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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M129c
Cérebro e afetividade: potencializando uma aprendizagem signi cativa / Alessandra Machado,
Mariana Fenta Elias; prefácio de Gustavo Teixeira. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2021.
96p : 21cm
Inclui bibliogra a-
ISBN 978-65-86095-57-9
1. Neurociência cognitiva. 2. Psicologia da aprendizagem. 3. Aprendizagem – Aspectos
siológicos. 4. Cérebro. I. Elias, Mariana Fenta. II. Teixeira, Gustavo. III. Título.
2021
Direitos desta edição reservados à Wak Editora
Proibida a reprodução total e parcial.
WAK EDITORA
Av. N. Sra. de Copacabana, 945 – sala 107 – Copacabana
Rio de Janeiro – CEP 22060-001 – RJ
Tels.: (21) 3208-6095, 3208-6113 e 3208-3918
wakeditora@uol.com.br www.wakeditora.com.br
Dedicamos esta obra a todas as pessoas que desejam ter
uma relação mais profunda com as questões cerebrais e
emocionais, compreendendo o quanto a afetividade é
imprescindível no processo de ensino e aprendizagem.
Sejam bem-vindos a esta incrível viagem, repleta de
informações importantes que potencializará novas
conexões neuronais.
Agradecemos a Deus pela oportunidade de estarmos realizando mais
um sonho de nossas vidas e carreiras.
Queremos agradecer a todas as pessoas que, de maneira direta ou
indireta, fazem parte da nossa história de vida, acompanhando nosso
trabalho e incentivando, de alguma forma, esse processo.
Agradecemos muito aos nossos familiares e amigos por todo apoio de
sempre.
Alguns agradecimentos muito especiais: à Wak Editora por ter
possibilitado que esse sonho se transformasse em realidade, editora pela
qual temos grande respeito e carinho, por todo trabalho de qualidade que
realiza; ao Dr. Gustavo Teixeira, que abrilhantou nosso livro com um
prefácio maravilhoso e que nos trouxe muita emoção. Temos por ele e pelo
CBI of Miami profunda admiração e respeito por todo trabalho de
qualidade que é realizado ao longo de muitos anos; gratidão e orgulho em
fazer parte desta equipe de excelência! Agradecemos a ambos (Wak
Editora e Dr. Gustavo Teixeira) pela credibilidade em nosso trabalho!
Não podemos deixar de agradecer, também, a todos os nossos
professores que zeram parte da nossa trajetória ao longo de muitos anos
de estudo e formação; a todos os nossos alunos (ex-alunos), pacientes (ex-
pacientes) e seus familiares que ajudaram a potencializar nossa vida
pro ssional! Gratidão a todos vocês!
A aprendizagem é um processo mútuo e constante, por isso:
“Quem nasceu para ensinar, nunca deve parar de aprender!”
(Paulo Freire)
Alessandra Machado e
Mariana Fenta Elias
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
A motivação e o cérebro da criança
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AS AUTORAS
O estudo do cérebro sempre me encantou desde as aulas de Anatomia
na faculdade de Medicina, mas foi apenas no mestrado em Educação na
Framingham State University que conheci sobre a importância da
afetividade para a construção de uma aprendizagem efetiva e duradoura.
Para que nossos alunos aprendam, é necessário encantá-los, e a
afetividade é protagonista nesse processo de ensino! Partindo dessa
premissa, cinco anos atrás, criamos o CBI of Miami, uma empresa de
educação 100% on-line focada em oferecer treinamentos em saúde mental
e Educação Especial para pais, educadores e pro ssionais.
Hoje, contamos com a colaboração de mais de 200 professores
universitários, distribuindo conhecimento cientí co de alta qualidade em
mais de 40 programas diferentes de pós-graduação lato sensu em parceria
com universidades brasileiras.
Esse grande ecossistema de ensino em saúde mental conta com o
trabalho fantástico da psicóloga Alessandra Machado e da psicopedagoga
Mariana Fenta Elias. Essas duas excelentes pro ssionais são coordenadoras
de diversos programas de pós-graduação do CBI of Miami e apresentadoras
do projeto de consultoria pedagógica do Compartilhando Ideias
Neuroeducação. Este livro é resultado de muitos anos de estudo, trabalho e
vivência acadêmica nas áreas de Pedagogia, Psicopedagogia, Psicologia
Educacional e Neurociência da Educação.
Aprimorar os conhecimentos técnicos e cientí cos a partir do estudo
deve ser o foco e a responsabilidade de todo pro ssional da educação, e
este livro é uma excelente ferramenta nesse sentido. Cérebro e afetividade
– potencializando uma aprendizagem signi cativa é um livro muito
prático, didático, objetivo e que oferece muito conhecimento cientí co
para auxiliar no dia a dia de sala de aula.
Desejo que essa obra seja lida por todos aqueles que acreditam na
ciência como ferramenta libertadora para o conhecimento e para ajudar o
próximo. Queridos professores, encantem!
Boa leitura!
Dr. Gustavo Teixeira, M.D. M.Ed.
Cofundador e diretor executivo do Child Behavior Institute of Miami (CBI of Miami).
Mestre em Educação Especial – Framingham State University.
Professor visitante do Departament of Special Education - Bridgewater State University.
www.cbiofmiami.com
Os avanços da Neurociência e da Tecnologia, principalmente nos
últimos anos, possibilitaram o maior conhecimento da estrutura e do
funcionamento do cérebro humano, o que foi de suma importância para
uma das comprovações mais marcantes que esse conhecimento trouxe,
que é a questão de que a razão e a emoção não podem ser separadas.
Dessa maneira, ca mais fácil compreender que a afetividade é a
“mola” propulsora para que a aprendizagem aconteça. Desa ar o cérebro
dos alunos, por meio de propostas que encantem ou que sejam prazerosas
e signi cativas, contribui para um maior número de sinapses, pelos
estímulos recebidos. Por isso, é primordial que os professores conheçam as
estruturas cerebrais como ferramentas da aprendizagem na construção de
conhecimentos.
A partir desse conhecimento, o professor conseguirá criar
oportunidades e meios para despertar a vontade de aprender do aluno e a
afetividade. O afeto não só ajuda a construir a aprendizagem mas também
é fundamental para a mediação e empatia entre professor e aluno. É no
cérebro afetivo e emocional que as emoções se organizam e determinam a
concentração, a memória e o prazer em aprender.
Com a Neurociência, a motivação e a afetividade, associadas à
aprendizagem, ganharam base cientí ca e, com isso, mostraram que
propostas prazerosas e desa adoras levam ao fortalecimento e ao
estabelecimento de redes neurais com muito mais facilidade. A
afetividade provoca sensação de bem-estar, satisfação, alegria, desenvolve
inteligência, melhora a relação interpessoal e intrapessoal e a qualidade do
registro na memória.
É importante que haja uma integração entre família e escola neste
processo de ensino e aprendizagem transformador, possibilitando que o
educando tenha sua aprendizagem valorizada além do ambiente escolar,
onde “muros” de resistência de pensamentos são desconstruídos, para que
sejam construídas “pontes” de afetividade, congruência e respeito ao ser
biopsicossocial existente dentro de cada criança.
Esta obra aborda a importância da valorização das emoções dos
educandos e educadores na dinâmica da sala de aula e na construção de
uma proposta educacional mais signi cativa e afetiva. Com tal proposta
sendo fundamentada no conhecimento amplo e atual da Neurociência
ligada à Educação, será possível realizar uma intervenção pedagógica mais
e caz e criativa, centrada no aluno e nas diferentes formas de ensinar e
aprender, atingindo, assim, resultados mais e cazes e duradouros.
Somente a partir da compreensão de que o ser humano é um ser
biopsicossocial, é possível ressigni car as estratégias de ensino e
aprendizagem e melhorar a qualidade na formação e capacitação dos
professores.
Este livro foi baseado na leitura de pesquisas sobre Neurociência,
Educação, Psicologia, Neuropsicopedagogia e Neuropsicologia e, também,
em alguns artigos importantes das Revistas Mente e Cérebro e Psiqué e de
sites especializados, como o psiqweb e psiquiatria infantil.com. O estudo
alicerçou-se por meio de obras dos autores: António Damásio, Roberto
Lent, Daniel e Michel Chabot, Marta Pires Relvas, Jean Piaget, Lev
Vigotsky, Ramon Consenza, Serrano Freire, dentre outros, que serão
descritos na referência bibliográ ca.
“A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria,
capacidade cientí ca, domínio técnico a serviço da mudança
ou lamentavelmente, da permanência do hoje”.
(Paulo Freire)
As descobertas e os contínuos estudos da Neurociência são de grande
importância para a Educação, pois nos ajudam a compreender o
funcionamento do cérebro humano e, assim, repensar e redimensionar as
práticas pedagógicas, a partir do entendimento que as informações são
processadas, armazenadas e respondidas pelo cérebro cognitivo,
emocional, motor, afetivo e social.
As novas tendências da Educação, embasadas pelas descobertas da
Neurociência, apontam para o desenvolvimento de um cérebro que
vivencie incertezas, sabendo lidar com o inesperado e com as frustrações
do cotidiano, con ando em si mesmo, criando soluções e planejando
ações, sem perder a autoestima e a capacidade de reorganização e
adaptação. Esse conhecimento permite aos educadores planejar atividades
apropriadas para ativar áreas cerebrais que serão importantes no
desenvolvimento geral das crianças.
A estimulação de neurônios dos bebês, por exemplo, dá início a
inúmeras atividades mentais de suma importância. Os circuitos neurais
estabelecidos nessa fase irão perdurar para toda a vida e subsidiarão
outros.
Por meio da Educação, nada melhor do que o contexto de uma sala de
aula onde se podem promover vários estímulos que contribuirão para um
maior número de sinapses, que talvez não tenha em situações naturais ou
não planejadas. Assim, habilidades e competências são favorecidas, desde
a entrada da criança na escola. “Desa ar” o cérebro das crianças, de uma
forma geral, é na verdade favorecer uma aprendizagem prazerosa, real,
signi cativa, criativa e potencializada. Quem está no processo de ensino e
aprendizagem como aprendente é valorizado e respeitado em suas
dimensões cognitiva, afetiva, orgânica e social. Essa nova e importante
postura educacional desperta no aluno o desejo de realmente aprender o
que tem sentido e signi cado.
Se a sala de aula é um espaço tipicamente interativo, cabe ao
professor/educador compreender que seus alunos são formados de uma
biologia cerebral em movimento contínuo de transformação, pois as
conexões nervosas nunca param. Nesse momento, é importante que o
professor tenha um “olhar investigativo”, um olhar diferenciado, para que
consiga possibilitar novas intervenções na sala de aula e preparar
atividades de acordo com seu grupo de alunos, e não só permanecer com a
mesma aula que ultrapassa anos sem modi cações.
A cognição é in uenciada o tempo todo pelos neurotransmissores e, ao
professor, caberá o papel de mediar as hipóteses e as ideias de seus alunos.
Assim, as células motoras e sensitivas são estimuladas e produzem energia
celular, mantendo a célula ativa e em melhor condição de novas sinapses,
que irão permitir maior qualidade das informações.
É possível formular aulas agradáveis e prazerosas trazendo para sala de
aula estímulos que sejam capazes de aumentar os níveis de dopamina para
que as crianças se sintam motivadas a aprenderem. Muitas vezes, essa
criança precisa mesmo é de uma atenção especial, um olhar afetuoso, um
toque com carinho, isso faz toda diferença. Na superfície medial do
cérebro dos mamíferos, o sistema límbico é a unidade responsável pelas
emoções. É uma região constituída de neurônios, células que formam uma
massa cinzenta denominada de lobo límbico. Por meio do sistema nervoso
autônomo, ele comanda certos comportamentos necessários à
sobrevivência de todos os mamíferos, interferindo positiva ou
negativamente no funcionamento visceral e na regulamentação
metabólica de todo o organismo. Desta forma, sistema límbico e afeto
tornam-se muito importantes dentro deste estudo onde são consideradas
ferramentas principais para potencializar resultados positivos na
aprendizagem signi cativa.
“Não há educação sem amor. O amor implica e luta contra o
egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não
pode educar. Não há educação imposta, como não há amor
imposto.”
(Paulo Freire)
Certamente, aprende-se melhor em uma esfera de amor. Na educação,
esse amor traduz-se em afeto. O afeto, na sua de nição etimológica, tem o
caráter da neutralidade, ou seja, pode expressar sentimento de agrado ou
desagrado. Quando, contudo, ele vem da prática da educação baseada no
amor, transforma-se em estímulo para a aprendizagem, tanto para
aprender quanto para ensinar.
Yves de La Taille (1992) disse que “o afeto é uma mola propulsora das
ações, e a razão está a seu serviço”. O afeto estimula a conexão dos
neurônios, a criação e a consequente lembrança de registros, conhecidos
como memória.
Segundo o neurocientista António Damásio (2006), a função atribuída
às emoções na criação da racionalidade tem implicações em algumas das
questões com as quais a nossa sociedade defronta-se atualmente e, entre
elas, a educação.
A aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo estão sempre se
reinventando. Pela plasticidade, o cérebro se remodela para pensar e
aprender, e é a mediação afetiva que vai disparar esses processos, pois o
afeto estimula dois mecanismos fundamentais da memória: a xação
(acréscimo de informações) e a evocação (informações assimiladas
anteriormente).
Segundo a Neurociência, é no cérebro afetivo-emocional que as
emoções se organizam em regiões interconectadas e determinam a
concentração, a atenção, a memória e o prazer em aprender.
A emoção, seja ela positiva ou negativa, interfere no cognitivo e nos
pensamentos. A nal, o que existem são seres sociais e afetivos. Por meio do
afeto, as emoções negativas podem ser reeditadas, favorecendo tanto o
aprendizado quanto a relação entre professor e aluno.
Vygotsky a rma que as reações emocionais exercem in uência sobre o
comportamento no processo educativo, porque as funções complexas do
pensamento são efetivas pelas trocas sociais, tendo o afeto como papel
preponderante. Ainda segundo Vygotsky (2004), “sempre que
comunicamos alguma coisa a algum aluno, devemos procurar atingir seu
sentimento”.
A escola é um lugar essencialmente de socialização, de convivência e
de integração, onde as relações afetivas têm papel preponderante. Assim, o
ponto de partida do trabalho em sala de aula deve ser a emoção. O afeto, a
curiosidade e o estímulo atuam no início para canalizar a atenção e,
depois, para ajudar a memória no resgate das informações.
A escola deve ser um espaço que proponha atividades estimulantes e
desa adoras, que os alunos tenham condições de realizar e que despertem
neles curiosidade e vontade de vencer desa os e de buscar respostas.
Para Vygotsky, o afetivo interfere no cognitivo e vice-versa. Um
exemplo é a motivação para aprender, que está associada a uma base
afetiva. O ensino precisa ser de fato desa ador e proporcionar meios para
que o aluno dê sentido ao que está aprendendo, que saiba relacionar,
re etir e dar novos signi cados às informações.
Com a Neurociência, a motivação e a afetividade associadas à
aprendizagem ganharam base cientí ca. As descobertas da Neurociência
nos mostram que, por meio de atividades prazerosas e desa adoras,
acontece o “disparo” entre as células neurais: as sinapses se fortalecem e as
redes neurais se estabelecem mais facilmente.
Os estímulos recebidos pela criança, as di culdades que enfrentam e as
hipóteses que levantam para vencer desa os e se adaptar às muitas
questões do ambiente vão de nir os caminhos de seu desenvolvimento.
Há estudos nos Estados Unidos que comprovam que crianças bem
estimuladas na primeira infância, apresentam uma vida escolar mais bem-
sucedida e comportamentos sociais mais desenvolvidos, além de dominar
mais palavras, ter mais habilidades com conceitos matemáticos, falar
outras línguas com mais uência etc.
Chegando à adolescência, surge o interesse por temas diversos, como
Filoso a, formas de lazer, cultura, entre outros. É preciso estimular a
autonomia para que novas experiências surjam e estimulem o jovem a
aprender, por meio de atividades diversi cadas e desa adoras, que
permitam novas vivências. Educar na diversidade é, na verdade, o grande
desa o. A atenção à diversidade de capacidades, habilidades,
competências, motivações e interesses dos alunos é o objetivo dos
pro ssionais da educação.
Professor e aluno que interagem, criam e viabilizam possibilidades,
conseguem construir a aprendizagem juntos. O que vai de fato quali car
ou até mesmo provocar a mudança no aprendizado é o afeto.
A educação emocional deve fazer parte do currículo escolar,
objetivando ser mais uma habilidade para o educando, que vai ajudá-lo a
vencer desa os e superar di culdades com mais sucesso e felicidade.
A afetividade provoca sensação de alegria, bem-estar e satisfação
emocional, que provoca o feedback intelectual, desenvolve inteligência e
melhora a qualidade da memória.
“Quando a gente ensina, a gente continua a viver na pessoa
que foi ensinada!”
Rubem Alves
Os seres humanos são seres diferentes, e isso é um fato lógico. Mas,
será que a escola prepara seus currículos e sua proposta pedagógica tendo
essa visão como principal parâmetro?
Todos têm direitos, independentemente de di culdades e habilidades,
a uma aprendizagem cognitiva, motora, afetiva e social, e a escola tem o
dever de planejar suas aulas para atender às necessidades dessa
diversidade. Esse é o compromisso social da escola.
Com o conhecimento da Neurociência, sabe-se que a criança aprende
a partir das experiências, da estrutura emocional e do amadurecimento
neuro siológico das células.
É preciso que a escola faça suas respostas voltadas ao “encantamento”
dos alunos. Um aluno “deslumbrado” busca novas experiências, novos
saberes e tem atenção naquilo que está aprendendo. A atenção é
primordial para aprender, e essa função é desempenhada pela formação
reticular (encontrada no tronco encefálico), que mantém o córtex em
alerta para receber novos estímulos, interpretá-los e decodi cá-los.
Sem esse “encantamento”, vemos cada vez mais crianças e adolescentes
desestimulados ou até com di culdades de começar uma atividade ou de
concluí-la, cursando até com uma di culdade de aprendizagem.
É preciso mais do que nunca, nesses tempos de informações rápidas,
pensar nos alunos como pessoas em processo de crescimento e
desenvolvimento individuais.
A Neuroaprendizagem surge como um processo inovador na área
pedagógica, pois busca conhecer as diferentes estruturas cerebrais para
compreender o processo cognitivo de cada um, inclusive daqueles com
distúrbios ou di culdades de aprendizagem. Nesse contexto, a emoção dá
forma à cognição e à aprendizagem.
O Sistema Límbico comanda os sistemas endócrinos e é responsável
pelas emoções. De acordo com António Damásio, neurocientista, razão e
emoção estão interligadas.
Em primeiro lugar, é evidente que a emoção se desenrola sob o
controle tanto da estrutura subcortical como da neocortical.
Em segundo, e talvez mais importante, os sentimentos são tão
cognitivos como qualquer outra imagem. (DAMÁSIO, 2012,
p.151)
O Sistema Límbico recebe experiências emocionais positivas e
negativas, enviando mensagem ao córtex pré-frontal, que interpretará
essas experiências. A emoção transformará essa mensagem em sentimento,
que é racional. As experiências vividas cam armazenadas no Hipocampo
(estrutura do Sistema Límbico), responsável pela memória de longa
duração.
A razão então age diretamente na emoção. Quando se vivencia e
aprende-se, vinculam-se a emoção e a razão. Dessa forma, ca claro que os
alunos podem e querem aprender, cada um em tempos diferentes e
obedecendo a ritmos neurais diferentes, pois há um trajeto químico no
cérebro que operacionaliza cada ação dos educandos.
A Plasticidade Cerebral permite que o cérebro se remodele em função
da experiência de cada um, o que só reforça que os alunos podem
aprender a vida inteira de diferentes maneiras. A afetividade provoca
mudanças químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional e que
vão interferir no ato de aprender. Aprender é uma “mistura” complexa de
vários elementos: pedagógicos, emocionais, culturais, sociais e biológicos.
Plasticidade cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do
Sistema Nervoso Central (SNC) e sua habilidade para modi car sua
organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do
sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais
em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a
estímulos repetidos. (RELVAS, 2005, p.45)
São muitos os vínculos entre a cognição, a afetividade, a sensibilidade
e a motricidade. O substrato neurológico responsável por esses vínculos
são os neurônios, que produzem e conduzem impulsos elétricos, criando a
rede neural.
A transmissão desses impulsos nervosos de um neurônio para o outro
nas sinapses e dos neurônios para os músculos se dá por meio da liberação
de neurotransmissores, que são recapturadas pela membrana pré-sináptica
ou destruídas na fenda sináptica. Eles exercem efeito inibidor ou
excitatório nas membranas pós-sinápticas. As sinapses são dotadas de
plasticidade. Da Neuroplasticidade, depende o processo de aprendizagem
e reabilitação das funções motoras e sensoriais.
As principais estruturas nervosas envolvidas no aprendizado cognitivo
são o Hipocampo e o Córtex Pré-Frontal, e graças à memória declarativa,
cujos substratos neurológicos são justamente o Hipocampo e o Córtex
Frontal, as informações armazenadas podem ser evocadas.
Já as competências emocionais estão ligadas à amígdala cerebral e ao
Córtex Pré-Frontal. Contudo, sabe-se que todas as competências
in uenciam-se mutuamente. Um exemplo disso é o fracasso diante de
uma prova escolar devido ao estresse.
O ser humano é totalmente afetivo. A amígdala emite projeções
neurais para a maioria das partes do cérebro, incluindo as responsáveis
pelas funções cognitivas.
A Plasticidade Cerebral é responsável pelas capacidades
adaptativas do Sistema Nervoso Central (SNC). A cada nova
experiência de vida de uma pessoa, rede de neurônios sofre um
rearranjo e outras sinapses são reforçadas e outras
possibilidades de respostas ao ambiente são possíveis.
Os sistemas cerebrais destinados à emoção estão intrinsecamente
ligados aos “sistemas da razão”. Os sentimentos parecem depender de um
sistema de componentes ligados à regulação biológica e à razão;
dependem de sistemas cerebrais especí cos, sendo que alguns processam
sentimentos, o que clari ca que pode existir uma interligação (em termos
de anatomia funcional) entre razão, sentimento e reações do corpo. O ser
humano pensa, sente e age, e o aprendizado escolar requer prontidões
neurobiológicas, cognitivas e emocionais.
A criança nasce, cresce e aprende imersa em um meio social que
in uenciará na qualidade de seu aprendizado grandiosamente. Somos
seres biopsicossociais, sujeitos cerebrais únicos que merecem ser vistos de
acordo com suas singularidades, dentro de uma pluralidade que é a sala
de aula.
Um outro conceito que unido aos conhecimentos da Neurociência e
que nos ajuda nesse entendimento sobre a importância do processo de
aprendizagem signi cativa é o DUA (Desenho Universal da
Aprendizagem). O Desenho Universal para a Aprendizagem visa
proporcionar uma maior variedade de opções para o ensino de todos,
considerando a diversidade da sala de aula, valorizando como eles
expressam seus conhecimentos e como estão envolvidos e motivados para
aprender mais.
Princípios básicos do DUA (baseado em National Center On Universal Design for Leaming, 2014.
Consultado em 17 de maio de 2015, em
http://www.udlcenter.org/aboutudl/udlguidelines_theorypractice
“Se queres construir um barco, não peças aos homens que
procurem madeira, nem lhes dês ordens, nem divida o
trabalho. Em vez disso, ensina-lhes a desejar o eterno e belo
mar!”
Antoine de saint-Exupéry
Motivação no sentido etimológico signi ca o ato de motivar (motivo +
ação), isto é, um motivo que leve o indivíduo à ação, algo que o faça agir.
A motivação é a mola propulsora da aprendizagem, ou seja, o impulso que
nos move para agir. Há dois tipos de motivação: a motivação intrínseca e a
motivação extrínseca.
A motivação intrínseca refere-se à escolha e realização de certa
atividade por causa própria, por ser interessante, atraente ou geradora de
satisfação. É uma propensão inata dos seres humanos. A motivação
extrínseca refere-se à motivação para trabalhar em resposta a algo externo
à atividade, como para obtenção de recompensas materiais ou sociais.
A motivação do ponto de vista psicopedagógico e da Neuroeducação é
estimular os aprendentes a realizarem atividades signi cativas,
desa adoras e envolventes.
O aluno motivado é aquele que apresenta alta concentração e emoções
positivas. Os educadores devem explorar essa poderosa força motivacional
advinda da motivação intrínseca, destacando e valorizando o esforço
pessoal de seus alunos. Para isso, os próprios educadores precisam estar
motivados, pois não se produz entusiasmo quando não se é capaz de
entusiasmar-se.
O prazer de aprender e vencer obstáculos e desa os são fundamentais
para a criança e vai acompanhá-la durante toda a vida, pois é o que
permanece de forma mais consistente em sua memória. É a curiosidade e
a motivação que levam a criança a querer explorar tudo à sua volta e são as
experiências que “modelam” o cérebro.
Cada ato mental carrega a complexidade de uma história que é
individual e única, iniciada antes mesmo da concepção, cujos alicerces
serão construídos nos cinco primeiros anos de vida, formando um
fascinante processo de desenvolvimento que é cerebral, subjetivo,
cognitivo e social.
Do ponto de vista cerebral e subjetivo, os seres humanos chegam
incompletos ao mundo e precisam de estímulos e de motivação para
ocorrer o desenvolvimento. O cérebro altamente plástico vai moldando-se
às diversas experiências.
O desenvolvimento cerebral que ocorre até as primeiras duas décadas
de vida tem no período fetal, na infância e na adolescência suas etapas
mais signi cativas. Assim que a criança nasce, seu sistema nervoso já
possui a maior parte dos neurônios que ela usará ao longo da vida. Mas,
ainda, é preciso desenvolver boa parte das funções cerebrais e organizar a
rede especializada de processamento de informações. Para potencializar o
desenvolvimento funcional do cérebro, a estimulação global e os desa os a
que os bebês são submetidos nos três primeiros anos de vida são
fundamentais.
A criança tem a capacidade bem precoce de perceber e memorizar
estímulos; a partir da primeira metade de vida intrauterina, o ser humano
já é capaz de assimilar estímulos sonoros e gustativos.
A capacidade de aprendizagem já se inicia desde o período fetal, e a
memória, uma das funções primordiais para o aprendizado, está presente
desde a fase pré-natal, desenvolvendo-se de forma quantitativa e
qualitativa de acordo com a maturação cerebral.
O desenvolvimento da criança não é um processo contínuo e
homogêneo, mas depende da interação entre o crescimento das áreas
cerebrais, o grau de mielinização de suas estruturas e da capacidade do
cérebro, mesmo ainda imaturo, de reorganizar seus padrões de respostas e
conexões mediante as experiências.
A criança busca compreender o mundo e “experimentá-lo”, testando-o
e explorando-o. Assim, cada interação com pessoas ou objetos vai
construindo e reconstruindo suas experiências e se desenvolvendo. Essa
interação se dá por meio dos vínculos afetivos, primeiro com os pais e
posteriormente com os professores.
Então, os primeiros anos de vida são os mais incríveis para o
desenvolvimento infantil: quanto mais estímulos o cérebro da criança
recebe, mais caminhos neurais são formados, e com as experiências, esses
caminhos tornam-se mais fortes, ou seja, o ambiente com estímulos e afeto
pode maximizar o desenvolvimento do cérebro da criança.
No cérebro, existe um sistema dedicado à motivação e à recompensa.
Quando a criança ou o sujeito já adulto é motivado positivamente por
algo, a região responsável pelos centros de prazer produz a dopamina. A
ativação dessa área gera bem-estar, que mobiliza a atenção e reforça o
interesse do sujeito por aquilo que o afetou.
O circuito cerebral da motivação é uma estrutura complexa
envolvendo múltiplas áreas do cérebro, como o córtex pré-frontal, o
tálamo, o hipocampo, a amígdala cerebral etc., que vão amadurecendo à
medida que a criança vai crescendo. A amígdala emite projeções neurais
para a maioria das partes do cérebro, incluindo as responsabilidades pelas
funções cognitivas e emoções.
A motivação para aprender é uma das maiores ferramentas para o ser
humano desenvolver-se. Ela o ajudará a superar desa os, ser persistente e
ter estímulo para tentar de novo quando experimentar o “fracasso”. Assim,
é fundamental que o ambiente de aprendizado mobilize emoções
positivas, como entusiasmo, motivação, envolvimento, desa os prazerosos
etc., e afaste as negativas, como ansiedade, medo, frustração e apatia.
Segundo a neurologista Suzana Herculano-Houzel, em seu livro “Fique
de bem com seu cérebro” (2007), tarefas muito difíceis desmotivam e deixam
o cérebro frustrado, sem obter prazer do sistema de recompensa. Por isso,
são abandonadas. Isso ocorre também com tarefas muito fáceis. A relação
entre a obtenção desse prazer e a antecipação desse prazer é um elemento-
chave para a motivação. Há múltiplas conexões entre o “centro do prazer e
da recompensa” (o sistema límbico e o córtex pré-frontal).
Esse “cérebro emocional” é impulsivo e reage espontaneamente, tanto
às motivações positivas quanto às contrariedades. Emoções positivas
podem melhorar a aprendizagem cognitiva. Uma pessoa motivada tem
interesse, engajamento, perseverança e curiosidade. O ser humano é
fundamentalmente afetivo.
Para Relvas (2011), toda informação inovadora, antes de ser aprendida,
deve passar por três importantes ltros em nosso cérebro, estes ltros
favorecem a discriminação e a atenção do cérebro ao que realmente lhe
interessa absorver como aprendizagem. Os ltros estão presentes no
sistema de aprendizagem RAD: o sistema reticular de ativação (RAS), o
ltro positivo da amígdala e a intervenção de dopamina. Cada um deles se
determina pelas emoções. Se são positivas, o acesso da novidade ao cérebro
se realizará com maior e caz. Se o cérebro detecta estresse, pode combater
e bloquear a informação.
Isto signi ca que, quanto melhor for o ambiente para aprender, melhor
será a aprendizagem. Cada vez mais, as crianças são mais velozes em seu
pensamento, por isso é necessário e muito importante melhorar as
ferramentas para capturar sua atenção.
Segundo Damásio (2000), aprender, então, implica o desenvolvimento
de conexões neurais. Comunicação e aquisição de novas formas de ver o
mundo e a si mesmo, em vários níveis, tornando possível a mudança de
comportamento e a descoberta de outras formas de se relacionar com os
objetos, os sentimentos, as pessoas, as escolhas, as situações e os desejos.
Graças à contribuição da Neurociência, é possível que salas de aula
deixem de ser cansativas e desgastantes, e a aprendizagem comece a se
tornar uma atividade prazerosa, afetiva, signi cativa e inesquecível.
Webgra a
Alessandra Machado