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MINHA VIDA
NA UMBANDA
Desenvolvimento e formação
mediúnica de um Filho de Fé
Elcio Prado
(Inspirado pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema)
Contato com o autor:
email - elcio62@hotmail.com
whatsapp - 55+ (13) 99156.1306
Santos
2023
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
EDITALIVROS Produções Editoriais
e-ISBN: 978-85-69918-04-2
Revisão
Rosane Prado
Sobre o ebook
Formato: 140 x 210 mm • Mancha: 110 x 180 mm
Tipologia: Minion Pro (textos/títulos)
Todo o conteúdo (textos, fotografias e imagens) disponibilizado neste livro está sob a
proteção da “LEI DO DIREITO AUTORAL Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998”.
É proibida toda e qualquer comercialização dos mesmos, em quaisquer meios de
comunicação, sem prévia consulta e autorização pessoal do autor. Para reprodução sem
fins comerciais, é obrigatória a divulgação da autoria do material aqui disponibilizado,
além da permissão da editora responsável pela publicação.
Dedicatória
In Memoriam
Aos meus pais, Iolanda e Francisco, duas Luzes de
brilho eterno em nossas vidas.
Apresentação
P
lantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. As-
sim, José Martí, o aclamado poeta cubano, definiu em
uma frase as obrigações do ser humano. Viver além
do momento presente, contribuindo com a sociedade
ao transcender para as gerações futuras, uma herança
tripla. Conhecida e muito repetida, a proposta é muito mais pro-
funda e arrojada. Exige muito de quem a ela se dedica. Exige ir
além de seus próprios limites e persistir, ser insistente mesmo no
desenvolvimento de cada tarefa.
Plantar não é jogar a semente no solo, um pouco de água e
deixar que a natureza faça o resto. É envolver-se na sua sobrevi-
vência, cercá-la dos cuidados e da atenção necessários. É preciso
mesmo insistir consigo próprio para não deixar pra lá a tarefa.
Em uma escala maior, ter um filho é um compromisso que se
constrói e reconstrói a cada momento consigo e com os outros, os
parceiros familiares e com a criança. É preciso mesmo insistir sem
cessar para não se perder em tal complexidade.
E o livro? Bastam algumas palavras, um título e uma capa
colorida? Trata-se de um livro, de um bem cultural que irá por-
tar a sua mensagem ao longo dos anos e do mundo. Um livro é a
sua mensagem. Qual é a sua? Aqui, o poeta foi caprichoso em sua
síntese. É preciso insistir para entender o recado e, ainda mais, se
compreender, ser persistente para realizar.
Deus é insistente com a sua criação. As mulheres são insis-
tentes com os filhos que trazem ao mundo. Os escritores são insis-
tentes com as obras que geram.
Narrar a própria trajetória em um livro é um desafio com-
plexo. Há o risco de parecer vaidoso, pretensioso aos seus pares.
Há a dúvida sobre ter uma riqueza de realizações a compartilhar
e justificar a iniciativa. Há o conhecimento necessário sobre como
escrever o dito, outra questão angustiante. Essas questões e outras
variantes existem, incomodam. No entanto, há outro viés a ser
considerado.
Acontece que escrever a própria história ou parte dela é mais
do que apenas isso. É um registro histórico que trará compreensão
sobre a época em que foi escrito. Trará à luz fatos e pessoas, histó-
rias e ocorrências sociais. São fragmentos que ajudam a formar o
esqueleto da sociedade humana, sempre em evolução.
Ou um ato de amor, também pode ser.
Compartilhar os passos dados, as dúvidas e os resultados de
uma experiência vivida intensamente pode ajudar os outros a me-
lhor compreenderem as inquietações que carregam e encontra-
rem as respostas. Nesta simplicidade de proposta, há uma carga
enérgica de doação, de amor, por si só insistente.
Compartilhando a sua vivência na Umbanda, o Autor revela-
-se em suas dúvidas e sobre os conhecimentos apreendidos, antes
e depois de ingressar no culto. Ainda mais, sobre a jornada de
leigo a ativo praticante, minucioso em pontuar as etapas.
E aqui, nesse roteiro evolutivo que percorre os sete capítulos
do livro, estabelece com o leitor um diálogo por assim dizer técni-
co sobre a cultura umbandista, sua origem sagrada, seus elemen-
tos teóricos e práticos, sua rotina e rituais. Remete ao processo
de um irmão mais velho aconselhando o caçula sobre as dúvidas
desse. Um processo fraternal, amoroso, insistente.
Deve o leitor ter reparado que abusei do uso do verbo insistir.
Foi proposital, pois essa situação ficou transparente desde o capítulo
inicial e por meio dela, a intenção ganhou força como projeto de “ca-
minhar junto” do autor. Muitos foram insistentes com ele para que
trouxesse essa conversa a você e, se assim for, que seja inspiradora.
Toda missão exige insistência, venha de onde vier, inclusive
de si mesmo, para ser concluída. Esse é o item oculto na frase po-
ética/profética.
Marcelo Di Renzo
Jornalista, professor.
Sumário
17 PREFÁCIO
21 Capítulo 1 - O INÍCIO
Uma breve história
27 Capítulo 2 - O CHAMADO
Terreiro • Pai de Santo • Mãe de Santo • Filho de
Santo • Cambone • Médium • Giras • Assistência
• Consulentes • Por que se canta na Umbanda? •
Os Guias falam errado?
35 Capítulo 3 - O CAMBONO
Qual a diferença entre gira de cura, gira de
desenvolvimento e gira de consulta? • Por
que utilizamos roupas brancas nas giras de
Umbanda? • O que é arquétipo na Umbanda? •
O que é Tronqueira? • O que é Casa das Almas?
• Que saudação se faz ao entrar no terreiro? • O
que significa batismo na Umbanda? • Quem é o
Caboclo Rompe Mato? • O que é incorporação?
• Existem técnicas para facilitar a incorporação?
• O que significa mistificação? • O que originou o
sincretismo? • O que é congá? • Qual o significado
de bater-cabeça? • O que é salva? • Religião •
Fé • Espiritismo • Umbanda • Candomblé •
Obrigações e princípios de um Filho de Santo •
Mediunidade
57 Capítulo 4 - O FILHO DE SANTO
Para que servem as guias? • Qual o procedimento
quando uma guia se rompe? • Umbanda e internet
• Qual a diferença entre Orixás e Guias? • O que
significa Orixá de Cabeça, Juntó e Adjuntó? • O
que é ojá e roupa de ração? • Qual a diferença
entre Entidades, Guias e Protetores? • O que
é firmeza para o Anjo da Guarda? • Como faço
um altar dentro de casa? • Qual a diferença entre
cruzar e consagrar? • O que é quartinha? • O
que é falange? • No que consiste a defumação?
• Saudações • Orações das Sete Ondas • Cores e
significados • O que são nações africanas?
83 Capítulo 5 - O MÉDIUM
Como lidar com preconceito religioso em família?
• Além do meu altar, posso ter outros pontos de
vibração em casa? • Como faço a limpeza das
imagens em meu altar? • Posso tomar banho de
ervas em casa? • O que é maceração? • Como
despachar uma imagem quebrada? • O que faço
com uma imagem que pertenceu a uma pessoa
falecida? • O que faço com a sobra dos trabalhos
feitos em casa? • Posso visitar outros terreiros? •
Posso defumar minha casa? Qual o procedimento?
• Quais as plantas que posso ter em casa? • Posso
incorporar em casa? • Quem é Caboclo Sete
Folhas? • O que são as 7 linhas existentes na
Umbanda? • Qual a diferença entre mediunidade
conscientes, semiconscientes e inconscientes?
• Qual a diferença entre benzimento, passe,
limpeza, descarrego, simpatia e sacudimento?
• Sou eu ou a entidade, como se livrar da eterna
dúvida? • Sacramentos na Umbanda • Ervas na
Umbanda • Guia de Aço • Pedras e cristais na
Umbanda • O que é carma? • Aborto e Umbanda
• Suicídio e Umbanda • Como a Umbanda vê
a morte • O que é fechamento de corpo? • O
que são Pontos Riscados? • O que significa
firmar ponto? • O médium pode ir ao banheiro
quando incorporado? • Se eu não desenvolver
a mediunidade, minha vida vai desandar? • O
que se entende por encarnação, desencarnação e
reencarnação? • Mal olhado, olho gordo e inveja
existem realmente? • Quantos e quais são os
Orixás na Umbanda? • A Umbanda e a Música
Popular Brasileira • Pés Sujos: Uma Mensagem
de Pai Cipriano • O Jogo de Búzios • Velas • Água
• Pólvora • Carvão • Chacras • Ibejís • Quem foi
Doum? • Erês • Caboclos Mirins • Médicos na
Umbanda
137 Capítulo 6 - A MATURIDADE
O que significa a Esquerda na Umbanda? • Quem
são Exú e Pombagira na Umbanda? • Quais as
falanges que atuam na linha da Esquerda? • Exú
é o diabo? • Pombogira é prostituta? • Homens
incorporam Pombagira? • Porque Exú dá risada?
• Porque as imagens de Exú são tão assustadoras?
• Quem é Exú Mirim? • Porque Exú bebe pinga?
• Exú é Orixá ou Entidade? • Posso ter uma
imagem de Exú ou de Pombagira em casa? •
Exú ou Pombagira podem ser donos de coroa?
• O que é Padê? • Como se dá a incorporação
de Exú e de Pombagira? • Porque Exú e outras
entidades fumam? • Zé Pilintra e os Malandros na
Umbanda • Cruzeiro das Almas • O Que significa
a encruzilhada na Umbanda? • Quais os tipos de
encruzilhadas e suas entidades correspondentes?
• Preces para Exú e Pombogira • Agrados para
Exú e Pombogira • Banhos para Exú e Pombogira
• Defumações para Exú e Pombogira • Pontos
para Exú e Pombogira • Principais nomes de
Exús • Principais nomes de Pombogiras
169 Capítulo 7 - O PRESENTE
Bandeira Oficial da Umbanda • Hino Oficial da
Umbanda • Princípios Básicos da Umbanda • O
que é a Federação Brasileira de Umbanda? • Prece
a Oxalá • Prece a Oxum • Prece a Iansã • Prece a
Iemanjá • Prece a Nanã Buroquê • Prece a Ogum
• Prece a Oxóssi • Prece a Xangô • Prece a Omolú/
Obaluaê • Prece aos Ibeijís • Prece aos Pretos-
Velhos • Prece aos Caboclos • Prece aos Baianos
• Prece aos Boiadeiros • Prece aos Marinheiros
• Prece a Santa Sara (Ciganos) • Pai Nosso
Umbandista • Ponto de Oxalá • Ponto de Oxum
• Ponto de Iemanjá • Ponto de Iansã • Ponto
de Nanã • Ponto de Ogum • Ponto de Oxóssi
• Ponto de Xangô • Ponto de Obaluaê/Omolú
• Ponto de Ibeijís • Ponto de Pretos -Velhos •
Ponto de Caboclos • Ponto de Boiadeiros • Ponto
de Marinheiros • Ponto de Ciganos • Ponto
de Baianos • Frases & Pensamentos • O que é
o Santuário Nacional da Umbanda? • Alguns
nomes de Guias na Umbanda • Leitura indicada •
Sites indicados • Glossário • Bibliografia
211 POSFÁCIO
212 SOBRE O AUTOR
“Sou filho dos mares, dos lagos, dos rios e das matas.
Sou filho guerreiro, armado de lança,
espada, mortalha e machado.
Sou filho da noite, da lua, das ruas, das trevas.
Sou filho da terra, do fogo, da água e do ar.
Sou filho de Pemba, guiado por Deus.
Sou filho de Rei, valei-me Oxalá.
Sou filho de fé virado no Santo, meu canto é sagrado.
Sou filho de UMBANDA.”
Elcio Prado
Prefácio
A
ideia desse projeto veio, em parte, da necessidade em
relatar aos meus irmãos de fé, minha experiência como
filho de Umbanda, e de todo o meu desenvolvimento
mediúnico até a presente data. Percebi ao longo dos
anos, que existem um sem-número de obras sobre o
tema Umbanda, mas obras escritas por um Filho de Santo, são
poucas ou até mesmo raras. E isso se dá pelo fato de que o médium
se sente naturalmente inseguro, assim como inicialmente me
senti, em relatar suas experiências e tudo aquilo que o envolve
em sua prática de fé. Contudo, percebi também, desde meus
primeiros contatos com o terreiro que até hoje frequento, que
as dúvidas, anseios e inseguranças que vivi, foram e ainda são
vividos em grande parte, por muitos irmãos em seu início de
desenvolvimento mediúnico. Com todo o respeito que me cabe,
mesmo porque sou um leitor apaixonado e assíduo de Umbanda e
de seus muitos autores consagrados, percebo uma certa distância
na comunicação entre o médium iniciante e os escritores dessas
obras que, em sua maioria, são Sacerdotes, Babalorixás, Ialorixá,
Chefes de terreiro, Pais ou Mães de Santo, muitos utilizando da
psicografia, transcrição ou inspiração divina. Mesmo com todo
o valor e importância essencial de suas obras, muitas vezes não
despertam a mesma empatia que um texto escrito por um “simples”
irmão de fé. E digo “simples” não no sentido pejorativo da palavra,
mas devido ao mesmo grau hierárquico que ocupamos, sendo
todos nós, Filhos de Santo. É provável que, no decorrer das páginas
a seguir, o leitor se identifique com muitas das situações descritas
neste livro, formule as mesmas perguntas e dúvidas que formulei e
talvez até em alguns momentos, encontre fatos similares ocorridos
em sua própria jornada. Mais uma vez, deixo claro que não se
trata de desmerecer e nem tampouco menosprezar o trabalho
17
desses conceituados autores que contribuíram e contribuem para
a história de nossa Sagrada Umbanda, dos quais se faz necessário
destacar Rubens Saraceni, W. W. da Matta, Francisco Rivas Neto,
Alfredo de Alcântara, Aluizio Fontenelle, Florisbela Maria de
Souza, Alexandre Cumino, Ademir Barbosa Júnior, Maria Helena
Farelli, Benjamim Figueiredo, Teixeira Neto, Míriam Prestes,
Ronaldo Linhares, Norberto Peixoto, Reginaldo Prandi, Tata
Tancredo, Yvonne Maggie, Alan Barbieri, João Varela, dentre
tantos outros que não cabem nessas poucas linhas introdutórias.
Minha humilde intenção é que esse livro traga, através das
experiências aqui relatadas, os necessários esclarecimentos às
inúmeras dúvidas que o médium possui em seu início de vida
mediúnica, embora sem a pretensão de ser uma obra didática,
científica ou histórica. Finalizando este pequeno prefácio, outro
motivo, senão o principal, que me fez escrever esse livro, partiu
de meu Guia espiritual, o Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, que
me intuiu durante meses a ideia do projeto. Sem nunca ter escrito
nada em minha vida, perguntei-lhe como eu poderia atender a
esse pedido sem a adequada qualificação espiritual e intelectual,
e ele, em sua imensa sabedoria e humildade, respondeu: “Calma
filho, estarei a teu lado em cada página, em cada linha e em cada
palavra inspirada”.
Atendendo às indicações feitas pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da
Jurema, disponibilizo esse livro e todo seu conteúdo gratuitamente
a todos os filhos de fé e/ou qualquer pessoa interessada no assunto
e espero que eu tenha cumprido o objetivo a que se destina
essa obra, colaborando de alguma forma no desenvolvimento
mediúnico de todos os meus irmãos de fé.
Salve nossa Divina Sagrada Umbanda.
Okê, Caboclo.
Elcio Prado
São Vicente, fevereiro de 2022
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Capítulo I
O INÍCIO
Foto: Autor
CAPÍTULO
O INÍCIO
1
F
ilho de imigrantes europeus, meu pai chegou ao Brasil
ainda menino, acompanhado de sua mãe, em meados de
1934, deixando na Espanha, sua irmã mais velha. Aqui,
minha avó conheceu um brasileiro com quem teria seu
terceiro filho. Com dois filhos pequenos e sozinha, co-
meçou a trabalhar em casas de família como diarista, para superar
as dificuldades da época. O tempo passou e, anos mais tarde, meu
pai, ainda adolescente e recém-formado no curso técnico pelo
Instituto Escolástica Rosa, entrou no ramo industrial abrindo sua
própria marcenaria, alcançando, com o passar dos anos, sua tão
esperada estabilidade financeira. Já minha mãe, de origem humil-
de e filha de pais separados, vivia com a mãe, a qual teria mais dois
filhos de um segundo casamento. Trabalhando como secretária
em uma pequena imobiliária no Jardim Casqueiro, em Cubatão,
ajudava a mãe nas despesas de casa, que lavava roupas para fora
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minha mãe repetidamente pelo nome, até que, pouco a pouco, ela
foi voltando a si, embora sem recordar absolutamente nada.
É importante salientar que quando nasci, fui batizado na
Igreja Católica e criado sob a influência dessa doutrina, embo-
ra minha família não se dedicasse demasiadamente a religião e
nem tampouco tivesse o hábito de frequentar igrejas, missas ou
cerimoniais religiosos. Por outro lado, eu tinha muita curiosidade
em conhecer novas doutrinas. Penso que o despertar espiritual de
um indivíduo só se dá plenamente quando há a completa iden-
tificação com a religião e, somente assim, ocorrerá o verdadeiro
encontro pessoa-fé.
Julgo que esse contexto religioso e os acontecimentos viven-
ciados por minha família sejam de vital importância para a com-
preensão das origens e as raízes mediúnicas, herdadas ou não, e
suas influências em nossas vidas.
Voltando a nossa história, minha mãe começou a frequentar
uma casa espírita em Santos, conhecida como Templo de Umbanda
Caboclo Sete Flechas, mesmo a contragosto de meu pai, esperando
que as manifestações cessassem. Mas, sem o apoio dos familiares e
por falta de companhia, acabou por afastar-se do terreiro.
Meus pais costumavam sair todos os finais de semana com
uma turma de casais amigos que frequentavam bailes e jantares
dançantes em vários clubes locais1. Num desses eventos, conhe-
ceram um casal, cuja esposa atuava como médium num centro
espírita kardecista. Com o tempo, a amizade se estreitou e eram
comuns as visitas semanais. Suas conversas giravam em torno de
assuntos espíritas, o que levou minha mãe a compreender melhor
sua mediunidade e, a partir daí, sua convivência com as manifes-
tações se tornou mais natural e as incorporações foram ficando,
com o passar do tempo, cada vez mais esporádicas.
Em 1992, minha mãe foi acometida por uma doença que lhe
tiraria, lentamente, a vontade de viver. Nem remédios ou preces
pareciam fazer efeito e o desfecho se fez inevitável.
Quando minha mãe veio a falecer em 1993, já me encontrava
casado, com dois filhos, um com dois anos e outro ainda no ventre,
1
Na época, eram muito comuns os eventos dançantes promovidos nos diversos clubes
localizados no bairro da Ponta da Praia, em Santos, como o Clube de Regatas Vasco da
Gama, Clube Internacional de Regatas, Clube de Regatas Saldanha da Gama, Clube de
Regatas Santista, dentre outros.
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Capítulo II
O CHAMADO
Foto: Autor
CAPÍTULO
O CHAMADO
2
O
s anos decorrentes foram marcados por muitas difi-
culdades em nossas vidas. Em meados de 2007, me
encontrava desempregado, as despesas de casa e as
altas dívidas no banco agravavam ainda mais nossa
situação financeira. Como consequência, nosso ca-
samento sofria o impacto dessa crise, fazendo com que minha
esposa e eu vivêssemos em discussão quase que diariamente, nos-
sos nervos tão abalados, que nos víamos muito próximos de uma
possível separação.
Foi nesse momento que ocorreu um fato que iria mudar por
completo o rumo de nossas vidas.
A sobrinha de minha esposa, residente em São Paulo, passa-
va, na época, por problemas emocionais que estavam acarretando
uma série de dificuldades em sua vida, impedindo-a ingressar na
tão desejada faculdade. Um dia, resolveu procurar minha sogra
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Disponível em: <http://luzdivinaespiritual.blogspot.com/2013/08/as-entidades-e-
-guias-falam-errado.html>
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Capítulo III
O CAMBONO
Foto: Autor
CAPÍTULO
O CAMBONO
3
N
a semana seguinte, retornei à casa e, pouco antes do
início da gira, fui comunicado que, a pedidos do Pai
de Santo, eu não mais ficasse na assistência, mas jun-
to aos filhos, dentro da corrente. Isso me deixou sur-
preso, até porque minha esposa continuava sentada
junto aos demais consulentes. Sem me dar conta, estava eu ini-
ciando minha trajetória na Umbanda.
De modo geral, efetuamos em nosso terreiro três giras sema-
nais: a gira de cura, feita para a assistência, às segundas-feiras a
partir das 19hs; a gira de desenvolvimento, às quartas-feiras, a
partir das 19hs, voltadas exclusivamente para os filhos do terreiro
e, aos sábados, as giras de consulta, que se inicia as 16hs, aberta
aos consulentes.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE GIRA DE CURA, GIRA
DE DESENVOLVIMENTO E GIRA DE CONSULTA?
Em nossa casa as giras de cura ocorrem, na maioria das
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A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de
consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. Disponível em: <http://
www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm#:~:text=A%20
Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%2C%20no%20artigo,culto%20e%20as%20
suas%20liturgias.>
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Capítulo IV
O FILHO DE SANTO
Foto: Autor
4
CAPÍTULO
O FILHO DE
SANTO
G
ostaria de abrir esse capítulo fazendo um breve relato a
respeito da origem da Umbanda.
Desde muito antes da manifestação do Caboclo das Sete
Encruzilhadas através do médium Zélio de Moraes, já
havia indícios de incorporações de espíritos de índios
e de escravos negros nas diversas formas de macumba1 existentes
no Rio de Janeiro do século 19. Essas informações, baseadas em
levantamentos biográficos feitos por acadêmicos historiadores e
estudiosos do assunto, não diminuem nem comprometem a vera-
cidade das origens de nossa religião, apenas evidenciam ocorrên-
cias de manifestações espirituais que antecedem o nascimento de
nossa doutrina.
Foi no ano de 1908 que um jovem chamado Zélio Fernandino
de Moraes, aos 17 anos de idade, começava a demonstrar estranhas
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Seita afro-brasileira. (N.E.)
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Disponível em: <https://umbandaead.blog.br/>.
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Ver glossário capítulo 7.
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Ídem.
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Fonte: autor
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de todas as Mães!
OSSAIM – Euê-ô! Euê-ô! Euê-ô! (yorubá); Ewe (folhas);
O (sufixo para salve) – Salve o Senhor das folhas!
PRETO-VELHO – Adorei as Almas!
CABOCLO – Okê, Caboclo! - Salve o Grande Caboclo!
BOIADEIRO – Xetro marrumbaxetro! Xetruá! Significado
desconhecido. (Figuração onomatopéica).
EXÚ – Laroyê exú! (yorubá) ou ainda, Exú é mojubá!;
“Saudação amiga à Exú” ; móju (viver à noite) bá (armar
emboscada) – Exú gosta de viver a noite, sempre capaz de
armar emboscadas!
CRIANÇAS – Oni, beijada! - Ele é dois! saudação igual à
dos orixás Ibeji
CIGANOS – Arriba!
MALANDROS – Salve a Malandragem! ou ainda, Acosta,
Malandro!
A princípio, é comum que o jovem médium tenha uma certa
dificuldade em memorizar todas as saudações acima citadas. Mas
não se preocupe, pois a prática constante o fará decorar paulatina-
mente todas as expressões utilizadas.
Uma outra curiosidade que ocorre, não só entre os iniciantes
de Umbanda, como também na maioria das pessoas, é a respeito
da tradição das Sete Ondas. Durante a época de réveillon, muitos
tem o costume de ir à praia e pular as sete ondas do mar, fazen-
do seus pedidos e desejos, mas poucos sabem o significado desse
ritual, que tem origem na Umbanda e representa uma respeitosa
homenagem aos Sagrados Orixás. Para cada onda pulada, proferi-
mos a prece referente a cada Divindade.
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1. AS NAÇÕES DO CANDOMBLÉ
1.1 O Grupo Nagô
1.2 O Grupo Daomeanos (Nação Jeje)
1.3 O Grupo Bantu
1.4 O Grupo Angola-congolês (Banto)
1.5 Os Grupos islamizados
2. AS NAÇÕES NO BRASIL
2.1 Nação Ketu
2.2 Nação Angola
2.3 Nação Jeje/ Jejê ou Djedje
1. AS NAÇÕES DO CANDOMBLÉ
Deve- se lembrar que a África é um continente
gigantesco em extensões territoriais e as maneiras de
comunicação não eram como na atualidade. O homem
desde cedo observou que há energias presentes em tudo
que o rodeia e que elas, na maioria das vezes, têm o total
controle sobre os acontecimentos e os ciclos da vida,
essas energias são os Orixás, Inkices ou Voduns, como
são chamados.
Cada pedaço daquele território tinha seu reino e ele
cultuava as Divindades de formas díspares, embora
todos reconhecessem a presença de cada uma delas.
Assim surgiram as nações do Candomblé. Quando esses
povos foram atacados brutalmente e tirados à força de
suas nações para serem escravos, eles espalharam pelo
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2. AS NAÇÕES NO BRASIL
Aqui no Brasil as nações mais fortes são: Nação Angola,
Nação Jeje e Nação Ketu. Cada uma delas possuem
linguagens diferenciadas assim como as formas de
realizarem seus rituais.
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Capítulo V
O MÉDIUM
Foto: Autor
CAPÍTULO
O MÉDIUM
5
C
inco anos haviam se passado desde que o Sr. Caboclo
Rompe Mato se fez presente em minha vida e de meu
reencontro com a fé, que exerço no cumprimento de
minhas obrigações como devoto filho de Umbanda, até
os dias de hoje.
Meu desenvolvimento mediúnico se dava plenamente,
pois agora dispunha do tempo necessário para cumprir meus
compromissos com o Sagrado. Mesmo com meu trabalho
na universidade e outros projetos paralelos, procurava dar
continuidade aos meus estudos relativos à Umbanda. Sempre tive
o costume de anotar minhas dúvidas num caderninho preto de
rascunhos para que, através de minhas pesquisas, pudesse obter
um material referencial como base de estudos da religião. Penso
que muitas dessas questões possam ser comuns não só aos filhos
recém-chegados na Umbanda, como também a tantos que, assim
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GUIA DE AÇO
(...) A guia de aço é um colar simples, com um crucifixo,
ambos feitos de aço e, após imantada por uma entidade
dirigente, atua como um amuleto para a nossa proteção.
O aço (que é, em resumo, uma “mistura” de ferro [Fe]
com carbono [C] atrai para si ou repele algumas das
energias que poderiam nos prejudicar e, quando a
guia é imantada, essas funções são potencializadas a
nosso favor. Por esse motivo, de vez em quando, esse
instrumento arrebentará ou terá sua coloração natural
alterada. Isso significa que atingiu o fim ao qual se
destinava, ou seja, cumpriu a sua missão. Então, uma
nova guia deve ser adquirida e levada para o mentor
benzer e a guia estragada deverá ser descartada.
O aço é um excelente condutor de energia elétrica e
possui uma aura fortemente radioativa. A guia de aço
transforma-se num excelente captador de energias
deletérias de baixo teor energético, desagregando
esses baixos fluidos, não permitindo seu alojamento e,
consequentemente, a criação e proliferação de miasmas
e larvas astrais nos corpos sutis e físicos do homem. (...)15
É comum que alguns Guias, com o passar do tempo, solicitem
aos seus médiuns velas, fumos, incensos, patuás ou qualquer outro
objeto que necessitem em seus trabalhos. No caso do Sr. Cigano
das Pedras, logo nas primeiras incorporações, já havia me solici-
tado, além do uso da túnica azul, que providenciasse 7 pedras de
cores variadas a serem utilizadas por ele durante as consultas. No
dia em que fui comprá-las, lembrei-me de suas palavras: “Estarei,
através de sua mão, escolhendo as pedras que quero”, e assim o foi.
Na loja de artigos religiosos, havia um grande cesto de vime com
centenas de pedras que variavam em tamanho, formato e cor. Fe-
chando os olhos, fui pegando aleatoriamente as sete pedras solici-
tadas, uma a uma. Ao final, havia sete lindas pedras, cada uma de
uma cor, escolhidas pela entidade. Acomodei-as em uma antiga
caixa de madeira, seguindo a orientação do próprio Guia, que as
tem utilizado até hoje em todas as suas Giras.
15
Disponível em: <http://acve.com.br/index.php/jornal/item/260-guia-de-aco-na-um-
banda>.
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IANSÃ – Citrino
IEMANJÁ – Água Marinha, Zircão ou Diamante
LOGUNÃ – Quartzo Fume Rutilado
NANÃ – Ametrino ou Rubelita
OBÁ – Madeira Fossilizada ou Calcedônia
OBALUAYÊ – Ametista ou Turmalina Negra
OGUM – Granada, Rubi, Sodalita ou Hematita
OMULÚ – Ônix Negro
OXÓSSI – Quartzo Verde ou Esmeralda
OXUM – Quartzo Rosa ou Ametista
OXUMARÉ – Fluorita ou Opala
XANGÔ – Jaspe Vermelho ou Marrom, Pedra do Sol
Muito se tem falado a respeito de resgate do carma, dívidas de
vidas passadas, leis de ação e reação, causas e efeitos e por aí afora.
Na Umbanda, entendemos que carma (kharma, em sânscrito –
antiga língua sagrada da Índia) não é sinônimo de “peso”, “castigo”
ou “penitência”, que o indivíduo carrega como um “eterno fardo”,
durante seus diversos estágios evolutivos. Carma é o resultado
moral de nossas intenções, pensamentos e comportamentos, defi-
nidos em nossas ações e atitudes, sejam elas boas ou más, objeti-
vando a plena evolução espiritual.
O QUE É CARMA?
Carma nada mais é que a chance de resgatarmos e
aprendermos com nossos próprios erros ou acertos.
Assim, como a criança comete suas falhas ou acertos
e seus pais a coíbem ou a estimulam durante sua vida,
nosso Pai Maior, em Sua imensa sabedoria, nos mostra
das mais variadas formas, as consequências de nossas
ações, para que possamos enxergar, aprender e evoluir.
Carma seria então a oportunidade de aprendermos
através de nossas ações, corrigindo e aprimorando
nossos passos durante a experiência encarnatória – ou,
como disse Norberto Peixoto: “Existe uma lei de justiça
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2. SUICÍDIO E UMBANDA
Pode-se dizer que o suicídio está entre as dez principais
causas de morte. A cada ano, mais de um milhão de
pessoas no mundo tiram a própria vida e um número
ainda maior de indivíduos tenta suicídio. A prevenção
é possível através de ações que requerem uma ampla
articulação em rede, envolvendo famílias, poder público,
comunidades de fé e sociedade como um todo, além de
uma escuta ativa, que deve sempre estar presente nesses
diálogos.
17
Texto adaptado por Regina Celia S. Dezonne. Disponível em: <https//www.acentelha-
divina.org/single-post/2015/11/17/ABORTO>.
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por interesses próprios, que nada mais eram que suas paixões, fome
de poder e de riqueza material. Não viam seu semelhante como ir-
mão de jornada, na estrada da vida. Em boa parte das vezes, esses
“bruxos” ou “feiticeiros” apenas se utilizaram do conhecimento das
forças da natureza, para manipular outras pessoas e tirar proveito,
prejudicando àqueles a quem deveriam considerar como irmãos.
Assim, nesta caminhada egoísta, cheios de vaidade e orgulho, foram
sujando a estrada percorrida, a cada passo, a cada vida. Diversos
conhecedores da magia foram deixando rastros de dor, sangue e re-
volta, ou seja, os caminhos percorridos ficaram muito sujos.
Hoje, muitos desses antigos magistas estão reencarnados como
médiuns umbandistas, para prestar a caridade. Assim, quando vejo
que um trabalhador espiritual da Umbanda volta para casa suado,
cansado e com os pés sujos, meu coração se alegra. E junto comigo,
outros pretos-velhos, também antigos praticantes da magia, nem
sempre positiva, ficamos felizes, pois amparamos àqueles que erra-
ram como nós.
É preciso limpar a estrada que, aparentemente, ficou para trás.
Então, meu filho, quando chegar em casa com os pés sujos, devido ao
trabalho umbandista, repare bem que seus pés ajudaram a limpar
um pouco a sujeira que espalhou no passado. Seus caminhos estão
ficando limpos.”
Ao terminar o influxo psicográfico do conteúdo passado por Pai
Cipriano, fiquei satisfeito e agradecido à entidade. Olhei a minha
volta e reparei num sabiá, que acabava de pousar a poucos metros
de distância. Eu estava debaixo de algumas árvores, sentado com o
bloco na mão, onde tinha anotado as orientações do guia. Alguns
raios de sol chegavam ao solo. Um passarinho, que não identifiquei,
cantava no alto de uma árvore. Havia verde e algumas flores a mi-
nha volta. Senti-me abençoado por aqueles instantes de paz, nessa
vida tão atribulada que vivemos hoje. Nesse contexto, espero que o
leitor que absorve este pequeno relato possa também sentir os mo-
mentos de serenidade, que agora sinto, enquanto finalizo este texto.
Salve as Almas! Axé a todos!
Como já foi falado em capítulo anterior, meu Pai de Santo veio
do Candomblé de Angola Congo e a Umbanda que praticamos
em nosso terreiro traz algumas características dessa vertente. A
prática do jogo de Búzios é um exemplo dessas influências. É
121
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2. ÁGUA
A água é muito utilizada nas religiões de matrizes
africanas. Em muitos rituais ela aparece tendo um
significado muito importante. A água está relacionada
à fecundidade, riqueza e à feminilidade. Cada Orixá
domina uma fonte própria de água como: rios, mares,
lagos e cachoeiras. Colocar água sobre a terra significa
não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue
branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que
nasce e cresce, em decorrência dos pedidos e rituais a
serem realizados. Deitar água (jogar ao chão) é iniciar
e propiciar um novo ciclo. Outro significado das águas
de Oxalá no Candomblé, em que a água é reverenciada
como elemento portador do axé da vida, é que ela é
essencial para renovar situações.
É comum, ao se chegar a uma entrada de um Terreiro,
que um filho da casa venha com uma quartinha com
30
Disponível em: Apostila ABESMA 2019, pp. 12-13.
124
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3. PÓLVORA
É um grande fundamento da Umbanda, também
conhecida em algumas regiões como «fundanga» ou
«tuia», o chamado ponto-de-fogo é um dos mais utilizados
recursos da Umbanda. Alguns também o chamam de
“círculo de pólvora” ou “queima de fundanga”.
A prática deste ato é muito antiga e muito utilizada,
mas poucos sabem o seu significado. Primeiramente,
devemos saber qual a finalidade do uso da pólvora: o
seu principal uso é afastar, limpar e dispersar energias
negativas, espíritos obsessores da aura da pessoa ou
do ambiente em que foi queimada. É importante dizer
que todos os trabalhos com pólvora exigem muita
concentração.
Apesar de ser a pólvora a força máxima para limpeza,
seu uso deve ser restrito aos casos da mais absoluta
necessidade, sob a responsabilidade do guia-chefe,
com o auxílio, é evidente, das falanges trabalhadoras
ou evocadas. Jamais poderemos iniciar sua combustão
31
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 46.
126
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4. CARVÃO
Sua principal propriedade é a absorção de fluídos de
qualquer natureza. Todas as emoções astrais são por
ele retidas, livrando os objetos e ambientes de fluídos
negativos que possam estar impregnados. Sua ação se
caracteriza pela lentidão e segurança, e o fato de agir em
estado natural obriga-nos a consagrá-lo, quando usado
em trabalhos de magia, a fim de purificá-lo. O carvão,
em seu estado natural é o símbolo da “constância” e,
em combustão, do “fervor”, pois neste estado, consegue
dissolver o mais duro dos metais. 33
Pai Odé D’Loy sempre nos passou seus ensinamentos e práticas
não só pessoalmente, mas também através de mensagens virtuais
em redes sociais, contendo definições, fundamentos, procedimen-
tos, preces, rituais, histórias, pontos e inúmeras informações a res-
peito da Umbanda e de nosso terreiro. Como sempre tive o hábito
de arquivar todo esse material, a partir de 2018 passei a reorganizar
esse conteúdo em apostilas periódicas. Sendo assim, todo material
por ele enviado, é compilado em novas apostilas em formato PDF e
enviadas gratuitamente a todos os filhos da casa, a cada ano. É im-
portante destacarmos aqui a preocupação do Pai de Santo em rela-
ção a formação doutrinária de seus filhos. Como já foi dito, é dever
de todo Filho de Santo estudar sua religião, assim como também é
de suma importância que a casa forneça recursos para tal.
O estudo dos chacras se faz importante para o aprimoramento
de nossa mediunidade, pois é através deles que nossos corpos
físico/espiritual mantêm relação energética com os mundos
físico/espiritual. Entender os 7 chacras, seus regentes, localização
e funções, são de extrema importância para a evolução de todo
umbandista.
32
Disponível em:: Apostila ABESMA 2013, p. 52.
33
Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 53.
127
MINHA VIDA NA UMBANDA
CHACRAS
Segundo Ademir Barbosa Júnior, os “chacras (rodas)
são centros de energia físico-espirituais (espalhados por
diversos pontos dos corpos físico e espiritual), que revestem
o corpo físico. Os chacras mais conhecidos são 7.”
Embora os conceitos se diversifiquem no que se refere
aos chacras e seus Orixás regentes, temos a seguinte
correspondência:
1° Chacra – Básico ou Sacro, regido por Exú / Obaluaiê
/ Pretos-Velhos. Localizado na área dos órgãos sexuais.
Sentido da Geração. Cor de vibração: vermelho.
2° Chacra – Esplênico, regido por Oxóssi. Localizado na
altura do baço. Sentido da Evolução. Cor de vibração:
amarelo.
3° Chacra – Plexo Solar ou Umbilical, regido por Ogum /
Oxum. Localizado no ventre, região do umbigo. Sentido
da Justiça ou do Equilíbrio. Cor de vibração: laranja.
4° Chacra – Cardíaco, regido por Xangô / Iansã.
Localizado na altura do coração. Sentido do Amor. Cor
de vibração: verde
5° Chacra – Laríngeo ou Cervical, regido por Xangô /
Iansã. Localizado na laringe. Sentido da Ordem (Lei
Divina). Cor de vibração: azul claro.
6° Chacra – Frontal, regido por Iemanjá / Nanã /
Iansã. Localizado entre as sobrancelhas. Sentido do
Conhecimento. Cor de vibração: índigo.
7° Chacra – Coronário ou Sublime, regido por Oxalá.
Localizado no alto da cabeça. Sentido da Fé. Cor de
vibração: violeta.
Quando em equilíbrio, os chacras trabalham alinhados,
apresentam uma cor forte e brilhante e funcionam
no sentido dos ponteiros do relógio. Quando em
desequilíbrio, tendem a mover-se em sentido contrário
ao habitual e podem reter negatividades que irão
repercutir na estrutura inclusive física da pessoa.
128
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
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MINHA VIDA NA UMBANDA
IBEJÍS34
Os gêmeos são protetores das crianças e simbolizam o
nascimento e a vida. O Ibeji Orixá é a sobrevivência da
continuidade. Na África os filhos são fonte de grande
alegria, pois eles são a garantia de que a sua história e de
sua descendência perdurará.
Os Ibejis são muito confundidos com Erês, por serem
crianças e terem os mesmos atributos de características
infantis, mas os gêmeos são na verdade uma divindade
e possuem história e missões diferentes dos Erês. A
característica dos gêmeos mais particular é o seu poder
de desfazer coisas realizadas por outros Orixás, mas algo
feito por Ibejis jamais poderá ser desfeito por nenhum
outro Orixá.
Na Umbanda, São Cosme e Damião são muito amados
e têm suas homenagens em 27 de setembro, juntamente
com Erês. Nesta data, as casas de Axé realizam suas
obrigações anuais com as Crianças da Umbanda, servem
as comidas preferidas de cada Erê e são realizados todo
tipo trabalho, em todos os níveis de energia.
“Quem é essa terceira criança no meio de Cosme e Damião?”
Você já deve ter ouvido alguém perguntar algo parecido ou ter
indagado essa mesma pergunta. Muitos desconhecem a “terceira”
criança presente nas imagens utilizadas tanto na Umbanda como
no Candomblé, sem saber seu nome, sua origem e a história deste
personagem. O nome dele é Doum, como explicado em texto pu-
blicado no Grupo de Estudos Axé de Umbanda35, o qual reproduzo
abaixo.
130
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
ERÊS
“Reside no ponto exato entre a consciência da pessoa e
a inconsciência do Orixá. No Candomblé, é através dos
Erês que o Orixá expressa sua vontade e que o médium
aprende as coisas fundamentais, como as danças e os
ritos específicos de seu Orixá.
A palavra Erê vem do iorubá erê, que significa brincar.
Daí a expressão siré, que significa fazer brincadeiras,
boa ação ou favor.
Os Erês são de suma importância pois são eles que,
muitas das vezes, trarão as várias mensagens do Orixá.
Esses seres de Luz trazem a energia de renovação,
enchem as almas de esperança e empolgação por tudo
que é novo, pois eles sabem que são nas incertezas que
podemos encontrar as melhores respostas.
Esses encantados têm seus espíritos como os de
qualquer criança, esbanjam disposição e sinceridade e
por isso, necessitam de pessoas que os possam controlar
sabiamente, para que eles consigam se concentrar na
missão a qual foram enviados.
Além de doces, eles também adoram brinquedos que
131
MINHA VIDA NA UMBANDA
CABOCLOS MIRINS
“Os Caboclos Mirins são espíritos de índios que
desencarnaram ainda crianças, embora haja exceções.
Alguns trabalham na Linha dos Caboclos, outros
preferem vir sob a regência da Linha das Crianças. Esses
espíritos quando se manifestam em terra, são sempre
requisitados para a cura, pois são crianças muito sábias,
não gostam tanto de brincar e comer doces como as
outras crianças, o que os tornam um pouco diferentes
das demais.
Todo e qualquer espírito desta Linha é detentor de
grandes encargos espirituais, apesar da aparência astral
infantil, são grandes sábios e estão sempre prontos para
ajudar. Sua vibração é mais parecida com a dos Caboclos
e gostam de estar na companhia deles.
Alguns Caboclos Mirins vêm na vibração do Orixá
Oxóssi, mas muitos fazem entrecruzamento com outros
Orixás, principalmente com o Orixá Xangô.”37
Como dito anteriormente, nossas giras de cura acontecem às
segundas-feiras, com a presença dos Filhos da Casa e da assistência.
36
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 68.
37
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 55.
132
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MINHA VIDA NA UMBANDA
134
Capítulo VI
A MATURIDADE
Foto: Autor
6
CAPÍTULO
A MATURIDADE
N
esse sexto capítulo, além de minha jornada espiritual,
falaremos um pouco sobre a Esquerda na Umbanda
e seus fundamentos, e das muitas dúvidas que envol-
vem esse controverso e, para alguns leigos, “temido”
assunto. Mesmo assim, foi necessário um capítulo
inteiro reservado a esse tema tão polêmico, devido à sua enor-
me complexidade e às várias interpretações errôneas que até hoje
promovem opiniões equivocadas, preconceituosas, tendenciosas
e deturpadas sobre essa Linha tão essencial em nossa religião. Afi-
nal, como reza o antigo provérbio, “Sem Exú não se faz nada.”
137
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1
Disponível em: O Livro da Esquerda na Umbanda, p. 23. Universo dos Livros, São
Paulo, 2010.
138
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1. EXÚ É O DIABO?
(...) Satanás é caracterizado como vilão dos céus e de
toda bondade, responsável pela incitação do pecado e da
luxúria desmedida; é o rei do inferno. (...) Exú é descrito,
em várias de suas lendas, como impiedoso, cruel, de
temperamento difícil e trapaceiro, entretanto essas
características apenas foram fabricadas para amedrontar
os descrentes e as tribos rivais daqueles que o cultuam.
(...) Em 313, Constantino, imperador romano, publicou
4
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 67.
141
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2. POMBOGIRA É PROSTITUTA?
“Se Exú já é mal interpretado, confundindo-o com o
Diabo, quem dirá a Pomba-Gira? Dizem que Pomba-
Gira é uma mulher da rua, uma prostituta. Que Pomba-
Gira é mulher de Sete Exús! As distorções e preconceitos
são características dos seres humanos, quando eles
não entendem corretamente algo, querendo trazer ou
materializar conceitos abstratos, distorcendo-os.
Pomba-Gira é um Exú Feminino, não são prostitutas.
Na verdade, dos Sete Exús Chefes de Legião – do Sétimo
Grau, apenas um Exú é feminino, ou seja, ocorreu uma
inversão destes conceitos, dizendo que a Pomba-Gira é
mulher de Sete Exús.
Dentro da hierarquia do Exú Feminino (Pomba-Gira),
estão divididas em níveis diversas outras Pombas-Giras,
5
Disponível em: <www.aldeiadecaboclos.com.br/exu-e-o-diabo>.
142
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solução do problema.”15
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Fonte: Autor
156
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19
Disponível em: Apostila ABESMA 2019, p. 9.
157
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20
Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 17.
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ABERTA
FECHADA
PORTEIRA
DE CURRAL
EM ‘S’
CAMINHO
MISTA NO MATO
ESTRADA
PÉ DE DE FERRO
GALINHA
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MINHA VIDA NA UMBANDA
afinidade dos espíritos. Também já me foi dito que todo ser humano
passa pelo Umbral após seu desencarne, porém o tempo e a consci-
ência que ele tomará dessa experiência, depende das suas atitudes
nessa encarnação. Logo, um bom espírito passará brevemente e de
forma adormecida, já um espírito negativo sofrerá impressões mui-
to piores e durante um bom tempo. Podemos considerar também
que o Umbral possua divisões, escalas de ascensão até chegar ao as-
tral superior. Como somos espíritos ainda presos a matéria, muitos
acabam ficando nos círculos próximos da crosta terrestre ou nosso
plano zero.
A CROSTA não é um local de habitação dos espíritos propria-
mente dito, mas sim o próprio plano terreno. Aqui é onde encon-
tramos alguns espíritos vagantes, errantes e sem rumo. Alguns nem
sequer tem consciência de que aqui ainda estão, talvez, presos pelas
suas vidas anteriores ou por não saberem que morreram. A esses
geralmente é dado o nome de Almas Penadas. A maioria dos fan-
tasmas vistos por aí ou são Lêmures (elementais do astral inferior)
ou são espíritos dessa categoria, de Alma Penada. A crosta não é um
local de habitação continua, na verdade há uma intersecção entre
o Umbral e a Crosta, então através do magnetismo (pensamento) é
possível o espírito em desequilíbrio alternar (muitas vezes sem cons-
ciência) entre um plano e outro.
O LIMBO já é um outro local complexo. Entendam que tanto o
Umbral, quanto o Limbo e o Inferno (a seguir) estão localizados no
Astral Inferior. Eles divergem apenas nas suas funções e nas densi-
dades de suas construções. Esse local, é um local incerto, onde ficam
espíritos que perderam a capacidade de pensar ou se cristalizaram
de tal forma em suas evoluções (involução seria o termo adequado)
que perderam qualquer capacidade cognitiva. O Espírito quando
desprendido da matéria tem como lembrar dos seus atos passados,
de suas experiências e tem acesso aos conhecimentos acumulados,
conjuntamente com a sua história. Os Espíritos que habitam o lim-
bo, perderam essa capacidade. É aqui que encontramos os famosos
ovoides, espíritos em forma de ovos, que perderam quase que com-
pletamente seus perispíritos. São como mônadas, ainda albergando
a essência espiritual (o espírito em si), mas enclausurado em um
meio que não lhes permite externar nada. Alguns espíritos superio-
res os conseguem extrair o pensamento. Infelizmente, muitos desses
espíritos acabam perdendo totalmente suas memórias, tendo que
160
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raríssimas situações.
Reproduzo abaixo um trecho do livro22 de autoria de Ademir
Barbosa, que aborda com muita clareza essa questão.
“(...) Na Umbanda, em cuja fundamentação não existe o corte,
embora diversas casas dele se utilizem, por influências dos Cultos de
Nação, os elementos animais, quando utilizados crus ou preparados
na cozinha, provêm diretamente dos açougues. No primeiro caso,
utilizam-se, por exemplo, língua de vaca, sebo de carneiro, miúdos,
etc. No segundo, nas palavras de Rubens Saraceni:
[...] Mas só se dá o que se come em casa e no
dia a dia. Portanto, não há nada de errado,
porque a razão de ter de colocar um prato com
alguma comida ‘caseira’ se justifica na cura de
doenças intratáveis pela medicina tradicional,
causadas por eguns e por algumas forças nega-
tivas da natureza. [...] Observem que mesmo
os Exús da Umbanda só pedem em suas ofe-
rendas partes de aves e de animais adquiridos
do comércio regular, porque já foram resfria-
dos e tiveram decantadas suas energias vitais
(vivas) só lhes restando proteínas, lipídios etc.,
que são matéria.
Os animais criados em terreiro de Candomblé para o corte são
muito mais bem cuidados e respeitados do que aqueles criados en-
jaulados, com alimentação inadequada para engordar etc. O ani-
mal, para o corte, não pode sofrer. Algumas partes são utilizadas
para rituais; as demais são consumidas como alimento pela comu-
nidade e pelo entorno. (...) Com relação ao corte, diálogo, respeito e
compreensão são fundamentais para que todos se sintam irmana-
dos, cada qual com sua individualidade e seus fundamentos. Dife-
renças não precisam ser necessariamente divergências.” (...)
Finalizando este capítulo, selecionei alguns exemplos contidos
na Apostila ABESMA 2013, de preces, agrados, banhos, defuma-
ções e pontos de Exú e Pombagira, além dos principais nomes des-
sas entidades no meio umbandista, para que o leitor tenha uma
pequena referência das práticas relacionadas a Linha de Esquerda,
adotadas em nosso terreiro.
22
Disponível em: O Livro Essencial de Umbanda, p. 307-311, Universo dos Livros, São Paulo, 2014.
162
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PRECES
- Para Exú
Exú, glorioso mensageiro do céu e da terra, protetor
das almas encarnadas e desencarnadas e guardião dos
espíritos de luz. Eu vos invoco humildemente, para que
me ajude a pregar o amor, a justiça e a fazer a caridade.
IIumine meu espírito com seu amor infinito e sua bondade
inesgotável, para que eu possa, hoje e sempre, ter a
misericórdia da sua proteção e, através dela, concretizar
e levar minha fé, vencendo toda a adversidade e feitiçaria
dos homens da terra.
Laroiê, Exú. que assim seja e assim será!
- Para Pombogira
Pomba Gira, força divina de Olorum, estimula nosso
progresso. Estimula nossa evolução. estimula nossas
melhores qualidades. Fé, amor, lei, justiça e conhecimento,
sem estímulo de vosso mistério, estagnam. Tudo estanca
sem o desejo de desenvolvimento, e, como vosso mistério é
este, auxilía-nos a seguir na senda luminosa sem quedas
por desejar o que não se merece e desdenhar o que o
Pai nos oferece. Livrai-nos desse tormento, para não
ambicionarmos o errado, mas desejar sermos corretos, na
natureza divina em que fomos criados.
Amém.
AGRADOS
- Para Exú
• PADÊ: Farofa fria feita com farinha de mandioca crua e
grossa, com quatro temperos: água, mel, pinga e dendê.
Enfeitada com sete rodelas de cebola roxa e sete pimentas
dedo de moça vermelhas. A comida para Exú deve ser
servida em prato de barro. Essa comida representa os
quatro cantos do mundo, os caminhos da vida. Têm
o poder de criar vínculo entre o Exú e o médium,
fortalecendo a vibração durante a incorporação, bem
como abrir os caminhos.
163
MINHA VIDA NA UMBANDA
BANHOS
- Para Exú
• ABRE CAMINHO - Beladona, Arruda Macho, Guiné de
Guampa, Erva Pombinha, Folha de Amoreira, Cambuí,
Folha de Marmelo.
- Para Pombogira
• ABRE CAMINHO - Guiné de Guampa, Arruda Fêmea,
Cambuí, Anis, Pétalas de Rosas Vermelhas, Folha de
Aroeira, Alevante.
164
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
DEFUMAÇÕES
- Para Exú e/ou Pombogira
• DEFUMAÇÃO CONTRA FLUÍDOS NEGATIVOS -
Quebra-Tudo Guiné-caboclo, Espada de Santa Bárbara,
Pitangueira, Folha de Marmelo, Alevante, Folha de
Cambuí.
• DEFUMAÇÃO PARA ATRAIR SORTE - Casca de
Laranja Seca Ralada, Casca de Limão Galego Seco
Ralado, Casca de Pêssego Seca, Casca de Maçã Seca,
Canela em Pó ou em Pau, Cravo da Índia, Semente de
Girassol.
PONTOS
- Para Exú
O sino da igrejinha faz belém, blem blom (2x)
deu meia-noite o galo já cantou
Seu Tranca-ruas que é o dono da gira
oi corre gira que Ogum mandou
- Para Pombogira
Juraram de lhe matar na porta do cabaré (2x)
Ela anda de dia, ela anda de noite
Só não mata quem não quer (2x)
PRINCIPAIS NOMES DE EXÚS Exú Maré Exú Pimenta Exú Sete Pedras
Exú Arranca Toco Exú Facada Exú Pinga-fogo Exú Sete Poeiras
Exú Asa Negra Exú Ganga Exú Pirata do Mar Exú Sete Portas
Exú Belzebu Exú Gato Preto Exú Ponto Maioral Exú Sete Queimadas
Exú Brasa Exú Gira Mundo Exú Porteira Exú Sete Sombras
Exú Calunga Exú João Caveira Exú Quebra-barranco Exú Tatá Caveira
Exú Capa Preta Exú da Campina Exú Quebra Galho Exú Tiriri
Exú Capa Preta da Encruzilhada Exú da Morte Exú Quirombô Exú Tira-teima
Exú Capa Preta das Almas Exú do Lodo Exú Rei Exú Toco-preto
23
Disponível em: Os nomes Exú
de do
Exu (povodeesquerda07.blogspot.com).
Tronco
Exú Capa Preta das 7 Encruzilhadas Exú Rei das 7 Exú Tranca-gira
Exú Capoeira Exú Lalu Exú Rei das Trevas Exú Tranca-rua
Exú Carranca Exú Lorde da Morte Exú do Rio Exú Tranca-rua das Almas
165
Exú Carangola Exú Lúcifer Exú Serapião Exú Tranca-rua de Embaré
Exú Calunga Exú João Caveira Exú Quebra-barranco Exú Tatá Caveira
Exú Capa Preta da Encruzilhada Exú da Morte Exú Quirombô Exú Tira-teima
Exú Capa Preta das Almas Exú do Lodo Exú Rei Exú Toco-preto
Exú Capa Preta das 7 Encruzilhadas Exú do Tronco Exú Rei das 7 Exú Tranca-gira
Exú Capoeira Exú Lalu Exú Rei das Trevas Exú Tranca-rua
Exú Carranca Exú Lorde da Morte Exú do Rio Exú Tranca-rua das Almas
Exú Cascavel Exú Malê Exú Sete Brasas Exú Tranca-rua das 7 Encruzilhadas
Exú Catacumba Exú Mangueira Exú Sete Buracos Exú Tranca-rua da Encruzilhada
Exú Caveira Exú Marabá Exú Sete Caminhos Exú Tranca-rua das Matas
Exú do Cemitério Exú Marabô Exú Sete Campas Exú Tranca-rua do Mar
Exú Corta-corta Exú Maré Exú Sete Catacumbas Exú Tranca Tudo
Exú Corcunda Exú das Matas Exú Sete Corvas Exú Veludo
Exú Corrente Exú Meia Noite Exú Sete Cruzes Exú Veludo da Encruzilhada
Exú Curador Exú Morcego Exú Sete Encruzilhadas Exú Veludo da Mata
Exú Desmancha Tudo Exú Mulambo Exú Sete Estradas Exú Veludo das Almas
Exú Destranca Rua Exú Pagão Exú Sete Facadas Exú Veludo das Sete Encruzilhadas
Exú Duas Cabeças Exú Pantera Negra Exú Sete Garfos Exú dos Ventos
Exú do Fogo Exú Pedra Preta Exú Sete da Lira Exú Ventania
Pombagira Cigana (Nome da Cigana) Pombagira Maria do Caís Pombagira Rosa das Almas
Pombagira Dama das Sete Capas Pombagira Maria Navalha Pombagira Rosa Negra
Pombagira das Sete Liras Pombagira Maria Padilha Pombagira Rosa Vermelha
166
Pombagira do Cruzeiro Pombagira Maria Sete Encruzilhadas Pombagira Sete Chaves
Pombagira das Sete Encruzilhadas Pombagira Maria Sete Covas Pombagira Sete Catacumbas
Pombagira do Reino da Lira Pombagira Maria Sete Punhais Pombagira Sete Encruzilhadas
Pombagira dos Ventos Pombagira Maria Sete Rosas Pombagira Sete Estrelas
Pombagira Fiqueira do Inferno Pombagira Maria Sete Saias Pombagira Sete Luas
Pombagira Maria Bonita Pombagira Rainha das Rainhas Pombagira Sete Punhais
Pombagira Maria Caveira Pombagira Rainha das Sete Pombagira Sete Rosas
Pombagira Maria da Estrada Pombagira Rainha Sete Saias Pombagira Sete Tridentes
Pombagira Maria das Almas Pombagira Rosa da Calunga Pombagira Sete Véus
167
MINHA VIDA NA UMBANDA
Capítulo VII
O PRESENTE
Foto: Autor
168
CAPÍTULO7
O PRESENTE
E
sta obra foi finalizada em fevereiro de 2022 e naquele
momento, eu já completava 14 anos em minha trajetó-
ria como Filho de Umbanda. A satisfação do livro con-
cluído, a receptividade do projeto por parte de todos a
minha volta, e a emoção em ser guiado durante todo
esse processo pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, me foram
de uma alegria sem fim. E agora, ao concluir esta obra, percebo,
com muita clareza, a missão dada a minha amada mãe, que há
muitos anos viveu suas primeiras manifestações mediúnicas, já
sendo preparada para que deixasse a porta aberta, pela qual, tem-
pos depois, eu iria entrar. Hoje, continuo com muito orgulho, a
missão a nós destinada, mãe e filho, sob as Graças de nosso Pai
Olorum.
Muitas das informações deste presente capítulo foram
organizadas em tópicos com o intuito de proporcionar uma maior
169
MINHA VIDA NA UMBANDA
170
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
171
MINHA VIDA NA UMBANDA
• Africanismo
• Cristianismo
• Indianismo
• Kardecismo
• Orientalismo
Do Africanismo, herdamos o culto aos Orixás e aos
Pretos-Velhos.
O uso de imagens, orações e símbolos provém do
Cristianismo (sincretismo);
O Indianismo nos trouxe a sabedoria indígena ancestral
em todos os seus aspectos (cultural, medicinal, ecológico,
espiritual etc.), a pajelança e o culto aos Caboclos;
Do Kardecismo, o estudo da Doutrina Espírita e a
presença de espíritos que atuam na linha da cura como
Bezerra de Menezes, André Luiz e Dr. Fritz;
Por fim, o Orientalismo nos trouxe os conceitos sobre
prana, chacras, além do culto à Linha Cigana, também
172
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
173
MINHA VIDA NA UMBANDA
PRECE A OXUM
Oh mamãe Oxum, proteja-me. Faça que o amor seja
constante em minha vida e que eu possa amar toda a
criação de Olorum.
Proteja-me de todas as mandingas e feitiçarias.
Dai-me o néctar de sua doçura e que eu consiga tudo o que
eu desejo e a serenidade para agir de forma consciente e
equilibrada.
PRECE A IANSÃ
Oh mãe Iansã, que sois mais forte que as torres das
fortalezas e a violência dos furacões, fazei com que os
raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o
troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura.
Ficai sempre a meu lado para que eu possa enfrentar
de fronte erguida e rosto sereno, todas as tempestades e
batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as
lutas e com a consciência do dever cumprido, eu possa
agradecer a vós, minha protetora, e render graça a Deus,
criador do céu, da terra e da natureza. Este Deus que tem
o poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a
crueldade das guerras. Eparrei!
PRECE A IEMANJÁ
Doce, meiga e querida mãe Iemanjá. Vós permitiste que
no seio de Vossa morada se formassem as primitivas
formas de vida, que foram o berço de toda a criação, de
toda a natureza e de toda a humanidade, aceitai nossas
preces de reconhecimento e amor.
Que os lampejos que emanam de vosso diáfano manto de
estrelas venham, como benéficas vibrações espirituais,
174
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
PRECE A OGUM
Pai, que minhas palavras e pensamentos cheguem até vós,
em forma de prece, e que sejam ouvidas. Que esta prece
corra mundo e universo, e chegue até os necessitados em
forma de conforto para as suas dores. Que corra os quatro
cantos da terra e chegue aos ouvidos dos meus inimigos,
em forma de brado de advertência de um filho de Ogum,
que sou e nada temo, pois sei que a covardia não muda o
destino. Ogum, Padroeiro dos agricultores e lavradores,
fazei com que minhas ações sejam sempre férteis como
o trigo que cresce e alimenta a humanidade, nas suas
ceias espirituais, para que todos saibam que sou teu filho.
175
MINHA VIDA NA UMBANDA
PRECE A OXÓSSI
Senhor das matas e da vida silvestre, neste momento, pai,
sou sua flecha.
Sou a força do seu arco, sou tudo o que é, a agilidade, a
sabedoria.
Faça de mim, soberano caçador, uma pessoa de sucesso, e
que haja fartura em minha casa.
Dê a mim sabedoria para agir, paz para construir meus
ideais, força para seguir sempre.
Oxóssi, Rei das matas, da lua, do céu azul, que seja eu leve
como o pássaro que voa, livre como o cavalo que corre,
176
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
PRECE A XANGÔ
Ao meu pai Xangô, eu peço na benção de Oxalá
que atenda às minhas palavras, que ouça meu coração
por amor a Orumilá. Ao meu pai Xangô, eu peço a sua
misericórdia e proteção para minha vida. Ao meu pai
Xangô, eu peço que seja digno de carregar em minha vida
a sua proteção, a sua benevolência e sua força.
Ao meu pai Xangô, eu peço que abra os meus caminhos
e que eu consiga enxergar em minha alma, as imperfeições
que não me deixam enxergar a luz divina do criador.
Que meu corpo e meu espírito, sejam
curados pelos seus ensinamentos divinos.
Ao meu pai Xangô, pela minha verdadeira fé e devoção.
eu peço que ouça minhas palavras e que eu, seja digno de
seu perdão.
PRECE A OMOLÚ/OBALUAÊ
Dominador das epidemias, de todas as doenças e da
peste. Omolú, Senhor da terra. Obaluaê, meu pai eterno.
dai-nos saúde para a nossa mente, dai-nos saúde para
nosso corpo. Refoçai e revigorai nossos espíritos para
que possamos enfrentar todos os males e infortúnios da
matéria. Atotô meu Obaluaê! Atotô meu velho Pai! Atotô
Rei da terra! Atotô Babá!
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MINHA VIDA NA UMBANDA
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
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MINHA VIDA NA UMBANDA
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
PONTO DE OXALÁ
Oxalá, meu Pai, hasteia a bandeira branca lá no alto da
serra
Oxalá, meu Pai, abençoe e perdoe seus filhos aqui na
terra
Missão sagrada meu Pai, a sua bênção
O seu amor e o seu perdão
E não permita que entre os filhos de Umbanda possa
existir jamais um traidor (2x)
PONTO DE OXUM
Eu ví Mamãe Oxum sentada numa cachoeira (2x)
Colhendo os lírios, lírios ê
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MINHA VIDA NA UMBANDA
PONTO DE IEMANJÁ
IÊ...Iemanjá
Rainha das ondas, Sereia do mar (2x)
Como é lindo o canto de Iemanjá
Faz até o pescador chorar
Quem escuta a Mãe D’água cantar
Vai com Ela pro fundo do mar (2x)
PONTO DE IANSÃ
Eu tava na ladeira sem poder subir (2x)
Chamei Iansã pra me acudir (2x)
Eu tava na ladeira sem poder descer (2x)
Chamei Iansã para me valer (2x)
PONTO DE NANÃ
Vó Nanã minha vozinha, minha vó
Minha vó que Deus me deu, minha vó (2x)
PONTO DE OGUM
Ogum tem sete espadas pra me defender (2x)
Eu tenho Ogum em minha companhia
Ogum é meu Pai, Ogum é meu Guia
Ogum vai passar,
Venha com Deus e a Virgem Maria (2x)
PONTO DE OXÓSSI
Oxóssi é Rei no céu
Oxóssi é Rei na terra (2x)
Ele não desce do céu sem coroa
184
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
PONTO DE XANGÔ
Meu Pai São João Batista é Xangô
Ele é dono do meu destino até o fim
Se um dia me faltar a fé no meu Senhor
Que role esta pedreira sobre mim
PONTO DE OBALUAÊ/OMOLÚ
Meu Pai Oxalá é Rei venha me valer (2x)
O velho Omolú, Atotô Obaluaê (2x)
Atotô Obaluaê, Atotô Babá
Atotô Obaluaê, Atotô é Orixá
PONTO DE IBEIJÍS
Hoje tem alegria no terreiro do meu Pai
Saravá Seu Rompe Mato, ele é chefe de congá (2x)
Embala eu, Babá, embala eu (2x)
PONTO DE PRETOS-VELHOS
Preto Velho vem de Angola, vem de Angola trabalhar
(2x)
Ele vai, Ele vai, Ele vem, Ele tira mironga, Ele faz tirar
(2x)
PONTO DE CABOCLOS
Oxalá chamou, Ele mandou chamar
Os Caboclos da Jurema lá no Juremá.
Chamo os Caboclos das matas é para trabalhar (2x)
Se o coqueiro é muito alto, Caboclo vai derrubar. (2X)
PONTO DE BOIADEIROS
Boiadeiro Boiadeiro, cadê sua boiada (2x)
185
MINHA VIDA NA UMBANDA
PONTO DE MARINHEIROS
Eu não sou daqui, Marinheiro só
Eu não tenho amor, Marinheiro só
Eu sou da Bahia, Marinheiro só
de São Salvador, Marinheiro só
Oh Marinheiro, Marinheiro, Marinheiro só
Oh quem te ensinou a navegar, Marinheiro só
Ou foi o tombo do navio, Marinheiro só
Ou foi o balanço do mar, Marinheiro só
Lá vem, lá vem, Marinheiro só
Ele vem faceiro, Marinheiro só
Todo de branco, Marinheiro só
Com seu bonezinho, Marinheiro só.
PONTO DE CIGANOS
Meu Ganga não me engana
Meu Ganga me falou
Essa moça é Cigana
Foi doutor quem mandou
PONTO DE BAIANOS
Baiano bom, Baiano bom, Baiano bom é quem sabe
trabalhar (2x)
Baiano bom é quem sobe no coqueiro, tira água desse
côco, bota o côco no lugar (2x)
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
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MINHA VIDA NA UMBANDA
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
Foto: Autor
3
Disponível em: <https://santuariodeumbanda.com.br/site/>
4
Presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, idealizador e criador do pri-
meiro curso de Formação Sacerdotal de Umbanda do país, guardião do Santuário Na-
cional da Umbanda.
191
MINHA VIDA NA UMBANDA
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
• MARINHEIROS
Zé do Mar; João da Marina; João Canoeiro; Seu
Jangadeiro; Zé dos Remos; Marinheiro das Sete Praias;
Antônio das Águas; Capitão dos Mares; Martim Pescador
etc.
• BOIADEIROS
Zé Mineiro; Boiadeiro da Jurema; João Boiadeiro; Zé do
Laço; Boiadeiro do Rio; Boiadeiro do Ingá; Boiadeiro
Chapéu de Couro; Boiadeiro do Chapadão; Carreiro;
Boiadeiro da Serra da Estrela; Zé da Boiada etc.
LEITURA INDICADA
• Bandeira, Armando Cavalcanti. O que é Umbanda.
1970.
• Cumino, Alexandre. Exu Não é Diabo. 2018
• Farelli, Maria Helena. As sete forças da Umbanda.
• Félix, Cândido Emanuel. A cartilha da Umbanda. 1965.
• Fontenele, Aluízio. A Umbanda através dos séculos.
1950.
• Freitas, Brasão de. Cultura umbandística.
• Freitas, Byron Tôrres de. Na gira da Umbanda e das
Almas.
193
MINHA VIDA NA UMBANDA
194
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
195
MINHA VIDA NA UMBANDA
do Brasil. 1969.
• Silva, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda
e o poder da mediunidade.
• Souza, Antônio Eliezer Leal de. No mundo dos espíritos.
1925.
• Souza, Antônio Eliezer Leal de. O Espiritismo, a magia
e as sete linhas de Umbanda. 1933.
• Souza, Florisbela Maria de. Umbanda para os médiuns.
1958.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. A magia e os encantos da
Pomba-Gira. 1972.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. Conhecimentos
indispensáveis aos médiuns espíritas (dois opúsculos
doutrinários). 1953.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. Curas, mandingas e
feitiços de Pretos-Velhos. 1975.
• Teixeira Neto, Antônio Alves. Despachos e oferendas na
Umbanda. 1970.
• Teixeira Neto, Antônio Alves; Sampaio, Luiz Léo. Nossos
Pretos-Velhos. 1968.
• Trindade, Diamantino Fernandes. Umbanda brasileira:
um século de história. 2009.
• Trindade, Diamantino Fernandes; Cardoso, Edison. A
Umbanda na sua vida diária. 1989.
• Varela, João. Ervas sagradas na Umbanda.
• Varella, João Sebastião das Chagas. Cozinha de santo
(culinária de Umbanda e Candomblé). 1972.
• Zespo, Emanuel. O que é Umbanda. 1941.
196
Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
SITES INDICADOS
• https://www.facebook.com/Axeparaquemtemfe/
• povodeesquerda07.blogspot.com
• https://al8758.wixsite.com/ventosdearuanda
• http://acve.com.br
• http://casadavovomariarosa.blogspot.com
• https://casadopaibenedito.wordpress.com
• https://orixaessenciadivina.wordpress.com
• https://santuariodeumbanda.com.br/site/
• institutocaminhosoriente.com
• umbandayorima.blogspot.com
• luzdivinaespiritual.blogspot.com
• umbanda – e issuu Pesquisa
• www.umbandadanatureza.com.br
• www.abeafrica.com
• www.alanbarbieri.com.br
• www.centroespiritaurubatan.com.br
• www.colegiopenabranca.com
• www.facebook.com/groups/803996009707310
• www.facebook.com/sabedoriadeumbandaoficial/
• www.iquilibrio.com
• www.kboing.com.br
• www.pensandoumbanda.com
• www.perdido.co
• www.povodearuanda.wordpress.com
• https://umbandaead.com.br/
197
MINHA VIDA NA UMBANDA
GLOSSÁRIO
ABEBÊ: Leque dourado em forma circular, usado por
Oxum e Iemanjá.
ABÔ: É um banho de folhas ou outro elemento que promove
a limpeza espiritual. Utilizado tanto no Candomblé quanto
na Umbanda, é preparado pelo zelador responsável pelo
terreiro.
ADJÁ / AJÁ: Sinaleta de metal de 3 ou 4 campânulas, usa-
da pelo sacerdote.
ALGUIDAR: Recipiente de barro muito utilizado em
entregas e oferendas.
AMACI: Preparado líquido a base de ervas.
AMALÁ: Farofa.
ALUVAIÁ: Exú.
APARELHO: Médium, cavalo.
ARERÊ: É uma exclamação que sugere «olha a briga!» ou
«olha a festa».
ARUANDA: Céu, paraíso, plano espiritual elevado, mora-
da dos espíritos umbandistas, morada dos Orixás.
AXÉ: Energia sagrada que emana dos Orixás.
BABÁ: Diminutivo de Babalorixá, significa Pai.
BAIXAR: Diz-se de um espírito quando incorpora no mé-
dium.
BANHO DE DESCARREGO: Preparado líquido de ervas
sagradas que se toma após o banho de asseio, para limpeza
e afastamento de vibrações negativas.
BATE FOLHAS: É um amarrado de ervas usado pelas
entidades para limpeza do consulente ou ambiente.
BORÍ: É o rito de oferenda à cabeça (ebó/ori), que consiste
em assentar, sacralizar, reverenciar e ofertar o Orixá de
cabeça.
BÚZIOS: São conchas preparadas para uso em diversos ri-
tuais. Os búzios são lançados sobre uma peneira e de acor-
do com sua caída, lê-se aquilo que o Guia ou Orixá quer
nos revelar.
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TORRÃO: Charuto.
TRONQUEIRA: Lugar de grande importância para a se-
gurança do terreiro, localizado de frente para a rua, do
lado esquerdo de quem entra.
TURÍBULO: Receptáculo de alumínio suspenso por pe-
quenas correntes, utilizado para defumações em cerimo-
niais ou práticas religiosas.
UMBRAL: Purgatório. Região entre o plano físico e espi-
ritual destinada ao esgotamento dos resíduos mentais no
processo em que a alma abandona o corpo após sua morte.
Estado ou local por onde passam algumas pessoas após a
morte.
URUPEMA: Espécie de peneira onde se é jogado os bú-
zios.
VODUN: Denominação dada aos Deuses na Nação Jejê.
YABÁ: Orixá feminina.
YALORIXÁ ou IALORIXÁ: Mãe de santo.
XAXARÁ: Pequeno cetro de palha-da-costa usado por
Omulú / Obaluaê, ornado com búzios e miçangas.
XOXÓ: Azeite de Dendê.
ZAMBI: Deus supremo na Umbanda.
ZOMBETEIROS: O mesmo que Quiumbas.
BIBLIOGRAFIA
Apostila ABESMA 2013.
Apostila ABESMA 2016/2018.
Apostila ABESMA 2019.
Apostila ABESMA 2020.
Apostila ABESMA 2021.
CAMARGO, A.. Rituais com ervas banhos defumações e
benzimentos. São Paulo: O Erveiro, 2017.
CORRAL, J. A.. O livro da esquerda na Umbanda. São
Paulo: Universo dos Livros, 2010.
207
MINHA VIDA NA UMBANDA
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
Sobre a ABESMA
A
Associação Beneficente Espírita São Miguel Arcanjo
(ABESMA) foi fundada em 18 de junho de 1998 e reco-
nhecida como entidade beneficente em 10 de junho de
2002. É uma associação sem fins lucrativos, mantenedo-
ra do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador,
e do Templo de Candomblé Nação Angola Kongo, Inzo Diá N’kisi
Telekompensú.
Nosso templo de Umbanda, instituído pelo Sr. Cigano Mercador
das Moedas de Ouro, Mentor e Guia Mestre do Terreiro e Espírito
da Falange Cigana, pertence a Linha das Almas e segue a doutrina
de Vovó Catarina de Angola, tendo como entidade responsável pelo
desenvolvimento das Giras, o Sr. Caboclo Rompe Mato.
Nosso Guardião é o Sr. Exú Tranca Ruas e nossa madrinha de
Pemba, mamãe Shirley, que trabalha ao lado de Pai Odé D’loy,
zelador do terreiro.
Nosso Pai Odé D’loy é Sacerdote do Templo de Umbanda Ten-
da do Cigano Mercador e Tat’Etú do Inzo Diá N’Kisi Telekom-
pensú. É Muzenza (Filho de Santo) de Mam’Etú (Mãe de Santo)
Maza Kessy, Nação Angola Kongo, sendo filho do N’kisi (Orixá)
Telekompensú (Logun Edé). Tem a Umbanda como profissão
de Fé, conforme os ensinamentos de sua Mam’Etú, seguindo as
orientações de seu Mentor Astral.
Mamãe Shirley é Sacerdotisa de Umbanda e Ebomi (pessoa que
cumpriu todas as obrigações) no Candomblé. Tem a Umbanda
como profissão de Fé, conforme os ensinamentos de sua Mam’Etú
(Zeladora), seguindo as orientações de seu Mentor Astral. É ma-
drinha do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador, onde
zela pelo cumprimento das determinações das entidades do Pai
Odé D’Loy.
209
A Associação Beneficente Espírita São Miguel Arcanjo encer-
rou todas as suas atividades em fevereiro de 2022, data de faleci-
mento do nosso mentor espiritual Pai Odé D’Loy.
210
Posfácio
E
ncerrar um livro é como se nos despedíssemos de um
amigo que nos fez companhia durante um longo tempo
de convivência. É algo a que nos dedicamos um pouco
todos os dias, com o carinho, o cuidado e a atenção que
só as grandes amizades despertam.
Nesse pouco mais de um ano que se passou, vi nossa amizade
nascer, crescer e agora é chegada a hora de partir. Uma parte de
mim se entristece, pois sentirei falta de cada linha que escrevemos,
dos momentos de dúvidas que juntos superamos e do tempo
dedicado às pesquisas, muitas vezes varando a madrugada, eu e
ele, intuídos pelo Sr. Caboclo Sete Folhas.
Agora meu companheiro está pronto para partir, o que também
me deixa muito feliz, pois é meu desejo que ele alcance muitas
mãos e olhos ávidos de conhecimento e de fé, e que deixe em cada
leitor pelo menos um pouco do todo que o compõem.
Uma parte de mim vai com você, meu companheiro, assim
como há de acontecer com todas as amizades que nascem do amor
mútuo e verdadeiro.
Gratidão ao Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, por “cada
página, cada linha e cada palavra inspirada”;
Gratidão a Olorum e aos Divinos Orixás;
Gratidão aos Guias de Luz, Protetores, Guardiões e Mentores;
Gratidão as Sete Linhas de nossa Divina e Sagrada Umbanda.
Saravá!
Axé.
211
Sobre o autor
212
E ste livro, inspirado pelo Sr. Caboclo
Sete Folhas da Jurema, tem como
propósito esclarecer as primeiras
dúvidas e questionamentos que muitos
médiuns vivenciam ao entrar na religião da
Umbanda. Embora não se restrinja apenas ao
iniciante, serve também como um importante
recurso aos apreciadores da doutrina ou
mesmo para alguns médiuns já praticantes.
Perguntas como ”o que é incorporação?”, “para
que servem as guias?”, “posso incorporar em
casa?” ou, “como faço um altar dentro de
casa?”, são algumas das muitas abordadas nesta
obra.
Com uma linguagem simples, usual e
dinâmica, o autor narra sua própria evolução
como Filho de Santo, seus questionamentos e
inseguranças, complementando a narrativa
com de nições em forma de perguntas e
respostas, tornando a leitura objetiva,
agradável e acessível à todos.
Ao nal, um Glossário com termos e
expressões utilizadas no dia a dia do terreiro e
uma lista de livros e sites para consultas,
servem como referências àqueles que buscam
ampliar seus conhecimentos.
Uma obra essencial, tanto para o leigo, quanto
ao iniciante, como também ao médium
praticante e demais simpatizantes da religião.