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Linguagem

Jurídica
PROFESSORA
Drª Daniela Polla
EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia
Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de
Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas
Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de
Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia
Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia
Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame

FICHA CATALOGRÁFICA

Coordenador(a) de Conteúdo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Isis Carolina Massi Vicente Núcleo de Educação a Distância. POLLA, Daniela.
Projeto Gráfico e Capa Linguagem Jurídica. Daniela Polla. Maringá - PR:
André Morais, Arthur Cantareli e Unicesumar, 2022.
Matheus Silva
148 p.
Editoração
ISBN 978-65-5615-863-1
Juliana Duenha
Design Educacional “Graduação - EaD”.
Giovana Vieira Cardoso e Aguinaldo 1. Linguagem 2. Jurídica 3. Direito. 4. EaD. I. Título.
José Lorca Ventura Junior
Curadoria CDD - 22 ed. 340.6
Luana Brutscher
Revisão Textual
Ariane Andrade Fabreti
Ilustração
Impresso por:
Produção Digital
Fotos
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Shutterstock

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história
avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade,
ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria-
mente para que nossa educação à distância continue
Tudo isso para honrarmos a
nossa missão, que é promover
como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre
a educação de qualidade nas
quatro pilares que consolidam a visão abrangente
diferentes áreas do conhecimento,
do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o
formando profissionais
profissional, o emocional e o espiritual.
cidadãos que contribuam para
A nossa missão é a de “Promover a educação de o desenvolvimento de uma
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, for- sociedade justa e solidária.
mando profissionais cidadãos que contribuam para o
desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”.
Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio impor-
tante para o cumprimento integral desta missão: o
coletivo. São os nossos professores e equipe que
produzem a cada dia uma inovação, uma transforma-
ção na forma de pensar e de aprender. É assim que
fazemos juntos um novo conhecimento diariamente.

São mais de 800 títulos de livros didáticos como este


produzidos anualmente, com a distribuição de mais
de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos-
sos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700
polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina,
Ponta Grossa e Corumbá, o que nos posiciona entre
os 10 maiores grupos educacionais do país.

Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima


história da jornada do conhecimento. Mário Quin-
tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem
muda o mundo são as pessoas. Os livros só
mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportu-
nidade de fazer a sua mudança!

Reitor
Wilson de Matos Silva
Drª Daniela Polla

Olá, estudante! Eu sou a professora Daniela Polla. Nasci


no interior do Rio Grande do Sul, em uma vila rural que se
chama Linha São Roque, na cidade de Chapada. A minha
mãe também é professora e sempre me incentivou a gos-
tar de ler e de aprender. Ao lado dela, o meu pai também
sempre ensinou que a mudança e a melhora na nossa
vida vêm por meio do estudo, do esforço e do trabalho.
Graças à inspiração deles, não fazer uma faculdade nunca
foi opção para mim.
Já durante o Ensino Fundamental, a paixão pela lin-
guagem surgiu, ainda disfarçada sob uma curiosidade em
relação à profissão de Jornalista. Durante o Ensino Médio,
foi crescendo o desejo de aprender mais a respeito da
área que vigia a sociedade e a informa sobre os aconteci-
mentos, então, a curiosidade se tornou uma inscrição no
vestibular da UFSM/FW.
Com 17 anos, saí de casa para cursar Jornalismo na
universidade pública. Durante os quatro anos de curso,
descobri que existe no mundo uma área acadêmica que
se chama Análise do Discurso. Desde então, ela tem sido
a minha paixão e a minha dedicação acadêmica.

http://lattes.cnpq.br/2030498991839856
LINGUAGEM JURÍDICA

Posso ser um excelente profissional sem ter, igualmente, um excelente domínio do


meu idioma?
Quando a linguagem é empregada, profissionalmente, espera-se que ela tenha,
igualmente, qualidade profissional. Esperamos que, aqui, você possa descobrir con-
teúdos que te auxiliarão neste caminho.
Pesquise uma legislação específica. Faça uma busca por notícias que comentem
essa mesma legislação. Compare a estrutura linguística destes dois tipos de texto:
legislação e notícia.
Você deve ter percebido que as escolhas de palavras, as construções de frases, o
estilo de escrita, as organizações do texto, entre outros elementos, mudaram bastante.
Isso ocorre porque se tratam de situações comunicativas diferentes.
A nossa disciplina está estruturada assim: na Unidade 1, abordaremos os conceitos
de língua e linguagem e as particularidades da linguagem jurídica. Na Unidade 2, o
tema será a gramática, revisaremos as principais normas. Na Unidade 3, abordamos
os fatores de textualidade e aprenderemos os conceitos de leitura, texto, coesão e
fatores de coerência, além das figuras de sentido. Na Unidade 4, abordamos a comu-
nicação na linguagem jurídica, estudaremos a linguagem não verbal, os axiomas da
comunicação bem como características gerais da boa linguagem. Por fim, na Unidade
5, estudaremos a argumentação no contexto jurídico e algumas marcas linguísticas
empregadas para a sua realização.
Acesse a plataforma Jusbrasil e pesquise um artigo acerca de uma temática que
você ainda não conhecia. Avalie as facilidades e/ou dificuldades que ocorrem quando
aprendemos novos elementos linguísticos.
O(A) estudante deve ter percebido que nem sempre é fácil ler palavras as quais
desconhecemos. Mas esta primeira dificuldade é o caminho que te permitirá ampliar
a sua bagagem de linguagem jurídica.
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS

Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convi-


NOVAS DESCOBERTAS
dados, ampliando as discussões
sobre os temas. Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos
de maneira interativa usando a tec-
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
nologia a seu favor.
Uma dose extra de conhecimento
é sempre bem-vinda. Posicionando
seu leitor de QRCode sobre o códi- OLHAR CONCEITUAL
go, você terá acesso aos vídeos que
Neste elemento, você encontrará di-
complementam o assunto discutido.
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos,
esquemas e fluxogramas os quais te
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
9 2
35
A GRAMÁTICA
CARACTERIZAÇÃO
DA LINGUAGEM
JURÍDICA

3
63 4 91
FATORES DE A
TEXTUALIDADE: COMUNICAÇÃO
COESÃO E NO ÂMBITO
COERÊNCIA JURÍDICO

5
115
A ARGUMENTAÇÃO
E SUAS MARCAS
LINGUÍSTICAS
1
A Caracterização
da Linguagem
Jurídica
Drª Daniela Polla

Olá, estudante! Nesta unidade, abordaremos uma introdução aos


estudos da Linguagem Jurídica. Conceituaremos língua e linguagem
e pensaremos as particularidades desta última no âmbito do texto
jurídico. Igualmente, abordaremos como o idioma muda de acordo
com as várias situações comunicativas, quando usamos a linguagem.
Vamos lá?
UNIDADE 1

A linguagem jurídica é um domínio plural que envolve um amplo ramo de ati-


vidades e se desenvolve em relação a sujeitos diversos. Neste contexto, você já
observou que, algumas vezes, autoridades e/ou figuras públicas fazem um uso
da linguagem considerado incoerente com a função ocupada? Especialmente,
quando estes cargos dizem respeito ao contexto da administração pública, no qual
é requerido certo domínio da linguagem jurídica? Você acredita que, geralmen-
te, a exigência social de um emprego mais cuidadoso da linguagem estende-se,
também, a qualquer jurista?
Ao longo desta unidade, discutiremos que o contexto de emprego da lingua-
gem jurídica exige correção gramatical, cuidado técnico/profissional, emprego
de vocabulário específico bem como adequação aos contextos.
Em uma pesquisa rápida na internet, é possível encontrar equívocos come-
tidos por juristas no uso da linguagem que resultam em situações bastante vexa-
tórias, como a necessidade de reescrita de peças, ou, até mesmo, o indeferimento
de pedidos nas iniciais. Desse modo, o(a) estudante precisa desenvolver um do-
mínio cada vez mais especializado na manipulação da linguagem, de modo que
ele(a) possa ser bem-sucedido(a) na defesa de suas teses e, por consequência, no
mercado de trabalho.
Agora, vamos realizar um experimento, para que você possa entender, de
modo mais aprofundado, o domínio da linguagem jurídica? Você deve acessar,
por meio de plataformas digitais, o documentário-etnográfico intitulado Uma
História Severina, de autoria de Débora Diniz e Eliane Brum.
Assista ao filme e, em seguida, faça uma análise da variação linguística ocor-
rida e dos vários níveis de linguagem que podem ser percebidos nos diferentes
contextos que a história de Severina apresenta.
A partir da experiência realizada, você deve ter percebido que sujeitos dife-
rentes da narrativa apresentam domínio e cuidado bastante diferentes da lingua-
gem. O uso linguístico que a personagem Severina ou o seu marido são capazes de
fazer diferencia-se bastante daquele dos ministros do Supremo Tribunal Federal,
ou, até mesmo, dos profissionais da Saúde que aparecem ao longo do filme.
Nesse sentido, o(a) estudante que pretende compreender a linguagem ju-
rídica precisa compreender que situações comunicativas diversas exigem um
uso da língua e da linguagem, também, diverso. Esse(a) estudante também deve
entender o fato de que a linguagem jurídica constitui um domínio específico a
ser empregado em ramos profissionais, igualmente, específicos.

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UNICESUMAR

Lembre-se de usar o Diário de Bordo para anotar as características dessa lin-


guagem e a importância de a tornar mais acessível para a população não jurista.

Linguagem Jurídica

Quando pensamos na denominação da nossa disciplina, precisamos considerar


que se trata de um contexto duplo: linguístico e jurídico. Nesse sentido, nas dis-
cussões que realizaremos, se integrarão a linguagem e o âmbito do Direito. Cabe,
portanto, uma problematização inicial a respeito de alguns conceitos importantes,
a fim de compreendermos as diversas implicações atinentes à linguagem jurídica.
Especificamente, no que diz respeito ao domínio jurídico, precisamos pon-
derar que uma parte considerável do trabalho do operador do Direito realiza-se
empregando a linguagem. Desse modo, normas, jurisprudência, convenções,
declarações, sustentações orais, negociações e relações são alguns exemplos de
usos da linguagem no contexto jurídico. Considerando o fato de vivermos em
um universo cada vez mais complexo, abrangente e conectado, é relevante que
o(a) estudante saia desta disciplina capaz de empregar a linguagem jurídica da
melhor forma possível, em cada um desses contextos citados.
Saber empregar a linguagem adequadamente, contudo, não significa, apenas,
ser capaz de usar a Língua Portuguesa conforme a norma gramatical. Certamente,
conhecer e usar, de forma correta, o idioma é a base para o operador do Direito

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UNIDADE 1

se comunicar com os vários sujeitos com os quais se relaciona. Porém, em alguns


contextos de uso, aproximar-se do idioma do cliente pode ser mais importante
do que conhecer milhares de termos jurídicos e/ou expressões em latim.
Podemos perceber, então, que o(a) estudante da linguagem jurídica deve
entender que o Direito e a Linguagem necessitam ser manipulados, estrategica-
mente, com o objetivo de estabelecer, em cada contexto de uso, a comunicação
exata da mensagem necessária. Dito de outro modo, o operador do Direito deve
ser capaz de comunicar a sua mensagem — e garantir que ela seja compreendi-
da — tanto por um juiz quanto por um trabalhador com Ensino Fundamental
incompleto que precisa de acesso ao Direito Previdenciário.
Além disso, alguns domínios não-verbais constituem a linguagem jurídica, ou
seja, vestimentas, postura, corte de cabelo, tom de voz, expressões faciais, gestos,
uso do espaço físico (deslocar-se no ambiente do tribunal do júri, por exemplo),
dentre outros, precisam ser explorados, de modo consciente e refletido, pelo ope-
rador do Direito, pois impactam a percepção das pessoas sobre a qualidade da
prática desse profissional.
Para compreendermos os pontos iniciais desse domínio complexo que é a lin-
guagem jurídica, nesta parte, inicialmente, passaremos pelos conceitos de língua,
linguagem, discurso e estilo. Em um segundo momento, passaremos à aborda-
gem do discurso jurídico. Por fim, analisaremos alguns casos de fatos linguísticos
que pesaram, positiva ou negativamente, no contexto da prática profissional do
operador do Direito.

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UNICESUMAR

Linguagem

Quando pensamos em uma longa história da humanidade, lá nos gregos, há muitos


séculos, autores como Aristóteles e Platão já se preocupavam com o bom uso da
palavra, ou a arte da retórica. Se considerarmos o discurso religioso, lá em Gênesis
(1, 1-5), quando o livro narra a criação do mundo, o texto afirma: “Deus disse: exista
a luz. E a luz existiu”. Assim, é possível atribuir à linguagem poderes fascinantes.
Desse modo, quando o operador do Direito usa a linguagem para defender
uma tese, ou quando um juiz lê uma sentença, ou quando um juiz de paz declara
um casal casado, os fatos estão existindo, apenas, a partir do momento em que as
palavras são pronunciadas. Isso quer dizer que se o advogado não usa palavras
para defender a sua tese, ela não existe; se o juiz não profere a sentença, ela não
está formalizada; se o juiz de paz não enuncia o casamento, este não existe. É
necessário, portanto, usar a linguagem, a fim de criar as coisas.
Há certo poder e, também, certo fascínio na capacidade da linguagem de
criar as coisas. Desde a capacidade de dar nome a objetos ou a experiências até
o seu uso para a reconstituição de algo que passou e já não existe mais (como o
depoimento de uma testemunha), o poder exercido pela linguagem é imenso.
Este poderio da linguagem ocorre, sempre, em contextos muito bem determi-
nados, assim, a linguagem existe e circula em sociedade. Especialmente, quando
abordamos a linguagem verbal (aquela que emprega palavras para transmitir a
sua mensagem), entendemos que ela é a materialização do pensamento de um
indivíduo bem como o meio de comunicação social de uma sociedade a qual não
existe sem a linguagem e sem a comunicação. Como você acredita que seria o
mundo se cada um criasse e falasse o seu próprio idioma? Seria uma cacofonia
imensa e não ocorreria a comunicação, pois ninguém entenderia ninguém.
Além dessa necessidade de existir a linguagem adequada para os indivíduos
se compreenderem, mutuamente, em dada sociedade, o fenômeno linguístico
instiga, há tempos, o interesse de pesquisadores e estudiosos. Há um domínio
científico específico que se estabeleceu para estudar a língua e a linguagem: a área
dos estudos linguísticos. Se fizermos uma reflexão histórica sobre os estudos da
linguagem, eles atravessam lendas, mitos, rituais e cantos. Podemos remontar os
primeiros estudos da área ao século IV a.C., os quais tiveram interesses religiosos,
pois foram desenvolvidos pelos hindus com o objetivo de evitar alterações nos
textos sagrados, quando fossem proferidos (PETTER, 2019).

13
UNIDADE 1

Ao analisarmos os estudos gregos sobre a linguagem, destacam-se os traba-


lhos os quais procuravam investigar as relações entre os conceitos e as palavras
que os designam. De modo mais específico, esses estudos preocupavam-se em
descobrir se havia uma relação direta entre as palavras e os seus significados.
Ainda no contexto grego, Aristóteles elaborou, até mesmo, uma “teoria da frase”,
ao produzir estudos acerca da estrutura da linguagem, distinguindo partes e des-
crevendo categorias (PETTER, 2019).
No contexto da Idade Média, os estudos relacionados à linguagem definem
a estrutura gramatical dos idiomas e compreendem que ela seria válida para
qualquer língua que se objetivasse analisar. Já no século XVI, durante a Reforma
Protestante, com a necessidade de traduzir os livros sagrados para vários idiomas,
surgem os dicionários poliglotas, sendo o primeiro deles publicado por Ambrosio
Calepino, em 1502. Nos séculos XVII e XVIII, a Gramática de Port Royal esta-
belece que a linguagem é imagem do pensamento e que a gramática continuaria
sendo, portanto, a mesma, independentemente do idioma (PETTER, 2019).
Já no século XIX, ocorre a descoberta de novos idiomas, e as pesquisas focam
nas línguas vivas (aquelas que ainda possuem falantes), opondo-se às análises
mais abstratas do período anterior. Um olhar histórico perceberá que os idiomas
se alteram com o passar do tempo, seguindo necessidades da língua e mani-
festando-se de forma regular. Esta descoberta contribui para mudar o foco de
preocupação dos pesquisadores, afinal, as pesquisas, até então, centravam-se no
texto literário como ideal linguístico. Com a descoberta de que as línguas mu-
dam, observou-se que essas transformações ocorrem, primeiro, na língua falada
(PETTER, 2019). Desse modo,“a Linguística moderna, embora também se ocupe
da expressão escrita, considera a prioridade do estudo da língua falada como um
de seus princípios fundamentais” (PETTER, 2019, p. 13).
As pesquisas sobre a linguagem, contudo, passam a ser entendidas como do-
mínio científico, apenas, após a publicação do Curso de Linguística Geral, de Fer-
dinand de Saussure. Esta obra foi lançada em 1916, a partir de aulas ministradas
pelo autor na Universidade de Genebra. Assim como outras áreas científicas, no
início, o campo que estuda os fenômenos da linguagem — a Linguística — sub-
metia-se a outras áreas, tais como: Retórica, Filosofia, Lógica, História e Crítica
Literária. Então, no século XX, se desenvolvem métodos científicos que permitem
os estudos linguísticos centrarem-se nos fatos da linguagem (PETTER, 2019).

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UNICESUMAR

A partir desse ponto, os estudos da linguagem concentram-se, justamente, na


linguagem. Os dados são analisados a partir de horizontes teóricos específicos e
há uma variedade de formas voltadas a compreender, teoricamente, este objeto
de estudo. A área da Linguística, no entanto, determina o seu objeto como “a in-
vestigação científica da linguagem verbal humana” (PETTER, 2019, p. 17). Dessa
forma, como área científica especializada, a Linguística é a área de saber científico
que se interessa pelo fenômeno humano da linguagem, portanto, excluem-se
questões sobre linguagem dos animais ou das máquinas.
Para o contexto da nossa disciplina, entretanto, pensando em um domínio
mais amplo, cabe considerar o termo “linguagem” em sua concepção mais geral,
a qual possui um uso não especializado bastante diverso: linguagem dos animais,
da música, da dança, da mímica, entre outros. Em relação à nossa compreensão
acerca do tema, torna-se necessário definir o que consideraremos linguagem.
Para iniciar, pensemos que “as línguas naturais, notadamente diversas, são
manifestações de algo mais geral, a linguagem” (PETTER, 2019, p. 13). A partir
desse entendimento, os idiomas (português, inglês, espanhol, entre outros) são a
manifestação social de um contexto mais amplo e mais complexo, que é a lingua-
gem. Compreenderemos, então, o seguinte: a linguagem diz respeito a inúmeros
processos que tornam possível usar, de forma mais abrangente, o nosso idioma. O
conceito “linguagem”, igualmente, pode ser definido como “todo sistema de sinais
que serve de meio de comunicação entre os indivíduos. Desde que se atribua valor
convencional a determinado sinal, existe LINGUAGEM” (CUNHA; CINTRA,
2013, p. 1, grifo dos autores).
Um contexto interessante para compreendermos melhor a diferença entre
língua e linguagem aparece no filme Grandes Olhos, dirigido por Tim Burton. O
longa, ambientado nos anos 50 e 60, nos EUA, conta a história do casal Margaret
e Walter Keane, o qual alcança muito sucesso com as suas pinturas, cujo destaque
são os grandes olhos nas faces das crianças. Porém surge uma questão jurídica:
Margaret alega que é a autora dos grandes olhos, enquanto Walter assegura que ele
é o pintor. Fica, então, a palavra de um contra a palavra do outro. De que modo o
juiz poderia dirimir o conflito utilizando, apenas, o idioma? Não havia como! O
magistrado decide usar outra metodologia: a linguagem. No tribunal do júri, os
dois litigantes são colocados frente a frente, com uma tela em branco para cada
um e pede que ambos pintem os grandes olhos. Para não entregar o final do filme,
caso você queira assistir, diremos, somente, que o idioma não conseguiu, sozinho,

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UNIDADE 1

sanar o conflito, foi necessário lançar mão de processos mais amplos, como a lin-
guagem não verbal da pintura, para solucionar o impasse jurídico do caso Keane.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Grandes Olhos


Ano: 2014
Sinopse: o filme, dirigido por Tim Burton, baseia-se em fatos reais e
conta a história de um casal de pintores. Ambientado nas décadas
de 50 e 60, nos EUA, a história apresenta uma briga judicial entre o casal
para descobrir de quem era a habilidade artística autora dos grandes olhos
destacados nos rostos das crianças que apareciam nas pinturas. O conflito
termina com a decisão inusitada de um juiz que coloca o casal de frente para
uma tela em branco e pede que pintem os grandes olhos.
Comentário: assistir a esse filme é interessante para o futuro operador do
Direito, pois, por meio do filme, ele é capaz de analisar o fato de que, nem
sempre, a linguagem verbal, no processo jurídico, conseguirá dirimir todos
os conflitos. Em alguns casos, a linguagem não verbal também é necessária
(por exemplo, a pintura).

Já estabelecemos que a linguagem é este âmbito amplo de fenômenos verbais e


não verbais, enquanto o idioma é, claramente, definido como “um sistema gra-
matical pertencente a um grupo de indivíduos. Expressão de consciência de uma
coletividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o mundo que a cerca e
sobre ele age” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 1, grifo dos autores). Em relação a estes
dois conceitos, é importante acionarmos outros dois que nos auxiliam na amplia-
ção do entendimento da linguagem jurídica, quais sejam: o discurso e o estilo.
Sendo o idioma o uso social dos fenômenos mais complexos — a linguagem
— o discurso é compreendido como a execução individual, ou seja, a língua em
uso por um indivíduo. Cada um de nós possui um ideal linguístico, uma ideia de
qual seria a melhor execução possível do emprego de nosso idioma, o português.
Assim, o discurso é a procura por retirar do sistema gramatical as formas que
melhor manifestem o nosso gosto e os nossos pensamentos. Nesse contexto, o dis-
curso poderia ser exemplificado pelas escolhas que cada falante realiza, quando
ele decidir usar um ou outro formato de frase, uma ou outra palavra. Por exemplo,
ao decidirmos escrever “acidente” ou “sinistro”, “moderação” ou “parcimônia”. Por

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UNICESUMAR

sua vez, o estilo seria a forma, a qualidade, o aspecto estético das formas as quais
selecionamos, na intenção de compor os nossos enunciados. O estilo, então, avalia
a qualidade estética do texto como um todo (CUNHA; CINTRA, 2013).

A Linguagem Varia

Anteriormente, analisamos o fato de que os idiomas necessitam de um sistema


de regras — a gramática — que devem ser respeitadas pela sociedade que usa
determinada língua. Assim como o ordenamento jurídico, estas determinações
admitem alterações. O idioma, portanto, como “utilização social da faculdade da
linguagem, criação da sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver
em perpétua evolução, paralela à do organismo social que a criou” (CUNHA;
CINTRA, 2013, p. 1).
A partir desse contexto, surge, nos anos 60, a área da Sociolinguística. Neste
domínio científico, compreendemos que a língua e a sociedade influenciam-se,
mutuamente, bem como as relações entre as duas, quando analisadas com mais
cuidado. Bastante recente, esta especificidade do saber científico acerca da lin-
guagem deixa ver o seguinte fato: “é, pois, recente a concepção de língua como
instrumento de comunicação social, maleável e diversificado em todos os seus
aspectos” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 3).
A Sociolinguística percebe que, se a sociedade é diversificada social, cultural
e geograficamente, o idioma também deve acompanhar esta variação, inclusive
o conceito de variação linguística advém desta percepção. Você, estudante, pode
estar se perguntando: qual a importância desta ideia para o operador do Direito?
A resposta é bastante simples: se o objetivo é se fazer compreender da melhor
forma possível, nos mais diversos contextos comunicativos onde a linguagem é
utilizada, o jurista deve ser capaz de variar a sua linguagem para toda e cada uma
destas situações de comunicação.
Esta necessidade de adequação da linguagem para cada realidade comunicati-
va consegue ser exemplificada por meio da análise dos regionalismos. Expressões
muito, marcadamente, empregadas em uma região geográfica específica do país
(como o “barbaridade” do gaúcho ou o “oxente” do baiano) costumam aparecer
na linguagem falada, mas não devem ser empregadas, caso desejemos ser ade-
quados ao contexto comunicativo, nos textos jurídicos que gerarão, por exemplo,

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UNIDADE 1

jurisprudência ao país todo e, portanto, necessitam ser compreendidos em todas


as regiões geográficas.
Esta necessidade de variação relaciona-se com o fato de a nossa língua ser
caracterizada como um diassistema, ou seja, é composta por vários sistemas e
subsistemas. A complexidade é, assim, inerente à análise das relações entre língua
e sociedade (CUNHA; CINTRA, 2013). O(A) estudante deve perceber essas in-
ter-relações entre sociedade, cultura e linguagem, visando a ser capaz de adequar
o uso do idioma nos contextos jurídicos, de modo a se fazer compreender em
qualquer situação, com profissionalismo.
Autores diversos interessaram-se por explicar as variações do nosso idio-
ma, originando várias classificações diferentes dos tipos de variação linguística.
Considerando a tipologia apresentada por Cunha e Cintra (2013), na Nova Gra-
mática do Português Contemporâneo, consideraremos três diferenças internas
ao idioma. A primeira delas é a variação diatópica, nas quais perceberemos as
diferenças do espaço geográfico atravessando o idioma; os exemplos seriam os
falares regionais já mencionados ou variações intercontinentais, como o portu-
guês do Brasil em comparação com o português de Portugal. A segunda diferença
interna do idioma é a variação diastrática, a qual percebe os aspectos sociocultu-
rais, alterando, assim, o nosso uso do português, como: os níveis culto, padrão ou
popular do idioma. A terceira variação linguística é a diafásica, tipo que considera
as modalidades expressivas, o que impactando o idioma. Um exemplo seria como
adaptamos a forma expressiva do idioma, ao redigir um texto para uma avaliação
do curso, em comparação a uma mensagem digitada naquele famoso aplicativo
de mensagens instantâneas (CUNHA; CINTRA, 2013).
Essas variações do idioma são inerentes a ele. Uma vez que a língua esteja em
uso, o emprego que os falantes executam em sociedade costuma causar ou de-
mandar a variação. As diferenças podem ser de várias ordens: fonética, fonológica,
sintática, morfológica, entre outras. A variação linguística não prejudica o aspecto
funcional do idioma, ele deve, contudo, apresentar algum grau de estruturação
bem como corresponder às necessidades dos falantes (CUNHA; CINTRA, 2013).
Este reconhecimento das diversas formas de uso da língua por parte da so-
ciedade não acontece apartada deste mesmo contexto social e cultural. Sendo
assim, por ser ligada à estrutura social e ao sistema de valores, circula, na so-
ciedade, uma valoração diversa de cada uma das modalidades de língua. O(A)
estudante deve se lembrar (ou pesquisar, rapidamente, na internet) a situação na

18
UNICESUMAR

qual um ministro de Estado do Brasil pronunciou a palavra “conge” no lugar de


“cônjuge”. Estamos diante de uma variação linguística relacionada aos aspectos
socioculturais, porém esse uso foi considerado uma gafe por alguns veículos de
comunicação. Isso se deve ao fato de que o padrão culto é valorado como o mais
prestigiado, exigido social e culturalmente de algumas posições socioculturais,
como seria o caso de um ministro de Estado.

PENSANDO JUNTOS

Então, estudante, será que é tarefa do operador do Direito empregar, em todas as situa-
ções de comunicação, o português padrão culto? Será que, em algumas situações, não
seria relevante o jurista aproximar o seu nível de linguagem da variante linguística usada
pelo seu cliente? Pense que esse cliente é, provavelmente, uma pessoa leiga, que, muitas
vezes, mal compreende o idioma em si, quanto mais o vocabulário jurídico.

Temos a chance de perceber, assim, o fato de que a língua padrão (aquela que é
acessível e, gramaticalmente, correta), apesar de ser uma das muitas outras varia-
ções do idioma, “é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como
norma, como ideal linguístico de uma comunidade” (CUNHA; CINTRA, 2013, p.
4). Desse modo, ela exerce uma espécie de força coercitiva em relação às demais
variantes do português. Ocorre, então, a atribuição de mais prestígio para a língua
padrão em relação à língua popular.
Essa coerção, no âmbito jurídico, é ainda mais ampla, porque é tutelada por
regulamentações. Um exemplo é o texto da Constituição, no qual se especifica:
“Art. 13: A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil”
(BRASIL, 1988, on-line). Como já estudamos, para que exista um idioma, este
deve seguir uma gramática. Dito de outro modo, a Constituição (BRASIL, 1988,
on-line) determina que a comunicação oficial do país deve seguir as normas
gramaticais. Esta necessidade de primar pela correção gramatical é flexibilizada,
por exemplo, em modalidades expressivas diversas, como a linguagem falada em
ambiente informal. O mesmo não acontece na sustentação oral de um advogado:
ele deve, sempre, por norma, empregar, no mínimo, o nível padrão.
Apesar de sermos capazes de perceber os diversos níveis de linguagem, por
meio da abordagem que pensa as relações entre a língua e a sociedade, o(a) estu-
dante deve se lembrar que o objetivo principal do idioma é estabelecer a comuni-

19
UNIDADE 1

cação. Para que ela se efetive, não podemos abrir mão de um código comum. Você
já deve ter ouvido a expressão: “fale a minha língua”, ou, provavelmente, viveu a
situação na qual um cliente, após uma longa explicação jurídica, enuncia: “agora,
em português, por favor!”. Nesse contexto, poderíamos questionar: trata-se de
uma mesma língua ou de várias línguas portuguesas? (VANOYE, 2007).
Na mesma direção, questionamos se o português do gaúcho é o mesmo do
paranaense, expressões como “data” ou “brigada” não significam, necessariamente,
as mesmas coisas. Igualmente, o português do advogado e de seu cliente é capaz de
diferir bastante, o cliente não compreenderá termos jurídicos ou expressões latinas
comuns no discurso jurídico. Você, estudante da disciplina de Linguagem Jurídica,
acredita que estamos analisando idiomas diferentes ou níveis do mesmo idioma?
Em sua obra intitulada Usos da Linguagem: problemas e técnicas na produção
oral e escrita, Vanoye (2007) afirma serem níveis de linguagem. Assim, temos o mes-
mo idioma, porém o “vocabulário, a sintaxe e mesmo a pronúncia variam segundo
esses níveis” (VANOYE, 2007, p. 23). Ocorre, portanto, uma gradação nos níveis
de linguagem que os falantes da Língua Portuguesa são capazes de desempenhar.
Língua falada Língua escrita

Linguagem literária,
Linguagem oratória Discursos, sermões. cartas e documentos
oficiais.

Linguagem literária,
Cursos, comunicações
Linguagem cuidada cartas e documentos
orais.
oficiais.

Conversação, rádio, Comunicações escritas


Linguagem comum
televisão. comuns.

Linguagem descuidada,
Conversação informal, incorreta, linguagem
Linguagem familiar
não “elaborada”. literária que imita a fala
familiar.

Quadro 1 - Os níveis de linguagem da Língua Portuguesa / Fonte: adaptado de Vanoye (2007).

Ao analisar os níveis de linguagem, primeiro, devemos diferenciar a linguagem


empregada na fala e a linguagem operacionalizada na escrita, afinal, a modali-
dade expressiva é diferente. A expressão oral não exige, via de regra, a mesma

20
UNICESUMAR

formalidade do texto escrito, além disso, ao falarmos, empregamos recursos co-


municativos mais amplos (linguagem não verbal, como gestos e tom de voz),
logo, na língua falada, precisamos de menores detalhamento e cuidado com os
sentidos que produziremos aos nossos interlocutores (as pessoas com as quais
dialogamos), pois o tom de voz, a expressão fácil e/ou os gestos nos auxiliam nesta
construção de significados. No âmbito da língua falada, existe a “língua comum,
conjunto de palavras, expressões e construções mais usuais, língua tida geral-
mente como simples, mas correta” (VANOYE, 2007, p. 23, grifo do autor). Seria
o nível do idioma usado nas comunicações cotidianas: ele é correto, do ponto de
vista gramatical, e comum a ponto de qualquer falante da língua o compreender.
Considerando o nível comum uma espécie de nível central da língua, em um
nível acima em termos de elaboração da linguagem, há a linguagem cuidada e,
depois, a linguagem oratória (VANOYE, 2007). Tais níveis mais elaborados devem
ser empregados em situações comunicativas que exijam esse cuidado. Muitas
vezes, empregar um nível mais elaborado em um contexto no qual seria, social-
mente, aceitável o nível comum, pode passar ao interlocutor a sensação de que o
sujeito que enuncia tenta se mostrar superior, por meio do domínio do padrão
culto do idioma, caracterizando uma espécie de soberba. Desse modo, ao atender
um cliente, o operador do Direito necessita nivelar o seu idioma, de modo que a
pessoa a qual procurou os seus serviços possa compreender o que esse operador
diz, contudo, mantendo a correção gramatical necessária à conduta profissional.
Considerando o nível comum uma espécie de grau neutro na gradação dos
níveis de linguagem apresentados no Quadro 1, em ordem decrescente de elabo-
ração, observamos haver, por fim, a linguagem familiar. Nesse nível, são admitidas,
até mesmo, incorreções do ponto de vista gramatical. É a linguagem empregada
em um contexto descuidado, da perspectiva da elaboração. Cabe ao(à) estudante
notar, porém, que a denominação do nível em “familiar” não é aleatória. Assim,
para o operador do Direito, em seu contexto profissional, não é, socialmente,
aceitável empregar esse nível de linguagem. É, sim, necessário variar o discurso
especializado da linguagem jurídica, a fim de que um cliente leigo na área possa
compreender como o ordenamento e a prática jurídica afetam as suas causas,
situação bastante diferente de cometer incorreções gramaticais. Uma desembar-
gadora do TJ-RJ, certa vez, negou provimento a um recurso e precisou dar uma
aula de português para os advogados que haviam assinado as contrarrazões, isso
porque a peça continha erros gramaticais “injuriosos ao vernáculo”, ou seja, ofen-

21
UNIDADE 1

sas ao português padrão. Foram encontradas grafias como: “em fasse”, “não aciste
razão”, “doutros julgadores” e “cliteriosamente”. O(A) estudante poderá buscar
mais informações sobre o caso nos artigos do site Jusbrasil.
Por isso, o operador do Direito precisa conhecer os níveis de linguagem e a
variação linguística de modo a ser capaz de empregar a modalidade adequada
do idioma para cada uma das situações comunicativas nas quais necessite usar a
linguagem. Esta flexibilidade no emprego da linguagem jurídica tornará a pos-
tura do(a) estudante mais adequada nas mais diversas situações. Esta habilidade
também ajudará a evitar situações, socialmente, vexatórias, como no caso em que
um certo ministro da Educação enviou um ofício no qual grafou a palavra “pa-
ralisação” com a letra “z” no lugar do “s” (“paralização”). Apesar de este “s” ter som
de “z”, esta grafia é incorreta do ponto de vista gramatical, e a gafe foi registrada
por vários veículos noticiosos.
Em uma pesquisa rápida na internet, o(a) estudante será capaz de perceber
a repercussão que causou o emprego de um nível de linguagem inadequado ao
contexto comunicativo de documentos oficiais.

O Contexto Jurídico

A linguagem que abordaremos, nesta disciplina, não é uma linguagem qualquer,


trata-se da língua atravessada pelo Direito. Assim, há o impacto da linguagem no
Direito e vice-versa. O âmbito jurídico pode determinar o emprego de determi-
nada língua e excluir outro; há, muitas vezes, uma significação jurídica para um
termo comum e, também, há leis que nomeiam coisas. O vocabulário jurídico
é um fato e sustenta a argumentação de que existe uma linguagem jurídica. Isso
porque é bastante claro, conforme já estudamos, que o discurso jurídico não é,
imediatamente, acessível a um não jurista. Nesse contexto, o leigo experimenta,
até mesmo, uma sensação de contato com outro idioma (PETRI, 2009).
A argumentação constitui tarefa básica para o operador do Direito. Dessa
forma, um emprego proficiente do vocabulário, do discurso e da comunicação
jurídicas é fundamental para o futuro profissional da área. Desse modo, os cur-
sos específicos investem, cada vez mais, em uma disciplina como a nossa, cujo
objetivo seria “aprofundar o estudo das técnicas e das estratégias de persuasão à

22
UNICESUMAR

disposição de quem lida com a produção das peças processuais” (VALVERDE;


FETZER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 13).
No contexto contemporâneo, na qual há a digitalização das mais diversas
tarefas que precisamos desempenhar como profissionais, a ideia de usar o po-
pular “ctrl+C, ctrl+V” ou peças processuais pré-prontas, com frequência, facilita
o dia a dia, porém desconsideram, muitas vezes, as questões do fato concreto
e, até mesmo, as peculiaridades da situação específica. Da mesma forma, há o
risco de ocorrer equívocos no emprego da linguagem jurídica, no sentido de
haver petições iniciais muito longas, citações irrelevantes ou peças que repetem
conteúdos da internet.
As referências da área argumentam que os modelos de peças podem ser em-
pregados, desde que sirva como referência para as produções específicas de cada
caso, pois o conhecimento da área deverá ser acionado à redação, por exemplo, da
petição inicial. Da mesma forma, citações de doutrina ou jurisprudência muito
longas tornam o texto maçante e oneroso para o sistema. Nesse sentido, um juiz do
Rio Grande do Norte solicitou a refação da petição inicial a qual ele considerou ser
comparável a um livro (a peça em questão tinha 49 páginas). O texto foi conside-
rado desleal e violador da celeridade do processo judiciário, à medida que o tempo
gasto pelo juiz, nesta leitura, excessivamente, prolixa é roubado de outros processos.
O despacho decidiu pela reescrita de modo mais objetivo, sob pena de a petição
ser indeferida, caso não fosse reduzida (CONSULTOR JURÍDICO, 2014, on-line).
Nesse contexto, para usar a linguagem jurídica, é necessário que o(a) estu-
dante racionalize e fundamente a sua prática argumentativa. A digitalização e o
uso de computadores devem ser empregados como facilitadores em vez de im-
pulso à reprodução de peças prontas, não refletidas e, até mesmo, sem eficiência.
Além disso, em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, a habilidade
linguística e argumentativa “é um elemento diferencial entre os profissionais de
qualidade - altamente requisitados no mercado - e os que se limitam” (VALVER-
DE; FETZER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 15).
Você deve se lembrar que já conversamos sobre o fato de a linguagem ser a
expressão de um pensamento. Nesse sentido, quando o nosso pensamento vai
de um fato conhecido para outro desconhecido, ocorre o processo chamado de
raciocínio, e o uso da razão de forma lógica e organizada constitui uma argu-
mentação. Em especial, na linguagem técnica, como é o caso da linguagem jurí-
dica, temos como objetivo informar ou convencer, por isso, a linguagem lógica/

23
UNIDADE 1

racional deve ser incluída na linguagem técnica (NASCIMENTO, 2013). Assim,


“podemos situar a linguagem forense: é fundamentada em argumentos e busca
a razão, ou seja, o pensamento em movimento” (NASCIMENTO, 2013, p. 38,
grifo do autor). Sob esse ponto de vista, segundo este autor, compreendemos que,
enquanto a linguagem é a expressão de um pensamento, a lógica é caracterizada
como a estruturação lógica dessas ideias.
Para pensar a estruturação lógica das informações nas nossas argumenta-
ções, precisamos analisar que petições, recursos, sentenças, requerimentos, dentre
outros, constituem raciocínios lógicos manifestados sob a forma de silogismos
(raciocínio dedutivo = duas premissas e uma conclusão = “todos os homens são
mortais; os brasileiros são homens; logo, os brasileiros são mortais”). Tais conteú-
dos são expressos de forma sintética, desse modo: “o fato concreto é a premissa
menor; - a norma ou a sentença é a premissa maior; - o pedido ou a decisão é a
conclusão” (NASCIMENTO, 2013, p. 38, grifos do autor).
Trata-se de um raciocínio “porque são conclusões obtidas a partir de fatos
conhecidos para outros desconhecidos” (NASCIMENTO, 2013, p. 38). Especial-
mente, na petição inicial, cujo objetivo é dar a conhecer os fatos (então desconhe-
cidos), a norma aplicável e o pedido apresentado. Temos, então, o fim principal da
linguagem jurídica: “argumentar para convencer” (NASCIMENTO, 2013, p. 39).
Para a argumentação jurídica, importa definir o que consideramos voca-
bulário e discurso jurídicos. A terminologia jurídica não diz respeito, apenas,
aos termos de emprego exclusivo na área do Direito, mas também a todas as
palavras que esse campo do conhecimento emprega com um sentido definido,
ocorrendo uma polissemia (vários sentidos para uma mesma palavra). Por
exemplo, a palavra “precípuo” que, na língua comum, tem sentido de “principal”,
enquanto que, na terminologia jurídica, faz menção aos bens que o herdeiro
não precisa trazer à colação.
Há a possibilidade de admitir que o conjunto dos termos especializados em-
pregados na linguagem técnica jurídica caracteriza o vocabulário jurídico. Este
subconjunto dos termos da língua é composto por: palavras que têm o mesmo
sentido na língua comum e no vocabulário jurídico (hipótese, estrutura, critério,
reunião, entre outros); termos que têm um sentido na língua comum e outro na
linguagem jurídica, como “sentença”, que é uma frase para os não juristas e a de-
cisão de um juiz no âmbito jurídico, caracterizando uma polissemia externa; pa-
lavras as quais possuem mais de um sentido no próprio vocabulário jurídico, por

24
UNICESUMAR

exemplo, “prescrever”, que pode ser o ato de determinar ou orientar, assim como
a perda de um direito pela finalização do prazo, caracterizando uma polissemia
interna; conceitos que existem, somente, no contexto jurídico e não têm sentido
fora dele, tais como: usucapião, acórdão etc.; por fim, compõem o vocabulário
jurídico algumas expressões latinas usadas na área, por exemplo, data venia,
caput, sine qua non, entre outras (PETRI, 2009).
Por sua vez, o discurso jurídico é compreendido como todo enunciado
jurídico, oral ou escrito. A sua existência é tão visível quanto a do vocabulário
jurídico, à medida que os operadores do Direito empregam leis e julgamentos,
além de redigirem contratos e produzirem textos, o tempo todo. Fazem parte do
discurso jurídico os enunciados escritos, nos quais, por exemplo, a lei encadeia
artigos, apresenta motivos e disposições, caracterizando atos instrumentais para o
Direito, e os enunciados orais, em sua expressão mais diversa, como a sustentação
oral em um processo. Além do fato de o discurso jurídico acionar o vocabulário
jurídico, o seu diferencial é a definição de que “é jurídico todo discurso que tem
por objeto a criação ou a realização do direito” (PETRI, 2009, p. 31).
Uma definição conceitual importantíssima para o nosso estudo, nesta dis-
ciplina, é a caracterização do próprio nome de Linguagem Jurídica. A partir do
Manual de Linguagem Jurídica, de Maria José Constantino Petri (2009), com-
preendemos que o termo “linguagem” pode ser empregado para dizer respeito ao
modo específico de uso — por determinado grupo ou setor social — da língua e
da linguagem. Desde que se sustente certa regularidade, há uma forma de falar
particular. Portanto, “diz-se que se trata de uma linguagem especial ou especiali-
zada. É nesse sentido que o direito tem sua linguagem, assim como a medicina,
a sociologia ou a economia” (PETRI, 2009, p. 31).

25
UNIDADE 1

Ressalta-se que a linguagem jurídica é, em si, plural, isso porque “o sistema fala
por muitas bocas” (PETRI, 2009, p. 31). Além disso, ela emprega, sempre, o idioma
nacional, portanto, varia de país para país. No nosso caso, os juristas brasileiros
empregam o português e devem primar pelas correção, pureza e elegância do
idioma vernáculo próprio de um país, como vimos, anteriormente, a Constituição
Federal de 1988 determinar que o nosso é o português (PETRI, 2009).
Há alguns pontos que caracterizam a Linguagem Jurídica e a distinguem do
emprego geral do idioma nacional. São traços que a singularizam, permitindo
defini-la como uma linguagem especializada, quais sejam:
■ Linguagem de grupo: uma linguagem dos membros do ramo de ativida-
des daqueles que falam de e sobre o Direito — caracterizada pelo uso por
advogados, magistrados, tabeliães — mas estendendo-se a parlamentares
e membros das administrações, sendo compreendida, também, por todos
sujeitos ao Direito.
■ Linguagem técnica: ela é técnica devido às coisas que nomeia (as ins-
tituições e operações jurídicas, por exemplo) e pelo modo de enunciar
(segue as operações do pensamento jurídico, como a interpretação, o ra-
ciocínio, a apreciação etc.).
■ Linguagem tradicional: é um legado tradicional. A linguagem jurídica
é inscrita na história, aliás, nota-se que o uso dela, no século XIX, se pa-
rece muito com o uso no século XX. Segundo Petri (2009), a linguagem
jurídica é, ainda, caracterizada como plural (não homogênea, assumindo
diversas funções) e prática (existe a serviço do ramo jurídico).

A última análise sobre a especificidade da linguagem no domínio jurídico são os


níveis dessa linguagem. Assim, não há um uso global e homogêneo dela, portan-
to, esta concepção deve ser substituída pela ideia dos níveis. Considerando esta
finalidade, esquematizaremos o quadro, a seguir:
Nível Finalidade

Códigos, normas, finalidades, criação


Linguagem legislativa
dos direitos.

Linguagem judiciária, forense ou


Processos, aplicação do Direito.
processual

26
UNICESUMAR

Linguagem convencional ou con- Contratos, criação de direitos e obri-


tratual gações entre partes.

Usada por doutrinadores e mestres,


Linguagem doutrinária
explica e ensina o Direito.

Linguagem cartorária ou notarial Registro de atos do Direito.

Quadro 2 - Níveis da linguagem jurídica / Fonte: adaptado de Petri (2009).

Dessa forma, caro(a) estudante, a linguagem jurídica não se constitui um domínio


fácil, de simples aplicação das normas gramaticais. Ao contrário, há pluralidade,
especificidades de modalidades expressivas, funções e ramos profissionais. Esta
linguagem especializada é empregada em contextos específicos e tem, como fi-
nalidade, a argumentação. Por isso, o nosso próximo tema de estudo diz respeito
à argumentação jurídica.

A Argumentação Jurídica

Estudante, para começarmos a trabalhar a questão da argumentação aplicada à


linguagem jurídica, precisamos concordar que qualquer texto deve ser enquadra-
do em tipos comuns. A maior parte dos textos, normalmente, é definida como:
narrativa, descritiva ou dissertativa. Apesar de haver a presença mais marcante de
um dos tipos, o texto, raramente, enquadra-se, apenas, em um dos três tipos tex-
tuais (por exemplo, na narrativa, aparecem, muitas vezes, descrições). A separação
acontece por razões acadêmicas ou pedagógicas, no sentido de compreender as
especificidades de cada tipo. Contudo, para fundamentar uma tese (dissertação),
é necessário narrar fatos motivadores e/ou descrever condutas (VALVERDE;
FETZER; TAVARES-JUNIOR, 2015).
Dessa forma, a narração pode ser definida como a retomada de fatos e expe-
riências, decorridos em certos tempos e espaços. Ela apresenta ordem cronoló-
gica, conta uma história, retoma eventos, usa um narrador, verbos no pretérito e
tem como elementos: fato, personagem, lugar, tempo, enredo, causa, consequência
e modo. Por exemplo, na petição inicial, é preciso narrar os fatos, com o objetivo
de que o juiz os conheça e seja capaz de julgar o pedido.“A narrativa deve ser vista
dentro da peça processual como parte fundamental da construção persuasiva do
raciocínio” (VALVERDE; FETZER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 22).

27
UNIDADE 1

Na descrição, há o cuidado com o detalhamento de estático para descrever o


mundo, atribuindo qualidades singulares aos contextos descritos. Uma descrição
costuma listar características de um momento e pontos específicos, por exemplo,
ao fazer uma boa descrição de uma pessoa, é necessário deter-se em caracterís-
ticas físicas e psicológicas. Para um texto ser, predominantemente, descritivo, ele
deve ter poucos marcos temporais e de progressão e bastante expressões adjetivas
(VALVERDE; FETZER; TAVARES-JUNIOR, 2015).
A dissertação é compreendida como o processo argumentativo. Todos nós
sustentamos, cotidianamente, opiniões, os juristas, em especial. A dissertação
pode ser expositiva ou argumentativa. Na expositiva, é feita a exposição de ideias
acerca de um tema, sem o objetivo de persuadir a audiência. Já a argumentativa
expressa a necessidade de defender uma tese, de persuadir o seu público em rela-
ção à ideia de que o seu ponto de vista seria o mais adequado. Essa diferenciação
— considerando a problematização contemporânea em torno da inexistência de
textos, completamente, neutros — encontra-se em desuso (VALVERDE; FET-
ZER; TAVARES-JUNIOR, 2015).
É importante que o(a) estudante da linguagem jurídica compreenda cada um
dos tipos e, assim, saber como mobilizar cada um deles em momentos estratégicos
de suas argumentações. O texto dissertativo-argumentativo, geralmente, contém
momentos de narração e de descrição, usados, sempre, de modo planejado e
consciente, para que a tese do jurista se torne mais difícil de ser refutada. Em um
texto dissertativo-argumentativo, acionamos três elementos: uma proposta (que
cause questionamentos quanto à sua aplicabilidade); um sujeito (que se engaje e
tente atribuir um ponto de vista verdadeiro sobre a proposta); outro sujeito (re-
lacionado com a proposta, será o alvo da argumentação) (VALVERDE; FETZER;
TAVARES-JUNIOR, 2015).

28
UNICESUMAR

Pensando que os textos dissertativos-argumentativos são, largamente,


solicitados no domínio da linguagem jurídica, apresentaremos algumas
dicas que auxiliam o(a) estudante a refletir sobre a sua redação. Para ar-
gumentar melhor: procurar dominar o assunto e entender a respeito da
matéria, quanto mais você souber acerca do tema, mais fácil será escrever
sobre ele; estabeleça um raciocínio lógico (uma ordem, com início, meio e
fim); empregue a sua capacidade de análise e síntese (já vimos que petições
muito longas podem ser problemáticas); redija de modo, gramaticalmente,
correto e demonstre domínio da norma padrão culta; uma fundamen-
tação teórica-reflexiva para o texto é interessante; construa e apresente
um repertório vasto de argumentos e estratégias argumentativas; sempre
considere se os argumentos utilizados serão aceitáveis ao auditório em
questão; estabeleça e mantenha uma reflexão que direcione o raciocínio
do auditório (VALVERDE; FETZER; TAVARES-JUNIOR, 2015).

Oi, estudante! Às vezes, o texto do livro soa muito teórico


para você e conceitos como língua, linguagem, níveis de
linguagem, variação linguística e outros tornam-se, então,
muito parecidos e confusos. No podcast, falamos sobre
estes e demais tópicos da unidade de uma forma mais sim-
ples. Aperte o play!

Não há, propriamente, um argumento jurídico como conceito em si. Pois, como
elemento de linguagem que visa à persuasão, quaisquer tipos de argumentos são
passíveis de serem mobilizados para argumentar no contexto jurídico. Existem,
porém, alguns argumentos criados e empregados com mais intensidade no
contexto judiciário.
Caso o(a) estudante se interesse em compreender ou pesquisar mais a respeito
desses conceitos, indicamos a obra Argumentação Jurídica: técnicas de persuasão
e lógica informal, de Rodríguez (2015), bem como o texto Lições de Argumen-
tação Jurídica: da teoria à prática, de Valverde, Fetzer e Tavares-Junior (2015).
Nestas obras, são listados os seguintes tipos de argumento: contrario sensu, ad
absurdum, uso da ridicularização, a coherentia, a fortiori, o córax, ad hominem,
pró-tese, de autoridade, de oposição, de analogia, de causa e efeito.

29
UNIDADE 1

EXPLORANDO IDEIAS

Vamos conhecer três tipos de argumentos jurídicos?


Argumento contrario sensu: de interpretação inversa. Usado para interpretar disposi-
tivos legais. Também é empregado quando doutrina e jurisprudência divergem. É neces-
sário avaliar, caso a caso, o seu uso.
Argumento ad absurdum: procura determinar que uma afirmação é falsa, ampliando o
seu sentido até que seja alcançado um resultado absurdo ou impossível. A impossibilida-
de do resultado anula o princípio.
Uso da ridicularização: explora o ridículo para anular o argumento. Este merece a reprova-
ção pois causa o humor, o riso. Podemos explorar o ridículo quando não quisermos contra-
por, diretamente, a outra parte ou alongar temas não tão relevantes. No discurso judiciário,
é sempre necessário avaliar a adequação ou não do discurso ridículo/humorístico.
Fonte: adaptado de Rodríguez (2015).

Qualquer que seja o tipo de texto, o nível de linguagem e o contexto comunica-


tivo, no contexto da linguagem jurídica, o futuro operador do Direito deve ser
capaz de fazer a comunicação funcionar. Dito de outra forma, usar os elementos
e argumentos linguísticos de modo a sustentar a sua tese e a efetivar a persuasão
de quem acessa o seu texto.
Saber as normas gramaticais, dominar o léxico, adequar-se a cada um dos
contextos comunicativos nos quais o profissional do ramo do Direito deverá
empregar a linguagem jurídica caracterizam a base da preocupação desta disci-
plina. Em um primeiro momento, foi necessário conceituar língua, linguagem,
discurso e estilo, para perceber que estes quatro elementos conceituais, visando
a estabelecer a comunicação, funcionam em conjunto.
Para operar com essa linguagem, também é necessário que o(a) estudante
domine o fato de os idiomas não serem imutáveis e de existir tanto variações
linguísticas quanto linguagens especializadas. Igualmente, pensamos nos níveis
da linguagem jurídica e na aplicação deles na argumentação jurídica.

NOVAS DESCOBERTAS

Para quem se interessa pela linguagem jurídica, fazer a leitura de ar-


tigos publicados por pares na plataforma Jusbrasil constitui um ex-
celente espaço de diálogo e inspiração a futuros textos do(a) atual
estudante em relação à sua prática profissional.

30
UNICESUMAR

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Manual de Linguagem Jurídica


Autora: Maria José Constantino Petri
Editora: Saraiva
Sinopse: a obra está dividida em 16 capítulos. Cada um deles abor-
da um elemento atinente às inter-relações entre a linguagem e o Direito. A
autora explica a diferença entre língua e linguagem, a linguagem jurídica em
si bem como os elementos mais gramaticais — sintaxe, regência verbal e
nominal e, até mesmo, pontuação —. Assim, como o próprio título da obra
apresenta, trata-se de um manual bastante completo e acessível para quem
deseja estudar a nossa disciplina com mais aprofundamento.
Comentário: a obra sugerida é bastante ampla e completa. É uma leitura
bem importante para quem busca destacar-se no mercado de trabalho, por
meio de uma linguagem cuidada, correta e adequada aos mais diversos con-
textos em que o operador do Direito é solicitado a empregar a linguagem
jurídica.

Considere a situação, a seguir: a cliente Maria (empregada doméstica, 56 anos,


Ensino Fundamental incompleto) chega ao seu escritório alegando que sofreu
calúnia, pois o irmão dela, Pedro, disse, no grupo da família no WhatsApp, que
Maria não paga as suas dívidas, que ela é, portanto, devedora.
Integram o grupo 23 pessoas da família de Maria: duas irmãs, dois cunhados,
diversos sobrinhos, além do esposo dela, os seus filhos, a esposa de Pedro e os
filhos deles. A afirmação de Pedro foi comentada pela esposa dele, Cleide, a qual
afirmou que Maria comprou a carne para o churrasco de Dia dos Pais na casa de
carnes de uma conhecida e nunca mais pagou.
Agora, redija um texto explicando para Maria que o episódio relatado pode
ser tipificado como difamação (ofender a honra: Art. 139 do Código Penal) e
não como calúnia (imputar falsamente crime: Art. 138 do Código Penal).
Lembre-se de usar uma variante linguística adequada para que a cliente com-
preenda, de modo satisfatório, a situação. Além disso, lembre-se de usar um tom
de discurso profissional e educado, adequado ao relacionamento advogado-clien-
te, pensando em conseguir a causa, mesmo não usando a alegação, inicialmente,
desejada por Maria. O seu texto deve ter, no máximo, dez linhas.

31
1. Considere a afirmação a seguir: “A língua padrão, por exemplo, embora seja uma
entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua
como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade” (CUNHA;
CINTRA, 2013, p. 4). A seguir, faça uma análise dos modos segundo os quais a
coerção para o emprego da linguagem padrão funciona na área do Direito.

2. Considerando um contexto de uso da linguagem no qual você é o(a) advogado(a) que


deve comunicar a decisão, a seguir, ao seu cliente, produza um texto que empregue
uma variante de Língua Portuguesa adequada à situação comunicativa em questão:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EXIBIÇÃO DE


ENDEREÇO DE IP DA MÁQUINA E DADOS DE E-MAIL. MARCO CIVIL DA INTERNET.
LEI Nº 12.965/2014. I. Nas razões recursais o agravante limita-se a afirmar, generi-
camente, a impossibilidade de prestar as informações porque nenhuma conexão
à internet foi realizada no Brasil, nem qualquer rede de comunicação brasileira foi
utilizada para a postagem do conteúdo reputado como infringente. Porém não traz
qualquer elemento para comprovar suas alegações, sequer indicando de qual país
foi feita a inserção do comentário no site do You Tube. Manutenção da decisão no
tocante à identificação do endereço de IP (protocolo de internet) de onde se originou
o comentário ofensivo. II. Ausência de dever legal de o demandado exibir os dados de
e-mail da pessoa que fez o comentário, pois a Lei 12.965/14 não impõe este registro
no caso concreto. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO EM PARTE”.

Fonte: TJ-RS. Agravo de Instrumento nº 70073908113, Décima Primeira Câmara Cível,


Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil, Julgado em
13/09/2017. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/500017263/
agravo-de-instrumento-ai-70073908113-rs?ref=serp. Acesso em: 21 jun. 2022.

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3. De acordo com Cunha e Cintra (2013, p. 2), “a linguagem não pode existir, manifes-
tar-se e desenvolver-se a não ser pelo aprendizado e pela utilização de uma língua
qualquer”. Nesse sentido, a partir dos conteúdos desenvolvidos em aula, com base
em Cunha e Cintra (2013), assinale a alternativa que apresenta, corretamente, os três
tipos de variação linguística da Língua Portuguesa:

a) Histórica, diafásica e diatópica.


b) Diatópica, diassistema, diáspora.
c) Diatópica, diafásica e diastrática.
d) Diastrática, diásfórica e diáspora.
e) Diassistema, diáfora e anáfora.

4. Considerando que “é, pois, recente a concepção de língua como instrumento de


comunicação social, maleável e diversificado em todos os seus aspectos, meios de
expressão de indivíduos que vivem em sociedades também diversificadas social,
cultural e geograficamente” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 3) bem como as discussões a
respeito da variação linguística realizadas nesta unidade, desenvolva uma argu-
mentação a respeito da relevância de o operador do Direito trabalhar, de forma
adequada, com as diversas variantes da Língua Portuguesa.

5. A linguagem jurídica varia e apresenta uma pluralidade de funções e variações es-


pecíficas. Conforme a análise de Petri (2009), assinale a alternativa que apresenta a
classificação da autora sobre os níveis da linguagem jurídica:

a) Diatópica, diafásica e diastrática.


b) Linguagem de grupo, técnica e tradicional.
c) Nível familiar, cuidado, oratório e retórico.
d) Linguagem legislativa, judiciária, convencional, doutrinária e cartorária.
e) Texto dissertativo, narrativo e descritivo.

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2
Gramática
Drª Daniela Polla

Olá, estudante! Nesta unidade, trabalharemos as normas gramaticais,


as quais regulamentam o uso do nosso idioma. Em especial, no âm-
bito jurídico, cuja maior parte das situações comunicativas requerem
a variante formal ou padrão da Língua Portuguesa, é importante que
o(a) estudante saiba empregar o uso, gramaticalmente, adequado nas
mais diversas situações comunicativas em que ele(a) precisará desem-
penhar, profissionalmente, as suas funções. Vamos lá?
UNIDADE 2

Você sabia que a maior parte dos candidatos eliminados em seleções para em-
prego perdem as vagas por erros de português? Você já imaginou que os erros
de gramática causam vários constrangimentos ao operador do Direito que não
domina as regras do português vernáculo? Você acredita que domina o nosso
idioma o suficiente para operar com ele na argumentar no cotidiano da profissão?
Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, os profissionais
precisam encontrar meios para se destacar, desse modo, o bom conhecimento
das regras do nosso idioma pode ser o “trunfo” que o(a) estudante precisa para
conseguir uma boa vaga.
Um estudo da Catho (2021, on-line), uma conhecida agência de recrutamento
virtual, revelou que a maior parte dos eliminados em seleções de empregos per-
deram as oportunidades por problemas no uso da Língua Portuguesa.
Além disso, dominar o idioma evita alguns constrangimentos para os ope-
radores do Direito, como o caso de uma desembargadora do Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro, a qual criticou, duramente, o texto de um recurso que recebeu,
pois, o texto continha vários erros de ortografia.
Uma das melhores técnicas para aprender a escrever melhor é exercitando
muito a leitura. Isso se deve ao fato de que, quando lemos textos de autores que
escrevem bem, nos divertimos e, ao mesmo tempo, ampliamos o nosso conhe-
cimento em relação a novas palavras e formas de construir as nossas frases, pa-
rágrafos e textos.
Ao longo de um curso de graduação, o(a) estudante sobrecarrega-se com
leituras obrigatórias das disciplinas e, muitas vezes, não sobra tempo para leituras
diversas sobre as quais ele(a) tem interesse.
Nesse contexto, elabore uma lista de cinco obras literárias para você ler, com
o objetivo de ampliar tanto o seu vocabulário quanto o seu repertório para a
construção de textos.
O(A) estudante verá que, quando fazemos a leitura de uma obra nova, per-
cebemos diversas palavras desconhecidas ou empregadas em um novo contexto,
gradualmente, começamos a nos familiarizar com os padrões normais de cons-
trução de frases do nosso idioma e, também, a observar padrões argumentativos,
entre outros fatores.
Muitas destas ações não são sequer percebidas, conscientemente, porém o
nosso cérebro absorve essas novas informações, então, a partir desse momento,
ele aprende pelo processo de repetição e, até mesmo, de memória visual.

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UNIDADE 2

Ao realizar a leitura das obras que você listou em nosso “Mão na Massa”,
lembre-se de anotar, no Diário de Bordo, as palavras desconhecidas encontradas
e os seus significados.

O operador da linguagem jurídica tem a obrigação legal de empregar, de acordo


com todas as normas de uso vigentes, o português. Isso aparece na nossa Consti-
tuição, no Art. 13 (BRASIL, 1988, on-line): ele determina que a Língua Portuguesa
é o idioma oficial do nosso país. Além disso, o Código de Processo Civil (CPC),
no Art. 192 (BRASIL, 2015, on-line), expressa que, em todo o processo, é obri-
gatório o emprego desse idioma. Esta norma é complementada com a seguinte
previsão, no Art. 321 do CPC (BRASIL, 2015, on-line): os juízes podem devolver
a petição inicial, caso ela contenha defeitos e irregularidades que prejudiquem o
julgamento do mérito. Sendo assim, é imprescindível aos juristas conhecerem e
empregarem, adequadamente, a Língua Portuguesa.
Como o(a) estudante deve lembrar, o que caracteriza um idioma é, precisa-
mente, o fato de ele seguir uma gramática. De modo conceitual, a Gramática pode
ser entendida como a ciência a qual estuda o sistema de normas de uma língua
(CUNHA; CINTRA, 2013). Assim, se a Constituição e o CPC determinam que
o idioma dos textos jurídicos é a Língua Portuguesa, isso significa que todas as
peças devem ser escritas conforme o padrão da gramática do nosso idioma. São
essas normas aprendidas e empregadas pelo conjunto dos falantes da língua que

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UNIDADE 2

permite a realização da comunicação aconteça, ou seja, que todos falem o mesmo


idioma. Assim, entra em cena a noção de correção gramatical.
Sendo a Gramática, essa preocupação com a norma culta de uma língua “deve
fundar-se num claro conceito de norma e de correção idiomática” (CUNHA;
CINTRA, 2013, p. 5). O tema sobre a noção de correção idiomática causa debate
entre os especialistas, pois, a partir da Sociolinguística, tanto percebemos quanto
consideramos diversos níveis dentro do mesmo idioma. Nesse contexto, como
afirmar o que é correto e incorreto?
O linguista sueco Adolf Noreen (apud CUNHA; CINTRA, 2013) define três
critérios principais à ideia de correção. São eles: critério histórico-literário, critério
natural e critério racional. No primeiro caso, a definição do que é correto esteia-se
em critérios tradicionais e clássicos, a partir dos escritores de uma época passada;
assim, o horizonte de padrão idiomático seria o nível de língua encontrado na
Literatura. Com relação ao critério natural, não haveria como definir o que é
correto e incorreto, pois acredita-se que a linguagem se desenvolve melhor em
modo livre, sem as barreiras das normas. Por fim, o critério racional afirma que
o correto estaria na forma mais fácil para quem fala e para quem ouve.
Se existem, contudo, vários níveis de idioma, e a própria noção de correto é
questionada por vários autores, por que nós corrigimos a forma de uma pessoa
falar? (CUNHA; CINTRA, 2013). O estudante deve se lembrar (ou realizar uma
busca rápida na internet) de um ministro federal que, certa feita, falou a pala-
vra “advogado” inserindo, na pronúncia, a vogal “e” entre o “d” e o “v”, resultando
em algo como “adevogado”. Esta enunciação incomum causou julgamentos em
comentários da rede mundial de computadores. Tais comentários criticaram a
pronúncia do ministro como inadequada à posição dele.

PENSANDO JUNTOS

A pronúncia de consoantes mudas no português é uma dificuldade para todos os falantes.


Em geral, na fala, inserimos uma vogal entre as consoantes e falamos algo como “adivo-
gado”. Contudo, na sociedade, ocorre, normalmente, a pronúncia com o “i”, enquanto a
pronúncia com o “e” (“adevogado”) é considerada um nível mais familiar de linguagem.
Por que isso ocorre? Porque a língua falada e a língua escrita são variantes diferentes do
nosso idioma.

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UNIDADE 2

Permanece, assim, a ideia de corrigir a fala de outra pessoa. O princípio que orien-
ta esta correção do falante é a norma, é o padrão de língua que aceitamos da socie-
dade, do país, da comunidade na qual estamos. Dito de outro modo: procuramos
fazer a língua funcionar para estabelecer a comunicação, ou seja, fazer aquele que
fala e aquele que recebe a mensagem compreenderem-se, mutuamente. Para isso,
é necessário um código em comum, o qual é atingido quando estabelecemos
regras padronizadas a todos os falantes (CUNHA; CINTRA, 2013).
O(A) estudante de Linguagem Jurídica, em especial, deve concordar que todas
as nossas ações sociais são definidas de acordo com as normas. Posso dizer qualquer
coisa que quiser? Não, os crimes de honra, por exemplo, limitam a nossa liberdade
de expressão. Posso entrar em qualquer ambiente que quiser? Não, existem luga-
res com entrada restrita. Posso estacionar o meu carro onde bem entender? Não,
existem locais onde é proibido estacionar. Estas são algumas das inúmeras ações
permitidas ou proibidas em razão de normas, as quais devo seguir se desejo ser
considerada uma pessoa correta. Com o uso do idioma, não seria diferente.
Um autor denominado Jespersen (apud CUNHA; CINTRA, 2013) define
que aquilo considerado, linguisticamente, correto depende do que é demandado
pela nossa comunidade linguística como certo. O que for diferente desse padrão
exigido pelo conjunto dos falantes seria o incorreto. Assim, o “falar errado” seria
os desvios dessa norma da nossa comunidade linguística. Teríamos, desse modo,
o conceito das normas linguísticas.
Várias pesquisas abordam essa questão, para definir o que é correto ou não, a
partir do ponto de vista dos idiomas. Como estudamos, anteriormente, porém, o
idioma pode variar em uma mesma comunidade, tal como o português muda em
Portugal, no Brasil e, até mesmo, em regiões diferentes do nosso país. Na atualidade,
sete nações soberanas adotam a Língua Portuguesa, certamente todas com indiví-
duos interessados em enriquecer o acervo das formas de empregar o idioma. Desse
modo, “por cima de todos os critérios de correção - aplicáveis nuns casos, inapli-
cáveis noutros - paira o da aceitabilidade social” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 8).
Assim, o que determinar ser aceitável ou não em cada situação de comunica-
ção na qual o falante usará o idioma? A fim de esclarecer esta definição, os estu-
diosos da língua tentam estabelecer formas de mapear as variedades do idioma
falado e escrito. Somente a partir de minuciosas descrições das variantes da língua
em cada área é que será possível afirmar quais normas são de uso obrigatório, fa-
cultativo, tolerável, grosseiro, ou mesmo, inadmissível (CUNHA; CINTRA, 2013).

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UNIDADE 2

Considerando, então, os vários níveis da linguagem geral bem como os vários


níveis da linguagem jurídica, levamos em conta a seguinte máxima: é preciso
que o texto jurídico seja claro. Isso porque todos devem conhecer a lei. Dessa
forma, se todos são iguais perante a lei, a linguagem usada para comunicar o
Direito deve ser acessível a todos. Portanto, “a máxima jurídica tem um corolário
linguístico: o dever de ser claro” (PETRI, 2009, p. 36).
Com o intuito de efetivar a comunicação jurídica, devem ser considerados
os emissores e destinatários das mensagens, afinal, elas podem ir de uma pessoa
com formação jurídica para outra pessoa, igualmente, iniciada nessa linguagem
especializada ou de um iniciado para outra pessoa leiga. Em ambos os cenários, a
linguagem necessita ser clara, a fim de realizar a compreensão. Portanto, trata-se
da pluralidade na enunciação da linguagem do Direito.
Uma das formas de garantir uma mensagem clara é padronizar o código
destinado a formar as nossas frases, parágrafos e textos. São as regras comuns
listadas nos compêndios gramaticais que nos auxiliam a ter mais controle sobre a
efetividade das mensagens as quais transmitimos. Além disso, o uso do português
na norma culta padrão — aquela que é correta do ponto de vista das normas gra-
maticais, usada, principalmente, na modalidade escrita e nos documentos oficiais
— é uma das principais exigências nos textos orais e escritos dos operadores do
Direito (PETRI, 2009).
Muitas vezes, com a digitalização cada vez mais presente na nossa sociedade,
as pessoas acreditam que ficam dispensadas do constante refinamento do uso
que são capazes de fazer do idioma, especialmente, nos contextos profissionais.
Jogam, assim, a responsabilidade de revisão gramatical para os corretores ortográ-
ficos dos editores digitais de texto. Contudo, em diversas situações profissionais,
os operadores do Direito são demandados a manuscrever os seus textos, como
em concursos e provas, momentos em não poderão contar com o computador
corrigindo a gramática.
Devemos, então, passar pelas principais normas gramaticais, para que o(a)
estudante possa empregar, com mais desenvoltura, a nossa língua.

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UNIDADE 2

A Ordem Direta

A parte da gramática que se preocupa com as regras de colocação dos termos nas
frases, orações e períodos é a sintaxe, ela estuda esses padrões de estruturação das
frases em vigor na Língua Portuguesa. Essas regras são motivadas pelas relações
que os termos exercem entre si, na oração e nos textos (PETRI, 2009).
Inicialmente, cabe uma definição do que são frases, orações e períodos. En-
tenderemos frase como “todo enunciado suficiente por si mesmo para estabelecer
comunicação” (GARCIA, 2014, p. 32). Já a oração, “às vezes é sinônimo de frase ou
de período (simples) quando encerra um pensamento completo” (GARCIA, 2014,
p. 32) e aparece limitada por algum sinal de pontuação. Quando um enunciado
contém mais de uma oração, temos um período composto (GARCIA, 2014).
No português do Brasil, a estruturação predominante das frases é a ordem
direta. Nesta organização, os termos da oração aparecem, preferencialmente, na
seguinte ordem: sujeito + verbo + complemento (CUNHA; CINTRA, 2013).
Assim, é relevante que façamos uma definição de cada um destes elementos que
compõem as nossas orações.
O sujeito, o verbo e o complemento são os elementos essenciais da oração,
ou seja, ela não existe sem eles. O sujeito é a parte da oração “que indica o ser de
quem se diz alguma coisa” (PETRI, 2009, p. 151). O sujeito é, portanto, o tópico
sobre o qual falamos na nossa frase. Já o verbo e o complemento integram o que
a autora Petri (2009, p. 152) designa como o predicado: “é aquilo que se diz do
sujeito”. Este comentário sobre o sujeito pode ser nominal (quando a principal
parte não é o verbo) ou verbal, quando a principal parte do complemento é o
verbo. No predicado verbal, o seu núcleo “é um verbo que indica uma ação que
o sujeito pratica ou sofre” (PETRI, 2009, p. 152, grifo nosso).
Apesar de a ordem direta de construção das frases (sujeito + verbo + com-
plemento) ser a mais comum, algumas inversões dessa ordem são possíveis e, até
mesmo, conferem certo elemento estilístico aos textos. No entanto a principal
vantagem de empregarmos a ordem direta diz respeito à produção de textos
claros. Existe, então, certa liberdade para que o falante construa as frases, mas
como o(a) estudante da área jurídica deve saber, a nossa liberdade não é absoluta.
Desse modo, a nossa liberdade para construir frases é condicionada pelas
regras da sintaxe e, também, por um princípio muito relevante, em especial,
para a linguagem jurídica: a inteligibilidade. Uma frase tem, como caracterís-

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UNIDADE 2

tica, a inteligibilidade, isto é, a produção de sentido para quem ouve. Quando


não seguimos as regras gramaticais, as nossas construções perdem em grama-
ticalidade e ficam ininteligíveis, tornando-se um simples conjunto de palavras
e não uma frase (GARCIA, 2014).
Para que o(a) estudante compreenda melhor, tentaremos ilustrar. As seguintes
palavras: “estudo o da muito Linguagem é Jurídica importante”. Este agrupamen-
to de termos é ininteligível, não produz sentido nenhum, pois não se adequa às
normas gramaticais de construção frasal. Contudo, se reorganizarmos os termos
para o padrão da ordem direta, com sujeito, verbo e, depois, complemento, o mes-
mo grupo de palavras é, facilmente, inteligível: “o estudo da linguagem jurídica
é muito importante”.

EXPLORANDO IDEIAS

Estudante, cuidado para não confundir os termos:


Inteligível: enunciado que segue as normas gramaticais e produz, facilmente, sentido.
Ininteligível: enunciado que não possui gramaticalidade, portanto, não produz sentido.
Caracteriza um simples conjunto de palavras e não uma frase.

Assim, há certos limites gramaticais que devemos considerar se quisermos produ-


zir textos claros e inteligíveis. Um deles é a construção das frases segundo a ordem
direta, além disso, devemos lembrar que o contrário é verdadeiro, podemos ter
uma frase correta do ponto de vista gramatical, mas, abruptamente, ininteligível.
Como a famosa frase empregada por Noam Chomsky (apud GARCIA, 2014,
p. 34) para ilustrar estes casos: “Incolores ideias verdes dormem furiosamente”.
Este conjunto de palavras que segue, corretamente, as normas da sintaxe, não
tem sentido do ponto de vista denotativo (sentido literal, racional, aquele dos
dicionários), apenas do ponto de vista metafórico (figurativo, quando as palavras
ganham novos sentidos). Isso porque uma ideia não consegue ser incolor e verde
ao mesmo tempo, nem sabemos se ideia tem cor; dormir é uma ação atribuída a
seres animados, da mesma forma que ficar furioso; além disso, é possível dormir
e ficar furioso, simultaneamente?
Dessa forma, precisamos garantir que as nossas frases estejam, gramatical-
mente, corretas e sejam inteligíveis. Isso ocorre, em especial, nos textos do âmbito

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UNIDADE 2

jurídico, os quais, muitas vezes, são lidos pelo receptor quando o emissor da men-
sagem não está presente para, eventualmente, explicar algum ponto de dúvida.
Com o intuito de tornar o futuro usuário da linguagem jurídica apto a pro-
duzir textos que sejam compreendidos, com clareza, pelo receptor da mensagem,
abordaremos, a seguir, alguns elementos adicionais necessários à garantia de
inteligibilidade de frases e textos.

Garantindo a inteligibilidade

Os textos que circulam nos ambientes jurídicos necessitam, muitas vezes, de clareza,
pois o emissor, em geral, possui o objetivo de levar o receptor a concordar com as
suas teses e/ou a compreender, exatamente, a mensagem que dado texto pretende
passar. Assim, além da gramática, alguns outros elementos ajudam a garantir a in-
teligibilidade bem como auxiliam o operador da área jurídica a produzir sentido
em seus textos. Então, caro(a) estudante, atente-se aos elementos, a seguir:
■ Eliminar informações duplicadas: algumas vezes, na ânsia de produzir
textos mais longos, o(a) estudante lança mão do conhecido “encher lin-
guiça”’. Isso não deve ser feito, assim, as informações repetidas ou muito
semelhantes devem ser eliminadas. Além disso, Garcia (2014) alerta para
o cuidado com as ambiguidades produzidas pela forma como redigimos
as nossas frases. O autor usa o seguinte exemplo: “O ciúme da mulher
levou-o ao suicídio” (GARCIA, 2014, p. 35). Nessa frase, sem consultar o
autor, é impossível saber ao certo quem tinha ciúme de quem. A mulher
era tão ciumenta que levou o marido ao suicídio ou o marido tinha tanto
ciúme da mulher que não suportou a própria sensação e cometeu suicí-
dio? De modo semelhante, quando eu digo: “Vi os anúncios dos livros
dos autores X e Y, dos quais não gostei”. De que ou quem eu não gostei?
Dos anúncios, dos livros ou dos autores? Sem solicitar ao autor a refor-
mulação da frase, a ambiguidade está instaurada. Isso é, especialmente,
problemático do ponto de vista da linguagem jurídica, pois os nossos
leitores, muitas vezes, apenas quando estão longe da nossa presença têm
acesso aos nossos textos. Assim, quanto mais clara, menos ambígua e mais
direta for a nossa redação, tanto melhor.

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UNIDADE 2

■ Excluir tautologias que anulem o sentido: o termo “tautologia” é um


sinônimo de redundância. Em uma linguagem mais comum, seria, sim-
plesmente, usar palavras diferentes para dizer a mesma coisa. Na tautolo-
gia, também costuma ocorrer uma repetição do ponto de vista do atributo
que repete o sujeito, por exemplo,“o açúcar é doce”. Então, retomando o(a)
estudante que, algumas vezes, deseja, simplesmente, cumprir as linhas mí-
nimas da atividade e deseja “enrolar”, ocorrem frases como: “Fulano mor-
reu pobre porque não deixou nenhum vintém” (GARCIA, 2014, p. 35).
Aqui, há uma tautologia e não há comunicação de fato novo na segunda
oração, ela é, apenas, uma repetição da primeira. Pois, uma pessoa ser
pobre e uma pessoa não ter nenhum vintém significam, basicamente, a
mesma coisa, portanto, uma repetição que torna a frase desnecessária.
■ Apague qualquer incongruência: uma incongruência é algo que está
inadequado ao contexto. Ela pode se manifestar na forma de incompati-
bilidades, por exemplo, incoerências, impertinências, entre outros. Assim,
devemos retirar de nossos textos:

1. Contradições lógicas literais: por exemplo,“o sal é doce”, ou “o sol é frio”. Se consi-
deradas ao pé da letra, essas afirmações são opostas, portanto, contraditórias, uma
vez que a lógica nos garante que o sal é salgado e o sol é quente. Admitem-se, po-
rém, sentidos metafóricos ou subentendidos possíveis. Neste caso, uma contradição
lógica literal, como a frase “os quadrúpedes são bípedes” (GARCIA, 2014, p. 35), é
capaz de produzir sentido, à medida que for reformulada para “os quadrúpedes,
isto é, as pessoas estúpidas, são bípedes” (GARCIA, 2014, p. 35). Cabe, desse modo,
ao redator da linguagem jurídica ser capaz de redigir os seus textos retirando esse
tipo de incongruências que prejudicam a inteligibilidade dos conteúdos.
2. Cuidado com impropriedades ou falta de partículas de transição entre
as frases: muitas vezes, quando escrevemos, o uso incorreto dos elementos de
ligação entre uma frase e outra dificulta a compreensão dos materiais e tornam
o texto incongruente. Vejamos, como exemplo, a frase ilustrativa deste equívoco
citada por Garcia (2014, p. 36): “A paz mundial tem estado constantemente amea-
çada, posto que a humanidade se vê dividida por ideologias antagônicas”. “Posto
que” tem sentido de oposição ideológica, algo como um “apesar de que” ou “em-
bora”. Na frase de Garcia (2014), para que esta expressão se tornasse congruente,
seria adequado o emprego de “porque” ou algo semelhante. Ao redigirmos, muitas

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UNIDADE 2

vezes, a fim de evitarmos repetições, colocamos conectores diferentes, a fim de


não tornar o texto cansativo, contudo é necessário que o redator revise o material
produzido para verificar se a substituição é, realmente, um sinônimo, evitando a
ocorrência desse tipo de incongruência em sua escrita.
3. Evite omitir ideias que façam a transição lógica entre as frases: do mesmo
modo que existe a prática do popular “encher linguiça”, num contexto no qual, cada
vez mais, o tempo dos diversos profissionais é escasso, preconizam-se textos mais
diretos e menos prolixos. No afã de redigir textos mais curtos, muitas vezes, com
limitação de linhas ou palavras, o redator decide cortar elementos fundamentais
para ocorrer a passagem lógica de uma informação à outra. Certamente, algumas
elipses são relevantes, evitando que a redação fique, excessivamente, longa, mas
alguns elementos são fundamentais para a construção de sentido e não devem
ser retirados. Desse modo, a omissão de certos elementos de sentido, de algumas
etapas do raciocínio lógico ou argumentativo pode acarretar falsas relações e/ou
dissociações bem como desconexões nos textos. Garcia (2014, p. 36) apresenta o
seguinte exemplo: “O progresso tecnológico apresenta também seu lado negativo:
a incidência de doenças das vias respiratórias torna-se cada vez maior em cidades
como Tóquio, Nova York e São Paulo”. Em um primeiro olhar, o progresso tecno-
lógico de grandes cidades nada tem a ver com doenças respiratórias.
O que gera a dificuldade de completar o raciocínio lógico, nessa frase, é a
omissão da ideia de que, com o progresso tecnológico, aumenta a presença, nas
grandes cidades, de indústrias, veículos, incineradores, entre outros, então, como
consequência disso, a emissão de gases as quais poluem o meio ambiente e levam
à prevalência de doenças respiratórias na população. Desse modo, escrever textos
mais claros e diretos valoriza o tempo do nosso leitor. O autor, contudo, deve fazer
uma revisão sempre atenta, visando a observar se não foram retirados elementos
de transição lógica fundamentais à construção do sentido da argumentação de-
fendida em cada peça e/ou texto produzido pelo operador do Direito.
4. Evite inverter a ordenação lógica das ideias: aquela estrutura clássica e
tradicional de introdução, desenvolvimento e conclusão, a qual decoramos ao
longo das nossas trajetórias escolares, costuma funcionar bem para a maior parte
das frases e textos. Qualquer que seja o tipo textual, pensar o começo, o meio e o
fim da argumentação é fundamental e nos ajuda a direcionar o nosso leitor rumo
à compreensão, de modo adequado, das nossas mensagens. Vejamos o exemplo
citado por Garcia (2014, p. 37): “Apesar dos conflitos ideológicos, raciais e reli-

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UNIDADE 2

giosos que marcam inconfundivelmente as relações entre os indivíduos nos dias


de hoje, é extraordinário o progresso alcançado pelos meios de comunicação”.
Ao inverter a ordem lógica das informações, o redator causa certa dificuldade
para o leitor interpretar esse enunciado, o qual se torna muito mais congruente e
compreensível quando as informações aparecem na ordem coerente: “Apesar do
progresso extraordinário dos meios de comunicação, as relações dos indivíduos
ainda se caracterizam por conflitos ideológicos, raciais e religiosos”.
Portanto, estudante de linguagem jurídica, ao escrever, lembre-se de seguir a
ordem direta de elementos na composição das frases, além de verificar se realizou
a ordenação lógica comum das ideias, com começo, meio e fim.
■ Redigir conforme o contexto geral de dada cultura: muitas vezes, as
nossas frases estão, absolutamente, corretas do ponto de vista gramati-
cal, porém são falsas ou absurdas do ponto de vista do conhecimento e
da cultura do nosso momento histórico, do nosso contexto geográfico
etc. Assim, frases como “a Terra é cúbica” ou “os répteis são mamíferos”
(GARCIA, 2014, p. 37) não condizem com o conhecimento que a nossa
sociedade, atualmente, possui. Nesse contexto, cabe ao(à) estudante da
linguagem jurídica investir na constituição de uma bagagem de conheci-
mentos gerais, ampliando o seu repertório de informações para além da
parte técnica profissional, de modo que este(a) profissional soe, em quais-
quer de suas comunicações, coerente com a cultura geral da atualidade.
■ Construir frases que tenham probabilidade lógica: exceto quando o
operador do Direito, deliberadamente, emprega a linguagem jurídica para
construir sentidos conotativos, figurados, e queira explorar as figuras de
linguagem em sua argumentação, os textos devem acionar argumentos
que sejam, ao menos, prováveis. Garcia (2014, p. 37) emprega o seguinte
exemplo: “A águia conhece a mecânica dos corpos”. É muito mais provável
que a referida ave, ao caçar a sua presa, aja por instinto do que o faça por
meio do estudo e, de fato, conheça o funcionamento dos corpos, para ser
capaz de capturar, com agilidade, o seu alimento. De modo semelhante,
ao empregar a linguagem jurídica, devemos acionar argumentos condi-
zentes com a probabilidade lógica e científica do momento atual. Assim,
o usuário dessa linguagem precisa manter-se, sempre, atualizado e bem
informado sobre os mais diversos tipos de conhecimento.

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UNIDADE 2

■ Estruturar a frase de modo a não exigir do leitor a reorganização de


elementos: o(a) estudante desta disciplina já deve ter se deparado com
alguns autores, muitas vezes, de textos acadêmicos, que redigem de modo
tão entroncado e complexo que, como dizem os memes da internet, nos
sentimos como se nunca tivéssemos sido alfabetizados. Esta confusão de
sentido, gerada por organizações estranhas das frases, pode ser explorada,
estrategicamente, pelos operadores da linguagem jurídica, em alguns mo-
mentos específicos. Entretanto, na grande maioria das nossas comunica-
ções, necessitamos que as mensagens sejam transmitidas da melhor forma
possível, o mais rápido possível e compreendidas pelo receptor do modo
como esperamos, quando estamos no momento da formulação textual.
Garcia (2014, p. 37) cita um exemplo de frase da área do Direito que ilus-
tra bem essa confusão de elementos que exige do leitor certo esforço em
reordenar os elementos, a fim de descobrir qual é a mensagem: “Creio que
já lhe disse que a ação de despejo que o advogado que o proprietário do
apartamento que eu desconheço mandou me procurar me disse que me vai
mover é uma causa perdida”. Com bastante esforço, seria possível desemba-
ralhar essa frase e produzir-lhe algum sentido. Porém, quando o operador
do discurso jurídico passa esta responsabilidade para o seu leitor, também
transfere a ele a liberdade de se esforçar ou não, então, esse leitor tem a al-
ternativa de desistir da leitura, simplesmente. Portanto, no contexto amplo,
quanto mais diretos e claros forem os textos da linguagem jurídica, melhor.

Os elementos estudados são importantíssimos, pois, por meio deles, os nossos


textos adquirem a característica da inteligibilidade, ou seja, se tornam mais com-
preensíveis aos leitores. Preocupar-nos com esses elementos é fundamental no
momento da escrita e da revisão das peças que produzimos no nosso cotidiano
profissional, contudo, jamais devemos nos esquecer do básico: a concordância
entre eles. Estudaremos esta especificidade das regras gramaticais, a seguir.

47
UNIDADE 2

Concordância Nominal e Concordância Verbal

O(A) estudante deve estar se perguntando: qual a razão para estudarmos, no-
vamente, essas regras que aprendemos na escola? O motivo é simples: revisar
nunca é demais. Isso porque as regras gerais são usuais e fáceis de lembrar, afinal,
as empregamos corriqueiramente. Porém o profissional que emprega a lingua-
gem jurídica não consegue desempenhar, de modo excelente, as suas funções, a
menos que domine a norma padrão culta da Língua Portuguesa. Dessa forma, é
necessário saber as normas básicas, mas também o detalhe, a exceção, para que
um dos destaques em sua trajetória profissional seja o bom uso do idioma.
Usamos a língua com o objetivo de estabelecer comunicação. Para que as
nossas mensagens sejam recebidas e interpretadas de modo adequado pelos nos-
sos leitores, é necessário construir harmonia no emprego da Língua Portuguesa,
assim, as concordâncias nominal e verbal auxiliam nesta tarefa. Empregar uma
concordância, gramaticalmente, adequada significa aprimorar tanto a lógica
quanto a precisão dos nossos textos e, ao mesmo tempo, organizamos melhor a
nossa comunicação, visando a “imprimir harmonia e precisão na comunicação,
estabelecendo pontos comuns entre as palavras” (SABBAG, 2013, p. 376).
Os dois tipos principais de concordância, portanto, são a nominal e a verbal.
Sendo a concordância nominal aquela “por meio da qual adjetivos ou palavras
adjetivas (artigo, numeral, pronome) alteram sua terminação em gênero e núme-
ro para estabelecer concordância com o substantivo a que se referem” (SABBAG,
2013, p. 376). Por sua vez, a concordância verbal diz respeito ao modo “segundo
o qual o verbo modifica sua terminação (desinência número-pessoal) para con-
cordar, geralmente, com o sujeito da oração” (SABBAG, 2013, p. 376).

Concordância Nominal

Na concordância nominal, o mais comum é que o adjetivo concorda com o


substantivo a que se refere, variando em gênero e número. Sendo o gênero
gramatical a mudança em masculino e feminino; enquanto o número se refere
à alternância entre singular e plural (CUNHA; CINTRA, 2013). Assim, “é por
essa correspondência que os dois termos [adjetivo e substantivo] se acham
inequivocamente relacionados, mesmo quando distantes um do outro na frase”
(CUNHA; CINTRA, 2013, p. 284).

48
UNIDADE 2

Dessa forma, acerca da concordância nominal, podemos definir como “regra


geral: os modificadores (pronomes, adjetivos, artigos ou numerais) concordam
com o substantivo em gênero e número” (SABBAG, 2013, p. 376, grifos meus).
Por exemplo: o substantivo “grama” (unidade de medida) é masculino, mas, se
quisermos abordar o caso de um cidadão apreendido com uma quantidade de
700 gramas de uma substância entorpecente qualquer, faríamos a seguinte con-
cordância: Os-setecentos-gramas-de-substância-entorpecente. Temos, então, que
os termos “os” e “setecentos” são grafados no masculino plural, para concordar
em gênero e número com o substantivo “grama”.
Portanto, com relação ao adjetivo,“desde que se refira a um único substantivo,
com ele concorda em gênero e número” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 284, grifos
dos autores). Por isso, escrevemos: processo demorado (dois termos no masculino
singular), disciplina complicada (dois termos no feminino singular), processos
demorados (dois termos no masculino plural), disciplinas complicadas (dois
termos no feminino plural).
Se a nossa única preocupação fosse a regra geral, seria fácil. A questão da
concordância nominal se complexifica quando começamos a pensar nas regras
específicas, pois ocorrem casos em que o mesmo adjetivo vale para mais de um
substantivo. E aí? Escrevo “legislação e processo tranquilos” ou “legislação e pro-
cesso tranquilo”? Nesse ponto, o(a) estudante deve ter percebido que o tema da
concordância nominal fica bem mais complexo quando precisamos realizar a
concordância dos casos particulares.
Quando há mais de um substantivo e o adjetivo que você pretende usar vale
para os dois, uma série de regras específicas são determinadas pela Gramática.
Devemos considerar, principalmente, o gênero dos substantivos, a função do
adjetivo e se ele aparece antes ou depois dos substantivos na frase (CUNHA;
CINTRA, 2013). Diante disso, vejamos, a seguir, os principais casos específicos:
■ Quando o adjetivo aparece antes dos substantivos: a principal regra
é que “o adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo mais
próximo, ou seja, com o primeiro deles” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 285).
Dessa forma, redigiremos assim: “tranquilos processos e regulamentações”
ou “tranquilas regulamentações e processos”. O adjetivo, portanto, flexio-
na-se em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural)
para concordar com o substantivo mais perto dele na frase. Mas, se atente
a uma exceção: nos casos em que os substantivos são nomes próprios

49
UNIDADE 2

ou graus de parentesco, o adjetivo vai, sempre, para o plural (CUNHA;


CINTRA, 2013). Por exemplo: “Recebi, ontem, as preocupadas esposa e
cunhada do acusado”, ou “Os feitos dos célebres Aristóteles e Platão”.
■ Quando o adjetivo aparece depois dos substantivos: aqui, a concor-
dância do adjetivo depende do gênero e do número dos substantivos
aos quais ele se refere. Podem acontecer os seguintes casos (CUNHA;
CINTRA, 2013):
a) Os substantivos são do mesmo gênero e estão no singular: neste caso,
o adjetivo assume o gênero dos substantivos (que são iguais) e fica, nor-
malmente, no singular. Por exemplo: “O suspeito vestia um moletom e
um boné escuro”. Também é possível, ainda que mais raro, de o adjetivo
assumir o gênero dos substantivos e ir para o plural: “O suspeito vestia
um moletom e um boné escuros”.
b) Os substantivos são de gêneros diferentes e estão no singular: aqui, o mais
comum é o adjetivo concordar, apenas, com o substantivo mais próximo
dele na frase, por exemplo: “O suspeito vestia uma calça e um boné escuro”.
Também pode acontecer, ainda que mais raramente, de o adjetivo concor-
dar com os substantivos em seu conjunto, então, escrevemos no masculino
plural, como em: “O suspeito vestia uma calça e um boné escuros”.
c) Os substantivos da frase são do mesmo gênero e estão em números
diferentes (um no singular e outro no plural): o mais usual é o adjetivo
assumir o gênero e ir para o plural, por exemplo: “O suspeito foi apreen-
dido com atitudes e vestimenta suspeitas”. Também é possível, apesar de
menos comum, que o adjetivo concorde, somente, com o substantivo mais
próximo, então, a frase poderia ser redigida da seguinte forma: “O suspeito
foi apreendido com atitudes e vestimenta suspeita”.
d) Os substantivos são de gêneros diferentes e estão no plural: comumen-
te, o adjetivo mantém o plural e assume o gênero do substantivo mais
próximo dele na frase. Então, redigiremos da seguinte forma: “Estudo as
legislações e sistemas penais americanos” ou “Estudo os sistemas penais e
as legislações americanas”. Há a possibilidade de ocorrer a concordância
no masculino plural (que é forma gramatical utilizada para indeterminar
em gênero), porém essa concordância é menos comum, por exemplo:
“Estudo os sistemas penais e as legislações americanos” ou “Pesquiso os
estatutos e as comunicações jurídicos”.

50
UNIDADE 2

e) Os substantivos são de gêneros diferentes e números diferentes: a con-


cordância mais frequente é no masculino plural: “O suspeito portava joias
e celular roubados” ou “O suspeito portava celulares e joia roubados”. É
possível, porém mais raro, o adjetivo concordar, apenas, com o gênero e o
número do substantivo mais próximo, por exemplo: “O suspeito portava
joias e celular roubado”. Esta concordância rara é mais utilizada quando
o substantivo mais próximo do adjetivo está no feminino plural, como
ocorre em: “O suspeito portava celular e joias roubadas”.
f) Atenção: quando o adjetivo aparece depois dos substantivos e concor-
da, apenas, com aquele substantivo mais próximo dele na frase, muitas
vezes, pode parecer para o leitor que o adjetivo não vale, também, para
o primeiro substantivo. Como no exemplo: “O suspeito portava joias e
celular roubado”, soa para o leitor que só o celular era roubado, enquanto
as joias eram de propriedade legítima do suspeito, ou, pelo menos, gera-se
esta dúvida. Nestes casos, se a regra de concordância gerar confusão ou
dificuldade na produção de sentido esperada pelo redator que empre-
ga a linguagem jurídica, é recomendado repetir o adjetivo para os dois
substantivos, por exemplo: “O suspeito portava joias roubadas e celular
roubado”. Sempre que a repetição funcionar para garantir a clareza de seu
texto, ela deve ser empregada.
■ Quando o adjetivo é um predicativo de um sujeito múltiplo (mais
de um substantivo): estes casos dizem respeito a quando o adjetivo apa-
rece depois do verbo nas frases, obedecendo a sequência que estudamos
como ordem direta (sujeito + verbo + complemento). Aqui, a concordân-
cia segue as regras que estudamos. Porém é importante nos atentarmos
a alguns pontos:
1. Quando os substantivos são do mesmo gênero, o adjetivo assume o gê-
nero deles e vai para o plural, mesmo quando os substantivos estão no
singular, como na frase: “O documento e o registro estão prontos”.
2. Quando os substantivos são de gêneros diferentes, normalmente, emprega-
-se o masculino plural, como em: “O registro e a procuração estão prontos”.
3. Pode ocorrer de o verbo de ligação aparecer antes dos substantivos sujei-
tos (uma inversão da ordem direta). Neste caso, o adjetivo concorda com
o substantivo mais próximo dele, por exemplo: “Está pronta a procuração
e o documento”.

51
UNIDADE 2

Concordância Verbal

A concordância verbal é importante em vários sentidos. Em primeiro lugar, nos


ajuda a relacionar, em nossos textos, os verbos aos seus sujeitos. Além disso, tam-
bém evita que precisemos repetir várias vezes o mesmo sujeito, pois a flexão do
verbo já permite esta retomada. Portanto, na concordância verbal, o verbo flexio-
na-se em número (singular e plural) e em pessoa (primeira, segunda e terceira),
para concordar com o seu sujeito (CUNHA; CINTRA, 2013).
Nesse sentido, o verbo muda a sua terminação com o intuito de se conformar,
em geral, com o sujeito da oração. Dessa forma, entende-se como regra geral da
concordância verbal: “o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa” (SAB-
BAG, 2013, p. 386). Por exemplo: “Os suspeitos estavam em atitude suspeita” (Sujeito:
suspeitos [terceira pessoa do plural] = Verbo: estavam [terceira pessoa do plural]).
Acontece, às vezes, de o mesmo verbo referir-se a mais de um sujeito. Nesses
casos, com relação ao número, o verbo vai para o plural e, quanto à pessoa, pre-
cisamos aplicar a regra de prevalência dela. Conforme essa regra, sempre que um
dos sujeitos estiver em primeira pessoa, o verbo assumirá a primeira pessoa do
plural: “Tu e eu somos estudantes de linguagem jurídica”, “Ele e eu precisamos
escrever bem”. Sempre que não existir um sujeito de primeira pessoa e houver
um sujeito em segunda pessoa, esta é quem prevalece: “Tu e ele sois merecedores”
ou “Os suspeitos e tu seguireis para o depoimento”. Por fim, o verbo irá para a
terceira pessoa do plural sempre que não ocorrer nem sujeito de primeira pessoa,
nem de segunda pessoa, como acontece em: “O suspeito e o denunciante foram
enquadrados” (CUNHA; CINTRA, 2013).
Um lembrete importante ao(à) estudante da linguagem jurídica: o emprego
da segunda pessoa, tanto do singular quanto do plural, tem caído em desuso
na Língua Portuguesa. Assim, no Brasil e em Portugal, o vós (segunda pessoa
do plural) quase não tem sido empregado, e o uso do tu (segunda pessoa do
singular) tem sido substituído por você (terceira pessoa do singular) (CUNHA;
CINTRA, 2013).
De forma semelhante ao que acabamos de estudar sobre a concordância
nominal, na concordância verbal acontecem, também, casos particulares que
complexificam a regra geral. É importante que o operador da linguagem jurídica
conheça essas regras, pois é exigido o emprego do português culto nos documen-
tos bem como nos demais textos jurídicos. Abordaremos estas exceções, a seguir:

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UNIDADE 2

■ Quando o sujeito é um coletivo: a regra é que o verbo mantenha a terceira


pessoa do singular, como em: “O bando correu para a esquerda”. Porém, se
o coletivo estiver seguido de um termo no plural, o verbo pode manter o
singular ou ir para o plural: “o bando de bandidos correu para a esquerda”
ou “o bando de bandidos correram para a esquerda” (SABBAG, 2013).
■ Quando o sujeito é uma expressão partitiva (grosso de, parte de,
porção de, o resto de, metade de etc.) seguida de um substantivo ou
pronome no plural: a concordância é facultativa, ou seja, o verbo fica no
singular ou vai para o plural. Por exemplo, podemos escrever: “A maior
parte dos presos fugiu” ou “a maior parte dos presos fugiram”. Observe, es-
tudante, que, apesar de ambas as formulações estarem corretas, cada uma
delas destaca um elemento diferente da frase. Caso faça a concordância
no singular, o redator destaca a ideia de conjunto, de unidade; ao realizar
a concordância no plural, ficam destacadas as várias partes que compõem
esse todo (CUNHA; CINTRA, 2013).
■ Quando o sujeito é uma quantidade aproximada (cerca de, mais de,
menos de etc.) e um número no plural: na concordância verbal destes
casos, levamos o verbo, comumente, para o plural: “Cerca de 200 presos
fugiram”, “Mais de 30 documentos foram protocolados, hoje”. Observe,
estudante, que a expressão “menos de dois” exige o plural (“Menos de dois
cidadãos protocolaram requerimentos”), a construção “mais de um”, se
seguida de substantivo, deixa o verbo no singular (“Mais de um cidadão
compareceu ao cartório”) (CUNHA; CINTRA, 2013).
■ Quando o sujeito é o pronome relativo “que”: a regra geral é o verbo
concordar, em número e pessoa, com o que aparece antes deste pronome.
Como nas frases: “Foram eles que cometeram o crime”, “Não sou eu que
lhe peço”, “És tu que me ofendes”. Há, contudo, algumas particularidades:
a) “Se o antecedente do relativo que é um demonstrativo, que serve de
predicativo ou aposto de um pronome pessoal sujeito, o verbo do relativo
pode” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 515, grifo dos autores): tanto concor-
dar com o pronome pessoal (“Somos nós os que queremos aprender Lin-
guagem Jurídica”) ou ficar na terceira pessoa singular concordando com
o demonstrativo ( “Sou aquela que quer estudar Linguagem Jurídica”).
b) “Quando o relativo que vem antecedido das expressões um dos, uma
das (+ substantivo), o verbo de que ele é sujeito vai para a 3ª pessoa do

53
UNIDADE 2

plural ou, mais raramente, para a 3ª pessoa do singular”. (CUNHA; CIN-


TRA, 2013, p. 515, grifos dos autores). Por exemplo: “És um dos poucos
profissionais que têm excelência na linguagem”, ou “És um dos poucos
profissionais que tem excelência na linguagem”.
c) “Depois de (um) dos que (= um daqueles que) o verbo vai normalmente
para a 3ª pessoa do plural” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 516, grifos dos
autores), por exemplo: “Ele é um dos que assinaram o documento”.
■ Quando o sujeito é o pronome relativo “quem”: a regra geral é que
o verbo seja empregado na terceira pessoa do singular. Por exemplo, na
frase: “Sou eu quem estuda Linguagem Jurídica” ou “Tu és quem deve
preparar o documento”. Ocorre, também, a concordância com o prono-
me pessoal, sendo, porém, mais comum na literatura: “Não sou eu quem
descrevo” (PESSOA apud CUNHA; CINTRA, 2013, p. 517).
■ Quando o sujeito é um pronome interrogativo, demonstrativo ou
indefinido plural, seguido de “de (ou dentre) nós (ou vós)”: este sujeito
é, também, construído com algum dos pronomes interrogativos do plural
(quais? Quantos?), dos demonstrativos (estes, esses, aqueles), ou mesmo,
com algum dos indefinidos no plural (alguns, muitos, poucos, quaisquer,
vários) e ser seguido por uma das construções “de nós, de vós, dentre nós
ou dentre vós”. Na concordância verbal, o verbo ficar na terceira pessoa
plural ou concorda com o pronome pessoal (CUNHA; CINTRA, 2013). É
possível grafar, por exemplo: “Quantos dentre nós estão aptos a empregar
a Linguagem Jurídica?” Ou “Quantos dentre nós estamos aptos a empregar
a Linguagem Jurídica?”. Contudo, se o interrogativo ou o indefinido estiver
no singular (“nenhum”, “qual”, por exemplo), o verbo também deve ficar no
singular: “Qual dentre nós está apto a empregar a Linguagem Jurídica?” Ou
“Nenhum de nós é plenamente habilitado em Linguagem Jurídica”.
■ Quando o sujeito é um plural aparente: nomes de lugar e títulos de
obra cuja forma é plural são tratados como singular, se não estiverem
acompanhados de artigo, e no plural, quando acompanhados de artigo
(CUNHA; CINTRA, 2013). Como nas frases: “Os Estados Unidos de-
moram para apurar o resultado da eleição” ou “Estados Unidos tem um
novo presidente”.
■ Quando o sujeito é um termo indeterminado: conforme estudamos,
o mais comum é a concordância na terceira pessoa do plural: “Falaram

54
UNIDADE 2

que o acusado estava em atitude suspeita”. Porém, quando “a indetermi-


nação do sujeito for indicada pelo pronome se, o verbo fica na 3ª pessoa
do singular” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 519, grifo dos autores). Por
exemplo: “Sabe-se que os casos de feminicídio aumentaram no período
de isolamento social”. Observe, estudante, que essas indeterminações do
sujeito podem ser empregadas na conversação cotidiana, mas são bastante
questionáveis em textos que necessitam de comprovação, como o âmbito
científico/acadêmico, ou mesmo, algumas áreas do discurso jurídico.
■ Quando precisamos concordar o verbo “ser”: há diversos casos es-
pecíficos, quando realizamos a concordância do verbo “ser”. Ele tem as
seguintes possibilidades: 1. Concordar com o predicativo nos seguintes
casos: a) “nas orações começadas pelos pronomes interrogativos substan-
tivos que? e quem?” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 519, grifos dos autores),
por exemplo: “Quem foram os dois advogados do caso?”; b) “Quando o
sujeito do verbo ser é um dos pronomes: isto, isso, aquilo, tudo e o predi-
cativo é um substantivo plural” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 519), a título
de exemplo, apresentaremos a construção: “Tudo isso são as armas do
crime”; c) “Quando o sujeito é uma expressão de sentido coletivo, como
o resto, o mais” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 520), desse modo, podería-
mos grafar tanto “O resto são questões desnecessárias” quanto “O resto é
uma questão desnecessária”; d) em orações impessoais, por exemplo, a
indicação de horas, quando vamos concordar com o complemento: “São
sete horas da noite” ou “É uma hora da madrugada.” Os verbos “bater”,
“soar” e “dar”, quando empregados para informar horários do dia, também
concordam com o número que indica as horas (um gera a concordância
no singular e os demais números exigem plural), então, redigiremos: “Já
deram doze horas, encerrou o prazo” ou “Já deu uma hora da manhã,
encerrou o prazo”. 2. Quando o sujeito do verbo for um pronome pessoal
ou um nome de pessoa, o verbo “ser”, normalmente, concordará com ele,
independentemente do número do predicativo: “Eu era todo ansiedade
pelo resultado do processo” ou “João da Silva era muitos advogados, o
astuto, o conciliador, o calmo, dependia da ocasião” 3. Quando o sujeito
é formado por uma expressão numérica que designa uma totalidade, a
concordância do verbo “ser” ocorrerá no singular, conforme os exemplos:
“Treze anos é uma pena longa” ou “Vinte anos é uma pena pequena pelo

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UNIDADE 2

crime cometido”. 4. Quando ocorre a expressão “é que”, a concordância do


verbo “ser” acontecerá com o pronome ou o substantivo que precede esta
construção. Assim, redigiremos: “Você é que deve conduzir os trabalhos”
ou “Eu é que devo começar a conversa”.
■ Quando o verbo precisa concordar com mais de um sujeito:
a) Concordância com o sujeito mais próximo: de modo semelhante à con-
cordância nominal, nos casos em que funciona para mais de um sujeito, o
verbo pode flexionar-se para concordar, apenas, com o mais próximo, em
alguns casos especiais: 1. Quando os sujeitos aparecem depois dele (por
exemplo: “Esteve presente o advogado, o cliente e a família da vítima”);
2. Quando os sujeitos se encaixam na categoria de sinônimos ou quase
sinônimos (por exemplo: “A conciliação, a harmonia é sempre o caminho
mais rápido”). 3. Quando ocorre uma gradação, uma enumeração (por
exemplo: “A harmonia, a conciliação, o acordo é sempre o caminho mais
rápido”); 4. Quando o conjunto dos sujeitos é interpretado como uma
mesma atitude ou qualidade (por exemplo: “A alegria, a felicidade do tra-
balhador gera melhores resultados”).
b) Concordância com infinitivos que são sujeitos: segundo a regra geral,
o verbo fica no singular quando funcionar para dois ou mais verbos no
infinitivo que funcionem como sujeitos. Como ocorre em: “Estudar e
trabalhar é a fórmula do sucesso do operador da Linguagem Jurídica”.
Mas devemos realizar a concordância no plural se os infinitivos sujeitos
forem, nitidamente, opostos. Conforme o seguinte exemplo: “Alternam-
-se amar e odiar o trabalho”.
c) Concordância com um pronome indefinido (“tudo”, “nada”, “ninguém”)
que resume vários sujeitos: a regra é fazer a concordância na terceira pes-
soa do singular para o verbo conformar-se ao indefinido. Por exemplo
em: “Estudar, trabalhar, melhorar de vida, tudo é importante”. A mesma
concordância é feita quando o indefinido anuncia os sujeitos (aparece
antes deles na frase), conforme o seguinte exemplo: “Tudo é importante,
estudar, trabalhar crescer…”.
d) Concordância com vários sujeitos que representam a mesma coisa: pode
ocorrer de termos várias palavras diferentes para representar o mesmo
sujeito. Neste caso, o verbo concorda, naturalmente, no singular. Costuma

56
UNIDADE 2

acontecer essa concordância, quando o texto aborda alguma divindade.


Por exemplo: “O Altíssimo, o Senhor, o nosso Deus sabe de tudo”.
e) Concordância com sujeitos conectados pelos termos “nem” e “ou”: neste
caso, a concordância depende do fato de a ação que o verbo designa ser
realizada por ambos sujeitos ou por apenas um deles. Assim, o verbo
concorda no plural quando os dois sujeitos poderão realizar a ação: “O
advogado ou o juiz deveriam sair”. Ao contrário, a concordância será no
singular se apenas um dos sujeitos realizar a ação. Conforme o exemplo:
“O professor ou o coordenador do curso precisa autorizar”. Observe, es-
tudante: aqui, vale a regra da precedência das pessoas e, na linguagem
mais coloquial, esta diferença costuma ser apagada, então, acontece a
concordância no plural ou só com o sujeito mais próximo do verbo. Por
fim, nas expressões “um ou outro” e “nem um, nem outro”, normalmente, a
concordância do verbo é feita no singular (“Um ou outro responderá pelo
ocorrido”), podendo, também, em alguns casos, haver a concordância no
plural (“Nem um nem outro quiseram questionar”).
f) Concordância com a locução “um e outro”: é facultativa a concordância
no singular ou no plural. Desse modo, o redator tem a chance de grafar
“Um e outro falaram bastante” ou “Um e outro falou bastante”.
g) Concordância com sujeitos que são conectados por “com”: aqui é, tam-
bém, facultativa a concordância no singular ou no plural, porém a opção
do redator gerará nuances de sentido diferentes ao texto. Assim sendo,
concordamos no plural, para construir o sentido de que todos os sujeitos
são, relativamente, do mesmo nível e se encontram em igualdade, quando
o “com” funciona enquanto uma adição, por exemplo: “A Polícia Civil com
o Ministério Público deflagram operação de combate ao tráfico”. Optamos
pela concordância no singular nos casos em que quisermos valorizar o
primeiro sujeito em detrimento do segundo: “O acusado, com a família,
mudou-se para outra cidade”.
h) Concordância com sujeitos ligados por conjunção comparativa (“como”,
“bem como”, “assim como” etc.): neste caso, também é facultativa a concor-
dância no singular ou no plural, acontece, porém, a variação de sentido da
frase. Se optarmos pela concordância no singular, valorizaremos o primeiro
sujeito. Por exemplo: “O advogado, como o Ministério Público, preferiu

57
UNIDADE 2

não discutir”, ou, no plural, quando consideramos que os dois sujeitos se


reforçam. Por exemplo: “Tanto um como o outro se recusam a ceder”.

Caro(a) estudante, revisamos, nesta unidade, alguns dos principais elementos


gramaticais relevantes, dessa forma você não se equivocará na construção de
frases, orações e períodos, em seus textos. Porém, isso não é tudo.
A Gramática, como vimos, estuda o conjunto das normas que regem o uso
do nosso idioma, a Língua Portuguesa. O(A) estudante da linguagem jurídica
que quiser lançar mão desse elemento como um diferencial em sua trajetória
profissional, na gestão do seu projeto de vida, não deve, nunca, parar de estudar
as normas gramaticais bem como precisa manter-se atento(a) aos usos que as
pessoas realizam no cotidiano.

Olá, estudante! Que tal falarmos mais sobre os elementos


da gramática, em uma conversa um pouco mais informal do
que uma sequência de diversas normas? Acompanhe o nos-
so podcast e discuta conosco, de uma forma mais simples e
descontraída, os elementos da unidade. Aperte o play!

Recomendamos, então, uma postura atenta, muita leitura de clássicos, bons


doutrinadores (da área jurídica), para que o(a) estudante consiga montar o seu
próprio repositório estilístico da língua. Da mesma sorte, a leitura auxiliará a
memorizar padrões de pontuação, de sintaxe (ordenação das palavras nas fra-
ses), entre outros. Nesta unidade, trabalhamos com a ordem direta, os fatores de
inteligibilidade, a concordância nominal e verbal.
Considerando que é dever do operador da linguagem jurídica saber empregar
o padrão culto da língua (BRASIL, 1988; 2015, on-line), o(a) estudante deve se
dedicar a estudar o idioma para muito além desta disciplina. Indicamos reflexões
sobre pontuação, ortografia, acentuação das palavras, regência verbal e nominal,
sintaxe de colocação pronominal (próclise, mesóclise e ênclise), uso de crase e,
até mesmo, o estudo da pronúncia de certas palavras.
O(A) futuro(a) profissional que se empenhar nesta tarefa tem todas as chan-
ces de se destacar no mercado profissional por sua boa redação. Dedique-se e
bons estudos!

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UNIDADE 2

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Manual de Português Jurídico


Autor: Eduardo Sabbag
Editora: Saraiva
Sinopse: o autor apresenta uma série de conteúdos importantíssi-
mos para o(a) estudante que almeja usar a sua habilidade linguística como
um diferencial na profissão. Por meio de linguagem acessível, dicas e “ma-
cetes”, Sabbag aborda os diversos pontos gramaticais de nosso idioma que
o(a) estudante precisa dominar, entre eles: macetes de latim e de grafia de
palavras complexas, ortografia, acentuação, crase, regência, concordância,
pontuação e emprego de verbos.
Comentário: no cotidiano dos profissionais que operam com a linguagem
jurídica, o uso da Língua Portuguesa no padrão culto é uma exigência cons-
tante. Há uma cobrança por parte da sociedade e, até mesmo, por demais
operadores do âmbito jurídico de que o domínio do idioma seja impecável.
Assim, cabe ao(à) estudante dedicar certo tempo à revisão das normas gra-
maticais. Além desta coerção pela excelência no uso do português, devemos
lembrar que muitos dos textos da área são manuscritos, então, não pode-
mos contar que o “corretor digital” nos salvará, sempre, de gafes idiomáticas.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: How to Get Away With Murder (Como Defender um Assassino)


Ano: 2014-2020
Sinopse: série de TV americana que conta a história de uma advoga-
da, Annelise Keating, e um grupo de estudantes do curso de Direito.
Na história, as personagens vão se envolvendo em diversos assassinatos
que mudam a trajetória de vida delas. Este produto audiovisual traz em seu
elenco Viola Davis, Billy Brown, Alfred Enoch e outros.
Comentário: a série apresentando diversos elementos de linguagem jurí-
dica e estratégias empregadas (algumas vezes, usando linguagem), com o
intuito de demonstrar que nem sempre importa, apenas, quem diz a verda-
de, mas sim, quem é capaz de contar a melhor história. O referido conteúdo
está disponível na plataforma de streaming Netflix e pode contribuir para te
ajudar a construir o seu repertório de linguagem bem como as estratégias
para a sua atuação profissional.

59
UNIDADE 2

NOVAS DESCOBERTAS

A quem deseja saber mais sobre o uso do idioma no contexto jurídico,


indico os vídeos do professor Carlos André Pereira Nunes, publicados
no canal da OAB Nacional, no YouTube, sobre português jurídico.

Caro(a) estudante, depois de revisarmos as normas gramaticais e dicas para ga-


rantir a inteligibilidade, você deve ter percebido que, muitas vezes, o uso da Lín-
gua Portuguesa, que pode parecer uma atividade simples e corriqueira, complexi-
fica-se bastante quando devemos fazê-lo no âmbito profissional. Nesse contexto,
desafio você a pesquisar, em um texto de sua escolha, cinco palavras as quais
você não conhecia antes (podem ser termos jurídicos, por exemplo) e verificar
o significado deles em um dicionário.
Lembre-se de anotar se o termo é um verbo (quando, então, deveremos
acionar a concordância verbal para o usar em uma frase), um substantivo
(quando deveremos acionar a concordância nominal para o utilizar em uma
frase), um adjetivo (concordância nominal) ou outra classe gramatical. Em
seguida, com cada um destes novos termos, construa uma frase passível de
ser empregada no contexto em que você desempenha (ou desempenhará) as
suas atividades profissionais.

60
1. A linguagem empregada no âmbito jurídico deve ser clara e objetiva. Para tanto,
uma das estratégias é procurar seguir, sempre, a ordem direta. Conforme estudado
em Garcia (2014) e Cunha e Cintra (2013), assinale a alternativa na qual a norma de
ordem direta foi, plenamente, respeitada:

a) A área jurídica é uma boa escolha profissional.


b) É louvável os esforços na formação dos acadêmicos de Direito.
c) Perigoso era o convívio com o cliente.
d) Ruim para o meu cliente foi o desfecho do processo.
e) Estava receosa a advogada do caso.

2. Conforme estudamos, é possível que juízes devolvam petições, que documentos se-
jam recusados e/ou que ocorram “julgamentos” sociais a respeito de um operador da
área jurídica que apresentou equívocos ao usar o idioma em contextos nos quais se
exige a norma culta. Nesse contexto, com base nas regras de concordância nominal
abordadas, considere o enunciado, a seguir:

Para a continuidade do trâmite, envio, _______________, as procurações ______________.


Assim, aguardo seu ____________ retorno.

Assinale a alternativa que preenche, corretamente, as lacunas:

a) Anexo, necessário, cordial.


b) Anexas, necessárias, cordial.
c) Anexo, necessárias, cordial.
d) Anexas, necessário, cordiais.
e) Anexas, necessárias, cordiais.

61
3. Com relação ao emprego das regras gramaticais de escrita do português formal/
padrão, no que se refere à concordância dos verbos com seus sujeitos, há inúmeras
regras para que os textos produzam os sentidos pretendidos pelo redator. Assim,
a respeito das regras de concordância verbal estudadas, considere as afirmações,
a seguir:

I - A concordância verbal é a variabilidade do verbo para se conformar ao gênero


e número do sujeito.
PORQUE

II - A concordância verbal evita a repetição do verbo, pois a flexão dele permite,


sempre, subentendê-lo pelo contexto.
Assinale a alternativa que avalia, adequadamente, as afirmações:

a) A afirmação I é falsa, e a II é verdadeira.


b) A afirmação I é verdadeira, e a II é falsa.
c) Ambas as afirmações são verdadeiras, e a II é uma consequência da I.
d) Ambas as afirmações são verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
e) Ambas as afirmações são falsas.

4. Uma das regras gramaticais que auxilia na construção linguística de textos é o em-
prego da ordem direta. Nesse sentido, conforme estudado, assinale a alternativa
a qual apresenta a composição correta da ordem direta de construção das frases,
orações e períodos:

a) Sujeito + verbo + complemento.


b) Predicado + verbo + sujeito.
c) Sujeito + predicado + verbo.
d) Sintaxe + verbo + complemento.
e) Verbo + sujeito + complemento.

5. Muitas vezes, lemos textos que parecem incoerentes. Porém, sob um olhar mais
atento, percebe-se que esses textos “apenas” apresentam problemas com relação
à adequada construção das frases e orações. Nesse sentido, com base em Garcia
(2014), comente, com as suas palavras, em, no máximo, cinco linhas, alguns dos
elementos necessários à inteligibilidade de nossos textos.

62
3
Fatores de
Textualidade:
Coesão e
Coerência
Drª Daniela Polla

Olá, estudante! Nesta unidade, estudaremos três diferentes concep-


ções para o conceito de leitura. Dependendo do modo como com-
preendemos este elemento, altera-se o nosso entendimento em rela-
ção ao termo “texto”. Além disso, também abordaremos os fatores que
fazem as nossas produções se tornarem textos, ao invés de simples
amontoados de palavras. Aqui, abordaremos a coesão e os vários ele-
mentos os quais precisamos mobilizar na construção da coerência
textual, ou seja, para que o nosso texto como um todo produza sen-
tidos aos nossos leitores.
UNIDADE 3

Você já se deparou com um conjunto de palavras que deveria significar alguma


coisa, mas que parece, apenas, várias palavras jogadas, aleatoriamente? Ou me-
lhor, já recebeu algum e-mail ou mensagem que você teve vontade de perguntar
para o remetente: “não entendi o que você quis dizer, pode me explicar?”. Ou
mesmo, um texto de autores reconhecidos no qual, em alguns pontos, parece que
falta um elemento para o texto ser, mais facilmente, compreendido?
Muitas vezes, quando lemos textos que não parecem produzir sentido, o
principal problema reside em dois elementos essenciais: a coesão e a coerência.
Existem muitos elementos para além das regras gramaticais que fazem um mero
conjunto de palavras se transformar em um texto, ou seja, em um conjunto de
elementos linguísticos que produz um sentido completo. A coesão diz respeito
a elementos microtextuais, partículas no corpo do texto as quais “costuram” as
palavras, frases e parágrafos entre si. Já a coerência é macrotextual e depende de
elementos para além da superfície do texto. Ela refere-se à produção de sentido
das produções textuais.
Selecionar palavras do nosso vocabulário, as encadear entre si para formar
frases, empregar elementos que unam essas frases entre elas, a fim de construir
parágrafos, depois, ligar um parágrafo no outro para que tudo isso convirja em
um texto o qual emita a mensagem desejada, nem sempre é tarefa fácil. No âmbito
da linguagem jurídica, isso pode ser ainda mais complicado, pois, há termos e
elementos muito característicos deste contexto profissional.
Assim, pesquise três expressões em latim utilizadas no cotidiano de trabalho
do operador da linguagem jurídica.
Você, estudante, deve ter percebido que, para certas expressões e elementos
produzirem sentido, precisamos conhecê-los. Quando o emissor de uma men-
sagem e o receptor dessa mesma mensagem possuem um acervo linguístico se-
melhante, dizemos que eles têm o mesmo conhecimento partilhado, e o mesmo
vale para o conhecimento de mundo, histórico, cultural, entre outros.
Desse modo, ao pesquisar as expressões latinas empregadas na área jurídica,
o(a) estudante pode se aproximar do conhecimento linguístico operado pelos
demais profissionais da área e produzir sentido, mais facilmente, nos textos que
apresentarão as expressões em latim pesquisadas.
O(A) aluno terá, aqui, um espaço chamado Diário de Bordo, no qual poderá
anotar as reflexões obtidas.

64
UNICESUMAR

Há vários autores e pesquisadores que conceituaram o elemento “texto” no interior


dos estudos da linguagem. Analisando do ponto de vista do senso comum, qualquer
um de nós é capaz de dizer se um conteúdo é texto ou não, assim, em seu idioma,
qualquer pessoa sabe distinguir um agrupamento qualquer de palavras de um texto.
Somos capazes de dizer se há encadeamento entre as palavras, se faltam elementos,
se uma organização malfeita prejudica o sentido, entre outras questões.
A partir desse contexto, quando empregamos a palavra “texto” em um sentido
mais amplo, referimo-nos a “toda e qualquer manifestação da capacidade textual
do ser humano” (PETRI, 2009, p. 51). Nesse sentido mais livre, podem ser defini-
dos como texto: uma carta, um poema, um bilhete e, até mesmo, uma pintura ou
um filme. Isso porque “se referem a formas de comunicação realizadas por de-
terminados sistemas de signos e suas regras combinatórias” (PETRI, 2009, p. 51).
Quando empregamos, contudo, o uso mais específico do termo, como no
nosso caso, em que estamos estudando, em nível de Ensino Superior, a Lingua-
gem Jurídica, devemos alterar um pouco esse conceito de texto e empregar o
entendimento mais estrito, segundo o qual conceituaremos texto “como qualquer
passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo, independentemente
de sua extensão” (PETRI, 2009, p. 51). Dessa maneira, para que exista um texto, é
necessário estabelecer uma significação, uma mensagem deve ser interpretada,
uma comunicação precisa ser compreendida.
Além de definirmos um sentido para a palavra “texto”, é necessário, porém,
entendermos o que é a leitura. Pois um conjunto de palavras é capaz, apenas,

65
UNIDADE 3

de produzir algum sentido quando lido pelo nosso público-alvo. Há, pelo me-
nos, três formas de compreendermos a leitura: do ponto de vista do autor; do
ponto de vista do texto; do ponto de vista da interação entre autor-texto-leitor
(KOCH; ELIAS, 2010).
Ao analisarmos a concepção de leitura do ponto de vista do autor, enten-
deremos que a língua é a representação do pensamento de um sujeito e essa é
fonte e origem do seu dizer, em suma, uma consciência que teria controle sobre
aquilo que diz em seu texto. Desse modo, ocorre o desejo de que a mensagem
proferida seja compreendida com um sentido muito próximo daquele pretendido
pelo autor na produção do texto (KOCH; ELIAS, 2010). Sob essa perspectiva, “o
texto é visto como um produto - lógico - do pensamento (representação mental)
do autor, nada mais cabendo ao leitor senão ‘captar’ essa representação mental,
juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor, exercendo, pois, um
papel passivo” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 10-11). É a partir deste entendimento
que, muitas vezes, observamos questões como: “o que o autor quis dizer?”. Isso
ocorre pois, na concepção de leitura com foco no autor, compreendemos que ler
significaria algo como captar as ideias dele.
Também podemos analisar a concepção de leitura com foco no texto. Nesse
sentido, há um entendimento de que a língua é uma estrutura e o sujeito é assu-
jeitado a esse sistema. Por sua vez, esse sistema (linguístico ou social) explicaria o
comportamento individual, isto é, a capacidade de cada redator produzir os seus
textos (KOCH; ELIAS, 2010). Restringindo o entendimento de texto ao uso do
sistema linguístico, sob essa perspectiva, “o texto é visto como simples produto
da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando
a este, para tanto, o conhecimento do código utilizado” (KOCH; ELIAS, 2010, p.
11). Assim, teremos que a leitura nada mais é do que o processo de decodificar o
texto (reconhecer a significação das palavras e da estrutura textual).
A terceira e mais produtiva forma de compreendermos a leitura é aquela com
foco na interação entre o autor, o texto e o leitor. Neste horizonte teórico, múltiplas
possibilidades de produção de sentido começam a ser percebidas. Entende-se,
então, que “na concepção internacional (dialética) da língua, os sujeitos são vistos
como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que - dialogicamente - se cons-
troem e são construídos no texto” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 11). Dito de outra
forma, tanto autor quanto leitor interagem para produzir os sentidos dos textos.
Esta concepção de leitura privilegia os sujeitos bem como os seus conhecimentos,

66
UNICESUMAR

uma vez que o sentido é construído no diálogo entre os dois sujeitos, e o texto não
está lá a priori. Desse modo, entenderemos, aqui, a leitura como uma interação
complexa destinada a produzir sentidos (KOCH; ELIAS, 2010).
Esta última concepção é a mais produtiva, especialmente, no domínio jurídico
em que o autor e o leitor tomam contato entre si, majoritariamente, a partir dos
textos escritos, sem estarem presentes no ato da emissão das suas mensagens.
Assim, se concordamos que o sentido não está no texto em si, mas na interação,
no diálogo entre o autor, o texto e o leitor, temos que os sentidos serão tão diversos
quantos forem os leitores. Torna-se, então, relevante pensarmos nessa concepção
de leitura com foco na interação.

A leitura com foco na interação

Na concepção de leitura com foco no diálogo entre autor, texto e leitor, a respeito
da significação, compreendemos que nem todos os leitores produzirão o mesmo
sentido em relação ao mesmo texto. Assim, entendemos que “[a] leitura é atividade
de produção de sentido” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 13), ou seja, apenas, na atividade
de diálogo entre o autor, o texto e o leitor que, aos poucos, se produz o sentido.
O leitor dessa concepção é considerado ativo, é um sujeito que realiza ações
a fim de contribuir com o fato de um conjunto de palavras produzir sentido.
Assim, quando focamos o entendimento de leitura no processo de interação (au-
tor-texto-leitor), temos um leitor o qual aciona “estratégias, tais como seleção,
antecipação, inferência e verificação” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 14), para produzir
o seu entendimento sobre as mensagens.
Quando produzimos sentido num processo interacional, há um leitor do
qual se espera que processe, critique, contradiga ou avalie a informação presente
diante de si (KOCH; ELIAS, 2010). O(A) estudante da área jurídica deve prestar
atenção especial a este elemento. Muitas vezes, focamos as nossas leituras em um
processo, puramente, mecânico, de simples decodificação das palavras e frases
(lembram-se da concepção de leitura com foco no texto?). Isso é problemático,
pois o operador do discurso jurídico carece, cada vez mais, deste olhar crítico,
porque ele deve ter uma base consolidada de conhecimento de mundo para ope-
rar, adequadamente, as suas funções.

67
UNIDADE 3

Quando afirmamos que o foco reside na interação, queremos mencionar que


a atenção principal é no leitor e nos seus conhecimentos colocados em interação
com os do autor, materializados no texto, a fim de construir o sentido (KOCH;
ELIAS, 2010). Assim, para o(a) estudante de linguagem jurídica desempenhar, de
modo mais aprofundado, as suas atividades de leitura e compreensão de textos,
retomaremos a estratégia de antecipação e hipóteses.
Ao nos depararmos com qualquer texto, antes de fazer a leitura, devemos
antecipar o que é possível saber, de antemão, a respeito deste conteúdo. Vamos
nos perguntar: quem é o autor do texto? Em qual veículo foi publicado? Qual
é o gênero textual? Qual é o título? A partir das respostas a estas questões bási-
cas, seguimos para a antecipação do objetivo e as possíveis conclusões do texto
(KOCH; ELIAS, 2010).
Além disso, segundo Koch e Elias (2010), outras estratégias que devemos
acionar ao ler quaisquer conteúdos são:
a) Ativar o conhecimento de mundo para formular hipóteses: pensar
em qual contexto o autor está construindo a sua argumentação, visando
a avaliar os seus possíveis objetivos, pensar se, do ponto de vista da lógica,
faz sentido a argumentação do autor; avaliar se o conhecimento acionado
diz respeito ao mundo da ciência, da religião, da política, da profissão etc.
A partir desta reflexão, orientamos a nossa produção de sentido.
b) Relações com conhecimento prévio: acabamos de dizer que o profissio-
nal que usa a linguagem jurídica necessita de uma boa bagagem de conhe-
cimentos gerais. Aqui, essa bagagem aparece, novamente, afinal, quando
lemos qualquer conteúdo, a nossa memória aciona aquilo que já conhece-
mos (conhecimento prévio) para avaliar o novo conteúdo com o qual temos
contato. Dessa forma, seremos capazes de avaliar, com mais propriedade,
textos sobre temas cujas leituras prévias já foram realizadas por nós.
c) Inferências: se as nossas produções textuais tivessem, sempre, todas as
informações, em riqueza de detalhes, um simples bilhete viraria um artigo
científico, em termos de dimensão. Nos textos, o autor usa espaços para
deixar pistas aos leitores; estes, por sua vez, devem preencher estas lacunas.
A atividade de seguir as brechas deixadas pelo autor é caracterizada como
produção de inferências.
d) Comparações: sempre que lemos, fazemos comparações com o nosso
conhecimento prévio. e) Formulação de perguntas: formular perguntas

68
UNICESUMAR

antes da leitura ajuda a nos direcionar à compreensão do sentido produ-


zido (KOCH; ELIAS, 2010).

Do ponto de vista da interação, também se faz necessário considerar que outros


elementos afetam a nossa leitura dos textos com os quais trabalhamos. Um desses
elementos é o nosso objetivo com aquela leitura. Existe o denominado “modo de
leitura”, ou seja, se ela será realizada “em mais tempo ou em menos tempo; com mais
atenção ou com menos atenção; com maior interação ou com menor interação, en-
fim” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 20). Este foco diferente na qualidade da nossa leitura
tem relação com a nossa intenção ao acessar aquele conteúdo. Existem leituras por
lazer e, também, para o trabalho, o nosso curso de graduação, os trabalhos da gra-
duação, a informação, a consulta, entre outros. Portanto,“não devemos nos esquecer
de que a constante interação entre o conteúdo do texto e o leitor é regulada também
pela intenção com que lemos o texto” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 20).
Com relação à leitura, outro ponto importante é que a nossa bagagem de
conhecimentos acumulados é acionada com o objetivo de conseguirmos com-
preender os sentidos do texto (KOCH; ELIAS, 2010). É por esta razão que um
texto no qual constem palavras menos usuais, as quais desconhecemos o sig-
nificado, parece muito mais difícil do que um texto que usa, somente, palavras
empregadas, rotineiramente. Então, por exemplo, a frase: “hodiernamente, uma
hoste preza mais pela azáfama cotidiana do que pela gnose” nos soa, infinitamen-
te, mais difícil de compreender do que: “hoje em dia, uma multidão preza mais
pela grande pressa cotidiana do que pelo conhecimento”, quando as duas frases
significam a mesma coisa. Nesta ilustração, abordamos, apenas, o conhecimento
linguístico acumulado, porém o mesmo vale para o conhecimento de mundo,
cultural, histórico, geográfico, econômico etc.
Sob esse contexto, um leitor diferente pode atribuir sentidos diferentes ao
mesmo texto. Desse modo, Koch e Elias (2010) sempre preferem usar a expressão
“um sentido” para o texto e não “o sentido” do texto. Um sentido possível significa
que cada leitor, ao acionar o seu estoque de conhecimentos, terá determinada
compreensão do texto, a qual não precisa, necessariamente, ser a mesma. Se op-
tamos por abordar “o sentido do texto”, estamos produzindo a ideia de fixidez do
significado, como se ele fosse único e absoluto. Esta não rigidez do que o texto
deve produzir como significado para o leitor deve-se ao seguinte fato: “na ativi-
dade de leitura, ativamos: lugar social, vivências, relações com o outro, valores

69
UNIDADE 3

da comunidade, conhecimentos textuais” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 20). A partir


desse ponto de vista, não há como dois leitores possuírem, exatamente, a mesma
bagagem, elas podem ser muito parecidas, porém não são as mesmas.
Assim, se cada um dos estudantes dessa disciplina fosse solicitado a analisar
os sentidos do artigo intitulado “Contrato de Namoro: 07 Coisas Importantes
que Você Precisa Saber” (SALDANHA, 2020, on-line), provavelmente, cada um
de vocês faria perguntas diferentes, levantaria hipóteses diferentes, faria, enfim,
uma leitura distinta do mesmo conteúdo, caso concordassem ou não, vejam
necessidade neste documento ou não, concordassem que namorados morem
juntos antes do casamento ou discordem, entre outros acionamentos de conhe-
cimentos que fazemos ao ler um artigo como esse.
Destarte,“considerar o leitor e seus conhecimentos e que esses conhecimentos
são diferentes de um leitor para outro implica aceitar uma pluralidade de leitu-
ras e de sentidos em relação a um mesmo texto” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 21).
Contudo isso não significa que possamos interpretar qualquer coisa a partir de
um texto determinado. Ao redigir, o autor nos deixa pistas, marcas linguísticas
as quais devem direcionar a nossa leitura. Dessa forma, “não preconizamos que o
leitor possa ler qualquer coisa em um texto” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 21), mas que
os sentidos são, sempre, produzidos pelo leitor não isoladamente, nem mesmo
apenas pelas marcas deixadas pelo autor e, sim, “na interação autor-texto-leitor”
(KOCH; ELIAS, 2010, p. 21). Dito de outra forma, o autor deixa marcas em seu
texto visando a direcionar as nossas leituras, mas, somente no momento em que o
leitor acessa o texto, lê e aciona a bagagem cognitiva que a compreensão se efetiva.
Ao lermos, portanto, precisamos, sempre, atentar para os sinais que os autores
deixaram nos textos. Há um meme circulando, há algum tempo, nas redes sociais,
que é bastante ilustrativo acerca desta situação. A postagem informa algo como:
“Vendo bolo. Sabores: chocolate, cenoura e milho. Pedidos e entregas pelo tele-
fone: XXXX-XXXX”. Logo abaixo, vemos como se fossem comentários da rede
social com vários questionamentos: “Tem de goiabada?”, “Posso pedir por aqui?”,
“Não faz pamonha?” e afirmações semelhantes. Uma simples leitura atenta do
texto publicado já responderia a todas essas perguntas: os únicos sabores são cho-
colate, cenoura e milho; pedidos são feitos pelo telefone; o anúncio apenas oferece
bolos e não pamonha. Para o operador da linguagem jurídica, essa possibilidade
de deixar “pistas” ou sinalizações, a fim de orientar a leitura dos nossos textos, é
muito importante, pois, como havíamos estudado, anteriormente, muitas vezes,

70
UNICESUMAR

o autor está distante e inacessível no momento no qual os leitores acessam as


peças ou as documentações produzidas. Então, quanto mais marcas orientativas
de leitura deixarmos, mais próxima será a compreensão do leitor daquilo que
pretendemos no momento da escrita.
Assim sendo, existe a possibilidade de múltiplas leituras, porém a leitura pro-
duzida e o objetivo pretendido pelo autor serão mais próximos ou mais distantes
dependendo “do texto, do modo como foi constituído, do que foi explicitamente
revelado e do que foi implicitamente sugerido, por um lado; da ativação, por
parte do leitor, de conhecimentos de natureza diversa” (KOCH; ELIAS, 2010, p.
23). Apesar de o autor conseguir algum tipo de controle para orientar a leitura, a
nossa compreensão depende desses elementos citados por Koch e Elias (2010).
Na perspectiva internacional de concepção de leitura, outros fatores também
importam na produção de sentido dos textos. Os fatores de compreensão e leitura
são diversos e variam muito. Dentre eles, destacaremos:
a) Circunstância de leitura: os nossos objetivos, ao lermos um texto, farão
com que o leiamos com mais ou menos atenção, maior ou menor cuidado
aos detalhes, mais ou menos tempo etc. (KOCH; ELIAS, 2010).
b) Relação autor/leitor: quando lemos um bilhete que alguém de nossa
convivência deixou, é mais fácil que compreendamos, exatamente, o que
o autor pretendia, mesmo ele deixando pouquíssimas marcas linguísticas
para orientar a nossa leitura. Ocorre o contrário quando lemos um texto
de um autor desconhecido e distante, muitas vezes, parece quase impos-
sível estimar os objetivos pretendidos (KOCH; ELIAS, 2010).
c) Autor/leitor: “conhecimento dos elementos linguísticos (uso de determina-
das expressões, léxico antigo etc.), esquemas cognitivos, bagagem cultural,
circunstâncias em que o texto foi produzido” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 25).
d) Fatores derivados do texto: “dizem respeito à sua legibilidade” (KOCH;
ELIAS, 2010, p. 25), podem ser materiais (tamanho da letra, textura e cor
do papel, tamanho das linhas e espaçamento entre elas, parágrafos muito
curtos ou muito longos etc.); linguísticos (palavras mais ou menos conhe-
cidas, ausência ou presença de conexões entre os elementos, pontuação
adequada ou não, entre outros); conteúdo (temas mais acessíveis ou mais
difíceis, temas polêmicos ou não etc.).

71
UNIDADE 3

Dessa forma, “do lado do autor, foi mobilizado um conjunto de conhecimentos


para a produção do texto, espera-se, da parte do leitor que considere esses co-
nhecimentos (de língua, de gênero textual e de mundo) no processo de leitura e
construção de sentido” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 28). Assim, quando escrevemos,
temos em mente uma espécie de leitor-modelo, alguém que, idealmente, lerá as
nossas produções. É por esta razão que o(a) estudante, na condição de redator(a)
da atividade MAPA, a redige de modo diferente para cada uma das disciplinas,
pois tem em mente o professor, os tutores e os conteúdos de cada uma delas, os
quais, obviamente, são bastante diversos entre si.
A última consideração a respeito de nosso entendimento do processo de
leitura, mas, do ponto de vista internacional, diz respeito às circunstâncias de
produção e de uso. Isso porque o contexto no qual o autor redige o seu texto
(circunstâncias de produção) e o contexto em que alguém lerá este material (cir-
cunstâncias de uso) costumam ser bastante diferentes entre si. Acontece, muitas
vezes, de nossos textos serem lidos em momentos históricos, lugares e culturas
diversas, os nossos textos podem ter sido reescritos ou traduzidos, todos esses
elementos também causam deslizes, mudanças no processo de interpretação
(KOCH; ELIAS, 2010).
Assim, é no momento da produção que o autor deve deixar marcas, a fim de
orientar as leituras possíveis a partir de seus textos. Essas marcas são, geralmente,
associadas com os fatores de textualidade: os fatores que transformam um simples
conjunto de palavras em um texto.

72
UNICESUMAR

Esses sentidos produzidos pelos nossos textos não dependem, contudo, apenas
das nossas escolhas no momento da redação. Como vimos, as circunstâncias de
leitura, os conhecimentos que partilhamos ou não com o nosso leitor, até mesmo,
a superfície material sobre a qual o nosso texto chega para os leitores pode impac-
tar a compreensão dele. Dessa forma, poderíamos comparar a significação de um
texto a um iceberg (PETRI, 2009): na parte que vemos, nas palavras e frases em
si, reside, somente, uma parte dos sentidos. Sendo assim, o sentido “se completa
com aquilo que não é ‘visível’, mas sim implícito” (PETRI, 2009, p. 52).
Desses elementos de significação que não estão explicitamente marcados nas
nossas produções textuais, quaisquer que sejam os seus gêneros ou tipologias,
fazem parte: o conhecimento linguístico; o entendimento da situação comunica-
tiva (cada contexto no qual nos comunicamos possui regras específicas, escrever
um bilhete para deixar na geladeira é diferente de redigir um ofício); o conheci-
mento de como alternar, com desenvoltura, entre os diferentes gêneros textuais;
o emprego de diferentes níveis e variantes do idioma; o conhecimento de outros
textos e temas (PETRI, 2009).
Até aqui, deve ter ficado bastante marcado para o(a) estudante o fato de que
as palavras, as frases e a estrutura mesma do texto são, apenas, um dos elementos
com os quais devemos nos preocupar quando operamos com a linguagem jurí-
dica. Afinal, a compreensão dos nossos textos depende, para além da estrutura
linguística, destes elementos implícitos. Assim, “uma vez que não existem textos
totalmente explícitos, o produtor de um texto precisa decidir sobre o que deve
ser explicitado textualmente e o que pode permanecer implícito, podendo ser
recuperável pelas inferências realizadas pelo leitor/ouvinte” (PETRI, 2009, p. 52).
Por meio desse prisma, os nossos textos são o produto resultante das escolhas
que realizamos, do ponto de vista textual e contextual. A partir da máxima da
relevância, entendemos que os textos são, sempre, produzidos com alguma in-
tenção comunicativa, ou seja, não dizemos coisas, simplesmente, por dizer, mas
sim, com o intuito de transmitir alguma mensagem. Dessa forma, os nossos textos
devem lançar mão de “mecanismos e estratégias que possibilitam a tessitura, o
entrelaçamento das palavras, de forma coesa e coerente, formando um todo de
significação, capaz de transmitir uma mensagem, permitindo a interação entre
emissor e receptor” (PETRI, 2009, p. 52).
Ao mesmo tempo em que realizamos escolhas para construir as nossas men-
sagens, precisamos pensar que “nunca aquele que argumenta redigindo terá a

73
UNIDADE 3

garantia de que seu texto será lido, ao menos com atenção” (RODRÍGUEZ, 2015,
p. 290). Então, pode acontecer de o leitor “pular” trechos, ler sem muita atenção
algum excerto, dispersar a atenção em frases muito longas ou de estrutura ruim.
Ao lançarmos mão dos elementos de coesão e coerência, lograremos mais êxito
na facilidade de leitura das nossas peças e geraremos menor probabilidade de
que o nosso leitor disperse a atenção.
Importa, também, o(a) estudante de linguagem jurídica entender que a leitura
nos auxilia a formar o nosso estoque de conhecimentos linguísticos, expressivos e
de mundo.“Não pode haver nenhuma dúvida de que aquele que muito lê, que me-
lhor aprecia a literatura, acaba naturalmente, por imitação, tendo mais facilidade
na escrita” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 291). Apesar da importância inquestionável da
leitura aos nossos conhecimentos gerais, há considerável diferença entre o leitor
de textos literários e o leitor dos textos do âmbito jurídico: a atenção. O primeiro
está muito interessado em seu conteúdo, pois, normalmente, o faz por prazer,
como uma atividade de lazer. O segundo o faz em um contexto profissional, no
qual, normalmente, há prazos curtos, pressa, então, esse leitor realiza a leitura
por obrigações laborais. Desse modo, o texto jurídico não pode usar o mesmo
estilo do literário, porque “não tem como premissa o mesmo interesse do leitor”
(RODRÍGUEZ, 2015, p. 291).
Justamente, a coesão e a coerência, as quais constituem os principais fatores
de textualidade, nos auxiliam nestas escolhas linguísticas de construção textual,
inclusive são elas que produzem a tessitura do texto. Dito de outro modo, são
esses dois elementos que vão “amarrando” as nossas ideias e argumentos e, assim,
produzem sentido aos nossos leitores. Estudaremos a coesão e a coerência, com
mais detalhes, a seguir. Vamos lá?

Coesão

Quando analisamos a construção de sentidos do texto escrito, existem algumas


particularidades em relação à comunicação face a face. Ocorre, no texto escrito,
a ausência de recursos de linguagem não verbal (gestos, tom de voz, expressões
faciais), acarretando valor redobrado de clareza na construção de frases e pará-
grafos. Da mesma forma, as marcas linguísticas de orientação de leitura, das quais
falamos, anteriormente, também se revestem de mais relevância.

74
UNICESUMAR

Diante destas características mais complexas do texto escrito, Rodriguez


(2015, p. 289) afirma que nos “deparamos, não raras vezes, com alunos que, bons
operadores do Direito, tinham dificuldades extremas quando se tratava de cons-
trução do texto escrito”. Isso porque o(a) estudante deve concordar que não escre-
vemos do mesmo modo como falamos, a comunicação oral é, via de regra, mais
simples, fluida e com menos coerção para o emprego do padrão culto do idioma.
Além disso, ela conta com o apoio desses elementos de linguagem não verbal que
acabamos de mencionar. Em suma, todas estas “facilidades” da oralidade a tornam
mais acessível à compreensão.
O(A) estudante já deve ter vivido a experiência ou conhecido alguém que
enviou uma mensagem de texto em redes sociais, mas não foi compreendido
do modo como pretendeu enunciar a sua mensagem. São frequentes os casos
cujos receptores de nossas mensagens avaliam que estamos sendo grossos,
ríspidos, ou dizendo coisas de modo menos gentil do que pretendíamos, de-
pois, precisamos gastar tempo explicando-nos e justificando que não tivemos
a intenção de ofender. Por isso, muitas vezes, as pessoas têm preferido gravar
áudios — nos quais existe, pelo menos o apoio do tom de voz — do que redigir,
textualmente, a mensagem.
Para que os nossos textos escritos sejam mais acessíveis e compreendidos de
modo mais próximo à nossa intenção, os elementos que tornam esses textos coe-
sos são fundamentais. Inicialmente, conceituaremos a coesão, a fim de entender
a sua importância no processo de construção de sentidos.
A coesão é definida como “todos os processos de sequencialização que as-
seguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística significativa entre os
elementos que ocorrem na superfície textual” (KOCH, 2010, p. 20). Sendo assim,
ela diz respeito aos elementos linguísticos que nós, redatores, inserimos em nos-
sos textos, com o propósito de caracterizar uma sequência lógica e encadeada de
elementos. Se levamos em consideração que o texto jurídico tem, como finalidade
precípua, “argumentar para convencer” (NASCIMENTO, 2013, p. 39), quanto
mais lógica for a progressão dos nossos textos, tanto melhor.
A coesão textual é uma das ferramentas que empregamos com o intuito de
estabelecer relações entre termos, elementos, ideias e/ou argumentos que cons-
tituem os nossos textos. Desse modo, “a coesão textual ocorre quando a interpre-
tação de algum elemento do texto é dependente da interpretação de outro (não
pode ser decodificado, a não ser que recomendo ao outro)” (PETRI, 2009, p. 69).

75
UNIDADE 3

Nessa perspectiva, ter uma boa coesão é uma característica importante das
nossas redações, afinal, se ela não é a única condição para um conjunto de pala-
vras se transformar em texto, pelo menos ela nos auxilia para que a nossa escrita
seja mais legível, que deixe mais explícitas as relações as quais pretendemos es-
tabelecer entre os elementos. “Em muitos tipos de texto - científicos, didáticos,
expositivos, opinativos, por exemplo - a coesão é altamente desejável, como me-
canismo de manifestação superficial da coerência” (KOCH, 2010, p. 20).
Ao produzir a coesão em seus textos, o redator tem à sua disposição uma série
de mecanismos. Koch (2010) cita Halliday e Hasan (1976), para afirmar que há
cinco instrumentos de coesão. São eles: de referência (pode ser dividido em pes-
soal, demonstrativo, comparativo); mecanismo de substituição (desmembra-se
em nominal, verbal e frasal); (instrumento de elipse, podendo ser nominal, verbal
e frasal); conjunção (aditiva, adversativa, causal, temporal, continuativa); por fim,
a coesão lexical, a qual os autores dividem em: repetição, sinonímia, hiperonímia,
uso de nomes genéricos e colocação.
Comumente, no entanto, costuma-se dividir os tipos de coesão textual em
dois: referencial e sequencial. Na coesão referencial, um elemento do texto faz re-
ferência a outro que apareceu antes dele ou que aparecerá depois dele. Já a coesão
sequencial diz respeito aos usos linguísticos que realizamos visando a relacionar
entre si as diversas partes do texto e a fazer, consequentemente, a progressão
da sequência textual (PETRI, 2009). A seguir, examinaremos esses dois tipos de
coesão textual, com mais detalhes.

A Coesão Referencial

Como antecipamos, essa forma de coesão ocorre quando um elemento do texto


remete a outro que aparece antes ou depois dele. Agora, conceituar a coesão re-
ferencial: “aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão
a outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo textual”
(KOCH, 2010, p. 33).
É importante o(a) estudante entender que esses elementos — os quais se in-
ter-relacionam por meio da coesão — podem ser nomes, orações, enunciados,
sintagmas, traços que vão sendo atribuídos aos elementos, entre outros. Assim, “o
referente é algo que se (re)constrói textualmente” (KOCH, 2010, p. 33).

76
UNICESUMAR

Além disso, você deve compreender que “o elemento que faz a remissão se
chama forma referencial ou remissiva, enquanto aquele que é tomado como
referência se chama elemento de referência ou referente textual” (PETRI, 2009,
p. 69, grifos da autora). A relação entre esses elementos ocorre, nos textos, para a
frente ou para trás. Quando a remissão ocorre para trás, dá-se o nome de anáfora,
quando ocorre para a frente, se denomina catáfora. (KOCH, 2010; PETRI, 2009).
Por exemplo: “o suspeito subiu correndo duas quadras da rua. No topo do moro,
ele parou e disparou contra a guarnição”, sendo que “ele” realiza uma anáfora
com “o suspeito”; ou “Ele era tão compreensivo, o delegado”, construção na qual
“o delegado” realiza uma catáfora com “ele”.
As formas de realizar a coesão referencial são gramaticais ou lexicais. As
formas de remissão gramaticais são aquelas que não fornecem pistas em rela-
ção ao sentido do texto, apenas instruem o leitor com relação ao nexo entre as
partes. Um exemplo seria a concordância em número e gênero, assim, as formas
gramaticais de coesão referencial são realizadas por meio de pronomes, artigos,
numerais e demais formas que acompanham nomes. Por sua vez, as formas le-
xicais de realização da coesão referencial dizem respeito não só à concordância
gramatical, como também instruem em relação ao sentido, fazendo referência a
questões extralinguísticas. Tal forma de coesão referencial é construída empre-
gando sinônimos, nomes genéricos, hiperônimos, entre outros (KOCH, 2010).

A Coesão Sequencial

Este é o segundo grande tipo de coesão textual. Aqui, nos referiremos aos procedi-
mentos empregados pelos autores com o objetivo de estabelecer uma sequência, uma
progressão lógica entre os elementos do texto. “A coesão sequencial diz respeito aos
procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do
texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e sequências textuais), diversos
tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas” (KOCH, 2010, p. 55). É, justamente,
essa correlação entre cada mínima parte do nosso texto que o faz progredir.
Dentre esses elementos que fazem o nosso texto se desenrolar em uma sequên-
cia coesa, é possível destacar alguns. Por exemplo: “a repetição (ou recorrência de
termos; o uso de paralelismo sintático; o uso de paráfrase, introduzida por expres-
sões como: isto é, ou seja, quer dizer, ou melhor, em outras palavras; em síntese,

77
UNIDADE 3

em resumo, etc.” (PETRI, 2009, p. 71, grifos da autora). Em especial, para textos mais
longos, por exemplo, os acadêmicos, ou na narração dos fatos de alguma situação,
merecem destaque os elementos de coesão textual sequencial que realizam a pas-
sagem lógica de uma frase a outra, são realizados por meio de “conectivos como:
se… então, e, bem como, também, quando, ainda que, no entanto, pois, sejam…
sejam, ou, porque, por isso, nem bem, logo que, logo, portanto, por conseguinte,
embora, apesar de, mas, etc.” (PETRI, 2009, p. 71-72, grifos da autora).
Ainda com relação a esse sequenciamento lógico do texto, no domínio
da linguagem jurídica, destaca-se a importância do uso de elementos de coesão
sequencial realizados por “marcadores de situação no tempo e/ou espaço: primei-
ramente, em primeiro lugar, depois, a seguir, em seguida, por fim, finalmente,
por último, para terminar” (PETRI, 2009, p. 72, grifos da autora).
Existem, na Língua Portuguesa, dois procedimentos de coesão sequencial:
recorrência e progressão. A recorrência é estabelecida quando lançamos mão
dos seguintes mecanismos: “recorrência de termos, de estruturas (paralelismo),
de conteúdos semânticos (paráfrase), etc.” (PETRI, 2009, p. 72). Por sua vez, a
progressão é construída nas nossas redações ao empregarmos instrumentos com
o intuito de produzir um sentido de manutenção da temática, o qual pode ser feito
por meio de “termos de um mesmo campo lexical, e que possibilitam os enca-
deamentos por justaposição e conexão, feitos através do emprego de conjunções
que estabelecem relações entre as frases, como conjunção, oposição, explicação,
justificação, conclusão, etc.” (PETRI, 2009, p. 72).
Nessa parte de nosso estudo, separamos os dois tipos de coesão — a referen-
cial e a sequencial — para os estudantes da Linguagem Jurídica conhecerem a
sua tipologia, os mecanismos e as formas de emprego. Contudo, no contexto da
produção textual, as duas formas são, igualmente, relevantes e devem ser em-
pregadas, com desenvoltura, pelos autores. A coesão referencial evita a repetição
exaustiva das mesmas palavras e expressões.
Por sua vez, a coesão sequencial deve ser empregada a fim de deixar ao
nosso leitor pistas de como ele precisa progredir, lógica e sequencialmente, na
leitura da nossa redação bem como nas ideias que estão sendo expostas, “avisan-
do-o” como as partes do texto se inter-relacionam e, também, o que esse leitor
deve esperar das próximas partes.
Além disso, no texto jurídico, “um capítulo muito extenso, uma frase longa
e excessivamente entrecortada, uma cópia desnecessária, de artigo de lei, uma

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UNICESUMAR

remissão fora de espaço podem estar corretos, ao mesmo tempo que funcionam
como grande desestímulo à leitura” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 292, grifo do autor).
Isso ocorre porque esses equívocos na coesão tornam, facilmente, a compreensão
da redação bastante difícil para os leitores do âmbito jurídico.
Dessa forma, todos esses elementos coesivos analisados são fundamentais à
construção de sentidos dos textos, inclusive tais elementos orientam os leitores
a respeito de como eles devem compreender as nossas produções textuais. No
entanto a coesão — manifesta, linguisticamente, em elementos que podem ser
marcados na superfície mesma do texto — não consegue, sozinha, direcionar,
de modo suficiente, os sentidos. Diversos outros elementos extralinguísticos ou
macrotextuais são necessários para que o autor tenha mais controle sobre as
significações produzidas a partir daquilo que ele escreve. Entra em cena, então,
a coerência. Vamos estudá-la?

A Coerência

Diferentemente da coesão, na qual é possível identificar marcas linguísticas na


superfície do texto, a coerência é um fator externo à materialidade textual, pois
“a construção da coerência decorre de uma multiplicidade de fatores das mais
diversas ordens: linguísticos, discursivos, cognitivos, culturais e interacionais”
(KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 73).
Nesse contexto, a relevância da coerência decorre de seu papel na ligação
entre os argumentos e ideias dos quais dependerá o resultado final da peça tex-
tual. Isso porque, em especial no texto jurídico, majoritariamente, argumentativo,
“a coerência é o nível de ligação entre as ideias do texto, para que dele se tire a
unidade de sentido. Quanto maior o nível de coerência entre as ideias, mais valo-
rizadas elas se tornam no texto argumentativo” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 58, grifo
do autor). Dessa forma, a coerência é um elemento exterior ao texto e às ideias e
depende da inter-relação com outros fatores.
Ainda considerando, especificamente, a linguagem jurídica, o(a) estudante
dessa área precisa compreender que, neste contexto técnico e profissional, não
bastam, apenas, bons argumentos. Eles precisam ser articulados de modo a levar
os leitores a perceberem a relevância bem como a pertinência de cada argumento,
sem gerar contradição. Nesse cenário, o redator deve evitar quebras no raciocínio

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UNIDADE 3

lógico, pois elas levam o interlocutor a identificar uma falha na argumentação


e rejeitar a conclusão, situação bastante problemática ao profissional que argu-
menta com o objetivo de convencer (RODRÍGUEZ, 2015).
Dessa forma, a coerência não reside, propriamente, nos elementos verbais,
linguísticos, mas na interação, no diálogo entre o autor e o leitor dos textos. A
situação de comunicação e o conhecimento que autor e leitor possuem entre si
bem como os conhecimentos acionados pelo texto auxiliam na construção de
peças mais coerentes. Outra vantagem da coerência é fazer a redação ter boa
construção geral, não necessariamente, quanto às normas gramaticais, mas à uni-
dade e à significação como um todo. Dito de outra forma, a coerência remete à
capacidade de comunicação do texto (PETRI, 2009).
O princípio da coerência garante que os nossos textos produzam um sentido
para os nossos leitores. Sendo assim, ela pode “ser vista como um princípio de
interpretabilidade do texto. Numa situação de comunicação qualquer, é a coe-
rência que ligada à inteligibilidade do texto, torna possível ao receptor perceber
o seu sentido” (PETRI, 2009, p. 73, grifos da autora).
Por conseguinte, caracterizaremos a coerência como um efeito global em
relação ao texto, enquanto algo que constrói a unidade de sentido dele como um
todo. Igualmente, a coerência responde “pela continuidade de sentidos que se
percebem num texto, produzindo uma conexão de conceitos entre os elemen-
tos do texto” (PETRI, 2009, p. 73). Os autores têm a possibilidade de construir
coerência empregando conexões lógicas entre as partes do texto, mas também
acionando determinados tipos de conhecimento entre autor e leitor. Esses co-
nhecimentos, muitas vezes, são “fatores interpessoais, formas de influência do
falante na situação de fala, as intenções comunicativas dos interlocutores, entre
outros” (PETRI, 2009, p. 73).
Nestas situações comunicativas variadas, também são importantes conhe-
cimentos e argumentos variados. Tais elementos diferentes “sempre persuadem
mais o leitor, pois a repetição leva ao cansaço e ao enfaro. Mas o bom argumento
só o é porque pertinente a um percurso lógico, delimitado, progressivo e, por isso,
consciente. Intencional” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 62). Desse modo, no contexto da
linguagem jurídica, é relevante que o produtor de textos tenha plena consciência
da ordenação lógica de suas ideias e teses, evitando, assim, transmitir a impressão
de estar, simplesmente, “jogando argumentos” (RODRÍGUEZ, 2015).

80
UNICESUMAR

Ao construir textos coesos e coerentes, o autor de textos jurídicos evita que os


seus leitores questionem: “o que ele quis dizer aqui? Não percebi aonde ele quis
chegar com essa ideia!” Ou ainda: “isso eu já sei, está se repetindo muito, sem
trazer uma conclusão” (RODRÍGUEZ, 2015). Assim, em um texto pouco coerente
ou com coerência comprometida, o leitor até consegue produzir algum sentido,
mas, poucas vezes, será persuadido a concordar com o autor. Em ambientes que
contam com a presença do contraditório, ainda mais aqueles competitivos — a
exemplo de onde atua o profissional da linguagem jurídica — a chance de um
texto incoerente ter sucesso é pouca.
A particularidade a ser considerada pelo(a) estudante, para ser capaz de pro-
duzir textos mais coerentes, é: a coerência depende de fatores exteriores, assim, o
texto precisa se relacionar com o mundo.“O texto argumentativo, longe da licença
da ficção, tem um estreito vínculo com a realidade, com o mundo exterior” (RO-
DRÍGUEZ, 2015, p. 68, grifo do autor). Desse modo, se um argumentador come-
çar o seu texto afirmando que o Brasil é um país de primeiro mundo, quase que
automaticamente, a sua argumentação perde a coerência (RODRÍGUEZ, 2015).
Um fato importante é o argumentador estar consciente de suas escolhas. “O
melhor discurso é sempre o mais consciente, vale dizer, o que tem intenção mais
determinada” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 79, grifos do autor). No contexto da lingua-
gem jurídica, convém que o redator pense sobre a progressão dos argumentos,
o ritmo argumentativo e a influência na persuasão, sempre realizando escolhas
conscientes (RODRÍGUEZ, 2015).

81
UNIDADE 3

Relacionada, portanto, com a interpretabilidade dos textos, a coerência de-


pende de um processo de cooperação entre o autor e o leitor. Dessa maneira, a
compreensão do leitor dependerá as escolhas que o autor faz no momento da
produção, considerando quem será o seu leitor. Para construir textos coeren-
tes, empregamos um conjunto intrincado de elementos de ordem pragmática,
cognitiva, semântica, interacional, linguística (PETRI, 2009). Alguns desses ele-
mentos são “conhecimento linguístico, conhecimento de mundo, conhecimento
partilhado, inferências, situacionalidade, aceitabilidade, intertextualidade, entre
outros” (PETRI, 2009, p. 74).
A questão principal é a seguinte: estudamos estes mecanismos e instrumentos
de modo isolado, mas, no momento da leitura, eles necessitam fazer sentido em um
conjunto. Não existe, contudo, um texto incoerente em si mesmo, ele será avaliado
como coerente ou não a respeito de alguma situação comunicativa específica. Caso o
texto produza sentido e esteja adequado, a coerência foi estabelecida (PETRI, 2009).
A coerência diz respeito, então, a um processo, assim, “um texto será
considerado bom quando o produtor souber adequá-lo à situação, levando em
consideração a intenção comunicativa, os objetivos, os destinatários, o uso dos
recursos linguísticos, etc.” (PETRI, 2009, p. 74). A seguir, estudaremos alguns des-
ses elementos que nos auxiliam a construir a coerência.

Fatores de Coerência

A construção de textos não é tarefa fácil e depende de um autor capaz de acionar,


estrategicamente, diversos elementos inter-relacionados ao texto. Estudaremos, a
seguir, com base em Koch e Travaglia (2010), alguns desses elementos que devem
ser mobilizados pelo operador da linguagem jurídica, no processo de tornar os
textos mais coerentes.
■ Elementos linguísticos: o sentido do texto não depende, apenas, dos ele-
mentos linguísticos. Porém eles são fundamentais, pois ajudam a deixar “pis-
tas” à produção de sentidos (memórias, inferências, orientação argumentativa
etc.). Devemos considerar inter-relações entre os elementos do texto, man-
ter, na mesma “família” de significados, elos coesivos,“enfim, todo o contexto
linguístico - ou co-texto - vai contribuir de maneira ativa na construção da
coerência” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 74, grifo dos autores).

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UNICESUMAR

■ Conhecimento de mundo: quando o texto aborda coisas as quais não


conhecemos, é mais difícil produzir sentido (por exemplo, quando um
jurista tenta compreender um tratado de Física Quântica). A nossa ba-
gagem de conhecimento de mundo é construída conforme vamos viven-
do, ela é armazenada em blocos, em modelos cognitivos. Por exemplo, a
superestrutura de um texto (gêneros textuais). Enfim, não conseguimos
estabelecer coerência se o conhecimento no texto não coincide com o
nosso conhecimento de mundo.
■ Conhecimento partilhado: como já estudamos, é impossível que duas
pessoas tenham, exatamente, o mesmo acervo de conhecimentos, porém,
quanto maior for a coincidência de conhecimentos entre autor e recep-
tor, mais facilmente a coerência é produzida. Assim, necessitamos de um
cálculo, afinal, se o conhecimento partilhado é maior, menos explicitude
é necessária, já que o leitor será capaz de preencher lacunas. De modo se-
melhante, devemos, sempre, alternar entre a informação conhecida pelos
nossos leitores e a informação que sabemos ser nova para o público. Vale
a fórmula: busque equilíbrio. Trata-se, então de uma espécie de cálculo
de sentido com o objetivo de produção de coerência.
■ Produção de inferências: “Inferência é a operação pela qual, utilizando seu
conhecimento de mundo, o receptor (leitor/ouvinte) de um texto estabelece
uma relação não explícita entre dois elementos” (KOCH; TRAVAGLIA,
2010, p. 81). Este elemento de coerência é importante, pois, se fôssemos ex-
plicitar todas as informações necessárias, os nossos textos seriam imensos.
Por isso, quase todos os textos exigem algum grau de produção de inferên-
cias, contudo, sempre que o autor deixa lacunas que exigem a inferência
por parte dos leitores, ele abre mão de uma parte do controle de sentidos,
potencialmente, produzidos pelo texto. Assim, quanto menos inferências
necessárias, mais controle de sentido o texto apresenta.
■ Fatores de contextualização: são “aqueles que ‘ancoram’ o texto em
uma situação comunicativa determinada” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010,
p. 83). Sempre que você, estudante, ler qualquer texto, deverá considerar
os elementos básicos de contexto textual, quais sejam: autoria, veículo de
divulgação, título, início do texto, elementos gráficos utilizados. A partir
deles, formulam-se hipóteses as quais podem ou não se confirmar.

83
UNIDADE 3

■ Situacionalidade: ocorre da situação para o texto (contexto sócio-po-


lítico-cultural) ou do texto para a situação o (mundo do texto não é o
mundo real; há várias testemunhas, várias versões). Desse modo, um texto
adequado em uma situação corre o risco de ser inadequado em outra. O
redator deve avaliar, caso a caso, a situação comunicativa e qual a forma
adequada de construção do texto.
■ Informatividade: um texto será mais informativo quanto menos previ-
sível for o seu conteúdo. Infomatividade refere-se, então, à quantidade de
informação nova contida no texto. Além disso, a fim de construir a coe-
rência, precisamos avaliar o grau de expectatividade do que está no texto,
ou o quanto o texto é previsível. Mas, especialmente, no âmbito jurídico, é
necessário cuidado, porque um texto com o máximo de informatividade
costuma parecer incoerente, pois exigirá muito esforço de decodificação.
■ Focalização: este fator de coerência se relaciona com a concentração da
figura do produtor e do receptor dos textos em uma única parte dos seus
conhecimentos. Ao produzir o texto, o autor deixa pistas desta focalização,
enquanto que, no momento da leitura, o receptor aciona o conhecimento
partilhado e as crenças sobre o foco desejado pelo autor, a fim de produzir
coerência. Por exemplo, um jurista, um psicólogo, um padre, um soció-
logo e um político leem um conto fantástico, cada um deles fará leituras
diferentes, pois fariam focalizações diferentes. Outro exemplo relacionado
a isso seria o elemento de titulação, nesse sentido, o mesmo texto com
títulos diferentes poderá ter leituras diferentes. “No ensino de redação,
quando dizemos ao aluno que deve delimitar o assunto e estabelecer um
objetivo para o seu texto, estamos, na verdade, levando-o a focalizar o
tema de determinado modo” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 93).
■ Intertextualidade: para o processo cognitivo de produção de sentido, é
necessário haver o conhecimento de outros textos, a chamada intertex-
tualidade, a qual é de forma e de conteúdo. A intertextualidade de forma
acontece, por exemplo, quando o texto repete os enunciados, expressões,
estilo de um autor, trechos, enfim, de outras obras, há o conhecimento
de tipos de texto. Por exemplo, uma legislação possui, sempre, a mesma
forma, com artigos, parágrafos, incisos, alíneas. Já a intertextualidade de
conteúdo acontece, por exemplo, com textos de uma mesma época, cul-

84
UNICESUMAR

tura ou área do conhecimento, que dialogam uns com os outros. A inter-


textualidade pode ser explícita ou implícita e ocorre muito nas citações.
■ Intencionalidade e aceitabilidade: todos nós redigimos textos com
algum propósito, a intencionalidade nada mais é do que o “modo como
os emissores usam textos para perseguir e realizar suas intenções, produ-
zindo, para tanto, textos adequados à obtenção dos seus efeitos desejados”
(KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 99). A fim de garantir o cumprimento
de sua intencionalidade, o autor deve lançar mão de outros fatores de
coerência. Já a aceitabilidade refere-se à “contraparte da intencionalidade”
(KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 100), pois o princípio básico da comuni-
cação é a cooperação, assim, “quando duas pessoas interagem por meio
da linguagem, elas se esforçam por fazer-se compreender e procuram
calcular o sentido do texto do(s) interlocutor(es), partindo das pistas que
ele contém” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 100).
■ Consistência e relevância: todo enunciado deve ser consistente em rela-
ção aos anteriores, assim, todas as partes do texto precisam ser verdadeiras
e condizentes com o contexto comunicativo. Já a relevância exige que as
partes do texto sejam, também, importantes para cada um dos tópicos.

Conforme estudamos, a coerência não se encontra em um elemento linguístico


específico, ela é “subjacente, tentacular, não linear” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010,
p. 49). Porém se relaciona com a coesão, a qual é estabelecida na materialidade
da superfície linguística.
A respeito dos sentidos produzidos pelos nossos textos, um último tópico
deve ser, se não dominado, ao menos, conhecido pelo operador da linguagem
jurídica: as figuras de retórica (também chamadas de figuras de sentido). São
elementos passíveis de serem acionados pelo produtor do texto jurídico, para
trabalhar com as significações geradas por esse texto.

85
UNIDADE 3

Figuras de Retórica

Usualmente, as principais características dos textos jurídicos são a clareza, a ob-


jetividade e a precisão. Contudo o elemento emocional pode ser acionado, em
alguns momentos, para que o operador da linguagem jurídica alcance os seus
objetivos. Assim, em alguns contextos, conforme Valverde, Fetzner e Tavares-Ju-
nior (2015, p. 161),“o orador deve envolver, emocionar, apaixonar o seu auditório,
a fim de que este adira com maior rapidez a suas teses”.
Nesse sentido, estudar as principais figuras retóricas de produção de sentido.
É relevante que o operador do texto jurídico conheça esses elementos com o
objetivo de, por exemplo, estabelecer um vínculo com o auditório e ampliar a
eficácia de sua argumentação. Assim, segundo Valverde, Fetzner e Tavares-Junior
(2015, p. 165), “é fundamental conhecer as figuras de retórica e compreender o
efeito favorável ou desfavorável que podem produzir à defesa de nossas teses, a
fim de interpretá-las e utilizá-las nas nossas argumentações”.
A seguir, revisaremos, com base nos três autores, aqui, citados, algumas im-
portantes figuras retóricas de sentido. Elas dizem respeito “ao significado que uma
palavra adota fora do seu uso habitual, a fim de enriquecer essa ideia ou até criar
outro significado” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 167).
■ Metonímia: ocorre quando “se substitui palavra por outra por se perceber
entre ambas uma semelhança objetiva, concreta, de contiguidade” (VAL-
VERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 168). Essa semelhança
permitirá associar, rapidamente, a palavra empregada no texto por aquela
que foi substituída. Por exemplo, quando dizemos que alguém será “cru-
cificado”, estamos fazendo referência à crucificação de Cristo e, por meio
uma relação de semelhança, ao ato de submeter alguém à estigmatização.
■ Metáfora: “na metáfora, associam-se dois termos completamente distin-
tos, comparam-se ambos e se extrai algo em comum entre eles. Estabe-
lecido o vínculo, um termo substitui o outro” (VALVERDE; FETZNER;
TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 170). Um exemplo de funcionamento de
metáfora seria o emprego da palavra “erupção” para algum excesso co-
metido por um advogado em uma petição inicial.
■ Hipérbole: é a figura de sentido caracterizada pelo exagero. Assim,
“objetiva intensificar o que se diz, a fim de se atenuar o que se tem a
intenção de dizer” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015,

86
UNICESUMAR

p. 170). Desse modo, a hipérbole pode ser utilizada pelo orador, quando
ele pretende angariar a adesão de seu auditório. Por exemplo, um juiz
afirma em um despacho que abriria mão de todas as suas crenças, caso a
acusada não fosse presa.
■ Eufemismo: aqui, temos a figura de sentido que realiza, exatamente, o
oposto da hipérbole. Isso porque, no eufemismo, “o orador procura ate-
nuar aquilo que a enunciação enfatiza” (VALVERDE; FETZNER; TAVA-
RES-JUNIOR, 2015, p. 171). Dito de outro modo, o enunciado ameniza
aquilo que diz, a fim de dissimular aquilo no qual a audiência deve acre-
ditar. Um exemplo seria dizermos que alguém foi “deselegante” quando,
na verdade, a pessoa foi, extremamente, rude e grosseira.
■ Paradoxo: esta figura de sentido é utilizada com o objetivo de causar
algum efeito de estranhamento no leitor, porque une “termos de sentido
contraditório na mesma unidade de sentido, a fim de demonstrar algum
conflito existente” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p.
172). O paradoxo costuma ser usado, por exemplo, para fazer o auditório
focar em uma contradição, a fim de o operador defender a própria tese.
■ Antítese: “estabelece oposições de termos ou de temas num determi-
nado contexto. Como figura retórica, objetiva enaltecer um dos termos
ou tema que se opõe ao outro” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JU-
NIOR, 2015, p. 173). Trata-se de uma figura de sentido bastante produti-
va, que pode, muitas vezes, ser o próprio fio condutor da argumentação.
Um exemplo seria uma comparação entre os termos do antigo e do
novo Código Civil.
■ Personificação: nada mais é do que quando o enunciado “transfere
para ser irracionais ou inanimados ações ou atributos restritos aos seres
humanos” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 174).
Também utilizada para atrair a atenção de um auditório, esta estratégia
consegue, igualmente, transferir responsabilidades humanas a seres in-
capazes de as ter. Um exemplo seria atribuir responsabilidades a uma
“pessoa” jurídica —como uma empresa comercial — então, ao personificar
essa empresa, é possível atribuir a ela direitos e deveres.

Estudante, nesta unidade trabalhamos com alguns elementos que nos auxiliam a
transformar em um texto aquilo que seria um simples agrupamento de palavras.

87
UNIDADE 3

Nesse contexto, abordamos a questão da importância da leitura, o papel da coe-


são e dos diversos fatores de coerência, para que os nossos textos possuam uma
unidade de sentido. Por fim, abordamos as figuras de sentido, as quais podem ser
utilizadas pelo enunciado, a fim de atrair a atenção de seus leitores.
Desse modo, percebemos que conhecer as normas gramaticais, garantir inte-
ligibilidade e ter um vocabulário vasto são, apenas, alguns dos elementos necessá-
rios ao profissional que operará com a linguagem jurídica. Se há uma qualidade
exigida por esta área técnica é que o autor esteja, sempre, atento aos mais diversos
elementos atuantes na produção de sentido a qual o nosso leitor é capaz de fazer.

Olá, estudante! Que tal falarmos mais sobre os vários enten-


dimentos do conceito de leitura, a respeito dos elementos
de coesão e dos fatores de coerência, em uma conversa um
pouco mais informal? Acompanhe o nosso podcast e discuta
conosco, de uma forma mais simples e descontraída, os
elementos da unidade. Aperte o play, vamos aprofundar os
nossos conhecimentos sobre linguagem jurídica!

Estudante, até aqui, vimos que: a gramática é relevante; não devemos abrir mão
da inteligibilidade; os nexos coesivos que ligam as partes do nosso texto são
fundamentais; os fatores de coerência são múltiplos e o autor deve ser capaz de
operar com eles, visando a deixar pistas aos leitores. Estes, por sua vez, devem
construir sentidos.
Nesse contexto, o estudante deve localizar um texto do ambiente jurídico —
por exemplo, no site Jusbrasil — que tenha soado incoerente a você. Em seguida,
a partir dos conteúdos estudados nesta unidade, avalie quais os possíveis fatores
de coerência negligenciados pelo autor do texto.

88
1. De acordo com Koch e Elias (2010), há três concepções de leitura. Cada uma delas
possui determinado entendimento de texto. Assinale a alternativa que apresenta,
corretamente, essas três concepções de leitura:

a) Foco no autor, foco no texto, foco no leitor.


b) Foco no autor, foco no texto, foco na escrita.
c) Foco no emissor, foco na comunicação e foco na interpretação.
d) Foco no autor, foco no texto e foco na interação.
e) Foco no diálogo, foco no contexto e foco na dinâmica.

2. Cada uma das três concepções de leitura, apresentadas por Koch e Elias (2010), pos-
sui determinado entendimento de texto. Porém a perspectiva internacional apresen-
ta a vantagem de considerar um leitor ativo. Nesse contexto, assinale a alternativa que
apresenta, corretamente, os três elementos em diálogo na perspectiva internacional:

a) Léxico + semântica + sintaxe.


b) Intertextualidade + contexto + elipse.
c) Autor + texto + leitor.
d) Texto + canal + decodificador.
e) Canal + receptor + meio.

3. Conforme os autores trabalhados na disciplina, a coesão e a coerência são impor-


tantes fatores de textualidade. Ou seja, fatores que fazem um conjunto aleatório de
palavras produzir sentido e se transformar em texto. A partir deste horizonte teórico,
assinale a alternativa que apresenta dois tipos de coesão:

a) Histórica e contemporânea.
b) Indicial e metonímia.
c) Prosódica e indicial.
d) Referencial e sequencial.
e) Discursiva e histórica.

89
4. A coesão e a coerência são importantes fatores para que as nossas construções
produzam sentido. Porém, o elemento emocional, em alguns contextos nos quais
opera o profissional da área jurídica, não pode ser negligenciado. Nesse contexto,
assinale a alternativa que contém um fator de construção de sentido possível de ser
empregado nos textos, para garantir a atenção do auditório, além de agregar um
elemento emocional ao nosso texto:

a) Fatores de coerência.
b) Elos coesivos.
c) Figuras de sentido.
d) Normas gramaticais.
e) Normas jurídicas.

5. Conforme discutido, “a construção da coerência decore de uma multiplicidade de


fatores das mais diversas ordens: linguísticos, discursivos, cognitivos, culturais e in-
teracionais” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 73). Nesse contexto, aponte, pelo menos,
cinco fatores de coerência/ textualidade.

90
4
A Comunicação
no Âmbito
Jurídico
Drª Daniela Polla

Olá, estudante! Nesta unidade, aprenderemos sobre o contexto mais


amplo da comunicação no âmbito jurídico. Inicialmente, discutiremos os
dois principais axiomas da comunicação humana, quais sejam: é impos-
sível não comunicar e comunicação é comportamento. Na sequência,
abordaremos algumas características específicas da linguagem empre-
gada na oralidade e, por fim, retomaremos as boas qualidades da lin-
guagem usada em quaisquer modalidades expressivas. Bons estudos!
UNIDADE 4

Estudante, você já reparou que alguns dos sentidos que comunicamos


para as pessoas com as quais interagimos, nem sempre, são emitidos
por nós, de modo consciente? Você já tentou controlar a sua expressão
facial em um momento de muita seriedade, em que sentiu vontade de
rir? Já tentou aparentar neutralidade, enquanto, no seu pensamento,
você julgava a atitude de alguém?
Boa parte dos conteúdos que comunicamos aos demais não são
emitidos, de modo consciente, por nós. A pragmática da comunicação
e o estudo das microexpressões faciais são áreas interessantes para o
operador da linguagem jurídica estudar, pois elas nos auxiliam a pro-
duzir o entendimento em relação ao controle absoluto sobre os sentidos
que produzimos a partir da linguagem verbal e não verbal. A falta de
controle que deve ter surgido na mente do(a) estudante, ao ler a pro-
blematização, relaciona-se a dois fatos apresentados, mais adiante, nesta
unidade: é impossível não comunicar e comunicação é comportamento.
No âmbito jurídico, as nossas expressividade e comunicação não
ficam restritas a palavras. A linguagem não verbal — gestos, expressões
faciais, tom de voz — são elementos importantes para o operador da
linguagem jurídica potencializar a sua capacidade comunicativa bem
como o poder persuasivo de suas mensagens.
Nesse contexto, caro(a) estudante, pesquise uma notícia que relate
algum fato da área jurídica cuja linguagem não verbal foi importante
para algum evento. Em seguida, analise se essa linguagem poderia im-
pactar em seu contexto profissional e como isso aconteceria.
Você, estudante, deve ter percebido que, no contexto jurídico, a ves-
timenta escolhida comunica coisas, significa acesso ou restrição a de-
terminados ambientes. O corte de cabelo, a barba ou a maquiagem, até
mesmo, o tom de voz e o timbre vocal, dentre outros elementos que não
as palavras, impactam o cotidiano profissional, sendo capazes de marcar
a diferença entre um profissional excelente e mais um entre inúmeros.
Dessa forma, caso o(a) estudante queira ter uma trajetória profis-
sional de destaque, deve começar, desde já, a preocupar-se com a forma
geral, por meio da qual ele(a) se apresenta em sociedade. Lembre-se de
preencher o Diário de Bordo com as suas considerações.

92
UNIDADE 4

Inúmeros autores já pensaram e problematizaram o fato de a comunicação ser um


processo complexo e que envolve muito mais do que empregar, corretamente, as
palavras de um idioma. Podemos definir o corpo como espaço de comunicação,
analisando-o enquanto a nossa mídia primária, ou estudando o ethos, ou acio-
nando uma das diversas outras áreas teóricas as quais já se preocuparam com
este domínio de produção de sentidos.
Acionando a pragmática da comunicação, de acordo com Watzlawick, Beavin
e Jackson (2000), existem alguns axiomas da comunicação humana, e os autores
abordam dois dos principais, quais sejam: é impossível não comunicar e comu-
nicação é comportamento. Se quisermos pensar, especificamente, no domínio
da argumentação jurídica, em especial, nas formas de sustentação oral, perce-
beremos que “qualquer ação humana tem um sentido comunicativo, desde que
transmitida em um comportamento social” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 272).
Dessa forma, quando existimos em sociedade, todos os nossos comportamen-
tos, escolhas e atitudes comunicam alguma coisa a alguém, mesmo que não esteja-
mos, plenamente, conscientes disso. Se analisarmos o âmbito jurídico, precisamos
considerar duas situações comunicativas principais: a oralidade e a escrita. Nesse
contexto, a oralidade permite que tenhamos mais atenção na e da audiência,
que observemos as reações da plateia, empreguemos recursos não verbais, entre
outros; já a linguagem escrita permite a audiência imprimir o próprio ritmo de
leitura, permite mais pesquisa em outras fontes, propicia ao autor mais tempo
para o cuidado na elaboração textual. Assim sendo, cada situação comunicativa

93
UNIDADE 4

apresenta vantagens e desvantagens, é dever do profissional da linguagem jurídica


saber operar em quaisquer situações comunicativas nas quais seja incitado a atuar.
Nesse sentido, convidamos o(a) estudante, nesta unidade, a analisar conosco
a relevância de considerar a comunicação em um sentido mais amplo, para além
daquele restrito à linguagem verbal, ou seja, das palavras empregadas no contexto
mais estático do texto escrito.
Inicialmente, abordaremos os axiomas da comunicação, explicados a
partir da área denominada Pragmática da Comunicação.

Os Axiomas da Comunicação Humana

Conforme anunciamos, trabalharemos com dois axiomas básicos da comuni-


cação humana: é impossível não comunicar e comunicação é comportamento
(WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000). Para dar um spoiler a você, estu-
dante mais ansioso(a), quando os autores definem que é impossível não comu-
nicar, isso significa que, estando em uma situação de interação, ou seja, quando
há, no mínimo, um emissor e um receptor, estando conscientes ou não, sempre
estaremos emitindo conteúdos que terão valor de mensagem para alguém. Já
o segundo axioma diz respeito ao fato de que, em toda situação comunicativa,
temos um domínio do que é dito e um segundo domínio: como aquilo que se
diz é dito. Este “como é dito” gera comportamentos diferenciados de resposta às
mensagens emitidas (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000). Este deta-
lhamento, porém, virá a seguir.
Comecemos pelo primeiro axioma: é impossível não comunicar. Segundo os
autores da área da Pragmática da Comunicação Humana, esse axioma relaciona-
-se ao fato de que o comportamento não tem um oposto. De modo mais simples,
diríamos: “um indivíduo não pode não se comportar” (WATZLAWICK; BEA-
VIN; JACKSON, 2000, p. 44, grifo dos autores). Sob esse contexto, entendemos
que, sempre que estivermos em uma situação comunicativa na qual existam, no
mínimo, um emissor e um receptor da mensagem em diálogo, qualquer compor-
tamento nosso significará alguma coisa para a outra parte do diálogo.
Assim,“se está aceito que todo o comportamento, numa situação interacional,
tem valor de mensagem, segue-se que, por muito que o indivíduo se esforce, é-lhe
impossível não comunicar” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 44-

94
UNIDADE 4

45). Temos, aqui, o nosso primeiro axioma, muito relevante ao operador do direito
e associado a inúmeras situações neste universo. Vamos lembrar, por exemplo,
de uma das nossas normas de trânsito, aquela, popularmente, conhecida como
“Lei Seca”? Pelo ordenamento jurídico vigente, há a possibilidade de a pessoa que
ingeriu bebida alcoólica e foi flagrada dirigindo seja autuada sem a necessidade
de fazer o teste do etilômetro (mais conhecido como “bafômetro”).
Mas de que modo é feita a comprovação da ingestão de bebida alcoólica? Sim-
ples: mediante a avaliação do comportamento da pessoa acusada. Especialmente,
a pessoa alcoolizada, a qual apresenta alterações das capacidades cognitivas e não
costuma ter consciência de seu comportamento, por isso, vemos notícias circu-
lando sobre motoristas alcoolizados que exibiam determinados comportamentos:
não dominam o carro, não são capazes de andar em linha reta, dirigem em zigue-
zague, cambaleiam ao andar, apresentam fala arrastada, entre outros. Por meio de
uma mudança, relativamente, recente da legislação, agora, testemunhos, imagens
e, até mesmo, vídeos poderão ser usados como provas de que o comportamento
do indivíduo acusado de conduzir alcoolizado passa uma mensagem com valor
comunicativo. Ela diz: esse motorista, efetivamente, havia bebido e assumido a
direção de um veículo.
Temos, assim, um exemplo da relação direta entre a comunicação como um com-
portamento e o fato de ele não ter um oposto, fazendo com que nos seja impossível
não comunicar. Inclusive, quando esse comportamento significa sanções jurídicas,
como é o caso da condução sob efeito de álcool. O motorista que se recusar a fazer
o teste do etilômetro pode ser enquadrado da mesma forma, caso não seja capaz de
controlar o seu comportamento, a fim de emitir uma mensagem de normalidade.
Nesse cenário, “atividade ou inatividade, palavra ou silêncio, tudo possui um
valor de mensagem; influenciam outros e estes outros, por sua vez, não podem
não responder a essas comunicações e, portanto, também estão comunicando”
(WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 44, grifo dos autores). Dito de
outro modo, a comunicação é quase inevitável, em inúmeras situações sociais.
Existem circunstâncias, especialmente, nos domínios atinentes ao âmbito
jurídico, nos quais deve ser avaliado, com certa cautela, o fato de o emissor das
mensagens não estar, plenamente, consciente delas. Ocorre isso, por exemplo, na
regulamentação a qual afirma que, no processo penal, o mesmo juiz que realiza
a instrução deve ser aquele que proferiu a sentença (DELFINO, 2018). Afinal,
um único contato comunicativo entre dois emissores de mensagens é capaz de

95
UNIDADE 4

acarretar interpretações equivocadas, as quais não aconteceriam no caso de um


contato mais duradouro entre emissor e receptor de mensagens.
Quem já teve a oportunidade de circular em ambientes como delegacias, tribu-
nais, ou mesmo, carceragem, deve saber que, do mesmo modo que existem pessoas
com clara má intenção, também estão, ali, pessoas as quais, simplesmente, estão ner-
vosas com a posição de serem acusadas de alguma conduta criminosa. Os inúmeros
casos de prisões indevidas, por exemplo, encarceramento de pessoa diferente do
criminoso, apenas porque possuíam o mesmo nome, não nos deixam mentir. Por
isso, quando o juiz tem a oportunidade de interagir mais de uma vez com o acusa-
do, a interpretação das mensagens comunicadas pelo comportamento do acusado
pode ser interpretada com um pouco mais de propriedade (DELFINO, 2018).
Outro elemento importante do axioma “é impossível não comunicar” reside
no fato de que só porque não estamos falando ou observando as outras pessoas,
não quer dizer que não estejamos comunicando algo para os demais. Sob esse
ponto de vista, “homem que num congestionado balcão de lanchonete olha dire-
tamente em frente ou o passageiro de avião que se senta de olhos fechados estão
ambos comunicando que não querem falar a ninguém nem que falem com eles”
(WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 45). Assim, o comportamento
esperado das pessoas que interagem, comunicativamente, com o homem do bal-
cão e o passageiro do avião é de receber a mensagem e não “mexer com eles”.“Isso,
obviamente, é tanto um intercâmbio de comunicação como a mais animada das
discussões” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 45), pois, nessas hi-
póteses, ninguém disse uma palavra, porém uma mensagem foi emitida, recebida
e gerou uma resposta condizente.

96
UNIDADE 4

Nas hipóteses mencionadas no parágrafo anterior, acionamos, igualmente, o sen-


tido de que “tampouco podemos dizer que a ‘comunicação’ só acontece quando
é intencional, consciente ou bem-sucedida, isto é, quando ocorre uma comu-
nicação mútua” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 45). Portanto,
nem sempre o homem do balcão e o passageiro do avião estão conscientes de
que afastam as pessoas ao seu redor da intenção de conversar, verbalmente, com
eles. O mesmo movimento ocorre quando é a primeira vez que encontramos
uma pessoa. Mesmo involuntariamente, a nossa atitude é avaliativa, “medimos”
postura, roupa, corte de cabelo, acessórios (bolsa, mochila, joias etc.), tom de voz,
expressões faciais e, até mesmo, o modo como a pessoa se senta pode emitir algum
tipo de mensagem ao outro elemento da interação. Nesse contexto, o operador
da linguagem jurídica deve ficar atento a inúmeros comportamentos capazes de
passar uma mensagem de antiprofissionalíssimo, mesmo que esse operador não
esteja consciente que “dirá” algo.
De modo semelhante, ponderando a respeito de quando comunicamos algo
sem termos esta intenção, está a coleta de prova testemunhal no contexto jurí-
dico. Podemos citar, por exemplo, o caso de um juiz que considerou uma prova
testemunhal imprestável. A justificativa em relação a esta conduta residiu no
comportamento da testemunha, pois, de acordo com o magistrado, apresentava
“ausência de comprometimento com a verdade” e “intenção demonstrada de de-
fender os interesses da autora” (DELFINO, 2018, p. 54-55). A presença de exageros
na fala, a citação de elementos não mencionados, anteriormente, e a mudança
da versão após questionamentos, foram apontados pelo juiz como elementos
que caracterizam uma indução da testemunha (DELFINO, 2018), fato que o(a)
estudante deve saber não ser permitido. Por que esse exemplo revela que o nosso
comportamento nem sempre é controlável? A explicação é: se, realmente, houve
coação de testemunha, ela tanto adequaria quanto controlaria os seus compor-
tamento e linguagem, para o magistrado não perceber a conduta proibida.
Com base no exposto, compreenderemos, acionando a área de Pragmática
da Comunicação, o fenômeno pragmático da comunicação humana, que en-
volve diversas unidades ou comportamentos. Definiremos, então, mensagem
como uma unidade de comunicação isolada, e interação como uma série de
mensagens trocadas (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000). Além dis-
so, a situação de interação e, até mesmo, as unidades menores (as mensagens),
não dizem respeito a elementos únicos e monofônicos (um único canal), mas

97
UNIDADE 4

estaremos trabalhando “com um complexo fluido e multifacetado de numerosos


modos de comportamento – verbais, tonais, posturais, contextuais, etc. – que, em
seu conjunto, condicionam o significado de todos os outros” (WATZLAWICK;
BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 46).
Nessa perspectiva, se o emissor da mensagem nem sempre está consciente e
tudo aquilo que ele faz, em uma situação de interação, tem valor de mensagem,
depreende-se que esse axioma aciona uma complexidade de fatores aos quais o
operador da linguagem jurídica deve demandar atenção, pois “os vários elementos
desse complexo (considerado como um todo) são capazes de permutas muito
variadas e de grande complexidade, que vão desde o congruente ao incongruente
e paradoxal” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 46).
Voltando ao exemplo da coleta de prova testemunhal, podemos analisar uma
ementa de sentença que afirma: o juiz que coletou a prova testemunhal é, realmente,
o melhor para pesar o valor da mesma, afinal, terá sido esse magistrado quem teve
“contato vivo, direto e pessoal com o depoente, mediu-lhe as reações, a (in)seguran-
ça, a (in)sinceridade, a postura” (DELFINO, 2018, p. 55). Além dos múltiplos canais
de comunicação de mensagens acionados por uma pessoa que interage face a face
com outra — tom de voz, postura, tremores, suor, risadas em momentos inapro-
priados, ficar mexendo com material ao seu redor, tamborilar de dedos, balançar
as pernas, entre outros — esse exemplo nos faz perceber que a linguagem verbal
sequer é capaz de retomar, com precisão de detalhes, tudo aquilo que a multiplici-
dade da comunicação não verbal é capaz de acionar. No contexto da interpretação
do comportamento das testemunhas, há o entendimento de que “o Juiz que colhe
o depoimento é, por assim dizer, a testemunha da prova” (DELFINO, 2018, p. 55).
Pois ele quem interagiu face a face, então, é capaz de interpretar o comportamento
verbal e não verbal da testemunha, este último impossível de retomar, com riqueza
de detalhes, por meio da linguagem escrita (DELFINO, 2018).
A respeito da linguagem não verbal, aquele conjunto de comportamentos
comunicativos dos quais quase nunca estamos, plenamente, conscientes, é “carac-
terizada por um conjunto de movimentos corporais e que, em regra, se coaduna
ao discurso verbal” (DELFINO, 2018, p. 57). Igualmente, a forma de comunicação
que não usa palavras “revela a personalidade e as emoções individuais, apresen-
tando-se de maneira involuntária e de possível percepção pelo receptor da men-
sagem” (DELFINO, 2018, p. 57). Citando Jo-Ellan Dimitrius e Mark Mazzarella
(2000), Delfino (2018) afirmar que pouca gente está consciente de seu compor-

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UNIDADE 4

tamento comunicativo não verbal e ainda menos pessoas têm a habilidade de


controlar esse comportamento. Elementos como expressões faciais, tamborilar de
dedos, cruzar e descruzar de pernas são bastante difíceis de serem controlados.
Os autores afirmam que está próximo do impossível a habilidade de controle
da linguagem corporal, até mesmo, quando o destino da pessoa depende disso,
como é o caso de um processo penal (DELFINO, 2018).
Essa falta de controle é percebida, especialmente, quando a linguagem verbal
emite uma mensagem enquanto que a não verbal afirma o seu contrário. Um
exemplo corriqueiro desta divergência ocorre se perguntamos para um amigo se
está tudo bem com ele e, quase, sempre, por educação, a pessoa responde, verbal-
mente: “tudo!” Enquanto que o tom de voz comunica que muita coisa está errada
com o nosso amigo. As metodologias de análise das microexpressões faciais e,
também, um observador mais experiente ou com mais conhecimento partilhado
com o emissor da mensagem, auxiliam a detectar quando a linguagem verbal e
a não verbal divergem. Por isso, quando tivemos, apenas, contato muito rápido
com uma pessoa, é arriscado julgar ou produzir uma interpretação a partir do seu
comportamento, já que essas mensagens não verbais nem sempre são conscientes
e podem mudar devido a contextos, ambientes e momentos (DELFINO, 2018).
Um conteúdo extrainteressante para o(a) estudante visualizar a questão
das microexpressões é a série Lie to Me (Engane-me se Puder), a qual retrata uma
equipe de especialistas em detectar mentiras a partir da expressão corporal. Na
série, o time liderado pelo Dr. Cal Lightman (Tim Roth) presta serviços ao FBI,
mas também a empresas e indivíduos.

99
UNIDADE 4

O segundo axioma da comunicação, sob o prisma da Pragmática, é definido como:


comunicação é comportamento. Isso porque “uma comunicação não só transmite
informação, mas, ao mesmo tempo, impõe um comportamento” (WATZLAWICK;
BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 47). Com a intenção de explicar esse segundo axio-
ma, foi criado o sistema relato-ordem. Segundo tal sistema, o relato refere-se ao
conteúdo da mensagem (qualquer coisa comunicável, independentemente de ser
verdadeira ou falsa, válida ou inválida), enquanto que a ordem diz respeito à espé-
cie da mensagem, de que modo ela deve ser considerada, mostra as relações entre
quem participa da comunicação (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000).
Se algum dos estudantes teve a oportunidade de aprender a dirigir com
alguma pessoa que não o instrutor da autoescola, certamente, identificar-se-á
com o exemplo, a seguir: as frases “é importante soltar a embreagem gradual e
suavemente” e “solte a embreagem de golpe, e a transmissão pifará num abrir e
fechar de olhos” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 48), são bastan-
te próximas do ponto de vista do conteúdo (relato), porém permitem analisar
relações (ordem) bastante diversas entre os sujeitos participantes da interação
(WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000).
No âmbito do processo judicial, contexto comunicativo no qual o contato
entre as partes ocorre, quase sempre, de modo muito breve e, frequentemente, em
uma única oportunidade, é muito complicado um magistrado julgar a persona-
lidade, o comportamento e, contiguamente, a índole dos discursos dos acusados
bem como das testemunhas, tendo ouvido todos, apenas, superficialmente, do
ponto de vista do comportamento comunicativo (DELFINO, 2018). Nesse ce-
nário, a possibilidade de qualquer comportamento comunicar uma mensagem
e de estabelecer relações deve ser relativizada, caso contrário, sérios equívocos
podem ser cometidos.
A respeito disso, Delfino (2018, p. 58) cita Jo-Ellan Dimitrius e Mark Mazza-
rella (2000, p. 69), a fim de nos relatar o caso de uma testemunha que “demonstra-
va todos os sinais clássicos de desonestidade: ausência de contato ocular, tremor,
inquietação, e mexia com os copinhos de papel no banco das testemunhas”. O
inquiridor, entretanto, nesta situação, não deveria assumir que a testemunha men-
tia, porque, caso a pessoa estivesse faltando com a verdade, em algumas partes
do depoimento, ela teria ficado mais calma e confortável (quando falasse sobre a
sua carreira profissional, por exemplo). Contudo, no caso relatado, a testemunha
esteve nervosa e tremendo desde o momento em que chegou para o testemunho

100
UNIDADE 4

até o momento no qual deixou o banco das testemunhas. A partir disso, consta-
tou-se que a mulher em questão estava nervosa com a situação de testemunhar
em um caso complicado e não necessariamente faltando com a verdade.
A partir desse relato, é possível concluir que, apesar de toda comunicação
ser um comportamento e ter valor de mensagem, no âmbito jurídico, diversos
outros elementos se relacionam e impactam esta significação. Portanto, devemos,
sempre, interpretar os comportamentos não verbais “dentro do seu contexto, pois
diversos fatores influem em sua manifestação, desde do tipo de vínculo estabe-
lecido entre os interlocutores, emissor e receptor, até o ambiente em que se dá a
mensagem” (DELFINO, 2018, p. 58). Dessa forma, retomamos o comportamento
da testemunha que aparenta desonestidade ou “mesmo sendo descoberta a su-
pressão de emoções por parte do indivíduo, não significa imperativamente que
esse pretende ludibriar a justiça” (DELFINO, 2018, p. 59). Isso ocorre porque a
situação comunicativa e os inúmeros fatores associados a ela impactam o com-
portamento comunicativo dos sujeitos.
Esse axioma “comunicação é comportamento” aciona, ainda, uma ideia de
que o relato transmite os dados, o conteúdo da mensagem, ao passo que a or-
dem informa como essa comunicação deve ser compreendida. Nesse cenário,
as frases “estou brincando” ou “é uma ordem” seriam “exemplos verbais de tais
comunicações sobre comunicação. A relação também pode ser expressa não-ver-
balmente, por um grito, um sorriso ou muitos outros meios” (WATZLAWICK;
BEAVIN; JACKSON, 2000, p. 48). Além disso, o contexto comunicativo auxilia
na compreensão da relação, ou seja, qual é o comportamento associado àquela
comunicação. Isso fica evidente se ouvirmos uma mensagem em um circo ou em
um cartório (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2000).
Nesse domínio, mencionamos o polígrafo, mais conhecido como “detector de
mentiras”. É um aparelho, comumente, visto em filmes e séries policiais ameri-
canos, cujo objetivo é medir as reações fisiológicas das pessoas no momento de
seu testemunho, a fim de verificar incoerências entre o relato verbal e a reação
física das pessoas. O problema desse aparelho é que não temos como apagar,
totalmente, o medo que as pessoas sentirão, de modo natural, de serem julgadas,
injustamente, uma vez que circulam diversas informação acerca da não exati-
dão dos resultados obtidos pelo polígrafo (DELFINO, 2018). Assim, é necessário
“apontar sua falibilidade vista a necessidade de contextualização das emoções e
suas expressões” (DELFINO, 2018, p. 61).

101
UNIDADE 4

Agora que conhecemos os dois axiomas da comunicação humana, podemos


desenvolver, com mais cuidado e atenção, a nossa comunicação não verbal. Esse
domínio é difícil de ser obtido e exige treinamento, todavia o domínio das técni-
cas e estratégias dessa área é fundamental para o profissional que trabalhará no
âmbito da linguagem jurídica, uma vez que ele precisará comunicar-se, de forma
adequada, em inúmeras situações comunicativas.
Com vistas a fornecer elementos que façam o(a) estudante desempenhar
melhor a sua comunicação em situações de oralidade, estudaremos, na sequência,
algumas diferenças entre a linguagem oral e a escrita bem como os cuidados os
quais o operador da linguagem jurídica deve ter em situações de sustentação oral.

A Oralidade

Quaisquer que sejam as nossas argumentações, elas circulam de diversas formas,


em diversas situações comunicativas. Porém a diferença principal reside na com-
paração entre modalidades oral e escrita. Nesse contexto, “a forma influencia o
conteúdo, e o argumentante deve sempre planejar seu conteúdo, os fundamentos
e principalmente os argumentos, considerando a mídia, o meio de que se utiliza-
rá” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 272, grifo do autor).
Pensando na oralidade como mídia, precisamos lembrar que o discurso oral está
para o domínio da oratória, uma das formas do estudo da argumentação, enquanto
que a escrita aciona todas as regras da norma culta do idioma e, por consequência,
da gramática. Ocorrem, assim, mais fixidez e rigidez no contexto do texto escrito.
Os dois formatos de uso da linguagem são fundamentais e relevantes.
Contudo, dado o andamento da disciplina, neste momento, deteremos o nosso
olhar sobre o discurso oral, com o objetivo de fornecer instrumentos para que
o(a) nosso(a) estudante possa desempenhar a boa comunicação, caso necessite
realizar uma sustentação oral.
Nesse sentido, sempre que realizamos a comunicação oral, em especial, aque-
la face a face, acontece uma relação interpessoal. Assim como diversos outros
comportamentos, a linguagem e a comunicação são regidas por regras. Existem
certos padrões sociais os quais, muitas vezes, sequer estão, formalmente, regula-
mentados em legislação específica, mas sabemos que devem ser seguidos ou que
produzirão certos significados aos nossos interlocutores. Desse modo, o jaleco

102
UNIDADE 4

do médico, o terno e a gravata do advogado e o sotaque do candidato que deseja


se aproximar da região visitada produzirão certos sentidos àqueles interlocutores
que interagirem, comunicativamente, com estes sujeitos.
Assim, particularmente, na comunicação oral, a qual costuma demandar a
presença física, “quando o discursante busca a aceitação de seu discurso e de sua
imagem, pretende não apenas ser aceito, mas ser aceito de determinada maneira,
que infere das regras sociais, ou, no mínimo, de seu auditório” (RODRÍGUEZ,
2015, p. 273, grifos do autor). Para o operador do discurso jurídico que almeja
construir uma imagem de profissional competente, é fundamental analisar os
elementos não verbais que impactam a forma como as demais pessoas avaliam
o nosso comportamento.
Em diversas esferas profissionais, existem regras de comportamento que per-
mitem julgar a imagem dos trabalhadores. São certos padrões de comportamento
social exigidos — se quisermos ser corretos e bem avaliados — que aproximam
a comunicação humana da linguagem teatral. Constituem papéis sociais: ad-
vogada, juíza, mãe, aluna, professora, vendedora, compradora, cliente, visitante,
anfitrião, entre outros.
Mesmo não existindo um código de conduta ou um padrão de comportamento
formalizado em um documento, por convenção social, costumamos saber como
nos comportar em ambientes diferentes, como variar a vestimenta, o tom de voz, o
teor dos assuntos etc. O mesmo vale para os elementos e componentes não verbais
da nossa comunicação. Isso posto, de forma geral, “diante das convenções sociais,
e conscientes de sua existência e seus limites, representamos a todo o momento,
não como forma de fingimento, mas sim de adequação a normas de convívio, em
um agir conforme a sociedade espera” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 273, grifo do autor).
Quando colocado em uma circunstância comunicativa de sustentação oral, o
profissional deve, sempre, estar consciente da necessidade de seguir, adequadamen-
te, essas normas sociais bem como as gramaticais e técnicas de sua área. Diferente-
mente do texto escrito, na oralidade, em geral, o orador é colocado em destaque, o
discursante costuma ser colocado em evidência. Na maior parte das vezes, haverá
um microfone, algumas vezes, até mesmo, palco e luzes (RODRÍGUEZ, 2015).
O contexto comunicativo da oralidade exige, assim, que o profissional perceba
uma distinção entre o falar comum e o ato de discursar, oralmente. Um primeiro
diferencial reside na necessidade de conquistar a atenção de seu público e garantir
que ela esteja fixa no conteúdo da sua argumentação (RODRÍGUEZ, 2015).

103
UNIDADE 4

Querido(a) estudante, quando você atuar, profissionalmente, como ora-


dor(a), esteja, sempre, cuidadoso(a) e alerta. São elementos, especialmen-
te, relevantes, e que você deve considerar com atenção: apresentação,
gestos, dicção, expressão facial, uso do ambiente onde proferirá a sua
comunicação. Afinal, quando ocupamos este lugar de destaque que o dis-
curso oral demanda, o auditório repara em coisas que não observaria an-
tes (em uma reunião simples de negócios): postura, coluna torta, gaguejar,
roupa suja ou apertada, nó da gravata torto, cacoete (RODRÍGUEZ, 2015).

Da mesma forma que em outras circunstâncias de comunicação, no discurso


oral, a nossa audiência estará presente com um objetivo definido. A depender
de qual seja o objetivo do público, poderemos ter auditórios, absolutamente, re-
ceptivos e auditórios muito hostis. Desse modo, o interesse que os ouvintes têm
ou não geram impactos na argumentação desenvolvida. Temas que envolvam
causas novas ou acionem o interesse público, como os casos criminais de vasta
espetacularização midiática, costumam melhorar o interesse e captar a atenção
da audiência. O elemento de novidade pode, então, ser acionado como recurso
argumentativo sobre a importância de o público prestar atenção naquele fato
(RODRÍGUEZ, 2015).
Uma particularidade do discurso oral e que jamais será sequer equiparada
pelo discurso escrito é a possibilidade de trabalharmos com as reações não ver-
bais. Quando uma audiência está desanimada e desatenta, o orador o percebe,
imediatamente, pois será capaz de perceber conversas paralelas, pessoas distraí-
das usando o celular, até mesmo, pessoas debruçadas sobre mesas ou carteiras.
Nesta circunstância específica de comunicação, somos capazes de medir reações,
de modo instantâneo, e as avaliamos como concordância ou discordância, apatia,
desatenção. A partir da nossa interpretação sobre a mensagem que o compor-
tamento da audiência nos passa, temos a possibilidade de adotar técnicas de
interação, retomando o controle da atenção do público (RODRÍGUEZ, 2015).
No contexto da oralidade, necessitamos considerar as diversas estratégias
comunicativas possíveis, as quais, mesmo que tenham sido, cuidadosamente,
planejadas, precisam, muitas vezes, ser alteradas ali, no momento, devido a (re)
ações da plateia. A título de dicas para o profissional iniciante nas artes da orató-
ria, citaremos: usar o conteúdo como estímulo; alternar ordem cronológica e fatos
novos; realizar pausas calibradas; usar, com habilidade, a movimentação no am-
biente (deve ser comedida em certos contextos jurídicos); explorar a entonação

104
UNIDADE 4

de voz; realizar perguntas retóricas com o intuito de chamar/retomar a atenção


da audiência; trabalhar com leituras de textos, usar imagens e figuras, em especial,
se recursos audiovisuais e digitais estiverem disponíveis (RODRÍGUEZ, 2015).
Existem, porém, duas características fundamentais ao orador habilidoso: o
carisma e a empatia. Normalmente, ambas são difíceis de serem ensinadas, ou
o orador as possui ou é muito custoso desenvolvê-las. De toda forma, o profis-
sional que preze por uma atuação excelente no contexto da argumentação oral
deve procurar saber mais a respeito destes dois elementos (RODRÍGUEZ, 2015).
Importa, também, o profissional que opera a linguagem jurídica no contex-
to da sustentação oral considerar as características principais desse âmbito. A
modalidade oral de uso da comunicação não deve abrir mão das regras de gra-
maticalidade bem como deve prestar especial cuidado à pronúncia das palavras.
Vejamos, a seguir, características mais marcantes da modalidade oral com
relação ao uso da Língua Portuguesa, exploradas a partir de Petri (2009):
■ Abrangência: a língua oral é mais abrangente do que a língua escrita,
pois, mesmo pessoas não alfabetizadas são capazes de se comunicar nesta
modalidade, desde que conheçam o código. Em um país como o Brasil,
que possui índices preocupantes de analfabetismo e indicadores ainda
piores, se considerarmos os analfabetos funcionais, esta possibilidade de
se comunicar na modalidade oral permite o acesso de pessoas que não
acessam a modalidade escrita à Justiça ou aos conhecimentos jurídicos.
■ Recursos não verbais: conforme mencionamos, esses recursos servem
de apoio e contextualização ao nosso idioma. Com o suporte de gestos,
olhares, meneios de cabeça, tom de voz, entre outros, a Língua Portuguesa
tem as suas potencialidades expressivas amplificadas.
■ Ritmo e entonação: na modalidade oral, o discursante pode lançar mão
de uma mudança brusca de ritmo na explanação, visando a retomar a
atenção (talvez, perdida) da audiência ou mudar o tom de voz para rea-
lizar a mesma ação. Esta oscilação de ritmo e entonação permite que a
comunicação fique mais fluida e menos monótona.
■ Interação: pelo fato de emissor e receptor da mensagem estarem, geral-
mente, na situação de oralidade de modo síncrono, muitas possibilidades
são facilitadas em relação ao texto escrito, no qual emissor e receptor
interagem de forma assíncrona. Um exemplo seria a possibilidade de o
receptor interromper o emissor e fazer alguma pergunta.

105
UNIDADE 4

■ Reações: como interagem face a face, o emissor da comunicação oral tem


a chance de, rapidamente, perceber reações do público e, então, adaptar a
sua comunicação para melhorar a eficácia persuasiva de sua argumentação.
■ Repetição: na modalidade escrita, a repetição de palavras e tópicos é,
altamente, reprovável; na oralidade, acontece o oposto: a repetição é ne-
cessária, pois, assim, o receptor que, por acaso, não prestou atenção em
algum ponto específico, não ficará perdido em relação ao contexto da
argumentação desenvolvida pelo orador.
■ Apagamento: na modalidade oral, é necessário mais cuidado por parte
do emissor da mensagem, pois não é possível apagar ou retirar algo que
ele tenha dito. Os editores de texto digitais tornam a modalidade escrita,
facilmente, editável, já no contexto oral, uma vez que tenhamos enunciado
alguma informação, não podemos apagá-la. Isso é, especialmente, comple-
xo, quando inúmeros discursos são gravados. Uma gafe discursiva corre
o risco de, rapidamente, viralizar e prejudicar a reputação do profissional.
■ Inversões e rupturas: enquanto que, na linguagem escrita, prima-se
pela ordem direta de construção das frases, na modalidade falada, são
abundantes as inversões e rupturas da ordem direta. Frases desviam da
trajetória esperada, um complemento não aparece, uma frase iniciada de
determinada forma é concluída de forma diferente, tópicos frasais são
perdidos ou esquecidos, entre outros.
■ Pausas: é comum ocorrerem pausas na argumentação oral, elas podem
ser preenchidas com verbalizações de “hã”, “hum”, “é”, dentre outros. No
contexto jurídico, costumam ser usadas pausas mais dramáticas para ex-
plorar estratégias discursivas.
■ Marcadores conversacionais: várias expressões são usadas para estabele-
cer conexões com a audiência, tais como: “né?”, “certo?”, “viu?”, “tudo bem?”,
“me acompanham?”, “entenderam?” etc. Estes elementos são relevantes na
interação e/ou retomada de atenção do público bem como uma forma de
demonstrar cuidado com os receptores que ouvem as mensagens.
■ Redução: muitas palavras são abreviadas na fala, ou mesmo, são omitidas
no contexto da frase.
■ Tempos verbais: na oralidade, alguns tempos verbais ou não são empre-
gados ou são muito pouco empregados, tais como os verbos no pretérito
mais-que-perfeito do indicativo.

106
UNIDADE 4

■ Exclui certas expressões: alguns elementos já difíceis de se empregar no


contexto escrito são, completamente, desnecessários na modalidade oral,
como as orações que empregam o pronome “cujo”.
■ Recursos expressivos: o orador tem a possibilidade de recorrer a onoma-
topeias (“zum-zum-zum”, “brum-brum”), e ao uso de frases exclamativas
(pouco frequentes no texto escrito).
■ Liberdade expressiva: enquanto são consideradas, completamente, ina-
dequadas na modalidade escrita dos textos jurídicos, na oralidade, o ora-
dor tem certa liberdade de lançar mão de gírias ou expressões populares.

De modo geral, é possível afirmar que, na modalidade oral, o fato de os interlo-


cutores estarem no mesmo espaço físico, em presença síncrona, cria uma série de
facilidades. Esses sujeitos compartilham, de forma rápida, informações e observa-
ções sobre o conteúdo da fala, também, “à medida que os elementos constitutivos
da situação (identidade dos personagens, lugar, data, hora, assunto) são conhe-
cidos, o vocabulário empregado refere-se a eles apenas por alusões (o receptor é
designado por ‘você’, o lugar por ‘aqui’…)” (PETRI, 2009, p. 15).
Assim, na oralidade, emissor e receptor compartilham a mesma situação espa-
ço-temporal. A participação da audiência permite que o locutor, constantemente,
(re)direcione e/ou (re)avalie a sua comunicação, com o objetivo de garantir que
a comunicação se efetive do modo mais explícito possível. Portanto, é possível
afirmar: “na produção da linguagem oral, temos, ao mesmo tempo, a produção
do ‘rascunho’ e do texto final” (PETRI, 2009, p. 15).
Considerando os elementos expressivos próprios da modalidade oral, pode-
mos citar a acentuação, a entonação, o uso de pausas, a fluência etc. Vejamos o
exemplo: “Seu irmão saiu muito cedo; Seu irmão saiu muito cedo; Seu irmão
saiu muito cedo (ênfase assinalada em negrito)” (PETRI, 2009, p. 15, grifos do
autor). Destaca-se que, nesta expressividade, atuam os elementos não verbais,
isto é, gestos, mímicas e outros comportamentos comunicativos suplementares.
Qualquer que seja a modalidade expressiva a qual o operador do texto jurídico
esteja empregando em sua comunicação, nesse trabalho, deve ser preconizada a boa
linguagem. Ou seja, tanto na linguagem escrita quanto na oral, o discurso do âmbito
jurídico necessita primar pelo texto cujos parâmetros sejam a rapidez e a eficiência.
Dessa forma, pensando em auxiliar o(a) estudante na boa e efetiva comuni-
cação, veremos algumas qualidades da boa linguagem.

107
UNIDADE 4

Boas Qualidades da Linguagem nas Diversas


Modalidades

A seguir, analisaremos, a partir de Sabbag (2013), algumas características que


auxiliarão o(a) estudante no uso de uma forma de linguagem entendida como
mais elaborada ou com mais qualidade. Vamos lá?
■ Correção: respeitar as normas gramaticais e linguísticas é, sempre, fun-
damental no âmbito do discurso jurídico. Assim, esta correção “deve ser
conquistada com o uso de uma linguagem escorreita, livre de vícios, for-
mando uma imagem favorável do comunicador perante os receptores das
mensagens” (SABBAG, 2013, p. 35). Este princípio de adequação precisa
ser conquistado tanto do ponto de vista jurídico quanto da perspectiva
das regras idiomáticas. Alguns autores afirmam ser inadmissível a um
profissional que usa a língua no interior do contexto jurídico cometer
equívocos linguísticos. Contudo deve-se cuidado para não incorrer o exa-
gero na ideia de correção gramatical tradicional da língua, “a fim de que
a preocupação exacerbada com o purismo ou com aquilo que não deve
ser dito sacrifique a espontaneidade, podando a ideia a ser transmitida”
(SABBAG, 2013, p. 36). Ainda cabe um último cuidado: evitar que um ri-
gor excessivo afaste demais o emissor e o receptor da mensagem, afinal, “o
segredo da boa comunicação está na receita: simplicidade com proprieda-
de - a primeira indicando uma preocupação com quem lê; a segunda, uma
preocupação de quem escreve” (SABBAG, 2013, p. 36, grifos do autor).
■ Concisão: é uma qualidade que se relaciona com a objetividade e efeti-
vidade das mensagens que precisam ser transmitidas. “Falar muito, com
prolixidade, é fácil; difícil é falar tudo, com concisão” (SABBAG, 2013, p.
36). Dicas para a concisão seriam: evitar períodos alongados, usar poucas
palavras, organizar logicamente a argumentação, retirar digressões, evitar
“enfeites” desnecessários ao sentido das frases, substituir palavras repeti-
das por sinônimos, redigir frases que contenham a ideia principal a de for-
ma clara, entre outras. O redator do texto jurídico deve “buscar transmitir
o máximo de ideias com o mínimo de palavras, evitando a ‘enrolação’. [...]
A linguagem direta, sem rebuscamentos e excesso de adjetivações, comu-
nica melhor” (SABBAG, 2013, p. 38). Sempre que possível, é recomendável

108
UNIDADE 4

que o redator redija, primeiro, um rascunho, depois, o revise, de forma a


manter a concisão, a clareza e, até mesmo, aperfeiçoe frases.
■ Clareza: diz respeito a ideias límpidas e formas simples. A clareza se des-
taca na construção cristalina das mensagens que o autor pretende passar.
“Trata-se de virtude essencial da comunicação, e seu oposto é a obscurida-
de e a ambiguidade (ou anfibologia) - vício de linguagem que consiste em
deixar uma frase com mais de um sentido” (SABBAG, 2013, p. 41). Uma
forma de produzir textos claros é redigir pensando em escolher palavras
comuns e compreensíveis para receptores comuns, formando frases cur-
tas e organizadas segunda a sintaxe de ordem direta. “Há certos profissio-
nais que se esmeram na linguagem rebuscada, quase incompreensível, na
vã ilusão de que com isso impressionam. Ledo engano” (SABBAG, 2013,
p. 41). Sempre considere quem é o seu destinatário e adeque a variante
de língua a esses receptores. Para o operador da linguagem jurídica que,
em algumas situações, manuscreve o seu texto, a caligrafia não deve ser
negligenciada, pois a sua letra será o veículo por meio do qual a sua men-
sagem será comunicada. Muitas vezes, a formulação mesma da frase é que
leva uma redação a perder clareza. Estudemos o exemplo: “Haverá um
seminário sobre homossexualidade na Câmara” (SABBAG, 2013, p. 44),
a falta de clareza instaura-se quando se questiona: “o tema do seminário é
‘homossexualidade’ ou ‘homossexualidade na Câmara’? Caso se confirme
este último, não seria seminário, mas discriminação sexual, não acha?”
(SABBAG, 2013, p. 44). A ambiguidade que prejudica a clareza dessa frase
pode, facilmente, ser solucionada com a inversão de elementos. Redigi-
ríamos a frase assim: “Na Câmara dos Deputados, haverá um seminário
sobre homossexualidade” (SABBAG, 2013, p. 44).
■ Precisão: para cada uma de nossas mensagens, existe o elemento vocabu-
lar correto, próprio, há uma “palavra exata” (SABBAG, 2013, p. 50). Além
disso, “na construção do texto, é fundamental colocar a palavra certa no
lugar devido” (SABBAG, 2013, p. 50). Escolher a palavra precisa é rele-
vante, pois o autor dos textos poderá “atingir o objetivo de comunicar
exatamente o que pretende e evitar mal-entendidos. A prática constante
da leitura e da escrita e exercícios com sinônimos ajudam a desenvolver
a precisão” (SABBAG, 2013, p. 51). É necessário, então, que o(a) estudante

109
UNIDADE 4

invista, desde já, na construção de uma bagagem de conhecimentos lin-


guísticos, no sentido de ampliar o vocabulário.
■ Naturalidade: “a escrita deve correr simples e espontânea, sem que se
perceba o esforço da arte e a preocupação do estilo” (SABBAG, 2013,
p. 53). Para uma redação mais natural, podemos evitar artificialismos e
mensagens rebuscadas, retirar o emprego de linguagem intangível, um
vocabulário que não é acessível para grande parte do público. Assim, o
redator deve preferir “a utilização de ‘morrer’ a ‘falecer’; de ‘caixão’ a ‘fére-
tro’” (SABBAG, 2013, p. 53). Nesta toada, os textos mais simples são mais
naturais e, por isso, mais recomendáveis.
■ Originalidade: “trata-se da qualidade inata ao escritor, um dom natural.
É o ‘ser você mesmo’, o estilo de cada um” (SABBAG, 2013, p. 55). Essa
qualidade advém da forma como cada redator vê o mundo e as coisas,
sem imitações ou sem um estilo artificial. Como outras habilidades, a ori-
ginalidade aparece com o tempo, pois o “estilo vai-se definindo, mediante
certas preferências vocabulares e de construção frasal. Essa definição há
de evidenciar a ‘marca’ do emissor e mostrar a sua visão do mundo” (SA-
BBAG, 2013, p. 55).
■ Nobreza: o texto nobre é aquele que não lança mão de elementos chulos,
de expressões grosseiras ou rudes. Como o espaço de utilização da lingua-
gem jurídica é, majoritariamente, de emprego do português culto, “não se
pode admitir no texto jurídico a presença de palavrões e chocantes por-
nografias, que só vêm atentar contra a nobreza do petitório, maculando
a sua essência” (SABBAG, 2013, p. 58). Deve, então, o redator ter cuidado
com os limites do bom-senso, da boa educação, considerando, sempre, a
situação comunicativa. “O texto nobre é aquele que qualquer pessoa pode
ler ‘sem censura’” (SABBAG, 2013, p. 58).
■ Harmonia: a redação que se pretende harmônica “prima pela adequada
escolha e disposição dos vocábulos, pelos períodos não muito longos e
pela ausência de cacofonias. Representa o componente musical da frase. A
confecção cuidadosa dos períodos imprime ao texto equilíbrio melódico”
(SABBAG, 2013, p. 61). Um texto harmônico oferece a possibilidade de
uma leitura por prazer, pelo gosto de ler um texto belo. Visando a cons-
truir a harmonia em seu texto, evite as cacofonias e a repetição de palavras
(faça exercícios com dicionários e sinônimos).

110
UNIDADE 4

As características, anteriormente, expressas devem ser uma busca constante do


operador da linguagem jurídica, porque “é fundamental ao operador do Direito,
evitando o prejudicial distanciamento dos postulados estudados, preservar a boa
linguagem e, com isso, alcançar o que se busca no discurso jurídico: o êxito na
arte do convencimento” (SABBAG, 2013, p. 62).
Como último recurso expressivo e linguístico que podemos oferecer ao(à)
estudante, nesta unidade, retomar algumas expressões que, a partir de Petri
(2009), são consideradas de difícil emprego. Por conseguinte, é relevante, mesmo
o mais hábil redator, sempre revisar o uso desses elementos os quais, por vezes,
podem nos confundir no momento da produção textual. Vamos lá?
■ A anos – Há anos: Há anos = tempo passado (faz anos). A anos = tempo
futuro. Exemplos: A teoria surgiu há três anos. Os resultados surgirão
daqui a dois anos.
■ A fim de – Afim: A fim de = locução prepositiva, indica finalidade. Afim
= adjetivo, indica semelhança. Exemplos: Opta-se pela pesquisa quanti-
tativa a fim de retratar a situação pesquisada. Os artigos mencionados
possuem interesses afins.
■ A par – ao par: A par = inteirar-se. Ao par = equivalência cambial. Exem-
plos: O orientador colocou-me a par das discussões. O dólar e o real estão
ao par (com o mesmo valor).
■ Acerca de – Há cerca de: Acerca de = “a respeito de”. Há cerca de =
faz tempo, há, aproximadamente, tanto tempo. Exemplos: No texto,
o autor argumenta acerca da questão… Há cerca de dois anos, um
estudo do IBGE…
■ Senão – Se não: Senão = caso contrário. Exemplo: Terminaremos o tra-
balho, senão não receberemos. Se não = se, por acaso, não. Exemplo: Se
não quiser acompanhar-me, entenderei.
■ Através – Por meio: Através = cruza, passa, atravessa de um lado a outro.
Por meio = modo, maneira de conseguir algo. Exemplos: Eu passei através
da ponte. Eu realizei a pesquisa por meio de metodologias qualitativas.
■ De encontro a – Ao encontro de: Ao encontro de = significado de “estar
de acordo com”, “em direção a”, “favorável a”, “para junto de”. Exemplo: Meu
novo trabalho veio ao encontro do que desejava. De encontro a = tem
significado de “contra”, “em oposição a”, “para se chocar com”. Exemplo:
Esta teoria vai de encontro ao que afirma Minayo. Logo, “ao encontro de”

111
UNIDADE 4

é uma expressão usada para indicar concordância, enquanto “de encontro


a” é uma expressão usada para indicar discordância.

O âmbito da comunicação relacionado ao contexto jurídico, como vimos nesta


unidade, é bastante complexo e diverso. Inicialmente, o operador da linguagem
jurídica deve atentar-se ao fato de que existem os dois axiomas da comunicação:
é impossível não comunicar e comunicação é comportamento. Desse modo, o
operador do discurso jurídico precisa perceber, nas mais diversas situações co-
municativas, os elementos não verbais que atravessam e constituem a transmissão
das suas mensagens.

Olá, estudante! Como vimos nesta unidade, a comunicação


é um elemento mais amplo, e a modalidade comunicativa
(escrita, oral, entre outras) altera a forma como empregamos
a linguagem para nos comunicar. Nesse contexto, o podcast,
talvez, seja um modo de comunicação mais aproximativo,
que fará você compreender, mais facilmente, os elementos
da unidade, ou mesmo, realizar, de forma breve, uma re-
visão do conteúdo. Então, aperte o play e venha se aprofun-
dar nos nossos conhecimentos sobre Linguagem Jurídica!

Nesta unidade, analisamos, igualmente, as peculiaridades da modalidade oral de


uso da linguagem. Esta forma expressiva guarda algumas diferenças em relação ao
texto escrito, mas diferenças não são negativas, ao contrário, algumas são bastante
positivas, como os recursos gestuais, de entonação, de expressão facial, entre outros.
Apesar de acontecer e perpassar algumas modalidades expressivas distintas,
existem características que qualquer texto do âmbito jurídico deve ter. Elas são
fundamentais tanto nos textos escritos quanto nos textos orais que circulam em
contextos comunicativos do ambiente jurídico. Algumas das qualidades as quais
estudamos são: clareza, harmonia, precisão, nobreza e originalidade.
Esperamos que esses elementos possam auxiliar o(a) estudante na consecução
de seus objetivos profissionais. Até a próxima unidade!

112
UNIDADE 4

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Suits
Ano: 2011-2019
Sinopse: Suits é uma série de TV americana que conta a história de
um aspirante a advogado que abandonou a faculdade de Direito e
impressiona um importante advogado da cidade de Nova York. Depois de
conseguir uma vaga na firma de advocacia sem ter licença para advogar,
Mike Ross enfrenta diversas situações do contexto jurídico ao lado de Hervey
Specter.
Comentário: a série apresenta diversos elementos de linguagem jurídica
e estratégias empregadas (algumas vezes, usando linguagem). Ao assistir a
Suits, o(a) estudante analisará como alguns elementos de linguagem não ver-
bal podem constituir-se em símbolos de status social e diferenciação entre
os diversos operadores da linguagem jurídica. Assistir à série é uma ativida-
de de lazer que pode ser associada ao início de uma construção de reper-
tório de estratégias técnicas, já que vários episódios giram em torno de uso
de jurisprudência, afinal, o personagem Mike Ross tem memória fotográfica.

NOVAS DESCOBERTAS

Para o(a) estudante que quer saber mais sobre o contexto dos axio-
mas da comunicação, segundo os quais é impossível não comunicar
e comunicação é comportamento, recomendamos o canal Metaforan-
do do YouTube.

Caro(a) estudante, agora que compreendemos o papel e a relevância da comuni-


cação no ambiente jurídico, você deve ter lembrado e acionado diversas memórias
de situações em que as pessoas cometeram gafes de linguagem não verbal (roupas
inadequadas, má postura, tom ofensivo etc.). Nesse contexto, pesquise uma situa-
ção comunicativa na qual um profissional da área jurídica derrapou no cuidado
com a comunicação e comente como essa situação poderia ter sido evitada.

113
1. Existem diversas formas de fazer referência à parte da nossa linguagem que não
usa palavras: comunicação não verbal, mídia primária, elementos extralinguísticos,
ethos, entre outros. Nesse contexto, considerando a comunicação e a linguagem
em sentido amplo, Watzlawick, Beavin e Jackson (2000) afirmam existir dois axiomas
da comunicação humana. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, esses
dois axiomas:

a) As línguas variam e o silêncio comunica.


b) A comunicação é ampla e os sentidos são produzidos, inconscientemente.
c) É impossível não comunicar e comunicação é comportamento.
d) Nenhum discurso é neutro e o sujeito é inconsciente.
e) Os sentidos são produzidos em interação e é impossível não comunicar.

2. Considerando os dois axiomas apresentados por Watzlawick, Beavin e Jackson (2000),


comente em, no máximo, cinco linhas, a respeito de situações cujo funcionamento
destas duas proposições impacta o trabalho do operador do Direito.

3. Se consideramos que o formato do texto impacta a produção de sentidos, precisa-


mos considerar que, quaisquer que sejam as nossas necessidades comunicativas,
elas podem ser veiculadas por meio de várias modalidades expressivas. Muito diver-
sas, há duas modalidades expressivas que apresentam maior diferença entre si. Por
meio desse prisma, assinale a alternativa a qual apresenta essas duas modalidades:

a) Modalidade prosódica e modalidade hermenêutica.


b) Modalidade oral e modalidade escrita.
c) Modalidade individual e modalidade coletiva.
d) Modalidade civil e modalidade penal.
e) Modalidade culta e modalidade oratória.

4. Considerando os nossos estudos sobre a modalidade comunicativa oral, cite o ele-


mento característico dessa forma de expressão que você acredita que mais contri-
buirá no seu exercício profissional.

5. Qualquer que seja a modalidade expressiva, o discurso jurídico precisa tomar alguns
cuidados com relação à boa qualidade da linguagem. Nesse contexto, apresente, ao
menos, cinco características necessárias à qualidade do texto jurídico.

114
5
A Argumentação
e Suas Marcas
Linguísticas
Drª Daniela Polla

Olá, estudante! Nesta última unidade, abordaremos as questões ati-


nentes ao emprego da Linguagem Jurídica para argumentação. As-
sim, estudaremos os principais tipos de argumentos empregados no
contexto jurídico, tais como: argumento contrario sensu, ad absurdum,
pró-tese, de autoridade, entre outros. Além disso, ao final, pensaremos
em algumas marcas linguísticas que podemos empregar no texto ar-
gumentativo, a fim de deixar direcionamentos que ajudem a orientar o
nosso leitor ou ouvinte, quando ele entra contato com a argumentação
desenvolvida, dentre eles: os operadores argumentativos, a modaliza-
ção e os indicadores de domínio. Bons estudos!
UNIDADE 5

Você já percebeu que a redação dos textos produzidos pelos operadores da lin-
guagem jurídica é um pouco diversa e mais elegante do que os textos de outros
gêneros e áreas? Ao ambientar-se com a área, o futuro profissional pode inda-
gar-se: como farei para chegar no nível de linguagem que observo nos textos e
documentos jurídicos aos quais já tive acesso?
Quando nos aventuramos a descobrir uma nova área profissional, é comum
querermos nos comparar com os melhores, ao invés de nos entendermos como
iniciantes. Contudo a leitura de bons textos jurídicos/forenses é uma das melho-
res formas que o(a) estudante iniciante na Linguagem Jurídica encontrará para,
aos poucos, ampliar o seu vocabulário jurídico e a sua capacidade argumentativa.
Estudante, vamos realizar um exercício para observarmos a argumentação
jurídica? Acesse a plataforma Jusbrasil, selecione um artigo e avalie os recursos
argumentativos utilizados, a ordenação dos argumentos e o vocabulário em-
pregado. Em seguida, registre, em especial, palavras que você desconhecia ou
expressões e formas cuja construção de frases considerou interessante.
Colocando a mão na massa, o(a) estudante deve ter percebido que, mesmo
em artigos publicados para informação, os operadores do Direito redigem os seus
textos com uma forma diferenciada de usar a linguagem. Os termos técnicos, as
expressões em latim, a ordenação dos argumentos bem como o correto uso do
vernáculo são características comuns dos textos que circulam em ambiente jurídico.
Nesse contexto, aqui, nesta unidade, faremos, juntos, uma reflexão sobre a
argumentação e as suas marcas linguísticas.

116
UNICESUMAR

Conforme estudamos, dominar a Língua Portuguesa é o mínimo esperado do


operador do Direito. Mais do que isso, é necessário que, nas peças e documentos,
seja empregada linguagem técnica e adequada ao ordenamento jurídico vigente.
Nesse cenário, “o Direito é a profissão da palavra, e o operador do Direito, mais
do que qualquer outro profissional, precisa saber usá-la com conhecimento,
tática e habilidade” (SABBAG, 2013, p. 17, grifo do autor).
Sendo assim, além da questão técnica, é recomendado que os operadores do
Direito considerem o poder de argumentatividade e expressividade dos textos os
quais redigem. A palavra é a principal ferramenta com a qual trabalha o profis-
sional forense, assim, deve-se, sempre, procurar empregá-la, seja no texto escrito,
seja no falado, com “elegância, brevidade e clareza” (SABBAG, 2013, p. 17).
Muitos autores escrevem obras sobre o estilo jurídico, ou estilo forense. Nas-
cimento (2013), porém, prefere a expressão elegantia júris, pois o termo “estilo”
carrega elementos de subjetividade não bem aceitos em um ambiente que deve
seguir as leis. O autor emprega, então, o termo “linguagem jurídica”, por ser mais
amplo. Nesse diapasão, Nascimento (2013) preconiza que a argumentação nessa
linguagem siga três funções: cavere, scribere, respondere.
A função denominada cavere diz respeito a ser cauteloso.“Ou seja, não tomar as
cautelas que a ação ou o documento exigem” (NASCIMENTO, 2013, p. 296). Seria
por exemplo, a cautela de solicitar um recibo para ter comprovação do pagamento.
Já a função scribere é, como definição geral, escrever, nada mais é do que a redação
das peças jurídicas. Para exemplificar, Nascimento (2013, p. 296, grifos do autor)
cita Cícero: “scribere leges - dar por escrito consultas de direito”. Por fim, respondere,
como nos parece, tem o sentido de dar uma resposta. Assim, possuir uma procura-
ção para representar ou ser um consultor jurídico podem ser funções da linguagem
jurídica. Dessa forma, Nascimento (2013, p. 296, grifos do autor) exemplifica com a
expressão: “respondere de jure (dar conselhos de Direito, para Cícero)”.
Com a análise dessas três funções diferentes, Nascimento (2013) chama aten-
ção para o fato de que as funções dos operadores do Direito marcam, igualmente,
mudanças na linguagem jurídica empregada. “As linguagens das leis, dos juristas
em pareceres, dos advogados em razões, dos juízes em sentenças, acórdãos e
arestos diferem entre elas, como diferem entre si advogados e juízes” (NASCI-
MENTO, 2013, p. 297).
Nesta variedade, há uma constância representada pelos princípios sob os
quais costuma operar a linguagem jurídica. Nascimento (2013, p. 297, grifos do

117
UNIDADE 5

autor) apresenta como principais características dessa linguagem, na sua moda-


lidade expressiva escrita: “a expressão lógica, breve, clara e precisa”. Para atingir
a elegantia juris, seria necessário o operador do Direito saber trabalhar, em sua
prática de redação, com todas estas qualidades.
Este trabalho seria uma tarefa, relativamente, simples se a Língua Portuguesa
não fosse tão, marcadamente, complexa. O desconhecimento de alguns elemen-
tos atinge, até mesmo, aqueles que devem operar com ela em seu exercício pro-
fissional. Nesse sentido, os profissionais que operam com a linguagem jurídica
colocam em funcionamento a Língua Portuguesa e os elementos jurídicos, a fim
de se comunicarem (SABBAG, 2013). Dessa forma, é relevante que, desde já,
o(a) estudante comece a se atentar para uma escrita que seja elegante, técnica e
precisa, ao mesmo tempo.
Por isso, a seguir, abordaremos alguns elementos da linguagem jurídica como
uma linguagem técnica, fundamentalmente, argumentativa, com vistas a auxiliar
o(a) estudante em seu futuro exercício profissional.

A Linguagem Jurídica Como Linguagem Técnica

Pensando na própria definição de linguagem, Nascimento (2013) observa que,


no contexto jurídico, esta palavra assume um peso maior, afinal, se entende que
“a linguagem é a expressão do pensamento” (NASCIMENTO, 2013, p. 37), no
sentido de que o processo da argumentação jurídica visa, em geral, à razão, pois
costuma ir de um fato conhecido para outros elementos desconhecidos, consti-
tuindo um raciocínio. Desse modo, teremos que a linguagem jurídica estabelece,
normalmente, um processo de raciocínio lógico.
Se acionarmos os tipos de linguagem, temos: a coloquial, empregada para as
comunicações cotidianas; a artística, empregada para explorar a expressividade,
como a Literatura, buscando a estética, a emoção, não seguindo, portanto, normas
muito rígidas; por fim, há a linguagem técnica, a qual “visa informar, ou conven-
cer. A linguagem lógica está incluída na linguagem técnica” (NASCIMENTO,
2013, p. 37, grifos do autor).
A linguagem lógica, orientada para acionar um raciocínio, se relaciona com
as linguagens técnicas que visam ao convencimento, como é o caso da oratória
forense. É nesse contexto que Nascimento (2013, p. 38, grifo do autor) situa a

118
UNICESUMAR

linguagem jurídica: “é fundamentada em argumentos e busca a razão, ou seja, o


pensamento em movimento”.
Nesta esteira, o autor nos ensina que, quando se objetiva operar com a lingua-
gem jurídica, é necessário mais do que entender a gramática e buscar a signifi-
cação dos termos ou vocábulos, deve-se saber redigir seguindo a ordem de uma
argumentação lógica. Para o autor, é preciso que relacionemos dois conceitos:
“Linguagem - expressão do pensamento” e “Lógica - ordenação do pensamento”
(NASCIMENTO, 2013, p. 38).
O(A) estudante deve se lembrar que estudamos a sintaxe de ordem direta,
segundo a qual redigimos na seguinte ordem: sujeito + verbo + complemento.
Esta organização lógica da frase é transposta aos parágrafos — construídos com
início, meio e fim — bem como na estruturação de nossos textos — com intro-
dução, desenvolvimento e conclusão —. Dessa forma, nos acostumamos, aos
poucos, com a construção de um raciocínio que objetiva levar os nossos leitores
ao que chamamos, popularmente, de “beco sem saída”, cuja única possibilidade
será concordar com a argumentação que o nosso texto desenvolveu.
Nos textos jurídicos, sejam eles petições iniciais, sejam eles recursos ou reque-
rimentos, até mesmo, em sentenças, são construídos raciocínios lógicos (NASCI-
MENTO, 2013). Eles são compostos, de forma resumida, do seguinte modo: “O
fato concreto é a premissa menor; a norma ou a sentença é a premissa maior; o
pedido ou decisão é a conclusão” (NASCIMENTO, 2013, p. 37, grifos do autor).
Trata-se, assim, de um raciocínio lógico que argumenta no contexto de levar os
leitores ou ouvintes a conclusões obtidas em um movimento de fatos conhecidos
para outros fatos desconhecidos (NASCIMENTO, 2013). Nesse sentido, o autor
defende que a lógica, o estabelecimento de um raciocínio, “auxilia a linguagem
jurídica a conseguir o seu fim precípuo, ou seja, argumentar para convencer”
(NASCIMENTO, 2013, p. 39).
Assim, compreende-se que a argumentação é uma das principais áreas que
deve ser estudada pelo futuro profissional da linguagem jurídica. Com o obje-
tivo de auxiliar o(a) estudante nesta tarefa, a seguir, abordaremos os principais
argumentos jurídicos acionados por autores que são referências na área de ar-
gumentação jurídica.

119
UNIDADE 5

A Argumentação no Contexto da Linguagem


Jurídica

O conceito de argumentação é bastante amplo e, também, capaz de se manifestar


em vários tipos de texto, inclusive para além dos textos técnicos. A argumentação
pode, então, aparecer tanto em textos orais quanto escritos, em textos mais co-
muns e técnicos. Em sentido amplo, ela está presente tanto em notícias e anúncios
publicitários quanto em petições, pareceres, debates, documentações e inúmeros
outros (PETRI, 2009).
A atividade argumentativa, nesse sentido, é quase que inerente ao uso da Lín-
gua Portuguesa (PETRI, 2009). Assim, ao empregarmos essa língua, acionamos
elementos e deixamos marcas em nossa redação, com o intuito de que o leitor/
ouvinte seja direcionado a concordar com a nossa conclusão.
Por ser um conceito bastante amplo e associado com reflexões filosóficas
e linguísticas (PETRI, 2009), a questão da argumentação é bastante complexa.
Nesse contexto, Rodríguez (2015) questiona: existe uma argumentação, propria-
mente, jurídica? No entendimento do autor, “Não se pode dizer que exista um
argumento jurídico propriamente dito, porque, como meio linguístico que busca
a persuasão, todo tipo de argumento pode ser utilizado no discurso forense”
(RODRÍGUEZ, 2015, p. 175, grifos do autor).
Como já vimos de forma breve, anteriormente, em nossa disciplina, existem
alguns tipos de argumentos que são criados e empregados, com mais intensidade
e propriedade, no discurso do ambiente jurídico. Isso ocorre por várias razões,
“seja por se relacionarem ao trabalho probatório, seja por se fundamentarem em
princípios jurídicos, da interpretação da norma” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 175).
Nesse sentido, a fim de que o(a) estudante da linguagem jurídica, caso neces-
site, tenha elementos e modelos argumentativos para operar a sua prática pro-
fissional, abordaremos, a seguir, alguns desses argumentos, com base em autores
de referência da área.

Tipos de Argumentos do Contexto Jurídico

Agora, analisaremos alguns tipos de argumentos que não são, necessariamente,


jurídicos, porém costumam ser empregados em argumentações desenvolvidas

120
UNICESUMAR

por operadores do Direito, nas mais variadas modalidades expressivas. Nesse ce-
nário, acionaremos as classificações de Rodríguez (2015) bem como de Valverde,
Fetzner e Tavares-Junior (2015).
■ Argumento contrario sensu

É uma forma de argumentar no sentido de estabelecer uma interpretação inversa.


Pode ser empregado para interpretar dispositivos legais, também é possível acio-
nar essa argumentação quando doutrina e jurisprudência divergem. O operador
do Direito deve, contudo, ter cautela e avaliar caso a caso, a fim de evitar cair em
falácia e, assim, anular a sua argumentação (RODRÍGUEZ, 2015).
Pensando em um exemplo, é possível perceber que “se a jurisprudência afirma
ser lícita a prisão cautelar quando houver fortes indícios de autoria, pode-se defen-
der, contrario sensu, que, à ausência desses fortes indícios, a prisão cautelar torna-se
ilegal” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 176, grifos do autor). Em um caso concreto, quando
uma “testemunha afirmou em plenário que, porque não tivera aula naquela noite,
chegara cedo a sua casa. Disso infere-se, contrario sensu, que era seu costume che-
gar tarde a sua casa, nos dias de aula” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 176, grifos do autor).
Para exemplificar com uma interpretação de norma, Rodríguez (2015, p. 176,
grifos do autor) cita que “se o artigo 29 do Código Penal dispõe que ‘quem, de
qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas…’, tem-
-se, contrario sensu, que quem não concorre para o crime não pode incidir nas
suas penas”. Assim, assume-se uma norma ou um fato, e a argumentação explora
a afirmação do seu contrário, com o objetivo de desenvolver o seu ponto de vista.
Conforme mencionamos, ao optar por empregar esse argumento, o(a) estu-
dante deve estar atento(a) para não cair em uma falácia. Desse modo, cada caso
de emprego do argumento contrario sensu precisa ser avaliado, com cuidado,
pelo operador da linguagem jurídica, a fim de não cair em equívocos.
Rodríguez (2015, p. 176, grifos do autor) apresenta o seguinte exemplo de
interpretação de norma: “O artigo 27 do Código Penal dispõe que os menores de
dezoito anos são penalmente inimputáveis. Assim, contrario sensu, os maiores de
dezoito anos são criminalmente responsáveis”. Caro(a) estudante, avalie conosco:
esse argumento contrario sensu está correto? Podemos defender que todos os
maiores de 18 anos são, penalmente, imputáveis? Aqui, precisamente, aparece
o risco da falácia que abordamos. Não podemos, de modo algum, afirmar que
quaisquer pessoas nesta faixa etária são, penalmente, imputáveis. Se fizermos essa

121
UNIDADE 5

argumentação, o que aconteceria com as pessoas as quais, comprovadamente,


apresentam transtornos mentais e são consideradas incapazes de compreender
a ilicitude de seus atos?
Ao empregar esse tipo de argumento, portanto, você deve cuidar com o redu-
cionismo. Tente retirar do raciocínio a parte necessária para a compreensão dos
fatos. Tome cuidado ao seguir em frente, mesmo com esses equívocos citados,
pois, quem percebe a falácia, não será persuadido (RODRÍGUEZ, 2015).
■ Argumento ad absurdum

Trata-se do tipo de argumento em que um resultado impossível leva o interlo-


cutor a questionar a sua origem. Isso é, precisamente, o objetivo da pessoa que
argumenta ad absurdum. Assim, esse argumento “é aquele que procura demons-
trar a falsidade de uma proposição estendendo-se seu sentido e aplicando-lhe
regras lógicas do Direito, até alcançar um resultado que o interlocutor entenda
como impossível” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 178).
O autor cita o exemplo de um réu que se encontra detido por porte ilegal de
arma. A acusação defende a negativa do direito à liberdade provisória devido à
gravidade do crime e que a legislação não permitiria o benefício. “Mas, pensemos:
estatística recente assenta que perambulam, nesta cidade de São Paulo, aproxi-
madamente, 1 milhão de armas ilegais. Se existem 1 milhão de armas ilegais, há
a mesma quantidade de pessoas cometendo o mesmo delito que o ora acusado”
(RODRÍGUEZ, 2015, p. 178). Considerando esse estudo e o princípio jurídico in-
questionável de que a justiça é igual para todas as pessoas, deveria existir 1 milhão
de paulistanos presos, cautelarmente, devido ao mesmo crime do réu do nosso
exemplo.“Isso importa em afirmar que, pelo mais sensível e banal princípio jurídico,
nem se o maior bairro de São Paulo fosse transformado em um presídio, haveria
como alocar todos os presumidos detentos!” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 178).
É esse o funcionamento do argumento ad absurdum: usa premissas verossí-
meis para chegar a resultados impossíveis. O(A) estudante deve tomar cuidado
e perceber que verossímil é diferente de verdadeiro. O verossímil parece possível
de ser verdadeiro, assim, o argumentante pressupõe que o ouvinte não contes-
tará a gênese de seu argumento. Nesse sentido, o resultado é inverossímil, mas o
percurso argumentativo deve convencer de que as premissas são válidas, visando
fazer o resultado ofender o bom senso. Uma dica é realizar uma argumentação
mais lenta e sedutora, a fim de construir a verossimilhança (RODRÍGUEZ, 2015).

122
UNICESUMAR

De modo oposto, para combater o ad absurdum, o argumentante tem a pos-


sibilidade de mostrar que, apesar de parecerem verdadeiras, as premissas não
correspondem à verdade e solicita prova. Todavia o absurdo pode já ter persuadi-
do os demais interlocutores pelo seu impacto (RODRÍGUEZ, 2015). Assim como
nos demais tipos de argumentos, “vale a regra: o argumento que não persuade
prejudica” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 183).
■ Uso da ridicularização

Assim como a nomenclatura indica, “o raciocínio ridículo é aquele que merece a


reprovação do riso porque eleva-se a um nível de não aceitabilidade humorística.
Quando existe consenso ou verossimilhança em determinada afirmação, qualquer
outro raciocínio que a contrarie pode levar ao ridículo” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 184).
O argumentador da linguagem jurídica pode, por exemplo, usar o ridículo
quando não quiser contrapor, diretamente, um colega operador do Direito ou
não quiser se alongar em temas não tão relevantes, então, ridiculariza algum
argumento específico. A ridicularização tem a possibilidade de fazer parte do
argumento ad absurdum e, em alguns casos, ela funciona melhor do que longas
contraposições. “O ouvinte que tem seu humor elevado pela argumentação sem-
pre tende a aderir ao orador que o alegra” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 185).
Empregar a ridicularização costuma ajudar o argumentador a passar de uma
maçante exposição de dados/provas à persuasão. Contudo é necessária a cautela
em seu uso, pois, no discurso jurídico, deve-se, sempre, avaliar a adequação ou não
do discurso ridículo/humorístico, afinal, nem todas as situações comunicativas
favorecerão o emprego dessa estratégia argumentativa.
■ Argumento a coherentia

Essa forma de argumentação é aquela em que “o argumento pretende demonstrar


que, na existência de duas normas jurídicas que aparentemente regulam o mesmo
fato, deve haver um diferencial que faça com que apenas uma delas incida sobre
um caso concreto” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 187). Quando isso ocorre, a coerência
aos princípios jurídicos orienta que o argumentador “tende a demonstrar que a
norma jurídica que incide sobre o caso concreto é aquela mais benéfica à parte
cujo interesse defende” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 187).
O autor cita o exemplo de um caso de publicidade enganosa. Segundo a Lei
nº 8.137 (BRASIL, 1990 apud RODRÍGUEZ, 2015, p. 187-188), temos que:

123
UNIDADE 5


Art. 7º Constitui crime contra a relação de consumo:

VII. Induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação


ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem
ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação
ou divulgação publicitária.

Pena - detenção, de 2 a 5 anos, ou multa.

Do mesmo modo, o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078) tutela a


respeito da mesma conduta:


Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previs-
tas neste Código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis
especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes.

Art 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação


relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, se-
gurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos
ou serviços.

Pena - detenção de três meses a um ano e multa (BRASIL, 1990


apud RODRÍGUEZ, 2015, p. 188).

Dessa forma, no exemplo apresentado, temos dois artigos de leis diferentes que
reprimem a mesma atitude: a publicidade enganosa, porém com sanções bastante
diferentes. Assim, o argumentador defenderá a aplicação da lei que melhor bene-
ficie a parte que defende. A argumentação mostrará que não existiriam duas nor-
mas para o mesmo fato e, comparando os dois artigos, poderia ser argumentada
“a efetiva lesão do consumidor. Assim, procura persuadir o leitor pela aplicação
do artigo que prescreve menor sanção” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 188).
Esse argumento é empregado com o intuito de não admitir contradição dos
operadores do Direito. Quando o caso é contrário e o operador precisa combater
ou desconstruir o argumento a coherentia, “não há regra evidente, pois deve ser
analisado caso a caso. Em geral, o argumento a coherentia implica comparação
entre valores diversos, e a doutrina e a jurisprudência tratam de resolver antino-
mias do próprio ordenamento” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 189).

124
UNICESUMAR

■ Argumento a fortiori

O argumento a fortiori é aquele que “impõe distinção entre normas proibitivas e


permissivas” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 192). Então, faremos um balanço entre o que
uma legislação permite ou proíbe. Nesse sentido, por exemplo, se “uma lei prescre-
ve que não se pode trafegar à noite com os faróis do veículo apagados, a fortiori
deve-se entender que é proibido trafegar à noite com um veículo sem faróis. Se a
lei proíbe o menor, evidentemente deve proibir o maior” (RODRÍGUEZ, 2015, p.
192). Para o desenvolvimento de argumentações no contexto de uso da linguagem
jurídica,“o argumento a fortiori é extremamente persuasivo, porque seu arcabouço
lógico é incontestável e cabível em inúmeros casos” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 195).
■ Córax

Esse tipo de argumentação “consiste em dizer que uma coisa é inverossímil por
ser verossímil demais. Argumento corriqueiro para o Direito Penal, embora esteja
vivo para outras searas” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 196).
Pensando que no contexto profissional dos operadores do Direito, a produção
de provas é complexa. Há lacunas nos depoimentos bem como versões diferentes,
mesmo alguém que testemunha a verdade é capaz de deixar pequenas lacunas.
Nesse contexto, “o argumento do córax procura demonstrar que, à ausência dessas
lacunas, aparece a imperfeição da versão apresentada. Paradoxal, porque a perfeição
acaba sendo a causa da imperfeição” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 196, grifos do autor).
Um exemplo seria a desconstrução de depoimentos que relatam o mesmo fato
sem nenhuma contradição: esta perfeição no relato parece, muitas vezes, ensaiada.
■ Argumento ad hominem

“Diz-se argumento ad hominem aquele que busca criticar mais determinado


homem do que as ideias que ele profere” (RODRÍGUEZ, 2015, p. 197). Nesse
sentido, por exemplo, seria um advogado que argumenta contra a pessoa que
defende a outra parte e não contra os argumentos por ela utilizados.
Esse tipo de argumento é considerado por muitos uma falácia, pois “os argu-
mentos valem por sua materialidade lógica e seu confronto com a realidade e não
pelas boas ou más características do orador que a profere” (RODRÍGUEZ, 2015,
p. 197-198). Ao argumentar contra a pessoa de outro argumentador, o operador
do Direito deve privilegiar o decoro e evitar ofensas pessoais. “A regra, de fato, é

125
UNIDADE 5

a de que os ataques pessoais à parte contrária apenas prejudicam aquele que os


profere, porque no mais alto grau de discussão, mormente no discurso jurídico,
aquele que pretende julgar pouco se interessa pelas figuras dos argumentantes”
(RODRÍGUEZ, 2015, p. 198).
■ Argumento pró-tese

Conforme o nome sugere, esse tipo de argumento é aquele a favor da tese de-
fendida, como faz qualquer argumentação. “Utiliza a razoabilidade e a coerência
do encadeamento sistematizado de fatos-razões como fundamento de validade”
(VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 103). O argumento pró-
-tese apresenta a tese defendida, acrescenta argumentos a ela, encadeando-os por
meio de expressões, tais como: “porque”, “e, também”, “além disso”, entre outras.
Nos demais parágrafos da argumentação, o operador poderá usar os conectores
argumentativos: “é bem verdade”,“até porque”,“por outro lado”,“em contrapartida”,
“por conseguinte”, “há quem diga”, “aliás”, “desse modo”, “embora”, “assim sendo”,
“soma-se a esse fato” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015).
No exemplo de um caso de argumentação em relação à negligência de um
hospital que realizou procedimentos de hemodiálise com água contaminada, o
argumento pró-tese poderia ser redigido da seguinte forma:


O hospital foi negligente porque utilizou água contaminada no
tratamento de hemodiálise de pacientes renais, e também não co-
municou o fato à secretaria de saúde. Além disso, mesmo após
ter conhecimento do alto índice de contaminação por bactérias,
continuou a utilizá-la, colocando, pois, em perigo eminente a vida
dos pacientes (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015,
p. 105, grifos dos autores).

Desse modo, no argumento pró-tese, a argumentação seguirá a ordenação lógica


dos elementos, de modo a levar o leitor/ouvinte a concordar com o ponto de vista
do argumentador.
■ Argumento de autoridade

Mais uma vez, como o título sugere, esse tipo de argumento é “aquele que invoca
o prestígio dos atos ou juízos de uma determinada pessoa ou grupo a partir do

126
UNICESUMAR

qual a afirmação ganha relevância” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JU-


NIOR, 2015, p. 106).
É preciso que o operador da linguagem jurídica esteja atento na identi-
ficação de quem é a autoridade. O argumentador tem a possibilidade de se
deparar com o exemplo de uma autoridade ser o profissional reconhecido de
determinada área (psicólogo ou médico), desde que seja capaz de atuar com
distanciamento, imparcialidade e legitimidade, ao contrário de um médico com
CRM irregular, por exemplo.
Muitas vezes, é possível identificar autoridades sem formação acadêmica que
podem auxiliar a nossa argumentação, como um agricultor que, sem ser agrôno-
mo, fala sobre solo e chuva, ou autoridades com representatividade social, como
um líder comunitário. É possível, portanto, que a autoridade seja alguém a qual já
vivenciou determinada situação, como seria o caso de cadeirantes que participam
da blitz da lei seca. Eles constroem uma argumentação por meio da autoridade,
ao se apresentarem como ocupantes do lugar de vítimas de acidentes de trânsito,
para evitar um novo mal a outras pessoas.
Além disso, os clássicos como “a doutrina, a opinião fundamentada de espe-
cialistas em geral e a legislação podem ser utilizadas como fundamentos relevan-
tes na redação de argumentos de autoridade” (VALVERDE; FETZNER; TAVA-
RES-JUNIOR, 2015, p. 110). Um exemplo seria a diferença entre o parecer de um
contador qualquer e o parecer de um contador judicial ou perito juramentado.
O operador do Direito que emprega o argumento de autoridade deve estar
atento ao fato de que doutrina, legislação, especialistas e jurisprudência têm de se
adequar ao caso concreto, ao invés de serem simples generalizações. Outro ponto
que merece cuidado é o fato de os argumentos de autoridade também seguirem
um percurso lógico, então, é necessário cuidado para que o texto não seja um
“amontoado de citações” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015,
p. 112). Não se trata, apenas, de citar o código (o artigo), mas desenvolver uma
argumentação com base nele.
■ Argumento de oposição

No contexto da argumentação jurídica, quase sempre haverá a contraposição


de outra parte. Nesse cenário, “o contraditório é uma realidade a ser enfrentada
pelo argumentador na prática forense” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JU-
NIOR, 2015, p. 113). Isso implica o fato de que, por exemplo, ao argumentar, o(a)

127
UNIDADE 5

estudante deve tentar antever argumentos os quais serão empregados pela outra
parte, a fim de os contrapor, previamente, de modo a deixar a outra parte sem
argumentos, bem como evitar deixar brechas na sua própria argumentação que
poderiam ser exploradas pelo outro argumentador.
Para ilustrar o funcionamento do argumento de oposição, citamos o exemplo
apresentado por Valverde, Fetzner e Tavares-Junior (2015, p. 115):
Já que…
Embora…
Uma vez que…
Apesar de…
Porque…
Ainda que…
Porquanto…
Em que pese…
Tese
Proposição que se
Proposição aceita
sobrepõe à anterior,
como possível, mas
anulando ou minoran-
que se quer negar.
do os seus efeitos.

porque a lei não pode


Embora seja obriga- O motorista que deixou
exigir de alguém que
ção do condutor de de estacionar para
ponha a sua própria
um veículo socorrer as socorrer os feridos não
vida ou a sua integrida-
vítimas de um acidente praticou omissão de
de física em risco para
de trânsito, socorro,
socorrer outrem.
Tabela 1 - Exemplo de argumentação por oposição / Fonte: adaptada de Valverde, Fetzner e Tava-
res-Junior (2015).

■ Argumento de analogia

O argumento que emprega “a analogia consiste, em sua essência, no preenchi-


mento da lacuna verificada na lei, graças a um raciocínio fundado em razões de
similitude, ou ainda, na correspondência entre certas notas características do
caso regulado e as daquele que não o é” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JU-
NIOR, 2015, p. 115). Nessa forma de argumentação, o argumentante estabelece
correspondência/semelhanças entre contextos diversos, por meio de analogias
de sentido e/ou proximidade.
Para ilustrar o funcionamento desse argumento, citamos o exemplo apre-
sentado por Valverde, Fetzner e Tavares-Junior (2015), de acordo com o qual se

128
UNICESUMAR

argumenta, por analogia, que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) se


parece com uma mãe:

Estatuto da Criança e do Adolescente Mãe

Legislação Humana

Defensor da condição de “ser em Compreensiva com os defeitos dos


desenvolvimento” dos menores. filhos.

Tutela, de maneira quase incondicio- Protetora incondicional de seus


nal, os direitos das crianças. filhos.

Considerado, demasiadamente, prote-


Acolhedora e carinhosa.
cionista por alguns.

Visa ao bem-estar das pessoas cujos Visa ao bem-estar e à felicidade dos


direitos deve proteger. filhos.
Tabela 2 - Argumento por analogia (ECA e mãe) / Fonte: adaptada de Valverde, Fetzner e Tavares-
-Junior (2015).

■ Argumento de causa e efeito

Com relação ao argumento de causa e efeito, devemos compreender que ”causa


e efeito - ou causa e consequência - são duas faces da mesma moeda” (VALVER-
DE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 122). Um fato só é causa se dele
derivarem outros eventos. Nesse sentido, os dois elementos são interdependentes.
Assim, entendemos a causa como a razão sem a qual o fato não aconteceria. Há,
ainda, o fator, o qual é um elemento que não causa o fenômeno, mas concorre para a
sua maior ou menor incidência (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015).
Na área jurídica, o nexo causal entre dois fatos reveste-se de importância
mister, pois qualquer indivíduo possui as suas obrigações e os seus direitos, em
relação a fatos que envolvam as demais pessoas. Isso quer dizer que, por exemplo,
“se um consumidor contrata uma empresa para reformar seu escritório e, durante
a prestação do serviço, um dos pedreiros causa um buraco na parede do escritório
vizinho, sua conduta gera como consequência a responsabilidade pelos danos
materiais causados” (VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015, p. 123).
Esses são alguns dos principais tipos de argumentos utilizados na produção
de discursos orais e escritos no âmbito jurídico. Ainda sob o viés de ofertar ao(à)

129
UNIDADE 5

estudante bagagem de conhecimentos para que ele(a) possa operar com a lin-
guagem no contexto jurídico, abordaremos, a seguir, alguns elementos associados
com a seleção de elementos linguísticos, para a composição dos nossos textos.
Começamos com a questão dos operadores argumentativos. Vamos lá?

As Marcas Linguísticas da Argumentação

Alguns elementos linguísticos dos nossos textos contribuem para direcionar o


fluxo da argumentação e deixar “pistas” ao leitor/ouvinte de qual é o direciona-
mento argumentativo do documento em questão: são os marcadores linguísticos
da argumentação.
Citaremos os operadores argumentativos e os marcadores de pressupo-
sição. Eles serão analisados, a seguir, para que o(a) estudante possa orientar a sua
escrita bem como o seu leitor/ouvinte, em sua argumentação.

Os Operadores Argumentativos

Segundo Koch (2001), a teoria dos operadores argumentativos foi cunhada por
O. Ducrot, e eles são elementos linguísticos que, além de indicar em qual direção
apontam, indicam, também, a força argumentativa.
Os operadores argumentativos aparecem em classes e escalas argumentativas.
Ocorre uma classe argumentativa quando os argumentos se orientam em função
de uma mesma conclusão, já a escala argumentativa existe quando os argumentos
de uma classe aparecem, em gradação de força, em direção a uma conclusão.
Koch (2001) cita uma tipologia dos operadores argumentativos. Vejamos, a
seguir, os principais deles.
a) Operadores que assinalam o argumento mais forte: “até”, “mesmo”, “até
mesmo”, “inclusive”, “pelo menos”, “ao menos”, “no mínimo” etc. (KOCH,
2001). Temos, no exemplo a seguir, o uso do “até mesmo”, que aparece
grifado e marca qual é o argumento mais forte na sequência de penas
possíveis para o acusado.

130
UNICESUMAR

Relato de recurso ordinário em mandado de segurança:


Empresa provedora de conta de e-mail nacional ou estrangeira sediada no
Brasil tem obrigação da quebra de sigilo telemático.
Sob pena de incidir, isolada ou cumulativamente, nas sanções de advertên-
cia, multa sobre o faturamento do grupo econômico, suspensão temporária das
atividades e, até mesmo, proibição de exercício das atividades dos provedores
de conexão e de aplicações de internet no Brasil.
Fonte: adaptado de STJ (2018a, on-line, grifo meu).
b) Operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão:
“e, também”, “ainda”, “nem”, “além disso”, “mas também” etc. (KOCH, 2001).
No excerto, a seguir, temos o uso do “ainda”, que acrescenta mais um ar-
gumento a um conjunto de argumentos semelhantes.

Ementa de recurso ordinário em mandado de segurança:


“4. Observe-se, ainda, que não há qualquer ilegalidade no fato de o delito
investigado ser anterior à vigência do Marco Civil da Internet”.
Fonte: STJ (2018a, on-line, grifo meu).
c) Operadores que introduzem uma conclusão relativa a enunciados ante-
riores: “portanto”, “logo”, “pois”, “consequentemente”, “em decorrência”, “por
conseguinte” etc. (KOCH, 2001). Na exemplificação, a seguir, ocorre o
emprego do “portanto”, que marca a relação do segundo argumento com
o primeiro, a fim de construir a argumentação do autor.

Relatório e voto em recurso ordinário em mandado de segurança:


“Pois a APPLE COMPUTER DO BRASIL LTDA. pertence ao mesmo grupo
econômico da APPLE INC., possuindo, portanto, condições técnicas e jurídicas
de prestar as informações requisitas, ainda que estas informações estejam arma-
zenadas nos Estados Unidos”.
Fonte: STJ (2019a, on-line, grifo meu).
d) Operadores que introduzem argumentos alternativos, os quais levam a
conclusões diferentes ou opostas: “ou”, “ou então”, “quer...quer”, “seja...seja”
etc. (KOCH, 2001). No texto, a seguir, o autor seleciona o “quando então”,
visando a marcar ao leitor a argumentação de quem é competente para
jugar o caso em uma situação específica.

131
UNIDADE 5

Ementa de recurso ordinário em habeas corpus:


“Tal regra é afastada nos casos em que a motivação do delito envolve questões
intimamente ligadas à defesa dos direitos indígenas, quando então será compe-
tente a Justiça Federal”.
Fonte: STJ (2018b, on-line, grifo meu).
e) Operadores que estabelecem relação de comparação entre elementos:
“mais que”, “menos que”, “tão...como” etc. (KOCH, 2001). No exemplo mo-
bilizado, a seguir, o autor seleciona a expressão “tanto mais quando” para
comparar a possibilidade de o magistrado autorizar a quebra do sigilo
telemático em geral e quando prevista em lei.

Ementa de recurso ordinário em mandado de segurança:


“Nessa toada, incumbe ao magistrado autorizar a quebra de sigilo de dados
telemáticos, pode ele se valer dos meios necessários e adequados para fazer cum-
prir sua decisão, tanto mais quando a medida coercitiva imposta (astreintes)
está prevista em lei”.
Fonte: STJ (2019a, on-line, grifo meu).
f) Operadores que introduzem justificativas ou explicações relativas ao
enunciado anterior: “porque”, “que”, “já que”, “pois” etc. (KOCH, 2001). A
seguir, apresenta-se um exemplo que emprega o “já que”, para explicar em
que se baseia o primeiro argumento utilizado.

Ementa de recurso ordinário em habeas corpus:


“Como se vê, o período de quebra do sigilo é muito semelhante àquele em
que teriam ocorrido os fatos criminosos, já que a denúncia registra que ‘[a]s
fraudes detectadas durante a investigação datam do ano de 2009 e persistem até
a presente data’”.
Fonte: STJ (2019b, on-line, grifo meu).
g) Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões
contrárias: “mas (porém, contudo, todavia)”, “embora (ainda que, posto
que, apesar de que)” etc. (KOCH, 2001). Para ilustrar esse tipo de argu-
mento, no exemplo, a seguir, o autor emprega o clássico “mas”, para marcar
uma contrariedade em relação à primeira possibilidade apresentada.

132
UNICESUMAR

Ementa de embargos de divergência em recurso especial:


“A finalidade dos embargos de divergência é dirimir conflitos internos na
jurisprudência desta corte, não se prestando, propriamente, à reapreciação da
controvérsia, mas à uniformização de teses jurídicas sobre ela eventualmente
firmados envolvendo diferentes órgãos fracionários”.
Fonte: STJ (2017, on-line, grifo meu).
h) Operadores que introduzem conteúdos pressupostos no enunciado: “já”,
“ainda”, “agora” etc. (KOCH, 2001). No excerto, a seguir, ocorre o uso da
expressão “agora”, para marcar que, na primeira prova pericial, não houve
a participação de um profissional da área da Contabilidade.

Ementa de agravo de instrumento:


“Impõe-se a realização de nova perícia, agora com profissional da área de
contabilidade”.
Fonte: TJ-RS (2018, on-line, grifo meu).
i) Operadores que se distribuem em escalas opostas: um funciona na es-
cala da afirmação total e outro na escala da negação total. Ex.: “tudo”,
“todos”, “nada”, “nenhum”, “um pouco (quase nada)” (KOCH, 2001). Na
exemplificação mobilizada, a seguir, o uso de “toda” marca a afirmação
de que a totalidade da comunidade em questão tomou conhecimento de
materiais da parte autora, ocorrendo a afirmação total.

Ementa de recurso cível:


“Alega a autora [...] que o fato causou danos de ordem subjetiva, pois toda
a comunidade de Arroio dos Ratos tomou conhecimento do vídeo e passou a
hostilizá-la”.
Fonte: TJ-RS (2017, on-line, grifo meu).

Dessa forma, por meio da sua análise, Koch (2001) afirma que esses elementos
formam as classes invariáveis: advérbios, conjunções ou preposições. É necessário
considerar que são elas as responsáveis por grande parte da força argumentativa
dos textos produzidos (KOCH, 2001) bem como se constroem coisas, objetos e
cenários, por meio da argumentação, ainda mais, no contexto jurídico. Assim,
temos um sistema com inúmeras possibilidades de emprego no trabalho com a
linguagem jurídica.

133
UNIDADE 5

Na sequência, com vistas a oferecer ao(à) estudante mais bagagem de opções


linguísticas para a confecção de suas argumentações, tanto, aqui, no contexto
acadêmico, quanto no contexto profissional, abordaremos as marcas linguísticas
de pressuposição.

Marcadores de Pressuposição

Nem todos os elementos das nossas argumentações são escritos ou ditos lite-
ralmente. Se precisássemos redigir, palavra por palavra, todas as partes da ar-
gumentatividade, os nossos textos seriam intermináveis. Assim, existem muitos
conteúdos que são introduzidos por marcas linguísticas simples e breve, então,
se assume que o leitor compreenda a existência do fato ou argumento. “A esses
conteúdos, que ficam à margem da discussão, costuma-se chamar de pressupostos
e às marcas que os introduzem, marcadores de pressuposição” (KOCH, 2001, p.
46, grifos da autora).
Dentre esses elementos marcadores de pressuposições, podemos citar:
“1. Verbos que indicam mudança ou permanência de estado, como ficar, co-
meçar a, passar a, deixar de, continuar, permanecer, tornar-se, etc.” (KOCH, 2001,
p. 46). Por exemplo, em: “Pedro começou a trabalhar. Pedro passou a trabalhar. O
conteúdo pressuposto é ‘Pedro não trabalhava’” (KOCH, 2001, p. 46).
“2. Verbos denominados ‘factivos’, isto é, que são complementados pela enun-
ciação de um fato (fato que, no caso, é pressuposto): de modo geral, são verbos
de estado psicológico, como lamentar, lastimar, sentir, saber, etc.” (KOCH, 2001,
p. 47). Isso acontece, por exemplo em: “Lamento/lastimo/sinto que Maria tenha
sido demitida ou Não sabia que Maria tinha sido demitida” (KOCH, 2001, p. 47).
Também é possível ocorrer o que a autora denomina “retórica da pressu-
posição”, a qual insere, como se fosse pressuposta, uma informação que, na
verdade, é nova. Como nos exemplos: “lamentamos não aceitar cheque” ou
“lamentamos não poder atender à sua solicitação”. Trata-se de um recurso lin-
guístico para comunicar, de modo cortês, uma informação que o interlocutor
não quer saber (KOCH, 2001, p. 47-48).
“3. Certos conectores circunstanciais, especialmente quando a oração por
eles introduzida vem anteposta: desde que, antes que, depois que, visto que, etc.”
(KOCH, 2001, p. 48). Essa marcação de pressuposição ocorre, por exemplo, em:

134
UNICESUMAR

“Desde que Luís ficou noivo, não cumprimenta mais as (pp: Luís ficou noivo)
amigas” (KOCH, 2001, p. 48).
Koch (2001) apresenta, ainda, alguns outros marcadores de pressuposição
que auxiliam o argumentador a deixar marcas linguísticas, visando que os seus
leitores as compreendam e, assim, possam seguir a linha argumentativa preten-
dida pelo autor. A seguir, analisaremos alguns desses marcadores.
■ Indicadores modais ou índices de modalidade

Os modalizadores são importantes na construção dos sentidos e na sinalização da


forma como o que você diz é dito e o estudo deles faz parte da semântica moderna.
As modalidades, muitas vezes, se apresentam por intermédio de recursos linguísticos
(KOCH, 2001).“Os principais tipos de modalidade apontados pela lógica são: neces-
sário/possível; certo/incerto, duvidoso; obrigatório/facultativo” (KOCH, 2001, p. 50).
É importante notar que uma mesma proposição é veiculada sob modalida-
des diferentes (KOCH, 2001). Nesse contexto, quando um cliente questiona um
advogado sobre qual a chance de “ganharem” a ação, o advogado pode responder
empregando as modalidades, a fim de não dar certeza absoluta, mas, ao mesmo
tempo, não afirmar que é impossível. Então, a resposta a esta pergunta, poderia
ser: “é possível que ganhemos a ação” ou “é provável que ganhemos a ação” ou
“com certeza, ganharemos a ação”.
A materialização linguística (em linguagem mais popular: como essas mo-
delizações são redigidas nos textos) costuma ser “e” + adjetivo, porém existem
diversas outras formas. Podem ocorrer com advérbios ou locuções adverbiais:
“talvez”, “provavelmente”, “certamente”, “possivelmente” etc. Com verbos auxilia-
res modais: “poder, dever”. Com construções de auxiliar + infinitivo [“ter de” +
infinitivo, “precisar (necessitar”) + infinitivo, “dever” + infinitivo]. Em orações
modalizadoras: “tenho a certeza de que”, “não há dúvida de que”, “há possibilidade
de”, “todos sabem que” (KOCH, 2001, p. 50-51).
Assim sendo, temos o formato: o conteúdo da proposição + a modalidade de
interpretação. O(A) estudante deve lembrar que uma mesma modalidade tem a
chance de ser apresentada, linguisticamente, de formas diversas e, também, que
um mesmo indicador de modalidade exprime, muitas vezes, modos diferentes.
Isso ocorre com os verbos “dever” e “poder”.
Por exemplo em: “o tempo deve melhorar” e “todos devem usar traje social”;
na primeira, o verbo “deve” indica, apenas, uma possibilidade, na segunda, o

135
UNIDADE 5

mesmo verbo — “dever” — indica obrigatoriedade (KOCH, 2001). Dessa for-


ma, também acionamos o nosso conhecimento de mundo, com o intuito de
compreender as modalizações.
Para o(a) estudante da linguagem jurídica, as modalizações são rele-
vantes à exploração das possibilidades e ao comprometimento, mais ou menos,
com aquilo que enuncia, pois, há bastante diferença entre afirmar uma certeza e
assumir uma eventual possibilidade.

■ Indicadores atitudinais, índices de avaliação e de domínio

São expressões que indicam atitude ou estado psicológico, com os quais o locutor se
representa nos enunciados que profere (KOCH, 2001). Costumam ser empregados
pelo operador do Direito para agir, linguisticamente, de modo mais gentil e/ou
polido nas relações com os clientes. Por exemplo, nas frases, a seguir: “Infelizmente,
recusarei seu pedido. Felizmente, ninguém se machucou. É com prazer (satisfação,
alegria) que o convido para integrar a nossa equipe. Com pesar, anunciamos o fa-
lecimento de nosso diretor” (KOCH, 2001, p. 53, grifos da autora). Esses elementos
em destaque marcam a defesa de uma atitude emocional de quem enuncia, com
relação àquilo que é dito. O leitor/ouvinte atento perceberá a pressuposição dessas
emoções do locutor marcadas na escolha desses elementos linguísticos.

136
UNICESUMAR

A atitude subjetiva também pode aparecer em uma avaliação ou valoração


a respeito de um referente. Isso ocorre com o uso de expressões adjetivas ou in-
tensificações (KOCH, 2001). Como nos exemplos: “o profissional realizou uma
ótima sustentação oral” ou “o advogado foi extremamente feliz na defesa da tese”.
Há, ainda, os operadores que delimitam o domínio (contexto) no qual o enun-
ciado deve ser interpretado ou o modo como ele foi formulado pelo locutor
(KOCH, 2001). Esse recurso é, muitas vezes, empregado pelo argumentador no
âmbito jurídico, para definir as bases a partir das quais se origina a sua argumen-
tação e estar respaldado, caso haja uma contraposição. Seriam alguns exemplos de
marcadores de domínio: “resumidamente, os fatos desenrolaram-se da seguinte
forma...”, “politicamente, a decisão foi acertada”, “a seguir, apresentarei, concisa-
mente, os principais pontos da defesa”.
■ Indicadores de polifonia

São aquelas marcas que inserem outra voz no discurso. Como exemplo, temos os
verbos: “disseram, falaram” etc., são empregados com a intenção de pressupor ao
leitor/ouvinte que alguém disse algo, ou seja, outra pessoa que não o enunciador
(KOCH, 2001) São índices de polifonia:
■ Operadores argumentativos: “pelo contrário”, “ao contrário”, “mas”,
“embora” etc.
■ Marcadores de pressuposição: “Maria continuava linda” = mais alguém
sabia que ela era linda.
■ Uso de futuro do pretérito como metáfora temporal: “fulano estaria dis-
posto a se demitir” = ouviu de alguém, de uma terceira pessoa.
■ Uso de aspas.

Caro(a) estudante, com base nas discussões realizadas nesta unidade, percebe-
mos que não há tipos de argumentos empregados, apenas, no contexto jurídico
e que seriam, por consequência, denominados argumentos jurídicos. Contudo
existem alguns tipos de argumentos empregados, com frequência, nesse contexto,
quais sejam: contrario sensu, ad absurdum, uso da ridicularização, argumento
a coherentia, a fortiori, o córax, argumento ad hominem, pró-tese, argumento
de autoridade, de oposição, de analogia, de causa e efeito (RODRÍGUEZ, 2015;
VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015).

137
UNIDADE 5

Além disso, também estudamos que é possível deixar marcas linguísticas


das nossas argumentações, para orientar os nossos leitores e ouvintes com rela-
ção ao direcionamento de sentido que pretendemos construir. A partir de Koch
(2001), a nossa reflexão abordou os operadores argumentativos, os marcadores
de pressuposição, os modalizadores, os indicadores atitudinais, de avaliação e de
domínio bem como as marcas da polifonia.
Esperamos que esta unidade tenha contribuído para que você, estudante,
aperfeiçoe-se e anime-se em estudar, cada vez, mais os temas atinentes à lingua-
gem jurídica.

Olá, estudante! Que tal pensarmos juntos sobre a ar-


gumentação no contexto jurídico? No nosso podcast
falarmos mais a respeito desses vários tipos específicos de
argumentos jurídicos e de um modo mais simples. Ouça
nosso podcast e saiba mais também a respeito das marcas
linguísticas que podemos deixar quando redigimos nossos
textos para que os leitores possam estimar para qual
direção queremos conduzir a nossa argumentação. Dá um
play e saiba mais!

Estudante, nesta unidade, abordamos a argumentação jurídica e alguns elemen-


tos linguísticos capazes de marcar a nossos leitores/ouvintes o direcionamento
argumentativo que pretendemos construir nas peças ou documentos. Agora, de-
safiamos você a agir! Selecione algum caso de falha de comunicação e analise
como o argumentador poderia ter reformulado o seu texto, de forma a evitar
a falha de comunicação, direcionando, então, o seu interlocutor pelo caminho
argumentativo pretendido.

138
1. Considerando a classificação dos tipos de argumentos empregados no contexto
jurídico, abordados a partir de Rodríguez (2015) e Valverde, Fetzner e Tavares-Junior
(2015), selecione os três argumentos jurídicos que mais chamaram a sua atenção,
faça um resumo sobre eles e pesquise um exemplo.

2. Conforme Koch (2001), os operadores argumentativos derivam de uma abordagem


a partir das teorias de Ducrot. Eles fazem parte das classes invariáveis e podem
aparecer de duas formas: quando há uma soma de argumentos a favor de uma
mesma conclusão e quando há uma gradação visando a marcar o argumento mais
forte. Nesse contexto, assinale a alternativa que apresenta, corretamente, o nome
dessas duas formas:

a) Próclise e mesóclise.
b) Elipse e retórica.
c) Classe e escala.
d) Metáfora e metonímia.
e) Predicado e complemento.

3. Considere a seguinte afirmação: “Caro cliente, no caso do crime em questão podem


incorrer as sanções de multa, suspensão temporária das atividades e, até mesmo,
proibição das atividades”. A expressão “até mesmo” é um operador argumentativo.
Considerando a classificação de Koch (2001), assinale a alternativa que apresenta de
qual tipo de operador argumentativo o “até mesmo” faz parte:

a) Operador que introduz um argumentativo alternativo.


b) Operador que introduz uma mesma conclusão.
c) Operador que introduz uma justificativa ou explicação.
d) Operador que estabelece uma comparação.
e) Operador que assinala o argumento mais forte.

139
4. Koch (2001) cita outras marcas linguísticas da argumentação, tais como: os modali-
zadores, os indicadores atitudinais, os índices de avaliação e de domínio, a polifonia.
Nesse sentido, assinale a alternativa em que funciona um indicador de domínio:

a) O advogado considerou a audiência muito proveitosa.


b) Lamentamos não poder assumir a sua causa.
c) Infelizmente, meu advogado continua fora do país.
d) Concisamente, relatarei como se desenrolou a audiência.
e) Provavelmente, passarei na prova da OAB.

5. De acordo com Koch (2001), um dos tipos de operadores argumentativos é aquele


que estabelece uma comparação. Assinale a alternativa cuja frase apresenta um
operador argumentativo desse tipo:

a) O advogado não só passou na OAB, mas também conseguiu um emprego.


b) Chegarei atrasada, pois tenho um compromisso.
c) Participaram da reunião os alunos, os professores e a direção.
d) Neste bimestre, eu estudei mais do que no anterior.
e) Ou eu estudo mais, ou irei mal nas provas.

140
UNIDADE 1

BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de
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UNIDADE 5

KOCH, I. V. A Inter-ação pela Linguagem. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2001.

NASCIMENTO, E. D. Linguagem Forense. 13. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013.

PETRI, M. J. C. Manual de Linguagem Jurídica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

RODRÍGUEZ, V. G. Argumentação Jurídica: técnicas de persuasão e lógica informal. 6. ed. São


Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.

SABBAG, E. Manual de Português Jurídico. 7. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2013.

STJ. Embargos de Divergência em Recurso Especial. EREsp: 1568935 RJ 2015/0101137-0. Re-


lator: Ministro Marco Buzzi. Data de Julgamento: 28/06/2017. S2 - Segunda Seção. Data de
Publicação: DJe 30/06/2017. Disponível em: encurtador.com.br/ovJ04. Acesso em: 27 jun. 2022.

STJ. Recurso Ordinário em Habeas Corpus. RHC: 86764 RS 2017/0166293-8. Relator: Ministro
Sebastião Reis Júnior. Data de Julgamento: 07/11/2017. T6 - Sexta Turma. Data de Publicação:
DJe 29/05/2018b. Disponível em: encurtador.com.br/abdB0. Acesso em: 27 jun. 2022.

STJ. Recurso Ordinário em Habeas Corpus. RHC: 100709 SP 2018/0178031-7. Relator: Minis-
tra Laurita Vaz. Data de Julgamento: 02/04/2019. T6 - Sexta Turma. Data de Publicação: DJe
16/04/2019b. Disponível em: encurtador.com.br/iHRS4. Acesso em: 27 jun. 2022.

STJ. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. RMS: 55019 DF 2017/0201343-2. Relator:


Ministro Joel Ilan Paciornik. Data de Julgamento: 12/12/2017. T5 - Quinta Turma. Data de Pu-
blicação: DJe 01/02/2018a. Disponível em: encurtador.com.br/auG49. Acesso em: 27 jun. 2022.

STJ. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. RMS: 53213 RS 2017/0021869-8, Relator:


Ministro Ribeiro Dantas. Data de Julgamento: 07/05/2019. T5 - Quinta Turma. Data de Publi-
cação: DJe 13/05/2019a. Disponível em: encurtador.com.br/dDNOW. Acesso em: 27 jun. 2022.

TJ-RS. Agravo de Instrumento. AI: 70078330024 RS. Relator: Voltaire de Lima Moraes.
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vo-de-instrumento-ai-70078330024-rs?ref=serp. Acesso em: 27 jun. 2022.

TJ-RS. Recurso Cível: 71006366595 RS. Relator: Roberto Behrensdorf Gomes da Silva.
Data de Julgamento: 21/06/2017. Segunda Turma Recursal Cível. Data de Publicação: DJe
26/06/2017. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/472351228/recur-
so-civel-71006366595-rs?ref=serp. Acesso em: 27 jun. 2022.

VALVERDE, A. G. M.; FETZNER, N. L. C.; TAVARES- JUNIOR, N. C. Lições de Argumentação Jurí-


dica: da teoria à prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

143
UNIDADE 1

1. O(A) estudante deve argumentar em torno do fato de que existe uma coerção, uma
imposição social para empregar, sempre, o português padrão. Contudo, mesmo que,
profissionalmente, seja recomendada uma linguagem cuidada, é necessário que o
usuário da linguagem jurídica, em algumas situações, aproxime mais a linguagem de
seus clientes, os quais, muitas vezes, mal dominam o idioma, quanto mais os termos
jurídicos.

2. O(A) estudante deve empregar uma linguagem correta, do ponto de vista gramatical,
porém, simples o bastante para o cliente compreender que ele precisa entregar o
endereço de IP do comentário ofensivo postado no YouTube bem como o fato de que
o site não tem obrigação legal de armazenar os e-mails das pessoas as quais postam
os comentários. Assim, o texto deve informar que a ação foi provida em parte.

3. C. A variação diatópica diz respeito aos falares que variam segundo o espaço geográ-
fico; a variação diastrática aborda as variantes relativas às camadas socioculturais; a
diafásica aborda as mudanças relativas às modalidades enunciativas.

4. O(A) estudante deve argumentar que, em cada situação comunicativa específica e em


cada atividade profissional do ramo jurídico, diferentes níveis e variantes da lingua-
gem jurídica precisam ser empregados, para que o operador do Direito tenha a sua
comunicação efetivada.

5. D. A linguagem legislativa aborda códigos, normas, finalidades e a criação de direitos;


a linguagem judiciária, forense ou processual funciona em processos, na aplicação
do Direito; já a linguagem convencional ou contratual aparece em contratos, com o
intuito de criar direitos e obrigações entre partes; a linguagem doutrinária é utilizada
em doutrinas, por mestres, e funciona para explicar e ensinar o Direito; a linguagem
cartorária ou notarial é utilizada no registro dos atos do Direito.

UNIDADE 2

1. A. Esta alternativa é a única em que ocorre a ordem direta estudada na unidade, ou


seja, a construção seguindo a ordem de elementos em: sujeito + verbo + complemento.

2. B. Ocorre concordância dos modificadores “anexas” e “necessárias” no gênero feminino


e no número plural do seu substantivo em “procurações” (uma palavra que está no
feminino e no plural). Já o modificador “cordial” é necessário, pois concorda no gênero
masculino e no número singular com o substantivo ao qual se refere, que é “retorno”.

144
3. E. Ambas afirmações são falsas. Na primeira, o equívoco está no fato de que os verbos
não variam em gênero e número, mas em número e pessoa. Já na segunda afirma-
ção, o problema é que o verbo evita a repetição do sujeito e não do próprio verbo.

4. A. Como acabamos de revisar na resposta da questão 1, a construção seguindo a or-


dem direta de elementos, conforme Cunha e Garcia (2013), é aquela que se estrutura
na sequência padrão sujeito + verbo + complemento.

5. Nesta questão, o(a) estudante deve retomar os fatores de inteligibilidade que vão além
das normas gramaticais estudadas nesta unidade, a partir de Garcia (2014). Quais
sejam: eliminar informações duplicadas; excluir tautologias que anulem o sentido;
apagar qualquer incongruência (contradições lógicas literais; cuidado com impro-
priedades ou fala de partículas de transição entre as frases; evitar omitir ideias que
façam a transição lógica entre as frases; evitar inverter a ordenação lógica das ideias);
redigir conforme o contexto geral de dada cultura; construir frases com probabilidade
lógica; estruturar a frase de modo a não exigir do leitor a reorganização de elementos.

UNIDADE 3

1. D. Esta alternativa menciona, corretamente, as três concepções de leitura estudadas


na unidade, a partir de Koch e Elias (2010), quais sejam: foco no autor (segundo a qual
todo o emissor possui quase um controle absoluto sobre os sentidos que os seus
textos produzem); foco no texto (em que a significação é pensada como resultado de
simples processo de codificação e decodificação); foco na interação (de acordo com
esta concepção, os sentidos são produzidos em um diálogo entre autor, texto e leitor).

2. C. Na perspectiva interativa de Koch e Elias (2010), para conceituar a leitura, entende-


mos que o controle do sentido não está, unicamente, nem no autor, nem no texto, nem
no leitor, aqui, ocorre o entendimento de que a compreensão dos sentidos acontece,
sempre, em um diálogo entre os três elementos: autor + texto + leitor.

3. D. Conforme estudamos na unidade, os principais tipos de coesão textual são: a refe-


rencial (na qual os elementos dos textos dependem e acionam expressões anteriores
ou posteriores para produzir sentido) e a sequencial (na qual elementos são acionados
para que os nossos textos progridam em uma ordem lógica).

4. C. Como acabamos de estudar, apesar de a principal qualidade do texto jurídico ser a


clareza, muitas vezes, não podemos abrir mão do elemento emocional. Para conseguir
incorporar esta característica aos nossos textos, um bom exercício é incorporar as
figuras de sentido, como: metáfora, metonímia, hipérbole, eufemismo, entre outras.

145
5. Nesta questão, o(a) estudante deve retomar os fatores de coerência estudados na
unidade. Podem ser citados cinco, dentre os seguintes fatores: fatores linguísticos,
conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, inferências, contextualização,
situacionalidade, informatividade, focalização, intertextualidade, intencionalidade e
aceitabilidade, consistência e relevância.

UNIDADE 4

1. C. A explicação é que esta alternativa é a única que cita, corretamente, os dois axio-
mas da comunicação humana abordados na nossa unidade, a partir de Watzlawick,
Beavin, Jackson (2000). O primeiro (“é impossível não comunicar”) aborda o fato de
que as noções, ações e comportamentos, em uma situação de interação, produzem
sentidos a nossos interlocutores. Já o segundo axioma da comunicação (“comunicação
é comportamento”) diz respeito ao fato de que, nas nossas comunicações, existem o
relato (o que é dito) e a ordem (como é dito).

2. Para esta questão, não há, exatamente, uma resposta correta e uma resposta errada.
O(A) estudante deve ser capaz de mencionar situações em que os axiomas citados na
Questão 1 atravessam a área jurídica. Dentre elas, mas sem excluir outras, poderiam
ser citados: casos nos quais advogadas são barradas em tribunais por estarem “com
trajes inadequados”, a situação nervosa das testemunhas que estão, apenas, com
medo pelo contexto comunicativo e, não necessariamente, mentindo.

3. B. As principais modalidades expressivas em que acontece a comunicação jurídica são a


modalidade escrita (mais formal e respeitando as normas gramaticais) e a modalidade
oral (mais livre e permitindo o emprego de elementos não verbais).

4. De modo semelhante à Questão 2, aqui, não há, exatamente, uma resposta correta
e uma resposta errada. O(A) estudante deve ser capaz de retomar a característica da
modalidade oral que mais lhe chamou a atenção: abrangência; recursos não verbais;
ritmo e entonação; interação; reações; repetição; apagamento; inversões e rupturas;
pausas; marcadores conversacionais; redução; restrição no emprego de certos tempos
verbais; exclusão de certas expressões; recursos expressivos; liberdade expressiva.
Em seguida, o(a) estudante deve mencionar um contexto profissional no qual essa
característica seria importante.

5. De modo semelhante às Questões 2 e 4, aqui, não há, exatamente, uma resposta


correta e uma resposta errada. O(A) estudante deve ser capaz de retomar, ao menos,
cinco das características da boa qualidade dos textos jurídicos. Devem ser retiradas
do seguinte conjunto: correção, concisão, clareza, precisão, naturalidade, nobreza e
harmonia.

146
UNIDADE 5

1. Na questão de número 1, o(a) estudante deverá rever a tipologia dos argumentos


jurídicos estudada na unidade e selecionar os três que mais lhe chamaram a aten-
ção. Foram abordados os seguintes argumentos: contrario sensu, ad absurdum, uso
da ridicularização, argumento a coherentia, a fortiori, córax, argumento ad hominem,
pró-tese, de autoridade, de oposição, de analogia, de causa e efeito (RODRÍGUEZ,
2015; VALVERDE; FETZNER; TAVARES-JUNIOR, 2015). Após escolher os três que mais
chamaram a sua atenção, o(a) estudante deve revisar o conteúdo da unidade e fazer
uma síntese sobre os principais pontos e características desses argumentos. Por fim,
deve pesquisar algum exemplo de caso, artigo ou documento em que se empregou
esse tipo de argumento ou exemplificar em um caso hipotético.

2. C. Os operadores argumentativos, conforme Koch (2001), podem aparecer em classes e


escalas. A classe argumentativa fica configurada quando há uma soma de argumentos
a favor de uma mesma conclusão. Já a escala argumentativa existe quando há uma
gradação de argumentos para marcar aquele que é o mais forte no contexto específico.

3. E. Conforme estudamos na unidade, há vários tipos de operadores argumentativos.


Mas, conforme Koch (2001), aqueles que marcam o argumento mais forte da escala
argumentativa podem ser chamados pelas seguintes marcas linguísticas: “até”, “mes-
mo”, “até mesmo”, “inclusive”, “pelo menos”, “ao menos”, “no mínimo” etc. Na frase
da questão, ocorre o emprego de “até mesmo”, portanto, trata-se de um operador
argumentativo que marca o argumento mais forte.

4. D. Conforme Koch (2001), os indicadores de domínio marcam para nossos leitores/


ouvintes o contexto em que devem ser analisadas e compreendidas as argumentações.
Na frase da alternativa D (“Concisamente, relatarei como se desenrolou a audiência”),
o uso do indicador de domínio “concisamente” funciona para anunciar ao seu público
que você fará uma síntese. Caso alguém contra-argumente que você poderia ter se
aprofundado na discussão, você mencionará que avisou que, nesse momento, faria,
apenas, um resumo, podendo o detalhar em momento posterior.

5. D. Conforme Koch (2001), os operadores argumentativos que marcam uma compa-


ração podem ser: “mais que”, ‘menos que”, “tão... como”, entre outros que cumpram
a mesma função. Na frase da alternativa D (“Neste bimestre, eu estudei mais do que
no anterior”), um estudante hipotético compara a sua dedicação aos estudos em
bimestres diferentes de seu curso.

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