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Filosofia da Arte
PROFESSOR
Dr. Renan Pavini
FICHA CATALOGRÁFICA
Reitor
Wilson de Matos Silva
DR. RENAN PAVINI
A vida imita a arte? Ou a arte imita a vida? Nesse jargão, aparentemente trivial, são
encontradas as questões iniciais e essenciais para pensarmos nas problemáticas re-
lacionadas à arte: a relação entre a arte e a vida, a questão da mimesis (imitação ou
cópia) e a hipótese se a arte deve ser a expressão da vida e da realidade ou se ela
deve ser simplesmente ficcional. De modo geral, as páginas que seguem tratarão, seja
diretamente, seja indiretamente, desses tópicos. A esses, somam-se outros de suma
importância, tais como: qual é a finalidade de uma obra de arte? Qual é o seu valor?
Você já deve ter enfrentado, em uma conversa com um amigo ou com qualquer pessoa,
as questões relativas ao que seria uma obra de arte com ou sem valor, uma música
ruim ou boa e uma pintura bela ou feia. Como se posicionar diante de tais questões?
O estudo da estética ou da filosofia da arte, em um plano geral, lança luz sobre as ques-
tões levantadas. Inicialmente, podemos afirmar que o problema da arte ou artístico
sempre se fez presente em nossa civilização. Junto com a ciência, a religião e a reflexão
filosófica, a arte é constituinte da história e da identidade de um povo. Graças a ela,
temos acesso às culturas que são, atualmente, distantes. Por isso, assim como disse
Hegel em seus “Cursos de estética”, se você deseja conhecer a cultura grega, conheça a
sua arte. O mesmo não valeria para as outras culturas e povos? O que nossa arte atual
diz sobre a nossa própria identidade cultural?
Por isso, o presente livro propõe um passeio sobre alguns temas e alguns filósofos que
se dedicaram a fazer uma reflexão sobre a arte, desde os poemas de Homero e a sua
concepção da arte como vida, até a contemporaneidade, em que a arte se tornou um
mero produto mercadológico. Entrementes, outros temas emergem (em seus cami-
nhos e desvios), a fim de acrescentar e proporcionar a compreensão do processo de
formação de nossa cultura. Diante disso, convido-lhe a participar e a se aventurar nas
páginas que se seguem. Vamos lá?
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
1
9 2
43
A ESTÉTICA ESTÉTICA
NA ÉPOCA MODERNA E
CLÁSSICA A CRÍTICA DO
GOSTO
3
73 4 107
ESTÉTICA DO A VISÃO
ROMANTISMO E FILOSÓFICA DA
DO IDEALISMO ARTE TRÁGICA
ALEMÃO
5
137
INDÚSTRIA
CULTURA E
ESTÉTICA DA
EXISTÊNCIA
1
A Estética na
Época Clássica
Dr. Renan Pavini
Suponha que, andando pelas ruas de sua cidade com mais dois amigos, vocês
se deparem com um ato heroico. Uma criança estava correndo perigo ao atra-
vessar a rua, visto que um carro vinha ao seu encontro em alta velocidade. No
entanto, naquele momento, um jovem rapidamente salta em direção à criança,
salvando-a do atropelamento. Logo, uma multidão se aglomera em torno do feito.
Seu primeiro amigo comenta que nunca tinha visto algo tão belo, ao passo que
o outro retruca: “belo não, um ato de verdadeira bondade”. Diante dessas duas
observações, se o ocorrido foi um ato belo ou bom, como você resolveria essa
possível encruzilhada?
O estudo do belo clássico não é apenas um dado histórico. Quando acessamos
a estética clássica, abre-se não só um mundo novo, cultural e histórico do qual
nós somos herdeiros, mas também há uma diferença que nos ajuda a pensar em
nossa atualidade e em nossos problemas contemporâneos.
O pensamento grego em relação à arte não se concentrava, assim como é
atualmente, no entendimento de que a arte estava restrita aos objetos, como um
quadro, um romance ou uma escultura exposta em um museu e feita por artis-
tas especializados. A arte se confundia com a vida do povo grego. Toda a vida
do indivíduo deveria ser formada e caracterizada como uma obra de arte. Mais
precisamente, os antigos tomavam a vida, em suas dimensões mortal e passageira,
como uma obra de arte.
Diante da divergência entre os antigos e a nossa sociedade atual, no que con-
cerne à arte e ao belo, podemos compreender que, atualmente, a arte bela é um
produto da obra feita por um artista específico, enquanto, entre os gregos, a obra
não se restringia a um quadro ou a uma escultura, mas se relacionava com toda
a dimensão da vida.
A figura apresentada a seguir, denominada Achilles dying, retrata os momen-
tos finais da vida do grande herói grego Aquiles, que lutou na guerra de Tróia,
narrada por Homero. A lenda diz que Tétis, mãe de Aquiles, teria mergulhado
o seu filho, logo em seu nascimento, nas águas do rio Estige, o que tornou o seu
corpo invulnerável. No entanto, ela o teria segurado pelo calcanhar e, em razão
disso, esse seria o seu único ponto fraco, pois não teria sido banhado. Ao obser-
var a escultura de Aquiles, como você pode defini-la? Quais seriam as principais
características que a tornam bela ou não?
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Descrição da Imagem: Fna figura, é exposta a estátua Achilles dying (Aquiles morrendo). Ela foi criada em
Berlim, em 1884, por Ernst Herter e retrata os momentos finais do grande herói homérico. Na imagem, é
possível observar o herói sentado e há uma flecha perfurando o seu calcanhar. Ele tenta retirá-la com a mão.
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DIÁRIO DE BORDO
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Descrição da Imagem: na figura, é exposto o busto de Homero. Ele está localizado no porto da Ilha de Los,
lugar em que, provavelmente, está enterrado.
Agora, exploraremos Homero e uma vida de beleza. Você já deve ter ouvido
alguém falar de Homero, poético épico da Antiguidade Grega que teria vivido,
aproximadamente, no século IX a.C. ou VIII a.C. e a quem se atribui a autoria dos
poemas Ilíada e Odisseia. Geofrey Kirk (1985, p. 1, tradução nossa), em Ilíada:
um comentário, sustenta que “o mundo antigo não conhece nada de definitivo
sobre a vida e a personalidade de Homero”. A essa constatação, acrescenta-se a
observação feita por Joachim Latacz (1998), que explica que não há o mínimo de
documentação sobre a vida de Homero para saber algo sobre ele.
Não podemos afirmar nada sobre a vida de Homero com certeza, mas isso
não significa que não podemos ter acesso ao conteúdo dos textos atribuídos a ele,
assim como é o caso das duas maiores obras da cultura grega: Ilíada e Odisseia.
São nelas que encontramos, pela primeira vez, a racionalização da mitologia grega
e dos deuses do Monte Olimpo, os quais carregam características antropomór-
ficas. Também são nelas que recuperamos as ideias de formação, de educação, de
ética, de virtude e de beleza que são próprias da cultura grega arcaica. Em suma,
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Outro exemplo que podemos acrescentar não se encontra no texto da Ilíada, mas
em sua adaptação cinematográfica, o filme Tróia. Aquiles, indeciso em relação ao
partir, ou não, com os gregos para a guerra, consulta a sua mãe, Tétis, que profetiza:
“
Se você ficar em Larissa, encontrará a paz. Encontrará uma mulher
maravilhosa, e terá filhos e filhas, que também terão filhos e filhas.
E todos eles o amarão e se lembrarão de seu nome. Mas quando
seus filhos estiverem mortos, e os filhos deles depois, seu nome será
esquecido... Se você for para Tróia, a glória será sua. Eles escreverão
estórias sobre suas vitórias por milhares de anos! E o mundo se
lembrará de seu nome. Mas se você for para Tróia, jamais voltará…
pois sua glória anda de mãos dadas com o seu destino. E eu nunca
mais o verei novamente (VIEIRA, 2017, on-line).
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UNIDADE 1
tado pelo aedos e ter as suas façanhas eternizadas pelos poetas. É a beleza da vida que
Aquiles construiu que merece ser cantada pelos séculos posteriores. Portanto, entre
a vida do homem comum e a morte de um guerreiro corajoso, a beleza se encontra
na morte ou nessa vida de areté que, por ser bela, merece ser eternizada pelo canto.
Também é importante ressaltarmos que a ética ainda não tem um sentido
moralizante. Em outras palavras, as decisões dos guerreiros homéricos não giram
em torno do bem e do mal, mas buscam uma vida digna e valorosa a partir dos
valores cavalheirescos em detrimento de uma vida trivial e comum. Somente uma
vida digna é merecedora de areté e, desse modo, é dotada de beleza.
EXPLORANDO IDEIAS
Na mitologia grega dos deuses do Monte Olimpo, todos os homens são predestinados,
isto é, têm um destino definido a ser percorrido. Apesar disso, um homem tocado pelos
deuses, como um Aquiles ou um Ájax, deve, em vida, provar o seu valor. Isso significa que
eles já nasceram virtuosos, mas isso não basta, visto que os seus conterrâneos devem
presenciar a sua superioridade. Portanto, Aquiles já nasceu com areté, mas, caso ainda
queira ser um homem virtuoso, honrado e eternizado pelo canto dos aedos (poetas), deve
provar o seu valor de forma constante, a fim de realizar o seu destino.
Fonte: o autor
Platão e a imitação
“
Se chegasse à nossa cidade um homem aparentemente capaz, devida
à sua arte, de tomar todas as formas e imitar todas as coisas, ansioso
por se exibir juntamente com os seus poemas, prosternávamo-nos
diante dele, como de um ser sagrado, maravilhoso, encantador, mas
dir-lhe-íamos que na nossa cidade não há homens dessa espécie,
nem sequer é lícito que existam, e mandá-lo-íamos embora para
outra cidade, depois de lhe termos derramado mirra sobre a cabeça
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UNIDADE 1
Tudo é fixo,
tudo é perfeito,
mundo inteligível.
Tudo é mutável,
tudo é imperfeito,
mundo sensível
Descrição da Imagem: na figura, há a divisão do conhecimento para Platão. É no mundo inteligível que
se encontram as ideias perfeitas e imutáveis alcançadas pelo conhecimento racional. Por outro lado, no
mundo sensível, estão as formas imperfeitas, mutáveis e temporais
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UNIDADE 1
ceneiro. Portanto, quando ele pinta uma cadeira em um quadro, ele não entra em
contato com a sua ideia, mas apenas com o objeto sensível e imperfeito feito pelo
marceneiro. Nesse sentido, para Platão, a arte se encontra a três pontos distantes
da verdade, pois ela seria a cópia da cópia.
Essa condição desfavorável da mimese também se encontra na sofística, arte
da retórica. Em seu livro, que leva justamente o nome Sofista, Platão assevera que
a atividade do sofista não passa de uma brincadeira, visto que ele acredita que sabe
de tudo e crê que ensina tudo. Platão faz essa crítica ao sofista, ao aproximá-lo
da crítica da mimese artística empregada em A república, já que compreende
que a arte pode produzir todas as coisas, tendo em vista que não passa de mera
aparência, um fantasma, assim como lemos no livro X.
Logo, percebemos que o problema da arte em Platão se dá devido ao fato de
ela estar ligada à aparência e à ficção, e não à ordem da verdade. Em razão disso,
a arte é condenada, assim como a retórica. Esta, segundo o filósofo ateniense, não
se preocupa com a verdade ou com a mentira, mas apenas com o convencer os
seus interlocutores por meio de discursos floridos. Ora, trata-se justamente do
oposto que Platão projeta para o discurso filosófico, já que a busca pela verdade
é o primeiro objetivo de sua investigação. É por isso que, no âmbito da arte, de
acordo com o pensamento platônico, é preciso problematizar, acima de tudo, o
conceito de imitação. Temos que ter em mente que, em A república, é somente a
arte mimética que é rejeitada, e não a arte como um todo, assim como diz Platão
(2014, p. 595): “a de não aceitar a poesia de caráter mimético” dentro de sua cidade.
Neste momento, é cabível a apresentação de uma ressalva: o termo mimese,
em A república, de maneira deliberada pelo filósofo, aparece de forma dúbia. Isso
significa que Platão apresenta dois sentidos para uma mesma palavra: um se dá
em tom depreciativo, enquanto o outro acontece em tom positivo. Nós já conhe-
cemos o aspecto negativo, que se refere ao momento em que o pintor se afasta da
verdade para copiar objetos sensíveis. Agora, apresentarmos o tom positivo, que
se encontra no campo da pedagogia.
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Assim, o pedagogo da cidade ideal deve moldar as almas das crianças e dos jovens
para serem cidadãos, ou seja, o objetivo dessa modelagem é o homem belo e bom.
Além disso, a duplicidade que se refere à existência de uma mimese positiva e
uma negativa também é compreendida como uma oposição entre uma arte feita
pela imitação e uma arte feita pelo simulacro. Jacques Rancière (1940 -), filósofo
francês contemporâneo, trabalha esse contraste em seu livro A partilha do sen-
sível. Ao redigir que a arte platônica é um regime ético das imagens, afirma que
toda a imagem da arte em Platão coloca uma dupla questão.
Descrição de imagem: a figura mostra a feição de Jacques Rancière. Ao lado direito, há algumas frases
reflexivas. São elas: qual é a sua origem? Ao investigarmos a origem, chegaremos à verdade. Qual é a sua
finalidade? Para onde essa imagem pretende nos levar?
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UNIDADE 1
Diante disso, Rancière nos leva ao centro do debate estético presente em Platão:
a arte deve trabalhar com a verdade e precisamos nos perguntar qual é a sua
utilidade dentro da polis, ou seja, na cidade. “Existem artes verdadeiras, isto é,
saberes fundados na imitação de um modelo com fins definidos, e simulacros de
arte que imitam a simples aparência” (RANCIÈRE, 2009, p. 28).
Essa oposição mimética entre arte (lembre-se de que “arte”, em grego, significa
“técnica”) e simulacro aparece de forma muito clara no livro III de A república, no
qual Platão critica a imitação que se enraíza pelo erro ou pela mentira. Desse modo,
trabalha uma oposição entre a narrativa simples, que expressa todo o discurso ver-
dadeiro e útil (um exemplo é quando você narra um evento que aconteceu de forma
clara, descritiva e objetiva), e a mimese (inclui a tragédia, a comédia e a epopeia)
enquanto uma imitação mentirosa, pois cria a ficção e não narra as verdades dos
fatos, mas os floreia, romantiza e, portanto, não é útil para a cidade.
Já sabemos que é no livro X de A república que Platão relaciona de forma
mais clara a imitação com a aparência, ao colocá-la a três pontos afastada da
verdade. Também é nessa obra que o filósofo retoma a aproximação entre a arte
poética e a arte retórica, uma vez que tanto os sofistas quanto os poetas imitadores
acreditam que podem falar sobre tudo sem entender nada
de verdade, pois não carregam a técnica para tal.
Por isso, Platão observa que o sofista e o artista
se alinham à mentira, por não conhecerem a
coisa da qual falam e por tratarem de múlti-
plas coisas e objetos por meio de simulacros.
Assim, há um problema comum entre o
sofista e o artista: ambos falam em simula-
cro na medida em que usam a mimese
para tratar de qualquer assunto que
não dominam ou não conhecem
verdadeiramente. No simu-
lacro, de maneira negativa,
está evidenciado o proble-
ma da verdade, uma vez
que o poeta imitador, ao
se afastar dela, também
se afasta da capacidade
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PENSANDO JUNTOS
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UNIDADE 1
Para Platão, tanto os artistas quantos os sofistas se afastam da verdade ideal jus-
tamente por submergirem nas dimensões humanas da paixão e da opinião. Por
isso, podemos definir a opinião como a manifestação a partir de si próprio, sem
qualquer embasamento. Ainda, é o indivíduo que transforma em imagens ou
em discursos aquilo que integra apenas a dimensão humana, sem se voltar para
a dimensão do inteligível ou do metafísico (da ideia). Portanto, não faz uso da
razão ou de um fundamento científico-filosófico.
A expulsão dos poetas da cidade não ocorre simplesmente porque eles não
seriam úteis para a sociedade, mas porque eles incitam a discórdia e a contradição,
ao instituírem mentiras, quando, na verdade, deveriam buscar a verdade, que é o
objetivo da ciência e da filosofia. O sofista e o artista são produtores de imagens
que imitam o mundo sensível e, por isso, tornam-se transgressores à razão, às
leis da cidade e à verdade. Em consequência disso, podem subverter a ordem
estabelecida e promover a arte entendida como perigosa.
A arte, como técnica, não é feita pelos artistas. Que tipo de arte seria essa?
Trata-se de uma arte específica e que criaria, por meio de imagens, ou não, um
regime baseado na ideia e na verdade. Não só, mas seria destinada ao bem co-
mum da comunidade. A arte deve formar o indivíduo, e não subvertê-lo, como
é o caso do poeta imitador. Diante disso, não é difícil perceber que um artesão,
para Platão, não detém o conhecimento sobre as coisas do mundo (das paixões
humanas), mas da técnica e, por meio dela, é capaz de transmitir conhecimento. O
saber técnico não pode ser simplesmente caracterizado, de acordo com o filósofo
ateniense, como um saber empírico das coisas, mas precisa ser definido enquanto
um saber baseado na razão (no λόγος ou logos em grego). Em outras palavras, o
indivíduo que detém o saber técnico é aquele que tem a ideia (o conceito, a razão)
como fundamento e a técnica para concretizar e transmitir essa ideia.
Em suma, o verdadeiro saber é aquele que parte da ideia (do mundo inteli-
gível) e, por meio da técnica, transmite essa ideia racionalmente. Nesse contexto,
técnica e imitação são colocadas de lados opostos, já que a primeira está ligada
ao conhecimento, ao fundamento epistemológico e à ideia, enquanto a segunda
é apenas uma atividade de mera aparência, pois não se baseia no saber, mas na
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Descrição da Imagem:na figura, é exposto o quadro A escola de Atenas, uma das obras mais famosas de
Rafael, que a pintou entre os anos de 1509 e 1510. Nela, são representados Platão e Aristóteles no centro
da academia. Platão aponta o dedo para cima, fazendo referência ao mundo das ideias e à metafísica,
marca de seu pensamento. Já Aristóteles está com a palma da mão aberta, em referência ao mundo
empírico e ao seu entorno, assinalando o seu pensamento filosófico.
opinião e nas paixões. A arte boa, para Platão, está ligada à sua verdade (o que
inclui a origem e as ideias inteligíveis) e se destina ao bem da cidade por meio
da técnica, que visa representar o ser verdadeiro das imagens sem demarcar uma
representação ambígua ou contraditória, própria das paixões. Imagens devem
estar relacionadas à sua origem, ao seu teor metafísico, à sua destinação e ao bem
comum e social. É nesse sentido que podemos entender que Platão operou a sua
filosofia na comunhão entre a verdade, a beleza e o bem.
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UNIDADE 1
Aristóteles e a tragédia
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) é o primeiro autor que apresenta uma definição de
poética. Ela está em um tratado que apresenta um método normativo, prescritivo
e, em alguns aspectos, descritivo para aquilo que compõe o poema mimético.
O que é poética para Aristóteles? Eis uma questão inicial que servirá como fio
condutor para a nossa explanação sobre o livro a Poética do filósofo estagirita.
A Poética é considerada por muitos um tratado lacunar, ou seja, que teria
chegado até nós apenas em partes e que, na maioria das vezes, aparenta-se mais
com notas, a fim de auxiliar o autor para uma exposição oral. Isso não impediu,
entretanto, que a Poética se tornasse um tratado fundamental e que exerceu forte
influência no Ocidente, tanto para o gênero de produção literária quanto para a
definição de poética. Peter Szondi (2004, p. 23, grifo do autor), intelectual con-
temporâneo, explica que “a poética moderna baseia-se essencialmente na obra de
Aristóteles; sua história é a história da recepção da sua obra. E tal história pode
ser compreendida como adoção, ampliação e sistematização da Poética”. Com
essas palavras, podemos ter uma dimensão da importância da obra aristotélica
para uma compreensão histórica da arte.
Aristóteles carrega preocupações diferentes de Platão. Enquanto Platão está
preocupado com as questões ética e moral da arte, isto é, volta os seus estudos a
fim de compreender como a arte pode formar um cidadão belo e bom, o filósofo
estagirita se preocupa em ensinar como se deve compor ou produzir um poema
mimético, mais especificamente, a tragédia grega, a partir de determinados crité-
rios normativos. Ora, isso nos permite dizer que a obra Poética é, antes de tudo, “a
possibilidade de compreender a utilização artística de uma noção estética como
a mimese” (PINHEIRO, 2015, p. 8).
Isso significa que Aristóteles se concentra na questão teórica relacionada ao
que seria uma poética mimética, incluindo a sua definição, o que a distingue das
demais, as partes que a compõem, os elementos a constituem, a hierarquização
entre as suas partes, o modo como é produzida, como os atores devem se com-
portar, como se dá a disposição dos objetos em um cenário e o seu tempo ideal
de duração. Embora Aristóteles também trate do poema épico e da comédia, a
Poética é, essencialmente, um tratado sobre o poema trágico.
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UNIDADE 1
“
A tarefa do poeta não é a de dizer o que de fato ocorreu, mas o que
é possível e poderia ter ocorrido segundo a verossimilhança e a
necessidade. Com efeito, o historiador e o poeta diferem entre si
não por descreverem os eventos em versos ou em prosa, mas por-
que um se refere aos eventos que de fato ocorreram, enquanto o
outro aos que poderiam ter ocorrido. Eis por que a poesia é mais
filosófica e mais nobre do que a história: a poesia se refere, de prefe-
rência, ao universal; a história, ao particular (ARISTÓTELES, 2015,
p. 1451a35-1451b).
Essa distinção é essencial para Aristóteles, já que o filósofo entende que a produ-
ção mimética não se confunde com fatos ou eventos particulares da vida humana.
Todavia, a poesia mimética deve gerar a possibilidade, a verossimilhança ou a
probabilidade. De maneira diferente da história, a poética é criação e, enquanto
tal, é mais filosófica, uma vez que entra no território do não ocorrido, enquanto
a história deve descrever os fatos assim como ocorreram. “Ora, as coisas que não
ocorreram, nós ainda não acreditamos que sejam possíveis; as que ocorreram,
é evidente que são possíveis, pois não teriam acontecido se fossem impossíveis”
(ARISTÓTELES, 2015, p. 1451b).
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UNIDADE 1
mimese trágica. Quando é revelada a Édipo essa mudança de ação, tanto o perso-
nagem quanto a plateia sabem de algo que não sabiam e, então, a catarse se mani-
festa. A dramatização dos eventos desenvolvidos pela tragédia, incluindo o fato de
Édipo ter matado o seu pai e desposado a sua mãe, é absorvida pelos espectadores
por meio dos sentimentos de pavor e compaixão, os quais devem ser purificados.
Por isso, a catarse deve ser entendida como o momento em que a plateia é
“purificada” ou há uma “descarga emocional”. É somente assim que a tragédia
alcança o seu objetivo. Nas palavras de Aristóteles (2015, p. 1449b), “mimese que
se efetua por meio de ações dramatizadas e não por meio de uma narração, e que,
em função da compaixão e do pavor, realiza a catarse de tais emoções”. Observe
que a catarse só pode ser realizada se a narrativa trágica produzir uma reviravolta
de ações e gerar comoção emocional, que é o maior momento da tragédia, caso
ela atenda aos critérios de proporção, simetria, justa medida e ordem. Isso gera
a beleza da obra poética.
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UNICESUMAR
Plotino e o belo
Por que os corpos parecem belos à nossa vista? Por que belas melodias agradam
aos nossos ouvidos? Por qual razão as questões ligadas à nossa alma são belas?
Será que existe uma única beleza que atribuímos a tudo ou será que a beleza da
alma é diversa da bela do corpo? Plotino (205 d.C. - 270 d.C.), pensador neopla-
tônico, dedica a parte seis de sua primeira Enéada ao belo, buscando responder a
essas questões. Inspirado por Platão, também acredita na superioridade da alma,
assim como podemos ler:
“
Abandonado a sensação em seu plano inferior, devemos ascender à
contemplação dessas belezas mais elevadas que escapam ao âmbito
da percepção sensitiva: as que a alma intui e expressa sem órgão
algum. Porém, assim como são incapazes de falar sobre as belezas
sensíveis os que não as viram ou não as perceberam como belas – é o
que acontece aos que nasceram cegos – da mesma maneira ninguém
é capaz de falar sobre os belos hábitos, a não ser aquele que acolheu
em si sua beleza, a das ciências e a das outras coisas semelhantes
(PLOTINO, 2012, p. 52).
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UNIDADE 1
OLHAR CONCEITUAL
Belo/Beleza
HOMERO PLOTINO
Areté/ Purificação/
Virtude Belo em si
guerreira
PLATÃO ARISTÓTELES
Verdade/Bem Mimese/Catarse
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NOVAS DESCOBERTAS
Agora que você já sabe o que os gregos clássicos pensavam sobre a beleza e a arte,
propomos um exercício: você se lembra de nossa problematização, em que uma jovem
salvou uma criança de um atropelamento? Seus dois amigos começaram a discutir se
a ação heroica da jovem foi um ato de bondade ou de beleza. Agora, diante dos autores
estudados nesta unidade, como você defenderia a sua opinião para os seus amigos?
Haveria apenas uma possível resposta? Faça um breve texto que explique o modo
como você expressaria a sua opinião sobre o ocorrido a partir da discussão iniciada
por seus amigos. Lembre-se de que um amigo disse que o fato de a jovem salvar a
criança foi um “ato belo”, ao passo que o outro disse que foi um “ato bom”.
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1. Em Homero, não encontramos o fundamento de uma moral, embora saibamos o
conceito de areté, que tem o seu correspondente, em português, como “virtude”. Foi
por meio desse conceito que houve, na Grécia Arcaica, a formação do homem grego.
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Sobre o modo como a crítica platônica pode aproximar a arte mimética da arte
retórica, analise as afirmativas a seguir:
I - O sofista é aquele que usa o discurso florido e romanceado, mas diz a verdade
sobre as coisas, enquanto o poético apenas imita as coisas do mundo sensível
e não representa a verdade sobre elas.
II - A aproximação se dá porque o poeta cria ficções, enquanto o sofista floreia o
discurso verdadeiro.
III - Tanto o sofista quanto o poeta mimético acreditam que podem falar sobre to-
das as coisas, embora não tenham conhecimento da verdade delas. Portanto,
propagam apenas mentiras.
IV - O sofista e o poeta mimético acreditam que podem falar sobre todas as coisas,
mas, diferentemente do poeta, o sofista teria o seu lugar na cidade platônica.
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) IV, apenas.
e) I, II e III, apenas.
a) A história deve narrar os fatos assim como eles ocorreram, enquanto a poesia
mimética deve representar o que é verossímil, possível e provável.
b) A poesia mimética e a história contam os fatos assim como eles ocorreram. To-
davia, a história conta o ocorrido descritivamente, enquanto a poesia mimética o
representa a partir de elementos persuasivos.
c) A poesia e a história fazem referência ao passado, mas um a faz de maneira fic-
cional, enquanto a outra faz de maneira real.
d) Enquanto a poesia projeta o futuro, a história se volta para o passado. Contudo,
ambas são uma interpretação não fidedigna dos acontecimentos.
e) O saber histórico é superior ao poético, já que a história narra aquilo que real-
mente aconteceu, ou seja, os fatos, enquanto a poesia demonstra o que poderia
acontecer, o que é possível, mas ainda não é verdadeiro.
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5. Aristóteles compreende que a tragédia deve gerar a catarse no espectador, ou seja, pa-
vor e compaixão. Assim, na Poética, é defendido que a “mimese que se efetua por meio
de ações dramatizadas e não por meio de uma narração, e que, em função da com-
paixão e do pavor, realiza a catarse de tais emoções” (ARISTÓTELES, 2015, p. 1449b).
6. Em seu tratado Sobre o belo, Plotino afirma que as belezas corporais são meras ima-
gens do belo, mas o belo em si é apenas acessível em nosso interior. Para termos
esse acesso, teríamos que passar pelos processos de conversão e de purificação.
a) Um olhar subjetivo. O sujeito deve olhar para os seus desejos e paixões pessoais
e, então, purificar-se do mundo objetivo.
b) Um treinamento rigoroso. Nele, o homem deve ter acesso aos conhecimentos
técnico e empírico sobre as coisas.
c) Uma espécie de treinamento do olhar, a fim de que consigamos olhar para além
das coisas sensíveis. Trata-se de um olho interior.
d) Um esforço místico para encontrar o seu eu espiritual como a verdade única do
mundo.
e) Um modo de vida e conhecimento interiores, para despertar o lado trágico da
existência.
7. Agora que você conhece os principais autores que tratam da beleza na Grécia, é visível
que o problema estético, na Antiguidade Clássica, gira em torno do conceito de belo.
40
Cada autor define e compreende o belo de maneira diferente, assim como vimos em
Homero, Platão, Aristóteles e Plotino. Essas definições contribuem não só para enten-
dermos a beleza dentro de uma obra de arte, mas para entendermos a própria vida
do indivíduo. Além disso, contribuem para que compreendamos uma cultura, uma
época e uma sociedade. Diante disso, produziremos um mapa mental que ligará cada
autor aos seus respectivos conceitos. No entanto, antes disso, completemos a tabela
a seguir, preenchendo-a com os conceitos de seus respectivos autores.
Descrição da Imagem:a figura representa um mapa mental. Para tanto, traz o conceito de beleza ao centro
e cada autor estudado nesta unidade define a beleza de forma distinta uns dos outros.
Purificação e belo em si
Virtude/areté
Catarse e mimese
Ideia e bem
Cada conceito se vincula a um dos autores estudados. Para tanto, relacione os seus
nomes aos seus respectivos conceitos, tendo em mente que esse é o caminho per-
corrido por cada estudioso para alcançar a beleza.
41
2
Estética
Moderna e a
Crítica do Gosto
Dr. Renan Pavini
Suponha que você está ao redor de uma mesa de um restaurante com amigos e
amigas. Um de vocês começa a falar sobre música e acredita que pode determinar
que a música clássica é superior às outras, uma vez que a considera como aquela
que tem o real valor artístico, a única de bom gosto. Outro colega, por sua vez,
pensa que ele está precipitado, pois, de todos os ritmos musicais que conhece,
o único que o agrada é o bom e velho rock and roll. Mozart, por exemplo, não
lhe agrada aos sentidos. A discussão continua e vários colegas expõem opiniões
divergentes. Os ânimos se exaltam e, por fim, um levanta a voz e fala categorica-
mente: gosto não se discute! O que você acha da observação de seu último colega?
Você concorda com ele ou não? Gosto se discute?
A noção de “gosto”, presente nas discussões estéticas desde o Renascimento
(século XVI), influenciará grande parte do pensamento do século XVIII, em
conjunto com outras noções, como de belo e de gênio. Essa noção vinha, me-
taforicamente, da arte gastronômica e da culinária, ou seja, da maneira como
apreciamos o sabor dos alimentos pelo paladar. Todavia, ela também tinha um
sentido social, visto que indicava a habilidade de alguns indivíduos de apreciarem
ou opinarem acerca do que, dentro de uma área restrita, como a arte, a ciência, a
moral, a política, a filosofia ou a religião, consideravam como detentor de gosto.
Eles eram caracterizados como críticos do gosto ou, assim como você já deve
conhecer, como aqueles que tinham “bom gosto”. O século XVIII herdou e con-
tinuou a explorar essa noção de gosto tanto no contexto da vida em sociedade
quanto nos contextos estético e filosófico. Diante disso, ficou conhecido como o
“século do gosto” e o “século da crítica”.
Quando é aproximada a noção de juízo estético do gosto gastronômico, assim
como era comum antes de a estética ser considerada uma disciplina filosófica,
certamente, o juízo emitido sobre uma obra de arte é caracterizado como re-
lativista. Em que sentido? Sempre que eu como um prato de comida, ele pode,
ou não, ser-me agradável. Em outras palavras, o juízo emitido sobre o gosto da
comida (se ela é saborosa ou não) é relativa ao sujeito e depende de quem a come.
Ora, o mesmo processo é aplicado a uma obra de arte. Quando eu entro em
contato com uma música (ou com um quadro, um romance, uma escultura),
posso não gostar dela. Isso depende da relação que eu tenho com a música e do
meu gosto musical. Todavia, você deve saber que, na estética moderna, existe um
grande esforço em buscar uma opinião comum (universal) entre os indivíduos
a partir de um juízo crítico.
44
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Para ter uma melhor experiência e acessar diversas obras de arte, faça um
passeio virtual por um dos maiores museus do mundo, o Louvre, localizado
em Paris, na França.
Descrição da Imagem: a figura retrata alguns estudantes (crianças) dentro de um museu. Eles estão
tendo contato com as mais variadas obras de arte, desde quadros abstratos até esculturas clássicas.
45
UNIDADE 2
refere-se aos sentimentos dos
indivíduos e aos seus modos de sentir.
volta-se às produções artísticas e aos seus processos de
criação, por exemplo, em uma clara continuidade aos preceitos normativos
inaugurados pela Poética, de Aristóteles, que tiveram grande influência a
partir do Renascimento.
46
UNICESUMAR
Foi com Baumgarten, todavia, que foi elaborada uma disciplina completamente
autônoma de outros saberes filosóficos, incluindo a metafísica, a ética e a lógica.
Essa disciplina foi chamada de “Estética” pelo autor. Ao fazer isso, Baumgarten não
só conseguiu condensar as três tradições que se encontravam separadas até então,
mas deixou em destaque a relevância das faculdades sensíveis humanas, as quais
eram depreciadas em favor das faculdades racionais ou intelectuais. A partir de
Baumgarten, foi aberto um caminho para uma reflexão mais sistemática e profunda
sobre a arte, o gosto, o gênio e a criação, o que gerou uma crítica ao juízo de gosto.
Descrição da Imagem:
na figura, é apresentada
a obra O Homem Vitruvia-
no, um dos desenhos mais
conhecidos de Leonardo
da Vinci e um dos mais fa-
mosos da história da arte.
Nela, o autor faz o seu de-
senho a partir de estudos
anatômicos (por meio da
dissecação de cadáveres),
a fim de corrigir as propor-
ções presentes no estudo
do arquiteto Vitrúvio. Leo-
nardo da Vinci também se
inspirou na matemática
euclidiana e nos estudos
de outro arquiteto, Alber-
ti. O Homem Vitruviano é
uma obra que representa
com maestria a conjugação
entre a arte e a ciência..
47
UNIDADE 2
48
UNICESUMAR
autonomia, e não mais subordinado às temáticas morais, assim como era em Pla-
tão, por exemplo.
Além disso, Baumgarten divide o espírito humano em duas faculdades: a
superior, que é a metafísica; e a inferior, que é a parte sensível e auxiliada pelo
intelecto. Enquanto a lógica e a ciência são conhecimentos evidentes e claros, o
conhecimento sensível ainda é obscuro e, por isso, deve ser depurado pela estética
enquanto disciplina. Ao considerar que a arte deveria ser matéria de uma reflexão
filosófica por meio da disciplina estética, Baumgarten aproximou analogamente
a estética do conhecimento racional, já que ela levaria a arte a obter uma maior
clareza, aproximando-se, assim, do conhecimento lógico-científico.
PENSANDO JUNTOS
49
UNIDADE 2
50
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Note a importância da definição moderna operada por Baumgarten: o belo se torna sub-
jetivo na medida em que a beleza só pode ser atingida por meio da representação huma-
na. O belo não é mais uma propriedade do objeto no mundo, mas a beleza surge a partir
da forma como a representamos, ao entrar em contato com determinado objeto.
de nos perguntarmos:
51
UNIDADE 2
“
Entre mil e uma opiniões que indivíduos diferentes podem ter sobre
o mesmo assunto, existe uma e somente uma que é justa e verda-
deira; e a única dificuldade é encontrá-la e confirmá-la. Por sua vez,
os mil e um sentimentos diferentes despertados por um mesmo
objeto são todos certos, porque nenhum sentimento representa o
que realmente está no objeto (HUME, 2012, p. 95).
Diante do exposto, Hume expressa que a beleza não é uma qualidade das coisas,
mas está no espírito que a contempla. Além disso, cada um percebe a beleza de
forma diferente. Em vista disso, podemos pensar na seguinte situação: suponha
que você e alguns colegas entram em contato com uma planta rara, exótica e que
nunca tinham visto. O sentimento que cada um tem em relação à planta não
diz respeito ao objeto “planta”, mas ao próprio sujeito. Portanto, um pode achar
a planta linda, outro pode achá-la feia e outro, ainda, pode ter repulsa por ela.
Descrição da Imagem: na figura, é apresentada a Hydnora abyssinica, considerada uma das plantas
mais estranhas do mundo. Ela é parasitária e tem as suas partes vegetativas muito parecidas com fungos.
52
UNICESUMAR
“
- Ah, tenho um bom faro – tornou Sancho – nisto de vinhos, basta
que eu cheire qualquer, e logo lhe acerto com a pátria, com a lingua-
gem, com o sabor, com a duração, e com as contas que há de dar. Mas
não admira, que eu tive na minha linhagem, por parte de meu pai, os
dois maiores entendedores que tem havido em La Mancha; e como
prova, eu lhe vou dizer o que lhes sucedeu. Deram-lhes a provar o vi-
nho dum tonel, perguntando-lhes o seu parecer a respeito do estado,
qualidade, bondade ou maldade do vinho. Um provou-o com a ponta
da língua, o outro só o chegou no nariz. O primeiro disse que o vinho
sabia a ferro, o segundo, que sabia a couro. Respondeu o dono que o
tonel estava limpo, e que tal vinho não tinha adubo algum onde lhe
viesse o gosto de couro, ou de ferro. Com tudo isso, os dois famosos
provadores afirmaram o que tinham dito. Correu o tempo, vendeu-se
53
UNIDADE 2
Descrição da Imagem: na figura, há uma imagem feita por Gustave Dore para o livro A história de Dom
Quixote, publicado em 1880. Ela retrata o famoso cavaleiro de triste figura. Ele está caído ao chão e ao
lado de seu cavalo, depois de sua célebre batalha contra os moinhos de vento. Ao fundo, chega, Sancho
Pança, que puxa o seu burro por uma corda..
54
UNICESUMAR
“
1) Indica que o modelo estético de Hume se situa com o sentido
originário da palavra “gosto”, na arte culinária, e o belo, então, filia-se
ao agradável.
Ora, é observável que, para Hume, o juízo estético não depende apenas do co-
nhecimento teórico, mas também do sentir e de complexos estados de ânimos
que fazem parte de um indivíduo. Contudo, isso não significa que, para o filóso-
fo, o juízo de gosto não tenha rigor. Hume acredita que o homem deve ter uma
“cultura dos entendidos”, isto é, além de ter uma natureza dotada de delicadeza, é
necessário cultivar o juízo do belo e do feio a partir do contato com as obras de
arte. “Embora exista, em relação a essa delicadeza, uma enorme diferença natural
entre um indivíduo e outro, nada contribui mais para aumentar e aprimorar esse
talento que a prática de uma arte e análise e contemplação constantes de um
determinado tipo de beleza” (HUME, 2012, p. 101).
Em vista disso, Hume opera a partir do juízo sobre o belo e carrega um prin-
cípio que liga a universidade e a relatividade. Há a universalidade do gosto, já
que a natureza humana é a mesma em todos os indivíduos e em todas as épocas.
Por outro lado, é inegável que “ainda assim poucos são os capazes de julgar qual-
quer obra de arte ou de impor o seu próprio sentimento como padrão da beleza”
(HUME, 2012, p. 105). Assim, o juízo de gosto, para Hume, precisa permanecer
em conformidade com o seu último princípio: a natureza humana. Contudo, ao
mesmo tempo, deve ser cultivado para que não seja uma mera opinião.
No homem cultivado, deve imperar o bom senso de julgar, tendo em vista que
ele é um homem de cultura e natural, distanciando-se, portanto, de preconceitos
55
UNIDADE 2
individuais. É somente desse modo que, para Hume, é possível julgar de forma
mais ou menos perfeita. Isso nos leva a entender que a estética, para o filósofo
escocês, encontra a sua universalidade em uma aristocracia estética. É por meio
dela que são estabelecidas as normas para todo juízo sobre o belo.
Já sabemos que, para Hume, o conhecimento sobre a beleza se inicia com a ex-
periência. Se tomarmos a afirmação apresentada como correta, não podemos
asseverar, a partir de Kant, que ela está completa, tampouco podemos sustentar
que o conhecimento sobre o belo se origina da experiência. A partir do pensa-
mento kantiano, temos a tentativa de junção de duas correntes que, até então,
eram antagônicas na filosofia: o racionalismo, que sustenta que tudo provém do
entendimento, e o empirismo, o qual defende que tudo se origina da experiência.
Por isso, afirmamos que, a partir de Kant, a revolução copernicana começa a
ganhar cada vez mais espaço. No entanto, o que seria essa revolução? Kant (2013,
p. 18) explana que “a razão só entende aquilo que produz segundo os seus pró-
prios planos; que ela deve tornar a dianteira com princípios, que determinam os
seus juízos segundo leis constantes e deve forçar a natureza a responder às suas
interrogações em vez de se deixar guiar por eles”.
O que isso significa? Se, para Hume, a origem do conhecimento está na expe-
riência, visto que nos conformamos com a maneira como os objetos se apresen-
tam para nós, para Kant, são as coisas que se conformam a nós e as certas formas
de leitura que nós projetamos sobre os objetos. Kant acreditava que algumas no-
ções, como o tempo e o espaço, não estão na natureza, mas são condições a priori
de nosso entendimento para poder captar as coisas. Assim, estruturas lógicas e
conceitos, como o tempo e o espaço, são necessários para adquirirmos conheci-
mentos sobre as coisas e para enxergarmos as coisas da forma como a vemos. Para
a teoria kantiana, nós nunca temos acesso ao objeto em si mesmo, mas apenas
ao modo como ele se apresenta para nós a partir de nossa constituição subjetiva.
56
UNICESUMAR
Desse modo, quando Kant se volta para a arte, o filósofo não está mais preo-
cupado, assim como Hume, em tentar estabelecer um padrão de gosto, mas visa
estabelecer uma crítica estética. Em A crítica da faculdade do juízo, aquele que
ajuíza se um objeto é belo ou não “tem que crer que possui razão para pretender
de qualquer um uma complacência [prazer] semelhante” (KANT, 2012, p. 48).
No entanto, segundo Kant, como nós julgamos se um objeto é belo ou não?
Descrição da Imagem: a figura retrata o interior do museu Uffizi, localizado em Florença, na Itália, em
2017. Nela, estão pessoas contemplando um quadro.
57
UNIDADE 2
“
Para distinguir se algo é belo ou não, referimos a representação, não
pelo entendimento a objeto em vista do conhecimento, mas pela
faculdade de imaginação ao sujeito e ao seu sentimento de prazer
e desprazer. O juízo de gosto não é, pois, nenhum juízo de conhe-
cimento; por conseguinte, não é lógico e sim estético, pelo qual se
entende aquilo cujo fundamento de determinação não pode ser
senão subjetivo. Toda referência das representações, mesmo a das
sensações, pode, porém, ser objetiva (e ela significa então o real de
uma representação); somente não pode sê-lo a referência ao senti-
mento de prazer e desprazer, pelo qual não é designado absoluta-
mente nada no objeto, mas no qual o sujeito sente-se a si próprio
do modo como ele é afetado pela sensação.
58
UNICESUMAR
que eu tenho em relação ao objeto. Por isso, quando entramos em contato com
uma obra de arte, por exemplo, se tivermos um sentimento de prazer, devemos
ajuizar a obra como bela. Caso contrário, devemos considerá-la feia.
Todavia, se Kant limitasse a sua explicação apenas nas ideias apresentadas,
seria muito problemático falar em uma universalidade do juízo estético. Por quê?
Porque todo juízo necessariamente seria particular.
Vejamos a um exemplo:
Descrição da Imagem: na figura, é mostrado um quadro pintado por Vincent Van Gogh durante a sua
estadia na cidade de Arles. Nela, o pintor retrata um famoso café em uma noite estrelada, localizado na
Place du Forum. Atualmente, em detrimento do quadro, ele se chama Le café Van Gogh.
59
UNIDADE 2
60
UNICESUMAR
do a priori estético”. Isso significa que todo e qualquer juízo estético é indepen-
dente da experiência, o que também significa dizer que os sentimentos de prazer
e de desprazer que o sujeito tem em relação ao objeto devem ser desinteressados.
Em razão disso, é possível compreender a especificidade do juízo estético, que,
apesar de se distinguir dos juízos de conhecimento e de moral, defende que é uni-
versalmente compreensível. Ora, enquanto os juízos de conhecimento e de moral
buscam uma universalidade objetiva, Kant frisa que os juízos estéticos trazem
uma universalidade subjetiva. Nesse sentido, ao elencar a ideia de universalidade
subjetiva, Kant não está pensando na subjetividade de maneira particular, pois, se
assim estivesse, seria impossível ansiarmos um juízo universal sobre a arte.
Chegamos a um aspecto central para analisarmos o juízo estético kantiano, cuja
característica é o seu caráter reflexivo. Sobre a temática, Kant (2012, p. 11) defende que:
“
A faculdade do juízo em geral é a faculdade de pensar o par-
ticular como contido no universal. No caso de este (a regra, o
princípio, a lei) ser dado, a faculdade do juízo, que nele subsu-
me o particular, é determinante (o mesmo acontece se ela, en-
quanto faculdade transcendental, indica a priori as condições
de acordo com as quais apenas naquele universal é possível
subsumir). Porém, se só o particular for dado, para o qual ela
deve encontrar o universal, então a faculdade do juízo é sim-
plesmente reflexiva
Quando vemos uma maçã suspensa no ar, sem nenhum apoio, cair, sabemos que
esse acontecimento particular (a maçã cair no chão) se relaciona com uma lei
universal: a gravidade. É a isso que Kant chama de juízo determinante. Todavia,
quando olhamos para uma obra de arte, não temos um princípio universal ou
uma regra geral da qual podemos nos apoiar para fundamentá-la universalmente.
Assim, para fundamentarmos de maneira pretensamente universal, devemos
utilizar os juízos estético reflexivos, que nada mais são do que os juízos que não
têm a sua validade no objeto que se apresenta, mas em nós mesmos, ou seja, no
próprio sujeito. Contudo, Kant compreende que, ao entrar em contato com um
objeto, para ter um juízo realmente estético, é preciso ter um prazer desinteres-
sado. Como se dá esse prazer desinteressado? Como sei que o prazer que sinto
está distante daqueles outros prazeres ligados ao interesse?
61
UNIDADE 2
Kant (1985, p. 104) ainda afirma que “para este Esclarecimento, porém, não mais se
exige senão LIBERDADE”. Essa liberdade é definida, primeiramente, de maneira
negativa. Em outras palavras, o filósofo explica como não se é livre e como é a
impossibilidade de fazer o uso livre de seu entendimento: “ouço clamar de todas
as partes: não raciocinai! O oficial diz: não raciocineis, mas exercitai-vos! O fi-
nancista exclama: não raciocineis, mas pagai! O padre proclama: não raciocineis,
mas crede!” (KANT, 1985, p. 104). Posteriormente, diante de todas essas limitações,
Kant afirma que a liberdade, em seu uso livre, é chamada de “uso público da razão”,
que nada mais é do que a capacidade “que qualquer homem, enquanto SÁBIO, faz
dela diante do grande público do mundo letrado” (KANT, 1985, p. 104).
Para contrabalancear, todavia, Kant assevera que o sujeito esclarecido não
é constituído simplesmente pelo “uso público da razão”, mas também pelo “uso
62
UNICESUMAR
privado da razão”. Por uso privado, Kant entende aqueles homens que, mesmo
carregando a possibilidade de serem críticos e uma função a eles confiada, devem
obedecer, pois de nada adiantaria ser apenas um crítico e fazer o mecanismo de
determinada instituição parar.
Para esclarecermos a noção de liberdade e a forma como ela se faz presente
no sujeito esclarecido, apresentaremos um exemplo: imagine um professor que
passou em um concurso público e, por isso, começa a lecionar em uma deter-
minada instituição. Como sujeito esclarecido, ele deve fazer tanto o uso público
quanto o uso privado de sua razão. O que isso significa? Isso demonstra que ele
compreende as engrenagens e os mecanismos da instituição na qual leciona e,
por isso, tem a obrigação, de acordo com Kant, de ser crítico desses mecanismos
para poder melhorar a instituição.
Entretanto, mesmo sabendo dessas limitações, o professor não pode sim-
plesmente deixar de exercer a sua função, isto é, ele não pode deixar de aplicar
provas, comparecer às aulas e lecionar de acordo com o tempo estabelecido e
com as diretrizes impostas, sob pena de não contribuir para o funcionamento da
instituição. Isso prejudicará uma série de pessoas de sua comunidade, inclusive,
os alunos. Diante disso, Kant lança uma grande máxima em seu texto e que se
remete ao homem esclarecido. Ela nos dá a ideia de uma liberdade responsável,
isto é, uma liberdade dentro de certos limites aceitáveis: “é permitido raciocinar,
mas deve-se obedecer” (KANT, 1985, p. 106).
A liberdade estética é compreendida de maneira completamente diversa da
liberdade presente no texto Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?. Em a
Crítica da faculdade do juízo, Kant defende que é apenas no juízo estético que
encontramos uma liberdade pura, isto é, livre e desinteressada. Ora, o filósofo
prussiano explica que:
“
[...] um objeto de inclinação e um que nos é imposto ao desejo me-
diante uma lei da razão não nos deixam nenhuma liberdade para
fazer de qualquer coisa um objeto de prazer para nós mesmos. Todo
interesse pressupõe necessidade ou a produz; e, enquanto funda-
mento determinante da aprovação, ele não deixa mais o juízo sobre
o objeto ser livre (KANT, 2012, p. 46).
63
UNIDADE 2
64
UNICESUMAR
Figura 7 – Estátua da deusa grega Têmis, cuja equivalente romana é a deusa da justiça
Descrição da Imagem: na figura, está a deusa Têmis (ou justiça). Ela segura, em sua mão direita, uma
balança, que representa o julgamento equilibrado e justo. Na mão esquerda, ela empunha uma espada,
que representa o seu poder. Outro elemento essencial e presente na deusa é a venda em seus olhos,
que significa que ela é imparcial, buscando sempre a verdade e estando acima das paixões humanas.
65
UNIDADE 2
OLHAR CONCEITUAL
É somente a partir do nosso pensamento
que podemos olhar um objeto sensível e
extrair dele as ideias de simetria, proporção
e unidade.
Lorem ipsum
Estética filosófica e a
crítica do gosto A relatividade se liga à universalidade
por meio da natureza humana e, ao
mesmo tempo, os indivíduos devem
ser cultivados para julgar apenas por
meras opiniões.
O jju
juízo estético é livre e o sujeito, ao emitir
u
um juízo estético, deve necessariamente
se despir de suasinclinações e julgar
desinteressadamente.
gosto na modernidade: Baumgarten, Hume e Kant. Além disso, é expressa a forma como cada
Baumgarten, que tornou a estética uma disciplina filosófica, defende que sempre que olhamos
um objeto, a beleza dele entra em conformidade com a nossa subjetividade, isto é, com as
estruturas formais presentes em nosso pensamento. Hume, por sua vez, acredita que a univer-
salidade do juízo estético se encontra na natureza humana, embora ressalte que muitos homens
emitem meras opiniões e, por isso, apenas os homens de cultura carregam bom senso para
julgar esteticamente. Kant, por fim, compreende que um juízo estético deve ser desinteressado,
isto é, quando julgamos um objeto sem qualquer inclinação, julgamos livremente e, por isso,
66
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Agora que você já conheceu Baumgarten, Hume e Kant, você sabe que a mo-
dernidade estética se inicia a partir de um esforço enorme para passar daquele
padrão de gosto particular, pautado em uma visão individual do sujeito, para
um juízo de gosto universal. Cada autor o faz a partir de suas próprias filosofias
e, portanto, de maneiras distintas: Baumgarten faz uma tentativa de fundar uma
estética enquanto disciplina que permitiria encontrar, no sujeito, as estruturas
formais das belezas presentes em nosso próprio pensamento; Hume fez as suas
proposições a partir da natureza humana e do cultivo do gosto; Kant, por fim,
sustentou que o juízo estético reflexivo é livre. Diante dessas três teorias, produza
um texto que defenda o argumento de que gosto se discute.
Finalizamos a nossa segunda unidade e agora é o momento de avaliar os
conhecimentos adquiridos. Para tanto, procure realizar as atividades avaliativas
propostas a seguir.
67
1. Atribui-se a Baumgarten o advento da estética enquanto disciplina filosófica. Isso
significa que o autor elevou as discussões em torno da “ciência do sensível” a outro
patamar. Essa ciência era, até então, considerada um objeto menor pela tradição.
Somado a isso, Baumgarten também altera o modo como se compreende o belo, ao
inaugurar uma forma moderna de se pensar no problema da beleza.
68
3. Hume, mesmo sendo um filósofo da tradição empírica, não abdica de pensar na
universalidade do gosto. Assinale a alternativa que liga, a partir do juízo de gosto
humeano, a relatividade dada por nossa sensibilidade à universalidade:
a) A razão.
b) A natureza humana.
c) A sete sentidos.
d) O conhecimento inato.
e) A dedução.
69
6. Agora que você conhece as teorias estéticas de Baumgarten, Hume e Kant, complete
a figura a seguir com o nome dos três filósofos nos círculos coloridos. Depois, faça
cada um corresponder aos seus respectivos conceitos.
Estética moderna,
a crítica do gosto
Descrição da Imagem: : a figura apresenta os principais conceitos dos autores estudados nesta unidade
70
3
Estética do
Romantismo e
do Idealismo
Alemão
Dr. Renan Pavini
Suponha que você está sentado em meio à natureza e uma brisa leve bate em seu
rosto. Você olha a imensidão da natureza, a forma como as folhas balançam, o
modo como os pássaros cantam e como as cores se compõem. Em um determinado
momento, um pintor, com uma prancheta em mãos, senta-se ao seu lado. Ele abre a
bolsa, tira várias cores, posiciona-se e começa a desenhar olhando para o horizonte.
Você, a apenas alguns centímetros do pintor, olha para o mesmo lugar que ele
olha, enquanto ele dá intensas pinceladas em seu quadro. Ao contemplar a natu-
reza, sem olhar para a tela do pintor, você imagina o desenho que ele fará a partir
da paisagem que vocês dois têm acesso. As horas passam e, finalmente, o pintor
termina a sua obra de arte e questiona se você gostaria de vê-la. Ansiosamente,
você observa a pintura, mas não vê nada daquilo que os seus olhos contemplaram.
Apenas observa figuras abstratas que não retratam a paisagem que, com tanto
fervor, o pintor estava a olhar no momento em que pintava. A que você atribui
isso? Por que o artista não pintou exatamente o que estava à sua frente?
A arte moderna não é compreendida de maneira unívoca e, em razão disso,
faz um rompimento com as expressões artísticas anteriores. Diante do roman-
tismo alemão, a arte adentra em um terreno que não pertence mais ao ideal, ou
seja, ela não expressa mais os grandes valores trazidos pela tradição, pela cultura,
pela sociedade e pela moral. Ela se torna muito mais combativa a esses valores,
já que, agora, a arte não compreenderá mais o homem de forma acabada, mas
fragmentada. Por isso, em meados do século XVIII e início do século XIX, há
duas tradições que se opõem: o romantismo e o idealismo. Em relação à primeira,
autores, como Novalis e os irmãos Schlegel, elaboram uma estética do fragmento,
contrapondo-se a toda forma sistematizada de se pensar. Por outro lado, em rela-
ção ao idealismo, temos Hegel, que preza pela expressão do ideal que traz a beleza.
74
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: na figura, é apresentada uma obra pintada no teto da Capela Sistina por volta
de 1511. Trata-se de A criação de Adão, que retrata um episódio do livro do Gênesis, em que Deus cria
o primeiro homem: Adão
75
UNIDADE 3
Descrição da imagem: na figura, há uma obra pintada pelo holandês Johannes Vermeer em 1665. O
artista retrata uma jovem aparentemente simples, mas usando um brinco de pérola.
76
UNICESUMAR
77
UNIDADE 3
78
UNICESUMAR
79
UNIDADE 3
Descrição da imagem: na figura, é apresentado um desenho do romântico Novalis. Esse desenho foi
publicado nos livros Meyers Lexicon, em língua alemã. Trata-se de uma coleção de livros composta por
21 volumes e que foi publicada entre os anos de 1905 a 1909.
Sobre a temática, Friedrich Schlegel (1997, p. 16) explica que, “se ao refletir não
nos podemos negar que tudo está em nós, então não podemos explicar o sen-
timento de limitação que nos acompanha constantemente na vida senão quan-
to admitimos que somos somente um pedaço de nós mesmos”. Márcio Suzuki,
diante da afirmação de Schlegel, comenta que, para os românticos, o indivíduo
80
UNICESUMAR
“
A poesia romântica é uma poesia universal progressiva. Sua desti-
nação não é apenas reunificar todos os gêneros separados da poesia
e pôr a poesia em contato com filosofia e retórica. Quer e também
deve ora mesclar, ora fundir poesia e prosa, genialidade e crítica,
poesia, poesia-de-arte e poesia-de-natureza, tornar viva e sociável
a poesia, e poéticas a vida e a sociedade (SCHLEGEL, 1997, p. 64).
81
UNIDADE 3
Sobre a temática, Suzuki (1997, p. 17) afirma que o ponto de partida do romantis-
mo é “a forma primordial”, que “se desenvolve por múltiplas formas particulares e
busca novamente, pela combinação destas, a unidade da forma”. Seria, portanto,
necessário entender que todo fragmento, ou seja, toda forma particular é contin-
gente em relação à primeira forma. Como isso é possível? A forma fragmentária
da poesia é livre de qualquer maquinaria técnica presente na sistematicidade de
outros discursos filosóficos. Ela é orgânica como a vida e, por isso, Schlegel (1997,
p. 82) defende que “um fragmento tem que ser como uma pequena obra de arte,
totalmente separado do mundo circundante e perfeito e acabado em si mesmo
como um porco espinho”.
Descrição da imagem: na figura, é mostrado um porco espinho em cima de um livro, como se ele o
estivesse lendo. Para Schlegel, o porco espinho é composto por vários espinhos, cada um em si mesmo.
Não obstante, todos esses espinhos estão ligados ao animal. A analogia ao porco espinho se dá, então,
entre o fragmento (espinhos) e o todo (animal).
82
UNICESUMAR
83
UNIDADE 3
Descrição da imagem: a figura apresenta um círculo maior, que é preto, a fim de representar o universal,
o todo. Dentro dele, encontramos um círculo menor e azul, o qual simboliza o particular e a subjetividade.
O argumento romântico é simples: ao olharmos para a nossa subjetividade, que é particular, encontramos
o universal, de forma que nós, seres infinitos, estamos contidos no finito.
Desse modo, os românticos se afastam da ideia de que o artista é aquele que detém
um certo domínio técnico sobre uma arte específica. O artista é um demiurgo e
carrega uma força inata que o permite decifrar, intuitivamente, a própria natureza.
No entanto, essa criação não é fruto de um ordenamento e de uma sistematici-
dade do conhecimento, ao contrário, é consequência da própria espontaneidade
do gênio, pois tudo lhe advém no ato da criação. Portanto, o gênio é um ser que
detém em si algo maior que si mesmo e que é somente por seu intermédio que
pode ganhar forma mediante a obra de arte: o que há de infinito ou de eterno.
84
UNICESUMAR
Por isso, o artista gênio se distancia do homem comum: o artista está sub-
metido ao poder interior e ao seu próprio destino interior, devido a esse poder.
Nessa perspectiva, a obra de arte carrega o seu valor e existência para além de um
simples formalismo que a compõe (como em Aristóteles). O seu valor é adquirido
devido à existência da subjetividade de seu criador.
Figura 6 - Selo que traz a imagem do quadro Caminhante sobre um mar de névoa
85
UNIDADE 3
86
UNICESUMAR
Diante desses três aspectos, Hegel buscará fazer uma ciência, uma filosofia da arte
(o autor não diferencia “ciência” de “filosofia”) ou, nas palavras do próprio filósofo,
“a ciência da arte é, pois, em nossa época muito mais necessária do que em épocas
na qual a arte por si só, enquanto arte, proporciona plena satisfação” (HEGEL,
2001, p. 35, grifo do autor). Perceba que Hegel assevera que a necessidade de
uma ciência da arte se dá porque a arte não proporciona mais a satisfação, assim
como era em épocas passadas. “A arte nos convida a contemplá-la por meio do
pensamento e, na verdade, não para que possa retomar seu antigo lugar, mas para
que seja conhecido cientificamente o que é a arte” (HEGEL, 2001, p. 35).
Ao estabelecer uma ciência da arte, Hegel delineia uma distinção muito cate-
górica entre a arte e a filosofia, a fim de que ambas não sejam confundidas:
“
[...] não se deve dizer que o artista deve apreender na Forma de pen-
samentos filosóficos o verdadeiro de todas as coisas, o qual constitui
a base universal tanto na religião quanto na filosofia. A Filosofia não
lhe é necessária, e se ele pensa de modo filosófico realiza uma ati-
vidade justamente oposta à arte, no que se refere à Forma do saber”
(HEGEL, 2001, p. 283).
87
UNIDADE 3
em outro período e, no seu tempo, tem a filosofia. Assim, é possível afirmar que,
para Hegel, a arte precisa ser autônoma e ter a sua vitalidade própria. Por isso,
ela não precisa da filosofia.
A primeira característica da arte para Hegel e que é marcante em seus cursos
de estética sustenta que a arte não se confunde com a natureza, posição comple-
tamente diferente do romantismo alemão. O filósofo entende que o belo artístico
não se confunde com a natureza, porque, como um idealista, a beleza artística tem
a sua origem no espírito humano, enquanto a natureza não o é. Para Hegel, existe
uma relação indissociável entre o espírito, a liberdade e a realidade. A alma é o
que há de mais verdadeiro no mundo para Hegel e, por isso, é superior à natureza,
pois a alma traz essa superioridade marcada pela liberdade. Assim, em Hegel, os
seguintes elementos estão separados:
Certamente, isso não significa que a natureza não possa ser compreendida como
bela ou como uma paisagem, por exemplo. Todavia, se for, é porque o belo natu-
ral se tornou um reflexo da beleza que pertence ao espírito, já que, para Hegel, a
natureza, por si só, sempre será imperfeita. Desse modo, tudo o que é realidade
no mundo o é porque a razão humana o representa. Desse entendimento, é pro-
veniente a famosa frase hegeliana que assevera que “o que é racional é real e o que
é real é racional” (HEGEL, 1997, p. 36).
88
UNICESUMAR
89
UNIDADE 3
1. Arte simbólica.
2. Arte clássica.
3. Arte romântica.
Forma e Conteúdo
Forma é a maneira como a arte se manifesta e o conteúdo é aquilo que ela mani-
festa. É justamente a partir desses dois conceitos que Hegel pensará na história
da arte. Arte simbólica, para o autor, é reduzida à arte do Oriente. Hegel a entende
como uma aparição inferior e, portanto, não bela, em oposição à arte clássica dos
gregos. Para o filósofo, a arte simbólica traz uma inadequação entre a forma e o
conteúdo. O que isso significa? Na arte simbólica, o que é expressado se dá de
forma descritiva, superficial e sem levar em consideração o conteúdo espiritual.
Por exemplo, quando eu vejo um objeto, eu o desenho apenas da forma como
ele se apresenta para mim, em sua exterioridade. Eu não consigo atribuir um
significado maior (seu conteúdo) na cadeia de razões da sua existência.
Devido ao procedimento dialético, Hegel acredita que tudo o que é particu-
lar pertence a uma cadeia universal e, portanto, a arte teria que expressar esse
conteúdo, ou seja, essa relação entre o particular e o universal. A arte simbólica é
objetiva, tendo em vista que apresenta apenas o que é exposto na exterioridade,
aquilo que é visto pelo sentido, e não pensado pelo espírito. Por isso, podemos
dizer que a forma, nesse momento, sobrepõe-se ao conteúdo.
90
UNICESUMAR
Outra forma de manifestação artística, mas bem mais elevada, seria a arte clássica.
Ela pode ser caracterizada como a arte grega, que, segundo Hegel, carrega uma
plena harmonia entre o conteúdo e a forma. Essa harmonia, que gera a realidade, fez
surgir o conceito de belo, o qual era inexistente na arte simbólica. Em razão disso, a
arte clássica é considerada aquela que alcança a plenitude da arte, o seu grau eleva-
do, dado que, nela, o espiritual atravessa completamente o fenômeno exterior, em
uma idealização do natural e dos objetos, a fim de torná-los adequados ao espírito.
Em outras palavras, diferentemente da arte simbólica, que apenas represen-
tava aquilo que se apresenta imediatamente aos sentidos e não atribui nenhum
um significado maior (portanto, uma representação do particular), a arte clás-
sica conceitualiza o mundo e dá sentido espiritual às coisas, ao lhes atribuir um
significado maior. Desse modo, o espírito se afasta do particular. Podemos dizer
que, na arte clássica, o mundo é espiritualizado.
91
UNIDADE 3
Descrição da imagem: na
figura, é apresentada a Vê-
nus Pudica, uma represen-
tação da deusa Afrodite.
Na escultura, ela ganha o
nome “Pudica” por apare-
cer com a mão cobrindo
a sua genitália. Para He-
gel, na arte grega, há uma
harmonia entre a forma (a
perfeição e a simetria da es-
cultura) e o conteúdo que
a forma expressa, como o
amor, que é personificado
na imagem da deusa.
92
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Para Hegel, a arte romântica não se limita à arte do romantismo alemão. O filósofo enten-
derá a arte romântica de maneira muito mais ampla, visto que o romantismo alemão será
a sua última expressão e o motivo de sua decadência.
1. Círculo religioso.
2. Cavalaria.
3. Autonomia formal das particularidades individuais.
“
Na medida em que o sujeito efetivo é desse modo o fenômeno de
Deus, a arte adquire apenas agora o direito mais elevado de empregar
a forma humana e o modo da exterioridade em geral para a expressão
do absoluto, embora a nova tarefa da arte apenas possa consistir em
levar à intuição, nesta forma, não a submersão do interior na corpora-
lidade exterior, mas, inversamente, a retomada do interior em si mes-
mo, a consciência espiritual de Deus no sujeito (HEGEL, 2014, p. 254).
93
UNIDADE 3
“
[...] na medida em que é Deus – igualmente em si mesmo uni-
versal – que aparece na existência humana, esta realidade não está
limitada à existência singular, imediata na forma de Cristo, mas se
desdobra na totalidade da humanidade, na qual o espírito de Deus
se faz presente e permanece nesta efetividade em unidade consigo
mesmo (HEGEL, 2014, p. 256).
94
UNICESUMAR
“
[...] pois assim como Deus inicialmente elimina de si mesmo a efe-
tividade finita, também o ser humano finito, que começa a partir de
si fora do reino divino, recebe a tarefa de se elevar a Deus, de afastar
de si o finito, de livrar-se da nulidade e, por meio desta morte de sua
efetividade imediata, tornar-se o que Deus fez objetivamente em
sua aparição, enquanto ser humano, como a verdadeira efetividade
(HEGEL, 2014, p. 257).
“
Na arte romântica, em contrapartida, a morte é apenas um morrer
da alma natural e da subjetividade finita, um morrer que apenas se
relaciona negativamente contra o que é em si mesmo negativo, que
suspende o que é nulo e, desse modo, medeia a libertação do espírito
de sua finitude e cisão, assim como a reconciliação espiritual do
sujeito com o absoluto (HEGEL, 2014, p. 258).
95
UNIDADE 3
Figura 11 - A crucificação
Descrição de imagem: a figura apresenta uma obra pintada por Giotto. Ao centro, está Cristo crucificado.
À esquerda, encontramos aqueles que se compadecem com a crucificação de Cristo, como sua mãe, Maria,
Maria Madalena, o apóstolo João e Maria, esposa de Cléofas. À direita, os soldados romanos disputam
as roupas do crucificado. Hegel assevera que, em imagens como essas, o conteúdo transcende a forma.
96
UNICESUMAR
“
Há, portanto, duas acepções da subjetividade com as quais opera
Hegel nos Cursos de estética. Uma é tomada em sentido restrito
como manifestação particular do ponto de vista do sujeito, em opo-
sição a uma objetividade. Essa subjetividade via de regra afirma a
perspectiva de uma imaginação ilimitada ou se refugia no terreno
da ironia. Falta-lhe a consciência de que o sujeito é apenas um mo-
mento de um transcurso maior. A outra acepção de subjetividade
é acolhida de modo positivo por Hegel, pois trata da manifestação
inequívoca de uma tendência de todo o mundo cristão: trata-se
do princípio da subjetividade livre. A diferença dessa subjetividade
“infinita” diante da outra “finita” é que ela resulta de um processo
histórico e objetivo, possui um conteúdo nela mesma e, portanto,
uma legitimação própria (WERLE, 2011, p. 96-97).
97
UNIDADE 3
“
Seja como for, o fato é que a arte não mais proporciona aquela satisfa-
ção das necessidades espirituais que épocas e povos do passado nela
procuravam e só nela encontravam; uma satisfação que se mostrava
intimamente associada à arte, pelo menos no tocante à religião. Os belos
dias da arte grega assim como a época de ouro da Baixa Idade Média
passaram [...]. Mas para o interesse artístico bem como para a produção
de obras de arte exige-se antes, em termos gerais, uma vitalidade, na
qual a universalidade não está presente como norma e máxima; pelo
contrário, age em uníssono com o ânimo e o sentimento [...]. Por esta
razão, o estado de coisas da nossa época não é favorável à arte. Mesmo o
artista mais experiente não escapa desta situação (HEGEL, 2001, p. 35).
98
UNICESUMAR
Observe que Hegel afirma que toda a arte perdeu vitalidade. No sentido hegeliano,
seria possível sustentar que a arte perdeu o seu conteúdo. Você se lembra do sig-
nificado de conteúdo da arte para Hegel? Trata-se da arte que traz, na imagem (na
forma), um conteúdo superior, espiritualizado, conceitual e que, de certa maneira,
expressa a ligação da parte com o todo (a subjetividade positiva). Nesse contexto, o
grande problema que Hegel diagnosticou na arte moderna (séculos XVIII e XIX)
se dá no fato que ela não trata mais do conteúdo e submerge somente na forma. O
que isso significa? A arte perdeu o seu conteúdo universal e se refere apenas aos
desejos e às paixões humanas, ficando relegada ao particular e contingente.
Hegel assevera que uma das grandes artes formais de seu tempo, ou seja, que
utiliza a forma em detrimento do conteúdo, é a arte romântica alemã. Isso se dá,
porque Hegel acredita que a arte feita pelos românticos não se preocupa com o
conteúdo universal do mundo, ao contrário, preocupa-se mais com a subjetividade
fragmentária e, por isso, não é possível constituir uma expressão de uma época.
Desse modo, Hegel explica que os românticos alemães, por não fazerem uma
conexão entre o particular e o universal, partem de um “Eu abstrato”, isto é, da
vontade e das paixões particulares do sujeito. Isso significa que a arte romântica,
do ponto de vista hegeliano, não tem nenhum compromisso com a verdade, já que
pode construir ou destruir as esferas da ética, do direito, do humano e do divino,
uma vez que não se preocupa com a constância, o conteúdo e o universal.
As consequências desse pensamento se concentram na ideia de que tudo se
resume ao “formalismo do Eu”. Em outras palavras, não há uma preocupação com o
que é essencial, apenas com a mera aparência, ou seja, tudo aquilo que ganha forma
a partir da subjetividade particular. O Eu do artista estabelece tudo a partir de si
mesmo e desfaz as representações da maneira como lhe convir, sem qualquer serie-
dade, uma vez que não há conteúdo absoluto para ele. Hegel chama essa atividade
dos românticos alemães de “vida irônica e artística” ou “genialidade divina”. “Essa
virtuosidade de uma vida irônica e artística se concebe, pois, como genialidade
divina, para a qual tudo e todos são apenas uma criação sem essência, na qual o
criador livre, que se sabe desvencilhado e livre de tudo, não se prende, pode tanto
destruí-la quanto criá-la” (HEGEL, 2001, p. 82).
A grande preocupação de Hegel com essa “genialidade divina” dos românticos
alemães se concentra no fato de que ela, ao se tornar o próprio fundamento das
coisas, pode criar tudo a partir de si mesma e, ao mesmo tempo, destruir tudo. É
99
UNIDADE 3
100
UNICESUMAR
boliza toda a cultura na qual você faz parte. Por isso, quando a arte sacra representa
a crucificação de Jesus Cristo, isso carrega um conteúdo universal: o de que Cristo,
filho de Deus, teria vindo à Terra e morrido na cruz para nos salvar de nossos
próprios pecados.
Sobre a identificação entre obra de arte e espectador, Werle (2011, p. 71) ex-
plana que a noção de obra não significa apenas um objeto plasmado ou figurado,
“mas possui um significado clássico (e hegeliano) de expressão de uma realidade
histórica, de uma unidade ética e coletiva e de um sentido unificador”. Em outras
palavras, uma obra de arte sempre deve expressar o universal, aquilo que é comum
a um povo de determinada cultura, e não deve fazer referência somente às paixões
particulares do sujeito.
Em suma, é possível afirmar que o que começa a sucumbir para Hegel a partir
do século XVIII é uma arte cuja verdade é a religião e a manifestação é a totalidade
da cultura. Por isso, não é errado afirmar que o conteúdo da obra de arte é o “espírito
de um povo”, ou seja, o espírito enquanto humanidade e uma unidade ética que se
sustentou, no círculo religioso, ao conceito de Deus. O “fim da arte”, como um acon-
tecimento moderno, não se refere somente à superação do exterior pelo interior, da
passagem de uma subjetividade ligada ao universal para uma subjetividade ligada
ao particular, mas também ao rompimento do próprio espírito com os conteúdos
tomados como universais, pois o espírito artístico moderno não se satisfaz mais
com os valores unificadores da religião ou com os valores unitários da moral.
Agora que você já conhece o pensamento dos românticos alemães e do idealis-
mo hegeliano, retome as duas obras de arte que se encontram em “mão na massa”:
A criação de Adão, de Michelangelo, e Moça do brinco de pérola, de Johannes
Vermeer. De que modo você caracterizaria os dois quadros? Qual deles carrega os
aspectos românticos e qual apresenta os aspectos idealistas? Quais são eles? Pro-
duza um texto dissertativo que destaque as diferenças e as semelhanças entre as
duas pinturas, levando em consideração os elementos relacionados ao romantismo
alemão para o quadro Moça do brinco de pérola e as características do círculo
religioso, assim como Hegel o entende, para o quadro A criação de Adão.
101
UNIDADE 3
OLHAR CONCEITUAL
Sobreposição da forma em
relação ao conteúdo
Harmonia perfeita entre forma
e conteúdo
102
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
103
1. O romantismo alemão é um movimento filosófico proveniente do final do século
XVIII e tem, como uma de suas principais características, a compreensão do homem
enquanto fragmentário. Esse período é fortemente marcado pelo Iluminismo, que
prega a saída dos seres humanos das trevas, para que sigam em direção ao progresso
dado pela razão.
2. Hegel compreende a arte sob um ponto de vista histórico-dialético. Como tal, tudo
tem o seu começo, meio e fim. Assim, o filósofo divide a história da arte em três
momentos: a arte simbólica, a arte clássica e a arte romântica. Para justificar esses
momentos, Hegel trabalha as noções de forma e de conteúdo, além de expor a re-
lação que cada período artístico estabelece entre elas.
104
3. Hegel foi um crítico fervoroso da arte de seu tempo. O filósofo assevera, em seus
Cursos de estética, que a arte perdeu a sua antiga função, ou seja, a sua vitalidade
presente em épocas passadas.
a) à arte, que se tornou puro conteúdo, assim como era na tradição romântica.
b) ao advento do Iluminismo. A partir dele, a arte se apega exacerbadamente à razão
e, por isso, torna-se mecânica.
c) ao renascimento, que representa o fim da arte. Ao contrário de olhar para o
futuro, ele começa a imitar as formas do passado.
d) à arte, que passou a ser a criação de uma subjetividade particular, sem expressar
o espírito de um povo.
e) à arte, que deixou de ser ritualística.
105
4
A Visão
Filosófica da
Arte Trágica
Dr. Renan Pavini
108
UNICESUMAR
Descrição da imagem: na figura, são apresentadas duas máscaras. A primeira carrega a expressão de riso,
que representa o cômico, o riso que a comédia teatral gera no espectador. Na segunda máscara, temos
as expressões de espanto e de horror, despertadas pelos eventos da encenação trágica
109
UNIDADE 4
110
UNICESUMAR
Hölderlin e a Tragédia
Descrição da imagem: na figura, é apresentado um selo emitido pela Alemanha Oriental, em 1970, em
homenagem aos 200 anos do nascimento do poeta Hölderlin. Nele, são expostos o busto do poeta, seu
nome e sua data de nascimento.
Hölderlin foi, sem dúvida, um dos intelectuais que mais se voltou para o mundo
grego. Todavia, não fez como Winckelmann ou Goethe, que olharam para a
Grécia como um mundo harmônico e solar, mas também mortífero e sombrio.
É nessa contraposição entre o solar e o sombrio que o poeta define o trágico. É
assim que esses elementos são caracterizados em sua obra A morte de Empé-
docles (peça inacabada e escrita entre 1797 a 1799), em que o trágico, em seu
pensamento, está marcado pela oposição ou, melhor dizendo, pela tentativa de
união de elementos antagônicos.
111
UNIDADE 4
Descrição da imagem:
na figura, há um retrato
do busto de Empédocles,
filósofo pré-socrático que
viveu de 495 a.C. a 430
a.C. Hölderlin se apropria
da figura de Empédocles e
de toda a mitologia que o
cerca para criar o seu per-
sonagem trágico.
112
UNICESUMAR
“
[...] representa a vontade de irromper, pela morte, no mundo dos
invisíveis. Os motivos variam segundo as diferentes versões dessa
obra inacabada, mas a intenção permanece sempre a mesma: unir-se
ao elemento do fogo, sinal e presença da inspiração, para atingir a in-
timidade com o divino (BLANCHOT, 1995, p. 367, tradução nossa).
113
UNIDADE 4
Por isso, é possível afirmar que o que se caracteriza como tema central da
tragédia, em Hölderlin, é a tentativa de busca da totalidade, da unidade e do
absoluto, o que só pode se concretizar pela morte do herói. Nessa perspectiva, a
morte é a união daquilo que estava separado, ou seja, dos homens com os deuses,
do particular e do limitado com a totalidade infinita. As oposições em Hölderlin
(identidade versus diferença, espírito versus matéria, eterno versus finito) sempre
visam estabelecer o retorno à unidade, ao um.
Também há um detalhe importante: Hölderlin pensa que a tragédia realiza
uma mediação entre os opostos, ou seja, entre o conteúdo sensível e o conteúdo
espiritual, ao tentar expor a totalidade originária, o momento de indissociação
dos opostos. É por isso que, para o poeta, toda tragédia é uma metáfora de uma
intuição intelectual ou, em outras palavras, uma metáfora do absoluto, já que,
em sua composição, visa, por assim dizer, apresentar sensivelmente o absoluto. É
por isso que a tragédia deve trazer o embate entre forças antagônicas, uma que
une e outra que separa, entre o que tem forma e o informe, entre o orgânico e o
“aórgico”, entre a lucidez e o “fogo apolíneo”.
Todavia, é em seu livro, Observações sobre Édipo. Observações sobre Antí-
gona, que a definição de trágico e de tragédia é aprofundada. No livro, Hölderlin
(2008, p. 53) assevera que:
“
A apresentação do trágico depende, principalmente, de que o formi-
dável, como o deus e o homem se acasalam, e como, ilimitadamente,
o poder da natureza e o mais íntimo do homem se unificam na ira,
seja concebido pelo fato de que a unificação ilimitada se purifica
por meio de uma separação ilimitada.
114
UNICESUMAR
Descrição da imagem: na figura, é apresentada uma imagem do busto de Arthur Schopenhauer. Ela foi
inserida nos livros da Mayer Léxico, uma coleção com 21 volumes e publicada entre 1905 e 1909.
beleza. Isso significa que, para o filósofo, uma coisa é bela quando se torna objeto
de contemplação estética. Assim como é em Kant, para Schopenhauer, a contem-
plação estética é pura, ou seja, quando contemplamos um objeto de maneira pura,
revelamos a sua ideia. Portanto, uma coisa só pode ser considerada bela quando
não nos interessa.
115
UNIDADE 4
Há, para o filósofo alemão, coisas que podem ser mais ou menos belas, pois
há objetos que provocam mais ou menos contemplação puramente objetiva. Em
outras palavras, para Schopenhauer, as coisas podem ser mais ou menos belas de
acordo com a objetividade da vontade que a sua ideia exprime. A arte busca ex-
primir a ideia e o que diferencia as artes é o grau de objetivação da vontade. Por
isso, para entender a arte, de modo geral, e a arte trágica, de maneira particular,
em Schopenhauer, é preciso retomar três conceitos fundamentais e presentes na
sua principal obra, O mundo como vontade e representação. Esses conceitos são:
“
Se o objeto depende do sujeito, dependência que implica necessa-
riamente representação, é preciso procurar a essência do mundo
como coisa em si em um elemento que não seja marcado por essa
oposição. Esse elemento é a vontade. A representação é o objeto, o
fenômeno, a visibilidade, a manifestação, objetivação, a objetidade
(Objektität) da vontade, enquanto a vontade é a coisa em si, a subs-
tância, a essência, o núcleo de cada coisa particular e do conjunto
dos entes. A vontade é primordial, primária, fundamental; a repre-
sentação é secundária, subordinada, condicionada.
116
UNICESUMAR
A vontade, assim definida, é a coisa em si, ou seja, a unidade. Ela existe fora do
tempo e do espaço, elementos necessários para a nossa representação. A vontade
seria um elemento que impõe coerência à diversidade dos fenômenos, que são
individuais. Por isso, é possível afirmar que, do ponto de vista da vontade, não
há pluralidade, já que ela pressupõe uma unidade essencial de todos os entes.
Entretanto, isso não significa que, na vontade, não exista conflito ou perpétuo
embate pela existência. “Assim, em toda parte na natureza vemos conflito, luta e
alternância da vitória, e aí reconhecemos distintamente a discórdia essencial da
vontade consigo mesma” (SCHOPENHAUER, 2005, p. 211). Mesmo que Scho-
penhauer tenha definido a vontade como unidade, esse embate se dá no nível dos
fenômenos, no nível das vontades individuais.
Outra característica da vontade é a ausência de fundamento. Para Schope-
nhauer, a vontade é destituída de regras, finalidades e causa, ou seja, não há razões.
É por isso que a vontade se encontra fora do tempo, do espaço e do princípio de
individuação (da diversidade ou da pluralidade do mundo). Portanto, a vontade
também é livre, já que independe da razão.
EXPLORANDO IDEIAS
A vontade, para Schopenhauer, não se submete à lei da finalidade. É possível afirmar que
toda ação particular tem uma finalidade, isto é, todos os atos de um indivíduo são moti-
vados por algo. Exemplo: estudo (ato) para me formar e ter uma profissão (finalidade). A
vontade, por sua vez, é sem qualquer finalidade ou, de acordo com Schopenhauer, age
cegamente.
Fonte: o autor.
117
UNIDADE 4
118
UNICESUMAR
Descrição da imagem: na
figura, há uma foto da atriz
francesa Sarah Bernhardt
interpretando, em 1887,
a famosa cena existencial
de Hamlet, em que é dita
a frase: ser ou não ser, eis
a questão.
119
UNIDADE 4
Descrição da imagem:
Descrição: na figura, é
apresentado um desenho
do busto de Nietzsche,
filósofo alemão que nas-
ceu em 1844 e morreu em
1900. Intitulava-se filósofo
trágico.
120
UNICESUMAR
De acordo com Roberto Machado (2006, p. 202), Friedrich Nietzsche “foi o pri-
meiro a se intitular filósofo trágico”. Como tal, a primeira grande obra conhecida
de sua fase de juventude se intitula O nascimento da tragédia no espírito da mú-
sica, publicada em 1872 (em 1886, o livro foi reeditado com o título O nascimento
da tragédia ou helenismo e pessimismo). Na obra, Nietzsche compreende a arte
moderna como decadente, porque perdeu o seu lado mais sublime: o trágico.
Desse modo, o autor buscou compreender o sentido da cultura grega a partir do
trágico, para entender a verdadeira arte, a arte da tragédia.
O trágico, para o filósofo, seria essa força primordial e necessária para a mu-
dança da cultura grega. Uma vez que a vida é contradição e sofrimento, o ser
humano só encontrará a sua salvação na arte. É por isso que, logo no prefácio da
obra dedicada ao músico Richard Wagner, Nietzsche (1992, p. 26) escreve que
“a arte é a tarefa suprema e a atividade propriamente metafísica desta vida”. A
metafísica do artista seria alcançada por essa arte trágica que propõe uma supe-
rabundância da vida e a superação de si mesmo.
Diante disso, como Nietzsche entendia o desenvolvimento da arte? O filósofo
pensa na arte a partir de duas pulsões da natureza: da duplicidade do apolíneo e
do dionisíaco. Apolo representa a figuração plástica, aquilo que impõe à forma,
enquanto Dionísio está marcado pela arte não-figurada, pela música. Sobre a
temática, Nietzsche (1992, p. 27) explica que:
“
A seus dois deuses da arte, Apolo e Dionísio, vincula-se a nossa cog-
nição de que no mundo helênico existe uma enorme contraposição,
quanto a origens e objetivos, entre a arte do figurador plástico [Bild-
ner], a apolínea, e a arte não-figurada [unbildlichen] da música, a de
Dionísio: ambos os impulsos, tão diversos, caminham lado a lado,
na maioria das vezes em discórdia aberta e incitando-se mutuamen-
te a produções sempre novas, para perpetuar nelas a luta daquela
contraposição sobre a qual a palavra comum “arte” lançava apenas
aparentemente a ponte; até que, por fim, através de um miraculoso
ato metafísico da “vontade” helênica, apareceram emparelhados um
com o outro, e nesse emparelhamento tanto a obra de arte dionisíaca
quanto a apolínea geraram a tragédia ática.
121
UNIDADE 4
Assim como você pôde observar, o desenvolvimento da arte está ligado à du-
plicidade do apolíneo e do dionisíaco. Segundo Nietzsche, essas duas pulsões
artísticas se manifestam fisiologicamente em nós a partir do sonho (Apolo) e da
embriaguez (Dionísio).
Descrição da imagem: na figura, Apolo se encontra em sua carruagem, que também carrega o sol e é
levada por dois cavalos. Na mitologia grega, Apolo é o deus do sol e, muitas vezes, é representado como
o responsável pelo nascer dele.
122
UNICESUMAR
“
Tal como, em meio ao mar enfurecido que, ilimitado em todos os qua-
drantes, ergue e afunda vagalhões bramantes, um barqueiro está senta-
do em seu bote, confiando na frágil embarcação; da mesma maneira,
em meio a um mundo de tormentos, o homem individual permanece
calmamente sentado, apoiado e confiante no principium individuatio-
nis [princípio de individuação] (NIETZSCHE, 1992, p. 30.)
Descrição da imagem: na figura, é apresentada uma tempestade em alto mar. Há um barco navegando,
raios e várias nuvens carregadas. Ela retrata a passagem de Schopenhauer sobre o princípio individual
123
UNIDADE 4
“
Agora, graças ao evangelho da harmonia universal, cada qual se
sente não só unificado, conciliado, fundido com o seu próximo, mas
um só [...]. Cantando e dançando, manifesta-se o homem como
membro de uma comunidade superior: ele desaprendeu a andar e
a falar, e está a ponto de, dançando, sair voando pelos ares. [...] O
homem não é mais artista, tornou-se obra de arte: a força artística de
toda a natureza, para a deliciosa satisfação do Uno-primordial, reve-
la-se aqui sob o frêmito da embriaguez (NIETZSCHE, 1992, p. 31).
Note a última frase do filósofo: “o homem não é mais artista, tornou-se obra
de arte” (NIETZSCHE, 1992, p. 31). Perceba como ela é um complemento e, ao
mesmo tempo, distinta da arte onírica apolínea. Enquanto as imagens do sonho
apolíneo tornam o homem um artista, o êxtase dionisíaco torna o homem uma
obra de arte. Em vista disso, temos:
124
UNICESUMAR
É da junção entre Apolo e Dionísio que nasce, para Nietzsche, a maior de todas
as artes: a tragédia Ática.
Descrição da imagem: na figura, Dionísio, o deus do vinho, é retratado com uma taça de vinho em uma
de suas mãos. Ele tem o seu cajado na outra e é composto por folhas de parreiras. Também há vários
jarros no chão
125
UNIDADE 4
Para Nietzsche, os gregos tiveram como o momento mais importante de sua his-
tória a conciliação dos deuses Apolo e Dionísio. As festas dionisíacas demonstram
justamente o rompimento com o princípio de individuação. Contudo o rompi-
mento com o individual e a manifestação do contato com a natureza são expres-
sos por meio da via simbólica, ou seja, pelo simbolismo dos corpos dançantes.
Para os gregos não sucumbirem em suas existências trágicas, foi necessária a arte
apolínea. Em outras palavras, a ilusão apolínea visa justamente desaparecer os
horrores da existência. A arte apolínea seria aquela em que a aparência estética
se faz imprescindível diante de um mundo de tormentos. É por isso que Apolo
simboliza o princípio de individuação, o mundo dos limites e da ética, do auto-
conhecimento. O mundo do autoconhecimento apolíneo pode muito bem ser
caracterizado em duas frases muito famosas entre os gregos:
126
UNICESUMAR
“
As aparências apolíneas, nas quais Dionísio se objetiva, não são mais
“um mar perene, um tecer-se cambiante, um viver ardente”, como
é a música do coro, não são mais aquelas forças apenas sentidas,
incondensáveis em imagem, em que o entusiástico servidor de Dio-
nísio presente a proximidade do deus: agora lhe falam, a partir da
cena, a clareza e a firmeza da configuração época, agora Dionísio
não fala mais através de forças, mas como herói épico, quase com a
linguagem de Homero (NIETZSCHE, 1992, p. 63).
127
UNIDADE 4
Descrição da imagem: na figura, é retratado, sentado em uma pedra, como se estivesse a pensar, Édipo.
Ele está em frente à esfinge, um monstro que propunha enigmas e devorava quem não os decifrava.
128
UNICESUMAR
Nietzsche entende Édipo Rei como a mais dolorosa figura do palco grego. Édipo é
uma criatura nobre que, mesmo sendo sábio, está condenado ao erro e à miséria.
Todavia, seu trágico destino, que é recheado de tormentas e sofrimentos, o conduz
a um poder mágico e abençoado que continua a atuar até mesmo após a sua morte.
Depois que ocorrem os eventos de Édipo Rei, em que o herói mata o seu
próprio pai, casa-se com a sua mãe e, ao descobrir os feitos, cega-se e sai a vagar
mundo afora, Sófocles escreve a tragédia Édipo em Colono, que narra a história
de Édipo, que, mesmo caído em sofrimento e desgraça, alcança a sua atividade
suprema por meio do poder que a natureza lhe concebeu: o de fazer qualquer
cidade ganhar uma guerra, desde que o abrigasse vivo ou morto. Assim, todo o
sofrimento do herói adquire um poder mágico em sua velhice. Nietzsche alerta
que, em relação à Édipo, trata-se de um herói completamente passivo, pois os
acontecimentos de sua vida, desde criança até a sua morte, não são obras de suas
escolhas, mas imposições dos deuses.
Figura 11 - Prometeu
Descrição da imagem: na
figura, é apresentado Pro-
meteu, que está acorren-
tado nas pedras. Há o fogo
da criação em sua mão di-
reita, enquanto uma águia
devora o seu fígado, que,
segundo o castigo de Zeus,
sempre se regenera.
129
UNIDADE 4
130
UNICESUMAR
Corpo x Alma
Instinto x Razão
Diante disso, a filosofia socrática se estabelece como uma filosofia contra o corpo
e contra o instinto, para que a razão útil e clara seja a grande guia do homem. É
por isso que, segundo Nietzsche, Sócrates parecia compreender que a arte trágica
nunca diz a verdade e, portanto, a desmerece como arte formadora do indivíduo.
Todo esse movimento contra a arte trágica é cercado de uma curiosidade:
Sócrates se contrapunha tão bem a esse tipo de arte que Platão queimou todos
seus poemas ao se tornar discípulo de Sócrates. Todavia, de maneira paradoxal, o
próprio Platão escrevia, em suas obras, à maneira dos poetas: por meio do diálogo,
fazendo de sua filosofia o protótipo do romance.
131
UNIDADE 4
“
Sócrates, o herói dialético do drama platônico, nos lembra a na-
tureza afim do herói trágico euripidiano, que precisa defender as
suas ações por meio de razão e contra-razão, e por isso mesmo se
vê tão amiúde em risco de perder a nossa compaixão trágica; pois
quem pode desconhecer o elemento otimista existente na essência
da dialética, que celebra em cada conclusão a sua festa de júbilo e
só consegue respirar fira claridade e consciência? Esse elemento
otimista que, uma vez infiltrado na tragédia, há de recobrir pouco a
pouco todas as suas regiões dionisíacas e impeli-las necessariamente
à destruição – até o salto moral do espetáculo burguês? (NIETZS-
CHE, 1992, p. 89).
Note que, para Nietzsche, o domínio da razão sobre a arte acaba por destruir
as essências artísticas trágicas: o deus da embriaguez e o deus do sonho. Isso
acarreta na destruição artística, o que fez nascer uma arte que se atém apenas
ao que é comum e superficial das relações sociais. Para Nietzsche, isso significa
que a arte entrou em decadência e perdeu o seu poder de manifestação, assim
como encontramos nas tragédias de Ésquilo e de Sófocles. Consequentemente,
o homem perdeu a sua relação direta entre a arte e a vida, assim como o filósofo
caracterizou a partir da noção de metafísica de artista.
Agora que você já compreendeu como se deu a morte da tragédia, o que seria
essa noção? O que o filósofo alemão entende por “metafísica de artista” é “a jus-
tificação da vida diante a crueldade da existência. Assim o filósofo alemão pensa
132
UNICESUMAR
Por mais que Nietzsche entenda que a arte trágica teve a sua morte com o advento
do socratismo, o filósofo encontra um possível renascimento nas obras de dois
autores modernos: o músico Richard Wagner e o filósofo Arthur Schopenhauer.
133
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
Agora que conhecemos algumas reflexões sobre a tragédia de acordo com os pensa-
mentos de Hölderlin, Schopenhauer e Nietzsche, os quais viram, na tragédia, um pensa-
mento necessário para a vida e para a reflexão estética, propomos um exercício: retome
as reflexões que você elaborou no “diário de bordo” e as refaça, levando em consideração
o conhecimento que você adquiriu sobre a tragédia. Argumente o motivo pelo qual
a predileção de alguns sujeitos pode se dar por espetáculos trágicos, ao contrário de
espetáculos cômicos. Lembre-se de que, em seu texto, você deve trazer argumentos dos
filósofos estudados. Além disso, pode se basear nos três autores ou somente em um.
134
Nesta unidade, como atividade de estudo, propomos a construção de um mapa
conceitual. Desse modo, você aprofundará ainda mais o seu conhecimento sobre a
reflexão filosófica voltada ao trágico. Há três retângulos, cada um com o nome dos
filósofos trabalhados nesta unidade. O objetivo é que você preencha, logo abaixo
do nome dos autores, os seus respectivos conceitos. Para isso, utilize os conceitos
disponibilizados a seguir:
1. Apolo e Dionísio
4. Socratismo estético
5. Representação e ideia
7. Busca do ilimitado
9. Moralização da tragédia
Descrição da imagem: no infográfico, o estudante deve preencher os espaços vazios de acordo com cada
autor estudado na presente unidade.
135
5
Indústria Cultura
e Estética da
Existência
Dr. Renan Pavini
Descrição da imagem: a figura apresenta um quadro pintado por Pieter Bruegel. Nele, Jesus Cristo está
sendo sacrificado na cruz em conjunto com dois criminosos. A população está em volta das cruzes: alguns
choram, outros estão em seus cavalos e outros apenas observam. O cenário mostra que todos estão na
frente de uma montanha e, ao redor, encontram-se muitas árvores.
138
UNICESUMAR
139
UNIDADE 5
mente, ela lhe trará boas lembranças. No entanto, seria a foto (uma cópia do seu
momento), uma imagem de sua vivência, a mesma coisa que a vivência em si?
Ambas teriam o mesmo valor para você? Diante dessa problemática, faça uma
breve rememoração de algum momento intenso de sua vida, aquele momento
em que você se recorda que o seu coração estava pulsando freneticamente.
Agora que você rememorou um importante momento de sua vida, apanhe
um registro desse momento que você considera único, como uma foto. Não im-
porta que momento seja: pode ser a foto de uma viagem, de um jogo, de você com
o seu amor ou com a sua família. O que importa é você lembrar desse momento e
se perguntar, diante da foto, se ela substitui aquele momento. O que você prefere?
Passar pelo momento (originalidade) ou considerar o registro daquele momento
(a cópia)? Qual tem maior valor? Por quê? Anote as suas observações no diário
de bordo a seguir.
140
UNICESUMAR
Descrição da imagem: na
figura, é exposto o busto
do filósofo, crítico cultural
e ensaísta Walter Bendix
Benjamin. Ele nasceu em
Berlin, em 1892, e veio a
falecer em Portbou, em
1940. Era filiado da conhe-
cida Escola de Frankfurt
e Teoria Crítica. As suas
ideias foram inspiradas em
teorias marxistas.
141
UNIDADE 5
Diante disso, de acordo com Benjamin (2013, p. 55), “formulado de modo geral, a
técnica reprodutiva desliga o reproduzido do campo da tradição. Ao multiplicar a
reprodução, ela substitui sua existência única por sua existência massiva”. Já para
Adorno e Horkheimer (1985, p. 114):
“
Sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica [...].
O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A
verdade de que não passar de um negócio, eles a utilizam como
uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente
produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras
publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda
dúvida quanto à necessidade social de seus produtores.
Observe a crítica que os autores lançam à arte como mercadoria. Para Benjamin
(2013), uma obra de arte é única. Ela faz menção à história e à tradição e, por
isso, carrega uma “aura”. O que isso significa? Benjamin (2013) compreende que
toda obra de arte é autêntica e original. É isso que permite que o espectador tenha
uma experiência verdadeira com ela, dado que “a autenticidade de uma coisa é a
quintessência de tudo o que nela é originalmente transmissível, desde sua duração
material até seu testemunho histórico” (BENJAMIN, 2013, p. 55). Todavia, com
o advento da lógica capitalista, que transformou a arte em produto, ao reprodu-
zi-la massivamente, a obra de arte é cada vez mais afastada de sua autenticidade,
fazendo-a perder a sua aura. Em razão disso, Benjamin (2013) argumenta que
a relação do espectador com a obra de arte também muda, uma vez que ela se
torna cada vez mais vazia e trivial, afastada da experiência na qual a obra se liga.
Suponha que você passará as suas férias no Rio de Janeiro pela primeira vez.
Certamente, já te falaram do Cristo Redentor, grande cartão postal da cidade ma-
ravilhosa. Você já o viu por fotos, pela televisão e em filmes. Contudo, você nunca
o viu pessoalmente, ou seja, fisicamente, no local. É esse contato direto com a
magnitude da obra de arte que te trará uma experiência única em relação ao Cristo
Redentor, tendo em vista que você será tocado pela autenticidade dessa estátua.
142
UNICESUMAR
Descrição da imagem: na figura, é mostrada uma vista aérea da cidade do Rio de Janeiro. Em primeiro
plano, está a famosa estátua do Cristo Redentor. Ao fundo, é demonstrada a montanha do Corcovado.
Ora, para Benjamin (2013), os produtos culturais produzidos em massa são como
os cartões postais do Cristo Redentor, ou seja, tratam-se de uma reprodução que
perde a autenticidade e a originalidade, a sua “aura”, tornando a experiência esté-
tica muito pobre e limitada. Toda reprodutibilidade técnica e produção em massa
das obras de arte fazem uma obra perder aquilo que ela tem de novo, não mais
impressionando o espectador. É nesse sentido que a crítica do filósofo se volta
para a indústria cinematográfica. Nos conhecidos filmes hollywoodianos, desde o
começo do filme, nós já sabemos o seu final. O mesmo processo acontece em uma
novela, que, embora seja transmitida durante seis meses, permite-nos deduzir o seu
final. Isso gera uma sensação de felicidade no espectador, pois ocorre aquilo que
ele acreditou que aconteceria. No entanto, a obra de arte perde aquilo que tinha
de mais precioso, que é a experiência que fazia o espectador experimentar o novo.
143
UNIDADE 5
Descrição da imagem: na figura, é exposto o selo postal de 2003 em que há o filósofo Theodor Adorno.
O selo foi feito em comemoração aos 100 anos de seu nascimento. Nele, é visível o filósofo escrevendo
e, ao fundo de sua imagem, observamos os seus escritos marcados com observações feitas pelo próprio
autor. Adorno nasceu em 1903, em Frankfurt, na Alemanha, e faleceu em 1969 em Visp, na Suíça.
144
UNICESUMAR
145
UNIDADE 5
“
A impotência é sua própria base [da diversão]. É na verdade uma fuga,
mas não, como afirma, uma fuga da realidade ruim, mas da última
ideia de resistência que essa realidade ainda deixa subsistir. A liberação
prometida pela diversão é a liberação do pensamento como negação.
O descaramento da pergunta retórica: “Mas o que é que as pessoas
querem?” Consiste em dirigir-se às pessoas como sujeitos pensantes,
quando sua missão específica é desacostumá-las da subjetividade.
Observe que a resposta para a pergunta “mas o que é que as pessoas querem?”
é categórica: “consiste em dirigir-se às pessoas como sujeitos pensantes, quando
sua missão específica é desacostumá-las da subjetividade” (ADORNO; HOR-
KHEIMER, 1985, p. 135). O capitalismo, por meio da indústria cultural, tem
como objetivo o domínio do tempo livre dos indivíduos e das suas capacidades
de escolhas. Em outras palavras, a finalidade é dominar o ser do sujeito. É por
meio desse domínio que a impotência ganha corpo e, consequentemente, o senso
crítico e um possível movimento de revolução e revolta se encontram ausentes.
Adorno e Horkheimer (1985), desse modo, sustentam que a arte, enquanto
diversão e mensagem alienada e trivial, torna-se um mecanismo fundamental
para o funcionamento da estrutura social capitalista. Quando me divirto, minhas
preocupações são vãs. É como se eu estivesse de acordo com o que está colocado,
visto que eu não penso sobre o que me circunda. São apagados os sofrimentos
que a estrutura social causa na vida das pessoas. A arte se torna, então, um aco-
bertamento da realidade social, o que impede que o indivíduo tenha contato com
a real situação de sua vida e possa confrontá-la. Em um sentido filosófico mais
profundo, a indústria cultural oferece à massa produtos de entretenimento para
retirar-lhes a liberdade. Todavia, nesse processo, não é o indivíduo que escolhe,
mas a ele é imposto tal conteúdo como forma de controle. É por isso que ele não
é mais o sujeito da ação, mas é sujeitado à reprodução, ou seja, repete aquilo que
ele vê como entretenimento e gera a sua felicidade.
Temos, então, o embate trabalhado por Adorno e Horkheimer:
146
UNICESUMAR
Nesse embate, a razão técnica sobrepuja e subtrai a razão autônoma. Além disso,
segundo Adorno e Horkheimer, essa superação é o que dá ensejo para o surgi-
mento de ideologias totalitárias (como o nazismo ou o fascismo), mesmo em
estados democráticos. Diante disso, relembraremos o que significa a razão au-
tônoma no Iluminismo e como Kant a definiu em seu texto Resposta à pergunta
o que é esclarecimento. Para tanto, leia, a seguir, o primeiro parágrafo do texto
de Kant. Observe a diferença entre menoridade e esclarecimento ou maioridade.
EXPLORANDO IDEIAS
Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua menoridade, pela qual ele
próprio é responsável. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio enten-
dimento sem a tutela de um outro. É a si próprio que se deve atribuir essa menoridade,
uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e de
coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere aude
(ousa saber)! Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é, portanto,
a divisa do Esclarecimento.
Fonte: Kant (1985, p. 100).
147
UNIDADE 5
Descrição da imagem: na figura, é exposta a famosa pintura de Leonardo da Vinci, a Mona Lisa, em uma
releitura conceitual. Sobre a obra original, da Vinci começou a pintá-la em 1503 e a terminou em três ou
quatro anos mais tarde. Hoje, podemos ver o quadro original no museu do Louvre, em Paris. Ainda em
relação à imagem, há uma mulher de cabelos lisos e compridos. Ela olha para a frente e tem uma expres-
são tímida e introspectiva, esboçando um leve sorriso. Mona Lisa veste um vestido que aparenta ser de
seda e, sobre ele, está uma túnica.
148
UNICESUMAR
149
UNIDADE 5
Descrição da imagem: na figura, é apresentado o busto do filósofo francês Michel Foucault em branco e
preto. Na ilustração, o filósofo aparece com o semblante sério. Ele é calvo, usa óculos e utiliza uma blusa
de gola alta. O estudioso nasceu em 1926, em Poitiers, na França, e morreu em 1984, em Paris.
150
UNICESUMAR
“
O que me surpreende é que, em nossa sociedade, a arte esteja apenas
relacionada aos objetos, e não aos indivíduos ou à vida; e, também,
que a arte seja um domínio especializado, o domínio dos experts
que são os artistas. Mas a vida de todo indivíduo não é uma obra de
arte? Por que um quadro ou uma casa são objetos de arte, mas não
nossa vida? (FOUCAULT, 2001, p. 1436).
Assim como você pôde observar, Foucault solicita uma ideia de arte que se coloque
no domínio da própria vida dos indivíduos, para que os sujeitos compreendam a sua
própria vida enquanto uma obra de arte. É importante salientarmos que Foucault, na
trajetória de seu pensamento, sempre buscou denunciar como o homem moderno
foi normalizado, sujeitado, docilizado e disciplinado por meio das instituições de
controle, como a escola, o exército, o hospital e, certamente, o sistema carcerário. Um
dos mais claros empreendimentos do filósofo foi denunciar a história dos diferentes
modos de sujeição tanto no nível da “operacionalidade das disciplinas na fabricação
do corpo útil e da alma dócil nas diferentes instâncias institucionais constituintes”
quanto no da “tecnologia de poder que se ocupa em regular e gerir a multiplicidade
dos homens” (CANDIOTTO, 2013, p. 82). Em suma, trata-se de uma tecnologia que
tem como “alvo [...] a população” (NALLI, 2014, p. 124).
EXPLORANDO IDEIAS
Assim, podemos dizer que, desde o século XIX, nossa sociedade tenta disciplinar
os indivíduos no nível individual, por meio de instituições, e no nível coletivo, a
partir das relações de poder que nem sempre são tão visíveis aos sujeitos. Sobre a
temática, Peter Pál Pelbart (2015, p. 20) explica que, na sociedade contemporânea,
“o poder tomou de assalto a vida. Isto é, o poder penetrou em todas as esferas da
existência e as mobilizou e as pôs para trabalhar em proveito próprio”. Assaltada, a
151
UNIDADE 5
vida foi colonizada em relação ao seu corpo, à sua sensibilidade, à sua inteligência
e à sua criatividade.
Dessa forma, o sujeito moderno e contemporâneo não faria de sua vida uma
obra de arte, porque ele foi docilizado por práticas institucionais e por toda a ra-
cionalidade que circunda o mundo contemporâneo. Por isso, quando Foucault fala
em tornar a vida uma obra de arte (uma estética da existência), o estudioso deseja
apresentar uma dupla dificuldade no mundo contemporâneo para essa realização:
1°) para conseguir realizar essa 2°) Ao tornar sua vida estética da
estética da existência, seria existência, sua vida sempre será
necessário ser politizado, isto é, considerada marginal em relação
ter consciência dos mecanismos e às outras vidas, ainda docilidades
estruturas que nos tornam sujeitos pelos processos disciplinares e
para conseguir, por si mesmo, normalizadores.
conduzir sua própria vida;
152
UNICESUMAR
153
UNIDADE 5
Descrição da imagem: na figura, é exposta a ilustração do busto do poeta Charles Baudelaire. O estu-
dioso está com a cabeça um pouco inclinada para a esquerda. Os seus cabelos estão jogados para trás e
ele olha, de maneira séria, para frente. Além disso, veste terno e gravata. Baudelaire foi crítico de arte e
tradutor. Nasceu em Paris, em 1821, e faleceu na mesma cidade em 1867.
154
UNICESUMAR
155
UNIDADE 5
Por isso, para Foucault, a atitude que o homem moderno deve ter em relação a
si, às práticas e às instituições que o cercam é a retomada constante das quatro
características que compõem uma espécie de ética de si mesmo ou, nas palavras
de Foucault, uma espécie de ethos filosófico. Essa ética de si, grosso modo, é reali-
zada na constante crítica ao nosso ser histórico, ao nosso presente. Entretanto, isso
não caracteriza toda a importância de Baudelaire para Foucault. Em A coragem
da verdade (último curso que ministrou, antes de sua morte), Foucault sustenta
que um dos traços característicos da arte moderna, como a de Baudelaire, é a
presença do cinismo antigo.
Descrição da imagem: na figura, é apresentado Diógenes, o cínico, dentro de seu barril, enquanto em pé,
a sua frente, está o rei da Macedônia, Alexandre, o grande. A anedótica história conta que Alexandre, ao se
encontrar com o cínico, teria perguntado o que poderia fazer por ele. Como Alexandre, devido a sua posição,
estava a lhe fazer sombra, Diógenes teria, então, respondido: “não me tires o que não me podes dar” (isto é,
deixe-me a meu sol). Essa é uma resposta ousada e de escárnio, principalmente por ter se dirigido a um rei.
156
UNICESUMAR
Assim, para entender o parentesco entre a arte moderna e o cinismo antigo, retome-
mos a maneira como Foucault entende o modo de vida cínico. Para o autor, os cíni-
cos, cujo grande representante é Diógenes, foram os indivíduos que mais elevaram
a relação entre o dizer a verdade e a estilística da existência. Em razão disso, ficaram
conhecidos como marginais, pois sempre que falavam ou agiam, traziam a marca
do escândalo. Imagine que, a partir desse momento, você se propõe a falar toda a
verdade que pensa e age da maneira como acredita ser correto, o que é longe das
convenções sociais. Era esse o modo de vida cínico e, nele, os integrantes estavam
preocupados com um estilo de vida longe das amarras sociais e políticas próprias
de uma sociedade. Foucault, sobre os cínicos, afirma que eles tinham a coragem da
verdade, pois não se preocupavam com o que as outras pessoas pensariam e não de-
sejavam agradar determinada convenção social, mas apenas buscavam escandalizar,
falar a verdade, mesmo que isso colocasse em risco a sua vida. Assim, são marginais,
porque têm a coragem de dizer a verdade, mesmo a um rei, por exemplo. Por isso,
eles se manifestavam por meio da “insolência política”.
O modo de vida cínico se afasta da maneira tradicional de se fazer filosofia,
pois os cínicos não eram conselheiros, tampouco se preocupavam em criar um
sistema de leis para a cidade. Distante dessas duas posições, os cínicos denuncia-
vam qualquer abuso de poder e riam desse mesmo poder. O enfrentamento deles
se dava a partir do riso, já que debochavam “das próprias leis erigidas para regular
o exercício do poder, assim como da capacidade do discurso filosófico em ensinar
alguma virtude, alguma sabedoria ao príncipe. Eles respondem ao poder com seu
corpo que se dobra na gargalhada de escárnio” (CHAVES, 2013, p. 38).
Descrição da imagem: na
figura, é exposto um artista
de rua. Ele está vestido de
palhaço, sorri e está senta-
do sobre uma escada. Para
Foucault, todo homem não
deve se preocupar com as
convenções sociais e, por
isso, precisa viver artisti-
camente, mesmo que, aos
olhos da sociedade, isso
possa parecer excêntrico.
157
UNIDADE 5
É esse estilo de vida que fala a verdade de maneira escandalosa, com escárnio e
sem medo do que se diz, que Foucault encontra, na arte moderna, mais especifi-
camente, em Baudelaire, traços do cinismo. Assim, para o filósofo francês, a arte
moderna pode ser caracterizada de duas maneiras coextensivas:
Antiplatônica e Antiaristotélica
158
UNICESUMAR
Assim como você estudou na Unidade 1, para Platão, a arte não se remete ao real,
mas à aparência. Se podemos falar em uma verdadeira arte, seria a arte que não teria
o mundo e a sua existência como referência, mas a própria ideia, o conceito e a razão.
Em outras palavras, a arte imita (copia) as ideias perfeitas. Por isso, o tema da arte
estaria limitado aos altos valores da metafísica. Vale lembrarmos que Platão expulsou
os poetas da cidade não só porque eles não colaboraram para a edificação da cidade
idealizada em A república, mas porque compreendeu que os artistas pregavam “a
discórdia, a contradição, instituindo costumes diferentes daqueles impostos pelos
governantes filósofos. Que a arte possa provocar certa revolta e certa ruptura, eis no
que Platão já havia apostado” (PAVINI, 2019, p. 21). Assim, a arte não se estabelece
como mera aparência ou imitação do real, mas como uma atitude crítica e com-
bativa, distanciando-se dos ideais platônicos e de uma arte meramente imitativa.
159
UNIDADE 5
160
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Eclipse de uma paixão é um filme de 1995 que foi dirigido por Agnies-
zka Holland e roteirizado por Christopher Hampton. Ele conta a his-
tória de dois poetas do século XIX, Arthur Rimbaud (Leonardo DiCa-
prio) e Paul Verlaine (David Thewlis). Verlaine, casado e com a esposa
grávida, fica apaixonado pelo jovem poeta de apenas 16 anos, devido
ao seu estilo de vida intenso e à sua juventude, originalidade e criatividade.
Inicia-se um intenso e violento relacionamento entre os dois, nada fácil para
a época, sobretudo, em relação à Verlaine, um homem de classe média e de
vida fácil. Um dia, Verlaine, bêbado, apanha uma arma, atira e fere Rimbaud.
Preso, Verlaine se converte ao cristianismo, enquanto Rimbaud deixa de es-
crever e começa a viajar pelo mundo. Ótimo filme para entender o excêntri-
co estilo de vida de Rimbaud.
Agora que você já conhece a arte como mercadoria (que visa retirar o senso crí-
tico do sujeito) e a estética da existência (em que o indivíduo deve moldar a sua
própria vida e a sua própria subjetividade longe das determinações sociais), fare-
mos um exercício. O que você, como professor(a), faria para tirar os seus alunos
da zona de conforto? Em uma sala de aula, muitos usam celulares, outros olham
o horizonte, enquanto outros, ainda, mostram-se apenas desinteressados, sem se
voltar ao conteúdo específico da aula. Isso ocorre, talvez, porque, você, enquanto
professor(a), seja sempre o mesmo: comporta-se sempre da mesma maneira, usa
sempre as mesmas roupas e fala sempre com a mesma entonação de voz. O que
acha de repensar o seu modo de ser e, consequentemente, a maneira de se portar
dentro da sala de aula? Você não acredita que isso atrairia a atenção dos alunos
para a sua aula, até mesmo daqueles mais desinteressados? A atividade consiste
em descrever como você se ressignificaria, enquanto obra de arte, de maneira não
convencional. Explique o modo como você poderia se portar dentro de uma sala
para chamar a atenção dos estudantes.
161
1. Adorno e Horkheimer, em seu livro Dialética do esclarecimento, trabalham o conceito
de “indústria cultural”. No horizonte desse conceito, os autores argumentam que a
arte, na sociedade capitalista, tornou-se subsumida às leis do mercado.
a) a arte perde a sua antiga aura, mas ainda mantém o seu potencial transformador.
b) a arte perde o seu senso crítico e se torna objeto de alienação a partir da diversão.
c) a arte, como objeto de entretenimento, tem o seu lugar positivo na sociedade, já
que serve para divertir e dar lazer ao trabalhador cansado.
d) a arte começa a ser produzida em larga escala, deixando o seu preço barato e
levando a cultura àqueles que não tinham acesso a ela.
e) a arte, como mercadoria, visa alcançar o maior número de consumidores possíveis
por meio da sua elaboração complexa e crítica.
162
3. Foucault sustenta que, na modernidade, é raro vermos a atitude cínica que busca,
necessariamente, falar a verdade em uma ruptura escandalosa com a existência.
Todavia, o filósofo encontra, na arte moderna, características dessa atitude cínica, já
que alguns autores, como Baudelaire, trazem a noção de “vida artista”, em que vida
e obra são inseparáveis. Ao ser escandalosa, a “vida artista” não traz apenas uma
ruptura com as normas sociais, mas com os próprios cânones estéticos.
4. Agora que você estudou os autores contemporâneos, vamos fazer um mapa mental
sobre a indústria cultural? Observe o infográfico a seguir e o preencha com quatro
características (dentre as listadas abaixo) que melhor expressam a maneira como
Adorno e Horkheimer entenderam esse conceito.
Reprodução em massa
Estética da existência
Sociedade capitalista
Autonomia
Liberdade
Alienação
Iluminismo
Aura
Entretenimento
163
Descrição da imagem: o mapa mental traz o conceito de indústria cultural, assim como é definido por
Adorno e Horkheimer no livro Dialética do esclarecimento
164
UNIDADE 1
CROCK, J. Representation Against Democracy: Jacques Rancière on the French Presidential Elec-
tions. Equality by Lot, 18 abr. 2017. Disponível em: https://equalitybylot.com/2017/04/18/re-
presentation-against-democracy-jacques-ranciere-on-the-french-presidential-elections/. Aces-
so em: 5 jul. 2021.
JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
LATACZ, J. Homer: his art and his world. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1998.
PINHEIRO, P. Introdução. In: ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Editora 34, 2015. p. 7-33.
PLATÃO. O sofista. In: PLATÃO. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1972. v. 3, p. 135-204.
PLOTINO. Sobre o belo (Enéada I, 6). In: DUARTE, R. (org.). O belo autônomo. Belo Horizonte:
Autêntica; Crisálida, 2012. p. 45-58.
VIEIRA, M. Alguns pedaços de eternidade. Infinitividades, 22 jul. 2017. Disponível em: https://
www.infinitividades.com.br/wordpress/alguns-pedacos-de-eternidade/. Acesso em: 5 jul. 2021.
UNIDADE 2
CERVANTES, M. de. Dom Quixote de La Mancha. São Paulo: Civilização Brasileira, 1978.
FERRY, J. L. Homo aestheticus: a invenção do gosto na era democrática. Lisboa: Edições 70, 2012.
HUME, D. Do padrão de gosto. In: DUARTE, R. (org.). O belo autônomo. Belo Horizonte: Autên-
tica, 2012. p. 89-113.
165
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é o ‘esclarecimento’? [Aufklärung]. In: KANT, I. Textos
seletos. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 100-117.
UNIDADE 3
NOVALIS, F. von H. Polén: fragmentos, diálogos, monólogo. São Paulo: Iluminuras, 2001.
SUZUKI, M. A gênese do fragmento. In: SCHLEGEL, F. O dialeto dos fragmentos. São Paulo:
Iluminuras, 1997. p. 11-18
UNIDADE 4
DASTUR, F. Hölderlin, tragédia e modernidade. In: HÖLDERLIN. Reflexões. Rio de Janeiro: Relu-
me Dumará, 1994. p. 145-202.
HÖLDERLIN, F. Observações sobre Édipo. Observações sobre Antígona. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2008.
166
UNIDADE 4
DASTUR, F. Hölderlin, tragédia e modernidade. In: HÖLDERLIN. Reflexões. Rio de Janeiro: Re-
lume Dumará, 1994. p. 145-202.
HÖLDERLIN, F. Observações sobre Édipo. Observações sobre Antígona. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2008.
UNIDADE 5
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: LP&M,
2013.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é o ‘esclarecimento’? [Aufklärung]. In: KANT, I. Textos sele-
tos. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 100-117.
167
KOTHE, F. R. Benjamin e Adorno: confrontos. São Paulo: Ática, 1978.
NALLI, M. Foucault: o estatuto biopolítico da terapêutica. Revista Natureza Humana, São Pau-
lo, v. 16, n. 1, p. 121-140, 2014.
PELBART, P. P. Políticas da vida, produção do comum e a vida em jogo. Saúde e Sociedade, São
Paulo, v. 24, n. 1, p. 19-26, 2015.
168
UNIDADE 1
1) B.
A virtude, em Homero, representa um ideal ético. Em outras palavras, o indivíduo molda a sua
própria vida. A virtude está ligada à forma nobre de viver e, embora um homem que seja bem
nascido já tenha essa areté, ele deve provar a sua virtude ao longo de sua vida, para que seja re-
conhecido como o detentor da areté entre os seus conterrâneos. Por isso, a honra, a coragem
e a força são os atributos que o indivíduo impõe para si mesmo, tornando a sua existência bela
devido aos seus feitos e às suas ações, e não por seguir um ideal de bondade.
2) E.
Platão considera que as questões referentes à beleza são amparadas pela verdade e, por con-
seguinte, têm a finalidade de provocar o bem. Em razão disso, quando o filósofo expulsa os
poetas da cidade, ele o faz porque entende que eles são imitadores e não ensinam as coisas
pautadas na verdade, tampouco nas boas ações. A arte, nesses termos, seria danosa para a
cidade, pois propagaria os maus costumes e a desordem. Ao contrário, segundo Platão, a arte
deve estar alinhada aos valores metafísicos que a razão elabora para, então, provocar ações
boas no indivíduo.
3) C.
Platão defende que tanto a arte retórica quanto a arte mimética acreditam que podem tratar
de todas as coisas e de todos os saberes, porque não têm preocupações com a verdade. Em
outras palavras, a arte, caso não tenha um conhecimento específico, como o de um marce-
neiro, pode representar qualquer objeto, mas não saberá nada sobre ele. O mesmo processo
é aplicado na sofística, mas no nível do discurso. O sofista, sem estar preocupado com a ver-
dade, visa convencer os seus interlocutores sobre as suas palavras, embora não se preocupe
em falar a verdade. Por isso, floreia e romantiza o discurso, para torná-lo mais agradável aos
ouvidos daquele a quem quer convencer.
4) A.
Para Aristóteles, a verdadeira atividade do poeta não é descrever o que, de fato, aconteceu,
assim como a história faz ao narrar os fatos, mas o que pode ocorrer. Assim, a distinção entre
a poesia e a história se dá justamente porque o autor caracteriza a poesia mimética como
aquela que deve gerar a possibilidade e a verossimilhança, isto é, pode elaborar algo que falta
à natureza, pois é obra do engenho humano. Por isso, a poética é superior à história, já que é
mais filosófica, ao tratar do não ocorrido.
5) A.
Aristóteles defende que, para a poesia trágica alcançar êxito, ela deve trazer, no mito (o en-
redo), elemento principal de sua composição, uma reviravolta nas ações. Quando, no enredo,
169
acontece essa mudança, o espectador e, em alguns casos, os personagens, descobrem algo
que não sabiam. Como exemplo, temos o caso de Édipo, que acreditava que estava fugindo do
seu destino, quando lhe foi revelado que ele já o tinha realizado. Essa reviravolta na dramatiza-
ção trágica acaba por gerar, então, o pavor e a compaixão no espectador, segundo Aristóteles.
6) C.
Para Plotino, devemos buscar a beleza para além das belezas corporais. Por isso, o processo
de conversão é necessário e tem como escopo despertar, no indivíduo, o olho interior, ou seja,
purificar o olhar humano das coisas materiais, a fim de que consigamos contemplar as coisas
verdadeiramente. Segundo o autor, para contemplarmos um objeto, como o sol, devemos nos
assemelhar ao próprio sol. Assim, se desejamos contemplar o belo, a nossa alma deve ser bela.
UNIDADE 2
1) C.
Baumgarten pensa no belo a partir da subjetividade. Isso significa que a beleza de um objeto
só pode ser percebida por meio das representações do próprio pensamento. Além disso, é a
partir do nosso pensamento que representamos um objeto e lhe retiramos as ideias de per-
feição, simetria e unidade, por exemplo. As ideias que extraímos de um objeto só podem ser
pensadas porque elas já se encontram no próprio pensamento.
2) A.
A tradição filosófica, desde Platão, subordinou a sensação à razão. Hume, por sua vez, en-
quanto um filósofo empirista, afirma que o sentimento sempre está certo, uma vez que não
há como o homem sentir de maneira errada, diferentemente de quando estamos tentando
buscar um conhecimento verdadeiro. Nesse caso, apenas uma opinião sobre um determinado
fato pode ser verdadeira, em detrimento das demais. Por isso, a beleza não é entendida como
uma qualidade das coisas, mas no espírito que a contempla, já que cada um percebe a beleza
de maneira diversa.
3) B.
Para Hume, o que liga a relatividade à universalidade é a natureza humana. Segundo o estudio-
so, há universalidade do gosto, uma vez que a natureza humana é a mesma em todos os seres
humanos e em todas as épocas históricas.
170
4) D.
Kant diferencia o juízo estético do juízo científico (de conhecimento) e do juízo moral. Embora
esses três juízos busquem a universalidade, o juízo de conhecimento e o moral se pautam em
conceitos e pressupõem o interesse do sujeito. O mesmo processo não é aplicado ao juízo
estético, que, segundo o filósofo, é completamente desprovido de qualquer conceito e desin-
teressado.
5) A.
Para Kant, o juízo estético deve ser desinteressado, isto é, longe de qualquer inclinação par-
ticular relacionada ao sujeito. Tendo em vista que o juízo é interessado, ele nunca pode ser
livre, porque sempre julgará de acordo com determinada inclinação pessoal do indivíduo (uma
paixão, por exemplo). Contudo, quando o juízo é desinteressado, ele também é livre, uma vez
que o seu julgamento está a salvo de ser direcionado por qualquer inclinação.
UNIDADE 3
1) C.
2) B.
Hegel pensa na história da arte enquanto um movimento dialético. Por isso, divide-a em três
momentos. O primeiro se refere à arte simbólica (ou a arte oriental) e, nele, impera a forma,
enquanto o conteúdo é ausente. O que se expressa é exatamente aquilo que me aparece aos
olhos, sem carregar uma significação profunda do todo, mas apenas do instante. O segundo
momento expõe a arte clássica, que traz uma profunda adequação entre forma e conteúdo.
Hegel compreende esse período como o período grego, em que a bela forma estava vinculada
a um conteúdo maior, o que gerava uma plena sincronia entre os dois elementos. Por fim, o
171
último momento, que corresponde à fase romântica, Hegel a divide em três momentos: círculo
religioso, cavalaria e autonomia formal das particularidades individuais. No círculo religioso,
o conteúdo extrapola a forma, assim como é encontrado na arte sacra, na qual toda forma
expressa um conteúdo infinitamente superior à imagem. Nos outros dois momentos, há uma
perda do conteúdo em relação à forma.
3) D.
UNIDADE 4
Hölderlin:
7. Busca do ilimitado.
Schopenhauer:
5. Representação e ideia.
Nietzsche:
1. Apolo e Dionísio.
4. Socratismo estético.
9. Moralização da tragédia.
172
UNIDADE 5
1) B.
2) D.
Quando Foucault pensa na noção de estética da existência, ele a caracteriza como uma atitude
e uma luta que marcam a diferença, ao imporem atitudes de “contramodernidade” e “contra-
culturais”. São essas atitudes que dão, ao indivíduo, primeiro, a capacidade crítica diante de
seu presente, a fim de compreender as estruturas que o determinam e o limitam, e, segundo, a
capacidade de se transformar como sujeito, ou seja, de ser diferença em relação a esse mesmo
que sou enquanto indivíduo que porta determinada identidade.
3) A.
173