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e-ISBN: 978-85-69918-04-2

MINHA VIDA
NA UMBANDA
Desenvolvimento e formação
mediúnica de um Filho de Fé
Elcio Prado
(Inspirado pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema)
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Elcio Prado

MINHA VIDA NA UMBANDA


Desenvolvimento e formação
mediúnica de um Filho de Fé

Santos
2023
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
EDITALIVROS Produções Editoriais

P896 Prado, Elcio, 1962 –


Minha vida na Umbanda (e-book): Desenvolvimento e
formação mediúnica de um filho de fé / Elcio Prado - 1 ed.
– Santos (SP): Editalivros Produções Editoriais – 2021.
200 p.; PDF.

e-ISBN: 978-85-69918-04-2

1. Umbanda. 2. Médium. 3. Orixás. 4. ABESMA 5. Prado, Elcio


I. Título
CDD:200
CDU e-book

Revisão
Rosane Prado

Planejamento Gráfico / Diagramação / Capa


Editalivros Produções Editoriais

Sobre o ebook
Formato: 140 x 210 mm • Mancha: 110 x 180 mm
Tipologia: Minion Pro (textos/títulos)

Todo o conteúdo (textos, fotografias e imagens) disponibilizado neste livro está sob a
proteção da “LEI DO DIREITO AUTORAL Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998”.
É proibida toda e qualquer comercialização dos mesmos, em quaisquer meios de
comunicação, sem prévia consulta e autorização pessoal do autor. Para reprodução sem
fins comerciais, é obrigatória a divulgação da autoria do material aqui disponibilizado,
além da permissão da editora responsável pela publicação.
Dedicatória

Ao concluir esta obra, em fevereiro


de 2022, perdi meu amado mentor
espiritual, Pai Odé D’Loy. Foi um
momento de muita dor e, superar sua
ausência, foi um processo muito difícil,
mas seus ensinamentos, seu carinho e
seu amor me trouxeram forças para que,
com o tempo, meu coração se acalentasse
e minha fé trouxesse o conforto espiritual
tão necessário. Assim como nós, nesse
plano físico em que vivemos, sei que
hoje ele continua sua jornada evolutiva
em outro plano, junto aos seus Guias
espirituais e iluminado pelos Orixás de
nossa Divina e Sagrada Umbanda.
Ao meu Pai Odé D’Loy, minha eterna
gratidão!
Agradecimentos

Primeiramente, agradecer ao Divino Criador


Olorum, por nos conceder a graça da vida, ao nosso
Pai Oxalá e seus Orixás, regentes de nossa evolução
espiritual. Gratidão ao Sr. Caboclo Rompe Mato,
responsável pelo desenvolvimento dos irmãos de fé
em nosso terreiro. Agradeço ao meu amado Pai Odé
D’Loy, sacerdote do Templo de Umbanda Tenda do
Cigano Mercador, que me recebeu com o amor e o
carinho que só um verdadeiro pai possui. Agradeço
também aos meus Guias de Luz, que se manifestam
através de meu corpo físico e me amparam, ensinam
e conduzem meu desenvolvimento espiritual.
Agradeço, com muita emoção, o Sr. Caboclo Sete
Folhas da Jurema, a quem devo os méritos desta
obra, me revelando, inspirando e intuindo cada
palavra através de seu imenso amor. Por fim, mas não
menos importante, agradeço à minha amada esposa
Valeria e meus filhos Gabriel e Gustavo, “minhas três
metades”.

In Memoriam
Aos meus pais, Iolanda e Francisco, duas Luzes de
brilho eterno em nossas vidas.
Apresentação

P
lantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. As-
sim, José Martí, o aclamado poeta cubano, definiu em
uma frase as obrigações do ser humano. Viver além
do momento presente, contribuindo com a sociedade
ao transcender para as gerações futuras, uma herança
tripla. Conhecida e muito repetida, a proposta é muito mais pro-
funda e arrojada. Exige muito de quem a ela se dedica. Exige ir
além de seus próprios limites e persistir, ser insistente mesmo no
desenvolvimento de cada tarefa.
Plantar não é jogar a semente no solo, um pouco de água e
deixar que a natureza faça o resto. É envolver-se na sua sobrevi-
vência, cercá-la dos cuidados e da atenção necessários. É preciso
mesmo insistir consigo próprio para não deixar pra lá a tarefa.
Em uma escala maior, ter um filho é um compromisso que se
constrói e reconstrói a cada momento consigo e com os outros, os
parceiros familiares e com a criança. É preciso mesmo insistir sem
cessar para não se perder em tal complexidade.
E o livro? Bastam algumas palavras, um título e uma capa
colorida? Trata-se de um livro, de um bem cultural que irá por-
tar a sua mensagem ao longo dos anos e do mundo. Um livro é a
sua mensagem. Qual é a sua? Aqui, o poeta foi caprichoso em sua
síntese. É preciso insistir para entender o recado e, ainda mais, se
compreender, ser persistente para realizar.
Deus é insistente com a sua criação. As mulheres são insis-
tentes com os filhos que trazem ao mundo. Os escritores são insis-
tentes com as obras que geram.
Narrar a própria trajetória em um livro é um desafio com-
plexo. Há o risco de parecer vaidoso, pretensioso aos seus pares.
Há a dúvida sobre ter uma riqueza de realizações a compartilhar
e justificar a iniciativa. Há o conhecimento necessário sobre como
escrever o dito, outra questão angustiante. Essas questões e outras
variantes existem, incomodam. No entanto, há outro viés a ser
considerado.
Acontece que escrever a própria história ou parte dela é mais
do que apenas isso. É um registro histórico que trará compreensão
sobre a época em que foi escrito. Trará à luz fatos e pessoas, histó-
rias e ocorrências sociais. São fragmentos que ajudam a formar o
esqueleto da sociedade humana, sempre em evolução.
Ou um ato de amor, também pode ser.
Compartilhar os passos dados, as dúvidas e os resultados de
uma experiência vivida intensamente pode ajudar os outros a me-
lhor compreenderem as inquietações que carregam e encontra-
rem as respostas. Nesta simplicidade de proposta, há uma carga
enérgica de doação, de amor, por si só insistente.
Compartilhando a sua vivência na Umbanda, o Autor revela-
-se em suas dúvidas e sobre os conhecimentos apreendidos, antes
e depois de ingressar no culto. Ainda mais, sobre a jornada de
leigo a ativo praticante, minucioso em pontuar as etapas.
E aqui, nesse roteiro evolutivo que percorre os sete capítulos
do livro, estabelece com o leitor um diálogo por assim dizer técni-
co sobre a cultura umbandista, sua origem sagrada, seus elemen-
tos teóricos e práticos, sua rotina e rituais. Remete ao processo
de um irmão mais velho aconselhando o caçula sobre as dúvidas
desse. Um processo fraternal, amoroso, insistente.
Deve o leitor ter reparado que abusei do uso do verbo insistir.
Foi proposital, pois essa situação ficou transparente desde o capítulo
inicial e por meio dela, a intenção ganhou força como projeto de “ca-
minhar junto” do autor. Muitos foram insistentes com ele para que
trouxesse essa conversa a você e, se assim for, que seja inspiradora.
Toda missão exige insistência, venha de onde vier, inclusive
de si mesmo, para ser concluída. Esse é o item oculto na frase po-
ética/profética.

Marcelo Di Renzo
Jornalista, professor.
Sumário

17 PREFÁCIO
21 Capítulo 1 - O INÍCIO
Uma breve história
27 Capítulo 2 - O CHAMADO
Terreiro • Pai de Santo • Mãe de Santo • Filho de
Santo • Cambone • Médium • Giras • Assistência
• Consulentes • Por que se canta na Umbanda? •
Os Guias falam errado?
35 Capítulo 3 - O CAMBONO
Qual a diferença entre gira de cura, gira de
desenvolvimento e gira de consulta? • Por
que utilizamos roupas brancas nas giras de
Umbanda? • O que é arquétipo na Umbanda? •
O que é Tronqueira? • O que é Casa das Almas?
• Que saudação se faz ao entrar no terreiro? • O
que significa batismo na Umbanda? • Quem é o
Caboclo Rompe Mato? • O que é incorporação?
• Existem técnicas para facilitar a incorporação?
• O que significa mistificação? • O que originou o
sincretismo? • O que é congá? • Qual o significado
de bater-cabeça? • O que é salva? • Religião •
Fé • Espiritismo • Umbanda • Candomblé •
Obrigações e princípios de um Filho de Santo •
Mediunidade
57 Capítulo 4 - O FILHO DE SANTO
Para que servem as guias? • Qual o procedimento
quando uma guia se rompe? • Umbanda e internet
• Qual a diferença entre Orixás e Guias? • O que
significa Orixá de Cabeça, Juntó e Adjuntó? • O
que é ojá e roupa de ração? • Qual a diferença
entre Entidades, Guias e Protetores? • O que
é firmeza para o Anjo da Guarda? • Como faço
um altar dentro de casa? • Qual a diferença entre
cruzar e consagrar? • O que é quartinha? • O
que é falange? • No que consiste a defumação?
• Saudações • Orações das Sete Ondas • Cores e
significados • O que são nações africanas?
83 Capítulo 5 - O MÉDIUM
Como lidar com preconceito religioso em família?
• Além do meu altar, posso ter outros pontos de
vibração em casa? • Como faço a limpeza das
imagens em meu altar? • Posso tomar banho de
ervas em casa? • O que é maceração? • Como
despachar uma imagem quebrada? • O que faço
com uma imagem que pertenceu a uma pessoa
falecida? • O que faço com a sobra dos trabalhos
feitos em casa? • Posso visitar outros terreiros? •
Posso defumar minha casa? Qual o procedimento?
• Quais as plantas que posso ter em casa? • Posso
incorporar em casa? • Quem é Caboclo Sete
Folhas? • O que são as 7 linhas existentes na
Umbanda? • Qual a diferença entre mediunidade
conscientes, semiconscientes e inconscientes?
• Qual a diferença entre benzimento, passe,
limpeza, descarrego, simpatia e sacudimento?
• Sou eu ou a entidade, como se livrar da eterna
dúvida? • Sacramentos na Umbanda • Ervas na
Umbanda • Guia de Aço • Pedras e cristais na
Umbanda • O que é carma? • Aborto e Umbanda
• Suicídio e Umbanda • Como a Umbanda vê
a morte • O que é fechamento de corpo? • O
que são Pontos Riscados? • O que significa
firmar ponto? • O médium pode ir ao banheiro
quando incorporado? • Se eu não desenvolver
a mediunidade, minha vida vai desandar? • O
que se entende por encarnação, desencarnação e
reencarnação? • Mal olhado, olho gordo e inveja
existem realmente? • Quantos e quais são os
Orixás na Umbanda? • A Umbanda e a Música
Popular Brasileira • Pés Sujos: Uma Mensagem
de Pai Cipriano • O Jogo de Búzios • Velas • Água
• Pólvora • Carvão • Chacras • Ibejís • Quem foi
Doum? • Erês • Caboclos Mirins • Médicos na
Umbanda
137 Capítulo 6 - A MATURIDADE
O que significa a Esquerda na Umbanda? • Quem
são Exú e Pombagira na Umbanda? • Quais as
falanges que atuam na linha da Esquerda? • Exú
é o diabo? • Pombogira é prostituta? • Homens
incorporam Pombagira? • Porque Exú dá risada?
• Porque as imagens de Exú são tão assustadoras?
• Quem é Exú Mirim? • Porque Exú bebe pinga?
• Exú é Orixá ou Entidade? • Posso ter uma
imagem de Exú ou de Pombagira em casa? •
Exú ou Pombagira podem ser donos de coroa?
• O que é Padê? • Como se dá a incorporação
de Exú e de Pombagira? • Porque Exú e outras
entidades fumam? • Zé Pilintra e os Malandros na
Umbanda • Cruzeiro das Almas • O Que significa
a encruzilhada na Umbanda? • Quais os tipos de
encruzilhadas e suas entidades correspondentes?
• Preces para Exú e Pombogira • Agrados para
Exú e Pombogira • Banhos para Exú e Pombogira
• Defumações para Exú e Pombogira • Pontos
para Exú e Pombogira • Principais nomes de
Exús • Principais nomes de Pombogiras
169 Capítulo 7 - O PRESENTE
Bandeira Oficial da Umbanda • Hino Oficial da
Umbanda • Princípios Básicos da Umbanda • O
que é a Federação Brasileira de Umbanda? • Prece
a Oxalá • Prece a Oxum • Prece a Iansã • Prece a
Iemanjá • Prece a Nanã Buroquê • Prece a Ogum
• Prece a Oxóssi • Prece a Xangô • Prece a Omolú/
Obaluaê • Prece aos Ibeijís • Prece aos Pretos-
Velhos • Prece aos Caboclos • Prece aos Baianos
• Prece aos Boiadeiros • Prece aos Marinheiros
• Prece a Santa Sara (Ciganos) • Pai Nosso
Umbandista • Ponto de Oxalá • Ponto de Oxum
• Ponto de Iemanjá • Ponto de Iansã • Ponto
de Nanã • Ponto de Ogum • Ponto de Oxóssi
• Ponto de Xangô • Ponto de Obaluaê/Omolú
• Ponto de Ibeijís • Ponto de Pretos -Velhos •
Ponto de Caboclos • Ponto de Boiadeiros • Ponto
de Marinheiros • Ponto de Ciganos • Ponto
de Baianos • Frases & Pensamentos • O que é
o Santuário Nacional da Umbanda? • Alguns
nomes de Guias na Umbanda • Leitura indicada •
Sites indicados • Glossário • Bibliografia

209 SOBRE A ABESMA

211 POSFÁCIO
212 SOBRE O AUTOR
“Sou filho dos mares, dos lagos, dos rios e das matas.
Sou filho guerreiro, armado de lança,
espada, mortalha e machado.
Sou filho da noite, da lua, das ruas, das trevas.
Sou filho da terra, do fogo, da água e do ar.
Sou filho de Pemba, guiado por Deus.
Sou filho de Rei, valei-me Oxalá.
Sou filho de fé virado no Santo, meu canto é sagrado.
Sou filho de UMBANDA.”

Elcio Prado
Prefácio

A
ideia desse projeto veio, em parte, da necessidade em
relatar aos meus irmãos de fé, minha experiência como
filho de Umbanda, e de todo o meu desenvolvimento
mediúnico até a presente data. Percebi ao longo dos
anos, que existem um sem-número de obras sobre o
tema Umbanda, mas obras escritas por um Filho de Santo, são
poucas ou até mesmo raras. E isso se dá pelo fato de que o médium
se sente naturalmente inseguro, assim como inicialmente me
senti, em relatar suas experiências e tudo aquilo que o envolve
em sua prática de fé. Contudo, percebi também, desde meus
primeiros contatos com o terreiro que até hoje frequento, que
as dúvidas, anseios e inseguranças que vivi, foram e ainda são
vividos em grande parte, por muitos irmãos em seu início de
desenvolvimento mediúnico. Com todo o respeito que me cabe,
mesmo porque sou um leitor apaixonado e assíduo de Umbanda e
de seus muitos autores consagrados, percebo uma certa distância
na comunicação entre o médium iniciante e os escritores dessas
obras que, em sua maioria, são Sacerdotes, Babalorixás, Ialorixá,
Chefes de terreiro, Pais ou Mães de Santo, muitos utilizando da
psicografia, transcrição ou inspiração divina. Mesmo com todo
o valor e importância essencial de suas obras, muitas vezes não
despertam a mesma empatia que um texto escrito por um “simples”
irmão de fé. E digo “simples” não no sentido pejorativo da palavra,
mas devido ao mesmo grau hierárquico que ocupamos, sendo
todos nós, Filhos de Santo. É provável que, no decorrer das páginas
a seguir, o leitor se identifique com muitas das situações descritas
neste livro, formule as mesmas perguntas e dúvidas que formulei e
talvez até em alguns momentos, encontre fatos similares ocorridos
em sua própria jornada. Mais uma vez, deixo claro que não se
trata de desmerecer e nem tampouco menosprezar o trabalho

17
desses conceituados autores que contribuíram e contribuem para
a história de nossa Sagrada Umbanda, dos quais se faz necessário
destacar Rubens Saraceni, W. W. da Matta, Francisco Rivas Neto,
Alfredo de Alcântara, Aluizio Fontenelle, Florisbela Maria de
Souza, Alexandre Cumino, Ademir Barbosa Júnior, Maria Helena
Farelli, Benjamim Figueiredo, Teixeira Neto, Míriam Prestes,
Ronaldo Linhares, Norberto Peixoto, Reginaldo Prandi, Tata
Tancredo, Yvonne Maggie, Alan Barbieri, João Varela, dentre
tantos outros que não cabem nessas poucas linhas introdutórias.
Minha humilde intenção é que esse livro traga, através das
experiências aqui relatadas, os necessários esclarecimentos às
inúmeras dúvidas que o médium possui em seu início de vida
mediúnica, embora sem a pretensão de ser uma obra didática,
científica ou histórica. Finalizando este pequeno prefácio, outro
motivo, senão o principal, que me fez escrever esse livro, partiu
de meu Guia espiritual, o Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, que
me intuiu durante meses a ideia do projeto. Sem nunca ter escrito
nada em minha vida, perguntei-lhe como eu poderia atender a
esse pedido sem a adequada qualificação espiritual e intelectual,
e ele, em sua imensa sabedoria e humildade, respondeu: “Calma
filho, estarei a teu lado em cada página, em cada linha e em cada
palavra inspirada”.
Atendendo às indicações feitas pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da
Jurema, disponibilizo esse livro e todo seu conteúdo gratuitamente
a todos os filhos de fé e/ou qualquer pessoa interessada no assunto
e espero que eu tenha cumprido o objetivo a que se destina
essa obra, colaborando de alguma forma no desenvolvimento
mediúnico de todos os meus irmãos de fé.
Salve nossa Divina Sagrada Umbanda.
Okê, Caboclo.

Axé a todos e boa leitura!

Elcio Prado
São Vicente, fevereiro de 2022
18
Capítulo I
O INÍCIO

Foto: Autor
CAPÍTULO

O INÍCIO
1
F
ilho de imigrantes europeus, meu pai chegou ao Brasil
ainda menino, acompanhado de sua mãe, em meados de
1934, deixando na Espanha, sua irmã mais velha. Aqui,
minha avó conheceu um brasileiro com quem teria seu
terceiro filho. Com dois filhos pequenos e sozinha, co-
meçou a trabalhar em casas de família como diarista, para superar
as dificuldades da época. O tempo passou e, anos mais tarde, meu
pai, ainda adolescente e recém-formado no curso técnico pelo
Instituto Escolástica Rosa, entrou no ramo industrial abrindo sua
própria marcenaria, alcançando, com o passar dos anos, sua tão
esperada estabilidade financeira. Já minha mãe, de origem humil-
de e filha de pais separados, vivia com a mãe, a qual teria mais dois
filhos de um segundo casamento. Trabalhando como secretária
em uma pequena imobiliária no Jardim Casqueiro, em Cubatão,
ajudava a mãe nas despesas de casa, que lavava roupas para fora

21
MINHA VIDA NA UMBANDA

enquanto seu padrasto trabalhava como garçom em restaurantes


e buffets.
Meus pais se conheceram nos salões de baile da época, uni-
dos pelo amor e pela paixão que tinham em comum: a dança.
Casaram e constituíram família, tendo duas filhas e um menino
caçula, e aí começa a minha história.
Lembro de minha infância como num sonho, meu quarto,
meus brinquedos, meus gibís e minha turminha de amigos do
bairro. Residíamos em Santos, litoral de São Paulo, em um apar-
tamento térreo de um prédio na Avenida Rodrigues Alves, onde
iniciei meus estudos do ensino fundamental ao colegial, no extin-
to Colégio Independência.
Por volta de 1973, aos treze anos de idade, comecei a viver al-
gumas experiências que, só depois de muitos anos, entenderia os
motivos dessas manifestações. Eram vultos que passavam a minha
frente, aromas de perfume que impregnavam meu quarto repen-
tinamente, vozes chamando meu nome e, algumas vezes, sentia a
presença de alguém ao meu lado, sentado em minha cama. Embo-
ra essas ocorrências me deixassem um pouco assustado, eu não as
comentava com ninguém, talvez por vergonha ou simplesmente
por não dar a devida importância. Essas manifestações me acom-
panhariam durante toda a infância e adolescência. Com o passar
dos anos, comecei a ficar mais atento a essas experiências.
Foi quando descobri que minha mãe também vivia mani-
festações espirituais e que se davam, principalmente, através de
incorporações involuntárias. Certa noite, eu e meu pai fomos
surpreendidos com minha mãe falando sozinha num tom de voz
muito grave, palavras incompreensíveis. De imediato, meu pai pe-
diu que eu fosse para meu quarto e nunca mais tocamos no as-
sunto. Na época, eu não compreendia o que estava acontecendo e
tive muito medo em lidar com a situação. Talvez pelo fato de ser o
irmão mais novo, minhas irmãs também evitaram comentar sobre
esse assunto. A falta de informação provocou o medo, e o medo
trouxe o preconceito que iria se manifestar em mim, anos depois.
Lembro-me de outro episódio em que minha mãe, voltando
de um jantar tarde da noite com meu pai, ao sentar-se na cama, foi
incorporada subitamente por uma entidade que se pôs a agredir
meu pai verbalmente. No mesmo instante, ele começou a chamar

22
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

minha mãe repetidamente pelo nome, até que, pouco a pouco, ela
foi voltando a si, embora sem recordar absolutamente nada.
É importante salientar que quando nasci, fui batizado na
Igreja Católica e criado sob a influência dessa doutrina, embo-
ra minha família não se dedicasse demasiadamente a religião e
nem tampouco tivesse o hábito de frequentar igrejas, missas ou
cerimoniais religiosos. Por outro lado, eu tinha muita curiosidade
em conhecer novas doutrinas. Penso que o despertar espiritual de
um indivíduo só se dá plenamente quando há a completa iden-
tificação com a religião e, somente assim, ocorrerá o verdadeiro
encontro pessoa-fé.
Julgo que esse contexto religioso e os acontecimentos viven-
ciados por minha família sejam de vital importância para a com-
preensão das origens e as raízes mediúnicas, herdadas ou não, e
suas influências em nossas vidas.
Voltando a nossa história, minha mãe começou a frequentar
uma casa espírita em Santos, conhecida como Templo de Umbanda
Caboclo Sete Flechas, mesmo a contragosto de meu pai, esperando
que as manifestações cessassem. Mas, sem o apoio dos familiares e
por falta de companhia, acabou por afastar-se do terreiro.
Meus pais costumavam sair todos os finais de semana com
uma turma de casais amigos que frequentavam bailes e jantares
dançantes em vários clubes locais1. Num desses eventos, conhe-
ceram um casal, cuja esposa atuava como médium num centro
espírita kardecista. Com o tempo, a amizade se estreitou e eram
comuns as visitas semanais. Suas conversas giravam em torno de
assuntos espíritas, o que levou minha mãe a compreender melhor
sua mediunidade e, a partir daí, sua convivência com as manifes-
tações se tornou mais natural e as incorporações foram ficando,
com o passar do tempo, cada vez mais esporádicas.
Em 1992, minha mãe foi acometida por uma doença que lhe
tiraria, lentamente, a vontade de viver. Nem remédios ou preces
pareciam fazer efeito e o desfecho se fez inevitável.
Quando minha mãe veio a falecer em 1993, já me encontrava
casado, com dois filhos, um com dois anos e outro ainda no ventre,
1
Na época, eram muito comuns os eventos dançantes promovidos nos diversos clubes
localizados no bairro da Ponta da Praia, em Santos, como o Clube de Regatas Vasco da
Gama, Clube Internacional de Regatas, Clube de Regatas Saldanha da Gama, Clube de
Regatas Santista, dentre outros.

23
MINHA VIDA NA UMBANDA

prestes a nascer. Aos 29 anos de idade, trabalhava como músico


num restaurante no Guarujá e minha esposa como secretária em
uma empresa de exportação de café, no centro de Santos.
Anos se passaram até a Umbanda entrar em minha vida, mas
esse assunto iremos abordar a partir do próximo capítulo.

24
Capítulo II
O CHAMADO

Foto: Autor
CAPÍTULO

O CHAMADO
2
O
s anos decorrentes foram marcados por muitas difi-
culdades em nossas vidas. Em meados de 2007, me
encontrava desempregado, as despesas de casa e as
altas dívidas no banco agravavam ainda mais nossa
situação financeira. Como consequência, nosso ca-
samento sofria o impacto dessa crise, fazendo com que minha
esposa e eu vivêssemos em discussão quase que diariamente, nos-
sos nervos tão abalados, que nos víamos muito próximos de uma
possível separação.
Foi nesse momento que ocorreu um fato que iria mudar por
completo o rumo de nossas vidas.
A sobrinha de minha esposa, residente em São Paulo, passa-
va, na época, por problemas emocionais que estavam acarretando
uma série de dificuldades em sua vida, impedindo-a ingressar na
tão desejada faculdade. Um dia, resolveu procurar minha sogra

27
MINHA VIDA NA UMBANDA

relatando sua necessidade em tomar um passe ou fazer uma lim-


peza espiritual. Perguntou a avó se conhecia algum centro espírita
ou algo similar, que mencionou um terreiro situado na rua Cami-
nho dos Barreiros, em São Vicente, há muito tempo frequentado
por uma conhecida. Horas depois, minha esposa foi surpreendi-
da com o telefonema da sobrinha, insistindo para que fosse com
ela ao terreiro indicado. Mesmo sendo católica e sem nunca ter
entrado em uma casa espírita, minha esposa atendeu ao pedido
desesperado da sobrinha, e marcaram uma ida ao local.
Lembro-me que, nesse dia, ambas insistiram para que eu as
acompanhasse, mas, por puro preconceito, respondi negativa-
mente ao convite.
Nossa sobrinha iniciou uma série de trabalhos espirituais, par-
ticipando de algumas giras consecutivas, e, ao chegarem em casa
após uma dessas consultas, comunicaram que o responsável pelo
terreiro havia cobrado meu comparecimento na próxima gira,
com a máxima urgência. Na hora, descartei enfaticamente a possi-
bilidade, mas a insistência de ambas acabou por me convencer do
contrário. Afinal, tudo estava tão difícil que era impossível piorar,
pensava eu.
Tinha 46 anos de idade quando pisei num centro de Umbanda
pela primeira vez, em março de 2008. Não conhecia absolutamen-
te nada sobre a religião, seus fundamentos e muito menos, sobre
as chamadas “giras”. Aliás, o que eu imaginava, eram pessoas se
contorcendo ao som de estrondosos batuques e urros guturais,
induzidos a um delírio insano em evocações ao diabo, numa at-
mosfera mundana com sacrifícios animais, um verdadeiro filme
de horror!
Meu Deus, pobre de mim, vítima dos meus próprios precon-
ceitos e fruto de uma sociedade cuja intolerância religiosa acom-
panha sua história desde sempre. Hoje percebo o quanto fui tolo...
Nesse momento, peço licença aos leitores para uma pequena
interrupção em minha narrativa, pois muitos de vocês, sejam mé-
diuns iniciantes ou não, possam talvez desconhecer algumas defi-
nições básicas que, resumidamente, esclareço a seguir:
TERREIRO
Também conhecido como Casa ou Barracão, é o local em

28
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

que se realizam as práticas e cerimoniais de Umbanda,


comandadas pelo dirigente responsável.
PAI DE SANTO
É a autoridade máxima dentro do terreiro, responsável
pelo desenvolvimento mediúnico de cada filho. Cabe a
ele cuidar das obrigações da casa, preparando banhos,
amacis, e rituais como iniciação, batismo, casamento,
entre outros. Conhecido também como Dirigente,
Zelador, Babalorixá, Babalaô, Diretor de Culto ou Chefe
de Terreiro, dedica sua vida doutrinando, conduzindo
e ensinando a todos os médiuns os fundamentos da
religião, além da prática da caridade.
MÃE DE SANTO
Possui as mesmas qualidades acima citadas,
diferenciando-se unicamente por ser uma figura
feminina. Também conhecida como Ialorixá ou
Zeladora, é a sacerdotisa do terreiro responsável pela
trajetória espiritual de seus filhos.
FILHO DE SANTO
É toda pessoa que tem um compromisso com o Orixá.
Batizado na Umbanda, desenvolve e pratica suas
obrigações de fé no terreiro.
CAMBONE ou CAMBONO
É quem auxilia o médium incorporado, servindo-
lhe bebidas, fumos, acendendo velas ou exercendo a
função de intérprete das mensagens entre a entidade e
o consulente, além de cuidar da integridade física do
médium.
MÉDIUM
Segundo Allan Kardec1, “todo aquele que sente em
um grau qualquer influência dos espíritos é, por esse
fato, médium”. É através do corpo físico do médium
que a entidade se manifesta, em suas mais variadas
1
Influente educador, autor e tradutor francês que, sob o pseudônimo de Allan Kar-
dec, notabilizou-se como o codificador do Espiritismo (neologismo por ele criado).

29
MINHA VIDA NA UMBANDA

expressões, tais como psicografia, psicofonia, transporte,


clarividência, desdobramento, dentre outras. É também
chamado de aparelho ou cavalo.
GIRAS
São os eventos ritualísticos que ocorrem no terreiro. Em
sua maioria, seguem a mesma estrutura: Firmeza para
Exú, Abertura, Defumação, Atendimento/Consultas e
Encerramento. Podem ser Giras fechadas (Giras de estudo
e desenvolvimento com a presença dos filhos da casa),
Giras abertas (direcionadas ao público em geral) ou Giras
festivas.
ASSISTÊNCIA
Local onde os consulentes aguardam o atendimento.
CONSULENTES
Pessoas que frequentam a Gira nos dias de consulta e
atendimento.
Chegando ao terreiro, acompanhado de minha esposa, deparei,
logo na entrada, com uma pessoa trajada de branco, que organi-
zava gentilmente a chegada de todos, acomodando cada um em
cadeiras enfileiradas e separadas por gênero, de um lado homens,
de outro mulheres, no espaço denominado “assistência”. Num pri-
meiro momento, me imaginei numa sala de espera de um consul-
tório médico e todos que ali estavam provavelmente sofriam de
algum mal espiritual, cada qual esperando sua vez de ser chamado.
Uma enorme cortina nos impedia ver o que acontecia na parte
interior do estabelecimento. Alguns minutos se passaram até que,
repentinamente, vozes entoando melodias ao som de atabaques
substituíram o murmúrio inicial. A assistência participa do ceri-
monial com o bater de palmas acompanhando o ritual, e alguns
consulentes, provavelmente os mais assíduos, cantam as melodias
em uníssono. Nesse momento, percebi um forte aroma de ervas,
como aquelas usadas por nossos avós, em suas defumações casei-
ras. Quando a cortina se abriu, deparei-me com vários médiuns
já em transe , andando de um lado para outro, soltando altos bra-
dos e fazendo movimentos que para mim, não tinham o menor
sentido. Atendendo as instruções do Pai de Santo ali presente, os

30
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

médiuns foram colocados lado a lado, auxiliados por outros não


incorporados, formando uma fila de atendimento e assim, de gru-
po em grupo, todos da assistência foram convidados a participar
das consultas, junto às entidades ali presentes.

POR QUE SE CANTA NA UMBANDA?


Na verdade, não se canta, se ora. A forma de oração na
Umbanda se dá também através de pontos melódicos,
que nada mais são que cânticos ritualísticos evocando o
Sagrado, muitas vezes acompanhados por instrumentos
percussivos como atabaques, agogô e triângulo, além
das palmas dos filhos e consulentes. São mensagens
dirigidas aos Orixás, Guias e Espíritos de Luz, em
invocações ou agradecimentos.
Para que não se confunda: EVOCAR, no sentido de
chamar, convocar, e INVOCAR, no sentido de pedir,
suplicar.
No momento em que meu grupo foi chamado, fui separado
dos demais e encaminhado a um local mais reservado, ao fun-
do do terreiro, onde o Pai de Santo e dois filhos me aguardavam.
Ali pude observar claramente a figura que se agigantava a minha
frente. Um homem alto, de meia idade, pele parda, trajando uma
bata verde com estampas florais, calça e sandálias brancas, por-
tando um lindo cocar indígena, com vários adornos e colares em
volta do pescoço, fumava seu charuto sem dizer uma palavra. In-
dicaram-me para que ficasse descalço e em pé, voltado para uma
parede repleta de folhas e plantas de toda espécie.
Naquele instante, senti que alguém resvalava a ponta dos dedos
em minhas costas, como se estivesse “tirando o pó” de minhas
roupas, em movimentos que iam dos meus ombros até o chão.
Nessa hora, o que me deixou muito impressionado, foram os sons
que essa suposta pessoa produzia atrás de mim. Se assemelhavam
a estridentes chiados de gato ou outro animal, não saberia dizer ao
certo. Imagino que isso tenha se dado por cinco minutos, talvez
menos. Terminada a limpeza, me virei, notando que a pessoa
atrás de mim era uma senhora dos seus 70 anos de idade que,
demonstrando muito cansaço, sentou-se numa cadeira onde lhe
foi servido um copo de água para que recuperasse suas energias.

31
MINHA VIDA NA UMBANDA

De lá, o Pai de Santo levou-me ao centro do terreiro, fazendo-


me andar em sua direção sobre galhos e folhas jogadas no chão.
A cada passo que dava, sentia tremores em meu corpo tenso, e
chegando a sua frente, abraçou-me passando uma energia nunca
antes por mim vivenciada. Comecei a chorar incontrolavelmente
em seus braços, sentindo minhas lágrimas escorrerem pela minha
face, e uma mistura de alívio e paz tomou conta de minha alma.
Completamente extasiado, ouvi as palavras por ele pronunciadas
em meu ouvido: “O mureco está muito judiado, nem acredita mais
nele, mas ele tem muita riqueza dentro dele. Esse caboclo vai desatar
todos os nós que estão amarrando os caminhos do mureco, pra que
ele possa encontrar o rumo da felicidade”.

OS GUIAS FALAM ERRADO?


“As Entidades e Guias têm, sim, algumas expressões e
termos específicos de sua linha, mas isto não significa
falar erroneamente, com português de doer os ouvidos...
Então, chega-se à conclusão de que os erros advêm dos
médiuns!
Os guias quando se apresentam estabelecem uma rede
energética que faz fluir os pensamentos de um para o
outro. Ele usa o que conhecemos e nós temos acesso a
um pouco do que ele conhece, as suas ideias partilham
de nossa mente e, portanto, temos conceitos prontos
sobre os assuntos, que devemos passar da melhor
forma possível. Para isso, um bom vocabulário, uma
construção correta da frase é o melhor caminho.
Mas também há o outro pólo desta questão: alguns
médiuns que querem demonstrar que são eruditos (e que
suas entidades também) e acabam usando a conjugação
verbal na segunda pessoa do plural ou usam termos
rebuscados com o objetivo de dar uma tonalidade de
mensagem superior. Aí ficam enchendo as mensagens
de “Vós sois”, “vós ireis”, “vós isto”, “vós aquilo”...!
Deixe o Guia trabalhar, atuar da maneira dele, mas
estude, conheça a doutrina, o corpo humano, os
chakras, as Leis da Espiritualidade e, sobretudo, estude

32
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

o português! Quanto maior nosso conhecimento,


melhor e mais claro serão nossos pensamentos e melhor
a Entidade poderá ajudar o consulente!” 2
Fonte: adaptado de Nino Denani

Ao findar a gira, fui para casa tomado por um sentimento de


gratidão e renovação, embora totalmente confuso com tudo que
acabara de ocorrer. Em resumo, eu tinha ido a um lugar com prá-
ticas de fé contrárias às minhas, ouvido sussurros de animais e
chorado convulsivamente nos braços de um estranho. Me indaga-
va como tudo isso poderia ter acontecido...
A partir daí, os acontecimentos que se sucedem trarão luz a
muitas perguntas e dúvidas vividas não só por mim, mas certa-
mente, por tantos filhos que iniciaram suas trajetórias rumo ao
desenvolvimento mediúnico.

2
Disponível em: <http://luzdivinaespiritual.blogspot.com/2013/08/as-entidades-e-
-guias-falam-errado.html>

33
Capítulo III
O CAMBONO

Foto: Autor
CAPÍTULO

O CAMBONO
3
N
a semana seguinte, retornei à casa e, pouco antes do
início da gira, fui comunicado que, a pedidos do Pai
de Santo, eu não mais ficasse na assistência, mas jun-
to aos filhos, dentro da corrente. Isso me deixou sur-
preso, até porque minha esposa continuava sentada
junto aos demais consulentes. Sem me dar conta, estava eu ini-
ciando minha trajetória na Umbanda.
De modo geral, efetuamos em nosso terreiro três giras sema-
nais: a gira de cura, feita para a assistência, às segundas-feiras a
partir das 19hs; a gira de desenvolvimento, às quartas-feiras, a
partir das 19hs, voltadas exclusivamente para os filhos do terreiro
e, aos sábados, as giras de consulta, que se inicia as 16hs, aberta
aos consulentes.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE GIRA DE CURA, GIRA
DE DESENVOLVIMENTO E GIRA DE CONSULTA?
Em nossa casa as giras de cura ocorrem, na maioria das
35
MINHA VIDA NA UMBANDA

vezes, sem a incorporação dos médiuns. Participamos


na vibração da corrente mediúnica através de passes
magnéticos, onde os espíritos cuidam da saúde de toda a
assistência, efetuando tratamentos, curas e até cirurgias
espirituais. Dr. Bezerra, Dr. André Luiz e Dr. Fritz são
algumas das entidades que trazem suas falanges de
curadores nos dias de trabalho. Algumas giras também
são conduzidas pelo Sr. Barra Vento. Diferentemente
das giras de consulta, em que cada consulente conversa
em particular com a entidade, nas giras de cura o
atendimento é feito simultaneamente para todos ali
presentes.
As giras de desenvolvimento são restritas exclusivamente
aos filhos da casa. Consiste em aprimorar, exercitar
e expandir as aptidões mediúnicas de cada filho,
doutrinando-os em sua evolução espiritual. Nessas
giras, há a incorporação por parte dos médiuns,
supervisionados pela entidade responsável, Sr. Rompe
Mato.
É na gira de consulta que as entidades se apresentam
em terra, incorporadas em seus respectivos aparelhos
(médiuns de trabalho) para atender particularmente,
cada pessoa necessitada. Limpezas espirituais, passes
energéticos, descarregos, aconselhamentos, orientações,
benzimentos, e até desobsessões são algumas das práticas
mais comuns em dias de consulta.
Além dessas três, fazemos eventualmente as giras
festivas, onde celebramos todas as datas comemorativas
da Umbanda.
Para frequentar as giras, fui informado que utilizasse apenas
roupas brancas ou claras. Também me aconselharam levar uma
mochilinha para a troca de roupas no local.
POR QUE UTILIZAMOS ROUPAS BRANCAS NAS
GIRAS DE UMBANDA?
O branco, cor oficial da Umbanda, é a união de todas
as cores refletidas e, simbolicamente, sugere a junção de

36
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

várias matrizes numa só crença. É a representação da


paz, da pureza e da elevação espiritual, cor do nosso Pai
Oxalá, Regente Maior da fé.
A troca de roupas no local se faz necessária devido ao
respeito e a distinção entre o sagrado e o profano, com o
qual a casa precisa estar sempre atenta.
A partir do momento em que minha sobrinha alcançou suas
graças, minha esposa começou a diminuir sua frequência às giras,
até porque nunca sentira uma forte empatia com a religião. Hoje,
percebo que uma de suas missões, fora a de insistir em me con-
vencer a ir ao terreiro, abrindo uma porta em minha vida que eu
jamais imaginaria adentrar.
Na medida em que frequentava as giras, minha relação com a
Umbanda ficava mais intensa e as dúvidas iam surgindo. Nessa
fase, o médium iniciante deve ter a calma e a tranquilidade tão
essenciais para seu desenvolvimento sadio. Na época, eu inicia-
va minhas obrigações como cambono junto aos demais médiuns
principiantes. Como já foi dito, o cambono atende as entidades no
terreiro e presta auxílio aos consulentes. Essa experiência, embora
muitos não deem a devida importância, é essencial ao desenvol-
vimento do jovem médium. É onde ocorrem os primeiros conta-
tos diretamente com os Guias, aprendendo suas expressões, ob-
servando seu arquétipo, conhecendo cada elemento utilizado em
suas consultas e, através de seus sábios conselhos, doutrinando-se.
Numa hipotética comparação, o jovem estudante aprende obser-
vando o experiente médico que consulta seu debilitado paciente.
Não devemos nos esquecer, porém, que a prioridade do cambo-
no é e sempre será atender todas as necessidades do Guia, dando
também total apoio ao consulente. A prática do cambonar nos en-
riquece e nos traz conhecimentos essenciais em nossa caminhada.
Confesso que, nas primeiras vezes em que cambonei, fiquei um
tanto perdido, principalmente na interpretação dos termos uti-
lizados pelas entidades. Expressões como “pito”, “toco”, “cazuá”,
“marafo”, “curiar”, “fundanga”, “lume”, “mironga”, “torrão”, eram
para mim totalmente desconhecidas, mas, com o tempo, fui me
habituando ao linguajar utilizado. Ao final desta obra. relaciono
num pequeno glossário alguns termos e expressões mais comuns
usadas pelas entidades e seus respectivos significados.

37
MINHA VIDA NA UMBANDA

O QUE É ARQUÉTIPO NA UMBANDA?


Os arquétipos são as diferentes formas de manifestação
como cada Guia se apresenta no terreiro. Os Pretos-
Velhos, por exemplo, se expressam de uma maneira
semelhante, com seu jeito humilde, fala calma, postura
arcada, andar lento, apoiando-se em sua bengala ou
fumando seu cachimbo, fazendo com que o médium se
apresente como um idoso. Os guias possuem diversos
arquétipos que se manifestam através da incorporação,
sendo alguns deles: Pretos-Velhos, Caboclos, Baianos,
Erês, Marinheiros, Ciganos, Boiadeiros, Exús e Pombo-
Giras.
Nesse início de desenvolvimento onde tudo é novidade, eu
observava muito do que acontecia a meu redor. Foi quando no-
tei que vários filhos faziam uma espécie de saudação na entrada
do terreiro. Perguntando o significado a um médium mais velho,
explicou-me que, sempre ao entrar no terreiro, todo filho deverá
pedir licença à Tronqueira e, posteriormente, saudar a Casa das
Almas, situados respectivamente, ao lado esquerdo e direito do
portão principal de acesso.
O QUE É TRONQUEIRA? O QUE É CASA DAS
ALMAS? QUE SAUDAÇÃO SE FAZ AO ENTRAR NO
TERREIRO?
Tronqueira é o local de firmeza do Exú guardião da
casa. Casa das Almas (não confundir com Cruzeiro das
Almas, assunto que será abordado em outro capítulo)
é um local de reverência e oferenda aos Pretos-Velhos,
onde se acendem velas para as Almas e para saudar a
Omolú/Obaluaê. Tanto na Tronqueira quanto na Casa
das Almas, se fazem os Assentamentos - locais e/ou
elementos de força contínua, inesgotável, que sustentam
os trabalhos no terreiro, e as Firmezas - elementos que
atuam temporariamente como, por exemplo, a luz de
uma vela. Cada terreiro adota práticas diferentes, seus
rituais variam de casa para casa. No nosso terreiro
reverenciamos primeiramente a Tronqueira, tocando no
solo três vezes, com a ponta dos dedos da mão esquerda,

38
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

mentalizando “LAROYÊ MOJUBÁ” (pode-se entender


como “Exú, eu te saúdo”) e posteriormente, a Casa das
Almas, nas palavras ADORÊ AS ALMAS (significa
limpar e dar brilho a nossa alma). Na saída, repetimos
as mesmas saudações só que em ordem contrária, com a
Tronqueira sendo a última a ser reverenciada.
Fui batizado na Umbanda em meados de 2008. Naquele mo-
mento, eu não entendia claramente o significado do batismo, e
nem tinha a noção do comprometimento que estava por assumir,
mas lembro que me senti inteiramente renovado e, principalmen-
te, me reencontrado com a fé. Com o tempo, meus familiares co-
meçaram a perceber mudanças sutis em meu comportamento. Eu
mesmo me via mais racional, ponderado e tolerante. Algo come-
çava a acontecer em nossas vidas, em nossa família. Ainda assim,
continuávamos enfrentando muitas dificuldades, principalmente
financeiras. Meu maior desejo era uma oportunidade de emprego,
mas com a idade avançada para o mercado de trabalho e sem um
diploma superior, tudo se tornava mais difícil.
O QUE SIGNIFICA BATISMO NA UMBANDA?
É o ato de conversão religiosa em que a pessoa se
entrega a doutrina; é o renascimento para a fé. Tem
como objetivo tornar o adepto, um filho de Umbanda,
iniciando-o na prática de suas obrigações sagradas, no
seu desenvolvimento mediúnico e no comprometimento
com a religião. Geralmente são utilizados elementos da
natureza para purificação do filho durante a cerimônia,
através do Amaci de Oxalá.
As giras eram conduzidas pelo Sr. Caboclo Rompe Mato, res-
ponsável pelo desenvolvimento dos filhos da casa. Pai Rompe
Mato foi a primeira entidade que me acolheu e me conduziu pelos
braços, num momento em que não tinha mais pernas para cami-
nhar. Me lembro de suas palavras: “As mudanças vão acontecer na
vida do fio a partir do mês da fogueira”. Em junho de 2008 surgiu
um convite para que eu trabalhasse numa distribuidora de jornais
e revistas, na qual fiquei por quase um ano e, em junho do ano
seguinte, veio a oportunidade que eu tanto aguardava. Fui contra-
tado para trabalhar numa das maiores universidades da Baixada

39
MINHA VIDA NA UMBANDA

Santista, e ainda tive a chance de ingressar no curso superior, onde


me formaria quatro anos depois, como Bacharel em Publicidade
e Propaganda.
QUEM É O CABOCLO ROMPE MATO?
Reproduzo abaixo as palavras de meu mentor espiritual,
Pai Odé D’Loy1:
“Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar esclarecido
que o Caboclo Rompe Mato não é o mesmo que Ogum
Rompe Mato, apesar de ser um Caboclo de Ogum. Vindo
a trabalho pela Falange de Ogum Rompe Mato, o Caboclo
Rompe Mato está sobre a irradiação vibracional de
Oxóssi, e, por esse motivo, traz as cores vermelho e verde
em suas guias e em algumas roupagens. Ele costuma se
apresentar austero e bem rigoroso, contudo, é muito
amoroso e aconselhador. Se apresenta em trabalhos nos
terreiros de Umbanda, trazendo a paz, conselhos, boa
conduta, saúde, tranquilidade e caridade a todos que
buscam auxílio, mediante o merecimento de cada um”.
Nessa época, eu trabalhava de dia e estudava a noite, e isso di-
ficultava minha presença nas giras e, consequentemente, meu de-
senvolvimento mediúnico. Sentia a energia dos Guias, mas não
incorporava, e isso me angustiava. Olhava ao redor e via os filhos
mais antigos da casa recebendo suas entidades, mas nada ocorria
comigo. Essa angústia dificultou muito meu processo de incor-
poração. Não conseguia me concentrar o suficiente para que os
espíritos se aproximassem de meu corpo, pois me distraía com
as manifestações de outros irmãos. A forma como cada médium
incorpora é algo inteiramente pessoal. Os trejeitos, o compor-
tamento e até o tempo de incorporação, variam inegavelmente.
Por isso, meus irmãos, não se preocupem com o que acontece a
sua volta, e sim com vocês. Não percam tempo e nem se deixem
impressionar com médiuns que, ao primeiro toque do atabaque,
saem “rodando”, nem com os gritos e brados de outros, pois cada
qual se manifesta de uma maneira particular e no momento
oportuno, eles se manifestarão em você também. Para alguns,
esse processo se dá em semanas ou meses, outros levam anos. Eu
1
Sacerdote responsável pelo Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador.

40
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

levaria aproximadamente quatro anos para que minha primeira


incorporação ocorresse.
O QUE É INCORPORAÇÃO? EXISTEM TÉCNICAS
PARA FACILITAR A INCORPORAÇÃO? O QUE
SIGNIFICA MISTIFICAÇÃO?
Incorporação é o nome dado ao transe mediúnico em
que o médium entra num estado alterado de consciência,
permitindo que o espírito se manifeste através de seu
corpo físico. Esse processo é conhecido como psicofonia.
É importante distinguir a incorporação da possessão,
que é a manifestação do espírito sem o consentimento
do médium.
A incorporação é um processo espiritual muito complexo
e por isso, exige atenção por parte dos chefes de terreiro.
É fundamental seguir as regras e preparações adotadas
em cada casa no dia que antecede a gira, como banhos
de descarrego, defumações, firmamento de velas etc.
Em relação as técnicas de incorporação, primeiramente
o médium deve conhecer qual ou quais os tipos de
mediunidades que nele se manifestam. No caso da
incorporação, a concentração é a técnica mais eficaz e que
muito auxilia nesse processo. Fechar os olhos e ouvidos
para tudo que acontece a seu redor, focar exclusivamente
em seu corpo, procurar um estado de consciência parcial
e mentalizar as características do Guia, são práticas que
podem estimular essa conexão. Por exemplo, numa gira
de Caboclo, imagine o elemento mata, floresta, a força
da natureza e sua energia, deixando-se levar ao som dos
atabaques e pontos cantados...
Muitos médiuns acabam prejudicando alguns iniciantes,
mesmo sem querer, propondo-lhes práticas ou técnicas
de incorporação, que acabam não trazendo um resultado
satisfatório. Por isso, entenda que só você e seu Guia
irão achar o caminho ideal para uma completa, segura e
plena incorporação.

41
MINHA VIDA NA UMBANDA

Segundo o sacerdote de Umbanda Rodrigo Queiroz2,


“a mistificação é a intenção de mentir; coisa que
acontece com o zombeteiro, tem espírito que finge ser
e tem pessoas que fingem ser. Se a intenção é de mentir,
enganar, falsear...isso sim, é mistificação.”
Infelizmente, assim como em qualquer outra religião,
temos, dentre os verdadeiros filhos de fé, alguns
despreparados, médiuns vaidosos e mentirosos que
fingem estar incorporados motivados por seus egos,
dando abertura a espíritos sem luz, como eguns,
kiumbas e zombeteiros, que se utilizam desses falsos
médiuns para se apossar da vida tanto dos consulentes,
quanto do próprio médium mistificador, arriscando a
integridade e a segurança do terreiro.
Uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção no ter-
reiro foram as imagens que compunham nosso Congá. Percebi
que a maioria era igual às utilizadas pela igreja católica, e isso me
deixou intrigado. Consultando meu Pai Odé D’Loy, entendi que
se tratava de um assunto mais complexo. As entidades represen-
tadas nessas imagens, embora apresentem uma grande similari-
dade, são distintas tanto na Umbanda, quanto no catolicismo. Por
exemplo, nosso Orixá Ogum é representado pela imagem de São
Jorge, santo da religião católica, e essa correlação é denominada
sincretismo religioso.
O QUE ORIGINOU O SINCRETISMO? O QUE É
CONGÁ?
Durante o processo de colonização do Brasil, o
cristianismo europeu se fez predominar através da
imposição de seus paradigmas aos escravos trazidos da
África, proibindo suas práticas de fé e reprimindo seus
cultos aos Orixás, Inquices3 e Voduns4, objetivando a total
conversão religiosa. Desse choque, surge o sincretismo
2
Graduado em Filosofia pela USC-Bauru; Diretor Fundador do Jornal de Umbanda
Sagrada (JUS); Diretor do Colégio de Umbanda Sagrada “Pai Benedito de Aruanda”
em Bauru, SP; Presidente do Instituto Cultural Aruanda; Sacerdote Dirigente do Tem-
plo Escola de Umbanda Sagrada; Diretor Fundador da TV Umbanda Sagrada e Rádio
Umbanda Sagrada.
3
Ver Glossário capítulo 7.
4
Ídem.

42
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

religioso afro-brasileiro, com os escravos obrigados a


virarem cristãos, representando nas imagens dos santos
católicos, suas Divindades africanas.
Relaciono abaixo os Orixás na Umbanda e suas
representações no sincretismo católico:
OXALÁ - Jesus Cristo (com os braços para frente, sobre
o globo)
IEMANJÁ - Nossa Senhora dos Navegantes (imagem
tradicional saindo do mar)
OXUM - Nossa Senhora da Conceição
IANSÃ - Santa Bárbara
OXÓSSI - São Sebastião
OGUM - São Jorge (montado no cavalo)
NANÃ - Senhora Santana
XANGÔ - São Jerônimo (junto ao leão)
OBALUAÊ - São Lázaro (com o cachorro)
ERÊS - São Cosme, São Damião e Doum (os três juntos)
Congá é o local principal, consagrado e de maior axé
dentro do Terreiro. Imantados em sua base, encontram-
se objetos que muitas vezes são de conhecimento
exclusivo do Pai ou Mãe de Santo. Local de devoção e
adoração aos Orixás, Guias e Protetores espirituais,
pode ser composto também por objetos variados, como
velas, flores, copos com água, pontos riscados, pedras,
quartinhas etc.
Outro fato que percebi no dia a dia do terreiro foi em relação a
postura de alguns médiuns, frente ao Congá. Muitos reverencia-
vam as entidades, inclinando-se e tocando a testa levemente no
chão. Esse ato é conhecido como “bater cabeça” e é também um
ritual comum em outras culturas como budismo, islamismo e até
no próprio catolicismo, como forma de reverência e respeito ao
sagrado.

43
MINHA VIDA NA UMBANDA

QUAL O SIGNIFICADO DE BATER-CABEÇA?


Significa cumprimentar respeitosa e humildemente
determinada entidade. Ao reverenciar o Congá,
posicionando o Ori na horizontal, estamos não só
exercendo um ato ritualístico, como também abrindo o
chakra coronário para a entrada de irradiações puras,
proporcionando serenidade, paz e bem-estar ao devoto.
Segundo Alexandre Cumino5, “Bater cabeça é o ato de
submissão no sentido de que você está submetendo seu
trabalho, está reconhecendo a hierarquia do terreiro e
está disposto a obedecer às doutrinas daquele templo.”6
Em alguns trabalhos orientados por Pai Odé D’Loy e desenvol-
vidos tanto para os filhos de nosso terreiro, quanto para a assis-
tência, é cobrada uma quantia denominada Salva, outro assunto
muito polêmico e de grande importância para o jovem médium.
Reproduzo abaixo as palavras do sacerdote W. W. da Matta e
Silva7, em sua obra “Umbanda e o Poder da Mediunidade”8:
“Mas o que é, em verdade, a lei de salva? Tentaremos explicar
isso direitinho, pondo os pontos nos “is”, que é para tirarmos a
máscara de muitos falsos “chefes-de-terreiros” ou “babá”, ou que
outro qualificativo lhes queiram dar, que fazem disso a “galinha
de ovos de ouro”. Essa lei de salva é tão antiga quanto o uso da
magia. Existe desde que a humanidade nasceu. Os magos do
passado jamais se descuidavam de sua regra, ou seja, da lei de
compensação que rege toda ou qualquer operação mágica, quer
seja para empreendimentos de ordem material, quer implique
em benefícios humanos de qualquer natureza, especialmente
nos casos que são classificados na Umbanda como de demandas,
descargas, desmanchos etc. Dessa lei de salva, ou regra de
compensação sobre os trabalhos mágicos, nos dão notícia certos
5
Sacerdote de Umbanda, responsável pelo Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca,
bacharelado pela UNICLAR, diretor da AUEESP (Associação Umbandista e Espiritua-
lista do Estado de São Paulo), ministra cursos virtuais (EAD) na plataforma <www.um-
bandaead.com.br.> É autor de vários livros, dentre eles História da Umbanda, Umbanda
não é Macumba e Médium – Incorporação não é Possessão, todos pela Madras Editora.
6
Disponível em: <umbandaead.blog.br>.
7
Médium, escritor e fundador da Tenda de Umbanda Oriental, fixada em Itacuruçá,
Rio de Janeiro.
8
Umbanda e o Poder da Mediunidade, 3. ed. Livraria Freitas Bastos, p. 77-80, 1987.

44
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

ensinamentos esotéricos com a denominação de lei de Amra.


Nenhum magista pode executar uma operação mágica tão somente
com o pensamento e “mãos vazias” – isto é, sem os elementos
materiais indispensáveis e adequados aos fins. Essa história de
pura magia mental é conversa para entreter mentalidades infantis
ou não experimentadas nesse mister. Qualquer ato ou ação de
magia propriamente dita requer os materiais adequados, sejam
eles grosseiros ou não. Vão dos vegetais às flores, aos perfumes,
aos incensos, às plantas aromáticas, às águas dessa ou daquela
procedência até ao sangue do galo ou bode preto. A questão
é definir o lado: – ou é esquerda, ou é direita, negra ou branca.
Ora, como toda ação mágica traz sua reação, um desgaste,
uma obrigação ou uma responsabilidade e uma consequência
imprevisível (em face do jogo das forças movimentadas), é
imprescindível que o médium-magista esteja coberto ou que lhe
seja fornecida a necessária cobertura material ou financeira a fim
de poder enfrentar a qualquer instante essas possíveis condições.
Então é forçoso que tenha uma compensação. Aí é que entra a
chamada lei de salva, ou simplesmente SALVA… Mesmo porque,
todo aquele que, dentro da manipulação das forças mágicas ou
da magia, dá, dá e dá sem receber nada, tende fatalmente a sofrer
um desgaste, pela natural reação de uma lei oculta que podemos
chamar de vampirização fluídica astral, que acaba por lhe
enfraquecer as forças ou as energias psíquicas. E naturalmente o
leitor, se é médium iniciado na Umbanda, nessa altura deve estar
interessadíssimo em saber como será essa compensação. Claro,
vamos dizer como é a regra, para que você possa extrair dela o que
seu senso de honestidade ditar: DE QUEM TEM, PEÇA TRÊS,
TIRE DOIS E DÊ UM A QUEM NÃO TEM; E DE QUEM NÃO
TEM, NADA PEÇA E DÊ ATÉ DE SEU PRÓPRIO VINTÉM.
(…) É claro que essa lei de salva ou de compensação, própria e de
uso exclusivo em determinados trabalhos de magia, não pode ser
aplicada em todos os “trabalhinhos” corriqueiros que se pretenda
ser de ordem mágica.”
O QUE É SALVA?
A Lei de Salva é prática comum em muitos terreiros
e é algo inteiramente lícito, quando aplicada de
maneira honesta. Corresponde a uma eventual quantia

45
MINHA VIDA NA UMBANDA

arrecadada para determinados trabalhos feitos no


terreiro, não devendo ser confundida com a mensalidade
cobrada para arrecadação de verbas necessárias aos
gastos e encargos da casa (ver capítulo 4).
Nesse início de vida na Umbanda, definir certos conceitos se
torna, muitas vezes, uma difícil tarefa para o jovem umbandista,
não só devido à sua prematura experiência, como também à sua
percepção e vocabulário ainda em desenvolvimento. Muitas vezes,
para uma palavra que tenha um significado aparentemente ób-
vio, o iniciante não encontra uma definição exata, muito embora
possa até interpretá-la num sentido mais abrangente. Reproduzo
abaixo cinco conceitos básicos extraídos dos textos apostilados9
organizados por Pai Odé D’Loy.
1. RELIGIÃO: É uma devoção a tudo que é considerado
sagrado. É um culto que aproxima o homem das
entidades a quem são atribuídos poderes sobrenaturais.
É uma crença em que as pessoas buscam a satisfação nas
práticas religiosas ou na fé, para superar o sofrimento e
alcançar a felicidade. Religião é também um conjunto
de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas,
baseadas em livros sagrados, que unem seus seguidores
numa mesma comunidade moral. Todos os tipos de
religião têm seus fundamentos, algumas se baseiam
em diversas análises filosóficas que explicam o que
somos e porque viemos ao mundo, e outras em extensos
ensinamentos éticos.
2. FÉ: Basicamente a fé é uma certeza. Seja ela natural
ou sobrenatural, sempre será um sentimento de certeza
absoluta. Se no coração não houver essa certeza absoluta,
então não se pode considerar esse sentimento como fé.
Às vezes, algumas pessoas confundem emoção com fé.
Pensam elas que, pelo fato de sentirem um forte desejo
em chorar ou mesmo vontade de sorrir, é fé. Não! A fé
não é emoção, mas certeza! Ela é uma convicção tal, que
é impossível removê-la do coração. A fé é como a luz, e a
dúvida como as trevas.
9
Disponível em: Apostila ABESMA, 2016.

46
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

3. ESPIRITISMO: É uma doutrina filosófica de


consequências morais. É ciência, é filosofia e é ética
(ciência do bem). Allan Kardec, no seu livro “O que é o
espiritismo”, elucida-nos sinteticamente: O espiritismo
é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma
doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste
nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos;
como filosofia, compreende todas as consequências
morais que resultam dessas mesmas relações. Podemos
definir assim: o espiritismo é uma ciência que trata
da origem e destino dos espíritos, bem como de suas
relações com o mundo corporal.
4. UMBANDA: A primeira definição de Umbanda foi
feita pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do
médium Zélio de Moraes: Umbanda é a manifestação do
espírito para a prática da caridade. Religião brasileira
por excelência, sintetiza vários elementos das religiões
africanas e cristãs. Formada no início do século XX a
partir da síntese com movimentos religiosos como
o Candomblé, o Catolicismo e o Espiritismo, a palavra
UMBANDA quer dizer, segundo o próprio Zélio de
Moraes: Um (DEUS) banda (Nós): Deus conosco.
5. CANDOMBLÉ: É uma religião africana trazida para o
Brasil no período em que os negros desembarcaram para
serem escravos. Os Orixás, para o Candomblé, são os
deuses supremos. Possuem personalidade e habilidades
distintas, bem como preferências ritualísticas. Estes
também escolhem as pessoas que utilizam para
incorporar no ato do nascimento, podendo compartilhá-
lo com outro Orixá, caso necessário. O Candomblé não
pode ser igualado a Umbanda. No Candomblé, não
há incorporação de espíritos, já que os Orixás que são
incorporados são divindades da natureza; enquanto
na Umbanda, as incorporações são feitas através de
espíritos encarnados ou desencarnados.
É importante que o jovem médium tenha, desde já, as noções
reais de suas obrigações, compromissos e posturas dentro e fora do
terreiro. Obviamente, os exemplos citados abaixo são princípios

47
MINHA VIDA NA UMBANDA

que seguimos em nossa Casa, sendo provavelmente diferentes dos


adotados em outros terreiros.
OBRIGAÇÕES E PRINCÍPIOS DE UM FILHO DE
SANTO
• O Batismo é a primeira obrigação do Filho de
Umbanda e as demais obrigações que farão parte de seu
desenvolvimento mediúnico, deverão ser cumpridas
rigorosamente;
• Deverá o jovem médium servir durante um
determinado período como cambono, auxiliando os
Guias, os médiuns e a assistência;
• Não julgue ou critique seus irmãos, abstenha-se. Evite
os chamados “grupinhos” e eventuais boatos, fofocas ou
intrigas;
• Mantenha sua roupa sempre limpa e em ordem, assim
como sua higiene pessoal;
• Cumpra pontualmente os horários determinados pela
casa e, em caso de ausência, avise com antecedência os
responsáveis;
• Caso tenha condições financeiras, colabore com as
mensalidades destinadas ao pagamento das despesas do
terreiro;
• Nos dias de gira, faça os preceitos indicados pelo seu
Pai ou Mãe de Santo;
• Seja sempre fiel aos princípios básicos da Umbanda,
principalmente, no tocante à prática da caridade e a lei
do amor;
• Mantenha a mente limpa das fraquezas humanas.
Não alimente a inveja, o preconceito, a competitividade
e o ego, pois somos todos iguais perante Deus,
independentemente de cor, condição social, opção
sexual etc.;
• Trabalhe sempre em prol da coletividade;
• Seja um agente agregador, promovendo a união entre os

48
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

irmãos, recebendo os novos filhos com amor e carinho;


• Respeite a sua casa espiritual e seus dirigentes (Pai de
Santo ou Mãe de Santo);
• Respeite as suas entidades e a de todos os irmãos;
• Respeite todas as pessoas da assistência;
• Dedique-se aos estudos de Umbanda para que sua
evolução seja plena;
• Seja humilde, acima de tudo;
• Seja umbandista dentro e fora do terreiro, a todo
momento, colocando em prática seus ensinamentos,
tanto em sua vida, como também ao seu redor e, como
reza nosso consagrado hino, “...levando ao mundo
inteiro a bandeira de Oxalá”!
O que significa mediunidade? Quais os tipos de mediunidade
que se manifestam na Umbanda? Muitos de nós já fizemos essas
perguntas sem encontrarmos uma resposta satisfatória. Para uma
melhor compreensão, reproduzo abaixo o trecho de um texto10
que nos foi enviado por Pai Odé D’Loy.
MEDIUNIDADE
A mediunidade é a capacidade que todos nós temos, em
maior ou menor grau e tipos diferentes, de servirmos de
veículo de comunicação entre o plano físico e o plano
espiritual.
A mediunidade pode ficar latente durante toda a vida
e não causar maiores problemas, ou pode “explodir”,
causando transtornos na saúde, na vida sentimental e
na vida profissional.
Devemos esclarecer, entretanto, que não é a mediunidade
que causa esses transtornos e sim o comportamento
irregular que a pessoa passa a ter, uma vez que fica sem
autocontrole, instável emocionalmente, e captando
vibrações nem sempre boas, das pessoas com quem
10
Disponível em: <http://www.centroespiritaurubatan.com.br/fundamentos/mediuni-
dade.html>

49
MINHA VIDA NA UMBANDA

convive e dos ambientes que frequenta. Tudo isso


contribui para que a pessoa se indisponha com seus
entes mais queridos, se indisponha no seu ambiente de
trabalho e, muitas vezes, perca a sua boa saúde anterior,
já que normalmente assumirá um estado mental
negativo.
A mediunidade é um dom que precisamos aprender a
controlar e que precisa ser disciplinada. A solução é o
desenvolvimento mediúnico.
Existem mais de 100 manifestações de mediunidade,
mas as mais comuns são os seguintes:
a) INTUIÇÃO: é um tipo de mediunidade onde o
médium recebe em seu pensamento, sob a forma de
uma sugestão, mensagens provindas de um espírito. A
intuição nem sempre deve ser seguida, a não ser que
o médium consiga identificar a entidade que o está
intuindo. Essa identificação, ele aprenderá a fazer no
seu desenvolvimento, pois cada entidade produz uma
sintonia diferente no organismo.
b) INCORPORAÇÃO: é a mediunidade em que o médium
sintoniza a vibração da entidade e essa vibração toma
conta de todo o seu corpo. A sintonia é mental e pode
produzir uma incorporação parcial ou integral.
- Na incorporação parcial, o médium fica consciente,
isto é, ele sabe que está ali, sente, observa, mas não
domina o corpo nem controla o raciocínio. Perde,
também, a noção de tempo e, embora tenha sido
espectador de si mesmo, perde a noção de muita coisa
que se passou, ao desincorporar. Na incorporação
parcial pode haver uma quebra de sintonia ocasional,
o que permitirá ao médium interferir na comunicação.
- Na incorporação integral, o médium fica totalmente
inconsciente, pois há uma perfeita sintonia com a
vibração da entidade. Nesse caso, não há possibilidade
de interferência e, ao desincorporar, o médium não vai
se lembrar de nada do que se passou.

50
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Queremos esclarecer que a incorporação parcial é tão


autêntica quanto à integral. O único problema é o
médium não interferir, procurando se isolar e deixar
que a entidade atue livremente. A esmagadora maioria
dos médiuns (mais de 95%) trabalha em incorporação
parcial e uma pequeníssima minoria (menos de 5%),
em incorporação integral.
c) VIDÊNCIA: é o tipo de mediunidade que permite,
àquele que a possui desenvolvida, ver as entidades, as
irradiações. Pode ser de três tipos: direta, intuitiva e
focalizada.
1. Na vidência direta, o médium pode ver as entidades
de cinco maneiras diferentes:
• Na projeção, o médium vê apenas um facho de luz,
uma coloração que depende da vibração atuante. Não
vê forma humana, nem identifica a entidade.
• Na parcial, o médium percebe uma forma humana ao
lado de quem está trabalhando espiritualmente, mas
ainda não dá uma perfeita identificação. Vê somente o
contorno, a forma.
• No acavalamento, o médium vê a entidade por
cima dos ombros de outro médium. Já percebe se é
masculina ou feminina, se é caboclo ou preto-velho
ou outro falangeiro qualquer, se os cabelos são longos
ou curtos, etc. Muitos médiuns que tiveram esse tipo
de vidência afirmam, por desconhecimento, que as
entidades vistas possuíam mais de dois metros de
altura, não percebendo que a entidade, vista acima
dos ombros de outro médium, produziu uma falsa
impressão de altura.
• No encamisamento, o médium vê a entidade toda,
perfeita. Isso acontece na incorporação integral, quando
a entidade toma conta do corpo de outro médium.
2. Na vidência intuitiva, o médium vê apenas com a
mente. Ele se concentra e recebe a imagem mental, por
intuição.

51
MINHA VIDA NA UMBANDA

3. Na vidência focalizada, o médium utiliza algum


objeto para a vidência, como um copo d’água ou um
cristal. As imagens aparecem no objeto de vidência.
d) CLARIVIDÊNCIA: é o tipo de mediunidade que
permite ver fatos que ocorreram no passado e que
ocorrerão no futuro. Os clarividentes podem ver os
corpos astrais e mentais de outras pessoas, e tomar
conhecimento da vida em outros planos espirituais. É
um tipo de mediunidade difícil de ser encontrado.
e) AUDIÇÃO: o médium ouve uma voz clara e nítida
nos seus ouvidos e dessa forma recebe as mensagens.
Na audição, devemos ter o mesmo cuidado que temos
na intuição, no que diz respeito à identificação de quem
está dando a mensagem.
f) TRANSPORTE: é a capacidade de visitar
espiritualmente outros lugares, enquanto o corpo físico
permanece repousando tranquilamente; o espírito se
desliga do corpo e vai para o espaço. Esse transporte
pode ser voluntário ou involuntário.
- No transporte voluntário, o médium se predispõe a
realizá-lo. Ele se concentra e se projeta espiritualmente
a outros lugares, tomando conhecimento do que vê e
do que ouve.
- O transporte involuntário ocorre durante o sono.
Todos nós nos desligamos do corpo físico durante
o sono e entramos em contato com pessoas e lugares
dos quais não nos recordamos ao acordar. Às vezes,
recebemos nesses transportes, soluções para os nossos
problemas que, mais tarde, nos parecerão ideias
próprias. A respeito, diz um ditado popular: “Para a
solução de um grande problema, nada melhor que uma
boa noite de sono”.
g) DESDOBRAMENTO: é um transporte em que o espírito
do médium fica visível à outra pessoa. O corpo físico fica
repousando, o espírito do médium se transporta a outro
ambiente e, nesse ambiente, torna-se visível.

52
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

A manifestação de espíritos no médium é denominada


incorporação, sejam espíritos evoluídos (nossos guias)
ou espíritos não evoluídos (zombeteiro, egum).
Obs.: Transporte é o ato do nosso espírito, nossa energia
ir além do ambiente onde nosso corpo físico não alcança.
“Receber” espírito é incorporação.
“Ir” espiritualmente fora do corpo físico é transporte.
No Kardecismo, mesa branca e na Umbanda nos
trabalhos de Preto-Velho, o médium que recebe espírito
para desobsessão está praticando a incorporação.
É denominado médium de transporte devido seu
desenvolvimento espiritual permitir a incorporação de
espíritos que não são da sua energia mediúnica.
h) PSICOGRAFIA: tipo de mediunidade muito comum,
podendo ser intuitiva, semimecânica ou mecânica. É a
capacidade de receber comunicações pela escrita.
Na psicografia intuitiva, o médium recebe as mensagens
na mente e as passa para o papel. É pura intuição.
Na psicografia semimecânica, o médium, à medida que
vai escrevendo, vai também tomando conhecimento do
que escreve. O espírito atua, simultaneamente, na mente
e na mão do médium.
Na psicografia mecânica, o espírito atua somente na mão
do médium, que escreve sem tomar conhecimento da
mensagem recebida.
Quando, ao invés de escrever, o espírito utiliza a mão
do médium para pintar, esse tipo de mediunidade é
chamado de psicopictografia.
A seguir, reproduzo um texto elaborado pelo médium Douglas
Rainho, idealizador e responsável pelo site Perdido em Pensamentos,
que também aborda o assunto mediunidade e suas peculiaridades:
Desenvolver a mediunidade é muito mais do que simplesmente
ir até o terreiro e deixar-se levar, cedendo o corpo para as entidades
que lá se manifestam. Muitas pessoas confundem desenvolvimento

53
MINHA VIDA NA UMBANDA

mediúnico com incorporação pura e simples. Entendam, não há


como simplesmente ir e chacoalhar o corpo no terreiro, isso não
é engrandecedor e qualquer um pode fazer isso, ou melhor, pode
achar que está fazendo isso. Parte do desenvolvimento mediúnico
se dá também com o estudo pautado no bom-senso, que irá ser o
direcionador dos trabalhos espirituais que serão desenvolvidos.
Primeiramente devemos compreender que não importa só achar
que está fazendo algo, mas é preciso realmente entender o que se
passa, até aquele algo ocorrer. (...)11
Antes de partirmos para o próximo capítulo, gostaria de es-
clarecer uma questão levantada por muitos médiuns iniciantes, a
respeito da palavra “macumba”.
É bom que se saiba que o termo macumba, vem da palavra
makôba, um instrumento musical de origem africana, semelhante
ao reco-reco. Refere-se também a uma espécie de árvore africana,
além de ser o nome de uma manifestação religiosa do Rio de Ja-
neiro, que em muito se aproxima da Cabula12.
O uso pejorativo dessa palavra surgiu na primeira metade do
século 20, com as igrejas neopentecostais e alguns grupos cristãos,
que consideravam profanas as práticas da maioria das religiões
afro-brasileiras, denominando-as como “macumba”. Esse concei-
to difundiu-se tanto que muitas pessoas até hoje, por ignorância e
principalmente, por preconceito, se referem aos nossos irmãos de
fé como “macumbeiros”.
Quando usado nesse sentido depreciativo, o termo macumba
deve ser radicalmente combatido, assim como todas as formas de
violência, preconceito e intolerância às religiões afro-brasileiras.
É essencial que o jovem médium se conscientize, desde já, da ne-
cessidade de defendermos nossa religião e termos verdadeiro or-
gulho em sermos umbandistas, sem nos envergonhar daquilo que
somos, nem tampouco, daquilo em que acreditamos. A luta pelo
respeito religioso, pela liberdade de crença e fim dos preconceitos
cabe a todos nós umbandistas, iniciantes ou não. Trata-se de um
11
Disponível em: <https://perdido.co/2016/01/a-coroa-mediunica-entendendo-o-de-
senvolvimento-do-medium/>
12
Seita afro-brasileira cujo advento se registra nos últimos anos do século XIX, na Bahia,
sincretizadora de elementos malês, bantos e espíritas [Uma das prováveis origens da
Umbanda, dela há sobrevivências no Estado do Espírito Santo e, no passado, em Minas
Gerais e no Rio de Janeiro.

54
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

direito estabelecido em nossa Constituição13.


A Umbanda é religião fundamentada e deverá ser respeitada
por todos, sem exceção.

13
A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de
consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. Disponível em: <http://
www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm#:~:text=A%20
Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%2C%20no%20artigo,culto%20e%20as%20
suas%20liturgias.>

55
Capítulo IV
O FILHO DE SANTO

Foto: Autor
4
CAPÍTULO

O FILHO DE
SANTO

G
ostaria de abrir esse capítulo fazendo um breve relato a
respeito da origem da Umbanda.
Desde muito antes da manifestação do Caboclo das Sete
Encruzilhadas através do médium Zélio de Moraes, já
havia indícios de incorporações de espíritos de índios
e de escravos negros nas diversas formas de macumba1 existentes
no Rio de Janeiro do século 19. Essas informações, baseadas em
levantamentos biográficos feitos por acadêmicos historiadores e
estudiosos do assunto, não diminuem nem comprometem a vera-
cidade das origens de nossa religião, apenas evidenciam ocorrên-
cias de manifestações espirituais que antecedem o nascimento de
nossa doutrina.
Foi no ano de 1908 que um jovem chamado Zélio Fernandino
de Moraes, aos 17 anos de idade, começava a demonstrar estranhas
1
Seita afro-brasileira. (N.E.)

57
MINHA VIDA NA UMBANDA

alterações de comportamento. Seus familiares denominavam esses


episódios como “ataques”, relatando que o rapaz sofria repentinas
mudanças de personalidade, uma hora aparentando ser um ancião
com postura arcada e fala incompreensível e, noutro momento,
parecendo um imponente índio conhecedor da natureza. Um
familiar propôs que o levasse a um centro espírita, e foi lá que o
Caboclo das Sete Encruzilhadas se manifestou, revelando a todos
sua missão: iniciar um novo culto que acolhesse todas as pessoas,
independente de classe social, sexo, cor ou credo. Os espíritos
de pretos-velhos e índios, considerados atrasados por muitos
espíritas da época, também seriam aceitos para trabalharem
livremente nessa nova doutrina, que traz como lema amor por
base, a caridade por princípio e a fé por fim. Assim nasce a nossa
Sagrada Umbanda, em 15 de novembro de 1908, data instituída
pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ),
através do Projeto de Lei 5687/05, do deputado Carlos Santana
(PT-RJ), como Dia Nacional da Umbanda.
“A Umbanda será uma religião que falará aos humildes,
simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos,
encarnados e desencarnados.”
(Caboclo das Sete Encruzilhadas, 15 de novembro de 1908).
No início de seu desenvolvimento, é natural que o jovem mé-
dium demonstre uma grande curiosidade em relação a tudo ao
seu redor. Certo dia, observando os médiuns mais antigos da
casa, percebi que todos traziam na mão um saquinho branco de
pano, mas não sabia qual a finalidade. Perguntando a um filho
ali presente, compreendi que sua utilidade era, além de acomodar
as guias do médium, guardar os objetos usados pelas entidades
durante a gira, como charutos, cachimbos, cigarros, velas, patuás,
fumo, terços, incensos, e tudo mais que julgar necessário.
PARA QUE SERVEM AS GUIAS? QUAL O
PROCEDIMENTO QUANDO UMA GUIA SE ROMPE?
As guias, também conhecidas como deleguns ou quelês,
são instrumentos sagrados que ligam o médium às
entidades, emanando forças na incorporação e na
resposta aos trabalhos da corrente, servindo também

58
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

como proteção. Devem ser utilizadas exclusivamente


por cada filho somente durante as giras, e nunca
como adorno ou enfeite fora do terreiro. Durante
a incorporação de alguns médiuns, a guia poderá
eventualmente cair do pescoço por consequência de
movimentos bruscos e involuntários. Nesse momento,
deve-se pegar a guia com um pano ou toalha, sem nunca
encostar as mãos diretamente na peça, devolvendo-a ao
dono. Por se tratar de um objeto imantado e consagrado,
deverá ser manipulado pelas mãos do próprio médium,
cada qual responsável por seus deleguns.
Pai Odé D’Loy determina que as guias utilizadas
em nosso terreiro sejam compostas por missangas
transpassadas em linha cordonê e fechadas com firma/
monjola. Seu comprimento, geralmente, irá até a altura
do umbigo do médium. Quando em uso, eventualmente,
a guia poderá se romper, espalhando-se pelo chão do
terreiro, em resposta a ataques do baixo astral, trabalhos
pesados, ou até acúmulo de energia. Nessa hora, cabe ao
médium ou algum irmão de fé recolhê-la, tomando os
cuidados citados anteriormente, guardando o máximo
de missangas que puder, juntamente com a sobra da
guia, para que posteriormente, sejam entregues ao Pai
ou Mãe de Santo, para que se faça a devida recuperação,
firmamento e fechamento da peça.
De 2009 a 2013, eu frequentava as giras nos poucos momentos
livres que dispunha, por conta de meus estudos e do trabalho. Foi
um período de grande sacrifício, mas, em contrapartida, todo esse
esforço nos trouxe a estabilidade financeira que tanto necessitáva-
mos, a harmonia voltou a prevalecer em nosso lar e, consequente-
mente, eu e minha esposa estávamos muito mais próximos.
Como agora eu podia contar com um salário fixo, comecei a
pagar em dia as mensalidades do meu terreiro, prática comum em
todas as casas de Umbanda, mas que alguns novatos desconhecem
e muitas pessoas polemizam e criticam, sem fundamento algum.
Todo Filho de Santo que tiver condições financeiras deve arcar
com as mensalidades para a ajuda nas despesas da casa como
aluguel, contas de água e luz, IPTU, material de limpeza, gás,

59
MINHA VIDA NA UMBANDA

materiais para os trabalhos e manutenção do terreiro. Esse


dinheiro arrecadado é direcionado para quitar essas despesas,
embora muitas vezes, o Pai ou Mãe de Santo seja obrigado a tirar
do seu próprio bolso para completar o valor necessário. No nosso
caso, fazemos ainda uma feijoada anual para ajudar na arrecadação
de verbas. Em terreiros sérios e comprometidos com a fé, não
são feitas cobranças à assistência, nem por trabalhos, nem por
consultas, muito embora o consulente tenha a liberdade de fazer
qualquer tipo de colaboração ou doação. Umbanda é sinônimo de
prática religiosa e caritativa, não se coadunando com cobranças.
Paralelamente aos estudos da faculdade, comecei a procurar
informações sobre assuntos ligados à Umbanda, adquirindo al-
guns livros, fazendo o download de outros pela internet e visitan-
do diversos sites e canais que abordavam o assunto. Eu tinha mais
perguntas do que respostas, e precisava entender o que estava
acontecendo durante meu desenvolvimento espiritual.
No início dessa pesquisa, fiquei completamente perdido em
meio a milhares de referências que encontrava na internet, muitas
delas esclarecedoras, outras nem tanto. Com o tempo, comecei a
separar o joio do trigo, as fontes sérias e competentes, comprome-
tidas exclusivamente com a verdadeira doutrina umbandista, de
outras fontes superficiais e rasas de informação, despreparadas,
sem embasamento teórico e, muitas vezes, mais preocupadas com
o número de likes, inscrições e seguidores do que com o conteúdo
oferecido.
UMBANDA E INTERNET
Os infindáveis avanços ciber-tecnológicos que acontecem
no mundo, vêm causando em nossa sociedade um
profundo impacto comportamental. Esse fenômeno
vem transformando cada vez mais a realidade da vida
das pessoas num voraz ambiente virtual onde, na
web, “navegar é preciso” através de redes sociais, sites,
chats, blogs, e-commerce, EADs, videochamadas, lives,
podcasts etc., sem citar a infinidade de aplicativos que
dominam o mercado e, consequentemente, as pessoas.
Nesse momento em que o tempo e o espaço ganham um
novo significado, até as religiões se banham nessas águas,
adequando suas doutrinas através desses novos recursos,
60
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

levando a prática da fé virtual a milhões de devotos, num


tipo de “Umbanda delivery”, que oferece um cardápio de
serviços que vão desde consultas online, jogos de búzios,
tarôs, receitas de banhos, magias, oferendas a distância,
grupos de orações, correntes e rezas, até acendimento
de velas em altares virtuais, fazendo com que a prática
da fé rompa os limites físicos do terreiro e fique a um
toque do devoto, através do mouse, do smartphone ou
do tablet.
É preciso muita cautela para navegar nesse oceano
multimídia de fé, pois o risco de naufrágio é grande.
Estudar a religião é um dever de todo filho de Umbanda,
mas é importante que se saiba onde colher as informações.
Sites duvidosos, promessas milagrosas e cobranças
indevidas, fazem dos mais ingênuos as maiores vítimas
de pessoas inescrupulosas que, infelizmente, escondem
seus interesses atrás da religião.
Ao final desta obra, relaciono alguns sites e links
competentes e bem elucidativos, que poderão servir
como referência aos jovens umbandistas que pretendem
iniciar suas pesquisas e desenvolver seus estudos.
Na medida em que caminhava com meus estudos sobre Um-
banda, muitas dúvidas iam desaparecendo, embora tantas outras
surgissem no lugar. Alguns termos utilizados no terreiro já não
soavam tão estranhos aos meus ouvidos como no início e, pro-
gressivamente, meu “vocabulário umbandista” começava a cres-
cer. Além dos estudos e pesquisas, o jovem médium deve contar
também com a ajuda de seus irmãos mais velhos e, acima de tudo,
de seu Pai ou Mãe de Santo, que estará sempre à disposição para
responder quaisquer perguntas ou dúvidas que venham a ocorrer.
Logo após meu batismo, Pai Odé D’Loy fez as confirmações
de meus Orixás de Cabeça, Xangô e Oxum, orientando para que
eu mesmo confeccionasse minhas 3 primeiras guias2: uma para
2
Confeccionadas com miçangas, louça, cristais, pedras, contas de rosário, sementes,
olho de boi, búzios, pingentes de aço, coquinho, dentre outros materiais, transpassados
com nylon ou cordonet e fechadas com peça de material variado chamada firma ou
monjola. Servem para potencializar a ligação do médium com o Guia, além de absor-
verem os acúmulos negativos dos campos eletromagnéticos, protegendo os médiuns
contra influências ruins durante os trabalhos.

61
MINHA VIDA NA UMBANDA

Oxalá e outras duas para meus Pais de Ori. Assim, seguindo as


regras da casa, comecei a usá-las nas giras juntamente com a roupa
de ração e o ojá, na época confeccionados pela filha responsável
pelos uniformes utilizados no terreiro.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ORIXÁS E GUIAS?
O QUE SIGNIFICA ORIXÁ DE CABEÇA, JUNTÓ E
ADJUNTÓ? O QUE É OJÁ E ROUPA DE RAÇÃO?
Orixás são os raios sagrados emanados por Olorum; são
energias vindas de elementos primordiais presentes nas
forças da natureza. Em cada elemento atua um Orixá,
como exemplo, Iemanjá nos mares e oceanos; Iansã,
nos raios, trovões e tempestades; Oxóssi nas matas e
florestas; Oxum nas cachoeiras, lagos e rios etc. No
próximo capítulo falaremos um pouco mais sobre os
Orixás e as sete linhas na Umbanda.
Os Guias de Luz são os mensageiros que trabalham com
essas energias por afinidade, grau de evolução, formação
ou proximidade. Quando essas entidades se manifestam
nos terreiros de Umbanda se identificando como Oxóssi,
Ogum ou Iansã, referem-se à LINHA DE TRABALHO
em que elas atuam, e não especificamente ao Orixá.
Orixá de Cabeça é o mesmo que Orixá de Frente ou Pai de
Cabeça (orí), corresponde à energia básica, fundamental
de um indivíduo, dando-lhe as características mais
marcantes em sua personalidade. O segundo é o Adjuntó
ou Juntó, de características mais sutis, muitas vezes
amenizando o caráter do Orixá de Frente, que poderá
ter um perfil forte e predominante.
Ojá é um pano de cabeça utilizado pelas Filhas de Santo
e também um tipo de “boné” sem aba usado pelos
Filhos, durante a gira. Não se trata, em absoluto, de
um enfeite, mas sim, uma proteção para a coroa (orí)
do médium, além de representá-lo hierarquicamente.
Roupa de Ração é o conjunto de calça e túnica brancas
usados pelos médiuns no terreiro.
Durante as giras, tanto de desenvolvimento como de consulta,

62
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

embora minha incorporação ainda não tivesse ocorrido de fato,


outras sensações começavam a se manifestar como, por exemplo,
acessos de bocejos, corpo levemente adormecido, sutis ondas
de tontura ou calor, arrepios repentinos, tudo isso acontecendo
gradualmente durante a chegada das entidades no terreiro.
Nesse início de desenvolvimento mediúnico, é importante
estarmos bem atentos às sensações que vivenciamos, embora,
como já dito, essa experiência seja pessoal e diferente em forma
e intensidade para cada filho. É de se notar que alguns médiuns
iniciantes fiquem envergonhados ou sintam até medo frente a
essas manifestações, justamente por desconhecerem muito do
que acontece a sua volta e com eles mesmos, mas saibam que
esse é um dos momentos mais maravilhosos que o médium vive
em sua jornada espiritual. É a hora em que as entidades come-
çam a se aproximar, conhecendo melhor seu aparelho, trocan-
do afinidades, sensações, criando laços vibratórios, enfim, esse
é o início do processo mediúnico que precede a incorporação.
Nas palavras de Alexandre Cumino, “a incorporação é um ato de
amor, no qual o médium tem a oportunidade de unir-se mistica-
mente a seus Guias e Orixás. Nas religiões de transe acontece isso,
algo muito especial, seus mestres e suas divindades vêm à terra e
lhe tomam como morada para sua manifestação.”3
Aproveito o assunto para falar um pouco sobre um proble-
ma que, infelizmente, ocorre em muitos terreiros, relacionado
ao ego de determinados filhos. Alguns médiuns despreparados,
tratam seus dons mediúnicos como uma virtude exclusiva, exi-
bem seus Guias como os mais poderosos, cantam os pontos exa-
geradamente, são chamativos na hora da incorporação, falam
alto, dançam freneticamente, tudo isso com o intuito de roubar
a atenção das pessoas a seu redor ou convencê-las de que ele está
num nível mais elevado, comparado a seus irmãos. O verdadeiro
médium umbandista sabe que a humildade é o primeiro passo
para a evolução e, segundo nossos queridos Pretos-Velhos, “é a
mais nobre das virtudes”. Por isso, é importante que o médium
iniciante esteja sempre atento para que nunca se torne vítima de
seu próprio ego, afinal, “a espiritualidade te chamou para ser Luz
neste mundo, não estrela no terreiro.”

3
Disponível em: <https://umbandaead.blog.br/>.

63
MINHA VIDA NA UMBANDA

Reproduzo abaixo, um trecho extraído do livro de Ademir


Barbosa Junior4, intitulado O Livro Essencial de Umbanda5.
“Médium não é X-Men, não tem poderes, e sim dons, que pre-
cisam ser desenvolvidos, trabalhados e colocados à disposição da
comunidade. Orixá não é personagem de card, com superpoderes
que vão detonar os inimigos, ou seja, aqueles que nos fazem mal ou
discordam de nós. Orixás são divindades, procedem da Fonte Divi-
na, agem em nome dessa Fonte para o equilíbrio. Guia no pescoço
não é correntinha, bijuteria ou piercing. É proteção, tem funções
litúrgicas, é símbolo de ligação com os Orixás, Guias, Guardiões.
Roupa de Santo não é fashion week de Orixá, é uniforme de traba-
lho, de serviço, forma de se apresentar aos Orixás, aos Guias, aos
Guardiões para serviço de autoconhecimento, equilíbrio e caridade
para com o próximo. Ponto cantado não é samba, não é funk, não é
pagode, nem forma de seduzir alguém do templo ou da assistência:
é firmeza do Orixá, para a casa e o próprio médium. Dançar para
Santo não é fazer bailão, coreografia de programa de auditório ou
dança de salão: é manifestar a alegria e comungar do Axé de cada
Orixá, de cada Linha. Sejam realmente filhos de Orixá, irmãos de
todos e, ao mesmo tempo, aprendizes e mestres, pois todos temos
experiências para trocar e crescer juntos, na fé e na fraternidade.”
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ENTIDADES, GUIAS
E PROTETORES? O QUE É FIRMEZA PARA O ANJO
DA GUARDA?
Nas palavras de Pai Odé D’Loy6, “ENTIDADE
ESPIRITUAL é todo e qualquer espírito de alta, média
e baixa faixa vibratória, já em ascensão evolutiva ou
não, no Plano Espiritual. GUIAS ESPIRITUAIS por sua
vez, são espíritos de luz que nos auxiliam e nos guiam,
afastando-nos do mau caminho, em representação ao
Orixá de coroa do Médium, podendo ser um Caboclo ou
um Preto-Velho, por exemplo. PROTETOR é um espírito
que já passou pela vida terrena e busca obter mais luz,
através do auxílio espiritual, fazendo sempre o bem e
promovendo a paz entre os humanos que ainda vivem no
4
Médium, escritor, tarólogo, numerólogo e presidente da ABEAFRO.
5
O Livro essencial de Umbanda, p. 318. Universo dos Livros, 2014.
6
Disponível em: Apos�la ABESMA, p. 22, 2019.

64
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

plano material. Pode ser um Exu ou Pomba-Gira.


Já, os espíritos com, sem ou de pouca Luz, são chamados
de EGUNS, que significa desencarnado, na tradução
afroamerindia. Portanto, teoricamente, todo espírito
desencarnado é um Egum, o que diferencia é o estágio
de evolução de cada um.
Há ainda os espíritos conhecidos como zombeteiros
ou kiumbas, de baixas faixas vibracionais, cujo único
intuito é conturbar e prejudicar os trabalhos, através
de dissimulações e do comportamento hostil. Efetuam
trabalhos de magia negra e têm como objetivo prejudicar
o ser humano, se aproveitando de seus vícios e desejos
negativos. Estes espíritos fazem qualquer tipo de trabalho
negativo para receber algo em troca, e se apresentam de
forma dissimulada, se intitulando Exús, Pombas Giras
e, em alguns casos, até como Pretos-Velhos, Baianos,
Boiadeiros ou Marinheiros, para literalmente, enganar
e vampirizar as pessoas que a eles recorrem em busca da
realização de seus desejos, principalmente os materiais
e amorosos, sugando sua energia e causando todo o tipo
de problema.
Observem que há uma grande diferença entre Guias
e Protetores, com relação aos espíritos de baixa faixa
vibracional. Tanto os Guias de Umbanda quanto os
Protetores, trabalham sempre para o desenvolvimento
espiritual do ser humano, para sua evolução e para
causas benéficas, nos auxiliando na abertura de nossos
caminhos sem nunca interferir na vontade ou prejudicar
outro ser humano, nem pedir qualquer pagamento em
troca. Trabalham sempre para o bem e seu único desejo
é evoluir, sejam eles Pretos-Velhos, Caboclos, Baianos,
Crianças, Exus ou Pomba Giras.”
O Anjo da Guarda ou Anjo Protetor atua protegendo
os médiuns durante a incorporação e desincorporação
espiritual. Quando uma entidade vai incorporar em
um médium, o seu anjo da guarda fica ali ao lado,
protegendo-o ativamente para manter a integridade

65
MINHA VIDA NA UMBANDA

física e espiritual do médium. Ele ajuda a evitar que


um ataque do baixo astral (entrada de seres inferiores)
ocorra na corrente mediúnica. Quando nascemos, já é
designado um Anjo da Guarda para nos acompanhar
e proteger, nos conectando a ele por meio de orações e
preces. A palavra anjo, em hebraico, significa Mensageiro
Divino.
A cada semana, quando acendemos uma vela branca
junto a um copo d’água, estamos firmando para o nosso
Anjo da Guarda e assim, nos ligando espiritualmente ao
Divino. É através da luz emanada pela vela (elemento
fogo) que ocorre a purificação do nosso corpo espiritual,
fortalecendo nossa conexão com as entidades. O copo
d´água junto a vela é mais um elemento poderoso e
fundamental, que proporciona o equilíbrio de energias,
purificação, propagação e a facilitação das respostas
espirituais. Lembre-se, não é o Anjo da Guarda que
necessita de “luz”, e sim nós, que acendemos a vela para
nos firmar em sua energia, renovando nosso elo ou
vínculo com o Sagrado.
Durante meu desenvolvimento mediúnico, fui orientado pelo
meu Pai de Santo a montar meu próprio Altar de Umbanda, den-
tro da minha residência. Nunca tive em meu lar nenhum objeto li-
gado a religiosidade, a não ser uma imagem católica de Jesus Cris-
to, pendurada na parede da sala e uma bíblia que ficava guardada
numa caixa, junto com outros livros.
Em meu dormitório, havia um espaço destinado para um ar-
-condicionado de parede, e foi lá que vislumbrei meu Altar, um
local discreto, longe dos olhares curiosos e sem causar constran-
gimentos desnecessários a nenhum familiar (em casa, sou o úni-
co praticante e devoto de Umbanda). Por se tratar de um espaço
relativamente pequeno, as imagens que o compõem atendem essa
restrição. O dito popular “tamanho não é documento” se aplica
muito bem nesse caso. É importante que o iniciante saiba que
imagens pequenas são tão poderosas e sagradas quanto as ima-
gens maiores, pois o que importa não é o tamanho, mas sim o Axé
que constitui cada peça.
Seguindo os ensinamentos de meu Pai, fui organizando meu

66
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Altar, comprando cada imagem que sentia necessidade, levando


ao terreiro para consagrá-las, adquirindo outros componentes,
como cristais, quartinha, oxé7, flores, perfumes, ofá8, fitas, quelés,
enfim, todos os elementos que me foram solicitados ou intuídos.
COMO FAÇO UM ALTAR DENTRO DE CASA? QUAL
A DIFERENÇA ENTRE CRUZAR E CONSAGRAR? O
QUE É QUARTINHA?
Para fazer um Altar em sua residência, o ideal é que
você escolha um local reservado e com o mínimo de
privacidade para que possa praticar suas orações sem
nenhum tipo de interferência. Caso opte por uma estante
ou mesmo uma mesa, nunca coloque objetos decorativos
junto ao sagrado. Seu altar deverá conter imagens
referentes aos Orixás e seus Guias, além de possíveis
objetos consagrados e relacionados exclusivamente a
religião, como flores, patuás, pedras, búzios ou conchas,
sem a disposição obrigatória de todos os Orixás ou Guias,
ficando a critério de cada filho. As imagens que deverão
compor o altar serão a de Oxalá e dos regentes da coroa
do médium. As energias do altar são permanentemente
renovadas através de preces, velas, terços ou quartinha,
que deverá estar SEMPRE cheia de água. Importante:
evite montar seu altar próximo a banheiros, lavabos
ou latas de lixo, por se tratar de locais de expurgo de
energias.
Em nosso terreiro, as imagens dos Orixás e seus Guias
estão disponibilizadas em uma ordem hierárquica,
como no exemplo a seguir:

7
Ver glossário capítulo 7.
8
Ídem.

67
MINHA VIDA NA UMBANDA

Fonte: autor

Obs.- As imagens disponibilizadas em seu altar devem


seguir o sincretismo católico.9
Lembre-se que a montagem de seu altar deverá ser feita
sob o consentimento e orientação do seu Pai ou Mãe
de Santo. As informações acima seguem os princípios
adotados em nossa casa.
As palavras “cruzar” e “consagrar”, no sentido litúrgico,
possuem a mesma definição; Consagrar significa tornar
sagrado.
Quartinha é um recipiente de barro ou porcelana,
utilizado na maioria dos assentamentos e na obtenção
dos Axés. Pode se apresentar em cor natural ou pintada
nas cores consagradas a entidade ou Orixá pertencente.
A quartinha de porcelana ou louça branca é comum
a todos os Orixás e entidades. As que possuem asa ou
alça são destinadas às Orixás ou entidades femininas
e a quartinha lisa se refere aos Orixás ou entidades
masculinas. A quartinha é o elemento catalisador e
transformador das energias recebidas e emanadas pelo
médium.
Segundo Pai Odé D’Loy, “a quartinha é algo pessoal e
não deve ser manipulada por ninguém além do seu
próprio dono, e só deverá conter suas vibrações.”
Para que o jovem iniciante tenha uma ideia mais clara, descre-
vo a seguir minha rotina no terreiro em dias de gira. Importante
salientar que as práticas variam de terreiro para terreiro, mas os
9
Ver capítulo 3, p. 43.

68
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

fundamentos são únicos. No nosso caso, geralmente os filhos che-


gam 1 hora antes do início da gira. Na entrada, após saudarmos a
Tronqueira e a Casa das Almas, reverenciamos o Solo Sagrado, o
Divino Espírito Santo e o Congá. Depois da troca de roupas, sau-
damos a curimba10 e aguardamos o início da Gira, de preferência
em silêncio. Não podemos esquecer que estamos em uma casa
santa, e que, assim como numa igreja faz-se o devido silencio em
respeito ao sagrado, no terreiro devemos ter a mesma conduta.
Caso o médium tenha sede ou necessite ir ao sanitário, essa é a
hora indicada para que se evite “quebrar” a corrente mediúnica
após o início da gira. Todos à postos e, no momento anunciado,
iniciamos a gira firmando Exú e, logo após, a abertura do Congá
com a defumação de todos os filhos e assistência. Em nosso terrei-
ro, os Guias de Pai Odé D’Loy costumam chamar os pontos can-
tados, acompanhado pela curimba, com as entidades se apresen-
tando em terra nesse momento. Geralmente abrimos a gira com
Ogum, seguido dos demais Orixás, cada qual trazendo suas falan-
ges de trabalhadores espirituais. As giras de consulta são variadas,
mas as mais comuns são as de Caboclo, Preto-Velho, Boiadeiro,
Baiano, Cigano e Exú.
O QUE É FALANGE? NO QUE CONSISTE A
DEFUMAÇÃO?
Falange são agrupamentos de espíritos que trabalham
para um determinado Orixá. A exemplo disso, podemos
citar os Caboclos que atuam na linha de Ogum, os
Marinheiros que trabalham na linha de Iemanjá, ou
mesmo os Pretos-Velhos que atendem na linha de
Obaluaê. Reproduzo a seguir, um pequeno trecho
do texto psicografado por Lurdes de Campos Vieira,
em seu livro Os Guias Espirituais da Umbanda e seus
Atendimentos11, através do Mestre Pena Branca:
(...) Oxalá emite sua vibração específica e dá sustentação a
uma grande leva de espíritos positivados e sublimados, que
conquistaram grau na espiritualidade. São organizados
em grandes grupos, constituindo as chamadas linhas,
legiões, falanges e sub-falanges... Cada Orixá tem
10
Ver glossário capítulo 7.
11
Os Guias Espirituais na Umbanda e seus Atendimentos, p.28. Madras, 2015.

69
MINHA VIDA NA UMBANDA

várias linhas de trabalhos sob sua responsabilidade;


algumas se manifestam nas incorporações e outras são
resguardadas no astral, dando sustentação aos trabalhos
nos Templos e aos trabalhos realizados após as sessões,
quando as soluções para os problemas, detectados nos
atendidos merecedores, são autorizadas. (...) As linhas
de trabalhos são dinâmicas e formam o grande potencial
de seres que trabalham no astral, em benefício do Ritual
de Umbanda Sagrada. Todas essas linhas, desdobradas,
estão à disposição e a serviço dos trabalhos realizados
nos Templos que agem com seriedade respeito e amor.
(...)
A defumação, prática comum em várias religiões, é um
dos mais antigos rituais conhecidos da humanidade.
Sua finalidade é harmonizar e purificar pessoas, locais
ou ambientes. Toda energia negativa é desfeita através
da defumação, por isso é fundamental em nosso dia a
dia, como em todos os trabalhos de Umbanda.
As defumações mais utilizadas na Umbanda são para
limpeza (purifica o ambiente, retirando do local toda
e qualquer energia negativa) e descarrego (livra o
consulente e/ou a corrente mediúnica de influências ou
energias negativas).
“Defuma os braços por baixo e por cima para que tenha
asas livres pra voar.
Defuma a cabeça para limpar as velhas memórias que
levam a repetir os mesmos erros e se ligar com as bênçãos
do mundo acima de nós.
Você defuma a frente para espantar os pensamentos que
apagaram a visão e os olhos, para que possa ver o que não
observa, e os ouvidos para que ouça o chamado da alma.
Defuma a garganta pra soltar o nó que não te deixa falar,
e ligar a mente ao coração.
Você defuma o coração para espantar o medo, e para que
possa abrir e receber o amor verdadeiro.
Defuma com fogo as “partes” para que se queimem os

70
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

apegos materiais, os sonhos que não se realizaram, e que


possa reacender a vontade de sentir, criar, e começar de
novo.
Defuma os pés para limpar as velhas pegadas e reiniciar
um novo caminhar.
Defuma a nuca para espantar o que assombra.
Defuma as costas pra tirar o peso do passado.
Defuma as mãos para tirar as amarras que prendem e,
para que elas, sejam abençoadas para dar e receber.”
(Texto de autor desconhecido coletado e adaptado por Pai Odé D’Loy,
extraído da Apostila ABESMA 2020)

Um fato que acontece com mais frequência do que se imagi-


na, é a súbita indisposição ou desânimo que ocorre em muitos
médiuns, dificultando ou até impedindo seu comparecimento nos
dias de gira. Esse é um assunto relevante que deve ser esclarecido
ao médium iniciante, para que possa superar esses momentos sem
culpa, frustração ou vergonha.
Pois bem, caso isso já tenha ocorrido ou venha a ocorrer com
você, saiba que é absolutamente normal. Em nosso dia a dia, nos
expomos a uma grande carga de energias negativas, onde se ma-
nifestam espíritos obsessores que objetivam nos enfraquecer, nos
afastando de nossos compromissos religiosos, nos impedindo de
ir ao terreiro. Há quem diga que para cada dez espíritos de luz,
existam cerca de mil espíritos obsessores, cujo objetivo é atrasar
nosso desenvolvimento espiritual. Como perdem forças no terrei-
ro, obviamente é lá que nos impedirão de frequentar.
Por isso, é importante que o jovem médium afaste essas más
vibrações orando com frequência e pedindo proteção espiritual,
tomando seus banhos de ervas quando necessários e firmando
suas velas para seus guias e protetores. Espíritos obsessores não
conseguem entrar em locais como terreiros de Umbanda, pois
seriam imediatamente barrados e expulsos pelos guardiões da casa.
Desse modo, tentam nos atacar fora de nosso reduto sagrado. Lute
com força e fé contra esse desânimo pois só assim você voltará a
se sentir protegido, disposto e renovado no cumprimento de suas
obrigações espirituais.

71
MINHA VIDA NA UMBANDA

Falemos agora sobre as saudações. Na Umbanda, as sauda-


ções aos Orixás são formas de contemplação e louvor. Cada Orixá
ou Guia possui sua própria saudação, podendo apresentar uma
discreta variação de terreiro para terreiro. Abaixo, relaciono al-
gumas das principais utilizadas em nossa casa e seus respectivos
significados:
OXALÁ – Epa epa Babá! (yorubá); Epa epa (exclamação
de surpresa, grande admiração pela honrosa presença);
Babá (pai)
OMULU/OBALUAIE – Atoto! (yorubá); Atoto (Silêncio)
– Silêncio! Ele está entre nós!
OXÓSSI – Okê arô! (yorubá); Okê (monte); arô (título
honroso dado aos caçadores) – Salve o grande Caçador!
OXUM – Ora iê iê ô ! (yorubá) - Salve a Senhora da
bondade!
OGUM – Patakori Ogun! (yorubá) ou ainda, Ogunhê!
(brado que representa o força de Ogun) pàtàki
(principal); ori (cabeça) – Muita honra em ter o
mais importante dignitário do Ser Supremo em minha
cabeça!
YEMANJÁ – Odô-fe-iaba! (yorubá) ou ainda, Odô iá!;
Odô (rio); fe (amada); iyàagba (senhora) – Amada
Senhora do Rio (das águas)!
XANGÔ – Kawô Kabiecile! (yorubá) Ká (permita-
nos); wô (olhar para); Ka biyê si (Sua Alteza Real); le
(complemento de cumprimento a um chefe) – Permita-
nos olhar para Vossa Alteza Real!
IANSÃ – Eparrê Oiá! (yorubá); Eparrê (saudação a um
dos raios do Orixá da decisão); Oyá (nome porque é
conhecida Iansã) – Saudação aos majestosos ventos de
Oyá!
IBÊJI – Oni Beijada! (yorubá) ou ainda, Beji, Beijada!;
Ele é dois!
NANÃ – Saluba Nanã! (yorubá) - Salve a Senhora Mãe

72
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

de todas as Mães!
OSSAIM – Euê-ô! Euê-ô! Euê-ô! (yorubá); Ewe (folhas);
O (sufixo para salve) – Salve o Senhor das folhas!
PRETO-VELHO – Adorei as Almas!
CABOCLO – Okê, Caboclo! - Salve o Grande Caboclo!
BOIADEIRO – Xetro marrumbaxetro! Xetruá! Significado
desconhecido. (Figuração onomatopéica).
EXÚ – Laroyê exú! (yorubá) ou ainda, Exú é mojubá!;
“Saudação amiga à Exú” ; móju (viver à noite) bá (armar
emboscada) – Exú gosta de viver a noite, sempre capaz de
armar emboscadas!
CRIANÇAS – Oni, beijada! - Ele é dois! saudação igual à
dos orixás Ibeji
CIGANOS – Arriba!
MALANDROS – Salve a Malandragem! ou ainda, Acosta,
Malandro!
A princípio, é comum que o jovem médium tenha uma certa
dificuldade em memorizar todas as saudações acima citadas. Mas
não se preocupe, pois a prática constante o fará decorar paulatina-
mente todas as expressões utilizadas.
Uma outra curiosidade que ocorre, não só entre os iniciantes
de Umbanda, como também na maioria das pessoas, é a respeito
da tradição das Sete Ondas. Durante a época de réveillon, muitos
tem o costume de ir à praia e pular as sete ondas do mar, fazen-
do seus pedidos e desejos, mas poucos sabem o significado desse
ritual, que tem origem na Umbanda e representa uma respeitosa
homenagem aos Sagrados Orixás. Para cada onda pulada, proferi-
mos a prece referente a cada Divindade.

73
MINHA VIDA NA UMBANDA

ORAÇÕES DAS AS SETE ONDAS, SEGUNDO


O SACERDOTE RODRIGO QUEIROZ (BLOG
UMBANDA EAD12)
1ª Onda: Pai Oxalá, eu te saúdo e agradeço pela imantação
de fé que mantém minha espiritualidade e religiosidade
ativa nesta encarnação.
2ª Onda: Mãe Oxum, eu te saúdo e agradeço por sentir
amor em meu coração, pela família e pelos amigos.
3ª Onda: Pai Oxóssi, eu te saúdo e reverencio vossa
luz expansora em minha consciência que não aceita
limitações e me mantém ativo na caça constante do meu
crescimento intelectual, racional e consciencial.
4ª Onda: Pai Xangô, eu te saúdo e me curvo à vossa luz de
Justiça e equilíbrio em meus atos.
5ª Onda: Pai Ogum, eu te saúdo e evoco a retidão que
mantém minha caminhada ordenada na direção correta.
6ª Onda: Pai Obaluayê, eu te saúdo, silencio e agradeço
pela saúde do meu corpo.
7ª Onda: Mãe Iemanjá, Divina Rainha, eu te saúdo,
reverencio e agradeço pela vida.
Aproveitando o assunto, relaciono abaixo sete cores que você
poderá utilizar em suas indumentárias, na passagem de final de
ano e seus respectivos significados. Lembrando que a cor escolhi-
da poderá compor seu traje completo ou parcial, roupa íntima, ou
até mesmo um detalhe ou acessório. Utilize tons mais claros ou
mais escuros, conforme sua preferência.13
BRANCO - ideal para quem deseja paz e harmonia no
ano que segue. A cor representa também a pureza, por
isso é indicada para quem quer se desfazer de energias
passadas ruins e renovar seus fluidos.
PRATA - simboliza inovação e tudo que é moderno. Se
você quer dar uma reviravolta na sua vida nesse ano e
12
O Blog Umbanda EAD é o meio de comunicação oficial da plataforma de ensino a
distância Umbanda EAD, disponível em:< https://umbandaead.com.br/>.
13
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p.70.

74
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

começar com tudo novo, aposte na roupa ou acessórios


nesta cor.
AMARELO ou DOURADO - estão associados ao ouro e
à riqueza, tanto material como de espírito, e simbolizam
a alegria e descontração. Por isso, é a cor para quem quer
ter dinheiro e brilhar no ano que chega.
VERDE – reflete esperança e também saúde. Se isso é o
que você deseja para você e sua família no próximo ano,
invista na cor, que também é o símbolo da fertilidade.
VERMELHO – é a cor da paixão, dos sentimentos
intensos, da energia e do desejo. Para viver um romance
ardente no próximo ano, aposte na roupa principal ou
íntima desta cor.
ROSA - representa o amor, incluindo o amor-próprio,
é o vermelho suavizado pelo branco, que propicia o
romantismo, carinho e autoestima.
AZUL – Sugere serenidade e tranquilidade, e ainda
favorece o poder da comunicação, além de gerar bem-
estar e paciência.
PRETO - é a ausência de cor, por isso, poucas pessoas
usam.
Por se tratar de um tema pouco conhecido entre os jovens um-
bandistas, mas não de menor importância, finalizo esse capítulo fa-
lando um pouco sobre as Nações Africanas. Assim como meu Pai
de Santo veio do Candomblé de Angola-Congo e a Umbanda que
hoje realizamos em nosso terreiro traz algumas influências dessa
vertente em suas práticas, o mesmo também poderá ocorrer em ou-
tras casas, apresentando possíveis influências de outras nações. Não
que esse fato seja uma regra e nem tampouco se faça necessário um
entendimento aprofundado sobre o assunto, mas nunca é demais
conhecermos um pouco dessas variantes culturais e das vertentes
de cada nação. Reproduzo abaixo o texto14 de Juliana Viveiros To-
nin15, que resume, em poucas palavras, essas diversidades.
14
Disponível em: <https://www.iquilibrio.com/blog/espiritualidade/umbanda-candom-
ble/nacoes-do-candomble/>.
15
Praticante de bruxaria natural, é publicitária, com MBA em Gestão Estratégica de
Marketing e especialista em esoterismo.

75
MINHA VIDA NA UMBANDA

O QUE SÃO NAÇÕES AFRICANAS?


Assim como o Cristianismo possui diversas vertentes de
expressão, as religiões africanas e mais especificamente
o Candomblé também as possui. Conhecidas
como Nações do Candomblé, elas são representações
singulares do culto aos Deuses, com tradições, nomes e
formas diferentes de manifestação.

1. AS NAÇÕES DO CANDOMBLÉ
1.1 O Grupo Nagô
1.2 O Grupo Daomeanos (Nação Jeje)
1.3 O Grupo Bantu
1.4 O Grupo Angola-congolês (Banto)
1.5 Os Grupos islamizados

2. AS NAÇÕES NO BRASIL
2.1 Nação Ketu
2.2 Nação Angola
2.3 Nação Jeje/ Jejê ou Djedje

1. AS NAÇÕES DO CANDOMBLÉ
Deve- se lembrar que a África é um continente
gigantesco em extensões territoriais e as maneiras de
comunicação não eram como na atualidade. O homem
desde cedo observou que há energias presentes em tudo
que o rodeia e que elas, na maioria das vezes, têm o total
controle sobre os acontecimentos e os ciclos da vida,
essas energias são os Orixás, Inkices ou Voduns, como
são chamados.
Cada pedaço daquele território tinha seu reino e ele
cultuava as Divindades de formas díspares, embora
todos reconhecessem a presença de cada uma delas.
Assim surgiram as nações do Candomblé. Quando esses
povos foram atacados brutalmente e tirados à força de
suas nações para serem escravos, eles espalharam pelo

76
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

mundo uma mistura de tradições, que deram origem


a outras vertentes do Candomblé (como as presentes
no Brasil) e também levaram a sua própria cultura às
demais localidades do planeta.
Essa forma de vida das religiões que eles mostraram
ao mundo, deve-se ao fato de que, com o fim de seus
grandes reinos e suas autonomias, os africanos foram
obrigados a se fortalecerem ainda mais na fé em sua
religião e propagar por meio da memória e da fala, a sua
cultura. Essas eram as únicas maneiras de acreditarem
que toda sua história não morreria ali e que pudessem
ter um fio de esperança em um amanhã melhor.
Entre toda essa diversidade, podemos citar:

1.1 O GRUPO NAGÔ


São de origem sudanesa, também chamado de grupo
iorubá, nele encontramos os Candomblés: Ketu, Ijexá,
Efan, Nagô Egbá, Xambá de Pernambuco e Batuque
do Rio Grande do Sul.
1.2 O GRUPO DAOMEANOS (NAÇÃO JEJE)
Hoje a região de Daomé é conhecida como Benin,
os Candomblés que são de sua origem: Fon, Fanti,
Krumans, Agni, Mina, Éwé, Ashanti, Nzema e Timini.
1.3 O GRUPO BANTU
Localizado principalmente na África subsariana,
na Contra-Costa, conhecido principalmente pelos
moçambiques: Angola, Cabinda e Congo.
1.4 O GRUPO ANGOLA-CONGOLÊS (BANTO)
Representados pelos: Benguelas, Congos, Cabindas e
Ambundos de Angola.
1.5 OS GRUPOS ISLAMIZADOS
Haúças, Mandingas, Fulas, Bornu, Grunci, Gurunsi e
Tapa.

77
MINHA VIDA NA UMBANDA

2. AS NAÇÕES NO BRASIL
Aqui no Brasil as nações mais fortes são: Nação Angola,
Nação Jeje e Nação Ketu. Cada uma delas possuem
linguagens diferenciadas assim como as formas de
realizarem seus rituais.

2.1 NAÇÃO KETU


O Candomblé Ketu é o mais conhecido no Brasil.
Segundo lendas contadas pelos próprios africanos, ele
foi fundado na Bahia por princesas de Ketu e Oyó que
chegaram aqui como escravas nos navios negreiros.
O intuito dessas mulheres era de salvar sua cultura
ainda de alguma maneira. Os Orixás cultuados nessa
religião são de origem Yorubá, o qual também está
predominante no idioma utilizado. Essa nação possui
também diferenças no toque dos atabaques, nos
símbolos e cores de cada Orixá. Os ensinamentos do
Ketu são transmitidos pelos Babalorixás e Yalorixás
através da fala. Uma das peculiaridades é que a pessoa
responsável pelo culto dos Eguns – chamado de Ojé
– é um sacerdote com expertise nesse assunto, pois
quem realiza os rituais para os Orixás não se envolve
com os direcionados aos Eguns.
2.2 NAÇÃO ANGOLA
Essa nação é considerada afro-brasileira pois
mistura traços de origem bantu, – que compreende
localidades do Congo e Angola – e que ganhou força
dentro dos grupos de escravos africanos que tinham o
dialeto de kikongo e kimbundo. Quem já frequentou
rituais de diferentes casas de Candomblé poderá
notar que as expressões de canto, dança e batidas dos
tambores de Angola são bem diferentes dos demais.
Quando fala-se de nomenclaturas de cargos dentro
dessa casa também encontra-se palavras distintas,
por exemplo: o Pai de Santo é chamado de Tata
Nkisi e a Mãe de Santo, Mametu Nkisi. Os Orixás
são denominados como Inquices (Inkices), e seu

78
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Deus maior é o Zambi. Para adentrar a religião há


um longo preparo: o batismo é o Massangá, onde se
faz a cabeça do iniciado. Nesse processo usa-se o Obi
e a água doce, depois o Bori (onde usa o sangue de
animais relacionados à Inkice de cabeça da pessoa),
a raspagem da cabeça, a obrigação de 1 ano, depois
uma obrigação de 3 anos (para mudança do grau), de
5 e, por último, de 7 anos. Após esse período a pessoa
poderá ser um Tatá ou Mamety Nkisi, porém todo ano
ela deverá renovar a obrigação de Obi ou Bori e de
7 em 7 anos repete-se todo ritual para se tornar um
Kukala Ni Nguzu (homem forte). Onde encontra-se
uma casa de Angola, há uma bandeira branca que
simboliza Mukuiú N´Zambi, a nação.
2.3 NAÇÃO JEJE/ JEJÊ OU DJEDJE
No Brasil há diversas casas com características
diferentes do culto da Nação Jeje. Sua origem foi no
Maranhão, mas, após um período, espalhou-se pelo
Nordeste (principalmente Bahia e Pernambuco) e
depois para São Paulo e Rio Grande do Sul. Nestas
casas, os Orixás são chamados de Voduns, e o Deus
maior é o Mawu (a Lua). Mawu encontrava-se com
seu amado Lissa (Sol) durante o eclipse, o que deu
origem aos 14 Voduns. No Maranhão, o Candomblé
Jejé ficou conhecido como Tambor de Mina, e o
terreiro destinado ao seu culto corresponde a uma
área ampla, pois precisam de: Casa de Legba – onde
realizam as obrigações maiores – pequenas casas
das divindades, um barracão central para as danças,
quartos para dormir, se vestir e fazer os alimentos.
Para iniciar-se ao Candomblé de Jejê, é preciso um
grande período de confinamento que pode durar de
6 meses à 1 ano. Durante esse processo, tudo sobre
os rituais e cultura será ensinado. Outra curiosidade
é que os assentamentos são feitos sobre pedras, pois
elas são capazes de manterem uma ligação mais pura
e forte com os Voduns cultuados. Cada nação tem sua
particularidade e não há como descrever cada detalhe

79
MINHA VIDA NA UMBANDA

de cada uma delas em um artigo, mas ter a consciência


das suas existências e de suas singularidades básicas
demonstra um maior respeito à todas elas, que
representam a formação da cultura do Brasil. Foram
anos de tradições de um povo que teve sua estabilidade
e continuidade ameaçadas com a exploração que
sofreu, porém a energia é mais forte e ela viveu e se
espalhou por todo o mundo por meio da luta e do
sangue de cada um desses africanos que acreditaram
no seu berço e na sua nação.

80
Capítulo V
O MÉDIUM

Foto: Autor
CAPÍTULO

O MÉDIUM
5
C
inco anos haviam se passado desde que o Sr. Caboclo
Rompe Mato se fez presente em minha vida e de meu
reencontro com a fé, que exerço no cumprimento de
minhas obrigações como devoto filho de Umbanda, até
os dias de hoje.
Meu desenvolvimento mediúnico se dava plenamente,
pois agora dispunha do tempo necessário para cumprir meus
compromissos com o Sagrado. Mesmo com meu trabalho
na universidade e outros projetos paralelos, procurava dar
continuidade aos meus estudos relativos à Umbanda. Sempre tive
o costume de anotar minhas dúvidas num caderninho preto de
rascunhos para que, através de minhas pesquisas, pudesse obter
um material referencial como base de estudos da religião. Penso
que muitas dessas questões possam ser comuns não só aos filhos
recém-chegados na Umbanda, como também a tantos que, assim

83
MINHA VIDA NA UMBANDA

como eu, já são médiuns iniciados e frequentam um terreiro. A


seguir, destaco onze questões relacionadas às práticas de Umbanda
no lar, para uma maior compreensão e conhecimento geral.
1. COMO LIDAR COM PRECONCEITO RELIGIOSO
EM FAMÍLIA?
Na maioria das vezes, o preconceito nos lares ocorre
devido ao fato de muitos ignorarem ou desconhecerem o
que é a Umbanda e seus fundamentos. Somos criticados
por pessoas que, provavelmente, nunca sequer pisaram
num terreiro. A Umbanda sofreu e ainda sofre muito
com essas interpretações equivocadas e até mesmo com
as inverdades que são ditas a seu respeito, deturpando
seus fundamentos e formando opiniões infundadas
sobre nossa fé e, infelizmente, muitos julgam nossa
religião baseados nesses pré-conceitos. Dentro ou
até mesmo fora do ambiente familiar toda crítica ou
questionamento terá de ser ouvida com respeito pelo
umbandista que, com muita calma e naturalidade,
deverá esclarecer, desmistificar e demonstrar nossos
fundamentos, práticas, e principalmente, todo o bem
que proporcionamos aos muitos que nos procuram.
Existem também aqueles que preferem impor sua
religião, criticando as demais. Em verdade, todas as
religiões são caminhos para um mesmo fim. Pessoas
que criticam apenas por criticar não procuram
entender. Logo, discussões nesse sentido não nos
levarão a lugar algum. Devemos sempre respeitar para
sermos respeitados e só assim, conseguiremos mostrar
toda a grandiosidade de nossa doutrina, levando a luz
da compreensão aos desprovidos de conhecimento,
dirimindo suas dúvidas e mostrando a todos o verdadeiro
significado de nossa Divina e Sagrada Umbanda.

2. ALÉM DO MEU ALTAR, POSSO TER OUTROS


PONTOS DE VIBRAÇÃO EM CASA?
O altar é a fonte de emanação de energia que todo
médium deve ter em seu lar, mas nada o impede que

84
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

tenha também um local específico para firmar seu


Preto-Velho ou Caboclo. A exemplo disso, tenho em
minha casa a imagem do Sr. Caboclo Sete Folhas num
local reservado, entre as plantas que cultivo na área de
serviço. Toda quinta-feira, acendo uma vela verde com
um copo d’água, além do cálice com vinho branco suave
e o charuto para meu Guia. Sobre um pequeno tronco
de árvore (antiga peça decorativa que havia em casa)
reservei um espaço para contemplação aos meus Pretos-
Velhos, onde ofereço café preto ao lado do cachimbo, do
rosário, da bengala e da imagem de meu Pai Thomé, além
da vela preta e branca, acesa semanalmente, às segundas-
feiras. Para montar cada assentamento, intuídos através
de meus Guias, solicitei permissão ao meu Pai de Santo,
que a concedeu após a confirmação dos pedidos. Com
o tempo, alguns médiuns poderão sentir a necessidade
de outros pontos vibracionais, atendendo às solicitações
de suas entidades e, quando isso acontecer, aja com
respeito, dedicação e humildade necessárias. Respeito
para atender prontamente aos pedidos de seus Guias;
dedicação para cumprir suas obrigações de rotina e
manter a conservação do local; e humildade nas escolhas
dos objetos sagrados, pois ostentação não combina com
fé.

3. COMO FAÇO A LIMPEZA DAS IMAGENS EM MEU


ALTAR?
Cada terreiro possui seus próprios procedimentos. No
nosso caso, costumamos fazer a limpeza das imagens do
Altar utilizando um preparo com erva guiné macerada
em água potável, limpando cada imagem e demais
objetos com um paninho embebido nessa solução e por
fim, a borrifamos delicadamente por todo o Altar. Essa
limpeza poderá ser efetuada a cada três meses.

4. POSSO TOMAR BANHO DE ERVAS EM CASA? O


QUE É MACERAÇÃO?
É aconselhável que se faça qualquer banho com ervas,

85
MINHA VIDA NA UMBANDA

raízes ou demais ingredientes, sejam frescas ou secas,


sempre mediante a prévia consulta com seu Pai ou
Mãe de Santo. Mesmo assim, existem banhos que
não oferecem grandes restrições, quando feitos com
seriedade e fé. O banho de manjericão macerado é um
exemplo disso, podendo ser tomado da cabeça aos pés,
quando o médium sentir necessidade. Banhos mais
“pesados” com ervas classificadas como quentes, tema
que será abordado mais adiante, não são indicados sem
a orientação adequada. Ervas como aroeira, arruda,
espada de São Jorge, mamona, eucalipto, dentre outras,
são consideradas agressivas, e em alguns casos, chegam
a ser tóxicas, se não utilizadas com critério. É claro que
o médium experiente deverá se informar a respeito do
poder de cada erva e de suas especificações, através de
pesquisas, estudos, e principalmente, das orientações
fornecidas pelo seu Pai ou Mãe de Santo, além de seus
próprios Guias.
Maceração é o ato de moer ou amassar determinada
substância sólida, para a extração de certos princípios
ativos e energéticos. Na Umbanda, a maceração é uma
prática muito comum na preparação de banhos com
ervas frescas.

5. COMO DESPACHAR UMA IMAGEM QUEBRADA?


Se a imagem estiver consagrada, antes de dispensá-
la, devemos romper essa relação existente do objeto
com o sagrado. Diferentemente de uma pedra ou erva
que possuem a energia natural do axé em sua essência
primária, as imagens, originalmente, são somente
elementos simbólicos que, após consagradas, adquirem
uma estrutura energética em torno delas, vinculada
ao médium. Por esse motivo, devemos neutralizar e
esgotar essa energia, antes de despachá-la. Para tal,
costuma-se usar uma vela branca palito e uma bacia de
água com três punhados de sal grosso. Mergulhamos
a imagem juntamente com todas as partes quebradas
dentro da bacia e acendemos a vela, orando em respeito

86
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

a energia vinculada ao objeto, deixando-o submerso por


vinte e quatro horas. Por fim, despachamos a imagem
cuidadosamente dentro do lixo, e nunca em locais
da natureza como praias, jardins, rios, cachoeiras ou
similares. A exemplo das sábias palavras citadas por
Mário Sérgio Cotella1, “o mundo que vamos deixar para
os nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para
o nosso mundo”, devemos não só estar conscientes, como
também conscientizar a todos sobre os cuidados com
a natureza e a preservação do meio ambiente em que
vivemos.

6. O QUE FAÇO COM UMA IMAGEM QUE


PERTENCEU A UMA PESSOA FALECIDA?
Nessas situações, somos orientados, primeiramente, a
defumar a referida imagem com cigarro, charuto, ervas
ou incenso (isso dependerá de qual o elemento que
a ela se relaciona), banhando-a posteriormente com
manjericão macerado. Por fim, devemos entregá-la à
pessoa da família que tenha devoção. Caso seja um ente
próximo e você queira ficar com a imagem, acenda uma
vela referente ao Orixá ou Guia correspondente para
que se faça a devida consagração.

7. O QUE FAÇO COM A SOBRA DOS TRABALHOS


FEITOS EM CASA?
Em nosso terreiro, somos orientados a despachar em
lixo ou em água corrente as sobras dos trabalhos ou
firmezas feitos em nosso lar. Por exemplo, restos de vela,
incenso, charuto, alimentos, papéis etc., despachamos
diretamente no lixo de nossas casas, separando o
lixo orgânico do reciclável, ambos devidamente
acomodados e ensacados. Substâncias líquidas como
café, vinho, chás ou restos de banhos, despachamos em
água corrente, podendo ser numa pia de cozinha ou
num tanque na área de serviço, nunca em banheiros
1
Filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro. É autor
de vários livros, entre os quais Por que Fazemos o que Fazemos?, em que analisa a vida
profissional na contemporaneidade.

87
MINHA VIDA NA UMBANDA

ou lavabos. Restos de plantas, flores, ervas e similares,


descartamos em vasos com plantas ou em algum jardim
mais próximo, dando o mesmo destino à água dos copos
utilizados junto às velas. Mais uma vez ressalto que é de
suma importância termos consciência de nossos atos
e cuidados com o meio ambiente, despachando nossas
sobras em locais permitidos e seguros, sem agredir ou
poluir a natureza, e estarmos sempre comprometidos
com a preservação ambiental. Em seu livro intitulado
Umbanda e Meio Ambiente2, o escritor Giovani Martins
traz assuntos relacionados às questões ambientais, aos
novos paradigmas e desafios que surgem com o terceiro
milênio, e o uso sustentável de recursos naturais, temas
de extrema importância aos adeptos da Umbanda e à
sociedade como um todo.
“O umbandista não precisa de uma catedral como só o
gênio humano é capaz de construir. Ele só precisa de um
pouco de natureza, como só Deus foi capaz de criar.”
Ronaldo Antonio Linares (Babalaô, escritor e jornalista)

8. POSSO VISITAR OUTROS TERREIROS?


Não há problema algum em visitar outras casas, contanto
que se faça com o consentimento de seu Pai ou Mãe de
Santo. A experiência em conhecer outros terreiros é
sempre positiva para o filho de Umbanda, desde que
sejam locais sérios e comprometidos com a fé. Em nosso
terreiro, somos orientados a levar a guia branca de
Oxalá para nossa proteção e, no caso de médiuns mais
experientes, poderão ocorrer incorporações. Como
já foi dito, embora os fundamentos sejam únicos, as
práticas variam entre terreiros, por isso, nunca faça
comparações entre sua casa e as demais, nem tampouco
julgue se as práticas lá adotadas são certas ou erradas,
pois todas essas desigualdades são peculiares à nossa
religião. Respeite todos os terreiros, assim como todos
os médiuns e seus Zeladores. E respeite, principalmente,
2
Umbanda e Meio Ambiente: Ações sustentáveis e novos paradigmas. São Paulo: Ícone
Editora, 2014.

88
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

as diferenças existentes em cada prática, observando e


aprendendo com essa pluralidade, o que faz de nossa
Umbanda uma religião única.

9. POSSO DEFUMAR MINHA CASA? QUAL O


PROCEDIMENTO?
O ideal é que a defumação no lar ou em outros locais
seja feita com a permissão do Pai ou Mãe de Santo
responsável pelo terreiro que você frequenta. É muito
comum, não só entre os umbandistas, a prática da
defumação em casa, mas nem todos conhecem o
procedimento correto e os cuidados necessários. Muitos
repetem aleatoriamente as práticas feitas no passado, por
parentes ou conhecidos, mas se esquecem do princípio
fundamental, que é a fé. Só através da fé e da proteção
de seus Guias, você poderá limpar, descarregar, quebrar
demandas ou purificar as energias de um ambiente com
eficácia e segurança. O despreparo poderá comprometer
o objetivo e até prejudicar quem a pratica. As forças que
são evocadas através das preces que acompanham a
defumação, são poderosos mantras que, pronunciados
com determinação, extinguem, limpam, revigoram
e purificam qualquer ambiente, livrando-o de toda
energia negativa, miasmas3, larvas astrais4 ou forças
destrutivas que possam estar prejudicando a vida dos
que ali residem. Por isso, a prática da defumação deve ser
conduzida por uma pessoa que tenha a devida formação
espiritual, experiência, conhecimento e fé. A defumação
pode ser feita com incenso ou defumador através de um
turíbulo (receptáculo com carvão vegetal em brasas
contendo as ervas e misturas que serão defumadas).
Existem também defumadores em tablete, muito
utilizados para trazer harmonia ao lar, o defumador
Mãe Maria, próprio para limpeza, proteção e abertura
de caminhos e o defumador Divino, que dispensa o uso
da brasa para combustão.
Daremos como exemplo, o procedimento para o uso
3
Ver Glossário Capítulo 7.
4
Ídem.

89
MINHA VIDA NA UMBANDA

do carvão em brasa, método bastante comum nas


defumações caseiras, objetivando o descarrego e
limpeza do ambiente. Em um turíbulo ou recipiente
de metal, acenda o carvão colocando por cima uma
mistura de palha de alho, pó de café e fumo de rolo.
Inicie a defumação a partir do cômodo situado na parte
mais interna da residência, caminhando sentido a porta
principal, passando por todos os locais de sua moradia.
Os banheiros e lavabos não necessitam de defumação,
por se tratar de locais de descarga. A defumação deverá
ser feita nos quatro cantos de cada cômodo, em forma
de “X”, deixando por último o canto da porta. Deve-
se defumar muito bem atrás de cada porta, pois os
cantos escondidos facilitam a impregnação de energias
negativas. Durante a defumação, através das orações,
pedimos para que todos os males sejam afastados, para
que o ambiente fique limpo e purificado, livrando-o de
toda energia negativa que possa estar prejudicando os
moradores. Ao findar, após nos certificarmos de que
a brasa foi totalmente consumida e não há mais fogo,
somente as cinzas, embalamos as sobras cuidadosamente,
dispensando-as no lixo fora de casa, sempre nos
assegurando de que não haja brasa ou qualquer fagulha
acesa, para que não ocorra nenhum risco de incêndio.
Lembre-se que a segurança é um fator primordial, por
isso, velas acesas, incensos ou mesmo defumadores,
devem ser manuseados com total segurança para evitar
qualquer tipo de riscos ou acidentes.

10. QUAIS AS PLANTAS QUE POSSO TER EM CASA?


Você pode cultivar em casa as plantas que quiser, desde
que cuide com carinho pois, assim como nós, são seres
vivos que merecem toda dedicação e atenção necessárias.
Regar habitualmente, trocar a terra de tempo em
tempo, aparar as folhas secas, deixá-las em local que
apanhe sol sem demasia, são alguns cuidados básicos
que todos devem ter. Em casa eu cultivo aroeira,
manjericão, arruda, comigo-ninguem-pode, espada de

90
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Ogum, espada de Iansã, guiné, alecrim, dentre outras


variedades. Importante pedirmos licença aos nossos
Caboclos toda vez que formos manuseá-las ou mesmo
colher folhas para banhos ou chás.

11. POSSO INCORPORAR EM CASA?


Por se tratar de uma questão controversa, devemos
respeitar as diversidades de opiniões. Em nosso terreiro,
temos uma postura bem definida sobre esse assunto.
A prática da incorporação no lar é uma experiência
individual que poderá ser feita somente pelo médium
experiente e devidamente apto, que receberá suas
entidades para atender unicamente as pessoas que ali
residem, mas nunca a pessoas de fora.
Não confunda incorporações no lar com consultas
caseiras, pois esse tipo de prática poderá expor não
só o médium, como a todos os participantes, a uma
série de riscos. Nosso lar não oferece a segurança e
proteção necessárias existentes num terreiro e, por ser
um local profano e despreparado para práticas abertas
ao público, poderá tornar essa experiência arriscada e,
muito provavelmente, nociva. Toda casa de Umbanda
possui, obrigatoriamente, todos os recursos necessários
para sustentar as inúmeras tarefas lá desenvolvidas
e suas habituais obrigações. Na Tronqueira, os Exús
fornecem, através de seus potentes campos de força, a
estrutura e barreiras que guarnecem o espaço físico e
etérico, trazendo a segurança aos médiuns e consulentes
ali presentes. O que ocorre também com a Casa das
Almas, que emana suas forças espirituais e encaminha
os espíritos obsessores para seu lugar de merecimento,
tornando o terreiro um local seguro. Toda casa de
Umbanda é um espaço sagrado, munido de todos os
recursos firmados e consagrados para a proteção do
ambiente e das pessoas que ali frequentam.
Como diz o ponto “Nessa casa tem quatro cantos, cada
canto tem um santo (...)”, temos, além da corrente
energética de todo corpo mediúnico, desde a entrada
do terreiro e demais espaços sagrados, toda proteção

91
MINHA VIDA NA UMBANDA

necessária aos filhos, à assistência e a todos os trabalhos


ali desenvolvidos. Consultas com assistência são feitas
em TERREIRO, sob a supervisão do Pai ou Mãe de
Santo e não em casa, como alguns médiuns praticam
imprudentemente.
Sempre procurei conciliar minha vida familiar, profissional,
social e religiosa, de forma equilibrada, para que nenhuma inter-
ferisse na outra. Penso que todo médium deva ter essa preocu-
pação, sem nunca se dedicar demasiadamente a nenhum lado. A
família é a grande prioridade em nossas vidas, mas não poderá
acarretar o isolamento, separando-nos dos amigos ou de nossos
compromissos de fé. Tampouco devemos colocar nosso trabalho
acima de tudo. O mesmo acontece em nossa vida religiosa, que
deverá ser vivida com dedicação, nunca com fanatismo, pois dessa
forma, o umbandista correrá o sério risco de se tornar uma pessoa
radical e inoportuna. Pessoas que se entregam em demasia à reli-
gião acabam se afastando, muitas vezes, dos amigos e dos próprios
familiares, contrapondo os valores básicos de nossa doutrina, que
tanto preza as verdadeiras amizades, e, acima de tudo, a família.
Religião, como tudo na vida, só é boa para quem está apto a con-
duzi-la com sensatez, pois somente assim conseguiremos vivê-la
com plenitude, equilíbrio e, consequentemente, com felicidade.
Nesses anos vividos como Filho de Santo, aprendi que a cons-
tante busca por conhecimentos é intrínseca à nossa evolução es-
piritual, e durante nosso desenvolvimento mediúnico, carregamos
conosco cada experiência vivida nesse percurso. Descrevo, a se-
guir, uma das mais emocionantes e inesquecíveis experiências que
vivenciei nessa minha trajetória como Filho de Santo.
Foi em meados de 2013, durante uma gira de desenvolvimento,
que uma entidade se manifestou, através de meu corpo físico, pela
primeira vez. Após a abertura da gira, Pai Rompe Mato “puxava”
os pontos cantados, convocando os falangeiros de cada Linha
a se manifestarem em terra através dos médiuns ali presentes.
Recordo que, ao iniciar os pontos evocando os Caboclos, tive a
súbita sensação de que meu corpo parecia “flutuar” e, com a cabeça
girando, comecei a caminhar cambaleante pelo terreiro. Senti que,
próximo a mim, Pai Rompe Mato me observava e meus irmãos,
fazendo um círculo ao meu redor, me amparavam, pois eu tinha a

92
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

nítida impressão de que, a qualquer momento, me desequilibraria


e cairia no chão. A energia era indescritível e extremamente forte,
as palmas, o som dos atabaques, o cântico, o cheiro de ervas,
tudo isso foi me deixando parcialmente ausente, num estado de
semiconsciência, me sentindo conduzido por uma força maior.
Nesse momento, a entidade que se manifestava tomou a frente,
desligando-me de tudo que acontecia ao meu redor. Foi como tivesse
me ocorrido um “apagão”, pois perdi a noção de tempo e espaço.
Quando voltei a mim, estava em pé no centro do terreiro, com os
olhos molhados de lágrimas, invadido por uma profunda sensação
de paz e extasiado com a experiência que considero até hoje, a mais
linda vivida por um filho de fé. Perguntei a um irmão mais velho o
motivo de minhas lágrimas e ele respondeu que, quando ocorre a
primeira incorporação, muitas vezes a entidade se emociona com o
momento, chorando de felicidade e compaixão. Passado um tempo,
fui comunicado espiritualmente que essa entidade manifestada no
terreiro era conhecida como Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema. A
partir desse instante, percebi que minha vida adquiria um sentido
muito maior daquele que, um dia, eu pudesse imaginar.
QUEM É CABOCLO SETE FOLHAS5?
Esse índio nascido no meio da Mata Atlântica, é um
verdadeiro filho de Oxóssi. Viveu na Tribo dos Paí
Tavyterã, no século XV, antes da chegada dos portugueses
e dos espanhóis ao Sul do Brasil. Aprendeu sobre o
poder das plantas medicinais e a arte da cura com seus
ancestrais. Ele nasceu, cresceu e foi criado assim, para
conhecer todas as plantas e todos os bichos das matas.
Ele sabia lidar com todos os venenos e curar todas
as maldições que se abatem sobre qualquer índio da
aldeia - do mais novo ao mais velho. Ele recebeu de seus
antepassados esse dom e a Mãe Natureza lhe abençoou
com a sabedoria necessária ao seu desenvolvimento.
Toda vez que entrava na Floresta, ele saudava Tupã - o
Pai Maior - e pedia permissão aos Espíritos da Floresta
para mexer com as plantas. Ele sabia a fase de cada Lua
e quando deveria colher cada erva. Ele jamais feria
5
Disponível em: <https://www.facebook.com/AxeEParaQuemTemFe/pos-
ts/429070043859505/>.

93
MINHA VIDA NA UMBANDA

um animal desnecessariamente, por isso os animais


lhe respeitavam. Se alguém em sua tribo necessitava
de auxílio, ele prontamente lhe servia, com toda a
humildade. Foi assim, que desde cedo recebeu o título
de “curandeiro” e passou a ser chamado de “Sete Folhas”,
pois toda vez que precisava preparar uma poção, ele
dizia: pegue 7 ramos daquela erva, 7 galhos daquela
outra, 7 folhas daquela ali e assim prosseguia, sempre
usando o número 7. E quando lhe perguntavam por
que o “sete”, ele respondia: “ - Porque Tupã fez o sete
SAGRADO!”
E assim viveu o Caboclo-Pajé Sete Folhas da Jurema:
curando, benzendo, cuidando e ensinando. Ele foi um
Mestre que jamais cansou de fazer o bem e de ajudar.
Dizem que ele não morreu, ele “encantou”. Um dia, ele
reuniu todos os filhos da Tribo e anunciou a chegada
dos homens de pele branca e vestidos com roupas
diferentes. Falou que seu tempo na Terra dos Homens
estava acabando e que Tupã o chamava. Então ele entrou
na Mata e desapareceu! Ao anoitecer, os índios ouviram
o pio de uma coruja e um clarão nas matas se formou...
E todos souberam que “Sete Folhas” tinha partido.
Quando alguém estava mexendo com folhas na Aldeia,
um vento soprava e levantava as folhas e alguém dizia:
“É ele: é o Pajé das Folhas - porque todas as folhas lhe
pertencem!”
Novas manifestações ocorreram posteriormente, e, num cur-
to espaço de tempo, vários Guias já se apresentavam através de
minhas incorporações. Uma das primeiras manifestações foi
com meu Exú, o qual ainda não tenho permissão para revelar seu
nome, depois com Preto-Velho, e logo viriam Baiano, Boiadeiro,
Cigano e Marinheiro, respectivamente. Alguns Caboclos falangei-
ros pertencentes a outras Linhas como de Ogum, Iemanjá, Oxum
e Iansã, se manifestariam também nessa mesma época.
Cada Linha ou vibração equivale à um grande agrupamento
de espíritos que atendem a um determinado Orixá, responsável
por suas respectivas falanges. Essas linhas foram homologadas no
Congresso realizado no Rio de Janeiro em 1941, trinta e três anos

94
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

após a fundação da Umbanda. Os nomes e significados das Sete


Linhas podem variar, dependendo das origens, influências e ca-
racterísticas de cada terreiro.
Para entendermos um pouco sobre as Sete Linhas na Umban-
da, reproduzo abaixo um texto compilado por Pai Odé D’Loy.
O QUE SÃO AS 7 LINHAS EXISTENTES NA
UMBANDA?
A Umbanda é formada por Sete Linhas que compõem
as forças de trabalho. Essas Linhas correspondem aos
raios de vida lançados por Deus sobre a Terra. As Sete
Linhas formam uma força única e harmoniosa. Todas
as entidades (espíritos) trabalham sob a Lei das Sete
Linhas.
LINHA DE OXALÁ: chefiada por Oxalá, para ela
convergem todas as demais linhas e seus respectivos
Orixás, bem como todos os espíritos trabalhadores na
Umbanda, uma vez que o sincretismo Oxalá / Jesus
Cristo é perfeito.
LINHA DAS ALMAS: Também chamada de Linha de
Yorimá, essa linha é composta dos primeiros espíritos
que foram ordenados a combater o mal em todas as suas
manifestações, ensinando e praticando as verdadeiras
“mirongas”.
LINHA DAS MATAS: A vibração de Oxóssi e Ossanha
significa ação envolvente ou circular dos viventes
da Terra, ou seja, o caçador de almas, que atende na
doutrina e na catequese. São invocações às forças da
espiritualidade e da natureza, principalmente as matas.
LINHA DA JUSTIÇA: Xangô é o Orixá que coordena
toda lei cármica que afere nosso estado espiritual. Nesta
Linha temos também a Orixá Iansã.
LINHA DO AMOR: Oxum e Oxumarê são os Orixás
desta linha. Suas vibrações eternizam o Amor.
LINHA DAS DEMANDAS: Ogum é o fogo da salvação
ou da glória, o mediador de choques consequentes do

95
MINHA VIDA NA UMBANDA

carma. É a linha das demandas da fé, das aflições, das


lutas e batalhas da vida. Os Erês trabalham nesta linha
amenizando o sofrimento e o cansaço.
LINHA DA FERTILIDADE: Essa linha é também
conhecida como Povo d’Água. Iemanjá significa a
energia geradora, a divina mãe do universo, o eterno
feminino, a divina mãe na Umbanda. Nesta Linha temos
também a Orixá Nanã 6.
Desde o início, as entidades que eu incorporava apresentavam-
-se de forma discreta, silenciosa e com gestuais comedidos, mani-
festando-se até os dias de hoje, dessa mesma maneira. Determi-
nadas entidades se revelaram durante a incorporação no próprio
terreiro, como o Boiadeiro Zé da Boiada, que atua na Linha do Sr.
Chapéu de Couro, e o Baiano Zé do Coco; algumas se apresenta-
ram em sonhos, como o Exú-Mirim Pinga-Fogo e o Caboclo Sete
Folhas, outras, conscientemente através de intuições, a exemplo
do Preto-Velho Pai Thomé e do Cigano das Pedras. Ouvir os Guias
se revelarem ou mesmo se comunicarem através de incorpora-
ções, sonhos, intuitivamente ou conscientemente, requer do mé-
dium muita atenção a tudo que acontece a sua volta, em seu dia a
dia. Muitas vezes, um fato isolado aparentemente sem grande im-
portância, mas que nos chama a atenção, poderá ser um sinal de
nossas entidades. Segundo Alan Barbieri7, devemos estar receptí-
veis a todas as formas possíveis de mensagens vindas do plano es-
piritual, como citado em texto de sua autoria, abaixo reproduzido.
(...) Os reinos espirituais falam-nos de muitas formas e precisa-
mos, ao longo do nosso desenvolvimento, dar a nós mesmos a chan-
ce de ouvi-los e não apenas querer ser escutado nos nossos anseios e
nossas expectativas.
Nesse sentido, frequentemente, as pessoas acham que os Guias
falarão com elas presencialmente, como uma voz que surge do nada
para dizer aquilo que precisamos saber. Mas a verdade é que esse
tipo de comunicação, típica de médiuns clariaudientes, é bastante
rara. Comumente, somos levados a situações ou recebemos mensa-
gens de modo indireto.
6
Disponível em: Apostila ABESMA, 2016.
7
Médium e sacerdote de Umbanda, fundador do Templo Escola Casa de Lei, fundador
da web-rádio Toques de Aruanda, diretor do Estudar em Casa, youtuber, escritor e dire-
tor de comunicação e marketing da editora Mariwô.

96
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

É um filme que assistimos e que nos toca pessoalmente, é um


novo caminho que impede a jornada corriqueira do nosso ônibus
e que pode gerar algum aprendizado, é um amigo, ou mesmo um
desconhecido, que nos fala sobre algo que estamos vivendo. As
formas e os meios podem ser tantos que fica impossível fazer uma
lista aqui.
Mas o que eu quero deixar é o ensinamento de que nossos amigos
espirituais arrumarão formas de se comunicar conosco utilizando-
-se dos meios em que estamos inseridos. O que nos falta é a fé de
que estamos sendo guiados e a certeza de que somos especiais, como
tudo que Deus criou, portanto somos orientados e protegidos. Fre-
quentemente, esperamos coisas mirabolantes dos Guias e esquece-
mos que o mistério da vida está conosco o tempo todo e que somos
merecedores de todos os ensinamentos e orientações da espirituali-
dade para sermos pessoas melhores. (...) 8
Com o passar do tempo, eu tinha a nítida percepção de que
meus Guias exerciam, gradativamente, um maior domínio sob
meu corpo físico, mesmo ocorrendo alguns eventuais desequilí-
brios durante as incorporações. Ainda assim, me sentia cada vez
mais seguro, e me esforçava para que minha mente consciente não
interferisse nesse processo. Aos poucos, as manifestações foram
fluindo com mais facilidade, a medida em que abstraía-me e me
concentrava. Quando conseguimos nos abstrair de tudo a nossa
volta, proporcionamos a aproximação e a manifestação do espí-
rito com maior fluência e naturalidade, e, nesse momento, nosso
corpo físico e a entidade se completam num todo, assim como o
leite completa o café, sem que nenhuma parte se anule ou perca
sua personalidade, apenas tornam-se um. A esse processo deno-
minamos incorporação semiconsciente.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE MEDIUNIDADE
CONSCIENTE, SEMICONSCIENTE E
INCONSCIENTE?
A mediunidade consciente é aquela em que o
médium está ciente durante toda a incorporação. Já a
semiconsciente, o médium se encontra parcialmente
consciente, tendo uma menor percepção das ocorrências
8
Disponível em: <https://www.alanbarbieri.com.br/post/como-ouvir-os-guias-espiri-
tuais-e-entender-as-mensagens-que-eles-nos-enviam>.

97
MINHA VIDA NA UMBANDA

durante a incorporação. A mediunidade inconsciente,


ao contrário do que se imagina, ocorre com o
consentimento do médium. Se faz muito mais intensa e,
por esse motivo, o aparelho não se recorda do momento
e dos fatos ocorridos durante o transe mediúnico, sendo
essa a mais rara das incorporações.
A cada gira, minhas incorporações se davam de maneira mais
firme e natural, com os Guias manifestando-se através de meus
gestos, minhas expressões e por último, de minha fala. Com a
permissão de nosso Pai Rompe Mato para trabalharem no terrei-
ro, essas entidades começaram a participar das Giras de consulta,
oferecendo aos necessitados seus trabalhos através de benzimen-
tos, passes, limpezas, descarregos, aconselhamentos ou simpatias,
no cumprimento da missão a eles destinada. A nós, Filhos de San-
to, nos foi designado o privilégio de desenvolver, através do dom
mediúnico, nosso aprendizado e crescimento espiritual.
Em seu livro Umbanda, mitos e realidades9, Iassan Ayporê Pery,
dirigente do Centro Espiritualista Caboclo Pery, desmistifica, de
forma clara e direta, a questão da incorporação considerada por
muitos médiuns incautos, como caridade.
“(...) Participar das sessões, dar passagem para as entidades,
guias e protetores nunca foi fazer caridade, mas sim oportunida-
de de aprendizado e crescimento, pois que o maior beneficiado é o
próprio médium. Já tive o desprazer de ouvir médium dizendo que
está doando o tempo dele, emprestando o corpo dele para o guia
fazer caridade. Quanta vaidade, empáfia e estupidez! Francamente!
Ainda bem que estou encarnada e sei que muito tenho que aprender
ainda, pois se sou guia de trabalho desse médium mandava ele as
favas! Será que ele não vê nunca, não aprende nunca e não sente
nunca? Será que está realmente com guia na cabeça? Sinceramente
acho que não, pois a bênção que recebemos ao entrar em contato
com nossos guias e protetores é insubstituível e se renova a cada
gira. Esse médium não merece isso, mas principalmente o guia não
merece um médium assim!” (...)
QUAL A DIFERENÇA ENTRE BENZIMENTO,
PASSE, LIMPEZA, DESCARREGO, SIMPATIA E
SACUDIMENTO?
9
Umbanda, mitos e realidades, p. 75-76. Rio e Janeiro, 2008.

98
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Benzimento: Abençoar ou tornar bento; A palavra benzer


vem do latim bene dicere, que significa bem dizer.
Passe: Segundo Alexandre Cumino, “pode ser definido
como a aplicação de um conjunto de técnicas mágico-
religiosas, além de explorar todos os recursos possíveis
de imposição de mãos, utiliza elementos e técnicas
variadas e até inusitadas”.
Limpeza: é a cura para problemas gerados por energias
negativas;
Descarrego: ritual em que a entidade purifica o
consulente;
Simpatia: rituais e práticas utilizadas na Umbanda, que
auxiliam aqueles que enfrentam problemas e buscam
soluções na espiritualidade. A Simpatia pode ser
uma combinação de vários rituais ligados a diferentes
crenças, reunidas em um único rito.
Sacudimento: Ritual de limpeza espiritual feito com
folhas batidas na pessoa ou ambiente.
Durante o desenvolvimento mediúnico de todo umbandista,
as dúvidas e inseguranças são uma constante que nos levam a in-
dagar, principalmente, sobre a veracidade de nossas próprias ma-
nifestações espirituais, como “até que ponto sou eu ou a entidade
que está falando com o consulente?”, ou mesmo “até onde posso
afirmar que não estou interferindo nas falas e conselhos profe-
ridos pelos Guias?” Reproduzo abaixo um texto10 compilado na
Apostila ABESMA 2020 que esclarece essas dúvidas.
SOU EU OU A ENTIDADE, COMO SE LIVRAR DA
ETERNA DÚVIDA?
Esta é, talvez, a dúvida mais comum aos médiuns
iniciantes. E se sua resposta fosse simples, não seria
mais dúvida alguma. Na verdade, a interferência de
médiuns no contexto da incorporação é muito comum
no princípio do desenvolvimento e deve ser encarado
10
Disponível em: <https://casadopaibenedito.wordpress.com/mapa-do-site/estudos-so-
bre-umbanda/mediunidade-na-umbanda/duvidas-sobre-o-desenvolvimento-mediuni-
co/>.

99
MINHA VIDA NA UMBANDA

como algo normal. Somente com o exercício, o médium


diminui sua ansiedade e cede espaço para que a entidade
se manifeste com liberdade e clareza. Durante este
período, o médium precisa de entrega absoluta a esta
experiência, ignorar o julgamento alheio e recorrer
sempre aos dirigentes do terreiro para ajustar o que for
preciso.
Não há regras absolutas. Contudo, há alguns
indicadores típicos de interferência dos médiuns, seja
na comunicação, seja na movimentação do corpo. O
médium está comumente travado, restringindo a ação
da entidade, quando:
- A entidade incorporada não fala nada, mal se move
nem sai do lugar;
- O médium tropeça, se desequilibra ou cai com
frequência no processo de aproximação;
- O médium inicia o processo de incorporação, mas ele
se rompe “no meio do caminho”.
Por outro lado, são indicadores de animismo, de
exacerbação da ação do espírito, quando:
- A entidade grita muito, fala muito alto ou se movimenta
exageradamente;
- Quando há um excesso de tiques nervosos, sotaques ou
ações incompreensíveis;
- Quando o que ele diz não corresponde com a realidade
ocorrida;
- Quando o espírito manifesta opiniões que na verdade
são do médium e não dele.
Este último caso é sempre uma questão delicada de
se analisar. Contudo, há uma dica que pode ajudar:
a palavra de um espírito de Luz possui um tipo de
sabedoria claramente identificada em seu discurso,
mas que dificilmente pode ser vista no discurso do
encarnado. Eles não tomam partido em conflitos
terrenos. Guardam uma imparcialidade ímpar

100
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

nestes conflitos, mesmo quando seus aparelhos estão


envolvidos, pois reconhecem todos como filhos de Deus
carentes de esclarecimento e auxílio nesta terra. Esteja
atento a este tipo de sabedoria. Onde você encontrá-la,
estará falando com um Guia autêntico.
Dois anos após ter concluído meus estudos e me formado no
ensino superior, estava prestes a abrir meus horizontes, incenti-
vado pela minha família e pela minha fé. Foi quando nasceu a
ideia de criar uma editora de livros e revistas, aproveitando meu
conhecimento e experiência profissional obtidos nesses 6 anos de
universidade. A Editalivros Produções Editoriais nasceu no início
do ano de 2015, focada no mercado editorial e que hoje dispõem
de variado acervo, tanto em suporte impresso, quanto eletrônico
(e-book). Nessa época, estava muito voltado aos meus compro-
missos espirituais, cumprindo os preceitos11 e obrigações sacra-
mentais, atendendo as orientações do Sr. Caboclo Rompe Mato,
responsável pela formação e desenvolvimento mediúnico dos fi-
lhos da casa.
SACRAMENTOS NA UMBANDA
Os rituais realizados durante a formação espiritual do
Filho de Santo, conhecidos como sacramentos, podem
variar em cada terreiro, dependendo da Linha que a casa
segue ou da própria formação do Dirigente responsável.
Os mais praticados são:
• INICIAÇÃO: Ritual no qual a pessoa se prepara para
se tornar filha ou filho de Orixá.
• BATISMO: é a apresentação às divindades da Umbanda,
para que enviem suas vibrações ao espírito encarnado,
passando a receber a proteção dos Orixás.
• DEITADA (ou camarinha): Ritual para firmar a energia
do Orixá na cabeça de quem vai se deitar.
• AMACI: Ritual da lavagem da cabeça do médium já
11
Preceitos são práticas doutrinárias que aprofundam o médium com sua espirituali-
dade. Têm, portanto, o objetivo de potencializar a ligação do fiel com o Sagrado. Geral-
mente, os preceitos envolvem abstenção sexual, restrição de certos alimentos, banhos de
ervas para limpeza e purificação, dentre outros. O período de cumprimento dos precei-
tos varia de acordo com as regras de cada casa.

101
MINHA VIDA NA UMBANDA

desenvolvido, com ervas e outros elementos. Consiste na


preparação da vibração deste médium para incorporar o
seu Guia protetor, o qual dirá o trabalho que o médium
deverá desenvolver.
• CONFIRMAÇÃO: Ritual para médiuns que completam
21 anos de idade carnal e já pertencem à Umbanda e
possuem o Amaci.
• FEITURA: Ritual que consiste em vários ritos de
limpeza e recolhimento ou resguardo, que poderá variar
de 3 a 7 dias, de acordo com o Orixá da pessoa.
• COROAÇÃO: é o momento em que o médium se
recolhe e busca através do ritual do Bori,12 uma maior
conexão com sua espiritualidade e com seu Pai de Orí.
• CASAMENTO: A cerimônia é feita dentro próprio
terreiro ou em outro local escolhido pelos noivos (praias,
rios, cachoeiras etc.), sob o consentimento e orientação
do sacerdote da casa.
• ENCOMENDAÇÃO: Ritual feito no caso de velórios,
cemitérios e outros.
Sobre a indumentária utilizada nas giras de Umbanda, é co-
mum notarmos algumas diferenças nos trajes adotados em cada
casa. Em nosso terreiro, todas as peças são confeccionadas pela
filha responsável por nossas vestimentas, como observado em
outro capítulo. Além da roupa de ração (branca), que poderá ser
usada em todas as giras, é padrão que os filhos utilizem camisa
xadrez verde e branca nas giras de Caboclo, camisa xadrez preta e
branca nas giras de Preto-Velho e, para as giras de Exú, calça preta
e camisa vermelha. Nas demais giras usamos a roupa branca, com
exceção da Gira de Cigano, para a qual meu Cigano das Pedras
indicou-me o uso de túnica estampada em tom azul celeste. O ojá
branco é comum para todas as giras. No caso das Filhas de Santo,
a variedade ocorre nas estampas das saias, sendo também per-
mitido o uso comedido de ornamentos como lenços, cordões e
acessórios em geral, além do pano de cabeça obrigatório. Os trajes
utilizados em nosso terreiro são exclusivos às giras corresponden-
tes, e seu uso objetiva, além de expressar organização e hierarquia,
12
O bori prepara a cabeça do médium para que o Orixá possa manifestar-se plenamente.

102
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

ampliar a conexão e facilitar a irradiação de nossos Guias, e nunca


a vaidade ou exibicionismo. A Umbanda é uma religião simples e
humilde, voltada para a caridade, portanto, futilidade e ego não
fazem parte de nossa doutrina.
Durante esses sete anos de terreiro, embora já tivesse feito
inúmeros rituais com banhos de ervas a pedidos de meu Pai Ode
D’Loy, eu possuía um conhecimento muito restrito sobre o assun-
to. As variedades são tantas que se torna difícil, mesmo para filhos
mais desenvolvidos, conhecer cada erva, suas propriedades e fun-
ções. Sem pretender me aprofundar no assunto, mesmo porque
seria impossível falar das ervas na Umbanda em um único pará-
grafo, relaciono resumidamente, algumas informações mais rele-
vantes a respeito do tema, que poderá ajudar o médium iniciante
ou mesmo alguns filhos mais experientes. Aos que optarem por
um conhecimento mais aprofundado sobre o assunto, indico o li-
vro de Adriano Camargo13 intitulado Rituais com Ervas – banhos,
defumações e benzimentos.14
ERVAS NA UMBANDA
Muito antes de sua utilização na Umbanda, o uso das
ervas é comum na história da humanidade, desde seus
primórdios. No Brasil, o uso das ervas medicinais era
prática utilizada pelos índios que aqui viviam, em seus
rituais sagrados. O conhecimento dos poderes das
diversas ervas era adquirido e repassado de geração em
geração.
Até hoje o homem as utiliza em seu dia a dia, seja
como tempero de seus alimentos, como também em
defumações, banhos, rituais sagrados, tratamentos
medicinais e terapêuticos, dentre tantas outras formas.
Jesus disse: “Tua cura é do tamanho de tua fé”.
As ervas, folhas e raízes possuem, cada qual, suas
propriedades fitoterápicas que, através da oração, são
ativadas em nosso próprio benefício.
Há dois tipos de ervas: as frescas e as secas. Na defumação,
13
Sacerdote dirigente do Templo Escola de Umbanda Ventos de Aruanda.
14
Rituais com Ervas – Banhos, defumações e benzimentos, São Paulo: O Erveiro, 2012.

103
MINHA VIDA NA UMBANDA

a erva fresca não é adequada pois seu excesso de água


impede a queima dos elementos usados no defumador.
Adriano Camargo, conhecido como “Erveiro da Jurema”,
qualifica as ervas da seguinte forma:
I. QUENTES OU AGRESSIVAS
II. MORNAS OU EQUILIBRADAS
III. FRIAS OU ESPECÍFICAS
I. QUENTES OU AGRESSIVAS - Por apresentarem um
alto grau de toxidade, essas ervas devem ser manipuladas
com muita prudência e bom senso. Todo e qualquer
banho ritualístico deverá ser feito com moderação e sob
a supervisão de seu Pai ou Mãe de Santo. Em caso de
alergias ou propensões a problemas de pele, a atenção
e os cuidados deverão ser redobrados. Ervas quentes
podem causar sérias irritações ou até consequências
piores, caso aplicadas em indivíduos de pele sensível,
portadores de dermatite ou qualquer outro mal cutâneo
ou alérgico.
Alguns exemplos:
Aroeira, Arruda, Casca de alho, Casca de cebola, Espada
de São Jorge, Eucalipto, Espada de Santa Bárbara,
Quebra-demanda e Guiné.

II. MORNAS OU EQUILIBRADAS – Menos agressivas


que as ervas quentes, são muito utilizadas em rituais
e magias. As plantas frutíferas e flores se enquadram
nessa categoria.
Alguns exemplos:
Abre-caminho, Alecrim, Alfazema, Aniz-estrelado,
Benjoim, Boldo, Capim-cidreira, Manjericão, Cravo da
Índia, Erva-Doce e Girassol.

III. FRIAS OU ESPECÍFICAS – Sua ação é pontual, ou


seja, quando usadas separadamente, desencadeiam
o processo ao qual estão atribuídas diretamente. À

104
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

exemplo, uma pessoa que sofre de problemas digestivos,


aconselha-se o chá de Boldo (embora o Boldo esteja na
categoria de ervas mornas, quando utilizado sozinho,
ele apresenta a função específica das ervas frias).
Alguns exemplos:
Louro, Erva-cidreira, Camomila, Boldo, Folha de
laranjeira, Maracujá, Carapiá, Hortelã, Gengibre,
Ginkgo, Melissa e Jasmim.
Podemos utilizar uma ou mais ervas em nossos banhos e
defumações, geralmente de três a sete ervas, levando em
conta suas propriedades e a finalidade a que se destinam.
Num caso hipotético, cujo objetivo seja limpeza,
equilíbrio e prosperidade, poderíamos preparar um
banho com arruda, guiné, casca de alho, manjericão,
pitanga, hortelã e louro.
O sal grosso também pode ser usado eventualmente junto
com as ervas, embora seja um elemento de considerada
agressividade. Sua função é a limpeza pesada e pode
ser utilizado moderadamente tanto em banhos como
também em defumações, sempre em quantidades muito
pequenas.
Lembro-me de um episódio ocorrido no final de uma gira de
desenvolvimento, em que uma entidade incorporada em um ir-
mão aconselhou-me utilizar uma guia de aço em meu dia a dia.
Nessa época, eu estava me destacando profissionalmente e isso
talvez tenha chamado a atenção ou mesmo despertado a inveja de
algumas pessoas na empresa, tornando-se indispensável seu uso.
Essa minha guia, consagrada na vibração de Ogum, é composta
por 7 espadas de aço e uma estrela de cinco pontas, a qual utilizo
até os dias de hoje.
Como bem sabemos, a inveja, o olho gordo e a cobiça emitem
energias negativas muito fortes e destrutivas, podendo prejudicar
qualquer pessoa despreparada ou desprotegida. Abaixo, reprodu-
zo um texto extraído do site Ação Cristã Vovô Elvírio (ACEV), es-
crito pela médium Luiza Cruz.

105
MINHA VIDA NA UMBANDA

GUIA DE AÇO
(...) A guia de aço é um colar simples, com um crucifixo,
ambos feitos de aço e, após imantada por uma entidade
dirigente, atua como um amuleto para a nossa proteção.
O aço (que é, em resumo, uma “mistura” de ferro [Fe]
com carbono [C] atrai para si ou repele algumas das
energias que poderiam nos prejudicar e, quando a
guia é imantada, essas funções são potencializadas a
nosso favor. Por esse motivo, de vez em quando, esse
instrumento arrebentará ou terá sua coloração natural
alterada. Isso significa que atingiu o fim ao qual se
destinava, ou seja, cumpriu a sua missão. Então, uma
nova guia deve ser adquirida e levada para o mentor
benzer e a guia estragada deverá ser descartada.
O aço é um excelente condutor de energia elétrica e
possui uma aura fortemente radioativa. A guia de aço
transforma-se num excelente captador de energias
deletérias de baixo teor energético, desagregando
esses baixos fluidos, não permitindo seu alojamento e,
consequentemente, a criação e proliferação de miasmas
e larvas astrais nos corpos sutis e físicos do homem. (...)15
É comum que alguns Guias, com o passar do tempo, solicitem
aos seus médiuns velas, fumos, incensos, patuás ou qualquer outro
objeto que necessitem em seus trabalhos. No caso do Sr. Cigano
das Pedras, logo nas primeiras incorporações, já havia me solici-
tado, além do uso da túnica azul, que providenciasse 7 pedras de
cores variadas a serem utilizadas por ele durante as consultas. No
dia em que fui comprá-las, lembrei-me de suas palavras: “Estarei,
através de sua mão, escolhendo as pedras que quero”, e assim o foi.
Na loja de artigos religiosos, havia um grande cesto de vime com
centenas de pedras que variavam em tamanho, formato e cor. Fe-
chando os olhos, fui pegando aleatoriamente as sete pedras solici-
tadas, uma a uma. Ao final, havia sete lindas pedras, cada uma de
uma cor, escolhidas pela entidade. Acomodei-as em uma antiga
caixa de madeira, seguindo a orientação do próprio Guia, que as
tem utilizado até hoje em todas as suas Giras.
15
Disponível em: <http://acve.com.br/index.php/jornal/item/260-guia-de-aco-na-um-
banda>.

106
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Pedras e cristais são elementos que se fazem muito presentes nas


práticas de nossa religião. Por se tratar de um assunto complexo e
de infinita variedade, se torna difícil relacioná-lo aqui, qualificando
cada qual e suas respectivas funções, e fugiríamos ao propósito
desta obra. Abordaremos o tema de maneira concisa, para que os
neófitos tenham uma ideia básica e, caso queiram aprofundar-se,
relaciono alguns livros para leitura ao final desta obra.
PEDRAS E CRISTAIS NA UMBANDA
Desde tempos imemoriais o poder das pedras como
catalizador, condensador e irradiador de energia, já
era conhecido e sempre esteve presente nas práticas de
diversos rituais sagrados. Reis e Rainhas as utilizavam
cravejadas em suas coroas, cetros e vestimentas,
como ornamentos sacerdotais, amuletos ou talismãs,
acreditando na proteção e poderes mágicos que os
proporcionava, além de seu uso terapêutico. Em nossa
religião, são comuns as pedras aplicadas nos colares
utilizados por Caboclos, Pretos-Velhos e outras
entidades, além de seu uso em vários pontos riscados.
O Otá é a pedra de assentamento presente nos altares
dos terreiros e, mesmo na Tronqueira, constatamos
a utilização das pedras, além de outros minerais. É
indiscutível o poder que as pedras e cristais emanam e
sua relação com as forças da natureza, e a partir daí, sua
vasta utilização na Umbanda.
Segundo Rubens Saraceni, “(...) uma pedra natural tem
seu magnetismo próprio e permanente; tem sua forma
inalterável de irradiar-se; alimenta-se de certos tipos de
fatores, de essências, de elementos e de energia. Cada
uma é um universo em si e é um portal para outras
dimensões da vida (...)”.16
Cada Orixá se relaciona com uma ou mais pedras, como
descrito a seguir:
OXALÁ – Quartzo Branco
EGUNITÁ – Calcita Laranja, Topázio ou Ágata de Fogo
16
A Magia Divina das Sete Pedras Sagradas, São Paulo: Madras Editora, 2008.

107
MINHA VIDA NA UMBANDA

IANSÃ – Citrino
IEMANJÁ – Água Marinha, Zircão ou Diamante
LOGUNÃ – Quartzo Fume Rutilado
NANÃ – Ametrino ou Rubelita
OBÁ – Madeira Fossilizada ou Calcedônia
OBALUAYÊ – Ametista ou Turmalina Negra
OGUM – Granada, Rubi, Sodalita ou Hematita
OMULÚ – Ônix Negro
OXÓSSI – Quartzo Verde ou Esmeralda
OXUM – Quartzo Rosa ou Ametista
OXUMARÉ – Fluorita ou Opala
XANGÔ – Jaspe Vermelho ou Marrom, Pedra do Sol
Muito se tem falado a respeito de resgate do carma, dívidas de
vidas passadas, leis de ação e reação, causas e efeitos e por aí afora.
Na Umbanda, entendemos que carma (kharma, em sânscrito –
antiga língua sagrada da Índia) não é sinônimo de “peso”, “castigo”
ou “penitência”, que o indivíduo carrega como um “eterno fardo”,
durante seus diversos estágios evolutivos. Carma é o resultado
moral de nossas intenções, pensamentos e comportamentos, defi-
nidos em nossas ações e atitudes, sejam elas boas ou más, objeti-
vando a plena evolução espiritual.
O QUE É CARMA?
Carma nada mais é que a chance de resgatarmos e
aprendermos com nossos próprios erros ou acertos.
Assim, como a criança comete suas falhas ou acertos
e seus pais a coíbem ou a estimulam durante sua vida,
nosso Pai Maior, em Sua imensa sabedoria, nos mostra
das mais variadas formas, as consequências de nossas
ações, para que possamos enxergar, aprender e evoluir.
Carma seria então a oportunidade de aprendermos
através de nossas ações, corrigindo e aprimorando
nossos passos durante a experiência encarnatória – ou,
como disse Norberto Peixoto: “Existe uma lei de justiça

108
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

universal, que determina a cada um colher o fruto


de suas ações, que é conhecida como Lei do Carma”.
(PEIXOTO, 2006, p. 17)
Não se trata do conceito “olho por olho, dente por
dente” ou o famoso “aqui se faz, aqui se paga”, pois em
nossa religião, carma não significa vingança, castigo
ou pecado, mas sim a chance de evoluirmos através da
Justiça Divina que age sobre nós como retorno de todas
as nossas ações. Rubens Saraceni, em seu livro Doutrina
e Teologia de Umbanda Sagrada, define que “resgatar
um carma não é sofrer, mas sim aprender a lidar com
sentimentos, reequilibrar-se emocionalmente, reparar
débitos com fé, amor e caridade”.
Somos reflexos de nossas ações e intenções, e evoluímos
a cada resgate que a Lei Divina nos proporciona, revendo
nossos débitos ou méritos e cumprindo a missão a qual
todos estamos destinados, em busca do aprimoramento
e da evolução espiritual, desenvolvidos a cada ciclo
reencarnatório.
Abordaremos agora três assuntos muito polêmicos, principal-
mente quando analisados sob o ponto de vista religioso. São eles:
Aborto, Suicídio e Morte.
1. ABORTO E UMBANDA
Este livro não objetiva questionar a prática do aborto,
nem deliberar o certo ou errado, mesmo porque o
julgamento final caberá exclusivamente à Justiça Divina.
A intenção é a reflexão, a partir do olhar da Sagrada
Umbanda. O aborto não pode ser tratado como tabu
nem tampouco como um assunto proibido, mas sim um
fato que acompanha a sociedade desde os primórdios,
e toda iniciativa que traga luz e promova o debate
construtivo, será essencial e benéfica. A Umbanda,
mesmo não apoiando a prática do aborto, também
não a coíbe. Nossa religião defende e prioriza, acima
de tudo, a manutenção pela vida e a evolução humana.
Reproduzo abaixo um trecho do texto publicado no
Jornal do Templo Umbandista Caboclo Caçador - TUCC.

109
MINHA VIDA NA UMBANDA

(...) O espírito renasce para evoluir, aprender a


usufruir e praticar o amor, a humildade e a caridade.
Isso não acontece somente na gestação, mas com o
desenvolvimento e a vida em família e na sociedade.
A responsabilidade dos pais não acaba junto com o
nascimento do bebê. Eles recebem a missão de cuidar,
educar, aperfeiçoar e auxiliar no bem-estar futuro
do novo ser. Quando a mulher decide pelo aborto,
está abdicando do compromisso assumido no plano
espiritual, da mesma forma, quando abandona a criança
depois do nascimento. O homem que incentiva o aborto,
ou renega os filhos já nascidos, comete o mesmo erro.
Toda decisão que tomamos hoje, repercutirá no futuro.
A liberação do aborto não trará consequências maiores
dos que as que já temos, mas isso só será feito com muita
educação e conscientização. Muitos são os motivos que
levam uma mulher optar pelo aborto. Não nos compete
o julgamento. O aborto deve ser direito de todos? Pode
até ser que sim, desde que saibam que as Leis de Causa
e Efeito entrarão em curso e que para cada ação haverá
sempre uma reação. Não somos juízes. Todos estamos
submetidos à Justiça Divina. A nossa religião não
apoia o aborto, contudo não condena quem o pratica.
A Umbanda não exclui, acolhe. Nosso objetivo é o
aprimoramento moral e espiritual de forma gradativa.
(...)17

2. SUICÍDIO E UMBANDA
Pode-se dizer que o suicídio está entre as dez principais
causas de morte. A cada ano, mais de um milhão de
pessoas no mundo tiram a própria vida e um número
ainda maior de indivíduos tenta suicídio. A prevenção
é possível através de ações que requerem uma ampla
articulação em rede, envolvendo famílias, poder público,
comunidades de fé e sociedade como um todo, além de
uma escuta ativa, que deve sempre estar presente nesses
diálogos.
17
Texto adaptado por Regina Celia S. Dezonne. Disponível em: <https//www.acentelha-
divina.org/single-post/2015/11/17/ABORTO>.

110
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Segundo Gihad Abbas, Pai de Santo e presidente da


Uniterreiros18, não só o suicida e a pessoa com depressão
devem ser acolhidos, mas também a família. “A sociedade
em geral tem que discutir esse assunto. Muitas vezes, a
pessoa pode apresentar um estado depressivo sem que
a família perceba. O diálogo se faz fundamental para
enfrentar a questão. Não podemos tratar o assunto
como tabú e nem fingir que isso não está acontecendo.
Todos os espíritos têm o direito de serem resgatados.
O suicida, por carregar uma grande carga de mágoas,
ressentimento e as diversas energias negativas que o
levaram a cometer o suicídio, necessitará de um tempo
maior para expurgar e eliminar esses sentimentos, e
assim continuar sua escalada evolutiva.”19

3. COMO A UMBANDA VÊ A MORTE


A Umbanda baseia-se no princípio da reencarnação, onde
a evolução espiritual se dá a cada ciclo, sucessivamente.
Chamamos de “alma” a essência espiritual que habita
o corpo carnal, e “espírito” quando ele deixa esse
envoltório.
Na visão da Umbanda, a morte do corpo físico não
significa o final da vida, mas sim um ciclo que se encerra
para outro recomeçar. O ser-espírito continuará sua
evolução, sendo encaminhado a um plano condizente
com seus atos durante sua passagem pelo corpo físico.
Segundo Marcos Peixoto, presidente do Centro
Espiritualista Irmãos de Fé (CEIF), localizado em
Grajaú (RJ), “O momento de morte é o momento em
que o espírito se desprende do corpo, retorna a sua
origem, mas a evolução do espírito continua, tanto no
plano espiritual, quanto no retorno ao plano físico”. Mas
Peixoto ressalva que o encarne não é a única vivência
do espírito, já que o outro plano é um desdobramento
desse, ou seja, existem escolas, hospitais, delegacias e
cada espírito sabe o que deve fazer. No plano espiritual,
18
Disponível em: <https://www.uniterreiros.com.br/>.
19
Disponível em: <https://youtu.be/_3xc-fyqd0E>.

111
MINHA VIDA NA UMBANDA

os espíritos têm consciência das pessoas que passaram


por suas vidas e as reconhece, essa consciência não viria
para o momento do encarne, para que ele pudesse ter
novas oportunidades, com decisões livres de traumas e
experiências do passado.
Quando encarnado, as ações guiarão o tamanho da
evolução do espírito. Isso influenciará nas outras vidas
e no período em que ele ficará no plano espiritual. (...)
A morte, apesar de ser um momento muito difícil para
quem fica, é uma libertação das limitações corpóreas
para o espírito, como complementa o presidente. “Na
nossa cultura atual, choramos pelo luto, pela passagem,
temos um conceito de que a morte é ruim, quando na
realidade, com a nossa leitura espiritual, ela não é, mas
sim uma libertação, o fim de um ciclo e o recomeço de
outro”.
Quando um fiel passa pelo momento de luto, a Umbanda
lhes ampara com ações específicas, como explica
Peixoto. “A questão do luto é acolhida nas sessões de
atendimento, nas conversas com as entidades, Pretos-
Velhos, Caboclos, Crianças e também com os Exús
e Pombagiras, chamados por nós, Guardiões. Esses
espíritos de Luz são a linha de frente, os representantes
em terra, da força pura da natureza. Durante essas
consultas o luto vai sendo tratado”. Porém, em casos
mais graves, quando este método não funciona, é
realizado o segundo grau de trabalho, como reforça
Peixoto. “Temos o segundo grau de trabalho, chamado
tratamento de processo obsessivo. Sabemos que as
relações de vida e de morte às vezes criam laços, muitas
vezes, conflituosos e os espíritos ficam atados por essas
energias. Esse processo de luto não é somente para quem
fica, mas também para quem vai e às vezes é necessária
uma força maior para a libertação desses laços”. (...)20
Concluindo, cito as palavras do Caboclo Sete Folhas
em atendimento a um consulente que havia acabado de
perder um familiar, em que ele dizia: “Sinta a ausência
20
Disponível em <Abyny Homenagens | Compreenda a morte pelo olhar da Umbanda>.

112
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

do ente que se foi, mas não viva a dor de sua partida”,


deixando claro que a recordação sadia deve se fazer
presente naturalmente, mas a revolta, o inconformismo
e o sofrer excessivo são sentimentos prejudiciais tanto
para o ente que se foi quanto para os que aqui ficaram.
É interessante refletirmos sobre nossa trajetória na Umbanda,
principalmente quando olhamos ao lado e vemos novos médiuns
sendo designados para o trabalho espiritual e se tornando filhos,
assim como acontecera conosco, tempos atrás. A experiência
que o jovem umbandista vive hoje é semelhante a que vivemos
há alguns anos em nossa iniciação. As inseguranças, receios,
vergonhas, dificuldades, preconceitos e dúvidas, são as mesmas
que surgiram em nosso passado, como imagens de um mesmo
espelho. Essas dúvidas diminuem a partir do momento em que
o médium amadurece, mas sempre haverá outras mais, devido à
complexidade de nossa doutrina e do pouco tempo que dispomos
e dedicamos à religião. Ainda esclarecendo algumas questões,
destaco abaixo, sete perguntas elaboradas por jovens irmãos.
1. O QUE É FECHAMENTO DE CORPO?
É um ato na Umbanda que fortalece a energia dos nossos
guardiões, criando ao redor de nossa aura21 um escudo
blindado, que nos protege das energias negativas e
maléficas. Durante o ato, os filhos da corrente sentem
sensações diversas, pois, primeiro é feita a busca e
limpeza no íntimo de cada um eliminando as dores,
temores, falhas e mágoas de origem espiritual, para
depois, fechar a corrente protetora.

2. O QUE SÃO PONTOS RISCADOS?


São os pontos de força da entidade que está em terra;
ela risca no chão com a Pemba22 (geralmente branca)
seus símbolos mágicos, de onde vem e de qual falange
pertence. Cada desenho no ponto riscado tem um
21
Espécie de radiação luminosa e invisível que envolve o corpo humano e de outros
seres.
22
Giz de formato cônico-arredondado feito de calcário. Apresenta-se em diferentes co-
res e é usado ritualisticamente em várias religiões afro-brasileiras. Sua principal função
nos rituais é a escrita do ponto riscado. Usa-se também o pó de pemba em rituais espe-
cíficos.

113
MINHA VIDA NA UMBANDA

significado e uma utilização: ele pode retirar do


local energias ruins, ele pode promover purificações,
inversões de energias, ou retornos das magias negativas.
Pontos riscados são verdadeiros portais por onde são
levados todos os males que o consulente tem e estão
ligados ao astral, podendo atrair ou repelir energias.23

3. O QUE SIGNIFICA FIRMAR PONTO?


Significa cantar o ponto relacionado a entidade que está
se manifestando naquele momento, potencializando
as energias e firmando os Guias durante a corrente
espiritual. O Ponto Firmado pode ser apenas cantado
como também riscado ou a combinação de ambos.
Significa também quando o Guia dá seu ponto cantado
e/ou riscado, como prova de identidade.

4. O MÉDIUM PODE IR AO BANHEIRO QUANDO


INCORPORADO?
Durante a incorporação, o corpo físico do médium
se encontra plenamente ativo, manifestando todas
as sensações e necessidades naturais que qualquer
pessoa normalmente sente, como frio, calor, sede
ou fome, além das necessidades fisiológicas. Nesse
caso, a própria entidade poderá solicitar para que um
cambono auxilie o médium a sair temporariamente de
seu transe mediúnico, deixando-o livre para saciar suas
necessidades, retornando em seguida, à gira.

5. SE EU NÃO DESENVOLVER A MEDIUNIDADE,


MINHA VIDA VAI DESANDAR?
Não. Assim como não é verdade que a vida da pessoa irá
para frente se ela entrar para a Umbanda. Ao frequentar
um terreiro, o indivíduo inicia seu desenvolvimento
mediúnico e, consequentemente, seu processo evolutivo,
conduzido pelos seus Guias e Espíritos de Luz. A partir
do momento em que esse processo é interrompido,
poderão surgir as dificuldades e obstáculos que outrora
23
Disponível em: Apostila ABESMA, 2020.

114
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

prejudicavam sua vida, e isso ocorrerá não porque ele


deixou a Umbanda, e sim porque abandonou suas
práticas do bem, da caridade, da ajuda ao próximo e
sua própria evolução espiritual. Nossos atos sempre
gerarão consequências, e as escolhas competem a cada
um. Assim como toda religião, a Umbanda é apenas a
oportunidade e o meio através do qual cada indivíduo
poderá colocar em prática o melhor de si.
Segundo Alexandre Cumino, (...) A mediunidade não
amarra ninguém, não desanda a vida e muito menos
castiga quem não quer vivê-la. Ela é uma manifestação
de um dos seus sentidos e, como bem colocou Pai
Rubens Saraceni no livro Fundamentos Doutrinários
de Umbanda, “muita gente diz que a mediunidade é uma
missão bonita, mas se você não cumprir essa missão será
punido. Mas, se a mediunidade é uma missão bonita,
então não pode haver punição para quem não praticá-
la.” (...)

6. O QUE SE ENTENDE POR ENCARNAÇÃO,


DESENCARNAÇÃO E REENCARNAÇÃO?
Encarnação – Quando o espírito torna-se carne; o
espírito encarna no plano físico, renascendo num novo
ciclo de existência. Refere-se também a uma encarnação
específica, como por exemplo, o caboclo que foi médico
em sua quarta encarnação.
Reencarnação - As vezes que o espírito retorna,
encarnando novamente. O objetivo da reencarnação na
Umbanda é o aprimoramento e a evolução espiritual.
Desencarnação – Também conhecido como desencarne,
é quando o espírito deixa o corpo físico e transcende ao
plano espiritual.

7. MAL OLHADO, OLHO GORDO E INVEJA EXISTEM


REALMENTE?
Estamos expostos em nosso dia a dia a todo tipo de
energia, seja positiva ou negativa. Energias positivas

115
MINHA VIDA NA UMBANDA

curam e trazem o bem quando resultam de boa intenção


ou de mediunidade desenvolvida, harmoniosa e de
vibração positiva. Mas as energias negativas, conhecidas
como mau olhado e olho gordo, típicos de pessoas
invejosas, insatisfeitas e maldosas, podem prejudicar ou
causar o desequilíbrio na vida de muitos. Nesse caso, os
olhos canalizam essas energias inferiores e as emitem
através do desejo de possuir o que outros possuem, como
bens materiais, felicidade, saúde ou status, provocando
a inveja e a cobiça. Todo cuidado é pouco para não nos
expormos a estas energias, preservando e protegendo
nosso corpo.
A conexão espiritual é nossa arma mais forte contra
essas energias destrutivas, por isso, a oração diária, as
firmezas semanais para nosso Divino Anjo Protetor,
além dos eventuais passes energéticos e banhos de
descarrego promovidos nos terreiros de Umbanda e
o uso de amuletos e patuás, são indispensáveis para a
nossa preservação e proteção.
Os Orixás na Umbanda são as Divindades responsáveis pelo
amparo e evolução de todos os seres viventes. São os raios sa-
grados emanados por Olorum; são seres supremos responsáveis
pelas Linhas Sagradas na Umbanda e que irradiam sua energia
através de suas falanges que se manifestam em terra, embora sem
nunca incorporar em nossos terreiros.
Reproduzo abaixo um trecho do texto extraído do livro Orixás:
Teogonia de Umbanda24, de Rubens Saraceni, que conceitualiza o
termo Orixá com muita clareza.
(...) A Umbanda é uma religião e como tal tem sua teogonia25
fundamentada em Deus e em suas divindades, em Olorum e nos
orixás. Olorum é o Divino Criador de tudo o que existe e está em
tudo o que criou. Já os orixás são em si mesmos as qualidades
divinas manifestadas pelas individualizações do Divino Criador.
(...) Logo, a Umbanda não é politeísta26 porque entende que cada
orixá é apenas a divindade responsável por uma parte da criação, é a
24
Orixás: Teogonia de Umbanda, São Paulo: Madras, 2002.
25
Conjunto de divindades cujo culto constitui o sistema religioso de um povo; genea-
logia dos deuses.
26
Sistema ou crença religiosa que admite mais de um deus.

116
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

manifestadora de uma qualidade do Criador e é a aplicadora de um


dos aspectos divinos na vida dos seres, das criaturas e das espécies. Os
orixás não são deuses, mas sim divindades de Deus, e não chamam
para si o fim último dos seres, mas tão-somente os amparam até que
evoluam, desenvolvam seus dons naturais, alcancem seus fins em
Deus e tornem-se, também, manifestadores das qualidades divinas
d’Ele. (...) E assim, pelas qualidades de Deus, vão surgindo as suas
divindades, que na Umbanda são denominadas orixás, os Senhores
do Alto ou dos níveis superiores da Criação, assim como são os
senhores do orí (da cabeça) dos seus filhos. (...)
QUANTOS E QUAIS SÃO OS ORIXÁS NA UMBANDA?
Existem mais de 400 Orixás na mitologia iorubá, mas no
Brasil apenas 16 são mais conhecidos e cultuados dentro
dos terreiros de Umbanda, podendo haver diferenças de
uma casa para outra. Em nosso terreiro cultuamos:
OXALÁ – Orixá supremo na Umbanda, responsável
pela criação do mundo e do homem; líder de todas as
Linhas Sagradas e Pai de todos os Orixás da Umbanda.
Os trabalhos na Linha de Oxalá buscam sempre a paz
e a harmonia. Possui duas qualidades básicas: Oxalufã
(Oxalá velho) e Oxaguiã (Oxalá jovem). Seu dia da
semana é sexta-feira e sua cor é a branca. Seus símbolos
são o cajado, o algodão e o pombo branco. Reino: Toda a
Terra, principalmente no céu.
IEMANJÁ – É a mãe de todos na Umbanda. Representa
a maternidade e a unidade familiar. Rainha das águas,
mares, marés, ondas e da vida marinha em geral. Seu
dia da semana é sábado e suas cores, azul claro, prata
e pérola. Simbolizada por espelhos, estrelas do mar e
peixes. Reino: mar; superfície e fundo.
NANÃ BURUQUÊ – É a mais antiga dos Orixás.
Associada às águas paradas e à lama, é senhora da vida e
da morte. Seu símbolo é o ibiri (feixe de ramos de folha
de palmeiras enfeitada com búzios), seu dia da semana
é sábado e sua cor é o roxo. Reino: Manguezal; lodo dos
pântanos.

117
MINHA VIDA NA UMBANDA

OGUM – É a Divindade das guerras que comanda as


linhas de defesa; Orixá do sangue que sustenta o corpo,
da espada, da forja e do ferro. Senhor dos caminhos e
das ferrovias, é o responsável maior pela vitória contra
as demandas. Sincretizado com São Jorge, seu dia
da semana é terça-feira e a espada e a lança são seus
símbolos. Reino: Autoestradas e ferrovias.
OXÓSSI – Exímio caçador de lança certeira e patrono
da Linha dos Caboclos, é ligado à floresta, às árvores,
aos antepassados. Rege a lavoura e a agricultura. Seu dia
da semana é quinta-feira e seus símbolos são o arco e a
flecha. Reino: Matas e florestas.
XANGÔ – Divindade que rege o fogo, o trovão, os
raios. Sua Lei é como a rocha, dura, justa e cega. Orixá
da Justiça representa a vida, a sensualidade, a paixão
e a virilidade. Seu machado conhecido como oxê é seu
símbolo e representa a ideia de que todo fato tem, ao
menos, dois lados, duas versões, que devem ser pesadas
e avaliadas. Seu dia da semana é quarta-feira.
IANSÃ – Senhora dos ventos, guerreira que comanda
os raios, tempestades e trovões. Audaciosa, poderosa
e autoritária, é também senhora dos espíritos
desencarnados (eguns).
É simbolizada pelos raios ou rabo de cavalo e seu dia da
semana é quarta-feira.
OXUM – Orixá da fertilidade, do amor e do ouro. Senhora
das águas doces dos rios, das águas quase paradas das
lagoas não pantanosas, das cachoeiras e também da
beira-mar. Perfumes, jóias, colares e espelhos refletem
sua graça e beleza. Seus símbolos são coração e espelhos,
e seu dia da semana é sábado.
OBALUAÊ – Orixá responsável pelas passagens de plano
para plano, de dimensão para dimensão, é também
conhecido como Omulú, em sua manifestação mais
velha. É responsável pela saúde e pelas doenças e possui
estreita ligação com a morte. Conhecido como médico
dos pobres, seu símbolo é o xaxará com o qual afasta

118
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

as enfermidades, trazendo a cura. Seu dia da semana é


segunda-feira.
Outros Orixás como Oxumaré, Obá, Tempo, Ossaim,
Orunmilá, Logunedé e Euá, dentre outros, são também
cultuados em diversos terreiros de Umbanda.

A UMBANDA E A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

A influência cultural das religiões de matrizes africanas se


mostra desde sempre presente, não só nos instrumentos musicais
aqui utilizados como agogô, berimbau, reco-reco, tambor, afoxé,
atabaque, ganzá, dentre outros, mas também e principalmente, na
diversidade rítmica e melódica que compõem nossa música po-
pular brasileira. Muito embora presente noutros ritmos brasilei-
ros como maracatú, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada, maxixe
ou maculelê, o herdeiro mais popular dessa influência ainda é o
samba. Esses elementos também aparecem em nossa música atual,
nos vários estilos musicais como rock, rap, indie, funk ou hip hop.
A compositora, cantora e percussionista Alessandra Leão27,
comenta: “Essas religiões de matriz africana e indígena têm uma
relação bastante singular com a música, porque nelas a música
nunca tem um papel secundário nos rituais e celebrações. É a
música que conduz e sustenta a maior parte dos trabalhos, sendo
fundamental para o transe, para a conexão e comunicação com
o sagrado. (...) Para além dos rituais, a música de terreiro é de
suma importância na formação cultural do Brasil, tanto quando
se apresenta de maneira mais próxima à realizada nos terreiros,
quanto quando influencia outros gêneros musicais, seja por meio
dos ritmos ou de caminhos melódicos e poéticos.”
Muitos dos chamados pontos cantados nos terreiros de Um-
banda e Candomblé foram gravados por inúmeros artistas de nos-
sa MPB, revelando um nicho significativo na indústria fonográfi-
ca, voltado para essa temática afro-religiosa. João Bosco, Vinícius
de Moraes, Jorge Ben Jor, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Cae-
tano Veloso, Maria Bethânia, Clementina de Jesus, Beth Carvalho,
Clara Nunes, Gilberto Gil além de novos artistas como Rappa,
27
Texto de divulgação sobre o disco “Macumbas e Catimbós”, lançado em maio de 2019
pela gravadora YB Music, indicado ao Grammy Latino como Melhor Álbum de Música
Regional ou de Raízes Brasileiras.

119
MINHA VIDA NA UMBANDA

Baco Exú do Blues, Metá Metá, MC Tha, Marilene de Castro, Rita


Benneditto e Luiza Lian, dentre outros, têm gravado com grande
frequência músicas de origem afro-religiosas, levando um pouco
de nossa cultura para fora de nossos terreiros.
Aos interessados, o site KBoing28 disponibiliza gratuitamente
diversas obras nesse estilo, com áudio, letra completa e opção de
salvamento em playlist.
Um fato tão comum na vida de todo umbandista que ocor-
re inevitavelmente ao fim de toda gira, seja de desenvolvimento
ou de consulta, é, pela necessidade de nos mantermos descalços
durante os trabalhos realizados no terreiro, apresentarmos os pés
sujos. Fiz questão de incluir nessa obra esse belo texto, de autoria
do escritor Pablo de Salamanca, o qual reproduzo abaixo.

PÉS SUJOS: UMA MENSAGEM DE PAI CIPRIANO29

Naquela tarde eu voltava de um trabalho de Umbanda, com cer-


to cansaço, após tantas tarefas. Entrei no banheiro, em ritmo lento,
ainda pensando nas várias atividades desenvolvidas. Ao entrar de-
baixo do chuveiro, que tinha uma boa água quente, pensei: “Vou
esfregar bem esses meus pés. Não gosto deles assim, tão sujos!” Ali,
passei vigorosamente uma bucha com sabão, até tirar todo o pó e a
fuligem típicos de um terreiro, após uma sessão umbandista.
Então, num dado momento, ouvi o preto-velho dizendo: “Seus
pés ficam sujos, mas seus caminhos estão ficando limpos.” Não en-
tendi exatamente o que ele quis me passar naquele momento, mas
guardei sua frase na minha mente.
Alguns dias se passaram e, às vezes, a frase de Pai Cipriano ain-
da me voltava à memória. Eu senti que meu entendimento estava
incompleto e, dessa forma, emiti um desejo de compreender me-
lhor. Então, quando surgiu uma oportunidade, em atendimento aos
meus pedidos mentais, houve uma nova aproximação do preto-ve-
lho, para trazer um esclarecimento mais profundo. Ele me passou as
explicações, que estão expressas na sequência.
“No passado, muitas pessoas dedicaram-se à magia, movidas
28
Disponível em: <https://www.kboing.com.br/radio-show/playlis-
ts/1939773/2973177/>.
29
Disponível em: <https://www.facebook.com/sabedoriadeumbandaoficial/pos-
ts/1004676466354902/>.

120
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

por interesses próprios, que nada mais eram que suas paixões, fome
de poder e de riqueza material. Não viam seu semelhante como ir-
mão de jornada, na estrada da vida. Em boa parte das vezes, esses
“bruxos” ou “feiticeiros” apenas se utilizaram do conhecimento das
forças da natureza, para manipular outras pessoas e tirar proveito,
prejudicando àqueles a quem deveriam considerar como irmãos.
Assim, nesta caminhada egoísta, cheios de vaidade e orgulho, foram
sujando a estrada percorrida, a cada passo, a cada vida. Diversos
conhecedores da magia foram deixando rastros de dor, sangue e re-
volta, ou seja, os caminhos percorridos ficaram muito sujos.
Hoje, muitos desses antigos magistas estão reencarnados como
médiuns umbandistas, para prestar a caridade. Assim, quando vejo
que um trabalhador espiritual da Umbanda volta para casa suado,
cansado e com os pés sujos, meu coração se alegra. E junto comigo,
outros pretos-velhos, também antigos praticantes da magia, nem
sempre positiva, ficamos felizes, pois amparamos àqueles que erra-
ram como nós.
É preciso limpar a estrada que, aparentemente, ficou para trás.
Então, meu filho, quando chegar em casa com os pés sujos, devido ao
trabalho umbandista, repare bem que seus pés ajudaram a limpar
um pouco a sujeira que espalhou no passado. Seus caminhos estão
ficando limpos.”
Ao terminar o influxo psicográfico do conteúdo passado por Pai
Cipriano, fiquei satisfeito e agradecido à entidade. Olhei a minha
volta e reparei num sabiá, que acabava de pousar a poucos metros
de distância. Eu estava debaixo de algumas árvores, sentado com o
bloco na mão, onde tinha anotado as orientações do guia. Alguns
raios de sol chegavam ao solo. Um passarinho, que não identifiquei,
cantava no alto de uma árvore. Havia verde e algumas flores a mi-
nha volta. Senti-me abençoado por aqueles instantes de paz, nessa
vida tão atribulada que vivemos hoje. Nesse contexto, espero que o
leitor que absorve este pequeno relato possa também sentir os mo-
mentos de serenidade, que agora sinto, enquanto finalizo este texto.
Salve as Almas! Axé a todos!
Como já foi falado em capítulo anterior, meu Pai de Santo veio
do Candomblé de Angola Congo e a Umbanda que praticamos
em nosso terreiro traz algumas características dessa vertente. A
prática do jogo de Búzios é um exemplo dessas influências. É

121
MINHA VIDA NA UMBANDA

através do posicionamento das conchas que se estabelece uma


comunicação direta com os Orixás. Pai Odé D’Loy utiliza o jogo
de Búzios em situações diversas, como para identificar os Orixás
de Cabeça dos Filhos da casa, apontar soluções para possíveis
dúvidas ou problemas em nosso dia a dia, ou mesmo sabermos
algo em relação a vidas regressas ou sobre nosso futuro.
O JOGO DE BÚZIOS
O jogo de Búzios teve sua origem na Turquia, e foi
difundido na África durante sua invasão. Desde a
escravidão até os dias atuais o jogo de Búzios tem sido
praticado nos diversos terreiros espalhados pelo país,
tanto de Candomblé, quanto de Umbanda. É através da
leitura interpretativa das conchas e pedras arremessadas
sobre uma mesa preparada, que as repostas às diversas
questões, sejam amorosas, financeiras, familiares ou de
saúde, formuladas pelos consulentes, são dadas pelos
Orixás.
Além de ser uma arte divinatória, o Búzios é o único jogo
que permite descobrir se alguém fez algum trabalho
espiritual, feitiço ou simpatia contra você. Dessa forma,
sob a orientação dos Orixás, ele consegue desfazer as
magias.
Em 2018 eu completava 10 anos em minha vida como Filho
de Santo e devoto de Umbanda, plenamente ciente e convicto de
minhas obrigações espirituais, muito embora o desenvolvimento
mediúnico seja uma constante em nossa religião e a prática da
caridade, nossa missão maior e objetivo de nossa fé. Hoje, percebo
com muita clareza o quanto podemos e devemos crescer através
da Umbanda, seja nas palavras e conselhos dos Pretos-Velhos tra-
zendo a sabedoria e a humildade tão necessárias em nossas vidas,
na força dos Caboclos que nos torna mais determinados e con-
fiantes no alcance de nossos objetivos ou mesmo na pureza dos
Erês, que nos proporcionam a alegria e a felicidade de viver.
Dessa maneira, quando há a dedicação e a seriedade no exercí-
cio da fé, consequentemente nos tornamos pessoas melhores. Não
melhores que outros, mas melhores que nós mesmos, melhores
do que fomos ontem, pois cada dia é uma oportunidade para nos

122
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

aprimorarmos, reconhecermos nossas falhas, aceitarmos nossos


limites e corrigirmos nossos defeitos. Essa é a real evolução que
ocorre na vida do verdadeiro filho de Umbanda e que só é vivida
se houver amor, humildade e dedicação no coração de cada um
de nós.
Relaciono abaixo quatro elementos constantemente presentes
nas práticas ritualísticas e imprescindíveis em nossa religião. São
eles: vela, água, pólvora e carvão.
1. VELAS
O uso de velas na Umbanda se faz presente devido à sua
simbologia e ao poder energético por elas emanado,
quando firmadas por meio de preces. Gera o elemento
fogo, um dos quatro elementos principais, recurso
constante nos cerimoniais umbandistas.
“As cores vibram em diferentes frequências energéticas,
e seus significados podem mudar de acordo com a
religião, a cultura, o país e as crenças pessoais. Listamos
aqui alguns dos significados associados às cores das
velas:
- A vela branca representa a pureza e sinceridade. É
utilizada para obtermos paz de espírito, harmonia,
equilíbrio em nossas casas. Acende-se quando se
deseja paz, limpeza, cura, reconciliação, harmonia e
iluminação.
- A vela vermelha deve ser acesa quando se precisa de
coragem, ânimo, determinação, força, ação, dinamismo,
vigor, proteção, conquistas e assuntos relacionados à
matéria, trabalho e dinheiro, para que se tenha triunfo e
evolução rápida dos acontecimentos.
- A vela violeta ou lilás deve ser acesa quando há
necessidade de transmutar as energias, transformar
negatividade, ter inspirações, aumentar a intuição,
combater o “stress” e acalmar-se.
- A vela laranja deve ser acesa para ter força mental,
aumentar a confiança, a criatividade, o entusiasmo, o
poder de atração e obter sucesso nos empreendimentos.

123
MINHA VIDA NA UMBANDA

- A vela rosa representa a beleza, o amor, a moralidade.


Deve ser acesa em se tratando de assuntos amorosos,
para fortificar relacionamentos afetivos. Boa cor para
realizar os desejos do campo emocional e afetivo.
- A vela verde simboliza a calma, a tranquilidade e o
equilíbrio. Deve ser acesa quando se desejar a cura física
e espiritual, fertilidade, estabilidade e abundância.
- A vela amarela deve ser acesa quando há necessidade de
cura energética, clarear a mente, abrir o intelecto, estudar,
firmar os pensamentos, desenvolver a espiritualidade e
ocorrer mudanças rápidas das situações.
- A vela azul deve ser acesa quando se deseja adquirir
calma, serenidade, sabedoria, desenvolver e trabalhar
poderes paranormais, sensitividade, intuição e ter
expansão nos projetos.
- A vela marrom simboliza a justiça. Empregada para
resolver problemas de justiça, desordem, desequilíbrios
e perturbações.” 30

2. ÁGUA
A água é muito utilizada nas religiões de matrizes
africanas. Em muitos rituais ela aparece tendo um
significado muito importante. A água está relacionada
à fecundidade, riqueza e à feminilidade. Cada Orixá
domina uma fonte própria de água como: rios, mares,
lagos e cachoeiras. Colocar água sobre a terra significa
não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue
branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que
nasce e cresce, em decorrência dos pedidos e rituais a
serem realizados. Deitar água (jogar ao chão) é iniciar
e propiciar um novo ciclo. Outro significado das águas
de Oxalá no Candomblé, em que a água é reverenciada
como elemento portador do axé da vida, é que ela é
essencial para renovar situações.
É comum, ao se chegar a uma entrada de um Terreiro,
que um filho da casa venha com uma quartinha com
30
Disponível em: Apostila ABESMA 2019, pp. 12-13.

124
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

água e despeje esta água nos lados direito e esquerdo da


entrada da casa. Este ato é para acalmar Exú e também
para despachar qualquer mal que, porventura, possa
estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água
entra como um escudo contra o mal.
Os banhos litúrgicos chamados de amacís são a junção
da energia das folhas com o força das águas. Estes banhos
são utilizados nas iniciações, limpezas espirituais,
encantamentos e prevenções de doenças. A importância
da água é um fator preponderante na Umbanda. A água
tem o poder de absorver, acumular ou descarregar
qualquer vibração, seja benéfica ou maléfica.
A água poderá concentrar uma vibração positiva ou
negativa, dependendo do seu emprego. Ao se rezar
para uma pessoa com um copo de água do lado, todo o
malefício, toda a vibração negativa dela passará para a
água do copo, tornando-a embaciada; caso não haja mal
algum, a água fica fluidificada. Nunca se deve acender
vela para o Anjo da Guarda sem ter um copo de água do
lado. A água que se apanha na cachoeira é água batida
nas pedras, nas quais vibra, crepita e livra-se de todas as
impurezas, assim como a água do mar, batida contra as
rochas e as areias da praia, também acontece o mesmo,
por isso nunca se apanha água do mar quando o mesmo
está sem ondas. A água da chuva, quando cai é benéfica,
pura, depois de cair no chão, torna-se pesada, pois, atrai
as vibrações negativas do local. A importância da água
pode ser traduzida numa única palavra: “VIDA”!
As águas utilizadas para descarrego, têm fundamento
parecido com a fumaça, sendo que a fumaça carrega as
energias consigo, similar ao vento, e a água absorve estas
energias.
As águas em copos nas ofertas significam energia vital,
e nos copos juntos às velas de Anjo da Guarda ou atrás
das portas de entrada, têm a finalidade de atrair para
si as energias que por ali passam, atraídas pela Luz ou
passando pela porta.

125
MINHA VIDA NA UMBANDA

Os copos de águas utilizados para estes fins (Anjo da


guarda ou atrás das portas) devem ser descarregados
pelo menos de 7 em 7 dias, pois senão ficarão saturados
e perderão seu poder de absorção. Esta descarga deve ser
feita em água corrente (na pia da cozinha com a torneira
aberta, por exemplo), pois simboliza movimento,
necessário para transportar as energias absorvidas por
ela. Na Umbanda, a água é um dos elementos naturais
mais receptivos com uma energia altamente condutora;
ela é utilizada nas quartinhas, nos copos de firmeza
dos Anjos de Guarda, no batismo, e em muitos rituais
da Umbanda, principalmente pelos Guias Espirituais
nos momentos onde há necessidade de realizar grande
limpeza, purificação e energização de nosso corpo
astral e de nossa casa, afinal, existem cargas e energias
maléficas que somente esse elemento natural é capaz de
desfazer, limpar e equilibrar. 31

3. PÓLVORA
É um grande fundamento da Umbanda, também
conhecida em algumas regiões como «fundanga» ou
«tuia», o chamado ponto-de-fogo é um dos mais utilizados
recursos da Umbanda. Alguns também o chamam de
“círculo de pólvora” ou “queima de fundanga”.
A prática deste ato é muito antiga e muito utilizada,
mas poucos sabem o seu significado. Primeiramente,
devemos saber qual a finalidade do uso da pólvora: o
seu principal uso é afastar, limpar e dispersar energias
negativas, espíritos obsessores da aura da pessoa ou
do ambiente em que foi queimada. É importante dizer
que todos os trabalhos com pólvora exigem muita
concentração.
Apesar de ser a pólvora a força máxima para limpeza,
seu uso deve ser restrito aos casos da mais absoluta
necessidade, sob a responsabilidade do guia-chefe,
com o auxílio, é evidente, das falanges trabalhadoras
ou evocadas. Jamais poderemos iniciar sua combustão
31
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 46.

126
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

senão com fósforos ou charutos, no caso de entidades


incorporadas.
O uso da pólvora é muito eficaz, mas deve ser feito por
uma pessoa habilitada, com conhecimento e tarimba
para tal manipulação de energia.32

4. CARVÃO
Sua principal propriedade é a absorção de fluídos de
qualquer natureza. Todas as emoções astrais são por
ele retidas, livrando os objetos e ambientes de fluídos
negativos que possam estar impregnados. Sua ação se
caracteriza pela lentidão e segurança, e o fato de agir em
estado natural obriga-nos a consagrá-lo, quando usado
em trabalhos de magia, a fim de purificá-lo. O carvão,
em seu estado natural é o símbolo da “constância” e,
em combustão, do “fervor”, pois neste estado, consegue
dissolver o mais duro dos metais. 33
Pai Odé D’Loy sempre nos passou seus ensinamentos e práticas
não só pessoalmente, mas também através de mensagens virtuais
em redes sociais, contendo definições, fundamentos, procedimen-
tos, preces, rituais, histórias, pontos e inúmeras informações a res-
peito da Umbanda e de nosso terreiro. Como sempre tive o hábito
de arquivar todo esse material, a partir de 2018 passei a reorganizar
esse conteúdo em apostilas periódicas. Sendo assim, todo material
por ele enviado, é compilado em novas apostilas em formato PDF e
enviadas gratuitamente a todos os filhos da casa, a cada ano. É im-
portante destacarmos aqui a preocupação do Pai de Santo em rela-
ção a formação doutrinária de seus filhos. Como já foi dito, é dever
de todo Filho de Santo estudar sua religião, assim como também é
de suma importância que a casa forneça recursos para tal.
O estudo dos chacras se faz importante para o aprimoramento
de nossa mediunidade, pois é através deles que nossos corpos
físico/espiritual mantêm relação energética com os mundos
físico/espiritual. Entender os 7 chacras, seus regentes, localização
e funções, são de extrema importância para a evolução de todo
umbandista.
32
Disponível em:: Apostila ABESMA 2013, p. 52.
33
Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 53.

127
MINHA VIDA NA UMBANDA

CHACRAS
Segundo Ademir Barbosa Júnior, os “chacras (rodas)
são centros de energia físico-espirituais (espalhados por
diversos pontos dos corpos físico e espiritual), que revestem
o corpo físico. Os chacras mais conhecidos são 7.”
Embora os conceitos se diversifiquem no que se refere
aos chacras e seus Orixás regentes, temos a seguinte
correspondência:
1° Chacra – Básico ou Sacro, regido por Exú / Obaluaiê
/ Pretos-Velhos. Localizado na área dos órgãos sexuais.
Sentido da Geração. Cor de vibração: vermelho.
2° Chacra – Esplênico, regido por Oxóssi. Localizado na
altura do baço. Sentido da Evolução. Cor de vibração:
amarelo.
3° Chacra – Plexo Solar ou Umbilical, regido por Ogum /
Oxum. Localizado no ventre, região do umbigo. Sentido
da Justiça ou do Equilíbrio. Cor de vibração: laranja.
4° Chacra – Cardíaco, regido por Xangô / Iansã.
Localizado na altura do coração. Sentido do Amor. Cor
de vibração: verde
5° Chacra – Laríngeo ou Cervical, regido por Xangô /
Iansã. Localizado na laringe. Sentido da Ordem (Lei
Divina). Cor de vibração: azul claro.
6° Chacra – Frontal, regido por Iemanjá / Nanã /
Iansã. Localizado entre as sobrancelhas. Sentido do
Conhecimento. Cor de vibração: índigo.
7° Chacra – Coronário ou Sublime, regido por Oxalá.
Localizado no alto da cabeça. Sentido da Fé. Cor de
vibração: violeta.
Quando em equilíbrio, os chacras trabalham alinhados,
apresentam uma cor forte e brilhante e funcionam
no sentido dos ponteiros do relógio. Quando em
desequilíbrio, tendem a mover-se em sentido contrário
ao habitual e podem reter negatividades que irão
repercutir na estrutura inclusive física da pessoa.

128
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Sou um médium semiconsciente e, como tal, não tenho a plena


noção de tudo que acontece quando meus Guias estão em terra.
Mas sei que, quando os conselhos dados durante o atendimento
servem não só ao consulente, como também ao médium, nos é
concedida a permissão para lembrarmos parcialmente do assunto
que foi tratado, e assim possamos também aprender e evoluir,
através dessas orientações e mensagens espirituais.
Um exemplo disso ocorreu comigo, numa gira de Preto-Velho,
em que um consulente comentava com Pai Thomé sobre as graças
que havia alcançado após fazer determinado trabalho. Assim dizia
ele:
Pai Thomé, não sei se foi pelo trabalho espiri-
tual em si, ou se foi coincidência, se fui eu ou
mesmo o acaso, que fez com que tudo voltasse
ao normal (...) Mas agradeço a tudo por estar
bem agora (...)
Pai Thomé observou:
Filho, quando suncê procura na Fé a solução
de seus problemas, é a Fé que traz essa solu-
ção, e todas as outras razões passam a não ser
mais consideradas. Suncê entregou aos Guias
da Umbanda, e somente a Eles serão atribuí-
dos os méritos das conquistas. Por isso, pare de
falar que “não sabe se foi isso ou aquilo” e te-
nha em mente que, lá atrás, você entregou seus
problemas pra nós, e hoje, tenha a certeza de
que fomos nós que te atendemos!
Há uma confusão por parte de muitos adeptos ou mesmo
simpatizantes de Umbanda, no que se refere as diferenças entre
Ibejis, Erês e Caboclos Mirins.
Na Umbanda, os Ibejis são vistos como Orixás e filhos de
criação de Oxum e são sincretizados por São Cosme e Damião.
Já os Erês são Guias, e são estereotipados como crianças, só que,
na verdade, eles são seres encantados e nunca passaram pela
experiência do existir humana. Os Caboclos Mirins são espíritos
de índios que desencarnaram ainda jovens, alguns trabalham na
Linha dos Caboclos, outros na Linha das Crianças.

129
MINHA VIDA NA UMBANDA

IBEJÍS34
Os gêmeos são protetores das crianças e simbolizam o
nascimento e a vida. O Ibeji Orixá é a sobrevivência da
continuidade. Na África os filhos são fonte de grande
alegria, pois eles são a garantia de que a sua história e de
sua descendência perdurará.
Os Ibejis são muito confundidos com Erês, por serem
crianças e terem os mesmos atributos de características
infantis, mas os gêmeos são na verdade uma divindade
e possuem história e missões diferentes dos Erês. A
característica dos gêmeos mais particular é o seu poder
de desfazer coisas realizadas por outros Orixás, mas algo
feito por Ibejis jamais poderá ser desfeito por nenhum
outro Orixá.
Na Umbanda, São Cosme e Damião são muito amados
e têm suas homenagens em 27 de setembro, juntamente
com Erês. Nesta data, as casas de Axé realizam suas
obrigações anuais com as Crianças da Umbanda, servem
as comidas preferidas de cada Erê e são realizados todo
tipo trabalho, em todos os níveis de energia.
“Quem é essa terceira criança no meio de Cosme e Damião?”
Você já deve ter ouvido alguém perguntar algo parecido ou ter
indagado essa mesma pergunta. Muitos desconhecem a “terceira”
criança presente nas imagens utilizadas tanto na Umbanda como
no Candomblé, sem saber seu nome, sua origem e a história deste
personagem. O nome dele é Doum, como explicado em texto pu-
blicado no Grupo de Estudos Axé de Umbanda35, o qual reproduzo
abaixo.

QUEM FOI DOUM?


(...) Em todas as lendas conhecidas, Doum é citado
como sendo irmão de São Cosme e Damião. No entanto,
algumas das lendas o consideram um terceiro gêmeo
de Cosme e Damião; enquanto em outras, Doum é
34
Disponível em <www.iquilibrio.com/blog/espiritualidade/umbanda-candomble/tu-
do-sobre-ibejis/>.
35
Disponível em <www.facebook.com/groups/1137979029681926/pos-
ts/2641016799378134>.

130
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

considerado um irmão mais novo de Cosme e Damião.


Sabe-se que São Cosme e Damião eram de família nobre
e cristã, de origem árabe. Mas, visto que não se tem
muitos registros a respeito da verdadeira história de
São Cosme e Damião, não se sabe qual das lendas sobre
Doum é a correta.
Segundo as lendas sobre esses dois santos católicos,
sincretizados com os Ibejis da Umbanda, seu irmão
Doum foi determinante para que eles decidissem se
tornar médicos. Seja gêmeo ou irmão mais novo, conta-
se que Doum faleceu por doença e por falta de médicos
que pudessem tratá-lo e curá-lo, o que levou seus irmãos
a estudar e se formar em medicina para levar tratamento
e cura a quem necessitava. (...)

ERÊS
“Reside no ponto exato entre a consciência da pessoa e
a inconsciência do Orixá. No Candomblé, é através dos
Erês que o Orixá expressa sua vontade e que o médium
aprende as coisas fundamentais, como as danças e os
ritos específicos de seu Orixá.
A palavra Erê vem do iorubá erê, que significa brincar.
Daí a expressão siré, que significa fazer brincadeiras,
boa ação ou favor.
Os Erês são de suma importância pois são eles que,
muitas das vezes, trarão as várias mensagens do Orixá.
Esses seres de Luz trazem a energia de renovação,
enchem as almas de esperança e empolgação por tudo
que é novo, pois eles sabem que são nas incertezas que
podemos encontrar as melhores respostas.
Esses encantados têm seus espíritos como os de
qualquer criança, esbanjam disposição e sinceridade e
por isso, necessitam de pessoas que os possam controlar
sabiamente, para que eles consigam se concentrar na
missão a qual foram enviados.
Além de doces, eles também adoram brinquedos que

131
MINHA VIDA NA UMBANDA

correspondem à sua linha de atuação. Muitos deles


passam a gira abraçados com bonecas, carrinhos,
barcos, montados em cavalinhos, usando espelhinhos,
chupando chupetas ou até mesmo os dedos.
Erês não gostam de choro, farão de tudo para te ver sorrir,
e suas orientações serão todas voltadas a caminhos que
te levarão às conquistas e realizações.
Na Umbanda, os Erês como Guias, dão passes para
aqueles que vão em procura de sua sabedoria e proteção,
eles enchem o terreiro de alegria e todos saem muito
mais motivados, com as energias renovadas. Uma festa
de Erê promete transmitir uma energia única para
quem a frequenta, é realmente um banho de renovação
e ânimo para todos que os buscam.”36

CABOCLOS MIRINS
“Os Caboclos Mirins são espíritos de índios que
desencarnaram ainda crianças, embora haja exceções.
Alguns trabalham na Linha dos Caboclos, outros
preferem vir sob a regência da Linha das Crianças. Esses
espíritos quando se manifestam em terra, são sempre
requisitados para a cura, pois são crianças muito sábias,
não gostam tanto de brincar e comer doces como as
outras crianças, o que os tornam um pouco diferentes
das demais.
Todo e qualquer espírito desta Linha é detentor de
grandes encargos espirituais, apesar da aparência astral
infantil, são grandes sábios e estão sempre prontos para
ajudar. Sua vibração é mais parecida com a dos Caboclos
e gostam de estar na companhia deles.
Alguns Caboclos Mirins vêm na vibração do Orixá
Oxóssi, mas muitos fazem entrecruzamento com outros
Orixás, principalmente com o Orixá Xangô.”37
Como dito anteriormente, nossas giras de cura acontecem às
segundas-feiras, com a presença dos Filhos da Casa e da assistência.
36
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 68.
37
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 55.

132
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Durante a corrente mediúnica, médicos do astral trabalham em


prol da saúde de todos que ali se encontram e que sofrem das mais
variadas enfermidades.
Essas entidades são, em sua maioria, espíritos que exerceram
a medicina em suas últimas encarnações. Alguns se apresentam
com os nomes de sua última existência, outros com nomes sim-
bólicos, formando inúmeras falanges de trabalho.
Finalizando este capítulo, reproduzo abaixo um texto muito es-
clarecedor sobre o assunto, de Renato C. de Almeida38.
MÉDICOS NA UMBANDA39
(...) A corrente dos médicos não é formalmente
uma linha ou falange de “Guias de Umbanda”, mas
sim, uma corrente que se associou ao trabalho da
Umbanda, onde encontrou mais uma oportunidade em
ajudar e transmitir seus conhecimentos. (...) Quando
incorporados, em comparação com a forma de trabalho
das demais correntes que atuam na Umbanda, sua
manifestação, normalmente, é muito suave e tranquila,
pois possuem uma energia mais sutil, o que faz com que
sua ligação com o médium incorporante seja mais tênue,
levando os médiuns menos habituados ao trabalho com
os doutores a terem um pouco mais de dificuldade na
firmeza da incorporação. (...) Atuam em grande número
e intensamente junto às equipes médicas da terra, em
hospitais, consultórios e centros cirúrgicos, operando
equipamentos etéricos e auxiliando no trabalho
dos médicos encarnados, inclusive em pesquisas e
desenvolvimento de novos medicamentos e tecnologias
para o auxílio dos enfermos deste plano. Apesar de
todos os guias poderem trabalhar em processos de
cura, cuidar da saúde física e mental dos encarnados e
desencarnados é a especialidade dos médicos do astral
e as cirurgias são uma das suas formas de trabalho mais
marcantes. O Dr. Bezerra de Menezes, muito conhecido
pelos irmãos Kardecistas por seu trabalho desde quando
38
Renato Chiappim de Almeida, escritor, advogado e umbandista, responsável junto
com Cleber Quichimbi pelo site Pensando Umbanda.
39
Disponível em: <www.pensandoumbanda.com>.

133
MINHA VIDA NA UMBANDA

encarnado, é considerado um dos grandes líderes


das correntes médicas do astral, mas há um número
incontável de mestres que atuam nesta bendita tarefa.
Seu trabalho é muito simples e se baseia na atuação
sobre os corpos sutis do consulente para que, então, a
matéria após se amolde ao corpo sutil, enfraquecendo as
moléstias e fortalecendo o corpo físico que, ao final do
processo, poderá se recuperar, sempre atuando de forma
conjunta e aliada aos tratamentos da medicina terrena.
O trabalho dos médicos do astral se funda no amor e na
caridade e seus trabalhadores são abnegados tarefeiros
que estão prontos e de braços abertos para acolher e
auxiliar a todos que deles necessitam, indistintamente.

134
Capítulo VI
A MATURIDADE

Foto: Autor
6
CAPÍTULO

A MATURIDADE

N
esse sexto capítulo, além de minha jornada espiritual,
falaremos um pouco sobre a Esquerda na Umbanda
e seus fundamentos, e das muitas dúvidas que envol-
vem esse controverso e, para alguns leigos, “temido”
assunto. Mesmo assim, foi necessário um capítulo
inteiro reservado a esse tema tão polêmico, devido à sua enor-
me complexidade e às várias interpretações errôneas que até hoje
promovem opiniões equivocadas, preconceituosas, tendenciosas
e deturpadas sobre essa Linha tão essencial em nossa religião. Afi-
nal, como reza o antigo provérbio, “Sem Exú não se faz nada.”

O QUE SIGNIFICA A ESQUERDA NA UMBANDA?


Em várias religiões ou mesmo na política, o conceito
de esquerdo/esquerda possui, para muitos, um sentido
negativo, sombrio ou até nocivo. Houve um tempo em

137
MINHA VIDA NA UMBANDA

que, durante uma missa católica, se uma pessoa fizesse o


santo sinal com a mão esquerda, era considerada devota
do diabo e praticante de magia negra. Na Idade Média,
pessoas canhotas eram vistas sob suspeitas por boa parte
do clero. No cristianismo, o demônio era conhecido
como “o Canhoto”. Em italiano, as palavras esquerdo/
esquerda são traduzidas como sinistro/sinistra, o que
nos remete a algo obscuro. A esquerda na política se
refere ao lado da oposição, antagônico, extremista e
polêmico. Percebemos assim que a conotação atribuída
a certas palavras, pode trazer interpretações diferentes
de seu real significado. Dentro da concepção religiosa,
a esquerda é apenas o oposto complementar da direita.
Esquerda e direita significam sentidos opostos, lados
contrários, caminhos adversos, vias divergentes. Temos
que abandonar de uma vez esse conceito que associa a
esquerda a algo profano ou diabólico. Na Umbanda,
a Esquerda é a Linha de trabalho em que atuam os
chamados guardiões, nossos Exús, Pombagiras e suas
falanges. Por atuarem no plano negativo (o conceito
de negativo aqui aplicado não possui conotação moral
ou de desvalor, mas se refere ao plano de atuação)
como combatentes do mal, auxiliam em descarregos
e desobsessões, encaminhando espíritos perdidos ou
quiumbas para a Luz, reabilitando-os e promovendo a
evolução de cada um. A chamada Esquerda na Umbanda
é formada por uma infinidade de espíritos caridosos,
agentes incansáveis que levam Luz às trevas, regendo
tudo que é material, físico e carnal como dinheiro,
fertilidade, prazer, festividade e fartura. Por trabalharem
com causas mais ligadas aos assuntos terrenos, temos
uma maior identificação e empatia com essas entidades.
Como Janaína A. Corral observa, [...] os espíritos da
Esquerda vêm a Terra para zelar por uma vida material
plena, que deve sempre andar em equilíbrio com a vida
espiritual. [...]1

1
Disponível em: O Livro da Esquerda na Umbanda, p. 23. Universo dos Livros, São
Paulo, 2010.

138
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

QUEM SÃO EXÚ E POMBAGIRA NA UMBANDA?


“Exú, diferente de todos os preconceitos que sofre sobre
ser uma entidade maléfica, não o é. Exú é o mensageiro
dos Orixás. É o canal medianeiro entre o mundo dos
vivos e dos mortos, conhecedor de todos os mistérios, é
ele quem guarda os caminhos dos homens. Senhor das
encruzilhadas, das esquinas e vielas, Exú é o destemido
e traquinas filho da luz e da escuridão. Conhecedor do
bem e do mal, é ele quem desfaz as energias malignas,
descarregos e dá força para a caminhada espiritual dos
filhos de Umbanda. Visto no Candomblé como entidade
única, dizemos “O Exú”, enquanto força individual. Já na
Umbanda existem vários tipos de Exús, uma falange que
trabalha associada à Oxalá e aos demais Orixás. A Exú é
dada a missão de ser sentinela dos caminhos humanos
e força de movimento das ações na Terra. Onde há
movimento, há Exú! Sabemos que, como representa as
duas forças, em determinadas casas espirituais, alguns
dirigentes fazem trabalhos e feitiços tanto para as forças
do bem, quanto para forças do mal, mas Exú sempre
trabalhará na via do bem, e fique claro que: EXÚ É
FORÇA QUE CAMINHA COM DEUS, EM LUZ E EM
VERDADE, EM PROL DO AMOR E DA CARIDADE!
Uma verdadeira casa de Umbanda deverá respeitar as
qualidades de Exú e trabalhar sempre na linha do bem,
abominando as práticas equivocadas de alguns Chefes de
terreiro desorientados, vaidosos e que não correspondem
aos ensinamentos desses incansáveis guardiões.
O cumprimento a Exú é, entre outros, “LAROYÊ EXÚ!
EXÚ OMOJUBÁ! KOBALARÔ SENHOR EXÚ! SALVE!”
E pode-se saudá-lo quando quiser, só não se recomenda
após a meia noite dentro de casa, mas na rua, sempre
que precisarmos da força destes amigos da Luz!”2
“Conhecida como Pomba Gira, Pombagira, Pombogira,
Bombo Gira, seu nome deriva de Pambu Njila, como é
conhecida em Angola.
Na Umbanda, sua visão mais ampla da vida e dos instintos
2
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 65.

139
MINHA VIDA NA UMBANDA

humanos, as tornam dominadoras no campo em que


se manifestam, passando suas mensagens sempre com
muito crédito e fácil compreensão. Elas realizam curas
até mesmo de enfermidades dadas como incuráveis,
desmancham trabalhos de magia negra, resolvem
problemas, nos dão conselhos preciosos de como bem
dirigir nossas vidas, enfim, fazem tudo pelas pessoas
bem-intencionadas que as procuram para a prática da
caridade. É uma pena que ainda existam pessoas que as
procuram somente para desmanchar relacionamentos
amorosos ou conquistar alguém.”3

QUAIS AS FALANGES QUE ATUAM NA LINHA DA


ESQUERDA?
(...) Existem estudos que comprovam a existência de
mais de 77 Falanges de Exú. Essas falanges são aquelas
que se incorporam nos médiuns e se manifestam nas
consultas e atendimentos durante as Giras.
Algumas Falanges são subdivididas, como:
FALANGE DE TRANCA RUAS:
- Das Almas;
- Da Encruzilhada;
- Guardião;
- Sentinelas;
- Quimbandeiro.
Obs.: Quando falamos em Tranca Ruas, não estamos
falando que ele fecha as ruas (logradouro, avenida),
mas sim os caminhos, as vias e os meios espirituais de
energia maligna, de espíritos obsessores.
FALANGE DE SETE ENCRUZILHADAS:
- Das Almas;
- Das Matas;
- Das Estradas.
3
Disponível em: Apostila ABESMA 2019, p. 08.

140
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Obs.: Encruzilhada para nós não é somente o cruzamento


de duas ruas. É o eixo central de onde Exú observa todos
os caminhos da humanidade.
FALANGE DE MARIA PADILHA:
- Das Almas;
- Cigana;
- Do Oriente;
- Da Encruzilhada.
Algumas Falanges chegam a ter mais de 70 mil
falangeiros.
Falangeiros são espíritos desencarnados que foram
acolhidos por uma Falange para trabalharem na
Umbanda Sagrada, sob o comando do chefe da Falange.
(...)4

Quando o assunto se refere a Esquerda e tudo que a envolve,


as questões e incertezas são tantas que fica difícil relacioná-las em
tão poucas linhas. Contudo, não é nossa intenção nos aprofun-
darmos sobre o tema, mesmo porque grandes e inúmeras obras já
foram escritas abordando de uma maneira muito mais aprofun-
dada e abrangente esse mesmo assunto. Nosso propósito é relatar
as dúvidas mais frequentes vividas tanto pelos filhos recém-che-
gados, como também pelos médiuns mais experientes. Para tal,
destaco a seguir algumas questões constantemente formuladas em
nosso terreiro.

1. EXÚ É O DIABO?
(...) Satanás é caracterizado como vilão dos céus e de
toda bondade, responsável pela incitação do pecado e da
luxúria desmedida; é o rei do inferno. (...) Exú é descrito,
em várias de suas lendas, como impiedoso, cruel, de
temperamento difícil e trapaceiro, entretanto essas
características apenas foram fabricadas para amedrontar
os descrentes e as tribos rivais daqueles que o cultuam.
(...) Em 313, Constantino, imperador romano, publicou
4
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 67.

141
MINHA VIDA NA UMBANDA

o Edito de Milão, no qual era assegurado o fim das


perseguições contra os cristãos e, em 391, o Cristianismo
transformou-se na religião oficial do Império Romano e
iniciou seu processo de expansão. Caso invertêssemos
a moeda e fossem os espíritos ancestrais africanos no
lugar dos seguidores de Cristo, não há dúvidas que nos
dias de hoje veríamos terreiros a cada esquina e uma ou
duas igrejas bem escondidas.
A colonização trouxe o inferno à África em nome de
Deus, arrancou a vida e a escravizou, regozijou-se no
mar de lágrimas dos negros já moribundos e sem terras
para onde voltar, banalizou as crenças divergentes
apenas pelo prazer de sentir-se superior. Aqueles que
orgulhosamente alegavam erradicar o mal foram a
personificação perfeita de Satanás.
O Guia Espiritual Exú e o próprio Orixá continuam
a acompanhar seus filhos, mesmo que ambos sejam
rejeitados, insultados ou ignorados, pois o que os move
é o amor profundo por seus frágeis companheiros
encarnados que ainda buscam redenção.5

2. POMBOGIRA É PROSTITUTA?
“Se Exú já é mal interpretado, confundindo-o com o
Diabo, quem dirá a Pomba-Gira? Dizem que Pomba-
Gira é uma mulher da rua, uma prostituta. Que Pomba-
Gira é mulher de Sete Exús! As distorções e preconceitos
são características dos seres humanos, quando eles
não entendem corretamente algo, querendo trazer ou
materializar conceitos abstratos, distorcendo-os.
Pomba-Gira é um Exú Feminino, não são prostitutas.
Na verdade, dos Sete Exús Chefes de Legião – do Sétimo
Grau, apenas um Exú é feminino, ou seja, ocorreu uma
inversão destes conceitos, dizendo que a Pomba-Gira é
mulher de Sete Exús.
Dentro da hierarquia do Exú Feminino (Pomba-Gira),
estão divididas em níveis diversas outras Pombas-Giras,
5
Disponível em: <www.aldeiadecaboclos.com.br/exu-e-o-diabo>.

142
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

da mesma forma que as demais falanges. É claro que em


alguns casos, podem ocorrer que uma delas, em alguma
encarnação, tivesse sido uma prostituta, mas isso
não significa que as Pombas-Giras tenham sido todas
prostitutas e que assim agem.
A função das Pombas-Giras, está relacionada à
sensualidade. Elas frenam os desvios sexuais dos
seres humanos, direcionam as energias sexuais para
a construção e evitam as destruições. A sensualidade
desenfreada é um dos “sete pecados capitais” que
destroem o homem: a volúpia. Este vicio é alimentado
tanto pelos encarnados, quanto pelos desencarnados,
criando um ciclo ininterrupto, caso as Pombas-Giras
não atuassem neste campo emocional.
As Pombas-Giras são grandes magas e conhecedoras das
fraquezas humanas. São, como qualquer Exú, executoras
da Lei e do Karma.
Cabe a elas esgotar os vícios ligados ao sexo. Quando um
espírito é extremamente viciado ao sexo, elas, às vezes,
dão a ele “overdoses” de sexo, para esgotá-lo de uma vez
por todas.
Elas, ao se manifestarem, carregam em si grande energia
sensual, não significa que elas sejam desequilibradas, mas
sim que recorrem a este expediente para “descarregar” o
ambiente deste tipo de energia negativa.
São espíritos alegres e gostam de conversar sobre a vida.
São astutas, pois conhecem a maioria das más intenções.
Estendem os assuntos ou alguma situação, só para que
chegue ao âmago da questão.”6

3. HOMENS INCORPORAM POMBAGIRA?


”Na Umbanda temos a obrigação de entender que
as entidades e os Orixás são energias que podem ser
femininas ou masculinas, mas o sexo em si, não existe.
É evidente que se no mundo material existem homens e
mulheres, no astral isso também ocorre para que haja a
6
Disponível em: Pomba-Gira | Missão Umbanda (wordpress.com).

143
MINHA VIDA NA UMBANDA

perfeita hegemonia universal. Mas nunca, guardem bem


isso, nunca uma entidade irá interferir na vida ou opção
sexual de um médium.
A última coisa que interessa a qualquer entidade, seja de
que energia for, é sua opção sexual. E ela jamais afetará
ou mudará nada em sua vida apenas por estar usando
seu corpo para a caridade. Existem, e muitos, médiuns
homossexuais, mas não foram levados a essa opção por
espírito ou Orixá algum. Já chegaram à religião dessa
forma e como a Umbanda ou o Candomblé não têm por
hábito julgar ninguém, sentem-se em liberdade para
mostrarem-se como são.
Acontecem muitos casos de exageros, isso nenhum de
nós pode negar. O médium, sendo consciente, libera
mais seu lado feminino quando nessas incorporações.
Isso, porém, é um fato que cabe a cada Pai ou Mãe de
Santo conter, para que não se ultrapassem limites.” (...)7

4. PORQUE EXÚ DÁ RISADA?


“A gargalhada de Exu é mais que um mantra, é uma
ferramenta de trabalho. Através do som da gargalhada,
eles entram nos campos energéticos, desfazendo as
energias densas, recolhendo entidades que vibram na
maldade, retirando miasmas, enfim, abrindo o caminho
para que outras entidades, como os pretos velhos e
os caboclos, possam dar continuidade ao trabalho
espiritual. A gargalhada também tem a função de liberar
qualquer resquício de energia negativa que possa ficar
impregnado no medianeiro ou no local de trabalho,
fazendo, assim, a assepsia.
Longe de ser um escárnio para com o consulente, a
gargalhada é uma forma de vibrar na alegria, mesmo
tendo que lidar constantemente com situações difíceis,
tristes e inimagináveis para nós, situações essas criadas e
estimuladas pelos seres humanos que não exercitam um
bom caráter.”8
7
Disponível em: <www.povodearuanda.com.br>.
8
Texto baseado no livro Ensinamentos básicos de Umbanda, de Daisy Mutti e Lizete

144
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

5. PORQUE AS IMAGENS DE EXÚ SÃO TÃO


ASSUSTADORAS?
Existem duas explicações a respeito desse fato. Uma,
entende que o cristianismo, durante o processo de
catequese praticado no Brasil no período da colonização,
repudiava o culto aos Orixás, coibindo a veneração de
outras divindades que não fossem cristãs.
No caso específico de Exú, que utiliza instrumentos como
o ogó (espécie de bastão em madeira com forma fálica)
que simboliza o prazer e a fertilidade, e o tridente, que
representa os caminhos, foi a entidade que mais sofreu e
ainda sofre as deturpações e manipulações criadas pela
igreja cristã, que o apresenta como um terrível demônio
lascivo portando um tridente diabólico, com chifres e
patas de bode, numa figura grotesca e assustadora, com a
clara intenção de assemelhá-lo ao diabo do cristianismo.
Através das décadas, esse estereótipo foi reproduzido em
muitas imagens que, até hoje, são utilizadas em respeito
às histórias e lendas contadas, assim como também
encontramos imagens de Exú que muito se assemelham
ao homem comum, trajando capa, tridente, cartola e
calça.
Uma outra versão define que “os Exus costumam tomar
tais formas como meio de impor respeito e medo a
espíritos inferiores (quiumbas) e, desta maneira, facilitar
o controle e vigilância que obtêm sobre estas mentes
vinculadas ao mal, para que não perturbem trabalhos
ou até mesmo lares e locais. (...) É o mensageiro, o que
entra e sai das zonas umbralinas, sem temor, assumindo
formas ameaçadoras para fazer-se respeitar. Sem
ele, a força dos Orixás não atuaria no mundo, pois é
ele o operário incansável. Temido por não admitir a
desobediência, é ele quem aplica os castigos, fazendo, na
verdade, cumprir a lei de causa e efeito, desmanchando a
magia negra.” (...)9
Chaves, Legião Publicações, Porto Alegre, 2016.
9
Disponível em: <https://orixaessenciadivina.wordpress.com/2015/08/20/perguntas-e-
-respostas-vamos-falar-um-pouco-de-umbanda/>.

145
MINHA VIDA NA UMBANDA

6. QUEM É EXÚ MIRIM?


“São seres encantados que auxiliam os homens a se
manterem corretos em todos os caminhos de suas vidas,
por isso são tão arteiros e levados quando percebem
que as pessoas a quem ajudaram, não estão ouvindo os
seus conselhos. São responsáveis por anular qualquer
intenção negativa que esteja presente na vida das pessoas,
portanto, são de grande importância as suas atuações
para aquele que deseja se proteger ou se “limpar” de
todo mal que está a persegui-lo.
Exu Mirim é dotado de grande capacidade na hora de
ajudar os seres humanos.
Esses Exus não são filhos de Exú e Pombagira, tampouco
são realmente crianças. O que os fazem ser chamados de
Mirins é a baixa estatura e o comportamento brincalhão
e traquina. Mas, no geral, eles podem ser vistos mais
como adolescentes rebeldes.
Essa entidade está sempre disposta a auxiliar na hora de
encontrar uma saída para as nossas questões, tentando
mostrar que tanto o problema quanto a solução vêm de
dentro de nós.
Conhecido por agir com base na justiça, Exu Mirim
sempre nos dará aquilo que damos aos outros. Por
exemplo: se você planta o mal, o mal colherá. Se você
planta o bem, o bem colherá.
Exu Mirim nunca habitou este planeta, sendo assim, não
é um espírito humano.
Ele se encontra em um estágio da vida denominado Plano
Encantado, que fica na sétima dimensão, à esquerda da
nossa dimensão humana. Portanto, não há uma história
que conte a origem dessa entidade.
Entre suas diversas características, a principal é a
seguinte: essa entidade vem para nos ajudar a colocar
tudo em ordem. Ele vem neutralizando as más energias
que nos rodeiam sem que percebamos, já que nem todo
mal é visível para os seres encarnados.

146
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Sua aparência é representada por um ser pequeno


e traquina. Ele também é representado com chifres
pequenos e em algumas estátuas aparece com uma
cartola, algo bem comum na Umbanda.”10

7. PORQUE EXÚ BEBE PINGA?


“Quando falamos da aguardente, pinga, marafo ou
qualquer outra denominação para a bebida ingerida
durante os trabalhos com Exú ou vulgarmente chamados
de Esquerda, devemos atentar para os seguintes pontos:
A cachaça utilizada nos terreiros nada mais é do que
um elemento vegetal que carrega a energia: TERRA,
ÁGUA e FOGO pela sua composição e, lembrando que
no período de formação da cana de açúcar, encontramos
a ação do FOGO no vento solar que aquece todo o nosso
planeta. Utilizada como elemento de magia, não se
faz necessário bebê-la durante o atendimento, e sim,
manipular os elementos “mágicos” vegetais que este
líquido nos oferece, tornando-o um instrumento de
limpeza energética.
Usa-se a cachaça nos atendimentos para:
· Limpar o duplo etéreo de quem está sendo atendido, de
parasitas que nele estejam alojados;
· Desagregar cascões espirituais ligados a pessoa devido
a seu padrão vibratório;
· Efetuar limpezas energéticas de ambientes promovendo
uma energia semelhante ao vento solar, enfim, não
há necessidade de ingestão da bebida em si, mas a
manipulação correta e mágica desse elemento.
O Exú bebe comedidamente para limpar o aparelho e
não para se embebedar ou se divertir. A maioria oferece
um gole de sua bebida ao consulente e pede para que o
faça de costas e fazendo um pedido.
Até Preto-Velho e Caboclo bebem vinho, mas sempre
pouco e com o intuito de limpeza. Tem médiuns que não
10
Disponível em: Apostila ABESMA 2021, p. 18.

147
MINHA VIDA NA UMBANDA

fumam e não bebem e não são obrigados a fazer isso,


caso estejam incorporados e, nem por isso, são mais
ou menos “fortes” em seus trabalhos com Exú. O corpo
do médium é cedido, mas não pode ser ultrajado. Se o
médium escolher deixar Exú beber e fumar, é problema
de cada um, porque para quem trabalha com seriedade,
ao “subir”, o Exú leva tudo e o médium não fica nem com
cheiro de bebida ou de cigarro na boca.” (...)11

8. EXÚ É ORIXÁ OU ENTIDADE?


Diferentemente do que ocorre no Candomblé, em que
se cultua o Orixá Exú, na Umbanda, Exú é tratado como
Entidade. Suas falanges vêm em terra e se manifestam
através do corpo dos médiuns umbandistas durante
as giras do terreiro, atendendo a todos que necessitam
de seu auxílio. Tem por missão ajudar seus protegidos,
dando-lhes orientações em forma de consultas,
respondendo sempre com sinceridade e com a verdade,
sendo a franqueza, um de seus maiores atributos.

9. POSSO TER UMA IMAGEM DE EXÚ OU DE


POMBAGIRA EM CASA?
Mais uma vez esbarramos nos diferentes ensinamentos
e posturas adotados em cada terreiro de Umbanda.
Em nossa casa, por exemplo, não somos aconselhados
a manter imagens da Linha de Esquerda dentro de
nossas residências, assim como não firmamos Exú ou
Pombagira, nem possuímos assentamento ou tronqueira
para tais entidades, pelo simples fato de que tudo isso é
feito em nosso próprio terreiro. Assim como a esquerda
é o oposto complementar da direita, as energias de um
Congá são opostas às energias da Tronqueira. A primeira
emana energia, e em contrapartida, a segunda as absorve.
Para quem opta por cultuar Exú em casa, é aconselhável
que o faça seguindo rigorosamente as instruções de seu
Pai ou Mãe de Santo, e assim, evitando qualquer tipo de
interferência negativa ou riscos desnecessários.
11
Disponível em: <https://rainhaaugustta.blogspot.com/2014/12/exu-bebe-por-que.
html>.

148
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Lembre-se: Invocar Exú e Pombagira para culto em


casa é assunto sério e requer orientação para que não se
cometam erros desnecessários. Em caso de dúvida, ou
insegurança, o mais adequado e seguro é que se faça no
solo sagrado do terreiro que você frequenta.

10. EXÚ OU POMBAGIRA PODEM SER DONOS DE


COROA?
“Na Umbanda não pode, mesmo porque Exú é uma linha
espiritual auxiliar, agregada e, como já visto antes,
composta por falanges de espíritos, em sua maioria,
amorais12 e de pouco conhecimento sobre princípios
evolutivos, ou seja, de curta visão espiritual a despeito de
muito conhecimento que possam ter sobre os princípios
de vida material. Se Exú ou Pombagira estiverem à
frente na coroa de um médium, o certo é (como nos foi
ensinado desde muitos anos atrás) que se trabalhe no
sentido de afastá-los desta posição para que espíritos
Guias possam assumi-la.” 13

11. O QUE É PADÊ?


“Farofa fria feita com farinha de mandioca crua e grossa,
com quatro temperos: água, mel, pinga e dendê. Enfeitada
com sete rodelas de cebola roxa e sete pimentas dedo de
moça vermelhas. A comida para Exú deve ser servida em
prato de barro. Essa comida representa os quatro cantos
do mundo, os caminhos da vida. Tem o poder de criar
vínculo entre o Exú e o médium, fortalecendo a vibração
durante a incorporação, bem como abrir os caminhos.”14

12. COMO SE DÁ A INCORPORAÇÃO DE EXÚ E DE


POMBAGIRA?
“Exú e Pombagira quando incorporados em seus
médiuns, podem se apresentar de duas maneiras básicas:
12
Amoral por desconhecer o conceito de moral, diferentemente de imoral, que conhece,
mas não o aplica. (N.E.)
13
Disponível em: CASA DA VOVÓ MARIA ROSA: PERGUNTAS SOBRE EXÚ. (casa-
davovomariarosa.blogspot.com)
14
Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 24.

149
MINHA VIDA NA UMBANDA

alegres ou sérios. Mesmo alegres, não há desrespeito


ou comportamentos inadequados no templo religioso.
Quando o Exú é deselegante, o médium também o é, só
que disfarça quando não está incorporado. Esse médium
invigilante e portador de moral duvidosa, ao receber a
energia de incorporação de Exú, por ser uma energia
bastante similar a nossa e, por estar mais próxima a crosta
terrestre onde o combate com o astral inferior se dá, passa
a dar vazão aos seus sentimentos menores, influenciando
e interferindo diretamente na incorporação do Exú, que
assiste a tudo desconsoladamente, transferindo para
Exú estes sentimentos e comportamentos que são seus.
Isso não chega a ser mistificação, ou seja, fingimento,
porque existe a energia de Exú ao lado ou perto do
médium. A mistificação envolve o fingimento puro e
simples, sem envolvimento de energia ou proximidade
de entidade alguma, mais se tratando de animismo. A
incorporação de Exú e Pombagira envolve a manipulação
energética de chacras inferiores e o que acontece no
caso descrito acima, é que o médium deliberadamente
utiliza mal essa energia. Deliberadamente, porque
isso envolve intenção, moral e mau aproveitamento da
energia de Exú. Com a insistência contínua do médium
em se utilizar dessa energia para a manifestação de seus
desejos e aspectos menores, em pouco tempo há a queda
do médium. O Exú se arranca e fica o quê? Kiumba,
que assume o nome de Exú e aumenta os desvarios e o
médium não percebe por que, no fundo, usa a influência
do kiumba (aliás, um usa o outro) para brigar com a
mulher, encher a cara de cachaça, falar palavrão, fazer
grandes pedidos de oferendas nas encruzilhadas da
vida, matança indevida de animais e outras aberrações.
Cabe somente a direção da casa coibir veementemente
esses comportamentos no seu nascedouro, ou seja, no
médium assim que começa acontecer, chamando-o a
realidade, orientando e desestimulando atitudes desse
tipo, tentando recuperar o médium. E se for o caso,
não deve pestanejar em tomar medidas drásticas para a

150
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

solução do problema.”15

13. PORQUE EXÚ E OUTRAS ENTIDADES FUMAM?


“Muitas religiões utilizam a fumaça como depurador
das energias. A defumação é sagrada e consagrada
pelo mundo inteiro, desde os monges tibetanos até os
padres católicos. Rodrigo Queiroz explica que o tabaco,
é considerado uma “Erva de Poder”, usada há milênios
pelos povos indígenas, considerado sagrado com
ampla utilização em seus trabalhos de cura, pajelança e
xamanismo. O tabaco é o vegetal que veicula os elementos
terra e água. Quando utilizado nos cachimbos, charutos
e defumação traz os elementos ar e fogo. Em suma, o
fumo é uma defumação direcionada, que traz além do
vegetal, os quatro elementos básicos (terra, água, ar e
fogo) para trabalhos de magia prática. O sopro por si
só traz efeitos terapêuticos e espirituais muito valorosos
e eficazes nos trabalhos de cura e limpeza, que aliado
ao poder das ervas é potencializado muitas vezes em
resultados largamente vistos durante os rituais de
Umbanda. Assim, o uso do tabaco pelos Caboclos,
Pretos-Velhos, Baianos, Boiadeiros, Exús e outras
Entidades possui efeito terapêutico ao mesmo tempo
em que propicia uma verdadeira proteção para a aura do
médium. A fumaça atua também como desagregador de
miasmas aderidos ao campo astral do consulente. Não
faz sentido, portanto, como apregoam alguns detratores
da Umbanda, interpretar o uso do fumo como um vício
das Entidades que se manifestam nos terreiros. (...)” 16
No final de 2020, já completados 12 anos como devoto da Um-
banda, fui convidado por meu Pai de Santo a realizar o Borí, ce-
rimônia que reforça a cabeça do médium para que o Orixá possa
manifestar-se plenamente, como já foi explicado em capítulo an-
terior. Mas, infelizmente, com a vinda avassaladora da pandemia,
tivemos que postergar o ritual, atendendo as regras de segurança
tão necessárias à nossa saúde e proteção. Nossas giras presenciais
15
Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 15.
16
Disponível em: Manual de Umbanda para Iniciantes, p. 184, Diamantino Fernandes
Trindade, Sattva Ed., São Paulo, 2017.

151
MINHA VIDA NA UMBANDA

sofreram um longo recesso e a solução encontrada por Pai Odé


D’Loy veio através de encontros virtuais. Fazíamos reuniões se-
manais online, sempre lideradas por ele e organizadas por uma
mediadora que intermediava as dúvidas dos filhos ali presentes,
após a apresentação de assuntos variados pertinentes à religião.
Noutras vezes, participávamos de correntes de orações conduzi-
das por Pai Odé D’Loy, com rituais firmados em nossos lares, se-
guindo suas orientações.
Numa dessas reuniões virtuais, o tema abordado foi sobre um
personagem muito carismático, conhecido no meio umbandista
como Sr. Zé Pilintra.
ZÉ PILINTRA E OS MALANDROS NA UMBANDA
“Zé Pilintra ou Zé Pelintra (como é conhecido em alguns
lugares) faz parte da Linhas das Almas e possui uma
grande importância para a representação daqueles que
se encontraram durante as suas vidas marginalizados
pela sociedade, pois prova, através de sua ação como
Guia Espiritual, que o falso conceito de malandro nada
mais é do que um estereótipo criado por aqueles que não
possuem a visão dos verdadeiros desafios no caminho
dos humildes. Muitos desinformados o associam com
imagens malignas e criaturas que fazem o mau, quando
na verdade o seu espírito se desenvolveu tanto após a
desencarnação, que ele volta a este plano como Guia
para benefício dos que o procuram. Ele é a lição para os
menos informados de que nem todos os desafortunados
representam alguma ameaça para a sociedade, e que
devemos respeitar e dar valor. Admirado na Umbanda,
é considerado como um espírito humilde, de bondade
plena, patrono dos bares, rei da vida noturna, boêmio
e apaixonado por jogos e disputas. Exímio conhecedor
de tratamentos com ervas (adquirido entre o povo
nordestino), temido nas mesas de jogos e apostas e,
principalmente, um grande galanteador, Zé Pilintra na
Umbanda é a única entidade que é aceita em todos os
rituais. Na Linha da Esquerda, regida por Exú, é onde
apresenta maior ligação e sintonia com as características
humanas para entregar os aconselhamentos. Na Linha

152
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

da Direita, onde regem todos os outros Orixás, ele se


apresenta nos rituais de Caboclos e Pretos-Velhos.
Aparece no terreiro para tirar energias negativas, expulsar
ações malignas que são geradas pelo preconceito, trazer
purificação para a alma dos que necessitam, cura para
todos setores e abertura de caminhos para todo tipo
de assunto. Caridoso, Zé Pilintra não incorpora em
médiuns que possuam qualquer tipo de comportamento
desviado, procurando sempre por pessoas iluminadas.
Sendo assim, podemos dizer que ele é capaz de mudar a
vida de uma pessoa para melhor por meio de seu poder
de cura e seus conselhos. Assim, auxilia na purificação
da alma de todos os necessitados e também os ajuda a
entender quais são os melhores caminhos que devem
seguir – isso relacionado a qualquer tipo de assunto!
Aprecia muitos tipos de comida, mas as suas favoritas
são originárias da sua região nordestina. (...)” 17
Assim como Zé Pilintra, os Malandros são entidades que
atuam na Linha da Esquerda na Umbanda. Em geral,
apresentam-se trajando terno, sapato e chapéu brancos,
com detalhes em vermelho. Existem também os que se
assemelham a sambistas, com camisa listrada e chapéu
panamá de palha. Muitas dessas entidades sofreram
o preconceito racial, e passaram a viver à margem da
sociedade. Felicidade e alegria expressam a Linha dos
Malandros, que nos traz forças para lutar e sabedoria
para crescermos e evoluirmos cada vez mais.
Os cuidados que o umbandista deve ter ao visitar um cemité-
rio, variam nos procedimentos adotados por cada casa para com
seus filhos. Em nosso terreiro, Pai Odé D’Loy nos aconselha levar
uma guia de proteção, no caso, nossa guia branca de Oxalá, e ainda
nas calçadas da entrada do cemitério, colocar uma moeda de qual-
quer valor, repetindo o mesmo gesto na saída. Pedindo licença na
porteira, área de Ogum e Exú, devemos saudá-los ao adentrarmos
no espaço. Já no interior, pedimos licença e saudamos à Obaluaiê,
Orixá da doença e da cura que rege a parte superior da terra, e
Omulú, o senhor da vida e da morte, que rege a parte debaixo da
17
Disponível em: Apostila ABESMA 2021, anexos.

153
MINHA VIDA NA UMBANDA

terra, além de saudarmos às almas, que regem o local (Cruzeiro


das Almas). Ao chegar em casa, é aconselhado borrifar álcool na
sola dos sapatos, antes de entrar no ambiente. Tomar um banho de
higiene e, em seguida, um banho de cerveja clara do pescoço para
baixo, completa a limpeza espiritual. Vale lembrar que o respeito, a
discrição e a compaixão pelos que se foram e aos que ficaram, são
as atitudes mais dignas que devemos apresentar nesse momento.
CRUZEIRO DAS ALMAS
Localizado na parte interior dos cemitérios, também
denominados Campo Santo ou Calunga Pequena, o
Cruzeiro das Almas é um portal de passagem do espírito
para um outro plano vibratório. Esse campo é regido por
Omulú/Obaluaiê e é lá que se costuma oferecer velas,
flores e orações aos desencarnados, principalmente
às segundas-feiras. As Santas Almas, nossos amados
pretos e pretas-velhas que nos trazem conforto, consolo
e orientação, estão sempre nos ajudando, mas também
nos cobrando pelo cumprimento de nossas promessas,
como reza o ponto:
Às almas deu, às almas dá.
Às almas deu para quem sabe aproveitar.
Às almas deu, às almas deu, às almas dá.
Tome cuidado que as almas vêm te cobrar.
“(...) Ali naquele lugar, temos uma grande força
espiritual, local onde se trabalha as 13 Almas Benditas,
na qual tem a função de auxiliar a entrada das Entidades
trabalhadoras da Calunga Pequena para o resgate
de espíritos desencaminhados, perdidos e viciosos.
Esse é um dos trabalhos mais belos da Umbanda, pois
ao desencarnar, o espírito por muitas vezes se sente
desorientado, perdido, sem saber os acontecimentos, o
que fazer e onde seguir. E assim, com essa força espiritual,
é feita essa maravilhosa ajuda a esses espíritos buscarem
o caminho que cada um deve seguir, deixando para trás
o apego a matéria, a vida encarnada e aos bens materiais.
(...) O Cruzeiro das Almas é tão importante aos espíritos,
assim como o ar é fundamental ao encarnado, pois é ele

154
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

o portal de passagem onde o espírito passa de um plano


vibratório para outro, como por exemplo, no momento
do desencarne, nas passagens de um estado de doença
física ou emocional, uma obsessão complexa ou mesmo
simples, mágoas, ódios, rancores e todo sentimento de
ordem negativa para uma situação de cura, equilíbrio
e harmonia. (...) Portanto, para finalizar, vamos ter em
mente que o Cruzeiro das Almas é um ponto energético
de luz e caridade que auxilia a nortear os desencarnados
e encarnados, mostrando que não devemos nos apegar
nas crendices, levando o nome santo do Cruzeiro das
Almas em colocações errôneas feitas pelo próprio
ser humano por falta de informação, ou por ser mau
caráter, por vaidade ou mesmo misticismo. Devemos
respeitar o Cruzeiro das Almas, pois certamente um dia
passaremos por ele em busca de um portal de passagem
entre o mundo material e o mundo espiritual.” 18
Amarração é o nome dado aos trabalhos espirituais feitos
para “resgatar o amor perdido”, “restabelecer a união entre casais”
ou até mesmo para “trazer o amor impossível”. Deixemos claro,
desde já, que isso NÃO é Umbanda. Nossa religião tem como
princípio o livre-arbítrio, a liberdade de escolhas e o respeito à
individualidade. Quem promete esse tipo de serviço não possui
escrúpulos, dignidade e objetiva somente o lucro financeiro obtido
do sofrimento e desespero de muitos que não conseguem aceitar o
fim de um relacionamento nem lidar com o desprezo em relações
amorosas. Esse tipo de magia, quando não é puro charlatanismo,
envolve espíritos trevosos, de baixa vibração ou pouco evoluídos.
Por esse motivo, até poderá funcionar, mas certamente trará
consequências terríveis para quem a fez e para quem a solicitou,
além da própria vítima.
A frase “Trago o seu amor em sete dias, pagamento só depois do
resultado”, tão comum nos postes espalhados em nossas cidades
ou em dezenas de anúncios de jornais diários, oferece ao ingê-
nuo ou imprudente uma falsa promessa em sua vida. Precisamos
entender de uma vez por todas que a liberdade é a maior bênção
que foi concedida ao ser humano e que na Umbanda, não se faz
18
Disponível em: <www.umbandayorima.blogspot.com/2017/05/entendendo-sobre-o-
-cruzeiro-das-almas.html>.

155
MINHA VIDA NA UMBANDA

trabalhos para o amor, e sim trabalhamos por amor. Trabalhamos


para que a pessoa se sinta capaz, confiante, resgatando seu amor-
-próprio, enaltecendo suas qualidades, evidenciando sua beleza
interior, sua vaidade e autoestima, tornando sua aura mais leve
e feliz, e como consequência, sentindo-se apta para conhecer e
atrair naturalmente outras pessoas que queiram se relacionar por
livre e espontânea vontade.
O verdadeiro amor não possui amarras, não tem dono, não é
comprado nem imposto. O verdadeiro amor é espontâneo, puro,
livre e sempre será “eterno enquanto dure”, como disse o poeta...

Fonte: Autor

A maturidade que obtive nesses treze anos devotados a prática da


fé, me proporcionou a aptidão, a segurança e a convicção necessárias
para exercer a Umbanda fora dos limites de nosso terreiro, além
de ganhar a confiança e a credibilidade de parentes e amigos,
cada vez que sou solicitado a auxiliá-los das mais diversas formas,
seja orando para uma determinada pessoa, indicando um banho
específico, defumando residências, promovendo passes energéticos
e limpezas espirituais, ou até aconselhando-os na presença de meus
Guias, tudo isso sob o consentimento de meu Pai Odé D’Loy.

156
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

É importante que se entenda que, assim como a fé, a prática


da caridade está além dos limites físicos do terreiro. O Filho
de Santo tem por obrigação ajudar ou mesmo socorrer a quem
for a qualquer hora, caso possua o desenvolvimento mediúnico
necessário e esteja totalmente apto para tal. Já foi dito, somos
umbandistas em tempo integral e não apenas praticamos a
Umbanda quando pisamos no terreiro. Chegado o momento,
todo médium devidamente desenvolvido e qualificado, poderá
cumprir suas obrigações, com o consentimento de seu Pai ou Mãe
de Santo, de uma forma mais abrangente, muito embora o apren-
dizado e o desenvolvimento mediúnico continuarão ocorrendo,
praticamente, durante toda sua caminhada.
E falando em caminhos, sabemos que a Encruzilhada é o lugar
onde muitos fazem oferendas e trabalhos para Exús e Pombagiras,
mas o que ela significa? Quais os tipos de Encruzilhadas que exis-
tem? Respondendo a essas perguntas, reproduzo abaixo alguns
conceitos elaborados por Pai Odé D’Loy.
O QUE SIGNIFICA A ENCRUZILHADA NA
UMBANDA?
“Encruzilhada é o encontro de duas realidades, de duas
verdades diferentes, tais como: matéria/astral; razão/
emoção; luz/trevas; ou, literalmente, pode ser o encontro
de dois caminhos. Esta é a representação do ponto de
força de Exu. Exu está em todos os caminhos, em todos
os lugares e passagens, e não apenas na encruzilhada de
rua, de terra, ou de mata. Todos os pontos que marcam a
entrada e a saída de uma realidade são pontos de firmeza
e de manifestação de Exu.
Outra maneira, talvez, de se entender isso é lembrar
que Exu é Guardião da Lei Maior e que trabalha na Lei
e pela Lei regida por Pai Ogum, o Senhor de todos os
Caminhos.”19

19
Disponível em: Apostila ABESMA 2019, p. 9.

157
MINHA VIDA NA UMBANDA

QUAIS OS TIPOS DE ENCRUZILHADAS E SUAS


ENTIDADES CORRESPONDENTES?
Encruzilhadas em forma de “X” e em forma de “T”, onde atuam
Exú e Pombagira, respectivamente:

Fonte: Autor, baseado em Apostila ABESMA 2013

- Encruzilhadas Abertas: Para todos os Exús;


(indistintamente)
- Encruzilhadas Fechadas: Para todos os Exús;
(indistintamente)
- Porteira de Curral: Exú das Sete Porteiras;
- Encruzilhadas Mistas: Exús Miríns etc.;
- Encruzilhadas em “S” ou em curvas: Exú Tira-Teima;
- Encruzilhadas em “Pé de galinha”: Dona Pomba Gira;
- Encruzilhadas de Estrada de Ferro: Dona Maria Padilha;
- Encruzilhadas de caminho no Mato: Dona Maria
Mulambo. 20

20
Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 17.

158
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

ABERTA

FECHADA

PORTEIRA
DE CURRAL

EM ‘S’

CAMINHO
MISTA NO MATO

ESTRADA
PÉ DE DE FERRO
GALINHA

Fonte: Autor, baseado em Apostila ABESMA 2013

Dentre os conceitos que melhor definem UMBRAL, CROSTA,


LIMBO e INFERNO, destaco abaixo o texto elaborado por Dou-
glas Rainho, médium umbandista responsável pelo blog Perdido
em Pensamento.21
“(...) O UMBRAL é o local no astral considerado o Astral inferior.
Está localizado justamente na dimensão Astralina (ou espiritual)
do plano terreno, logo cada orbe habitada possuiria o seu próprio
Umbral. No próprio livro Nosso Lar, é deixado a entendimento de
que a própria colônia que dá nome ao livro, estaria localizada no
Umbral. Podemos considerar então que o Umbral é um local de
transição e é subdividido em diversas áreas, conforme a simpatia e
21
Disponível em: <https://perdido.co/2016/04/zonas-de-sofrimento-umbral-limbo-
-crosta-e-inferno/>.

159
MINHA VIDA NA UMBANDA

afinidade dos espíritos. Também já me foi dito que todo ser humano
passa pelo Umbral após seu desencarne, porém o tempo e a consci-
ência que ele tomará dessa experiência, depende das suas atitudes
nessa encarnação. Logo, um bom espírito passará brevemente e de
forma adormecida, já um espírito negativo sofrerá impressões mui-
to piores e durante um bom tempo. Podemos considerar também
que o Umbral possua divisões, escalas de ascensão até chegar ao as-
tral superior. Como somos espíritos ainda presos a matéria, muitos
acabam ficando nos círculos próximos da crosta terrestre ou nosso
plano zero.
A CROSTA não é um local de habitação dos espíritos propria-
mente dito, mas sim o próprio plano terreno. Aqui é onde encon-
tramos alguns espíritos vagantes, errantes e sem rumo. Alguns nem
sequer tem consciência de que aqui ainda estão, talvez, presos pelas
suas vidas anteriores ou por não saberem que morreram. A esses
geralmente é dado o nome de Almas Penadas. A maioria dos fan-
tasmas vistos por aí ou são Lêmures (elementais do astral inferior)
ou são espíritos dessa categoria, de Alma Penada. A crosta não é um
local de habitação continua, na verdade há uma intersecção entre
o Umbral e a Crosta, então através do magnetismo (pensamento) é
possível o espírito em desequilíbrio alternar (muitas vezes sem cons-
ciência) entre um plano e outro.
O LIMBO já é um outro local complexo. Entendam que tanto o
Umbral, quanto o Limbo e o Inferno (a seguir) estão localizados no
Astral Inferior. Eles divergem apenas nas suas funções e nas densi-
dades de suas construções. Esse local, é um local incerto, onde ficam
espíritos que perderam a capacidade de pensar ou se cristalizaram
de tal forma em suas evoluções (involução seria o termo adequado)
que perderam qualquer capacidade cognitiva. O Espírito quando
desprendido da matéria tem como lembrar dos seus atos passados,
de suas experiências e tem acesso aos conhecimentos acumulados,
conjuntamente com a sua história. Os Espíritos que habitam o lim-
bo, perderam essa capacidade. É aqui que encontramos os famosos
ovoides, espíritos em forma de ovos, que perderam quase que com-
pletamente seus perispíritos. São como mônadas, ainda albergando
a essência espiritual (o espírito em si), mas enclausurado em um
meio que não lhes permite externar nada. Alguns espíritos superio-
res os conseguem extrair o pensamento. Infelizmente, muitos desses
espíritos acabam perdendo totalmente suas memórias, tendo que

160
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

passar por experiências de reencarnação para recuperar tudo, desde


o início. Não perdem as experiências, mas ficam impossibilitados
de acessá-las. Com o tempo, através de sucessivas reencarnações,
conseguem recuperar o seu corpo espiritual (perispírito) e continuar
a sua evolução. Nesse caso, muitas das reencarnações são compulsó-
rias e dão origem a natimortos, bebês com deformidades congênitas
que não sobrevivem ao parto. Isso devido a não existir mais uma
configuração perispiritual para dar forma ao corpo. Mas por possu-
írem a essência – ou seja a energia inicial e vital, a centelha divina
individualizada – são cobiçados por magos negros do astral inferior,
para servirem de dínamos para seus intentos maléficos.
Já o INFERNO seria a zona mais profunda do astral inferior,
onde estariam as figuras mais nefastas e trevosas. Onde habitariam
os verdadeiros demônios (Isso depende da interpretação teológica de
cada um, mas acredita-se em entidades maléficas humanas e tam-
bém as não humanas). Porém, ao contrário do que a crença popu-
lar prega, as entidades que habitam esse local estão completamente
desinteressadas do ser humano individualmente. Elas raramente se
manifestam e veem os seres humanos como insetos incômodos ape-
nas. Logo será bem improvável encontrar a manifestação de uma
entidade dessas, ou sequer, chegar até lá através de algum tipo de
desdobramento. Os próprios seres espirituais positivos, não conse-
guem atingir essas zonas e o mesmo se dá com os habitantes negati-
vos deste local, que não conseguem manifestar-se no plano terreno
sem o concurso de outras entidades maléficas e negativas das zonas
do Umbral. São mais incitadores do que realmente ativistas. O In-
ferno como visto pelo católico e pelo evangélico é apenas uma cons-
trução mental dos seus adeptos, não é real. O Inferno que propomos
aqui na verdade não é uma região, mas um estado de consciência
ou malignidade. (...)”
Um outro assunto que causa muita controvérsia em nosso
meio é referente ao chamado Corte ou sacrifício animal, prática
muito utilizada em várias religiões de matrizes africanas, assim
como no Candomblé e em alguns terreiros de Umbanda. Como
já comentado, nossa casa traz fortes influências do Candomblé
devido ao fato de nosso dirigente ter se iniciado nessa religião.
Logo, é comum que tenhamos algumas práticas herdadas e adota-
das em nosso terreiro, dentre elas o corte, ainda que praticado em

161
MINHA VIDA NA UMBANDA

raríssimas situações.
Reproduzo abaixo um trecho do livro22 de autoria de Ademir
Barbosa, que aborda com muita clareza essa questão.
“(...) Na Umbanda, em cuja fundamentação não existe o corte,
embora diversas casas dele se utilizem, por influências dos Cultos de
Nação, os elementos animais, quando utilizados crus ou preparados
na cozinha, provêm diretamente dos açougues. No primeiro caso,
utilizam-se, por exemplo, língua de vaca, sebo de carneiro, miúdos,
etc. No segundo, nas palavras de Rubens Saraceni:
[...] Mas só se dá o que se come em casa e no
dia a dia. Portanto, não há nada de errado,
porque a razão de ter de colocar um prato com
alguma comida ‘caseira’ se justifica na cura de
doenças intratáveis pela medicina tradicional,
causadas por eguns e por algumas forças nega-
tivas da natureza. [...] Observem que mesmo
os Exús da Umbanda só pedem em suas ofe-
rendas partes de aves e de animais adquiridos
do comércio regular, porque já foram resfria-
dos e tiveram decantadas suas energias vitais
(vivas) só lhes restando proteínas, lipídios etc.,
que são matéria.
Os animais criados em terreiro de Candomblé para o corte são
muito mais bem cuidados e respeitados do que aqueles criados en-
jaulados, com alimentação inadequada para engordar etc. O ani-
mal, para o corte, não pode sofrer. Algumas partes são utilizadas
para rituais; as demais são consumidas como alimento pela comu-
nidade e pelo entorno. (...) Com relação ao corte, diálogo, respeito e
compreensão são fundamentais para que todos se sintam irmana-
dos, cada qual com sua individualidade e seus fundamentos. Dife-
renças não precisam ser necessariamente divergências.” (...)
Finalizando este capítulo, selecionei alguns exemplos contidos
na Apostila ABESMA 2013, de preces, agrados, banhos, defuma-
ções e pontos de Exú e Pombagira, além dos principais nomes des-
sas entidades no meio umbandista, para que o leitor tenha uma
pequena referência das práticas relacionadas a Linha de Esquerda,
adotadas em nosso terreiro.
22
Disponível em: O Livro Essencial de Umbanda, p. 307-311, Universo dos Livros, São Paulo, 2014.

162
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

PRECES
- Para Exú
Exú, glorioso mensageiro do céu e da terra, protetor
das almas encarnadas e desencarnadas e guardião dos
espíritos de luz. Eu vos invoco humildemente, para que
me ajude a pregar o amor, a justiça e a fazer a caridade.
IIumine meu espírito com seu amor infinito e sua bondade
inesgotável, para que eu possa, hoje e sempre, ter a
misericórdia da sua proteção e, através dela, concretizar
e levar minha fé, vencendo toda a adversidade e feitiçaria
dos homens da terra.
Laroiê, Exú. que assim seja e assim será!
- Para Pombogira
Pomba Gira, força divina de Olorum, estimula nosso
progresso. Estimula nossa evolução. estimula nossas
melhores qualidades. Fé, amor, lei, justiça e conhecimento,
sem estímulo de vosso mistério, estagnam. Tudo estanca
sem o desejo de desenvolvimento, e, como vosso mistério é
este, auxilía-nos a seguir na senda luminosa sem quedas
por desejar o que não se merece e desdenhar o que o
Pai nos oferece. Livrai-nos desse tormento, para não
ambicionarmos o errado, mas desejar sermos corretos, na
natureza divina em que fomos criados.
Amém.

AGRADOS
- Para Exú
• PADÊ: Farofa fria feita com farinha de mandioca crua e
grossa, com quatro temperos: água, mel, pinga e dendê.
Enfeitada com sete rodelas de cebola roxa e sete pimentas
dedo de moça vermelhas. A comida para Exú deve ser
servida em prato de barro. Essa comida representa os
quatro cantos do mundo, os caminhos da vida. Têm
o poder de criar vínculo entre o Exú e o médium,
fortalecendo a vibração durante a incorporação, bem
como abrir os caminhos.

163
MINHA VIDA NA UMBANDA

• MARAFO: Bebida, geralmente aguardente (pinga);


alguns bebem uísque, vinho tinto seco ou cerveja.
• FUMO: Charuto.
• GUIA DE EXÚ: Missangas enfiadas no cordenet, cores
vermelha, preta e alguns casos branca, arrematada com
firma (mojola) nas mesmas cores.
- Para Pombogira
• PADÊ: Farofa fria feita com fubá amarelo, temperado
com azeite de dendê e sal, levemente úmida, soltinha.
Enfeitada com sete rodelas de cebola crua, sete rodelas
de tomate vermelho e sete pimentas dedo de moça
vermelhas. Essa comida deve ser servida no prato de
barro, representa a energia, a ligação entre o mundo
material e espiritual. Tem o poder de esquentar os
caminhos, bem como fortalecer os pedidos do médium.
• BEBIDAS: Champanhe branco ou rose, bebidas doces
como licor, vermute seco e doce (branco ou vermelho).
Algumas entidades recebem conhaque de gengibre ou
cerveja.
• FUMO: Cigarro e/ou cigarrilhas com piteira.
• GUIA DE POMBA-GIRA: Missangas nas cores
vermelha e preta e, em alguns casos, amarelo escuro
cristal, arrematadas com firma (monjola) nas mesmas
cores.

BANHOS
- Para Exú
• ABRE CAMINHO - Beladona, Arruda Macho, Guiné de
Guampa, Erva Pombinha, Folha de Amoreira, Cambuí,
Folha de Marmelo.
- Para Pombogira
• ABRE CAMINHO - Guiné de Guampa, Arruda Fêmea,
Cambuí, Anis, Pétalas de Rosas Vermelhas, Folha de
Aroeira, Alevante.

164
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

DEFUMAÇÕES
- Para Exú e/ou Pombogira
• DEFUMAÇÃO CONTRA FLUÍDOS NEGATIVOS -
Quebra-Tudo Guiné-caboclo, Espada de Santa Bárbara,
Pitangueira, Folha de Marmelo, Alevante, Folha de
Cambuí.
• DEFUMAÇÃO PARA ATRAIR SORTE - Casca de
Laranja Seca Ralada, Casca de Limão Galego Seco
Ralado, Casca de Pêssego Seca, Casca de Maçã Seca,
Canela em Pó ou em Pau, Cravo da Índia, Semente de
Girassol.

PONTOS
- Para Exú
O sino da igrejinha faz belém, blem blom (2x)
deu meia-noite o galo já cantou
Seu Tranca-ruas que é o dono da gira
oi corre gira que Ogum mandou
- Para Pombogira
Juraram de lhe matar na porta do cabaré (2x)
Ela anda de dia, ela anda de noite
Só não mata quem não quer (2x)

PRINCIPAIS NOMES DE EXÚS23

PRINCIPAIS NOMES DE EXÚS Exú Maré Exú Pimenta Exú Sete Pedras

Exú Arranca Toco Exú Facada Exú Pinga-fogo Exú Sete Poeiras

Exú Asa Negra Exú Ganga Exú Pirata do Mar Exú Sete Portas

Exú Bará Exú Gargalhada Exú Poeira Exú Sete Porteiras

Exú Belzebu Exú Gato Preto Exú Ponto Maioral Exú Sete Queimadas

Exú Brasa Exú Gira Mundo Exú Porteira Exú Sete Sombras

Exú Calunga Exú João Caveira Exú Quebra-barranco Exú Tatá Caveira

Exú Capa Preta Exú da Campina Exú Quebra Galho Exú Tiriri

Exú Capa Preta da Encruzilhada Exú da Morte Exú Quirombô Exú Tira-teima

Exú Capa Preta das Almas Exú do Lodo Exú Rei Exú Toco-preto
23
Disponível em: Os nomes Exú
de do
Exu (povodeesquerda07.blogspot.com).
Tronco
Exú Capa Preta das 7 Encruzilhadas Exú Rei das 7 Exú Tranca-gira

Exú Capoeira Exú Lalu Exú Rei das Trevas Exú Tranca-rua

Exú Carranca Exú Lorde da Morte Exú do Rio Exú Tranca-rua das Almas
165
Exú Carangola Exú Lúcifer Exú Serapião Exú Tranca-rua de Embaré
Exú Calunga Exú João Caveira Exú Quebra-barranco Exú Tatá Caveira

MINHA VIDA NA UMBANDA


Exú Capa Preta Exú da Campina Exú Quebra Galho Exú Tiriri

Exú Capa Preta da Encruzilhada Exú da Morte Exú Quirombô Exú Tira-teima

Exú Capa Preta das Almas Exú do Lodo Exú Rei Exú Toco-preto

Exú Capa Preta das 7 Encruzilhadas Exú do Tronco Exú Rei das 7 Exú Tranca-gira

Exú Capoeira Exú Lalu Exú Rei das Trevas Exú Tranca-rua

Exú Carranca Exú Lorde da Morte Exú do Rio Exú Tranca-rua das Almas

Exú Carangola Exú Lúcifer Exú Serapião Exú Tranca-rua de Embaré

Exú Cascavel Exú Malê Exú Sete Brasas Exú Tranca-rua das 7 Encruzilhadas

Exú Catacumba Exú Mangueira Exú Sete Buracos Exú Tranca-rua da Encruzilhada

Exú Caveira Exú Marabá Exú Sete Caminhos Exú Tranca-rua das Matas

Exú do Cemitério Exú Marabô Exú Sete Campas Exú Tranca-rua do Mar

Exú Corta-corta Exú Maré Exú Sete Catacumbas Exú Tranca Tudo

Exú Cobra Exú Matança Exú Sete Caveiras Exú Tronqueira

Exú Corcunda Exú das Matas Exú Sete Corvas Exú Veludo

Exú Corrente Exú Meia Noite Exú Sete Cruzes Exú Veludo da Encruzilhada

Exú Curador Exú Morcego Exú Sete Encruzilhadas Exú Veludo da Mata

Exú Desmancha Tudo Exú Mulambo Exú Sete Estradas Exú Veludo das Almas

Exú Destranca Rua Exú Pagão Exú Sete Facadas Exú Veludo das Sete Encruzilhadas

Exú Duas Cabeças Exú Pantera Negra Exú Sete Garfos Exú dos Ventos

Exú do Fogo Exú Pedra Preta Exú Sete da Lira Exú Ventania

Exú Mangueira Exú Pemba Exú Sete Montanhas Exú Vira-mundo

PRINCIPAIS NOMES DE POMBAGIRAS24

PRINCIPAIS NOMES DE POMBAGIRAS Pombagira Maria de Minas Pombagira Rosa da Madrugada

Pombagira Cacurucaia Pombagira Maria do Cabaré Pombagira Rosa da Noite

Pombagira Cigana (Nome da Cigana) Pombagira Maria do Caís Pombagira Rosa das Almas

Pombagira da Calunga Pombagira Maria Dolores Pombagira Rosa do Cabaré

Pombagira da Figueira Pombagira Maria Eulália Pombagira Rosa do Lodo

Pombagira da Lira Pombagira Maria Farrapo Pombagira Rosa dos Ventos

Pombagira da Meia-Noite Pombagira Maria Molambo Pombagira Rosa Maria

Pombagira da Praia Pombagira Maria Morena Pombagira Rosa Menina

Pombagira Dama da Noite Pombagira Maria Mulambo Pombagira Rosa Morena

Pombagira Dama das Sete Capas Pombagira Maria Navalha Pombagira Rosa Negra

Pombagira das Sete Liras Pombagira Maria Padilha Pombagira Rosa Vermelha

Pombagira das Almas Pombagira Maria Quitéria Pombagira Sete Calungas

Pombagira das Lagoas Pombagira Maria Rita Pombagira Sete Canoas

Pombagira das Rosas Pombagira Maria Rosa Pombagira Sete Capas


24
Disponível em: Os nomes de Pombagira (povodeesquerda07.blogspot.com).
Pombagira das Sete Encruzilhadas Pombagira Maria Sete Covas Pombagira Sete Catacumbas

166
Pombagira do Cruzeiro Pombagira Maria Sete Encruzilhadas Pombagira Sete Chaves

Pombagira do Lodo Pombagira Maria Sete Navalhas Pombagira Sete Coroas


Pombagira das Sete Liras Pombagira Maria Padilha Pombagira Rosa Vermelha

Pombagira das Almas Pombagira Maria Quitéria Pombagira Sete Calungas


Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
Pombagira das Lagoas Pombagira Maria Rita Pombagira Sete Canoas

Pombagira das Rosas Pombagira Maria Rosa Pombagira Sete Capas

Pombagira das Sete Encruzilhadas Pombagira Maria Sete Covas Pombagira Sete Catacumbas

Pombagira do Cruzeiro Pombagira Maria Sete Encruzilhadas Pombagira Sete Chaves

Pombagira do Lodo Pombagira Maria Sete Navalhas Pombagira Sete Coroas

Pombagira do Mangue Pombagira Maria Sete Ondas Pombagira Sete Cruzes

Pombagira do Reino da Lira Pombagira Maria Sete Punhais Pombagira Sete Encruzilhadas

Pombagira dos Ventos Pombagira Maria Sete Rosas Pombagira Sete Estrelas

Pombagira Fiqueira do Inferno Pombagira Maria Sete Saias Pombagira Sete Luas

Pombagira Ganga Pombagira Maria Sete Véus Pombagira Sete Mares

Pombagira Giramundo Pombagira Menina Pombagira Sete Navalhas

Pombagira Madalena Sofia Pombagira Mirim Pombagira Sete Ondas

Pombagira Maria Alagoana Pombagira Mirongueira Pombagira Sete Pembas

Pombagira Maria Baiana Pombagira Rainha Pombagira Sete Porteiras

Pombagira Maria Bonita Pombagira Rainha das Rainhas Pombagira Sete Punhais

Pombagira Maria Caveira Pombagira Rainha das Sete Pombagira Sete Rosas

Pombagira Maria Cigana Pombagira Rainha do Cemitério Pombagira Sete Saias

Pombagira Maria da Estrada Pombagira Rainha Sete Saias Pombagira Sete Tridentes

Pombagira Maria da Praia Pombagira Rosa Caveira Pombagira Sete Ventanias

Pombagira Maria das Almas Pombagira Rosa da Calunga Pombagira Sete Véus

Pombagira Maria das Sete Pombagira Rosa da Encruzilhada Pombagira Veludo

167
MINHA VIDA NA UMBANDA

Capítulo VII
O PRESENTE

Foto: Autor

168
CAPÍTULO7
O PRESENTE

E
sta obra foi finalizada em fevereiro de 2022 e naquele
momento, eu já completava 14 anos em minha trajetó-
ria como Filho de Umbanda. A satisfação do livro con-
cluído, a receptividade do projeto por parte de todos a
minha volta, e a emoção em ser guiado durante todo
esse processo pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, me foram
de uma alegria sem fim. E agora, ao concluir esta obra, percebo,
com muita clareza, a missão dada a minha amada mãe, que há
muitos anos viveu suas primeiras manifestações mediúnicas, já
sendo preparada para que deixasse a porta aberta, pela qual, tem-
pos depois, eu iria entrar. Hoje, continuo com muito orgulho, a
missão a nós destinada, mãe e filho, sob as Graças de nosso Pai
Olorum.
Muitas das informações deste presente capítulo foram
organizadas em tópicos com o intuito de proporcionar uma maior

169
MINHA VIDA NA UMBANDA

fluidez e clareza ao leitor. Como comentado no prefácio desta obra,


o Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema inspirou-me desde o início até
as páginas finais, escolhendo cada assunto a ser abordado, como
também a forma que deveriam ser tratados, desde a escolha de
cada palavra, organização de conteúdo, até a finalização do livro.
A Umbanda possui fundamento, história, hierarquia, princí-
pios e sacramentos, assim como seu próprio hino e bandeira ofi-
ciais, e é sobre suas origens e significados que falaremos a seguir.
BANDEIRA OFICIAL DA UMBANDA
O lançamento oficial da Bandeira da Umbanda
criada pelo babalorixá Saul de Medeiros (Saul de
Ogum), presidente da Associação de Umbanda
de Caxias, foi em 01 de junho de 2008, no Teatro
Municipal Dr. Paulo Machado de Carvalho, na presença
de 1.200 irmãos de fé. Nas palavras do autor, “a imagem
de um lindo sol radiante e, de seu núcleo, sai uma figura
que no primeiro instante parece a de um enorme pombo
branco, mas olhando com mais atenção, a forma se
modifica deixando transparecer um espectro humano
angelical e com enormes asas, como se dirigisse a um
destino determinado a realizar uma missão”.

170
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

O Hino Oficial da Umbanda é executado em todos os terrei-


ros existentes, desde sua criação até os dias atuais, com a mesma
letra e melodia originais, sem alteração alguma. Seu compositor,
José Manuel Alves, ao escrever a letra do hino, quis mostrar que a
“Luz Divina, que vem do Reino de Oxalá”, não é para ser vista com
os olhos físicos, que voltarão ao pó, mas sim com olhos do espírito,
no encontro da mente com o coração. Por isso, é importante que to-
dos pratiquem esse ato cívico de Umbanda, como demonstração
de fé, respeito e amor.
HINO OFICIAL DA UMBANDA
Nos anos de 1960, o compositor português José Manuel
Alves, em busca da cura para sua deficiência visual,
encontra na Umbanda a inspiração para compor um hino
para a doutrina pela qual se apaixonara. Embora não
tenha obtido a total recuperação de sua visão, definida
como de origem cármica pelo Sr. Caboclo das Sete
Encruzilhadas, o hino foi exibido a esta entidade que o
aprovou de imediato, apresentando-o como o HINO DA
UMBANDA no 2º Congresso de Umbanda, no ano de
1961, sendo oficializado na 1ª Convenção do Conselho
Nacional Deliberativo de Umbanda (CONDU), em
março de 1976.

REFLETIU A LUZ DIVINA EM TODO SEU ESPLENDOR


É DO REINO DE OXALÁ, ONDE HÁ PAZ E AMOR
LUZ QUE REFLETIU NA TERRA, LUZ QUE REFLETIU NO MAR
LUZ QUE VEIO DE ARUANDA PARA TUDO ILUMINAR
A UMBANDA É PAZ E AMOR
UM MUNDO CHEIO DE LUZ
É A FORÇA QUE NOS DÁ VIDA
E A GRANDEZA QUE NOS CONDUZ
AVANTE FILHOS DE FÉ
COMO A NOSSA LEI NÃO HÁ
LEVANDO AO MUNDO INTEIRO
A BANDEIRA DE OXALÁ.

171
MINHA VIDA NA UMBANDA

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA UMBANDA


• Crença em um Deus único (monoteísmo)
• Crença nos Orixás
• Crença nos Guias de Luz
• Existência da alma e sua sobrevivência após a morte
• Prática da caridade
• Lei do Livre-Arbítrio
• Crença na encarnação e reencarnação
• Crença na lei cármica de causa e efeito
• Direito a liberdade de todos os seres
Como já foi falado, a Umbanda recebeu influências de, basica-
mente, cinco matrizes religiosas:

• Africanismo
• Cristianismo
• Indianismo
• Kardecismo
• Orientalismo
Do Africanismo, herdamos o culto aos Orixás e aos
Pretos-Velhos.
O uso de imagens, orações e símbolos provém do
Cristianismo (sincretismo);
O Indianismo nos trouxe a sabedoria indígena ancestral
em todos os seus aspectos (cultural, medicinal, ecológico,
espiritual etc.), a pajelança e o culto aos Caboclos;
Do Kardecismo, o estudo da Doutrina Espírita e a
presença de espíritos que atuam na linha da cura como
Bezerra de Menezes, André Luiz e Dr. Fritz;
Por fim, o Orientalismo nos trouxe os conceitos sobre
prana, chacras, além do culto à Linha Cigana, também

172
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

chamada Linha do Oriente.

O QUE É A FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE UMBANDA1


(FBU)?
Entidade de Cúpula de Umbanda, Candomblé e todos
os cultos afro-brasileiros com personalidade jurídica
reconhecida em âmbito nacional que tem como função
primordial legalizar os Templos, fornecendo Alvará
de Funcionamento, Estatutos e demais documentos
necessários ao exercício das atividades religiosas e
sociais dos mesmos, promovendo através de cursos, o
aperfeiçoamento dos Diretores de Cultos das Entidades
filiadas.

Assim como os pontos cantados, a prática das orações também


pode se diferenciar em cada terreiro. Muitos adotam preces dis-
tintas em determinados rituais, outros diferenciam-se no próprio
conteúdo de suas rezas, apresentando alguma variação na forma
estrutural da oração. Além das preces umbandistas, nossa religião
também adota o Pai Nosso e a Ave Maria (catolicismo) em suas
práticas religiosas. Muitas preces nos foram passadas por Pai Odé
D’Loy, algumas das quais aqui reproduzo, para que o leigo tenha
uma ideia, o iniciante, um recurso, e o médium, uma referência.
PRECE A OXALÁ
Meu pai Oxalá, neste dia, venho pedir a paz, a alegria e
seu grande axé!
Reveste-me com a Vossa Luz e destrua as trevas que
atravessarem meus caminhos.
Envolva-me em seu manto branco de paz, em Tua Luz, a
cada instante de meu dia.
Que Vossa sábia ajuda seja minha companheira durante
todo o dia, e o ilumine com Vossa divina inspiração.
Que eu encontre pessoas a quem eu possa confiar e
compartilhar Vossa energia de paz, trazendo conforto a
quem necessita e que eu possa receber somente as boas
1
Disponível em: <http://www.fbu.com.br/>.

173
MINHA VIDA NA UMBANDA

emanações da energia das pessoas.


Traga sucesso em meus trabalhos para que eu tenha um
dia de realizações positivas.
Que assim seja! Axé meu pai Oxalá! Axé Babá!

PRECE A OXUM
Oh mamãe Oxum, proteja-me. Faça que o amor seja
constante em minha vida e que eu possa amar toda a
criação de Olorum.
Proteja-me de todas as mandingas e feitiçarias.
Dai-me o néctar de sua doçura e que eu consiga tudo o que
eu desejo e a serenidade para agir de forma consciente e
equilibrada.

PRECE A IANSÃ
Oh mãe Iansã, que sois mais forte que as torres das
fortalezas e a violência dos furacões, fazei com que os
raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o
troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura.
Ficai sempre a meu lado para que eu possa enfrentar
de fronte erguida e rosto sereno, todas as tempestades e
batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as
lutas e com a consciência do dever cumprido, eu possa
agradecer a vós, minha protetora, e render graça a Deus,
criador do céu, da terra e da natureza. Este Deus que tem
o poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a
crueldade das guerras. Eparrei!

PRECE A IEMANJÁ
Doce, meiga e querida mãe Iemanjá. Vós permitiste que
no seio de Vossa morada se formassem as primitivas
formas de vida, que foram o berço de toda a criação, de
toda a natureza e de toda a humanidade, aceitai nossas
preces de reconhecimento e amor.
Que os lampejos que emanam de vosso diáfano manto de
estrelas venham, como benéficas vibrações espirituais,

174
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

aliviar os males, curar aos doentes, apaziguar os nossos


irmãos revoltados, consolar os corações aflitos. Que
as flores e oferendas que depositamos em vosso tapete
sagrado, sejam por Vós aceitas e quando entrarmos
nas águas para vos ofertá-las, seja as ondas do mar
portadoras de vossos fluídos divinos. Fazei, Senhora
Rainha das Águas, com que a espuma das ondas em sua
alvura imaculada traga-nos a presença de Oxalá, limpe
os nossos corações de todas as maldades e malquerenças.

PRECE A NANÃ BUROQUÊ


À minha mãe Nanã, eu peço a benção e proteção para
todos os passos de minha vida.
À minha mãe Nanã, eu peço que abençoe o meu coração,
minha cabeça, meu espírito e corpo.
Que aos poderes dados somente à Senhora das senhoras,
sejam caridosos e benevolentes, e me escondam de meus
inimigos ocultos e poderosos.
Minha querida mãe e senhora, tenha piedade de meu
coração. para merecer a sua proteção e caridade.
À minha mãe Nanã, eu lhe devoto minha fé e minhas
palavras.
Assim seja! Saluba, Nanã!

PRECE A OGUM
Pai, que minhas palavras e pensamentos cheguem até vós,
em forma de prece, e que sejam ouvidas. Que esta prece
corra mundo e universo, e chegue até os necessitados em
forma de conforto para as suas dores. Que corra os quatro
cantos da terra e chegue aos ouvidos dos meus inimigos,
em forma de brado de advertência de um filho de Ogum,
que sou e nada temo, pois sei que a covardia não muda o
destino. Ogum, Padroeiro dos agricultores e lavradores,
fazei com que minhas ações sejam sempre férteis como
o trigo que cresce e alimenta a humanidade, nas suas
ceias espirituais, para que todos saibam que sou teu filho.

175
MINHA VIDA NA UMBANDA

Ogum, Senhor das estradas, fazei de mim um verdadeiro


andarilho, que eu seja sempre um fiel caminheiro
seguidor do teu exército, e que nas minhas caminhadas
só haja vitórias. que, mesmo quando aparentemente
derrotado, eu seja um vitorioso, pois nós, os vossos filhos,
conhecemos a luta, como esta que travo agora, embora
sabendo que é só o começo, mas tendo o Senhor como meu
Pai, minha vitória será certa. Ogum, meu grande Pai e
Protetor, fazei com que o meu dia de amanhã seja tão
bom como o de ontem e hoje, que minhas estradas sejam
sempre abertas, que eu trabalhe para que no meu jardim
só haja flores, que meus pensamentos sejam sempre
bons e que aqueles que me procuram consigam sempre
remédios para seus males. Ogum, vencedor de demandas,
que todos aqueles que cruzarem a minha estrada, cruzem
com o propósito de engrandecer cada vez mais a ordem
dos cavaleiros de Ogum. Pai, dai Luz aos meus inimigos,
pois eles me perseguem porque vivem nas trevas, e na
realidade só perseguem a Luz que vós me destes. Senhor,
livrai-me das pragas, das doenças, das pestes, dos olhos-
grandes, da inveja, das mentiras e da vaidade que só leva
a destruição. e que todos aqueles que ouvirem esta prece,
e também aqueles que a tiverem em seu poder, estejam
livres das maldades do mundo.
Ogum Iê! Saravá Ogum.

PRECE A OXÓSSI
Senhor das matas e da vida silvestre, neste momento, pai,
sou sua flecha.
Sou a força do seu arco, sou tudo o que é, a agilidade, a
sabedoria.
Faça de mim, soberano caçador, uma pessoa de sucesso, e
que haja fartura em minha casa.
Dê a mim sabedoria para agir, paz para construir meus
ideais, força para seguir sempre.
Oxóssi, Rei das matas, da lua, do céu azul, que seja eu leve
como o pássaro que voa, livre como o cavalo que corre,

176
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

forte como o carvalho na mata, direto como a sua flecha.


E que eu vença e seja feliz sempre!
Okê Arô, Oxóssi!

PRECE A XANGÔ
Ao meu pai Xangô, eu peço na benção de Oxalá
que atenda às minhas palavras, que ouça meu coração
por amor a Orumilá. Ao meu pai Xangô, eu peço a sua
misericórdia e proteção para minha vida. Ao meu pai
Xangô, eu peço que seja digno de carregar em minha vida
a sua proteção, a sua benevolência e sua força.
Ao meu pai Xangô, eu peço que abra os meus caminhos
e que eu consiga enxergar em minha alma, as imperfeições
que não me deixam enxergar a luz divina do criador.
Que meu corpo e meu espírito, sejam
curados pelos seus ensinamentos divinos.
Ao meu pai Xangô, pela minha verdadeira fé e devoção.
eu peço que ouça minhas palavras e que eu, seja digno de
seu perdão.

PRECE A OMOLÚ/OBALUAÊ
Dominador das epidemias, de todas as doenças e da
peste. Omolú, Senhor da terra. Obaluaê, meu pai eterno.
dai-nos saúde para a nossa mente, dai-nos saúde para
nosso corpo. Refoçai e revigorai nossos espíritos para
que possamos enfrentar todos os males e infortúnios da
matéria. Atotô meu Obaluaê! Atotô meu velho Pai! Atotô
Rei da terra! Atotô Babá!

PRECE AOS IBEIJÍS


Dois irmãos gêmeos que passaram pela vida usando
a bondade e o conhecimento médico, para curar todas
as pessoas necessitadas, sem cobrarem nada em troca.
Pedimos por intermédio de Deus, que São Cosme e São
Damião, faça-nos assim tão amáveis e desinteressados,
com o coração puro e, protetores das crianças e dos
médicos, sempre seguindo os vossos ensinamentos

177
MINHA VIDA NA UMBANDA

cristãos. Dai-nos forças, para que nossa espiritualidade


seja maior do que qualquer bem material, para que nossa
alma esteja preparada para se doar o quanto ela puder
aos irmãos carentes. São Cosme e São Damião, ampare-
nos na fé e na luz que precisamos para iluminar mais este
trabalho celestial.
São Cosme e São Damião, rogai por nós!

PRECE AOS PRETOS-VELHOS


Louvados sejam todos os pretos-velhos.
Louvados sejam vós que formais o Santíssimo Rosário da
Virgem Maria.
Santas Almas Benditas, protetoras de todos aqueles que
se encontram em aflição.
A Vós recorremos, Espíritos Puros, pelos sofrimentos
grandiosos, pela humanidade
Bem-aventurados pelo amor que irradiam, socorram-me,
pois me encontro em aflição
Concedam-me, meus bondosos pretos-velhos, a graça da
cura através da vossa intercessão junto a Santa Virgem
Maria, Santíssima Mãe de Deus e de todos nós.
Dai-me, meus pretos-velhos, um pouco de vossa
humildade, de vosso amor e de vossa pureza de
pensamentos, para que possa cumprir minha missão na
Terra, seguindo todos os vossos exemplos de bondade.
Louvadas sejam todas as Santas Almas Benditas. Tenham
piedade de nós. Assim seja!

PRECE AOS CABOCLOS


Salve Zambi, Pai e criador de todo o universo! Salve
Oxóssi, Rei das matas e chefe de todos os Caboclos! Salve
seu Sete Folhas e sua falange guerreira!
Peço que seu arco e sua flecha me defendam de toda
armadilha, volúpia, de toda ganância material e
desproteção psíquica. Que eu esteja sempre protegido de
178
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

todo mal que me for direcionado e de tudo aquilo que não


me faz bem e que eu insisto em me apegar.
Que seu olhar penetrante queime todo o meu ódio, inveja,
ciúme, orgulho, maledicência e minha mania humana em
buscar a perfeição. Que sua luz me ajude a ter compaixão
pelo outro e por mim mesmo. Que suas folhas me livrem
do inimigo e embelezem a minha vida para sempre olhar
e refletir o bem. Que assim seja e assim será!
Salve o verde das matas! Salve os Caboclos!
Oke Oxóssi!

PRECE AOS BAIANOS


Meu Sr. do Bonfim, acho-me na Tua presença
humildemente, para receber de Ti, todas as graças que
quiseres me dispensar.
Perdoai-me, Senhor, por todas as faltas que porventura
eu tenha cometido por obra ou pensamento.
Fazei-me forte para vencer todas as tentações e malfeitos
do inimigo.
Que o sagrado Orixá Ogum corte com sua espada todos
os males que de mim se acercarem;
Que Iemanjá, Rainha do Mar, com a Tua proteção, leve
sob grilhões para o fundo do mar toda a inveja que sobre
mim, recair;
Que Oxum leve consigo todas as lágrimas que eu tenha a
chorar, para nunca o desespero ou a desgraça me alcançar;
Que Ossanhe afaste de mim todas as tempestades para os
ventos da bonança me trazerem prosperidade;
Que toda a fortuna do mundo possa chegar aos meus pés,
com a proteção do grande Orixá Oxumarê;
Que Xangô, do alto da sua Santa Pedreira, solidifique
todos os bens que eu alcançar.;
Salve o Sr. do Bonfim, salve todos os Orixás, que me
protejam na vida, para nada me faltar.
179
MINHA VIDA NA UMBANDA

PRECE AOS BOIADEIROS


Salve a força dos cem cavalos brancos de boiadeiro
Que rompem cercas
Que rompem sebes
Que avançam em pastos
Que seguem rumo no sertão imenso!
Xetruá!
Boiadeiro com seu laço
Gira o mundo e faz magia
Gira o tempo e movimenta
Os caminhos de nossas vidas!
Xetruá!
Boiadeiro com seu berrante
Anuncia a nova era
Abre os pensamentos e os corações
Dos homens que avançam na terra!
Xetruá
Boiadeiro com seu chapéu
Cobre o Ori dos filhos seus
Mostra o eixo, mostra o rumo
Das passadas de quem tem fé!
Xetruá!
Mensageiro do Cruzeiro do sul
Caminhante do céu sem fim
Sol, lua e estrela te orientam
Rumo ao Norte de sua terra
Seu lajedo, sua estrada

180
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Horizonte que nos leva


Xetruá!
Sua guia é a minha guia
O seu canto é o meu canto
Sua força é a minha força
Seu amor é a minha bandeira!
Xetruá, seu boiadeiro
Que com seus cem cavalos brancos
Rompe cerca
Rompe sebes
Corre pastos
No sertão imenso de nós mesmos!
Xetruá!

PRECE AOS MARINHEIROS


Salve os Marinheiros de Umbanda!
Pelo mar vou levando o desequilíbrio e as negatividades
do meu ser.
Pelo mar vou levando a incerteza de que caminho tomar.
Pelo mar vou levando os motivos de meu desespero e
solidão.
Pelo mar vou levando a falta de um caminho para seguir.
Que os marujos me tragam a certeza de uma vida
equilibrada, a vontade de continuar navegando e a
promessa de um caminho iluminado.
Assim, pedimos que pelo mar levem os nossos
desequilíbrios e nossas negatividades.
Da mesma maneira, que levem as incertezas e as
intolerâncias.
Levem o desespero, a angústia e a solidão.

181
MINHA VIDA NA UMBANDA

E nos tragam, caros marujos, a certeza de uma vida


equilibrada, a coragem de seguir navegando pelo mar da
vida e a certeza de um caminho iluminado.
Assim seja e assim será! Saravá!

PRECE A SANTA SARA (CIGANOS)


Santa Sara, minha protetora, cubra-me com seu manto
celestial. Afaste as negatividades que porventura estejam
querendo me atingir. Senhora, protetora dos ciganos,
sempre que estivermos nas estradas do mundo proteja-
nos e ilumine nossas caminhadas.
Santa Sara, pela força das águas, pela força da mãe-
natureza, esteja sempre ao nosso lado com seus mistérios.
Nós, filhos dos ventos, das estrelas, da lua cheia e do Pai,
só pedimos a sua proteção contra os inimigos.
Ilumine nossas vidas com seu poder celestial, para que
tenhamos um presente e um futuro tão brilhantes, como
são os brilhos dos cristais. Ajude os necessitados, dê luz
para os que vivem na escuridão, saúde para os que estão
enfermos, arrependimento para os culpados e paz para os
intranquilos.
Santa Sara, que o seu raio de paz, de saúde e de amor
possa entrar em cada lar neste momento. Dê esperança de
dias melhores para essa humanidade tão sofrida. Santa
Sara milagrosa, protetora do povo cigano, abençoe a
todos nós que somos filhos do mesmo Deus.

PAI NOSSO UMBANDISTA


Pai nosso que estais nos céus, nas matas, nos mares e em
todos os mundos habitados
Santificado seja o Teu nome, pelos Teus filhos, pela
natureza, pelas águas, pela luz e pelo ar que respiramos.
Que o Teu reino, reino do bem, do amor e da fraternidade,
nos una a todos e a tudo que criaste, em torno da sagrada
cruz, aos pés do divino salvador e redentor.

182
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Que Tua vontade nos conduza sempre para o culto do


amor e da caridade.
Dá-nos hoje e sempre a vontade firme para sermos
virtuosos e úteis aos nossos semelhantes.
Dá-nos hoje o pão do corpo, o fruto das matas e a água
das fontes para o nosso sustento material e espiritual.
Perdoa, se merecermos, as nossas faltas e dá o sublime
sentimento do perdão para os que nos ofendam.
Não nos deixe sucumbir ante a luta, dissabores,
ingratidões, tentações dos maus espíritos e ilusões
pecaminosas da matéria.
Envia, Pai, um raio de Tua divina complacência, luz
e misericórdia para os Teus filhos pecadores que aqui
habitam, pelo bem da humanidade.
Que assim seja em nome de Olorum, Oxalá e de todos os
mensageiros da luz divina.
Destaco a seguir, alguns exemplos de Pontos Cantados prati-
cados em nosso terreiro, em louvor aos Orixás e Guias de Luz de
nossa Divina Sagrada Umbanda.

PONTO DE OXALÁ
Oxalá, meu Pai, hasteia a bandeira branca lá no alto da
serra
Oxalá, meu Pai, abençoe e perdoe seus filhos aqui na
terra
Missão sagrada meu Pai, a sua bênção
O seu amor e o seu perdão
E não permita que entre os filhos de Umbanda possa
existir jamais um traidor (2x)

PONTO DE OXUM
Eu ví Mamãe Oxum sentada numa cachoeira (2x)
Colhendo os lírios, lírios ê

183
MINHA VIDA NA UMBANDA

Colhendo os lírios, lírios ah


Colhendo lírios pra enfeitar nosso Congá (2x)

PONTO DE IEMANJÁ
IÊ...Iemanjá
Rainha das ondas, Sereia do mar (2x)
Como é lindo o canto de Iemanjá
Faz até o pescador chorar
Quem escuta a Mãe D’água cantar
Vai com Ela pro fundo do mar (2x)

PONTO DE IANSÃ
Eu tava na ladeira sem poder subir (2x)
Chamei Iansã pra me acudir (2x)
Eu tava na ladeira sem poder descer (2x)
Chamei Iansã para me valer (2x)

PONTO DE NANÃ
Vó Nanã minha vozinha, minha vó
Minha vó que Deus me deu, minha vó (2x)

PONTO DE OGUM
Ogum tem sete espadas pra me defender (2x)
Eu tenho Ogum em minha companhia
Ogum é meu Pai, Ogum é meu Guia
Ogum vai passar,
Venha com Deus e a Virgem Maria (2x)

PONTO DE OXÓSSI
Oxóssi é Rei no céu
Oxóssi é Rei na terra (2x)
Ele não desce do céu sem coroa

184
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Sem sua muganga de guerra (2x)

PONTO DE XANGÔ
Meu Pai São João Batista é Xangô
Ele é dono do meu destino até o fim
Se um dia me faltar a fé no meu Senhor
Que role esta pedreira sobre mim

PONTO DE OBALUAÊ/OMOLÚ
Meu Pai Oxalá é Rei venha me valer (2x)
O velho Omolú, Atotô Obaluaê (2x)
Atotô Obaluaê, Atotô Babá
Atotô Obaluaê, Atotô é Orixá

PONTO DE IBEIJÍS
Hoje tem alegria no terreiro do meu Pai
Saravá Seu Rompe Mato, ele é chefe de congá (2x)
Embala eu, Babá, embala eu (2x)

PONTO DE PRETOS-VELHOS
Preto Velho vem de Angola, vem de Angola trabalhar
(2x)
Ele vai, Ele vai, Ele vem, Ele tira mironga, Ele faz tirar
(2x)
PONTO DE CABOCLOS
Oxalá chamou, Ele mandou chamar
Os Caboclos da Jurema lá no Juremá.
Chamo os Caboclos das matas é para trabalhar (2x)
Se o coqueiro é muito alto, Caboclo vai derrubar. (2X)

PONTO DE BOIADEIROS
Boiadeiro Boiadeiro, cadê sua boiada (2x)

185
MINHA VIDA NA UMBANDA

Minha boiada eu deixei lá em Belém


E o meu chapéu de couro
Eu deixei foi lá também. (2x)

PONTO DE MARINHEIROS
Eu não sou daqui, Marinheiro só
Eu não tenho amor, Marinheiro só
Eu sou da Bahia, Marinheiro só
de São Salvador, Marinheiro só
Oh Marinheiro, Marinheiro, Marinheiro só
Oh quem te ensinou a navegar, Marinheiro só
Ou foi o tombo do navio, Marinheiro só
Ou foi o balanço do mar, Marinheiro só
Lá vem, lá vem, Marinheiro só
Ele vem faceiro, Marinheiro só
Todo de branco, Marinheiro só
Com seu bonezinho, Marinheiro só.

PONTO DE CIGANOS
Meu Ganga não me engana
Meu Ganga me falou
Essa moça é Cigana
Foi doutor quem mandou

PONTO DE BAIANOS
Baiano bom, Baiano bom, Baiano bom é quem sabe
trabalhar (2x)
Baiano bom é quem sobe no coqueiro, tira água desse
côco, bota o côco no lugar (2x)

Os chamados ditos populares2 fazem parte da vida de todos e


até hoje são passados de geração em geração. Frases disseminadas
na cultura popular, curtas e de fácil assimilação, carregam inú-
meros ensinamentos que se aplicam a todo tipo de situação em
2
Dito popular é um provérbio agudo e sentencioso que costuma contemplar um con-
selho ou uma moral.

186
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

nosso cotidiano. O mesmo ocorre em nossa religião, onde muitas


frases e pensamentos se tornaram populares, sejam em forma de
conselhos, cobranças, advertências ou transmitindo ensinamen-
tos diversos. Relaciono abaixo algumas que merecem destaque.
FRASES & PENSAMENTOS
• Não mexa com filho de fé, ele é mel e dendê, Santo forte
e feiticeiro, sua reza tem axé.
• O mundo gira, o mundo dá voltas. Quem riu na tua ida,
vai chorar na tua volta.
• Pessoa ruim é capaz de tudo, fio meu, inclusive fingir
ser boa.
• Não culpe o Orixá pelo seu mal gênio. Ele é responsável
pelo seu crescimento, e não pela sua estupidez.
• Todo bajulador é falso e perigoso. O puxa-saco é igual
carvão; apagado ele te suja, aceso ele te queima.
• A lei do retorno anda bem devagarinho, mas pode
apostar que ela chega sem avisar e faz o mundo girar.
• A fé pela qual me ajoelho é a mesma que me levanta e
não me deixa cair.
• Não se reconhece um terreiro pelo luxo que ele tem, mas
sim pelo que você sente ao pisar nele.
• Levo uma rosa quando vou ao seu axé. Falo com Rosa
Caveira porque nela tenho fé.
• Exú trabalha junto com você. Não adianta pedir casa,
carro, trabalho e ficar em casa cuidando da vida dos outros.
• Quem tenta derrubar filho que está debaixo de minha
capa, um dia tropeça e não levanta mais...
• Chegou pelo dor, ficou pelo amor.
• Todo mundo quer a verdade, mas nem todo mundo
aguenta ouví-la.
• A tempestade pode ser forte e violenta, mas a rocha que
te sustenta é de Xangô.

187
MINHA VIDA NA UMBANDA

• Se tem uma coisa que a maldade conhece é o caminho


de volta.
• Eu sou da encruza, do axé, do saravá, da fé e da gira.
Tenho proteção de Exú e de Pombagira.
• Eu sou filho de fé, meu coração tem axé, meus Orixás me
dão luz e no escuro eu tenho quem me conduz.
• Não mexe comigo que eu não ando sozinho!
• Quem cuida de mim não dorme!
• Fé não é achar que seu Guia fará tudo que você quiser.
Fé é acreditar que ele fará sempre o que for melhor pra
você.
• A maldade é um tipo de correspondência que acaba
sempre voltando para o remetente.
• Não mexa comigo, não sou de brincadeira. Na minha
encruza me chamam Tatá Caveira.
• Dizem que as pessoas só dão valor depois que perdem.
Eu tenho comigo que elas sabiam o que tinham... só não
sabiam é que iam perder.
• O que é teu já tá guardado. Não sou eu quem vou lhe
dar!
• Se não quer ouvir minhas verdades, não venha me
contar suas mentiras.
• Exú não te dá o que você pede, e sim o que você merece!
• Novos começos chegam, muitas vezes, disfarçados de
finais dolorosos.
• As maldades que você me fez sorrindo, você vai pagar
chorando!
• Ao meu passado, teu perdão. Ao meu presente, tua
misericórdia, e ao meu futuro, tua providência.
• Língua que fala o que não vê, é fervida no azeite de
dendê.
• Sou do axé e não nego minha fé!

188
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

• Quem canta um ponto reza duas vezes.


• Quem dá troco é comerciante. Filho de fé deixa nas
mãos de Seu Zé.
• Nunca foi sorte. Sempre foi vela acesa, ponto cantado e
fé em dia.
• Quando uma porta não abre, é porque não é seu
caminho.
• Nem anjo nem diabo. Sou sua imagem e semelhança.
• O bom, eu protejo. O mal, eu cobro. O falso, eu derrubo.
Meu nome e Exú.
• Não mexe comigo moço, porque quando eu falo, falo
sério. Meu tapa é hospital e meu chute é cemitério.
• Roupa branca não combina com coração sujo.
• Dessa vida, a gente só leva a alma. Cuide bem da sua.
• O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.
• Quando o corpo não aguenta, a fé sustenta.
• Não estou na Umbanda; eu sou Umbanda!
• Aquilo que Orixá dá, ninguém tira.
• É a lei de Xangô: quem deve, paga; quem merece, recebe.
• Não pergunte a Exú o que não quer ouvir. Não prometa
a Exú o que não vai cumprir.
• Metade de mim é fé e a outra é axé.
• Faz do meu corpo a sua flecha e do meu coração o seu
tambor.
• Enquanto o silêncio dos pretos-velhos te emocionar, teu
caminho é e sempre será a Umbanda.
• Em casa de mamãe toda espuma é beijo, toda onda é
abraço.
• O que Oxum constrói, ninguém destrói. O que Oxum
abre, ninguém fecha. O que Oxum levanta, ninguém
derruba.

189
MINHA VIDA NA UMBANDA

• Não mexa com o povo da Calunga. A cova pode ser rasa,


mas a terra é profunda.
• A Umbanda não é submissão, é respeito. Não é
escravidão, é dedicação. Não é status, é postura.
• Quem bebe do meu copo, senta na minha mesa e se
abriga debaixo do meu panamá, desamparado nunca há
de ficar.
• Meu Orixá não calará a sua boca, mas impedirá que seu
veneno me atinja!
• Oxalá traga a luz. Nanã a sabedoria. Xangô a justiça.
Iemanjá o afeto. Ogum a vitória. Oxum o amor. Iansã a
força. Oxóssi a fartura. Ibeji a alegria e Exú os caminhos
abertos.
• Ogã de verdade não é aquele que toca mais bonito, mas
sim aquele que toca com o coração!
• Quem tem fé nas almas não tem medo da assombração.
Eu tenho as almas no peito e os pretos-velhos no coração.
• Não mexe com ela. Ela é do dendê. Ela é de saravá. De
laroyê e da fé em todos os Orixás.
• Quando o canto é reza, todo toque é santo.
• Aonde você for, vou estar contigo. Sou seu Anjo da
Guarda e você pode contar comigo!
• Benditas sejam todas as palavras ditas em silêncio, pois
não há força maior que a fé, nem voz mais alta que a
oração.
• Quem com luz ilumina, com luz será iluminado.
• Sobre as ondas do mar, sobre as águas na areia, minha
força é do mar, minha mãe é sereia.
• Fazer o bem sem olhar a quem.
• Quem não pode com mandinga, não carrega patuá.

190
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

O QUE É O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA?


O Santuário Ecológico da Serra do Mar (Santuário
Nacional de Umbanda)3, faz parte da Reserva
Ecológica da Serra do Mar. O espaço, idealizado pelo
Babalaô Ronaldo Linares4, foi adequado para práticas
religiosas e recuperado pela entidade mantenedora do
Santuário, a Federação Umbandista do Grande ABC,
proporcionando aos devotos a contemplação à natureza
e o culto aos Guias e Orixás.
Tambem conhecido como Vale dos Orixás, o Santuário
Ecológico da Serra do Mar é um lugar obrigatório a todo
simpatizante ou devoto de qualquer religião afro, cuja
exuberância de fauna e flora, com seus lagos, cachoeiras,
pedreiras e matas preservadas, fazem do local um espaço
único e sagrado.

Foto: Autor
3
Disponível em: <https://santuariodeumbanda.com.br/site/>
4
Presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, idealizador e criador do pri-
meiro curso de Formação Sacerdotal de Umbanda do país, guardião do Santuário Na-
cional da Umbanda.

191
MINHA VIDA NA UMBANDA

ALGUNS NOMES DE GUIAS NA UMBANDA


• PRETOS-VELHOS
Pai Anacleto; Pai Antônio; Vovô Agripino; Pai Benedito;
Pai Benguela; Pai Caetano; Pai Cipriano; Pai Congo; Pai
Tomé; Pai Fabrício das Almas etc.
• PRETAS-VELHAS
Vovó Acácia; Vovó Ana; Vovó Anastácia; Vovó Cambinda
(ou Cambina); Vovó Filó; Vovó Catarina; Tia Chica; Vó
Ditinha; Vovó Barbina; Mãe Benedita etc.
• CABOCLOS
Caboclo Pena Branca; Caboclo Sete Folhas da Jurema;
Caboclo Samambaia; Caboclo Sete Montanhas; Caboclo
Humaitá; Caboclo Aimberê; Caboclo Aimoré Caboclo;
Caboclo Sete Flechas; Caboclo Beira Mar; Caboclo
Boiadeiro etc.
• CABOCLAS
Cabocla Araci; Cabocla Brava Cabocla; Cabocla Diana
da Mata; Cabocla Caçadora; Cabocla Estrela de Cristal;
Cabocla Guaraciara; Cabocla Indaiá; Cabocla Iracema
Flecheira; Cabocla Itapotira etc.
• CIGANOS
Ramirez; Vladimir; Cigano das Pedras; Alba; Aurora;
Esmeralda; Carmen; Dalila; Dolores; Gonçalo; Jade;
Leoni; Jasmim; Ramon; Sara; Juan; Vladimir; Sandro etc
• ERÊS
Rosinha; Mariazinha; Ritinha; Pedrinho; Paulinho;
Joãozinho; Francisquinho; Cosminho; Crispim; Flechinha etc.
• BAIANOS
João do Coco; Zé Baiano; Zé do Coco; Manoel do Facão;
Pedro da Bahia, Simão; Maria do Rosário; Baiana do
Balaio; Maria Quitéria etc.

192
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

• MARINHEIROS
Zé do Mar; João da Marina; João Canoeiro; Seu
Jangadeiro; Zé dos Remos; Marinheiro das Sete Praias;
Antônio das Águas; Capitão dos Mares; Martim Pescador
etc.
• BOIADEIROS
Zé Mineiro; Boiadeiro da Jurema; João Boiadeiro; Zé do
Laço; Boiadeiro do Rio; Boiadeiro do Ingá; Boiadeiro
Chapéu de Couro; Boiadeiro do Chapadão; Carreiro;
Boiadeiro da Serra da Estrela; Zé da Boiada etc.

Como já observado, o aprendizado em nossa religião ocorre


durante toda a vida do umbandista, e não só dentro do terreiro. O
estudo da Umbanda é obrigação de todo adepto que respeita sua
religião e almeja evoluir. Só o conhecimento dilui as dúvidas, as-
sim como só a Luz extingue as trevas. Estudar nossa religião é tão
importante quanto receber nossos Guias ou praticar a caridade.
Um médium esclarecido é um médium seguro, confiante e apto
para exercer com plenitude suas obrigações religiosas e, como
reza o dito, “o médium que não estuda é tão útil para seus Guias
quanto um facão cego”. Relaciono abaixo algumas obras e sites que
considero relevantes a todos que, assim como eu, buscam ampliar
seus conhecimentos.

LEITURA INDICADA
• Bandeira, Armando Cavalcanti. O que é Umbanda.
1970.
• Cumino, Alexandre. Exu Não é Diabo. 2018
• Farelli, Maria Helena. As sete forças da Umbanda.
• Félix, Cândido Emanuel. A cartilha da Umbanda. 1965.
• Fontenele, Aluízio. A Umbanda através dos séculos.
1950.
• Freitas, Brasão de. Cultura umbandística.
• Freitas, Byron Tôrres de. Na gira da Umbanda e das
Almas.

193
MINHA VIDA NA UMBANDA

• Freitas, João de. Umbanda. 1941.


• Guimarães, Edyr Rosa; Lima, Almir S. M. Universidade
da Umbanda. 1982.
• Guimarães, Fernando M. Grifos do passado. 2004.
• Linares, Ronaldo Antonio; Trindade, Diamantino
Fernandes. A Umbanda na sua vida diária.
• Machado, Maria Elise G. (Yamaracyê). Umbanda: o
despertar da essência.
• Maciel, Sylvio Pereira. Umbanda Mista. 1950.
• Magno, Oliveira. A Umbanda e seus complexos.
• Mattos, Sandro da Costa. O livro básico dos Ogans.
• Oliveira, J. Alves de. O evangelho na Umbanda. 1970.
• Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). A missão da
Umbanda. 2006.
• Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Chama crística.
2001.
• Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Diário
mediúnico. 2009.
• Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Jardim dos
Orixás. 2004.
• Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Umbanda pés no
chão. 2008.
• Pinto, Altair. Dicionário da Umbanda.
• Pinto, Tancredo da Silva; Freitas, Byron Tôrres de. As
mirongas da Umbanda.
• Prestes, Míriam (de Oxalá). Conversas de Terreiro. 2015.
• Reis, Ney Nery dos (Omolubá). Almas e Orixás na
Umbanda. 1986.
• Rivas Neto, Francisco (Arhapiagha). Exu: o grande
arcano. 1994.
• Rosa, Celso Alves (Decelso). Umbanda para todos.

194
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

• Saraceni, Rubens. A evolução dos espíritos.


• Saraceni, Rubens. A magia divina das sete pedras
sagradas.
• Saraceni, Rubens. A magia divina dos elementais.
• Saraceni, Rubens. A magia divina dos sete símbolos
sagrados.
• Saraceni, Rubens. A tradição comenta a evolução.
• Saraceni, Rubens. As sete linhas de Umbanda: a religião
dos mistérios.
• Saraceni, Rubens. Código de Umbanda.
• Saraceni, Rubens. Formulário de consagrações
umbandistas: livro de fundamentos.
• Saraceni, Rubens. O cavaleiro da estrela guia: o início
da saga. 1990.
• Saraceni, Rubens. O guardião da meia noite.
• Saraceni, Rubens. O guardião da pedra de fogo: as
esferas positivas e negativas.
• Saraceni, Rubens. O guardião das sete portas.
• Saraceni, Rubens. O guardião dos caminhos: a história
do senhor Guardião Tranca-Ruas.
• Saraceni, Rubens. Orixá Exu Mirim.
• Saraceni, Rubens. Orixá Exu: fundamentação do
mistério Exu na Umbanda.
• Saraceni, Rubens. Orixá Pombagira.
• Saraceni, Rubens. Os arquétipos da Umbanda: as
hierarquias espirituais dos Orixás.
• Saraceni, Rubens. Umbanda Sagrada: religião, ciência,
magia e mistérios.
• Silva, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda
de todos nós. 1956.
• Silva, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda

195
MINHA VIDA NA UMBANDA

do Brasil. 1969.
• Silva, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda
e o poder da mediunidade.
• Souza, Antônio Eliezer Leal de. No mundo dos espíritos.
1925.
• Souza, Antônio Eliezer Leal de. O Espiritismo, a magia
e as sete linhas de Umbanda. 1933.
• Souza, Florisbela Maria de. Umbanda para os médiuns.
1958.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. A magia e os encantos da
Pomba-Gira. 1972.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. Conhecimentos
indispensáveis aos médiuns espíritas (dois opúsculos
doutrinários). 1953.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. Curas, mandingas e
feitiços de Pretos-Velhos. 1975.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. Despachos e oferendas na
Umbanda. 1970.
• Teixeira Neto, Antônio Alves; Sampaio, Luiz Léo. Nossos
Pretos-Velhos. 1968.
• Trindade, Diamantino Fernandes. Umbanda brasileira:
um século de história. 2009.
• Trindade, Diamantino Fernandes; Cardoso, Edison. A
Umbanda na sua vida diária. 1989.
• Varela, João. Ervas sagradas na Umbanda.
• Varella, João Sebastião das Chagas. Cozinha de santo
(culinária de Umbanda e Candomblé). 1972.
• Zespo, Emanuel. O que é Umbanda. 1941.

196
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

SITES INDICADOS
• https://www.facebook.com/Axeparaquemtemfe/
• povodeesquerda07.blogspot.com
• https://al8758.wixsite.com/ventosdearuanda
• http://acve.com.br
• http://casadavovomariarosa.blogspot.com
• https://casadopaibenedito.wordpress.com
• https://orixaessenciadivina.wordpress.com
• https://santuariodeumbanda.com.br/site/
• institutocaminhosoriente.com
• umbandayorima.blogspot.com
• luzdivinaespiritual.blogspot.com
• umbanda – e issuu Pesquisa
• www.umbandadanatureza.com.br
• www.abeafrica.com
• www.alanbarbieri.com.br
• www.centroespiritaurubatan.com.br
• www.colegiopenabranca.com
• www.facebook.com/groups/803996009707310
• www.facebook.com/sabedoriadeumbandaoficial/
• www.iquilibrio.com
• www.kboing.com.br
• www.pensandoumbanda.com
• www.perdido.co
• www.povodearuanda.wordpress.com
• https://umbandaead.com.br/

197
MINHA VIDA NA UMBANDA

GLOSSÁRIO
ABEBÊ: Leque dourado em forma circular, usado por
Oxum e Iemanjá.
ABÔ: É um banho de folhas ou outro elemento que promove
a limpeza espiritual. Utilizado tanto no Candomblé quanto
na Umbanda, é preparado pelo zelador responsável pelo
terreiro.
ADJÁ / AJÁ: Sinaleta de metal de 3 ou 4 campânulas, usa-
da pelo sacerdote.
ALGUIDAR: Recipiente de barro muito utilizado em
entregas e oferendas.
AMACI: Preparado líquido a base de ervas.
AMALÁ: Farofa.
ALUVAIÁ: Exú.
APARELHO: Médium, cavalo.
ARERÊ: É uma exclamação que sugere «olha a briga!» ou
«olha a festa».
ARUANDA: Céu, paraíso, plano espiritual elevado, mora-
da dos espíritos umbandistas, morada dos Orixás.
AXÉ: Energia sagrada que emana dos Orixás.
BABÁ: Diminutivo de Babalorixá, significa Pai.
BAIXAR: Diz-se de um espírito quando incorpora no mé-
dium.
BANHO DE DESCARREGO: Preparado líquido de ervas
sagradas que se toma após o banho de asseio, para limpeza
e afastamento de vibrações negativas.
BATE FOLHAS: É um amarrado de ervas usado pelas
entidades para limpeza do consulente ou ambiente.
BORÍ: É o rito de oferenda à cabeça (ebó/ori), que consiste
em assentar, sacralizar, reverenciar e ofertar o Orixá de
cabeça.
BÚZIOS: São conchas preparadas para uso em diversos ri-
tuais. Os búzios são lançados sobre uma peneira e de acor-
do com sua caída, lê-se aquilo que o Guia ou Orixá quer
nos revelar.

198
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

CABAÇA: Vasilha feita do fruto maduro do cabaceiro de-


pois de retirado o miolo.
CABALA: A Cabala dos Orixás é uma das diversas
formas de encontrar os signos que regem a personalidade
e o destino das pessoas dentro da Umbanda, e pode ser
calculada a partir da data de nascimento. O resultado desta
numerologia é a identificação dos odús que regem a cabeça
ou coroa.
CABEÇA-FEITA: Médium desenvolvido.
CABOCLO: Espírito de índio ou mestiço.
CALUNGA GRANDE: Oceano, mar.
CALUNGA PEQUENA: Cemitério.
CANGIRA: O mesmo que Tronqueira; construção na en-
trada do Terreiro, à esquerda, onde ficam assentados os
Exús.
CARREGADO: Pessoa sob a influência de fluídos espiri-
tuais maléficos.
CAVALO: Médium, aparelho.
CAZUÁ: Palavra de origem kimbundo que significa “ca-
bana”, “casa”.
CHACRAS: São os locais de concentração de magnetismo
no corpo, onde se aglomera os centros nervosos no ser hu-
mano.
COISA FEITA: Diz-se do trabalho feito para levar o mal
a alguém.
COMPADRE: Modo popular de se referir a Exú.
CONGÁ: Altar do terreiro composto por imagens e obje-
tos sagrados.
CONSAGRAR: Tornar sagrado.
CONTRA-EGUN: Traçado de palha da costa usado no
braço para proteção contra espíritos desencarnados que
atuam em baixo astral.
CORPO FECHADO: Pessoa que se crê a salvo da influên-
cia de maus espíritos.
CURIMBA: Ou Corimba, é o nome que se dá ao grupo de

199
MINHA VIDA NA UMBANDA

pessoas que se relacionam com as práticas musicais dentro


dos rituais umbandistas.
CRUZAR: Ritual que consiste em fazer uma cruz com a
pemba na testa, na nuca, nas palmas das mãos e no dorso
dos pés dos médiuns.
CRUZEIRO DAS ALMAS: É um ponto de energia situado
dentro dos cemitérios (Calunga Pequena).
CUMEEIRA: É o ponto central da energia, a base e a
estrutura do terreiro. Funciona como uma espécie de
«para-raios».
CURIAR: Beber.
CURIMBA: Também conhecidos como tabaqueiros ou
ogãns, membros que compõem o grupo de percussão do
terreiro, formado por atabaques, agogô, chocalho, berim-
bau, entre outros.
DAR PASSES: Energia da entidade passada aos consulen-
tes através do médium incorporado.
DEBURU: Tambem chamado Doburu, é a pipoca ofereci-
da aos orixás Obaluaiê e Omolu.
DEMANDA: Problema, feitiçaria contra alguém.
DEFUMAR: Limpar alguém, local ou alguma coisa de
maus fluídos.
DESCARREGAR: Livrar alguém de fluídos negativos.
Despachar restos de vela, pontas de charuto e demais so-
bras do trabalho da entidade, em local adequado.
DESCER: Diz-se quando o Orixá ou a entidade vai incor-
porar no médium.
DESMANCHAR TRABALHO: Anular os efeitos de tra-
balho de magia negra sobre uma pessoa.
DESPACHO: Trabalho entregue em lugar determinado,
conforme orientação da entidade espiritual, geralmente da
esquerda, para desmanche de trabalhos de magia negra,
feitiço.
EBÓ: É uma oferenda das religiões afro-brasileiras
dedicada a algum Orixá.
EBOMI: Pessoa que cumpriu todas as obrigações; irmã ou

200
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

irmão mais velho.


EGUN: Espírito desencarnado.
EGUNITÁ: Qualidade de Iansã.
ELEDÁ: Conjunto formado pelo Orixá “dono da cabeça” e
o Orixá secundário, denominado ajuntó.
ENCOSTO: Espírito desencarnado que compartilha dos
pensamentos e fluídos dos encarnados, influenciando-os
e prejudicando-os, conscientemente ou não, com suas vi-
brações.
ENCRUZA: Cruzamento de ruas e rodovias para colocar
oferendas.
ENTIDADES: Seres espirituais.
EKEDE: De origem Ketu, refere-se às cambonas na Um-
banda.
ERÊ: Espírito de criança.
ESPÍRITO DE LUZ: Espírito sábio, benevolente, de eleva-
da conduta moral.
ESPÍRITO OBSESSOR: Espírito atrasado moralmente,
algumas vezes malvado, que convive com o encarnado em
perfeita comunhão de pensamentos.
FALANGE: Grupo de seres espirituais que trabalham den-
tro de uma mesma corrente vibratória (linha).
FALANGEIRO: Espírito pertencente a uma determinada
falange.
FECHAR A GIRA: Encerrar a gira ou qualquer cerimônia
no terreiro em que houve formação de corrente vibratória.
FEITURA DE SANTO: Ritual de iniciação na Umbanda.
FILHO (A) DE FÉ: Adepto da Umbanda.
FILHO (A) DE SANTO: Médium iniciante ou não, que
trabalha em um terreiro.
FIRMA: Peça central da guia (colar) utilizada pelos inicia-
dos. É colocada no ponto em que a guia é amarrada para
fechá-la.
FIRMAR A CABEÇA: Concentrar-se.
FIRMAR PORTEIRA: Procedimento de segurança,

201
MINHA VIDA NA UMBANDA

realizado antes do início do trabalho. Consiste em defumar


ou riscar um ponto específico na entrada do templo.
FIRMAR PONTO: Canto coletivo do ponto da entidade
que irá dirigir os trabalhos, objetivando evocá-la ao mes-
mo tempo em que se forma a corrente mediúnica. Riscar
o ponto de determinada entidade. Designa o momento em
que a entidade risca seu ponto, dando prova de sua iden-
tidade.
FUNDAMENTOS: Leis de Umbanda, suas crenças e pro-
cedimentos.
FUNDANGA: Queima de pólvora.
GARRAFADA: Bebida para fins medicinais, preparada
com ervas curtidas ou maceradas, misturadas em aguar-
dente ou água.
GUIA: 1. Colar ritualístico representativo de uma entidade
espiritual, constituído de miçangas de cristal e/ou de por-
celana, pedras ou metal, nas cores que os identificam. 2.
Orixá ou entidade espiritual.
GUIA DE FRENTE: A primeira Entidade que se manifes-
ta no médium, não necessariamente sendo o seu Guia de
Cabeça.
HUMAITÁ: É o reino de Ogum.
IABÁ: Cozinheira especialista no preparo de comida de
santo.
IBÁ DE XANGÔ: Em iorubá: igbá Sàngó ou assentamen-
to de Xangô como é chamado popularmente pelo povo de
santo, são construídos com recipientes de madeira deno-
minado de gamela, podendo ser de formato arredondadas
ou ovaladas.
IAÔ: (em iorubá: Ìyàwó) É como são designados os filhos
de santo que já passaram pela iniciação no candomblé e no
batuque, popularmente conhecida como “feitura de santo”,
mas que ainda não completaram o período de 7 anos após
a iniciação. Só após os 7 anos, o iaô se tornará um ebomi
(“irmão mais velho”).
IBIRI: Apetrecho da cultura afro-brasileira, inerente ao
Orixá Nanã.

202
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

INCORPORAR: Entrar em transe mediúnico. “Receber” a


entidade espiritual.
INQUICES: São divindades de origem banta, cultuadas no
Brasil.
INTOTÔ: É o ponto de firmeza feito no chão, no centro do
Terreiro, que emana energia de dentro da terra.
ITÁS: Lendas.
JUNTÓ ou AJUNTÓ: Orixá secundário, que forma um
par vibracional com o Orixá de Cabeça, regente da coroa
do médium. O terceiro seria o Orixá de Herança ou Ances-
tral, que acompanha a família por várias gerações.
JUREMA: 1. Uma das caboclas de Oxóssi, chefe de falan-
ge. 2. Cidade espiritual onde habitam os Caboclos índios,
também conhecida como Juremá.
LARVAS ASTRAIS: Criaturas vampirizadoras dos nossos
sentimentos e pensamentos de baixa vibração. Elas se ali-
mentam dessas energias que emanamos, sugando nossas
reservas energéticas e espirituais, gerando desconforto em
nossas vidas.
LEBARA / LEGBARA: Forma como também são conhe-
cidas as chamadas Pombogiras.
LUME: Vela.
ELEGBARA: É o guardião das aldeias, cidades, casas e do
axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano.
MACAIA: Mata, floresta, folhas.
MAIAKA: Farofa.
MALEIME: Valei-me.
MANDALA: Diagrama composto por formas geométricas
presentes em várias religiões e utilizado como objeto ritu-
alístico ou meditação.
MARAFA ou MARAFO: Aguardente ou cachaça.
MENGA: Sangue de animais sacrificados.
METAMETÁ: São entidades que se assemelham aos
Orixás; espírito que carrega uma dualidade; duas
personalidades em apenas um espírito; um lado feminino
e outro masculino. O lado feminino chama-se Legbara e o

203
MINHA VIDA NA UMBANDA

lado masculino chama-se Elegbara.


MIASMAS: Espécie de plastificação de atos,
pensamentos e sentimentos ruins, terreno adorado pelas
larvas astrais.
MIRONGA: Magia. Segredo. Mistério.
MORADA: Lar; local onde alguém reside.
MURECA / MURECO: Menina, garota / homem, rapaz.
MUZAMBÊ: Forte. Vigoroso.
MUZENZA: Filho de Santo.
N’KISI: Orixá.
OFERENDA: Presente para os Orixás, Guias, Exús.
OGÃ: Médium responsável pelo canto e pelo toque.
OGÓ: Espécie de porrete com forma fálica, com o qual
Exú proteja as encruzilhadas e pune aqueles que violam
suas normas.
OLHO DE BOI: Semente utilizada como patuá contra
mau-olhado e canalizador de energia.
ORÍ: Cabeça, na língua yorubá.
ORÍKIS: (do yorùbá, orí = cabeça, kì = saudar) São versos,
frases ou poemas que são formados para saudar o Orixá
referindo-se a sua origem, suas qualidades e sua ancestra-
lidade.
ORIXÁ ANCESTRAL: É a vibração divina primeira que o
nosso Ori teve contato quando “desceu” para a dimensão
das formas.
ORUM: Mundo espiritual.
OTÁ: Pedra assentada no ponto de força e vibração do
Orixá.
OPAXORÔ ou PAXORÔ: É um apetrecho em forma de
«cajado», feito do cipó ou de metal prateado, usado pelo
Orixá Oxalá.
PADÊ: Oferenda para Exú.
PASSE: É o gesto de imposição de mãos presente também
no kardecismo.
PATACA: Dinheiro, moeda.

204
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

PATUÁ: Amuleto que a pessoa carrega em sua carteira,


contendo orações, rezas e elementos.
PEJI ou PEGI: Altar. Congá.
PEMBA: Espécie de giz em forma cônica arredondada,
utilizado para traçar desenhos de caráter invocatório (pon-
tos), entre outras determinações ordenadas pelos guias.
Nota: as diversas cores de pembas permitem identificar a
linha a que pertence a entidade trabalhadora.
PERESPÍRITO: É o elemento intermediário entre corpo
e espírito.
PITO: Cachimbo ou cigarro de palha usado pelos Pretos-
-Velhos.
PONTO CANTADO: Letra e melodia de cântico sagrado
para cada entidade. Espécie de prece evocativa cantada que
tem por finalidade atrair a vibração das linhas, falanges de
trabalho e entidades espirituais, assim como homenageá-
-las quando chegam e despedi-las quando devem partir.
PONTO RISCADO: Sinais riscados com pemba pelo mé-
dium incorporado, identifica a entidade manifestada e fe-
cha o seu corpo contra espíritos e forças perturbadoras.
PORRÃO DO CABOCLO: Também conhecido como
quartilhão, é uma grande vasilha feita de louça ou barro
muito utilizada por muitos povos, desde a antiguidade,
para a armazenagem de alimentos e bebidas. Sua aparên-
cia é muito semelhante as ânforas. Curiosidade: Devido ao
formato do porrão que pessoas de baixa estatura e de gran-
de porte físico são chamadas de parrudos.
PORTEIRA: Entrada do terreiro.
POVO DA ENCRUZA ou POVO DA RUA: Falange de
Exus.
PRECEITO: Prescrição feita para ser cumprida pelos fi-
lhos da casa.
PUXAR O PONTO: Iniciar um cântico.
QUEBRANTO: Mau olhado, feitiço, coisa feita.
QUEBRAR DEMANDA: Anular, desmanchar o efeito de
um trabalho feito para prejudicar ou perturbar uma pessoa.

205
MINHA VIDA NA UMBANDA

QUEBRAR PRECEITO: Desrespeitar as regras


estabelecidas num ritual ou trabalho.
QUIMBANDA: Linha de trabalhos de esquerda que
juntamente com as linhas de direita, formam o equilíbrio
na Umbanda. Não é o mesmo que Quiumbanda e não é
do mal.
QUIUMBA OU KIUMBA: Espíritos de maléficos sem luz,
escravizados pelos seus próprios sentimentos de ódio, dor
ou revolta. São obsessores, que induzem pensamentos ne-
gativos às pessoas, fingem ser entidades iluminadas, exe-
cutam magia negra e vampirismo astral.
QUIUMBANDA: Práticas maléficas associadas a quium-
bas.
QUIZILA: Tabu, aversão, antipatia, repugnância, impli-
cância, indisposição em relação a algo ou alguém. Conjun-
to de proibições.
RECEBER O SANTO: Incorporar. Entrar em estado de
transe com o Orixá ou guia espiritual.
RISCAR PONTO: Desenhar sinal cabalístico que identifi-
ca determinada entidade espiritual para evocá-la ou a sua
vibração ao plano físico.
RONCÓ: Cômodo de assentamentos e firmamentos do
Zelador do terreiro e de seus Filhos de Santo, portanto,
somente esses têm a autorização para adentrar a esse
recinto do terreiro.
RUM, RUMPI E LÊ: Rum (grande) Rumpi (médio)
e Lê (pequeno) são os nomes dados ao trio de atabaques
sagrados, usados nos rituais umbandistas.
SACUDIMENTO: Limpeza espiritual de forte intensidade
utilizada para desagregar energias negativas que acompa-
nham pessoas ou infestam ambientes.
SARAVÁ: Saudação umbandista que significa “Salve!”,
“Viva!”.
SESSÃO: Gira
SUCÊ OU SUNCÊ: Você, tu.
TOCO: Vela, charuto, cigarro, banco.

206
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

TORRÃO: Charuto.
TRONQUEIRA: Lugar de grande importância para a se-
gurança do terreiro, localizado de frente para a rua, do
lado esquerdo de quem entra.
TURÍBULO: Receptáculo de alumínio suspenso por pe-
quenas correntes, utilizado para defumações em cerimo-
niais ou práticas religiosas.
UMBRAL: Purgatório. Região entre o plano físico e espi-
ritual destinada ao esgotamento dos resíduos mentais no
processo em que a alma abandona o corpo após sua morte.
Estado ou local por onde passam algumas pessoas após a
morte.
URUPEMA: Espécie de peneira onde se é jogado os bú-
zios.
VODUN: Denominação dada aos Deuses na Nação Jejê.
YABÁ: Orixá feminina.
YALORIXÁ ou IALORIXÁ: Mãe de santo.
XAXARÁ: Pequeno cetro de palha-da-costa usado por
Omulú / Obaluaê, ornado com búzios e miçangas.
XOXÓ: Azeite de Dendê.
ZAMBI: Deus supremo na Umbanda.
ZOMBETEIROS: O mesmo que Quiumbas.

BIBLIOGRAFIA
Apostila ABESMA 2013.
Apostila ABESMA 2016/2018.
Apostila ABESMA 2019.
Apostila ABESMA 2020.
Apostila ABESMA 2021.
CAMARGO, A.. Rituais com ervas banhos defumações e
benzimentos. São Paulo: O Erveiro, 2017.
CORRAL, J. A.. O livro da esquerda na Umbanda. São
Paulo: Universo dos Livros, 2010.

207
MINHA VIDA NA UMBANDA

CRISTIANO, E.. Aconteceu na casa espírita. São Paulo:


Editora Allan Kardec, 2014.
CUMINO, A.. Exú não é diabo. São Paulo: Madras, 2018.
______. Médium: Incorporação não é possessão. São Paulo:
Madras, 2015.
JÚNIOR, A. B.. O livro essencial de Umbanda. São Paulo:
Universo dos Livros, 2014.
NETO, F. R.. Umbanda a Protossíntese Cósmica.
Epistemologia, ética e método da escola de síntese. São
Paulo: Pensamento, 2007.
PEREIRA, Y. do A.. Memórias de um suicida. Brasília:
FEB, 2008.
PINTO, A.. Dicionário de Umbanda. São Paulo: Eco.
SARACENI, R.. As Sete Linhas de Umbanda. São Paulo:
Madras, 2014.
VIEIRA, L. de C.. Os guias espirituais da Umbanda e seus
atendimentos. São Paulo: Madras, 2015.

208
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé

Sobre a ABESMA

A
Associação Beneficente Espírita São Miguel Arcanjo
(ABESMA) foi fundada em 18 de junho de 1998 e reco-
nhecida como entidade beneficente em 10 de junho de
2002. É uma associação sem fins lucrativos, mantenedo-
ra do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador,
e do Templo de Candomblé Nação Angola Kongo, Inzo Diá N’kisi
Telekompensú.
Nosso templo de Umbanda, instituído pelo Sr. Cigano Mercador
das Moedas de Ouro, Mentor e Guia Mestre do Terreiro e Espírito
da Falange Cigana, pertence a Linha das Almas e segue a doutrina
de Vovó Catarina de Angola, tendo como entidade responsável pelo
desenvolvimento das Giras, o Sr. Caboclo Rompe Mato.
Nosso Guardião é o Sr. Exú Tranca Ruas e nossa madrinha de
Pemba, mamãe Shirley, que trabalha ao lado de Pai Odé D’loy,
zelador do terreiro.
Nosso Pai Odé D’loy é Sacerdote do Templo de Umbanda Ten-
da do Cigano Mercador e Tat’Etú do Inzo Diá N’Kisi Telekom-
pensú. É Muzenza (Filho de Santo) de Mam’Etú (Mãe de Santo)
Maza Kessy, Nação Angola Kongo, sendo filho do N’kisi (Orixá)
Telekompensú (Logun Edé). Tem a Umbanda como profissão
de Fé, conforme os ensinamentos de sua Mam’Etú, seguindo as
orientações de seu Mentor Astral.
Mamãe Shirley é Sacerdotisa de Umbanda e Ebomi (pessoa que
cumpriu todas as obrigações) no Candomblé. Tem a Umbanda
como profissão de Fé, conforme os ensinamentos de sua Mam’Etú
(Zeladora), seguindo as orientações de seu Mentor Astral. É ma-
drinha do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador, onde
zela pelo cumprimento das determinações das entidades do Pai
Odé D’Loy.

209
A Associação Beneficente Espírita São Miguel Arcanjo encer-
rou todas as suas atividades em fevereiro de 2022, data de faleci-
mento do nosso mentor espiritual Pai Odé D’Loy.

210
Posfácio

E
ncerrar um livro é como se nos despedíssemos de um
amigo que nos fez companhia durante um longo tempo
de convivência. É algo a que nos dedicamos um pouco
todos os dias, com o carinho, o cuidado e a atenção que
só as grandes amizades despertam.
Nesse pouco mais de um ano que se passou, vi nossa amizade
nascer, crescer e agora é chegada a hora de partir. Uma parte de
mim se entristece, pois sentirei falta de cada linha que escrevemos,
dos momentos de dúvidas que juntos superamos e do tempo
dedicado às pesquisas, muitas vezes varando a madrugada, eu e
ele, intuídos pelo Sr. Caboclo Sete Folhas.
Agora meu companheiro está pronto para partir, o que também
me deixa muito feliz, pois é meu desejo que ele alcance muitas
mãos e olhos ávidos de conhecimento e de fé, e que deixe em cada
leitor pelo menos um pouco do todo que o compõem.
Uma parte de mim vai com você, meu companheiro, assim
como há de acontecer com todas as amizades que nascem do amor
mútuo e verdadeiro.
Gratidão ao Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, por “cada
página, cada linha e cada palavra inspirada”;
Gratidão a Olorum e aos Divinos Orixás;
Gratidão aos Guias de Luz, Protetores, Guardiões e Mentores;
Gratidão as Sete Linhas de nossa Divina e Sagrada Umbanda.
Saravá!
Axé.

211
Sobre o autor

Elcio Prado é bacharel em Publicidade


e Propaganda, designer gráfico,
diagramador, capista, cartunista,
ilustrador e músico.
Editor responsável pela Editalivros
Produções Editoriais, foi batizado na
Umbanda em 2008.
Atualmente, frequenta a Associação
Beneficente Espírita Irmã Iris -
A.B.E.I.I., dando prosseguimento ao
seu desenvolvimento mediúnico e aos
trabalhos espirituais, sob a orientação
do Sr. Caboclo Pena Branca, entidade
responsável pela doutrina da casa.

212
E ste livro, inspirado pelo Sr. Caboclo
Sete Folhas da Jurema, tem como
propósito esclarecer as primeiras
dúvidas e questionamentos que muitos
médiuns vivenciam ao entrar na religião da
Umbanda. Embora não se restrinja apenas ao
iniciante, serve também como um importante
recurso aos apreciadores da doutrina ou
mesmo para alguns médiuns já praticantes.
Perguntas como ”o que é incorporação?”, “para
que servem as guias?”, “posso incorporar em
casa?” ou, “como faço um altar dentro de
casa?”, são algumas das muitas abordadas nesta
obra.
Com uma linguagem simples, usual e
dinâmica, o autor narra sua própria evolução
como Filho de Santo, seus questionamentos e
inseguranças, complementando a narrativa
com de nições em forma de perguntas e
respostas, tornando a leitura objetiva,
agradável e acessível à todos.
Ao nal, um Glossário com termos e
expressões utilizadas no dia a dia do terreiro e
uma lista de livros e sites para consultas,
servem como referências àqueles que buscam
ampliar seus conhecimentos.
Uma obra essencial, tanto para o leigo, quanto
ao iniciante, como também ao médium
praticante e demais simpatizantes da religião.

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