processos normais de luto, incluindo
luto pela perda, reajuste após a perda e reorganização da vida. Kübler-Ross (2017)
desenvolveu os conhecidos cinco estágios do luto: negação, raiva, barganha, de-
pressão e aceitação - cada um ocorrendo em sua própria ordem, possivelmente
mais de uma vez, e sem tempo definido (CLINTON et al., 2005). Mas o que acon-
tece quando o processo normal de luto é prolongado, interrompido, ou ausente
desde o início? O luto normal pode facilmente se tornar um luto anormal, que
tem muitas formas, causas, problemas e resoluções; e com técnicas apropriadas e
adequadas de aconselhamento cristão, pode ajudar o aconselhando a voltar para
o caminho que muitos percorrem no processo normal de luto.
NOVAS DESCOBERTAS
191
UNIDADE 5
Quando essas tarefas não podem ser navegadas com sucesso, o luto pode se tornar
complicado, expresso nas seguintes respostas:
■ Luto prolongado – A pessoa está ciente de que o luto não está se resol-
vendo após muitos meses ou anos desde o evento da perda.
■ Luto retardado – As emoções da pessoa são frustradas, mesmo que pos-
sam ter tido uma resposta emocional no momento da perda.
■ Luto exagerado – Caracterizado por ansiedade excessiva, depressão ou
raiva que podem prejudicar o funcionamento normal da pessoa.
■ Sintomas somáticos ou comportamentais - A pessoa está experimentando
sintomas físicos ou problemas comportamentais sem estar ciente de que o luto
não resolvido pode estar no centro do problema (WORDEN 2001, p. 101).
192
UNICESUMAR
“
Em outubro de 2015, uma equipe de reportagem de televisão co-
briu a história de um menino de 10 anos chamado Kyler Bradley,
que foi diagnosticado com câncer no cérebro inoperável. A equipe
filmou Kyler em sua sala de aula cercado por seus amigos, que foram
instruídos pelo professor a “orar por um milagre”. As palavras exa-
tas do repórter no segmento de notícias foram: ‘‘Kyler acredita em
milagres. Assim como seus colegas de classe. A professora plantou
essa ideia quando contou a 30 crianças de 10 anos sobre o câncer de
Kyler”. Kyler morreu seis meses depois e, quando compartilhei essa
história com os educadores e conselheiros da minha rede profissio-
nal, houve uma discussão apaixonada sobre a escolha inadequada
da professora de usar a oração como estratégia de enfrentamento
para seus alunos. Nós nos perguntamos como os pais dessas crian-
ças lidaram com a pergunta inevitável: “Por que Deus não ouviu?”
(DANIEL, 2019, p. 197-199).
Esta é uma tensão existente entre a fé e a vida. Como cristãos, cremos no poder de
Deus para curar os doentes e ressuscitar os mortos. Por outro lado, cremos tam-
bém na soberania de Deus, que permanece no controle das situações que fogem
ao nosso controle. O problema não é que Deus não escute as nossas orações, mas
é que nós não conseguimos compreender os caminhos de Deus:
193
UNIDADE 5
“
“Porque os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, e os
caminhos de vocês não são os meus caminhos”, diz o Senhor.“Porque,
assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus cami-
nhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos
são mais altos do que os pensamentos de vocês (Isaías 55.8-9).
As crianças que oraram pela recuperação de Kyler, não apenas tiveram que chorar
a perda de seu amigo, mas também foram forçadas (pela insistência da professora
na oração) a lidar com questões teológicas complexas e uma crise de fé. Schipani
(2017 apud DANIEL, 2019, p. 199) aponta que muitas das crenças religiosas
tóxicas que reconhecemos hoje estão enraizadas nas tradições de fé abraâmica e
identifica algumas de suas principais características:
194
UNICESUMAR
pode até resultar na imposição de dano ao invés de alívio. A ajuda de Deus para
o luto não é, portanto, sentida de maneira uniforme” (MAXWELL; PERRINE,
2016, p. 179). Aqui se encaixa o conceito de “teologia tóxica” ao qual se refere
Daniel (2019). Este conceito foi baseado no conceito de “religião tóxica” de Mor-
row (1998), como “qualquer sistema no qual experiências e respostas humanas
legítimas são envergonhadas por instituições e sistemas religiosos” (MORROW,
1998, p. 266). A quebra emocional pode surgir quando a percepção de uma pessoa
das crenças e comportamentos exigidos por sua religião estão em conflito com a
experiência real da pessoa, fazendo-a se sentir envergonhada e diminuída, pois
a sua vida não condiz com o que ela diz crer.
A teologia é tóxica quando limita a experiência espiritual à mera aceitação
de crenças e doutrinas. As principais características da teologia tóxica incluem:
Daniel (2019, p. 200) identifica que a teologia tóxica inclui esses recursos:
Por outro lado, quando há a utilização de uma teologia bíblica saudável para o
aconselhamento cristão e a capelania cristã, em especial no acompanhamento do
195
UNIDADE 5
196
UNICESUMAR
A Bíblia está repleta de relatos sobre a morte e o luto de pessoas. No Antigo Tes-
tamento, por exemplo, lemos sobre Jacó chorando a perda de José e se recusando
a ser consolado (Gênesis 37.35), Davi lamentando a perda prematura do filho
recém-nascido (2 Samuel 12.15-23) e a morte de Absalão durante uma batalha
(2 Samuel 18.33), e Jeremias pranteando a morte do rei Josias (2 Reis 23.28-30).
No Novo Testamento, as muitas passagens sobre a morte e o luto podem ser
agrupadas em duas categorias, nas quais Cristo está relacionado:
“
1. Cristo deu outro sentido ao luto. Há muitos incrédulos que cho-
ram sem ter nenhuma esperança no futuro. Para eles, a morte é o fim
de um relacionamento — para sempre. Os cristãos não creem assim.
As duas passagens que falam mais claramente sobre esse assunto no
Novo Testamento, nos dão motivo para ter esperança até mesmo
nos momentos de dor. “Pois, se cremos que Jesus morreu e ressus-
citou, assim também Deus, mediante Jesus, trará juntamente em sua
companhia os que dormem”. Podemos confortar e animar uns aos
outros com essas palavras, convencidos de que, no futuro,“os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. [...] E,
quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o
que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra
que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.”’ Para o cristão,
a morte não é o fim da existência; ela é o começo da vida eterna.
Aquele que crê em Cristo sabe que os cristãos sempre estarão com
197
UNIDADE 5
Collins (2011, p. 415) pede para que o conselheiro cristão esteja atento ao enluta-
do e a alguns dos comportamentos a seguir, sendo que poucos ou nenhum deles
eram visíveis antes do falecimento do ente querido.
198
UNICESUMAR
199
UNIDADE 5
NOVAS DESCOBERTAS
200
UNICESUMAR
201
Um dos processos mais importantes para o conselheiro cristão e o capelão cris-
tão é o autoconhecimento. Ser consciente de seus pensamentos, sentimentos e
emoções, é fundamental para que o trabalho do aconselhamento/capelania seja
realizado de maneira adequada.
Quais você acha que são as necessidades das pessoas enlutadas que esperam conselhos?
UNIDADE 1
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UNIDADE 2
ACONSELHAMENTO
QUESTÃO CAPELANIA CRISTÃ
CRISTÃO
Acordo terapêutico
entre conselheiro Sim Não
e aconselhado
Duração do
Longa duração Curta duração
acompanhamento
214
Segundo Mapa Conceitual
Autor: Jay Edward Adams Autor: Gary Collins Autor: Howard J. Clinebell
Principais conceitos: Principais Conceitos: Principais conceitos:
Na confrontação a partir das A tarefa do conselheiro É baseado em libertação
Escrituras. Em outras palavras, o cristão está e crescimento.
aconselhando apresenta a sua profundamente ligado Diferentemente do que
dificuldade ao conselheiro, que ao seu objetivo como possa parecer, o modelo
deve confrontá-lo com o ensino discípulo de Jesus, de de aconselhamento de
claro da Bíblia, a respeito “levar o indivíduo a um Clinebell não está
daquela questão específica. relacionamento pessoal estabelecido em
com Jesus Cristo. princípios de cura e
Rejeitava qualquer tipo de
libertação do
integração do aconselhamento No modelo de Collins,
movimento de batalha
cristão com a ciências humanas, pode e deve haver um
espiritual.
para tratar da saúde emocional, diálogo e uma
não aceitando por exemplo, as aproximação entre O aconselhamento
contribuições da psicologia, da teologia e psicologia, pastoral tem como
psicanálise ou da psiquiatria. tendo sempre a Bíblia funções, estabelecer
como norte para o papéis curativo,
As doenças emocionais ocorrem
aconselhamento apoiador, orientador e
“por causa de seu
cristão. reconciliador na vida do
comportamento pecaminoso
aconselhando, a partir
não perdoado e inalterado” A igreja do Novo
do conselheiro, com o
(ADAMS, 1987, p. 13). Testamento era uma
propósito de conduzir as
comunidade
O modelo noutético é um tipo pessoas a descobrirem
terapêutica, atuando no
de aconselhamento, cujo os seus potenciais.
ensino, na
objetivo é orientar o
evangelização e no A ideia de ser humano é
aconselhando, para uma vida
discipulado. Por isso, fortemente influenciada
correta diante de Deus, a partir
todas as ações da igreja pela cosmovisão
da correção e da denúncia de
devem ter como foco, hebraica e do Antigo
qualquer padrão de
esta atuação Testamento, ou seja, o
comportamento que seja
terapêutica, a partir do ser humano não é
incoerente com a vida cristã.
cuidado mútuo. tratado como um ser
Para Adams, o aconselhamento dividido, mas integral,
O objetivo a ser
noutético pode ser realizado por como uma unidade de
alcançado no
todos os cristãos e não apenas dimensões, dentro de
aconselhamento, parte
os pastores, e pode ser uma visão holística, em
da observação e da
vivenciado como uma atividade uma visão comunitária.
escuta qualificada dos
normal da vida diária.
problemas e das O aconselhamento
A noutétese atua juntamente necessidades dos pastoral contribui para a
com a instrução e o ensino. A aconselhandos, porém, permanente renovação de
confrontação noutética parte sempre da vitalidade de uma igreja,
sempre do problema dependência da na mesma medida em
apresentado pelo aconselhando, direção do Espírito que as pessoas são
para tratar o pecado que é Santo. renovadas em seus
motivo do problema. relacionamentos e grupos.
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UNIDADE 4
O conselheiro é apenas um
ser humano sujeito à graça O aconselhamento é um
de Deus. dom dado por Deus.
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